apostila de sociologia 1ano

25
Profº Cristiano Bodart E.E.E.F.M. PROFª “FILOMENA QUITIBA” SOCIOLOGIA 1º ANO DO ENSINO MÉDIO Eixo: Ciência, Vida e Sociedade Aluno(a): ______________________________________ Piúma, ES 2010

Upload: joao-victor-satyro

Post on 30-Dec-2014

189 views

Category:

Documents


61 download

TRANSCRIPT

Page 1: Apostila de Sociologia 1ano

Profº Cristiano Bodart

E.E.E.F.M. PROFª “FILOMENA QUITIBA”

SOCIOLOGIA

1º ANO DO ENSINO MÉDIOEixo: Ciência, Vida e Sociedade

Aluno(a): ______________________________________

Piúma, ES2010

Page 2: Apostila de Sociologia 1ano

A SOCIOLOGIA estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações que ocorrem na vida em sociedade. Desta forma, estudar Sociologia é buscar compreender criticamente o mundo que está ao nosso redor e entender nosso papel como agente de mudança nele. A Sociologia nos permite enxergar o mundo com outros olhos. Bom estudo!

Primeiro trimestreUnidade 1: Sociologia como

ciência e suas origens

A Sociologia é uma ciência? Qual é o seu campo de estudo? Por que existe?

O homem só consegue sobreviver em sociedade. Isto implica numa série de inferências.

Sem certas regras seria impossível viver em grupo, pois a todo momento aconteceriam choques de interesses.

Viver em sociedade exige o estudo de fenômenos, chamados “sociais”, que vão aparecer por exigência deste fato. É para estudá-los que existe Sociologia.

A Sociologia vai além do estudo dos fenômenos sociais e parte para o levantamento de soluções e estuda como interferir nestes fenômenos, tendo por fim o bem estar coletivo. Podemos definir a sociologia como uma ciência que estuda os fenômenos sociais, refletindo sobre eles e tentando explicá-los através de certos conceitos, técnicas e métodos.

A sociologia não pode ter uma posição determinista em relação ao seu objeto de estudo, por se tratar de uma ciência humana e não exata, a possibilidade de quantificação das variáveis para seu estudo e sua transmissibilidade futura, assim como a generalização das relações entre as variáveis descobertas, é algo relativo e precário. Ela é ciência porque usa métodos e técnicas que lhe permitem estudar o social. Podemos afirmar que sem a estatística dificilmente a sociologia poderia ser considerada uma ciência. Seu campo de estudo é a organização da sociedade (a estática) e tudo o que acontece entre seus membros (dinâmica).

ATIVIDADE

1. Por que podemos afirmar que a sociologia é uma ciência?

2. Cite regras sociais sem as quais seria impossível conviver em grupo.

3. Dê uma de sociólogo. Faça o levantamento de um fenômeno social existente no seu ambiente escolar, sugira soluções viáveis e que obedeçam as regras deste ambiente, fazendo o estudo de como interferir neste fenômeno, tendo por fim o bem estar coletivo.

Sociologia X Senso Comum

A observação e o estudo do mundo em que vivemos pode ser feita de maneiras diversas. Há pessoas, por

exemplo, que baseiam suas opiniões sobre a sociedade que lhes abriga em dados cientificamente confirmados. No entanto, existem pessoas que optam por enxergar o mundo em que vivem através de seus próprios olhos, criando assim conceitos particulares e uma definição de mundo própria, sem quaisquer outras fontes de confirmação senão o próprio indivíduo.

O que muitos chamam de "achismo" ou de "ciência particular" é formalmente chamado de Senso Comum. A sociologia, conhecimento e estudo científico da sociedade formulado através de pesquisas históricas e pesquisas de campo, é antagônica ao senso comum. Isto ocorre no momento em que as teorias sociológicas são baseadas em pesquisas científicas, ou seja, em que são confirmadas através de todo um processo de observação e resgate de informações históricas.

Tomemos como exemplo uma situação social: numa cena de assalto, em que o assaltante é negro encontram-se dois observadores. Um deles, baseando-se apenas no senso comum, afirma: "O negro é assaltante porque tem preguiça de trabalhar". Contrapondo-se ao senso comum, ou seja, baseando sua afirmação em dados históricos e sociológicos, o segundo observador rebate: "Na verdade, o assaltante é negro devido às conseqüências de um processo de exploração chamado escravidão".

Como se pôde observar, a necessidade de confirmação de hipóteses mostra-se essencialmente presente na sociologia ou em qualquer outro estudo científico. Eis aí o que difere a sociologia e a ciência em geral do senso comum: a necessidade de uma base sólida, obtida através de pesquisas, para comprovar teorias.

Fonte: http://re-bo-lina.blogspot.com/2009/03/sociologia-x-senso-comum.html

SOCIOLOGIA E SOCIEDADE

Para a Sociologia, sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham

propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade. A sociedade é o objeto de estudo das ciências sociais, especialmente da Sociologia.

Também se chama de sociedade ou associação o agrupamento de pessoas para a

2

Page 3: Apostila de Sociologia 1ano

realização de atividades privadas, sendo reservada à primeira expressão à reunião com fins empresariais e a segunda para o conjunto que visa resultados sociais independentemente de benefícios financeiros.

Uma sociedade é um grupo de indivíduos que formam um sistema semi-aberto, no qual a maior parte das interações é feita com outros indivíduos pertencentes ao mesmo grupo. Uma sociedade é uma rede de relacionamentos entre pessoas. Uma sociedade é uma comunidade interdependente. O significado geral de sociedade refere-se simplesmente a um grupo de pessoas vivendo juntas numa comunidade organizada.

A origem da palavra sociedade vem do latim societas, uma "associação amistosa com outros".

Societas é derivado de socius, que significa "companheiro", e assim o significado de sociedade é intimamente relacionado àquilo que é social. Está implícito no significado de sociedade que seus membros compartilham interesse ou preocupação mútuas sobre um objetivo comum. Como tal, sociedade é muitas vezes usado como sinônimo para o coletivo de cidadãos de um país governados por instituições nacionais que lidam com o bem-estar cívico.

Pessoas de várias nações unidas por tradições, crenças ou valores políticos e culturais comuns, em certas ocasiões também são chamadas de sociedades (por exemplo, Judaico-Cristã, Oriental, Ocidental etc.). Quando usado nesse contexto, o termo age como meio de comparar duas ou mais "sociedades" cujos membros representativos representam visões de mundo alternativas, competidoras e conflitantes.

Também, alguns grupos aplicam o título "sociedade" a eles mesmos, como a "Sociedade Americana de Matemática". Nos Estados Unidos, isto é mais comum no comércio, em que uma parceria entre investidores para iniciar um negócio é usualmente chamada de uma "sociedade". No Reino Unido, parcerias não são chamadas de sociedade, mas cooperativas.

O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA: cenário de seu surgimento

A sociologia propriamente dita é fruto da Revolução Industrial, e nesse sentido é chamada de "ciência da crise" - crise que essa revolução gerou em toda a sociedade européia.

A história da civilização ocidental talvez não tenha enfrentado período tão conturbado quanto aquele compreendido entre o fim do regime feudal europeu e o nascimento do capitalismo. Período este que se arrasta do século XVI ao XVIII.

Conturbado não apenas no sentido de conflitos bélicos1[1]. Mas, principalmente, em relação às mudanças radicais nos aspectos econômicos, políticos e sociais. Mudanças que ao interferir na forma como a sociedade produz e distribui suas riquezas e na forma como passam a ser geridos os governos – e que por isso vão interferir também na forma como homens e mulheres se relacionam em seu cotidiano – criam uma nova visão de mundo tanto em relação a expectativas individuais e coletivas

1[1] A Guerra dos Trinta Anos (1618-48) e as Campanhas Napoleônicas são os mais característicos exemplos.

quanto em relação à compreensão dessa nova sociedade. Mudam-se hábitos e pensamentos. Muda-se a forma de agir e de como ver e compreender o mundo.

A economia eminentemente agrária e de comércio dá lugar à produção industrial de larga escala. O poder político muda não apenas de mãos – da nobreza para a nova classe, a burguesia – como também de forma – do regime monárquico ou similar, baseado na hereditariedade, para um regime de representação, a democracia. No Séc. XVI desenvolve-se o movimento que ficou conhecido por “Reforma Protestante”, propiciando tendência comportamental que contribuiu de modo significativo para a valorização do conhecimento racional. Com essa nova maneira de se relacionar com as coisas sagradas, a sociedade da época passou a analisar o universo de outra forma. Com isso a razão passa a ser soberana e é colocada como elemento essencial para se conhecer o mundo.A visão mítica e mágica do mundo foi substituída aos poucos pelo que foi chamado de razão – o homem assume seu papel como protagonista da história e o desenvolvimento tecnológico e científico torna-se meta da sociedade. A solidariedade comunitária dos servos camponeses do sistema feudal perde-se em meio às novas necessidades da massa das cidades, que apesar de ocupar um mesmo espaço geográfico se individualiza e se fragmenta – agora é cada um por si na batalha por uma vaga em uma indústria ou mineradora e na luta pela garantia da sobrevivência de seu núcleo familiar.

O avanço tecnológico e científico jamais experimentado pela humanidade num período tão curto, numa quantidade tão grande e variada e numa qualidade até então inimaginável foi outra característica importante desse período. Mas tão significante quanto o crescimento tecnológico e científico foram as condições a que a grande maioria da população das cidades industrializadas foi submetida. Uma enorme massa humana – incluindo-se aí idosos, crianças de até oito anos e mulheres grávidas – era colocada em situações completamente insalubres em fábricas ou minas de carvão2[2]. Jornadas que chegavam a catorze ou dezesseis horas de trabalho, salários reduzidos às necessidades mínimas de compra de alimentos, pagamentos de aluguéis (geralmente aos próprios empregadores) e aquisição de vestimentas básicas, mínima ou nenhuma segurança no local de trabalho (encurtando a vida ou a utilidade do operário). Estas eram condições comuns da nova classe que se formava como peça fundamental da lógica capitalista: a classe dos trabalhadores assalariados.

É neste período de nascimento e afirmação do capitalismo como relação social de produção hegemônica na Europa que surgem movimentos filosóficos3[3], explodem acontecimentos políticos e históricos marcantes4[4] e se dão saltos tecnológicos e científicos5[5] que reconfiguram não somente as relações econômicas, políticas e sociais como também acabam interferindo em toda a história da humanidade.

2[2] Principal fonte energética para a maquinaria industrial.3[3] Como o iluminismo, apostando na razão para o desenvolvimento da humanidade.4[4] A Revolução Francesa, que deu o poder político a quem já detinha o poder econômico, a burguesia.5[5] Sua maior expressão foi a chamada Revolução Industrial, em meados do século XVIII.

3

Page 4: Apostila de Sociologia 1ano

Em decorrência da complexidade da sociedade agora posta, surge a necessidade de uma ciência que possa compreender essa nova ordem. Uma ciência que possa entender a dinâmica das relações específicas e mais gerais que mulheres e homens mantêm entre si e com o mundo que os cerca. Nasce a sociologia em meio a um cenário enriquecido de variados e ainda incompreendidos elementos. E, por isso mesmo, extremamente desafiador para os que se dispunham a ordenar, transformar ou simplesmente decifrar as aparentemente caóticas relações sociais.

Atividade

4) O que é sociedade na visão da Sociologia?

1) A sociologia é necessária para a compreensão da sociedade em que vivemos? Por quê?

2) Apresente, em poucas palavras, os principais fatores colaboradores para o surgimento da Sociologia.

A CONTRIBUIÇÃO DOS CLÁSSICOS

1. DurkheimO AUTOR

David Émile Durkheim nasceu em 15 de abril de 1858, na França, e morreu em 1917. O princípio sociológico de Durkheim está fundado no social. Para ele, o que não advém do social não tem importância para a sociologia que ele pretende fazer. Isso

porque a sociedade é a pré-condição de ser humano: é na sociedade que o indivíduo. A vida social unifica, estrutura e gera significados para a existência humana. Ele é determinista, dando absoluto predomínio ao social tanto no plano causal quanto no plano das ações.

O social existe no plano ideal. Para Durkheim, é no social que está tudo aquilo que a gente sabe, que os antepassados descobriram e que as futuras gerações irão descobrir. O social é universal e, por isso, objetivo e racional.

REPRESENTAÇÕES COLETIVASO social cria representações coletivas, que

são atitudes comuns de uma determinada coletividade em uma determinada época. Esta representação coletiva independe dos indivíduos, pois o indivíduo não tem poder criativo. Em Durkheim, o social que determina o indivíduo. É

como se cada indivíduo trouxesse em si a marca do social, e esta marca determinasse suas ações.

DIVISÃO DO TRABALHO E FUNCIONALISMOA divisão do trabalho, para ele, pode ser:

normal ou geral e anômica ou patológica. Normal é o que se repete de maneira igual, o que funciona espontaneamente, gerando a solidariedade necessária à evolução do social. O patológico é aquilo que difere do normal. Durkheim acha que as coisas tendem à normalidade: até o patológico caminha para a normalidade.

Durkheim compara a sociedade a um corpo humano, onde o Estado é o cérebro, elaborando representações coletivas que aperfeiçoem a solidariedade. Para ele, todas as partes do corpo tem uma função, não havendo hierarquias entre as diferentes partes. É uma sociedade harmônica.

Até o crime é considerado normal porque não há sociedade onde não haja crime e também tem uma função social, a função de manter e gerar uma coesão social. Quando acontece um crime, a consciência coletiva é atingida: o social é agredido pelo indivíduo. Um ato não ofende a consciência coletiva porque seja criminoso, mas é criminoso porque ofende a consciência coletiva. No entanto, o Estado pode fortalecer a consciência coletiva através da punição do criminoso. É através da punição do criminoso que a consciência coletiva mantém a sua vitalidade. A pena impede um crescimento exagerado do crime, não permitindo que ele se torne patológico.

