apostila op 2011

49
1 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL Créditos: 04 Carga horária: 60 h Ementa Orientação profissional: conceito e aspectos teóricos. Diferentes correntes teóricas sobre a orientação profissional. Reorientação de Carreira. Escolha profissional como processo. Aspectos éticos da Orientação Vocacional e Profissional. Elaboração de Programa de Orientação Profissional. Básicas : BOCK, A.M. (org); BOCK, S.D. & DURAN, R. A escolha profissional em questão. São Paulo: Casa do psicólogo, 1995. BOHOSLAVSKY, R. Orientação Vocacional - A estratégia Clínica. São Paulo: Martins Fontes, 1993. Complementares : BOHOSLAVSKY, R. Vocacional - teoria, técnica e ideologia. São Paulo: Cortez, 1983. CARVALHO, M.M.J. Orientação Profissional em Grupo - teoria e prática. Campinas: Psy II, 1995. CAMPOS, D.M.S.C. O Teste do Desenho como Instrumento de Diagnóstico da Personalidade. Petrópolis: Vozes, 2000. FERRETI, C.J. Uma nova proposta de orientação Profissional. São Paulo: Cortez, 1987. KLINE, P. A Psicologia de Orientação Profissional. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. LEVENFUS, R.S. Psicodinâmica da Escolha Profissional. Porto Alegre: Artes Médicas,1996. LUCCHIARI, D.L.S. Pensando e Vivendo a Orientação Profissional. São Paulo: Summus,1983. MOURA, B.C. Orientação Profissional – sob o enfoque da análise do comportamento. Londrina: UEL, 2001. MULLER, M. Orientação Vocacional – Contribuições clínicas e educacionais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. PELLEBER, D. Desenvolvimento Vocacional e Crescimento Pessoal. Ed. Vozes.

Upload: lincol-p-drosdek

Post on 05-Aug-2015

259 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Apostila OP 2011

1

ORIENTAÇÃO PROFISSIONALCréditos: 04 Carga horária: 60 h

Ementa Orientação profissional: conceito e aspectos teóricos. Diferentes correntes teóricas sobre a orientação profissional. Reorientação de Carreira. Escolha profissional como processo. Aspectos éticos da Orientação Vocacional e Profissional. Elaboração de Programa de Orientação Profissional.

Básicas: BOCK, A.M. (org); BOCK, S.D. & DURAN, R. A escolha profissional em questão. São Paulo: Casa do psicólogo, 1995. BOHOSLAVSKY, R. Orientação Vocacional - A estratégia Clínica. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

Complementares: BOHOSLAVSKY, R. Vocacional - teoria, técnica e ideologia. São Paulo: Cortez, 1983. CARVALHO, M.M.J. Orientação Profissional em Grupo - teoria e prática. Campinas: Psy II, 1995. CAMPOS, D.M.S.C. O Teste do Desenho como Instrumento de Diagnóstico da Personalidade. Petrópolis: Vozes, 2000. FERRETI, C.J. Uma nova proposta de orientação Profissional. São Paulo: Cortez, 1987. KLINE, P. A Psicologia de Orientação Profissional. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. LEVENFUS, R.S. Psicodinâmica da Escolha Profissional. Porto Alegre: Artes Médicas,1996. LUCCHIARI, D.L.S. Pensando e Vivendo a Orientação Profissional. São Paulo: Summus,1983. MOURA, B.C. Orientação Profissional – sob o enfoque da análise do comportamento. Londrina: UEL, 2001. MULLER, M. Orientação Vocacional – Contribuições clínicas e educacionais. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. PELLEBER, D. Desenvolvimento Vocacional e Crescimento Pessoal. Ed. Vozes. SILVIA, M.L.R.S. Personalidade e escolha profissional. São Paulo: EPU, 1992.

Page 2: Apostila OP 2011

2

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

Fontes: BOHOLAVSKY, R. Orientação Vocacional e Estratégia Clínica. Martins Fontes: São Paulo, 1993.CARVALHO, Maria Margarida M.J. de. Orientação Profissional em grupo, Teoria e Técnica. Editora Psy: São Paulo, 1995.LUCCHIARI, Dulce Helena Penna Soares. Pensando e vivendo a orientação profissional. Summus: São Paulo, 1993.

– ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL (OP)

Existem 2 modalidades de OP: a estatística e a clínica.

Modalidade Estatística de OPPara os psicólogos situados nesta posição, o jovem que deve escolher uma carreira ou um trabalho pode ser assistido pelo profissional, se este, uma vez conhecida as aptidõese interesses do cliente, puder encontrar, entre as oportunidades existentes, aquelas que mais se ajustem às possibilidades e gostos do futuro profissional. O teste é o instrumento fundamental para se conhecer essas aptidões e interesses. Parece descrever com rigor as qualidades pessoais do interessado e, uma vez feito isto, basta formular um conselho que resuma o que, ao jovem, “lhe convém fazer”. Esta modalidade está ligada à psicotécnica norte-americana e à psicologia diferencial, de princípios do século. Influenciada por posteriores progressos da psicometria, vem aperfeiçoando suas técnicas quanto à validade e fidedignidade. Suas descrições quantitativas são cada vez mais rigorosas (ou, pelo menos, podem chegar a sê-lo).

Modalidade Clínica de OPPara os psicólogos situados nesta outra posição, a escolha de uma carreira e um trabalho podem ser auxiliados se o jovem conseguir assumir a situação que enfrenta e, ao compreendê-la, chegar a uma decisão pessoal responsável. Para estes profissionais, a entrevista é o principal instrumento de trabalho. O psicólogo deixa de assumir um papel diretivo, não porque desconheça as possibilidades de um “bom ajustamento”, mas porque considera que nenhuma adaptação à situação de aprendizagem ou trabalho é boa, se não supõe uma decisão autônoma. Esta modalidade acha-se mais vinculada às técnicas não diretivas preconizadas por Rogers, nos EUA. Na Argentina, foi particularmente influenciada pelas contribuições psicanalíticas (basicamente, pela Escola Inglesa e pela “Psicologia do Ego”). Aparentemente, a Argentina foi pioneira, em certo sentido; nos EUA, só recentemente, em 1961, o “Journal of Counseling Psychology” começou a publicar trabalhos com enquadre psicanalítico.

O trabalho de OP é mais comum com adolescentes, pois precisamente nesta época emergem as dificuldades (e soluções) de natureza vocacional. Especificamente, entre os quinze e os dezenove anos (de modo aproximado) delineiam-se com mais clareza os conflitos relativos ao acesso ao mundo adulto, em termos ocupacionais.O momento da escolha de uma profissão coincide com a fase do desenvolvimento na qual o jovem está se descobrindo novamente. É o nascimento existencial, quando o jovem está definindo sua identidade: quem ele quer ser e quem não quer ser. É o

Page 3: Apostila OP 2011

3

momento em que ele está buscando conhecer-se melhor, seus gostos, interesses e motivações.

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL (OP) = A tarefa da OP é facilitar o momento da escolha ao cliente, auxiliando-o a compreender sua situação específica de vida, na qual estão incluídos aspectos pessoais, familiares e sociais. É a partir dessa compreensão que ele terá mais condições de definir qual a melhor a escolha – a escolha possível – no seu projeto de vida. Para isso, o Orientador utiliza-se de procedimentos psicológicos especializados, atividades distintas que correspondem a quadros de referência, orientações teóricas, concepções filosóficas e científicas, bem como diversas técnicas de trabalho, sempre visando a facilitação da escolha.

OP CLÍNICA: uma nova proposta facilitando a escolha

Facilitar a escolha significa participar auxiliando a pensar, coordenando o processo para que as dificuldades de cada um possam ser formuladas e trabalhadas. Coordenar o processo porque, como profissionais, estamos habilitados para isso. O desenvolvimento do processo dependerá dos grupos, já que eles apresentam características específicas. Coordenar não significa orientar, pois nós também não conhecemos o melhor caminho. Significa facilitar, para que o próprio jovem descubra quais caminhos pode seguir. A decisão é do cliente, e ninguém tem o direito de interferir nela. Esse é um posicionamento filosófico e ético. Parte de uma concepção do homem como ser livre para escolher. Livre dentro de uma situação específica de vida que por si só pode configurar-se como um limite. Não se pode tudo ao mesmo tempo e no momento em que se quer. Pode-se dentro de situações concretas reais e limitadas. Escolher é decidir, entre uma série de opções, a que parece a melhor naquele momento. Cada escolha feita faz parte de um projeto de vida que vai se realizando. Nossa vida se define pelo futuro que queremos alcançar. É fundamental, no processo de escolha, ser trabalhada a questão da integração do tempo. Para o jovem definir o que quer vir a ser é preciso estar claro a ele quem foi, quem é e quem será.

“A orientação é o processo de fazer o indivíduo descobrir e usar seus dotes naturais e tomar ciência das fontes de treinamento disponíveis, a fim de que possa viver de modo a tirar o máximo proveito para si próprio e para a sociedade”. E para a execução desse programa, existem 3 etapas fundamentais no processo de OP: 1. Autoconhecimento (história familiar vocacional e profissional, características de personalidade do orientando, aptidões e interesses)2. Informação Ocupacional (conhecimento aprofundado das carreiras tidas como objeto)3. Trabalho com Escolha e Decisão (acompanhamento até o momento da decisão, com avaliação e encerramento do processo).

Com esta visão, é fundamental uma forma de compreensão e atuação com o orientando, que englobe toda a sua personalidade, incluindo sua história de vida, sua escolaridade, sua família e seu meio socioeconômico e cultural, bem como as circunstâncias do momento da escolha. Resumindo, é importante saber quem é e como

Page 4: Apostila OP 2011

4

está escolhendo o jovem que procura a OP, que interesses, pressões, dificuldades (etc.) o fazem sentir necessidades de ajuda, para que seja possível efetivamente ajudá-lo.

A forma estratégica clínica a ser empregada, segundo Bohoslavsky, consiste “num conjunto de operações, por meio das quais o psicólogo ascende à compreensão da conduta do orientando e facilita a este último, o acesso á sua própria compreensão”, numa forma de colaboração não-diretiva, que o leve a uma decisão autônoma.

