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COMPETÊNCIA: A competência vem prevista nos artigos 86 e 87, ambos do Código de Processo Civil e dispõem o seguinte: “Art. 86. As causas cíveis serão processadas e decididas, ou simplesmente decididas, pelos órgãos jurisdicionais, nos limites de sua competência, ressalvada às partes a faculdade de instituírem juízo arbitral.” “Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.” Esse é um dos temas mais difíceis de ser pontuado, pois podemos conceituá-lo através do Direito Constitucional, no Direito Civil, no Processo Penal, etc....mas vamos tecer comentários sobre o Processo Civil. Competência é a delimitação da jurisdição. Se todo o Magistrado diz o Direito, temos que descobrir aonde ele se manifesta. Eu tenho que saber se ele é competente para atuar ou não no meu processo. Eu faço análise entre a competência internacional e a competência interna.

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Page 1: Apostila TGP

COMPETÊNCIA:

A competência vem prevista nos artigos 86 e 87, ambos do Código de

Processo Civil e dispõem o seguinte:

“Art. 86. As causas cíveis serão processadas e decididas, ou

simplesmente decididas, pelos órgãos jurisdicionais, nos

limites de sua competência, ressalvada às partes a faculdade de

instituírem juízo arbitral.”

“Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a

ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de

fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando

suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em

razão da matéria ou da hierarquia.”

Esse é um dos temas mais difíceis de ser pontuado, pois podemos

conceituá-lo através do Direito Constitucional, no Direito Civil, no Processo Penal,

etc....mas vamos tecer comentários sobre o Processo Civil.

Competência é a delimitação da jurisdição. Se todo o Magistrado diz o

Direito, temos que descobrir aonde ele se manifesta. Eu tenho que saber se ele é

competente para atuar ou não no meu processo. Eu faço análise entre a competência

internacional e a competência interna.

É a competência, pois, um requisito que diz respeito a um dos elementos do

processo: ao órgão ocupado pelo juiz, excluindo os demais órgãos jurisdicionais para que

só aquele deva exercê-la ali, em concreto.

Quando a competência é determinada? No momento em que a ação é

distribuída. O juízo (órgão que foi distribuído, por exemplo, 9ª vara cível) nunca muda,

pode mudar o juiz (quando promovido ou tirou férias).

A competência é a jurisdição para o caso específico, ou, por outras palavras,

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a concretização do poder jurisdicional num dado órgão, cujo juiz tem poder para

processar a causa e julgá-la.

COMPETÊNCIA INTERNA E INTERNACIONAL:

“Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:

I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver

domiciliado no Brasil;

II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no

Brasil.

Parágrafo único. Para o fim do disposto no nº I, reputa-se

domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui

tiver agência, filial ou sucursal.”

As regras de competência internacional se dão com vistas a garantir a

soberania e a efetividade de suas decisões, ou seja, efetividade de executar aquilo que foi

decidido. Também deve ser considerado no momento da fixação da competência nacional

se a decisão importa à Nação, ou seja, se esta decisão é relevante, a conveniência e a

viabilidade.

Competência nacional pode ser concorrente com a de outra nação

estrangeira, não havendo efeito de litispendência como ocorre quando as ações

concorrentes se dão no território nacional (artigo 90 do CPC). A outra hipótese é ser

exclusiva, hipóteses elencadas no artigo 89 do CPC.

Neste artigo estão elencadas as hipóteses de competência internacional

concorrente, sendo possível ser julgado tanto por juízo estrangeiro quanto pelo nacional.

Caso haja uma sentença estrangeira sobre determinado caso, para que tenha eficácia e

efeito em território nacional deverá ser homologada pelo STJ (artigo 105, I, i, da CF). As

sentenças estrangeiras devidamente homologadas no país poderão ser executadas pela

Justiça Federal, nos termos do artigo 109, X da CF).

Refere-se apenas do local em que a obrigação deve ser cumprida não

importando onde foi contraída. Fato ocorrido ou contraído no Brasil, aqui pouco

Page 3: Apostila TGP

importando se a obrigação deveria ser cumprida no país.

“Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com

exclusão de qualquer outra:

I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;

II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil,

ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido

fora do território nacional.”

Este dispositivo trata da competência internacional exclusiva do Brasil,

são matérias que interessam à soberania nacional e por este motivo só poderão ser

discutidas nos tribunais brasileiros, neste caso é impossível o pedido de homologação de

sentença estrangeira que trate das matérias elencadas nos incisos I e II.

As ações relativas à imóveis não são especificadas, assim entende-se que

poderão ser tanto pessoais quanto reais.

Este dispositivo impõe que o inventário e a partilha de bem, seja móvel ou

imóvel, localizado no país seja feito aqui. Não importando se o falecido tenha residido ou

não no país.

Na competência exclusiva somente a Justiça brasileira pode julgar a ação,

isto é, a Justiça brasileira não reconhece em hipótese alguma decisões estrangeiras que

tratem desses casos.

Existe competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira nos

seguintes casos: I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II –

proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança

seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.

A divisão tripartida da competência (competência interna) é tida como

clássica e foi adotada pela nossa lei.

Como fica a nossa divisão da competência interna? Este critério parte de

três divisões básicas: Critério objetivo, territorial e funcional.

Page 4: Apostila TGP

a) a competência objetiva determinável em razão da matéria/ objeto do

processo ou em razão do valor – é disciplinadora da competência de juízo. Quanto a

matéria pode ser civil (empresarial, família) ou criminal. É pela Justiça especial civil, mas

se o processo for mais de que 60 salários mínimos é da justiça comum.

Exemplo: comarca de SP: As normas de organização judiciária, portanto,

poderão determinar uma subdivisão da atividade jurisdicional relativamente às causas

cíveis, tomando em consideração a matéria ou o respectivo valor, o que se reflete,

evidentemente, na determinação da competência. Assim a ação deve ser ajuizada em

determinado foro regional (em SP tem 11 regiões, 10 foros regionais e o fora central),

salvo se o valor da causa for maior que 500 salários mínimos.

O critério objetivo se subdivide em três partes, quais sejam:

em razão da natureza/matéria;

da natureza da pessoa;

em razão do valor da causa.

Em razão da natureza ou matéria – neste caso eu estou tratando do assunto

a que se trata. Existe uma divisão do Poder Judiciário (Justiça especializada, Justiça

comum, justiça federal, trabalhista, eleitoral) e em razão dessa estruturação, tem-se o

critério objetivo porque se eu tenho uma estrutura do tribunal que é competente para

analisar os processos trabalhistas, então temos que buscar um dos órgãos da justiça do

trabalho. Se eu tenho um problema eleitoral, eu não posso buscar a justiça do trabalho,

mas sim a justiça eleitoral. (critério em razão da matéria). Se eu tenho um problema militar

(crime militar), eu procuro a justiça militar. Isso veio fazer, portanto, uma divisão do Poder

Judiciário, dos seus devidos órgãos e em razão da matéria foi-se atribuindo essas

competência. Logo, se eu tenho crime militar eu não posso dar entrada na Justiça

eleitoral, pois o órgão competente para analisar aquela matéria será a justiça militar. A

competência delimita a área dos magistrados.

Mas eu não posso olhar tão somente a matéria. Existem outros critérios.

Com relação a natureza da pessoa (física ou jurídica), eles têm um

diferencial. Determinadas pessoas, têm um diferencial e quem vai dar este diferencial é a

norma. Você por exemplo, vai dar entrada contra a União (CEF) via de regra, somente

Page 5: Apostila TGP

olhando a natureza da pessoa, eu busco a Justiça Federal. ´´E preciso julgar todos os

critérios. Se é em razão na natureza da pessoa e ela tem uma natureza diferenciada, eu

tenho que descobrir qual é o juízo competente que me remete qual é o tribunal

competente para analisar aquela questão.

Critério do valor da causa – a toda causa atribui-se um valor, tem um cunho

econômico. Toda a petição inicial tem um valor econômico. A nossa estrutura do Poder

Judiciário, criou diferenciações quanto as causas quanto aos valores. Exemplo: Juizado

Especial Cível (até 40 salários), Juizados Federais (até 60 salários). Se o valor da causa

for maior do que 40 salários mínimos, ele deverá ser encaminhado para a justiça comum.

b) competência territorial – é regulamentadora da competência do foro.

Foro é uma coisa e forum é outra. Forum é o espaço físico, onde vou encontrar o juiz, os

processos. O foro é a delimitação territorial. O juiz somente pode julgar um processo para

o qual seja competente, desde que ocupe órgão ao qual tenha sido deferido poder

jurisdicional específico. Além disso, o juiz de uma comarca só pode praticar atos válidos

dentro dos limites territoriais dessa mesma comarca, na qual está localizado o órgão.

A importância aqui é ser encontrado o foro territorialmente competente (lugar

onde alguém deve ser demandado).

