apostila refeita

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APOSTILA 1 - Do Trovadorismo ao Simbolismo Literatura Brasileira – 1ª e 2ª Ano. QUADRO SINÓTICO DOS PERÍODOS LITERÁRIOS 1. PORTUGAL Período Época Trovadorismo 1189(98) –1434 Humanismo 1434 –1527 Classicismo 1527 –1580 Barroco 1580 –1756 Arcadismo 1756 – 1825 Romantismo 1825 –1865 Realismo/Naturalismo/ Parnasianismo 1865 –1890 Simbolismo 1890 –1915 Modernismo 1915 aos dias de hoje 2. BRASIL Período Época Literatura Informativa sobre o Brasil e Literatura Jesuítica 1500 - 1601 Barroco 1601 – 1768 Arcadismo 1768 – 1836 Romantismo0 1836 – 1881 Realismo/Naturalismo/ Parnasianismo 1881 – 1893 Simbolismo 1893 – 1902 Pré-Modernismo 1902 –1922 Modernismo 1922 aos dias de hoje 1

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Page 1: APOSTILA REFEITA

APOSTILA 1 - Do Trovadorismo ao Simbolismo

Literatura Brasileira – 1ª e 2ª Ano.

QUADRO SINÓTICO DOS PERÍODOS LITERÁRIOS

1. PORTUGAL

Período Época

Trovadorismo 1189(98) –1434

Humanismo 1434 –1527

Classicismo 1527 –1580

Barroco 1580 –1756

Arcadismo 1756 – 1825

Romantismo 1825 –1865

Realismo/Naturalismo/Parnasianismo 1865 –1890

Simbolismo 1890 –1915

Modernismo 1915 aos dias de hoje

2. BRASIL

Período Época

Literatura Informativa sobre o Brasil e Literatura Jesuítica

1500 - 1601

Barroco 1601 – 1768

Arcadismo 1768 – 1836

Romantismo0 1836 – 1881

Realismo/Naturalismo/Parnasianismo 1881 – 1893

Simbolismo 1893 – 1902

Pré-Modernismo 1902 –1922

Modernismo 1922 aos dias de hoje

Obs.: A literatura atual, de mais ou menos 1950 em diante, é chamada de pós-modernista, seguindo a tendência das Artes.

 

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Estudo dos Períodos

I. TROVADORISMO

Representou o início da atividade literária da língua portuguesa. A Ribeirinha, de Paio Soares Taveirós, foi a primeira composição literária portuguesa.

As canções dessa época chamadas, de cantigas classificavam-se em: cantigas de amor, de amigo; de escárnio e de maldizer.

Características principais:

1. Lirismo amoroso. 2. Predomina a arte poética (trovadores). 3. Presença do ambiente campestre. 4. Referência a aspectos da vida na Corte, onde se encontravam os nobres. Presença

constante do aspecto religioso. 5. Teocentrismo (devido ao predomínio da Igreja na época, Deus era considerado o centro do

universo e era disseminada entre o povo a idéia de que a sociedade estava dividida entre dominados e dominadores porque "era a vontade de Deus". Os dominados somente seria possuidores de uma grande riqueza no céu, após a morte, e, nesta vida, se alguém desejasse mudar de classe social era contrariar a vontade de Deus).

6. Lamentos de amores impossíveis ou já passados. 7. Refrões (repetição de determinados versos). 8. Atos heróicos dos cavaleiros (nas novelas).

 Abaixo, você vê um exemplo de cantiga de amigo:

Cantiga de amigo (J. J. Nunes)

Levad’, amigo, que dormides as manhãas frias; (Levad’: levantai)Todalas aves do mundo d’amor dizian:Leda m’and’eu! (Leda: contente)Levad’, amigo, que dormide’las frias manhãas;Todalas aves do mundo d’amor cantavan:leda m’ande’eu!Todalas aves do mundo d’amor dizian:do meu amor e do voss’en ment’avaian (En ment’avian: traziam na mente)Leda m’and’eu!Todalas aves do mundo d’amor cantavan:do meu amor e dos voss’i enmentavam: (i: aí; enmentavam: traziam na mente)Leda m’and’eu!’’do meu amor e do voss’en ment’avian;vós lhi tolhestes os ramos en que siian: (Siian: pousavam)|Do meu amor e do voss’i enmentavam;Vós lhi tolhestes os ramos en que pousavam:leda m’and’eu!Vós lhi tolhestes os ramos en que siian:E lhe secastes as fontes en que bevian:leda m’and’eu!vós lhi tolhestes os ramos en que pousavam:E lhi secastes as fontes u se banhavan:Leda m’ande’eu!

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Interpretação:1. O eu-lírico dessa cantiga é masculino ou feminino? Justifique. 2. Que papel a natureza desempenha no texto? 3. Que observações você faria com relação à linguagem da cantiga? 4. Que refrão encontramos no texto? Como você definiria refrão? 5. Que tipo de sentimento o eu-lírico expressa nessa cantiga? 6. Com relação ao número de versos, a cantiga está composta de que tipo de estrofe?

I. HUMANISMO

O Humanismo foi um período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, entre o teocentrismo e o antropocentrismo (homem como centro do universo). É a época dos grandes descobrimentos marítimos e do aparecimento da burguesia como classe social.

Características principais:

1. Surgimento do teatro, com Gil Vicente. 2. A poesia separa-se da música, embora coexistam as cantigas. 3. Maior interesse pelo ser humano e questionamento de suas atitudes. 4. Presença de um espírito mais crítico. 5. Importância à historiografia (arte de escrever a história). 6. Valorização dos escritos que encerrassem ensinamentos (prosa doutrinária)

Trecho da Farsa de Inês Pereira, peça teatral de Gil Vicente.

Inês queria casar-se com um homem que fosse inteligente ("avisado") e trovador, não importando que fosse pobre. Acaba escolhendo um charlatão, que a maltratava, o Escudeiro. Um dia, estando o marido na guerra, ela recebe uma carta do irmão:

Lê Inês Pereira a carta, a qual diz:

Muito honrada irmã, esforçai o coração etomai por devoção de querer o que Deus quer.Inês E isto que quer dizer?(Prossegue):

E não vos maravilheisde cousa que o mundo faça,que sempre nos embaraçacom cousas. Sabei que, indovosso marido fugindoda batalha para a vila,a meia légua de Arzila,o matou um mouro pastor................................................

Inês Mas que nova tão suave!Desatado é o nó!

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Se eu por ele ponho dó,              (dó: luto)o diabo me arrebente!Para mim era valentee matou-o um mouro só!Guardar de cavaleirão,barbudo, repetenado                (repetenado: insolente)que em figura de avisadoé malino e sotrancão                  (sotrancão: dissimulado)Agora quero tomar,Para boa vida gozar,Um muito manso marido;Não no quero já sabido,Pois tão caro há-de custar.

Aqui vem Lianor Vaz, e finge Inês Pereira estar chorando, e diz Lianor Vaz:

Como estais, Inês Pereira?Inês Muito triste, Lianor Vaz................................................

Lianor Filha, não tomeis tristura,Que a morte todos gasta.O que havedes de fazer?Casade-vos, minha filha.Inês Jesus! Jesus! Tão asinha!              (asinha: depressa.)Isso me haveis de dizer?Quem perdeu um tal marido,Tão discreto e tão sabido,E tão amigo de minha vida...Lianor Dai isso por esquecidoe buscai outra guarida.Pero Marques tem que herdoufazenda de mil cruzados;mas vós quereis avisados...                  (avisados: inteligentes.)

Inês             Não, já esse tempo passou"

Sobre quantos mestre são,a experiência dá lição.Lianor Pois tendes esse saber,Quereis ora quem vos quer,dai ao demo a opinião!

Vai Lianor Vaz por Pero Marques, e fica Inês Pereira só, dizendo:

Andar! Pero Marques seja!Quero tomar por esposoquem se tenha por ditosode cada vez que me veja.

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Por usar de siso mero,asno que me leve quero,e não cavalo folão;                     (folão: irrequieto, violento)antes lebre que leão,antes lavrador que Nero.

Interpretação 

1. Pelo trecho que você leu, trace um perfil de Inês, do Escudeiro e de Lianor Vaz. 2. Inês sempre fez questão de homem inteligente. Após a morte do marido, ainda era essa

sua postura? Explique. 3. Uma das características do Humanismo era a crítica às atitudes humanas. Tente encontrar

alguma no trecho acima e copie-a. 4. No texto falou-se muito em casamento. Quantas vezes se fala em amor? 5. Dê sua opinião: Será que ainda existem pessoas que vêem no casamento um

"investimento" e não um ato de amor?

I. CLASSICISMO

Tendo suas origens no Humanismo, o Classicismo representa uma reação aos valores da Idade Média. O homem passa a ser o principal centro de interesse, e o saber humano emanado da cultura greco-latina é valorizado e ressuscitado. Encantado com os sucessos exploratórios e materiais, o homem volta-se mais para os acontecimentos terrenos, deixando de lado o conceito divinizante anterior. O que importa é descobrir e conquistar o mundo e não buscar o caminho para o céu (entre as descobertas, inclui-se a do Brasil ).

Foi um século de muita agitação no campo da cultura, da política e da religião. A Igreja Católica encontra-se em crise em função das idéias protestantes da Reforma.

