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MACROECONOMIA Conceitos básicos da Macroeconomia A diferença entre a Macroeconomia e a Microeconomia A teoria econômica pode ser dividida em dois grandes ramos: a Microeconomia e a Macroeconomia. Enquanto a Microeconomia estuda as partes (“micro quer dizer pequeno), a Macroeconomia estuda o todo (“macro” quer dizer grande). A Macroeconomia é aplicada no estudo das relações entre os chamados agregados econômicos, como a renda, o emprego, os níveis gerais de preços, o déficit público, a produção nacional. Ela se ocupa com a economia como um todo, buscando respostas para a determinação de cada uma dessas variáveis globais. Se a Microeconomia estuda a determinação do preço de determinada mercadoria ou a remuneração de determinado fator de produção, a Macroeconomia estuda o índice geral de preços e a determinação da renda nacional; enquanto a Microeconomia considera dadas certas variáveis, como o produto nacional, a Macroeconomia estuda as causas que fazem variar esse produto; enquanto a Macroeconomia considera como dado o nível de distribuição da renda, a Microeconomia estuda as causas e as variações nessa distribuição; enquanto a Microeconomia considera dada a quantidade de recursos da economia e ocupa-se com a sua melhor alocação, a Macroeconomia ocupa-se com o estudo de como é gerado e como pode aumentar o nível global de recursos da economia. A figura, a seguir, ajuda a apresentar os principais agregados da economia:

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Apostila de Macroeconomia - VESTCON

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Page 1: Apostila de Macroeconomia - VESTCON

MACROECONOMIA

Conceitos básicos da Macroeconomia A diferença entre a Macroeconomia e a Microeconomia

A teoria econômica pode ser dividida em dois grandes ramos: a Microeconomia e a Macroeconomia. Enquanto a Microeconomia estuda as partes (“micro quer dizer pequeno), a Macroeconomia estuda o todo (“macro” quer dizer grande). A Macroeconomia é aplicada no estudo das relações entre os chamados agregados econômicos, como a renda, o emprego, os níveis gerais de preços, o déficit público, a produção nacional. Ela se ocupa com a economia como um todo, buscando respostas para a determinação de cada uma dessas variáveis globais. Se a Microeconomia estuda a determinação do preço de determinada mercadoria ou a remuneração de determinado fator de produção, a Macroeconomia estuda o índice geral de preços e a determinação da renda nacional; enquanto a Microeconomia considera dadas certas variáveis, como o produto nacional, a Macroeconomia estuda as causas que fazem variar esse produto; enquanto a Macroeconomia considera como dado o nível de distribuição da renda, a Microeconomia estuda as causas e as variações nessa distribuição; enquanto a Microeconomia considera dada a quantidade de recursos da economia e ocupa-se com a sua melhor alocação, a Macroeconomia ocupa-se com o estudo de como é gerado e como pode aumentar o nível global de recursos da economia. A figura, a seguir, ajuda a apresentar os principais agregados da economia:

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A figura mostra os fluxos físicos (ou reais) e financeiros (ou monetários) entre as unidades familiares e as unidades produtoras. Temos dois circuitos: o interno mostra os fluxos reais de fornecimento dos serviços dos fatores, como trabalho, capital e tecnologia, e a produção dos bens; e o circuito externo mostra os fluxos financeiros da remuneração dos fatores e dos pagamentos pelos bens, ou entre a Renda e a Despesa. PRODUTO = RENDA = DESPESA

Produto Interno Bruto O Produto Interno Bruto (PIB) é definido como o valor de todos os bens (mercadorias e serviços) produzidos em um país, em um determinado período, geralmente um ano. A Macroeconomia estuda a determinação do PIB e os fatores que explicam o seu nível e o ritmo de crescimento. Por exemplo, o Brasil, em 2003, apresentou um PIB de cerca de R$ 1.514 bilhões, com um aumento de 0,54% em relação ao ano anterior. Nos últimos anos o nosso país tem apresentado períodos de crescimento ora mais e ora menos rápidos, como se observa abaixo:

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O que explica tamanha variação nos índices de crescimento do PIB? Este é um dos principais assuntos da Macroeconomia. O PIB é considerado a melhor medida de desempenho de uma economia, pois mostra o esforço e a capacidade que possui um país de oferecer uma certa quantidade de bens à sua população. A comparação entre os PIB de diversos países permite classificá-los em mais e menos desenvolvidos. Mas deve-se ficar atento para alguns problemas que envolvem essa medição. Vamos examiná-los: - Sendo o PIB um valor e, portanto, influenciado pelos preços dos bens, estes têm que estar equilibrados, no sentido de não sofrerem distorções, como estar artificialmente altos, em virtude da existência de setores oligopolizados, remunerações controladas pelo Governo e entidades sindicais e tarifas controladas. O PIB, por si só, não considera o aspecto qualitativo da produção, isto é, o que e quanto é produzido. Por exemplo, a produção bélica pode valer mais do que a produção de tratores; a produção de remédios superar a produção de alimentos. O PIB é subestimado quando existem produtos não transacionados no mercado, como a produção e o consumo dentro de uma fazenda, o trabalho das donas de casa, o aluguel das casas ocupadas pelos próprios donos. Fazem parte do PIB produtos que geram custos sociais nem sempre considerados, como a poluição do ar, o ruído, a contaminação das águas etc. Esses produtos superestimam o valor do PIB, porque de seu valor deveriam ser deduzidos os respectivos custos sociais. Outro fator que superestima o PIB são as despesas do governo. Como estas incorporam, em boa parte, os vencimentos dos funcionários públicos, um aumento nesses vencimentos resulta em aumento do PIB. O montante do PIB também esconde a distribuição da renda gerada, que pode ser mais ou menos desigual. O Brasil tem um dos maiores índices de desigualdade entre os países do mundo.

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O Nível Geral de Preços

A Macroeconomia estuda o comportamento geral dos preços da economia. O Índice Geral de Preços mede o nível médio dos preços, em comparação com um determinado período base. O crescimento de preços de um período para outro denomina-se taxa de inflação. As causas e as conseqüências da inflação são estudadas pela teoria macroeconômica. Considere-se a seguinte tabela:

O Brasil tem na inflação um dos seus problemas mais importantes, que somente foi atenuado com o Plano Real de 1994. Eis algumas taxas verificadas nos últimos anos:

Inflação no Brasil

* estimativa. Fonte: Fundação Getúlio Vargas. OBS.: IGP-DI até 1993; IPCA a partir de 1994.

No Brasil, são apurados diversos índices de inflação, a cargo de diferentes órgãos e com diferentes critérios de cálculo:

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O IGP- Índice geral de Preços é resultante da média ponderada de três índices: IPA (Índice de Preços no Atacado), com peso de 60%, IPC (Índice de Preços ao Consumidor), com peso de 30%, e INCC (Índice Nacional do Custo da Construção), com 10%.

O Desemprego

O desemprego constitui-se hoje no maior problema macroeconômico. A taxa de desemprego é definida como a relação entre a população desempregada e a população economicamente ativa. Taxa de desemprego = População desempregada / População economicamente ativa Vejamos alguns conceitos: População Produtiva (ou em idade ativa, aquela em idade de trabalhar): abrange as pessoas entre os 10 e os 65 anos de idade. População Dependente (aquela fora da idade de trabalho): abrange as pessoas de menos de 10 e de mais de 65 anos. População Economicamente Ativa (é a que está voltada para o mercado de trabalho): abrange a população produtiva, menos os estudantes e os domésticos não remunerados, como as donas de casa. A Taxa de participação é a relação entre a população economicamente ativa e a população produtiva. População Ocupada (a que está efetivamente empregada): abrange a população economicamente ativa, menos os desempregados. Parcela de Ocupação: é a relação percentual entre a população ocupada e a população total.

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Desempregados: são os indivíduos que se encontram numa situação involuntária de não- trabalho, por falta de oportunidade, ou que exercem trabalhos irregulares com desejo de mudança. Há três tipos de desemprego: o aberto, o oculto pelo trabalho precário e o oculto pelo desalento. As estatísticas sobre desemprego, no Brasil, são apuradas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos- DIEESE e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE, que têm critérios diferentes para o conceito de desemprego. Dentre as principais diferenças, tem-se: - O IBGE, por recomendações da Organização Internacional do Trabalho- OIT, mede apenas o desemprego aberto, que abrange as pessoas sem ocupação e sem rendimento, que procuraram trabalho efetivamente nos trinta dias anteriores à pesquisa, e não tenham trabalhado nos últimos sete dias. A pesquisa abrange as regiões metropolitanas de São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador. - O DIEESE amplia para 12 meses o período de procura de trabalho e incorpora aqueles que estão procurando emprego mas exercem alguma atividade irregular e com baixa jornada de trabalho ( chamado de “trabalho precário”); - O DIEESE incorpora aqueles que não procuraram emprego nos últimos 30 dias mas o fizeram no último ano (desemprego oculto por desalento). Para o IBGE essas pessoas são enquadradas como inativas e excluídas da população economicamente ativa. - As pessoas que exercem atividades não remuneradas em organizações beneficentes e que não procuram trabalho são consideradas ocupadas pelo IBGE e inativas pelo DIEESE.

A figura, abaixo, mostra cada uma das partes da população de um país, definidas acima.

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Os economistas consideram que há uma relação inversa entre o desemprego e o crescimento do produto. Assim, se a produção cresce, o desemprego cai e se a produção cai, o desemprego aumenta. Existe a chamada lei de OKUN (devida ao economista Arthur Okun), dada pela seguinte fórmula: variação % do desemprego = (variação % do PIB – 3%) x (– ½). Um exemplo numérico: dada uma variação no PIB de 5%, a variação na taxa de desemprego seria de (5% - 3%) x - (½) = - 1%.

Taxa de Juros, Investimento e Poupança

Juro é a remuneração do fator capital e a. taxa de juros é a relação entre o juro e a quantidade de capital. Quanto maior o juro, maior é o estímulo das pessoas a poupar e menor a disposição dos empresários em investir. A taxa básica de juros no Brasil é a taxa SELIC, que define o retorno dos títulos públicos federais. O seu nível é definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), tendo como função controlar os índices de inflação e as taxas de câmbio. Capital é o recurso que o homem mesmo produz para auxiliá-lo, aliviar o esforço físico e mental e aumentar o rendimento ou a eficácia de seu esforço produtivo. O “bem de capital” é definido como o bem produzido e utilizado para produzir outros bens. São exemplos de capital desde os primeiros instrumentos, como o machado, o arco e a flecha, a canoa, até os modernos tornos, robôs e computadores, além das estradas e instalações industriais. O capital representa um acréscimo na capacidade produtiva. Por exemplo, a construção de uma estrada, que é um bem de capital, possibilita o aumento da capacidade de produção de mercadorias e serviços (mais transporte, turismo e produção de bens). Assim, a produção de um país, se de um lado deve oferecer uma parcela significativa de bens para consumo para sua população no presente, por outro deve também oferecer produtos, os bens de capital, que possibilitarão maior produção de bens no futuro. Investimento Bruto é o montante de todos os bens de capital produzidos ou adquiridos num determinado período de tempo, enquanto o Investimento Líquido é a diferença entre o investimento bruto e a perda de máquinas pela depreciação ou obsolescência. Por exemplo, uma empresa adquiriu 35 máquinas durante 3 meses; esse foi seu investimento bruto. No mesmo período houve uma depreciação de 7 máquinas, o que significa um investimento líquido igual a 35 - 7 = 28 máquinas. Investimento Líquido = Investimento Bruto – Depreciação A contrapartida do investimento é a poupança. Para que haja recursos a serem investidos, é preciso que a sociedade abdique de parte da produção, ou da renda, para poupar. Poupança é, portanto, a renda menos o consumo. A

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teoria macroeconômica considera que a poupança é influenciada diretamente pela renda e pela taxa de juros. Poupança = Renda – Consumo Poupança > Investimento PIB Nominal e PIB Real

O PIB é uma medida do desempenho e do bem-estar econômico de uma nação. É igual ao somatório dos valores de todos os bens produzidos em determinado período. n

PIB = Σ pi qi , i =1

sendo pi e qi os preços e as quantidades de cada bem i, e n o número de bens da economia. Denomina-se PIB nominal, o valor do PIB a preços correntes, isto é, do próprio ano, e PIB real, o valor do PIB aos preços relativos a outro ano. O PIB real é também definido como o PIB a preços constantes, pois é utilizado para se fazer uma comparação de desempenho, sem a influência da variação de preços ocorrida entre os anos. Vamos a um exemplo:

Cálculos dos PIB nominais (em R$1.000,00): Ano 1 = Σ p1.q1 = 20 x 3,00 + 30 x 1,00 = 60 + 30 = 90 Ano 2 = Σ p2.q2 = 22 x 3,50 + 29 x 1,10 = 77 + 31,90 = 108,90 Considerando-se o ano 1 como base, o índice do PIB nominal do ano 2 é igual a Σ p2.q2 / Σ p1.q1 = 108,90 / 90 = 1,21 Variação do PIB nominal: ( Σ p2.q2 / Σ p1.q1 ) – 1 = (108,90 / 90) –1 = 0,21 = 21%. Como se pode observar, o crescimento nominal considera as variações das quantidades e dos preços. Para medir a variação do bem-estar econômico do ano 1 para o ano 2, devemos ignorar a evolução dos preços. Calculemos, então, o PIB de cada ano considerando os preços constantes do ano 1, ou seja, os PIB reais. Cálculos dos PIB reais (em R$1.000,00): Ano 1 = Σ p1.q1 = 90 Ano 2 = Σ p1.q2 = 22 x 3,00 + 29 x 1,00 = 66 + 29 = 95 Considerando-se o ano 1 como base, o índice do PIB real do ano 2 é igual a Σ p1.q2 / Σ p1.q1 = 95 / 90 = 1, 0556 Esse índice é conhecido como índice de quantidade de LASPEYRES.

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Variação do PIB real: ( Σ p1.q2 / Σ p1.q1 ) – 1 = (95 / 90) – 1 = 0,0556 = 5,56%. Tem-se que: Índice nominal = Índice real x Índice de preços. Daí que: Índice de preços = Índice nominal / Índice real. Então, o índice de preços é igual a: 1,21 / 1,0556 = 1,1463 e a variação de preços é: 1,1463 – 1 = 0,1463 ou 14,63% Esse índice de preços também é denominado de Deflator Implícito de Preços, e corresponde ao índice de preços de PAASCHE.

Voltando à igualdade ”Índice nominal = Índice real x Índice de preços“, tem-se que Índice real = Índice nominal / Índice de preços, isto é, pode-se calcular a variação real ou de quantidade da economia, dividindo-se o índice nominal pelo índice de preços. Isso significa deflacionar-se um valor. Consideremos a seguinte tabela:

Observações: O cálculo da coluna de “Variação Nominal” resulta da variação do PIB nominal de cada ano em relação ao ano anterior. Por exemplo, a variação nominal do ano 3 em relação ao ano 2 é igual a (198 / 165 ) – 1 = 0,20 ou 20%. A coluna do PIB real é obtida dividindo-se o PIB nominal de cada ano pelo respectivo índice acumulado de preços. Nesse caso, deflaciona-se cada valor do PIB nominal a fim de que os preços permaneçam constantes ao ano 1. Por exemplo, o PIB real referente ao ano 5 é igual a 239,08 / 1,6233 = 147,3. A coluna de variação do PIB real deve ser comparada com a do PIB nominal. Nesse caso, verifica-se, por exemplo, que nos anos 3 e 5, apesar de crescimentos nominais positivos, os crescimentos reais foram negativos. A

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explicação para essa diferença está nas variações de preços, que foram superiores às variações do PIB nominal em cada um desses anos.

O produto real e o produto per capita Quanto maior o valor do produto, maior deve ser o desempenho de uma economia e, portanto, maior deve ser o seu bem-estar. Mas a população normalmente também está crescendo, de tal maneira que é preciso verificar se está havendo um aumento efetivo de bem-estar para cada um dos componentes da sociedade. Nesse caso, utiliza-se como indicador o produto (ou renda) per capita. PIB per capita = PIB real / População total Veja-se a seguinte tabela:

O quadro mostra que, apesar de a economia ter crescido em termos reais de 8% no ano 2, o crescimento da renda per capita foi de apenas 2,9%, em virtude de o crescimento populacional ter sido de 5%. Já no ano 3 a renda per capita cai, pois o PIB real aumentou menos (3%) do que a população. A renda per capita é o padrão mais usado para medir o desenvolvimento econômico de uma nação. Mas assim como a mensuração do PIB tem aspectos que devem ser considerados, a renda per capita deve servir com as mesmas precauções, dentre as quais destacam-se o grau de desigualdade na distribuição da renda, a taxa de analfabetismo, a expectativa de vida e o grau médio de instrução. Em 2003, o PIB no Brasil foi calculado em cerca de R$ 1.514 bilhões. Com uma população de 175 milhões de habitantes, a renda per capita foi de cerca de R$ 8.650.

Estoques e fluxos

Denomina-se variável “fluxo” aquela que é medida por período de tempo. Como exemplos, tem-se a produção de aço por ano, a produção de

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batata por mês, o número de automóveis que estacionam em um shopping por hora, a vazão de um rio por minuto etc. Enquanto isso, denomina-se variável estoque aquela que é medida num ponto do tempo. Como exemplos, tem-se o estoque de soja nos armazéns governamentais, as reservas de divisas de um país, o número de carros estacionados em determinado momento em um shopping, o número de alunos que está neste momento assistindo a uma aula etc. Existem relações importantes entre diversos fluxos e estoques na economia. Vamos a alguns exemplos: Investimento e Capital A despesa de investimentos é um fluxo que concorre para o aumento do estoque de capital. A despesa com novas máquinas, a construção de novos prédios, fábricas e estradas fazem com que o estoque ou o patrimônio de um país aumente. Fazendo K o estoque de capital e IL o fluxo de investimento líquido, tem-se: K = K –1 + IL, onde K –1 é o estoque de capital do período anterior. A expressão indica que o estoque de capital do período corrente é igual a de capital do período anterior, mais o fluxo de investimento líquido corrente. Como o capital sofre um processo de desgaste ou obsolescência, conhecido como depreciação (D), tem-se que K = K –1 + IB – D, onde IB é o investimento bruto e IB – D o investimento líquido. Pode-se fazer: K - K –1 = IB – D, onde a variação do estoque de capital é igual ao investimento líquido. - Patrimônio e poupança: W – W –1 = S, onde a variação do estoque patrimonial, ou riqueza (W), é igual ao fluxo de poupança (S). - Reservas Internacionais e saldo do balanço de pagamentos: RI – RI –1 = SBP, onde a variação dos estoques ou das reservas internacionais do país (RI) é igual ao saldo do balanço de pagamentos (SBP). - Dívida e déficit público: DIV PUB – DIV PUB –1 = DEF PUB, onde a variação da dívida pública (DIV PUB) é igual ao déficit público (DEF PUB). SLIDE: variável “fluxo” é aquela que é medida por período de tempo, como por exemplo a produção de aço por ano e o número de automóveis que estacionam em um shopping por hora, enquanto que variável estoque é aquela que é medida num ponto do tempo, como por exemplo o estoque de soja nos armazéns governamentais e o número de carros estacionados em determinado momento em um shopping.

Produto Efetivo e Produto Potencial

Produto potencial é o valor do produto que resultaria da utilização de todos os recursos de que uma economia dispõe. Esses recursos são a sua população economicamente ativa, o estoque de todo seu capital, os recursos naturais etc.

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Produto efetivo é o valor do produto que resulta da efetiva utilização de recursos da economia, que pode ser realizada no todo ou em parte.

A diferença entre o produto potencial e o produto efetivo denomina-se hiato de produto. Esse hiato corresponde a desemprego de recursos.

Hiato de produto = produto potencial – produto efetivo

Por que o produto efetivo é normalmente menor do que o produto potencial? A macroeconomia estuda as causas dessa diferença.

Enquanto a evolução do produto potencial está ligado a fatores estruturais da economia, e portanto sujeito a modificações que ocorrem a um prazo mais longo, o produto efetivo é determinado por fatores conjunturais, que ocorrem no curto prazo. Quando a produção efetiva é menor do que a potencial, diz-se que há capacidade produtiva ociosa. A tendência normal de um país é de crescer de acordo com a sua capacidade produtiva, isto é, conforme crescem a sua população, o estoque de capital e a tecnologia. O produto efetivo, no entanto, está sujeito a instabilidades, causadas principalmente por: - política econômica do governo;

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- estímulos positivos ou negativos dos agentes econômicos (situação política, expectativas otimistas ou positivas etc.); - eventos fortuitos (clima, guerras, convulsões sociais etc.). A conjuntura econômica determina a maior ou menor expansão do produto, e inclusive a sua diminuição. Os estudiosos do comportamento do produto costumam dizer que a economia atua em ciclos, os chamados ciclos econômicos, que apresentam uma certa regularidade, e as seguintes etapas: - recessão: diminuição mais suave da produção e do emprego. Costuma-se identificar uma recessão quando o produto cai por dois trimestres consecutivos. - depressão: aprofundamento da recessão, isto é, a queda da atividade diminui a níveis bem mais baixos. - recuperação: retomada do aumento da atividade. Há um crescimento em relação aos níveis imediatamente anteriores. - prosperidade: aumento das taxas de crescimento do produto e do emprego. A economia sempre apresenta problemas. Se a recessão e a depressão vêm acompanhadas de desemprego, a recuperação e a prosperidade trazem consigo os aumentos de preços, isto é, a inflação. Esses problemas são estudados através da teoria macroeconômica.

A medição do produto segundo as óticas do Valor Agregado, Renda e Despesa.

Objetivo O objetivo da Contabilidade Nacional é registrar os valores dos agregados macroeconômicos. São levantados o valor do Produto, as remunerações dos fatores, os investimentos, as despesas do Governo, a poupança, o comércio exterior etc. O desenvolvimento teórico da Macroeconomia, principalmente depois da depressão da década de 30, exigiu acompanhamento desses agregados para a aferição do desempenho geral da economia. Os dados são apresentados em valores, já que englobam diversos produtos que não podem ser somados, como lâmpadas e caixas de giz, máquinas e papel. Devido à instabilidade dos preços, os valores das séries temporais devem ser apresentados a preços correntes, ou nominais, e a preços constantes, ou reais.

A igualdade entre Produto, Renda e Despesa

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O Produto é o valor total dos bens e serviços finais produzidos no país durante determinado período. O seu cálculo deve evitar o problema da dupla contagem, pois não faz sentido somar-se os valores produzidos por todas as unidades produtivas do país, já que estaríamos computando mais de uma vez os bens finais e as matérias primas utilizadas em sua fabricação. Não se deve somar, por exemplo, a produção de aço com a de minério de ferro e a produção de tomate com a de extrato de tomate. São considerados somente os bens finais, aí incluídas as matérias primas produzidas e não utilizadas e as vendidas ao exterior. O cálculo do Produto pode ser feito através do conceito de valor adicionado, que é a diferença entre o valor da produção de cada empresa e o consumo intermediário. Por exemplo, o valor agregado na produção de pneus é igual ao valor da produção de pneus, menos o consumo de borracha e fios de aço utilizados na sua fabricação. VALOR AGREGADO = VALOR DA PRODUÇÃO, menos CONSUMO INTERMEDIÁRIO Uma identidade fundamental é a igualdade entre produto, renda e despesa. O produto é igual à renda, pois cada unidade de valor do produto corresponde a uma unidade de remuneração a um fator de produção. A renda é igual à despesa, pois ela é totalmente dirigida, direta ou indiretamente, à aquisição dos bens e serviços. Daí que o valor do produto é igual à despesa.

PRODUTO = RENDA = DESPESA

A Medição do Produto

Existem três maneiras distintas de fazer-se essa medição. Método do valor agregado Define-se valor agregado como o valor da produção que resulta do esforço produtivo de uma empresa. A produção de aço, por exemplo, exige que a siderúrgica adquira outros produtos que ela não produz diretamente, como o minério de ferro, a energia elétrica etc., que são as matérias primas ou consumo intermediário. Nesse caso, o valor agregado da empresa será a produção de aço, subtraída do valor desses produtos. Vamos a um exemplo, extraído de Marcos Giannetti da Fonseca, do livro “Manual de Economia”, de professores da USP:

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Observações: - O valor da produção não mede com exatidão o produto da economia, pois esse conceito incorre na contagem de bens mais de uma vez (dupla e múltipla contagem). - O valor de 490 não representa o que foi realmente produzido, pois esse valor conta produtos mais de uma vez. - Se somarmos o valor da madeira (60) com o valor do papel (80), estaremos contando a madeira duas vezes, pois ela está também incorporada ao papel. O mesmo ocorre se somarmos corantes com tintas. - A economia, na verdade, somente produziu um bem, no caso o livro, no valor de 200. Ao se estimar o Produto, portanto, não se deve somar a produção de aço com a de minério de ferro, a produção de borracha com a de pneus, a de petróleo com gasolina, a de tijolos com casas, a de aulas com a de giz etc.

