apostila de direito empresarial e tributário

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  • Luiz Antnio Barroso Rodrigues

    Direito Tributrioe Comercial

    Direito Tributrioe Comercial

  • Copyright 2009. Todos os direitos desta edio reservados ao Sistema Universidade Aberta do Brasil. Nenhuma parte deste materialpoder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito,

    do autores.

  • PRESIDENTE DA REPBLICALuiz Incio Lula da Silva

    MINISTRO DA EDUCAOFernando Haddad

    SECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIACarlos Eduardo Bielschowsky

    DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE POLTICAS EM EDUCAO A DISTNCIAHlio Chaves Filho

    SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASILCelso Costa

    COMISSO EDITORIAL DO PROJETO PILOTO UAB/MECMarina Isabel Mateus de Almeida (UFPR)

    Teresa Cristina Janes Carneiro (UFES)

    DESIGNER INSTRUCIONALDenise Aparecida Bunn

    Fabiana Mendes de CarvalhoFbio Alexandre Silva Bezerra

    Patrcia Regina da Costa

    PROJETO GRFICOAnnye Cristiny Tessaro

    Mariana Lorenzetti

    DIAGRAMAOAnnye Cristiny Tessaro

    Victor Emmanuel Carlson

    REVISO DE PORTUGUSSrgio Meira

    ORGANIZAO DE CONTEDOLuiz Antnio Barroso Rodrigues

  • Sumrio

    A p r e s e n t a o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0 9

    UNIDADE 1 Lies Preliminares de Direito

    Lies Preliminares de Direito.............................................................13O homem e a busca da coletividade.................................13A convivncia social e os conflitos.............................................15Em busca da paz social: os instrumentos de controle social..............17O Direito e a sociedade..................................................................19Direito Natural e Direito Positivo..........................................21Direito Pblico e Direito Privado......................................................25

    Resumo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28Atividades de aprendizagem.....................................................................29

    UNIDADE 2 Direito Empresarial

    Direito Empresarial................................................................33Direito Empresarial......................................................................33Evoluo Histrica do Direito Empresarial.........................................35Pessoas ou Sujeitos de Direito...............................................42Dos Fatos, dos Atos e dos Negcios Jurdicos.....................................49

    Resumo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .52Atividades de aprendizagem.....................................................................53

    UNIDADE 3 Direito de Empresa

    Direito de Empresa................................................................57Introduo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57O Empresrio...................................................................62A Empresa.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .64Exerccio de Empresa.....................................................................65Obrigaes dos Empresrios................................................68Registros de Interesse da Empresa................................................68Livros Comerciais........................................................................71

  • Estabelecimento Empresarial..........................................................74Nome Empresarial..........................................................78Propriedade Intelectual..........................................................79Concorrncia Desleal e Infrao Ordem Econmica.......................80

    Resumo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83Atividades de aprendizagem.....................................................................84

    UNIDADE 4 Direito Societrio

    Direito Societrio.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87Introduo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87Sociedades Empresrias...................................................................94Espcies de Sociedades Empresariais..................................................98

    Resumo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .107Atividades de aprendizagem.....................................................................108

    UNIDADE 5 Ttulos de Crdito e Contratos Empresariais

    Ttulos de Crdito e Contratos Empresariais...............................................111Teoria geral do Direito cambirio....................................................111Principais ttulos de crdito.........................................................116Contratos empresariais..........................................................125

    Resumo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .136Atividades de aprendizagem.....................................................................138

    UNIDADE 6 Noes de Falncia e Recuperao de Empresa

    Noes de Falncia e Recuperao de Empresa.......................................141Noes preliminares de Direito Falimentar.....................................141mbito de incidncia da Lei de Falncias e Recuperao de Empresa.....143O processo de falncia..............................................................145A recuperao da empresa..............................................................157

    Resumo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .162Atividades de aprendizagem.....................................................................163

  • UNIDADE 7 Direito Tributrio I

    Direito Tributrio I...........................................................................167Conceito e objeto do Direito Tributrio...........................................167Princpios constitucionais do Direito Tributrio....................170Noo de tributo.............................................................174Elementos da obrigao jurdica tributria.....................................176Classificao dos tributos.......................................................179Receitas originrias.............................................................184

    Resumo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .186Atividades de aprendizagem.....................................................................187

    UNIDADE 8 Direito Tributrio II

    Direito Tributrio II................................................................191O crdito tributrio e suas garantias.................................................191A constituio do crdito tributrio o lanamento......................192Causas suspensivas do crdito tributrio art. 151, do CTN.............196Causas extintivas do crdito tributrio Art. 156 do CTN..............198Excluso do crdito tributrio...........................................202Impostos em espcie..............................................................203

    Resumo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .212Atividades de aprendizagem.....................................................................213

    Referncias.....................................................................................214

    Minicurrculo.....................................................................................220

  • Apresentao

    Prezado estudante, a pretenso do mdulo que se inicia apre-sentar-lhe noes de dois importantes ramos do Direito: o DireitoEmpresarial (que antigamente se chamava Direito Comercial) e o Di-reito Tributrio. Como voc ter oportunidade de ver ao longo de nos-sos estudos, estes segmentos do Direito so de suma importncia parao seu curso, tocando diretamente nas questes de seu cotidiano profis-sional. Uma compreenso de ambos redundar em um diferencial detrabalho e de valorizao profissional.

    Contudo, por uma questo de didtica, no adentraremos deimediato no estudo desses ramos do Direito. Antes disso, na primeiraUnidade, traremos alguns apontamentos mais gerais acerca da prprianoo de Direito, e de sua importncia para a sociedade. Assim, co-mearemos falando dos rudimentos da cincia jurdica e de sua impor-tncia para a vida coletiva, regulando as condutas e buscando a solu-o dos conflitos que surgem no ambiente social. Em seguida, aborda-remos a diviso, meramente didtica, que feita pelos estudiosos doDireito, em dois segmentos: o Direito Pblico e o Direito Privado.Entenderemos, por fim, o porqu desta diviso e quais as caractersti-cas que marcam cada um deles.

    Vencida a primeira Unidade, iremos nos dedicar nas Unidadesdois a seis, ao estudo efetivo do Direito Empresarial. Nestas seroabordadas temticas das mais relevantes ordens para o conhecimentoefetivo desta importante rea do Direito. Assim que, na segunda e naterceira Unidades nos debruaremos sobre questes introdutrias e pordemais importantes ao conhecimento do Direito Empresarial. Nas de-mais, abordaremos questes especficas como Contratos Empresari-ais, Ttulos de Crdito, Sociedades Empresariais e Falncia e Recupe-rao da Empresa.