Page 5: Apostila OP 2011

5

MODALIDADE ESTATÍSTICA

1) O adolescente, dados a dimensão e o tipo de conflito que enfrenta, não está em condições de chegar a uma decisão por si mesmo.

2) Cada carreira ou profissão requer aptidões específicas. Estas são:

a) Definíveis a priori;b) Mensuráveis;c) Mais ou menos estáveis ao longo

da vida.

3) A satisfação no estudo e na profissão depende do interesse que se tenha por eles. O interesse é específico, mensurável e desconhecido pelo sujeito.

4) As profissões não mudam. A realidade sócio-cultural, tampouco. Por isso, pode-se predizer, conhecendo a situação atual, o desempenho futuro de quem hoje se ajusta, por suas aptidões, ao que hoje é determinada carreira ou profissão. Se o jovem tem as aptidões suficientes, não terá que enfrentar obstáculos. Fará uma carreira bem sucedida.

5) O psicólogo deve desempenhar um papel ativo, aconselhando o jovem. Deixar de fazê-lo, aumenta indevidamente sua ansiedade, quando esta deve ser diminuída.

MODALIDADE CLÍNICA

1) O adolescente pode chegar a uma decisão se conseguir elaborar os conflitos e ansiedades que experimenta em relação ao seu futuro.

2) As carreiras e profissões requerem potencialidades, que não são específicas. Portanto, estas não podem ser definidas a priori, nem muito menos, ser medidas.

3) O prazer no estudo e na profissão depende do tipo de vínculo que se estabelece com eles. O vínculo depende da personalidade, que não é um a priori, mas que se define na ação (incluindo, certamente, a ação de estudar e trabalhar em determinada disciplina). O interesse não é desconhecido pelo sujeito, mesmo que, possivelmente, o sejam os motivos que determinaram esse interesse específico.

4) A realidade sócio-cultural muda incessantemente. Surgem novas carreiras, especializações e campos de trabalho, continuamente. Conhecer a situação atual é importante. Mais importante é antecipar a situação futura. Ninguém pode predizer o sucesso, a menos que seja entendido como a possibilidade de superar obstáculos com maturidade.

5) O adolescente deve desempenhar um papel ativo. A tarefa do psicólogo é esclarecer e informar. A ansiedade não deve ser amenizada, mas resolvida; e isto, somente se o adolescente elabora os conflitos que lhe deram origem.

É importante saber que embora a OP Estatística tenha sim sua utilidade e validade, quanto à prontidão para efetivar a escolha profissional, o cliente não tarda em descobrir que o teste não é um instrumento dotado de poderes mágicos, capaz de resolver o problema da escolha do próprio futuro.

Page 6: Apostila OP 2011

6

Orientação Profissional X Psicoterapia

O psicólogo que se decidia à OP considera tanto a transferência de aspectos passados, como a transferência de aspectos futuros da vida do entrevistado – do adolescente – em termos de sua identidade vocacional. Entretanto, atua fundamentalmente sobre estes quando se trata de formular uma interpretação. Esta é a diferença fundamental entre o caráter operativo de uma entrevista de OP e o caráter terapêutico de outros tipos de entrevistas psicológicas. Se podemos chamar de terapêutica uma entrevista de OP, neste caso o termo terapêutico é entendido num sentido muito amplo – promover a saúde, o desenvolvimento, o bem-estar ou a felicidade de um ser humano. Numa entrevista de OP, pretende-se que o adolescente compreenda as identificações havidas até esse momento e a identificação do campo em que se move ou executa sua decisão, com o campo futuro em que se concretizará seu projeto. No caso da OP, a transferência não se verbaliza nem interpreta, a menos que o entrevistado tenda a romper e enquadre. A alusão a situações existentes no “aqui”, “agora” e “conosco” de uma entrevista de OP tem a característica de servir de apoio concreto à relação que o sujeito estabelece com seu mundo interior, especificamente em termos de sua identidade vocacional e com o futuro, em termos de papéis ocupacionais adultos, vida universitária, estudos superiores, etc. Da mesma forma, outras técnicas de intervenção psicológica (como pontuações, interpretações, tarefas e técnicas diversas) apenas serão utilizadas com fins de OP, pois este é o foco do trabalho. Assim, todos os temas trazidos para a sessão são associados com o momento de escolha que o cliente está passando e com os objetivos que pretende atingir neste processo. Caso ocorra que o objetivo explícito seja a OP, enquanto haja um objetivo implícito de psicoterapia, pode cair no risco de desempenhar o papel psicoterapêutico que o cliente projeta sobre o psicólogo. Isso é um erro, e neste caso o melhor seria atendê-lo psicoterapeuticamente depois de finalizar o processo de OP. Pode ainda atendê-lo nas 2 modalidades paralelamente, desde que o faça em sessões distintas, ou se não se julga hábil para tanto, o melhor é encaminhar o cliente para terapia com outro profissional, enquanto o mantém na OP consigo. Assim, uma entrevista de OP é uma espécie de espelho voltado para o futuro e que, somente se for necessário, emprega-se ao mesmo tempo para refletir o passado e, em qualquer caso, somente aqueles aspectos do mundo interior que tenham relação com a visão fantasia do futuro profissional. Toda entrevista é uma situação nova, suscita ansiedades diante da mudança, frente ao desconhecido, isto é, temores de inadequação aos padrões de comportamento tradicionais, face a esta situação específica. Frente a estas novas situações, o cliente pode apelar para comportamentos defensivos.

Page 7: Apostila OP 2011

7

BREVE HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

Fonte: CARVALHO, Maria Margarida M.J. Orientação Profissional em grupo, Teoria e Técnica. Editora Psy: São Paulo, 1995.

Há estudos situando a OP na Psicologia do Trabalho, outros na Psicologia Educacional, outros na área da Orientação ou do Aconselhamento e, mais recentemente, apresentando a OP como uma área em si. Platão, na obra “A República”, sugere que determinadas categorias de pessoas seriam mais adequadas para determinadas tarefas, na visão de uma comunidade grega ideal. Já Cícero, em Roma, analisou as diferenças entre as pessoas quanto aos seus talentos e aos diferentes trabalhos existentes, salientando a necessidade da adequação das pessoas às ocupações. Entretanto, a realidade social bastante estratificada no momento histórico em que ambos viveram não permitia, na prática uma mobilidade social. Tanto na Grécia Antiga, como no Império Romano e mesmo na Idade Média, praticamente não havia liberdade de escolha ocupacional. O nível social e o campo ocupacional eram determinados primeiramente pelo nascimento, sendo o aprendizado de tarefas realizado dentro das famílias. Com o Iluminismo vieram a expansão da visão humanística do destino individual e a aplicação dessa visão à política e à economia. Finalmente, com o advento da democracia na sociedade industrial apareceu uma relativa liberdade na escolha das ocupações. Portanto, as condições ambientais propícias para um trabalho científico de investigação psicológica, com a finalidade de adequação do indivíduo ao trabalho, apenas surgiram no início do nosso século. “Primeiro centro de OP foi criado em 1902, em Munique, na Baviera”, com o objetivo principal de identificar os indivíduos desprovidos de vocação e capacidade para determinadas tarefas, objetivando, com esta providência, evitar os acidentes de trabalho. A partir desta iniciativa, vários outros centros semelhantes surgiram em diferentes países. A Itália (1903), a França (1906), a Holanda (1907), os Estados Unidos (1908), a Inglaterra (1908) e a Suíça (1908) iniciaram organizações que tinham por finalidade a informação e a orientação profissional, unidas à seleção profissional. Como fator determinante para essa grande expansão, considera-se também o desenvolvimento industrial, que levou à preocupação com o trabalhador.

Orientação Profissional – primeiros eventos importantes:

1902- Centro de OP em Munique; na Alemanha. 1903- Depto. de Orientação Vocacional no Instituto Biológico Ortogênico, na Itália. 1906- Instituto do Trabalho, na França. 1907- Centro de Informação e OP, na Holanda. 1908- Centro de Informação e OP (Suíça): Centro de Informação e OP, (Inglaterra); Serviço de OP na Associação Cristã de Moços de Boston (EUA). 1909- Primeiro livro escrito na área por Parsons: Escolhendo uma Profissão (EUA). 1913- Criação da “National Vocation Guidance Assoxiation” (EUA). 1914- Escritório Intercomunal de Orientação e Seleção Profissional Christiaens e Decroly (Bélgica).

Page 8: Apostila OP 2011

8

1916- Gabinete de OP do Instituto J.J. Rousseau (Suíça). 1918- Instituto Cívico de Psicologia Experimental da Prefeitura de Milão (Itália); Depto. de Colocação e OP junto ao Ministério do Trabalho (Washington, EUA). 1919- Instituto de OP Mira e Lopes (Espanha). 1920- 1ª Conferência Internacional de Psicotécnica (Suíça); Instituto Nacional de Psicologia Industrial (Inglaterra); Gabinete de Psicotécnica (Itália); Serviço de OP da Universidade de Minnesota (EUA). 1921- Depto. de OP da Prefeitura de Roma (Itália); Primeiro livro escrito em Paris: “Orientação Profissional” (Fontegne). 1924- Serviço de Seleção e OP no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, (Brasil).

