apostila teórica de libras 2012

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Programa de Acessibilidade/ LI BRAS Escola Especial de Educação Básica da DERDIC/PUCSP Instituto Educacional São Paulo IESP 2012

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  • Programa de Acessibilidade/ LI BRAS

    Escola Especial de Educao Bsica da DERDIC/PUCSP

    Instituto Educacional So Paulo IESP 2012

  • ESCOLA ESPECIAL DE EDUCAO BSICA DA DERDIC INSTITUTO EDUCACIONAL SO PAULO IESP

    DERDIC Diviso de Educao e Reabilitao dos Distrbios da Comunicao da PUCSP Educao de Surdos e Clnica de Audio, Voz e Linguagem

    Tel/Fax: (11) 5908-7981 E-mail: [email protected] Site: www.derdic.org.br

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    Pontifcia Universidade Catlica 2012

    Gro-Chanceler Dom Odilo Pedro Scherer Arcebispo Metropolitano de So Paulo

    Reitor Dirceu de Mello

    Vice-Reitor Antonio Vico Maas

    Diviso de Reabilitao dos Distrbios da Comunicao/PUCSP Gesto 2012

    Superintendente Alfredo Tabith Junior

    Coordenadora Administrativa Maria Ceclia da Silva Santos

    Coordenadora de Clnica Lourdes Maria de Andrade Pereira

    Diretor de Ensino Jarbas Batista de Oliveira

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    Material produzido pelo Programa de Acessibilidade da

    Escola Especial de Educao Bsica da DERDIC/PUCSP

    Instituto Educacional So Paulo IESP

    Coordenadora Maria Ins da Silva Vieira

    Superviso e orientao na prtica da LIBRAS Ricardo Nakasato

    Desenhos, Filmes e Edio Daniel Choi e Cristiano Koyama

    Professores Cr ist iano Koyama, Daniel Choi, J uscelino Buar que Onof r e, Priscilla Gaspar , Rober t o Leonar di, Sandr o dos Sant os Per eir a, Wagner Rober t o Ser af im, Gustavo Fontes, Fbio de S e Silva.

    Secretaria Escolar / Programa de Acessibilidade Maria Neide Furlan Fabio Wenzel

    Est e mat er ial f oi pr oduzido com

    f ins didt icos, sendo pr oibida a

    sua r epr oduo par cial ou

    completa.

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    Quando eu aceito a lngua de outra pessoa, eu aceito a pessoa....

    Quando eu rejeito a lngua, eu rejeito a pessoa porque a lngua parte de ns mesmos...

    Quando eu aceito a Lngua de Sinais, eu aceito o surdo, e

    importante ter sempre em mente que o surdo tem o direito de ser

    surdo.

    Ns no devemos mud-los..., temos que permitir-lhes ser surdo.

    Terje Basilier (Psiquiatra surdo noruegus)

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    SUMRIO Introduo ................................................................................................ 6 Histrico da Instituio ........................................................................... 9 Captulo I - O que surdez ..................................................................... 18 Grau de intensidade das perdas auditivas ................................................ 19 Causas da surdez ..................................................................................... 20 Concepes de surdez e de sujeito surdo ................................................ 22

    Captulo II A educao do surdo atravs do tempo ......................... 25 Retrospectiva Histrica da Educao do Surdo no Mundo....................... 26 Primeiro Perodo At 1760 .................................................................... 29 Segundo Perodo: 1760 at 1880 ............................................................ 40 Terceiro Perodo depois de 1880 .......................................................... 56 Educao de Surdos no Brasil ................................................................. 59 Outros acontecimentos marcantes ........................................................... 62

    Captulo III - Abordagens usadas para o desenvolvimento de linguagem em crianas surdas ...................................................................................... 64 1 - Abordagens Orais: .............................................................................. 64

    Unissensorial .............................................................................. 64 Multissensorial ............................................................................ 67

    2 Comunicao Total ............................................................................. 69 3 Bilingismo .......................................................................................... 74

    Captulo IV A Lngua de Sinais na Educao de Surdos ................. 80 Educao Bilnge para surdos ................................................................ 80 Aspectos lingsticos da Lngua Brasileira de Sinais: .............................. 82 Formao de sinais .................................................................................. 84 Criao de sinais ..................................................................................... 86 Flexes na Lngua Brasileira de Sinais .................................................... 87 Categorias gramaticais ............................................................................ 89 Verbos ...................................................................................................... 89

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    Adjetivos .................................................................................................. 89 Pronomes ................................................................................................ 89 Classificadores ........................................................................................ 90 Ordem dos sinais nas estruturas frasais .................................................. 90 Narrativas na Lngua Brasileira de Sinais ............................................... 91

    Captulo V - Cultura surda ................................................................... 93 Literatura Surda ....................................................................................... 99

    Captulo VI Documentos legais sobre os direitos dos surdas........ 104

    Referncia Bibliogrfica ........................................................................ 113

    Introduo

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    Entrar para o mundo do surdo, da surdez e por conseqncia na Lngua de Sinais, traz consigo algumas responsabilidades. Em meus quase trinta anos na rea da surdez tive a oportunidade e o privilgio de aprender muito a respeito, principalmente com o prprio surdo e com pessoas importantes que fizeram parte da minha histria.

    Entender que o surdo, pelo fato de ter acesso ao mundo por meio da viso e no por meio da audio, pertence a uma comunidade minoritria, com direito lngua visual espacial e cultura prprias, nos impulsiona a lutar pela garantia deste direito. Compreender que a Lngua Brasileira de Sinais a primeira lngua das comunidades surdas ou, segundo Strobel (2008), do povo surdo brasileiro, implica assumir que sua comunicao, acesso ao mundo da informao, do conhecimento e dos servios disponveis na sociedade majoritria, dever ocorrer por meio dela e que a Lngua Portuguesa em sua modalidade escrita deve ser encarada como sua segunda lngua.

    Questes como as citadas, acrescidas da vontade de compartilhar os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos, motivaram a elaborao deste material didtico que rene artigos que possibilitam uma viso geral que considero importante para os alunos de LIBRAS.

    O leitor ter a possibilidade de, primeiramente, conhecer um pouco da histria do IESP/DERDIC/PUCSP e no captulo I o aspecto orgnico da surdez, as concepes de surdez e de sujeito surdo.

    No captulo II, o leitor far uma viagem pela histria da educao de surdos no mundo atravs do tempo, bem como no Brasil, tomando conhecimento de alguns acontecimentos importantes para a histria da comunidade surda. Nessa viagem, o leitor ter oportunidade de entrar em contato com as concepes que direcionaram as escolhas de abordagens usadas na educao do surdo e o quanto algumas comprometeram a possibilidade do pleno desenvolvimento da potencialidade mxima do surdo.

    A histria, entre outras razes, nos mostra os erros e acertos da humanidade e nos d a oportunidade de aprender com experincias anteriores

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    para que possamos atuar de forma a modificar o presente para vislumbrar um futuro melhor.

    As abordagens usadas para o desenvolvimento de linguagem de crianas surdas so o tema do captulo III.

    O captulo IV oportunizar ao leitor conhecimentos a respeito dos aspectos lingsticos da Lngua de Sinais Brasileira, formao e criao dos sinais, flexes, a marcao do tempo, as categorias gramaticais, a estrutura frasal e as narrativas em LIBRAS.

    Alguns autores no Brasil ainda desconsideram o fato das comunidades surdas compartilharem de uma cultura prpria, advinda do fato de terem acesso ao mundo por meio da viso e no por meio da audio. O surdo pertence cultura brasileira, cultura regional determinada pela regio onde vive e cultura surda que determinar especificidades relacionadas forma de estar no mundo. Tanto este captulo V como o anterior, fazem parte de material publicado pela Secretaria Municipal e Diretoria de Orientaes Tcnicas em Educao Especial de So Paulo, cuja autoria de profissionais surdos e ouvintes da DERDIC/PUCSP. Finalizando a parte terica, temos o captulo VI que traz documentos legais sobre os direitos dos surdos e que podem contribuir para esclarecer e orientar os surdos e pais de crianas surdas em seus direitos.

    A parte prtica compe o anexo 1 do qual fazem parte os desenhos de sinais da Lngua de Sinais Brasileira, de autoria Daniel Choi, sob orientao do Professor Ricardo Nakasato, que coordena a parte prtica dos treinamentos de LIBRAS na DERDIC/PUCSP. Alm disso o DVD completa o material.

    Espero que o material atinja seu principal objetivo que compartilhar com a sociedade conhecimentos especficos da rea da surdez e do sujeito surdo, no

    s do ponto de vista do ouvinte mas do prprio surdo, por meio da participao dos professores surdos do IESP/DERDIC/PUCSP, que so peas chaves no

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    trabalho desenvolvido na instituio e na elaborao deste material. Neste sentido esperamos abrir as portas do leitor para o mundo do surdo, da Lngua de Sinais e assim, colaborar para sua acessibilidade.

    Maria Ins da Silva Vieira

    Coordenadora do Programa de Acessibilidade

    DERDIC/PUCSP

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    Histrico da Instituio: Diviso de Educao e Reabilitao dos Distrbios da Comunicao

    da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

    Misso Educar surdos, prestar atendimento e tratamento a pessoas com

    alteraes de audio, voz e linguagem, formar profissionais e realizar pesquisas para que todos os envolvidos nas atividades institucionais possam assumir o papel de agentes transformadores no processo de participao na sociedade.

