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Análise de Risco Noções Introdutórias (estudos de caso) Prof. Luiz Carneseca

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Análise de Risco Noções Introdutórias (estudos de caso) Prof. Luiz Carneseca

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ÍNDICE 1 APP & HAZOP 3 2 Arvore de Falhas 10 3 AQR 12 4 Caso Rodovia dos Imigrantes 22 5. Caso Conflito Exploração Offshore x Pesca Artesanal 42 6. Referencias Bibliográficas 63

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1. APP & HAZOP

ESTUDO DE CASO: DESCARREGAMENTO DE ÁCIDO SULFÚRICO Para avaliar os procedimentos operacionais, as medidas de controle e os riscos

oferecidos aos profissionais envolvidos, todas as operações de descarregamento foram acompanhadas (Fotos 1 até 16), documentadas em registro fotográfico e, posteriormente, foram aplicadas as técnicas HAZOP e APP.

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Para investigação dos segmentos do processo e identificação de possíveis desvios

das condições normais de operação, verificando as causas responsáveis e respectivas conseqüências, foram consultados os químicos do laboratório, o pessoal de manutenção mecânica bem como os componentes da CIPA, que regularmente participam do descarregamento e possuem a necessária experiência técnica e de campo.

Como resultado deste processo sistemático foram identificados e considerados relevantes pelo grupo de estudos quatro pontos ou nós de referência, representados no desenho esquemático de interfaces e conexões (Figura 2), bem como os parâmetros e desvios associados com as palavras guia no Quadro 10 a seguir.

Quadro 10 - Nós de Referência, Parâmentros, Palavras Guia e Desvios do HAZOP

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Figura 2 - Diagrama Esquemático de Interfaces e Conexões do Sistema d

Transferência de Ácido Sulfúrico do Caminhão para o Tanque Para cada desvio considerado de ocorrência provável, em cada nó de referência,

foram investigadas as causas geradoras dos eventos e verificados quais os meios tecnicamente disponíveis para detecção destas causas e suas eventuais conseqüências. Em cada caso foram discutidas e apresentadas possíveis medidas visando remover as causas ou mitigar as conseqüências quando a completa eliminação for de todo impossível. As quatro planilhas que sintetizam os resultados do HAZOP são apresentadas no Quadro 11.

Como o sistema de transferência de ácido sulfúrico do caminhão para o tanque pode ser considerado um sistema fechado, foi elaborado uma Análise preliminar de Perigo (APP) para o caso de vazamento do produto corrosivo em questão. Vale ressaltar que esta análise, tal como o HAZOP, deve ser elaborada por uma equipe conforme mencionada anteriormente, contudo, a planilha de APP apresenta no Quadro 2, foi elaborada somente pelos membros deste grupo com o objetivo de discutir as diferenças entre as metodologias HAZOP e APP.

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Quadro 11 - Planilha de HAZOP

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Quadro 11 - Planilha de HAZOP (continuação)

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Quadro 12 – Planilha de APP

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2. Arvore de Falhas

ESTUDO DE CASO: A PROBLEMÁTICA DA CERVEJA QUENTE O espaço abaixo é para o aluno escrever o problema dado na sala de aula.

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RESPOSTA: EU VOU OU NÃO VOU ???? ________________________

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3. AQR

ESTUDO DE CASO: AQRA – vazamento de produto químico Neste estudo de caso deseja-se mostrar como as avaliações de risco, que se baseiam

nos guias de procedimentos da EPA (Environmental Protection Agency-USA), podem ser integrados com a metodologia de risco associado à segurança de operações. Uma AQRA, conforme se viu, requer uma avaliação das diversas conseqüências de um cenário acidental em todos os elementos do ecossistema bem como conseqüências de natureza econômica, entre outras. Neste estudo, entretanto, o meio ambiente limita-se ao ser humano e serão consideradas apenas conseqüências sobre sua saúde.

Apresenta-se aqui, passo a passo, a metodologia da AQRA para uma situação muito simples.

• DEFINIÇÃO DO SISTEMA A SER ESTUDADO BEM COMO SUAS FRONTEIRAS Uma base de armazenamento constando de um único tanque de armazenagem do

composto orgânico tricloroetileno (TCE), de 200m3. O tanque encontra-se no interior de um dique de contenção de 300 m3. A fundação do tanque é de concreto armado, e o piso da área do dique é impermeabilizado e possui caimento para canaletas laterais convergindo para uma só saída, equipada com válvula normalmente fechada, abrindo para liberar as águas das chuvas. Esta válvula é ligada à rede de coleta de efluentes que, por sua vez, termina numa estação de tratamento de efluentes industriais (ETI). As águas tratadas são despejadas num corpo hídrico próximo.

Neste estudo se considera apenas risco ao ser humano, que se localiza ao redor da instalação analisada e pode ser alcançado por efeitos físicos adversos decorrentes de liberação acidental de TCE na instalação considerada. Embora o TCE seja uma substância também inflamável, serão considerados aqui apenas os seus efeitos tóxicos.

A figura A ilustra, esquematicamente, a área contaminada e o cenário de exposição residencial considerado

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FIGURA A – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA ÁREA CONTAMINADA • IDENTIFICAÇÃO DOS PERIGOS E DOS CENÁRIOS ACIDENTAIS MAIS

RELEVANTES Os perigos associados à operação dessa base de armazenamento, identificados numa

APP, por exemplo, podem ser pensados como pequena e grande liberação do TCE e as causas a eles associadas, vazamento ou ruptura do tanque. Os cenários a serem considerados são contaminação do ar, do solo e da água. A planilha preenchida, que representa a realização da APP propriamente dita encontra-se ilustrada na figura B.

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FIGURA B – PLANILHA UTILIZADA PARA A ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGOS.

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• AVALIAÇÃO DAS FREQÜÊNCIAS DE OCORRÊNCIA DOS CENÁRIOS ACIDENTAIS

Os cenários associados ao evento iniciador “Grande Liberação de Líquido Tóxico –

TCE, causada por ruptura catastrófica do tanque de armazenagem” podem ser identificados, e suas freqüências calculadas, através da seguinte AE:

FIGURA C – ÁRVORE DE EVENTOS PARA O EVENTO INICIADOR CONSIDERADO Neste problema hipotético, o sistema de proteção B é constituído de uma ETI e o

sistema de proteção A é constituído de: • um dique de contenção impermeabilizado cuja capacidade de contenção é superior ao volume do tanque; • um ralo contendo uma válvula, normalmente fechada, conectado à rede de coleta de efluentes que termina numa ETI.

Dessa forma simplificada os cenários acidentais identificados e que contribuirão para o cálculo do risco são o cenário de número 2 – contaminação do corpo hídrico e o cenário de número 3 – contaminação do solo, contaminação do ar e contaminação do corpo hídrico.

A determinação da freqüência de ocorrência de cada cenário acidental é feita multiplicando-se a freqüência de ocorrência do evento iniciador – neste caso ruptura catastrófica do tanque de armazenagem – e as respectivas probabilidades condicionais presentes em cada ramo da AE.

A determinação da freqüência de ocorrência do evento iniciador pode ser feita através de consulta de banco de dados de falhas de equipamentos. Tipicamente, para ruptura catastrófica do tanque de armazenagem, podemos usar o valor 1,0 x 10-6 falhas/ano Para a determinação da freqüência de falha do sistema de proteção A podemos usar a técnica da AF. Neste caso o evento topo é a “Falha no sistema de coleta e drenagem do contaminante” e a árvore encontra-se ilustrada na figura C:

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FIGURA D: ÁRVORE DE FALHA DO SISTEMA DE COLETA E DRENAGEM Para determinar a probabilidade do evento topo, ou seja, a probabilidade de falha do

sistema de proteção A, devemos compor as probabilidades associadas aos vários eventos intermediários presentes na AF. No exemplo acima, a única conexão lógica presente é a conexão “ou” e para ela vimos que a regra de composição de probabilidades para dois eventos independentes é P(C) = P(A) + P(B) – P(A)P(B). P(C) é a probabilidade de falha do sistema de drenagem, P(A) é a probabilidade de falha da válvula em abrir e P(B) é a probabilidade associada à ruptura das linhas da rede de coleta de efluentes.

Os bancos de dados fornecem a freqüência de falha de componentes e equipamentos, e não probabilidades de falha. Para se determinar a probabilidade, uma possibilidade é usar a indisponibilidade do componente. Se considerarmos os componentes do tipo irreversíveis, isto é, componentes irreparáveis segundo a mudança de estado a que estão sujeitos, podemos considerar a indisponibilidade média como uma medida da desejada probabilidade. Se além disso considerarmos λT < 0,1 podemos usar a seguinte equação para a indisponibilidade média: Ã(med) = 1/2 λT . Aqui, λ é a taxa de falha encontrada no banco de dados e T é o período de tempo para o qual se deseja investigar a indisponibilidade.

Portanto, se considerarmos a taxa de falha da válvula como sendo 3,0 x 10-5 falhas/ano e a taxa de falha de 100 metros de tubulação de 4” como sendo também 3,0 x 10-5 falhas/ano e se considerarmos o período de investigação da indisponibilidade como sendo T = 1 ano teremos

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Para fins de ilustração, vamos supor que a probabilidade de falha do sistema de coleta e drenagem, P(D), é 1,0 x 10-7. A taxa de falha de sistemas dessa natureza, em principio, pode ser determinada a partir de dados históricos relacionados a falhas de sistemas como esse, em condições semelhantes. Portanto, aplicando uma vez mais a composição de probabilidades para a conexão lógica “ou” encontraremos que a probabilidade do evento topo é:

P(Falha do sistema de Proteção A) = 1,0x10−7 + 3,0x10−5 − (1,0x10−7 )(3,0x10−5 )= 3,01x10−5

Novamente, se considerarmos para fins de ilustração a probabilidade de falha do sistema de proteção B como sendo P(Falha do sistema de proteção B) = 2,0 x 10- 4 (falhas/ano), poderemos finalmente calcular as freqüências dos cenários acidentais identificados na AE acima. Assim teremos:

f(cen 2) = f(EI) x P(Falha sist prot A) = (1,0 x 10-6)(3,01 x 10-5) = 3,01 x 10-11 (ano-1); f(cen 3) = f(EI) x P(Sucesso sist prot A) x P(Falha sist de proteção B) = f(EI) x (1-P(Falha sist prot A)) x P(Falha sist prot B). = (1,0 x 10-6)(1-3,01 x 10-5)(2,0 x 10-4) � 2,0 x 10-10 (ano-1). • AVALIAÇÃO DAS CONSEQÜÊNCIAS E VULNERABILIDADE No contexto da metodologia, a análise de conseqüências avalia os níveis dos efeitos

físicos danosos, em áreas de interesse, associados aos cenários acidentais postulados. No presente caso, o efeito físico em questão é uma pluma de contaminante (TCE) em solo, ar e água e os níveis do efeito físico, em áreas de interesse, correspondem às concentrações do contaminante nos diversos extratos.

Portanto, para a determinação das conseqüências devem-se formular modelos que descrevam a evolução da pluma em cada um dos extratos considerados. Existem vários programas comerciais que executam várias tarefas e dentre elas a determinação de valores de concentração em função da posição e do tempo. Nesse estudo optou-se por usar o SoilRisk.

A seguir, apresenta-se os valores assumidos para os parâmetros que alimentam o programa. Apresentam-se também os resultados das estimativas realizadas pelo SoilRisk.

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TABELA A: PARÂMETROS DE ENTRADA

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TABELA B - RESULTADOS DAS ESTIMATIVAS REALIZADAS PELO SOILRISK

O outro passo em direção ao cálculo do risco nesta abordagem de AQRA, é a análise

de vulnerabilidade que indica a parcela do recurso que sofrerá um tipo particular de dano, por exemplo, fatalidade. Ou então a probabilidade de uma pessoa vir a morrer em decorrência de um dado cenário acidental. É justamente esta informação que modelos como RBCA e SoilRisk fornecem como resultado de suas avaliações. Portanto, o passo seguinte nesta metodologia de integração de AQRA é considerar a saída destes modelos (e neste estudo consideramos o SoilRisk) como a probabilidade de interesse. Ou seja, especificamente no caso do SoilRisk, o caso em estudo apresenta os resultados exibidos na tabela C de probabilidades de fatalidades, para as diversas vias de exposição consideradas.

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TABELA C - RESULTADOS DAS ESTIMATIVAS DAS PROBABILIDADES DE

FATALIDADES REALIZADAS PELO SOILRISK. No cenário 2 temos contaminação apenas do corpo hídrico. Neste caso as rotas de

exposição consideradas são: ingestão de água potável (pw) e inalação de vapores contaminados provenientes da volatilização do contaminante na superfície do aqüífero (air). Para a primeira rota, o modelo SoilRisk avaliou a probabilidade de fatalidade como sendo Ppw = 5,9 x 10-6 e para a segunda rota, Pair = 8,2 x 10-9. Portanto, a probabilidade de fatalidade associada a este cenário é:

P(cen2) = Ppw + Pair = 5,9 x 10-6. No cenário 3 temos contaminação do solo, do ar e do corpo hídrico. As rotas

consideradas aqui são todas as rotas possíveis, isto é, além das presentes no cenário 2 teremos também: ingestão de solo (si); absorção pela pele devido ao contato direto com o solo (derm); inalação de vapores contaminados provenientes de água não potável também contaminada (nc); evaporação de parte do contaminante que está no interior do solo (sg) e inalação de poeira contaminada (dust). Neste caso o SoilRisk fornece os seguintes resultados: Ppw = 5,9 x 10-6; Psi = 1,2 x 10-10; Pderm = 5,8 x 10-10; Pair = 8,2 x 10-9 Psg = 7,5 x 10-6; Pnc = 4,6 x 10-5; Pdust = 5,0 x 10-13. Portanto, a probabilidade de fatalidade associada a este cenário é:

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P(cen3) = Ppw + Psi + Pderm + Pair + Psg + Pnc + Pdust = 5,94 x 10-5. • AVALIAÇÃO DOS RISCOS Finalmente, para se calcular o risco num dado ponto deve-se calcular a contribuição

de cada cenário, neste ponto, e então somar todas as contribuições. A contribuição de cada cenário ao risco num dado ponto, é o produto da freqüência de

ocorrência deste cenário acidental pela respectiva conseqüência. E como, de acordo com a metodologia de AQRA proposta, a conseqüência, expressa como a probabilidade de fatalidade (“risco integrado”, no caso dos modelos SoilRisk , RBCA e outros), é definida como a saída destes modelos, a contribuição de cada cenário ao risco individual é:

Cenário 2 R(cen2) = f(cen2) x P(cen2) = 3,01 x 10-11 x 5,9 x 10-6 = 1,77 x 10-17 fatalidades/ano. Cenário 3 R(cen3) = f(cen3) x P(cen3) = 2,0 x 10-10 x 5,94 x 10-5 = 1,19 x 10-14 fatalidades/ano Portanto, o risco individual total no ponto considerado é: RI = R(cen2) + R(cen3) = 1,77 x 10-17 + 1,19 x 10-14 = 1,191 x 10 –14 fatalidades/ano.