    As duas ltimas Unidades, sete e oito, reservamos ao estudo doDireito Tributrio. Dedicamos muitas linhas na Unidade sete ao co-nhecimento dos conceitos introdutrios e imprescindveis ao aprendi-

  • zado deste importante ramo do Direito, e na Unidade oito abordamosde forma detida e minuciosa as diversas espcies de tributo.

    Ento, bons estudos! Qualquer dvida, s procurar o auxliodos tutores.

  • UNIDADE

    1Lies Preliminares

    de DireitoLies Preliminares

    de Direito

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    Objetivo

    Nesta Unidade voc vai conhecer as origens, a evoluo histrica e os

    instrumentos prprios de controle social, em especial, o Direito. Vai

    estudar noes fundamentais para a compreenso dos institutos

    jurdicos. E ainda, ir conhecer ramos fundamentais do Direito,

    notadamente o Direito Natural e o Direito Positivo, assim como o

    Direito Pblico e o Direito Privado.

  • Mdulo 7

    13

    Assista ao vdeo:

    Acesso em: 20 ago.

    2008)

    Lies Preliminares de Direito

    Caro aluno, estamos dando incio a uma nova disciplina,Legislao Tributria e Comercial, na qual, conforme vocviu na Apresentao, sero estudados diversos temas doDireito, em especial, relativos atividade Empresarial e aopoder estatal de tributar. Antes, porm, de adentrarmosestritamente nas temticas especficas da presente discipli-na, iremos estudar algumas noes imprescindveis ao co-nhecimento do Direito e que sero muito teis para a com-preenso das futuras Unidades. Assim que, nesta pri-meira Unidade, conforme visto nos objetivos, procurare-mos compreender: a imprescindvel necessidade humanade vida gregria; a convivncia social e o surgimento deconflitos; a busca da paz coletiva, a partir dos instrumentosde controle social; o direito e a sociedade; o direito natu-ral e o direito positivo; e, por fim, a dicotomia entre odireito pblico e o direito privado.

    O homem e a busca da coletividade

    Vamos iniciar falando acerca dos princpios mais elementares daCincia do Direito, como decorrncia da vida em sociedade. J naAntiguidade grega, dizia o filsofo Aristteles ser o homem um ani-mal poltico, ou seja, que necessitava viver em sociedade, em vidaconjunta com seus semelhantes, ou, como se diz modernamente, ohomem um ser social, pois melhor adapta-se ao ambiente e, por-que no dizer, somente evolui quando em sociedade.

    Em uma anlise atenta, e tomando-se por base os ensinamentosj consagrados pela Antropologia, fcil constatar que, desde os

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    primrdios, os homens organizam-se em sociedade. Naqueles tempos,estruturavam-se em grandes grupos nmades* que, embora rudimen-tares, desde ento revelavam a flagrante necessidade humana da vidaem comunho. Com o passar dos tempos, este vnculo material e/oumoral que une os homens uns aos outros se tornou cada vez mais in-tenso, e medida que as formaes sociais iam crescendo, tornava-semais complexa a vida em sociedade.

    Viver em sociedade, mais que um instinto, sempre foi uma ne-cessidade humana. Embora diversos animais tambm vivam em ban-dos ou grupos, numa forma de manifestao gregria* na qual noest ausente, inclusive, uma repartio de funes e que acaba por darlugar a uma certa organizao da vida conjunta (por exemplo, as abe-lhas e as formigas), no se fala a da existncia de uma autntica so-ciedade. Na realidade, esta resultante da atuao prpria e exclusi-va do homem: no sentido exato da expresso, s h sociedades huma-nas (DALLARI, 1998, p. 10).

    Assim sendo, constata-se que, isoladamente, o homem no bas-ta a si prprio. E, na busca da felicidade, envida uma srie de esforos,imprescindveis e permanentes, no sentido de satisfazer seus interes-ses. E, muitas vezes, para atingi-los depende de uma atividade coor-denada entre os diversos membros do grupo. Neste sentido oensinamento do professor Paulo Nader, quando afirma que:

    A prpria constituio fsica do ser humano revela que elefoi programado para conviver e se completar com outro ser desua espcie. A prole, decorrncia natural da unio, passa aatuar como fator de organizao e estabilidade do ncleofamiliar. O pequeno grupo, formado no apenas pelo interes-se material, mas pelos sentimentos de afeto, tende a propa-gar-se em cadeia, com a formao de outros pequenos ncle-os, at se chegar constituio de um grande grupo social(NADER, 2000, p. 22).

    No mesmo sentido o entendimento do socilogo Eugen Ehrlich:

    A partir do momento em que os homens se juntam em associ-aes, a maior associabilidade do homem transforma-se na-turalmente em arma na luta pela existncia. (.. .) emcontrapartida garante a sobrevivncia dos que so capazes

    GLOSSRIO*Nmade Diz-sedas tribos ou povoserrantes, sem habita-o fixa, que se des-locam constante-mente em busca dealimentos, pasta-gens, etc. Fonte:Aurlio (2008).*Gregrio Que fazparte da grei ou re-banho; que vive embando. Fonte: Aur-lio (2008).

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    de se associarem, tornando-os mais fortes, porque so benefi-ciados pela fora de toda a associao (EHLICH, 1986, p. 27-28).

    na sociedade, e no fora dela, que o homem encontra o com-plemento ideal ao desenvolvimento de suas faculdades, de todas aspotncias que carrega em si. Assim que, por no conseguir aautorrealizao, ou seja, satisfazer sozinho a grande gama de necessi-dades que centra em sua individualidade, o ser humano concentra seusesforos na construo da sociedade, seu hbitat natural e que repre-senta seu grande empenho para adaptar o mundo exterior s suas ne-cessidades de vida.

    A convivncia social e os conflitos

    Conforme j analisado no item anterior, para o homem, muitomais que um instinto, viver em sociedade uma necessidade. Contu-do, preciso salientar que, muito embora seja efetivamente o meiosocial o ambiente propcio s formas mais eficazes e potencializadasde desenvolvimento humano (quer no campo material, moral, espiritual,afetivo etc.), no menos verdade que tal ambiente revela-se, igualmente,solo frtil ao surgimento e proliferao de disputas e/ou conflitos.

    Neste nvel, em um estudo atento ao HOMEM e SOCIEDA-DE, no difcil constatar que, na dinmica da vida, o homem, ou atmesmo toda uma coletividade, necessita adquirir e manter elemen-tos bsicos para a manuteno de sua subsistncia. Estes Elemen-tos vo desde os mais essenciais como, por exemplo, o ar, a gua,os alimentos, o vesturio, os remdios, as condies de habitao,dentre muitos outros at queles que apresentam uma utilidade maissuperficial, ou seja, mais remota, mas que, muito embora dispens-veis, satisfazem de alguma forma o homem, suprindo assim suas ne-cessidades.

