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Página1 UniFIAMFAAM Centro Universitário das Faculdades Integradas Alcântara Machado REDAÇÃO E EXPRESSÃO ORAL I Profa. Ana Tereza Pinto de Oliveira JO 2º. SEMESTRE Fevereiro/2012

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    ina1

    UniFIAMFAAM

    Centro Universitrio das Faculdades

    Integradas Alcntara Machado

    REDAO E EXPRESSO ORAL I

    Profa. Ana Tereza Pinto de Oliveira

    JO 2. SEMESTRE

    Fevereiro/2012

  • 2

    PLANO DE ENSINO: Redao e Expresso Oral I

    Curso: Comunicao Social

    Habilitao: Jornalismo

    Disciplina: Redao e Expresso Oral I

    Carga horria: 80 horas/aula

    Perodo letivo: 1. semestre de 2012

    Ementa: Anlise crtica de textos voltados ao jornalismo: reconhecimento das

    informaes explcitas e implcitas e o jogo da linguagem verbal (oral e escrita). nfase

    na decodificao textual jornalstica nas vrias mdias e na produo textual

    harmoniosa, coerente e gramaticalmente correta.

    Objetivos:

    Gerais: o aluno dever ser capaz de:

    entender e valorizar a linguagem verbal, tanto na instncia da produo

    quanto na da recepo, como meio de organizao do pensamento e

    instrumento indispensvel da comunicao humana;

    valorizar a leitura no apenas como atividade ldica, mas sobretudo

    como recurso de ampliao de vocabulrio e de aquisio de

    conhecimento.

    Especficos: desenvolver no aluno as habilidades de:

    produzir textos orais e escritos de forma clara, concisa, precisa,

    objetiva, criativa e correta, sabendo utilizar as possibilidades que a

    lngua oferece e adequando-as ao contexto sociocomunicativo;

    utilizar-se, com segurana, do instrumental normativo para comunicar-

    se, de acordo com a situao, segundo o padro culto.

    Contedo:

    1 Apresentao do programa 2 Reviso de conceitos gerais sobre texto e comunicao 3 O texto jornalstico em mdia impressa 4 Concordncia verbal e nominal 5 O texto jornalstico em rdio 6 Regncia verbal e nominal 7 O texto jornalstico em televiso 8 Crase 9 O texto jornalstico em internet 10 Vcios de linguagem 11 Argumentao e persuaso 12 Anlise do livro: Linguagem e Persuaso (Adilson Citelli) 13 Texto informativo 14 Texto opinativo (editorial, artigo, crnica)

  • 3

    15 Aprimoramento textual: conciso 16 Aprimoramento textual: ambiguidade 17 Aprimoramento textual: objetividade e subjetividade 18 Avaliao regimental 19 Avaliao de segunda chamada 20 Reavaliao

    Nota: A ordem dos itens poder ser alterada devido a intercorrncias inerentes atividade pedaggica.

    Metodologia: Aulas tericas e prticas, envolvendo:

    - leitura e discusso de textos selecionados;

    - exerccios orais e escritos;

    - oficina de criao de textos;

    - exerccios gramaticais.

    Avaliao:

    Avaliao continuada: obtida pela aplicao de diversos instrumentos de

    avaliao, visando identificar o estgio de desenvolvimento do aluno e

    motiv-lo a avanar no processo de aprendizagem: exerccios orais e escritos,

    participao em sala de aula, resenhas, apresentao de trabalhos (3 pontos).

    Avaliao regimental (7 pontos).

    Bibliografia bsica

    CITELLI, Adilson. Linguagem e persuaso. So Paulo: tica, 2004.

    LAGE, Nilson. Linguagem jornalstica. So Paulo: tica, 2006.

    OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de; BARROS, Edgard de Oliveira. Quem? Quando?

    Como? Onde? O qu? Por qu? So Paulo: Pliade, 2010.

    Bibliografia complementar:

    ASSUMPO, Maria Elena; BOCCHINI, Maria Otilia. Para escrever bem. 2. ed. So

    Paulo: Manole, 2006.

    FIORIN, Jos Luiz; SAVIOLI, F. Plato. Para entender o texto. So Paulo: tica, 1990.

    GARCIA, Othon M. Comunicao em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1985.

    MARTINS, Eduardo. Manual de redao e Estilo OESP. So Paulo: Moderna, 1997.

    SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. So Paulo: Contexto,

    2005.

  • 4

    O texto jornalstico Toda produo de texto, oral ou escrito, deve levar em conta os componentes

    bsicos das situaes discursivas em geral: quem fala, para quem fala, com que inteno

    e, mediante esses elementos, como fala. De acordo com a nossa inteno, toda a

    estrutura do texto se modifica: seleo do vocabulrio, extenso da sentena,

    organizao dos pargrafos etc., pois a cada inteno corresponde um certo gnero de

    linguagem.

    No jornalismo distinguem-se, dois grandes gneros: o jornalismo informativo e o

    jornalismo opinativo. O fundamento dessa separao est no efeito de produo de

    sentido, assim os dois grandes efeitos ideolgico-discursivos em relao ao destinatrio

    so fazer saber e fazer crer. Ao jornalismo opinativo, que trata da valorao explcita

    quanto aos acontecimentos, pertencem os gneros editorial, comentrio, artigo, ensaio,

    resenha, coluna, crnica e carta; ao informativo, os gneros nota, notcia, reportagem,

    entrevista, servio, enquete. Em linhas gerais, ao gnero opinativo pertencem a

    contestao, a crtica e o questionamento; ao informativo, os relatos de experincias e

    fatos.

    Texto informativo

    ULSAN Quando menos esperava, o meia Ricardinho, do Corinthians, realizou seu sonho profissional. Tornou-se o 24 jogador convocado pelo tcnico Luiz Felipe

    Scolari para a Copa do Mundo da Coria do Sul e do Japo. O corintiano substituiu o

    volante, e at ento capito, Emerson, cortado por causa de uma luxao no ombro

    direito. Deve chegar a Ulsan na madrugada de tera-feira, horrio do Brasil. Embora

    no tivesse a mesma promoo e repercusso de Romrio, a ausncia de Ricardinho da

    lista dos atletas que estariam no Mundial foi bastante questionada. A boa fase no

    Corinthians, coroada com duas importantes conquistas o Torneio Rio-So Paulo e a Copa do Brasil , o colocavam como um dos nomes mais cogitados para estar na sia. Pelo time do Parque So Jorge j jogou 252 vezes e marcou 63 gols. (O Estado de

    S.Paulo, 3/6/2002)

    Texto opinativo

    A face da medicina brasileira que temos hoje to monstruosa que j provoca o

    sentimento de que as doenas seriam menos perniciosas se ela no existisse. Esse

    sentimento no tem base cientfica, mas o fato que ele existe. Fala-se no mundo todo

    em sistemas de sade e poltica de sade, que pressupem, por definio,

    complexidade organizacional, objetivos sociais, estratgias de execuo e anlise

    evolutiva para eventuais correes do curso. Tudo isso sem esquecer o objetivo a ser

    atingido. No Brasil, no temos sistema nem poltica de sade. No h objetivo

    definido, por isso fcil esquec-los. H uma complexidade desorganizacional que

    atende a outros interesses. Centenas de estratgias de execuo so realizadas em

    microuniversos isolados, mas por no formar um todo coerente acabam antagonizando-

    se e anulando-se.(...). No Brasil, opera-se menos da metade dos pacientes que se pode

    operar, e opera-se mal. Enquanto isso, h gente que poderia ser salva, mas morre sem

    conseguir sequer um diagnstico. No interessam ao doente que vai morrer por falta de

    socorro mdico as razes dessa falta. (Francisco J. de Moura Thephilo. Veja, ed.

    1346)

  • 5

    A linguagem jornalstica

    O texto jornalstico visa narrar de maneira objetiva os acontecimentos que

    devem ser compartilhados. So textos de carter informativo, que buscam informar os

    leitores sem deixar transparecer a opinio do autor. Apresentam somente os fatos de

    maneira impessoal. Mas a famosa iseno de opinio para melhor informar o leitor/ espectador/ ouvinte muitas vezes driblada pelo prprio autor do texto, que usa tcnicas

    que em jornalismo so chamadas de notcia dirigida ou tendenciosa.

    O lead

    O lead (na forma aportuguesada, lide) , em jornalismo, a primeira parte de uma

    notcia, geralmente posta em destaque relativo, que fornece ao leitor a informao

    bsica sobre o tema e pretende prender-lhe o interesse. Trata-se de uma expresso

    inglesa que significa "guia" ou "o que vem frente".

    Na teoria do jornalismo, as seis perguntas bsicas do lead devem ser respondidas

    na elaborao de uma matria: "o qu?", "quem?", "quando?", "onde?", "como?" e "por

    qu?" (3Q+O+P+C). O lead, portanto, deve informar qual o fato jornalstico noticiado

    e as principais circunstncias em que ele ocorre.

    J o lead do texto de reportagem, ou de revista, no tem a necessidade de

    responder imediatamente s seis perguntas. Sua principal funo oferecer uma prvia,

    como a descrio de uma imagem, do assunto a ser abordado.

    O lead deve ser objetivo e pautar-se pela exatido, linguagem clara e simples.

    Isso no significa, porm, que o lead deva ser burocrtico. O leitor ganha interesse pela

    notcia quando o lead bem elaborado e coerente. Em resumo: quando bem elaborado,

    ele incita o leitor a ir at o final da notcia.

    A tcnica da pirmide invertida

    Ensinada nos cursos de jornalismo e usada como regra nas redaes de jornais e

    revistas informativas, a tcnica da pirmide invertida surgiu na imprensa norte-

    americana no sculo 19, sendo difundida depois pelo mundo inteiro como uma tcnica

    para construir-se um bom texto jornalstico. Significa, muito simplesmente, que numa

    notcia, depois do lead, todas as restantes informaes so dadas por ordem decrescente

    de importncia, de forma que, medida que se vai descendo no

    corpo da notcia, os fatos relatados se vo tornando cada vez menos essenciais. Pirmide

    invertida, porque, em sua base, aquilo que noticiosamente mais importante encontra-se

    no topo em ordem muito distinta que seguem, por exemplo, os estilos literrios

  • 6

    como a novela, o drama ou o conto, que geralmente usam uma linguagem de

    desenvolvimento do enredo com comeo, meio e fim, em que o final o pice da

    narrativa.

    Como escrita a notcia?

    No existem frmulas amarradas, mas sim diretrizes, que devem ser seguidas dependendo do tamanho e complexidade do tema (no do texto, pois um bom texto

    jornalstico deve ser o mais claro e elucidativo possvel).

    Ttulo

    Subttulo (se houver necessidade). O subttulo tambm chamado de linha fina.

    LEAD

    1 pargrafo

    Interttulo (se houver necessidade)

    2 pargrafo

    3 pargrafo

    Etc....

    Quanto ao formato, o texto jornalstico pode ser dividido da seguinte forma:

    Artigo Texto interpretativo e opinativo, mais ou menos extenso, que desenvolve uma ideia ou comenta um assunto a partir de determinada fundamentao. Geralmente

    assinado por algum articulista, ou jornalista do veculo de comunicao.

    Editorial Texto jornalstico opinativo, publicado sem assinatura e referente a assuntos ou acontecimentos locais, nacionais ou internacionais de maior relevncia. a

    opinio do jornal ou da revista, representa seu ponto de vista, sua ideologia e o prprio modo de fazer jornalismo.

