apostila do curso de liturgia

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PARÓQUIA NOSSA SENHORA APARECIDA e SÃO LOURENÇO “Em obediência à vossa palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5b) ÍNDICE PRIMEIRO MÓDULO - SAGRADA LITURGIA INTRODUÇÃO À SAGRADA LITURGIA 01 DOCUMENTO “MAGNO” DA IGREJA SOBRE A LITURGIA 03 PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DA LITURGIA 05 ANO LITÚRGICO 07 ANO LITÚRGICO (RESUMO) 14 PASTORAL LITÚRGICA 16 MANUAL PARA EQUIPES DE LITURGIA 17 COMUNICAÇÃO LITÚRGICA 25 SÍMBOLOS LITÚRGICOS 27 CANTOS LITÚRGICOS 36 ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA 41 A MISSA PARTE POR PARTE 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS 53 ORAÇÃO VOCACIONAL 60

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Page 1: Apostila do curso de liturgia

PARÓQUIA NOSSA SENHORA APARECIDA e SÃO LOURENÇO “Em obediência à vossa palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5b)

ÍNDICE

PRIMEIRO MÓDULO - SAGRADA LITURGIA INTRODUÇÃO À SAGRADA LITURGIA 01

DOCUMENTO “MAGNO” DA IGREJA SOBRE A LITURGIA 03

PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DA LITURGIA 05

ANO LITÚRGICO 07

ANO LITÚRGICO (RESUMO) 14

PASTORAL LITÚRGICA 16

MANUAL PARA EQUIPES DE LITURGIA 17

COMUNICAÇÃO LITÚRGICA 25

SÍMBOLOS LITÚRGICOS 27

CANTOS LITÚRGICOS 36

ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA 41

A MISSA PARTE POR PARTE 42

CONSIDERAÇÕES FINAIS 53

ORAÇÃO VOCACIONAL 60

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PARÓQUIA NOSSA SENHORA APARECIDA e SÃO LOURENÇO “Em obediência à vossa palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5b)

PRIMEIRO MÓDULO - SAGRADA LITURGIA

INTRODUÇÃO À SAGRADA LITURGIA

Liturgia não é somente a “Festa do Rei Jesus...” Um dos nossos maiores pecados hoje em dia é reduzirmos o assunto liturgia à

celebração da missa e defini-la apenas como um conjunto de rituais e orações que nos levam ao céu. E tudo isso fruto de uma crescente automação religiosa, que podemos perceber a cada domingo em nossas assembléias litúrgicas. As pessoas vão à missa sem saber o porque de estarem ali e nem o que está acontecendo perante elas. São meros espectadores do preceito dominical ensinado por seus pais. Talvez seja por isso que nós católicos sejamos tão criticados.

Destinados àqueles que querem assumir em plenitude o mistério que Cristo confiou à sua Igreja, e romper com “tradicionalismos”, este manual, de maneira simples e objetiva, abordará de um modo geral a liturgia em si.

Uma breve palavra sobre história da salvação . . .

O gráfico acima é uma representação do plano de salvação de Deus para a

humanidade. Vale aqui recordar que o sentido da palavra “salvar” em Teologia significa “unir com Deus”. O gráfico mostra como Deus, após a queda original, age na história da humanidade, até que esta assuma sua plenitude, conforme os planos originais do Pai (I Jo 3,2).

E como se dá a ação do Pai na história? Ela é essencialmente Cristológica. Cristo é o nosso intercessor ao longo de toda história (Ef 1), por ele somos salvos. De fato, Cristo esteve presente no início da história, pois todas as coisas foram criadas nele (Jo 1,3). Está presente junto ao povo da antiga aliança, através da promessa, manifestada através dos patriarcas e profetas. Encarna-se na plenitude dos tempos, salvando-nos definitivamente através de sua paixão, morte e ressurreição. Ascende aos céus, prometendo permanecer conosco até o fim dos tempos (Mt 28,20). Presença essa mística, manifesta em sua Igreja e em seus sacramentos - a liturgia. No final dos tempos Cristo retornará para levar toda criação à plenitude.

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Definição Após considerarmos estes aspectos, podemos apropriar-nos da definição que a

Igreja faz da liturgia: “Liturgia é uma ação sagrada, através da qual, com ritos, na Igreja e pela Igreja,

se exerce e prolonga a obra sacerdotal de Cristo, que tem por objetivos a santificação

dos homens e a glorificação de Deus” (SC 7). Em outras palavras, a liturgia é a continuidade do plano de salvação do Pai,

através da presença mística de Cristo nos sacramentos, que são administrados e perpetuados pela Igreja. Note-se, à Igreja cabe a missão de continuar a obra de Cristo, que se dá, sobretudo, através da liturgia. Sem liturgia, não há Igreja e sem Igreja não há liturgia. E sem liturgia não há continuidade no mistério da salvação da humanidade.

Mesmo com todo o empenho dos liturgistas brasileiros, muitos desafios continuam nos convidando a não descuidarmos da liturgia, continuam lembrando que a implantação da reforma entre nós permanece em aberto, interpelando nossa coragem, nosso esforço, nosso estudo, formação, ação, dedicação, etc. . . Entre alguns desafios, destaco:

- A participação ativa do povo (parece que só o Padre participa da celebração);

- A formação Litúrgica de modo geral (a maioria dos fiéis desconhece os ritos, os símbolos, etc. . . );

- A linguagem Litúrgica, desconhecida pelos fiéis; - O Canto e a música litúrgica (muitas vezes a Missa acaba sendo um show,

com baterias, etc. . , menos a celebração do mistério); - A Adaptação da liturgia às culturas, aos lugares e às pessoas (creio ser o

maior desafio com relação à inculturação);

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DOCUMENTO “MAGNO” DA IGREJA SOBRE A LITURGIA No ano que findou inúmeros documentos do magistério foram escritos,

relembrando os 40 anos da Sacrosanctum Concilium (carta magna da Liturgia). O Santo Padre João Paulo II também nos presenteou com a Carta Apostólica: Spiritus et Sponsa de 4 de dezembro de 2003. Gostaríamos, à luz destes documentos focalizar alguns aspectos fundamentais para uma verdadeira vivência da Liturgia.

Há na liturgia um princípio básico: a liturgia é em primeiro lugar "a obra de Deus em nós" antes de ser nossa obra para Deus. A liturgia é, em sua própria essência, um datum, um dom. Ela nos ultrapassa e existe bem antes que tenhamos podido nela participar. O sujeito ativo da liturgia é Cristo ressuscitado. É ele o primeiro e único Sumo Sacerdote, o único capaz de oferecer o culto a Deus e santificar a assembléia. Não se trata apenas de uma verdade teológica abstrata; o fato deve tornar-se evidente e visível na liturgia. O coração da liturgia já se encontra nos gestos da sua instituição pelo Senhor. Não quer dizer que a pessoa ou comunidade que celebra não tenha jamais poder ou autorização de apelar para sua criatividade. A comunidade é criadora, mas não é uma "instância de criação". Doutra forma, a liturgia não seria mais epifania dos mistérios de Cristo através do serviço da Igreja, a continuação de sua encarnação, crucifixão e ressurreição, a "encarnação" dum projeto divino na história e no mundo das pessoas humanas, por meio de símbolos sagrados. Em tal situação, a liturgia nada mais seria do que auto-celebração da comunidade.

A liturgia "preexiste". A comunidade que celebra nela penetra como numa arquitetura preestabelecida, divina e espiritual. Em certa medida, é igualmente determinada pelo lugar de Cristo e de seus mistérios na história. A Eucaristia não é em si uma "refeição sagrada" mas antes a atualização de uma refeição espiritual; aquele que Cristo tomou com os discípulos na véspera de sua paixão. Neste sentido, a liturgia não pode jamais tornar-se uma fina refeição da comunidade celebrante. Não somos criadores; somos servos e guardas dos mistérios. Não somos proprietários, nem autores.

A atitude fundamental do homo liturgicus (homem litúrgico) - pessoal e coletivamente - supõe a receptividade, a escuta, o dom de si e a capacidade de se relativizar. É a atitude de fé e da obediência fiel. Não é porque uma caricatura desta atitude de obediência conduziu no passado a um levantamento e a um rubricismo servil e absurdo que se viu diminuindo o senso de "penetrar naquilo que nos ultrapassa".

O homo liturgicus não manipula e o gesto que ele faz não se reduz a uma pressão de si ou a um desabrochar pessoal. É uma atitude de orientação para Deus, de escuta, de obediência, acolhimento reconhecido, de encantamento, de adoração e de louvor. É atitude que consiste em escutar e ver, e que Guardini (grande liturgista alemão)

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denominava "contemplar", atitude desconhecida do homo faber (homem produtor) de muitos de nós. Em resumo, a atitude fundamental do homo liturgicus é uma atitude de oração, de oferta de nós mesmos a Deus para que sua vontade se cumpra em nós.

Não é de surpreender que numa época como a nossa, que intervém ativamente na realidade cotidiana e submete esta realidade ao pensamento científico e à perícia tecnológica, seja particularmente difícil uma atitude litúrgica. A dimensão "contemplativa" da pessoa humana hoje não é mais evidente, nessas condições; o cerne da liturgia é ainda menos evidente. A participação ativa deve, pois, ser recolocada nessa atitude "contemplativa" e ter, por conseguinte suas características específicas. Ao se tratar de liturgia, é necessário ater-se á seguinte regra: primeiro a experiência, primeiro "viver" a liturgia, e em seguida refletir e explicar. Os olhos do coração devem abrir-se antes dos olhos do intelecto porque só se entende de fato a liturgia com a inteligência do coração. Tudo isso tem conseqüências para as equipes de liturgia. Os que querem atuar sobre a liturgia, deverão primeiro escutar o tema com atenção e participar da celebração da liturgia em seu estado atual. Sem isso, toda meta litúrgica nada mais será do que "expressão de si próprio" em vez de modelar uma entidade já constituída, que mergulha as raízes na tradição litúrgica do Antigo e do Novo Testamento e na Tradição viva da Igreja.

O liturgista digno deste nome começa por escutar, meditar, rezar e interiorizar. Só depois pode "modular".Aqui está a mística da verdadeira reforma litúrgica como a sonhou o Concílio Vaticano II.

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PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DA LITURGIA “Lex orandi, lex credendi”

Para uma profunda consciência de liturgia, numa visão geral e num

aprendizado sério, assimilando o ensinamento tradicional da Igreja sobre o mistério litúrgico, devemos inicialmente dizer que a norma da oração é a norma da fé, ou seja, aquilo que rezamos é aquilo que cremos. Daí, o adágio litúrgico: “Lex orandi, lex credendi”. Portanto, não rezamos e cantamos na liturgia, mas rezamos e cantamos a liturgia. Este princípio fundamental está a exigir profunda mudança na nossa pastoral litúrgica, em sentido amplo, o que, às vezes, não tem sido objeto de reflexão.

A LITURGIA COMO “AÇÃO SIMBÓLICA”

A palavra liturgia (do grego “laos”, que significa povo, e “ergon”, que significa

obra, trabalho,) é algo que se faz. Etimologicamente, e em sentido primitivo, liturgia significa, pois, serviço do povo, e no vocabulário teológico da Igreja, mesmo com as reformulações mais atuais e expressivas, significa, sempre, celebração do povo, enquanto assembléia por Deus convocada. Não é portanto a liturgia discurso, mas prática, atividade, ação. Em documentos de liturgia, é traduzida, com acerto, como ação sagrada ou ação simbólica. O conceito de ação é, pois, empregado com frequência pelos textos do Concílio Vaticano II, unido aos adjetivos “eclesial”, “sagrada”, “pastoral” ou “apostólica”, destacando-se a ênfase dada à liturgia como ação sagrada por excelência, onde nenhuma outra ação da Igreja se encontra no mesmo nível (Cf. SC 7d). Toda a liturgia é, portanto, ação simbólica, que, servindo-se de sinais sensíveis e visíveis, aponta para o mistério insondável de Deus.

A LITURGIA COMO EXERCÍCIO DO SACERDÓCIO DE CRISTO

A liturgia, como se vê, não é mera devoção, catequese ou simplesmente ocasião de

culto. É ação de Cristo no projeto redentor de Deus, que se faz visível na Igreja. Aqui, o grande liturgo é, verdadeiramente, Cristo, no exercício de seu sacerdócio real, ao qual, pelo batismo, ele incorpora todos os fiéis. Esta ação, sagrada por excelência, volta a dizer, aponta para o compromisso libertador e missionário de todo o povo de Deus.Focalizando ainda outros princípios e dimensões da liturgia, podemos dizer que ela é: TRINITÁRIA: Nesta dimensão, o Pai é fonte da liturgia; o Filho, sua centralidade, e o Espírito Santo, sua alma, seu sopro vitalizante. Sendo, pois, Cristo o centro da liturgia, a Igreja ensina que o coração desta, isto é, o seu núcleo vital, é o Mistério

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Pascal, com toda a sua eficácia redentora. Daí, a ênfase litúrgica, sempre, mas principalmente na grande doxologia: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo...”.

MISTÉRICA: A liturgia contém o mistério de Deus, que a Igreja anuncia, celebra e procura viver na dinâmica e na espiritualidade do Evangelho. E como a liturgia abarca o mistério divino, ela é também, como consequência, mistério, e, como tal, escapa ao conhecimento simplesmente racional. De fato a liturgia não se limita ao espaço temporal, mas é celebrada eternamente no céu, e do céu é trazida por Cristo, como o cântico de louvor que ressoa vivamente nas moradas celestes. Também não é - diga-se - função da liturgia discursar sobre o mistério, mas celebrá-lo e vivê-lo na simplicidade dos símbolos. Na liturgia, o mistério não é, pois, racionalizado, como nos estudos teológicos, mas vivido e celebrado, mesmo então por gente simples, uma vez que o sujeito primeiro da liturgia é a assembléia celebrante, na sua diversidade cultural e de ministérios. COMUNITÁRIA: Na catequese litúrgica deve-se enfatizar que a liturgia não é individual, subjetiva, mas ação da Igreja, portanto ação comunitária, centrada, como já se falou, no Mistério Pascal de Cristo, que se celebra sobretudo na Eucaristia. Na liturgia, o “eu” individual, psicológico, cede lugar ao “nós” comunitário e litúrgico, em verdadeira participação, sem perder, porém, a sua identidade pessoal.

BÍBLICA: Nesta dimensão, a Palavra de Deus se faz, sacramentalmente, palavra de salvação, e o sacrifício redentor de Cristo dá às celebrações eficácia redentora. Por isso, na liturgia, a Palavra de Deus não é simplesmente lida, mas proclamada, celebrada, para ser devidamente ouvida e vivida.

HIERÁRQUICA: Quando se diz que a liturgia é hierárquica, diz-se que ela se identifica com a natureza da Igreja. Portanto, é exercida em graus diversos, mas na unidade da assembléia celebrante. Na hierarquia, tanto da Igreja como da liturgia, tudo é serviço que se presta ao povo de Deus e a Deus. A dimensão hierárquica da liturgia é, pois, de longo alcance: diz respeito ao tempo litúrgico, às próprias celebrações, aos ritos, aos cantos etc..

ESCATOLÓGICA: Com esta dimensão, o Concílio Vaticano II ensina que a liturgia antecipa, no tempo, a glória futura dos filhos de Deus, e a ela se ordena. “Na liturgia terrena, antegozando, participamos da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual, peregrinos, nos encaminhamos” (Cf. SC nº 8).

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LAUDATÓRIA: A liturgia é puro louvor de Deus, na linguagem de um povo orante, que Cristo inaugurou nesta terra de exílio, e que a Igreja repete pelos séculos, na maravilhosa variedade de suas formas (Cf. Constituição Apostólica “Cântico de Louvor”, de Paulo VI). É, pois, a mais viva expressão da Igreja e verdadeira epifania da comunhão sobrenatural, tornando-se, na verdade, manifestação visível da comunhão invisível.

ANO LITÚRGICO

Nos inícios da Igreja, todo Domingo era dia de Páscoa. Os cristãos se reuniam para celebrar a ressurreição de Jesus. Aos poucos, os cristãos foram percebendo que o Mistério Pascal de Jesus está presente no mistério da vida de todos os dias. Cristo continua nascendo, vivendo, morrendo e ressuscitando na vida da Igreja. Não era mais possível recordar tudo isso num só Domingo. Foi por isso que surgiu o que hoje conhecemos por ANO LITÚRGICO.

A Igreja percebeu que era melhor celebrar os mistério da vida de Cristo ao longo do ano. Este ano não coincide com o ano civil, que começa no dia primeiro de janeiro e termina em trinta e um de dezembro.

O ano litúrgico começa no advento, passa pelo Natal e pela Epifania, continua na Quaresma, Semana Santa e Páscoa, atravessa a Ascensão e Pentecostes e termina com o tempo comum, na festa de Cristo Rei. Ao longo deste ano são recordados os principais fatos e ensinamentos da vida de Cristo.

A equipe de Liturgia precisa estar muito atenta ao Ano Litúrgico. Cada época tem a sua mensagem própria. Os comentários, cartazes e canções precisam estar em sintonia com esta mensagem.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

01 - Chama-se Ano Litúrgico o tempo em que a Igreja celebra todos os feitos salvíficos operados por Deus em Jesus Cristo. "Através do ciclo anual, a Igreja comemora o mistério de Cristo, desde a Encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor" (NUALC nº 43 e SC nº 102).

02 - Ano Litúrgico é, pois, um tempo repleto de sentido e de simbolismo religioso, de essência pascal, marcando, de maneira solene, o ingresso definitivo de Deus na história humana. É o momento de Deus no tempo, o "kairós" divino na realidade do mundo criado. Tempo, pois, aqui entendido como tempo favorável, "tempo de graça e de salvação", como nos revela o pensamento bíblico (Cf. 2Cor 6,2; Is 49,8a).

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03 - As celebrações do Ano Litúrgico não olham apenas para o passado, comemorando-o. Olham também para o futuro, na perspectiva do eterno, e fazem do passado e do futuro um eterno presente, o "hoje" de Deus, pela sacramentabilidade da liturgia (Cf. Sl 2,7; 94(95)7; Lc 4,21; 23,43). Aqui, enfatiza-se então a dimensão escatológica do Ano Litúrgico.

04 - O Ano Litúrgico tem como coração o Mistério Pascal de Cristo, centro vital de todo o seu organismo. Nele palpitam as pulsações do coração de Cristo, enchendo da vitalidade de Deus o corpo da Igreja e a vida dos cristãos.