Características principais: 1. Culto da beleza e da perfeição formal. 2. Paganismo, com utilização da mitologia greco-latina. 3. Clareza e objetividade. 4. Correção gramatical e uso da ordem inversa. 5. Racionalismo (sentimentos e emoção controlados pela razão). 6. Valorização da épica (feitos dos heróis contados em verso). 7. Universalidade ( a obra deveria valer para todos e não estar voltada a problemas pessoais

do autor). 8. Imitação dos clássicos greco-latinos, considerados como modelo de perfeição. 9. Personificação (atribuição de qualidades humanas a seres não humanos). 10. Rigor na métrica e na rima.

O principal representante do Classicismo português foi Luís Vaz de Camões, cuja produção literária abrangeu o lírico e o épico (Os lusíadas), além de peças teatrais.

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Soneto

Luís Vaz de Camões

Sempre a razão vencida foi de Amor;Mas, porque assim o pedia o coração,Quis Amor ser vencido da Razão.Ora que caso pode haver maior!

Novo modo de morte, e nova dor!Estranheza de grande admiração,Que perde suas forças a afeição,Por que não perca a pena o seu rigor!

Pois nunca houve fraqueza no querer,Mas antes muito mais se esforça assimUm contrário com outro por vencer.

Mas a Razão, que a luta vence, enfim,Não creio que é Razão; mas há de serInclinação que eu tenho contra mim.

(In: Massaud Moisés, org. Luís de Camões; lírica. SP. Cultrix, 1988.)

Interpretação

1. Que elementos se encontram personificados no soneto? 2. Segundo o eu-lírico, quem foi sempre o vencedor: o amor ou a razão? Justifique através do

texto. 3. Explique o significado do segundo e do terceiro verso da primeira estrofe. Depois,

relacione sua conclusão a uma característica do Classicismo. 4. Explique o significado da segunda estrofe. 5. Pelo que se depreende da terceira estrofe, o amor é um sentimento forte ou fraco?

Explique. 6. A que conclusão o eu-lírico chega na última estrofe? 7. Analisando o esquema de rimas, o número de sílaba nos versos e a estrofação, explique o

que é perfeição formal.

I. LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL E LITERATURA JESUÍTICA

A Literatura Informativa abarca tudo o que cronistas e viajantes registraram sobre o Brasil no Século XVI, logo após sua descoberta pelos portugueses. É dessa época a "certidão de nascimento" do Brasil: a Carta, de Pero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra de cabral, relatando ao rei D. Manuel os fatos que aconteceram e o que observou na nova terra encontrada.

A Literatura Jesuítica, representada, sobretudo por José de Anchieta, envolve textos religiosos (poesia, teatro) voltados à catequização dos índios.

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Texto: Como os selvagens se portaram comigo no primeiro dia em sua aldeia

Hans Staden

    No dia seguinte – às ave-maria a julgar pelo sol – avistamos suas habitações. Tínhamos levado três dias de caminho percorrido de Bertioga, onde eu tinha sido aprisionado, trinta milhas.    Quando nos aproximamos, vimos uma pequena aldeia de sete choças. Chamavam-na Ubatuba. Dirigimo-nos para uma praia, aberta ao mar. Bem perto trabalhavam as mulheres numa cultura de plantas de raízes, que eles chamavam mandioca. Estavam aí muitas delas, que arrancavam raízes, e tive que lhes gritar em sua língua: "Aju ne xé peê remiurama", isto é: "Estou chegando eu, vossa comida".    Fomos à terra. Acudiram então todos, moços e velhos das cabanas, que ficavam num outeiro, e queriam ver-me. Os homens se retiraram com os arcos e flechas para suas moradias e deixaram-me com as mulheres, que me rodearam. Algumas foram à minha frente, outras atrás, dançando e cantando uma canção quem segundo seu costume, entoavam aos prisioneiros que tencionavam devorar. Assim trouxeram-me elas até a caiçara, fortificação de estacas longas e grossas que rodeia suas choupanas como a cerca dum jardim. Utilizam-na como anteparo contra o inimigo. No interior da caiçara arrojaram-se as mulheres todas sobre mim, dando-me socos, arrepelando-me a barba, e diziam em sua linguagem: "Xé anama poepika aé!" "Com esta pancada vingo-me pelo homem que os teus amigos nos mataram".    Depois introduziram-me elas na choça, onde tive que deitar-me numa rede, e de novo vieram, bateram-me, escarapelaram-me os cabelos e significaram-me, ameaçadoras, como iriam devorar-me.    Os homens estavam durante este tempo reunidos em uma outra choça. Lá bebiam cauim e cantavam em honra de seus ídolos, chamados Maracá, que são matracas feitas de cabaças, os quais talvez lhes houvessem profetizado que iriam fazer-me prisioneiro.    O canto eu ouvia, mas durante meia hora não houve nenhum homem perto de mim, apenas mulheres e crianças.    (In: Carlos Vogt e José Augusto Guimarães de Lemos. Orgs.. Cronistas e viajantes. SP, Abril Educação. 1982. Literatura comentada).

Interpretação

1. Em se tratando da época do Descobrimento do Brasil, ao lermos "...avistamos sua habitações", a que o cronista se refere?

2. No texto há referência a duas praias lusitanas bastante freqüentadas atualmente. Quais são?

3. Havia, nos índios um desejo de vingança contra os brancos. Por quê? 4. Podemos dizer que o texto em questão é literário? Por quê? 5. A que se deve a denominação "de viagens ou informativa" dada a essa literatura?

V. BARROCO

    O Barroco é literatura do conflito e dos extremos, isto em função das diferentes visões de mundo advindas da Idade Média (teocentrismo) e da Idade Moderna (antropocentrismo). A igreja Católica, preocupada com as idéias da Reforma Protestante, inicia a Contra-Reforma.

    A própria corrupção da Igreja Católica, com a ambição desmedida de seus representantes, e os grandes avanços verificados no conhecimento humano levaram o homem a valorizar-se mais e concluir que tinha autonomia, questionando o discurso da Igreja: que Deus era aquele que determinava a existência de escravos e senhores, ricos e pobres, explorados e exploradores? Que Deus era aquele que cobrava impostos e absolvia em troco de um pedaço de terra? Que Deus era aquele que condenava o prazer e só sabia castigar?

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    Se, por um lado, essa mudança de atitude levou a progressos, pois o homem percebeu que deveria agir, lutar por si mesmo, e não ficar esperando as coisas "caírem do céu", por outro, levou a uma incerteza com relação à realidade, pois ficou uma grande dúvida no ar: Deve-se, afinal, viver em função do terreno ou do divino? E se eu viver em função do terreno e a Igreja tiver razão? Vou para o inferno. E se eu viver em função do divino, privando-me para isso de alguns prazeres, e realmente não existir o pecado?

    Toda essa situação levará a atitudes contraditórias e questionadoras, que se revelarão na arte da época.

Características principais

1. Sentimento de insegurança. 2. Presença de antíteses (figura de linguagem que joga com idéias contrárias: vida/morte;

luz/trevas); 3. Presença de paradoxos (figura de linguagem que apresenta idéias aparentemente

absurdas). 4. Uso de motivos religiosos. 5. Pessimismo. 6. Preocupação com a morte. 7. Jogos de palavras, trocadilhos, sobretudo na poesia (cultismo). 8. Busca da essência das coisas, através de sua análise (conceptismo), predominante na

prosa. 9. Linguagem rebuscada. 10. Ordem inversa. 11. Tentativa de conciliar matéria espírito.

Principais representantes do Barroco: padre Vieira e Gregório de Matos Guerra

Texto:

Ao divino sacramento

Gregório de Matos

Tremendo chego, meu Deus,ante vossa divindade,que a fé é muito animosamas a culpa mui cobarde.

À vossa mesa divinacomo poderei chegar-me,se é triaga da virtudee veneno da maldade?

Como comerei de um pão,que me dais, por que me salve,um pão que a todos dá vida,e a mim temo que me mate?

Como não hei de ter medode um pão, que é tão formidável,

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vendo que estais todo em tudo,e estais todo em qualquer parte?

Quanto a que o sangue vos beba,isso não, e perdoai-me:como quem tanto vos ama,há de beber-vos o sangue?

Beber o sangue do amigoé sinal de inimizade;pois como quereis que eu o beba,para confirmarmos pazes?

Senhor, eu não vos entendo:vossos preceitos são graves,vossos juízos são fundos,vossa idéia inescrutável.

Eu confuso neste caso,entre tais perplexidadesde salvar-me ou de perder-me,..................................................

(Apud José Miguel Wisnik, org. Poemas escolhidos; Gregório de Matos. São Paulo, Cultrix, 1975.)

Interpretação

1. Reveja as características do Barroco e indique quais se aplicam ao texto. 2. O que você entende do que foi colocado na quarta e quinta estrofes? 3. Relendo as duas últimas estrofes, você diria que o poeta está seguro ou inseguro quanto

ao rumo a seguir? 4. Qual é a única certeza que o poeta tem?

 VI. ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO

Arcádia era, na mitologia, um monte grego onde se reuniam pastores.

O Arcadismo começa, em Portugal, com a fundação da Arcádia Lusitana, no Brasil, com a publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa.

A doutrina iluminista guia o pensamento no século XVIII, o Século das Luzes: exaltação da razão, único meio de se chegar à verdade; da liberdade individual, econômica e da igualdade perante a lei.

Com a superioridade da razão, Deus aparece representando a suprema Inteligência, dando-se a conhecer através da natureza, cujas leis regeriam tudo o que existe (teoria mecanicista), sem necessidade de orações e outras cerimônias religiosas.