    Entrevista A entrevista um dos instrumentos de pesquisa do reprter. Com os dados nela obtidos, ele pode montar uma reportagem de texto corrido em que as declaraes

    so citadas entre aspas ou pode montar um texto tipo perguntas e respostas, tambm

    chamado "pingue-pongue". Existem dois tipos de entrevista: a de informao ou opinio

    (quando se entrevista uma autoridade, um lder ou um especialista) e a de perfil (quando

    se entrevista uma personalidade para mostrar como ela vive e no apenas para revelar

    opinies ou para dar informaes). Existem tambm as entrevistas de rotina, ou de

    amostragem, quando um grupo entrevistado para a abordagem de determinado tema.

    Matria Tudo o que publicado, ou feito para ser publicado, por um veculo de comunicao (jornal, revista, rdio, TV).

    Notcia Relato de fatos ou acontecimentos atuais, de interesse e importncia para a comunidade e de fcil compreenso pelo pblico.

    Reportagem Conjunto das providncias necessrias confeco de uma notcia jornalstica: cobertura, apurao, seleo dos dados, interpretao e tratamento, dentro

    de determinadas tcnicas e requisitos de articulao do texto jornalstico informativo. O

    recurso das grandes reportagens (ou reportagens especiais) tem um carter, alm de jornalstico, documental.

    Esses formatos tambm podem variar de acordo com o pblico-alvo, como os

    leitores dos grandes jornais e revistas e as publicaes de empresa (house organs).

    Adaptado de: .

  • 7

    A estrutura do texto jornalstico Alfredina Nery

    (Disponvel em: )

    Se a narrao o gnero de redao em que uma histria contada (seja uma

    fbula ou uma crnica), com o uso de recursos como flashbacks, suspense, narrador em

    primeira ou terceira pessoa, etc., a notcia o relato do fato, com texto, geralmente,

    mais simples, seco. Voc vai entender como

    funciona.

    Voc acredita que a notcia que ouvimos

    no rdio, assistimos na TV, lemos no jornal

    impresso ou na Internet um fato em si ou

    uma interpretao de um fato? Antes de

    responder, observe por alguns segundos a figura

    reproduzida ao lado. O que voc v? Uma vaca?

    Se voc respondeu que sim, a sua resposta

    estava quase certa. No se trata de uma vaca,

    mas de uma representao de uma vaca, no ?

    Com a linguagem escrita acontece a mesma coisa: ela representa algo, como objetos,

    valores, ideias. Logo, a notcia no o fato em si, mas sim uma interpretao desse fato,

    certo?

    Analise a pequena notcia a seguir.

    Escorpies assustam Vila So Jos

    Os moradores da Vila So Jos, no Ipiranga, esto assustados com o grande nmero de escorpies que tm sido encontrados na regio. Eles tambm se indignaram com a sugesto de um tcnico da Vigilncia de Sade da Subprefeitura do Ipiranga que aconselhou a populao a espalhar galinhas pelas ruas para resolver o problema.

    Os moradores acreditam que a proliferao tenha comeado em um terreno onde havia uma casa abandonada. (Ipiranga News, 28/10 a 3/11/2004)

    Assunto

    Pelo assunto e pelo nome do veculo de imprensa, percebe-se que se trata de um

    jornal de bairro, destinado a uma comunidade particular de leitores - os moradores do

    Ipiranga, bairro da cidade de So Paulo.

    A estrutura da notcia

    Veja que a notcia se estruturou em apenas dois pargrafos. O primeiro chamado de "lide" sintetiza os dados principais: quem, onde, o qu. Se o leitor ler apenas esse pargrafo, j fica sabendo se quer ou se precisa continuar a ler a notcia. A

    leitura de um jornal seletiva, isto , o leitor escolhe o que quer ler, por isso no precisa

    ler tudo que est escrito no jornal para se informar. bem diferente da leitura de outros

    gneros, como um conto, um romance, cuja leitura integral obrigatria para sua

    compreenso.

    Na notcia do jornal Ipiranga News, os dados do lide so:

    quem?: os moradores da Vila So Jos;

    onde?: na Vila So Jos, bairro do Ipiranga, na cidade de So Paulo;

    o qu?: moradores assustados com a quantidade de escorpies na regio.

  • 8

    O segundo pargrafo "expande a notcia", isto , d mais detalhes a respeito do

    fato:

    os moradores esto indignados com a Vigilncia Sanitria da Subprefeitura, que sugere que eles criem galinhas, como forma de resolver o problema da proliferao dos

    escorpies;

    os moradores tm uma explicao para o aumento dos escorpies: uma casa abandonada.

    Linguagem coloquial

    A linguagem do jornal , preferencialmente, coloquial (prxima maneira como

    falamos). Isso acontece intencionalmente, como forma de se aproximar e se adequar ao

    leitor, ao buscar uma comunicao mais eficiente.

    Outra caracterstica da linguagem jornalstica sua tentativa de mostrar

    imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata. Veja que o jornalista do Ipiranga

    News pretende se mostrar imparcial, apresentando distanciamento do fato. Essa

    aparncia de imparcialidade conseguida por:

    ausncia de enunciados de opinio. H fatos, acontecidos com outros e que no tm nada a ver com o jornal, como em "Os moradores tambm se indignaram...";

    privilgio do uso de terceira pessoa ("os moradores", "eles");

    no uso de adjetivos que possam dar impresso de subjetividade, de interferncia da opinio do jornalista. No se admite, por exemplo, uma notcia que fale em um

    homem velho, em prdio alto, bairro distante. Para dar impresso de que os fatos so

    relatados com a maior preciso possvel uma notcia informa, por exemplo: homem

    branco, 85 anos; prdio de doze andares; bairro da periferia da cidade de So Paulo

    etc.;

    a busca de exatido faz com que se privilegiem os verbos no modo indicativo: "esto assustados", "tm sido encontrados", "se indignaram", "aconselham", "acreditam",

    "tenha comeado", "havia".

    O que notcia?

    Poema tirado de uma notcia de jornal

    Joo Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilnia num barraco sem nmero Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Danou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

    (BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983)

    Pode-se perceber que o poema dialoga com a notcia e que o fato a morte de uma pessoa poderia mesmo ser uma notcia de jornal. Mas o que Manuel Bandeira escreve no uma notcia, mas um poema em que mostra uma contradio da vida

    brasileira: ficar famoso, para alguns, acontece somente quando isso tragdia...

    Agora, voltemos histria do escorpio.

    Perigo vista

    Na bonita manh de sol da segunda-feira, seu Joaquim, morador mais antigo da rua Jurup, foi comprar po na padaria. Encontrou-se com Dona Maria que tambm estava saindo para o trabalho e foram conversando sobre os preos absurdos de tudo, nos dias atuais. No caminho encontraram dois escorpies, perto

  • 9

    da casa abandonada, cujo dono havia morrido h muito tempo e, porque o inventrio nunca acabava, ningum conseguia vender ou alugar o imvel. Esse fato foi motivo para mais conversa sobre o fim dos tempos da vida moderna.

    Dona Nen, vizinha de seu Joaquim, quando lavava roupa, num certo dia, tambm encontrou escorpies em seu quintal. Foi um alvoroo s Mas o problema maior foi quando um escorpio picou uma das filhas do seu Agenor. Ele, indignado, na volta do hospital, chamou a Vigilncia Sanitria. Os tcnicos sugeriram que uma boa forma de acabar com os escorpies era criar galinhas. Que fazer?

    Veja que, embora o assunto seja o mesmo da notcia extrada do Ipiranga News,

    no se pode considerar o texto acima uma notcia. A organizao textual, por exemplo,

    muito diferente de uma notcia. Vejamos algumas diferenas.

    Sequncia do texto Linguagem

    Escorpies assustam Vila So Jos

    Do fato mais importante para os detalhes

    Objetiva Procurando ser neutra

    Perigo vista

    Sequncia temporal da narrativa, cujo acontecimento principal est diludo no texto

    Detalhada na construo das personagens e do cenrio. Cada elemento ajuda a compor o enredo.

    Em uma notcia, os eventos no so ordenados por sua sequncia temporal como

    em uma histria, ou seja, o jornalista no tem a pretenso de relatar os fatos na ordem

    em que, supe-se, ocorreram. Os eventos so apresentados pelo interesse, na perspectiva

    de quem conta e, principalmente, pelo que o leitor/ouvinte/telespectador/internauta pode

    considerar mais importante. evidente que quem informa faz uma seleo prvia dos

    eventos a serem destacados, relatando-os em funo do evento principal e da ideologia

    do jornal.

    Conceito de notcia

    Leia o que diz um especialista no assunto:

    Notcia: relato de uma srie de fatos a partir do fato mais

    importante. A estrutura da notcia lgica; o critrio de

    importncia e interesse envolvido em sua produo

    ideolgico: atende a fatores psicolgicos, comportamentos

    de mercado, oportunidades, etc.

    (LAGE, Nilson. A estrutura da notcia. So Paulo: tica, 1993.)

    Por mais que informe ser imparcial, ou que afirme traduzir com exatido a

    veracidade dos fatos, a imparcialidade absoluta numa notcia impossvel, pois o

    redator tem que escolher o que vai contar que acontecimentos, dentre outros, pode se transformar em uma notcia que venda mais. Determinado "o qu", ainda h "o como",

    isto , como atingir o leitor de maneira mais direta, o que implica uma determinada

    seleo de vocabulrio, destaque para o tipo de letra, tamanho da notcia, lugar em que a

    notcia vai aparecer no jornal, abordagem etc... :

    necessrio compreender que o jornalismo no retrata nem cria fatos, e sim

    constri vises dos fatos. O jornal legitima uma opinio sobre os fatos, a depender de

  • 10

    sua linha editorial, dos leitores que quer atingir. Nesse quadro, a notcia uma

    construo de vises e no os fatos em si.

  • 11

    Do que depende o bom texto jornalstico? Carlos Maranho mostra seis elementos necessrios para escrever boas matrias.

    Marina Piedade

    "O jornalista um ser humano mais ou menos parecido com os outros. Ele

    movido por uma vontade grande de mudar o mundo e atingir a maior quantidade de

    pessoas possvel." Esse o perfil que Carlos Maranho, diretor de redao de Veja So

    Paulo, apresentou aos alunos do Curso Abril na noite do dia 11/2/2008.

    Ele lembrou que o profissional deve ter sensibilidade para apurar os fatos e

    capacidade de escrever bem. Comentou que "grandes jornalistas so reprteres por

    formao" e apontou seis itens indispensveis para o desenvolvimento da boa escrita

    jornalstica:

    1. Talento

    Para Carlos Maranho, fundamental ter aptido para a profisso. " como

    desenhar, tocar um instrumento, jogar futebol... Tem que ter jeito". Ele acredita que a

    prtica pode aprimorar o talento, mas no desenvolv-lo.

    2. Leitura

    "S lendo se consegue escrever bem", mencionou Maranho. Jornais, revistas da

    mesma rea em que se trabalha, livros de fico e no fico de bons autores de lngua

    portuguesa so opes vlidas nessa tarefa.

    Ele recomendou obras de Ea de Queirs, Machado de Assis e Graciliano

    Ramos. "Ensinam a estrutura do texto e ajudam a desenvolver a criatividade".

