apostila gestao de pessoas

43
Universidade Estadual do Ceará – UECE Centro de Estudos Sociais Aplicados – CESA Coordenação do Programa de Pós-Graduação – Lato-Sensu Curso de Especialização Disciplina: Pessoas de Gestão Prof. Dr. Roberto Pinto 2011

Upload: robertopinto

Post on 18-Nov-2015

13 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • Universidade Estadual do Cear UECE Centro de Estudos Sociais Aplicados CESA

    Coordenao do Programa de Ps-Graduao Lato-Sensu

    Curso de Especializao

    Disciplina:

    Pessoas de

    Gesto

    Prof. Dr. Roberto Pinto

    2011

  • Prof. Roberto Pinto 1

    SUMRIO

    1. CONTEXTUALIZANDO A ABORDAGEM.......................................3 1.1. Trs Vises de Mundo...............................................................3 1.2. Relaes Pessoas / Organizaes............................................5

    2. ORGANIZAO E AMBIENTE ......................................................6 2.1. Ambiente Organizacional e Misso ...........................................6 2.2. O Ambiente Geral....................................................................10 2.3. O Ambiente Operacional .........................................................11 2.4. Recursos Humanos e Estratgias Organizacionais .................12

    3. GESTO DE RECURSOS HUMANOS ........................................14 3.1. Vises Sistmicas ...................................................................14 3.2. Planejamento de Recursos Humanos .....................................18 3.3. Suprimento..............................................................................24 3.4. Desenvolvimento.....................................................................28 3.5. Compensao .........................................................................30 3.6. Direo....................................................................................31

    4. CASOS E SITUAES PARA ESTUDO......................................38 4.1. Patrocinador Exigente .............................................................38 4.2. Profissionais ou Voluntrios ....................................................38 4.3. Capacitao ............................................................................39 4.4. Compensao para Novos Cargos..........................................39 4.5. Investigando a Desmotivao..................................................39 4.6. Adotando Providncias............................................................40

    5. REFERNCIAS............................................................................41

  • Prof. Roberto Pinto 2

    NOTA INTRODUTRIA

    Estes apontamentos nascem de uma motivao e de uma

    necessidade. A necessidade representada pelo fato de que inexiste uma nica

    obra bibliogrfica que contemple o contedo apresentado na disciplina. A

    motivao oferecer aos alunos da Disciplina de Gesto de Pessoas, nos cursos

    de Ps-Graduao da UECE, uma fonte de consulta que sirva de ponto de partida

    para o estudo do contedo, organizado da forma que parece mais adequada

    finalidade desses cursos.

    Aqui, so utilizadas contribuies de vrios autores sobre vises de

    mundo, relao organizao/pessoas e organizao/ambiente e, obviamente, os

    conceitos e as tcnicas de gesto de pessoas. Cabe informar, tambm, que o

    captulo 2 adaptao de parte do referencial terico da tese de doutoramento do

    autor destes apontamentos.

    conveniente registrar, ainda, que esta apostila tem a finalidade de

    apresentar um resumo do contedo tratado na Disciplina, mas no pretende (nem

    poderia!) esgotar os assuntos tratados, sendo recomendvel aos alunos a leitura

    de obras pertencentes ao vasto acervo publicado sobre os temas, algumas das

    quais foram utilizadas para a elaborao desta notas e esto relacionadas nas

    referncias, ao final.

    Quaisquer comentrios e outras contribuies sero bem-vindos,

    considerando que esta Disciplina, talvez mais que outras, est em permanente

    construo.

  • Prof. Roberto Pinto 3

    1. CONTEXTUALIZANDO A ABORDAGEM

    1.1. Trs Vises de Mundo

    A simultaneidade de trs revolues (socio-cultural, econmica e

    tecnolgica) faz com que vivamos para alm de uma poca de mudana.

    Estamos vivendo uma mudana de poca (Silva et al, 2001a). Em perodos como

    este, trs formas diferentes de ver o mundo lutam entre si para que se defina qual

    ser a viso preponderante naquela poca.

    A histria da humanidade, principalmente no que se refere ao

    desenvolvimento das cincias, tem registrado esses trs olhares diferentes: a

    viso mecnica, a viso econmica e a viso holstica. Cada uma dessas vises

    se tem destacado das demais, em determinados perodos.

    Pode-se dizer que a viso mecnica foi predominante at meados do

    Sc. XVII. Com a revoluo industrial, o olhar econmico passou a ter

    predominncia, o que durou at a segunda metade do sculo XX. Desde ento, a

    viso holstica tem-se destacado. Dizer-se que uma viso ou foi predominante,

    implica a aceitao da convivncia simultnea das trs vises, com destaque para

    uma delas. Convm conhecer, resumidamente cada uma das vises:

    a) A viso mecnica se caracteriza pelo reducionismo, determinismo,

    linearidade e mono-causalidade, significando dizer que a viso do

    mundo era limitada. O entendimento dos fenmenos era reduzido a

    um aspecto; entendia-se que havia uma hierarquia de variveis

    (dependente para independente) e que havia bi-univocidade entre

    elas. So exemplos desta viso de mundo, a cincia de Galileu e

    Descartes, a Mecnica de Newton e a Geometria de Euclides. Para

    a teoria das organizaes, o resultado est nas idias das primeiras

    escolas de Administrao e suas teorias duras (Silva et al, 2001a).

    Mas pode-se dizer que est, tambm, em entender as organizaes

    como sistemas fechados, meros transformadores de insumos em

    produtos.

    b) Embora sempre tenha estado presente, a Viso Econmica foi

    reforada com a Revoluo Industrial, quando o capital passou a ser

  • Prof. Roberto Pinto 4

    o mais importante fator de produo. A partir da dcada de 70 (Sc.

    XX) verificou-se o fim do chamado industrialismo, com o advento da

    globalizao e o crescimento de importncia das organizaes

    prestadoras de servio. As conseqncias gerais da viso

    econmica so: o mundo percebido como mercado, h a

    prevalncia das relaes comerciais sobre as relaes sociais, a

    realidade objetiva a realidade econmica e os modelos de

    desenvolvimento so centrados na demanda. Para a teoria

    organizacional, como conseqncia desta viso, as organizaes

    so vistas como provedoras de bens e servios,e a tecno-cincia

    domina os processos de produo. Isto reduz os postos de trabalho,

    pelo uso intensivo de tecnologia.

    c) A viso holstica de natureza orgnica e espiritual. Embora sua

    existncia possa ser identificada desde antes da dominao do

    Capitalismo, sua importncia vem sendo resgatada a partir da

    dcada de 60 (Sc. XX). Trata-se de uma viso mais ampliada,

    aprofundada, transformada e diversificada que as demais. Procura

    entender o mundo como complexo e dinmico, com mltiplas

    dimenses e funes interconectadas (espacial, temporal, ecolgica,

    social, econmica, poltica, institucional, tica e esttica). Trabalha

    com a relevncia da histria (passado, presente e futuro

    conectados) e seu contexto resultado de diferentes percepes

    dos diversos grupos de atores sociais. As conseqncias gerais

    desta viso so a sustentabilidade dos processos, a compreenso

    do fenmenos de acordo com sua complexidade, diversidade, no-

    linearidade, interdependncia, multi-causalidade. Para a teoria das

    organizaes, as conseqncias so: preponderncia de valores

    (tica nas relaes com os diversos pblicos), valorizao da

    natureza, importncia da sociedade e sua cultura, busca de

    eqidade, participao, interao e construo, respeito pelos

    talentos humanos e solidariedade.

  • Prof. Roberto Pinto 5

    1.2. Relaes Pessoas / Organizaes

    Ao contrrio do que muita gente parece acreditar, as organizaes

    nascem para atender s necessidades das pessoas. Para que esta afirmativa

    seja pacificamente aceita, basta lembrar que as pessoas j haviam sido criadas,

    quando surgiram as organizaes. Ou, ento, basta lembrar que as pessoas

    criam as organizaes.

    O dia a dia das relaes entre organizaes e seus colaboradores (e

    mesmo entre organizaes e seus clientes!) faz crer que o contrrio seja

    verdadeiro. A necessidade de estabelecer padres e por eles pautar o

    comportamento individual, faz com que as organizaes sejam refratrias s

    condutas inesperadas, interna e externamente.

    Isso resulta em uma atitude reducionista, fazendo com que as

    organizaes enxerguem as pessoas de forma unidimensional. No que se refere

    aos seus colaboradores, as organizaes apenas os vem atravs das atividades

    que lhes so designadas e desperdiam a inquestionvel riqueza dos outros

    conhecimentos e habilidades que possuem. Quanto aos clientes, as organizaes

    se afastam da possibilidade de bem atende-los em suas necessidades e

    expectativas, porque s os enxergam por um dos aspectos da sua complexidade.

