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05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 32 ANOTAÇÕES ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ ______________________________________________ Eu quero terra, fogo, pão, açúcar, farinha, mar, livros, pátria para todos, por isso ando errante Pablo Neruda PRÓXIMO DOMINGO É DIA DE CINEMA DIA 9 DE JUNHO Filme? Tema? Debatedores? Maiores Informações: [email protected] Curta nossa página no Face – Domingo é Dia de Cinema 05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 1

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05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 32

ANOTAÇÕES ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Eu quero terra, fogo, pão, açúcar, farinha, mar, livros, pátria para todos, por isso ando errante Pablo Neruda

PRÓXIMO DOMINGO É DIA DE CINEMA DIA 9 DE JUNHO

Filme? Tema? Debatedores?

Maiores Informações: [email protected]

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APRESENTAÇÃO

Domingo é dia de cinema é uma atividade cultural de complementação curricular que exibe filmes, seguidos de debates, a alunos dos cursos Prés-vestibulares Comuni-tários que se localizam em áreas de concentração de baixa renda da periferia do Rio de Janeiro. A exibição é no centro do Rio de Janeiro, no Odeon Petrobras, e auxilia na educação, socialização e resgate da auto-estima e valorização da cidadania.

O projeto DOMINGO É DIA DE CINEMA visa contribuir efetivamente para a construção de uma sociedade mais justa, participativa e democrática. Os filmes e os debatedores são escolhidos por uma comissão de participantes da atividade e se inse-rem no programa escolar propriamente dito.

Esta atividade se desenvolve desde 2000, sendo uma parceria entre o Estação, um grupo de Prés-vestibulares Comunitários e o Núcleo Piratininga de Comunicação, desde ano de 2008 contamos com o patrocínio, para o material didático, da Petrobras. Bom filme e bom debate para todos e todas.

O FILME:

UMA HISTÓRIA DE AMOR E FÚRIA Elenco: Vozes de: Paulo Goulart, Selton Mello, Rodrigo Santoro, Camila Pitanga.

Direção: Luiz Bolognesi - Gênero: Animação - Duração: 75 min.

Um homem (Selton Mello) com quase 600 anos de idade acompanha a

história do Brasil, enquanto procura a ressurreição de sua amada Janaína

(Camila Pitanga). Ele enfrenta as batalhas entre tupinambás e tupini-

quins, antes dos portugueses chegarem ao país, e passa pela Balaiada e

o movimento de resistência contra a ditadura militar, antes de enfrentar

a guerra pela água em 2096.

‘Uma história de amor e fúria’ narra paixão que dura seis séculos

Fixação do diretor Luiz Bolognesi por HQs e História do Brasil motivou a animação

100% nacional. Longa-metragem demorou sete anos para ficar pronto.

Debate sobre memória e História presente no filme também se expande para livro

“Meus heróis não viraram estátua”

RIO - Se já é raro encontrar animações made in Brazil nos cinemas, mais difícil

ainda é uma produção desse tipo que não seja voltada para o público infantil. Mas

esse é exatamente o caso do longa “Uma história de amor e fúria”, dirigido pelo

cineasta Luiz Bolognesi, já em cartaz. A animação mistura a estética das HQs à

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b) A cidade expandiu-se, desde o final do século XIX, em duas direções: a Zona Sul, que tornou-se atraente para as camadas de maior poder aquisitivo devido às vantagens locacionais que oferecia, e a Zona Norte, que recebendo menores investimentos, vai ser ocupada pelas populações de me-nor renda. 10: [B] Assim como em outros países (França, Tchecoslováquia e Estados Unidos, por exemplo), o ano de 1968 foi bastante agitado para o Brasil. Houve o acirramento da campanha de vários seto-res sociais brasileiros – sobretudo por parte dos estudantes secundaristas e universitários – contra o recém-instalado governo militar. O clima de radicalismo atingiu o campo das artes, com a músi-ca, a pintura, o teatro, entre outras manifestações, apresentando um tom fortemente politizado. Para o público contrário ao regime militar, músicas como Sabiá eram alienadas, enquanto Cami-

nhando (cujo nome original é “Prá não dizer que não falei das flores”) estava mais vinculada ao clima política da época. Cabe lembrar que a publicação do AI 5, em dezembro de 1968, deu ao regime militar sua face mais violenta e repressiva, pondo fim a essas formas de manifestação. 11: a) No texto 1 (M.P. Figueiredo), o autor utilizou a denominação “revolução” para o regime instaurado após 31 de março de 1964, já o autor do texto 2 (J.M. de Carvalho) utilizou a denomi-nação “golpe”. Essa diferença de denominação está relacionada com a forma como cada grupo envolvido no processo encarou o regime instaurado. No primeiro caso, estão principalmente os segmentos ligados ao meio militar e da burguesa patrocinadora do movimento. No segundo grupo, os opositores ao regime, seus simpatizantes. b) Sim. A partir de 1970, com a “abertura política” e a divulgação cada vez maior de informações obtidas através de documentos e testemunhos de personagens envolvidos nos fatos ocorridos durante a vigência do regime instaurado após 31 de março de 1964, ficava cada vez mais difícil defender a ideia de “revolução”. Mais recentemente, inspirado pelos acontecimentos nos países vizinhos, instauraram-se as Comissões da Verdade, com o objetivo de investigar e apurar os fatos envolvendo os desaparecidos políticos. 12: [C] 13: [D] 14: [B] 15: [E] 16. [A] A questão exige que o candidato perceba, através da leitura do texto inicial, as diferentes relações que indígenas e europeus estabeleciam com a exploração de pau-brasil. Os indios que utilizavam a madeira principalmente como lenha, não compreenderam o interesse comercial dos europeus pelo pau-brasil.

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16.Em geral, os nossos tupinambás ficam bem admirados ao ver os franceses e os outros dos países longínquos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã, isto é, pau-brasil. Houve uma vez um ancião da tribo que me fez esta pergunta: “Por que vindes vós outros, mairs e perós (franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?”

LÉRY, J. Viagem à Terra do Brasil. In: FERNANDES, F. Mudanças Sociais no Brasil. São Paulo: Difel, 1974.

O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz um diálogo travado, em 1557, com um ancião tupinambá, o qual demonstra uma diferença entre a socie-dade europeia e a indígena no sentido a) do destino dado ao produto do trabalho nos seus sistemas culturais. b) da preocupação com a preservação dos recursos ambientais. c) do interesse de ambas em uma exploração comercial mais lucrativa do pau-brasil. d) da curiosidade, reverência e abertura cultural recíprocas. e) da preocupação com o armazenamento de madeira para os períodos de inverno.

Gabarito: 1: [B] 2: Aquíferos são formações geológicas com depósitos de água subterrânea, delimitando a zona porosa do estrato rochoso. O aquífero Guarani caracteriza-se pela presença de arenitos originários de sedimentação do período Triássico entremeados por extrusões de basalto de baixa permeabili-dade que, embora dificulte a reposição do reservatório, o isola evitando sua evaporação. O aquífero Guarani abrange uma extensa área, o que o caracteriza como o maior reservatório do planeta, estendendo-se por regiões da Argentina, Uruguai, Paraguai e uma grande porção do cen-tro-sul brasileiro, caracterizando o desafio político para sua exploração e manejo, haja vista seu reservatório abranger áreas de diversos países. 3: [B] 4: [A] 5: a) Duas dentre as causas: - transferência do Distrito Federal para Brasília - fusão entre os estados da Guanabara e Rio de Janeiro - o governo federal priorizou seus investimentos em outros estados da federação - longo período de declínio/estagnação das atividades agropecuárias no interior do estado - crescimento da violência na região metropolitana contribuindo para o êxodo de empresas - maior dinamismo da metrópole paulista que tem drenado funções urbanas de alto nível, anteri-ormente localizadas na metrópole carioca b) Duas dentre as dificuldades: - excessiva concentração populacional na região metropolitana - presença de poucas atividades dinâmicas no interior do estado - rede de transporte deficiente interligando o interior com a região metropolitana 6: [A] 7: [B] 8: [A] 9: a) Na metrópole moderna, determinadas avenidas, ruas e edificações constituem símbolos, ou seja, formas espaciais impregnadas de significados - ligadas a um período ou a um fato. No espaço central da cidade estão presentes estes símbolos. Por exemplo, as igrejas que marcam a vida espiritual, os teatros onde acontecem os espetáculos mais significativos, os centros culturais e museus que preservam a memória urbana. Na área central estão as sedes das empresas, o que significa concentrar as decisões econômicas e financeiras. No imaginário coletivo, o "centro" signifi-ca o local nobre da cidade onde se localizam seus símbolos mais expressivos.

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História do Brasil para narrar um amor que dura seis séculos. Segundo o diretor,

as duas temáticas não foram escolhidas por acaso:

- Sou apaixonado por História do Brasil e quadrinhos desde a adolescência - ex-

plica Bolognesi, que produziu o sucesso “Bicho de sete cabeças”, de 2001.

