apostila historia da arte.modernismo no brasil

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UNIDADE:_________________ PROFESSOR: ________________________ 2º BIMESTRE/2010 ALUNO(A): _______________________________________________________ Nº __________ TURMA: _____________ 2ª Série Ensino Médio DATA: ____/_____/_____ apostila historia da arte.2ª série.2B.2010.doc APOSTILA DE HISTÓRIA DA ARTE 1/4 O Modernismo no Brasil O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente sobre a cena artística e a sociedade brasileira na primeira metade do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas. Considera-se a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. Porém, nem todos os participantes desse evento eram modernistas. Cobrindo uma gama de expressões artísticas, dos recitais poéticos e palestras à música, a Semana no que diz respeito à pintura foi modesta. As fontes são contraditórias, mas parece que só expuseram efetivamente com quadros Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro e John Graz , e o próprio catálogo da mostra é inexato. Belmiro de Almeida- O Poeta Alberto de Oliveira Divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores. Havia uma tendência entre os primeiros modernistas de identificar progresso com Europa, de certa forma rejeitando a realidade cultural nacional e seus ritmos próprios, mas a necessidade de atualizar o Brasil com o que vinha acontecendo em terras mais civilizadas era sentida por muitos como uma urgência não só artística, mas também social, política e mesmo econômica, o que viria a ser expresso com mais clareza na esteira do Movimento Pau-Brasil de 1924, quando um nacionalismo emergiu nas consciências e serviu como ponto focalizador dos avanços. Neste momento surge Tarsila do Amaral com uma obra originalíssima que já metabolizara a influência direta do estrangeiro, como em A negra e A caipirinha, ambas de 1923, dizendo mais diretamente a caracteres brasileiros, e Di Cavalcanti começava a abordar o tema das mulatas. Outros movimentos se sucederam, como a Antropofagia, nascido a partir da tela Abaporu (1928), também de Tarsila, e desenvolvido por Oswald de Andrade através da literatura e poesia, e paulatinamente se patenteava que o cerne de toda a discussão não eram estilos ou correntes em si, nem o Brasil ou a Europa, mas sim a liberdade de pesquisa e expressão individual, que se refletia não apenas na temática e forma, mas também no instrumental técnico e material. Daí em diante pouca unidade real poderia ser esperada em termos de estilo ou de proposta estética de um universo formado por artistas de matrizes tão diversas.

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??UNIDADE:_________________ PROFESSOR: ________________________ 2º BIMESTRE/2010 ALUNO(A): _______________________________________________________ Nº __________ TURMA: _____________ 2ª Série Ensino Médio DATA: ____/_____/_____

apostila historia da arte.2ª série.2B.2010.doc

APOSTILA DE HISTÓRIA DA ARTE

1/4

O Modernismo no Brasil O modernismo brasileiro foi um amplo

movimento cultural que repercutiu fortemente sobre a cena artística e a sociedade brasileira na primeira metade do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas.

Considera-se a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. Porém, nem todos os participantes desse evento eram modernistas.

Cobrindo uma gama de expressões artísticas, dos recitais poéticos e palestras à música, a Semana no que diz respeito à pintura foi modesta. As fontes são contraditórias, mas parece que só expuseram efetivamente com quadros Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro e John Graz , e o próprio catálogo da mostra é inexato.

Belmiro de Almeida- O Poeta Alberto de Oliveira Divide-se o Modernismo em três fases: a

primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-Modernismo por vários autores.

Havia uma tendência entre os primeiros modernistas de identificar progresso com Europa, de certa forma rejeitando a realidade cultural nacional e seus ritmos próprios, mas a necessidade de atualizar o Brasil com o que vinha acontecendo em terras mais civilizadas era sentida por muitos como uma urgência não só artística, mas também social, política e mesmo econômica, o que viria a ser expresso com mais clareza na esteira do Movimento Pau-Brasil de 1924, quando um nacionalismo emergiu nas consciências e serviu como ponto focalizador dos avanços.

Neste momento surge Tarsila do Amaral com uma

obra originalíssima que já metabolizara a influência direta do estrangeiro, como em A negra e A caipirinha, ambas de 1923, dizendo mais diretamente a caracteres brasileiros, e Di Cavalcanti começava a abordar o tema das mulatas. Outros movimentos se sucederam, como a Antropofagia, nascido a partir da tela Abaporu (1928), também de Tarsila, e desenvolvido por Oswald de Andrade através da literatura e poesia, e paulatinamente se patenteava que o cerne de toda a discussão não eram estilos ou correntes em si, nem o Brasil ou a Europa, mas sim a liberdade de pesquisa e expressão individual, que se refletia não apenas na temática e forma, mas também no instrumental técnico e material. Daí em diante pouca unidade real poderia ser esperada em termos de estilo ou de proposta estética de um universo formado por artistas de matrizes tão diversas.

