apostila de direito processo civil i da coleção saberes do direito, editora saraiva

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Processo Civil I - Coleção Saberes Do Direito da editora Saraiva, dirigido pelo professor Luiz Flávio Gomes

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  • ISBN 978-85-02-17120-6Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

  • Montans de S, RenatoProcesso civil I : teoriageral do processo /Renato Montans de S,Rodrigo da Cunha LimaFreire. So Paulo :Saraiva, 2012. (Coleo saberes dodireito ; 22)1. Perguntas e respostas2. Processo civil 3.Processo civil - Brasil I.Freire, Rodrigo da CunhaLima. II. Ttulo. III. Srie.

    ndice para catlogo sistemtico:1. Brasil : Introduo ao estudo do direito 340.1

  • Diretor editorial Luiz Roberto CuriaDiretor de produo editorial Lgia Alves

    Editor Roberto NavarroAssistente editorial Thiago Fraga

    Produtora editorial Clarissa Boraschi MariaPreparao de originais, arte, diagramao e reviso Know-how

    EditorialServios editoriais Kelli Priscila Pinto / Vinicius Asevedo Vieira

    Capa Aero ComunicaoProduo grfica Marli Rampim

    Produo eletrnica Know-how Editorial

    Data de fechamento daedio: 25-4-2012

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    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquermeio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva.

    A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

  • RENATO MONTANS DE S

    Especialista e Mestre em Direito Processual Civil pelaPUCSP. Professor da Rede de Ensino LFG ecoordenador da ps-graduao de Direito ProcessualModerno da Rede de Ensino LFG. Professor da ps-graduao da Escola Superior de Advocacia e daATAME/DF. Advogado.

    RODRIGO DA CUNHA LIMA FREIRE

    Mestre e Doutor em Direito Processual Civil pelaPUCSP. Professor e coordenador da ps-graduao daRede de Ensino LFG. Professor da graduao e domestrado da FMU/SP. Advogado.Conhea os autores deste livro:http://atualidadesdodireito.com.br/conteudonet/?ISBN=17119-0

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    Doutora em Direito Penal pela PUCSP. Mestre em

  • Direito pela UFSC. Presidente do InstitutoPanamericano de Poltica Criminal IPAN. Diretora doInstituto LivroeNet.

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    Jurista e cientista criminal. Fundador da Rede de EnsinoLFG. Diretor-presidente do Instituto de Pesquisa eCultura Luiz Flvio Gomes. Diretor do InstitutoLivroeNet. Foi Promotor de Justia (1980 a 1983), Juizde Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).Conhea a LivroeNet:http://atualidadesdodireito.com.br/conteudonet/?page_id=2445

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    Alice.Renato Montans de S

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    O contedo impresso que est em suas mos foi muito bemelaborado e completo em si. Porm, como organismo vivo, oDireito est em constante mudana. Novos julgados, smulas, leis,tratados internacionais, revogaes, interpretaes, lacunasmodificam seguidamente nossos conceitos e entendimentos (a ttulode informao, somente entre outubro de 1988 e novembro de 2011foram editadas 4.353.665 normas jurdicas no Brasil fonte: IBPT).

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    Voc poder ter acesso ao 1 do seulivro mediante assinatura. Todas as informaes esto disponveisem www.livroenet.com.br.

    Agradecemos Editora Saraiva, nas pessoas de Luiz RobertoCuria, Roberto Navarro e Lgia Alves, pela confiana depositada emnossa Coleo e pelo apoio decisivo durante as etapas de edio doslivros.

    As mudanas mais importantes que atravessam a sociedadeso representadas por realizaes, no por ideais. O livro que voctem nas mos retrata uma mudana de paradigma. Voc, caro leitor,passa a ser integrante dessa revoluo editorial, que constituiverdadeira inovao disruptiva.

