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DIREITO PENAL MILITAR APOSTILA I 1. NOÇÕES HISTÓRICAS Evidências históricas permitem deduzir que alguns povos civilizados da antiguidade, como Índia, Atenas, Pérsia, Macedônia e Cartago, conheciam a existência de certos delitos militares e seus agentes eram julgados pelos próprios militares, especialmente em tempo de guerra. Mas foi em Roma que o Direito Penal Militar adquiriu vida própria considerado como instituição jurídica. As origens históricas do Direito Penal Militar, como de qualquer ramo do Direito, são, principalmente, as que nos oferecem os romanos. A política foi sempre dominar os povos antes de tudo pela força das armas e depois consolidar a conquista pela Justiça das leis e sabedoria das instituições. Teve, assim, o exército romano o seu Direito Criminal. Para as faltas graves da disciplina, o Tribuno convocava o Conselho de Guerra, julgava o delinqüente e o condenava a bastonadas. Esta pena, às vezes eram aplicada com tal rigor que acarretava a perda da vida do condenado. Tais penas estavam ligadas a certos crimes e atos de covardia. Nós também copiamos essa aflição física dos romanos, com a triste reminiscência no art. 184 do Regulamento de 20 Fev 1708 e o castigo corporal no Brasil somente foi abolido, inicialmente pelo Exército por meio da Lei n.º 2.556, de 26 Set 1874, art. 8º e, na Marinha (Armada), pelo Decreto n.º 3, de 16 Nov de 1889, art.2º. 2. CONCEITO “É o complexo de normas jurídicas destinadas a assegurar a realização dos fins das instituições militares, cujo principal é a defesa armada da Pátria”. A preservação dessa ordem jurídica militar, aonde preponderam a hierarquia ea disciplina, exige obviamente do Estado, mirando a seus possíveis violadores, um elenco de sanções de naturezas diversas, de acordo com os diferentes bens tutelados: administrativas (disciplinares), civis e penais. As penais surgem com o Direito Penal Militar.

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  • DIREITO PENAL MILITAR

    APOSTILA I

    1. NOES HISTRICAS

    Evidncias histricas permitem deduzir que alguns povos civilizados da antiguidade,como ndia, Atenas, Prsia, Macednia e Cartago, conheciam a existncia de certos delitosmilitares e seus agentes eram julgados pelos prprios militares, especialmente em tempo deguerra. Mas foi em Roma que o Direito Penal Militar adquiriu vida prpria considerado comoinstituio jurdica.

    As origens histricas do Direito Penal Militar, como de qualquer ramo do Direito, so,principalmente, as que nos oferecem os romanos. A poltica foi sempre dominar os povos antesde tudo pela fora das armas e depois consolidar a conquista pela Justia das leis e sabedoria dasinstituies.

    Teve, assim, o exrcito romano o seu Direito Criminal. Para as faltas graves dadisciplina, o Tribuno convocava o Conselho de Guerra, julgava o delinqente e o condenava abastonadas. Esta pena, s vezes eram aplicada com tal rigor que acarretava a perda da vida docondenado. Tais penas estavam ligadas a certos crimes e atos de covardia.

    Ns tambm copiamos essa aflio fsica dos romanos, com a triste reminiscncia no art.184 do Regulamento de 20 Fev 1708 e o castigo corporal no Brasil somente foi abolido,inicialmente pelo Exrcito por meio da Lei n. 2.556, de 26 Set 1874, art. 8 e, na Marinha(Armada), pelo Decreto n. 3, de 16 Nov de 1889, art.2.

    2. CONCEITO

    o complexo de normas jurdicas destinadas a assegurar a realizao dos fins dasinstituies militares, cujo principal a defesa armada da Ptria.

    A preservao dessa ordem jurdica militar, aonde preponderam a hierarquia e adisciplina, exige obviamente do Estado, mirando a seus possveis violadores, um elenco desanes de naturezas diversas, de acordo com os diferentes bens tutelados: administrativas(disciplinares), civis e penais. As penais surgem com o Direito Penal Militar.

  • Direito Penal Militar e Direito Processual Penal Militar.

    As normas de Direito Penal Militar so conhecidas como de direito penal material ousubstantivo e as de Direito Processual Penal Militar como de direito penal formal ou adjetivo,ou, simplesmente, de direito processual. As normas de Direito Penal Militar so as reunidas noCdigo Penal Militar (CPM) e as de Direito Processual Penal Militar, no Cdigo ProcessualPenal Militar (CPPM).

    O direito material regula as relaes entre as pessoas e o direito processual entre aspessoas e o Estado-Juiz. Assim, sempre que tivermos a violao de um direito material aqueleque se sentir prejudicado poder buscar do Estado-Juiz a chamada prestao jurisdicional, ouseja, o processo e o julgamento daquele que violou a norma de direito material e com a suaconduta causou-lhe um dano ou prejuzo.

    Carter especial do Direito Penal Militar.

    O Direito Penal Militar um direito penal especial, porque a maioria de suas normas,diversamente das de direito penal comum, destinadas a todos os cidados, se aplicam,exclusivamente, aos militares, que tm especiais deveres para com o Estado, indispensveis sua defesa armada e existncia de suas instituies militares. Esse carter especial, ainda,advm de a Constituio Federal atribuir com exclusividade aos rgos da Justia Castrense (art.122, CF/88) o processo e o julgamento dos crimes militares definidos em lei.

    H, como exceo a esta regra, o processo e o julgamento dos crimes dolosos contra avida praticados por militar contra civil, os quais por fora da Lei n. 9.299/96 so dacompetncia da Justia Comum. Assim, tais fatos continuam possuindo a classificao de crimemilitar, e, portando, devem ser apurados por meio de IPM, contudo ser a Justia Comum e noa Auditoria Militar, no mbito do estado, a competente para o processo e o julgamento de taiscrimes.

    3. COMENTRIOS AO CPM3.1. PRINCPIO DA LEGALIDADEArt. 1 - No h crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prvia cominao

    legal.

  • ConceitoO artigo em questo estabelece o chamado princpio da legalidade, com

    correspondncia integral no art. 1 do Cdigo Penal Comum.

    o princpio das Reserva Legal, embasado na mxima de Feuerbach, Nullum Crimen,Nulla Poena, Sine Praevia Lege, originrio da remota Magna Carta de 1215, imposta pelosbares ingleses ao rei Joo Sem Terra.

    Para MIRABETE, entretanto, a causa prxima do princpio da legalidade est no

    Iluminismo (Sc. XVIII), tendo sido includo no art. 8 da Declarao dos Direitos do Homeme do Cidado, de 26.08.1789, nos seguintes termos: Ningum pode ser punido se no for emvirtude de uma lei previamente estabelecida e promulgada anteriormente ao delito elegalmente aplicada. No Brasil, foi inscrito na Constituio de 1824 e repetido em todas asCartas Constitucionais subseqentes.

    O Princpio da Legalidade que estrutura o art. 1 do Cdigo Penal Militar de 1969,tambm incluso o texto do Cdigo Penal comum de 1969, antepara e protege aliberdade individual do Militar e do cidado, contra a prepotncia do estatlatra(Ramagem BADAR).

    As palavras crime, pena e lei, como lembra DELMANTO, tm sentido amplo nesteartigo.

    Assim, a expresso crime compreende tambm as contravenes e, a palavra pena inclui asmais diversas restries de carter penal (penas privativas de liberdade, restritivas de direito,penas de multa que so conversveis em detentivas etc.), como lei devem ser entendidas todas asnormas de natureza penal, elaboradas na forma que a Constituio prev, abrangendo no sas do CP como as das demais leis penais especiais.