    Tais elementos que, de tantas maneiras, apresentam a capaci-dade de saciar uma necessidade humana so denominados BENS, e

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    definidos pelo autor Italiano Francesco Carnelutti como entes capazesde satisfazer uma necessidade humana (CARNELUTTI, 1976, p. 48).

    Estes bens, dado ao grau de importncia, a quantidade em quese apresentam na natureza e/ou a imediatidade em obt-los, serovalorados e hierarquizados pela coletividade. Da j surge um proble-ma. Embora sejam ilimitados os interesses do homem, os bens que sedestinam a saci-los so limitados, e disponveis na natureza muitasvezes em quantidade inferior necessidade humana. Partindo-se deque, como j analisado, o ser humano no consegue viver isolado, natural que este entre em conflito, na disputa por um bem que se en-contra disponvel em pequena quantidade, podendo tal conflito mani-festar-se em dois planos.

    Num primeiro, h o que os estudiosos chamam de conflito sub-jetivo de interesses, e que se verifica quando o conflito se estabelecedo homem para com ele mesmo, ou seja, internamente, impasse estesolucionvel por meio de escolhas e/ou opes. Registre-se, contudo,que tal hiptese, embora relevante para outros ramos do conhecimen-to, no presente estudo no ser objeto de anlise, pois irrelevante parao mundo jurdico, considerando o seu subjetivismo e o fato de no serperceptvel no mundo exterior, no qual efetivamente se realiza, oumelhor, exterioriza-se o Direito.

    Para o estudo do Direito, relevante o segundo tipo de conflito,aquele surgido entre os membros da coletividade, ou at mesmo entreaqueles e esta ltima. So os chamados conflitos intersubjetivos deinteresses. Nestes destacam-se os casos surgidos a partir do encontro,ou melhor, desencontro de interesses, onde membros da sociedadepassam a disputar entre si ou com aquela posies, que se apresentamcomo antagnicas* em relao aos bens. relevante destacar a liodo professor Moacyr Amaral Santos, ao afirmar que:

    O conflito de interesses pressupe, ao menos, duas pessoascom interesse pelo mesmo bem. Existe quando intensidadedo interesse de uma pessoa por determinado bem se ope aintensidade do interesse de outra pessoa pelo mesmo bem,donde a atitude de uma tendente excluso da outra quantoa este (SANTOS, 1995, p. 04).

    GLOSSRIO*Antagnico Oposto, contrrio.Fonte: Aurlio(2008).

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    Desta forma, com o conflito de interesses, surgido a partir dacontraposio de interesses, nasce um impasse e, a partir da, a insta-bilidade nas relaes sociais, que necessita ser solucionada. O confli-to representa uma ameaa paz social, pressuposto primeiro da exis-tncia prspera da sociedade humana, que, na sua organizao, terque se servir de meios prprios para no s dirimi-los, como tambmpreveni-los (a respeito, consulte: DINAMARCO, 1999, p. 24).

    Em busca da paz social:os instrumentos de controle social

    Os conflitos, conforme visto no tpico anterior, so fenmenosnaturais sociedade, podendo-se at dizer que lhe so inerentes. Quan-to mais complexa uma sociedade, quanto mais se desenvolve, maisestar sujeita verificao de novas formas de conflito, e o resultado o que se verifica na realidade atual. Como dito: o maior desafio no como viver, e sim, como conviver.

    Assim, a sociedade palco de constataes antagnicas, umavez que, sem elas o ser humano no vive, no se desenvolve, no setorna homem. No legado de Aristteles, o homem fora da convivnciade seus pares seria ou um bruto ou um Deus, extraindo-se da algosuperior ou inferior condio humana. Mas, muito embora seja asociedade ambiente nico para o desenvolvimento da espcie huma-na, ela tambm ambiente propcio ao surgimento e proliferao dedesentendimentos e disputas, enfim, de conflitos.

    Ciente de tal realidade incontestvel, procuram os homens de-senvolver mecanismos tendentes a minimizar estes conflitos, preve-nindo-os ou solucionando-os, criando, assim, formas ou instrumentosde controle social, destinados manuteno da ordem e, fundamental-mente, garantia da paz social.

    Tais instrumentos de controle social so a moral, a religio, asregras de trato social, os costumes, e o Direito. Eles tm a sublime

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    funo de viabilizar e/ou tornar harmnicas as relaes sociais. Pormeio destes instrumentos, a sociedade impe a seus membros os mo-delos culturais, os ideais coletivos e os valores que busca, para a supe-rao das antinomias* e antagonismos*, das tenses e, acima de tudo,dos conflitos que lhe so prprios.

    O mero agrupamento humano no forma, por si s, uma socie-dade, sendo indispensvel para a existncia desta, alm da pluralidadede indivduos, tambm de um fim, fundado na paz social e na buscado bem comum, e de um conjunto de normas, sejam estas, conformej visto, de ordem religiosa, costumeira, moral, de trato social e/ou deDireito. Como diz o professor Nelson de Sousa Sampaio: No hsociedade que no possua normas de conduta, uma vez que o homemno um ser anglico e os divergentes interesses individuais no seharmonizam espontaneamente (SAMPAIO, 1995, p. 3-4).

    Na mesma linha de raciocnio, continua o autor afirmando que:

    Todas as manifestaes da vida social e da cultura impemaos indivduos, pelo menos indiretamente, certa maneira deproceder, sob pena de sofrerem determinadas consequnciasda sua discordncia, inconformismo ou rebeldia. Esta coer-o, exercida de vrias formas pela sociedade sobre seus mem-bros, foi ressaltada por Durkheim como a caracterstica mxi-ma dos fatos sociais (SAMPAIO, 1995, p. 3-4).

    Na mesma direo vai a lio do professor alemo ReinholdZippelius, ao ensinar que:

    [...] A conduta social, tal como no fundo o comportamentohumano, no regulada suficiente e seguramente atravs deinstintos. Por isso devem criar-se artificialmente modelos deconduta, segundo os quais os indivduos possam harmonizaras suas aes de maneira socialmente tolervel, previsvel esegura (ZIPPELIUS, 1997, p. 48).

    Neste sentido, a tarefa primordial dos instrumentos de controlesocial exatamente a de harmonizar as relaes sociais intersubjetivas,criando regras a fim de ensejar a mxima realizao dos valores hu-manos com o mnimo de sacrifcio e desgaste. Assim, o critrio quedeve orientar essa coordenao ou harmonizao o critrio do justo

    GLOSSRIO*Antinomia Opo-sio recproca.