    O diretor de redao acrescentou que essa tem de ser uma tarefa bsica para o

    jornalista. "Tem que arranjar tempo. Do mesmo jeito que se tem tempo para dormir,

    tomar banho, namorar..."

    3. Pesquisa

    "No se pode tratar de um assunto sem ter familiaridade com ele", pontuou

    Maranho. Alm disso, uma pesquisa prvia sobre a pauta evita que se publique algo j

    tenha sado na imprensa, comentou o jornalista.

    4. Apurao

    Dados, estudos, depoimentos... Quanto mais informaes houver, melhor ficar

    a matria, de acordo com o diretor de redao.

    Ele observou que a inteno no colocar tudo no texto (muitas vezes no h

    espao para tanto), mas selecionar os aspectos mais interessantes do assunto. "Voc v

    onde est a notcia na apurao, no na escrita."

    5. Disposio para trabalhar

    "A vida inteira escrever ser um trabalho penoso. No se escreve um texto

    simples fcilmente."

    Para expressar a aridez dessa tarefa, Carlos Maranho recorreu a pensamentos de

    alguns autores:

    "Quem escreve fcil o orador, que recorre a chaves" (Fernando Sabino, cronista

    brasileiro).

    "Escrever um trabalho duro. Poucas palavras certas saem na primeira, segunda,

    terceira tentativas" (William Zinsser, escritor norte-americano).

  • 12

    "Tem de escrever, reescrever, reescrever de novo... at o relgio apitar" (Graciliano

    Ramos, romancista brasileiro, sobre o tempo de fechamento que orienta o jornalista).

    6. Clareza

    Segundo Carlos Maranho, texto bom texto claro "no importa se reportagem, e-mail, trabalho escolar, placa de trnsito...".

    As frases curtas, a ordem direta, o uso de palavras simples e a checagem de

    informaes ajudam a alcanar esse atributo.

    Citando o jornalista norte-americano E. B. White (autor de The elements of

    style), o diretor de redao de Veja So Paulo disse que a confuso de ideias no

    apenas um distrbio da prosa um distrbio da vida.

    A NOTCIA = 3Q + O + P + C

    Grevistas bloqueiam porta da USP e param Marginal

    Cerca de 300 alunos e funcionrios em greve bloquearam a portaria principal da

    USP ontem. Os manifestantes fecharam a entrada s 6h30 e mantiveram o bloqueio por

    quatro horas. Depois, se dirigiram em passeata at o prdio da reitoria, que est ocupado

    desde 8 de junho.

    s 9h, a Marginal Pinheiros parou completamente, entre a ponte da Cidade

    Universitria e a Avenida Afrnio Peixoto. Por volta das 10h30, a CET registrava 32

    km de lentido na zona oeste.

    O motivo do protesto de alunos e funcionrios o corte no pagamento de mais

    de mil funcionrios de So Paulo e Ribeiro Preto por causa da greve que comeou no

    dia 5 de maio. Em assembleia realizada na tarde de ontem, os grevistas decidiram

    aceitar um reajuste de 5%.

    INGLESA IMITA DONA FLOR

    Como Dona Flor, herona do romance de Jorge Amado, a inglesa Sarah Pilch

    morava com o marido e o amante.

    Traava um no quarto e outro na sala. A brincadeira acabou em morte.

    O fogo de Sarah, 27, j era conhecido da cidadezinha de Elsing, na Inglaterra.

    Segundo o jornal The Sun, ela adorava exibir os seios para os operrios que faziam a reforma de sua casa. Um deles, Kevin Hearle, 23, recebia ateno especial.

    Terminada a obra, Sarah alugou um quarto para o rapaz. A baixaria terminou quando

    Kevin, num ataque de cimes, matou o marido de Sarah.

    Andrew Pilch, o marido, trabalhava numa firma de contabilidade. O emprego o

    obrigava a viajar muito. Com a casa vazia, Sarah e Kevin faziam a festa. Com o tempo,

    porm, as relaes entre Sarah e Andrew melhoraram. O amante ficou fulo da vida.

    Um dia, Kevin estava na cozinha e ouviu o fuck-fuck no quarto do casal. Ele esperou Sarah descer e disparou: Como voc tem coragem de transar com ele e me largar aqui, descascando batatas? Ela respondeu que era hora de Kevin ir embora. Eu vou, mas volto pra apagar seu marido, gritou o amante. No deu outra. Uma noite, Kevin esperou Sarah sair pra trabalhar, entrou na casa

    e estrangulou Andrew. O caso est sendo julgado no tribunal de Norfolk, Inglaterra.

  • 13

    (Notcias Populares, 07.07.91, p.5. Apud DIAS, Ana Rosa Ferreira. O discurso da

    violncia: as marcas da oralidade no jornalismo popular. So Paulo: Cortez, 1996.

    p.56/57)

    Esta notcia do jornal Notcias Populares, alm de escrita em linguagem coloquial,

    muito prxima da modalidade oral da linguagem, no utiliza a estrutura da pirmide

    invertida nem responde a todas as seis perguntas do lead (observe que faltou o onde?).

    Transforme-a de modo a que possa ser publicada num jornal como a Folha de S.Paulo

    ou O Estado de S.Paulo.

    Informaes para montar notcias (nota de 1500 caracteres). No se esquea do

    ttulo.

    A

    Cinco cachorros que pertencem ao Canil Central da Polcia Militar de So Paulo so especializados em rastrear explosivos no Brasil. Este o nico grupo no pas.

    Aps oito anos de trabalho, o cachorro doado para qualquer pessoa que tenha condies de cuidar do cachorro.

    um trabalho em equipe aspas do capito Daniel Igncio, comandante do canil da PM

    Os nomes dos cachorros: Tarzan, den, Greta, Iceman e Iceberg. O trabalho diferente daquele feito pelos cachorros que farejam drogas. Eles no podem enfiar o focinho em qualquer buraco. H o risco de fazer isso e acontecer uma

    exploso.

    A tcnica utilizada a seguinte: o animal fica imvel e aponta o focinho para o lugar onde estaria a bomba. Da os policiais vo at l fazer a verificao e desmontam a

    bomba.

    Com explosivos, s se erra uma vez aspas do capito Daniel Igncio, comandante do canil da PM.

    B

    O Metr vai dobrar sua rede de estacionamentos prximos s estaes at o fim de 2010. Setecentos e vinte mil carros por ano podero deixar de circular pela cidade a

    partir de 2011.

    O sistema E-Fcil cobra a partir de R$ 7,10 por dois bilhetes do metr, CPTM ou nibus e pelo estacionamento por at 12 horas, com manobrista. Cada hora adicional

    custa R$ 1.

    A zona leste vai ganhar cinco das seis novas garagens. Hoje h vagas em quatro estaes. At o fim de 2010, haver em mais seis locais. Essas garagens oferecero 1,5 mil vagas, que sero usadas por 60 mil carros por ms.

    A forma de circulao das pessoas vai mudar na cidade e os estacionamentos ajudam quem precisa fazer uma parte do trajeto de carro aspas de Cristina Bastos, chefe do departamento de negcios do Metr.

    O carto recarregvel e funciona como o Bilhete nico, ou seja, o usurio pode fazer integrao entre os transportes em at quatro horas.

  • 14

    SELEO DE TEXTOS PARA TIPOLOGIA JORNALSTICA

    1) Candidaturas so impugnadas depois de teste de alfabetizao

    da Agncia Folha, em Bauru

    O juiz eleitoral de Itapetininga, Jairo Sampaio Incane Filho, 38, impugnou 20 dos 80

    candidatos a prefeito e vereador das cidades de Itapetininga, Sarapu e Alambari, na

    regio de Sorocaba (87 km a oeste de So Paulo).

    A impugnao foi motivada pelo fato de os candidatos terem sido reprovados em um

    teste de alfabetizao realizado pelo juiz, no Frum de Itapetininga.

    Incane Filho disse que fez o texto com base na exigncia contida na Lei

    Complementar n 64/90, de 1992, do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que probe

    analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos.

    O juiz afirmou que convocou os 80 candidatos que disseram ter 1 grau incompleto e

    mostraram dificuldades no preenchimento dos documentos para o registro de suas

    candidaturas.

    Os testes com os candidatos foram feitos individualmente. Seus nomes so mantidos

    em sigilo. ''Pedi a todos que lessem e interpretassem um texto de um jornal infantil. Em

    seguida, pedi que cada um redigisse um texto, expondo sua lgica'', disse.

    Segundo Incane Filho, erros gramaticais no foram levados em conta. ''Apenas

    observei se o candidato tem condies de entender um texto, pois uma vez eleito, ele vai

    ter de trabalhar com leis e documentos.''

    A assessoria de imprensa do TRE informou que o tribunal transmitiu uma

    recomendao aos juzes para que ''em caso de dvida'', faam ''um teste de

    alfabetizao'' nos candidatos. (Folha de S.Paulo, 19/07/96)

    2) Analfabetos

    O juiz eleitoral de Itapetininga impugnou 20 de 80 candidatos a prefeito ou vereador

    das cidades de Itapetininga, Sarapu e Alambari (interior de So Paulo e relativamente

    prximas capital) pela simples razo de que no conseguiram ler e entender

    corretamente um texto publicado em jornal infantil. E isso no Estado mais rico da

    Unio, o que leva a imaginar o que deve ocorrer nas imensas regies menos

    desenvolvidas do pas.

    Isso significa que 25% dos candidatos testados foram considerados analfabetos.

    Erros gramaticais no foram levados em conta, apenas a capacidade de compreenso de

    um texto simples escrito.

    Parece mais do que bvio que, sem negar a conquista democrtica que representou o

    direito de voto para o analfabeto, para exercer funes executivas ou legislativas

    necessrio pelo menos poder ler e compreender um texto. De outra forma, quem

    exercer o poder de fato ser um assessor sem nenhum mandato eletivo, ou seja, ferindo

    o princpio da delegao popular do poder.

    Infelizmente, o Brasil est ainda muito longe de atingir os nveis minimamente

    desejveis de erradicao do analfabetismo. Em que pese o sucesso de alguns poucos

    projetos isolados, o nmero de brasileiros que no sabem ler e isso segundo os pouco rgidos critrios do IBGE pouco inferior a 25%, ou seja, quase um quarto da populao do pas.

    Como indicam diversos estudos dos mais variados organismos multilaterais, o

    investimento em educao acima de tudo um investimento na melhoria das condies

  • 15

    de vida do pas, seja em termos de produtividade como em termos de desenvolvimento

    humano.

    O fato de at as pessoas que almejam cargos eletivos como prefeito ou vereador

    serem incapazes de compreender o que est escrito num jornal infantil mostra o quanto

    o Brasil ainda tem a fazer no campo da educao bsica. Revela tambm o quo imatura

    ainda a jovem democracia brasileira. (Folha de S.Paulo, 22/07/96)

    3) Pobre argumento Clvis Rossi O argumento mais repetido em defesa do tal CFJ (Conselho Federal de

    Jornalismo) diz que existem conselhos similares para advogados, mdicos e outros

    profissionais e, portanto, deve haver tambm para jornalistas. Pena que nenhum dos que

    usam o argumento parou para examinar se os conselhos similares ao CFJ produziram

    bons efeitos.

    No preciso muita esperteza para perceber que os resultados no so bons, para

    dizer o menos. No caso dos advogados, basta lembrar que a grande maioria dos

    formados no passa no Exame da Ordem, o que significa que as escolas esto

    despejando no mercado profissionais com imenso dficit de formao.