    Cabe salientar que a pena de multa no est prevista atualmente para os crimes militares.J por ocasio dos estudos da Comisso elaboradora do CPM de 1944, a pena de multa foijulgada inadequada aos crimes militares, contra o voto do eminente Desembargador SlvioMartins Teixeira, que a acolhia, por entender que a mesma j estava prevista em vrias leismilitares.

    Previso Constitucional O princpio da legalidade ou da reserva legal est prevista na carta Magna, art. 5, inc.

    XXXIX.

    Slvio Martins TEIXEIRA lembrava que na Doutrina do nacional socialismo, ouautoritria, o Estado no podia tolerar que o indivduo empregasse impunemente suas foras e

  • capacidades contra a conservao e o desenvolvimento da coletividade, abroquelando-se notexto da lei, sem lhe respeitar as intenes.

    E prosseguia dizendo que, de acordo com esse critrio, no memorial prussiano, foideclarado ser imprescindvel conceder-se ao juiz a faculdade de preencher, em certos limites,as lacunas da lei.

    Com esses argumentos, a Comisso incumbida da elaborao do projeto nazistaformulou, na segunda leitura, o seguinte dispositivo:

    Incorre em pena quem pratica um fato que a lei declara punvel, ou quem, segundo oconceito de uma lei e a s maneira de ver de um povo, merece punio.Se ao fato no foi imediatamente aplicvel nenhuma lei penal, ser ele punido de acordocom a lei cuja idia fundamental melhor se adapte.

    Conclui-se, portanto, na esteira de DELMANTO, que do enunciado do art. 1 do CdigoPenal Militar resultam duas regras fundamentais:

    A da Reserva Legal (ou da Legalidade), visto que somente a lei, elaborada na forma quea Constituio permite, pode determinar o que crime e indicar a pena cabvel. Lei Federal,elaborada de acordo com o processo legislativo discriminado a partir do art. 59, e seguintes, daConstituio Federal.

    A da anterioridade. Para que qualquer fato possa ser considerado crime, indispensvelque a vigncia da lei que o define como tal seja anterior ao prprio fato, assim como acominao da pena.

    Corolrio das regras acima, impe-se ainda:A irretroatividade, pois considerando-se serem as leis editadas para o futuro, as normas

    penais no podem volver ao passado, salvo se para beneficiar o agente (CF/88, art. 5, XL).

    A taxatividade, visto que as leis que definem os critrios devem ser precisas, marcandoexatamente a conduta que objetivam punir, no se aceitando leis vagas ou imprecisas, nem oemprego, pelo juiz, da analogia ou interpretao extensiva para incriminar algum fato ou tornarmais severa sua punio.

  • 3.2. LEI SUPRESSIVA DE INCRIMINAOArt. 2 - Ningum pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,

    cessando, em virtude dela, a prpria vigncia de sentena condenatria irrecorrvel, salvoquando aos efeitos de natureza civil.

    Retroatividade de lei mais benigna 1 - A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se

    retroativamente, ainda quando j tenha sobrevindo sentena condenatria irrecorrvel.

    Apurao da maior benignidade 2 - Para se reconhecer qual a mais favorvel, a lei posterior e a anterior, devem ser

    consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicveis ao fato.

    RemissoO Cdigo Penal comum tem disposio idntica no caput do art. 2. Seu pargrafo nico,

    trazido a lume pela Lei 7.209/84, tornou incontestvel que a retroatividade benfica no sofrelimitao alguma, tem redao similar ao 1 do CPM, mudando apenas a parte final dodispositivo que, neste, trata da sentena condenatria irrecorrvel e, naquele, trata da sentenacondenatria transitada em julgado, o que nos parece, data venia, ter o mesmo sentido.

    O Cdigo Penal Militar revogado (Dec.-lei 6.227, de 24.01.44), tinha disposio idnticano art. 2, caput, e o seu pargrafo nico, na mesma esteira do CP/1940 que mandava aplicar apenas ao fato no julgado definitivamente a lei posterior que favorece o agente sem suprimircrime ou atenuar a pena.

    NooEm sentido amplo, o art. 2 do Cdigo Penal Militar consagra o princpio Tempus Regit

    Actum, o que est em perfeita harmonia com a garantia da reserva legal (CF, art. 5, XL e XLI).Ou seja, a lei rege os atos praticados durante sua vigncia.Especialmente, trata o referido art. 2 do CPM da Abolitio Criminis, que a supresso da

    figura criminosa, entendendo o legislador que a ao antes prevista como delituosa, no maisidnea a ferir o bem jurdico que pretende tutelar.

    Ora, com a descriminao do fato, no tem mais sentido o prosseguimento da execuoda pena, nem a mantena das seqelas penais da sentena. DELMANTO explica que caso seja

  • aprovado e entre em vigor projeto de lei que extingue o crime de adultrio, tal ato deixaria deexistir como crime.

    O Cdigo Penal Militar, da mesma maneira que o Cdigo Penal, dispe ser possvel aretroatividade e a ultratividade da lei.

    Hipteses de conflito de leis penais no tempoNovatio Legis Incriminadora: A Lei nova torna tpico fato anteriormente no

    incriminado. Por fora da garantia do art. 5, XL CF, tal Lei no pode ser aplicada aos fatos aela anteriores.

    Abolitio Criminis: (CPM, art. 2) A abolitio criminis faz desaparecer o delito e seusreflexos penais, permanecendo, entretanto, os civis.

    A obrigao de reparao, que tem previso no art. 159 do Cdigo Civil, para aqueleque, por ao ou omisso ou culpa, causa dano a outrem, fundamenta-se no diploma penalcastrense, no art. 109, I, que torna certa a obrigao de reparar dano resultante do crime.

    A Abolitio Criminis uma das causas de extino de punibilidade prevista no art. 123,inc. III.

    Novatio Legis in Pejus: A terceira hiptese refere-se Lei nova mais grave que aanterior (Lex Gravior). Vige, no caso, o princpio da irretroatividade da Lei Penal mais severa.Exemplo: Lei 9.839, de 27.12.99, que passou a impedir a aplicao da Lei 9.099/95 (que criouos Juizados Especiais Criminais) na Justia Militar e, de seqncia, afastou do mbito da Justiacastrense os institutos despenalizadores da suspenso condicional do processo e da exigncia derepresentao do ofendido nas leses corporais de natureza leve e nas culposas.

    Novatio Legis in Mellius: A ltima hiptese de Lei nova mais favorvel que a anterior.Alm da Abolitio Criminis, a lei nova pode favorecer o agente de vrias maneiras, sejacominando pena mais branda em qualidade (deteno, em vez de recluso), ou quantidade (deum a quatro anos, em vez de dois a oito), eliminando circunstncias qualificadas ou agravantesprevistas anteriormente etc.

    Slvio Martins TEIXEIRA lecionava que: de diversas formas pode uma nova Lei beneficiar o agente de um crime.Assim por exemplo: o fato no mais considerado crime, passando a ser classificado como contraveno ou deixando de ser punido; circunstnciasperdem o carter de agravantes; so admitidas outras excusativas deresponsabilidade ou novas justificativas dos fatos considerados crimes, diminudo o prazo para a prescrio.

  • Competncia para aplicao da lei novaDELMANTO enumera duas hipteses a considerar para a aplicao da lei nova,

    dependendo de j ter sido ou no julgado o caso em definitivo.1 Hiptese: Se a condenao j transitou em julgado, a aplicao da lei posterior

    compete ao juiz da execuo.Em se tratando de crime militar, a execuo da sentena e os incidentes de execuo

    devem ser resolvidos pelo Juiz-Auditor da Auditoria por onde correu o processo ou, nos casosde competncia originria do Superior Tribunal Militar, pelo seu Presidente, nos termos dos arts.588 e590 do Cdigo Penal Militar.

