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Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Tecnologia Curso: ARQUITETURA e URBANISMO PAISAGISMO URBANO & MACROPAISAGISMO Prof. Arq. Msc. Walnyce de Oliveira Scalise SUMÁRIO 1. Macropaisagismo 2. Paisagismo Rodoviário 3. Paisagismo Rural 4. Paisagismo Urbano 5. Áreas Verdes Urbanas Conceitos E Definições 6. A Cidade como Ecossistema 7. As diferentes funções das Áreas Verdes Urbanas 8. O índice de áreas verdes 9. Hierarquização dos Espaços Livres 10. Manutenção, Conservação e Segurança das Áreas Verdes

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Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Tecnologia

Curso: ARQUITETURA e URBANISMO

PAISAGISMO URBANO& MACROPAISAGISMO

Prof. Arq. Msc. Walnyce de Oliveira Scalise

SUMÁRIO

1. Macropaisagismo2. Paisagismo Rodoviário3. Paisagismo Rural 4. Paisagismo Urbano5. Áreas Verdes Urbanas Conceitos E Definições

6. A Cidade como Ecossistema 7. As diferentes funções das Áreas Verdes Urbanas 8. O índice de áreas verdes9. Hierarquização dos Espaços Livres

10. Manutenção, Conservação e Segurança das Áreas Verdes

11. Planejamento e Legislação

12. Praça13. Parques14. Matas Ciliares

Bibliografia

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MACRO PAISAGISMO

O paisagismo não é apenas a criação de jardins através do plantio desordenado de algumas plantas ornamentais, é uma técnica artesanal aliada à sensibilidade, que procura reconstituir a paisagem natural dentro do cenário devastado pelas construções. Requer conhecimentos de botânica, ecologia, variações climáticas regionais e estilos arquitetônicos, sendo também importante o conhecimento das compatibilidades plásticas para o equilíbrio das formas e cores.

A finalidade do paisagismo é a integração do homem com a natureza, facultando-lhe melhores condições de vida pelo equilíbrio do meio ambiente. Ele abrange todas as áreas onde se registra a presença do ser humano. Até mesmo nos desertos só é notada a presença dos seres humanos nos oásis, onde existe vegetação nativa ligada à água. Desde as áreas rurais até as regiões metropolitanas, o paisagismo deve atuar como fator de equilíbrio entre o homem e o ambiente.

A manutenção de áreas verdes nas grandes indústrias influencia positivamente para o aumento da produção, chegando a assegurar uma diminuição nos índices de acidentes de trabalho. Uma paisagem mais amena nas áreas das fábricas, suavizando a artificialidade metálica dos maquinários de trabalho, diminui a tensão dos trabalhadores.

O paisagismo urbano tem por objeto os espaços abertos (não construídos) e as áreas livres, com funções de recreação, amenização e circulação, entre outras, sendo diferenciadas entre si pelas dimensões físicas, abrangência espacial, funcionalidade, tipologia ou quantidade de cobertura vegetal.

Paisagismo Rodoviário           

Paisagismo rodoviário é a integração da estrada à paisagem a qual ela atravessa. A vegetação proporciona maior estabilidade aos terrenos das faixas de domínio, diminuindo a movimentação de partículas do solo e facilitando obras de drenagem que regularmente são assoreadas por ocasião das chuvas.

O termo arborização de estradas é empregado de forma genérica para designar não só a arborização propriamente dita, mas também os demais revestimentos de suas margens, taludes e terrenos adjacentes. A arborização poderá ser implantada ou melhorada, incrementando-se a vegetação existente com o manejo da faixa de domínio.

O manejo da faixa de domínio consiste num conjunto de práticas que visam a execução do manejo adequado da vegetação restante, selecionando as espécies paisagisticamente interessantes e colocando-as em locais de destaque e protegendo as espécies remanescentes.

 As espécies devem ser selecionadas considerando-se fatores como: solo

clima

luminosidade

persistência da folhagem

sistema radicular e características plásticas decorativas da folhagem

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tronco, copa e coloração

Devido aos trabalhos de terraplanagem das faixas de domínio, há uma grande dificuldade em se estabelecer espécies rasteiras, quanto mais árvores. Por isto, a escolha recai sobre nativas rústicas adaptadas à região. Recomenda-se como época adequada para o plantio o período de chuvas da região.

Paisagismo Rural              

As funções do paisagismo rural não estão limitadas ao embelezamento estético da paisagem, mas também às praticas preservacionistas, indispensáveis à manutenção dos elos essenciais ao equilíbrio do ecossistema nas áreas de sua implantação. É exercido de forma plena, integrando-se perfeitamente à natureza.

Para atingir bons resultados existem fatores que devem ser conhecidos:

1. Clima - determina as possíveis espécies a serem introduzidas na área.2. Relevo - norteará o traçado geral do projeto em consonância homogênea com a paisagem natural. 3. Vegetação nativa - funciona como orientação na seleção de espécies e servirá de base para a continuação das mesmas características das espécies vegetais ou ponto de referência a uma mudança de características a fim de proporcionar contrastes ou motivos de atração. 4. Solos - verificada a constituição física do solo, pode-se prever quais espécies se adaptarão, quais as dimensões das covas para plantio e a adubação requerida para um bom desenvolvimento. 5. Ventos - o conhecimento das rotas dos ventos predominantes na área do projeto possibilita designar os locais mais favoráveis para o plantio de determinadas espécies. 6. Monumentos naturais – qualquer produção da natureza que por suas qualidades constituam motivos de excepcional interesse, como elementos paleontológicos (fósseis), elementos geomorfológicos (grutas, sumidouros, jazidas minerais), elementos topográficos (quedas d’água, paisagens), elementos florísticos ou botânicos (florestas, plantas raras), elementos zoológicos (fauna), elementos etnográficos (indígenas, inscrições rupestres, ruínas). 7. Água – fator de importância funcional e estética. Funcional porque a sobrevivência e o sucesso da composição dependerá da água, e estética porque a água é um elemento decorativo e atrativo. 8. Atividade principal da propriedade - determinará as características do projeto, como: Arborização de estradas vicinais.

Reflorestamentos heterogêneos ecológicos.

Implantação de vegetação protetora de nascentes, mananciais e cursos d'água.

Criação de áreas verdes em clubes de campo, condomínios de chácaras, casas de campo, pousadas, estações termais, sítios.

Revestimento vegetal protetor e/ou reconstituinte de solos instáveis (taludes, voçorocas). Uma das mais desastrosas conseqüências do rompimento dos elos naturais reflete-se no solo, causando seu enfraquecimento biológico e, posteriormente, a desagregação física, levando à erosão de suas camadas, das superficiais até as profundas. Com o emprego de espécies vegetais adequadas, há uma diminuição destes danos.

Causa maiores problemas em estufas do que em casas e no exterior.

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Componentes auxiliares no paisagismo rural 

1. Gramados - além do embelezamento da paisagem, os gramados têm a importante função de proteger o solo da ação direta dos raios solares, evitando sua esterilização superficial. Outra função extremamente importante é a proteção contra a erosão. O revestimento vegetal sobre o solo evita que as enxurradas de água e a ação dos ventos retirem parcelas da superfície.

2. Lagos - sua presença propicia uma variação visual intensa e atrativa na paisagem; além de decorativo, o lago influencia marcantemente o ecossistema, quer pela sua capacidade em manter o equilíbrio da umidade atmosférica quer por favorecer a manutenção do sistema hídrico.

3. Renques corta vento - destacam-se a ação dos ventos livres, quase constantes em determinadas épocas do ano, em algumas regiões. As plantas submetidas à sua ação intermitente sofrem graves perdas de líquido, apresentando queimaduras em suas folhas, outras ficam tortuosas e envergadas pelas correntes. As espécies indicadas devem se integrar à paisagem tanto visualmente quanto funcionalmente, para não prejudicar a paisagem.