    Alice Bianchini | Luiz Flvio GomesCoordenadores da Coleo Saberes do Direito

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  • Sumrio

    Captulo 1 Jurisdio, Ao e Processo

    Captulo 2 Jurisdio

    1. Conceito

    2. Equivalentes jurisdicionais

    2.1 A autotutela

    2.2 A autocomposio

    2.3 A mediao

    2.4 A arbitragem

    2.5 As decises dos tribunais administrativos

    3. Caractersticas da jurisdio

    4. Jurisdio contenciosa e jurisdio voluntria

    5. Princpios da jurisdio

  • 5.1 Princpio da investidura

    5.2 Princpio da unidade

    5.3 Princpio da aderncia (ao territrio)

    5.4 Princpio da inrcia

    5.5 Princpio da inafastabilidade (do controlejurisdicional)

    5.6 Princpio da efetividade

    5.7 Princpio da indeclinabilidade

    5.8 Princpio da indelegabilidade

    5.9 Princpio da inevitabilidade

    5.10 Princpio do juiz natural (e princpio dopromotor natural)

    6. Tutelas jurisdicionais

    6.1 Tutelas jurisdicionais clssicas

    6.2 Tutelas jurisdicionais de conhecimento

    6.2.1 Tutela declaratria

    6.2.2 Tutela constitutiva

    6.2.3 Tutela condenatria

    6.2.4 Tutela mandamental

    6.2.5 Tutela executiva lato sensu

    6.3 Tutela especfica de obrigao de fazer ou

  • de no fazer e tutela especfica deentrega de coisa

    6.4 Tutela inibitria

    6.5 Tutela antecipada

    Captulo 3 Ao

    1. Conceito

    2. Natureza jurdica

    2.1 Teoria clssica, civilista ou imanentista

    2.2 Teoria da ao como direito concreto

    2.3 Teoria da ao como direito abstrato

    2.4 Teoria ecltica

    2.5 Direito fundamental jurisdio efetiva(neoprocessualismo)

    3. Condies da ao

    3.1 Conceito

    3.2 Consequncias da falta de uma condioda ao

    3.3 As condies da ao so preliminares ouprejudiciais?

    3.4 Espcies

    3.4.1 Possibilidade jurdica dopedido

  • 3.4.2 Legitimidade para a causa

    3.4.3 Interesse de agir

    4. Elementos da ao ou da demanda

    Captulo 4 Processo

    1. Conceito

    2. Relao jurdica processual e natureza jurdica doprocesso

    3. Pressupostos processuais

    3.1 Improcedncia prima facie

    4. Espcies

    Captulo 5 Princpios Constitucionais do Direito ProcessualCivil

    1. Breves palavras sobre os princpios

    2. Os princpios do processo civil na Constituio Federal

    2.1 Princpio do devido processo legal

    2.2 Princpio da inafastabilidade (do controlejurisdicional)

    2.3 Princpio da efetividade (direitofundamental jurisdio efetiva)

    2.4 Princpio da durao razovel do processo

    2.5 Princpio do juiz natural (e princpio dopromotor natural)

  • 2.6 Princpio da isonomia

    2.7 Princpio do contraditrio e da ampladefesa

    2.8 Princpio da publicidade do processo

    2.9 Princpio da motivao das decisesjudiciais

    Captulo 6 Partes

    1. Conceito

    2. Princpios

    3. Capacidade de ser parte e capacidade processual

    4. Integrao de capacidade

    4.1 Representao e assistncia

    4.2 Curador especial

    5. Capacidade postulatria

    6. Consequncias da falta de capacidade ou dairregularidade de representao

    7. Sucesso processual e substituio processual

    7.1 Alienao de bem litigioso ou cesso decrdito litigioso (art. 42 do CPC)

    8. A atuao do Ministrio Pblico no processo civil

    8.1 O Ministrio Pblico

    8.2 Atuao como parte

  • 8.3 Atuao como fiscal da lei

    8.4 Legitimidade recursal

    Captulo 7 Litisconsrcio

    1. Conceito

    2. Espcies

    2.1 Classificao quanto posio na relaoprocessual: ativo, passivo ou misto

    2.2 Classificao quanto ao momento daformao: inicial ou ulterior

    2.3 Classificao quanto sorte doslitisconsortes no plano material:simples ou unitrio

    2.4 Classificao quanto obrigatoriedade daformao: facultativo ou necessrio

    2.4.1 Litisconsrcio necessriopassivo e litisconsrcionecessrio ativo

    2.5 Litisconsrcio facultativo unitrio

    2.6 Litisconsrcio eventual, litisconsrcioalternativo e litisconsrcio sucessivo

    3. Regime

    3.1 Extenso da eficcia do recurso interpostopor um litisconsorte aos demaislitisconsortes

    4. Litisconsrcio multitudinrio

  • 5. Prazo especial

    5.1 Interposio do recurso por umlitisconsorte e fatos impeditivos ouextintivos do direito de recorrer

    Captulo 8 Interveno de Terceiros

    1. Espcies

    2. Vedao

    3. Assistncia simples

    4. Assistncia litisconsorcial

    5. Oposio

    6. Nomeao autoria

    7. Chamamento ao processo

    8. Denunciao da lide

    9. Recurso de terceiro prejudicado, interveno anmala eamicus curiae

    9.1 Recurso de terceiro prejudicado

    9.2 Interveno anmala

    9.3 Amicus curiae

    Captulo 9 Atos Processuais

    1. Conceito

    2. Princpios

  • 2.1 Princpio da liberdade das formas

    2.2 Princpio da instrumentalidade das formas

    2.3 Princpio da publicidade

    2.4 Outros princpios

    3. Atos das partes

    4. Atos judiciais

    4.1 Atos do juiz

    4.2 Atos dos serventurios ou dos auxiliaresda justia

    4.2.1 Atos de documentao

    4.2.2 Atos de comunicao

    5. Tempo e lugar dos atos processuais

    6. Prazos processuais

    6.1 Classificaes

    6.2 Contagem

    6.3 Prazo geral

    6.4 Prazos especiais

    6.5 Precluso

    7. Nulidades processuais

    Captulo 10 Competncia

  • 1. Conceito

    2. Critrios determinativos

    2.1 Critrio material

    2.2 Critrio pessoal

    2.2.1 Competncia pessoal daJustia Federal

    2.2.2 Critrio funcional

    2.2.3 Critrio territorial

    2.2.4 Critrio econmico

    3. Classificaes

    3.1 A competncia fixada pelo critrioterritorial ou pelo critrio econmicopode ser relativa?

    3.2 Nulidade do foro de eleio em contrato deadeso

    4. Modificaes da competncia

    4.1 Foro de eleio

    4.2 Conexo e continncia

    4.3 Outras formas de modificao dacompetncia

    5. Conflitos de competncia

    5.1 Espcies

  • 5.2 Competncia para o julgamento do conflitode competncia

    5.3 Procedimento

    Captulo 11 Formao, Suspenso e Extino do Processo

    1. Formao do processo

    1.1 Princpio da inrcia (ou da demanda) emomento da propositura da ao

    1.2 Perpetuatio jurisdictionis

    1.3 Alterao da causa de pedir ou do pedido

    2. Suspenso do processo

    2.1 Morte ou perda de capacidade inciso I

    2.2 Conveno das partes inciso II

    2.3 Exceo de incompetncia, impedimentoou suspeio inciso III

    2.4 Prejudicialidade externa alnea a doinciso IV

    2.5 Fato ou prova alnea b do inciso IV

    2.6 Declarao incidente alnea c do incisoIV

    2.7 Fora maior inciso V

    2.8 Demais casos legais inciso VI

    3. Extino do processo

  • 3.1 Art. 267 do CPC

    3.1.1 Indeferimento da petioinicial inciso I

    3.1.2 Contumcia das partes inciso II

    3.1.3 Abandono da causa peloautor inciso III

    3.1.4 Falta de pressupostoprocessual ou presenade pressupostoprocessual negativo incisos IV, V e VII

    3.1.5 Falta de condio da ao inciso VI

    3.1.6 Desistncia da ao incisoVIII

    3.1.7 Intransmissibilidade dodireito material incisoIX

    3.1.8 Confuso inciso X

    3.1.9 Outras hipteses inciso XI

    3.2 Art. 269 do CPC

    3.2.1 Julgamento da lide inciso I

    3.2.2 Reconhecimento daprocedncia do pedido inciso II

  • 3.2.3 Transao inciso III

    3.2.4 Decadncia ou prescrio inciso IV

    3.2.5 Renncia ao direito incisoV

    Captulo 12 Direito Fundamental Jurisdio Efetiva

    Referncias

  • Captulo 1

    Jurisdio, Ao e Processo

    A jurisdio, a ao e o processo formam a chamadatrilogia estrutural de conceitos bsicos do direito processual denominao de Ramiro Podetti.

    Pode-se dizer que a jurisdio uma funo estatal nemtodos entendem que essa funo exclusivamente estatal, comoveremos de resolver os conflitos de interesses que lhe soapresentados.

    J a ao um direito ou poder, para alguns decorrentedesse encargo do Estado, mais precisamente o direito de exigir ajurisdio.

    E o processo o meio (mtodo) pelo qual a jurisdio prestada, em razo do exerccio de uma ao.

    Assim, o direito processual fundamentalmente o ramo dodireito que se prope a tratar da jurisdio, da ao e do processo, edos seus variados desdobramentos, como as partes, a petio inicial,a citao, a contestao, a audincia, a sentena, a execuo e osrecursos.

    Divide-se o direito processual em trs principais subespcies:

    a) o direito processual civil: destinado s lides no penais e notrabalhistas (o direito processual civil, tambm chamado deprocesso civil, no apenas um instrumento de realizao do

  • direito civil, mas um instrumento de efetivao de todo odireito material, com excluso do direito penal e do direitodo trabalho);

    b ) o direito processual penal: destinado s lides penais(basicamente, o direito processual penal, tambm conhecidocomo processo penal, um instrumento de efetivao dodireito penal); e

    c ) o direito processual do trabalho: destinado s lides trabalhistas(basicamente, o direito processual do trabalho, tambmconhecido como processo do trabalho, um instrumento deefetivao do direito do trabalho).

    Por outro lado, dada a sua abrangncia, o direito processualcivil tem sido desmembrado em novas subespcies, como o direitoprocessual coletivo (destinado s lides sobre direitos difusos, coletivose individuais homogneos), o direito processual pblico (destinado slides sobre direito pblico), o direito processual administrativo(destinado s lides administrativas) e o direito processual tributrio(destinado s lides tributrias).

    Ademais, devido atuao da Constituio no processo e atuao do processo na Constituio, podemos verificar a existnciade duas interessantes subespcies do direito, quais sejam: o direitoconstitucional processual e o direito processual constitucional.

    O direito constitucional processual diz respeito s normasprocessuais consagradas na Constituio Federal, como as que dizemrespeito ao princpio do devido processo legal, ao princpio dainafastabilidade do controle jurisdicional, ao princpio docontraditrio e da ampla defesa, ao princpio da motivao dasdecises judiciais, ao princpio do juiz natural e vedao das provasilcitas.

    J o direito processual constitucional diz respeito s normasque regulam a chamada jurisdio constitucional, vale dizer, omandado de segurana, o mandado de injuno, o habeas corpus, ohabeas data etc.

    Fala-se tambm em direito processual eletrnico ou emprocesso eletrnico (na verdade, trata-se de um procedimento

  • eletrnico), para designar o conjunto de normas que regem o uso domeio eletrnico na tramitao dos processos judiciais, hojedisciplinado pela Lei n. 11.419/2006.

    Em razo de toda essa diversidade de reas de atuao dodireito processual, existem muitas dvidas na doutrina sobre aexistncia de uma teoria geral do processo.

    No mbito do direito processual do trabalho, existe grandecontrovrsia a respeito da autonomia deste direito em relao aodireito processual civil.

    Para os adeptos da teoria monista, no existem diferenasrelevantes entre o processo do trabalho e o processo civil quejustifiquem a autonomia daquele em relao a este. O processo dotrabalho seria apenas uma subespcie do processo civil.

    J os adeptos da teoria dualista lembram que existem muitasdiferenas entre o processo do trabalho e o processo civil, tais comoo carter protecionista do direito processual do trabalho, a existnciade uma Justia do Trabalho, a existncia de uma legislaoprocessual trabalhista prpria e de princpios processuais prprios,como o da finalidade social e o da indisponibilidade.

    certo que determinados institutos so comuns a todas assubespcies do direito processual. Por exemplo, os conceitos dejurisdio, de ao e de processo so rigorosamente iguais. Sotambm iguais, por exemplo, os princpios do devido processo legal,do contraditrio e da ampla defesa e do juiz natural.

    Mas outros institutos no se aplicam a todas as ramificaesdo direito processual. Por exemplo: a denunciao da lide do direitoprocessual civil no tem aplicao no direito processual penal; e o juspostulandi do direito processual do trabalho normalmente no temaplicao no direito processual civil.

    Fizemos, no entanto, uma opo metodolgica pelaabordagem da teoria geral do processo fundamentalmente sob aptica do direito processual civil, porque entendemos que essasubespcie do direito processual a que apresenta o maior nmerode institutos aplicveis a todas as outras subespcies, constituindo umalicerce para o estudo de todo o direito processual.

  • Captulo 2

    Jurisdio

    1. Conceito

    A jurisdio uma das funes do Estado, como aadministrativa e a legislativa. Trata-se, fundamentalmente, de umencargo assumido pelo Estado de resolver, com a devidaimparcialidade, os conflitos de interesses que lhe so devidamenteapresentados.

    Todavia, conforme clssica lio, a jurisdio tambm podeser conceituada como poder, vale dizer, como manifestao de umpoder estatal consistente na possibilidade de decidir e de impor suasdecises, e como atividade, significando o conjunto de atospraticados pelo juiz no processo.

    2. Equivalentes jurisdicionais

    Existem outros meios de soluo dos conflitos de interesses,alm da jurisdio estatal propriamente dita. So chamados deequivalentes jurisdicionais ou meios alternativos de soluo deconflitos, a saber: a autotutela; a autocomposio; a mediao; aarbitragem; e as decises dos tribunais administrativos.

    2.1 A autotutela

  • D-se a autotutela quando uma pessoa impe, normalmentede maneira arbitrria ou pelo exerccio da fora, o seu interessesobre o interesse da outra pessoa.

    Essa soluo admitida somente em casos excepcionais.Alguns exemplos: 1 do art. 1.210 do CC: O possuidor turbado, ouesbulhado, poder manter-se ou restituir-se por sua prpria fora,contanto que o faa logo; os atos de defesa, ou de desforo, nopodem ir alm do indispensvel manuteno, ou restituio daposse; art. 1.219 do CC: O possuidor de boa-f tem direito indenizao das benfeitorias necessrias e teis, bem como, quantos volupturias, se no lhe forem pagas, a levant-las, quando opuder sem detrimento da coisa, e poder exercer o direito dereteno pelo valor das benfeitorias necessrias e teis.

    2.2 A autocomposio

    D-se a autocomposio quando as pessoas em conflitopem fim a este, dentro ou fora do processo, por meio do sacrifcioespontneo ao prprio interesse em favor do interesse do outro.

    possvel que o sacrifcio ao interesse seja total ou parcial.

    Por outro lado, possvel que apenas um dos conflitantessacrifique o seu interesse desistncia da ao (inciso VIII do art.267 do CPC), reconhecimento da procedncia do pedido (inciso II doart. 269 do CPC) e renncia ao direito afirmado (inciso V do art. 269do CPC); ou que ambos sacrifiquem os seus interesses, realizandoconcesses mtuas transao (inciso III do art. 269 do CPC).

    2.3 A mediao

    D-se a mediao quando algum auxilia as pessoas emconflito a encontrarem a autocomposio.

    Aquele que age exclusivamente como mediador nosoluciona o conflito; apenas propicia, cria o ambiente para que aconciliao ocorra.

    2.4 A arbitragem

  • D-se a arbitragem quando algum escolhido pelaspessoas em conflito para que o resolva mediante a elaborao deuma sentena arbitral que pode ser executada em juzo, pois considerada um ttulo executivo judicial (inciso IV do art. 475-N doCPC).

    A arbitragem, regulada pela Lei n. 9.307/96, constituda decomum acordo por meio de uma conveno de arbitragem clusula compromissria ou compromisso arbitral.

    Para alguns, a arbitragem , apenas, um equivalentejurisdicional, pois: a arbitragem implica renncia voluntria jurisdio; a funo jurisdicional exclusiva do Estado (ou de quemest regularmente investido da autoridade de juiz, por concursopblico ou nomeao do Poder Executivo, conforme a Constituio);a validade da sentena arbitral pode ser questionada no PoderJudicirio; e o rbitro no pode executar as suas prprias decises.

    Outros, porm, entendem que a arbitragem tem naturezajurisdicional, pois: o rbitro age com imparcialidade; a sentenaarbitral produz coisa julgada material; e o fato de no poder executarsuas prprias decises irrelevante para definir a natureza de suaatividade o juiz criminal tambm no pode executar civilmente asentena penal condenatria, mas nem por isso se deixa dereconhecer a sua atividade como jurisdicional.

    2.5 As decises dos tribunais administrativos

    As decises dos tribunais administrativos so os julgados dergos como as agncias reguladoras como a Agncia Nacional deAviao Civil e Agncia Nacional de Energia Eltrica , as doConselho Administrativo de Defesa Econmica (CADE), as dosTribunais de Contas e as do Tribunal Martimo.

    3. Caractersticas da jurisdio

    As principais teorias sobre o elemento caracterstico dajurisdio foram formuladas por Chiovenda, Carnelutti, Allorio eCappelletti.