    Ao preso provisrio ou condenado da JUSTIA MILITAR, aplicar-se-o igualmente adisposies da Lei 7.210, de 11/07/74, Lei de Execuo Penal, quando recolhido aestabelecimento sujeito jurisdio originria, nos termos do pargrafo nico do seu art. 2.

    Jurisprudncia

    Smula 611, STF: Transitada em julgado a sentena condenatria, compete ao juzodas execues a aplicao da lei mais benigna. Precedentes no STF: RTJ 85/786,RT 87/447 E1.067; 88/1.082 E 1.098, 90/451, 92/881, 90/881, 94/564, 95/758 (MIRABETE, Manual1989:70).

    Maurcio KUEHNE apresenta as seguintes decises:Execuo Penal: Ru condenado pela Justia Militar por crime de roubo a

    estabelecimento bancrio. Competncia do Juzo da Execuo Penal o suscitado paraprosseguir na execuo (STJ CC 7.309-SP J. em 27.03.89, DJU 16.03.90, p. 3.075)

    Conflito de competncia. Execuo da pena. Juzo competente.1. Os sentenciados recolhidos a estabelecimento penal sujeito administrao estadual, aindaque condenados pela Justia Eleitoral, Militar ou Federal, tero suas penas executadas peloJuzo de execuo comum do Estado.

    Penal Militar. Execuo da pena.O militar condenado, com sentena transitada em julgado, se cumpre a pena em

    estabelecimento militar, sujeita-se ao regime ao regime de cumprimento da legislao especiale no de que trata a Lei de Execues Penais (LEP, art. 2, pargrafo nico).

  • 2 Hiptese: Se o processo ainda est em julgamento, dependendo da fase em que seencontrar, caber ao juiz, ou ao tribunal com que o processo estiver, a aplicao da nova lei.

    Se for militar federal, ao Juzo de qualquer uma das doze Circunscries JudiciriasMilitares enunciadas pelo art.2 da lei 8.457, de 04.09.92 Lei da Organizao JudiciriaMilitar da Unio, ou Superior Tribunal Militar; se MILITAR ESTADUAL, pela AuditoriaMilitar do seu Estado, ou Tribunal de Justia.

    a concluso a que se chega vista dos arts. 124, pargrafo nico e art. 125, 3 e 4da Constituio Federal.

    Apurao da maior benignidadeO Cdigo Penal Militar manda que se considerem a lei posterior e a anterior,

    separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicveis ao fato para definir a de maiorbenignidade.

    Segundo lvaro Mayrinck da Costa: cabe ao juiz, a anlise do caso in concreto, luzde uma e de outra, visto que pode ocorrer que convenha a aplicao da primeira ainda que empena mais grave que a segunda que apresenta pena menos severa. Para DELMANTO, h casos em que a opo entre a lei nova e a velha s pode serdecidida por uma apreciao subjetiva e no objetiva.Em tais hipteses, pode-se e deve-seaceitar que o prprio ru, por intermdio do seu defensor, aponte qual das leis aplicveis lheparece ser a mais favorvel.

    Habeas corpus. Exigncia de representao nos crimes de leses corporais leves ou de lesesculposas (Lei 9.099/95, art. 88). Incidncia residual no mbito da Justia Militar, em face dasupervenincia da Lei 9.839/99. Consumao da decadncia. Extino da punibilidade. Pedidodeferido.So ainda aplicveis Justia Militar, para efeito do que determina o art. 5 da Constituio, osinstitutos de direito material previstos na Lei 9.099/95, especialmente as medidasdespenalizadoras pertinentes exigncia de representao nas hipteses de leses corporaisleves ou de leses corporais culposas (art. 88) e suspenso condicional do processo penal(art.89), desde que os delitos militares tenham sido praticados antes da vigncia da Lei 9.839/99.Se o ofendido, no prazo legal, deixa de formular a representao a que se refere o art. 99 da Lei9.099/95, opera-se, em conseqncia da sua inrcia, a decadncia do direito de postular ainstaurao da persecutio criminis, circunstncia esta que enseja o reconhecimento da extinoda punibilidade do agente.

  • A Lei 9.839/99 que torna inplicvel Justia Militar a Lei 9.099/95 no alcana, noque se refere aos institutos de direito material, os crimes militares praticados antes da suavigncia, ainda que o Inqurito Policial Militar ou o processo penal sejam iniciadosposteriormente.

    O sistema constitucional brasileiro impede que se apliquem leis penais supervenientesmais gravosas, como aquela que afastam a existncia de causas extintivas da punibilidade, afatos delituosos cometidos em momento anterior ao da edio da lei mais severa.

    3.3. MEDIDAS DE SEGURANAArt. 3 - As medidas de segurana regem-se pela lei vigente ao tempo da sentena,

    prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execuo.

    O Cdigo Penal Militar em vigor inclui, neste artigo, as medidas de segurana no Ttulo I Da Aplicao da Lei Penal Militar.

    Embora haja quem as considere como sano penal, as medidas de segurana no sopenas, no tm o carter retribuitivo do mal com o mal, no significam represso pela infraode leis penais vigentes na poca em que o fato foi praticado. So medidas necessrias garantiasocial e do prprio indivduo que se torna perigoso. Diferente do crime, que punido de acordocom a lei vigente na data em que foi cometida a infrao, as medidas de segurana nada tm aver com a lei que existia poca em que o ato foi praticado, pois sendo o seu objetivo asegurana atual, a lei aplicada a que vigora na data em que determinada a sentena. Se a leise modifica depois que foi decretada a medida, mas antes de ser posta em execuo, ela ser

    aplicada de acordo com a modificao, ou seja, de acordo com a lei vigente na poca em que seexecuta.

    Pena a que o Cdigo relaciona como Principais (art. 55) ou Acessrias (art. 98), no sefazendo meno, nos referidos artigos, s medidas citadas.

    Por outro lado, quando o cdigo afirma que tais medidas so reguladas pela lei emvigncka ao tempo da sentena, ou pela existente no momento da execuo, se diferente daanterior, est afirmando que a nova lei retroage, o que inconcebvel, visto que a ConstituioFederal, em seu art. 5, XL, declara taxativamente em termos gerais que a lei penal noretroagir, salvo para beneficiar o ru. Logo, a lei vigente ao tempo da sentena s retroagir sefor mais benfica.

  • 3.4. LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORRIAArt. 4 - A lei excepcional ou temporria, embora decorrido o perodo da sua durao ou

    cessadas as circunstncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigncia.

    Segundo DELMANTO, o princpio da retroatividade benigna no aplicvel em casosde leis excepcionais ou temporrias. As leis excepcionais so as promulgadas para vigorar emsituaes ou condies sociais anormais (ex. guerra, estado de stio, epidemia etc.), tendo suavigncia subordinada durao da anormalidade que as motivou. Leis temporrias so as quetm tempo de vigncia determinado em seus prprios dispositivos.

    Ambas tm Ultratividade, que a capacidade de aplicarem-se ao fato cometido sob seuimprio, ainda que revogado pelo decurso do tempo ou uma vez superado o estado excepcionalque as originou. O que possibilita a punio, segundo MIRABETE, a circunstncia de ter sidoa conduta praticada durante o prazo de tempo em que ela era exigida e a norma necessria salvaguarda dos bens expostos naquela ocasio especial. Esta ultratividade visa a frustar oemprego de expedientes tendentes a impedir a imposio de suas sanes a fatos praticados nasproximidades de seu termo final de vigncia ou da cessao das circunstncias excepcionais quea justificaram.