    Valores Institucionais

    Respeito e valorizao singularidade e diversidade Coragem Ao Educativa Notoriedade profissional Bem estar Transparncia Compromisso Fidelidade misso Coerncia

    Histrico

    Em 1954, pais e amigos de algumas crianas com deficincia auditiva, preocupados com o seu desenvolvimento educacional, fundam o Instituto Educacional So Paulo (IESP). Em 8 anos de existncia, a escola, que inicialmente educava 5 alunos, registra quase 150 alunos matriculados. No ano de 1962, torna-se a primeira escola de surdos brasileira a oferecer o curso ginasial.

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    O IESP mantm-se como uma organizao independente at 1969, quando doado Fundao So Paulo e incorporado Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo.

    A PUC-SP, por meio de seus profissionais e de seus centros de formao e pesquisa, promove a ampliao do atendimento utilizando parte das dependncias do IESP para oferecer tratamento clnico a pessoas com alteraes de audio, voz e linguagem. A organizao passa, ento, a se chamar CERDIC, Centro de Educao e Reabilitao dos Distrbios da Comunicao.

    Nos primrdios do CERDIC, o Professor Dr. Mauro Spinelli, diretor geral da instituio, convida profissionais de renomada competncia nas reas de medicina, fonoaudiologia, psicologia, pedagogia e lingstica para compor a sua equipe. O trabalho realizado caracteriza-se como um atendimento multidisciplinar, algo bastante inovador para a poca.

    Entre os anos de 1969 e 1972, o CERDIC inicia a realizao de pesquisas sobre as alteraes de audio, voz e linguagem, campo em que foi pioneiro no Brasil. Um dos principais frutos desse trabalho foi a construo da primeira avaliao formal da linguagem com o objetivo de entender os seus distrbios. Este roteiro de avaliao foi utilizado durante muitos anos por fonoaudilogos de todo o pas.

    Em 1972, j com o nome de Derdic - Diviso de Educao e Reabilitao dos Distrbios da Comunicao, a organizao assume um compromisso com a formao de profissionais e inicia o desenvolvimento de atividades prticas supervisionadas voltadas ao curso de fonoaudiologia da PUC-SP, antes realizadas por meio de parcerias com a Santa Casa, a Escola Paulista de Medicina (atual UNIFESP Universidade Federal de So Paulo) e outras clnicas especializadas. Dois anos depois, alunos da habilitao de Educao para Deficientes da udio-Comunicao, do curso de Pedagogia da PUC-SP, passam tambm a estagiar na instituio.

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    Nos anos seguintes, a Derdic define e concentra os seus esforos na consolidao dos trs eixos de ao que permeiam o seu trabalho na rea da audio, voz e linguagem: atendimento clnico, formao educacional e pesquisa.

    H 15 anos, a instituio passou tambm a promover cursos de formao terico-prticos, destinados a mdicos, fonoaudilogos, psiclogos e educadores interessados em ampliar os seus conhecimentos no atendimento a pessoas com alteraes de audio, voz e linguagem. A partir da, cursos de aprimoramento, estgios, visitas monitoradas, grupos de estudos e assessorias foram se integrando a este programa de formao.

    Hoje, a Derdic, Unidade Suplementar da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, subordinada Fundao So Paulo e vinculada academicamente Faculdade de Cincias Humanas e Sade, compreende a Escola Especial de Educao Bsica IESP, a Clnica de Audio, Voz e Linguagem Professor Doutor Mauro Spinelli e o Centro Audio na Criana CeAC. Seus 115 profissionais, com o apoio de 80 voluntrios, atuam com o objetivo de oferecer formao educacional e atendimento clnico de excelncia a uma clientela majoritariamente desfavorecida do ponto de vista econmico, alm de produzir pesquisa com padro internacional e prestar assessoria a organizaes afins.

    A Derdic atende uma mdia anual de 850 alunos, sendo 165 crianas, jovens e adultos surdos em seus programas de educao regular (Educao Infantil, Ensino Fundamental e Educao de Jovens e Adultos), 300 jovens surdos nos campos da orientao e qualificao profissional, 250 alunos ouvintes em cursos de Lngua Brasileira de Sinais, alm de 135 alunos em cursos de formao e de aprimoramento nas reas de audio, voz e linguagem. A Clnica responsvel tambm por um total anual de 40 mil procedimentos voltados a 7.000 mil pacientes. Entre outras importantes realizaes, a Clnica concede, por meio de convnio com o SUS, 1.500 aparelhos auditivos a 900 pacientes por ano.

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    Essas atividades fazem da Derdic um centro de referncia em seus campos de atuao.

    Atividades Institucionais

    Escola Especial de Educao Bsica Lanando mo de estratgias que colaboram para a incluso social e o

    exerccio da cidadania, a Escola Especial de Educao Bsica da Derdic tem suas aes voltadas educao, acessibilidade e qualificao profissional de pessoas surdas.

    Para a realizao de suas atividades educacionais, a escola respeita a cultura da comunidade surda, compromete-se com a populao economicamente desfavorecida e prioriza o uso da Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e da modalidade escrita da Lngua Portuguesa.

    A Escola apresenta uma estrutura de funcionamento voltada educao de surdos e prestao de servios na rea da educao, acessibilidade e empregabilidade da comunidade surda. Para isso, utiliza estratgias que contribuem para as transformaes sociais necessrias ao processo de incluso e permitem ao surdo a conquista de sua cidadania.

    Em todos os atendimentos realizados, a Escola adota a Lngua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e a Lngua Portuguesa, respeitando a cultura das pessoas surdas e elegendo como prioridade a construo de espaos educativos onde aspectos desta cultura sejam trabalhados com os alunos e suas famlias. O trabalho desenvolvido pelos 49 profissionais da Escola contribui de forma significativa para a melhora das condies de vida dos alunos, oriundos em sua maioria das camadas sociais de menor poder aquisitivo.

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    A atuao da Escola se d por meio do ensino bsico formal (Educao Infantil, Ensino Fundamental 1 ao 9 ano - e Educao de Jovens e Adultos) e dos programas educacionais complementares (Programa de Orientao e Colocao Profissional, Programa de Acessibilidade em Lngua Brasileira de Sinais e Programa de Apoio Ao Educativa).

    O curso de educao bsica da Derdic segue as diretrizes legais de organizao curricular e atende as exigncias dos rgos competentes subordinados Secretaria Estadual de Educao do Estado de So Paulo.

    Os programas de educao complementar compreendem projetos que objetivam atender aspectos especficos detectados como prioritrios para os surdos. Sua organizao, implantao e adequao buscam responder s demandas da sociedade. Na maioria das vezes, so ligados a convnios ou contratos com rgos pblicos ou organizaes da iniciativa privada.

    Um total de 165 alunos surdos so atendidos anualmente nos cursos de educao bsica. Os Programas Educacionais Complementares, por sua vez, atingem 1.200 pessoas por ano.

    A Escola tambm contribui para a formao de educadores e para a realizao de pesquisas.

    Clnica de Audio, Voz e Linguagem Prof. Dr. Mauro Spinelli A equipe da Clnica, composta por fonoaudilogos, psiclogos, mdicos,

    linguistas e assistentes sociais, oferece atendimento multidisciplinar a pessoas com alteraes de audio, voz e linguagem, atua na formao de profissionais, assessora outras organizaes da rea de sade, organiza eventos cientficos e realiza pesquisas e publicaes de padro internacional.

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    O intercmbio entre profissionais de diferentes campos do conhecimento um diferencial da Clnica, sendo fundamental tanto para o diagnstico e o direcionamento do tratamento dos pacientes como para a formao de profissionais e para as demais atividades desenvolvidas.

    A Clnica compreende os seguintes setores: O Setor de Fonoaudiologia compreende os servios de audiologia clnica,

    audiologia educacional, acolhimento me-beb, patologia da linguagem, surdez e voz.

    Este setor atua nas diversas possibilidades do fazer fonoaudiolgico, que se inicia pelo diagnstico e prossegue por meio de atendimento teraputico e preveno. O atendimento destina-se a uma grande diversidade de pacientes: crianas com perda auditiva; crianas que ouvem e demoram a falar, gaguejam ou apresentam problemas de leitura e escrita; bebs e suas mes, alm de adultos com alteraes de audio ou linguagem.

    O Setor Mdico atende nas reas de otorrinolaringologia, neurologia, neuropediatria e foniatria, buscando trazer dados de seus saberes especficos para auxiliar no entendimento de cada caso atendido e dos caminhos a serem seguidos pelos profissionais de fonoaudiologia e psicologia.

    Setor de Psicologia: a prtica interdisciplinar demonstra a articulao entre diversas alteraes da audio, voz e linguagem e questes psquicas ligadas aos pacientes atendidos e/ou seus pais e familiares. Dessa forma, o setor de psicologia atua como apoio e alavanca ao melhor entendimento dos casos e das escolhas a serem feitas ao longo do processo de tratamento.

    Servio Social: o pano de fundo social de nosso pas, com amplos segmentos sociais excludos de bens econmicos, culturais e educacionais disposio de outros segmentos, leva uma parcela da populao a no encontrar os recursos necessrios com facilidade. Dessa maneira, o servio social da Derdic

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    atua no apoio ao entendimento da realidade social de cada famlia que procura a Clnica, de forma a favorecer aes de cidadania e transformao social dos atendidos, bem como auxiliar na busca de equipamentos sociais mais adequados s necessidades dos pacientes.