  • Prof. Roberto Pinto 6

    2. ORGANIZAO E AMBIENTE

    2.1. Ambiente Organizacional e Misso

    As organizaes so criaes humanas, cuja gnese se explica pela

    necessidade, no pelo acaso (Monod, 1976). No sendo naturais, as

    organizaes se inserem entre as criaes dotadas de projeto, mesmo quando o

    projeto especfico no tenha sido elaborado de forma adequada e formal. Criada

    por necessidade, cada organizao tem uma MISSO que lhe d origem e que

    razo da sua existncia (Bateman & Snell, 1998). Isto significa dizer que qualquer

    organizao nasce, porque tem um papel a desempenhar naquela sociedade

    onde se insere, e sobrevive, enquanto estiver cumprindo esse papel de forma

    competente. Convm lembrar, a propsito, que a competncia organizacional

    submetida ao julgamento dessa mesma sociedade.

    Para qualquer organizao seja pblica ou privada, seja produtora

    de bens ou de servios sua declarao de Misso explica a razo pela qual foi

    criada e continua existindo. Quando se explicita a Misso de uma organizao,

    procura-se responder questo: Por que esta organizao existe? Isto : qual

    o papel da organizao na sociedade (ambiente) onde est inserida? Seus

    produtos (bens ou servios) esto voltados a atender que necessidades do

    ambiente? A realizao dessa Misso, portanto, consiste no atendimento de

    necessidades e expectativas da sociedade em que a organizao se insere e, por

    isso, suas decises estratgicas devem estar sintonizadas com a

    imprescindibilidade de ser percebida pelo seu ambiente como competente.

    A competncia organizacional na realizao de sua misso medida

    por trs aspectos: eficcia, eficincia e efetividade, aqui entendidas de uma forma

    um pouco diferente da usual, ou seja:

    A eficcia compreendida como a consecuo dos resultados, em si,

    significando obt-los com suficincia e no prazo determinado. A eficincia

    entendida como a obteno dos resultados atravs de melhores caminhos, ou

    seja, maximizando o uso dos recursos. A efetividade a obteno dos

    resultados conforme esperados pelo ambiente. So esses trs aspectos que

    fazem uma organizao ser entendida pelo ambiente organizacional, isto ,

    pela sociedade como competente, no sentido de produzir resultados aceitos

    como um bom retorno em contrapartida aos recursos (recursos humanos,

  • Prof. Roberto Pinto 7

    recursos materiais, recursos financeiros, informaes e tecnologia) que este

    ambiente lhe fornece. (Pinto, 2001. p.4/5)

    Desde que, aps a Revoluo Industrial, a Administrao se

    transformou em ramo do conhecimento (Chiavenato, 1997) no sentido de ser algo

    que se ensina e que se estuda, a racionalidade tem sido sua diretriz. essa

    racionalidade, compreendida pelos trs atributos comentados, que fazem com

    que as organizaes melhor cumpram suas misses e realizem suas vises de

    futuro.

    Dado que a sociedade estar disposta a fornecer-lhe recursos na

    expectativa de obter bens e servios capazes de atender s prprias

    necessidades e expectativas, a competncia da organizao deve estar voltada a

    esse atendimento, j que ao ambiente externo cabe julgar referida competncia.

    o ambiente externo que avalia os bens e servios recebidos da organizao, em

    contrapartida aos recursos que coloca sua disposio (Pinto, 2000) e,

    conseqentemente, adota medidas que tero como resultado a sobrevivncia e o

    desenvolvimento da organizao ou, contrariamente, o seu enfraquecimento, que

    pode levar at sua extino.

    Estabelecido que toda organizao, na qualidade de sistema aberto,

    est inserida em ambiente com o qual interage permanentemente e, uma vez

    aceita a importncia deste ambiente para qualquer tipo de organizao,

    conveniente que se identifique o que vem a ser o Ambiente Organizacional.

    Segundo Frota (1981. p 23), Se considerarmos uma totalidade e se dela

    tomarmos uma poro, o que resta da totalidade ambiente dessa poro. Assim

    visto, o ambiente o resduo. Na linguagem da teoria dos conjuntos, o ambiente

    a complementar.

    Assim entendido, o ambiente da organizao tudo o que no seja a

    prpria organizao, o que tornaria esse ambiente por demais amplo para ser

    analisado quando da definio das estratgias organizacionais. Para melhor

    entende-lo, o mesmo autor reconhece a necessidade de reduzir o ambiente a um

    conjunto de condies, ou elementos, circunjacentes entidade e que com ela

    mantm inter-relaes topolgicas (p.23).

  • Prof. Roberto Pinto 8

    Ao se procurar visualizar o ambiente organizacional, quer em

    configurao mais geral, quer na sua configurao mais restrita, h a necessidade

    de se considerar a existncia de uma fronteira, que permita distinguir at onde vai

    a organizao e onde comea o ambiente e vice-versa. Evidentemente, essa

    fronteira no visvel e, mais que isso, no permanente. Significa dizer que

    difusa e dinmica a linha que distingue o espao ocupado pela organizao,

    daquele ocupado por seu ambiente.

    De fato, dado que a organizao est em permanente interao com

    seu ambiente, so constantes os movimentos de contrao e de expanso da

    fronteira organizacional, decorrentes dos ganhos e perdas de espao para

    elementos desse ambiente. evidente que esses movimentos de contrao e de

    expanso podem ocorrer em diferentes lados da fronteira, sendo mesmo comum

    haver uma simultaneidade de movimentos opostos. Ou seja, no raro que a

    organizao esteja, ao mesmo tempo, cedendo espao aos clientes e tomando

    espao dos concorrentes, por exemplo.

    Pode-se fazer uma analogia entre essa dinmica e as relaes sociais,

    conforme o entendimento de Michel Crozier (1981). Para este autor, as relaes

    sociais so jogadas entre atores, processando-se conforme os princpios da

    Teoria dos Jogos. Cada um dos atores constri estratgias no sentido de

    aumentar o prprio espao, diminuindo o espao do outro.

    Deve-se entender isso como um processo dinmico e permanente de

    empurrar a fronteira na direo do outro, aumentando seu prprio espao, e de

    ceder espao, quando for conveniente. importante lembrar que no interessa, a

    nenhum dos atores, ser extremamente bem sucedido, porque isso implica a

    excluso do outro ator e a finalizao do jogo. O interesse principal deve ser de

    que o jogo acontea e seja do tipo soma no zero e positiva, configurando uma

    relao ganha/ganha, em que ambos os atores so beneficiados.

    Adaptada essa abordagem relao entre uma organizao e seu

    ambiente, pode-se compreender o processo dinmico que aqui se comenta. Os

    estudiosos das organizaes e de suas relaes com o ambiente identificam

    formas que aquelas procuram utilizar para preservar o espao que detm inter-

    fronteiras (sobrevivncia) e, se possvel, aumentar esse espao, expandindo-se.

  • Prof. Roberto Pinto 9

    O ambiente de uma organizao por demais complexo. Nele esto

    todos os elementos capazes de influenciar o comportamento organizacional,

    permitindo a expanso da organizao ou comprimindo- Estes movimentos de

    expanso e de compresso so o resultado dos jogos que se desenvolvem entre

    a organizao e os elementos do seu ambiente.

    conveniente lembrar que a influncia exercida sobre a organizao,

    pelos vrios entes ambientais, se d de forma simultnea e dinmica. Isso faz

    com que a estratgia organizacional adotada no jogo com cada um dos entes

    implique reaes de outros entes, e no apenas daquele especfico. Essa

    concepo permite imaginar a complexidade, j comentada, da convivncia da

    organizao com os elementos do seu ambiente.

    Tanto o Ambiente Geral, mais amplo, como o Ambiente Operacional,

    mais restrito, sero mais bem conhecidos adiante. Sendo este parte daquele,

    pode-se visualizar o conjunto como na figura 1.

    Figura 1 O Ambiente Organizacional

    Ambiente Geral e suas Variveis

    Poltica

    Economia

    Tecnologia

    Ecologia

    Demografia Cultura

    Legislao

    Regulam

    entadores

    Clientes

    Fornecedores

    Con

    corr

    ente

    s

    Ambiente Operacional e seus Componentes

    Ambiente Operacional Interno

    Ambiente Operacional

    Externo

    Pol

    tica

    s e

    Est

    rat

    gias

    Adaptado de: Pinto (2002b. p.7)

    Acionistas

    Colaboradores

    ORGA-NIZA-O E

    stru

    tura

    s e

    Rec

    urso

    s

  • Prof. Roberto Pinto 10

    importante notar que essa visualizao apenas um modelo.

    Portanto, uma simplificao da realidade complexa descrita anteriormente, a

    comear pelo delineamento arbitrrio de linhas limtrofes (as fronteiras) que, como

    se disse, so difusas e instveis, diferentemente de como podem ser

    graficamente representadas.