O longa conta a história de amor de Janaína e um guerreiro indígena

(dublados pelos atores Camila Pitanga e Selton Mello), que sobrevivem à opres-

são em quatro fases da história nacional. Atravessando seis séculos, o casal pas-

sa pela colonização, pela escravidão, pelo regime militar e, em 2096, pela guerra

pela água.

A animação, voltada especialmente para jovens e adultos, tem sido muito

bem recebida. O filme já foi exibido em festivais internacionais nos Estados Uni-

dos e na Holanda e, em abril, será a vez da Alemanha.

A inspiração para a estética do longa-metragem veio das HQs de Tim

Tim, que o cineasta colecionava quando criança, e de graphic novels adultas.

- Quando era adolescente, descobri as HQs que têm uma carga de fantasia, ero-

tismo e uma dose de violência. Minhas fontes eram as revistas de Hugo Pratt e as

edições de Heavy Metal e Animal. Até hoje tenho essa coleção e a do Tim Tim.

A animação dialoga tanto com os mais jovens quanto com adultos, mas

realizá-la foi uma árdua tarefa. O projeto durou sete anos. A falta de recursos e a

carência de pessoal especializado em animação no Brasil foram alguns dos per-

calços. No último quesito, porém, o diretor deu sorte.

- Encontramos 40 jovens extremamente talentosos, com os quais divido a autoria

do filme. O fim, por exemplo, foi redefinido pelo grupo. Foram dois meses de

conversas e propostas para contar essa história de forma realista e descobrir o

melhor jeito de desenhá-la. Foi um processo longo, intenso, e o resultado se deve

ao talento deles - afirma o diretor, orgulhoso.

O amor pela História do Brasil acompanha Bolognesi desde a infância:

sempre que pode, ele compra e lê livros e documentos históricos que encontra.

Entre os achados estão cartas de jesuítas ao Papa abordando a rotina em São

Paulo, na Bahia ou no Rio de Janeiro e os ataques que sofreram de bandeirantes.

Ao observar tantos momentos históricos e reestudá-los para compor o

filme, Bolognesi formou uma opinião crítica com relação ao ensino dado nas salas

de aula:

- Vejo que, no geral, a história ainda é contada de forma engessada. Ainda não

se descobriu um jeito de contá-la sem um cheiro de poeira - argumenta, acres-

centando: - Tendo consciência histórica e compreensão do passado, podemos

mudar o futuro.

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O diretor acredita que esse ensino "empoeirado" se reflete na falta de

longas nacionais que falem da nossa história - ao contrário do que acontece nos

Estados Unidos, cuja indústria cinematográfica frequentemente se apoia na histó-

ria para rodar novos filmes (como “Lincoln”, “Django livre” e “A hora mais escu-

ra”). “Uma história de amor e fúria”, segundo seu criador, pretende contar a tra-

jetória do país como ela é: “cheia de tragédias que nos deixam indignados”.

Debate sobre o papel da história

O debate sobre história empreendido por Bolognesi vai além das telas e

chega às livrarias com “Meus heróis não viraram estátuas”. A publicação, da edi-

tora Ática, foi realizada em parceria com Pedro Puntoni, professor da USP e con-

sultor do longa, e trata da memória do Brasil.

- O livro fala sobre as versões das histórias que ficam registradas e também so-

bre as alternativas de quem as escreve e quais heróis são exaltados. Ele vem

para levantar questionamentos, e não para dar respostas - explica Bolognesi.

O diretor conta que vários heróis foram e continuam sendo injustiçados ao longo

da história, sem ganhar o reconhecimento devido:

- Manuel Balaio, por exemplo, enfrentou o regime de humilhação, levantou um

movimento [a Balaiada, no Maranhão] e não é lembrado. Ao invés disso, há vá-

rias estátuas de Duque de Caxias, que realizou um massacre. Outros tantos he-

róis não são vistos com cuidado, como Chico Mendes, Chiquinha Gonzaga e Davi

Yanomami.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/megazine/uma-historia-de-

amor-furia-narra-paixao-que-dura-seis-seculos-8035142#ixzz2RKt3Uk00

O Encontro de Lampião Com Eike Batista - El Efecto Duas coisas bem distintas / Uma é o preço, outra é o valor / Quem não entende a diferença / Pouco saberá do amor / Da vida, da dor, da glória / E tampouco dessa história / Memória de cantador

Reza a história que num dia / Daqueles de sol arisco / O bando de cangaceiros / Mais valente nunca visto: / Candeeiro, labareda, / Zabelê e mergulhão / Juriti, maria bonita / Volta-seca e lampião / Enedina, quinta-feira / Beija-flor e zé sereno / Lamparina, bananeira. / Andorinha e o moreno / Moderno,trovão, dada / Moita brava e mais coris-co / Pra mó de se arrefrescar / Margeavam o são francisco

De repente um escarcéu / Aperreia todo bando / Um trem vem rasgando o céu / E na terra vai pousando / Do grande urubu de lata / Cercado por muitos hômi / Desce um gringo de gravata / Falando no telefone

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12. (Ufpb 1998) Sobre as insurreições ocorridas durante o Período Regencial e o II Reinado, relacione o movimento social à esquerda com sua característica à direita.

(1) Praieira (2) Balaiada (3) Sabinada (4) Farroupilha (5) Cabanagem

( ) Rebelião iniciada em 1835 na província do Grão-Pará, que levou as camadas popu-lares ao poder. ( ) Revolta ocorrida na Bahia em 1837, com predominância das camadas médias ur-banas de Salvador. ( ) Revolta de sertanejos (vaqueiros e camponeses) e negros escravos, que abalou o Maranhão de 1838 e 1841. ( ) A mais longa revolta da história do Império brasileiro, ocorrida no Rio Grande do Sul, de 1835 a 1845.

O preenchimento dos parênteses está sequenciadamente correto em: a) 1, 3, 4, 2 b) 2, 1, 4, 5 c) 5, 3, 2, 4 d) 3, 4, 1, 2 e) 1, 2, 3, 4 13. (Fgv 1997) Com relação aos indígenas brasileiros, pode-se afirmar que: a) os primitivos habitantes do Brasil viviam na etapa paleolítica do desenvolvimento

humano; b) os índios brasileiros não aceitaram trabalhar para os colonizadores portugueses na

agricultura não por preguiça, e sim porque não conheciam a agricultura; c) os índios brasileiros falavam todos a chamada "língua geral" tupi-guarani; d) os índios brasileiros, como um todo, não tinham homogeneidade nas suas variadas

culturas e nações. 14. (Faap 1996) Luís Alves de Lima e Silva inicia-se na tradição de "O Pacificador" ao comandar as tropas que terminaram a: a) revolta dos liberais paulistas e mineiros em 1842 b) Balaiada, no Maranhão, 1838 - 1840 c) Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul, 1835 - 1842 d) Cabanada, no Pará 15. (Unesp 1995) Os primitivos habitantes do Brasil foram vítimas do processo colonizador. O europeu, com visão de mundo calcada em preconceitos, menosprezou o indígena e sua cultura. A acreditar nos viajantes e missionários, a partir de meados do século XVI, há um decréscimo da população indígena, que se agrava nos séculos se-guintes. Os fatores que mais contribuíram para o citado decréscimo foram: a) a captura e a venda do índio para o trabalho nas minas de prata do Potosi. b) as guerras permanentes entre as tribos indígenas e entre índios e brancos. c) o canibalismo, o sentido mítico das práticas rituais, o espírito sanguinário, cruel e

vingativo dos naturais. d) as missões jesuíticas do vale amazônico e a exploração do trabalho indígena na

extração da borracha. e) as epidemias introduzidas pelo invasor europeu e a escravidão dos índios.

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As 20 mil pessoas que estavam no Maracanãzinho [em 1968] transformaram-

se em coral dessa variante melódica do conceito marighelista de que ‘a vanguarda faz

a ação’. ‘Sabiá’ derrotou ‘Caminhando’, mas Tom Jobim mal conseguiu tocá-la. A ar-

quibancada vaiou-o por 23 minutos. Talvez tenha sido a mais longa das vaias ouvidas

nos auditórios do país. Não era a Tom que se apupava, muito menos ao júri, que dei-

xara ‘Caminhando’ em segundo lugar. A vaia era contra a ditadura, e aquela seria a

última manifestação vocalista das multidões brasileiras. Passariam uma década em

silêncio, gritando pouco mais que ‘gol’. Poucas semanas depois, o governo proibiu a

execução de ‘Caminhando’ nas rádios e em locais públicos. Temia que se tornasse ‘o

ponto de partida para a aceleração e ampliação de um processo de dominação das

massas’. Gaspari, Elio, A ditadura envergonhada. São Paulo, Companhia das Letras, 2002, p. 322.

a) O resultado do Festival Internacional da Canção de 1968, devido à vitória da canção Sabiá, forneceu o argumento decisivo para o regime estabelecer o AI-5 em 13 de dezembro de 1968.

b) Muitos dos presentes ao Maracanãzinho vaiaram a canção Sabiá porque desejavam a vitória da canção de Vandré, que defendia uma ação direta contra a ditadura e expressava claramente ideais da esquerda da época.

c) A proibição da canção Caminhando ocorreu porque isso encorajou os militares a iniciarem as conspirações contra o governo do presidente João Goulart.

d) A radicalização política experimentada no Brasil ao final da década de 1960 mante-ve-se alheia à movimentação cultural das vanguardas artísticas e musicais desse período.

