apostila transf oxigenio

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE ALIMENTOS ESTÁGIO DOCÊNCIA NA DISCIPLINA DE ENGENHARIA BIOQUÍMICA Transferência de Oxigênio Francielo Vendruscolo Florianópolis, junho de 2007.

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Page 1: Apostila transf oxigenio

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE ALIMENTOS

ESTÁGIO DOCÊNCIA NA DISCIPLINA DE ENGENHARIA BIOQUÍMICA

Transferência de Oxigênio

Francielo Vendruscolo

Florianópolis, junho de 2007.

Page 2: Apostila transf oxigenio

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1. Transferência de Oxigênio

1.1 Importância da Transferência de Oxigênio

Do ponto de vista bioquímico, o oxigênio é o último elemento a aceitar elétrons,

ao final da cadeia respiratória, sendo então reduzido a água, permitindo que ocorra a

reoxidação das coenzimas que participam das reações de desidrogenação (ao longo

da glicólise e do ciclo de Krebs) e, ainda, permitindo o armazenamento de energia

através da passagem das moléculas de ADP para ATP. Estas últimas, por sua vez,

irão participar necessariamente nas reações de síntese de moléculas, para a

sobrevivência das células e para o surgimento de novas células, no processo de

proliferação da biomassa microbiana, para as quais é fundamental a introdução de

energia (Borzani Schmidell et al., 2001).

Um cultivo que seja eficiente, ocorrendo com elevadas velocidades de

crescimento celular, significa altas velocidades de consumo da fonte de carbono, a fim

de que haja abundância de elétrons transportados na cadeia respiratória (geração de

ATP), mas significa também, obrigatoriamente, a necessidade da existência de

oxigênio dissolvido, a fim de que elétrons sejam drenados ao final desta cadeia.

Através da equação estequiométrica de oxidação completa da glicose, pode-se

perceber a magnitude do problema enfrentado quando se trata do fornecimento de

oxigênio para a respiração do microrganismo.

OH6CO6O6OHC 2226126 +→+ (eq. 1)

2526126 CO2OHHC2OHC +→ (eq. 2)

Verifica-se que para 180g (1 mol) de glicose oxidada, é necessário o consumo

de 192g (6 moles) de oxigênio. A solubilidade da glicose em meios de cultivo é alta,

centenas de gramas por litro, enquanto que a solubilidade do oxigênio no meio de

cultivo e até mesmo na água, é muito baixa, estando na ordem de 7 a 8mgO2.L-1,

dependendo da pressão atmosférica e da temperatura.

Page 3: Apostila transf oxigenio

3

1.2 Sistemas para transferência de oxigênio

Existem diferentes maneiras para se transferir oxigênio do ar para um líquido.

Alguns possuem maiores poderes de transferência, embora apresentam alto custo.

A seguir, alguns sistemas de transferência são apresentados nas figuras.

Figura 1: Sistemas de transferência utilizados em biorreatores. (a) lagoa de

estabilização, (b) airlift de tubo concêntrico, (c) airlift com circulação externa, (d) coluna

de bolhas, (e) tanque agitado e aerado.

O sistema apresentado na Figura a, apresenta um simples sistema de

transferência. Neste sistema, a transferência ocorre somente na superfície do líquido.

São sistemas que não possuem alto custo relativo, pois não possui sistema de

aeração e agitação. A transferência só é afetada pela temperatura, área superficial do

líquido e velocidade do ar na superfície.

As Figuras b e c apresentam biorreatores do tipo airlift (tubos concêntricos e

circulação externa). A transferência de oxigênio nestes biorreatores é realizada

somente pela aeração. O gás injetado (ar) através de um dispersor, forma bolhas que

se deslocam do fundo ao topo do biorreator. Neste caminho, ocorre a transferência de

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4

massa. Estes biorreatores a agitação do meio de cultivo é realizada pela própria

aeração, resultando em baixas tensões de cisalhamento para o microrganismo que

está sendo cultivado. Pela ausência de agitação, este sistema é muito utilizado,

possibilitando transferência de oxigênio com um baixo custo relativo. A Figura d

apresenta um sistema denominado como coluna de bolhas. Este sistema funciona

como o airlift com tubo concêntrico. Por outro lado, estes biorreatores necessitam de

maiores vazões de ar para manter níveis de oxigênio dissolvido e intensa agitação, o

que significa maior gasto de energia para compressão do ar. Uma característica que

pode ser verificada neste tipo de equipamento, está relacionado a altura do mesmo

que é muitas vezes maior que o diâmetro, o que comumente não é visto nos tanques

agitados. Essa altura muito maior que o diâmetro, possibilita maior tempo de contato

das bolhas de ar com o líquido.

A Figura e apresenta um sistema muito utilizado em sistemas que necessitam

de alta transferência de oxigênio. Estes biorreatores são aerados e agitados, possuem

em seu interior chicanas e impelidores que aumentam a turbulência do meio líquido

com o gás, embora apresente custo relativamente alto devido à aeração a agitação do

biorreator. Para o cultivo de microrganismos sensíveis, estes equipamentos não são

indicados, pois existem altos gradientes de cisalhamento, podendo danificar o

microrganismo. Estes biorreatores apresentam a altura de líquido igual ao diâmetro do

tanque sendo agitado por um impelidor do tipo turbina com 6 pás planas. Com a

finalidade de eliminar a formação do vórtice, utiliza-se a chicana diretamente oposta.

1.3 Concentração de Oxigênio Dissolvido em meios de cultivo

A equação que determina a concentração de saturação de um gás em um

líquido é a seguinte:

gs pHC .= (eq. 3)

Onde: Cs = concentração de oxigênio na saturação (gO2.m-3);

H = constante de Henry (gO2.m-3.atm-1);

pg = pressão parcial de O2 na fase gasosa (atm) = xO2.P;

xO2 = fração molar ou volumétrica do O2 no gás;

P = pressão total do gás (atm).

