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1 UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DIREITO DE EMPRESA Prof.º: Carlos Rubens Ferreira APOSTILA DE DIREITO EMPRESARIAL PRIMEIRO MÓDULO

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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS DIREITO DE EMPRESA Prof.º: Carlos Rubens Ferreira

APOSTILA DE DIREITO EMPRESARIAL

PRIMEIRO MÓDULO

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DIREITO DE EMPRESA

I) ORIGEM DO DIREITO COMERCIAL 1) O direito comercial como disciplina histórica dos comerciantes (conceito subjetivo) 2) O direito comercial como disciplina dos atos de comércio (conceito objetivo) 3) O direito comercial como o direito das empresas (conceito subjetivo moderno)

II) FONTES DO DIREITO COMERCIAL 1) Fontes primárias: é a fonte primeira ou fonte principal, como expressão genérica da ordem jurídica. - Constituição; - Código Comercial, na parte não revogada; - Código Civil de 2002; - Leis extravagantes, tratados e convenções internacionais; - Normas regulamentadoras provindas do Estado. 2) Fontes secundárias: art. 4°, LICC e art. 126, CPC. a) Analogia (art. 7° da LICC): aplicam-se nos casos omissos, as disposições concernentes aos casos análo-gos, e, não as havendo, os princípios gerais de direito. - Analogia legis: acontece quando uma regra já existente no sistema aplica-se a uma hipótese essencialmente idêntica; - Analogia juris: ocorre quando não havendo norma similar, socorre-se a um complexo ou síntese de princípios jurídicos que seja consonante com a situação não prevista no ordenamen-to jurídico. b) Costumes: > Requisitos de aplicabilidade: - Continuidade - Uniformidade - Conformidade legal - Assentamento (Lei 8934/94 art. 32, III, ―E‖. Dec. 1800/96, art. 87) Obs.: art. 337, CPC – A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, pro-var-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz.

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c) Princípios gerais de direito1: Estão no sistema jurídico e são descobertos pela analogia júris. Não geram normas; apenas revelam normação implícita, mediante invocação das idéias superiores reitoras do ordena-mento (W. F. Júnior, p 43).

III) EVOLUÇÃO HISTÓRICO-LEGISLATIVA DOS ATOS DE COMÉRCIO

IV) TEORIA DA EMPRESA (Sugestão de texto: NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. v. 1. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 39-

58)

1) Formação do conceito de empresa 2) Conceito jurídico de empresa:

a) Perfil subjetivo: é definido como o sujeito (pessoa física ou jurídica) que, em nome próprio, exerce atividade econômica organizada, com o fim de operar para o mercado e não para consumo próprio, de forma profissional, isto é, não ocasionalmente.

b) Perfil funcional: de acordo com este perfil a empresa aparece como aquela força em movimento que é atividade empresarial dirigida para um determinado escopo produtivo.

c) Perfil objetivo: trata-se do estabelecimento empresarial, também denominado azienda ou fundo aziendal, definido como complexo de bens móveis e imóveis, corpóreos e incorpóreos, utilizado pelo empresário para o exercício de sua atividade empresarial.

Conceito: Empresa é atividade econômica organizada de produção e circulação de bens e serviços para o mercado, exercida pelo empresário, em caráter profissional, através de um complexo de bens (W. Bulgarelli, in Ricardo Negrão).

3) Aspecto subjetivo – o empresário

1 Na área civil: - Ninguém deve descumprir a lei alegando que não a conhece; - Nas declarações de vontade

deverá ser mais considerada a intenção do que o sentido literal da linguagem; - O enriquecimento ilícito deve

ser proibido; - Ninguém deve transferir ou transmitir mais direitos do que tem; - A boa-fé se deve presumir e a

má-fé deve ser provada; - Deve ser preservada a autonomia da instituição familiar; - O dano causado por dolo

ou culpa deve ser reparado; - As obrigações contraídas devem ser cumpridas (pacta sunt servanda); - Quem

exercitar o próprio direito não estará prejudicando ninguém; - Deve haver equilíbrio nos contratos, com res-

peito à autonomia da vontade e da liberdade para contratar; - Os valores essenciais da pessoa humana são in-

tangíveis e devem ser respeitados; - A interpretação a ser seguida é aquela que se revelar menos onerosa para o

devedor; - A pessoa deve responder pelos próprios atos e não pelos atos alheios; - Deve ser mais favorecido

aquele que procura evitar um dano do que aquele que busca realizar um ganho; - Ninguém deve ser responsa-

bilizado mais de uma vez pelo mesmo fato; - Nas relações sociais se deve tutelar a boa-fé e reprimir a má-fé;

etc. (Wladimir Flávio Luiz Braga. Disponível em:

<www.fdc.br/Artigos/..%5CArquivos%5CArtigos%5C14%5CPrincipiosGeraisDireito.pdf >

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3.1 Exercício de atividades empresariais

ESPÉCIE DE EMPRESÁRIOS

INDIVIDUAL COLETIVO

Empresário individual (art. 966) Sociedade Empresária (art. 983)

3.1.2. Exercício de atividades não empresariais

INDIVIDUAL ATIVIDADE COLETIVA

Profissional (autônomo): atividades não empresariais, tais como: intelectuais, científicas, literárias ou artísticas.

- Associações – sem fins econômicos (art. 53); - Fundações – de fins religiosos, morais, culturais e de assistência (art. 62); - Sociedade simples – atividade lucrativa não empresária (arts. 982 e 997 e 1.038)

Fonte: Adaptado apartir de Ricardo NEGRÃO. op. cit. p. 49.

3.2 Condições para o exercício da atividade empresarial - Art. 972: Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.

3.2.1. A quetão da capacidade

Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. § 1º Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circuns-tâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, poden-do a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros. § 2º Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, de-vendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização. (C. Civil)

3.2.2. Sociedade entre cônjuges

Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória. (C. Civil)

3.3 Pessoas impedidas de exercer a atividade

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a) Agentes políticos

- Membros do Ministério Público: art. 128, § 5°, ―c‖, CF/88 e art. 44, III, Lei 8.625/93. Art. 44. Aos membros do Ministério Público se aplicam as seguintes vedações: I - receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processu-ais; II - exercer advocacia; III - exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, exceto como cotista ou acio-nista;

- Magistrados: Lei Orgânica da Magistratura – LC n.° 35/79, art. 36, I. Art. 36 - É vedado ao magistrado: I - exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, inclusive de economia mista, exceto como acionista ou quotista; II - exercer cargo de direção ou técnico de sociedade civil, associação ou fundação, de qualquer na-tureza ou finalidade, salvo de associação de classe, e sem remuneração; III - manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamen-to, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistério. Parágrafo único - (Vetado.)

- Deputados e Senadores: art. 54, I, ―a‖ e II, ―a‖, CF/88

Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão: I - desde a expedição do diploma: a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, so-ciedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes2; b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior; II - desde a posse: a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada;

- Deputados Estaduais e Vereadores: art. 29, IX, CF/88 – Constituição do Estado de Goiás de 1989, art. 13, II, ―a‖.

Art. 13 - O Deputado Estadual não poderá:

2 1. o entendimento do que são as "cláusulas uniformes", sendo aquelas que se estabelecem indistintamente a todos os cida-

dãos, os chamados "contratos de adesão", aonde não se transige na prestação do serviço e no seu preço, aderindo às condições do contrato, tais como: fornecimento de telefone, luz, água, contrato de transporte, seguros, serviços bancários, etc. 2. tem-se ainda que é controvertida a conceituação doutrinária destas "cláusulas uniformes", sendo que a submissão aos princípios e preceitos estabelecidos no certame licitatório permite, a partir disto, a discussão teorética de que se considerem como obediên-cia a cláusulas uniformes quando o edil participa de um processo de licitação com a estrita submissão ao que prevê a Lei nº 8.666/93, o que não é manso doutrinariamente; MIRANDA, Paulo Rogério Pereira. Impedimentos e incompatibilidades no exercício da vereança. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4549>. Acesso em: 18 fev. 2008.

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I - a partir da expedição do diploma: a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, so-ciedade de economia mista ou com concessionário de serviço público, salvo quando o contrato obe-decer a cláusulas uniformes; b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que seja demissível "ad nutum", nas entidades constantes da alínea anterior; II - desde a posse: a) ser proprietário, controlador ou diretor de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada; b) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I, alínea "a"; c) ser titular de mais de um cargo ou mandato público eletivo.

- Membros do Executivo: art. 37, CF/88

b) Servidores Públicos

- Lei 8.112/90, art. 117, inc. X (Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Federais).

Art. 117. Ao servidor é proibido: (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) X - participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, salvo a parti-cipação nos conselhos de administração e fiscal de empresas ou entidades em que a União detenha, direta ou indiretamente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa constituída para prestar serviços a seus membros, e exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário; (Redação dada pela Lei nº 11.094, de 2005).

- Lei Antitruste, n.° 8.884/94, art. 6°, III.

Art. 6º Ao Presidente e aos Conselheiros é vedado: I - receber, a qualquer título, e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas; II - exercer profissão liberal; III - participar, na forma de controlador, diretor, administrador, gerente, preposto ou manda-tário, de sociedade civil, comercial ou empresas de qualquer espécie; IV - emitir parecer sobre matéria de sua especialização, ainda que em tese, ou funcionar como consul-tor de qualquer tipo de empresa; V - manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos, em obras técnicas ou no exercício do magistério; VI - exercer atividade político-partidária.

c) Falidos (Lei n.° 11.101/2005, arts. 102 e 181, I)

Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1o do art. 181 desta Lei. Art. 181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei: I – a inabilitação para o exercício de atividade empresarial;

d) Penalmente proibidos (CP, art. 47 e 56). Atividade que exige habilitação especial, licença ou autorização do poder público.

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Interdição temporária de direitos Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são: I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação es-pecial, de licença ou autorização do poder público; III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo. IV - proibição de freqüentar determinados lugares. Penas restritivas de direitos Art. 56 - As penas de interdição, previstas nos incisos I e II do art. 47 deste Código, aplicam-se para todo o crime cometido no exercício de profissão, atividade, ofício, cargo ou função, sempre que hou-ver violação dos deveres que lhes são inerentes.

- Exemplos.: atividade securitária (Lein.° 4.594/64); atividade financeira (Lei n.° 4.595/64); serviços de vigilância e de transportes de valores (Lei n.° 7.102/83)

e) Estrangeiros

- CF/88, arts. 176, § 1° e 222.

Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráuli-ca constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e per-tencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra. § 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 6, de 1995) Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é pri-vativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) § 1º Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante das empre-sas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta ou indireta-mente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) § 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação veiculada são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, em qualquer meio de comunica-ção social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) § 3º Os meios de comunicação social eletrônica, independentemente da tecnologia utilizada para a prestação do serviço, deverão observar os princípios enunciados no art. 221, na forma de lei especí-fica, que também garantirá a prioridade de profissionais brasileiros na execução de produções nacio-nais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) § 4º Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas empresas de que trata o § 1º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) § 5º As alterações de controle societário das empresas de que trata o § 1º serão comunicadas ao Congresso Nacional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002)

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- Turista – Lei n.° 6.815/80, arts. 98 e 99

Art. 98. Ao estrangeiro que se encontra no Brasil ao amparo de visto de turista, de trânsito ou tem-porário de que trata o artigo 13, item IV, bem como aos dependentes de titulares de quaisquer vistos temporários é vedado o exercício de atividade remunerada. Ao titular de visto temporário de que trata o artigo 13, item VI, é vedado o exercício de atividade remunerada por fonte brasileira. Art. 99. Ao estrangeiro titular de visto temporário e ao que se encontre no Brasil na condição do ar-tigo 21, § 1°, é vedado estabelecer-se com firma individual, ou exercer cargo ou função de administrador, gerente ou diretor de sociedade comercial ou civil, bem como inscrever-se em entidade fiscalizadora do exercício de profissão regulamentada.

f) Militares: Código Militar, Decreto-lei nº 1.001, de 21 de outubro de 1969.

Art. 204. Comerciar o oficial da ativa, ou tomar parte na administração ou gerência de socie-dade comercial, ou dela ser sócio ou participar, exceto como acionista ou cotista em sociedade anônima, ou por cotas de responsabilidade limitada: Pena - suspensão do exercício do posto, de seis meses a dois anos, ou reforma. Em relação às cooperativas: Art. 47. A sociedade será administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administração, composto exclusivamente de associados eleitos pela Assembléia Geral, com mandato nunca superior a 4 (quatro) anos, sendo obrigatória a renovação de, no mínimo, 1/3 (um terço) do Conselho de Admi-nistração. (Lei 5.764/71)

- Obs.: No Código Militar não há vedação para a administração de cooperativas. Por sua vez, as coope-rativas não admitem administradores diversos dos cooperados, a não ser na condição de gerente, submisso à administração.

V. OBRIGAÇÕES COMUNS AOS EMPRESÁRIOS 1) Registrar-se na Junta Comercial antes de dar início à exploração de sua atividade (Art. 967, C. Civil); 2) Manter escrituração regular de seus negócios (Dec.-Lei n.° 486/69) 3) Levantar demonstrações contábeis periódicas (Art. 1179, C. Civil)

1. REGISTRO DE EMPRESA a) Toda e qualquer sociedade empresária, independentemente de seu objeto, deve ser inscrita na Junta Comercial do Estado em que está sediada, por força da Lei de Registro de Empresas Mercantis e atividades afins (Lei n0 8.934/94 e Decreto n.° 1.800/96) e, consoante o novo Código Civil (art. 1.150);

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b) As sociedades simples devem ser inscritas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de soci-edade empresária. Obs.: as sociedades adquirem personalidade com o registro de seus atos constitutivos no órgão com-petente, devendo-se atentar para o fato de que também as sociedades empresárias estão disciplinadas, neste particular, pelo novo Código Civil, artigo 985. 1.1. ÓRGÃOS DO REGISTRO DE EMPRESAS Os serviços do registro serão exercidos em todo o território nacional de maneira uniforme, harmôni-ca e interdependente pelo SINREM - Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis. Este órgão administrativo, de natureza híbrida (órgão federal e órgão estadual), é composto pelo Departamento Nacional do Registro do Comércio —DNRC e pelas Juntas Comerciais. - Sua estrutura esta delineada na Lei n.° 8.934, de 18.11.94 e seu regulamento, o Decreto n.° 1800, de 30.01.96. 1.1.1. Principais Atribuições do DNRC: a) Coordenar a execução do registro do comércio - expedição de normas e instruções necessá-rias, dirigidas às Juntas Comerciais de todo o país e demais autoridades delegadas. Exemplos: baixar instruções normativas relacionadas com o nome do registro comercial; alteração de contrato social por deliberação de maioria societária. b)Promover a correição dos órgãos - corrigir falhas existentes nos serviços prestados pelos órgãos de execução do registro do comércio. Em regra, as JC têm plena autonomia na esfera de sua compe-tência. Entretanto, o DNRC pode decretar a intervenção correcional no órgão, com vistas a sanar a irregularidade dos serviços. c) Organizar o Cadastro Geral dos Comerciantes - esse cadastro não tem efeitos notariais; não registra o comerciante para os fins de regularidade do exercício do comércio; é um banco de dados para fins estatísticos, servindo de subsídio à política governamental voltada para o comércio, poden-do sugerir ao chefe do executivo federal a elaboração de projeto de lei concernente a uso mercantil de caráter nacional, além da adoção de medidas pertinentes ao registro do comercio. Portanto, tem-se que o DNRC: 1. não executa qualquer ato notarial de registro do comércio; 2. não registra comerciante; 3. não arquiva contrato social; 4. não matricula armazéns. Competindo-lhe, porém, fixar as diretrizes gerais para a prática desses atos pelas Juntas Comerciais, acompanhando a sua aplicação e corrigindo eventuais falhas. 1.1.2. Principais Atribuições da Junta Comercial:

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Cumpre aduzir, inicialmente, que se trata de órgão da administração estadual, cabendo-lhe a execu-ção do registro de empresas mercantis, além de outras atribuições legais, como as que se seguem: a) Assentamento dos usos e práticas mercantis: o comércio rege-se por normas consuetudinárias cuja compilação cabe às JC proceder. b) Funciona, também, como órgão profissional de diversas categorias paracomerciais, como os tradutores públicos, intérpretes comercias, leiloeiros, avaliadores comerciais, corretores de merca-dorias, representantes comerciais. Nestes casos, cabe à JC lixar o número, habilitar, nomear, exercer o poder disciplinar, fixar a tabela de honorários, comissões ou emolumentos dessas categorias profis-sionais, bem como de seus prepostos e fiéis. c) Fiscalizar os armazéns gerais, de depósitos e os trapicheiros (armazéns portuários). Nesta hipótese, a JC atua de forma diferente, não mais como órgão de classe dessas categorias de comerci-antes, mas em tutela dos interesses gerais do comércio voltados à atividade de armazenagem de mercadorias. d) Expedir a carteira de exercício profissional de comerciante e demais categorias as quais cabe promover o registro. Observacões: A JC, no exercício de suas funções notariais, está adstrita aos aspectos exclusivamente formais dos docu-mentos que lhe são dirigidos para registro, só podendo, assim, negar a prática de ato notarial com base em vício de forma. Acresça-se, ainda, que a subordinação hierárquica da Junta Comercial é híbrida, isto é: a) Em se tratando de direito comercial - matéria técnica do registro do comércio: a JC deve se reportar ao DNRC. E este órgão não pode interferir com as questões próprias do funcionalismo ou da dotação orçamentária para a JC. b) Em direito administrativo - matéria administrativa: cabe ao Poder Executivo Estadual a que a JC pertença, donde se infere que o Governador do Estado não pode expedir regulamento referente ao registro de sociedade comercial, já que matéria atinente ao DNRC. 1.1.3. Atos do Registro De Empresas A Lei de Registro Mercantil (Lei n.° 98.934/94, art. 32) prevê o registro dos seguintes atos: a) Matrícula - diz respeito aos leiloeiros, corretores de mercadorias e de navios, trapicheiros, admi-nistradores de armazéns de depósito de mercadorias ou empresas de armazéns gerais. b) Arquivamento - refere-se aos atos constitutivos das sociedades comerciais, sua transformação, fusão, cisão ou incorporação, dissolução e liquidação, além do contrato antenupcial do comerciante e outros (cooperativas). c) Autenticação - reservada para os instrumentos de escrituração das empresas mercantis registra-das e dos agentes auxiliares do comércio, na forma de lei própria.

