apostila metodo granulometria 2011[1]

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 1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA-UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS AGROVETERINÁRIAS-CAV PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE SOLOS E RECURSOS NATURAIS APOSTILA TEÓRICA GRANULOMETRIA DO SOLO FÍSICA DO SOLO – UDESC/CAV Jackson Adriano Albuquerque Rodrigo Vieira Luciano Giane Lavarda Melo . Lages/SC 2010

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA-UDESC CENTRO DE CINCIAS AGROVETERINRIAS-CAV PS-GRADUAO EM CINCIAS AGRRIAS DEPARTAMENTO DE SOLOS E RECURSOS NATURAIS

APOSTILA TERICA GRANULOMETRIA DO SOLO FSICA DO SOLO UDESC/CAV Jackson Adriano Albuquerque Rodrigo Vieira Luciano Giane Lavarda Melo .

Lages/SC 2010 1

SUMRIO

1. 1.1. 1.2. 1.3. 1.4. 1.5. 1.6. 1.7. 1.8. 1.9. 1.10. 1.11.

Textura do Solo (Distribuio do Tamanho de Partculas) ......................................................... 3 Caracterizao das Fraes do Solo ............................................................................................ 4 Mtodos de Determinao da Granulometria e Classes Texturais .............................................. 5 Converso de unidades ................................................................................................................ 8 Fatores que influenciam os resultados da anlise granulomtrica ............................................... 8 Argila Total e Argila Natural ...................................................................................................... 9 Grau de Floculao...................................................................................................................... 9 Classes Texturais do Solo.......................................................................................................... 10 Influncia da Granulometria nos Atributos Fsicos do Solo...................................................... 13 Influncia da Textura nas Propriedades Qumicas do Solo ....................................................... 14 Classificao dos Tipos de Solo (Instruo Normativa n 2 de 09 de Outubro de 2008) .......... 15 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................................... 17

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1 Textura do Solo (Distribuio do Tamanho de Partculas) A matriz ou esqueleto do solo composta por slidos minerais (originrios da rocha matriz) e orgnicos, podendo ser descrita por meio de anlise granulomtrica, a qual permite classificar os componentes slidos em classes, de acordo com os seus dimetros, normalmente em areia, silte e argila (Kiehl,1979; Lemos;Santos, 1984 e Klein,2009). A textura do solo tambm denominada de anlise granulomtrica ou distribuio do tamanho de partculas do solo, referente proporo de argila, silte e areia do solo na terra fina seca ao ar (TFSA). A textura uma caracterstica do solo que representa as propores relativas das fraes areia, silte e argila do solo, a qual no pode ser alterada, pois inerente ao solo e determina, em grande parte, o valor econmico da rea (Klein, 2009). A granulometria do solo indispensvel para a classificao do solo, predio de seu comportamento em resposta ao manejo (Brady, 1989) e classificao quanto aptido de uso (Dalmolin et al., 2004). Alm disso, granulometria fator determinante das propriedades de reteno e capacidade de armazenamento de gua e nutrientes, na distribuio de poros e, conseqentemente, das propriedades de conduo de gua e gases, afetando a dinmica das trocas com plantas e atmosfera (Reichardt, 2004). Portanto, para estudar a textura do solo h necessidade de se adotar um determinado sistema de classificao granulomtrica. Infelizmente no existe um sistema de classificao granulomtrica universalmente aceito para classificar as partculas do solo quanto ao tamanho. Os principais sistemas de classificao so: - USDA (U. S. Department of Agriculture) - ISSS (Int. Soil Science Society) - USPRA (U. S. Public Roads Administration) - BSI (British Standards Institute) - MIT (Massachusetts Institute of Technology) - DIN (German Standards) No Brasil os sistemas de classificao granulomtricos mais utilizados so o USDA (classificao americana) e o ISSS (classificao internacional tambm conhecida como classificao de Atterberg). Estes sistemas esto apresentados na Tabela 1. Tabela1. Fraes Granulomtrica na Classificao Americana (USDA) e na de Atterberg (ISSS) Fraes USDA (Americana) ISSS (Atterberg) ---------------------Dimetro (mm)--------------------Areia Muito Grossa Areia Grossa Areia Mdia Areia Fina Areia Muito Fina Silte Argila 2-1 1 - 0,5 0,5 - 0,25 0,25 - 0,10 0,10 - 0,05 0,05 - 0,002 < 0,002 -------2 - 0,2 -------0,2 - 0,02 --------0,02 - 0,002 < 0,002