O tribunal de justiça tem jurisdição em todo o território estadual assim se

todos tribunais do estado cabe julgar recurso, tem que ser naquele situado no estado

onde está o juízo monocrático.

Regras: a comarca então será aquela do domicilio do réu, em ações

fundadas em direito pessoal e em direito real sobre os bens móveis. Caso tenha mais que

um domicilio pode ser no foro de qualquer um deles.

Se não for conhecido ou for incerto o domicílio do réu, ele será demandado

onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor.

Caso o réu não seja domiciliado ou residente no Brasil, a ação deverá ser

ajuizada no foro do domicílio do autor, mas se ele também residir fora do território

nacional, poderá ser ajuizada em qualquer foro.

Page 6: Apostila TGP

Caso haja dois ou mais réus, com diferentes domicílios, o autor poderá

escolher por qualquer dos foros dos réus.

Nas ações fundadas em direito real sobre bem imóvel, a competência será a

da comarca de situação da coisa. Não prevalece essa regra se a questão imobiliária

estiver envolta em questão contratual, pois o objeto de discussão não é o direito real, mas

sim o contrato –direito pessoal, valendo a regra a cima apresentada.

Foro privilegiado ou especial: foro da residência da mulher é o competente

quando há ação de separação, divorcio e de anulação de casamento. Esse privilégio tem

se considerado constitucional, desde que o homem não seja hipossuficiente (sem

condições, ou pior condição) em relação a mulher. Assim como o foro do alimentado (que

pede alimentos) é o competente para as ações de alimentos. A pessoa jurídica deve ser

demanda no local de sua sede e, no caso de obrigações contraídas ou de atos praticados

por suas agências ou sucursais, pode o autor optar pelo foro de onde elas estão

localizadas ou no da sede. No caso de acidente de transito, pode ser no foro de seu

domicilio ou o do local do acidente.

Competência funcional: O meu critério funcional se desdobra em critério

hierárquico e critério horizontal. No Hierárquico eu tenho a vara Cível, depois o Tribunal

de Justiça do Estado, STJ, STF, seria uma forma escalonada. Quando eu falo da estrutura

hierárquica, eu falo em termo de competência, de processo, não é que um juiz que está

num determinado lugar ele mande no outro juiz. Já no horizontal, eu tenho vários juizes e

desembargadores no mesmo patamar.

É determinada pela natureza especial e pelas exigências especiais das

funções que o juiz é chamado para exercer num determinado processo. Essas funções

podem repartir-se entre os diversos órgãos na mesma causa ou então, devem confiar-se

ao juiz de dado território, abrindo lugar a uma competência em que o elemento funcional

concorre com o territorial.

Page 7: Apostila TGP

PROCESSO E PROCEDIMENTO

Processo é o meio, o instrumento através do qual se obtém a prestação

jurisdicional, é o caminho formado por atos processuais que obedecem uma regra e que

vão culminar em uma sentença.

Procedimento sequência dos atos de um processo, diz tudo aquilo que é

necessário para o atingimento do resultado da função jurisdicional.

PETIÇÃO INICIAL – ART. 282, CPC

Conceito: A petição inicial é o ato por meio do qual o autor exerce o direito

de ação. É o primeiro ato tanto do processo quanto do procedimento.

O processo de conhecimento no Processo Civil tem dois procedimentos: o

ordinário e o sumário. Este processo passará por diversas fases, quais sejam:

postulatório, ordinatória, instrutória e decisória (procedimento cognitivo). Além destas tem-

se a saneadora e a fase de cumprimento de sentença (procedimento de execução).

Petição é o instrumento da demanda de postular em juízo.

Conforme precisa lição do mestre Pontes de Miranda, a petição inicial é o

instrumento de que o autor da ação utiliza-se para que o Estado preste, efetivamente, a

tutela jurisdicional – através da sentença - , como dever seu, já que, “quase em absoluto,

retirou a defesa de mão-própria.”

Fundamentalmente, é através da peça exordial que restam traçados os

limites da atividade do juiz, naquele processo. Isto ocorre porque a petição inicial, na

expressão do referido jurista alagoano, “determina o conteúdo da resolução judicial”. É o

princípio da congruência dos pedidos dispostos na peça inaugural do processo com o teor

da futura sentença, figurando petição inicial e sentença como dois extremos da via

processual, concluindo uma das fases do processo.

Segundo este mandado, o autor é quem limita o pedido, na petição inicial.

Não pode o juiz proferir sentença fora (extra), acima (ultra) ou abaixo do pedido (citra ou

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infra petita). Vícios desta natureza remontam à imprestabilidade da decisão, caso não

sanados no momento processual certo.

O primeiro efeito da petição é ser o instrumento da demanda. Romper com a

inércia do poder judiciário. Com o fito de quebrar a inércia do poder judicial ele (autor)

interpõe uma petição inicial. O segundo é que a petição baliza a atividade do Juiz, cria

uma demarcação da atividade estatal do Juiz.

Requisitos da Petição inicial: (artigo 282, 283 e 39, I do CPC).

Art. 282. A petição inicial indicará:

I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e

residência do autor e do réu;

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

IV - o pedido, com as suas especificações;

V - o valor da causa;

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade

dos fatos alegados;

VII - o requerimento para a citação do réu.

Inciso I - O primeiro requisito para a petição inicial traz a ideia de

competência, é o endereçamento. Se eu vou dar entrada numa petição inicial a quem

caberá receber este meu pedido, esta minha ação. Dentro desta ideia da escolha do juízo

competente eu preciso identificar alguns aspectos que auxiliarão na definição deste juízo.

A regra geral aplicada é aquela prevista no artigo 94, CPC – domicílio do réu.

A petição inicial deve indicar logo em seu início o juízo ou o tribunal a que é

dirigida, de acordo com as regras constitucionais e infraconstitucionais de competência

(arts. 92 e seguintes da CF e arts. 86 à 100 do CPC).

Inciso II - A petição inicial também deve individualizar quem são as partes

da demanda, cumprindo com o papel de apresentar o primeiro elemento identificador da

demanda: as partes (Autor e Réu). Ou seja, traz a ideia de qualificação das partes que

figurarão na petição.

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O inciso III trata da causa de pedir (fatos + fundamentos jurídicos). A

primeira parte trata dos fatos, ou seja, você (enquanto advogado da parte), irá transcrever

os fatos ocorridos, as consequências jurídicas, ou seja, basicamente o advogado tem que

identificar de acordo com os fatos narrados, buscar na legislação algum regramento

jurídico, qual seria o direito da parte. Trata-se, portanto, do segundo elemento

identificador da demanda.

O inciso IV traz o pedido, ou seja, de acordo com os fatos narrados e os

supostos direitos violados, temos que verificar quais os pedidos que podemos formular.

Traduz-se pelo próprio bem da vida que visa a ser tutelado pelo Judiciário. Tecnicamente

divide-se entre pedido imediato (provimento jurisdicional, isto é, que se atinja o mérito da

demanda) e o pedido mediato (o bem da vida). Consoante disposição legal, ele deve vir

acompanhado de todas as especificações necessárias à sua delimitação e apreciação

pelo órgão jurisdicional. O regramento jurídico do pedido encontra-se disciplinado nos

artigos 286 e 294 do Código de Processo Civil.

Inciso V - Em teoria, o valor da causa deve refletir o bem da vida que busca

ser tutelado. Tem relevância para delimitação da competência, do procedimento, das

custas processuais, dos honorários advocatícios e até mesmo de eventuais multas

aplicadas ao longo do arco procedimental (Código de Processo Civil, artigos 258 e 259).

O valor deve refletir o valor econômico que eu espero obter em juízo.

Inciso VI - O autor deve, desde logo, indicar as provas que pretende

produzir na demanda. Contudo, eventual ausência de especificação constitui mera

irregularidade devendo ser corrigida até o momento de saneamento do processo e fixação

dos pontos controvertidos, quando se dá início à fase instrutória do processo.

Comumente, apenas protesta-se pela produção de todas as provas em direito admitidas.

Inciso VII - O último requisito da petição inicial disposto no artigo em

comento é o de requerimento de citação do réu. Deve, portanto, o autor exprimir o seu

desejo de fazer com que o réu integre a relação jurídico-processual, aperfeiçoando-a com

a citação deste.

Os artigos 283 e 39 do Código de Processo Civil também dispõem sobre

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outros requisitos da petição inicial, senão vejamos:

Art. 283. A petição inicial será instruída com os documentos

indispensáveis à propositura da ação.