Numa visão durkheimiana, a impunidade, não-punição do crime pelo Estado, enfraquece a consciência coletiva, os laços de solidariedade, gerando um estado de anomia. Quando o patológico prevalece sobre o normal, há uma desestruturação social. O estado de anomia é uma situação limite e sem função na sociedade.

SOLIDARIEDADE MECÂNICA À ORGÂNICA

ÿ Solidariedade mecânicaEm De la Division du Travail Social, Durkheim esclarece que a existência de uma sociedade, bem como a própria coesão social, está baseada num grau de consenso entre os indivíduos e que ele designa de solidariedade. De acordo com o autor, há dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica.

A solidariedade mecânica prevalece naquelas sociedades ditas "primitivas" ou "arcaicas", ou seja, em agrupamentos humanos de tipo tribal formado por clãs. Nestas sociedades, os indivíduos que a integram compartilham das mesmas noções e valores sociais tanto no que se refere às crenças religiosas como em relação aos interesses materiais necessários a subsistência do grupo, essa correspondência de valores assegura a coesão social.

ÿ Solidariedade orgânicaDe modo distinto, existe a solidariedade

orgânica que é a do tipo que predomina nas sociedades ditas "modernas" ou "complexas" do ponto de vista da maior diferenciação individual e social (o conceito deve ser aplicado às sociedades capitalistas). Além de não compartilharem dos mesmos valores e crenças sociais, os interesses individuais são bastante distintos e a consciência de cada indivíduo é mais acentuada.

A divisão econômica do trabalho social é mais desenvolvida e complexa e se expressa nas

4

Page 5: Apostila de Sociologia 1ano

diferentes profissões e variedade das atividades industriais. Durkheim emprega alguns conceitos das ciências naturais, em particular da biologia (muito em uso na época em que ele começou seus estudos sociológicos) com objetivo de fazer uma comparação entre a diferenciação crescente sobre a qual se assenta a solidariedade orgânica.

Durkheim concebe as sociedades complexas como grandes organismos vivos, onde os órgãos são diferentes entre si (que neste caso corresponde à divisão do trabalho), mas todos dependem um do outro para o bom funcionamento do ser vivo. A crescente divisão social do trabalho faz aumentar também o grau de interdependência entre os indivíduos.

Para garantir a coesão social, portanto, onde predomina a solidariedade orgânica, a coesão social não está assentada em crenças e valores sociais, religiosos, na tradição ou nos costumes compartilhados, mas nos códigos e regras de conduta que estabelecem direitos e deveres e se expressam em normas jurídicas: isto é, o direito.

O FATO SOCIAL• “É fato social toda maneira de fazer, fixada

ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior", ou ainda, "que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais”.

• Três características dos fatos sociais:a. COERÇÃO SOCIALb. EXTERIORIDADEc. GENERALIDADE

Coerção social• A força que obriga o indivíduo a conduta e

a formas de pensar específicas – manifestas em representações coletivas e regras de comportamento.

• Exemplos: modelos de relações familiares, religião, língua, códigos legais etc.

• Coerção social direta: direito, educação, família e religião; coerção social indireta: língua, sistema econômico, desenvolvimento tecnológico.

• “A coerção social não exclui necessariamente a personalidade individual”.

Exterioridade• Existem e atuam sobre os indivíduos

independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente, ou seja, eles são exteriores aos indivíduos.

• As regras sociais, as crenças, os costumes, as leis e os valores já existem antes do nascimento das pessoas; são a elas impostos por mecanismos de coerção social, como a educação. Portanto, os fatos sociais são ao mesmo tempo coercitivos e dotados de existência exterior às consciências individuais.

• Uma conclusão lógica importante é que todo processo de socialização implica um alto grau de coerção (imposição).

Generalidade• É social todo fato que é geral, que se

repete em todos os indivíduos ou, pelo menos, na maioria deles.

• Os fatos sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado comum ao grupo, como as formas de habitação, de comunicação, os sentimentos e a moral.

• A generalidade distingue o essencial do fortuito e especifica a natureza sociológica dos fenômenos.

• Mas, ATENÇÃO: um fato social é geral porque é coletivo, mas não pode ser considerado um fenômeno coletivo apenas por ser geral. Quando falamos em um fato coletivo, afirmamos que esse fato é independente de suas manifestações individuais. Dito de outro modo, um fato não é social por ser generalizado em uma dada coletividade, porém é geral para a coletividade por ser social.

FATO SOCIAL NORMAL• Quando se encontra generalizado pela

sociedade ou quando desempenha alguma função importante para sua adaptação ou sua evolução.

• A generalidade de um fato social, isto é, sua unanimidade, é garantia de normalidade na medida em que representa o consenso social, a vontade coletiva, ou o acordo de um grupo a respeito de uma determinada questão.

"Para saber se o estado econômico atual dos povos europeus, com sua característica ausência de organização, é normal ou não, procurar-se-á no passado o que lhe deu origem. Se estas condições são ainda aquelas em que atualmente se encontra nossa sociedade, é porque a situação é normal, a despeito dos protestos que desencadeia”.

FATO SOCIAL PATOLÓGICO• Quando um fato põe em risco a harmonia,

o acordo, o consenso e, portanto, a adaptação e a evolução da sociedade, então estamos diante de um acontecimento de caráter mórbido e de uma sociedade doente.

• Patológico é aquele que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente. Como as doenças, são transitórios e excepcionais.

• Uma sociedade que não consegue se proteger punindo seus membros, pois lhe falta os parâmetros do “certo” e do “errado” é uma sociedade anômica.

• Anomia: ausência de regras instituídas e orientadoras da conduta dos indivíduos.

Atividades

3) Qual a contribuição de Durkheim para a Sociologia?

4) Segundo Durkheim, qual é o objeto de estudo da Sociologia?

5) Quais são as características do Fato Social? Explique cada uma delas.

6) O que é o fato social normal e patológico? Dê exemplo para cada um deles.

7) De acordo com a definição de Fato Social formulada por Durkheim, assinale a alternativa INCORRETA:

a) A escola é um fato social e – como instituição – cumpre um relevante papel na formatação do comportamento individual em consonância com as regras e valores presentes na consciência coletiva.

5

Page 6: Apostila de Sociologia 1ano

b) O ato de adoecer é um fato social, pois possuindo motivações biológicas podem ser percebidos como exteriores aos indivíduos; excetuando-se as doenças psicossomáticas e influenciadas por fatores sociais.c) A arquitetura de nossas casas constitui um fato social, na medida em que seguimos padrões e obedecemos a um senso estético exterior às nossas consciências individuais.d) O sistema eleitoral é um fato social, porque pertence à esfera da vida política.

8) Sobre a Sociologia de Durkheim assinale com (V) as afirmativas verdadeiras e com (F) as falsas.

a) ( ) O objeto de estudo da Sociologia segundo Durkheim é a ação social.b) ( ) O casamento, a educação, a escola, a religião, o crime, são exemplos de fato social.c) ( ) Durkheim se esforçou para emancipar a Sociologia das demais teorias da sociedade.d) ( ) Segundo Durkheim, a sociologia tinha por finalidade não só explicar a sociedade como também encontrar soluções para vida social.e) ( ) O objetivo máximo da vida social, de acordo com Durkheim é promover a harmonia da sociedade consigo mesma e com as demais sociedades.f) ( ) O crime não pode ser considerado um fato social normal.g) ( ) A sociedade apresenta como todo organismo, estados normais e patológicos.h) ( ) Sanções espontâneas são aquelas prescritas pela sociedade em forma de leis nas quais se estabelece a infração e a penalidade subseqüente.

1. WEBER O AUTOR

Max Weber nasceu em Erfurt, em 21 de abril de 1864, e faleceu em junho de 1920. Weber vive numa época em que as idéias de Freud impactavam as ciências sociais e em que os valores do individualismo moderno começavam a se consolidar. A grande inovação que Weber trouxe para a

sociologia foi o individualismo metodológico. Para ele, o indivíduo escolhe ser o que é, embora as escolhas sejam limitadas pelo grau de conhecimento do indivíduo e pelas oportunidades oferecidas pela sociedade. O indivíduo é levado a escolher em todo instante, o que faz da vida uma constante possibilidade de mudança. O indivíduo escolhe em meio aos embates da vida social. Essa idéia faz com que o sentido da vida, da história, seja dado pelo próprio indivíduo. Os processos não têm sentido neles mesmos, mas são os indivíduos que dão sentido aos processos.

AÇÃO SOCIALAÇÃO SOCIAL: é a conduta humana dotada de sentido.

• A ação social é o comportamento humano com uma intenção. Ex: uma festa, um assalto.

• A ação social, pode ser positiva ou negativa, dependendo do sentido que o ser humano dê a ela.

• A ação social gera efeitos sobre a realidade, pois toda ação modifica alguma coisa, causa reação positiva ou negativa. Este processo ação-reação causa efeitos que contribuirá para modificar a realidade.

Ex: Ataque coordenado de criminosos em São Paulo tem gerado sentimento de medo, pânico e completa insegurança entre a população da região e de outros Estados.

A sociedade em Weber é vista como um conjunto de esferas autônomas que dão sentido às ações individuais. Mas só o indivíduo é capaz de realizar ações sociais. A ação social é uma ação cujo sentido é orientado para o outro. Um conjunto de ações não é necessariamente ação social. Para que haja uma ação social, o sentido da ação deve ser orientada para o outro. Seja esta ação para o ‘bem’ ou o ‘mal’ do outro. A ação social não implica uma reciprocidade de sentidos: o outro pode até não saber da intenção do agente.

Para Weber há quatro tipos de ação social: ação social tradicional, ação social afetiva, ação social racional quanto aos valores, ação social racional quanto aos fins.

Ação social tradicional é aquela que o indivíduo toma de maneira automática, sem pensar para realiza-la.

Ação social afetiva implica uma maior participação do agente, mas são respostas mais emocionais que racionais. Ex.: relações familiares. Segundo Weber, estas duas primeiras ações sociais não interessam à sociologia.

Ação racional com relação a valores é aquela em que o sociólogo consegue construir uma racionalidade a partir dos valores presentes na sociedade. Esta ação social requer uma ética da convicção, um senso de missão que o indivíduo precisa cumprir em função dos valores que ele preza.

Ação racional com relação aos fins é aquela em que o indivíduo escolhe levando em consideração os fins que ele pretende atingir e os meios disponíveis para isso. A pessoa avalia se a ação que ela quer realizar vale a pena, tendo em vista as dificuldades que ele precisará enfrentar em decorrência de sua ação. Requer uma ética de responsabilidade do indivíduo por seus atos.

Relação social não é o encontro de pessoas, mas a consciência de ambas do sentido da ação. A relação social é sempre probabilística, porque ela se fundamenta na probabilidade de ocorrer determinado evento, o que inclui oportunidade e risco. A vida social é totalmente instável: a única coisa estável da vida social é a possibilidade (e necessidade) de escolha. Não há determinismos sobre a o que será a sociedade. Por isso, as análises sociológicas são baseadas em probabilidades e não em verdades.

DOMINAÇÃOComo já dissemos a vida social para Weber

é uma luta constante. Por conta disso, ele não vê possibilidade de relação social sem dominação. Todas as esferas da ação humana estão marcadas por algum tipo de dominação. Não existe e nem vai existir sociedade sem dominação, porque a dominação é condição de ser da sociedade. A dominação faz com que o indivíduo obedeça a uma ordem acreditando que está realizando sua própria vontade. O indivíduo conforma-se a um padrão por

6

Page 7: Apostila de Sociologia 1ano

sua própria escolha e acha que está tomando uma decisão própria.

Existem pelo menos três tipos de dominação legítima: legitimação tradicional, legitimação carismática e legitimação racional. Para Weber a burocracia é a mais bem acabada forma de dominação legítima e racional. A burocracia baseia-se na crença na legalidade ou racionalidade de uma ordem. A burocracia mais eficaz de exercer a dominação. E é uma conseqüência do processo de racionalização da vida social moderna, sendo responsável pelo gerenciamento concentrado dos meios de administração da sociedade.

Atividades

9) Para a teoria sociológica de Max Weber, em toda sociedade há dominação, que é entendida como uma “[...] probabilidade de haver obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de um determinado grupo de pessoas [...]”. Fonte: WEBER, M. Tradução de Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. Economia e Sociedade, Brasília: Ed. UnB, 1991, p. 139.

De acordo com a teoria sociológica do autor, é correto afirmar que os três tipos puros de dominação legítima são:a) Racional, tradicional e carismática.b) Econômica, social e política.c) Feudal, capitalista e comunista.d) Monárquica, absolutista e republicana.e) Socialista, neoliberal, social-democrata.

2. MARX

O AUTORKarl Marx (1818-1883) talvez seja o mais conhecido cientista social e também o menos conhecido. Explico melhor: é difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar de Marx, mas também é difícil encontrar

pessoas que conheçam bem as idéias deste autor. Talvez porque o pensamento de Marx seja muito aberto, o que possibilita leituras diferenciadas. Mas o pensamento de Marx é mais bem aproveitado pelos economistas que pelos cientistas sociais. Isso porque para Marx, a mercadoria é a base de todas as relações sociais, e este é o ponto-chave para a compreensão de suas idéias. Para ele, há uma tendência histórica das relações sociais se mercantilizarem: tudo vira mercadoria.

Provavelmente Marx tenha dado tanta importância à economia porque estivesse presenciando as mudanças sociais provocadas pela Revolução Industrial, principalmente nas relações de

trabalho. A partir da centralidade da mercadoria no pensamento de Marx, podemos entender alguns de seus conceitos mais importantes. Comecemos pela divisão do trabalho.