    Pior ainda: algum a capaz de dizer que a administrao de justia no Brasil

    minimamente eficiente, elogivel, louvvel? Ou, posto de outra forma, a existncia de

    um conselho semelhante ao proposto CFJ nem chegou perto de defender a sociedade no

    seu direito justia.

    No caso dos mdicos, j est entrando em debate a criao de um exame similar

    ao feito pela Ordem dos Advogados do Brasil, o que evidencia que h desconfianas

    tambm em relao qualidade da formao desses profissionais.

    E, de novo, escandalosamente bvio que o direito sade no exatamente

    uma caracterstica do Brasil. Ou, posto de outra forma, a sociedade no est sendo

    defendida pelo fato de existir um conselho que supervisiona os mdicos.

    Seria preciso um grau de presuno fenomenal para supor que, no caso do

    jornalismo, o CFJ faria o que os conselhos das outras profisses no fizeram ou, no

    mnimo, no puderam evitar.

    Tanto quanto o direito sade ou justia, o direito a uma informao veraz s

    ser alcanado se e quando a prpria sociedade for vigorosamente atrs de cada um

    deles.

    Estruturas burocrtico-corporativas podem at ter a melhor das intenes, mas os

    fatos provam que no defendem nem os profissionais nem a sociedade.

    (Folha de S. Paulo, 11/08/ 2004)

    4) CRIANAS TAMBM LIDAM COM DROGAS

    Menino de 5 anos disse que Polcia procurava bagulho em sua residncia

    Belm Um menino de cinco anos de idade surpreendeu a professora no ms passado ao

    dizer que tinha um segredo para contar. Ela imaginou que fosse uma brincadeira e pediu

    que o menino falasse.

    Sabe tia, o meu pai foi preso. A polcia chegou l em casa e quebrou tudo, at o meu brinquedo. Fiquei com muita raiva e queria dar um soco na polcia. Eles

    procuravam o bagulho, mas no acharam. O bagulho estava embaixo da TV, mas eles no viram, disse a criana.

  • 16

    A professora achou que pudesse ser imaginao do aluno e perguntou se ele

    havia sonhado com aquela histria. O garoto, ento, respondeu que no e garantiu ser

    tudo verdade.

    Quem toma conhecimento dessa histria, at duvida da veracidade da narrao.

    Mas a professora garante que tem fundamento, j que conhece o histrico de vida dos

    pais e tambm devido riqueza de detalhes relatada pela criana. Por exemplo, quando

    o menino falou que a polcia estava atrs do bagulho, a professora perguntou do que se tratava. Para explicar, ela lembra que o menino pegou uma folha do seu caderno,

    desenhou um quadradinho e disse que o bagulho era um pozinho branco colocado no meio do quadrado e depois amarrado com um fio. Logo, a professora deduziu que o p ao qual o menino se referia, provavelmente, fosse cocana.

    Surpresa A professora afirma ter ficado to surpreendida com essa situao que no

    respondeu nada ao aluno. Ela procurou a direo da escola para relatar o problema.

    Pensei em falar com a me dele, mas ela muito difcil e poderia bater nele. Ento, decidi conversar com a supervisora da escola, porque temos trabalhos de

    preveno s drogas na escola, mas no para uma turma da educao infantil, explica. A professora lamenta que essa situao tenha ocorrido com uma criana: Uma questo a famlia estar nesse meio (das drogas), a outra uma criana com cinco anos

    vivenciar isso. Eu fico triste, mas me acho impotente para agir e ajud-lo. O caso relatado um dos retratos da relao entre drogas e o ambiente escolar. No

    entanto, o mais comum o envolvimento direto de adolescentes com uso de

    entorpecentes. Uma pesquisa feita em 2004 pelo Centro Brasileiro de Informaes sobre

    Drogas Psicotrpicas (Cebrid) ouviu 1.558 estudantes do ensino fundamental e mdio

    das redes municipal e estadual de Belm. De acordo com os dados levantados, 19,5%

    dos estudantes de 13 a 15 anos consumiram drogas naquele ano. No foi considerado o

    uso de lcool ou tabaco.

    Segundo o professor Raul Navegantes, cientista poltico e especialista em

    violncia, a escola corresponde ao contexto no qual ela se encontra. Normalmente, imaginamos que a escola seja um mundo isolado, onde tudo diferente dos muros que a

    separam da rua. No assim. A escola reproduz l dentro o que se passa fora, na

    sociedade, ressalta. Para ele, seria muito artificial se fosse o contrrio. Estudantes levam para dentro da escola a mesma coisa que professores levam, a mesma coisa que

    os demais servidores da escola levam, ou seja, tudo aquilo que trazem da sociedade, explica o professor.

    Preparo Na opinio de Navegantes, as instituies de ensino devem preparar-se para

    receber esse mundo de fora. Ele deixa claro que as escolas, e sobretudo o Estado,

    precisam perceber que a sociedade mudou e que o ambiente escolar hoje no pode ser

    igual ao de 25 anos atrs.

    Ao longo desse tempo, segundo o cientista poltico, a mudana maior foi da

    famlia, que era o ambiente de convvio, de acompanhamento do jovem e que fazia a

    intermediao entre a infncia, a adolescncia e a maturidade. Com isso, ressalta

    Navegantes, a famlia deixou de ser a maior aliada da escola e transferiu instituio o

    papel que lhe cabia. Como os pais trabalham e no tm mais tanta dedicao famlia, a convivncia familiar com o jovem desapareceu, repassando para a escola o seu papel

    de orient-lo, destaca. Preveno

    Em geral, os especialistas apontam que as primeiras experincias com drogas

    ocorrem no ambiente escolar, por causa da relao de amizade e companheirismo que

  • 17

    crianas e adolescentes mantm entre si. Por esse motivo, ressaltam que a preveno a

    melhor alternativa para lutar contra o uso de entorpecentes nas unidades escolares.

    (O Liberal, 20/10/2008)

    5) MULHERES NUAS FORA DA CAPA

    BILD, o jornal mais vendido da Alemanha (4 milhes de exemplares por dia)

    decidiu retirar as imagens de mulheres seminuas da primeira pgina. A mudana

    atendeu a pedidoa das leitoras. As fotos passaro a ser estampadas na pgina 3 do

    jornal.

    6) FILME EXIBE AS RAZES DE SRGIO BUARQUE Cassiano Elek Machado

    Enviado especial da Folha ao Rio

    Quase todas as acepes da palavra raiz ajudam a ilustrar o que o filme Razes

    do Brasil, cinebiografia sobre Sergio Buarque de Holanda (1902-1982) realizada por

    Nelson Pereira dos Santos.

    Um dos intelectuais mais robustos da terra, o historiador e socilogo paulistano

    poderia render centenas de rolos de 35 milmetros de debates sobre os desdobramentos

    de sua bibliografia. Mas no para essas folhagens que o principal cineasta em

    atividade no pas apontou sua cmera.

    O filme, que tem pr-estreia hoje em So Paulo, na Sala Cinemateca, toma outra

    rvore como base, a rvore genealgica. por meio de depoimentos da vasta descendncia de Buarque de Holanda que Razes do Brasil busca retratar seu

    personagem.

    Pereira dos Santos, 75, conta que queria mostrar aspectos pouco conhecidos (e

    no desimportantes) do intelectual, considerado unanimemente um dos principais

    intrpretes do Brasil, ao lado de Gilberto Freyre, Caio Prado Jnior e outro punhado mais.

    Os depoimentos dos sete filhos (Micha, Srgio, lvaro, Chico, Maria do

    Carmo, Ana Maria, Maria Cristina) e da maior parte dos netos ajuda a mostrar a parte oculta de qualquer coisa enterrada, cravada, embutida ou fixada em outra, como (o dicionrio) "Aurlio" (primo distante de Srgio) define raiz.

    Poucos sabem que o autor dos clssicos Viso do Paraso (1958) e do hit Razes

    do Brasil (1936) gostava de ler o gibi Luluzinha, que ocasionalmente puxava fumo, que no usava roupas marrons, que cantava tango em alemo e que adorava fofocas, como afirma o filho Chico, , Chico Buarque de Holanda (que conta histria do pai

    sobre uma remessa por correio do pentelho de Duque de Caxias). Esses e outros tantos temperos do documentrio no chegam a ser acessrios.

    Ajudam a retratar um germe, princpio, origem (mais uma vez o velho Aurlio) do intelectual.

    Quem o explica, no filme, o crtico Antonio Candido, que deve falar hoje na

    pr-estreia. Era um erudito inclinado molecagem, opina Candido, ressaltando a conscincia de Srgio Buarque do dever intelectual, mas com a qualidade da molecagem de 22. Mostrava que seriedade est ligada alegria.

    O outro lado da moeda, o aspecto trombudo, tambm sai do solo. Filhos e netos contam como o patriarca ficava plantado ad infinitum no seu escritrio, com a

    cara enfiada nos fartos livros.

  • 18

    Com a palavra Chico, mais uma vez. Eu me lembro de v-lo andando e me surpreender que ele andasse, recorda, com o olhar do garoto, que passava e via aquela pessoa com culos na testa.

    O cantor e compositor, que diz s ter tido acesso ao escritrio do pai depois dos

    20 anos (acesso que era vetado a todos os outros filhos, com exceo da queridinha Ana, apelidada de Baa), lembra dos livros cobrindo tudo, fechando a janela para sempre.

    Chico afirma que o pai no gostava muito de criana. O que no transparece nos depoimentos emocionados dos netos do intelectual, cada um deles dono de um

    exemplar de "Razes do Brasil" autografado pelo Papyotto, como todos eles chamam o av.

    Uma das netas, a atriz Silvia Buarque, filha de Chico, quem d voz ao livro

    clssico do vov.

    Se a primeira parte toda do filme de Nelson Pereira dos Santos centrada na

    conversa com a famlia, a metade subsequente se nutre de uma cronologia alentada da

    vida do biografado, toda ela entremeada por trechos de Razes do Brasil declamados

    pela atriz.

    Esses 72 minutos finais (que levam o filme aos seus fartos 146 minutos) trazem

    tona outro dos sentidos cravados no fundo da terra do substantivo raiz. Essa parte do filme mostra como Srgio foi radical, no sentido de ter sido um

    intelectual que nunca fez concesses, opina a crtica literria Beatriz Resende, que assistiu primeira exibio do filme, na sede da Petrobras (patrocinadora do

    documentrio), com o diretor do filme e familiares presentes.

    Ausncia mais sentida nessa premire do filme foi sua estrela maior. Maria Amlia, hoje com 94 anos, viva de Srgio, d os depoimentos mais bonitos do

    documentrio. Nem a primognita, a cantora Micha (corroteirista do filme), segura a

    emoo. Enquanto a me fala na tela, na plateia ela chora e balbucia Ah, mame. Como testemunha Candido, Maria Amlia esteve na raiz da fora intelectual de Buarque

    de Holanda, o homem cordial, que agora todos conhecem melhor.

