apostila de direito empresarial ii

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INSTITUIÇÃO DE ENSINO: FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU – UNIDADE CAMPINA GRANDE CURSO: DIREITO PROFESSOR: JALIGSON CARLOS FERREIRA LEITE <[email protected]> DISCIPLINA : DIREITO EMPRESARIAL II NÍVEL DE ENSINO: SUPERIOR PERÍODO: 3º TURNO: DIURNO/NOTURNO RESUMO DA UNIDADE I TEMA I : TEORIA DA EMPRESA 1 - INTRODUÇÃO Em janeiro de 2002 foi promulgado, finalmente, o novo Código Civil brasileiro (Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002), criticado por muitos em razão do longo tempo em que esteve em trâmite no Congresso Nacional, já que o projeto é de 1975 (Projeto n° 634/75). O novo Código Civil destaca-se por disciplinar a matéria civil e também a matéria comercial,realizando no país, a exemplo do que ocorreu na Itália em 1942, a unificação legislativa do Direito Privado tradicional. A teoria da empresa elaborada pelos italianos não se preocupa com o gênero da atividade econômica, o que importa para a teoria da empresa é o desenvolvimento da atividade econômica mediante a organização de capital, trabalho, tecnologia e matéria-prima, que resulta na criação e na circulação de riquezas. Com a teoria da empresa, o direito comercial passa a ser baseado e delimitado na atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, libertando-se da arbitrária divisão das atividades econômicas segundo o seu gênero, como previa a teoria dos atos de comércio. 2. DO DIREITO COMERCIAL AO DIREITO EMPRESARIAL

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Page 1: Apostila de Direito Empresarial II

INSTITUIÇÃO DE ENSINO: FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU – UNIDADE CAMPINA GRANDECURSO: DIREITO PROFESSOR: JALIGSON CARLOS FERREIRA LEITE <[email protected]>DISCIPLINA : DIREITO EMPRESARIAL IINÍVEL DE ENSINO: SUPERIOR

PERÍODO: 3º TURNO: DIURNO/NOTURNO

RESUMO DA UNIDADE I

TEMA I : TEORIA DA EMPRESA 1 - INTRODUÇÃO Em janeiro de 2002 foi promulgado, finalmente, o novo

Código Civil brasileiro (Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002), criticado por muitos em razão do longo tempo em que esteve em trâmite no Congresso Nacional, já que o projeto é de 1975 (Projeto n° 634/75). O novo Código Civil destaca-se por disciplinar a matéria civil e também a matéria comercial,realizando no país, a exemplo do que ocorreu na Itália em 1942, a unificação legislativa do Direito Privado tradicional. A teoria da empresa elaborada pelos italianos não se preocupa com o gênero da atividade econômica, o que importa para a teoria da empresa é o desenvolvimento da atividade econômica mediante a organização de capital, trabalho, tecnologia e matéria-prima, que resulta na criação e na circulação de riquezas. Com a teoria da empresa, o direito comercial passa a ser baseado e delimitado na atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, libertando-se da arbitrária divisão das atividades econômicas segundo o seu gênero, como previa a teoria dos atos de comércio.2. DO DIREITO COMERCIAL AO DIREITO EMPRESARIAL Para entender o atual direito comercial mostra-se necessário ressaltar os principais aspectos de sua evolução histórica. O surgimento do direito comercial relaciona-se à ascensão da classe burguesa, originando-se da necessidade dos comerciantes da Idade Média possuírem um conjunto de normas para disciplinar a atividade profissional por eles desenvolvida. Reunidos em corporações de ofício, os comerciantes criaram o direito comercial com base nos usos e costumes comerciais difundidos pelos povos que se dedicaram à atividade comercial, dentre os quais destacam-se os gregos e os fenícios. Esses povos antigos trouxeram importantes contribuições na área do comércio marítimo, permitindo o surgimento de importantes institutos jurídicos incorporados pelo direito comercial no decorrer de sua evolução histórica. 2.1 Primeira Fase - O direito comercial aparece na Idade Média com um caráter eminentemente subjetivista, já que foi elaborado pelos comerciantes reunidos nas corporações para disciplinar suas atividades profissionais, caracterizando-se, no início, como um direito corporativista e fechado, restrito aos comerciantes matriculados nas corporações de mercadores.

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Criado para disciplinar a atividade profissional dos comerciantes, o direito comercial nasce como um direito especial, autônomo em relação ao direito civil, o que lhe permitiu alcançar autonomia jurídica, possuindo uma extensão própria, além de princípios e métodos característicos, que contribuíram para a sua consolidação como disciplina jurídica autônoma.2.2 Segunda Fase - Com o Código Comercial francês de 1807 o direito comercial passou a ser baseado na prática de atos de comércio enumerados na lei segundo critérios históricos, deixando de ser aplicado somente aos comerciantes matriculados nas corporações.De acordo com a teoria francesa dos atos de comércio, a matéria comercial deixa de ser baseada na figura do comerciante da Idade Média e passa a ser definida pela prática dos atos de comércio enumerados na lei. Assim, para se qualificar como comerciante e submeter-se ao direito comercial, deixou de ser necessário à pessoa que se dedica a exploração de uma atividade econômica pertencer a uma corporação, bastando a prática habitual de atos de comércio. Essa objetivação do direito comercial atendia aos princípios difundidos pela Revolução Francesa em 1789. 2.3 Terceira Fase - Em consonância com o desenvolvimento das atividades econômicas e de acordo com a tendência de crescimento do direito comercial, surgiu na Itália uma teoria que substituiu a teoria francesa, superou os seus defeitos e ampliou o campo de abrangência do direito comercial. Essa teoria, denominada de teoria jurídica da empresa, caracteriza-se por não dividir as atividades econômicas em dois grandes regimes, como fazia a teoria francesa, e foi inserida no Código Civil italiano de 1942, que ficou conhecido por ter realizado a unificação legislativa do direito privado na Itália. A teoria da empresa elaborada pelos italianos afasta o direito comercial da prática de atos de comércio para incluir no seu núcleo a empresa, ou seja, a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Com a teoria da empresa, deixa de ser importante o gênero da atividade econômica desenvolvida, não importando se esta corresponde a uma atividade agrícola, imobiliária ou de prestação de serviços, mas que seja desenvolvida de forma organizada, em que o empresário reúne capital, trabalho, matéria-prima e tecnologia para a produção e circulação de riquezas. De acordo com a teoria da empresa, o direito comercial tem o seu campo de abrangência ampliado, alcançando atividades econômicas até então consideradas civis em razão do seu gênero. A teoria da empresa, ao contrário da teoria francesa, não divide as atividades econômicas em dois grandes regimes (civil e comercial), prevê um regime amplo para as atividades econômicas, excluindo desse regime apenas as atividades de menor importância, que são, a princípio, as atividades intelectuais, de natureza literária, artística ou científica. Segundo a teoria da empresa, a atividade agrícola também pode estar afastada do direito comercial, já que cabe ao seu titular a opção pelo regime comercial, que ocorre mediante o registro da atividade econômica no Registro Público de Empresas, realizado no Brasil pelas Juntas Comerciais. Considerando o núcleo que delimita a matéria comercial ao longo de sua evolução histórica, pode-se dividir o desenvolvimento do

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direito comercial em três períodos. O primeiro período, do Séc. XII ao Séc. XVIII, denominado de período subjetivo corporativista ou período subjetivo do comerciante, tem como núcleo do direito comercial a figura do comerciante matriculado na corporação. O segundo período, compreendido entre o Séc. XVIII e o Séc. XX, inicia-se com o Código de Comércio Napoleônico de 1807 e tem como núcleo os atos de comércio. O terceiro e atual período de evolução histórica do direito comercial inicia-se com o Código Civil italiano de 1942 e tem como núcleo a empresa, compreendendo o Séc. XX até nossos dias.3. A EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL BRASILEIRO O direito comercial brasileiro tem origem em 1808 com a chegada da família real portuguesa ao Brasil e a abertura dos portos às nações amigas. Em 1.850 surge o Código Comercial Brasileiro baseado na teoria dos atos de comércio. Com o surgimento do Código Civil de 2002 muita coisa mudou na seara comercial.As normas fundamentais do direito comercial estão presentes no Livro II da Parte Especial do Código Civil de 2002, denominado "Do Direito de Empresa". Esse Livro II foi baseado no Código Civil italiano de 1942, famoso por ter realizado a unificação formal ou legislativa do Direito Privado na Itália, mas que se destaca realmente sob o aspecto jurídico por apresentar uma teoria nova para disciplinar as atividades econômicas, a teoria da empresa, que substitui com vantagens a imprecisa e ultrapassada teoria dos atos de comércio. Em relação ao direito comercial a grande evolução proporcionada pelo novo Código Civil foi à introdução da teoria da empresa nas suas normas fundamentais e a consequente revogação da Parte Primeira do Código Comercial de 1850, permitindo a superação da teoria dos atos de comércio e a harmonização do tratamento legal da disciplina privada da atividade econômica no país. Ao caracterizar o empresário no art. 966, o novo Código Civil introduz definitivamente no direito brasileiro a definição de empresário que já vinha se cristalizando no Brasil durante o período transitório. De acordo com referido dispositivo, empresário é aquele que exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços. O parágrafo único do art. 966 exclui da definição de empresário quem exerce atividade intelectual, de natureza literária, artística ou científica, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.

O novo Código Civil afasta do direito comercial a antiga figura do comerciante, que se caracterizava pela prática habitual de atos de comércio. Sob o enfoque da teoria da empresa o enigmático e impreciso conceito de ato de comércio é esquecido, surgindo a empresa (a atividade econômica) como o novo núcleo do direito comercial atual. A antiga figura do comerciante transforma-se no empresário, que passa a ser o principal elemento do direito comercial, já que é ele quem organiza o estabelecimento empresarial e exerce a atividade econômica. Em sentido jurídico, empresa corresponde à atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, surgindo da vontade do empresário, que exerce a atividade econômica a partir da organização dos bens que integram o estabelecimento. Caracteriza-se como empresário

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segundo o art. 966 a pessoa física (empresário individual) ou a pessoa jurídica (sociedade empresária) que promove profissionalmente a produção ou circulação de bens ou serviços, excluindo-se dessa definição, segundo o parágrafo único do referido artigo, quem exerce atividade intelectual, de natureza literária, artística ou científica. Assim, a princípio, estão excluídos do regime comercial os profissionais liberais (dentista, médico e engenheiro, por exemplo), que podem ingressar no regime comercial se fizerem do exercício da profissão um elemento de empresa, ou seja, se inserirem a sua atividade numa organização empresarial, se constituírem uma sociedade empresária (COELHO, 2002, p.24). Destarte, em razão do que se disse anteriormente percebe-se que o Código Civil de 2002 será a base para a caracterização do empresário, que também permite a delimitação da matéria comercial segundo a teoria da empresa, contribuindo para a definição da comercialidade das relações jurídicas no país. O novo Código Civil brasileiro, sob a perspectiva do direito comercial, é importante por ser o marco inaugural de uma nova fase dessa disciplina jurídica no país, muitas vezes desprestigiada pela existência do Código Comercial de 1850. O grande trunfo do Código Civil de 2002 em relação ao direito comercial foi a adoção da teoria da empresa, que se mostra mais adequada às atuais conjunturas econômicas e permite a ampliação da abrangência do direito comercial no país, tornando-o mais importante. Ao contrário do que a unificação legislativa realizada possa sugerir, o direito comercial não perdeu seu brilho com a inserção de suas normas fundamentais ao lado das normas civis num mesmo Código, pelo contrário. A unificação legislativa representa critério de organização do legislador e foi apenas parcial, não alcançando todos os temas da vida empresarial. Por ironia, a evolução do direito comercial e a consequente ampliação de sua importância no país decorreram do surgimento do Código Civil.TEMA 2 : TÍTULOS DE CRÉDITO1 – TEORIA GERAL DO DIREITO CAMBIÁRIO O Código Civil de 2002 trouxe muitas mudanças para a parte que rege os direitos dos comerciantes e das sociedades comerciais, mas praticamente não alterou nada acerca dos Títulos de Crédito. As poucas alterações introduzidas não podem ser aproveitadas sem o devido cuidado, haja vista o preceituado no art. 903, do CCB/2002: Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito, pelo disposto neste Código. Como a maior parte dos títulos de crédito possui legislação específica que regula e detalha as suas relações, as alterações proposta ficaram praticamente inócuas.2. CARACTERÍSTICAS  Os títulos de crédito são documentos representativos de obrigações pecuniárias. Não se confundem com a própria obrigação, as se distinguem dela na exata medida em que a representam.   Os títulos de crédito possuem algumas características marcantes, quais sejam :3. TÍTULOS DE CRÉDITO3.1.1. C ONCEITO :

é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado.Documento necessário: o título se exterioriza por meio de um documento . A exibição deste documento é necessária para o exercício do direito de crédito nele mencionado. Literalidade: o título é literal, isto é, obedece ao que está

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rigorosamente escrito no documento. Desta maneira, o conteúdo do direito que o título confere a seu portador limita-se ao que nele estiver formalmente escrito. Autonomia: o título é documento autônomo, isto é, independente de outras obrigações. Cada título vale por si mesmo. O direito de seu beneficiário atual não pode ser anulado em virtude das relações existente entre os seus antigos titulares e o devedor da obrigação. 3.1.2. CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITOa) Cartularidade: OBRIGATORIAMENTE os títulos de crédito necessitam ser reproduzidos em uma cártula (documento). Os títulos de crédito são documentos de apresentação, ou seja, aquele que os possuir necessita apresentá-lo para o devido pagamento.b) Literalidade:

só tem validade nos títulos de crédito o que está efetivamente inserido na cártula; possui finalidade de garantir maior segurança nas relações cambiarias já que o devedor saberá quanto irá pagar (obrigação) e o credor saberá quanto irá receber (direito).c) Autonomia: as obrigações constantes em um título de crédito são autônomas entre si, ou seja, se houver um vício em alguma relação o título não poderá ser prejudicado, tendo validade em benefício de terceiros de boa fé.d) Abstração: as relações cambiárias são abstratas, ou seja, uma vez emitido um título o mesmo desprende-se da sua origem (relação fundamental).3.1.3. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO  Os títulos de crédito podem ser classificados segundo diversos critérios. Vejamos dois importantes critérios que se referem à estrutura formal e ao modo de circulação dos títulos. Estrutura Formal ou Formalismo: Analisando-se sua estrutura formal, os títulos de crédito podem assumir a feição de ordem de pagamento ou promessa de pagamento. Ordem de pagamento:

nos títulos que contêm ordem de pagamento a obrigação deverá ser cumprida por terceiros. Ex.: cheque e letra de câmbio. Na ordem de pagamento podemos identificar a presença de três personagens cambiários. Vejamos quem são esses personagens no caso do cheque:

EMITENTE: é a pessoa que assina o cheque, dando, assim, a ordem de pagamento. Observe que no cheque vem escrito: "pague por este cheque a quantia de ...". Temos, então, uma ORDEM ao Banco que poderia ser traduzida nos seguintes termos: Banco, pague por este cheque a quantia de...  

SACADO: é o Banco, ou seja, a pessoa jurídica que deve cumprir a ordem de pagamento expressa no cheque. É do Banco que será retirado (sacado) o valor escrito no título de crédito.

  TOMADOR ou BENEFICIÁRIO: é a pessoa que se

beneficia da ordem de pagamento. É quem recebe o valor expresso no cheque.

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Promessa de pagamento: nos títulos que contêm promessa de pagamento a obrigação deverá ser cumprida pelo próprio emitente e não por terceiros. Ex.:: a nota promissória. Observe que na nota promissória não vem escrito pague, mas pagarei: o verbo está na primeira pessoa do singular (eu pagarei).

o Na promessa de pagamento podemos identificar a presença de, apenas, dois personagens cambiários:

EMITENTE: é a pessoa que emite a promessa de pagamento em nome próprio, isto é, na primeira pessoa do singular (eu pagarei). O emitente é o devedor da obrigação.

BENEFICIÁRIO: é a pessoa que se beneficia da promessa de pagamento. É o credor do título.

3.1.4. MODALIDADES DE CIRCULAÇÃO o principal objetivo é a circulação que se opera por meio de transferência.Título Nominativo: é aquele cujo nome do beneficiário consta no

registro do emitente. Trata-se, portanto, do título emitido em nome de pessoa determinada. Sua transferência opera-se através de uma cessão (admite-se a transferência por meio de endosso). Ex.: cheque nominal

Nominativo “`a ordem”: também traz no seu contexto o nome do beneficiário sempre constando a expressão “Pague-se a ________ ou à sua ordem”. A cláusula “à ordem” constitui a principal característica na evolução dos títulos de crédito, surgindo com isso o endosso (meio de transferência e garantia do título), sendo firmado pelo portador do título.