    *Antagonismo Oposio de ideiasou de sistemas. Ri-validade, incompa-tibilidade. Fonte:Aurlio (2008)

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    e do equitativo, perseguindo-se o objetivo comum de construo deuma vida social de acordo com a convico prevalente em determina-do momento e lugar, pautando-se sempre pela busca da harmonia e dobemcomum (DINAMARCO, 1999, p. 19).

    O Direito e a sociedade

    A partir dos ensinamentos at aqui expostos, pode-se perceberque a necessidade de paz, ordem e bem-comum levou a sociedade criao de um mecanismo responsvel pela instrumentalizao e re-gncia desses valores o Direito o qual, fundamentalmente, notem por objetivo principal atender s necessidades individuais, massim a toda uma coletividade. O Direito se apodera do homem desdeantes mesmo de seu nascimento, e regula todos os aspectos que o inte-ressam, at mesmo depois de sua morte.

    Entretanto, importante destacar que, sempre e a todo instante,o Direito considera o homem como parte integrante de uma comu-nho, que a sociedade, fora da qual este no poderia viver e/ou re-produzir todo o seu potencial. Da, temos que Direito e sociedade sepressupem, ou seja, em uma simples anlise, podemos constatar queo Direito sem a sociedade no existiria, e esta sem aquele no subsis-tiria, no se desenvolveria. Como ser social, o homem tem uma vidanecessariamente relacional, j que, vivendo em sociedade, mantmrelaes mltiplas com os demais membros desta.

    Para expressar esta realidade, surgiram os brocardos* latinosubi homo ibi societas (onde est o homem, est a sociedade), e ubisocietas ibi ius (onde h sociedade h o Direito), de onde se retira esteoutro: ubi homo ibi ius (onde est o homem est o Direito). No ha-vendo homem seno em sociedade, e, havendo esta, haver o Direito, evidente que o Direito est na sociedade porque est no homem. ODireito, pois, pertence ao homem na sociedade, e somente nesta podese manifestar, uma vez que aquele (o Direito) implica a ideia de rela-o, que s em sociedade pode ocorrer.

    GLOSSRIO*Brocardos Axio-ma, aforismo, mxi-ma, sentena, pro-vrbio. Fonte: Au-rlio (2008).

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    Da se pode concluir que a vida em sociedade impossvel semo Direito. Mesmo as sociedades em estgio de cultura inferior, comoas selvagens ou nmades ainda hoje existentes na Amrica, na fri-ca e na sia comprovam a afirmao de que no h sociedade semDireito, pois, por mais rudimentar que ela seja, ali o encontramos. ODireito responde a uma necessidade essencial da pessoa e da socieda-de. Pelo Direito, o homem reafirmase como pessoa tica, e ainda, peloDireito, a sociedade ordena-se para a harmonia das relaes, evitandoo caos, centrado este nos conflitos, que a destruiriam.

    Dessa maneira, em consonncia com os tpicos anteriores, em-bora inafastvel a certeza de que em sociedade o homem melhor de-senvolve seu potencial existencial, no mais amplo sentido do termo(produtivo, espiritual, emocional e etc.), tambm certo que, da con-vivncia com os demais membros, com os quais dividem o mesmoambiente, possuindo idnticos instintos e necessidades, natural oaparecimento de conflitos, que vo reclamar uma soluo (NADER,2000, p. 8-9).

    Surge, ento, o Direito, no como instrumento, apenas, de solu-o ou de pacificao dos conflitos, mas principalmente como institu-to de coordenao e estruturao da vida em sociedade. Ele se mani-festa, assim, como uma necessidade inafastvel da busca do bemcomum,e surge concomitantemente formao da sociedade.

    Direito e sociedade so, pois, entidades congnitas* e que sepressupem. O Direito no tem existncia em si prprio. A sociedade,ao mesmo tempo, fonte criadora e rea de ao do Direito, seu focode convergncia. Existindo em funo da sociedade, o Direito deveser estabelecido sua imagem, refletindo as suas peculiaridades. Des-ta feita, homem, Direito e sociedade so vrtices de uma mesma figurageomtrica, pressupondo-se um aos outros.

    O Direito assim: est e existe em funo da vida social. A suafinalidade a de favorecer o amplo relacionamento entre as pessoas eos grupos sociais, que uma das bases do processo da socializao doindivduo. Neste caminho, ao separar o que lcito e o que se conside-ra ilcito, segundo valores de convivncia que a prpria sociedade ele-ge, o Direito torna possveis os nexos de cooperao e disciplina a

    GLOSSRIO*Congnito Gera-do ao mesmo tem-po. Fonte: Aurlio(2008).

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    competio, estabelecendo os limites e as limitaes necessrias aoequilbrio e justia nas relaes sociais.

    Direito Natural e Direito Positivo

    Neste momento, vamos analisar algumas questes que envol-vem o conhecimento tcnico do Direito. Os estudiosos apresentam aexistncia de duas classes de Direito: 1) o Direito Natural e 2) o Direi-to Positivo. Cada uma destas duas ordens, apesar de guardarem fron-teiras bem delineadas, apresentam-se em profunda conexo, como te-remos oportunidade de ver.

    Partindo-se, ento, do Direito Natural, pode-se dizer que este considerado um Direito espontneo, originando-se no da vontade,nem do Estado, nem da sociedade e nem da razo humana, mas, antesdisso, da prpria natureza social do homem.

    Assim, o Direito Natural no constitudo por um amontoadode regras, mas sim por um conjunto harmnico e concatenado* devalores e princpios, como o direito vida, liberdade, segurana eoutros. O professor Vicente Ro ensina que o Direito Natural:

    [...] a todos os povos se impe, no pela fora da coeromaterial, mas pela fora prpria dos princpios supremos,universais e necessrios, dos quais resulta; princpios estesinerentes natureza do homem, havido como ser social dota-do, ao mesmo tempo de vida fsica, de razo e de conscincia(RO, 1998, p. 76).

    Foi somente em meados do sculo passado que o Direito Natu-ral recuperou o seu prestgio, e aps ter experimentado um longo per-odo de esquecimento, ressurgiu no esprito de juristas entusiasmadospor ele. Ao longo de sua trajetria, o Direito Natural apresentou-se devrias formas, com distintas maneiras de pensar o Direito, mas que,embora apresentassem alguns traos de divergncias, sempre guarda-ram importante caracterstica, centrada na existncia de uma ordem

    GLOSSRIO*Concatenar Pren-der, ligar; encadear:concatenar ideias.Estabelecer relaesentre, relacionar.Fonte: Aurlio(2008).

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    Confira mais sobre oDireito positivo, no

    artigo: O positivismojurdico, de ArnaldoSampaio de Moraes

    Godoy, no stio:

    Acesso em: 20 ago.