TEMPO CÓSMICO E VIDA HUMANA

05 - Como sabemos, a comunidade humana vive no tempo, sempre em harmonia com o ano natural ou cósmico, com as mudanças básicas e salutares das quatro estações climáticas. Estas como que dinamizam a vida humana, quebrando-lhe toda possível rotina existencial. A pessoa é, pois, chamada a viver toda a riqueza natural da própria estação cósmica. Na organização da sociedade humana, o ano cósmico é chamado ano calendário ou ano civil. Nele, as pessoas, em consenso universal, desenvolvem as tarefas da atividade humana.

ANO LITÚRGICO E PROJETO DE DEUS

06 - Como a vida humana, no seu aspecto natural, se desenvolve no clima salutar do ano cósmico, assim também a vida cristã, na plena comunhão com Deus, vai viver o projeto do Senhor numa dinâmica litúrgica própria de um ano específico, chamado, como vimos, Ano Litúrgico.

07 - O Ano Litúrgico não deve, porém, ser visto como um concorrente do ano civil, porque, mesmo este, é um dom do Criador. Deus, inserindo-se no tempo, através de Cristo, pela Encarnação, santificou ainda mais o tempo. Por isso, todo o tempo se torna também tempo de salvação.

SIMBOLISMO DO ANO LITÚRGICO

08 - O Ano Litúrgico tem no círculo a sua simbologia mais expressiva, pois o círculo é imagem do eterno, do infinito. Notamos isso, olhando uma circunferência. Ela não tem começo nem fim, pois, nela, o fim é um retorno ao começo. Não, porém, um retorno exaustivo, rotineiro, mas verdadeiramente um começo sempre novo, de vitalidade essencial.

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09 - O círculo é, pois, imagem da vida eterna, e a vida eterna, como sabemos, não clama por progresso, visto não existir na eternidade carência, de forma alguma. A vida eterna - podemos afirmar - permanece em constante plenitude.

10 - Cada ano litúrgico, que celebramos e vivemos, deve ser um degrau que subimos rumo à eternidade do Pai. Em outras palavras, deve ser um crescendo cada vez mais vivo rumo à pátria celeste. Celebrar o Ano Litúrgico é como subir a montanha de Deus, não de maneira esportiva, como alpinista, mas como peregrino do Reino, onde, a cada subida, sente-se mais perto de Deus.

RITMO CÓSMICO DO ANO LITÚRGICO

11 - Como se sabe, o ano civil está inteiramente identificado com o ciclo solar, regendo-se pelos ditames das quatro estações, mas marcado também pelo movimento lunar, onde se contam as semanas. Ano, mês e dia, como frações do tempo, aqui se harmonizam, no desenvolvimento da vida humana.

12 - Na datação cósmica do Ano Litúrgico, seguindo a tradição judaica, os cristãos, no Hemisfério Norte, vão escolher, para a celebração anual da Páscoa, o equinócio da primavera, por este ser ponto de equilíbrio, de harmonia, de duração igual da noite e do dia, de equiparação, pois, entre horas de luz e horas de escuridão, momento de surgimento de vida nova na natureza e de renascimento da vida. Além da estação das flores, no Hemisfério Norte há ainda o simbolismo suplementar da lua cheia, dando a entender que, na ressurreição de Cristo, o dia tem vinte e quatro horas de luz.

13 - No Hemisfério Sul, onde vivemos, não estaremos, contudo celebrando a Páscoa na primavera, mas no outono, dada a inversão do equinócio nos dois hemisférios. Daí, a polêmica entre estudiosos da liturgia, os quais reclamam uma data universal, fixa, para a Páscoa, não levando em conta a situação lunar, mas a solar. A Igreja está estudando essa problemática que, ao que tudo indica, virá no futuro.

14 - Nota explicativa: A Igreja, hoje, celebra a Páscoa não no dia quatorze do mês de Nisã, isto é, na data da páscoa judaica, como celebravam os cristãos da Ásia Menor e da Síria, mas no domingo seguinte, acabando assim com a controvérsia pascal do século segundo, por determinação do Concílio de Nicéia.

15 - Para a celebração do Natal, a evolução litúrgica vai escolher outro núcleo do ano. Este outro momento é o solstício de inverno, o "dies natalis solis invictus", ou seja, o "dia de nascimento do sol invicto". Isto também no Hemisfério Norte, pois, no Hemisfério Sul, nós nos encontramos em pleno verão. Neste tempo, os dias começam a crescer, e o sol, parecendo exausto e exangue, depois de uma longa marcha anual, renasce vivo e surpreendente. É neste contexto, do "Sol Invicto", solsticial, que vai

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aparecer na face da Terra "o verdadeiro Sol Nascente" (Cf. Lc 1,78), isto é, Cristo Jesus Nosso Senhor. Também a antífona da Liturgia das Horas, do dia 24 de dezembro, inspirando-se no Sl 19,5-6, na sua realidade cósmico-histórico-salvífica, vai cantar belamente: "Quando o sol sair, vereis o Rei dos reis que vem do Pai, como o esposo sai da sua câmara nupcial".

QUANDO SE INICIA O ANO LITÚRGICO?

16 - Diferente do ano civil, mas, como foi dito, não contrário a ele, o Ano Litúrgico não tem data fixa de início e de término. Sempre se inicia no primeiro Domingo do Advento, encerrando-se no sábado da 34ª semana do Tempo Comum, antes das vésperas do domingo, após a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Esta última solenidade do Ano Litúrgico marca e simboliza a realeza absoluta de Cristo no fim dos tempos. Daí, sua celebração no fim do Ano Litúrgico, lembrando, porém, que a principal celebração litúrgica da realeza de Cristo se dá, sobretudo no Domingo da Paixão e de Ramos.

17 - Mesmo sem uma data fixa de início, qualquer pessoa pode saber quando vai ter início o Ano Litúrgico, pois ele se inicia sempre no domingo mais próximo de 30 de novembro. Na prática, o domingo que cai entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro. A data de 30 de novembro é colocada também como referencial, porque nela a Igreja celebra a festa de Santo André, apóstolo, irmão de São Pedro, e Santo André foi, ao que tudo indica, um dos primeiros discípulos a seguir Cristo (Cf. Jo 1,40).

ANO LITÚRGICO E DINÂMICA DA SALVAÇÃO

18 - Tendo como centro o Mistério Pascal de Cristo, todo o Ano Litúrgico é dinamismo de salvação, onde a redenção operada por Deus, através de Jesus Cristo, no Espírito Santo, deve ser viva realidade em nossas vidas, pois o Ano Litúrgico nos propicia uma experiência mais viva do amor de Deus, enquanto nos mergulha no mistério de Cristo e de seu amor sem limites.

O DOMINGO, FUNDAMENTO DO ANO LITÚRGICO

19 - O Concílio Vaticano II (SC nº 6), fiel à tradição cristã e apostólica, afirma que o domingo, "Dia do Senhor", é o fundamento do Ano Litúrgico, pois nele a Igreja celebra o mistério central de nossa fé, na páscoa semanal que, devido à tradição apostólica, se celebra a cada oitavo dia.

20 - O domingo é justamente o primeiro dia da semana, dia da ressurreição do Senhor, que nos lembra o primeiro dia da criação, no qual Deus criou a luz (Cf. Gn 1,3-5). Aqui, o Cristo ressuscitado aparece então como a verdadeira luz, dos homens e das

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nações. Todo o Novo Testamento está impregnado dessa verdade substancial, quando enfatiza a ressurreição no primeiro dia da semana (Cf. Mt 28,1; Mc 16,2; Lc 24,1; Jo 20,1; como também At 20,7 e Ap 1,10).

21 - Como o Tríduo Pascal da Morte e Ressurreição do Senhor derrama para todo o Ano Litúrgico a eficácia redentora de Cristo, assim também, igualmente, o domingo derrama para toda a semana a mesma vitalidade do Cristo Ressuscitado. O domingo é, na tradição da Igreja, na prática cristã e na liturgia, o "dia que o Senhor fez para nós" (Cf. Sl 117(118),24), dia, pois, da jubilosa alegria pascal.

AS DIVISÕES DO ANO LITÚRGICO

22 - Os mistérios sublimes de nossa fé, como vimos, são celebrados no Ano Litúrgico, e este se divide em dois grandes ciclos: o ciclo do Natal, em que se celebra o mistério da Encarnação do Filho de Deus, e o ciclo da Páscoa, em que celebramos o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, como também sua ascensão ao céu e a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja, na solenidade de Pentecostes.

23 - O ciclo do Natal se inicia no primeiro domingo do Advento e se encerra na Festa do Batismo do Senhor, tendo seu centro, isto é, sua culminância, na solenidade do Natal. Já o ciclo da Páscoa tem início na Quarta-Feira de Cinzas, início também da Quaresma, tendo o seu centro no Tríduo Pascal, encerrando-se no Domingo de Pentecostes. A solenidade de Pentecostes é o coroamento de todo o ciclo da Páscoa.

24 - Entremeando os dois ciclos do Ano Litúrgico, encontra-se um longo período, chamado "Tempo Comum". É o tempo verde da vida litúrgica. Após o Natal, exprime a floração das alegrias natalinas, aí aparecendo o início da vida pública de Jesus, com suas primeiras pregações. Após o ciclo da Páscoa, este tempo verde anuncia vivamente a floração das alegrias pascais. Os dois ciclos litúrgicos, com suas duas irradiações vivas do Tempo Comum, são como que as quatro estações do Ano Litúrgico.

25 - Mais adiante estudaremos cada parte do Ano Litúrgico, com sua expressividade própria, suas celebrações, sua dinâmica e seu mistério.

O "SANTORAL" OU "PRÓPRIO DOS SANTOS"

26 - Em todo o Ano Litúrgico, exceto nos chamados tempos privilegiados (segunda parte do Advento, Oitava do Natal, Quaresma, Semana Santa e Oitava da Páscoa), a Igreja celebra a memória dos santos. Se no Natal e na Páscoa, Deus apresenta à Igreja o seu projeto de amor em Cristo Jesus, para a salvação de toda a humanidade, no Santoral a Igreja apresenta a Deus os copiosos frutos da redenção, colhidos na plantação de esperança do próprio Filho de Deus. São os filhos da Igreja, que

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seguiram fielmente o Cristo Senhor na estrada salvífica do Evangelho. Em outras palavras, o Santoral é a resposta solene da Igreja ao convite de Deus para a santidade.

AS CORES DO ANO LITÚRGICO

27 - Como a liturgia é ação simbólica, também as cores nela exercem um papel de vital importância, respeitada a cultura de nosso povo, os costumes e a tradição. Assim, é conveniente que se dê aqui a cor dos tempos litúrgicos e das festas. A cor diz respeito aos paramentos do celebrante, à toalha do altar e do ambão e a outros símbolos litúrgicos da celebração. Pode-se, pois, assim descrevê-la:

� Cor roxa - Usa-se: No Advento, na Quaresma, na Semana Santa (até Quinta-Feira Santa de manhã), e na celebração de Finados, como também nas exéquias.

� Cor branca - Usa-se: Na solenidade do Natal, no Tempo do Natal, na Quinta-Feira Santa, na Vigília Pascal do Sábado Santo, nas festas do Senhor e na celebração dos santos. Também no Tempo Pascal é predominante a cor branca.

� Cor vermelha - Usa-se: No Domingo da Paixão e de Ramos, na Sexta-Feira da Paixão, no Domingo de Pentecostes e na celebração dos mártires, apóstolos e evangelistas.

� Cor rosa - Pode-se usar: No terceiro Domingo do Advento (chamado "Gaudete") e no quarto Domingo da Quaresma chamado "Laetare"). Esses dois domingos são classificados, na liturgia, de "domingos da alegria", por causa do tom jubiloso de seus textos.

� Cor preta - Pode-se usar na celebração de Finados

� Cor verde - Usa-se: Em todo o Tempo Comum, exceto nas festas do Senhor nele celebradas, quando a cor litúrgica é o branco.

Nota explicativa: Se uma festa ou solenidade tomar o lugar da celebração do tempo litúrgico, usa-se então a cor litúrgica da festa ou solenidade. Exemplo: em 8 de dezembro, celebra-se a Solenidade da Imaculada Conceição. Neste caso, a cor litúrgica é então o branco, e não o roxo do Advento. Este mesmo critério é aplicável para a celebração dos dias de semana.

ESTRUTURA CELEBRATIVA E PEDAGÓGICA DO ANO LITÚRGICO

28 - Como se vê pelo gráfico, e como já foi referido neste trabalho, o Ano Litúrgico se divide em dois grandes ciclos: Natal e Páscoa. Entre eles situa-se o Tempo Comum, não os separando, mas os unindo, na unidade pascal e litúrgica.

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PARÓQUIA NOSSA SENHORA APARECIDA e SÃO LOURENÇO “Em obediência à vossa palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5b)

29 - Em cada ciclo há três momentos, de grande importância para a compreensão mais exata da liturgia. São eles: um, de preparação para a festa principal; outro, de celebração solene, constituindo assim o seu centro; e outro ainda, de prolongamento da festa celebrada.

30 - No centro do Ano Litúrgico encontra-se Cristo, no seu Mistério Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição). É o memorial do Senhor, que celebramos na Eucaristia. O Mistério Pascal é, portanto, o coração do Ano Litúrgico, isto é, o seu centro vital.

31 - O círculo é um símbolo expressivo da eternidade, e o Mistério Pascal de Cristo, no seu centro, constitui o eixo fundamental sobre o qual gira toda a liturgia.

GRAUS DAS CELEBRAÇÕES E PRECEDÊNCIA DOS DIAS LITÚRGICOS

Um dado importante vamos ver agora: é que o aspecto hierárquico da Igreja estende-se também à liturgia. Assim, entende-se que, na liturgia, não só os ritos têm grau de importância diferente, como também as próprias celebrações divergem quanto à sua importância litúrgica.

Podemos afirmar então que existem graus e precedência nas celebrações, e se dizemos genericamente "festas", três na verdade são os graus da celebração: "solenidade", "festa" e "memória", podendo esta última ser ainda obrigatória ou facultativa. Neste subsídio, a palavra "festa" sempre é usada no conceito aqui ora exposto, a fim de evitar mal-entendidos. Vejamos então:

Solenidade

É o grau máximo da celebração litúrgica, isto é, aquele que admite, como o próprio nome sugere, todos os aspectos solenes e próprios da liturgia. Na "solenidade", então, três são as leituras bíblicas, canta-se o "Glória" e faz-se a profissão de fé. Para a maioria das solenidades existe também prefácio próprio. Embora no mesmo grau, as "solenidades" distinguem-se ainda, entre si, quanto à precedência. Somente o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e ressurreição do Senhor está na liturgia em posição única. As demais solenidades, portanto se acham na tabela oficial distinguindo-se apenas quanto ao lugar que ocupam no mesmo nível. Assim, depois do Tríduo Pascal, temos: Natal, Epifania, Ascensão e Pentecostes, o que equivale a dizer que estas quatro solenidades são as mais importantes depois do Tríduo Pascal, mas Natal vem em primeiro lugar, na ordem descrita.

Festa

"Festa" é a celebração um pouco inferior à "solenidade". Identifica-se, inicialmente, com as do dia comum, mas nela canta-se o "Glória" e pode ter prefácio

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próprio, dependendo de sua importância. Com referência a "festa" e "solenidade", na Liturgia das Horas (Ofício das Leituras), canta-se ainda o "Te Deum", fora, porém, da Quaresma. Como já se falou, as "festas" do Santoral são omitidas quando caem em domingo.

Memória

"Memória" é, sempre, celebração de santos, um pouco ainda inferior ao grau de "festa". Na celebração da "memória", não se canta o "Glória". A "memória" é obrigatória quando o santo goza de veneração universal. Isto quer dizer que em toda a Igreja se celebra a sua memória. É, porém, facultativa quando se dá o contrário, ou seja, quando somente em alguns países ou regiões ele é cultuado.

As "memórias" não são celebradas nos chamados tempos privilegiados, a não ser como facultativas, e dentro das normas litúrgicas para a missa e Liturgia das Horas, conforme já se falou neste trabalho. Quando caem em domingo, são também omitidas, repetindo-se aqui o que já foi explanado.

A "memória" pode tornar-se "festa", ou mesmo "solenidade", quando celebração própria, ou seja, quando o santo festejado for padroeiro principal de um lugar ou cidade, titular de uma catedral, como também quando for titular, fundador ou padroeiro principal de uma Ordem ou Congregação. Também a "festa" pode tornar-se "solenidade" nas circunstâncias litúrgicas aqui descritas, estendendo-se esse entendimento às celebrações de aniversário de dedicação ou consagração de igrejas.

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ANO LITÚRGICO - RESUMO

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PASTORAL LITÚRGICA

A Pastoral Litúrgica é tão importante quanto as outras pastorais. Muita gente atua em alguma pastoral ou movimento e nas horas vagas faz papel de “quebra-galho” em alguma celebração. É fundamental que se forme a consciência de que a liturgia também é Pastoral.

Podemos dizer até que todas as pastorais brotam da liturgia e para ela convergem. A liturgia deveria dinamizar todas as pastorais. Ela é fonte de vida para a comunidade. Não basta que existam equipes de celebração. É preciso que haja também uma equipe de liturgia.

EQUIPE DE CELEBRAÇÃO É um grupo de pessoas encarregado de preparar uma celebração específica. Por exemplo, a missa da dez no Domingo. Esta equipe é formada por leitores, músicos e comentaristas e hoje já se falta até mesmo em alguém que esteja preparado para cantar o Salmo Responsorial. É o salmista. A Equipe de Celebração é uma verdadeira equipe. As celebrações são preparadas com antecedência. Não é uma equipe em gavetas. Os mistérios e serviços vão surgindo de acordo com as necessidades da comunidade reunida para celebrar.

EQUIPE DE LITURGIA Este grupo é diferente. Ele não está encarregado de nenhuma celebração específica. É formado por membros das diversas equipes de celebração de uma Paróquia. Reúne-se periodicamente para estudar, rezar, avaliar e programar a liturgia de toda a Paróquia.

Esta equipe promove cursos e encontros. Sua principal função é animar a atividade das equipes de celebração. É muito importante que esta equipe seja assessorada pelo sacerdote. Nesta equipe acontecerá o diálogo.

O Documento 43 da CNBB diz que esta equipe é o coração e o cérebro da pastoral litúrgica (nº 187).