3

1.1 Caracterizao das Fraes do Solo A caracterizao das fraes areia, silte e argila de acordo com Ferreira (1993), so a seguinte: 1.1.1 Frao Areia A frao areia solta, com gros simples (no forma agregados), no plstica, no pode ser deformada, no pegajosa, no higroscpica, predominam poros grandes na massa, no coesa, pequena superfcie especfica, capacidade de troca de ctions praticamente ausente. 1.1.2 Frao Silte A frao silte sedosa ao tato, apresenta ligeira coeso quando seco poros de tamanho intermedirio, ligeira ou baixa higroscopicidade, superfcie especfica com valor intermedirio, capacidade de troca inica baixa. 1.1.3 Frao Argila A frao argila plstica e pegajosa quando mida dura e muito coesa quando seca, alta higroscopicidade, elevada superfcie especfica alta CTC, poros muito pequenos, contrao e expanso, forma agregados com outras partculas. A frao que mais influencia o comportamento fsico do solo a argila. A superfcie da argila carregada negativamente. Estas cargas negativas so neutralizadas por uma nuvem de ctions. As cargas da superfcie da partcula mais os ctions neutralizantes formam a dupla camada eltrica. A nuvem de ctions consiste de uma camada mais ou menos fixa na proximidade da superfcie da partcula chamada camada de Stern, e uma parte difusa estendendo-se at certa distncia da superfcie da partcula, como ilustrado na figura abaixo.

Concentrao inica

ons +

noons -

Distncia da superfcie da partcula Onde no a concentrao da soluo fora da dupla camada A atrao de um ction a uma micela da argila carregada negativamente geralmente aumenta com o aumento da valncia do ction. Assim, ctions monovalentes so mais facilmente repelidos do que os ctions di ou trivalentes. Os ctions altamente hidratados tendem a ficar mais longe da superfcie da partcula e, portanto, mais 4

facilmente trocados do que os ctions menos hidratados. Portanto, os ctions di ou trivalentes formam uma dupla camada fina causando floculao, enquanto que os ctions monovalentes formam uma dupla camada espessa causando disperso. Assim, dependendo do estado de hidratao e do ction trocvel as partculas de argila podem flocular ou ficar na forma dispersa. A disperso geralmente ocorre com os ctions monovalentes e altamente hidratados (ex. sdio), enquanto que a floculao ocorre com os ctions di ou trivalentes (ex. Al3+, Ca2+). A ordem de preferncia da troca de ction nas reaes geralmente a seguinte (Jenny, 1932; 1938): Al3+ > Ca2+ > Mg2+ > K+ > Na+ > Li+ 1.2 Mtodos de Determinao da Granulometria e Classes Texturais 1.2.1 No Campo Consiste em umedecer uma amostra de solo e ir trabalhando-a entre os dedos, verificando a sensao que a amostra oferece ao tato, em termos de aspereza, sedosidade ou plasticidade, conforme indicado na Tabela 2. Tabela 2. Fraes Granulomtrica do Solo e Sensaes ao TatoFrao Granulomtrica Partcula (mm) Sensao ao Tato Aspereza: No tem plasticidade ou pegajosidade, quando molhada; apresenta-se como gros simples quando seca. Sedosidade (Talco): Ligeiramente plstica, mas no pegajosa, quando molhada Pegajosidade: Plstica e pegajosa, quando molhada.

Areia

2 - 0,05

Silte

0,05 0,002

Argila

< 0,002

O grande problema neste tipo de avaliao que as partculas encontram-se misturadas, havendo, portanto um confundimento das sensaes, o que dificulta a estimativa da proporo de cada frao. Neste caso, necessrio que o operador j tenha uma boa experincia de campo, e/ou que tenha realizado treinamento com amostras de composio granulomtrica bastante varivel. Outro aspecto importante, que muitos solos apresentam agregados estruturais muito pequenos, que no se desfazem facilmente entre os dedos, e por isso do a impresso de areia. Neste caso, necessrio trabalhar a amostra por mais tempo at que sejam desfeitos. Uma classificao simplificada da granulometria, que realizada normalmente utilizada nos trabalhos de campo, para fins de classificao, a seguinte: Arenosa: + de 85 % de areia e menos de 15 % de argila Mdia: 15 a 35 % de argila 5