    2008.

    Confira mais a respei-to em: Reflexes sobre

    o direito natural, deLuiz Otaviano Amaral,

    disponvel no stio:

    Acesso em: 20 ago.

    2008.

    superior ao Direito escrito, que a expresso do Direito Justo, IDE-AL, mas no ideal num sentido utpico e, sim, um ideal em termos depossibilidade de alcance. Assim, afirma o autor francs Jean-LouisBergel que:

    As diversas tendncias jusnaturalistas tm em comum cer-tas ideias essenciais: afirmao de que o direito natural pro-cede da natureza, a existncia de princpios no-escritos su-periores ao direito positivo e que se lhe impem, a primaziada busca da Justia sobre o respeito legalidade, perma-nncia de certos valores que prevalecem sobre aqueles con-sagrados pelos homens do Estado (BERGEL, 2001, p. 10).

    Quanto ao Direito Positivo, em linhas gerais, este o Direitodefinido, criado, estruturado pelo Estado. Em geral, as teoriaspositivistas sustentam a separao entre Direito e moral, sem que exis-ta nenhuma conexo conceitual necessria entre eles. Assim, o DireitoPositivo a ordem jurdica vigente em um determinado local e numadeterminada poca. So as normas impostas pelo Estado para reger aconvivncia em sociedade, por exemplo, atravs das leis, sendo quetais normas no precisam ser, necessariamente, escritas. Normas base-adas nos costumes de cada coletividade, e que so em regra transmiti-das pela tradio oral, tambm integram o Direito Positivo.

    Conforme a lio do professor Paulo Dourado de Gusmo:

    Precisando o nosso pensamento, diremos que o direito posi-tivo o direito histrica e objetivamente estabelecido, efeti-vamente observado ou, ento, passvel de ser imposto coerci-tivamente, encontrado em leis, cdigos, tratados internacio-nais, costumes, resolues, regulamentos, decretos, decisesdos tribunais e etc.. , assim, o direito determinvel na hist-ria de um pas com pouca margem de erro, por se encontrarem documentos histricos (cdigos, leis, repertrios de juris-prudncias, compilao de costumes, tratados internacionaise etc.). o direito vigente ou o que teve vigncia. direitopositivo tanto o vigente hoje como o que vigorou ontem ouno passado longnquo, como por exemplo, o Cdigo deHamurabi ou o Direito Romano. Por fim o direito positivo agarantia da certeza do direito. , como nota Ripert, o direitocuja existncia no contestada por ningum (GUSMO,1997, p. 51).

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    Diante de tais consideraes em torno destas duas ordens deDireito, em uma anlise rpida e descompromissada, pode-se enten-der o Direito Natural e o Direito Positivo como reas autnomas e,principalmente, antagnicas de conhecimento e manifestao do Di-reito. Alguns autores chegaram at mesmo a sustentar que o DireitoNatural se oporia ao Direito Positivo e este quele.

    Entretanto, e em verdade, em um estudo mais apurado e detidoda matria, observa-se que, antes de uma oposio ou antagonismosentre o Direito Natural e o Direito Positivo, constata-se, ou melhor,deve-se constatar um verdadeiro entrosamento entre ambos. Na liodo professor Paulo Nader, fcil verificar tal congruncia:

    Por no ser criado pelo homem, o Direito Natural, quecorresponde a uma ordem de justia que a prpria naturezaensina aos homens pelas vias da experincia e da razo, nopode ser admitido como um processo de adaptao social. ODireito Positivo, aquele que o Estado impe coletividade, que deve estar adaptado aos princpios fundamentais doDireito Natural, cristalizados no respeito vida, liberdade eaos seus desdobramentos lgicos (NADER, 2000, p. 17).

    Desta maneira, no h porque falar-se em contraposio ouantinomia entre Direito Natural e Positivo, pois um fonte de inspira-o do outro, no exprimem ideias antagnicas, mas, ao invs, tendema uma convergncia ideolgica, ou pelo menos devem procur-la. As-sim, o Direito Positivo deve amparar-se nos princpios ditados peloDireito Natural para que suas regras atinjam o ideal, o bemcomum.

    Seguindo esse raciocnio, sem se exclurem, mas ao contrrio ede forma ideal, se complementando, observa-se nas palavras de VicenteRo um paralelo, que, embora demonstre distines entre ambos, res-salta, ainda que de forma indireta, traos de confluncia, ou melhor,complementaridade entre as duas ordens analisadas:

    O direito natural, assim concebido, procura aproximar o di-reito prprio, positivo, de cada povo em torno dos postula-dos bsicos, intransponveis, do respeito aos direitos funda-mentais do homem, queles direitos, isto , cujo desconheci-mento afetaria a prpria natureza humana; e procura ademais,inspirar e conduzir todos os sistemas positivos de direito emdireo a um ideal supremo de justia (RO, 1999, p. 81).

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    Como manifestao da buscada aproximao entre o DireitoNatural e o Direito Positivo, setor da doutrina admite que vivenciadana cincia jurdica um perodo que pode ser alcunhado de Ps-Positivismo. Fazendo-se uma breve digresso* histrica, constata-seque, com o advento do Estado liberal e a consolidao do Direito emtextos escritos, o Direito Natural teve seu apogeu e, paradoxalmen-te*, sua superao histrica. No incio do sculo XIX, os direitos na-turais, cultivados e desenvolvidos ao longo de mais de dois milnios,j haviam se incorporado, de forma generalizada, nos ordenamentospositivos. Assim, de certa forma os direitos naturais j no mais repre-sentavam a revoluo, mas a conservao. Tido como metafsico eanticientfico, o direito natural empurrado para a margem da histriapelo positivismo e cientificismo que dominaram o sculo XIX (BAR-ROSO, 2005, p. 10-11).

    O positivismo filosfico foi fruto da crena em demasia napotencialidade do conhecimento cientfico. Sua importao para o di-reito resultou no positivismo jurdico, com sua pretenso de criar umacincia do Direito, pautada pela objetividade e com caractersticasanlogas s cincias exatas e naturais. O Direito foi apartado das es-peculaes morais e dos valores transcendentes. No seria no mbitodo Direito que dever-se-ia travar discusso acerca de questes comojustia e legitimidade.