11. (Fuvest 2013) Leia os textos abaixo: Coube ao Gen. Mourão Filho, Cmt. da 4ª Região Militar, essa histórica iniciativa, a 31

de março, nas altaneiras montanhas de Minas. E a Revolução, sem que tivesse havido

elaboradas articulações prévias entre os Chefes Militares, – não teria havido tempo

para isto – empolga o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, para ter seu epílogo às

11h45min do dia 2 de abril, no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, com a parti-

da do ex-Presidente João Goulart para o estrangeiro. M. P. Figueiredo. A Revolução de 1964. Um depoimento para a história pátria. Rio de Janeiro: APEC, 1970, p. 11-12. Adaptado.

Lembro-me bem do dia 31 de março de 1964. Era aluno do curso de Sociologia e Polí-

tica da Faculdade de Ciências Econômicas da antiga Universidade de Minas Gerais e

militava na Ação Popular, grupo de esquerda católica [...] No dia seguinte, 1º de abril,

já não havia dúvida sobre a vitória do golpe. Saí em companhia de colegas a vagar

pelas ruas de Belo Horizonte [...] Contemplávamos, perplexos, a alegria dos que cele-

bravam a vitória e assistíamos, assustados, ao início da violência contra os derrotados. J. M. de Carvalho. Forças Armadas e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005, p. 118.

a) Que denominação cada autor utilizou para se referir ao regime instaurado após 31

de março de 1964? A que se deve essa diferença de denominação? b) Tal diferença se relaciona com a criação da Comissão da Verdade em 2012? Justifi-

que.

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Uns hômi tudo de preto / Peste vinda do futuro / Que pra não olhar no olho / Veste óculos escuro / Um se aprochegou do bando / Grande pinta de artista / Disse com ar de desprezo / Muito seco e elitista: / "-calangada arreda o pé / Que agora isso é de eike batista!"

A peixeira já luzia / Quando o gringo intercedeu / "-perdoem a grosseria / Desse em-pregado meu / Sou homem civilizado / Não gosto de violência / Trago papel assinado / Prezo pela transparência / A terra de fato é minha / O governo fez leilão / Eu que dei maior lance / Ganhei a licitação / Não sou nenhum trapaceiro / O que é meu é de direito / Mas como bom cavalheiro / Lhes proponho um outro jeito"

Chamou lampião na chincha / Prum papo particular / Uma proposta de ouro / Difícil de recusar / "vou ganhar muito dinheiro / Com um novo agronegócio / Emprego teu ban-do inteiro / Ainda te chamo pra ser sócio"

"tu pode comprar são paulo / E o rio de janeiro / Foto em capa de revista / Por causa do teu dinheito / Ter obra no mundo inteiro / Petróleo, mineração / Mas aqui nesse pedaço / Quem manda é o rei do cangaço / Virgulino, lampião!" / Se tu gosta de x mais um x eu vou lhe dar no xaxado que diz / Se tu gosta de x mais um x eu vou lhe dar no xaxado que diz: chispa!!

E os homi tudo de gravata desandaram a fugi / Subiru no urubu de lata e arredaram o pé dali / E até o velho xico cantou pra todo mundo ouvir: / Hay que, hay que, eike, hay que, hay que, hay que resistir!

Duas coisas bem distintas / Uma é o preço, outra é o valor / Quem não entende a diferença / Pouco saberá do amor / Da vida, da dor, da glória / E tampouco dessa história / Memória de cantador... Pedras e Sonhos - El Efecto Bota a cara lá fora e me conta o que o teu olho escolhe ver Olha pra dentro agora e lembra do que convém esquecer

Corre porque aí vem ela / Quem? quem tem medo dela? (a ver-da-de) / Vem pra te lembrar / Tranca a porta e a janela. / Quem? quem se esconde dela? (a ver-da-de)

Sai da tua gaiola. me diz agora o que você vê Sente na pele e chora. tarde demais pra esquecer.

Corre porque aí vem ela / Quem? quem tem medo dela? (li-ber-da-de) / Vem pra te lembrar / Tranca a porta e a janela. / Quem? quem se esconde dela? (li-ber-da-de)

Pedras são sonhos na mão / Voam na imensidão / Ideias que ganham vida e criam asas / Voam na imensidão / Meus sonhos, minha canção / Pedras e sonhos são nossas únicas armas

Pedras são sonhos na mão / Flores que brotam, brotam do chão / Se as pedras não voam os sonhos são em vão / Em tempos de escuridão / O sol se põe, se põe... / Mas se um dias as pedras cantam... / Se um dia as pedras cantam... / Se cantam as pe-dras os sonhos dançarão.

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TEXTO 1:

Os Tupinambá

Conhecidos também como Tamoio ou Tamuya, viviam numa faixa de

litoral que ia da atual cidade de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, a Cabo

Frio, no estado do Rio de Janeiro. "Tamoio" significa avô, o mais velho, e "Tupi-

nambá" talvez signifique o primeiro, o mais antigo.

Os Tupinambá viviam sobretudo no estado do Rio de Janeiro, onde se

calcula um total de 6 mil pessoas. O conjunto da nação Tupinambá nessa região

não deveria ultrapassar 10 mil pessoas.

Três traços principais marcavam este povo: a inteligência, a guerra e a abertura

para o novo.

Eram pessoas muito curiosas e observadoras. Um frade francês, Claude

d’Abbeville, que teve contato com um grupo Tupinambá, no Maranhão, escreveu:

"Imaginava que iria encontrar verdadeiros animais ferozes, homens selvagens e

rudes. Enganei-me totalmente.

São grandes discursadores, possuem muito bom senso e só se deixam

levar pela razão, jamais sem conhecimento de causa".

Gravura em cobre de Theodor de Bry. Dança ritual dos Tupinambá. No centro, três pajés com mantos de penas, cintos e diademas. Atualmente existem apenas seis exemplares desse manto, todos

em museus europeus.

Esta agudez de percepção fez com que os chefes enviassem uma delega-

ção à França para pedir ajuda ao rei, na sua luta contra os portugueses no Rio de

Janeiro. Não querendo envolver-se na aventura de Villegaignon, marcada por

conflitos religiosos, o rei da França recusou-se a ajudá-los. A delegação indígena

voltou-se então para a classe dos comerciantes, com os quais conseguiu angariar

navios e armas. Há poucas informações sobre essa viagem. Mas uma outra, reali-

zada em 1613, nos foi relatada pelos capuchinhos franceses. A delegação Tupi-

nambá foi recebida pelo rei Luís XIII no palácio do Louvre, ocasião em que fize-

ram um discurso ao rei em tupi.

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I - as reformas urbanas do Rio de Janeiro acentuaram os contrastes sociais, quando privilegiaram o embelezamento dos espaços ocupados pela elite político-econômica, em detrimento dos subúrbios;

II - os governos militares que marcaram os primeiros anos da República intervieram no Rio de Janeiro, através da delimitação e diferenciação das áreas industriais e resi-denciais, dando origem a contrastes sociais jamais vistos na história da cidade até então;

III -a multiplicação e a expansão espacial das indústrias no Rio de Janeiro atraíram numerosa mão de obra, que se instalou nos subúrbios, dando origem a novas fave-las, próximas das áreas industriais.

Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s): a) II e III, apenas. b) I, apenas. c) I e II, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Com base nas afirmativas abaixo, responda à(s) questão(ões) a seguir "A África é aqui. E a Europa também" "Da Lagoa a Acari, abismo de um século."

(Retratos do Rio - estudo sobre o Índice de Desenvolvimento Humano. O Globo, 24/03/2001.)

8. (Uerj 2002) As diferenças internas da metrópole carioca estão apoiadas princi-palmente na disparidade encontrada em: a) indicadores sociais b) relações de trabalho c) composições étnicas d) organizações políticas 9. (Puc-rio 2001) "Toda aglomeração sócio-espacial desenvolve um centro principal. Não existe realidade urbana sem um centro comercial, simbólico, de informações e de decisões. Como a aglomeração em um único ponto é impossível, alguém será obrigado a se afastar. Quem? Na cidade capitalista moderna quem regula essa questão é o mercado."Adaptado de VILLAÇA, Flávio. "Espaço intra-urbano no Brasil". São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute, 1998. A partir do texto: a) Apresente 2 (dois) exemplos que mostrem o valor simbólico da área central do Rio de Janeiro. b) Explique como a atual expansão do espaço urbano do Rio de Janeiro é regulada pelo mercado imobiliário. 10. (Fgvrj 2013) Leia com atenção os textos abaixo, a respeito do Festival Interna-cional da Canção ocorrido no Rio de Janeiro em 1968, e depois escolha a alternativa correta. Vou voltar/Sei que ainda vou voltar para o meu lugar/ Foi lá e é ainda lá/Que eu hei de

ouvir cantar/ Uma sabiá Sabiá. Chico Buarque de Hollanda e Tom Jobim

Vem vamos embora que esperar não é saber/ Quem sabe faz a hora não espera acon-

tecer Pra não dizer que não falei das flores. Geraldo Vandré

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5. (Uerj 2005) O Estado do Rio de Janeiro, na segunda metade do século XX, passou por um processo de esvaziamento econômico e político. Somente a partir dos anos de 1990, observa-se uma retomada do crescimento econômico e um aumento nos fluxos entre a capital e o interior fluminense. Identifique: a) duas causas para o esvaziamento econômico do Estado do Rio de Janeiro no período apontado acima; b) duas dificuldades para que se consolide uma integração maior entre o interior do estado e sua região metropolitana. 6. (Uerj 2002) FAVELA Numa vasta extensão / onde não há plantação / nem ninguém morando lá. / Cada um pobre que passa por ali / só pensa em construir seu lar. / E quando o primeiro começa / os outros, depressa, procuram marcar / seu pedacinho de terra pra morar. / E assim a região sofre modificação, / fica sendo chamada de nova aquarela. / É aí que o lugar então passa a se chamar / Favela ("Padeirinho" - Jorginho) As primeiras favelas do Rio de Janeiro surgiram, provavelmente, ao final do século XIX nos morros Favela - atual Providência - e Santo Antônio, numa época de intenso crescimento populacional e significativas modificações urbanas.