    O jornalista Cassiano Elek Machado viajou a convite da Petrobras (Folha de S.Paulo,

    13/08/2004)

    Para saber mais: http://sergiovilasboas.com.br/ensaios/arte_do_perfil.pdf

    7) Como ser feliz

    Matthew Shirts

    Todo sbado, logo cedo, empresto o carro da minha mulher e levo o nosso filho,

    Sammy, de 8 anos, para jogar futebol na escolinha, na Lapa. Descemos a Avenida

    Sumar, atravessamos a ponte e entramos na Marginal Tiet em direo ao Rio

    Pinheiros. Passamos em frente ao Estado, por baixo da Ponte Jlio de Mesquita Neto,

    e, ao avistar a grfica da Editora Abril, indico sempre o prdio onde impressa a revista

    que edito, a NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Por vezes, antes mesmo de eu

    formular a frase, Sammy diz: J sei, papai, meio entediado. Sbado passado no foi diferente. Mas, ao deixar para trs a Ponte Jlio de

    Mesquita, o moleque me avisou que a Avenida Pompeia estava fechada para obras

    naquele dia. Saiu-se, ainda, com a seguinte recomendao:

    Voc precisa se lembrar de no pegar a Pompeia na volta, papai. Sammy, voc pode me ajudar a lembrar? respondi. No, papai.

  • 19

    No!? Como assim!? Por que, no, filho? Porque estarei pensando nos melhores momentos do meu jogo de futebol.

    Tive de dar risada. Era a nica reao possvel da minha parte. Achei curioso

    algum, ainda mais uma criana, planejar o que pretendia pensar dali a duas horas.

    Como se no bastasse, o planejamento previa um devaneio a respeito de um jogo de

    futebol. Contei a histria para minha mulher, Luli, ao chegar em casa. Mas ningum deu

    mais do que outra risada. Ficou nisso a histria.

    At uns dias depois, quando fui ler a primeira Harvard Business Review de

    2012. Para quem no sabe, uma revista de negcios, como a EXAME. Essa edio

    dedicada felicidade. Pode parecer um tema estranho ao mundo empresarial, mas h pesquisas fascinantes na rea. A chamada da capa : O valor da felicidade:como o bem-estar dos empregados gera lucro.

    A pesquisa mais original relatada na HBR, como conhecida a revista, vem

    sendo feita com 15.000 pessoas em 83 pases atravs de smartphones. O pesquisador,

    Matthew Killingsworth, meu xar, pergunta em intervalos aleatrios sobre o humor dos

    participantes. Cada um responde na hora em uma escala que vai de pssimo a timo e diz o que est fazendo (de uma lista de 22 atividades).

    O melhor humor acontece durante o sexo. No chega a espantar, mas me

    perguntei se o povo para no meio para responder pesquisa.

    O achado mais inesperado talvez seja o impacto dos devaneios no humor das

    pessoas. Descobriu-se que a mente humana desvia do foco durante quase 50% do

    tempo. Esses desvios, segundo o xar, tem uma influncia forte sobre a felicidade. A

    sugesto do pesquisador um planejamento mental mais elaborado. Ao acordar sbado de manh, escreve, deveria se perguntar no s o que vou fazer hoje, mas o que vou fazer com minha mente. Controlar seus devaneios uma das maneiras mais eficientes de aumentar a felicidade, afirma. Outras sugestes incluem fazer exerccio

    regularmente, ganhar dinheiro (at certo ponto) e, ao que parece, casar. Mas h

    controvrsias a respeito deste ltimo (no adianta trocar de marido ou mulher toda hora,

    por exemplo).

    O artigo me fez pensar no Sammy. Aos 8 anos, ele j faz esse planejamento

    mental. Onde ser que aprendeu isso? No foi comigo, garanto.

    Talvez seja um exemplo da evoluo darwiniana da espcie. Sabemos que o

    homem cada vez menos violento. Talvez tenha aprendido a ser cada vez mais feliz

    tambm.

    (Vejinha So Paulo, 01/02/2012)

    8) PF liga vazamento atual da Chevron ao de 2011 e v risco de novo

    acidente

    Delegado de Meio Ambiente e Patrimnio Histrico d como certo o vnculo

    envolvendo perfuraes da Chevron; no est descartada a hiptese de que causas

    naturais estejam ligadas ao vazamento no dia 4, em fenda de 800 m de comprimento

    Sabrina Valle e Clarissa Thom

    O ltimo incidente no bloco operado pela Chevron no Campo do Frade pode estar

    relacionado ao vazamento de 2,4 mil barris de leo em novembro de 2011 e

    representar riscos de um novo e grande vazamento, de acordo com especialistas e

    tcnicos envolvidos nas investigaes.

    O delegado de Meio Ambiente e Patrimnio Histrico da Polcia Federal, Fbio

    Scliar, d como certo o vnculo. A petroleira alega no ter encontrado relao entre os

  • 20

    dois incidentes. Porm, a hiptese de que o reservatrio apresente problemas de presso

    e haja risco uma das mais fortes possibilidades na investigao.

    "Essa perfurao deve ter causado uma hecatombe em volta do poo, com uma

    srie de microfissuras. E o leo est pressionando para sair", disse Scliar. Tcnicos da

    Agncia Nacional do Petrleo (ANP), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

    Recursos Naturais Renovveis (Ibama) e da Petrobrs tambm investigam a origem do

    leo que escapou, mas os relatrios no foram concludos.

    No est descartada a possibilidade de que as borbulhas de petrleo que

    surgiram no dia 4 em uma fenda de 800 metros de comprimento, a trs quilmetros de

    onde ocorreu o vazamento de novembro, tenham causas naturais. A Chevron diz ter

    coletado apenas cinco litros de leo.

    No entanto, ganha fora a hiptese de que um erro da empresa americana tenha

    provocado problemas de presso no reservatrio, com o petrleo procurando agora

    novos caminhos sob a terra para aflorar. Avaliaes preliminares do Ibama tambm

    apontaram para um efeito de causa e consequncia. Se comprovada essa tese, h

    possibilidade de condenao criminal pela Justia, e no apenas autuaes e multas por

    parte do Ibama e da ANP.

    "Mas seria necessrio provar que houve negligncia, impercia ou imprudncia,

    que so os elementos formadores da culpa ou dolo", disse o advogado especialista em

    Direito Ambiental Carlos Maurcio Ribeiro, scio do escritrio Vieira Rezende.

    Segundo Scliar, a empresa pode ter falhado ao escolher o local da perfurao. "No me

    surpreende (o vazamento). Robustece a tese de que o poo no poderia ter sido

    perfurado ali, numa formao rochosa mais recente e, portanto, mais frgil", diz Scliar.

    Como considera que os vazamentos estejam interligados, a PF manter o

    inqurito aberto em novembro, que est no Ministrio Pblico para avaliao. O MP

    pode posteriormente oferecer uma denncia, que seguiria para a Justia. A Chevron

    tambm poder ser autuada por no ter comunicado imediatamente a ANP sobre o

    incidente, registrado inicialmente no dia 4, mas notificado quase dez dias depois.

    As falhas de divulgao podem chegar a detalhes geolgicos, como um

    afundamento do terreno prximo ao poo, que teria sido informado ao Ibama e ANP

    depois de ter sido divulgado pela imprensa internacional.

    Nova medida. O procurador da Repblica em Campos, Eduardo Santos, responsvel

    pelo inqurito que apura o acidente de novembro, disse que "estuda uma nova medida"

    de eventual punio empresa, que seria pedida Justia. "A fenda pode ter sido

    causada ou precipitada pelo excesso de presso. No se sabe que quantidade de leo h

    nessa rocha." A Chevron no est autorizada a perfurar novos poos nem a injetar gua

    no campo de Frade desde o ltimo acidente./COLABOROU FELIPE WERNECK

  • 21

    (O Estado de S.Paulo, 17/03/2012)

    17/03/2012 - 11h49 (UOL Notcias)

    9) Detectada mancha de leo de 1km do vazamento da Chevron

    Comente

    Rio de Janeiro, 17 mar (EFE) A Marinha detectou neste sbado uma tnue mancha de leo com cerca de um quilmetro de extenso no Oceano Atlntico, aps o vazamento

    anunciado na quinta-feira pela companhia petrolfera americana Chevron.

    A mancha est a 130 quilmetros do litoral do estado do Rio de Janeiro, na regio do

    Campo de Frade, onde aconteceu o vazamento, causado por uma rachadura no fundo do

    mar, atestou comunicado conjunto da Marinha, da Agncia Nacional do Petrleo (ANP)

    e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renovveis (Ibama).

    O vazamento foi identificado a trs quilmetros de distncia do poo da Chevron que

    teve de ser selado em novembro aps o vazamento de 2,4 mil barris de petrleo.

    As autoridades anunciaram que no comeo da prxima semana haver uma reunio para

    avaliar os danos ambientais e coordenar as aes de resposta.

    O Ministrio Pblico Federal se pronunciou na sexta-feira que pretende apresentar

    denncia penal contra os responsveis da companhia americana pelo derramamento

    desta semana e pelo de novembro.

  • 22

    A empresa j alvo de diversas multas e enfrenta processos que pedem a cassao da

    licena de operao no Brasil, alm do pagamento de inmeras indenizaes.

    Ao divulgar o recente derramamento, a Chevron comunicou que vai suspender

    temporariamente a produo de petrleo no Campo de Frade, que fica na Bacia de

    Campos, regio de onde extrado cerca de 90% do petrleo do Brasil.

    Por dia, a Chevron retirava 61,5 mil barris de petrleo do Campo de Frade, que tem

    reservas estimadas entre 200 e 300 milhes de barris de petrleo recuperveis.

    A companhia americana a operadora do projeto, com 51,74% das aes. O restante

    dividido entre a Petrobras, com 30%, e o consrcio japons Frade, com os 18,26%

    restantes.

  • 23

    DISCURSO DIRETO E INDIRETO

    Discurso direto: reproduo literal das palavras do entrevistado. o caso da entrevista

    pingue-pongue e da insero (entre aspas) de declarao de algum.

    Discurso indireto: em vez de reproduzir a fala do entrevistado, o jornalista conta o que

    ele disse (sem aspas), usando para isso verbos dicendi, que se distribuem em oito reas

    de significao:

    1) de dizer: afirmar, declarar;

    2) de perguntar: indagar, interrogar;

    3) de responder: retrucar, replicar;

    4) de contestar: negar, objetar;

    5) de exclamar: gritar, bradar;

    6) de pedir: solicitar, rogar;

    7) de exortar: animar, aconselhar;

    8) de ordenar: mandar, determinar.

    Variar os verbos dicendi impede que o texto se torne repetitivo. Cuidado, no entanto,

    com modismos. Leia uma lista de verbos dicendi sugerida por Eduardo Martins no

    Manual de redao e estilo OESP, verbete DIZER.

    Substitua, oralmente, os verbos dicendi nesta notcia.

    McCain admite derrota eleitoral e parabeniza Obama

    O senador John McCain admitiu nesta madrugada sua derrota eleitoral e

    parabenizou o rival Barack Obama pela vitria na corrida pela presidncia dos EUA.

    Durante o discurso em Fnix, no estado do Arizona, McCain disse que o povo

    americano "falou claramente", sobre a vitria de Obama. O candidato derrotado

    presidncia americana disse que ligou para Obama para parabeniz-lo pela vitria.

    McCain disse que Obama inspirou as pessoas, que tiveram pouca esperana

    sobre seu papel nas eleies para votar, "em especial para os afro-americanos".

    "A amrica uma terra que oferece oportunidade para aqueles que procuram (...) No

    h razo para os cidados americanos deixarem de cumprir seu papel", disse.

    McCain citou a av de Obama, que morreu na ltima segunda-feira: "Ela deve

    estar muito orgulhosa do que o homem que ajudou a criar alcanou".