DIVISÃO DO TRABALHOEvolutivamente, a divisão do trabalho é a

segunda maneira de construir relações sociais de produção, que são formas como as sociedades se organizam para suprir suas necessidades. A primeira é a cooperação. Falar em divisão do trabalho em Marx é falar em formas de propriedade. Isso porque a divisão do trabalho se dá entre quem concede e quem executa o trabalho, entre os donos dos meios de produção e os donos da força de trabalho.

CLASSESDa divisão do trabalho surgem as classes.

Para Marx, as classes não são constituídas de agregados de indivíduos, mas são definidas estruturalmente: as classes são efeito da estrutura. No modo de produção antigo as classes eram a dos patrícios e dos escravos; no modo de produção feudal, havia senhores e servos; no modo de produção capitalista, burgueses e operários. Há sempre uma relação de oposição entre duas classes, de modo que uma não existe sem a outra. Esta oposição ele chamou de luta de classes.

LUTA DE CLASSESA luta de classes, assim como as classes

decorrem da divisão do trabalho. Nas sociedades modernas a luta de classes se dá entre capitalistas ou burgueses (donos dos meios de produção) e trabalhadores ou proletariado (donos da força de trabalho). O trabalho nas sociedades modernas é denunciado por Marx pelo seu caráter exploratório do trabalhador. No entanto, Marx vê uma solução para esta relação exploratória: a revolução que seria feita pelo proletariado. No entanto, a revolução do proletariado contra o modo de produção capitalista só não acontece, segundo Marx, devido à alienação.

FETICHISMOA separação da mercadoria produzida pelo

trabalhador dele mesmo esconde o caráter social do trabalho. O fetichismo se dá quando a relação entre os valores aparece como algo natural, independente dos homens que os criaram. A criatura se desgarra do criador. O fetichismo incapacita o homem de enxergar o que há por trás das relações sociais. E o maior exemplo de fetichismo da mercadoria é a mais-valia.

MAIS-VALIAA mais-valia é o excedente de trabalho não

pago, não incluído no salário do trabalhador. É a mais-valia que forma o lucro que será investido para aumentar o capital.

ALIENAÇÃOA alienação faz com que o trabalhador não

se reconheça no produto de seu trabalho, não percebendo a sua condição de explorado. A solução para o problema da alienação passa por uma luta política do próprio proletariado e não pela educação.

IDEOLOGIAComo dissemos, as classes dominantes

controlam os meios de produção. A infraestrutura (conhecimentos, fábricas, sementes, tecnologia etc.), que está nas mãos da classe dominante, determina a

7

Page 8: Apostila de Sociologia 1ano

superestrutura (Estado, Direito, Religião, Cultura etc.). A superestrutura é uma construção ideológica que serve para garantir o poder da classe dominante, mantendo a classe trabalhadora alienada.

Charge e SociologiaAtividade

10) Produza uma charge abordando a temática “classes” ou desigualdade social.

Sugestão: Assista ao Vídeo: Alienação e Trabalho em: http://www.youtube.com/watch?v=7-3GNPM9Wok&feature=player_embedded#

Aplicando a teoria a prática cotidiana: questões para a reflexão sociológica

11) Por que as pessoas de um bairro se unem para criar uma associação comunitária, ou de bairro?

12) 2 – Por que os brasileiros que nunca entraram em uma igreja se dizem ser católicos?

13) 3 – Por que a sociedade repugna o usuário de maconha?

14) 4 – Por que existem leis e normas na escola? Elas são necessárias?

15) 5 – Por que usamos roupas para sair de casa? Usar roupa é um fato social? Por quê?

Atividade16) Produza um resumo abordando as

principais idéias apresentadas pelos três sociólogos estudados (Durkheime, Weber e Marx).

8

Page 9: Apostila de Sociologia 1ano

Segundo trimestreUnidade 1: Comunidade e

rivalidade

Comunidade e rivalidade

VIOLÊNCIA NAS TORCIDAS ORGANIZADAS CARIOCAS

por Renato Lanna

As histórias de vida, as estratégias dos indivíduos munidos de paixão, os sentimentos que unem o torcedor ao seu time, mostram um conjunto diversificado, formado principalmente por jovens do sexo masculino num universo social no qual alguns indivíduos radicalizam seu pertencimento e tornam-se militantes profissionais de seus times, abandonando família, trabalho etc... para serem somente a acima de tudo torcedores.

De acordo com Maurício Murad os torcedores organizados são originários de todas as classes, de todas as faixas de renda, de escolaridade, de profissionalização, de informação, alem disso, cerca de 80% concentram-se na faixa etária dos 14 aos 25 anos e destes 50% são menores de idade, esses dados são nacionais, não se restringindo a um determinado estado, região ou cidade, embora os problemas mais agudos ocorram principalmente nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, nesta ordem.

A presença de torcedores nos jogos incentivando um time de futebol é fato que remonta a década de 10 do século passado. Nessa época, o futebol era um esporte amador e os jogadores pertenciam à elite, ou seja, para freqüentar os clubes era preciso ser branco e de boa família. O primeiro clube fundado para a prática do futebol no Rio de janeiro foi o Fluminense em 1902, em 1904 surge o Botafogo, iniciando-se o conhecido clássico vovô.

Nascido inicialmente como clube de regatas o Flamengo só se forma para o futebol em 1912 após uma dissidência do Fluminense.

A divulgação do futebol entre as classes populares já pode ser observada em fins dos anos 20, conquistando simpatias e espaços cada vez maiores, atraindo mais e mais espectadores, aos poucos os clubes vão abrindo suas portas para os torcedores mais simples. Até então, não era bem aceita a participação de negros nos clubes de elite. Entretanto um clube de Segunda divisão veio contrariar o rumo dos fatos, seu nome Vasco da Gama, clube de comerciantes portugueses do subúrbio dá seus passos no futebol a partir de 1916, aceitando negros em seu elenco.

A popularização do Flamengo, nos anos 30 e 40, faz surgir uma rivalidade importante no futebol carioca com o Vasco, a partir daí surgem as primeiras bandeiras e torcedores organizados com as cores dos clubes, morteiros, fogos e balões. Em 1942 Jaime de Carvalho funda a primeira torcida

organizada: a charanga rubro-negra, banda musical que passou a apoiar o time sem qualquer apoio financeiro do clube. Outra personagem de destaque é Dulce Rosalina fundadora da Torcida Organizada do Vasco (TOV) em 1944.

Uma figura igualmente famosa foi o mineiro Otacílio Batista conhecido como Tarzã. Durante muitos anos líder da Torcida Organizada do Botafogo (TOB). Seu apelido vinha de seu porte atlético adquirido por anos de alterofilismo. Entre as décadas de 50 e 70 se tornou conhecido por investir de peito aberto contra as torcidas adversárias tendo nas mão uma bandeira do Botafogo. “Sou o maior anti-flamenguista da história” dizia com orgulho.

Todos esses nomes parecem se constituir como torcedores-símbolos, figuras que representavam toda a torcida.

Na década de 70, principalmente após a conquista da Taça Jules Rimet, o futebol assume outras dimensões com a criação de novos espaços, interesses políticos e investimentos econômicos. Nesse período o país vivia uma fase de otimismo que ficou conhecida como “milagre brasileiro”. A propaganda oficial falava do Brasil como o “País do futuro”. Paralelamente as estas transformações a relação torcedor – futebol assume outros aspectos. Afirmam-se as primeiras organizações burocratizadas de torcedores, inaugurando um novo padrão de relacionamento entre si e com os dirigentes dos clubes, com mais cobranças e críticas a jogadores e dirigentes. Outro fator relevante desse período é o aumento do número de jovens nestas torcidas.

Ao longo dos anos 80 as torcidas organizadas fortaleceram-se enquanto grupo, explicitando uma outra forma de sociabilidade em relação ao futebol, fundamentado em um modo diverso de torcer que se respalda, entre outras coisas, na crença de tais torcedores em seu poder de escolher, demitir e projetar jogadores técnicos e dirigentes.

Definidos substancialmente como grupos perigosos, essas organizações nos anos 90, foram diversas vezes responsabilizadas na mídia, pelo afastamento das famílias dos estádios. Os enfrentamentos entre torcedores rivais, e entre estes e a polícia, fortalecendo a imagem de um torcedor organizado violento ligado a gangues.

Para alem do espetáculo de cores, cânticos e bandeiras, expressando o clima de disputa e reforçando a rivalidade que se travará no campo, tais associações se teriam tornado um local privilegiado de desmedida violência juvenil sob tutela dos próprios clubes, devendo, pois, serem banidas do futebol profissional.

A Torcida Jovem do Flamengo dividi-se em “pelotões”, a Torcida Jovem do Botafogo em “esquadrões”, A Força Jovem do Vasco em “famílias” e a Young Flu em “núcleos”. Para cada um desses seguimentos existe um líder que pode ser indicado ou eleito, sua função e representa-los, aumentar os sócios, arrecadar capital (as torcidas mantém-se com as mensalidades, venda de material e eventos).

As torcidas organizadas têm representantes que participam de reuniões do Conselho Deliberativo de cada clube, contando com salas na sedes dos clubes para guardar material.

Dependendo da diretoria dos clubes as relações podem ser bem amistosas e interesseiras (patrocínios e distribuições de ingressos). Uma exceção a essa regra é a Torcida Jovem do Vasco que após uma série de conflitos e discussões rompeu com a diretoria em 1998: “O Eurico Miranda tentou

9

Page 10: Apostila de Sociologia 1ano

proibir a nossa entrada, não porque nós arrumamos confusão ou briga, mas porque a gente ficava gritando: Eurico, 171”

Outro aspecto é a relação das torcidas com os jogadores. Nesse sentido diferenciam os bons jogadores dos ídolos. Estes, segundo eles, vestem a camisa, honram o clube, defendem suas cores, dão identidade ao time, ajudam a escrever sua história. Além disso atraem novos torcedores. Tornam-se assim heróis, verdadeiros mitos os maiores exemplos são os de: Zico (Flamengo), Roberto Dinamite (Vasco) e Garrincha (Botafogo). Outra forma de relacionamento com os jogadores se dá de forma menos nobre, são muitos os casos de jogadores que financiam torcedores para não serem hostilizados nas arquibancadas.

As torcidas e seus símbolosA década de 80 aparece como um momento

privilegiado para afirmação da identidade coletiva das torcidas organizadas, com a criação de símbolos e de divisões internas que os caracterizam até hoje. A Jovem do Flamengo denomina-se Exército rubro-negro. Tem como marca um tanque com três canhões e o escudo do Flamengo ao centro. Seu lema é: “Nada do Flamengo, tudo pelo Flamengo”.

A Jovem do Botafogo é representada por uma caveira com dois ossos cruzados, tendo na testa a estrela solitária. A Forças Jovem do Vasco, por sua vez, tem como mascote Eddie, uma criatura cujo o rosto é uma caveira apropriada do grupo de Heavy-metal Iron Maiden.

Finalmente a Young Flu tem como marca o próprio nome registrado no escudo do time. Alem destes são usados dragões, personagens poderosos como Hulk, He-Man e líderes político que esteja em evidência que expressem bravura e coragem como Aiatolá Khomeini, Sadan Hussein e Che Guevara.

A que remete tais símbolos? O que estariam enfatizando? Observando atentamente percebemos a presença predominante de elementos tomados de empréstimo do universo militar (tanques, canhões, exercito, esquadrão, pelotão) e figuras que indicam perigo ou morte (caveiras, caveiras com adagas cravadas, caveiras com dois ossos cruzados e monstros com armas).

Isso significa que sobre tais símbolos são projetadas noções e sentimentos que estão fora deles, mas através dos quais as torcidas colocam em foco valores como força, garra, astúcia, coragem e fidelidade. Os símbolos constituem sua marca, tornam-se um sinal coletivo, indicador de sua identidade, estando seus significados, não neles mesmos, mas nas associações que possibilitam. O conjunto de símbolos de cada torcida é compartilhado por seus membros como verdadeiros sinais de distinção expressos em todo o material que produzem.

A partir daí se desenvolve um processo bélico entre essas torcidas que vão desde cantos ofensivos e preconceituosos, xingamentos do mais obscenos até, o que é pior, enfrentamentos diretos fora e dentro dos Estádios que muitas vezes levam a morte desses torcedores.

A violênciaSe os códigos de guerra ou de morte estão

ai presentes e se mantém é porque de alguma forma comunicam com especial eficácia as percepções desses torcedores sobre o mundo em que vivem. Não basta dizer que escolhem porque são violentos. Isso não explica o fenômeno, nem sua permanência,

nem sua eficácia. É possível que através do futebol, os torcedores elaborem sentimentos, contradições, vivências que são ali ritualizadas.

A violência e igualmente um objeto de ritualização no espaço do estádio. Todavia, se ela ultrapassa os limites aceitáveis, há que se endagar, o que está ocorrendo com a sociedade e não com os torcedores organizados isoladamente, como se fossem grupos que se reúnem pela violência, sem referencia com outros contextos. Condenar o futebol ou as torcidas organizadas, como faz a maior parte da mídia, não vai tornar mais compreensível o fenômeno que está se desenrolando. Partindo então de que a violência não seja causada pelo futebol, mas apenas expressa através dele, vale então perguntar o que estimularia tais conflitos?

Na visão de Nobert Elias, a função compensadora da excitação através do jogo aumenta à medida que as inclinações para as excitações sérias e ameaçadoras diminuem.