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1. 2. DA INSCRIÇÃO Obs: o termo inscrição foi adotado pelo novo Código Civil e refere-se aos atos constitutivos da em-presa no órgão competente, no caso, o Registro Público de Empresas Mercantis. Enfim, é uma das modalidades de registro, enquadrando-se nos atos de arquivamento. a) Obrigatoriedade: ―É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade‖ (Art. 967, C. Civil). b) Disciplinamento sobre o registro de sociedades: - O registro dos atos sujeitos a esta formalidade será requerido pela pessoa obrigada em lei, e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou qualquer interessado, sob pena de responderem por per-das e danos, em caso de omissão ou demora (novo Código Civil, ad. 1.151). - Na mesma linha adotada pelo Registro Mercantil, os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos (Art. 998, C. Ci-vil). Requerido além do prazo previsto, o registro somente produzirá efeito a partir da data de sua concessão (Art. 36, Lei n.° 8.934/94). c) A personalidade jurídica como resultado da inscrição - ―A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma de lei, dos seus atos cons-titutivos‖ (Art. 985, C. Civil) 1.2.1. Resultado da Personificação Jurídica da Sociedade a) Titularidade jurídica negocial – quando um sócio atua, representando uma sociedade empresá-ria, é esta quem celebra negócios jurídicos, já que sujeito de direito autônomo, quer dizer, pessoa; b) Titularidade jurídica processual – a pessoa jurídica é capaz de titularizar, ativa e passivamente, ações em juízo; pode ser parte em sentido processual (Art. 12, CPC, VI); c) Titularidade jurídica patrimonial – dotada de patrimônio próprio e inconfundível com os dos sócios, a sociedade responde, com ele, pelas obrigações que assumir. 1.2.2. Consequências da Falta de Inscrição: Uma das sanções impostas à sociedade empresária irregular é a ilimitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações da sociedade (novo Código Civil, art. 990), quando esta prever a limitação da responsabilidade do sócio. AO LADO DESSA PRINCIPAL SANÇÃO HÁ, AINDA: a) A ausência de legitimidade ativa para o pedido de falência (Lei 11.101/05, art. 98):

Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:

I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;

II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;

III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade;

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IV – qualquer credor.

§ 1º O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas que compro-

ve a regularidade de suas atividades.

b) A ausência de legitimidade ativa para requerer recuperação judicial ou extrajudicial (Lei

11.101/05, art. 98):

Art. 198. Os devedores proibidos de requerer concordata nos termos da legislação específica em

vigor na data da publicação desta Lei ficam proibidos de requerer recuperação judicial ou extra-

judicial nos termos desta Lei.

c) A ausência de eficácia probatória de seus livros comerciais, ante à falta de autenticação do Registro Mercantil (CPC, art. 379); d) Por fim, caso de venha a ser decretada falência do empresário ou da sociedade empresária não registrada, será esta necessariamente fraudulenta, com o cometimento de crime falimentar, conforme Lei 11.101/05, art. 178:

Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a

falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os

documentos de escrituração contábil obrigatórios:

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.

OUTROS EFEITOS: a) Impossibilidade de participar de licitações, nas modalidades de concorrência pública e tomada de preços, na forma da Lei n.° 8.666/93, art. 28, II e III. b) Impossibilidade de inscrição em cadastros fiscais - CNPJ, incorrendo em sanção pelo descumpri-mento dessa obrigação acessória. c) Ausência de matricula junto ao INSS - que em relação ao comerciante é processada simultanea-mente à inscrição no registro no comércio - o que o sujeita à pena de multa, conforme Lei 8.212/91, art. 49, I; d) Impossibilidade de contratar com o Poder Público, por força do art. 195, §3° da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. e) Não existindo perante os órgãos fiscais não poderá emitir nota fiscal; f) Vendendo sem nota fiscal incorre em crime de sonegação fiscal. 1.3. Empresário rural e pequeno empresário 1.3.1. Empresário rural (art. 971 e 984, C. Civil): inscrição opcional na Junta Comercial a) Se optar pela inscrição na JC considerar-se-á empresário para todos os efeitos:

- Deverá manter escrituração regular - Levantar balanços periódicos

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- Poderá impetrar concordata e sofrer falência

b) Se não requerer a inscrição no Registro de Empresas Mercantis, não será considerado juridica-mente empresário submetendo-se ao regime civil. 1.3.2. Pequeno empresário - Art. 970, C.Civil: ―A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes”. OBSERVAÇÕES: A LEI COMPLEMENTAR N. 123/2006 TROUXE O SEGUINTE TRATAMENTO FAVORECIDO, DIFERENCIADO E SIMPLICADO À ME E EPP: Art. 9º O registro dos atos constitutivos, de suas alterações e extinções (baixas), referentes a empre-sários e pessoas jurídicas em qualquer órgão envolvido no registro empresarial e na abertura da em-presa, dos 3 (três) âmbitos de governo, ocorrerá independentemente da regularidade de obrigações tributárias, previdenciárias ou trabalhistas, principais ou acessórias, do empresário, da sociedade, dos sócios, dos administradores ou de empresas de que participem, sem prejuízo das responsabilidades do empresário, dos sócios ou dos administradores por tais obrigações, apuradas antes ou após o ato de extinção. § 1º O arquivamento, nos órgãos de registro, dos atos constitutivos de empresários, de sociedades empresárias e de demais equiparados que se enquadrarem como microempresa ou empresa de pe-queno porte bem como o arquivamento de suas alterações são dispensados das seguintes exigências: I – certidão de inexistência de condenação criminal, que será substituída por declaração do titular ou administrador, firmada sob as penas da lei, de não estar impedido de exercer atividade mercantil ou a administração de sociedade, em virtude de condenação criminal; II – prova de quitação, regularidade ou inexistência de débito referente a tributo ou contribuição de qualquer natureza. § 2º Não se aplica às microempresas e às empresas de pequeno porte o disposto no § 2º do art. 1º da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994. 1.3.3 Inatividade da empresa (Art. 60, Lei n.° 8.934/94) - Determina a norma que a firma individual ou a sociedade que não proceder a qualquer arquivamento no período de 10 (dez) anos consecutivos deverá comunicar à Junta Comercial que deseja manter-se em funcionamento. - A ausência de comunicação implica no cancelamento do registro, com perda automática da prote-ção ao nome empresarial. A partir daí a empresa será considerada irregular.

2. ESCRITURAÇÃO 2.1. O pequeno empresário (art. 1179, § 2°, C. Civil). Com a Lei Complementar n. 123/2006:

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Art. 68. Considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação do disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, o empresário individual caracterizado como micro-empresa na forma desta Lei Complementar que aufira receita bruta anual de até R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais). - O §2º do art. 1.179, CC dispensou o pequeno empresário da obrigação de ―...seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em corres-pondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente balanço patrimonial e o resulta-do econômico‖. 2.2. Funções da escrituração a) Gerencial: Funciona como instrumento à tomada de decisões administrativas, financeiras e co-merciais; b) Documental: Serve como suporte para as informações do interesse de terceiros e desta forma deve ser feita com critérios uniformes (Art. 2°, Dec.-Lei n.° 486/69); c) Fiscal: Utilizada para a fiscalização do cumprimento de obrigações legais, principalmente as de natureza fiscal. 2.3. Livros Diário (Art. 1180, C. Civil) e Registro de Duplicatas (Lei n.° 5474/68, art. 19) 2.4. Regularidade na escrituração a) Requisitos intrínsecos: São os requisitos pertencentes à técnica contábil, estão definidos no art. 2°, do Dec.-Lei n.° 486/69 e no novo C. Civil, art. 1183. São eles: - Escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas e transportes para as margens. b) Requisitos extrínsecos: São os requisitos relacionados com a segurança dos livros comerciais e vêm estabelecidos no artigo 5°, § 2° do Dec.-Lei n.° 486/69. O livro tem que conter Termo de Abertu-ra e Encerramento e estar autenticado pela Junta Comercial. 2.5. Processos de escrituração

Só é considerado regular o livro que preenche a ambos os requisitos, pois se somente preencher um dos requisitos, equivalerá a um não-livro. O titular desse livro é considerado titular de livro al-gum.

2.6. Extravio e perda da escrituração Na hipótese de faltar no livro obrigatório um dos requisitos legais (extrínsecos ou intrínsecos) ou ainda quando o empresário não possuir um livro obrigatório estará sujeito a conseqüências na órbita civil e penal.

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No plano civil, o empresário não poderá: a) Promover a verificação de crédito (art. 7°, Lei 11.101/2005):

- Art. 7o A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresen-tados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas.

b) Valer-se da eficácia probatória que o CPC concede aos livros comerciais, art. 379; e) Estará impedido de requerer recuperação judicial (Lei 11.101/05) - Art. 198. Os devedores proibidos de requerer concordata nos termos da legislação específica em vigor na data da publicação desta Lei ficam proibidos de requerer recuperação judicial ou extrajudici-al nos termos desta Lei. OBSERVAÇÃO: - Caso seja requerida a exibição de livro comercial obrigatório contra o empresário ou a sociedade empresária, e não o possuindo, ou possuindo-o de forma irregular, presumir-se-ão como verdadeiros os fatos relatados pelo requerente, acerca dos quais fariam prova os livros obrigatórios, conforme previsto no CPC, art. 358, I. Sanções na esfera penal (Lei 11.101/05):

- Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os do-cumentos de escrituração contábil obrigatórios:

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.

2.7. Exibição dos livros e sua recusa a) Proteção do sigilo: Os livros comerciais, em princípio, gozam da proteção do sigilo, isto é, res-guardam o empresário da curiosidade alheia. Tal princípio pode ser inferido pelo disposto no artigo 1.190 do novo Código Civil, que seguiu a mesma linha do Código Comercial. b) Exibição parcial: a exibição de livro comercial em juízo pode ser determinada de oficio ou a requerimento da parte, devendo-se ressaltar que, ainda assim, a regra é a da exibição parcial, ou seja, quando necessário à solução da demanda será extraído um sumário apenas no que interessar para o deslinde da questão. Verifica-se, então, que o novo Código Civil (art. 1.191), nesta parte, não alterou a essência da lei comercial a qual revogou. c) Exibição integral dos livros: em situações muito excepcionais e especificas, a lei permite a exibi-ção integral dos livros, é o caso das questões relacionadas à sucessão, à comunhão ou sociedade e, ainda, quando a administração for efetivada por terceiro, além dos casos de falência e concordata.

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d) Recusa na exibição dos livros comerciais: implicará na prova em desfavor do empresário, ou seja, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados pela parte contrária (novo Código Civil, art. 1.192). Não obstante, tal presunção é relativa, podendo ser elidida por prova documental em contrário. 3) Levantamento de demonstrações contábeis periódicas (Art. 1.179, C. Civil) Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de conta-bilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspon-dência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. Obs.: Lembre-se que o pequeno empresário, nos termos da definição legal, está dispensado desta obrigação.

VI. FORMAÇÃO E PROTEÇÃO DO ESTABELECIMENTO 1. Conceito de estabelecimento:

- Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para o exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária (art. 1142, CC/2002).

2. Natureza Jurídica do estabelecimento (art. 90, CC):

- A doutrina nacional se inclina a considerá-lo como universalidade de fato, ou seja, um conjunto de coisas autônomas, simples ou compostas, materiais ou imateriais, formado pela vontade do sujeito e para uma destinação unitária3.

3. Objeto unitário de direitos e negócios jurídicos, translativos ou constitutivos (Art. 1143, CC/2002).

a) Como objeto de direito, o estabelecimento pode figurar em vários negócios jurídicos que tenham por destinação a transferência da titularidade ou a transferência do uso. P. ex.:

- Negócios de alienação inter vivos a título oneroso: cessão ou trespasse, permuta, dação em pagamento;

- A título gratuito: doação;

- Negócios de alienação mortis causa: sucessão legítima ou testamentária;

- Negócios de gestão para fim de desfrute: arrendamento, usufruto, constituição de dote, etc.

- Como garantia: penhor.

3 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Tratado de Direito Empresarial Brasileiro. Campinas: LZN, 2004.

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4. Contrato de trespasse do estabelecimento empresarial (arts. 1.144, 1.145 e 1.146) 4.1. Regime de publicidade e averbação contratual

a) Art. 1.144: O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado á mar-gem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro de Público de empresas mercantis, e de publicado na imprensa oficial.

4.2. Consentimento tácito ou expresso dos credores (art. 1.145, CC/2002)

a) Se os bens do alienante são insuficientes para saldar o passivo, deverá, para a validade do negócio:

- Pagar todos os credores; ou

- Obter de todos os credores a anuência para a alienação. Obs.: os credores deverão ser notificados para se manifestar em 30 dias. b) Caracteriza falência quando, na insuficiência de bens para solver o passivo, o estabele-

cimento é alienado sem o consentimento de todos os credores (Art. 94, III, ―c‖, Lei 11.101/2005, Lei de Falências)

4.3. Responsabilidade por débitos e a sucessão empresarial (Art. 1.146, CC/2002) 4.3.1. Solidariedade

a) Haverá solidariedade entre alienante e adquirente por um (01) ano em relação aos débi-tos anteriores à alienação. Passado o prazo, responderá o adquirente sozinho;

b) A regularidade contábil é elemento indispensável para responsabilidade o adquirente; c) Contagem de prazos:

- Dívidas vencidas: o alienante responde por um ano a contar da publicação da alienação na imprensa oficial;

- Dívidas a vencer ou vincendas: um ano a partir do vencimento da obrigação. 4.3.2. Responsabilidade pelos débitos trabalhistas

a) Art. 10 da CLT: Qualquer alteração na estrutura da empresa não afetará os direitos ad-quiridos por seus empregados;

b) Art. 448 da CLT: A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados.

4.3.3 Responsabilidade por débitos tributários

a) Art. 133, CTN: A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou pro-fissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob

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firma ou nome individual, responde pelos tributos relativos ao fundo ou estabelecimen-to adquirido, devidos até a data do ato:

I) Integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou

atividade; II) Subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou inici-

ar dentro de 6 (seis) meses, a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão.

4.4 Cláusula de não restabelecimento e proibição de concorrência

a) Art. 1147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não po-de fazer concorrência ao adquirente, nos 5 (cinco) anos subseqüentes à transferência.

4.5 Sub-rogação nos contratos

a) Não havendo cláusula em contrário, o adquirente sub-roga-se, ou seja, passa a substituir o alienante nas relações jurídicas por ele concretizadas.

b) Os terceiros podem rescindir o contrato em noventa (90) dias a contar da publicação da transferência, se houver justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alie-nante.

4.6 Cessão de créditos

a) Art. 1149: a cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá e-feito em ralação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transfe-rência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente.

VII. PONTO COMERCIAL 1 Conceito: ponto é o local em que se encontra o estabelecimento comercial, sendo objeto de proteção jurídica, em decorrência da sua importância para o sucesso da empresa. 2 Direito de inerência ao ponto: é o interesse, juridicamente protegido, do empresário relati-vo à permanência de sua atividade no local onde se encontra estabelecido. 3 Requisitos da locação empresarial (Lei n. 8.245/91, art. 51) para efeitos de inerência ao ponto. a) Contrato escrito, com prazo determinado (Requisito formal); b) Mínimo de 5 anos de relação locatícia (Requisito temporal); c) Exploração da mesma atividade econômica por pelo menos 3 anos ininterruptos (Requisito Material).

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Obs.:

- O preenchimento dos requisitos garante ao empresário o direito à renovação compul-sória da locação;

- O direito é assegurado aos cessionários ou sucessores da locação (LL, art. 51, § 1°);

- E se o imóvel for alienado durante a locação? O adquirente poderá denunciar o contra-to, com prazo de noventa dias para a desocupação, salvo se a locação for por tempo de-terminado e o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação e estiver a-verbado junto à matrícula do imóvel (LL, art. 8°).

- Ainda neste caso, o contrato terá continuidade perante o comprador do imóvel se: a) a locação for por tempo determinado; e b) o contrato contiver cláusula de vigência em caso de alienação; e c) o contrato estiver averbado junto à matrícula do imóvel.

a) Requisito formal: Contrato escrito, com prazo determinado.

- Se o contrato é por prazo indeterminado, o locador pode denunciar o contrato median-te aviso escrito ao locatário, com antecedência mínima de 30 dias (LL, art. 57).

b) Requisito temporal: Mínimo de 5 anos de relação locatícia.

- Prazo ininterrupto de 5 anos

- Soma de prazos determinados de contratos sucessivos (accessio temporis) (LL, art. 51, II). Obs.:

Se há interrupção, sem instrumento escrito, entre um contrato por prazo determinado e outro?

a) Haveria interrupção, todavia, há jurisprudência no sentido da aceitação da renova-tória.

Se o contrato anterior é por prazo indeterminado? a) Não há vedação legal para que seja computado com o segundo contrato por prazo

determinado para alcançar os 5 anos. c) Requisito material: Exploração da mesma atividade econômica por pelo menos 3 anos ininterruptos.

- É necessária a exploração, pelo locatário, de uma mesma atividade econômica no prédio locado, por pelo menos 3 anos.