Método da renda

Vamos descrever, agora, a produção de cada item de nossa economia hipotética, considerando o consumo intermediário de cada setor e o pagamento das remunerações dos fatores de produção. A tabela abaixo mostra os fatores de produção de uma economia e suas respectivas remunerações:

Agora, vamos conhecer as remunerações aos fatores em cada setor econômico:

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A Renda é definida como o somatório das remunerações de todos os fatores de produção: salários + juros + aluguéis + royalties + lucros. Assim, temos: Salários = 45 + 12 + 25 + 28 + 12 = 122; Juros = 5 + 4 + 7 + 8 + 5 = 29; Aluguéis = 2 + 5 + 9 = 16; Royalties = 6 + 3 = 9; Lucros = 10 + 2 + 7 + 2 +

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3 = 24. A Renda é 122 + 29 + 16 + 9 + 24 = 200. Como a Renda é igual ao Produto, o Produto é igual a 200. A geração de renda por empresa é igual a:

Madeira = 45 + 5 + 10 = 60; Papel = 12 + 4 + 2 + 2 = 20; Corantes = 25 + 7 + 6 + 5 + 7 = 50; Tintas = 28 + 8 + 9 + 3 + 2 = 50; Livros = 12 + 5 + 3 = 20.

Observe-se que a renda, por empresa, iguala o seu valor agregado.

O Método da Despesa

Vimos que Renda = Produto = Despesa. No nosso exemplo, ao se considerar a despesa da sociedade com os livros, o produto será igual a essa despesa e igual a 200. Os agregados macroeconômicos

A Despesa Global de uma economia pode ser assim expressa: DG = C + IF + IE + G + X, sendo: DG: Despesa Global; C: Consumo das famílias; IF : Investimento fixo; IE : Investimento em estoques; G = Consumo do Governo; X = Exportações. Para que a Despesa se iguale ao valor do PIB, deve-se subtrair dela a despesa com bens importados, já que estes não são produzidos internamente. Assim, tem-se: DI = C + IF + IE + G + X – M = PIB, sendo DI : Despesa Interna; e M : Importações. Vamos descrever, agora, cada um dos componentes da Despesa Interna. - Consumo Final das Famílias: inclui os bens não duráveis, como alimentação, vestuário, gasolina etc., os bens duráveis, como geladeiras, computadores, fogões, automóveis etc. e os serviços, como as consultas médicas, serviços bancários e do governo, cortes de cabelo, cinema etc. - Investimento Fixo (ou Formação bruta de capital fixo): compreende as despesas com Construções, com Máquinas e Equipamentos e Outras. São, por definição, bens duráveis que correspondem ao fluxo de capital novo que se acrescenta ao estoque de capital existente. É o mesmo que Investimento Bruto. A variação do estoque de capital é dada pelo Investimento líquido (investimento bruto, menos a depreciação). Quando o Produto refere-se somente ao investimento líquido, ele é denominado Produto Interno Líquido (PIL). - Investimento em Estoques (ou Variação de estoques): é a parte do PIB que não é efetivamente demandada, e por isso é adicionada aos estoques da economia. Se, por exemplo, uma fábrica produz 10.000 pares de sapatos num determinado mês e somente vende 8.000 pares, a variação de estoques é igual

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a 2.000 pares. Ao subtrair-se esse item da Despesa Interna, tem-se o conceito de Despesa Efetiva.

Despesa Efetiva = Despesa Interna – Variação de estoques

O conceito de Despesa efetiva é importante na macroeconomia, pois é o seu montante que vai determinar o nível de emprego e a renda nacional. - Consumo Final das Administrações Públicas (ou Consumo do Governo): compõe-se das despesas correntes das três esferas de governo (federal, estadual e municipal) e é classificado em dois itens: Salários e encargos e Outras compras de bens e serviços. Os serviços públicos proporcionados pelas administrações públicas à sociedade são mensuradas pelo item “Salários e encargos”. As despesas de capital do Governo, como a construção de escolas, pontes e estradas são consideradas como Investimentos. - Exportações e Importações: compreendem os bens que o país vende e os que compra do exterior. As exportações (X) fazem parte da demanda pelo produto e as importações (M) são parte da oferta disponível para a sociedade. A soma dos seus valores, em relação ao PIB, indica o grau de abertura da economia para o exterior. Grau de abertura da economia = Exportações + Importações P I B Para o cálculo do PIB, devem ser consideradas as exportações líquidas, isto é, X – M, pois M não constitui produção e renda dentro do país. Além das mercadorias normalmente transacionadas, há serviços importados e exportados. Estes classificam-se em: - Serviços de fator: são os serviços proporcionados pelos fatores de produção e que geram remunerações, como principalmente os juros, lucros e royalties. - Serviços de não-fator: são os demais serviços, como as viagens, transporte, seguros, aluguéis de filmes, serviços governamentais etc. Mas, atenção: os serviços de fator não são incluídos no conceito de PIB, e sim no de PNB (Produto Nacional Bruto).

Os agregados macroeconômicos II

Mas se uma parte da renda não é consumida, como ela pode equivaler à despesa? A parte não consumida da renda é igual à poupança. Enquanto isso, a despesa, numa economia fechada, é igual a consumo mais investimento. Desse modo, a poupança deve equivaler às despesas de investimento. RENDA = CONSUMO + POUPANÇA DESPESA = CONSUMO + INVESTIMENTO Como RENDA = DESPESA,

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CONSUMO + POUPANÇA= CONSUMO + INVESTIMENTO Daí que POUPANÇA= INVESTIMENTO Mas sabemos que a poupança é uma decisão das unidades familiares, enquanto os investimentos são planejados e realizados pelas empresas. Como os seus valores podem ser iguais? Eles somente são rigorosamente iguais em termos contábeis, enquanto são normalmente diferentes em termos econômicos. Nesse caso, dizemos que a poupança e o investimento planejados normalmente são diferentes. A igualdade contábil verifica-se porque no investimento total são incluídas as variações de estoques, que justamente representam a diferença entre o que as pessoas desejam poupar e as empresas decidem investir. Nesse caso, o investimento passa a ter dois conceitos, o planejado e o realizado. INVESTIMENTO REALIZADO = INVESTIMENTO PLANEJADO + VARIAÇÃO DE ESTOQUES Um exemplo numérico. Consideremos um produto no valor de 110, ou seja, PIB = Renda (Y) = 110, sendo que o consumo é 80 e a poupança 30. Enquanto isso, do lado da demanda agregada (DA), as despesas de investimento planejado pelas empresas é de 20. Então tem-se: Y = C + S = 80 + 30 = 110; DA = C + I = 80 + 20 = 100. Há um desequilíbrio macroeconômico, pois S = 30 e I = 20. Em termos contábeis a poupança é sempre igual ao investimento realizado, que é igual ao investimento planejado (20) mais a variação de estoques (10). Definição dos demais agregados macroeconômicos

Vamos construir uma conta do Produto de uma economia hipotética, a fim de conhecermos novos agregados.

Do lado esquerdo, o Produto é calculado a partir da sua formação, ou de seus custos, e do lado direito, o Produto é calculado a partir de sua destinação,

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dispêndio ou demanda. A partir de sua formação, podemos definir o somatório das remunerações dos fatores (salários, juros, aluguéis, royalties e lucros) como a Renda Interna, ou o Produto Interno Líquido (PIL cf) RENDA INTERNA = SALÁRIOS + JUROS + ALUGUÉIS + ROYALTIES + LUCROS RENDA INTERNA = PRODUTO INTERNO LÍQUIDO A CUSTO DE FATORES Se adicionarmos a depreciação ao Produto Interno Líquido, tem-se o Produto Interno Bruto. PRODUTO INTERNO BRUTO A CUSTO DE FATORES = PRODUTO INTERNO LÍQUIDO A CUSTO DE FATORES + DEPRECIAÇÃO Quando os bens são dirigidos ao mercado, geralmente têm o seu valor acrescido pelos impostos indiretos que os consumidores pagam, total ou parcialmente, embutido no preço dos produtos, e reduzido pela aplicação de subsídios governamentais, resultando o Produto Interno Bruto a preços de mercado. PRODUTO INTERNO BRUTO A PREÇOS DE MERCADO = PRODUTO INTERNO BRUTO A CUSTO DE FATORES + IMPOSTOS INDIRETOS – SUBSÍDIOS

Outros conceitos de agregados:

- Oferta Global: é o valor dos bens, inclusive os importados, que se destinam a atender a demanda global. OFERTA GLOBAL = PRODUTO INTERNO BRUTO A PREÇOS DE MERCADO +

IMPORTAÇÕES

- Disponibilidade Interna: é o valor dos bens efetivamente disponíveis na economia interna, o que significa deduzir-se as exportações.

DISPONIBILIDADE INTERNA = OFERTA GLOBAL – EXPORTAÇÕES - Demanda Global: é o valor da destinação do produto ou valor da despesa, aí incluída a produção destinada ao exterior. É igual à Oferta Global. DEMANDA GLOBAL = CONSUMO PESSOAL + CONSUMO GOVERNAMENTAL +

INVESTIMENTO + EXPORTAÇÕES - Demanda Interna: equivale à demanda pelo produto interno, excluindo-se, portanto, as importações.

DEMANDA INTERNA = DEMANDA GLOBAL – IMPORTAÇÕES

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- Demanda Efetiva: exclui a produção não efetivamente demandada, como a variação nos estoques.

DEMANDA EFETIVA = DEMANDA INTERNA – VARIAÇÃO DE ESTOQUES De acordo com a tabela do Produto, tem-se os seguintes valores: - Oferta Global = 500 + 20 = 520 - Disponibilidade Interna = 520 – 38 = 492 - Demanda Global = 325 + 85 + 72 + 38 = 520 - Demanda Interna = 520 – 20 = 500 - Demanda Efetiva = 500 – 11 = 489

Produto Nacional

Produto Nacional: é o valor do Produto que pertence ao país. Uma parte das remunerações geradas internamente é enviada ao exterior, principalmente sob a forma de lucros e juros. Enquanto isso, o país beneficia-se de remunerações que, geradas no exterior, pertencem a residentes no país. Assim, para chegar-se ao Produto Nacional, subtrai-se a renda enviada e adiciona-se a renda recebida do exterior. Fazendo-se a renda líquida enviada ao exterior como a diferença entre a renda enviada e a renda recebida do exterior, tem-se que o Produto Nacional é igual ao Produto Interno, menos a renda líquida enviada ao exterior. PRODUTO NACIONAL = PRODUTO INTERNO – RENDA ENVIADA AO EXTERIOR + RENDA RECEBIDA DO EXTERIOR = PRODUTO INTERNO – RENDA LÍQUIDA

ENVIADA AO EXTERIOR - Como o Produto Interno é igual à Renda Interna, do mesmo modo o Produto Nacional é equivalente à Renda Nacional.

RENDA NACIONAL = RENDA INTERNA – RENDA LÍQUIDA ENVIADA AO EXTERIOR

Renda Pessoal: é definida como o montante da renda interna que fica finalmente com as pessoas, ou famílias, após feitas deduções de remunerações que não vão para as famílias, e adições que as beneficiam, mas não têm origem no processo produtivo, e antes do pagamento dos impostos diretos.

RENDA PESSOAL = RENDA INTERNA - renda líquida enviada ao exterior - lucros retidos - contribuições previdenciárias - impostos diretos das empresas

+ transferências do Governo. Renda Pessoal Disponível: é a parcela da renda interna que finalmente resta às famílias para o consumo e a poupança.

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RENDA PESSOA DISPONÍVEL = RENDA PESSOAL - impostos diretos das famílias

Carga tributária

Carga tributária: denomina-se carga tributária o montante de impostos e outras receitas correntes do Governo suportados pela sociedade em determinado período de tempo. A carga tributária pode ser calculada em termos brutos ou líquidos, e em geral é obtida como uma proporção do Produto Interno Bruto. A carga tributária bruta considera apenas os valores dos impostos, diretos e indiretos, e as outras receitas correntes do Governo, enquanto que a carga tributária líquida é calculada deduzindo-se as contrapartidas dos impostos diretos, que são as transferências, e as dos impostos indiretos, que são os subsídios. Carga tributária bruta = (Impostos diretos + Impostos indiretos + outras receitas correntes do Governo) / PIB Carga tributária líquida = (Impostos diretos - transferências + Impostos indiretos - subsídios + outras receitas correntes do Governo) / PIB As relações intersetoriais As atividades econômicas são exercidas por empresas que adquirem matérias primas, empregam recursos e produzem bens. Essas atividades podem ser divididas em setores específicos, que são a agricultura, a indústria e os serviços. A dinâmica da economia exige uma intensa troca de bens entre esses setores. Assim é que a indústria adquire matérias primas da agricultura, que adquire produtos da indústria, que compra serviços, que por sua vez consome produtos industriais etc. O quadro a seguir apresenta um exemplo dessas inter-relações, em unidades monetárias, em uma economia fechada.

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As vendas intersetoriais são avaliadas horizontalmente, e as compras intersetoriais são avaliadas verticalmente. Por exemplo, a agricultura vende $10 para o próprio setor agrícola (mudas de milho para a produção de milho) e $15 para o setor de serviços (plantas para enfeites de agências bancárias). A indústria vende $25 para a agricultura (agrotóxicos, tratores) e o setor de serviços vende $20 para a indústria (serviços médicos). Cada setor econômico canaliza a sua produção, horizontalmente, para duas direções: vendas intersetoriais e a demanda final, esta constituída pelas demandas d e consumo das famílias e do governo e dos investimentos. A soma dessas duas destinações resulta no valor da produção. Verticalmente, o mesmo valor da produção pode ser visto como a soma entre as compras intermediárias e o valor agregado em cada setor. A agricultura, por exemplo, tem um valor de produção igual a $145. Esse valor pode ser visto horizontalmente, como a soma das vendas intersetoriais (de $55) e da demanda final ($90), como pode ser visto como a soma entre as compras intersetoriais (de $40) e o seu valor agregado ($105). Para cada setor, tem-se: VALOR DA PRODUÇÃO = VENDAS INTERMEDIÁRIAS + DEMANDA FINAL e VALOR DA PRODUÇÃO = COMPRAS INTERMEDIÁRIAS + VALOR AGREGADO Observe-se também que para cada setor o total das vendas não tem de ser necessariamente igual às compras intermediárias, o que significa que o valor da demanda final é diferente do valor agregado. Mas para os setores como um todo, certamente que o total das vendas iguala o total das compras. Assim, tem-se para a economia como um todo: VENDAS INTERMEDIÁRIAS = COMPRAS INTERMEDIÁRIAS e VALOR AGREGADO = DEMANDA FINAL

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O cálculo do Produto da economia pode ser feito, então, a partir do valor agregado, como também da demanda final, como no quadro abaixo.

Conceito de Absorção I

Absorção é a soma das despesas com o consumo, o investimento e as despesas do governo. Numa economia fechada, o Produto é todo dirigido à absorção. Numa economia aberta, o Produto pode ser diferente da absorção, já que parte da produção é exportada e parte da absorção é proveniente das importações. Consideremos uma economia onde o Produto é igual a 1.000 unidades monetárias e a absorção (C + I + G) igual a 800. Nesse caso, as exportações líquidas (X – M) são iguais a 200. Ou seja, a absorção é menor do que o Produto devido às exportações líquidas positivas. Seja agora o mesmo Produto igual a 1.000 e a absorção igual a 1.100. Nesse caso a absorção é maior do que o Produto. Isso é possível se X – M = -100, ou seja, se a entrada de bens superar a saída em 100 unidades monetárias. ABSORÇÃO = CONSUMO + INVESTIMENTO + CONSUMO DO GOVERNO PRODUTO = DESPESA = ABSORÇÃO + EXPORTAÇÕES – IMPORTAÇÕES Nesse caso, como X – M = -100, pode-se fazer M – X = 100. A expressão M – X é definida como a poupança externa do país.

A igualdade contábil entre poupança e investimento numa economia aberta e com governo

Seja PIB = C + I + G + X – M e Y = C + S + T, sendo T a receita de tributos pelo Governo. Como o Produto é igual à Renda, tem-se C + I + G + X – M = C + S + T. Eliminando C de ambas os lados da equação e mantendo-se apenas I do lado esquerdo, tem-se I = S + T – G + M – X. Essa expressão indica que o investimento (I) é igual à poupança privada (S), poupança pública (T – G) e à poupança externa (M – X).

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Mas, atenção: a poupança externa, como veremos adiante no capítulo referente ao Balanço de Pagamentos, é igual ao saldo do BP em transações correntes com o sinal trocado. E nesse caso, a expressão X – M incorpora a renda líquida enviada ao exterior. Assim, o correto é considerar o produto como o PNB.

Conceito de Absorção II

Absorção é a soma das despesas com o consumo, o investimento e as despesas do governo. Numa economia fechada, o Produto é todo dirigido à absorção. Numa economia aberta, o Produto pode ser diferente da absorção, já que parte da produção é exportada e parte da absorção é proveniente das importações. Consideremos uma economia onde o Produto é igual a 1.000 unidades monetárias e a absorção (C + I + G) igual a 800. Nesse caso, as exportações líquidas (X – M) são iguais a 200. Ou seja, a absorção é menor do que o Produto devido às exportações líquidas positivas. Seja agora o mesmo Produto igual a 1.000 e a absorção igual a 1.100. Nesse caso a absorção é maior do que o Produto. Isso é possível se X – M = -100, ou seja, se a entrada de bens superar a saída em 100 unidades monetárias. ABSORÇÃO = CONSUMO + INVESTIMENTO + CONSUMO DO GOVERNO PRODUTO = DESPESA = ABSORÇÃO + EXPORTAÇÕES – IMPORTAÇÕES Nesse caso, como X – M = -100, pode-se fazer M – X = 100. A expressão M – X é definida como a poupança externa do país.

A igualdade contábil entre poupança e investimento numa economia aberta e com governo

Seja PIB = C + I + G + X – M e Y = C + S + T, sendo T a receita de tributos pelo Governo. Como o Produto é igual à Renda, tem-se C + I + G + X – M = C + S + T. Eliminando C de ambas os lados da equação e mantendo-se apenas I do lado esquerdo, tem-se I = S + T – G + M – X. Essa expressão indica que o investimento (I) é igual à poupança privada (S), poupança pública (T – G) e à poupança externa (M – X). Mas, atenção: a poupança externa, como veremos adiante no capítulo referente ao Balanço de Pagamentos, é igual ao saldo do BP em transações correntes com o sinal trocado. E nesse caso, a expressão X – M incorpora a renda líquida enviada ao exterior. Assim, o correto é considerar o produto como o PNB.

As Contas Nacionais

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Os registros dos valores dos agregados macroeconômicos estão dispostos em um sistema de contas nacionais, que são padronizadas pela Organização das Nações Unidas, a fim de que possam ser comparadas entre os diversos países. No Brasil, a sua apuração iniciou-se em 1947 na Fundação Getúlio Vargas. A partir de 1986 essa tarefa passou a ser encargo da Fundação IBGE. As Contas Nacionais do Brasil são as seguintes: Produto Interno Bruto (1), Renda Nacional Disponível Bruta (2), Conta de Capital (3), Transações correntes com o resto do mundo (4) e Contas correntes das administrações públicas (5). A seguir, o detalhamento de cada conta. 1 - Produto Interno Bruto 1.1 –Produto Interno Bruto, a custo de fatores (2.4) 1.1.1 –Remuneração dos empregados (2.4. 1) 1.1.2 –Excedente operacional bruto (2.4.2) 1.2 – Tributos indiretos (2.7) 1.3 – Menos: subsídios (2.8) Produto Interno Bruto Consumo final (1.4 + 1.5) 1.4 – Consumo final das famílias (2.1) 1.5 –Consumo final das administrações públicas (2.2) 1.6 – Formação bruta de capital fixo (3.1) 1.7 – Variação de estoques (3.2) 1.8 – Exportação de bens e serviços (4.1) 1.9 –Menos: importação de bens e serviços (4.5) Dispêndio correspondente ao Produto Interno Bruto 2 - Renda nacional disponível bruta

Consumo final (2.1+2.2)

2.1 – Consumo final das famílias (1.4)

2.2 – Consumo final das administrações públicas (1.5)

2.3 – Poupança bruta (3.3)

Utilização da renda nacional disponível bruta

2.4 – Produto interno bruto, a custo de fatores (1.1)

2.4.1 – Remuneração dos empregados (1.1.1)

2.4.2 – Excedente operacional bruto (1.1.2)

2.5 – Remuneração de empregados, líquida, recebida

do resto do mundo (4.2 – 4.6)

2.6 – Outros rendimentos, líquidos, recebidos

do resto do mundo (4.3 – 4.7)

2.7 – Tributos indiretos (1.2)

2.8 – Menos: subsídios (1.3)

2.9 – Transferências unilaterais, líquidas, recebidas

do resto do mundo (4.4 – 4.8)

Apropriação da renda nacional disponível bruta

3 – Conta de capital

3.1 – Formação bruta de capital fixo

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3.1.1– Construção

3.1.1.1– Administrações públicas

3.1.1.2 – Empresas e famílias

3.1.2 – Máquinas e equipamentos

3.1.2.1 – Administrações públicas

3.1.2.2 – Empresas e famílias

3.1.3 – Outros

3.2– Variação de estoque (1.7)

Formação bruta de capital

3.3 – Poupança bruta (2.3)

3.4 – Menos: saldo em transações correntes

com o resto do mundo (4.9)

Financiamento da formação bruta de capital

4 – Transações correntes com o resto do mundo

4.1 – Exportação de bens e serviços (1.8)

4.2 – Remuneração de empregados recebida

do resto do mundo (2.5 + 4.6)

4.3 – Outros rendimentos recebidos do resto

do mundo (2.6 + 4.7)

4.4 – Transferências unilaterais recebidas do

resto do mundo (2.9 + 4.8)

Recebimentos correntes

4.5 – Importação de bens e serviços (1.9)

4.6 – Remuneração de empregados paga ao resto

do mundo (4.2 – 2.5)

4.7 – Outros rendimentos pagos ao resto do

mundo (4.3 – 2.6)

4.8 – Transferências unilaterais pagas ao resto

do mundo (4.4 – 2.9)

4.9 – Saldo das transações correntes com o resto

do mundo (3.4)

Utilização dos recebimentos correntes

5 – Contas correntes das administrações públicas

5.1 – Consumo final das administrações públicas

5.1.1– Salários e encargos

5.1.2 –Outras compras de bens e serviços

5.2 – Subsídios

5.3 – Transferências de assistência e previdência

5.4 – Juros da dívida pública interna

5.5 – Poupança em conta corrente

Total da utilização da receita corrente

5.6 – Tributos indiretos

5.7 – Tributos diretos

5.8 – Outras receitas correntes líquidas

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5.8.1 –Outras receitas correntes brutas

5.8.2 –Menos: outras despesas de transferências

5.8.2.1Transferências intragovernamentais

5.8.2.2 Transferências intergovernamentais

5.8.2.3Transferências ao setor privado

5.8.2.4Transferências ao exterior

Total da receita corrente

As flutuações econômicas

As flutuações econômicas: Demanda Agregada e Oferta Agregada.

Conceitos iniciais O Produto potencial da economia tende a evoluir de acordo com o aumento das dotações de recursos, como o trabalho, o capital, os recursos naturais e a tecnologia. Enquanto isso, o produto efetivo, que depende das condições conjunturais, principalmente da demanda agregada, está mais sujeito a flutuações econômicas, que são irregulares e imprevistas, conforme já vimos no item 1.10. Muitas variáveis macroeconômicas têm flutuações correlacionadas, como o PIB, investimentos, consumo, vendas, desemprego e lucros. Os investimentos tendem a apresentar flutuações diretamente relacionadas ao PIB, embora sejam mais voláteis. Enquanto isso, as taxas de desemprego tendem a apresentar uma flutuação inversa ao do PIB, ou seja, quando este cresce aquela taxa cai e vice-versa.

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Como se observa, a taxa de desemprego apresenta flutuações de acordo com a conjuntura, mas ela não se afasta muito de determinado nível, denominado de taxa natural de desemprego, que depende de fatores estruturais da economia. De acordo com a lei de Okun, existe uma relação inversa entre a taxa de crescimento efetivo do PIB e a taxa de desemprego. Modernamente é a seguinte a sua expressão: variação % do desemprego = (variação % do PIB – 3%) x – 1/2. Um exemplo: se uma economia crescer de 6% em determinado ano, o número de pontos percentuais de variação no desemprego será de: ( 6% - 3% ) x – ½ = - 1,5%.

A Oferta e a Demanda Agregadas ajudam a determinar duas variáveis importantes da macroeconomia: o nível de preços e a produção, responsáveis pelas flutuações econômicas.. Oferta Agregada é a quantidade total de produção que o setor produtivo fornece, por período de tempo, dado certo nível de preços. Depende, portanto, da dotação de recursos da economia. Demanda Agregada é a quantidade de produção que os diversos agentes econômicos demandam, por período de tempo, dado certo nível de preços.

A Oferta Agregada

Os princípios clássicos I

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Como vimos, a Oferta Agregada depende da dotação de recursos produtivos. Assim, tem-se a função de produção de uma economia: Q = f ( K, L, T ), sendo K a quantidade de bens de capital, L o trabalho e T a tecnologia. Considerando-se o curto prazo, período de tempo em que o capital e a tecnologia são constantes, o aumento na produção depende apenas de incrementos no fator trabalho, conforme o gráfico a seguir:

Observe-se que a produção aumenta à medida que também aumenta a quantidade de trabalho empregado, mas os incrementos na produção são cada vez menores. Isso ocorre em razão de considerarmos o curto prazo, quando age a lei dos rendimentos decrescentes, ou seja, a produtividade marginal do trabalho é decrescente.