O presente artigo refere-se a mais um requisito relativo à correta propositura

da demanda, com o respeito ao pressuposto processual de validade (petição apta). Como

documentos indispensáveis à propositura da demanda, devem ser entendidos como

aqueles sem os quais o mérito do litígio não possa ser julgado. Exemplos típicos são a

certidão de casamento em ação de divórcio e o contrato em ação de anulação do negócio

entabulado. Os documentos indispensáveis diferenciam-se daqueles chamados úteis, os

quais terão papel importante no convencimento do magistrado quanto aos argumentos

das partes, mas que sua ausência não impede o julgamento de mérito. De qualquer

forma, caso o autor não tenha em poder tanto os documentos indispensáveis, quanto os

úteis no momento da propositura da demanda, poderá ele exigir daquele que os têm

mediante o incidente de exibição de documento ou coisa (Código de Processo Civil,

artigos 355 à 363).

Art. 39. Compete ao advogado, ou à parte quando postular em

causa própria:

I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço em

que receberá intimação;

II - comunicar ao escrivão do processo qualquer mudança de

endereço.

Parágrafo único. Se o advogado não cumprir o disposto no nº I

deste artigo, o juiz, antes de determinar a citação do réu,

mandará que se supra a omissão no prazo de 48 (quarenta e

oito) horas, sob pena de indeferimento da petição; se infringir o

previsto no nº II, reputar-se-ão válidas as intimações enviadas,

em carta registrada, para o endereço constante dos autos.

Inciso I - O presente dispositivo impõe ao advogado, ou à parte quando

postular em causa própria, que indique em sua petição inicial o endereço que receberá

intimações. A indicação não precisa constar no corpo da petição, servindo a indicação no

cabeçalho ou no rodapé, desde que legível. Tal dispositivo tem apenas utilidade quando a

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demanda tramitar em local onde não haja circulação de diário oficial ou no caso das

hipóteses específicas de intimação pessoal do advogado.

Inciso II - Alterando-se o endereço do advogado, deve ele indicar o novo

local, sob pena de considerar-se válida intimação enviada para o endereço anterior.

INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL:

Art. 295. A petição inicial será indeferida:

I - quando for inepta;

II - quando a parte for manifestamente ilegítima;

III - quando o autor carecer de interesse processual;

IV - quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a

prescrição (art. 219, § 5o);

V - quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não

corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação; caso

em que só não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de

procedimento legal;

VI - quando não atendidas as prescrições dos arts. 39,

parágrafo único, primeira parte, e 284.

Parágrafo único. Considera-se inepta a petição inicial

quando:

I - Ihe faltar pedido ou causa de pedir;

II - da narração dos fatos não decorrer logicamente a

conclusão;

III - o pedido for juridicamente impossível;

IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

A petição inicial é o ato pelo qual o autor exerce o direito de ação, mas

também pode ser um pressuposto processual objetivo de constituição do processo, ou

seja, sem a petição inicial não existe o processo.

A petição inicial, como pressuposto processual de existência que é, deve

observar certos requisitos, bem como ter certa viabilidade, pois é através dela e, na

Page 12: Apostila TGP

maioria das vezes, tão-somente através dela, que o autor exerce seu direito de ação,

dado ao Princípio da Demanda.

O indeferimento da inicial deve ser a exceção, pois embora ela integre o

processo, este deve ser pensado como um instrumento para atingir um fim maior, que é a

prestação jurisdicional. O Estado visa à solução do conflito e, em hipótese alguma, deve

almejar o indeferimento da inicial, pois este leva extinção do processo sem resolução do

mérito, a teor do art. 267, I, do CPC, que nada soluciona, pelo contrário, aumenta a

insegurança das partes.

Assim, o indeferimento deve se dar quando não houver forma de sanar o

defeito e que este inviabilize o fim máximo do processo, a prestação jurisdicional. Com o

indeferimento da inicial declara-se a existência do vício e obsta à produção de seus

efeitos.

O indeferimento é, portanto, uma forma obstativa da eficácia. Enquanto a

nulidade faz cessar os efeitos que já se produziram, o indeferimento sanciona o ato com a

ineficácia, antes mesmo que os efeitos por ele perseguidos se tenham produzido.

Quanto à natureza jurídica asseverou Nelson Nery Junior: “As matérias que

ensejam o indeferimento da inicial são de ordem pública. Não estão sujeitas à preclusão,

podem ser conhecidas a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição e devem ser

conhecidas, “ex officio” pelo juiz.”

Saliente-se que no caso de indeferimento da inicial, este deverá ocorrer

antes do seu recebimento, não havendo que se cogitar acerca do indeferimento da inicial

após a citação, como comumente ocorre. Entendimento contrário, importaria na

inocuidade dos incisos do art. 267, que preveem como casos de extinção do processo

sem resolução de mérito, entre outras, as mesmas hipóteses de indeferimento da inicial,

ou seja, dependendo do momento em que se constatar o defeito da peça, não ocorrerá o

indeferimento da inicial, mas a extinção do processo sem resolução do mérito com base

em outro inciso que não o do indeferimento da inicial.

Na petição inicial vimos que, quando ela contém alguma irregularidade

sanável, temos previsão de que deve-se assegurar ao autor a oportunidade para proceder

Page 13: Apostila TGP

à emenda. Passado o prazo e nada feito, neste caso temos uma hipótese de

indeferimento da petição inicial. Parágrafo único do art. 284: “Se o autor não cumprir a

diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.”

Devemos entender o indeferimento como o oposto do despacho liminar

positivo. O que significa o indeferimento? Quando falamos na hipótese do art. 285, vimos

que o legislador diz o seguinte: “Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará,

ordenando a citação do réu, para responder; do mandado constará que, não sendo

contestada a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados

pelo autor.”

Deferir significa admitir à discussão, instaurar a medida processual. Já

temos uma relação processual quando simplesmente o autor ajuíza a ação. Tanto que

com o indeferimento da petição inicial já se fala em extinção do processo, ainda que não

tenha sido completada a relação jurídica processual que ocorre com a citação do réu.

O indeferimento é o oposto: é terminar antes mesmo de o réu ser citado. Em

que situações ocorre? Dizemos que o indeferimento da petição inicial ocorre quando, de

antemão, temos uma peça que não preenche os requisitos necessários ou o juiz depara

com uma ausência evidente de uma condição da ação ou pressuposto processual que

leve ao indeferimento. Se a finalidade do processo é a composição do litígio, para que

instaurar um processo quando desde já se verifica que não será possível proceder a esse

julgamento? Então é exatamente para evitar que se instaure um processo que não

alcançará essa finalidade.

Temos, portanto, que a incidência das hipóteses que levam ao indeferimento

da petição inicial pode ter as mesmas consequências de quando o juiz manda citar o réu

e, posteriormente, extingue o processo por uma causa que poderia ter levado ao

indeferimento. Com relação ao efeito, vamos ver seguinte: aquilo que parece algo muito

drástico para o autor, que é o indeferimento da petição inicial, pode ser algo até benéfico,

pois, se o réu for citado e já tenha se defendido, ele ganhará o direito de receber custas

processuais e honorários de advogado.

Se o juiz conhecer qualquer das causas de indeferimento, ele reconhecerá

ao autor a obrigação de pagar ao réu quaisquer despesas processuais que tenha tido.

Page 14: Apostila TGP

Se o réu for citado e o juiz reconhece uma causa que antes poderia ser

levada ao indeferimento, não se fala mais em indeferimento pois essa fase já foi

superada. Falamos em extinção do processo por ausência de pressuposto processual ou

condições da ação. Indeferimento já não cabe mais.

Indeferimento é a interrupção do processo antes de ser citado o réu.

O primeiro dos seis casos de indeferimento da inicial é quando a inicial for

inepta, o que, a teor do parágrafo único, ocorre quando: lhe faltar pedido ou causa de

pedir; quando da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; quando o

pedido for juridicamente impossível e quando contiver pedidos incompatíveis entre si.

Assim, a inépcia da inicial está vinculada aos vícios do pedido, que obstam o exame do

mérito. Inepta é uma petição que não está apta a produzir seus efeitos.

Quando a petição inicial é inepta? Quando ela não reúne as condições

mínimas, quando não atinge a finalidade que se espera dela. Seria como se houvesse

uma nulidade da petição inicial. Contém as hipóteses da inépcia.

A falta de pedido leva a inépcia, pois é ele que delimita a ação, que expressa

a pretensão da parte autora e é com base nele que o Juiz profere a sentença, à vista do

Princípio do Dispositivo. A causa de pedir, também requisito da inicial, é a obrigação da

parte de elucidar os fatos e fundamentos do pedidos, ou seja, é o conjunto dos fatos

apontados pelo autor, para deduzir sua pretensão de direito material.

A petição inicial também será considerada inepta quando da narração dos

fatos não decorrer logicamente a conclusão (art. 295, parágrafo único, II, do CPC).

Deve haver, portanto, uma verdadeira coerência lógica entre aquilo que é

narrado e o pedido formulado, sob pena de a petição inicial ser considerada inepta.