    2.2. O Ambiente Geral

    A denominao Ambiente Geral identifica aquele ambiente mais

    amplo, que acaba se confundindo com a prpria sociedade. Esse macro-ambiente

    (Duarte e Dias, 1986) a fonte de todos os recursos (humanos, materiais e

    financeiros, alm de tecnologia e informaes) que permitem o funcionamento da

    organizao e , ao mesmo tempo, o destinatrio dos bens e servios por ela

    produzidos. Infelizmente, tambm o repositrio dos resduos gerados pela

    organizao, entendendo-se por resduo todo tipo de resultado indesejvel, seja

    este concreto (como poluio ambiental) ou abstrato (como danos emocionais aos

    colaboradores).

    importante ressaltar que ao ambiente s interessam os bens e

    servios que satisfaam quelas necessidades e expectativas j comentadas, ao

    mesmo tempo em que tambm lhe interessa minimizar os prejuzos decorrentes

    dos resduos produzidos pela organizao. conveniente lembrar que, assim

    como cabe aos elementos do ambiente a avaliao dos benefcios decorrentes

    dos bens e servios que recebe da organizao (como contrapartida dos recursos

    que fornece), tambm prerrogativa sua a avaliao dos prejuzos provocados

    pelos resduos referidos.

    Neste ponto, possvel afirmar que se a sobrevivncia de uma

    organizao est subordinada ao atendimento das necessidades do ambiente

    organizacional (o que est explicitado na Misso), de outra parte, o seu

    desenvolvimento funo da prpria capacidade de atender s expectativas do

    ambiente e est relacionado com a Viso de Futuro, isto , com aquilo que a

    organizao pretende ser em um determinado horizonte de tempo.

  • Prof. Roberto Pinto 11

    O que Frota denomina Ambiente Geral entendido por Churchill Jr &

    Peter (2000) como segmentado em Ambiente Econmico, Ambiente Poltico e

    Legal, Ambiente Social, Ambiente Natural, Ambiente Tecnolgico e Ambiente

    Competitivo. Dentro deste ambiente, Duarte e Dias (1986) se referem a variveis

    econmicas, sociais, culturais, demogrficas, polticas, tecnolgicas, legais e

    ecolgicas.

    Na literatura consultada, generalizado o entendimento de que todos

    os recursos pertencem ao ambiente/sociedade, inclusive os recursos financeiros

    fornecidos pelos acionistas. Ser alimentada por recursos, que originalmente no

    lhe pertencem, e produzir os indesejveis resduos, cria uma dvida que a

    organizao no pode resgatar apenas pela contrapartida em bens e servios

    produzidos, mesmo que estes tenham boa qualidade e preos compatveis, at

    porque boa parte daquilo que a organizao recebe no pode ser mensurada, por

    conta da intangibilidade. Intangveis, tambm, so alguns dos resultados que a

    organizao produz, os quais, apesar de no poderem ser medidos em valores

    monetrios, tambm so avaliados pelos benefcios ou malefcios que causam ao

    ambiente/sociedade.

    2.3. O Ambiente Operacional

    Este ambiente mais restrito, alm da denominao do ttulo (Frota,

    1982; Duarte e Dias, 1986), recebe outras denominaes, tais como: Ambiente de

    Ao Direta (Stoner & Freeman, 1997), Ambiente Setorial (Wright, Kroll & Parnell,

    2000), Ambiente Competitivo (Churchill Jr & Peter, 2000), Ambiente-Tarefa

    (Bateman & Snell, 1998); e, ainda, Ambiente Concorrencial e Ambiente

    Transacional (Pinto, 2002b).

    No Ambiente Operacional, encontram-se os principais pblicos de

    interesse da organizao. Esses pblicos, chamados stakeholders, podem ser

    agrupados em internos e externos. possvel identificar esses componentes do

    seguinte modo: no primeiro grupo esto os acionistas e os colaboradores; no

    segundo, esto os clientes, fornecedores, concorrentes e regulamentadores.

    Alguns autores preferem identificar os acionistas (ou proprietrios) como grupo

    parte: os shareholders.

  • Prof. Roberto Pinto 12

    conveniente explicitar os conceitos dos elementos do Ambiente

    Operacional Externo, distinguindo-os dos conceitos entendidos pelo senso

    comum. O trecho a seguir vem a calhar para essa distino:

    Clientes devem ser entendidos como todos aqueles a quem se destina

    qualquer resultado (bem ou servio) produzido pela organizao, mesmo que

    esse resultado seja intangvel e abstrato (como informaes, por exemplo) e

    ainda que no haja pagamento direto pelo bem ou servio recebido.

    Fornecedores so todas as fontes de recursos (sejam recursos humanos,

    materiais ou financeiros, alm de informaes e tecnologia).

    A categoria de Concorrentes inclui todos aqueles que disputam qualquer tipo

    de recurso fornecido pelo ambiente, no apenas aqueles que concorrem por

    mercado de bens ou servios.

    Regulamentadores so quaisquer fontes de norma (escrita ou no) capazes de

    forar uma alterao na forma como a organizao obtm seus recursos ou

    realiza suas operaes de produo de bens ou servios. (Pinto, 2002c. p.7)

    Portanto, o Ambiente Operacional de uma organizao composto por

    pessoas ou entidades que com ela tm transaes ou interesses, reais ou

    potenciais. desse ambiente (fornecedores) que a organizao importa a energia

    para seu funcionamento, na forma de recursos, e para este ambiente (clientes)

    que a organizao gera produtos (bens ou servios). Todo esse processo est

    subordinado s normas emanadas dos regulamentadores e est sujeito

    interferncia dos concorrentes, tanto na entrada (recursos) como na sada

    (produtos).

    2.4. Recursos Humanos e Estratgias Organizacionais

    evidente a importncia do ambiente na determinao das estratgias

    organizacionais. Porm no se pode entender esse ambiente como nico

    determinante, porque as organizaes dispem da criatividade humana para a

    construo de diferentes solues para um mesmo problema. Se apenas o

    ambiente determinasse as estratgias, empresas semelhantes teriam estratgias

    semelhantes, em um mesmo ambiente. E isso no verdade.

  • Prof. Roberto Pinto 13

    As interpretaes que so feitas sobre o mundo externo variam de

    organizao para organizao, porque as informaes passam por filtros ou

    lentes das pessoas que as compem. Alm disso, a implementao das

    estratgias depende do empenho dos colaboradores.

    Cabem, aqui, duas consideraes:

    a) Dentre todos os recursos da organizao, os recursos humanos so

    os nicos que tm vontade e, por isso, podem colaborar, ficar

    indiferentes ou, at mesmo, boicotar uma estratgia ou um simples

    projeto;

    b) A participao o ponto de partida para que se obtenha

    colaborao. No h compromisso sem ter havido concordncia; a

    concordncia requer compreenso; no se compreende sem ter

    conhecido, isto , participado.

    Ressalta a importncia dos recursos humanos a aceitao de dois

    pressupostos:

    1. O cumprimento da Misso de uma organizao o principal

    requisito para que ela sobreviva;

    2. O alcance da Viso de Futuro, habitualmente, significa o

    crescimento de uma organizao.

  • Prof. Roberto Pinto 14

    3. GESTO DE RECURSOS HUMANOS

    3.1. Vises Sistmicas

    Alm da sua bvia interligao com as questes estratgicas das

    organizaes, a Gesto de Recursos Humanos tem uma harmonia prpria de

    funcionamento, h muito percebida pelos autores que se tm dedicado ao tema.

    Esses autores tm procurado visualizar as funes desse segmento como

    interdependentes e complementares, formando um todo sistmico.

    Essa viso conveniente para o entendimento de que, muitas vezes,

    um erro em uma determinada funo pode fazer desencadear uma srie de

    providncias nas demais funes, que vo significar perda de esforos, tempo e

    recursos, sem que o problema possa ser solucionado.

    Apenas para ficar em dois exemplos, pode-se lembrar que

    inadequaes entre colaboradores e suas atividades, decorrentes de erros na

    funo suprimento, podem resultar em providncias permanentes e vs na funo

    desenvolvimento; por sua vez, equvocos na funo desenvolvimento podem

    resultar , equivocadamente, em na sistemtica de suprimento.

    Essas vises sistmicas podem ser diferentes de autor para autor,

    como resultado das diferentes percepes, mas, principalmente, por causa das

    diferentes formas de segmentar as funes.

    A figura 2, a seguir, mostra uma viso j tradicional, partilhada por

    alguns autores. Embora no seja utilizada neste estudo, o modelo a seguir

    apresentado serve como ponto de partida para a construo do modelo aqui

    adotado, cabendo ressaltar seu mrito de entender a Gesto de Recursos

    Humanos como um sistema. Por isso mesmo, tambm entende suas funes

    como complementares e interdependentes, de forma que seu funcionamento

    deve-se dar de maneira harmnica.

  • Prof. Roberto Pinto 15

    Com a finalidade de explicitar as funes representadas no modelo

    visto, deve-se esclarecer que:

    1. Procura a funo responsvel pelo suprimento de recursos

    humanos, para as diversas reas da organizao;

    2. A funo Desenvolvimento trata da capacitao dos

    colaboradores;

    3. Manuteno a funo que cuida da compensao (pagamentos,

    benefcios e vantagens), alm do registro e outros procedimentos

    previstos em lei;

    4. Utilizao representa a funo onde se do as atividades de

    direo das aes individuais e coletivas;

    5. A funo Pesquisa trata da obteno e tratamento de informaes

    para tomada de deciso nas outras funes.

    procura

    desenvol- vimento

    manu-teno

    utili- zao

    pes- quisa

    Figura 2 1a Viso Sistmica da Gesto de RH

  • Prof. Roberto Pinto 16

    Observe-se que esse modelo no contempla as atividades de

    planejamento, fazendo presumir que sejam atividades desvinculadas das funes

    da Gesto de RH.