    3.5. TEMPO DO CRIME Art. 5 - Considera-se praticado o crime no momento da ao ou da omisso, ainda queoutro seja o do resultado.

    O Cdigo Penal Militar determina o tempo do crime de acordo com a Teoria daAtividade, a qual, segundo MIRABETE, aquela que o considera como sendo o momento daconduta (ao ou omisso). Assim, teramos, por exemplo, o momento em que o agente efetuaos disparos contra a vtima ou atropela o ofendido (no homicdio doloso ou culposo), ou ilude oofendido, com manobra a fraudulenta, para obter vantagem ilcita (no estelionato), ou deixa deprestar socorro ao ferido (omisso de socorro), pouco importando a ocasio em que o sujeitopassivo venha a morrer, ou o agente obtenha a vantagem indevida etc. O fundamento desta teoria a de evitar a incongruncia de o fato ser considerado crime em decorrncia da lei vigente napoca do resultado, quando no o era no momento da ao ou omisso.

    Anlise separada merecem os crimes permanentes como a desero (CPM, art. 187) e oseqestro ou crcere privado (CPM, art. 225), em que, tanto a ao como a consumao,prolongam-se no tempo enquanto o agente estiver ausente de sua Unidade ou privando a vtima

  • de sua liberdade. Incidindo lei nova mais severa durante o tempo da privao da liberdade ou daausncia do militar, a lex gravior (a lei mais grave) ser aplicada, pois o agente ainda estpraticando a ao na vigncia da lei posterior. Idntico raciocnio deve ser feito ao crimecontinuado (CPM, art. 80) quando um ou mais dos delitos componentes forem praticados navigncia da lei posterior mais severa.

    Como exceo regra Celso DELMANTO cita a prescrio, que segue normas prpriasespeciais (CPM, art. 125, 2). A regra incidir, entretanto, com relao reduo do prazoprescricional para o agente menor (CPM, art. 129).

    3.6. LUGAR DO CRIMEArt. 6 - Considera-se praticado o fato no lugar onde se desenvolveu a atividade

    criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob a forma de participao, bem como onde seproduziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticadono lugar em que deveria realizar-se a ao omitida.

    Quando a conduta tpica (ao ou omisso) e o resultado danoso ocorrem num mesmolugar, no existem dificuldades na fixao do lugar do crime. Entretanto, nos chamados crimes adistncia ou de longa mo, que so as infraes em que a conduta tpica se d em um pas e oresultado ocorre em outro, a questo merece anlise mais apurada.

    Por exemplo, A dispara, atravs da fronteira, contra B, que cai morto no pas vizinho; ou

    C induz D em erro num pas, a fim de que este realize em outro, ato de disposio patrimonialprejudicial a seus interesses; ou E se apodera de um avio que sobrevoa o territrio de umEstado, obrigando seu piloto a variar o rumo e a aterriss-lo em outro, solicitando, com xito, oresgate de uma terceira nao. Onde foi cometido o homicdio, o estelionato e o seqestro areo,respectivamente em cada um desses casos?

    Existe trs Teorias que podem explicar tais situaes:1. Teoria da Atividade, pela qual lugar do crime aquele em que se iniciou a execuo daconduta

    tpica, que a posio do nosso Cdigo, em relao aos crimes omissivos, j que considerapraticado o fato no lugar em que deveria realizar-se a ao omitida;

    2. Teoria do resultado, pela qual lugar do crime aquele em que se produziu o evento;

    3. Teoria da Ubiqidade, pela qual tido como lugar do crime tanto aquele em que se iniciousua

    execuo, como aquele em que ocorreu o resultado, que a posio do nosso Cdigo, emrelao

  • aos crimes comissivos.Nos casos dos crimes a distncia, envolvendo pases diferentes, resulta um conflito de

    jurisdio, de carter internacional que ser resolvido pelo art. 8 do CPM, que estabelece que apena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quandodiversas, ou nela computada, quando idnticas.

    3.7. TERRITIRIALIDADE EXTRATERRITORIALIDADEArt. 7 - Aplica-se a lei penal militar, sem prejuzo de convenes, tratados e regras de

    direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte, no territrio nacional ou fora dele,ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiaestrangeira.

    Territrio nacional por extenso1 - Para os efeitos da Lei Penal Militar consideram-se como extenso do Territrio

    Nacional as aeronaves e os navios brasileiros, onde quer que se encontrem, sob comando militarou militarmente utilizados ou ocupados por ordem legal de autoridade competente, ainda que depropriedade privada.

    Ampliao a aeronaves ou navios estrangeiros

    2 - tambm aplicvel a Lei Penal Militar ao crime praticado a bordo de aeronaves ounavios estrangeiros, desde que em lugar sujeito administrao militar e o crime atente contra asinstituies militares.

    Conceito de navio3 - Para efeito da aplicao deste Cdigo, considera-se navio, toda embarcao sob

    comando militar.

    A lei penal militar se aplica aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou navios apenasquando estes, sendo estrangeiros, se encontrem em local sob administrao militar e atentemcontra as instituies militares.

    A questo da territorialidade e da extraterritorialidade se insere no chamado direito penalinternacional. Para Paulo GUSMO, geralmente o direito tem eficcia em todo o territrio doEstado que o sancionou, pois a eficcia extraterritorial das leis depende da vontade do outroEstado, admitida atravs de leis ou tratados internacionais. Para ele, territrio a parte da

  • superfcie terrestre que o Estado exerce, soberanamente, a sua autoridade e na qual encontra-se asua populao. formado pelo solo, subsolo, espao areo que o recobre, ilhas e mar territorialque o banha, quando o mar lhe serve de fronteira, como o caso do Brasil.

    3.8. PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIROArt. 8 - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo

    crime, quando diversas, ou nela computada, quando idnticas.

    Este artigo insere a regra non bis in idem, ou seja, evitar a duplicidade de repressopenal.

    A atenuao, em caso de diversidade qualitativa de pena imposta obrigatria, ficando aquantidade da reduo ao critrio prudente do magistrado. J na hiptese de a pena cumprida noestrangeiro ser da mesma qualidade, ela simplesmente abatida da pena a ser executada noBrasil.

    Segundo MIRABETE, a se a pena cumprida no estrangeiro for superior imposta noPas, evidente que esta no ser cumprida.

    3.9. CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ Art. 9. Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

    I os crimes de que trata este Cdigo, quando definidos de modo diverso na lei penalcomum ou nela no previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposio especial;

    II os crimes previstos neste Cdigo, embora tambm o sejam com igual definio na leipenal comum, quando praticados:

    a) por militar em situao de atividade ou assemelhado, contra militar na mesmasituao ou assemelhado;

    b) por militar em situao de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito administrao militar, contra militar da reserva, ou reformado ou assemelhadoou civil.

    c) por militar em servio, em comisso de natureza militar, ou em formatura,ainda que fora do lugar sujeito administrao militar, contra militar dareserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

    d) por militar durante o perodo de manobras ou exerccio, contra militar dareserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

    e) por militar em situao de atividade, ou assemelhado, contra o patrimnio soba administrao militar, ou a ordem administrativa militar;

    f) REVOGADO - por militar em situao de atividade ou assemelhado que,embora no estando em servio, usa armamento de propriedade militar ouqualquer material blico, sob guarda, fiscalizao ou administrao militar,para a prtica de ato ilegal;

  • III os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra asinstituies militares, consideram-se como tais no s os cometidos no inciso I, como os doinciso II, nos seguintes casos:

    a) contra o patrimnio sob a administrao militar, ou contra a ordemadministrativa militar;

    b) em lugar sujeito administrao militar contra militar em situao deatividade ou assemelhado, ou contra funcionrio de Ministrio militarou da Justia Militar, no exerccio de funo inerente a seu cargo;

    c) contra militar em formatura, ou durante o perodo de prontido,vigilncia, observao, explorao, exerccio, acampamento,acantonamento ou manobras;

    d) ainda que fora do lugar sujeito administrao militar, contra militarem funo de natureza militar, ou no desempenho de servio devigilncia, garantia e preservao da ordem pblica, administrativa ejudiciria, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou emobedincia a determinao legal superior.