Isso significa que o esporte se constitui numa espécie de antídoto ao excesso de controle e tensão dos indivíduos, fazendo-os liberar moderadamente suas emoções. Na excitação séria, as pessoas podem perder o autocontrole e tornarem-se uma ameaça, tanto para si próprio como para os outros, ao passo que aquela promovida pelas atividades de lazer, não apenas seria despojada de perigo, como pode ter um efeito cartático, contudo, o autor admite a possibilidade da última forma transforma-se na primeira, suscitando o que denominou de jatos de descivilização, admitindo que esse tipo de violência respalda-se na realidade, é preciso estar atento ao que se passa na sociedade que, de algum modo, encontra expressão entre os torcedores organizados. Torna-se crucial, pois, conhecer as tensões existentes para se compreender porque os mecanismos de controle capazes de garantir a excitação agradável, mas controlada, se monstram ineficazes em certos momentos.

BIBLIOGRAFIA: Esse Texto foi escrito baseado na pesquisa feita por: TEIXEIRA, Rosana da Camara. Os perigos da paixão: visitando jovens torcidas cariocas – São Paulo, Annablume, 2003.

INTERAÇÃO SOCIAL / SOCIALIZAÇÃO

Conceito de interação social

É a ação social, mutuamente orientada, de dois ou mais indivíduos em contato. Distingue-se da mera interestimulação em virtude de envolver significados e expectativas em relação às ações de outras pessoas. Podemos dizer que a interação social é a relação de ações sociais. O aspecto mais importante da interação social é que ela modifica o comportamento dos indivíduos envolvidos, como resultado do contato e da comunicação que se estabelece entre eles. Desse modo, fica claro que o simples contato físico não é suficiente para que haja uma interação social. Os contatos sociais e a interação constituem, portanto, condições indispensáveis à associação humana. Os indivíduos se socializam por meios dos contatos e da interação social; e a interação social pode ocorrer entre uma

10

Page 11: Apostila de Sociologia 1ano

pessoa e outra, entre uma pessoa e um grupo e outro.

Conceito de contato social e processo social Os indivíduos estão constantemente

envolvidos em uma infinidade de processos sociais que os levam a aproximar-se ou afastar-se de seus semelhantes, modificando situações de distância anteriormente existentes. As relações sociais, por sua vez, não correspondem a outra coisa senão a estas situações de maior ou menor distância entre os sujeitos, tomadas em um dado momento do desenvolvimento de processos de associação e dissociação. São o resultado de processos sociais em determinado instante. A intensidade das relações é, pois, determinada pela distância existente entre as pessoas. O conceito de distância social, em Wiese, é multifacetado, sendo inúmeros os fatores que conduzem à aproximação e ao afastamento entre os homens - a linguagem, o sexo, a idade, a classe social, os hábitos etc. - e diversos, também, os pontos de vista sob os quais esta distância pode ser medida. Entre um grupo de indivíduos que obedece certas regras de etiqueta, por exemplo, pode-se identificar a proximidade decorrente do convívio, que é facilitado por tais regras, e, ao mesmo tempo, o distanciamento imposto pela preservação da intimidade, também imposta pela etiqueta. A categoria do contato social é ampla, e compreende contatos físicos, psíquicos e físico-psíquicos. São fenômenos de curta duração, que não constituem processos sociais de associação e dissociação mas que podem, todavia, desencadeá-los, dando origem a novas relações sociais. Os contatos sociais provocam, também, modificações e até a eliminação de relações já existentes. A principal classificação dos contatos sociais é a que os divide em primários e secundários. Aqueles são contatos próximos, imediatos, estabelecidos através do tato, da visão frente à frente, da fala ou até do olfato, ao passo que estes últimos são contatos que se produzem a maiores distâncias . Os contatos secundários podem ser mantidos com o auxílio de meios de comunicação a distância - telefone, carta, rádio, internet, etc.

A noção de contato social é, em comparação a estas outras categorias, uma noção ainda mais geral e abstrata, já que são caracterizados como contatos sociais tanto aqueles contatos que resultam no aparecimento de processos sociais (um encontro entre pai e filho, por exemplo) como aqueles que desaparecem sem deixar vestígios (o contato, que pode ser meramente visual, entre dois desconhecidos que viajam juntos no mesmo ônibus e que nunca mais voltam a se encontrar).

17) PARA PENSAR E RESPONDER EM FORMA DE TEXTO DISSERTATIVO:

A internet propicia maiores contatos entre os indivíduos da sociedade ou os reduz? Quais suas vantagens e suas vantagens relacionados a interação social?

18) PARA PENSAR E RESPONDER NO CADERNO

De que forma os consensos sociais, de acordo com Durhkeim e Rousseau, colaboram para o bem da sociedade? O que você acha a esse respeito?

ATIVIDADE AVALIATIVA INDIVIDUALPara entregar em folha A-41.Construa um glossário sobre os conceitos abaixo :

a. Vida Social;b. Classe social;c. Status e papel social;d. Grupo social;e. Processo social:

i. Conflitoii. Competiçãoiii. Acomodaçãoiv. Cooperaçãov. Assimilação.

f. Interação social e comunicaçãog. Contato socialh. Socializaçãoi. Cultura e etnocentrismoj. Raça e etnial. Estrutura socialm. Poder e etnian. Movimento Social

2. Discuta como esses conceitos podem contribuir para o estudo da sociedade, e para a percepção do “outro” (individuo) como ser social.

11

Conceitos importantes: Contatos sociais (direto, indireto,

primário, secundário); Processos sociais (comunicação,

socialização, cooperação, competição, conflito, acomodação, assimilação).

PENSADOR: J.J.Rousseau (1712-1778)Em sua obra Contrato Social, Rousseau

firmava que a base da sociedade estava no interesse comum pela vida social, no consentimento unânime dos homens em renunciar as suas vontades particulares em favor de toda a comunidade.

Para alicerçar suas idéias a respeito da legitimidade do Estado a serviço dos interesses comuns e dos direitos naturais do homem, Rousseau procurou traçar a trajetória da humanidade a partir do igualitarismo primitivo até a sociedade diferenciada. Para ele, a origem dessa diferenciação estava na propriedade privada.

As crianças deveriam ser educadas para se tornarem bons cidadãos e se comportarem dentro de um espírito coletivo. O benefício próprio é um mal.

Page 12: Apostila de Sociologia 1ano

3. Recorte pequenas matérias de jornais que trate de conflitos de natureza familiar e as analise conforme os conceitos acima (escolha um tema e desenvolva-o).

ELEMENTOS PRINCIPAIS DA SOCIEDADE HUMANA

O homem sempre viveu em grupos e não podemos imaginar a sua

existência fora deles. Sem contato com o grupo social, o homem dificilmente pode desenvolver as características que chamamos de humanas, como, por exemplo: organizar instituições, chorar e sentir pela morte de seus entes queridos, transmitir mensagens através de símbolos... O processo de hominização ocorre, justamente, na sociedade em que ele aprende a viver com outros homens e a se comportar como tal. Portanto, o ser humano é produto da interação social. É interagindo com os outros homens, ou seja, é influenciando e sendo influenciado que ele irá aprender a conviver.

Segundo Durkheim que o homem só é homem porque vive em sociedade. A criança não nasce sabendo se comportar em sociedade. É convivendo, primeiramente, com seus grupos mais íntimos (família e escola) e depois com outros grupos que irá se tornar um membro ativo da sociedade em que nasceu. A esse processo chamamos de socialização.

Conseqüentemente, podemos observar que a criança tem poucas possibilidades de seguir seus desejos e suas vontades, que normalmente são hedonistas e egoístas e que muitas vezes são opostas às vontades do grupo, o qual exige restrição, disciplina, ordem e abnegação. E nesta relação, a sociedade normalmente sai ganhando.

Embora o ambiente físico seja também importante, o ambiente social é o fator verdadeiramente determinante na socialização da criança. Mas este processo durará pela vida toda, pois ele é permanente e nós estamos sempre aprendendo coisas novas em nossa sociedade.

O ambiente social influencia até no tipo de personalidade dos indivíduos, assim observamos, ao longo da História, sociedades que geraram homens guerreiros, homens caçadores, homens viajantes, homens executivos com tino para negócios, etc. De um modo geral, pode-se dizer que cada cultura produzirá seu tipo especial ou tipos especiais de personalidades.

ATIVIDADE AVALIATIVA EM DUPLAAssistir o filme “Cão de Briga” e relaciona-lo

ao conteúdo “Elementos principais da sociedade humana”, especialmente enfocando o processo de socialização vivido pelo personagem Danny (Jet Li). A atividade deve ser entregue em forma de texto digitado em papel A-4, fonte 12 (uma lauda).

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICACONTRIBUIÇÃO DE PIERRE

BOURDIEU

O HABITUSOs valores orientadores dos indivíduos são

posturas básicas denominadas, por Bourdieu, de habitus: normas e condutas básicas que são reproduzidas através das leis, costumes etc, inculcados de forma mais ou menos refletidos e mais ou menos irrefletidos pelos indivíduos.

O habitus funciona como uma orquestração de valores impostos a uma coletividade (geral ou específica) sem que haja um maestro específico que a execute sua regência.

OS CAPITAISPara Bourdieu, há dois tipos de capital

cultural: o capital cultural herdado (a cultura de berço), e o capital cultural adquirido (a escola).

A inserção do indivíduo no “mercado escolar” já pressupõe que ele chegue com um capitalcultural. No entanto, a escola vai valorizar o capital que lhe seja semelhante (ou seja valorizar aquele capital que seja igual ao dela, - classificado como legítimo), e desvalorizar o capital cultural adquirido que lhe é diferente, classificado como ilegítimo (aquele relacionado às classes populares, os “pouco eruditos”).

Com isto, a escola impõe normas de comportamento: regras de falar, de agir legitimamente, de acordo com o capital legítimo. Assim sendo, a escola vai ser o instrumento por excelência de reprodução e inculcação dos valores dominantes (que correspondem aos valores das classes dominantes).

A VIOLÊNCIA SIMBÓLICAPara Bourdieu, os valores da escola são os

valores das classes dominantes. O que ocorre são imposições de verdades, de modo arbitrário, como forma de inculcações de verdades. Por exemplo, há uma adequação e valorização de uma certa estética e verdade da classe dominante (de beleza e justiça) em detrimento dos valores das classes dominadas Em consequência, o conceito de Beleza e de Justiça sempre é definido arbitrariamente. Não existem o bom, o belo, ou o justo. Tudo é relação de forças. Ou seja, não existe um símbolo que represente em absoluto um desses valores.

Este processo de imposição de verdades (ou colonização de valores) vem a ser denominado por Bourdieu de violência simbólica.

A violência simbólica é fruto da dominação simbólica (capacidade que uma classe tem de exercer seu domínio sobre outra de forma doce e sedutora). Ela revela-se quando é exercida de forma sutil e imperceptível, de modo que o dominado tome os valores do dominante como naturais e seus, e os inculque de forma irrefletida e docilmente.

Enquanto maior for a dominação simbólica, menor será a violência física (a percebida e sentida) e maior será a violência simbólica (a doce, não percebida).

Quando as formas de dominação simbólica enfraquecem, maior é a necessidade do uso da violência física para manter a dominação.

12

Socialização: processo de aprendizagem da cultura da sociedade em que nascemos.Hedonista: ligado aos prazeres.

Page 13: Apostila de Sociologia 1ano

ATIVIDADESCom base no texto responda:

19) Dê um exemplo de habitus.

20) Podemos afirmar que a escola está a serviço da classe dominante? Como isso ocorre?

21) Explique em suas palavras o que vem a ser Violência Simbólica?

22) Dê um exemplo que como ocorre a violência simbólica?

Sociologia e Música: Admirável Chip Novo

Composição: Pitty

Pane no sistema, alguém me desconfigurouAonde estão meus olhos de robô?Eu não sabia, eu não tinha percebidoEu sempre achei que era vivoParafuso e fluído em lugar de articulaçãoAté achava que aqui batia um coraçãoNada é orgânico, é tudo programadoE eu achando que tinha me libertadoMas lá vem eles novamente

E eu sei o que vão fazer:Reinstalar o sistemaPense, fale, compre, bebaLeia, vote, não se esqueçaUse, seja, ouça, digaTenha, more, gaste e vivaPense, fale, compre, bebaLeia, vote, não se esqueçaUse, seja, ouça, diga...Não senhor, Sim senhor (2x)

Pane no sistema, alguém me desconfigurouAonde estão meus olhos de robô?Eu não sabia, eu não tinha percebidoEu sempre achei que era vivoParafuso e fluído em lugar de articulaçãoAté achava que aqui batia um coraçãoNada é orgânico, é tudo programadoE eu achando que tinha me libertadoMas lá vem eles novamente

refrão

Mas lá vem eles novamenteE eu sei o que vão fazer:Reinstalar o sistema

ATIVIDADES

23) Qual a relação da música com o conteúdo estudado?

24) O que a compositora quis transmitir no refrão da música?

13

Refrão

Page 14: Apostila de Sociologia 1ano

Terceiro trimestreUnidade 4: CULTURA,

NACIONALIDADE E IDENTIDADE CULTURAL

Cultura Erudita/Cultura Popular

A maioria dos historiadores atuais continua a estabelecer a partir do século XVI uma distinção entre "cultura erudita" e "cultura popular". Em relação ao período anterior esta distinção parece não ter existido. Terá havido um grande circulação de idéias entre as várias formas de expressão cultural, o que esbateria as suas fronteiras. O século XVI funciona como uma data de referência para assinalar o momento a partir do qual se reconhece que distinção entre grupos sociais se traduz também de forma nítida em termos de gostos e consumos culturais.

A Cultura PopularO conceito de cultura popular é contudo

recente, está intimamente associado ao processo de urbanização que ocorre a partir do século XVIII, e ao despertar uma outra forma de cultura- a cultura de massas. A cultura popular, divulgada pelo romantismo, ocupará no imaginário da burguesia oitocentista as memórias de uma sociedade que estava a desaparecer. Neste imaginário aparece retratada uma cultura feita por camponeses. Símbolo de um povo idealizado, puro e feliz na sua ignorância. Trata-se de uma imagem que é a antítese das massas de operários e pobres que se arrastam pelas cidades em vias de industrialização.

