apostila de movimento religiosos

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1 INSTITUTO SUPERIOR EM CIÊNCIAS DA HUMANIDADE Faculdade de Teologia e Ciências da Religião Religião e Movimento Religioso Licenciatura do Ensino Religioso

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INSTITUTO SUPERIOR EM CIÊNCIAS DA HUMANIDADEFaculdade de Teologia e Ciências da Religião

Religião e Movimento Religioso

Licenciatura do Ensino Religioso Professor: Pr. Oséias Lopes

2015 Manaus – Amazonas – Brasil

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Visão geral :

Religião (especulam-se várias origens etimológicas. Detalhes na seção etimologia) é um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e seus próprios valores morais. Muitas religiões têm narrativas, símbolos, tradições e histórias sagradas que se destinam a dar sentido à vida ou explicar a sua origem e do universo. As religiões tendem a derivar a moralidade, a ética, as leis religiosas ou um estilo de vida preferido de suas idéias sobre o cosmos e a natureza humana.

A palavra religião é muitas vezes usada como sinônimo de fé ou sistema de crença, mas a religião difere da crença privada na medida em que tem um aspecto público. A maioria das religiões têm comportamentos organizados, incluindo hierarquias clericais, uma definição do que constitui a adesão ou filiação, congregações de leigos, reuniões regulares ou serviços para fins de veneração ou adoração de uma divindade ou para a oração, lugares (naturais ou arquitetônicos) e/ou escrituras sagradas para seus praticantes. A prática de uma religião pode também incluir sermões, comemoração das atividades de um deus ou deuses, sacrifícios, festivais, festas, transe, iniciações, serviços funerários, serviços matrimoniais, meditação, música, arte, dança, ou outros aspectos religiosos da cultura humana.

O desenvolvimento da religião assumiu diferentes formas em diferentes culturas. Algumas religiões colocam a tônica na crença, enquanto outras enfatizam a prática. Algumas religiões focam na experiência religiosa subjetiva do indivíduo, enquanto outras consideram as atividades da comunidade religiosa como mais importantes. Algumas religiões afirmam serem universais, acreditando que suas leis e cosmologia são válidas ou obrigatórias para todas as pessoas, enquanto outras se destinam a serem praticadas apenas por um grupo bem definido ou localizado. Em muitos lugares, a religião tem sido associada com instituições públicas, como educação, hospitais, família, governo e hierarquias políticas.

Alguns acadêmicos que estudam o assunto têm dividido as religiões em três categorias amplas: religiões mundiais, um termo que se refere à

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crenças transculturais e internacionais; religiões indígenas, que se refere a grupos religiosos menores, oriundos de uma cultura ou nação específica; e o novo movimento religioso, que refere-se a crenças recentemente desenvolvidas. Uma teoria acadêmica moderna sobre a religião, o construtivismo social, diz que a religião é um conceito moderno que sugere que toda a prática espiritual e adoração segue um modelo semelhante ao das religiões abraâmicas, como um sistema de orientação que ajuda a interpretar a realidade e definir os seres humanos e, assim, a religião, como um conceito, tem sido aplicado de forma inadequada para culturas não-ocidentais que não são baseadas em tais sistemas ou em que estes sistemas são uma construção substancialmente mais simples.

Definição e Etmologia

A palavra portuguesa religião deriva da palavra latina religionem (religio no nominativo), mas desconhece-se ao certo que relações estabelece religionem com outros vocábulos. Aparentemente no mundo latino anterior ao surgimento do cristianismo, religionem referia-se a um estilo de comportamento marcado pela rigidez e pela precisão.

A raiz da palavra religião tem ligações com o -lig- de diligente ou inteligente ou com le-, lec-, -lei, -leg- de "ler", "lecionar", "eleitor" e "eleger" respectivamente. o re- iniciar é um prefixo que vem de red(i) "vir", "voltar" como em "reditivo" ou "relíquia"

Historicamente foram propostas várias etimologias para a origem de religio. Cícero, na sua obra De natura deorum, (45 a.C.) afirma que o termo se refere a relegere, reler, sendo característico das pessoas religiosas prestarem muita atenção a tudo o que se relacionava com os deuses, relendo as escrituras. Esta proposta etimológica sublinha o carácter repetitivo do fenómeno religioso, bem como o aspecto intelectual. Mais tarde, Lactâncio (século III e IV d.C.) rejeita a interpretação de Cícero e afirma que o termo vem de religare, religar, argumentando que a religião é um laço de piedade que serve para religar os seres humanos a Deus.

No livro "A Cidade de Deus" Agostinho de Hipona (século IV d.C.) afirma que religio deriva de religere, "reeleger". Através da religião a

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humanidade reelegia de novo a Deus, do qual se tinha separado. Mais tarde, na obra De vera religione Agostinho retoma a interpretação de Lactâncio, que via em religio uma relação com "religar".

Macróbio (século V d.C.) considera que religio deriva de relinquere, algo que nos foi deixado pelos antepassados.

A palavra "religião" foi usada durante séculos no contexto cultural da Europa, marcado pela presença do cristianismo que se apropriou do termo latino religio. Em outras civilizações não existe uma palavra equivalente. O hinduísmo antigo utilizava a palavra rita que apontava para a ordem cósmica do mundo, com a qual todos os seres deveriam estar harmonizados e que também se referia à correcta execução dos ritos pelos brâmanes. Mais tarde, o termo foi substituído por dharma, termo que atualmente é também usado pelo budismo e que exprime a ideia de uma lei divina e eterna. Rita relaciona-se também com a primeira manifestação humana de um sentimento religioso, a qual surgiu nos períodos Paleolítico e Neolítico, e que se expressava por um vínculo com a Terra e com a Natureza, os ciclos e a fertilidade. Nesse sentido, a adoração à Deusa mãe, à Mãe Terra ou Mãe Cósmica estabeleceu-se como a primeira religião humana. Em torno desse sentimento formaram-se sociedades matriarcais centradas na figura feminina e suas manifestações.6 Ainda entre os hindus destaca-se a deusa Kali ou A negra como símbolo desta Mãe cósmica. Cada uma das civilizações antigas representaria a Deusa, com denominações variadas: Têmis (Gregos), Nu Kua (China), Tiamat (Babilônia) e Abismo ,(Bíblia). Segundo o mitologista Joseph Campbell a mudança de uma ideia original da Deusa mãe identificada com a Natureza para um conceito de Deus deve-se aos hebreus e à organização patriarcal desta sociedade. O patriarcalismo formou-se a partir de dois eventos fundamentais: a atividade belicosa de pastoreio de gado bovino e caprino e às constantes perseguições religiosas que desencadeavam o nomadismo e a perda de identidade territorial. Herdado da cultura hebraica, patriarcado é uma palavra derivada do grego pater, e se refere a um território ou jurisdição governado por um patriarca; de onde a palavra pátria. Pátria relaciona-se ao conceito de país, do italiano paese, por sua vez originário do latim pagus, aldeia, donde também vem pagão. País, pátria, patriarcado e pagão tem a mesma raiz. Independente da origem, o termo é adotado para

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designar qualquer conjunto de crenças e valores que compõem a fé de determinada pessoa ou conjunto de pessoas. Cada religião inspira certas normas e motiva certas práticas.