Sendo assim, ao variar a composição do meio de cultivo e utilizando o mesmo

gás para a transferência de oxigênio (ar), pode-se obter diferentes concentrações de

saturação de oxigênio. Esta variação é devida a alteração da constante de Henry para

cada meio de cultivo. Pode-se concluir então, que a constante de Henry varia de

acordo com a temperatura e concentração de nutrientes do meio de cultivo.

Page 5: Apostila transf oxigenio

5

A Tabela 1 apresenta alguns dados a respeito da solubilidade do oxigênio, na

condição de saturação, para diferentes temperaturas, pressão parcial de oxigênio na

fase gasosa e presença de sais dissolvidos.

Tabela 1: Valores de concentração de oxigênio dissolvido na saturação, em

diferentes condições.

Temp.(ºC) Conc. NaCl (M)

P. Parc. de O2 (atm)

Conc. O2 na sat. (mg/L)

Cte Henry (mg/L.atm)

25 - 0,209 8,10 38,8 35 - 0,209 6,99 33,4 25 - 1,0 40,30 25 0,5 1,0 34,20 25 1,0 1,0 28,50 25 2,0 1,0 22,70

Fonte: Borzani et al. (2001).

Pode-se observar que a concentração de oxigênio dissolvido diminui com o

aumento da temperatura, assim como diminui com o aumento da concentração de um

sal dissolvido. Por outro lado, a concentração de O2 aumenta com o aumento da

pressão parcial de oxigênio na fase gasosa, como seria o caso de saturar água com

oxigênio puro (pressão parcial de O2 de 1atm), atingindo-se 40,3mg/L no equilíbrio a

25º.

Analisando a Tabela 4, poderíamos concluir que quanto menor a temperatura,

maior a concentração de saturação. Isto é verdade, mas não serve para o cultivo de

microrganismos, pois na maioria dos processos fermentativos trabalha-se na faixa

mesofílica de temperaturas (35ºC). Pode-se perceber a importância da temperatura na

solubilidade de um gás em um líquido.

A utilização do enriquecimento do ar com oxigênio, aumentando a pressão

parcial de oxigênio no gás, é uma alternativa interessante e muito utilizada. Na França,

existe uma estação de tratamento de efluentes que utiliza ar enriquecido com oxigênio

em sua planta, devido ao espaço territorial ser limitado. A utilização de oxigênio puro,

não é viável ao microrganismo, pois eles possuem inibição ao oxigênio.

Falando em concentração de saturação de oxigênio dissolvido, é válido lembrar

que sempre trabalhamos com líquidos que contem diversos componentes químicos no

início de um cultivo. Esta composição é alterada de acordo com o início do

crescimento dos microrganismos, pois nutrientes serão consumidos, produtos

liberados, compostos tóxicos produzidos, compostos intermediários excretados. Toda

esta alteração no meio de cultivo reflete diretamente na concentração de saturação de

oxigênio em um dado meio de cultivo.

Para a leitura da concentração de oxigênio no meio de cultivo utilizam-se

eletrodos polarográficos ou galvânicos. Citando como exemplo, os eletrodos

Page 6: Apostila transf oxigenio

6

galvânicos, reduzem o oxigênio na superfície do cátodo através de uma solução

colocada na extremidade do eletrodo. O oxigênio permeia uma membrana que só

permite a passagem de oxigênio e é então reduzido através do contato com o eletrólito

gerando um fluxo de elétrons.

Esses eletrodos devem ser calibrados para utilização em um cultivo. A cada

utilização do eletrodo, deve-se substituir o eletrólito, deixar de 6 a 12 horas ligado

polarizando o eletrólito, dependendo da especificação técnica do fabricante. Também

é necessário, a cada cultivo, realizar a calibração do eletrodo, antes de se iniciar a

inoculação do meio de cultivo. Neste procedimento, o objetivo é indicar a constante de

Henry ao eletrodo, que irá informar valores entre zero e 100% em relação a

concentração de saturação.

Calibração do eletrodo: Após as 6 ou 12 horas de polarização, adiciona-se

nitrogênio (gás inerte) no meio líquido mediante intensa agitação com o porpósito de

eliminar o oxigênio dissolvido no meio de cultivo. Quando o eletrodo indicar valores

abaixo de 1% (especificação do fabricante), deve-se informar ao equipamento o valor

zero, setando através dos sistemas de calibração presente no equipamento. A partir

deste instante, interrompe-se o fornecimento de nitrogênio e dá-se início ao

fornecimento de oxigênio (ar), novamente agitando o meio de cultivo até que o valor

lido pelo eletrodo permaneça constante por um determinado período. Quando o valor

lido estiver constante, novamente deve-se informar ao equipamento o valor de 100%.

A partir deste momento, pode-se dar início ao cultivo do microrganismo adicionando o

inóculo ao biorreator. Assim, o eletrodo informará o valor proporcional a concentração

de saturação, demonstrando a importância da determinação da concentração de

saturação de oxigênio no meio de cultivo.

Devido a dificuldade de determinar a concentração de saturação de oxigênio no

meio de cultivo, muitos processos utilizam a concentração de saturação da água a

dada temperatura que pode ser obtida em referências bibliográficas, embora

apresentam um erro de aproximadamente 10 a 15%. A constante de Henry para a

água é em torno de 10 a 15% maior que a constante para o meio de cultivo.

Como estes eletrodos respondem a pressão parcial de oxigênio, para efetuar

medidas confiáveis deve-se manter a pressão constante dentro do biorreator, pois

caso exista variação na pressão interna, oscilações serão verificadas não descrevendo

o fenômeno que esteja ocorrendo. Outra consideração que deve ser realizada, diz

respeito a percentagem de saturação a concentração de saturação inicial, pois o

eletrodo não percebe variações na concentração de nutrientes e compostos no meio

de cultivo, ou seja, a constante de Henry está sendo alterada.