A imagem deste "povo"- ator desta cultura, identifica-se aos olhos dos românticos com o espírito nacional. Os seus usos, costumes, romances, cantares dão origem a um conceito novo de "Folclore", expressão deste saber ancestral preservado pelo povo.

A cultura popular surge frequentemente decomposta nas suas múltiplas manifestações, como sejam: a arte, o teatro, o folclore, a música, arquitetura, as festas e romarias, a culinária, a poesia, os jogos, os divertimentos.

O conceito de cultura popular apesar de persistir, revela-se hoje profundamente limitativo para descrever a própria realidade social dos campos. As comunidades rurais estão impregnadas de valores próprios da cultura de massas, sem, no entanto, terem abandonado por completo as suas referências culturais. Constituem já uma cultura intermédia em fase de rápida integração na cultura de massas.

A Cultura EruditaPor oposição ao conceito de arte popular, a

partir do século XVI ter-se-á consolidado uma cultura erudita, alta cultura ou cultura cultivada, própria dos grupos sociais dominantes.

O traço mais importante desta cultura devia-se ao fato dos grupos dominantes serem os mecenas (patrocinadores de artistas) e os principais compradores das obras produzidas pelas elites dos criadores culturais.

IDENTDADE CULTURAL: IDENTIDADE BRASILEIRA

A cultura faz parte da totalidade de uma determinada sociedade, nação ou povo. Essa totalidade é tudo o que configura o viver coletivo.

São os costumes, os hábitos, a maneira de pensar, agir e sentir, as tradições, as técnicas utilizadas que levam ao desenvolvimento e a interação do homem com a natureza. Ou seja, é tudo mesmo! Tudo que diz respeito a uma sociedade. Muitos sociólogos e historiadores brasileiros, a partir do século XIX, buscaram explicar a formação do povo brasileiro, caracterizado pela diversidade cultural, enquanto uma nação. E o olhar de alguns desses autores foi exclusivamente dedicado ao aspecto cultural. O legado cultural que herdamos dos povos que se misturam deu origem aos brasileiros.

Fomos colonizados primeiramente pelos europeus, especificamente pelos portugueses e espanhóis. Temos também uma marcante presença dos africanos, que foram trazidos para cá como escravos e os indígenas que aqui já viviam... depois, por volta de 1870 em diante, é que imigraram muitos outros povos, como os italianos, alemães e holandeses, em busca de trabalho e de uma vida melhor e promissora no Brasil! Somos um povo que surgiu de uma grande confluência! Miscigenados! Ou seja, o povo brasileiro foi formado, a princípio, a partir de uma miscigenação, que foi a mistura de basicamente três “raças”, quais sejam: o índio, o branco e o negro. Vamos entender o que é raça, etnia e cultura.

O conceito de etnia distingue-se do conceito de raça e cultura. Etnia é um conceito associado a uma referência e/ou origem comum de um povo. Ou seja, são grupos que compartilham os mesmos laços lingüísticos, intelectuais, morais e culturais.

Embora possuam uma mesma situação de dependência de instituições e organização social, econômica e política, não constitui ainda em uma nação, mas apenas um agrupamento étnico. Etnia é, portanto, um conceito diferente de raça e cultura.

São exemplos de grupos étnicos, entre outros, os índios xavantes e javaés do interior de Goiás, que são reconhecidos pelo etnômino de tapuios. Hoje habitam no Parque Nacional do Xingu, em número extremamente reduzido.

Já a cultura é tudo que as diferentes raças e as diferentes etnias possuem em matéria de vida social, o conjunto de leis que regem o país, a moral, a educação-aprendizagem, as crenças, as expressões artísticas e literárias, costumes e hábitos, ou seja, é a totalidade que abrange o comportamento individual e coletivo de cada grupo, sociedade, nação ou povo.

O termo raça significa dizer que há grupos de pessoas que possuem características fisiológicas e biológicas comuns. No entanto, o uso do termo raça acaba classificando um grupo étnico ou sociedade, levando também à hierarquização.

Como se todos nós, seres humanos, fôssemos postos em uma grande escadaria, e em ordem de classificação e hierarquização pelo grau de importância das características físicas de cada grupo étnico; os mais importantes ficariam no topo e assim iria descendo até chegar nos menos importantes. Contudo, qual raça ou grupo étnico pode dizer que é melhor ou mais desenvolvido que outro?

14

Page 15: Apostila de Sociologia 1ano

Muitas críticas a esse pensamento foram levantadas, principalmente no final do século XIX, pois tais concepções ajudaram a reforçar a discriminação e o preconceito e, conseqüentemente a legitimação das desigualdades sociais. Apesar de todas as críticas, ainda é possível observar que nos séculos XIX e XX houve um retorno de práticas racistas como, por exemplo, a eugenia e estudos do genoma, que foram muito defendidas por estudiosos adeptos às teorias evolucionistas sobre o progresso físico e comportamental do homem. Tais teorias concebiam que determinadas raças e etnias deveriam ser conservadas, por serem modelos de pureza, de superioridade, etc.

Contudo, outras que não se enquadrassem nos modelos estabelecidos, ou que fossem, pela situação social que viviam, vítimas de doenças ou epidemias tornavam-se um perigo para o progresso da humanidade e não deveriam existir. Podemos tomar como um exemplo claro deste pensamento, o apartheid ocorrido na África do Sul nos anos de 1948 a 1991, quando toda a população negra foi obrigada a seguir normas e regras rígidas com relação ao convívio social, trabalho, etc., além de toda a forma de violência e discriminação sofrida. Ou ainda, quem não se lembra do genocídio dos judeus ou mais conhecido como o Holocausto dos Judeus, durante a II Guerra Mundial?

O pensamento ideológico que estava por trás daquele terrível ato que exterminou cerca de 6 milhões de judeus, que não eram reconhecidos como seres humanos, era a idéia de superioridade da “raça ariana” alemã. A perseguição e o extermínio dos nazistas alemães contra os judeus ficou conhecido na história por anti-semitismo, uma forma de repudiar tudo o que era contrário à ideologia nazista.

Quando olhamos os três grupos étnicos que se miscigenaram no Brasil Colônia, séculos XVI e XVII, com suas características biológicas específicas e também sócio-culturais, suas tradições, vemos como fizeram toda a diferença no processo de colonização e formação do povo brasileiro, diferentemente de outras colonizações empreendidas pelo mundo.

Nosso país é uma “aquarela” de grupos étnicos! Constituída por meio da colonização (século XVI) e depois, pelas imigrações por volta dos séculos XVIII e XIX. Temos então uma pluralidade de identidades, caracterizada pelas diferenças. Por conta dessa variedade de identidades, povos e tradições, os diferentes grupos étnicos fizeram com que ocorressem em nosso país, um processo chamado de etnicidade.

É interessante saber que o contato interétnico é um fenômeno que não ocorreu somente no período das colonizações, ainda ocorre, a ocupação por parte de alguns grupos, como por exemplo, os madeireiros, garimpeiros, e etc., em territórios indígenas, assim como pela utilização do trabalho manual dos índios.

A situação de conflito, como já sabemos, decorre do sentimento e da atitude etnocêntrica, que foi uma característica do pensamento evolucionista, apoiando o empreendimento colonialista pelo mundo.

EtnicidadeNa nossa vida social cotidiana, muitas vezes,

deparamos-nos com notícias de grupos étnicos lutando e reivindicando algo na sociedade, tanto no âmbito econômico ou político, como ocorre com os índios e os negros. As várias etnias indígenas se unem em prol da luta pelos direitos de suas terras. Não se trata de direitos à igualdade de distribuição de renda ou de Reforma Agrária, mas, sim da posse

legítima que os índios têm das suas reservas de terras.

Outro exemplo de etnicidade e mobilização é a luta pela igualdade de oportunidades no trabalho e na educação, distribuição de renda, contra a discriminação étnica-racial (racismo), etc., que os negros travam no Brasil.

As cotas, termo que também faz parte das chamadas Políticas Afirmativas. Essas são medidas que buscam reparar ou minimizar o racismo e a exclusão social que afetam os negros e descendentes retirando as oportunidades de ingresso nas universidades e nos concursos públicos. O Brasil é conhecido como o país de maior número de negros e afrodescendentes depois do Continente Africano, no entanto, o racismo que muitas vezes aparece “camuflado”, estabelece uma grande distância entre estes e as suas efetivas e plenas participações na vida social.

ATIVIDADE

25) Como você descreveria o povo brasileiro?

26) Quais os fatores colaboradores para a existência de racismo?

27) Qual a diferença entre cultura, raça e etnia?

28) O que é etnicidade?

29) Dê um exemplo de etnicidade existente próximo de você (em Piúma ou no Espírito Santo, se possível)?

TRABALHO AVALIATIVOTarefa: produzir um pequeno documentário

em vídeo utilizando o “Windows Movie maker” abordando uma manifestação cultural típica da nossa região;

Formato obrigatório do vídeo: “Windows Media Player”

Tempo máximo: 8 minutos;Número de alunos: No máximo 5 alunos por

grupo.

CULTURA POPULAR E O FOLCLORE

O termo Folclore surgiu em meados do século XIX e ganhou força quando, em 1846, o inglês William Thoms (1803-1885) inventou o termo folk-lore, (folk = povo e lore = saber, então, o “saber do povo”).

Brandão em seu livro, O que é Folclore, discute sobre a dificuldade de se conceituar e diferenciar os termos Folclore e Cultura Popular. Mas, apresenta que no caso brasileiro, foi em 1950, com a

15

Page 16: Apostila de Sociologia 1ano

intenção de efetivar as pesquisas e o estudo sobre as manifestações populares, na Carta de Folclore Brasileiro, redigida no I Congresso Brasileiro de Folclore, que pela primeira vez se buscou definir o que era o Folclore, e como tal fenômeno se expressa:

“Constituem o fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular e pela imitação, e que não sejam diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação e conservação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica”

(BRANDÃO, 1982: 31).

Cultura popular e folclore são dois termos que, para muitos antropólogos, inclusive para Brandão, possuem o mesmo significado, pois, não são formas culturais estáticas e irreversíveis, mas que fazem parte das construções sociais, e por isso é dinâmica. No Brasil, vão além dos ritos, característicos das culturas africanas e indígenas, configuram também, a religiosidade, as danças, os pratos típicos de diferentes regiões, vivências e costumes regionais e tradicionais do povo. Ao manter a sua própria expressão cultural, a classe popular trabalhadora está se opondo à cultura dominante e oficial, fazendo com que as tradições populares permaneçam não somente no imaginário das pessoas, mas tornando-as cada vez mais reais em seu cotidiano.

Por outro lado, a grande tendência de padronização cultural está fazendo com que as expressões culturais populares caiam no esquecimento ou quando muitas vezes é vista pelo próprio povo e a sociedade em geral, como uma cultura “pitoresca”. Uma outra crítica levantada com relação à padronização, é que quando as expressões culturais populares são planejadas, possuindo datas e regras para acontecerem, já não estão mais no controle e organização do povo para si mesmo no seu cotidiano.

O folclore torna-se nesse processo um instrumento de manipulação e controle social quando deixa de ser uma manifestação popular e passa a servir de “apaziguamento” entre grupos e classes sociais, como por exemplo, o carnaval e as festas religiosas, superficialmente demonstram uma integração harmônica das classes. Mas que na realidade cotidiana vivem em conflitos sociais.

O Folclore Brasileiro

A palavra Folclore, segundo o dicionário significa conjunto das tradições, conhecimentos ou

crenças populares expressas em provérbios, contos ou canções. ( veja mais no Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, Editora Nova Fronteira) Folclore é tudo que simboliza os hábitos do povo, que foram conservados através do tempo, como conhecimento passado de geração em geração, por meio de lendas, canções, mitos, hábitos (incluindo comidas e festas) , utensílios, brincadeiras, enfeites.

Para conhecermos a história de um povo, de um país ou de uma região do país é importante que conheçamos a sua cultura, suas tradições, ou seja o seu folclore. O folclore é também uma forma de manifestação cultural dos povos.

No Brasil o folclore recebe influências determinante dos povos que aqui já habitavam como os índios, e os que vieram depois como os negros e os brancos. Desde 1965 , no Brasil, temos um dia oficial para comemoramos as nossas tradições folclóricas: o dia 22 de agosto é o dia do folclore. Fazem parte do nosso folclore as canções de ninar que são passadas de pais para filhos, cantigas de roda, brincadeiras, jogos, lendas e mitos, superstições, artes. Além disso, as danças típicas das regiões e as festas típicas como a Festa do Boi (do Boi-bumbá ou Bumba-meu-boi que recebe outros nomes dependendo do estado) as festas juninas, Carnaval, o Maracatu entre outras são todas manifestações do nosso folclore. Os utensílios usados por nossos antepassados (brancos, negros e índios) para caça, pesca , artesanato e outros, tudo faz parte do folclore.

Folclore é cultura e quem estuda as tradições folclóricas de um povo estuda a sua história. Alguns estudiosos consagrados das tradições folclóricas do nosso país foram: Luís da Câmara Cascudo, Jerusa Pires Ferreira e Veríssimo de Melo. O autor Monteiro Lobato por meio das suas obras também ajudou a propagar lendas e mitos do Brasil.

O Brasil é um país muito grande, por isso cada região do país tem sua tradição folclórica. Algumas vezes o que muda é o nome de uma determinada festa, lenda ou outra tradição, outras vezes uma festa é mais tradicional em uma região do que em outra, assim como comida, música e danças.