    "Esses so tempos difceis para o pas, espero que todos os americanos que me

    apoiaram ofeream apoio para unir as diferenas e restaurar o nosso pas, para deix-

    lo melhor do que como o herdamos", disse McCain enquanto era vaiado pela

    multido.

    Ele disse que o sentimento de desapontamento "natural", e assumiu a culpa

    pela derrota. "Lutamos o mximo que pudemos, a falha foi minha e no de vocs",

    disse o senador.

    McCain agradeceu a famlia, os filhos e os amigos pelo apoio. "As campanhas

    so mais difceis para a famlia, do que para o candidato", disse ao afirmar que

    esperava dias de paz.

    No fim do discurso, McCain agradeceu ainda a vice Sarah Palin pela

    participao na campanha. "Uma voz expressiva dentro do partido, no Estado do

    Alasca [onde Palin governadora] e pela incansvel dedicao causa", disse.

  • 24

    TEXTO I:

    O verbo dicendi to importante que, ao troc-lo, voc pode virar uma declarao pelo avesso. Por exemplo:

    Sou inocente, disse. Sou inocente, esclareceu. Sou inocente, insistiu. Sou inocente, alegou. Sou inocente, mentiu.

    Neutro, simples e direto, o verbo dizer costuma ser o melhor na maioria dos casos. Seu

    emprego constante, entretanto, deixa certos textos frios e montonos. Para fugir da

    mesmice, socorra-se na riqueza vocabular da lngua portuguesa. Mas consulte o

    dicionrio quando tiver dvidas sobre o sentido preciso do termo.

    Escolhido o verbo, veja se ficou claro quem disse o qu. Esse cuidado elementar

    muitas vezes negligenciado.

    Numa declarao mais longa, facilite a vida do leitor. Identifique o autor antes de abrir

    aspas ou logo depois da primeira frase no ao final da ltima. Escreveu o jornalista Lago Burnett: Bom jornalista aquele que, alm da informao, possui condies de transmitir essa informao em linguagem acessvel ao mercado

    comprador. Para isso, ele deve ter tido no passado e precisa manter no presente um

    contato ntimo com os bons autores.

    ou Bom jornalista aquele que, alm da informao, possui condies de transmitir essa informao em linguagem acessvel ao mercado comprador, escreveu o jornalista Lago Burnett. Para isso, ele deve ter tido no passado e precisa manter no presente um contato ntimo com os chamados bons autores.

    Nas declaraes com duas ou trs frases, dispense o segundo verbo dicendi. O ltimo

    quase sempre redundante.

    (Manual de estilo Editora Abril, p. 32 e 33)

    TEXTO II:

    Ao reproduzir uma declarao textual, o jornalista no deve alterar a literalidade do que

    foi dito, a no ser para eliminar repeties ou palavras prprias da linguagem oral, desde

    que jornalisticamente irrelevantes, ou para ordenar ideias com o objetivo de facilitar a

    leitura.

    Em textos noticiosos, o objetivo de reproduzir declaraes garantir o acesso do leitor

    ao discurso concreto de quem declarou. Devem ser reproduzidas apenas as frases mais

    importantes, expressivas e espontneas do personagem da notcia. No devem ser

    reproduzidas ideias que possam ser melhor expostas atravs do discurso indireto do

    jornalista*.

    As declaraes textuais devem ser valorizadas pela sua raridade. Quanto menos forem

    usadas, mais valor tero perante o leitor. Sua importncia medida pelo inusitado que

    determinada opinio possa ter na boca de uma personalidade ou pelo impacto que possa

    causar junto ao pblico. Recomenda-se no abrir textos com declaraes textuais. Deve-

  • 25

    se evitar reproduzir declaraes textuais com mais de trs linhas. (...) Quando houver

    necessidade de chamar a ateno do leitor para algo errado ou estranho no texto

    original, admite-se o uso da palavra latina sic1 entre parnteses.

    (Manual Geral da Redao Folha de S.Paulo) Ex.: O ex-presidente Luiz Incio Lula da Silva tornou pblica ontem uma posio que havia meses manifestava apenas nos bastidores em relao s eleies municipais de

    So Paulo em 2012: seu apoio candidatura do ministro da Educao, Fernando

    Haddad, para a sucesso de Gilberto Kassab. Os sinais de que Lula j iniciou a

    campanha de Haddad incomodam setores do PT, que temem pelo "tratorao" na escolha

    do candidato.

    "Acho que o companheiro Haddad adequado", afirmou aps ser questionado sobre seu

    apoio ao ministro, para em seguida minimizar e no ferir suscetibilidades. "Foi (sic)

    ministro da Educao e acho que ele est na disputa. Agora, quem vai decidir so os

    delegados do PT." (Jornal da Tarde, 16 de julho de 2011)

    TEXTO III:

    Em princpio, os verbos mais recomendveis para textos que envolvam declaraes so

    os insubstituveis dizer, afirmar, declarar, garantir, prometer e poucos mais.

    No seu lugar, podem ser usados outros, desde que com muito critrio, entre os quais

    acreditar, achar, julgar, admitir, esclarecer, explicar, concluir, prosseguir, etc.*

    (Manual de redao e estilo OESP) Obs.: Veja relao dos possveis substitutos no verbete dizer desse manual.

    Observe nesta matria a alternncia dos discursos e dos verbos dicendi, o que evita

    a redundncia e a monotonia:

    PRESIDENTE DA FUNAI CHEGA APS FUNERAL

    Jlio Gaiger prometeu acelerar processo

    de demarcao das terras dos ndios pataxs

    Pau Brasil O presidente da Fundao Nacional do ndio (Funai), Jlio Gaiger,

    chegou aldeia dos pataxs h-h-hes por

    volta das 19 horas, uma hora depois de o

    corpo do ndio Galdino Jesus dos Santos ter

    sido enterrado.

    Vim com o objetivo de acompanhar o enterro, mas houve problemas tcnicos com

    o voo, disse Gaiger, que chegou a Ilhus a bordo de um bimotor da Funai.

    Ele afirmou que uma das formas de

    homenagear Galdino seria enfrentar o problema de demarcao das terras dos

    ndios pataxs. Gaiger adiantou que poder comear

    acelerando o processo de demarcao de

    1 Sic: palavra latina que significa assim, desta maneira. Palavra que se pospe a uma citao, ou que nesta

    se intercala, entre parnteses ou entre colchetes, para indicar que o texto original bem assim, por errado

    ou estranho que parea.

  • 26

    788 hectares, determinado pela Justia

    desde dezembro do ano passado.

    Mas o processo no automtico nem h certeza de que a deciso do juiz j tenha sido

    publicada; s tomei cincia pelos prprios

    ndios. Entretanto, Gaiger prometeu analisar os aspectos jurdicos.

    Crticas O presidente da Funai criticou as aes governamentais nas reas de sade e

    agricultura realizadas nas terras dos pataxs e

    admitiu que preciso rediscutir a parceria intragovernamental. Ele contou que a Fundao Nacional de

    Sade furou poos na aldeia dos pataxs,

    mas no trouxe tratamento de gua, que hoje

    imprpria para consumo.

    Jlio Gaiger disse que vai negociar com os

    Ministrios da Sade e da Agricultura para que haja participao mais intensa das outras

    pastas. O presidente da Funai retornou ontem mesmo a Braslia, onde ter uma

    reunio ministerial hoje.

    (OESP, 23/04/97)

    Observe o erro do jornalista do site da Aol:

    Morre escritor Fernando Sabino aos 80 anos no Rio

    RIO DE JANEIRO (Reuters) O escritor Fernando Sabino, autor de O encontro marcado e O grande mentecapto, morreu nesta segunda-feira em sua casa, no Rio de

    Janeiro, um dia antes de completar 81 anos. O velrio deve ser realizado no Cemitrio

    So Joo Batista, nesta segunda-feira, e o enterro est previsto para as 11h de tera.

    Sabino esteve internado na Casa de Sade Pinheiro Machado, no bairro de

    Laranjeiras, zona sul da cidade, entre os dias 24 e 27 de setembro para realizar exames

    de rotina, segundo a diretora da clnica, Cludia Azevedo. Segundo a diretora, o escritor

    vinha h cerca de dois anos lutando contra um cncer de esfago.

    "Ele esteve internado na clnica por 72 horas realizando exames de rotina, mas

    vinha lutando h mais de dois anos contra um cncer de esfago", disse ela Reuters

    por telefone. Cludia recebeu a notcia da morte do escritor por meio de uma filha dele.

    Mineiro de Belo Horizonte, Sabino nasceu no dia 12 de outubro de 1923. Em 1956,

    publicou o romance Encontro marcado, grande sucesso de venda que tambm foi

    adaptado para o teatro. O escritor tambm teve passagens pelo jornalismo, trabalhando

    no Jornal do Brasil, na rede britnica BBC e nas revistas Manchete e Cludia.

    Outra obra de repercusso do escritor foi Zlia, uma paixo, biografia publicada

    em 1992 de Zlia Cardoso de Mello, ministra da Fazenda no governo de Fernando

    Collor de Mello.

    EXERCCIOS

    Transforme estas entrevistas em textos corridos. No se esquea do lead, que voc

    dever extrair da prpria entrevista.

  • 27

    1)

    Super: Eduardo Piacsek, qual sua profisso e quanto tempo voc trabalhou na

    Antrtida?

    Eduardo: Sou fsico e trabalhei l durante trs meses.

    Super: Como foi seu trabalho?

    Eduardo: A chegada foi traumtica. O clima seco e as baixas temperaturas dificultavam

    a locomoo. Qualquer descuido podia causar acidentes. Mas ficar isolado em uma ilha,

    merc dos caprichos da natureza, foi interessante.

    Super: Que tipo de pesquisa voc fez?

    Eduardo: Trabalhei com geomagnetismo. Eu operava equipamentos que monitoravam a

    variao do campo magntico da Terra.

    Super: Foi difcil ficar to longe?

    Eu me lembrava muito da minha mulher e do meu filho de 4 anos. As notcias

    chegavam por telefone e a ligao custava caro. Mas a Internet amenizou a minha

    estada.

    (Superinteressante, novembro 1998)

    2) Meu advogado Oxal

    A Justia do Trabalho do Amap condenou uma empresria do estado a pagar 5 000

    reais ao pai de santo Antnio Romo Batista. Ela se recusava a pagar por servios espirituais que Pai Antnio lhe teria prestado. O mdium falou ao reprter Leonardo Coutinho.

    Veja Os espritos no o avisaram de que o senhor levaria um calote? Fui pego de surpresa. Costumo cobrar antecipado, mas abri exceo porque essa

    empresria era cliente antiga. Quando apresentei a conta, ela se recusou a pagar.

    Veja Quanto o senhor cobrou? 15 000 reais.

    Veja Tudo isso? H trabalhos mais caros, depende do problema que a pessoa quer resolver. No caso dela,

    era um descarrego completo: limpar a empresa de coisas ruins e abrir caminhos nos

    negcios.

    Veja Como o senhor provou Justia que fez o descarrego? Eu incorporo uma entidade chamada Constantino Baiano Grande Chapu de Couro. Ele

    me mandou tirar fotos da empresria no terreiro.Na hora, no entendi o motivo, mas,

    quando ela disse juza que nunca havia solicitado meus servios, mostrei as fotos.

    Veja E isso bastou? As fotos ajudaram. Mas tambm tive o testemunho de um amigo que frequenta o

    terreiro e atua como meu ajudante nos trabalhos espirituais.