4. Maçicos Florais - são indicados no projeto paisagístico, sempre em locais por onde passam as pessoas ou ao alcance da vista. Para este fim, são indicadas espécies de plantas que produzam floradas fartas e vistosas, podendo-se alterná-las de acordo com a estação, o que torna o visual dinâmico interado com as mudanças naturais. Quanto ao formato dos canteiros, a preferência é por formas sinuosas ou amebianas, pela leveza.

5. Bosques - devem sempre existir, pois os benefícios são extremamente significativos ao ambiente. Bosques heterogêneos propiciam uma integração com a fauna e a flora local. Podem conter, por exemplo, essências florestais, essências ornamentais, árvores frutíferas. Devem proporcionar uma sensação de “leveza”, além de, em alguns casos, servirem como local para educação ambiental. Neste caso é comum colocar placas pequenas nas árvores com o nome científico, o vulgar e algumas características importantes.

Paisagismo Urbano            

Com o aumento do stress urbano das grandes cidades, a necessidade de estar próximo à natureza tem aumentado consideravelmente. As áreas verdes proporcionam áreas de lazer, áreas para prática de esportes, meditação, estudo e entretenimento.

Nos últimos anos, houve um incremento na busca de informações sobre como amenizar o “cinza” dos prédios, do asfalto, como anular o efeito da poluição urbana. As áreas verdes, os parques, a arborização das ruas, as avenidas, as praças públicas, os clubes, os jardins públicos ou particulares, passaram de locais com algumas plantas dispostas sem nenhum cuidado a locais desenhados e com composições de cores, formas e texturas, proporcionando um visual extremamente amenizador e relaxante.

Para cada projeto de paisagismo, existem fatores a se considerar, como o porquê de implantar, onde implantar, como implantar, como manter, que estilo, que cores e quais as características desejáveis das plantas.

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Para a arborização de ruas, normalmente cada cidade tem suas regras e modelos estabelecidos por profissionais da área, que irão avaliar ruas, avenidas, praças, parques, jardins públicos e, após, implantar seu projeto de forma mais adequada às condições da cidade.

Quanto a jardins de prédios, de casas, de indústrias ou escritórios, escolas e clubes particulares, há uma série de outros fatores relevantes, e normalmente há mais maleabilidade na realização do projeto.

Porque as pessoas querem plantas nos seus jardins 1. Nas entradas das casas ou clubes, uma composição de cores como tapete de boas vindas. 2. Plantas que emoldurem, contornem algum aspecto como sacadas, estátuas, mirantes, fontes e piscinas.

3. Plantas que delimitem espaços como, por exemplo, em áreas reservadas para relaxamento e estudos.

4. Para valorizar a propriedade.

5. Para áreas de recreação, educação ambiental.

6. Para encobrir algum defeito ou algum objeto visualmente estranho na propriedade.

7. Como quebra ventos, cortinas de árvores ou trepadeiras, para proporcionar maior privacidade.

8. Para atrair pássaros.

9. Para cultivar temperos, ervas ou flores para corte.

Além destes, existem inúmeros outros fatores que estão fazendo com que as pessoas procurem investir nas suas áreas verdes, desde pequenas até grandes.

A Paisagem Urbana            

A vegetação, como um todo, tem sido de grande importância na melhoria das condições de vida nos centros urbanos. Com o crescimento populacional das cidades, depara-se com a falta de um planejamento urbano.

O clima urbano difere consideravelmente do ambiente natural. A amplitude térmica, o regime pluviométrico, o balanço hídrico, a umidade do ar, a ocorrência de geadas, granizos e vendavais precisam ser considerados.

Os solos, por sua vez, responsáveis pelo suporte físico das árvores e pelo substrato nutritivo do qual depende seu desenvolvimento, apresentam-se compactados nas cidades devido ao grande número de pavimentações que não permitem o escoamento das águas. Resíduos sólidos, despejos residenciais e industriais poluem e comprometem o solo urbano.

Quanto à qualidade do ar, esta fica comprometida pela combustão de veículos automotores e pela emissão de poluentes advindos de atividades industriais.

Além da função paisagística, a arborização urbana proporciona benefícios à população como:a. Proteção contra ventosb. Diminuição da poluição sonora

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c. Absorção de parte dos raios solaresd. Sombreamentoe. Ambientação à pássarosf. Absorção da poluição atmosférica, neutralizando os seus efeitos na população

ÁREAS VERDES URBANAS

CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Existe uma dificuldade com relação aos diferentes termos utilizados sobre as áreas verdes urbanas. Similaridades e diferenciações entre termos como áreas livres, espaços abertos, áreas verdes, sistemas de lazer, praças, parques urbanos, unidades de conservação em área urbana, arborização urbana e tantos outros, confundem os profissionais que trabalham nessa área. Esse problema existe nos níveis de pesquisa, ensino, planejamento e gestão dessas áreas, e conseqüentemente, nos veículos de comunicação. Nesse sentido foi desenvolvido um trabalho por Lima et all ( 1994 ), na tentativa de definir esses termos, através de consultas a profissionais que trabalham nessa área e a experiência do grupo que desenvolveu o trabalho. A seguir seguem algumas definições retiradas desse trabalho:

a. Espaço Livre : trata-se do conceito mais abrangente, integrando os demais e contrapondo-se ao espaço construído, em áreas urbanas. Assim, a Floresta Amazônica não se inclui nessa categoria; já a Floresta da Tijuca, localizada dentro da cidade do Rio de Janeiro, é um espaço livre.

b. Área Verde : onde há o predomínio de vegetação arbórea, englobando as praças, os jardins públicos e os parques urbanos. Os canteiros centrais de avenidas e os trevos e rotatórias de vias públicas, que exercem apenas funções estéticas e ecológicas, devem, também, conceituar-se como área verde. Entretanto, as árvores que acompanham o leito das vias públicas, não devem ser consideradas como tal, pois as calçadas são impermeabilizadas.

c. Parque Urbano : é uma área verde, com função ecológica, estética e de lazer, entretanto com uma extenção maior que as praças e jardins públicos.

d. Praça : como área verde, tem a função principal de lazer. Uma praça, inclusive, pode não ser uma área verde, quando não tem vegetação e encontra-se impermeabilizada ( exemplo, a Praça da Sé em São Paulo). No caso de ter vegetação é considerada Jardim.

e. Arborização Urbana : diz respeito aos elementos vegetais de porte arbóreo, dentro da cidade. Nesse enfoque, as árvores plantadas em calçadas, fazem parte da arborização urbana, porém, não integram o sistema de áreas verdes.

f. Área Livre e Área Aberta: são termos que devem ter sua utilização evitada, pela imprecisão na sua aplicação.

g. Espaço Aberto : traduzido erroneamente e ao pé da letra do termo inglês "open space". Deve ser evitada sua utilização, preferindo-se o uso do termo espaço livre.

A CIDADE COMO UM ECOSSISTEMA E AS ALTERAÇÕES AMBIENTAIS DECORRENTES DA URBANIZAÇÃO

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As cidades, assim como o meio natural, possuem entrada, tocas e saída de matéria e energia. Nesse sentido, pode ser considerada como um ecossistema. A Ecologia Urbana é a área do conhecimento responsável pelo estudo das cidades sob a ótica ecológica.

No entanto, o meio urbano não é nem um pouco auto-sustentável. Há uma grande quantidade de consumo de recursos naturais provenientes de outros sistemas, como os naturais, os semi-naturais e os agrários. Por exemplo, a água que consumimos, os alimentos que comemos, são provenientes, originariamente, fora das cidades. Tudo para abastecer uma única espécie dominante que vive nas áreas urbanas, o homem. Os rejeitos da utilização de bens e produtos são uma grande fonte de poluição para o próprio ambiente das cidades, seu entorno e até mesmo de áreas mais distantes. A ciclagem ou reciclagem desses rejeitos ainda é insignificante. A poluição atmosférica por gases e partículas, a contaminação das águas pelos esgotos urbanos e industriais, o lixo e entulho gerados são os principais exemplos desse rejeitos.

