apostila propagacao de arvores frutiferas

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Page 1: Apostila propagacao de arvores frutiferas
Page 2: Apostila propagacao de arvores frutiferas

Universidade de São PauloEscola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

Casa do Produtor Rural

Simone Rodrigues da SilvaKatia Fernanda Dias Rodrigues

João Alexio Scarpare Filho

Propagação deÁrvores Frutíferas

Page 3: Apostila propagacao de arvores frutiferas

Casa do Produtor Rural - CPRAv. Pádua Dias, 11 - Cx. Postal 9 • CEP 13418-900 - Piracicaba, SP

[email protected]

Coordenação Editorial Fabiana Marchi de AbreuMarcela Matavelli

Editoração Eletrônica Maria Clarete Sarkis Hyppolito

Tiragem 2000 exemplares • 1ª Impressão (2011)

Capa José Adilson Milanêz

Foto Capa Profa. Dra. Simone Rodrigues da Silva

PresidenteProf. Dr. Rubens Angulo Filho

Prof. Dr. Luiz Gustavo Nussio Vice-presidente

Comissão de Cultura e Extensão Universitára

Serviço de Cultura e Extensão Universitária

Chefe AdministrativoMaria de Fátima Durrer

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:Casa do Produtor RuralAv. Pádua Dias, 11 • Bairro Agronomia • Piracicaba, SP • 13418-900Fone: (19) 3429-4178/ 3429-4200 • [email protected]

Distribuição Gratuita • Proibida a Comercialização

Impressão ESALQ/USP - Serviço de Produções Gráficas

Page 4: Apostila propagacao de arvores frutiferas

Simone Rodrigues da Silva1

Katia Fernanda Dias Rodrigues2

João Alexio Scarpare Filho3

1 Professora Doutora - Departamento de Produção Vegetal - ESALQ/USP2 Aluna de Graduação em Engenharia Agronômica - ESALQ/USP3 Professor Associado - Departamento de Produção Vegetal - ESALQ/USP

Piracicaba2011

Propagação deÁrvores Frutíferas

Page 5: Apostila propagacao de arvores frutiferas

À Pró-reitoria de Cultura e Extensão UniversitáriaAo Programa Aprender com Cultura e ExtensãoÀ Casa do Produtor RuralAos viveiristas José Mauro da Silva e João Mateus da Silva (Taquaritinga, SP)À Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (EECB)Aos técnicos agrícolas Éder de Araújo Cintra e David UlrichÀ Rosangele Balloni Romeiro Gomes (MAPA)

Agradecimentos

ApoioFundo de Fomento às Iniciativas de Cultura e Extensão da Pró-reitoria de Cultura eExtensão Universitária

Page 6: Apostila propagacao de arvores frutiferas

Índice

Introdução

Razões do uso da propagação

0709

Métodos de propagação 10EstaquiaAlporquiaMergulhiaEnxertiaMicropropagaçãoEstruturas especializadas

101314162122

GoiabeiraFigueiraLichieiraPorta-enxertos de macieiraCitrosPessegueiroAbacateiroCoqueiro

2731364045505458

Legislação e produção de mudas dealgumas espécies frutíferas 24

Bibliografia consultada 61

Page 7: Apostila propagacao de arvores frutiferas

Introdução

Propagação de árvores frutíferas 07

Para se perpetuarem, as espécies semultiplicam. Os vegetais superioresmultiplicam-se naturalmente por duasvias: pelo ciclo sexuado e assexuado.

No ciclo sexuado, também denomi-nado de ciclo reprodutivo a multiplica-ção ocorre pela união do gameta mas-culino (grãos de pólen) com o gametafeminino (oosfera) gerando um em-brião que está presente nas sementes.

Nesse processo há recombinaçãogenética, ocorrendo variabilidade nogenoma. Por essa razão, a nova plan-ta que se origina da germinação dasemente é denominada indivíduo, poisserá geneticamente diferente da plan-ta matriz.

Pelo ciclo assexuado também deno-minado vegetativo, a nova planta ge-rada é oriunda de estruturas vegeta-tivas (propágulos) como brotos, e nes-se caso não ocorre recombinação ge-nética, ou seja, elas possuem a mes-ma carga genética da planta matriz.Essas novas plantas são denominadasclones, que são cópias perfeitas, ouseja, geneticamente iguais à plantaque lhe deu origem.

Em fruticultura, que é uma atividadecom enorme potencial de crescimen-to, o Brasil encontra-se em posiçãoprivilegiada em decorrência da exten-são territorial, posição geográfica econdições de clima e solos, que per-

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08 Propagação de árvores frutíferas

mite a produção de uma grande diver-sidade de frutas, em diferentes regiões,o ano inteiro.

Nesse aspecto, a produção de mu-das ou a multiplicação de plantas con-trolada pelo homem representa um dosrequisitos de maior importância para osucesso econômico da implantação deum pomar.

Como a maioria das espécies frutí-feras são plantas perenes, que produ-zem por um longo período, é de sumaimportância que as mudas sejam dequalidade, pois terão influência diretana produtividade e rentabilidade doempreendimento agrícola.

Diversas técnicas são utilizadas naprodução de mudas de árvores frutí-feras. O desenvolvimento dessas téc-nicas permite que as mudas sejamobtidas com as mesmas caracterís-ticas da planta que se deseja multi-plicar, o que garante a uniformidade

das mesmas em campo.Como cada espécie apresenta uma

particularidade, é necessário conhecersuas formas de propagação e, assim,utilizar o melhor método para forma-ção das mudas.

A produção de mudas de árvores fru-tíferas pode ser realizada pelo uso desementes, cujas plantas origináriasnão serão idênticas. É bastante utili-zada na produção de porta-enxertos dealgumas espécies, em árvores silves-tres que ainda não possuem cultiva-res melhoradas e em algumas frutei-ras que apresentam vantagens na pro-dução de mudas como maracujazeiro,mamoeiro e coqueiro.

Porém, os métodos mais adequa-dos para se produzir mudas de plan-tas frutíferas são os propagativos,pois eles garantem à nova planta ascaracterísticas desejáveis da plantamatriz.

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Razões do uso da propagação

A propagação deve ser utilizadapara:

Propagação de árvores frutíferas 09

• Manter as características da varie-dade que se deseja propagar, comoprodução e qualidade dos frutos ehomogeneidade entre as plantas;

• Multiplicar em larga escala uma úni-ca planta, selecionada como plan-ta matriz;

• Combinar duas espécies para for-mar uma só planta, pelo uso do mé-todo de enxertia;

• Produção precoce de frutos por evi-tar a fase juvenil da planta, deven-do-se selecionar propágulos de

plantas adultas;• Produção de mudas de espécies em

que a propagação é o único meiode multiplicação. Como exemplo,temos a bananeira, cujo método depropagação é por meio de rizomas.Outras espécies como a lima ácidatahiti, laranja-de-umbigo e figueiratambém dependem de alguma téc-nica de propagação, pois as se-mentes que produzem não são viá-veis;

• Multiplicar espécies em que a pro-pagação é mais fácil, rápida e eco-nômica.

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Métodos de propagação

10 Propagação de árvores frutíferas

Os principais métodos de propaga-ção, que proporcionam a clonagem deplantas com características desejáveissão: estaquia, alporquia, mergulhia,enxertia e estruturas especializadas. Oque vai definir a escolha de um ou ou-tro método será a adaptação e facili-dade de formação de mudas em cadaespécie.

Um dos principais fatores para o su-cesso na produção de mudas, por meioda propagação, é a escolha da plantamatriz que deve ser representativa davariedade, ter boa sanidade, ou seja,sem pragas e doenças, ser produtivae esteja sendo conduzida com todosos tratos culturais recomendados para

a cultura, principalmente adubação eirrigação.

A seleção adequada do materialvegetativo que será retirado da plantamatriz, o substrato, a disponibilidadede água e as condições apropriadasde luz, aeração, temperatura e umida-de são elementos fundamentais parao sucesso de qualquer método de pro-pagação que se deseja utilizar.

EstaquiaA estaquia é um método de propa-

gação simples que consiste na retira-da e utilização de partes da plantamatriz que deseja-se propagar. Essemétodo consiste na capacidade de re-

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Propagação de árvores frutíferas 11

generação dos tecidos da estaca eemissão de raízes adventícias ebrotações. Pode ser utilizada na pro-dução direta de mudas ou para a pro-dução de porta-enxertos.

As estacas, ou seja, partes da plan-ta podem ser obtidas de órgãos aéreosou subterrâneos, tais como, folhas, ra-mos e raízes.

Tip o s d e E s ta ca sA preferência por um ou outro tipo

de estaca irá depender da espécie, dafacilidade de enraizamento e dainfraestrutura do local.

Em fruticultura, as estacas de ramoscom pelo menos uma gema, são asmais utilizadas, pois precisam apenasformar novas raízes adventícias vistoque já possuem um ramo em poten-

São diversos os fatores que afetamo enraizamento das estacas de ramos,tais como: condições fisiológicas daplanta matriz, juvenilidade, condiçõesdo ambiente de enraizamento, posiçãoe graus de lignificação dos ramos.