Contrariando os princípios da Idade Média, prega-se a igualdade entre os homens, cada um com liberdade de lutar para obter o que deseja. Na verdade, é uma reação aos abusos do clero e da nobre.

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Características principais:

1. Preocupação com a forma. 2. Presença da mitologia greco-latina. 3. Simplicidade, substituindo o luxo. 4. Temas pastoris e campestres (artista = pastor). 5. A arte como imitação da natureza. 6. Obras em verso. 7. Uso da razão 8. Volta ao estilo clássico (de onde o nome "Neoclassicismo"). 9. Objetividade. 10. Excesso de adjetivos. 11. Paixões controladas. 12. Fuga do ambiente urbano (fugere urbem), busca da natureza (locus amenus), culto ao

homem simples (aurea mediocritas). 13. Personificação.

Principais representantes do Arcadismo: Manuel Maria du Bocage (Portugal); Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa (participantes da Conjuração Mineira), Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga.

Lira XIX

Tomás Antonio Gonzaga

Enquanto pasta alegre o manso gado,Minha bela Marília, nos sentemosÀ Sombra deste cedro levantado, Um pouco meditemosNa regular beleza,Que em tudo quanto vive, nos descobreA sábia natureza.

Atende, como aquela vaca pretaO novilhinho seu dos mais separaE o lambe, enquanto chupa a lisa teta.Atende mais, ó cara,Como a ruiva cadelaSuporta que lhe morda o filho o corpo,E salte em cima dela.

Repara, como cheia de ternuraEntre as asas ao filho essa ave aquenta,Como aquela esgravata a terra dura,E os seus assim sustenta;Como se encoleriza,E salta sem receio a todo o vulto,Que junto deles pisa.

.............................................................

(Marília de Dirceu. Rio de Janeiro, Tecnoprint.)

 

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Interpretação. 1. Que características do Arcadismo você encontra no texto? 2. O texto apresenta preocupação com a forma? Justifique. 3. Que visão o poeta tem da natureza? 4. Explique o significado de "regular beleza", na primeira estrofe.

VII. .  ROMANTISMO

O Romantismo surge, a partir da Segunda metade do século XVIII, na Inglaterra e na Alemanha, irradiando-se para a França e, dali, para o restante da Europa e para a América.

1. Momento Histórico

    1. Portugal    O Romantismo português tem início em 1825, com a publicação do poema Camões, de Almeida Garrett, e vai até 1865, quando se inicia o próximo movimento (Realismo).    Após a Revolução Francesa (1789) toda a Europa passa por um período de transformações. As monarquias absolutistas entram em crise, a burguesia se firma juntamente com o liberalismo sócio-político.    Em Portugal, a invasão napoleônica (1807) provoca a mudança de D. João VI para o Brasil, gerando movimentos de libertação e tentativa de restituição do equilíbrio à nação portuguesa. Em 1822, devido a uma revolução iniciado no Porto, os portugueses organizam uma Constituição liberal, que perderá efeito em 1834.    De qualquer forma, os ideais da Revolução Francesa fixam no homem o desejo de "liberdade, igualdade e fraternidade".    Com a ascensão da burguesia, há uma mudança na escala de valores da sociedade, passando a prevalecer a posse do dinheiro.    No âmbito cultural, o aperfeiçoamento e a expansão da imprensa favorecem a publicação de diversos gêneros, o que acarreta maior popularização da arte, sobretudo na Inglaterra, onde a Revolução Industrial tinha efeitos mais marcantes.Brasil    No Brasil, o movimento romântico começa com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, em 1836, e vai até 1881, quando são publicados os romances O mulato, de Aluísio de Azevedo, e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.    A vinda da corte real portuguesa em 1808 acarreta algum desenvolvimento ao Brasil, que culmina com a Proclamação da Independência em 1822, estabelecendo-se o regime monárquico.    Tornando-se uma nação independente, é natural que começasse a se desenvolver um espírito nacionalista, que se revelará nas obras de arte, voltadas sobretudo ao cenário brasileiro, tentando libertar-se das influências europeizantes.

A cultura e a sociedade

Se a Revolução Francesa fortaleceu o desenvolvimento das idéias liberais, a ascensão da burguesia e a Revolução Industrial reforçaram as bases do capitalismo.

Em função da ânsia de ganhos que começa a prevalecer na mente das pessoas, para um certo segmento da sociedade surge o sentimento de frustração, de perda de valores, já que o homem começa a degradar-se para conseguir uma boa posição social. Daí o saudosismo que se pode detectar em muitas obras românticas e o culto a heróis medievais, pois o passado aparece como a real fonte de valores autênticos. Outros fogem para o sonho, em busca de um mundo ideal, como meio de esquecer essa realidade que choca, amedronta, corrompe.

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No Brasil, especificamente, existe motivo para uma certa euforia, gerada pela Independência. Teremos artistas falando da paisagem brasileira, da história do índio, da sociedade, embora encontremos, também, em meio a isso, a degradação da classe dominante e dos que desejam ascender socialmente a qualquer preço. O índio, por sua vez, será eleito nosso "herói nacional", nossa origem, uma vez que, diferentemente dos europeus, não conhecemos nem tivemos a Idade Média.

A existência da escravidão negra tocará poetas como Castro Alves; a falta de essência no posicionamento de pessoas e a ausência de perspectivas de reversão dos valores levarão muitos a uma vida desregrada que atrai prematuramente a morte.

Contrariamente aos clássicos, os românticos pretendem o predomínio da emoção sobre a razão, a liberação dos sentimentos dos sentimentos, a liberdade de produção.

Principais características da produção artística

Fora muitas as tendências da arte romântica mas sobressaíram-se três delas, divididas no que chamamos de gerações: nacionalista, ultra-romântica (ou do "mal do século" ou byroniana) e social.

Importante notar que nessa época é que surge o romance propriamente dito, inicialmente publicado em capítulos nos jornais (folhetins).

    As características que são apresentadas a seguir são bem gerais e servem apenas para se ter uma idéia do espírito da era romântica. Ao analisar alguns textos, você poderá ter oportunidade de conhecer maiores detalhes.

1. Liberdade de expressão. 2. Uso da imaginação. 3. Na Europa, reaparecem os motivos medievais, numa tentativa de resgatar

o passado histórico e os heróis nacionais. 4. Volta ao passado individual, com valorização da infância. 5. Subjetivismo, valorização do "eu". 6. Pessimismo, com expressão de dores, sofrimentos. 7. Fuga da realidade, evasão, escapismo. Daí o romântico ser considerado

um sonhador. 8. Busca de refúgio na natureza, que aparece como reflexo do estado de

espírito do artista. 9. Aversão ao purismo e formalismo clássico e neoclássico.

Conseqüentemente, o conteúdo passa a ter mais importância que a forma. 10. Visão da morte como solução para os problemas humanos. 11. Amores impossíveis, musas inatingíveis, sonhos irrealizáveis. 12. Valorização do índio, no Brasil, na primeira fase do Romantismo. 13. Valorização da pátria. 14. Revalorização do místico e do religioso, em alguns casos. 15. Na poesia social ou condoreira, referência à vida do escravo. 16. Espírito revolucionário, almejando reformas na estrutura da sociedade,

embora essa atitude nada representasse de prático na solução de problemas, restringindo-se a meros lamentos (em alguns casos, denúncias) e busca de asilo no sonho.

1. Principais autores e obras

Portugal

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Almeida Garrett: Camões, Dona Branca, Folhas caídas, Lírica de JoãoMínimo, Romanceiro, Flores sem fruto (poesia); Viagens na minha terra, Arco de Sant’Ana (prosa); Frei Luís de Sousa (teatro).Alexandre Herculano: "A cruz mutilada" (poesia); Lendas e narrativas, O bobo, O monge de Cister, Eurico, o presbítero (prosa).Antônio Feliciano de Castilho: Cartas de Eco a Narciso, A primavera, A noite do castelo, Os ciúmes do bardo, Escavações poéticas (poesia).Antônio Augusto Soares de Passos: Poesias, que contém "O noivado do sepulcro", o poema mais popular na época.Camilo Castelo Branco: Amor de perdição, Amor de salvação, A queda de um anjo, Eusébio Macário, A doida de candal (prosa).Júlio Dinis (Joaquim Guilherme Gomes Coelho): As pupilas do senhor reitor, Os fidalgos da casa mourisca, A morgadinha dos canaviais, Uma família inglesa (prosa).João de Deus: Campo de flores (poesia).