Em suma, somos uma espécie que consome bastante recursos naturais, desperdiça muitos bens e produtos e polui bastante o ambiente que co-habitamos com outros seres vivos.

A urbanização em maior ou menor escala provoca alterações no ambiente das cidades. Essas alterações ocorrem no micro-clima e atmosfera das cidades, no ciclo hidrológico, no relevo, na vegetação e na fauna .

A atmosfera se torna mais poluida e aquecida, devido: .presença de material particulado ( poeira, fuligem ); .liberação de gases ( CO2, CO, e outros), provenientes de veículos, indústrias e construções, provocando nuvens produzidoras de sombra; .umidade relativa menor do que no meio natural e agrário e ; .temperaturas mais altas devido o aquecimento de grandes áreas concretadas e escassez de vegetação e corpos d’água.

O ciclo das águas é alterado pela impermeabilização do solo, onde a água pluvial escorre por galerias e sistemas de drenagem, tornando essa água imprópria para uso. Os cursos d’água são retificados, não respeitando a existência e necessidade das matas ciliares. Assim as águas atingem os fundos de vale rapidamente e, não tendo condições de vazão suficiente, causam as enchentes. Além disso, as águas carregam para os rios materiais, como terra, lixo, entulho que contribuem com o assoreamento dos mesmos.

O maior problema com relação ao relevo são os cortes e aterros de grandes extenções, causando compactação e erosão dos solos.

A vegetação natural é quase totalmente dizimada e substituida por ruderais ou por plantas exóticas, muitas vezes com pequena função ecológica.

A fauna original é totalmente dizimada em função da destruição de seu habitat natural. Algumas espécies de animais se sobressaem nas cidades, devido as condições favoráveis que encontram para o seu aumento populacional e ausência de seus predadores naturais, provocando um desequilíbrio inigualável nas cadeias alimentares. Baratas, ratos, pombos, pardais, escorpiões, formigas, cupins, pernilongos, são os principais exemplos de animais urbanos. Muitos deles vetores de doenças e indesejáveis devido a sua grande população.

AS DIFERENTES FUNÇÕES DAS ÁREAS VERDES URBANAS

As áreas verdes urbanas proporcionam melhorias no ambiente excessivamente impactado das cidades e benefícios para os habitantes das mesmas.

A função ecológica deve-se ao fato da presença da vegetação, do solo não impermeabilizado e de uma fauna mais diversificada nessas áreas, promovendo melhorias no clima da cidade e na qualidade do ar, água e solo.

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A função social está intimamente relacionada com a possibilidade de lazer que essas áreas oferecem à população. Com relação à este aspecto, deve-se considerar a necessidade de hierarquização, segundo as tipologias e categorias de espaços livres, tema que será abordado a seguir.

A função estética diz respeito à diversificação da paisagem construida e o embelezamento da cidade. Com relação a este aspecto deve ser ressaltada a importância da vegetação.

A função educativa está relacionada com a possibilidade imensa que essas áreas oferecem como ambiente para o desenvolvimento de atividades extra-classe e de programas de educação ambiental.

A função psicológica ocorre, quando as pessoas em contato com os elementos naturais dessas áreas, relaxam, funcionando como anti-estresse. Este aspecto está relacionado com o exercício do lazer e da recreação nas áreas verdes.

No entanto, a serventia das áreas verdes nas cidades está intimamente relacionada com a quantidade, a qualidade e a distribuição das mesmas dentro da malha urbana. Com relação à quantidade, a seguir estaremos discutindo a questão do índice de áreas verdes públicas e outros índices que mensuram a quantidade de vegetação nas cidades. Com relação à qualidade e distribuição, pretende-se abordar a questão da hierarquização dos espaços livres e aspectos relacionados à manutenção, conservação e planejamento dessas áreas.

ÍNDICES DE ÁREAS VERDES URBANAS

Na realidade pode-se falar em diferentes índices para expressar o verde nas cidades.

O índice de áreas verdes é aquele que expressa a quantidade de espaços livres de uso público, em Km2 ou m2, pela quantidade de habitantes que vive em uma determinada cidade. Então, neste cômputo, entram as praças, os parques e os cemitérios, ou seja, aqueles espaços cujo acesso da população é livre. Vale salientar que dever-se-ia trabalhar com um primeiro valor que é em função da quantidade total das áreas existentes e um segundo, recalculado, que expresse quantas dessas áreas estão sendo realmente utilizadas, após uma avaliação do seu estado de uso e conservação. Este índice se refere àquelas áreas verdes que desempenham todas as funções descritas no item anterior. No entanto, está intimamente ligado à função de lazer que desempenham ou que podem desempenhar.

Outro índice que pode ser gerado é o índice de cobertura vegetal em área urbana. Para obtenção desse índice é necessário o mapeamento de toda cobertura vegetal de um bairro ou cidade e posteriormente quantificado em m2 ou Km2.Conhecendo-se a área total estudada, também em m2 ou km2, chega-se posteriormente à porcentagem de cobertura vegetal que existe naquele bairro ou cidade. Se mapearmos somente as árvores, então esse índice expressará somente a cobertura vegetal de porte arbóreo. Nucci (1996), em sua tese de doutorado, fez esse levamento para o Distrito de Santa Cecília, na cidade de São Paulo. Neste trabalho o autor mapeou as "manchas de verde", obteve o valor em m2 e depois dividiu pela população residente naquele bairro, chegando a um índice que ele denominou índice de verde por habitante. Neste caso ele considerou todo o verde existente no bairro, independente de ser área pública ou particular e não se preocupando, neste caso, com o acesso da população a essas áreas. Em seguida o autor diferenciou as áreas verdes públicas das particulares e obteve também o índice de áreas verdes.

Oliveira (1997), em sua dissertação de mestrado, fez um levantamento das áreas públicas de São Carlos e obteve dois índices diferentes. O primeiro, denominado percentual de

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áreas verdes (PVA), foi estimado para grandes áreas da cidade que o autor chamou de unidades de gerenciamento. Neste índice entraram todas as áreas verdes públicas da cidade, independentemente da sua acessibilidade à população. Diferentes valores foram obtidos para as diferentes unidades de gerenciamento. Em seguida, o autor calculou o índice de áreas verdes (IAV), considerando somente aquelas áreas verdes públicas de acesso livre para a população. Neste caso os índices foram obtidos para setores da cidade. Também chegou ao índice de áreas verdes para a cidade como um todo. O valor obtido foi de 2,65 m2/hab. Segundo o autor este último índice é um indicador de qualidade de vida da população, expressando a oferta de área verde "per capta".

"Ainda em relação aos índices é importante comentar que está difundida e arraigada no Brasil a assertiva de que a ONU, ou a OMS, ou a FAO, considerariam ideal que cada cidade dispusesse de 12m2 de área verde/habitante. Nas pesquisas, por carta, que fizemos junto à essas Organizações, foi constatado que esse índice não é conhecido, como não o é, entre as faculdades de paisagismo da República Federal da Alemanha. Somos levados a supor, depois de termos realizado muitos estudos, que esse índice se refira, tão somente às necessidades de parque de bairro e distritais/setoriais, já que são os que, dentro da malha urbana, devem ser sempre públicos e oferecem possibilidade de lazer ao ar livre" (Cavalheiro & Del Picchia, 1992).

A falta de uma definição amplamente aceita sobre o termo "áreas verdes" e as diferentes metodologias utilizadas para obtenção dos índices , dificulta a comparação dos dados obtidos para diferentes cidades brasileiras e destas com cidades estrangeiras.

Estes índices carregam consigo apenas uma informação quantitativa geral, não expressando como essas áreas verdes se encontram, como estão sendo utilizadas e nem a distribuição das mesmas dentro da cidade. Imagine que podemos ter um alto índice de áreas verdes em uma determinada cidade, mas quando vamos observar onde estão localizadas essas áreas, constatamos que a grande maioria delas estão nos bairros de classe de alta renda. Soma-se a isto, o fato de que as pessoas mais pobres, onde há uma carência maior dessas áreas, não possuem acesso a clubes de lazer particulares e seus quintais internos são pequenos ou mesmo inexistentes, tendo muitas vezes que praticar esporte ou desenvolver algum tipo de recreação nas ruas do seu bairro.

HIERARQUIZAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES

Os espaços livres de construção são classificados segundo:

a)Tipologia ( baseado em Gröening, 1976 apud Escada, 1987 ), em: Particulares: jardins, quintais, chácaras;Potencialmente coletivos: clubes, escolas, fábricas, universidades;Públicos: praças, parques, cemitérios.

b) Categoria e Disponibilidade.

(Segundo Cavalheiro & Del Picchia (1992), os valores são considerados como indicações quanto à capacidade de suporte para visitação, a quantidade de equipamentos que possam conter e à maximização de sua manutenção.)

-Os parques de vizinhança, segundo Escada (1992), são de uso localizado, pois são planejados para servir à uma unidade de vizinhança ou de habitação, substituindo as ruas e os quintais de casas das cidades menores. São espaços com tamanho reduzido, que devem abrigar alguns tipos de equipamentos ligados à recreação, vegetação e distar entre 100 e 1.000 m das residências ou do trabalho.

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-Os parques de bairro são de maiores dimensões, devendo conter uma gama maior de equipamentos de lazer. Podem desempenhar função paisagística e ambiental, se dotados de vegetação, espaços livres de impermeabilização e águas superficiais.

-Os parques distritais são espaços livres de grandes dimensões. Segundo Birkholz, 1983 apud Escada, 1992 são áreas de bosques que contém elementos naturais de grande significado, tais como montanhas, cachoeiras, florestas, etc. Devem ser concebidos e equipados para permitir acampamentos, possuir trilhas para passeios a pé e a cavalo, locais de banho, natação, esporte e outros.

- Os parques metropolitanos também são espaços livres de grandes dimensões, devendo possuir os espaços e equipamentos de lazer citados para os parques distritais. A diferença maior com estes é sua inserção em áreas metropolitanas, servindo como um espaço público para habitantes de diferentes cidades próximas. Os dois maiores exemplos são o Central Park de Nova York e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

MANUTENÇÃO, CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DAS ÁREAS VERDES

A disponibilidade de espaços para recreação e prática de esporte nas cidades não depende exclusivamente da existência de áreas para o desenvolvimento dessas atividades. A conservação e manutenção de todos elementos que compõem uma praça ou um parque devem merecer atenção continuada dos orgãos públicos que gerenciam essas áreas e da população que as utilizam. O uso público de uma área verde está intimamente ligado à manutenção, conservação e segurança que esta área recebe.

Todo elemento natural constituinte de uma área verde, principalmente a vegetação deve ser manejada constantemente. Alguns tipos de manejo são citados a seguir:

podas em árvores com galhos podres, secos ou lascados;

extrações de árvores com risco de queda ou que apresentam algum problema fitosanitário irreparável;

plantio de novas árvores, visando a substituição daquelas extraídas, ou mesmo, para adensamento da vegetação de porte arbóreo;

poda de levantamento de copa;

trato com os problemas de pragas e doenças;

capina do gramado e poda das arbustivas;

diversificação das espécies utilizadas e priorização das nativas.

Também deve ser levado em consideração, na fase de planejamento de uma área verde, a preocupação com espécies que dão maior demanda de manutenção e altos custos de implantação, como as capinas de gramas exóticas. Em grandes parques é possível utilizar como substrato as herbáceas existentes na própria área. À medida que as árvores crescem, essas invasoras tendem a desaparecer dos espaços sombreados. Posteriormente, pode-se pensar em gramar os espaços expostos ao sol pleno ou mesmo manter a vegetação existente.

Com relação aos equipamentos de lazer e a todo mobiliário urbanoque faz parte da área verde, deve-se reparar todo dano existente e paralelamente, desenvolver campanha educativa aos usuários para uso adequado e proteção dos mesmos. Um banco quebrado ou uma luminária que não funcione é motivo suficiente para reprodução desses e de outros tipos de danos.

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Permanecer tranqüilo em uma praça, hoje em dia, é algo difícil de acontecer. Na maioria das vezes não nos sentimos seguros. O que dá segurança em uma área verde na cidade é o seu uso constante pela população e uma guarda municipal que seja mais educativa que punitiva. Esse uso ocorrerá se a praça estiver dotada de iluminação eficiente, equipamentos funcionando, gramados capinados, árvores de copas altas e muitos outros ítens relacionados à conservação e manutenção dos elementos existentes na área.

PLANEJAMENTO E LEGISLAÇÃO

O Código de Áreas Verdes e Arborização Urbana de uma cidade é o instrumento legal e de gerenciamento mais importante que pode existir para assegurar a existência de espaços que desempenhem funções de melhorias do ambiente urbano e da qualidade de vida dos seus habitantes.

Com relação ao planejamento, deve-se pensar primeiro na cidade como um todo, propondo a existência e funcionalidade de um sistema municipal de áreas verdes ou de espaços livres, considerando a densidade populacional dos bairros ou setores da cidade e o potencial natural das áreas existentes.

Para cada bairro ou setor, no planejamento e projeção dos espaços livres ou setor deve-se levar em consideração as faixas etárias predominantes e existentes, a opinião dos moradores e o potencial de cada área. Guzzo (1991), em sua monografia de graduação, desenvolveu um trabalho de planejamento dos espaços livres de uso público para um conjunto habitacional de Ribeirão Preto/SP. Primeiro foi feita uma hierarquização das áreas verdes e sistemas de lazer existentes no Projeto Urbanístico, segundo as categorias existentes na Tabela 01. As áreas foram classificadas em parques de vizinhança, parques de bairro e verde de acompanhamento viário. Posteriormente a população foi consultada através de questionário segundo seus desejos quanto aos elementos que deveriam estar presentes nessas áreas. Posteriormente, o autor observou quais os tipos de lazer que as crianças desenvolviam nas ruas do bairro. Com todas essas informações foi feito dois pré-projetos paisagísticos para uma área categorizada como parque de vizinhança e outra como parque de bairro. Este último, com área superior a 6,0 hectares se transformou em 1995, através de lei municipal, no Parque de Bairro Tom Jobim. Porém, até a presente data, ainda não foi totalmente implantado. Apenas alguns equipamentos esportivos e a arborização externa da área foi implementada.

Ainda com relação à legislação, cita-se a seguir aquelas que devem merecer atenção para quem for desenvolver algum tipo de trabalho com áreas verdes e arborização urbana:

- Lei 7.803/89, alterando a Lei 4.771/65 que estabelece o Código Florestal Brasileiro;

- Lei 6.766/79 que dispõe sobre parcelamento do solo urbano;

- Lei Orgânica do Município e ;

- Plano Diretor do Município e leis complementares, como Código Municipal de Meio Ambiente, Lei Municipal de Parcelamento e Uso do Solo Urbano, Plano Viário Municipal, Lei do Mobiliário Urbano e Lei Municipal de Saneamento.

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PRAÇA

Praça Medina Sidonia, Cádiz, Espanha

Em uma definição bastante ampla, praça é qualquer espaço público urbano livre de edificações e que propicie convivência e/ou recreação para seus usuários. Normalmente, a apreensão do sentido de "praça" varia de população para população, de acordo com a cultura de cada lugar. Em geral, este tipo de espaço está associado à idéia de haver prioridade ao pedestre e não acessibilidade de veículos, mas esta não é uma regra. O termo também pode, no contexto militar, se referir a uma categoria de sargentos.

No Brasil, a idéia de praça normalmente está associada à presença de ajardinamento, sendo os espaços conhecidos por largos correspondentes à idéia que se tem de praça em países como a Itália, a Espanha e Portugal. Neste sentido, um largo é considerado uma "praça seca".Tipologias

De acordo com cada sentido que a palavra praça assume, estes espaços podem ser classificados das seguintes formas:

Praça-jardim. Espaços nos quais a contemplação da formação vegetal e a circulação são priorizadas.