    Chiovenda entendia que a jurisdio se caracterizava e,

  • assim, distinguia-se das demais funes estatais pelasubstitutividade, vale dizer, a substituio de uma atividade queprimariamente deveria ser realizada pelas partes por uma atividadedo Estado, e pela atuao da vontade da lei.

    Trata-se tambm de posio que goza de bastante prestgioentre os autores brasileiros.

    J Carnelutti dizia que a jurisdio se caracterizava pelajusta composio da lide.

    A palavra lide, segundo Carnelutti, significa o conflito deinteresses caracterizado por uma pretenso resistida.

    Liebman (1945, p. 222-223) criticou o conceito de lide deCarnelutti, dizendo que este era sociolgico, e no jurdico. Para esseautor, a lide deveria ser extrada necessariamente do processo, maisprecisamente do pedido do autor (o elemento que delimita emconcreto o mrito da causa no , portanto, o conflito existente entreas partes fora do processo, e sim o pedido feito ao juiz em relaoquele conflito).

    Interessante notar que na Exposio de Motivos do CPCbrasileiro o vocbulo lide explicitamente definido pela pticacarneluttiana: Lide , consoante Carnelutti, o conflito de interessesqualificado pela pretenso de um dos litigantes e pela resistncia dooutro.

    Porm, ao contrrio do que se poderia esperar, nesta mesmaExposio de Motivos, antes at da definio de lide, o leitor recebeuma advertncia: O projeto s usa a palavra lide para designar omrito da causa.

    Tal frase filia a Exposio de Motivos e, por conseguinte, oCdigo, doutrina de Liebman. Fiel a esta concepo, o Cdigoemprega a palavra lide com o sentido de mrito em inmeraspassagens.

    A expresso julgamento antecipado da lide (art. 330 do CPC)talvez seja o mais eloquente exemplo da posio abraada pelolegislador: lide aqui mrito, ou seja, o pedido do autor.

    Mas no com o sentido de mrito (pedido do autor) que olegislador menciona a palavra lide em denunciao da lide (arts.

  • 70 a 76 do CPC), por exemplo.

    Desta forma, pode-se concluir que o conceito de lideverdadeiramente adotado pelo CPC o de Liebman, e no o deCarnelutti.

    De outro lado, Allorio dizia que a jurisdio se caracterizavapela imutabilidade da deciso judicial (coisa julgada material).

    E, para Cappelletti, a caracterstica marcante da jurisdioseria a imparcialidade, vale dizer, o julgador deveria ser imparcial oudesinteressado no resultado final do processo.

    As teorias de Chiovenda, Carnelutti e Allorio no sesustentam quando o processo extinto sem resoluo do mrito (art.267 do CPC), porque, em tal situao, no ocorre a substitutividade (oEstado no realiza uma funo que seria das partes), no ocorre aatuao da vontade da lei (o Estado no diz quem tem o direitomaterial), no ocorre a justa composio da lide (o Estado noresolve o conflito de interesses), nem acontece a coisa julgadamaterial (a ao pode ser reproposta).

    4. Jurisdio contenciosa e jurisdio voluntria

    Na jurisdio contenciosa, existe conflito de interesses oulide fundada num conflito de interesses vazado no pedido do autor.Exemplos: ao de reparao de danos e ao de consignao empagamento.

    J na jurisdio voluntria, integrativa ou graciosa, cujasregras gerais esto previstas nos arts. 1.103 ao 1.111, no existeconflito de interesses ou lide fundada num conflito de interesses,embora exista pedido. Exemplo: a retificao de registro.

    Muitos autores consideram o conflito de interesses umelemento fundamental conceituao da lide e existncia dajurisdio, razo pela qual entendem que na chamada jurisdiovoluntria no h propriamente funo jurisdicional, mas umafuno administrativa que, por razes diversas, foi confiada ao juiz(administrao pblica de interesses privados).

    Outros autores pensam que o conflito de interesses no umelemento indispensvel conceituao da lide nem existncia da

  • jurisdio, porque estas pressupem apenas a formulao de umpedido em juzo, ainda que no exista um conflito de interesses real,motivo pelo qual acreditam que h funo jurisdicional na jurisdiovoluntria.

    Acreditamos que a jurisdio voluntria tem efetivanatureza jurisdicional, at porque o juiz atua com imparcialidade eessa a caracterstica mais importante da jurisdio.

    Vale acrescentar que na jurisdio voluntria no existempartes, somente interessados.

    Ademais, na jurisdio voluntria, o juiz pode decidir opedido formulado por equidade, e no apenas com equidade.

    5. Princpios da jurisdio

    Os princpios relativos jurisdio so os seguintes:

    5.1 Princpio da investidura

    A jurisdio s pode ser exercida por quem estregularmente investido da autoridade de juiz.

    A investidura se d por meio de concurso pblico (inciso I doart. 93 da CF); ou por meio de indicao do chefe do PoderExecutivo (pargrafo nico do art. 94 da CF; pargrafo nico do art.101 da CF; e pargrafo nico do art. 104 da CF, por exemplo).

    Nem todos, porm, aceitam que a jurisdio uma funoexercida exclusivamente pelo Poder Judicirio. Cite-se, comoexemplo, a arbitragem, que, para alguns, tem natureza jurisdicional(conforme o caput do art. 13 da Lei da Arbitragem, Pode ser rbitroqualquer pessoa capaz e que tenha a confiana das partes).

    5.2 Princpio da unidade

    A jurisdio una e indivisvel, porquanto manifestao deuma soberania estatal que no pode ser repartida.

    5.3 Princpio da aderncia (ao territrio)

    A jurisdio exercida apenas no territrio nacional, isto

  • porque a soberania do pas se limita ao seu territrio.

    O Cdigo, porm, dispe sobre a jurisdio internacional (ocaptulo intitulado Da competncia internacional) em trsdispositivos:

    Art. 88. competente a autoridade judiciria brasileiraquando:I o ru, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiverdomiciliado no Brasil;II no Brasil tiver de ser cumprida a obrigao;III a ao se originar de fato ocorrido ou de ato praticadono Brasil.Pargrafo nico. Para o fim do disposto no n. I, reputa-sedomiciliada no Brasil a pessoa jurdica estrangeira que aquitiver agncia, filial ou sucursal.

    Art. 89. Compete autoridade judiciria brasileira, comexcluso de qualquer outra:I conhecer de aes relativas a imveis situados no Brasil;II proceder a inventrio e partilha de bens, situados noBrasil, ainda que o autor da herana seja estrangeiro e tenharesidido fora do territrio nacional.

    Art. 90. A ao intentada perante tribunal estrangeiro noinduz litispendncia, nem obsta a que a autoridade judiciriabrasileira conhea da mesma causa e das que lhe soconexas.

    Por outro lado, h quem compreenda a aderncia aoterritrio apenas como o princpio que estabelece limitaesterritoriais ao exerccio da jurisdio pelo juiz, mesmo dentro doterritrio nacional (comarcas, sees judicirias etc.).

    Nesse caso, podemos citar algumas excees ao princpio,

  • como a citao pelo correio, que pode ser determinada paraqualquer foro do pas (caput do art. 222 do CPC), e a realizao dachamada penhora on-line, que tambm pode ser determinada paraqualquer foro do pas (art. 655-A do CPC).

    5.4 Princpio da inrcia

    A jurisdio no ser exercida se no houver a provocaomediante o exerccio da ao (vide art. 2 do CPC).

    Por outras palavras, o processo no se inicia ex officio (deofcio), sem requerimento. Ne procedat judex ex officio (no procedao juiz de ofcio) ou nemo judex sine actore (ningum juiz semautor).

    H, porm, excees (por exemplo: segundo o art. 989 doCPC, O juiz determinar, de ofcio, que se inicie o inventrio, senenhuma das pessoas mencionadas nos artigos antecedentes orequerer no prazo legal).

    A execuo trabalhista pode iniciar de ofcio, pois, conformeo caput do art. 878 da CLT, A execuo poder ser promovida porqualquer interessado, ou ex officio pelo prprio Juiz ou Presidente ouTribunal competente, nos termos do artigo anterior.

    Note-se que a inrcia versa exclusivamente sobre o incio doprocesso, porque O processo civil comea por iniciativa da parte,mas se desenvolve por impulso oficial (art. 262 do CPC).

    , porm, decorrente da inrcia o princpio da congruncia,segundo o qual deve haver uma correlao entre o pedido do autor eo dispositivo da sentena, no podendo deixar de apreciar a totalidadedo pedido, ultrapassar o pedido ou julgar matria estranha ao pedido.

    5.5 Princpio da inafastabilidade (do controle jurisdicional)

    Trata-se da garantia constitucional do acesso justia, poisningum nem mesmo o legislador poder excluir da apreciaodo Poder Judicirio leso ou ameaa a direito (art. 5, XXXV, CF).

    Por exemplo: uma lei no pode impedir as pessoas depromoverem aes sobre matria tributria; nem pode exigir oprvio exaurimento da via administrativa para que algum possa

  • promover uma ao; nem pode limitar a atuao do PoderJudicirio, proibindo concesso de liminares (o Supremo TribunalFederal se posicionou contrariamente a esse entendimento na ADC-MC 4, admitindo que a lei proba a concesso de liminares emdeterminadas situaes).

    Por outro lado, quando se pensa em inafastabilidade, aprimeira situao que se coloca em pauta a questo da convenode arbitragem. A discusso toma maior relevo na medida em que,numa primeira anlise, seria ilgico imaginar que uma lei ordinria(Lei n. 9.307/96) pudesse se sobrepor a um preceito constitucional(art. 5, XXXV, CF).

    J foi decidido que a arbitragem no inconstitucional e noviola o direito de ao (julgamento incidenter tantum pelo STF dehomologao de sentena estrangeira [SE 5.206-7, em 12-12-2001],propugnando pela constitucionalidade dos arts. 6, pargrafo nico, 7,41, 42 da LARB e dos arts. 267, VII, e 301, IX, do CPC).

    E isso porque: a) refere-se somente a direitos disponveis,portanto dentro da esfera de disponibilidade das partes; b) as partespodem livremente dispor sobre aquilo que ser submetido arbitragem (no se trata, portanto, de uma vedao genrica aoJudicirio); c) o ordenamento cria uma srie de situaes protetivaspara evitar o uso desmedido da arbitragem (v.g., vedao da clusulacompromissria em contrato de adeso).

    H, porm, uma exceo prevista na prpria ConstituioFederal ao princpio da inafastabilidade: O Poder Judicirio sadmitir aes relativas disciplina e s competies desportivasaps esgotarem-se as instncias da justia desportiva, regulada emlei ( 1 do art. 217).

    5.6 Princpio da efetividade

    Todos possuem o direito a uma devida resposta do Judicirio,vale dizer, no menor espao de tempo possvel, o processo deveconferir a quem tem direito tudo aquilo e precisamente aquilo a quefaz jus.