O conhecimento histórico desse processo e as observações feitas pelos autores da canção permitem afirmar que o surgimento das favelas, no Rio de Janeiro, está ligado à conjugação dos seguintes fatores: a) expansão espacial da cidade e disputa pela ocupação do solo b) política estatal de habitação popular e crescimento da área metropolitana c) decadência agrícola fluminense e competição entre áreas de especialização produti-

va d) momento de imigração estrangeira e atração de novos trabalhadores para a indús-

tria 7. (Cesgranrio 2002) OS CONTRASTES SOCIAES

(Revista "O Gato" n∘ 71. 15/02/1913 in ABREU, Maurício A. "Evolução Urbana do Rio de Janeiro". RJ: Iplanrio, 1997, 3a ed. p. 72)

Analisando a caricatura acima, referente à cidade do Rio de Janeiro no início do sécu-

lo, pode-se afirmar que:

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A guerra era outro elemento fundamental da cultura tupinambá, na qual

a bravura e a vingança exerciam importantes papéis. Considerada uma atividade

sagrada, reservada para alguns, de acordo com sua idade, sexo e aptidões físi-

cas. A bravura e o poder de um chefe eram medidos pelo número de inimigos

mortos por ele. O inimigo morto era comido pela comunidade em um sacrifício

ritual. Havia várias prescrições para esta cerimônia. Um prisioneiro medroso era

excluído, pois o caráter fraco poderia ser incorporado por aqueles que o ingeris-

sem. Havia, pois uma relação entre refeição sacrificial, bravura e coragem. O

cativo, por sua vez, desafiava seus matadores, gritando que um dia seus paren-

tes o vingariam. O maior desejo de um guerreiro era ser morto pelos seus inimi-

gos.

Ao nascer, o menino era pintado de vermelho e de preto. Recebia como

presentes unhas de onças e de gavião, para que tornasse um guerreiro valente, e

um pequeno arco e flechas, símbolos de seu futuro belicoso.

Através da guerra que os adultos passam um modelo de comportamento

para os mais jovens, apreendem conhecimentos de rituais mágico-religioso consi-

derados essenciais na conduta masculina e, mediante o sucesso nas lutas, asse-

guram alguns direitos na comunidade, como o casamento com várias mulheres e

o exercício da liderança.

Em consequência desses valores, a guerra é um fator de construção e

realização da personalidade masculina tupinambá, na medida em que é entendida

como fundamental, enobrecedora e justa, pois é um elemento de articulação

social, põe em evidência o valor e poder da cada um e permite punir os inimigos.

A guerra repercute, portanto, ativamente no ritmo do desenvolvimento

sociopsíquico da comunidade: transfere para fora do grupo as tensões, localizan-

do no "outro" todas as causas dos problemas enfrentados.

Como a guerra só pode ser praticada com a aprovação de todos, ela

também é fator de unidade social; durante a luta, geralmente corpo-a-corpo, o

empenho de cada um afeta todos os guerreiros, já que se tem a clareza de que,

se o inimigo não for completamente destruído, a sua vingança poderá ser fatal.

Portanto, é preciso unir forças para vencê-lo mortalmente.

(Adaptado de Fernandes, Floretan. A função social da guerra na sociedade tupinambá. São Paulo, Edusp, 1970)

A aliança que os Tupinambá estabeleceram com os europeus - portugue-

ses, franceses e holandeses - visava também o combate contra seus inimigos, os

outros povos indígenas.

A sua extrema curiosidade e a atração pelo novo foram elementos fun-

damentais de sua cultura. Mal sabiam que essa abertura, que parecia uma atitu-

de positiva, colaboraria para a perda de sua identidade e para a sua integração à

nova sociedade.

http://www.geocities.ws/terrabrasileira/contatos/tamoio.html

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TEXTO 2:

Balaiada (1838-1841): Revolta popular no Maranhão

Renato Cancian*

A Balaiada foi uma revolta que eclodiu na província do Maranhão, entre

os anos de 1838 a 1841. Recebeu esse nome devido ao apelido de uma das prin-

cipais lideranças do movimento, Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o "Balaio"

(cestos, objetos que ele fazia).

A Balaiada se distingue das outras revoltas que eclodiram no período

regencial por ter sido um movimento eminentemente popular contra os grandes

proprietários agrários da região.

As causas da revolta estão relacionadas às condições de miséria e opres-

são a que estava submetida a população pobre da região. Nesta época, a econo-

mia agrária do Maranhão atravessava um período de grande crise. A principal

riqueza produzida na província, o algodão, sofria forte concorrência no mercado

internacional e, com isso, o produto perdeu preço e compradores no exterior.

Crise do algodão

As camadas sociais que mais sofriam com a situação eram os trabalhado-

res livres, camponeses, vaqueiros, sertanejos e escravos. A miséria, a fome, a

escravidão e os maus tratos constituíram os principais fatores de descontenta-

mento popular que motivou a mobilização dessas camadas sociais para a luta

contra as injustiças sociais.

A classe média maranhense estava insatisfeita politicamente. Havia ade-

rido aos princípios liberais de organização política, muito difundidos na época

pelos opositores da monarquia e adeptos do republicanismo.

Importantes setores dessa classe passaram a reivindicar mudanças no

controle das eleições locais que acabavam favorecendo os grandes proprietários

agrários. Fundaram um jornal, com o nome de "Bem-te-vi", para difundir os ide-

ais republicanos. Com o objetivo de organizar um movimento de revolta contra o

mandonismo dos grandes proprietários, os setores politicamente organizados da

classe média se aproximaram das camadas mais pobres, na tentativa de mobili-

zá-las para a luta.

Governo provisório

Mesmo sem ter sido cuidadosamente preparada e possuir um projeto

político definido, a Balaiada eclodiu em 1838. Os balaios conseguiram tomar a

cidade de Caxias, uma das mais importantes do Maranhão, em 1839. Organiza-

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A alteração da legislação brasileira no que se refere aos limites marítimos reflete as

mudanças na diplomacia externa do país dos anos 1970 para os anos 1980/1990. As duas diretrizes da política externa do Brasil, para cada um desses dois períodos,

estão formuladas, respectivamente, em: a) gestão pública alicerçada nas principais demandas populares - adoção dos novos

princípios mundiais de domínio compartilhado dos recursos naturais b) exercício da soberania baseado em decisões unilaterais de inspiração nacionalista -

integração a sistemas multilaterais de decisão na esfera mundial c) ação do Estado fundamentada na lógica de alianças da Guerra Fria - submissão às

resoluções dos organismos internacionais manipuladas pelas potências hegemônicas d) intervenção governamental em defesa dos interesses econômicos externos - im-

plantação de uma estratégia de consenso internacional em detrimento dos capitais nacionais

4. (Ufsm 2007) Analise os gráficos.

Considerando os dados fornecidos pelos gráficos, é correto afirmar:

a) O setor agrícola apresenta os maiores volumes de captação de água, e a rede de abastecimento doméstico, as maiores perdas.

b) No futuro, a perda de água por evaporação deverá superar o volume de água cap-tado para uso industrial.

c) Independente do setor analisado, o percentual de perda de água se manteve mais ou menos constante ao longo do século XX.

d) Durante o período analisado, o setor agrícola foi o que apresentou o menor cresci-mento na captação de água.

e) A captação de água para consumo industrial só supera o volume captado para uso doméstico a partir de 1975.

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Exercícios de vestibular 1. (Fuvest 2013) Observe o mapa.

Considere as afirmações sobre o Sistema Aquífero Guarani. I. Trata-se de um corpo hídrico subterrâneo e transfronteiriço que abrange parte da Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai.

II. Representa o mais importante aquífero da porção meridional do continente sul-americano e está associado às rochas cristalinas do Pré-Cambriano.

III. A grande incidência de poços que se observa na região A é explicada por sua me-nor profundidade e intensa atividade econômica nessa região.