    A contribuio para a formao de futuros profissionais se d, principalmente, pelos estgios optativos oferecidos aos alunos de graduao nas reas de fonoaudiologia, psicologia e servio social.

    Em relao a profissionais formados, a Clnica oferece 7 cursos de aprimoramento destinados a profissionais das reas da Fonoaudiologia, da Psicologia e da Medicina, nos quais busca-se aprofundar saberes especficos a partir da necessria inter-relao entre o atendimento clnico prtico interdisciplinar e a teoria.

    A prtica interdisciplinar no atendimento e na formao de profissionais se traduz na escrita e apresentao de monografias, publicao de artigos cientficos em revistas direcionadas tanto ao pblico leigo, quanto ao acadmico.

    Outra forma de divulgao da produo institucional se traduz na realizao de eventos cientficos de diferentes formatos, como jornadas, fruns, simpsios, colquios e grupos de discusso, que abordam temas de importncia para as reas em questo.

    A ao diversificada e multidisciplinar, bem como a qualidade da formao de seus profissionais, permite Clnica o desenvolvimento de projetos de assessoria a outras instituies na rea da sade e educao, voltados s necessidades especficas de cada uma.

    Centro Audio na Criana - CeAC O Centro Audio na Criana conta com equipamentos especializados

    para avaliar a audio de bebs e crianas pequenas at os trs anos de idade,

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    instalados em salas tratadas acusticamente. Conta tambm com salas destinadas terapia fonoaudiolgica e equipamentos para o processo de adaptao de aparelho de amplificao sonora individual e o trabalho teraputico fonoaudiolgico visando desenvolvimento de linguagem oral. H tambm um espao para servio de apoio e orientao s famlias, realizado por assistentes sociais e psiclogas.

    A dinmica do funcionamento concretizada a partir da integrao de programas de triagem auditiva neonatal, monitoramento de bebs com risco para alteraes auditivas, diagnstico audiolgico e interveno fonoaudiolgica.

    As recomendaes do Ministrio da Sade, particularmente no que se refere a crianas do nascimento aos trs anos de idade, prevem a integrao de procedimentos de diagnstico, adaptao de aparelhos de amplificao sonora individual e interveno precoces, visando dar criana oportunidades de desenvolvimento de linguagem e, conseqentemente, melhores condies de desempenho acadmico e incluso social. Este aspecto torna-se ainda mais relevante, dada a regulamentao da obrigatoriedade de programas de triagem auditiva neonatal em diversas regies do Brasil, e, conseqentemente, um maior nmero de bebs diagnosticados com perda auditiva.

    O CeAC oferece vrias modalidades de exames mdicos (otorrinolaringolgico e neurolgico) e audiolgicos (Potencial Evocado do Tronco Enceflico, Potencial de Estado Estvel, Emisses Otoacsticas evocadas e produto de distoro, Audiometria de Reforo Visual e Imitanciometria). O Programa de interveno precoce inclui seleo e adaptao de aparelhos de amplificao sonora, sempre acompanhado da terapia fonoaudiolgica para bebs e crianas de at trs anos de idade.

    A equipe de profissionais que trabalham do CeAC composta por fonoaudilogos e mdicos (docentes e discentes que fazem parte do Programa de

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    Ps - Graduao em Fonoaudiologia, DERDIC e Faculdade de Fonoaudiologia) vinculados ao Grupo de Pesquisa Audio na Criana PUCSP CNPq.

    Os programas de atendimento realizados no CeAC seguem a seguinte organizao: - Programa de triagem auditiva neonatal realizado em bebs recm nascidos para identificao de possveis perdas auditivas, com o objetivo da identificao e interveno precoce. A triagem auditiva realizada na prpria maternidade em at 48 horas aps o nascimento ou no CeAC, a partir do encaminhamento do mdico neonatologista. - Programa de monitoramento audiolgico as crianas de alto risco para deficincia auditiva realizam uma avaliao audiolgica no CeAC at os trs anos de idade segundo as recomendaes nacionais e internacionais com o objetivo de identificao de possveis perdas auditivas progressivas ou de aquisio tardia. - Programa de diagnstico audiolgico todas as crianas com suspeita de perda auditiva realizam o diagnstico completo a partir de exames mdicos e audiolgicos altamente especializados, com a possibilidade de confirmao do diagnstico desde o primeiro ms de vida. - Programa de seleo e adaptao de aparelho de amplificao sonora todas as crianas com o diagnstico de perda auditiva iniciam imediatamente o processo de interveno fonoaudiolgica, que inclui a seleo e adaptao de dispositivos eletrnicos que permitem o aproveitamento da audio residual e terapia fonoaudiolgica para o desenvolvimento da linguagem. As famlias so atendidas com suas crianas por profissionais fonoaudilogos, assistentes sociais e psiclogos, quando necessrio. - Programa de terapia fonoaudiolgica as crianas deficientes auditivas realizam atendimento fonoaudiolgico duas vezes por semana no CeAC para o desenvolvimento de suas habilidades auditivas e de linguagem. - Programa de acompanhamento audiolgico as crianas deficientes auditivas usurias de aparelhos de amplificao sonora ou implante coclear fazem acompanhamento audiolgico e de linguagem no CeAC para possveis ajuste e orientaes famlia e fonoaudiloga.

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    Captulo I O que surdez

    Surdez a reduo da capacidade para ouvir sons, que ocorre em diferentes graus de intensidade, devido a fatores que afetam a Orelha externa, mdia e/ou interna.

    A Orelha Externa (OE) constituda por: Pavilho auricular, conduto auditivo externo e membrana timpnica. A Orelha Externa (O.E.) tem a funo de captar as ondas sonoras que

    entram pelo Conduto Auditivo Externo e lev-la at a Membrana Timpnica, provocando vibrao da mesma.

    Na Orelha Mdia (O.M.), os trs ossculos martelo, bigorna e estribo, que so os menores ossos do corpo humano, recebem a vibrao da Membrana Timpnica e a transmite para a Orelha Interna (O.I.)

    A Orelha Interna (O.I.) formada pela cclea vestibular e canais semi-circulares. A vibrao transmitida pelos ossculos mobiliza um lquido localizado no interior da cclea e assim estimula as clulas ciliadas. Estas, por sua vez, transformam estes movimentos em atividade neuroeltrica que levada at o crebro, onde os sons so decodificados e interpretados.

    O vestibulo e os canais semicirculares so parcialmente responsveis pelo nosso equilbrio.

    ESTIMATIVA DO IBGE/2000 QUANTO AO NMERO DE PESSOAS SURDAS

    57 milhes de surdos no mundo

    2,25 milhes de surdos no Brasil

    480 mil surdos no Estado de SP

    150 mil surdos na cidade de SP

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    OBS.: Levantamento recente da Prefeitura de So Paulo calcula um total de 247 mil surdos.

    Nos pases desenvolvidos h uma proporo de 1 (uma) criana surda a cada 1.000 nascimentos, em pases em desenvolvimento, esta proporo de 4 crianas para 1.000 nascimentos. Alm disso, observamos que:

    Pases desenvolvidos:

    60% de causas genticas

    40% de causas ambientais

    Pases em desenvolvimento:

    20% de causas genticas

    80% de causas ambientais

    GRAU DE INTENSIDADE DAS PERDAS AUDITIVAS (Davis e Silvermann-1970)

    Normal: 0 a 25dB

    Perda Leve: 26 a 40dB

    escuta qualquer som desde que esteja um pouco mais alto.

    Perda Moderada: 41 a 70dB

    fala muito hein?, dificuldade no telefone, troca fontica. Precisa de apoio visual. H prejuzo na aquisio de linguagem e fala, necessitando de amplificao sonora.

    Perda Severa: 71 a 90dB

    no escuta sons importantes do dia-a-dia: fala, campainha, telefone e TV. Escuta apenas sons fortes. Grande prejuzo na aquisio de linguagem,

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    necessitando de amplificao sonora, treinamento e educao bilinge (Lngua de Sinais/Lngua Portuguesa)

    Perda Profunda: 91 em diante

    escuta apenas os sons graves que transmitem vibrao (avio, helicptero, trovo).

    0 a 130 dB Decibis - Intensidade (de sons fracos a sons fortes) 125 a 8000 Hz Freqncia (de sons graves agudos) Entre 40 e 60 dB, nas freqncias entre 250 a 4000 Hz, esto todos os sons da lngua, em conversaes naturais.

    CAUSAS DA SURDEZ

    Os fatores que podem causar a perda de audio ocorrem no perodo pr-natal, peri-natal ou ps-natal.

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    - Pr-natais:

    a) Origem Hereditria:

    1 no sindrmica somente surdez - 70% dos casos:

    transmisso autossmica recessiva maior parte dos casos, em geral, pr-lingual;

    transmisso autossmica dominante inicia tardiamente e, em geral, progressiva;

    transmisso relacionada ao cromossoma X;

    transmisso materna mitocondrial.