Haverá inépcia da inicial quando contiver pedidos incompatíveis entre si,

pois para haver cumulação de pedido faz-se necessário que os pedidos sejam

compatíveis entre si, em não sendo, o Juiz deve possibilitar a parte que desista de algum,

emendando a inicial e só então, no caso de não emenda, deverá indeferir a inicial.

Page 15: Apostila TGP

A impossibilidade jurídica do pedido, último caso de inépcia a ser tratado, ao

lado dos casos de indeferimento previstos nos incisos II e III, quais sejam, ilegitimidade de

parte e ausência de interesse processual, são as condições da ação, cuja falta, se

verificada de plano, enseja o indeferimento da inicial.

A constatação de ausência de qualquer das condições da ação enseja

sempre a extinção do processo sem resolução do mérito, seja antes ou depois do

deferimento do processo. Porém, se já foi determinada a citação do réu (situação em que

já foi deferida a inicial), a decisão que extinguir o processo sem resolução do mérito,

mesmo que com base numa das hipóteses de indeferimento da inicial, não será de

indeferimento da inicial.

O inciso II do artigo em tela comprova que só haverá o indeferimento da

inicial quando puder se constatar de plano a irregularidade, ao prever o  indeferimento da

inicial quando a parte for manifestamente ilegítima.

A decadência e prescrição verificada desde logo também importa

indeferimento da inicial. Os prazos para exercer as pretensões constitutivas, que tenham

prazo fixados em lei, são de decadência. Os prazos para o exercício das pretensões

condenatórias são de prescrição.

Em que pese os casos de indeferimento conduzirem a extinção do processo,

sem resolução de mérito, a teor do art. 267, I, do CPC, tal não ocorre quando o

indeferimento der-se em razão da decadência e da prescrição, pois, neste caso, haverá a

extinção do processo com a resolução de mérito, como bem leciona Voltaire de Lima

Moraes:

Em se tratando, todavia, de prescrição ou decadência, quer seu

reconhecimento se dê “ab initio” (inicialmente), quando o juiz entende em não admitir a

petição inicial, quer posteriormente, quando já angularizada a relação processual, a

extinção do processo deve ocorrer com julgamento de mérito. E isso porque os institutos

da prescrição e da decadência envolvem matéria de direito substancial. Tanto é assim

que, em tais hipóteses, o CPC prevê que a extinção do processo se dá com o julgamento

do mérito (art. 269, IV).

Page 16: Apostila TGP

A quinta hipótese de indeferimento da inicial ocorre quando houver a

inadequação do tipo de procedimento, ou seja, quando a escolha do tipo de procedimento

for errada, considerando a natureza da causa ou o valor da ação. Nesses casos, o juiz

deverá determinar a emenda da inicial, sob pena de cerceamento de defesa. Se o autor

não emendar a inicial, o juiz deverá indeferir a inicial, salvo se for possível adaptar o rito.

Ocorrerá, ainda, o indeferimento da inicial, teor do inciso VI do artigo em

questão, quando não forem atendidas as prescrições dos arts. 39, parágrafo único,

primeira parte, e 284. No primeiro caso, será indeferida a inicial se o advogado ou a parte,

caso esteja atuando em causa própria, deixar de declarar na exordial o endereço que

receberá as intimações. Nesse caso, só se indeferirá a petição se o autor intimado a

suprir a omissão, não o fizer no prazo de 48 horas, nos termos do parágrafo único,

primeira parte, do art. 39, do CPC. A segunda hipótese levará ao indeferimento da inicial

se a parte, intimada a emendar ou completar a inicial por falta ou irregularidade de algum

dos requisitos da inicial, constantes do art. 282 e 283, deixar de fazer no prazo de 10 dias.

RESPOSTA DO RÉU

Inicialmente temos que começar pelo princípio do contraditório porque tem

aplicação também para o autor que é o no momento da resposta. Havendo um poder de

ação através da petição inicial, tem-se o poder de reação que é a base do princípio do

contraditório que é embasado sob dois aspectos. O primeiro é a informação que no caso

da contestação essa informação vem através da citação. O segundo é a possibilidade de

reação ou de defesa. Pelo próprio nome percebemos que é uma faculdade do réu se

defender, principalmente nesse início do processo. É um ônus processual porque o réu

pode reagir, mas se ele não reagir ele terá um efeito prejudicial. Então se ele não

apresentar a contestação, ele ficará submetido à revelia.

Dentro desta sistemática de resposta do réu, verificamos que a contestação

ou as exceções estão para o réu assim como a petição inicial está para o autor. A

contestação é o poder de se defender do que consta na petição inicial.

Esse poder de reação tem um prazo, que é de 15 (quinze) dias, conforme

Page 17: Apostila TGP

previsto no artigo 297, CPC (rito ordinário).

DA CONTESTAÇÃO:

Art. 300. Compete ao réu alegar, na contestação, toda a matéria

de defesa, expondo as razões de fato e de direito, com que

impugna o pedido do autor e especificando as provas que

pretende produzir.

O princípio da eventualidade determina que o réu alegue em sua

contestação toda a sua matéria de defesa, com o objetivo de controverter cada ponto

levantado pelo autor, ainda que tais alegações sejam contraditórias e incompatíveis entre

si. Na hipótese de o réu não alegar toda a matéria que lhe competida, ter-se-á operado

preclusão quanto às não apresentadas, não podendo trazê-las posteriormente. A exceção

fica para aquelas matérias de ordem pública, as quais podem ser alegadas em qualquer

tempo e grau de jurisdição e de direito superveniente.

Art. 301 - Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito,

alegar:

I - inexistência ou nulidade da citação;

II - incompetência absoluta;

III - inépcia da petição inicial;

IV - perempção;

V - litispendência;

Vl - coisa julgada;

VII - conexão;

Vlll - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de

autorização;

IX - convenção de arbitragem;

X - carência de ação;

Xl - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como

preliminar.

§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se

reproduz ação anteriormente ajuizada.

Page 18: Apostila TGP

§ 2º Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes,

a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.

§ 3º Há litispendência, quando se repete ação, que está em

curso; há coisa julgada, quando se repete ação que já foi

decidida por sentença, de que não caiba recurso.

§ 4º Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de

ofício da matéria enumerada neste artigo.

Preliminares de mérito. As matérias arroladas no rol do artigo em comento

são todas aquelas denominadas de preliminares de mérito. Isto é, elas devem ser

alegadas antes da defesa de mérito, pois o seu eventual acolhimento terá como

consequência a extinção da demanda sem a resolução do mérito.

Inciso I - Com efeito não se terá formada a relação triangular do processo

sem o advento do réu que será chamado ao processo justamente com sua citação.

Não existindo, ou sendo, nula a citação o processo não será formado e a

eventual sentença proferida não produzirá efeito. Citação inexistente é a que falta, a que

não foi feita por nenhuma das formas previstas em lei. Nula é a citação que não observa a

forma prevista em lei, sendo que esse defeito impossibilita atingir a finalidade do ato, caso

a finalidade do ato seja atingida, não há falar em nulidade de citação.

Na precisa lição de Luiz Rodrigues Wambier (Curso Avançado de Processo

Civil vol. I, Revista dos Tribunais 2008, pg. 389): “Não existindo, ou sendo nula, a citação,

o processo não se terá formado, e eventual sentença proferida em processo sem citação

válida não produzirá efeito”

Aparentemente é inviável alegar tal inciso, pois se o réu o faz é porque

tomou conhecimento da demanda e, a luz dos princípios da instrumentalidade das formas

e da economia processual, o comparecimento do réu não deve ser ignorado. Leciona Luiz

Rodrigues Wambier (op. Cit. Pg. 390) que “se o réu alega falta ou nulidade de citação em

preliminar de contestação e, em seguida já produz defesa de mérito, o vício está sanado.”

As citações que forem feitas sem observar as regras jurídicas a ela

referentes são nulas (art. 247, do CPC).

Page 19: Apostila TGP

O comparecimento do réu supre a falta de citação (art. 214, §1º, do CPC).

Consoante o art. 214, do CPC, merecem destaque algumas questões. Se o réu alega a

falta ou nulidade de citação em preliminar e, consequentemente, já produz a defesa, o

vício está sanado. Contudo, se o réu comparece, sem apresentar contestação, alegando

apenas a falta ou nulidade de citação, e sendo esta reconhecida, considerar-se-á como

realizada a citação na data de intimação da decisão (art. 214, §2º, do CPC), iniciando aí,

o prazo para contestação. Alegando a falta ou nulidade de citação em preliminar da

contestação e apresentando-a fora do prazo, reconhecida a nulidade, a revelia estará

afastada.

Porém, se a arguição for rejeitada, não será reaberto o prazo para resposta,

incidindo a preclusão e a revelia, considerando que o mérito não foi atacado no momento

adequado.