    Contudo, o fetichismo* legal e o legalismo acrtico, ao menosem parte atribuvel aos excessos dos positivistas, demonstraram seusinconvenientes e evidenciaram suas limitaes, levando-se a repensaro positivismo jurdico. Sobretudo porque a lei pode ser fonte de injus-tias. Como aponta Lus Roberto Barroso:

    Sem embargo da resistncia filosfica de outros movimentosinfluentes nas primeiras dcadas do sculo XX, a decadnciado positivismo emblematicamente associada derrota dofascismo na Itlia e do Nazismo na Alemanha. Esses movi-mentos polticos e militares ascenderam ao poder dentro doquadro de legalidade vigente e promoveram a barbrie emnome da lei. Os principais acusados de Nuremberg invoca-ram o cumprimento da lei e a obedincia a ordens emanadasda autoridade competente. Ao fim da Segunda Guerra Mun-

    GLOSSRIO*Digresso Ex-curso, passeio.Fonte: Aurlio(2008).*Paradoxo Con-ceito que ou pare-ce contrrio ao co-mum; contrassenso,absurdo, disparate.Fonte: Aurlio(2008).*Fetichismo Sub-servincia total.Fonte: Aurlio(2008).

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    dial, a ideia de um ordenamento jurdico indiferente a valo-res ticos e a lei como uma estrutura meramente formal, umaembalagem para qualquer produto, j no tinha mais aceita-o no pensamento esclarecido (BARROSO, 2005, p. 12).

    A partir de tal constatao, comeou-se a repensar o Direito esua funo social. Percebeu-se necessrio que o jurdico no se afas-tasse dos valores, dos ditames morais e ticos. Ento, surge no pensa-mento do Direito um conjunto difuso de ideias, buscando a promooda aproximao entre o jurdico e o tico. Neste momento, ganhamrelevo e destacada importncia os princpios jurdicos, que, por teremuma textura mais aberta que as regras, possibilitam a entrada mais efe-tiva de valores na seara do Direito.

    A este iderio, surgido como reao ao exagero legalista a queem muitos casos conduziu o Positivismo, a doutrina jurdica conferiua designao provisria e genrica de Ps-Positivismo (BARROSO,2005, p. 10-13). O Direito vai para alm das normas escritas, a lei,recebendo influxos valorativos e ticos, sem, contudo, prescindir edescurar da letra da lei.

    Por fim, e no intuito precpuo de se enfrentar o questionamentosuscitado no pargrafo introdutrio do presente tpico, fcil consta-tar, em sintonia com as anlises levadas a efeito, que no arbitrrioe nem fora de contexto entendermos que a sociedade , de fato, obero do Direito. Assim, a partir da observao das relaesintersubjetivas e dentro de uma racionalizao das experincias vivi-das que os homens, unidos em sociedade, criaro as regras que rege-ro suas relaes cotidianas (REALE, 1995, p. 307-308).

    Direito Pblico e Direito Privado

    Neste momento do curso, vamos estudar as grandes divises dacincia do Direito. Por questes de ordem tcnica e didtica, o Direito dividido em diversos ramos, como o Direito Constitucional, o Direi-to Civil, o Direito Penal, o Direito Comercial ou Empresarial, o Direi-

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    to Tributrio, o Direito Administrativo, e assim por diante. Cada umdeles trata de uma matria especfica no universo do jurdico.

    Contudo, os estudiosos desenvolveram, ainda, uma classifica-o dos diversos ramos do Direito, dividindo-os em duas grandes ca-tegorias ou setores: 1) Direito Pblico e 2) Direito Privado. Assim, hramos do Direito que se enquadram no Direito Pblico, e outros noDireito Privado. Por coincidncia, vamos estudar neste mdulo o Di-reito Comercial ou Empresarial, que se classifica como ramo perten-cente ao Direito Privado, e o Direito Tributrio, um ramo do DireitoPblico.

    De um modo geral, pode-se dizer que nos ramos pertencentes aoDireito Privado prepondera o interesse dos particulares, enquanto nosramos de Direito Pblico prevalece o interesse do Estado. H,hodiernamente, uma teoria muito aceita, chamada teoria da naturezada relao jurdica, que tenta explicar a distino entre estes dois seg-mentos. Com j apontado nas linhas anteriores, o Direito disciplina asrelaes desenvolvidas na sociedade. Quando uma relao desenvol-vida na sociedade disciplinada pelo Direito, ela chamada de rela-o jurdica. E, quando a relao social disciplinada for de coordena-o, ou seja, desenvolvida entre particulares em p de igualdade, anorma regulamentadora ser de Direito Privado. Ao contrrio, quan-do o poder pblico participa da relao, podendo impor sua vontadecontra a dos particulares, a norma disciplinadora da relao ser deDireito Pblico. dito, ento, que nestes casos a relao jurdica desubordinao, pois a vontade do particular encontra-se submetida do Estado.

    Como j apontamos, o Direito Civil e o Direito Empresarial soramos do Direito Privado. Nestes, o foco voltado, como regra, paraa vontade dos particulares. Como decorrncia disso, nas relaes so-ciais reguladas por este setor do Direito os particulares podem, emcomum acordo, afastar a disciplina da lei, e criarem uma regra quemelhor atenda aos seus interesses. certo que isso nem sempre ver-dade, pois mesmo no Direito Privado h as chamadas normas de or-dem pblica, que no podem ser afastadas pela vontade das partes. o caso, por exemplo, da parte do Direito Civil que trata do Direito de

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    Sobre o tema, valeconferir: FERRAZ

    JUNIOR, TrcioSampaio. Introduoao estudo do direito.

    2. ed. So Paulo:Atlas, 1994, p. 134 e ss.

    Famlia, em que as partes no podem ignorar o que diz a lei, seno seuato no ter validade. Contudo, isto exceo.

    No caso do Direito Pblico, como o caso do Direito Tribut-rio, as normas visam principalmente ao interesse social e do Estado.Assim, a vontade do Estado prepondera sobre a particular, no poden-do ser tais normas afastadas pela vontade das partes na relao jurdi-ca. Os particulares no podem, por exemplo, afastar a incidncia deum tributo, uma vez que o interesse envolvido pblico.

    Saiba mais...

    Quer conhecer um pouco mais sobre as temticas estuda-das? Pesquise as indicaes sugeridas abaixo!

    Confira a respeito da necessidade humana de viver em coletivi-dade na obra: tica a Nicmacos, do filsofo Aristteles, indicadana bibliografia ao final desta Unidade, disponvel tambm no stio: Acesso em:20 ago. 2008.

    Para um maior aprofundamento na questo relativas aos confli-tos sociais e seus meios de soluo, vale a pena consultar o artigo: Odireito como meio de pacificao social: em busca do equilbrio dasrelaes sociais, de autoria de Marcos Andr Couto Santos, dispon-vel na internet no stio: Acesso em: 20 ago. 2008.

    Estude mais sobre o direito natural e o direito positivo, noartigo: Direito natural e direito positivo, de Alexandre GrassanoGouveia, disponvel no stio: Acesso em: 20 ago. 2008.