Título ao portador: é aquele que circula com muita facilidade, transferindo-se de pessoa para pessoa pela simples entrega do título. Não consta deste título o nome da pessoa beneficiada. Por isso , o seu portador é, presumivelmente, seu proprietário. Ex.: cheque ao portador.

Títulos “não à ordem”: é uma cláusula de exceção do direito cambiário, vezque impede a circulação do título. Para sua transferência será necessário um termo de cessão

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assinado tanto pelo cedente como pelo cessionário onde, aquele se obriga apenas com o cessionário e não com os demais coobrigados. Na Nota Promissória a lei obriga a inserção da cláusula “à ordem” para que não se proíba a circulação da mesma.

3.1.5. CATEGORIAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITOI. Títulos Próprios: são aqueles que efetivamente encerram uma

operação de crédito. Exs.: Letras de Câmbio e Notas Promissórias.

Existe neste caso uma ordem (LC) e uma promessa (NP) de pagamento de uma importância certa para uma pessoa determinada ou à sua ordem.

II. Títulos Impróprios: são aqueles que encerram uma verdadeira operação de crédito, mas preenchidos os seus requisitos circulam normalmente com todas as suas garantias. Ex.: Cheque

o cheque, após emitido, só será pago se houver suficiente provisão de fundos. São títulos bastante aceitos já que possuem garantias quando circulam.

III. Títulos de Legitimação: são títulos que não dão ao seu portador um direito de crédito propriamente dito, mas o de receber a prestação de um serviço ou de uma coisa. Ex.: bilhetes de espetáculo; passagens, etc.

por serem de compensação futura, absorvem muitas qualidades dos títulos de crédito.

IV. Títulos de Participação: garantem ao seu portador o direito de participação. Ex.: Ações das S/A.

o portador terá direito de fiscalizar a Cia, participando nos resultados financeiros e demais direitos inerentes, possuindo aceitação na bolsa de valores.

3.1.6. NATUREZA DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

I. Abstratos: São títulos dos quais não necessita declinar a origem, desprendendo-se do negócio fundamental que os originou. Ex.: Nota Promissória e Letra de Câmbio.

II. Causais: possuem uma causa anterior, ou seja, existem em função de uma relação fundamental que os originou. Para sua emissão é necessário Ter havido uma relação comercial e à prazo para sua concretização (vendas ou prestação de serviço). Ex.: Duplicata.

3.2. PRINCIPAIS ATOS CAMBIARIOS

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ENDOSSO : é o ato cambiário no qual se opera a transferência do crédito representado no título “à ordem”.

Endossante ou endossador: é o sujeito ativo do ato cambiário.Endossatário: é o sujeito passivo, o credor.

● em regra não há limite para o número de endossos; quanto mais endossos, maior será a garantia do título.

Espécies de Endosso:

1. Endosso em branco: é aquele em que o endossante (pessoa que dá o endosso) não identifica a pessoa do endossatário. O endosso em branco consiste na assinatura do endossante, fazendo com que o título nominal passe a circular como se fosse título ao portador. Esse endosso deve ser conferido na parte de trás do título.

2. Endosso em preto: é aquele em que o endossante identifica expressamente o nome do endossatário. Esse endosso pode ser conferido na frente (face ou anverso) ou atrás (dorso ou verso) do título. Ex.: Pague-se a “Fulano de Tal”.

3. Endosso Parcial:Segundo o art.912 CCB não poderá haver endosso parcial. Isto, pois,não se pode transferir o titulo PARCIALMENTE. A razão é óbvia: já falamos que o Título de Crédito é um documento necessário que porá exercício do crédito nele inserido …” de forma que para exercer o direito é preciso APRESENTAR O TITULO. é um tipo de endosso nulo no direito cambiário.

4. Endosso Condicional: é aquele vinculado a uma determinada condição. Não é nulo e sim ineficaz, porque a lei considera como não escrito.

5. Endosso Mandato: é aquele que concede ao endossatário o exercício dos direito inerentes ao título, não transferindo a propriedade da cártula (art. 917 CCB/2002).

o Morte do endossante não atinge a eficácia do endosso-mandato o Não cabem exceções pessoais contra o mandatário, mas tão somente as que existiram contra o endossante.

6. Endosso Caução: o crédito não se transfere para o endossatário, que é investido na qualidade de credor pignoratício do endossante. Esse tipo de endosso é onerado por um penhor. Ex.: “valor em penhor ou valor em garantia.”7. Endosso sem garantia: não vincula o endossante na qualidade de coobrigado. Esta cláusula necessita ser expressa.8. Endosso Póstumo ou tardio : é aquele realizado após o protesto, tendo efeito de simples cessão de crédito. Neste caso produzirá efeitos civis de uma

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cessão ordinária de crédito, passando o portador a ter o direito de exigir dos demais coobrigados a dívida. O Código Civil de 2002 estabelece em seu art. 920 que o endosso tardio ou póstumo produz os mesmos efeitos do tempestivo

Com relação à Responsabilidade: havendo o endosso anterior ao protesto, o endossante estará investido nos dois efeitos do endosso:a)_ o de transferir a titularidade da cártula;b) o de garantir o pagamento do título na qualidade de coobrigado.

Conseqüências e Efeitos do Endosso (regra geral) 

Transferência da propriedade do título completada pela simples tradição (art. 910, §2º CCB/2002)  Corresponsabilidade do endossante pelo pagamento do título  o A corresponsabilidade é prevista no art. 15, da Lei Uniforme, Decreto n.º 57.663/66  o O Código Civil de 2002, art. 914, determina: Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título.  É válido o endosso sem garantia (art. 15, da Lei Uniforme, Decreto n.º 57.663/66 e regra geral do CCB/2002)  Considera-se não escrita qualquer condição ao endosso que subordine o endossante (art. 912, CCB/2002) Cláusula proibitiva de novo endosso é válida É nulo o endosso parcial (art. 912, parágrafo único CCB/2002)

 ENDOSSO CESSÃO DE CRÉDITO

Responde pela existência do crédito e pela solvência do devedor

Responde somente pela existência do crédito

Não pode arguir matéria atinente à relação jurídica com o endossatário

Pode arguir matéria atinente à relação jurídica com o endossatário

Unilateral Bilateral – contrato

Independe de notificação do devedor Somente produz efeitos após a notificada ao devedor

ACEITE

Conceito - é ato cambiário pelo qual o sacado reconhece a validade da ordem de pagamento. O aceite somente é utilizado no caso de ordem de pagamento a prazo. Constitui-se em uma assinatura do sacado na própria letra (anverso), admitindo-se também no verso, desde que contenha a expressão “aceito”. O aceitante é o devedor principal do título. Em havendo recusa ao aceite, tal situação acarreta no vencimento antecipado do título. Assim, poderá o beneficiário, cobrar o título diretamente em face do sacador.

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Aceite Parcial: neste caso, o sacado aceita pagar apenas parte do título.

Aceite Modificado ou Limitado: o sacado aceita a ordem de pagamento, só que alterando uma das condições do título. Ex.: lugar do pagamento.

Características 

Não é obrigatório Aceitando passa a ser devedor principal Sacado se torna aceitante Apresentação para aceite

o Facultativa Vencimento a dia certo Vencimento a certo termo da data

o Obrigatória Vencimento for a certo tempo da vista

Aceite parcial admitido Aceite Modificado equivale a não aceite – recusa (art. 26 da Lei Uniforme,

Decreto n.º 57.663/66) Vencimento antecipado – não aceite, recusa (art. 43 da Lei Uniforme,

Decreto n.º 57.663/66)

 Prazos 

Vencimento à vista – até um ano após o saque (art. 34 da Lei Uniforme, Decreto n.º 57.663/66)

Vencimento a certo tempo da vista – até um ano após o saque (art. 23 da Lei Uniforme, Decreto n.º 57.663/66)

Demais casos – até o vencimento (art. 21 da Lei Uniforme, Decreto n.º 57.663/66)

Em caso de perda do prazo para aceite, não pode cobrar dos coobrigados (art. 53 da Lei Uniforme, Decreto n.º 57.663/66)

AVAL 

Conceito - Obrigação cambiária para garantir o pagamento do título, nas mesmas condições de um outro obrigado. (art. 32 da Lei Uniforme, Decreto n.º 57.663/66

O Aval é o ato cambiário pelo qual uma pessoa (avalista) se compromete a pagar o título de crédito, nas mesmas condições que um devedor deste título (avalizado).

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Partes envolvidas:

Avalista: é a pessoa que presta o aval. Para isso, basta a sua assinatura, em geral, na frente do título. Devemos destacar que o avalista assume RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA pelo pagamento da obrigação. Isto significa que, se o título não for pago no dia do vencimento, o credor poderá cobrá-lo diretamente do avalista, se assim o desejar.

Observação importante : o avalista tem que ser capaz (se descobrir depois que não era capaz, isso não invalida o aval em respeito ao princípio da autonomia das obrigações.Por fim, frise-se que a garantia do avalista pode ser por todo o pagamento, ou apenas por parte dele.

Avalizado: é o devedor que se beneficia do aval, tendo sua dívida garantida perante o credor. Se o avalizado não pagar o título, o avalista terá de fazê-lo. A Lei assegura, entretanto, ao avalista o direito de cobrar, posteriormente, o avalizado.

Observação importante : O aval deve ser dado por escrito, no verso ou anverso do título, ou ainda, em uma folha anexa ao título (no caso de LC) chamada de prolongamento, devendo constar a expressão “Bom para Aval” ou qualquer outra semelhante, seguindo-se o nome do avalista.

Natureza Jurídica do Aval:é uma garantia própria dos títulos cambiários e a eles equiparados, que não se confunde com as demais garantias dadas no direito comum (penhor, hipoteca, fiança). Algumas pessoas consideram o aval como uma fiança, sendo que, entretanto, são títulos distintos.

Espécies 

Aval em branco o Considera-se em favor do sacador, na letra de câmbio (art. 30 da Lei

Uniforme, Decreto n.º 57.663/66), do promitente na Nota Promissória, no emitente, no Cheque

o O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de indicação, ao emitente ou devedor final (art. 899 CCB/2002)

Aval em preto Limitado ou Parcial (art. 30 da Lei Uniforme, Decreto n.º 57.663/66)

o O Código Civil de 2002 vedou o aval parcial art. 897, parágrafo único do CCB/2002

Avais conjuntos o Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não

sucessivos – Súmula 189 do STF Aval simultâneo

o Dois ou mais avalistas avalizam ao mesmo tempo um só avalizado

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o Aval da obrigação principal e não um do outro Aval sucessivo

o O avalista do avalizado é também avalizado por outro avalista o O último avalista em ação cambiária contra o primeiro avalista e

contra o primeiro avalizado o O primeiro avalista tem ação cambiária contra o primeiro avalizado

Aval antecipado (Art. 14 do Decreto n.º 2.044/1908) o Concedido antes do aceite o Autonomia dos institutos o Válido mesmo se não houver aceite

AVAL FIANÇA

Cambiário Contrato

Ato Unilateral Ato Bilateral

Solidariedade Benefício de Ordem, pode renunciar

Depende de outorga uxória Depende de outorga uxória – STJ332 – A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia.

Autônomo Acessório

PROTESTO

Conceito: É a apresentação pública do título para seu devido pagamento, o qual prova à falta do aceite. O sacado, neste caso, será intimado para comparecer em cartório a fim de aceitar o título.Em outros termos, é o ato formal realizado perante oficial público para confirmar o inadimplemento da obrigação cambial, tendo como objetivo de salvaguardar os direitos cambiários, provando a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos de crédito e outros documentos de dívida. (art. 1º da Lei n.º 9.492/1997)

Prazos:

- no Protesto por falta de aceite, o portador deverá entregar o título em cartório até o fim do prazo de apresentação ou no dia seguinte ao término do prazo se o título foi apresentado no último dia deste e o sacado solicitou o prazo de respiro no caso de letra de câmbio que consiste no pedido de prorrogação do pagamento para o dia seguinte.

- no Protesto por falta de pagamento, o credor deverá entregar o título em cartório em um dos dias úteis seguintes àquele em que for pagável ou no 1º dia útil após o vencimento.

Observação Importante: não sendo obedecidos os prazos, o portador do título perderá o direito de cobrar o crédito contra os coobrigados do título (sacador,

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endossante e seus respectivos avalistas), permanecendo o direito apenas contra o devedor principal e seus avalistas.

Observação importante: É importante salientar mais uma coisa: o protesto não é mais uma condição sine qua non (necessária) ao intento da ação cambial executiva. Porém, é necessário não se esquecer que, se não forem protestados os títulos cambiais, dentro dos prazos legais (Cheque, dentro do prazo de apresentação; Letra de Câmbio e Nota Promissória, dentro de dois dias úteis do vencimento e a Duplicata, dentro de 30 dias do vencimento), o portador perderá o direito à execução dos endossantes e respectivos avalistas. Continuando com o direito de execução em face do devedor (sacado ou emitente) e seus avalistas, e em face do sacador (credor) e seus avalistas.

Finalidades:

Caracterizar a impontualidade do devedor Garantir direito de regresso contra coobrigados Provar a existência da mora Interromper a prescrição (art. 202, III, CCB/2002)

Espécies

Facultativo – ação cambial contra obrigado principal (aceitante e avalista) Obrigatório – ação cambial contra coobrigados (sacador, endossantes e

seus avalistas)

Observação: Todos estes atos cambiários dizem respeito à: LC, NP, Duplicatas e Cheques

3.3. PRINCIPAIS TÍTULOS DE CRÉDITO São considerados os principais Títulos de Crédito no Brasil os seguintes:

1. Letras de Câmbio;2. Nota Promissória;3. Cheque;4. Duplicata;

3.3.1. LETRA DE CÂMBIOConceito: A letra de câmbio é uma ordem de pagamento, à vista ou a prazo.

Constitui-se numa ordem dada por escrito a uma pessoa para que pague a um beneficiário indicado, ou à ordem deste, uma determinada quantia.

Como toda ordem de pagamento, nela encontramos três personagens cambiários:

1. emitente ou sacador: pessoa que emite o título.

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2. sacado: pessoa que recebe a ordem e deve cumpri-la.

3. tomador ou beneficiário: pessoa que se beneficia da ordem de pagamento.

Natureza: sua existência não está condicionada a um contrato e sim em um ato unilateral da vontade do subscritor, sendo um documento formal, literal, abstrato e com obrigação autônoma.Características:

1. título de crédito materializado em um documento;2. título à ordem: esta cláusula é inerente ao título, para que sua

circulação seja facilitada.3. formal: obedece todos os requisitos;4. literal: só vale o que está escrito;5. abstrato: não há necessidade da indicação do negócio

fundamental original;6. autônomo: as obrigações são independentes;7. título de apresentação.

Função da Letra de Câmbio: possui a função de papel moeda destinada a efetuar o transporte fácil de valores de um lugar para outro sem os perigos e as dificuldades do transporte real, facilitando, assim, a efetivação de transações comerciais. A Letra de Câmbio é aceita internacionalmente.

Requisitos Essenciais: A letra de câmbio é documento formal, devendo, por isso, obedecer a diversos requisitos previstos em Lei. Esses requisitos são:

a) A denominação letra de câmbio escrita no texto do documento;b) A quantia que deve ser paga: havendo dúvidas entre o valor inserido

por extenso e o valor inserido por algarismos, prevalecerá o inserido por extenso.

c) O nome do sacado: a pessoa que deve pagar o título. O sacado não possui nenhuma obrigação para com o portador do mesmo enquanto não inserir sua assinatura, tornando-se aceitante. Enquanto não inserida a assinatura, a obrigação é garantida pelos demais coobrigados (endossantes e avalistas).

o a LC poderá ser emitida contra vários sacados.

Cumulativa: quando todos os sacados aceitam o título;

Sucessiva: a apresentação deve ser feita na ordem indicada;

Alternativa: caberá ao portador escolher entre os sacados.

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d) O nome do tomador ou beneficiário: a pessoa a quem o título deve ser pago.

e) A data e o lugar onde a letra é sacada. f) A assinatura do sacador: a pessoa que emite o título. Não

havendo assinatura, não há garantia; o sacador precisa ser capaz; pode ser inserida em qualquer lugar do título.

a ausência de qualquer um desses requisitos tornará prejudicada a liquidez, a exigibilidade e a certeza do título. O Título é NULO.

Prazo de Respiro: é um prazo pedido pelo sacado visando à conveniência ou não do aceite. É um prazo máximo de 24 horas.

Obs. sendo apresentado o título para o aceite e este não sendo devolvido pelo sacado, o juiz poderá decretar a prisão administrativa do mesmo. A prisão somente poderá ser revogada em caso de devolução do título, ou pagamento do mesmo.