IV. A baixa incidência de poços na região indicada pela letra B deve-se à existência, aí, de uma área de cerrado com predomínio de planaltos.

Está correto o que se afirma em a) I, II e III, apenas. b) I e III, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) II e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 2. (Ufpr 2013) O recurso água e seu uso estão entre os grandes problemas socio-ambientais que a sociedade tem como desafio nas próximas décadas. Reservas desse recurso estão localizadas no que se denominam aquíferos, como é o caso do aquífero Guarani. Conceitue o termo aquífero, caracterizando especificamente o aquífero citado, sua distribuição geográfica e os desafios políticos que seu uso impõe. 3. (Uerj 2009) A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) - assinada pelo Brasil em 1982 e ratificada em 1988 - introduz ou consagra os conceitos de mar territorial, zona econômica exclusiva e plataforma continental. Em 1993, o Governo brasileiro sancionou a lei que tornou os limites marítimos brasilei-ros coerentes com os limites preconizados pela CNUDM. O mar territorial brasileiro de 200 milhas marítimas - instituído em 1970 - passou a ser de 12 milhas marítimas, ao qual foram acrescidas 188 milhas referentes à zona econômica exclusiva.

M. DE SOUZA. Adaptado de www.scielo.br

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ram um governo provisório que adotou algumas medidas de grande repercussão

política, como a decretação do fim da Guarda Nacional e a expulsão dos portu-

gueses residentes na cidade.

Nas ruas, a revolta dos balaios caminhou rapidamente para a radicaliza-

ção, porque juntaram-se ao movimento escravos fugitivos, desordeiros e crimino-

sos. Foram inúmeras as cenas de banditismo, violência e vingança social ocorri-

das pela cidade e no interior da província. Foi também nessa fase da revolta que

surgiram novos líderes, como o negro Cosme Bento, líder de um quilombo que

reunia cerca de 3 mil escravos fugitivos, e o vaqueiro Raimundo Gomes.

O duque de Caxias

A radicalização da revolta, porém, levou a classe média a se desvincular

do movimento, e até mesmo a tomar algumas medidas para contê-lo. Foi assim

que esses setores acabaram apoiando as forças militares imperiais, enviadas pelo

Governo central à região. As forças militares imperiais ficaram sob comando do

coronel Luís Alves de Lima e Silva.

O combate aos balaios foi bastante violento. O movimento de revolta foi

contido em 1841. Cerca de 12 mil sertanejos e escravos morreram nos combates.

Os revoltosos presos foram anistiados pelo imperador dom Pedro 2º. A vitória

sobre a balaiada levou o coronel Luís Alves de Lima e Silva a ser condecorado

pelo imperador com um título de nobreza: Barão de Caxias. Renato Cancian* Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais, é autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e Atuação Política - 1972-1985" (Edufscar).

POEMA: A vida do índio

O índio lutador, / Tem sempre uma história pra contar. / Coisas da sua vida, /

Que ele não há de negar. / A vida é de sofrimento, / E eu preciso recuperar. / Eu

luto por minha terra, / Por que ela me pertence. / Ela é minha mãe, / E faz feliz

muita gente. / Ela tudo nós dar, / Se plantarmos a semente. / A minha luta é

grande, / Não sei quando vai terminar. / Eu não desisto dos meus sonhos, / E sei

quando vou encontrar. / A felicidade de um povo, / Que vive a sonhar. / Ser índio

não é fácil, / Mas eles têm que entender. / Que somos índios guerreiros. / E lu-

tamos pra vencer. / Temos que buscar a paz, / E ver nosso povo crescer. / Orgu-

lho-me de ser índio, / E tenho cultura pra exibir. / Luto por meus ideais, / E nun-

ca vou desistir. / Sou Pataxó Hãhãhãe, E tenho muito que expandir.

Autor: Edmar Batista de Souza (Itohã Pataxó) 06/09/06

Esta matéria foi publicada originalmente na Rede Índios on Line - www.indiosonline.net

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TEXTO 3:

Luta armada durante o regime militar Carlos Fico

A última enquete do Brasil Recente perguntou se a luta armada ajudou a

terminar com a ditadura militar ou retardou a redemocratização do país. Para a

maioria dos leitores (72%) a luta armada ajudou a derrubar a ditadura.

A questão é pertinente porque, para muitos integrantes da esquerda, as a-

ções armadas desafiaram o regime e se tornaram importante forma de resistên-

cia ao arbítrio. Existe, entretanto, outro ponto de vista segundo o qual a luta

armada acabou servindo de pretexto para que o regime assumisse poderes defi-

nitivamente ditatoriais através do AI-5.

Essa é uma discussão difícil. O historiador deve buscar uma leitura o mais

possível objetiva, mas seria quase um cinismo não reconhecer a dimensão ético-

moral do problema. Por um lado, temos o fato de que o Estado brasileiro tinha

todas as condições de combater a luta armada sem apelar para a tortura e o

extermínio. Por outro, mesmo os que discordam da luta armada não podem dei-

xar de reconhecer certa generosidade no projeto daqueles jovens, sobretudo os

que fizeram a opção pelas armas depois das passeatas de 1968. Esse reconheci-

mento compromete a objetividade da História? Creio que não. Dominick LaCapra

diz que é preciso termos “empatia” pelas vítimas – o que não significa total iden-

tificação.

Os militares propagaram a tese de que a polícia não conseguia combater as

ações armadas. Eles pretendiam justificar seu envolvimento na repressão. Esse

foi o maior erro histórico das Forças Armadas brasileiras. A imagem dos militares

passaria a ser associada à tortura e ao extermínio. Poucos militares torturaram e

mataram; muitos foram coniventes, mas todos saíram comprometidos.

Do lado da “guerrilha”, é preciso fazer uma distinção importante: as lideran-

ças da esquerda, os quadros organizados, já vinham discutindo a possibilidade da

opção pelas armas desde a vitória da Revolução Cubana, bem antes do golpe de

64. Nesse sentido, não se pode concordar com algumas leituras da esquerda que

dizem que a luta armada foi uma decorrência do endurecimento do regime. En-

tretanto, muitos jovens que participaram das passeatas de 1968 – que sacudiram

o país entre março e outubro daquele ano – ficaram chocados com o AI-5 (que

veio em dezembro) e se tornaram, assim, candidatos facilmente recrutáveis pela

luta armada a partir de 1969. Eles aderiram “espontaneamente”, sem maiores

reflexões. É uma situação diferente da dos líderes.

A própria expressão “luta armada” deve ser qualificada. Uma coisa é a Guer-

rilha do Araguaia, outra são as ações armadas nas cidades. Os militares viam

Araguaia como questão militar e não se envergonham da decisão de “exterminar”

05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 23

des e povos tradicionais, como foi sugerido pelo INEPAC e, misteriosamente,

ignorado pelo governo.

Que a covardia pública cometida contra a Aldeia Maracanã, possa desper-

tar não apenas a revolta em si mesma, a solidariedade piedosa, a lamentação

passageira ou, eventualmente, o alívio de "dever cumprido" em alguns cariocas,

mas que sirva de alerta para que saibamos que esse não é um caso isolado na

cidade, não foi o primeiro e não será o último. A tragédia da Aldeia Maracanã é

também a tragédia diária de milhares de famílias removidas por meio da força de

seus lares na periferia da cidade, o assassinato de lideranças do movimento dos

pescadores artesanais da Baía de Guanabara, os entornos da obra do Porto Mara-

vilha, a situação da TSK em Santa Cruz, a tentativa de demolição da Escola Fri-

enderich, a resistência da Vila Autódromo, a coerção desproporcional no Morro da

Providência, a proposta de privatização de parte do Aterro do Flamengo e tantas

outras e outras e outras.

Que o abuso do poder público no caso da Aldeia Maracanã possa servir de

exemplo para que possamos compreender que não é simplesmente uma luta

partidária, porque a defesa por direitos independe - ou deveria - de filiações polí-

ticas. O interesse restrito de um pequeno grupo não pode continuar influenciando

o poder público a atropelar os direitos à moradia, à liberdade de expressão e

manifestação, à liberdade de desobediência civil e à integridade física e moral.

Que também sirva para nos fazer tremer e tentarmos nos unir contra os abusos

da atual gestão pública da cidade.

O problema foi longe de ter sido o trânsito na radial Oeste, a "vagabun-

dagem dos manifestantes que não tem o que fazer na vida”, e nem esses "índios

que tem mais é que voltar pra floresta mesmo". O mais lamentável não é a tra-

gédia de se tratar as minorias do país desse modo, o mais lamentável é a incapa-

cidade de se perceber o absurdo da tragédia. E o absurdo da tragédia não é ape-

nas das comunidades tradicionais da Aldeia Maracanã, mas é muito mais profun-

do e próximo porque a tragédia é, sobretudo, também nossa.