Quanto ao grau de lignificação,pode-se classificar as estacas de ra-mos em herbáceas, semilenhosas oulenhosas (Figura 2).

As estacas herbáceas são aquelascujos tecidos não estão lignificados, ouseja, estão com tecidos tenros e decoloração verde. São retiradas da parte

cial, a gema. Com exceção de algu-mas espécies como figo da índia eframboesa, as estacas de folhas e deraízes, não são utilizadas na produçãocomercial de mudas de espécies frutí-feras (Figura 1).

Figura 1 - Tipos de estacas

Estaca de folha

Estaca de ramo

Estaca de raiz

Estaca de folha com broto e raiz

Estaca de ramo com broto e raiz

Estaca de raiz com broto e novas raízes

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Figura 2 - Graus de lignificação de ramos de seriguela

apical dos ramos no período de prima-vera/verão, épocas em que ocorrem osfluxos de crescimento vegetativo.Como é um material sensível à desi-dratação, a coleta deve ser feita prefe-rencialmente pela manhã. As folhas(inteiras ou pela metade) devem sermantidas. A função da manutençãodas folhas é a continuação do proces-so fotossintético que fornecerá fo-toassimilados tanto para a manutençãoda estaca, quanto para a formação dasraízes. A utilização de estacas herbá-ceas é muito utilizada na produção demudas de goiabeira.

Estacas semilenhosas são obtidasde ramos parcialmente lignificados,após o mesmo ter completado seucrescimento. Para enraizar, essas es-tacas ainda com folhas, devem ser

mantidas, assim como as estacas her-báceas, em ambiente com umidaderelativa alta para reduzir a perda deágua pelas folhas. É bastante utiliza-da na propagação de algumas espéci-es tropicais e subtropicais.

As fruteiras que perdem as folhas nooutono (caducifólias), como figo e uva,por exemplo, apresentam seus ramoslenhosos com boa capacidade deenraizamento. As estacas são obtidasde ramos lenhosos, bastante lignifica-dos, sem folhas, com idade superior aum ano, sendo coletadas geralmenteno período de dormência da planta (in-verno). A propagação com esse tipo deestaca é mais fácil e mais barata, poissão mais resistentes e não exigemambiente com controle de temperatu-ra e umidade.

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HERBÁCEO

SEMILENHOSO

LENHOSO

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Após a coleta das estacas da plantamatriz, faz-se o preparo das mesmas, co-locando-as para enraizar em substratoadequado que possua boa capacidadede retenção de água, drenagem satisfa-tória e esteja livre de patógenos de solo,planta daninha e nematóide. Um dosprincipais substratos utilizados para oenraizamento de estacas é a vermiculita.

Nessa etapa é importante garantirque o substrato esteja bem aderido àestaca. Então se faz uma leve compac-tação do substrato ao redor das esta-cas, para evitar a permanência debolsões de ar, que impeçam a aeraçãona base das mesmas.

É importante lembrar que para algu-mas espécies frutíferas o uso de regula-dores vegetais auxilia no enraizamento,principalmente os produtos com açãoauxínica comercializados no mercadocom os nomes de ácido indolbutírico(AIB) e ácido naftalenoacético (ANA). Porapresentarem difícil diluição em água,esses produtos podem ser dissolvidosem solução alcoólica ou hidróxido de po-tássio para serem aplicados na forma lí-quida ou misturados em talco para se-rem aplicados em pó.

Depois de prontas, as estacas sãolevadas para ambientes propícios aoenraizamento.

A m b ie n t e p a ra e n r a i za m e n toDevido à evapotranspiração, estacas

semilenhosas e herbáceas requerem

instalações com sistema denebulização intermitente, que permitea emissão de pequenas gotículas deágua, de tempo em tempo, mantendoa superfície das folhas molhadas. Nocaso de estacas lenhosas, essas ins-talações não são necessárias, poden-do ser colocadas em canteiros de areiaou saquinhos contendo substrato com nomáximo uma tela de sombreamento paraevitar os efeitos do excesso de radiaçãosolar e chuva (Figura 3 a, b, c).

AlporquiaA alporquia é um método de pro-

pagação em que se faz o enraiza-mento de um ramo ainda ligado àplanta matriz (parte aérea), que só édestacado da mesma após o enrai-zamento.

O método consiste em selecionar umramo da planta, de preferência com umano de idade e diâmetro médio. Nes-se ramo, escolhe-se a região sembrotação e faz-se um anelamento, deaproximadamente dois centímetros,retirando toda a casca (floema) e ex-pondo o lenho. Depois disso, deve-secobrir o local exposto com substratoumedecido, a base de fibra de coco eenvolvê-lo com plástico, cuja finalida-de é evitar a perda de água, amarran-do bem as extremidades com um bar-bante, ficando com o aspecto de umbombom embrulhado. Os fotoassimi-lados elaborados pelas folhas e as

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auxinas pelos ápices caulinares des-locam-se pelo floema e concentram-seacima do anelamento, promovendo aformação das raízes adventícias nes-se local. Recomenda-se que a alpor-quia seja feita de preferência na épo-ca em que as plantas estejam em ple-na atividade vegetativa, após a colhei-ta dos frutos, com o alporque mantidosempre úmido.

A separação do ramo que sofreualporquia da planta matriz, depende daespécie e da época do ano em que foifeito o alporque. Após a separação, oramo enraizado é colocado num sacoplástico contendo substrato e mantidoà meia sombra até a estabilização das

raízes e a brotação da parte aérea.Quando isso ocorrer, as mudas esta-rão prontas para serem plantadas nocampo.

A alporquia é utilizada na propaga-ção de muitas espécies frutíferas, e umexemplo do sucesso do método ocor-re na cultura da lichia.

Figura 3 - Nebulizador com alta umidade relativa (a); canteiros de areia com estacas lenhosas (b e c)

MergulhiaA mergulhia é um método de pro-

pagação semelhante à alporquia. Aúnica diferença é que na mergu-lhia, o enraizamento do ramo ain-da ligado à planta matriz ocorre nosolo (Figura 4).

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Figura 4 - Mergulhia natural em cajueiro/ Natal-RN

Assim como ocorre no processo dealporquia, na mergulhia a planta a serformada fica unida a planta matriz até oenraizamento. A mergulhia é feita no solo,vaso ou canteiros, quando os ramos dasespécies são flexíveis e de fácil manejo.

O método de mergulhia consiste ementerrar partes de uma planta, comoramos, por exemplo, com o objetivo deque ocorra o enraizamento na regiãocoberta. É um processo usado na ob-tenção de plantas que dificilmente sepropagariam por outros métodos.

O enraizamento ocorre devido aoacúmulo de auxinas (hormôniosendógenos) pela ausência de luz naregião enterrada ou coberta, que pro-move a formação das raízes adventí-cias e também pelo aproveitamento dofornecimento contínuo de água e nu-trientes da planta matriz.

É muito importante que o local paraa realização da mergulhia esteja isen-to de patógenos, pois como é utilizadoo solo para o enraizamento, há sem-

pre o risco de contaminação das no-vas plantas por doenças e/ou pragas.

A mergulhia é um método bastanteutilizado na obtenção de porta-enxer-tos de macieira, pereira e marmeleiro.

Tipos de mergulhiaHá vários tipos de mergulhia, mas

em fruticultura utiliza-se principalmen-te a mergulhia de cepa, também cha-mada de amontoa.

Mergulhia de cepaA mergulhia de cepa é muito utilizada na

produção de porta-enxertos de macieira.Inicialmente faz-se uma poda drástica da

planta matriz do porta-enxerto, deixandosomente uma pequena parte do tronco,chamada de cepa. Essa poda irá favorecera emissão de inúmeras brotações jovens apartir da cepa. Após o desenvolvimento des-sas brotações, realiza-se a amontoa comterra, cobrindo a parte inferior das mesmas.Será nessa região enterrada que irá ocor-rer o enraizamento de cada brotação indi-

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vidualmente.Após o enraizamento, cada brotação

será destacada da planta matriz, forman-do um novo porta-enxerto. A planta ma-triz do porta-enxerto será novamentepodada drasticamente para iniciar umnovo ciclo de produção, podendo ser uti-lizada por muitos anos, dependendo decomo as plantas são cuidadas.

EnxertiaA enxertia é um método de propa-

gação que consiste em unir partes deplantas, de tal maneira, que conti-nuem seu crescimento como uma sóplanta. A parte superior que formaráa copa da nova planta recebe o nomede enxerto ou cavaleiro e a parte inferiorque formará o sistema radicular recebeo nome de porta-enxerto ou cavalo.

Cada uma das partes possui suascaracterísticas próprias. O porta-enxer-to tem a função de dar suporte mecâ-nico à planta, retirar água e nutrientesdo solo, e em muitos casos beneficiara copa pela resistência a pragas edoenças de solo, seca ou a solosencharcados. O enxerto ou copa é res-ponsável pela fotossíntese que irá ali-mentar toda a planta para a produção.

A enxertia deve ser realizada parapropagar espécies que não podem serfacilmente multiplicadas por outrosmétodos, para obter benefícios do por-ta-enxerto, mudar a cultivar copa em

plantas adultas (sobreenxertia) ousubstituir o porta-enxerto (subenxertia).