Argilosa: 35 a 60 % de argila Muito argilosa: + de 60 % de argila 1.2.2 Mascaramento da Granulometria Existem muitos fatores que causam o mascaramento da granulometria do solo nas avaliaes de campo, e que podem levar a uma interpretao errnea da classe textural do solo, dentre eles: a) O teor de matria orgnica: a matria orgnica tende a tornar os solos argilosos menos plsticos e pegajosos, o que embora seja uma caracterstica desejvel do ponto de vista agrcola, por outro lado d a impresso de que o solo tenha menos argila do que realmente possui. Entretanto, nos solos arenosos, a matria orgnica tende a aumentar ligeiramente a caracterstica de plasticidade e pegajosidade, podendo imprimir uma sensao de que o solo seja mais argiloso. b) O tipo de argilomineral: solos com argilominerais 2:1 so naturalmente mais plsticos e pegajosos do que aqueles com predominncia de caulinita.Comparando-se, por exemplo, dois solos com o mesmo teor de argila 40 %, o solo com montmorilonita parecer mais argiloso do que o caulintico. c) A estrutura do solo: alguns solos, em particular os Latossolos, apresentam agregados granulares fortemente desenvolvidos, e principalmente quando secos, se no formarem intensamente manuseados daro a impresso que o solo tem muita areia, pois os agregados no se desfazem facilmente. d) A proporo de areia grossa e areia fina: em solos com teores de argila maior ou igual a 40 % mais difcil perceber a sensao da areia fina ou muito fina, conduzindo a interpretao que o solo mais argiloso; ao contrrio, quando ocorre areia grossa ou muito grossa, a sensao da areia geralmente supervalorizada, dando a impresso de um solo com muita areia. 1.2.3 No Laboratrio Os mtodos mais comumente utilizados para se proceder a anlise granulomtrica no laboratrio so a contagem microscpica, o peneiramento mecnico e os mtodos baseados na velocidade de sedimentao das partculas. a) Contagem microscpica O mtodo de contagem microscpica pouco utilizado, devido ao fato de ser muito demorado e trabalhoso, e ineficiente na separao de partculas com dimetro inferior 0,2 micra.

6

b) Peneiramento Mecnico O Peneiramento mecnico utilizado para a separao de fraes com dimetro maior do que o do silte (> 0,05 mm), sendo normalmente utilizado para a separao das fraes areia e cascalho solto. Uma das peneiras comerciais mais utilizadas de 0,053 mm, que separa a frao areia das fraes silte e argila.Para a separao das fraes com dimetro inferior ao da areia outros mtodos so necessrios. c) Mtodos baseados na velocidade de sedimentao das partculas Os mtodos para a separao do silte e da argila mais comumente empregados baseiam-se na Lei de Stokes, que permite determinar a velocidade de sedimentao de partculas em um meio lquido e tambm o tempo em que ocorre esta sedimentao. A frmula utilizada para estes clculos a seguinte: 18 h g ( ps pl ) t = tempo de queda (s) h = altura de queda (cm) 10 cm desde a superfcie da soluo = viscosidade da gua (g/cm/s) 0,008007 (20 C) g = acelerao da gravidade (cm/s) 980 ps = densidade do slido (g/cm) 2,65 pl = densidade do lquido (g/cm) 0,99949 (20 C) = dimetro da partcula (cm) 0,005 ou 0,0002 t= O princpio envolvido nesta determinao o de que partculas de areia, silte e argila, aps terem sido totalmente individualizadas e colocadas numa proveta ou frasco vertical, comearo a sedimentar no fundo do frasco em tempos definidos, as maiores sedimentando e os menores levando um maior tempo. Assim para uma partcula de dimetro de 0,002 mm (limite entre o silte e a argila), e estipulando-se uma altura de 5 cm a partir da superfcie do lquido na proveta, esta partcula levar aproximadamente 4 horas para percorrer esta distncia; do mesmo modo, no tempo de 4 horas, todas as partculas com dimetro maior que 0,002 mm j tero ultrapassado a marca de 5 cm, ficando somente argila nos 5 cm superficiais. O tempo de repouso (sedimentao) est em funo da temperatura da gua, sendo 20 C a temperatura de referncia, ou seja, 4 horas. Acima desta temperatura o tempo de repouso diminui e abaixo dela aumenta, podendo chegar a 4 h 55 min a 12 C. No exato tempo de 4 horas, se introduzirmos vagarosamente uma pipeta na marca de 5 cm, o volume da suspenso retirada conter somente argila, que poder ser seca em estufa, pesada em balana alantica (0,0001 g) e calculada a porcentagem de argila contida na amostra total. Procedimento semelhante poder ser utilizado para determinao de outras fraes granulomtricas. Este mtodo conhecido com Mtodo da Pipeta, sendo considerado muito preciso e adotado principalmente em trabalhos de pesquisa. Com base no mesmo princpio exposto anteriormente, possvel estimar com bastante preciso a quantidade de determinada frao ou fraes granulomtricas do solo, utilizando-se medidas da densidade da suspenso e tempos definidos. Boyoucus, em 1924, desenvolveu um densmetro especial para anlise granulomtricas de solos, que graduado para medidas de concentrao de 0 a 50 g L-1. 7