Matheus Bizarria, Activista Brasil

http://www.actionaid.org.br/2013/03/aldeia-maracana-tragedia-e-nossa

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havia sido tombado oficialmente. A Defensoria Pública e Órgão de Patrimônio

Estadual condenaram a declaração do governador e se posicionaram contrários à

demolição porque ela é um claro desrespeito à preservação cultural arquitetônica

do município e uma demonstração ultrajante de que os povos marginalizados da

sociedade brasileira podem ter sua história extirpada. Foi assim desde 1.500 com

Cabral e continua sendo assim em 2013 com Cabral, ironicamente.

O que muito se omite é que a história do "Museu" do Índio do Maracanã -

nome amplamente divulgado pela mídia e população - já não funcionava como

"museu" desde a década de 70, quando foi transferido para Botafogo e lá sim

está aberto para a visitação pública até hoje. O espaço hoje em disputa foi reocu-

pado em 2006, por mais de 17 etnias indígenas de todo território nacional com o

intuito de ser um centro cultural de resistência simbólica indígena assim como

servir como lugar capaz de abrigar indígenas que fossem estudar no Rio de Janei-

ro. Na época, a reocupação do espaço pelos indígenas foi apoiada pelo poder

público, porque os indígenas seriam capazes de retirarem "os criminosos e men-

digos" que habitavam o casarão naquele então. Sarcasmo da vida política, hoje

são as comunidades e povos tradicionais acusados de não serem mais legítimos

"índios puros" - portanto, deslegitimados - de serem os "criminosos, sem-teto e

vagabundos à toa" que devem sair do espaço que lhes pertencem desde 1865

como Patrimônio Público Indígena.

A Aldeia Maracanã tem como proposta representar um espaço de resis-

tência e união da causa indígena brasileira de forma viva feita pelos próprios

indígenas para os próprios indígenas, que atuam, desde 2006 de forma precária e

invisível aos olhares públicos e sociais, em suas lutas diárias por direitos.

O fato é que não havia e ainda não há nenhuma justificativa técnica que

justifique a demolição do espaço da Aldeia Maracanã porque o argumento da

necessidade de destruir materialmente o prédio não se sustenta. Por trás disso

tudo, a verdade crua é que é muito mais interessante e lucrativo para alguns

poucos construir um estacionamento bonito e moderno no portão 13 do estádio

do Maracanã e/ou construir um espaço comercial ligado à ideia de “Museu Olímpi-

co” para vender artigos esportivos para a Copa e Olimpíadas do que ter que lidar

com o blá-blá-blá de defesa dos povos indígenas, porque, os indígenas são, afi-

nal, apenas índios.

Precisamos entender que os indígenas não estão lá meramente porque

querem estar acomodados lá, mas que existem relações de poder anteriores que

os também fizeram estar lá talvez não por pura vontade pessoal, mas por neces-

sidade social histórica. É necessário indagar o porquê de se advogar tanto pela

demolição da Aldeia Maracanã ao invés de se repensar a sua revitalização – como

foram pensadas as revitalizações de construções históricas da cidade como o

Theatro Municipal e da Lapa - e delegar sua administração às próprias comunida-

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o foco guerrilheiro. As ações armadas no espaço urbano (assaltos, sequestros,

atentados etc.) eram vistas pelos militares como caso de polícia. Os militares se

envergonham do que eles chamam de “excessos”, ou seja, torturas e mortes,

diferentemente da questão do Araguaia. Durante muito tempo, tentaram negar a

tortura no combate às ações armadas urbanas.

Se não compreendermos essa diferença, não teremos entendido nada da

mentalidade militar do período. Por exemplo, quando o “moderado” general-

presidente Ernesto Geisel disse a frase chocante, divulgada por Elio Gaspari, se-

gundo a qual “esse negócio de matar é uma barbaridade, mas eu acho que tem

que ser”, muitos se esqueceram de que ele estava falando de uma “operação

militar”, não das ações armadas urbanas. Militares são treinados para isso.

Também é preciso lembrar que a “luta armada” brasileira foi bastante pontu-

al. A iniciativa da Guerrilha do Araguaia espanta pela ingenuidade; as ações ar-

madas urbanas não conquistaram nenhum apoio do povo, que via os militantes

da esquerda como “terroristas”.

A luta armada brasileira não foi muito importante em termos efetivos. Não

deixa de ser um erro pensarmos que o grande confronto da época era entre dita-

dura e luta armada: o golpe de 64 se deu contra mínimas conquistas populares

durante o governo Jango, não contra a “luta armada”.

O fato de, hoje, termos condições de ver a ingenuidade e/ou equívoco daque-

las iniciativas não nos exime de considerar a dimensão ético-moral do problema.

A História não deve ser vista como um simples embate entre o bem e o mal, mas

seria uma ingenuidade ignorar o sigificado político da repressão violenta.

A luta armada foi usada como pretexto para a retomada da “Operação Lim-

peza” que a linha dura vinha tentando restabelecer desde 1964. Esse grupo ex-

tremista saiu fortalecido e encastelou-se no poder com o nome de “comunidade

de segurança e de informações”. Nesse sentido, a luta armada não ajudou a ter-

minar com a ditadura. Entretanto, seu paroxismo serviu para desnudar a falta de

limites dos que endureceram o regime. As campanhas internacionais de denúncia

da tortura (ainda pouco connhecidas entre nós) foram importantes para fragilizar

o regime.

Muitos líderes e quadros organizados foram vitimados. Além disso, muitos

jovens que entraram desavisadamente na luta armada também tombaram, pode-

ríamos dizer, quase imolados. Pessoas que nada tinham a ver com a história

também foram presas, torturadas e mortas. Esse é um passivo que a sociedade

brasileira ainda não conhece bem e, certamente, terá de enfrentar. http://www.brasilrecente.com/2011/07/luta-armada-durante-o-regime-militar.html

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TEXTO 4:

Milícia (Rio de Janeiro)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Milícia é a designação genérica das organizações militares ou paramilita-

res compostas por cidadãos comuns, armados ou com poder de polícia que teori-

camente não integram as forças armadas de um país. As milícias podem ser or-

ganizações oficiais mantidas parcialmente com recursos do Estado e em parceria

com organizações de carácter privado, muitas vezes de legalidade duvidosa. Po-

dem ter objetivos públicos de defesa nacional ou de segurança interna, ou podem

atuar na defesa de interesses particulares, com objetivos políticos e monetários.

Recentemente, no Rio de Janeiro, o termo Milícia foi associado a práticas ilegais,

geralmente são grupos formados em comunidades urbanas de baixa renda como

conjuntos habitacionais e favelas sob a alegação de combater o crime narcotráfi-

co porém mantendo-se com os recursos financeiros provenientes da venda de

proteção da população carente e cobrança de pirataria na rede de informação,são

ainda consideradas milícias todas as organizações da administração pública terce-

rizada e que possuam estatuto militar, não pertençam às Forças Armadas de um

país, isto é, ao Exército, Marinha de Guerra ou à Força Aérea.

As milícias da cidade do Rio de Janeiro são grupos que controlam várias

favelas. São formadas por policiais, bombeiros, vigilantes, agentes penitenciários

e militares, fora de serviço ou na ativa. Muitos milicianos são moradores das co-

munidades e contam com respaldo de políticos e lideranças comunitárias locais.

A princípio com a intenção de garantir a segurança contra traficantes, os

milicianos passaram a intimidar e extorquir moradores e comerciantes, cobrando

taxa de proteção. Através do controle armado, esses grupos também controlam o

fornecimento de muitos serviços aos moradores. São atividades como o transpor-

te alternativo (que serve aos bairros da periferia), a distribuição de gás, a insta-

lação de ligações clandestinas de TV a cabo.

Segundo o Núcleo de Pesquisas das Violências da Uerj, até a operação no

Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, no final de novembro de 2010, as milí-

cias dominavam 41,5% das 1.006 favelas do Rio de Janeiro (contra 55,9% por

traficantes, e 2,6% pelas Unidades de Polícia Pacificadora).

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DEBATEDORES:

Aldeia Maracanã: a tragédia é nossa! - Quinta-feira, 28 Março 2013 – 14:37 (...) Para sediar os dois principais eventos esportivos do mundo, o Brasil aceitou

condicionantes que nos levam a um quadro grave de perda de soberania, viola-

ções de direitos sociais e ambientais e flexibilização de nossa democracia. Defini-

tivamente, o povo brasileiro ainda não descobriu a real dimensão desses eventos

em nossa história futura.

- Megaeventos e megaviolações (Leandro Uchoas).

Desde a madrugada até o decorrer da tarde da última sexta-feira, 22 de

Março, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se palco de um verdadeiro cenário de

guerra. O centro da disputa em questão era o destino da Aldeia Maracanã: de um

lado, os policiais militares com a habitual sutileza de seus sprays de pimenta,

balas de borracha e cassetetes contra jovens manifestantes, indígenas e figuras

públicas com o absurdo de reivindicarem por seus, meus e nossos direitos pres-

critos na Constituição Federal.

Quando a grande mídia fez repercutir o embate travado na Aldeia Mara-

canã, reações diversas eclodiram entre a população carioca, – ora condenando a

ação pública, ora apoiando a iniciativa do governo – mas poucas conseguiram

fazer uma breve análise capaz de tentar desvendar o que está verdadeiramente

em questão por detrás do confronto pontual pelo espaço do antigo Museu do

Índio.