Page 7: Apostila transf oxigenio

7

Uma das grandes dificuldades enfrentadas quando se trabalha com oxigênio

dissolvido é referente a concentração de saturação que será utilizada para cálculos e

quantificações dos valores da concentração de saturação de oxigênio no líquido. Esta

dificuldade está relacionada ao fato da determinação da constante de Henry. Existem

duas metodologias que podem ser utilizadas. A primeira foi proposta por Wincler

(1888) que consiste na determinação da clorosidade (através de métodos de titulação)

do líquido para poder estimar a constante de Henry. A segunda foi proposta por

Käppeli e Fiechter (1981) que consiste em adicionar uma quantidade de oxigênio

através do peróxido de hidrogênio (H2O2) e realizar a liberação do oxigênio através da

adição de uma enzima catalase, liberando oxigênio gasoso e água. Muitos autores

consideram a concentração de saturação de oxigênio no líquido como sendo água,

através de valores existentes para este parâmetro para diversos valores de

temperatura. Esta consideração leva, muitas vezes, a conclusões errôneas, pois em

alguns meios de cultivos, tanto sintéticos como complexos, a concentração de

saturação do meio de cultivo pode chegar a ser de 80 a 85% o valor da concentração

de saturação da água a mesma temperatura.

A reação que descreve a liberação de oxigênio no meio de cultivo é dada a

seguir:

OHOcatalaseOH excesso 2222 21 +→+ (eq. 4)

Em um dado volume de peróxido (1 molar) padronizado com permanganato de

potássio, sabe-se a massa de oxigênio adicionada. A partir dos dados presentes na

Tabela 2, pode-se determinar a regressão linear da massa de O2 (variável

independente) versus percentagem de saturação (variável dependente) e extrapolar a

mesma para a concentração de saturação de 100%, determinando a massa

necessária de O2 para a mesma. O volume deve estar em torno de 360mL para estas

condições.

Maior precisão pode-se ter ainda, se realizar a concentração de saturação em

diferentes tempos de cultivo, obtendo-se uma relação da concentração de saturação

em função da concentração da fonte de carbono, pois esta rege todo o consumo e

formação de nutrientes para um dado meio de cultivo com concentrações iniciais de

compostos idênticas.

Page 8: Apostila transf oxigenio

8

1.4 Demanda e Transferência de Oxigênio

O objetivo central de um sistema de agitação é o fornecimento de oxigênio para

a manutenção de uma dada atividade respiratória de certo conjunto de células. Assim,

o que se visa é transferir o oxigênio da fase gasosa para o líquido e fazer com que

este oxigênio dissolvido chegue às células suspensas penetre nestas células e

finalmente, seja consumido na reação.

Essa questão pode ser visualizada na Figura 2, sendo dividida em três etapas.

A primeira, diz respeito à dissolução do oxigênio do gás para o líquido, a segunda à

eventual difusão do oxigênio até a célula e a terceira o consumo do oxigênio.

Figura 2: Transferência de massa da fase gasosa para a fase líquida para um dado

microrganismo em biorreator (modificado de Blanch e Clark, 1997).

Na Figura 2, pode-se conceituar as resistências existentes como sendo:

R1: Difusão pela película estagnada da fase gasosa até a interface;

R2: Passagem pela interface gás-líquido;

R3: Difusão pela película estagnada da fase líquida até o seio do caldo;

R4: Transporte convectivo através do caldo;

R5: Difusão pela película estagnada externa ao agregado celular;

R6: Difusão no agregado celular e passagem pela membrana celular;

R7: Difusão no citoplasma e reação bioquímica.

No caso da transferência de oxigênio do gás para o líquido, pode-se imaginar

uma primeira resistência (R1) devido a uma película gasosa estagnada, através da

qual o oxigênio deve difundir. A seguir, pode-se imaginar uma resistência na interface

gás-líquido (R2), a resistência associada a película líquida estagnada ao redor da

bolha de gás (R3) e a resistência associada ao transporte convectivo do oxigênio

através do meio líquido (R4).

Com relação ao consumo de oxigênio, pode-se imaginar uma resistência

devido à película líquida em torno da célula (R5), outra devido à resistência imposta

pela membrana celular (R6), a resistência devido à difusão do oxigênio no citoplasma

e a resistência associada a velocidade de reação de consumo final deste oxigênio

(R7).

Page 9: Apostila transf oxigenio

9

No caso de células eucarióticas, poderia existir uma dificuldade para o oxigênio

atingir membranas internas das mitocôndrias, onde estão localizados os sistemas

enzimáticos e as proteínas responsáveis pela respiração. No caso de bactérias, a

localização desses sistemas é na membrana citoplasmática, motivo pelo qual não há

realmente razão para considerar essa resistência. No caso de fungos filamentosos

onde muitas vezes é identificado um crescimento em forma de pellets, poderia existir

uma resistência em termos da difusão do oxigênio para as células mais internas do

aglomerado. Neste caso, ao mesmo tempo em que o oxigênio esta sendo difundido ao

longo do raio do pellet, está sendo consumido pelos microrganismos, o que pode ser

verificado em muitas vezes pela morte de células no centro do pellet devido a

dificuldade de chegada de alguns nutrientes, inclusive o oxigênio.

1.5 Transferência de Oxigênio

Dentre as várias teorias que permitem o equacionamento da transferência de

oxigênio, a de maior utilidade para a presente questão é exatamente aquela que

considera a existência de duas películas estagnadas. Na Figura 3 busca-se ilustrar,

com maiores detalhes, a interface líquido-gás com as mencionadas películas.

Figura 3: Interface gás-líquido com as películas estagnadas.