Conceitos Religiosos

Existem termos que são ditos/escritos frequentemente no discurso religioso grego, romano, judeu e cristão. Entre eles estão: sacro e seus derivados (sacrar, sagrar, sacralizar, sacramentar, execrar), profano (profanar) e deus(es). O conceito desses termos varia bastante conforme a época e a religião de quem os emprega. Contudo, é possível ressaltar um mínimo comum à grande parte dos conceitos atribuídos aos termos.

Os religiosos gregos e romanos criam na existência de vários deuses; os judeus, muçulmanos e cristãos acreditam que há apenas uma divindade, um ser impossível de ser sentido pelos sensores humanos e que é capaz de provocar acontecimentos improváveis/impossíveis que podem favorecer ou prejudicar os homens. Para grande parte das religiões, as coisas e as ações se dividem entre sacras e profanas. Sacro é aquilo que mantém uma ligação/relação com o(s) deus(es). Frequentemente está relacionado ao conceito de moralidade. Profano é aquilo que não mantém nenhuma ligação com o(s) deus(es). Da mesma forma, para grande parte das religiões a imoralidade e o profano são correspondentes. Já o verbo "profanar" (tornar algo profano) é sempre tido como uma ação má pelos religiosos.

Dentro do que se define como religião podem-se encontrar muitas crenças e filosofias diferentes. As diversas religiões do mundo são de fato muito diferentes entre si. Porém ainda assim é possível estabelecer uma característica em comum entre todas elas. É fato que toda religião possui um sistema de crenças no sobrenatural, geralmente envolvendo divindades, deuses e demônios. As religiões costumam também possuir relatos sobre a origem do Universo, da Terra e do Homem, e o que acontece após a morte. A maior parte crê na vida após a morte.

A religião não é apenas um fenômeno individual, mas também um fenômeno social. Exemplos de doutrinas que exigem não só uma fé individual, mas também adesão a um certo grupo social, são as doutrinas da Igreja Católica, do judaísmo, dos amish.

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A idéia de "religião", com muita frequência, contempla a existência de seres superiores que teriam influência ou poder de determinação no destino humano. Esses seres são principalmente deuses, que ficam no topo de um sistema que pode incluir várias categorias: anjos, demônios, elementais, semideuses etc.

Outras definições mais amplas de religião dispensam a idéia de divindades e focalizam os papéis de desenvolvimento de valores morais, códigos de conduta e senso cooperativo em uma comunidade.

Ateísmo é a ausência de crença em qualquer tipo de deus, muitas vezes se contrapondo às religiões teístas. Agnosticismo é a postura filosófica que afirma ser impossível saber racionalmente sobre a existência ou inexistência de deuses e sobre a veracidade de qualquer religião teísta, por falta de provas favoráveis ou contrárias. Deísmo é a crença na existência de um Deus criador, mas questiona a idéia de revelação divina.

Algumas religiões não consideram deidades, e podem ser consideradas como ateístas (apesar do ateísmo não ser uma religião, ele pode ser uma característica de uma religião). É o caso do budismo, do confucionismo e do taoísmo. Recentemente surgiram movimentos especificamente voltados para uma prática religiosa (ou similar) da parte de deístas, agnósticos e ateus - como exemplo podem ser citados o Humanismo Laico e o Unitário-Universalismo. Outros criaram sistemas filosóficos alternativos como August Comte, fundador da Religião da Humanidade.

As religiões que afirmam a existência de deuses podem ser classificadas em dois tipos: monoteísta ou politeísta. As religiões monoteístas (monoteísmo) admitem somente a existência de um único deus, um ser supremo. As religiões politeístas (politeísmo) admitem a existência de mais de um deus.

Atualmente, as religiões monoteístas são dominantes no mundo: judaísmo, cristianismo e islamismo, juntos, agregam mais da metade dos seres humanos e quase a totalidade do mundo ocidental. Além destas, o zoroastrismo, a fé bahá'i, o espiritismo e bnei noah são religiões monoteístas.

O que é igreja?

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Segundo Max Weber (1997), na sua relação com o mundo, a Igreja busca a universalidade, não somente no sentido geográfico, mas como instituição religiosa dominante, a que conserva o monopólio da produção e distribuição dos bens simbólicos de salvação (Hamilton 1999), cuja idéia vai ser retomada depois por Pierre Bour-dieu, que afirma que a Igreja visa preservar um monopólio de um “capital de graça institucional ou sacramental […] pelo controle de acesso aos meios de produção, de reprodução e de distribuição dos bens de salvação” (Bourdieu 1986:58).

Ainda segundo Pierre Bourdieu (1986), a boa gestão do capital religioso acumulado, visando garantir a sua manutenção e cresci-mento, somente pode ser feita por meio de um aparelho burocrático, por uma instituição como a Igreja, capaz, portanto, de assegurar a sua própria sobrevivência “ao reproduzir os produtores de bens de salvação” (Bourdieu 1986:59), através da constituição de um corpo de sacerdotes e serviços religiosos.

No contexto das sociedades modernas secularizadas, a Igreja, numa tentativa de garantir o reconhecimento social de seu já frágil controlo dos bens de salvação e também como estratégia de perpetuação da influência e do poder na sociedade, tende a impedir a entrada dos novos movimentos religiosos no mercado religioso, bem como a privatização da prática religiosa, ou seja, a busca individual de salvação da alma (Bourdieu 1986:58).

Na busca da sua universalidade, a Igreja tem uma grande vantagem em relação às seitas, pois seus potenciais seguidores já nascem e são batizados no seio da Igreja. Além disso, a Igreja, segundo Weber, é não-exclusivista, ou seja, os critérios de aceitação de um novo membro são mínimos e, por outro lado, os casos de expulsão são raros e somente dentro do seu quadro de teólogos.

Segundo Thomas Luckmann (1973), na esteira de Durkheim (1996), a história da civilização cristã ocidental é caracterizada pela extrema institucionalização da religião na forma de Igreja. Uma das conseqüências disso é o fato da religião ser tratada como uma instituição como outra qualquer. Como afirmou Troeltsch (1931), a Igreja dominou o mundo e, por isso, foi dominada pelo mundo (1931:342).

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Vejamos então, resumidamente, as principais características de Igreja (Troeltsch 1931; Ramos 1992).

As principais características de Igreja

1. Sistema religioso majoritário em conformidade com as instituições primordiais (política, econômica, educativa) da sociedade ou Estado, institucionalmente laico ou não.

2. Identificação com certos aspectos nacionalistas, como etnia, fronteiras geográficas, idioma, etc.

3. Legitimada socialmente (a legitimação é de origem divina e justificada pela Sagrada Escritura), a Igreja exerce influência e autori-dade sobre todos os aspectos da vida.