Quanto maior a concentrao de determinadas fraes na suspenso, maior resistncia este oferecer a descida do bulbo do densmetro, e, portanto maior ser a leitura medida. Para a determinao da argila, por exemplo, usa-se um tempo de 2 horas para fazer a leitura do teor de argila, e de 40 segundos para a determinao dos teores de silte+argila (neste caso toda a frao areia j ter sedimentado no fundo do frasco). Este mtodo conhecido como Mtodo do Densmetro ou Mtodo de Boyoucus, sendo o mais utilizado na maioria dos laboratrios de rotina no Brasil, por sua praticidade e boa preciso. 1.3 Converso de unidades As fraes granulomtricas (areia, silte e argila) podem ser expressas em % ou dag kg-1 ou g kg -1. Sendo que: 1 % = 1 g/100 g = 0,01 g/g = 1 dag/kg = 10 g/kg 1 kg = 1000 g = 100 dag (decagrama); 1 dag = 10 g Exemplo: 1 % = 0,01 g/g = 0,01 g/ 0,001 kg; como 0,01/0,001 = 10, ento podemos dizer que 1 % = 10 g/kg ( ou g kg -1). 1.4 Fatores que influenciam os resultados da anlise granulomtrica Para que se tenham resultados confiveis durante a determinao das fraes granulomtricas do solo, particularmente das fraes silte e argila, necessrio reduzir ao mnimo a influncia de uma srie de fatores que interferem na determinao da textura. Dois aspectos so fundamentais; individualizar as partculas, e em seguida promover uma adequada disperso da amostra de solo. Individualizar as partculas significa separar as partculas em unidades individuais, considerando que partculas unitrias de argila, silte e areia encontram-se normalmente unidas, formando agregados. Esta etapa normalmente conseguida agitando-se a amostra de solo junto com duas bolinhas de acrlico, ou agitando-se com uma quantidade conhecida de areia. O entrechoque mecnico das partculas provoca a separao das mesmas. Se esta etapa no for adequadamente conduzida, durante a separao da areia j se observar a presena de alguns agregados de partculas no desfeitas no fundo da peneira, causando superestimao da frao areia. Promover a disperso da amostra significa manter as fraes mais finas, com comportamento coloidal, dispersas numa fase aquosa isto particularmente importante na correta determinao da frao argila do solo. As partculas de argila, depois de individualizadas, podero novamente agruparse em soluo, formando floculos, devido existncia de cargas eltricas e ons adsorvidos na sua superfcie. Neste caso, os flsculos podero comportar-se como partculas mais pesadas, e sedimentar junto com a frao silte, promovendo uma superestimao deste e uma subestimao do teor real de argila do solo. Para evitar isso, utiliza-se uma substncia dispersante, que normalmente uma soluo de NaOH 1N ou hexametafosfato de sdio. Para preparar a soluo NaOH 1 N pesar 40 g de Hidrxido deSdio (NaOH) e dissolver em gua destilada completando o volume para 1L em balo volumtrico.