    Pargrafo nico Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida ecometidos contra civil, sero da competncia da justia comum.

    Conceito.Crime militar todo aquele que a lei assim o reconhece como tal.O legislador penal brasileiro adotou o critrio legal para definir crime militar, isto

    , apenas enumerou taxativamente as diversas situaes que definem esse delito. Ou seja, umfato s poder ser considerado crime militar se estiver previsto no Cdigo Penal Militar (CPM).

    Crime prpria e impropriamente militar.Os delitos propriamente militares nunca podem ser crimes comuns. Assim, o crime

    propriamente militar o que s por militares pode ser praticado, isto , aquele que constitui umainfrao especfica e funcional da profisso de soldado. So exemplos de crime propriamentemilitares a covardia, o motim, a revolta, a violncia contra superior, o desrespeito a superior etc.Nunca haver previso de tais fatos no Cdigo Penal comum ou em qualquer outra lei de carterpenal, da dizer que so crimes propriamente militares.

    O crime impropriamente militar , por sua vez, aquele que, pela condio militar doculpado, ou pela espcie militar do fato, ou pela natureza militar do lugar, ou, finalmente, pelaanormalidade do tempo em que praticado, acarreta dano segurana ou economia, ao servioou disciplina das instituies militares. O crime impropriamente militar , em linhas gerais,aquele crime comum cujas circunstncias alheias ao elemento constitutivo do fato delituoso otransformam em crime militar transportando-o para o CPM. Desta forma, podemos dizer que ofato definido como crime impropriamente militar tambm est previsto no Cdigo Penalcomum.

  • Distino entre Crime Militar e Transgresso Disciplinar.As Foras Armadas e as Foras Auxiliares dispem de normas complementares

    contidas nos Regulamentos Disciplinares, que permitem s autoridades militares aplicaremsanes disciplinares a seus subordinados por fatos de menor gravidade, mas que visam aassegurar a hierarquia e a disciplina militares.

    Transgresso Disciplinar , assim, toda ao ou omisso contrria ao devermilitar, devidamente prevista em regulamento prprio. O Crime Militar a ofensa mais grave aesse mesmo dever. Desta forma, a conduta violadora do dever militar em sua essncia a mesmae somente o caso concreto poder determinar se houve mera transgresso disciplinar ou umcrime militar.

    bom lembrar que para uma conduta ser considerada crime militar deve estarprevista no CPM. De igual forma, para que possa ser considerada transgresso disciplinar deveestar inserida no Regulamento Disciplinar correspondente. Desse modo, existem certas condutasque esto previstas tanto no CPM quanto no Regulamento Disciplinar; situao que poderdeterminar que o acusado seja submetido, ao mesmo tempo, a um processo administrativo(PAD) para apurao da falta disciplinar e a um processo judicial para apurao da infraopenal. Contudo, poder a autoridade militar, agindo por seu bom senso, entender que a gravidadeda conduta deva apenas limitar sua apurao esfera administrativa, dando-lhe tratamento detransgresso disciplinar. Se entender o contrrio, ou seja, que tal fato teve tamanha repercusso egravidade poder optar por uma postura que determine, ao mesmo tempo, uma apuraodisciplinar, por meio de sindicncia ou Processo Administrativo (como prefere o novoEstatuto PM), e uma postura penal, por intermdio da instaurao de um Inqurito PolicialMilitar (IPM).

    SUPREMO TRIBUNAL FEDERALCrimes dolosos contra a vida. Inqurito. Julgada medida cautelar em ao direta de

    inconstitucionalidade ajuizada pela Associao dos Delegados de Polcia do Brasil ADEPOL,contra a Lei 9.299/96 que, ao dar nova redao ao art. 82 do Cdigo de Processo Penal Militardetermina que nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justia Militarencaminhar os autos do inqurito Justia comum. Afastando a tese da autora de que aapurao dos referidos crimes deveria ser feita em inqurito policial civil e no em inquritopolicial militar, o Tribunal, por maioria, indeferiu a liminar por ausncia de relevncia naargio de ofensa ao inciso IV, do 1 ao 4 do art. 144, da CF, que atribuem s polcias

  • federal e civil o exerccio das funes de polcia judiciria e a apurao das infraes penais,exceto as militares. Considerou-se que o dispositivo impugnado no impede a instauraoparalela de inqurito pela polcia civil. Vencidos os Ministros Celso de Mello, Relator, Maurcio

    Corra, Ilmar Galvo e Seplveda Pertence. (STF Ao Direta de Inconstitucionalidade1.494-DF Rel. p/ o acrdo Min. Marco Aurlio, DJU, 20.04.97).

    4. DOS DELITOS EM ESPCIE

    Motim (art. 149).MotimArt. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados.

    I agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la;

    II recusando obedincia a superior, quando estejam agindo sem ordem ou praticando violncia;

    III assentindo em recusa conjunta de obedincia ou em resistncia ou violncia, em comum,contra superior;

    IV ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fbrica ou estabelecimento militar, ou dependncia dequalquer deles, hangar, aerdromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-os dequalquer daqueles locais ou meios de transporte, para ao militar, ou prtica de violncia, emdesobedincia a ordem superior ou detrimento da ordem ou da disciplina militar.Pena recluso, de quatro a oito anos, com aumento de um tero para os cabeas.

    RevoltaPargrafo nico. Se os agentes estavam armados.Pena recluso, de oito a vinte anos, com aumento de um tero para os cabeas.

    De acordo com o CPM no existem definies distintas para os crimes de revolta ede motim. Apenas o armamento dos participantes elemento constitutivo do primeiro. Assim, condio da configurao do crime de revolta, o agrupamento de militares armados. Pois, sereunirem-se sem armas, o crime ser de motim. A revolta , portanto, o motim armado, sendo aexistncia de armas o nico e essencial ponto de distino entre os dois crimes.

    comum achar que, para configurao dos delitos de motim ou de revolta, exige-sea reunio de quatro ou mais militares, contudo a redao atual de tais delitos admite que doismilitares reunidos podem pratic-los, presentes os demais elementos constitutivos do tipo.

    SUPERIOR , nos termos do art. 24 do CPM, o militar que, em virtude da funo exerceautoridade sobre outro, de igual posto ou graduao ou que lhe seja inferior. Portanto, para queum militar seja considerado superior, luz do CPM, basta que exera autoridade sobre outro emrazo da funo que ocupa, no sendo necessrio possuir grau hierrquico mais elevado.

  • Violncia contra superior (art. 157).Violncia contra superiorArt. 157. Praticar violncia contra superior.Pena deteno, de trs meses a dois anos.

    Formas qualificadas 1 Se o superior comandante da unidade a que pertence o agente, ou oficial general.Pena recluso, de trs a nove anos.