A orientação visa o indivíduo, buscando para ele um melhor trabalho, mas foi no seu início nitidamente marcada pelos objetivos da seleção, porque, como esta, desenvolveu-se ligada aos interesses das indústrias. Em 1909, Parsons escreveu “Escolhendo uma Profissão”. Neste livro, propunha três passos fundamentais para a escolha de uma profissão: a) analisar o homem para que as pessoas pudessem lucrar ao se compreenderem e o orientador lucrar ao compreendê-las; b) estudar as ocupações para compreender suas condições e vantagens e c) orientar o homem sobre a ocupação, relacionando suas características pessoais aos requisitos da ocupação. Com a visão de Parsons ligando a OP à educação, inicia-se uma nova modalidade de orientação. Também nos Estados Unidos, praticamente em seguida ao trabalho de Parsons, surgiu o de Münsterberg. Este trabalho mostra o início do interesse das universidades na problemática da escolha profissional e na importância desta ao mundo profissional. A I Grande Guerra (de 1914 a 1918) trouxe (além da crise socioeconômica) o desenvolvimento dos testes utilizados no exército com a finalidade de uma melhor utilização do homem, em tarefas mais adequadas a ele. Na década de 20 e 30, estes testes passaram a ser utilizados em larga escala também em ocupações civis de vários tipos. Na grande crise econômica de 1930, muitos homens se davam por contentes em poder aceitar qualquer espécie de emprego e, assim sendo, procuravam uma orientação para readaptar-se. Paralelamente às 2 guerras mundiais e entre elas, o crescente processo de industrialização e de setores especializados no trabalho trouxe um grande número de novas áreas profissional, para que o jovem pudesse conhecer e se adaptar às novas possibilidades de trabalho. Na execução da OP, durante esses anos, também foram sendo encontrados problemas intrínsecos. As baterias rígidas de testes começaram a ser consideradas como insuficientes para fazer frente ao problema da adaptação do homem aos processos industriais cada vez mais complexos e aos problemas de relacionamento humano nos grupos de trabalho. Morris Vittels criou uma metodologia de análise de profissão, propondo uma forma mais objetiva e sistemática do levantamento das características das profissões e das aptidões pessoais exigidas para o seu desempenho (informação ocupacional). O desenvolvimento da própria Psicologia como ciência, em suas diferentes escolas, foi trazendo novas contribuições para a OP.

Page 9: Apostila OP 2011

9

Mais recentemente, de 1940 em diante, foi grande a influência de Rogers e da terapia não-diretiva proposta por ele, na OP e educacional. Nesta modalidade de trabalho, por meio de entrevistas, o jovem é levado a uma compreensão melhor de sua personalidade, bem como de seu meio ambiente, para, por meio desse conhecimento, desenvolver atitudes adequadas para um bom ajustamento pessoal. A posição de encontrar um diagnóstico e fornecer conselhos foi substituída pelo auxílio ao autoconhecimento e a uma tomada consciente de posições e escolhas. Na América Latina, o Brasil e a Argentina foram os pioneiros em OP. Em 1925 foi fundado na Argentina o Instituto de OP do Museu Social Argentino, dirigido por Fingermann. No Brasil, em 1924, o engenheiro Roberto Mange introduziu a seleção e a OP para os alunos do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Mais tarde este trabalho teve prosseguimento no Instituto de Educação da Universidade de São Paulo, sob a direção de Noemi S. Rudolfer. E, em 1938, o Ministro Interino do Trabalho, João C. Vital, elaborou um projeto de lei que criava o Instituto Nacional de Seleção e OP (INSOP), primeira idealização do atual Instituto de Seleção e OP (DASP), mas para não ficar restrito ao funcionalismo público, foi transferido para a Fundação Getúlio Vargas. Sua direção técnica foi confiada a Mira Y Lopes. Em nível de ensino superior, a OP junto à seleção profissional surgiu como disciplina do currículo do Curso de Psicologia proposto após a promulgação da Lei Federal nº 4.119, em 1962. Em 1931 surgiu pela primeira vez, em nível universitário, a disciplina Psicologia Aplicada aos Problemas da Educação, apenas em 1957, com a criação do Curso de Psicologia na Universidade de São Paulo. O movimento de OP em consultórios particulares, ligado à Psicologia Clínica, é relativamente recente, tendo tomado vulto a partir dos Cursos de Psicologia resultantes da legislação federal que instituiu a profissão de psicólogo em nosso território, em 1962. Em São Paulo, Franco da Rocha e Durval Marcondes iniciaram serviços fundamentais na teoria e na técnica psicanalítica, respectivamente no Hospital do Juqueri e no Serviço de Higiene Mental, por volta de 1930. No serviço de Higiene Mental foi aberta uma seção de atendimento escolar, onde eram utilizadas baterias de testes no diagnóstico dos jovens e uma incipiente OP. Algumas faculdades oferecem Serviços de OP anexos aos cursos de Psicologia. Alguns colégios estão se preocupando em oferecer informações sobre profissões aos alunos e mesmo promover atendimento de orientação vocacional. Em 1993 foi realizado o I Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional / Ocupacional, em Porto Alegre, de 24 a 27 de novembro. Durante o simpósio, nessa mesma data, foi fundada a ABOP – Associação Brasileira de Orientadores Profissionais.

Page 10: Apostila OP 2011

10

O ADOLESCENTE E O DESENVOLVIMENTO DA IDENTIDADE OCUPACIONAL

Fontes: BOHOLAVSKY, R. Orientação Vocacional e Estratégia Clínica. Martins Fontes: São Paulo, 1993.CARVALHO, Maria Margarida M.J. Orientação Profissional em grupo, Teoria e Técnica. Editora Psy: São Paulo, 1995.

O adolescente é o cliente por excelência da OP, uma vez que é nessa fase que as escolhas ocupacionais começam a se definir. A adolescência é o período da vida humana que vai mais ou menos dos 11-12 anos aos 20-21 anos, compreendendo a etapa da vida entre a puberdade e a idade madura. Caracteriza-se esta fase por uma busca de afirmação pessoal, uma busca de identidade. É uma fase de mudanças corporais, psicológicas e sociais. A resultante destes opostos é a presença da contradição na identidade do adolescente: é a necessidade de desenvolver um processo de particularização, tendo consciência da sua diferença em relação a outro ser humano, assim como da sua semelhança. A adolescência não é a única época da vida onde são enfrentados problemas declarados e mais fortes. Por outro lado, a identidade individual está assentada na identidade com o outro, a identidade social, sendo um conceito inseparável do conceito de identificação. O jovem já havia estabelecido identificações na infância, mas na adolescência este processo, sofre uma crise considerada por ele como normal, vital, quando a continuidade de padrões e valores (etc.) é posta em dúvida e uma busca de novos significados é iniciada. Novos ídolos são buscados, novas idéias e ideais. A integração que se produz para formar a nova identidade é a experiência acrescentada pela capacidade do ego para integrar as identificações, as vicissitudes da libido, as capacidades desenvolvidas e as ocasiões apresentadas pelos sociais. Knobel (1974) encontrou nesse processo 10 características típicas as quais configuram uma síndrome normal da adolescência:

1- Busca de si e de sua identidade Quem é ele e quem são os outros. Este processo implica também numa mudança nas relações com o outro, em especial, na mudança da relação com os pais.

2- Tendência grupal A necessidade da formação de grupos de iguais ocorre como comportamento defensivo, na busca de segurança, uniformidade e valorização pessoal. Na luta pela independência em relação às figuras paternas, ele transfere a dependência para o grupo, usando a atuação e a força deste para se afirmar e se diferenciar dos pais.

3- Necessidade de intelectualização Neste processo são sentidas muitas perdas, tais como a do corpo infantil, dos pais da infância e da bissexualidade da identidade infantil. A impotência diante desta realidade interna, diante das perdas dolorosas e diante de muitos aspectos da realidade externa, leva à necessidade de utilizar seus aspectos mais potentes, tais como a intelectualização e a capacidade de fantasiar.

Page 11: Apostila OP 2011

11

4- Crise religiosa O mesmo jovem pode apresentar momentos de forte ateísmo e de intenso misticismo, alternadamente, fugindo ou se aproximando de padrões familiares. A necessidade de mudança, a insegurança e a necessidade de identificação tendem a levar a posições extremadas.

5- Deslocamento temporal O adolescente apresenta uma forma de pensamento atemporal. O presente muitas vezes representa uma negação do passado e uma reação quase fóbica diante do futuro, o qual também é negado. Neste processo ele converte o tempo em presente, tentando controlá-lo.

6- Evolução sexual No caminho entre o auto-erotismo e a heterossexualidade genital adulta, ocorre também um processo de perder e ganhar. A bissexualidade da infância é perdida e as fantasias incestuosas não podem mais se manter. Por outro lado, o começo do exercício genital leva à masturbação e aos contatos exploratórios e preparatórios, nos quais ele inicia a busca de um par socialmente aceito para a sua genitalidade. Neste processo podem ocorrer momentos fantasiosos ou reais de homossexualidade, significando a recuperação da bissexualidade.

7- Atitude social reivindicatória Esta tendência pode apresentar diversos graus de intensidade, desde uma rebeldia a padrões e valores familiares e a limitações cotidianas, até uma atitude de delinqüência ou de tentativa de revolução social. Na verdade ele está se libertando se um esquema, mas procurando outro esquema que ele aceite e tentando se afirmar numa posição escolhida e não imposta.

8- Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta O adolescente não consegue manter uma linha de conduta rígida e coerente, dada a sua permeabilidade e vulnerabilidade aos estímulos internos e externos, os quais muitas vezes são confundidos.

9- Separação progressiva dos pais Neste processo ocorre uma ambivalência muito acentuada, tanto por parte do adolescente como por parte dos pais, uma vez que crescer implica uma modificação de relacionamento para todos os implicados. Tanto o filho perde os pais da infância, quanto os pais perdem o filho criança.

10- Constantes flutuações de humor e de estado de ânimo As mudanças de humor no adolescente devem ser consideradas como formas de adaptação defensivas, diante das situações imprevisíveis que ele enfrenta, seja perante seus próprios estímulos orgânicos, seja perante os estímulos externos. Diferentes emoções, de intensidade variável, se alternam uma vez que sua auto-imagem depende dos êxitos e dos fracassos, nas tentativas de afirmação.