Existe uma controvérsia bastante interessante a respeito da forma da curva da oferta agregada, entre a teoria clássica e a teoria keynesiana. Até o final da década de 20 a macroeconomia não era desenvolvida, pois até então o mundo não conhecia crises globais importantes. O estudo da economia era baseado principalmente na teoria microeconômica, além de princípios básicos que constituíam a chamada teoria clássica. São três os princípios básicos sobre os quais repousa a teoria clássica: − A economia, quando em equilíbrio, apresenta pleno emprego dos recursos. Não existe desemprego involuntário. − Para que seja garantido o pleno emprego, tudo que é produzido gera uma demanda correspondente (lei de Say). − a poupança da sociedade é toda canalizada para investimentos, condição garantida pela taxa de juros.

Os princípios clássicos II

Os gráficos abaixo mostram como se determinam os níveis de emprego e de produto na economia, segundo a teoria clássica.

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O nível de emprego (N) é determinado no mercado de trabalho (gráfico à direita), onde a oferta de trabalho exercida pelos trabalhadores (On), e a demanda de mão-de-obra exercida pelas empresas (Dn) são função direta e inversa do salário real (W/P), respectivamente. Dado o nível de emprego N1, o nível de produção (Q) é determinado no gráfico à esquerda. Algumas observações a respeito do formato das curvas de demanda e oferta de trabalho. A oferta de trabalho tem relação direta com o salário real, pois segundo a teoria todo indivíduo tem um conflito entre a necessidade de consumo e de lazer: quanto mais consumo, mais horas de trabalho e, portanto, menos lazer, e quanto mais lazer menos horas de trabalho e, portanto, menos consumo. Como o salário real é o custo de oportunidade do lazer, uma variação na remuneração do trabalho resulta em dois efeitos: o efeito substituição faz o indivíduo diminuir o lazer quando o salário real aumenta e aumentar o lazer quando o salário real diminui; o efeito renda, ao contrário, faz o indivíduo sentir-se mais rico com um aumento de salário, permitindo-lhe aumentar o lazer, e uma diminuição do salário faz o indivíduo sentir-se mais pobre, obrigando-o a diminuir o lazer. Normalmente o efeito substituição é mais forte do que o efeito renda, ou seja, o número de horas de trabalho cresce com o salário real, mas o efeito renda é mais forte somente nos casos em que os salários são bem altos ou bem baixos.. A demanda de trabalho depende da produtividade marginal desse fator. A empresa contrata uma unidade de trabalho enquanto o valor da produtividade marginal (P x PMgL) superar o salário nominal (W) ou a produtuvidade marginal superar o salário real.:

P x PMgL > W > PMgL > W / P

Como essa produtividade tende a diminuir com quantidades adicionais de trabalho, o salário real tem de baixar para aumentar o emprego. De acordo com o primeiro princípio da teoria clássica, ao nível de emprego N1 não há desemprego involuntário. A um nível de emprego maior, acima de N1, a menor produtividade marginal do trabalho exige que o salário real diminua, abaixo de (W/P)1. Como esse nível de emprego é oferecido pelos trabalhadores somente a um salário real maior, diz-se que o desemprego, nesse caso, é voluntário e corresponde ao fato de o salário real desejado pelos trabalhadores ser maior do que o correspondente à sua produtividade.

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Os princípios clássicos III

O segundo princípio garante que o nível de produção de pleno emprego encontra um mercado que o absorva. A Lei de Say afirma que “a oferta cria a sua própria procura”. Através dessa lei os clássicos procuraram mostrar que a realização da produção criava um montante de renda de igual valor que era destinado ao mercado, justamente para adquirir essa produção. A existência da poupança não era problema para a teoria clássica, pois era assegurado que ela era toda canalizada para financiar os investimentos realizados pelas empresas. Mas, se a poupança é realizada pelas famílias, e os investimentos frutos de decisão dos empresários, como conciliar os seus valores? A resposta está na taxa de juros. A poupança (S) é função direta e o investimento (I) é função inversa da taxa de juros (i). De seu encontro é determinada a taxa de juros do mercado, que em equilíbrio garante a igualdade entre poupança e investimento.

Oferta Agregada clássica

Com base no mercado de trabalho, pode-se deduzir a curva de Oferta Agregada clássica. Se P diminui, o salário real aumenta, a quantidade ofertada de trabalho é maior do que a quantidade demandada de trabalho e os salários nominais caem, até a volta ao nível de salário real do início. Se P aumenta, o salário real diminui, a quantidade demandada de trabalho é maior do que a quantidade ofertada de trabalho e os salários nominais aumentam, até a volta ao nível de salário real do início.

Como qualquer variação no preço é acompanhada por variação proporcional nos salários nominais, mantém-se o salário real e, conseqüentemente, também a produção e o emprego. A curva de Oferta

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Agregada é, portanto, uma reta vertical. Essa é a dicotomia clássica: as variáveis nominais não afetam as variáveis reais.

A curva de Oferta Agregada pode deslocar-se, para a direita ou a esquerda, se ocorrerem variações autônomas na oferta e na procura de mão-de-obra. Por exemplo, se aumentar a produtividade marginal do trabalho a demanda de trabalho pelas empresas aumenta e a curva desloca-se para a direita. Se os trabalhadores exigirem salários nominais maiores, a oferta de trabalho (aos salários atuais) cai e a curva desloca-se para a esquerda.

Os princípios keynesianos I

A teoria keynesiana parte dos seguintes princípios básicos: 1- uma economia de mercado pode apresentar um equilíbrio com alto nível de desemprego; 2- a causa do desemprego está na insuficiência da demanda agregada; 3- a diminuição do desemprego está na elevação dos gastos governamentais. A curva de oferta agregada keynesiana tem inclinação positiva pelos seguintes fatores: 1- salários nominais rígidos; 2- percepções equivocadas; 3- preços rígidos. Os salários nominais são rígidos a curto prazo, fato que impede o seu ajustamento automático às variações de preço, como defendem os clássicos. Nesse caso, dado um aumento de preço, por exemplo, dado o salário nominal constante o salário real cai, provocando desequilíbrio no mercado, com a demanda de trabalho superando a oferta de trabalho, o que resulta em aumento do emprego e da produção. Raciocinando-se inversamente, uma diminuição no preço, dado o salário nominal constante, aumenta o salário real, tornando a oferta de trabalho maior do que a demanda de trabalho, o que resulta em desemprego e queda na produção. Em ambas as situações, verifica-se uma relação direta entre níveis de preço e produção.

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A chamada percepção equivocada dos empresários ocorre quando, numa queda de preço de seus produtos, por exemplo, ocorre diminuição da produção e do emprego devido a uma suposta queda nos preços relativos, sem a percepção de que os insumos e demais bens de consumo também estão caindo. Os trabalhadores também têm uma percepção equivocada quando, no caso de diminuição nos salários nominais, diminuem a oferta de trabalho sem perceberem que os preços em geral também caem. A hipótese dos preços rígidos considera que muitas empresas resistem antes de alterar seus preços, devido à expectativa pela sua fixação final e pelos custos de transação nas mudanças de preços, os chamados “custos de menu”. Nesse caso, as empresas que não alteram seus preços em uma recessão, por exemplo, têm diminuição na demanda pelos seus produtos e, portanto, na produção e no emprego. Esses fatores explicam a hipótese keynesiana básica ou a inclinação positiva da curva de oferta agregada, mas se supusermos que o nível de

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preços também é constante no curto prazo a curva de Oferta Agregada será uma reta horizontal e corresponde à hipótese keynesiana extrema.

Os fatores que fazem deslocar a curva de oferta agregada, são variações nos custos de produção, na produtividade e nas expectativas de empresários e trabalhadores quanto aos preços futuros.

Os princípios keynesianos II

A teoria keynesiana parte dos seguintes princípios básicos: 1- uma economia de mercado pode apresentar um equilíbrio com alto nível de desemprego; 2- a causa do desemprego está na insuficiência da demanda agregada; 3- a diminuição do desemprego está na elevação dos gastos governamentais. A curva de oferta agregada keynesiana tem inclinação positiva pelos seguintes fatores: 1- salários nominais rígidos; 2- percepções equivocadas; 3- preços rígidos. Os salários nominais são rígidos a curto prazo, fato que impede o seu ajustamento automático às variações de preço, como defendem os clássicos. Nesse caso, dado um aumento de preço, por exemplo, dado o salário nominal constante o salário real cai, provocando desequilíbrio no mercado, com a demanda de trabalho superando a oferta de trabalho, o que resulta em

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aumento do emprego e da produção. Raciocinando-se inversamente, uma diminuição no preço, dado o salário nominal constante, aumenta o salário real, tornando a oferta de trabalho maior do que a demanda de trabalho, o que resulta em desemprego e queda na produção. Em ambas as situações, verifica-se uma relação direta entre níveis de preço e produção.

A chamada percepção equivocada dos empresários ocorre quando, numa queda de preço de seus produtos, por exemplo, ocorre diminuição da produção e do emprego devido a uma suposta queda nos preços relativos, sem a percepção de que os insumos e demais bens de consumo também estão caindo. Os trabalhadores também têm uma percepção equivocada quando, no caso de diminuição nos salários nominais, diminuem a oferta de trabalho sem perceberem que os preços em geral também caem. A hipótese dos preços rígidos considera que muitas empresas resistem antes de alterar seus preços, devido à expectativa pela sua fixação final e pelos custos de transação nas mudanças de preços, os chamados “custos de menu”. Nesse caso, as empresas que não alteram seus preços em uma recessão, por

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exemplo, têm diminuição na demanda pelos seus produtos e, portanto, na produção e no emprego. Esses fatores explicam a hipótese keynesiana básica ou a inclinação positiva da curva de oferta agregada, mas se supusermos que o nível de preços também é constante no curto prazo a curva de Oferta Agregada será uma reta horizontal e corresponde à hipótese keynesiana extrema.

Os fatores que fazem deslocar a curva de oferta agregada, são variações nos custos de produção, na produtividade e nas expectativas de empresários e trabalhadores quanto aos preços futuros.

A Demanda Agregada

A Demanda Agregada é definida como a quantidade total de bens e serviços demandados em uma economia a um certo nível de preços. Ela engloba as despesas com consumo, investimento, gastos governamentais e exportações líquidas. Considera-se que a curva de demanda agregada tem inclinação negativa, pelos seguintes motivos: efeito riqueza de Pigou, efeito juros e efeito taxa de câmbio.

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Segundo o efeito Pigou, uma boa parte da riqueza das pessoas não se altera ou não acompanha integralmente as variações dos preços. Um bom exemplo é a própria moeda. Assim, uma queda nos preços aumenta o poder de compra desse ativo, estimulado a demanda agregada, e um aumento nos preços diminui o poder de compra da moeda, reduzindo a demanda agregada. O efeito juro se dá quando, dada uma diminuição nos preços, por exemplo, aumenta o poder de compra da oferta de moeda da economia, fazendo com que essa oferta se expanda em termos reais, diminua a taxa de juros e incentive o consumo e o investimento, ou seja, a demanda agregada. Quanto ao efeito taxa de câmbio, uma diminuição no preço, ao reduzir a taxa de juros, faz com que saiam capitais especulativos do país, desvalorizando a moeda nacional, de que resulta aumento nas exportações e diminuição nas importações, que constituem parcela da demanda agregada.

Os fatores que provocam deslocamentos na demanda agregada, são as variações autônomas em componentes da demanda, como no consumo, no investimento e nas exportações líquidas, além das políticas fiscal e monetária do governo. A determinação do nível de preços e da produção

O encontro das curvas de Oferta Agregada e Demanda Agregada determina o nível de preços e a produção da economia, em cada uma das hipóteses clássica e keynesiana:

Uma situação de equilíbrio não significa necessariamente uma posição satisfatória, pois pode estar ocorrendo alto nível de desemprego e inflação. Nesse caso, as autoridades econômicas podem intervir através de políticas apropriadas a fim de atingir determinados objetivos. As políticas mais comuns, a monetária (variação na quantidade de moeda da economia) e a

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fiscal (variação dos gastos governamentais e dos tributos), são melhor definidas mais adiante. Os gráficos a seguir mostram a aplicação de políticas expansionistas (de estímulo à produção e ao emprego), que aumentam a demanda agregada da economia, em cada uma das três hipóteses teóricas:

Observe-se os efeitos em cada uma das três hipóteses de um aumento na demanda agregada: Clássica: crescimento dos preços e nenhum efeito sobre a produção, pois o salário nominal ajusta-se à variação do preço, mantendo constante o salário real, o emprego e a produção. Keynesiano básico: aumento de preços e da produção, pois não há ajuste do salário nominal, o salário real cai e a contratação de trabalhadores sobe. Keynesiano extremo: preços constantes e aumento da produção. A determinação do nível de preços e da produção

O encontro das curvas de Oferta Agregada e Demanda Agregada determina o nível de preços e a produção da economia, em cada uma das hipóteses clássica e keynesiana:

Uma situação de equilíbrio não significa necessariamente uma posição satisfatória, pois pode estar ocorrendo alto nível de desemprego e inflação. Nesse caso, as autoridades econômicas podem intervir através de políticas

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apropriadas a fim de atingir determinados objetivos. As políticas mais comuns, a monetária (variação na quantidade de moeda da economia) e a fiscal (variação dos gastos governamentais e dos tributos), são melhor definidas mais adiante. Os gráficos a seguir mostram a aplicação de políticas expansionistas (de estímulo à produção e ao emprego), que aumentam a demanda agregada da economia, em cada uma das três hipóteses teóricas:

Observe-se os efeitos em cada uma das três hipóteses de um aumento na demanda agregada: Clássica: crescimento dos preços e nenhum efeito sobre a produção, pois o salário nominal ajusta-se à variação do preço, mantendo constante o salário real, o emprego e a produção. Keynesiano básico: aumento de preços e da produção, pois não há ajuste do salário nominal, o salário real cai e a contratação de trabalhadores sobe. Keynesiano extremo: preços constantes e aumento da produção. Compatibilização entre as curvas de oferta agregada clássica e keynesiana: curto e longo prazo I

Como se compatibilizam as curvas de oferta agregada clássica e keynesiana? Considera-se que os princípios keynesianos são válidos no curto prazo, enquanto que os princípios clássicos são válidos no longo prazo. No gráfico a seguir são colocadas as curvas de oferta agregada de curto prazo (OACP) e de longo prazo (OALP), que juntamente com a curva de demanda agregada (DA), determinam um equilíbrio inicial ao nível de produção Q1 e ao nível de preços Q2.

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Observemos agora o que ocorre com os seguintes dois eventos: 1- Aumento na demanda agregada: a curva DA desloca-se para a direita, de DA1 para DA2. No curto prazo aumenta o emprego e a produção física. No longo prazo, aumentam os salários nominais, reduzindo o emprego. Desloca-se a OACP para a esquerda, de OACP1 para OACP2.Os preços sobem e a economia retorna ao nível natural de emprego e produção de longo prazo. Conclusão: no curto prazo as variáveis reais podem variar, segundo a hipóteses keynesiana, mas com o tempo voltam aos níveis anteriores, segundo a hipótese clássica.

2- Choque de oferta : um aumento nos custos de produção desloca a curva de oferta agregada OACP1 para cima. No curto prazo, a produção cai e o nível de preços aumenta. No longo prazo a economia volta a seu nível anterior, mas uma política governamental de estabilização de curto prazo poderia aumentar a demanda agregada (de DA1 para DA2) para diminuir o desemprego, mas a um custo inflacionário maior.

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Compatibilização entre as curvas de oferta agregada clássica e keynesiana: curto e longo prazo II

Como se compatibilizam as curvas de oferta agregada clássica e keynesiana? Considera-se que os princípios keynesianos são válidos no curto prazo, enquanto que os princípios clássicos são válidos no longo prazo. No gráfico a seguir são colocadas as curvas de oferta agregada de curto prazo (OACP) e de longo prazo (OALP), que juntamente com a curva de demanda agregada (DA), determinam um equilíbrio inicial ao nível de produção Q1 e ao nível de preços Q2.

Observemos agora o que ocorre com os seguintes dois eventos: 1- Aumento na demanda agregada: a curva DA desloca-se para a direita, de DA1 para DA2. No curto prazo aumenta o emprego e a produção física. No longo prazo, aumentam os salários nominais, reduzindo o emprego. Desloca-se a OACP para a esquerda, de OACP1 para OACP2.Os preços sobem e a economia retorna ao nível natural de emprego e produção de longo prazo. Conclusão: no curto prazo as variáveis reais podem variar, segundo a hipóteses

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keynesiana, mas com o tempo voltam aos níveis anteriores, segundo a hipótese clássica.

2- Choque de oferta : um aumento nos custos de produção desloca a curva de oferta agregada OACP1 para cima. No curto prazo, a produção cai e o nível de preços aumenta. No longo prazo a economia volta a seu nível anterior, mas uma política governamental de estabilização de curto prazo poderia aumentar a demanda agregada (de DA1 para DA2) para diminuir o desemprego, mas a um custo inflacionário maior.

A Determinação da Renda de equilíbrio

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A Determinação da Renda de Equilíbrio e os Multiplicadores da renda

Introdução

A teoria keynesiana veio mostrar que a economia pode estar em equilíbrio e apresentar situação de desemprego, ao contrário dos economistas clássicos, que só admitem o desemprego voluntário. Na década de 30 a grande depressão significou diminuição da produção, da renda e do emprego. A explicação é que o equilíbrio do produto resulta da igualdade entre o valor da produção e a demanda agregada. O valor da produção de uma economia será, portanto, igual à demanda agregada pelo produto, pois as empresas produzem de acordo com o que determina o mercado. Se a demanda agregada é baixa, o produto de equilíbrio será baixo, e o equilíbrio apresentará desemprego. O diagnóstico keynesiano para a depressão é que o aumento da renda resulta em aumento da demanda agregada menos do que proporcional, fazendo com que a poupança cresça mais do que proporcionalmente. Enquanto isso, os investimentos realizados pelos empresários passam a não crescer tanto, pois a capacidade produtiva já é alta em relação ao consumo. Então a poupança é superior aos investimentos, fazendo cair a renda. Nesse capítulo vamos estudar como se calcula o nível de renda de equilíbrio que se iguala à demanda agregada. A demanda agregada de uma economia é constituída pelos gastos com consumo pessoal (C), investimentos (I), consumo do governo (G) e as exportações (X). Como em cada um desses gastos são incluídas despesas com bens importados (M), estes são subtraídos para se obter o montante de despesas com o produto que têm origem na própria economia interna e que gera a renda (Y). A condição de equilíbrio fica, então, igual a:

Y = C + I + G + X – M Função consumo, função investimento e cálculo da renda I

Vamos determinar o nível de equilíbrio da renda em uma economia fechada, isto é, sem transações com o exterior, e sem governo, isto é, sem despesas governamentais e sem impostos. Nesse caso, a demanda agregada (DA) é igual às despesas de consumo (C) e de investimento ( I ): DA = C + I; enquanto isso, a renda (Y) é igual à soma das despesas de consumo com a poupança (S):Y = C + S; a condição de equilíbrio é que a renda seja igual à demanda agregada: Y = DA; Y = C + I; C + S = C + I; S = I. Ou seja, para a renda estar em equilíbrio, a poupança planejada pelas famílias deve igualar as despesas de investimento planejado pelas empresas. A respeito do nível de consumo, que é o maior componente da demanda, Keynes apresentou um lei psicológica fundamental, que diz que “à medida que a renda disponível das pessoas aumenta, o consumo também aumenta, mas a fração da renda destinada ao consumo diminui”.

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C

A renda disponível é a parcela da renda nacional que efetivamente é canalizada para as famílias, depois de dedução de impostos e adição das transferências, e que é utilizada para o consumo e a poupança. Nesse primeiro modelo, sem governo, a renda disponível é igual à renda. Suponhamos um nível de renda igual a 1.000 unidades monetárias e a despesa correspondente de consumo igual a 900. Denomina-se propensão média a consumir, a relação C/Y, que no exemplo acima é igual a: C/Y = 900/ 1.000 = 0,90. Vamos supor agora um aumento na renda de 100, com o consumo crescendo de 80. Denomina-se propensão marginal a consumir a relação ΔC/ΔY, que no exemplo acima é igual a: ΔC/ΔY = 80/ 100 = 0,80. Observe-se que a renda cresceu de 1.000 para 1.100, enquanto que o consumo cresceu de 900 para 980. Calculemos a propensão média consumir depois do aumento: C/Y = 980/ 1.100 = 0,89.

A fração da renda destinada ao consumo caiu de 0,90 para 0,89, o que confirma a lei psicológica. Dizemos, então, que o consumo cresce menos do que proporcionalmente ao crescimento da renda. Essa relação não-proporcional entre renda e consumo pode ser representada pela equação C = Ca + cY, onde Ca é a parte da demanda de consumo autônomo em relação à renda (dependente de outras variáveis, como taxa de juros, riqueza, costumes, etc.), e cY é a parte do consumo induzida pela renda, sendo c a propensão marginal a consumir. Geometricamente, a propensão marginal a consumir é a inclinação da reta que representa o consumo.

A função poupança é derivada da função consumo: S = Y - (Ca + cY); S = Y - Ca – cY; S = - Ca + (1 - c) Y; donde S = Ca + sY, sendo s a propensão marginal a poupar. Se C = 100 + 0,8Y, então S = -100 + 0,2Y.

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O segundo componente da demanda agregada é a demanda de investimento, definido como o dispêndio com a aquisição de máquinas e outros bens de capital que resultam em acréscimo de capacidade produtiva. Considera-se inicialmente que o investimento seja todo ele autônomo em relação à renda, isto é, que os empreendedores apliquem determinado valor por unidade de tempo em decorrência de diversos fatores que não a renda nacional:

Vamos deduzir agora a fórmula da renda de equilíbrio, que é aquela que se iguala à demanda agregada:Y = DA; Y = C + I; desenvolvendo essa igualdade, tem-se: Y = Ca + cY + Ia; Y - cY = Ca + Ia; Y(1 - c) = Ca + Ia; donde Y = (Ca + Ia) . (1/ 1 – c) Considere-se a função consumo C = 100 + 0,8Y e I = 30. Qual a renda de equilíbrio? Y = (100 + 30) x (1/ 1 - 0,8) = 130 x 5 = 650

Função consumo, função investimento e cálculo da renda II

O que significa a renda de 650 calculada na aula anterior? A esse nível, a demanda agregada também é igual a 650. Senão vejamos: C = 100 + 0,8 x 650 = 620; I = 30; C + I = 620 + 30 = 650.

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O que ocorre à economia quando a renda é maior do que o nível de equilíbrio? Ao nível de renda igual a 1.000, por exemplo, a demanda agregada é igual a: C + I = 100 + 0,8 X 1.000 + 30 = 900 + 30 = 930, que é insuficiente para absorver toda a produção de 1.000. O excesso produzido, igual a 1.000 - 930 = 70, representado pela linha B no gráfico abaixo, constitui uma variação de estoques, ou seja, investimento não planejado pelas empresas. Em decorrência, a produção (e a renda) vão cair, até atingir o equilíbrio igual a 650.

Já vimos que quando a renda é igual a 1.000, o consumo é igual a 900, o que significa que a poupança é igual a 100: S = -100 + 0,2 x 1.000 = 100. Como a poupança excede o investimento planejado de 70 (100 - 30 = 70), esse valor é justamente igual à variação de estoques (ou o investimento não planejado). Então, tem-se: Poupança = investimento planejado + investimento não planejado S = Ip + I np; 100 = 30 + 70. A renda está em equilíbrio quando o investimento não planejado é nulo, ou seja, quando a poupança iguala o investimento planejado, que é o nosso

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investimento autônomo: S = I. Pode-se, então, calcular a renda de equilíbrio através dessa igualdade: S = I; - 100 + 0,2Y = 30; 0,2Y = 130; Y = 650.

Tornando mais realista a demanda de investimento e supondo que seja também induzido pelo nível de renda, podemos expressar a função investimento, assim: I = Ia + eY, sendo Ia o investimento autônomo; e e a propensão marginal a investir.

Nesse caso, com o investimento crescendo à medida que a renda cresce, esta tende a atingir níveis maiores do que se o investimento fosse totalmente autônomo. Considere-se as funções: S = - 100 + 0,2Y e I = 30 + 0,1Y. A renda de equilíbrio corresponde à igualdade entre poupança e investimento. Vamos, então, calculá-la: S = I; - 100 + 0,2Y = 30 + 0,1Y; 0,1Y = 130; donde Y = 1.300. Enquanto a poupança é função da renda disponível, o investimento é função da renda nacional, conceitos que se igualam no caso de uma economia fechada e sem governo, e com os lucros retidos iguais a zero. Keynes disse que a insuficiência da demanda poderia diminuir se o consumo aumentasse (o que depende de aumento da renda disponível), ou aumentassem os investimentos, os quais dependem da renda e outros fatores como a expectativa otimista dos empresários. Se os investimentos aumentam, aumenta a demanda agregada, gerando renda e emprego.