Ao imaginar uma bolha de ar suspensa em um meio líquido, pode-se também

supor a existência de uma película gasosa estagnada, entre o seio gasoso

(homogêneo com pressão parcial de O2 constante) e a interface gás-líquido, película

na qual se localizaria a resistência ao transporte do oxigênio, caracterizada pelo

inverso do coeficiente de transferência da película gasosa (kg), coeficiente este

definido pela relação entre a difusividade do oxigênio e a espessura da película

estagnada. A transferência ocorreria apenas por efeito difusional e, portanto, depende

da existência de um gradiente entre a pressão parcial de O2 na interface (pi).

Igualmente na fase líquida pode-se supor a existência de uma película

estagnada ao redor da bolha, na qual se localizaria a resistência ao transporte do

oxigênio, caracterizada pelo inverso do coeficiente de transporte na película líquida

(kL). Aqui também o fluxo de oxigênio depende, além do coeficiente de transferência,

Page 10: Apostila transf oxigenio

10

da existência de um gradiente entre a concentração de O2 na interface (Ci) e a

concentração de O2 no seio líquido (C).

Para soluções diluídas envolvendo espécies químicas pouco solúveis, como é

o caso do oxigênio em caldos fermentativos, a Lei de Henry define as seguintes

relações:

iOei pHC,2

.= (eq. 5)

iOe pHC,2

*.= (eq. 6)

2.

*

Oe pHC = (eq. 7)

onde: Ci: concentração de oxigênio dissolvido na interface gás-líquido;

C: concentração de oxigênio dissolvido na fase líquida;

C*: concentração de oxigênio dissolvido na fase líquida em equilíbrio com a

pressão parcial de oxigênio da fase gasosa;

p*O2,i: pressão parcial de oxigênio na interface gás-líquido;

p*O2: pressão parcial de oxigênio na fase gasosa em equilíbrio com a

concentração de oxigênio dissolvido da fase líquida (C);

pO2: pressão parcial de oxigênio dissolvido na fase gasosa;

He: constante de Henry;

Admitindo que o sistema esteja em estado estacionário, em termos da

transferência de oxigênio, assim como a existência de um perfil linear da

concentração de oxigênio no interior das películas, pode-se escrever:

aresistênci

gradiente

aresistênci

massasftoradatranforçapromonO ==

.2

(eq. 8)

gradienteilmeespessuraf

dedifusividagradiente

aresistêncifluxonO .*

12

===

onde : nO2= fluxo de oxigênio por unidade de área interfacial (gO2/m2.h)

resistência = inverso do coeficiente de transferência;

ou seja:

)()()()( 12CCkCCkppHkppHkn iLisgiLiggO −=−=−=−= (eq. 9)

onde: kg: coeficiente de transferência de massa da película gasosa (m/h);

kL: coeficiente de transferência de massa da película líquida (m/h);

pg: pressão parcial de O2 no seio gasoso (atm);

Page 11: Apostila transf oxigenio

11

pi: pressão parcial de O2 na interface (atm);

p1: pressão parcial de O2 em um gás que estaria em equilíbrio com a

concentração de oxigênio c no líquido, segundo a Lei de Henry (atm);

H: constante de Henry (gO2/m3.atm);

Cs: concentração de O2 dissolvido no líquido em equilíbrio com a pg, segundo a

Lei de Henry (gO2/m3);

Ci: concentração de O2 dissolvido em equilíbrio com pi (gO2/m3);

C: concentração de oxigênio no seio líquido (gO2/m3).

No entanto não há condições de se conhecer valores relativos à interface gás-

líquido, podendo-se determinar valores de concentração no seio do líquido,

trabalhando-se com um coeficiente global de transferência de oxigênio (soma de todas

as resistências), ou ainda, tendo em vista a resistência do filme líquido, pode-se

considerar pg=pi e, como decorrência, Ci=Cs, a equação 30 pode ser representada pela

equação 31.

)()( 12CCkppHkn sLgLO −=−= (eq. 10)

Em virtude da intensa movimentação das moléculas de gás, a resistência à

transferência de massa na fase gasosa (R1) pode ser considerada desprezível e,

portanto, toda a resistência à transferência de oxigênio deve-se a película estagnada

da fase líquida, onde Kg>>KL e KL≅kL, logo, pode-se escrever que:

)(2

CCkn sLO −= (eq. 11)

Como esse fluxo de oxigênio está expresso em termos de unidade de área

interfacial de troca de massa (gO2/m2.h), pode-se definir um termo denominado a

como sendo:

==

3

2detint

m

m

ldelíquidovolumetota

iademassaransferêncerfacialáreaa

Multiplicando-se o fluxo de oxigênio (nO2) pela área interfacial de troca de

massa (a), dada pela área superficial das bolhas por unidade de volume de líquido,

define-se a velocidade de transferência de oxigênio (NO2). Assim, pode-se escrever:

)(22

CCakNan sLOO −==⋅ (eq. 12)

onde nO2a = fluxo de oxigênio por unidade de área interfacial (gO2/m3.h);

kLa = coeficiente volumétrico de transferência de O2 (h-1)

Page 12: Apostila transf oxigenio

12

Sendo assim, não estando em estado estacionário em termos de fluxo de O2,

mas esteja ocorrendo uma variação da concentração de O2 dissolvido (C) no tempo

(t), pode-se escrever que:

=

hm

gO

dt

dC

hm

gOanO 3

2

3

2

.2

substituindo-se, obtém:

)( CCakdt

dCsL −= (eq. 13)

Esta equação simples descreve todas as formas de que se dispõe para o

controle da concentração de oxigênio dissolvido em um dado meio de cultivo.

( )dtak

CC

dCt

L

s

C

Cs

∫∫ =−

0

. ou integrada

takC

CL

s

.1ln −=

− (eq. 14)

ou ainda

)1(.tak

s

LeC

C −−= (eq. 15)

Graficando (1-C/Cs) em um gráfico monolog em função do tempo, a declividade

obtida é o valor de kLa. Se for log, dividir kLa por 2,3.