Brasil

Gonçalves de Magalhães: Suspiros poéticos e saudades (cujo prefácio marcou o início do Romantismo no Brasil, poesia); A Confederação dos Tamoios (poesia épica).Gonçalves Dias: Primeiros Cantos, Segundos cantos, Sextilhas de Frei Antão, Últimos cantos, Os timbiras (poesia); Leonor de Mendonça (teatro).Joaquim Manuel de Macedo: A Moreninha, O moço loiro, Dois amores, A luneta mágica (prosa).Manuel Antônio de Almeida: Memórias de um sargento de mílícias (prosa).José de alencar; Iracema, Ubirajara, O guarani (prosa indianista); O gaúcho, O sertanejo (prosa regionalista); Cinco minutos, A viuvinha, A pata da gazela, Sonhos d’ouro, Lucíola, Diva, senhora, Encarnação, O tronco do ipê, Til (prosa social ou urbana); As minas de prata, A Guerra dos Mascates (prosa histórica); O demônio familiar, Mãe, As asas de um anjo, O jesuíta (teatro).Bernardo Guimarães: A escrava Isaura, O garimpeiro, O seminarista, O ermitão de Muquém (prosa).Visconde de Taunay (Alfredo d’Escragnole Taunay): Inocência, A retirada da Laguna, O Encilhamento (prosa).Franklin Távora: O Cabeleira, O matuto (prosa).Álvares de Azevedo: Lira dos vinte anos, O conde lopo (poesia); Noite na taverna (prosa); Macário (teatro).Junqueira Freire: Inspirações do claustro, Contradições poéticas (poesia).Casimiro de Abreu: Primaveras (poesia).Castro Alves: Espumas flutuantes, A Cachoeira de Paulo Afonso, Os escravos (poesia); Gonzaga ou A revolução de Minas (teatro).Fagundes Varela: Vozes da América, Noturnas, O estandarte auriverde, Cantos e fantasias, Cantos meridionais, Cantos do ermo e da cidade, Anchieta ou O evangelho nas selvas, cantos religiosos, Diário de Lázaro (poesia).Sousândrade (Joaquim de Sousa Andrade): Gusa errante, Harpas selvagens (poesia).Martins Pena: O juiz de paz na roça, A família e a festa da roça, o judas em Sábado de aleluia, Quem casa quer casa, O noviço, Um sertanejo na corte (teatro).

TEXTOS PARA ANÁLISE

Indentifique as características correspondentes ao movimento romântico, seguindo o exemplo:

"Mas essa dor da vida que devoraA ânsia de glória, o dolorido afã...

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A dor no peito emudecera ao menosSe eu morresse amanhã!" (Álvares de azevedo).

Liberdade formal, subjetivismo, morte como solução.

"Oh! Que saudades que tenho Da aurora da minha vida,Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais!" (Casimiro de Abreu)"Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves, que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá." (Gonçalves Dias)"Ó Guerreiros da Taba sagrada,Ó Guerreiros da tribo Tupi,Falam deuses nos cantos do Piaga,Ó Guerreiros, meus cantos ouvi." (Gonçalves Dias)"Amo o silêncio, os areais extensos,Os vastos brejos e os sertões sem dia,Porque meu seio como a sombra é triste,Porque minh’alma é de ilusões vazia." (Fagundes Varela)"Lá na úmida senzala,Sentado na estreita sala,Junto ao braseiro, no chão,Entoa o escravo o seu canto,E ao cantar correm-lhe em prantoSaudades do seu torrão..." (Castro Alves)"Não, não é louvo. O espírito somenteÉ que quebrou-lhe um elo da matéria.Pensa melhor que vós, pensa mais livre,Aproxima-se mais à essência etérea" (Junqueira Freire)    "Formou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade e o pôs num inferno de tolices.    O homem –não o homem que Deus fez, mas o homem que a sociedade tem contrafeito, apertando e forçando seu moldes de ferro àquela pasta de limo que no paraíso terreal se afeiçoará à imagem da divindade – o homem assim aleijado como nós o conhecemos, é o animal mais absurdo, o mais disparatado e incongruente que habita na terra.(...) indigestão de ciência que não comutou seu mau estômago, presunção e vaidade que dela se originaram... (Almeida Garrett)    "Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros." (José de Alencar)."Amo-te, oh cruz, no vértice firmadaDe esplêndidas igrejas;Amo-te quando à noite, sobre a campa,Junto ao cipreste alvejas;Amo-te sobre o altar, onde, entre incensos,As preces te rodeiam." (Alexandre Herculano)."Era no dous de julho. A pugna imensaTravara-se nos cerros da bahia...O anjo da morte pálido cosiaUma vasta mortalha em Pirajá.Neste lençol tão largo, tão extenso,Como um pedaço roto do infinito...

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O mundo perguntava erguendo um grito;Qual dos gigantes morto rolará?!..." ( Castro Alves.

AUTORES ROMÂNTICOS BRASILEIROS – PRIMEIRA GERAÇÃO A primeira geração romântica brasileira corresponde ao momento de implantação da estética e definição de temas. É a chamada geração nacionalista/indianista, por voltar-se basicamente para a paisagem brasileira, para nossa história e cantar o índio como herói nacional.José de AlencarJosé Martiniano de Alencar nasceu no Ceará em 1829 e morreu no Rio de Janeiro em 1877, de tuberculose. Filho de um senador liberal, Alencar foi na maioridade um deputado conservador (não era favorável à escravidão, mas defendia a servidão).Formado em direito, indispôs se com D. Pedro II e abandonou a política por não lhe ser destinado um cargo a que aspirava.Pela variedade e extensão de sua obra, José de Alencar tornou-se a figura central do Romantismo brasileiro, produzindo romances históricos, urbanos, indianistas, regionalistas, teatro, entre outros.Manuel Antônio de Almeida

Manuel Antônio d e Almeida nasceu no Rio de Janeiro em 1831 e morreu num naufrágio em 1861, em viagem de objetivos eleitorais. Era de família pobre e ficou órfão de pai aos 10 anos. Embora tenha cursado belas-artes e medicina, viveu do jornalismo, profissão em que conheceu o aprendiz de tipógrafo Machado de Assis. Escreveu a obra Memórias de um sargento de milícias, publicada inicialmente em folhetins.

Franklin TávoraAlém de José de Alencar, três autores exploraram o regionalismo, só que em escala bem menor: Bernardo Guimarães, Franklin Távora e Visconde de Taunay.João Franklin da Silveira Távora nasceu no ceará em 1842 e morreu no Rio de Janeiro em 1888. Formado em direito, participou da vida política, chegando a ocupar altos cargos em Pernambuco. Sob o pseudônimo de "Semprônio", criticou o regionalismo de José de Alencar em Cartas a Cincinato, tachando-o de superficial, desprovido de conhecimento de causa.Obra de destaque: O Cabeleira.

AUTORES ROMÂNTICOS BRASILEIROS – SEGUNDA GERAÇÃO

A Segunda geração romântica, também conhecida como ultra-romântica, do "mal do século" ou byroniana (por influência do poeta inglês Lord Byron – 1788/1824), caracteriza-se pelo individualismo, pela idealização da mulher e do amor, pelo sofrimento e descontentamento que só vê solução na morte e se refugia no sonho.

O tipo de vida que tinham, normalmente boêmia, e a angústia de que se viam cercados os poetas dessa fase levaram-nos em geral a uma morte prematura.

Álvares de Azevedo

    Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo em 1831 e morreu no Rio de Janeiro em 1852. Formou-se em letras e em direito. É considerado o principal representante da Segunda geração romântica, função da morbidez de seus versos.    Apesar de ter morrido muito jovem, Álvares de Azevedo se eternizou através de sua obra, que permite vislumbrar seu talento. Escreveu, entre outros poemas, Lembrança de morrer e Meu sonho (poemas).

Fagundes Varela

    Luiz Nicolau Fagundes Varela nasceu no Rio de Janeiro em 1841, onde morrera em 1875.

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    Iniciou a Faculdade de Direito em São Paulo, mas não levou adiante, dando preferência à vida boêmia, na tentativa de superar seus problemas pessoais. Casando-se aos vinte anos, nasceu-lhe um filho, Emiliano, que viveu paenas atê os três meses de idade. Esse fato abalou-o, inspirando seu poema mais popular, Cânttico do calvário.    Sua primeira esposa morreu antes de completar três anos de casamento. Fagundes Varela volta à faculdade, abandonando novamente, logo em seguida. Em 1869 une-se a outra mulher, com quem tem três filhos: duas meninas e um menino, a quem também dá o nome de Emiliano e a quem também a morte leva prematuramente comoo primeiro. O poeta continuou, até morrer, em sua vida errante, sendo encontrado geralmente embriagado.

Junqueira Freire

Luís José Junqueira Freire nasceu e morreu na Bahia (1832-1855). Aos 19 anos abraçou o sacerdócio, talvez mais para fugir dos problemas familiares e da vida , mas o abandonou depois de dois anos por falta de vocação, morrendo no ano seguinte.Segundo Alfredo Bosi, pode-se ver seu livro Inspirações do claustro como "um documento pungente de um moço enfermiço dividido entre a sensualidade, os temores da culpa e os ideais religiosos, mas não como uma obra de poesia".

Casimiro de Abreu

Carioca, Casimiro José Marques de abreu nasceu em 1839 e morreu em 1860, de tuberculose, Começou a escrever poesias aos 10 anos. Viveu algum tempo em Portugal, onde iniciou sua carreira literária. Seu pai queria que ele se dedicasse ao comércio, o que lhe foi motivo de revolta. Escreveu Canção do exílio, um espécie de paráfrase da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias:Se eu tenho de morrer na flor dos anos, Meu Deus! Não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá!

AUTORES ROMÂNTICOS BRASILEIROS – TERCEIRA GERAÇÃO

Castro Alves

Antônio de Castro Alves é baiano de Curralinho (hoje Castro Alves). Nasceu em 1847 e morreu em 1871, em Salvador. O poeta pertence à terceira geração romântica, a da poesia social, voltada sobretudo para o problema dos escravos, pois nessa época o Brasil encontrva-se em processo de desenvolvimento da cultura urbana e dos ideais democráticos, estampados na campanha abolicionista, de que castro Alves participou ativamente, tanto que ficou conhecido como "Poeta dos escravos".