ESTA ORGANIZAÇÃO É O QUE CHAMAMOS DE PASTORAL LITÚRGICA

A equipe de Pastoral litúrgica não precisa ser muito grande. Seu coordenador geral normalmente o Pároco ou um seu cooperador. Deverá ter um coordenador que tenha uma boa formação litúrgica e alguém que entenda de canto litúrgico. Se houver alguém que domine um instrumento musical é muito bom.

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MANUAL PARA EQUIPES DE LITURGIA

01 - As Equipes de Liturgia são formadas para o exercício dos ministérios particulares, próprios dos cristãos leigos, dado o sacerdócio batismal destes, conhecido como sacerdócio comum dos fiéis. Exercidos nas celebrações litúrgicas, em profunda união e comunhão com o sacerdócio ministerial ordenado, não são, pois, os ministérios leigos como que uma ajuda material aos sacerdotes, mas sim participação mais plena no mistério da Liturgia, sendo então, ao mesmo tempo, direito e dever de todos os cristãos, como batizados.

02 - Na sua nova concepção, as Equipes de Liturgia são, pois, um fruto feliz da renovação litúrgica do Concílio Vaticano II. De fato, a reforma teve o mérito de enfatizar a participação dos fiéis na liturgia, como direito e como dever, dada a sua condição de batizados, inseridos que foram no mistério de Cristo, quando, sacramentalmente, renascem para uma vida nova, também ela essencialmente missionária, a serviço e a caminho do Reino.

03 - Em paróquias com diversas comunidades, estas precisam de ter sua própria equipe. Neste caso, é desejável que tenham o mesmo espírito e estejam articuladas com a equipe principal. Também é de esperar que cada equipe de liturgia tenha um coordenador, que seja aceito por todos. Deve ele coordenar a equipe, convocando e dirigindo suas reuniões, e, sempre com outros membros, procurar o crescimento espiritual de todos.

04 - Os membros de uma equipe litúrgica devem estar conscientes não só de sua participação na Liturgia, que deve ser sempre mais plena, mas também de que estão voltados para o serviço do louvor de Deus e santificação dos homens, dimensão essencial da Liturgia, o que supõe não só atitude orante, mas também preparação e disposição e, mais ainda, o testemunho existencial e cúltico, manifestado por uma fé não só rezada e crida, mas também plenamente vivida.

05 - Algumas orientações, de sentido mais celebrativo, são dadas nesse Manual, o qual, por sua vez, implicitamente, vai exigir encontros de formação, de interiorização, de avaliação etc., pois é desejável que as Equipes de Liturgia alcancem, por exigência de sua própria natureza, uma compreensão mais viva de todo o mistério da salvação que a Igreja celebra, na dinâmica salvífica do Ano Litúrgico e ao ritmo, sobretudo de nossas eucaristias. Pensando em atualização, as orientações aqui formuladas já estão fundamentadas na nova Instrução Geral sobre o Missal Romano.

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OS MEMBROS DA EQUIPE DE LITURGIA

06 - São membros de uma equipe litúrgica: o acólito, o ministro extraordinário da comunhão, o leitor, o salmista, o grupo dos cantores ou coral, o cantor (ou animador do canto), o organista, o comentarista, os que acolhem os fiéis, os que fazem as coletas ou delas cuidam, como ainda o sacristão.

AS DIVERSAS FUNÇÕES NA LITURGIA

a) - Funções do acólito

07 - O acólito é instituído para o serviço do altar, auxiliando assim o sacerdote e o diácono. Na procissão de entrada leva a cruz entre dois ministros. Durante toda a celebração, cabe ao acólito aproximar-se do sacerdote ou do diácono para lhes apresentar o livro (Missal e Evangeliário) e ajudá-los em outras tarefas necessárias. Convém, portanto que ocupe um lugar do qual possa facilmente cumprir o seu ministério, quer junto à cadeira presidencial quer junto ao altar. No rito das oferendas, e na ausência do diácono, o acólito põe sobre o altar o corporal, o sanguíneo, o cálice, a patena, a pala, as âmbulas com hóstias para a consagração e o Missal, como também auxilia na preparação das oferendas e no Lavabo.

08 - Quando há incensação, o acólito apresenta ao sacerdote o turíbulo e o auxilia. A incensação na missa acontece: no início, quando são incensados o altar, a cruz e imagem, se for o caso. A imagem de um santo só é incensada uma vez, no início. A incensação vai continuar depois: na proclamação do Evangelho, no rito das oferendas (oferendas, cruz, altar e, em seguida, o sacerdote e o povo) e nas elevações durante a consagração.

09 - Como ministro extraordinário da comunhão, o acólito instituído ajuda a distribuir a comunhão e no rito sobre as duas espécies ele deve ministrar o cálice, função esta, porém, que cabe ao diácono, quando presente. Pode ainda, quando legalmente instituído, terminada a distribuição da comunhão, ajudar o diácono ou o sacerdote na purificação dos vasos sagrados, o que se recomenda seja feito na credência, e não no altar como se costuma fazer.

b) - Funções do ministro extraordinário da comunhão

10 - Na ausência de acólito instituído, o ministro extraordinário da comunhão pode exercer todas as suas funções, entendendo-se que, naquelas situações em que há a presença tanto do acólito como dos demais ministros extraordinários, as funções do altar devem ser assumidas em primeiro lugar pelo acólito ou acólitos instituídos. Na síntese das funções, eles são equiparados, mas só por ordem prática, dada a distinção

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entre ministério instituído (acólito) e ministério por mandato (ministro extraordinário da Comunhão).

11 - Se na igreja, casa de oração, já se pede aos fiéis respeito, reverência e atitude piedosa, muito mais se espera dos diferentes ministros. Que todos saibam, pois, portar-se com dignidade, e estejam atentos às suas responsabilidades. Evitem deslocamentos desnecessários, no presbitério ou no altar, e não chamem atenção para si. Em deslocamento, às vezes necessário, sejam discretos e simples, sem desviar a atenção da assembléia.

12 - É desejável que tantos os acólitos como os ministros extraordinários da comunhão cultivem uma espiritualidade eucarística mais plena, e a eles seja lembrado o que o bispo diz no rito da instituição: “Designados de modo especial para este ministério, esforçai-vos por viver mais intensamente do sacrifício do Senhor, conformando-vos mais plenamente a ele. Procurai entender o sentido profundo e espiritual daquilo que fazeis, oferecendo-vos todos os dias como oblações espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo”. E mais: “Servi, portanto, com sincero amor, o corpo místico de Cristo, que é o povo de Deus, especialmente os fracos e os enfermos...”

c) - Funções do leitor 13 - Tudo aquilo que se diz do acólito instituído e que, na sua ausência, pode ser assumido por outros leigos, como os ministros extraordinários da comunhão, aqui também, com relação ao leitor instituído, acontece o mesmo: não havendo aqueles que receberam o ministério pela instituição, então outras pessoas, devidamente preparadas, podem assumir a sua função. 14 - O leitor tem o mérito de ser aquele pelo qual a Palavra de Deus chega inicialmente à assembléia, em preparação do ponto culminante, que vai ser o Evangelho. Ele é, pois, um arauto da mensagem salvífica, um precursor da Boa Nova, podemos dizer. Daí, a importância e a dignidade de sua função ministerial. Por isso, é preciso que ele se prepare para o exercício de tão nobre função, familiarizando-se com o texto, também quanto ao gênero literário (profecia, parábola, sapiencial, epístola etc.), revelando pela leitura ter assimilado a mensagem que transmite à assembléia. 15 - Cristo Nosso Senhor, na Sagrada Liturgia, primeiro nos é dado como Palavra salvadora (o Pão da Palavra) e, depois, como Pão da vida eterna, a Eucaristia. Por isso falamos também de duas mesas, a da Palavra (ambão), e a do Pão Eucarístico (altar). Vê-se, pois, que a Palavra de Deus, na Liturgia, é de valor sacramental. Assim, não deve ser apenas lida, mas proclamada, como coloca agora a nova Instrução Geral.

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Proclamada, a Palavra de Deus se torna celebração, festa, um acontecimento, pois, salvífico. 16 - Uma orientação, de ordem prática: no exercício de seu ministério, o leitor não precisa dizer, por exemplo: “Proclamação da profecia de Isaías...”, ou “Leitura da epístola de São Paulo aos romanos”, mas melhor seria simplesmente dizer: “Profecia de Isaías”, ou “Carta de São Paulo aos romanos”. Em sentido litúrgico, não é necessária também a citação de capítulos e versículos do livro sagrado. Também o diácono ou o sacerdote deveria dizer: “Evangelho de NSJC, segundo Mateus”, por exemplo, preferível a “Proclamação do Evangelho...” 17 - Para o bom exercício de seu ministério, algumas exigências, mínimas, de ordem técnica, devem ser lembradas e pedidas ao leitor, como:

a) - Vocalização, isto é, o cuidado especial em pronunciar bem cada sílaba, cada palavra.

b) - Regulação do volume da voz, de modo que se ouça bem o que é dito, especialmente em fins de frase.

c) - Regulação do ritmo da leitura, reduzindo ou acelerando a emissão de voz, segundo o caso, mas, sobretudo intercalando pausas nas vírgulas e nos pontos.

d) - Modulação da voz, ou seja, mudando de tom, quando as variações do texto assim o exigir. Isto acontece porque o texto deve ser lido de acordo com o seu gênero literário.

18 - A exemplo do que se recomenda aos acólitos e aos ministros extraordinários da comunhão, com referência a espiritualidade, aos leitores também se faz a mesma exortação. É desejável, pois, que eles, no exercício de sua função, se dediquem ao cultivo da espiritualidade bíblica, familiarizando-se não só com a Sagrada Escritura, mas também com os lecionários e com a dinâmica litúrgica da Palavra de Deus nos três ciclos de A, B e C. Daí, a necessidade de encontros de formação, de retiro, para uma compreensão mais plena, por exemplo, da dinâmica do Ano Litúrgico em toda a Liturgia. 19 - Útil a todos os leitores, e não somente aos que receberam o ministério instituído, é a exortação do bispo no rito de instituição: “ Tornando-vos leitores ou proclamadores da Palavra de Deus, ireis colaborar nessa missão. Recebereis assim um ministério especial dentro do povo de Deus e sereis delegados para o serviço da fé, que se fundamenta na Palavra de Deus. Proclamareis esta Palavra na assembléia litúrgica,

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instruireis as crianças e os adultos, preparando-os para receberem dignamente os sacramentos”. E ainda: “Anunciando aos outros a Palavra divina, sede também dóceis ao Espírito Santo, recebendo-a de coração aberto, e meditando-a assiduamente, a fim de amá-la cada vez mais. Manifestai pelas vossas vidas Jesus Cristo, nosso Senhor”.

20 - Dada a ênfase que se dá hoje à participação dos fiéis na Sagrada Liturgia, o ideal, porém, é que haja verdadeira distribuição de funções, como deixa transparecer também a Instrução Geral (nº. 91), referindo-se aos princípios da reforma litúrgica do Vaticano II, que diz: “Nas celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou fiel, ao desempenhar a sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete” (SC 28).

21 - Embora então o próprio Missal permita para o leitor as diversas funções, como se explicitou acima, não devemos cair na tentação de procurar o lado prático, admitindo, em circunstâncias não aplicáveis ao espírito da Liturgia, que um mesmo leitor, por ter qualidades maiores, venha a monopolizar tais funções.

d) - Funções do salmista 22 - “Compete ao salmista proclamar o salmo ou outro cântico bíblico colocado entre as leituras. Para bem exercer sua função, é necessário que o salmista saiba salmodiar e tenha boa pronúncia e dicção” (IGMR 102). 23 - Embora a Instrução Geral fale de “proclamar”, e que é correta, dada a natureza poética do salmo, contudo, liturgicamente, é melhor falar de canto ou recitação, principalmente na modalidade “responsorial”, que é a mais antiga. O salmo é a resposta da assembléia à palavra ouvida, portanto tem dimensão ascendente, e, na modalidade proposta, o salmista canta ou recita a antífona, que a assembléia responde no mesmo tom, continuando o salmista a cantar ou recitar as estrofes entre as quais a assembléia repete a antífona. 24 - A Instrução Geral fala apenas de “saber salmodiar e ter boa pronúncia e dicção”, mas recomenda-se ao salmista cultivar também a espiritualidade bíblica e salmica, identificando-se com o autor sagrado nos diferentes gêneros salmicos. Aqui, é desejável, pois, a formação bíblica, especialmente aquela ligada a salmodia.

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e) - Funções dos cantores, coral, animador do canto, músicos e organistas 25 - “Entre os fiéis, exerce sua função litúrgica o grupo dos cantores ou coral. Cabe-lhe executar as partes que lhe são próprias, conforme os diversos gêneros de cantos, e promover a ativa participação dos fiéis no canto” (IGMR 103). 26 - Vê-se pela Instrução que não é função dos cantores substituir os fiéis na execução do canto litúrgico, mas favorecer e ajudar a sua participação. Mas isso, às vezes, não acontece. Muitos cantam sozinhos, em tom exageradamente alto, dificultando a participação de todos. Outras vezes são os instrumentos que acabam abafando a voz dos fiéis. Ouve-se a música, mas não se ouve a mensagem da letra, e esta é mais importante. Também, às vezes, canta-se algo que é apenas do gosto dos cantores, sem nenhuma fidelidade ao tempo litúrgico ou à festa que se celebra. Tudo isso precisa ser avaliado e repensado sempre, para que o canto litúrgico recupere a sua importância no âmbito da Liturgia. 27 - Conforme a Instrução Geral, “o que se diz do grupo de cantores vale também, com as devidas ressalvas, para os outros músicos, sobretudo para o organista”. E conclui dizendo que “mesmo não havendo um grupo de cantores, compete ao cantor dirigir os diversos cantos, com a devida participação do povo”. 28 - É desejável que o canto litúrgico tenha nas celebrações o seu devido apreço, visto ser ele integrante das ações litúrgicas, e não mero enfeite festivo. Por isso, seus ministros precisam conhecer a real função do canto litúrgico, isto é, sua ministerialidade na Liturgia. Na prática muitas vezes se vê um canto sem tanta importância litúrgica elaborado, porém, com muito esmero, e outro, de maior importância, como que não trabalhado devidamente, o que acaba por manifestar desconhecimento por parte dos responsáveis pela equipe do canto. Fala-se aqui dos graus de importância do canto na Liturgia, ou seja, da compreensão de sua graduação. f) - Funções do comentarista 29 - Sobre o comentarista, devemos dizer que sua função, a serviço dos fiéis, deve conter breves explicações e exortações, visando dispor a comunidade para uma participação também mais plena e consciente. Sejam então suas explicações cuidadosamente preparadas, sóbrias e claras. Deve ele exercer a sua função em lugar adequado, voltado para a assembléia, uma vez que está a serviço dela, mas não deve fazê-lo do presbitério e, muito menos, do ambão.

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30 - Com relação ao ministério do comentarista, algumas orientações, de ordem também pratica, talvez sejam valiosas. Assim, na Liturgia da Palavra, por exemplo, em vez de antecipar explicações de sua temática, melhor seria se ele convidasse a assembléia simplesmente a ficar assentada, predispondo-a para a escuta atenta da Palavra de Deus. 31 - Entendamos: referindo-se a “primeira leitura”, “segunda leitura”, o comentarista está falando o óbvio, isto é, aquilo que toda a assembléia já sabe. Voltando ao tema da Palavra de Deus, muitas vezes aquilo que ele diz não é o que a Liturgia de fato está celebrando, dada a riqueza da revelação bíblica, com suas múltiplas aplicações. Melhor, pois, é deixar que Deus fale. Cabe à assembléia ouvir. De acordo então com o que aqui se propõe, o comentarista poderia, quando muito, dizer, com sobriedade: “Assentados. Vamos celebrar a Liturgia da Palavra. Atentos, ouçamos o que Deus vai nos dizer, pelo profeta e pelo Apóstolo (quando for o caso). No Evangelho, diria simplesmente: “De pé, vamos aclamar e ouvir o Evangelho. É o próprio Cristo que nos fala, como Palavra de vida e de paz”. 32 - Não é preciso nem conveniente que o comentarista diga exatamente as palavras acima, mas são exemplos que podem ser mudados, melhorados e atualizados. Em algumas comunidades, costuma-se dizer o nome do leitor, mas não é recomendável, pois a atenção deve voltar-se para o Senhor que fala, sendo aqui o leitor instrumento que Deus usa para comunicar-se com o seu povo. g) - Funções da equipe de acolhida 33 - É desejável que em todas as celebrações, principalmente as da Eucaristia, haja um grupo de leigos que, no espírito da liturgia, acolham os fiéis, levando-os aos seus lugares, principalmente quando se trata de pessoas idosas, de crianças e de deficientes. Tal acolhida muito os ajudará na participação, na compreensão e na descoberta do espírito fraterno, que sempre deve manifestar-se na Liturgia. É claro que a equipe de acolhida deve ser constituída por pessoas comunicativas, respeitosas e alegres. Um grupo de “cara fechada” poria tudo a perder. Lembremo-nos de que, se a Igreja não sabe acolher os seus membros, muito menos saberá acolher os de fora (aqui o mundo inteiro) para pregar-lhes o Evangelho da salvação.

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h) - Funções da equipe das oferendas 34 - Como sabemos, nos primórdios da Igreja, os dons do pão e do vinho, como também a ajuda para os mais necessitados, eram trazidos de casa pelos fiéis e apresentados ao sacerdote neste momento (que nós chamamos de preparação e apresentação das oferendas, não mais, portanto de ofertório, como se dizia antigamente). 35 - O verdadeiro ofertório, como se sabe, só é celebrado após a consagração. Portanto, esse momento, por causa de sua simbologia, deve, em nossas celebrações, ser assumido pela assembléia, representada por alguns de seus membros, que serão previamente convidados para tal função, também na modalidade de equipe. Cada comunidade, porém, pode ter aqui a sua criatividade e sua liberdade, e, variando, convidar, por exemplo, pessoas que tenham alguma identificação com o tema celebrado (dia das mães, dos pais, dos catequistas, das crianças etc.). Os que fazem a procissão das oferendas sejam instruídos para que, chegando ao altar, façam inclinação simples, atendendo a orientação da Instrução Geral. i) - Funções do sacristão 36 - A Instrução nomeia também a figura do sacristão, que é aquele “que dispõe com cuidado os livros litúrgicos, os paramentos e outras coisas necessárias para a celebração da missa”. Acrescentamos ainda: para cuidar das hóstias não consagradas, do vinho, da igreja, como casa de oração, abrindo-a e fechando-a. É função simples, mas de importância capital, que deve, pois, ser exercida no mesmo espírito de todos os ministérios.