Este é o risco de fatalidade a que um indivíduo está exposto como conseqüência do

cenário acidental, cujo evento iniciador é a “Grande liberação de líquido tóxico – TCE, causado por ruptura catastrófica do tanque de armazenagem”.

Assim, nesta definição de risco fica evidente a presença da consideração de falhas de equipamentos e sistemas. Se fosse possível que estes nunca falhassem, o risco, portanto, associado à segurança de operações industriais seria nulo.

Esta situação é claramente diferente daquela que considera o risco ao ser humano (probabilidade de morte), devido ao lançamento de defensivo agrícola num dada área de agricultura.

Nos casos onde a possibilidade da presença de contaminante, em solo, água e ar, estiver associada a sua liberação acidental, uma análise quantitativa de riscos ambientais deve considerar uma análise de confiabilidade dos diversos elementos de contenção e de segurança envolvidos.

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4. Caso Rodovia dos Imigrantes (construção da pista descendente)

4.1 INTRODUÇÃO A rodovia dos Imigrantes foi concebida como um projeto de engenharia, no final da

década de 1960, de extrema importância estratégica para suportar a demanda de tráfego crescente entre o principal pólo econômico-industrial do país, São Paulo, e o Porto de Santos, o maior do país. A pista ascendente, concluída em 1976, representou mais do que um novo caminho para aliviar o trânsito da sobrecarregada Via Anchieta, até então o principal corredor viário entre o litoral e a capital paulista.

A operação dessa pista possibilitou incrementar o escoamento de mercadorias, por via terrestre nesse eixo, e facilitar o aporte de turistas e o crescimento da população na baixada litorânea.

No trajeto entre esses dois extremos, o Planalto e a Baixada, a rodovia dos Imigrantes transpõe os taludes íngremes da Serra do Mar recobertos por remanescentes significativos da Mata Atlântica, bioma caracterizado por grande biodiversidade. No Planalto há áreas de proteção a mananciais de abastecimento público da Região Metropolitana de São Paulo, assim como na Serra do Mar para provimento da baixada litorânea. Na Baixada estão presentes os manguezais, fundamentais para a manutenção da vida nas águas litorâneas.

Os impactos ambientais associados à construção da pista ascendente foram muito significativos sobre esses ecossistemas. A encosta da margem esquerda do rio Cubatão, em que foi projetado o traçado dessa pista, era revestida, continuamente, pela Mata Atlântica do Planalto à Baixada, no período prévio à construção. Do ponto de vista dos meios biótico e físico, o desmatamento, que foi realizado (estimado na ordem de 1.600 ha a 2.000 ha) para a execução das vias de acesso e da obra, resultou em impactos sobre a fauna, flora e intensificação dos processos de dinâmica superficial (escorregamentos e assoreamentos).

Os impactos diretos sobre o meio antrópico referem-se, principalmente, à consolidação dos bairros-cota, herança da construção da Via Anchieta. Os impactos indiretos, mais difíceis de ser caracterizados, podem estar relacionados a aspectos negativos decorrentes do desenvolvimento da região da Baixada, como poluição, ocupação de áreas de mangue, encostas em áreas de risco e faixas litorâneas sem a infra-estrutura necessária. Esses impactos incidem sobre a Serra do Mar e áreas adjacentes.

Se, na execução do projeto da pista ascendente, os mecanismos legais existentes na época (Decretos Estaduais e Código Florestal) não foram utilizados para disciplinar algumas ações que deflagraram impactos, o cenário para a realização da nova pista foi totalmente diferente.

O projeto da pista descendente, cujo original é concomitante ao da ascendente, de 1969, somente ressurgiu em nível básico, em 1986, proposto pela empresa estatal Dersa. No período após a inauguração da primeira pista, em 1976, e a proposição da nova pista da rodovia dos Imigrantes, em 1986, começaram a surgir os primeiros mecanismos de

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regulamentação ambiental no país, em leve descompasso com as discussões acerca da proteção do patrimônio ambiental em nível mundial.

A Lei Federal 6.938, de 1981, introduziu novos instrumentos de gestão ambiental destacando-se a Avaliação de Impacto Ambiental – AIA. Posteriormente, o Decreto 88.351/83 (substituído pelo Decreto 99.274/90) atrelou a AIA ao processo de licenciamento ambiental, conduzido pelo poder público, disciplinado pela Resolução Conama 001/86. Assim, após 1986, todo empreendimento que possa causar impactos significativos deve ser submetido ao processo de AIA.

Por outro lado, em 1977, foi criado o Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) pelo Decreto 10.251, e em 1976 foi promulgada a Lei 1.172, de Proteção de Mananciais.

A imposição desses novos instrumentos reguladores sobre o ambiente afetado e a legislação ambiental, então recém-implementada, repercutiram novas diretrizes e exigências à execução do projeto, que obteve sua Licença Prévia (LP), em 1989. Contudo, o projeto foi novamente engavetado, sendo retomado apenas em 1998.

Nesse ano, parte da malha rodoviária estadual paulista foi submetida a um programa de concessão ao setor privado, cabendo à Ecovias dos Imigrantes S.A. a responsabilidade pela operação do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI) e o compromisso da construção da pista descendente.

Nesse outro longo hiato de tempo, entre a concessão da LP à pista descendente e a retomada do seu projeto, a questão ambiental foi ganhando mais espaço e consolidando sua importância para manutenção da qualidade de vida para as gerações futuras. A sociedade passou a exercer maior pressão, formaram-se novas organizações não-governamentais, despertou-se o interesse da mídia e os órgãos licenciadores foram acumulando experiência na avaliação de projetos. Muitos segmentos empresariais assimilaram a necessidade da inserção da condicionante ambiental nas suas atividades, seja pela obrigatoriedade ou até pelos benefícios de mercado decorrentes de uma eventual certificação ambiental.

Por um lado, a pressão dos segmentos da sociedade é capaz de rechaçar um projeto. No final da década de 1980, os aspectos ambientais foram decisivos para a reprovação de um novo corredor viário atravessando a Serra do Mar entre o Vale do Paraíba e São Sebastião – a rodovia do Sol.

Em contrapartida, essa mesma sociedade pouco sabe o que acontece e como se desenvolve, opera e encerra o que foi proposto no papel, o que orientou a discussão sobre a viabilidade ambiental de um empreendimento e se formalizou como exigências da licença ambiental. Poderia ser dito, inclusive, que até mesmo os próprios empreendedores, salvo algumas exceções, não conhecem detalhadamente o que ocorre no seu “quintal”.

O processo de AIA, de acordo com SÁNCHEZ (1995), subdivide-se em três grandes estágios: etapas iniciais, análise detalhada e etapa pós-aprovação. Embora essas etapas possam ser dissociadas, um melhor aproveitamento do instrumento de AIA resulta de uma abordagem integrada do processo. Em âmbito estadual, na grande maioria dos casos que passa pelo licenciamento, têm-se enfatizado e concentrado esforços nas duas primeiras etapas, as de pré-decisão ou pré-aprovação. Essas etapas são de extrema relevância para a demonstração da viabilidade ambiental do empreendimento. Porém, não menos

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importante também é a terceira etapa, que deve compreender as práticas da gestão do empreendimento, também denominada acompanhamento ambiental, desde a sua implantação, passando pela operação, podendo englobar até mesmo sua desativação.

Conforme salientado por DIAS (2001), a AIA não pode ser tomada como um instrumento que se encerra com a aprovação dos relatórios da etapa pré-aprovação, por duas razões principais: toda previsão de impactos ambientais apresenta incertezas; e um empreendimento típico passa por diversas modificações.

O projeto da pista descendente da rodovia dos Imigrantes e seu processo de AIA corroboram essas duas afirmativas.

Na retomada derradeira desse projeto, em 1998, fez-se necessária a revisão do projeto de 1986 da Dersa, à luz do aprimoramento de técnicas de engenharia e do controle ambiental. Entretanto, somente isso não seria suficiente para garantir a proteção ambiental.

A construção da pista descendente ocorreu entre setembro de 1998 e dezembro de 2002. A Concessionária Ecovias consumiu 300 milhões de dólares na realização do empreendimento, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, agências que também impõem condições de controle ambiental à liberação de verbas. Nesse período, no pico das obras estiveram presentes no Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) cerca de 5.000 profissionais, tendo sido consumidos 420 mil m3 de concreto, 25 mil toneladas de aço, 600 mil m2 de fôrmas e escavados 800 mil m3 de solo e 1.200 mil m3 de rocha.

A adoção de práticas de gestão ambiental durante a construção foi indispensável para que o meio tão sensível pudesse suportar um projeto dessa envergadura.

Assim, a construção desse projeto de grande visibilidade política, afetando áreas sensíveis do ponto de vista ecológico, envolveu um esquema de acompanhamento ambiental sem similar ou precedentes em outra obra rodoviária no Estado de São Paulo. O poder público, por meio do órgão licenciador, conduziu esse programa com suporte de outros órgãos (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT e Instituto Florestal – IF) e com amplo envolvimento do proponente. As atividades técnicas foram realizadas por especialistas de diversas formações acadêmicas.

Pela participação da autora nesse acompanhamento ambiental, principalmente no tocante aos aspectos do meio físico, pôde-se conhecer e avaliar as conseqüências resultantes das atividades construtivas e a eficácia das medidas adotadas para minimizá-las. A magnitude e os limites de alcance desses impactos também puderam ser avaliados, bem como os compartimentos do meio físico mais afetados. Essa análise desenvolveu-se a partir de dados coletados em observações periódicas e de resultados de monitoramento de indicadores ambientais.

À execução de um projeto de engenharia civil, sobretudo uma obra de grande porte afetando ecossistemas sensíveis, associam-se impactos ambientais. A atenuação desses impactos envolve a adoção de uma série de medidas de prevenção, desde a concepção e o detalhamento do projeto, e no seu decorrer, adequada tomada de decisões.

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A revisão e compreensão da evolução dos traçados do projeto da pista descendente e a comparação dos impactos ocorridos àqueles previstos no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) contribuem ao estudo da eficácia do processo de AIA.

O conhecimento dos impactos ambientais, resultantes das atividades da construção da pista descendente e dos caminhos percorridos e encontrados para mitigá-los, permite constatar que a AIA se inter-relaciona a outros instrumentos de gestão ambiental (sistema de gestão e auditorias ambientais) e reforça sua abordagem multidisciplinar. A discussão da inserção desses instrumentos na fase de instalação de uma obra de grande porte demonstra o forte vínculo e as similaridades existentes entre acompanhamento e gestão ambiental.

O acompanhamento ambiental da construção da pista descendente representa um estudo de caso singular e complexo para a análise do processo de AIA, com ênfase na gestão ambiental do empreendimento. Este caso indica também a importância da continuidade da aplicação do instrumento de AIA na etapa pós aprovação, com resultados efetivos na minimização de impactos ambientais.

O desenvolvimento e os resultados dessa pesquisa são apresentados em sete capítulos. O primeiro capítulo introduz o tema, objeto da pesquisa. Neste capítulo são também estabelecidos os objetivos principais que devem ser alcançados com a

4.2 HISTÓRICO

A Serra do Mar, que se estende desde o Rio de Janeiro à Santa Catarina, configura-se

em uma gigantesca “muralha” – denominação dada pelos colonizadores – entre a baixada litorânea e o planalto. As altitudes ultrapassam 700 m, no Estado de São Paulo, e são freqüentes as declividades superiores a 50%.

Inicialmente, a transposição dessa extensa e elevada barreira física foi empreendida pelos colonizadores, na tentativa de descobrir uma rota que conduzisse às minas de ouro e prata na região dos Andes. Posteriormente, a importância em se ter caminhos, para o aporte de pessoas e cargas provenientes da Europa e para o escoamento da produção das terras brasileiras, consolidou a busca por novos trajetos.

Assim, a história das primeiras travessias da Serra do Mar confunde-se com a própria colonização do Brasil. No Estado de São Paulo, o ponto de partida desse processo rumo ao interior do país foi promovido pelo pioneirismo dos bandeirantes, que se aproveitavam das trilhas usadas pelos índios. Em 1532, o português Martim Afonso de Souza fundou a Vila de São Vicente. Nesse mesmo ano e com auxílio dos índios, marchou pela Trilha dos Goianases, também conhecida como Caminho de Piaçagüera ou Paranapiacaba e posteriormente Trilha dos Tupiniquins, ao longo do vale do rio Quilombo, cruzando a Serra até alcançar as nascentes do rio Tamanduateí (na atual cidade de São Paulo). Os jesuítas costumavam utilizar a Trilha do rio Perequê ou Caminho do Padre José para percorrer os 12 km entre Santos e Cubatão.

Em 1560, os jesuítas são incumbidos de encontrar outra passagem interligando São Vicente ao planalto do Piratininga (rio Tamanduateí). Assim, após a Trilha do rio Perequê,

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abriram uma travessia da Serra em 7 km, perfazendo o restante do percurso até o Piratininga por via fluvial, pelo rio Jurubatuba (atual rio Pinheiros). Essa nova via ficou conhecida como Caminho do Mar, na qual as viagens da Baixada ao Planalto duravam cerca de 4 dias.

A via Caminho do Mar manteve-se mal conservada até o século 18, dada a falta de recursos e tecnologia para lidar com as conseqüências de chuvas torrenciais sobre as encostas íngremes da Serra do Mar. Em 1789, o governador da Capitania de São Paulo, Bernardo José de Lorena, determinou a construção de uma estrada para substituí-la. Assim, em 1790, foi inaugurada a Calçada do Lorena, considerada, na época, uma das maiores e mais caras estradas do Brasil. Em seu percurso de 9 quilômetros, há cerca de 180 curvas em ângulos fechados, com rampas de 11%. Embora com traçado moderno, comparável às estradas européias, essa via, justamente por suas características técnicas, não podia ser transitada por veículos.

Cabe destacar sua importância para o escoamento de mercadorias, início do turismo e, principalmente, como marco histórico nacional. O imperador Dom Pedro I utilizou-a ao declarar a independência do país.

Em 1837, o governador da Província de São Paulo, Tobias de Aguiar, determinou a construção de uma estrada carroçável que se aproveitasse, sempre que possível, da Calçada do Lorena. Em 1844, surge a Estrada da Maioridade, cujo tráfego era constantemente afetado por escorregamentos deflagrados pelas condições climáticas e geomorfológicas locais. Em 1862, o novo governador encarregou José Vergueiro de realizar ajustes em suas características técnicas, de modo a solucionar tais problemas. Após as melhorias implementadas em 1964, foi novamente aberta ao tráfego conhecida então como Estrada do Vergueiro. Na descida da Serra eram consumidas 6 horas, em um carro de tração animal .