Neste processo de transição, como parte da busca de identidade, o adolescente deve definir sua identidade ocupacional. Esse conceito caracteriza o processo que se

Page 12: Apostila OP 2011

12

refere ao estudo e ao trabalho como meios de ascensão a papéis sociais adultos. A identidade ocupacional está submetida às mesmas leis que conduzem à identidade pessoal, sendo uma parte desta. As influências relevantes na vida do jovem (a identificação ou não com os pais, a firmeza da identidade sexual, a capacidade de avaliar as próprias condições, avaliar as alternativas socioeconômicas existentes etc.) atuam na escolha leva à consolidação da identidade pessoal.A identidade vocacional é a auto-percepção, elaborada ao longo da vida do sujeito em termos de trabalho ou de estudos. A expressão desenvolvimento vocacional enfatiza a idéia de que a escolha profissional não é um evento e sim um processo, longo e complexo. O momento de escolha corresponde a um momento maturidade vocacional, o qual é um ponto numa escala contínua entre as primeiras fantasias sobre papéis ocupacionais adultos e o declínio profissional. O momento de escolha vocacional se dá quando o jovem atinge um conceito de si mesmo suficientemente explícito para pensar “eu sou isto e não aquilo e este trabalho me permite ser quem eu quero ser”. Quanto aos fatores que determinam esta escolha, existe uma multiplicidade deles: psicológicos (baseados em toda uma história de vida), e sociológicos (sociais, mas também presentes nessa história). Determinantes Psíquicos na escolha profissional: maturidade vocacional, interesses, valores, necessidades, traços de personalidade e o autoconceito. Determinantes Sociais na escolha profissional: a estrutura de oportunidades local, educativa e ocupacional; as condições econômicas, mercado de trabalho, sexo e características físicas.

ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS E DOS DETERMINANTES ESPECÍFICOS DE CADA ETAPA VOCACIONAL:

1- Crescimento (dos 4 aos 14 anos) Neste estágio as escolhas e o auto-conceito são inicialmente determinados pela identificação com as figuras paternas e outros familiares e posteriormente com figuras da escola e outras. Nesta etapa predominam sucessivamente:a) Fantasia (4 a 10 anos), a qual expressa as necessidades básicas;b) Interesse (11-12 anos) quando o púbere começa a falar de “gostos” por atividades;c) Capacidade (13-14 anos) quando a aprendizagem escolar começa a levar o jovem a treinar seu potencial em diferentes tipos de tarefas.

2- Exploração (15 aos 24 anos) Neste momento o auto-conceito não se baseia mais apenas nas identificações, mas também no desempenho de papéis. Tanto na escola como no lazer e no trabalho, se ocorrer, o jovem exercita e avalia suas capacidades. Também se subdivide em três momentos:a) Tentativa (15 aos 17 anos), quando importam os interesses, as habilidades, os valores e as oportunidades, mas as tentativas de escolha se baseiam na fantasia;b) Transição (18 a 20 anos), em que há maior consideração da realidade, levando-a a um confronto entre as necessidades, os interesses, o treino e o mercado de trabalho.c) Ensaio (22 aos 24 anos), quando o jovem localiza uma área profissional, discriminada entre as demais, escolhe-a como própria e se relaciona mais diretamente com ela.

Page 13: Apostila OP 2011

13

3- Estabelecimento (25 aos 44 anos) É um período de busca de manutenção por meio da experiência ou da especialização, na área de realidade já escolhida. Esta fase se divide em duas:a) Ensaio (25 aos 30 anos), onde ainda ocorre uma mudança de áreas, implicando todas as vicissitudes desta mudança, como, onde trabalhar, com quem, em que especialização, etc. Assim, dependendo das insatisfações iniciais, pequenas ou grandes mudanças podem ocorrer.b) Estabilização (31 aos 44 anos), quando escolhida uma área, o indivíduo produz muito dentro dela, procurando estabilidade e segurança profissional. São os anos mais criativos de trabalho.

4- Manutenção (45 aos 64 anos) Nesta fase os esforços se dirigem para a estabilização profissional na área já escolhida.

5- Declínio (65 em diante) Neste estágio as forças físicas e mentais se desaceleram e as atividades podem novamente começar a mudar, pelo aparecimento de papéis sociais diferentes e novos interesses e necessidades. Divide-se em dois momentos:a) Desaceleração (65 aos 70 anos), quando principalmente o ritmo de trabalho diminui e, muitas vezes, as tarefas e o tempo de trabalho se modificam, acompanhando a condição do organismo.b) Aposentadoria (por volta dos 71 anos), a qual pode ou não ocorrer, com dificuldade ou com aceitação, varando de pessoa para pessoa.

O DIAGNÓSTICO EM OP

Modalidade Clínica: a estratégia refere-se a uma síntese interativa entre o ver, o pensar e o atuar sobre as situações que são objeto da entrevista. O momento diagnóstico é o momento de pensar.

O primeiro diagnóstico

Trata-se da compreensão que o psicólogo pode atingir a respeito da pessoa que se propõe assistir. Do primeiro diagnóstico surge um prognóstico relativo à “orientabilidade”, à possibilidade de um cliente aceitar a abordagem e obter benefícios dela. Após o momento diagnóstico deve existir um conjunto de instruções e o contrato de trabalho. O primeiro diagnóstico requer um esclarecimento da dinâmica interna do entrevistado. Duas pessoas com a mesma estrutura de personalidade não têm, necessariamente, o mesmo diagnóstico quanto a seus problemas vocacionais. Os problemas vocacionais são um tipo específico de problemas de personalidade e os limites – embora não sejam rígidos – existem, e é necessário considerá-los. Trata-se

Page 14: Apostila OP 2011

14

então, não de um diagnóstico de personalidade, mas sim, de um diagnóstico de orientabilidade. Problemas vocacionais são todos aqueles que envolvem pôr em jogo mecanismos de decisão frente a opções ocupacionais. O objetivo fundamental da primeira entrevista é a elaboração do primeiro diagnóstico; a formulação do contrato de trabalho e, eventualmente, no encaminhamento do entrevistado para outro tipo de atendimento. Na análise da primeira entrevista, como o entrevistado configura uma situação nova, na qual está implicado outro, como profissional, sobre a base de uma série de decisões. A primeira entrevista é a viga mestra do primeiro diagnóstico vocacional do entrevistado. É de primordial importância a análise da primeira proposição formulada pelo entrevistado. Condensa-se, aí, toda a sua problemática vocacional (deuteroescolha). Ao final da primeira entrevista, estabelece-se o contrato. Pode-se contratar um pequeno número de entrevistas, para se completar esse primeiro diagnóstico. Nessas entrevistas, se for necessário, pode-se aplicar testes psicométricos e/ou projetivos.

Critérios para a elaboração do diagnóstico

Os critérios para o diagnóstico procuram facilitar a compreensão da identidade vocacional do entrevistado.

1. Manejo do tempo: No caso da problemática vocacional, torna-se significativo o tipo de manejo do tempo feito pelos adolescentes. A dimensão temporal pode ser “adequada”, “estirada” ou “encolhida”, pois toda escolha implica num projeto e um projeto que nada mais é do que um estratégia no tempo.

2. Momentos pelos quais o adolescente passa: Há três momentos: o de seleção, escolha e decisão.

1) Seleção: Não sabe nem ao certo do que gosta, pois ainda está selecionando em vista daquilo que sabe que não gosta. 2) Escolha: Já escolheu aquela que gosta e descartou as demais.3) Decisão: Está decidindo entre 2 ou 3 carreiras que tinha como objeto e lidando com questões de luto e consequências.

3. Ansiedades Predominantes: Toda primeira entrevista, situação nova, desencadeia, no entrevistado, ansiedades do tipo persecutório. Além delas, há ainda a classificação de “fantasias e temores”, que podem ser:

Referentes à auto-imagem (importância, onipotência, dependência, etc.). Referentes ao futuro (medo do fracasso, aborrecimento, mediocridade, rivalidade e inveja, erros no exercício da profissão, etc.). Referentes à vida universitária (estar super exigido; não conseguir submeter-se ao trote, considerado como rito de iniciação, etc.). Referentes à escola secundária (desvalorização; não poder discriminar matéria-professor; matéria-faculdade; matéria profissão, etc.).

Page 15: Apostila OP 2011

15

4. Carreiras como objeto Comumente, na primeira entrevista de orientação vocacional, o entrevistado concentra-se no tema das carreiras. As carreiras podem ser analisadas como um objeto do desejo do cliente. Assim, na primeira entrevista, o orientador interessa-se mais em compreender o tipo de vínculo estabelecido com o objeto-carreira. É importante saber que:

1) O fato de não mencionar nenhuma carreira, revela um mundo externo confuso, sem Objetos, no qual o ego imaturo fracassa nas suas tentativas de discriminação.2) A menção de uma idêntica inclinação por todas as carreiras revela-nos um mundo exterior tão confuso como no tipo anterior, com a diferença de que neste se possui Objetos. O ego é igualmente imaturo, mas possivelmente a deficiência não se dá tanto no momento de seleção (função discriminativa), mas no de escolha (relação mais ou menos permanente com os objetos).

Uma boa escolha depende de identificações não distorcidas onde surja, da análise dos sistemas de atitudes, um confronto entre a fantasia e a realidade.

5. Situações que o adolescente vive A escolha do futuro implica sempre num aumento de conflitos. Diante dessa dúvida, os adolescentes passam por quatro situações, descritas como: predilemática, dilemática, problemática ou de resolução.

1) A situação predilemática é aquela por que passa o adolescente que “não se dá conta” de que deve escolher. A conduta manifestada é de extrema dependência. Durante a entrevista os adolescentes falam pouco, geralmente respondem às perguntas da orientação vocacional parece não preocupá-los, nem remotamente.2) A situação dilemática caracteriza-se pela presença de afetos confusos numa pessoa que se dá conta de que enfrenta uma dúvida, costumam exibir um comportamento exterior com um elevado grau de ansiedade.3) A situação problemática caracteriza-se por um grau elevado de conflito, capaz de determinar no adolescente uma dinâmica tal que possa superá-lo, integrando seus termos numa síntese superior. O adolescente está realmente pré-ocupado.4) A situação de resolução está caracterizada pela qualidade e pelo grau de ansiedades vinculadas à elaboração normal de um luto.

6. Fantasias de Resolução Denominamos fantasias de resolução aquilo que, num contexto terapêutico, designa-se como “fantasias de cura”. Para poder escolher e decidir, o adolescente pode buscar uma ou mais das seguintes situações: liberdade, apoio e permissão. Quais são as fantasias que ele possui sobre a forma como solucionará seu problema? Podem comumente ser de apoio, liberdade ou permissão. Neste sentido, pode acreditar que tendo a permissão do Orientador, este solucionará os problemas para ele. Ou então fantasiar que a vida adulta lhe trará uma liberdade que resolverá as questões automática e magicamente. E pode perceber também, que tendo com apoio do Orientador existe uma parceria na solução do problema em questão.