OUTRAS CONSIDERAÇÕES PARA A COMPREENSÃO DOS MINISTÉRIOS LEIGOS

37 - Aqui são dadas outras orientações, às vezes gerais, que podem ajudar no enriquecimento e na compreensão dos ministérios leigos. 38 - “O sacerdote celebrante, o diácono e demais ministros (leitores, salmistas, ministros extraordinários da comunhão) tomarão lugar no presbitério” (IGMR 294). Aí também serão dispostas as cadeiras dos concelebrantes, tudo exprimindo a ordenação hierárquica da Igreja e constituindo uma unidade íntima. Também esteja junto da cadeira do presidente a cadeira do diácono. Para os demais ministros, sejam dispostas as cadeiras de maneira tal que se distingam claramente das do clero, e eles possam exercer com facilidade a função que lhes é confiada (Cf. IGMR 310).

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39 - A cadeira do presidente da celebração deve distinguir-se das demais, também pelo bom gosto, manifestando a função de presidência. Não deve, porém, assemelhar-se a trono. Na celebração, o lugar apropriado para a cadeira do presidente é de frente para o povo, no fundo do presbitério, a não ser que a estrutura da igreja não facilite tal disposição. 40 - De acordo com a Instrução Geral, os outros ministros (comentaristas, cantores, organistas etc.) não tomam lugar no presbitério, uma vez que fazem parte da assembléia dos fiéis, e, como estão diretamente a serviço dela, devem ser colocados de tal forma que a execução de suas funções se torne mais fácil e que cada um de seus membros possa participar mais plenamente da missa, também na participação mais plena que é a sacramental.

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COMUNICAÇÃO LITÚRGICA

A Comunicação se dá principalmente através de realidades sensíveis que nos

atingem: gemido, palavra, olhar, carta, desenho, escultura, silêncio, etc. . . Fico sabendo o que meu amigo pensa, quando ele o expressa, exterioriza,

comunica. Ele o faz com seu próprio corpo (expressão corporal e verbal) ou lançando mão de recursos externos: instrumento musical, caneta, pincel, argila, etc.

Também na liturgia, não só as pessoas comunicam o que trazem em seu íntimo. Cada elemento que nos rodeia nos põe em relação com o que eles representam. Assim, o espaço celebrativo, a ornamentação, o cuidado com os objetos litúrgicos, as atitudes dos membros da assembléia, tudo nos fala de como é nossa fé, nossa teologia, nosso respeito em relação aos mistérios que celebramos.

Muitas são as realidades que tocam nossos sentidos, nos comunicam algo e de certo modo provocam em nós algum tipo de reação. Enumero, a seguir, algumas dessas realidades, canalizando-as para o campo da liturgia:

PALAVRA – é o meio mais comum da comunicação entre pessoas (a fonte de

mais mal-entendidos também); ESPAÇO CELEBRATIVO – é o espaço onde se desenrola a ação litúrgica. O

estilo da construção, a disposição do altar, dos bancos, cada vez mais devem mostrar o rosto de uma comunidade de irmãos;

ORNAMENTAÇÃO – refere-se aos objetos artísticos, pinturas, imagens e

arranjos que revelam o bom gosto da comunidade e comunicam Deus e sua mensagem;

VESTIMENTAS – não servem apenas para cobrir e proteger. Elas informam se

é dia de festa ou de trabalho, se temos papel preciso a desempenhar na sociedade ou não. Na liturgia as vestes indicam também a função de cada ministro. As vestes dos ministros chamam-se paramentos – por isso é preciso que estejam dignamente paramentados (vestes limpas e não amarrotadas);

OBJETOS LITÚRGICOS - não são apenas coisas concretas, são sinais

(símbolos), por isso transmitem mensagem, não só pela presença deles, mas pelo modo como são utilizados ou conservados. A beleza da patena, do cálice e âmbulas, o formato e acabamento das velas, as flores naturais e sua conservação, tudo isso deve concorrer para uma proveitosa celebração do memorial da páscoa de Cristo;

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PARÓQUIA NOSSA SENHORA APARECIDA e SÃO LOURENÇO “Em obediência à vossa palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5b)

SÍMBOLOS – é a expressão, a manifestação de uma realidade invisível, de uma

experiência profunda. Com efeito, não podemos atingir Deus diretamente, mas pelas realidades por ele criadas. Aí encontramos a marca do Criador.

Na liturgia cristã, o pão e o vinho, unidos à palavra de Cristo na celebração eucarística, tornam o Cristo presente no seio da sua comunidade. Neste caso, o símbolo torna-se sacramento.

EXPRESSÃO CORPORAL – é a comunicação do corpo. Nosso modo de olhar,

gesticular, entrar na igreja, tudo revela nosso interior: � Gestos (abrir os braços, etc. . . ); � Posturas:

� De pé – posição de Cristo Ressuscitado; � Sentados – posição de quem ouve (aprende); � Ajoelhados – espírito de humildade e reconhecimento dos próprios erros;

ato de profunda adoração a Deus; � Prostrados – é o ato de deitar de bruços no chão. É realizada no início da

ação litúrgica da sexta-feira santa – entregar-se, pedir intercessão; � Genuflexão – exprime a fé na presença de Cristo Ressuscitado;

� Movimentos: procissões, danças, encenações, etc. . . (desde que não perturbe a celebração);

� Silêncio – Não somente a ausência de palavras ou ruídos. O silêncio é, acima de tudo, atitude que envolve a pessoa toda: nas suas dimensões corporal e espiritual. Ele:

� É atitude de fé e reverência da assembléia litúrgica diante de Deus; � Oferece condições para que a pessoa penetre mais profundamente o

mistério que celebra; � É meio para que ressoe no íntimo dos participantes a palavra de Deus,

que os conforta e alimenta-lhes a esperança; � Leva a pessoa a reconhecer suas potencialidades e seus limites, por

isso ela admite que tem muito a aprender de Deus e dos irmãos; � Ruídos na Comunicação - os obstáculos, atrapalhões, incômodos que

prejudicam o bom andamento de qualquer comunicação: � Andar de lá para cá; � Conversar/afinar instrumentos musicais na hora da consagração; � O chio do microfone; � Outros mais . . .

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GESTOS, SÍMBOLOS E SINAIS LITÚRGICOS

Desde os primeiros séculos, os cristãos sentiram a necessidade de expressar seus louvores a Deus através de gestos, símbolos e sinais que também fossem compreensíveis aos homens. Assim, com o passar dos séculos, a liturgia da missa se desenvolveu e enriqueceu mas, devido a uma maior falta de preparo, nem sempre os fiéis que participam de uma celebração a compreendem totalmente.

Para aproveitar as inúmeras graças concedidas durante a missa, todo fiel deve tentar conhecê-la melhor e não simplesmente repetir o que os outros fazem ou dizem, sem saber o porquê. A missa compreendida pode ser amada e muito bem amada! No entanto, ninguém ama aquilo que não conhece e, dessa forma, acaba por não se beneficiar em tudo que poderia...

Assim como toda a nossa vida, também a missa é formada por diversos gestos, símbolos e sinais. São meios humanos de se expressar todo o louvor e adoração que podemos prestar a Deus. Obviamente, tudo isso possui significado dentro da missa. No entanto, devem ser feitos de maneira lúcida e não de qualquer modo, pois senão perdem o seu valor e, quando fazemos algo sem saber seu motivo, que valor poderá ter para Aquele a quem é dirigido? Portanto, toda liturgia é formada por estes três elementos: sinal, símbolo e gesto.

SINAL

É algo que significa alguma coisa. Podemos dizer que o sinal ou figura é sempre menor que o seu significado. Por exemplo: quando colocamos galhos ou ramos de árvores em uma curva na estrada alertamos para os outros carros que pode haver algum acidente ou veículo parado na estrada logo após a curva; outro exemplo de sinal, agora do meio cristão, é o uso da vela: a chama de uma vela acesa significa a vida eterna, que nunca se acaba. Observe que ambos os exemplos são de conhecimento universal.

SÍMBOLO

O símbolo, ao contrário do sinal, exige um conhecimento especial, podendo nada representar para pessoas que não convivem em determinado meio. Exemplificando, os primeiros cristãos desenhavam peixes nas catacumbas porque a palavra peixe em grego (IXTUS) correspondia à abreviação da expressão "Jesus Cristo Filho de Deus Salvador".

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GESTOS

Os gestos são movimentos que fazemos com os membros de nosso corpo ou, ainda, com todo o corpo, que também possui seus significados. Na missa, nossos gestos devem ser sinceros, pois senão nada representam. Contudo, quando todos fazem o mesmo gesto, demonstra-se a unidade da comunidade. Para exemplificar, levantamos as mãos quando oramos significando súplica e entrega a Deus.

O ser humano é, ao mesmo tempo, corporal e espiritual. É matéria e espírito. Sua percepção, pois, das realidades espirituais depende de imagens e de símbolos, e sua comunicação só é plenamente objetiva na linha de comunhão. Em todas as civilizações e culturas e em todos os momentos da história, esse dado antropológico é registrado, sem discussões. O homem percebe as coisas pela linguagem própria, viva e silenciosa das coisas e se situa - ele próprio - no mundo do mistério. Tendo consciência de sua realidade transcendente, o homem busca, pois, a comunhão no mistério, que se dá, sobretudo na linguagem silenciosa dos símbolos.

De fato, os símbolos nos mostram, em sua visibilidade, uma realidade que os transcende, invisível. Falam sempre a linguagem do mistério, apontando para além deles próprios. Por aqui pode-se perceber o quanto é útil e necessária na liturgia esta linguagem misteriosa dos símbolos, e eles não têm, como objetivo, explicar o mistério que se celebra, pois o mistério é para ser vivido, mais portanto que ser explicado. A finalidade dos símbolos é adornar, na linguagem simples das coisas criadas, a expressão profunda do mistério, que é invisível.

Todo símbolo litúrgico deve, pois, mergulhar-nos na grandeza do mistério, sem reduzir este, e sem banalizá-lo, e, como símbolo, deve ser simples, como simples é toda a criação visível. Sua principal função, sobretudo na liturgia, é, pois, comunicar-nos aquela verdade inefável, que brota do mistério de Deus e que, portanto, não se pode comunicar com palavras. Na participação litúrgica devemos passar da visibilidade do símbolo, isto é, de seu sentido imediato, de significante, para a sua dimensão mistérica, invisível, atingindo o significado, que é o objetivo final de toda realidade simbólica. Se o símbolo não nos leva a essa passagem para um nível superior de crescimento espiritual, ou ele já não tem mais força expressiva, simbólica, ou somos nós que falhamos na nossa maneira de participar da liturgia. Um exemplo de perda de significação simbólica, podemos citar a batina dos padres, ou o uso do véu na igreja pelas mulheres. Insistir, em nossa cultura, no uso de tais símbolos litúrgicos, seria forçar uma prática já inexpressiva e que até causaria espanto em muitas cabeças, para não dizer em toda a assembléia.

Na liturgia - saibamos - tudo, pois, é simbólico. E a liturgia é descrita como ação simbólica, no sentido mais pleno. Desde a assembléia reunida até a pequenina chama

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da vela que arde, tudo é expressão simbólica, que nos remete ao abismo do mistério de Deus. Na compreensão desse dado litúrgico está a beleza de todo ato celebrativo, e de sua consciência brota já a alegria pascal, como antecipação sacramental das alegrias futuras, definitivas e eternas.

Vejamos então algumas noções dos símbolos e procuremos descobrir sua ministerialidade na liturgia.

01 - ALFAIAS LITÚRGICAS - Nome que se dá ao conjunto dos objetos litúrgicos usados nas celebrações. Deve-se também considerar aqui a Arte Sacra, que se estende, por sua vez, a tudo o que diz respeito ao culto e ao uso sagrado. "Com especial zelo a Igreja cuidou que as sagradas alfaias servissem digna e belamente ao decoro do culto, admitindo aquelas mudanças ou na matéria, ou na forma, ou na ornamentação que o progresso da técnica da arte trouxe no decorrer dos tempos" (SC 122c). Aqui, pode-se ver como a reforma conciliar do Vaticano II se preocupa com a dignidade das coisas sagradas. Templo, altar, sacrário, imagens, livros litúrgicos, vestes e paramentos, e todos os objetos devem, pois, manifestar a dignidade do culto, que, como expressão viva de fé, identifica-se com a natureza de Deus, a quem o povo, congregado pelo Filho e na luz do Espírito Santo, adora "em espírito e verdade" (Cf. Jo 4,23-24).

LIVROS LITÚRGICOS

02 - MISSAL - Livro usado pelo sacerdote na celebração eucarística.

03 - LECIONÁRIO - Livro que contém as leituras para a celebração. São três:

I - Lecionário dominical - Contém as leituras dos domingos e de algumas solenidades e festas.

II - Lecionário semanal - Contém as leituras dos dias de semana. A primeira leitura e o salmo responsorial estão classificados por ano par e ímpar. O evangelho é sempre o mesmo para os dois anos.

III - Lecionário santoral - Contém as leituras para as celebrações dos santos. Nele também constam as leituras para uso na administração de sacramentos e para diversas circunstâncias.

04 - EVANGELIÁRIO - É o livro que contém o texto do evangelho para as celebrações dominicais e para as grandes solenidades.

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ESPAÇO CELEBRATIVO

05 - ALTAR - Mesa fixa, podendo também ser móvel, destinada à celebração eucarística. É o espaço mais importante da Igreja. Lugar onde se renova o sacrifício redentor de Cristo.

06 - AMBÃO - Chama-se também Mesa da Palavra. É a estante de onde se proclama a palavra de Deus. Não deve ser confundida com a estante do comentador e do animador do canto. Esta não deve ter o mesmo destaque do ambão.

07 - CREDÊNCIA - Pequena mesa onde se colocam os objetos litúrgicos, que serão utilizados na celebração. Geralmente, fica próxima do altar.

08 - PRESBITÉRIO - espaço ao redor do altar, geralmente um pouco mais elevado, onde se realizam os principais ritos sagrados.

09 - NAVE DA IGREJA - Espaço do templo reservado aos fiéis.

10 - SACRÁRIO - Chama-se também Tabernáculo. É uma pequena urna onde são guardadas as partículas consagradas e o Santíssimo Sacramento. Recomenda-se que fique num lugar apropriado, com dignidade, geralmente numa capela lateral.

PÚLPITO - Lugar nas igrejas antigas de onde o presidente fazia a pregação. Hoje, praticamente não é mais usado.

OBJETOS LITÚRGICOS

11 - CORPORAL - Tecido em forma quadrangular sobre o qual se coloca o cálice com o vinho e a patena com o pão.

12 - MANUSTÉRGIO - Toalha com que o sacerdote enxuga as mãos no rito do Lavabo. Em tamanho menor, é usada pelos ministros da Eucaristia, para enxugarem os dedos.

13 - PALA - Cartão quadrado, revestido de pano, para cobrir a patena e o cálice.

14 - SANGUINHO - Chamado também purificatório. É um tecido retangular, com o qual o sacerdote, depois da comunhão, seca o cálice e, se for preciso, a boca e os dedos.

15 -VÉU DE ÂMBULA - Pequeno tecido, branco, que cobre a âmbula, quando esta contém partículas consagradas. É recomendado o seu uso, dado o seu forte simbolismo. O véu vela (esconde) algo precioso, ao mesmo tempo que revela (mostra) possuir e trazer tal tesouro. (O véu da noiva, na liturgia do Matrimônio, tem também

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esta significação simbólica, embora, na prática, não seja assim percebido, muitas vezes passando como mero adorno de ostentação).

16 - ÂMBULA, CIBÓRIO OU PÍXIDE - É um recipiente para a conservação e distribuição das hóstias aos fiéis.

17 - CÁLICE - Recipiente onde se consagra o vinho durante a missa.

18 - CALDEIRINHA E ASPERSÓRIO - A caldeirinha é uma pequena vasilha, onde se coloca água benta para a aspersão. Já o aspersório é um pequeno instrumento com o qual se joga água benta sobre o povo ou sobre objetos. Na liturgia são inseparáveis.

19 - CASTIÇAL - Utensílio que se usa para suporte de uma vela.

20 - CANDELABRO - Grande castiçal, com várias ramificações, a cada uma das quais corresponde um foco de luz.

21 - PATENA - Pequeno prato, geralmente de metal, para conter a hóstia durante a celebração da missa.

22 - BACIA E JARRA - Em tamanho pequeno, contendo a jarra a água, para o rito do "Lavabo", na preparação e apresentações dos dons.

23 - CÍRIO PASCAL - Vela grande, que é abençoada solenemente na Vigília Pascal do Sábado Santo e que permanece nas celebrações até o Domingo de Pentecostes. Acende-se também nas celebrações do Batismo.

24 - CRUZ - Não só a cruz processional, isto é, a que guia a procissão de entrada, mas também uma cruz menor, que pode ficar sobre o altar.

25 - VELAS - As velas comuns, porém de bom gosto, que se colocam no altar, geralmente em número de duas, em dois castiçais.

26 - OSTENSÓRIO - Objeto que serve para expor a hóstia consagrada, para adoração dos fiéis e para dar a bênção eucarística.

27 - CUSTÓDIA - Parte central do Ostensório, onde se coloca a hóstia consagrada para exposição do Santíssimo. É parte fixa do Ostensório.

28 - LUNETA - Peça circular do Ostensório, onde se coloca a hóstia consagrada, para a exposição do Santíssimo. É peça móvel.

29 - GALHETAS - São dois recipientes para a colocação da água e do vinho, para a celebração da missa.

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30 - HÓSTIA - Pão não fermentado (ázimo), usado na celebração eucarística. Aqui se entende a hóstia maior. É comum a forma circular.

31 -PARTÍCULA - O mesmo que hóstia, porém em tamanho pequeno e destinada geralmente à comunhão dos fiéis.

32 - RESERVA EUCARÍSTICA - Nome que se dá às partículas consagradas, guardadas no sacrário e destinadas, sobretudo aos doentes e à adoração dos fiéis, em visita ao Santíssimo. Devem ser consumidas na missa seguinte.

33 - INCENSO - É uma resina aromática, extraída de várias plantas, usada sobre brasas, nas celebrações solenes (Ver também a referência do nº 66).

34 - NAVETA - Pequeno vaso onde se transporta o incenso nas celebrações litúrgicas.