Na Região Sul temos as danças típicas conhecidas como congada, chula, entre outras. Algumas das festas tradicionais desta região são: a festa de Nossa Senhora dos Navegadores; a festa da uva, festa da cerveja, Além das festas juninas e outras que são tradicionais em todo o país. As lendas mais conhecidas nesta região são: O Negrinho do Pastoreio, O Boitatá, O Curupira, O Saci-pererê, entre outras. As comidas típicas são o churrasco, o arroz-carreteiro, a feijoada, o chimarrão (bebida feita com erva-mate, tomado em uma cuia).

Na Região Sudeste podemos destacas as danças típicas: fandango, o batuque, a folia de reis, entre outros. As lendas mais conhecidas são: O Lobisomem, A Mula-sem-cabeça, A Iara. As comidas típicas são tutu de feijão, feijoada, entre outras.

Na região Centro-Oeste podemos destacar a congada, a folia de reis nas danças típicas. A tourada é uma festas bem tradicional. Entre as lendas a do Lobisomem e do Saci-pererê são das mais conhecidas.

Entre as comidas típicas estão os pratos preparados com os peixes dos rios da região.

Na Região Nordeste podemos destacar as danças típicas: frevo, o bumba-meu-boi, o maracatu, as cirandas, o baião.

As festas tradicionais são muitas, algumas delas: do Senhor do Bonfim, da Iemanjá, Paixão de Cristo, as romarias como a de Juazeiro do Norte no Ceará, Vaquejada.

Na Região Norte temos as festas do Boi- bumbá, as festas indígenas e outras. O carimbó e a ciranda são algumas das danças típicas da região. As lendas podemos destacar a da mãe-d’água, O Curupira, da Vitória-régia, do Uirapuru.

16

Page 17: Apostila de Sociologia 1ano

Atividade

30) Destaque três manifestações folclóricas de Piúma.

31) Qual a importância do folclore para a sociedade?

32) Produza um pequeno glossário de palavras típicas de Piúma, cujo significado faz parte da cultura popular local. Para ajudá-lo nessa empreitada sugere-se que ouça a música “As Gírias de Piúma”. No blog “Café com Sociologia” é possível assistir um vídeo elaborado pelos alunos Ully Assunção e Victor Zetum referente a essa música.

Link:http://cafecomsociologia.blogspot.com/2010/01/trabalho-as-girias-de-piuma.html

Sociologia e Música:

Paratodos - de Chico Buarque

O meu pai era paulista Meu avô, pernambucano O meu bisavô, mineiro Meu tataravô, baiano Meu maestro soberano Foi Antonio Brasileiro

Foi Antonio Brasileiro Quem soprou esta toada Que cobri de redondilhas Pra seguir minha jornada E com a vista enevoada Ver o inferno e maravilhas

Nessas tortuosas trilhas A viola me redime Creia, ilustre cavalheiro Contra fel, moléstia, crime Use Dorival Caymmi Vá de Jackson do Pandeiro

Vi cidades, vi dinheiro Bandoleiros, vi hospícios Moças feito passarinho Avoando de edifícios Fume Ari, cheire Vinícius Beba Nelson Cavaquinho

Para um coração mesquinho Contra a solidão agreste Luiz Gonzaga é tiro certo Pixinguinha é inconteste Tome Noel, Cartola, Orestes Caetano e João Gilberto

Viva Erasmo, Ben, Roberto Gil e Hermeto, palmas para

Todos os instrumentistas Salve Edu, Bituca, Nara Gal, Bethania, Rita, Clara Evoé, jovens à vista

O meu pai era paulista Meu avô, pernambucano O meu bisavô, mineiro Meu tataravô, baiano Vou na estrada há muitos anos Sou um artista brasileiro

Link:http://www.youtube.com/watch?v=u_M1DvZBL2c

Atividade

33) Por que Chico Buarque se auto referiu como brasileiro e não como carioca?

Algumas interpretações sociológicas do Tipo “brasileiro”

JEITINHO BRASILEIROJeitinho é uma forma de relação social

tipicamente brasileira, onde o indivíduo utiliza-se de recursos emocionais – apelo e chantagem emocional, laços emocionais e familiares, etc. – para obter favores para si ou para outrem. Não deve ser confundido com suborno ou corrupção.

O jeitinho caracteriza-se como ferramenta típica de indivíduos de pouca influência social. Em nada se relaciona com um sentimento revolucionário, pois aqui não há o ânimo de se mudar o status quo. O que se busca é obter um rápido favor para si, às escondidas e sem chamar a atenção; por isso, o jeitinho pode ser também definido como "molejo", "jogo de cintura", habilidade de se "dar bem" em uma situação "apertada". Não deve ser confundido, porém, com malandragem, que possui seus próprios fundamentos.

Diversos personagens do imaginário popular brasileiro trazem esta característica. Um dos mais conhecidos é o João Grilo, personagem de Ariano Suassuna em O Auto da Compadecida.

No livro Dando um jeito no jeitinho, o prof. Lourenço Stelio Rega define jeitinho como uma saída para situações sem saída ou mesmo para uma situação que não se quer enfrentar, além disso, indica que o jeitinho não é só negativo (corrupção, levar vantagem, etc.), ele também tem um lado positivo. O autor demonstra isto indicando três características do jeitinho: inventividade/criatividade, função solidária e o lado conciliador do jeitinho.

O HOMEM CORDIALEm termos antropológicos, o jeitinho pode

ser atribuído a um suposto caráter emocional do brasileiro, descrito como “o homem cordial” pelo antropólogo Sérgio Buarque de Hollanda. No livro “Raízes do Brasil”, este autor afirma que o indivíduo

17

Page 18: Apostila de Sociologia 1ano

brasileiro teria desenvolvido uma histórica propensão à informalidade. Deva-se isso ao fato de as instituições brasileiras terem sido concebidas de forma coercitiva e unilateral, não havendo diálogo entre governantes e governados, mas apenas a imposição de uma lei e de uma ordem consideradas artificiais, quando não inconvenientes aos interesses das elites políticas e econômicas de então. Daí a grande tendência fratricida observada na época do Brasil Império, tendência esta bem ilustradas pelos episódios conhecidos com Guerra dos Farrapos e Confederação do Equador.

Na vida cotidiana, tornava-se comum ignorar as leis em favor das amizades. Desmoralizadas, incapazes de se imporem, as leis não tinham tanto valor quanto, por exemplo, a palavra de um “bom” amigo; além disso, o fato de afastar as leis e seus castigos típicos era uma prova de boa-vontade e um gesto de confiança, o que favorecia boas relações de comércio e tráfico de influência. De acordo com testemunhos de comerciantes holandeses, era impossível fazer negócio com um brasileiro antes de se fazer amizade com este. Um adágio da época dizia que “aos inimigos, as leis; aos amigos, tudo”. A informalidade era – e ainda é – uma forma de se preservar o indivíduo.

Sérgio Buarque avisa, no entanto, que esta “cordialidade” não deve ser entendida como caráter passivo. O brasileiro é capaz de guerrear e até mesmo destruir; no entanto, suas razões animosas serão sempre cordiais, ou seja, emocionais.

“PODE-E-NÃO-PODE”Em sua obra “O Que Faz o Brasil, Brasil?”, o

antropólogo Roberto Damatta compara a postura dos norte-americanos e a dos brasileiros em relação às leis. Explica que a atitude formalista, respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa admiração e espanto nos brasileiros, acostumado a violar e a ver violada as próprias instituições; no entanto, afirma que é ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de educação adequada.

Roberto Damatta prossegue explicando que, diferente das norte-americanas, as instituições brasileiras foram desenhadas para coagir e desarticular o indivíduo. A natureza do Estado é naturalmente coercitiva; porém, no caso brasileiro, é inadequada à realidade individual. Um curioso termo – Belíndia – define precisamente esta situação: leis e impostos da Bélgica, realidade social da Índia.

Ora, incapacitado pelas leis, descaracterizado por uma realidade opressora, o brasileiro deverá utilizar recursos que vençam a dureza da formalidade, se quiser obter o que muitas vezes será necessário à sua mera sobrevivência. Diante de uma autoridade, utilizará termos emocionais. Tentará descobrir alguma coisa que possuam em comum – um conhecido, uma cidade da qual gostam, a “terrinha” natal onde passaram a infância. Apelará para um discurso emocional, com a certeza de que a autoridade, sendo exercida por um brasileiro, poderá muito bem se sentir tocada por esse discurso. E muitas vezes conseguirá o que precisa.

Nos Estados Unidos da América, as leis não admitem permissividade alguma, e possuem franca influência na esfera dos costumes e da vida privada. Em termos mais populares, diz-se que, lá, ou “pode”, ou “não pode”. No Brasil, descobre-se que é possível um “pode-e-não-pode”. É uma contradição simples: a exceção a ser aberta em nome da cordialidade não constitui pretexto para que novas exceções sejam

abertas. O jeitinho jamais gera formalidade, e esta jamais sairá ferida após o uso do jeitinho.

“SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?”Ainda de acordo com Roberto Damatta, a

informalidade é também exercida por esferas de influência superiores. Quando uma autoridade "maior" vê-se coagida por uma "menor", imediatamente ameaça fazer uso de sua influência; dessa forma, buscará dissuadir a autoridade "menor" a aplicar-lhe uma sanção.

A fórmula típica de tal atitude está contida na frase “sabe com quem está falando?”. O promotor público que vê o carro sendo multado por uma autoridade de trânsito imediatamente fará uso abusivo de sua autoridade – “sabe com quem está falando? Eu sou o promotor público!”. Como esclarece Roberto Damatta, de qualquer forma um “jeito” foi dado.

Retirado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Jeitinho

Atividade

34) Descreva em suas palavras o que seria o jeitinho brasileiro.

Trabalho em Grupo Máximo de 4 alunos

1. Produza um pequeno teatro abordando o “jeitinho brasileiro”, o “homem cordial” e o “sabe com que está falando”.

18

Page 19: Apostila de Sociologia 1ano

Unidade 4: O MUNDO: UMA VISÃO SOCIOLÓGICA DOS FENÔMENOS SOCIAIS GLOBAIS.

O que é a globalização? - Uma resposta irónica mas verdadeira

"Pergunta: Qual é a mais correta definição de Globalização?

Resposta: A Morte da Princesa Diana. Pergunta: Por quê? Resposta: Uma princesa inglesa com um

namorado egípcio, tem um acidente de carro dentro de um túnel francês, num carro alemão com motor holandês, conduzido por um belga, bêbado de whisky escocês, que era seguido por paparazzis italianos, em motos japonesas. A princesa foi tratada por um médico americano, que usou medicamentos brasileiros.

E isto é enviado a você por um brasileiro, usando tecnologia americana -(Bill Gates), e, provavelmente, você está lendo isso por ter sido escrito em um computador genérico que usa chips feitos em Taiwan, e um monitor coreano montado por trabalhadores de Bangladesh, numa fábrica de Singapura, transportado em caminhões conduzidos por indianos, roubados por indonésios, descarregados por pescadores sicilianos, reempacotados por mexicanos e, finalmente, vendido ao professor por judeus, através de uma conexão paraguaia.

Isto é GLOBALIZAÇÃO!!!"

A ocidentalizaçãoPor Ana Lúcia Santana

A ocidentalização é um fenômeno no qual as camadas orientais do Planeta recebem uma carga de influência provinda da esfera ocidental. Elas são atraídas pela órbita dos processos industriais, tecnológicos, políticos, legislativos, econômicos, linguísticos e religiosos do Ocidente (principalmente Estados Unidos e Europa), bem como por seu comportamento, seus valores culturais, pela gastronomia, entre outros fatores que lhes parecem superiores.

Nos últimos séculos, particularmente no universo contemporâneo, com o crescimento do nível de globalização do mundo, a ocidentalização ganhou uma velocidade mais acelerada. Normalmente este mecanismo ocorre em um sentido de mão dupla, ou seja, um lado tem a necessidade de impor seu estilo de vida, enquanto o outro deseja receber esta influência.

A ocidentalização, seguida da aculturação, se processa também como consequência do colonialismo implantado pelo Ocidente em povos nativos, atualmente revivido especialmente na África, em sua versão neocolonialista. Alguns destes grupos

sociais assumiram atitudes e os próprios idiomas dos seus colonizadores; estes valores podem ser impostos ou simplesmente adotados por vontade própria, conforme o contexto histórico. (...)

Em um contato entre etnias distintas, tudo pode ocorrer, desde o genocídio, a luta pela preservação da cultura própria, a subsistência, processos adaptativos, mudanças culturais radicais, e até mesmo comportamentos que, de certa forma, podem ser definidos como autodestrutivos. É o caso dos japoneses; entre eles vem crescendo o índice de intervenções plásticas, conhecidas como cirurgias de ocidentalização.

Esta operação visa transformar os olhos das japonesas, caracteristicamente puxados, em órgãos exatamente iguais aos das ocidentais. O cirurgião cria em suas pálpebras a tradicional dobrinha típica das mulheres do Ocidente, uma vez que no Japão elas apresentam a pálpebra superior desprovida de sulcos, totalmente plana.

Este procedimento, que já virou moda entre as mulheres japonesas, rouba toda distinção e o típico charme oriental e ignora que nem todo padrão ocidental, ideal para esta sociedade, é apropriado para a cultura oriental, que tem seus valores e sua aparência específica.

Fonte: http://www.infoescola.com/sociologia/ocidentalizacao/

Atividade

35) O que é ocidentalização? Dê um exemplo, não citado no texto, de manifestação da ocidentalização.