    2 Sindrmica quando vem associada a outras malformaes - 30% dos casos.

    Aproximadamente 400 sndromes so associadas Deficincia Auditiva

    b) Origem ambiental:

    Infeco materna durante a gestao:

    Rubola gestacional

    Citomegalovirus

    Toxoplasmose

    Herpes

    Sfilis

    Uso de drogas ototxicas

    Alcoolismo materno

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    - Peri-natais :

    Kernicterus (Ictercia do recm-nascido)

    Parto Traumtico: demorado ou frcipe

    Prematuridade: peso abaixo de 1.500 g

    Anxia/Hipxia/ ventilao mecnica por 24hs

    - Ps-natais

    Infeces: meningite e caxumba (causa mais comum da surdez adquirida unilateral)

    Uso de Ototxico

    PAIR perda auditiva induzida por rudo

    - CONCEPES DE SURDEZ E DE SUJEITO SURDO

    A perda de audio pode ocorrer no perodo pr-lingstico, at 2 anos de idade (antes de adquirir linguagem), ou ps-lingstico, aps 2 anos de idade (aps ter adquirido linguagem).

    A pessoa, que perde parte da audio aps ter adquirido linguagem por meio da via auditiva, pode manter a capacidade de se expressar oralmente e se comunicar com as pessoas, desde que seja em ambiente calmo, onde uma pessoa fale de cada vez, fique de frente para possibilitar a leitura dos lbios e que receba treinamento por meio de atendimento fonoaudiolgico. Na concepo da comunidade surda, este pode ser considerado um deficiente auditivo, uma vez que teve acesso cultura e lngua da sociedade ouvinte e pode continuar circulando no mundo dos ouvintes. Consideram, tambm, deficiente auditivo, aquele que tem uso da audio dificultada parcialmente. De uma forma geral, segundo Perlin (2000), esse grupo no se enquadra na cultura surda, visto que

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    possuem um problema que pode ser superado pelo aumento de volume de som e/ou aparelhos de amplificao sonora.

    Os termos "surdo" e "surdez" so preferidos pela comunidade surda, que no deseja que seus membros sejam chamados deficientes auditivos ou se refiram surdez como "deficincia auditiva".

    Em sua maioria, as pessoas que fazem uso dos termos deficiente e deficincia, em sua maioria, acreditam que a surdez uma doena que deve ser tratada, eliminada por meio de treinamentos auditivos e de fala, uso de aparelhos de amplificao sonora e implante coclear (Skliar, 2004).

    A pessoa que nasce surda ou que perde a audio antes de adquirir linguagem, principalmente quando em grau severo ou profundo, na maioria dos casos, ter impossibilidade de adquirir linguagem oral de maneira espontnea por meio da via auditiva.

    O uso do termo surdo ou deficiente auditivo aponta, tambm, segundo Skliar (2004), para uma diferena de concepo da surdez:

    1. Concepo clnico patolgica / clnico teraputica que concebe a surdez como uma deficincia a ser curada atravs de recursos como: treinamento de fala e audio, adaptao precoce de aparelhos de amplificao sonora individuais, intervenes cirrgicas como o Implante Coclear. Nesse sentido o encaminhamento trabalho fonoaudiolgico e escola comum, com o objetivo de integrar a pessoa surda no mundo dos ouvintes, buscando a sua normalizaao

    2. Concepo scio antropolgica que concebe a surdez como uma diferena a ser respeitada e no eliminada. O respeito surdez significa considerar a pessoa surda como pertencente a uma comunidade minoritria com direito lngua e cultura prprias. A lngua da comunidade surda a Lngua

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    Brasileira de Sinais LIBRAS e sua cultura est diretamente ligada ao fato de os surdos terem acesso ao mundo por meio da viso e no por meio da audio.

    O surdo quer ser visto como um sujeito que pertence a uma comunidade minoritria que merece respeito quanto sua diferena lingstica causada pelo seu dficit auditivo. Para a comunidade surda, a Lngua de Sinais sua primeira lngua e a Lngua Portuguesa, na modalidade escrita, encarada como uma segunda lngua e deve ser ensinada com tcnicas de aprendizagem de segunda lngua. A lngua portuguesa na modalidade oral dever ser trabalhada fora do horrio escolar por uma fonoaudiloga. Esta a proposta do Bilingismo, uma abordagem de exposio lngua e no um mtodo de educao, que considera o surdo uma pessoa bilnge, tendo como primeira lngua a Lngua de Sinais de modalidade visual-espacial e a segunda lngua, a lngua da comunidade majoritria, de preferncia na modalidade escrita.

    Mais de 100 anos de oralizao do surdo, no espao escolar, trouxeram conseqncias para sua aquisio de linguagem, de conhecimento, de informao e acesso ao mundo.

    Vejamos uma retrospectiva histrica da educao de surdos.

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    Captulo II

    A educao do surdo atravs do tempo 1

    Educao parte integrante da vida do homem e da sociedade e, se for interpretada como influncia espontnea e no intencional, pode-se dizer que existe desde quando h seres humanos na terra.

    A educao tem variado conforme as necessidades e aspiraes de cada povo e cada poca. A sociedade a que a educao se refere no algo esttico, definitivamente constitudo, mas em continuada mudana e desenvolvimento. Nesse sentido, a educao tem a sua histria que a histria da mudana e do desenvolvimento que a mesma tem experimentado ao longo do tempo, dos diversos povos e pocas.

    A educao componente da cultura, da cincia, da arte e da literatura; sem ela no seria possvel a aquisio, transmisso e sobrevivncia da cultura (Luzuriaga, 1981).

    A histria da educao estuda o passado para compreender o presente das instituies, dos mtodos, das concepes e tambm para antever o futuro. Fornece elementos para evitarmos o risco de nos fecharmos em horizontes estritamente limitados (Debesse et al., 1971).

    A histria da educao do surdo no foge a esta norma, alis, parte da educao, apesar de poucos livros fazerem referncia a ela. Assim como ocorre com a educao geral, tambm na histria do surdo observam-se diferentes tendncias, marcadas no s pelos movimentos polticos, sociais, econmicos, como tambm, cientficos e tecnolgicos.

    Assim, refletir sobre a educao do sujeito surdo exige, entre outros aspectos, uma compreenso de sua histria.

    1 Este captulo faz parte da dissertao de mestrado de Vieira, M.I.S. (2000), cujos dados se encontram nas referncias bibliogrficas

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    Como veremos a seguir, ao longo do tempo, seja pelo prisma de misticismo da educao egpcia, pela filosofia grega, pela piedade crist, pela necessidade de preservao e perpetuao da nobreza, do poder, pelo desejo de unificao da lngua ptria, pelos avanos da medicina, da cincia, da tecnologia ou pelos interesses polticos, nos deparamos com diferentes concepes de surdez e de sujeito surdo que permearam a escolha de diferentes abordagens na educao do surdo.

    Retrospectiva Histrica da Educao do Surdo no Mundo

    No Egito antigo os surdos eram considerados pessoas especialmente escolhidas. Seu silncio e seu comportamento peculiar conferiam-lhes um ar de misticismo (Eriksson, 1998).

    Devido filosofia humanitria predominante na poca, permitia-se que os mesmos vivessem e fossem educados. Segundo Eriksson (1998), pesquisador surdo, sueco, possvel que os hierglifos, que guardam certa semelhana com a linguagem gestual, fossem usados para ensinar os surdos.

    J na Grcia antiga, pelo fato das sociedades estarem constantemente em guerra, ou envolvidas em conflitos armados, a bravura era considerada caracterstica essencial. Alm disso, o gosto esttico dos gregos fazia com que a feira ou desvio fossem vistos com desprezo. Assim, todos os indivduos que fossem, de algum forma, um peso para a sociedade, eram exterminados.

    Os filsofos gregos acreditavam que o pensamento s poderia ser concebido por meio das palavras articuladas. Por ter declarado o ouvido como o rgo de instruo e ter considerado a audio o canal mais importante para inteligncia, Aristteles foi acusado de manter o surdo na ignorncia por dois mil anos (Deland, apud Moores, 1996). Por no ouvirem, os surdos eram considerados desprovidos de razo, o que tornava sua educao uma tarefa impossvel.

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    Nessa mesma poca, Galeno, mdico grego, apresentou a teoria de que a fala e a audio tinham a mesma origem no crebro. Desta maneira, se uma dessas funes estivesse prejudicada, a outra tambm estaria afetada. Conseqentemente, quem no ouvisse, nunca aprenderia a falar.

    Tambm entre os romanos, a vida dos surdos era extremamente difcil. Como conta a histria (cf. Eriksson, op. cit.), era conferido ao cabea da famlia, poder irrestrito sobre a vida de seus filhos. Assim, era comum que crianas com algum defeito fossem afogadas no rio Tibre.

    Ainda segundo Eriksson (op. cit.), Rmulo, fundador e o primeiro monarca de Roma, restringiu o poder dos patriarcas das famlias e, assim, durante os sculos que precederam o nascimento de Cristo, cada vez mais pessoas surdas puderam viver e conquistaram alguns direitos.

    O cdigo de Justiniano, formulado no reinado do imperador Justiniano, no sculo VI, e que forneceu a base para a maioria dos sistemas legais na Europa moderna, identificava cinco condies de surdez (Peet, apud Moores, 1996).