35 - TECA - Pequeno estojo, geralmente de metal, onde se leva a Eucaristia para os doentes. Usa-se também, em tamanho maior, na celebração eucarística, para conter as partículas.

36 - TURÍBULO - Vaso utilizado nas incensações durante a celebração. Nele se colocam brasas e o incenso.

OUTROS SÍMBOLOS

37 - IHS - Iniciais das palavras latinas Iesus Hominum Salvator, que significam: Jesus Salvador dos homens. Empregam-se sempre em paramentos litúrgicos, em portas de sacrário e nas hóstias.

38 - ALFA E ÔMEGA - Primeira e última letra do alfabeto grego. No Cristianismo aplicam-se a Cristo, princípio e fim de todas as coisas.

39 - TRIÂNGULO - Com seus três ângulos iguais (equilátero), o triângulo simboliza a Santíssima Trindade. É um símbolo não muito conhecido pelo nosso povo. 40 - INRI - São as iniciais das palavras latinas Iesus Nazarenus Rex Iudaerum, que querem dizer: Jesus Nazareno Rei dos Judeus, mandadas colocar por Pilatos na crucifixão de Jesus (Cf. Jo 19,19).

41 - XP - Estas letras, do alfabeto grego, correspondem em português a C e R. Unidas, formam as iniciais da palavra CRISTÓS (Cristo). Esta significação simbólica é, porém, ignorada por muitos.

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VESTES LITÚRGICAS

Vestes usadas pelos ministros ordenados. São elas:

42 - ALVA - Túnica longa, de cor branca.

43 - TÚNICA - O mesmo que alva. Atualmente pode ser de cor neutra.

44 - AMITO - Pano que o ministro coloca ao redor do pescoço antes de outras vestes litúrgicas.

45 - CASULA - Veste própria do sacerdote que preside a celebração. Espécie de manto que se veste sobre a alva e a estola.

46 - ESTOLA - Veste litúrgica do sacerdote. Os diáconos também a usam, porém a tiracolo, sobre o ombro esquerdo, pendendo-a do lado direito.

47 - CAPA PLUVIAL - Capa longa, que o sacerdote usa ao dar a bênção do Santíssimo ou ao conduzí-lo nas procissões. Usa-se também no rito de aspersão da assembléia.

48 - CÍNGULO - Cordão com o qual se prende a alva ao redor da cintura.

49 -VÉU UMERAL - Chama-se também véu de ombros. Manto retangular, de cor dourada, usado pelo sacerdote na bênção do Santíssimo.

50 - DALMÁTICA - Veste própria do diácono. É colocada sobre a alva e a estola.

POSIÇÕES CORPORAIS - Na liturgia toda a pessoa é chamada a participar. Sentido, corpo, espírito. Assim, os gestos corporais são também vivamente litúrgicos. E como no corpo humano cada membro tem uma função própria, a serviço, porém, de todo o corpo, assim, na liturgia, cada gesto do corpo recebe um simbolismo próprio, a serviço de todo o ato celebrativo. Assim, temos:

57 - AS MÃOS - Que ora se erguem em louvor; ora se estendem em abertura e oferecimento; ora se elevam em súplica; ora se juntam em recolhimento; ora se abrem em oferta. Também se faz a imposição de mãos nas ordenações.

58 - OS PÉS - Não só caminham nas procissões litúrgicas, em sentido simbólico de peregrinação, como também se prestam para o ritmo de danças. Na missa da Quinta-Feira Santa são lavados em memória do mandamento novo da última Ceia do Senhor com seus discípulos. Podemos pensar nos pés do Cristo Peregrino, nas estradas

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difíceis da Palestina, identificados com os nossos pés, na difícil caminhada de nossa vida.

59 - OS OLHOS - Na leitura eucarística, principalmente, os olhos devem ver, enxergar, contemplar. Aqui o mistério é "visto". Daí, a atenção que se requer para os movimentos litúrgicos que se realizam no altar.

60 - OS OUVIDOS - Na Liturgia da Palavra, nosso sentido auditivo é chamado a participar mais vivamente. Trata-se de ouvir, como no Antigo Testamento: "Ouve Israel...", a oração judaica mais preciosa (o Xemá judaico, no convite de Dt 6,4).

61 - OUTROS MOVIMENTOS E GESTOS CORPORAIS - Podemos falar ainda: de ajoelhar-se, de prostrar-se, de sentar-se, de ficar de pé, como também de persignar-se, de traçar o sinal da cruz. Ainda falamos de genuflexão, do gesto sereno da vênia, este como reverência diante do Santíssimo e de autoridades eclesiásticas. Atente-se pelo fato de a posição "de pé", na liturgia, ser a mais expressiva, por indicar prontidão e nos revelar a atitude de ressuscitados. É como Cristo se mostra depois da ressurreição (Cf. Jo 20,14; 21,4; Ap 5,6).

SÍMBOLOS LITÚRGICOS LIGADOS À NATUREZA

62 - A ÁGUA - A água simboliza a vida (remete-nos, sobretudo ao nosso batismo, onde renascemos para uma vida nova). Pode simbolizar também a morte (enquanto por ela morremos para o pecado). Nesse sentido, ela é mãe e sepulcro, de acordo com os Santos Padres. (Ver a referência litúrgica do nº 67, em que se fala da água, nos ritos do Batismo, do Lavabo e do "asperges").

63 - O FOGO - O fogo ora queima, ora aquece, ora brilha, ora purifica. Está presente na liturgia da Vigília Pascal do Sábado Santo e nas incensações, como as brasas nos turíbulos. O fogo pode multiplicar-se indefinidamente. Daí, sua forte expressão simbólica. É símbolo, sobretudo da ação do Espírito Santo (Cf. Eclo 48,1; Lc 3,16; 12,49; At 2,3; 1Ts 5,19), e do próprio Deus, como fogo devorador (Cf. Ex 24,17; Is 33,14; Hb 12,29).

64 - A LUZ - A luz brilha, em oposição às trevas, e mesmo no plano natural é necessária à vida, como a luz do sol. Ela mostra o caminho ao peregrino errante. A luz produz harmonia e projeta a paz. Como o fogo, pode multiplicar-se indefinidamente. Uma pequenina chama pode estender-se a um número infinito de chamas e destruir, assim, a mais espessa nuvem de trevas. É o símbolo mais expressivo do Cristo Vivo, como no Círio Pascal. A luz e, pois, a expressão mais viva da ressurreição.

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65 - O PÃO E O VINHO - Símbolos do alimento humano. Trigo moído e uva espremida, sinais do sacrifício da natureza, em favor dos homens. Elementos tomados por Cristo para significarem o seu próprio sacrifício redentor.

66 - O INCENSO - Como se falou no número 33, com sua especificidade aromática. Sua fumaça simboliza, pois, a oração dos santos, que sobe a Deus, ora como louvor, ora como súplica (Cf. Sl 140(141)2; Ap 8,4).

67 - O ÓLEO - Temos na liturgia os óleos dos Catecúmenos, do Crisma e dos Enfermos, usados liturgicamente nos sacramentos do Batismo, da Crisma e da Unção dos Enfermos. Nos três sacramentos, trata-se do gesto litúrgico da unção. Aqui vemos que o objeto - no caso, o óleo - além de ele próprio ser um símbolo, faz nascer uma ação, isto é, o gesto simbólico de ungir. Tal também acontece com a água: ela supõe e cria o banho lustral, de purificação, como nos ritos do Batismo e do "lavabo" (abluções), e do "asperges", este em sentido duplo: na missa, como rito penitencial, e na Vigília do Sábado Santo, como memória pascal de nosso Batismo. A esses gestos litúrgicos e tantos outros, podemos chamar de "símbolos rituais". A unção com o óleo atravessa toda a história do Antigo Testamento, na consagração de reis, profetas e sacerdotes, e culmina no Novo Testamento, com a unção misteriosa de Cristo, o verdadeiro Ungido de Deus (Cf. Is 61,1; Lc 4,18). A palavra Cristo significa, pois, ungido. No caso, o Ungido, por excelência.

68 - AS CINZAS - As cinzas, principalmente na celebração da Quarta-Feira de Cinzas, são para nós sinal de penitência, de humildade e de reconhecimento de nossa natureza mortal. Mas estas mesmas cinzas estão intimamente ligadas ao Mistério Pascal. Não nos esqueçamos de que elas são fruto das palmas do Domingo de Ramos do ano anterior, geralmente queimadas na Quaresma, para o rito quaresmal das cinzas.

Encerrando esse pequeno subsídio, guardemos então que toda a liturgia é ação simbólica. Assim, poderíamos ainda falar: do templo, da assembléia, dos sinos, do jejum, da esmola, das bênçãos, da ceia, da coroa do Advento, da palma, das flores, do anel, do canto, do abraço, da música, do cordeiro, da hóstia, dos ícones, do confessionário, do batistério, da arte sacra (em toda a sua vasta extensão) etc., como também, ainda, de tudo aquilo que diz respeito aos sentidos, tais como: olfato: o cheiro do incenso e das flores; paladar: o gosto do pão e do vinho; tato: o toque, seja na imposição de mãos de ritos sagrados, seja nas mãos que se unem às dos irmãos, seja no toque de coisas sagradas; visão e audição: como se falou nos nºs. 59 e 60 deste trabalho etc.. Enfim, é todo um universo simbólico, que nos convida a mergulhar cada vez mais no mistério infinito do amor de Deus.

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CANTOS LITÚRGICOS

A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA

Desde o início do Cristianismo, a música ocupa lugar de destaque nas cerimônias litúrgicas. Nascida dentro de uma comunidade judaica, a Igreja cristã já empregava em suas primeiras reuniões e práticas rituais a música cantada e tocada, herdada da liturgia judaica.

A música é uma das mais belas manifestações do espírito humano e, como tal, não poderia deixar de fazer parte das celebrações litúrgicas da nossa Igreja. Mais do que qualquer outra forma de expressão artística, a música consegue expressar os mais variados sentimentos humanos: alegria, tristeza, paz, louvor, etc...

Este riquíssimo recurso, frequentemente colocado à disposição da liturgia, possibilita que as celebrações se tornem mais belas e ofereçam um justo louvor a Deus. A música, juntamente com outros elementos utilizados pela liturgia (cores, paramentos, objetos sagrados, etc.), serve de mediação entre Deus e os homens. Assim, deve ser executada com seriedade e cuidado, para que o fim a que se destina seja alcançado: a edificação dos fiéis e o louvor a Deus.

PRINCÍPIO GERAL

1 - Em todos os estudos sobre o canto e a música na liturgia, devemos ter bem claro o princípio fundamental formulado pelo Concílio Vaticano II: "... a música sacra será tanto mais santa, quanto mais intimamente estiver ligada à ação litúrgica..." (SC 112c). E ainda: "Uma autêntica celebração exige também que se observe exatamente o sentido e a natureza próprios de cada parte e de cada canto..." (MS 6b). Conclusão: Quanto mais gerais forem os textos dos cantos e menos ligados à ação litúrgica ou ao tempo e à festa, tanto menos litúrgicos serão eles, pois o importante é cantar a liturgia, e não simplesmente cantar na liturgia, como tantas vezes acontece. 2 - Traduzindo o pensamento conciliar e o ensinamento da Igreja, queremos dizer, inicialmente, que, na liturgia, não se canta por cantar. Não se canta para encher espaço ou cobrir possíveis vazios na celebração. Também não se canta por ser o canto bonito e cheio de mensagens, simplesmente. O canto, na liturgia, não é divertimento nem se destina a tornar a celebração mais leve, mais agradável, mais movimentada. O canto litúrgico nunca pode ser mero enfeite, pois ele tem, na celebração, uma função ministerial, que lhe é própria. Às vezes, porém, certos cantos nos deixam a impressão de estarem apenas embelezando o momento celebrativo.

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3 - Diga-se, para maior consciência de todos nós, que não existe festa sem canto, nem celebração sem música, e a liturgia deve ser, pela sua natureza laudatória, uma festa, antes de tudo. Uma celebração, pois, sem canto é uma celebração morta, apagada. Em todas as culturas e em todas as civilizações, o canto sempre constitui alegria de um povo, ou então marca de suas angústias, de seus sonhos e de suas aspirações. Na liturgia, esse dado fundamental da fenomenologia antropológica é ainda mais evidente.

4 - Na liturgia, o canto une as pessoas, anima e dá vida à celebração. Facilita passar de "uma só voz" a "um só coração", e, finalmente, a "uma só alma", como se vê na espiritualidade das comunidades primitivas. Podemos, pela liturgia, unir nossa voz à dos anjos, sendo realmente nosso canto exultação de um povo feliz e redimido.

5 - Na linguagem bíblica e litúrgica, canto se associa ao Espírito Santo, e espírito tem relação com sopro, vento. O Espírito de Deus suscita em nós o "som", a vibração correta, que nos faz pensar e sentir em uníssono com o próprio Deus. O canto produz, pois, a harmonia universal. Aliás, a palavra "canto" já tem um sentido etimológico de "harmonia". Assim, podemos dizer que a criação, na sua harmonia, é um canto de louvor a Deus, e a liturgia, nas palavras de Paulo VI, é o louvor de Deus, na linguagem de um povo orante.

6 - O canto ainda amplia o sentido das palavras e, por outro lado, sonda o mais profundo da interioridade do ser, cativa e faz brotar os sentimentos mais puros e profundos da alma humana. Ele liberta-nos dos limites da palavra, do racionalismo intelectual, do mero conceito, para dar-nos uma projeção do infinito e do indizível, na alegria que faz o coração exultar diante do mistério. É nesse sentido que São Tiago pergunta e, ao mesmo tempo, responde: "Está alguém alegre? Então cante!" (Cf. Tg 5,13b).

7 - Devemos vivenciar juntos a profundidade espiritual de um canto, pois a música, na liturgia, é chamada a uma densidade teológica e espiritual à altura do mistério que nela celebramos. Por isso, não se pode escolher qualquer canto e qualquer música para a liturgia, pois, como já vimos, ela deve aderir-se à natureza da liturgia, na sua funcionalidade ministerial. A letra e a música deverão, assim, ser feitas no Espírito, levando-se em conta a situação ritual do canto.

8 - O canto, no cumprimento das exigências da liturgia, deve trazer texto, ritmo e melodia prenhes, isto é, grávidos do mistério de Deus, pois a primeira linguagem do canto, sobretudo litúrgico, é a do inefável, do mistério. Portanto, deve trazer ele as qualidades essenciais ao mistério: primeiramente, teológica, isto é, com a correta formulação doutrinária (ortodoxia católica); depois, espiritual, ou seja, capaz de nos elevar e edificar; também bíblica, quer dizer, com aquele espírito próprio da revelação

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divina e com ele facilmente identificável; não dispensando também a qualidade mistagógica, isto é, aquela experiência vivencial da Igreja que, na simplicidade, manifesta o reino de Deus. Por último, aparece ainda, como exigência, segundo Ione Buyst, a qualidade estética, com as notas do poético e do musical, sempre com a força evocativa e simbólica, tendo espaço: para o mistério, para o silêncio meditativo, para o vôo contemplativo.

9 - Um canto só é, pois, litúrgico, voltamos a dizer, quando serve à liturgia, dentro das exigências desta. Fora da celebração, mesmo com todas as qualidades litúrgicas, torna-se simplesmente um canto sacro, religioso. Isto, porém, não quer dizer que todo canto religioso serve para a liturgia. Os letristas e compositores, a propósito, são chamados pelo Concílio Vaticano II a se instruírem no mistério litúrgico, a fim de comporem textos e músicas que enriqueçam ainda mais o tesouro da eucologia cristã.

DISTINÇÃO DE CANTOS NA LITURGIA

10 - Visto que os cantos, na liturgia, não são genéricos, mas funcionais, costuma-se fazer uma distinção entre eles, de acordo com a sua ministerialidade. Assim, podem ser classificados:

I - Cantos processionais - São aqueles que acompanham as procissões litúrgicas. Temos então, com relação à missa: o canto de entrada, o de aclamação ao Evangelho (quando se faz a procissão deste), o da procissão das oferendas, o da comunhão e o canto final (quando este acompanha a saída do povo).

II - Cantos interlecionais - São os que ficam entre as leituras bíblicas (O salmo responsorial e a aclamação ao Evangelho).

III - Cantos fixos ou ordinários - Os que não variam com o tempo litúrgico ou a festa (O Glória, o Santo, o Kirye e o Cordeiro de Deus).

IV - Cantos próprios - Os que variam de acordo com o tempo litúrgico, festa ou solenidade.

V - Cantos litânicos - Os que têm a forma de ladainha (Ato penitencial e Cordeiro de Deus).

VI - Cantos antifonais ou alternados - Os que se cantam alternando-se: coro e povo, homens e mulheres (O canto alternado ou antifonal embeleza muito a celebração, mas quase não se pratica. A criatividade pastoral deveria usar mais este recurso).

VII- Cantos responsoriais - No canto responsorial, as estrofes são cantadas pelo coral ou por um solista, aqui chamado então salmista. O povo só participa com o refrão. Exemplo de canto responsorial é o salmo depois da primeira leitura.

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CANTOS SUPLEMENTARES

11 - Há ainda na liturgia da missa alguns cantos, chamados então suplementares, para os quais não existe uma norma específica, principalmente quanto ao texto. São cantos, pois, sem muita importância litúrgica, mas que estão muito presentes nas celebrações. Tais são:

• O canto de apresentação das oferendas; • O canto de ação de graças após a comunhão (nome impróprio, pois o Missal não fala de "ação de graças" após a comunhão, mas de louvor); • O canto de acolhida da Bíblia (muito valorizado pelas comunidades); • O canto da paz; • O canto das aclamações da Oração Eucarística; • O canto final ou de despedida.

12 - Para um estudo mais completo do que aqui se propõe, queremos também referir-nos às situações rituais dos cantos, que são ainda mais importantes que a sua simples distinção genérica. Podemos assim descrevê-las:

I - Situações hínicas - Aqui os cantos são de estrofes iguais, com a mesma melodia, na estrutura de hinos. Geralmente, os cantos processionais têm esta característica.

II - Situações meditativas - Incluem-se, nesta categoria, o Salmo Responsorial e o canto de louvor após a comunhão.

III - Situações aclamativas - O canto de aclamação ao Evangelho e as aclamações da Oração Eucarística, como também o "Amém" da doxologia final. Inclui-se também, aqui, a aclamação após a consagração ("Todas as vezes..."), ou outra.

