apostila histÓria da radiologia

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HISTRIA DA RADIOLOGIA

Em novembro de 1895 Wilhelm Conrad Roentgen apresenta a sociedade uma nova forma de energia que ele denominou Raios-X. Roentgen nasceu em 27 de maro de 1845 na cidade de Lennep, na Alemanha, aos trs anos seus pais Friedrich Conrad Roentgen, comerciante de tecidos e sua me, Charlotte Constanze Frowlein, se mudaram para a Holanda mais exatamente na cidade de Apeldroorn onde cursou o ensino secundrio, na Sua ocorreu a sua formao universitria e cientifica e foi na Alemanha onde nasceu e viveu sua vida profissional. Ainda na Holanda aos 17 anos cursou a Ultrecht Technical School escola que preparava para admisso em uma escola tcnica de grau mais avanado, preparando-se para a admisso a universidade. Aos 23 anos formou-se em engenharia mecnica e fez especializao em matemtica. Em 1865 entrou para a escola Politcnica de Zurique como auxiliar do renomado professor August Kundt, que veio a ser seu orientador em sua tese de doutorado pela universidade de Zurique. Seu primeiro trabalho cientifico foi publicado em 1865, onde trazia conhecimentos sob a forma de um livro de referncia de qumica. Com seus experimentos de fsica sobre as propriedades dos gases, produziu a tese ESTUDO SOBRE GASES apresentando a universidade de Zurique conquistando o grau de PhD. Roentgen transitou por diversas universidades alems tais como Universidade de Wurzburg, Kaiser Wilhelm Universidade, acompanhando o seu mestre e principal influncia o professor August Kundt, entre outras. Em 1875 Roentgen toma uma deciso que se arrependeria mais tarde, aceita um convite feito pela Academia Agrcola de Hohenhein para lecionar fsica e matemtica e depois para Sttudgard na Universidade de Hohenhein, fazendo com que perdesse os laos com seu to estimado amigo e professor, pois sairia de Estrasburgo. Em pouco mais de um ano percebeu que as vantagens oferecidas no compensariam o seu afastamento das pesquisas em Estrasburgo, portanto retorna para Estrasburgo como professor associado da Universidade de Estrasburgo publicando 15 trabalhos em perodos diferentes. Em 1879 aos 34 anos foi indicado por uma autoridade do campo da fsica para ensinar na Universidade de Giessen onde permaneceu at os 43 anos. Neste perodo sua vida afetiva e cientifica sofreram grandes mudanas, seu pai faleceu em 1884 e 4 anos mais tarde sua me, deixando-o muito abalado pois era sua

conselheira. E a cientifica, por ter transformado e melhorado profundamente o laboratrio da Universidade. No ano de 1888, ainda em Giessen, foi convidado a ctedra de fsica da universidade de Ultrecht. O convite ainda ressaltava o brilhante professor que com grande capacidade experimental e inteligncia seus trabalhos revelavam profundo conhecimento e originalidade de idias. Dezoito anos depois de ter ido para Wursburg como assistente de Kundt, recebeu em dezembro de 1888, convite para assumir a direo da ctedra e do instituto de Fsica da Universidade de Wursburg. Agora aos 43 anos, reconhecido na Europa como um grande fsico disps de um laboratrio completo de equipamentos indispensveis a sua pesquisa, sentia-se orgulhoso. Vrios pesquisadores tiveram contato com os raios-X antes de Roentgen, mas faltou o que sobrava em Roentgen, tenacidade e apego aos mnimos detalhes. Seus predecessores que mais se destacaram foram:

Julius Plunker (1801 1868), professor de fsica de Geissler, estudou a descarga eltrica nos tubos inventados por Geissler, sendo o primeiro a notar fluorescncia verde e azul no interior do tubo no momento do disparo; John Geissler (1815 1879), mecnico e hbil soprador de vidro (produziu vrios tubos de tamanhos e formas diferentes conseguindo neles alto grau de rarefao, (Fenmeno que corresponde diminuio da densidade de uma estrutura slida)); Johan Wilhelm Hittorf (1824 1914), ex-aluno de Pluncker produziu tubos de maior vcuo que Geissler. Demonstrou a produo do calor; Willian Crookes (1832 1919), fsico e qumico de nacionalidade inglesa, estudou exaustivamente os raios catdicos. Divulgou seus trabalhos em revistas cientificas tornando seus tubos famosos. Crookes demonstrou que:

a) A fluorescncia no tubo era devido ao impacto dos raios sobre um corpo slido a prpria parede do tubo ou um corpo slido colocado na trajetria dos raios entre o catodo e o nodo. b) Que os raios que saiam do catodo se propagam em linha reta. c) Que os raios produzem calor levando certos metais fuso, como a platina.

d) Que os raios podem ser desviados por um magneto colocado prximo a sua trajetria.e) Notou que filmes radiogrficos, acondicionados em caixas

totalmente a prova de luz enegreciam (fato no percebido por Crookes e que ficou demonstrado posteriormente os filmes sofreram a ao dos raios-X produzidos na ampola).