Page 16: Apostila OP 2011

16

7. Deuteroescolha O processo de “como escolheu escolher”. A deuteroescolha evidencia-se na primeira manifestação do sujeito, que ao formulá-la, revela, como meta-mensagem, o que escolheu dizer e o que escolheu omitir. Assim, diz respeito a forma pela qual o cliente está desenvolvendo seu processo de escolha e decisão (Ex: está escolhendo por aptidão e gostos pessoais, por interesse $, por pressão familiar, por status, etc.).

O prognóstico em OP

A característica primordial do primeiro diagnóstico é o seu caráter funcional. A funcionalidade de um diagnóstico é a possibilidade de traçar, sobre a base do referido diagnóstico, um prognóstico a respeito do comportamento do entrevistado. Para o prognóstico, consideramos:

1) Estrutura da personalidade (um esquema ou modelo típico de relações do indivíduo com o ambiente, que se expressa segundo o objeto e o vínculo, as defesas e a área fenomenológica predominantes). 2) Manejo da crise adolescente: a análise desta crise permitirá prognosticar a possibilidade de adaptar-se, tanto ao processo de OP (incluindo as probabilidades de êxito deste), como às exigências do mundo adulto, em termos de estudo ou de trabalho.3) Histórico escolar: prognosticar como será o desempenho do adolescente na universidade.4) Histórico familiar: prognosticar tanto os sistemas valorativos diante das carreiras e profissões derivadas da classe social a que pertence, como os tipos de identificações familiares.5) Identidade vocacional e ocupacional: sua descrição e diagnóstico.6) Maturidade para escolher.7) Adequação com dados de realidade.

O prognóstico permitirá ao psicólogo decidir não só qual será a estratégia de seu trabalho, mas também se irá enfrentar ou não a orientação profissional desse adolescente. A decisão de enfrentar ou não um processo de orientação profissional com o cliente baseia-se, especificamente, nas respostas que o psicólogo dê às seguintes perguntas:

1) Tem, o adolescente, possibilidade de adquirir sua identidade ocupacional, sem uma modificação substancial da estrutura de sua personalidade.2) Tem maturidade para tomar uma decisão quanto a seu futuro profissional?3) Tem possibilidade de empregar sua percepção, pensamentos e ação a serviço do princípio de realidade; de prever dificuldades, alcançar.4) Sou a pessoa mais indicada para ajudá-lo?5) É este o momento mais adequado para que se inicie seu processo de orientação vocacional?

Os testes podem ter um papel instrumental na tarefa clínica, convertendo-se em valiosos instrumentos. Entretanto, os mesmo nunca poderão substituir a função do

Page 17: Apostila OP 2011

17

psicólogo. Assim, o processo começa na primeira entrevista e a aplicação de testes psicológicos integra-se a ela, se o psicólogo o considera necessário.

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E OS 3 MOMENTOS:

Fontes: BOHOLAVSKY, R. Orientação Vocacional e Estratégia Clínica. Martins Fontes: São Paulo, 1993.LUCCHIARI, Dulce Helena Penna Soares. Pensando e vivendo a orientação profissional. Summus: São Paulo, 1993.

1º MOMENTO: Auto-conhecimento

Quem sou eu (quem fui, quem sou, quem serei) Qual o meu projeto de vida Como me vejo no futuro desempenhando o meu trabalho Expectativas da família X expectativas pessoais Meus interesses, gostos e valores Minhas aptidões

2º MOMENTO: Conhecimento das profissões

O que são, o que fazem, como fazem, onde fazem O mundo profissional dentro do sistema político-econômico vigente As possibilidades de atuação e o mercado de trabalho Visita a locais de trabalho, cursos e universidades Informações sobre currículos universitários Entrevistas com profissionais

3º MOMENTO: A Decisão

A escolha propriamente dita implica em:

Decisão pessoal Deixar de lado (perder e vivenciar um luto) que não é escolhido Fazer acontecer, ou seja, viabilizar a escolha Dar um passo mais perto de uma vida adulta

A ENTREVISTA DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

A entrevista é vista como principal instrumento ou técnica de que se vale o psicólogo para diagnosticar e colaborar com o cliente na solução dos seus problemas vocacionais. A entrevista de OP é uma situação de interação humana, na qual um dos participantes está capacitado, científica e tecnicamente, para exercer o papel de entrevistador.

Page 18: Apostila OP 2011

18

O processo de uma entrevista pode ser caracterizado como um processo de investigação. Quando falamos de investigação numa entrevista, referimo-nos a uma atitude básica do entrevistador, pela qual este submete continuamente à prova as hipóteses sobre o comportamento do entrevistado. A situação de entrevista é uma situação de investigação conjunta em que, por um lado, o entrevistador procura compreender e pôr à prova sua compreensão sobre o adolescente seu futuro, de decidir sua identidade vocacional e de aceitar papéis. Por outro lado, o entrevistado põe à prova e confronta com um especialista suas fantasias, ansiedades, temores, etc., comprometidos na escolha, de modo que a situação de entrevista converte-se numa situação em que o próprio entrevistado exerce a investigação e a prova. No caso específico da OP, as entrevistas abertas são as indicadas, pois nelas a técnica converte-se não só numa forma de recolher dados exaustivamente, afim de elaborar um eventual diagnóstico vocacional, mas ao mesmo tempo em uma situação de interação, na qual surgem desse diagnóstico (que e realiza continuamente durante cada entrevista) ações do entrevistador tendentes a modificar o comportamento do entrevistado, através do esclarecimento. Enquadrar uma entrevista consiste em estabelecer dois parâmetros: o tempo e o lugar e atribuir os papéis e os objetivos. Uma entrevista de OP pode ter dois objetivos fundamentais: a informação e o esclarecimento. Por informação, entendemos a colaboração com o entrevistado, para discriminar os aspectos do mundo ocupacional adulto, as carreiras universitárias, as condições necessárias para aceitar um determinado papel adulto, as possibilidades que lhe oferece o campo profissional, etc. Neste trabalho, entrevistas de OP cujo objetivo fundamental é o esclarecimento, ou seja, contribuir para que o entrevistado tenha acesso a uma identidade vocacional, através da compreensão dos conflitos e situações que o hajam impedido de aceitá-la de modo integrado e não conflitivo. Quanto ao lugar e ao tempo de cada entrevista, variam de situação e referem-se ao setting terapêutico. Podemos reconhecer, na entrevista, algo fixo, constante ou rígido, que é o enquadre e algo que é um processo dinâmico e que expressará o modo como o entrevistado exerce a liberdade de configurar a situação.

Elementos da Comunicação na Entrevista de OP:

O silêncio não é um “vazio” de informação. Pelo contrário, conota componentes emocionais do vínculo entrevistado-entrevistador e da situação do entrevistado. Assim, pode significar: reflexão, resistência, timidez, emoção, confusão, etc. Papéis, modelo de comunicação são: o emissor, o de receptor e o de avaliador das mensagens. O papel de emissor é assumido, alternadamente, por ambos os participantes da situação. O emissor é aquele que “fabrica” a mensagem. Para fazê-lo, deve dispor de um código, isto é, do sistema de regras que permitirão converter uma situação em palavras, sons ou gestos; de um repertório. O papel de avaliador é assumido, também, por ambos os participantes. Entretanto, este papel é privilegiado no entrevistador, porque não só avalia a mensagem do entrevistado, mas também sua própria mensagem e, não só as mensagens que circulam no sistema interpessoal de comunicação, como também as mensagens que funcionam em seu sistema intrapessoal.

Page 19: Apostila OP 2011

19

Fenômenos Transferenciais:

Os fenômenos transferenciais, todo comportamento mantido por um indivíduo implica não só na atualização de todo o seu passado e do seu futuro, como também na manifestação ou compromisso de toda a sua personalidade, ou seja, das relações com seus Objetos interiores, que, no caso específico da OP, referem-se à relação com o “outro generalizado”. No caso de uma entrevista de OP, estes aspectos internos são as identificações, conflitivas ou não, contraditórias, integradas ou dissociadas, ambíguas, que o cliente tem configuradas até o momento em que é atendido numa entrevista vocacional.

Momentos da Entrevista: Existem 5 momentos: pré-entrevista, abertura, desenvolvimento, encerramento e pós-entrevista. Na pré-entrevista da OP, o contato com o entrevistador foi estabelecido por um terceiro, seja porque o adolescente não conhece profissionais que possa contribuir para a sua orientação, seja porque depende economicamente de sua família e requeira sua participação para suprir as despesas do processo. A pré-entrevista compreende, tanto para o entrevistado como para o entrevistador, o conjunto de fantasias. Pode ser também considerada como a conversa pelo 1º telefonema, onde é importante que o orientador, neste caso, peça para falar com o cliente, não apenas com seus pais. Seguramente, a abertura da entrevista dramatiza o modo como o adolescente fantasia seu ingresso na universidade. Mesmo quando não tenha ainda informação sobre como se desenvolverá o processo de OP, comparecer a uma entrevista já é, na fantasia, ingressar nesse mundo que aspira e, ao mesmo tempo, teme – que é o mundo adulto. A abertura caracteriza-se por um compromisso do corpo e do esquema corporal num campo compartilhado,observando sempre as temáticas relacionadas à deuteroescolha. Já no desenvolvimento ocorrerão todas as investigações e intervenções necessárias ao processo de OP. Quanto ao encerramento da entrevista, este difere quanto ao momento do processo em que se insere a entrevista em questão. No caso da última entrevista especificamente, surgem claramente delineados os comportamentos e ansiedades de cunho depressivo, que podem levar o entrevistador, devido a uma identificação com o entrevistado, a evitar o término do processo no momento preestabelecido. Nesse caso, o entrevistador se responsabiliza pelo obstáculo que provoca no acesso do adolescente ao futuro.