Inciso II - Meio de defesa que não extingue o processo, mas, ao menos

retarda a relação processual. Nas sábias lições de Marcato (op. Cit. Pg. 991), “a

incompetência absoluta deve ser declarada de ofício pelo juiz, podendo ser alegada pelo

interessado, em qualquer tempo ou grau de jurisdição, independentemente de exceção”.

Mais do que uma defesa processual, tal alegação é quase que um dever do

réu. Se ele não o fizer já na contestação, malgrado possa fazer a qualquer tempo, sua

negligência acarretará a penalidade de arcar com as custas dos atos processuais já

realizados. No mesmo sentido Wambier: “(...) porque é nulo todo e qualquer ato decisório

proferido por juiz incompetente, deve o réu, por economia processual, arguir a

incompetência absoluta, se existente, já no início da contestação, caso contrário,

responderá integralmente, pelas custas do retardo”.

Em verdade tal ônus vai além da economia processual, pois que inibe o réu

de má-fé de protelar o processo, deixando para alegar o inciso em momento que

considerar oportuno, visando protelar o andamento do processo.

A alegação de incompetência absoluta pode ser declarada a qualquer tempo

e grau de jurisdição (art. 113, caput, do CPC). A incompetência absoluta não se convalida,

é insuscetível de modificação, cabendo ao réu, por economia processual, argüi-la na

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primeira oportunidade que tiver, sob pena de responder pelas custas resultantes do

retardo (art. 113, §1º, do CPC).

Inciso III - Se a inépcia não foi decretada de ofício pelo juiz, indeferindo-a,

pode o réu alegar na contestação, objetivando a extinção do processo sem julgamento de

mérito.

Considera-se inepta a petição inicial quando lhe faltar o pedido ou causa de

pedir, da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão, o pedido for

juridicamente impossível ou quando contiver pedidos incompatíveis entre si (Art. 295, §

único, do CPC).

Além dos defeitos ou irregularidades previstos no parágrafo único do art.

295, do CPC, o réu tem a faculdade de alegar qualquer outro que legitimam o

indeferimento da inicial, caso não tenham sido considerados, oportunamente, pelo juiz.

Inciso IV - A perempção é o pressuposto processual de validade objetivo

extrínseco. Significa a proibição de o autor intentar novamente a ação contra o mesmo

réu e com o mesmo objeto, se der causa, por três vezes à extinção do processo, em

razão de não promover atos e diligências que lhe cabiam (arts. 267, III e 268, §único, do

CPC), ressalvado ao autor a possibilidade de alegar em defesa o seu direito (268, §único,

do CPC).

A perempção é espécie de penalidade ao autor desidioso, operando

exclusivamente na órbita processual, impedindo a renovação, por esse, de processo com

o mesmo objeto, mas sem importar na perda de capacidade defensiva do direito, como

ocorre com a prescrição, ou, na extinção do direito, como se dá com a decadência.

Ela atinge o que foi posto para conhecimento do juiz nos processos

anteriores, não sendo invocável em relação a outras ações concernentes à mesma

pretensão, se independentes, e muito menos ações concernentes a outras pretensões

irradiadas do mesmo direito.

Saliente-se que não encontrará ressonância a alegação de perempção em

sede de juízo arbitral, por ser tratar de jurisdição distinta e independente.

Page 21: Apostila TGP

Inciso V - Verifica-se litispendência quando uma ação é idêntica à outra em

curso, quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. Seu

reconhecimento não provoca a reunião de processos, mas, pura e simplesmente a

extinção daquele que se instaurou. Depende da ocorrência da tríplice identidade entre

partes, causa de pedir e pedido.

Pontes de Miranda aduz: “Há litispendência quando está em curso ação cuja

sentença teria de examinar e decidir quanto às mesmas “quaestiones facti” e às mesmas

“quaestiones iuris” ressalta, ainda, que a reprodução há de ser com as mesmas partes,

sem que se exija que o autor de uma seja o autor de outra, e, que o réu de uma seja o réu

de outra.

Existindo a propositura de uma mesma ação contra um mesmo réu,

contendo o mesmo pedido e a mesma causa de pedir, com a citação válida, ocorre a “lide

pendente”, sendo que, a segunda ação, na qual a litispendência será arguida

preliminarmente, não poderá prosseguir, devendo o processo ser extinto sem julgamento

de mérito.

O fundamento da litispendência está ligado ao princípio de que não pode

haver duas demandas com o mesmo objeto, entre as mesmas pessoas, dificultando o

risco final de contradição entre sentenças, evitando duas sentenças igualmente válidas.

Para que a litispendência exista é necessária a angularidade, ou seja, a

citação válida (art. 219, do CPC). Portanto, o processo em que ocorrer a primeira citação

válida é o que prevalecerá, devendo o processo ‘pendente’ ser extinto sem exame do

mérito (art. 257, do CPC).

Não é considerada litispendência se o devedor propõe ação declaratória

negativa e o credor ação visando à condenação, impondo-se, nesse caso, a conexão.

Inciso VI - Transitando em julgado a sentença de ação idêntica à proposta e

a respeito da qual não caiba mais recurso existe coisa julgada.

Com o fim de impedir que se reproduza a mesma lide em novo processo,

Page 22: Apostila TGP

violando o princípio da unicidade da relação processual, tem o réu à exceção de coisa

julgada. È a defesa que impede a renovação da demanda já julgada e definitivamente

decidida. Verificam-se dois requisitos: a) a ação em que se alega a coisa julgada e a

anteriormente proposta devem ser idênticas; b) a necessidade de existir um processo

findo, com sentença transitada em julgado.

O conceito de coisa julgada encontra-se no art. 467 do CPC, que considera

a coisa julgada material a eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença não mais

sujeita a recurso ordinário e extraordinário.

As definições doutrinárias, como regra geral, simbolizam a coisa julgada pela

imutabilidade do que foi decidido no processo.

Para a configuração de coisa julgada material ou formal nada obsta que a

decisão seja passível de outro meio de impugnação, como por exemplo, a ação rescisória

ou a ação anulatória de ato jurídico. Em havendo duas sentenças irrecorríveis,

envolvendo a mesma causa de pedir, as mesmas partes e o mesmo pedido, haverá de

ser rescindida a última decisão que transitou em julgado (art. 485, IV, do CPC).

Inciso VII - A conexão ocorre quando, em duas ou mais ações, são comum

o objeto ou a causa de pedir (art. 103, do CPC). O que se busca é a reunião de um

processo com outro em curso para simultânea instrução e julgamento, podendo ser

modificada ou não a competência (art. 102 e 105, do CPC).

O instituto da conexão tem, assim, como sua razão maior de ser, evitar o

risco de decisões inconciliáveis. Por esse motivo, diz-se, também, que são conexas duas

ou mais ações quando, em sendo julgadas separadamente, podem gerar decisões

inconciliáveis, sob o ângulo lógico e prático.

Trata-se de defesa processual imprópria uma vez que não extingue o

processo, apenas ocasiona a reunião dos processos que se encontram em juízos de

idêntica competência para o julgamento simultâneo.

A fixação da competência dá-se por prevenção. Para alguns doutrinadores a

citação válida atribui o efeito de prevenir a competência, para outros, o texto do art. 106,

Page 23: Apostila TGP

do CPC refere-se à prevenção de juízes com a mesma competência territorial. Não tendo

a mesma competência territorial, a prevenção se dá pela citação (art. 219, do CPC).

Apesar do inciso VII mencionar apenas a conexão, a preliminar estende-se,

também, à continência.

Inciso VlII - O inciso VIII dispõe sobre a incapacidade da parte, defeito de

representação ou falta de autorização. Para que a relação processual exista

juridicamente, exigem-se alguns pressupostos processuais. O inciso em tela aborda os

chamados pressupostos processuais subjetivos. Com relação à capacidade de ser parte

urge uma breve distinção com capacidade processual e postulatória.

A capacidade de ser parte é a capacidade de direito, que toda pessoa

natural ou jurídica possui. Toda pessoa é capaz de direitos e, portanto, é capaz de ser

parte, ou seja, quem tem capacidade de direitos e obrigações de ordem civil (art. 1º e 2º,

do Código Civil).

A personalidade é atributo da pessoa natural e da pessoa jurídica. Porém,

existem determinados entes desprovidos de personalidade jurídica aos quais a lei (art. 12,

do CPC) confere capacidade de ser parte.

A capacidade de direito não pode ser recusada ao indivíduo, sob pena de

negar sua qualidade de pessoa, despindo-o dos atributos da personalidade, mas pode

sofrer restrições legais quanto ao seu exercício.

Capacidade processual é a capacidade de estar em juízo, isto é, a aptidão

para atuar pessoalmente na defesa de direitos e obrigações.