A concorrência da via férrea, inaugurada em 1867, fez com que a Estrada Velha do Mar, como também era chamada, fosse praticamente abandonada até 1913.

Nesta data, motivada pela chegada dos automóveis ao país, foi reconstruída. Passados 10 anos, o trecho Serra dessa estrada passou a ser denominado Caminho do Mar, sendo pavimentado com concreto, sujeito a melhorias nas características geométricas, e submetido à execução de obras de contenção e instalação de sistema de drenagem.

O Caminho do Mar, desativado ao tráfego de veículos desde 1979, abriga monumentos de grande valor da história nacional tombados pelo Condephaat, inaugurados em 7 de setembro de 1922, em comemoração ao centenário da independência.

No início do século 20, a prosperidade da região da Baixada Santista e a intensificação da imigração com destino às áreas de cultivo de café no interior de São Paulo impulsionaram a necessidade de uma nova rodovia, ligando esses dois pólos, que proporcionasse melhores condições de tráfego. Essa foi a principal conclusão do cruzamento entre o Caminho do Mar e a Calçada do Lorena.

Entretanto, somente 30 anos depois foi concluída uma das pistas da Via Anchieta, a atual ascendente, a segunda pista foi entregue em 1953.

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A primeira pista demandou quatro anos para desenvolvimento do projeto e mais 14, na sua construção. A Via Anchieta possui, nos 55,9 km de extensão, cinco túneis, sendo a primeira rodovia a contar com esse tipo de solução técnica no país. A história dessa rodovia também está intimamente relacionada à modernização da economia brasileira, nos setores de turismo e industrial, principalmente.

A Via Anchieta foi considerada, na época, uma obra faraônica, projetada para atender a capacidade de tráfego de veículos pesados até o final do século 20.

Contudo, mostrou-se insuficiente para suportar essa demanda em menos de 20 anos. No ano seguinte à inauguração, trafegavam 830 mil veículos e quatro anos após, 1,9

milhão de automóveis. A proposta de uma nova transposição da Serra do Mar surgiu como um dos objetivos da criação da Dersa, em 1969.

Assim, em 1976, foi concluída a rodovia do século, o trecho Planalto havia sido finalizado dois anos antes, como ficou conhecida a pista ascendente da rodovia dos Imigrantes, com 58,5 km (o trecho Planalto foi concluído, em 1974). O projeto original dessa rodovia comportava três pistas: ascendente, finalizada em 1976; descendente, em 2002; e reversível. Esta última foi descartada, apesar de seu pequeno segmento (113 m) construído, conhecido como galeria T-0, durante a execução da primeira pista.

4.3 AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL A Avaliação de Impacto Ambiental – AIA (Environmental Impact Assessment – EIA, em

inglês) é um termo que designa diferentes metodologias, procedimentos ou ferramentas empregados por agentes públicos e privados no campo do planejamento e gestão ambiental. Consiste no instrumento utilizado para descrever, classificar e propor medidas para minimizar os impactos ambientais decorrentes de um projeto de engenharia, de obras ou atividades humanas. A AIA surgiu com o intuito de “antever as conseqüências futuras sobre a qualidade ambiental de decisões tomadas hoje”, porém pode ser empregada a outras atividades como avaliação de passivo ambiental, análise de ciclo de vida e na gestão ambiental.

A AIA possui objetivos diferentes nos campos em que pode ser empregada. Contudo, há um foco central que permeia todas as suas aplicações, a manutenção da qualidade ambiental que, na maioria das vezes, recai sobre prevenção, minimização, correção ou compensação dos impactos ambientais.

Muitos autores propuseram significados para o termo AIA na literatura, enfatizando sua função de avaliar a situação futura do ambiente a partir da ação que se pretende adotar, como: “Um processo sistemático que examina antecipadamente as conseqüências ambientais de ações humanas”.

Como ferramenta de previsão dos efeitos prováveis decorrentes de uma ação, a AIA tem inerente carga de incerteza associada, porém, organizada como processo, prevê mecanismos para que as conseqüências dessas ações sejam avaliadas em tempo real, reduzindo a ambigüidade inicial e fortalecendo o instrumento.

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Assim, na etapa de AIA, após a decisão ter sido tomada durante a implantação, operação e desativação do empreendimento, desenvolvem-se as relações intervenções-meio, previstas na etapa anterior. Nesta etapa pode-se avaliar a magnitude dos impactos e a eficiência das medidas mitigadoras à luz da sua ocorrência.

4.3.1 Processo de AIA A AIA foi formalmente estabelecida pelo presidente dos EUA, em 1970, por meio da

sanção do National Environmental Policy Act (Nepa). Essa lei havia sido aprovada no ano anterior pelo congresso norte-americano. A AIA surge como resposta à pressão exercida por parcela organizada da opinião pública, no questionamento sobre a inserção da variável ambiental no processo decisório de empreendimentos que pudessem causar impactos ambientais.

Passados mais de 30 anos, esse instrumento, descrito por SADLER (1996) “como uma das inovações políticas de maior êxito no século 20”, encontra-se difundido em mais de 100 países e organizações em todo o mundo, inclusive no Brasil, auxiliando os responsáveis pela tomada de decisão. Sua aplicação é de exigência de organismos internacionais de financiamento como tem sido, desde 1989, pelo Banco Mundial.

A promulgação da Lei Federal 6.938, em 1981, marca a introdução formal da AIA em âmbito nacional, apesar de alguns de seus conceitos estarem inseridos em dispositivos legais de abrangência mais restrita anteriormente empregados no Brasil.

Algumas experiências isoladas de AIA foram patrocinadas por organismos internacionais envolvidos no financiamento de projetos no Brasil. Posteriormente, o Decreto 88.351/83 (substituído pelo Decreto 99.274/90) atrelou a AIA ao processo de licenciamento ambiental (Licença Prévia – LP, Licença de Instalação – LI e Licença de Operação – LO3), conduzido pelo poder público, disciplinado pela Resolução Conama 001/86. Na Resolução Conama 237/97 está claramente estabelecida a emissão da LP à apresentação de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA, Environmental Impact Statement – EIS, em inglês). A AIA está, então, no país, subordinada ao licenciamento sendo aplicada às atividades que possam causar significativo impacto ambiental, cuja aprovação fica condicionada à apreciação de um EIA.

A AIA, inicialmente proposta como mecanismo de consulta prévia sobre a viabilidade ambiental de um projeto, consolidou sua participação em processos decisórios, finalidade à qual está amplamente divulgada e utilizada. Constitui-se também em importante instrumento de avaliação da inserção da variável ambiental durante todo ciclo de vida de um empreendimento. Uma das principais inovações da AIA foi a possibilidade do envolvimento do público nas decisões.

O processo de AIA compreende três grandes etapas: etapas iniciais, cujo escopo principal é a definição do tipo de análise em que projeto deverá ser submetido; análise detalhada, a qual engloba várias atividades até a aprovação do projeto; e etapa pós-aprovação (ou pós-decisão), que corresponde aos procedimentos adotados após a comprovação da viabilidade ambiental e nos quais a AIA compreende e inter-relacionasse a outros instrumentos de gestão ambiental.

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O processo de AIA é complexo e moroso, sendo evidente a necessidade de uma etapa de triagem (screening, na língua inglesa), que corresponde às etapas iniciais da Figura abaixo. Assim, devem ser submetidos à análise detalhada projetos que podem causar significativo impacto ambiental. Essas duas primeiras foram agrupadas como etapa de pré-decisão ou pré-aprovação. A eficiência do processo de AIA está condicionada à aplicação completa das etapas pré e pós-decisão para um projeto.

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4.4 IMPACTOS AMBIENTAIS E MEDIDAS MITIGADORAS

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4.5 CRITÉRIOS PARACLASSIFICAÇÃO DE IMPACTOSAMBIENTAIS

Uma maneira de atestar a significância dos impactos ambientais durante a etapa pós-decisão do processo de AlA consiste em dispor das mesmas técnicas utilizadas na etapa prévia. Durante a confecção de ETA, empregam-se ferramentas para prever e avaliar a

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importância das conseqüências das ações sobre o meio ambiente. Classificar os impactos é uma das formas comumente empregadas para sua avaliação. São vários os critérios de classificação encontrados na literatura e na legislação. Os critérios com uso consagrado na etapa prévia do processo de AlA devem ser adaptados, sem prejuízo substancial de conteúdo, para o objetivo de classificação aqui definido.

Como os critérios são, em certa medida, subjetivos e dependem da percepção individual de quem os manipula, o que requer juizo de valor, a dificuldade sentida para sua aplicação na etapa de pré-aprovacão de um empreendimento também se manifesta, em parte, na de pós-aprovacão. O verdadeiro e concreto diferencial na avaliação da importância dos impactos ambientais nessas duas etapas do processo de AlA e que na pós-aprovacão ha a possibilidade de se aferir a eficiência da medida mitigadora. Entende-se, desse modo, que o papel da classificação dos impactos ambientais nessas duas etapas e bastante distinto. Na etapa prévia, essa avaliação norteará a demonstração da viabilidade ambiental do empreendimento e o modo de sua análise no processo de AlA. Na etapa de acompanhamento, essa classificação tem como principal objetivo destacar os impactos mais significativos para subsidiar a tornada de decisão acerca da adocão e eventual redimensionamento das medidas. Possibilita planejar a prioridade de aplicação das medidas. Além disso. essa classificação permite, no decorrer do acompanhamento, controlar o comportamento e evolução quanto a significância dos impactos constatados, contemplando-os adequadamente no programa de mitigação.

Não obstante a importância intrínseca da demonstração da significância dos impactos ambientais, essa análise tem corno finalidade principal subsidiar a avaliação da capacidade de atenuação dessas alterações por meio da adoção de medidas e procedimentos durante a construção das obras.

Ao se classificarem os impactos, alguns dos critérios relevantes na etapa prévia mostram-se prescindíveis durante a etapa de realização das obras. A probabilidade de ocorrência do impacto e um deles, bem corno a distinção entre benéficos e adversos. Nesta pesquisa, dado o foco no controle ambiental, apenas os impactos negativos são considerados. Nesta etapa, depreende-se que a seleção e a aplicação desses critérios devem estar direcionadas ao controle das ações e a condução das próprias atividades de acompanhamento ambiental.

Assim, foram selecionados critérios para análise dos impactos nos quais estivessem consideradas questões pertinentes a esta etapa do ciclo de vida do empreendimento: qual a magnitude, intensidade ou gravidade do impacto? há possibilidade de ser revertido? qual sua duração? quais seus limites de alcance? Essas indagações correspondem a urna das principais preocupações referentes a fase construtiva de obras — a eficácia das medidas mitigadoras. Conhecer o impacto quanto a sua intensidade, reversibilidade e comportamento no tempo e espaço é essencial para avaliar a eficácia das medidas mitigadoras. Os impactos ambientais foram classificados pelos seguintes critérios — magnitude, reversibilidade, duração e distribuição espacial.

A magnitude corresponde a dimensão ou porte do impacto ambiental associada ao receptor. que não mais e que a intensidade da alteração. Como o empreendimento insere-se em áreas legalmente protegidas (PESM, manguezais e de proteção a recursos hídricos), a biota, de modo direto, e o homem, indiretamente, são os receptores mais

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afetados pelas alterações ocorridas. Na atribuição do nível de “gravidade” do impacto, está implícita sua repercussão no meio afetado. A intensidade do impacto pode ser representada pelo monitoramento de indicadores. O indicador consiste em “um elemento ou parâmetro que fornece uma medida (ao menos ao nível qualitativo) da magnitude de um impacto ambiental”. Indicadores ambientais podem ser utilizados para descrever o meio ambiente afetado. A esses indicadores foram associados parâmetros quantificáveis que refletem os processos dos meio físicos potenciais ou em curso. Para determinar a magnitude dos impactos da fase de construção da pista descendente, foi medido e avaliado o comportamento dos indicadores ambientais selecionados.

A magnitude é classificada em três níveis — pequena, media e grande. Assim, por exemplo, a intensificação dos escorregamentos na Serra do Mar decorrente da ação antrópica traz conseqüências indesejáveis sobre a biota e as drenagens. Desse modo, o desencadeamento de um processo que pode atingir elevadas proporções será considerado de grande magnitude. 0 comprometimento (poluição) nos níveis de qualidade d’água dos córregos e rios por componentes químicos (calda de cimento) também e impacto de grande magnitude. Por outro lado, pequenas feições erosivas em um talude de corte são de menor expressão ou pequena magnitude. Destaca-se que há uma tendência em confundir a magnitude de um impacto com sua distribuição espacial. Nem sempre um impacto de grande magnitude terá uma expressão regional e vice-versa. A magnitude confere o “grau, grandeza e severidade” do impacto, enquanto sua abrangência remete apenas ao alcance em área dos seus efeitos.

A reversibilidade representa a possibilidade de as conseqüências de urna determinada intervenção serem revertidas naturalmente ou pela ação humana, com a implementação de medidas mitigadoras. A reversibilidade pode ser considerada total, parcial ou nula. Por exemplo, os impactos associados a ruptura de taludes instáveis podem ser totalmente reversíveis se urna intervenção for realizada, Mo ocasionando instabilidade da encosta ou assoreamento de curso d’água. A alteração da qualidade das águas pelo lançamento das águas dos túneis, com qualidade em desacordo com os parâmetros estabelecidos para o corpo receptor, é um impacto irreversível, visto que, ainda que momentaneamente, modifica suas propriedades e afeta aqueles que dela dependem (biota e homem). Urna situação intermediária seria um processo erosivo em desenvolvimento para o qual há possibilidade de aplicação de medida para atenuá-lo, esse impacto pode ser classificado com reversibilidade parcial, pois, em parte, a alteração pode ser contida.

A duração ou distribuição temporal é o critério que reflete o período de tempo em que o impacto ira permanecer afetando o meio ambiente. podendo ser curta, media ou longa. Como o empreendimento foi submetido a acompanhamento ambiental, a major parte das alterações constatadas foi objeto de procedimentos para atenuação. Para a maioria dos casos, os efeitos desses impactos tendem a cessar quando adotamos medidas, ainda que para alguns não. Mesmo assim, adotou-se, na definição do tempo máximo de duração dos impactos, o período da construção da obra. Considera-se de duração curta um impacto cujos efeitos alcancem de semanas a poucos meses, por exemplo, alteração na qualidade da água, decorrente da operação de pequenas bacias de retenção assoreadas; longa, cujos efeitos permaneçam de um ate quatro anos, por exemplo, impactos relacionados a obstrução de drenagem por atulhamento de blocos; e media, as situações intermediárias, como processos erosivos em áreas extensas expostas.