    Veja O senhor fez alguma mandinga para ganhar o processo? No precisou. Meu advogado ningum derruba, que Oxal. Ele v tudo, e viu que eu

    no queria nada que no fosse meu. No consegui os 15 000 reais que pretendia, mas

    levei 5 000 reais. J estou satisfeito. (Veja, 2/07/2008)

    3) para ajudar quem tem disfuno ertil O prefeito do municpio chileno de Lo Prado, Gonzalo Navarrete, est distribuindo

    Viagra aos idosos de sua cidade. Navarrete conversou com a reprter Heloisa Joly.

    Veja Por que o senhor decidiu distribuir Viagra? Navarrete Quero promover o conceito de idoso ativo aquele que usa internet, pratica esportes, tem lugares de encontro e uma vida sexual saudvel.

    Veja O que preciso fazer para ganhar Viagra?

  • 28

    Navarrete No vamos dar a qualquer um, mas s queles que precisam mesmo. O cidado tem de ter mais de 60 anos de idade e disfuno ertil.

    Veja Como a populao recebeu essa iniciativa? Navarrete No incio, as mulheres casadas no gostaram. O Chile muito conservador. Mas, quando dissemos que o remdio para ajudar quem tem disfuno ertil nas

    relaes dentro do casamento, elas aprovaram. Agora, so as mais contentes com a

    ideia.

    Veja Nenhum setor da sociedade reclamou? Navarrete No, inclusive outros prefeitos disseram que vo copiar a medida. Voc tem de ver que h casais que esto h mais de cinco anos sem relao sexual. Precisamos

    fazer algo por eles.

    Veja Quantos anos o senhor tem? Navarrete 51. Ainda me restam alguns anos... Veja O senhor j usou esse remdio? Navarrete No. Mas, se um dia precisar, vou tomar. Usado em condies seguras, funciona.

    (Veja, edio 2059, ano 41, n. 18, 7 de maio de 2008, p.48)

    4) S estou fazendo o meu trabalho

    O consultor de dramaturgia da Rede Record, Tiago Santiago, ganhou um desafeto2 na

    emissora. O autor Lauro Csar Muniz no gostou das consideraes feitas por ele sobre

    a sinopse de sua prxima novela e, em resposta, declarou que no segue o maniquesmo3

    defendido pelo consultor h tempos. Tiago conversou com a reprter Helosa Joly.

    Veja Quais so suas consideraes sobre a sinopse de Lauro Csar Muniz? Santiago S estou fazendo o meu trabalho e no vou falar sobre essa polmica, no quero aliment-la. Fiz consideraes, como a necessidade de haver um protagonista

    heri, mas isso um assunto interno.

    Veja Suas novelas so maniquestas? Santiago: No, nas minhas novelas h o heri e o vilo, mas tem gente de todo tipo no

    meio deles. Minha obra no retrgrada4 nem mexicana.

    Veja E isso atrai o pblico? Santiago: Querida, isso est na psique5 humana. Tenho respeito pela obra do Lauro,

    mas, com essa frmula, conseguimos 20 pontos de audincia. preciso ateno para

    que esse sucesso continue. Ajudei a construir esse ncleo de dramaturgia..

    Veja O que voc faz como consultor? Santiago Leio sinopses e fao consideraes sobre elas. Ajudei tambm a intermediar a vinda do Lauro e de outros autores para c.

    Veja Obrigada pela ateno. Santiago No quero ficar mal com o Lauro nem com os outros, sabe? No me deixe mal com o Lauro, por favor.

    5) Rita Lee 79 quem ? Rita Lee de Miss Brasil 2000, ou uma outra? Esse disco, que no tem nome, um material novo e tem uma diversificao muito grande de temas. Tem uma continuidade do que eu vinha fazendo, aquela coisa

    roqueira, tem muita coisa de discoteque, de que eu gosto muito e no tenho nenhum

    preconceito. Tem coisa bem brasileira que introduzi: percusso brasileira dentro da

    discoteque. Tem uma coisa que eu nunca fiz antes, que uma coisa romntica, uma

    2 Desafeto: Adversrio, inimigo, rival.

    3 Maniquesmo: Doutrina que se funda em princpios opostos, bem e mal.

    4 Retrgrado: Que contrrio ao progresso.

    5 Psique: A alma, o esprito, a mente.

  • 29

    balada. Tem coisa pra criana, uma msica que se chama Maria Mole, muito engraada.

    Enfim, tem vrios temas e, como o ltimo trabalho, o que a gente curte mais. E este

    ano no vou fazer show por causa do nen, que nasce em agosto, coincidindo com a

    poca do lanamento do disco. Vou fazer s televiso. Ento eu no sei qual a Rita

    Lee 79. Eu no sei, porque eu gosto de todas elas. Tem um pouquinho de mim em todas.

    Para o tipo de msica que voc faz, e que funciona muito em apresentaes ao vivo, voc no acha que ficar sem fazer shows at o final do ano pode afastar um pouco o

    seu pblico?

    No porque eu vou compensar fazendo televiso. Geralmente fao um disco e logo depois o show desse disco, com o mesmo nome, inclusive. Neste eu vou transar a

    penetrao atravs de programas de televiso. Televiso voc tem de saber aproveitar

    legal, quer dizer, fazer aqueles programas-chave bem feitos que da no fica distante do

    pblico. Tenho recebido muita carta pedindo presena no Globo de Ouro, no Fantstico.

    Como no vou fazer show, vou fazer uma coisa bem feita em televiso, o que eu nunca

    fiz. Em televiso, geralmente, tem aquele padro em que eles dizem: Voc vai cantar aquela msica assim, assim, assim. Desta vez vou procurar me juntar ao pessoal, bolar o programa junto, fazer todo cheio de baratinhos visuais, porque a televiso visual,

    n?

    Mas seu pblico assiste a televiso? Assiste, assiste. A meninada que me escreve - eu recebo muita carta do Brasil inteiro Eles me pedem. (imitando):Puxa, voc podia fazer um Globo de Ouro pra gente ver sua cara. D as caras, voc no vem aqui em Belm. Faz tempo que a gente no te v. Ento vai compensar por esse lado. Claro que show, em matria de prazer, melhor.

    Voc chega com todo o equipamento, monta na cidade e da faz aquele bochincho todo,

    o pessoal vai ver e faz uma festa. Mas isso a eu vou deixar para 80.

    Quando o filho j estiver ... (rindo) Sem mamar.

  • 30

    As mximas de Grice

    Segundo o filsofo americano da linguagem Paul Grice, o princpio bsico que

    rege a comunicao humana o Princpio da Cooperao, isto , quando duas pessoas

    se propem a interagir verbalmente, normalmente iro cooperar para que a interlocuo

    transcorra de maneira adequada. Para isso ele postula quatro mximas:

    1) mxima da quantidade: no diga nem mais nem menos do que o necessrio;

    2) mxima da qualidade: s diga coisas para as quais tem evidncia adequada;

    no diga o que sabe no ser verdadeiro;

    3) mxima de relao ou relevncia: diga somente o que relevante, pertinente;

    4) mxima do modo: seja claro e conciso, evitando a obscuridade e a

    prolixidade.

    possvel, porm, que intencionalmente quem produz a mensagem queira

    infringir alguma dessas mximas, cabe ento ao ouvinte/leitor tentar descobrir o motivo

    da desobedincia. Um exemplo dado por Grice o seguinte: um professor universitrio

    escreve a um colega pedindo referncia sobre a capacidade intelectual de um ex-aluno

    do primeiro, pois o rapaz candidato a uma vaga de assistente. A resposta foi: Tem boa letra e no costuma chegar atrasado. O professor consultado infringiu a mxima da relevncia, pois omitiu o que era mais importante. Mas, de acordo com a mxima da

    quantidade, disse o suficiente para que o colega entendesse que o candidato era fraco.

    I - Escrever a arte de cortar palavras

    (Armando Nogueira)

    Escrever cortar palavras. Passei alguns anos certo de que o autor dessa

    preciosa mxima era Carlos Drummond de Andrade. At que um dia perguntei ao poeta.

    Ele conhecia, mas negou que fosse dele. Confesso que fiquei desapontado. A sentena

    tinha a cara do mestre Drummond cuja prosa um exemplo de conciso.

    Otto Lara Resende desconfiava que pudesse ser de um escritor mexicano a ideia

    da dica preciosa. Eu, por mim, seria capaz de atribu-la a John Ruskin, notvel escritor e

    crtico ingls do sculo passado. Se no o disse, com todas as letras, certamente foi

    Ruskin quem melhor ilustrou o adgio, num conto antolgico. o caso de um feirante

    de peixes num porto britnico.

    O homem chega feira e l encontra seu compadre, arrumando os peixes num

    imenso tabuleiro de madeira. Cumprimentam-se. O feirante est contente com o sucesso

    do seu modesto comrcio. Entrou no negcio h poucos meses e j pde at comprar

    um quadro-negro pra badalar seu produto.

    Atrs do balco, num quadro-negro, est a mensagem, escrita a giz, em letras

    caprichadas: HOJE VENDO PEIXE FRESCO. Pergunta, ento, ao amigo e compadre:

    Voc acrescentaria mais alguma coisa? O compadre releu o anncio. Discreto, elogiou a caligrafia. Como o outro insistisse,

    resolveu questionar. Perguntou ao feirante:

    Voc j notou que todo dia sempre hoje? E acrescentou: Acho dispensvel. Esta palavra est sobrando...

    O feirante aceitou a ponderao: apagou o advrbio. O anncio ficou mais

    enxuto. VENDO PEIXE FRESCO.

    Se o amigo me permite tornou o visitante , gostaria de saber se aqui nesta feira existe algum dando peixe de graa. Que eu saiba, estamos numa feira. E feira

  • 31

    sinnimo de venda. Acho desnecessrio o verbo. Se a banca fosse minha, sinceramente,

    eu apagaria o verbo.

    O anncio encurtou mais ainda: PEIXE FRESCO.

    Me diga uma coisa: por que apregoar que o peixe fresco? O que traz o fregus a uma feira, no cais do porto, a certeza de que todo peixe, aqui, fresco. No

    h no mundo uma feira livre que venda peixe congelado...

    E l se foi tambm o adjetivo. Ficou o anncio reduzido a uma singela palavra:

    PEIXE.

    Mas, por pouco tempo. O compadre pondera que no deixa de ser menosprezo

    inteligncia da clientela anunciar, em letras garrafais, que o produto a exposto peixe.

    Afinal, est na cara. At mesmo um cego percebe, pelo cheiro, que o assunto, aqui,

    pescado...

    O substantivo foi apagado. O anncio sumiu. O quadro-negro tambm. O

    feirante vendeu tudo. No sobrou nem a sardinha do gato. E ainda aprendeu uma

    preciosa lio: escrever cortar palavras.

    (Revista Imprensa, abril 1995)

    O estilo a arte de dizer o mximo com o mnimo de palavras. (Jean Cocteau6)

    Voc deve escrever como se estivesse mandando um telegrama internacional pago do seu prprio bolso. (Ernest Hemingway7)

    Nada mais penoso para mim que a busca da expresso adequada, da propriedade

    vocabular. H mil maneiras de dizer uma coisa e s uma perfeita. Para descobri-la, a

    gente pode levar a vida inteira. Levei exatamente trinta anos para encontrar o final certo

    da novela O bom ladro.