    2 Se a violncia praticada com arma, a pena aumentada de um tero.

    3 Se da violncia resulta leso corporal, aplica-se, alm da pena da violncia, a do crimecontra a pessoa.

    4 Se da violncia resulta morte.Pena recluso, de doze a trinta anos.

    5 A pena aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em servio.

    Este crime s pode ser cometido por militar, no encontrando previso no CdigoPenal comum, razo pela qual tratar-se de crime militar prprio.

    A violncia exigida para caracterizao deste delito a violncia fsica, consistente

    em tapas, empurres, rasgar roupas, puxo de orelhas, pontaps e socos que podem ou no

    provocar leses. H necessidade apenas da existncia de contato fsico diretos ou atravs deinstrumentos, tambm fsicos. A agresso verbal poder caracterizar outros delitos, tais comoultraje ao pudor (art. 238), desrespeito a superior (art. 160), incitamento (art. 155) etc.

    A violncia contra superior assume tal gravidade que as conseqncias penaisindependem do resultado da ao (pode ou no causar leso corporal). Nesse sentido, quantomais deve ser respeitado o ofendido (superior), maior o crime e, portanto, mais grave a penacominada.

    Os pargrafos do art. 157 denotam a escalada de gravidade do crime.

    Ementa: Violncia contra superior. Quando se torna obrigatrio o laudo mdico. Violnciacontra Superior somente na forma qualificada prevista no art. 157, 3 do CPM, isto , quandoda violncia resulta leso corporal, que torna indispensvel o exame mdico legal na pessoa da

    vtima. (TJM/MG Ap. 1.098, Rel. Juiz Dr. fausto Nunes Vieira. Acrdo de 04.11.75)

    Ementa: Soldado que agride a socos e golpes de basto, colega de igual graduao, pormem servio. Conduta tipificada no art. 157, 3 do CPM. Denncia e condenao por lesocorporal, art. 209, CPM. Autoria e materialidade induvidosas. Vedada a reformatio in pejus,

  • mantm-se a deciso recorrida. Apelo improvido. Deciso unnime. (TJM/RS Ap. 3.002/97 Rel. Juiz Cel Joo Vanderlan Rodrigues Vieira, j. 15.10.97. Jurisprudncia Penal Militar,jan/jun 1997, p.228)

    Violncia contra militar em servio (art. 158).Violncia contra militar em servioArt. 158. Praticar violncia contra o oficial de dia, de servio, ou de quarto, ou contra sentinela,vigia ou planto.Pena recluso, de trs a oito anos.

    1 Se a violncia praticada com arma, a pena aumentada de um tero.

    2 Se da violncia resulta leso corporal, aplica-se , alm da pena da violncia, a do crimecontra a pessoa.

    3 Se da violncia resulta morte.Pena recluso, de doze a trinta anos.

    O artigo um desdobramento do artigo anterior, estendendo a proteo contra violnciafsica a todos os militares de servio, e no apenas ao superior hierrquico.

    Quanto aos meios empregados pelo agente do delito, o crime se apresenta com duasfeies: cometido com arma ou sem arma.

    crime que no exige a qualidade de militar do sujeito ativo (agente). Considerado umcrime contra as instituies militares, podendo ser cometido por qualquer indivduo, militar oucivil.

    Insubordinao (art. 163 166).Recusa de obedinciaArt. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matria de servio, ourelativamente a dever imposto em lei regulamento ou instruo.Pena deteno, de um a dois anos, se o fato no constitui crime mais grave.

    Define-se insubordinao como sendo o fato de o militar negar-se a obedecerordem de superior hierrquico, relativo a servio ou dever imposto em lei, regulamento ouinstruo.

    Vale ressaltar que a mesma conduta, aqui definida como insubordinao, podecaracterizar o crime de motim previsto no art. 149, I, CPM. A insubordinao ficar restrita aos

  • casos em que um nico militar recusar-se a obedecer tais ordens. Em sendo mais de ummilitares, o crime ser de motim.

    ORDEM a expresso da vontade do superior hierrquico dirigida a um ou maisinferiores determinados para que cumpram com uma prestao ou absteno no interesse doservio. Deve a ordem ser:

    IMPERATIVA deve importar numa exigncia para o inferior, por isso no soordens os conselhos, exortaes e advertncias;

    PESSOAL significa que deve ser dirigida a um ou mais inferiores determinados;as de carter geral no so ordens desta natureza e seu no-cumprimento constitui meratransgresso disciplinar;

    CONCRETA ou seja, pura e simples, pois seu cumprimento no deve estarsujeito apreciao do subordinado.

    Finalmente a ordem tem que estar relacionada lei, regulamento ou instruo (baselegal).

    A obedincia, no sistema militar, sustentada na hierarquia e na disciplina, fundamental, contudo certo que atualmente no se admite a obedincia cega. Permite-se que oinferior examine o contedo da determinao. Certo tambm que o sistema militar apresentacaractersticas prprias. Assim, se a ordem ilegal, ilegal tambm o fato praticado pelosubordinado (ordens manifestamente ilegais no devem ser executadas) . Mas, como no lhecabe discutir sobre sua legalidade, encontra-se no estrito cumprimento de dever legal (dever deobedecer a ordem). O que vale dizer que apenas as ordens manifestamente ilegais no devemser cumpridas pelo subordinado, ou seja, aquelas que, primeira vista, sem qualquernecessidade de maior avaliao acerca da sua conformidade com a lei, j demonstram visvelilegalidade.

    O cumprimento de ordens manifestamente ilegais responsabilizam o militar queexecutou e o superior que a emitiu. As ordens no-manifestamente ilegais responsabilizamapenas o superior que a emitiu.

    Violncia contra inferior (art. 175).Violncia contra inferiorArt. 175. praticar violncia contra inferior.Pena deteno, de trs meses a um ano.

    Resultado mais grave

  • Pargrafo nico. Se da violncia resulta leso corporal ou morte, tambm aplicada a pena docrime contra a pessoa, atendendo-se, quando for o caso, ao disposto no art. 159.

    Art. 159. Quando a violncia resulta morte ou leso corporal e as circunstncias evidenciamque o agente no quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena do crime contra apessoa reduzida de metade.

    O art. 159 trata do crime preterdoloso ou preterintencional, ou seja, modalidade decrime qualificado pelo resultado. O PRETERDOLO apresenta dolo no antecedente e culpa noconseqente. Ex.: agente desfere um soco no oficial de servio ou na sentinela por desejar ferirqualquer um deles, sendo que a vtima vem a cair e morrer ao bater a cabeo contra o solo.O art. 175 caput trata da violncia pura e simples do superior contra o inferior. Se o superiorefetuar um empurro contra o subordinado e em seguida desfere-lhe uma bofetada, ocorre apratica do fato tipificado em tal artigo do CPM. Uma segunda situao vem prevista nopargrafo nico do mesmo artigo, sob a rubrica resultado mais grave, e consiste na violnciapraticada pelo superior contra o inferior, mas que resulte leso corporal ou morte.

    Desero (art. 187 194).DEFINIO DOUTRINRIA Ausncia no autorizada do servio militar, por parte de umoficial ou de uma praa, com a inteno de no mais voltarDeseroArt. 187. Ausentar-se o militar, sem licena, da Unidade em que serve, ou do lugar em quedeve permanecer, por mais de oito dias:Pena deteno de seis meses a dois anos; se oficial, a pena agravada.

    O art. 187 trata da chamada desero propriamente dita e por isso que se diz que talartigo traz a definio legal de desero.

    A lei no estipula o quantum do agravamento desta pena, aplica-se o disposto no art. 73do CPM, agravando-a de um quinto a um tero.