Enquanto a capacidade de ser parte relaciona-se com a capacidade de gozo

ou de direito (aptidão para contrair direitos e obrigações na órbita civil), a capacidade

processual guarda relação com a capacidade de exercício ou de fato (aptidão para

exercer por si os atos da vida civil). A capacidade processual de ser parte é mais ampla

do que a capacidade jurídica do direito civil.

A capacidade processual pode ser plena ou total, podendo o seu titular

Page 24: Apostila TGP

exercer livremente os seus direitos (art. 7º, do CPC). Contudo, há determinadas pessoas

com capacidade processual restrita ou limitada, hipótese em que deverão ser

representadas ou assistidas (art. 8º do CPC).

A capacidade postulatória não está ligada, diretamente, aos litigantes, e, sim

aos seus advogados.

È a exigência que a parte postule em juízo através de advogado, salvo as

exceções legais.

Cabem na previsão do inciso em tela, segundo Calmom de Passos: a) falta

de representação do absolutamente incapaz ou defeitos nessa representação; b) falta de

assistência ao relativamente incapaz ou defeitos nessa assistência; c) falta de

representação da pessoa jurídica ou defeitos nessa representação; d) falta de autorização

ao processualmente capaz não capacitado para agir, no caso concreto, sem a outorga de

terceiro ou defeitos nessa autorização; e) falta de representação da parte por procurador

devidamente habilitado ou defeitos nessa representação.

Inciso IX - Com relação à convenção arbitral, a Lei n.º 9.307/1996, em seu

artigo 3º disciplina a possibilidade das partes em submeter à solução de seus litígios ao

juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula

compromissória e o compromisso arbitral.

A cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um

contrato comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,

relativamente a tal contrato (art. 4º). Compromisso arbitral é a convenção através da qual

as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial

ou extrajudicial (art. 9º), independente de prévio contrato com cláusula arbitral. Para o

compromisso basta um documento particular com duas testemunhas ou um instrumento

público, observando-se os requisitos do art. 10 da Lei n.º 9.307/1996.

Assim, se for o caso, deverá o réu arguir em preliminar a preexistência de

compromisso arbitral ou de contrato entre as partes que contenha cláusula arbitral.

Inciso X - A carência de ação é a falta de ação de direito processual ou a

Page 25: Apostila TGP

falta de ação de direito material que leva a inacionabilidade processual. Carência de ação

é a inexistência ou falta do direito de ação, carece de ação quem não tem ação.

O autor é carecedor de ação quando o pedido formulado é juridicamente

impossível, falta interesse para agir ou há a ilegitimidade da(s) parte(s), consoante art.

295, do CPC.

Caso o juiz não tenha atentado para as condições da ação, deve o réu, em

preliminar, alegar a falta ou defeito, visando obter a um pronunciamento, conforme o art.

267, VI, do CPC.

Inciso Xl - A caução ou qualquer outra prestação que a lei exija como

preliminar tem que ser feita, importando a sua ausência na extinção do processo sem

julgamento de mérito, se alegado pelo réu na contestação (art. 267, §2º, do CPC).

Pontes de Miranda traz como exemplo o art. 835, quando autor, nacional ou

estrangeiro, reside fora do Brasil, ou se ausentou para o estrangeiro no período entre a

instauração do processo e a contestação, cumprindo ao réu verificar se aquele prestou

caução suficiente às custas e aos honorários de advogado, dispensado se o demandante

possuir bens no Brasil que lhe assegurem o pagamento.

Por fim, com relação ao parágrafo 4º de referido artigo mister salientar que,

apesar de estar expresso somente o compromisso arbitral, o juiz não poderá, também,

conhecer de ofício a cláusula arbitral.

RECONVENÇÃO

Art. 315. O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda vez

que a reconvenção seja conexa com a ação principal ou com o

fundamento da defesa.

Parágrafo único. Não pode o réu, em seu próprio nome, reconvir ao

autor, quando este demandar em nome de outrem. (§1º renumerado

pela Lei nº 9245 de 1995)

§2º (Revogado pela Lei nº 9245 de 1995)

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A reconvenção é ação sob a forma de contra-ataque do réu (reconvinte)

contra o autor (reconvindo), exclusiva do processo de conhecimento, prevista no art. 315

e seguintes do CPC e juntada nos mesmos autos da ação principal.

A reconvenção é uma das espécies de resposta do réu e tem caráter ofensivo. Em

razão disso, a reconvenção tem natureza jurídica de demanda. Ou seja, nada mais é do que um

pedido de prestação de tutela jurisdicional feito pelo réu em face do autor, no processo pendente

entre ambos e fora dos limites da demanda inicial. Com a reconvenção, o réu introduz no processo

uma nova pretensão, que deve ser julgada junto com a pretensão trazida pelo autor. As demandas do

autor e do réu reúnem-se em um só processo, alargando o objeto do processo, sem a formação de

um novo processo.

Cuida-se de modalidade de ação que prestigia o princípio da razoável

duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CF), que traz subjacentes os princípios da

celeridade e economia processuais.

Não somente o réu pode propor reconvenção, como o autor também pode. Nesse

sentido, pode-se verificar a ocorrência de uma reconvenção da reconvenção. Quando isto ocorre, a

reconvenção da reconvenção deve ter conexidade com os argumentos da reconvenção do réu. Caso

a reconvenção da reconvenção tenha conexidade com a contestação do réu, a mesma não poderá ser

proposta, já que eventual demanda deveria ter sido deduzida inicialmente com a própria petição

inicial.

O autor reconvindo (réu na reconvenção) será intimado na pessoa do

advogado para contestar no prazo de quinze dias (art. 316, CPC), quando se tratar do rito

ordinário.

A mesma sentença julgará a ação principal e a reconvenção (art. 318, CPC),

sob pena de nulidade, já que se trata de norma cogente.

Por outro lado, a reconvenção é passível de indeferimento liminar com base

no art. 295, CPC ou nos artigos que disciplinam os requisitos específicos (arts. 315 ao

318, CPC).

A reconvenção, como toda demanda, deve respeitar as condições da ação e os

Page 27: Apostila TGP

pressupostos processuais. Além disso, a petição inicial da reconvenção deve obedecer todos os

requisitos gerais de uma petição inicial qualquer (Código de Processo Civil, artigos 282, 283 e 39).

Contudo, dado o caráter de ser demanda e ao mesmo tempo resposta do réu, a reconvenção deve

obedecer a alguns requisitos específicos. O pressuposto especial de maior destaque para a

admissibilidade da reconvenção é a conexidade. A conexidade deve ser com a inicial,

especificamente com relação ao pedido ou da causa de pedir (Código de Processo Civil, artigo 103),

ou com a própria defesa do réu-reconvinte. Diversamente do que ocorre com a conexão entre

demandas, a conexidade pode ser mais tênue, a fim de que não inviabilize a propositura da

reconvenção. A conexidade deve se dar no mesmo contexto jurídico-substancial. Além da necessária

conexidade, o juízo não pode ser absolutamente incompetente para o julgamento da reconvenção e

deve haver compatibilidade de procedimentos e a existência de demanda anterior.

São, portanto, requisitos específicos da reconvenção: a) conexão com a

ação principal; b) competência (absoluta) do juízo para julgá-la; c) compatibilidade de

procedimento; d) identidade de partes (daqui se infere a legitimidade ativa e passiva para

a causa, embora haja quem defenda a possibilidade de ampliação subjetiva da demanda,

v.g. DIDIER JR., Fredie, 2009, p. 495); e) que o autor da ação principal demande em

nome próprio (art. 315, parágrafo único, CPC).

REVELIA

Art. 319. Se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão

verdadeiros os fatos afirmados pelo autor.

Art. 320. A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no

artigo antecedente:

I - se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a

ação;

II - se o litígio versar sobre direitos indisponíveis;

III - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento

público, que a lei considere indispensável à prova do ato.

Art. 321. Ainda que ocorra revelia, o autor não poderá alterar o

pedido, ou a causa de pedir, nem demandar declaração

incidente, salvo promovendo nova citação do réu, a quem será

assegurado o direito de responder no prazo de 15 (quinze) dias.

Art. 322. Contra o revel que não tenha patrono nos autos,

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correrão os prazos independentemente de intimação, a partir da

publicação de cada ato decisório. (redação dada pela Lei nº

11.280 de 2006)

Parágrafo único O revel poderá intervir no processo em

qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar.

(incluído pela Lei nº 11.280 de 2006)

A revelia constitui comportamento omissivo, implicando, pois, na inércia do

réu que, regularmente citado, deixa de apresentar contestação ou a oferece fora do prazo

legal.

Certificada a revelia, dela decorrem duas consequências: os fatos alegados

contra o réu revel poderão ser admitidos como verdadeiros (art. 319, CPC) e os atos

processuais correrão independentemente de intimação deste (art. 322, caput, CPC).

São consequências que, entretanto, admitem relativização.