    Mantendo a distino entre surdo e mudo, uma vez que os dois problemas no esto sempre combinados, o cdigo ordenava que:

    1. Se uma pessoa acometida por ambas as doenas, isto , se, por causas naturais, no pode ouvir e nem falar, ela no poder fazer testamento e nem receber herana e nem lhe ser concedida liberdade por alforria ou por qualquer outra forma. Este decreto vale para homens e mulheres;

    2. mas, seja no homem ou na mulher, se por acidente e no no nascimento a voz ou a audio foram perdidas aps o nascimento, no caso da pessoa j ter recebido uma educao, ser permitido que realize tudo o que no caso anterior foi proibido;

    3. mas, no caso deste infortnio, o que raramente ocorre, permitido ao homem que s surdo devido a causas naturais fazer testamento ou gozar de liberdade

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    pois onde a natureza conferiu uma voz articulada no h nada que o impea de fazer o que deseja, j que um estudo cuidadoso declarar que no se trata de algum incapaz de ouvir se lhe falam atrs da cabea;

    4. aqueles que perderam sua audio por doena podem fazer tudo sem impedimento;

    5. supondo, entretanto, que os ouvidos esto perfeitos, mas ainda que haja voz a lngua esteja cortada e ainda supondo que tal pessoa seja bem educada, no h nada que a impea de fazer qualquer coisa, se o infortnio tiver sido congnito, ou resultado de doena, sem distino entre homens e mulheres (Peet, apud Moores, op. cit., p. 34-35).

    Com o advento do Cristianismo, preponderou uma atitude mais caridosa entre as pessoas. Assim, os surdos eram cuidados e alimentados de acordo com os ensinamentos de Cristo. No entanto, a sua situao espiritual continuou to negra quanto antes, e permaneceu assim por sculos, devido, principalmente ao fato de Santo Agostinho (354-430), o patriarca da igreja catlica, conceber o ouvido como a porta da salvao. Segundo Agostinho, a surdez tornava difcil o recebimento da palavra, do sermo, devido dificuldade dos surdos compreenderem as palavras faladas (Eriksson, 1998; Moores, 1996).

    Como ressalta Eriksson em sua pesquisa, a surdez no era vista como obstculo intransponvel para a salvao, mas sim o fato de que as palavras faladas no podiam atingir o surdo. Ainda, segundo o mesmo autor (Eriksson, op. cit.), Santo Agostinho concebia os gestos e os sinais como palavras visveis, que ele chamava de verba visibila, e admitia o seu uso no ensinamento da palavra de Cristo para aqueles que no podiam ouvir. Assim, conclui Eriksson (op. cit.), Santo Agostinho percebeu h 1550 anos que era possvel aos surdos terem acesso aos ensinamentos de Cristo atravs da visualizao das palavras.

    Segundo consta no livro History of the English Church and People, escrita por um monge ingls que viveu entre os anos de 672 e 735 (apud Eriksson,

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    1998), o primeiro professor de surdos de que se tem notcia foi So Joo de Beverly, arcebispo de York, na Inglaterra, nos anos 700. Ele rejeitou a teoria de Aristteles de que os surdos eram ineducveis e ensinou um rapaz surdo a falar, comeando pelas letras, passando depois para as slabas, vocbulos e frases,

    A partir da metade do sculo XVI, observa-se, na histria, um maior esforo no sentido de se educar os surdos. Comea, ento, a histria da educao do surdo.

    Eriksson (1998) refere trs perodos na histria da educao de surdos.

    Primeiro Perodo At 1760

    At a Renascena, a idia de educar os surdos tinha parecido sempre impossvel: eles no tinham linguagem, logo como poderiam ser ensinados?

    Segundo a lei romana, os surdos-mudos no podiam herdar fortunas, no podiam ter propriedades ou escrever testamentos. Por outro lado, os que eram s surdos e no mudos tinham alguns direitos legais. Os surdos que falavam recebiam ttulos e tinham propriedades. Assim, foi se tornando uma prtica nas famlias ricas chamar tutores, geralmente mdicos ou padres, com o objetivo de ensinar as crianas surdas a se comunicar com os ouvintes. Esta educao individualizada, ministrada a crianas surdas de famlias ricas, caracteriza a primeira fase da educao de surdos (Eriksson, 1998).

    Embora a histria da educao de surdos se refira ao trabalho de tutores em diferentes pases, como Espanha, Gr-Bretanha, Holanda e Frana, ser feito meno neste trabalho aos tutores que desenvolveram algum mtodo de ensino, geralmente descrito em publicaes suas ou de seus discpulos.

    Pedro Ponce de Leon (1520-1584) nasceu em Valladolid, na Espanha. Graduou-se na Universidade de Salamanca e com 32 anos tornou-se monge beneditino.

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    O incentivo de Ponce de Leon para tutorar surdos foi principalmente religioso. Ele foi chamado para a educao dos descendentes surdos de famlias nobres, aristocrticas e inclusive da famlia real. Segundo Moores (1996), o incio de seu trabalho foi motivado pela presena de dois padres surdos que viviam em seu mosteiro, Francisco e Pedro de Velasco, membros de uma rica e influente famlia. A presena de genes recessivos na famlia Velasco devia-se a casamentos consangneos que resultaram em um grande nmero de descendentes surdos.

    A deficincia de Pedro e de Francisco de Velasco ameaava-os no s a no alcanarem o cu como tambm de no receberem herana e, assim, seu pai decidiu descobrir uma forma de ensin-los a falar (Re, 1999).

    Uma vez que muitos dos familiares dos irmos Velasco eram surdos, eles desenvolveram um sistema de sinais antes de entrarem no mosteiro. Assim, possvel que Ponce de Leon tenha feito uma juno dos dois sistemas de sinais, aqueles usados nos mosteiros pelos monges beneditinos que viviam sob a lei do silncio, e o desenvolvido pela famlia Velasco (Moores, 1996).

    Para Ponce de Leon, na ausncia da audio, a lngua poderia ser ensinada atravs de outros sentidos, especialmente da viso, ajudada pelo tato. Assim, as crianas surdas eram encorajadas a observar pessoas falando e tinham que imit-las com a ajuda de um espelho a fim de produzirem sons e da falarem (Re, 1999).

    O objetivo de Ponce de Leon era ensinar seus alunos a falar, mas eles no eram treinados em leitura oro-facial. Ele apontava objetos e os alunos nomeavam. Os alunos eram ensinados a ler, escrever e falar. Segundo Eriksson (1998), Ponce de Leon se comunicava com seus alunos atravs da escrita e do alfabeto digital.

    Todos as anotaes sobre o trabalho de Ponce de Leon foram destrudas em um incndio na biblioteca do mosteiro. Assim, as informaes que se tem

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    foram obtidas atravs de relatos de seus alunos. Segundo Moores (1996) h referncias, registradas por um aluno surdo, de que tenha iniciado seus ensinamentos pela palavra atravs de sinais, da leitura, da escrita e do alfabeto digital , progredindo para a fala.

    Em um documento descoberto muito tempo depois, o prprio Ponce de Leon descrevia seus sucessos, comentando que seus alunos surdos de nascimento, se tornaram pessoas notveis, alguns aprenderam grego, latim, italiano, as doutrinas da religio crist, inclusive se confessavam atravs da fala. Aprenderam filosofia, astrologia e histria (Lane, 1996 , Moores, 1996).

    Embora alguns autores faam referncia a So Joo de Beverly como o primeiro professor de surdo foi Ponce de Leon que foi chamado de pai da educao do surdo. Segundo Eriksson (1998), em seu tmulo foi escrito: Pedro Ponce educou os surdos e mudos embora Aristteles declarasse isto impossvel. (Eriksson, op. cit., p. )

    Aps a morte de Ponce de Len, houve um hiato de mais de 20 anos na referncia educao de surdos na Espanha.

    Juan Pablo Bonet (1579-1629) considerado um dos primeiros defensores da metodologia oralista.

    Bonet ensinava a leitura e a escrita como preliminares para a fala, e acrescentou uma nova tcnica poderosa, que tornava a lngua visvel na forma de um alfabeto digital, baseado em uma forma de comunicao silenciosa em uso em vrias comunidades religiosas. A tcnica consistia em usar uma configurao diferente de mo para representar cada letra do alfabeto, o que habilitava professor e alunos surdos a soletrar palavras um para o outro (Re, 1999). O alfabeto de uma mo, adotado por Bonet, bastante semelhante ao que est em uso ainda hoje na Amrica (Moores, 1996; Eriksson, 1998).

    Primeiramente Bonet ensinava as letras do alfabeto atravs da escrita, depois a pronncia dos sons das letras, slabas sem sentido, a seguir palavras

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    concretas e abstratas para, finalmente, ensinar estruturas gramaticais (Marchesi, 1991; Eriksson, 1998).

    Depois de dominarem a leitura, a escrita e o alfabeto digital, os alunos de Bonet estavam prontos para aprender a falar. Para ensinar a fala, Bonet usava uma lngua de couro para demonstrar as vrias posies da lngua (Lane, 1989; Eriksson, 1998; Re, 1999).

    Com a ajuda da lngua, Bonet ensinava a seus alunos surdos como produzir os sons correspondentes s letras do alfabeto; depois os equivalentes em alfabeto digital. A criana surda tinha que memorizar as posies da lngua, lbios e dentes, requeridos para a produo dos vrios sons vocais (Re, 1999). Depois disso os alunos eram ensinados a escrever. Uma vez que dominassem a lngua na forma escrita, os alunos automaticamente eram capazes de falar (Re, 1999).

    O mtodo de Bonet foi mais tarde chamado de mtodo espanhol.

    Bonet publicou o livro The simplification of the letters of the alphabet and the art of teaching deaf mutes to speak, em 1620, considerado, segundo Eriksson (1998), o livro mais velho que se tem sobre a educao de surdos.