Saque: O saque é o ato de criação, de emissão da letra de câmbio, vinculando o sacador à posição de co-devedor e ao pagamento da letra se o sacado não pagar o título.

Aceite: O sacado não está obrigado a pagar o título. O ato em que o sacado concorda em acolher a ordem incorporada pela letra se chama ACEITE, e resulta da simples assinatura do sacado lançada no anverso do título, ou no verso desde que identificado pela expressão "aceito". O ACEITANTE é o devedor principal do título. Se o sacado RECUSAR A ACEITAR a ordem de pagamento, o tomador poderá cobrar de imediato o título do sacador.

Aceite Parcial: O aceite pode ser limitativo ou parcial quando concorda em pagar somente uma parte do valor, ou modificativo, quando o sacado adere à ordem alterando parte das condições fixadas, tais como o prazo de vencimento. O aceitante se vincula ao pagamento do título nos exatos termos de seu aceite. Neste caso o título deve ser protestado, ficando o sacador responsável pela diferença.

Recusa do aceite: A recusa do aceite é comportamento lícito. O sacado estará vinculado ao título apenas se concordar a em atender a ordem que lhe é

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dirigida. A Recusa parcial ou total causa o vencimento antecipado da letra. O credor poderá cobrar o título de imediato a sacador. A falta ou recusa do aceite prova-se pelo protesto.

Protesto: Por falta de aceite ou pagamento. No primeiro dia útil após vencimento/recusa de aceite. Necessário para exercício do direito de regresso contra os demais coobrigados

Endosso: A letra de câmbio é título, em regra, com cláusula "à ordem", o que permite o endosso, ato que opera a transferência do crédito representado pelo título, significando que o credor pode negociar o título. O alienante do crédito cambial é o endossante (ou endossador) e o adquirente é o endossatário. Não há limites para o número de endossos de um título.

Efeitos do Endosso: São efeitos do endosso: a) transferência da titularidade do

crédito; b) vinculação do endossante como co-obrigado ao pagamento do título.

Cessão Civil de Crédito: A cessão civil de crédito é ato jurídico de efeitos não cambiais de transferência de titularidade do crédito, no qual o cedente responde, em regra, apenas pela existência do crédito e não pela solvência do devedor. O endosso pode ter efeito de cessão civil nos seguintes casos:

a) endosso praticado após protesto por falta de pagamento; b) com cláusula "não à ordem", tornando o título transmissível apenas por cessão civil.

Devedor: Os devedores de um título podem ser:

a) principal, na letra de câmbio é o aceitante ( sacado ); b) co-obrigados, na letra de câmbio, são os endossantes e o

sacador. O co-obrigado que paga o título tem direito de regresso contra o devedor principal e contra os outros co-obrigados anteriores, na seguinte ordem:

a) o sacador da letra é anterior aos endossantes; b) os endossantes em ordem cronológica e

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c) os avalistas inseridos na posição imediatamente posterior ao respectivo avalizado.

Vencimento: Uma letra pode ser sacada:

- À vista: Pagável à apresentação.- A um certo termo de vista: Se conta da data do aceite

ou na falta deste, do protesto- A um certo termo de data: A tantos dias da data do saque- Em um dia fixado

OBS. As letras quer com vencimentos diferentes, quer com vencimentos sucessivos são NULAS.

Apresentação: - Vencível à vista, até 1 ano após o saque- A certo termo da vista, até 1 ano para procurar o sacado.- Em dia fixado: Até este dia

O título que contenha cláusula "não aceitável" somente poderá ser apresentado ao sacado no seu vencimento.

Apresentado o título ao sacado, este tem o direito de pedir que lhe seja reapresentado no dia seguinte, é o período de respiro.

OBS. O sacado que retém indevidamente a letra de câmbio para aceite está sujeito à prisão administrativa.

Pagamento: Apresentada no dia/lugar que é pagável ou no primeiro dia útil imediato

Justa Causa na Negativa de Pagamento: É justa causa para negativa de pagamento do título: a) extravio da letra; b) falência ou incapacidade.

Prazo prescricional: Caso ocorra à prescrição, ainda assim pode-se reclamar o crédito através de uma ação ordinária.

- Contra o aceitante: 3 anos, a contar do vencimento- Contra o sacador e os demais coobrigados: 12 meses, a contar da data do protesto.

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- Dos endossantes contra os outros e contra o sacador: 6 meses, a contar do pagamento da letra ou do dia em que o endossante foi acionado

3.3.2. NOTA PROMISSÓRIA

Conceito: A nota promissória é uma promessa de pagamento pela qual o emitente (DEVEDOR) se compromete diretamente com o beneficiário (CREDOR) a pagar-lhe certa quantia em dinheiro.

A nota promissória é DIFERENTE da letra de câmbio, fundamentalmente, no seguinte aspecto:

a NOTA PROMISSÓRIA é promessa de pagamento, enquanto a LETRA DE CÂMBIO é ordem de pagamento.

o Sendo promessa de pagamento a nota promissória envolve apenas dois personagens cambiários:

 1 - O emitente: é a pessoa que emite a nota promissória, na qualidade de devedor do título.

2 - O beneficiário: é a pessoa que se beneficia da nota promissória, na qualidade de credor do título.Requisitos Essenciais: A nota promissória é o documento formal, devendo, por esta razão, obedecer a diversos requisitos estabelecidos pela Lei. 

A denominação NOTA PROMISSÓRIA escrita no texto do documento.

A promessa pura e simples de pagar determinada quantia. A data do vencimento ( pagamento ). O nome do beneficiário ou à ordem de quem deve ser paga

(NÃO SE ADMITE NOTA PROMISSÓRIA AO PORTADOR). O lugar onde o pagamento deve ser realizado. A data em que a nota promissória foi emitida. A assinatura do emitente ou subscritor (é o devedor

principal)

Obs. Não existe na NP o aceite, em razão da existência da assinatura do próprio emitente no título.

Caso não conste na nota promissória a data e local de pagamento ela será um título pagável à vista no local do saque.

O endosso, aval, vencimento, pagamento, protesto e execução da NOTA PROMISSÓRIA são idênticos aos da letra de câmbio.

3.3.3. CHEQUE

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Conceito: O cheque é uma ordem incondicional de pagamento à vista, de uma certa quantia em dinheiro, dada com base em suficiente provisão de fundos ou decorrente de contrato de abertura de crédito disponíveis em banco ou instituição financeira equiparada.

Intervenientes:

Emitente: É a pessoa que dá a ordem de pagamento para o sacado, após verificação dos fundos, pagar. É o devedor principal.

Sacado: o banco ou instituição financeira a ele equiparada. O sacado de um cheque não tem, em nenhuma hipótese, qualquer obrigação cambial.

Beneficiário: É a pessoa a quem o sacado deve pagar a ordem emitida pelo sacador

OBS.: Os fundos disponíveis em conta corrente pertencem, até a liquidação do cheque, ao correntista sacador.

Requisitos: São requisitos do cheque:

Extrínsecos: Agente capaz, cuja vontade foi livremente expressa, sem qualquer vício.Intrínsecos: a) A denominação “cheque”, inscrita no próprio texto

b) A ordem incondicional de pagar uma quantia determinada c) O nome do banco/instituição que deve pagar (sacado) d) A indicação da data e lugar de emissão e) A indicação do lugar do pagamento f) A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes especiais

Tipos de Cheques:

Cheque cruzado: possibilita a identificação do credor e só poderá ser pago via depósito em conta. O cruzamento pode ser:Geral: Dois traços paralelos no anversoEspecial: Entre os traços, figura o nome do Banco.

Cheque para ser creditado em conta: O emitente/portador proíbe o pagamento em dinheiro mediante a inscrição no anverso da expressão: “para ser creditado em conta”

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Cheque visado: é aquele garantido pelo banco sacado durante um certo período.

Cheque Administrativo: é aquele sacado pelo banco contra um de seus estabelecimentos.

Endosso: O cheque é título de modelo vinculado. A transmissão de cheque pagável a pessoa qualificada é TRANSMISSÍVEL através do ENDOSSO, com ou sem a cláusula “à ordem”. Com o CPMF, endossa-se apenas uma vez. A sua circulação segue a mesma regulamentação da letra de câmbio, com as seguintes diferenças:

a) não se admite o endosso-caução; b) o endosso do sacado é nulo, VALENDO APENAS COMO

QUITAÇÃO (exceção: endosso feito por um dos estabelecimentos do sacado para pagamento em outro estabelecimento); e

c) o endosso feito após o prazo de apresentação serve apenas como cessão civil de crédito.

Aval: Expresso da forma convencional ou pela simples assinatura no anverso do cheque. Na falta de indicação, considera-se avalizado o emitente.

Aceite: O cheque não admite aceite. A praça é obrigada a aceitar pagamentos em cheque.

Vencimento: Sempre à vista, contra apresentação.

O cheque para se levar em conta somente é liquidado por lançamento contábil por parte do sacado.

O prazo para pagamento de cheque é de 30 dias para mesma praça e 60 se for de praça distinta. A perda do prazo implica em perda do direito contra os co-obrigados e do direito creditício se não mais existir fundos.

O cheque pode servir como instrumento de prova de pagamento e extinção de obrigação.

Pagamento: Cheque sem fundos é tipificado como estelionato. O credor não pode recusar pagamento parcial. O sacado não deve pagar o cheque após o prazo de prescrição.

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A execução de cheques sem fundos prescreve em 6 meses a partir do término do prazo para apresentação. Após o decurso deste prazo, será admissível ação com base em locupletamento sem causa no prazo de 2 anos.

Sustação de Cheque: A sustação do cheque pode ser:

a) revogação (contra-ordem), notificação dos motivos, feitos após o prazo para apresentação do cheque .

b) oposição, aviso escrito, relevante razão de direito, antes da liquidação do título. A sustação pode configurar crime de fraude no pagamento por cheque (art.171). O sacado não pode questionar a ordem.

Prazo prescricional:

a) 6 meses, contados da expiração do prazo de apresentação:

- Do portador contra o emitente e seus avalistas - Do portador contra os endossantes e seus avalistas.

b) De qualquer dos coobrigados contra os demais: 6 meses contados do dia em que pagou o cheque ou foi acionado

OBS. A ação de enriquecimento ilícito contra o emitente ou coobrigados prescreve em 2 anos contados do dia em que se consumar a prescrição da ação de execução

Os cheques PÓS-DATADOS: É interessante lembrarmos que, segundo a lei Uniforme sobre Cheques, este título é ordem de pagamento à vista. Desta maneira, os cheques com data futura ao dia real da emissão não devem ser levados em conta. A data futura não é considerada e o cheque sempre é pagável à vista. 3.3.4. DUPLICATA

Conceito: A duplicata é o título de crédito emitido com base em obrigação proveniente de compra e venda comercial ou prestação de certos serviços.

Vejamos um exemplo de como surge uma duplicata:

Na venda de uma mercadoria, com prazo não inferior a 30 dias, o vendedor deverá extrair a respectiva fatura para apresentá-la ao comprador. No

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momento da emissão da futura, ou após a venda, o comerciante poderá extrair uma duplicata que, sendo assinada pelo comprador, servirá como documento de comprovação da dívida.

Requisitos Essenciais: A duplicata, sendo titulo formal, apresenta os seguintes requisitos previstos em Lei: 

A denominação duplicata, a data de sua emissão e o número de ordem.

O número da fatura. A data do vencimento ou a declaração de ser duplicata à

vista. O nome e o domicílio do vendedor e do comprador. A importância a pagar, em algarismos e por extenso. A praça de pagamento. A clausula à ordem. A declaração do recebimento de sua exatidão e da obrigação

de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite cambial.

A assinatura do emitente

Classificação: A duplicata é título de modelo vinculado e o comerciante que a adotar deve manter um livro de registro de duplicatas. A duplicata deve ser de uma única fatura.

A duplicata é título causal, pois somente pode representar crédito decorrente de uma determinada causa, qual seja, uma compra e venda mercantil ou uma prestação de serviços. A emissão e aceite de duplicata simulada é crime pela lei 8137/90.

Duplicata Simulada: A duplicata é titulo cuja existência depende de um contrato de compra e venda comercial ou de prestação de serviço. Em outras palavras, toda duplicata deve corresponder a uma efetiva venda de bens ou prestação de serviços. A emissão de duplicatas que não tenham como origem essas atividades é considerada infração penal. Trata-se da chamada "duplicata fria" ou duplicata simulada.

Vencimento

- À vista: Pagável à apresentação.- A um certo termo de vista

Remessa:- Remessa pelo credor: 30 dias, na praça do devedor.

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- Remessa por instituição financeira: 10 dias

Devolução: Em 10 dias, contados da apresentação, assinada ou acompanhada de declaração contendo razões recusa de aceite

Aceite: O vendedor tem prazo para enviar a duplicata, que é título de aceite obrigatório e sua recusa somente poderá ocorrer em determinados casos legalmente previstos (avaria ou não recebimento de mercadorias quando enviadas por conta e risco do vendedor, vícios na qualidade e quantidade, divergência nos prazos ou preços).

Protesto: Deve ser feito:

- Por falta de aceite- Por falta de pagamento- Por falta de devolução

A duplicata pode ser protestada, até 30 dias após o seu vencimento, por falta de pagamento, aceite ou devolução.

A perda do prazo implica somente na perda do direito contra os co-obrigados.

A triplicata pode ser emitida no caso de perda ou extravio da duplicata.

Prazo prescricional:

- Contra o sacado/avalistas: 3 anos, a contar do vencimento.- Contra o endossante/avalistas: 1 ano, a contar da data do protesto.- Dos coobrigados contra outros e contra o sacador: 1 ano, a contar do pagamento do título.

TEMA 3 : AÇÃO CAMBIAL

1.Conceito - A ação cambial, no direito brasileiro, é uma ação executiva típica, que objetiva a cobrança de título cambiário (cheque, nota promissória, letra de câmbio, duplicata etc).

2.Abrangência Da Obrigação - O portador tem o direito de acionar todos os obrigados e coobrigados, sem estar adstrito a observar a ordem em que eles se obrigaram. Todos os que se obrigarem na letra a ela se vinculam diretamente, pois suas obrigações são autônomas, umas em relação às outras. “O portador tem o direito de acionar todas essas pessoas individualmente, sem estar adstrito a observar a ordem por que elas se obrigaram”.Esse direito se transfere do portador a qualquer dos signatários quando tenha pago a letra, assumindo este a posição

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de portador. Por outro lado, a lei deixa claro que “a ação intentada contra um dos coobrigados não impede acionar os outros, mesmo os posteriores àquele que foi acionado em primeiro lugar”.

3.Objeto Da Ação Cambiária - Em primeiro lugar, com a ação cambiária se pretende obter a importância da letra, que constitui o crédito nela incorporado. Em segundo, os juros e despesas de protesto, se tiver sido tirado.

4.Legitimidade Ativa E Passiva - Sendo a ação cambial uma espécie de ação executória, terá legitimidade passiva para propô-la aquelas pessoas descritas no art. 567 do Código de Processo Civil, o qual traz além do credor, portador do título executivo, as figuras do Ministério Público, herdeiros ou sucessores, entre outros.No pólo passivo, por sua vez, figuram o devedor reconhecido no título executivo, o espólio, os herdeiros e sucessores do devedor, o novo devedor, o fiador judicial e o responsável tributário, conforme o disposto no art. 568, do CPC.

5.Formas De Ação Cambial

A ação cambial pode ser de duas formas, dependendo de contra quem será movida e da causa de sua propositura:

5.1 ação direta: é estabelecida contra o devedor principal (sacado, na letra de câmbio e duplicata; emitente, na nota promissória e no cheque) e seus avalistas, sendo nesta hipótese o protesto do título facultativo, pois independe deste para iniciar o exercício de seu direito de ação. É necessário que seja visível a verificação do não pagamento, bem como a sua não efetuação na data prevista.O avalista e o credor poderão ser cobrados em conjunto ou individualmente. Ao avalista a situação equiparada ao devedor principal, possibilita que a ação seja movida inicialmente contra ele, antes do devedor. Mas a ele cabe, depois de pagar a importância devida, agir em regresso contra o aceitante, e caso este não satisfaça, poderá se voltar aos obrigados anteriores.

5.2 ação indireta ou ação regressiva: aquela que é movida pelo portador atual contra os obrigado anteriores, como no caso do endossante que paga ao endossatário. Ela hoje se consubstancia na ação de regresso, havendo obrigatoriedade da existência de protesto, sob pena de perda do seu direito de regresso.Não satisfeito o credor na totalidade da dívida pelo devedor principal e pelo avalista, será permitido iniciar ação de regresso contra os obrigados regressivos.

