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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO ENTOMOLOGIA VETERINARIA APOSTILA DIDÁTICA Profa.Sílvia Maria Mendes Ahid Mossoró - RN. 2009

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI -ÁRIDO

ENTOMOLOGIA VETERINARIA

APOSTILA DIDÁTICA

Profa.Sílvia Maria Mendes Ahid

Mossoró - RN. 2009

Ahid, S.M.M., 2009, Apostila Didática em Entomologia Veterinária. - 2 -

Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e catalogação da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA.

A285a Ahid, Sílvia Maria Mendes.

Apostila Didática em Entomologia Veterinária/ Sílvia Maria Mendes Ahid. - Mossoró: UFERSA, 2009.

80 f. Apostila, Universidade Federal Rural do Semi-Árido. 1.Entomologia 2.Veterinária 3.Ectoparasitas. I. Titulo.

CDD 595.7

Bibliotecária: Keina Cristina Santos Sousa CRB/4 1254

Ahid, S.M.M., 2009, Apostila Didática em Entomologia Veterinária. - 3 -

DADOS BIOGRÁFICOS

Sílvia Maria Mendes Ahid, filha de Edimilson Santos Ahid e Astrogilda

Mendes Ahid, nasceu em São Luis, Estado do Maranhão. Concluiu a graduação em Medicina

Veterinária pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) em 1984, o curso de

especialização em Biologia Parasitária pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em

1986; o Mestrado em Medicina Veterinária, área de concentração em Acarologia Veterinária

na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) em 1990; o Doutorado em

Biologia Parasitária, em 1999, área de concentração em Entomologia Médica pela Fundação

Oswaldo Cruz (FIOCRUZ-RJ). Docente do ensino superior, especificamente, no Curso de

Medicina Veterinária desde 1987. Atualmente, é docente adjunto dos cursos de Medicina

Veterinária e de Zootecnia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).

Imagens da Capa: Miíase bucal por larvas de Cochliomyia hominivorax em caprino; exemplar Calliphoridae macho. Em respeito à autora não faça a reprodução, por qualquer processo, sem a permissão expressa da mesma. 3ª Edição – 2009.

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ÍNDICE

PREFÁCIO 5

FILO ARTHROPODA 6

CLASSE INSECTA 6

Morfologia externa 7

Morfologia interna 9

Ciclo biológico 11

Classificação 12

ORDEM DIPTERA 12

Morfologia externa e sistemática 12

Subordem Brachycera infraordem Muscomorpha 14

Subordem Brachycera infraordem Tabanomorpha 23

Subordem Nematocera 26

ORDEM PHTHIRAPTERA 31

Piolhos mastigadores 32

Subordem Amblycera 33

Subordem Ischnocera 36

Subordem Anoplura 40

ORDEM SIPHONAPTERA 44

ORDEM HEMIPTERA 51

CLASSE ARACHNIDA: SUBCLASSE ACARI 54

Morfologia externa 54

Morfologia interna e fisiologia 57

Família Ixodidae 58

Família Argasidae 64

Subordem Astigmata. 66

Subordem Prostigmata 69

Chave simplificada para a identificação dos gêneros sarcoptiformes 71

REFERÊNCIAS. 72

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PREFÁCIO

Este material didático compreende uma motivação inovadora à qualidade ao ensino e representa esforços diretos e indiretos do Grupo de Pesquisa em Parasitologia Animal e Biologia Parasitária e, todos que tem compartilhado no constante aprendizado da Parasitologia Animal. Essa edição é uma fonte de informação atualizada com objetivo complementar as atividades didáticas nos Cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia, incorporando conteúdo atualizado em Entomologia Veterinária, bem como a convivência profissional no estudo dos ectoparasitas, suas características quanto à morfologia, aspectos da biologia, patogenia e aspectos epidemiológicos pertinentes aos mesmos.

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INTRODUÇÃO

A entomologia veterinária tem como objetivo o estudo dos insetos de importância da medicina veterinária. Os ectoparasitas terão maior atenção nessa edição considerando que são organismos que habitam a pele (ou derivados desta), de um organismo (hospedeiro) por determinado período de tempo, sendo totalmente dependentes de seus hospedeiros para sua sobrevivência, podendo ter efeito prejudicial na saúde destes (HOPLA et al., 1994). São organismos semi-independentes, segundo Nelson et al. (1975), os ectoparasitas podem ser divididos em grupos conforme seu habitat: os ectoparasitos de campo apresentam vida livre em maior parte do seu desenvolvimento de vida (ex. Ixodídeos, os carrapatos duros); ectoparasitos de ninhos são mais frequentemente encontrados nos ninhos de seus hospedeiros do que sobre o mesmo (ex. Argasídeos, os carrapatos moles); ectoparasitos de hospedeiros são encontrados permanentes sobre o hospedeiro (ex. Phthiraptera, os piolhos).

O estudo dos artrópodes constitui um capitulo importante na Parasitologia Animal, com ênfase na morfologia, fisiologia, aspectos biológicos, controle e prevenção dos parasitos que acometem os animais domésticos, sem esquecer a importância econômica e sanitária dos mesmos (GUIMARÃES et al., 2001).

FIO ARTHROPODA

Ao filo Artropoda pertencem mais de 80% de todas as espécies de animais invertebrados, estima-se que mais de um milhão. De simetria bilateral, corpo geralmente segmentado e articulado exteriormente. Cabeça, tórax e abdome diferenciados ou fusionados. Exoesqueleto endurecido, quitinoso, graças a um polissacarídeo - a quitina – secretado pela epiderme, com mudas periódicas. Tubo digestivo completo, peças bucais constituído por maxilas laterais, adaptadas a mastigação ou a sucção. Sistema circulatório aberto, “coração dorsal”, que não distribui “sangue” por artérias e veias aos tecidos; respiração do tipo traqueal, sacos pulmonares ou pelo tegumento. Excreção pelas glândulas coxais ou verdes mediante 2 ou vários tubos de Malpighi que se comunica com o tubo digestivo. Sistema nervoso do tipo ganglionar. Órgãos dos sentidos constituídos por antenas e pêlos sensitivos, olhos simples e compostos. Sexos ordinariamente separados; fecundação quase sempre interna; ovíparos ou ovovivíparos usualmente com uma a varias fases larvares e metamorfose graduais ou rápidas; em alguns insetos a partenogênese pode ocorrer.

Nesse material didático estaremos tratando apenas dos artrópodes parasitos ou vetores de doenças relacionadas à vida dos animais domésticos e de interesse econômico, embora de igual importância à saúde pública. Neste contexto apenas duas Classes serão estudadas: a Insecta e a Arachnida. São características da classe Insecta, possuir três pares de patas, cabeça, tórax e abdome distintos e, da Classe Arachnida os adultos apresentarem o corpo fundido (cefalotórax e abdome) com quatro pares de patas e não possuem antenas. Da classe Arachnida trataremos apenas da ordem Acarina.

CLASSE INSECTA

Também conhecida por Hexapoda. São insetos metazoários de simetria bilateral cujo corpo é dividido em três metâmeros (regiões) distintos: a cabeça, o tórax e o abdome. Possuem três pares de patas, podem ou não apresentar asas membranosas.

O corpo é formado pela justaposição de vários escleritos, formando anéis ou metâmeros: tergitos, esternitos e pleuritos. A cabeça, que está unida ao tórax pelo pescoço, tem considerável variação de forma, bem como um par de antenas.

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Morfologia Externa

O tegumento (Fig. 1) constitui o revestimento protetor e a base de sustentação para os órgãos, promove a forma do corpo e fornece base estrutural para os órgãos sensoriais. Tem sua estrutura formada por epitélio simples e membrana basal secretando a cutícula, na qual é formada por três camadas: a epicutícula, a exocutícula e a endocutícula.

Figura 1 - Esquema do tegumento dos insetos: a- epicuticula; b- exocutícula; c- endocutícula; d- epitélio dérmico; e- membrana basal; f- acúleo; g- espinho; h- microtríquia; i- abertura de glândula dérmica; j- estruturas epicuticulares; k- seta ou pêlo sensitivo; l- neurônio sensorial; m- glândula dérmica unicelular. Tipos de apêndices cuticulares articulados: n- escama; o- cerda simples; p- cerda em tufo; q- tufo palmado.

Na cabeça (Fig. 2) se encontram os órgãos dos sentidos (olhos e as antenas), os órgãos de ingestão de alimentos (mandíbulas e maxilas) e o sistema nervoso central (coordenação nervosa e memória). Geralmente 1 par de antenas. As estruturas se modificam conforme o hábito alimentar. Na descrição morfológica da cabeça chama-se atenção para a parte alta, o vértice, e a parte de trás, o occipício. Na região bucal o clípeo. Lateralmente e abaixo dos olhos compostos, a gena. Um pescoço curto une a cabeça ao tórax.

Possuem 2 antenas (díceros) e apresentam formas e tamanhos variáveis. Têm funções sensoriais e implantadas junto e adiante dos olhos. Uma antena típica é formada por artículos: uma basal o escapo, na qual prende a antena na cabeça; o segundo articulo o pedicelo e o terceiro o flagelo, geralmente longo e constituído de sub-segmentos. São apêndices moveis que podem funcionar como órgão olfativo, auditivos, gustativos e tácteis.

Figura 2 - Esquema da cabeça de um artropoda.

É possível o reconhecimento dos sexos de alguns insetos através das antenas, visto que elas se apresentam diferentes nos machos e nas fêmeas. Para isso devem ser considerados: Tamanho - As antenas dos machos geralmente são mais desenvolvidas; Tipo - Há casos que os machos e as

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fêmeas possuem antenas de tipo diferentes. Por exemplo: nos machos de pernilongos as antenas são plumosas, enquanto que nas fêmeas são filiformes.

A maioria dos insetos possui um par de olhos compostos, nos quais são formados pela união de centenas de omatídeos, e dois ou três olhos simples ou ocelos. Estes estão localizados atrás de cada olho ou agrupados no vértice da cabeça. Em alguns dípteros, pode-se distinguir o sexo pelo formato dos olhos compostos: no macho são holópticos, onde os olhos se tocam dorsalmente, na fêmea são dicópticos, os olhos são separados, dorsalmente.

Encontra-se variadas estruturas sensoriais, sob a forma de pêlos, placas e depressões inervadas. As peças bucais são muito variáveis em tamanho e forma, derivam de 3 pares de apêndices: 1 par de mandíbulas, dois pares de maxilas, esses podendo ter acessórios articulados que são os palpos maxilares e os palpos labiais. Geralmente estão apoiadas na ponta da cabeça, na área do clípeo. As peças bucais se modificam conforme o hábito alimentar e são classificados em: mastigador (ex. piolhos de aves), picador-sugador (ex. mosquitos e barbeiros), e os do tipo lambedor (ex. mosca).

O tórax tem funções essenciais de locomoção, possui três metâmeros: protórax, mesotórax e metatórax, cada com um par de patas. Nas pulgas, por exemplo, esses segmentos são facilmente identificados, nos demais ou foram fundidos ou modificados. Freqüentemente, o mesotórax é o mais desenvolvido.

1A

1B

Figura 3 - 1A- Tórax de diferentes tipos de insetos: A- mosquito (Culicídeo); B- Mosca (S. calcitrans);. C – Pulga (X. cheopis). 1.Protorax; 2- mesotorax; 3 – metatórax; 4 –noto.: 5- pleura; 6- esterno. Escleritos do Mesotórax: a- pré-escudo; b- escudo; c- escutelo; d- mesopleura; e- esternopleura; f- hipopleura; g, h,i – primerio, segundo e terceiro par de patas. 1B- Os apêndices articulados de todas as patas.

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Quando o inseto é alado, o par de asas anterior (Fig. 4) se fixa no mesotórax e o posterior no metatórax. Cada segmento torácico é formado por um arco dorsal, o tergo ou noto, e outro ventral o esterno. As partes laterais são chamadas de placas laterais ou pleuras.

Figura 4 – Esquema teórico de uma asa de um díptero, com nomenclatura das veias: C-costa, Sc- subcosta, R1 a R5, nervuras radiais; M1 a M4, nervuras medianas; Cba e Cbp, nervuras cubitais; An1 e An2, nervuras anais.

As asas podem faltar em alguns insetos como pulgas e piolhos, reduzidas a um par nos dípteros. Nos demais insetos existem dois pares de asas, hemípteros e coleópteros, por exemplo. São formadas por nervuras ou veias de sustentação e células. O formato e posição das nervuras e células são extremamente importantes na classificação. Nos dípteros, o par posterior é atrofiado, chamado de balancin; e dar equilíbrio ao inseto durante o vôo.

O abdome habitualmente é formado pela união de 10 a 12 anéis, sendo que os últimos adaptados para as funções reprodutoras; o ânus abre-se no último segmento. No macho, os anéis estão adaptados para apreensão da fêmea durante a cópula, formando uma genitália complexa; nas fêmeas, a genitália é mais simples, representada pelo ovipositor.

Morfologia Interna (Fig. 5)

Quase todos os materiais orgânicos são alimentos para os insetos. Cada um está adaptado a um tipo de alimento. O sistema digestivo pode ser divido em 3 partes, de acordo com sua origem embrionária: o Intestino anterior (estomodeu), o médio (mesêntero) ou estômago, relacionado com as funções de digestão e absorção dos nutrientes, e posterior (proctodeu). O primeiro é formado pela boca, faringe, esôfago, papo e proventrículo. As glândulas salivares abrem-se na boca. O intestino posterior é formado pelo intestino delgado, intestino grosso e pelo reto. Ao iniciar-se o intestino posterior, notamos os tubos de Malpighi , que são órgãos excretores.

O sistema respiratório formado por de tubos e traquéias que se ramificam por todo o inseto. Esta ramificação é tão intensa de modo a permitir que as trocas gasosas sejam ao nível celular, sem auxílio da hemolinfa (sangue). As traquéias abrem-se para o exterior, ao nível da cutícula, em diversos orifícios (espiráculos). Estes apresentam um sistema de fechamento que regula a entrada de O2, a saída de CO2 e a perda de água. A respiração é controlada pelo sistema nervoso central. Em insetos ou larvas aquáticas ou que vivem em ambiente úmido, além da respiração traqueal existem trocas gasosas através da cutícula, que é permeável: Os espiráculos respiratórios abrem-se lateralmente no tórax e abdome podendo existir 2 a 10 pares.

O sistema circulatório é aberto, constituído por hemolinfa ou sangue do inseto, que circula do abdome para o tórax, através do bombeamento cardíaco, banhando todos os órgãos da cavidade geral ou hemocele. A circulação da hemolinfa é feita por um tubo dorsal chamado coração, localizado no abdome, seguido por um tubo dirigido para o tórax denominado aorta.

O sistema nervoso: próximo ao esôfago existe um gânglio supra-esofagiano (cérebro), do qual partem duas cadeias de gânglios ventrais e destes numerosos filamentos nervosos que se ramificam por todo o corpo do inseto. O sistema sensorial é representado pelos olhos (simples e compostos), cerdas e antenas tácteis; apresentam também órgãos auditivos e quimioreceptores.

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Figura 5 - Representação diagramática de anatomia interna de insetos: A- aparelho digestivo, B- sistemas nervoso e circulatório, B’- detalhes do gânglio supra-esofagiano, C- sistema circulatório, com as setas indicando a direção de deslocamento da hemolinfa, C’- detalhe da câmara do coração mostrando a direção da entrada da hemolinfa. a- anus, ao- aorta, CGV, cadeia ganglionar ventral, cm- ceco do mesêntero, co- coração, cop- comissura paraesofágica, cot- comissura do tritocérebro, CSal- canal salivar, d- deutocérebro, DSal, ducto salivar, Eo- esôfago, Fa- faringe, gs- gânglio supra-esofagiano, GS- glândula salivar, gsb- gânglio subesofagiano, i- ílio, lo- lóbulo óptico, Lb- lábio, m- mesestero (estômago), o- boca, OC- olho composto, os- ostíolo, p-papo, pi-piloro, pr- proventrículo, pt- protocérebro, r- reto, t- tritocérebro, VD- vaso dorsal, tM- tubos de Malpighi.

O sistema reprodutor, apesar de poder haver hemafroditismo e partenogênese, o método de reprodução usual é o cruzamento entre o macho e a fêmea. Tanto nos machos como nas fêmeas o conjunto de peças que forma o aparelho copulador recebe o nome de genitália (Fig. 6).

Os machos possuem 1 par de testículos que se comunica pelos vasos deferentes com as vesículas seminais; e estas com o ducto ejaculatório que está ligado ao órgão copulador (edeago ou pênis). Nas fêmeas, os ovários se comunicam com a vagina por meio dos ovidutos; junto desta a espermateca (reservatório de espermatozóides), após a cópula. Na vagina se abrem os ductos das glândulas acessórias e do receptáculo seminal; inicia-se o ovipositor, terminando este na abertura genital.

Dimorfismo Sexual (Dióicos): nos insetos os sexos são sempre separados, havendo em alguns casos dimorfismo sexual bastante acentuado. Assim, o tamanho menor, a coloração mais viva e variada, a abundância de pilosidade sobre o corpo, a presença de estruturas aberrantes na cabeça, no tórax e nas pernas são caracteres que muitas vezes permitem distinguir o macho da fêmea. A fecundação das fêmeas se processa com a cópula, sendo pouco freqüente a reprodução a partir de fêmeas virgens (partenogênese). Este fenômeno, no qual os machos não interferem se verifica com as abelhas, formigas, pulgões dos vegetais e alguns outros insetos.

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Figura 6 - A – Aparelho reprodutor masculino de um inseto: a - testículo; b - canal deferente; c - vesícula seminal; d - canal ejaculador; e - pênis; f- glândula acessória. B - Aparelho reprodutor feminino: g- ovário; h- espermateca; i- vagina; j – ovaríolo; k – ovaríolo maduro; l- oviduto; m –glândula acessória; n- pedicelo.

Ciclo Biológico

Entre os insetos, a reprodução é, na generalidade dos casos, bissexuada, caracterizando por extraordinária fertilidade. A maioria das fêmeas é ovípara. O formato dos ovos e o local escolhido para a ovipostura são tremendamente variáveis.

Existem casos, entretanto, em que os ovos permanecem no interior do organismo materno até o embrião se achar bastante desenvolvido. Nestes casos são larvíparas, pois as fêmeas em vez de eliminarem ovos, eliminam a prole já em estado de larva e, às vezes, em fase bastante adiantada. Desde ovo até adulto, o inseto sofre várias modificações complexas, reguladas por hormônios.

No desenvolvimento pós-embrionário (Fig. 7), o inseto sofre depois que sai do ovo, e se processa de duas maneiras: sem metamorfose (ametábolos) e com metamorfose (metábolos). Os insetos ametabólicos são aqueles que ao saírem do ovo já apresentam todos os caracteres da forma adulta, mudando de pele apenas para crescer, isto é, as formas jovens são semelhantes aos adultos.

Os insetos que sofrem metamorfose, metabólicos, compreendem dois grandes grupos; aqueles que sofrem metamorfose chamada incompleta (hemimetábolos) e aqueles que sofrem metamorfose chamada completa (holometábolos). Há ainda aqueles que sofrem metamorfose gradual (paurometabolia) quando os insetos passam pelas formas de ovo, ninfa e adulto, porém as ninfas têm um desenvolvimento gradual, vivem no mesmo ambiente e têm o mesmo hábito alimentar do adulto (ex: Hemiptera - barbeiros).

A existência, portanto, de um estado pupal entre a fase de larva e de adulto, caracteriza a metamorfose completa. Nos insetos de metamorfose incompleta não existe estado pupal porque as mudanças de pele conduzem diretamente em forma adulta, o que não se verifica no outro caso, em que as mudanças de pele conduzem a um estado pupal antes do adulto. Os besouros, as abelhas, as vespas, as formigas, as moscas, os mosquitos, as pulgas, as borboletas e as mariposas são insetos de metamorfose completa.

As formas jovens dos insetos de metamorfose incompleta são chamadas de ninfas. Todas as formas jovens dos insetos de metamorfose completa são chamadas de larvas (no caso das borboletas e mariposas, costuma-se dar a estas a denominação de Lagartas).

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Figura 7 - Tipos de ciclos evolutivos: Holometábolo e Hemimetábulo.

Classificação simplificada das Classes e as Ordens de importância veterinária:

Classe Insecta, conhecida como insetos. Classe Arachnida

Ordem Diptera (moscas, mosquitos e mutucas)

Phthiraptera (piolhos).

Siphonaptera (pulgas).

Hemiptera (barbeiros).

Acarina (carrapatos e ácaros).

ORDEM DIPTERA:

Essa ordem de insetos contém todas as moscas, mosquitos e mutucas de importância veterinária, se caracterizam por possuírem um par de asas funcionais. Algumas são importantes por serem ectoparasitas, enquanto em outras, são as larvas que parasitam os tecidos do hospedeiro ou por serem vetores de doenças. Todas as espécies são holometabólicas.

Morfologia externa e sistemática.

Compreende uma variedade de insetos de tamanho pequeno ou grande, com cabeça, tórax e abdome bem definidos providos de aparelho bucal de acordo com o habito alimentar (pungitivo ou não) e um único par de asas. Os do tipo pungitivo são hematófagos ou entomófagos e classificados como sendo picador-sugador. O tipo não-pungitivo o aparelho bucal destina-se apenas a sugar, vivendo de nectar de plantas, líquidos vegetais extraviados, exsudatos e material orgânico em decomposição. Em alguns casos o aparelho bucal é atrofiado, no inseto adulto, é o caso do Dermatobia hominis (mosca do Berne), que vivem das reservas acumuladas durante a fase larvar.