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Tarsila do Amaral- A Negra

Tarsila do Amaral- A Caipirinha

Difusão do modernismo

A esta altura começou a emergir uma legião

de artistas, que fariam do Modernismo brasileiro das décadas de 30 e 40 um prisma multicor. A lição da Academia caía no vazio, ninguém mais a levava a sério, salvo no Rio e em centros mais afastados, onde exerceria influência por mais algum tempo. A corrente principal da pintura se abre em largo leque, sendo impossível acompanhar uma linha unificada de evolução, e o crescente contato dos intelectuais brasileiros com o exterior trazia constantemente à cena informações novas, que eram absorvidas com presteza e já derivavam em novas formulações.

Mesmo no Rio já se viam em atividade, desde meados dos anos 20, personalidades independentes como Ismael Nery , com um trabalho derivado do Cubismo e do Surrealismo, e Guignard , e em 1931 realizou-se o Salão Revolucionário, pela primeira vez aberto aos modernos. Neste mesmo ano Ado Malagoli, Bustamante Sá , José Pancetti e Edson Motta, com alguns outros, fundaram o Núcleo Bernardelli. Suas personalidades artísticas eram muito diferenciadas, mas o Núcleo durou até 1940, com as importantes adesões de Quirino Campofiorito e Milton Dacosta, e fez uma abordagem moderada do Modernismo, e com grande preocupação por uma pintura de artes cuidadosa, tanto que alguns de seu membros, como Malagoli e Motta, viriam a se tornar também restauradores.

Ismael Nery - Mulher agachada

Em São Paulo o movimento moderno seguia cada

vez mais forte. Muitos dos egressos da Semana de 22, mais outros novos integrantes como Lasar Segall e Antonio Gomide , fundaram em 1932 a Sociedade Pró-Arte Moderna, que teve sede própria onde, além de trabalhos seus, também foram mostradas pela primeira vez no Brasil pinturas de Picasso, Léger, Gris e De Chirico. Outro grupo notável foi o Clube dos Artistas Modernos, importante especialmente pela presença do fundador Flávio de Carvalho.

Flávio de Carvalho

Em 1934, Portinari , recém de volta da Europa, inicia

com a tela Café uma brilhante carreira que o levaria a uma condição quase de pintor nacional, recebendo uma série de encomendas oficiais e retomando uma tradição de composições históricas grandiosas que não se viam desde o século anterior, embora evidentemente num estilo moderno, muito devedor a Picasso. Mas não se limitou à história: deixou uma grande quantidade de obras em que retratava de maneira pungente, expressionista, a dura - e tantas outras vezes poética - realidade da população rural, notadamente dos retirantes do Nordeste.

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Portinari - O Café Anos de 1960 e as novas tendências

Nesta década duas grandes tendências se fazem notar. A primeira é uma continuidade das pesquisas formais abstratas derivadas principalmente do Concretismo e Neoconcretismo, e outra retoma a figura em uma variedade de correntes que podem ser enfeixadas sob o nome genérico de Nova Figuração. Dos primeiros, por vezes recebendo influência das artes gráficas, ou ainda incorporando objetos e colagens em suas obras, mas sempre com uma organização geometrizante de rigor variável, destacam-se Mira Schendel , Abelardo Zaluar, Arcangelo Ianelli, Raymundo Collares, Loio-Pérsio e Pedro Escosteguy. Por outro lado, o Abstracionismo florescia também em uma linha informal, longe dos geometrismos severos, privilegiando formas ou linhas fluidas com ênfase na sensibilidade do gesto espontâneo e das sutis gradações de cor. Aqui podemos encontrar artistas como Manabu Mabe, um lírico, ou como Iberê Camargo, com seu dramatismo explosivo. O Abstracionismo derivou também na escola Op, que trabalhava efeitos puramente visuais e ilusionismos ópticos de diversas espécies. Maurício Nogueira Lima é um representante, embora esta tendência no Brasil tenha rendido poucos frutos no terreno da pintura.