As Intervenções do Entrevistador:

Estimular o fornecimento de mais dados: neste caso, tem o caráter de uma pergunta formulada de forma expressa ou, também, de modo indireto. O fato de que o entrevistado não ofereça dados, já constitui um dado e, neste sentido, impõe-se – se necessário – a pergunta direta ou uma sugestão adequada e não algum artifício “para fazê-lo falar” ou arrancar-lhe informação. Correção das distorções: é a intervenção mais clara do psicólogo. Se relaciona com a correção das distorções que o adolescente evidencia tanto a respeito de sua identidade vocacional, quanto a respeito das carreiras que tem como objeto.

Page 20: Apostila OP 2011

20

Síntese: a intervenção do entrevistador pode relacionar-se, também, com a função de síntese dos dados referentes aos comportamentos manifestados pelo adolescente. O entrevistador pode considerar adequado concluir cada entrevista de OP sugerindo, ao entrevistado, que realizem juntos uma síntese do que se observou nessa entrevista, sendo esta uma excelente estratégia para manter o foco do desenvolvimento da identidade vocacional do mesmo. Informação: outro tipo de intervenção do entrevistador é constituído pela transmissão de informação. A informação pode se referir a carreiras, planos de estudo, oportunidades profissionais. Além disso, outro tipo de dados, sobre os quais o psicólogo pode dar informação, são os dados sobre o diagnóstico, quer se tenha ou não aplicado testes para realizá-lo. O continuum interpretativo: diz respeito às diferentes técnicas, mediante as quais o psicólogo ou consultor devolve, ao entrevistado, a informação sobre seu comportamento, filtrado pela compreensão psicológica que teve deste. O continuum interpretativo inclui: o reflexo, a clarificação, a reflexão, a confrontação, a interpretação.

1) O Reflexo: na técnica do reflexo, o terapeuta tenta expressar com palavras novas, não tanto o conteúdo expresso pelo cliente, mas as atitudes essenciais. A diferença que se pode estabelecer entre o reflexo e outras formas de intervenção, é que o entrevistador elabora sua mensagem com os materiais que, até esse momento, o entrevistado contribuiu conscientemente e, embora aprofunda a sua elaboração, não ultrapassa o ponto alcançado pelo cliente. O reflexo pode ser imediato, sumário ou terminal. No caso do reflexo imediato, a intervenção do psicólogo consiste em mostrar o que o entrevistado expressa com seu comportamento, sem ir além da verbalização das atitudes manifestadas por ele. Um reflexo sumário integra diferentes comportamentos e, neste sentido, seria similar à síntese de sentimentos e atitudes manifestados em diferentes comportamentos do entrevistado, durante a mesma entrevista. O reflexo terminal pode ser exemplificado como a “síntese final” de uma entrevista de OP.

2) A Clarificação: na clarificação, o psicólogo congrega tudo o que está implícito na mensagem do entrevistado. Entretanto, embora explicite os diferentes dados, as relações entre os diferentes comportamentos do entrevistado ou entre seus comportamentos e outros emergentes da situação, não alude a conteúdos inconscientes, defesas ou ansiedades que, supostamente, não sejam conscientes para o sujeito, embora não tenham sido explicitadas por ele.

3) A Reflexão: neste caso, o psicólogo acrescenta mais dados que os oferecidos pelo entrevistado e sua função limita-se, somente, à discriminação e à integração dos comportamentos do entrevistado e dos dados do campo.

4) A Confrontação: na confrontação, o nível da penetração do psicólogo e sua mensagem chega até o implícito e o inconsciente. Incluí-se a relação do comportamento atual com dados do passado, assinalando similitudes, diferenças e contradições entre os dados do presente, igualmente contidos no relato.

5) Interpretação: a interpretação implica na verbalização dos conteúdos inconscientes, mas, além disso, inclui a menção das defesas, das resistências a reconhecer como próprios, conscientemente, tais conteúdos e daquilo que se supõe seja a origem do conflito.

Page 21: Apostila OP 2011

21

Fracasso nas Intervenções Psicológicas:

A intervenção do psicólogo pode fracassar. Seu fracasso deriva de um ou vários dos seguintes erros:

1) Conteúdo da Mensagem: pode ocorrer que o conteúdo de sua mensagem não reflita exatamente o comportamento do entrevistado, seja qual for o nível interpretativo em que se está atuando. 2) Codificação da Mensagem: é possível que o conteúdo da interpretação – seu significado – seja adequado e correto, mas que os significantes, que tenham participado na elaboração de sua mensagem, não sejam os mais convenientes, por não pertencerem ao repertório do adolescente, a seu léxico habitual, ou porque carecem de um significado preciso para ele. 3) Inadequação da Oportunidade: a interpretação também pode falhar por uma deficiência na oportunidade. Toda intervenção do psicólogo tem um “quando”, que somente seu treinamento e perícia podem detectar, sendo que seu “feeling” ajuda também.4) Ambiguidade: as intervenções do psicólogo não devem ser ambíguas, mas claras e precisas.

Reações do Cliente:

As reações do cliente à intervenção do psicólogo podem ser classificadas, em termos muito amplos, em reações de aceitação, rejeição ou indiferença. O importante é discriminar quando se trata de uma aceitação autêntica, com base numa compreensão real da situação explicitada através da interpretação, ou se a aceitação se baseia sobre um pseudo-insight, uma falsa compreensão, que pode ser inconscientemente estimulada pelo entrevistador que formula interpretações, cujo conteúdo ou forma fomenta a racionalização do entrevistado. O mesmo se dá no caso de rejeição. Uma queixa ou um protesto veemente do entrevistado não é, necessariamente, um indicador de que a intervenção tenha sido desacertada. Pode expressar, ao contrário, que a recusa demonstra a dificuldade do adolescente para integrar esse aspecto de seu comportamento, uma vez que o psicólogo, mediante a interpretação, tenta integrá-lo ao resto de sua vida. Tem-se dado ênfase, também, na necessidade do entrevistador criar um bom rapport com o entrevistado. Não existe qualquer fórmula que, ao ser assumida pelo entrevistador, crie um vínculo adequado com o entrevistado, mas sim que este é um investimento contínuo, e não apenas referente ao 1º contato entre ambos. Entende-se, por atitude de aceitação ou disponibilidade, uma atitude ou postura de abertura que facilite, ao cliente, sentir-se seguro quanto ao entrevistador. A função do psicólogo não consiste em tranquilizar o cliente, mas em ajudá-lo a pensar. Deve alcançar plena consciência de que pensar é, necessariamente, aprender a reconhecer o compromisso pessoal que existe em toda situação vital, o conflito que disto deriva e a necessidade de preocupar-se, como requisito para poder ocupar-se da solução autônoma e responsável de seu futuro. Neste sentido, a OP converte-se, possivelmente, na tarefa de psicoprofilaxia individual e social por excelência, pois orientar vocações de acordo com a modalidade traçada é orientar para a vida.

Page 22: Apostila OP 2011

22

A INFORMAÇÃO OCUPACIONAL EM OP:

Grande parte dos conflitos refere-se à carência de informação com respeito a seu futuro. A OP deve municiar-se de recursos e técnicas para informar, ao adolescente, o que diz respeito a seus estudos superiores e a tudo em que implica o acesso ao mundo adulto, em termos de papéis ocupacionais, sob a denominação de informação ocupacional. Os objetivos da informação ocupacional são duplos. Por um lado, transmitir informação, mas por outro, simultaneamente, corrigir as imagens distorcidas que o adolescente já possui sobre o mundo adulto. A distorção nas imagens do mundo adulto deve-se não só a falta de informação, mas a outras fontes de erro.

a) Intrapessoais (características “de personalidade”)b) Interpessoais (transtornos nos processos de identificação)c) Transpessoais ou culturais (por sua relação com uma comunidade que valoriza diferentemente as profissões de modo inconsciente e consciente).

Muitas vezes o cliente possui informação que se encontra distorcida e, portanto, a tarefa de esclarecimento deve estar necessariamente integrada à transmissão de nova informação. As mesmas atitudes, ansiedades e fantasias diante das informações relativas às carreiras e ocupações futuras, convertem-se num obstáculo para a tarefa de informação, pois, visto que a nova informação liga o adolescente à vida adulta de um modo mais direto, converte-se, por sua vez, em fonte de ansiedade, o que pode levá-lo a estereotipar, ainda mais, os conhecimentos que possui. Há outro grupo de comportamentos que se traduz em demandas super-exigentes a respeito da informação que o orientador vocacional pode ministrar. Esta super-exigência faz com que se estabeleça, com o orientador, um vínculo de exagerada dependência. Daí, o esclarecimento de suas atitudes, ansiedades e fantasias a respeito da informação que lhe seja transmitida deverá incluir, necessariamente, a assinalação do vínculo transferencial estabelecido. Portanto, não se trata só de informar o adolescente, mas também sobre a correção das distorções que, na situação de informação, o receptor introduz inconscientemente. A seriedade do problema, esboçado sucintamente, agrava-se caso o informante – na medida em que pertence ao mesmo contexto social que o adolescente – converta-se num agente reforçador de falsas imagens, por desconhecer os efeitos que sobre si mesmo exercem o sistema social. A transmissão de informação relaciona-se tanto com o “externo”, como o “interno”. Por isso, os objetivos da informação não consistem somente em fornecer informação: deverão levar em conta, simultaneamente, o que informar, quem é o sujeito ao qual se deve informar, qual é o seu histórico pessoal, quais são os motivos das distorções que apresenta, de seus conhecimentos parciais, preconceituosos e distorcidos; como informar, quanto informar e quando concluir esta tarefa. Como se deve informar: a informação deverá ser transmitida, quando possível, de forma a exigir a participação ativa do adolescente, mediante a análise, a síntese e a integração dos conhecimentos. Quanto ao que informar:

a) Quais são as diferentes atividades profissionais. De modo algum, excluir aquelas atividades já cogitadas pelo adolescente, pois é provável – e não pode

Page 23: Apostila OP 2011

23

ser de outra forma – que o adolescente só mencione, na entrevista, atividades que de certo modo já conhece. b) Para se informar sobre as atividades profissionais, é preciso conhecer, qual é o objeto com que as várias profissões realizam sua tarefa; qual é a finalidade social, quais são as técnicas e instrumentos empregados, a demanda; quais são os lugares em que se realizam tais trabalhos, etc. Isso pode ser feito em conjunto com o cliente. c) Qual é a organização das carreiras, seus objetivos gerais e específicos, os ciclos compreendidos (por exemplo, introdutório, básico, de especialização; organização acadêmica (espaço, tempo, papéis, tarefas), conteúdo básico das matérias, requisitos para o ingresso, permanência e formatura, etc.). O psicólogo que realiza a tarefa de informação, pondo ordem em seus conhecimentos, promovendo a destruição de velhos esquemas estereotipados, ajudando-o a valorizar suas experiências anteriores, para que possa utilizá-las na construção de novos modelos ou padrões para o futuro.