IV- Situações proclamativas - A abertura pelo presidente, a resposta da assembléia, as orações presidenciais, o relato da Ceia, o prefácio, a profissão de fé, como também os "Amém" após as orações presidenciais. Neste caso, o canto aqui é a cantilena ou o recitativo.

V - Situações litânicas - São aquelas em que o canto se completa com a resposta do povo. Assim são os cantos do rito penitencial e do Cordeiro de Deus.

GRAUS DE IMPORTÂNCIA DOS CANTOS LITÚRGICOS

13 - A Instrução "Musicam Sacram" propõe três graus de importância para os cantos na liturgia da missa. São eles:

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PRIMEIRO GRAU

Nos ritos iniciais:

� A saudação de quem preside, junto com a resposta do povo;

� A oração presidencial.

Na Liturgia da Palavra:

� A aclamação ao evangelho

Na Liturgia Eucarística:

� A oração sobre as oferendas;

� O prefácio, com o diálogo e o Santo;

� A doxologia final;

� O Pai Nosso, com seu convite, e o embolismo;

� A saudação da paz;

� A oração após a comunhão.

Nos ritos finais:

� A bênção final;

� As fórmulas de despedida.

SEGUNDO GRAU

Nos ritos iniciais:

� O "Senhor, tende piedade";

� O "Glória".

Na Liturgia da Palavra:

� A profissão de fé;

� A oração dos fiéis.

Na Liturgia Eucarística:

� "Cordeiro de Deus"

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TERCEIRO GRAU

Nos ritos iniciais:

� O canto de entrada.

Na Liturgia da Palavra:

� O Salmo responsorial;

� As leituras bíblicas.

Na Liturgia Eucarística:

� O canto processional da comunhão .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

14 - Sabemos que a liturgia ocupa lugar de destaque na Igreja, sendo mesmo fonte primária de espiritualidade, nas palavras do Concílio Vaticano II. Por isso, deve-se dar ênfase às razões do nosso cantar. E quais são essas razões? Podemos dizer que são, principalmente, as quatro referidas a seguir, em dimensões objetivas da fé. Ei-las: De ordem teológica: Celebrar a ação de Deus em nossa vida, como pura gratuidade. De ordem cristológica: Celebrar o Mistério Pascal do Senhor, na alegria dos aleluias pascais. De ordem pneumatológica: Cantar no Espírito as maravilhas de Deus, operadas no seu povo. De ordem eclesiológica: Cantar em comunidade, como povo eleito e redimido.

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ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA Bem sabemos que a Pastoral Litúrgica visa a participação consciente, ativa e

frutuosa de todos os fiéis, sendo, conforme o n.º 14 da SC, a primeira e necessária fonte, da qual os fiéis podem haurir o espírito genuinamente cristão, razão a qual deve levar os pastores de almas, em toda a sua atividade pastoral, a procurarem-na com o máximo de empenho, através da devida formação.

Se por um lado, a liturgia, em particular a eucaristia, “é a fonte e o cume de toda a vida da Igreja, por outro lado, ela não esgota a ação da Igreja . . . e a vida espiritual não se limita à participação da sagrada liturgia” (SC 9;12). A oração litúrgica não esgota todas as possibilidades da vida espiritual.

Portanto, a Oração e a Religiosidade popular, embora não sejam liturgia no sentido estrito, merecem valorização e atenção por parte da Pastoral Litúrgica, para uma pastoral harmônica da dimensão celebrativa e espiritual da vida em Cristo e no Espírito. Como nos diz o Papa João Paulo II em sua Carta Apostólica Vicesimus quintus annus n.º 18: “Uma autêntica Pastoral Litúrgica saberá apoiar-se nas riquezas da piedade popular e orientá-las para a Liturgia, como oferenda dos povos.”

Liturgismo é fazer das celebrações um mero cumprimento de normas e ritos prescritos em livros ou folhetos. No liturgismo a liturgia fica sendo o canto dos anjos ou de quem quer que seja, menos da comunidade reunida em assembléia.

A liturgia é uma semente plantada por Deus em nossa terra. Esta semente é a salvação. Isso lembra o fato de Deus Ter se encarnado para nos redimir. Deus tomou a forma de gente como a gente. Ele assumiu as nossas limitações, redimiu a natureza humana. Na liturgia, Deus toma as cores da nossa cultura, fala com as palavras que usamos todo dia, canta com as melodias e ritmos do nosso povo.

Por isso, a liturgia deve ser encarnada. Deve valorizar as expressões de nossa gente, os símbolos que realmente são significativos. Isto sugere uma espiritualidade.

Na liturgia falamos com Deus, e Deus fala conosco. Somos o seu povo. Isto só é possível porque Jesus deixou alguém que fala por meio da nossa voz: é o Espírito Santo.

Todo leitor, comentarista, músico, animador, sacerdote, etc. . , todo cristão deve se preparar ao realizar um gesto / celebração litúrgica. Para isso, a equipe de liturgia precisa refletir, aprofundar e rezar.

Sem espiritualidade litúrgica nosso serviço acaba perdendo o rumo e as motivações. Em vez de humildes servos nos tornamos prepotentes e arrogantes ”funcionários do culto”. Tomamos posse da sacristia, dos microfones, das missas, do padre . . . isso é terrível, mas, infelizmente, é o que acontece em muitas comunidades.

Além disso, a liturgia é fonte de vida para o cristão. Assim, podemos dizer que nascemos juntos das mesmas águas. Bebemos da mesma fonte. A Eucaristia é novamente a suprema fonte de vida.

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Tudo vem da liturgia, Tudo vai para ela. . . A liturgia é ponto de chegada e de saída. Isso dá novo sentido às pastorais. A liturgia é ponto de encontro, de partilha e de sustento das pastorais. A MISSA PARTE POR PARTE

Antes de respondermos, analisemos o sentido da missa. A missa é uma

celebração. E celebrar, “é tornar presente uma realidade através de um rito”. Na celebração, temos sempre presentes o passado, o presente e o futuro, que em breves momentos unem-se num tempo só, a eternidade. E qual a finalidade de uma celebração? Nenhuma. A celebração possui valor. Aliás, as coisas mais importantes do homem como o lazer, o amor, a arte, a oração não tem uma finalidade produtiva, mas sim valor. E o valor da missa é tornarmos presente a paixão-morte-ressurreição de Cristo através da celebração, e assim participarmos mais ainda do mistério de salvação da humanidade.

Vale a pena ainda lembrar que, ao tornarmos presente o sacrifício de Cristo não quer dizer que estejamos novamente sacrificando o Cristo. Partindo do princípio que a salvação de Cristo não se prende à nossa visão de presente, passado e futuro, mas coloca-se no nível da eternidade, podemos afirmar que Cristo ao morrer na cruz salva todos os homens em todos os tempos, e a cada instante. É como se em cada missa, você estivesse aos pés da cruz contemplando o mistério da redenção da humanidade. E é o que acontece em cada missa, em cada eucaristia celebrada. E aí está o amor de Cristo ao dar-se na Eucaristia, em forma de alimento.

Para realizarmos uma missa necessitamos de alguns “instrumentos”, sem os quais não é possível celebrar o “Santo Sacrifício”. São eles:

a) A palavra de Deus b) Altar (a missa é uma ceia, precisamos de uma mesa); c) Assembléia (no mínimo uma pessoa); d) Intenção do que se faz, tanto da parte da assembléia quanto do ministro; e) Ministro ordenado (padre ou bispo); f) Pão, água e vinho. Estes são os “ingredientes indispensáveis” a qualquer celebração eucarística.

Sobre cada um deles, explicaremos no decorrer de cada parte da missa. Outrora, a missa não possuía este nome, mas era chamada de ceia do Senhor ou

eucaristia. De fato, a missa é uma ceia onde nos encontramos com os irmãos para juntos alimentarmo-nos do próprio Deus, que se dá em alimento por sua Palavra e pelo pão e o vinho. E a missa também é eucaristia. O que vem a ser isso?

Eucaristia significa ação de graças. No capítulo 24 do livro do Gênesis, vemos

um exemplo de ação de graças. Após a morte de sua esposa Sara, Abraão pede ao seu

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servo mais antigo que procure uma esposa para seu filho Isaac. O servo parte em busca desta mulher, mas como iria reconhecê-la? Pede a Deus um sinal e o servo a reconhece quando uma bela jovem dá de beber de seu cântaro ao servo e seus camelos. E qual sua reação após este fato? “O servo inclinou-se diante do Senhor. Bendito seja, exclamou ele, o Deus de Abraão, meu senhor, que não faltou à sua bondade e à sua fidelidade. Ele conduziu-me diretamente à casa dos parentes de meu Senhor” (Gn 24,26-27). Eis aqui uma ação de graças.

Quais os seus elementos? Temos antes de tudo um fato maravilhoso, uma bênção, um benefício, uma graça alcançada, manifestação da bondade de Deus. Depois, a admiração. O servo inclina-se diante do Senhor. Esta admiração manifesta-se pela exclamação e aclamação. Ele não faltou à sua bondade e à sua fidelidade. Proclama, então, o fato, narra o acontecimento, o benefício, a Bênção recebida. Todos estes elementos encontram-se no contexto da missa, como veremos adiante.

E por que então a missa possui este nome? Por enquanto acompanhemos a missa parte por parte e as respostas serão dadas.

Ritos Iniciais

Instrução Geral ao Missal Romano, n.º 24: “Os ritos iniciais ou as partes que precedem a liturgia da palavra, isto é, cântico de entrada, saudação, ato penitencial, Senhor, Glória e oração da coleta, têm o caráter de exórdio, introdução e preparação. Estes ritos têm por finalidade fazer com que os fiéis, reunindo-se em assembléia, constituam uma comunhão e se disponham para ouvir atentamente a Palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia”.

Comentário Inicial Este tem por fim introduzir os fiéis ao mistério celebrado. Sua posição correta

seria após a saudação do padre, pois ao nos encontrarmos com uma pessoa primeiro a saudamos para depois iniciarmos qualquer atividade com ela.

Canto de Entrada “Reunido o povo, enquanto o sacerdote entra com os ministros, começa o canto de

entrada. A finalidade desse canto é abrir a celebração, promover a união da assembléia, introduzir no mistério do tempo litúrgico ou da festa, e acompanhar a procissão do sacerdote e dos ministros”(IGMR n.25)

Durante o canto de entrada percebemos alguns elementos que compõem o início da missa:

a) O canto Durante a missa, todas as músicas fazem parte de cada momento. Através da

música participamos da missa cantando. A música não é simplesmente acompanhamento ou trilha musical da celebração: a música é também nossa forma de

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louvarmos a Deus. Daí a importância da participação de toda assembléia durante os cantos.

b) A procissão O povo de Deus é um povo peregrino, que caminha rumo ao coração do Pai.

Todas as procissões têm esse sentido: caminho a se percorrer e objetivo a que se quer chegar.

c) O beijo no altar Durante a missa, o pão e o vinho são consagrados no altar, ou seja, é no altar que

ocorre o mistério eucarístico. O presidente da celebração ao chegar beija o altar em sinal de carinho e reverência por tão sublime lugar.

Por incrível que possa parecer, o local mais importante de uma igreja é o altar, pois ao contrário do que muita gente pensa, as hóstias guardadas no sacrário nunca poderiam estar ali se não houvesse um altar para consagrá-las.

Saudação a) Sinal da Cruz O presidente da celebração e a assembléia recordam-se por que estão celebrando

a missa. É, sobretudo pela graça de Deus, em resposta ao seu amor. Nenhum motivo particular deve sobrepor-se à gratuidade. Pelo sinal da cruz nos lembramos que pela cruz de Cristo nos aproximamos da Santíssima Trindade.

b) Saudação Retirada na sua maioria dos cumprimentos de Paulo, o presidente da celebração

e a assembléia se saúdam. O encontro eucarístico é movido unicamente pelo amor de Deus, mas também é encontro com os irmãos.

Ato Penitencial Após saudar a assembléia presente, o sacerdote convida toda assembléia a, em

um momento de silêncio, reconhecer-se pecadora e necessitada da misericórdia de Deus. Após o reconhecimento da necessidade da misericórdia divina, o povo a pede em forma de ato de contrição: Confesso a Deus todo-poderoso... Em forma de diálogo por versículos bíblicos: Tende compaixão de nós... Ou em forma de ladainha: Senhor, que viestes salvar... Após, segue-se a absolvição do sacerdote. Tal ato pode ser substituído pela aspersão da água, que nos convida a rememorar-nos o nosso compromisso assumido pelo batismo e através do simbolismo da água pedirmos para sermos purificados.

Cabe aqui dizer, que o “Senhor, tende piedade” não pertence necessariamente ao ato penitencial. Este se dá após a absolvição do padre e é um canto que clama pela piedade de Deus. Daí ser um erro omiti-lo após o ato penitencial quando este é cantando. O “Senhor, tende piedade” poderá fazer parte do ato penitencial, mas para isso é necessário a inserção de uma característica de Deus. Ainda com relação ao texto

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do “Senhor...”, os vocativos presentes em cada frase referem-se a Jesus Cristo, aquele que intercede ao Pai por nossos pecados.

Hino de Louvor Espécie de salmo composto pela Igreja, o glória é uma mistura de louvor e

súplica, em que a assembléia congregada no Espírito Santo, dirige-se ao Pai e ao Cordeiro. é proclamado nos domingos - exceto os do tempo da quaresma e do advento - e em celebrações especiais, de caráter mais solene.

Oração da Coleta Encerra o rito de entrada e introduz a assembléia na celebração do dia. “Após o convite do celebrante, todos se conservam em silêncio por alguns instantes,

tomando consciência de que estão na presença de Deus e formulando interiormente seus pedidos. Depois o sacerdote diz a oração que se costuma chamar de ‘coleta’, a qual a assembléia dá o seu assentimento com o ‘Amém’ final” (IGMR 32).

Dentro da oração da coleta podemos perceber os seguintes elementos: invocação, pedido e finalidade.

Liturgia da Palavra Não existe celebração na liturgia cristã em que não se proclame a Palavra de

Deus. Isto porque a Igreja antes de tornar presente os mistérios de Cristo ela os contempla. Pela palavra, Deus convoca e recria o seu povo, através de uma resposta de conversão da parte de quem a ouve.

“A parte principal da Palavra de Deus é constituída pelas leituras da Sagrada Escritura e pelos Cânticos que ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e concluída pela homilia, a profissão de fé e a oração universal ou dos fiéis. Pois nas leituras explanadas pela homilia Deus fala ao seu povo, revela o mistério da redenção e da salvação, e oferece alimento espiritual.; e o próprio Cristo, por sua palavra, se acha presente no meio dos fiéis. Pelos cânticos, o povo se apropria dessa palavra de Deus e a ele adere pela profissão de fé. Alimentado por esta palavra, reza na oração universal pelas necessidades de toda a Igreja e pela salvação do mundo inteiro”(IGMR 33).

1ª, 2ª Leituras e Salmo Para compreendermos melhor a liturgia da Palavra é necessário distinguir entre a

liturgia dominical e a liturgia dos dias da semana. A primeira é dividida em três anos, nos quais a Igreja procura ler toda a Bíblia. Nos dias de domingo e festas o esquema das leituras é o seguinte: Primeira leitura, salmo, segunda leitura, aclamação ao Evangelho e Evangelho. A primeira leitura e o evangelho tratam geralmente do mesmo assunto, para mostrar Jesus como aquele que leva à plenitude a antiga aliança; o salmo, é uma meditação da leitura, uma espécie de comentário cantado - daí ser insubstituível; a segunda leitura é feita de forma semi-contínua, sempre extraída da carta do apóstolo. Já a liturgia dos dias da semana não apresenta a segunda leitura, e toda a Bíblia é lida todos os anos.

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Evangelho É o ponto alto da liturgia da Palavra. Cristo torna-se presente através de sua

Palavra e da pessoa do sacerdote. Tal momento é revestido de cerimônia, devido sua importância. Todos ficam de pé e aclamam o Cristo que fala. O diácono ou o padre dirige-se à mesa da palavra para proclamá-la. O que proclama a Palavra do evangelho menciona a presença do Cristo vivo entre nós. Faz o sinal da cruz na testa, na boca e no coração para que todo o ser fique impregnado da mensagem do Evangelho: a mente a acolha, a boca a proclame e o coração a sinta e a viva.

Homilia A homilia faz a transição entre a palavra de Deus e sua resposta. É feita

exclusivamente por um ministro ordenado, pois este recebeu, através da imposição das mãos o dom especial para pregar o Evangelho. A função da homilia é confrontar o mistério celebrado com a vida da comunidade. Na homilia, o sacerdote anima o povo, exorta-o e se for preciso o denuncia, mostrando a distância entre o ideal proposto e a vida concreta do povo.

Profissão de fé “O símbolo ou profissão de fé, na celebração da missa, tem por objetivo levar o povo a dar

seu assentimento e resposta à palavra de Deus ouvida nas leituras e homilia, bem como lhe recordar a regra da fé antes de iniciar a celebração da eucaristia”(IGMR 43).

A profissão de fé consiste na primeira resposta dada à Palavra de Deus. Nela cremos e aderimos, manifestando também nossa fé naquela que possui a incumbência de perpetuar esta palavra: a Igreja Católica. Possui duas formas, sendo a mais extensa proclamada em solenidades especiais, como o Natal, Anunciação etc.

Preces da comunidade “Na oração dos fiéis ou oração universal, a assembléia dos fiéis, iluminada pela graça de

Deus, à qual de certo modo responde, pede normalmente pelas necessidades da Igreja universal e da comunidade local, pela salvação do mundo, pelos que se encontram em qualquer necessidade e por grupos determinados de pessoas” (IGMR 30).

O povo de Deus ouve a Palavra de Deus, a acolhe e dá a sua resposta. Esta pode ser em forma de louvor, de súplica, adoração ou intercessão. Pede a Deus a graça de poder realizar a sua vontade; porém ele não é egoísta: pede por todos para que também possam realizar esta palavra e assim encontrar o sentido para suas vidas. Pede pela Igreja, para que esta tenha coragem de continuar proclamando esta palavra. Pede por aqueles que sofrem e pelas autoridades locais, para que concretizem o Reino de Deus entre nós. Finalmente faz seus pedidos pela comunidade local.

Talvez seria de imensa riqueza para a liturgia se as preces fossem feitas de modo espontâneo, mas para isso seria necessário ordem e instrução por parte da assembléia. Seria necessário lembrar que a resposta à Palavra de Deus nunca se dá de modo egoísta.