4 Exceção de retomada: a renovação compulsória do contrato de locação empresarial não pode ser incompatível com o exercício do direito de propriedade, pelo locador. Por essa razão, admite-se a exceção de retomada, na ação renovatória (F.Ulhoa). a) Situações previstas na lei (Arts. 52 e 72, II, III):

- Realização de obras no imóvel, que importem sua radical transformação, por exigência do Poder Público;

- Reformas no imóvel, que o valorizem, pretendidas pelo locador;

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- Insuficiência da proposta apresentada pelo locatário, na ação renovatória;

- Proposta melhor de terceiros;

- Transferência de estabelecimento existente há mais de um ano, pertencente ao cônjuge, ascendente ou descendente do locador, ou a sociedade por ele controlada;

- Uso próprio. 5 Ação renovatória: a) Conceito: a ação renovatória é o instrumento processual do qual pode lançar mão o locatá-rio para fazer valer o seu direito de inerência ao ponto. b) Prazo: o prazo é decadencial, não sofrendo interrupção ou suspensão, e alcança o interreg-no de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor (LL, art. 51, § 5°). Obs.: se não houver a propositura da ação e contrato tiver continuidade, prorrogar-se-á o vín-culo. Todavia, a locação perde a sua natureza empresarial. O bem pode ser retomado mediante aviso com 30 dias de antecedência.

Art. 57. O contrato de locação por prazo indeterminado pode ser denunciado por escrito, pelo locador, concedidos ao locatário trinta dias para a desocupação.

c) Requisitos da petição inicial (LL, art. 71), além do exigidos pelo art. 282, do CPC:

- Preenchimento dos requisitos da locação empresarial;

- Exato cumprimento do contrato em curso, inclusive quanto a quitação dos impostos e taxas que lhe cabia;

- Proposta de aluguel para o novo período locatício;

- Indicação de novo fiador, não sendo o mesmo, provando a assunção dos encargos da fiança, com outorga uxória, sendo casado.

d) O mérito da contestação do locador. Poderá alegar:

- Desatendimento dos requisitos da locação empresarial;

- Perda do prazo decadencial;

- Exceção de retomada. 6 Indenização do ponto a) Pressupostos para indenização pela perda do ponto:

- Caracterização da locação como empresarial;

- Ajuizamento da ação renovatória dentro do prazo;

- Acolhimento da exceção de retomada. b) Cabe a indenização nas seguintes hipóteses:

- Se a exceção de retomada foi a existência de proposta melhor de terceiro (LL, art. 52, § 3° e art. 75);

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- Se o locador demorou mais de 3 meses, da entrega do imóvel, para dar-lhe o destino a-legado na exceção de retomada (LL, art. 52, § 3°);

- Exploração, no imóvel, da mesma atividade do locatário;

- Insinceridade da exceção de retomada.

Art. 884, C. Civil: Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários. Art. 75, Lei de Locações: Na hipótese do inciso III do art. 72 (ter proposta de ter-ceiro para a locação, em condições melhores), a sentença fixará desde logo a indeni-zação devida ao locatário em conseqüência da não prorrogação da locação, solidari-amente devida pelo locador e o proponente.

c) Locação-gerência: é quando o proprietário do imóvel e do estabelecimento faz con-trato de aluguel para continuidade da atividade empresarial. - Não cabe indenização, pois o responsável pela criação, no local, de um ponto de referência dos consumidores é o proprietário.

VIII. NOME EMPRESARIAL

1 REGRAS BÁSICAS DE FORMAÇÃO

O nome empresarial atenderá aos princípios da veracidade e da novidade e identificará, quando assim o exigir a lei, o tipo jurídico da sociedade.

1.1. Conceito (IN n. 104/2007, art. 1°): Nome empresarial é aquele sob o qual o empresário e a sociedade empresária exercem suas atividades e se obrigam nos atos a elas pertinentes e com-preende a firma e a denominação. a) firma individual: Firma é o nome utilizado pelo empresário, pela sociedade em que houver sócio de responsabilidade ilimitada e, de forma facultativa, pela sociedade limitada(Art. 2º) b) denominação social: Denominação é o nome utilizado pela sociedade anônima e coopera-tiva e, em caráter opcional, pela sociedade limitada e em comandita por ações. Serve também para identificar o tipo jurídico da empresa (Art. 3º). Obs.: O novo código civil não reproduziu o vocábulo razão social e nem a IN 104/2007.

1.2. Princípio da veracidade

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Estabelece que deva ser verdadeiro o nome do sócio (no caso de firma social) ou do titular da firma individual e sincera a indicação da atividade que venha a incorporar o nome (deve estar explicitada no objeto da empresa).

Havendo indicação de atividades econômicas no nome empresarial, essas deverão estar conti-das no objeto da firma individual ou da sociedade mercantil.

1.3. Princípio da novidade a) Estabelece que deva ser adotado um nome novo e diferente de outro já existente a fim de evitar erros e confusões nas identificações das empresas. b) Não poderá haver colidência do nome empresarial por identidade ou semelhança com outro já protegido (Art. 7°, IN n. 53/96).

Critérios para análise de identidade e semelhança: - Entre firmas ou razões sociais: consideram-se os nomes por inteiro, havendo identidade se homógrafos e semelhança se homófonos; - Entre denominações (art. 8º, II, IN 104/2007): 1°) Consideram-se os nomes por inteiro, quando compostos por expressões comuns, de fantasia, de uso generalizado ou vulgar, ocorrendo identidade se homógrafos e semelhança se homófonos; 2°) Quando contiverem expressões de fantasia incomuns, serão elas analisadas isoladamen-te, ocorrendo identidade se homógrafas e semelhança se homófonas. 3°) Não são exclusivas, para fins de proteção, palavras ou expressões que denotem:

a) denominações genéricas de atividades;

b) gênero, espécie, natureza, lugar ou procedência;

c) termos técnicos, científicos, literários e artísticos do vernáculo nacional ou estrangeiro, assim como quaisquer outros de uso comum ou vulgar;

d) nomes civis.

Obs.: Não são suscetíveis de exclusividade letras ou conjunto de letras, desde que não con-figurem siglas.

2. PROTEÇÃO DO NOME EMPRESARIAL

2.1. Proteção na unidade federativa onde se localiza a sede da empresa A proteção do nome empresarial decorre, automaticamente, do arquivamento de ato cons-titutivo ou de alteração que implique em mudança do nome e circunscreve-se à unidade da federação em que se localiza a sede da empresa.

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2.2. Proteção em outras unidades da federação A proteção do nome empresarial pode ser estendida pela empresa interessada a outras uni-dades da federação, mediante procedimentos próprios perante a Junta Comercial da unidade da federação onde se deseja a proteção. Pode ocorrer em caso de instalação de filial ou por arquivamento de pedido específico (Art. 13, §§ 1° e 2°, IN n. 53/96). 3. FORMAÇÃO DO NOME DE FIRMA INDIVIDUAL

3.1. Conceito de firma individual É aquela em que a titularidade é unipessoal e a responsabilidade do seu titular é ilimitada, res-pondendo o seu patrimônio pelas dívidas da empresa.

3.2. Formação do nome empresarial O comerciante individual: DEVERÁ adotar o seu nome civil, por extenso ou abreviado; PODERÁ aditar designação mais precisa de sua pessoa ou da atividade a ser exercida para diferenciar de outro nome já existente; NÃO PODERÁ abreviar o último sobrenome, nem excluir qualquer dos componentes do nome. Observação: Não constituem sobrenome: Filho; Júnior; Neto; Sobrinho; etc., que indicam uma ordem ou relação de parentesco.

Exemplos:

Pedro Xavier de Jesus;

Pedro X. de Jesus - Comércio de Bebidas;

P. X. de Jesus - Supermercado.

3.3. Alteração do nome empresarial O comerciante individual: DEVERÁ alterar o nome empresarial quando houver modificação do nome civil do titular da firma individual ou quando houver modificação da atividade constante do nome.

Exemplos:

Maria Joaquina Santos para Maria Joaquina Santos de Azevedo;

Pedro de Jesus - Açougue para Pedro de Jesus - Mercearia.

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4. FORMAÇÃO DO NOME DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

4.1. Sociedade Limitada (Arts. 1052 a 1086, C. Civil)

a) Conceito: é a empresa mercantil constituída por duas ou mais pessoas onde cada uma é diretamente responsável pela integralização de suas cotas e indireta e subsidiariamente respon-sável pela integralização das cotas dos demais sócios, respondendo inclusive, com seus bens particulares.

b) Formação do nome empresarial: para formar o nome empresarial, a sociedade limitada poderá adotar FIRMA ou DENOMINAÇÃO SOCIAL, sempre seguida, qualquer delas, da expressão ―limitada‖, por extenso ou abreviadamente, ―Ltda‖. FIRMA: - É constituída pelo nome civil completo ou abreviado de um, de alguns - nesses casos acrescida da expressão "e companhia" ou "e Cia.", para indicar a existência de outros sócios -, ou de todos os sócios, além da palavra "limitada", por extenso ou abreviada. - A expressão "e companhia" indica tratar-se de uma sociedade que na composição da FIRMA não declinou o nome de todos os sócios, podendo ser substituído por qualquer outro capaz de exercer a mesma função, por exemplo: "e Filhos", "e Irmãos", "e Sobrinhos", "e Amigos" (Art. 6°, §1°, c, IN n. 53/96).

Exemplos:

Oliveira, Xavier e Silva Ltda.;

P. de Jesus e Cia. Ltda.;

P. de Jesus e Irmãos Limitada.

DENOMINAÇÃO SOCIAL - É formada por expressões de fantasia incomuns (termos criados) e/ou por palavras de uso comum ou vulgar livremente escolhidas pelos sócios, seguidas da palavra "limitada", abreviada ou por extenso. Omitida a palavra "limitada", os sócios passam a responder ilimita-damente pela empresa. Caso figurem no nome empresarial uma ou mais atividades econômicas, essas deverão constar expressamente no objeto social da empresa. O nome empresarial não pode incluir ou reproduzir em sua composição sigla ou denominação de órgão público da administração direta, indireta e fundacional, federal, estadual ou municipal, bem como de organismos internacionais.

Exemplos:

Farmácia São Pedro Ltda.;

Casa Beija-Flor - Artigos Agrícolas Ltda;

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Padaria e Mercearia Oliveira Limitada. 4.2. Sociedade em nome coletivo (Arts. 1039 a 1044, C.Civil) a) Conceito: é a sociedade em que somente pessoas físicas podem tomar parte, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais (Art. 1039, C. Civil). b) Formação do nome empresarial: somente pode utilizar FIRMA (Art. 1041, C. Civil, e art. 3°, IN n. 53/96). Se não individualizar todos os sócios, deverá conter o nome de pelo menos um deles, acrescido do aditivo "e companhia", por extenso ou abreviado. Obs.: A expressão "e companhia" indica tratar-se de uma sociedade que na composição da FIRMA não declinou o nome de todos os sócios, podendo ser substituído por qualquer outro capaz de exercer a mesma função, por exemplo: "e Filhos", "e Irmãos", "e Sobrinhos", "e Amigos" (Art. 6°, §1°, c, IN n. 53/96). Exemplos: João Batista & irmãos Ferdinando Martins e Cia. João Miranda e Magalhães 4.3. Sociedade em comandita simples (Art. 1045 a 1051, C. Civil) a) Conceito: é a sociedade em que tomam parte sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditá-rios, obrigados somente pelo valor de sua quota. O contrato deve discriminar os comanditados e os comanditários. b) Formação do nome empresarial: somente pode utilizar FIRMA (Art. 3°, IN n. 53/96) e deverá conter o nome de pelo menos um dos sócios comanditados, com o aditivo "e compa-nhia", por extenso ou abreviado. O nome dos sócios comanditários não pode constar da fir-ma social sob pena de responderem como sócios comanditados (Art. 1047, C. Civil). Exemplos: regras do tópico anterior. 4.4. Sociedade em comandita por ações (Arts. 1090 a 1092, C. Civil e arts 280 a 284, Lei 6404/76) a) Conceito: a sociedade em comandita por ações tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima, com as alterações do C. Civil. É administrada por diretores gerentes, obrigatoriamente acionistas, que respondem ilimitada e solidariamente. Os

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demais acionistas, comanditários, não têm responsabilidade a não ser pela integralização de suas ações. b) Formação do nome empresarial: opera sob firma ou denominação (Art. 1090, C. Civil e art. 3°, IN n. 53/96). Operando sob FIRMA, só poderá conter o nome de um ou mais sócios diretores ou gerentes, com o aditivo "e companhia", por extenso ou abreviado, acrescida da expressão "comandita por ações", por extenso ou abreviada. Tratando-se de DENOMINA-ÇÃO SOCIAL, deverá ser seguida da expressão "em comandita por ações", por extenso ou abreviada. Exemplos: José Pacheco & Cia em Comandita por Ações (Firma) Roboótica Informatização em Comandita por Ações (Denominação) 4.5. Sociedade em conta de participação (Arts. 991 a 996, C. Civil) a) Conceito: na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes. É uma sociedade sem personalidade jurídica, ainda que faça arquivamento dos atos constitutivos. b) A sociedade em conta de participação não pode ter firma ou denominação ( Art. 1162, C. Civil). 4.6. Sociedade cooperativa a) A sociedade cooperativa funciona sob denominação integrada pelo vocábulo ―cooperativa‖ (Art. 1159, C. Civil). 4.7. Sociedade anônima (Lei n. 6404/76) a) Conceito: na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. b) Formação do nome empresarial: a sociedade anônima opera sob denominação designati-va do objeto social, integrada pelas expressões ―sociedade anônima‖ ou ―companhia‖, por ex-tenso ou abreviadamente (Art. 1160, C. Civil). O nome empresarial deverá ser acompanhado das expressões "Companhia" ou "Sociedade Anônima", por extenso ou abreviadas, vedada a utilização da primeira ao final (Art. 6°, inc. III, al. b, IN n. 53/96).

Obs.: a denominação é formada com palavras de uso comum ou vulgar na língua nacional

ou estrangeira e ou com expressões de fantasia, com a indicação do objeto da sociedade (IN

104/2007, BACEN, art. 5º, III)

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Exemplos:

Indústrias Cometa S.A. Sociedade Anônima Astral Incorporação e Venda de Imóveis Companhia Nacional de Cimento 4.8. Microempresa e empresa de pequeno porte (LEI COMPLEMENTAR Nº 123, DE 14 DE

DEZEMBRO DE 2006). a) Conceito (LC N. 123/2006):

Art. 3o Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empresas de pe-queno porte a sociedade empresária, a sociedade simples e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: I – no caso das microempresas, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais); II – no caso das empresas de pequeno porte, o empresário, a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais).

b) Formação do nome empresarial (IN 104/2007 DNRC):

Art. 14. As microempresas e empresas de pequeno porte acrescentarão à sua firma oudenominação as expressões ―Microempresa‖ ou ―Empresa de Pequeno Porte‖, ou suas respectivasabreviações, ―ME‖ ou ―EPP‖.

4.9. Empresas Binacionais Brasileiro-Argentinas (DECRETO N° 619, DE 29 DE JU-LHO DE 1992)

a) Conceito:

artigo I Definições 1. Os Estados Partes estabelecem o Estatuto que regulará as empresas de caráter binacional, que se constituam de acordo com o mesmo. 2. Para os efeitos deste Estatuto, entende-se por empresa binacional brasileiro - argentina - do-ravante Empresa Binacional - aquela que cumpra simultaneamente as seguintes condições: a) que ao menos 80% do capital social e dos votos pertençam a investidores nacionais da República Federativa do Brasil e da República Argentina, assegurando-lhes o controle real e efetivo da Empre-sa Binacional; b) que a participação do conjunto dos investidores nacionais de cada um dos dois países seja de, no mínimo, 30% do capital social da empresa, e c) que o conjunto dos investidores nacionais de cada um dos dois países tenha direito de eleger, no mínimo, um membro em cada um dos órgãos de administração e um membro do órgào de fiscaliza-ção interna da empresa.

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b) Formação do nome empresarial:

Art. 15. Aos nomes das Empresas Binacionais Brasileiro-Argentinas deverão ser aditadas ―Empresa Binacional Brasileiro-Argentinas‖, ―EBBA‖ ou ―EBAB‖ e as sociedades estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil poderão acrescentar os termos ―do Brasil‖ ou ―para o Brasil‖ aos seus nomes de origem.

IX. PROPRIEDADE INDUSTRIAL (LEI N. 9.279 DE 14 DE MAIO DE 1996)

1 BENS DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

São bens da propriedade industrial:

- A invenção (concede-se patente)

- O modelo de utilidade (concede-se patente)

- O desenho industrial (concede-se registro)

- A marca (concede-se registro) Obs.: a concessão de patente ou registro compete ao Instituto Nacional da Propriedade Indus-trial – INPI. 1.1 Invenção: A invenção é uma concepção resultante do exercício da capacidade de criação do homem, que represente uma solução para um problema técnico específico, dentro de um de-terminado campo tecnológico e que possa ser fabricada ou utilizada industrialmente (www.inpi.org.br ). - É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplica-ção industrial (Art. 8°, LPI) - Não se considera invenção nem modelo de utilidade (Art. 10, LPI): I - descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos; II - concepções puramente abstratas; III - esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; IV - as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética; V - programas de computador em si; VI - apresentação de informações; VII - regras de jogo; VIII - técnicas e métodos operatórios, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais.