    O disposto no inciso XXXV do art. 5 da CF , ao mesmo

  • tempo, fonte dos princpios fundamentais da inafastabilidade dajurisdio e da efetividade da jurisdio.

    A efetividade da jurisdio exige que, no menor espao detempo possvel, o processo, de forma segura, confira a quem temdireito tudo aquilo e precisamente aquilo a que faz jus.

    Esse tema ser abordado com maior profundidade no ltimocaptulo deste livro.

    5.7 Princpio da indeclinabilidade

    O juiz no pode declinar do seu ofcio, da sua funo. Nopode o juiz, por exemplo, sob o pretexto de que no h lei aplicvelao caso, recusar-se a julgar. Nesse caso, aplicar a analogia, oscostumes e os princpios gerais do direito, conforme dispe o art. 126do CPC.

    No que concerne equidade, o art. 127 do CPC veda apossibilidade de se exercer o juzo integrativo por meio dessemtodo, salvo nas hipteses previstas em lei. So casos em que h apossibilidade de julgamento por equidade: a) jurisdio voluntria(art. 1.109 do CPC), j que o magistrado no est vinculado legalidade estrita; b) justia do trabalho (art. 8 da CLT); c) no direitotributrio (inciso IV do art. 108 do CTN); d) nas relaes de consumo(art. 7 da Lei n. 8.078/90); e) nos juizados especiais (art. 6 da Lei n.9.099/95); f) na arbitragem (art. 2 da Lei n. 9.307/96).

    H situaes, porm, em que o juiz deve se afastar da causa,remetendo os autos ao seu substituto legal, como os casos deimpedimento (vide arts. 134 e 136 do CPC) e de suspeio (vide art.135 do CPC), que afetam a sua imparcialidade.

    Art. 134. defeso ao juiz exercer as suas funes noprocesso contencioso ou voluntrio:I de que for parte;II em que interveio como mandatrio da parte, oficioucomo perito, funcionou como rgo do Ministrio Pblico,ou prestou depoimento como testemunha;III que conheceu em primeiro grau de jurisdio, tendo-

  • lhe proferido sentena ou deciso;IV quando nele estiver postulando, como advogado daparte, o seu cnjuge ou qualquer parente seu, consanguneoou afim, em linha reta; ou na linha colateral at o segundograu;V quando cnjuge, parente, consanguneo ou afim, dealguma das partes, em linha reta ou, na colateral, at oterceiro grau;VI quando for rgo de direo ou de administrao depessoa jurdica, parte na causa.Pargrafo nico. No caso do n. IV, o impedimento s severifica quando o advogado j estava exercendo o patrocnioda causa; , porm, vedado ao advogado pleitear noprocesso, a fim de criar o impedimento do juiz.

    Art. 135. Reputa-se fundada a suspeio de parcialidade dojuiz, quando:I amigo ntimo ou inimigo capital de qualquer das partes;II alguma das partes for credora ou devedora do juiz, deseu cnjuge ou de parentes destes, em linha reta ou nacolateral at o terceiro grau;III herdeiro presuntivo, donatrio ou empregador dealguma das partes;IV receber ddivas antes ou depois de iniciado o processo;aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ousubministrar meios para atender s despesas do litgio;V interessado no julgamento da causa em favor de umadas partes.Pargrafo nico. Poder ainda o juiz declarar-se suspeitopor motivo ntimo.

    Art. 136. Quando dois ou mais juzes forem parentes,consanguneos ou afins, em linha reta e no segundo grau nalinha colateral, o primeiro, que conhecer da causa notribunal, impede que o outro participe do julgamento; caso

  • em que o segundo se escusar, remetendo o processo ao seusubstituto legal.

    5.8 Princpio da indelegabilidade

    Como acontece com as demais funes estatais, a jurisdiono pode ser delegada, transferida a outra pessoa, devendo serexercida exclusivamente pelo juiz.

    So excees indelegabilidade, por exemplo, a delegaodo tribunal ao juiz do foro para a prtica de atos executivos nasexecues de competncia originria de tribunal (alnea m do inciso Ido art. 102 da CF esse dispositivo se refere apenas ao SupremoTribunal Federal, mas outros tribunais tambm podem faz-lo,conforme entendimento sedimentado); e a delegao do tribunal aojuiz do foro para a produo de provas nas aes rescisrias (art. 492do CPC).

    5.9 Princpio da inevitabilidade

    A jurisdio, como manifestao da soberania estatal, nopode ser evitada pelas partes. Estas no precisam aceitar ajurisdio, porque o Estado a impe.

    5.10 Princpio do juiz natural (e princpio do promotor natural)

    A competncia, que pode ser conceituada como a atribuiolegal para o exerccio da jurisdio, estabelecida antes daocorrncia do fato. Por isso, fala-se em juiz natural, aquelepreviamente definido por lei como competente, antes que o fatoocorra, para que a sua imparcialidade no seja afetada pordesignaes casusticas. O art. 5 da CF, no inciso XXXVII, probeque exista juzo ou tribunal de exceo (criado ou definido comocompetente para determinado caso, aps a ocorrncia do fato) e, noinciso LIII, diz que ningum ser processado nem sentenciadoseno pela autoridade competente.

    Para alguns, a Constituio Federal e a legislaoinfraconstitucional pertinente tambm preveem implicitamente oprincpio do promotor natural, impedindo que integrantes do

  • Ministrio Pblico sejam designados para atuar nos processos aps aocorrncia dos fatos, sem a adoo de critrios legais previamenteestabelecidos. Perceba-se que o art. 5, LIII, da CF fala emprocessado e em autoridade competente.

    6. Tutelas jurisdicionais

    6.1 Tutelas jurisdicionais clssicas

    As tutelas jurisdicionais se dividem classicamente em trsgrupos: tutela de conhecimento; tutela executiva; e tutela cautelar.

    A tutela de conhecimento tem por objetivo conhecer odireito, vale dizer, apurar se o autor possui o direito material queafirma em juzo.

    J a tutela executiva objetiva a satisfao concreta do direitodo credor, conhecido devido existncia de um ttulo executivo.

    No CPC, os ttulos judiciais esto previstos no art. 475-N (porexemplo: a sentena que, no processo civil, reconhea a existnciade uma obrigao de fazer, no fazer, entregar coisa ou pagarquantia; a sentena arbitral e a sentena penal condenatria) e osttulos extrajudiciais esto previstos no art. 585 (por exemplo: ocheque, a nota promissria e a duplicata). Mas existem outros ttulosexecutivos previstos pela legislao extravagante.

    Por sua vez, a tutela cautelar tem como objetivo conservar omesmo estado inicial de coisas, pessoas ou provas, assegurando oresultado til de outra tutela jurisdicional. Por exemplo: o arresto debens para assegurar o resultado til de uma futura execuo porquantia certa (arts. 813 ao 821 do CPC).

    A tutela cautelar exige a presena de dois requisitos: o fumusboni juris e o periculum in mora.

    O fumus boni juris normalmente identificado com aaparncia de direito, a plausibilidade de direito, a verossimilhana ourelevncia da fundamentao tudo leva a crer que o requerentetem o direito afirmado.

    Por outro lado, o periculum in mora se caracteriza pelo riscode dano irreparvel ou de difcil reparao ou como o risco de

  • ineficcia do provimento final se no for concedida a tutelacautelar, ser intil a tutela de conhecimento ou executiva.

    6.2 Tutelas jurisdicionais de conhecimento

    A tutela de conhecimento pode se dividir em trs ou emcinco espcies, conforme a classificao adotada.

    Segundo a classificao ternria ou trinria, as tutelas deconhecimento so a declaratria, a constitutiva e a condenatria.

    J para a classificao quinria, as tutelas de conhecimentoso a declaratria, a constitutiva, a condenatria, a mandamental e aexecutiva lato sensu.

    Adotaremos aqui a classificao quinria.

    6.2.1 Tutela declaratria

    A tutela declaratria tem por objetivo declarar a existnciaou a inexistncia de uma relao jurdica, ou a autenticidade, ou afalsidade de um documento (art. 4 do CPC). Por exemplo:investigao de paternidade; usucapio e consignao empagamento.

    O Superior Tribunal de Justia admite a declaratria detempo de servio (Smula 242 do STJ) e a declaratria parainterpretao de clusula contratual (Smula 181 do STJ).

    Declarar significa tornar claro, esclarecer. Portanto, a tuteladeclaratria no cria nem extingue uma relao jurdica, apenasesclarece a existncia ou a inexistncia desta ou a autenticidade ou afalsidade de um documento.

    Interessante notar que a ao declaratria pode ser propostamesmo quando violado o direito, ou seja, o interesse da parte pode selimitar declarao (pargrafo nico do art. 4 do CPC).

    Alguns autores justificam o interesse da tutela declaratriana dvida ou na incerteza quanto existncia do direito, enquantooutros preferem dizer que o interesse na tutela declaratria seresume segurana jurdica advinda da coisa julgada.

    Importante destacar que em todas as sentenas, mesmo nas

  • constitutivas e nas condenatrias, o juiz declara. Desta forma, todasentena declara algo. A diferena que, nas sentenas com outrastutelas, o juiz no apenas declara, pois h a preponderncia de outrosefeitos (por exemplo, o constitutivo, o condenatrio etc.).

    Vale ainda consignar que a tutela declaratria normalmentepossui eficcia ex tunc.

    6.2.2 Tutela constitutiva

    A tutela constitutiva tem por objetivo constituir, desconstituir,conservar ou modificar uma relao jurdica. Exemplos: divrcio;anulatria de relao contratual; renovatria de locao e interdio(segundo o entendimento majoritrio).

    A tutela constitutiva altera o mundo jurdico, ao contrrio datutela declaratria, que simplesmente reconhece a existncia ou ainexistncia, a autenticidade ou a falsidade.

    Vale registrar que a tutela constitutiva normalmente temeficcia ex nunc. A exceo a essa regra a anulao de negciojurdico (art. 182 do CC), que retroage data de formalizao donegcio.

    6.2.3 Tutela condenatria

    A tutela condenatria tem por objetivo determinar umaprestao ou, em sentido estrito, o pagamento de uma quantia. Porexemplo: reparao de danos e cobrana.

    Para os adeptos da teoria ternria ou trinria, a tutelacondenatria no se limita ao pagamento de quantia, pois tambm dizrespeito obrigao de fazer ou de no fazer e entrega de coisa.

    Com apoio em Liebman, alguns entendem que a tutelacondenatria consiste numa sano por um ilcito.

    Ocorre que existe condenao que no representa umasano por um ilcito e existe sano por ilcito sem que aconteauma condenao. Por exemplo: a condenao do vencido aopagamento das verbas decorrentes da sucumbncia no umasano por um ilcito; por outro lado, a resciso de um contrato emrazo da violao a uma clusula contratual representa uma sano

  • por um ilcito, mas no decorre de uma condenao.