Praça seca. Largos históricos ou espaços que suportam intensa circulação de pedestres.

Praça azul. Praças nas quais a água possui papel fundamental. Alguns belvederes e jardins de várzea possuem tal característica.

Praça amarela. Praias em geral.

Trajetória histórica

- A Ágora grega e o Foro romano

Talvez os primeiros espaços urbanos que tenham sido intencionalmente projetados para cumprirem o papel que hoje é dado às praças sejam a ágora, para os gregos, e o forum, para os romanos. Ambos os espaços possuíam, no contexto das cidades nas quais se inseriam, um aspecto simbológico bastante importante na cultura de cada um dos povos: eram a materialização de uma certa idéia de público.

A ágora grega era o espaço no qual a limitação da esfera pública urbana estava claramente decidida: aí se praticava a democracia direta, sendo o lugar, por excelência, da discussão e do debate de idéias entre os cidadãos. A ágora normalmente se delimitava

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por um mercado, uma stoa e demais edifícios, sendo que dela era possível ver a acrópole, a morada dos deuses na mitologia grega. Já o fórum romano representava em si mesmo a monumentalidade do Estado, sendo que o indivíduo que por ele passasse estava espacialmente subordinado aos enormes prédios públicos que o configuravam. Diferenciava-se da ágora na medida em que o espaço de discussão não mais era a praça pública, aberta, mas o espaço fechado dos edifícios, nos quais a penetração era mais restrita.

Praças européias

Até meados do século XVIII o projeto de praças estava normalmente restrito ao tratamento paisagístico de grandes palácios, nem sempre inseridos no contexto urbano. Os espaços livres existentes nas cidades configuravam-se de forma não ordenada, em geral devido à existência de mercados populares ou às entradas de igrejas e catedrais.

As praças que historicamante se formaram nas cidades européias normalmente estão relacionadas com a configuração natural de um espaço livre a partir dos planos de edifícios que foram sendo construídos ao redor de construções importantes, como igrejas, catedrais e prédios públicos.

Durante o século XIX, com o trabalho de determinados profissionais (como Olmested) e o desenho urbano promovido por urbanistas como Hausmann em Paris e Cerdá em Barcelona, o desenho específico de praças passa a constituir matéria própria, em paralelo à constituição formal da profissão de arquiteto paisagista (simultaneamente ao trabalho de Law Olmsted no desenho de sistemas de espaços libres em Boston e Nova Iorque).

Praças no Brasil

No Brasil, o conceito de praça é popularmente associado às idéias de verde e de ajardinamento urbano. Por este motivo, os espaços públicos similares às praças européias medievais, que normalmente se formaram a partir dos pátios das igrejas e mercados públicos, são comumente chamados de adros ou largos. Também por este motivo, uma série de jardins urbanos que surgem devido ao traçado viário das cidades (como as rotatórias e canteiros centrais de grandes avenidas) acaba recebendo o título legal de praça, ainda que sejam espaços de difícil acesso aos pedestres e efetivamente desqualificados como praças.

A não ser pelas praças em regiões centrais das grandes cidades, a típica praça na cidade brasileira se caracteriza, portanto, por ser bastante ocupada por vegetação e arborização. Quando ela recebe um maior tratamento, ou quando foi resultado de um projeto, ela também costuma possuir equipamentos recreativos e contemplativos (como playgrounds, recantos para estar, equipamentos para ginástica e cooper, bancos e mesas, etc).

PARQUESDesde a Antiguidade a árvore, como imagem mítica, foi utilizada como símbolo do

crescimento espiritual do ser humano. Existe entre o ser humano e as árvores uma afinidade estrutural psíquica, intimamente associada ao crescimento e realização de potenciais. A árvore adulta já está contida na semente. O ser humano também carrega em estado germinal, no fundo do inconsciente, aquilo que poderá vir a ser (MILANO & DALCIN, 2000).

As cidades, hoje, já abrigam mais ou menos a metade da população do planeta e, em vários países, entre os quais o Brasil, mais de 80% da população (IBGE, 2002). Tanto por este motivo, a concentração populacional, quanto pela forma como surgem, crescem e são organizadas, as cidades tornam-se também, de maneira geral, os extremos da ação humana nos sistemas naturais (MILANO & DALCIN, 2000).

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As florestas urbanas podem ser definidas como a soma de toda a vegetação lenhosa que circunda e envolve os aglomerados urbanos desde pequenas comunidades rurais até grandes regiões metropolitanas (MILLER, 1997).

Os parques urbanos são ecossistemas compostos pela interação entre sistemas naturais e sistemas antropogênicos (NOWAK et al 2001).

As árvores de ruas, praças, parques, áreas de conservação urbanas e demais áreas livres de edificação, fazem parte do Paisagismo Urbano.

As árvores em vias públicas e demais áreas livres de edificação são constituintes da floresta urbana, atuam sobre o conforto humano no ambiente, por meio das características naturais da vegetação arbórea, proporcionando sombra para pedestres e veículos, redução da poluição sonora, melhoria da qualidade do ar, redução da amplitude térmica, abrigo para pássaros e harmonia estética amenizando a diferença entre a escala humana e outros componentes arquitetônicos como prédios, muros e grandes avenidas.

Segundo MILANO & DALCIN (2000), existem aspectos positivos das árvores nas cidades os quais podem ser mensurados, avaliados e monitorados, caracterizando benefícios e, conseqüentemente, objetivos que passam a ser estabelecidos no planejamento:- estabilização e melhoria microclimática;- redução da poluição atmosférica;- diminuição da poluição sonora;- melhoria estética das cidades;- ação sobre a saúde humana;- benefícios sociais, econômicos e políticos.

Pode-se citar também a absorção da radiação ultravioleta, dióxido de carbono e a redução do impacto da água de chuva e seu escorrimento superficial.

O Desenvolvimento Urbano e as Áreas VerdesSegundo MACEDO (1995) o espaço livre de edificação, como elemento de projeto é

praticamente desconhecido pelos profissionais e pela população, que o vêem como um espaço residual a ser ajardinado ou simplesmente deixado de lado.

MILANO & DALCIN (2000) citam o surgimento da luz elétrica e a expansão da oferta dos serviços de abastecimento de água, coleta de esgoto e telecomunicações, trazendo para as cidades como o Rio de Janeiro, um complexo sistema de cabos, galerias e dutos que tomam conta do ar e do subsolo. A rede aérea de energia passou a interferir de forma decisiva no plano de arborização da cidade. Na seqüência, com o advento da era “desenvolvimentista” e da explosão imobiliária na década de 60 houve a perda dos jardins privados e a impermeabilização do solo e o patrimônio das áreas verdes das cidades ficaram cada vez mais restritos à arborização de ruas, praças, parques e maciços florestais.

Pode-se acrescentar ainda a compactação e baixa fertilidade do solo resultantes dos processos de movimentação de terra para urbanização de loteamentos. De maneira semelhante, o processo de evolução da ocupação e uso do solo urbano, especificado no parágrafo anterior, ocorreu na grande maioria das cidades brasileiras.

Segundo MACEDO (1995), parece então urgente uma revisão no ideário sobre espaços livres de edificação e ações são fundamentais:- A afirmação e o aceite da existência formal de um sistema urbano de espaços livres de edificação, que deve abarcar todos os espaços livres existentes, sejam eles espaços para lazer, ou circulação, verdes ou azuis, plantados ou não.- O abandono da idéia do “alcance” de medidas de metros quadrados por habitante como uma panacéia (incansável) aos problemas urbanos de carência de áreas de lazer e conservação de recursos ambientais, esquecendo-se definitivamente o malfadado índice de 12 m2/ habitante de área verde.- O estabelecimento de critérios de distribuição de espaços livres públicos, que deve ser delimitado de acordo com carências sociais, acessibilidade e manutenção de recursos ambientais finitos, como água e florestas nativas e de proteção de solos frágeis.