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1.2 Adição de Invenção: O certificado de adição de invenção é um aperfeiçoamento ou de-senvolvimento introduzido no objeto de determinada invenção. A proteção é cabível para o depositante ou titular da invenção anterior a que se refere (Art. 76 da LPI). - Dispensa a atividade inventiva. 1.3 Modelo de Utilidade: o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação in-dustrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação (Art. 9°, LPI). - Constitue-se de nova forma ou disposição introduzida em objeto de uso prático, ou em parte deste, suscetível de aplicação industrial e que envolva ato inventivo, resultando em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. Exemplo: - A modificação de forma e estrutura de um aparelho telefônico inicialmente utilizado, em que a modificação consistiu em integrar o transmissor e o receptor numa só peça, visando seu uso prático. - O aperfeiçoamento deve constituir avanço tecnológico, que os técnicos da área reputem en-genhoso, caso contrário, sua natureza jurídica é de adição de invenção (Art. 76, LPI). 1.4 Marca: é o sinal distintivo, suscetível de percepção visual, que identifica, direta ou indire-tamente, produtos ou serviços (LPI, art. 122). - No Brasil os sinais sonoros, ainda que originais e exclusivos, capazes de individualizar produ-tos e serviços, não são suscetíveis de registro como marca. - Também não são marcas as características de cheiro, gosto ou tato de que se revestem os produtos ou serviços. - É suscetível de registro. 1.5 Desenho Industrial: Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, pro-porcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial (Art. 95, LPI). - É a alteração da forma dos objetos. Sua característica de fundo é a futilidade. Ou seja, a altera-ção que o desenho industriar introduz nos objetos não amplia a sua utilidade. - O traço da futilidade é essencial para que a alteração no objeto seja, do ponto de vista jurídi-co, um desenho industrial, e não um eventual modelo de utilidade ou uma adição de invenção (F. Ulhoa, p. 138). - Dispensa a atividade inventiva.

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2 PATENTEABILIDADE - Os bens industriais patenteáveis são a invenção e o modelo de utilidade, sendo que a lei esta-belece quatro condições para a concessão do direito à patente, que são: a) novidade; b) atividade inventiva; c) industriabilidade; d) desimpedimento. 2.1 Novidade: A invenção e o modelo de utilidade são considerados novos quando não com-preendidos no estado da técnica (LPI, art. 11). a) Estado da Técnica: O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido de patente, por descrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior (LPI, art. 11, § 1°). b) Não Configuram o Estado da Técnica (LPI, art. 12, incisos): - Quando o próprio inventor dá notícia de sua invenção nos 12 meses anteriores ao depósito; - Se a divulgação é feita pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI, através de publicação oficial do pedido de patente depositado sem o consentimento do inventor, baseado em informações deste obtidas ou em decorrência de atos por ele realizados; - Se a divulgação é feita por terceiros, com base em informações obtidas direta ou indiretamen-te do inventor ou em decorrência de atos por este realizados. 2.2 Atividade Inventiva: - A invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado da técnica (LPI, art. 13). - O modelo de utilidade é dotado de ato inventivo sempre que, para um técnico no assunto, não decorra de maneira comum ou vulgar do estado da técnica (LPI, art. 14). - Dessa forma as invenções, para serem patenteáveis, não podem ser decorrência de justaposi-ções de processos, meios e órgãos conhecidos, simples mudança de forma, proporções, dimen-sões e materiais, salvo se, no conjunto, o resultado obtido apresentar um efeito técnico (resul-tado final alcançado através de procedimento peculiar a uma determinada arte, ofício ou ciên-cia) novo ou diferente (que resulte diverso do previsível ou, não óbvio, para um técnico no assunto) (www.inpi.org.br). 2.3 Industriabilidade: A invenção e o modelo de utilidade são considerados suscetíveis de aplicação industrial quando possam ser utilizados ou produzidos em qualquer tipo de indústria (LPI, art. 15). - Não tem direito a patente o criador da invenção que, por se mostrar tão avançada em relação ao estado da técnica, ainda não pode ser fabricada. - Também não atendem ao requisito da industriabilidade as invenções sem qualquer utilidade para o homem.

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2.4 Desimpedimento: - Três são os impedimentos na legislação brasileira atual (LPI, art. 18, incisos): a) o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde públicas; b) as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação do núcleo atômico; c) o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microorganismos transgênicos4 que atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e aplicação industrial - previs-tos no art. 8° e que não sejam mera descoberta. 3 REGISTRABILIDADE 3.1 REGISTRO DE DESENHO INDUSTRIAL - São três os requisitos para o registro do desenho industrial: a) novidade; b) originali-dade; c) desimpedimento. 3.1.1 Novidade: O desenho industrial é considerado novo quando não compreendido no esta-do da técnica. a) Estado da Técnica: o estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao público antes da data de depósito do pedido, no Brasil ou no exterior, por uso ou qualquer outro meio (LPI, art. 96, e par. Único).

4 O Que é Patente Biotecnologia?

As patentes em biotecnologia são aquelas que contemplam processos de produção baseados em materiais biológi-cos, tais como microorganismos, produtos resultantes, materiais biológicos e os próprios microorganismos desde que sejam transgênicos, conforme explicitado no Art. 18 , inciso III e seu parágrafo único da Lei 9279/96 (LPI). Os conceitos que norteiam a concessão são basicamente os mesmos já estabelecidos para as outras áreas tecnoló-gicas acrescidos de alguns procedimentos diferenciados necessários ao preenchimento dos critérios de repetibili-dade e suficiência descritiva da invenção. O requisito de suficiência descritiva em biotecnologia nem sempre é possível ser alcançado por uma descrição escrita e, com efeito, a realização prática da invenção trona-se inviável e inacessível ao público interessado no assunto. A solução internacionalmente aplicada é a de garantir o acesso ao material biológico, que não seja conhe-cido e acessível ao público, através de depósito de uma amostra correspondente em centros depositários especial-mente destinados e adequados à sua manutenção e ao processamento de patentes. Outro aspecto interessante a ser ressaltado é a necessidade de serem fornecidos, no relatório descritivo dessa mo-dalidade de patente, uma cuidadosa e detalhada descrição do material biológico, dos parâmetros técnicos envolvi-dos no processamento de obtenção deste material visando a obtenção de um produto efetivamente biotecnológi-co. Cabe ressaltar que no Ato Normativo 127/97 - itens 16.1, 16.2, 16.3 e 16.4 - há referencia, de forma especial po-rém não exaustiva, área biotecnológica. (Fonte: Disponível em: <http://www.inpi.gov.br/>. Acesso em: 27 set. 2007).

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b) Não Configuram o Estado da Técnica: No caso do design, a lei estabeleceu os 180 dias anteriores ao depósito do pedido de registro, para fins de excuir do estado da técnica a divulga-ção feita, nesse período, pelo próprio designer, ou realizada em decorrência de fraude (LPI, art. 96, § 3°). 3.1.2 Originalidade: O desenho industrial é considerado original quando dele resulte uma configuração visual distintiva, em relação a outros objetos anteriores (LPI, art. 97). - O resultado visual original poderá ser decorrente da combinação de elementos conhecidos. 3.1.3 Desimpedimento: - Não pode ser registrado o desenho que: a) tem natureza puramente artística; b) o que for contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas, ou atente contra liberdade de consciência, crença, culto religioso ou idéia e sentimentos dignos de respeito e veneração; c) apresenta forma necessária comum ou vulgar do objeto ou, ainda, aquela determinada essencialmente por considerações técnicas ou funcionais. 3.2 REGISTRO DE MARCA 3.2.1 O registro de marca está sujeito a três condições: I) novidade relativa; II) não-colidência com marca notória; III) desimpedimento. I) Novidade Relativa: não é exigida a novidade absoluta para concessão do registro. Não é necessário que o requerente tenha criado o sinal, em sua expressão lingüística, mas que lhe dê, ou a signo não lingüístico escolhido, uma nova utilização. a) Princípio da Especificidade - O fabricante de colchões adota a marca estrela, apresentando a sua forma em três pontas. A novidade é vincular o símbolo a colchões, que está na classe 20 (Artigos do mobiliário em geral, acolchoados, utensílios domésticos, recipientes e embalagens, vidros, espelhos, cristais, pincéis e espetos). - Outro empresário poderia usar o mesmo símbolo vinculando-o a cortinas, por exemplo, que está na classe 27 (Cortinas, tapetes e materiais para revestimento de interiores). - Portanto, proteção é restrita à classe de produtos ou serviços em que é registrada. - O INPI estabelece classes diversas de produtos e serviços. Uma vez registrado em relação a determinado produto ou serviço, o símbolo somente poderá ser vinculado a outra classe. b) Exceção ao Princípio da Especificidade

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- Diz respeito à marca de alto renome, passível de proteção extensiva a todos os ramos de atividade (LPI, art. 125). - Neste caso o titular da marca, registrada numa ou mais classes, pode requerer ao INPI que lhe atribua a qualidade de alto renome. II) Não-Colidência Com Marca Notória: A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos termos do art. 6° bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade Industrial, goza de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou registrada no Brasil (LPI, art. 126).

Art. 6o bis Os países contratantes comprometem-se a recusar ou a invalidar, seja " ex-officio ", se a legislação do país o permitir, seja a pedido do interessado, o registro de uma marca de fábrica ou de comércio que fôr uma reprodução ou uma imitação suscetível de pro-duzir confusão, de uma marca que a autoridade competente do país do registro considerar que é notoriamente conhecida como já sendo a marca de um cidadão de outro país contratan-te e utiliza para produtos do mesmo gênero ou de gênero semelhante.

- Demonstrada a notoriedade da marca, o empresário poderá requerer ao INPI a nulidade do registro anterior, bem como a concessão do direito industrial em seu nome. III) Desimpedimento (LPI, art. 124, incisos). a) Condições especiais para registro: incisos IV, XIII, XV, XVI. Exemplo: inciso XVI - o caso de pseudônimo ou apelido, cujo registro não é impedido, mas condicionado à autorização da pessoa. b) Extensão da proteção de bens imateriais de natureza diversa (cf. F. Ulhoa): incisos V, VII, XI, XII, XVII, XIX, XXII, XXIII. c) Vedações: I - brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento oficiais, públicos, na-cionais, estrangeiros ou internacionais, bem como a respectiva designação, figura ou imitação; II - letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva; III - expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas ou atente contra liberdade de consciência, cren-ça, culto religioso ou idéia e sentimento dignos de respeito e veneração; VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto ou serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para designar uma característica do produto ou serviço, quanto à natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção ou de prestação do serviço, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva; VIII - cores e suas denominações, salvo se dispostas ou combinadas de modo peculiar e distin-tivo; IX - indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão ou sinal que possa falsa-mente induzir indicação geográfica; X - sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência, natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca se destina;

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XIV - reprodução ou imitação de título, apólice, moeda e cédula da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios, ou de país; XVIII - termo técnico usado na indústria, na ciência e na arte, que tenha relação com o produ-to ou serviço a distinguir; XXI - a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou de acondicionamento, ou, ainda, aquela que não possa ser dissociada de efeito técnico; 3.2.2 Espécies de marca I) Nominativa: composta somente por palavras II) Figurativa: composta somente por símbolos III) Mista: composta por palavras e símbolos

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APOSTILA DE DIREITO EMPRESARIAL

SEGUNDO MÓDULO

TÍTULOS DE CRÉDITO

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I - TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS 1. - Noções gerais 2. Elementos essenciais: prazo ou tempo e confiança 2.1. Prazo ou tempo 2.2. Confiança: Garantias 2.2.1. Conceito de garantia: é ―...a perspectiva de certeza, que tem o credor, de receber o va-lor do seu crédito no termo ajustado. É perspectiva, porque a certeza só se materializa com a satisfação da obrigação, pecuniariamente, em dinheiro‖ (C. F. Freitas, 2000, p. 11). 2.2.2. Espécies de garantias a) pessoais b) reais a) Garantia pessoal - Conceito: é a garantia de natureza geral e abrange a universalidade dos bens e direitos do de-vedor. 1º- Aval 2º Fiança 3º Endosso b) Garantia real: - Conceito: é a garantia que incide sobre um bem específico do devedor ou de terceiro, interve-niente garante. 1º- Hipoteca 2º- Penhor 3º- Alienação fiduciária 1º) Hipoteca - Art. 809, CC: A lei da hipoteca é a civil, e civil a sua jurisdição, ainda que a dívida seja comer-cial, e comerciantes as partes. - Art. 810 – Podem ser objeto de hipoteca: I- os imóveis; II- os acessórios conjuntamente com eles; III- o domínio direto; IV- o domínio útil; V- as estradas de ferro; VI- as minas e pedreiras, independetemente do solo onde se acham; VII- os navios. 2º) Penhor

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- Art. 768, CC: Constitui-se o penhor pela tradição efetiva, que, em garantia do débito, ao cre-dor, ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de um objeto móvel, suscetível de alienação. - Art. 769. Só se pode constituir o penhor com a posse da coisa móvel pelo credor, salvo no caso de penhor agrícola ou pecuário, em que o objetos continuam em poder do devedor, por efeito da cláusula constituti. 3º) Alienação fiduciária em garantia (Lei n.º 4728/65) - Art. 66. A alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel alienada, independentemente da tradição, efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor em possuidor direto e depositário com todas as responsabilidades e en-cargos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal. 3. Título de Crédito 3.1. Conceito de título de crédito: ―Título de crédito é o documento necessário para o exer-cício do direito, literal e autônomo, nele mencionado‖. (Vivante, in F. Martins) Novo Código Civil: Art. 887. O Título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preenche os requisitos da lei. - documento: é necessário que seja um documento escrito – cartularidade; - necessário: o título de crédito é um título de apresentação; - exercício do direito nele mencionado: trata-se dos direitos que incorporam no documento; - literal: vale no título o que nele está escrito; - autônomo: cada pessoa que se obriga no título está assumindo uma obrigação autônoma, não dependente das obrigações já assumidas por outras no mesmo título nem a elas vinculadas. 3.2. Características 3.2.1. Atributos essenciais a) Cartularidade: é a existência física do documento. É o papel, a cártula. O documento é necessário e indispensável ao credor para que ele exerça os seus direitos de crédito. b) Literalidade: vale nos títulos apenas o que neles está escrito. Isto significa que tudo o que está escrito no título tem valor e, conseqüentemente, o que nele não está escrito não pode ser alegado. Literalidade é, assim, o que está escrito no título, limitando os direitos nele incorpora-dos. c) Autonomia: o cumprimento das obrigações assumidas por alguém no título não está vincu-lado ao outra obrigação qualquer, mesmo ao negócio que deu lugar ao nascimento do título. A autonomia das obrigações assumidas é uma das maiores garantias dos títulos de crédito, dando ao portador a segurança do cumprimento dessas obrigações por qualquer uma das pessoas que tenham lançado suas assinaturas nos mesmos. 3.2.2. Atributos eventuais

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a) Independência: trata-se da auto-suficiência. ―Alguns títulos, como as cambiais, prescindem de qualquer outro coadjuvante documental para completá-los. São independentes sem quais-quer amarras. Já não é, por exemplo, o caso das ações, uma vez que estão vinculadas pelo esta-tuto da companhia que as emitiu‖. (Waldo Fázzio Júnior). b) Abstração: uma vez o título emitido, liberta-se de sua causa, e, assim, a mesma não poderá ser alegada futuramente para invalidar as obrigações decorrentes do título, pois esse, uma vez emitido, passa a conter direitos abstratos, não cabendo, de tal modo, a exigência de contrapres-tação para poder ser satisfeita a obrigação. Luiz E. da Rosa Júnior entende que a abstração surge a partir do início da circulação, ou seja, quando o título sai da relação fundamental, através de endosso e o portador endossatário não esteja de má-fé. NÃO PRODUZ ABSTRAÇÃO LETRA DE CÂBIO E NOTA PROMISSÁRIA 1ª) Quando o emitente incluir a cláusula ―não à ordem‖ (art. 11, al. 2ª, LUG) 2ª) Quando o endosso for posterior ao protesto por falta de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz os efeitos de uma cessão ordinária de créditos (Art. 20, LUG). 3ª) Quando o endossatário adquirir o título com o propósito de prejudicar o devedor (Art. 17, LUG). DUPLICATA 1ª) A duplicata mercantil endossada antes do aceite não adquire abstração por força dos arts. 7° e 8° da LD, que concedem o prazo de 10 dias ao sacado, contados da apresentação do título, para a sua devolução com as razões da falta de aceite; 2ª) A duplicata endossada posteriormente ao protesto por falta de pagamento, ou após a expi-ração de seu prazo (30 dias do vencimento, conf. art. 13, § 4°), não adquire abstração por força da aplicação subsidiária do art. 20 da LUG, conforme art. 25 da LD que determina a aplicação subsidiária da LUG referentemente a circulação5; 3ª) Quando o endossatário adquirir o título com o propósito de prejudicar o devedor (Art. 25, da LD c/c art. 17, da LUG) OBS.: A duplicata não admite a cláusula ―não à ordem‖ por força do art. 2°, § 1°, inc. VII, da LD. CHEQUE

5 Luiz Emygdio F. Rosa Jr. tem entendimento contrário, mas com fundamentação equivocada: “A LD não

contém norma idêntica a do art. 20 da LUG, pela qual o endosso feito após o protesto ou o decurso do prazo

legal para protesto produz efeitos de cessão. (...)” p. 688-689. Em nota de rodapé entende pela aplicação sub-

sidiária do Código Civil que em seu projeto previa no art. 922, agora, 920 que: o endosso posterior ao venci-

mento produz os mesmos efeitos do anterior. Todavia, esquece o teor do art. 903: salvo disposição diversa em

lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código. A LD remete à LUG em caso de omis-

são (art. 25).