O sucesso da cicatrização entre aspartes após a prática da enxertia de-penderá da espécie que se estará tra-balhando; da habilidade do enxertador;da atividade fisiológica do enxerto e doporta-enxerto; das condições a que asplantas serão submetidas durante eapós a enxertia; dos problemas de pra-gas e doenças e da incompatibilidadeque possa ocorrer entre as partes.

É importante destacar também queexistem alguns limites na enxertia re-lacionados à combinação copa e por-ta-enxerto. A maior facilidade da enxer-tia ocorre entre plantas de um mesmoclone, aumentando o grau de dificul-dade à medida que se enxertam dife-rentes cultivares da mesma espécie, di-ferentes espécies e diferentes gêneros.O sucesso da enxertia intergenérica (en-tre gêneros) é bastante limitado, sendoconhecidos alguns casos como o de pe-reira sobre marmeleiro, por exemplo. Emfruticultura não se conhece sucesso deenxertia entre plantas de famílias botâ-nicas diferentes.

Para o sucesso da enxertia, sejaqual for o tipo utilizado, é necessá-rio que os tecidos meristemáticos(câmbios) tanto do enxerto como doporta-enxerto fiquem em contato.Por esta razão, deve-se sempre co-incidir a casca do enxerto com acasca do porta-enxerto, em pelo me-nos um dos lados.

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Tipos de enxer tiaSão três os tipos de enxertia: borbu-

lhia, garfagem e encostia. No primeirocaso, o enxerto é uma borbulha, ougema; no segundo, um pedaço de ramoou garfo destacado da planta matrizcom uma ou mais gemas e no tercei-ro, a união de duas plantas inteiras.

BorbulhiaA borbulhia consiste na justaposição

de uma única gema sobre um porta-enxerto enraizado. Embora haja vári-os tipos de borbulhia, serão descritasas formas em “T” normal, “T” inverti-do, placa ou janela aberta e janela fe-chada. Cada denominação varia emfunção do tipo de corte efetuado e naforma de fixação das gemas (borbu-lhas) no porta-enxerto (Figura 5).

As borbulhias em “escudo” e em“T” referem-se a uma mesma técnica(“T” designa a aparência do corte nocavalo, onde a gema será introduzida,

e o “escudo” refere-se ao formato des-sa gema). O corte em “T” no porta-en-xerto é feito abrindo uma incisão trans-versal e outra longitudinal, onde seráinserida a borbulha. A borbulha é umfragmento de forma triangular, retira-da da planta matriz após o corte doramo que a contém, também chamadode ramo porta-borbulha. Esse fragmen-to deve ter dimensões proporcionais aocorte em “T” efetuado no porta-enxerto.

Com a ponta do canivete de enxertia,abre-se a região da casca abrangidapelas incisões, levantando-a para in-serção da borbulha que é introduzidacom a gema voltada para o lado exter-no. Em seguida, deve-se amarrá-la decima para baixo, com o auxílio de umfitilho plástico ou fita biodegradável.

Toda essa operação deve ser rápi-da, para que não ocorra resseca-mento das regiões de união dos teci-dos ou cicatrização dos cortes antesque ela seja finalizada.

Figura 5 - Borbulhia “T” normal (a); Borbulhia “T” invertido (b); Borbulhia em placa ou janela aberta(c); Borbulhia janela fechada (d). Fonte: Adaptado de Hartmann et al. (2002)

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O “T” invertido é muito parecido, ape-nas o sentido do corte que o difere doanterior, sendo o corte horizontal feitona extremidade inferior do corte per-pendicular do porta-enxerto. O escu-do retirado da planta matriz agora temsua base invertida. O objetivo da va-riação na técnica é evitar a infiltraçãode água na região da enxertia. É im-portante observar que a posição da bor-bulha não muda. A amarração do escu-do deve iniciar-se de baixo para cima noporta-enxerto. A facilidade operacional émaior, além de impedir o acúmulo deágua nos cortes, por isso é o tipo maisutilizado quando comparado ao corte em“T” normal. O “T” invertido é amplamen-te utilizado por viveiristas, principalmen-te os produtores de mudas de citros.

Na produção de mudas de pesse-gueiro pode-se utilizar o método deborbulhia por janela aberta ou placa,onde a gema é retirada da variedadecopa com um segmento retangular eencaixada num porta-enxerto previa-mente preparado com a mesma aber-tura. São feitos dois cortes perpendi-culares paralelos e outros dois trans-versais, formando um retângulo. O pe-daço da casca é retirado, com o auxí-lio de um canivete. Toma-se o cuidadopara que os dois retângulos sejam detamanhos bem próximos. Depois o es-cudo encaixado é amarrado com fitilhoplástico ou fita biodegradável, sempredeixando a gema do pessegueiro ex-

posta, pois ela é muito sensível e podese quebrar.

Na borbulhia tipo janela fechada, ocorte da copa deve permitir a aberturada casca em duas partes, como as fo-lhas de um portão, que serão fecha-das sobre a borbulha após sua inser-ção. Duas incisões transversais e para-lelas são feitas no porta-enxerto, e umcorte perpendicular une as duas peloponto central de seu comprimento. Le-vanta-se a casca entre os cortes e a bor-bulha retangular semelhante à janelaaberta é introduzida, ficando em estreitocontato com os tecidos internos do cau-le. A casca deve ser fechada contra o es-cudo e amarrada com fitilho plástico, au-mentando o contato entre os tecidos.

GarfagemGarfagem é um método de enxertia

que consiste na retirada e transferên-cia de um pedaço de ramo da plantamatriz (copa), também denominado gar-fo, que contenha uma ou mais gemaspara outra planta que é o porta-enxerto.

Embora haja várias denominações,os tipos mais comuns de garfagemsão: meia-fenda, fenda cheia; fendadupla, fenda lateral, inglês simples einglês complicado (Figura 6).

Na garfagem em meia fenda, o gar-fo é cortado em bisel duplo. O porta-enxerto é cortado transversalmente,fazendo-se, em seguida, uma incisãoigual a largura do bisel. Aprofunda-se

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a incisão para baixo, por meio de mo-vimentos com o canivete de enxertia,então introduz-se o garfo na fenda, detal modo que as camadas das duaspartes fiquem em contato em pelo me-nos um dos lados. Esse tipo de garfagemé utilizado quando os garfos são de diâ-metros diferentes do porta-enxerto, sen-do necessário que pelo menos um doslados esteja em contato com os tecidospara que ocorra o processo de cicatriza-ção e sobrevivência do enxerto.

Já na garfagem em fenda cheia, aobtenção do garfo é idêntica ao casoanterior. O porta-enxerto é cortadotransversalmente à altura desejada,praticando-se em seguida uma fendacheia, do mesmo tamanho do garfoque será introduzido nessa fenda, demaneira que os dois lados desse gar-

Figura 6 - Garfagem fenda cheia (a); Garfagem meia fenda (b); Garfageminglês simples (c); Garfagem inglês complicado (d). Fonte:Adaptado de Hartmann et al. (2002)

fo coincidam por completo com o diâ-metro do porta-enxerto.

Para a prática da enxertia por inglêssimples é necessário que o garfo e oporta-enxerto tenham o mesmo diâme-tro. Corta-se o porta-enxerto a uma altu-ra conveniente do solo, talhando-o emum bisel simples enquanto o garfo tam-bém é cortado em bisel, exatamente paraencaixar no porta-enxerto, a fim de quepossam coincidir em toda sua extensão.

A garfagem por inglês complicado érealizada como no caso anterior, mascom um encaixe mais perfeito. Colo-ca-se a lâmina do canivete um poucoacima do meio do bisel do porta-en-xerto e, a partir deste ponto, em senti-do longitudinal e paralelo ao eixo, fen-de-se o próprio cavalo, até que a fen-da atinja o nível da base do seu bisel.

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Faz-se o mesmo no bisel do enxerto.Então encaixa-se o garfo no porta-en-xerto, tomando o cuidado de fazer comque as cascas de ambos se coincidam.

Os instrumentos utilizados para aprática da garfagem são tesoura depoda e canivete.

Após a realização da garfagem, éimportante amarrar bem forte o garfono porta-enxerto para manter as partesperfeitamente unidas. Depois, cobre-seo enxerto com um saquinho plástico, osmesmos utilizados para sorvetes, paraevitar que ocorra perda ou infiltração deágua na região de enxertia.

Quando iniciar a brotação do enxer-to, retira-se o saquinho plástico o quedeve ocorrer por volta de 30 dias, de-pendendo da espécie. Já o fitilho plás-tico será retirado após 60 dias, paragarantir a união das partes enxertadas.Então é só esperar o desenvolvimentoda brotação para que as mudas pos-sam ser plantadas em campo.

EncostiaA encostia é um método de enxertia

usado para árvores frutíferas que dificil-mente se propagam por outros métodos.

Em resumo é uma técnica que con-siste na junção de duas plantas inteiras,que são mantidas dessa forma até aunião dos tecidos (Figura 7). Após essaunião, uma será utilizada somente comoporta-enxerto e a outra como copa.