Gonçalves Dias

Antônio Gonçalves Dias nasceu no Maranhão em 1823 e morreu em 1864, num naufrágio, quando retornava da Europa. Estudou latim, francês e filosofia no Brasil e cursou direito em Coimbra. Seus primeiros versos foram dedicados ao imperador D. Pedro II, por ocasião dos festejos da coroação.Vítima de preconceito racial (era filho de português com mestiça), teve negada a mão de Ana Amélia Ferreira do Vale em casamento. Ela propõe que eles fujam, mas ele se nega a trair o amigo, Alexandre Teófilo, parente dela e responsável pelo encontro dos dois. Encontrando-a alguns anos depois em Lisboa, já casado com outra, ele escreve o poema "Como! És tu?";Gonçalves Dias foi professor de latim e de história do Brasil no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Como chefe da Seção de Etnografia da Comissão Científica de Exploração, teve como missão, em 1859, "estudar os indígenas brasileiros em seus aspectos físico, moral e social; colher-lhes a opinião a respeito dos brancos e as queixas que por acaso tivessem; pesquisar nos cartórios e arquivos, públicos e particulares, documentos relativos à história e geografia do Brasil, dados estatísticos e informações sobre o comércio das províncias visitadas, a área cultivada e a sem proveito, as atividades das povoações " (Péricles Eugênio da Silva Ramos).TEXTO

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Canção do tamoio

Gonçalves Dias

Não chores, meu filho;Não chores, que a vida É luta renhida;Viver é lutar.A vida é combateQue os fracos abate,Que os fortes, os bravosSó pode exaltar.IIUm dia vivemos!O homem que é forteNão teme da morte;Só teme fugir;No arco que entesaTem certa um presa,Quer seja tapuia,Condor ou tapir.IIIO forte, o cobardeSeus feitos invejaDe o ver na pelejaGarboso e feroz;E os tímidos velhosNos graves concelhos,Curvadas as frontes,Escutam-lhe a voz!

IVDomina, se vive;Se morre, descansaDos seus na lembrança,Na voz do porvir.Não cures da vida!Sê bravo, sê forte!Não fujas da morte,Que a morte há de vir!VE pois que és meu filhoMeus brios reveste;Tamoio nasceste,Valente serás.Sê duro guerreiro,Robusto, fragueiro,Brasão dos tamoiosNa guerra e na paz.VITeu grito de guerraRetumbe aos ouvidosD’imigos transidosPor vil comoção;E tremam d’ouvi-loPior que o sibilo

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Das setas ligeiras,Pior que o trovão.VIIE a mão nessas tabas,Querendo caladosOs filhos criados Na lei do terror;Teu nome lhes diga,Que a gente inimigaTalvez não escuteSem pranto, sem dor!VIIIPorém se a fortuna,Traindo teus passos,Te arroja nos laçosDo inimigo falaz!Na última horaTeus feitos memora,Tranqüilo nos gestos,Impávido, audaz.

IXE cai como o tronco Do raio tocado,Partido rojadoPor larga extensão;Assim morre o forte!No passo da morte Triunfa, conquistaMais alto brasão.

XAs armas ensaia,Penetra na vida:Pesada ou querida,Viver é lutar.Se o duro combateOs fracos abate, Aos fortes, aos bravos,Só pode exaltar.

(In: Péricles Eugênio da S. Ramos., org. Poemas de Gonçalves Dias. RJ. Tecnoprint.)

Interpretação 1. Pelo texto, quem são os abatidos e quem são os exaltados, segundo a visão indígena? 2. O poema é composto de dez estrofes. Resuma o conteúdo de cada uma. 3. Que aspecto do índio é explorado nesse poema: físico, moral ou social? 4. Como você resumiria a moral indígena? 5. Quanto ao número de sílabas poéticas, como é composto o poema? 6. Que tipo de ritmo a construção do texto sugere?

O TEATRO ROMÂNTICO

Martins Pena

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Luís Carlos Martins Pena nasceu no Rio de Janeiro em 1815 e morreu em Lisboa em 1848, tentando regressar de Londres ao Brasil, acometido de tuberculose.Apesar de o teatro ter ensaiado os primeiro passos com alguns poetas e romancistas, foi com Martins Pena que tivemos os primeiros textos de maior valor. Ele foi o introdutor do teatro de costumes, gênero que explora tipos sociais, acentuando-lhes características que provoquem riso. VII. REALISMO/NATURALISMO

O berço do movimento realista é a França, 1857, quando Gustave Flaubert publica o romance Madame Bovary.

1. Momento histórico 2. Portugal

Em Portugal o Realismo/Naturalismo se inicia em 1865, com a Questão Coimbrã e vai até 1890, ano da publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro, que marca o início do Simbolismo. A Questão Coimbrã foi uma polêmica entre românticos e jovens realistas, iniciada com Antônio Feliciano de Castilho e Antero de Quental. Castilho, no posfácio de um livro de Pinheiro Chagas (Poema da mocidade) criticou as novas idéias e teve como resposta uma carta aberta de Antero de Quental (Bom senso e bom gosto), em que este pregava a evolução do pensamento e a liberdade de criação, tachando Castilho de passadista.

A Europa do século XIX assistiu a um crescente desenvolvimento das ciências sociais enaturais. Augusto Comte concebe o positivismo, teoria segundo a qual tudo pode ser explicado à luz das ciências; Hypolite Taine cria o determinismo, postulando que o meio, a raça e o momento histõrico determinam as diretrizes do comportamento humano; Darwin desenvolve a lei da seleção natural, segundo a qual só os mais fortes sobrevivem, pois a natureza seleciona os que devem continuar a procriar; Proudhon aparece como o precursor do socialismo, e assim muitos outros anunciam outras idéias novas.

Ainda nesse século, a burguesia se consolida no poder, o capitalismo não pára de crescer, a indústria se desenvolve em ritmo acelerado. A novidade consiste no aparecimento de um novo segmento social; o proletariado e com ele a luta de classes que ainda hoje presenciamos.

Portugal encontrava-se internamente em crise, com a revolta dos camponeses e o descontentamento geral da sociedade, devido a seu estado estacionário e dependente.

Brasil

O Realismo/Naturalismo começa no Brasil em 1881, com a publicação de O mulato, de Aluísio Azevedo (naturalista), e de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (realista), e vai até 1893, publicação de Broquéis, de Cruz e Sousa, introduzindo o Simbolismo no país.

As novas idéias que circulavam na Europa chegaram também até aqui, dando abertura a uma mudança de mentalidade. Fervilhavam idéias liberais, abolicionistas e republicanas.

A vida política no Brasil encontrava-se bastante tumultuada, pois a aristocracia pretendia manter-se no poder a qualquer preço, enquanto parte da sociedade ansiava por renovações. Apesar da proibição do tráfico de escravos (1850), o país continuava escavista, agrário e latifundiário.

3. A cultura e a sociedade

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O predomínio da concepção capitalista, se trouxe progresso material, trouxe também a degradação humana: faz-se qualquer coisa por dinheiro, principalmente explorar o próximo.

Se a maior parte dos românticos se limita a lastimar essa visão de mundo que lhe aparece à frente, o realista vai "dissecar" esse mesmo quadro, colocando a chaga da corrupção social à mostra. Duas instituições principalmente serão alvo desse desmascaramento, pondo à mostra o seu âmago, e não apenas as aparências: a família e a Igreja, que valorizam sobretudo interesses pessoais e econômicos.

O avanço das ciências desenvolve no homem um espírito de análise, com prevalência da razão sobre a emoção, no que há também uma dose de materialismo.

Com o crescente aumento das diferenças sociais, os ideais democráticos ganham campo a cada dia, condenando a exploração do homem pelo homem.

É, enfim, um período de grandes mudanças e questionamentos, pois a partir da Revolução Industrial, os fatos se sucedem muito rapidamente, deixando pouco espaço para a reação.

4. Diferença entre Realismo e Naturalismo: 5. A obra realista volta-se às relações sociais, observando costumes,

1. relacionamento familiar e amoroso, corrupção das grandes instituições, como o Estado, a Igreja, a família, o casamento etc.

O Naturalismo é também realista, só que representa uma tendência mas voltada ao cientificismo, com aplicação das teorias científicas em voga na época, dando ênfase nas personagens, ao instintivo e ao patológico, ou seja, considerando o homem em sua condição animal. Daí a produção literária naturalista apresentar o chamado romance experimental ou romance de tese.

2. Características principais da produção artística

São as seguintes, as características gerais:

3. Crítica ao homem e à sociedade. 4. Surgimento do romance social, psicológico e de tese. 5. Narração de fatos partindo da observação. 6. Presença da sexualidade nas obras. 7. Objetivismo: a linguagem deve ser clara e não conter dados subjetivos. 8. Contemporaneidade: Ao contrário dos românticos, autor e obra procuram ser

contemporâneos, isto é, não se pode partir da experimentação com algo distante de nós.

9. Racionalismo, 10. Linguagem simples e abundância de descrições para que o leitor possa ter a

imagem o mais próxima possível. 11. Apresentação da realidade sem preocupações morais. 12. As personagens são, em geral, seres que encontramos no mundo real: aparece a

linguagem de baixo calão, os vícios humanos, e outras mazelas humanas. 13. Preferência por enredos que envolvam ambientes sociais em desequilíbrio.