Fica muito claro que hoje, no Rio de Janeiro, existe uma disputa entre

dois tipos de se pensar e formular as políticas públicas de cidade: o primeiro mo-

delo é o de cidade-mercadoria, que adota um planejamento urbano empresarial

voltado para a mercantilização e exclusões dos espaços públicos e torna a cidade

atraente aos negócios e ao mercado VERSUS um modelo de cidade justa e demo-

crática que é construído através de lutas sociais e implementação real da garantia

de direitos humanos, como é - ou deveria ser - o direito inalienável à moradia e à

memória e defesa do patrimônio cultural.

Sem dúvidas, a gestão atual da cidade está mais alinhada ao primeiro

modelo.

A primeira justificativa do governo para demolir o Museu do Índio era de

que essa era um exigência da FIFA, o que foi desmentido logo depois pela organi-

zação em nota oficial. Em seguida, o governador Sérgio Cabral sugeriu que o

prédio do museu, que possui mais de 145 anos e foi criado por ninguém menos

do que Darcy Ribeiro, não possuía nenhum valor histórico cultural porque nunca

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hesitaram em inventar um argumento ecológico, alegando a necessidade de re-

moção para preservar as margens da Lagoa de Jacarepaguá. Os moradores mos-

traram que é possível a recuperação ambiental, sem destruir as casas.

A Prefeitura mentiu novamente ao dizer que a remoção é fundamental

para os Jogos Olímpicos: o projeto vencedor de concurso internacional para o

Parque Olímpico manteve a comunidade. Em mais uma tentativa, apresentou um

projeto viário, alterando a rota da Transcarioca já em obras (e com várias irregu-

laridades no licenciamento ambiental), somente para passar por cima da comuni-

dade. Com a mudança constante de pretextos, a Prefeitura pretende legitimar a

remoção de 500 famílias, e a cessão, para o consórcio privado Odebrecht - An-

drade Gutierres - Carvalho Hosken, de uma área de 1,18 milhões de m², dos

quais 75% serão destinados à construção de condomínios de alta renda.

Como alternativa à injustiça, injustificável e ilegal tentativa de remoção,

a Associação de Moradores da Vila Autódromo elaborou o Plano Popular da Vila

Autódromo, com a assessoria técnica de especialistas. O Plano é técnica e social-

mente viável, e garante condições adequadas de moradia e urbanização. É uma

realização da cidadania. Na Grécia antiga onde nasceram as Olimpíadas, eram

banidos das cidades os tiranos, e não os cidadãos. Estes reuniam-se na praça

pública, a Ágora, para decidir seus destinos e os destinos de suas cidades. Que o

espírito olímpico reine na cidade maravilhosa. Que a Vila Autódromo, as comuni-

dades e bairros ameaçados de remoção e toda a população da cidade participem

das decisões.

A campanha pela sobrevivência da Vila Autódromo é uma luta de seus

moradores, mas é também, e sobretudo, uma luta de todos por uma cidade justa

e igualitária. Nos últimos meses, milhares de famílias foram compulsoriamente

removidas ou estão ameaçadas em nome da Copa do Mundo e das Olimpíadas:

Restinga, Vila Harmonia, Largo do Campinho, Rua Domingos Lopes, Rua Quáxi-

ma, Favela do Sambódromo, Morro da Providência, Estradinha, Vila Recreio 2,

Belém-Belém, Metrô Mangueira, Arroio Pavuna.

Convidamos todos os cidadãos e cidadãs a dizer: PAREM AS REMOÇÕES!

Apelamos à sensibilidade e responsabilidade das autoridades governamentais, da

Prefeitura do Rio de Janeiro, da FIFA e do Comitê Olímpico Internacional para que

as medalhas entregues aos atletas da Copa do Mundo 2014 e dos Jogos Olímpicos

2016 não sejam cunhadas com o sofrimento e a dor de milhares de famílias ex-

pulsas de suas casas e de suas vidas."

http://comunidadevilaautodromo.blogspot.com.br/

05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 13

TEXTO 5:

América Latina contra a privatização da água Seminário internacional propõe articulação de movimentos em defesa do mais

precioso recurso natural

20/07/2011

Camila Maciel - Adital

"Está em curso um processo de privatização da água no Brasil, seme-

lhante ao que aconteceu com o setor de energia elétrica, quando, depois de pri-

vatizado, as tarifas aumentaram cerca de 400%”. A advertência é do Movimento

dos Atingidos por Barragens (MAB), que realiza, a partir dessa quarta-feira (20),

o Seminário Internacional: Panorama político sobre estratégias de privatização da

água na América Latina. O evento será realizado na Universidade Federal do Rio

de Janeiro e segue até quinta-feira (21).

O Seminário cumpre com o objetivo de articular as experiências de lu-

ta contra a privatização da água na América Latina, para tanto serão debatidos os

atuais projetos em curso que visam a mercantilização da água em diferentes

Page 14: apostila_Uma_história_de_Amor_e_fúria

05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 14

países. Participarão movimentos sociais, acadêmicos e convidados do Brasil e de

outros 13 países da América Latina, Europa e África.

"Precisamos envolver todos nesse debate. A população precisa se aler-

tar e impedir qualquer tentativa de privatização”, convoca Gilberto Cervinski, da

coordenação nacional do MAB. Ele relata que em um plebiscito realizado da Itália,

95% dos votantes disseram "não” à privatização da água no país. "A população

se mobilizou e impediu que o governo privatizasse”, declarou, explicitando uma

das ações que serão compartilhadas por ocasião do Seminário.

Além da privatização do abastecimento de água, Cervinski revela

que inúmeras táticas estão sendo adotadas, como a municipalização do se-

tor, transferindo a responsabilidade aos municípios, como forma de pulverizar a

negociação para mercantilização da água; leilões de hidrelétricas, concedendo por

décadas o direito de exploração dos recursos hídricos; cobrança para uso das

águas dos rios, por meio dos Comitês de Bacias; dentre outras formas. Setores

como mineração, agricultura e saneamento são os que mais intervêm nesse sen-

tido.

"Identificamos que o processo de privatização da água tem se acelera-

do, especialmente, depois da crise de 2008”, explica Gilberto, referindo-se à crise

econômica mundial, iniciada nos Estados Unidos com a falência de grandes insti-

tuições financeiras. Cervinski destaca que esses processos envolvem grandes

corporações internacionais, que perceberam na água um grande negócio.

Cervinski relembra que, com a intensificação das privatizações na déca-

da de 1990 no Brasil, a questão da água ficou ameaçada, "mas uma for-

te resistência dos movimentos fez com que as grandes empresas recuassem

por um tempo”. Atualmente, o sistema de saneamento básico tem sido o

mais atingindo pela privatização, especialmente nas grandes e médias cida-

des, elevando enormemente o valor das tarifas.

Nesse sentido, o coordenador do MAB cita o exemplo de Santa Gertru-

des, cidade do estado de São Paulo, onde as tarifas "explodiram” em apenas três

meses depois de privatizadas. Segundo Gilberto Cervinski, uma das formas en-

contradas para expansão do setor é com o envolvimento de empresas de consul-

toria nos Planos de Saneamento, que devem ser feitos pelos municípios brasilei-

ros. Vinculadas às grandes corporações, as empresas de consultorias estariam

orientando as administrações municipais, a partir do trabalho realizado por eles, a

adoção do modelo privatizado.

http://www.brasildefato.com.br/node/6882

05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 19

Mas o brilho dos grandes eventos esportivos começa a esmorecer, o

marketing não consegue sustentar uma imagem construída sobre base tão frágil,

e aos poucos a cidade real se impõe. Para mudar a realidade do Rio de Janeiro

não basta ostentar teleférico em favela enquanto falta saneamento básico nas

casas fotografadas pelos turistas. Não basta acesso a bens de consumo se falta

habitação. E não basta habitação sem cidade. Para construir uma outra realidade

social há muito trabalho pela frente, e no momento em que há recursos disponí-

veis para de fato se iniciar uma mudança profunda na cidade, eles são drenados

para obras de prioridade questionável ou para destruir a infraestrutura já existen-

te, como no caso do Maracanã e da Perimetral, sem qualquer debate público. O

Rio de Janeiro está no caminho errado, e talvez por isso queira tanto esconder a

pobreza da cidade. Mas como disse uma moradora da Maré: ”O que adianta es-

conder? A gente existe, não adianta esconder não”. Pois é, recado dado. * Renato Cosentino é mestrando do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da

UFRJ, trabalha na organização de direitos humanos Justiça Global e participa do Comitê Popular da

Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro.

DEBATEDORES:

MANIFESTO: VILA AUTÓDROMO - Um bairro marcado para viver

"Desde o anúncio da realização da Copa e das Olimpíadas no Brasil, os

moradores da Vila Autódromo se tornaram alvo de ameaças de remoção. Não é a

primeira vez. Esta comunidade está situada em zona que, com o processo de

expansão da cidade, tornou-se alvo da cobiça de especuladores e grandes cons-

trutoras. Seus moradores aprenderam a resistir, afirmando seu direito à moradia

diante do poder do mercado imobiliário aliado aos sucessivos governos.