Phillip Lennard (1861 1947) descobriu vrios efeitos dos raios catdicos inclusive que camadas mais densas e espessas absorviam mais que as mais leves, sem descobrir o agente causador.

Em 1894, ano em que Roentgen iniciou seus estudos sobre os raios catdicos, foi marcado pelo falecimento de trs personalidades do mundo da fsica e que tocou muito Roentgen: Heinrich R. Hertz descobridor das ondas de rdio; Hermann Von Helmholtz descobriu matematicamente os raios-X antes de sua descoberta e August Kundt, seu mestre e amigo a quem tinha grande admirao, respeito e profundo reconhecimento pelo que Kundt representou em sua carreira universitria at o reconhecimento como fsico e pesquisador. A Universidade de Wurzburg disponibilizou os equipamentos mais sofisticados da poca para as experincias de Roentgen: como uma bobina de Ruhmkorff, tubos de Crookes, tubos de Lenard, bomba de vcuo e um cran, sendo que o cran se tratava de uma folha de cartolina coberta com sais de platinocianeto de brio muito utilizada pelos estudiosos dos raios invisveis, baterias e transformador. Em junho de 1894, Roentgen comea a dedicar-se exclusiva e exaustivamente as pesquisas dos raios catdicos fora do tubo. No bem claro o interesse de Roentgen pelo estudo dos raios catdicos j que haviam sido estudados por outros pesquisadores da poca. Conforme sugesto de Lenard em 8 de novembro de 1895 Roentgen repete a experincia, revestindo um tubo de Lenard com uma cartolina preta e um envoltrio de estanho com o objetivo de barrar qualquer luminosidade para fora do tubo. J era sabido que os raios catdicos emitiam fluorescncia ao bater na parede do tubo ou em qualquer metal colocado entre os eletrodos, fato percebido ao se colocar o cran nas proximidades da janela de alumnio do tubo. Como bom observador que era Roentgen percebeu que essa luminosidade poderia ser observada nos tubos de Hittorf-Crookes que possua as paredes mais espessas e sem janela. Fascinado Roentgen, cobriu cuidadosamente um tubo Hittorf-Crookes, ligando-o aos eletrodos de uma bobina Ruhmkorff deixou a sala totalmente 5agens -araescura, emitiu uma corrente de alta tenso com o intuito de verificar

se alguma luminosidade escapava do tubo, quando se preparava para aproximar o cran do tubo e estudar a sua fluorescncia pde notar uma pequena luminosidade sobre um banco que se encontrava a um metro do tubo. Inicialmente imaginou tratar-se de algum reflexo de centelha da bobina. Sem explicao, Roentgen fez passar diversas vezes a corrente pelo tubo, observando que a luminosidade esverdeada bruxelava (Brilhar tremulamente (luz de lamparina, vela etc.); tremeluzir. / Brilhar fracamente; estar prestes a extinguir-se (a luz)) como uma nuvem coincidindo com as descargas da bobina. Roentgen acendeu um fsforo e notou que a luminosidade provinha de um cran deixado sobre o banco. Subitamente sentiu-se desafiado, pois sabia que os raios catdicos no percorriam aquela distncia, que comprovadamente, eles apenas poderiam percorrer alguns centmetros na atmosfera. O QUE ACONTECIA AFINAL?a) Algo emanava do tubo Hittorf-Crookes produzindo no cran um