4. Reivindica o monopólio dos bens religiosos e simbólicos de sal-vação.

5. Os membros são majoritariamente por nascimento/batismo e pouquíssimos por conversão.

6. Proselitismo genérico, de caráter universalista e não muito ativo.

7. Burocratização e organização complexa, envolvendo aspectos administrativos, estratificação interna (clerical-laica), distribuição geográfica ordenada, formalização teológico-dogmática das crenças, desenvolvimento de legislação formal sobre práticas, usos e costumes e a ritualização de cultos e orações.

O que é seita?

As seitas, por sua vez, não aspiram a universalidade da Igreja, pois são mais exclusivistas, os critérios de admissão são rígidos, só aceitam pretendentes considerados aptos, com base nas suas qualidades religiosas e morais. No entanto, as seitas são por natureza conversionista, pois, para subsistir, são obrigadas a recrutar o maior número possível de adeptos; ou seja, o forte proselitismo é uma das suas principais características.

O Messias, o profeta, o guru, ou seja, o líder carismático, e sua seita, ao contrário das Igrejas, são obrigados a realizar a “acumulação inicial do capital religioso” (Bourdieu 1986:59) pela conquista de uma autoridade sujeita às flutuações da relação conjuntural entre a oferta de serviços religiosos e a procura pelos bens de salvação.

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Segundo o teólogo e sociólogo alemão E. Troeltsch (1931), as seitas são hostis e perigosas, não somente para a Igreja oficial, mas também para o poder econômico e político instituídos, ou seja, para a ordem social dominante; e isso explica, naturalmente, o sentido pejorativo do conceito de seita e, em alguns casos, as injustificadas campanhas de difamação desencadeadas por parte do Estado e da Igreja majoritária, contra um determinado movimento religioso (Barker 1999).

A seita é uma fração mais radical dentro de uma religião/Igreja instituída. Em sociedades onde há união, direta ou indiretamente, entre poder político e eclesiástico, a Igreja é considerada como a única instituição religiosa oficial, ou seja, uma instituição hierarquizada e burocratizada e detentora do monopólio dos bens simbólico-religiosos, enquanto que a seita é um grupo de protesto, que se nega a aceitar a „verdadeira‟ fé – é sinônimo de apostasia (abandono da fé).

Para reforçar o que foi agora dito sobre as características da seita, é pertinente dizer que este conceito tem um duplo significado: secare – cortar; sequi – seguir (Ruuth & Rodrigues 1999). Então vejamos:

(a) No primeiro sentido (secare – cortar), como foi discutido acima, seita é um pequeno grupo que se separou de um corpo religioso maior, do qual reivindica a legitimidade teológica. Ou seja, é um grupo de ruptura que busca a renovação de sua Igreja de origem, não necessariamente para criar uma nova religião ou Igreja, mas como a versão autêntica e purificada da fé. Como afirmou o teólogo Carreira das Neves “ao fim e ao cabo, todos estes novos movimentos religiosos vão descobrir, através dos seus fundadores, que são eles os verdadeiros herdeiros da Palavra de Deus” (Neves 1998:9).

Outro aspecto importante a realçar é que está implícito neste conceito de seita a inovação: introduzida por um „profeta‟ ou líder religioso, o inovador que fala, prega e age de forma distinta dos líderes e dos seguidores da religião anterior, da qual está a se separar, oferecendo novos horizontes religiosos e de salvação da alma e propondo doutrinas, moral e comportamentos distintos (Galindo 1994:66).

Foi este, por exemplo, o caso das três principais religiões monoteístas históricas, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo; são as denominadas „Religiões do Livro Sagrado‟ ou „religiões abraâmicas‟, pois a figura mítica

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que as une é Abraão. Posteriormente, surgem os três principais ramos, as três principais Igrejas no contexto da religião cristã: o catolicismo romano, o catolicismo ortodoxo e o protestantismo.

Para além das „religiões do livro‟, também outras religiões históricas produziram fenômenos do tipo sectário, como foi o caso do Hinduísmo, Budismo e Confucionismo. Na verdade, não podemos esquecer que, quando apareceram, todas as grandes religiões e Igrejas históricas conhecidas foram consideradas como seitas e novos movimentos religiosos durante algum tempo.

(b) Seita, no segundo sentido (segui – seguir), pode ser definida da seguinte maneira: grupo organizado de pessoas que seguem uma mesma doutrina filosófica e religiosa. No sentido sectário, com uma grande carga pejorativa, é um grupo de pessoas que professa opiniões facciosas e intolerantes do ponto de vista político e religioso.

Neste caso, a seita apresenta as seguintes características: tem um poder centralizado num único chefe, um líder carismático, um „iluminado‟ que recebeu o chamamento de Deus, do Demônio ou de qualquer outra entidade sobrenatural, ao qual os seguidores, que normalmente abandonam a família, o trabalho, a escola, para viver com o grupo, devotam uma obediência cega; as normas comportamentais são extremamente rígidas; ela é fanática; alienante; auto-destrutiva; valoriza a violência; é fechada e intolerante, relativamente ao exterior.

Para esclarecer melhor esta última definição, vamos dar alguns exemplos. É importante realçar que a escolha das seitas aqui apresentadas deveu-se unicamente ao fato de muitas delas estarem fortemente implantadas no mundo inteiro e de serem muito conhecidas, por causa da sua polêmica forma de atuação, digamos assim, da sua espetaculosidade: Igreja da Unificação do Cristianismo (The Holy Spirit Association for the Unification of World Christianity), criada nos anos de 1950, pelo reverendo coreano Sun Myung Moon (1920). Segundo ele, embora seguidor do Taoísmo e Confucionismo (religiões do seu contexto cultural), quando tinha 16 anos, teve uma visão de Jesus Cristo, com a mensagem de criar um novo reino de Deus na Terra e, portanto, considera-se um novo messias. Este movimento religioso também tem uma forte ação política (conservadora de direita) e possui um enorme complexo industrial e financeiro. Seu líder,

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agora a viver nos Estados Unidos, é proprietário do prestigiado jornal Washington Times. Meninos de Deus/Família do Amor (oficialmente The Fellow-ship of Independent Missionary Communities), uma polêmica seita neo-pentecostal, originalmente ligada ao Jesus Movement, criada em Los Angeles (EUA), em 1968, por David Brandt Berg (1919-1994), e hoje presente em mais de 50 países, distribuídos em cerca de 200 comunidades, que vivem isoladas da sociedade envolvente. Igreja de Cientologia, fundada em 1954, em Los Angeles, (EUA), por Ron Hubbard (1911-1986), a partir da Dianética (Hubbard 1950), uma forma de terapia mental-espiritual, denominada por ele “Ciência moderna de saúde mental”. Este NMR possui alguns membros ilustres do star-system americano, como John Travolta e Tom Cruise8.

Mas há outras seitas, porque a lista é enorme (Fillaire 1995; Ikor 1996).