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O efeito multiplicador Consideremos as funções consumo e investimento C = 100 + 0,8Y e I = 30. Se as empresas aumentarem os investimentos para 50, por unidade de tempo, qual será a nova renda de equilíbrio? Antes do cálculo correspondente, pensemos um pouco. A renda de equilíbrio, antes desse aumento no investimento, é igual a 650, como já calculamos antes. Se o investimento aumenta de 20 unidades monetárias, a demanda agregada cresce imediatamente de 20 e a produção e a renda crescem de 20. Calculemos a nova renda de equilíbrio: Y = (Ca + Ia) x (1/ 1 – c) = (100 + 50) x (1/ 1 - 0,8) = 150 x 5 = 750 Observe-se que, dado um aumento no investimento planejado, de 20, a renda cresceu de 100, ou seja, cinco vezes mais. O crescimento da renda também pode ser calculado através da fórmula: ΔY = (ΔCa + ΔIa) x (1/ 1 – c) como ΔCa = 0 , tem-se: Y = ΔIa x (1/ 1 – c) = 20 x (1/ 1 - 0,8) = 20 x 5 = 100. Qual a explicação para essa variação na renda? Quando os empresários ampliam os investimentos, o que fazem é, por exemplo, comprar mais máquinas no valor de 20. A indústria de máquinas, ao produzir mais 20, cria renda no valor de 20. Ocorre que a criação de renda provoca um incremento imediato no consumo, igual à variação na renda vezes a propensão marginal a consumir, isto é, 20 x 0,8 = 16. Aí a indústria de bens de consumo aumenta a produção e a renda em 16, o que provoca crescimento no consumo de 16 x 0,8 = 12,8, que se transforma em renda adicional, que gera novo incremento no consumo de 12,8 x 0,8 = 10,2, e assim por diante.

A tabela abaixo apresenta o crescimento da renda, do consumo e da poupança, dado o incremento inicial de 20 nos investimentos:

Receitas e despesas do governo e primeiro modelo fiscal

O Governo tem o papel de arrecadar tributos (T) e realizar despesas (G). A renda das famílias passa a ser composta pela despesa de consumo, a poupança e os tributos: Y = C + S + T. Os tributos representam um vazamento de renda, isto é, constituem parte da renda não destinada à demanda agregada, assim como é a poupança. Enquanto isso, os gastos em consumo do Governo

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representam uma injeção de demanda, como são os investimentos. A demanda agregada é igual a: DA = C + I + G. A renda nacional está em equilíbrio, quando ela se iguala à demanda agregada: Y = DA; substituindo, C + S + T = C + I + G. Cortando C de ambos os termos, tem-se S + T = I + G. Essa igualdade mostra que a renda está em equilíbrio quando o total de injeções se iguala ao total de vazamentos. Pode-se também fazer I = S + T – G, o que significa que o nível de investimentos é igual à poupança privada (S), mais a poupança do Governo (T-G). A participação do governo é estudada através de três modelos fiscais, em que a despesa governamental (G) é sempre considerada autônoma em relação à renda. No 1º modelo fiscal, os tributos(T) também são considerados autônomos, isto é, independentes da renda. A função consumo passa a apresentar a renda disponível, que é definida como a renda, menos os tributos (YD = Y - Ta). A renda de equilíbrio, então, pode ser calculada: Y = C + I + G;Y = Ca + c(Y - Ta) + Ia + Ga; Y = Ca + cY - cTa + Ia + Ga; Y - cY = Ca - cTa + Ia + Ga; Y (1 - c) = Ca - cTa + Ia + Ga; donde Y = (Ca - cTa + Ia + Ga) . (1/ 1 – c). Calculemos a renda de equilíbrio, considerando-se os seguintes dados: C = 100 + 0,8 YD; Ia = 150; Ta = 120; Ga = 200.

Substituindo, temos: Y = (100 - 0,8 x 120 + 150 + 200) x (1/ 1 - 0,8) = 354 x (1/ 0,2) = 1.770. Dada qualquer variação na demanda agregada, a correspondente variação na renda é calculada pela expressão: ΔY = (ΔCa - cΔTa + ΔIa + ΔGa) x (1/ 1 – c) Se as despesas do governo crescerem de 20 unidades monetárias, a variação na renda será igual a: ΔY = ΔGa x (1/ 1 – c) = 20 x (1/ 1 - 0,8) = 20 x 5 = 100. Nesse caso, o multiplicador dos gastos do governo é dado pela expressão 1/ 1 – c. Se as receitas do governo crescerem de 20 unidades, a variação na renda será igual a: ΔY = (- c x ΔTa) x (1/ 1 – c) = (-0,8 x 20) x (1/ 1 - 0,8) = - 16 x 5 = -80. Nesse caso, o multiplicador das transferências é dado pela expressão –c / 1 – c. O teorema do orçamento equilibrado

Consideremos agora um aumento simultâneo, e no mesmo valor, das receitas e das despesas do governo: ΔY = (ΔGa - cΔTa) x (1/ 1 – c); como ΔGa = ΔTa, temos: ΔY = (ΔGa - cΔGa) x (1/ 1 – c); ΔY = ΔGa (1 - c) x (1/ 1 – c); donde ΔY = ΔGa. Ou seja, quando o governo aumenta as suas receitas e as suas despesas no mesmo valor, a renda cresce desse valor. Esse resultado é conhecido como o teorema do orçamento equilibrado ou do multiplicador unitário.

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Receitas e despesas do governo e segundo modelo fiscal

Neste modelo são consideradas as transferências (Ra) como um componente autônomo que é acrescido à renda disponível. A função consumo fica C = Ca + c(Y - Ta + Ra). A renda de equilíbrio fica calculada dessa maneira: Y = C + I + G; Y = Ca + c(Y - Ta + Ra) + Ia + Ga; Y = Ca + cY - cTa + cRa + Ia + Ga; Y - cY = Ca - cTa + cRa + Ia + Ga; Y (1 - c) = Ca - cTa + cRa + Ia + Ga; donde Y = (Ca - cTa + cRa + Ia + Ga) x (1/ 1 – c). Calculemos a renda de equilíbrio, considerando-se os seguintes dados: C = 150 + 0,75Yd; Ia = 200; Ta = 100; Ra = 60; Ga = 80. Substituindo-se, temos: Y = (150 - 0,75 x 100 + 0,75 x 60 + 200 + 80) x (1/ 1 - 0,75); Y = 400 x 4 = 1.600. Dada qualquer variação na demanda agregada, a correspondente variação na renda é calculada pela expressão: ΔY = (ΔCa - cΔTa + cΔRa + ΔIa + ΔGa) x (1/ 1 – c). Consideremos, utilizando os mesmos dados anteriores, um aumento nos gastos do governo de 30 unidades monetárias: ΔY = ΔGa x (1/ 1 – c) = 30 x (1/ 1 - 0,75) = 30 x 4 = 120. Suponha-se que o governo eleve as transferências, também de 30 unidades monetárias: ΔY = cΔRa x (1/ 1 – c) = ΔRa x (c/ 1 – c) = 30 x 0,75/ (1 - 0,75) = 30 x 3 = 90. Se observarmos os valores calculados para as duas variações na renda, verificaremos que o aumento das despesas de gastos do governo têm um poder maior do que o mesmo aumento das despesas com as transferências, já que a mesma elevação inicial na demanda (de 30 unidades monetárias) provoca aumentos desiguais na renda. Esse efeito decorre do fato de que o multiplicador das despesas do governo 1/(1-c) é maior do que o das transferências c/(1-c).

Receitas e despesas do governo e terceiro modelo fiscal

Neste modelo as receitas do governo são também induzidas pela renda, o que torna o modelo mais realista. A função tributação fica: T = Ta + tY , sendo Ta a tributação autônoma, tY a tributação induzida e t a propensão marginal a tributar. A função consumo incorpora a função tributação: C = Ca + c(Y - Ta - tY + Ra). Expressão da renda de equilíbrio:

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Y = C + I + G; Y = Ca + c(Y - Ta - tY + Ra) + Ia + Ga; Y = Ca + cY - cTa + ctY + cRa + Ia + Ga; Y - cY + ctY = Ca - cTa + cRa + Ia + Ga; Y (1 - c + ct) = Ca - cTa + cRa + Ia + Ga; donde Y = (Ca - cTa + cRa + Ia + Ga) x 1/(1 - c + ct).

Calculemos a renda de equilíbrio, considerando-se os seguintes dados: C = 200 + 3/5 Yd; Ia = 180; T = 35 + 1/6Y; Ra = 30; Ga = 50. Substituindo, temos: Y = (200 - 3/5 x 35 + 3/5 x 30 + 180 + 50) x 1/(1-3/5+3/5x1/6) = 427 x 2 = 854. Dada qualquer variação na demanda agregada, a correspondente variação na renda é calculada pela expressão: ΔY = (ΔCa - cΔTa + cΔRa + ΔIa + ΔGa) x 1/ (1 - c + ct). Suponhamos que os investimentos planejados pelos empresários se elevem de 50 unidades monetárias. Se não houver tributação induzida, isto é, t = 0, a variação na renda será de: ΔY = ΔIa x 1/ (1 – c) = 100 x 1/ 1-3/5 = 50 x 5/2 = 125 Mas quando uma parte da tributação é induzida, a variação positiva na renda é menor. Vejamos: Y = ΔIa x 1/(1 - c + ct) = 100 x 1/(1-3/5+3/5x1/6) = 50 x 2 = 100. Com a tributação induzida, a renda, em vez de crescer 125 unidades, cresce de 100. A explicação é que, dado o aumento do investimento, cada vez que aumenta a produção e a renda, pelo efeito multiplicador, uma parte desse aumento da renda é transferida para o Governo através dos impostos, constituindo um vazamento, que resulta em aumentos também menores no consumo.

Economia aberta e com governo

Ao se considerar a economia aberta, introduzimos as exportações, representando uma injeção para a economia, pela criação de renda. Enquanto isso, as importações de mercadorias e serviços representam um vazamento, pois criam renda e emprego no exterior.

As exportações são consideradas como autônomas em relação à renda interna (Xa), pois costumam variar em decorrência de fatores como a taxa de câmbio, as tarifas dos países importadores, os preços internacionais e o nível de renda dos países compradores. Enquanto isso, as importações podem ser representadas por dois componentes, um autônomo (que relaciona as importações com a taxa de câmbio, as tarifas internas e o diferencial de preços entre os produtos nacionais e estrangeiros) e outro induzido pela renda interna.

X = Xa e M = Ma + my,

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sendo Ma o componente autônomo das importações e mY o componente induzido; m é a propensão marginal a importar, que é igual a ΔM/ΔY, isto é, é a relação entre as variações na renda e nas importações.

A expressão da renda de equilíbrio fica, agora, igual a: Y = C + I + G + X – M. Vamos calcular a renda de equilíbrio utilizando, para simplificar, o 1º modelo fiscal, isto é, a tributação, T, autônoma: Y = Ca + c(Y - Ta) + Ia + Ga + XA - Ma – mY; Y = Ca + cY - cTa + Ia + Ga + Xa - Ma – mY; Y - cY + mY = Ca - cTa + Ia + Ga + Xa – Ma; Y (1 - c + m) = Ca - cTa + Ia + Ga + Xa – Ma; donde Y = (Ca - cTa + Ia + Ga + Xa - Ma) x 1/(1-c+m). Calculemos a renda de equilíbrio, considerando-se os seguintes dados: C = 150 + ¾ (Y - Ta); Ta = 24; Ia = 180; Ga = 220; Xa = 110; M = 50 + 1/12Y. Substituindo, temos: Y = (150 - ¾ x 24 + 180 + 220 + 110 - 50) x 1/ (1-3/4+1/12) = 592 x 3 = 1.776. Dada qualquer variação na demanda agregada, a correspondente variação na renda é calculada pela expressão: ΔY = (ΔCa - ΔIa + ΔGa + ΔXa) x 1/ (1-c+m). Suponhamos que os gastos do Governo cresçam de 100 unidades monetárias. Não havendo importações induzidas pela renda, isto é, m = 0, a variação na renda será de: ΔY = ΔGa x 1/ (1-c) = 100 x 1 / ( 1 – ¾ ) = 400. Mas quando uma parte das importações é induzida pela renda, parte da demanda é transferida para o exterior, diminuindo o efeito sobre a renda interna. Por isso, a renda cresce menos. ΔY = ΔGa x 1/ (1-c+m) = 100 x 1 / ( 1 – ¾ + 1/12) = 100 x 2 = 200.

Aplicação da política fiscal keynesiana

Cabe ao Governo um papel bastante importante na teoria keynesiana, pois os gastos e os impostos governamentais devem ser utilizados para a estabilização

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da economia. No caso de desemprego e diminuição das atividades econômicas, a insuficiência da demanda agregada deve ser corrigida pela elevação dos gastos governamentais. A redução de impostos também provoca esse efeito. Ao contrário, no caso de intensificação das atividades econômicas, os aumentos de preços podem ser combatidos por diminuição dos gastos e redução dos impostos. Consideremos os seguintes dados: C = 2000 + 3/5Y , Ia = 800, Ra = 100, Ga = 500, T = 350 + 1/6 Y; a renda de equilíbrio é igual a Y = (2000 – 3/5 x 350 + 3/5 x 100 + 800 + 500) x 1/ (1 – 3/5 + 3/5 x 1/6) = 3.150 x 2 = 6.300. Suponhamos agora que a economia apresente desemprego e que, para diminuí-la, o Governo pense em aumentar o valor do produto para 6.600. Para isso, seria preciso elevar a demanda agregada e o Governo conta com as seguintes opções: aumentar os gastos governamentais; diminuir os impostos autônomos; diminuir a propensão marginal a tributar; e aumentar as transferências. O gráfico abaixo mostra a renda de equilíbrio de 6.300 e a renda de 6.600 que o Governo quer alcançar para diminuir o desemprego:

Vamos calcular cada um dos valores necessários para o objetivo de elevação da renda, de 6.300 para 6.600, ou seja, de 300. Aumentos dos gastos governamentais: ΔY = (ΔCa - cΔTa + cΔRa + ΔIa + ΔGa) x 1 / (1 - c + ct); ΔY = (ΔGa) x 1/ (1 - c + ct); 300 = (ΔGa) x 1/ (1 - 3/5 + 3/5 x 1/6) = (ΔGa) x 2; donde ΔGa = 150. Diminuição dos impostos autônomos: ΔY = (ΔCa - cΔTa + cΔRa + ΔIa + ΔGa) x 1/ (1 - c + ct); ΔY = ΔTa x c / (1 - c + ct); 300 = ΔTa x - 3/5 / ( 1 – 3/5 + 3/5 x 1/6 ) = ΔTa x - 6 / 5; ΔTa = - 250. Aumento das transferências: ΔY = (ΔCa - cΔTa + cΔRa + ΔIa + ΔGa) x 1/ (1 - c + ct); ΔY = ΔRa x c / (1 - c + ct) = ΔRa x 6 / 5; ΔRa = 250.

Diminuição da propensão marginal a tributar: Y = (Ca - cTa + cRa + Ia + Ga) x 1/ (1 - c + ct); 6.600 = (2000 – 3/5 x 350 + 3/5 x 100 + 800 + 500) x 1/ (1 – 3/5 + 3/5 x t); donde t = 0,13.

Algumas relações entre os agregados

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A partir das funções estudadas, pode-se fazer uma série de inter-relações entre os agregados macroeconômicos. Por exemplo:

Uma variação em qualquer componente da demanda agregada resulta em variação em sentido contrário das importações. Uma variação em qualquer componente da demanda agregada resulta em variação em sentido contrário dos tributos induzidos pela renda. Uma variação em qualquer componente da demanda agregada resulta em variação no mesmo sentido dos investimentos induzidos pela renda.

A justificativa para o comportamento acima está na inter-relação entre a demanda agregada, a renda e a variável induzida pela renda.

Interrelações curiosas: Um aumento das exportações resulta em aumento das importações, mas não necessariamente o contrário.

Δ X > Δ Y > Δ M Um aumento dos gastos do Governo resulta em aumento dos tributos, mas não necessariamente o contrário.

Δ G > Δ Y > Δ T Um aumento dos impostos resulta em diminuição das importações.

Δ T > Δ Y > Δ M Um aumento das importações resulta em diminuição dos impostos.

Δ M > Δ Y > Δ T Um aumento dos tributos diminui os investimentos induzidos pela renda, enquanto um aumento dos investimentos aumenta os tributos induzidos pela renda.

Δ T > Δ Y > Δ I Δ I > Δ Y > Δ T

Conceitos de moeda

A utilidade, as funções e as características essenciais da moeda

O uso da moeda, atualmente, é tão comum que quase não percebemos a sua enorme utilidade. Pois é através dela que se realizam as transações econômicas, sejam as que envolvem produtos, sejam as que se referem a

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simples transmissão de propriedade de ativos. As pessoas normalmente se especializam em produzir determinado bem ou serviço. Enquanto isso, necessitam e têm desejo de consumir centenas de produtos, produzidos por outras pessoas. Numa economia de troca, ou escambo, cada pessoa tem de procurar alguém que necessite ou deseje o que produzimos, ao mesmo tempo em que produza aquilo de que necessitamos. A solução seria a troca direta. Vejamos: José tem o produto A e deseja o produto B de João; João tem o produto B e deseja o produto A de José. A troca é possível. José tem o produto A e deseja o produto B de João; João tem o produto B, mas deseja o produto C, de Carlos; Carlos tem o produto C, mas deseja o produto A de José. A satisfação de todos somente é possível através da triangulação das trocas. Numa economia moderna a solução é a utilização da moeda. Com ela, cada um pode se especializar na produção de determinado bem, ou seja, organizar-se a divisão do trabalho, o que permite a maior eficiência na produção dos bens. O produto de cada um é, então, oferecido no mercado e trocado por moeda, a qual representa um poder de compra que pode ser utilizado na aquisição dos bens oferecidos pelos demais. Assim, a troca direta transforma-se em troca indireta, facilitando as atividades e reduzindo o tempo empregado nas transações.

A utilidade, as funções e as características essenciais da moeda

Funções básicas da moeda.

Intermediária de trocas: essa função decorre do próprio conceito de moeda. É um meio pelo qual as trocas são efetuadas. Evita a troca direta e a necessidade de coincidência de desejos, José troca seu produto por moeda e fica em condições de adquirir, através dela, os produtos de que necessita. Unidade de medida de valor: a moeda é utilizada para dar valor às coisas, dispensando a valoração de cada bem em relação a cada um dos demais. Em vez de se valorar o quilo de feijão em termos de arroz, carne, leite, consultas médicas ou picolés, pode-se expressar o valor do feijão em moeda, conforme a sua fixação no mercado. O valor, fixado em unidades monetárias, passa a ter um preço, como por exemplo R$ 1,00 por quilo, assim como o arroz, a carne e o leite. A fixação de preços, em moeda, substitui diversos valores. Assim, se tivermos n tipos de produto, o total de relações entre esses bens será igual a:

Por exemplo, no caso de 10 produtos, teríamos: (10 x 9) / 2 = 45 relações. Reserva de valor: a moeda pode ser retida em poder de seu possuidor após a venda de seu trabalho, constituindo uma reserva ou um crédito em relação à sociedade. Por isso é considerada uma forma de riqueza. Essa característica

n(n -1)

2

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da moeda obriga, no entanto, que os seus possuidores resguardem-se de riscos relativos a essa retenção. Os depósitos no sistema bancário são proteção contra perdas e assaltos. É preciso também evitar-se a desvalorização da moeda em relação a seu poder de compra, o que ocorre em virtude da inflação. Nesse caso, os detentores de moeda procuram a sua aplicação em títulos que rendem juros ou ativos que podem valorizar-se. Características essenciais da moeda: uma moeda, para ser aceita nas transações comerciais, deve possuir certas características inerentes, e que são: indestrutibilidade e inalterabilidade (não deve se facilmente destruída nem alterada), homogeneidade (as moedas de mesmo valor devem ser iguais, para poderem ser aceitas), divisibilidade ( deve atender a transações de todos os valores, maiores e menores, inclusive as fracionárias), transferibilidade e facilidade de manuseio (deve ser facilmente manuseada e transferida) e facilidade de transporte (deve ser facilmente transportada para a realização de transações em quaisquer locais). Tipos históricos de moeda: moeda-mercadoria, moeda metálica, moeda-papel, papel-moeda e moeda bancária. As primeiras moedas foram mercadorias que, pelo seu valor intrínseco, eram aceitas em troca do que se desejava oferecer. Mercadorias são aceitas como moeda por terem aceitação geral, pela sua escassez relativa e capacidade de satisfazer necessidades.Exemplos clássicos são o gado, o sal, escravos, conchas, seda, fumo, chás etc. Os seus inconvenientes são o desgaste natural, a não homogeneidade, o difícil manuseio ou transporte. A moeda metálica apareceu para superar alguns desses defeitos. Os principais metais utilizados foram o cobre, o ferro e o bronze, que no entanto tinham dificuldade de transporte, pelo seu peso e volume. Com o tempo passaram a ser padronizadas para as transações. Para facilitar, também foram cunhadas. Mas um grave defeito era a sua abundância relativa, o que fez com que passassem a ser utilizados metais mais nobres, como o ouro e a prata. Para facilitar as transações, surgiram atividades de depósito desses metais, realizadas por ourives que emitiam certificados de depósito, os quais, por sua comodidade e segurança, passaram a circular no lugar dos metais monetários. Com isso, estava criada a moeda-papel, com lastro de 100%, isto é, o seu valor podia ser convertido totalmente em metal, a qualquer momento e sem aviso prévio. Esses primitivos banqueiros logo perceberam que a reconversão da moeda-papel em metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores e ao mesmo tempo. Além disso, enquanto uns a solicitavam, outros faziam novos depósitos do metal. Assim, os custodiadores foram incentivados a emitirem certificados de depósito não lastreados. Nasceu, assim, a moeda fiduciária ou papel-moeda, cuja circulação era baseada na confiança dos comerciantes e da comunidade nos depositários de ouro e prata. Esse novo tipo de moeda, não totalmente lastreado, permitiu um avanço no desenvolvimento econômico, pelo aumento na atividade econômica, embora também causasse problemas decorrentes de emissões audaciosas de moeda, resultando até em fechamento e falência de muitas casas, quando a procura

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pelo metal superava os estoques existentes, Isso levou o Estado a tentar regulamentar as emissões. Hoje, os sistemas monetários são, em sua quase totalidade, fiduciários, sob as seguintes características: inexistência de lastro metálico, inconversibilidade absoluta e monopólio estatal das emissões. A forma mais moderna de moeda, e que representa a maior parcela dos meios de pagamento, praticamente em todos os países, é a chamada moeda bancária. Essa forma de moeda é criada pelos bancos comerciais e corresponde ao total dos depósitos à vista desses estabelecimentos de crédito. Sua movimentação é feita por cheques ou em saques eletrônicos. Ela também é denominada moeda invisível, pelo fato de não ter existência física, e é escri-tural, por corresponder a lançamentos a débito e a crédito, registrados na conta corrente dos bancos.

O Sistema Financeiro I

O sistema financeiro é o conjunto de instituições que se dedicam, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições satisfatórias ao fluxo de recursos de poupadores para investidores. O mercado financeiro permite que um agente econômico, indivíduo ou empresa, sem perspectivas de aplicação em empreendimento próprio de toda poupança que pode gerar, seja colocado em contato com outro, cujas perspectivas de investimento superam as respectivas disponibilidades de poupança. A intermediação financeira é toda organização voltada para a canalização de recursos, de agentes econômicos superavitários. (cujos rendimentos correntemente recebidos são superiores aos seus dispêndios totais), aos agentes econômicos deficitários (cujos dispêndios globais em consumo e em investimento são superiores às disponibilidades imediatas).

POUPANÇA > SISTEMA FINANCEIRO > CONSUMO e > INVESTIMENTO

Os benefícios da intermediação financeira são os seguintes: permite que poupadores encontrem imediata oportunidade de aplicação para seus recursos, evitando os custos que adviriam da busca direta de tomadores dos empréstimos; é formada por instituições especializadas, que estão aparelhadas para aplicar os recursos nas condições mais lucrativas; permite que os agentes superavitários tenham onde aplicar, a qualquer instante, seus excedentes e os deficitários tenham recursos no montante e no momento em que vislumbram oportunidades de consumo e de investimento lucrativos; incentiva as poupanças, de qualquer montante; permite expansão do consumo e do investimento.

O sistema financeiro é dividido em dois segmentos: o monetário, constituído pelas instituições que têm o poder de criar moeda, ou seja, meios de pagamento, como é o caso do Banco Central (emissão de moeda escritural ou bancária); e o não-monetárío, constituído pelas instituições que não criam moeda, apenas transferem recursos de poupadores para aplicadores.

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O Sistema Financeiro II

O atual Sistema Financeiro Nacional resulta essencialmente da reforma financeira promovida no biênio 1964/65, através das seguintes Leis: – 4.380/64: institui a correção monetária nos contratos imobiliários de interesse social, cria o Banco Nacional da Habitação e institucionaliza o sistema financeiro de habitação. – 4.595/64: define as características e áreas específicas de atuação das instituições financeiras e cria o Banco Central do Brasil e o Conselho Monetário Nacional.

– 4.728/65: disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento. É a seguinte a atual estrutura do SFN: Subsistema Normativo: Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil e Comissão de Valores Mobiliários. Subsistema de intermediação: Agentes Especiais e Demais Instituições. Agentes Especiais: Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Bancos Múltiplos, Bancos Comerciais públicos e privados e Bancos de Desenvolvimento. Demais instituições bancárias, não bancárias e auxiliares: Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (caixas econômicas, sociedades de crédito imobiliário e associações de poupança e empréstimo), Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento, Bancos de Investimento, Bolsas de Valores e outras instituições. Conselho Monetário Nacional – formula a política monetária e de crédito e zela pela liquidez e solvência das instituições financeiras. Delibera mediante Resoluções e é composto pelo Ministro da Fazenda (que é seu presidente), o Ministro-Chefe de Planejamento e Coordenação e o presidente do Banco Central do Brasil. Banco Central do Brasil – é o órgão de execução das políticas traçadas pelo Conselho Monetário Nacional. Cabe a ele:

– emitir papel-moeda e moeda metálica; – executar os serviços do meio circulante; – receber os recolhimentos compulsórios e os depósitos voluntários das

instituições financeiras; – realizar operações de redesconto e empréstimos a instituições financeiras

e bancárias; – exercer o controle do crédito; – efetuar o controle dos capitais estrangeiros; – ser depositário das reservas oficiais de ouro e moeda estrangeira;

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– ser depositário das receitas tributárias federais; – exercer a fiscalização das instituições financeiras e aplicar as penalidades

previstas; – conceder autorização para o funcionamento das instituições financeiras.