A presunção de veracidade contemplada pelo art. 319, CPC, é relativa, pois,

pode ceder à convicção do juiz em sentido oposto diante do compromisso estatal de

busca pela verdade real, fundamentalmente quando o contrário resultar da prova dos

autos (art. 277, § 2º, CPC).

O art. 320 traz ressalvas expressas à presunção de veracidade: havendo

litisconsórcio passivo, um dos réus contesta a ação (inciso I), tratando o litígio de direitos

indisponíveis (inciso II) ou quando a inicial não trouxer documento indispensável à

comprovação do fato nela declinado (inciso III).

Por tais motivos, é que a contestação, mesmo intempestiva, não deve ser

desentranhada dos autos, eis que pode fornecer elementos capazes de auxiliar o juiz na

tarefa de aferir a presença de ressalvas à presunção de veracidade, além, é claro, do

permissivo legal à arguição, a qualquer tempo e grau de jurisdição, de matérias de ordem

pública, como eventual ilegitimidade ativa.

Quanto ao disposto no caput do art. 322, CPCP, somente nos casos em que

o réu é revel e não constitui procurador nos autos, a lei processual civil dispensa a

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necessidade de intimação dos atos processuais, o que se estende à fase de cumprimento

de sentença, se o caso.

O advogado do réu revel, uma vez constituído, tem o direito de ser

comunicado dos atos processuais, até mesmo para que, recebendo o processo no estado

em que se encontra, possa apresentar as manifestações que entender cabíveis, indicar

perito assistente, acompanhar a perícia, recorrer, etc.

Não somente o réu pode ser revel, como também o autor pode ser no caso de não

responder a reconvenção.

O réu ou o reconvido, tem o ônus de responder e não o ônus de contestar. Dessa

forma, é possível apresentar somente reconvenção ou qualquer outro tipo de resposta do réu sem

serem aplicados os efeitos da revelia, desde que a resposta apresentada seja suficiente para

contrapor todos os pontos aventados pelo autor.

A revelia é o representativo da contumácia, ou seja, da ausência de resposta do réu. A

ausência pode ser percebida pelo decurso de prazo para apresentação de alguma resposta do réu,

pela apresentação intempestiva dela ou pela não impugnação de todos os pontos trazidos na

demanda inicial. Por seu turno, considerado o réu revel, podem-se aplicar a ele os efeitos da revelia,

quais sejam a presunção “juris tantum”, em seu desfavor, de veracidade dos fatos afirmados pelo

autor na inicial e a sua não intimação dos atos processuais. Em razão da presunção ser relativa,

poderá o réu afastá-la por meio da produção de provas suficientes para tanto.

Além da presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor na demanda inicial,

ao réu revel pode ser aplicado outro efeito da revelia, qual seja o da tramitação dos atos processuais

sem a sua devida intimação. Contudo, tal efeito somente terá lugar caso o revel não tenha patrono

constituído nos autos, isto é, advogado devidamente habilitado para representá-lo na demanda. (art.

322, CPC).

O revel, constituindo advogado nos autos, receberá o processo no estado em que se

encontrar, podendo intervir nele a qualquer momento. A partir deste momento, o patrono

devidamente cadastrado nos autos passará a receber as intimações dos atos processuais. Inclusive,

caso o réu receba o processo na fase instrutória, poderá ele participar dela, tal como por meio de

indicação de assistente técnico e quesitos no caso de perícia, ou prestando depoimento em

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audiência. (Parágrafo único do artigo 322, CPC).

DAS PROVAS (artigo 332 e seguintes do CPC)

“Art. 332 do CPC - Todos os meios legais, bem como os moralmente

legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para

provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.

Art. 333. O ônus da prova incumbe:

I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;

II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo

ou extintivo do direito do autor.

Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira

diversa o ônus da prova quando:

I - recair sobre direito indisponível da parte;

II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do

direito.

Art. 334. Não dependem de prova os fatos:

I - notórios;

II - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;

III - admitidos, no processo, como incontroversos;

IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de

veracidade.

Art. 335. Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz

aplicará as regras de experiência comum subministradas pela

observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras

da experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame

pericial.

Art. 336. Salvo disposição especial em contrário, as provas

devem ser produzidas em audiência.

Parágrafo único. Quando a parte, ou a testemunha, por

enfermidade, ou por outro motivo relevante, estiver

impossibilitada de comparecer à audiência, mas não de prestar

depoimento, o juiz designará, conforme as circunstâncias, dia,

hora e lugar para inquiri-la.

Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual,

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estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência,

se assim o determinar o juiz.

Art. 338. A carta precatória e a carta rogatória suspenderão o

processo, no caso previsto na alínea b do inciso IV do art. 265

desta Lei, quando, tendo sido requeridas antes da decisão de

saneamento, a prova nelas solicitada apresentar-se

imprescindível. (Redação dada pela Lei nº 11.280 de 2006)

Parágrafo único. A carta precatória e a carta rogatória, não

devolvidas dentro do prazo ou concedidas sem efeito

suspensivo, poderão ser juntas aos autos até o julgamento

final”.

A lei processual civil brasileira admite a utilização de todo e qualquer meio de prova,

ainda que não esteja prévia e tipicamente estabelecido em lei. Trata-se, portanto, do sistema da

atipicidade dos meios de prova. Contudo, não é todo e qualquer meio de prova que pode ser

utilizado. Nesse sentido, só poderão sê-lo aqueles moralmente legítimos e não defesos em lei.

Exemplos de provas atípicas são as provas emprestadas e a própria conduta da parte no processo.

O inciso LVI do artigo 5º da Constituição Federal delimita que não são admitidas no

processo as provas que não são obtidas por meios lícitos. Por certo, eventual interpretação quanto à

ilicitude do meio pelo qual se obtém a prova sempre dependerá do caso concreto, cabendo ao

intérprete quando for instado à sua análise aplicar o princípio da proporcionalidade, ponderando

eventuais princípios que estejam em confronto. Já as provas ilegais são sempre aquelas obtidas

mediante a violação do ordenamento jurídico como um todo (material ou processual).

A prova destina-se não a provar a verdade dos fatos, mas a provar a verdade das

alegações trazidas pelas partes no intuito de convencer o magistrado de seu direito ou sua tese. Não

se provam fatos; provam-se alegações de fatos.

A prova precipuamente tem o juiz como destinatário. Mas ele não é o único. As

próprias partes são também destinatárias da prova. Nesse sentido, deve-se dizer que o destinatário

da prova é o processo como um todo. Isso porque, tanto o juiz precisa da prova para julgar o

processo, como as partes precisam dela para saber até mesmo a consistência de suas alegações, no

intuito de saber quando buscar uma composição com a parte contrária ou insistir na sua tese.

Page 32: Apostila TGP

São portanto, todos os meios legais, bem como os moralmente

legítimos, ainda que não especificados no Código de Processo Civil. São hábeis para

provar a verdade dos fatos em que se fundam a ação ou a defesa.

Tanto o Autor quanto o réu hão de invocar fatos com que procurem

justificar a pretensão de um e a resistência de outro. É exatamente do exame destes fatos

e de sua adequação ao direito objetivo que o juiz extrairá a solução para o litigio, portanto,

para que o juiz declare o direito diante do caso concreto é necessário que primeiramente

ele se certifique da verdade dos fatos, o que se dá mediante as provas.

Consequentemente, deve-se entender por prova como sendo o

instrumento processual adequado a levar ao conhecimento do juiz os fatos que envolvem

a relação jurídica objeto da atuação jurisdicional.

Em sentido “lato” prova é o meio pelo qual a inteligência chega a

descoberta da verdade . Em sentido judicial prova é a comprovação dos fatos alegados

em juízo e prova dos atos jurídicos.

Em síntese, pode-se adotar a lição de que “provar é demonstrar de

algum modo a certeza de um fato ou a veracidade de uma afirmação”. Assim, provar em

processo é provocar a convicção do magistrado.

Salutar é fazer diferença entre meio de prova e conteúdo de prova.

Por meios de prova, devemos entender as diversas modalidades pelas quais a ocorrência

dos fatos chegam ao conhecimento do juiz (documentos, testemunhas, etc...). Já

conteúdo da prova, é o resultado que o meio produz, ou seja, o conhecimento que o juiz

passa a ter dos fatos, porque lhe foram levados pelo meio.

Portanto, o meio de prova é apenas o mecanismo pelo qual se busca

levar ao conhecimento do juiz a ocorrência dos fatos. Estes, uma vez demonstrados, se

consubstanciam em conteúdo da prova.

- Atividade Probatória – destinatário/finalidade:

Sendo a prova o modo pelo qual o juiz passa a ter conhecimento dos

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fatos que envolvem a relação jurídica posta à apreciação da jurisdição, é de todo evidente

que o interesse em provar consiste no interesse de dirigir ao juiz a prova, pois a este é

que cabe dizer a solução jurídica adequada, a partir do conhecimento que tiver dos fatos.