Para fazer essa enxertia, o porta-en-

xerto deve ser transportado em um reci-piente até a planta que se quer propa-gar sendo geralmente colocado na altu-ra da copa, através da utilização de su-portes de madeira que o sustentarão.

Corta-se uma porção do ramo decada uma das plantas, de mesma di-mensão, e encostam-se as partes cor-tadas, amarrando-as em seguida comfita plástica para haver união dos teci-dos. O enxerto é representado por umramo da planta matriz, sem dela sedesligar até que ocorra a soldadura aoporta-enxerto. Após 30-60 dias, haven-do a união dos tecidos, faz-se o des-ligamento da nova planta, cortando-seacima do ponto de união do porta-en-xerto. Nessa fase, retira-se o fitilho plás-tico que estava amarrado e destaca-seo ramo da planta original, formando umanova copa. Tem-se, assim, a muda,constituída de copa e porta-enxerto.

A primavera é a estação mais ade-quada para a prática da encostia e asque são realizadas no outono desen-volvem-se muito lentamente.

Figura 7 - Enxertia por encostia. Fonte: Adap-tado de Hartmann et al. (2002)

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A presença de um ou mais dessessintomas não significa necessariamen-te, que a combinação seja incompatí-vel. Podem ser resultantes de condi-

Incompatibilidade entre copa eporta-enxerto

A compatibilidade pode ser definidacomo a capacidade que duas plantas ouparte de plantas enxertadas possuem dese desenvolverem satisfatoriamentecomo se fossem uma única planta.

Já a incompatibilidade pode ocorrerdevido a diferenças fisiológicas, bioquí-micas e anatômicas entre as plantasque podem ser favoráveis ou desfavo-ráveis à união do enxerto.

Os problemas de incompatibilidadeocorrem principalmente em função daenxertia entre espécies de diferentesfamílias e gêneros.

Os principais sintomas associadosà incompatibilidade de enxertia são:• expansão da união do enxerto quan-

do ocorre o super crescimento do diâ-metro do tronco acima ou abaixo doponto de enxertia;

• quebra ou ruptura do enxerto na ocor-rência de ventos fortes ou até mes-mo quando a produção de frutos naplanta for muito grande;

• morte prematura da planta;• amarelecimento e queda prematura

das folhas no outono;• aparecimento de uma linha escura na

região da enxertia pela morte dos te-cidos.

ções ambientais desfavoráveis, taiscomo falta de água ou nutrientes, ata-ques de pragas, doenças ou inclusive,enxertia mal sucedida.

A propagação “in vitro” ou micropro-pagação, consiste na aplicação da téc-nica de cultura de tecidos para a pro-dução de plantas idênticas a plantamatriz. Este tipo de propagação per-mite produzir mudas com alta qualida-de genética e fitossanitária.

É feita em laboratórios a partir depedaços de tecido vegetal. Estes frag-mentos retirados de vegetais são cha-mados de explantes e multiplicadosem meio artificial (sem solo), o qualfornece nutrientes e outras substân-cias necessárias à multiplicação e re-generação de novas plantas. A basepara o cultivo de pequenas partes deplantas só é possível pela proprieda-de da totipotência, que é a capacida-de que toda célula vegetal tem de re-generar uma planta completa, a par-tir de informações genéticas contidasna mesma.

As técnicas de propagação “in vitro”permitem multiplicar vegetativamenteespécies de difícil propagação pelosmétodos convencionais. Além disso,permite a produção de um grande nú-mero de plantas a partir de um explanteem menor tempo que os métodos tra-dicionais de propagação.

Micropropagação

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Possibilitam também, a produçãode mudas livres de patógenos causa-dores de doenças que pelos métodosconvencionais de propagação, podemser transmitidos pelas mudas.

Entre as fruteiras tropicais multipli-cadas pela cultura de tecidos desta-cam-se as culturas do abacaxizeiro eda bananeira que estão sendo produ-zidas em maior escala por algumasempresas do setor (Figura 8).

Algumas espécies possuem proces-sos naturais de propagação por meiode estruturas especializadas. Essasestruturas são caules, folhas ou raízesmodificadas que além de funcionaremcomo órgãos de reserva de alimentospodem também ser utilizadas na pro-pagação. Em condições adversas sãoesses órgãos que possibilitam a sobre-vivência das plantas.

Vários tipos de estruturas especia-

Estruturas especializadas

lizadas podem ser utilizadas na produ-ção de mudas. Em espécies frutíferas,as principais estruturas são estolões,rebentos e rizomas que são úteis napropagação de algumas espécies,como, por exemplo, o morangueiro, abananeira, o abacaxizeiro, a framboe-seira e a amoreira-preta.

Os estolões são definidos como cau-les aéreos especializados, muito co-muns na propagação do morangueiro;já os rizomas são caules subterrâne-os que possuem gemas para formaçãode novas brotações, as quais origina-rão novos pseudocaules e passarão ater o seu próprio sistema radicular. É oprincipal método de multiplicação dasbananeiras.

As mudas de bananeira são obtidasa partir do desenvolvimento das gemasdo rizoma. A denominação das mudasé dada de acordo com o desenvolvi-mento e peso do rizoma. As mudasobtidas de rizoma inteiro são denomi-

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Figura 8 - Mudas de bananeira micropropagadas

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nadas popularmente de:

Figura 9 - Mudas do tipo chifrão, chifre e chifrinho com folhas (a), sem folhas (b); Pedaços derizoma (c)

As mudas também podem ser ob-tidas de pedaços de rizomas compeso variando de 0,4 a 1,2 kg (Figu-

• Chifrinho – apresentam de 20 a 30cm de altura e têm unicamente fo-lhas lanceoladas (em forma de lan-ça) com até 1,5 kg;

• Chifre – apresentam de 50 a 60 cmde altura e folhas lanceoladas, compeso variando de 1,5 a 2,5 kg;

• Chifrão: apresentam de 60 a 150 cmde altura, com uma mistura de fo-lhas lanceoladas e folhas caracte-rísticas de planta adulta, com pesosuperior a 2,5 kg.

ra 9 a, b, c).Essas mudas podem ser obtidas

diretamente do bananal, tomando ocuidado de selecioná-las de plantasvigorosas, que represente a varieda-de a ser propagada, esteja isenta doataque de pragas e doenças e comidade que não seja superior a quatroanos.

Embora a propagação por rizomasseja muito utilizada, nos últimos anostem crescido muito a produção demudas de bananeira utilizando a téc-nica de cultura de tecidos, ou mi-cropropagação, como visto anterior-mente.

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Legislação e produção de mudasde algumas espécies frutíferas

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A qualidade da muda é um dos itensde maior importância a ser considera-do no momento da implantação de umpomar.

Na produção de mudas com boaqualidade é preciso levar em conside-ração alguns aspectos importantes,tais como a legislação de sementes emudas em vigor, a procedência do ma-terial de propagação utilizado para a for-mação da muda, a sanidade e as técni-cas de manejo com que é produzida,antes do plantio definitivo no pomar.

É de suma importância que o produ-tor de mudas atenda a legislação vi-

gente, que no caso é regida pela Lei10.711/2003 – de sementes e mudas,o Decreto 5153/2004 que regulamen-ta essa Lei e as Instruções Normativasnº9/2005, nº24/2005, nº 42/2009, nº02/2010 que estabelece normas para pro-dução, comercialização e utilização desementes e mudas e outras normasespecíficas.

Pela legislação, pessoas físicas ejurídicas que exerçam as atividades deprodução, beneficiamento, embala-gem, armazenamento, análise, comér-cio, importação e exportação de se-mentes e mudas estão obrigadas à ins-

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Propagação de árvores frutíferas 25

crição no RENASEM (Registro Nacio-nal de Sementes e Mudas). Essa ins-crição é de competência do MAPA (Mi-nistério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento) e executada junto àSuperintendência Federal da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento noEstado de São Paulo, órgão fiscaliza-dor da produção. É obrigatória a figu-ra de um responsável técnico pelasatividades que também deve sercredenciado junto ao MAPA.

O produtor de mudas deve produzirespécies e cultivares que estejam ins-critas junto ao Registro Nacional deCultivares (RNC), cadastro este queestá disponibilizado no endereço ele-trônico do MAPA (www.agricultura.gov.br). Esse cadastro de cultivarespermite organizar e abastecer o merca-do consumidor de materiais diferencia-dos, com características de boa produti-vidade comprovadas pela pesquisa.

Exclusivamente para o Estado deSão Paulo, todas as atividades queestejam envolvidas na produção demudas cítricas requerem, além do ca-

dastro no MAPA, o cadastro na Coorde-nadoria de Defesa Agropecuária daSecretaria de Agricultura e Abasteci-mento do Estado de São Paulo (CDA-SAA/SP), devido à delegação de com-petência, para exercer a fiscalizaçãofitossanitária das mesmas e na emissãode Guias de Permissão de Trânsito Ve-getal (PTV) que permitem a comercia-lização dentro e fora do Estado.

A legislação federal citada contémtodas as informações sobre como asmudas devem ser produzidas em ter-mos de obtenção de material genéti-co, estrutura de produção, comercia-lização, transporte, penalidades, proi-bições e sobre a necessidade do pro-dutor de mudas em atender às exigên-cias fitossanitárias.