1.6 Tempo de resposta do eletrodo

Geralmente, não se costuma fazer a correção do tempo de resposta do

eletrodo. Isto se deve, ao fato do oxigênio difundir no líquido, permear a membrana,

reagir com o eletrólito e gerar o fluxo de elétrons. Isso pode ser visualizado através de

um ensaio degrau. Coloca-se o eletrodo em um ambiente inerte, contendo somente

N2. Quando o eletrodo informar um valor abaixo de 1%, retira-se deste ambiente e

submete-se ao ar atmosférico cujo valor deve ser 100%. Percebe-se o eletrodo

proporciona um aumento gradual e leve certo tempo para atingir o valor de 100%.

)( pp

pCCk

dt

dC−= (eq. 16)

tkC

Cp

s

p.1ln −=

− (eq. 17)

Page 13: Apostila transf oxigenio

13

Para verificar a necessidade de correção do tempo de resposta:

tak

Lp

ptk

Lp

L

s

pLp e

akk

ke

akk

ak

C

C..

..1−−

−−

−+= (eq. 18)

Se kp>>kLa não precisa realizar a correção, pois a equação acima retorna a

equação vista anteriormente:

)1(.tak

s

LeC

C −−= (eq. 19)

Badino (1997) destaca que a agitação e a aeração em caldos fermentativos

influenciam o produto kLa de duas formas. Primeiramente, sabendo-se que o

coeficiente de transferência de massa da fase líquida (kL), pode ser escrito como:

δα 2O

L

Dk (eq. 20)

onde DO2: difusividade do oxigênio através da película estagnada da fase líquida;

δ: espessura da película estagnada da fase líquida.

Logo, a agitação e aeração atuam diminuindo a espessura da película

estagnada da fase líquida (δ) e, de acordo com a equação acima, aumentando o

coeficiente de transferência de massa da fase líquida (kL). A segunda forma de ação

da agitação e da aeração é a fragmentação das bolhas de gás em número maior de

bolhas de menor diâmetro, aumentando consideravelmente a área interfacial de

oxigênio (a) e, por conseqüência, o produto kLa (Badino 1997).

Figura 4: Determinação da constante de atraso do eletrodo de oxigênio dissolvido.

-5

-4

-3

-2

-1

0

0 20 40 60 80

Tempo (s)

ln(1

-(C

p/C

s))

Kp1=393,48h-1

Kp2=401,40h-1

Kp3=415,44h-1

-5

-4

-3

-2

-1

0

0 20 40 60 80

Tempo (s)

ln(1

-(C

p/C

s))

Kp1=249,12h-1

Kp2=248,04h-1

Kp3=225,00h-1

Page 14: Apostila transf oxigenio

14

1.7 Respiração Microbiana

A Tabela 9 apresenta alguns valores da concentração crítica de oxigênio

dissolvido para diferentes microrganismos. Estes valores dizem respeito a quantidade

mínima de oxigênio para que as células possam respirar sem sofrer danos, sem que

haja a limitação de oxigênio disponível.

A demanda de oxigênio em cultivos aeróbios pode ser quantificada pela

velocidade específica de respiração (QO2) definida pela equação Y.

dt

dC

X

1Q 2O

O2= (eq. 21)

Onde:

X: concentração celular;

C: concentração de oxigênio dissolvido no meio de cultivo;

dC/dt: velocidade de consumo de oxigênio.

A velocidade específica de respiração é determinada pelo tipo de

microrganismo, pela composição do meio de cultivo, assim como pelas condições de

cultivos impostas, como pH, temperatura, entre outros (Badino, 1997).

Tabela 2: Valores típicos de concentração crítica de oxigênio dissolvido.

Microrganismo T (ºC) Ccrit (mMol O2/L) C crit. (mg.L-1)

Azotobacter vinelandi 30

37,8

0,018~0,049

0,0082

0,576-1,568

0,2624

Escherichia coli 15 0,0031 0,100

Serratia marcescens 31 ~0,015 0,48

Pseudomonas denitrificans 30 ~0,009 0,147

Levedura 20 0,0037 0,118

Penicillium chrysogenum 24

30

~0,022

~0,009

0,704

0,288

Aspergillus orizae 30 ~0,020 0,640

Fonte: Adaptado de Badino (1997).

Através da análise da Tabela 2.3.1, pode-se verificar que uma população ativa

de microrganismos, pode consumir todo o oxigênio de um meio originalmente saturado

pelo ar em 100 segundos. Estes valores podem ser ainda menores, se a concentração

crítica de oxigênio dissolvido for maior, como no caso de microrganismos que apresentam

o crescimento em pellets. Supondo uma concentração crítica de 2,5mgO2.L-1,

aproximadamente 30% da saturação, esse tempo diminuiria para 3 a 4 segundos. Rossi

(2006) destaca que esta alta velocidade de consumo de oxigênio deve ser igualada por

uma velocidade de suprimento se o objetivo é manter a produtividade constante.

Page 15: Apostila transf oxigenio

15

A velocidade de respiração para um microrganismo qualquer, pode ser escrita

através da equação X.

CK

CQQ

0

máx

OO 22 += (eq. 22)

Onde:

QO2máx: velocidade específica máxima de respiração;

K0: constante de saturação para o oxigênio.

A concentração crítica de oxigênio dissolvido pode ser obtida através da Figura

5.

Figura 5: Determinação da concentração crítica de oxigênio dissolvido. (a) Ocorrência

da limitação de oxigênio dissolvido durante a execução do método dinâmico (b) Efeito

da concentração de oxigênio dissolvido na velocidade específica de respiração de um

microrganismo.