    O modelo seguinte (figura 3) busca resolver essa questo, colocando o

    planejamento no centro das atividades, funcionando como elemento de unio e

    harmonizao entre as funes.

    Deve-se observar, no modelo seguinte, que:

    1. Ao Planejamento, alm do papel de harmonizao, cabe o papel

    de coletar e processar informaes para deciso, exercido pela

    Pesquisa, no modelo anterior;

    2. Passa a ser chamada de Compensao a funo anteriormente

    denominada Manuteno;

    3. A funo Utilizao se divide em Monitorao (que trata da gesto

    de desempenho e de clima organizacional) e Aplicao (que trata

    de comunicao, delegao, liderana e motivao).

    compen- sao

    moni-torao

    aplica-o

    supri-mento

    desenvol- vimento

    planeja- mento

    Figura 3 2a Viso Sistmica da Gesto de

  • Prof. Roberto Pinto 17

    No modelo anterior, ressaltam-se os seguintes pontos:

    1. Ao Planejamento, alm do papel de harmonizao, passa o

    papel de coletar e processar informaes para deciso,

    exercido pela pesquisa, no primeiro modelo;

    2. Permanece a funoCompensao do modelo anterior;

    3. Assim como no modelo anterior, funo "Utilizao", do primeiro

    modelo, se divide em "Monitorao" (que trata da gesto de

    desempenho e de clima organizacional) e "Aplicao" (que trata

    de comunicao, delegao, liderana e motivao).

    O modelo utilizado neste estudo uma variante do segundo modelo,

    juntando em uma funo (denominada Direo) as atividades ali divididas em

    "Aplicao" e "Monitorao". Esse modelo escolhido est representado

    graficamente na figura 4, a seguir.

    Figura 4 3a Viso Sistmica da Gesto de RH

    desenvol- vimento

    planeja- mento

    supri- mento

    compen- sao

    dire- o

  • Prof. Roberto Pinto 18

    Antes de apresentar, separadamente, as funes do modelo escolhido,

    deve-se considerar que todas elas esto a servio do atendimento das

    necessidades organizacionais no que se refere a contar com recursos humanos,

    que sejam adequados em termos qualitativos, quantitativos e temporais. Este

    ltimo aspecto remete antecipao das necessidades, o que configura uma

    atitude proativa, a qual se constri a partir do Planejamento de RH, que a fonte

    adequada de informaes sobre necessidades futuras.

    Nos sub-itens que se seguem, esto as descries das funes do

    modelo adotado (visto acima).

    3.2. Planejamento de Recursos Humanos

    No modelo, a compatibilizao e harmonizao de todas as atividades

    se do atravs do Planejamento, o qual tambm fonte de informaes

    necessrias adoo de uma postura proativa, conforme comentado

    anteriormente.

    Tambm necessrio registrar a crena assumida de que a

    participao dos colaboradores de qualquer organizao fundamental para o

    xito do seu processo de planejamento, tanto no que se refere elaborao dos

    planos estratgico, tticos e operacionais, quanto no diz respeito ao alcance dos

    resultados no desenvolvimento posterior dos planos elaborados.

    Esse entendimento decorre do fato de que os recursos humanos so

    os nicos que tm vontade, so os responsveis pela escolha e utilizao dos

    demais recursos e, portanto, so os nicos capazes de se orientarem pela misso

    da organizao e, mais que isso, so os nicos capazes de transformar viso de

    futuro em realidade.

  • Prof. Roberto Pinto 19

    Alm de ser necessrio planejar as atividades de Recursos Humanos,

    preciso entender a importncia da participao dos colaboradores em todo o

    planejamento estratgico da organizao. Isso fcil de compreender, levando

    em conta que participao gera compreenso; esta gera concordncia, que

    resulta em compromisso.

    Para o entendimento do que vem a ser Planejamento de Recursos

    Humanos, necessrio que se parta do conceito geral de planejamento. Desde

    os pioneiros estudos em Administrao, o planejamento tem sido visto como a

    primeira atividade no conjunto de atribuies do Administrador. Na verdade,

    quando Fayol fala em prever, no sentido de perscrutar o futuro e preparar-se

    para enfrent-lo (Chiavenato,1997), ele est falando de planejamento.

    Sendo o planejamento um processo de predefinio de objetivos e de

    busca da utilizao racional de recursos e esforos (que tambm so recursos)

    para atingi-los, no h nenhum empreendimento humano que prescinda dele,

    mesmo que no seja configurado em uma sistemtica formalizada. Uma grande

    poro do processo e do linguajar utilizado em planejamento faz parte das

    heranas que a Administrao recebeu das organizaes militares. Expresses

    como objetivo, alvo, estratgia e ttica so decorrentes do jargo militar.

    O Planejamento est voltado para a definio de objetivos a serem

    alcanados, identificando que recursos sero utilizados para isso, alm de

    determinar o prazo em que tais objetivos devem ser alcanados. Portanto, duas

    so as principais variveis com as quais se trabalha em planejamento: tempo e

    recursos (Rocha, 1987).

    Toda a literatura de planejamento identifica trs nveis de planos:

    Estratgico, Ttico e Operacional. O Plano Estratgico mais abrangente (todas

    as atividades da organizao) e diz respeito a aes no mais longo prazo. O

  • Prof. Roberto Pinto 20

    Plano Ttico mais localizado (trabalha uma determinada rea ou unidade de

    negcio) e tem horizonte de tempo menos longo: mdio prazo. O Plano

    Operacional especfico (aes ou atividades) e tem como horizonte o curto

    prazo. Os nveis de planos esto hierarquizados obedecendo ordem em que

    foram citados. Significa dizer que o Plano Estratgico subordina o Plano Ttico

    que, por sua vez, subordina o Plano Operacional.

    Com base no comentrio acima, prefervel no utilizar a expresso

    "planejamento estratgico de recursos humanos", uma vez que, sendo parte do

    planejamento estratgico global e dizendo respeito a uma rea especfica, o

    planejamento de RH de nvel ttico.

    Para exemplificar, imagine que uma organizao defina seu

    crescimento ou diversificao em um novo espao geogrfico, para os prximos

    cinco anos (Planejamento Estratgico). Cabe ao Planejamento de Recursos

    Humanos estabelecer como as pessoas que iro trabalhar nas novas atividades

    sero obtidas, capacitadas, pagas etc. (Planejamento Ttico). Cabe ao

    Planejamento de Desenvolvimento de RH definir como os funcionrios sero

    treinados: quando, onde, por quem, com que recursos instrucionais etc.

    (Planejamento Operacional).

    O quadro seguinte, adaptado de Chiavenato (1997), d uma idia das

    diferenas entre os nveis de planejamento:

    Quadro 1 Nveis de Planejamento

    Nvel do Planejamento

    Contedo do Plano

    Horizonte de Tempo

    Amplitude do Plano

    Estratgico Genrico, sinttico e abrangente Longo prazo Macroorientado: Aborda a empresa como uma totalidade

    Ttico Menos genrico e mais detalhado Mdio Prazo Aborda cada unidade da empresa separadamente

    Operacional Detalhado, especfico e analtico Curto Prazo Microorientado: Aborda cada ao ou atividade

    Conforme o modelo mais consagrado de planejamento, o processo se

    inicia pelo nvel estratgico, tendo como primeiro passo a construo ou

  • Prof. Roberto Pinto 21

    revalidao da Identidade Organizacional. Esta Identidade est composta pela

    Misso, pelos Valores e Crenas e pela Viso de Futuro.

    A partir da, segundo o modelo SWOT (strengths, weaknesses,

    opportunities, threats), segue-se a anlise dos ambientes interno e externo. So

    levantados os pontos fortes e fracos (do ambiente interno) e as oportunidades e

    ameaas (do ambiente externo), de cujo cruzamento resultam as estratgias.

    Estas, por sua vez, do origem aos objetivos, a partir dos quais vo ser definidos

    os planos de ao (estes j em nvel de Planejamento Ttico). nesse nvel que

    surge o Plano Ttico de Recursos Humanos, de onde nascem os Planos de Ao

    especficos para cada funo (ver figura 5, a seguir).

    IDENTIDADE Misso

    Viso de Futuro

    Valores e Crenas

    AMBIENTE EXTERNO

    Oportunidades

    Ameaas

    AMBIENTE INTERNO

    Pontos Fortes Pontos Fracos

    ACOMPANHAMENTO E AVALIAO

    ESTRATGIAS

    OBJETIVOS SETORIAIS DE RECURSOS HUMANOS

    ES

    TRA

    TG

    ICO

    T

    TIC

    O

    META 1

    PROJETO N PROJETO 2 PROJETO 1

    META 2 META N

    OP

    ER

    AC

    ION

    AL

    PLANOS DE AO DE RH: SUPRIMENTO, DESENVOLVIMENTO,

    COMPENSAO E RESULTADOS

    Figura 5 O Processo de Planejamento de RH

  • Prof. Roberto Pinto 22

    Como se v na figura 5, dos Planos de Ao resultam os projetos, onde

    se especificam responsabilidades, prazos e recursos necessrios. Cabe observar,

    ainda, que referida figura, alm dos trs nveis de planejamento (estratgico,

    ttico e operacional), inclui o processo de avaliao e acompanhamento, sem o

    qual nenhum plano faz sentido.