Comportamento - Consumir para sublimar

Algumas pessoas costumam avaliar seu grau de sucesso e mesmo de felicidade, através dos bens materiais que possuem ou através da facilidade e da disponibilidade para comprá-los. É a sociedade consumista incentivando o Ter as coisas e levando pessoas a se sentirem extremamente mal e por baixo, na medida em que não conseguem atender aos apelos consumistas que lhes vêm de todas as partes.Estes apelos consumistas acabam tentando achatar as necessidades humanas em algumas faixas, padronizando desejos, as aspirações e colocando como condições única de bem estar a aquisição daquele apetrecho que se encontra em moda.Com isso, as necessidades passam a ser impostas de fora para dentro, de uma forma massacrante. Muitas vezes, as pessoas nem questionam as imposições sociais, mas dentro delas nasce o conflito entre as necessidades interiores e autênticas e as exteriores, impostas.Um dos dois pólos tem que ser esmagado para o

19

Page 20: Apostila de Sociologia 1ano

outro sobreviver e, infelizmente, a força social e a demanda consumista parecem falar mais alto.Aliado a isso, as próprias dificuldades pessoais fazem com que as pessoas se voltem mais para a aquisição de coisas que lhes proporcionarão mais prazer. Como o relacionamento com os outros não lhes está sendo uma fonte de prazer, passam a comprar esse prazer em forma de casa bonita, carro novo, roupas, jóias etc.

Talvez, aí, possa estar uma explicação para o fato de pessoas lutarem tanto para conseguir alguma coisa e, quando conseguem, desinteressam-se imediatamente. Ter como guia necessidades e valores impostos de fora para dentro levam, no mínimo, a uma grande decepção, quando não levam a depressão e a falta de motivação para a luta e para a vida.

SANDRA STELA GRECO, psicóloga.

Assista ao vídeo “A História das coisas” em:http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E

A Influência da Mídia Sobre os Padrões de Beleza

Os padrões de beleza é um assunto polêmico e gerador de controvérsias, o que se vê nos dias atuais são mulheres insatisfeitas com sua imagem e atrativos físicos.

O que ocorre é que estes padrões mexem com o psicológico das mulheres, pois fica claro o conflito, não sabem como se valorizar pelos pensamentos e atitudes, pois existe uma influência acirrada que impõe padrões magérrimos fazendo-as acreditar, cada vez mais, que só serão bem aceitas pela sociedade se aproximando dos mesmos.

Esses padrões são definidos pelas propagandas na TV e em revistas. Isto é resultante de uma mídia capitalista que bombardeiam tantas informações de forma que a mulher chega até mesmo a esquecer sua individualidade e a natureza da beleza.

Os resultados desta forte influência são notórios, como a obsessão pela magreza, as dietas, a malhação, a cirurgia plástica, a moda, os produtos de beleza, todos vendidos pela mídia.

O que fica claro é o mito existente dentro destes padrões “vendidos”, uma vez que estas mulheres são magérrimas, vivem em prol da beleza, ganham milhões para terem corpos esbeltos; o que difere bastante da realidade da mulher moderna que precisa sair para o mercado de trabalho, se desdobrarem entre suas várias funções e ainda lidar com a cobrança interna e externa exigidas por esses padrões.

Para fugir desses padrões, que às vezes agridem tanto o aspecto físico quanto o emocional, talvez seja necessário que as pessoas ressignifiquem seus conceitos de beleza, priorizando seus pontos fortes, afim de, descobrir sua beleza natural.

Patrícia Lopes - Equipe Brasil Escola

http://www.brasilescola.com/sociologia/a-influencia-midia-sobre-os-padroes-beleza.htm

A influência do G-8 no mundo

A sigla G-8 corresponde ao grupo dos 8 países mais ricos e influentes do mundo, fazem parte os Estados Unidos, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália, Reino Unido e Rússia. Antes chamada de G-7, a sigla alterou-se com a inserção da Rússia, que ingressou no grupo em 1998.

Explicitamente, a função do G-8 é a de decidir qual ou quais caminhos o mundo deve seguir, pois esses países possuem economias consolidadas e suas forças políticas exercem grande influência nas instituições e organizações mundiais, como ONU, FMI, OMC. A discussão gira em torno do processo de globalização, abertura de mercados, problemas ambientais, ajudas financeiras para economias em crise, entre outros.

Segundo líderes do grupo, as discussões propostas nas reuniões têm por finalidade diminuir as disparidades entre as economias dos países subdesenvolvidos. Embora na prática não seja assim, pois fica claro que as decisões tomadas servem para atender os interesses internos dos entes do grupo, um exemplo convincente está vinculado à abordagem ecológica, muitas vezes os países do G-8 não se comprometem a assinar acordos ambientais, tendo em vista que são os que mais provocam tais problemas.

O embrião do G-8 foi gerado em 1975, na França, nas proximidades de Paris em um castelo chamado Ramboullet onde ocorreu uma reunião informal com alguns líderes de países importantes.Fizeram parte da reunião: EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Japão e Itália, para discussões sobre os problemas regionais e internacionais, logo em 1976, houve a inserção do Canadá no grupo, totalizando 7 países, referência que deu origem à sigla G-7, naquele momento. Essa configuração permaneceu até 1998, quando a Rússia integrou o grupo, formando o atual G-8. Apesar do discurso homogêneo dos países membros fica claro o protecionismo de cada participante.

Nos últimos anos sempre que acontece esse encontro, ocorre simultaneamente uma série de manifestações lideradas, não por pessoas originadas de países pobres mas, por pessoas de países desenvolvidos que não admitem o aumento da desigualdade social, econômica e da globalização.

Por quê isso???

Fonte: Eduardo de Freitas - Equipe Brasil Escolahttp://portaldasociologia.blogspot.com/

Trabalho de pesquisa:Pesquise sobre o G-8 e a posteriormente produza um texto explicando o que estaria sendo representado no desenho abaixo.

20

Page 21: Apostila de Sociologia 1ano

Para refletir e responder:36)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. E as dimensões dos fatos de banho femininos. Mas será realmente um progresso?

Tão perto e tão longe… Normalmente a Internet é associada à idéia

oposta: tão longe e tão perto. Essa associação faz sentido, pois a Internet facilita imenso as comunicações e diminui certamente as distâncias.

Todavia, o fenômeno ironicamente referido no cartoon é cada vez mais frequente. As horas passadas no computador, nomeadamente na Internet, fazem com que muitas pessoas invistam pouco nas relações interpessoais – com os familiares, amigos, colegas, etc. Relativamente a elas é verdadeiro dizer: tão perto e tão longe!

Fonte: http://cadernosociologia.blogspot.com

Para refletir e responder:37)

Explique o que a charge busca transmitir?

Sociologia e Música: Parabolicamará

Gilberto Gil

Antes mundo era pequeno Porque Terra era grandeHoje mundo é muito grandePorque a Terra é pequenaDo tamanho da antena ParabolicamaráÊ volta do mundo, camaráÊ, ê, mundo dá volta, camaráAntes longe era distante Perto só quando davaQuando muito ali defronte E o horizonte acabavaHoje lá trás dos montes den'de casa camaráÊ volta do mundo, camaráÊ, ê, mundo dá volta, camaráDe jangada leva uma eternidadeDe saveiro leva uma encarnaçãoPela onda luminosaLeva o tempo de um raioTempo que Levava RosaPra aprumar o balaioQuando sentia Que o balaio ía escorregarÊ volta do mundo, camaráÊ, ê, mundo dá volta, camaráEsse tempo nunca passa Não é de ontem nem de hojeMora no som da cabaçaNem tá preso nem foge No instante que tange o berimbauMeu camaráÊ volta do mundo, camaráÊ, ê, mundo dá volta, camaráDe jangada leva uma eternidadeDe saveiro leva uma encarnaçãoDe avião o tempo de uma saudadeEsse tempo não tem rédeaVem nas asas do ventoO momento da tragédia Chico Ferreira e BentoSó souberam na hora do destino ApresentarÊ volta do mundo, camaráÊ, ê, mundo dá volta, camará

http://www.youtube.com/watch?v=D3e1S2UGHA0&feature=player_embedded

Os primeiros versos ilustram bem o cenário da comunicação. As barreiras do tempo e espaço são rompidas. Dentro de uma perspectiva dialética, o problema, conforme já alertavam os críticos da chamada Indústria Cultural. A mídia de massa possibilita uma maior alienação das pessoas, o que obviamente acaba influenciando para uma construção da identidade dos sujeitos. É o que alerta exemplo, por, Straubhaar (2006, p.113) para quem, a televisão "não nos dá o tempo necessário para absorvermos adequadamente as informações, deixando pouca chance ou quase nenhuma para uma reflexão".

21

Page 22: Apostila de Sociologia 1ano

Globalização cultural: imperialismo ou diversidade?

“O impacto cultural da globalização foi alvo de muita atenção. Imagens, idéias, produtos e estilos disseminam-se hoje em dia pelo mundo inteiro de uma forma muito mais rápida. O comércio, as novas tecnologias de informação, os meios de comunicação internacionais e a migração global fomentaram um fluxo sem restrições de cultura que transpõe as fronteiras das diversas nações. Muitas pessoas defendem que vivemos hoje numa única ordem de informação – uma gigantesca rede mundial, onde a informação é partilhada rapidamente e em grande quantidade. (…)

Segundo estimativas, centenas de milhões de pessoas do mundo inteiro assistiram ao filme Titanic, em salas de cinema ou em vídeo. Estreado em 1997, o Titanic conta a história de um jovem casal que se apaixona a bordo do fatídico navio transoceânico, e é um dos filmes mais populares de sempre. O Titanic quebrou todos os records de bilheteira, acumulando mais de 1,8 mil milhões de dólares de receitas provenientes de salas de cinema em cinquenta e cinco países diferentes. Quando da estréia do filme, formaram-se em muitos países filas de centenas de pessoas para comprar bilhete, e as sessões estavam permanentemente esgotadas (…)

O filme é um dos muitos produtos culturais que conseguiu quebrar as fronteiras nacionais e dar origem a um fenómeno de verdadeiras proporções internacionais. (…)

Uma razão que explica o sucesso de Titanic é o facto do filme reflectir um conjunto particular de ideias e valores com que as assistências pelo mundo fora conseguiam identificar-se. Uma das temáticas centrais do filme é a da possibilidade do amor romântico vencer as diferenças de classe social e as tradições familiares. Embora este ideal seja, de uma forma geral, aceite na maior parte dos países ocidentais, ainda não prevalece em muitas outras regiões do mundo. O sucesso de uma película como o Titanic reflete a mudança de atitudes em relação a relacionamentos pessoais e casamentos, por exemplo, em partes do mundo onde os valores mais tradicionais têm prevalecido. No entanto, pode dizer-se que o Titanic, tal como muitos outros filmes ocidentais, contribui para essa mudança de valores. Os filmes e programas de televisão produzidos no Ocidente, que dominam as mídias mundiais, tendem a avançar uma série de agendas políticas, sociais e econômicas que refletem uma visão do mundo especificamente ocidental. Alguns preocupam-se com o fato da globalização estar a conduzir à criação de uma ‘cultura global’, em que os valores dos mais ricos e poderosos – neste caso, os estúdios de cinema de Hollywood – se sobrepõem à força dos hábitos e das tradições locais. De acordo com esta perspectiva, a globalização é uma forma de ‘imperialismo cultural’, em que os valores, os estilos e as perspectivas ocidentais são divulgados de um modo tão agressivo que suprimem as outras culturas nacionais.

Outros autores, pelo contrário, associaram os processos de globalização a uma crescente diferenciação no que diz respeito a formas e tradições culturais. Ao contrário dos que insistem no argumento da homogeneização cultural, estes autores afirmam que a sociedade global se caracteriza atualmente pela coexistência lado a lado

de uma enorme diversidade de culturas. Às tradições locais, junta-se um conjunto de formas culturais adicionais provenientes do estrangeiro, presenteando as pessoas com um leque estonteante de opções de escolha de estilos de vida. Estaremos a assistir à fragmentação de formas culturais, e não à formação de uma cultura mundial unificada. As antigas identidades e modos de vida enraizados em culturas e em comunidades locais estão a dar lugar a novas formas de ‘identidade híbrida’, compostas por elementos de diferentes origens culturais. Deste modo, um cidadão negro e urbano da África do Sul atual pode permanecer fortemente influenciado pelas tradições e perspectivas culturais das suas raízes tribais, mas simultaneamente adaptar um gosto e um estilo de vida cosmopolitas – na roupa, no lazer, nos tempos livres, etc. – que resultam da globalização.”

Fonte: Anthony Giddens, Sociologia, 5ª edição, F. C. Gulbenkian, 2007, Lisboa, pp. 64-65.

Atividade38) Descreva em poucas palavras a

globalização cultural.

39) Dê exemplos ilustrativos da globalização cultural diferentes dos exemplos dados pelo autor.

40) Na sua opinião, quem tem razão nessa divergência. Porquê?

Globalização: comunicação global

“A explosão a que se assistiu na comunicação a nível global foi possível graças a importantes avanços na tecnologia e nas infraestruturas das telecomunicações mundiais. Após o pós-guerra deu-se uma profunda transformação no âmbito e intensidade do fluxo de telecomunicações. O sistema tradicional de comunicação telefônica, baseado em sinais analógicos enviados por fios e por cabos, foi substituído por sistemas integrados onde grandes quantidades de informação são comprimidas e transferidas digitalmente. A tecnologia por cabo tornou-se mais eficiente e menos dispendiosa; o desenvolvimento de cabos de fibra óptica aumentou gigantescamente o número de canais que podem ser suportados. Enquanto os primeiros cabos transatlânticos instalados na década de 50 do século XX eram capazes de transportar menos de cem canais de voz, em 1997 a capacidade de um único cabo transoceânico elevava-se já a cerca de 600 000. [A capacidade dos atuais é superior a um milhão.] A banalização do recurso a satélites de comunicação, fenômeno que teve início na década de 60, foi também importante para a expansão das comunicações internacionais. Hoje em dia, está em funcionamento uma rede de mais de 200 satélites, facilitando a transferência de informação pelo mundo inteiro.