    O livro de Bonet consistia de duas partes. A primeira, reduo das letras, tratava do som das palavras e foi o primeiro texto conhecido sobre fontica. Como lembra Eriksson (1998), foi s no sculo XIX que a fontica se estabeleceu como campo cientfico. Na primeira parte de seu livro, Bonet mostrava semelhanas entre a articulao dos sons e as formas das letras. Na segunda parte do livro, encontrava-se uma descrio detalhada de um mtodo de ensino de fala e de linguagem para surdos, no qual palavras escritas e alfabeto digital eram usados no ensino.

    Bonet insistia em que as pessoas usassem o alfabeto digital ou a escrita com os surdos em vez de sinalizar e os alunos deveriam responder oralmente. A leitura labial era usada somente com o alfabeto digital simultneo.

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    Outro educador espanhol dessa mesma poca foi Emanuel Ramirez de Carrin (1579-1652). Ele descreveu o mtodo que usava no ensino de surdos no livro Maravillas de Naturaleza Em que se contienen dos Mil Secretos de Cosas Naturales, publicado em Madri, em 1629. Seu mtodo de ensino foi influenciado por prticas medievais.

    Antes de cada aula, dava ao aluno um laxativo depois do que ele tinha de absorver uma poo que continha rap, sendo a ltima dose acompanhada por vrios sucos de ervas. Raspava-se, ento, uma rea do tamanho de uma mo no alto da cabea do aluno, no estilo de coroas dos monges catlicos. Toda noite esfregava-se nesta regio uma mistura de lcool, pimenta, amndoas amargas e leo. Na manh seguinte o aluno deveria pentear o alto da cabea com um pente de bano e depois comer uma pasta de lentisco, mbar, almscar, raiz de alcas. O estudante deveria, ento, lavar o rosto e secar o nariz e os ouvidos cuidadosamente. Depois disso, Carrin pronunciava as letras do alfabeto separadamente, depois em slabas e finalmente os nomes dos objetos familiares acima da cabea do aluno. Este repetia depois do professor e depois de um curto espao de tempo ele adquiria grande habilidade para falar (Eriksson, 1998).

    Na Blgica, o baro Francis van Helmont, um oculista e qumico, que passou parte de sua vida na Alemanha, publicou o livro Kurzer Entwurf ds eigentlichen Natur-Alphabets der Heiligen Sprache: Nach dessen Anleitung Man auch Taubgeborente verstehend und redend machen kann (A short sketch of the true natural alphabet of the holy language: with the aid of which even those Born deaf can be Made to Understand and Speak).

    Helmont acreditava que o hebrico seria a lngua mais fcil para o surdo aprender e, portanto, a melhor para ser usada na sua educao. Em seu livro, afirma que as letras do alfabeto hebraico eram ilustraes das posies dos rgos vocais na produo de cada som. As letras hebraicas, para Helmont (Re, 1999), eram instrues diagramticas para sua prpria pronncia, tendo a mesma figura e forma como se fossem desenhadas e formadas pela lngua na boca.

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    O livro continha 36 ilustraes dos sons da fala. Para Helmont os surdos podiam ler os lbios se falasse devagar com eles e podiam responder oralmente.

    Johann Konrad Amman nasceu na Sua, em 1669. Mdico, especializou-se no estudo dos rgos vocais e nos sons da fala. Ensinava a seus alunos surdos os sons sonoros e os surdos e a posio apropriada dos rgos vocais. Treinava tambm leitura labial.

    Uma vez que, para Amman, a voz era a incorporao do poder divino, as criaturas formadas imagem de Deus deveriam ser capazes de falar e assim se assemelhar a Cristo (Re, 1999).

    A experincia de Amman est registrada em dois livros, os que influenciaram a educao de surdos no resto da Europa. O primeiro, Surdus Loquens (The talking deaf man) foi publicado em 1692 e o segundo, Dissertatio de Loquela (Dissertation on Language), em 1700. Os dois livros enfatizavam, como refere Eriksson (op. cit.), a importncia da fala e se tornaram a base do que se chamou mais tarde o mtodo alemo, o mtodo oral ou o mtodo de fala na educao de surdos. Amman foi considerado o pai do mtodo de fala o mtodo Amman. Ele explicava que a razo do surdo no falar era no ouvir e que eles podiam falar.

    Seus livros, escritos em latim, foram traduzidos em muitas lnguas e publicados em muitas edies, sendo lidos por toda a Europa.

    Na Inglaterra, pas considerado o bero da educao de surdos (Eriksson, op. cit.), depois de John de Beverley, que viveu nos anos 700, o primeiro a se interessar pela educao de surdos foi John Bulwer (1614-1684).

    Bulwer era fsico e antroplogo e publicou trs trabalhos: Chirologia or the Natural Language of the Hand, em 1644; Chironomia (uma srie de gestos manuais), em 1648 e Philocophus or the Deaf and Dumb Mans Friend, no mesmo ano.

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    Bulwer era de opinio que os surdos deveriam primeiramente aprender a escrever e depois falar, o que tornaria mais fcil o aprendizado da leitura labial. Para ele, era muito natural que os surdos gesticulassem ao se comunicar, mas eles deveriam tambm ser capazes de falar e escrever de forma inteligvel. No h dados, segundo Eriksson (op. cit.), de como Bulwer punha em prtica a sua teoria.

    George Dalgarno (1626-1687), nascido na Esccia, foi um dos intelectuais do sculo XVII que ponderou sobre a natureza da lngua (Eriksson, 1998).

    Em 1680 publicou Didascalocophus or the Deaf and Dumb mans Tutor, que continha um sistema inteiramente novo de digitao com as mos. Para usa-lo, a pessoa deveria usar luvas, nas quais estavam pintadas as letras do alfabeto; com a outra mo apontava para o lugar onde cada letra de uma palavra estava pintada. Uma vez memorizada a posio de cada letra, a soletrao poderia ser feita sem a luva.

    O sistema de Dalgarno tem sido usado sem interrupo at hoje nos Estados Unidos da Amrica e em outros pases. Um dos educadores de surdos a revive-lo no sculo XIX foi Alexander Graham Bell.

    Dalgarno acreditava que as crianas surdas aprendiam melhor atravs de situaes ldicas, no atravs do treinamento da gramtica ou da correo de cada palavra ou slaba. Para ele era mais importante que os surdos entendessem o que aprendiam.

    John Wallis (1616-1703) era professor de geometria na Inglaterra e, em 1661, comeou a tutorar dois surdos aristocrticos. Depois de um ano de instruo e de leitura atenta de grande parte da Bblia, os estudantes surdos podiam entender textos escritos e expressar-se inteligivelmente atravs da escrita, Podiam tambm ler latim (Eriksson, op. cit.).

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    A palavra escrita foi o meio de instruo mais usado por Wallis. Ele considerado o pai do mtodo escrito de educao de surdos. Algumas vezes o alfabeto digital era usado para economizar tempo. A fala e a leitura facial tambm eram usadas nas aulas. Wallis considerava a linguagem gestual to importante quanto a fala.

    William Holder (1615-1697) era pastor e diretor de uma escola em Bretchington, na Inglaterra. Seu livro, Elements of Speech, publicado em 1669, inclui um Appendix concerning persons deaf and dumb. Nesse livro, Holder descrevia o trabalho realizado com um surdo. Segundo informaes obtidas por Eriksson em sua pesquisa, Holder era inventivo e usava uma tira de couro para ilustrar os movimentos da lngua na articulao.

    Apesar de se ter notcia do trabalho de alguns tutores na Alemanha, foi somente no incio do sculo XVIII que a educao de surdos se estabeleceu nesse pas.

    Em 1704, Wilhelm Kerger escreveu sua viso sobre a educao de surdos em uma epstola latina, chamada Littera ad Ettmullerum de Cura Surdorum Mutorumque. Ele estava convencido de que as pessoas surdas com inteligncia normal e boa viso poderiam aprender a ler e a escrever. Alm disso, com treinamento, poderiam aprender a falar e a ler os lbios.

    Durante as aulas, Kerger usava escrita, fala e gestos, mas no digitao. Seus alunos aprenderam a ler, a escrever, a falar e a ler os lbios. Ele defendia a educao obrigatria para os surdos e queria inventar uma linguagem gestual internacional.

    O grande interesse pela educao de surdos aumentou no incio do sculo XVIII. Vrios folhetos sobre aspectos mdicos da surdez e vrios mtodos de ensino para surdos eram divulgados.

    Dos vrios trabalhos divulgados, destaca-se o de Georg Raphel (1673-1740) que desenvolveu um mtodo de instruo para ensinar duas filhas surdas.

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    Ele estudou o mtodo de Amman, mas ensinou as filhas cada letra. Suas aulas foram descritas em seu livro Die Kunst, Taube und Stumme reden zu Lehren (The art of teaching teh Deaf and Dumb to Speak), em 1718. Ele comeava com o som das vogais, depois acrescentava as consoantes. Depois que as filhas tivessem aprendido a ler, lhes eram dados outros livros para ler.

    Segundo relata Eriksson (1998), quando as meninas aprenderam a falar, dominaram palavras cada vez mais difceis: primeiro os nomes dos objetos e depois palavras com conceitos abstratos. A fala e a leitura labial eram usadas na comunicao.