A figura X ilustra a variação de QO2 com a concentração de oxigênio dissolvido

(C), de acordo com a equação X (acima). Observa-se que a partir de uma dada

concentração de oxigênio dissolvido (C), tem-se a velocidade específica de respiração

constante e máxima igual a QO2max. Essa concentração de oxigênio dissolvido é

definida como concentração crítica (Ccrit). Logo, se for desejado manter a máxima

velocidade de respiração durante um determinado cultivo, deve-se monitorar as

condições de agitação e aeração, a fim de manter a concentração de oxigênio

dissolvido acima do valor crítico (Badino, 1997).

Crueger e Crueger (1993) citam que a concentração de oxigênio dissolvido

crítica (Ccrit) situa-se na faixa entre 5 e 25% da concentração de saturação, sendo este

valor dependente da forma de crescimento celular e da natureza do caldo de

fermentação (viscoso ou não viscoso). A Tabela 9 apresenta valores da concentração

crítica de oxigênio dissolvido para alguns microrganismos.

Equação de Pirtt, destaca o coeficiente de manutenção para µ=0, sendo:

(a) (b)

QO2.X

Page 16: Apostila transf oxigenio

16

µO

2OY

1moQ += (eq. 23)

Onde: mo: coeficiente de manutenção para o O2 (gO2/gcel.h);

Yo: fator de conversão de O2 para células (gcel/gO2);

µ: velocidade específica de crescimento (h-1);

X: concentração celular (gcel.L-1)

1.8 Análise conjunta da transferência de oxigênio

XQ)CC(akdt

dC2OSL −−= (eq. 24)

consumidootransferid.concVariaçãoda −=

XQ)CC(ak 2OcriticoSL =− (eq. 25)

)CC(

XQak

criticoS

2OL

−= (eq. 26)

Aula 4

1.9 Fatores que Afetam Valores de kLa

Existem fatores que afetam a transferência de oxigênio em biorreatores. Dentre

eles, podem-se citar a aeração empregada, traduzida em termos de velocidade

superficial de gás; freqüência de agitação, propriedades reológicas do meio de cultivo

sendo dependente da morfologia de crescimento do microrganismo, presença de

antiespumantes (Stanbury et al., 1995).

Osbek e Gayik (2001) realizaram um estudo da transferência de oxigênio em

bioreator na ausência de microrganismos. Avaliaram a velocidade de agitação, vazão

de ar, adição de glicerol e suporte inerte em água destilada e obtiveram correlações de

valores de kLa utilizando a seguinte relação para a determinação do valor experimental

do kLa:

[ ]β

α

S

L

L VV

PAaK

= (eq. 27)

Onde: A: constante;

P: potência requerida pela agitação mecânica (W);

VL: volume de líquido (m3);

VS: velocidade superficial do gás (m/s).

Page 17: Apostila transf oxigenio

17

Devido a dificuldade para determinação do valor do consumo de potência

requerido na agitação, os autores substituíram o termo relativo à potência dividido pelo

volume de líquido (P/VL) pela relação entre a velocidade de agitação e o diâmetro do

impelidor (N3.D2). A equação B1, com estas modificações, torna-se equação B2.

[ ]βααSL VANDaK 2,1= (eq. 28)

Onde: D: diâmetro do impelidor (m)

N: Velocidade de agitação;

A: contante;

α e β: expoentes.

Esta consideração é relatada por alguns autores como sendo o termo relativo

ao consumo de potência requerido pela agitação.

1.10 Determinação do kLa sob Aeração em Profundidade

A Tabela 3 apresenta os resultados do kLa para diferentes valores de

freqüência de agitação e vazão superficial de aeração (Vs) com intuito de caracterizar

a hidrodinâmica do biorreator Bioflo III. Estes resultados foram obtidos no meio de

cultivo sob ausência de biomassa.

Tabela 3: Valores de kLa sob aeração em profundidade para diferentes freqüências de

agitação e vazão superficial de aeração.

kLa (h-1)

0,25VVM 0,5VVM 0,75VVM 1,00VVM

250rpm 5,18 23,64 28,22 32,76

500rpm 47,81 64,80 82,24 87,94

750rpm 39,86 71,44 75,46 83,64

1000rpm 46,72 62,64 91,45 98,50

Através da análise da Tabela 3e da Figura 6 pode-se verificar os resultados

referentes ao coeficiente volumétrico de transferência de oxigênio para as diferentes

freqüências de rotação e velocidade superficial de aeração.

0

20

40

60

80

100

0 0,25 0,5 0,75 1

Vazão Específica de Aeração (VVM)

kLa

(h

-1)

250rpm

500rpm

750rpm

1000rpm

Page 18: Apostila transf oxigenio

18

Figura 6: Comportamento do kLa em para diferentes freqüências de agitação e vazão

específica de aeração.

[ ] 49,0

S56,0

L VANaK = (eq. 29)

[ ] 49,0

S56,0

L VNaK α (eq. 30)

Através da Figura 6 pode-se verificar a dependência do kLa com a vazão

específica de aeração. Como esperado, maiores freqüências de agitação e vazão

específica de aeração proporcionaram maiores valores de kLa. Através dos resultados

experimentais verifica-se a importância das duas variáveis de acordo com a geometria

do biorreator utilizada. Estes resultados são importantes para termos os valores

máximos e mínimos de kLa para cada ensaio realizado, demonstrando a dependência

de cada variável no comportamento do kLa.

A Figura 6 apresenta os resultados referentes a obtenção da relação de

proporcionalidade entre o kLa em função da freqüência de agitação e aeração

superficial de aeração através do software Statistic 6.0 pela estimativa não linear dos

parâmetros (Alfa e beta).