Características essencialmente naturalistas:

14. Ânsia de explicar tudo cientificamente.

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15. Determinismo com relação à atitude das personagens (nem tudo depende de sua vontade; pode haver imposição do meio, da hereditariedade física e psicológica, e outros fatores influenciáveis).

16. O homem e os outros elementos da natureza são vistos como sujeitos às mesmas leis da evolução.

17. O homem é encarado como produto da raça, do meio e do ambiente. 18. As personagens são semelhantes entre si, na mediada em que apresentam

desequilíbrios característicos de sua condição. 19. Preferência a ambientes em que predominem a miséria e a ignorância. 20. Principais autores e obras

PortugalProsa

Eça de Queirós: O crime do padre Amaro; O primo Basílio; O mandarim; Os Maias; A relíquia; O mistério da estrada de Sintra (co-autoria com Ramalho Orgião); A ilustre casa de Ramires; A cidade e as serras; O conde de Abranhos.Fialho de Almeida: Contos; A cidade do vício; Lisboa galante; O país das uvas.Ramalho Ortigão: A Holanda; John Bull e a sua ilha; Notas de viagem.

Poesia Guerra Junqueiro: Os simples; A velhice do Padre Eterno; A musa em férias.Cesário verde: O livro de Cesário Verde.Antero de Quental: Odes modernas; Primaveras românticas; Raios de extinta luz.Teófilo Braga: Visão dos tempos; Tempestades sonoras.

Brasil Machado de Assis: Crisálidas, Falenas, Americanas (poesia); Ressurreição, A mão e a luva, Helena, Iaiá Gaarcia, Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires, Contos fluminenses, Histórias da meia-noite, Papéis avulsos, Várias histórias, Páginas recolhidas, relíquias da casa velha (prosa); Queda que as mulheres têm pelos tolos, Os deuses de casaca (teatro).Aluísio Azevedo: O mulato, O cortiço, Casa de Pensão (prosa).Raul Pompéia: O Ateneu, Uma tragédia no Amazonas (prosa).Inglês de Sousa: O missionário, O cacaulista, O coronel sangrado, Contos amazônicos (prosa).Domingos Olímpio: Luzia-Homem (prosa).Manuel de Oliveira Paiva: Dona Guidinha do poço, A afilhada (prosa).

AUTORES REALISTAS BRASILEIROSAluísio AzevedoAluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em São Luís do Maranhão em 1857 e morreu em Buenos Aires, Argentina, onde estava como cônsul brasileiro, em 1913. Anticlerical, conseguiu conciliar sua vocação de romancista com sua índole polêmica.Sua primeira obra naturalista, O mulato, acabou por levá-lo a deixar sua terra natal e morar no Rio de Janeiro, pois as pessoas favoráveis à discriminação racial começaram a hostilizá-lo. Escreveu ainda, nos moldes naturalistas, Casa de pensão e O cortiço. A par desses romances, criou textos românticos para folhetins, sendo um dos primeiros escritores brasileiros a viver de literatura.Machado de AssisJoaquim Maria Machado de Assis era filho de um mulato com uma lavadeira portuguesa. Nasceu no Rio de Janeiro em 1839, morrendo em 1908. De família humilde, Machado de Assis viveu sua infância no morro. Foi vendedor de doces, auxiliar de igreja, tipógrafo, balconista e, já com seus primeiros escritos, revisor e colaborador do Correio Mercantil. Casado e com uma vida econômica estável, pôde dedicar-se mais à sua obra.Diferentemente de outros realistas, Machado de Assis enfatiza a psicologia de sua personagens e parte de acontecimentos simples do cotidiano para revelar a falsidade existente entre as pessoas e criticar as convenções burguesas, que avaliam o indivíduo pelos dotes materiais e não pelos valores pessoais. As principais características próprias do realismo que encontramos em Machado de Assis são a influência do meio sobre o

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homem e a visão da vida como uma luta em que vence o mais forte ("Ao vencedor, as batatas"). No que tange à luta pela vida, temos em Machado de Assis a teoria do hunanitismo, apresentada pela personagem Quincas Borba e segundo a qual os homens estariam distribuídos pelo corpo de um ser denominado Humanitas, tendo os atributos de acordo com a posição nesse corpo, ou que determina sua vitória ou sua derrota.Observamos na obra do escritor duas etapas: uma de características mais românticas, como Helena, Iaiá Garcia, A mão e a luva, e outra realista, iniciada como romance Memórias póstumas de Brás Cubas. Escreveu também poesias, como a que transcrevemos a seguir, dedicada sua esposa Carolina, cuja morte, em 1904, muito o abalou.TEXTO                     Do livro O cortiço, de Aluísio Azevedo.[João Romão]    João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.    Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida arrranjava-lhe, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha, a Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade.    Bertoleza também trabalhava forte; a sua quitanda era a mais bem afreguesada do bairro. De manhã vendia angu, e à noite peixe frito e iscas de fígado; pagava de nornal a seu dono vinte mil-réis por mês, e, apesar disso, tinha de parte quase o necessário para a alforria. Um dia, porém, o seu homem, depois de correr meia légua, puxando uma carga superior às usas forças, caiu morto na rua, ao lado da coarroça, estrompado como uma besta.    João Romão mostrou grande interesse por esta desgraça, fez-se até participante direto dos sofrimentos da vizinha e com tamanho empenho a lamentou, que a boa mulher o escolheu para confidente das suas desventuras. Abriu-se com ele, contou-lhe a sua vida de amofinações e dificuldades. "Seu senhor comia-lhe a pele do corpo! Não era brinquedo para uma pobre mulher ter de escarrar, pr’ali, todos os meses vinte mil-réis em dinheiro!" E segredou-lhe então o que tinha juntado para a sua liberdade e acabou pedindo ao vendeiro que lhe guardasse as economias, porque já de certa vez fora roubada por gatunos que lhe entraram na quitanda pelos fundos.    Daí em diante, João Romão tornou-se o caixa, o procurador e o conselheiro da crioula. No fim de pouco tempo era ele quem tomava conta de tudo que ela produzia, e era também que punha e dispunha dos seus pecúlios, e que se encarregava de remeter ao senhor os vinte mil-réis mensais. Abriu-lhe logo uma conta corrente, e a quitandeira, quando precisava de dinheiro para qualquer coisa, dava um pulo até à venda e recebia-o das mãos do vendeiro, de "Seu João", como ela dizia. Seu João debitava metodicamente essas pequenas quantias num caderninho, em cuja capa de papel pardo lia-se, mal escrito em letras cortadas de jornal: "Ativo e passivo de Bertoleza".    E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da mulher, que esta afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava dele, cegamente, todo e qualquer arbítrio. Por último se alguém precisava tratar com ela qualquer negócio, nem mais se dava ao trabalho de procurá-la, ia logo direto a João Romão.    Quando deram fé estavam amigados.    Ele propôs-lhe morarem juntos, e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior à sua.

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    João Romão comprou então, com as economias da amiga, alguns palmos de terreno ao lado esquerdo da venda, e levantou uma casinha de duas portas, dividida ao meio paralelamente à rua, sendo a parte da frente destinada à quitanda e a do fundo para dormitório que se arranjou com os cacarecos de Bertorleza. (...)Agora, disse ele à crioula, as coisas vão correr melhor para você. Você vai ficar forra; eu entro com o que falta.    Nesse dia ele saiu muito à rua, d uma semana depois apareceu com uma flha de papel toda escrita, que leu em voz alta à companheira.    Você agora não tem mais senhor! Declarou em seguida à leitura, que ela ouviu entre lágrimas agradecidas. Agora está livre. Doravante o que você fizer é só seu e mais de seus filhos, se os tiver. Acabou-se o cativeiro de pagar os vinte mil-réis a à peste do cego!    Coitado! A gente se queixa é da sorte! Ele, como meu senhor, exigia o jornal, exigia o que era seu!    Seu ou não seu, acabou-se! É vida nova!    Contra todo o costume, abriu-se nesse dia uma garrafa de vinho do Porto, e os dois beberam-na em honra ao grande acontecimento. Entretanto, a tal carta de liberdade era obra do próprio João Romão, e nem mesmo o selo, que ele entender de pespegar-lhe em cima, para dar à burla maior formalidade, representava despesa, porque o esperto aproveitara uma estampilha já servida. O senhor de Bertoleza não teve sequer conhecimento da fato; o que lhe constou, sim, foi que a sua escrava lhe havia fugido para a Bahia depois da morte do amigo. (...)    João Romão não saía nunca a passeio, nem ia à missa aos domingos; tudo que rendia a sua venda e mais a quitanda seguia direitinho para a caixa econômica e daí então para o banco. Tanto assim que, um ano depois da aquisição da crioula, indo em hasta pública algumas braças de terras situadas ao fundo da taverna, arrematou-as logo e tratou, sem perda de tempo, de construir três casinhas de porta e janela.    Que milagres de esperteza e de economia não realizou ele nessa construção! Servia de pedreiro, amassava e carregava barro, quebrava pedra; pedra, que o velhaco fora de horas, junto com a amiga, furtava à pedreira do fundo, da mesma forma que subtraíam o material das casas em obra que havia por ali perto. (...)    E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço de São Romão.    Hoje quatro braças de terra, amanhã seis, depois mais outras, ia o vendeiro conquistando todo o terreno que se estendia pelos fundos da sua bodega; e, à proporção que o conquistava, reproduziam-se os quartos e o número de moradores.    Sempre em mangas de camisa, sem domingo nem dia santo, não perdendo nunca a ocasião de assenhorear-se do alheio, deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos pesos e na medidas, comprando por dez réis de mel coado o que os escravos furtavam da casa dos seus senhores, apertando cada vez mais as próprias despesas, empilhando privações sobre privações, trabalhando e mais a amiga como uma junta de bois, João Romão veio afinal a comprar uma boa parte da bela pedreira, que ele todos os dias, ao cair da tarde, assentado um instante à porta da venda, contemplava de longe com um resignado olhar de cobiça.    Pôs lá seis homens a quebrarem pedra e outros seis a fazerem lajedos e paralelepípedos, e então principiou a ganhar em grosso, tão em grosso que, dentro de ano e meio, arrematava já todo o espaço, compreendido entre as suas casinhas e a pedreira, isto é, umas oitenta braças de fundo sobre vinte de frente em plano enxuto e magnífico para construir.(O cortiço. )Interpretação

21. Trace um perfil da personagem João Romão. 22. Você acha que existem pessoas como João Romão? Justifique. 23. Destaque do texto passagens que comprovem ser Bertoleza um degrau para a

escalada social de João Romão. 24. Bertoleza era cafuza, isto é, mestiça de negro e índio. Como você vê a posição

dela com relação aos negros?