    Em 1772, outro tutor de surdos na Alemanha, Otto Lasius, descreveu seu trabalho no livro Ausfrliche Nachricht von der Geschehenen Unterweisung der taub unmd stumm geborenen Frulein von Meding (A thorough report of the education of Frulein von Meding. Born deaf and dumb, publicado em 1774.

    Lasius aprendeu primeiro a lngua de sinais de sua aluna surda, para poder se comunicar com ela. Depois ensinou-a a escrever e, usando os mtodos de Amman e de Raphel, tentou ensin-la a falar. Pelo fato dos pais da menina reclamarem do som da sua fala, Lasius passou a usar um mtodo similar ao usado na Inglaterra, por Wallis, enfatizando a escrita, usando menos sinais e menos alfabeto digital. Ele queria que sua aluna expressasse seus prprios pensamentos por escrito.

    Em vez de livro de gramtica, Lasius usava objetos e experincias cotidianas nas suas aulas, aproveitando todas as oportunidades para ensinar os nomes, os fatos e os objetos que encontrava. Sua aluna aprendeu as expresses para tempo e lugar e as usava por escrito.

    Lasius passava do concreto para o abstrato, do simples para o complexo. A menina atingiu um nvel de alfabetizao suficiente para ler cartas e outros textos fceis e para escrever histrias simples. Aprendeu aritmtica, geografia e religio.

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    Johan Ludwig Ferdinand Arnoldi (1737-1783), na Alemanha, tentou pela primeira vez ensinar seu aluno a falar, usando um tipo de tubo auditivo longo. Este mtodo no se mostrou eficaz e Arnoldi passou a usar o mtodo de Amman com bons resultados.

    Mais tarde, Arnoldi ensinou outros surdos, preparando-os para a confirmao. Empregava os mtodos de Amman e de Wallis, usando um jornal no seu trabalho. Comeava o treinamento de fala no 4 ou no 5 ano. A gramtica era sistematicamente treinada e 150 cartes com episdios da Bblia foram usados para a instruo religiosa.

    As pistas visuais eram importantes para Arnoldi. Assim, os estudantes e o professor iam a muitas excurses pela cidade e pelo pas para aprender. Arnoldi enfatizava a compreenso mais do que a memorizao. Segundo relata Eriksson (op. cit.), em pouco tempo os alunos aprendiam a falar e a escrever.

    As figuras tinham um papel indispensvel no ensino. Arnoldi descreveu sua metodologia em folhetos, um deles intitulado Praktische Unterweisung, taubstumme Personen reden und schreiben zu lehren (A practical instruction for teaching the deaf and dumb to speak and write), em 1777.

    A Frana estava muito atrasada em relao aos outros pases da Europa na educao de surdos. H evidncia histrica de exemplos da educao de surdos na Frana no final do sculo XVII e incio do sculo XVIII, mas nada dito sobre os mtodos usados, os resultados obtidos ou a identidade dos professores (Eriksson, 1998).

    da metade do sculo XVIII o primeiro exemplo amplamente conhecido de educao de surdos na Frana.O primeiro professor de surdo que se conhece na Frana foi Jacob Rodriguez Pereire.

    Jacob Rodrigues Pereire (1715-1790) nasceu na Espanha, migrou para Portugal e depois para a Frana, para escapar de perseguies religiosas.

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    Comeou a educar surdos com 19 anos, iniciando com sua irm. Para isso pediu informaes Academia de Bourdeux e recebeu-as de Bonet e de Wallis.

    A chave do mtodo de Pereire era simplesmente substituir os olhos pelos ouvidos e substituir os sons e a escrita com os sinais do alfabeto digital. Pereire desenvolveu uma verso modificada do alfabeto digital com uma mo, de Bonet, que ele chamou de datilologia. A datilologia compreendia mais de 80 configuraes de mos, representando no s as vogais e as consoantes, mas tambm os numerais, os sinais de pontuao e os acentos, alm de letras maisculas e minsculas, abreviaes padronizadas, traos observados na pronncia (Fontenay, apud Re, 1999). Uma vez que o aluno de Pereire adquirisse a datilologia, ele poderia escrever francs no ar, to rpido como algum pode falar.

    A regra do mtodo de Pereire era a proibio do uso dos gestos. Priorizava a fala e a conversao e manipulava os rgos fonatrios dos alunos. medida que estes se tornavam mais proficientes na fala, os gestos e o alfabeto digital eram menos usados.

    Pereire partia do princpio de que a criana surda aprendia linguagem da mesma forma que a ouvinte. O alfabeto digital era acompanhado pela fala, a leitura labial no era ensinada e as explicaes eram dadas na linguagem gestual.

    No final do sculo XVIII os educadores de surdos estavam divididos em dois grupos: aqueles que defendiam o mtodo espanhol de ensino e advogavam em favor do mtodo de Amman, como Pereire, na Espanha, e Ernaud de Bordeaux, na Frana.

    Seguindo o mtodo de Amman, Bordeaux ensinou os alunos surdos a falar sem usar a escrita.

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    Alm de Pereire e Ernaud, houve um terceiro professor de surdo, na Frana o Abade Claude Franois Deschamps, que fundou uma escola para surdos em Orleans, nos anos de 1770. Ele dedicava todo o seu tempo ao ensino dos surdos, assim como doou toda a sua fortuna para a educao de surdos de classes mais baixas. Em seus escritos, ele refere como o surdo compensa sua perda de audio atravs da viso. Usando escrita e sinais nas suas aulas, ele ensinou seus alunos primeiramente a fala, depois a leitura labial. Da ensinava os significados das palavras. Ele combinava mtodos orais, manuais e espanhol. Nas suas aulas eram usados sinais sistemticos, escrita, fala, leitura labial e alfabeto digital.

    Segundo Perodo: 1760 at 1880

    A segunda fase da histria da educao de surdos comea no final do sculo XVIII, quando trs homens, um desconhecido do outro, fundaram escolas para surdos em trs diferentes pases. As crianas eram ento, escolarizadas e trabalhadas em grupos, usa educao tinha uma forma mais definida, baseada em princpios definidos. Estes trs professores foram: Abade Charles-Michel de LEpe, na Frana, Samuel Heinicke, na Alemanha, e Thomas Braidwood, na Inglaterra. Muitos educadores de surdos seguiram os passos ou do Abade de LEpe ou de Heinicke.

    Abade de LEpe Charles Michel de LEpe (1712-1789) era um excelente aluno e se graduou no colgio das Quatro-Naes, em Versailles, na Frana, aos 17 anos de idade.

    Estudou teologia e direito e se ordenou em 1738, recebendo o ttulo de Abade. Estudou tambm filosofia e se tornou doutor neste campo. Aprendeu lnguas estrangeiras, como espanhol, italiano e ingls. Entendia o alemo, o que no era comum para um francs. Tornou-se professor, inicialmente de ouvintes e depois se dedicando inteiramente educao de surdos.

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    LEpp iniciou seu trabalho com crianas surdas educando duas irms que moravam perto de sua casa. O tutor das meninas havia falecido e LEpe se ofereceu para cuidar da educao das meninas (Moores, 1996; Eriksson, 1998). No sabia como proceder e em sua pesquisa sobre o assunto, LEpe encontrou o livro muito falado de Bonet, The simplification of the letters of the alphabet and the art of teaching deaf mutes to speak. Nele achou o Abecedario, um alfabeto de uma-mo (Eriksson, 1998).

    Segundo Re (1999), LEpe decidiu tentar ensinar linguagem para as meninas atravs dos olhos em vez de pelos ouvidos.

    Ele as ensinou a ler e a escrever por um mtodo visual direto, apontando para os objetos com um mo enquanto escrevia seus nomes numa lousa com a outra. Tambm lhes ensinou o alfabeto digital que ele tinha usado para se comunicar com os colegas na classe sem ser notado pelo mestre.

    Em questo de dias as meninas foram capazes de ler, escrever e digitar os nomes de dzias de coisas familiares. Foi um incio gratificante, mas durou pouco. Seu mtodo precisaria superar duas barreiras. Em primeiro lugar, as nicas palavras que ele poderia ensinar eram as que se referiam a objetos fsicos visveis que ele podia apontar, o que no possibilitaria s meninas entender assuntos espirituais, vitais para sua salvao. Em segundo lugar, elas estavam aprendendo palavras isoladas, sem qualquer sintaxe e isto no as ajudaria a pensar de forma ordenada e nem a juntar as idias. Ele teria que lhes possibilitar um sistema de sinais combinados, gramaticalmente conectados, que possibilitasse a referncia tanto a objetos ausentes como presentes.

    LEpe aprendeu a Lngua de Sinais Francesa com os surdos de Paris e, apesar de acreditar na sofisticao sinttica da mesma, ele a considerava uma lngua ainda em estado bruto, incapaz de expressar muitas das distines expressas na fala (Re, 1999). Segundo relata Clerc (Lane, 1989), LEpe pensava, no entanto, que poderia convert-la em uma, inventando sinais para as palavras francesas e terminaes de palavras que no tinham contrapartes na

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    lngua de sinais e pelo uso dos sinais na ordem do Francs. Uma vez que os alunos aprendessem todos os novos sinais e a palavra francesa que correspondia a cada um, ele poderia sinalizar qualquer frase escrita em francs.

    Neste sistema, que LEpe chamou de sinalizao metdica, mesmo uma frase mais simples assumia uma enorme complexidade.