    6.2.4 Tutela mandamental

    A tutela mandamental tem por objetivo a expedio de umaordem para que algum faa ou deixe de fazer alguma coisa. Porexemplo: mandado de segurana; habeas data e manuteno deposse.

    6.2.5 Tutela executiva lato sensu

    A tutela executiva lato sensu tem por objetivo determinar atransferncia de uma coisa da esfera patrimonial do ru para a doautor. Exemplos: despejo e reintegrao de posse.

    No passado se dizia que a executiva lato sensu secaracterizava por permitir a execuo independentemente deprocesso autnomo de execuo, vale dizer, a execuo seria apenasuma fase posterior sentena.

    Essa viso no faz mais sentido nos dias de hoje, porque,salvo excees legais, todas as decises judiciais podem serexecutadas independentemente de processo autnomo de execuo.

    Normalmente, as decises que determinam o pagamento deuma quantia so executadas na forma do art. 475-J do CPC; asdecises que impem o cumprimento de uma obrigao de fazer oude no fazer so executadas na forma do art. 461 do CPC; e asdecises que determinam a entrega de uma coisa so executadas naforma do art. 461-A.

    6.3 Tutela especfica de obrigao de fazer ou de no fazer etutela especfica de entrega de coisa

    O Cdigo disciplina a tutela especfica de obrigao de fazerou de no fazer no art. 461, e a tutela especfica de entrega de coisano art. 461-A, criando um modelo prprio.

    Art. 461. Na ao que tenha por objeto o cumprimento deobrigao de fazer ou no fazer, o juiz conceder a tutela

  • especfica da obrigao ou, se procedente o pedido,determinar providncias que assegurem o resultado prticoequivalente ao do adimplemento. 1 A obrigao somente se converter em perdas e danosse o autor o requerer ou se impossvel a tutela especfica oua obteno do resultado prtico correspondente. 2 A indenizao por perdas e danos dar-se- sem prejuzoda multa (art. 287). 3 Sendo relevante o fundamento da demanda e havendojustificado receio de ineficcia do provimento final, lcitoao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediantejustificao prvia, citado o ru. A medida liminar poderser revogada ou modificada, a qualquer tempo, em decisofundamentada. 4 O juiz poder, na hiptese do pargrafo anterior ou nasentena, impor multa diria ao ru, independentemente depedido do autor, se for suficiente ou compatvel com aobrigao, fixando-lhe prazo razovel para o cumprimentodo preceito. 5 Para a efetivao da tutela especfica ou a obteno doresultado prtico equivalente, poder o juiz, de ofcio ou arequerimento, determinar as medidas necessrias, tais comoa imposio de multa por tempo de atraso, busca eapreenso, remoo de pessoas e coisas, desfazimento deobras e impedimento de atividade nociva, se necessrio comrequisio de fora policial. 6 O juiz poder, de ofcio, modificar o valor ou aperiodicidade da multa, caso verifique que se tornouinsuficiente ou excessiva.

    Art. 461-A. Na ao que tenha por objeto a entrega de coisa,o juiz, ao conceder a tutela especfica, fixar o prazo para ocumprimento da obrigao. 1 Tratando-se de entrega de coisa determinada pelognero e quantidade, o credor a individualizar na petioinicial, se lhe couber a escolha; cabendo ao devedor

  • escolher, este a entregar individualizada, no prazo fixadopelo juiz. 2 No cumprida a obrigao no prazo estabelecido,expedir-se- em favor do credor mandado de busca eapreenso ou de imisso na posse, conforme se tratar decoisa mvel ou imvel. 3 Aplica-se ao prevista neste artigo o disposto nos 1 a 6 do art. 461.

    Segundo o modelo criado pelo legislador, bastar ao autorrequerer a tutela especfica (in natura, como prevista na lei ou nocontrato).

    Julgando o pedido procedente, o juiz determinar ocumprimento da tutela especfica. Se esta, por alguma razo, no forpossvel, determinar que se cumpra o resultado equivalente (outratutela, mas igualmente especfica). E, apenas se esse tambm nofor possvel, condenar o vencido em perdas e danos (tutela peloequivalente pecunirio).

    O Cdigo d a entender que o autor pode requerer aconcesso do resultado prtico equivalente ou a condenao do ruem perdas e danos, mesmo que seja possvel o cumprimento datutela especfica conforme originariamente prevista na lei ou nocontrato. Mas certamente no esse o sentido da norma. H umasequncia que deve ser seguida pelo juiz: tutela especfica(originria); resultado prtico equivalente; e perdas e danos.

    Interessante notar que no se trata de um modelo pr-moldado, porque a tutela jurisdicional dever ser construda pelo juizconforme as especificidades do caso concreto.

    Ademais, para o cumprimento da tutela especfica(originria) ou do resultado prtico equivalente, o juiz, de ofcio ou arequerimento, pode se valer de diversas medidas, como aplicarmulta peridica (astreintes), determinar busca e apreenso ou aremoo de pessoas ou de coisas.

    Essas medidas so previstas de forma exemplificativa peloCdigo, porque outras podem ser aplicadas pelo juiz, conforme as

  • especificidades do direito tutelado ou caso concreto. Por exemplo, oSuperior Tribunal de Justia tem admitido o bloqueio de contaspblicas como medida coercitiva para a entrega de medicamentopelo Poder Pblico.

    Interessante notar que a multa prevista no 4 do art. 461 doCPC no pode ser confundida com a multa prevista no pargrafonico do art. 14 do CPC.

    A primeira distino que a multa do 4 do art. 461 doCPC (astreintes) unicamente coercitiva ou constritiva, enquanto amulta do pargrafo nico do art. 14 (contempt of court) sancionatria (pune-se a parte ou qualquer outra pessoa que tenharelao com o processo pelo descumprimento da ordem dada peloEstado).

    Ademais, o juiz pode mudar o valor e a periodicidade damulta do 4 do art. 461 do CPC (astreintes) h dvidas, porm, sea alterao pode ser retroativa, mas o Superior Tribunal de Justiatem entendido que o juiz pode alterar o valor de forma retroativadesde que seja para diminu-lo , mas a multa do pargrafo nico doart. 14 (contempt of court) fixa.

    A multa do 4 do art. 461 do CPC (astreintes) revertidapara o autor, mas a multa do pargrafo nico do art. 14 do CPC revertida para o Poder Pblico Estado, se a ao for proposta naJustia Estadual, e Unio, se a ao for proposta na Justia Federal.

    De outro lado, a multa do 4 do art. 461 do CPC (astreintes)no encontra limitao (exceto a da proporcionalidade), enquanto amulta do pargrafo nico do art. 14 do CPC deve ser limitada aomximo de vinte por cento sobre o valor da causa.

    Por fim, prevalece o entendimento de que a multa do 4 doart. 461 do CPC (astreintes) pode ser executada antes do trnsito emjulgado. J a multa do pargrafo nico do art. 14 do CPC no podeser executada antes do trnsito em julgado.

    Cumpre ainda consignar que os arts. 461 e 461-A do CPCrelativizaram o princpio da congruncia, segundo o qual deve haveruma correlao entre o pedido e o dispositivo da sentena, e a regrada inalterabilidade da sentena, segundo a qual o juiz no podealterar a sentena depois de public-la.

  • 6.4 Tutela inibitria

    A tutela inibitria uma espcie de tutela mandamental quetem por objetivo evitar a prtica, a repetio ou a continuao de umilcito. Exemplos: tutela para evitar a exibio de um programa deTV que viole o direito privacidade do autor; ou tutela para evitaruma violao ao direito autoral.

    Trata-se, portanto, de uma tutela voltada para o futuro(vacina processual), fundada no inciso XXXV do art. 5 da CF (essedispositivo fala em ameaa a direito) e no art. 461 do CPC (tutelaespecfica de obrigao de fazer ou de no fazer) ou no art. 81 doCDC (tutela especfica de obrigao de fazer ou de no fazer emprocesso coletivo).

    A tutela inibitria voltada ao ilcito, e no ao dano. Namaioria das vezes, o ilcito e o dano ocorrem juntos (um decorre dooutro), mas nem sempre assim pode ocorrer ilcito sem dano (umbom exemplo colhido da doutrina a venda de um medicamento noautorizada pelo Poder Pblico pode no causar dano, mas o ato ilcito) e este sem ilcito (o ato praticado em estado de necessidadeno ilcito, mas pode causar dano).

    Portanto, para a tutela inibitria importa a simples ameaade violao ao direito para que o juiz a conceda, sendoabsolutamente irrelevante o risco de dano.

    H, porm, quem entenda que a tutela inibitria voltada aoato antijurdico, e no ao ato ilcito, em razo do que dispe o art. 186do CC.

    Ademais, no se discute dolo ou culpa em tutela inibitria, ouseja, a atividade cognitiva do juiz limitada.

    Um dos autores deste livro (Renato Montans de S, Direitoprocessual civil) j teve a oportunidade de dizer, em outro trabalho,que a ao inibitria voltada a impedir a repetio do ilcito tem afinalidade de evitar a ocorrncia de outra atividade ilcita. Assimcomo a atividade voltada a inibir a continuao do ilcito tem afinalidade de inibir a continuao do agir ilcito. Desta forma, aao inibitria somente tem cabimento para evitar o

  • prosseguimento de um agir ou de uma atividade, e no quando o atoj tiver sido praticado e estando presentes apenas os seus efeitos.

    Para remover o ilcito que j ocorreu, deve a parte valer-seda tutela de remoo do ilcito, e no da tutela inibitria.

    Vale ainda ressaltar que a tutela inibitria no se confundecom a tutela cautelar porque, ao contrrio desta, no uma tutelameramente instrumental no serve como instrumento para aefetividade de outra tutela jurisdicional.

    6.5 Tutela antecipada

    A chamada tutela antecipada consiste no adiantamento deefeitos prticos da sentena de mrito. Exemplo: algum necessita deum medicamento de alto custo, mas o Estado no o fornece. Ento,com fundamento no direito sade, promove uma ao em face doPoder Pblico, com um pedido para a entrega antecipada e imediatado medicamento (tutela antecipada).

    A tutela antecipada e a tutela cautelar so espcies de ummesmo gnero, mas a tutela antecipada satisfativa (satisfaz odireito para assegurar o resultado do provimento final), enquanto atutela cautelar conservativa (conserva o estado inicial de coisas,pessoas ou provas, para assegurar o resultado de algum provimento,sem, contudo, satisfazer o direito).