De acordo com essas atribuições, o Banco Central é considerado: – banco dos bancos, pelo fato de receber depósitos compulsórios e

voluntários das instituições financeiras e lhes fornecer empréstimos; – banco emissor de papel-moeda, pelo fato de deter o monopólio de

emissão de papel-moeda e moeda metálica; – banqueiro do governo, por financiar o Tesouro Nacional mediante a

colocação de títulos públicos e ser seu depositário de recursos. Em junho de 1996 foi instituído o Comitê de Política Monetária – COPOM, com o objetivo de estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa de juros básica da economia, conhecida como taxa SELIC.

Os Agregados Monetários

Consideremos, agora, as seguintes definições: Papel-moeda em circulação menos encaixes dos bancos comerciais = Papel-moeda em poder do público. Meios de pagamento = Papel-moeda em poder do público + Depósitos à vista nos bancos comerciais. Meios de pagamento são definidos como a totalidade dos haveres monetários possuídos pelo setor não bancário da economia, e que podem ser utilizados a qualquer momento para os pagamentos e a liquidação de dívidas, em moeda nacional. Entende-se por “setor não bancário” as unidades familiares, as empresas, o Governo e o sistema financeiro não-monetário. O conceito de meios de pagamento, acima, é conhecido como M1, pois existem outros que englobam os ativos denominados de quase-moeda. Denomina-se quase-moeda qualquer ativo que possua alto grau de liquidez (capacidade de ser convertido em moeda), embora não tenha a função de pagamento. São exemplos os depósitos em caderneta de poupança, os fundos de investimento, os depósitos a prazo, certas ações mais negociadas. Daí que tenhamos, além do conceito mais comum, outros conceitos de moeda, como: - M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições depositárias; M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações compromissadas registradas no SELIC; M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez.

Contabilidade do sistema monetário

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Vamos apresentar as contas dos bancos comerciais e do Banco Central, para compreendermos o processo de criação e destruição de moeda. 1. Balancete Consolidado dos Bancos Comerciais a) Balancete Consolidado dos Bancos Comerciais Ativo Passivo

Encaixes Recursos próprios

-Em moeda corrente Depósitos à vista

-Depósitos Voluntários Depósitos a prazo

-Depósitos Compulsórios Redescontos e outros recursos do Bacen

Empréstimos ao setor privado Empréstimos externos

Empréstimos a entidades públicas Demais exigibilidades

Títulos públicos e privados

Imobilizado

Outras aplicações

b) Balancete Consolidado Sintético dos Bancos Comerciais Ativo Passivo

Encaixes Recursos monetários

– Em moeda corrente Depósitos à vista

– Depósitos Voluntários Recursos não-monetários

– Depósitos Compulsórios Depósitos a prazo

Empréstimos ao setor privado Operações de redesconto

Títulos públicos e privados Saldo líquido das demais contas

c) Balancete Consolidado do Banco Central Ativo Passivo

Encaixes em moeda corrente Saldo do papel-moeda emitido

Reservas internacionais Depósitos do Tesouro Nacional

Operações de redesconto Depósitos dos Bancos Comerciais

Empréstimos ao Tesouro Nacional – Depósitos Voluntários

Títulos públicos federais – Depósitos Compulsórios

Títulos de emissão própria (LBC, BBC)

d) Balancete Consolidado Sintético do Banco Central Ativo Passivo

Reservas internacionais Base Monetária

Operações de redesconto – Papel-moeda em poder do público

Empréstimos ao Tesouro Nacional – Encaixes dos Bancos Comerciais

Títulos públicos federais Em moeda corrente

Depósitos Voluntários

Depósitos Compulsórios

Recursos não-monetários

– Depósitos do Tesouro Nacional

– Títulos do Banco Central (LBC, BBC)

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e) Balancete Consolidado Sintético do Sistema Monetário Ativo Passivo

Aplicações dos Bancos Comerciais Meios de Pagamento

– Empréstimos ao setor privado – Papel-moeda em poder do público

– Títulos públicos e privados – Depósitos à vista nos Bancos Comerciais

Aplicações do Banco Central Recursos Não-monetários

– Reservas internacionais – Depósitos a prazo

– Empréstimos ao Tesouro Nacional – Depósitos do Tesouro Nacional

– Títulos públicos federais – Títulos do Banco Central (LBC, BBC)

– Saldo líquido das demais contas

Através das contas d e e, pode-se observar que: ΔBase Monetária = Δ Operações Ativas – Δ Passivo não-monetário.

Δ Meios de Pagamento = Δ Operações Ativas – Δ Passivo não-monetário.

A conta d permite mostrar que um aumento da Base Monetária pode ter como contrapartida, pelo Banco Central, um aumento das reservas internacionais, dos empréstimos ao Tesouro, de aplicações em títulos federais, ou uma diminuição nos depósitos do Tesouro e no passivo em títulos próprios. A conta e permite mostrar que um aumento dos Meios de Pagamento pode ter como contrapartida, ou um aumento das aplicações dos bancos comerciais (como empréstimos e aquisição de títulos) ou uma diminuição dos recursos não-monetários dos bancos comerciais (como depósitos a prazo). Pode-se, então, concluir que há criação ou destruição de meios de pagamento quando o setor bancário e o público trocam entre si haveres, ou ativos, monetários e não-monetários. Vejamos alguns dados monetários referentes a setembro de 2004 (em R$ milhões): – Base Monetária: 73.198; papel-moeda em poder do público: 41.704; depósitos à vista: 67.763; reservas bancárias: 22.961; meios de pagamento– M1: 109.467; M2: 456.248; M3: 937.967; M4: 1.062.865.

Criação e destruição de meios de pagamento

Concretiza-se por meio das operações realizadas entre o setor bancário e o público. Diz-se que há criação de meios de pagamento quando o público recebe do setor bancário haveres monetários (papel-moeda em poder do público e depósitos à vista) e, em contrapartida, entrega haveres não-monetários ao setor bancário. Ao contrário, ocorre destruições de meios de pagamento quando o público entrega haveres monetários ao setor bancário e, em contrapartida, recebe do setor bancário haveres não-monetários Criação de meios de pagamento: o público entrega ativos não monetários ao setor bancário e, em contrapartida, recebe ativos monetários.

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Destruição de meios de pagamento: o público entrega ativos monetários ao setor bancário e, em contrapartida, recebe ativos não monetários. Exemplos de criação de meios Exemplos de destruição de meios de pagamento: de pagamento: – uma pessoa faz um saque de – uma pessoa faz um depósito em seu depósito a prazo; sua caderneta de poupança; – uma empresa desconta uma – um banco vende títulos governa- duplicata em um banco; mentais ao público; – um exportador recebe em reais – um importador paga ao banco o o valor correspondente a uma valor correspondente a uma compra venda ao exterior; no exterior; – um banco adquire títulos gover- – um banco vende um imóvel a uma namentais do público, creditando empresa, recebendo o pagamento em suas contas correntes; dinheiro; – o Banco Central fornece dinheiro – uma pessoa paga um empréstimo à União, adquirindo títulos gover- bancário, sendo debitado em sua namentais. conta corrente.

Há casos em que não há nem criação e nem destruição de meios de pagamento, como nos seguintes exemplos: uma pessoa faz um depósito ou saque em sua conta corrente; o Banco Central fornece recursos a um banco, através de operação de redesconto; Uma empresa faz um pagamento de compra de matérias primas a um seu fornecedor. Vejamos outros casos: 1- A União deposita os impostos arrecadados em sua conta no Banco Central: há destruição de moeda; 2- A União paga seus funcionários, sacando sobre seus depósitos no Banco Central: há criação de moeda; 3- Uma empresa faz um depósito de poupança na Caixa Econômica Federal: há destruição de moeda; uma empresa adquire um certificado de depósito a prazo em um banco de investimento: não há criação nem destruição de moeda.

A multiplicação dos meios de pagamento

Os bancos comerciais têm a faculdade de aumentar os meios de pagamento. Isso ocorre porque, a partir do momento em que o papel-moeda, emitido pela autoridade monetária, é colocado em circulação e depositado no sistema bancário como um depósito à vista, o banco fica em condições de realizar empréstimos ao público. Nesse caso, há um aumento nos meios de pagamento, e o papel-moeda ou o depósito à vista utilizado para fazer pagamentos acabam voltando, em boa parte, ao sistema bancário, gerando novos empréstimos e depósitos. No final, os meios de pagamento se elevam de várias vezes o aumento inicial nos depósitos. Para se ter uma idéia dessa multiplicação, em julho de 2004 a base monetária era de R$ 72.029 bilhões, enquanto o total dos meios de pagamento atingia R$ 106. 590 bilhões. Vamos ver como os depósitos à vista são expandidos através do sistema bancário. Suponha-se que o Governo faça um pagamento a um indivíduo José, de $ 1.000, aumentando a base monetária, e este deposite o valor no Banco A, o qual é obrigado a fazer depósitos no Banco Central de 20% sobre os depósitos à vista recebidos.

Banco A

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Ativo Passivo

Encaixes em moeda= 1.000 Depósitos à vista = 1.000

– voluntários = 800 – José = 1.000

– compulsórios = 200

Total =1.000 Total = 1.000

O Banco A, utilizando os depósitos voluntários de $ 800, faz um empréstimo a uma firma (A) de conservação e limpeza, que faz um saque de $ 800 para comprar vassouras na firma B:

Banco A

Ativo Passivo

Encaixes = 200 Depósitos à vista = 1.000

– compulsórios = 200 – José = 1.000

Empréstimos (firma A) = 800

Total 1.000 Total = 1.000

A firma B, de vassouras, deposita $ 800 no Banco B, que por sua vez empresta $ 640 para a firma C ( um escritório de advocacia): Banco B

Ativo Passivo

Encaixes = 800 Depósitos à vista = 1.440

– voluntários = 512 – firma B = 800

– compulsórios = 288 – firma C = 640

Empréstimos (firma C) = 640

Total = 1.440 Total = 1.440

A firma C seca seus recursos do empréstimo do banco B, de $ 640, para adquirir livros de Direito em uma livraria (D), que deposita o valor das vendas de $ 640 no Banco C: Banco C

Ativo Passivo

Encaixes = 640 Depósitos à vista = 640

– voluntários = 512 – firma D = 640

– compulsórios = 128

Total = 640 Total = 640

O Banco C aplica seus recursos voluntários, de $ 512, em empréstimos para uma loja (firma E):

Banco C

Ativo Passivo

Encaixes = 640 Depósitos à vista = 1.152

– voluntários = 409,6 – firma D = 640

– compulsórios = 230,4 – firma E = 512

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Empréstimos (firma E) = 512

Total = 1.152 Total = 1.152

O processo continua, enquanto cada banco tiver recursos voluntários a emprestar, que por sua vez vai criando novos depósitos e empréstimos. O depósito inicial de $ 1.000 no Banco A resultou em depósitos em outros bancos. Somemos os depósitos criados nos bancos: Total dos depósitos = 1.000 + 800 + 640 + 512 + ... = 1.000 (1 + 0,8 + 0,82 + 0,83 + ...) = 1.000 x 1 / (1-0,8) = 1.000 x 5 = 5.000. Observe-se que, como (1 – 0,8) = 0,2, que é a taxa de depósitos compulsórios (R), conclui-se que a soma dos depósitos (D) é igual ao depósito inicial, vezes o inverso da taxa R: D = depósito inicial x (1 / R) Isso significa que a taxa de recolhimentos compulsórios ao Banco Central determina a maior ou menor expansão dos depósitos à vista, ou seja, os meios de pagamento. No exemplo acima, se R = 0,25, o total de depósitos diminuiria para 4.000. Se R = 0,1, o total de depósitos aumentaria para 10.000. A multiplicação dos meios de pagamento Vamos ver agora que uma elevação na Base Monetária (B) conduz a uma expansão dos meios de pagamentos (M), a partir de certas equações de identidade e de relações de comportamento. A Base Monetária (B) e os meios de Pagamento (M) são interligados através de uma relação, que é denominada de multiplicador monetário (m). Assim, tem-se: M = B x m ou m = M / B Consideremos, inicialmente, as seguintes equações de identidade: Meios de Pagamento = Papel-moeda em poder do público + Depósitos à vista nos bancos comerciais (M = PMPP + DV) Base Monetária = Papel-moeda em Circulação + Depósitos voluntários e compulsórios dos bancos comerciais (Reservas Bancárias) (B = PMC + RB) Relações de comportamento: c = Papel-moeda em poder do público / Meios de Pagamento d = Depósitos à vista nos bancos comerciais / Meios de Pagamento r1 = encaixes em moeda dos bancos comerciais / Depósitos à vista nos bancos comerciais.

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r2 = Reservas Bancárias / Depósitos à vista nos bancos comerciais Pode-se então fazer: B = c . M + r1 . d . M + r2 . d . M; e r1 + r2 = R, B = c . M + (r1 + r2) . d. M = c. M + R . d . M. O multiplicador monetário (m) fica, então: m = M / B = M / (c . M + R . d . M) = 1 / (c + d . R); Como c + d = 1, c = 1 – d. m = M / B = 1 / [1 – d (1 – R)] A expressão acima permite que se evidencie que uma expansão nos meios de pagamento da economia pode originar-se de três maneiras básicas: – de um aumento das operações ativas do Banco Central (aumento da base monetária); – de uma redução da relação encaixes/depósitos (redução em R); – de um aumento da proporção de depósitos à vista sobre o total dos meios de pagamento (aumento em d). Em outubro de 2004, tivemos (em R$ milhões) BM igual a 73.198 e M1 igual a R$ 109.467, o que significa um multiplicador monetário de 1,50. Um exemplo prático: supondo-se que 20% dos meios de pagamento estejam sob a forma de papel-moeda em poder do público e, conseqüentemente, 80% sob a forma de depósitos à vista nos bancos comerciais; a relação encaixes em moeda / depósitos à vista é igual a 10%, a relação entre encaixes voluntários e depósitos à vista igual a 5% e a relação entre encaixes compulsórios e depósitos à vista igual a 5%. Dada uma expansão nas operações ativas do Banco Central de $ 100 milhões, qual o valor da elevação resultante nos meios de 21pagamento? M = B x m = B x 1 / [1 – d (1 – R)] = 100 x 1 / [1 – 0,8 (1 – 0,2)] = 100 x 2,78 = 278 milhões.

O controle dos meios de pagamento

Tendo em vista a multiplicação da base monetária, é atribuição das autoridades monetárias o controle da quantidade de moeda da economia, que pode ser feito através dos seguintes instrumentos: – recolhimento compulsório sobre os depósitos dos bancos; – operações de redesconto; – operações de mercado aberto; – controle e seleção do crédito. Os recolhimentos compulsórios são os depósitos que os bancos fazem obrigatoriamente junto às autoridades monetárias, como uma fração dos depósitos à vista e a prazo feitas pelo público. Já vimos que uma elevação dos

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depósitos compulsórios aumenta a magnitude de R, o que reduz o multiplicador monetário e expande os meios de pagamento, enquanto uma diminuição nesses depósitos resulta em efeito contrário. Esse instrumento é útil como medida anticíclica, atuando para diminuir ou expandir a atividade econômica, em momentos de inflação ou desemprego.

Aumento da taxa de Redução dos meios de depósitos compulsórios > pagamento Redução da taxa de Expansão dos meios de depósitos compulsórios > pagamento

As operações de redesconto consistem na concessão de assistência financeira de liquidez aos bancos comerciais. Nesse caso, as autoridades monetárias descontam títulos dos bancos comerciais a uma taxa pré-fixada, com a finalidade de atender às necessidades momentâneas de caixa. Existem duas formas clássicas de redesconto: empréstimo de liquidez, pata atender problemas eventuais de insuficiência de caixa, e redesconto seletivo, que propícia recursos para que os bancos atendam a programas especiais de interesse governamental.

Desconto: o público entrega títulos aos Bancos e recebe moeda.

Redesconto: os bancos entregam títulos ao Banco Central e recebem moeda.

O controle dos meios de pagamento através do redesconto resulta

da alteração das taxas de juros cobradas pelo Banco Central, pela mudança

dos prazos concedidos aos bancos comerciais para resgate dos títulos

redescontados, pela fixação de limites de operação ou, ainda, pela restrição

dos tipos de títulos redescontáveis. expansão da taxa de > redução dos meios de juros do redesconto pagamento redução da taxa de expansão dos meios de juros do redesconto > pagamento

As operações de mercado aberto consistem na compra e venda de títulos pelas autoridades monetárias. Quando estas têm interesse em expandir a oferta de moeda da economia, realizam operações de compra ou resgate de títulos em circulação. Ao contrário, quando desejam contrair a quantidade de moeda da economia, emitem e colocam em circulação títulos, trocando-os por moeda. venda de títulos redução dos meios de pelo Banco Central > pagamento compra de títulos expansão dos meios de pelo Banco Central > pagamento

O desenvolvimento desse mercado iniciou-se em 1970, com a criação das Letras do Tesouro Nacional. Atualmente a autoridade monetária utiliza os Bônus, as Notas e as Letras do Banco Central para fins de política monetária. Existe uma relação importante entre os preços dos títulos e a taxa de juros. As LTN e os BBC, por exemplo, são oferecidos no mercado a um

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determinado valor, enquanto há uma promessa de resgate num prazo determinado a um certo valor nominal. Os compradores adquirem o título com um desconto, que traz embutida a taxa de juros. Por exemplo, se um aplicador de poupança adquire um lote de 1.000 BBC por R$ 6.481,50, com um prazo de um ano e com o valor nominal de R$ 7.000, o juro propiciado pela compra é de 8% ao ano. Se o Banco Central entra no mercado comprando esses títulos e fazendo o seu preço aumentar, por exemplo para R$ 6.666,67, a taxa de juros vai diminuir para 5% ao ano. Isso revela que o preço dos títulos e a taxa de juros variam em direção oposta: um aumento no preço dos títulos é o mesmo que uma queda na taxa de juros, e uma diminuição no preço dos títulos é o mesmo que um aumento na taxa de juros. Valor Atual de um título = Valor Nominal do título / (l + i), sendo i a taxa de juros O controle e seleção do crédito consiste numa intervenção mais direta da autoridade monetária no mercado de moeda, a fim de fazer variar a sua oferta. São exemplos, o controle do volume e da destinação do crédito, o controle da taxa de juros e a determinação de prazos, limites e condições dos empréstimos. Como exemplos temos os percentuais que os bancos comerciais têm de direcionar, prioritariamente, às atividades agrícolas e de exportação e às pequenas e médias empresas.

As políticas fiscal e monetária

As políticas fiscal e monetária e as curvas IS e LM.

Introdução O modelo IS-LM estuda o equilíbrio do produto, incorporando o mercado monetário e considerando, com isso, o nível da taxa de juros da economia. Parte-se do princípio de que há dois mercados distintos: o mercado de bens, ou real, já estudado no item anterior, onde o equilíbrio dá-se na igualdade entre o investimento planejado e a poupança planejada, e o mercado de moeda, onde o equilíbrio dá-se na igualdade entre a demanda e a oferta de moeda. O mercado de bens (a curva IS) Nesse mercado, o equilíbrio dá-se na igualdade entre a poupança (S) e o investimento (I). Como se relacionam a renda e a taxa de juros? Consideremos os gráficos abaixo.

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A curva IS é traçada no gráfico à direita, mostrando que a taxa de juros e a renda possuem relação inversa no mercado de bens. Parte-se do gráfico à esquerda, onde a “cruz keynesiana” determina um nível inicial de equilíbrio em Y1, quando a demanda agregada é DA1 e supõe-se uma taxa de juros igual a i1. Se a taxa de juros diminuir para i2, o investimento planejado aumenta e a demanda agregada sobe para DA2, determinando uma renda de equilíbrio igual a Y2. A curva IS reúne todos os pontos de equilíbrio do mercado de bens, determinando para cada nível de renda a taxa de juros correspondente. Observações sobre a curva IS: possui inclinação negativa, pois a renda e a taxa de juros têm relação inversa; a maior ou menor magnitude da inclinação depende, de um lado, da sensibilidade do investimento em relação à taxa de juros, e de outro do multiplicador da economia, ou seja, da propensão marginal a consumir.

As políticas fiscal e monetária e as curvas IS e LM.

Se a taxa de juros faz a renda variar, fazendo o ponto de equilíbrio deslocar-se ao longo da curva IS, o que faz a própria curva deslocar-se? Qualquer variação autônoma na demanda agregada, que não seja a taxa de juros. Exemplos: variação nos gastos do governo, variação nos impostos, variação nos investimentos autônomos etc.

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Álgebra simples da curva IS: Y = C + I + G; C = a + b ( Y – T ); I =

c – di ; G = Ga, sendo a o consumo autônomo, b a propensão marginal a consumir, c o investimento autônomo, d a relação entre o investimento e a taxa de juros, e Ga o consumo do governo. Y = a + b ( Y – T ) + c – di + Ga; Y – bY = a – bT + c – di + Ga; Y ( 1 – b) = a – bT + c – di + Ga; Y = ( a + c ) / ( 1 – b ) - {b / ( 1 – b) } T + Ga / ( 1 – b ) - {d / ( 1 – b )} i .

Interpretação: a renda varia diretamente com o consumo e o

investimento autônomos e as despesas do governo, e inversamente com os tributos e a taxa de juros.

O mercado monetário (a curva LM) I A curva LM representa a relação entre a renda e a taxa de juros no mercado monetário. Nesse mercado, o equilíbrio se dá quando a demanda de moeda (L) iguala a oferta de moeda (M).

Enquanto isso, a demanda de moeda depende de duas variáveis: a renda e a taxa de juros. As pessoas demandam moeda para satisfazer os seguintes motivos: transação, pelo qual as pessoas procuram moeda para realizar pagamentos e cumprir outros compromissos financeiros; e precaução, pelo qual as pessoas necessitam de moeda para fazer frente a imprevistos, como não recebimento de renda no dia certo ou necessidade de realização de despesas inesperadas. Esses dois motivos de reter moeda estão relacionados

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diretamente com o nível de renda, isto é, quanto maior (menor) a renda, maior (menor) a procura de moeda para transação e por precaução. Considerando-se que a moeda pode sempre obter um rendimento se aplicada no mercado financeiro, há um custo de oportunidade na retenção de moeda, custo esse que aumenta quanto maior for a taxa de juros. Nesse caso, dado um certo nível de renda, à medida que a taxa de juros sobe (desce), menor (maior) é o desejo da comunidade de reter moeda em seu poder. Esse motivo de reter moeda também pode ser chamado de especulativo. Fazemos, então: L = f ( Y, i ), sendo L a demanda de moeda, Y a renda e i a taxa de juros.

Se o Banco Central alterar o estoque de moeda da economia, a taxa de juros irá variar. Uma política expansionista, por exemplo, realizada com a compra de títulos públicos no mercado, resultará em diminuição da taxa. Por outro lado, uma política contracionista, realizada com a venda e títulos públicos, fará aumentar a taxa de juros.

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O que acontece no caso de uma variação na renda? Suponhamos um aumento da renda, cujo efeito é um incremento da demanda por moeda (pelos motivos transação e precaução). Se a oferta de moeda permanecer constante, a pressão por mais dinheiro fará as pessoas recorrerem a venda de títulos, saque de seus depósitos nos bancos e conseqüente aumento da taxa de juros.

Então, pode-se concluir que a renda e a taxa de juros, no mercado monetário, variam na mesma direção, ou seja, a relação é direta. Quando a renda sobe, a taxa de juros também sobe, e quando a renda cai, a taxa de juros também cai. Essa relação forma a curva LM, a curva de equilíbrio do mercado monetário.

O mercado monetário (a curva LM) II

Vimos que, dada uma variação no nível da renda, a taxa de juros varia na mesma direção, deslocando-se um ponto sobre a curva LM. Que fatores fazem a curva deslocar-se? 1. Uma alteração na oferta de moeda: à mesma taxa de juros, um aumento em M faz a LM deslocar-se para a direita, e uma diminuição em M faz a LM deslocar-se para a esquerda. 2. Uma variação na demanda de moeda: ao mesmo nível de renda, um aumento da demanda desloca a LM para a esquerda, e uma diminuição na demanda desloca a LM para a direita.

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Álgebra simples da curva LM: demanda de moeda L = f ( Y, i ); oferta de moeda M; no equilíbrio, L = M; L = eY – fi, sendo e e f coeficientes que relacionam a demanda de moeda com a renda e o juro; no equilíbrio, M = ey – fi; donde i = ( e / f ) - ( 1 / f ) ( M ).

Interpretação: a taxa de juros tem relação direta com o coeficiente e, e relações inversas com o coeficiente f e a oferta de moeda M.