É evidente, porém, que é praticamente impossível ao psicólogo poder dispor de todos os conhecimentos necessários. Portanto, sua tarefa consistirá em ministrar a informação que considere necessária, esclarecendo as distorções a que esta informação der lugar e em vincular o adolescente a outras fontes de informação, para suprir a carência de informação do profissional.

A TÉCNICA R-O (Relaciones Ocupacionales) :

Técnica de OP descrita por Rodolfo Bohoslvsky em Orientação Vocacional e Estratégia Clínica (Martins Fontes: São Paulo, 1993). A técnica R-O foi desenvolvida por Nora Sturm e publicada nos anais das primeiras Jornadas Argentinas de Orientação Vocacional. Tem como objetivo levar o cliente a um contato com as profissões, verificar seu grau de conhecimento das mesmas e as relações que faz entre elas. Foi confeccionada a partir de pesquisa do Grupo “Orientando”, que acontecia sobre as possibilidades de Ensino Superior. Inicialmente, essa técnica era constituída de 384 cartas, que seriam as 356 possibilidades diferentes de Ensino Superior catalogadas e mais 28 cartas em branco para possíveis outras graduações. Para Bohoslavsky, a técnica motiva e facilita a tarefa de informação. É uma tarefa agradável, que promove, necessariamente, um papel ativo para o cliente, que deixa de ser um mero receptor de informação e converte-se num transmissor e avaliador desta. Além disso, o mesmo via a manipulação dos cartões como um instrumento que contribui para reduzir as ansiedades do cliente.

Emprego clínico da técnica R-O:

Tem-se como material de apoio, cartões plastificados com o nome de profissões. Pode-se compor 2 ou 3 jogos diferenciados: profissões de nível superior, profissões de nível técnico e mistas (grupo de cartões que compõe ambas). Apresenta-se, o seguinte:

1) “Em cada um dos cartões está escrito o nome de uma ocupação. Faça de conta que cada cartão representa uma pessoa. O que você deve fazer é

Page 24: Apostila OP 2011

24

estabelecer relações entre as diferentes ‘pessoas’, como se tratasse de definir quais são as famílias a que pertencem”.

O fato de colocar, para o cliente, a tarefa como se fora para estabelecer relações entre pessoas, obedece ao desejo de permitir-lhe entrar em contato com as ocupações, de um modo mais personificado, em lugar de tomá-las como coisas em si, desvinculadas das pessoas que as executam. Quando a tarefa se realiza de modo silencioso, sugerimos que ele diga os motivos que o levam a estabelecer grupos de dois, três, quatro ou mais cartões. Realizada esta tarefa, diz-se ao adolescente que efetue uma apresentação das famílias. A instrução é a seguinte:

2) “Assim como, quando se trata de apresentar um grupo de pessoas, descreve-se, por exemplo, o que fazem, onde vivem, como vivem, a que aspiram, a que se dedicam, etc., peço-lhe que faça o mesmo com as famílias que você formou”.

O caráter lúdico desta tarefa, até este momento, permite-lhe manifestar, mais diretamente, suas fantasias e suas imagens.

3) Pede-se que batize cada família, dando-lhes nomes e sobrenomes. Desta maneira, podemos conhecer mais perto as categorizações que ocorreram. A forma com que domina um grupo de cartões abre caminho para a compreensão de muitos de seus preconceitos. Assim, por exemplo, rótulos como “estes são aborrecidos”, ou “os da mãe-terra” revelam, com mais clareza do que num questionário exclusivamente racional, quais são as conotações que as carreiras têm para o adolescente. O mesmo ocorre quando o adolescente “batiza” cada família, dando-lhe nomes pessoais, como Silva, Gonçalves, Souza, etc. nestes casos, pergunta-se ao adolescente por que escolheu tal nome e, geralmente, isto serve de estímulo suficiente para que exteriorize fantasias a respeito dos adultos que, da perspectiva adolescente, ocupam-se de tais tarefas. Numa terceira etapa, dá-se ao adolescente a seguinte instrução:

4) “Supondo que você dê uma festa em sua casa, para a qual não pode convidar todas estas pessoas. Quais você convidaria com certeza, quais não convidaria w quais você duvidaria entre convidar ou não”.

O fato de se propor a tarefa em termos de “uma festa em sua casa” tem a intenção de se colocar o cliente numa situação personificada a respeito das diferentes carreiras, estimulando um compromisso pessoal de sua parte, que aniquila, de entrada, os comportamentos defensivos, o distanciamento e o manejo artificial, objetivo e mediato de seus vínculos com o mundo ocupacional. Este momento leva-o a manifestar, não o que “as ocupações são”, mas, diretamente, “o que as ocupações são para mim”. Embora peça-se que ele justifique razoavelmente as escolhas, dúvidas e rejeições – e isto conduz, em muitos casos, a expressões racionalistas – a racionalização pode ser conhecida pelo psicólogo e, caso necessário, interpretada.

5) Finalmente, diz-se ao entrevistado que, num determinado momento da festa, vai bater uma foto e que, consequentemente, deverá distribuir os convidados do modo que achar melhor. Entrega-se a ele, dessa forma, um cartão em branco, dizendo que esse cartão o representa.

Nessa altura da sessão, o cliente não tem qualquer dificuldade em tomar as ocupações de modo personificado e dá livre curso aos afetos que experimenta diante delas. Por outro lado, pode-se pedir que ele imagine uma conversa entre os vários profissionais convidados e, desta forma, poderemos ver como inclui suas próprias características pessoais, gastos, interesses, inclinações, simpatias e antipatias. Assim, ele

Page 25: Apostila OP 2011

25

toma consciência da vinculação real que tem com as tarefas e descobre, sob os slogans e frases feitas – que frequentemente emprega para definir sua atitude diante das diferentes ocupações – qual é o verdadeiro valor que elas têm para ele. Por exemplo, um cliente que disse, em certo momento da entrevista, que acha que a medicina é um trabalho socialmente útil, que exige leva uma vida sacrificada e que tem características ideais e inacessíveis para ele, pode descobrir, logo depois, que para ele os, médicos, na realidade, são pessoas pouco sacrificadas, mais interessadas no próprio prestígio do que na saúde dos outros. Deste modo, o psicólogo pode ajudá-lo a confrontar suas imagens (até esse momento, inconscientes a respeito da profissão) com a racionalização desse vínculo, tal como era expresso até então. Da mesma forma, o cliente pode chegar a compreender que certas carreiras, que até esse momento lhe pareciam desprovidas de interesse, acham-se vinculadas a temas ou aspectos da realidade que lhe interessam autenticamente. As ocupações e profissões, pelo fato de estarem personificadas, adquirem um caráter mais realista para o cliente. O caráter da atividade permite a análise desta e uma aproximação diagnóstica do cliente, segundo as prescrições estabelecidas para a avaliação, análise e uso diagnóstico dos testes projetivos, lúdicos ou construtivos. Além disso, o papel do orientador profissional determina intervenções (operações) integradas de três maneiras:

1- Informando o cliente a respeito do que as ocupações e carreiras são realmente e esclarecendo-o sobre as lacunas informativas relacionadas a elas; 2- Motivando o cliente para que estabeleça um contato direto com outras fontes de informação; 3- Esclarecendo, mediante intervenções de diferentes níveis do continuum interpretativo, as motivações, atitudes, preconceitos, etc., que o adolescente possa ter a respeito do mundo adulto, quanto à sua estrutura ocupacional.

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL EM GRUPO

Fonte: CARVALHO, Margarida M. J. de. Orientação profissional em grupo. São Paulo: Ed. Psy, 1995.

Grupo: “todo aquele conjunto de pessoas capazes de se reconhecerem em sua singularidade e que estão exercendo uma ação interativa com objetivos compartilhados”. Técnicas de Grupo: “São maneiras, procedimentos ou meios sistematizados de organizar e desenvolver a atividade do grupo, sobre a base de conhecimentos fornecidos pela teoria da dinâmica dos grupos”.

Proposta de um processo de OP Grupal

“A OP em grupo tem por objetivo ensinar a escolher e possibilitar uma decisão por meio da discussão dos fatores básicos para uma boa escolha profissional: autoconhecimento, informação ocupacional e de mercado de trabalho, bem como auxílio no momento da decisão. Ela permite a observação de diferentes razões da escolha, tais como, motivações, interesses, valores etc., que surgem no grupo levando a uma melhor auto-análise. Possibilita também a desmistificação de falsas imagens e preconceitos, por meio de colocações e conhecimentos objetivos na informação de

Page 26: Apostila OP 2011

26

cursos, ocupações e mercado de trabalho em diversas áreas, enriquecendo a informação pessoal. Uma das propostas da OP em grupo consta de cinco sessões de três horas cada uma, com objetivos de ensinar a escolher (e não de escolher propriamente), com a seguinte programação:

1. Na 1ª sessão é realizado o levantamento dos porquês das escolhas feitas ou da problemática de cada um, tais como: indecisões entre opções, dúvidas por falta de informação ou mesmo nenhuma escolha. Ao orientador cabe a conscientização das posições do grupo.2. Na 2ª e 3ª sessões há uma discussão ou são feitas técnicas (entre elas inclusive a dramatizações das escolhas), entre outras técnicas, por meio das quais o grupo toma conhecimento de aspectos conscientes e inconscientes nas escolhas, das informações ocupacionais precárias, das imagens distorcidas e outras falhas;3. Na 4ª sessão é realizado um planejamento de obtenção de informações sobre cursos, trabalho e mercado de trabalho;4. Na 5ª sessão são trazidas para o grupo e discutidas as informações coletadas. O orientador torna então evidente ao grupo o processo de aprendizagem de uma escolha profissional, pelo qual elas passaram. Enfatiza, sobretudo, que o importante é aprender a escolher e não necessariamente chegar a uma decisão, para a qual eles podem ainda não estar preparados.