    Casos assimiladosArt. 188. Na mesma pena incorre o militar que:

    I no se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, findo o prazo de trnsito ou frias;

    II deixa de se apresentar autoridade competente, dentro do prazo de oito dias, contadosdaquele que termina ou cassada a licena ou agregao ou em que declarado o estado de stioou de guerra;

    III tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do prazo de oito dias;

  • IV consegue excluso do servio ativo ou situao de inatividade, criando ou simulandoincapacidade.

    Desero especialArt. 190. Deixar o militar de apresentar-se no momento da partida do navio ou aeronave, deque tripulante, ou da partida ou deslocamento da unidade ou fora em que serve:Pena deteno at trs meses, se aps a partida ou deslocamento, se apresentar, dentro de vintee quatro horas, autoridade militar do lugar, ou, na falta desta, autoridade policial, para sercomunicada a apresentao a comando militar da regio, distrito ou zona.

    Desero por evaso ou fugaArt. 192. Evadir-se o militar do poder da escolta, ou de recinto de deteno ou de priso, oufugir em seguida prtica de crime para evitar priso, permanecendo ausente por mais de oitodias.Pena deteno, de seis meses a dois anos.

    Momento consumativo. quando se completam os oito dias de ausncia, consoante o art. 187 do CPM.

    Ausncia.Antes da consumao do crime de desero, o militar considerado ausente por

    oito dias. Caso retorne ao servio nesse perodo de ausncia, no h falar-se em crime, mas emmera transgresso disciplinar, devendo nessa esfera o fato ser tratado.

    Prazo de graa. o lapso de tempo de oito dias que a lei concede ao ausente, oportunizando-lhe o

    desistncia (arrependimento) e a conseqente apresentao, no vindo, assim, a consumar ocrime de desero. Afora a desero tipificada no art. 190 do CPM, uma vez que esta trata dachamada desero instantnea.

    A contagem dos dias de ausncia, luz do art. 451 do CPPM, iniciar-se- zerohora do dia seguinte quele em que for verificada a falta injustificada do militar .... Ex.: Se afalta injustificada ocorreu no dia 10, inicia-se a contagem do prazo zero hora do dia 11 econsumar-se- a desero a partir da zero hora do dia 19.

    Parte de ausncia.Dever ser elaborada pelo chefe imediato do ausente e serve para:

    a) dar conhecimento do fato ao escalo superior;b) registrar o incio da contagem do prazo de graa;c) provocar a elaborao do inventrio dos bens deixados ou extraviados pelo ausente.

    Despacho do Comandante.

  • Na parte de ausncia, o comandante ir emitir um despacho, mandando inventariaro material permanente da Fazenda Pblica Estadual, deixado ou extraviado pelo ausente, com aassistncia de duas testemunhas idneas e mandando publicar em BIO a parte de ausncia e oprprio despacho. de praxe incluir-se no inventrio os bens particulares deixados pelo ausente.

    Inventrio.Destina-se a arrecadar os bens da Fazenda Pblica Estadual deixados ou

    extraviados, bem como os bens particulares deixados pelo ausente.

    Parte de desero.Documento elaborado pelo comandante da subunidade do militar ausente, ou

    autoridade correspondente, por meio do qual encaminhar o termo de inventrio e participar aocomandante, chefe ou diretor que tal ausncia j conta de oito dias, configurando o crime dedesero.

    Despacho do comandante.Recebida a parte de desero, o comandante proferir um despacho designando

    algum (pode ser praa ou oficial) para lavrar o termo de desero.

    Temo de desero.No termo de desero, que ser subscrito (assinado) pelo comandante e por duas

    testemunhas idneas, de preferncia oficiais, ser formalizada a instruo provisria do processode desero devendo ser mencionadas todas as circunstncias do fato, de forma a fornecer oselementos necessrios propositura da ao penal (oferecimento da denncia pelo MinistrioPblico).

    Uma vez publicado o termo de desero, estar configurado o delito, que classifica-se como sendo permanente, razo pela qual autoriza, a partir de ento, a priso em flagrante dodesertor onde quer que for capturado.

    Despacho no termo de desero.Concludo o termo de desero, o comandante despachar mandando que:

    a) sejam publicados o termo de desero e o prprio despacho em BIO;b) sejam juntados os assentamentos do desertor;c) seja oficiado ao Comandante Geral encaminhando o termo de desero e solicitando a

    demisso (se praa no-estvel) ou a agregao (se oficial ou praa estvel);

  • d) manda realizar diligncias para localizar o desertor e determina a publicao do resultadodestas;

    e) seja arquivada cpia autntica dos autos;f) seja remetido os autos ao Ministrio Pblico.

    CONTAGEM DO PRAZO PARA CONSUMAO DA DESERO (art. 451, 1):

    1 2 3 4 5 6 7 8___________________________________________

    15 16 17 18 19 20 21 22 23 24DF 0:00 0:00 0:00 Expediente 1 2 3 4

    DF. Dia da Falta PM escalado s 8 horas do dia 15;1. 0:00 do dia 16 Incio da contagem da ausncia;2. 0:00 do dia 17 Parte de Ausncia;3. 0:00 do dia 24 Consumao da desero;4. Expediente do dia 24 Parte acusatria e Termo de Desero.

    Embriaguez em servio (art. 202).Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em servio, ou apresentar-se embriagado para prest-lo.Pena deteno, de seis meses a dois anos.

    O delito de embriaguez apresenta duas modalidades:Na primeira o militar encontra-se em servio e, nessa qualidade embriaga-se. Caso

    ingira bebida alcolica e no se embriague, inexiste o delito, mas certamente subsistir atransgresso disciplinar. Da mesma forma, se a embriaguez ocorre fora do servio, resolve-setambm no mbito disciplinar.

    Na segunda modalidade, a de apresentar-se embriagado para prestar servio, necessrio que o sujeito ativo tenha cincia de que iria entrar em servio.

    Nem sempre possvel a execuo do exame de dosagem alcolica , valendo ento,em seu lugar, a prova testemunhal que evidencie de modo preciso o estado do acusado naocasio, com todas as circunstncias demonstrativas da situao em que o mesmo se encontrava.

    Assim, a embriaguez em servio tem como conseqncia imediata, no mnimo, afalta de ateno e prejuzo ao desempenho do servio que o agente est realizando, j que nopodemos aceitar que a ingesto de lcool melhore o desempenho funcional de quem quer queseja.

  • Essa falta de ateno pode evoluir at mesmo para a incapacidade total para acontinuao e realizao do servio, quando o agente perde a coordenao motora, predomina aconfuso psquica, apresentam-se perturbaes sensoriais como a viso dupla, zumbido deouvido, iluses (percepes erradas), palavra difcil e pastosa, inconvenincia de atitudes,chegando mesmo ao coma alcolico nos casos mais graves.

    A comprovao da embriaguez, portanto, poder ser efetivada pelo exame dedosagem alcolica (exame de alcoolemia, exame de sangue) ou pelo exame clnico (exame deembriaguez, exame visual). Em qualquer dos casos o exame deve ser feito sempre por mdicoperito oficial e, na ausncia deste, por mdico a ser designado pela autoridade militar.

    Dormir em servio (art. 203).Dormir em servioArt. 203. dormir o militar, quando em servio, como oficial de quarto ou de ronda, ou emsituao equivalente, ou no sendo oficial, em servio de sentinela, vigia, planto s mquinas,ao leme, de ronda ou em qualquer servio de natureza semelhante.Pena deteno, de trs meses a um ano.

    O militar tem o dever de utilizar todos os meios possveis para evitar que adormeae quando esses meios se apresentem deficientes, cumpre participar ao superior hierrquico a fimde que sejam adotadas providncias cabveis.O delito de dormir em servio sempre doloso, o que vale dizer que a conduta culposa nocaracteriza o delito, podendo configurar mera transgresso disciplinar.