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A distribuição espacial ou abrangência é o critério que fornece o alcance territorial do impacto, é a extensão, em área, dos seus efeitos. A abrangência é subdividida em pontual, local e regional. O empreendimento em questão, no trecho em que atravessa o PESM, não possui faixa de domínio, a que, para rodovias, geralmente e associada a área diretamente afetam, onde se concentram os impactos locais. Desse modo, um dos limites tangíveis para essa análise remete a área de intervenção, o que englobaria as obras propriamente ditas, a estrada de serviço e as áreas de apoio. Nesse limite manifestam-se os impactos locais, por exemplo, soterramento de vegetação em área que Mo excede os limites da área da intervenção. Os impactos pontuais são aqueles restritos a um “ponto” dentro da área de intervenção, por exemplo, pequenos processos erosivos localizados em talude de obra. Regionais, por sua vez, correspondem aos impactos cuja extensão ultrapassa os limites da área de intervenção, por exemplo, alteração da qualidade da água — poluição. Se comparada ao que comumente é aplicado na realização de um ETA para aspectos do meio antrópico — pontual (área diretamente afetada pela malha viária, ou entorno da rodovia, com extensão de 100 m aproximadamente), local (municípios afetados pela rodovia) e regional (a região metropolitana integrada por essa malha viária) — essa subdivisão poderia parecer rigorosa demais. Entretanto, deve-se considerar que a maior parte do empreendimento se insere em áreas legalmente protegidas. Assim, dada a sensibilidade dos biomas afetados, considera-se que um processo de escorregamento ou assoreamento e a poluição de um dos afluentes do rio Cubatão decorrente da obra podem ser enquadrados, pelos critérios estabelecidos na classificação, corno impactos regionais.

Os impactos ambientais foram, então, caracterizados e hierarquizados entre muito significativos, significativos e pouco significativos. A forma utilizada para classificar os impactos consistiu na combinação de critérios e seus atributos. Urna escala foi estabelecida para cada um dos critérios de importância definidos, com base nos três atributos por critério pré-estabelecidos, corno mostra o quadro abaixo.

magnitude reversibilidade duração abrangênciagrande irreversIvel longa regionalmedia parcial media local

pequena total curta pontual cond

ição

m

ais

críti

ca

A combinação do resultado da análise de cada atributo por critério, por meio de um conjunto de regras lógicas, conduz a avaliação da significância do impacto. Assim, um impacto muito significativo deve obedecer, pelo menos, a essas duas condições: no mínimo três critérios dos quatro selecionados (magnitude, reversibilidade, duração e abrangência) devem possuir atributos na sua condição mais critica; e o quarto atributo Mo pode estar na sua situação menos critica. Os arranjos possíveis entre esses parâmetros, para classificar o impacto corno muito significativo, estão ilustrados no quadro abaixo.

magnitude reversibilidade duração abrangênciagrande irreversIvel longa regional ou localgrande irreversIvel longa ou media regionalgrande irreversIvel ou parcial longa regional

grande ou media irreversIvel longa regional

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Por outro lado, um impacto pouco significativo deve atender simultaneamente a dois requisitos: no mínimo três critérios dos quatro escolhidos devem ter seus atributos em seu grau menos elevado; e o quarto atributo não pode estar na sua condição mais critica. O quadro abaixo mostra as combinações possíveis para classificar o impacto corno pouco significativo.

magnitude reversibilidade duração abrangênciapequena ou media total curta pontual

pequena total ou parcial curta pontualpequena total curta ou media pontualpequena total curta pontual ou local

Os impactos significativos, por sua vez, correspondem a todas as demais

combinações entre parâmetros Mo abrangidas pelos impactos muito e pouco significativos. Os impactos significativos Mo estão representados graficamente pelo elevado numero de arranjos possíveis.

4.6 MEDIDAS MITIGADORAS

As medidas mitigadoras compreendem todas as ações e os procedimentos adotados na atenuação da significância dos impactos ambientais negativos. Nesse sentido, correspondem a práticas para evitá-los e reduzi-los e ate mesmo aquelas para compensar e recuperar o ambiente degradado. Há uma “ordem de preferência para as medidas mitigadoras: evitar impactos e prevenir riscos; reduzir ou minimizar impactos negativos; compensar impactos negativos que não podem ser evitados ou reduzidos; recuperar o ambiente degradado ao final do ciclo de vida ou durante o funcionamento do empreendimento”.

As medidas para evitar impactos, foram de suma relevância na atenuação de impactos de elevada significância. As medidas para compensar os impactos negativos da construção da pista descendente extrapolam esta fase do ciclo de vida do empreendimento e não são objeto dessa pesquisa, embora também sejam de extrema importância na minimização de impactos ambientais. O foco da pesquisa refere-se exatamente a análise das medidas utilizadas para reduzir a significância dos impactos associados a construção das obras, cuja eficácia pôde ser constatada durante o acompanhamento ambiental.

Essas medidas podem contemplar desde procedimentos simples ate soluções complexas (obras estruturais) envolvendo, ainda, a adoção de critérios de projeto. A eficácia dessas medidas mitigadoras na atenuação dos impactos ambientais sobre os componentes do meio físico e avaliada em três níveis, conforme proposto no quadro abaixo.

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medidas mitigadoras características principais

para evitar a geração de impactos negativos

- alterações de traçado - características técnicas do projeto - reutilização das áreas degradadas remanescentes da construção da pista ascendente

para reduzir a significância de impactos negativos

- medidas e procedimentos que intervêm diretamente na redução das conseqüências negativas associadas as ações de construção do empreendimento (por exemplo, bacias de retenção de sedimentos, proteção de taludes, estações de tratamento de água, etc.)

para compensar impactos negativos não-mitigados

- recuperação de áreas degradadas - plantios compensatórios de espécies nativas

As medidas mitigadoras para os impactos sobre o meio físico associados a fase de

construção, foram avaliadas com base nas observações das inspeções de campo e de acordo com os critérios propostos no quadro acima. Em alguns casos, essa avaliação também foi subsidiada pelos resultados do programa de monitoramento de qualidade da água, como apontado no quadro abaixo.

medida mitigadora critérios

eficaz quando foi suficiente na minimização do impacto atendendo as condições da licença ambiental e aos requisitos legais

parcialmente eficaz quando foi praticamente suficiente na minimização do impacto, porém constatou-se a necessidade de alguma outra medida associada ou melhoria na prática adotada

ineficaz quando foi insuficiente na minimização do impacto

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4.7 SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL - SGA A etapa de acompanhamento do processo de AlA tem alguns pontos em comum com

outros instrumentos de gestão ambiental, como auditoria, monitoramento e SGA. Dentre os quais, o SGA é um dos mais divulgados, conhecidos e aplicados na atualidade.

A AlA e um instrumento de gestão de cunho obrigatório no país, e em outras jurisdições, na etapa de aprovação de um empreendimento. No entanto, é na fase de pós-aprovação, de acompanhamento ambiental, que e realizado o controle dos impactos decorrentes do projeto. Diferente da AlA, o SGA possui caráter voluntário. A opção pelo SGA está fundamentada no desejo de melhoria do desempenho ambiental pela organização que o adota. Porém, o compromisso de cumprir todos os requisitos legais, inclusive as obrigações impostas pelas licenças ambientais, é obrigatório em um SGA que atenda as diretrizes da norma ISO 14.001.

O termo ou propósito principal de melhoria do desempenho ambiental, embora com conotação sempre associada ao SGA, também pode ser correlacionado a etapa de acompanhamento ambiental da AlA. Nesta ultima, a expectativa é que seja reduzida a significância dos impactos identificados e que seja possível mitigar impactos não-previstos. Essa preocupação nada mais é do que urna tentativa de melhorar os resultados do empreendimento no tocante a aspectos ambientais.

Assim, a despeito das finalidades a que se destinam, há várias semelhanças entre o instrumento SGA, mais de caráter organizacional, e a etapa de acompanhamento do instrumento AlA, mais de cunho analítico. Esses vínculos podem ser explorados para mostrar que o acompanhamento, além do papel imprescindível na atenuação de impactos ambientais, também demonstra ser possível a inserção das práticas ambientais na estrutura gerencial do empreendimento.

O modelo preconizado pelas normas ISO 14.000 pode ser aplicado a qualquer organização e qualquer atividade, inclusive a construção de empreendimentos. A própria Ecovias certificou a operação do seu sistema viário (SAT) com o selo NBR ISO 14.001, em 2001.

Sem que tenha havido a adoção de um sistema formal de gestão ambiental, na construção da pista descendente da rodovia dos Imigrantes, foram empregados diversos elementos de um SGA, que também contribuíram para os bons resultados de proteção ambiental.

O ciclo PDCA (Plan — planejar; Do — realizar; Check — verificar; e Act — atuar para corrigir), composto por esses quatro grandes passos, é considerado, a ferramenta mais importante e que resume todo o estabelecimento do processo do SGA. Esse ciclo é particularmente importante para avaliação de desempenho ambiental, conforme enfatizado na norma da série ISO 14.000 especifica para o assunto (ISO 14.031).

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Ciclo PDCA

Acompanhamento ambiental

SGA

1. Definição do escopo — objetivos e questões relevantes

1. Comprometimento e Política — estabelecimento da política ambiental

P 2. Operacionalidade — escolha dos indicadores, métodos, responsáveis.

2. Planejamento — identificar aspectos e impactos ambientais, estabelecimento de objetivos e metas e de urn programa de gestão ambiental

D 3. Coleta de dados, monitoramento, observações 3. Implementação do SGA

C 4. Avaliação e gerenciamento de resultados 4. Medição e avaliação

A 5. Tornada de decisão sobre ajustes e providências 5. Revisão do SGA

4.8 CUSTOS

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4.9 CONCLUSÕES A análise do processo de Avaliação de Impacto Ambiental (AlA) do projeto da pista

descendente da rodovia dos Imigrantes demonstrou o potencial que possui este instrumento na minimização de impactos ambientais adversos, desde a sua etapa prévia ate a de pós-aprovaÇão.

A etapa prévia do processo de AlA foi de extrema importância para que o desenvolvimento desse grande projeto de engenharia civil que afeta ecossistemas sensíveis (Mata Atlântica e mangues) se tornasse ambientalmente viável.

Assim, no balanço entre as condicionantes técnicas, econômicas e ambientais, estas ultimas foram decisivas na definição do projeto executivo e sua articulação com as áreas de apoio, possibilitando, sobremaneira, a redução da significância dos impactos ambientais potenciais associados a fase de construção da pista descendente. quanto a supressão vegetal, incidência de processos de dinâmica superficial e sobrecarga de tráfego nas vias adjacentes. Cabe salientar que as duas ultimas revisões desse projeto ocorreram durante a solicitação da licença de instalação (LI), ou seja, no inicio da etapa de pós-decisão, devido a história peculiar desse projeto. Para empreendimentos analisados atualmente, a expectativa é que todas as questões locacionais e tecnológicas sejam avaliadas e deliberadas na etapa prévia do processo de AlA.

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O acompanhamento ambiental deste empreendimento confirmou aspectos que vêm

sendo destacados há tempos por pesquisadores que realizam análise do sistema de AlA: as previsões são falhas, há mudanças ou ajustes de projeto após a aprovação, que podem desencadear novos impactos, impactos imprevistos ocorrem e nem sempre as medidas propostas são suficientes.

Dos impactos sobre o meio físico constatados durante a construção, 68% foram classificados como significativos ou muito significativos. Dos nove tipos de impactos, sete não haviam sido previstos no ETA, dentre estes, encontra-se o principal impacto ambiental, a alteração da qualidade da água decorrente dos procedimentos de escavação dos túneis. A execução dos viadutos em encostas íngremes e a recuperação da área degradada (passivo ambiental) denominada S.in.2, para implantação de parte do traçado, envolveram ações e impactos, também significativos, não-previstos que implicaram novas tomadas de decisão, revisão do projeto e demandaram estudos adicionais.

O acompanhamento ambiental possibilitou manter aceitáveis os níveis de perturbação do meio físico nos ecossistemas afetados, no tocante aos compartimentos água, o mais atingido, e solo. Das 36 medidas mitigadoras empregadas, 72,2% foram classificadas com eficazes, 19,5% como parcialmente eficazes e 8,3% como ineficazes. Apesar desses porcentuais e do numero elevado de impactos classificados como muito significativos ou significativos, pode-se considerar que as alterações do meio físico foram atenuadas de maneira eficiente. As medidas vistas como eficazes foram objeto de intenso e periódico controle, que contribuiu para sua aplicação de modo satisfatório. As medidas tidas como parcialmente eficazes e ineficazes puderam ser redimensionadas ou associadas a outras práticas, quando observados resultados não-desejáveis. A instalação de estações de tratamento de água (ETA), a jusante dos túneis, é o exemplo mais elucidativo.

Desse modo, o acompanhamento ambiental da pista descendente da rodovia dos Imigrantes permitiu que forças externas (órgãos ambientais) impusessem a necessidade de controles internos (empreendedor) organizados de modo a atingir conformidade. Nesse arranjo, todos os atores envolvidos (órgão ambiental e seus parceiros IF e IPT; empreendedor, construtor e consultoria ambiental; população, com o respaldado do Ministério Publico) puderam exercer seus papéis para um efetivo controle do ambiente.

O principal valor agregado do acompanhamento, ao lado do controle ambiental das atividades, reside na incorporação da variável meio ambiente na estrutura gerencial da empresa. Ante o atendimento das demandas da contraparte — órgão licenciador — no acompanhamento ambiental, e imperativo que isso ocorra. Somente assim a componente ambiental co-participa das tornadas de decisão posteriores a aprovação do projeto e não vem a reboque das decisões técnico financeiras, que podem ser muitas e diversificadas e causar impactos significativos.

As práticas de gestão empregadas no acompanhamento foram semelhantes as de um SGA, assim corno as etapas do ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act) mostram similaridades as etapas de um programa de acompanhamento ambiental. As atividades da fase construtiva da pista descendente foram submetidas a análise objetiva, sistemática, periódica e documentada, que são os pilares da auditoria. A integração entre acompanhamento e outros instrumentos de gestão aponta para a proposição de modelos

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de protocolo de auditoria ambiental e divulgação das práticas de controle ambiental desenvolvidas.

Os custos do acompanhamento da construção da pista descendente representaram cerca de 1,14% do custo total do empreendimento, considerando-se os gastos do proponente (1,03%) e do poder publico (0,11%).

Ao empreendedor, reverteu em vantagens expressivas. Um projeto com essa visibilidade poderia, eventualmente, sofrer embargos longos, caso as fragilidades do ambiente não fossem respeitadas. Quanto poderia custar mais dias de obras paralisadas se as ETAs não fossem construidas? Esse é apenas um dos aspectos econômicos mais evidentes a ser computado no balanço dos gastos. Para o órgão licenciador, também não foi diferente; o conhecimento adquirido com essa experiência, além de promover major respaldo técnico a concessão da licença ambiental subseqüente (licença de operação — LO), também pode ser reaplicado na análise técnica de outros projetos similares.