6.Execução cambial no Juizado Especial

O Juizado Especial, previsto no art. 98, I,da Constituição Federal de 1988, e disciplinado na Lei 9.099/95, foi criado para agilizar o processamento das causas cíveis de menor complexidade.

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Desta forma, observado o limite máximo previsto no inc. II, do parágrafo 1°, do art. 3° da Lei 9.099/95, poderá o credor de títulos cambiais optar pelo Juizado Especial, atribuindo maior destaque aos princípios da oralidade, da simplicidade e do informalismo, buscando, a priori, a conciliação entre as partes, e consagrando o jus postulandi, nas causas de até 20 salários mínimos, só exigindo a assistência advocatícia nas causa de valores superiores a este,lembrando que os Juizados Especiais Cíveis abrangem causas até 40 salários mínimos.

6.Espécies de Ação Cambial

Ao falarmos em Ação Cambial no seu sentido Lato Sensu visualizamos que a mesma pode apresentar as seguintes hipóteses:

6.1.Ação Cambial Executiva:

O artigo 585 do Código de Processo Civil traz a seguinte relação de títulos executivos extrajudiciais:

“São títulos executivos extrajudiciais”:

I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque.(...)"

Assim, esses títulos podem ser executados diretamente, não necessitando da ação cognitiva (de conhecimento). Eles não necessitam de uma sentença judicial (que seria um título executivo judicial). Eles valem por si só.

Os prazos prescricionais para se intentar uma Ação Cambial Executiva são:

Na Duplicata, na Letra de Câmbio e na Nota Promissória:

- 3 (três) anos do vencimento.

No cheque:

- 6 meses da data de apresentação.

Desse modo, no cheque, os prazos são diferentes. Temos, primeiramente, o prazo de apresentação. Um cheque será emitido na praça, ou fora da praça. Será emitido na praça, quando a cidade de emissão do cheque (aquela que, em regra, é preenchida pelo emitente) coincidir com a cidade do banco sacado; e será emitido fora da praça, quando a cidade de emissão do cheque divergir da cidade do banco sacado. É irrelevante se o emitente esteja ou não, de fato, na cidade

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cujo nome está expresso no cheque, no momento da sua emissão (ou aposto, mesmo que posteriormente).

6.2 Ação de Enriquecimento ilícito : Esta segunda ação tem lugar quando tiver havido a prescrição da execução. É uma ação não executiva.No caso do cheque sem fundos, o portador poderá, nos 2 anos seguintes, promover a ação de enriquecimento indevido contra o emitente, endossante e avalistas.Nos demasi títulos o prazo será de 3 anos.

7. Ação Ordinária de Cobrança e Ação Monitória : Ultrapassadas as ações anteriores, ainda teremos mais 3 (três) anos para intentarmos as outras duas ações cognitivas, quais sejam: Ação Ordinária de Cobrança e a Ação Monitória (artigos 1.102a, do Código de Processo Civil) que requerem a prova, o histórico do título e a origem do crédito.

Na verdade, após prescrito o cheque, o portador ainda tem três ações à sua disposição:

1. locupletamento ilícito, que não requer o histórico e origem do crédito, que deverá ser intentada dentro de 2 anos da prescrição da ação cambial executiva;

2. Ação Ordinária de Cobrança ou Ação Monitória, que requerem o histórico e origem do crédito, que deverão ser intentadas dentro de 5 (cinco) anos da prescrição da ação cambial executiva.

Conforme define o C.P. Civil, a ação monitória visa propiciar "a quem

pretender, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, pagamento

de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel."

(art. 1.102a).

TEMA 4 – OUTROS TÍTULOS

1.CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E “WARRANT”

São títulos de crédito causais originários de um contrato de depósito que têm como origem um recibo de depósito, a partir do momento em que deposito uma mercadoria em armazéns gerais ou galpão de depósitos destinados especificamente a essa finalidade. Nascem juntos, mas poderão, depois, circular isoladamente um do outro.

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O conhecimento de depósito outorga a propriedade da mercadoria. Exemplifiquemos a situação descrita da seguinte forma: se José tem grãos depositados em um armazém, ao endossar o conhecimento de depósito para Maria, ele estará transferindo a propriedade dos grãos para esta. Se ele endossa o warrant ela está instituindo no seu possuidor o direito de fazer cair penhor sobre aqueles bens. Nisso, no exemplo que vimos se José for a um banco pedir um empréstimo para uma viagem; a instituição exigirá uma garantia,podendo,então, endossar o warrant, de forma que o banco constitui penhor daqueles grãos que estão no silo. E, caso não pague ao final do prazo avençado, o banco tomará os grãos. Por sua vez, nesse espaço de tempo, José poderá endossar o conhecimento de depósito para outra pessoa. Nessa hipótese, esta pessoa obterá a propriedade dos grãos, porém será uma propriedade precária, pois o warrant correspondente está circulando como garantia de uma outra obrigação. Em resumo,só será proprietário pleno da mercadoria quem tiver os dois documentos. Assim, no nosso exemplo, será necessário que José pague o empréstimo para o banco, para só então, tomar de volta o warrant e volta a ser proprietário pleno. Caso já tenha passado o conhecimento de depósito para a terceira pessoa, reobtido o warrant pela poderá passá-lo também para esta e, desse modo haverá a transferência da propriedade plena.

Ainda quanto ao assunto em comento, vejamos os seguintes pontos:

ARMAZÉNS-GERAIS: São estabelecimentos próprios para depósito e conservação de mercadorias.

O depositante passa a ter com o estabelecimento depositário um valor geralmente considerável, podendo pedir que sejam emitidos, a seu favor, títulos de crédito em garantia do depósito feito: conhecimento de depósito e o warrant (como título de crédito significa garantia ou penhor).

Destina-se não só ao armazenamento de todo e qualquer produto, mas pode se especializar e se destinar a um só tipo.

A estocagem visa não apenas à conservação como também a aguardar melhor preço e a resolver o problema da falta de espaço. Com os títulos nas mãos facilita para o depositante negociar o produto, já que basta a ele endossar os títulos representativos.

PENHORA: Enquanto inexistentes os títulos, o recibo, não oferece garantia contra penhora das mercadorias depositadas. Mas quando emitidos o Conhecimento de depósito e o warrant, as mercadorias e gêneros depositados não poderão sofrer nenhum tipo de penhora ou qualquer outro alegação que prejudique a sua livre e plena disposição, salvo quando ocorrer perda de qualquer dos títulos, notificado o armazém-geral para não entregar, sem ordem judicial, a mercadoria depositada ou saldo disponível.Por outro lado,o Conhecimento de depósito e o warrant podem ser penhorados ou arrestados por dívida do portador.

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REQUISITOS:

1. denominação da empresa do armazém-geral e sua sede;2. nome, profissão e domicílio do depositante ou de terceiro por este indicado;3. lugar e prazo (segundo o art. 10 da Lei de Regência é de 6 meses,

prorrogável por acordo das partes do depósito; no caso de mercadorias estrangeiras sujeitas a direitos de importação o prazo poderá ser prorrogado por até mais um ano, pelo Inspetor da Alfândega, observando-se o estado das mercadorias) do depósito, facultado aos interessados acordarem, entre si, na transferência posterior das mesmas mercadorias de um para outro armazém da emitente, ainda que se encontrem em localidade diversa da que foi feito o depósito inicial.

4. local para onde se transferirá a mercadoria em depósito;5. as despesas decorrentes da transferência, inclusive as de seguro por todos

os riscos.6. natureza e quantidade das mercadorias em depósito com todas as suas

características, ressalvadas as peculiaridades das mercadorias depositadas a granel;

7. a qualidade da mercadoria.8. indicação do segurador da mercadoria e o valor do seguro.9. declaração dos impostos e direitos fiscais, dos encargos e despesas que a

mercadoria está sujeita, e do dia em que começaram a correr as armazenagens (art. 26, § 2º);

10.data da emissão dos títulos e a assinatura do empresário ou pessoa devidamente habilitada por este.

CIRCULAÇÃO

O Conhecimento de depósito e warrant são títulos de crédito, que na emissão só pode ter um único beneficiário indicado nos dois títulos, que são entregues unidos ao depositante ou terceiro por ele indicado, dessa forma o primeiro endosso só pode ser dado pelo 1º e único beneficiário dos dois títulos.

No caso de endosso somente do Conhecimento de Depósito,dá ao endossatário o poder de dispor das mercadorias depositadas, respeitados os direitos do portador do Warrant. Se pretender retirar ou utilizar-se das mercadorias depositadas, deverá o endossatário liquidar o crédito do possuidor do Warrant. Deve-se lembrar que,devem constar no verso, obrigatoriamente, declarações informando a existência de endosso no Warrant, a importância do crédito garantido pelo penhor das mercadorias, a taxa de juros e a data do vencimento. Dessa forma, o endossatário do Conhecimento do depósito fica informado e poderá adquirir as mercadorias, deduzindo do preço o valor devido ao endossatário do Warrant ou pode liquidar antecipadamente a dívida garantida pelo Warrant.

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O endossante do Conhecimento de Depósito por nada responde após seu endosso. Inexistindo a mercadoria, o armazém-geral é o responsável como depositário que é, visto que o seguro da mercadoria é obrigatório.

SINISTRO: No caso de sinistro, o armazém-geral recebe do segurador a indenização devida e, os portadores de Conhecimento de depósito e Warrant exercerão os direitos e privilégios que tenham sobre a mercadoria segurada.

PERDA E EXTINÇÃO DOS TÍTULOS

No caso de perda, roubo, furto, extravio ou destruição do título o interessado deverá avisar ao armazém-geral e anunciar o fato por 3 dias pelo jornal de maior circulação da sede do armazém.Nestes casos,o requerimento será instruído com exemplar do jornal mais uma cópia do título perdido e autenticada pelo armazém.

 2.CONHECIMENTO DE TRANSPORTE

Muito assemelhado ao conhecimento de depósito. Embarca a mercadoria via determinado transporte, extrai-se o conhecimento de transporte cujo endosso irá transferir a propriedade daquela mercadoria transportada para o endossatário.

3. CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL

Cédula de crédito industrial é uma promessa de pagamento emitida pelo devedor, em razão de um financiamento dado pelo credor. Pode ser garantida por penhor cedular, a alienação fiduciária ou hipoteca cedular.

O texto legal dá uma relação dos bens que podem ser oferecidos em garantia. Ex.: máquinas, matérias primas, veículos, títulos de crédito, etc.

Em outras palavras é um título de crédito consistente numa promessa de pagamento em dinheiro, com garantia real, cedularmente constituída, e destinada ao financiamento concedido por instituições financeiras à pessoa física ou jurídica que se dedique à atividade industrial. O emitente da cédula fica obrigado a aplicar o financiamento nos fins ajustados, devendo comprovar tal aplicação no prazo e forma exigidos pela financiadora.

4.CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL

Os objetivos visam o custeio, o investimento, a comercialização e a industrialização do setor agropecuário. Dirigem-se, ainda, ao melhoramento das práticas rurais e melhoria das condições de vida e de trabalho na área rural

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beneficiada.

De acordo com o art. 2° da Lei 4.829, a concessão do crédito rural destina-se a produtores rurais e às suas cooperativas. Não há qualquer discriminação entre pessoas físicas e pessoas jurídicas. Todo produtor, considerado individualmente ou como empresa organizada, desde que exerça atividades agropecuárias, pode ser beneficiário dos financiamentos rurais.Vale dizer que ,não há possibilidade de que seja concedido financiamento rural para comerciantes, ainda que intermediários na revenda de bens de natureza agrícola ou pastoril.

RESUMO DA UNIDADE II

TEMA I

TEORIA GERAL DOS CONTRATOS MERCANTIS

1. GENERALIDADES

Contratos Mercantis:

Os contratos serão mercantis se os dois contratantes são empresários. Há de se distinguir hoje entre os contratos comuns, firmados entre particulares, de igual ou equivalente posição econômica, dos contratos entre empresários, e dos contratos dos particulares com os empresários. Estes últimos estão sujeitos ao chamado direito do consumidor, assim como também o contrato entre empresários quando estiverem em situação de considerável desigualdade.

  Contrato mercantil é o acordo de vontade de duas ou mais pessoas para o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos tendo por objeto ato empresarial.

  O contrato mercantil é, em regra, oneroso, porque a gratuidade não se presume na atividade comercial, cujo móbil é a especulação, isto é, o interesse ou lucro.

Os contratos que o empresário contrai podem estar sujeitos a quatro regimes jurídicos diferentes, no Direito brasileiro: administrativo, do trabalho, do consumidor e cível. Dependendo de quem seja o outro contratante, as normas aplicáveis ao contrato são diferentes.

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Se o empresário contrata com o Poder Público ou concessionária de serviço público, o contrato é administrativo. Por exemplo, se o fabricante de móveis vence licitação promovida por prefeitura, para substituir o mobiliário de uma repartição, o contrato que vier a assinar será desta espécie. Se o outro contratante é empregado, na acepção legal do termo de acordo com a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, Art. 3, o contrato é de trabalho. Se consumidor (ou empresário em situação análoga à de consumidor), a relação contratual está sujeita ao Código de Defesa do Consumidor. Nas demais hipóteses, o contrato é civil e estará regido pelo Código Civil ou por legislação especial.

Os contratos são mercantis se os dois contratantes são empresários. Os contratos mercantis podem classificar-se entre os cíveis ou os sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor – CDC – dependendo, uma vez mais, das condições dos contratantes. Se os empresários são iguais, sob o ponto de vista de sua condição econômica (quer dizer ambos podem contratar advogados e outros profissionais antes de assinarem o instrumento contratual, de forma que, ao fazê-lo, estão plenamente informados sobre a exatidão dos direitos e obrigações contratados), o contrato é cível; se desiguais (ou seja, um deles está em situação de vulnerabilidade econômica frente ao outro) o contrato será regido pelo Código de Defesa do Consumidor.

Quando o banco contrata, com a construtora, a edificação de sua sede, o contrato é mercantil-cível, porque ambos os empresários negociam em pé de igualdade. Mas, quando o mesmo banco concede empréstimo a microempresário, o contrato mercantil está sujeito ao Código de Defesa do Consumidor, já que este último se encontra em situação análoga à de consumidor. O mais adequado seria uma reforma legislativa que disciplinasse especificamente os contratos mercantis (entre empresários), classificando-os de acordo com as condições dos contratantes (iguais e desiguais) e reservando a cada tipo disciplina compatível com a tutela dos interesses, objeto de contrato. Enquanto esta reforma não se realiza, aplica-se o Código Civil de 2002, ou legislação especial aos contratos mercantis cíveis e o Código de Defesa do Consumidor aos mercantis sujeitos a este regime.

2. REQUISITOS

São requisitos do contrato mercantil: capacidade dos contratantes, objeto lícito, declaração ou manifestação de vontade e forma em conformidade com a lei, ou não proibida por ela.

2.1. Capacidade: 

A capacidade é a aptidão para o pleno exercício dos direitos próprios. Essa aptidão vem-nos, em regra, com a maioridade que se alcança aos dezoito anos completos, ou, antes dela, com a emancipação que ocorre nos casos enumerados no Código Civil. Em se tratando de contratos mercantis, a capacidade se presume

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na pessoa do empresário que o celebra, se é individual, ou se não indica, se é sociedade.

2.2 Objeto Lícito: 

A liceidade do objeto visa a que seja lícita a matéria do contrato. Quer dizer: as obrigações reciprocamente assumidas pelas partes hão de ser permitidas pelo direito. Assim, não pode haver contrato quando duas pessoas se obrigam a eliminar mutuamente outrem, ou a promover furto ou roubo.

2.3 Declaração ou Manifestação de Vontade: 

A declaração ou manifestação de vontade é a anuência dada pelas partes à formação do contrato. A disposição de vontade da parte precisa ser livre. São considerados nulos os contratos que forem eivados de fraude, dolo ou simulação.

2.4 Forma: 

A forma do contrato é a maneira pelo qual este se celebra, pode ser por escritura pública, instrumento particular, tácito ou verbal. A validade das declarações de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.

Ao realizarem um contrato, as partes assumem obrigações, podendo exigir umas das outras a prestação avençada. Pelo princípio “pacta sunt servanda”, implícito em todos os contratos, as suas cláusulas têm força de lei entre as partes. 

Em outros termos, ao se vincularem a um contrato as partes assumem obrigações, podendo exigir da outra as prestações estabelecidas. Esta constitui a regra estabelecida implicitamente em todos os ajustes pela cláusula pacta sunt servanda. Isto significa que todos os contratos têm, implicitamente, as cláusulas de irretratabilidade, através da qual se afasta a possibilidade de dissolução do vínculo por vontade de uma das parte, e de intangibilidade, ou seja, o da impossibilidade da alteração unilateral das condições, prazo, preços e de outras cláusulas.