Adultos: corpo é dividido em três segmentos cabeça, tórax e abdome (Fig.8). Cabeça distinta do tórax, um par de antenas, um par de olhos compostos, um a três ocelos e o aparelho bucal. Mesotórax mais desenvolvido que o pró e metatórax. É onde estão situadas as patas e asas membranosas. As asas membranosas apresentam as estruturas chamadas veias, as primarias chamadas de Costal (C), subcostal (Sc), rádio (R), média (M), cúbito (Cu) e anal (A), cujas ramificações se conectam e formam áreas denominadas células. Às vezes apresenta junto à base da asa, na parte posterior, um lobo acessório e dobrado sobre si mesmo, a caliptra .

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Figura 8 - Morfologia externa de Diptera Cyclorrhapha; A- cabeça, quetotaxia, vista frontal; B- Tórax, quetotaxia, vista dorsal. C- Tórax, vista lateral (Adaptado de Pinto, 1938).

Na maioria dos machos os olhos são holópticos e as fêmeas dicópticos, com três olhos simples, arranjados em triangulo, podendo estar ausente em algumas famílias. O tórax composto pelos segmentos protórax, mesotórax e metatórax. Quase toda a superfície do tórax formada pelo escudo do mesotórax e este dividido em parte em duas partes, uma anterior e outra posterior, com uma sutura transversal. Atrás do escutelo encontra-se o escudo formado por um lobo convexo bem desenvolvido. Possuem um par de espiráculos respiratórios mesotorácico (anterior) e um par posterior metatorácico.

Biologia: são quase sempre ovíparos, depositando seus ovos em substratos diversos. O desenvolvimento embrionário ocorre dentro do ovo. Entretanto, algumas famílias como a Sarcophagidae, os ovos desenvolvem-se e eclodem no oviduto e a fêmea deposita larvas de primeiro estagio. As larvas são ápodas, cabeça bem definida nos Nematocera e reduzida na Brachycera. Em geral as larvas necessitam de ambientes úmidos e passam por 3 a 5 estádios antes de puparem.

A maioria dos dípteros fêmea tem necessidade de receberem uma alimentação protéica antes de iniciar produção de ovos (anautógenas). Aquelas fêmeas capazes de maturar os ovos sem uma alimentação inicial protéica são denominadas autógenas.

Classificação: é baseada em estudos filogenéticos nos DIPTERA desenvolvidos por Hennig (1973) reconhecendo duas subordens: NEMATOCERA e BRACHYCERA .

A subordem NEMATOCERA inclui os dípteros pequenos, mosquitos e borrachudos. Os adultos possuem antenas filiformes e longas (Fig. 9), com mais de seis artículos semelhantes exceto o escapo e o pedicelo. Asas geralmente longas e estreitas. As fêmeas com poucas cerdas nas antenas e machos com muitas cerdas. Larvas são ágeis, apresentam cabeças distintas (eucéfalas) e pupas moveis. Os adultos nascem como ortorrafos. Apenas as fêmeas são parasitas e possuem peças bucais do tipo picador-sugador. Os ovos são postos na água ou próximos a ela. Esta subordem contém sete infraordens, duas das quais são hematófagas: Psychomorpha e Culicomorpha. Na Psychomorpha estão os Psychodidae, que são mosquitos pequenos com apenas uma subfamilia de importância veterinária, Phlebotominae. A infraordem Culicomorpha inclui os mosquitos, borrachudos e vários outros nematoceras.

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Figura 9 - Características das antenas dos dípteros Nematocera.

A subordem BRACHYCERA é enorme, apresentam dípteros de corpo robusto, tais como as mutucas, mosca-domestica e moscas-dos-estábulos. As antenas geralmente possuem três segmentos, palpos com um ou dois segmentos (Fig. 10, 11). A larva possui cabeça reduzida e retrátil. A pupa pode ser móvel ou dentro de pupário. As famílias de importância veterinária encontram-se na infraordem MUSCOMORPHA e da infraordem TABANOMORPHA.

Figura 10 - Características das antenas dos dípteros Brachycera Muscomorpha. Suas partes

constituintes: E- escapo; P- pedicelo; F- flagelo; A-arista; An- anelações; Es- estilo.

Figura 11 - Características das antenas dos dípteros Brachycera Tabanomorpha.

SUBORDEM BRACHYCERA MUSCOMORPHA (=Cyclorrhapha)

A Muscomorpha inclui as moscas, na qual os adultos possuem no terceiro articulo antenal, uma estrutura chamada de arista. Nesta quando semelhante a uma pena é denominada de plumosa ou quando em forma de cerda é denominada de nua. As larvas acéfalas são moveis e vermiformes e desenvolvem o pupário (imóvel) de onde o adulto emerge. Os olhos compostos são grandes e nas fêmeas são dicópticos e dos machos holópticos. Os ocelos localizam-se entre os olhos compostos e servem para dar a sensação de claro e escuro. Existem 2 tipos básicos de aparelho bucal nos Muscomorpha: o tipo lambador (mosca domestica e varejeira) e do tipo picador (mosca-dos-estábulos e mosca-dos-chifres).

É dividida em duas seções, Aschiza e Schizophora. A primeira possui as famílias Phoridae e Syrphidae de pouca importância veterinária. Os adultos de Schizophora apresentam uma sutura ptilineal e são classificados em duas subseções: Calyptratae e Acalyptratae.

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A Calyptratae apresentam um sulco bem definido no segundo segmento antenal (pedicelo) e uma caliptra. A maioria das moscas de importância veterinária pertence a essa subseção. Os Acalyptratae não tem um sulco no pedicelo e a caliptra pouco desenvolvida, apresenta pouca importância veterinária.

Os Calyptratae de importância medico-veterinário, são divididos em 3 superfamílias Muscoidea, Hippoboscoidea e Oestroidea. A Muscoidea contem 2 famílias Muscidae e Fannidae; os Hippoboscoidea duas famílias Glossinidae e Hippoboscidae; e os Oestroidea apresentam Calliphoridae, Oestridae, Cuterebridae e Gasterophilidae.

CALYPTRATAE: MUSCIDAE

Inclui moscas de tamanho médio, corpo cinza a amarelo escuro, algumas de cor azul a verde metálica. Compreendem os gêneros de aparelho bucal funcional, quatro faixas negras no mesonoto. Quarta nervura longitudinal da asa recurvada formando um cotovelo, em ângulo reto. M1 geralmente curvada para a margem anterior da asa. Arista nua ou plumosa. Três estágios larvares, sendo que a larva é vermiforme e geralmente é esbranquiçada. Possui reflexos amarelados no abdome. A larva, na extremidade anterior possui ganchos (para captar alimentos) e na posterior possui estigmas respiratórios com 1, 2 ou 3 aberturas, de acordo com a fase larvar (L1, L2, L3).

A família apresenta uma subfamília Muscinae com os gêneros de interesse a Musca domestica (mosca doméstica), Stomoxys calcitrans (mosca-dos-estábulos) e Haematobia irritans (mosca-dos-chifres).

Musca domestica: Não são parasitos obrigatórios, mas se nutri de secreções e são atraídos por feridas. Os adultos têm cerca de 5 mm de comprimento e possuem cor cinza. Abdome com uma grande área amarelada lateralmente. Tórax com quatro listras longitudinais, escuras (Fig. 12). Abdome acinzentado. Aparelho bucal: com palpos médios, labela com pseudotraquéias (liquefaz o alimento sólido). Antenas pretas com arista plumosa (cerdas dos dois lados; Fig. 13).

Figura 12 – Denominação de cerdas em tórax de mosca: A- Mesonoto, subdividido em pré-escudo, escudo e escutelo; B- Aspecto lateral do tórax: 1- grupo de cerdas umerais, 2- pós-umerais, 3- notopleuras, 4- pré-suturais, 5- supra-alares, 6- interalares, 7- pós-alares, 8- dorsocentrais, 9- acrosticais, 10- escutelares, 11- propleurais, 12- mesopleurais, 13- esternopleurais, 1q4- hipopleurais e 15- metapleurais.

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A postura é feita 4 dias após a cópula e são depositados 75 a 150 ovos por vez. A incubação é de 24 horas, sendo que em 25o a 35oC - 8 a 12 horas e 23o a 26oC - 3 a 4 dias. A postura é feita nas fezes ou em matéria orgânica em decomposição, quando de suínos leva 7 dias para ir de L1 a L3, em fezes humanas leva duas semanas e em lixo leva três semanas.

Figura 13 – M. domestica: Peças bucais sugadoras. Asa, com a veia 4 formando um cotovelo.

As larvas cilíndricas são segmentadas e esbranquiçadas, pontiagudas e possuem um par de ganchos (Fig. 14). Na extremidade posterior observam-se os espiráculos respiratórios, cuja forma e estrutura dos estigmas têm abertura em forma de m (Fig. 15). Os três instares larvais nutrem-se de matéria em decomposição. O período pupal é de 14 a 28 dias, mas no verão leva 4 a 5 dias.

Figura 14 – larva de Musca domestica. a- papila cefálica, b- espiráculo anterior, c- área espinhosa ventral, d- espiráculo posterior, e- tubérculos anais, f- placa espiracular.

Figura 15 - Placas estigmáticas e respectivos estigmas respiratórios das larvas maduras de alguns muscoides importantes. Para observar tais estruturas, deve-se: cortar com tesoura o último segmento larvar, colocar esse fragmento sobre uma lâmina (pode ou não colocar lamínula)

Importância: 1) Transporte forético de microorganismos que levam à febre tifóide, disenteria, cólera e mastite bovina, e de protozoários como Entamoeba, Giardia e helmintos como Taenia sp e Dipylidium. É também veiculadora de ovos da Dermatobia hominis; 2) Hospedeiro intermediário de endoparasitos como Habronema em cavalos e Raillietina em aves.

Stomoxys calcitrans: “mosca-dos-estábulos”. Os adultos são hematófagos, de picadas dolorosas, medem de 4 a 7 mm de comprimento, são vetores de protozoários e helmintoses dos animais (Fig. 16). Com 4 faixas longitudinais no tórax. De distribuição mundial. Abdome mais curto e mais largo que a mosca domestica, com três manchas escuras no segundo e no terceiro segmentos

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abdominais. O aparelho bucal projetada para frente é suficiente para distinguir da M. domestica. As larvas de Musca e Stomoxys são distinguidas pelos espiráculos respiratórios.

Figura 16 - Peças bucais picador-sugador da mosca dos estábulos S. calcitrans. Asa membranosa.

Ciclo: ambos os sexos são hematófagos e ingerem sangue varias vezes durante o dia. Os adultos vivem cerca de um mês, preferem ambientes ensolarados e picam ao ar livre, mas também em ambientes fechados onde se encontram os animais estabulados. Cada fêmea pode depositar de 60 a 800 ovos, com postura media de 20 a 50 ovos cada, nos quais são depositados, em matéria orgânica em decomposição e eclodem em quatro dias. Possuem três estágios larvais, são saprófagas, espiráculos escuros, com 3 aberturas em S, circundando um botão central. As formas adultas emergem do pupário em torno de 30 dias (Fig. 17).

Figura 17 – Ciclo biológico da S. calcitrans

Importância : Durante a alimentação produzem ação irritativa devido aos pequenos dentes existentes na extremidade das peças bucais. São necessários em torno de 3 minutos para completar sua alimentação. A interrupção da alimentação facilita a transmissão mecânica de tripanossomos e outros patógenos, inclusive funciona como hospedeiro intermediário do helminto Habronema. Estima-se que as perdas de produção de leite e carne chegam de até 20% pela ação direta do parasitismo por Stomoxys.

Haematobia irritans: são os menores mucideos hematófagos, têm cerca de 4 mm de comprimento (Fig. 18). De cor cinza com diversas listras escuras no tórax. A probóscida mantém-se para frente e os palpos são muito mais grossos do que da S. calcitrans e alargados apicalmente. As moscas do chifre são de distribuição mundial e temos bovinos e bubalinos como principais hospedeiros. No hospedeiro fica na posição da cabeça para baixo.

Foi registrada no Brasil pela primeira vez em Roraima entre os anos de 1877 e 1978 (VALÉRIO & GUIMARAES, 1983). O transporte rodoviário de animais infestados foi o fator que mais contribuiu para a disseminação desta praga pelo território nacional. A perda de sangue devido ao

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ataque dessas moscas é considerável. Causam irritação e a ferida causada durante a sucção de sangue atrai outras moscas causadoras de miíases. Podem transmitir o filarídeo cutâneo dos bovinos (Stenofilaria stilesi).

Figura 18 - Vista lateral da cabeça de fêmeas de S. calcitrans (A) e da H. irritans (B)

A H. irritans permanece sobre o hospedeiro dia e noite, de preferência pelo dorso, lado do tórax, abdome e ao redor da cabeça. Abandona brevemente o hospedeiro para acasalar e realizar ovipostura. Ovos são castanhos avermelhados e postos quase que exclusivamente em fezes frescas de bovinos, eclodem em 20 a 24 horas e em 4 dias já podem iniciar a pupar (fora ou dentro do bolo fecal). Seis a 8 dias inicia a emergência dos adultos e ficam sob os hospedeiros alimentando-se. Cada fêmea pode produzir de 100 a 200 ovos (Fig. 19).

Figura 19 – Ciclo da Haematobia irritans.

CALLIPHORIDAE

Morfologia : dípteros de medio a pequeno porte, de modo geral azulados, violáceos, esverdeados ou cúpreos, com reflexos metálicos. Arista plumosa (principalmente nos 2/3 basais). Duas cerdas notopleurais (Fig. 12). Quarta veia longitudinal (M) fortemente curvada distalmente; celula apical (R5) estreita, porém raramente fechada distalmente. Caliptra bem desenvolvida. Escudo podendo apresentar tres faixas pretas longitudinais; pós-escutelo ausente ou pouco desenvolvido. Diferem dos Muscidae por apresentarem uma fila de cerdas merais e dos Sarcophagidae pela coloração metálica e por apresentarem 2 cerdas notopleurais, raramente três. Esta familia é conhecida pelas moscas varejeiras. Os gêneros Cochliomyia, Lucilia, Chrysomya e Calliphora são de importância veterinária por serem produtoras de miíases.

Cochliomyia spp, este gênero inclui a “moscas da bicheira”, “vareja” ou “mosca varejeira”. Califorídeos de tamanho médio, cor verde-metálico ou azul esverdeado. Cabeça, com palpos e antenas amarela ou alaranjada. palpos filiformes. Asas hialinas, nervura basicosta de cor preta e sem pêlos na base (Fig.20). Escudo com três faixas pretas longitudinais bem visiveis. Existem 5 espécies, duas das quais são causadoras de miíases no homem e animais: C. macellaria e C. hominivorax, que devem ser diferenciadas por chaves dicotômicas segundo Guimaraes & Papavero, 1999 ( GUIMARÃES et al, 2001).

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Figura 20 – Asa de C. hominivorax.

C. hominivorax possuem a coloração azulada ou azul-esverdeada e se distingue das demais do genêro por possuirem pêlos pretos na extremidade inferior da parafrontalia e esclerito subcostal preto. Occipício das fêmeas geralmente vermelho, alaranjado ou castanho. Abdome sem manchas laterais quando observada dorsalmente.

As fêmeas depositam de 200 a 300 ovos em massas compactas (a cada 3 dias) sobre a pele ao redor de feridas ou qualquer lesão, instalando uma miíase primária, geralmente cutânea, mas poderá invadir orificios naturais e produzir miíases cavitárias (Fig. 21).

As larvas se desenvolvem por 4 a 10 dias, abandona a ferida e vão pulpar no solo. A duração do periodo pulpar varia de 7 dias no verão e 3 semanas no inverno. As fêmeas copulam uma única vez e depositam seus ovos em torno de 5 a 10 dias após sua emergência.

Figura 21- ciclo biologicos de algumas moscas verejeiras.

As larvas poderão ser identificadas através de uma combinação de características. A maior parte destas características pode ser observada e terceiro estádios. Os troncos traqueais principais pigmentados de negro atingindo a distância de 3 a 4 segmentos; margem posterior do segmento 11 com um anel completo de espinhos; espiráculos posteriores maiores; espiráculos anteriores geralmente com 7 a 9 digitos e parede ventral da faringe lisa. As larvas são biontófagas, isto é parasitam obrigatoriamente tecidos vivos.

Semelhante a C. hominivorax, coloração verde-brilhante, cabeça amarelo-alaranjada; quarto tergito abdominal com áreas laterais apresentando pilosidade clara, formando duas manchas visiveis sob a incidência de luz. C. macellaria: troncos traqueais principais claros, não pigmentados; margem posterior do segmento 11 apresentando espinho ventralmente; espiráculos posteriores pequenos; espiráculos anteriores geralmente com 8 a 11 digitos e parede ventral da faringe com estrias longitudinais.

Suas larvas são semelhantes as da C. hominivorax, são invasoras secundarias de ferimentos, separando-se destas por apresentarem os troncos traqueais com pigmentação intensa somente na proximidade dos espiráculos posteriores. As fêmeas depositam seus ovos (40 a 250), em tecidos necrosados dos ferimentos (necrobiontófagas), lixo, cadáveres e outros tipos de materia orgânica em decomposição. As moscas são ativas, voando grandes distâncias a procura da materia orgânica animal em putrefação (Fig. 22).

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Figura 22 - Vista dorsal dos segmentos posteriores da Larva III. A- C. macellaria, mostrando troncos traqueais não pigmentados, B- C. hominivorax, mostrando troncos traqueais pigmentados. Segundo esquema, vista lateral: B – larva de C. hominivorax, com o pseudocéfalo à esquerda; os espiráculos anteriores (ea), no segundo segmento e os espinhos (es) estão em destaques. C- larva de C. macellaria, com as caracteristicas que a diferenciem da espécie anterior.

Lucilia (Phaenicia), responsaveis pelas miíaes nas ovelhas em todo o mundo. Apresenta cor bronze ou azul, com reflexos metálicos, olhos nus, tubérculo ocelar alcançando quase 1/3 da distância entre o vértice e a lúnula, arista com plumosidade longa, palpo clavado, escudo com 3 cerdas dorsocentrais pós-suturais, 2 a 3 acrostais pós-suturais, proepisterno e prosterno pilosos, esclerito subcostal sem pêlos. Abdome sem cerdas dorsais e segmentos 4 e 5 com longas cerdas marginais. As larvas se alimentam de tecido necrosado: L. eximia, L. cuprina e L. sericata. A especie L. eximia, foi registrada causando miíases em cães e gato doméstico no Brasil.

Chrysomya (Fig. 23a), escudo sem faixas transversais distintas. Caliptras inferiores pilosas em toda sua extensão, com pêlos curtos. Possuem espiráculos protorácico de cor branca (C. albiceps) (23b) ou castanho (C. megacephala). São moscas sinantrópicas, as larvas são saprófagas, algumas vezes causadoras de miíases primárias e secudárias. A taxonomia desse gênero inclui chaves para adultos e larvas.

Figura 23a - Cabeça de C. megacephala, vista frontal: A- macho, B- fêmea (DE JAMES, 1948); 23b – Vista lateral de C. Albiceps (AHID, 2008)

HIPPOBOSCIDAE

São moscas hematófagas de aves e alguns mamíferos. Apresentam corpo largo, achatado dorsalmente, cabeça pequena e justaposta ao tórax, antenas com 3 segmentos alojada me uma fosseta antenal. Olhos vestigiais ou ausentes. Pernas desenvolvidas, com fortes garras adaptadas para se fixar em pêlos ou penas dos hospedeiros.

Melophagus ovinus, são moscas picadoras, conhecidas com “falso carrapato dos ovinos”, corpo peludo, cabeça encaixada no torax, olhos pequenos e ocelos ausentes, antenas nua e não possuem arista, são ápteros e também não possuem balancins. De cor ferruginosa. Os adultos são ectoparasitas permanentes e alimentam-se de sangue de ovinos e caprinos, são larvíparas. As larvas eclodem dentro da fêmea e desenvolvem-se até a larva III e só a libera proxima a pupação. A fêmea deposita os ovos nos pêlos dos animais e o adulto emerge após 22 dias (Fig. 24).

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Figura 24 – ciclo biologico e exemplares da mosca dos ovinos.

Pseudolynchia canariensis, cabeça mais ou menos esféricas (Fig. 25). Fronte e vértice largos. Olhos compostos pequenos e ocelos ausentes. Asas bem desenvolvidas. Pernas anteriores e médias mais curtas que as posteriores. Cria-se principalmente em pombos novos. As fêmeas são larvíparas. As larvas desenvolvem-se no interior de fêmeas, alimentando-se de secreções das glândulas acessórias do útero. Logo após a larviposição e pupam em terra seca. Os adultos vivem em média 45 dias e sugam sangue 2 vezes em 24 horas. São importantes por transmitirem o hemoprotozoário de pombos Haemoproteus columbae.

A

B

Figura 25 – A - M. ovinus, macho, vista dorsal; B- P. canariensis, (A) face dorsal do macho, (B) asa.

GASTEROPHILIDAE .