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25. Como João Romão resolveu o problema de ertoleza com seu "dono"? 26. Pesquisa: Quem são os donos dos "cortiços" hoje? 27. Como se justifica que muitas pessoas se vejam obrigadas a viver em cortiços?

VII. .  PARNASIANISMO

    O Parnasianismo é um movimento contemporâneo ao Realismo/Naturalismo, referente à poesia dessa época. Em Portugal foi de pequeníssima expressão. Contudo, no Brasil teve muitos seguidores.    Parnassus era um monte grego onde, segundo a lenda, se reuniam os poetas. O movimento parnasiano se inicia na França, através da publicação da antologia Le Parnasse Contemporain (O Parnaso contemporâneo).    Essa corrente pretendeu combater o excesso de sentimentalismo presente na poesia romântica e criar algo mais próximo da "ciência".Características principais da produção artística

7. Lema: "Arte pala arte". A arte deveria constituir um fim em si mesma, não ser reflexo dos sentimentos do artista ou representar preocupações com problemas sociais.

8. Retorno ao Classicismo, valorizando mais a descrição que a análise. 9. Rigidez formal, com respeito a métrica e rimas.

10. Objetividade. 11. Preferência pelos sonetos, só que com verso alexandrino (doze sílabas) e não com

decassílabo como nos clássicos. 12. Poesia mais preocupada com a técnica, com a forma. 13. Impessoalidade. O artista não devia envolver-se emocionalmente com o objeto. 14. Purismo (preocupação com o apuro da linguagem e correção gramatical). 15. Vocabulário erudito, envolvendo utilização de palavras incomuns no linguajar

cotidiano. 16. Exotismo, com exploração de temas mais extravagantes.

Principais autores e obras brasileiros

Temos três autores considerados principais no Parnasianismo brasileiro, e que foram chamados de a "Tríade Parnasiana": Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.

Alberto de Oliveira; Canções românticas, Meridionais, Versos e rimas, Poesias.Raimundo Correia: Primeiros sonhos, Sinfonias, versos e versões, Aleluias, Poesias.Olavo Bilac: Via láctea, Sarças de fogo, Panóplias, Alma inquieta, O Caçador de esmeraldas, tarde.Vicente de carvalho: Relicário, Poemas e canções, Rosa, rosa de amor, Ardentias.Amadeu Amaral: Urzes, Névoa, espumas, Lâmpada antiga.Martins Fontes: Verão, Volúpia, A flauta encantada.Francisca Júlia da Silva Munster: Mármores, Esfinges.

Texto

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A um poeta

Olavo Bilac

Longe do estéril turbilhão da rua,Beneditino, escreve! No aconchegoDo claustro, na paciência e no sossego,Trabalha, e teima, e lima, e sofre e sua!

Mas que na forma se disfarce o empregoDo esforço; e a trama viva se construaDe tal modo , Qua a imagem fique nua,Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplícioDo mestre. E, natural, o efeito agrade,Sem lembrar os andaimes do edifício.

Porque a beleza, gêmea da Verdade,Arte pura, inimiga do artifício,É a força e a Graça na simplicidade.

(apud Alceu Amoroso Lima. Org. Olavo Bilac: posia. RJ. Agir. 1980).

Interpretação. 7. Esse soneto pode ser considerado uma receita para o parnasiano. Releia as

características do movimento e justifique a afirmativa. 8. Por que a obra deveria ser produzida "longe do estéril turbilhão da rua"? 9. Que idéia lhe dá o último verso da primeira estrofe? 10. Explique o significado da Segunda estrofe. 11. Na última estrofe podemos dizer que temos o lema do Parnasianismo. Explique. 12. Qual é o edifício a que o poeta se refere na terceira estrofe? Que seriam os

andaimes? 13. Analise o poema quanto aos aspectos formais.

AUTORES PARNASIANOS BRASILEIROSAlberto de Oliveira Antônio Mariano Alberto de Oliveira nasceu no Rio de Janeiro em 1857 e morreu em 1937. Formou-se em farmácia, foi funcionário público e professor de português e literatura brasileira, estando entre os fundadores da Academia Brasileira de Letras.Raimundo CorreiaRaimundo da Mota Azevedo Correia nasceu em 1859, a bordo de um vapor, nas costas do Maranhão, e morreu em Paris, aonde foi para tratamento de saúde, em 1911. Formou-se em direito por São Paulo, foi magistrado, diplomata, professor e jornalista. Apesar de parnasiano, o melhor de sua obra está nos textos em que dá vazão à sua sensibilidade, chegando até a ser um pouco romântico.TEXTOA cavalgadaA lua banha a solitária estrada...Silêncio!... Mas além, confuso e brando,O som longínquo vem-se aproximandoDo galopar de estranha cavalgada.

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São fidalgos que voltam da caçada;Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.E as trompas a soar vão agitandoO remanso da noite embalsamada...E o bosque estala, move-se, estremece...Da cavalgada o estrépito que aumentaPerde-se após no centro da montanha...E o silêncio outra vez soturno desce...E límpida, sem mácula, alvacentaA lua a estrada solitária banha...(In: Massaud Moisés. A literatura brasileira através dos texto)Interpretação

14. Que características parnasianas você encontra no soneto? 15. A que se refere o conteúdo do poema? 16. Encontramos dados subjetivos na abordagem do tema? Justifique 17. Compare o primeiro verso do soneto com o último. Que diferença você nota? Qual

deve ter sido a intenção do poeta?

Olavo BilacOlavo Brás Martins dos Guimarães Bilac nasceu no Rio de Janeiro em 1865 e morreu em 1918. Só conheceu o pai aos cinco anos de idade, pois este era médico cirurgião do Exército e encontrava-se na Guerra do Paraguai. Estudou medicina por cinco anos, mas não chegou a formar-se, vindo para São Paulo tentar o curso de direito, que freqüentou por pouco tempo. De volta ao Rio, dedicou-se ao jornalismo e à literatura, tendo exercido diversas funções administrativas e diplomáticas. Foi noivo da irmã do poeta Alberto de Oliveira, mas não chegou a casar-se. Rompeu relações também com o pai, o qual queria um filho médico e não um poeta e boêmio. Em 1915, pouco depois do início da I Guerra Mundial, iniciou campanhas cívicas em prol do serviço militar obrigatório e contra o analfabetismo."Profissão de fé"

(excerto do poema)....................................................Invejo o ourives quando escrevo:    Imito o amorCom que ele, em ouro, o alto relevo    Faz de uma flor.....................................................Por isso, corre, por servir-me,    Sobre o papelA pena, como prata firme    Corre o cinzel.Corre: desenha, enfeita a imagem,    A idéia veste;Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem    Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima    A frase; e enfim,No vaso de ouro engasta a rima,    Como um rubim.Quero que a estrofe cristalina,    Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina    Sem um defeito!Interpretação

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18. Por que o autor escolhe o trabalho do ourives para comparar com o trabalho do poeta?

19. Que significaria para o poeta "vestir a idéia"? 20. A que Bilac compara o trabalho com a rima? 21. Qual o objetivo de todo esse trabalho? 22. O que o poema traz em si do Parnasianismo?