O impacto destes sistemas de comunicação tem sido extraordinário. Hoje em dia, os lares e os

22

Page 23: Apostila de Sociologia 1ano

escritórios dos países mais desenvolvidos do ponto de vista das telecomunicações têm múltiplas ligações ao exterior, incluindo telefones (fixos e móveis), máquinas de fax, televisão digital e por cabo, correio eletrônico e Internet. Esta última afirmou-se como a ferramenta de comunicação de maior crescimento de sempre – em 1998, havia cerca de 140 milhões de utilizadores de Internet no mundo inteiro. Em 2001, são mais de 700 milhões. [Em 2009 já são mais de mil milhões de utilizadores.]

Estas formas de tecnologia facilitam a ‘compressão’ do tempo e do espaço: dois indivíduos situados em dois lados opostos do planeta – em Tóquio e Londres, por exemplo – não só podem ter uma conversa em ‘tempo real’, como podem também enviar documentos e imagens um ao outro com a ajuda da tecnologia de satélite. O uso corrente da Internet e dos telemóveis aprofunda e acelera os processos de globalização. Um número crescente de pessoas ficam ligadas entre si graças ao recurso a estas tecnologias, e fazem-no em lugares antigamente isolados ou deficientemente abrangidos pelo sistema tradicional de comunicações.

Embora as infra-estruturas de telecomunicações não se tenham desenvolvido de igual forma em todo o mundo, um número cada maior de países pode ter acesso às redes internacionais de comunicação, de um modo que anteriormente não era possível.”

Anthony Giddens, Sociologia, 5ª edição, F. C. Gulbenkian, 2007, Lisboa, pp. 52-53.

Fundamentalismo Mundial

Por Leonardo Boff Três tipos de fundamentalismo dominam a

cena mundial: o do pensamento único representado pela globalização imperante, o suicidário dos muçulmanos cujo principal representante é Bin Laden e o do Estado terrorista da guerra preventiva, corporificado por Bush e por Sharon. Sabidamente, o fundamentalismo não é uma doutrina mas uma maneira excludente de ver a doutrina. O fundamentalista está absolutamente convicto de que sua doutrina é a única verdadeira e todas as demais, falsas. Por isso elas não têm direito, podem e devem ser combatidas.

O fundamentalismo do pensamento único apresenta o modo de produção capitalista com seu mercado globalizado e a ideologia política do neoliberalismo com sua democracia eleitoral e delegatícia como a única forma razoável de organizar o mundo. O que Bush quer impor por própria conta ao Iraque destroçado traduz esse fundamentalismo.

O fundamentalismo suicidário muçulmano parte da convicção de que o Ocidente, inimigo histórico desde os tempos das cruzadas, é o Grande Satã, porque é ateu prático, materialista, imperialista e sexista. Por isso, deve ser combatido em todas as frentes e fazer vítimas mais que se puder com as bênçãos do Altíssimo. São os únicos tão convencidos que aceitam jovialmente ser homens-bomba.

O fundamentalismo do Estado terrorista à la Sharon é movido pela convicção de que os judeus têm o direito, acima de qualquer outro direito dos palestinos, de montar Israel ao tamanho que tinha

nos tempos do rei Davi. Por isso Sharon prossegue com as colonizações e enquanto não realizar esse propósito boicotará qualquer projeto de paz.

O fundamentalismo do Estado terrorista à la Bush possui fortes raízes religiosas, ligadas a sua biografia pregressa. Foi por vinte anos dependente de álcool até que em 1984, a convite de um amigo, Don Evans, atual secretário do comércio, começou a freqüentar o círculo bíblico dos evangélicos fundamentalistas. Após dois anos não era mais ébrio de álcool mas ébrio da ideologia salvacionista destes fundamentalistas que se divulgava fortemente dentro do partido republicano.

Segundo ela, “o destino manifesto” dos EUA hoje é melhorar o mundo na medida em que o impregnar com os valores da cultura norte-americana: com liberdade, democracia, e livre mercado. Bush filho fazia a campanha da reeleição do pai se apresentando como “um homem que tem Jesus em seu coração”. O brasilianista Ralph della Cava e o teólogo J. Stam contam que mais tarde, ao postular-se candidato, Bush reuniu os pastores da zona e lhes comunicou: “fui chamado [por Deus]”. Em seguida fez-se o ritual “da imposição das mãos”, sagrando-o Presidente preventivo.

Essa pré-história é importante para se entender a fúria fundamentalista que se apossou de Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001. Optou combater o mal com o mal, ameaçando com guerra preventiva a todos os países do “eixo do mal”. Deixou claro: “Quem não está conosco, está contra nós”, é terrorista.

Antes do ultimato a Saddam Hussein, pediu aos assessores que “o deixassem a sós por dez minutos”. Qual Moisés foi consultar-se com Deus. E numa entrevista ao New York Times de 26/04/03 declarou: "Tenho uma missão a realizar e com os joelhos dobrados peço ao bom Senhor que me ajude a cumpri-la com sabedoria”. Pobre Deus! Como salvaremos a humanidade desses desvairados?

Atividade

41) O que é fundamentalismo? É necessário combate-lo?

42) Quais os tipos de fundamentalismos apresentado por Leonardo Boff?

A Invisibilidade Social

A invisibilidade social é um fenômeno decorrente da contemporaneidade, mas especificamente do século XX. O termo invisibilidade social é um conceito que foi criado para designar as pessoas que ficam

invisíveis socialmente, seja por preconceito ou indiferença. Esse conceito é bastante amplo,

23

Page 24: Apostila de Sociologia 1ano

abarcando os vários fatores que levam a uma invisibilidade, tais como sociais, estéticos, econômicos, históricos, culturais, etc. Para as pessoas que sofrem com esse fenômeno, o fato que as identifica nessa minoria agredida é uma constante e latente humilhação. Todavia isso pode acarretar diversos problemas, como depressão, doenças psíquicas, distúrbios e o bullying.

O fenômeno é determinado principalmente pelas influências sócio-econômicas advindas do sistema capitalista, o Neoliberalismo, e as crises de identidade nas relações entre os indivíduos da sociedade moderna. Em cada caso há um tipo específico de invisibilidade social, que sempre ocorre em um contexto onde haja relações hierarquizadas, mesmo que irrefletido, e atingindo exclusivamente aqueles que estão à margem da sociedade, não se retendo apenas ao econômico, mas muitas vezes abrangendo-se nas ligações culturais, sociais e estéticas.

Em primeiro caso, decorrente do resultado econômico capitalista, há a invisibilidade pública; fenômeno condicionado a divisão social do trabalho, assim como classificou o psicólogo social Fernando Braga da Costa: “As relações trabalhistas influem a deixar de enxergar os sujeitos como seres transformadores e pensantes, tornando os homens-ferramenta”. Um exemplo disso seria a identificação de um garçom, pura e simplesmente, por sua função e uniforme, sem ater-se à singularidade do seu “EU”, ignorando seu nome, ignoramos também, sua personalidade individual, tornando-o um mero ser socialmente invisível. Outra abordagem de invisibilidade em função do modo de produção vigente é a partir da “Cultura de Consumo”. Esta nova cultura cria necessidades na particularidade dos indivíduos, ludibriando-os a acreditar que os bens materiais são necessários para a construção de uma identidade e um reconhecimento social, isto é, fazendo-os, assim, adquirir esse novo valor de consumo com o falso slogan: “somos o que temos”. Tudo em prol da visibilidade social.

No segundo caso, é necessário estabelecer uma comparação entre o indivíduo e sua identidade social – definida pela relação entre o EU e OUTRO. Assim, como DaMatta sugere em seu livro “O que é o Brasil?” a existência de dois espaços básicos brasileiros: a casa e a rua. Essa teoria alude muito a questão de visibilidade social. A casa reflete ao privado – não somente a morada, como as redondezas do bairro-, lá o indivíduo torna-se sujeito em tom de pessoalidade exacerbado, um ser totalmente visível. Ao contrário da rua, o público, que transforma o sujeito em indivíduo, um ser impessoal, caracterizado pela função do trabalho. Invisível socialmente, visível funcionalmente. Essa divergência de identidades traçadas pelo OUTRO, fazem com que o indivíduo entre em crise sobre sua verdadeira identidade. E é a partir daí que se cria outro tipo de invisibilidade social, a invisibilidade pela indiferença. Esta indiferença pode ser oriunda de um não destaque por parte do indivíduo ou por um estigma de preconceito por não se adequar à “normalidade”. Muitas vezes, a indiferença não é por insensibilidade ao outro, mas uma autopreservação, de evitarmos nos conscientizar do que é doloroso; um exemplo: são os pedintes e profissionais do sexo.

A invisibilidade social, como citado anteriormente, leva ao desprezo e à humilhação. Tais sentimentos, levam as pessoas à processos depressivos. De acordo com Gachet, “‘Aparecer’ é ser importante para a espécie humana, ser valorizado

de alguma forma é parte integrante de nossa passagem pela vida, temos que ser alguém, um bom profissional, um bom estudante, um bom pai, uma boa mãe, enfim, desempenhar com louvor algum papel social”. Isso nos leva a outra conseqüência da exclusão social: a mobilização dos “invisíveis”. Esse grupo é formado por pessoas que se juntam para poder “aparecer”. Alguns exemplos: MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem terra), a Central Única de Favelas (CUFA), fóruns nacionais, etc. Além de grupos ditos oficiais, o indivíduo muitas vezes se sujeita a vestir-se, falar e comporta-se de uma maneira diferente. Sob as influências sócio-econômicas está a compra de roupas, acessórios, produtos eletrônicos e da moda que adéqüe o indivíduo em certo grupo social.

O Bullying refere-se a atitudes ameaçadoras que se processam por meio de agressões físicas ou verbais e que podem impedir o desenvolvimento físico e emocional saudável. Segundo pesquisa realizada em 2002 e 2003 com 5500 alunos de quinta a oitava séries, grande número deles já se envolveram com isto, quer como agredidos, quer como agressores. A palavra vem do inglês e pode ser aplicada nos casos em que a criança recebe apelidos por suas características: ser muito alta, muito magra ou gorda ou naqueles manifestados fisicamente em que os mais fortes agridem o mais fraco. Algumas crianças têm de trocar de escola e outras não conseguem convencer os pais de perceber o que está acontecendo com elas.

Com as informações concentradas nos parágrafos anteriores, podemos observar os impactos da Invisibilidade Social na sociedade contemporânea. Pequenos fatos que, acumulados, tornam proporções gigantescas e afetam diretamente as relações entre os indivíduos, qualidade de vida, questões econômicas, etc. Movimentos para confrontar de maneira prática essa invisibilidade são criados e tentam fazer a diferença, expondo a opinião de minorias, que outrora estariam condenadas ao limbo. Tratamentos psicológicos e psiquiátricos fornecem um feixe de luz no fim do túnel para quem já sofreu os impactos do Bullying, da pressão social para “ser alguém”. Tais soluções citadas, dentre inúmeras, provam que a solução para essa invisibilidade é conquistada a longo prazo e seus resultados podem não ser 100% eficazes, pois seus danos, em casos, são irreparáveis.

Os “invisíveis” estão ali, prontos para ocuparem o papel de coadjuvantes e não incomodarem a consciência burguesa. Uma realidade desagradável, porém concreta, que deve ser melhor trabalhada por órgãos responsáveis para, num futuro próximo, ser reduzida a níveis aceitáveis.

Fonte: http://jornalsociologico.blogspot.com/

Atividade

43) O que é Invisibilidade social? Dê um exemplo de como ela ocorre.

24

Page 25: Apostila de Sociologia 1ano

Orientações Gerais aos alunos

Os trabalhos deverão ser entregues no horário previamente marcado. Em caso de atraso, serão decrescidos cerca de 20% do valor total por dia de atraso;

Os trabalhos deverão está de acordo com as exigências de padronização pré-estabelecido pelo professor. Caso isso não ocorra o trabalho terá seu valor decrescido de acordo com as suas variações do formato previamente determinado;

Em caso de atraso de chegada em sala de aula, o aluno deverá pedir permissão ao coordenador e ao professor para entrar em sala. Atrasos frequentes não serão tolerados (exceto por força maior);

Para computar pontos no caderno o aluno deverá receber o visto do professor em tempo previsto. Atividade sem visto não será computada na nota do caderno;

Toda a atividade de sala deverá ser realizada dentro do tempo previsto pelo professor;

As atividades de sala de aula ou de casa deverão ser realizadas individualmente;

Caso o aluno empreste o caderno para que o colega copie as resposta, os dois não receberão visto; No caso da cola ocorrer sem a permissão do dono do caderno, o aluno “colador” não terá o visto na atividade.

Em caso de ausência do aluno na aula este deverá, na aula seguinte, apresentar a tarefa efetivada da aula perdida;

A nota trimestral estará assim distribuída:

o Primeiro trimestre: 06 pontos no caderno; 14 pontos em trabalhos extra-classe em grupo ou individual (o número máximo será

previamente estabelecido); 10 pontos em prova escrita;

• Total: 30 pontos

o Segundo trimestre: 06 pontos no caderno; 14 pontos em trabalhos extra-classe em grupo ou individual (o número máximo será

previamente estabelecido); 10 pontos em prova escrita;

• Total: 30 pontos

o Terceiro trimestre: 10 pontos no caderno; 15 pontos em trabalhos extra-classe em grupo ou individual (o número máximo será

previamente estabelecido); 15 pontos em prova escrita;

• Total: 40 pontos

Os alunos poderão sugerir outra opção de trabalho a ser realizado (no lugar do pré-estabelecido). Este será analisado pelo professor. Caso atenda os objetivos traçados, este poderá ser permitido no lugar do trabalho pedido inicialmente.

Visite o blog de Sociologiahttp://cafecomsociologia.blogspot.com/

Nele você encontrará parte do material utilizado em sala de aula (que não consta na apostila).

25