Gasterophilus nasalis (Fig. 26). Ocorre em todo o Brasil; possuem olhos pequenos separados nos dois sexos; cor escura e pilosa; tórax castanho-escuro, com reflexos dourados dorsais; asas pequenas, claras e transparentes; abdome castanho anterior, preto mediano, preto com pilosidade. Causa Gasterofilose, uma miíase cavitária. Tem como hospedeiros os eqüinos, asininos, elefantes, rinocerontes, ocasionalmente humanos (L1 penetra na pele, mas não evolui).

Ciclo: Ovipostura (400 ovos durante a vida) nos dias mais quentes e feitas nos pêlos. Os ovos são operculados, de coloração amarelo-castanha, ficam presos em pêlos de 3 a 4 dias até eclodir. A L1 migra para a boca, onde ficam 3 a 4 semanas em galerias entre dentes molares, sofre ecdise para L2 que migram para faringe e são deglutidas, em seguida para L3 e ficam por 10 a 12 meses. A L3 abandona hospedeiro espontaneamente junto às fezes. Pupa no solo, que evolui em 20 a 35 dias. Os adultos vivem de 14 a 20 dias. Forma adulta não se alimenta e são abundantes durante o verão.

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Figura 26 – G. nasalis: A-fêmea; B-ovo aderido a um pêlo de eqüino; C-larva; D-placas estigmáticas.

As larvas de aspecto cilíndrico, amarelo-cera, com região posterior avermelhada. Com uma ou duas séries de espinhos por segmento (dep. espécie), de 20 mm, espiráculos posteriores com diferenciação pelos espinhos. Tem as seguintes localizações habituais: G. intestinalis no cárdia; G. nasalis no piloro e duodeno; e o G. haemorrhoidalis pode fixar no reto. Permanecem na forma pupar por 20 a 35 dias e tem aspecto semelhante à larva.

Patogenia: No início da miíase não há sinal evidente. Em infestação maciça pode cursar com alterações digestivas: apetite caprichoso e inconstante, emagrecimento, cólica, palidez de mucosa, prostração. As moscas ao se aproximarem provocam correria e pânico – pode levar a fraturas. Há migração subepitelial assintomática. Migração pela faringe, esôfago e estômago pode causar irritação local. Larvas no piloro podem obstruir ou dificultar passagem alimentar

Profilaxia : Água aquecida (50ºC) provoca eclosão de larvas. Esfregar com escova ou pano com água a 50ºC as partes do corpo onde são depositados ovos a cada 4 dias. Eliminar ovos aderidos aos pêlos através de raspado ou tosquia (longe do ambiente onde eles ficam). Paredes lavadas de 4 em 4 dias com água aquecida. Estabular animais nas horas quentes. Inseticidas em pulverizações

OESTRIDAE

Oestrus ovis: mosca de tamanho médio (Fig.27), cabeça larga, possui peças bucais atrofiadas. Antenas curtas, arista nua. Célula apical fechada. Abdome apresentando pêlos finos e longos na face ventral e extremidade distal. Larva III, com face dorsal convexa, extremidade anterior atenuada e a posterior truncada; apresenta espinhos somente na face ventral e com faixa transversais escuras cada uma com várias séries de espinhos. No último segmento estão as placas estigmáticas em forma de D. Causam a oestrose nos ovinos e caprinos.

Figura 27 – Oestrus ovis. A- adulto; B – larva; C – placas estigmáticas. As larvas, permanecem no hospedeiro por 1 mês ou ao longo do periodo do inverno.

A mosca adulta não se alimenta e não vive mais que 30 dias. São larvíparas, e depositam suas larvas em vôos rápidos próximos as narinas. Cada fêmea pode pôr até 500 larvas. As larvas são parasitos obrigatórios de seios nasais de seus hospedeiros e se alimentam de secreção da mucosa inflamada; possuem cor esbranquiçada e abandonar em forma de L3 para pupar no solo. Das pupas emergem os adultos em um período de 3 a 8 semanas.

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SARCOPHAGIDAE

Moscas grandes, de cor cinza, tórax com três faixas longitudinais pretas e abdome xadrez preto e branco. Célula apical da asa fechada, caliptras bem desenvolvidas. Abdome xadrezado. Larvas carnívoras vivem em material de origem animal em decomposição.

As fêmeas são larviparas e podem pôr até 50 ovos de cada vez, em locais que tenham material animal em composição, cadáveres (necrófagas), e em feridas (necrobiontófagas) ocasionado miíases secundarias.

CUTEREBRIDAE

Dermatobia hominis: O berne é um parasito de animais domésticos e silvestres e em alguns casos o próprio homem. É provocado pela larva dessa mosca. A fêmea oviposita em outras moscas ou mosquitos que carregam seus ovos até o hospedeiro, por exemplo, a mosca doméstica que pode carregar mais de 30 ovos aderidos ao seu abdome.

O inseto vetor ao pousar em um animal acaba deixando alguns ovos da mosca do berne, cujas larvas ao eclodirem penetram no tecido subcutâneo permanecendo por um período como miíase furuncular, sendo os bovinos e caninos os hospedeiros preferenciais.

Ocasionalmente, podem ocorrer infiltração bacteriana e formação de abcessos subcutâneos, além de postura de ovos pela C. hominivorax, o que determinar o estabelecimento de miíase primária. A infestação dos animais por estes parasitos acarreta a perda de peso, stress, depreciação da pele e, em casos de alta infestação, pode levar a morte do animal.

SUBORDEM BRACHYCERA INFRAORDEM TABANOMORPHA

São adultos dípteros com antenas mais curtas que o tórax, de forma muito variável, trisegmentadas, com 3º segmento alongado freqüentemente constituído de anéis não articulados entre si. Palpos com 1 ou 2 segmentos. Célula discal quase sempre presente, célula anal fechada ou contraindo-se antes da margem da asa. Na subordem Brachycera, apenas a família Tabanidae, conhecidas como mutucas, apresentam interesse veterinário.

TABANIDAE São chamados de mutucas ou mosca do cavalo, são moscas robustas medindo de 0,6 a 3 cm. Somente as fêmeas são hematófagas e os machos (holópticos) desprovidos de mandíbulas se alimentam de néctar. De cabeça semi-esférica, aparelho bucal do tipo lambedor e sugador (Fig. 28a). Olhos desenvolvidos. Presença ou não de ocelos afuncionais. Antenas com 3 segmentos e o flagelo apresenta anelações que são projetadas para frente, geralmente com a porção basal alargada. Palpos com dois segmentos.

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Figura 28a - Cabeça, mostrando a morfologia geral

Tórax grande, mesonoto desenvolvido. Corpo sem cerdas, coloração variando de castanho-cinza até preto-escuro, algumas podem ser amareladas, verde ou azul metálicas, pode apresentar padrões de faixas ou manchas. Escutelo sem espinhos. Asa com terceira nervura longitudinal bifurcada (R4 +5), com espinhos na nervura costal da asa. Caliptra grande. Abdome largo com sete segmentos visíveis (Fig. 28b).

Figura 28b – Chrysops laetus: fêmea, vista dorsal.

Biologia: são holometábolos (ovo – larva - pupa - adulto), são consideradas pragas para os animais domésticos e homem (Fig. 29). Em clima quente o ciclo dura 4 meses. Após o repasto a fêmea põe lotes de várias centenas de ovos sobre plantas aquáticas, sobre o musgo que recobre as pedras marginais dos rios, córregos e lagoas em troncos de árvores cheios de detritos vegetais. A oviposição ocorre tanto em ambiente aquático como úmido (pantanoso e troncos podres). O número

de ovos e período de incubação variável (PI = 10 dias a 8 meses).

As larvas dos tabanídeos são acinzentadas e cilíndricas, apresentam o corpo com sete segmentos e oito pernas falsas. Apresentam um sifão posterior. As pupas são moveis de cor castanha segmentos torácicos e abdominais visíveis.

As larvas ao eclodirem, caem na água e completam o seu desenvolvimento no lodo do fundo d'água (se enterram); são carnívoras alimentando-se de pequenos animais ou de larvas de outros insetos (aparelho bucal mastigador), não encontrando alimentação suficiente tornam-se canibais. Na falta de alimento podem atacar animais e humanos. Passam por 8 estágios larvares, sendo que o desenvolvimento é bem variável, em função da espécie, clima e quantidade de alimento (L1 a L8 varia de 30 dias a 1 ano). O período pupal é curto, de alguns dias ou semanas. As pupas (Fig. 31) são parecidas com a crisálida (pupário) das borboletas. A pupação se dá no mesmo lugar das larvas, porém procuram locais menos encharcados.

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Figura 29 – Larva de Tabanus: Ca - cabeça; 1º, 2º e 3º segmentos torácicos; Ab - segmentos abdominais (Fig. 30).

Figura 30 – Ciclo Biológico de Tabanídeo. Figura 31 – Pupa móvel de Brachycera.

As fêmeas também sobrevivem com néctar, porém precisam de sangue para a maturação dos ovos. As fêmeas localizam sua presa pela visão e suas picadas são profundas e dolorosas. As fêmeas muitas vezes não conseguem terminar o repasto sangüíneo já que o animal ou pessoa se sente bastante incomodado e a retira do local onde estava sugando. São silvestres e raramente são encontrados nos domicílios. São de hábito diurno e sua picada é bastante dolorida. Surgem nos meses quentes.

Subfamilia PANGONINAE (com ocelos; esporão tibial) Tribo Chrysopsini (asas manchadas) Tribo Scionini (olhos pilosos)

Subfamilia TABANINAE (sem ocelos) Tribo Tabanini (basicostas com cerdas) Tribo Diachlorini (basicostas nua)

Figura 32 – Esquema geral de um tabanídeo.

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Subfamília PANGONINAE.

Presença de ocelos funcionais, com esporão tibial na pata III. Terceiro artículo das antenas formado de anéis justapostos sempre em número superior a cinco; probóscida alongada. Asa manchada (Fig. 33) e de tamanho pequeno (CHRYSOPSINI). Olhos pilosos e probóscida longa (SCIONINI )

Tribo CHRYSOPSINI

Chrysops raramente maiores que 10 mm; a asas apresentam faixa preta transverso-mediana, e uma mancha apical, nos machos as manchas são mais extensas. Antena longa, terceiro artículo com o primeiro anel tão longo quanto os quatro seguintes reunidos. Olhos com padrão cromático complicado.

Tribo SCIONINI

Fidena: gênero numeroso, com cerca de 86 espécies, nunca maiores que 15 mm, corpo coberto por curta pilosidade, superfície dos olhos recoberta de fina pubescência, probóscida estiletiforme, longas, sempre maior que a altura da cabeça. Calo frontal às vezes indistinto.

Figura 33 - Diferenças das asas das mutucas: Chrysops, contém um ou mais manchas transversais; Tabanus sp, sem manchas.

Subfamília TABANINAE

A basicosta (projeção próxima à base da nervura costal) com cerdas (TABANINI ) ou sem cerdas (DIACHLORINI ). Sem esporão tibial na pata III. Ausência de ocelos funcionais, probóscida raramente mais longa que altura da cabeça. Geralmente curta e robusta.

Tribo TABANINI: A basicosta densamente revestidas de setas e labelas densamente pilosas. Gênero Tabanus.

Tribo DIACHLORINI: A basicosta de um modo geral sem setas. Labelas esclerosadas, presença de vestígios de ocelos. Gênero: Diachlorus, Chlototabanus, etc.

A forma de transmissão dos agentes patogênicos é mecânica, onde o inseto leva ativamente o patógeno e inocula num outro, sem que nesse tempo haja seu desenvolvimento. São capazes de transmitir a anemia infecciosa eqüina; peste suína, viroses; bacterioses, protozoários (T. equinum, causa o mal das cadeiras em eqüinos, com incoordenação motora dos membros posteriores e T. evansi em suínos). Efeito direto pela picada (dor).

Controle: 1) Deve-se eliminar o habitat de criação de larvas, como terrenos mal drenados, pois os adultos são encontrados nas regiões próximas ao desenvolvimento das larvas; 2) O controle químico é quase inviável porque os tabanídeos quase não se alimentam, por isso necessita inseticida de contato, com efeito, residual nos estábulos e nos animais; 3) Fitas escuras adesivas colocadas nos estábulos funcionam como armadilhas para capturar esses insetos.

SUBORDEM NEMATOCERA

Os dípteros Nematocera, geralmente são pequenos de corpo delgado e delicado, com antena longa, por possuir vários segmentos articulados. Asas geralmente longas e estreitas. Palpos com 4 a 5 segmentos. Os mosquitos podem ser divididos em domésticos, semidomésticos e silvestres. Entre os domésticos, encontram-se os do gênero Aedes e Anopheles que vivem nas residências urbanas, e suas larvas crescem nas águas paradas como vasos de flores e pneus velhos. Os semidomésticos entram nas habitações para alimentar-se de sangue, abriga-se em ocos de pau, sob

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folhas, nas frestas das paredes, etc. Só atacam o homem quando este invade as matas (Anopheles - febre amarela silvestre).

Os adultos dos mosquitos têm os hábitos mais variáveis. Alimentam-se, em geral, de sangue. Este hematofagismo obrigatório diz respeito apenas às fêmeas, visto que os machos se alimentam de suco de frutas e néctar das flores. A necessidade de sugar sangue é que resulta na transmissão de diversas moléstias.

A estrutura do aparelho bucal é essencialmente semelhante em todas as famílias de nematóceros hematógagos (Ceratopogonidae, Simulidae, Culicidae e Psychodidae), sendo mais alongada nos mosquitos.

Quando a fêmea escolhe o local na pele que vai se alimentar, o labro, mandíbula, maxilas e hipofaringe penetram dentro da pele, enquanto a labela repousa na superfície dobrada no lábio parta trás. A saliva é bombeada para baixo no meio da hipofaringe, causando vasodilatação local, sendo o sangue sugado por meio de bombas musculares. A maioria dos nematoceras machos não se alimenta de sangue e apresentam o aparelho bucal pouco desenvolvido.

CULICIDAE

Morfologia (Fig 34): Os verdadeiros mosquitos pertencem a esta família. São delgados e pequenos, com pernas longas, somente as fêmeas são hematófagas, com probóscida longa, maior do que a cabeça. Os machos apresentam o aparelho bucal reduzido, não podendo perfurar a pele, possuem antenas plumosas, enquanto que as fêmeas possuem antenas com poucos pêlos. Os segmentos dos palpos diferem com os sexos e entre os culicíneos e anofelinos. Os palpos e probóscida das fêmeas dos anofelinos são longos e retos, enquanto nas fêmeas de culicíneos, os palpos medem cerca de ¼ de comprimento da probóscida.

1 2

Figura 34 – 1: Peças bucais picador-sugador de mosquitos. 2: Mesonoto e asa de Culicidae: A- mesonoto de Culicini e Aedini, com escutelo trilobado; B - asa de Culinini e Aedini, com escamas sem manchas; C - mesonoto de Anophelini, com escutelo simples; D - asa de Anophelini com escamas escuras formando manchas; es- escutelo.

Há três subfamílias Toxorhynchitinae, que não se alimenta de sangue; Anophelinae, com o gênero Anopheles e Culicinae que compõem quase todos os demais gêneros. Nas duas últimas subfamílias estão incluídos os mosquitos que transmitem patógenos.

Para identificar um culicíneo (Culex) de um anofelino (Anopheles) (Fig. 35) deve-se observar a maneira como os adultos pousam no substrato. Os anofelinos ao pousarem em superfície plana, a probóscida fica em linha reta com o ângulo da superfície, enquanto os culicíneos pousam com o corpo quase paralelamente a este.

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Dentre os anofelinos estão os mosquitos Anopheles, transmissores da malaria, e nos culicíneos estão os Aedes transmissores do dengue, febre amarela e a Dirofilaria immitis, os Culex, responsável pela filariose humana e secundariamente pela transmissão do filarídeo canino.

Figura 35 - Cabeças de Nematocera Culicídeos, macho e fêmea: Culicini e Anopheli: an- antena, pr- probóscida, pa- palpos.

Biologia (Fig. 36): os mosquitos anofelinos depositam os ovos em pencas com cerca de 200 ovos por oviposição, na superfície da água, geralmente à noite. Os ovos têm formato de botes flutuadores laterais característicos, que os impede de afundar, formando jangadas. Quando chegam à maturidade eclodem independentemente da presença de água. No caso dos Aedes, a maioria deposita seus ovos de modo isolado em meios úmidos, não necessariamente sob água; porém ao alcançarem à maturidade, esperam por uma quantidade de água para estimular a eclosão. Há casos que os ovos permanecem viáveis por mais de três anos.

Figura 36 – Ciclo biológico dos Culicídeos.

As larvas (Fig. 37) eclodem 30 a 40 horas após a postura dos ovos, em condições adequadas. As larvas dos mosquitos são sempre encontradas na água e não possuem pernas nem asas. Em todas as espécies de mosquitos as larvas passam por 4 estágios.

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A B

Figura 37 – A: larva de um anofelino, em destaque (tp) tufos palmados, contribuírem para a flutuação das larvas. B- Pupa de um anofelino, olhos, antenas, patas, asas, pernas do futuro inseto adulto já podem ser observados pelo tegumento transparente.

Apesar de serem aquáticas, as larvas respiram o oxigênio do ar, necessitando chegar à superfície da água. As larvas pequenas respiram através da cutícula e em algumas quando nas ultimas fases apresentam uma estrutura denominada sifão respiratório. As que apresentam sifão situam-se quase que perpendiculares à superfície da água, enquanto aquelas desprovidas deste órgão dispõem-se horizontalmente à superfície. Esta característica permite uma rápida identificação do mosquito (Fig. 38) As larvas dos anofelinos não apresentam sifão respiratório enquanto as larvas dos culicíneos apresentam. O aparelho bucal das larvas é do tipo mastigador-raspador e alimentam-se filtrando microplâncton, que é constituído de bactérias, algas, rotíferos, esporos de fungos, entre outros materiais orgânicos, usando um par de escovas orais ou palatais.

A pupa (Fig. 37), fase intermediária entre as larvas e o adulto, apresenta aspecto de vírgula. São bastante moveis, a cabeça e o tórax são fusionados, no qual se prende um par de trombas respiratórias, onde se abrem os únicos espiráculos da pupa. Nesta fase o mosquito não se alimenta e fica a maior parte do tempo parado em contato com a superfície da água (Fig. 38). Quando a água é perturbada as pupas se mexem. Duram de 1 a 7 dias.

Figura 38 – Ciclos evolutivos comparativos da anofelídeos e culicídeos.

Habitat : Forma adulta é terrestre, vive em ambiente diferente daquele onde se desenvolveram as larvas. Encontra-se com freqüência em descampados, folhagens, florestas, alguns se adaptaram a regiões inóspitas como mangues, desertos, cerrados, cavernas. As larvas de nematocera desenvolvem-se em água corrente ou estagnada, matéria orgânica em decomposição ou no interior de vegetais. Nessa fase de adulto ele é bastante vulnerável, pois acaba de sair do pupário e sua quitina ainda não endureceu. Quando isso ocorre, sai e procura os abrigos, e no horário característico começa a cópula.

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Nos mosquitos de hábitos crepusculares (anofelinos) a cópula se dá momentos antes de se dirigirem para as casa. Há mesmo a chamada "dança nupcial" em que os mosquitos ficam voando em largos círculos, aí se efetuando a cópula. Os machos e as fêmeas saem dos criadouros e em geral copulam no ar e essa cópula ocorre de duas maneiras: No Ae. aegypti, o macho fica sob a fêmea fixando-a por meio de duas pinças laterais, o ato dura 4 a 5 segundos; no Anopheles, macho e fêmea se prendem pela extremidade posterior, ficando em linha. Um macho pode copular várias fêmeas e uma fêmea pode ser copulada por vários machos.

CERATOPOGONIDAE: mosquito pólvora e maruins

Culicoides: têm picada semelhante à de um fósforo aceso no braço. Ovos postos em água doce ou salgada (Fig. 39). Vive nos mangues e terrenos pantanosos, pois se desenvolvem em certo grau de salinidade. Só as fêmeas são hematófagas. As fêmeas fazem a postura em pedras e pedaços de pau. Hábitos diurnos.

A Picada produz lesões eczematosas urticarianas. Transmite filária, vírus da língua azul para bovinos e ovinos. Causa dermatite em eqüinos, com perda de pele.

Bem pequeno. Com pigmentos nas asas que se distribuem de maneira variada (asa enfuscada). Antenas longas, com 14 segmentos com formato de contas de rosário, os 1s segmentos antenais parecem bolas. Peças bucais curtas. Asas manchadas.

Figura 39 – Ciclo biológico de Culicoides sp.

PSYCHODIDAE : Mosquito palha (Fig. 40).

Características da família: as fêmeas são hematófagas. Palpos maiores que a probóscida. Cerdas longas pelo corpo. Possuem asa com formato lanceolar e com nervuras longitudinais e paralelas. Quatro estágios larvais e com fase de pupa no mesmo local.

Figura 40 – Esquema de um flebotomíneo, fêmea, mostrando a organização externa e a venação típica da asa.

O mosquito palha é transmissor do agente causal da leishmaniose (ex. Lutzomyia longipalpis transmite a leishmaniose visceral). Pouca capacidade de vôo, hábitos noturno (algumas espécies podem ter hábito diurno, manhã e/ou tarde), preferindo locais sombreados e ricos em matéria orgânica para fazer postura como tocas de animais. Tem atração por luz das casas. Durante o dia ficam escondidos.