eleito fluorescente a uma distncia muito maior do que as observadas no tubo de Lenard. b) Se essa emanao podia propagar-se no ambiente externo do tubo na atmosfera, logo, no se tratava de raios catdicos e poderia propagar-se em outro meio de composio qumica diferente. Roentgen colocou folhas de diferentes espessuras, cartas de baralho, livros, papel preto e observava que o cran continuava a fluorescer, mesmo invertendo o cran. Tambm verificou, contudo, que o estranho raio atravessava um livro com mais de 2.000 folhas, iluminando o cran do outro lado. Continuou com suas experincias utilizando outros tipos de materiais metlicos, tais como, alumnio, ferro, cobre, estanho, platina, prata e ouro; observando a variao de intensidade de fluorescncia no cran. Quando usou uma lmina de chumbo percebeu que a fluorescncia do cran antes observada to facilmente agora no existia mais. Sua primeira concluso percebe-se que todos os materiais so transparentes ao novo agente, em maior ou menor intensidade (graus), notando-se que o chumbo parece deter a emanao do tubo. Notou mais tarde que a imagem dos objetos sobre o cran reproduzia de maneira precisa a forma dos mesmos, deduzindo assim, que, a emanao do tubo, fosse qual fosse a sua natureza, propagava em linha reta. Em suas manobras prximo ao cran, viu projetado no cran o contorno de sua mo e ao centro os ossos de sua mo. Reaes de espanto, medo, admirao, milhares de duvidas, o que fazer, como seus colegas reagiriam frente magnitude da descoberta.

Tal descoberta era de uma responsabilidade imensa, e Roentgen sabia que no poderia divulgar para o mundo cientifico sem uma comprovao cientifica correta, sendo assim Roentgen dedicou-se exclusivamente a descoberta, chegando a se mudar, fazer suas refeies no laboratrio e esconder o real motivo de sua esposa Bertha. Realizou todas as experincias conhecidas pelos fsicos da poca. Foi quando fez a to famosa radiografia da mo de sua esposa Anna Bertha, expondo sua mo por quinze minutos aos estranhos raios, com o resultado ela ficou aterrorizada e pediu para no participar mais das experincias. Roentgen j conhecia quase tudo relativo aos novos raios quando publicou seu primeiro artigo. Distribuiu sua monografia para os grandes fsicos e ainda foi necessrio mais uma edio dessa vez para fsicos e cientistas de outras localidades. Aps ter fotografado a mo de um famoso anatomista em publico, seu nome foi usado para nomear os novos raios raios de Roentgen - de que ele declinou por ser muito tmido. Anos depois, com a criao do Prmio Nobel, Lenard achava que deveria dividir com Roentgen a lurea, mas, os fsicos participantes da votao final deram o prmio a Roentgen. Este participou da votao inicial e votou em Kelvin, fato esse, que deixou Lenard transtornado, gerando tamanha frustrao que o levou a cultuar dio ao agora rival. Anunciava que ele tinha criado as condies para a descoberta dos raios X; ele era o verdadeiro descobridor e que Roentgen tinha sido apenas o parteiro da descoberta - havia apenas apertado um boto. Mas nunca explicou porque ele tendo os raios sob seu nariz por tanto tempo no anunciou a descoberta, assim como nunca explicou que seus trabalhos baseavam-se nos de Hertz, Crookes e Hittorf. Alm disso, Roentgen, que usou inicialmente um tubo Lenard com janela de alumnio, descobriu que o tubo inteiramente feito de vidro era melhor para seus experimentos. Lenard ingressou no partido nazista e isto o levou ao poder. Nem mesmo o Nobel de fsica ganho em 1905 o tirou da campanha e do dio contra Roentgen. Em 1945, aos 50 anos da descoberta, a Sociedade de fsica mdica de Wrzburg solicita ao ministro nazista dos correios e telgrafos a emisso de um selo em homenagem a Roentgen. Mas o ministro, um fsico, tinha sido aluno de Lenard e recusou o pedido. Respondeu que essa honraria era reservada apenas a pessoas ilustres. Muitos foram os prmios Nobel obtido por estudiosos a partir das influncias de seus trabalhos. Muitos trabalhos premiados na fsica e outros na rea mdica. Basta citar Housnfield e Cormack com a tomografia computadorizada e Lauterbur e Mansfield com a Ressonncia Magntica.