A cláusula que pode excetuar a cláusula pacta sunt servanda é a rebus sic stantibus, que sintetiza a Teoria da Imprevisão. Ela está também implícita em certos contratos, possibilitando a sua revisão diante de circunstâncias e de fatores imprevisíveis, que ocorrem independentemente da vontade de uma das partes contratantes, durante a execução do ajuste, como na ocorrência de alterações econômicas substanciais, que pode provocar uma excessiva onerosidade para uma das partes, criando a possibilidade da revisão do ajuste. A sua aplicação é própria nos contratos comutativos, ou seja, onde há um equilíbrio entre as vantagens auferidas e a prestação dada por cada uma das partes.

3. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS MERCANTIS

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3.1 Bilaterais e Unilaterais:

Bilaterais são os contratos que fazem nascer obrigações recíprocas para as partes que os celebram, vinculando as de uma destas ao cumprimento das da outra. Por isso, no contrato bilateral, nenhum dos contratantes, antes de cumprida sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio, capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a parte, até que a outra satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la. A parte lesada, no contrato bilateral pelo inadimplemento, pode requerer a rescisão do contrato com perdas e danos. A compra e venda, a locação, a troca, são contratos bilaterais. Unilaterais, são aqueles contratos em que as obrigações pactuadas recaem apenas sobre uma das partes. A outra parte não se atribui no contrato unilateral, nenhum encargo, nenhuma obrigação, consistindo sua manifestação de vontade só em aceitar a prestação convencionada. A doação é contexto unilateral.

3.2 Gratuitos e Onerosos:

Gratuito é o contrato que encerra uma benemerência, um benefício concedido por uma das partes em favor da outra. É chamado por isso mesmo contrato benéfico. A fiança, a constituição do dote, o usufruto, o depósito e o comodato são contratos gratuitos. Chama-se oneroso o contrato em que cada uma das partes suporta um sacrifício (empobrecimento)com a correspondente compensação (enriquecimento); nele há ônus para ambas as partes e uma vantagem equivalente. A compra e venda é contrato oneroso, porque o vendedor entrega a coisa e o comprador paga o preço. Também o é a doação com encargo.

3.3 Comutativos e Aleatórios:

Se há real ou presumida equivalência na prestação a que cada parte se obriga no contrato, diz-se ser este comutativo; a compra, venda e troca. Se, porém, o lucro ou proveito de uma ou de ambas as partes, para ser maior ou menor, depende de circunstâncias determinadas ou de acontecimento futuro e incerto, temos o contrato aleatório. Ao passo que no comutativo a prestação é certa e determinada, no aleatório pode ela ficar sujeita a um risco. No contrato aleatório desaparece a noção de equivalência das prestações recíprocas, que está presente no comutativo. O jogo, a aposta e o seguro são contratos aleatórios.

3.4. Nominados e Inominados:

São nominados os contratos cuja denominação lhes vem de lei, que os regula, traçando-lhes os caracteres gerais: compra e venda locação, mandato, fiança, doação, empréstimo, comodato, empreitada, etc. Inominados são os contratos não previstos na lei, que é silenciosa sobre eles. Os contratos inominados surgem de acordo com as necessidades da vida.

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3.5. Consensuais Formais e Reais:

Dizem-se consensuais os contratos que se formam pelo simples e só consentimento das partes dispensando outra qualquer formalidade. Os contratos mercantis são, em regra, consensuais. Formais são os contratos cuja validade depende de observância de formas ou formalidades prescritas em lei: a compra e venda de imóveis e a hipoteca, que dependem, para valer, de escritura pública. Reais são aqueles contratos que só se completam quando há entrega da coisa constitutiva de seu objeto. A entrega da coisa, que passa das mãos de um contratante para as de outro contratante, dá-se o nome de tradição.

4.A DESCONSTITUIÇÃO DO VÍNCULO CONTRATUAL

O que dá ensejo à desconstituição do vinculo obrigacional são as causas extintivas das obrigações, como a prescrição, a invalidação, a incapacidade absoluta da parte, a ilicitude do objeto, a inobservância da forma, etc. Também a dissolução (rescisão) do vínculo constitui causa de desconstituição do contrato, a qual pode ocorrer pela:

a) resolução: quando ocorrer a inexecução do contrato por uma das partes, retornando a situação jurídica anterior ao contrato. As partes poderão pleitear a restituição do que entregaram no cumprimento de suas obrigações contratuais, também será devido perdas e danos na hipótese de inexecução voluntária (art. 475/CC). Podendo esta ser previamente acordada, através de cláusula penal compensatória, observado o limite estabelecido no art. 412/CC;

b) resilição: quando ocorrer a vontade dos contratantes de promover a dissolução do contrato, tendo por conseqüência o que for ajustado entre as partes. Admite-se a resilição unilateral (denúncia), se o contrato contiver autorização expressa, não operando efeitos retroativos, cabendo às partes solucionar eventuais pendências, e, se previsto na cláusula de arrependimento, pagar a multa penitencial. O art. 473/CC trata da resilição unilateral estabelecida em lei.

5.NULIDADES DOS CONTRATOS MERCANTIS.

Englobando as disposições civis e comerciais temos que os contratos serão nulos quando ferirem o interesse público e possuírem vício insanável, assim serão nulos os contratos que interferirem em pessoa absolutamente incapaz, quando ilícito ou impossível o seu objeto, quando não apresenta as formas e solenidades legais, e quando taxativamente a lei os considerar como tais ou lhes negar efeitos.

De outro lado,serão anuláveis quando o prejuízo recair apenas contra as partes, ou seja quando interferirem em pessoa relativamente incapaz e quando eivados de vício resultante de erro, dolo, simulação, coação ou fraude.

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TEMA II CONTRATOS COMERCIAIS E RELAÇÃO DE CONSUMO

1.RELAÇÕES DE CONSUMO

1.INTRODUÇÃO

               Entende-se como relação de consumo, a relação que liga um fornecedor a um consumidor, tendo como objeto o fornecimento de um produto ou uma prestação de serviço.

                 Não obstante, devemos identificar claramente os limites de cada uma dessas esferas, principalmente no que diz respeito ao conceito de consumidor, fornecedor, responsabilidade civil e ônus da prova, pois, tais elementos são básicos para que se compreenda o que envolve a relação de consumo nos termos dos conceitos dados pelo Código de Defesa do Consumidor.

2.CONCEITO DE CONSUMIDOR

  Em relação ao conceito de consumidor, existem vários posicionamentos: sob o ponto de vista econômico, consumidor é considerado todo indivíduo que se faz destinatário da produção de bens.

            De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, o conceito de consumidor, encontra-se no art. 2º, ou seja: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Além disso, há que se equiparar o consumidor a coletividade de pessoas ainda que indetermináveis que haja intervindo nas relações de consumo (parágrafo único do mesmo diploma legal); vítimas de acidente de consumo (art. 17) e pessoas expostas às práticas abusivas (art. 29).

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                A definição do consumidor sendo um dos partícipes da relação de consumo são relações jurídicas por excelência. Logo, conclui-se que toda relação de consumo, envolve basicamente duas partes: de um lado o adquirente de um produto ou serviço (consumidor) e de outro, o fornecedor ou vendedor de um serviço ou produto (produtor/fornecedor).

3.CONCEITO DE FORNECEDOR

 Definido no caput do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor, fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Logo, são fornecedores as pessoas jurídicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, com sede ou não no País, as sociedades anônimas, as por quotas de responsabilidade limitada, as sociedades civis, com ou sem fins lucrativos, as fundações, as sociedades de economia mista, as empresas públicas, as autarquias, os órgãos da Administração direta etc.

Os fornecedores, quando entes despersonalizados, ou seja, quando não são dotados de personalidade jurídica, seja no âmbito mercantil, ou no civil, podem exercer atividades produtivas de bens e serviços.

No que diz respeito à pessoa física, a figura do profissional liberal como prestador de serviços não escapou da égide da Lei n. 8.078, o que o caracteriza como fornecedor.

4.OBJETO DA RELAÇÃO DE CONSUMO: O PRODUTO E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇO

 Diz o artigo 3º, do Código de Defesa do Consumidor, em seu §1º, que produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

Já no §2º, tem-se a conceituação de prestação de serviço que é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

TEMA III

CONTRATO DE COMPRA E VENDA

Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

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É talvez o mais comum e corriqueiro de todos os contratos. E é também, aquele que desempenha maior e mais importante função econômica. Vem a ser o contrato em que uma pessoa (vendedor) se obriga a transferir a outra (comprador) o domínio de uma coisa corpórea ou incorpórea, mediante o pagamento. Assim, trata-se de um contrato onde as obrigações serão recíprocas para cada uma das partes. Para o vendedor a obrigação de transferir o domínio da coisa; para o comprador a de entregar o preço.

Os efeitos derivados da compra e venda são meramente obrigacionais, e não reais, pois a compra e venda não transfere, por si só, o domínio da coisa vendida, mas gera apenas, para o vendedor, a obrigação de transferi-lo.

Com relação aos elementos constitutivos, a compra e venda estará perfeita e acabada quando estiverem presentes a coisa, o preço e o consentimento.

A coisa deverá ter existência, ainda que potencial, no momento da realização do contrato, ser individualizada, ser disponível ou estar no comércio e ter a possibilidade de ser transferida ao comprador.

O preço, que deverá apresentar pecuniariedade, por constituir um soma em dinheiro, seriedade e certeza.

O consentimento dos contratantes sobre a coisa, o preço e demais condições do negócio, pressupõe o poder de disposição do vendedor, sendo necessário que ele tenha capacidade de alienar, bastando ao adquirente à capacidade de obrigar-se.

Quanto às conseqüências jurídicas, podemos citar:

a) a obrigação do vendedor entregar a coisa e do comprador de pagar o preço;b) obrigação de garantia, imposta ao vendedor, contras os vícios redibitórios e a evicção;c) responsabilidade pelos riscos e despesas;d) direito aos cômodos antes da tradição;e) responsabilidade do alienante por defeito oculto nas vendas de coisas conjuntas;f) direito do comprador de recusar a coisa vendida sob amostra;

Quanto às características vejamos as principais:

É sinalagmático ou bilateral - É contrato de efeito bilateral, porque envolve prestação recíproca de ambas as partes. As duas partes são credoras e devedoras, ambas as partes possuem direitos e deveres. Na compra e venda encontraremos duas ações: A do comprador entregando o preço e a do vendedor entregando a coisa. O comprador tem o dever de entregar o preço e o direito de exigir a coisa, e o vendedor tem o dever de entregar a

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coisa e o direito de exigir o preço.

É oneroso - Porque implica sacrifício patrimonial para ambos contratantes, visto que o comprador se priva do preço; e o vendedor, da coisa vendida. Não é gratuita, pois ambas as partes têm interesse econômico e vantagem patrimonial.

É consensual, Porque nasce do acordo de vontades, e mesmo antes da entrega da coisa já existe contrato, diferente do depósito e comodato que são contratos reais.

É instantânea, a Compra e Venda dura segundos, minutos, e mesmo se o pagamento é a prazo, a Compra e Venda continua sendo instantânea.

Em regra, a compra e venda independe de forma determinada.

Quanto às cláusulas especiais (opcionais) pode-se identificar como mais importantes as seguintes:

Retrovenda

É a cláusula adjeta à compra e venda pela qual o vendedor se reserva o direito de reaver, em certo prazo, o imóvel alienado, restituindo ao comprador o preço, mais as despesas por ele realizadas, inclusive as empregadas em melhoramento do imóvel.

O vendedor só poderá resgatar o imóvel alienado dentro de prazo improrrogável de 3 anos, ininterruptos e insuscetíveis de suspensão.

O direito de resgate é intransmissível, não sendo suscetível de cessão por ato inter vivos, mas passa a seus herdeiros.

Não se aplica a móveis, só a imóveis. Imaginem que uma pessoa em dificuldades financeiras precisa vender uma casa que foi dos seus antepassados, usa então a retrovenda para ter uma chance de em três anos readquirir a casa pela qual tem estima. É cláusula rara porque é onerosa para o vendedor, mas não deixa de ser útil para quem está em dificuldade transitória.

A retrovenda é de iniciativa do vendedor e torna inexistente a venda originária, reconduzindo os contratantes à situação anterior ao contrato. Não será necessário novo contrato de compra e venda, e nem novo pagamento de imposto de transmissão se o vendedor exercer seu poder. O comprador se torna dono da coisa, mas sua propriedade não é plena e sim resolúvel, ou seja, pode ser resolvida (= extinta) se o vendedor exercer a opção.

Reserva de domínio

Teremos reserva de domínio quando se estipula que o vendedor reserva para si a sua propriedade até o momento em que se realize o pagamento integral do preço. Dessa forma, o comprador só adquirirá o domínio da coisa se integralizar o preço, momento em que o negócio terá eficácia plena.

A retrovenda já foi uma Importante modalidade de venda condicional mas que agora se encontra praticamente substituída pela alienação fiduciária. Desse

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modo, esta modalidade consiste na venda a prazo com reserva de domínio que terá plena eficácia somente no pagamento integral do preço, transferindo-se então a propriedade da coisa de que o comprador já tem posse. Esse pacto dá plena garantia ao vendedor por permitir que ele retenha o domínio da coisa alienada até o pagamento total do preço, de tal sorte que se o preço não for pago integralmente o comprador não adquirirá o domínio e o vendedor terá a opção de reclamar o preço ou de recuperar a própria coisa por meio de ação de reintegração de posse.

Na alienação fiduciária o principal interesse da instituição é emprestar ao cliente o dinheiro para a compra de um bem cobrar-lhe o juros e todos os encargos inerentes, sendo que o bem fica como garantia para recebimento da importância negociada. Entre aspas o que interessa a financeira são os encargos que ela receberá em decorrência do empréstimos. Por isso, muitas vezes, quando se financia um carro, por exemplo, e não se consegue pagar as mensalidades, as instituições propõem ações de busca e apreensão, e mesmo que o bem seja apreendido e devolvido para elas, a pessoa que tinha adquirido o bem continua a dever devido aos encargos financeiros sobre o empréstimo; Na reserva de domínio há uma venda de um bem para o comprador, e não importa de onde o dinheiro venha, mas se o adquirente não pagar, e o vendedor propor a ação e o bem voltar para suas mãos, o comprador não fica devendo nada, em tese. Neste contrato o que importa ao vendedor é receber o dinheiro da venda, ou seja, há o interesse do vendedor em vender o bem e do comprador em comprá-lo. Para ficar mais claro, supomos que eu compre um carro de você e no contrato haja a cláusula de "reserva de domínio", caso eu não consiga pagar, você poderá propor ação e ter o carro de volta.

A cláusula de alienação fiduciária é uma garantia contratual. Aplicável para bens móveis ou imóveis. A alienação fiduciária só pode ser praticada por instituições financeira e assemelhadas. Na alienação fiduciária o devedor, ao tomar o crédito, transfere a propriedade do bem ao credor. Destarte, o credor fica com a propriedade e a posse indireta sobre o bem, enquanto que o devedor fica apenas com a posse direta sobre o bem. A cláusula de reserva de domínio é uma cláusula especial de contratos de compra e venda de bens móveis, de ordem suspensiva, segunda a qual o vendedor transfere a propriedade do bem somente após o pagamento integral do preço.

TEMA IV

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA

1. Generalidades

Vinda do latim ("fiducia") com a conotação de uma alienação em confiança, o certo é que, apenas com base na denominação alienação fiduciária, costuma-se ouvir, para identificar as partes de um tal relacionamento, credor fiduciário e devedor fiduciário. Ou seja, usa-se o mesmo adjetivo, extraído da mencionada expressão, para designar tanto o credor como o devedor.

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Para adequado entendimento, veja-se, por primeiro, que o regramento legal do instituto encontra-se sintetizado em sua lei de regência1: "A alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel alienada, independentemente da tradição efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor em possuidor direto e depositário com todas as responsabilidades e encargos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal".

Em outros termos, a alienação fiduciária, ocorre quando o devedor, para garantir dívida, transfere ao credor domínio da coisa móvel, sem, no entanto, lhe transferir a posse. Fixe-se bem, pois é importante: quem aliena o bem é exatamente o devedor, que o faz ao credor, em garantia de dívida, na confiança de que, uma vez pago o débito, o domínio lhe seja devolvido.