Como seria impossível descrever aprodução de mudas de todas as espé-cies frutíferas, foram selecionadas al-gumas em específico, como as cultu-ras da goiabeira, figueira, lichieira, por-ta-enxertos de macieira, citros, pesse-gueiro, abacateiro e coqueiro para se-rem exemplificadas.

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Goiabeira

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A goiabeira (Psidium guajava L.) per-tencente à família Myrtaceae é origi-nária da América Tropical, possivel-mente entre o México e o Peru, ondeainda pode ser encontrada em estadosilvestre. Pela sua capacidade de disper-são e rápida adaptação a diferentes am-bientes, pode ser encontrada hoje tantoem áreas tropicais como subtropicais.

No Brasil, o estado de São Paulodestaca-se como principal produtorcom a produção ocorrendo o ano todo,pelo uso da irrigação, poda, adubaçãoe variedades que possibilitam a produ-ção de frutos com dupla aptidão, tantopara indústria como para o mercado defruta fresca.

Para se propagar uma planta de goia-beira, o método mais utilizado é a estaquia.

O roteiro a ser seguido para a pro-dução dessas mudas inicia-se com aescolha da planta matriz (Figura 10 a).O produtor deve optar por uma plantaque represente a variedade que elequer propagar, por exemplo, goiaba depolpa vermelha ou de polpa branca.Além disso, esta planta deve estar livrede pragas e doenças, ser produtiva, osfrutos devem apresentar boa qualidadee as plantas devem estar bem nutridas enão apresentar déficit hídrico.

Escolhida a planta matriz, os ramos aserem coletados serão os situados naporção mediana da copa, ainda herbá-

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ceos, de coloração verde, sem sinais visí-veis de lignificação. A coleta dos ra-mos, com tesoura de poda deve serrealizada preferencialmente nas pri-meiras horas do dia, quando a tempe-ratura está mais amena, para evitar aperda de água.

Então se inicia a etapa de prepara-ção das estacas (Figura 10 b, c, d, e).Geralmente utiliza-se a porção termi-nal dos ramos, desprezando a muitoflexível, deixando as estacas com doisa três pares de folhas (2 a 3 nós) ecerca de 15 cm de comprimento. Noápice, deve-se manter um par de fo-lhas, totalmente expandidas, e, nabase, deve ser feito um corte em bisel,de forma a evitar desidratação eressecamento dos tecidos. O restantedas folhas deverá ser retirado. Após opreparo, as estacas deverão ser colo-cadas em recipientes, que podem serbandejas de plástico cheias desubstrato (Figura 10 f). A vermiculita,de textura média é considerada umexcelente material por suas caracterís-ticas de manter a estaca na mesmaposição e lugar durante o período deenraizamento; fornecer umidade eaeração suficientes à base da estaca,apresentar boa capacidade de retençãode água, possuir drenagem satisfatóriae ser livre de patógenos. Nessa fase éimportante que a estaca não seja colo-cada em posição invertida.

Como a capacidade de enraizamento

das estacas pode variar de acordo comas espécies e/ou cultivares, dependen-do da cultivar que esteja propagando, oviveirista poderá utilizar ou não regula-dores vegetais, ou seja, produtos comação auxínica que favoreçam o enraiza-mento, tais como AIB (ácido indolbu-tírico), ANA (ácido naftalenoacético), en-tre outros.

A última etapa é a colocação das es-tacas numa câmara de nebulização in-termitente, que permite a emissão depequenas gotículas de água no ambien-te, de tempo em tempo, mantendo a su-perfície das folhas molhadas. Esse am-biente é propício ao enraizamento, poisevita a desidratação e o encharcamentodas estacas (Figura 10 g).

Após um período de aproximada-mente 60-90 dias, dependendo da épo-ca do ano, as estacas devem ser reti-radas do nebulizador. As enraizadas(Figura 10 h) deverão ser transplanta-das para sacos plásticos com 2 a 3 li-tros de volume em ambiente cobertopor uma tela de sombrite (Figura 10 i).Utiliza-se como substrato uma mistu-ra proporcional de solo, areia e maté-ria orgânica. As mudas irão se desen-volver e quando estiverem com 40-50cm de altura, poderão ser plantadas nocampo (Figura 10 j, k). A Figura 10 lmostra uma planta adulta originária demuda produzida por estaquia.

Para que o viveirista obtenha esta-cas de ramos o ano inteiro para a pro-

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Figura 10 - Planta matriz (a); Preparo da estaca (b, c, d); Estaca pronta (e); Estacas colocadas em vermiculita(f); Nebulizador (g); Estacas enraizadas prontas para o transplantio (h); Estacas transplantadasem sacolas (i); Desenvolvimento inicial da muda (j); Mudas prontas (k); Planta adulta (l)

Propagação de árvores frutíferas 29

dução das mudas, é importante que olote de plantas matrizes seja irrigadoe que a poda seja escalonada, de tem-

po em tempo, pois só assim obterá osramos herbáceos apropriados para oenraizamento.

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Figueira

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Muito provavelmente, as plantas defigueira foram introduzidas pelos parti-cipantes da primeira expedição deMartin Afonso de Souza em 1532 naCapitania de São Vicente. Somente noinício do século XX, por volta de 1910,é que a cultura da figueira passou adespertar interesse comercial no Es-tado de São Paulo.

A principal cultivar no Brasil é a“Roxo de Valinhos”, introduzida peloimigrante italiano Lino Busatto que che-gara a Valinhos por volta de 1898 eteve a iniciativa de mandar buscarmudas de figueira na Itália, em umaregião próxima ao Mar Adriático. Algu-mas destas plantas produziram figos

roxos escuros e se adaptaram muitobem às novas terras. Hoje, são nacio-nalmente conhecidos como “Figo Roxode Valinhos”.

Apesar de ser considerada umaplanta de clima temperado, apresentaboa adaptação a diferentes tipos declima e solo, podendo ser cultivada emregiões subtropicais e tropicais. Asprincipais regiões produtoras de figo noBrasil são: Rio Grande do Sul, commais de 40% da produção, São Paulocom aproximadamente 30% e MinasGerais com 20%.

A estaquia é o principal método utili-zado para a produção de mudas de fi-gueira. Podem-se utilizar tanto estacas

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32 Propagação de árvores frutíferas

lenhosas como herbáceas para a pro-dução dessas mudas e as mesmaspodem ser enraizadas em viveiros, di-retamente no pomar ou em recipien-tes. O processo mais utilizado no Es-tado de São Paulo é a estaquia reali-zada diretamente no campo, com es-tacas lenhosas.

As estacas lenhosas são obtidasapós a poda de inverno que é realiza-da durante o período de repousovegetativo, entre os meses de junho aagosto (Figura 11 a, b). Todos os ra-mos, com pelo menos um ano de ida-de, que seriam descartados pela podasão preparados e dispensam o uso deestruturas de nebulização, pois sãocolocados para enraizar diretamenteno solo. Os ramos são cortados comuma tesoura de poda em pedaços me-nores, com no máximo 30 a 40 cm decomprimento e 1,5 a 3,0 cm de diâme-tro, e cada um será uma nova estacacortada logo abaixo de um nó, na basee, um pouco acima, no ápice, em bisel(Figura 11 c).

Preferencialmente escolhem-se asestacas situadas na base do ramo (Fi-gura 11 d), pois naturalmente apresen-tam maior porcentagem de enraiza-mento do que as medianas e apicais.A utilização de auxinas, como o ácidonaftalenoacético e o ácido indolbu-tírico, favorecem o enraizamento dasestacas de figueira.

Depois do preparo, as estacas

lenhosas são então plantadas direta-mente no campo, duas por cova, demaneira que apenas duas gemasapicais fiquem fora do solo ou 1/3 docomprimento da estaca (Figura 11 e, f,g, h). Então faz-se a cobertura desseápice com terra. Terminado o plantiodas estacas, procede-se a rega e, comuma enxada, faz-se uma coroa de ter-ra ao redor da planta, colocando palhano seu interior, para conservar a umi-dade, diminuir a temperatura do solo eevitar a “queima” das brotações novas.Espera-se então o enraizamento e abrotação das estacas.

Embora a técnica de plantio direta-mente no campo seja a mais utilizada,a formação de mudas em recipientes(sacos plásticos, vasos, entre outros)constitui uma prática muito importan-te. A colocação das estacas lenhosasem sacos plásticos com substrato,após a poda, pode garantir a substitui-ção, no período de dezembro–janeiro,daquelas estacas que não enraizaramno campo, obtendo-se uma uniformi-zação maior no número final de plan-tas pretendida. Como recipiente, é re-comendado o uso de sacos plásticospretos com capacidade de 4 litros desubstrato.

Outra opção é colocar as estacaslenhosas para enraizar diretamente emviveiros, a um espaçamento de 10 a20 cm uma da outra, deixando duas ge-mas para fora. Quando iniciar a brotação,

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Propagação de árvores frutíferas 33

deve-se selecionar o melhor broto,através da desbrota, a qual deverá serfeita quando as brotações atingirem de5 a 10 cm de comprimento. A mudaserá então, conduzida em haste únicaaté atingir 40 a 60 cm de comprimen-to, sendo despontada no inverno se-guinte nesse comprimento, estandoapta para ser comercializada e trans-plantada ao local definitivo.