    Observe-se, tambm, que o modelo apresentado permite visualizar o

    caminho percorrido desde o momento mais abstrato da definio (ou

    redefinio) da identidade organizacional, at o momento mais concreto de

    elaborao dos projetos especficos.

    a. Identificao de Necessidades i. Necessidades Quantitativas

    Para todas as atividades de Recursos Humanos (suprimento,

    capacitao, compensao e desempenho), h duas maneiras de obter

    informaes sobre futuras necessidades de colaboradores, sob o aspecto

    quantitativo:

    1. Consulta a dados histrico-estatsticos consiste na verificao do

    comportamento histrico de entradas e sadas de colaboradores nos

    diversos cargos. As entradas representadas pelos processos de

    suprimento e as sadas registradas atravs de demisses

    (voluntrias ou no), promoes, aposentadorias e outras

    modalidades;

    2. Projeo a partir do planejamento estratgico feitas com base nos

    planos de expanso e contrao das atividades organizacionais, os

    quais indicam as novas necessidades de suprimento ou a

    possibilidade de disponibilizao de colaboradores para promoes,

    re-alocaes ou dispensa.

  • Prof. Roberto Pinto 23

    ii. Necessidades Qualitativas De forma anloga s necessidades quantitativas, h duas modalidades

    de levantamento das futuras necessidades de colaboradores, sob o aspecto

    qualitativo:

    i. Consulta s informaes de descrio e especificao de cargos

    para obter as informaes sobre hierarquia, responsabilidades e

    atribuies, alm de requisitos (conhecimentos, habilidades e

    atitudes) para preenchimento de cada cargo;

    ii. Definio de novos cargos (ainda no descritos e especificados), a

    partir dos planos de expanso e diversificao, os quais so

    estabelecidos no planejamento estratgico organizacional.

    b. Avaliao e Acompanhamento de Resultados Toda sistemtica de planejamento se completa e se reinicia no

    processo de avaliao e acompanhamento. Ambos so como faces de uma

    mesma moeda, sendo inconcebvel um sem o outro. No faz sentido planejar sem

    verificar se os objetivos esto sendo alcanados, assim como no faz sentido

    verificar o que no foi previsto.

    Definidos os alvos e adotadas as providncias para alcana-los,

    necessrio que se saiba se houve xito quantitativo, qualitativo e se os prazos

    foram cumpridos. Se no houve, preciso diagnosticar e corrigir os problemas

    ocorridos e, ainda mais, adotar providncias para que no voltem a ocorrer.

    importante ressaltar que o processo de avaliao e

    acompanhamento tem que ser permanente, para que os problemas possam ser

    identificados, corrigidos e prevenidos a tempo, antes que resultem em maiores

    prejuzos ou, pior que isso, se tornem irreversveis.

  • Prof. Roberto Pinto 24

    3.3. Suprimento

    Esta funo trata de assegurar para a organizao o ingresso de

    colaboradores adequados sob os aspectos de quantidade e qualidade, alm de

    disponveis quando necessrios. Subdivide-se conforme os sub-itens a seguir.

    a. Recrutamento

    Para Chiavenato (1996a) as organizaes utilizam o recrutamento

    como um conjunto de procedimentos que visam a atrair candidatos

    potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos. Para o autor,

    recrutamento basicamente um sistema de informao, pelo qual a organizao

    divulga e oferece oportunidades de empregos que pretende preencher.

    No conceito acima, h de se reparar sua limitao, porque no faz

    referncia s necessidades futuras das organizaes, o que faz crer que

    considera apenas as necessidades atuais, configurando uma atitude reativa

    (resolver problemas depois de surgidos). Pode-se dizer, de maneira mais concisa

    porm mais completa, que recrutamento o processo de comunicao pelo qual

    a organizao convida e atrai potenciais candidatos aos seus cargos e carreiras,

    informando os requisitos exigidos e as vantagens que oferece.

    O recrutamento , portanto, uma atividade de comunicao, atravs da

    qual a organizao informa ao mercado de trabalho que procura colaboradores,

    acrescentando o que espera dos potenciais candidatos e o que oferece aos que

    forem selecionados. Observe-se que essa comunicao deve ser a mais clara e

    completa que for possvel - de forma a no deixar dvidas ao pblico interessado

    e, tambm, ser honesta, por razes de tica nas relaes com potenciais

    colaboradores.

    Como todo processo de comunicao, a atividade de recrutamento lida

    com a necessidade de adequar sua mensagem ao pblico receptor e de utilizar os

    meios que melhor alcancem este pblico. Mais especificamente, a mensagem

    deve despertar interesse, ser clara, transmitir credibilidade, induzir aceitao.

    necessrio, ento, identificar o pblico alvo e adequar a esse pblico

    a comunicao a ser efetivada, no que se refere a contedo da mensagem e

    meios de comunicao a serem utilizados. Os meios mais comuns utilizados em

  • Prof. Roberto Pinto 25

    recrutamento, so: arquivos de candidatos (pr-cadastros), anncios em jornais

    ou revistas, cartazes, correspondncias, editais e divulgao pessoal.

    O pblico do recrutamento pode ser interno ou externo. Sendo externo,

    os candidatos podem estar ou no prestando servios a outra instituio. Seja

    interno ou externo, o recrutamento pode ser feito atravs de empresa

    especializada. Na verdade, contratar todo o processo seletivo (recrutamento,

    seleo e induo) uma tendncia crescente entre as organizaes.

    A avaliao e o acompanhamento da qualidade do recrutamento se

    fazem a partir da demonstrao de interesse por parte do pblico alvo, o qual

    medido pelo atendimento ao chamado, tambm importante avaliar a qualidade

    do recrutamento atravs do nvel de informao dos candidatos. Significa dizer

    que, quanto maior o nmero de candidatos, maior o pblico atingido; e quanto

    menos dvidas houver, mais clara ter sido a mensagem.

    b. Seleo A maioria dos autores entende seleo como um processo de escolha

    dos melhores entre os candidatos recrutados, considerando suas capacidades e

    potencialidades para os cargos aos quais se candidatam. Essa, como comentado

    no item anterior, uma viso reativa da atividade. A proatividade requer que se

    considerem as necessidades atuais e futuras de preenchimento de cargos. Da,

    falar-se em carreira e no apenas no cargo para o qual se est fazendo a

    seleo, levando em conta que as necessidades futuras podem ser indicadas no

    planejamento de RH, j visto.

    Como as atividades de seleo tratam de escolher os melhores dentre

    os candidatos recrutados, h que se avaliar sua potencialidade, alm da sua

    capacidade de atender s especificaes do cargo para o qual esteja sendo

    selecionado.

    No processo de seleo, h o pressuposto de que se pode predizer o

    desempenho de futuros colaboradores atravs da medio de seus

    conhecimentos, habilidades e atitudes. Assim, para cada seleo, necessrio,

    em primeiro lugar, escolher que mtodos sero utilizados de acordo com as

  • Prof. Roberto Pinto 26

    caractersticas do cargo a ser ocupado, assim como da possvel carreira que

    poder ser oferecida aos aprovados. Alm dos mtodos a utilizar, necessrio

    definir local, horrio e durao das verificaes.

    Os conhecimentos podem ser verificados atravs de provas, as quais

    podem ser compostas de questes objetivas, subjetivas ou ambos os tipos. Os

    resultados das questes objetivas so de mais rpida apurao, mas estas

    questes no permitem maior expresso do candidato e podem induzir respostas.

    As questes subjetivas, ao contrrio, so de mais difcil apurao, mas permitem

    que os avaliandos se manifestem com mais liberdade e, portanto, agregam mais

    informaes sobre as capacidades do candidato.

    As habilidades tm a conotao de destreza e podem ser avaliadas

    atravs de instrumentos que verifiquem a rapidez e a preciso de movimentos e

    raciocnio, a orientao espacial e a inteligncia mecnica, por exemplo. Entre os

    instrumentos de medida de habilidades esto os exames de capacitao e

    adaptao fsica e os testes psicomtricos.

    As atitudes tm carter comportamental e so verificveis atravs dos

    testes de personalidade e dinmicas de grupo. Os primeiros verificam as

    tendncias, as capacidades e as limitaes individuais. As dinmicas verificam o

    comportamento dos indivduos no grupo, procurando observar (por exemplo) as

    capacidades de liderana, organizao, disciplina e outras.

    importante informar que os testes psicolgicos so, por lei, de

    competncia exclusiva dos psiclogos.

    Outros instrumentos auxiliares de verificao da capacidade individual

    so as anlises de currculo e as entrevistas. Nas anlises de currculo, alm das

    qualificaes pessoais (escolaridade, treinamentos, experincia profissional,

    produo cientfica e outras), podem-se avaliar a capacidade de organizao, a

    conciso, a clareza e outros atributos do candidato.