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Subfamília PHLEBOTOMINAE : mosquito palha:Gêneros: Phlebotomus (Europa) e Lutzomyia (Américas).

Subfamília PSYCODINAE: Gênero: Psycoda - mosca dos banheiros

SIMULIDAE : Mosquito borrachudo

Gênero Simulium: fêmeas hematófagas. Parece uma pequena mosca com antenas de com 11 segmentos, sem cerdas e curtas (Fig. 41). Habitam áreas de cachoeiras e rios, pois só se desenvolvem em águas correntes, hábitos diurnos (crepuscular), picadas não doem na hora, passado algum tempo dói bastante e ocorre prurido, atacam em bandos.

Larvas e pupas ficam abaixo do nível das águas e as larvas apresentam ventosa posterior (para fixação), escova oral (para captar nutrientes rapidamente), pseudópodes (por isso é chamada de semifixa) e glândulas salivares que produzem um fio pegajoso do qual são tecidas as pupas. As pupas são em forma de cones com filamentos traqueais (para absorção de O2).

O adulto apresenta asa com nervuras em apenas uma parte dela e a antena parece um chifre e tem segmentos de flagelos achatados. Transmitem doenças de filarídeos (elefantíase, onchocercose). Transmite também o Leucocytozoon em aves. O controle pode ser feito povoando os rios com peixes que se alimentem deles e com o controle biológico com Bacillus thuringiensis.

Figura 41 – Ciclo biológico de Simulidae.

ORDEM PHTHIRAPTERA

A ordem compreende insetos nos quais são conhecidos como piolhos. É altamente específico e permanentemente ectoparasita, a maioria sendo incapaz de sobreviver fora do hospedeiro por mais de um ou dois dias.

A infestação por esse ectoparasita se chama pediculose. A falta de higiene e a superlotação têm sido os responsáveis pela presença de piolhos nos hospedeiros. A maioria das espécies de hospedeiros é parasitada pelo menos por uma espécie de piolho. Presente nos pêlos e pele, detectável a olho nu, transmissão direta, embora sejam hospedeiro-específico. Tendem a parasitar áreas especificas do corpo do hospedeiro. As fêmeas geralmente são maiores que os machos e em maior número.

Morfologia : são insetos pequenos, medindo de 0,3 a 11 mm de comprimento, ápteros, altamente adaptados para viverem como ectoparasitas permanentes de aves e mamíferos. Possuem tegumento de coloração variando de amarelo esbranquiçado a castanho, alguns podem tornar-se quase pretos após alimentação.

São caracterizados por possuírem corpo achatado dorsoventralmente. Patas robustas e garras adaptadas para fixar-se fortemente ao pêlo ou penas (Fig. 42). Apresentam pelos menos seis pares de estigmas respiratórios abdominais e um par torácico. As patas dos piolhos terminam em

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garras, tendo os dos mamíferos apenas, cada uma delas, uma garra, ao passo que as dos piolhos das aves têm duas garras.

Figura 42 – Garras dos piolhos sugadores dos mamíferos e mastigadores de aves e mamíferos.

Biologia: são insetos hemimetábolos (Fig. 43). A fêmea dos piolhos chega a depositar de 50 a 100 ovos (lêndeas) por dia. Os ovos são fortemente ornamentados, com projeções que ajudam a fixação ou respiração, facilmente detectada por serem encontrados cimentados, isoladamente ou em grupos, nos pêlos ou penas por uma substância produzida pelas glândulas coletéricas.

A ninfa eclode do ovo entre 1 a 2 semanas. São muito semelhantes aos adultos, são mais claros e menores e alimentam-se de 1 a 3 semanas, passando por 3 estádios ninfais (N1, N2 e N3) até alcançarem a fase adulta. A duração dos diferentes estágios do ciclo de vida varia de espécie para espécie e de acordo com a temperatura.

Alimentam-se de descamação do tecido epitelial, partes das penas, secreções sebáceas e sangue. Todo o ciclo dura em media de 4 a 6 semanas. Os adultos vivem cerca de 30 dias, durante o qual produzem uma pequena quantidade de ovos. Os piolhos chegam a sobreviver por mais de 1 a 2 dias fora do hospedeiro e tende a permanecer sobre o mesmo hospedeiro por toda a sua vida. A transferência entre hospedeiros se dar pelo contato direto entre os mesmos.

Figura 43 - Ciclo incompleto: Anoplura, à esquerda; dos mastigadores, a direita.

Classificação: considerada complexa e incerta, tradicionalmente os Phthiraptera são divididos em três subordens, de acordo com seus hábitos alimentares: os piolhos hematófagos ou Anoplura, nos quais ocorrem somente em mamíferos e os mastigadores: Amblycera e Ischnocera (descritos anteriormente como Mallophaga), nos quais ocorrem em mamíferos e aves.

SUBORDENS DOS PIOLHOS MASTIGADORES

Os piolhos mastigadores (Malófagos) podem pertencer à subordem Amblycera ou Ischnocera, possuem a cabeça arredondada e grande, mais larga do que o tórax; olhos reduzidos ou ausentes (Fig. 44). Aparelho bucal mastigador, possui mandíbula. Antenas diferentes nas duas subordens: Amblycera são clavadas, com 4 segmentos, semelhantes, nos 2 sexos e escondidas em fossetas antenais; Ischnocera são cilíndricas, de 3 a 5 segmentos, em muitas espécies são diferentes nos 2 sexos, sempre visíveis e possuem palpos.

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Pelo menos dois segmentos torácicos são visíveis; único par de estigmas torácico é encontrado ao lado ventral do mesotórax. Cerdas pelo corpo. Apresentam seis pares de espiráculos abdominais, podendo esse número ser reduzido. Apresentam três pares de pernas, são fracos e delgados e terminam com uma ou duas garras, dependendo da espécie.

Parasita de aves e mamíferos. Há certa especificidade para cada espécie, mas o mesmo animal pode ser parasitado por várias espécies. Maior quantidade de mastigadores no inverno e em aglomerações de indivíduos.

Anatomia interna: esclerito esofagiano ou faringe e hipofaringe bem desenvolvidos. Tubo digestivo apresentando um papo representado por uma simples expansão esofagiana (Amblycera) ou constituída por um divertículo mais ou menos desenvolvido (Ischnocera); mesentério grande com um par de cecos gástricos, geralmente curtos e largos; proctodeo curto, com quatro tubos de Malpighi. Há dois pares de glândulas salivares ou somente um par com os respectivos reservatórios. O sistema traqueal representado por 2 principais troncos e comunica-se com o exterior por 7 pares de estigmas (1 torácico e 6 abdominais).

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Figura 44 - A – Piolho do frango, Menopon gallinae (Menoponidae), vista ventral da fêmea; B – o piolho mastigador do gado, Damalinia bovis (Trichodectidae), vista ventral da fêmea: ant – antena; mxp - palpo maxilar; tcl - garras tarsais.

Biologia: As espécies que infectam aves são mais daninhas que aquelas ectoparasitas de mamíferos. Quando a infestação é muito grande, o animal torna-se irritadiço, espoja-se na terra, coça-se muito, não descansa normalmente, adquire péssima aparência e pouco se reproduz. Os ovos são postos nos animais, nas regiões onde habitualmente se encontram os adultos, nos pêlos ou nas penas. O desenvolvimento embrionário dura de 4 a 7 dias, geralmente após 3 ecdises (N1,N2,N3), de 15 a 20 dias, pouco mais ou menos. Ninfas são parecidas com os adultos, exceto pela ausência de genitália no macho e gonopódios nas fêmeas.

Alimentação: Os piolhos mastigadores se alimentam de fragmentos de pele, pêlos e penas. Entretanto podem sugar sangue de ferimentos na pele. Algumas espécies, eventualmente ingerem o sangue que aflora no tegumento ferido do hospedeiro. O Menacanthus stramineus, por exemplo, irrita a pele provocando descamação epitelial e afloramento de sangue do qual se alimentam.

Possuem alta especificidade. Um mesmo hospedeiro pode ser parasitado por várias espécies de mastigadores. São mais ou menos adaptados a determinadas regiões do corpo. Deslocam-se rapidamente sobre as penas ou sobre os pêlos, sendo mais ativos os Amblycera. Os piolhos mastigadores normalmente nascem e morrem no mesmo hospedeiro, às vezes porém quando dois animais ficam muito próximos passam de um animal para outro. Não raro os piolhos das aves,

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somente os Ischnocera, são transportados por moscas Hippoboscidae à outra ave. Não se conhece nenhum malófagos que tenha parasitado o homem.

Após a morte do hospedeiro os piolhos mastigadores não se conservam vivos por muito tempo, morrendo no fim de horas ou alguns dias (6 a 7 dias). A morte do parasito é principalmente pela falta do calor que irradia o animal parasitado.

SUBORDEM AMBLYCERA (antena escondida).

São ectoparasitas de aves, marsupiais, carnívoros e roedores (Fig. 45). Os Amblycera mostram-se adaptados para mover-se em superfície lisa. Os adultos são de tamanho médio a grande de 2 a 3 mm de comprimento. Possuem a cabeça geralmente grande e arredondada, livre e horizontal. Olhos pequenos ou ausentes. Existe 1 par de palpos maxilares, com 2 a 5 segmentos. As mandíbulas são paralelas à superfície ventral da cabeça e cortam no sentido horizontal. Antenas clavadas, com 4 a 5 segmentos semelhantes nos 2 sexos e escondidas em fosseta antenal.

Mesonoto separados por uma sutura visível. Abdome com nove segmentos, com os dois primeiros em destaque dos demais. Os três pares de patas são fracos e delgados e terminam com uma (parasita de mamíferos) ou duas garras (a maioria parasita aves), dependendo da espécie.

Alimentam-se de partículas encontradas na superfície da pele. Algumas espécies cortam a com as mandíbulas a base de penas novas ou áreas finas da pele provocando hemorragia localizada, ingerindo o sangue que daí aflora. Os Amblycera compreendem seis famílias, nas quais a MENOPONIDAE, contém os piolhos ectoparasitas mais importantes das aves Menacanthus e Menopon. A família BOOPIDAE contém a espécie Heterodoxus spiniger. Espécies dos gêneros Gyropus e Gliricola, da família Gyropidae, que parasitam cobaias.

Figura 45 - Malófagos de aves. A- Goniodes gigas, aspecto dorsal da fêmea; B- M. gallinae, aspecto dorsal da fêmea; C- Chelopistes meleagridis, fêmea vista dorsal.

MENOPONIDAE :

É a maior família Amblycera, de ocorrência mundial; todas as espécies parasitam aves. No Brasil algumas espécies foram identificadas parasitando galinhas: Menacanthus stramineus, M. cornutus, M. pallidulus e Menopon gallinae; Colpocephalum turbinatum, Gallus gallus e Columba lívia. São piolhos com duas garras. Abdome largo e sempre com reentrâncias laterais nas articulações dos diferentes segmentos. Seis pares de estigmas abdominais. Protórax e mesotórax fundidos.

Menopon gallinae:

Chamado de “piolho da base das patas” (Fig. 46). Espécie pequena de cor amarelo-palida, medindo 2 mm de comprimento. Encontrada, principalmente, ao longo das hastes das penas do peito e coxas das galinhas. Fêmeas adultas depositam seus ovos em pencas na base da pena. As ninfas eclodem dos ovos, passando por 3 estádios antes de atingirem a fase adulta. Movem-se rapidamente e, na presença de luz, abandonam as penas e caminham sobre a pele do hospedeiro. Muito encontradas em galinhas, mas pode parasitar perus, patos, pombos e galinha-de-angola.

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Palpos pequenos e antenas clavadas com quatro segmentos. Processos puntiformes, no lado ventral da cabeça, ausentes. Abdome fusiforme, com uma fileira de cerdas dorsalmente, pequenas ou de tamanho médio, em cada segmento. Não possui processos espinhosos na fronte. Tufos de cerdas no 3º segmento abdominal. Espinhos gástricos visíveis.

Colpocephalum turbinatum

É uma das 4 espécies piolhos mastigadores que parasitam pombos domésticos. Mas pode parasitar galinhas. Distingui-se do Menopon por apresentar atrás das antenas de cada lado, simus orbital profundo. Faixa occipital fortemente castanho escuro ou preta. Lóbulos temporais grandes e às vezes sub-retangulares. Espinhos gástricos presentes ao abdome.

Figura 46 – M. gallinae, macho: à esquerda, aspecto dorsal; à direita, ventral; A – fêmea; B – antena; bp - placa basal; C - genitália do macho; D - margem lateral da cabeça, aspecto dorsal; E- idem, aspecto ventral; par – paramero (De Ferris, 1924).

Menacanthus stramineus

Piolho do corpo das aves domésticas (Fig. 47). Adultos macho e fêmea com mais de 2 mm de comprimento, cor amarelo-pálida, com numerosas cerdas curtas na superfície dorsal do Pterotorax (mesotórax e metatórax). Fronte provida de processos espiniformes recurvados para trás e para baixo, no lado ventral da cabeça. Antenas com 4 segmentos. Tórax mais largo que abdome. Abdome alargado na extremidade posterior. Tergitos abdominais III e IV, ambos os sexos, com duas fileiras de setas nas faces dorsal e ventral; abdome genital da fêmea circundada por densa coroa de cerdas longas. Cada segmento abdominal apresenta duas fileiras de cerdas dirigidas para trás.

Figura 47 – M. stramineus: piolho comum de aves.

Parasita de galinhas, perus, faisões e excepcionalmente pombos. E um dos piolhos mais destrutivos na avicultura. As infestações causam irritações severas, produzindo inflamação na pele e

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formação de crostas escamosas. Produz redução do peso da ave, atraso no desenvolvimento até morte das mais jovens.

Os ovos são depositados na base das penas, particularmente ao redor do ventre; eclodem com 4 a 7 dias, passam por 3 estádios ninfas (cada um dura em torno de 3 dias). A fêmea produz de 1 a 2 ovos por dia, durante 13 a 14 dias, tempo de vida do adulto. Alimentam-se de barbas e bárbulas da pena sendo encontrados preferencialmente sobre a pele do que sobre as penas. Têm preferência pelas áreas de poucas penas, como na região ventral.

BOOPIDAE

Forma um grupo relativamente de piolhos pequenos, originalmente parasitam marsupiais australianos. A cabeça desse piolho apresenta dois longos e robustos espinhos dirigidos para trás. O tergo I esta fusionado com metanoto. Apresentam a extremidade do tarso com duas garras, enquanto o Trichodectidae apresentam apenas uma garra.

Heterodoxus spiniger.

Piolhos grandes, delgado e amarelado. Conhecidos como parasito do cão doméstico (Canis familiaris). É um dos ectoparasitas que serve de hospedeiro intermediário para o D. caninum e do nematoda Dipetalonema reconditum.

Apresentam densa cobertura de setas longas ou médias. Facilmente distinguido dos demais que parasitam mamíferos por possuírem duas garras nos tarsos. Cabeça subtriangular. Têmporas estreitas, não salientes Parte inferior da cabeça com dois ganchos voltados para trás e implantados junto à base dos palpos maxilares. Palpos maxilares com 4 artículos. Protórax livre. Face superior do mesotórax visível, com dois espinhos fortes. Abdome com tergitos e pleuritos bem quitinizados. Tem somente uma fileira de cerdas longas e fortes em cada segmento abdominal. Seis pares de estigmas nas placas tergais.

SUBORDEM ISCHNOCERA (antena livre).

Os Ischnocera apresentam mandíbulas formando mais ou menos um ângulo reto em relação à cabeça, e cortando no sentido vertical. Palpos maxilares ausentes. As antenas são filiformes e cilíndricas, com 3 a 5 segmentos, expostas e visíveis, em algumas espécies são dimorfismo sexual acentuado, podendo ser utilizadas como órgão de apoio no momento da apreensão da fêmea para a copula. Geralmente possuem o mesotórax e metatórax fundidos (pterotórax). Em contraste, os Ischnocera são adaptados para caminharem em pêlos ou penas, são mais específicos em relação ao seu hospedeiro que o Amblycera.

Os malófagos da família Gyropidae são comuns nos cobaias. Laemobothriidae constituem pequeno grupo que parasita aves aquáticas e de rapina. Os Rinicidae parasitam aves passariformes e beija-flor, alguns gêneros parasitam mamíferos, em particular os marsupiais. Os Philoptheridae, parasita grande variedade de aves. Os da família Trichodectidae parasita mamíferos.

Apresentam duas famílias de importância veterinária: TRICHODECTIDAE e PHILOPTHERIDAE . Na Philopteridae estão os gêneros Cuclotogaster, Lipeurus, Goniodes e Goniocotes parasitas de aves. Os Trichodectidae contém os gêneros Damalinia (antigo Bovicola), Felicola e Trichodectes, ectoparasitas de mamíferos.

TRICHODECTIDAE

Ocorre em todo o mundo, os representantes dessa família parasitam mamíferos. Os gêneros Trichodectes, Damalinia e Felicola apresentam importância veterinária. Caracterizam-se por possuírem antenas com três segmentos em ambos os sexos. Com uma garra ligada ao hospedeiro. Têmporas sem lobos posteriores. Fronte arredondada, todos os segmentos abdominais com placas pleurais. Estigmas do 2º ao 7º segmento (6 pares).

Trichodectes canis:

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Tem seu nome popular de “piolho mastigador do cão”(Fig.48), É a única espécie desse gênero. É encontrado adulto, ninfas e ovos na pelagem, presos à base do pêlo da cabeça, pescoço e cauda. É muito ativo e produz uma intensa irritação com descamação de pele e forte prurido. O animal se coça, não se alimenta bem, fica irritado, com má aparência e podem aparecer infecções secundárias. Pode atuar como hospedeiro intermediário do D. caninum (através da ingestão do malófago contendo a larva do cestódeo). Seu ciclo dura em media 3 semanas.

É um piolho pequeno. Cabeça bem característica, subtriangular (hexagonal), mais larga que longa, com a margem anterior em curva de grande raio, que se estende de uma antena a outra (fronte arredondada). Antenas com três segmentos cilíndricos ou subcilíndricos, com acentuado dimorfismo sexual; o macho possui o 1º articulo robusto. Têmporas sem lobos posteriores. Abdome fortemente oval, ligeiramente mais longo que largo, com margens arredondadas em todos os segmentos contendo placas pleurais. Cerdas abdominais numerosas, longas e contínuas nos esternitos. Edeago grande. Fêmea com gonapófises com margens lisas, ligadas ao lóbulo sub-genital por uma serie de cedas em arcos e implantadas em pedestais.

Figura 48 – T. canis: Vista dorsal: A – macho; B – fêmea. Adaptado de Werneck (1936). Ciclo evolutivo da espécie sobre seu hospedeiro.

Damalinia sp

São ectoparasitas de ruminantes; possuem tarsos com única garra (Fig. 49). Cabeça arredondada com a "bochecha" repartida. Cerdas abdominais curtas, iguais e em filas transversais. Manchas nos tergitos. Cabeça tão larga quanto longa, são morfologicamente muito semelhantes, entre os quais encontramos D. ovis, em ovinos, D. bovis em bovinos, D. equi em cavalos e D. caprae, em caprinos.

D. ovis apresenta coloração testaceo-palida e D. bovis coloração castanho-avermelhada, com bandas transversas no abdome. A espécie D. ovis é muito ativa pode espalhar-se por todo o corpo, causando ao animal intensa irritação, desconforto e interrupção alimentar. Tem a cabeça aproximadamente tão larga quanto longa, com a região pré-antenal limitada por borda arredondada e em geral, mais curta que a pós-antenal; com ou sem dimorfismo acentuado. Tórax normal, abdome largo, oval. Cerdas abdominais curtíssimas iguais e em fileiras transversais. Manchas nos tergitos, pleuras e esternitos.

A B

C

Figura 49 - A: D. bovis: face dorsal à direita e ventral a esquerda; B: D. Equi; C: D. caprae (imagem de Ahid, 2007)

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Felicola subrostratus.

Única espécie de piolho de interesse da veterinária que comumente parasita gatos doméstico (Fig. 50). Animais com pêlos longos são os mais severamente atacados. Distingui-se dos demais piolhos mastigadores pela forma da cabeça, característica da espécie, pelo aspecto triangular e pontiagudo. Peças bucais ventrais. Olhos atrás das antenas. Antenas com 3 segmentos, sem dimorfismo sexual. Patas pequenas, terminam em uma garra. Abdome liso com poucas cerdas e muito curtas; com três pares de estigmas respiratórios. Abdome do macho com pequena saliência posterior formada pelo último segmento membranoso. Placas tergais abdominais simples nos dois sexos.

Figura 50 – Característica da cabeça do F. subrostratus: Ant – antena; Md –mandibula; O –olho; Phy – esclerito esofagiano ou faríngeo; Pll – palpo labial; Slin – superlingua; Trb –trabecula. Vista dorsal; A - fêmea; B– macho. Adaptado por Werneck (1948).

PHILOPTERIDAE

É a maior família de Ischnocera. Apresenta antenas com cinco segmentos, o terceiro filiforme; articulação das mandíbulas no plano vertical; palpos ausentes e tarsos com duas garras para se fixar ao hospedeiro. Comumente são observados imóveis firmemente presos com as mandíbulas nas partes inferiores das penas. São menos propensos a abandonarem as aves após morte.