O mercado monetário (a curva LM) III

Vimos que, dada uma variação no nível da renda, a taxa de juros varia na mesma direção, deslocando-se um ponto sobre a curva LM. Que fatores fazem a curva deslocar-se? 1. Uma alteração na oferta de moeda: à mesma taxa de juros, um aumento em M faz a LM deslocar-se para a direita, e uma diminuição em M faz a LM deslocar-se para a esquerda. 2. Uma variação na demanda de moeda: ao mesmo nível de renda, um aumento da demanda desloca a LM para a esquerda, e uma diminuição na demanda desloca a LM para a direita.

Álgebra simples da curva LM: demanda de moeda L = f ( Y, i ); oferta de moeda M; no equilíbrio, L = M; L = eY – fi, sendo e e f coeficientes que relacionam a demanda de moeda com a renda e o juro; no equilíbrio, M = ey – fi; donde i = ( e / f ) - ( 1 / f ) ( M ).

Interpretação: a taxa de juros tem relação direta com o coeficiente e, e relações inversas com o coeficiente f e a oferta de moeda M.

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O que determina a maior ou menor inclinação da curva LM?

Qual a relação entre a curva LM e a demanda agregada? Suponhamos um aumento do nível de preços. A demanda de moeda aumenta pelo motivo transacional. Dada a mesma oferta de moeda, aumentam os juros, de que resulta diminuição da demanda agregada.

As três áreas da curva LM

As três áreas da curva LM: uma análise mais rigorosa divide a curva LM em três partes distintas, conforme o gráfico a seguir:

A parte horizontal da curva LM representa a área keynesiana, que Keynes disse ocorrer na economia durante a Grande Depressão do mundo capitalista

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na década de 30. A área vertical, ou clássica, está conforme os princípios da teoria clássica. Ambas essas áreas são casos especiais, estudados como curiosidades teóricas. Enquanto isso, a área intermediária é considerada normal. Cada uma dessas partes da curva são importantes, na medida em que, conforme onde se situar a economia, a aplicação das políticas fiscal e monetária de estabilização resultam em efeitos distintos sobre o produto e a taxa de juros.

O equilíbrio geral

Denomina-se equilíbrio geral o equilíbrio simultâneo nos mercados fiscal e monetário. Ao longo da curva IS uma economia encontra-se em equilíbrio no mercado de bens e ao longo da curva LM ela se encontra em equilíbrio no mercado monetário, mas somente num ponto ela se encontra em equilíbrio geral.

O nível de equilíbrio geral pode ser alterado por deslocamentos da IS e da LM, ou seja, por variações na demanda agregada, no mercado de bens, ou por variações na demanda e na oferta monetárias.

Um exercício de aplicação algébrica: dadas as funções I = 155 – 600i; S = -95 + 0,2Y; M = 200; L(Y) = 0,2Y; L(i) = 50 – 400i, calcular a renda e a taxa de juros de equilíbrio. Solução: Y = 950 e i = 10%.

Políticas monetária e fiscal e seus efeitos I

Segundo a teoria das Finanças Públicas, cabe ao Governo determinadas funções econômicas, que são: alocação de recursos, estabilização e distribuição da renda. No que se refere à segunda dessas funções, denomina-se política de estabilização a aplicação, por parte do Governo, de instrumentos tais que lhe permitam alcançar certos objetivos econômicos, como o combate à inflação e ao desemprego e o crescimento da renda.

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Os instrumentos mais comuns, e por isso denominados ortodoxos, são as políticas monetária e fiscal. Elas são utilizadas para o controle da demanda agregada, que na visão keynesiana é a variável estratégica que determina o nível de produção da economia no curto prazo. A política monetária utiliza a quantidade de moeda e a taxa de juros, e a política fiscal atua através das despesas e receitas do Governo para essa finalidade.

A política monetária

Se as autoridades econômicas desejam estimular a demanda agregada através da política monetária, devem ser executadas as seguintes etapas:1. O Banco Central compra títulos governamentais em poder do público no mercado aberto, injetando dinheiro na economia e resultando em queda na taxa de juros; 2. A queda na taxa de juros é um estímulo para que aumente a demanda de investimentos da economia (os empresários aumentam as suas despesas com a aquisição de bens de capital e a ampliação das instalações das empresas); 3. O aumento nos investimentos promove um crescimento na produção de bens de capital, aumentando a renda e o emprego, e também aumento na procura de bens de consumo, resultando em crescimento na renda mais do que proporcional devido ao efeito multiplicador dos investimentos. De acordo com o modelo IS-LM, uma política monetária expansionista (com objetivo de diminuir o desemprego ) tem os efeitos de aumentar a renda e diminuir a taxa de juros, enquanto que uma política monetária contracionista (com objetivo de diminuir os níveis de preços ou a inflação) tem os efeitos de diminuir a renda e aumentar a taxa de juros.

Políticas monetária e fiscal e seus efeitos II

Vamos ver agora os impactos da política monetária sobre as áreas keynesiana e clássica da curva LM..

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A explicação keynesiana para a ineficácia da política monetária está no fato de que, em um ambiente de recessão, a taxa de juros é tão baixa que as pessoas já retém bastante moeda e a taxa não pode baixar mais, por mais moeda que seja despejada na economia, o que impede que os investimentos e o consumo sejam incrementados. Essa situação é conhecida como “armadilha da liquidez”. Enquanto isso, a política monetária seria bastante eficaz na área clássica.

Segundo a teoria clássica, as pessoas não retêm moeda em razão da taxa de juros, o que significa que todo incremento em sua oferta é canalizada para a demanda agregada, que se beneficia da queda na taxa de juros.

A política fiscal I

Denomina-se política fiscal a utilização das despesas e das receitas do governo para fins de estabilização, ou seja, o combate à inflação e ao desemprego e o crescimento da renda. Para fazer crescer a renda o governo deve aumentar as despesas e as transferências ou diminuir os tributos, e para diminuir os índices de preços deve diminuir despesas e transferências ou aumentar tributos.

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De acordo com o modelo IS-LM, uma política fiscal expansionista (com objetivo de diminuir o desemprego) tem os efeitos de aumentar a renda e também aumentar a taxa de juros, enquanto que uma política fiscal contracionista (com objetivo de diminuir os níveis de preços ou a inflação) tem os efeitos de diminuir a renda e também diminuir a taxa de juros.

Por que a taxa de juros sobe? A explicação está no fato de que, ao aumentar a renda, cresce a demanda de moeda para transações. Se a oferta de moeda for mantida constante, a taxa de juros refletirá a escassez e subirá. Esse incremento no juro resultará em queda nos investimentos privados, o que significa que a renda crescerá menos do que determinaria o multiplicador das despesas do governo. Esse fenômeno é conhecido como “crowding-out”.

A política fiscal II

Na área keynesiana, enquanto a política monetária é ineficaz, a política fiscal é plenamente eficaz. O aumento nas despesas do governo resulta em um aumento integral na renda, pois a economia possui alta liquidez e a taxa de juros não sobe, não prejudicando os investimentos.

Enquanto isso, na área clássica, a política fiscal é ineficaz. Nesse caso, o aumento nas despesas do governo encontra a economia com alta taxa de juros e sem liquidez que permita chancelar esse aumento. O resultado é aumento no

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juro suficiente para diminuir os investimentos, de modo a anular todo o efeito inicial do aumento das despesas. É o “crowding-out” completo.

A interação das políticas monetária e fiscal

As políticas monetária e fiscal devem ser integradas, pois a aplicação de uma delas pode resultar em efeitos não desejados, que a outra pode corrigir. Como exemplo, suponha-se que o Congresso Nacional decida aumentar os gastos públicos para incrementar o emprego. Como já vimos, tal medida tende a elevar as taxas de juros, inibindo investimentos. Nesse caso, o Banco Central pode intervir, através de uma política monetária expansionista, evitando o aumento do juro.

Outro exemplo é a decisão governamental de aumentar impostos para financiar o déficit público. Nesse caso, a renda e a taxa de juros devem cair. Para diminuir a queda na renda, pode a autoridade monetária promover um aumento na quantidade de moeda visando estimular a demanda. Mas tal política tem o efeito negativo de deprimir ainda mais as taxas de juros, o que pode provocar desestímulo à poupança.

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Teoria de inflação

Teoria da inflação Conceito, causas e efeitos da inflação A inflação é definida como um fenômeno macroeconômico, dinâmico e de natureza monetária, caracterizado por uma elevação apreciável e persistente no nível geral de preços. Junto com o desemprego, é um dos problemas macroeconômicos mais importantes, já que seus efeitos são sentidos imediatamente pelas pessoas. Vamos examinar melhor a sua definição. Um fenômeno macroeconômico: trata-se de aumentos de preços não de determinados produtos, mas de praticamente todas as mercadorias e serviços e dos recursos da economia. Dinâmico: trata-se de preços que estão subindo, seja pela integração horizontal (bens complementares ou substitutos), ou vertical (bens componentes de custos). Natureza monetária: os aumentos de preços são normalmente acompanhados por aumento da quantidade de moeda da economia. Diz-se que a moeda sanciona a inflação, pois os aumentos de preços não podem ser mantidos sem ela. A moeda seria o ar que infla o balão dos preços, daí o nome inflação. Apreciável: a elevação de preços deve ser significativa para que se configure um processo inflacionário. O seu nível dependeria do país e da sua situação econômica. Por exemplo, o Brasil teve em 1963 uma inflação de 81,3%, que foi considerada intolerável pela sociedade e teria sido um dos motivos da deposição do então presidente da República. Em março de 1990, a inflação mensal atingiu 84,3%, e em 1993 foi de 2.708,6%. Persistente: os aumentos de preços parece que não têm fim, pois se realimentam horizontal e verticalmente. Credita-se à inflação uma série de efeitos que afetam negativamente a economia, como: - Penalização dos mais pobres: a inflação prejudica as classes mais pobres, cuja renda tem maior participação de rendimentos fixos, os quais perdem poder de compra e possuem menor defesa contra os aumentos de preços. - Penalização dos credores de dívidas: os aumentos de preços reduzem o valor real das dívidas, beneficiando os devedores, o que desestimula os empréstimos e financiamentos e, portanto, a poupança. - Prejuízo às exportações e estímulo às importações: A inflação encarece os produtos nacionais, diminuindo seu poder de concorrência em relação aos importados, os quais torna-os relativamente mais baratos, o que resulta em deterioração do balanço de pagamentos. - Diminuição na arrecadação de impostos: embora os impostos, em geral, acompanhem os aumentos de preços quando vinculados à renda e à atividade

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econômica, costumam sofrer deterioração no intervalo entre a data de apuração de seu valor e a do respectivo pagamento. - Imprevisibilidade dos resultados dos investimentos: a inflação modifica os preços relativos, tornando mais difíceis os cálculos de retornos e de custos futuros dos empreendimentos, o que pode desestimular os investimentos. Costuma-se atribuir duas causas básicas para o processo inflacionário: excesso de demanda agregada em relação à oferta agregada, que é a inflação de demanda, e os impulsos de custo provocados principalmente por aumentos de salários, de impostos ou de lucros, que é a inflação de custos.

A Inflação de demanda I

A inflação de demanda pode ser vista através do gráfico abaixo:

O gráfico apresenta a curva de Oferta Agregada (AO), que mostra a relação direta entre nível de preços (P) e produção física de bens da economia (Q). No início ela é horizontal, para depois tomar a direção ascendente, até tornar-se completamente vertical, quando atinge o pleno emprego dos recursos e a produção física não pode mais crescer. A curva de Demanda Agregada (DA) apresenta uma relação negativa entre o nível de preços e a demanda. Se a demanda agregada cresce de DA1 a DA2, a produção física vai crescer e o nível geral de preços não se altera, pois há suficiente quantidade de recursos desempregados. Depois de DA2, à medida que a economia vai se aproximando da plena capacidade, a produção física continua a crescer, embora a ritmo decrescente, e os preços vão aumentando a ritmo crescente. Observe-se que, quando a demanda agregada cresce de DA4 a DA5, somente há aumento de preços, o qual foi denominado por Keynes de “inflação verdadeira”, quando o excesso de demanda agregada ocorre em situação de pleno emprego dos recursos.

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O que provoca a inflação de demanda? As respostas podem ser encontradas tanto no lado real como no lado monetário da economia. No lado monetário, pode-se partir da igualdade M V = P Q, sendo M a quantidade de moeda da economia, V a velocidade de circulação da moeda, P o nível geral de preços e Q a produção física. Essa igualdade diz, simplesmente, que a quantidade de moeda, vezes a sua velocidade, iguala o valor da produção global de bens e serviços, que é igual ao nível de preços vezes a quantidade. Como exemplo, tem-se: M x V = P x Q ou 100 x 4 = 5 x 80. A quantidade de moeda, girando em média 4 vezes por período, é igual ao valor da produção igual a 400, que por sua vez corresponde a um preço médio igual a 4 e uma produção física de 80 unidades. A teoria quantitativa da moeda diz que, no curto prazo, tanto a velocidade da moeda (V) como o nível físico do produto (Q) são constantes, e que qualquer variação na quantidade de moeda (M) resulta em variação direta e em igual intensidade no nível de preços (P).

↑ → ↑ → M x V = P x Q

Daí que P = f (M), ou seja, o nível de preços é função da quantidade de moeda da economia. Essa teoria é também chamada de teoria monetarista da inflação, indicando que os aumentos gerais de preços devem basear-se em aumentos na quantidade de moeda da economia. No exemplo numérico acima, se M passar de 100 para 120, teremos:

120 x 4 = 6 x 80 , ou seja, o aumento em M provocou um crescimento nos preços, de 5 para 6. Enquanto isso, o lado real da economia pode provocar aumentos autônomos de preços, quando tem origem em qualquer um dos componentes da demanda agregada, como: DA = C + I + G + X - M, sendo C a demanda de consumo; I a demanda de investimento; G a demanda do governo; e X – M a demanda de exportações líquidas (exportações brutas menos importações). Como se combate uma inflação originada por excesso de demanda? Se um aumento da demanda agregada for inflacionário, o remédio é tomar uma medida que diminua a demanda agregada, através de políticas monetárias e fiscais. Através da política monetária, diminui-se a quantidade de moeda da economia, que é feita através de venda de títulos públicos pelo Banco Central do Brasil, aumento dos depósitos compulsórios dos bancos comerciais e elevação das taxas de juros das operações de redesconto. Através da política fiscal, as medidas são diminuição dos gastos do governo e/ou aumento dos impostos.

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A Inflação de demanda II

Existem certos efeitos que ocorrem em uma economia e que tendem por si sós a reduzir a demanda agregada, podendo por isso diminuir e até eliminar um processo inflacionário: - Efeito Keynes: um processo inflacionário diminui o poder de compra da moeda, tornando-a escassa, o que faz aumentar a taxa de juros. O efeito é diminuir os investimentos e o consumo, ou seja, a demanda agregada, que freia os aumentos de preços. - Efeito Pigou: os aumentos de preços tendem a diminuir o valor real de ativos que não acompanham o processo inflacionário, ocorrendo um efeito-riqueza negativo, o que concorre para diminuir a demanda agregada. - Efeito distribuição da renda: a inflação, ao penalizar mais os rendimentos das camadas sociais mais pobres, tende a diminuir a demanda agregada em razão da maior propensão marginal a consumir dessas classes. - Efeito imposto: o aumento nominal dos rendimentos resulta em aumentos mais do que proporcionais na receita de impostos progressivos, diminuindo a demanda agregada. - Efeito comércio exterior: os aumentos dos preços internos diminuem a competitividade das exportações nacionais em detrimento das importações, diminuindo a demanda agregada.

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A Inflação de custos I A inflação de custos, ou de oferta, tem origem em aumentos autônomos nos custos de produção, como aumentos de preços de matérias primas, de salários e de margens de lucros de empresas beneficiadas por mercados menos concorrenciais. Ela pode ser vista através do gráfico abaixo:

A inflação de custos tem, portanto, dois efeitos perversos, a inflação e o desemprego, simultaneamente, fenômeno conhecido por estagflação (estagnação com inflação). Se o governo aplicar uma política fiscal ou monetária contracionista, diminuindo a demanda agregada para DA2, para diminuir a inflação, o resultado é diminuição ainda maior da produção e aumento do desemprego. Se o governo, desejando diminuir o desemprego, aplicar uma política fiscal ou monetária expansionista, aumentando a demanda agregada para DA3, provocará mais inflação. Essa é a essência do dilema entre a inflação e o desemprego. O problema da inflação de custos é que as tradicionais políticas contracionistas não são solução, pois ela surge dos seguintes fatores: - inflação de salários: políticas de sindicatos que pressionam por aumentos salariais acima dos níveis de produtividade.

- inflação de lucros: aumentos autônomos de preços provocados por empresas que dominam o mercado consumidor.

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- Inflação de matérias primas: aumentos de preços de insumos motivados por queda na oferta ou por ação de produtores oligopolistas. A Inflação de custos II O modelo de oferta e demanda agregadas permite que se observe quais os efeitos de um choque de oferta sobre o nível de preços e a produção da economia. Denomina-se choque de oferta qualquer variação em algum elemento exógeno que influencia a economia do lado da oferta, como por exemplo um aumento de custos, uma inovação tecnológica ou qualquer evento fortuito. Os choques podem ser positivos (ou favoráveis) e negativos (ou adversos). Considere-se um aumento da taxa de câmbio de uma economia. Um aumento do dólar na economia brasileira resulta em aumento de custos de produção. No gráfico abaixo a economia encontra-se em princípio em equilíbrio no curto e no longo prazo, no ponto em que as curvas de Oferta Agregada (horizontal, de curto prazo, e vertical, de longo prazo) cruzam-se com a curva de Demanda Agregada, com a produção ao nível Q e os preços em P1.

Sem nenhuma medida que contorne a queda no produto e o aumento de preços (“estagflação”), admite-se que no longo prazo a economia retorne ao nível anterior, em Q, pois à medida em que os salários diminuem em decorrência do desemprego as empresas são estimuladas a contratarem trabalhadores e os preços diminuem. Mas o governo pode antecipar esses efeitos, no curto prazo, executando uma política expansionista (através de aumento de gastos, por exemplo), tal que desloca a curva de Demanda Agregada para a direita. Nesse caso, a produção volta a Q, mas o nível de preços mantém-se mais alto, em P2.

As teorias estruturalista e inercialista I

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Na década dos anos 50, na América Latina, tornou-se popular a versão estruturalista da inflação, desenvolvida por economistas ligados à Comissão Econômica para a América Latina e Caribe – CEPAL, órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). Eis os seus principais tópicos: - As autoridades econômicas não têm condições de controlar, no longo prazo, os meios de pagamento. Seu papel é meramente passivo, no sentido de referendar as exigências de liquidez dos diversos segmentos da economia, o que provoca pressão sobre os preços. - As causas da inflação estão em gargalos ou estrangulamentos da economia, que se formam a partir do processo de crescimento econômico. - O primeiro gargalo está na agricultura, fornecedora de matérias primas e de alimentos para a indústria e as cidades, com baixa elasticidade da oferta, incapaz de acompanhar as exigências dos setores mais ativos, o que provoca aumentos de preços. Essa incapacidade tem origem na estrutura de propriedade (os latifúndios improdutivos) e no atraso tecnológico. - As importações não podem suprir a demanda por produtos, devido à carência de divisas, que por sua vez tem origem no baixo volume de exportações de produtos primários, os quais possuem baixa elasticidade-renda da demanda, obrigando o país a exportar volumes cada vez maiores para obtenção de receitas cada vez menores. Enquanto isso, os produtos importados, mais elaborados, possuem alta elasticidade-renda, o que significa deterioração das relações de troca. Seria preciso, então, promover-se um processo de substituição de importações, produzindo internamente os bens que satisfaçam as necessidades do país. - Os preços dos produtos industrializados tendem a crescer mais em virtude da estrutura cartelizada de seus mercados. - A ação do Estado, no sentido de promover os investimentos necessários à melhoria da infraestrutura e à eliminação dos estrangulamentos, é limitada pelo baixo nível de arrecadação de impostos. Recorre-se, então, ao financiamento de investimentos através de emissão de papel-moeda e ao endividamento, ambos promotores de impulsos inflacionários. Reconhecendo que medidas de política econômica contracionistas, ao diminuir a inflação, podem ao mesmo tempo provocar quedas nas atividades econômicas, com repercussão no desemprego, os governos optaram inicialmente por medidas de convívio com a inflação, no sentido de procurar apenas atenuar seus efeitos negativos. A partir de 1964 foi generalizada a aplicação da correção monetária, isto é, a atualização de valores de acordo com os índices inflacionários. Isso permitiu ao Governo o lançamento de títulos públicos para financiar seus déficits, mediante a atualização dos valores nominais (as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN).

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A correção monetária, inicialmente permitida para aplicação nos balanços das empresas, visando evitar pagamentos de impostos sobre lucros puramente inflacionários, posteriormente generalizou-se para corrigir: - os salários, evitando ou minimizando a perda de seu poder aquisitivo; - as poupanças, para estimular a oferta de recursos para os investimentos; - os impostos, para evitar a queda real na arrecadação tributária; - a taxa de câmbio, para não desestimular as exportações e a entrada de capitais, e não favorecer as importações. A indexação quase total dos preços da economia, no entanto, acabou criando a chamada inércia na inflação (inflação inercial), perpetuando-a. Esse tipo de inflação só tende a aumentar, pois realimenta-se da inflação passada e projeta a inflação futura, estando sujeita aos choques de oferta negativos, que fazem a inflação inercial subir de patamar. Isso explica, por exemplo, que a inflação no ano de 1980, no Brasil, tenha sido de 110%, subindo para 235% em 1985, 1795% em 1990 e para 2.708% em 1993. Diversos planos econômicos foram aplicados no país para eliminar a inércia da inflação: Plano Cruzado (1986), Plano Bresser (1987), Plano Verão (1989) e Plano Collor (1990). Todos esses planos tinham como medida básica o congelamento de preços, que somado à ineficácia ou omissão de outras medidas saneadoras, provocou efeitos colaterais negativos que ditaram seus fracassos. Em 1994, o Plano Real trouxe consigo um mecanismo mais engenhoso para quebrar a inércia e conseguiu, também com o auxílio de outras providências, baixar drasticamente a inflação. As teorias estruturalista e inercialista II

Na década dos anos 50, na América Latina, tornou-se popular a versão estruturalista da inflação, desenvolvida por economistas ligados à Comissão Econômica para a América Latina e Caribe – CEPAL, órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). Eis os seus principais tópicos: - As autoridades econômicas não têm condições de controlar, no longo prazo, os meios de pagamento. Seu papel é meramente passivo, no sentido de referendar as exigências de liquidez dos diversos segmentos da economia, o que provoca pressão sobre os preços. - As causas da inflação estão em gargalos ou estrangulamentos da economia, que se formam a partir do processo de crescimento econômico. - O primeiro gargalo está na agricultura, fornecedora de matérias primas e de alimentos para a indústria e as cidades, com baixa elasticidade da oferta, incapaz de acompanhar as exigências dos setores mais ativos, o que provoca

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aumentos de preços. Essa incapacidade tem origem na estrutura de propriedade (os latifúndios improdutivos) e no atraso tecnológico. - As importações não podem suprir a demanda por produtos, devido à carência de divisas, que por sua vez tem origem no baixo volume de exportações de produtos primários, os quais possuem baixa elasticidade-renda da demanda, obrigando o país a exportar volumes cada vez maiores para obtenção de receitas cada vez menores. Enquanto isso, os produtos importados, mais elaborados, possuem alta elasticidade-renda, o que significa deterioração das relações de troca. Seria preciso, então, promover-se um processo de substituição de importações, produzindo internamente os bens que satisfaçam as necessidades do país. - Os preços dos produtos industrializados tendem a crescer mais em virtude da estrutura cartelizada de seus mercados. - A ação do Estado, no sentido de promover os investimentos necessários à melhoria da infraestrutura e à eliminação dos estrangulamentos, é limitada pelo baixo nível de arrecadação de impostos. Recorre-se, então, ao financiamento de investimentos através de emissão de papel-moeda e ao endividamento, ambos promotores de impulsos inflacionários. Reconhecendo que medidas de política econômica contracionistas, ao diminuir a inflação, podem ao mesmo tempo provocar quedas nas atividades econômicas, com repercussão no desemprego, os governos optaram inicialmente por medidas de convívio com a inflação, no sentido de procurar apenas atenuar seus efeitos negativos. A partir de 1964 foi generalizada a aplicação da correção monetária, isto é, a atualização de valores de acordo com os índices inflacionários. Isso permitiu ao Governo o lançamento de títulos públicos para financiar seus déficits, mediante a atualização dos valores nominais (as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN). A correção monetária, inicialmente permitida para aplicação nos balanços das empresas, visando evitar pagamentos de impostos sobre lucros puramente inflacionários, posteriormente generalizou-se para corrigir: - os salários, evitando ou minimizando a perda de seu poder aquisitivo; - as poupanças, para estimular a oferta de recursos para os investimentos; - os impostos, para evitar a queda real na arrecadação tributária; - a taxa de câmbio, para não desestimular as exportações e a entrada de capitais, e não favorecer as importações. A indexação quase total dos preços da economia, no entanto, acabou criando a chamada inércia na inflação (inflação inercial), perpetuando-a. Esse tipo de inflação só tende a aumentar, pois realimenta-se da inflação passada e projeta a inflação futura, estando sujeita aos choques de oferta negativos, que fazem a inflação inercial subir de patamar. Isso explica, por exemplo, que a

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inflação no ano de 1980, no Brasil, tenha sido de 110%, subindo para 235% em 1985, 1795% em 1990 e para 2.708% em 1993. Diversos planos econômicos foram aplicados no país para eliminar a inércia da inflação: Plano Cruzado (1986), Plano Bresser (1987), Plano Verão (1989) e Plano Collor (1990). Todos esses planos tinham como medida básica o congelamento de preços, que somado à ineficácia ou omissão de outras medidas saneadoras, provocou efeitos colaterais negativos que ditaram seus fracassos. Em 1994, o Plano Real trouxe consigo um mecanismo mais engenhoso para quebrar a inércia e conseguiu, também com o auxílio de outras providências, baixar drasticamente a inflação. A relação entre variações de salário e desemprego: a curva de Phillips. I

Enquanto uma inflação de demanda pode ser reprimida por medidas monetárias e fiscais contracionistas, que diminuam a demanda agregada, essas políticas não são claramente adequadas numa inflação proveniente de impulsos de custos, pois nesta o nível de emprego já está abaixo do pleno.