    As entrevistas podem ser estruturadas, no-estruturadas ou mistas. A

    entrevista estruturada permite comparar respostas, porque so feitas as mesmas

    perguntas a todos os candidatos. As entrevistas no-estruturadas permitem que

    se obtenham informaes mais ricas dos candidatos, porque no h um roteiro

  • Prof. Roberto Pinto 27

    rgido a ser seguido. As entrevistas mistas (uma parte estruturada e uma parte

    no-estruturada) procuram aliar as vantagens dos tipos anteriores. Devem-se

    fazer, no caso de entrevistas, as seguintes recomendaes:

    Sempre preparar a entrevista com antecedncia (ambiente,

    entrevistador, material necessrio etc);

    Deve-se tratar os candidatos com profissionalismo, respeito e

    urbanidade;

    A entrevista deve ser feita por profissionais qualificados, a includo

    (sempre que possvel) o futuro chefe dos candidatos aprovados;

    O registro do resultado de cada entrevista deve ser feito logo aps a

    retirada do candidato, sempre que a entrevista no for gravada;

    No caso de entrevista gravada, sempre avisar ao candidato essa

    peculiaridade;

    Os candidatos devem ser entrevistados individualmente.

    O processo de avaliao e controle da seleo tem duas dimenses:

    a) Uma, mais imediata, que pode ser atendida atravs de relatrios

    sobre a aplicao dos mtodos e o surgimento de eventuais

    problemas;

    b) Outra, mais remota no tempo, que feita atravs da gesto de

    desempenho e do clima organizacional, as quais verificam,

    respectivamente, a adequao do colaborador ao cargo e

    carreira e sua adaptao ao ambiente interno.

    c. Induo

    A induo consiste na introduo do novo colaborador organizao,

    ao cargo e ao grupo ao qual pertencer. Essa induo, normalmente, acontece

    durante o chamado estgio probatrio. Observe-se que, embora tenha carter

    seletivo, essa fase j tem caractersticas de capacitao. Nessa fase, trata-se de

    estabelecer processos em que a integrao se d da forma mais completa e

  • Prof. Roberto Pinto 28

    natural possvel, para que o colaborador conhea a organizao e o

    funcionamento do seu cargo e haja aceitao mtua entre ele e o grupo.

    A integrao organizao se d, normalmente, atravs da leitura de

    documentos e da assistncia e acompanhamento das chefias. Nesse trabalho, se

    incluem informaes sobre o porte, a estrutura e a administrao da organizao,

    a disperso geogrfica das atividades, a diversificao dos produtos, a

    identificao e a quantificao dos clientes.

    No que se refere integrao ao grupo, convm lembrar que os grupos

    sempre reagem chegada de um novo membro, como um organismo reage a um

    corpo estranho. Por isso, de ordinrio, essa fase conduzida por profissionais de

    psicologia ou servio social, capacitados para esse mister.

    A induo ao cargo abrange informaes destinadas a esclarecer

    questes quanto a atribuies e os conhecimentos e habilidades requeridos para

    o seu cumprimento. Tambm se informa a posio do cargo, esclarecendo sobre

    sua subordinao, seus subordinados (se for o caso) e pares. Essa atividade,

    geralmente, utiliza manuais e outros tipos de instruo. De ordinrio, se d com o

    apoio de colegas e chefias.

    O processo de avaliao e acompanhamento semelhante ao descrito

    para as atividades de seleo.

    3.4. Desenvolvimento

    Esta a funo que cuida da capacitao permanente dos recursos

    humanos, visando a mant-los sintonizados com as mudanas organizacionais e

    do ambiente, assim como mant-los qualificados para suas funes em termos de

    conhecimentos, habilidades e atitudes. Aqui, tambm so considerados os

    aspectos quantitativos, qualitativos e temporais. Esta funo se subdivide, como

    explicitado a seguir.

  • Prof. Roberto Pinto 29

    a. Levantamento das Necessidades

    A habitual sistemtica de se fazer identificao de necessidades de

    capacitao atravs de LNT (levantamento das necessidades de treinamento) ,

    aqui, considerada como uma forma reativa de se trabalharem as atividades de

    capacitao, porque parte da consulta s diversas reas da organizao, que se

    pronunciam a partir das necessidades presentes.

    Como j comentado para outras atividades, aqui se defende, para as

    atividades de capacitao, uma atitude proativa, a qual pode ser adotada a partir

    das projees de necessidades definidas no planejamento estratgico. Essa

    forma de atuao permite antecipar-se s necessidades, de forma a atend-las

    tempestivamente e no depois que surgem.

    Recomenda-se que os programas de capacitao sejam desenhados a

    partir da identificao das necessidades organizacionais e individuais. Para

    identificar as necessidades da organizao, o planejamento estratgico ser fonte

    de informaes sobre o ambiente organizacional, a prpria organizao e seu

    futuro. Para identificar as necessidades individuais, sero utilizadas as

    informaes dos sistemas de gesto de desempenho (e potencial) e a anlise de

    clima organizacional.

    b. Definio e Aplicao dos Programas

    A partir das informaes tratadas na identificao das necessidades,

    sero montados os programas, considerando as capacidades a serem

    desenvolvidas (conhecimentos, habilidades e atitudes).

    Nessa montagem, sero definidos os treinandos, os instrutores, os

    contedos, o material instrucional e os mtodos (de aplicao e de avaliao) a

    serem empregados. Alm disso, toda a logstica da capacitao dever ser

    desenhada, determinando locais, datas e horrios, equipamentos e material de

    apoio a ser utilizado. De preferncia, devem ser estabelecidas alternativas, para o

    caso de imprevistos (falta de instrutor, necessidade de mudana de data ou local

    etc.).

  • Prof. Roberto Pinto 30

    Em seguida os programas so aplicados. Isto , acontecem as

    atividades de ensino/aprendizagem, as quais devem ser acompanhadas para a

    adoo de medidas, acaso necessrias.

    Quando se fala na escolha e aplicao de programas de capacitao, o

    senso comum geralmente desperta a idia de sala de aula. Por isso,

    conveniente lembrar que h muitas outras formas de capacitao, inclusive sem

    instrutor. Podem ser utilizados, por exemplo, mtodos distncia (sensivelmente

    melhorados com a utilizao da teleinformtica), leituras dirigidas, seminrios,

    congressos, grupos de trabalho, substituio de titular, entre outros.

    c. Avaliao

    As atividades de capacitao so suscetveis de avaliao em dois

    nveis:

    Avaliao dos programas contempla o rendimento dos prprios

    treinandos, assim como a avaliao de reao feita com eles. Nesta

    avaliao, verificam-se suas opinies sobre instrutor, disciplina,

    carga horria, material didtico, mtodo, coordenao, apoio

    logstico, instrumentos e instalaes;

    Avaliao do sistema feita a partir da gesto de desempenho, da

    gesto do clima organizacional e do desempenho geral de uma

    determinada rea e, at mesmo, da organizao como um todo.

    3.5. Compensao

    Esta funo engloba as aes referentes gesto de cargos e salrios,

    incluindo as diversas formas de recompensa (salrios, benefcios, vantagens,

    incentivos e outras). Alm disso, contempla as responsabilidades sobre

    segurana e higiene do trabalho e as atividades de registro e controle de pessoal.

    Cabe, aqui, explicitar os conceitos bsicos:

    TAREFAS - atividades individualizadas e executadas por um

    ocupante de cargo operativo;

  • Prof. Roberto Pinto 31

    ATRIBUIES atividades individualizadas, executadas por um

    ocupante de cargo diferenciado;

    FUNO conjunto de tarefas ou atribuies que so executadas

    de forma sistemtica e reiterada;

    CARGO conjunto de funes de uma posio definida na

    estrutura organizacional: nvel hierrquico, rea ou departamento,

    superior hierrquico e subordinado;

    ANLISE DE CARGO descrio e especificao .

    Os itens que compem uma descrio de cargo so: ttulo, nvel,

    subordinao, superviso, comunicaes colaterais, tarefas ou atribuies. A

    especificao determina os requisitos exigidos para os possveis ocupantes.

    As atividades de registro e controle dizem respeito ao

    acompanhamento de freqncia e pontualidade, concesso de frias e licenas,

    promoes e ascenses, isto , tudo que grava a vida funcional dos

    colaboradores e atende a exigncias legais ou estabelecidas em acordos

    coletivos. A literatura especfica registra essas atividades sob a denominao

    genrica de "Relaes Trabalhistas".

    3.6. Direo

    As atividades de Direo esto voltadas obteno do mximo que os

    colaboradores possam oferecer, tanto em termos de produtividade quanto em

    termos de qualidade dos resultados.

    Essas atividades podem ser divididas em dois sub-grupos. No primeiro,

    esto aquelas que visam obteno de bom desempenho; no segundo, esto as

    atividades de monitorao de desempenho.

    As atividades de ambos os grupos esto difusas dentro da

    organizao, no sentido de que so responsabilidades de todos os gestores, e

    no de uma rea especfica de gesto de pessoas. Essas atividades esto

    explicitadas nos sub-itens seguintes.