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1ª) Quando o emitente incluir a cláusula ―não à ordem‖ (Art. 17, § 1°, LC); 2ª) Quando o endosso for posterior ao protesto, ou declaração equivalente, ou à expiração do prazo de apresentação (Art. 27, LD); 3ª) Quando o endossatário adquirir o título com o propósito de prejudicar o devedor (Art. 25, LD); 3.3. Elemento preponderante para existência do título: Formalismo. Cada espécie de título possui uma forma própria que é obtida pelo cumprimento de requisitos, expressamente enumerados na lei. Os documentos que não se revestem das formalidades le-galmente exigidas não possui valor de título de crédito. Novo C. Civil: Art. 888. A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que lhe deu origem. 3.4. Inoponibilidade de exceções pessoais: - Art. 1507, CC revogado: ―Ao portador de boa-fé, o subscritor, ou o emissor, não poderá opor outra defesa, além da que assente em nulidade interna do título, ou em direito pessoal ao emis-sor, ou subscritor, contra o portador‖. - Art. 17, Lei Uniforme: ―As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os porta-dores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor‖. - Novo C. Civil: Art. 915. O devedor, além das exceções fundadas nas relações pessoais que tiver com o portador, só poderá opor a este as exceções relativas à forma do título e ao seu conteúdo literal, à falsidade da própria assinatura, a defeito de capacidade ou de representação no momento da subscrição, e à falta de requisito necessário ao exercício da ação. - Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé. - Exceções pessoais em caso de endosso-mandato: Art. 917, § 3° “pode o devedor opor ao endossatário de endosso-mandato somente as exceções que tiver contra o endossan-te”. 3.5. Classificação quanto a circulação dos títulos de crédito: a) Títulos nominativos: Os títulos nominativos são emitidos em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente, transferindo-se mediante termo naquele registro, assinado pelo proprietário e pelo adquirente (Arts.921 e 922, CC). b) Títulos à ordem: a cláusula à ordem permite ao beneficiário do título transferir a outra pes-soa o direito à prestação. A transferência ocorre mediante o endosso, consistente na assinatura do beneficiário.

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c) Títulos ao portador: não consignam o nome do favorecido, credenciando a quem os porta de todos os direitos emergentes do título. Os títulos ao portador podem trazer a expressão ―pa-gue-se ao portador...” ou apenas deixar em branco o espaço destinado ao nome do beneficiário. No direito brasileiro os títulos ao portador estão vedados pela Lei n. 8.021/90. d) Títulos não à ordem: a cláusula ―não à ordem” impede a circulação livre do título. Todavia, a circulação pode efetivar-se mediante uma cessão, através de termo de transferência, assinado pelo cedente e pelo cessionário. O primeiro não se obriga com os posteriores possuidores. 3.6. Quanto a natureza do crédito de que se revestem os títulos a) Títulos de crédito próprios: os títulos de crédito próprios encerram uma verdadeira opera-ção de crédito e sua exigência está subordinada à confiança depositada naqueles que deles parti-cipam. A letra de câmbio e a nota promissória, respectivamente, ordem e promessa de paga-mento de uma quantia certa a um beneficiário determinado ou à sua ordem, são exemplos típi-cos de títulos de crédito próprios. b) Títulos de crédito impróprios: os títulos de crédito impróprios não encerram uma verda-deira operação de crédito, mas revestem-se de certos requisitos dos títulos de crédito propria-mente ditos. ―É o caso, por exemplo, do cheque, ordem de pagamento à vista, em favor do subscritor ou de outra pessoa, que, por ter requisitos dos títulos de crédito propriamente ditos, circula como esses e tem garantias semelhantes ou bastante aproximadas do títulos de crédito próprios‖ (F. Martins). Para sua emissão legítima é preciso que haja provisão mãos da instituição financeira (sacado). c) Títulos de legitimação: estes títulos não dão um direito de crédito propriamente dito àque-les que os portam, senão a expectativa de prestação de coisas ou de serviços. Ex.: conhecimen-to de depósito ou frete, passagens, etc. Não representam verdadeiros títulos de crédito. Todavia, incorporam elementos dos títulos de crédito por tratar-se de prestação futura. d) Títulos de participação: trata-se daqueles títulos que dão ao portador direito de participa-ção. Exemplo típico é o caso das ações de sociedades anônimas. O portador participa na fisca-lização e nos resultados financeiros da sociedade. Tais títulos podem circular mediante endosso ou por tradição manual. 3.7. Quanto a natureza dos direitos incorporados a) Abstratos b) Causais: ―...os títulos causais têm uma causa necessária, isto é, só existem em função de um determinado negócio fundamental, e esse negócio especial influencia a sua existência, trazendo, assim, os documentos, nas declarações literais que contém, referência ao mesmo‖. (F. Martins). É o caso da duplicata. Já com os títulos de créditos abstratos pode ocorrer de se originar de um ato unilateral da vontade, sem causa aparente que force o seu nascimento.

II - LETRA DE CÂMBIO

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1. Conceito: ―Entende-se por letra de câmbio uma ordem dada, por escrito, a uma pessoa, para que pague a um beneficiário indicado, ou à ordem deste, uma determinada importância em dinheiro. Requer, assim, a letra de câmbio, três elementos pessoais, que no título têm funções diversas: o que dá a ordem, chamado sacador; o que a quem a ordem é dada, que se chama de sacado; e aquele a favor de quem é emitida a ordem, denominado de tomador ou beneficiário‖ (F. Martins). 2. Histórico a) Período italiano - 1650 - Cambio siccum > Câmbio manual. - A Distantia loci e o cambio trajecticium. - O quirógrafo. - A lettera de pagamento ou lettera di cambio. - Necessidade de depósito. Não havia uma verdadeira operação de crédito. b) Período francês – 1673 – 1848 - Ordenança de comércio terrestre de 1673 - Letra > importância devida ou futura. Qualquer transação. - Adoção da cláusula à ordem> endosso. - Necessidade de um contrato inicial e de provisão do sacador em mão do sacado. - Necessidade de apreciação inicial para aceite. - Instrumento de pagamento. c) Período alemão – a partir de 1848 - Karl Einert > papel moeda do comerciante - A existência da letra de câmbio não depende de um contrato preliminar causador do seu

aparecimento. - Efeitos para a cambial decorrentes da teoria de Karl Einert: 1°) desapareceram os requisitos de distantia loci e do valor recebido; 2°) a endossabilidade se torna elemento natural, implícito, desaparecendo a necessidade da cláusula à ordem; 3°) pode ser apresentada ao aceitante, e o portador exerce o direito de regresso contra o saca-dor, desde que não seja aceita ou paga; 4°) a assinatura aposta no título é autônoma, independente das demais; 5°) é credor quem possui o título por uma série não interrompida de endossos; 6°) ao credor não podem ser opostas as exceções fundadas no direito pessoal (Requião) 3. Natureza jurídica a) Franceses: a letra de câmbio é instrumento de um contrato. - Pothier: a letra de câmbio “é o meio pelo qual o contrato de câmbio se executa”; - Pardessus: trata-se de um mandato outorgado pelo sacador ao sacado. A circulação da letra

de câmbio seria oriunda de uma cessão ao tomador do crédito que o sacador tem contra o sacado;

- Thaller: o sacador delega ao sacado pagar ao tomador, este, endossando a letra, vai fazendo delegações sucessivas.

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- Wormos: é uma estipulação em favor de terceiros. b) Alemães: os direitos do título dependem de um ato unilateral de vontade. - Karl Einert: a letra de câmbio equivale ao papel-moeda. O direito do portador é um direito

abstrato e autônomo, independente da causa que lhe deu origem, justificando o nascimento desse direito como um ato unilateral de vontade do obrigado.

c) Italianos: fundamenta-se por certos direitos nascidos nos títulos. - Vivante: Literalidade, abstração e autonomia. 4. Requisitos essenciais nas letras de câmbio: art. 1º do Dec. 57.663/66, Lei Uniforme. a) A denominação letra de câmbio, inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título. b) O mandato (mandado) puro e simples de pagar uma quantia determinada. - Cláusula de juros > art. 5º da Lei Uniforme, art. 192, § 3º da CF. - Maneira de escrever > art. 6º c) O nome da pessoa que deve pagar - Nome do sacado. - Deve ser escrito no anverso, abaixo ou acima do contexto. - O sacador pode designar-se sacado (art. 3º, 2ª al.). - A indicação do sacado não lhe traz nenhuma obrigação. - Pode ser usado pseudônimo. - Sacado menor, absolutamente incapaz > é preciso fazer a indicação do seu representante

legal. - Relativamente incapaz > seu assistente deve assinar. - Pluralidade de sacados > a indicação pode ser:

cumulativa: todos devem aceitar a letra;

sucessiva: a apresentação deve ser feita na ordem da indicação;

alternativa: cabe ao portador escolher aquele a quem deve apresentar a letra. d) O nome da pessoa a quem, ou à ordem de quem a letra deve ser paga. - Tomador > beneficiário da ordem. - Letra ao portador > vedação, art. 1º, n.º 6. Isto, ao ser emitida. Vedação pelas Leis, 8021/90,

art. 2° e 8088/90, art. 19. - Endosso em branco > lança-se a assinatura no verso, sem indicar a pessoa a quem a trans-

fere. (arts. 12, 3ª al.; 13, 2ª al.). - Vários tomadores: somente se forem solidários. O endosso deve ser assinado por todos. e) A indicação da data em que a letra é passada. - Deve constar dia, mês e ano, podendo o dia e o ano ser escritos por extenso, ou em alga-

rismos; o mês sempre por extenso. - A lei brasileira (Dec. 2044/1908) não exigia tal requisito o que gerava burla do termo legal

da falência. f) A assinatura do sacador. - A assinatura do sacador é garantia, caso o sacado não aceitar ou não efetuar o pagamento.

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- Se o sacador é incapaz > a pessoa capaz que assinou posteriormente responde pela obriga-ção (autonomia).

- Letra emitida por ordem e conta de terceiro (art. 3º, 3ª al.) > o sacador é quem assina e é responsável. Dá-se em contrato de comissão

- A identificação do sacador pela impressão digital, ou a rogo, ou por sinal particular não é permitida.

- Chancela mecânica > cheque, Res. 74 de 1967 do BACEN, e reserva do art. 2º da Lei Uni-forme.

5. Requisitos não essenciais na lei uniforme. a) Época do pagamento (art. 1º, n.º 4) - Será pagável à vista a letra que não trouxer a época do pagamento (art. 2º, 2ª al.). - Novo C. Civil: Art. 889, § 1° (no mesmo sentido) b) Lugar do pagamento (art. 1º, n.º 5) - ―Na falta de indicação especial, o lugar designado ao lado do nome do sacado considera-se

como sendo o lugar do pagamento, e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do sacado‖ (art. 2º, 3ª al.).

- Se não houver menção ao domicílio do sacado, aplica-se o disposto no art. 889, §2°, CC/2002: considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente.

- Letra domiciliada > ―A letra pode ser pagável no domicílio de terceiro, quer na localidade onde o sacado tem o seu domicílio, quer noutra localidade‖ (art. 4º).

c) Lugar da emissão - ―A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo sido no lugar

designado, ao lado do nome do sacador‖ (art. 2º, 4ª al.). - Se não houver menção ao domicílio do sacador, aplica-se o disposto no art. 889, § 2°, CC:

considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente.

- Importância > art. 4º da Convenção destinada a regular certos conflitos de leis em matéria das letras de câmbio e notas promissórias e protocolo. A Letra é regida pelas normas do local de emissão. Ape-sar da uniformização, cada país fez ressalvas.

6. Prescrição: Art. 70, LUG.

III - O ACEITE 1 Conceito: ―Tendo o sacador expedido a ordem de pagamento a favor do beneficiário, dirigi-da ao sacado, resta que reconheça a validade da ordem, apondo a sua assinatura. Dá-se, então, o aceite da letra de câmbio, vinculando o sacado, agora aceitante, como seu obrigado principal. A apre-sentação para aceite se chama também de vista. Vista para aceite‖ (Requião).

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- Aceite separado: Art. 29, Lei Uniforme, última alínea: ―se, porém, o sacado tiver informado por escrito o portador ou qualquer outro signatário da letra de que aceita, fica obrigado pa-ra com estes, nos termos do seu aceite‖.

- Vencimento antecipado por recusa de aceite total ou parcial (art. 43, LU). - Falência do sacado: não pode aceitar a letra. O sacado perde a administração dos bens. 2 Apresentação para aceite - Letra sacada à vista: vence no ato da apresentação. Não há que se falar em aceite. - Letras a um certo termo de vista: a apresentação para aceite marca o início do prazo concedido

para o vencimento e pagamento.

Situações. Art. 22 da Lei Uniforme: - Apresentação, sem exigência de prazo, até o vencimento. - Proibição de apresentação antes de determinada data. - Proibição de apresentação para aceite: não há protesto por falta de aceite. Fica afastada a

possibilidade de vencimento antecipado. - Exclusão da cláusula de não-aceitação: Quando a letra é pagável em domicílio de terceiro a-

quele que tiver de pagá-la por conta do sacado precisa saber se este a reconheceu exata. 3 Limitação do aceite - Art. 11, p. único, Dec. n. 2044/08. - Art. 26, Lei Uniforme. 4 Cancelamento do aceite - Art. 29, Lei Uniforme: ―Se o sacado, antes da restituição da letra, riscar o aceite que tiver dado, tal

aceite é considerado como recusado. Salvo prova em contrário, a anulação do aceite considera-se feita antes da restituição da letra”.

6 Aceite por intervenção Conceito de intervenção: “é o ato cambiário pelo qual uma pessoa, estranha ou não à letra de câmbio, nela intervém, espontaneamente ou por força de indicação feita pelo sacador, endossante ou avalista, para aceita-la ou pagá-la por honra de um dos devedores indiretos e de regresso”6. 1°) Intervenção por necessidade: ocorre quando há a designação da pessoa do interve-niente.

O sacador, um endossante ou um avalista podem indicar uma pessoa para em caso de necessidade aceitar ou pagar (Art. 55).

- É necessário que haja direito de ação contra um devedor. - O interveniente pode ser um terceiro, ou mesmo o sacado, ou uma pessoa já obrigada em

virtude da letra, exceto o aceitante. - É preciso comunicar à pessoa por quem interveio no prazo de 2 dias úteis.

6 DA ROSA Jr, Luiz Emygdio F. Títulos de crédito. 1. ed. São Paulo: Renovar, 2000, p. 199.

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O aceite por intervenção pode realizar-se em todos os casos em que o portador de uma letra aceitável tem direito de ação antes do vencimento (Art. 56).

- Ocorrendo falta ou recusa de aceite, falência do sacado, o vencimento antecipado da obrigação pode ser obstada com o aceite por intervenção do sacador ou qualquer dos endossantes coobrigados.

2°) Intervenção espontânea: ocorre quando o interveniente não for indicado

A letra de câmbio pode ser aceita ou paga por uma pessoa que intervenha por um devedor qualquer contra quem existe direito de ação (Art. 55, 2ª al.).

Na intervenção espontânea o portador pode recusar o aceite por intervenção. Se, porém, o admitir, perde o direito de ação antes do vencimento contra aquele por quem a aceitação foi dada e contra os signatários subseqüentes (Art. 56).

É preciso indicar na letra por honra de quem se fez a intervenção; na falta desta indicação, presume-se que interveio pelo sacador (Art. 57).

O aceitante por intervenção fica obrigado para com o portador e para com os endossantes posteriores àquele por honra de quem interveio da mesma forma que este (Art. 58).

7 Prorrogação do prazo de apresentação para aceite

Art. 54

IV - O AVAL 1 - Conceito:

- ―Entende-se por aval a obrigação cambiária assumida por alguém no intuito de garantir o pagamento da letra de câmbio nas mesmas condições de um outro obrigado‖ (F. Martins)

- ―Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra‖ (Art. 30, al. 2ª, Lei Uniforme). 2 - Natureza jurídica - Garantia do cumprimento da letra em função das obrigações assumidas pelo avalizado (F. Martins). - Obs.: os obrigados não têm direito de ação contra os que se obrigam posteriormente.

P. ex.: A=>B=>C=>D=>=E=>F

- ―F‖ renunciou ao direito de cobrar de ―E‖ e de ―X‖ a importância constante da letra. ―D‖ não tem ação contra ―E‖ ou ―X‖. 3 - Requisitos do aval

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- O aval deve ser escrito na própria letra; - Exprime-se pela palavras ―bom para aval‖ ou fórmula equivalente; - Assinatura do avalista no anverso da letra, salvo tratando-se do sacado ou sacador; - Indicação da pessoa por quem se dá. Na falta presume-se dado ao sacador. 4 - Aval, fiança e endosso Aval Fiança civil

- É feito no próprio título - É contratual

- Autonomia da obrigação - Benefício de ordem

- Não havia exigência de outorga uxória. Com o Novo C. Civil Art. 1.647, é exigida.

- Outorga uxória (Art. 235, III, C. Civil.

- Endosso: É um meio de transferência dos direitos do título, mediante a assinatura do detentor legitimado, no verso ou anverso da letra, garantindo o endossante, salvo cláusula em contrário, o aceite e o pagamento da mesma (F. Martins). 5 - Aval ao sacado - ―...sendo independentes as assinaturas, e sendo conforme expressa a Lei Uniforme, o dador do aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele avalizada, subsiste o aval, pagando o avalista pelo sacado que não aceita a letra‖ (Requião). - A obrigação futura só se torna efetiva se o sacado aceitar a letra. ―Não aceitando o aval é in-subsistente, por inexistir obrigação do sacado; aceitando com modificação ou limitação, a obri-gação do avalista irá apenas ao limite da restrição... (Lei Uniforme, art. 26) (F. Martins). 6 - Avais simultâneos e sucessivos - Simultâneos: quando todos os avalistas garantem diretamente o avalizado. Neste caso, o que paga só pode reaver dos demais avalistas a quota que lhe cabe na divisão da dívida por todos. - Sucessivos: quando um avalista garante um outro avalista. Neste caso, o avalista que paga tem o direito de cobrar toda importância do que lhe está anterior. (Lei Uniforme, art. 47). - Súmula n.º 189 do STF: avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos. 7 - Nulidade da obrigação avalizada - Art. 32, al. 2ª, Lei Uniforme - RESPE n.º 162.332/São Paulo, STJ.