A adio da soluo de hidrxido de sdio eleva o pH da soluo a valores em torno de 8 a 10; sendo um ction monovalente, e adicionar numa alta concentrao, 8

desloca outros ctions di e trivalentes da superfcie dos colides, passando a ocupar o seu lugar; como o sdio apresenta um grande nmero de molculas de gua de hidratao, fica com um raio inico efetivo bem maior que os demais ctions, diminuindo a carga lquida positiva na superfcie dos colides e aumentando com isso a repulso entre as partculas de argila, que entram em movimento browniano no seio da suspenso por tempo prolongado permanecendo dispersas. Isto permite a determinao da argila pelo mtodo da pipeta ou do densmetro. Outros fatores que influenciam na determinao da textura so o teor de matria orgnica e o teor de xidos de ferro da amostra, particularmente em solos argilosos: a) Solos com muito teor de matria orgnica apresentam-se normalmente bem agregados, e caso a matria orgnica no seja previamente eliminada poder causar subestimao no resultado da argila; para solos com mais de 5 % de matria orgnica, recomenda-se fazer um pr-tratamento da amostra com gua oxigenada; b) Solos com altos teores de xido de ferro (+ 12 %) apresentam normalmente microagregados fortemente estabilizados, que no se desfazem facilmente durante as etapas da anlise granulomtrica; neste caso so indicados alguns pr-tratamentos para sua eliminao antes de proceder-se a determinao da frao argila. 1.5 Argila Total e Argila Natural a) Argila Total: refere-se ao total da argila obtido na anlise granulomtrica, usando-se dispersantes qumicos tais como o NaON. b) Argila Natural ou dispersa em gua: refere-se ao teor de argila obtido na anlise granulomtrica, usando-se como dispersante a gua (sem NaON). Em trabalhos de caracterizao de tipos de solo, costuma-se efetuar os dois tipos de determinao. Alguns solos, como a classe dos Argissolos, costumam apresentar teores de argila dispersa em gua elevada, indicando uma tendncia natural que possuem a perder argila dos horizontes superiores para os inferiores (apresentam horizonte B com acmulo de argila B textural); outros solos, como os Latossolos, ao contrrio, apresentam agregados estruturais fortemente estveis em gua, praticamente no apresentando argila dispersa em gua (toda a argila floculada quando no se utiliza dispersante qumico). Apresentam muito pequeno incremento de argila em profundidade. 1.6 Grau de Floculao O grau de floculao um ndice, que avalia a tendncia da frao argila estar floculada ou no:GF = AT = Argila Total AN = Argila Natural AT AN *100 AN

9

A avaliao do grau de floculao do solo permite indiretamente interpretar sobre o grau de estabilidade dos agregados estruturais do solo: alto GF indica alto grau de estabilidade dos agregados, ou seja, praticamente toda a argila encontra-se floculada em gua. Exemplos: 1 Horizonte B de Latossolo AN = 0 % AT = 60 % GF = 100 % (toda argila floculada) 2 Horizonte B de Argissolo AN = 20 % AT = 25 % GF = 20 % (muita argila dispersa em gua)

1.7 Classes Texturais do SoloCada solo constitudo de diferentes propores de areia, silte e argila, conferindo ao mesmo tempo uma textura mais arenosa, mais argilosa, mais siltosa ou com propores similares das trs fraes. A porcentagem de ocorrncia da cada frao na mistura determina a chamada classe textural do solo. A definio da classe textural do solo obtida no tringulo Textural, adotado pela Sociedade Brasileira de Cincia do Solo (SBCS) composto por 13 classes conforme apresentado na Figura 1.100 90 80 70 60 Argilosa Argiloarenosa Franco-argilosa 30 20 10 0 Franco-arenosaAreia franc a

0 10 20

Muito Argilosa

30 40

% t e, Si l

ila,

%

Arg

50

50 Argilosiltosa

40

60 70 80

Franco-argiloarenosa Franca

Franco-argilosiltosa

Franco-siltosa Siltosa

90 100 0

Arenosa 100 90

80

70

60

50

40

30

20

10

Areia,%

Figura 1. Tringulo para a Classificao das classes texturais do solo, adotado pela SBCS (Lemos; Santos, 1984)10

As definies das classes de textura dos solos, de acordo com a SBCS, variam conforme a distribuio das fraes de areia, silte e argila:

a) Areia: Material do solo que contm 85 % ou mais de areia; a percentagem de silte mais 1,5 vezes a porcentagem de argila no devem exceder 15 %. b) Areia Franca: Material de solo que contm, no limite superior, de 85 % a 90 % de areia e percentagem de silte mais de 1,5 vezes a percentagem de argila no so menos que 15 %; no limite inferior, contm no menos que 70 a 85 % de areia e a percentagem de silte mais o dobro da percentagem de argila no excedem a 30 %. c) Franco-Arenoso: Material de solo que contm 20 % ou menos de argila e percentagem de silte mais o dobro da percentagem de argila excedem 30 %, e tem 52 % ou mais de areia, ou que contm menos de 7 % de argila, menos de 50 % de silte e entre 43 % e 52 % de areia. d) Franco: Material que contm de 7 a 27 % de argila, de 28 a 50 % de silte e menos de 25 % de areia. e) Franco-Siltoso: Material do solo que contm 50 % ou mais de silte e de 12 a 27 % de argila ou de 50 a 80 % de silte e menos de 12 % de argila. f) Silte: Material de solo que contm 80 % ou mais de silte e menos de 12 % de argila. g) Franco-Argilo-Arenoso: Material de solo que contm de 20 a 35 % de argila, menos de 28 % de silte e 45 % ou mais de areia. h) Franco-Argiloso: Material de solo que contm de 27 a 40 % de argila e de 20 a 45 % de areia. i) Franco-Argilo-Siltoso: Material de solo que contm de 27 a 40 % de argila e menos de 20 % de areia. j) Argilo-Arenoso: material de solo que contm 35 % ou mais de argila e 45 % ou mais de areia. k) Argilo-Siltoso: Material de solo que contm 40 % ou mais de argila e 40 ou mais de silte. l) Argila: Material de solo que contm de 40 a 60 % de argila, menos de 45 % de areia e menos de 40 % de silte. m) Muito Argiloso: Material de solo que contm acima de 60 % de argila.Com o objetivo de simplificar a classificao textural, a EMBRAPA (1999) rene uma ou mais classes de textura para formar os grupamentos de classes texturais, conforme a Figura 2, da seguinte forma:

a) Textura Arenosa: Compreende as classes texturais areia e areia franca. b) Textura Mdia: Compreende as classes texturais ou parte delas, nas quais a composio granulomtrica contenha menos de 35 % de argila e mais de 15 % de areia, excludas as classes texturais areia e areia franca. c) Textura argilosa: Compreende classes texturais ou parte delas tendo na composio granulomtrica de 35 a 60 % de argila. d) Textura Muito Argilosa: Compreende classe textural com mais de 60 % de argila. 11

e) Textura Siltosa: Compreende parte de classes texturais que tenham menos de 35 % de argila e menos de 15 % de areia.100 90 80 70 60 Muito Argilosa 0 10 20 30 40

te Sil

Ar gila

50

Argilosa

50

40 30 20 10 Arenosa 0 100 90 80 70 60 50 40 30 Mdia

60 70 Siltosa 80 90 100 20 10 0

Areia

Figura 2 Diagrama triangular simplificado (utilizado pela Embrapa) para a classificao textural do solo. 1.7.1 Interpretao dos Resultados da Anlise Granulomtrica do SoloAps a obteno dos resultados da anlise granulomtrica utiliza-se o tringulo textural para classificar o solo analisado na sua respectiva classe textural. Observa-se que em cada um dos vrtices deste tringulo tm-se as variaes extremas de classe textural do solo (arenoso, siltoso e muito argiloso) e prximo ao centro do tringulo temos a classe de textura franca. Exemplo: No laboratrio de Rotina de Anlises Fsicas do Solo do UDESC/CAV obteve-se o seguinte resultado na anlise granulomtrica: areia 48 %, silte 20 % e argila 32 %. 0100 90 80 70 60 Muito Argilosa 10 20 30 40

te Sil

Arg ila

50 Argiloarenosa

Argilosa

50 Argilosiltosa

40 30 20 10 0

60 70 80

Franco-argilosa Franco-argiloarenosa Franca Franco-arenosaAreia -fran ca

Franco-argilosiltosa

Franco-siltosa Siltosa

90 100 0

Arenosa 100 90

12

80

70

60

50

40

30

20

10

Areia

Entrando com os valores de areia (48 %), silte (20 %) e argila (32 %), onde os trs valores se encontram obtemos a classe textural do solo analisado, no exemplo acima o solo foi classificado na classe textural Franco-Argilo-Arenosa.