O acompanhamento ambiental da pista descendente da rodovia dos Imigrantes consistiu em urna experiência inédita e bem-sucedida da inserção da variável ambiental no setor da construção rodoviária paulista. A etapa pós-aprovação do processo de AlA revelou ser urna ferramenta poderosa de gestão. O acompanhamento demonstrou que, embora gere custos e possa evidenciar problemas e eventuais fragilidades no tratamento das questões ambientais pelo empreendedor, o que poderia desestimular sua adoção, pode também trazer ganhos, não somente para a sociedade em geral, corno para o próprio proponente.

O emprego do acompanhamento ambiental contribui para a melhoria da prática da AlA em um sentido mais amplo, sem o qual o processo, corno demonstrado, perde força e pode ter sua eficácia e objetivos comprometidos.

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5. Caso Conflito Exploração Offshore x Pesca Artesanal

5.1 INTRODUÇÃO Não datam de hoje as atividades petrolíferas offshore. Contudo, apenas recentemente,

tem sido levado em consideração os impactos ambientais que a atividade produz. A exploração de petróleo no ambiente marítimo é uma atividade secular. Data de

1886, quando se descobriu que o campo de Summerland , na Califórnia, se estendia para dentro do mar. Nos últimos 70 anos, o desenvolvimento de novas tecnologias permitiu colocar ao alcance das sondas de perfuração praticamente todos os lençóis de petróleo, a qualquer profundidade do mar, inclusive com a colaboração da tecnologia espacial.

Atualmente, a matriz energética da economia mundial depende, em grande medida, do petróleo, fazendo com que a exploração deste seja um grande negócio. No Brasil, o petróleo ocupa uma posição de destaque na matriz energética, com aproximadamente 30% da produção de energia primária. No entanto, sua exploração é uma das maiores fontes poluidoras do planeta, ao causar efeitos ecológicos de curta e longa duração e trazer prejuízos às demais atividades econômicas existentes nas áreas atingidas pelo empreendimento.

Este resumo pretende tratar dos impactos decorrentes de algumas fases da cadeia petrolífera em ambiente marinho (as fases de aquisição de dados sísmicos e de perfuração de poços exploratórios) sobre uma determinada atividade socioeconômica – a atividade pesqueira e, em especial, a dita artesanal.

A pesca marítima no Brasil é uma atividade extremamente importante, não só pelo aspecto econômico, mas, também, por sua função social.

Encontrada em todo o vasto litoral brasileiro, está tradicionalmente ligada à comunidades costeiras, as quais devido a sua baixa especialização e elevados níveis de pobreza fazem dela a principal fonte de alimentação e de ocupação voltada ao sustento financeiro famílias.

5.2 A ATIVIDADE PESQUEIRA ARTESANAL NO AMBIENTE MARÍTIMO 5.2.1 Categorias e finalidades da pesca extrativa marítima no Brasil Subdividir a atividade pesqueira produtiva simplesmente em pesca artesanal e

industrial é discutível, uma vez que nem sempre se pode contar com uma fronteira claramente definida entre as duas categorias. Isto se deve, em grande medida, à particularidades desta atividade, extremamente variável de região para região.

A definição de pesca “artesanal” e “industrial” modifica-se de acordo com o estado ou a região e, mesmo entre os agentes, não existe um consenso acerca das características

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que as distinguem. Por exemplo, um pescador proprietário de uma única embarcação de pequeno porte, dedicada, no entanto, à pesca da sardinha, se considera um pescador artesanal, mesmo que sua produção esteja direcionada em sua totalidade ao setor industrial (JABLONSKY, 1996).

Definir a pesca que utiliza barcos de pequeno porte, movidos a motor de baixa potência, remo ou vela como pesca artesanal, no entanto, parece senso comum, assim como identificar a pesca que utiliza grandes embarcações com alguma tecnologia e grande poder de conservação e armazenagem do pescado como pesca industrial.

Para melhor entender tal classificação, deve-se subdividi-la em outras duas subcategorias. A pesca artesanal pode ser classificada como Pesca Artesanal de Subsistência e Pesca Artesanal Comercial ou de Pequena Escala. E a pesca industrial como Pesca Industrial Costeira e Pesca Industrial Oceânica.

Abaixo, as definições de cada uma delas: a) Pesca Artesanal de Subsistência A Pesca Artesanal de Subsistência tem como principal finalidade a obtenção de

alimentos para consumo próprio. Eventualmente, há comercialização do excedente. É praticada com técnicas rudimentares, possui pouca finalidade comercial e a eventual comercialização é realizada pelo próprio pescador.

b) Pesca Artesanal Comercial ou de Pequena Escala Combina a obtenção de alimento para consumo próprio com a finalidade comercial.

Utiliza barcos de médio porte, adquiridos em pequenos estaleiros ou construídos pelos próprios pescadores. Podem ter propulsão mecanizada ou não. Os petrechos e insumos utilizados não possuem qualquer sofisticação. Utilizam normalmente equipamentos básicos de navegação, em embarcações geralmente de madeira, com estrutura capaz de produzi r volumes pequenos ou médios de pescado. Forma a maior porção da frota brasileira e acredita - se responder por aproximadamente 60% do volume das capturas nacionais.

c) Pesca Industrial Costeira Realizada por embarcações capazes de operar em áreas mais distantes da costa,

explora recursos pesqueiros que se apresentam relativamente concentrados. Possui mecanização a bordo para a operacionalização dos petrechos de captura; propulsão motorizada, sempre com motores diesel; equipamento eletrônico de navegação e detecção; e material do casco de aço ou madeira. O segmento da pesca industrial costeira no Brasil está concentrado na captura dos importantes recursos pesqueiros nacionais tanto em volume como em valor da produção.

d) Pesca Industrial Oceânica No Brasil, a Pesca Industrial Oceânica ainda é embrionária. Envolve, no entanto,

embarcações capazes de operar em toda a ZEE e até mesmo em áreas oceânicas mais distantes, como em outros países. Estes barcos possuem grande autonomia, podendo até mesmo industrializar a bordo pescados capturados. São dotados de equipamentos de navegação e de detecção de cardumes de altíssima tecnologia.

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Ainda sim, tal classificação parte de um pressuposto errado: o de que a pesca deixa de ser artesanal e passa a ser industrial a partir de um certo tamanho de embarcação utilizada. Classificar a pesca por objetivo final, portanto, se mostra o mais adequado. De acordo com o Projeto de Lei n° 687- D, de 1995, a pesca pode ser classificada em comercial e não-comercial. A pesca comercial inclui a pesca artesanal, a pesca de pequena escala e a pesca de grande escala. Já a pesca não comercial envolve a pesca cientifica, a pesca amadora e a pesca de subsistência. A seguir, a definição de cada classificação da pesca comercial, que é a que nos interessa neste estudo:

a) Pesca Comercial Artesanal Aquela que é praticada autonomamente, diretamente por pescador profissional, com

meios de produção próprios, sozinho ou com auxilio de familiares, ou via contrato de parceria com outros pescadores.

b) Pesca Comercial de Pequena Escala Praticada por pessoa física ou jurídica envolvendo, no entanto, pescadores

profissionais, com vínculo trabalhista ou via contrato de parceria, utilizando embarcações de pequeno porte.

c) Pesca Comercial de Grande Escala Praticada como a pesca comercial de pequena escala, porém utilizando embarcações

de grande porte. É geralmente praticada por indústrias pesqueiras. Classificar a pesca de acordo com estas definições parece mais esclarecedor,

portanto, já que o tamanho de uma embarcação nada pode dizer sobre o objetivo da atividade. Como já visto, muitas vezes uma embarcação pequena pode estar trabalhando para fins industriais e, contudo, o pescador se considerar artesanal.

Quando falarmos nesse resumo, portanto, em atividade pesqueira artesanal, estaremos referindo - nos à pesca comercial artesanal, ou seja, uma atividade que se diferencia da pesca de subsistência porque envolve comunidades costeiras que pescam não só para o seu consumo, mas também para comercializar o pescado capturado.

A pesca industrial, ou seja, a pesca comercial de grande escala, é mais importante nas regiões sudeste e sul e a pesca comercial artesanal e de pequena escala é mais representativa do Nordeste. No entanto, esta desempenha um importante papel em todo o País. Pode-se dizer que esta pesca é responsável hoje por cerca de 60% da produção pesqueira extrativa nacional.

5.2.2 Situação da pesca extrativa marítima no Brasil – Potencialidades do setor

pesqueiro e a importância socioeconômica da atividade para o país Primeiramente, é importante ressaltar a vocação natural do País ao desenvolvimento

da atividade pesqueira. Características naturais favorecem a pesca: o país possui 8,5 mil km de extensão de costa marítima, sua ZEE abrange mais de 4,3 milhões de km², metade de seu imenso território, e condições climáticas contribuem para a grande diversidade de espécies animais encontradas em suas águas. No entanto, em que pese os fatores

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naturais propícios à piscosidade, a produção pesqueira brasileira tem ainda pouca expressão quando comparada com a de outros países. Em 2000, ocupou a 24º posição no ranking internacional, segundo a FAO.

Apesar das dimensões continentais do País e da extensão de sua costa, não se pode comparar a produção pesqueira brasileira com a produtividade de outros países, que apesar de possuírem uma costa menor produzem mais do que o Brasil. É o caso, por exemplo, do Peru, Chile e Japão. Isto porque, ao se fazer tal comparação, não se leva em consideração características de produtividades de cada ambiente, do estágio tecnológico de cada país e do fato de que alguns países pescam em várias partes do mundo, não se restringindo apenas ao seu ambiente, como é o caso do Japão.

No caso do Peru, por exemplo, este também não pode ter sua produtividade comparada com a do Brasil, apesar de possuir uma costa bem menor, pelo fato de que metade de todas as áreas de ressurgência (fenômeno que propicia a ocorrência de recursos pesqueiros) do mundo encontra - se na costa peruana.

Inversamente, há uma expressiva parcela da população brasileira que depende da atividade pesqueira, direta ou indiretamente, para se sustentar. A pesca esteve presente na história do país desde os tempos da colônia e está entre as atividades econômicas mais antigas e, por isso, mais tradicionais do Brasil. Além disso, a preponderância da pesca artesanal, no ambiente pesqueiro brasileiro, estabelece um fator adicional de importância sócio ambiental para este setor. Ao longo de toda a sua costa, inúmeras comunidades pesqueiras nasceram nesses cinco séculos de história. Formou - se um imenso contingente de pessoas que vivem da pesca e que necessitam dela para sobreviver.

Pouco se sabe sobre o potencial pesqueiro da ZEE brasileira. Com o objetivo de conhecê-lo melhor, o Programa “Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva Brasileira” – Programa REVIZEE, que resultou do IV PSRM (que vigorou entre 1994 e 1998), foi desenvolvido através do envolvimento da comunidade científica nacional, especializada em pesquisa oceanográfica e pesqueira, e o aproveitamento da capacidade instalada das Universidades e Instituições de Pesquisas voltadas para o mar. O V PSRM, vigente entre 1999 e 2003, manteve o programa como prioridade. No entanto, o programa ainda não apresentou dados concretos e ainda está em elaboração.

Os resultados preliminares do REVIZEE, no entanto, deixam claro que é impossível aumentar de forma significativa - e não- predatória - a quantidade de pescado marinho. A costa do Brasil é pobre em espécies comerciais e os estoques das espécies mais exploradas estão quase ou totalmente exauridos.

A pesca predatória é um problema antigo no Brasil. No entanto, explorar os recursos pesqueiros de forma sustentável e responsável garantiria o sustento e a sobrevivência de milhões de brasileiros. A atividade é grande fornecedora de proteína animal para o consumo humano e, segundo recomendações da FAO, o consumo mínimo de produtos pesqueiros deve ser de 12 kg/hab / a no. No Brasil, esse consumo é de apenas 6,8 kg/hab / ano, de forma que estimular e disseminar a atividade pesqueira significa a possibilidade de aumentar a quantidade de proteína animal consumida pela população brasileira, dando - se, assim, um grande passo no combate à desnutrição e à fome.

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Em termos econômicos, a atividade pesqueira no Brasil é responsável, hoje, por 834 mil empregos diretos, 2,5 milhões de indiretos e por uma renda anual de 4 bilhões de reais, de acordo com dados da SEAP. Em verdade, a Pesca é uma das poucas atividades econômicas que absorve mão- de- obra sem nenhuma ou com pouca especialização, e a única esperança de trabalho para certos grupos da população brasileira.

O setor pesqueiro nacional conta com um parque industrial composto por cerca de 300 empresas voltadas à captura e ao processamento do produto.

Portanto, o desenvolvimento do setor pesqueiro é fundamental para o crescimento econômico, propiciando distribuição de renda, ampliação dos postos de trabalho e melhoria do bem-estar de seus trabalhadores.

No entanto, devido a características históricas e intrínsecas ao setor, trata-se de uma atividade muita sensível à oscilações, mal organizada socialmente e de difícil regulação. No item seguinte, fizemos um breve resumo da história do setor pesqueiro no Brasil, de forma a entender suas fragilidades estruturais, ligadas à organização social do setor e às políticas públicas implementadas.

5.2.3 A história da atividade pesqueira extrativa marítima no Brasil A atividade pesqueira está presente no Brasil desde os tempos da colônia. Até a

década de 60, era predominantemente artesanal e sua comercialização destinada basicamente ao mercado interno. Em termos de beneficiamento e industrialização do pescado, o máximo que existia era a salga e algumas poucas iniciativas da indústria do enlatado - caso da sardinha.

A pesca industrial começou a se desenvolver a partir da década de 60, voltada, porém, para o mercado externo e graças a uma política de incentivos governamentais. Como conseqüência, houve uma significativa expansão do parque industrial pesqueiro, em especial a ampliação da indústria de enlatados de sardinha. Posteriormente, indústrias de beneficiamento de outras espécies, como o atum e afins, tiveram também seus parques industriais ampliados.

O fim dos anos 80 se caracterizou pelo otimismo em relação às possibilidades de crescimento da produção pesqueira nacional. Isto porque se acreditava na infinita disponibilidade de recursos pesqueiros brasileiros, e no emprego de tecnologia intensiva para se alcançar o desenvolvimento acelerado da pesca no país.

Contudo, o esforço realizado no sentido de alavancar o crescimento do setor pesqueiro foi direcionado apenas para um pequeno grupo de espécies, o que resultou no comprometimento de alguns dos nossos principais estoques pesqueiros. Além disso, contribuiu com tal fato, o super dimensionamento do parque industrial pesqueiro devido ao incipiente conhecimento técnico científico sobre os recursos pesqueiros existentes.