No caso de uma inflação de custos, uma política restritiva pode causar uma taxa de desemprego socialmente inaceitável. Por isso, estuda-se qual o nível de desemprego aceitável, a fim de compensar determinada inflação originada dos custos.

Dado que uma variação nos salários é um componente importante da inflação de custos, examinou-se com profundidade a relação entre as variações nos salários monetários e a taxa de desemprego. O pioneiro dessa investigação é A. W. Phillips, que deu seu nome para a Curva de Phillips, a qual nasceu de uma relação de dados de salários monetários e taxas de desemprego no período de 1862 a 1957, no Reino Unido, e é apresentada a seguir.

Observações sobre o que mostra o gráfico acima: - Um desemprego alto mantém baixos os aumentos de salários, e um baixo nível de desemprego encoraja as reivindicações salariais.

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- Um certo nível de desemprego pode ser instrumento para se diminuir uma inflação originada nos salários. - W1 é uma taxa de variação nos salários igual à produtividade marginal do trabalho, podendo, portanto, ser transferida aos trabalhadores sem exercer pressão sobre os preços. - U1 é a taxa de desemprego “natural”, ou aceitável pela sociedade. - A curva de Phillips A intercepta a linha horizontal W1 à esquerda do ponto H. Nesse caso, uma política fiscal ou monetária contracionista pode ser aplicada, fazendo diminuir a variação salarial, de W2 para W1, pois o nível de desemprego U2 está abaixo da taxa natural e pode subir. - A curva de Phillips B passa à direita de H, o que significa que políticas contracionistas não são recomendadas, já que o nível de desemprego ultrapassaria U1, o que seria inaceitável. Nesse caso, são recomendadas políticas de rendas, entendidas como as políticas heterodoxas voltadas a controles de preços e salários. O Brasil já tentou aplicar diversas medidas visando controlar preços e salários da economia. Com relação aos salários, tivemos as várias políticas salariais que visavam defender os rendimentos dos efeitos da inflação, que, no entanto, alimentavam os próprios aumentos de preços, criando a espiral inflacionária. Com relação aos preços, tivemos controles sobre preços industriais, através da Comissão Interministerial de Preços – CIP, sobre preços agrícolas, através da Superintendência Nacional de Abastecimento – SUNAB, sobre aluguéis e sobre a taxa de juros. Os controles de preços são decepcionantes em seus resultados, devido aos seguintes fatores: - viabilidade – trabalhadores e empresários tentam criar artifícios para evitar as limitações impostas aos salários e aos preços, como a criação de pseudos novos produtos, diminuição da qualidade etc. - eficiência alocativa – os setores mais controlados passam a receber menos investimentos e a oferta começa a escassear. Como exemplo, tem-se o controle de aluguéis, considerado como responsável pelo déficit habitacional do país, e o controle dos juros, que inibe a poupança. - liberdade econômica – as empresas sentem-se tolhidas na administração dos negócios, em virtude da rigidez nas políticas salariais e no controle dos preços pelo governo. A moderna Curva de Phillips considera que a taxa de inflação (π) depende de três fatores: a inflação esperada ( πe) ; o afastamento do desemprego de sua taxa natural ( U – Un ); e choques na oferta ( Ε ) . Assim, tem-se que π = πe - β (U – Un ) + Ε

A inflação esperada, πe , é baseada na expectativa de inflação, que por sua vez é fortemente influenciada pela inflação passada, π-1, o que indica a parcela inercial da inflação. O desemprego, representado pela expressão β (U – Un ) , resulta do nível da demanda agregada. É a inflação de demanda, que relaciona inversamente desemprego e inflação. Os choques de oferta,

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contidos no símbolo Ε, são resultantes de aumentos de custos, como os aumentos do preço do petróleo ou uma desvalorização da taxa de câmbio, que encarece as importações. Certamente que um choque de oferta favorável (como uma boa safra de grãos), tende a diminuir a inflação.

A teoria econômica considera que a relação inversa entre inflação e desemprego ocorre apenas no curto prazo, o mesmo não se verificando a longo prazo. No curto prazo eis a relação entre a demanda agregada e a curva de Phillips:

Relação entre a demanda agregada e a curva de Phillips: 1. um aumento na demanda agregada, de DA1 para DA2, eleva o nível de preços e aumenta a produção, diminuindo o desemprego. 2. uma alteração nas expectativas ou um choque de custos provoca deslocamento da curva.

A curva de Phillips de longo prazo: alterações na demanda ou oferta agregadas resultam em variações nos preços mantendo o desemprego natural:

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A relação entre variações de salário e desemprego: a curva de Phillips II

A expressão a seguir faz uma conciliação entre o curto e o longo prazo: Ur = Un – a (πr - πe), sendo Ur e πr o desemprego e a taxa de inflação efetivas, e Un e πe o desemprego e a taxa de inflação naturais. Se a taxa de inflação efetiva supera a inflação esperada, o desemprego torna-se menor do que o desemprego natural, e vice-versa. No longo prazo, a taxa de inflação efetiva tende a igualar a taxa esperada, de que resulta igualdade entre as taxas de desemprego efetivo e natural. Vimos que um dos componentes da inflação é a inflação esperada ( πe ), que depende da inflação observada recentemente pelos agentes econômicos. A teoria das expectativas racionais considera que esses agentes utilizam todas as informações disponíveis para formar suas expectativas, inclusive as relativas às políticas econômicas aplicadas pelo governo. Nesse caso, as políticas monetária e fiscal fazem parte das expectativas, na medida em que as pessoas percebam os efeitos que as mesmas terão sobre os preços. Dentro dessa linha, um governo pode diminuir a inflação através das expectativas, bastando que anuncie uma política monetária ou fiscal restritiva, cujo efeito os agentes sabem que será diminuir o ritmo de preços. Essa posição contraria a teoria inercial da inflação, ao dispor que, em vez de ter um impulso próprio, o aumento da taxa de inflação, por exemplo, seria muito mais uma questão de o governo persistir em manter altos déficits orçamentários ou emissões crescentes de moeda. Uma política econômica que tenha credibilidade levará os agentes econômicos a agirem de acordo com os seus efeitos esperados, colaborando para o conseqüente aumento ou diminuição na taxa de inflação. O desafio dos governos deverá ser, portanto, transmitir credibilidade para que suas políticas tenham efeitos favoráveis sobre as expectativas.

A relação entre variações de salário e desemprego: a curva de Phillips III

A expressão a seguir faz uma conciliação entre o curto e o longo prazo: Ur = Un – a (πr - πe), sendo Ur e πr o desemprego e a taxa de inflação efetivas, e

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Un e πe o desemprego e a taxa de inflação naturais. Se a taxa de inflação efetiva supera a inflação esperada, o desemprego torna-se menor do que o desemprego natural, e vice-versa. No longo prazo, a taxa de inflação efetiva tende a igualar a taxa esperada, de que resulta igualdade entre as taxas de desemprego efetivo e natural. Vimos que um dos componentes da inflação é a inflação esperada ( πe ), que depende da inflação observada recentemente pelos agentes econômicos. A teoria das expectativas racionais considera que esses agentes utilizam todas as informações disponíveis para formar suas expectativas, inclusive as relativas às políticas econômicas aplicadas pelo governo. Nesse caso, as políticas monetária e fiscal fazem parte das expectativas, na medida em que as pessoas percebam os efeitos que as mesmas terão sobre os preços. Dentro dessa linha, um governo pode diminuir a inflação através das expectativas, bastando que anuncie uma política monetária ou fiscal restritiva, cujo efeito os agentes sabem que será diminuir o ritmo de preços. Essa posição contraria a teoria inercial da inflação, ao dispor que, em vez de ter um impulso próprio, o aumento da taxa de inflação, por exemplo, seria muito mais uma questão de o governo persistir em manter altos déficits orçamentários ou emissões crescentes de moeda. Uma política econômica que tenha credibilidade levará os agentes econômicos a agirem de acordo com os seus efeitos esperados, colaborando para o conseqüente aumento ou diminuição na taxa de inflação. O desafio dos governos deverá ser, portanto, transmitir credibilidade para que suas políticas tenham efeitos favoráveis sobre as expectativas.

As políticas de estabilização e a experiência brasileira recente de combate à inflação

Entende-se por política de estabilização um conjunto de medidas governamentais que visam minorar problemas macroeconômicos, como aumentos de preços, desemprego, déficits nas contas do Governo e no Balanço de Pagamentos e a distribuição desigual da renda, que o mercado por si só tem dificuldades em resolver. O primeiro grande plano de estabilização foi o Programa de Ação Estratégica do Governo- PAEG, de 1964. Depois de utilizar principalmente as políticas tradicionais de controle da moeda e dos gastos e receitas do Governo (políticas monetária e fiscal), a partir de meados da década de 80, o País passou a aplicar planos de estabilização chamados heterodoxos, por fugirem de padrões convencionais, e que tinham obtido algum êxito em outros países. O objetivo, no caso brasileiro, era mais voltado para atacar o crônico problema das altas taxas inflacionárias que assolavam o País há décadas. Os principais planos econômicos aplicados, suas principais medidas e alguns efeitos importantes, foram:

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- Programa de Ação Estratégica do Governo – PAEG (1964) : combate ao déficit público, contenção dos salários, reforma no sistema financeiro, modernização da economia. - Plano Cruzado (1986): instituição do Cruzado, congelamento dos preços, desabastecimento, mercado negro. - Plano Bresser (1987): congelamento “flexível” dos preços e salários, criação da Unidade de Referência de Preços. - Plano Verão (1989): criação do Cruzado Novo, congelamento de preços, alta dos juros. - Plano Brasil Novo ou Plano Collor (1990) : Congelamento dos preços e salários, volta do Cruzeiro, retenção de 2/3 dos ativos financeiros da população, reforma administrativa federal, privatização de empresas estatais, abertura gradativa da economia à concorrência externa. As políticas de estabilização e a experiência brasileira recente de combate à inflação Eis um resumo das principais medidas advindas com o Plano Real, de 1994: O Programa de Estabilização Econômica, denominado Plano Real, foi instituído pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, sendo o Ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero. Esse Plano é constituído de três etapas, tendo a primeira se iniciado anteriormente, com o Programa de Ação Imediata-PAI, que estabelecera medidas voltadas para a redução e maior eficiência dos gastos da União. A segunda etapa foi caracterizada pela criação da Unidade Real de Valor-URV, em fevereiro de 1994, cujo principal objetivo foi de criar as condições para eliminar a inflação inercial e preparar o sistema econômico para o recebimento da nova moeda, o Real. Neutralizada a principal causa da inflação, que é a desordem das contas públicas, a criação da URV proporcionaria aos agentes econômicos uma fase de transição para a estabilidade de preços. A instituição da URV foi engenhosa, no sentido de que, ao se converter os salários e os preços da economia a essa nova unidade, praticamente eliminou-se a inflação inercial. Para uma maior compreensão desse mecanismo, vamos supor que o preço de determinada mercadoria seja igual a 100 cruzeiros reais e que a URV seja fixada em 20 cruzeiros reais. Isso significa que o preço da mercadoria é igual a 5 URV. Com a inflação a 50% em um mês, o preço do produto passaria a 150 cruzeiros reais e a URV seria fixada em 30 cruzeiros reais. Mas a mercadoria continuaria a ser igual a 5 URV, pois 150/30 = 5. Assim, se considerarmos a inflação em URV, ela é inexistente.

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As políticas de estabilização e a experiência brasileira recente de combate à inflação A terceira etapa do Plano abrangeu a substituição ao Cruzeiro Real pelo Real, a prévia vinculação de reservas internacionais em valor equivalente, na paridade de um dólar dos Estados Unidos da América para cada Real emitido, e medidas para diminuição da dívida pública. Durante o ano de 1993 as taxas de inflação mensal, de acordo com o IGP-DI, tinham crescido, de um nível de 28,7% em janeiro, para 36,2% em dezembro. A taxa anual alcançara 2.708,6%, a maior da história brasileira. Em 1994, a inflação tinha pulado para outro patamar, iniciando-se com 42,2% em janeiro, até atingir 46,6% em junho. A partir de julho, com a nova moeda, a taxa passa a 24,7% e começa a apresentar apenas um dígito em agosto. A taxa anual em 1994 baixa para 1.093,8%. Em 1995, é de apenas 14,8%. A administração do Plano Real visou segurar os índices inflacionários ao redor de 1 a 1,5% ao mês. Para isso, baseou a sua estratégia nos seguintes pontos: - Ancoragem cambial, no sentido de que a taxa de câmbio seria controlada pelo Banco Central e se constituiu num dos alicerces do Plano. Devido à entrada de capitais estrangeiros, o Real se valorizou, no início, em relação ao dólar, barateando as importações, que se tornaram fator de inibição a aumentos de preços de produtos que têm concorrentes internacionais (“tradebles”). - Intensificação da política de redução gradativa das tarifas aduaneiras, com o mesmo objetivo de propiciar aos consumidores nacionais maior leque de opções e obrigarem as empresas a buscarem maiores índices de produtividade e qualidade. - Taxas de juros elevadas, a fim de inibir a demanda agregada, via consumo e investimento, e de atrair capitais internacionais para acumulação de reservas cambiais. No início de 1999, em virtude de grande procura por divisas estrangeiras, foi abandonada a ancoragem cambial, para que não diminuíssem ainda mais as reservas brasileiras. A taxa de câmbio passou a flutuar livremente, ao sabor da oferta e da procura. Para recompor as reservas, o país recebeu recursos de instituições financeiras internacionais. Para isso, teve de passar a cumprir programa de atingimento de metas de desempenho, perante o Fundo Monetário Internacional. Da ancoragem cambial passou-se à ancoragem nominal, baseada em fixação de metas de inflação. Na década de 90, a Inglaterra, Canadá e a Nova Zelândia passaram a adotar esse sistema, através do qual a autoridade monetária anuncia uma meta para a inflação anual. Não sendo possível estimar-se um valor rígido para essa meta, estabelece-se uma faixa de flutuação. A fixação dessas metas foi iniciada em junho de 1999 com uma tolerância de erro de 2% para cima e para baixo. O índice escolhido é o IPCA (Ïndice de Preços ao Consumidor Ampliado),

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calculado pela Fundação IBGE e que abrange as famílias que recebem até 40 salários mínimos em 11 regiões metropolitanas. Durante o ano, diversos fatores ocorrem para perturbar a intenção de se atingir a meta, como a variação da taxa de câmbio, os preços internacionais das matérias primas, como o petróleo, o déficit fiscal e outros choques de oferta, como a crise de energia elétrica. O não cumprimento da meta obriga o presidente do Banco Central a divulgar publicamente as razões do descumprimento e as providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos. No caso de o índice afastar-se da meta, o Banco Central geralmente utiliza a taxa de juros para alterar as expectativas dos agentes econômicos e redirecionar os preços para a direção desejada. Também passou-se a divulgar a “core inflation”, medida de inflação que utiliza as chamadas cláusulas de escape, que excluem os choques temporários e os componentes considerados mais voláteis dos índices de preços.

TAXAS DE INFLAÇÃO BRASIL

* estimativa Nota: é considerado o IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas, até 1984, e IPCA-IBGE

a partir de 1985.

Economia aberta

Taxa de Câmbio Conceito de taxa de câmbio As transações comerciais entre as nações caracterizam-se com o fato de que cada país possui uma moeda diferente. Tem-se, por exemplo, o baht, da Tailândia, a kuna, da Croácia, o shekel, de Israel, e agora o mais recentemente o euro, que cobre toda a Europa. Um exportador brasileiro que venda para os Estados Unidos obrigará que os dólares enviados ao Brasil, em

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pagamento pela mercadoria, sejam convertidos em reais conforme a taxa de câmbio vigente. Taxa de câmbio é, conforme João Sayad, a medida pela qual a moeda de um país pode ser convertida em moeda de outro país. Segundo Mário Henrique Simonsen, é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. E, de acordo com Mankiw, é o preço relativo das moedas de dois países. Como exemplo, tem-se que em dezembro de 2004, 1 dólar era convertido por 2,75 reais, ou 1 real valia 36 centavos de dólar. Uma subida do câmbio, com o dólar passando a valer mais do que 2,85 reais, acarreta uma desvalorização ainda maior da moeda nacional. Ao contrário, uma diminuição no câmbio, passando o dólar a valer menos do que 2,85 reais, por exemplo, resultaria em uma valorização da moeda nacional.

Taxa de câmbio livre

O que determina a taxa de câmbio? Isto é, o que determina o valor, em reais, de uma divisa, ou ativo, estrangeiro? Como ela é um preço, basicamente é determinada conforme todos os preços da economia: através da oferta e da procura de divisas.

A oferta de divisas é o seu montante à disposição do país, que tem origem nas exportações de mercadorias e serviços, recebimento de remunerações de fatores de produção e entrada de capitais de empréstimo e de investimentos. A oferta tem relação direta com a taxa de câmbio, pois quanto maior esta, maior o estímulo para as operações que carreiam divisas para o país. A procura de divisas é o montante que é demandado pelos diversos agentes econômicos em razão de importações de mercadorias e serviços, pagamentos de fatores e saídas de capitais de empréstimo e de investimentos feitos em outros países. A procura tem relação inversa com a taxa de câmbio, pois quanto maior esta, menor o estímulo para a saída de divisas para o exterior.

Uma taxa de câmbio maior, como t2, no gráfico acima, provoca um desequilíbrio, com a quantidade ofertada maior do que a quantidade demandada.

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Uma taxa de câmbio menor, como t3, por outro lado, provoca outro desequilíbrio, com a quantidade demandada maior do que a quantidade ofertada. Num mercado livre, onde a taxa de câmbio pode fluir livremente, esses desequilíbrios são momentâneos, ativando movimentos que levam ao equilíbrio. No caso de t2, por exemplo, o excesso de oferta provoca concorrência entre os ofertadores, que são obrigados a diminuir a taxa de câmbio até t1 para se adequarem à demanda menor.

A tabela acima mostra que as exportações são maiores (menores), e as importações são menores (maiores), quanto maior (menor) for a taxa de câmbio.

Taxa de câmbio livre No mercado livre, as taxas podem variar livremente, ao sabor das variações na procura e na demanda de divisas. Exemplos de mudanças nas taxas de câmbio:

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A taxa de câmbio e a elasticidade da oferta e da demanda de divisas

A variação na taxa de câmbio pode ser maior ou menor, de acordo com as magnitudes das elasticidades-preço da demanda e da oferta de divisas.

O aumento na taxa é menor se o aumento na demanda de divisas encontrar uma maior resposta da oferta em alimentar a demanda. Pelo contrário, o

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aumento na taxa é maior se o aumento na demanda de divisas encontrar maior dificuldade da oferta em alimentar essa demanda.

A diminuição na taxa é maior se o aumento na oferta de divisas encontrar uma menor resposta da demanda em absorver essa demanda. Pelo contrário, a diminuição na taxa é menor se o aumento na oferta de divisas encontrar maior resposta da demanda em absorver essa oferta.

Taxa de câmbio fixa

É aquela que é fixada em certo nível pelas autoridades monetárias, através de determinação legal ou por meio de operações de mercado executadas pela instituição monetária (Banco Central). Para manter a taxa no nível pretendido, o Banco Central deve preparar-se para os choques de oferta e de demanda, atuando no mercado comprando ou vendendo a moeda estrangeira e, para isso, deve possuir reservas internacionais suficientes.

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São motivos pelos quais o governo prefere manter fixa a taxa de câmbio: - Os choques de oferta e de demanda provocam variações na taxa, que podem ser mais altas devido a menores elasticidades da demanda e da oferta. - As variações mais altas podem refletir-se em aumentos maiores nos preços internos de produtos importados mais essenciais, como petróleo, trigo, equipamentos etc., e em variações nas exportações que podem prejudicar o mercado interno. - Especuladores podem provocar altas ou baixas nos mercados e obter grandes lucros. Compras de divisas fazem elevar a taxa, o que provoca antecipações de compras. Ofertantes diminuem as exportações esperando alta da taxa, o que acaba ocorrendo. - A fixidez da taxa é medida antiinflacionária, pois na medida em que ocorre aumento interno de preços, a taxa de câmbio cai em termos reais, estimulando importações que vão concorrer com produtos nacionais e impedir a continuidade da inflação.

Taxa de câmbio fixa

É aquela que é fixada em certo nível pelas autoridades monetárias, através de determinação legal ou por meio de operações de mercado executadas pela instituição monetária (Banco Central). Para manter a taxa no nível pretendido, o Banco Central deve preparar-se para os choques de oferta e de demanda, atuando no mercado comprando ou vendendo a moeda estrangeira e, para isso, deve possuir reservas internacionais suficientes.

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São motivos pelos quais o governo prefere manter fixa a taxa de câmbio: - Os choques de oferta e de demanda provocam variações na taxa, que podem ser mais altas devido a menores elasticidades da demanda e da oferta. - As variações mais altas podem refletir-se em aumentos maiores nos preços internos de produtos importados mais essenciais, como petróleo, trigo, equipamentos etc., e em variações nas exportações que podem prejudicar o mercado interno. - Especuladores podem provocar altas ou baixas nos mercados e obter grandes lucros. Compras de divisas fazem elevar a taxa, o que provoca antecipações de compras. Ofertantes diminuem as exportações esperando alta da taxa, o que acaba ocorrendo. - A fixidez da taxa é medida antiinflacionária, pois na medida em que ocorre aumento interno de preços, a taxa de câmbio cai em termos reais, estimulando importações que vão concorrer com produtos nacionais e impedir a continuidade da inflação.

A taxa de câmbio real

Denomina-se taxa de câmbio real a relação entre os preços dos bens de duas economias. Esses bens devem ser homogêneos, isto é, da mesma espécie e qualidade. Representando-se a taxa de câmbio real por E, a taxa de câmbio nominal, ou a de mercado, por e, o preço do bem no país estrangeiro por P* e o preço do bem nacional por P, tem-se que E = e . P* / P. Considere-se que a taxa de câmbio nominal no Brasil seja de 1,50 reais por dólar e que uma determinada cesta de bens custe 50 reais no Brasil e 25 dólares nos Estados Unidos. Nesse caso, a taxa de câmbio real seria: E = 1,50 x 25 / 50 = 0,75. Esse resultado, menor do que 1, indica que o produto estrangeiro é mais barato do que o nacional, pois 25 dólares a 1,50 reais o dólar são 37,50 reais, que é menor do que 50 reais, o que provoca desequilíbrio no comércio internacional, estimulando importações e desestimulando as exportações brasileiras. A moeda nacional está, portanto, supervalorizada e o equilíbrio dar-se-ia a uma taxa de câmbio nominal igual a 2 reais.

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Exercício: num certo mês a taxa de câmbio nominal variou de R$ 1,50 para 1,65, o índice de preços interno subiu 15 % e o índice de preços externo subiu 1%. Calcular as variações nominal e real da taxa de câmbio. A teoria da paridade do poder de compra: a taxa de câmbio nominal deve refletir a relação de preços entre dois países. Se, por exemplo, uma cesta homogênea de bens custar 25 dólares nos EUA e 50 reais no Brasil, então 25 dólares = 50 reais ou 1 dólar = 2 reais. Nesse caso, E = 2 . 25 / 50 = 1. Para manter a taxa de paridade igual a 1, Δe = ΔP / ΔP*.

Um ligeiro histórico das políticas cambiais brasileiras

Antes da 2ª Grande Guerra Mundial, havia liberdade cambial com pequenos períodos de maior controle. Após o término da guerra, o país, devido aos superávits comerciais, viu-se com acúmulo de reservas internacionais. Em julho de 1946, o Fundo Monetário Internacional, tendo em vista a busca de maior estabilidade no comércio internacional, recomendou a fixação das taxas de câmbio em relação ao dólar norteamericano, com cada país comprometendo-se a conservá-la em uma faixa de oscilação de 1% acima ou abaixo do nível acertado. O país somente deveria alterar a taxa diante de um desequilíbrio importante em seu balanço de pagamentos. O nível da taxa deveria obedecer à paridade do poder de compra (vide item 8.4).