    Maus tratos (art. 213).Maus tratosArt. 213. Expor a perigo a vida ou a sade, em lugar sujeito administrao militar ou noservio de funo militar, de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilncia, para o fim deeducao, instruo, tratamento ou custdia, quer privando-a de alimentao ou cuidadosindispensveis, quer sujeitando-as a trabalhos excessivos ou inadequados, quer abusando demeios de correo ou disciplina.Pena deteno, de dois meses a um ano.

    Formas qualificadas pelo resultado 1 Se do fato resulta leso grave:Pena recluso, at quatro anos.

    2 se resulta morte:Pena recluso, de dois a dez anos.

    O delito de maus tratos est previsto no art. 136 do Cdigo Penal comum, razopela qual crime militar imprprio. No tipo penal, no entanto, exige-se que a exposio a perigoocorra em lugar sujeito administrao militar ou que o seu agente esteja no exerccio de funo

  • militar. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar ou civil, ressalvando-se quanto a esteltimo que sua punibilidade est condicionada ao fato de o delito atentar contra as instituiesmilitares.

    O art. 213 do CPM, prev uma situao a mais para a vtima, ou seja, a de estarsubmetida autoridade do agente, importando o crime na violao desse dever de autoridade,guarda ou vigilncia, para o fim de educao, instruo, tratamento ou custdia.

    Comete o delito o agente que priva de alimentao ou cuidados necessrios (ex.:doentes internados sob sua custdia), ou sujeitando-a a trabalhos excessivos ou inadequados(ex.: trabalhos forados em locais insalubres); ou ainda abusando de meios de correo oudisciplina (ocorre com mais freqncia contra recrutas ou alunos em cursos de formao).

    crime mltiplo, no sendo necessrio que o agente realize todas as condutastpicas mas apenas uma delas.

    O crime de maus tratos essencialmente doloso, desconhecendo o CPM a formaculposa.

    Os pargrafos do art. 213 aludem s formas qualificadas pelo resultados leso corporal grave e ode morte.

    Embriaguez ao volante (art. 279).Embriaguez ao volanteArt. 279. Dirigir veculo motorizado, sob administrao militar, na via pblica, encontrando-seem estado de embriaguez, por bebida alcolica, ou qualquer outro inebriante.Pena deteno, de trs meses a um ano.

    Com o advento da nova lei de trnsito (Lei n. 9.503, de 23 Set 97) restou tipificadoa conduta de conduzir veculo automotor, na via pblica, sob a influncia de lcool ousubstncia de efeitos anlogos ... (art. 306 do Cdigo de Trnsito brasileiro). Portanto,atualmente, o delito de embriaguez ao volante crime militar imprprio.Para configurao do delito de embriaguez ao volante no necessrio a provocao de qualquerdano sade ou ao patrimnio de outrem, posto tratar-se de delito de perigo abstrato. Basta asimples conduo de veculo estando o agente sob efeito de substncia alcolica ou de efeitosanlogos.

    Prevaricao (art. 319).Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofcio, ou pratic-lo contraexpressa disposio de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.Pena deteno, de seis meses a dois anos.

  • A prevaricao crime militar imprprio, posto que tambm encontra previso noCdigo Penal comum. O seu sujeito ativo dever ser funcionrio pblico, seja militar ou civil. Osujeito passivo o Estado, representado pela Administrao Militar.

    O delito se consuma de trs maneiras. Na primeira, o agente retarda (protrai,delonga); na segunda, ele deixa de praticar (omisso) e; na terceira, ele pratica (ao) o ato deofcio contra disposio legal.

    ATO DE OFCIO aquele que se compreende nas atribuies do servidor; que estna esfera de sua competncia, administrativa ou judicial.

    O crime de prevaricao essencialmente doloso, mas requer um elementosubjetivo do injusto (especial fim de agir), caracterizado pela expresso para satisfazer interesseou sentimento pessoal, sem que o crime no se aperfeioa. Inexistindo o elemento subjetivo doinjusto o delito praticado poder ser o de condescendncia criminosa. Ou seja, se o superior nopretender com a sua conduta a satisfao de um interesse ou sentimento pessoal deixa de praticaro crime de prevaricao, mas pode praticar o crime de condescendncia criminosa.CRIME DOLOSO aquele em que o agente manifesta a vontade livre e dirigida prtica dequalquer das condutas mencionadas pela lei penal.

    Condescendncia criminosa (art. 322).Condescendncia criminosaArt. 322. Deixar de responsabilizar subordinado que comete infrao no exerccio do cargo, ou,quando lhe falta competncia, no levar o fato ao conhecimento da autoridade competente.Pena se o fato foi praticado por indulgncia, deteno at seis meses; se por negligncia,deteno at seis meses.

    A condescendncia criminosa est prevista no art.320 do Cdigo Penal comum e,por isso, ser crime militar imprprio quando presentes as condies exigidas pelo CPM.

    O presente artigo apresenta duas modalidades de crime; o indulgente doloso e o

    culposo:

    a) o culposo, pela referncia negligncia;b) o indulgente (doloso), que o crime praticado por indulgncia.

    INDULGNCIA a qualidade do indulgente, ou seja, a clemncia, amisericrdia, a tolerncia demasiada, a benevolncia.

    NEGLIGNCIA o desleixo, descuido, incria, desateno, menosprezo, preguia. crime que s pode ser cometido pelo superior hierrquico em relao ao seu

    subordinado infrator. O superior neste caso tem competncia para punir o subordinado. Jquando o superior no tem competncia para punir o subordinado deve informar imediatamente

  • autoridade competente para a punio, sob pena de cometer o crime de condescendnciacriminosa.

    O Regulamento Disciplinar da PMBA traz textualmente a exigncia de uma pronta atuao dosuperior que presenciar ato contrrio disciplina ou ao decoro da instituio, devendo, assim,sujeitar o subordinado priso disciplinar ou priso em flagrante delito.

    Desacato (art. 341).DesacatoArt. 341. Desacatar autoridade judiciria no exerccio da funo ou em razo dela.Pena recluso, at quatro anos.

    crime militar imprprio, posto que tambm encontra definio no Cdigo Penalcomum.

    Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, militar ou civil, mesmo o funcionriopblico desde que agindo como particular.

    Autoridade judiciria tanto o juiz-Auditor como qualquer um dos Juzes-Militaresque compem o Conselho de Justia, Especial ou Permanente.

    Autoridades judicirias so igualmente, os Ministros do Superior Tribunal Militar eo Juiz-Auditor Corregedor na esfera federal e, os juzes dos Tribunais Militares dos Estados deSo Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, bem como o Juiz-Corregedor da Justia Militarestadual.

    A ofensa constitutiva do desacato qualquer palavra ou ato que redunde emvexame, humilhao, desprestgio ou irreverncia ao funcionrio. a grosseira falta deacatamento, podendo consistir em palavras injuriosas, difamatrias ou caluniosas, vias de fato,agresso fsica, ameaas, gestos obscenos, gritos agudos etc.

    condio sem a qual no se configura o crime de desacato a situao de estar aautoridade judiciria no exerccio da funo ou em razo dela.

    O crime s admite a forma dolosa, no havendo previso de culpa.

    BIBLIOGRAFIA

    1. Apostila do Curso de Formao de Oficiais (APMBA), Dr. LuizAugusto Santana Promotor de Justia Militar/BA;

    2. Comentrios ao Cdigo Penal Militar, Vol. 2, Dr. Jorge Csar deAssis - Promotor da Justia Militar da Unio.