Por isso, toda a atividade probatória deve ser direcionada ao juiz, que

é o destinatário da prova, pois é ele que deverá se convencer da verdade dos fatos para

dar solução ao litígio, isso independentemente da opinião que a parte contrária possa ter

acerca dos fatos. Portanto, a prova se destina ao juiz, tendo por finalidade conduzi-lo a

um juízo de certeza acerca da demonstração da ocorrência dos fatos que as partes

alegam com fundamento da sua pretensão.

- Objeto da Prova:

A verdade dos fatos em que se funda a ação (demanda) ou a defesa

é que devem ser provados. Portanto, são objeto de prova apenas os fatos controvertidos,

não o direito, pois que pela parêmia “Jura novit curia” (o Juiz deve conhecer o direito),

tem-se que o direito alegado não é objeto de prova, salvo quando alegado direito

municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, pois que nestes casos poderá o juiz

exigir-lhe a respectiva prova (art. 337, CPC). Por exemplo, se a parte alegar direito

municipal, a prova desse direito ocorrerá através de uma certidão emanada da Câmara

dos Vereadores, dando conta da sessão legislativa em que a lei foi aprovada e atestando

sua não revogação.

Portanto, somente os fatos controvertidos relevantes é que são objeto

de prova. Assim, compete ao juiz, fixar em audiência, os fatos a serem provados (art. 451,

CPC).

- Prova pertinente e Prova admissível:

Prova pertinente é aquele que versa sobre as alegações e fatos que

são realmente objeto da prova. Prova impertinente e, ao contrário, a que não se refira a

alegações e fatos que são matéria de demonstração. A análise da pertinência ou

impertinência de uma prova deve ser analisada na sentença e não, no momento de sua

produção, pois isso caracterizaria um verdadeiro pré-julgamento e representaria

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cerceamento de defesa.

Quando se fala em prova admissível ou inadmissível está se fazendo

referência sobre a idoneidade (lícita/ilícita) de um determinado meio de prova para

demonstrar um fato.

Há certos fatos que, embora arrolados pelas partes e relevantes para

o processo, não reclamam prova para serem tidos como demonstrados. Assim, não são

objeto de prova os fatos: confessados, admitidos pela parte contrária (ficam fora do

contraditório), fatos notórios, fatos evidentes (intuitivos), presunções legais, ficções legais

(publicidade dos registros públicos) e fatos incontroversos. Em síntese é o que vem

prescrito no artigo 334 do CPC, segundo o qual “não dependem de prova os fatos”.

Fatos que não dependem de prova:

a) incontroversos (art. 334, III, CPC) – são aqueles sobre os quais as

partes não discutem. Exemplo: quando as parte concordam com a existência dos fatos,

mas discordam quanto ao resultado que deles advém. Como cabe ao réu o ônus da

impugnação específica dos fatos articulados pelo autor (art. 302), aqueles que o réu não

impugnar (vale dizer, aceitar como verazes) não necessitam de prova (nas hipóteses de

direitos indisponíveis a falta de contestação não dispensa a parte do ônus de provar

mesmo os fatos incontroversos (art. 320), pois seria de todo inócuo exigir que seja

provado um fato sobre o qual não se discute a ocorrência.

b) notórios (Art. 334, I, CPC) – o conceito de fatos notórios não é

unânime na doutrina. Alguns afirmam que são notórios os fatos de conhecimento geral,

como as datas históricas, ou os acontecimentos notavelmente relevantes. Outros

restringem o conceito de fatos notórios à região onde o litígio se instaurou, afirmando que

são aqueles de que se tem notícia no local onde caberá o julgamento. Exemplo: em um

acidente de trânsito, pode o juiz dispensar a prova de que determinada rua é via

preferencial porque tanto ele como todos os envolvidos têm plena ciência disso, pois é a

rua principal na cidade.

c) inconcludentes – os fatos que são objeto de prova são os litigiosos,

ou seja, aqueles que não apresentam algum reflexo em relação a solução da demanda.

Por isso, não podem ser provados os fatos que não tiverem o condão de resultar alguma

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consequência jurídica relevante para o processo. Os fatos inconcludentes ou irrelevantes

são aqueles que não possuem relevância jurídica para o processo.

d) intuitivos – são aqueles que, conquanto não demonstrados no

processo, tem-se como existentes uma vez verificados certos indícios, porque é o que

ordinariamente acontece na vida. Ao juiz é dado aplicar as regras de experiência da vida,

tendo como certos aqueles fatos que a própria vida demonstra que acontecem,

independentemente de estarem provados. Por exemplo: se a parte demonstra que o

veículo estava em excesso de velocidade sobre o asfalto molhado, não é necessário

provar que o condutor não conseguiu contornar a curva, pois a lei da inércia demonstra

que, sem atrito, os corpos tendem a seguir em linha reta.

e) presumidos legalmente – são inteiramente desnecessárias e inúteis

as provas de fatos em cujo favor milita a presunção legal de existência ou veracidade. A

presunção é uma ficção jurídica que consiste, a partir de um fato conhecido em ter como

verdadeiro um fato não conhecido. Há inúmeras situações em que o sistema admite como

provado um fato independentemente de sua demonstração. Como por exemplo, um dos

efeitos da revelia que, via de regra, torna desnecessária a prova porque os fatos são

presumidos verdadeiros.

A presunção é dita RELATIVA (iures tantum) quando, apesar de sua

ocorrência, sucumbe diante de prova em contrário (ex: aquele que num acidente de

trânsito bateu por trás é considerado por presunção como sendo o culpado pelo acidente,

mas tal presunção admite prova em contrário). A presunção é dita ABSOLUTA (juris et de

jure) quando o sistema não admite prova em contrário (ex: filho nascido na constância do

casamento dos pais não precisa provar a legitimidade de sua filiação – artigo 337, CPC).

ÔNUS DA PROVA (artigo 333 do CPC)

O ônus da prova consiste na atribuição de determinada incumbência

a um sujeito no interesse desse próprio sujeito.

O ônus da prova incumbe: ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu

direito; ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito

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do autor. Toda convenção que distribui, de maneira diversa, o ônus da prova é nula

quando recair sobre direito indisponível da parte ou quando tornar excessivamente difícil a

uma parte o exercício do direito.

O descumprimento do dever implica a incidência de uma sanção, ao

passo que a inobservância do ônus apenas faz com que o onerado eventualmente perca

a chance de desfrutar de uma situação melhor.

MEIOS DE PROVA:

a) Depoimento Pessoal – consiste no interrogatório das partes pelo

juiz. A finalidade do interrogatório é de obter a confissão da parte, consistente na

admissão da veracidade dos fatos afirmados pela parte contrária (CPC arts. 348-354 e

CPP – 190, 197 à 200). Determinado de ofício ou a pedido da parte contrária, é o ato pelo

qual as partes comparecem em juízo para serem ouvidas pelo juiz. Ressalvam-se o sigilo

de certas profissões e a imputação de culpa sobre o depoente.

b) Prova Testemunhal – Consiste na apresentação de testemunhas

para serem ouvidas em juízo (no prazo de até dez dias antes da audiência), para fim de

complementação de prova anteriormente produzida, ou a ser produzida em audiência.

c) Prova documental – São todos os documentos que compõem o

corpo probatório do processo, os quais devem acompanhar a inicial ou a contestação,

podendo ser juntados aos autos após decorridos os prazos desses, somente quando se

tratar de fato novo relativo à causa (fato já existente, cuja prova foi conseguida

posteriormente). Previsto nos artigos 364-399 e 355-363 do CPC.

d) Prova pericial – São provas produzidas por meio de exame, vistoria

ou avaliação efetivada por perito técnico, que pode ser acompanhado por assistentes

nomeados pelas partes. Previsto nos artigos 420-439 do CPC. Consiste, portanto, na

realização de exames técnicos para atestar determinada situação ou estado de fato.

e) Inspeção Judicial – Ato pelo qual o juiz, de ofício ou a requerimento

da parte, pode, em qualquer fase do processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se

esclarecer fato que interesse à decisão da causa. Previsto nos artigos 440-443 do CPC.

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Consiste, portanto, na averiguação pessoal do juiz em determinado local, coisas ou

pessoas, a fim de esclarecer a questão duvidosa e de interesse ao deslinde da demanda.

f) Confissão – Admissão em juízo da verdade de um fato que

beneficia a parte em contrário. Não se aplica em direito disponível, e pode ser aplicada

pelo juiz no caso de negativa de depoimento da parte devidamente intimada para tal ato.

g) Exibição de Documento ou Coisa – Ordem judicial emanada por

juiz para que a parte exiba documento ou coisa sob sua guarda