No caso da alienação fiduciária, reitere-se o que nela ocorre: o devedor aliena, em confiança, o domínio da coisa ao credor; e o credor, por sua vez, é o destinatário dessa alienação em confiança. Daí, portanto, ser correto dizer devedor fiduciante, ou simplesmente fiduciante, e credor fiduciário, proprietário fiduciário (como refere a lei com freqüência), ou simplesmente fiduciário. O devedor, em suma, é o autor da alienação e da confiança; o credor, o seu destinatário.Em resumo: pode-se dizer credor, ou fiduciário, ou credor fiduciário, ou, ainda, proprietário fiduciário. Por outro lado, devedor, ou fiduciante, ou mesmo devedor fiduciante; não, porém, devedor fiduciário.

2.Conceito

“A alienação fiduciária em garantia consiste na transferência feita pelo devedor ao credor da propriedade resolúvel e da posse indireta de um bem infungível (CC, art. 1.361) ou de um bem imóvel (Lei n. 9.514/97, arts. 22 a 33), como garantia de seu débito, resolvendo-se o direito do adquirente com o adimplento da obrigação, ou melhor, com o pagamento da dívida garantida”

3.Características

É bilateral, por conter no contrato de alienação fiduciária duas partes: o Credor Fiduciário que é a empresa administradora de consórcio, ou a instituição financeira e o Devedor Fiduciário que é aquele a quem é concedido o financiamento direto. O vendedor, ou seja, aquele que firma o contrato de compra e venda de bem de produção, não figura nesse contrato de garantia, uma vez que ele é celebrado entre a entidade ou empresa financiadora e o devedor.

É formal, porque consiste em negócio jurídico celebrado por instrumento escrito, público ou particular e o registro desse deve ser feito no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou em se tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro.

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4. Alienação Fiduciária em Bens imóveis

É importante observar que para a alienação de bens imóveis há algumas regras que se diferenciam do bem móvel, por isso resolvi tratá-lo um pouco separado.O mecanismo da alienação é o mesmos dos bens móveis, porém não basta o registro no Cartório de Títulos e Documentos, pois não dará origem ao direito real, se o bem não for registrado no Registro de Imóveis, manterá apenas vínculo obrigacional entre as partes.

TEMA V

FATURIZAÇÃO (FACTORING)

1.Conceito

Factoring é considerado pela doutrina um contrato bancário impróprio. É a venda do faturamento de um empresa, esse contrato se resume a isso. É necessariamente uma relação entre empresários, entre o factor e o outro empresário.

Em outros termos, pode-se dizer que o con t ra to de fac to r ing ou fa tu r i zação , cons is te na aqu is ição , por uma e m p r e s a e s p e c i a l i z a d a , d e c r é d i t o s f a t u r a d o s p o r u m c o m e r c i a n t e o u indústria, sem direito de regresso contra o mesmo.

2- Natureza Jurídica

É um contrato bilateral, oneroso, consensual, de trato sucessivo (contratos constantes) atípico, não regulado por lei especial.

No Brasil, traduzimos a expressão FACTORING, de origem latina, para fomento mercantil. As empresas aqui são conhecidas como sociedades de fomento mercantil. São sociedades mercantis, registradas e arquivadas nas Juntas Comerciais. (Conceito disponível na Cartilha da Anfac)

Por definição, o Factoring é uma atividade comercial, mercantil, pois coaduna a compra de direitos de créditos com a prestação de serviços, contando para tanto com recursos exclusivamente próprios.

Em essência, o Factoring não é uma atividade financeira. A empresa de Factoring não pode fazer captação de recursos de terceiros, nem intermediar para emprestar estes recursos, como os bancos. O Factoring não desconta títulos e

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não faz financiamentos.

A finalidade fundamental da empresa de Factoring é o fomento mercantil. Fomentar, assessorar, promover o desenvolvimento e o progresso, ajudar o pequeno e médio empresário a solucionar seus problemas diários.

3- Características

É um contrato que surgiu em 1960 nos EUA, e depois se propagou pelo continente Europeu. - O objeto desse contrato são os ativos realizáveis, em outras palavras, são créditos que podem ser descontados. É destinado as pequenas empresas para ob te r cap i ta l i zação (cap i ta l de g i ro ) . O fac to r ing é compos to pe los seguintes elementos: financiamento, seguro e gestão de créditos. O factor se compromete a comprar e cobrar os créditos (essa cobrança pode ser até  jud ic ia l ) , a garan t i r esses c réd i tos por me io de seguro e faz uma u l t ima operação, de financiamento quando adianta os recursos. Esse factor se sub-roga nos direitos do faturizado, por conta do endosso, como se fosse ele o credor original. Nessa ação não incide o direito de regresso.

Destarte, a operação de Factoring é um mecanismo de fomento mercantil que possibilita à empresa fomentada vender seus créditos, gerados por suas vendas à prazo, a uma empresa de Factoring. O resultado disso é o recebimento imediato desses créditos futuros, o que aumenta seu poder de negociação, por exemplo, nas compras à vista de matéria-prima, pois a empresa não se descapitaliza.

A Factoring também presta serviços à empresa - cliente, em outras áreas administrativas, deixando o empresário com mais tempo e recursos para produzir e vender.

4.Partes

O con t ra to de fac to r ing tem 3 personagens : a empresa de fac to r ing , o vendedor e o comprador da mercadoria ou adquirente do serviço.

a) Factor e Faturizador – compra os créditos de uma empresa, é constituído por uma empresa de Factoring que é necessariamente uma pessoa física ou jurídica comerciante, não é uma privativa de instituição financeira.

b) Faturizado – é aquele que vende os créditos, também é comerciante ou industrial, pessoa física ou jurídica titular dos créditos.

c) Devedor – é o comprador da mercadoria, e aquele que gerou os créditos. N u m a o p e r a ç ã o d e f a c t o r i n g o d e v e d o r d e v e e s t a r

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n o t i f i c a d o , n ã o é necessário a sua aprovação, mas sim o seu conhecimento da operação.

5.Obrigações

5.1 Obrigação do Faturizador:

a) Gerir os créditos do faturizado, procedendo ao controle dos vencimentos, providenciando os avisos e protestos assecuratórios do direito creditício, bem como cobrando os devedores das faturas;b) Assumir os riscos do inadimplemento dos devedores do faturizado;c) Garantir o pagamento das faturas objeto de faturização;

5.2 Obrigação do Faturizado:

a) Pagamento das comissões devidas pela faturização;b) Submissão das contas dos clientes ao faturizador para que este informe quais deseja pagar;c) Prestação de toda a assistência ao faturizador no recebimento do crédito faturizado;

6.Espécies de Factoring

a) Faturização Interna – a operações se realizam dentro do mesmo país;b) Faturização Externa – as operações se realizam em países distintos;c) Faturização no vencimento – não haverá qualquer aproveitamento de valor dos créditos cedidos;d) Faturização Tradicional – as faturas cedidas serão liquidadas antes do vencimento.

7. Etapas

O Factoring passa pelas seguintes etapas:

A empresa vende seu bem, crédito ou serviço a prazo, gerando um crédito (exemplo: Duplicata Mercantil), no valor correspondente;

A empresa negocia este crédito com a Factoring;

De posse desse crédito, a Factoring informa o sacado sobre o fator e a forma de cobrança (carteira ou banco);

Findo o prazo negociado inicialmente, a empresa sacada pagará o valor deste crédito à Factoring, encerrando a operação.

A empresa de factoring vende serviços associados a gestão de caixa, estoques, contas a receber e a pagar, negociação com fornecedores,

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orçamentação de custos, etc. Como consequência desses serviços, a empresa de factoring adquire os direitos resultantes das vendas mercantis (duplicatas) realizadas pelas empresas clientes. Quando um sacado não paga uma duplicata envolvida numa operação de factoring, o risco da operação é da empresa de factoring. O cedente (empresa) não responde pela não-liquidação do título. Ao adquirir os créditos, a empresa de factoring não está realizando um empréstimo. Este é um aspecto muito importante.

Dessa forma, uma operação de factoring possui dois componentes distintos:

1.      preço de compra dos direitos das vendas (créditos);

2. comissão pelos serviços prestados: gestão de caixa, estoques, contas a receber e a pagar, negociação com fornecedores, orçamentação de custos, etc.

A principal vantagem de uma operação de factoring é não gerar endividamento da empresa. Trata-se de uma antecipação de receita: pela venda de recebíveis, duplicatas ou outros títulos de crédito, a empresa recebe a vista sua venda a prazo. Para as empresas com problema cadastral no SERASA ou SPC, este tipo de operação passa a ter uma maior importância, dado que a empresa de factoring tem maior preocupação na qualidade do título que está comprando (sacado) do que na empresa que está vendendo o título (sacador)

A principal desvantagem é que o custo da operação de factoring tende a ser maior que de uma operação de crédito, decorrente do fato que na operação de factoring o risco do recebimento é transferido das mãos do proprietário do título para empresa de factoring: obedecendo a lei de mercado, quanto maior o risco da operação maior será o custo.

Outra vantagem é a possibilidade do estabelecimento de uma parceria, terceirizando uma série de atribuições administrativas financeiras para empresa de factoring, liberando o pequeno empresário das atividades mais rotineiras, que normalmente ele não tem grande domínio, concentrando os esforços na gestão empresarial: produção, vendas, novos produtos e melhoria da qualidade.

Observação importante : O Factoring é destinado exclusivamente às Pessoas Jurídicas, principalmente as pequenas e médias empresas.

7. Vantagens do factoring

Hoje em dia, é inegável a importância do factoring ou fomento mercantil no mercado, pois já constitui um setor fundamentado e altamente produtivo, tanto para seus praticantes quanto para os que de seus serviços se utilizam. Suas atividades tem se demonstrado um excelente instrumento de desenvolvimento e

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alavancagem operacional, principalmente das pequenas e médias empresas, limitadas ao acesso às linhas de crédito convencionais, oferecidas pelas instituições financeiras.

O factoring como o próprio nome diz, atua no estimulo, no auxílio e principalmente na parceria com seus clientes, devido a isso as empresas de factoring ou fomento mercantil, prioriza o segmento produtivo. Se o empresário do factoring é um agente do desenvolvimento do progresso e da produção, o factoring é uma mola propulsora de negócios à disposição desses empresários.

O factoring é um agente saneador do mercado de liquidez e um excelente instrumento para estimular e dinamizar o comércio internacional através do apoio que pode oferecer no desenvolvimento dos negócios de importação e exportação.

A operação de Factoring ou Fomento Mercantil tem se demonstrado a melhor opção para os pequenos e médios empresários, devido a agilidade na negociação e rapidez na liberação dos recursos, tão necessários para o desenvolvimento de seus negócios.

8 – E x t i n ç ã o

Respeitadas as operações que se encontrem em curso, o contrato de factoring extinguisse:

Pelo advento do termo final contratado;

Pelo distrato;

Decorrido o prazo do aviso prévio previsto em contrato que assegure o direito de rescisão unilateral;

Na ocorrência de infração contratual e de outras causas de rescisão previstas no contrato.

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TEMA VI

LEASING

1. Conceito

O leasing (ou locação financeira) consiste numa operação de financiamento através da qual uma das partes (a locadora) cede a outra (o locatário) o direito de utilização de um determinado bem, durante um período de tempo acordado, em contrapartida do pagamento de rendas periódicas. No final do prazo do contrato, o locatário poderá adquirir o bem mediante o pagamento de um valor residual previamente acordado. Este valor residual é acordado entre as partes no início do contrato, sendo pago no final do mesmo caso o locatário deseje exercer a opção de compra.

Em outros termos, é o contrato pelo qual uma pessoa jurídica (arrendador) entrega a outra pessoa física ou jurídica (arrendatário), por tempo determinado, um bem comprado pela primeira com as especificações ditadas pela segunda, sendo facultado ao arrendatário, ao término do contrato, a compra do bem pelo preço residual, previamente fixado.

2.Natureza Jurídica

Tem-se que o Leasing é um contrato misto em que uma pessoa jurídica, o arrendante, compra um bem, móvel ou imóvel e o arrenda a uma pessoa física ou jurídica, o arrendatário, por um determinado tempo, sob as indicações deste, ficando este com o direito de, no final do contrato, adquirir o referido bem, mediante o pagamento residual, cujo valor poderá ser determinado anteriormente.

3. Partes contratantes

Como estipulado acima, as partes são denominadas de arrendador e arrendatário. O arrendador, o qual é aquele que arrenda o bem, deve necessariamente ser uma empresa, inclusive ser constituída como sociedade

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anônima, conforme regulamentação do Banco Central por meio da Resolução nº 351/75.

O arrendatário é a pessoa física ou jurídica, que, em vez de comprar o bem que necessita, utilizará o leasing para suprir as suas necessidades, indicando as especificações do bem ao arrendador.

Entretanto, além destes, há também o vendedor do bem. Conforme o conceito mencionado no parágrafo único da lei nº 6.099 de 12/09/74, o arrendador irá adquirir bens. Desta forma, reconhece a participação deste, tendo em vista que o objeto contratual será obtido mediante contrato de compra e venda entre o vendedor do bem com o arrendador.

4. Obrigações das partes

São deveres do arrendador:

a) adquirir de um terceiro o bem sob as indicações do arrendatário; b) entregar o direito de uso e gozo do bem ao arrendatário; c) concluído o prazo contratual, submeter-se à vontade do arrendatário,

que decidirá pela compra do bem pelo preço residual, restituição do bem ou renovação do contrato.

São deveres do arrendatário:

a) o pagamento das contraprestações, inclusive em caso da interrupção contratual de sua responsabilidade;

b) zelar pela devida conservação do bem, e, se preciso, responder pelos prejuízos causados pelo seu descumprimento;

c) devolver o bem ao arrendador, findo o contrato, caso não queira comprar o bem pelo preço residual ou renovar o contrato.

5. Características

Em face das exposições acima, e em atendimento à classificação doutrinária sobre os tipos de contrato, nota-se que se trata de um contrato:

- consensual – para gerar direitos e obrigações é necessário apenas o consentimento das partes;- bilateral – há obrigações para ambas as partes;- oneroso – assim como os demais contratos mercantis, possui característica lucrativa;- nominado – a lei nº 6.099/74 estabelece a denominação do contrato, assim como as suas regras jurídicas;- formal – é necessário que seja de forma escrita, embora haja posicionamento doutrinário acerca da possibilidade de ser realizado verbalmente; - por tempo determinado e de execução sucessiva – a execução do contrato ocorre sucessivamente, mediante o cumprimento das obrigações, por um prazo determinado;

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- intuitu personae – há uma peculiaridade entre as partes, em face das suas características, cujas obrigações decorrentes do contrato não poderão ser cumpridas por outra pessoa senão a quem foi feito o contrato.

6. Espécies

Visando suprir as necessidades existentes, surgiram diversos contratos com algumas características específicas, mas considerados como modalidades do arrendamento mercantil.

Em face disto, analisaremos apenas os mais utilizados pela doutrina brasileira, quais sejam :

leasing financeiro é basicamente o leasing puro. O bem, que inicialmente não pertence ao arrendador, será comprado por este, sob as indicações do arrendatário. As contraprestações deverão ser cumpridas pelo arrendatário, mesmo que este queira devolver o bem antes do pactuado. Concluído o contrato, caberá ao arrendatário o direito de comprar o bem pelo preço residual, geralmente pré-fixado.

leasing operacional é aquele em que a empresa arrendadora é a fabricante ou fornecedora do bem, onde esta também se responsabilizará pela prestação de assistência ao arrendatário no período em que o arrendamento mercantil estiver em vigor.

7.Extinção

Sendo um contato por tempo determinado, como vimos na sua classificação, decorrido o prazo contratual, o arrendamento mercantil será extinto.

Todavia, há várias outras formas de extinção, como o consentimento mútuo

dos contratantes, ou seja, a resilição bilateral ou distrato.

Havendo prejuízo para uma das partes, esta pode extinguir o contrato, cabendo-lhe o ressarcimento dos prejuízos. Da mesma forma, a substituição de uma das partes, por tratar-se de um contrato intuitu personae, como também da falência da empresa contratante, resultam na extinção do contrato.

Os demais modos de inadimplemento resultam na extinção contratual, como o decorrente por motivos alheios à vontade das partes, como caso fortuito ou força maior.

8.Vantagens e desvantagens

Diante da intensa evolução tecnológica, em que produtos considerados de última geração em poucos meses tornam-se praticamente obsoletos e

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ultrapassados, torna-se inviável o emprego do capital de giro de uma empresa na compra de equipamentos.

O leasing é um dos meios empregados para atender aqueles que não tenham recursos suficientes para a obtenção de instalações atualizadas ou pela inviabilidade de compras constantes de equipamentos avançados para não se tornarem inferiores às suas concorrentes. Desta forma, permite a renovação de equipamentos e de instalações sem prejuízo no capital de giro, além de desenvolver a economia sob diversos aspectos.