Todos esses fatores levaram, nas últimas décadas, à diminuição da produção pesqueira marinha brasileira.

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Com o objetivo de modernizar a pesca, o País adotou uma série de políticas públicas entre fins da década de 60 e o início dos anos 80, que incluíam incentivos fiscais e creditícios. Tais iniciativas estavam ligadas ao modelo econômico vigente, concentrador de capital, exportador, tecnologicamente intensivo e predador dos recursos naturais.

Tal racionalidade imediatista levou à exploração sem limites dos recursos pesqueiros, que se refletiu no declínio da produtividade destes ao longo dos anos. Nos últimos anos, no entanto, observa – se uma leve recuperação, sendo que em 1999 a produção pesqueira foi de 744.600 ton, das quais 60% foram de águas marítimas, ainda inferior a década de 80. Assim, a recuperação da produção parece estar relacionada ao incremento das capturas em águas continentais.

Em termos de políticas públicas, três fases são reconhecidas como épocas em que a pesca recebeu atenção especial por parte do governo: até a década de 30, na Era Getulio Vargas e a partir dos anos 60. Abaixo, resume – se cada uma dessas fases:

a) até os anos 30, a Cruzada da Marinha organizou colônias de pescadores e prestou assistência direta às comunidades pesqueiras em toda a costa brasileira.

b) Na Era de Getulio Vargas, com a política de nacionalização da pesca, investiu- se em infra-estrutura de apoio à comercialização do pescado, em assistência social, em escolas de pesca e em um banco exclusivo para financiar a atividade, a Caixa de Crédito da Pesca.

c) A partir dos anos 60, a pesca passou a ser reconhecida como indústria, recebendo, assim, incentivos fiscais. Nesta fase, criou-se a SUDEPE com o objetivo de fortalecer a atividade, estimulando a exportação e captando recursos externos. Também nessa fase, incentivou - se a pesquisa e o levantamento dos recursos pesqueiros. Além disso, buscou-se a mobilização da classe produtiva, com a organização de 53 cooperativas de armadores e pescadores, e realizaram-se grandes eventos promocionais do setor.

No entanto, a preocupação com o desenvolvimento sustentável nas políticas de incentivo ao setor pesqueiro era praticamente nula. No período que se estende da década de 60 até o fim dos anos 80, atingiu-se o apogeu e o declínio do modelo implantado pela SUDEPE, que foi extinta em 1989, juntamente com as estruturas governamentais de apoio e de estímulo ao setor.

5.2.4 Organização social A partir de 1919, as primeiras Colônias de Pescadores foram criadas no Brasil, ao

longo de toda a costa, através de Cruzadas da Marinha, lideradas por Frederico Villar. O discurso utilizado para criar as colônias baseou - se na defesa das fronteiras nacionais, um dos objetivos do País após a primeira guerra mundial, já que na percepção do governo, ninguém melhor do que os pescadores para conhecer o litoral brasileiro. O lema das colônias, por conta disto, era “Pátria e Dever”, o que evidenciava o pensamento positivista dos militares. No entanto, a estrutura dessas novas colônias determinava que somente seus sócios poderiam exercer oficialmente a profissão de pescador, o que apesar de ter

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contribuído para um certo sentido de corporação, não permitia esquecer que eram entidades criadas pelo governo, não sendo livres associações de classe.

Ainda hoje, algumas forças atuam no sentido de controlar a força de trabalho dos pescadores organizados em colônias. É o caso de armadores e industriais da pesca, e presidentes de colônias que não são pescadores, e que geralmente estão ligados a algum político local.

As Colônias de Pescadores de um determinado estado integram uma Federação de Pesca e o seu conjunto forma a CNP, criada em 1920. Contudo, durante muito tempo tal instituição esteve fortemente relacionada ao aparelho de Estado, de forma que o cargo de presidente da confederação, segundo o próprio estatuto, teria que ser de confiança do Ministro da Agricultura.

Com a instituição do Estado Novo, na Era Vargas, a organização dos pescadores passou a se subordinar ao Ministério da Agricultura, deixado de estar sob o controle do Ministério da Marinha. Foi criada assim, a Divisão de Caça e Pesca, cujo objetivo era gerenciar a atividade pesqueira no Brasil.

Em 1942, novamente depois de uma guerra mundial, desta vez a segunda, o controle das colônias passou a ser de responsabilidade do Ministério da Marinha. Na década de 60, a divisão de caça e pesca foi extinta, e foi criada a SUDEPE, que tinha como finalidade promover, desenvolver e fiscalizar a atividade.

O Capitão- de- Mar-e-Guerra Frederico Villar comandou a primeira tentativa de organizar a pesca artesanal no País, no período de 1919- 1923, ao percorrer toda a costa brasileira e o rio Amazonas, organizando os pescadores em colônias e levando serviços de saúde e educação.

No final da década de 60, o Estado incentivou a implementação da indústria pesqueira nacional, de modo que a pesca artesanal foi perdendo aos poucos seus incentivos. Entre os anos de 1967 e 1977, a pesca artesanal recebeu apenas 15% do que foi investido na indústria pesqueira, facilitado por incentivos fiscais.

Em 1980, surgiu a Pastoral dos Pescadores, órgão ligado à CNBB que tinha como intuito contemplar temas como: representação democrática, comercialização, aposentadoria e previdência social.

Além da Pastoral dos Pescadores, foi criada em 1988 a MONAPE, com o objetivo de levar adiante o trabalho de organização dos pescadores. Juntas, essas duas associações são consideradas mais modernas do que o sistema que culmina na CNP, já que são autênticas representações do setor. Contudo, o conflito entre os três sistemas tem dificultado a negociação dos interesses da classe.

Quanto à Pesca Industrial, seus representantes são associados à CONEPE, antiga ANEPE, que se destacou na luta pela manutenção dos incentivos fiscais e pela associação de empresas brasileiras ao capital estrangeiro.

A CONEPE tem se caracterizado pela alternância de lideranças regionais que defendem interesses específicos, como incentivos e exportações, não se verificando a preocupação em se organizar um setor social, mas sim de apoiar interesses particulares em circunstâncias determinadas.

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5.2.5 Situação da pesca extrativa marítima mundial Nos últimos 50 anos, a atividade pesqueira extrativa marinha cresceu de forma tão

rápida que, segundo dados de 1999, estima - se que cerca de 75% dos estoques de peixes marítimos do mundo se encontram, plenamente explotados, sobrepescados, esgotados ou se recuperando da sobrepesca. (FAO, 2000).

Conforme já mencionado, os recursos pesqueiros marinhos não são inesgotáveis, apesar de recurso natural renovável, e tal fato já é reconhecido. A despeito disso, é cada vez maior o número de espécies exploradas excessivamente. Pensando nisso, no início dos anos 90, a comunidade internacional resolveu abordar diversas questões relacionadas ao ordenamento pesqueiro mundial, com o objetivo de desenvolver a pesca de forma sustentável. Debateu - se temas como a redução da sobrepesca e o controle do esforço de pesca, a redução de capturas acidentais, a diminuição da degradação ambiental nas áreas costeiras e/ou de captura e redução das incertezas e os riscos inerentes à atividade pesqueira.

A partir daí, surgiu o conceito de “pesca responsável” e foi elaborado o Código de Conduta para a Pesca Responsável, aprovado em conferência da FAO, em 1995. As diretrizes de tal código foram assunto principal de recente reunião do Comitê de Pesca da FAO, realizada em 2000. Na mesma ocasião, recomendou - se sua urgente divulgação e aplicação pelos países membros e signatários.

5.2.6 Problemas e fragilidades da atividade pesqueira A economia dos recursos naturais é um campo da teoria econômica que emerge das

análises neoclássicas a respeito da utilização de todos os recursos naturais, que podem ser renováveis ou não renováveis. Os recursos pesqueiros são considerados recursos naturais renováveis pela teoria econômica. Contudo, por se localizarem em espaços de uso comum, vulneráveis ao livre acesso e, por isso, susceptíveis de apropriação privada, esses recursos podem vir a se esgotar e tornarem- se não renováveis.

A capacidade de renovação de um recurso renovável é limitada pela estrutura genética das espécies e pela dinâmica dos ecossistemas onde habitam, de forma que seu estoque não é fixo, já que cresce quando há condições para tal. Além disso, sua expansão está submetida a um limite máximo, chamado de capacidade de suporte (carrying capacity) do sistema.

Por outro lado, a dinâmica econômica interfere no declínio do estoque de um recurso na medida em que sua taxa de extração passa a exceder sua taxa de crescimento.

O modelo geral de exploração dos recursos naturais renováveis se baseia no princípio do “ótimo econômico”, através do qual o produtor procura conhecer as condições favoráveis para obter o lucro máximo. Ou seja, como o estoque de um recurso em qualquer tempo é resultado da diferença entre a sua taxa natural de recomposição e sua

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taxa de exploração naquele momento, o lucro obtido através da exploração desse recurso depende dessas duas variáveis.

A racionalidade do pescador é a seguinte: se o lucro que ele obtiver com a pesca for menor do que o custo de pescar (incluída a “renda de oportunidade”, que é o que ele poderia receber se estivesse trabalhando em atividade alternativa à pesca), ele abandona a atividade pesqueira. Porém, quando um pescador resolver explorar os recursos pesqueiros de uma região, ele não pensa na produtividade marginal da atividade (que se altera com a entrada de um novo participante), mas sim na produtividade média. E enquanto esta for maior que o seu custo, o pescador continua na atividade, já que estará recebendo um salário equivalente maior do que o seu custo. Além disso, novos pescadores irão aderir à pesca, o que terá como conseqüência a queda da produtividade média até o custo novamente. Só haverá equilíbrio quando a produtividade média for igual ao custo. Mas isto resultará em um lucro total (que é dado pela produtividade total menos o custo total) igual a zero. Este é o dilema do recurso natural renovável de propriedade comum: o lucro é de todos, mas ninguém pode se apropriar dele.

Essa teoria explica a pobreza característica dos pescadores, a despeito da eventual riqueza em termos naturais do lugar onde atue e da impressionante capacidade de reprodução de alguns peixes. Um pescador só poderá enriquecer caso tenha a chance de realizar a “grande pescaria” ou se participar da atividade de forma controlada socialmente, tornando o bem de propriedade privada.

Outro problema da atividade, no caso da modalidade artesanal, é a dificuldade de organização social já que seus praticantes passam a maior parte de seu tempo no mar e que possuem, geralmente, baixa escolaridade.

5.3 A ATIVIDADE PETROLÍFERA OFFSHORE (FASES DE SÍSMICA E DE

PERFURAÇÃO DE POÇOS EXPLORATÓRIOS) E POTENCIAIS IMPACTOS À ATIVIDADE PESQUEIRA ARTESANAL

5.3.1 A atividade petrolífera offshore Para que haja petróleo num ambiente, é necessário que tenha havido, em algum

momento, vida animal ou vegetal de pequeno porte e em grande quantidade. Além disso, ao morrerem, esses seres vivos liberam matéria orgânica e, para que isto ocorra, o solo ou o substrato oceânico tem que possuir depressões, ou seja, devem ocorrer em Bacias Sedimentares. E ainda, a matéria orgânica deve estar protegida da ação de bactérias aeróbicas, o que significa que tem que estar protegida por sedimentos para que não haja contato com oxigênio. Reunidas essas condições, e adicionado tempo, pressão e temperatura, pode haver a formação de hidrocarbonetos, cuja mistura origina o petróleo e/ou o gás natural.

Porém, mesmo que uma Bacia Sedimentar satisfaça todas essas condições, não há garantia da existência de petróleo. Isto porque o petróleo tem a propriedade de migrar da

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rocha geradora para outra rocha. Portanto, para tal verificação, é necessário realizar - se a exploração, primeiro através da sísmica e depois através da perfuração.

Bacias Sedimentares podem ocorrer tanto no continente como em ambientes marinhos. A exploração marinha de petróleo apresenta um diferencial em relação à exploração continental: a profundidade a ser vencida, antes de se chegar ao substrato a ser explorado. De acordo com a profundidade da bacia, a exploração ocorre em águas rasas (até 400 metros), águas profundas (400 a 1000 metros) ou águas ultra - profundas (acima1000 metros).

Até a década de 60, a exploração e produção de petróleo eram direcionadas para as bacias continentais, pois pensava - se que o petróleo existente em ambiente marinho fosse de difícil prospecção. Hoje em dia, a prospecção offshore é responsável pela maior parte do atual suprimento de hidrocarbonetos e seus derivados, nacionalmente.

5.3.2 O método sísmico O objetivo da aquisição de dados sísmicos é mapear estruturas geológicas, de forma a

identificar as que possam vir a possuir acumulações de óleo e/ou gás em condições e quantidades que permitam seu aproveitamento econômico. O método consiste na geração de energia, que se propaga sob a forma de ondas acústicas na crosta terrestre.

No caso da sísmica marítima, as ondas acústicas são geradas por uma fonte que libera ar comprimido à alta pressão, diretamente na água. Essas ondas acústicas atingem o fundo do mar, onde parte é refletida, parte é refratada e uma terceira parte é transmitida para as camadas rochosas subjacentes.

A energia refletida é captada por hidrofones dispostos ao longo de cabos sismográficos, que são carregados pela embarcação sísmica. Essa energia captada é convertida pelos hidrofones em sinais elétricos que são transmitidos para o sistema de registro e processamento, instalado a bordo do navio. Os dados sísmicos são, dessa forma, processados através de softwares específicos e interpretados, permitindo a localização de estruturas geológicas favoráveis à acumulações de óleo e/ou gás.

As operações de sísmica são realizadas por embarcações propriamente equipadas, em áreas selecionadas previamente e demarcadas por uma malha sísmica, que determina a trajetória de uma ou mais embarcações.

Os navios sísmicos são equipados com grupos de canhões de ar e, na maior parte das vezes, rebocam cabos sismográficos com comprimentos que variam entre 4 km e 16 km, ocupando uma área em torno de 10 km² e se deslocando a uma velocidade média de 15 km/h. A atividade é realizada ininterruptamente 24 horas por dia, com disparos realizados de forma regular em intervalos de 4 e 15 segundos. Por esses motivos, em local de aquisição de dados sísmicos, outras atividades não podem ser desenvolvidas.

Duas modalidades de posicionamento de cabos sísmográficos podem ser utilizadas numa operação de aquisição de dados sísmicos: podem ser utilizados cabos flutuadores (“streamers”) ou cabos de fundo (“OBC – Ocean Bottom Cable”). A primeira é utilizada, geralmente, em águas a partir de 20 m de profundidade. A segunda modalidade, que

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espalha os cabos sismográficos no fundo do mar, é empregada, normalmente, em áreas de transição (mar / terra) e em áreas de grande atividade produtora de petróleo, onde há obstruções como plataformas que não permitem a operação de barcos sísmicos tradicionais rebocando quilômetros de cabos.