1.11 Determinação do kLa sob Aeração Superficial

A Tabela4 apresenta os resultados obtidos para os valores de kLa para

diferentes valores de freqüência de agitação e vazão de aeração superficial com intuito

de caracterizar a hidrodinâmica do biorreator Bioflo III, onde, através destes valores,

pode-se verificar a interferência da transferência de oxigênio durante a determinação

do QO2X.

Tabela 4: Valores de kLa sob aeração superficial para diferentes freqüências de

agitação e vazão de aeração.

kLa (h-1)

Freq. Agitação (rpm) 1NL.min-1 2NL.min-1 3NL.min-1 4NL.min-1

250rpm 1,08 1,08 1,08 1,08

500rpm 2,16 2,16 1,8 2,88

750rpm 1,44 2,60 5,04 7,56

1000rpm 1,44 2,16 1,44 2,88

Os autores buscaram verificar a relação existente entre o coeficiente

volumétrico de transferência de oxigênio (kLa) com o termo que substitui o consumo de

potência requerido na agitação pela relação entre velocidade de agitação e diâmetro

do impelidor.

Page 19: Apostila transf oxigenio

19

Garcia-Ochoa et al. (2000) avaliaram a transferência de oxigênio durante a

produção de goma xantana por Xanthomonas compestris. Os autores estabeleceram

correlações do coeficiente volumétrico de transferência de oxigênio com a velocidade

superficial (VS), agitação (N) ou potência de agitação por volume de líquido (P/V) e a

viscosidade (µ) determinada pelo modelo da Lei da Potência, obtendo-se as seguintes

correlações: 5,0ef

25,0SL .N.V.63,2ak

−= µ e 5,0

ef

6,0

L

5,0

SL .V

P.V.14,6ak

= µ

Falar sobre a coalescência que pode ocorrer devido ao aumento da

viscosidade, diminuindo a área de transferência e ao mesmo tempo está “sujando” a

superfície da camada limite do líquido. Geralmente caldos de fermentação possuem

comportamento não-Newtoniano do tipo pseudoplástico, n<1.

2 PRINCIPAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BADINO JR, A. C. Reologia, consumo de potência e transferência de oxigênio em

cultivos descontínuos de Aspergillus awamori NRRL 3112. Tese de doutorado

em Engenharia Química. Universidade de São Paulo - USP, São Paulo. 1997.

BLANCH, H. W.; CLARK, D. S. Biochemical Engineering. Ed. Marcel Dekker, Inc.

New York. p.702. 1997.

KÄPPELI, O.; FIECHTER, A. A convenient method for the determination of oxigen

solubility in different solutions. Biotechnology and Bioengineering. v.23, p.1897-

1901. 1981.

OSBEK, B.; GAYIK, S. The studies on the oxygen mass transfer coefficient in a

bioreactor. Process Biochemistry. v.36, p.729-741. 2001.

SCHMIDELL, W; Transferência de oxigênio em biorreatores. In: SCHMIDELL, W.;

BORZANI, W; LIMA, U. A; AQUARONE, E. Biotecnologia industrial: volume 2. São

Paulo: Edgard Blücher, 2001. 541p.

Page 20: Apostila transf oxigenio

20

Exercícios Resolvidos em Aula

Exercício 1: Uma cervejaria estava com dificuldades na propagação das leveduras,

pois a quantidade de oxigênio que estava sendo transferida não estava satisfazendo a

demanda do processo. A aeração do sistema foi realizada mediante aeração a partir

de um tubo com diâmetro de 50mm e o biorreator utilizado foi um sistema de coluna

de bolhas. Qual seria a solução para o problema desta empresa com respeito ao

oxigênio no biorreator da cervejaria?

222

333

mm785425..4R4A

mm6544925..3

4R

3

4V

===

===

ππ

ππ

Diminuir o diâmetro para 1mm através de dispersores ou pedra porosa.

222

333

mm141,35,0..4R4A

mm523,05,0..3

4R

3

4V

===

===

ππ

ππ

vezes507854

393069Razãoárea

mm393069155141.mm141,3A

bolhas125141523,0

65449eRazãovolum

22

==

==

==

Exercício 2: Deseja-se determinar a concentração de saturação de oxigênio

dissolvido utilizando o método de Finkler (peróxido de hidrogênio) em um dado meio

de cultivo. Sabe-se que a reação da decomposição do peróxido de hidrogênio pela

catalase é a seguinte: OHOcatalaseOH excesso 2222 21 +→+ . A partir de uma solução

1M de H2O2, determine a concentração de saturação de oxigênio e a constante de

Henry neste meio de cultivo.

Dados: Mol H2O2= 34g/mol;

H2O2: 1 molar = 34000mg de H2O2 em 1000mL de água;

Volume de água ou meio de cultivo= 0,35L;

Cada mg de H2O2 possui 0,4705 mg de O2;

1 litro----------- 34000mg H2O2

Como peróxido possui 47,05% de O2, tem-se 34000*0,4705=15997mgO2 em 1

litro

1Litro ---------- 15997mgO2

1*10-6L--------- 0,01599mgO2 (obs: cada microlitro... multiplicar pelo volume

adicionado).

Tabela 2: Variáveis e repostas para determinar a concentração de saturação.

Page 21: Apostila transf oxigenio

21

H2O2 (µL) H2O2 (mg) O2 (mg em 0,35L) % saturação 0 0 0 1 10 0,34 0,457 8,2 30 1,02 1,371 24 60 2,04 2,742 44 90 3,06 4,113 64 120 4,08 5,484 83 150 5,10 6,855 98,5

y = 14,379x + 2,9122

R2 = 0,9971

0

20

40

60

80

100

120

0 1 2 3 4 5 6 7 8

O2

Sat

ura

ção

(%

)

X=(100-2,9122)/14,379------- X=6,75mgO2.L-1

Uma vez determinada a Concentração de saturação, pode-se determinar a

constante de Henry da solução, sendo:

Cs=H.pg

H=Cs/pg

H=6,75/0,21=32,14 [mgO2.L-1.atm-1]

Exercício 3: “Em equilíbrio, sob pressão de 1 atm e temperatura ambiente, a água

apresenta uma concentração de saturação de oxigênio de 8mg/L. Suponha um caldo

fermentativo com uma produção de levedura com concentração de 20g/L de biomassa

com uma velocidade específica de respiração de de 0,3gO2/gcélulas.h. Qual a

demanda de oxigênio? Quantas vezes a demanda é maior que a solubilidade de

oxigênio neste sistema?