Há ainda as seitas que são um grande perigo para a sociedade, por exercerem extrema violência. Vejamos alguns exemplos: Aum Shinrikyo-Verdade Suprema, um NMR com forte influência hinduísta e budista, criado em 1987 pelo japonês Shoko Asahara (nascido Chizuo Matsumoto), que em 1995 perpetrou um ataque com gás tóxico no Metro de Tóquio, causando doze mortos e vários feridos. Seitas que praticaram suicídios coletivos e que na sua grande maioria são de origem norte-americana: Templo do Povo (líder Jim Jones); Ramo dos Davidianos (líder David Koresh); Porta do Paraíso (líder “Do”, Marshall Applewhite), conhecida como a seita dos ÓVNIS; Ordem do Templo do Sol, criada, em 1984, por Joseph Di Mambro (1924-1994) e Luc Jouret (1947-1994), que reivindicavam ser os descendentes diretos dos Cavaleiros Templários, do período medieval.

Para concluir esta questão, vejamos, de uma forma mais exaustiva possível, as principais características de seita, no sentido sociológico (Ramos 1992; Troeltsch 1931; Weber 1997; Wilson 1970, 1982):

As principais características de Seita

1. Organização com uma estrutura simples e pouco burocratizada, quase sempre sem a distinção entre clérigos e laicos.

2. Associação voluntária, mas exclusivista, ou seja, os membros da seita não podem pertencer a uma outra organização.

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3. A seita, que nasce normalmente no seio de um movimento religioso mais amplo, reivindica a exclusividade, o monopólio da „verdade‟ religiosa.

4. O líder religioso é o mensageiro da „verdade suprema‟; quase todos os fundadores de Igrejas e outras confissões religiosas, legam aos seus fiéis, de uma forma oral ou escrita, as suas experiências marcantes do contacto com o sagrado.

5. Os seus membros, que „renascem‟ numa nova espiritualidade, consideram-se os eleitos, ou seja, que foram escolhidos por Deus, pelo líder (o guru) ou outra entidade religiosa, para desempenhar um importante papel no mundo.

6. O proselitismo é seletivo, ou seja, a tentativa de conversão incide apenas sobre um número reduzido de pessoas.

7. Apóia-se na conversão pessoal, que implica mudanças radicais no modo de vida e uma forte componente emocional.

8. Adotam idéias e comportamentos muito próprios e exclusivos.

9. Todos os seus membros tendem a uma „perfeição‟ holística como ser humano.

10. Propaga a idéia que pertencer a ela é um prêmio aos méritos pessoais do pretendente, tais como: conhecimento da doutrina, experiência de conversão, recomendação de um membro mais antigo.

11. Há grande participação dos laicos nas cerimônias religiosas.

12. Durante os cultos os membros devem expressar a sua total fidelidade ao líder.

13. É pouco dialogante e defende energicamente a sua ideologia, provocando, quase sempre, um enorme isolamento do mundo.

14. Quanto à relação com a sociedade, com o Estado e com as Igrejas e religiões históricas (oficiais e/ou majoritárias), a seita tem um caráter contestatório, no que se refere aos valores, costumes e às normas sociais predominantes na sociedade.

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15. Algumas seitas, que se assumem como um grupo fundamenta-lista radical, adotam uma atitude hostil e até mesmo de violência contra os não-membros do movimento.

16. Retiram os seus membros do seio familiar e da sociedade, para viverem em grupo, impondo-lhes, assim, os seus próprios critérios morais e de comportamento e obrigando-lhes a tomarem parte em quase todas as atividades do grupo.

17. Quem defender opiniões contrárias às doutrinas da seita ou violar as normas básicas de comportamento, éticas ou da organização, será punido internamente. Mas, de acordo com a gravidade da situação, também poderá ser expulso, perseguido pelo grupo, e até mesmo pagar com a própria vida o ato de traição.

Dentro da problemática dos agrupamentos religiosos, os dois principais conceitos são seita e Igreja, preconizados por Max Weber e o seu colega Ernst Troeltsch. No entanto, há ainda mais dois conceitos importantes: „denominação‟ e „culto‟.

A denominação, por sua vez, pode ser definida como uma etapa intermédia entre seita e Igreja (Wilson 1970, 1982; Stark & Bainbridge 1985). Superada sua primeira etapa de instabilidade provocada pela ruptura, do fervor carismático, do monopólio da „ver-dade‟ religiosa e do caráter exclusivista, a seita do tipo conversionista começa a tornar-se mais estável, a institucionalizar-se, ou seja, a organizar-se de uma forma semelhante a uma Igreja e torna-se, assim, numa denominação. Foi o que aconteceu, por exemplo, numa primeira fase com o Calvinismo e o Metodismo (Ramos 1992:183).

O culto, por sua vez, é livre, aberto e apóia-se sobre interesses e experiências religiosas individuais ou de um pequeno grupo. Segundo O'Dea “as relações que se exprimem no culto são, em primeiro lugar, relações com o sagrado [...] apenas secundariamente são relações entre membros e entre membros e líderes” (O'Dea 1969:59).

Os cultos são expressões religiosas de cariz popular, que surgem normalmente no contexto das grandes religiões históricas mundiais. Eles apresentam uma grande dose de misticismo (Troeltsch 1931) e um caráter

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sincrético, pois incorporam elementos da cultura (ou da contracultura) contemporânea (Hunt 2003).

No entanto, os seus membros não rompem necessariamente com suas religiões ou igrejas de origem e com suas crenças religiosas predominantes. O culto é uma organização voluntária, sem regras formais de pertença como a Igreja e sem o exclusivismo da seita.

No contexto do cristianismo católico, os mais importantes são o culto „mariano‟, de veneração a Nossa Senhora (ver, p.ex., o fenômeno Fátima, em Portugal, e Aparecida, no Brasil, entre muitos outros casos) e os cultos de veneração aos santos (ver, por exemplo, os chamados „santos populares‟). A maioria desses cultos possui um espaço sagrado próprio, um santuário, que envolve peregrinação, normalmente em datas especiais.

Mas há outros exemplos de cultos fora do mundo cristão, como, por exemplo, O Baha’í (um culto de origem persa-iraniana e presente em quase todos os países do mundo e com dois grandes centros religiosos, duas enormes „catedrais‟, na Índia e em Israel), algumas filosofias orientais, terapias espirituais e medicinas alternativas, a meditação transcendental, entre outras.