Por outro lado, tem como desvantagem o fato de que suas contraprestações são mais elevadas do que os aluguéis nos contratos de locações. Ora, optando pelo leasing e, ao final, não optando em adquirir o uso e gozo de determinado equipamento caso não tenha interesse na compra do referido bem arrendado , teria sido mais vantajoso fazer a locação.

9. Distinções entre o leasing e o CDC

As principais diferenças entre os dois institutos são as seguintes:

No CDC (Crédito Direto ao Consumidor) tem-se a Cobrança de IOF; a documentação fica em nome do comprador, alienado à instituição financeira; o comprador define o número de parcelas; é bem menos burocrático revender um bem ainda financiado e apresenta desconto na antecipação das parcelas.

No Leasingnão tem cobrança de IOF;dependendo do contrato, paga-se Imposto Sobre Serviços (ISS);o bem fica no nome da instituição financeira, arrendado ao comprador;o prazo mínimo obrigatório é de 24 parcelas;para revender o bem é necessário uma autorização bem burocrática da financeira, além do pagamento de valores com esta finalidade e não há desconto na antecipação das parcelas

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TEMA VII

FRANQUIA (“FRANCHISING”)

 1. Generalidades 

O contrato de franquia (“franchising”) surgiu como uma técnica de comercialização de certos  produtos para incentivar e facilitar as vendas dos mesmos. Tal aconteceu nos Estados Unidos principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, quando inúmeras pessoas, desmobilizadas de suas atividades ou nos campos de batalha ou nas indústrias de guerra, procuravam novas oportunidades para firmar-se economicamente. Para aproveitar esse material humano na expansão  dos seus negócios, várias empresas descobriram um modo de ligar esses elementos aos seus empreendimentos, passando a oferecer franquia aos que desejavam dedicar-se a esse ramo de atividades.

Consiste a franquia na concessão a uma determinada pessoa, que se constitui em empresa, de marcas de produtos, devidamente registradas, já perfeitamente conhecidas do público e aceitas por sua qualidade, seu preço.

O franqueador, além de oferecer a distribuição dos produtos, também assegura assistência técnica e informações continuadas sobre o modo de comercializá-los. Muitas vezes o franqueador concede, também, assistência financeira, já fazendo  adiantamentos para a instalação do franquiado, já lhe garantindo certas operações para a obtenção de crédito bancário. Esse novo método de distribuição e comercialização de produtos teve  grande sucesso, com a formação de

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um número elevado de pequenas e médias empresas que passaram a ofertar, em larga escala, produtos que tinha boa aceitação por parte do público consumidor. Uma característica desse método de comercialização é o fato de não estarem os franqueados ligados ao franqueador por um vínculo empregatício. Daí falar-se como elemento característico da franquia a independência do franqueado, isto é, sua autonomia econômica e jurídica, integrando ele a rede de distribuição dos produtos mas não participando da empresa distribuidora. 

 

2.Conceito

O contrato de franquia é aquele pelo qual liga-se uma pessoa a uma empresa, para que esta, mediante  condições especiais, conceda à primeira o direito de comercializar marcas ou produtos de sua  propriedade sem que, contudo, a essas estejam ligadas por vínculo de subordinação.

3.Partes

São partes do contrato de franquia: o franqueador e o franqueado. 

O franqueado, além dos produtos que vai comercializar, receberá do franqueador permanente assistência técnica e comercial, inclusive no que se refere à publicidade dos produtos.

Para obter a franquia, em regra o franqueado paga ao franqueador uma taxa inicial, obrigando-se, ainda, a pagar-lhe importâncias suplementares consistentes em percentagens sobre os produtos vendidos.

Por seu lado, o franqueador em regra assegura ao franqueado exclusividade em certo território, sendo considerado esse o lugar ou a região em que o franqueado terá atuação. Não havendo, ainda, em nenhum país, normas legais para definir os direitos e deveres do franqueado e do franqueador, esses são impostos por clausulas contratuais que se subordinam ao direito comum. Essas cláusulas contratuais são as mais variadas,  em virtude mesmo de estar o contrato de franquia ainda em formação.  

  4.Circular De Oferta De Franquia – COF

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Documento de fornecimento obrigatório, por parte do franqueador para todo interessado em tornar-se franqueado, que deve conter obrigatoriamente informações detalhadas do franqueador, da operação comercial, dos aspectos técnicos e mercadológicos relevantes, de pendências jurídicas e inúmeros dados concernentes ao negócio no prazo mínimo de 10 dias antes da assinatura do contrato ou do pré-contrato, ou do pagamento de qualquer importância.

TEMA VIII

REPRESENTAÇÃO COMERCIAL OU AGÊNCIA

1. Conceito

É aquele por meio do qual uma das partes, que é o representante comercial autônomo, obriga-se a obter pedidos de compra e venda de mercadorias fabricadas ou comercializadas pela outra parte, que é o representado.

É um contrato de natureza de colaboração, pois há um vínculo em que uma parte divulga o produto da outra, sendo que a função do representante é distribuir os produtos em uma determinada região em que a instalação de filiais não é viável.

Legalmente , a representação comercial autônoma é descrita pelo Artigo 1º da Lei 4.886/65, onde se encontram presentes todos os elementos que a integram e caracterizam:

Art. 1º. Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, que desempenha, em caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios.

Parágrafo único. Quando a representação comercial incluir poderes atinentes ao mandato mercantil, serão aplicáveis, quanto ao exercício deste, os preceitos próprios da legislação comercial.

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O dispositivo citado demonstra, claramente, relação triangular formada entre representante (profissional autônomo), representado (geralmente uma pessoa jurídica) e cliente (comprador). "Quando se fecha este circuito, vê-se o representante comercial autônomo atuando, cumprindo o dever que lhe foi cometido, executando o contrato de representação comercial" (BRASÍLIA, 2001), ou seja, o representante comercial é um colaborador jurídico, que por meio da mediação, auxilia as partes a concluir negócios.

2.Natureza Jurídica

Existe divergência doutrinária se esta atividade comercial possui natureza jurídica mercantil ou civil.

A parcela dos juristas que defende natureza civil do instituto considera que a legislação brasileira (Lei 4886/1965), em seu Artigo 1º, parágrafo único, excepciona a possibilidade de o representante comercial autônomo realizar ou não atos de conclusão de negócios. E, ao prever essa lacuna, determina que se apliquem as regras relativas ao mandato mercantil, o que leva à conclusão de que a realização do negócio pelo representante comercial não é um ato suficiente para caracterizar a natureza jurídica da representação comercial.

3.Características

Autonomia na intermediação dos negócios mercantis, ou melhor, o representante não é subordinado à empresa representada, atua em seu próprio nome com escopo de colocar as mercadorias em circulação no mercado consumidor. Desse modo, conforme disposto no Art. 1º da Lei 4886/65, "exerce a representação comercial autônoma pessoa, física ou jurídica, sem relação de emprego, que desempenha em caráter não eventual, por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios".

Vale salientar ainda que, o Representante Comercial Autônomo será responsável por todas as despesas decorrentes de sua atividade, tais como: correspondências, telefonemas, fax, correio eletrônico, etc. As despesas com os recebimentos que ficarão ao seu cargo, estando responsável também pelas despesas de seus empregados viajantes e ou possíveis treinamentos de instruções para vendedores junto ao representado.

Caráter não eventual da prestação de serviços efetivadas em proveito do representado.

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O contrato não é instantâneo, pois não se resolve de imediato à celebração ou execução do negócio intermediado. Ao contrário, a complexidade dos atos, a constância dos contratos, a persistência do agente, as novas contratações que tenham como objeto os mesmos bens já solicitados pelos mesmos ou novos cliente, a continuidade da intermediação para renovação dos contratos executados, visando a novos fornecimentos, impõem a longa duração ao contrato examinado.

O contrato de representação comercial pode determinar a duração do prazo contratual por tempo determinado ou indeterminado, contudo, não há se falar em eventualidade, uma vez que se trata de contrato de longa duração. A habitualidade, desse modo, se faz necessária para sua configuração.

Quem pratica ato isolado ou esporádico de representação comercial pode ser considerado, quando muito, simples corretor de mercadorias, mas não representante comercial. Não faz jus, portanto, à proteção da Lei 4.886/65 na cobrança do eventual crédito.

Inscrição nos Conselhos Regionais.

Os Conselhos, federal e regionais, são órgãos estabelecidos por lei, para desenvolver um serviço público voltado à organização e fiscalização da profissão de Representante Comercial Autônomo, inclusive com poderes para aplicar penalidades àqueles que infringirem as normas dispostas na Lei Complementar. (REQUIÃO, 1983, p. 123).

Com o advento da Lei 4.886/65 a profissão de representante comercial autônomo foi regulamentada, instituindo-se o Conselho Federal e os Conselhos Regionais em todos os Estados do país. Deste modo, "para o exercício da profissão, mister se faz que o representante comercial, quer seja pessoa jurídica quer seja pessoa natural, esteja registrado no respectivo Conselho Regional, e esse registro proceda o início da atividade".

Contratualidade

O exercício da representação comercial depende de um acordo de vontades entre o representante e o representado para criar, modificar ou extinguir um vinculo jurídico de natureza patrimonial. Vale dizer que, a partir da vigência da Lei nº. 8.420/92, o contrato de representação deverá ser celebrado, necessariamente, por escrito e respeitar obrigatoriamente aos requisitos previstos no Artigo 27 da Lei nº 4.886/65.

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Mercantilidade

O representante comercial realizará a mediação na realização de negócios mercantis, através do agenciamento de propostas ou pedidos, para a comercialização dos produtos da empresa representada.

A atividade do representante comercial autônomo é a mediação ou intermediação, exercida por meio de técnicas apropriadas, e visa obter a declaração de vontade de vendedor e comprador sobre as bases de um negócio, que se celebrará caso se emita essa mesma declaração de vontade, de modo positivo, fixando os característicos da coisa (a ter sua propriedade transferida) e do preço, dois dos elementos do contrato de compra e venda. O representante comercial, como tal, não adquire a propriedade de um objeto qualquer, para revendê-lo, com lucro. Se o fizer, não estará no exercício de sua profissão.

Remuneração

A remuneração é devida conforme os termos do ajuste, todavia, o direito se define como adquirido assim que realizado o pagamento pelo cliente, ou na medida em que o faça parceladamente. Não caberá, a retribuição nos seguintes casos: insolvência do comprador, desfazimento do negócio pelo comprador, sustação da entrega da mercadoria em razão da situação comercial do comprador, capaz de comprometer, ou tornar duvidosa a liquidação. (BITTAR, 1994, p. 85)

O Artigo 27, f, da Lei 4.886/65, prevê que o valor ou porcentagem da retribuição fixados entre as partes deve constar obrigatoriamente no Contrato de Representação Comercial.

Objeto do Contrato de Representação Comercial.

A representação é uma atividade de agenciamento de negócios, mediante pedidos ou propostas, que se concretiza por meio de um profissional, ou de empresa devidamente registrada na Junta Comercial do Estado, bem como, no Conselho Regional. Configura, assim, atividade mercantil e exerce importante função na conquista de novos mercados consumidores (BITTAR, 1994, p. 81).

Resumindo, o objetivo fundamental do contrato de representação comercial é a mediação de propostas e pedidos, no intuito de alargar o mercado consumidor principalmente dos produtos industrializados.

2.Cláusula De Exclusividade

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Há dois tipos de cláusulas de exclusividade: área e representação.

A cláusula de exclusividade de área estabelece a área que o representante pode vender, e nesta área, nem mesmo o representado pode vender diretamente, sendo que, as vendas que não pertencerem ao representante, deverão ter seus valores revertidos a ele. Esta cláusula é presumida.

A cláusula de exclusividade de representação depende de ajustes expressos, sendo que, ressalvada expressa vedação contratual, o representante comercial poderá exercer sua atividade para mais de uma empresa e empregá-la em outros misteres ou ramos de negócios, conforme o art. 41 da Lei n.º 4886/65.

3.Obrigações Do Representante Comercial

Obter pedido de compra, diligentemente, de modo a expandir os negócios do representado e promover os seus produtos, conforme o art. 28 da Lei n.º 4886/65;

Informar o representado sobre o andamento dos negócios, segundo as disposições do contrato ou quando for solicitado, de acordo com o art. 28 da Lei n.º 4886/65;

Seguir as orientações do representado, não podendo conceder abatimentos, descontos ou dilações, salvo com autorização expressa, segundo o art. 29 da Lei n.º 4886/65;

Respeitar a cláusula de exclusividade, se pactuada, o que está disposto no art. 31, parágrafo único c/c art. 41 da Lei n.º 4886/65.

4.Obrigações Do Representado

Pagar as comissões do representante até o dia 15 do mês subseqüente ao da liquidação da fatura, se outro prazo não for pactuado;

Pagar a comissão devida ao representante, se o comprador não manifestar recusa por escrito, nos prazos de 15, 30, 60 ou 120 dias, conforme se trate de comprador domiciliado, respectivamente, na mesma praça, em outra do mesmo Estado, em outro Estado ou no estrangeiro.

Respeitar a cláusula de exclusividade

5.Direitos do Representante Comercial Autônomo

Dentre os diversos direitos do Representante Comercial, destacam-se aqueles inerentes à contratualidade:

Direito a receber as comissões decorrentes aos serviços prestados.

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Representante fará jus à remuneração proveniente dos negócios realizados pelo representado ou por terceiro em zona concedida a ele com exclusividade, segundo dispõe o Artigo 31 da Lei 4886/1965:

O direito à indenização, quando o representado rescindir o contrato de representação comercial desmotivadamente.

Indenização devida ao representante, pela rescisão do contrato fora dos casos previstos no art. 35, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 (um doze avos) do total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação.

O representante fará jus ao prévio aviso, na hipótese de rescisão injusta do contrato por prazo indeterminado, ou que esteja em vigor por mais de 6 (seis) meses, conforme disposto no Artigo 34 da Lei 4886/1965:

O representante comercial poderá a qualquer tempo rescindir o contrato, desde que devidamente comprovado o justo motivo, com fulcro no Artigo 36 da Lei 4886/1965:

6. Obrigações do Representante Comercial Autônomo

Após firmar o contrato, o representante comercial assume as seguintes obrigações:

Cumprir o objeto contratual, ou seja, realizar a mediação dos negócios mercantis, transmitir pedidos, expandir os negócios do representado e promover seus produtos.

Caso esteja previsto em contrato, o Representante Comercial Autônomo deverá observar uma Cota de Produtividade mensal, ou seja, um número mínimo de pedidos a cada mês.

Seguir leal e fielmente as instruções do representado, sem perder evidentemente sua autonomia.

Fornecer detalhadamente informações relativas aos negócios a seu cargo.

Não praticar nenhuma das faltas graves descritas no Artigo 19 da Lei 4886/1965, consoante transcrito abaixo:

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Respeitar a cláusula de exclusividade e não invadir a área de atuação de outros representantes.

O representante não poderá desrespeitar o sigilo profissional, devendo conservar os segredos sobre os negócios a seu cargo.

7.Rescisão Do Contrato:

Quando o contrato de representação for rescindido, deve-se saber qual das partes quer extingui-lo, bem como se houve justa causa, que se caracteriza com o descumprimento das obrigações das partes, para estabelecer as conseqüências:

Existem duas formas elencadas minuciosamente pela Lei nº 4.886/1965 para a rescisão do Contrato de Representação Comercial Autônoma:

Resilição contratual sem justa causa.

Rescisão por justa causa.

O contrato também poderá ser resilido unilateralmente nas seguintes hipóteses:

Falta Grave praticada pelo Representante (Art. 35). Falta grave perpetrada pelo representado.

7.1Pelo Representado: As conseqüências variam se o rompimento foi por justa causa ou não:

a) Com Justa Causa: Presume-se que o representante descumpriu suas obrigações, e sendo assim, o representado não precisa pagar nada ao representante, podendo, ainda, pleitear perdas e danos, se tiver sofrido algum prejuízo resultante do ato que originou a justa causa;

O art. 35 da Lei n.º 4886/65 estabelece os motivos justos para rescisão do contrato de representação comercial, pelo representado:

. Desídia do representante no cumprimento das obrigações decorrentes do contrato;

. Prática de atos que importem em descrédito comercial do representado;

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. Falta de cumprimento de quaisquer obrigações inerentes ao contrato de representação comercial;

. Condenação definitiva por crime considerado infamante;

. Força maior.

b) SEM JUSTA CAUSA: Conforme o art. 34 da Lei n.º 4886/65, deve haver um pré-aviso, juntamente com a indenização, que está prevista no art. 27, “j” da Lei n.º 4886/65, se o contrato era indeterminado, e no art. 27, § 1º da Lei n.º 4886/65, se era determinado.

. Contrato indeterminado: O montante não poderá ser inferior a 1/12 do total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação;

. Contrato determinado: A indenização corresponderá à importância equivalente à média mensal da retribuição auferida até a data da rescisão, multiplicada pela metade dos meses resultantes do prazo contratual.