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Liturgia Eucarística Na liturgia eucarística atingimos o ponto alto da celebração. Durante ela a Igreja

irá tornar presente o sacrifício que Cristo fez para nossa salvação. Não se trata de outro sacrifício, mas sim de trazer à nossa realidade a salvação que Deus nos deu. Durante esta parte a Igreja eleva ao Pai, por Cristo, sua oferta e Cristo dá-se como oferta por nós ao Pai, trazendo-nos graças e bênçãos para nossas vidas.

“Cristo na verdade, tomou o pão e o cálice em suas mãos, deu graças, partiu o pão e deu-os aos seus discípulos dizendo: ‘Tomai, comei, isto é o meu Corpo, este é o cálice do meu Sangue. Fazei isto em memória de mim’. Por isso, a Igreja dispôs toda a celebração da liturgia eucarística em partes que correspondam às palavras e gestos de Cristo: 1) no ofertório leva-se o pão e o vinho com água, isto é, os elementos que Cristo tomou em suas mãos; 2) na oração eucarística rendem-se graças a Deus por toda obra salvífica e o pão e vinho tornam-se o Corpo e o Sangue de Cristo; 3) pela fração do mesmo pão manifesta-se a unidade dos fiéis, e pela comunhão recebem o Corpo e o Sangue do Senhor como os discípulos o receberam das mãos do próprio Cristo” (IGMR 48).

É durante a liturgia eucarística que podemos entender a missa como uma ceia, pois afinal de contas nela podemos enxergar todos os elementos que compõem uma: temos a mesa - mais propriamente a mesa da Palavra e a mesa do pão. Temos o pão e o vinho, ou seja, o alimento sólido e líquido presentes em qualquer ceia. Tudo conforme o espírito da ceia pascal judaica, em que Cristo instituiu a eucaristia.

E de fato, a Eucaristia no início da Igreja era celebrada em uma ceia fraterna. Porém foram ocorrendo alguns abusos, como Paulo os sinaliza na Primeira Carta aos Coríntios. Aos poucos foi sendo inserida a celebração da palavra de Deus antes da ceia fraterna e da consagração. Já no século II a liturgia da Missa apresentava o esquema que possui hoje em dia.

Após essa lembrança de que a Missa também é uma ceia, podemos nos questionar sobre o sentido de uma ceia, desde o cafezinho oferecido ao visitante até o mais requintado jantar diplomático. Uma ceia significa, entre outros: festa, encontro, união, amor, comunhão, comemoração, homenagem, amizade, presença, confraternização, diálogo, ou seja, vida. Aplicando esses aspectos a Missa, entenderemos o seu significado, principalmente quando vemos que é o próprio Deus que se dá em alimento. Vemos que a Missa também é um convívio no Senhor.

A liturgia eucarística divide-se em: apresentação das oferendas, oração eucarística e rito da comunhão.

Apresentação das Oferendas Apesar de conhecida como ofertório, esta parte da Missa é apenas uma

apresentação dos dons que serão ofertados junto com o Cristo durante a consagração. Devido ao fato de maioria das Missas essa parte ser cantada não podemos ver o que

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acontece durante esse momento. Conhecendo esses aspectos poderemos dar mais sentido à celebração.

Analisemos inicialmente os elementos do ofertório: o pão o vinho e a água. O que significam? De fato foram os elementos utilizados por Cristo na última ceia, mas eles possuem todo um significado especial:

1) o pão e o vinho representam a vida do homem, o que ele é, uma vez que ninguém vive sem comer nem beber;

2) representam também o que o homem faz, pois ninguém vai na roça colher pão nem na fonte buscar vinho;

3) em Cristo o pão e o vinho adquirem um novo significado, tornando-se o Corpo e o Sangue de Cristo. Como podemos ver, o que o homem é, e o que o homem faz adquirem um novo sentido em Jesus Cristo.

E a água? Durante a apresentação das oferendas, o sacerdote mergulha algumas gotas de água no vinho. E o porquê disso? Sabemos que no tempo de Jesus os judeus bebiam vinho diluído em um pouco de água, e certamente Cristo também devia fazê-lo, pois era verdadeiramente homem. Por outro lado, a água quando misturada ao vinho adquire a cor e o sabor deste. Ora, as gotas de água representam a humanidade que se transforma quando diluída em Cristo.

Os tempos da preparação das oferendas: a) Preparação do altar “Em primeiro lugar prepara-se o altar ou a mesa do Senhor, que é o centro de toda

liturgia eucarística, colocando-se nele o corporal, o purificatório, o cálice e o missal , a não ser que se prepare na credência”(IGMR 49).

b) Procissão das oferendas Neste momento, trazem-se os dons em forma de procissão. Lembrando que o pão

e o vinho representam o que é o homem e o que ele faz, esta procissão deve revestir-se do sentimento de doação, ao invés de ser apenas uma entrega da água e do vinho ao sacerdote.

c) Apresentação das oferendas a Deus O sacerdote apresenta a Deus as oferendas através da fórmula: Bendito sejais... e o

povo aclama: Bendito seja Deus para sempre! Este momento passa despercebido da maioria das pessoas devido ao canto do ofertório. O ideal seria que todo o povo participasse desse momento, sendo o canto usado apenas durante a procissão e a coleta fosse feita sem as pessoas saírem de seus locais. O canto não é proibido, mas deve procurar durar exatamente o tempo da apresentação das oferendas, para que o sacerdote não fique esperando para dar prosseguimento à celebração.

d) A coleta do ofertório Já nas sinagogas hebraicas, após a celebração da Palavra de Deus, as pessoas

costumavam deixar alguma oferta para auxiliar as pessoas pobres. E de fato, este

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momento do ofertório só tem sentido se reflete nossa atitude interior de dispormos os nossos dons em favor do próximo. Aqui, o que importa não é a quantidade, mas sim o nosso desejo de assim como Cristo, nos darmos pelo próximo. Representa o nosso desejo de aos poucos, deixarmos de celebrar a eucaristia para nos tornarmos eucaristia.

e) O lavar as mãos Após o sacerdote apresentar as oferendas ele lava suas mãos. Antigamente,

quando as pessoas traziam os elementos da celebração de suas casas, este gesto tinha caráter utilitário, pois após pegar os produtos do campo era necessário que lavasse as mãos. Hoje em dia este gesto representa a atitude, por parte do sacerdote, de tornar-se puro para celebrar dignamente a Eucaristia.

f) O Orai Irmãos... Agora o sacerdote convida toda assembléia a unir suas orações à ação de graças

do sacerdote. g) Oração sobre as Oferendas Esta oração coleta os motivos da ação de graças e lança no que segue, ou seja, a

oração eucarística. Sempre muito rica, deve ser acompanhada com muita atenção e confirmada com o nosso amém!

A Oração Eucarística É na oração eucarística em que atingimos o ponto alto da celebração. Nela,

através de Cristo que se dá por nós, mergulhamos no mistério da Santíssima Trindade, mistério da nossa salvação:

“A oração eucarística é o centro e ápice de toda celebração, é prece de ação de graças e santificação. O sacerdote convida o povo a elevar os corações ao Senhor na oração e na ação de graças e o associa à prece que dirige a Deus Pai por Jesus Cristo em nome de toda comunidade. O sentido desta oração é que toda a assembléia se una com Cristo na proclamação das maravilhas de Deus e na oblação do sacrifício” (IGMR 54).

Para melhor compreendermos a oração eucarística é necessário que tenhamos em mente as palavras: ação de graças, sacrifício e páscoa.

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A missa é ação de graças Como já foi referida anteriormente, a missa também pode ser chamada de

eucaristia, ou seja, ação de graças. E a partir da passagem do servo de Abraão pudemos ter uma noção do que é uma oração eucarística ou de ação de graças. Pois bem, esta atitude de ação de graças recebe o nome de berakah em hebraico, que se traduzindo para o grego originou três outras palavras: euloguia, que se traduz por bendizer; eucharistia, que significa gratidão pelo dom recebido de graça; e exomologuia, que significa reconhecimento ou confissão.

Diante da riqueza desses significados podemos nos perguntar: quem dá graças a quem? Ou melhor, dizendo, quem dá dons, quem dá bênçãos a quem? Diante dessa pergunta podemos perceber que Deus dá graças a sim mesmo, uma vez que sendo uma comunidade perfeita o Pai ama o Filho e se dá por ele e o Filho também se dá ao Pai, e deste amor surge o Espírito Santo. Por sua vez, Deus dá graças ao homem, uma vez que não se poupou nem de dar a si mesmo por nós e em resposta o homem dá graças a Deus, reconhecendo-se criatura e entregando-se ao amor de Deus. Ora, o homem também dá graças ao homem, através da doação ao próximo a exemplo de Deus. Também o homem dá graças à natureza, respeitando-a e tratando-a como criatura do mesmo Criador. O problema ecológico que atravessamos é, sobretudo, um problema eucarístico. A natureza também dá graças ao homem, se respeitada e amada. A natureza dá graças a Deus estando a serviço de seu criador a todo instante.

A partir desta visão da ação de graças começamos a perceber que a Missa não se reduz apenas a uma cerimônia realizada nas Igrejas, ao contrário, a celebração da Eucaristia é a vivência da ação de Deus em nós, sobretudo através da libertação que Ele nos trouxe em seu Filho Jesus. Cristo é a verdadeira e definitiva libertação e aliança, levando à plenitude a libertação do povo judeu do Egito e a aliança realizada aos pés do monte Sinai.

A missa é sacrifício

Sacrifício é uma palavra que possui a mesma raiz grega da palavra sacerdócio, que do latim temos sacer-dos, o dom sagrado. O dom sagrado do homem é a vida, pois esta vem de Deus. Por natureza o homem é um sacerdote. Perdeu esta condição por causa do pecado. Sacrifício, então, significa o que é feito sagrado. O homem torna sua vida sagrada quando reconhece que esta é dom de Deus. Jesus Cristo faz justamente isso: na condição de homem reconhece-se como criatura e se entrega totalmente ao Pai, não poupando nem sua própria vida. Jesus nesse momento está representando toda a humanidade. Através de sua morte na cruz dá a chance aos homens e às mulheres de novamente orientarem suas vidas ao Pai assumindo assim sua condição de sacerdotes e sacerdotisas.

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Com isso queremos tirar aquela visão negativa de que sacrifício é algo que representa a morte e a dor. Estas coisas são necessárias dentro do mistério da salvação, pois só assim o homem pode reconhecer sua fraqueza e sua condição de criatura.

A Missa também é Páscoa

A Páscoa foi a passagem da escravidão do Egito para a liberdade, bem como a aliança selada no monte Sinai entre Deus e o povo hebreu. E diante desses fatos o povo hebreu sempre celebrou essa passagem, através da Páscoa anual, das celebrações da Palavra aos sábados, na sinagoga e diariamente, antes de levantar-se e deitar-se, reconhecendo a experiência de Deus em suas vidas e louvando a Deus pelas experiências pascais vividas ao longo do dia. O povo judeu vivia em atitude de ação de graças, vivendo a todo instante a Páscoa em suas vidas.

E é dentro da celebração da Páscoa anual dos judeus que Jesus Cristo institui o sacramento da Eucaristia, dando o seu corpo como sinal de libertação definitiva e dando seu sangue para selar a nova e eterna aliança. Em Cristo dá-se a verdadeira páscoa, o encontro definitivo do homem com Deus.

Fazei isto em memória de mim

Cristo ao instituir a Páscoa-rito para os cristãos deixa uma ordem ao final dela: “Fazei isto em memória de mim”. Mas o que pode significar esta ordem? Pode significar o fato de que, todas as vezes que quisermos celebrar a Páscoa devemos dar graças, consagrar o pão e reparti-lo com os irmãos. Mas será que apenas foi isto que Cristo mencionou na última ceia? Durante as palavras da consagração é muito forte a idéia de doação: “Tomou o pão e o deu a seus discípulos”, “Isto é o meu corpo, isto é o meu sangue dados por vós”. A meu ver, Cristo nos chama a ser pão e vinho dado aos irmãos. Cristo nos chama a darmos o nosso corpo e o nosso sangue para, desse modo, fazermos memória a ele.

O esquema da oração eucarística segue aquele esquema referente a berakah dos judeus. Em resumo temos o seguinte:

1) O fato maravilhoso - Expresso no prefácio, relembra os benefícios, as bênçãos de Deus em nossas vidas.

2) Admiração - Sentimento que atravessa toda oração. 3) Exclamações e aclamações da assembléia ao longo da oração eucarística. 4) Proclamação ou a memória dos benefícios, através da consagração das espécies. 5) Pedidos e intercessões 6) Louvor final - Por Cristo, com Cristo, em Cristo...

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Após essas breves considerações vejamos agora como se esquematiza a oração eucarística:

a) Definição “Trata-se de uma ação de graças ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. A Igreja

rende graças a Deus Pai pelas maravilhas operadas por Cristo, no Espírito Santo. Ela louva, bendiz e agradece ao Pai. Comemora o Filho. Invoca o Espírito Santo”.

b) Prefácio Após o diálogo introdutório, o prefácio possui a função de introduzir a

assembléia na grande ação de graças que se dá a partir deste ponto. Existem inúmeros prefácios, abordando sobre os mais diversos temas: a vida dos santos, Nossa Senhora, Páscoa etc.

c) O Santo É a primeira grande aclamação da assembléia a Deus Pai em Jesus Cristo. O

correto é que seja sempre cantado. d) A invocação do Espírito Santo Através dele Cristo realizou sua ação quando presente na história e a realiza nos

tempos atuais. A Igreja nasce do espírito Santo, que transforma o pão e o vinho. A Igreja tem sua força na Eucaristia.

e) A consagração Deve ser toda acompanhada por nós. É reprovável o hábito de permanecer-se de

cabeça baixa durante esse momento. Reprovável ainda é qualquer tipo de manifestação quando o sacerdote ergue a hóstia, pois este é um momento sublime e de profunda adoração. Nesse momento o mistério do amor do Pai é renovado em nós. Cristo dá-se por nós ao Pai trazendo graças para nossos corações. Daí ser esse um momento de profundo silêncio.

f) Preces e intercessões Reconhecendo a ação de Cristo pelo Espírito Santo em nós, a Igreja pede a graça

de abrir-se a ela, tornando-se uma só unidade. Pede para que o papa e seus auxiliares sejam capazes de levar o Espírito Santo a todos. Pede pelos fiéis que já se foram e pede a graça de, a exemplo de Nossa Senhora e dos santos, os fiéis possam chegar ao Reino para todos preparados pelo Pai.

g) Doxologia Final É uma espécie de resumo de toda a oração eucarística, em que o sacerdote tendo

o Corpo e Sangue de Cristo em suas mãos louva ao Pai e toda assembléia responde com um grande “amém”, que confirma tudo aquilo que ela viveu.

Rito da Comunhão A oração eucarística representa a dimensão vertical da Missa, em que nos unimos

plenamente a Deus em Cristo. Após alcançarmos a comunhão com Deus Pai, o

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desencadeamento natural dos fatos é o encontro com os irmãos, uma vez que Cristo é único e é tudo em todos. Este é o momento horizontal da Missa. Tem também esse momento o intuito de preparar-nos ao banquete eucarístico.

a) O Pai-Nosso É o desfecho natural da oração eucarística. Uma vez que unidos a Cristo e por ele

reconciliados com Deus, nada mais oportuno do que dizer: Pai nosso... Esta oração deve ser rezada em grande exaltação, se possível cantada. Após o Pai Nosso segue o seu embolismo, ou seja, a continuação do último pensamento da oração. Segue aqui uma observação: o único local em que não dizemos “amém” ao final do Pai Nosso é na Missa, dada a continuidade da oração expressa no embolismo.

b) Oração pela paz Uma vez reconciliados em Cristo, pedimos que a paz se estenda a todas as

pessoas, presentes ou não, para que possam viver em plenitude o mistério de Cristo. Pede-se também a Paz para a Igreja, para que, desse modo, possa continuar sua missão.

c) O cumprimento da Paz É um gesto simbólico, representando nosso bem-querer ao próximo. Por ser um

gesto simbólico não há a necessidade em sair do local para cumprimentar a todos na Igreja. Se todos tivessem em mente o simbolismo expresso nesse momento não seria necessária a dispersão que o caracteriza na maioria dos casos. Também não é conveniente que se cante durante esse momento, uma vez que deveria durar pouco tempo. A música pode ficar para Missas celebradas em pequenos grupos.

d) O Cordeiro de Deus O sacerdote e a assembléia se preparam em silêncio para a comunhão. Neste

momento o padre mergulha um pedaço do pão no vinho, representando a união de Cristo presente por inteiro nas duas espécies. A seguir todos reconhecem sua pequenez diante de Cristo e como o Centurião exclamam: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo. Cristo não nos dá apenas sua palavra, mas dá-se por amor a cada um de nós.

e) A comunhão Durante esse momento a assembléia dirige-se à mesa eucarística. O canto deve

procurar ser um canto de louvor moderado, salientando a doação de Cristo por nós. A comunhão pode ser recebida nas mãos ou na boca, tendo o cuidado de, no primeiro caso, a mão que recebe a hóstia não ser a mesma que a leva a boca. Aqueles que por um motivo ou outro não comungam é importante que façam desse momento também um momento de encontro com o Cristo. Após a comunhão segue-se a ação de graças, que pode ser feita em forma de um canto de meditação ou pelo silêncio, que dentro da liturgia possui sua linguagem. O que não pode é esse momento ser esquecido ou utilizado para conversar com que está ao nosso lado.

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f) Oração após a comunhão Infelizmente criou-se o mau costume em nossas assembléias de se fazer essa

oração após os avisos, como uma espécie de convite apressado para se ir embora. Esta oração liga-se ainda a liturgia eucarística, e é o seu fechamento, pedindo a Deus as graças necessárias para se viver no dia-a-dia tudo que se manifestou perante a assembléia durante a celebração.

Ritos Finais

“O rito de encerramento da Missa consta fundamentalmente de três elementos: a saudação do sacerdote, a bênção, que em certos dias e ocasiões é enriquecida e expressa pela oração sobre o povo, ou por outra forma mais solene, e a própria despedida, em que se despede a assembléia, afim de que todos voltem ás suas atividades louvando e bendizendo o Senhor com suas boas obras” (IGMR 57).

Para muitos, este momento é um alívio, está cumprido o preceito dominical. Mas para outros, esta parte é o envio, é o início da transformação do compromisso assumido na Missa em gestos e atitudes concretas. Ouvimos a Palavra de Deus e a aceitamos em nossas vidas. Revivemos a Páscoa de Cristo, assumindo também nós esta passagem da morte para a vida e unimo-nos ao sacrifício de Cristo ao reconhecer nossa vida como dom de Deus e orientando-a em sua direção.