Movimentos Religiosos

Esta classificação procura agrupar as religiões com base em critérios geográficos, como a concentração numa determinada região ou o facto de certas religiões terem nascido na mesma região do mundo. As categorias mais empregues são as seguintes:

Religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo, islamismo, espiritismo, fé bahá'í;

Religiões da Ásia Oriental: confucionismo, taoismo, budismo mahayana e xintoísmo;

Religiões da Índia: hinduísmo, jainismo, budismo e siquismo;

Religiões africanas: religiões dos povos tribais da África Negra;

Religiões da Oceania: religiões dos povos das ilhas do Pacífico, da Austrália e da Nova Zelândia;

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Religiões da Antiga Grécia e Roma.

zoroastrismo

Esta classificação não se refere à forma como tais religiões estão distribuídas hoje pela Terra, mas às regiões onde elas surgiram. Fundamenta-se no fato de que as religiões nascidas em regiões próximas mantém também proximidades em relação aos seus credos, por exemplo: as religiões nascidas no Oriente Médio em geral são monoteístas e submetem seus crédulos a forte regime de proibições e obrigações, sempre se utilizando de ameaças pós-morte como a do inferno cristão. Já as religiões nascidas no Oriente Distante são politeístas ou espiritualistas (não pregam a existência de nenhum deus, mas acreditam em forças espirituais) e são mais flexíveis quanto suas normas morais.

Esta classificação não se refere à forma como tais religiões estão distribuídas hoje pela Terra, mas às regiões onde elas surgiram. Fundamenta-se no fato de que as religiões nascidas em regiões próximas mantém também proximidades em relação aos seus credos, por exemplo: as religiões nascidas no Oriente Médio em geral são monoteístas e submetem seus crédulos a forte regime de proibições e obrigações, sempre se utilizando de ameaças pós-morte como a do inferno cristão. Já as religiões nascidas no Oriente Distante são politeístas ou espiritualistas (não pregam a existência de nenhum deus, mas acreditam em forças espirituais) e são mais flexíveis quanto suas normas morais.

A distribuição atual das religiões não corresponde às suas origens, já que algumas perderam força em suas regiões nativas e ganharam participação em outras partes do planeta, um exemplo básico é o cristianismo, que é minoritário no Oriente Médio (onde surgiu) e majoritário em todo o Ocidente e na Oceania (para onde migrou).

A distribuição atual das religiões não corresponde às suas origens, já que algumas perderam força em suas regiões nativas e ganharam participação em outras partes do planeta, um exemplo básico é o cristianismo, que é minoritário no Oriente Médio (onde surgiu) e majoritário em todo o Ocidente e na Oceania (para onde migrou).

O fenômeno NMRs

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A partir da Segunda Guerra Mundial, e particularmente desde os finais dos anos 60 do século XX, houve uma mudança significativa no panorama religioso mundial, com a proliferação de novos movimentos religiosos e de outros movimentos de caráter mais, digamos assim, filosófico (Wilson 1981, 1990; Barker 1982, 1999; Wilson & Cresswell 1999; Lewis 2003; Arweck 2005; Clarke 2006a, 2006b). Este importante fenômeno tem atraído a atenção de muitos cientistas sociais. Mas, em função da sua grande visibilidade e do expressivo impacto na sociedade, também tem tido um enorme destaque na comunicação social.

Mas qual o significado dos novos movimentos religiosos (NMRs)? Resumidamente, é um conceito sociológico criado na década de 50 do século XX para designar e substituir a clássica tipologia Igreja-Denominação- Seita- Culto, que acabamos de discutir no item anterior.

Os NMRs, que proliferaram nos finais dos anos 60 do século passado, principalmente nos Estados Unidos, Brasil, Europa e Japão, são um produto das profundas mudanças sociais, culturais e religiosas verificadas na fase pós-conflito mundial.

Este fenômeno religioso deve também ser compreendido dentro do contexto do movimento cultural e ideológico, denominado „contracultura‟, que surgiu no mesmo contexto temporal e geográfico dos NMRs. Trata-se de um movimento com uma ação política muito ativa, composto majoritariamente por jovens, críticos em relação à sociedade ocidental, que consideravam a sociedade ocidental excessivamente materialista, individualista, moralista, tecnicista e racional. Como também visavam (re)introduzir uma visão mais espiritual e uma nova filosofia de vida na sociedade, uma concepção holística do ser, os seguidores da contra-cultura encontraram nos NMRs a materialização dos seus desejos, especialmente o grande movimento protestante carismático que surgiu na Califórnia, denominado „Jesus Movement‟ (Hunt 2003).

Na verdade, em quase todos os países atuais, ricos e pobres, embora com as suas especificidades, no contexto da globalização, há um terreno fértil para o aparecimento de novos movimentos religiosos, sejam de matriz judaico-cristã, oriental, filosófica e (pseudo) científica (Barker 1999).

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Uma questão importante na discussão do fenômeno NMRs é o movimento que, embora apresente algumas características religiosas, não é considerado como sendo propriamente religioso.

Como „filosofia de vida‟, eles promovem uma concepção holís-tica do ser, ou seja, “a maximização do potencial humano”, como afirmou Hervieu-Léger (1987:22). Segundo o sociólogo italiano Enzo Pace (1999), a globalização banaliza as diferenças fundamentais entre as religiões/Igrejas históricas, levando os „consumidores‟ das mensagens religiosas a perceberem cada vez menos os limites simbólicos entre os diferentes sistemas de crença religiosa.

Conforme realçou Zélia Soares, atualmente, há na maior parte das pessoas a esperança de que, a qualquer momento, as coisas vão mudar para melhor: “Deus com certeza irá nos ajudar, Deus é grande, Ele é pai e não padrasto” (Soares 1993:406), são expressões que constantemente são ouvidas entre as pessoas.

É neste contexto que aparecem as seitas, Igrejas ou confissões religiosas que prometem respostas rápidas e eficazes para a resolução de todos os problemas, materiais e espirituais.

De fato, são vários os fatores que podem explicar a “autonomização da religião” (Fernandes 2001), ou seja, o aparecimento e crescimento dos novos movimentos religiosos no Mundo, com forte incidência nos Estados Unidos15 e Brasil.

Para Peter Berger, as diversas manifestações religiosas messiânicas e milenaristas estão historicamente relacionadas aos momentos de tragédia natural e grave crise social: “„O Senhor vem aí‟ – foi repetidas vezes o brado de reunião em tempos de aguda aflição” (Berger 1985:81).

Ainda também sobre esta questão, Pierre Bourdieu afirma que “assim como o sacerdote alia-se à ordem ordinária, o profeta é o homem das situações de crise quando a ordem estabelecida ameaça romper-se ou quando o futuro inteiro parece incerto” (Bourdieu 1986:73).

Segundo Prandi, uma das principais razões para o crescimento das religiões é que as sociedades desse mundo desencantado são problemáticas; “as religiões prosperam com a pobreza das populações” (Prandi 1999:64). Para Fernandes (2001: 125), “as seitas religiosas [...] não

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fazem mais do que capitalizar bem o potencial de mal-estar e de descontentamento que grassa nas atuais sociedades”.