1.8 Influncia da Granulometria nos Atributos Fsicos do SoloA granulometria influncia, direta ou indiretamente muitos atributos fsicos do solo. Processos de agregao, reteno de gua, manifestao de consistncia e resistncia mecnica envolvem essencialmente fenmenos de superfcie, estando relacionados portanto a presena de partculas com dimetro pequeno, e comportamento coloidal. Quanto maior o teor de argila do solo, portanto, melhor agregado ser o solo, maior sua capacidade de reteno de gua e maior ser sua resistncia mecnica as operaes de preparo.

a) Taxa de Infiltrao e Capacidade de Reteno de gua: a gua fica adsorvida superfcie das partculas slidas essencialmente por foras devido tenso superficial. A tenso superficial depende da rea superficial especfica (ASE). Quanto menor o dimetro das partculas, maior a ASE e portanto maior a expresso das foras devido tenso superficial; a taxa de infiltrao depende fundamentalmente da proporo macroporos/microporos do solo, e em menor escala, do dimetro das partculas.Solos Arenosos, devido ao predomnio de macroporos sobre os microporos, apresentam valores de taxa de infiltrao mais elevados, e possuem baixa capacidade de reteno de gua, devido predominncia de partculas grosseiras. Por isso, os solos arenosos so bastante permeveis e apresentam baixa capacidade de armazenamento de gua disponvel para a planta. Na Figura 3 so mostradas as curvas de infiltrao de gua num solo arenoso e num solo argiloso e respectivos valores de umidade na Capacidade de Campo.70 60

Taxa de Infiltrao, mm h-1

50 40 30 20 10 0 0 20 40 60 80 100 Solo Argiloso Solo Arenoso

Figura 3. Curvas de infiltrao de acordo com a equao de Horton, para solos argilosos e arenosos. = Indica o momento (tempo) em que a taxa de infiltrao tornase constante.13

Tempo,mim

b) Estabilidade de agregados estruturais e resistncia a eroso: a frao argila agente de estabilizao das partculas slidas do solo, devido ao exercida principalmente pelos xidos de ferro e pelo hmus como agentes cimentantes. Solos argilosos so naturalmente melhor agregados, e por isso resistente eroso hdrica. J os solos arenosos, apresentam baixo grau de agregao das partculas slidas (estruturais mais soltas), resistindo poucos aos fenmenos desagregao e transporte, e sendo assim mais facilmente erodveis. c) Esforos de Trao Mecnica pelos Implementos Agrcolas: Solos arenosos, por apresentarem estruturas mais soltas, exigem menor esforo de trao dos implementos pelo trator, porm ocasiona maior desgaste das lminas de arados e grades; solos argilosos exigem normalmente maior esforo de trao. interessante notar que a terminologia solo leve (arenoso) e solo pesado (argiloso) refere-se unicamente a menor ou maior resistncia que oferecem s operaes de preparo, no tendo nada a ver com sua densidade. Ou seja, o solo leve do ponto de vista do preparo, o solo arenoso, que possui densidade aparente mais elevada. Tabela 3. Influncia das fraes (areia, silte e argila) em algumas propriedades e comportamento do solo. Propriedades/Comportamento Capacidade de reteno de gua Aerao Taxa de drenagem Teor de Matria orgnica no solo Decomposio da Matria Orgnica Susceptibilidade compactao Susceptibilidade a eroso elica Susceptibilidade a eroso hdrica Potencial de expanso e contrao Capacidade de cultivos aps chuva Potencial de lixiviao de Poluentes Capacidade de armazenamento de nutrientes Resistncia Mudana de pH Areia Baixa Boa Alta Baixo Rpida Baixa Moderada Baixa Muito Baixa Boa Alto Baixa Baixa Silte Mdia a alta Mdia Lenta a mdia Mdio a alto Mdia Mdia Alta Alta Baixo Mdia Mdio Mdia a alta Mdia Argila Alta Pobre Muito lenta Alto a Mdio Lenta Alta Baixa Solo agregado-baixa Solo no agregadoalta Moderado a muito alto Baixa Baixo Alta Alta

Excees estas generalizaes ocorrem, como resultado da estrutura do solo e mineralogia da argila.