Existem, ainda, duas técnicas de levantamento de dados sísmicos para a fase pré- perfuração: a 2D e a 3D. A Técnica de Levantamento 2D é utilizada no inicio da exploração. Na maioria das vezes, um navio sísmico reboca a fonte de energia – geralmente um canhão de ar comprimido – e somente um cabo sismográfico, a reboque (streamer ) ou colocado no fundo marinho (OBC).

A Técnica 3D é utilizada na fase de detalhe e, por isso, exige uma malha com linhas menos espaçadas do que na técnica 2D, o que acarreta um numero muito maior de trajetórias do barco sísmico. Isto torna a atividade mais intensa, podendo gerar a chamada “barreira sônica”.

Dados sísmicos podem ser adquiridos de acordo com duas modalidades. A primeira delas é definida como levantamento de “dados não exclusivos”. Tais dados são considerados especulativos, pois não são justificados por nenhum objetivo especifico, e por isso, seus levantamentos denominam- se Levantamentos Spec. Tais levantamentos são realizados por EAD’s, Empresas de Aquisição de Dados, especializadas em aquisição, processamento, interpretação e venda de dados exclusivos e não- exclusivos, que se refiram exclusivamente à atividade de exploração de petróleo ou gás natural.

Estas empresas especializadas em aquisição de dados relacionados à atividade de exploração de petróleo ou gás, no Brasil, têm que requerer junto ao ELPN/IBAMA Licenças de Operação para realizar suas atividades numa determinada área, que pode ser, ou não, objeto de contrato de concessão, com autorização da ANP. E para tanto, necessita protocolar um relatório ambiental, que contem a caracterização ambiental de toda a área do polígono licenciado pela ANP. Ë importante lembrar que, não necessariamente, a empresa fará a aquisição dos dados em toda a área do polígono licenciado, já que muitas vezes a licença de operação é requerida com o objetivo de obter autorização para atuar em blocos específicos de empresas que possam vir a comprar esses dados spec, colocando - se assim, à frente de empresas concorrentes em futuras licitações.

A segunda modalidade, que é definida como aquisição de “dados exclusivos”, é realizada pela concessionária em sua área de concessão através de empresa especializada por ela contratada ou por meios próprios. Também pode ser chamada de sísmica proprietária.

Com a abertura do setor petrolífero para o capital externo e a quebra do monopólio em 1997, o Brasil passou a integrar a área de atuação de grandes empresas do mundo inteiro em prospecção sísmica marítima, o que fez com que o IBAMA adotasse, a partir de 1999, procedimentos de licenciamento ambiental específicos para a atividade.

Atualmente, o IBAMA exige dos empreendedores um Estudo Ambiental, que avalie os impactos ambientais inerentes à atividade e proponha medidas de monitoramento, mitigação e compensação. A exigência desse estudo está de acordo com os termos do art. 10 da Lei 6.938 de 31/08 /81, regulamentado através do Decreto 99.274/90 de 06/06 /90.

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5.3.3 Interferências entre as operações sísmicas e a atividade pesqueira Muito tem se discutido acerca dos possíveis impactos diretos e indiretos da sísmica

sobre a pesca. Segundo o IBAMA, as comunidades pesqueiras afirmam que, com o início de atividade de sísmica marítima em determinada região, há uma redução nas capturas das pescarias efetuadas. Além disso, são conseqüências claras da sísmica, prejudiciais à atividade pesqueira: a restrição de acesso às áreas de realização da atividade, os danos a petrechos dos pescadores e os impactos na dinâmica populacional de recursos pesqueiros. A seguir, explica- se cada uma delas.

Redução da captura do pescado Apesar de não haver estudos conclusivos sobre as conseqüências da sísmica

marítima na atividade pesqueira realizada em águas brasileiras, há estudos internacionais sobre o tema.

Em 2000, houve no Canadá um workshop no qual se chegou ao consenso de que a atividade sísmica causa mudanças comportamentais nos animais marinhos e nas capturas destes. Em tal workshop, foram apresentados estudos de diversos países que registraram as mesmas reduções nas capturas da pesca ocorrentes em áreas de levantamento de dados sísmicos marítimos.

Além disso, foram reportadas ao IBAMA as seguintes evidências da redução da captura do pescado: a afirmação de comunidades pesqueiras artesanais (que apesar de não possuir caráter cientifico, contribuem para a validade dos estudos realizados ao redor do mundo) e documento do Departamento de Oceanografia da FURGS, que apresenta dados de um cruzeiro de pesquisa oceanográfica, realizado em 2001, numa área onde operava uma embarcação sísmica. Este cruzeiro era parte do REVIZEE e segundo suas observações houve uma redução na quantidade de recursos pesqueiros nas proximidades da realização de atividades sísmicas.

Restrição de acesso às áreas de pesca Para que haja a aquisição de dados sísmicos marítimos, é necessária a exclusividade

de determinado espaço marítimo, enquanto durar a atividade. Isso porque o arranjo dos cabos sísmicos pode vir a ocupar uma área em torno de 10

km de raio (no caso da sísmica 3D), e o seu deslocamento não pode acontecer com a interrupção da rota da embarcação sísmica. Desta forma, os barcos pesqueiros que estiverem na rota devem recolher seus petrechos de pesca e se afastarem da área.

Em situações em que a atividade sísmica ocorre em regiões utilizadas por pescadores artesanais, essa área de exclusão temporária criada pela atividade sísmica causa mais danos socioeconômicos em decorrência da menor mobilidade das embarcações

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pesqueiras (que possuem autonomia restrita à costa) e ao fato dos pesqueiros na costa serem mais localizados.

Assim, em muitos casos, limitar a área de pesca na costa pode significar, temporariamente, a diminuição ou o fim da fonte de renda e de subsistência de algumas comunidades.

No caso de levantamentos sísmicos em áreas oceânicas que são freqüentadas por frotas pesqueiras industriais, a redução da área de pesca afeta, principalmente, a captura de espécies que eventualmente estejam se concentrando nessa região. Porém, as frotas que atuam em áreas oceânicas possuem maior mobilidade para procurar outros pesqueiros, alem do fato de que em águas mais profundas os recursos pesqueiros se distribuem mais amplamente.

Danos a petrechos de pesca Esses danos são causados por colisão entre cabos sismográficos ou embarcações

sísmicas com petrechos de pesca deixados na área, quando as atividades de pesca e de sísmica insistem em conviver no mesmo espaço marítimo. Quando isto ocorre, duas situações podem acontecer em seguida, isoladas ou conjuntamente: a perda do petrecho e/ou danos nos cabos sismográficos (o que pode causar vazamentos de fluido de flutuação que se localiza no interior destes cabos).

Impactos na dinâmica populacional de recursos pesqueiros A atividade de sísmica marítima pode afetar os estoques de recursos pesqueiros de

duas formas. Em primeiro lugar pela formação de uma“barreira sônica”, causada pelos disparos de tempos em tempos do canhão de ar, que impede o acesso dos peixes para desovar. Em segundo lugar, pelos impactos da sísmica sobre o plâncton 4 em áreas de concent ração de ovos e larvas de espécies que desovam em profundidades mais rasas.

5.3.4 O método de perfuração de poços exploratórios marítimos A atividade de perfuração marítima é a segunda etapa na busca pelo petróleo.

Verifica- se a sua existência na região e, quando esta ocorre, características do reservatório são estudadas para subsidiar etapas posteriores.

Podem ser perfurados um ou mais poços em locais previamente determinados pela atividade sísmica como os mais prováveis de possuírem acumulações de óleo e/ou gás.

Para se perfurar um poço marítimo, utiliza - se uma sonda de perfuração, que pode se localizar tanto numa plataforma como num navio.

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Esta sonda possui uma torre que sustenta a coluna de perfuração. Esta, por sua vez, equipada com uma broca, é descida até o fundo do mar, iniciando o processo de perfuração do poço, através da trituração progressiva do solo.

Para facilitar o processo de perfuração é utilizado um fluido, também chamado de lama de perfuração, que além de lubrificar a broca, diminuindo o seu desgaste, ajuda a manter a estabilidade do poço ao exercer a pressão nas paredes deste, evitando o seu desmoronamento. Além disso, a lama de perfuração ao circular entre o poço e a plataforma, propicia a retirada dos cascalhos gerados na superfície, de forma a permitir a continuidade da perfuração.

A perfuração de um poço é executada em fases de diâmetros decrescentes. Ao final da perfuração de cada fase, um revestimento de aço é descido no poço e cimentado às suas paredes, de modo a permitir o seu isolamento e estabilidade. Durante toda a atividade e após a perfuração de cada fase do poço informações sobre as formações atravessadas são obtidas de modo a permitir sua avaliação geológica. Esta avaliação permite detectar a presença de hidrocarbonetos e a definição de quais intervalos dos poços são de potencial interesse econômico para se executar os testes de formação.

Os testes de formação consistem em colocar o poço para produzi r em caráter experimental. Durante estes testes, determinam- se características do reservatório tais como volume e extensão, permeabilidade, etc. Uma vez encontrado óleo ou gás, novos poços podem ser perfurados a fim de se avaliar melhor a jazida.

No Brasil, a atividade de perfuração exploratória vem crescendo desde a quebra do monopólio. Segundo dados da ANP, somente em 2001 foram perfurados no país 87 poços exploratórios no mar. A atividade, entretanto, continua concentrada nas mãos da Petrobras: dos 69 poços pioneiros perfurados em 2001 em ambiente offshore , 41 foram realizados pela Petrobras e apenas 28 pelas novas empresas que ingressaram no país a partir da abertura do setor. Nos quatro últimos anos, quando foram perfurados 145 poços pioneiros no mar, esta discrepância fica ainda maior, com 114 poços da Petrobras e apenas 31 das demais companhias. (ANP, 2002b)

Através da Resolução CONAMA 23/94, ficou estabelecida a necessidade de licenciamento ambiental para a realização de atividade de perfuração. Para que esta aconteça, em geral, é necessária a realização de um RCA. No entanto, o IBAMA, ao emitir o Termo de Referência relativo à atividade, define, de acordo com a sensibilidade da região, qual estudo é o mais indicado.

5.3.5 Interferência entre as operações de perfuração e a atividade pesqueira Os impactos referentes à pesca causados pela perfuração marítima de um poço

exploratório decorrem, em grande medida, dos conflitos pelo uso do espaço e dos impactos sobre a população de peixes.

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Conflitos pelo uso do espaço A intensificação do tráfego de embarcações envolvidas em atividades de perfuração

pode vir a representar uma perda temporária da área de pesca. Além disso, a proximidade dos barcos pesqueiros com a unidade de perfuração

representa um aumento do risco de acidentes envolvendo estes barcos e seus petrechos de pesca com as embarcações engajadas nas operações de perfuração.

Impactos sobre a população de peixes Já os impactos em populações de peixes – alterações na sua distribuição, composição

ou comportamento – são causados fundamentalmente por distúrbios associados a ruídos e ao derramamento de óleo e outros produtos.

No entanto, não existem provas concretas de que ruídos oriundos de fontes não explosivas tenham efeito letal em peixes adultos. Os efeitos observados têm sido mais de caráter comportamental, como por exemplo, os relacionados à dispersão de cardumes e à alteração dos hábitos alimentares desses animais. Em verdade, a questão de maior importância referente aos conflitos entre ruídos provocados pelas atividades de perfuração e a industria pesqueira diz respeito às alterações comportamentais dos peixes e não propriamente nos recursos pesqueiros.

O fator de atração representado pelas unidades de perfuração, conseqüência do lançamento de esgoto e de restos de alimentos, pode compensar o efeito dispersivo dos peixes. É gerado com isso, entretanto, um novo conflito entre a atividade pesqueira e a de perfuração, já que é delimitado no entorno do local de atividade uma área de exclusão.

5.4 O CONFLITO ENTRE A ATIVIDADE DE PESCA ARTESANAL E AS FASES DE

EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO 5.4.1 A Natureza do Conflito Conforme já mencionado, 60% do volume das capturas nacionais é atribuída aos

pescadores comerciais artesanais e de pequena escala, que possuem a maior frota do Brasil. Para estes, os impactos da indústria petrolífera são ainda maiores do que para a pesca comercial de grande escala, realizada pelas indústrias pesqueiras. Apesar de, em muitos casos, essas embarcações de pequeno porte estarem ligadas às indústrias pesqueiras, elas sofrem mais com os impactos do que as embarcações de grande porte, por possuírem menor autonomia.

É importante ressaltar, no entanto, que a pesca dita artesanal, quando realizada em ambiente offshore , ocorre nas proximidades da costa ou em baías, de forma que, para

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sofrer os impactos das atividades petrolíferas, estas devem estar localizadas igualmente nestas regiões.

A seguir, descreveremos os impactos das fases de sísmica e de perfuração sobre os pescadores artesanais, mais significativos do que os causados à pesca comercial de grande escala (dita industrial):

a) As conseqüências da atividade de aquisição de dados sísmicos para a atividade

pesqueira: Na fase de aquisição de dados sísmicos, há restrição do espaço da pesca. Para a

pesca artesanal, isto pode ser muito grave, já que ela já está normalmente restrita a um espaço delimitado (próxima à costa, em decorrência da pouca mobilidade de suas embarcações), sobrando - lhe, com a atividade sísmica, muito pouco espaço para o desenvolvimento da atividade pesqueira.

No caso do pescador insistir em usufruir o espaço ocupado pela sísmica, podem ocorrer danos aos seus petrechos de pesca, pelo contato destes com as embarcações e com os cabos sismográficos. Em virtude de os pescadores artesanais empregarem, em sua maioria, métodos primitivos de pesca, seus frágeis equipamentos são mais susceptíveis a danos do que os equipamentos mais robustos e resistentes dos pescadores de porte industrial.

Além disso, as atividades de sísmica exercem dois efeitos diretos sobre o estoque de recursos pesqueiros: em primeiro lugar, pela barreira sônica, que pode impedir o acesso de alguns peixes para realizar a desova, e, em segundo lugar, porque causa a mortalidade do plâncton e por isso afeta as áreas de concentração de ovos e larvas de espécies que desovam em profundidades mais rasas.

Com base no depoimento de representantes de comunidades pesqueiras artesanais, o IBAMA atribui a redução da captura do pescado à atividade sísmica, embora não existam estudos conclusivos sobre o tema..

b) As conseqüências da atividade de perfuração de poços para a atividade pesqueira: As atividades de perfuração de poços exploratórios de petróleo, assim como as

atividades sísmicas, restringem o uso do espaço marítimo para a atividade pesqueira, o que gera impactos diretos para os pescadores, principalmente artesanais que dispõem de pouco espaço. Além disso, podem ocorrer acidentes envolvendo embarcações pesqueiras e seus petrechos com as embarcações engajadas nas operações de perfuração, mas apenas em caso de desobediência ao espaço delimitado para as atividades petrolíferas.