    Os requisitos para a concesso da tutela antecipada estoprevistos no art. 273 do CPC e so os seguintes:

    a) requerimento (o requerimento deve ser formulado pelo autor,pelo ru, pelo representante do Ministrio Pblico ou peloassistente; alguns, no entanto, admitem a concesso ex officioda tutela antecipada);

    b) prova inequvoca que convena o juiz da verossimilhana daalegao (segundo o entendimento majoritrio, a tutelaantecipada exige a probabilidade da existncia do direitoafirmado, e no apenas a possibilidade de que esse direitoexista; portanto, a prova inequvoca da verossimilhanacorresponde a um fumus boni juris mais robusto ou commaior grau de aparncia; h quem fale mesmo na quase

  • existncia do direito);

    c) reversibilidade do provimento (o provimento antecipado deve serreversvel faticamente; por exemplo, no se concede tutelaantecipada para autorizar a demolio de prdio de valorhistrico); e

    d) periculum in mora (risco de dano irreparvel ou de difcilreparao; ou risco de ineficcia do provimento final); ou

    e) abuso do direito de defesa ou defesa meramente protelatria (aparte se utiliza de um direito para obter um fim no desejadopelo sistema jurdico; preciso observar o comportamentodo ru durante o processo; por exemplo, age abusivamente oque subtrai um documento dos autos); ou

    f) pedido incontroverso ou parte incontroversa do pedido (significa aausncia de impugnao ou o reconhecimento de um pedidoou de parcela do pedido formulado).

    Art. 273. O juiz poder, a requerimento da parte, antecipar,total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida nopedido inicial, desde que, existindo prova inequvoca, seconvena da verossimilhana da alegao e:I haja fundado receio de dano irreparvel ou de difcilreparao; ouII fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou omanifesto propsito protelatrio do ru. 1 Na deciso que antecipar a tutela, o juiz indicar, demodo claro e preciso, as razes do seu convencimento. 2 No se conceder a antecipao da tutela quandohouver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. 3 A efetivao da tutela antecipada observar, no quecouber e conforme sua natureza, as normas previstas nosarts. 588, 461, 4 e 5, e 461-A. 4 A tutela antecipada poder ser revogada ou modificadaa qualquer tempo, em deciso fundamentada. 5 Concedida ou no a antecipao da tutela, prosseguir oprocesso at final julgamento.

  • 6 A tutela antecipada tambm poder ser concedidaquando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parceladeles, mostrar-se incontroverso. 7 Se o autor, a ttulo de antecipao de tutela, requererprovidncia de natureza cautelar, poder o juiz, quandopresentes os respectivos pressupostos, deferir a medidacautelar em carter incidental do processo ajuizado.

    Tais requisitos so abordados com maior profundidade novolume 26 desta coleo, destinado s tutelas de urgncia e aosprocedimentos especiais.

  • Captulo 3

    Ao

    1. Conceito

    Ao um direito fundamental de exigir do Estado umajurisdio efetiva. Trata-se de um direito pblico, subjetivo,autnomo e abstrato, como se ver adiante. O mais importante,entretanto, que a ao est inserida no plano dos direitosfundamentais.

    2. Natureza jurdica

    Muitas so as teorias com o objetivo de explicar a ao,merecendo destaque as seguintes concepes: teoria clssica,tambm conhecida como civilista ou imanentista; teoria da aocomo direito concreto; teoria da ao como direito abstrato; e teoriaecltica de Liebman.

    2.1 Teoria clssica, civilista ou imanentista

    Segundo esta doutrina, tambm conhecida como civilista ouimanentista, a ao era tida como uma mera variante, suplemento,anexo, acessrio, funo, elemento integrante, aspecto ou momentodo direito material ameaado ou violado, direito material elevado segunda potncia, ou mesmo a transformao deste direito materialnum novo direito, traduzindo-se na possibilidade ou poder de

  • afirmao do prprio direito material e na fora de reao a umaameaa ou efetiva violao deste mesmo direito.

    Assim, a ao complementava a prpria noo de direitomaterial, havendo uma relao muito estreita entre ambos, pois noexistiria ao sem direito, nem direito material sem ao.

    2.2 Teoria da ao como direito concreto

    Em 1857, teve incio na Alemanha uma discusso quealterou toda a concepo doutrinria existente a respeito da ao,quando Theodor Muther, professor em Knigsberg, publicou umaobra contestando um trabalho de Windscheid, professor emGreifswald, publicado em 1856, a respeito da actio romana.

    O grande mrito desta clebre polmica foi oreconhecimento da existncia da ao como um direito autnomo. Aao passou a ser vista como um direito frmula (tutelajurisdicional), a ser exercido contra o Estado e tambm contra oadversrio obrigado, sobre o qual ser exercida a coao estatal,para que se obtenha o cumprimento de sua obrigao.

    Surgiu, ento, a chamada teoria da ao como direitoconcreto ou teoria do direito concreto tutela jurdica,personificada em Adolf Wach, que escreveu uma monografia sobrea ao declaratria em 1885.

    Segundo essa teoria, a ao seria o direito a uma sentenafavorvel.

    Desta forma, o autor teria exercido o direito de ao apenasquando o seu pedido fosse julgado procedente, porque a ao surgiriaapenas com a violao ao direito material.

    2.3 Teoria da ao como direito abstrato

    Muitas objees foram formuladas pelos processualistas teoria da ao como direito concreto. A mais importante delas: se aao um direito autnomo, como afirmar que o autor no possuieste direito diante de uma sentena que conclui pela no existnciado direito material afirmado pelo autor em juzo?

  • Com efeito, a ao o direito a um pronunciamento doEstado, terceiro imparcial, diante de um pedido formulado peloautor, e no o direito a uma sentena favorvel, pois, nessa ltimahiptese, no haveria verdadeira autonomia da ao.

    de se concluir, portanto, que existe um direito abstrato deagir em juzo, mesmo que no se possua o direito substancial que sepretende tornar efetivo em juzo.

    Prevalece hoje, entre os processualistas, a ideia segundo aqual a ao um direito abstrato, vale dizer, um direito jurisdio,independentemente do resultado material da sentena.

    Na verdade, a doutrina abstrativista surgiu antes mesmo donascimento da teoria da ao como direito concreto, com apublicao de dois trabalhos jurdicos na segunda metade do sculopassado: o primeiro escrito pelo hngaro Plsz, em 1876 (e publicadona Alemanha em 1880), e o segundo pelo alemo Degenkolb, em1877.

    Esses autores procuraram demonstrar que a ao umdireito processual subjetivo que se pode conceber com abstrao dequalquer outro, sendo, portanto, absolutamente distinto do direitosubstancial ou material subjetivo que possa ter a parte.

    A ao um direito pblico, porquanto exercido contra oEstado, que obrigado a realizar a jurisdio, por meio de seusrgos competentes, embora, de certa forma, exista umacoincidncia entre os interesses do autor e os do Estado; subjetivo,pois qualquer pessoa detm tal faculdade ou poder, podendo exerc-lo, autorizada que est pelo direito objetivo; autnomo, visto que desvinculado do direito material, podendo existir direito sem ao eesta sem direito; e abstrato, por no se tratar de um direito a umasentena favorvel, mas do direito de expor pretenso ou pretensese obter uma prestao jurisdicional, favorvel ou desfavorvel.

    2.4 Teoria ecltica

    Segundo a teoria ecltica de Liebman, a ao consiste nodireito (ou poder subjetivo) a uma sentena de mrito que pode serfavorvel ou desfavorvel ao autor , mas o julgamento deste est

  • condicionado ao preenchimento de determinados requisitosdenominados condies da ao.

    Para Liebman, a falta de uma condio da ao acarretavaa inexistncia da prpria ao (carncia de ao) e da prpriajurisdio.

    Essa teoria foi claramente adotada pelo CPC de 1973 (art. 3e inciso VI do art. 267).

    Hoje, porm, a doutrina se divide a respeito dela.

    Para alguns, a teoria deve ser seguida, mas comobservaes (as condies da ao so requisitos para o exerccioregular da ao, e no para a existncia da ao; e a falta de umacondio da ao no acarreta a ausncia de ao nem dejurisdio).

    Outros, porm, entendem que a doutrina deve serdesconsiderada, porque as condies da ao se confundem com oprprio mrito da causa. Por exemplo, a ilegitimidade para a causacorresponde a uma verdadeira improcedncia do pedido do autor.

    H tambm os adeptos da teoria da assero: as condiesda ao devem ser aferidas segundo as afirmaes do autor in statuassertionis (afirmaes contidas na inicial e nos documentos que aacompanham), mas apenas na fase inicial ou preambular doprocesso, pois aps a instruo processual (aprofundamento dacognio) a anlise ser sempre de mrito.

    2.5 Direito fundamental jurisdio efetiva(neoprocessualismo)

    Hodiernamente, muitos processualistas tm defendido aideia de que a ao um direito fundamental a uma jurisdioefetiva.

    Portanto, a ao se encontra no plano dos direitosfundamentais previstos na Constituio Federal mais precisamenteno inciso XXXV do art. 5.

    E no basta que o juiz diga o direito. preciso que ajurisdio seja efetiva, vale dizer, a jurisdio deve ser tempestiva,segura e eficaz no plano material.

  • Para isso, o juiz deve ter o poder de adaptar a tcnicaprocessual ao perfil do direito material.

    o que se verifica, por exemplo, nos arts. 461 e 461-A doCPC, que dizem respeito tutela especfica de obrigao de fazer oude no fazer e tutela especfica de entrega de coisa.

    Abordaremos melhor esse tema no ltimo captulo destelivro.

    3. Condies da ao

    3.1 Conceito

    Condies da ao so requisitos para o exerccio regular daao e, consequentemente, para o exame do mrito.

    A ideia segundo a qual as condies da ao so requisitospara a existncia da ao por isso a expresso carncia de aopara designar a falta de uma condio da ao foi abandonada porquase toda a doutrina, at porque a ao um direito fundamental auma jurisdio efetiva, consagrado pela Constituio Federal (incisoXXXV do art. 5).

    As condies se situam no plano da validade, balizam oexerccio regular do direito de ao.

    3.2 Consequncias da falta de uma condio da ao

    A falta de uma condio da ao acarreta a extino doprocesso sem resoluo do mrito, podendo ser declarada de ofcioou a requerimento, em qualquer tempo e grau de jurisdio.

    3.3 As condies da ao so preliminares ou prejudiciais?

    Vamos agora compreender a localizao das condies daao no direito processual.

    Para isso, o primeiro passo compreender o significado deponto ou ponto processual. Diz-se de qualquer afirmao realizadapelo autor ou pelo ru. Por exemplo: o autor alega falta de

  • pagamento.

    J o ponto controvertido ocorre quando a alegao do autor contraditada pelo ru, ou a alegao do ru contraditada pelo autor.Por exemplo: o autor alega a falta do pagamento, e o ru, por suavez, afirma que a dvida foi paga.

    No direito processual, a expresso ponto controvertido e apalavra questo significam a mesma coisa.

    A principal questo do processo o mrito, tambmconhecido como lide ou, para alguns, objeto litigioso do processo.

    Segundo o entendimento predominante, o mrito fixadopelo pedido do autor. Por exemplo: numa ao de despejo por faltade pagamento, o mrito o pedido de despejo.