  • Prof. Roberto Pinto 32

    a. Obteno de Bom Desempenho

    i. Liderana

    A liderana fenmeno social e acontece em funo de

    relacionamentos. Por isso, s se pode dar em grupos sociais.

    As funes do lder so: planejar, informar, avaliar, arbitrar, controlar,

    recompensar, estimular e, infelizmente, punir. A liderana se exerce como relao

    funcional, observando-se que o lder possuidor ou controlador dos meios para

    satisfao das necessidades individuais.

    A moderna teoria da liderana j deixou de privilegiar os traos de

    personalidade do lder para centrar-se na capacidade de obter resultados. Assim,

    considera-se lder aquele que traduz viso de futuro em realidade. Melhor

    dizendo: lder aquele que conduz sua equipe no sentido de transformar em

    realidade aquilo que se planeja. Para isso, alm do carisma, necessrio:

    ateno individualizada, estmulo intelectual, conscincia de problemas e

    solues, ter e partilhar viso, construir confiana e ter auto-conhecimento

    positivo.

    Deve-se acrescentar que no h mais lugar para lderes hericos

    (mrtires). A liderana ps-herica consiste em difundir a capacidade de liderana

    para toda a organizao (o lder no onipresente), criar ambiente para que cada

    um descubra o que precisa ser feito e o faa bem, apontar caminhos e criar

    condies favorveis realizao das atividades (limpar o caminho e dar

    suporte). importante, ainda, dar crdito aos colaboradores e fazer dos outros os

    heris.

    ii. Comunicao

    Qualquer processo de comunicao tem os seguintes elementos:

    emissor aquele de quem parte a mensagem;

    receptor a quem se destina a mensagem;

    mensagem o contedo da comunicao;

  • Prof. Roberto Pinto 33

    meio veculo pelo qual a mensagem a transmitida, seja mensagem

    sonora, escrita, no verbal, grfica etc;

    codificao transformao da idia em mensagem, atravs de

    uma linguagem comum a emissor e receptor;

    decodificao a transformao da mensagem em idia, por parte

    do receptor.

    A primeira observao, em todo processo de comunicao, de que a

    mensagem e o meio devem ser adequados ao pblico receptor. Isto : o meio

    deve ser acessvel e a mensagem deve ser apresentada em um cdigo cujos

    smbolos (sinais) permitam a decodificao (entendimento) por parte do receptor.

    Mais que isso: a transparncia e a honestidade das informaes so

    importantes para manter a credibilidade da fonte, sendo a informao o melhor

    antdoto contra boatos.

    Se isso verdade para qualquer processo de comunicao, tambm o

    para as comunicaes organizacionais. Principalmente para as comunicaes

    internas, utilizadas pelos gestores para obter maior envolvimento, compreenso.

    iii. Delegao

    Delegao a extenso de autoridade que acontece, normalmente,

    quando um tomador de deciso transfere este poder para algum subordinado.

    Quando se transfere autoridade, no h transferncia de

    responsabilidade. Isto : aquele que recebe uma delegao passa a ser

    responsvel perante aquele que delega. Mas, apesar disso, quem delega ainda

    permanece com a responsabilidade sobre as atribuies delegadas.

    Por isso necessrio planejar uma sistemtica de controle, para

    monitoramento do uso da autoridade delegada. Alm disso, a autoridade

    delegada deve ser compatvel com a competncia do colaborador que a recebe e

    as decises deste no podem ser desautorizadas, depois de adotadas.

  • Prof. Roberto Pinto 34

    iv. Motivao

    Vrios estudos indicam que a motivao uma fora interna que

    impele o indivduo a uma ao ou a uma atitude. Sendo interna, essa fora

    depende de caractersticas individuais e est sintonizada com o atendimento de

    necessidades, tambm individuais. No possvel que algum motive outrem,

    cabendo ao gestor criar condies para que a motivao se manifeste.

    Dentre as vrias abordagens sobre necessidades individuais, neste

    trabalho so abordadas as de Maslow e de Herzberg.

    Para o primeiro, as necessidades esto hierarquizadas em uma

    pirmide, dividida em "patamares" que se sucedem em forma de ascendente e

    crescente em termos de sofisticao. Segundo Maslow, esses "patamares"

    estabelecem a diviso da pirmide em cinco nveis, a saber:

    1 - Necessidades fisiolgicas subordinadas nossa natureza

    animal. Esto ligadas sobrevivncia (fome, sede, sono e outras)

    e perpetuao da espcie (sexo). Nas organizaes, referem-se

    ao atendimento das necessidades materiais dos indivduos e de

    suas famlias;

    2 - Necessidades de segurana dizem respeito proteo e ao

    conforto para si e para os seus. Nas organizaes, esto

    sintonizadas com a garantia de renda e de assistncia oferecida

    pelas organizaes;

    3 - Necessidades sociais ou de participao dizem respeito nossa

    natureza gregria, social. Referem-se ao desejo de participar de

    segmentos sociais, de ser aceito e reconhecido como membro de

    grupos. Nas organizaes, dizem respeito efetivao como

    membro de uma equipe e identificao simblica com suas

    realizaes;

    4 - Necessidades de reconhecimento uma vez participantes de

    segmentos sociais, as pessoas querem ser destacadas perante as

    demais. Nas organizaes, essas necessidades so atendidas

  • Prof. Roberto Pinto 35

    pela ocupao de cargos com seus respectivos smbolos de poder

    e status.

    5 - Necessidades de auto-realizao esto no patamar mais difcil

    de ser acessado e, principalmente, de ser compreendido por

    outrem. Representam uma grande dificuldade de serem

    trabalhadas nas organizaes. Essas necessidades esto mais

    ligadas aos valores e s crenas individuais e se manifestam,

    profissionalmente, atravs dos aspectos de tica, de

    independncia e de obteno de resultados.

    Para Herzberg, os fatores que atendem as necessidades individuais

    esto divididos em dois grupos: no primeiro esto os chamados fatores higinicos

    e no segundo o que denomina fatores motivadores.

    Segundo o autor, o atendimento de necessidades no nvel mais bsico

    ascendentemente referentes a: salrio e condies de vida pessoal, condies

    fsicas do ambiente de trabalho, polticas de administrao de colaboradores, tipo

    de superviso recebida (administrativa e tcnica) e relaes interpessoais

    (inclusive com colegas e superiores) no significa a obteno de satisfao,

    mas a preveno da insatisfao. Para Herzberg, o contrrio da insatisfao no

    a satisfao, mas nenhuma insatisfao. Portanto, os fatores higinicos so

    assim denominados porque se referem profilaxia na preveno da insatisfao.

    A satisfao s alcanada pelo atendimento de necessidades

    (tambm em ordem ascendente) referentes a reconhecimento, realizao

    profissional, progresso funcional, atribuio de responsabilidade e caractersticas

    do trabalho em si. Essas so as necessidades atendidas pelos fatores

    motivacionais, segundo Herzberg.

    b. Monitorao de Desempenho

    Essas so atividades de Gesto de Desempenho e de Gesto de Clima

    Organizacional. Ambas so formas de antecipao a problemas, principalmente

  • Prof. Roberto Pinto 36

    questes de conflito, e funcionam como instrumentos de avaliao e

    acompanhamento de todas as atividades de Gesto de Recursos Humanos.

    i. Gesto de Desempenho

    A primeira, j bastante desenvolvida (embora com algumas polmicas),

    conta com instrumental sofisticado, incluindo sistema informatizado de apurao e

    armazenamento de resultados. Cabe, aqui, observar as possibilidades de

    problemas devidos subjetividade de avaliao:

    Falta de Objetividade perda de foco em relao ao que ser

    avaliado (resultados);

    Efeito de Halo transferncia da avaliao (positiva ou negativa)

    de uma determinada caracterstica preponderante para todas as

    caractersticas avaliadas;

    Lenincia ou Rigor excessiva tolerncia ou rigidez na avaliao;

    Tendncia Central temor em ser tolerante ou rigoroso, que

    resulta em avaliaes nos pontos mdios;

    Vis do Comportamento Recente avaliao efetuada pelos

    ltimos acontecimentos, rejeitando os fatos mais antigos;

    Avaliao Congelada avaliao sempre positiva ou negativa

    (como as primeiras), independentemente e melhoria ou queda de

    desempenho;

    Vis Pessoal interferncia de preconceitos;

    Regra de Julgamento do Avaliador preponderncia do

    julgamento pessoal sobre o que so bons e maus resultados,

    independentemente do que ou no desejvel para a organizao

    (diante de sua misso e de seus objetivos).

    ii. Gesto de Clima Organizacional

    Esta atividade feita a partir de enqutes, entrevistas, observaes e

    outros meios de colheita de informaes sobre os relacionamentos interpessoais

    (entre colegas e chefias/subordinados), assim como em relao satisfao dos

  • Prof. Roberto Pinto 37

    colaboradores com as condies de trabalho e de compensao oferecidas pela

    organizao.