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V – ENDOSSO

1. CONCEITO: ―Endosso é o ato cambiário abstrato e formal, decorrente de declaração unilateral de vontade e correspondendo a uma declaração cambiária eventual e sucessiva, manifestada no título de crédito, ainda que dele não conste a clausula ―à ordem‖, pela qual, o beneficiário ou terceiro adquirente (endossante) transfere os direitos dele decorrentes a outra pessoa (endossatário), ficando, em regra, o endossante responsável pelo aceite e pelo pagamento‖. (Cf. L. E. da Rosa Júnior). OBS.:

- Ato exclusivamente cambiário: só pode ter por objeto título de crédito.

- Ato abstrato: desvincula-se da sua causa, sendo inoponível ao endossatário de boa-fé as exceções extracartulares que o devedor possa invocar em relação ao credor originário, uma vez que o terceiro adquire direito novo, originário e autônomo (LUG, art. 17).

- Ato formal: só pode ser dado no título, não se admitindo em documento dele separado (LUG, art. 13, al. 1ª). Sendo endosso em branco, deve ser dado no seu dorso (LUG, art. 13, al. 2ª).

- Declaração unilateral de vontade: não é necessária a declaração de vontade do endossatário.

- Declaração eventual: porque a sua falta não desnatura o documento como título de crédito.

- Declaração sucessiva: porque manifestada no título após a declaração originária (saque).

2. OUTROS MEIOS DE TRANSFERÊNCIA I) Sucessão hereditária, testamento e operações societárias (incorporação, fusão e cisão). II) Cessão de crédito (CCB, art. 1065 a 1078, novo CCB, arts. 286 a 298) a) É formalizada em documento separado do título b) Desvantagens em relação ao endosso: - O cessionário fica vulnerável à exceções extracartulares que possam ser opostas pelo devedor (CCB, art. 1072, novo CCB, art. 294) - Diminui a garantia de pagamento porque, salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor (CCB, art. 1074, novo CCB, art. 296), garantindo apenas a existência do crédito ao tempo da transferência (CCB, art. 1073, novo CCB, art. 295). 3. RESPONSABILIDADE DO ENDOSSANTE a) Lei cambiária e Novo Código Civil Lei Cambiária: O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da aceitação como do pagamento da letra (LUG, art. 15, al. 1ª). Novo Código Civil: Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título (art. 914). b) Cláusula excludente de responsabilidade

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- Não há fórmula determinada, podendo ser consignado no título: “endosso sem garantia”, “endosso sem devedor”, “endosso sem responsabilidade”, etc. 4. ENDOSSO E CESSÃO7

ENDOSSO CESSÃO

a) Natureza cambiária a) Direito comum

b) Declaração unilateral de vontade b) Contrato bilateral

c) Ato abstrato: não se vincula à sua causa c) Ato causal

d) Opera transferência de direito novo, autônomo e originário, desvinculado do direito do endossante

d) Direito derivado: o devedor pode opor ao cessionário as exceções causais (Art. 294, novo CCB)

e) Salvo cláusula em contrário, o endossante garante o pagamento (LUG, art. 15, al. 1ª)

e) Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica res-ponsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas ces-sões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé (Art. 295, novo CCB); Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor (Art. 296, novo CCB).

f) A nulidade de um dos endossos não prejudica a cadeia sucessória

f) A cessão viciada prejudica as demais

g) Transfere o título g) Transfere o direito de crédito

h) Ato puro: independe da anuência do devedor

h) Pode estar sujeito a encargo, condição ou termo: não vale em relação ao devedor, antes de sua notificação (CCB revogado, art. 1069, art. 290, novo CCB).

5. MODALIDADES DE ENDOSSO: endosso em preto, em branco e ao portador. a) Endosso em preto: - Pode expressar-se pela fórmula ―pague-se a João‖ - Para transferência o endossatário deve firmar outro endosso, em preto ou em branco. b) Endosso em branco: - O endossante deixa de mencionar o nome do beneficiário - O portador não necessita apor seu nome no verso da cártula antes de ajuizar ação de execu-ção. - Para legitimação do portador é preciso provar uma série ininterrupta de endossos.

- Vedação: Lei n.° 8088/90, art. 19:

7 Cf. ROSA JR, Luiz Emydgio F. da. Títulos de crédito. Rio de Janeiro: Renovar, 2000.

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Art. 19. Todos os títulos, valores mobiliários e cambiais serão emitidos sem-pre sob a forma nominativa, sendo transmissíveis somente por endosso em preto.

1° Revestir-se-ão de forma nominativa os títulos, valores mobiliários e cambi-ais em circulação antes da vigência desta lei, quando, por qualquer motivo, reemiti-dos, repactuados, desdobrados ou agrupados.

2° A emissão em desobediência à forma nominativa prevista neste arti-go torna inexigível qualquer débito representado pelo título, valor mobiliá-rio ou cambial irregular.

3° A Comissão de Valores Mobiliários regulamentará o disposto neste artigo em relação aos valores mobiliários.

c) Endosso ao portador: - Expressa-se pela fórmula ―pague-se esta letra ao seu portador‖. - Para a legitimação de quem detém o título basta a sua posse. - OBS.: a LUG não admite cambial ao portador porque a designação do beneficiário é requisi-to essencial (LUG, art. 1°, n.° 6, e 75, n.° 5). - Obs.: mesma vedação da Lei n.° 8088/90 6. CLÁUSULA NÃO À ORDEM a) Quem pode apor: só pode ser inserida por quem cria o título (LUG, art. 11, al. 2ª). b) Efeitos: não proíbe a circulação do título, mas apenas veda que seja feita através de endos-so, e, não retira a natureza cambiária do título. Os efeitos são os seguintes: 1°- veda a transferência do título por endosso; 2°- o título só pode circular pela forma de cessão; 3°- os cedentes não respondem pela solvência do devedor, não são obrigados cambiários (CCB, arts. 1074 e 1073, novo CCB, art. 286 a 298). 7. ENDOSSO PARCIAL a) Vedação: a legislação cambiária considera nulo o endosso parcial (LUG, art. 12, al. 2ª, e LC, art. 18, § 1°). b) Pagamento parcial e endosso: - É direito do devedor efetuar pagamento parcial e exigir do portador que se faça menção na letra e lhe dê quitação parcial (LUG, art. 33, als. 2ª e 3ª, e LC, art. 38, § único). - O portador pode transferir por endosso o saldo restante do título. Não se trata de endosso parcial. 8. PROIBIÇÃO DE NOVO ENDOSSO a) O portador, ao endossar o título, pode proibir que o endossante efetue novo endosso. - Fórmula: ―proibido novo endosso”, “não transferível”, ou outra.

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- Se o endossatário, mesmo assim, endossa o título, o endosso é válido, mas o endossante que apôs a cláusula não responde perante os portadores posteriores (LUG, art. 15, al. 2ª, e LC, art. 21, § único) b) Distinção com a cláusula sem garantia (LUG, art. 15, al. 2ª, e LC, art. 21). - A cláusula sem garantia exonera o endossante que a insere da responsabilidade cambiária peran-te qualquer portador. - A cláusula proibitiva de novo endosso não afasta a responsabilidade do endossante para com o seu endossatário. c) Distinções com a cláusula não à ordem (LUG, art. 11, al. 2ª, e LC, art. 17, § 1°). - Cláusula não à ordem:

- Só pode ser inserida pelo emitente;

- Restringe a circulação. Transmissão pela forma e com efeitos de cessão. - Cláusula proibitiva de novo endosso:

- Só pode ser inserida pelo endossante;

- Não impede a circulação do título por endosso, apenas afasta a responsabilidade cambi-ária do endossante em relação aos portadores subseqüentes ao seu endossatário.

9. CANCELAMENTO DE ENDOSSO (LUG, art. 16, al 1ª): - Os endossos riscados consideram-se não escritos, pouco importando a razão do cancelamen-to, bem como se é legítimo ou abusivo. a) Cancelamento legítimo (LUG, art. 50, al. 2ª, e LC, art. 54, § único): - Quando emana de endossante que tenha pago a soma cambiária, porque tem o direito de ris-car o seu endosso e os endossos posteriores. - O endossante pode ainda cancelar o endosso antes da tradição do título ao endossatário, res-tabelecendo sua propriedade. b) Cancelamento ilegítimo: - Quando não se justifica por qualquer das razões anteriores e visa apenas prejudicar o direito de outrem. - OBS.: O portador prejudicado poderá, pela via ordinária, pleitear o ressarcimento do prejuízo pois não poderá exigir cambiariamente o cumprimento da obrigação do devedor que teve sua assinatura riscada. 10. ENDOSSO PÓSTUMO a) Noção geral: Endosso póstumo é o efetuado após o protesto por falta de pagamento ou depois de expirado o prazo legal para a sua efetivação e produz os efeitos de cessão (LUG, art. 20, al. 1ª)8.

8 Cf. ROSA JR, Luiz Emydgio F. da. Títulos de crédito. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 247.

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Quando o protesto não comprova a falta de pagamento da letra, como é o que é feito em face da recusa total ou parcial do aceite ou nos demais casos mencionados nos números 2° e 3° do art. 43 da Lei Uniforme, não tira os efeitos cambiários do endosso, o que significa que os obri-gados anteriores não ficam desonerados em relação àqueles a quem a letra for endossada, como aconteceria se esse endosso significasse mera cessão civil9. b) Endosso sem data (LUG, art. 20, al. 2ª, e LC, art. 27): Salvo prova em contrário, o endosso sem data presume-se anterior ao decurso de prazo legal para se efetivar o protesto, ou tratando-se de cheque, também anterior à declaração equivalente ao protesto (a apresentação). c) Forma de endosso: O endosso póstumo tem forma de endosso, mas produz efeitos de cessão, ou seja, corresponde à cessão sob forma cambiária. Observações:

- Tendo o endosso tardio a forma de endosso, a sua validade em relação ao devedor in-depende da sua notificação, não se aplicando, portando, a norma do art. 290 do novo CCB (Art. 1069 do CCB revogado).

- O portador não tem ação cambiária contra os endossantes póstumos porque não garan-tem a solvência do devedor (efeitos de cessão) e nem contra os endossantes anteriores, caso o título não tenha sido protestado (LUG, art. 53, al. 2ª).

d) Efeitos da cessão:

- Os devedores podem opor ao adquirente do título eventual exceção que tenham em ra-lação ao credor originário (CCB, art. 1.072, e novo CCB, art. 294);

- Salvo cláusula em contrário, o endossante póstumo não responde pela solvência do de-vedor, e, portanto, não garante o pagamento (CCB, art. 1.074, e art. 296, novo CCB) e nem o aceite da letra de câmbio, respondendo apenas pela existência do crédito ao tempo da cessão (CCB, 1.073, e art. 295, novo CCB).

11. ENDOSSO IMPRÓPRIO a) Noção: Endosso impróprio, não translativo, incompleto ou não pleno, é o ato cambiário pelo qual o endossante transfere apenas o exercício dos direitos emergentes do título, sem ficar responsável cambiário pelo aceite e pagamento. O endosso denomina-se impróprio porque não cumpre a sua função precípua de operar a transferência dos direitos decorrentes do título10. ―Através do endosso impróprio, lança-se na cambial um ato que torna legítima a posse do en-dossatário sobre o documento, sem que ele se torne credor. Chama-se impróprio o endosso, nesse caso, exatamente porque um de seus efeitos normais – a transferência da titularidade do crédito – não se opera. Existem duas modalidades dessa categoria de ato cambial: o endosso-mandato e o endosso-caução.‖11 11.1. Endosso Mandato:

9 Cf. MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 13 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 129-30.

10 Cf. ROSA JR, Luiz Emydgio F. da. Op. Cit., p. 259.

11 COELHO, Fábio U. Curso de Direito Comercial. v. 1. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 404.

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a) Noção: é a cláusula cambiária pela qual o endossante constitui o endossatário seu mandatá-rio para a prática de todos os atos necessários ao recebimento da soma cambiária, e para tal lhe transfere o exercício de todos os direitos decorrentes do título. b) Forma:

- Não há imposição de fórmula única, sendo meramente exemplificativas as apresentadas pela LUG: ―valor a cobrar”, “para cobrança”, “por procuração”;

- Deve ser lançado no próprio título (literalidade);

- O endosso deve indicar a pessoa do endossatário (endosso em preto). Não há procuração ao portador (CCB revogado, art. 1.288, art. 653, novo CCB, e art. 149 do Ccom, parte revogada).

c) Poderes conferidos ao mandatário:

- A própria cláusula (endosso por procuração) investe o portador de todos os poderes necessários ao exercício dos direitos decorrentes do título, sem que haja necessidade de serem especificados na cláusula;

- Não opera a transferência da propriedade do título;

- O endossante-mandante pode vedar a prática de determinados atos pelo endossatário-mandatário (Dec. 2.044/1908, art. 8°, § 1°).

- O endossatário-mandatário pode lançar endosso mandato, podendo, conforme Fran Martins12, restringir os poderes do novo mandatário.

d) Argüição de exceções:

- Ajuizada a ação cambiária pelo endossatário-mandatário, os devedores acionados só podem argüir exceções relativas ao endossante-mandante (LUG, ar. 18, al. 2ª, LC, art. 26 in fine) porque o endossatário-mandatário age em nome de seu mandante.

e) Mandato civil e mandato mercantil (cambiário):

- Conforme o art. 18, 3ª al. da LUG, o mandato que resulta de um endosso por procuração não se extingue por morte ou sobrevinda incapacidade legal do mandante;

- Na lei civil a morte ou interdição de uma das partes faz cessar o mandato (CCB revoga-do, art. 1316, n. II, novo CCB, art. 682, II).

- Obs.: A norma garante a adimplência do devedor que paga ao endossatário-mandatário. 11.2. Endosso pignoratício ou caução (LUG, art. 19): a) Noção: é também modalidade de endosso impróprio, e, portanto, não opera a transferência da propriedade do título, mas consubstancia penhor dos direitos deles decorrentes em garantia de obrigação contraída pelo portador perante terceiro.

12

op. cit. p. 126.

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- A LUG em seu art. 19 prevê que ―quando o endosso contém a menção „valor em garanti‟, „valor em penhor‟ ou qualquer outra menção que implique uma caução, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas um endosso feito por ele só vale como endosso a título de procura-ção”.

- Não sendo proprietário do título não pode o endossatário pignoratício transferi-lo a ou-tro, na qualidade de proprietário.

b) Inoponibilidade das exceções pessoais:

- ―Os coobrigados não podem invocar contra o portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais deles com o endossante, a menos que o portador, ao receber a letra, tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor” (LUG, art. 19, al. 2ª).

- O credor da caução (endossatário-caucionado) exerce direito próprio, age em seu inte-resse, e é titular de direito autônomo, que o torna invulnerável à exceções pessoais que os coobrigados tenham em relação ao endossante-caucionante.

VI – PROTESTO 1- Conceito de protesto - ―Entende-se por protesto o ato solene destinado principalmente a comprovar a falta ou recusa do aceite ou do pagamento da letra‖ (F. Martins, p. 199). 2 - Modalidades de protesto 2.1 - Protesto por falta ou recusa do aceite - Apresentação facultativa: quando certa a data do vencimento. - Apresentação ―obrigatória‖: nas letras passadas ―a tempo certo da vista‖

2.2. Protesto por falta ou recusa de pagamento 3 - Efeitos do protesto 3.1 Efeitos do protesto por falta ou recusa do aceite 3.1.1 - Efeitos quanto ao título

- A primeira conseqüência da falta ou recusa do aceite, comprovada pelo protesto, é fazer com que o portador possa, antes do vencimento do título, exercer o direito regressivo con-tra os obrigados anteriores (art. 43, l. Uniforme).

- Endosso posterior ao protesto por falta de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz apenas efeitos de uma cessão civil (art. 20, L. Uni-forme).

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- E no caso de dispensa do protesto por falta de pagamento (art. 44, 4ª al.), quando já efetua-do o protesto por falta de aceite? Também o endosso teria efeito de cessão civil.

3.1.2 - Efeitos quanto ao sacado - Nenhum efeito produz. 3.1.3 - Efeitos quanto aos coobrigados - Direito de regresso antes do vencimento da letra (art. 43) 3.1.4 - Efeitos em relação ao portador - Se não promove o protesto:

por falta de aceite: renuncia o seu direito cambiário. Na Letra de Câmbio o sacador é considerado devedor indireto (art. 53, LUG).

por falta de pagamento: terá ação apenas contra o aceitante e seus avalistas. 4 - Constituição do devedor em mora pelo protesto - Juros de mora, contados a partir do vencimento (art. 48, LUG). 5 - Protesto para efeito de falência - Art. 94, I, Lei 11.101/05: Será decretada a falência do devedor que sem relevante razão de

direito, não para, no vencimento, obrigação liquida materializada em título ou títulos execu-tivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência. Neste caso, o pedido será instruído com os títulos e as certidões de protesto. (§ 3º)

- Obrigação líquida: certa quanto a sua existência e determinada quanto ao seu objeto (art. 1533, C. Civil).

- Comprovação da falta de pagamento: protesto (art. 44, Lei Uniforme). - Trata-se do protesto por falta ou recusa de pagamento, estando a letra aceita. Não é hábil

para pedido de falência o protesto por falta de pagamento de letra não aceita, nos casos de letra à vista. É que se não houve aceite não há obrigação.

- Protesto para efeito de falência fora do prazo estipulado no art. 44, al. 3ª, L. Uniforme. 6 - Protesto por falta de data de aceite - Lei brasileira (Dec. 2044/08), art. 9, § único: mandato presumido ao portador. - Lei Uniforme, art. 25, 2ª al.. - Também quando houver estipulação especial de prazo determinado (art. 22, als. 1ª, 3ª e 4ª). - Não provoca o direito de recebimento antecipado da letra. - Marca o início do prazo do vencimento. - Súmula 387, STF: ―A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser

completada pelo credor de boa-fé, antes da cobrança ou do protesto‖. - Art. 358, II, CPC: “cessa a fé do documento particular quando (...) assinado em

branco, for abusivamente preenchido”.