Ectoparasitas de aves domésticas. Cinco espécies de interesse veterinário: Chelopistes meleagridis, Lipeurus caponis, Goniodes dissimilis e G. gigas, Goniocotes gallinae, Columbicola columbae e Struthiolipeurus rheae.

Chelopistes meleagridis: Principal hospedeiro é o peru, mas parasita angola (Fig. 51). Cabeça em forma de chapéu, lobos temporais agudamente angulados, estendendo-se para trás e terminando em estilete. Possui 2 cerdas longas nas extremidades laterais da cabeça. Tarsos com duas garras. Antenas com 5 segmentos embricados nos dois sexos último segmento não clavado. Tem apêndices recurvos em gancho na frente.

Lipeurus caponis: Piolho da asa de galinhas (Fig. 52). Caracteriza-se por apresentar fronte larga, sem projeções laterais ou formações com ganchos. Têmporas arredondadas. Tem corpo e cabeça alongados. Possuem uma projeção angular na cabeça, em frente às antenas. Antenas sexualmente dimórficas nos machos, com o primeiro segmento alargado com apêndice curto e espessado, sendo filiforme nas fêmeas. As pernas são estreitas e o par posterior é duas vezes comprimento dos dois pares anteriores. Mancha mediana no tórax. Geralmente encontrado preso as bárbulas das grandes penas da asa próxima à base. Os ovos são depositados entre as bárbulas das grandes penas.

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Figura 51 C. meleagridis: vista dorsal de fêmea e ventral do macho.

Figura 52 – L. caponis: vista dorsal; A- macho; B – fêmea. De Clay (1938).

Goniodes sp:

Piolho da penugem. São piolhos grandes, semelhantes aos do gênero Goniocotes, porém o terceiro segmento da antena do macho tem um processo lateral como um esporão (apendiculadas) que às vezes também ocorre no primeiro segmento. Apresentam corpo de coloração castanha; cabeça côncava posteriormente com projeções angulares bem visíveis nas margens posteriores: cabeça com cerdas que se projetam de cada lado de sua superfície dorsal; antenas filiformes, com 5 segmentos; abdome largo e arredondado.

A espécie G. gigas, mais de regiões tropicais, é o maior piolho de galinha, especialmente a galinha-de-angola (Numida). Fronte enorme, lobos temporais quase iguais, com 3 longas cerdas na margem posterior de cada lobo. Primeiro segmento antenal, no macho, mais robusta.

O G. dissimilis é semelhante ao G. gigas (Fig. 53) separando-se desta por apresentar fêmeas de tamanho menor, lobos temporais diferenciadas (o posterior mais desenvolvido), com 2 cerdas na margem posterior do lobo. É parasito comum de galinhas em áreas temperadas.

Goniocotes gallinae

Piolho da pena. É o menor malófago das aves, de coloração amarelo-pálida, medindo de 1 a 1,5 mm de comprimento. A cabeça é quase circular, apresentando nos lobos temporais paralelos com duas longas cerdas na margem posterior de cada lobo. Margens laterais do protórax estendidas. Antena com cinco artículos. Foi registrada parasitando, no Brasil, no Gallus gallus. Os ovos são depositados na base das penas no dorso da ave, próximo à pele. Geralmente de pouca importância veterinária.

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Figura 53 - G. gigas: à esquerda, aspecto dorsal; à direita ventral.

Columbicula columbae: clípeo armado com dois pares de espinhos sendo um par maior, liso e fortemente recurvado. É talvez um dos piolhos mais delgados. Parasita pombos.

Struthiolipeurus rheae

Tem importância veterinária secundaria, é uma das 4 espécies de Philopteridae que parasitam ema (Rhea americana, Rheiformes: Rheidae). Pouco se conhece sobre a importância econômica dessa espécie, mas acredita-se que infestações maciças podem danificar as aves.

SUBORDEM ANOPLURA

São os piolhos sugadores de sangue, de corpo mais ou menos deprimido e pernas tipicamente escansoriais. São usualmente grandes chegam a medir 5 mm de comprimento quando adulto, mas há espécies pequenas (0,5 mm) e grandes (8 mm). São considerados os piolhos mais avançados. Parasitas, geralmente de alta especificidade em relação ao seu hospedeiro e restritos a mamíferos euterianos (não parasitando marsupiais ou monotremados). Passam toda a vida agarrados ao hospedeiro.

Os segmentos torácicos de Anoplura são, geralmente, fundidos e difíceis de serem distinguíveis. Possuem apenas um par de estigmas no mesotórax. Nove segmentos abdominais, visíveis no adulto, ao longo do lado de cada segmento existem uma placa esclerotizada (placa paratergal). Possuem seis pares espiráculos, no terceiro a oitavo segmentos abdominais. Patas grandes, robustas, tarsos com um segmento, única garra voltada para frente (Fig. 54), contendo um esporão tibial. As fêmeas possuem ao final do abdome bifurcado e com dois pares de gonopódios laterais e os machos possuem genitália esclerotizada com extremidade posterior pontiaguda (Fig. 55).

Figura 54 – Pata do H. suis: 1- garra tarsal; 2- goteira de deslizamento da placa esta; 3- disco protactil; 4- polex; 5- tendão do flexor tibial; 6- músculo flexor; 7- tendão do longo flexor femoral da garra; 8- músculo flexor da tíbia; 9- tendão do abductor (extensor) da garra; 10 – placa estriada; 11 – tarso; 12- tendão do flexor da garra; 13- tíbia; 14- músculo extensor da garra; 15 – músculo extensor da tíbia; 16- fêmur.

A cabeça pontiaguda e terminal, pequena, mais estreita que o protórax. E apresentam aparelho bucal picador-sugador, modificado para perfurar a pele dos hospedeiros, formado por conjunto de pequenas estruturas perfurantes: três estiletes, situados numa bolsa ventral formando um conjunto de pequenas estruturas perfurantes. A verdadeira boca (prestômio) se abre na extremidade anterior da bolsa ventral. Esse é revestido por finos dentes, que durante a alimentação são extrovertidos e ajudam o piolho a se fixar na pelo do hospedeiro. Os estiletes são para perfurar a pele

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e o sangue é sugado para dentro do prestômio através de bombas cibariais. Quando não está em uso, o aparelho bucal fica retraído dentro da cabeça. Antenas curtas, com cinco artículos. Olhos reduzidos ou ausentes. Palpos ausentes.

Figura 55 - Aspecto dorsal: P. humanus, macho: a - clípeo; b- linha correspondente a sutura epicraneana; c- protórax; d- mesotorax; e- metatórax; f- anus; g- dilator; h- tarso; i- polex; j- tíbia; k- fêmur; l- trocanter; n –coxa; m- estigma; o – costela; p- cova external; q- faixas transversais; r- placa pleural; 1-6 estigmas abdominais. (Keilin & Nuttall, 1930)

Aspectos da morfologia interna podem ser observados no esquema abaixo (Fig. 56).

Figura 56 - Macho de Pediculus dissecado: 1- esôfago; 2 e 10 – aorta; 3 – divertículos anteriores; 4 – mesentero; 5 – disco ventral do mesentero: 6, 9 e 19– tubo de Malpighi; 7 e 8 – testículos; 11 – coração; 12 – reto; 13 – anus; 14 – canal excretor da glândula salivar; 15 – gânglios nervosos; 16- glândulas salivares anteriores; 17 - glândulas salivares posteriores; 18 e 21– canais deferentes; 20 – canal ejaculador; 22 – ampola retal; 23 – placa basal, vesícula do pênis. (De Keilin & Nuttall, 1930).

São de metamorfose gradual – paurometabolicos (Ovo -Ninfa 1 - N2 - N3 – Adulto; Fig. 58). Os ovos são colocados aderidos aos pelos ou ás fibras e são conhecidos como lêndeas (Fig. 57). Elas são operculadas, de coloração branco-amarelada, bem quitinizado.

Figura 57 – Lêndea, simulando a emergência da Ninfa 1.

Na subordem Anoplura, duas famílias são importantes na veterinária: HAEMATOPONIDAE (parasita de ungulados) e LINOGNATIDAE (parasita cães e ruminantes). A primeira apresenta apenas um gênero pinus e a segunda, dois gêneros são de interesse Linognathus e Solenopotes. A família Pediculidae parasita primatas: Pediculus humanus e Pthirus pubis.

HAEMATOPINIDAE

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O único gênero de interesse de importância veterinária é o Haematopinus, um dos mais devastadores de animais domésticos. Piolhos grandes, medindo de 4 a 6 mm de comprimento.

O gênero Haematopinus (Fig. 58, 59) tem como característica a ausência dos olhos e as placas paratergais distintas, cabeça alargada posteriormente, em forma de losango. De nariz curto, apresenta atrás das antenas um processo angular proeminente chamado de lóbulo pós-antenal (tubérculo ocelar). Olhos ausentes. Antenas com cinco artículos. Placa external preta e desenvolvida. Placas paratergais bem definidas e quitinizadas nos segmentos abdominais. Cada segmento abdominal com uma só fileira de espinhos. Pernas de tamanhos semelhantes e com única garra forte, oposta a um esporão tibial. Encontrado parasitando suínos (H. suis), bovinos (H. eurysternus e H. quadripertusus), búfalos (H. tuberculatus) e eqüídeos (H. asini).

Figura 58- A – H. suis, vista ventral; placa external: B – H. asini; C – H. suis (imagem do macho e da fêmea, Ahid,2007); D - H. quadripertusus; E – H. eurysternus; F. – H. tuberculatus; G - H. eurysternus, placa genital do macho; H - H. quadripertusus, placa genital do macho. Adaptado de Furman & Catts (1982).

A

B

Figura 59 – A - Cabeça de H. eurysternus (Nitzsch), vista de cima: 1- dentículos prestomais; 2- haustellum; 3 – fonte; 4 – lóbulo post-antenal; 5-antena. B- H. suis: vista dorsal da fêmea. Adaptado de Lima (1938).

Biologia: as fêmeas produzem de 1 a 6 ovos por dia, colados ao pêlo dos animais. Os entre 12 a 20 dias dos ovos emergem as ninfas. As ninfas alcançam a maturidade em 15 a 22 dias. Os adultos vivem em média 2 a 3 semanas (Fig. 60).

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A

B

Figura 60 – A: Ciclo biológico do Anoplura: incubação do ovo – oito a nove dias – de ninfa 1 até adulto – mais 15 dias. B: ciclo evolutivo de H. suis, sobre o hospedeiro.

H. suis (Linnaeus): espécie cosmopolita. Única espécie parasita de suínos. A maior espécie de Anoplura e do gênero que infesta animais domésticos, chega a medir de 5 a 6,5 mm de comprimento. Cabeça estreita e alongada, cônica e arredondada anteriormente. Tórax mais largo e mais curto que a cabeça. O local de preferência é no interior do pavilhão auricular, pode localiza-se nos ombros, axilas, virilhas, quarto traseiro ou todo o corpo. Não permanece preso a pele, se alimentam a intervalos e se dispersa rapidamente no animal. A fêmea inicia a ovipostura após 12 dias da copula. Chega a viver em torno de 35 dias.

H. eurysternus: é a menor espécie do gênero, os macho medem 2 mm e as fêmeas 3 mm. Cosmopolita. É comum nos bovinos do Brasil, mais abundante no clima frio. Parasita de bovinos europeu (Bos taurus), mas também zebuínos (B. indicus). Pode haver infestações mistas, com uma ou mais espécies de piolhos. Cabeça muito curta, fronte curta e arredondada anteriormente, alargada ao nível das antenas. Tórax quadrangular e mais largo que a cabeça. São encontrados no topo da cabeça e ao redor dos olhos, nas partes superiores do pescoço e cauda.

H. quadripertusus; semelhante à espécie anterior, porém maiores, predominante nas regiões tropicais e subtropicais, encontrados frequentemente ao redor da cauda e ainda em áreas tenras do copo como períneo e vulva. A cabeça é mais alongada do que as dos outros Haematopinus encontrados em bovinos, as fêmeas põem seus ovos quase que exclusivamente nos pêlos da cauda (vassoura). Os hospedeiros mais comuns são bovinos da raça zebuína.

A espécie H. tuberculatus: parasita o corpo inteiro dos búfalos (Bubalus bubalis), espécie próxima ao H. eurysternus, macho menores que as fêmeas. Cabeça arredondada e alongada anteriormente, os tubérculos pós-antenais são alargados e dirigidos para frente. Antenas alojadas em sinos profundos. Tórax pouco mais largo que longo.

H. asini: parasita de cavalos, burros e jumentos. Em cavalos é mais comumente encontrado na cabeça, pescoço, dorso e superfície interna superiores das pernas. Possui cabeça longa e robusta, com os pontos oculares proeminentes.

LINOGNATHIDAE

Não apresentam olhos ou pontos oculares; não possuem placas paratergais no abdome; o 2º e 3º par de patas com mesmo desenvolvimento, porém são maiores do que o primeiro e terminam em uma garra forte. Antenas com 5 artículos. Tórax pequeno e alongado. Possuem abdome membranoso e arredondado, com 2 ou 3 fileiras transversais de pêlos, com pêlos longos na margem dos tergitos. Os dois gêneros de interesse: Linognathus e Solenopotes.

Linognathus é o piolho de nariz longo, facilmente encontrado nos pêlos dos bovinos, caprinos e cães. Placa external ausente ou pouco desenvolvida. As fêmeas colocam um ovo por dia. São comumente encontradas parasitando ruminantes.

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L. stenopsis parasita ovinos e caprinos (macho 1,5 mm e fêmea 2 mm). Cabeça estreita, cônica e arredondada anteriormente, alargando-se posteriormente às antenas até quase o tórax, quando então estreita dando aspecto abaulado. Tórax curto (Fig. 61).

L. setosus: parasita o cão (macho com 1,5 mm e fêmea com 2 mm). Cabeça curta e quase tão larga quanto longa. Região frontal curta e arredondada. Antenas robustas. Tórax pouco mais largo que a cabeça (Fig. 61).

A B C

Figura 61 – A: L. stenopsis de caprinos em Mossoró (RN) (Suassuna;Ahid, 2007);B: L setosus:Vista ventral, adulto fêmea; C- Ciclo evolutivo.

L. vituli, parasita bovinos (macho com 2mm e fêmea com 3 mm). Cabeça região anterior as anenas (frente) nitidamente apontada (Fig. 62).

Figura 62 – L. vituli: vista dorsal, adulto fêmea; Solenopotes capillatus

Solenopotes comumente encontrados em bovinos. Placa external é distinta.

ORDEM SIPHONAPTERA

São as pulgas. Ectoparasitos de aves e mamíferos, a maioria vive sobre a pele e pêlos de seus hospedeiros. Ectoparasitos obrigatórios periódicos, os adultos permanecem no corpo do hospedeiro para a sucção do sangue, deixando-o após o repasto.

São insetos pequenos, ápteros, mas visíveis a olho nu, medem geralmente menos de 5 mm de comprimento e suas peças bucais são adaptadas para cortar a pele e sugar o sangue do hospedeiro. Corpo achatado lateralmente e de superfície lisa, o que facilita seu movimento entre os pêlos ou penas do hospedeiro (Fig. 63).

Possuem a coloração castanho-escuro, corpo endurecido (difícil de esmagar entre os dedos), revestido de espessa quitina escorregadia e pêlos e cerdas voltadas para trás que auxiliam a pulga a deslizar entre penas e pêlos dos hospedeiros não permitindo que voltem. Terceiro par de patas adaptadas para o salto fora e sobre o hospedeiro, é muito mais longo que os demais.

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A cabeça é imóvel e de forma variada. A parte inferior da cabeça é denominada gena. A anterior, fronte ou clípeo, separada da porção posterior (occipício) por uma sutura antenal. Nas espécies, onde essa sutura não é completa, é representada por uma região mais esclerotizada na sua parte superior chamada de falx. Os olhos quando presentes são simplesmente pontos escuros fotossensíveis. As antenas são curtas situadas no sulco antenal.

Figura 63 - Morfologia externa de uma pulga (macho): a- palpo labial; b– mandíbula; c– palpo maxilar; d- maxila; e– ctenídeo genal; f- fronte; g– olho; h– antena; i– occipício; j- esternopleura do tórax; k- ctenídeo pronotal recobrindo parcialmente o mesonoto; l- sutura mesopleural entre o mesepisterno (adiante) e o mesepímero (atrás); m– metanoto; n- tergito (urotergito) do primeiro segmento abdominal; o- cerda antipigidial, inserida no 7º tergito; p- sensílio ou pigídio (no 9º tergito); q- pinça ou forceps (clasper); r- 8º esternito; s- mesesterno; t- coxa; u-trocanter; v- femur; x- tíbia; y– cinco segmentos tarsais; z- garra.

Hematófago. As peças bucais são adaptadas para perfurar a pele e fazer a sucção de sangue. Possuem palpos labiais. Na cabeça pode se encontradas fileiras de dentes ou espinhos fortes em forma de pentes, dirigidos para trás, chamados de ctenídeos (Fig. 64).

Figura 64 - Cabeça de pulga com presença de ctenídeos genais e detalhes das peças bucais.

Tórax: ausência de asas. Os escleritos dorsais dos três segmentos torácicos são distintos e diferenciados: pronoto, mesonoto e metanoto. Pode ter ctenídeo no pronoto e no metanoto. As placas laterais, pleuras, podem ser simples ou divididas, a exemplo da mesopleura. Em cada um dos segmentos pleurais existe um par de estigma respiratório.

Em cada segmento torácico se insere a coxa do primeiro, segundo e terceiro par de patas, podem saltar verticalmente uma altura de aproximadamente 18 cm e horizontalmente 33 cm. As pernas são formadas pela coxa, trocânter, fêmur, tíbia e tarso (5 artículos), esse último com um par de unhas.

Abdome: formado claramente por 10 segmentos (urômeros) regularmente imbricados. Os três últimos altamente modificados constituindo a genitália. Podem apresentar ctenídeos abdominais. Os segmentos de 2 a 7 possuem de cada lado um estigma. O nono metâmero apresenta, em ambos os sexos, uma placa sensorial chamada de sensílio ou placa pigidial, cuja função é permitir o alinhamento direcional das genitálias durante a copula e emitir ultra-som para comunicação. Dorsalmente a essa região localizam-se cerdas longas e robustas conhecidas como cerdas ante-

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pigidiais. A forma abdominal pode ser usada para distinguir os sexos. Nas fêmeas é arredondado e no macho a face ventral é voltada para cima (Fig. 65).

Figura 65 - Segmento terminal: da fêmea mostrando espermatecas; do macho, as pinças (claspers) do edeago.

Morfologia interna : o aparelho digestivo, seguida da cavidade bucal, a faringe onde se inserem músculos dilatadores que participam da sucção. O sangue aspirado segue por um esôfago delgado até o proventrículo, forrado de cutícula revestida por espinhos quitinosos orientados para a abertura do esôfago, tendo função valvular (Fig. 66).

O intestino médio (estômago), onde ocorre a digestão sangüínea e absorção dos materiais nutritivos. O aparelho reprodutor feminino é formado por 1 par de ovários, na qual integram 4 a 8 ovaríolos, ovidutos e vagina. Esta se comunica com uma estreita bolsa copuladora e por último com a espermateca. Nos macho, há um par de testículos fusiformes ou ovóides, os canais deferentes são finos e longos; a vesícula seminal é pequena. Segue o pênis, ou edeago, de complicada estrutura.

Figura 66 - A - Aparelho digestivo de uma pulga fêmea: a- glândulas salivares; b– palpos; c– mandíbula; d- epifaringe; e– palpos maxilares; f- faringe; g- esôfago; h- proventrículo; i- intestino médio (esôfago); j- ovário; k- intestino posterior (ampola retal); l- anus; m- bolsa copuladora; n– orifício genital; o- vagina; p– espermateca; q- tubos de Malpighi. B - em destaque o bloqueio do proventrículo (h) quando a pulga está parasitada pela Yersinia pestis

Biologia e comportamento: as pulgas vivem parte da sua vida sobre o corpo do seu hospedeiro de que se alimentam de sangue e, outra parte , em seus ninhos, onde se dá o desenvolvimento dos ovos. De metamorfose completa, seu ciclo passa por 4 estágios: ovo, larva (3 larvas), pupa e adulto. Completa-se em aproximadamente 25 a 30 dias (Fig. 67).

A copula realiza-se poucos dias após a saída do casulo pupal. Tanto machos quanto fêmeas são hematófagos, mas suportam jejum prolongado. Realiza-se a copula com a fêmea cavalgando o macho. Fêmeas inseminadas e impedidas de se alimentar permanecem sem ovipor. A ovipostura é parcelada. Os ovos são esbranquiçados e ovais, depositados sobre o hospedeiro, em seu ninho, ou no chão. O número varia com a espécie, em geral chega a produzir centenas durante sua vida. A eclosão pode ocorrer de 1 a 3 dias. A larva L1 possui um espinho na cabeça que auxilia no

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rompimento da casca do ovo. Algumas espécies dão preferência a uma única espécie de hospedeiro, porém, a maioria pode sugar várias espécies de animais.