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- O estabelecimento prévio ao crescimento urbano, as expansões das cidades de áreas prioritárias à construção e/ou efetivação de espaços livres, isto é, a criação e manutenção de estoques/reservas de futuros espaços livres públicos para lazer e conservação.- A revisão dos padrões de distribuição dos espaços livres intra-quadras, questionando-se os modelos oficiais, e seus graus de eficiência redefinindo-se os limites desejáveis (se desejáveis) de privatização do lazer.- A idealização de quadras urbanas, especialmente aquelas verticalizadas, são sistemas complexos, onde flui a vida humana e cujos espaços livres devem ser tratados como sistemas que são, não como espaços residuais.- A revisão dos padrões de projeto dos espaços livres, que são extremamente padronizados para o país, buscando-se adequar cada um deles ao contexto do território nacional em que estiver situado.- O reconhecimento do papel da rua como espaço de lazer e uma conseqüente revisão de seus padrões de desenho e projeto.- A inclusão das praias e áreas de beira-água (rios, lagos e represas) quando utilizados pela comunidade como participantes efetivos dos sistemas de espaços livres de edificação urbanos e/ou como áreas de reserva para lazer e ou conservação.

ÁREAS VERDES E ARBORIZAÇÃO VIÁRIAEstudos sobre áreas verdes urbanasEstudos recentes sobre espaços livres de edificação foram promovidos procurando-

se avaliar o uso dessas áreas pela população, sua história, seus equipamentos, sua dinâmica, assim como seu alcance para atender a comunidade local e bairros próximos (MACEDO, 1995), (ANGELIS & ANGELIS NETO, 2000), (PEGOLO & DEMATTÊ, 2002) e (MACEDO & SAKATA, 2002).

Segundo ANGELIS & ANGELIS NETO (2001), deve-se ter uma visão macro da cidade de tal forma que o espaço livre, a ser planejado ou avaliado, esteja inserido nesse contexto, propiciando a continuidade de um sistema de espaços livres urbanos interligados – parques, praças, hortos, reservas florestais, fundos de vale, arborização de acompanhamento viário e outros. Não se pode analisar um desses fatores sem se considerar a existência dos demais e não cabe aqui determinar-se um número, uma vez que os índices são contraditórios e dificultam mais o trabalho que auxiliam.

Segundo ANGELIS & ANGELIS NETO (2000), com o surgimento de outras formas alternativas de lazer e novos locais para o estabelecimento do comércio, associado ao descaso persistente do poder público frente à manutenção das praças, essas passaram a constituir-se em um fragmento a mais dentro da malha urbana.

Com o tempo as mudanças vieram e as praças foram deixando de ser um espaço prioritário de recreação. Atualmente, a maioria das pessoas tem outras necessidades e sente o mundo ao seu redor de modo diferente. Isso não significa que os espaços verdes urbanos precisem cair no esquecimento, pois são ecologicamente importantes, possuem valores estéticos além de auxiliarem na redução da amplitude térmica e novos usos podem ser estendidos a eles, com equipamentos adequados. Instigando-se novas formas de percepção do ambiente urbano, seria possível ampliar as relações positivas da população com a paisagem. O apreço pelos espaços verdes poderia ser resgatado, mesmo que as pessoas não mais se utilizassem deles da forma como faziam antes. Dois pontos não devem ser esquecidos: a constante participação do Poder Público e a conscientização (PEGOLO & DEMATTÊ, 2002).

Torna-se imperativo repensar o papel que os espaços públicos têm nos dias de hoje. Nesse contexto toma vulto a questão do desenho urbano, não sendo mais possível planejar a cidade dissociada da questão social. E ao mencionar-se o desenho urbano, refere-se, inclusive, às minúcias dos diversos logradouros e, em se tratando das áreas livres de edificação verdes e praças isso significa o estudo de seu mobiliário, sua tipologia e sua inserção na malha urbana. A soma desse conhecimento propicia um diagnóstico preciso sobre esses espaços, ao mesmo tempo em que fornece subsídio na busca de

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soluções para se fazer frente aos problemas sociais ocorrentes nesses logradouros e na cidade como um todo (ANGELIS & ANGELIS NETO, 2000).

As praças não são mais usufruídas como em tempos passados. Antigamente, eram o centro dos acontecimentos políticos e das festividades religiosas, de atos cívicos e sociais. Nos finais de semana, moradores das zonas urbana e rural dirigiam-se às praças, pois ali havia diversão, o lazer de outras épocas, os encontros, o início de muitas histórias e o fim de outras tantas.

Para MACEDO & SAKATA (2002), os parques urbanos brasileiros são figuras que acompanham a formação das cidades e as transformações da sociedade brasileira e suas formas de expressão. Ao longo dos séculos XIX e XX, os parques passaram de espaços onde a elite passeava vestida à européia contemplando a natureza recriada e confabulando com seus pares para espaços democráticos onde todos podem correr, brincar e divertir-se, onde os recursos naturais são preservados, onde as cidades brasileiras, cada vez mais densas, respiram aliviadas. Os parques do passado e os do presente são unidos por uma característica comum: sua importância como símbolos de nossa capacidade de criar, implantar e manter figuras urbanas tão valiosas e tão frágeis sob a ação do tempo.

Entre os parques urbanos mais emblemáticos pode-se destacar o Parque do Ibirapuera e o Parque do Aterro do Flamengo.

As inaugurações desses dois parques em 1954 (Ibirapuera) e 1962 (Flamengo), apesar do caráter isolado, marcam a ruptura definitiva com a estrutura do velho desenho romântico de paisagismo, ainda bastante em voga na época. O Aterro do Flamengo, projetado por Afonso Reidy, Burle Marx e equipe, possui desenho com inovações que buscam e conseguem dar uma adequação aos usos cotidianos da metrópole do Rio de Janeiro, então em processo de acelerada modificação urbana, foi planejado para conter e envolver a nova via expressa que ligava a zona sul (Copacabana, em especial) ao centro da cidade, o Aterro do Flamengo é um grande Parque linear unindo vários aterros antigos na orla, é uma obra que comporta toda uma série de jogos, museus, marina e até uma praia artificial, elementos que foram rapidamente assimilados pela população, utilizados noite e dia, Figura 01. O Parque do Ibirapuera, cujo desenho florestal urbano é de concepção de Otávio Augusto Teixeira Mendes, era uma área alagadiça, foi estruturado no meio de um bosque de eucaliptos, com uma série de pavilhões de exposição que, na época de sua inauguração, atraiam um grande público para as festividades em curso. Esse parque possuía um programa de uso que atendia ao lazer cultural (museus e exposições), esportivo (quadras, tanques para modelismo de barcos) e contemplativo, Figura 02 (MACEDO & SAKATA, 2002).

Figura 01. Marina localizada no Aterro do Flamengo, envolvida de espaços verdes. Crédito: QUAPÄ.

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O Parque do Ibirapuera pela sua localização, ao lado de áreas habitadas pelas elites – os bairros Jardim América e Jardim Paulista -, o significado simbólico que lhe foi atribuído, sua centralidade e acesso transformaram-no em principal parque da cidade, capaz de atrair milhares de usuários todos os dias, tanto para caminhar e correr como para o descanso, os shows ao ar livre e as exposições (MACEDO E SAKATA, 2003).

A vegetação arbórea pode ser entendida como um mobiliário urbano, um equipamento essencial para o bom funcionamento dos espaços livres de edificação.

A tipologia é uma forma de analisar o espaço livre de edificação e pressupõe o conhecimento de sua identidade, estrutura e significação e a imaginabilidade definida como sendo a qualidade do objeto físico que lhe confere uma grande probabilidade de suscitar uma imagem vigorosa em qualquer observador, a estrutura é a conformadora da imagem através da relação espacial entre o espaço livre e seu entorno, integrando ambos em um conjunto único e, por fim, a significação que é um atributo de valor simbólico para o observador, transformando o espaço livre, o parque, a praça, a rua ou a árvore em um espaço reconhecível e representativo para os habitantes da cidade (ANGELIS & ANGELIS NETO, 2000).