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7 - Protesto por falta de devolução da letra - É protesto por recusa do aceite - O protesto pode ser tirado:

por outro exemplar da letra, se existir.

Por indicações ao oficial de protesto (art. 31, Dec. 2044/08) 8 - Cláusula “sem protesto” - Art. 44, I, Dec. 2.044/08: a cláusula era considerada como não escrita. - Art. 46, Lei Uniforme. - Efeitos de acordo com a posição na letra daquele que inseriu a cláusula:

Sacador: a cláusula produz efeitos em relação a todos os signatários da letra. Se houver pro-testo, as despesas correm por conta do portador-protestante (art. 48, §3º)

Endossante ou avalista: os efeitos são apenas em relação a esse endossante ou avalista. Se a letra é protestada, as despesas com o protesto podem ser cobrados de todos as signatários da letra (art. 46, 3ª al., LUG).

Não há dispensa de apresentação (art. 46, 2ª al.) 9 Tempo e lugar do protesto 9.1 - Tempo de apresentação da letra para protesto por falta ou recusa de aceite - Primeiro dia útil que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do vencimento (art. 28,

Dec. 2044/08 c/c art. 9ª, anexo II, LUG). - Art. 24, 2ª al.: ―o protesto por falta de aceite deve ser feito nos prazos fixados para a apre-

sentação ao aceite‖. - Reapresentação para aceite: art. 24, 1ª al. - Regras específicas:

Letras à vista

Letras a dia certo

Letras a certo termo da data

Letras a certo termo de vista 9.2 - Tempo para apresentação para protesto por falta de pagamento - Primeiro dia útil que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do vencimento (art. 28,

Dec. 2044/08 c/c art. 9ª, anexo II, LUG). - Letra à vista: art. 44, 3ª al. (aplica-se a reapresentação) - Letras a dia certo, a tempo certo da data e a tempo certo de vista. 9.3 - Força maior que impede a apresentação para aceite ou pagamento - Prorrogação - Mais de 30 dias do vencimento. Promoção da ação independentemente de apresentação ou

protesto (art. 54, LUG) 2.5.9.4 - Prazo para ser tirado o protesto

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- Art. 28, do Dec. n.º 20044/08: dentro de 3 dias úteis. - Art. 12, da lei n.º 9.492/97: ―o protesto será registrado dentro de 3 dias úteis contados da

protocolização do título‖ - Obs.: na verdade o prazo de 3 dias é contado a partir da intimação do devedor, ficta ou

real. - Falência do aceitante. Não há necessidade de protesto (art. 44, al. 6ª, L. Uniforme). 9.5 – Lugar do protesto - Letra de Câmbio: O lugar indicado na letra para o aceite ou pagamento (art. 28, Dec.

2044/1908) - Cheque: Lugar do pagamento ou do domicílio do emitente (LC, art. 28, e LP, art. 6°) - Duplicata: Na praça do pagamento constante do título (LD, art. 13, § 3°). 10 - Sustação de protesto - Art. 17, Lei n.º 9.492/97 - Objetiva impedir a realização do protesto - Medida cautelar - Medida cautelar preparatória. 30 dias para propor a ação (Art. 806, CPC) 11 Cancelamento de protesto - Solicitação direta ao Tabelionato de Protesto de Títulos - Apresentação do título protestado para arquivamento (art. 26, Lei n.º 9.492/97) - Exibição de declaração de anuência dos credores - Cancelamento em decorrência de processo judicial (art. 26, § 4º)

VII – CHEQUE 1. Conceito:

- ―O cheque é uma ordem de pagamento à vista, sobre quantia determinada, emitida contra um banco, com base em provisão de fundos depositados pelo emitente ou oriundos de aber-tura de crédito‖ (W. Fazzio Júnior, 2000, p. 415).

1.1 Natureza jurídica: - ―...é título cambial, mas não título de crédito (...) É instrumento de pagamento, um quase

dinheiro, que traduz uma ordem de pagamento que se exaure com o recebimento do seu valor‖ (Paulo R. Neto, apud W. F. Júnior, p. 418).

- Presença dos elementos que caracterizam uma operação de crédito – a confiança e o prazo. É também um título de crédito (J. Eunápio Borges, apud W. F. Júnior).

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- Não é título de crédito em sentido estrito. É um instrumento de pagamento que se exaure com o recebimento do seu valor, todavia, possui literalidade e abstração, elementos peculia-res aos títulos de crédito tradicionais (W. F. Júnior).

2 Pressupostos de emissão do cheque: I- O saque contra o banco, ou instituição financeira equiparada (art. 3º, Lei n.º

7.357/85). Obs.: instituições financeiras equiparadas (arts. 17 e 18, Lei 4.595/64) - Sociedades de crédito, financiamento e investimento; - Caixas econômicas; - Cooperativas de crédito. II- Provisão de fundos disponíveis em poder do sacado (art. 4º) - Disponibilidade (§ 2º) a) os créditos constantes de conta corrente bancária não subordinados a termo; b) o saldo exigível de conta corrente contratual; c) soma proveniente de abertura de crédito. - Existência de fundos no momento da apresentação (art. 4º, § 1º) III- Autorização para emitir cheque em virtude de contrato (art. 4º, § 1º) - Regras para abertura de conta bancária: circular 559/1980 do Bacen, alterada pela circular

597/1980, alterada pela Res. 2025/1993 do Bacen. 2.1 Falta dos pressupostos da emissão. Validade - Art. 4º, parte final: ―a infração destes preceitos não prejudica a validade do título como

cheque‖. - A falta de fundos não descaracteriza o cheque. 3 Requisitos essenciais e supríveis. Assinatura. Apresentação 3.1 Requisitos essenciais e supríveis - Art. 1º, Dec. 57.595/66 I- A denominação ―cheque‖ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que

este é redigido; II- A ordem incondicional de pagar quantia determinada; III- O nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado); IV- A indicação do lugar do pagamento (suprível, art. 2º, I) V- A indicação da data e do lugar da emissão (Art. 889, § 2°, CC/2002)

Quanto ao lugar da emissão art. 2º, II.

Quanto a data: é suprível até sua apresentação (W. Bulgarelli, p. 315) – Art. 13, Dec. 57.595/66.

3.2 A assinatura - Assinatura: chancela mecânica (circular 103/1967, Bacen), art. 1º, parág. único, Lei

7.357/85.

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- As obrigações dos outros signatários não deixam de ser válidas se há no cheque assinaturas de pessoas incapazes de obrigarem por cheque, assinaturas falsas, assinaturas de pessoas fictícias (art. 10, L. Uniforme, e 13, Lei 7.357/85).

- Mandatário, sem tais poderes, ou que os excede ao assinar cheque: obriga-se pessoalmente. Pagando, tem os mesmos direitos daquele em cujo nome assinar (art. 14, Lei 7.357/85).

3.3 A apresentação a) o cheque é sempre pagável à vista b) prazo para apresentação

30 dias, se emitido na mesma praça (art. 33)

60 dias, se emitido em outra praça (art. 33) Praça: lugar onde houver de ser pago o cheque. c) A apresentação tardia acarreta: - Perda da ação regressiva do portador contra os endossantes e avalistas (arts. 40 e 41, Lei

Uniforme e art. 47, II, Lei 7.357/85) - Perda da ação contra o emitente, se este tiver ao tempo suficiente provisão de fundos e esta

deixar de existir, sem fato que lhe seja imputável (art. 47, § 3º, Lei 7.357/85) - Súmula 600 do STF: ―cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado

o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária”. 4 Revogação ou contra-ordem – art. 35, Lei n. 7357/85 a) Art. 35: ―o emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-lo, mercê de contra-ordem dada por aviso

epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as razões motivadoras do ato”. b) Características - É de iniciativa apenas do emitente do cheque - Não produz efeito durante o prazo de apresentação - Independe de motivo especial - Obs.: o título não perde a força executiva. c) Objetivo: - Visa desconstituir a ordem contida no cheque, razão pela qual só pode competir ao emiten-

te. 5 Oposição ou Sustação ao Pagamento. Cancelamento - Art. 36, LC.

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6 O cheque quanto a circulação Art. 69, Lei 9.069/96: “a partir de 1º de julho de 1994 fica vedada a emissão, pagamento e compensação de cheque de valor superior a R$ 100,00 (cem reais), sem identificação do beneficiário”. - Art. 8º, Lei 7.357/85: pode-se estipular no cheque que seu pagamento seja feito: I- a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa “à ordem”; II- a pessoa nomeada, com a cláusula “não à ordem”, ou outra equivalente; III- ao portador (vedação: Lei n.º 9.069/95) - Art. 14, Lei Uniforme:

É desnecessária a cláusula à ordem para transferência por endosso (1ª al.)

Inserção da cláusula “não à ordem”: o cheque é transmissível apenas através de cessão civil.

6.1 O endosso - Com a Lei da CPMF houve restrição a apenas 1 (um) endosso no período de vigência da

Lei (art. 17, I, Lei n.º 9.311/96)Endosso do sacado: é nulo (art. 15, L. Uniforme e 18, § 1º, Lei n.º 7.357/85.

- Endosso ao sacado: vale como quitação, salvo no caso de o sacado ter vários estabeleci-mentos e o endosso ser feito em favor de estabelecimento diverso daquele contra o qual o cheque foi emitido (art. 15, L. Uniforme e 18, § 2º, Lei 7.357/85)

- Endosso ao portador: vale como branco (art. 18, § 2º, Lei 7.357/85). - Endosso com cláusula ―não endossável‖ ou ―não à ordem‖: não responde perante os ulte-

riores endossatários (art. 18, L. U. e 17, § 1º, Lei 7.357/85). - Endosso com cláusula ―sem garantia‖: exclusão da garantia de pagamento (art. 18, L. U. e

21, Lei 7.357/85) - Endosso posterior ao protesto ou após findo o prazo de apresentação: não produz senão

os efeitos de cessão civil. Mas, salvo prova em contrário, presume-se lançado antes do pro-testo ou de expirado o prazo de apresentação. (art. 24, l U. e art. 27, Lei 7.357/85)

- Endosso mandato: o portador pode exercer todos os direitos resultantes do cheque, mas só pode lançar no cheque endosso mandato. Os obrigados somente podem invocar contra o portador as exceções oponíveis ao endossante.

2.9.6.2 O Aval – arts. 29 a 31, Lei 7357/85 - O aval pode ser total ou parcial - Pode ser prestado por terceiro ou por signatário do título - Ao sacado está vedada a posição de avalista - Exprime-se pelas palavras ―por aval‖ ou fórmula equivalente no anverso do título - O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação, considera-se avalizado o emitente. - O avalista se obriga da mesma maneira que o avalizado - Subsiste a obrigação do avalista, mesmo nula a obrigação garantida, salvo se houver nulida-

de de forma - Pago o cheque o avalista adquire os direitos dele resultantes contra o avalizado e

contra os obrigados para com este em virtude do cheque. 7 Modalidades de cheque

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7.1 Cheque marcado (art. 11 Dec. n.º 2.591/1912, vedação: LUG, art. 4º) - A marcação equivalia ao ato de aceite - Apesar da provisão de fundos, se o banco não tivesse recurso para pagar, marcava uma data

para pagamento. - A marcação produzia efeito de novação, exonerando os signatários de responsabilidade. 2.9.7.2 Cheque visado (LC, art. 7º, LUG, anexo II, art. 6º) a) Não vale como aceite b) O sacado não passa a integrar a relação cambiária como devedor c) O banco não poderá deixar de proceder o visto:

Se o visto for requerido pelo emitente ou portador, e

Tratar-se de cheque nominal, não endossado

Existir suficiente provisão de fundos

A assinatura do emitente conferir d) Quem pode solicitar o visto - O emitente e o portador legitimado e) Efeitos - Obriga o sacado a debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a reservá-la

em benefício do portador legitimado, durante o prazo de apresentação, sem que fiquem e-xonerados o emitente, endossantes e demais coobrigados (LC, art. 7º, § 1º).

2.9.7.3 Cheque cruzado (LC, arts. 44 e 45, LUG, arts. 37 e 38, e anexo II, art. 18) a) Legitimidade par inserir a cláusula (art. 44, LC) - Pelo emitente ou portador b) Formas e espécies - O cruzamento ocorre mediante a aposição de dois traços paralelos no anverso do cheque

(art. 44, LC) b.1) Cruzamento geral e especial c) Irrevogabilidade da cláusula (LC, art. 44, §3º) d) Natureza jurídica - A cláusula não confere ao banco a propriedade do cheque - É um contrato de mandato sui generis, porque não pode ser revogado (LC, art. 45, §3º), o

que se admite no mandato de direito comum (L. E. da Rosa Jr.) e) Efeitos (art. 45, LC) - Cruzamento geral: o cheque só pode ser pago pelo sacado a banco ou cliente do sacado,

mediante crédito em conta. - Cruzamento especial: o cheque só pode ser pago pelo sacado ao banco indicado, ou, se este

for o sacado, a cliente seu, mediante crédito em conta. - Obs.: tratando-se de cruzamento especial, o banco designado pode incumbir outro para a

cobrança, mediante endosso-mandato. - Cheque com vários cruzamentos especiais: só pode ser pago pelo sacado no caso de dois

cruzamentos, um dos quais para cobrança por câmara de compensação (LC, art. 45, § 2ª). - Obs.: não se admite mais deu cruzamento especial. Salvo se o primeiro banco indicado não

for membro da câmara de compensação, hipótese em que poderá fazer um segundo cru-zamento par o outro banco, membro da câmara.

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7.4 Cláusula para ser creditado em conta (LC, art. 46, LUG, art. 39 e anexo II, art. 18) a) Semelhanças e dessemelhanças em relação à cláusula do cruzamento a.1) Semelhança: - as duas cláusulas têm a finalidade de evitar o risco do pagamento indevido do cheque e de

impedir o pagamento em dinheiro a.2) Dessemelhanças:

CHEQUE CRUZADO CHEQUE PARA LEVAR EM CONTA

1º.Pode ser ao portador ou nominal 1º. Deve ser nominal

2º. Comporta transmissão 2º. Não comporta negociação mediante en-dosso

3º. Pode ser creditado na conta de qualquer pessoa, desde que portador legitimado

3º. O crédito só pode ser feito na conta do beneficiário d cláusula

b) Legitimidade para apor a cláusula - Pode ser inserida pelo emitente ou pelo portador do cheque (LC, art. 46)

c) Efeitos da cláusula - Maior segurança: em caso de roubo, furto, perda, etc, não há risco de pagamento a terceira

pessoa, que forjasse o endosso pelo beneficiário a seu favor. - Obs.: com o cheque cruzado há esse risco, pois o banco não está obrigado a verificar a au-

tenticidade das assinaturas dos endossantes (LC, art. 39) - Com a inserção da cláusula, o cheque não pode circular por endosso, porque o seu valor só

poderá ser creditado na conta do beneficiário. - Pode haver transmissão ―...por cessão civil, porque o legislador brasileiro não exercitou a

faculdade contida na reserva do art. 7º do anexo II da LUG e, em conseqüência, não fez penetrar no direito brasileiro a cláusula ―não transmissível‖, que impediria a transferência do cheque por endosso ou cessão‖ (L. E. F. da Rosa Jr.).

8 Ações cambiárias e ação extracambiária 8.1 Ação cambiária executória (arts. 47, 51 a 54, LC) a) Noção geral - Ação de execução com base em título extrajudicial (art. 585, I, CPC) - Lugar da execução: no juízo do lugar do pagamento do cheque (art. 100, IV, ―d‖ c/c art.

576, CPC) - Instrução da petição com o título (cartularidade). Exceções:

Em caso de justificação plausível da impossibilidade de exibição do original, v. g., o título instrui inquérito policial para apurar delito, utiliza-se cópia reprográfica autenticada.

- Cabimento da ação: não só em caso de ausência ou insuficiência de fundos, mas em caso de contra-ordem ou oposição sem relevante razão de direito.

- Não pagamento pelo sacado decorrente de defeito extrínseco do cheque mutilado, rasurado ou partido, etc.

- Conta conjunta bancária: não configura solidariedade entre os titulares. Há solidariedade ativa apenas no que se refere ao contrato com o sacado e não em relação a terceiros, por falta de previsão legal.

b) Legitimação ativa (LC, art. 47, LUG, art. 40) - O portador legítimo

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- O endossante-mandante, representado por seu endossatário-mandatário - O cessionário: fica vulnerável às exceções pessoais que possam ser argüidas pelo sacador

em ralação ao cedente, porque adquire direito derivado e não originário, como ocorre na aquisição do título por endosso.

- O obrigado que paga a soma constante do cheque: ação regressiva (LC, art. 51, §1º, parte final, e art. 51

c) Legitimação passiva - O portador pode demandar todos os obrigados, individual ou coletivamente, sem observar

a ordem da obrigação. - A ação contra um dos obrigados não impede sejam os outros demandados, mesmo que se

tenham obrigado posteriormente àquele (LC, art. 1, e §§1º e 2º) - O sacado não é devedor cambiário porque não pode aceitar ou avalizar o cheque (LC, arts.

6º e 29) - Não cabe chamamento ao processo dos outros devedores solidários (CPC, art. 77, III): =>por tratar-se de ação de execução =>por tratar-se de solidariedade cambiária - A ação cambiária contra o emitente e seu avalista independe de protesto e de apresentação

hábil (LC, art. 47, I e súmula 600 do STF) - Perda do direito de ação cambiária contra o emitente, no caso de apresentação tardia (LC,

art. 47, §3º). Não se aplica ao seu avalista. - Mantença dos direitos do portador em relação aos devedores indiretos. Pressupostos:

1º) apresentação em tempo hábil (LC, art. 33) 2º) recusa de pagamento comprovada por protesto ou declaração do sacado ou câmara de compensação (LC, art. 47, II)

- Dispensa do protesto ou declarações do art. 47: Se a apresentação ou pagamento são obs-tados por intervenção, liquidação extrajudicial ou falência (LC, art. 47, §4º)

- Cláusula não à ordem (LC, art. 17, §1º) e endosso posterior ao protesto ou declaração equiva-lente, ou a expiração do prazo de apresentação: o portador não terá ação de cobrança em face dos cedentes e dos endossantes póstumos, porque o cedente não garante solvência do devedor, respondendo apenas pela existência do crédito (CC/2002, art. 295 e 296).