    Na clssica concepo de Schwab, o objeto litigioso doprocesso representado somente pelo pedido do autor, no incluindoos fundamentos.

    Porm, um dos autores deste livro (Renato Montans de S,Eficcia preclusiva da coisa julgada) j se posicionou, em trabalhoanterior, no sentido de que o objeto litigioso do processo, portanto, omrito da causa, fixado pela causa de pedir e pelo pedido.

    Ademais, nas aes dplices (ao declaratria, aodivisria, ao demarcatria, ao de prestao de contas etc.), o rupode formular pedido e, portanto, acrescentar algo ao mrito dacausa.

    Mas, antes de apreciar o mrito, o juiz deve apreciardeterminadas questes chamadas de prvias.

    As questes prvias se dividem em dois grupos: questespreliminares e questes prejudiciais.

    As questes preliminares possuem duas caractersticas:

    a) a deciso da questo preliminar condiciona a apreciao daquesto posterior;

    b) a deciso da questo preliminar no influencia o teor da decisoda questo posterior.

    Por sua vez, as questes prejudiciais chamadas dequestes de mrito por alguns tambm possuem duas

  • caractersticas:

    a) a deciso da questo prejudicial no condiciona a apreciao daquesto posterior;

    b) a deciso da questo prejudicial influencia o teor da deciso daquesto posterior.

    Exemplificando: a questo a respeito da capacidadepostulatria preliminar com relao ao pedido de indenizao,questo de mrito, porque a deciso do juiz a respeito da capacidadepostulatria permitir ou impedir a apreciao do pedido deindenizao presente a capacidade postulatria, o juiz apreciar omrito; ausente a capacidade postulatria, o juiz no apreciar omrito.

    Por outro lado, numa ao de despejo por falta depagamento, cujo pedido exclusivamente o despejo, a questo arespeito da falta do pagamento prejudicial com relao ao pedidode despejo, questo de mrito, porque a deciso do juiz a respeito dafalta de pagamento influenciar o teor da deciso do pedido dedespejo constatada a falta do pagamento, o pedido ser julgadoprocedente; verificado o pagamento, o pedido ser julgadoimprocedente.

    Portanto, a preliminar apenas condiciona a mera apreciaodo mrito, enquanto a prejudicial influencia o resultado do mrito.

    Nesse sentido, as questes sobre as condies da ao sopreliminares com relao ao mrito: presentes as condies da ao,o juiz apreciar o mrito; ausente uma condio da ao, o juiz noapreciar o mrito.

    Portanto, as condies da ao so requisitos deadmissibilidade do exame do mrito igualmente ao que ocorre comos pressupostos processuais, que sero examinados no prximocaptulo.

    3.4 Espcies

    As condies da ao podem ser divididas em dois grupos:

    a) condies da ao especficas, previstas para determinadosprocedimentos, como a coisa julgada material para a ao

  • rescisria e o direito lquido e certo para o mandado desegurana;

    b) condies da ao genricas, previstas para todos osprocedimentos, quais sejam, a possibilidade jurdica dopedido, a legitimidade para a causa (ou legitimidade paraagir) e o interesse de agir (ou interesse processual).

    Vamos estudar as condies da ao genricas, exigidas emtodos os procedimentos.

    3.4.1 Possibilidade jurdica do pedido

    A possibilidade jurdica do pedido significa a ausncia devedao normativa, expressa ou implcita, quanto ao pedidoformulado pelo autor.

    Por exemplo, juridicamente impossvel o pedido deusucapio de bem pblico ou o pedido de priso civil por dvida exceto na hiptese de inadimplncia de penso alimentcia , ou opedido de reviso do mrito do ato administrativo discricionrio admitindo-se excees.

    H quem entenda que a possibilidade jurdica deve alcanartodos os elementos da demanda, vale dizer, partes, causa de pedir epedido.

    Por exemplo, haver impossibilidade jurdica da demandaquando proposta ao no juizado especial por pessoa jurdica dedireito pblico (impossibilidade jurdica relacionada parte).

    Lei n. 9.099/95 (juizados especiais cveis):

    Art. 8 No podero ser partes, no processo institudo por estaLei, o incapaz, o preso, as pessoas jurdicas de direitopblico, as empresas pblicas da Unio, a massa falida e oinsolvente civil. 1 Somente sero admitidas a propor ao perante oJuizado Especial:I as pessoas fsicas capazes, excludos os cessionrios dedireito de pessoas jurdicas;

  • II as microempresas, assim definidas pela Lei n. 9.841, de5 de outubro de 1999;III as pessoas jurdicas qualificadas como Organizao daSociedade Civil de Interesse Pblico, nos termos da Lei n.9.790, de 23 de maro de 1999;IV as sociedades de crdito ao microempreendedor, nostermos do art. 1 da Lei n. 10.194, de 14 de fevereiro de2001. 2 O maior de dezoito anos poder ser autor,independentemente de assistncia, inclusive para fins deconciliao.

    Tambm haver impossibilidade jurdica da demandaquando proposta ao de cobrana de dvida de jogo ilcito(impossibilidade jurdica relacionada causa de pedir).

    Por outro lado, majoritria a tese de que cientificamente aimpossibilidade jurdica uma forma de improcedncia(improcedncia prima facie ou improcedncia macroscpica).

    Por isso mesmo, a possibilidade jurdica do pedido nofigura como condio da ao no Projeto de Novo CPC, que tramitano Congresso Nacional.

    3.4.2 Legitimidade para a causa

    A legitimidade para a causa se distingue da capacidadeprocessual, porque a legitimidade uma aptido especfica para agirem juzo ante determinada situao concreta, ao passo que acapacidade uma aptido genrica para agir em juzo conferidaqueles que no forem absolutamente incapazes nem relativamenteincapazes (por exemplo, aquele que se afirma credor temlegitimidade para a causa para promover a ao de cobrana, masno tem capacidade processual se a sua idade no alcanar osdezoito anos).

    Quem possui legitimidade para a causa? Alguns afirmam, deforma equivocada, que os titulares da relao jurdica materialpossuem legitimidade para a causa. Na verdade, a legitimidade para

  • a causa conferida aos titulares da relao jurdica materialhipottica relao jurdica afirmada, esquema abstrato ou situaolegitimante.

    A parte legtima no exatamente o titular do direito ou dodever, mas o titular do direito hipottico (afirmado) ou do deverhipottico (afirmado).

    Por exemplo, parte legtima para propor aoreivindicatria aquele que se afirma proprietrio do bemreivindicado. Se o juiz concluir que o bem no lhe pertence, devejulgar o pedido improcedente.

    Difere a legitimidade para a causa da legitimaoextraordinria, porque esta conferida por lei pelo sistema jurdico a quem no titular da relao jurdica material hipottica. Porexemplo, o Sindicato tem legitimidade para defender em juzo osinteresses da categoria; a parte tem legitimidade para executar oshonorrios advocatcios sucumbenciais pertencentes ao advogado.

    A ao movida por sindicato, na qualidade de substitutoprocessual, interrompe a prescrio, ainda que tenha sidoconsiderado parte ilegtima ad causam (OJ 359 da SDI-1 doTST).O Sindicato, substituto processual e autor da reclamaotrabalhista, em cujos autos for proferida a decisorescindenda, possui legitimidade para figurar como ru naao rescisria, sendo descabida a exigncia de citao detodos os empregados substitudos, porquanto inexistentelitisconsrcio passivo necessrio (Item II da Smula 406 doTST).

    s vezes, o legitimado extraordinrio cotitular de umdireito hipottico e defende direito que tambm seu. Por exemplo,o condmino pode reivindicar isoladamente a coisa comum, agindona defesa de interesse prprio e de interesse alheio (art. 1.314 doCC).

    Para alguns, a legitimao extraordinria e a substituio

  • processual (legitimao conferida por lei para agir como parte, emnome prprio, na defesa de interesse alheio) so expressessinnimas, enquanto outros entendem que a substituio processual apenas uma espcie do gnero legitimao extraordinria (porexemplo, porque a substituio processual no poderia coexistir como litisconsrcio o caso da ao reivindicatria proposta porcondminos do art. 1.314 do CC, mencionada anteriormente: todoseles sero legitimados extraordinrios, mas no sero substitutosprocessuais se participarem do processo).

    3.4.3 Interesse de agir

    O interesse de agir, tambm conhecido como interesseprocessual, consiste na utilidade potencial da jurisdio, vale dizer, ajurisdio deve ser apta a conferir alguma vantagem ou algumbenefcio jurdico.

    Falta interesse de agir, por exemplo, quando o detentor dettulo executivo promove ao de cobrana; quando ocorre achamada confuso (autor e ru se tornam a mesma pessoa); ouquando algum pleiteia em juzo a declarao da solvncia, j queesta presumida.

    A cobrana ou a execuo de valor irrisrio tambmcaracteriza a falta do interesse de agir, muito embora o SuperiorTribunal de Justia tenha adotado posio diversa, ao editar a Smula452, com o seguinte teor: A extino das aes de pequeno valor faculdade da Administrao Federal, vedada a atuao judicial deofcio.

    Liebman dizia que a utilidade da jurisdio exigia a presenade dois elementos:

    a) a necessidade da jurisdio, vale dizer, a jurisdio deveria serindispensvel (por exemplo, a jurisdio seria desnecessriaquando fosse proposta uma ao para a resciso de ummandato sem clusula de irrevogabilidade); e

    b) a adequao, vale dizer, a pertinncia do procedimento escolhidoe do provimento requerido (por exemplo, a jurisdio seriainadequada quando o locador promovesse uma ao de

  • reintegrao de posse em face do locatrio).

    Alguns seguem essa concepo; outros entendem que ointeresse se d pelo binmio necessidade e adequao; existemtambm os que acreditam que o interesse exige a presena dautilidade, da necessidade e da adequao; e h aqueles segundo osquais o interesse se d pelo binmio utilidade e necessidade.

    importante deixar claro que o interesse no apenas daparte, mas tambm do Estado, porque impede a movimentao intilda mquina jurisdicional, evitando desperdcio de tempo e derecursos.

    Por isso mesmo se diz que o Judicirio no rgo deconsulta.

    4. Elementos da ao ou da demanda

    As demandas se identificam por trs elementos: partes;causa de pedir; e pedido.

    Parte aquele que pede ou em face de quem se formula umpedido em juzo, independentemente de ser o titular do direitoafirmado em juzo.

    Por sua vez, a causa de pedir a razo, o motivo, ofundamento do pedido, dividindo-se em fundamentao de fato efundamentao de direito.

    A fundamentao de fato consiste no fato constitutivo dodireito do autor (por exemplo, a locao) e no fato violador do direitodo autor (por exemplo, a infrao contratual).

    E a fundamentao de direito representa a repercussojurdica dos fatos narrados (por exemplo, o direito ao despejo doru).