Na produção de mudas utilizandoestacas herbáceas, faz-se primeira-mente a coleta e preparação de ramosherbáceos com aproximadamente 20-30 cm de comprimento e 1,5 a 3,0 cmde diâmetro, tratando a base dessasestacas com acido indolbutírico nadose de 100-200 mg/L durante 24 ho-

ras e também com fungicidas. Poste-riormente coloque as estacas em areiaúmida (ou vermiculita) na posição verti-cal, deixando apenas duas gemas aci-ma do substrato por até dois meses nonebulizador. Após esse período, faz-seo transplantio das estacas enraizadaspara sacos plásticos e espera-se a mudadesenvolver até a altura de 60 centíme-tros em haste única para que possa sercomercializada (Figura 11 i, j, k, l, m).

Com exceção das estacas lenhosasque são plantadas diretamente nocampo no fim do inverno, os outros ti-pos de mudas produzidas em reci-pientes, poderão ser plantadas emqualquer época do ano, de preferên-cia na estação chuvosa.

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34 Propagação de árvores frutíferas

Figura 11 - Planta a ser podada (a); Poda e coleta de estacas lenhosas (b); Estaca pronta (c); Indicaçãodo corte das estacas na base do ramo podado (d); Preparo da cova e plantio das estacas(e, f, g, h); Coleta de estacas herbáceas (i); Estaca herbácea em bandeja com vermiculitasob nebulização (j); Estaca pronta para transplantio (k); Estacas transplantadas em sacolas(l); Muda pronta (m)

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Lichieira

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A lichieira (Litchi chinensis Sonn.) éoriginária da China, onde é cultivadahá muitos séculos. No Brasil, é umafruteira exótica com grande potencialna diversificação dos pomares, princi-palmente pelo aumento da demandano mercado varejista e pelo alto preçoda fruta. São Paulo e Minas Geraisdestacam-se como os principais esta-dos produtores.

O método mais utilizado para a pro-pagação da lichieira é a alporquia, comaté 90% de enraizamento. É importan-te que várias plantas sejam selecio-nadas como matrizes para essa práti-ca, pois a obtenção de um grande nú-mero de mudas a partir de uma única

planta pode causar enormes danos àmesma.

Os ramos escolhidos para a alporquiadevem estar maduros, em posição fácilpara o trabalho, situados na periferia daplanta, e possuir diâmetro médio de 1,5a 2,5 cm, e 45 a 60 cm de comprimento,com folhas no ponteiro.

Primeiramente escolhe-se uma re-gião limpa do ramo e faz-se umanelamento na casca, de aproximada-mente dois centímetros de comprimen-to, retirando-a e expondo o lenho. En-tão cobre-se essa região exposta comsubstrato úmido, à base de fibra decoco e amarre-a com um saco plásti-co para evitar a perda de umidade. As-

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Propagação de árvores frutíferas 37

sim, tudo que for produzido nas folhasserá deslocado para essa região, in-clusive as auxinas, que são hormôniosendógenos da planta que não serãodegradadas pela luz, na parte cober-ta, promovendo o enraizamento (Figu-ra 12 e Figura 13 a, b, c, d).

Durante o período de enraizamentoo alporque deve ser mantido sempreúmido. Na lichieira, o período para

enraizamento dos alporques pode va-riar de 60 a 90 dias, dependendo daépoca em que for realizado.

Quando se observa a formação deraízes com coloração alterada de bran-co para marrom cremoso, o alporquejá está pronto (Figura 13 e). Uma vezenraizado, o ramo deve ser separadoda planta matriz, utilizando uma tesou-ra de poda que fará o corte abaixo do

Figura 12 - Anelamento do ramo e retirada da casca (a, b, c, d); Amarração do plástico no ramo (e, f,g, h); Colocação de substrato à base de fibra de coco úmido (i, j, k).

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38 Propagação de árvores frutíferas

plástico. Na seqüência, são eliminadascerca de 75% das folhas com o objeti-vo de reduzir a taxa de transpiração.

As novas mudas são então planta-das em sacos plásticos com dimensõesde aproximadamente 17 x 35 cm, to-mando o cuidado de não danificar asraízes. Após o plantio, essas mudasdevem ser mantidas em ambientesquentes, sombreados, com alta umida-de e protegida de ventos. O recomen-dado é deixá-las aproximadamente 15dias em câmara de nebulização inter-

mitente para que ocorra a estabiliza-ção das raízes nos saquinhos e a so-brevivência das mudas. Após esse pe-ríodo, inicia-se o crescimento das no-vas brotações, até as mudas estaremprontas para serem plantadas no cam-po (Figura 13 f). A Figura 13 g mostrauma planta adulta originária de mudaproduzida por alporquia.

A prática da alporquia em lichieirapode ser realizada em qualquer épocado ano, desde que haja umidade e tem-peratura suficientes.

Figura 13 - Cobertura do substrato úmido com plástico e amarrio (a,b,c,d); Alporque enraizado (e);Muda pronta (f); Planta adulta (g)

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Porta-enxertos de macieira

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A macieira é uma frutífera típica declima temperado, da família Rosaceae,tem suas origens nas montanhas doCáucaso, Oriente Médio e Leste Asiá-tico. Espécie exigente em tratos cultu-rais, principalmente no que diz respei-to à condução, poda e tratos fitossa-nitários. Seu cultivo em São Paulo, eem regiões edafoclimáticas similares,somente é possível por meio de culti-vares locais adaptadas ou seleciona-das em Instituições de Pesquisa comoo Instituto Agronômico de Campinas(IAC), Instituto Agronômico do Paraná(IAPAR) e Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária (EMBRAPA).

O porta-enxerto selecionado deve ser

adaptado à região de cultivo, ter exce-lente afinidade com a cultivar copa e sercapaz de proporcionar às plantas bomdesempenho em termos de produtivida-de e qualidade dos frutos. Preferencial-mente, deve ser resistente a pragas edoenças do solo, principalmente ao pul-gão lanígero e a podridão do colo.

Algumas técnicas de propagação sãoutilizadas também para a produção deporta-enxertos. No caso específico demacieira, os porta-enxertos são produ-zidos pela técnica da mergulhia de cepa.

No campo, ou em canteiros, faz-seo plantio dos porta-enxertos enraiza-dos de macieira, no espaçamento de2,0 x 0,5 m (Figura 14 a).

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Figura 14 - Plantio de porta-enxertos de macieira enraizados (a); Brotação e cobertura da base dosramos com terra (b); Porta-enxertos enraizados (c); Corte e retirada dos porta-enxertosda planta matriz (d, e); Enxertia de mesa (f); Transplantio das mudas para saquinhos (g).

No fim do inverno, quando a plantaestá dormente, realiza-se a poda drásti-ca desses porta-enxertos, 15 a 20 cm dosolo, formando a cepa. Com o aumentoda temperatura e da umidade relativa doar, ocorrerá brotação de ramos na cepa.

Com os brotos grandes, de 40 cm, faz-se a cobertura da base de cada ramo

com terra, também chamada de amon-toa, que irá proporcionar o acúmulo deauxina na região coberta. As auxinasproduzidas na parte apical dos ramossão translocadas para as raízes e nestecaso, não serão degradadas pela luz,promovendo o enraizamento desses bro-tos (Figura 14 b, c).

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No fim do inverno seguinte, essesporta-enxertos deverão ser retiradosda planta, pois já estarão completa-mente enraizados (Figura 14 d, e).Os porta-enxertos enraizados e osramos contendo as borbulhas da cul-tivar selecionada são transportadospara um local onde será realizada aenxertia. Como é realizada sobreuma mesa, recebe a denominaçãode enxertia de mesa, que nada maisé que a inserção de uma borbulharetirada no formato de uma placa dacultivar comercial no porta-enxertoenraizado. Após a enxertia, a plantaé transplantada para um saquinhoplástico com substrato (Figura 14 f,g). Espera-se a união dos tecidos eo desenvolvimento das mudas paraplantio definitivo no campo, que pode-rá ocorrer em qualquer época do ano.

O matrizeiro de porta-enxerto seránovamente podado drasticamente

para iniciar um novo ciclo de produ-ção, podendo ser utilizado por muitosanos, dependendo de como as plan-tas são cuidadas, para que não per-cam o vigor e a capacidade de rebrota.

Atualmente, para controlar o vigordas plantas em macieira, utiliza-seinter-enxertos ou “filtros” menos vi-gorosos. Nesse caso, faz-se o plan-tio dos porta-enxertos no campo,lado a lado (Figura 15 a). Quandoestiverem com o diâmetro de um lá-pis, realiza-se a poda desses porta-enxertos a uma altura de aproxima-damente 15 cm (Figura 15 b). Pa-ralelamente é realizada a enxertiade mesa da var iedade copa nointer-enxerto, util izando a garfa-gem em inglês simples. Essa com-binação é então enxertada nos por-ta-enxertos podados, pela garfa-gem em inglês complicado (Figura15 c, d).