7.2Pelo Representante: As conseqüências também variam se o rompimento foi por justa causa ou não:

a) COM JUSTA CAUSA: Conforme o art. 27 da Lei n.º 4886/65, a justa causa dá direito a indenização, pois o representado descumpriu alguma obrigação;

b) SEM JUSTA CAUSA: Quando não há motivo justo, o representando deve dar o pré-aviso ao representado.

8.Relação De Emprego:

O contrato de representação comercial não pode caracterizar relação de emprego, pois não gera vínculo empregatício.

No entanto, geralmente o utilizam para maquiar uma relação de emprego na possibilidade de pleitear-se verbas trabalhistas.

9. Comissões

A remuneração do representante, cujo pagamento é obrigação da empresa representada, chama-se comissão, e é geralmente calculada em termos de percentagem sobre o valor do negócio por ele agenciado.Sobre os pagamentos das comissões, o representante adquire o direito à comissão quando o comprador efetua o pagamento, devendo a comissão ser paga até o dia 15 do mês seguinte. Se o comprador pagar em prestações, a comissão também será parcelada.

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Nos pedidos não fornecidos ou ainda não pagos, também será devida a comissão, desde que havendo rescisão injusta do contrato por parte da representada.

Não haverá comissão:

a. se o representado recusar o pedido no prazo devido (conforme previsto em contrato, ou na sua falta, pela lei 4.886/65, art. 33);

b. se o comprador desfizer o negócio ou se sustar a entrega das mercadorias;

se a falta de pagamento resultar de insolvência do comprador

TEMA IX

COMISSÃO MERCANTIL

 

1. Etimologia

Comissão vem do latim committere que significa incumbência, atribuir uma tarefa a alguém. Hoje em dia o contrato de comissão é usado por grandes empresas que trabalham com exportação de café, soja, açúcar, etc.

 2.Conceito

Segundo o art. 693 do CC é o contrato em que o comissário para comprar e vender a terceiros certos bens móveis, age em nome próprio (694), mas por ordem do comitente (695), que lhe confia o seu comércio e lhe paga uma remuneração (comissão – 701).  

3.Natureza Jurídica

O comissário cuida dos interesses do comitente, devendo prestar contas semelhante a uma representação (709). A comissão é espécie de mandato, porém no mandato o mandatário age em nome do mandante e não há fins comerciais. Na comissão o comissário age em nome próprio, e o comitente pode ser desconhecido do terceiro com quem o comissário negocia. Mas por interesses comerciais, o comissário pode revelar quem é o comitente.

            O comissário que se afasta das instruções do comitente responde por perdas e danos (704), pois o contrato é feito no interesse do comitente, embora em nome do comissário (696).  A comissão não tem fim em si mesmo, é contrato preparatório de outros que o comissário vai celebrar com terceiros.

4.Cláusula del credere (= da confiança)

Por esta obrigação o comissário responde solidariamente com o terceiro comprador perante o comitente (ex: o comissário vende café do comitente e dá prazo ao terceiro para pagar, porém o terceiro não paga, devendo então o comissário pagar ao comitente e ir executar o terceiro). Inserindo-se esta cláusula del credere, fará o comissário jus a uma remuneração maior face o risco assumido (698; a regra geral é o comissário contratar em seu nome por conta e risco do

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comitente; 697, 693).  Se o terceiro paga a vista e é o comitente que não entrega o bem, o terceiro só poderá processar o comissário (694).

Observação: Vale salientar que tal cláusula não pode ser feita nos contratos de Representação Comercial.

5.  Obrigações do Comissário

 Pode-se colocar como principais obrigações : agir de acordo com as ordens

e instruções do comitente; avisar o comitente de qualquer dano sofrido  pelas mercadorias; prestar contas, etc.  6.Obrigações do Comitente: 

Têm-se como principais obrigações: pagar a comissão devida; pagar as despesas realizadas no desempenho da comissão, etc.  

TEMA X

PROPRIEDADE INDUSTRIAL E INTELECTUAL

1. Generalidades

A propriedade industrial foi tradicionalmente dividida em industrial e autoral:

O Direito autoral ou Copyright: refere-se aos trabalhos literários, cinematográficos, fotográficos e aos softwares.

Propriedade Industrial: abrange os direitos de patentes, de invenção e de modelo de utilidade, registro de desenho industrial, registro de marca, repreensão ás falsas indicações geográficas e repressão a concorrência desleal.

A propriedade industrial visa também promover o desenvolvimento tecnológico, econômico e social do País, através da disseminação e a aplicação de seus resultados.

A concessão de proteção outorgada pelo Estado se faz pelos seguintes documentos:

Patente de Invenção

Patente de Modelo de Utilidade

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Registro de Desenho Industrial 

Registro de Marca

2. Títulos de Propriedade Industrial

São títulos de propriedade industrial: Patentes, Registro e Certificado.

2.1 Patentes

É um título de propriedade temporário, outorgado pelo Estado ao inventor ou requerente legitimado, que permite que terceiros sejam excluídos de atos relativos à matéria protegida.

A patente confere ao seu titular o direito de impedir terceiro, sem o seu consentimento, de produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar produto objeto de patente, processo ou produto obtido diretamente por processo patenteado. Para obtenção do título é necessário depositar o pedido de patente no escritório de patente do país em que se deseja comercializar e proteger a invenção.

2.1.1.Tipos de Patente

Patente de Invenção: representando avanços do conhecimento técnico que combinem atividade inventiva e aplicação industrial, tendo como validade 20 anos da data de depósito. É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. (art. 8º). A invenção é uma concepção resultante do exercício da capacidade de criação do homem, que represente uma solução para um problema técnico específico, dentro de um determinado campo tecnológico e que possa ser fabricada ou utilizada industrialmente. 

Nestes termos, a Patente de Invenção pode também ser definida como um bem material resultante da atividade intelectual do homem e que proporcione uma melhoria no estado da técnica.

Patente de Modelo de Utilidade – MU: É patenteável como modelo de utilidade o objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação.  (art. 9º).

O pedido de patente de MU terá que se consistindo em nova forma ou disposição de objeto de uso prático, com aplicação industrial, que represente melhoria funcional de produto ou processo já existente, desde que mantida a unidade técnico-funcional e corporal do objeto.

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2.2.Registro

Conforme observado anteriormente e na condição de instrumento de proteção da propriedade industrial, o Registro, a exemplo do que ocorre com as Patentes, assume também o caráter de concessão temporária de direito de propriedade outorgada pelo Estado ao autor ou ao requerente legitimado.

É o título de propriedade intelectual de obras protegidas pelos direitos autorais; programa de computador, marcas, indicações geográficas, desenhos industriais e topografia de circuitos integrados.

Tipos de Registro (Desenho industrial e Marca)

- Desenho Industrial

É a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial. (art. 95)

O Desenho Industrial, também conhecido como design, não considera modificações técnicas ou funcionais. A forma plástica é distintiva. O resultado visual original poderá ser decorrente da combinação de elementos conhecidos, ou seja, a finalidade do registro do desenho industrial é proteger a forma externa do objeto e não a sua função prática, portanto somente as características ornamentais é que serão consideradas.

Quanto à forma os Desenhos Industriais podem ser:

Bidimensional: padrão ornamental aplicado em produto; ex.: estampas em tecidos, papel etc.

Tridimensional: forma plástica ornamental de um objeto; ex: configuração externa do objeto.

Requisitos: Novidade, aplicação industrial e originalidade. Não ser obra de arte de caráter puramente artístico.

Período de proteção: 10 anos contados da data do depósito, prorrogável por 3 períodos sucessivos de 5 anos cada. (art. 108)

Não é registrável como Desenho Industrial – DI (art.100)

I - O que for contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas, ou atente contra liberdade de consciência, crença, culto religioso ou idéia e sentimentos dignos de respeito e veneração;

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II - A forma necessária comum ou vulgar do objeto ou, ainda, aquela determinada essencialmente por considerações técnicas ou funcionais.

2.3 Marcas

É um sinal que tem como finalidade distinguir e identificar visualmente produtos ou serviços diante de outros semelhantes ou afins, de procedência diversa, ou certifica a conformidade dos mesmos com determinadas normas ou especificações técnicas. Podem requerer registro de marca às pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou de direito privado. As pessoas de direito privado só podem requerer registro de marca relativo à atividade que exerçam efetiva e licitamente. O registro de marca coletiva só poderá ser requerido por pessoa jurídica representativa de coletividade, a qual poderá exercer atividade distinta da de seus membros. O registro da  marca de certificação só poderá ser requerido por pessoa sem interesse comercial ou industrial direto no produto ou serviço atestado. (art.128)

2.3.1Características

Assim, pode-se concluir que são duas as características principais da Marca: Caráter distintivo, na qual a marca deve ser capaz de distinguir produto ou serviço, bem como deve este modalidade de propriedade industrial não ser enganosa, ou seja, não pode reivindicar uma qualidade para produtos que eles não possuem

Outra característica é que a marca possui validade de 10 anos contados da concessão do registro, podendo ser indefinidamente prorrogada por períodos iguais e sucessivos.

2.3.2.Classificação

As marcas podem ser: 

Nominativas: constituídas de palavras, letras, algarismos, desde que esses elementos não se apresentem sob a forma fantasiosa ou figurativa. Ex.: IBM, 3M, ALPHA IV, BMW... 

Figurativas: constituída de desenho, imagem, símbolo ou qualquer forma fantasiosa de letra e número, isoladamente, bem como de ideogramas de línguas estrangeiras.

Mista: elemento: nominativo e figurativo ou de elemento nominativo de forma solada.

Tridimensional: É a marca constituída pela forma plástica de produto ou de embalagem, cuja forma tenha capacidade distintiva em si mesma e esteja

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dissociado de qualquer efeito técnico, formato de produto ou embalagem, com capacidade distintiva.

Existem países que utilizam também as marcas olfativas, sonoras, hologramas.

2.3.3.Proteção conferida pelo Registro da Marca:

- Assegura ao titular seu uso exclusivo em todo território nacional.

- Ao titular da marca ou ao depositante é, ainda, assegurado o direito de ceder seu registro ou pedido de registro, licenciar seu uso ou zelar pela sua integridade material ou reputação.

- A proteção abrange o suo de marca em: papéis, impressos, propaganda e documentos relativos á atividade do titular.

2.3.4.O Titular da marca não pode impedir

- Que comerciantes ou distribuidores utilizem sinais distintivos que lhe são próprios, juntamente com a marca do produto, na sua promoção e comercialização.

- Que fabricantes de acessórios utilizem a marca para identificar distinção do produto, desde que obedecidas as práticas leais de concorrência.

- A livre circulação de produtos colocados no mercado interno, por si ou por outrem com seu consentimento.

- A citação da marca em discurso, obra cientifica ou literária, ou qualquer outra publicação, desde que sem conotação comercial e sem prejuízo para seu caráter distintivo.

3.Outros aspectos :  

Distinção entre marca e patente:

A marca é um sinal distintivo, visualmente perceptível, que serve para identificar um produto ou serviço de outros do mesmo gênero, de procedência diversa.

A patente é um título de propriedade, conferido temporariamente pelo Estado, ao autor de uma criação industrial, invenção ou aperfeiçoamento que pode referir-se a um produto ou a um processo de fabricação.

Função da patente

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A patente, após concedida pelo INPI, confere ao seu titular o direito de uso exclusivo em todo território nacional. É um monopólio temporário que beneficia seu titular, possibilitando-lhe conquistar uma fatia de mercado, através de sua inovação tecnológica, livre da concorrência.

A patente contribui para o desenvolvimento econômico e social do país, vez que constitui incentivo ao inventor em prosseguir em suas pesquisas, garantindo proteção aos investimentos realizados. É um instrumento de incentivo ao processo de contínua renovação tecnológica.

Prazos de vigência de patente

A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e o modelo de utilidade pelo prazo de 15 (quinze) anos, contados da data de depósito.

Hipóteses de impossibilidade de patente

De acordo com o Artigo 18 da Lei da Propriedade Industrial, não são patenteáveis:

1) Aquilo que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, á ordem pública e à saúde públicas;

2) as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer espécie, bem como a modificação de suas propriedade físico-químicas e os respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes de transformação do núcleo atômico;

3) o todo ou parte dos seres vivos, exceto microorganismos transgênicos que atendam aos requisitos de patenteabilidade.

Além disso, de acordo com o Art. 10 da mesma lei, várias matérias não são consideradas invenções nem Modelo de Utilidade, sendo elas: apresentação de informações; regras de jogo; esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos; concepções puramente abstratas; obras literárias, arquitetônicas, artísticas e cientificas ou qualquer criação estética; programas de computador em si, técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal e o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza.Tampouco se pode conceder Patentes para idéias abstratas e inventos que não possam ser industrializados. Algumas destas criações podem ser protegidas pelo Direito Autoral, que nada tem a ver com o INPI.

Cessão de patente

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A patente pode ser objeto de cessão ou transferência, eis que se trata de um direito patrimonial, suscetível de alienação. O pedido de transferência deverá ser requerido junto ao INPI, a fim de que o mesmo seja devidamente anotado na carta-patente.

Patente referente a países do Exterior

Efetuando o depósito da patente diretamente no país onde se deseja obter a proteção, dentro de um determinado prazo, a fim de que a novidade do invento fique assegurada.

Objeto de registro do desenho industrial

É registrável como desenho industrial toda a forma ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial. Cabe ressaltar que não se considera desenho industrial qualquer obra de caráter puramente artístico, é sempre necessária à suscetibilidade de industrialização.

O registro vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos contados da data de seu depósito, podendo ser prorrogado por 3 (três) períodos de 05 (cinco) anos cada.

Vale salientar ainda que é possível a cessão total ou parcial do registro de desenho industrial e seus direitos. A cessão deverá ser requerida perante o INPI, que fará as devidas anotações, as quais produzirão efeitos em relação a terceiros a partir da data de sua publicação.

Distinção entre registro de desenho industrial e uma marca tridimensional

A marca tridimensional e o desenho industrial possuem uma peculiaridade, isto é, eles têm sua forma projetada em 3 (três) dimensões. Contudo seu conteúdo e sua finalidade os distinguem. Desse modo, a marca tridimensional, por sua natureza, irá identificar um produto ou um serviço, sendo registrada dentro da atividade de seu titular. O direito de uso exclusivo conferido pela marca irá se restringir à classe em que o registro for concedido. O registro de desenho industrial, por sua natureza, irá proteger o design de um produto, isto é a forma visual externa dada a um objeto, passível de ser produzido industrialmente. O direito de uso exclusivo conferido pelo desenho industrial independe do ramo de atividade de seu titular. Daí a importância de um mesmo objeto ser protegido por marca tridimensional e desenho industrial, desde que preenchidos os requisitos.

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Vale salientar que, terminada a vigência de um registro de desenho industrial o seu objeto passa a pertencer ao domínio público, podendo ser utilizado livremente por qualquer pessoa.

Função do registro

O sistema de registro de marca vigente no Brasil é atributivo do direito de propriedade, ou seja, a sua propriedade e o conseqüente direito de uso exclusivo só serão reconhecidos através da concessão do registro perante o INPI. A marca é, assim, um patrimônio de seu titular, servindo para identificar produtos e serviços, induzindo a preferência do público consumidor. Atua, no mercado, como um agente individualizador, podendo muitas vezes tornar-se sinônimo do próprio produto. A importância da marca nos dias atuais é inconteste, e somente com seu registro o titular poderá proteger-se contra a concorrência desleal, cópias e imitações.

Hipóteses de perda de marca

O registro da marca extingue-se pela expiração do prazo de vigência, pela renúncia (abandono voluntário do titular ou pelo representante legal), pela caducidade (falta de uso da marca) ou pela inobservância do disposto no art. 217 da LPI.

O registro de uma marca se extingue nos seguintes casos:

a - pela expiração do prazo de proteção legal, sem que tenha havido prorrogação;b - pela renúncia do respectivo titular ou seus sucessores, que poderá ser total ou parcial, em relação aos produtos ou serviços assinalados pela marca;c - pela caducidade; oud - pela falta de procurador nomeado, com poderes administrativos e judiciais, inclusive para receber citações.

Registro na Junta e no INPI

Deve haver registro em ambos, pois o nome comercial, aquele registrado perante a junta comercial, recebe uma proteção estadual. A marca, por sua vez, após ser devidamente registrada junto ao INPI, receberá uma proteção nacional. Daí a importância de se registrar, como marca, o sinal distintivo de um nome comercial, a fim de que o titular desfrute do direito de uso exclusivo, dentro de seu ramo de atividade, em todo o território nacional.

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