A ocupação da Vila Autódromo é legal, resultado de décadas de organiza-

ção dos moradores para a urbanização do bairro. O direito à moradia é garantido

pela Constituição Federal, e expresso na Concessão de Direito Real de Uso dada a

moradores da comunidade pelo Governo do Estado.

Na preparação dos Jogos Panamericanos, a Prefeitura condenou o bairro

à morte. A resistência dos moradores mostrou que na cidade democrática instala-

ções esportivas podem conviver com moradia social. Anunciadas as Olimpíadas

no Rio de Janeiro, veio nova condenação: a comunidade ameaçaria a segurança

dos atletas. Rapidamente veio a público que a Vila Autódromo é um dos poucos

bairros populares da cidade que não está submetido a traficantes ou milícias. Não

Page 15: apostila_Uma_história_de_Amor_e_fúria

05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 18

A UOP é inspirada na UPP, as Unidades de Polícia Pacificadora que cada

vez mais mostram sua face de controle militar do território ocupado e menos de

segurança dos moradores. No dia 20 de março, Matheus Oliveira Casé, de 16

anos, foi morto pela polícia pacificadora em Manguinhos. No dia 4 de a-

bril, Aliélson Nogueira, de 21 anos, também foi assassinado pela polícia pacifica-

dora, agora no Jacarezinho. As edições online dos jornais falavam em tiroteio

entre tráfico e polícia, mas Matheus foi morto ao receber um tiro de pistola de

choque e Aliélson com uma bala na nuca enquanto comia um cachorro quen-

te. Muitos jornais simplesmente ignoraram o fato destacando na semana a vio-

lência contra turistas estrangeiros e como isso gera um impacto negativo para a

imagem da cidade.

A invisibilização que sai do plano simbólico para o real atinge um público

bem específico, a juventude pobre e negra da cidade, principal alvo do encarce-

ramento em massa em curso no Brasil. Em 1995, havia 148 mil presos no país,

número que subiu para 473 mil em 2009. O Brasil possui hoje a terceira maior

população carcerária do mundo e a prisão começa a virar negócio, com os presí-

dios privados. Como tudo se justifica pela realização da Copa do Mundo e das

Olimpíadas, foi anunciada a compra de caveirões e aconstrução de novos presí-

dios no Rio de Janeiro para a segurança dos grandes eventos. É a solução dada

para essa parcela da população que não serve à cidade olímpica, que deve ficar

bem longe, nos conjuntos habitacionais construídos fora da cidade, ou simples-

mente sumir, presa ou executada pela ação da polícia.

05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 15

DEBATEDORES:

MEMÓRIA DEMOLIDA - LUIZ ANTONIO SIMAS

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O governo do Estado do Rio de Janeiro se mantém firme na decisão de

demolir a Escola Municipal Arthur Friedenreich, com quase meio século de exis-

tência e uma das melhores instituições públicas de ensino da cidade, ao lado do

estádio do Maracanã. A escola será destruída para a construção de quadras de

aquecimento a serem utilizadas pelos jogadores que disputarão partidas no está-

dio reformado. Os poderosos donos da bola argumentam que a escola não sofrerá

o impacto, já que será transferida para um prédio novinho em folha, no bairro de

São Cristovão.

Os engravatados tecnocratas do governo ignoram que um lugar não é

composto apenas da matéria bruta de seus alicerces. A Escola Friedenreich, mais

do que um prédio, é depositária das memórias, aspirações, anseios, sonhos, desi-

lusões, conquistas, fracassos, alegrias e invenções da vida de inúmeras gerações

que passaram por seus bancos. Uma escola é, portanto, também o resultado das

experiências intangíveis, matéria da memória acumulada pelas gerações de alu-

nos e professores que ali experimentaram a aventura do conhecimento.

Os índios da praia sagrada de Morená, no Xingu, dizem que nos troncos

de árvores moram, encantados e perpetuados, os espíritos de seus ancestrais.

Quando um terreiro de candomblé é criado, planta-se no solo, em cerimônias que

envolvem elementos da natureza, o axé (poder espiritual) da casa, que perpetua-

rá naquele local o acúmulo de saberes que a ancestralidade proporciona à comu-

nidade. Sabem, os índios e negros, que a experiência está fincada em certos

locais, sacralizados pelo que foi vivido ali.

Derrubar a escola é, portanto, matar o axé, derrubar os troncos das ár-

vores sagradas e quebrar o elo de ancestralidade que faz a vida em comunidade

ser possível. Existem inúmeros alunos cujos pais estudaram na Escola Municipal

Arthur Friedenreich. Imaginem o que é para uma criança, na construção de suas

referências, saber que a sala em que ela aprende foi a mesma em que seus pais

aprenderam um dia. A escola em São Cristovão pode manter o nome, os profes-

sores e o padrão de ensino, mas jamais será a do Maracanã, com toda a memória

dos afetos acumulados ao longo das décadas.

Coisa similar está prestes a acontecer com os sobrados centenários da

Rua da Carioca. Um banco de investimentos comprou os imóveis e, com a fria

lógica do lucro fácil, coloca em risco toda a tradição que uma das mais tradicio-

nais ruas da cidade tem acumulada. O axé da Rua da Carioca, com suas centená-

rias casas de instrumentos musicais e restaurantes, periga sucumbir aos ditames

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05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 16

dos almofadinhas cheios de grana, que conhecem tanto da alma da velha rua

quanto um esquimó entende da alma de Madureira.

A cidade do Rio de Janeiro, encarada pelos homens do poder como um

balneário de grandes eventos, Disneylândia tropical do século XXI, está sendo

destruída em suas referências mais profundas. A sanha modernizadora, afeita aos

grandes negócios, é aquela que esmaga o intangível e o que não é mensurado

pelas regras do mercado financeiro: a cultura carioca e os seus lugares de memó-

ria; elos poderosos de ligação com o passado, lições vivas da ancestralidade de

um povo que, contra o efêmero de escusas transações, sacralizou em rituais de

celebração da vida as praias, esquinas, botequins, sobrados e escolas deste nosso

terreiro; a Guanabara.

DEBATEDORES:

A invisibilização da pobreza e dos pobres no Rio Olímpico Renato Cosentino

Uma campanha publicitária internacional da Petrobrás exibiu em 2011 fo-

tografias do Rio de Janeiro, de Nova York e de Paris a 6 mil metros de altura, em

alusão aos 6 mil metros de profundidade de onde a empresa irá extrair óleo da

camada pré-sal. Em destaque na imagem do Rio a praia de Copacabana e o Pão

de Açúcar. Mais ao fundo a Zona Sul e Norte com o Cristo Redentor e o Maraca-

nã. Faltaram, porém, as dezenas de favelas que compõem o cenário da região.

Só no Rio uma parte da cidade foi apagada com recursos de edição de imagem.

05/05/2013 Uma História de Amor e Fúria - 17

Também em 2011 uma matéria do jornal O Globo noticiava que, a pedido

da Prefeitura do Rio, o Google iria diminuir a presença das favelas no seu serviço

Google Maps. O fato se concretizou em 2013, com a exclusão da palavra “favela”

em praticamente todo o mapa, a hierarquização das informações com as favelas

reduzidas ao mesmo destaque das ruas e o sumiço de algumas comunidades. Em

2010 já haviam sido erguidas barreiras acústicas, ou muros, nas duas principais

vias expressas de ligação do aeroporto Internacional do Galeão ao Centro/Zona

Sul e Barra da Tijuca. Uma pesquisa revelou a percepção dos moradores e dos

motoristas que passam pelas vias: o muro está servindo muito mais como barrei-

ra visual, não como barreira acústica.

Esses fatos não são coincidências, e a tentativa de invisibilizar os pobres

e a pobreza no momento em que o Rio de Janeiro se prepara para receber gran-

des eventos internacionais também não se limita ao plano simbólico. Para 30 mil

moradores da cidade, a remoção virtual do mapa do Google está se tornando

real. Segundo dados do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas, cerca de 8 mil

pessoas já foram removidas, e cinco comunidades não existem mais. O procedi-

mento é semelhante em toda a cidade: envio de famílias para periferia com ofer-

ta precária de serviços básicos, como transporte, baixo valor de indenizações e

forte pressão da especulação imobiliária.

Um outro braço dessa política se estabelece sob o discurso da ordem pú-

blica, que com a mesma truculência mistura diferentes questões como estacio-

namento irregular, população em situação de rua e trabalhadores informais. No

bairro da Glória, onde foi instalada uma Unidade de Ordem Pública (UOP), há

dezenas de guardas nas esquinas para que o famoso shopping chão, onde se

podia encontrar antiguidades e quinquilharias sendo vendidas na calçada, não se

instale mais. Os camelôs receberam autorização para trabalhar apenas em locais

que ninguém passa e sumiram, assim como a população em situação de rua, que

foi recolhida. O que acontece com essas pessoas? São levadas para abrigos lon-

gínquos, várias vezes. A estratégia é cansá-las para não voltar mais, como disse

o subprefeito Bruno Ramos.