Figura 02. Parque do Ibirapuera, foto aérea mostrando trecho do parque, áreas verdes livres e prédios e entorno dominado por bairro de alto padrão, extraído de (PMSP, 2003)

MATAS CILIARES

 As matas ciliares são sistemas vegetais essenciais ao equilíbrio ambiental e, portanto, devem representar uma preocupação central para o desenvolvimento rural sustentável. A preservação e a recuperação das matas ciliares, aliadas às práticas de conservação e ao manejo adequado do solo, garatem a proteção de um dos principais recursos naturais: a água.

 As principais funções das matas ciliares são:

controlar a erosão nas margens dos cursos d´água, evitando o assoreamento dos mananciais;

minimizar os efeitos de enchentes;

manter a quantidade e a qualidade das águas;

filtrar os possíveis resíduos de produtos químicos como agrotóxicos e fertilizantes;

auxiliar na proteção da fauna local.

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Um dos principais objetivos do Programa é contribuir para a proteção das nascentes e dos mananciais, por meio da recomposição da cobertura vegetal no Estado de São Paulo.

Os objetivos do reflorestamento nas microbacias hidrográficas selecionadas são:

contribuir para conscientização dos produtores sobre a necessidade de conservação dos recursos naturais;

incentivar o reflorestamento, através da doação de mudas de essências florestais nativas aos produtores;

contribuir para aumentar a proteção e vazão das nascentes e dos mananciais hídricos;

contribuir para melhorara a qualidade da água;contribuir para reverter processos de degradação ambiental;

contribuir para a preseervação da biodiversidade e do patrimônio genético da flora e da fauna;buscar um equilíbrio biológico duradouro, essencial a uma melhor qualidade de vida.

 Os passos para o reflorestamento nas microbacias são:

identificação de áreas críticas de desmatamento na microbacias;

identificação das áreas prioritárias a serem reflorestadas dentro da lógica de corredores biológicos;

motivação dos produtores para a adoção de práticas conservacionistas, visando à recuperação das áreas degradadas;

distribuição gratuíta de mudas aos beneficiários e prestação de assistência Técnica.

 Os incentivos do Programa para a conservação de matas ciliares são:

doação de mudas de essências florestais nativas para reflorestamento de áreas de preservação permanente;

apoio á construção de cercas para proteção de mananciais, através de concessão de subvenções econômicas aos produtores rurais;

apoio na execução de outras práticas conservacionistas, visando ao manejo integrado dos recursos naturais na microbacia.

Recuperação de Matas Ciliares

O processo de ocupação do Brasil caracterizou-se pela falta de planejamento e conseqüente destruição dos recursos naturais, particularmente das florestas. Ao longo da história do País, a cobertura florestal nativa, representada pelos diferentes biomas, foi sendo fragmentada, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens e as cidades.

A noção de recursos naturais inesgotáveis, dadas as dimensões continentais do País, estimulou e ainda estimula a expansão da  fronteira agrícola sem a preocupação com o aumento ou, pelo menos, com uma manutenção da produtividade das áreas já cultivadas. Assim, o processo de fragmentação florestal é intenso nas regiões economicamente mais desenvolvidas, ou seja, o Sudeste e o Sul, e avança

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rapidamente para o Centro-Oeste e Norte, ficando a vegetação arbórea nativa representada, principalmente, por florestas secundárias, em variado estado de degradação, salvo algumas reservas de florestas bem conservadas. Este processo de eliminação das florestas resultou num conjunto de problemas ambientais, como a extinção de várias espécies da fauna e da flora, as mudanças climáticas locais, a erosão dos solos e o assoreamento dos cursos d'água.

Neste panorama, as matas ciliares não escaparam da destruição; pelo contrário, foram alvo de todo o tipo de degradação. Basta considerar que muitas cidades foram formadas às margens de rios, eliminando-se todo tipo de vegetação ciliar; e muitas acabam pagando um preço alto por isto, através de inundações constantes.

Além do processo de urbanização, as matas ciliares sofrem pressão antrópica por uma série de fatores: são as áreas diretamente mais afetadas na construção de hidrelétricas; nas regiões com topografia acidentada, são as áreas preferenciais para a abertura de estradas, para a implantação de culturas agrícolas e de pastagens; para os pecuaristas, representam obstáculos de acesso do gado ao curso d'água etc.

Este processo de degradação das formações ciliares, além  de desrespeitar a legislação, que torna obrigatória a preservação das mesmas, resulta em vários problemas ambientais. As matas ciliares funcionam como filtros, retendo defensivos agrícolas, poluentes e sedimentos que seriam transportados para os cursos d'água, afetando diretamente a quantidade e a qualidade da água e conseqüentemente a fauna aquática e a população humana. São importantes também como corredores ecológicos, ligando fragmentos florestais e, portanto, facilitando o deslocamento da fauna e o fluxo gênico entre as populações de espécies animais e vegetais. Em regiões com topografia acidentada, exercem a proteção do solo contra os processos erosivos.

Apesar da reconhecida importância ecológica, ainda mais evidente nesta virada de século e de milênio, em que a água vem sendo considerada o recurso natural mais importante para a humanidade, as florestas ciliares continuam sendo eliminadas cedendo lugar para a especulação imobiliária, para a agricultura e a pecuária e, na maioria dos casos, sendo transformadas apenas em áreas degradadas, sem qualquer tipo de produção.

É necessário que as autoridades responsáveis pela conservação ambiental adotem uma postura rígida no sentido de preservarem as florestas ciliares que ainda restam, e que os produtores rurais e a população em geral seja conscientizada sobre a importância da conservação desta vegetação. Além das técnicas de recuperação propostas neste trabalho, é fundamental a intensificação de ações na área da educação ambiental, visando conscientizar tanto as crianças quanto os adultos sobre os benefícios da conservação das áreas ciliares.

A definição de modelos de recuperação de matas ciliares, cada vez mais aprimorados, e de outras áreas degradadas que possibilitam, em muitos casos, a restauração realativamente rápida da cobertura florestal e a proteção dos recursos edáficos e hídricos, não implica que novas áreas possam ser degradadas, já que poderiam ser recuperadas. Pelo contrário, o ideal é que todo tipo de atividade antrópica seja bem planejada, e que principalmente a vegetação ciliar seja poupada de qualquer forma de degradação.

As matas ciliares exercem importante papel na proteção dos cursos d'água contra o assoreamento e a contaminação com defensivos agrícolas, além de, em muitos casos, se constituírem nos únicos remanescentes florestais das propriedades rurais sendo, portanto, essenciais para a conservação da fauna. Estas peculiaridades conferem às

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matas ciliares um grande aparato de leis, decretos e resoluções visando sua preservação.

O novo Código Florestal (Lei n.° 4.777/65) desde 1965 inclui as matas ciliares na categoria de áreas de preservação permanente. Assim toda a vegetação natural (arbórea ou não) presente ao longo das margens dos rios e ao redor de nascentes e de resevatórios deve ser preservada.

De acordo com o artigo 2° desta lei, a largura da faixa de mata ciliar a ser preservada está relacionada com a largura do curso d'água. A tabela apresenta as dimensões das faixas de mata ciliar em relação à largura dos rios, lagos, etc.

Largura Mínima da Faixa Situação

30 m em cada margem Rios  com menos de 10 m de

largura

50 m em cada margem Rios  com 10 a 50 m de largura

100 m em cada margem Rios  com 50 a 200 m de largura

200 m em cada margem Rios  com 200 a 600 m de largura

500 m em cada margem Rios  com largura superior a 600 m

Raio de 50 m Nascentes

30 m ao redor do espelho d'água Lagos ou resevatórios em áreas

urbanas

50 m ao redor do espelho d'água Lagos ou reservatórios em zona

rural, com área menor que 20 ha

100 m ao redor do espelho d'águaLagos ou reservatórios em zona

rural, com área igual ou superior a 20 ha

100 m ao redor do espelho d'água Represas de hidrelétricas

Um ecossistema torna-se degradado quando perde sua capacidade de recuperação natural após distúrbios, ou seja, perde sua resiliência. Dependendo da intensidade do distúrbio, fatores essenciais para a manutenção da resiliência como, banco de plântulas e de sementes no solo, capacidade de rebrota das espécies, chuva de sementes, dentre outros, podem ser perdidos, dificultando o processo de regeneração natural ou tornando-o extremamente lento.