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Propagação de árvores frutíferas 43

Figura 15 - Porta-enxertos no campo (a); Porta-enxertos podados (b);Porta-enxerto preparado para receber a enxertia em inglêscomplicado (c); Enxertia dupla, formada pelo porta-enxerto(abaixo do amarrio do primeiro fitilho), inter-enxerto (entreas duas amarrações do fitilho) e a cultivar copa (no ápice dacombinação) (d)

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Citros

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Os citros são originários principal-mente das regiões subtropicais e tro-picais do sul e sudeste da Ásia, in-cluindo áreas da Austrália e África,sendo levados para a Europa na épo-ca das Cruzadas. Chegaram ao Bra-sil no século XVI, trazidos pelos por-tugueses.

O Brasil, maior produtor mundialde laranjas tem no estado de SãoPaulo a sua maior produção tantode frutas como de mudas. A pro-dução de mudas de citros é feitautilizando-se o método de enxertiaem “T” invertido ou normal, sendoesse último o exemplificado na Fi-gura 16.

Até o fim do ano de 2002, toda aprodução de mudas de citros era rea-lizada em ambiente aberto, no cam-po. Mas com o aumento de doençasdisseminadas por vetores alados,como as cigarrinhas que transmitema bactéria causadora da CloroseVariegada dos Citros (CVC) e opsilídeo que transmite a bactéria cau-sadora do Huanglonbing (HLB ou ex-greening), entrou em vigor a partir dejaneiro de 2003 a produção ecomercialização obrigatória de mu-das e porta-enxertos cítricos prove-nientes de ambiente protegido como objetivo de garantir a sanidade equalidade das mesmas.

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O porta-enxerto de citros é obtidoexclusivamente por sementes que sãocolocadas em tubetes contendo substra-

to a base de casca de pinus ou fibra decoco sob bancadas ou telas suspensasem ambiente protegido (Figura 16 a).

Figura 16 - Semeadura dos porta-enxertos em tubetes (a); Desenvolvimento dos porta-enxertos emtubetes (b) e sacolas (c, d); Retirada das folhas do porta-enxerto na região de enxertia(e); Retirada da borbulha para enxertia (f); Enxertia em T normal (g); Cobertura do enxertocom fitilho plástico (h); Dobramento do porta-enxerto e brotação do enxerto (i);Desenvolvimento da muda enxertada (j); Muda pronta (k)

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As sementes da maioria das es-pécies utilizadas como porta-enxer-tos são poliembriônicas, ou seja,possuem mais de um embrião namesma semente. Quando as se-mentes germinam, a plântula maisvigorosa é a que foi originária doembrião nucelar e a menos vigoro-sa do embrião zigótico ou popular-mente conhecido como “machinho”pelos viveiristas.

A seleção desses porta-enxertosé feita aproximadamente 3 a 4 me-ses após a semeadura, por tama-nho e descarte dos “machinhos”(Figura 16 b).

Depois, faz-se o transplantio dosporta-enxertos para outro viveiro,também protegido, colocando-osem sacolas plásticas com substratoe espere que os mesmos cresçame engrossem até atingirem o diâ-metro de um lápis (Figura 16 c, d).

Com os porta-enxer tos nesseponto, faz-se uma limpeza no mes-mo, retirando todas as folhas e es-pinhos que estiverem até a alturada enxertia (Figura 16 e) que deveocorrer entre 10 a 15 centímetrose proceda um corte em “T” normal,abrindo um pouco a casca.

Em seguida, retire uma borbulhado ramo porta-borbulha e a encai-xe nessa abertura. Amarre-a comfit i lho p lástico ou f i ta b iodegra-dável , cobr indo-a to ta lmente , e

imediatamente após, curve ou do-bre o porta-enxerto para que tudoque for produzido nas folhas sedesloque para a região da enxertiae force a brotação da borbulha (Fi-gura 16 f, g, h, i).

Quinze dias após a enxertia, faz-se a retirada do fitilho plástico e aborbulha começará a brotar, o quetambém poderá ocorrer antes daretirada do fitilho. Quando a novahaste estiver com aproximadamen-te 20 a 30 centímetros de altura,faz-se o desligamento do porta-en-xerto com o enxerto (“desmama”),pelo corte bem próximo à região daenxert ia. A nova haste deve serconduzida e amarrada a uma esta-ca que pode ser de bambu ou ferroaté a completa maturação da mes-ma (Figura 16 j).

Da semeadura ao transplantiopodem decorrer 3 a 4 meses, dotransplantio a enxertia mais 3 a 4meses e da enxertia até a mudapron ta mais 3 a 4 meses,totalizando um tempo de 9 a 12meses para a produção de umamuda de citros (Figura 16 k). Essavariação no tempo irá dependerdas condições climáticas de tem-peratura e umidade, combinaçãocopa/porta-enxerto utilizada e ma-nejo das mudas no que se refere afertirrigação e controle fitossani-tário.

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Antes do início da produção dasmudas de citros, todo o processodeve estar cadastrado no órgão ofi-cial competente. Antes de seremcomercializadas, é necessário quesejam feitos exames em laborató-rios credenciados quanto à presen-ça de Clorose Variegada dos Citros

(CVC), nematóides e Phytophthora(gomose). Somente com os resul-tados negativos dos exames é queserá obtido o Certificado de Con-formidade Fitossanitária (CCF) e aPermissão de Trâns i to Vegeta l(PTV) para que as mudas possamser comercializadas.

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Pessegueiro

O pessegueiro (Prunus persica L. Batsch)é uma frutífera de clima temperado, nati-va da China que devido às exigênciasclimáticas se expandiu principalmentenas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

Pelo intenso trabalho dos programasde melhoramento genético, tanto doInstituto Agronômico de Campinas -IAC, em São Paulo, como da EmbrapaClima Temperado, em Pelotas-RS,muitas variedades de copa e porta-en-xerto foram lançadas, e algumas, pelamenor exigência em frio, vêm possibili-tando a expansão do cultivo dessa fru-teira, com variedades que amadurecemem diferentes épocas. Na região Sul dopaís a colheita ocorre de novembro a fe-

vereiro. Já na região Sudeste a colheitaocorre de agosto a outubro.

Mudas de pessegueiro podem serobtidas por vários métodos de enxertia,entre elas, a borbulhia em “T” e em pla-ca e por garfagem.

Abaixo será descrito todo o processopara obtenção dessas mudas pelo mé-todo da borbulhia em placa, que comotodas as anteriores, envolve as fases deobtenção do porta-enxerto e do enxerto.

Os porta-enxertos poderão ser obti-dos de sementes ou por estacas. A va-riedade ‘Okinawa’ é um dos porta-en-xertos mais utilizados na produção demudas, por ser vigorosa e resistente anematóides, sendo a mais indicada,

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tanto para pessegueiro como para anectarineira e ameixeira.

Os caroços desse porta-enxerto sãoobtidos de frutos maduros e por lavagenssucessivas em água corrente, elimina-se o excesso da polpa. Esses caroçossão quebrados com o auxílio de um tor-no mecânico ou morsa, e deles são reti-rados as amêndoas ou sementes. Esseprocesso é chamado comumente deescarificação (Figura 17 a, b)

As sementes são colocadas em cai-xas plásticas, contendo serragem finaou areia úmida e então acondiciona-das em geladeira por um período de 30a 40 dias, para que ocorra a quebra dedormência. Esse processo é chamadode estratificação (Figura 17 c, d).

Após esse período é feita a semea-dura em bandejas de isopor ou tubetes(Figura 17 e), contendo substrato a basede casca de pinus. Quando as plântulasatingirem aproximadamente 15 cm dealtura devem ser transferidas para sa-colas plásticas onde completarão seu de-senvolvimento até atingirem o ponto deenxertia, com o diâmetro de um lápis (6-8 mm) e altura de aproximadamente 40-60 centímetros.

A enxertia da cultivar copa do pes-segueiro, por meio da técnica deenxertia por borbulhia, pode ser reali-zada em duas épocas: no fim da pri-mavera entre os meses de novembroe dezembro, também chamada“enxertia de gema ativa”, ou no fim de

verão ou começo de outono, chamada“enxertia de gema dormente”.

Primeiramente faz-se um corte noporta-enxerto de ‘Okinawa’, numa regiãolimpa, que não contenha gema, retiran-do-se a casca a aproximadamente 20centímetros de altura. Em seguida, reti-re um ramo contendo borbulhas da va-riedade copa que se deseja enxertar.Desse ramo, apenas uma borbulha ougema deve ser retirada na forma de pla-ca e encaixada na abertura feita no por-ta-enxerto, que deve ser do mesmo ta-manho do enxerto (Figura 17 f, g, h).

Amarra-se a placa com um fitilho plás-tico ou fita biodegradável, tomando o cui-dado para não cobrir a gema, que é mui-to sensível e pode quebrar (Figura 17 i, j).