X=20g/L;

QO2=0,3 gO2/gcélulas.h

QO2.X=20*0,3= 6gO2/L.h

1

2

2 h750h.L.mgO

L.mgO

8

6000 −=

=

Ou seja, a cada hora o meio de cultivo deve ser saturado 750 vezes se a

concentração de oxigênio dissolvido cair a zero. Caso a concentração não ultrapasse

o limite de 1mgO2.L-1, deveríamos saturar 857 vezes em uma hora.

Page 22: Apostila transf oxigenio

22

Exercício 5

Em um cultivo de levedura, deseja-se determinar o valor da velocidade de

respiração QO2, o valor da concentração crítica de oxigênio para este microrganismo

e o valor de kLa. As condições deste cultivo são as seguintes:

Temperatura de cultivo: 25ºC

Concentração de saturação de oxigênio: 7,0mgO2.L-1

Concentração de Biomassa: 5g.L-1

Tempo (s)

C (%)

0 90 10 89 20 80 30 70 40 60 50 50 60 40 70 30 80 20 90 17

100 15 110 14 120 16 130 18 140 30 150 40 160 50 170 60 180 70 190 80 200 85 210 87 220 88

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 50 100 150 200 250

y = -0,0694x + 6,965

R2 = 0,9999

0

1

2

3

4

5

6

7

0 20 40 60 80 100

y = -0,021x + 2,6239

R2 = 0,9846

-1,4

-1,2

-1

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0

0 50 100 150 200

Page 23: Apostila transf oxigenio

23

LISTA DE EXERCÍCIOS

1- Explique a importância da transferência de oxigênio em processos aeróbios.

2- Qual é a importância do conhecimento da concentração de saturação de

oxigênio no meio de cultivo? Caso esta concentração seja adotada como sendo em

água destilada, quais são os possíveis erros que serão cometidos? Justifique sua

resposta.

3- Descreva como se dá a transferência do oxigênio presente na bolha de gás

até chegar ao microrganismo.

4- Um biorreator possui um kLa de 3s-1 e a concentração de saturação de

oxigênio de 5 ppm. Qual é o valor máximo de dC/dt?

5- Qual é a etapa limitante na transferência do oxigênio da bolha de gás até o

microrganismo? Explique sua resposta.

6- Quais destes fatores causam aumento na transferência de oxigênio em um

sistema aerado? a) adição de antiespumantes; b) aumento na temperatura e c)

aumento na velocidade de agitação. Descreva o que acontece para cada fator citado.

7- O que é a concentração crítica de oxigênio dissolvido, como pode ser

determinada em um cultivo e qual a finalidade do conhecimento dessa concentração

crítica?

8- Sabe-se que a concentração crítica de oxigênio é diferente para cada

microrganismo. Descreva porque existe diferença entre estes valores. Existe variação

deste Ccritico em um cultivo com o mesmo microrganismo? Justifique sua resposta.

Page 24: Apostila transf oxigenio

24

9- Um cultivo de levedura apresenta a concentração de biomassa de 5g.L-1.

Deseja-se determinar o valor da velocidade de respiração QO2, o valor da

concentração crítica de oxigênio para este microrganismo e o valor de kLa. A

concentração de saturação de oxigênio é de 6,5mgO2.L-1. Este cultivo está sendo

realizado a temperatura de 30ºC e pressão constante de 1atm.

A Tabela a seguir apresenta os valores da concentração de oxigênio em

diferentes tempos.

Tempo (s)

C (%)

0 90 10 89 20 80 30 70 40 60 50 50 60 40 70 30 80 20 90 17

100 15 110 14 120 16 130 18 140 30 150 40 160 50 170 60 180 70 190 80 200 85 210 87 220 88

10- Deseja-se cultivar um fungo filamentoso e uma bactéria para a produção de

enzimas. O responsável pelo processo está em dúvida sobre a utilização de um

biorreator airlift ou biorreator de tanque agitado. Sabe-se que a bactéria consome 3

vezes mais oxigênio que o fungo filamentoso. Dê sua sugestão sobre qual biorreator

ele deve utilizar para cada microrganismo e ainda, descreva as vantagens e

desvantagens referentes ao cultivo de microrganismos com relação a transferência de

oxigênio em cada biorreator.

Page 25: Apostila transf oxigenio

25

11- A partir de uma solução de peróxido de hidrogênio a 32% (p/p) foi

preparado 500mL de uma solução 1M de peróxido de hidrogênio para determinar a

solubilidade de oxigênio em um dado meio de cultivo e na água destilada a

temperatura de 30ºC. Os resultados informados pelo eletrodo de oxigênio dissolvido

estão apresentados na tabela abaixo. O volume do meio de cultivo e da água destilada

no recipiente foi de 350mL. Determine a quantidade de oxigênio adicionada (em mg)

em cada ponto do experimento. Determine também a concentração de saturação do

meio de cultivo e da água destilada em mgO2.L-1. Todas as etapas de cálculo devem

ser bem detalhadas e discutidas.

Tabela 2: Variáveis e repostas para determinar a concentração de saturação.

H2O2 (µL) O2 (mg) Saturação meio cultivo (%) Saturação água (%)

10 8 6,5

30 23 18,8

60 48,6 40,1

90 71,1 58,0

120 94,2 76,8

150 98,2