Numa abordagem sobre os NMRs, um fenômeno importante a referir é a mobilidade religiosa. Os crentes, os fiéis, ao encontrarem, ao longo de suas vidas, outras alternativas religiosas, ou melhor, outros caminhos para se chegar à salvação da alma, abandonam a Igreja ou confissão religiosa original e mudam de confissão religiosa, de religião ou de Igreja, num contínuo processo de nomadismo religioso (Bernadetti 1994). “As pessoas..., com o alargamento do „mercado‟ religioso, transformado em selfservice, tendem [...] a flutuar ao sabor das suas disposições ou necessidades de momento” (Fernandes 2001: 153).

No caso específico do Brasil e de Portugal, partindo da Igreja Católica Romana, considerada, durante séculos, como a única instituição religiosa capaz de guiar o Homem no caminho da salvação, os fiéis transitam para os novos movimentos religiosos ou outras práticas alternativas.

No caso ainda do Brasil, o conceito de „nomadismo religioso‟ está associado a um outro conceito também muito importante: „síndrome brasileiro‟. Mas quais são as principais características da síndrome brasileiro? É Rubem César Fernandes quem responde: “A extrema mobilidade da maioria dos fiéis, sua capacidade para manipular simultaneamente uma variedade de crenças, combinações as mais inesperadas, a incrível inventividade religiosa são sinais desta síndrome brasileira” (Fernandes 1992:109).

Mas o conceito de nomadismo ou trânsito religioso suscita ainda uma outra questão: o que é ser crente? É importante realçar que ser crente não é nascer numa religião (Reyes 1985). É, ao contra-rio, uma nova situação, quando “a religião não é mais uma identidade herdada, coletivamente atribuída, mas uma identidade adquirida e escolhida pelo próprio indivíduo” (Mariz & Machado 1993:18).

Portanto, é compreensível que um contexto social caótico e de grandes carências econômicas e afetivas, a postura dos novos movimentos religiosos não exclusivista, ou seja, abertos a todas as pessoas, com uma cosmo visão otimista, a teologia da prosperidade e com a adaptação do seu discurso às necessidades imediatas das pessoas e as promessas de salvação imediata, material e espiritual, constituem fatores positivos para

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a sua grande aceitação popular e expansão em todas as partes do mundo (Ruuth & Rodrigues 1999).

À laia de conclusão, podemos dizer que os principais fatores para a proliferação dos Novos Movimentos Religiosos são:

1. O contexto da globalização e conseqüente perda de identidade cultural e religiosa.

2. Aumento da insensibilidade e do individualismo do mundo moderno, em geral, e das grandes cidades, em particular.

3. Aumento dos problemas sociais e econômicos, tais como: desemprego, marginalidade, tóxico dependência, prostituição, racismo, violência urbana, etc.

4. Problemas do foro psicológico, tais como angústia, ansiedade e falta de sentido para a vida, etc.

5. Falta de capacidade e às vezes interesse por parte das Igrejas históricas tradicionais para enfrentar os problemas socioeconômicos, psicológicos e espirituais da maioria da população carenciada.

6. Afastamento gradual dos fiéis da sua Igreja original, pois esta apresenta, de uma forma geral, um discurso desatualizado quanto à realidade social, cultural e religiosa de hoje.

7. No caso dos países do Terceiro Mundo, a falta de vontade política dos governantes de realizar uma verdadeira mudança na sociedade, na tentativa de resolver ou amenizar a situação de extrema pobreza em que vive a maior parte da população, faz com que haja um descrédito generalizado da classe política e uma valorização das obras assistenciais de organizações não-governamentais e de Igrejas e outras associações religiosas, não conotadas com o poder político.

Mundo contemporâneo

Desde os finais do século XIX, e em particular desde a segunda metade do século XX, o papel da religião, bem como seu número de aderentes, se tem alterado profundamente.

Alguns países cuja tradição religiosa esteve historicamente ligada ao cristianismo, em concreto os países da Europa, experimentaram um

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significativo declínio da religião. Este declínio manifestou-se na diminuição do número de pessoas que frequenta serviços religiosos ou do número de pessoas que desejam abraçar uma vida monástica ou ligada ao sacerdócio.

Em contraste, nos Estados Unidos, na América Latina e na África subsariana, o cristianismo cresce significativamente; para alguns estudiosos estes locais serão num futuro próximo os novos centros desta religião. O islão é atualmente a religião que mais cresce em número de adeptos, que não se circunscrevem ao mundo árabe, mas também ao sudeste asiático, e a comunidades na Europa e no continente americano. O hinduísmo, o budismo e o xintoísmo têm a sua grande área de influência no Extremo Oriente, embora as duas primeiras tradições influenciem cada vez mais a espiritualidade dos habitantes do mundo ocidental. A Índia, onde cerca de 80 por cento da população é hindu, é um dos países mais religiosos do mundo, ficando em segundo lugar, após os Estados Unidos. As explicações para o crescimento das religiões nestas regiões incluem a desilusão com as grandes ideologias do século XIX e XX, como o nacionalismo e o socialismo. O protestantismo, que vem crescendo nos países da América Latina, iniciou-se com Martinho Lutero, na reforma protestante do século XVI.

Por outro lado, o mundo ocidental é marcado por práticas religiosas sincréticas, ligadas a uma "religião individual" de cada um faz para si e ao surgimento dos chamados "novos movimentos religiosos". Embora nem todos esses movimentos sejam assim tão recentes, o termo é usado para se referir a movimentos neocristãos (Movimento de Jesus), judaico-cristãos (Judeus por Jesus), movimentos de inspiração oriental (Movimento Hare Krishna) e a grupos que apelam ao desenvolvimento do potencial humano através por exemplo de técnicas de meditação (Meditação Transcendental).

Percentagem de cidadãos por país que consideram a religião "muito importante" (em inglês).

Também presente na Europa e nos Estados Unidos da América é aquilo que os investigadores designam como uma "nebulosa místico-esotérica", que apela a práticas como o xamanismo, o tarot, a astrologia, os mistérios e cuja atividades giram em torno da organização de conferências, estágios, revistas e livros. Algumas das características desta nebulosa místico-

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esotérica são as centralidades do indivíduo que deve percorrer um caminho pessoal de aperfeiçoamento através da utilização de práticas como a ioga, a meditação, a idéia de que todas as religiões podem convergir , o desejo de paz mundial e do surgimento de uma nova era marcada por um nível superior de consciência.

Características

Embora cada religião apresente elementos próprios, é também possível estabelecer uma série de elementos comuns às várias religiões e que podem permitir uma melhor compreensão do fenómeno religioso.

As religiões possuem grandes narrativas, que explicam o começo do mundo ou que legitimam a sua existência. O exemplo mais conhecido é talvez a narrativa do Génesis na tradição judaica e cristã. Quanto à legitimação da existência e da validade de um sistema religioso, este costuma apelar a uma revelação ou à obtenção de uma sabedoria por parte de um fundador, como sucede no budismo, onde o Buda alcançou a iluminação enquanto meditava debaixo de uma figueira ou no Islão, em que Muhammad recebeu a revelação do Corão de Deus.