    Compreenda melhor os limites do direito privado e do direitopblico, no artigo: Fronteiras entre o direito pblico e o direitoprivado, de Roberto Wagner Marquesi, disponvel em: Acesso em: 20 ago.2008.

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    RESUMO

    Conforme voc viu nesta Unidade, para o homem, mui-to mais que um instinto, viver em sociedade uma necessida-de. Todavia, deve-se salientar que, muito embora seja o meiosocial o ambiente propcio s formas mais eficazes epotencializadas de desenvolvimento humano, este tambmsolo frtil ao surgimento e proliferao de disputas e/ou con-flitos.

    Os conflitos, ento, so fenmenos naturais socieda-de, podendo-se at dizer que lhe so inerentes. Quanto maiscomplexa uma sociedade, quanto mais se desenvolve, maisestar sujeita verificao de novas formas de conflito.

    Percebe-se, assim, que a necessidade de paz, ordem ebem comum levou a sociedade criao de um mecanismoresponsvel pela instrumentalizao e regncia desses valores o Direito. Assim, o Direito est e existe em funo da vidasocial. A sua finalidade a de favorecer o amplo relaciona-mento entre as pessoas e os grupos sociais, que uma dasbases do processo da socializao do indivduo. Neste cami-nho, ao separar o que lcito e o que se considera ilcito, se-gundo valores de convivncia que a prpria sociedade elege,o Direito torna possveis os nexos de cooperao e disciplinaa competio, estabelecendo os limites e as limitaes neces-srias ao equilbrio e justia nas relaes sociais.

    A partir da necessidade de se conhecer o Direito, verifi-cam-se diversos ramos e reas, como o Direito Natural e oPositivo; e o Direito Pblico e o Privado. Com relao a esteltimo, destaca-se que, quando a relao social disciplinadafor de coordenao, ou seja, desenvolvida entre particulares

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    em p de igualdade, a norma regulamentadora ser de DireitoPrivado. Ao contrrio, quando o poder pblico participa darelao, podendo impor sua vontade contra a dos particulares,a norma disciplinadora da relao ser de Direito Pblico. dito, ento, que nestes casos a relao jurdica de subordina-o, pois a vontade do particular encontra-se submetida von-tade do Estado.

    Atividades de aprendizagem

    Observe com ateno as diversas espcies de normas que regemseu comportamento, aps, procure separ-las em normas de origemreligiosa, moral, meramente social (regras de trato social) e legal.Fornea um exemplo para cada espcie de norma.

    Entreviste um grupo de pessoas e procure saber o que elas enten-dem sobre o que o Direito. Compare o resultado com o que vocaprendeu.

    Estabelea um paralelo comparativo entre Direito Natural e Positi-vo, fornea exemplos. Faa o mesmo com o Direito Pblico e oDireito Privado.

  • UNIDADE

    2Direito EmpresarialDireito Empresarial

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    Objetivo

    Nesta Unidade voc vai estudar as origens, a evoluo histrica e os

    institutos legais e jurdicos que regem o Direito Empresarial. Vai

    conhecer tambm os conceitos e as noes jurdicas relativas s pessoas

    fsicas e jurdicas; e os conceitos, definies e espcies de atos, fatos e

    negcios jurdicos.

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    Direito Empresarial

    Caro estudante, estamos iniciando uma nova Unidade.Aqui, conforme voc viu nos objetivos, iremos abordar adefinio de Direito Empresarial, originariamente chama-do de Direito Comercial; sua evoluo histrica; os con-ceitos e as noes relativas s pessoas fsicas e jurdicas; eos conceitos, definies e espcies de atos, fatos e negci-os jurdicos. Leia com ateno e no deixe de buscar aux-lio para as suas possveis dvidas.

    Direito Empresarial

    Nos dias atuais, observa-se certa estabilidade em torno doconceito de Direito Empresarial. Todavia, ao longo da histria,que ser mais detalhadamente abordada no prximo item, perce-be-se que muitas foram as transformaes sofridas por este impor-tante ramo do Direito Privado, inclusive em sua nomenclatura*,que deixou de ser Direito Comercial para se chamar Direito Em-presarial, esta ltima mais ampla e concatenada com a modernanoo de comrcio.

    Estritamente vinculado concepo de comrcio, suas prti-cas e seus atores, o Direito Comercial, hoje Empresarial, foi cria-do e desenvolvido para fomentar, tornar estvel e regulamentar asprticas a este inerentes, e em razo disso existe.

    Por Direito, dentre tantas definies possveis, variveis aosabor das diversas escolas jurdicas, temos: Direito o conjuntodas regras sociais que disciplinam as obrigaes e poderes refe-rentes questo do meu e do seu, sancionadas pela fora do Esta-do e dos grupos intermedirios (FRANA, 1994, p. 7); e mais,

    GLOSSRIO*Nomenclatura Conjunto de termospeculiares a umaarte ou cincia; ter-minologia. Fonte:Aurlio (2008).

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    conjunto das normas jurdicas escritas e no-escritas (o costumejurdico), vigentes em determinado territrio e, tambm, na rbitainternacional na relao entre os Estados (NUNES, 2003, p.115);e ainda, Direito a ordenao bilateral atributiva das relaessociais, na medida do bem comum (REALE, 2004, p. 59); e porfim, seria o Direito um complexo de normas jurdicas que regemas relaes sociais, num determinado tempo e lugar, em busca dobem comum e que tem ao seu servir o poder do Estado para fazercumprir tais regras.

    No diferente dos conceitos supracitados, a definio de Di-reito Empresarial, preservando os preceitos imprescindveis no-o bsica de Direito e acrescentando outros inerentes e peculia-res atividade comercial, empresarial ou mercantil, consiste:

    no conjunto de normas que regem a atividade empresarial;porm, no propriamente um direito dos empresrios, massim um direito para a disciplina da atividade econmica or-ganizada para a produo e circulao de bens ou de servi-os; ento, para o ato ser regulado pelo direito comercial,no preciso seja praticado apenas por empresrios, bastaque se enquadre na configurao de atividade empresarial. Odireito comercial, empresarial ou mercantil disciplina nosomente a atividade do comerciante, mas tambm industrias,bancos, transportes e seguros (DINIS, 2005, p. 274).

    Segundo Andr Luiz Ramos, o Direito Empresarial consiste no:

    Regime jurdico especial destinado a regulao das ativida-des econmicas e dos seus agentes produtivos. Na qualidadede regime jurdico especial, completa todo um conjunto denormas especficas que se aplicam aos agentes econmicos,hoje chamados de empresrios (RAMOS, 2008, p 50).