  • Prof. Roberto Pinto 38

    4. CASOS E SITUAES PARA ESTUDO

    4.1. Patrocinador Exigente

    Sua instituio uma ONG e est voltada para a assistncia e a

    educao de crianas em situao de risco social inicia atividades em uma

    comunidade onde essa carncia histrica. H uma grande chance de que o

    problema seja superado (ou significativamente minorado), a partir do incio dos

    trabalhos da sua instituio. Mas as dificuldades materiais vm prejudicando a

    implantao dos servios de assistncia e educao.

    Um patrocinador foi encontrado. Trata-se de empresa do ramo de

    distribuio de derivados de petrleo, com vrios postos de combustvel e

    servios espalhados por trs estados da Regio Nordeste, mas com sede e maior

    nmero de unidades instaladas na sua cidade. Inclusive com dois postos

    prximos favela onde a sua instituio inicia seus trabalhos.

    Esse potencial patrocinador concorda em financiar, por dois anos, as

    atividades em implantao, desde que sejam atendidas duas exigncias:

    a) Seja-lhe assegurada a divulgao de sua marca em todas as

    peas e eventos referentes s atividades patrocinadas;

    b) Durante a durao do patrocnio, essas atividades sero dirigidas

    pela filha do principal scio do patrocinador.

    Uma avaliao preliminar da situao revela que a candidata pessoa

    recm-formada em Pedagogia, que no tem nenhuma experincia de gesto. H,

    assim, a percepo de que o projeto seria utilizado para treinamento dessa

    candidata.

    Que resposta levar ao possvel patrocinador, quanto segunda

    exigncia?

    4.2. Profissionais ou Voluntrios

    Imagine que, superada a dificuldade relatada no caso anterior, sua

    instituio enfrenta a necessidade de escolher entre professores pagos (que

    adotam a abordagem pedaggica escolhida por unanimidade pelos fundadores da

  • Gesto do Capital Humano Prof. Roberto Pinto 39

    instituio) e professores voluntrios (que adotam outra linha pedaggica e vm

    de uma experincia mal-sucedida, por falta de patrocnio).

    Por favor, vamos discutir, escolher e justificar a escolha.

    4.3. Capacitao

    Imagine que, no caso anterior, haja tempo suficiente para capacitar os

    voluntrios escolhidos, procurando corrigir suas deficincias. Defina a poltica de

    capacitao para cada um dos casos abaixo (considerando a necessidade de

    desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes):

    a) Se a escolha recair sobre os educadores sem conhecimentos de

    biologia e preservao;

    b) Se a escolha recair sobre os bilogos preservacionistas sem

    conhecimentos e experincia em educao.

    4.4. Compensao para Novos Cargos

    Considere que sua organizao vai recrutar colaboradores para uma

    nova atividade. Fique vontade para imaginar o tipo de organizao e a

    atividade. Voc pode pensar, por exemplo, em uma indstria que est passando

    por um processo de expanso ou diversificao. Defina (apenas as linhas gerais)

    uma poltica de compensao (salrio, benefcios, vantagens e incentivos) para

    os novos profissionais. Leve em considerao os cargos que sero criados e a

    estrutura de compensao dos cargos j existentes.

    4.5. Investigando a Desmotivao

    Voc descobre que a equipe da sua instituio anda desmotivada e

    resolve estudar as razes disso, para adotar as providncias necessrias.

    Como voc faria essa investigao?

  • Gesto do Capital Humano Prof. Roberto Pinto 40

    4.6. Adotando Providncias

    Imagine que voc descobriu que a causa da desmotivao da equipe

    um desentendimento entre dois antigos colaboradores. Voc pode imaginar, por

    exemplo, que h um conflito entre o gerente de finanas e o de marketing porque

    o primeiro no favorvel liberao de recursos para um projeto do segundo,

    embora este defenda que esse investimento seria largamente compensado pelos

    resultados.

    Ambos so dedicados, tm conhecimento e experincia e tm dado

    (separada e conjuntamente) uma excelente colaborao durante os anos em que

    vm participando da instituio. Alm disso, cada um deles um importante

    formador de opinio na comunidade externa e, internamente, lidera um grupo de

    seguidores. O envolvimento desses seguidores no desentendimento provocou um

    clima de desconfiana e falta de colaborao (envolvendo vrios outros

    colaboradores) oque resultou no clima diagnosticado.

    Como voc procuraria solucionar o problema?

  • Gesto do Capital Humano Prof. Roberto Pinto 41

    5. REFERNCIAS

    1. Ansoff, Igor. Estratgia Empresarial. So Paulo: Mc Graw-Hill do Brasil, 1977.

    2. AQUINO, C. P. de. Administrao de recursos humanos: uma introduo. So Paulo: Atlas, 1996.

    3. Bateman, T.S. & Snell S.A., Administrao: construindo vantagem competitiva. So Paulo: Atlas, 1998

    4. Chiavenato, Idalberto. Introduo Teoria Geral da Administrao. 5a ed. So Paulo: Atlas, 1997.

    5. __________________. Recursos humanos: edio compacta. So Paulo: Atlas, 1996.

    6. __________________. Planejamento, recrutamento e seleo de pessoal. So Paulo: Atlas, 1996.

    7. __________________. Administrao de Recursos Humanos (edio compacta): manual do professor. So Paulo: Atlas, 2001.

    8. Drucker, Peter F.. Administrando em Tempos de Grandes Mudanas. So Paulo: Pioneira; So Paulo: Publifolha, 1999.

    9. ______________. Sociedade Ps-capitalista. So Paulo: Pioneira/Publifolha, 1999.

    10. Frota, M.A. O Ambiente das Organizaes. Fortaleza: Ed. BNB, 1981.

    11. Gimenez, Fernando A. P. Escolhas Estratgicas e Estilo Cognitivo: um estudo com pequenas empresas. Revista de Administrao Contempornea. Curitiba, v. 2, n. 1, jan/abr.2002: 27-45.

    12. Gimenez, Fernando. A. P. et al Estratgia em Pequenas Empresas: uma aplicao do modelo de Miles e Snow. Revista de Administrao Contempornea. Curitiba, v. 3, n. 2, mai/ago. 1999: 53-74.

    13. Khun Thomas. The Structure of Scientific Revolutions. Chicago EEUU: Phoenix Books, 1961.

    14. Lawrence, P. R; Lorsch, J. W. As empresas e o ambiente: diferenciao e integrao administrativas. Petrpolis: Vozes, 1973.

    15. Lima, Suzana M. V. et al. La Dimensin de Entorno en la Construccin de la Sostenibilidad Institucional. Serie Innovacin para la Innovacin Institucional. San Jos, Costa Rica: Proyecto Isnar Nuevo Paradigma, 2001.

    16. Mato Bode, Maria A. (et al). La Dimensin de Gestin en la Construccin de la Sostenibilidad Institucional. Serie Innovacin para la Innovacin Institucional. San Jos, Costa Rica: Proyecto Isnar Nuevo Paradigma, 2001.

    17. Maximiano, Antonio C. A. Teoria Geral da Administrao: da revoluo urbana revoluo digital. So Paulo: Atlas, 2002.

  • Gesto do Capital Humano Prof. Roberto Pinto 42

    18. Megginson, L.; Mosley, D.; Pietri, P. Jr. Administrao: conceitos e aplicaes. So Paulo: Harper & Row, 1998.

    19. Milkovich, George T.; Boudreau, John W. Administrao de Recursos Humanos. So Paulo: Atlas, 2000.

    20. Mintzberg, H., Ahlstrand, B. & Lampel, J. Safri de Estratgia: um roteiro pela selva do planejamento estratgico. Porto Alegre: Bookman, 2000.

    21. Monod, Jacques. O Acaso e a Necessidade. 3a ed. Petrpolis: Vozes, 1976.

    22. Pinto, F. Roberto. Fundamentos de Administrao. Fortaleza: Apostila, 2000 (digitado).

    23. ______________. Estratgia e Planejamento de RH. Fortaleza: Apostila, 2003 (digitado).

    24. Schermerhorn, John R.; Hunt, James G.; Osborn, Richard N. Fundamentos de Comportamento Organizacional. Porto Alegre: Bookman, 1999.

    25. Silva, Jos S. (et al). La Cuestin Institucional: de la vulnerabilidad a la sostenibilidad institucional en el contexto del cmbio de poca. Serie Innovacin para la Innovacin Institucional. San Jos, Costa Rica: Proyecto Isnar Nuevo Paradigma, 2001.

    26. Silva, Jos S. (et al). La Dimensin de Estrategia en la Construccin de la Sostenibilidad Institucional. Serie Innovacin para la Innovacin Institucional. San Jos, Costa Rica: Proyecto Isnar Nuevo Paradigma, 2001.

    27. Stoner, J.A. & Freeman, R.E. Administrao: construindo a vantagem competitiva. So Paulo: Prentice Hall, 1997

    28. Thompson JR., A & Strickland III, A.J. Planejamento Estratgico: elaborao, implementao e execuo. So Paulo: Pioneira, 2000.

    29. Vieira, Marcelo M. F.; Oliveira, Lcia M. B. de (orgs.). Administrao Contempornea: perspectivas estratgicas. So Paulo: Atlas, 1999.