- Cláusula excludente de responsabilidade cambiária (LC, art. 21) e endossante que proibiu novo endosso: com a primeira o endossante não figurará no pólo passivo da ação cambiária; com a se-gunda o endossante ainda responderá perante o endossatário, pelo menos.

d) Objeto (LC, art. 53) O portador: - A importância do cheque - Juros legais desde o dia da apresentação e recusa de pagamento pelo sacado. - Despesas que fez - Compensação pela perda aquisitiva da moeda Obrigado que paga: - Juros legais a partir do dia do pagamento

Obs.: - considera-se não escrita a estipulação de juros convencionais (LC, art. 10)

- ação movida pelo portador: exclusão das normas do art. 219 do CPC e 40 da Lei 9492/97 sobre fluência dos juros de mora.

e) Exceções: I) Exceções pessoais: p. ex., falsidade e falsificação de assinatura, coação, simulação,

fraude, ilicitude, ausência de causa debendi, exceção do contrato não cumprido, etc. II) Exceções comuns a todos os devedores: vício de forma, prescrição, decadência, paga-

mento, etc.

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f) Prescrição - Ação movida pelo portador:

. 6 meses da expiração do prazo da apresentação ou da data da 1ª apresentação (art. 59, LC) - Ação movida pelo obrigado que pagou:

. 6 meses do dia em que pagou ou do dia em que foi demandado (LC, art. 59, § único)

g) Interrupção da prescrição - Produz efeito somente contra o obrigado em relação ao qual foi promovido o ato interrup-

tivo (LC, art. 13 e 60) - Súmula 153, STF: o simples protesto cambiário não interrompe a prescrição. Entendimen-

to alterado pelo art. 202, III, CC/2002. - Obrigados na mesma condição: a interrupção estende-se aos demais 8.2 Ação de enriquecimento sem causa (LC, art. 61) a) Noção geral - Decadência (LC, art. 47, II) e prescrição (art. 59) b) Natureza jurídica: ―é ação cambial, porque fundada em cheque não-pago, que perde a sua força execu-

tiva mas não deixa de ser título cambiariforme, e, por isso, em regra, não há necessidade da prova da causa que o originou” (Luiz E. da R. JR.)

- O enriquecimento sem causa: . Presume-se contra o emitente; . Deve ser demonstrado em relação ao endossante; . Obs.: na relação cambiária não há enriquecimento indevido do avalista.

- Pressupostos da ação de enriquecimento sem causa: 1º) Existência de cheque válido, que não tenha sido pago; 2º) Ocorrência de prescrição ou decadência; 3º) Enriquecimento injusto do sacador ou endossante; 4º) Empobrecimento do portador.

c) Prescrição: - 2 anos, contados do término do prazo prescricional da ação de execução - Exclui-se o dia do começo d) Legitimação ativa - O portador legítimo - O obrigado cambiário de regresso - Os possuidores que adquiriram o título de acordo com as normas de direito comum (ces-

sionário, sucessor, herdeiros, legatários) e) Legitimação passiva - Em face do emitente e outros obrigados que se locupletaram injustamente - O avalista não se locupleta com o não pagamento. É ato de liberalidade o aval. 8.3 Ação causal (LC, art. 62) a) Requisitos: - Natureza pro solvendo do cheque - Apresentação do título - Prova do negócio jurídico sujacente b) Prescrição - 10 anos (Dez anos) (art. 205, CC/2002)

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Obs.: ―A ação fundada na relação causal não será cabível quando o cheque tiver sido emitido com natureza pro soluto, ou seja, dado em pagamento porque neste caso implica em novação, extinguindo a obrigação ínsita na relação subjacente que gerou o cheque e fazendo surgir uma nova obrigação, decorrente do cheque” (Luiz E. da Rosa Jr.).

VIII – DUPLICATA 1 Conceito e natureza jurídica 1.1 Conceito: É―... título formal, circulante por meio de endosso, constituindo um saque fun-dado sobre crédito proveniente do contrato de compra e venda mercantil‖. (R. Requião). 1.2 Natureza jurídica: É título causal exigindo para sua emissão provisão ―... consistente no crédito decorrente da efetiva entrega da mercadoria (e não do contrato de compra e venda, como se costuma afirmar). A Lei liga-se (a duplicata) a uma causa determinante, causa essa sus-cetível de ser discutida entre as partes diretamente envolvidas, sacador e sacado, e não oponível é claro, como acontece com todos títulos causais, ao terceiro de boa fé‖. (W. Bulgarelli).

Declaração principal: ordem de pagar (do vendedor) ou promessa de pagamento (do compra-dor)?

Questão: É emitida duplicata simulada, endossada pelo emitente. Não há aceite, com-provante da entrega ou remessa das mercadorias. Como fica o terceiro de boa fé?

2 Fatura comercial 2.1 Conceito: ―A fatura é escrita unilateral do vendedor e acompanha as mercadorias, objeto do contrato, ao serem entregues ao expedidas. Ela não é mais do que a nota descritiva dessas mercadorias, com indicação da qualidade, quantidade, preço e outras circunstâncias de acordo com os usos da praça. Não é título representativo da mercadoria‖. (J. X. Carvalho de Mendon-ça, apud R. Requião) 3 Duplicata Mercantil 3.1 Conceito: ―É título de crédito formal, circulante por meio de endosso, constituindo um saque fundado sobre crédito proveniente de contrato de compra e venda mercantil ou de pres-tação de serviços, assimilado aos títulos cambiários por força de lei‖. (R. Requião) 3.2 Requisitos essenciais: a) Art. 2°, § 1°, LD I- A denominação ―duplicata, a data de sua emissão e o número de ordem; II- O número da fatura; III- A data do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; IV- O nome e domicílio do vendedor e do comprador; V- A importância a pagar, em algarismos e por extenso;

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VI- A praça de pagamento; VII- A cláusula à ordem; VIII- A declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite cambial; IX- A assinatura do emitente. b) Lei n.° 6.268/75, art. 3°: as duplicatas de fatura, como todos os títulos de crédito, conterão obrigatoriamente a identificação do devedor pelo número de sua cédula de identidade, de ins-crição no Cadastro de Pessoas Físicas, do Título Eleitoral ou da Carteira Profissional. 3.3 Duplicata simulada a) Infração penal (Art. 26, LD, Lei n.° 8.137/90, art. 172, CP):

Art. 172. Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.

Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aqule que falsificar ou adulterar a escritu-ração do Livro de Registro de Duplicatas.

b) Venda de mercadoria para entrega futura:

―Ilegal o saque de duplicata sem o aperfeiçoamento da tradição da coisa vendida‖ (R. Requião)

―...tratando-se de venda de coisa para entrega futura, a doutrina equipara a duplicata à du-plicata simulada por não ter havido a tradição da mercadoria‖. (Luiz E. da Rosa. Jr.)

.: ―Se a duplicata preenche todos os requisitos formais exigidos pela lei, ela existe e tem validade formal, ainda que irregular, por ausência de causa, podendo o portador de boa-fé exercitar a plenitude dos direitos que teria, se perfeitamente regular fosse tal título, contra o sacador-endossante e avalista‖. (Luiz E. da Rosa Jr.)

―A instituição financeira endossatária, que o descontou (o título), como terceiro de boa fé, não pode ter o seu crédito contestado pelo não-cumprimento do contrato entre o vendedor e comprador‖. (R. Requião)

4 Emissão da duplicata

Emissão facultativa

Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura (LD, art. 2°, § 2°)

Se o pagamento é parcelado, pode ser emitida uma única duplicata (§ 3°)

Pode ser emitida uma série de duplicatas, uma para cada prestação, acrescendo-se uma le-tra do alfabeto ao número de ordem.

Venda mercantil para pagamento contra entrega de mercadoria ou do conhecimento de transporte, ou para pagamento em prazo inferior a 30 trinta dias, da entrega ou despacho das mercadorias. Necessidade de declaração de que o pagamento será feito nessas condições.

5 Vendas por consignação ou comissão 5.1 Comissão mercantil

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O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário, em seu próprio nome, à conta do comitente (CC, art. 693).

Trata-se de contrato de mandato relativo a negócios mercantis, quando pelo menos o comissário é empresário mercantil, sem que nesta gestão seja necessário declarar ou mencionar ou nomear o comitente (C. Com., art. 165, revogado)

O comissário fica diretamente obrigado para com as pessoas com que contratar. O ter-ceiro não tem ação contra o comitente, nem este contra aquele, salvo se o comissário fi-zer cessão dos seus direitos em favor de uma das partes (C. Com., art. 166, CC, art. 694)

O comissário tem direito a uma comissão 5.2 Consignação mercantil

Não tendo o consignatário a qualidade de comissário, a sua remuneração não corresponde a uma comissão no caso de revenda da coisa, mas à diferença entre o preço ajustado com o consignante e o preço efetivo da venda a terceiro.

A compra da coisa ao consignante se dá no mesmo momento da revenda a terceiro, há dois contratos simultâneos.

5.3 Vendas por comissários ou consignatários e a extração de duplicatas

Venda feita por conta do comissário (Art. 4°, LD): cabe a este a emissão de fatura e, facultativamente, de duplicata.

Venda feita por conta do consignatário (Art. 5°, §§ 1° e 2°, LD): havendo dois con-tratos simultâneos no ato da venda da mercadoria pelo consignatário, este deve expedir fatura e avisar o consignante para que este também a expeça para aquele assinar. A emis-são de duplicata é facultativa (art. 2°, LD)

6 Aceite 6.1 Modos de apresentação para aceite

Forma direta: pelo próprio vendedor ou seus representantes

Forma indireta: por intermédio de instituições financeiras, procuradores ou correspon-dentes.

6.2 Apresentação da duplicata à vista

Não comporta apresentação para aceite.

O vencimento opera com a apresentação (LUG, art. 34, al. 1ª)

O prazo para apresentação é de 1 (um) ano da data da emissão

Aplicam-se as regras do art. 34, LUG (Alteração do prazo de apresentação pelo sacador e endossante).

6.3 Prazos para apresentação

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O prazo para remessa da duplicata é de 30 (trinta) dias, contado da data de sua emissão (LD, art. 6°, § 1°)

Se a remessa for feita por intermédio de representantes, instituições financeiras, procuradores ou correspondentes, estes deverão apresentar o título ao comprador dentro de 10 (dez) dias, da data do seu recebimento na praça de pagamento.

6.4 Prazos para devolução (LD, art. 7°)

Quando não à vista deve ser devolvida pelo comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, devidamente assinada ou acompanhada de declaração por escrito, contendo as razões da falta de aceite.

O sacado pode reter a duplicata até a data do vencimento, desde que comunique, por escrito, ao apresentante, o aceite e a retenção.

A comunicação ao apresentante substituirá, quando necessário, no ato do protesto ou na execução judicial, a duplicata a que se refere.

6.5 Retenção ilegítima do título enseja:

Protesto por indicação do portador (LD, art. 13, § 1°, e Lei 9.492/97, art. 20, § 3°).

O sacador pode extrair triplicata (LD, art. 23) (Luiz E. da Rosa Jr.).

Ação cautelar de apreensão de título de crédito (CPC, art. 885) e prisão civil de depositá-rio infiel por falta de devolução de título de crédito. Inconstitucionalidade da prisão.

6.6 Recusa justificada do aceite pode ocorrer por motivo de (LD, art. 8°): 1° - Avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por

sua conta e risco; 2° - Vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devi-

damente comprovados; a) Primeiro prazo: Ainda na vigência do C.Com. o art. 211 estipulava que o comprador teria o prazo de 10 (dez) dias, a contar do recebimento da mercadoria, para reclamar dos defeitos ao vendedor, colocando a coisa à sua disposição ou constringindo-o a recebe-la mediante depósito judicial. A situação implicava em rescisão contratual, impedindo a emissão de duplicata ou tornando o título nulo, se já emitido, por falta de relação causal.

O Novo C. Civil alterou o prazo de 10 (Art. 178, § 2°) para 30 dias (Art. 445), na compra e venda civil de coisa móvel.

Obs.: Tratando-se de venda a consumidor, o prazo é de 30 (trinta) dias (art. 26, Lei n.° 8.078/90). b) Segundo prazo: Prende-se à dação pelo sacado das razões para a recusa do aceite, que é de dez dias, a contar do recebimento da duplicata para que a aceite ou não. 3° - Divergência nos prazos ou nos preços ajustados a) Tratando-se de duplicata de prestação de serviços as razões do não aceite são as seguintes

(LD, art. 21):

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Não correspondência com os serviços efetivamente contratados;

Vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devidamente comprovados;

Divergências nos prazos ou nos preços ajustados. Obs.: as razões do não aceite também devem ser dadas no prazo decadencial do art. 7°, por

força do disposto no § 3° do art. 20. b) Recusa imotivada de aceite e vencimento extraordinário da duplicata:

A letra de câmbio vence extraordinariamente nos casos de recusa total ou parcial de aceite e falência do aceitante (LUG, art. 43, n.1, e Dec. n.° 2.044/08, art. 19, II). Aplicação subsidiária à duplicata por força do art. 25, da LD.

7 PROTESTO 7.1 Conceito: “O protesto cambiário é o ato cambiário formal que prova a falta ou recusa de aceite ou a falta de pagamento (LUG, art. 44, al. 1ª), na se admitindo, em regra, outro meio de prova‖. 7.2 Modalidades

A Duplicata é protestável por: I - Falta de aceite; II - Falta de devolução; III - Falta de pagamento.

a) Protesto por falta de aceite

Deve ser tirado à vista da duplicata ou triplicata apresentada pelo seu portador.

Prazo: antes do vencimento e após o decurso do prazo legal para o aceite (Art. 44, al. 2ª, LUG, e art. 21, §, Lei n.° 9.492/97).

A soma passa a ser exigível dos devedores indiretos (Art. 43, LUG, e art. 25, LD). b) Protesto por falta de devolução

Prazo para devolução: 10 (dez) do recebimento para firmar o aceite (Art. 7°, LD).

O protesto é feito por indicações (Art. 13, § 1°, LD), com base nos dados extraídos do Livro de Registro de Duplicatas (Art. 19, LD).

Execução: far-se-á mediante instrumento de protesto, acompanhado da prova da entrega e recebimento da mercadoria ou da prestação de serviço (Art. 15, § 2°, LD).

Duplicata Virtual (§ único, art. 8°, Lei n° 9.492/97): Não havendo pagamento ou recusa do aceite no prazo do art. 7°, pelas razões do art. 8°, dar-se-á a execução com base em instrumento de protesto por indicação e no documento probatório da entrega e recebi-mento das mercadorias.

c) Protesto por falta de pagamento

Dispensa-se o protesto para execução em face do comprador, quando for dado o aceite (LD, art. 15).

É pressuposto para o aceite tácito (LD, art. 15, II, a).

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Prazo: 30 dias da data do vencimento, sob pena de perda do direito regressivo contra os endossantes e respectivos avalistas (LD, art. 13, § 4°).

O sacador somente integra a relação cambiária como devedor indireto se endossar o título a favor de terceiro.

Cláusula sem protesto ou sem despesas (LUG, art. 46).

A ausência de protesto por falta de aceite ou de devolução não impede o protesto por falta de pagamento (LD, art. 13, § 2°).

7.3 Lugar do protesto

Lugar do pagamento (LD, art. 13, § 3°), ainda que o devedor seja domiciliado em outro lugar.

Lugar do domicílio do devedor, se este não sofre qualquer prejuízo (RJTJMS 80/87, in L. E. F. da Rosa Jr.).

Não indicado o lugar do pagamento pode ser efetivado no lugar do domicílio do devedor.

Não constando do título nem a praça do pagamento, nem a indicação do domicílio do devedor, o documento não valerá como duplicata.

7.4 Correção monetária e juros

Termo inicial: data do vencimento da duplicata (Art. 48, al. 1ª, n. 2, LUG e Art. 1°, § 1°, Lei n.° 6.899/81).

Não se aplica a regra geral estipulada no § 3°, art. 1°, da Lei da Usura (Dec. 22.626) e no art. 40 da Lei do Protesto (Lei 9.492/97), que determinam o termo inicial como sendo o do protesto ou da respectiva ação.

8 DUPLICATA DE SERVIÇOS 8.1 Quem pode extrair

As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão também, emitir fatura e duplicata (Art. 20, LD).

As associações civis (CC, art. 20)

8.2 Pressupostos para sua extração

I - Existência de vínculo contratual; II - Extração de fatura; III - Efetiva prestação de serviços.

A extração de fatura e duplicata de serviços é sempre facultativa (Art. 20, LD)

A emissão de duplicata de serviços constitui ato comercial, mesmo que emitidas por fundações ou entidades civis.

8.3 Aceite tácito a) Requisitos (LD, art. 15, II, a e c, c/c art. 20, § 3°, 2ª parte): I - protesto por falta de pagamento; II - documento probatório da existência do vínculo contratual;

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III – prova documental da efetiva prestação dos serviços; IV– não tenha o sacado, comprovadamente, recusado o aceite no prazo do art. 7° e pelos motivos do art. 21 da LD. 8.4 Protesto

Constitui documento hábil, para transcrição do instrumento de protesto, qualquer documento que comprove a efetiva prestação dos serviços e o vínculo contratual que a autorizou (LD, art. 20, § 3°, 2ª parte).