As larvas são brancas, vermiformes, ápodas, corpo com 13 segmentos, com circulo de cerdas voltadas para trás. Cápsula cefálica bem desenvolvida, aparelho bucal diferencia do adulto por ser do tipo mastigador, possuem apêndices locomotores, são cegas e evitam a luz. Seu alimento consiste de detritos orgânicos (fezes das pulgas adultas, pele, pêlo e penas). Não sugam sangue. Sofrem 2 mudas, e ao 3º estagio tece um casulo, constituída de substância aderente que permite que pequenas partículas do substrato se colem e camuflem o casulo.

A

B

Figura 67 -A - Larva de pulga: com a extremidade cefálica voltada para a direita. B- Ciclo biológico.

As pupas podem ficar aderidas aos pêlos de animais, poeira e outras sujeiras. Em aproximadamente 5 a 14 dias as pulgas adultas emergem ou permanecem em repouso dentro do casulo até a detecção de alguma vibração, que pode ser ocasionada pelo movimento de um animal ou homem e quando um animal deita-se sobre ela.

A emergência pode ser ocasionada também pelo calor, barulho ou pela presença de dióxido de carbono que significa que uma fonte potencial de alimento está presente. Poucos minutos após a eclosão as pulgas buscam sua fonte alimentar, mas podem passar sem alimentação semanas. Às vezes, famílias que viajam por um período razoável de tempo, quando voltam, encontram a residência infestada por pulgas. Isto ocorre porque a casa fica fechada sem hospedeiros (cães e gatos). Assim que a família retorna, ela é atacada pelas pulgas que nasceram no período.

Após a eclosão, a larva alimenta-se das fezes das pulgas adultas. Por esta razão, os adultos ingerem mais sangue do que necessitam. Uma pulga pode alimentar-se 2 a 3 vezes ao dia e cada repasto dura de 10 a 15 minutos. A longevidade dos adultos varia de espécie para espécie, pois, depende da temperatura, umidade e da freqüência com que a pulga se alimenta.

Em condições de laboratório, P. irritans pode viver até 513 dias e Xenopsylla cheopis 100 dias. As fêmeas adultas não conseguem depositar ovos sem uma refeição, mas os adultos, tanto machos, quanto fêmeas podem sobreviver de dois meses a um ano sem se alimentar.

Períodos de sobrevivência: Sem alimento Com alimento Pulga do homem 125 dias 513 dias Pulga do cão 58 dias 234 dias Pulga do rato 38 dias 100 dias

Em relação ao tempo de associação da pulga com seu hospedeiro se distingue três modalidades de parasitismo: 1- as que penetram na pele dos hospedeiros, aí se alojam e se alimentam (Tunga); 2 – as que vivem sobre o hospedeiro e se alimentam intermitentemente (Ctenocephalides); 3 - as que vivem fora do hospedeiro, só o procuram para se alimentar (Pulex).

A importância epidemiológica das pulgas deve ser destacada em 3 níveis: como parasito podem provocar alergias infecções permitindo contaminação por fungos e bactérias e pela exanguinação provocada pela infestação intensa; como vetores atuam permitindo a multiplicação de

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agentes patogênicos a exemplo da riquetsia Bartonella e da bactéria Yersinia; como hospedeiros intermediários do Trypanosoma lewisi e do D. caninum.

Das oito famílias de pulgas existentes no Brasil, apenas três apresentam espécies de importância medico veterinária. Algumas características morfológicas que permitem a identificação dessas espécies estão na chave simplificada para a diferenciação entre as pulgas comuns (Fig. 68).

Figura 68 - Chave simplificada para a diferenciação das pulgas mais comuns de mamíferos e aves.

TUNGIDAE : T. penetrans.

São as pulgas penetrantes dos mamíferos, caracterizadas pela aparência no hospedeiro. São espécies pequenas, mal alcançam 1 mm de comprimento, porém, uma fêmea grávida pode chegar a medir o tamanho de uma ervilha. Possuem palpos maxilares serrilhados, segmentos torácicos curtos e ausência de cerdas ante-pigidiais e ctenídeos. Olho com pigmento preto. O adulto possui coloração marrom avermelhada.

O bicho-do-pé ou bicho-do-porco é uma pulga quando fecundadas tornam-se parasitos fixos, dentro da pele do hospedeiro ocasionando a tungíase, caracterizada por inchaços dolorosos localizados principalmente ao redor de onde o inseto penetrou sob as unhas do pé nas partes mais moles ou entre os dedos do pé. No entanto, pode-se pegar o bicho-do-pé em qualquer local do corpo, mas geralmente adquire-se andando descalço em áreas infestadas, tais como currais, chiqueiros e praias. Nos suínos os locais preferidos são as patas e o escroto.

Biologia e comportamento: a fêmea adulta depois de fertilizada perfurar a derme do seu hospedeiro (homem, porco e outros mamíferos), com suas partes bucais e aloja-se dentro do corpo do hospedeiro até que o último segmento abdominal esteja paralelo com a superfície da pele. Uma vez instalada inicia a sucção de sangue para o desenvolvimento dos ovos. Provoca um intenso prurido. O abdome cheio de ovos inicia a eliminação pelo ovipositor, ficando estes na ponta de seu abdome. Uma fêmea pode produzir de 150 a 200 ovos durante um período de 7 a 10 dias (Fig. 69).

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Figura 69 – T. penetrans: A – Larva; B-macho; C- fêmea penetrando na pele de seu hospedeiro; D – fêmea grávida, repleta de ovos; E – lesões no pé causadas pela fêmea grávida (bicho-do-pé)

Após a postura total a fêmea, então fica murcha, e é expulsa do hospedeiro sobre o solo. Três ou quatro dias depois eclodem as larvas (apenas dois estágios) que se alimentam de matéria orgânica até puparem. As larvas são de vida livre, sendo encontradas em habitações de chão de terra, em solos arenosos e praias, mas sempre em locais sombreados. O adulto emerge em um período de 3 semanas.

Prevenção e Controle: evitar andar descalço ou ter contato direto com locais comumente infestados por T. penetrans, tais como chiqueiros e currais. Trate as áreas infestadas com inseticidas recomendados. Uma boa solução para diminuir a infestação é revolver aproximadamente 3 a 4 cm de terra dos locais infestados para possibilitar que o sol mate as larvas.

Tratamento: o procedimento padrão para o tratamento do bicho-do-pé é removê-lo com uma agulha ou alfinete previamente esterilizado. É importante que o bicho-do-pé seja totalmente retirado de dentro da pele. O ataque pelo bicho-do-pé inicia com uma leve coceira, mas se não retirado pode ocasionar inflamação e úlceras localizadas. Tétano e gangrena podem resultar de infecções secundárias e existem registros de auto-amputação dos dedos dos pés. Os bichos-do-pé só copulam no solo quando existe um animal hospedeiro.

PULICIDAE

As Ctenocephalides são pulgas de carnívoros (Fig. 70), e podem ser encontrados parasitando indistintamente cães e gatos. Em certas regiões do Brasil, a C. felis é a principal espécie de pulga que parasita cães. Ambas podem parasitar o homem. As diferenças entre as espécies C. felis e C. canis são proporcionadas pela quetotaxia do metepisterno (metapleura) e da tíbia posterior. Apresenta olho, ctenídeo genal horizontal e ctenídeo pronotal vertical.

Pulga do cão (Ctenocephalides canis)

Fêmea e macho possuem cabeça mais arredondada. Sulco occipital mais acentuado no macho. Apresenta olho; ctenídeo pronotal e genal. O primeiro dente do ctenídeo genal é bem mais curto do que a da espécie C. felis felis. Deve-se observar a seqüência das cerdas espiniformes na tíbia para auxiliar na diferenciação entre as duas espécies.

Pulga do cão e gato (C. felis felis).

Cabeça mais alta no macho e mais baixa na fêmea. O primeiro dente do ctenídeo genal é um pouco mais curto.

È capaz de transmitir doenças ao homem, além de alergia. A pulga do gato serve como hospedeiro intermediário da tênia do cão (D. caninum), que é transmitido ao animal quando este ingere uma pulga que contém o cisticercoide desse verme. Esta pulga ataca vários hospedeiros, tais como, o homem, o rato, o gato e o cão. Encontrado, eventualmente parasitando caprinos e ovinos (SUASSUNA, 2007)

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Figura 70 - 1- C. felis, cabeça em vista lateral, fortemente convexa anteriormente, com o primeiro espinho do ctenídeo genal, quase tão longo, quanto o segundo espinho. 2- C.canis, mostrando a cabeça fortemente arredondada, anteriormente, com o primeiro espinho do ctenídeo genal, cerca da metade do comprimento do segundo espinho. Quetotaxia da tíbia posterior; 3- C.canis: mostrando as duas cerdas dorsais fortes (A e B) entre os entalhes mediano e apical (3.1.1.2.2.); 4 - C. felis: tíbia posterior mostrando única cerda dorsal forte, entre os entalhes mediano e apical (3.1.2.2.2), a cerda espiniforme A pode estar ausente. (Adaptação de Pratt & Stojanovic, 1960).

Ciclo Biológico: A oviposição é feita tanto no hospedeiro como no ambiente e nesse eclodem as larvas que permanecem no ambiente se alimentando de detritos e fezes das pulgas adultas (as larvas não são hematófagas). As larvas produzem uma substância gosmenta que formará o pupário e essa pupa é o processo de transição de larva para adulto, mas não se alimenta (Fig. 71).

Dela emergem os adultos (machos e fêmeas) que são hematófagos. Quanto mais quente, mais acelerado é o ciclo (pode ser de 21 a 150 dias). As pulgas têm uma grande resistência à inanição, durando cerca de 30 a 50 dias sem se alimentar e têm preferências, mas não especificidade. Deve-se tratar não só o animal, mas também o ambiente.

Figura 71 - Ciclo biológico da Ctenocephalides spp.

Pulex irritans

É uma espécie cosmopolita. Apesar de possuir o nome comum de pulga do homem ataca também outros hospedeiros, como cães, gatos e porcos. Raramente é encontrada no rato. Sua ocorrência é maior em casas muito velhas. Pode estar envolvida na transmissão do D. canimum e as vezes está envolvida na dermatite por picada de pulga.

Só fica no hospedeiro para se alimentar. Não apresentam ctenídeo genal e pronotal. Mesopleura sem espessamento interno. Fronte arredondada, sem tubérculos, com uma cerda pré-ocular colocada abaixo do olho e outra genal. Uma única cerda longa na região pós-antenal (Fig 72).

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Figura 72 – 1; Cabeça da pulga P. irritans. 2: Observar a diferenciação morfológica entre Pulicidae e Tungidae; A – P. irritans: t: tórax; fa- 1ºsegmento abdominal; B – Tunga penetrans, p- tubérculo frontal; C- T. penetrans: cabeça com peças bucais apresentando lacinias serrilhadas.

As pulgas não causam somente desconforto ao homem e seus animais domésticos, mas também problemas de saúde, tais como, dermatites alérgicas, transmitem viroses, vermes e doenças causadas por bactérias (peste bubônica, tularemia e salmonelose).

Algumas pessoas sofrem uma reação severa resultante de infecções secundárias ocasionadas pelo ato de coçar a área irritada. Picadas no tornozelo e pernas podem, em algumas pessoas, causar dor que podem durar alguns minutos, horas ou dias, dependendo da sensibilidade do indivíduo. A reação típica da picada é a formação de uma pequena mancha dura, avermelhada com um ponto em seu centro.

ORDEM HEMIPTERA

Compreende insetos geralmente grandes e providos de aparelho bucal picador sugador, são peças pungitivas, ficam guardadas na bainha ou probóscida e, quando fora do uso, ficam dobradas ventralmente. Os hemípteros são achatados dorsa-ventralmente. Todos têm o tórax bem desenvolvido, destacando o pronoto e o escutelo, este último como um triângulo dorsal situado entre a base das asas. O 1º par de asas é característico da ordem, pois tem a parte anterior dura por ser coriácea e a parte posterior é membranosa (hemélitro).

Outra particularidade são as antenas com 3 a 5 artículos e estão implantadas em tubérculos anteníferos, nas partes laterais da cabeça. No tórax estão implantadas as patas, com 5 segmentos cada uma, cujos tarsos nunca possuem mais de 3 segmentos. O abdome achatado dorsoventralmente pode distender-se durante a ingestão de volumes relativamente grande de sangue. Isto é possível graças às porções laterais do abdome, o conexivo, que é pouco quitinizado (Fig. 73).

O dimorfismo sexual é facilmente confirmado, onde os machos são distinguidos das fêmeas por possuir conexivo continuo na parte posterior e nas fêmeas é chanfrado, mostrando o ovipositor.

Nessa ordem, encontram-se os percevejos do mato, os barbeiros, as baratas d’água e os percevejos de cama. A maioria das espécies é terrestre, uns fitófagos (se alimentam de seivas de plantas e possuem probóscida de 4 artículos), outros são entomófagos (sugam hemolinfa de outros insetos) e os hematófagos (que se alimentam de sangue de mamíferos e aves). Estes últimos, com 3 artículos na probóscida, no entanto podem ser distinguidos dessa forma: a) entomófagos possuem a probóscida em arco; b) hematófagos, possuem a probóscida retilínea, onde se encontram todos os transmissores da doença de Chagas (Fig. 74, 75).

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Figura 73 - Nomenclatura morfológica para a sistemática dos triatomíneos. A- adulto; B- Aspecto dorsal da cabeça; C- Aspecto lateral da cabeça; D- asa anterior; E- Aspecto dorsal do tórax;, em Triatoma; F- idem, em Eratylus. a- antena; b- clípeo; c- olhos compostos; d- região pós-ocular; e- lobo anterior do pronoto; f- lobo posterior do pronoto; g- escutelo; h- conexivo: i- asa (hemélitro); j- ocelo; k- tubérculo antenifero; l- juga; m- gena; n, o,p, 1º, 2º e 3º da probóscida; q- coreo; r- membranosa; s- espinho anterior do pronoto; u- tubérculos pronotais anteriores; v- carena; x- ângulo póstero-lateral do pronoto espinhoso; y- processo apical do escutelo.

A- Fitófago, aparelho bucal reto e ultrapassa o 1º par de patas

B- Predador, aparelho bucal curto e curvo

C- Hematófago, aparelho bucal reto e não ultrapassa o 1º par de patas

Figura 74 - Diferenciação dos tipos de hemípteros segundo seu hábito alimentar:

O ciclo de desenvolvimento destes insetos compreende a fase de ovo, ninfa (5 estágios) e adulto (Fig. 76). Na fase adulta após a primeira alimentação estes insetos já estão aptos ao acasalamento. A fêmea deposita seus ovos individualmente ou em grupos durante o seu período de vida, variando conforme a disponibilidade de alimento e condições ambientais.

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Rhodnius- inserção das antenas na parte mais extrema da cabeça

Panstrongylus- inserção das antenas bem próxima aos olhos

Triatoma- inserção das antenas entre os olhos e ponta extrema da cabeça

Figura 75 - Diferenciação dos três principais gêneros de triatomíneos.

Algumas espécies estão bem adaptadas ao ambiente domiciliar humano sendo responsáveis por muitos casos de transmissão da doença. São conhecidos cerca de 100 espécies destes percevejos e o protozoário T. cruzi responsável pela doença de Chagas já foi encontrado infectando metade destas espécies, porém cerca de 12 espécies são epidemiologicamente importantes para o homem. Geralmente encontramos estes insetos em casas de "pau-a-pique" e de barro, as quais possuem muitas frestas para abrigarem estes insetos.

Figura 76 – Ciclo: Ovo - Ninfa 1, N 2, N 3, N 4, N 5, Adulto (fêmea ou macho).

A cobertura destas casas também pode abrigar uma grande quantidade destes insetos hematófagos. O protozoário T. cruzi já foi constatado infectando naturalmente cerca de 200 espécies de mamíferos, como por exemplo, os morcegos, gambás, ratos, pacas, tatus, tamanduás, cães, gatos, raposas, cotias, preás, preguiças, macacos e coelhos dentre outros. Estes são reservatórios naturais do protozoário T. cruzi.

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CLASSE ARACHNIDA: SUBCLASSE ACARI

Esta classe compreende os artrópodes que não possuem antenas nem mandíbulas. Diferem da classe Insecta pelo fato do adulto ter quatro pares de patas e o corpo serem composto de cefalotórax e abdome. As peças bucais são modificadas e apresentam 2 pares de apêndices: quelíceras e palpos.

A subclasse Acari , a qual pertence os carrapatos e outros ácaros, apresentando diversidade de hábitos e habitat. Os carrapatos são primariamente parasitos externos (ectoparasitas) e animais silvestres e a maioria dos vertebrados terrestres está sujeita ao seu ataque. Atualmente, são conhecidas cerca de 800 espécies de carrapatos em todo o mundo parasitando mamíferos, aves, répteis ou anfíbios. Os ácaros ectoparasitas de mamíferos e aves alimentam-se de sangue, linfa, resto de derme ou secreções sebáceas que ingerem ao perfurar a pele. Causam grande irritação ao homem e a outros hospedeiros, devido à dor produzida por suas picadas.

A subordem Ixodides, dos carrapatos verdadeiros, compreende duas famílias:

1. IXODIDAE : os Ixodídeos, denominados "carrapatos duros", se caracterizam por possuírem o capitulo (= falsa cabeça), na extremidade anterior do corpo; pela presença do escudo dorsal e pela localização dos estigmas respiratórios após o IV par de patas. Neste grupo está incluída a maioria dos carrapatos de interesse medico-veterinário.

2. ARGASIDAE: os Argasídeos, também conhecidos como "carrapatos moles", recebem esta denominação porque não possuem escudo. Nesta família estão os carrapatos de aves.

Figura 77 – Esquema do Argasídeo.

Morfologia externa: os carrapatos são os maiores acarinos e seu corpo é achatado dorsoventralmente, de contorno oval ou elíptico, a superfície dorsal ligeiramente convexa. É revestido por tegumento coreáceo e distensível, a fêmea aumenta consideravelmente de tamanho e peso. Em Ixodidae os machos são geralmente menores que as fêmeas e, mesmo após alimentação, aumentam pouco o peso; o dimorfismo sexual é acentuado. Em Argasidae, os machos têm tamanho semelhante aos das fêmeas e o dimorfismo sexual é discreto.

Algumas estruturas que constituem o conjunto das peças bucais bem quitinizadas reunidas em uma estrutura única denominada capítulo ou gnatossoma. O capítulo estar inserido em uma depressão entalhada na borda anterior do corpo, no caso da família Ixodidae, porém localizado na face inferior do corpo, em adulto e ninfas da família Argasidae. Como não há um cefalotórax distinto, pois se funde ao abdome e aos demais segmentos em uma peça única, o Idiossoma (Fig. 78).

O capítulo apresenta as seguintes partes: a base do capítulo, o hipostômio, as quelíceras e palpos (Figura 79). A base do capitulo apresenta contorno hexagonal ou quadrangular. E na face dorsal das fêmeas de Ixodidae duas áreas deprimidas, as áreas porosas. O hipostômio é situado abaixo das quelíceras, é um prolongamento da parede ventral do capitulo. Na porção apical do

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hipostômio pode ter forma espatulada ou lanceolada, apresentando dentes recorrentes para manter-se fixo a pele.

B

Figura 78 - Morfologia simplificada dos carrapatos: A- Vista dorsal; B- Vista ventral.

O Número de dentes e número de fileiras permite a utilização de uma fórmula dentária como característica taxonômica entre as espécies. Formam um sulco dorsal, para permitir o fluxo da saliva e do sangue do hospedeiro. As quelíceras são duas lâminas armadas com dígitos móveis adaptados para cortar. Cada quelícera é protegida por uma bainha. Os palpos são apêndices sensoriais com 4 artículos, situados lateralmente ao hipostômio (Fig. 79). Quando juntos, protegem a face posterior do hipostômio e quelíceras. Nos Argasideos os palpos são pequenos e têm a forma das pernas, e os segmentos são livres. Nos Ixodídeos são visíveis, os segmentos fusionados.

Os carrapatos antes de se alimentarem caminham sobre o hospedeiro, e com auxílio dos palpos identificam a área corpórea onde cortam, dilaceram a pele com os dígitos das quelíceras e introduzem as quelíceras e o hipostômio. O hipostômio com auxílio dos dentes recorrentes, atua como órgão fixador do carrapato durante todo o tempo do ingurgitamento.

Figura 79 – Morfologia do Gnatossoma: Rhipicephalus (Boophilus) microplus: A: Vista dorsal; B- Vista interna; C- Vista ventral. (Guimarães et al, 2001).

O Idiossoma (Fig 79b), de forma oval, achatado nos exemplares não alimentados e, globular nos ingurgitados. Face dorsal nas espécies da família Ixodidae, é caracterizada pela presença de um escudo dorsal (Fig. 80), que recobre quase toda a superfície dorsal nos machos, e nas fêmeas, ninfas e larvas, suas dimensões são menores, e ocupar somente a porção anterior do corpo. São

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observadas também, depressões puntiformes, desenhos ou manchas ornamentando a superfície. No escudo dos Ixodidae encontram-se desenhos e ornamentações de valor taxonômico.

A B C

Figura 79b – Idiossoma: A - Vista dorsal de macho de Rhipicephalus microplus. Vista ventral de Amblyoma parvum: B – com destaque para ao poro genital e orifício anal; C- em destaque o peritrema estigmatico (Suaasuna; Ahid, 2007).