As religiões tendem igualmente a sacralizar determinados locais. Os motivos para essa sacralização são variados, podendo estar relacionados com determinado evento na história da religião (por exemplo, a importância do Muro das Lamentações no judaísmo ou da Igreja do Santo Sepulcro no cristianismo) ou porque a esses locais são associados acontecimentos miraculosos (santuários católicos de Fátima ou de Lourdes) ou porque são marcos de eventos religiosos relacionados à mitologia da própria religião (monumentos megalíticos, como Stonehenge, no caso das religiões pagãs). Na antiga religião grega, os templos não eram locais para a prática religiosa, mas sim locais onde se acreditava que habitava a divindade, sendo, por isso, sagrados.

As religiões estabelecem que certos períodos temporais são especiais e dedicados a uma interação com o divino. Esses períodos podem ser anuais, mensais, semanais ou podem mesmo se desenrolar ao longo de um dia. Algumas religiões consideram que certos dias da semana são sagrados (Shabat no judaísmo ou o Domingo no cristianismo), outras marcam esses dias sagrados de acordo com fenômenos da natureza, como as fases da lua, na religião Wicca, em que todo primeiro dia de lua cheia

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(esbat) é considerado sagrado. As religiões propõem festas ou períodos de jejum e meditação que se desenvolvem ao longo do ano.

O estudo da religião

As primeiras reflexões sobre a religião foram feitas pelos antigos Gregos e Romanos. Xenofonte relativizou o fenômeno religioso, argumentando que cada cultura criava deuses à sua semelhança. O historiador grego Heródoto descreveu nas suas Histórias as várias práticas religiosas dos povos que encontrou durante as viagens que efetuou. Confrontado com as diferenças existentes entre a religião grega e a religião dos outros povos, tentou identificar alguns deuses das culturas estrangeiras com os deuses gregos. O sofista Protágoras declarou desconhecer se os deuses existiam ou não, posição que teve como conseqüências a sua expulsão de Atenas e o queimar de toda a sua obra. Crítias defendeu que a religião servia para disciplinar os seres humanos e fazer com que estes aderissem aos ideais da virtude e da justiça. Júlio César e o historiador Tácito descreveram nas suas obras as práticas religiosas dos povos que encontraram durante as suas conquistas militares.

Nos primeiros séculos da era atual, os autores cristãos produziram reflexões em torno da religião fruto dos ataques que experimentaram por parte dos autores pagãos. Estes criticavam o fato desta religião ser recente quando comparada com a antiguidade dos cultos pagãos. Como resposta a esta alegação, Eusébio de Cesáreia e Agostinho de Hipona mostraram que o cristianismo se inseria na tradição das escrituras hebraicas, que relatavam a origem do mundo. Para os primeiros autores cristãos, a humanidade era de início monoteísta, mas tinha sido corrompida pelos cultos politeístas que identificavam como obra de Satanás.

Durante a Idade Média, os pensadores do mundo muçulmano revelaram um conhecimento mais profundo das religiões que os autores cristãos. Na Europa, as viagens de Marco Pólo permitiram conhecer alguns aspectos das religiões da Ásia, porém a visão sobre as outras religiões era limitada: o judaísmo era condenado pelo fato dos judeus terem rejeitado Jesus como messias e o islão era visto como uma heresia.

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O Renascimento foi um movimento cultural e artístico que procurava reviver os moldes da Antiguidade. Assim sendo, os antigos deuses dos gregos e dos romanos deixaram de ser vistos pela elite intelectual e artística como demônios, sendo representados e estudados pelos artistas que os representavam. Nicolau de Cusa realizou um estudo comparado entre o cristianismo e o islão em obras como De pace fidei e Cribatio Alcorani. Em Marsílio Ficino encontra-se um interesse em estudar as fontes das diferentes religiões; este autor via também uma continuidade no pensamento religioso. Giovanni Pico della Mirandola interessou-se pela tradição mística do judaísmo, a Cabala.

As descobertas e a expansão européia pelos continentes, tiveram como consequência a exposição dos europeus a culturas e religiões que eram muito diferentes das suas. Os missionários cristãos realizaram descrições das várias religiões, entre as quais se encontram as de Roberto de Nobili e Matteo Ricci, jesuítas que conheceram bem as culturas da Índia e da China, onde viveram durante anos.

Em 1724, Joseph François Lafitau, um padre jesuíta, publicou a obra Moeurs des sauvages amériquains comparées aux moeurs des premiers temps, na qual comparava as religiões dos índios, a religião da Antiguidade Clássica e o catolicismo, tendo chegado à conclusão de que estas religiões derivavam de uma religião primordial.

Nos finais do século XVIII e no início do século XIX parte importante dos textos sagrados das religiões tinham já sido traduzidos nas principais línguas européias. No século XIX ocorre também a estruturação da antropologia como ciência, tendo vários antropólogos se dedicado ao estudo das religiões dos povos tribais. Nesta época os investigadores refletiram sobre as origens da religião, tendo alguns defendido um esquema evolutivo, no qual o animismo era a forma religiosa primordial, que depois evoluía para o politeísmo e mais tarde para o monoteísmo.

O atual retrato da Religião no Brasil

Acaba de nascer no País uma nova categoria religiosa, a dos evangélicos não praticantes. São os fiéis que crêem, mas não pertencem a nenhuma denominação. O surgimento dela já era aguardado, uma vez que os

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católicos, ainda maioria, perdem espaço a cada ano para o conglomerado formado por protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais. Sendo assim, é cada vez maior o número de brasileiros que nascem em berço evangélico – e, como muitos católicos, não praticam sua fé. Dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelaram, que evangélicos de origem que não mantêm vínculos com a crença saltaram, em seis anos, de insignificantes 0,7% para 2,9%. Em números absolutos, são quatro milhões de brasileiros a mais nessa condição.

Isso só é possível porque o universo espiritual está tomado por gente que constrói a sua fé sem seguir a cartilha de uma denominação. Se outrora o padre ou o pastor produziam sentido à vida das pessoas de muitas comunidades, atualmente celebridades, empresários e esportistas, só para citar três exemplos, dividem esse espaço com essas lideranças. Assim, muitas vezes, os fiéis interpretam a sua trajetória e o mundo que os cerca de uma maneira pessoal, sem se valer da orientação religiosa. Esse fenômeno, conhecido como secularização, revelou o enfraquecimento da transmissão das tradições, implicou a proliferação de igrejas e fez nascer a migração religiosa, uma prática presente até mesmo entre os que se dizem sem religião (ateus, agnósticos e os que creem em algo, mas não participam de nenhum grupo religioso). É muito provável, portanto, que os evangélicos pesquisados pelo IBGE que se disseram desvinculados da sua instituição estejam, como muitos brasileiros, experimentando outras crenças.