Sem demais delongas, este momento é o oportuno para dar-se avisos à comunidade, bem como para as últimas orientações do presidente da celebração. Após, segue-se a bênção do sacerdote e a despedida. Para alguns liturgistas, esse momento é um momento de envio, pois o sacerdote abençoa os fiéis para que estes saiam pelo mundo louvando a Deus com palavras e gestos, contribuindo assim para sua transformação. Vejamos o porquê disso.

Passando a despedida para o latim ela soa da seguinte forma: “Ite, Missa est”. Traduzindo-se para o português, soa algo como “Ide, tendes uma bênção e uma missão a cumprir”, pois em latim, missa significa missão ou demissão, como também pode significar bênção. Nesse sentido, eucaristia significa bênção, o que não deixa de ser uma realidade, já que através da doação de seu Filho, Deus abençoa toda a humanidade. De posse desta boa-graça dada pelo Pai, os cristãos são re-enviados ao mundo para que se tornem eucaristia, fonte de bênçãos para o próximo. Desse modo a Missa reassume todo seu significado.

Conclusão

O intuito maior é mostrar a Missa como algo dinâmico, que não se reduz a

apenas uma série de ritos realizados no interior da nossa Igreja; pelo contrário, através

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da Missa tornamos presentes em nós Cristo, e por nós tornamos Cristo presente no mundo. Daí ser a eucaristia fonte da Igreja.

Não poderíamos também deixar de procurar despertar a consciência para o mistério celebrado, bem como atentar com relações a gestos e posturas durante a Missa que possuem todo um significado e que enriquecem ainda mais as nossas celebrações. Que todos aqueles que tiveram a oportunidade de ler o conteúdo destas páginas possam, cada vez mais, entender o significado do “Ite, Missa est!”, e dessa forma contribuírem na concretização do Reino de Deus.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O QUE É IGMR?

Instrução Geral sobre o Missal Romano (em latim: Institutio Generalis Missalis Romani). Como o próprio nome indica, se refere a um documento, promulgado pelo papa a fim de instruir os celebrantes (bispo, padre, diácono e de um modo geral todos que se envolvem no desenvolvimento das celebrações eucarísticas) sobre como celebrar a missa no rito latino.

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ALGUMAS NOVIDADES DA IGMR (direcionadas aos que lhe dizem respeito) Aos bispos, em particular:

� O bispo pode desfrutar da opção de abençoar o povo com o Evangeliário depois da proclamação do Evangelho (175);

� É apropriado rezar pelo bispo coadjuntor e pelos bispos auxiliares, não se devem mencionar outros bispos que não estejam presentes;

� Governar a disciplina da celebração; � Estabelecer as normas para a distribuição da Santa Comunhão nas duas

espécies; � Estabelecer as normas para a construção e ordem dos templos (387); � Cuidar da organização e criação do calendário litúrgico da diocese e seu

próprio das Missas (394). Aos sacerdotes, em geral:

� O sinal da paz seja dado aos ministros ao redor do altar, mas não deve deixar o santuário;

� Somente a ele (e ao diácono) é reservada a fração do pão (durante o Hino ao Cordeiro de Deus);

� Somente a ele (e a um diácono ou acólito instituído) é permitida a purificação dos vasos sagrados durante ou após a missa;

� O Evangelho (e todas as leituras bíblicas com as preces), seja proclamado do Púlpito (ou Ambão, ou estante da Palavra), sendo permitido que se faça do altar somente quando não se tem o mesmo;

� Ante a presença do bispo, o mesmo pede a bênção para a proclamação do Evangelho, mas nunca a um outro sacerdote quando este preside;

� O sacerdote celebrante convida os fiéis a orar e conclui estas orações desde a cadeira (sede), mas não do altar;

� Exorta-se que se cante as partes da Oração Eucarística providas com música; � Permite-se a opção de elevar a hóstia sobre o cálice quando se diz : “Este é o

Cordeiro...” Ou então a hóstia sobre a patena, mas nunca sozinha, no ar; Aos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão:

� Os MESC podem ser chamados pelo sacerdote somente quando não houver número suficiente de sacerdotes ou diáconos ou acólitos instituídos;

� Aproxime-se do altar somente depois que o sacerdote tiver comungado; � Não é previsto que os ministros extraordinários purifiquem os vasos sagrados

após a Comunhão;

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Aos leitores:

� Estes têm o direito de proclamarem as leituras ainda que estejam presentes outros ministros ordenados;

� Na ausência de um diácono, o leitor, “usando sua vestimenta própria, pode levar o Evangeliário ligeiramente elevado na procissão de Entrada (194). Ao chegar no presbitério, coloca o Evangeliário sobre o altar e, depois, coloca-se no presbitério junto com os outros ministros (195)”. Portanto nunca se leva o Lecionário nesta procissão.

À assembléia:

� O documento insiste para que a assembléia tenha uniformidade nos gestos e posturas: nos momentos em que se assentarem, todos assim estejam, ao ajoelhar, façam todos igualmente;

� “Convém que cada pessoa ofereça o sinal da paz somente àqueles que estiverem próximos e de uma maneira digna” (82);

� Para o momento da consagração diz-se que todos devem se ajoelhar, inclusive o diácono. Só se reserva exceções aos que não podem fazê-lo por motivos de saúde, mas os mesmos devem fazer inclinação profunda durante a genuflexão do sacerdote;

Às equipes de celebração e canto:

� O Hino ao Cordeiro de Deus e o Hino de Louvor não devem ser substituídos por outros hinos e devem ser sempre cantados;

� A homilia nunca deve ser feita por um leigo; � As leituras, o salmo e as preces sempre sejam proclamadas do púlpito; � Que as preces apresentem-se com pedidos breves, compostos com sábia

liberdade, “pedindo pelas necessidades da comunidade inteira”(71); � Recomenda-se que promova momentos de verdadeiro silêncio: especialmente

antes da celebração, após as leituras e a homilia; � Aconselha-se contra a ausência do canto nas liturgias dos dias de semana; � Indica a preferência por se cantar as partes da Missa, referindo-se também ao

Salmo Responsorial, à profissão de fé, ao Santo e ao Kyrie; Outras questões:

� Abre mais espaço para a comunhão sob as duas espécies, com a tutela do bispo; � Retira definitivamente o cantor/animador e o comentarista do presbitério; � Que o altar seja fixo, de pedra e consagrado;

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� As flores são arrumadas de forma modesta e com moderação, ao redor, nunca sobre o altar;

� Que a cruz tenha sempre “a figura de Cristo Crucificado” (308,122); � Incentiva-se o destaque da cadeira do sacerdote celebrante (a sede) e a

conservação ou criação da capela do Santíssimo Sacramento; � Proíbe-se, em geral, a duplicação de imagens do mesmo santo na igreja; � Afirma-se que tudo o que é destinado para o uso da liturgia deve receber a

bênção necessária. Cabe-nos agora esperar que sejam aprovadas as sugestões dos liturgistas do Brasil

para que a tradução brasileira do Missal Romano venha com mais abertura e possibilidades de adaptações, destas e de outras normas, à nossa realidade. Infelizmente a primeira impressão que temos é de um fechamento quanto à liberdade criativa de nossas equipes, principalmente no que se refere à inculturação; mas quem viver, verá se desta vez conquistaremos uma liturgia que tenha a nossa cara, sem perder de vista a bela tradição que nos une aos demais cristãos no mundo e à herança dos Apóstolos.

A LITURGIA E SUA RENOVAÇÃO

Texto extraído do ad limina do Papa João Paulo II em 1998 para os bispos americanos do Alaska, Idaho, Montana, Oregon e Washington.

Olhando no passado, no que tem sido feito no campo de renovação da liturgia durante os anos desde o Vaticano II, vemos muitas razões para agradecer e louvar de coração a Santíssima Trindade pela consciência maravilhosa que tem se desenvolvido entre os fiéis sobre a função e responsabilidade deles nesta obra sacerdotal de Cristo e de Sua Igreja. Porém, nós também percebemos que nem todas as mudanças foram sempre e em todo lugar acompanhadas pela explanação e catequese necessárias. Como resultado, em alguns casos houve um mal-entendido a respeito da natureza da liturgia, levando a abusos, polarização, e algumas vezes até mesmo escândalos graves. Depois de uma prática de mais de 30 anos de renovação litúrgica, estamos bem situados para avaliarmos ambos, os pontos fortes e os pontos fracos do que tem sido feito, para poder mais confiantemente esquematizar nossa trajetória no futuro que Deus tem em mente para Seu povo amado.

O desafio agora é mover para além de quaisquer mal-entendidos que tenham havido e alcançar o ponto correto de equilíbrio, especialmente entrando mais profundamente na dimensão contemplativa da cerimônia, que inclui o senso de respeito, reverência e adoração que são atitudes fundamentais em nosso relacionamento com Deus. Isto acontecerá somente se reconhecermos que a liturgia

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tem dimensões ambas locais e universais, limitadas no tempo e eternas, horizontal e vertical, subjetiva e objetiva. São precisamente estas tensões que dão à cerimônia católica seu caráter distintivo.

A Igreja Universal está unida em um grande ato de louvor, mas é sempre o ofício de uma comunidade particular numa cultura particular. É a cerimônia eterna do céu, mas está também impregnada no tempo. Ela reúne e constrói uma comunidade humana, mas é também a adoração da majestade divina. Ela é subjetiva no que depende radicalmente daquilo que os participantes trazem consigo, mas é objetiva no que os transcende como o ato sacerdotal do próprio Cristo, ao qual Ele nos une, mas que por fim não depende de nós. É por isto que é tão importante que a lei litúrgica seja respeitada. O sacerdote, que é o servo da liturgia, não seu inventor ou produtor, tem uma responsabilidade particular a este respeito a fim de que ele não esvazie a liturgia de seu significado verdadeiro ou obscureça seu caráter sagrado.

O centro do mistério do rito cristão é o sacrifício de Cristo sendo oferecido ao Pai e a obra do Cristo ressuscitado que santifica Seu povo pelos símbolos litúrgicos. É, portanto essencial que ao procurar entrar mais profundamente nas profundezas contemplativas da cerimônia, o mistério inesgotável do sacerdócio de Jesus Cristo seja inteiramente reconhecido e respeitado.

Enquanto todos os batizados participam do sacerdócio de Cristo, nem todos participam da mesma maneira. O sacerdócio ministerial, enraizado na sucessão apostólica, confere aos sacerdotes ordenados, faculdades e responsabilidades que são diferentes daqueles dos leigos, mas que estão ao serviço do sacerdócio comum e são direcionados ao desdobramento da graça batismal de todos os cristãos. O sacerdote então não é somente aquele que preside, mas aquele que age na pessoa de Cristo.

Somente sendo radicalmente fiel a esta base doutrinal é que podemos evitar interpretações unilaterais e unidimensionais dos ensinos do Concílio. A participação de todos os batizados no sacerdócio de Jesus Cristo é a chave para compreender o chamado do Concílio para "participação ativa, consciente e total" na liturgia. Participação total certamente significa que cada membro da comunidade tem uma parte a fazer na liturgia; e a este respeito bastante tem sido alcançado nas paróquias e comunidades por todo o vosso país. Mas participação total não significa que todos façam tudo, pois isto levaria ao clericato dos leigos e ao laicismo do sacerdócio e isto não é o que o Concilio tinha em mente. A liturgia, como a Igreja, é destinada a ser hierárquica e polifônica, respeitando as diferentes funções outorgadas por Cristo e permitindo que todas as diferentes vozes se misturem em um grande hino de louvor.

Participação ativa certamente significa que em gestos, palavras, cânticos, e serviço todos os membros da comunidade participem no ato de adoração que é tudo,

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menos inerte ou passivo. Ainda assim, participação ativa não previne a passividade ativa do silêncio, quietude, e escuta: na verdade, ela o exige. Os participantes não são passivos, por exemplo, quando ouvem as leituras ou a homilia, ou as orações do celebrante que se seguem e os cantos e músicas da liturgia. Estas são experiências de silêncio e quietude, mas elas são a seu modo profundamente ativas. Numa cultura que nem favorece nem encoraja o silêncio meditativo, a arte de escuta interior é aprendida somente com dificuldade. Aqui nós vemos o quanto a liturgia, embora deva ser sempre inculturada apropriadamente, deve também ser contra-cultural.

Participação consciente exige que a comunidade inteira seja instruída devidamente nos mistérios da liturgia, a fim de que a prática do ofício não se degenere em uma forma de ritualismo. Mas isto não significa uma tentativa constante dentro da própria liturgia de tornar o implícito explícito, pois isto normalmente leva a uma verbosidade e informalidade que não pertencem ao rito romano e terminam por trivializar o ato de adoração.

O uso do vernáculo certamente abriu os tesouros da liturgia a todos o que tomam parte nela, mas isto não significa que o latim - e especialmente os cânticos, que são tão incrivelmente adaptados ao gênio do rito romano - devam ser completamente abandonados. Se a prática subconsciente é ignorada no serviço, um vácuo afetivo e devocional é criado, e a liturgia pode se tornar não só muito verbal, mas também muito cerebral. No entanto, o rito romano é novamente distinto no equilíbrio que ele alcança entre a disponibilização e a riqueza da emoção: alimenta o coração e a mente, o corpo e a alma.

Tem sido escrito com bastante razão que na história da Igreja toda renovação verdadeira tem sido associada a uma releitura dos Pais da Igreja. E o que é verdade em geral, é verdade a respeito da liturgia em particular. Os Pais eram pastores com um zelo ardente pela tarefa de propagação do Evangelho; e, portanto eles estavam profundamente interessados em todas as dimensões da cerimônia, deixando-nos alguns dos mais significativos e permanentes textos da tradição cristã, que são tudo, menos o resultado de um esteticismo árido.

Os Pais eram pregadores ardentes, e é difícil imaginar que pudesse haver uma renovação eficaz da pregação católica, como desejava o Concílio, sem uma familiaridade suficiente com a tradição patrística. O Concílio promoveu uma mudança no modo homilético de pregação que exporia, como os Pais, o texto bíblico de uma forma que abre suas riquezas inesgotáveis aos fiéis.

A importância que a pregação assumiu na cerimônia católica desde o Concílio significa que os padres e diáconos devem ser treinados a fazer bom uso da Bíblia. Mas isto também envolve familiaridade com toda a tradição patrística, teológica e moral

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bem como o conhecimento penetrante de suas comunidades e da sociedade em geral. Senão, a impressão que é dada é de um ensinamento sem raízes, sem aplicação universal inerente na mensagem do Evangelho. A síntese excelente da riqueza doutrinária da Igreja contida no Catecismo da Igreja Católica ainda tem que ser experimentada mais amplamente como uma influência na pregação católica.

É essencial ter claramente em mente que a liturgia está intimamente ligada à missão da Igreja de evangelizar. Se os dois não andarem lado a lado, ambos falharão. De certa forma se as evoluções na renovação litúrgica são superficiais ou desbalanceadas, nossas energias para uma nova evangelização estarão comprometidas; e até certo ponto, se nossa visão da nova evangelização é insuficiente, nossa renovação litúrgica será reduzida a uma adaptação externa e possivelmente doentia.

O rito romano tem sempre sido uma forma de rito que olha para a missão. É por isto que é comparativamente breve: havia muito a ser feito fora da Igreja, e é por isto que temos a dispensa "Ite missa est", que nos dá o termo da Missa: a comunidade é enviada a evangelizar o mundo em obediência ao mandamento de Cristo (cf. Mt. 28, 19-20).

Os jovens irão continuar a ter uma parte ativa na liturgia se eles a vivenciarem como sendo capaz de liderá-los a um relacionamento pessoal mais profundo com Deus, e é desta experiência que virão vocações sacerdotais e religiosas marcadas por uma energia verdadeiramente evangélica e missionária. Neste sentido, os jovens estão convocando o mundo todo a darem o próximo passo em implementar a visão do serviço litúrgico que o Concílio nos legou. Aliviados pela agenda ideológica de uma época anterior, eles são capazes de falar simplesmente e diretamente do seu desejo de experimentar Deus, especialmente em oração pública ou particular. Ouvindo-os, nós podemos muito bem ouvir "o que o Espírito está dizendo às igrejas" (Ap 2, 11).

No âmago de nossa experiência de peregrinação está nossa jornada de pecadores dentro das profundezas impenetráveis da liturgia da Igreja, a liturgia da criação, a liturgia do céu - todas que são no final a liturgia de Jesus Cristo, o sacerdote eterno, no qual a Igreja e toda a criação são atraídos na vida da Santíssima Trindade, nosso verdadeiro lar. Este é o propósito de todo nosso serviço religioso e toda nossa evangelização.

Papa João Paulo II

Page 67: Apostila do curso de liturgia

PARÓQUIA NOSSA SENHORA APARECIDA e SÃO LOURENÇO “Em obediência à vossa palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5b)

“Agradeço vosso amor, vossa verdade, porque fizestes

muito mais que prometestes” (cf. Sl 137, 2b)

Queridos Amigos, Nesta caminhada rumo ao Sacerdócio - já finalizado os estudos teológicos -, gostaria de poder contar com as vossas orações para a consolidação da minha vocação e a de meus irmãos:

Oração Vocacional

Senhor da Messe e Pastor do rebanho, faze ressoar em nossos ouvidos teu forte e suave convite: "Vem e Segue-me"!

Derrama sobre nós o teu Espírito, que Ele nos dê sabedoria para ver o caminho e generosidade para seguir tua voz. Senhor, que a Messe não se perca por falta de operários.

Desperta nossas comunidades para a Missão. Ensina nossa vida a ser serviço. Fortalece os que desejam dedicar-se ao

Reino na diversidade dos ministérios e carismas. Senhor, que o Rebanho não pereça por falta de Pastores. Sustenta a fidelidade de nossos bispos, padres, diáconos,

religiosos, religiosas e ministros leigos e leigas. Dá perseverança a todos os vocacionados. Desperta o coração de

nossos jovens para o ministério pastoral da Igreja. Senhor da Messe e Pastor do Rebanho, chama-nos para o

serviço do teu povo. Maria, Mãe da Igreja, modelo dos servidores do Evangelho,

ajuda-nos a responder sim. Amém!

Que Deus derrame graças abundantes sobre vós e vossos

familiares. Um abraço!

Diácono Fausto dos Santos Oliveira

Organizador