A atividade de perfuração também impacta as populações de peixes afetando sua distribuição, composição e comportamento em razão de ruídos e derramamento de óleo que possam vir a ser provocados.

É importante ressaltar também que as plataformas de perfuração constituem- se em um fator de atração de cardumes, seja pelo descarte de material orgânico seja por serem “recifes artificiais”, constituindo - se em mais um foco de conflito pois os pescadores , mesmo correndo riscos, desobedecem à proibição de não entrar nessas áreas para explorar os recursos pesqueiros atraídos até esses locais.

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Pelo exposto, fica patente que os pescadores artesanais são os mais afetados com os impactos das atividades de sísmica e de perfuração sobre a atividade pesqueira. Conforme mencionado, este segmento apresenta, historicamente, dificuldades de organização social e representa, em sua grande maioria, comunidades de baixa renda, o que dificulta o diálogo com as empresas de petróleo.

Com a flexibilização do monopólio da PETROBRAS e a conseqüente abertura da exploração às empresas estrangeiras, o conflito pesca x petróleo ganhou novos contornos. No entanto, a maneira de lidar com o problema, a despeito da experiência que essas empresas adquiriram em seus países de origem, é regida pelo IBAMA, através da obrigatoriedade de se realizar um estudo ambiental, que identifica tais conflitos e propõe medidas de mitigação.

A obtenção da licença de perfuração está condicionada à aprovação do Relatório de Controle Ambiental pelo IBAMA, do qual faz parte o Projeto de Comunicação Social.

5.4.2 O conflito do ponto de vista técnico Grosso modo, o conflito técnico diz respeito à restrição do espaço que as atividades de

sísmica e de perfuração impõe à atividade pesqueira, sob a alegação de representar uma medida de segurança. Contudo, em geral, os pescadores não obedecem os limites, avançando sob a área de risco. O fato é que tal restrição é muito penosa à atividade pesqueira porque, conforme já dito em outras ocasiões, 60% da produção do pescado do país é artesanal, ocupando, portanto, uma área restrita, em geral próximo à costa, em decorrência da pouca mobilidade de suas embarcações.

5.4.3 O conflito do ponto de vista ambiental Não existem estudos conclusivos sobre as conseqüências da sísmica marítima em

águas brasileiras. Entretanto, de acordo com o Guia Preliminar para o Licenciamento Ambiental para Atividades de Sísmica Marítima na Costa Brasileira (2003) desenvolvido pelo ELPN/DILIQ/IBAMA com a cooperação técnica da ANP, há estudos internacionais sobre o tema que afirmam que a atividade causa a mortalidade de peixes, reduzindo significativamente as capturas.

Além disso, a atividade sísmica pode causar impacto na dinâmica populacional dos recursos pesqueiros pela formação de uma “barreira sônica” que pode impedir que peixes tenham acesso a seus locais de desova e por seus impactos sobre o plâncton em áreas de desova e de concentração de larvas. Já em relação à fase de perfuração, os principais impactos ambientais estão ligados a potenciais vazamentos (os chamados blowouts ) que possam vir a acontecer, quando a pressão do gás dentro do poço que está sendo perfurado força repentinamente o óleo para fora. Ocorrendo um blowout , ou o derramamento de qualquer outro produto, com certeza a população de recursos pesqueiros seria seriamente impactada.

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Outro impacto ao meio ambiente causado pela fase de perfuração é o fato de que as unidades de perfuração atraem cardumes inteiros por causa do lançamento de esgoto e de restos de alimentos. Porém, como é delimitado no entorno do local de atividade uma área de exclusão, os pescadores não podem se beneficiar da abundância de peixes que atrai, gerando uma das principais faces desse conflito.

5.4.4 O conflito do ponto de vista socioeconômico .A Somados os impactos decorrentes das citadas restrições poderemos contabilizar

um montante elevado de prejuízo econômico à pesca praticada na área de influência da exploração de petróleo.

Tais danos são causados principalmente à atividade pesqueira dita artesanal, já que a pesca comercial de grande escala, a chamada pesca industrial, possui maior mobilidade, tendo, por isso, mais possibilidades de atuação.Por outro lado, como dissemos no primeiro capítulo, milhões de pessoas sobrevivem, atualmente, da pesca. Pessoas que dificilmente conseguiriam outra ocupação devido ao baixo nível de escolaridade e de qualificação profissional.

Nos últimos cinco anos, desde a abertura do setor, as atividades de exploração e produção de petróleo cresceram enormemente.

Faltam dados estatísticos que quantifiquem os danos da indústria petrolífera à atividade pesqueira. Entretanto, integrantes do setor pesqueiro afirmam que a atividade definhou rapidamente, e culpam o petróleo, apoiados por instituições de pesquisa, ONG’s e pelo próprio governo. Como declarou recentemente o ministro da pesca, José Fritch: “Sabemos que o petróleo é importante e necessário, mas um setor não pode inviabilizar o outro”.

5.4.5 O Ponto-de-Vista dos Pescadores De acordo com Antonio Marcos Muniz Carneiro, pesquisador da COPPE/UFRJ, os

impactos da exploração do petróleo representam para os pescadores a destruição de sua fonte natural de alimentos, reduzem seu ganho econômico e, por conseguinte, comprometem as condições de existência.

Pessoas que dedicaram sua vida inteira à atividade pesqueira, e dificilmente saberiam fazer outra coisa caso não pudessem mais sobreviver da pesca, estão partindo agora para litígios judiciais contra as empresas petrolíferas, já que durante muito tempo a ausência de diálogo agravou o conflito.

Contudo, eles culpam a indústria petrolífera pela redução dos cardumes e pelo desaparecimento de espécies, mas não mencionam o mal que a sobrepesca e a captura além do limite aceitável provoca na preservação das espécies.

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5.4.6 O ponto-de-vista das empresas do setor de petróleo O presidente da IAGC- Brasil, entidade representante das empresas de sísmica,

Cosme Peruzzolo, diz que o principal problema do setor pesqueiro é a pesca predatória, que é praticada pela maior parte das colônias de pescadores. Mesmo ocorrendo impacto da sísmica sobre as espécies marinhas, ele não seria capaz de reduzi r a escala populacional, comprometendo a produção pesqueira.

Já o coordenador de articulação externa da área de Segurança, Meio Ambiente e Saúde da PETROBRAS, Flávio Torres, apesar de reconhecer que a atividade pesqueira tem sido ameaçada, afirma ser injusto atribuir à indústria do petróleo a maior parcela de responsabilidade pela redução da pesca. Ainda segundo ele, a atividade sísmica não causa efeitos irreversíveis nas espécies capturadas, já que dura pouca: uma a duas semanas, no máximo. Para ele, o impacto é temporário e reversível.

5.4.7 A posição do governo brasileiro A Seap, criada no governo Lula, está convencida de que a indústria do petróleo tem

efeitos danosos sobre a pesca. O Ministro José Fritch luta para que seja destinada uma parte dos royalties do petróleo à atividade.

A Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados aprovou, em outubro de 2003, o projeto de lei do deputado Benedito Lira (PP-AL), que permite o repasse de parte dos royalties da produção de petróleo e gás natural para projetos de desenvolvimento do setor pesqueiro e da aqüicultura nacional. A proposta é apoiada pela Seap, que também apoia o projeto do deputado Nelson Proença (PPS) de constituição de um fundo para onde seriam direcionados os recursos. O fundo custearia, posteriormente, políticas e projetos de estruturação e apoio à pesca e à aqüicultura desenvolvidos pelo governo federal. (COMISSÃO, 2003).

O IBAMA e a ANP também reconhecem que a atividade pesqueira é afetada pela exploração petrolífera, tendo elaborado juntos o “Guia para o Licenciamento Ambiental para as Atividades de Sísmica”, onde admitem que a pesca é “a principal atividade econômica impactada pelos levantamentos sísmicos marítimos”.

Segundo o chefe do ELPN, Caio Marques, as gerências regionais do IBAMA têm procurado identificar os danos e compensá-los, na medida do possível. Ainda de acordo com ele, a situação da pesca é muito desfavorável em toda a costa e a intenção do ELPN/IBAMA é compensar as comunidades afetadas e garantir o máximo de cuidados para impedir novos impactos. Mas esclarece que a missão do escritório não é compensar danos, e sim proteger o meio ambiente.

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5.4.8 Legislação e Licenciamento Ambiental das Atividades de Petróleo e Gás no Brasil

A Lei Federal 6.983/81 instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente, considerando a

avaliação de impactos ambientais e o zoneamento ambiental como um de seus instrumentos e mencionando a necessidade de licenciamento ambiental dos empreendimentos que utilizam recursos naturais considerados efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes de causar degradação ambiental.

A Resolução CONAMA 001/86 estabeleceu as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para a implementação de Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente.

No entanto, só a partir de 1994 com a Resolução CONAMA 23/94, é estabelecida regulamentação específica sobre o licenciamento ambiental das atividades de perfuração e produção de hidrocarbonetos. No caso da fase de perfuração, passa a exigir a elaboração de um Relatório de Controle Ambiental – RCA.

A Resolução CONAMA 237/97 revisa o sistema de licenciamento ambiental com o objetivo de torná-lo efetivo como um instrumento de gestão ambiental. Além disso, define as atividades de perfuração e produção de petróleo e gás natural como atividades sujeitas ao licenciamento ambiental, o que, de fato, já havia sido regulamentado através da Resolução CONAMA 23/94.

Desde o início da década de 80, já era prevista na legislação brasileira a avaliação das atividades da indústria de petróleo e gás mediante procedimentos de licenciamento ambiental. Instalações dessa indústria, voltadas à exploração, produção e escoamento de hidrocarbonetos, eram muitas vezes alocadas em áreas sensíveis, dentro de unidades de conservação, sem qualquer acompanhamento das fases de planejamento, instalação, operação e desativação desses empreendimentos.

Para melhor controlar este cenário, o IBAMA criou, em 1999, o Escritório de Licenciamento de Atividades de Petróleo e Nuclear – ELPN/IBAMA, com sede no Estado do Rio de Janeiro. Uma de suas atribuições é o licenciamento ambiental das atividades de E&P de hidrocarbonetos em áreas offshore e, desde então, os processos administrativos de licenciamento para a exploração de hidrocarbonetos (o que inclui as fases de aquisição de dados sísmicos e de perfuração de poços) em áreas marinhas são instruídos de acordo com diretrizes técnicas ambientais.

O ELPN/IBAMA exige para a fase de sísmica um EA e para a fase de perfuração um RCA. O EA é um estudo mais simplificado que o RCA em suas descrições. No entanto, os dois têm em comum a exigência de avaliar os potenciais impactos ao meio ambiente e à economia local, e propor programas de prevenção e mitigação através de projetos de comunicação social e de treinamento dos trabalhadores.

Em relação à atividade sísmica, esta está perto de ganhar uma regulamentação específica. Representantes do CONAMA, IBAMA, empresas de geofísica e ONGs concluíram um projeto com novas regras para regular o setor e a versão final do documento será apreciada na plenária d CONAMA, provavelmente durante a 74a reunião ordinária, marcada para os dias 23 e 24 de junho em Brasília.

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O projeto, se for aprovado, trará muitos avanços em termos de prazos e exigências no processo de licenciamento para a atividade sísmica. Além de criar três categorias de levantamentos de acordo com a profundidade (abaixo de 50 m ou em áreas de sensibilidade ambiental, entre 50 m e 200 m, e superior a 200 m), diminui o prazo de resposta do IBAMA.

Contudo, a alteração mais grave do licenciamento ambiental proposta por este projeto é a abolição da exigência de Estudo Ambiental para a sísmica, que, atualmente, requer a apresentação de um aprofundado diagnóstico ambiental da área onde será realizada a atividade. Na nova proposta, as empresas ficam obrigadas a informar apenas as medidas empregadas para reduzir o impacto da atividade do navio.

Para o presidente da IAGC no Brasil, Cosme Peruzzolo, a forma como o CONAMA e o IBAMA conduziram as discussões foi fundamental para o sucesso do trabalho. Porém, a ausência de representantes das entidades pesqueiras foi sentida nas decisões finais do projeto.

5.4.9 Assimetria institucional e falta de comunicação É consenso entre os envolvidos e os estudiosos que o conflito entre as duas atividades

agravou - se, principalmente, pela falta de diálogo. O grupo constituído pelas empresas de petróleo possui elevado nível de instrução e de especialização, além de poder econômico e influência junto aos órgãos governamentais e à opinião pública, o que contribui para que se destaquem em relação ao grupo formado pelos pescadores artesanais. Some- se a isso a dificuldade de organização por parte deste último, e teremos um quadro de acirramento das posições.

Segundo Polanyi, a economia é um processo instituído socialmente e as interações sociais não são eminentemente racionais, comportando por isso diferentes formas, as quais passam pelo confronto – fruto de suas diferenças, mas que tendem a desaguar na negociação e na cooperação, que são as únicas maneiras de se articular interesses diferenciados. Dessa forma, a negociação e a cooperação entre diferentes interesses são as únicas formas de conferir estabilidade ao sistema social, e conseqüentemente ao sistema econômico.

No entanto, para o pesquisador do Grupo de Pesquisa em Cultura Técnica do Programa de Pós - Graduação de Engenharia de Produção da COPPE / UFRJ, Antonio Marcos Muniz Carneiro 5, a história entre a pesca e o petróleo no Brasil é constituída por uma profunda impossibilidade de qualquer diálogo, tornando o conflito inevitável e trágico. Isto porque não foram criados espaços de interlocução entre esses dois segmentos de produção, o que gerou dicotomias e incompatibilidades incontornáveis.

Segundo o presidente da FEPERJ, José Maria Pugas, “o petróleo não entende da pesca, nem a pesca entende do petróleo”.

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6. Referencias Bibliográficas Esse resumo é uma compilação das publicações citadas abaixo: Capítulo 1 - Prof. Laís Alencar de Aguiar, apostila “Metodologias de Análise de Riscos

APP & HAZOP”, Rio de Janeiro. Capítulo 3 – Camacho, E, N. “Uma proposta de metodologia para análise quantitativa

de riscos ambientais”, Tese de Mestrado, UFRJ, Eng. Civil, 2004. Capítulo 4 – Gallardo, A. L., “Análise das práticas de gestão ambiental da construção

da pista descendente da rodovia dos imigrantes”. Tese de Doutorado, USP, Engenharia Mineral, 2004.

Capítulo 5 – Lopes, F. C., “ O conflito entre a exploração offshore de petróleo e a atividade pesqueira artesanal” Monografia, UFRJ, Instituto de Economia 2004.

Nota: Toda referência citada em cada capítulo não será listada aqui, mas consta no texto

original que está sendo referenciado acima.