Entretanto, não há a necessidade de ter esta mesma programação. Pode-se fazer um projeto diferente e também pode acabar acontecendo uma sequência alterada, desde que se tenham presentes todos os momentos característicos deste processo. Assim, outra proposta muito aceita atualmente é a seguinte: cerca de 10 sessões, onde nas 3 primeiras trabalha-se com técnicas de auto-conhecimento (aptidões e interesses), nas 3 ou 4 seguintes com conhecimento aprofundado das carreiras tidas como objeto e nas últimas com escolha, decisão e elaboração de lutos (guardando a última para avaliação e encerramento do processo). A proposição de trabalho em grupo adotada nestas propostas é a que considera o grupo como uma totalidade e considera que a conduta de cada um de seus membros é influenciada pela sua participação no grupo. Para compreender os pequenos grupos é importante compreender o comportamento do grupo. Na visão de Lewin, para que isto ocorra é necessário que vários indivíduos experimentem as mesmas emoções do grupo e que estas sejam suficientemente intensas para integrá-los e que o grau de coesão atingido pelos membros seja tal que eles se tornem capazes de adotar o mesmo tipo de comportamento. Uma técnica adequada tem o poder de ativar os impulsos e as motivações individuais e de estimular tanto a dinâmica interna como a externa, de maneira que as forças possam estar mais bem integradas e dirigidas no sentido das metas do grupo. Assim, é fundamental que a técnica empregada seja adequada ao grupo.

Técnicas de OP em Grupo

Dramatização: representação de papéis ou role-playing, de grande valor na OP. Se assume o papel e se revive dramaticamente a situação, a compreensão íntima ou insight resulta muito mais profunda e esclarecedora. Esta representação pode se referir a uma situação passada, presente ou futura, servindo no caso da OP como uma antecipação do papel ocupacional em cogitação ou escolhido pelo protagonista.

Page 27: Apostila OP 2011

27

Aparecem na cena montada suas fantasias e suas informações, as quais a imagem profissional como sentia e vista por ele neste momento. O auxílio do psicólogo na percepção dos dados exteriorizados, bem como do grupo por meio de comentários, leva o jovem a uma conscientização de como é e o que significa aquela profissão para ele, ajudando-o a evitar distorções, bem como o conteúdo afetivo e emocional associado por ele à imagem profissional. A Técnica da “Loja Mágica”: em que cada um pode comprar o que quiser, é uma forma de possibilitar a verbalização de necessidade, interesses, valores, etc. Este jogo é um excelente auxiliar na auto-percepção e na formação de uma auto-imagem profissional. Adivinho: “adivinhar cara de que profissional tem o outro”. As adivinhações revelam preconceitos, estereótipos, imagens idealizadas, etc., contribuindo eficientemente para a formação de conceitos mais adequados. Técnicas Projetivas: também são muito eficientes para possibilitar uma visão do futuro. Por exemplo, o “teste do futuro”, em que se pede ao jovem que se imagine daí a 5 ou 10 anos e fale, escreva ou desenhe as visões que lhe ocorreram. Uma variação é a “Viajem no Tempo”, relaxamento dirigido onde o grupo é levado a lembrar do passado, refletir sobre planos atuais e sonhos futuros, para depois discutirem coisa como: necessidade de planejamento e execução, passagem do tempo, medos, ansiedades, etc. Em qualquer técnica é muito interessante pedir ao grupo, comentários uns sobre os outros; a visão do companheiro enriquece, esclarece, trazendo novas imagens não percebidas pelo próprio sujeito. A simplicidade da aplicação destas técnicas, o baixo nível da resistência e bom envolvimento, a elaboração imediata por meio das discussões, com possibilidade de retificação e avaliação fazem com que elas se tornem muito utilizadas nos grupos de orientação profissional.

Estrutura e Organização dos Grupos

1. Do grupo

Constituição: quanto à constituição dos grupos, o processo tem início com uma entrevista individual de triagem, a qual visa discriminar se o problema apresentado é de OP. Muitas vezes o Serviço de OP atrai pessoas com outras problemáticas que, temerosas de procurarem em psicólogo clínico ou psiquiatra pela conotação de “doença” associada a estes profissionais, buscam na OP um auxílio “mais ameno”. É estabelecido nesta entrevista, um primeiro diagnóstico funcional, o qual evidentemente estará sujeito a contínuas reformulações dentro do processo. Ainda nesta entrevista é estabelecido o contrato de trabalho, que constitui o conjunto de instruções a serem fornecidas pelo orientador ao orientando, tais como modo e tempo de trabalho, horário, local etc. Aceitas as inscrições iniciais, o grupo é composto de forma heterogênea quanto a sexo, idade, estado civil, nível socioeconômico e cultural e personalidade, evitando-se casos extremos ou muito distanciados da “faixa normal”. Número de participantes: 4 a 12 membros levariam a uma integração adequada e a uma riqueza de contribuições.

Page 28: Apostila OP 2011

28

2. Das sessões

Número: uma sessão semanal é suficiente, proporcionando um tempo adequado de elaboração entre uma sessão e outra. Entretanto, semanas intensivas se sessões diárias foram realizadas com êxito e grupos com duas ou três sessões semanais também não sofreram prejuízos, nesta proposta de OP para aprender a escolher, e não para escolher propriamente. Um distanciamento maior entre as sessões revelou-se prejudicial ao processo, provocando uma ruptura na elaboração, descompromisso e desinteresse. A duração longa de cada sessão – três horas – revelou-se a mais produtiva para a formação de um clima propício de grupo, com entrosamento entre os participantes e envolvimento na problemática vocacional. Esta duração prolongada facilita a colocação e o atendimento de todos os membros bem como a planificação personificada de informações ocupacionais. Cerca de 10 sessões em geral costumam ser suficientes para acompanhar o cliente do início ao final do processo, as o nº varia de pessoa para pesssoa. Conteúdo: a sequência proposta no conteúdo das sessões – apresentação pessoal e da problemática vocacional – corresponde às fases empiricamente verificadas no período de padronização do método grupal. Os quais primeiro se perguntam e perguntam ao orientador, quem são, o que querem e podem e, posteriormente, o que são e como são as profissões, percebendo no final a necessidade de adequação entre essas duas variáveis: o eu e o mundo do trabalho. Esta sequência, às vezes, pode ocorrer invertida, mas os dois mementos estão sempre presentes, assim como o terceiro. Outros assuntos podem surgir como conteúdo de escolaridade, vida afetiva ou assuntos gerados no aqui e agora das sessões, referentes a sentimentos, a percepção do outro, a interação entre os participantes.

Vantagens da OP em Grupo

1. A substituição da ligação entre traços pessoais e requerimentos do trabalho pela compreensão da própria personalidade em desenvolvimento; pela visão da realização pessoal no meio ambiente, por meio da identificação com um papel profissional.2. Na medida em que a escolha profissional no indivíduo é um processo e não um acontecimento estático, e que é um processo social, temos no processo grupal uma amostra deste processo, podendo ser observado e auxiliado pelo psicólogo.3. Na medida em que o processo de escolha ocupacional envolve todo o comportamento e não apenas fatores isolados, no processo de grupo, temos uma amostra do comportamento.4. No processo grupal a visão do outro auxilia na própria visão de si, levando ao desenvolvimento de uma auto-imagem mais adequada e realista. O não estar sozinho perante a escolha permite um melhor contato consigo mesmo, diminuindo a ansiedade.5. O grupo ajuda na dosagem das aspirações e limitações. Cada um trazendo a sua problemática e o seu universo contribui para o outro, no sentido de uma escolha, mais equilibrada e realista.6. O grupo oferece uma grande riqueza de possibilidades e posições. A visão pessoal se amplia com outras visões, que abrem novos horizontes e novos caminhos.7. A participação grupal leva à percepção da problemática envolvida numa escolha profissional. São percebidas as influências, as pressões, as condições econômicas, os valores culturais, os preconceitos, as motivações, etc.

Page 29: Apostila OP 2011

29

Em resumo, o processo de OP em grupo leva a mais realismo e menos fantasia e subjetivismo, consequentemente, ajudando a aprender a escolher. Num processo de OP individual, chega-se a metas equivalentes. Entretanto, as duas modalidades de processo se distinguem em alguns aspectos:

Enquanto uma OP individual perde a riqueza de possibilidades e posições, ela pode ganhar na possibilidade de aprofundar uma problemática individual; no que ela perde em vivência situacional, outros recursos de possibilidade diagnóstica oferecem uma substituição adequada. Entretanto, nenhum aspecto na OP individual substitui o sentir suas angústias compartilhadas, sentir aliados, companheiros, até mesmo cúmplices, enfrentando os mesmos problemas, minimizando a ansiedade; sentir que outros vivenciam dúvidas e dificuldades, poder aproveitar de outras experiências; sentir menos solidão e menos medo de crescer, num grupo que cresce junto.

REORIENTAÇÃO DE CARREIRA

Em geral a reorientação de carreira segue os mesmos passos da OP clássica, podendo ter um tempo abreviado caso se trate de adulto individuado, necessitando apenas de redirecionamento de carreira já estabelecida, ou quando se trata de recolocação organizacional. Demais adultos individuados, porém com necessidades de redefinições profissionais mais drásticas tendem a levar o tempo usual dos adolescentes (cerca de 10 encontros). No entanto, há que se atentar a 3 fatores:

1) Dados de Realidade: no caso de fazer novos cursos universitários, técnicos e/ou de pós-graduação, como se dá a disponibilidade financeira e de tempo do cliente, arranjos familiares e demais compromissos?2) Traços de Personalidade: a crise é uma crise na carreira, ou é na personalidade?3) Momento Atual e Real Pedido: o pedido diz respeito à OP ou existe apenas como um facilitador ou meio de acesso ao psicólogo com objetivos ocultos de terapeutizar-se (pedido de socorro).