1.9 Influncia da Textura nas Propriedades Qumicas do SoloA textura uma das caractersticas que mais influncia nas propriedades qumicas do solo. Solos essencialmente arenosos, por exemplo, apresentam baixa 14

capacidade de troca de ctions (CTC) e capacidade troca de nions (CTA), devido a pequena proporo de fraes coloidais. J os solos argilosos apresentam normalmente CTC e CTA mais elevada, devido maior participao das fraes coloidais, que apresentam maior quantidade de cargas de superfcie. Do ponto de vista prtico, isto tem implicao direta nos processos de lixiviao de nutrientes e nas recomendaes e adubao e calagem de um modo geral. Dos nutrientes mais comumente utilizados na agricultura, na forma de adubos, tem-se o N, o K e o P, e adicionados atravs da calagem, tem-se o Ca e o Mg. As formas preferencialmente absorvidas pelos vegetais so: N (NO3-) = altamente mvel no solo P (H2PO4-, HPO4-2, PO4-3) = Pouco Mvel K (K+) = Altamente Mvel Ca (Ca+2) = Pouco Mvel Mg (Mg+2) = Pouco Mvel

1.10 Classificao dos Tipos de Solo (Instruo Normativa n 2 de 09 de Outubro de 2008)Recentemente, o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento do Brasil (Mapa) divulgou normas visando implementar o zoneamento de risco climtico, definindo tipos de solos aptos a serem cultivados com diferentes culturas. A Instruo Normativa n 2 de 09 de Outubro de 2008:

Art. 1 Adotar, no Zoneamento Agrcola de Risco Climtico do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, as seguintes especificaes para solos: a) Solos Tipo 1: Solos de textura arenosa, com teor mnimo de 10 % de argila e menor do que 15 % ou com teor de argila igual ou maior do que 15 %, nos quais a diferena entre o percentual de areia e o percentual de argila seja maior ou igual a 50. Assim, adotando-se o percentual de argila = a, e a diferena entre os percentuais de areia e argila = , temos para os solos Tipo 1: 10 % a < 15 % ou a 15 % com 50. b) Solos Tipo 2: Solos de textura mdia, com teor mnimo de 15 % de argila e menor do que 35 %, nos quais diferena entre o percentual de areia e o percentual de argila seja menor do que 50. Assim, adotando-se o percentual de argila = a, e a diferena entre os percentuais de areia e argila = , temos para os solos Tipo 2: 15 % a < 35% com < 50. c) Solos Tipo 3: solos de textura argilosa, com teor de argila maior ou igual a 35 %. Assim, adotando-se o percentual de argila = a, temos para os solos Tipo 3: a 35 % Art. 2 Recomendar a observncia dos seguintes procedimentos para coleta de amostras destinadas a anlise granulomtrica, visando apurao dos tipos de solos adotados pelo Zoneamento Agrcola:

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a) as reas de amostragem devem ser escolhidas de acordo com as variaes aparentes de cor, vegetao, textura e topografia do terreno; b) a quantidade de pontos de coleta em cada rea de amostragem deve resultar em amostra representativa dessa rea; c) em cada ponto de coleta a amostra deve ser retirada na camada de 0 a 50 cm de profundidade; d) da amostra coletada em cada ponto de uma mesma rea de amostragem, depois de destorroada e homogeneizada, deve ser retirada uma parte (sub-amostra). Essas sub-amostras devem ser misturadas para formar uma amostra composta representativa da rea sob amostragem.Havendo mais de uma rea de amostragem, idntico procedimento deve ser realizado para cada uma dessas reas. Cada amostra composta, com identificao da rea de amostragem a que pertence, deve ser encaminhada ao laboratrio de solos para anlise.

Art. 3 Esta Instruo Normativa entra em vigor na data de sua publicao, ficando convalidadas a Instruo Normativa N 12, de 14 de junho de 2005 e sua retificao, e as tipificaes de solos j realizadas com base nas especificaes anteriormente divulgadas. Art. 4 Revogar a Instruo Normativa n 12, de 14 de junho de 2005, da SecretariaExecutiva da Comisso Especial de Recursos, publicada e retificada no Dirio Oficial da Unio, edies de 16 de junho de 2005 e 17 de novembro de 2005, respectivamente.

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11.1 REFERNCIAS BIBLIOGRFICASALBUQUERQUE,J.A. Apostila de Fsica do Solo. 1999. Primeira verso. EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. 1997. Manual de mtodos de anlise de solo. Braslia, Embrapa Produo de Informao; Rio de Janeiro, Embrapa Solos. 212p. ESALQ . Apostila de Fsica do Solo. 2009.109p. KLEIN, V. A. Fsica do solo. Passo Fundo, UPF Editora. 2008. 212 p. LIMA, M.R; SIRTOLI,A.E.Diagnstico e Recomendaes de Manejo do Solo: aspectos tericos e metodolgicos.Curutiba:UFPR Setor de Cincias Agrrias. 2006.341p.

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