O governo fixou a taxa de câmbio em 18 cruzeiros por dólar, mas a inflação e o desenvolvimento econômico, com a conseqüente geração de renda, estimularam as importações, obrigando as autoridades econômicas a estabelecerem controles quantitativos às importações, sob o critério da essencialidade, para se evitar desvalorização do câmbio. O controle diminuiu com a iminência da guerra da Coréia e as necessidades de reaparelhamento da indústria, o que provocou déficits comerciais. De 1953 a 1957, foi adotado sistema de taxas múltiplas de câmbio. Eram 5 categorias de taxas, que incorporavam ágios sobre a taxa oficial, conforme o grau de essencialidade. Foi criada a Carteira de Comércio Exterior – Cacex, do Banco do Brasil, para controlar o comércio exterior. As importações passaram a ter limites quantitativos, por período, e as exportações recebiam bonificações, conforme o produto. De 1957 a 1961, houve dois fatos importantes: a Reforma das Alfândegas, com a transformação das alíquotas específicas em alíquotas ad valorem; e as taxas múltiplas foram divididas em apenas duas categorias: geral e especial.

Em 1961, a Instrução nº. 204, da Superintendência da Moeda e do Crédito- SUMOC, extinguiu as taxas múltiplas e a paridade por dólar. Em 1964, foram criadas taxas especiais para importações de trigo, petróleo, equipamentos e peças, remessas de juros e exportações de café e açúcar.

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Em 1968, a nova política econômica aplicada ao setor externo, ao invés de conter as importações, procurou estimular as exportações. Para evitar as distorções da inflação, que desestimula as exportações e estimula as importações, foi instituído sistema de minidesvalorizações da taxa de câmbio, atualizando-a a intervalos freqüentes. A correção monetária aplicada à taxa de câmbio era igual a: ( Índice de preços internos ) / ( Índice de preços externos ), conforme a teoria da paridade do poder de compra. Como exemplo de uma correção semanal na taxa, tem-se que, se a taxa de câmbio for de 100 cruzeiros por dólar, a inflação interna na semana de 10% e a inflação externa de 2%, a nova taxa de câmbio será: 100 x 1,10 / 1,02 = 107,84. Essa política ajudou o país a incrementar sensivelmente as exportações e restringir as importações. As exportações cresceram a uma média anual de 27% de 1968 a 1973. Um ligeiro histórico das políticas cambiais brasileiras Os dois choques do petróleo, de 1974 e 1979, incrementaram as importações e os déficits comerciais, elevando vertiginosamente o endividamento externo do país. Em 1979 foi promovida uma maxidesvalorização da taxa de câmbio, de 30%, para melhorar as contas cambiais. Em 1980, para diminuir as expectativas inflacionárias, foi prefixada uma correção cambial para o ano de 50%, que foi inferior à inflação real e acabou eliminando as vantagens da correção cambial. Em fevereiro de 1983, em plena crise das contas externas provocada pela elevação dos juros externos, é promovida nova maxidesvalorização da taxa de câmbio, de 30%, e instituído controle quantitativo das importações. O Plano Cruzado, em 1986, congelou todos os preços da economia, inclusive a taxa de câmbio, o que provocou distorções, como queda considerável nas exportações. O Plano Bresser, em 1987, procurou evitar essas distorções, promovendo uma mididesvalorização de 9,5%, medida que foi também promovida no Plano Verão, do ministro Mailson da Nóbrega, que desvalorizou o cruzado em 18%. O Plano Collor, em 1990, liberalizou o câmbio, permitindo que o mercado fixasse a taxa, de acordo com a oferta e a demanda.

O Plano Real, de 1994, procurou combater a inflação com diversas medidas. Uma delas, a chamada ancoragem cambial, baseou-se na valorização do real em relação ao dólar, beneficiada que foi pela entrada de capitais estrangeiros, o que resultou em barateamento das importações e fator de inibição a aumentos de preços de produtos que têm concorrentes internacionais (“tradebles”). A elevação de preços durante os primeiros anos não eram repassados à taxa cambial, pois o Banco Central intervinha no mercado para manter a valorização da moeda nacional, em faixas denominadas

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“bandas cambiais” e constituindo a chamada “flutuação suja” (“dirty floating”) do câmbio, beneficiado pela existência de apreciável volume de reservas internacionais. Essa mesma política, no entanto, causou apreciáveis déficits na Balança Comercial, que eram cobertos pela entrada de capitais, a maior parte de curto prazo. Depois de um saldo positivo de US$ 10,5 bilhões em 1994, os saldos foram negativos em 1995 (US$ 3,2 bilhões), em 1996 (US$ 5,5 bilhões), em 1997 (US$ 8,4 bilhões) e em 1998 (US$ 6,4 bilhões). O país sofreu duas corridas contra a sua moeda, em setembro de 1997 e setembro de 1998, com o governo procurando manter a política de valorização da moeda nacional. No final do ano as reservas de divisas tinham diminuído sensivelmente, apesar da elevação dos juros, e tornou-se imperiosa a ajuda externa de capitais, liderada pelo Fundo Monetário Internacional, que exigiu, em contrapartida, que o país fizesse um ajuste fiscal rigoroso e a aceleração das desvalorizações da moeda. No início de 1999, o governo federal ampliou a margem de flutuação do real diante do dólar em 10%. A forte demanda por dólares elevou a sua cotação até o teto da banda cambial, e o Governo permitiu finalmente a livre flutuação da taxa de câmbio. A cotação disparou e chegou a ultrapassar R$ 2 por dólar em março. O aumento do dólar pressiona os preços dos produtos que possuem componentes importados e a taxa de juros básica foi fixada em 45%. No dia 13 de janeiro de 1999, o Banco Central fez algumas alterações na política cambial, e que foram: - Foi ampliada a margem de flutuação do real diante do dólar garantida pelo Banco Central (banda cambial), passando da faixa de R$ 1,12 a R$ 1,22, fixada no início de 1998, para a faixa de R$ 1,20 a R$ 1,32. A distância entre piso e teto cresceu, portanto, de 8,9 para 10%. - Em vez de ajustada uma vez por ano, como ocorria desde 1996, a banda mudaria a cada 3 dias úteis. - A intrabanda, que é a faixa de limites informais com que opera diariamente o BC, estava entre R$ 1,1975 e R$ 1,2115. O anúncio de sua eliminação provocou forte demanda de dólares, pois o teto efetivamente praticado saiu, repentinamente, de R$ 1,2115 para R$ 1,32. A desvalorização do dólar foi de 8,26% em apenas um dia. - Com a banda mais larga, o BC interviria menos no mercado para manter as cotações dentro das margens. As formas dessas intervenções são a compra de dólares quando o movimento de venda faz a cotação aproximar-se do piso, e a venda de dólares quando o movimento de compra faz a cotação aproximar-se do teto. A forte demanda por dólares eleva a sua cotação até o teto da banda cambial, e o Governo permitiu a livre flutuação da taxa de câmbio.

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A partir do início do regime de liberdade cambial, a taxa de câmbio tem subido de uma forma mais ou menos acelerada, embora com alguns recuos ocasionais. Em meados de 2002 a taxa chegou a 4 reais devido à iminência da eleição de Lula para a presidência. O efeito positivo de tal situação é o maior estímulo às exportações e ingresso de capitais estrangeiros. Do lado das importações, o seu encarecimento resulta em maior estímulo à produção interna de bens similares. Os produtos com baixo poder de substituição na produção, como o trigo, o petróleo e máquinas e equipamentos, provocam impulsos de custos que podem contaminar as taxas inflacionárias. Mas essas não receberam todo o impacto da elevação cambial em razão da não aceitação de preços maiores, por parte do setor varejista e do próprio consumidor. O Banco Central, para evitar maiores pressões sobre a demanda de dólares, procurou evitar elevações exageradas no câmbio, emitindo títulos públicos com correção cambial. Em 2003 a política econômica seguida pelo novo governo foi considerada confiável pelo mercado, o que ocasionou queda sensível nas cotações. A entrada de capitais estrangeiros foi outro fator que ajudou a frear a taxa de câmbio.

O Balanço de Pagamentos

Conceito e estrutura Define-se Balanço de Pagamentos como sendo o registro sistemático das transações entre os residentes e os não residentes de um país durante determinado período de tempo. O Balanço de Pagamentos divide-se em dois grandes grupos de transações: as Transações Correntes e as Transações de Capital. Correntes são as transações que se referem ao movimento de mercadorias e de serviços, inclusive as referentes às remunerações aos serviços proporcionados pelos fatores de produção, como os juros e os lucros. São transações de Capital as que se referem ao movimento financeiro, isto é, dinheiro e títulos de crédito. Estrutura do Balanço de Pagamentos 1. Transações Correntes 2. Transações de Capital a) Balança Comercial d) Capitais Autônomos Exportações Investimentos Importações Financiamentos Amortizações b) Balança de Serviços Reinvestimentos Outros Capitais Viagens Transporte (a+b+c) + d = saldo total do Seguros balanço de pagamentos Juros Lucros Serviços Governamentais e) Capitais Compensatórios Outros Serviços Haveres no exterior Obrigações a curto prazo

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Ouro monetário c) Transferências Unilaterais Empréstimos do FMI Direitos Especiais de Saque (a + b + c) = saldo do balanço Outros de pagamentos em transações correntes

Os registros contábeis

Os registros são elaborados dentro do princípio das partidas dobradas: a um débito em determinada conta corresponde um crédito em outra conta e vice-versa. Para tanto, as contas são divididas em dois grupos: contas operacionais e contas de caixa. As contas operacionais correspondem aos fatos geradores do recebimento ou do pagamento de recursos ao exterior, como Exportações, Importações, Fretes, Seguros, Juros, Investimentos, Amortizações etc. As contas de caixa referem-se às contrapartidas financeiras das contas operacionais, como Haveres no Exterior, Ouro Monetário, Direitos Especiais de Saque. Quando o fato gerador da transação der origem a uma entrada de recursos para o país, a conta correspondente será creditada (ou lançada com sinal positivo). Quando originar uma saída de recursos, a conta em questão será debitada (ou lançada com sinal negativo). Quanto às contas de caixa, lança-se a débito o aumento e a crédito a diminuição do seu saldo. Vamos a um exemplo. Quando o país realiza uma venda de mercadorias ao exterior, o lançamento é feito debitando-se a conta de caixa Haveres no exte-rior, que representa os recursos em moeda estrangeira e creditando-se a conta operacional Exportações. Examinando a estrutura do Balanço de Pagamentos, observe-se os seguintes aspectos: – A Balança Comercial registra as entradas e saídas de mercadorias, sob o conceito FOB (“free on board”), isto é, incluindo as despesas até o embarque no navio transportador. As despesas com seguro e frete fazem parte do conceito CIF (“cost, insurance and freight), mas normalmente são registradas em suas próprias contas. – A Balança de Serviços compreende os bens não tangíveis, como viagens internacionais, transporte e seguro. Esses e outros são denominados serviços de não-fator, enquanto que as remunerações a fatores de produção, como lucros e juros, são denominadas serviços de fator. – As Transferências Unilaterais representam as doações e as remessas de migrantes. – O saldo do BP em transações correntes é igual à soma dos saldos da Balança Comercial, da Balança de Serviços e das Transferências Unilaterais. Se superavitário, isto é, se as vendas de mercadorias, e de serviços superarem as respectivas compras, fornece recursos para aumentar o nível de reservas

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internacionais do país ou para a realização de investimentos no exterior; se deficitário, significa que as aquisições de mercadorias e de serviços superam as vendas, resultado que torna a Oferta global superior à produção interna, o que permite níveis de consumo e de investimento internos superiores às possibilidades de produção. Esse saldo corresponde à poupança externa do país (com o sinal trocado). – Os capitais autônomos incluem os registros do movimento de capitais não vinculados especificamente ao financiamento de déficit do BP. São os empréstimos e financiamentos para cobertura de importações e de exportações, amortização de empréstimos e financiamentos, investimentos referentes a aplicação de capitais e reinvestimentos de lucros. – O saldo total do balanço de pagamentos é igual ao saldo em transações correntes, mais o saldo dos capitais autônomos. Se positivo, temos um superávit e, se negativo, tem-se um déficit. Os capitais compensatórios representam a contrapartida do saldo total do BP. O seu saldo é igual ao saldo do BP, com o sinal trocado. Se há um superávit no BP, por exemplo, os capitais compensatórios indicam o aumento das reservas internacionais ou a diminuição de obrigações com o exterior. Se há um déficit, os capitais compensatórios indicam como esse resultado pode ser financiado. As principais contas compensatórias são Haveres no Exterior (fluxos de entrada e saída de divisas estrangeiras) e as que se referem a operações com organismos internacionais, como os empréstimos do Fundo Monetário Internacional e os Direitos Especiais de Saque (moeda escritural do FMI) e Ouro Monetário.

Um exemplo de levantamento de um Balanço Vamos construir um Balanço de Pagamentos, a partir dos seguintes fatos econômicos hipotéticos ocorridos num país num determinado ano (em milhões de dólares): - o país importou mercadorias no valor de 100; - o país importou equipamentos, no valor de 30, financiados a longo prazo; - ingressaram equipamentos, sob a forma de investimento, sem cobertura cambial, no valor de 50; - o país exportou mercadorias, no valor de 220; - foram recebidos 13 e pagos 18 referentes a viagens internacionais; - foram pagos serviços de fretes, no valor de 34, e recebidos serviços de fretes no valor de 4; - foram remetidos lucros para acionistas estrangeiros, no valor de 27, realizados reinvestimentos de

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lucros, por diversas empresas, no valor de 5 e recebidos dividendos no valor de 2; - foram remetidos juros de empréstimos, no valor de 55; - foram pagos seguros no valor de 15; - foram pagas amortizações de empréstimos realizados anteriormente, no valor de 40; - o país recebeu mercadorias diversas, como doações para vítimas de seca no nordeste, no valor de 10; - o país recebeu empréstimos compensatórios do Fundo Monetário Internacional, no valor de 20. Construção do Balanço de Pagamentos

TRANSAÇÕES TRANSAÇÕES DE CORRENTES CAPITAL a) Balança Comercial d) Capitais Autônomos Exportações = + 220 Investimentos = + 50 Importações = – (100 + 30 Reinvestimentos = + 5 + 50 + 10) = - 190 Financiamentos = + 30

saldo = + 30 Amortizações = – 40 saldo = + 45

b) Balança de Serviços Viagens internacionais = - 5 a + b + c + d (saldo global do BP) = Juros = – 55 – 95 + 45 = – 50 Lucros = – 25 – 5 = – 30 Fretes = - 30 Seguros = -15 saldo = - 135

c) Transferências e) Capitais Compensatórios Unilaterais = + 10 Haveres no Exterior = + 100 – 220 + 5 a + b + c (saldo do BP + 30 + 25 + 55 + 15 + 40 – 20 = + 30

Empréstimos do FMI = + 20 em Transações Correntes) = Total = + 50 = + 30 – 135 + 10 = – 95 Análise do Balanço de Pagamentos:

– o saldo do BP em transações correntes é negativo (– 95), o que

significa que o país recebeu poupança externa no valor de 95. O saldo negativo foi decorrente de o déficit nos serviços superar os superávits na balança comercial e nas transferências.

– os capitais autônomos apresentam superávit (+ 45), o qual é insuficiente para financiar o déficit em Transações Correntes, o que resulta num saldo global negativo (déficit) de – 50.

– o déficit global do BP foi financiado por uma saída líquida de divisas, de 30, e pelo empréstimo do FMI, de 20.

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Já se viu que o déficit em transações correntes representa uma poupança externa, que é útil principalmente para os países em desenvolvimento. A contrapartida desse déficit é, no entanto, perda de reservas e/ou endivida-mento externo. Se o país quiser eliminar ou reduzir esse desequilíbrio, deve buscar ampliar a receita de exportações de mercadorias e serviços, e reduzir o dispêndio com importações. Um exemplo de levantamento de um Balanço As exportações podem ser incentivadas através das seguintes medidas:

– política cambial realista que impeça a valorização da moeda nacional; – financiamentos mais favorecidos à produção e comercialização de bens a

serem exportados; – conquista de novos mercados e avanço em mercados tradicionais através

da busca de eficiência na produção e comercialização de bens a serem exportados, melhorando a qualidade e diminuindo os custos;

– incentivos fiscais, mediante a desoneração de impostos incidentes sobre os bens exportados.

Para diminuir as importações, o Governo pode impor tarifas protecionistas,

bem como executar uma política recessiva através de diminuição das despesas governamentais e aumento da taxa de juros, que provoca diminuição nas aquisições de bens importados.

Eis os Balanços de Pagamentos do Brasil, referentes aos anos de 2002 e 2003, em milhões de dólares: BALANÇO DE PAGAMENTOS BRASIL – 2002 e 2003

US$ milhões

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Fonte: Banco Central do Brasil

O Fundo Monetário Internacional (FMI) e conceitos adicionais O Fundo Monetário Internacional foi criado em 1944, durante a Conferência de Bretton Woods, para administrar o sistema de taxas de câmbio e para funcionar como um banco internacional, visando ao ajustamento internacional no caso de existência de déficits ou superávits nos balanços de pagamentos. As recomendações do FMI, no caso de um déficit do Balanço de Pagamentos, são: 1. alteração de tarifas e outras restrições às importações (consideradas indesejáveis, embora fossem admitidas em situações emergenciais); 2. manutenção da taxa de câmbio através da compra dos reais em excesso, em troca de dólares, já que o déficit implica em que a procura de divisas é maior do que a oferta (utilizando as reservas cambiais do país e recorrendo a empréstimos do FMI); 3. implantar políticas econômicas internas que inibam as importações e estimulem as exportações, atuando sobre a demanda agregada (essa providência é penosa em país não desenvolvido, em virtude do problema do baixo nível da renda e dos efeitos sobre o emprego); 4. alterar a taxa de câmbio (desvalorizando a moeda nacional em relação à estrangeira), quando a sua manutenção provoca distorções insanáveis sobre a economia. O FMI funciona como uma espécie de avalista para um país receber recursos financeiros internacionais. No caso de problema com as contas de um país, o FMI envia uma missão técnica para examinar os números da economia, após o que são dadas sugestões de política econômica para a volta da normalidade e da atratividade a financiamentos e investimentos estrangeiros. Alguns conceitos adicionais:

- X – M ( exportações menos importações de mercadorias e serviços não- fatores ): se X > M, ocorre transferência líquida de recursos, e se M > X, ocorre absorção líquida de recursos;

- renda líquida recebida do exterior: renda recebida – renda enviada, mais saldo das transferências

unilaterais; - saldo do BP em transações correntes = transferência líquida de recursos + renda líquida recebida do

exterior; - Índice de relações de troca = IRT = IX / IM

- capacidade de importar = X . IRT

- Dívida Externa Líquida = saldo dos empréstimos contraídos e concedidos ao exterior + saldo das

obrigações de curto prazo no exterior – reservas internacionais;

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- Passivo Externo Líquido = saldo dos empréstimos contraídos e concedidos ao exterior + estoque dos capitais estrangeiros de risco investidos no país – estoque dos capitais nacionais de risco investidos no exterior + saldo das obrigações de curto prazo – reservas internacionais.

O modelo Mundell-Fleming I

Hipóteses do modelo: Quando se estuda o modelo IS-LM, verifica-se os efeitos sobre a renda e a taxa de juros da utilização das políticas monetária e fiscal. Agora, vamos introduzir a política cambial e verificar como as políticas fiscal e monetária, quando utilizadas, repercutem na renda quando um país adota cada um dos diferentes regimes de câmbio, fixo ou flutuante. Nesse caso, é estudado o modelo Mundell-Fleming, que se baseia nas seguintes hipóteses:

– A curva IS e a curva LM relacionam a renda nominal (Y) e a taxa de câmbio

(t). – A curva IS representa a política fiscal e a curva LM representa a política

monetária. – A curva IS é negativamente inclinada, indicando que a taxa de câmbio e a

renda têm relação inversa. Isso deve ser bem compreendido. Primeiramente, deve-se considerar a definição norteamericana de taxa de câmbio, que, ao contrário da nossa (que é o preço da moeda estrangeira em termos da moeda nacional), é o preço da moeda nacional em termos da moeda estrangeira. Se a adotássemos no Brasil, em vez de, por exemplo, 1 dólar = 2,80 reais, teríamos 1 real = 0,36 dólar. Assim, um aumento da taxa (por exemplo, para 0,40 dólar) seria uma valorização da moeda nacional, com conseqüente estímulo para aumento das importações e diminuição das exportações, e resultante queda no nível da renda interna. Daí a relação inversa entre a taxa de câmbio e a renda.

– Existe uma relação direta entre a taxa de juros e o volume de capitais externos, ou seja, quanto maior essa taxa, mais capitais são atraídos para o país.

– A curva LM é vertical, no sentido de que a oferta e a demanda de moeda não têm relação com a taxa de câmbio.

– As políticas fiscal e monetária são aplicadas e são analisados os seus efeitos sobre a renda e a taxa de câmbio em dois ambientes: taxas de câmbio flutuantes e taxas de câmbio fixas.

– Ao lado do gráfico das curvas IS e LM, vamos utilizar também as curvas de demanda e de oferta de divisas, a fim de facilitar o raciocínio do que vai ocorrer no mercado de câmbio, com um detalhe: vamos usar aí o conceito brasileiro de taxa de câmbio.

Mercado de taxa de câmbio flutuante 1º caso: aplicação de uma política fiscal expansionista

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Conseqüência final: a renda nominal não se altera e a taxa de câmbio se eleva. Explicação:

– Uma política fiscal expansionista pode ser executada através de aumento dos gastos governamentais ou redução dos tributos, deslocando a curva IS para a direita, de IS1 para IS2 no gráfico I.

– O aumento da renda nominal provoca aumento da demanda de moeda por parte da sociedade, para a realização de transações, que, dada a oferta de moeda constante, resulta em aumento da taxa de juro.

– O aumento da taxa de juro atrai capitais externos, aumentando a oferta de divisas (de O1 para O2) , reduzindo a taxa de câmbio, conforme o gráfico II.

– A redução na taxa de câmbio vai resultar em diminuição nas exportações e crescimento das importações, trazendo a renda nominal de volta ao nível inicial. Observe que no gráfico I a taxa de câmbio aumenta, pois nesse gráfico o raciocínio é feito com a definição americana, conforme já advertido anteriormente.

A aplicação de uma política fiscal contracionista teria também efeito nulo sobre a renda e faria diminuir a taxa de câmbio.

2º caso: aplicação de uma política monetária expansionista

Explicação: – Aumenta a oferta de moeda, deslocando a curva LM para a direita, de

LM1 para LM2 (gráfico I), o que diminui a taxa de juro. – A queda no juro provoca saída de capitais, aumentando a demanda de

divisas (no gráfico II, a curva de demanda se desloca de D1 para D2) e aumenta a taxa de câmbio.

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– O aumento da taxa de câmbio aumenta as exportações e diminui as importações, aumentando a renda interna.

A aplicação de uma política monetária contracionista teria o efeito contrário de diminuição da renda e elevação da taxa de câmbio. O modelo Mundell-Fleming I Mercado de taxa de câmbio fixa 1º caso: aplicação de uma política fiscal expansionista

Conseqüência final: a taxa de câmbio não se altera e a renda nominal se eleva. Explicação:

– Uma política fiscal expansionista pode ser feita através de aumento dos gastos governamentais ou redução dos tributos, deslocando a curva IS para a direita, de IS1 para IS2 no gráfico I.

– O aumento da renda nominal ( de Y1 a Y2) provoca aumento da demanda de moeda por parte da sociedade, para a realização de transações, que, dada a oferta de moeda constante, resulta em aumento da taxa de juro.

– O aumento da taxa de juro atrai capitais externos, aumentando a oferta de divisas (de O1 para O2), criando pressão para a redução da taxa de câmbio.

– Para manter a taxa de câmbio fixa, em t1, a autoridade monetária compra as divisas que ingressam no país (a demanda se desloca de D1 a D2 no gráfico II), e o comércio exterior não se altera.

– A aquisição de divisas provoca aumento da quantidade de moeda na economia (a curva LM se desloca para a direita, em LM2), satisfazendo a demanda de moeda para transações.

A aplicação de uma política fiscal contracionista teria efeito contrário, isto é, a renda nominal se reduziria, mantendo-se fixa a taxa de câmbio. 2º caso: aplicação de uma política monetária expansionista

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Conseqüência final: a taxa de câmbio e a renda nominal não se alteram. Explicação:

– Aumenta a oferta de moeda, deslocando a curva LM para a direita, de LM1 para LM2 (gráfico I), o que diminui a taxa de juro.

– A queda no juro provoca saída de capitais, aumentando a demanda de divisas (no gráfico II, a curva de demanda se desloca de D1 para D2) e criando pressão para o aumento da taxa de câmbio.

– Para manter a taxa de câmbio fixa, a autoridade monetária oferece divisas (a oferta de divisas se desloca para O2) e a taxa permanece em t1.

– A maior demanda de divisas, para a saída de capitais, resulta em diminuição da quantidade de moeda da economia, pois os demandantes têm de oferecer reais para a sua conversão.

– A diminuição de reais é ilustrada pela volta da curva LM, no gráfico I, ao seu ponto inicial.

A aplicação de uma política monetária contracionista teria o mesmo efeito, ou seja, inalterabilidade na renda e na taxa de câmbio. A seguir, eis um resumo da aplicação das políticas monetária e fiscal expansionistas nos dois regimes de taxas de câmbio:

Regime de taxas flutuantes

Política fiscal: a renda interna não se altera, a taxa de câmbio se eleva e as exportações líquidas diminuem. Política monetária: a renda nominal se eleva, a taxa de câmbio diminui e as exportações líquidas aumentam. Regime de taxas fixas Política fiscal: a renda interna se eleva, e a taxa de câmbio se eleva e as exportações líquidas não se alteram. Política monetária: a renda nominal, a taxa de câmbio e as exportações líquidas não se alteram.