É cada vez maior a circulação de um fiel por diferentes denominações – ao mesmo tempo que decresce a lealdade a uma única instituição religiosa. Em 2006, um levantamento feito pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) e organizado pela especialista em sociologia da religião Sílvia Fernandes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), verificou que cerca de um quarto dos 2.870 entrevistados já havia trocado de crença. Outro estudo, do ano passado, produzido pela professora Sandra Duarte de Souza, de ciências sociais e religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), para seu trabalho de pós-doutorado na Universidade de Campinas (Unicamp), revelou que 53% das pessoas (o universo pesquisado foi de 433 evangélicos) já haviam participado de outros grupos religiosos.

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“Os indivíduos estão numa fase de experimentação do religioso, seja ele institucionalizado ou não, e, nesse sentido, o desafio das igrejas estabelecidas é maior porque a pessoa pode escolher uma religião hoje e outra amanhã”, afirma Sílvia, da UFRRJ. “Os vínculos são mais frouxos, o que exige das instituições maior oferta de sentido para o fiel aderir a elas e permanecer. É tempo de mobilidade religiosa e pouca permanência.” Transitar por diferentes crenças é algo que já ocorre há algum tempo. A intensificação dessa prática, porém, tem produzido novos retratos. Denominadores comuns do mapa da circulação da fé pregam que católicos se tornam evangélicos ou espíritas, assim como pentecostais e neopentecostais recebem fiéis de religiões afro-brasileiras e do protestantismo histórico. Estudos recentes revelam também que o caminho contrário a essas peregrinações já é uma realidade.

Em sua dissertação de mestrado sobre as motivações de gênero para o trânsito de pentecostais para igrejas metodistas, defendida na Umesp, a psicóloga Patrícia Cristina da Silva Souza Alves verificou, depois de entrevistar 193 protestantes históricos, que 16,5% eram oriundos de igrejas pentecostais. Essa proporção era de 0,6% (27 vezes menor) em 1998, como consta no artigo “Trânsito religioso no Brasil”, produzido pelos pesquisadores Paula Montero e Ronaldo de Almeida, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Para Patrícia, o momento econômico do Brasil, que registra baixos índices de desemprego e ascensão socioeconômica da população, reduz a necessidade da bênção material, um dos principais chamarizes de uma parcela do pentecostalismo. “Por outro lado, desperta o olhar para valores inerentes ao cristianismo, como a ética e a moral cristã, bastante difundidas entre os protestantes históricos”, afirma.

Faz dez anos que o número de convertidos ao islã no País aumentou. E não são os atentados às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, que marcam esse novo fluxo, mas a novela “O Clone”, da Globo. Foi ela que “introduziu no imaginário cultural brasileiro imagens bastante positivas dos muçulmanos como pessoas alegres e devotadas à família”, como defende Paulo Hilu da Rocha Pinto em “Islã: Religião e Civilização – Uma Abordagem Antropológica” (Editora Santuário), de 2010. “De lá para cá, a conversão de brasileiros cresceu 25%. Em Salvador, 70% da comunidade é de convertidos”, diz a antropóloga Francirosy Ferreira, pesquisadora de

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comunidades muçulmanas da Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto.

Segundo o escritor Pinto, que também é professor de antropologia da religião na Universidade Federal Fluminense, o islã permite aos adeptos uma inserção e compreensão sobre questões atuais, como, por exemplo, a Palestina, a Guerra do Iraque e segurança internacional, para as quais outros sistemas religiosos talvez não deem respostas. “Se a adoção do cristianismo em contextos não europeus do século XIX pôde ser definida com uma conversão à modernidade, a entrada de brasileiros no islã pode ser vista como uma conversão à globalização”, escreve ele, em seu livro.

É cada vez mais comum, no País, fiéis rezando com a cartilha da autonomia religiosa. Esse chega para lá na fé institucionalizada tem conferido características mutantes na relação do brasileiro com o sagrado, defende a professora Sandra, de ciências sociais e religião da Umesp. “Deus é constituído de multiplicidade simbólica, é híbrido, pouco ortodoxo, redesenhado a lápis, cujos contornos podem ser apagados e refeitos de acordo com a novidade da próxima experiência.” Agora é o fiel quem quer empunhar a escrita de sua própria fé.

Os números do Movimento Religioso no Brasil.

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Conclusão

A religião, como expressão simbólica das experiências sociais, como fenômeno social, como subsistema cultural/social, é de primordial importância na análise de todas as sociedades humanas. É a chave para a compreensão da vida social, das práticas institucionais, para entender as experiências quotidianas e os processos de mudança social.

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Desde o surgimento da Sociologia que um tema central desta ciência é o complexo processo de secularização ou “desencanta-mento do mundo”, no sentido Weberiano. A maioria dos teóricos, clássicos e modernos, prós ou contras, valorizaram esta problemática nas suas teorizações.

No entanto, em tempos mais recentes, em função do reencantamento do mundo, da revalorização da religião, materializada na proliferação de novos movimentos religiosos e na privatização da vida religiosa, o denominado sistema „self-service religioso‟, onde cada pessoa pode criar a sua própria maneira de buscar e viver o religioso, a teoria da secularização está a ser fortemente criticada.

Temas como a secularização e sectarismo dominaram os estudos sociológicos e antropológicos nos anos 70 do século XX e os novos movimentos religiosos despertaram grande interesse a partir dos anos de 1980-90 (e continua até hoje), nomeadamente sobre questões da liderança carismática, proselitismo, o papel da comunicação social (principalmente da televisão), conservadorismo, economia, política, marginalidade, cura divina, bem-estar físico e espiritual, entre outros.

A fragmentação e a privatização da religião, a desterritorialização do espaço religioso e o grande aumento do mercado dos bens simbólicos (Partridge 2004) provocaram o fim do monopólio das religiões/Igrejas históricas e, por causa disso, a religião pode hoje ser facilmente encontrada e „consumida‟ no mega e aberto „supermercado mundial da fé‟: centro comercial, estádio de futebol, circuito de Fórmula, aeroporto (Percy 1996; Clarke 2006a), rádio, cinema, televisão, internet (Hadden & Cowan 2000; Karaflogka 2003; Daw-son & Cowan 2004; Hojsgaard & Warburg 2005) e mesmo na Disneylândia (Lyon 2000). Dentro deste complexo contexto reli-gioso, é de realçar o fenômeno New Age (Nova Era), uma rica amálgama de filosofias e práticas religiosas, atualmente um dos maiores movimentos sócio-religiosos do mundo (Hunt 2003; Heelas 2004).

No contexto da pós-modernidade (conceito também este muito polêmico e que suscita grande debate nas ciências sociais em geral), o que está a acontecer é uma adaptação das várias religiões e práticas religiosas ao mundo de hoje. Como Deus não está morto (no sentido preconizado por Nietzsche), ocorre um reencantamento do mundo. A religião é, portanto,

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uma dimensão permanente da realidade social. Ela muda com a sociedade, mas nunca irá desaparecer.

Além disso, não podemos esquecer que, numa perspectiva funcionalista, a religião, como um importante subsistema cultural, não é somente uma mudança que está ocorrendo na sociedade, ela é também um reflexo da mudança da sociedade (Rodrigues 2007).

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