Na família Argasidae não há escudo nos adultos e ninfas e vestigial nas larvas. Os olhos simples quando presentes situam-se, nos Ixodidae, na lateral marginal do escudo. Diversos sulcos podem ser observados na margem superior dorsal dando aspecto festonado a margem posterior do corpo de alguns gêneros.

Face ventral do idiossoma está implantada os pares de patas, próxima às bordas laterais; abertura genital, na linha média encontra-se a abertura anal, as placas estigmáticas, situados anteriormente a coxa IV nos Argasidae e após o IV coxa nos Ixodidae. O ânus, apresenta-se com uma abertura em fenda longitudinal entre 2 valvas quitinosas. A forma do espiráculo pode variar de redondo, oval, triangular, em vírgula, etc.

Figura 80 – Diferenças básicas entre capítulos e escudos dos principais gêneros de carrapatos.

Nos machos dos gêneros Rhipicephalus e Ixodes, possuem placas ventrais: mediana, de posição mediana anterior rodeando o orifício anal; anal, de situação mediana posterior, de forma curva, podendo contornar o ânus e adanais, situadas lateralmente ao ânus. Pode haver os sulcos genitais, sulco anal, e sulco ano-marginal. São observados festões marginais dos Ixodidae (Fig. 81).

Figura 81 – Fêmea Ixodidae ingurgitada: C – vista dorsal; D – vista ventral.

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As pernas, em número de 4 nos adultos e na ninfa, reduzem para 3 pares quando na fase de larva. Cada um compreende: coxa, trocânter, fêmur, gênu, tíbia e tarso. Na extremidade de cada uma tem um pedúnculo curto ou longo no qual estão inseridas duas garras. Na base das garras principalmente dos Ixodídeos se ver uma expansão em forma de disco, o pulvilo .

Na face dorsal dos tarsos do 1º par de patas dos Ixodídeos encontra-se uma depressão com cerdas sensoriais chamado de órgão de Haller , cuja função é de detectar umidade e como órgão olfativo. Entre o 1º e o 2º par de patas encontram-se as glândulas coxais, cuja secreção é eliminada durante a alimentação e nos Argasideos tem a função de eliminar água e sais ingeridos com o sangue do hospedeiro.

Morfologia Interna e Fisiologia:

Sistema digestivo: a cavidade bucal é limitada pelas peças bucais e sua cavidade, e continua com a faringe fusiforme que funciona como um órgão de sucção do sangue durante a alimentação do carrapato. É seguida por um curto e delgado esôfago até o intestino médio (estômago). Esta porção se caracteriza por apresentar vários divertículos, terminando em fundo cego. Estes se distendem à medida que os carrapatos se alimentam até ocuparem todo o espaço interno do idiossoma. O intestino posterior retorna a situação de tubo delgado e mediano, dilatando-se apenas para constituir o reto. Ao reto desembocam dois tubos de Malpighi, longos e sinuosos. O sistema termina no ânus, na face ventral ou na face dorsal. Os acessórios do sistema digestivo são as peças bucais e glândulas salivares em cachos (Fig. 82). O material ingerido é diferente conforme a fase de vida. Quando larvas se alimentam mais de liquido intersticial que sangue e, proporcionalmente inverso quando na fase de ninfa e adulto.

Figura 82 - Aparelho digestivo de um carrapato: a- divertículos intestinais anteriores, b- tubo de Malpighi, c- divertículos laterais; d- divertículos posteriores, e- faringe; f- glândula salivar; g- esôfago; h- intestino médio; i- intestino posterior; j- reto; k- divertículo retal.

Sistema circulatório dos carrapatos não difere dos demais artrópodes, compreende um coração rudimentar e pequeno, cuja hemolinfa banha todos os órgãos. O excretor onde ocorre a eliminação dos líquidos, de acordo com acarino é realizado pelas glândulas cutâneas ou pelas glândulas coxais.

O sistema respiratório dos acarinos de vida parasitaria temporário é do tipo traqueal, onde parte uma rede de traquéias ramificadas que se abre para o exterior através de 1 par de aberturas espiraculares situadas ventralmente em duas placas estigmáticas localizadas após o IV par de patas nos Ixodídeos e entre o III e IV par de patas nos Argasídeos, como dito anteriormente. Nos acarinos parasitas permanentes, a respiração é cutânea.

Sistema reprodutor (Fig.83, 84): são dióicos, sexos separados, cada um com um par de gônadas, os respectivos dutos ejaculadores e glândulas anexas. Existem varias espécies que possuem a capacidade partenogenéticas, como ocorre com o gênero Amblyomma.

Durante a copula, o macho e a fêmea se juntam através de suas respectivas faces ventrais. Como o macho não possui órgão copulador, e os espermatozóides ficam em massas envolvidas por uma delicada membrana, o espermatóforo, este coloca seu hipostômio e quelíceras na abertura genital da fêmea para permitir a entrada dos espermatozóides. Somente no interior do aparelho genital feminino é que os espermatozóides adquirem mobilidade e fertilizam os óvulos.

Após a fecundação, o ovário aumenta de volume considerável, e a medida que os ovos evoluem vão sendo eliminados. O tempo de oviposição varia com a quantidade de alimento ingerido

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pela fêmea. Essa por sua vez possui uma glândula situada acima do capitulo, órgão de Gené, que se desenvagina no momento da ovipostura e produz uma substância aglutinante que impermeabiliza os ovos e os mantém próximos. A eclosão depende das condições do ambiente, mas em torno de 40 dias emergem as larvas, que após alimentar-se mudam para ninfas, que embora parecidas com os adultos, não possuem os órgão reprodutores. De acordo com a espécie o número de ninfas pode alterar.

Figura 83 – Aparelho genital: Feminino: l- vagina; m- glândula acessória; n- ovidutos; o- orifício genital; p- útero; q- ovários. Masculino: T- testículos, Cd- canal deferente; Spr, espermioduto.

(Ahid, 2008)

Figura 84 – Estrutura de uma evolução de um carrapato Ixodídeo. Imagem: Teleógina em ovipostura

FAMÍLIA IXODIDAE

O gênero Amblyomma, é um ixodídeo de rostro longo e com o segundo segmento do palpo pelo menos duas vezes mais longo do que largo; possuem um par de olhos simples; festões marginais presentes e escudo ornamentado. Constituído por 102 espécies no mundo, no Brasil há 33 espécies. Neste gênero, contem os carrapatos maiores e mais ornamentados.

A. cajennense

Carrapato de olhos brilhantes (Fig. 85). Escudo do macho com ornamento prateado. Rostro longo. Gnatossoma com base retangular. Hipostômio com três fileiras de dentes de cada lado. Peritremas com aspecto triangular com ângulos arredondados. Festões marginais presentes. Machos desprovidos de placas anais. O escudo da fêmea é triangular, arredondado anteriormente e apresenta desenhos de cor castanho-avermelhado sobre um fundo mais claro. Coxa I com dois espinhos desiguais.

É a espécie de Amblyomma mais importante, por sua distribuição geográfica e por parasitar grande número de animais domésticos e silvestres. O hospedeiro preferido da fase adulta é o cavalo e o boi. Esta espécie comumente ataca o homem em enormes quantidades nas estações secas e frias, em qualquer fase de sua evolução.

No Brasil é conhecido como Carrapato do Cavalo ou "Carrapato Estrela", devido a mancha prateada que os machos trazem no escudo. É o vetor da Babesiose eqüina no Brasil e da Febre Maculosa no homem, na América Central, Colômbia e Brasil, causada pelo Rickettsia rickettsi, uma zoonose que circula entre carrapatos e hospedeiros vertebrados.

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Figura 85 – A. cajennense. Vista dorsal de macho; fêmea; vista ventral do macho. Ap – área porosa; Es- escudo; OI – olhos; Fe – festões marginais.

Amblyomma

O carrapato A. cajennense necessita de três hospedeiros de espécies iguais ou diferentes para completar seu ciclo de vida, que pode variar de um a três anos, dependendo das condições climáticas. Todas as mudas ocorrem no solo. Após a fixação das larvas no hospedeiro, estas iniciam o repasto, durando esta fase de parasitismo aproximadamente 5 dias. Após este período, as larvas desprendem-se do hospedeiro, caem no chão e buscam abrigo no solo, para realizar uma muda para o estágio ninfal, que ocorre em um período médio de 25 dias.

As larvas ou as ninfas desses carrapatos são denominadas de "micuins", "carrapato pólvora" e "carrapatinho”. As larvas podem permanecer no ambiente até 6 meses sem se alimentar (Fig. 86).

Figura 86 - Ciclo evolutivo de um carrapato de três hospedeiros.

A ninfa pode aguardar em jejum pelo hospedeiro por um período estimado de até um ano. Seu período máximo de atividade é observado durante os meses de julho a outubro podendo também ocorrer durante o ano todo dependendo das condições ambientais do local onde está ocorrendo. Encontrando o segundo hospedeiro, a ninfa se fixa e inicia um período de alimentação de aproximadamente 5 a 7 dias quando, completamente ingurgitada, se solta do hospedeiro, cai no chão e realiza a segunda muda.

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Após um período de aproximadamente 25 dias emergem um macho ou uma fêmea jovem que, em 7 dias, encontram-se aptos a realizarem seu terceiro estádio parasitário. Neste ambiente, pode permanecer sem se alimentar, por um período de até 24 meses, aguardando o hospedeiro. Quando isto acontece, machos e fêmeas fixam-se, fazem um repasto tissular e sanguíneo, acasalam-se e a fêmea fertilizada inicia um processo de ingurgitamento que finda num prazo aproximado de 10 dias.

Após este período, a fêmea se solta da pele e cai no solo onde inicia uma nova geração. Esta fase, observada durante os meses de outubro a março no sudeste brasileiro, completa o ciclo biológico da espécie e indica a ocorrência de uma geração anual da espécie. Os ovos são avermelhados.

Dermacentor (Anocentor) nitens: Carrapato da Orelha dos Eqüinos .

É a única espécie conhecida do gênero. Parasita cavalos, asnos e mulas, também registrado em bovinos, ovelhas, cabras, onça pintada, cervídeos e cão. O local preferido de infestação é a orelha e divertículo nasal, podendo, em fortes infestações, ser encontrado em qualquer parte do corpo. Supurações predispõem ao parasitismo por miíases. É um dos principais vetores da B. caballi e B. equi, agentes da babesiose eqüina.

Tem contorno arredondado nas fêmeas, de coloração castanho-avermelhada. Base do capitulo retangular. Hipostômio com 4 fileiras de dentes recorrente de cada lado. Palpos curtos, moderados em largura (Fig. 87). Escudo sem ornamentação, no macho é de cor castanha escura; olhos presentes; Coxa I bífida em ambos os sexos; Peritremas ovais salientes bem características, com presença de células caliciformes, lembrando dial de telefone (Fig. 87); coxas de tamanho crescente do primeiro ao quarto par de patas. Sulcos marginais ausentes nas fêmeas (Fig. 88).

Figura 87 – Gnatossoma: A– do macho, vista dorsal; B– da fêmea, vista dorsal; C– placa estigmática do macho, mostrando células caliciformes. De Lopes & Macedo (1950).

Figura 88 – A. nitens (Neumann): macho. De Diamant & Strickland, (1965). Imagem de fêmea recém emergida (Ahid, 2008).

Carrapato de único hospedeiro. As transformações de larva a adulto ocorrem sobre o mesmo hospedeiro. Os adultos copulam dois dias depois de sua emergência e assim permanecem (in cotu) até o desprendimento da fêmea. Esta ingurgita entre 9 a 23 dias e inicia a postura de 3 a 15 dias após a queda.

Rhipicephalus sanguineus - Carrapatos em cães no Brasil

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Carrapato marrom do cão (Fig. 89); "Carrapato vermelho do cão", encontrado com freqüência na orelha, pescoço e patas, são transmissores da Babesia e Erlichia. No ambiente é visto nas frestas e buracos das instalações. Espécie de grande importância veterinária.

Com escudo sem ornamentação. Borda posterior com festões marginais. Base do gnatossoma hexagonal. Hipostômio com três fileiras de dentes de cada lado. Peritremas em forma de vírgula. Machos com duas placas adanais triangulares e duas vezes mais longas que largas. Coxas I armadas de espinhos. Escudo dorsal de cor castanha com margens esbranquiçadas.

Figura 89- R. sanguineus, macho, vista dorsal; vista ventral. cx - coxa; tr – trocanter; fe – fêmur;

ge – genu; ti – tíbia; ts – tarso. De Pinto (1938).

Esse é um carrapato típico de três hospedeiros (larvas, ninfas e adultos vivendo em hospedeiros separados), comumente encontrado parasitando o cão e outros mamíferos e aves. Os adultos preferem instalar-se na pele, entre o coxim plantar e as orelhas do cão. Seu ataque causa grande irritação e desconforto nos animais, com perdas de sangue. Os adultos têm uma forte tendência para escalar muros e cercas, freqüentemente abrigando-se em frestas e forro dos canis, em grande número, debaixo de móveis e outros locais. Eles desprendem-se dos cães, em qualquer fase de desenvolvimento, espalhando-se pelas habitações, encontrados às vezes em grandes números, sendo de difícil controle.

O gênero Rhipicephalus abrange aproximadamente 70 espécies de carrapatos, quase todas com origem na região Afrotropical. Destas, apenas R. sanguineus, única espécie do gênero nas Américas, encontra-se amplamente distribuído em todas as regiões zoogeográficas do mundo. Tanto os adultos como as formas imaturas são altamente específicas ao seu hospedeiro natural, o cão. Uma característica é a ausência de resistência de cães ao carrapato, mesmo após diversas infestações. O fato de apresentarem de 2 a 3 gerações por ano e de poderem completar seu ciclo de vida tanto em ambiente domiciliar como peridomiciliar, faz com que as populações do parasito, no ambiente, também possam atingir níveis insuportáveis em pouco tempo.

Na fase parasitária, larvas e ninfas são encontradas notadamente no pescoço e outras regiões anatômicas do cão e as fases adultas, no pavilhão auricular e nos espaços interdigitais. Todavia, em altas infestações, as três fases evolutivas do carrapato podem estar presentes em quase todo o corpo do hospedeiro.

O R. sanguineus é vetor de diversos patógenos de importância para os cães, incluindo os agentes da babesiose, da hemobartolenose, da hepatozoonose e da erliquiose. Particularmente no que diz respeito a babesiose e à erliquiose, comuns em cães no nosso país, o único vetor, comprovado cientificamente, é o R. sanguineus.

Sabendo-se que 95% da população de R. sanguineus encontra-se no ambiente e apenas 5% no animal, há duas formas de se atingir essa população. Uma seria através de tratamentos carrapaticidas diretamente no ambiente. Isto é viável para cães confinados em pequenas áreas. Quando não existem outras áreas infestadas por perto, três a quatro aplicações com intervalo de 14 dias são suficientes. Estes produtos devem ser reaplicados com base nos períodos de eficácia

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preconizados. Por exemplo, se o produto apresenta um período de eficácia maior que 95% sobre o hospedeiro por 15 dias, então deve ser reaplicado a cada 15 dias. Quando as infestações por R. sanguineus abrangem casas vizinhas medidas de controle entre os vizinhos devem ser tomadas em conjunto

Rhipicephalus (Boophilus) microplus - Carrapato de Bovinos

Tem corpo pequeno, sem ornamentações (Fig. 90). Capitulo hexagonal. Aparelho bucal curto. Hipostômio mais logo do que os palpos. Placas peritrematicas circulares. Sulco anal e festões marginais, ausentes. Machos com 4 placas adanais longas; o corpo termina em ponta aguda.

Figura 90 - Face dorsal do macho e da fêmea. Face ventral do macho: Og- orificiogenital; Pe- peritrema; Na -ânus; Pa - placas adanais; As - sulco anal; Pc – prolongamento caudal. Imagem do macho (AHID, 2008), com destaque das placas adanais.

Espécie muito abundante, parasitando predominantemente os bovinos, podendo infestar também búfalos, cervos, camelos, cavalos, ovelhas, burros, cabras, gatos, veados campeiros, capivaras, coelhos, preguiças, cães e porcos. Apesar de ser encontrado com freqüência e em altas infestações em determinados locais, excepcionalmente ataca o homem. O carrapato do bovino é um ectoparasita de enorme importância na pecuária nacional, em virtude das perdas econômicas que causa aos produtores.

Em infestações pesadas, podem acarretar a morte de bezerros e mesmo de animais adultos. Os prejuízos à pecuária brasileira, superam a um bilhão de dólares anualmente. Tais prejuízos, nos bovinos, são evidenciados, principalmente, pela:

a) ingestão de sangue (uma fêmea pode ingerir até 2 mililitros de sangue durante sua alimentação sobre o hospedeiro) que, dependendo do número de infestações, pode comprometer a produção de carne e leite;

b) pela inoculação de toxinas nos hospedeiros, promovendo diversas alterações e conseqüências fisiológicas, como a inapetência alimentar;

c) pela transmissão de agentes infecciosos, principalmente da Tristeza Parasitária Bovina (TPB) causada pelos protozoários Babesia bigemina e B. bovis (babesiose) e Anaplasma marginale (anaplasmose);

d) pela redução da qualidade do couro do animal, por causa das cicatrizes irreversíveis ocasionadas durante a alimentação, verificadas por ocasião de seu beneficiamento no curtume.

Ciclo biológico: só utiliza um hospedeiro em seu ciclo evolutivo, e apresenta duas fases: a de vida livre, que se realiza no solo e na vegetação, e a parasitária, realizada no corpo do hospedeiro. A fase não parasitária começa com a fêmea fecundada e alimentada, caindo ao solo para realizar a postura, e termina em uma das alternativas:

a) quando a fêmea morre antes da postura ou produz ovos inférteis, ou ainda, suas larvas morrem sem alcançar um hospedeiro adequado; e

b) quando as larvas oriundas de ovos dessa fêmea conseguem alcançar um hospedeiro suscetível.

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A fase parasitária, com duração média de 23 dias, inicia-se com a fixação das larvas em hospedeiro susceptível e termina quando os adultos incluídas as fêmeas fecundadas e alimentadas, desprendem-se desse hospedeiro.

Biologia e Comportamento dos carrapatos.

A maioria das espécies de carrapatos é silvestre e habita florestas e pastagens, parasitando várias espécies de animais hospedeiros. Poucas espécies são encontradas em ambientes restritos, como ninhos e tocas de seus hospedeiros.

A fase parasitária compreende menos de 10% da vida do carrapato e é adaptada para alimentação sangüínea no hospedeiro. São necessários um ou mais hospedeiros para completar seu ciclo de vida que consiste em três fases: larva, ninfa e adulto (estágios móveis e hematófagos). Após o acasalamento, as fêmeas ingurgitam, desprendem-se do hospedeiro, e procuram locais abrigados no solo dando início à fase de vida livre do ciclo biológico. O tempo de duração deste período, dentro de cada espécie, depende da temperatura, podendo se alongar quando essas se tornam baixas. A quantidade de ovos postos por fêmea, dentro de cada grupo de carrapato, está relacionada com o seu respectivo peso.

Em média, a quantidade de ovos desovados pelas fêmeas dos carrapatos, em torno de: Rhipicephalus (Boophilus) microplus 2000 a 3000 Amblyomma cajennense Cerca de 5000 Rhipicephalus sanguineus Cerca de 3000 Dermacentos (Anocentor) nitens Cerca de 3500

As larvas ao saírem do ovo já possuem um aspecto semelhante ao do carrapato adulto, permanecem inativas na vegetação do solo por vários dias enquanto sua cutícula endurece e então quando estão aptas a infestar os animais, iniciam o processo de subida e descida em direção ao ápice das plantas ao redor do local onde nasceu. As larvas podem detectar odor, calor, CO2 e vibração do ar devido ao movimento dos animais hospedeiros. Na vegetação, fica agrupada evitando, desse modo, a perda de umidade e protegendo-se da incidência direta dos raios solares, aguardando a passagem dos hospedeiros, geralmente pequenos mamíferos e aves que habitam no solo.

Após uma muda, dá origem às ninfas, são imaturas sexualmente. Após a última muda, originam-se os adultos. As fêmeas só se ingurgitam completamente após o acasalamento. Os machos permanecem no hospedeiro por várias semanas ou meses, algumas vezes acasalando-se com várias fêmeas. Exceto para Ixodes, a cópula dos ixodídeos ocorre sempre no hospedeiro.

Ao contrário dos insetos, os carrapatos dispersam-se muito pouco percorrendo distâncias muito curtas. Apesar de poderem detectar a proximidade do hospedeiro na vegetação, é necessário que haja contato físico com o mesmo para que eles sejam transferidos e iniciem a fase parasitária. Muitos morrem antes mesmo de encontrar seus hospedeiros, estando sujeitos a predação e a condições climáticas adversas.

Para compensar a restrição imposta à fase de vida livre do seu ciclo biológico, as fêmeas depositam no ambiente, milhares de ovos dos quais, em geral, eclode a grande maioria das larvas. As larvas, por sua vez, também são muito resistentes e são capazes de passar longos períodos em jejum, até encontrar condições favoráveis ao parasitismo.

O tempo necessário para que o carrapato complete o seu ciclo biológico depende do tipo de ciclo e das condições climáticas, podendo variar de alguns meses, em países tropicais, até anos, em países de clima frio. Em função do ciclo biológico, existem duas alternativas para o controle: fora do hospedeiro e sobre o hospedeiro.