    Acredito que escrever seja, basicamente, cortar. Cortar o suprfluo. Eliminar

    repeties, ecos, rimas, cacfatos, redundncia, lugares-comuns.

    Escrever, bem ou mal, para mim cada vez mais difcil. Tenho dificuldade para

    escrever at um carto de agradecimento ou um telegrama de psames. Certa vez Otto

    Lara Resende8 estava na redao escrevendo um artigo, quando entrou um contnuo e

    viu que ele batia mquina sem copiar nada. Ento se espantou:

    U, doutor Otto, o senhor tem redao prpria? que eu sei tudo de cor ele respondeu. Otto um privilegiado: alm do talento literrio que Deus lhe deu, tem redao

    prpria.

    Nem por isso deixa de ser um torturado para escrever.

    (Fernando Sabino)

    A observao do poeta Carlos Drummond de Andrade: Escrever a arte de cortar palavras. Esta proposta de conciso tornou-se famosa, tanto entre literatos como entre jornalistas. Muitas vezes, porm, ela serve de consolo aos ignorantes ou de

    6 Jean Cocteau: foi um poeta, romancista, cineasta, designer, dramaturgo, ator e encenador de teatro

    francs. Em conjunto com outros surrealistas da sua, conseguiu conjugar com maestria os novos e velhos

    cdigos verbais, linguagem de encenao e tecnologias do modernismo. 7 Ernest Hemingway: fazia parte da comunidade de escritores norte-americanos expatriados em Paris,

    conhecida como "gerao perdida", nome inventado e popularizado por Gertrude Stein. Levando uma

    vida turbulenta, Hemingway casou-se quatro vezes, alm de vrios relacionamentos romnticos. Em 1952

    publica O velho e o mar, com o qual ganhou o prmio Pulitzer (1953), considerada a sua obra-prima.

    Hemingway recebeu o Nobel de Literatura de 1954. 8 Otto Lara Resende: jornalista e escritor brasileiro.

  • 32

    estmulo preguia. Os conceitos de conciso e objetividade no devem ser

    confundidos com os de insipidez e pobreza. A frase do poeta leva-nos meditao sobre

    um dos maiores problemas enfrentados por quem escreve, seja por dever do ofcio, seja

    por amor da literatura: conciliar conciso com elegncia, fluncia com clareza,

    despojamento9 da frase com riqueza de contedo.

    (MELLO E SOUZA, Cludio. 15 anos de histria. Rio de Janeiro: TV Globo, 1984.)

    EXERCCIOS

    1) Reduza estas frases ao mnimo possvel:

    1) Sa em companhia de uma garota que era bonita e que era simptica.

    2) O cavalo que comprei e pelo qual paguei muito dinheiro, dali uns tempos, depois que

    se passaram uns dias, comeou a mancar da perna esquerda.

    3) As pessoas que estavam presentes na sala houveram por bem dirigir-se para a

    cozinha, com a inteno de tomar o seu caf; e, depois que tomaram o caf, voltaram

    para a sala onde estavam antes.

    2) Este anncio foi publicado na Veja - So Paulo em 17/02/93

    O insupervel e insuspeito jornal Folha de S.Paulo, atravs de sua edio de domingo,

    Folho, em mais um dos seus grandiosos gestos, dignos dos maiores encmios, lana

    mais um benefcio para voc, ilustrssimo aficionado do fabuloso anncio classificado.

    Trata-se de uma ideia clara, objetiva, desprovida de retrica, onde, por apenas Cr$

    25.000,00, esta quantia nfima, irrisria, de somenos importncia, sim, por to-somente

    25.000 cruzeiros por palavra, voc anuncia confortavelmente pelo telefone de nmero

    222-4000, aproveitando a eficincia deste rgo da nossa imprensa, que tanto orgulho

    tem dado a ns, homens que tanto procuramos fazer deste pas o lugar onde ...(...)

    O prprio redator da W/Brasil encarregou-se de reduzir o anncio a sete palavras

    mais o nmero do telefone, tente fazer o mesmo, cortando tudo o que for suprfluo.

    3) Em seguida, reescreva o seguinte texto, eliminando o suprfluo e acrescentando

    os dados que forem necessrios (lembre-se da frmula do lead: 3Q+O+P+C):

    Vinte pessoas morreram ontem s 20.30 hs., tragicamente, em um sensacional,

    espetacular e belssimo desastre, ocorrido nos limites dentro da cidade de So Paulo,

    quando dois trens se chocaram fantasmagoricamente, na estao ferroviria local, em

    virtude de lamentvel falha do descuidado guarda-chaves. Um dos passageiros foi

    completamente decapitado e sua cabea, ao separar-se do corpo, provocou-lhe morte

    instantnea. Vrias das infelizes vtimas foram transportadas para nosocmios. A

    primeira de todas a ser submetida a uma melindrosa interveno cirrgica foi a Exma.

    Sra. D. Felisberta Silva, dignssima e virtuosa dama da nossa sociedade, a quem, nesta

    hora das mais trgicas e horripilantes, rendemos os tributos de nosso maior respeito. O

    distintssimo e dedicado, alm de eficiente diretor da Fepasa, o Exmo. Sr. Dr.

    Engenheiro M. A. Pedroso, disse que nos planos da eficiente empresa est a adoo de

    equipamento automtico, para que desastres assim no se repitam outras vezes. (In

    ERBOLATTO, Mrio. Tcnicas de Codificao em Jornalismo. Rio de Janeiro: Vozes,

    1981. p. 98.)

    9 Despojamento: qualidade de quem despojado, que no apresenta ornamentos ou enfeites vistosos.

  • 33

    4) Leia o texto e, em seguida, responda aos exerccios:

    Voc legvel? (Roberto Raposo)

    Sempre que podemos usar vinte e cinco palavras em vez de cinquenta para dizer a

    mesma coisa, reduzimos metade o trabalho

    do leitor e conferimos maior fora ao que

    dizemos.

    Como voc redige os seus textos? Para descrever um incndio, diz que numa voragem irresistvel, as labaredas tudo destruram ou prefere dizer simplesmente que o o fogo destruiu tudo? claro que ambas as formas so corretas, mas a primeira muito menos legvel que a segunda. E, para todo redator, importante ser o mais legvel

    possvel.

    O que exatamente torna um texto mais legvel que outro? Muitos so os

    professores de redao que aconselham aos seus alunos: construam suas frases na ordem

    direta (sujeito-verbo-objeto). Evitem a voz passiva. Usem palavras curtas e frases

    curtas. Imprimam interesse humano quilo que escrevem.

    Excelentes recomendaes, mas quantas slabas deve ter uma palavra curta? A palavra irresistvel curta ou longa? Quantas palavras deve ter uma frase curta? O que constituiu interesse humano? H algum meio de medir a legibilidade base desses critrios?

    Em 1951, surgiu nos Estados Unidos um livro curioso que procurava responder

    essas perguntas: The art of plain talk (A arte de falar claro).

    O autor era Rudolf Flesch, austraco que emigrou para a Amrica um ano antes

    do incio da Segunda Guerra Mundial e doutorou-se pela Universidade de Columbia. Ao

    longo de 20 anos de pesquisas na rea de problemas de redao, Flesch contribui, entre

    outras coisas, para tornar mais claros e legveis os despachos noticiosos da Associated

    Press.

    Flesch partiu do princpio, j muito conhecido, de que h trs fatores que tornam

    um texto legvel e interessante: perodos curtos, palavras simples (com um mnimo de

    prefixos e sufixos) e um mximo de referncias pessoais. Dita assim, a coisa parece

    bvia: perodos curtos tornam o texto gil, ventilado, gostoso de ler. Palavras

    complicadas e longas, como as que encontramos com frequncia em textos tcnicos,

    dificultam a leitura. E todo mundo gosta de ler a respeito de pessoas, especialmente

    quando a narrativa vem na primeira pessoa.

    A novidade introduzida por Flesch que ele sistematizou esses dados,

    organizou-os e quantificou-os em tabelas destinadas a medir o grau de legibilidade de

    um texto. Por adotar critrios universais, o trabalho de Flesch vlido para qualquer

    lngua ocidental. Os valores produzidos pelas tabelas, porm, podem variar entre uma

    lngua e outra e, para melhor adapt-las ao portugus, lngua menos sinttica que o

    ingls, tivemos de fazer certas modificaes. O emprego das mesmas pode levar a uma

    medida bastante aproximada da simplicidade ou prolixidade de qualquer texto.

    O vcio da prolixidade se deve, em grande parte, desorganizao mental. O

    redator comea a escrever sem ter organizado de antemo as suas ideias. E, o que pior,

    no revisa adequadamente o que escreveu. O resultado a anticomunicao: um texto

    em desordem, ideias embaralhadas em um nico perodo, complementos fora do lugar,

    palavras suprfluas, frases inteiras que poderiam ser cortadas tudo o que faz o mais paciente dos leitores desistir da leitura.

  • 34

    Tenho em mos um manual de redao tcnica que me diz, logo no prefcio: papel do educador (...) analisar o sistema educacional e, consequentemente,

    interpretando o produto da obtido, no s detectar suas falhas, mas igualmente

    estabelecer linhas gerais de ao que, atravs de planejamento sistemtico, contnuo e

    realimentvel, possam minimizar as entropias sistmicas. Trata-se de um bom exemplo de como no escrever. H muitas maneiras de evitar a prolixidade, mas eu gostaria de

    aconselhar o leitor a fugir dos seguintes vcios:

    MUTILAO DO VERBO O verbo o elemento mais importante da orao. Retornando ao exemplo do

    incndio que citei na abertura deste artigo, vale a pena ver com um reprter chamado Monteiro Lobato descreveu uma velha praga, a queimada do mato. Diz ele: [A labareda] oscila incerta; ondeia ao vento, mas logo encorpa, cresce, avulta, tumultua e,

    senhora do campo, estruge10 com infernal violncia... Imaginemos que Lobato tivesse escrito: De incio, observam-se oscilaes na labareda, ondulaes provocadas pelo vento; mas logo ela ganha corpo, vai ficando

    maior, sobe num tumulto, etc., etc. Os verbos so substitudos por substantivos; a fora das frases diminui e o texto definha.

    No entanto, h quem faa isso constantemente. Quem diz o transporte desta mquina fcil, em vez de esta mquina fcil, de transportar, est incidindo no vcio da mutilao do verbo. Note-se que, sempre que substituo um verbo por um

    substantivo, tenho de acrescentar outros elementos frase e usar outro verbo (pois no

    h orao sem verbo) para substituir o que mutilei. O resultado a prolixidade que

    vemos diariamente: fazer uma recomendao em vez de recomendar, tomar uma deciso em vez de decidir, etc.

    MUTILAO DE OUTROS ELEMENTOS DA FRASE

    Outras vezes, o adjetivo que sofre. Em vez de dizer que o tempo foi muito instvel este ms, o redator prolixo diz que a instabilidade do tempo foi muito grande este ms. Nove palavras em vez de sete. Ou sacrifica o substantivo: em vez de o total recolhido para depsito, fala do total recolhido para ser depositado. E suas frases vo ficando cada mais compridas.

    COMPLEMENTOS FORA DO LUGAR Li recentemente no jornal: Firmas particulares adquiriram helicpteros que haviam sido desativados pela polcia por 50 mil dlares. A pergunta que logo me veio cabea foi: quem pagou 50 mil dlares polcia para des