Depois de aproximadamente 20 a 30dias retira-se o fitilho plástico dos en-xertos e inicia-se a condução da bro-tação do enxerto (Figura 17 k) que noinício poderá ser feita no próprio ramodo porta-enxerto, que ainda não foicortado rente ao local da enxertia utili-zando alceador ou barbante. Poste-riormente tutora-se essa brotaçãoamarrando-a em uma estaca de ferroou bambu, para que a muda possa sedesenvolver na posição vertical. Para-lelamente ao desenvolvimento damuda, ocorrem brotações no porta-enxerto que devem ser retiradas.

O tempo para produção de umamuda de pessegueiro, utilizando a téc-nica da enxertia por borbulhia em pla-

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Figura 17 - Caroços de pêssego (a); Escarificação (b); Estratificação (c); Emissão da radícula (d);Porta-enxertos em tubetes (e); Ramo porta-borbulha da variedade copa (f); Corte dacasca do porta-enxerto em placa retangular (g); Colocação da borbulha (h); Fixação daborbulha ao porta-enxerto com plástico (i); Gema exposta (j); Brotação (k); Muda pronta(l); Planta adulta (m)

ca é de aproximadamente 9 meses,contando da estratificação (período degeladeira) à comercialização das mes-

mas (Figura 17 l). A Figura 17 m mostrauma planta adulta originária de mudaproduzida por borbulhia em placa.

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Abacateiro

O abacateiro (Persea americanaMill.) é originário do México e AméricaCentral.

O Brasil que ocupa a quinta posi-ção mundial tem suas maiores pro-duções nos estados de São Paulo,Minas Gerais, Paraná, Rio Grande doSul e Ceará.

A produção é destinada quase queexclusivamente ao mercado interno defruta fresca. No entanto, o cultivo dasvariedades de exportação ‘Hass’ e‘Fuerte’ tem se expandido significati-vamente no Estado de São Paulo, per-mitindo crescimento expressivo do vo-

lume das exportações brasileiras deabacate, gerando divisas, emprego erenda, embora a baixa produtividadedo abacateiro no Brasil em relação aoutros países produtores ainda seja umdos principais entraves à expansãodeste cultivo no país.

A produção de mudas de abacateiroutiliza a técnica de enxertia porgarfagem em fenda cheia como princi-pal método de propagação.

O porta-enxerto utilizado no Brasil éobtido de sementes, sem variedadeconhecida, por isso que os pomaresapresentam muitas diferenças entre as

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plantas em termos de produtividade equalidade de frutos e vigor. Recomen-da-se que as sementes sejam obtidasde espécies vigorosas e adaptáveis àscondições climáticas locais e às doen-ças, além de compatíveis com as va-riedades copas que serão enxertadas(Figura 18 a, b).

A enxertia deve ser realizada quan-do o porta-enxerto estiver com alturade aproximadamente 30 centímetros ediâmetro de um lápis. Com o canivetede enxertia, faz-se um corte, ou aber-tura central no porta-enxerto de apro-ximadamente 2 a 3 centímetros, ondeserá colocado o garfo que se desejaenxertar (Figura 18 c, d, e)

Para o preparo do garfo (enxerto),retira-se uma parte do ramo de prefe-rência com diâmetro igual a do porta-enxerto, para facilitar a soldadura en-tre as partes. Com canivete bem afia-do são realizados cortes rápidos e fir-mes em ambos os lados, de maneiraque o garfo fique em forma de cunha.O comprimento da cunha deverá sersemelhante ao da profundidade da fen-da aberta no porta-enxerto (Figura 18f, g, h).

Encaixa-se o garfo imediatamente nafenda do porta-enxerto, de tal maneiraque as regiões da casca de ambas aspartes fiquem em contato direto. Se odiâmetro do porta-enxerto e do garfo

forem diferentes é importante que empelo menos um dos lados ocorra ocontato direto entre enxerto e porta-enxerto (Figura 18 i).

Em seguida, amarra-se toda a re-gião da enxertia com fitilho plástico oufita biodegradável, com cuidado paranão deslocar o enxerto. O ideal é co-meçar a amarração de cima para bai-xo, para evitar esse deslocamento.Depois, cobre-se o enxerto com umsaco plástico transparente, o mesmoutilizado para sorvete, para evitar aperda de umidade (Figura 18 j, k, l, m).

Depois de aproximadamente 30 diasfaz-se a retirada do saquinho plástico ecom 60 dias a retirada do fitilho plástico.Os enxertos que estiverem enegrecidospoderão ser descartados. Nessa fase,faz-se a desbrota do porta-enxerto, paraque o enxerto possa brotar com maiorintensidade, pelas reservas destinadasao seu desenvolvimento.

O enxerto deve ser conduzido oututorado na posição vertical com oauxílio de uma estaca de arame oubambu, até que a muda esteja prontapara ser plantada em campo (Figura18 n, o). A Figura 18 p mostra umaplanta adulta originária de muda pro-duzida por garfagem em fenda cheia.

A garfagem em inglês simples tam-bém pode ser utilizada para a produ-ção de mudas de abacateiro.

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Figura 18 - Semeadura e cobertura do porta-enxerto (a, b); Preparo do porta-enxerto para enxertia(c, d, e); Preparo da variedade copa para enxertia (f, g, h); Enxertia (i); Fixação doenxerto com fitilho plástico (j); Cobertura do enxerto com saco plástico (k, l, m); Mudapronta (n); Viveiro de mudas (o); Planta adulta (p)

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Coqueiro

O coqueiro (Cocos nucifera L.) éuma planta de clima tropical sendocultivado em muitos países. Da plan-ta, além dos frutos podem-se aprovei-tar também as folhas, a inflorescênciae outros produtos. Cada fruto de cocoé uma semente.

A produção de mudas dessa fruteiraé feita exclusivamente por sementes,não utilizando nenhum método de pro-pagação, como a maioria das espé-cies frutíferas. Outro exemplo, cujasplantas se multiplicam por sementes éo mamoeiro.

Para a produção de mudas por se-mentes, assim como ocorre quandoutilizamos algumas das técnicas de

propagação, é importante escolheruma boa planta matriz. Essas semen-tes deverão ser colhidas com aproxi-madamente 11 a 12 meses quando osfrutos estiverem praticamente secos,embora recomenda-se que ainda sejaouvido um pouco do barulho da água,ou o que resta dela.

Posteriormente elas devem ser co-locadas ao ar livre para completar amaturação, não ultrapassando 10dias para sementes de coqueirosanões e 21 dias para coqueiros gi-gantes. É importante fazer uma se-leção dessas sementes com relaçãoao tamanho, formato e ausência depragas e doenças.

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Figura 19 - Esquema de plantio de mudas decoqueiro em triângulo equilátero

Em seguida, as sementes poderãoser levadas para os germinadouros,que nada mais são, que canteiros pre-parados com 1,0-1,5 metros de largu-ra e comprimento variável pelo núme-ro de sementes que se deseja colocar.Entre um canteiro e outro, deixe umespaço de pelo menos 0,5 a 1,0 m edistribua as sementes no germi-nadouro, tanto na posição horizontalcomo vertical (Figura 20 a).

Nessa fase, pode-se utilizar cober-tura morta para proteger as sementesdo excesso de sol, que provoca a quei-ma do broto terminal e para reter água,o que irá favorecer a germinação. O usode cobertura também reduz os custoscom capinas, pois impede que ocorragerminação de plantas daninhas.

É importante que os canteiros sejamadubados, independentes da utilizaçãode um adubo orgânico ou químico, oque fica a critério do produtor de mu-das. Como complemento, para evitara deficiência de nitrogênio, é comum arealização da adubação foliar comuréia ou outra fonte de nitrogênio queesteja disponível.

A necessidade de água nessa faseé indispensável para acelerar a germi-nação. A quantidade desejável está emtorno de 6 a 7 mm/dia ou seja, 6 a 7litros de água/m², que devem ser dis-tribuídas entre o início da manhã e fimda tarde, para o melhor aproveitamen-to, evitando perdas.

Quando as mudas no germinadouroestiverem com 3 a 4 folhas, o que ocor-re por volta dos 4 a 6 meses, poderãoser plantadas diretamente no campo,em local definitivo. Antes, porém, de-verá ser feito o corte das raízes e amanutenção das mudas à sombra atéo momento do plantio, para que elasnão desidratem (Figura 20 b, c).

Outra opção, quando se desejacomercializar mudas maiores, é trans-ferí-las do germinadouro para viveiros.

No viveiro as mudas poderão serplantadas no solo, em triânguloequilátero nas dimensões de 60 x 60 x60 cm (Figura 19) ou diretamente emsacos de polietileno preto de no míni-mo 40 x 40 cm, contendo substrato deterra misturada com matéria orgânica.De qualquer forma, a irrigação é se-melhante a da fase de germinadouro.

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Figura 20 - Canteiro (a); Mudas em desenvolvimento (b); Mudas prontas (c); Mudas em sacolas (d);Planta adulta (e)

Mudas que permanecerem no vi-veiro por um período de 10 a 12 me-ses e apresentarem oito folhas pode-rão ser levadas ao campo. As produ-zidas diretamente no chão deverãoser plantadas de raiz nua e as pro-

duzidas em sacos plásticos (Figu-ra 20 d) poderão ser plantadas comas raízes envolvidas pelo substra-to. A Figura 20 e mostra uma plan-ta adulta de coqueiro originária desemente.

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