    O mtodo de LEpe se desenvolvia da seguinte forma, segundo relata Clerc (Lane, 1989). O aluno aprendia o alfabeto manual, uma configurao de mos para cada letra do francs, assim ele poderia digitar palavras francesas. Em seguida aprendia a escrever estas letras e da escreveria a conjugao de um verbo, por exemplo.

    Para aumentar o vocabulrio, LEpe comeava com 20 nomes, para partes do corpo, que podiam ser apontadas, e associava os sinais ao nome daquela parte, escrito em um carto. O aluno aprendia a soletrar estes nomes com letras recortadas. A seguir, eram ensinados os sinais metdicos para as pessoas e tempos verbais, bem como os sinais para os artigos e preposies. Depois disso os alunos poderiam escrever suas primeiras frases em francs, em resposta a um ditado. Da por diante, a lista de nomes, verbos e sinais metdicos crescia (Lane, 1989).

    A escrita, a sinalizao e o alfabeto digital eram as maiores ferramentas para sua instruo. Comeou seu trabalho em uma casa de sua propriedade. O nmero de alunos foi aumentando at que se tornou o primeiro instituto no mundo para crianas surdas desprivilegiadas. L elas eram educadas, alimentadas e vestidas e o abade era como um pai para elas.

    LEpe era de famlia abastada e, quando os pais morreram, ele recebeu uma fortuna de herana, que ele ps quase toda na escola para surdos. Com muitos problemas financeiros e tendo que vender muitos livros e em um esforo para garantir educao para todas as pessoas surdas, LEpe solicitou ao governo o estatuto de instituto nacional para sua escola. Ele no viu a realizao

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    de seu sonho pois s dois anos depois de sua morte foi que o Instituto Nacional de Surdos-Mudos passou a subsdio do governo.

    O mtodo de ensino de LEpe formou uma nova escola de pensamento no campo da educao de surdos. Seu mtodo foi chamado de mtodo francs e se baseava na escrita, na sinalizao e no alfabeto digital.

    medida que o nmero de alunos aumentava, aumentava o nmero de discpulos de LEpe, bem como o nmero de escolas que estes abriam em suas terras natal. Durante sua vida, LEpe causou diretamente a fundao de uma dzia de escolas em toda a Europa. (Lane, 1989). Esta a chamada poca de ouro da educao de surdos.

    Apesar de no reconhecer na Lngua de Sinais uma lngua completa, teve o mrito de reconhec-la como lngua, divulg-la e valoriz-la, bem como mostrar que, mesmo sem falar, os surdos eram humanos, o que propiciou a estes atingirem posies antes s ocupadas por ouvintes. Outra grande contribuio de LEpe foi o fato de passar a educao do surdo de individual para coletiva, no mais privilegiando os aristocratas, mas estendendo a possibilidade de educao para surdos de todas as classes sociais (Moores, 1996). Depois da morte de LEpe, sua escola foi elevada pela Assemblia Constituinte Francesa ao nvel de Instituto Nacional de Surdos-Mudos, em 1791.

    Segundo Clerc (Lane, 1989), o ano em que LEpe morreu, 1789, foi um ano de trmino momentneo e de comeo para todos os ouvintes e para os surdos.

    Thomas Braidwood (1715-1806) Formado pela Universidade de Edinburgo, Thomas Braidwood se tornou proprietrio de uma escola de matemtica naquela cidade. Tornou-se professor de surdos por acaso. Em 1760, lhe confiaram um menino que havia perdido a audio aos trs anos de idade.

    Sem experincia, Braidwood estudou os trabalhos de Bulwer, Wallis e Holder e aprendeu o alfabeto digital. Encorajado com os bons resultados que

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    conseguiu com seu primeiro aluno, Braidwood continuou seu trabalho com surdos at que, em 1766, fundou uma escola para surdez que se tornou seu sustento, j que seus alunos provinham de famlias ricas. Segundo Moores (1996), a escola era muito procurada, inclusive pelas famlias de surdos dos EUA que mandavam seus filhos para serem educados l.

    Braidwood baseou seu mtodo de ensino principalmente em Wallis, usando a escrita e o alfabeto digital como no mtodo espanhol. Seus alunos aprendiam linguagem, primeiramente escrevendo, depois articulando as letras do alfabeto, passando para a escrita e pronncia de palavras inteiras.

    Em 1783, The Braidwood Academy foi transferida para Londres. Braidwood ensinou seu mtodo a dois sobrinhos, Joseph Watson e John Braidwood, este ltimo se tornou mais tarde seu genro, mas exigiu que ambos jurassem segredo. Depois da morte de Braidwood, Joseph Watson quebrou a jura e, em 1809, publicou Instruction of the Deaf and Dumb (Instruo para os Surdos e Mudos). Neste livro pode-se saber, como relata Eriksson (1998) que Braidwood originalmente baseou seu mtodo no de Wallis, mas o modificou e o melhorou a partir de sua prpria experincia.

    Samuel Heinicke (1729-1790) Nasceu na cidade de Weissenfels, na Alemanha. Devido a conflitos na sua famlia ele entrou para o exrcito em Dresden. No seu tempo livre estudava matemtica, msica, francs e latim. Escreveu muito. Paralelamente aos seus estudos, ele tutorava estudantes mais jovens. Saiu do exrcito por volta de 1754 e comeou a tutorar um menino surdo, usando primeiramente escrita e depois a fala usando o mtodo de Amman.

    Durante a Guerra dos Sete Anos Heinicke teve problemas polticos e viveu clandestinamente por alguns anos. Em 1769, tornou-se organista e cantor em Eppendorf, perto de Hamburgo, na Alemanha. Ensinava em uma escola pblica e tambm cuidava da educao de estudantes surdos que ele ensinava atravs do mtodo oral.

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    Ele argumentava que permitir aos estudantes usar a lngua de sinais inibiria seu progresso na fala. A nica ferramenta a ser usada na educao de surdos deveria ser a palavra falada. Por volta de 1774, segundo relata Eriksson (op. cot.), Heinicke tinha cinco alunos surdos em sua escola.

    Depois de algum tempo, Heinicke interessou-se em abrir um instituto para surdos e, em 1778, fundou em Leipzig, o primeiro instituto alemo para surdos. No incio tinha nove alunos, nmero que subiu para quinze, quando aceitou a entrada de estudantes carentes.

    Heinicke seguia o mtodo de Amman, isto , o mtodo oral, criando, ao longo do tempo, sua prpria verso. De acordo com Heinicke, era somente aprendendo a fala articulada que a pessoa surda conseguiria uma posio na sociedade ouvinte. O problema que surdos no educados enfrentavam era que, sendo cortados do mundo do som, eles no tinham nomes para as coisas ou para conceitos, o que significava que eles viviam como bebs ou animais, suas Impresses e representaes passavam direto atravs de uma confuso incontrolada, no deixando nenhum trao atrs delas (Re, 1999).

    O oralismo de Heinicke recusava a lngua de sinais, a gesticulao ou o alfabeto digital. Nasceu, assim, uma nova corrente na educao de surdos, chamada a escola alem.

    No incio Heinicke esperava ensinar a fala a seus alunos at que eles tivessem aprendido linguagem atravs de gestos e da escrita, mas logo reviu sua teoria. O mtodo de Amman o tinha convencido de que a nfase maior deveria ser colocada na fala. Heinicke usava mquinas de fala para demonstrar a posio apropriada dos rgos vocais para a articulao.

    Em 1772, Heinicke escreveu seu tratado chamado Arcanum no qual associava a pronncia de vrios sons voclicos com certos sabores. De acordo com o Arcanum, os alunos surdos associariam a pronncia dos sons das vogais com a ajuda do paladar. Com uma pena era aplicado o lquido apropriado na

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    lngua. A escala ia do vinagre (que correspondia ao i), para o extrato de vermute (e), gua pura (a), gua aucarada (o) e para o leo (u). Eram feitas misturas dos lquidos para os ditongos (Eriksson, 1998; Re, 1999).

    Uma vez que aprendiam o sabor das vogais, os alunos de Heinicke ficavam to acostumados a nomear os conceitos com sons que eles paravam de usar gestos junto e chegavam a falar dormindo (Re, 1999).

    Heinicke permaneceu convencido do valor do Arcanum para o resto de sua vida. Quando morreu, em 1790, seu instituto atendia 100 alunos.

    Jean Marc Gaspard Itard (1775-1838), mdico francs, considerado um dos pais da moderna otorrinolaringologia, tendo sido tambm o primeiro medido a trabalhar em escolas para surdos, em Paris. Em 1821, publicou seu trabalho Trat ds Maladies de lOreille et de lAudition. Acreditava que a nica forma de educao e esperana para o surdo era a fala e a restaurao da audio. Assim, fez vrias experincias com cadveres, com os alunos do Instituto, colocando cateter no ouvido dos mesmos, cateter esse que ficou conhecido como Sonda de Itard. No so referidos sucessos em suas tentativas de curar a surdez (Lane, 1989).

    Itard definiu cinco categorias pessoas de acordo com a dificuldade auditiva:

    1. aquelas que podem ouvir a linguagem, falada devagar, de forma clara e prximo do interlocutor;

    2. aquelas que podem ouvir as vogais, mas no as consoantes;

    3. aquelas que podem ouvir somente algumas vogais;

    4. aquelas que podem ouvir somente sons altos (trovo, tiro etc.); 5. aquelas que so totalmente surdas.

    Este sistema foi revisto vrias vezes e, em 1880, os alemes dividiram os graus de a