Vicente de Carvalho Vicente Augusto de Carvalho nasceu em Santos, São Paulo, em 1866 e morreu em 1924. Formou-se em direito, dedicando-se à política, à magistratura e ao comércio. Em 1892, desgostoso do caminho político do país, refugia-se em sua fazenda no interior de são Paulo, só saindo de lá por problemas financeiros.X. SIMBOLISMO1. Momento histórico    Após a euforia da Segunda Revolução Industrial, quando se incrementou a construção de ferrovias, a economia mundial entra em crise, devido ao aumento da concorrência e da falta de mercado consumidor.    Surgem os primeiros trustes (fusão de empresas do mesmo ramo), já que as empresas pequenas não conseguiam sobreviver e eram encampadas pelas grandes e têm início os cartéis, isto é, grandes empresas de determinado ramo industrial começam a monopolizar a comercialização de um produto, mediante estabelecimento de condições de venda, pagamento, entre outras.    Como o capitalismo não se desenvolveu de maneira uniforme no mundo, houve concentração de capital em países como França, Inglaterra e estados Unidos (este último aparecendo agora como potência), que passaram a buscar mercado em países menos desenvolvidos, dando início ao que hoje conhecemos como "imperialismo econômico".2. A cultura e a sociedade    Com a evolução da ciência, da tecnologia e do capitalismo, o mundo começa a caminhar cada vez mais em direção dos interesses materiais.    Diferentemente dos empreendedores capitalistas, a classe trabalhadora não melhorou suas condições de vida, já que a exploração da mão-de-obra é um dos meios de auferir grandes lucros. Surgem os partidos socialistas, reivindicando reformas sociais.    Apesar de tanta luta, o homem comum não consegue realizar-se financeiramente. A esperança cede lugar à frustração e esta leva à busca do lado místico, espiritual do universo.    Contrariamente ao cientificismo e objetivismo anterior, a arte passa a representar o subjetivo, o inconsciente, buscando a unidade do ser.    A reação da burguesia foi referir-se a esses artistas como boêmios, decadentes, malditos.     Apesar das diferenças , o Simbolismo é considerado uma espécie de continuação do Romantismo, na medida em que anseia por reformas e, ao mesmo tempo, busca refúgio fora do mundo real.3. Características principais da produção artística

23. Predominância da emoção. 24. O objeto deve estar subentendido, não mostrando claramente – daí o "símbolo". 25. Musicalidade (através de aliterações, assonâncias e outras figuras de estilo. 26. Referências a cores. 27. Presença de motivos religiosos; a poesia representaria uma espécie de ritual. 28. Sonho e imaginação. 29. Espiritualismo. 30. Subjetividade. 31. Culto da forma, com influências parnasianas. 32. Uso da figura de linguagem chmada sinestesia, que representa a fusão de

sensações (beijo amargo, cheiro azul). 33. Abordagem vaga de impressões subjetivas e/ou sensoriais (Impressionismo),

sobretudo na pintura.

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4. Principais autores e obrasPortugal

Eugênio de castro: Oaristos, Horas, Tirésias.Antônio Nobre: Só, Despedidas, Primeiros versos.Camilo Pessanha: Clépsidra.

Brasil Cruz e Sousa: Broquéis, Missal, Evocações, Faróis, Últimos sonetos.Alphonsus de Guimaraens: Setenário das dores de Nossa Senhora, Câmara ardente, Dona Mística, Kiriale.Pedro Kilkerry: Re-visão de Kilkerry (organizado por Augusto de Campos).

Na França, destacaram-se principalmente Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud e Paul Verlaine.

TEXTO

Correspondências

Charles Baudelaire

A Natureza é um templo vivo emque os pilaresDeixam filtrar não raro insólitos enredos;O homem o cruza em meio a um bosque de segredosQue ali o espreitam com seus olhos familiares.

Como ecos lentos que a distância se matizamNuma vertiginosa e lúbubre unidade,Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.

Há aromas frescos como a carne dos infantes,Doces como o oboé, verdes como a campina,E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,

Com a fluidez daquilo que jamais termina,Como o almíscar, o incenso e as resinas do oriente,Que a glória exaltam dos sentidos e da emente.

(As flores do mal. Traduzido por Ivan Junqueira. RJ. 1985).

Interpretação

34. Releia a primeira estrofe e responda:

0. Quem seriam os "insólitos enredos"? a. Que seria o "bosque de segredos"? b. Qual o significado de "olhos familiares"?

0. A que unidade o eu-poético se refere na Segunda estrofe? 1. Retire um exemplo de sinestesia da terceira estrofe. 2. Que características simbolistas você encontra no poema? 3. Relacione o título do poema a seu conteúdo.

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SIMBOLISMO NO BRASILCruz e Sousa    João da cruz e Sousa nasceu em desterro, (atual Florianópolis) em 1861 e morreu em Sítio, Minas gerais, em 1898. Filho de negros escravos libertados, viveu sob a tutela de marechal, o que lhe propiciou fazer os estudos secundários. Vítima de preconceito racial, não pôde assumir um cargo público em Laguna, mudando-se para o rio de Janeiro, onde participou do primeiro grupo de poetas simbolistas.    Em 1896, perde o pai, a esposa enlouquece e, no ano seguinte, ele descobre que está tuberculoso.    Trabalhou em teatro, quando se frustrou por apaixonar-se por uma artista branca, e, com o escritor Virgílio Várzea, lançou um jornal de cunho republicano e abolicionista.    Considerado um dos maiores poetas simbolistas. Cruz e Sousa buscou a unidade com o mundo cósmico, destacando-se em sua obra a evocação da cor branca, provavelmente pelos problemas que enfrentou por ser negro.TEXTORegina CoeliÓ Virgem branca, Estrela dos altares,Ó Rosa pulcra dos Rosais polares!Branca, do alvor das âmbulas sagradasE das níveas camélias regeladas.Das brancas da seda sem desmaiosE da lua de linho em nimbo e raios.Regina Coeli das sidérias flores,Hóstia da Extrema-Unção de tantas dores.Aves de prata e azul, ave dos astros...Santelmo aceso, a cintilar nos mastros.Gôndola etérea de onde o Sonho emrge...Água Lustral que o meu Pecado asperge.Bandolim do luar, Campo de giesta,Igreja matinal gorjeando em festa.Aroma, Cor e Som das LadainhasDe Maio e Vinha verde dentre as vinhas.Dá-me, através de cânticos, de rezas,O Bem, que almas acerbas torna ilesas.O Vinho d’ouro, ideal, que purificaDas seivas juvenis a força rica.Ah! Faz surgir, que brote e que floresçaA Vinha d’ouro e o vinho resplandeça.Pela Graça imortal dos teus Reinados Que a Vinha os frutos desabroche iriados.Que frutos, flores, essa Vinha broteDo céu sob o estrelado chamalote.Que a luxúria poreje de áureos cachosE eu um vinho de sol beba aos riachos.Virgem, Regina, Eucaristica, Coeli,                         (regina (latim): rainha)Vinho é o clarão que teu Amor impele.                    (Coeli (latim): celestial)Que desabrocha ensagüentadas rosasDentro das naturezas luminosas.Ó Regina do Mar! Coeli! Regina!Ó Lâmpada das naves do Infinito!Todo o Mistério azul desta SurdinaVem d’estranhos Missais de um novo Rito!...(In: Tasso da Silveira, org. Cruz e Sousa; poesia. RJ, Agir, 1975. Nossos Clássicos).Interpretação

4. Podemos dividir o poema em duas partes: evocação e pedido. Delimite as estrofes.

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5. Retire do poema três elementos que remetem à cor branca. 6. Que elementos do poema nos lembram um ritual religioso? 7. Que características simbolistas detectamos no poema? 8. Identifique e explique as personificações presentes na última estrofe.

Alphonsus de Guimaraens    Afonso Henriques da Costa Guimarães nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, em 1870 e morreu em Mariana, Minas Gerais, em 1921.    Em sua obra notamos a presença do místico, do religioso e considerações com relação à morte, estas provavelmente em função da perda de uma prima e namorada na adolescência, o que muito o abalou.TEXTOHão de chorar por ela os cinamomosHão de chorar por ela os cinamomos,Murchando as flores ao tombar do dia.Dos laranjais hão de cair os pomosLembrando-se daquela que os colhia.As estrelas dirão: - "Ai! Nada somos,Pois ela se morreu silente e fria..."E pondo os olhos nela como pomos,Hão de chorar a irmã que lhes sorria.A Lua, que lhe foi mãe carinhosa,Que a viu nascer e amar, há de envolvê-laEntre lírios e pétalas de rosa.Os meus sonhos de amor serão defuntos...E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?"(Apud Manuel Bandeira, org. Apresentação da poesia brasileira)Interpretação

9. Que há no poema que nos remete ao Romantismo? Explique. 10. Que elemento do poema contraria os princípios parnasianos? Explique. 11. Que características simbolistas encontramos no poema?

TEXTO A catedralEntre brumas, ao longe, surge a aurora.O hialino orvalho aos poucos se evapora,    Agoniza o arrebol.A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece, na paz do céu risonho,    Toda branca de sol.E o sino canta em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"O astro glorioso segue a eterna estrada.Uma áurea seta lhe cintila em cada    Refulgente raio de luz.A catedral ebúrnea do meu sonho,Onde os mus olhos tão cansados ponho,    Recebe a bênção de Jesus.E o sino clama em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"Por entre lírios e lilases desceA tarde esquiva: amargurada prece    Põe-se a lua a rezar.A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece, na paz do céu tristonho,

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    Toda branca de luar.E o sino chora em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu é todo trevas: o vento uiva.Do relâmpago a cabeleira ruiva    Vem açoitar o rosto meu.E a catedral ebúrnea do meu sonhoAfunda-se no caos do céu medonho     Como um astro que já morreu.E o sino geme em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"(Apud Manuel Bandeira. Org. Apresentação da poesia brasileira)Interpretação

12. Que características simbolistas você encontra no poema? 13. Sabendo que ebúrneo significa "liso como o marfim", explique o trajeto da

"catedral" dos sonhos do eu-poético. 14. Explique o significado do refrão em cada estrofe, considerando o verbo utilizado

em cada um e a presença da palavra "lúgubre".

Apostila compilada por Saulo A. Ferreira.Gama, DF, fevereiro de 2001.

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