Uma floresta ciliar está sujeita a distúrbios naturais como queda de árvores, deslizamentos de terra, raios etc., que resultam em clareiras, ou seja, aberturas no dossel, que são cicatrizadas através da colonização por espécies pioneiras seguidas de espécies secundárias.

Distúrbios provocados por atividades humanas têm, na maioria das vezes, maior intensidade do que os naturais, comprometendo a sucessão secundária na área afetada. As principais causas de degradação das matas  ciliares são o desmatamento para extensão da área cultivada nas propriedades rurais, para expansão de áreas urbanas e para obtenção de madeira, os incêndios, a extração de areia nos rios, os empreendimentos turísticos mal planejados etc.

Em muitas áreas ciliares, o processo de degradação é antigo, tendo iniciado com o desmatamento para transformação da área em campo de cultivo ou em pastagem. Com o passar do tempo e, dependendo da intensidade de uso, a degradação pode ser agravada através da redução da fertilidade do solo pela exportação de nutrientes pelas culturas e, ou, pela prática da queima de restos vegetais e de pastagens, da compactação e da erosão do solo pelo pisoteio do gado e pelo trânsito de máquinas agrícolas.

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O conhecimento dos aspectos hidrológicos da área é de suma importância na elaboração de um projeto de recuperação de mata ciliar. A menor unidade de estudo a ser adotada é a microbacia hidrográfica, definida como aquela cuja área é tão pequena que a sensibilidade a chuvas de alta intensidade e às diferenças de uso do solo não seja suprimida pelas características da rede de drenagem. Em nível de microbacia hidrográfica é possível identificar a extensão das áreas que são inundadas periodicamente pelo regime de cheias dos rios e a duração do período de inundação.

Estas informações são extremamente importantes na seleção das espécies a serem plantadas, já que muitas espécies não se adaptam a condições de solo encharcado, ao passo que outras só sobrevivem nestas condições.

Técnicas de Recuperação de Matas Ciliares

1. Regeneração Natural:

Através da regeneração natural, as florestas apresentam capacidade de se recuperarem de distúrbios naturais ou antrópicos. Quando uma determinada área de floresta  sofre um distúrbio como a abertura natural de uma clareira, um desmatamento ou um incêndio, a sucessão secundária se encarrega de promover a colonização da área aberta e conduzir a vegetação através de uma série de estádios sucessionais, caracterizados por grupos de plantas quer vão se substituindo ao longo do tempo, modificando as condições ecológicas locais até chegar a uma comunidade bem estruturada  e mais estável.

A sucessão secundária depende de uma série de fatores como a presença de vegetação remanescente, o banco de sementes no solo, a rebrota de espécies arbustivo-arbóreas, a proximidade de fontes de sementes e a intensidade e a duração do distúrbio. Assim, cada área degradada apresentará uma dinâmica sucessional específica. Em áreas onde a degradação não foi intensa, e o banco de sementes próximas, a regeneração natural pode ser suficiente para a restauração florestal. Nestes casos, torna-se imprescindível eliminar o fator de degradação, ou seja, isolar a área e não praticar qualquer atividade de cultivo.

Em alguns casos, a ocorrência de espécies invasoras, principalmente gramíneas exóticas como o capim-gordura (Melinis minutiflora) e trepadeiras, pode inibir a regeneração natural das espécies arbóreas, mesmo que estejam presentes no banco de sementes ou que cheguem na área, via dispersão. Nestas situações, é recomendado uma intervenção no sentido de controlar as populações de invasoras agressivas e estimular a regeneração natural.

A regeneração natural tende a ser a forma de restauração de mata ciliar de mais baixo custo, entretanto, é normalmente um processo lento. Se o objetivo é formar uma floresta em área ciliar, num tempo relativamente curto, visando a proteção do solo e do curso d'água, determina as técnicas que acelerem a sucessão devem ser adotadas.

2. Seleção de Espécies:

As matas ciliares apresentam uma heterogeneidade florística elevada por ocuparem diferentes ambientes ao longo das margens dos rios. A grande variação de fatores ecológicos nas margens dos cursos d'água resultam em uma vegetação arbustivo-arbórea adaptada a tais variações. Via de regra, recomenda-se adotar os seguintes critérios básicos na seleção de espécies para recuperação de matas ciliares:

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plantar espécies nativas com ocorrência em matas ciliares da região;

plantar o maior número possível de espécies para gerar alta diversidade;

utilizar combinações de espécies pioneiras de rápido crescimento junto com espécies não pioneiras (secundárias tardias e climáticas);

plantar espécies atrativas à fauna;

respeitar a tolerância das espécies à umidade do solo, isto é, plantar espécies adaptadas a cada condição de umidade do solo.

Na escolha de espécies a serem plantadas em áreas ciliares é imprescindível levar em consideração a variação de umidade do solo nas margens dos cursos d'água. Para as áreas permanentemente encharcadas, recomenda-se espécies adaptadas a estes ambientes, como aquelas típicas de florestas de brejo. Para os diques, são indicadas espécies com capacidade de sobrevivência em condições de inundações temporárias. Já para as áreas livres de inundação, como as mais altas do terreno e as marginais ao curso d'água, porém compondo barrancos elevados, recomenda-se espécies adaptadas a solos bem drenados.

A escolha de espécies nativas regionais é importante porque tais espécies já estão adaptadas às condições ecológicas locais. Por exemplo, o plantio de uma espécie típica de matas ciliares do norte do País em uma área ciliar do sul, pode ser um fracasso por causa de problemas de adaptação climática. Além disso, no planejamento da recuperação deve-se considerar também a relação da vegetação com a fauna, que atuará como dispersora de sementes, contribuindo com a própria regeneração natural. Espécies regionais, com frutos comestíveis pela fauna, ajudarão a recuperar as funções ecológicas da floresta, inclusive na alimentação de peixes.

Recomenda-se utilizar um grande número de espécies para gerar diversidade florística, imitando, assim, uma floresta ciliar nativa. Florestas com maior diversidade apresentam maior capacidade de recuperação de possíveis distúrbios, melhor ciclagem de nutrientes, maior atratividade à fauna, maior proteção ao solo de processos erosivos e maior resistência à pragas e doenças.

Em áreas ciliares proximas a outras florestas nativas, e quando não se tem disponibilidade de mudas de muitas espécies, plantios mais homogêneos podem ser realizados. Nestas situações, deve ocorrer um enriquecimento natural da área recuperada, pela entrada de sementes vindas das florestas próximas. Entretanto, salienta-se que o aumento da diversidade nestes plantios homogêneos tende a ser muito lento, podendo ser necessários posteriores plantios de enriquecimento ou até a introdução de sementes.

A combinação de espécies de diferentes grupos ecológicos ou categorias sucessionais é extremamente importante nos projetos de recuperação. As florestas são formadas através do processo denominado de sucessão secundária, onde grupos de espécies adaptadas a condições de maior luminosidade colonizam as áreas abertas, e crescem rapidamente, fornecendo o sombreamento necessário para o estabelecimento de espécies mais tardias na sucessão. Várias classificações das espécies em grupos ecológicos têm sido propostas na literatura especializada, sendo mais empregada a classificação em quatro grupos distintos: pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e climáticas. A tolerância das espécies ao sobreamento aumenta das pioneiras e climáticas. Para facilitar o entendimento das exigências das espécies quanto aos níveis de luz, adotou-se apenas dois grupos: pioneiras e não-pioneiras. O grupo das pioneiras é representado por espécies pioneiras e secundárias iniciais, que devem ser

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plantadas de maneira a fornecer sombra para as espécies não pioneiras, ou seja, as secundárias tardias e as climáticas.

BIBLIOGRAFIA

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