Mira Schendel

A dita Nova Figuração foi um movimento de retomada do figurativismo influenciado pelos meios de comunicação de massa, pelas expressões populares incultas, pela artes gráficas (especialmente a arte sequencial), e aproximando-se da Arte Pop norte-americana, embora com objetivos bem distintos desta, com uma veia urbana mais agressiva e, em virtude do regime militar instaurado desde 1964, engajada socialmente, e também apelando para o non-sense e o humor crítico. Figuras principais são Rubens Gerchman, Wesley Duke Lee, Carlos Vergara, Antônio Dias, Nelson Leirner e Roberto Magalhães. Mais para o fim da década aparecem Wanda Pimentel, Glauco Rodrigues, Cláudio Tozzi e Carlos Zílio.

Léo Dexheimer: Agressão Tropicália A Tropicália, Tropicalismo ou Movimento tropicalista

foi um movimento cultural brasileiro que surgiu sob a influência das correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira (como o pop-rock e o concretismo); mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais. Tinha também objetivos sociais e políticos, mas principalmente comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade, sob o regime militar, no final da década de 1960. O movimento manifestou-se principalmente na música (cujos maiores representantes foram Caetano Veloso, Torquato Neto, Gilberto Gil, Os Mutantes e Tom Zé); manifestações artísticas diversas, como as artes plásticas (destaque para a figura de Hélio Oiticica), o cinema (o movimento sofreu influências e influenciou o Cinema novo de Gláuber Rocha) e o teatro brasileiro (sobretudo nas peças anárquicas de José Celso Martinez Corrêa). Um dos maiores exemplos do movimento tropicalista foi uma das canções de Caetano Veloso, denominada exatamente de "Tropicália".

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Tropicália- Hélio Oiticica

Anos de 1970: A crise formal e conceitual

A transição entre a década de 60 e a de 70

é marcada pela atmosfera constritiva da ditadura militar. Refletindo-se na pintura, diversos artistas tomaram a peito a tarefa de reavaliar a natureza da arte e seu papel na sociedade, considerando que a obra deixara de ser um objeto autônomo e passava a ter uma função social. Frutifica então o que se chamou de Arte Conceitual, em desenvolvimento desde anos antes, minimizando a importância do objeto físico e privilegiando as idéias e propostas subjacentes. Ainda, os limites entre as tradicionais categorias de expressão - pintura, desenho, gravura, etc - deixam de ter relevância e observa-se um entrecruzamento de materiais e técnicas, tornando difícil a classificação de cada peça. As obras de Luiz Paulo Baravelli, Carlos Fajardo, Cláudio Tozzi e Carlos Vergara desta fase exemplificam a tônica do debate.

Britto Velho: Pintura n°2.

Sintomáticos da necessidade de encontrar válvulas de escape para a repressão política são o uso de suportes alternativos ou incomuns para pintura, incluindo o corpo humano, e o caráter propositalmente efêmero de certas produções, e generaliza-se o experimentalismo e a contestação em todas as frentes. Neste tumulto chegou-se a acreditar que a pintura estava morta. Com certeza como representação tradicional a pintura morrera, ao menos temporariamente.

Geração de 1980

A progressiva abertura política dos anos 80 trouxe

um clima de relaxamento ao cenário das artes. Emblemática desta época foi a exposição "Onde está você, geração 80?", montada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage do Rio de Janeiro. Nela a pintura voltou com grande força, provando que a sua suposta morte fora na verdade um período de incubação e assimilação da multiplicidade de perspectivas abertas pelos questionamentos da década anterior. A sombria e ácida temática política é abandonada em favor de uma explosão de cores e formas e assuntos, passando-se a abordar a vida urbana e o corpo humano em seus variados aspectos, a sexualidade já sem tantos tabus, os heróis de histórias em quadrinhos, e, segundo Marcus Lontra, curador da exposição,

"(...) havia uma sensação interna de vitória, e as pessoas participavam da democratização brasileira de uma maneira romantizada. Queríamos festejar, aproveitar a vida."

A citação a obras e estilos históricos se generaliza, bem como a prática da releitura, como numa tentativa de recriar um elo orgânico com uma vasta e rica tradição pictórica ancestral que parecera ter perdido todo o valor. Alguns de seus artistas, como Daniel Senise, Beatriz Milhazes, Jorge Guinle Filho, Leonilson, Karin Lambrecht e Leda Catunda, haveriam de assumir um papel de liderança nos anos subseqüentes.

Leonilson