Aps a divulgao da descoberta, diversos cientistas recordaram achados anteriores em que filmes fotogrficos tinham inexplicavelmente sido velados. Imagens de chaves, moedas e ferramentas apareciam em filmes revelados e que estiveram perto de tubos de raios catdicos porque um dos experimentos tentados com os dos raios catdicos na poca foi avaliar se sua luz era melhor para fotografias que a luz ambiente. Com isso, chapas fotogrficas eram usadas por fotgrafos nas proximidades dos tubos. Mas todos reconheceram que no conseguiram explicar o fato. At mesmo Roentgen teve essa experincia em 1890, quando um brilho intenso surgiu em uma tela fluorescente no momento em que um assistente, Ludwig Zehnder, tentava usar um tubo e este queimou. Roentgen disse muitos tubos seriam queimados at que todos os mistrios se esclaream, pois, estudava os raios catdicos. Ele s observou a importncia do fato cinco anos depois. Roentgen homenageado em inmeros trabalhos publicados e sociedades cientficas. Museus foram criados para lembrar sua obra e vida. Em Lennep (sua cidade natal), em Wrzburg (onde fez a descoberta), em Palermo, na Itlia, em Bruxelas e na Blgica. Incontveis pginas na internet falam do descobridor dos raios X. Selos foram emitidos com sua figura ou em sua homenagem em muitos pases. Para completar sua biografia, deve-se ressaltar que o prmio em dinheiro do Nobel foi doado Universidade de Wrzburg. Aps a chamada primeira guerra mundial, Roentgen doou todas as suas condecoraes e medalhas ao governo, em especial as de ouro para ajudar na reconstruo da Alemanha, mostrando o seu desapego aos bens materiais e sua exclusiva dedicao ao que chamava de cincia. Em sua opinio e seguindo uma tradio de muitos pesquisadores alemes, a produo cientfica deveria servir humanidade e no gerar patentes para enriquecer alguns. At mesmo o potencial humorstico dos novos raios foram muito explorado. Muitos desenhos foram publicados, tanto sobre polticos quanto sobre pessoas comuns. Um dos mais famosos desenhos mostra um casal, ele magro e ela obesa ao lado de dois esqueletos iguais e a frase: magros ou bem nutridos, os raios-X fazem todos ficarem parecidos. Tambm, os mdicos que usavam os novos raios eram mostrados como esqueletos junto aos pacientes em desenhos humorsticos. Muito se falou sobre a invaso de privacidade com os raios X. As casas teriam seu interior espionado com seu uso. famoso um desenho que mostra uma mulher ouvindo por trs de uma porta e os raios-X mostrando a cena. A obsesso e neurose sobre este assunto so antigos. Ficou famosa uma foto de 1896 do que seria a primeira fotografia do interior do crnio mostrando um crebro, que depois, se descobriu que eram os intestinos de um gato devidamente arrumados.

A propaganda, como no podia deixar de ser, passou a usar os raios X em tudo. Havia bebidas Roentgen Strahlen, cigarros, pilhas, lminas de barbear, graxa de sapatos, espremedores de limo, bolas de golfe, tabletes para cefalia, moedores de caf e pasta de dentes da marca X ray. A radiao descoberta logo depois por Becquerel e o casal Curie foi usada at em cremes de beleza. Copos eram feitos com material radioativo, mostradores de relgios e roletas eram pintados com material radioativo para brilharem noite. A eletroterapia e a terapia por raios-X chegaram ao Brasil e anunciavam coisas estupendas como tratamento para diabetes, tuberculose, litase biliar, varizes, obesidade, artritismo, fissuras anais, hemiplegia, volvo, hemorragias, etc. A radiao era apresentada como a cura de tudo. At mesmo as leses na pele que apareciam em pessoas expostas aos novos raios. lvaro Alvim, quando ficou doente foi a Paris fazer radioterapia para tratar o que hoje sabemos ser radiodermite. Mas essa mesma radiao propiciou a criao de uma das mais notveis especialidades mdicas no Brasil, tanto na rea de diagnstico quanto de terapia. Afinal, os raios que podem matar so os mesmos que podem curar. Pioneiros em quase tudo, os brasileiros sempre estiveram entre os primeiros em todos os campos do diagnstico por imagem. Roentgen tinha verdadeira adorao pelo estudo dos gases, sua conduo e propriedades eltricas, variaes sob presso e variaes qumicas dos mesmos. Sobre os raios-X escreveu trs artigos e fez duas demonstraes pblicas, fugindo de sua caracterstica de no aparecer publicamente. Nada mais fez pelo assunto. Em 1900 foi para Munique, na talvez, mais importante universidade do pas, e l, passou anos cuidando da esposa que tinha grave doena renal. Roentgen faleceu em 1923. Foi cremado e suas cinzas, assim como os restos mortais de sua esposa e de seus pais esto em Giessen onde existe um monumento em sua homenagem. A casa em que nasceu e o laboratrio onde fez a descoberta foram transformados em bibliotecas e museus. Sua sala de trabalho est conservada como em sua poca. Bustos e placas de bronze, condecoraes, diplomas so exibidos nos diversos museus em sua homenagem. Vrios so os Ttulos de Doutor Honris Causa foram oferecidos a Roentgen. Entrou para a histria em vida.