Controle fora do hospedeiro.

Ainda que pouco utilizado, pode ser realizados por meio de rotação de pastejo, introdução de espécies de gramíneas com poder de repelência e ou ação letal ao carrapato, alteração de microclima, implantação de lavouras, uso de agentes biológicos etc.

Algumas espécies de forrageiras têm influência na sobrevivência das larvas nas pastagens, porque, em função da forma de crescimento e características específicas de cada uma, há

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formação de um microambiente, que resulta em repelência ou morte das larvas. Dentre estas, destacam-se o capim-gordura, o andropógon, o capim-elefante, os estilosantes (Stylosanthes spp.). A implantação de lavoura, com o objetivo de recuperação de pastagens, é uma prática que indiretamente auxilia o controle do carrapato, pela ausência de animais na área.

Controle sobre o hospedeiro

É feito pelo uso de raças resistentes, de uma vacina biológica GavacÒ, disponível no mercado, e de químicos (carrapaticidas). Outras formas de controle, como o uso de feromônios associados a substâncias tóxicas, machos e fêmeas estéreis, mecanismos genéticos, estão em fase de experimentação e ainda não constituem alternativas viáveis ao controle desse parasito.

A utilização da resistência natural do bovino ao carrapato tem por base as raças resistentes, o cruzamento entre raças e a seleção entre e dentro de raças. Assim, o produtor, ao explorar raças taurinas, pode selecionar a mais resistente e/ou os animais mais resistentes dentro da mesma raça.

A vacina disponível no mercado (GavacÒ ) é um antígeno recombinante, com resultados satisfatórios na redução de até 65% do número de teleóginas dos animais, nas condições brasileiras em campo. A utilização dessa prática é uma alternativa viável no combate ao carrapato, garantindo ainda a obtenção de alimentos saudáveis, livres de resíduos e a preservação do ambiente.

Os produtos carrapaticidas constituem uma opção que melhor resultado oferece ao produtor no combate ao carrapato. A escolha e o uso correto, tanto nas concentrações e na dose por animal, quanto na freqüência de aplicação, assim como a mudança de produto quando necessária, são fatores preponderantes para a obtenção de resultados esperados. Vários são os grupos químicos de carrapaticidas, hoje disponíveis, como os organofosforados, as formamidinas, os piretróides e as avermectinas.

A aplicação desses produtos é feita por meio de pulverização, imersão, dorsal (pour-on e spot-on) ou injetável, no caso das avermectinas. Cada método apresenta suas vantagens e desvantagens e a escolha depende da região geográfica, tipo de criação, manejo, número de animais, entre outros fatores. Para cada produto, devem-se respeitar as recomendações do fabricante, como a concentração, a dose por animal, a carência para o abate e ordenha.

Recomendam-se aplicações com intervalos de 14 a 21 dias para os produtos convencionais (piretróides). O primeiro sinal do aparecimento da resistência é quando um produto, aplicado de forma correta, não causa a morte dos carrapatos. Nesse caso, deve-se proceder o teste de sensibilidade dos carrapatos aos carrapaticidas, denominado de "biocarrapaticidograma", para a indicação correta de qual produto usar.

FAMÍLIA ARGASIDAE

Família Argasidae (Fig. 91); Este gênero é mais abundante nas regiões áridas que apresentam longas estações secas. A maioria das espécies está associada às aves. Em geral, os habitats dos argasídeos estão intimamente associados àqueles relacionados ao homem e animais domésticos: pocilgas, galinheiros, pombais, ou cabanas rústicas, Os argasídeos que vivem em um habitat relativamente estável, podem alimentar-se no mesmo animal várias vezes ou em vários animais (da mesma espécie ou não) durante seu ciclo de vida e se reproduzem continuamente ao longo do ano.

Os adultos acasalam-se fora do hospedeiro e a fêmea realiza postura após cada repasto sanguíneo. O ciclo de vida compreende ovo, larva, ninfas (vários estágios) e adultos. A maioria das espécies, ninfas e adultos alimenta-se muito rapidamente (cerca de 30 a 40 minutos), enquanto as larvas fixam-se em seus hospedeiros por aproximadamente 7 a 10 dias. Antes de cada muda ocorre um repasto sangüíneo salvo raras exceções em que pode ocorrer duas refeições em ninfas antes da ecdise.

Carrapato de Galinha Argas miniatus

É a espécie brasileira de carrapato de aves. Além de parasitando galinhas, sendo também encontrada em pombos, patos e pássaros silvestres. O Argas tem hábitos noturnos. Vive nas frestas e buracos dos galinheiros e nos troncos de árvores, saindo à noite para sugar os hospedeiros, voltando

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aos esconderijos assim que ingurgitados. Este carrapato é o vetor da Borrelia anserina e Aegyptanella pullorum entre as aves. Infestações pesadas podem matar as aves por exanguinação. Podem atacar o homem e sua picada causa intensa dor.

A cópula ocorre fora do hospedeiro, e a fêmea pode realizar várias posturas sem nova cópula, mas antes, cada postura é precedida de nova sucção. Após o acasalamento, a fêmea realiza de 8 a 10 posturas, num total de 700 ovos por fêmea, intercaladas com repastos sanguíneos. O ciclo (Fig. 92) envolve um estádio larval e pelo menos dois estádios ninfais. Os adultos podem viver por vários anos, mesmo na ausência do seu hospedeiro ideal.

Figura 91 - Argas miniatus (Koch). Fêmea; A – vista dorsal; B – vista ventral. De Pinto (1938).

Figura 92- Ciclo de biológico: Argas sp.

Otobius megnini: carrapato espinhoso da orelha (Fig. 93). Tem o tegumento verrugoso quando adulto e espinhoso quando ninfa. Hipostômio bem desenvolvido e apical no estádio de larva e a medida que vai evoluindo vai regredindo e migra para a face ventral, assim no adulto passa ser vestigial. O estádio adulto possui uma constrição ao nível do IV par de patas dando-lhe um aspecto de violino. Não possuem olhos.

Parasita de ruminantes, eqüinos, suínos, caninos, felinos, animais silvestres e o homem. Quando na fase de larva e de ninfa parasitam a orelha permanecendo fixos nas áreas livres de pêlos. O adulto não é parasito e vive em esconderijos, onde ocorre a copula. Estes não se alimentam e a após a copula, a fêmea inicia postura parcelada, no solo, por mais ou menos 6 meses. O período de incubação dos ovos é em torno de 20 dias. Possuem dois estádios ninfas que permanecem na orelha e se transformam em adultos fora do hospedeiro. As toxinas desses carrapatos podem determinar paralisia nos animais.

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A

Figura 93- A – O. megnini (Dugés). Vista dorsal; B – Ornithodorus sp. Vista dorsal.

O Ornithodorus brasiliensis é uma espécie desprovida de olhos, caracteriza-se principalmente pela ausência de dentes no tarso do primeiro par de patas. Corpo oval. Tegumento mamilonado. Parasita mamíferos. Hipostômio de varias formas, mas nunca escavado. Idiossoma sem a face dorsal nitidamente separado da face ventral. Os adultos estão sempre no solo. As ninfas e larvas são hematófagas. Possuem cinco estádios ninfas. Geralmente se alimento na área corpórea que está em contato com o solo.

ÁCAROS CAUSADORES DE SARNAS

Ahid, 2008

SUBORDEM ASTIGMATA (ACARIFORMES)

SARCOPTIDAE

Sarcoptes scabiei: ácaro causador da escabiose, popularmente conhecida como “sarna” (Fig. 94). Suas dimensões variam de 0,2 a 0,4 mm, quatro pares de pernas em forma cônica. Possui corpo circular e curto, com cutícula estriada contendo cerdas especializadas; pernas curtas, espessas e cônicas, possuem anus terminal. Na extremidade dos dois primeiros pares de pernas existem ventosas que estão fixas os apêndices pedunculados. Todos os mamíferos domésticos e o homem. O ácaro é cosmopolita; algumas dezenas deles, podem gerar um milhão em 2 a 3 meses; nunca ocorre eliminação dos parasitos sem tratamento.

Figura 94 - S. scabiei: A - vista dorsal da fêmea; B– vista ventral do Macho. Ciclo biológico.

Ciclo biológico: O ciclo deste parasito é autoxênico. A ovipostura dura de 1 a 2 meses, eclosão dos ovos ocorre em três dias, as larvas desenvolvem-se por 3 dias e ninfas por 8 dias. Nos adultos, a maturidade sexual se dá em 2 dias. A escabiose desenvolve-se em 15 a 17 dias após a

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infestação. Os adultos perfuram galerias ou túneis na epiderme. A doença causada pelo ácaro decorre da perfuração da epiderme, dos produtos do metabolismo dos parasitos aí depositados e da presença dos ovos, levando à reação inflamatória, escoriações, vesículas, urticária, prurido intenso, disseminação e linfadenomegalia.

Notoedres cati

Tem o gato como principal hospedeiro, mas ocasionalmente o cão, coelho e rato; esquilos selvagens. Distribuição Mundial. Tamanho menor; cutícula circular; pernas curtas, espessas e cônicas; estrias concêntricas; ânus subterminal em posição dorsal e ausência de espinhos (Fig. 95). Ciclo evolutivo: Semelhante ao Sarcoptes, cujas fêmeas encontradas em aglomerados (ninhos). Transmissão por contato direto.

C

Figura 95- N. cati: A – face ventral do macho; B – face dorsal da fêmea; C- Ciclo biológico.

Patogenia: Causa lesões escamosas secas (espessada), na cabeça de felinos, em coelhos: lábios, em volta dos olhos, ponta do nariz região submaxilar, crostas nas bordas das orelhas e patas. Em ratos domésticos e silvestres costuma localizar-se no pavilhão auricular.

Sinais clínicos: Prurido intenso; escoriações por arranhadura na cabeça e pescoço; dissemina-se para cauda e patas por contato quando o gato se limpa e dorme. No diagnóstico deve ser considerado o hospedeiro envolvido, o prurido intenso; características e localização das lesões.

KNEMIDOKOPTIDAE

Knemidokoptes mutans: são ácaros escavadores, com corpo de formato circular, patas curtas e grossas, hospedeiro aviário (Fig. 96), apódemas em forma de H. Tem como hospedeiros as galinhas, pombos, angolas, perus, faisões, com localização nas patas. A biologia é semelhante ao S. scabiei (Fig. 96), proliferação epidérmica com aumento de córneo, formação de tecido alveolar com câmaras repletas de ácaros. Causam eriçamento e descamação da pele; crostas branco-acinzentadas farináceas e aderentes, de evolução lenta e pouco pruriginosa.

Figura 96 - Aspecto dorsal do acaro de aves Knemidokoptes . Ciclo do K. mutans

K. gallinae

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Hospedeiros: Galináceos, pombos, faisões e gansos. Localização na pele próximo à base das penas, dorso, base da asa, ao redor do ventre e peito. Produz escavação nas hastes das penas, prurido dor e irritação intensos, aves arrancam as penas, pele nua, conservam-se grandes penas das asas e cauda, galos são mais susceptíveis.

K. pilae

Hospedeiros: Periquito australiano, papagaio, cacatua. Localização na base do bico, cabeça, pescoço, parte interna das asas e pernas e nas patas. Tratamento para aves de criação comercial: tratar o lote com aplicação de acaricidas (pó ou spray). Ex: piretróide. Limpeza e pulverização do aviário, puleiros e ninhos. Para aves domésticas ou ornamentais o tratamento individual, com remoção das crostas com óleo mineral, aplicação de gotas de ivermectina a 1% sobre a lesão, aplicação de ivermectina sistêmica e limpeza de gaiolas e puleiros.

PSOROPTIDAE

Psoroptes sp: acaro não escavador possui peças bucais pontiagudas, formato oval; patas projetadas além da margem corpo; patas com ventosas na extremidade (Fig. 97). Parasito de ovinos, bovinos e eqüinos. De distribuição Mundial. Os sinais clínicos: pequenas vesículas com exsudato seroso; prurido, trechos de lãs mais claras, perda da lã em grandes áreas e perda de peso.

Figura 97- P. equi: esquerda, vista ventral da fêmea; direita, vista ventral do macho (FORTES). Imagem esquerda: exemplares de Psoroptes. cuniculli (imagens de AHID, 2008)

Chorioptes bovis: tem como hospedeiros os ovinos, bovinos, caprinos e eqüinos. Ácaro não escavador, peças bucais pontiagudas, porém mais arredondadas, formato oval, patas com ventosas na extremidade em forma de taças (Fig. 98). Os sinais clínicos são pequenas vesículas com exsudato seroso, prurido, trechos de lã (ovelhas) mais clara e em grandes áreas. Veja o ciclo na Figura 99.

Figura 98- C. bovis: Vista ventral, A - da fêmea, B- do macho. Tarso: A- de Chorioptes não penduculado; B – de Psoroptes sp., tri segmentada. De Hirst (1922). Figura 99 - Ciclo biológico do Chorioptes sp.

Otodectes cyanotis: o acaro da sarna otodécica de cães e gatos, ocasionalmente furões e raposa vermelha. Corpo oval; Patas salientes e alongadas; Pedicelos não articulados (Fig. 100).

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Produz exsudato com cerume acastanhado, que se torna crostoso; Balanço freqüente da cabeça; Arranhaduras nas orelhas (prurido); Massas fétidas no canal auditivo e pus (infecção).

Figura 100- O. cyanotis: esquerda vista dorsal do macho; direita, vista ventral da fêmea.

LISTROPHORIDAE

Lynxacarus radovskyi: ácaro da pelagem de felinos. Encontra-se aderidos a parte externa da haste. São fortemente estriados, arqueado dorsalmente; achatado lateralmente; com escudo dorsal anterior distinto, em função da placa de quitina no propodossoma; possui boca modificada. Determina prurido; urticária; descamação epitelial em forma de caspa; pêlos quebradiços, secos e sem brilho; áreas de alopecia. São ácaros transmitidos por contato e por fomites, altamente contagiosos; em pelagens claras destacam-se como pontos castanhos, proporcionando aspecto de “sal e pimenta” na pelagem, de forma irregular e descuidada (Ahid et al, 2005).

SUBORDEM PROSTIGMATA (TROMBIDIFORME)

Acarinos de corpo alongado; tegumento mole; quelíceras em estiletes; palpos bem desenvolvidos. Os trombiformes que possuem um par de estigmas próximos ao gnatossoma.

DEMODICIDAE :

Corpo vermiforme, abdome alongado e estriado transversalmente; adultos com quatro pares de patas rudimentares (Fig. 101). Orifício genital feminino ventral em fenda longitudinal, situado ao nível da coxa IV; Orifício genital masculino dorsal, localizado entre as coxas I e II. Único gênero descrito Demodex, com variedades que parasitam o homem e vários mamíferos. Localização nos folículos pilosos e glândulas sebáceas (Fig. 102).

Ciclo: ovo – larva hexapoda – dois estádios ninfais octópodes – adultos. O contágio é discutido. Foi observado que cães sadios em contato com infestados não contraíram a sarna. Há quem discuta que seja induzido o contágio por queda de resistência, mau alimentação, outras doenças que predispõem a sarna demodécica. Banhos freqüentes com sabonetes alcalinos. Os gatos são muitos resistentes. Nos suínos geralmente não é grave.

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Figura 101 - A: D. ovis (ventral); B: capitulo do mesmo vista dorsal; C e D – D. phylloides (hospedeiro suíno), aspecto dorsal e ventral; E: D. cati, vista dorsal. Segundo Hirst (1919). Imagens: exemplar fêmea e ninfa de D. canis (AHID, 2007).

Há três momentos clínicos distintos nesse tipo de sarna: o primeiro onde ocorre depilações e pequenas pápulas no cotovelo, no jarrete e ao redor dos olhos; o segundo, surge depois de alguns meses com o aumento das áreas afetadas que se tornam vermelhas e inflamadas, acompanhadas de prurido. A pele torna-se rugosa e descamada. Há tumefação e blefarite; o terceiro momento é caracterizado pela generalização dos sintomas e é a forma pustular. Ocorre invasão bacteriana surgindo pústulas e grandes abscessos no abdome, na face interna das coxas e no focinho. O cão exala odor repulsivo típico (imagem abaixo).

Figura 102 - Esquema do habitat de demodicídeos (Demodex spp.) de importância veterinária. Cão com demodicose (imagem cedida por Kilder Dantas, 2007)

A transmissão se dar pelo contato prolongado da mãe com a ninhada. Mais freqüente nos de pelame curto (ex. Doberman), mas também de pelame longo (ex. Pastor). O tratamento tópico: preparo do animal - banho prévio c/ POB 2,5% e aplicar Amitraz (4mL/L água), 14/14 dias. O Sistêmico: Ivermectina; Milbemicina ou Moxidectina. Antibioticoterapia.

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CHAVE SIMPLIFICADA PARA IDENTIFICAÇÃO DOS GÊNEROS D E SARCOPTIFORMES (FORTES, 1997)

FAMÍLIA CARACTERIZAÇÃO GÊNEROS CARACTERIZAÇÃO LOCALIZAÇÃO DAS VENTOSAS AMBULACRÁRIAS NAS PATAS

Sarcoptidae - Corpo globoso;

- Rostro curto e largo;

- Patas posteriores encaixadas total ou parcialmente no idiossoma; Curtas e espessas;

- Ventosas ambulacrárias com pedicelo simples e longo;

- Ânus terminal com exceção do gênero Notoedres, no qual é dorsal;

- Macho sem ventosas copuladoras adanais;

- Margem posterior do idiossoma do macho desprovido de lobos abdominais (lobos opistossomais)

Sarcoptes Face dorsal com muitos espinhos. Machos – 1, 2, 4

Fêmeas – 1, 2

Notoedres Face dorsal com poucos espinhos. Ânus dorsal.

Machos – 1, 2, 4

Fêmeas – 1, 2

Knemidokoptes Face dorsal sem espinhos. Machos – 1, 2,3, 4

Fêmeas – ------

Psoroptidae - Corpo oval;

- Rostro longo e cônico;

- Patas posteriores, pelo menos as do terceiro par, salientes ao lado do idiossoma. Longas e espessas;

- Ventosas ambulacrárias com pedicelo longo e triarticulado ou curto e simples;

- Ânus terminal;

- Macho com ventosas copuladoras adanais para receber os órgãos copuladores das fêmeas (tubérculos);

- Margem posterior do macho com lobos abdominais: lobos opistossomais em Psoroptes e Chorioptes, e pouco acentuado em Otodectes.

Psoroptes Ventosas ambulacrárias em pedicelo longo e triarticulado;

Machos com lobos opistossomais.

Machos – 1, 2, 3

Fêmeas – 1, 2, 4

Chorioptes Ventosas ambulacrárias em pedicelo curto e simples;

Machos com lobos opistossomais.

Machos – 1, 2, 3. 4

Fêmeas – 1, 2, 4

Otodectes Ventosas ambulacrárias em pedicelo curto e simples;

Machos sem lobos opistossomais.

Machos – 1, 2, 3, 4

Fêmeas – 1, 2

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PRANCHAS

Prancha 1 Fig. 1: Morfologia interna de díptero. Fig. 2: Esquema do sistema circulatório. Fig. 3: Sistema ganglionar. Fig. 4: Sistema respiratório. Fig. 5: Cabeça: destaque aos olhos simples e compostos. Fig. 6: Estruturas das peças bucais.

Prancha 2 Fig. 1 e 2: Cão e gato com demodicose. Fig. 3 e 4: Aves com sarnas por Knemidokoptes mutans. Fig. 5: Argasídeo: Argas persicus. Fig. 6: Ixodidae: Amblyomma sp.

Prancha 3 Fig. 1: Pseudolynchia canariensis Fig. 2: Diptera Stomoxys calcitrans. Fig. 3 Estigma de larva de mosca varejeira Fig. 5: Nematocera (mosquito) fêmea. Fig. 6: Brachycera (mutuca) fêmea.

Prancha 4 Fig. 1: Demodex canis Fig. 2: Casal de Sarcoptes scabiei; Fig. 3: Ovos e Ninfas de S. scabiei; Fig. 4: Foco da abertura anal do Notoedres cati; Fig. 5: Adultos de Psoroptes sp em copula; Fig. 6: Lynxacarus radovskyi

Prancha 5 Fig. 1:Exemplar de Struthiolipeurus rheae. Fig. 2: larva L3 de C. hominivorax, demonstrando os troncos traqueais. Fig. 4: Colpocephalum turbinatum Fig. 5: Exemplar de Hemiptera Fig. 6: Alimentação e digestão em um díptero hematófago

Prancha 6 Fig. 1: Phthiraptera: Ischnocera: Damalinia caprae. Fig. 2: Linognathus stenopsis, de caprino. Fig. 3: Fêmea de Ctenocephalides felis. Fig. 4: Lipeurus caponis. Fig. 5: Menacanthus stramineus. Fig. 6: Felicola subrostratus. Fig. 7: Macho de Pulex irritans.

Prancha 7 Chave pictórica para identificação de carrapatos.

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PRANCHA 1

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PRANCHA 2

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PRANCHA 3

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PRANCHA 4

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PRANCHA 5

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PRANCHA 6

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PRANCHA 7

CHAVE PICTÓRICA PARA IDENTIFICAÇÃO DE CARRAPATOS