    No se exige a mera fundamentao legal (indicao dodispositivo legal aplicvel ao caso) nem a qualificao jurdica dadaao fato pelo autor (nomen juris). Portanto, a indicao equivocada deum dispositivo legal e a qualificao jurdica equivocada no sohipteses de indeferimento da petio inicial, nem mesmo deemenda da inicial, porque o juiz conhece a lei e sabe qualificarjuridicamente o fato de forma adequada.

  • Por outro lado, o pedido deve conter o requerimento detutela jurisdicional (pedido imediato por exemplo: condenao) e orequerimento de um bem jurdico (pedido mediato por exemplo:R$ 100.000,00), fixando o mrito da causa, vale dizer, aquilo que ojuiz pode e deve decidir.

    Em regra, o pedido deve ser certo (expresso) e determinado(especificar aquilo que o autor deseja).

    Todavia, alguns pedidos podem ser implcitos, como opedido de atualizao monetria, de incluso de juros legais ou defixao de multa coercitiva para o cumprimento de tutela especficade obrigao de fazer ou de no fazer ou de entrega de coisa.

    Ademais, os pedidos podem ser genricos (indeterminados)nas hipteses previstas no art. 286 do CPC (nas aes universais aquelas que versam sobre universalidades de bens arts. 90 e 91 doCC; quando no se puderem determinar de modo definitivo todas asconsequncias do fato ou do ato ilcito; ou quando o valor dacondenao depender de um ato que deva ser praticado pelo ru).

    O pedido ser alternativo (art. 288 do CPC) quando o ru(devedor) puder cumprir a obrigao por mais de uma forma (porexemplo: o arrendatrio cumprir a obrigao pagando uma quantiaou entregando parte da produo).

    J a cumulao alternativa de pedidos ocorre quando o autorformula mais de um pedido para que o juiz acolha qualquer deles,sem indicar ordem de preferncia (por exemplo: resciso contratualou indenizao).

    E o pedido ser sucessivo (art. 289) quando o autor requererao juiz que acolha um pedido posterior na hiptese de no acolherum pedido anterior (por exemplo: o autor requerer o divrcio, se ojuiz no acolher o pedido de anulao do casamento).

    O pedido sucessivo tambm conhecido como cumulaoeventual de pedidos e difere da cumulao sucessiva de pedidos.

    Ocorre a cumulao sucessiva de pedidos quando o autorrequer ao juiz que acolha um pedido posterior na hiptese de acolherum pedido anterior (por exemplo: paternidade e alimentos).

    Ademais, o autor poder formular um pedido cominatrio

  • (art. 287 do CPC), vale dizer, um pedido de fixao de multacoercitiva (astreintes) como medida para o cumprimento de decisoque determina uma obrigao de fazer ou de no fazer ou umaobrigao de entrega de coisa.

    Outro aspecto interessante a respeito do pedido que sepermite a cumulao de pedidos quando forem compatveis entre si,o juzo for competente para todos e os procedimentos para todosforem compatveis se os procedimentos forem incompatveis, oautor poder cumular os pedidos, desde que adote para todos eles orito ordinrio.

  • Captulo 4

    Processo

    1. Conceito

    Processo nada mais que o meio mtodo pelo qual serealiza a jurisdio.

    2. Relao jurdica processual e natureza jurdica do processo

    No passado, no se distinguiam adequadamente a relaojurdica material (por exemplo, relao entre o credor e o devedor)e a relao jurdica processual (a relao entre o autor, o juiz e oru), at que um autor alemo chamado Blow traou as seguintesdistines:

    a) os sujeitos so distintos;

    b) os objetos so distintos;

    c) a existncia da relao jurdica processual pressupe a presenade alguns requisitos, denominados pressupostos processuais.

    Blow tambm entendia que o processo nada mais era queuma relao jurdica processual.

    A obra de Oskar von Blow (La teora de las excepcionesprocesales y los presupuestos procesales, de 1868) conta com maisde duzentos anos e marca a autonomia do direito processual.

  • No entanto, com o avano da doutrina processual, passou-sea entender que o processo representa o somatrio entre a relaojurdica processual (aspecto externo) e o procedimento (aspectointerno). Eis a sua natureza jurdica.

    O procedimento diz respeito ao lado prtico do processo,significando uma sucesso de atos processuais, como a petioinicial, a citao, a resposta do ru, a rplica, a audincia e asentena.

    De outro lado, alguns comearam a entender que ospressupostos processuais so requisitos de existncia e de validade doprocesso. Como requisitos de existncia, esto mais vinculados relao processual. E, como requisitos de validade, esto maisvinculados ao procedimento.

    Mas nem todos pensam assim, como se ver adiante.

    3. Pressupostos processuais

    Pensamos que os pressupostos processuais so requisitospara a existncia (pressupostos de constituio) e para a validade(pressupostos de desenvolvimento vlido e regular) do processo, e,consequentemente, para o exame do mrito.

    Todavia, no h um consenso a respeito da classificao dospressupostos processuais.

    muito conhecida a classificao de Galeno Lacerda,difundida por Moacy r Amaral Santos, segundo a qual os pressupostosprocessuais so divididos em dois grupos principais, os subjetivos e osobjetivos. Por sua vez, os requisitos subjetivos se dividem da seguinteforma: quanto s partes (capacidade de ser parte; capacidadeprocessual e capacidade de postular em juzo) e quanto ao juiz(jurisdio; competncia e imparcialidade). E os requisitos objetivosse dividem da seguinte forma: extrnsecos (inexistncia de fatosimpeditivos constituio da relao processual, como alitispendncia e a conveno de arbitragem) e intrnsecos(subordinao do procedimento s normas legais, como a presenados requisitos da petio inicial).

    Igualmente apreciada pelos autores a classificao que

  • divide os pressupostos processuais em trs grupos:

    a ) pressupostos processuais de existncia (relacionados relaojurdica processual): demanda (a petio inicial oinstrumento da demanda); jurisdio (rgo investido dejurisdio); e citao;

    b) pressupostos processuais de validade: petio inicial apta (aquelaque preenche os requisitos legais especialmente aquelesprevistos no art. 282 do CPC); competncia do juzo eimparcialidade do juiz; citao vlida (aquela que preencheos requisitos legais); capacidade postulatria (diz respeito representao por advogado, mas, excepcionalmente, possvel postular em juzo sem a participao do advogado);capacidade processual (aptido para agir em juzo por si s,sem representante e sem assistente); e legitimaoprocessual (legitimao atribuda por lei para atuar noprocesso por exemplo, a legitimao do Ministrio Pblicopara defender os consumidores em juzo);

    c ) pressupostos processuais negativos: perempo (perda doexerccio do direito de ao que ocorre quando o autorabandona a causa por trs vezes); litispendncia (reproduode uma demanda com os mesmos elementos, vale dizer,as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmopedido em curso); coisa julgada (repetio de umademanda com os mesmos elementos, vale dizer, asmesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido cujo processo foi definitivamente extinto com resoluo domrito); e conveno de arbitragem (pacto no sentido de queo conflito de interesses ser resolvido por meio daarbitragem).

    De qualquer forma, alguns entendem que a capacidadepostulatria um pressuposto processual de existncia e no umpressuposto processual de validade , enquanto outros entendem queos pressupostos processuais negativos so pressupostos processuais devalidade s avessas, ou que a presena de um deles caracteriza faltade interesse de agir.

    Para os que admitem a diviso entre pressupostos

  • processuais de existncia e pressupostos processuais de validade, asdiferenas fundamentais entre essas duas categorias seriam asseguintes:

    a) a falta de um pressuposto de existncia acarreta a inexistncia doprocesso (ou de parte dele) e, portanto, a inexistncia desentena, no havendo formao de coisa julgada material.Assim, a medida processual adequada ser a aodeclaratria de inexistncia da relao jurdica processualou do processo , tambm chamada de querela nullitatis, queno se submete a prazo decadencial ou prescricional;

    b) a falta de um pressuposto processual de validade acarreta anulidade do processo (ou de parte dele) e, portanto, anulidade da sentena, mas essa acobertada pela coisajulgada material, razo pela qual desafia ao rescisria,que deve ser proposta no prazo decadencial de dois anos,contados do trnsito em julgado.

    Destarte, a querela nullitatis ou ao declaratria deinexistncia pode ser proposta sempre que faltar qualquer dospressupostos processuais de existncia (demanda; jurisdio oucitao). Alguns exemplos: juiz proferiu sentena, apesar da falta dacitao de um litisconsorte necessrio; juiz sentenciou a cautelar e aprincipal, apesar da falta da citao do ru na principal; juiz proferiusentena extra petita (falta de demanda).

    O Superior Tribunal de Justia tem admitido o uso da querelanullitatis tanto para a falta quanto para a nulidade da citao,reconhecendo que esses vcios so transrescisrios, at porquedesafiam tambm impugnao ao cumprimento de sentena (incisoI do art. 475-L) ou embargos execuo opostos pela FazendaPblica (inciso I do art. 741), mesmo depois de ultrapassado o prazodecadencial para a propositura da ao rescisria.

    3.1 Improcedncia prima facie

    Assim estabelece o art. 285-A do CPC:

    Art. 285-A. Quando a matria controvertida for unicamente

  • de direito e no juzo j houver sido proferida sentena detotal improcedncia em outros casos idnticos, poder serdispensada a citao e proferida sentena, reproduzindo-se oteor da anteriormente prolatada. 1 Se o autor apelar, facultado ao juiz decidir, no prazo de5 (cinco) dias, no manter a sentena e determinar oprosseguimento da ao.

    2 Caso seja mantida a sentena, ser ordenada a citao do ru para responderao recurso.

    O disposto versa sobre a improcedncia prima facie ou ojulgamento antecipadssimo da lide a respeito de matria repetitiva,criando exceo regra de que a citao indispensvel aojulgamento do mrito.

    So requisitos para a aplicao do art. 285-A (julgamento dopedido antes da citao):

    a) matria controvertida (prejudicial) apenas de direito;

    b) casos semelhantes (apresentam a mesma matria de direito);

    c) mais de uma sentena (duas ou mais sentenas paradigmas);

    d) mesmo juzo (mesma vara, e no o mesmo juiz);

    e) total improcedncia.

    Alguns autores entendem e assim tambm j decidiu oSuperior Tribunal de Justia que a norma inserida no art. 285-A nopode ser aplicada quando as sentenas paradigmas contrariarem ajurisprudncia dominante do tribunal competente para o julgamentoda apelao, do Superior Tribunal de Justia ou do Supremo TribunalFederal.

    Existem julgados do Superior Tribunal de Justia no sentidode que no suficiente a mera meno s sentenas paradigmas,pois estas devem ser reproduzidas.

    Em outros julgados, o Superior Tribunal de Justia entendeucomo desnecessria a juntada de cpias das sentenas paradigmas,quando transcritas pela sentena que aplicou o art. 285-A, porque ta