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    Evoluo Histrica do Direito Empresarial

    Introduo

    Conforme j amplamente estudado na primeira Unidade, ohomem um ser eminentemente gregrio. Seja nas primitivas ma-nifestaes nmades, at as complexas formaes sedentrias, vi-ver em sociedade, mais que um instinto, corresponde a uma neces-sidade.

    A partir de tal premissa, verifica-se outra de igual valor, pois na vida em comunidade, e no fora desta, que se verifica ainterao humana, ou seja, as relaes intersubjetivas. De tais re-laes surgem fatos, estes sociais, que sero selecionados evalorados positiva ou negativamente, em face de sua importnciae repercusso social. Em razo de tal constatao, sero criadasnormas, que regulamentaro de forma a estimular tais fatos, quandoestes forem valorados positivamente (educao, sade, trabalho,comrcio etc.) ou que regulamentaro de forma a coibir tais prti-cas, quando estas forem valoradas negativamente (ilcitos penais,civis e administrativos).

    Ento, se na vida gregria que o homem potencializa todasua capacidade existencial (ou seja, esta ambiente prprio aodesenvolvimento do ser humano, solo frtil reproduo eficaz desua existncia), igualmente esta campo propcio ao surgimentode conflitos, e somente nesta que se faz presente a necessidadedas normas, regulamentando e viabilizando a sociabilidadeinsocivel do homem (Kant).

    Da destaca-se que, desde as remotas formaes grupais, es-tabelecer normas (padro comportamental imposto), seja de cu-nho religioso, moral, de regra de trato social e de direito, semprefoi uma necessidade constante na existncia social.

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    Breves apontamentos sobre a histria doDireito Empresarial e suas teorias

    Uma das prticas mais antigas dentre as atividades humanas, ocomrcio sempre esteve presente nas sociedades, desde as mais rudi-mentares at as mais complexas. Basta retomar os ensinamentos deHistria, adquiridos no ensino fundamental, para lembrar-se de prti-cas como: escambo*, feiras livres, expedies ao Oriente, navega-es e tantas outras, que definitivamente elevam o comrcio a impor-tante prtica social e econmica.

    Neste contexto, fcil verificar a existncia de normas relativass prticas comerciais, criadas pelas primeiras civilizaes, em queganham destaque: o Cdigo de Hammurabi, o Cdigo de Man, oAlcoro, a Bblia, a Lei das Doze Tboas, dentre outros. De todas ascivilizaes, chama ateno a evoluo e o desenvolvimento atingidopelo comrcio entre os Fencios, que elevaram tal atividade como amais importante de sua sociedade.

    Resta claro, ento, que em qualquer sociedade, em menor oumaior grau, mas sempre presente, o comrcio apresenta-se como umaimportante atividade que merece e precisa ser normatizada, de forma aregulamentar suas prticas, estimulando sua existncia e inibindo con-dutas que possam desestrutur-lo.

    Na Antiguidade, conforme supracitado, j existiam normas queregulamentavam as atividades comerciais. Neste perodo, todavia, nose deve falar ainda da existncia de um Direito Comercial autnomo,com princpios, regras e institutos prprios e sistematizados, mas tosomente na existncia de leis esparsas*, ao lado de tantas outras, quede forma geral regulamentavam a vida em sociedade.

    Foi s na Idade Mdia, em especial a partir do sculo XI, com asCorporaes de Ofcio, que o Direito Comercial comea a surgir en-quanto sistema, apresentando princpios e normas prprios. Assim,ainda que de forma incipiente, dada descentralizao poltico-admi-nistrativa caracterstica da poca, mas j apresentando institutos siste-matizados (embora especficos de cada Corporao), inicia-se a for-mao do Direito Comercial enquanto cincia autnoma.

    GLOSSRIO*Escambo Trocadireta de mercadori-as, sem interve-nincia da moeda.Fonte: Aurlio(2008).*Esparso (...), es-palhado, espargido.Solto, disperso.Fonte: Aurlio(2008).

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    Na lio de Paulo Srgio Restiffe:

    A origem do Direito Comercial encontra-se na Idade Mdia,mais especificamente nas cidades italianas que, no sculoXI, em decorrncia do hiato de autoridade centralizada, v-cuo este que as corporaes, em especial as dos mercadores,souberam ocupar e, ante a expanso e o desenvolvimento docrdito, mereciam respaldo jurdico (RESTIFFE, 2008, p. 13).

    J no fim da Idade Mdia, mais precisamente no perodo deno-minado baixa Idade Mdia, e incio da Idade Moderna, com a forma-o dos Estados Nacionais e o incio das Grandes Navegaes,incrementa-se ainda mais o Direito Comercial, s que agora no maisditado por uma Corporao, mas sim pelo poder central de um EstadoAbsolutista.

    Ainda na lio de Paulo Srgio Restiffe:

    A formao dos Estados monrquicos e soberanos, com a cen-tralizao da atividade legislativa e judicial sob seu imprio,acabou por retirar das corporaes de mercadores as disposi-es acerca das regras relativas ao comrcio. Houve, na ver-dade, j na Idade moderna, a nacionalizao do Direito Co-mercial.[...] Foi no incio da Idade Moderna que ocorreram as desco-bertas ultramarinas, decorrncia das grandes navegaes, que,por sua vez, foram impulsionadas pela expanso comercial.A nacionalizao do Direito Comercial, particularmente emFrana, ensejou a regulamentao da atividade comercial,em especial da Ordennance sur le commerce de terre (Cdi-go Savary), de 1673, e da Ordennance sur le commerce demer, de 1681 (RESTIFFE, 2008, p. 13).

    Com a Revoluo Francesa, 1789, profundas transformaesocorreram em todas as reas: social, poltica, jurdica, econmica etc.,rompendo-se com os sistemas at ento reinantes e criando-se novos,adequando-se, ento, vigente estrutura.

    A Revoluo Francesa de 1789 tornou imperativa a reformada legislao comercial, de modo a romper com a tradio,que via no Direito Comercial um direito de classe, a dos co-merciantes aspecto subjetivo, portanto , e passou a v-lo

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    com carter objetivo, isto , como o direito dos atos do co-mrcio, tanto que se definia comerciante a partir de atos docomrcio. Nesse cenrio foi editado o Cdigo Comercial fran-cs de 20/09/1807 (RESTIFFE, 2008, p. 13).

    Por quase um sculo os princpios e fundamentos adotados noCdigo Comercial francs influenciaram os demais Cdigos Comer-ciais que o sucederam (espanhol 1829, portugus 1833, holands 1838, dentre outros), at que em fins do sculo XIX, pressionadospor inevitveis transformaes sociais, em especial, novas prticas co-merciais (Revoluo Industrial), premente fora a elaborao de novasregras, que acompanhassem a revolucionria e dinmica atividade co-mercial. Neste vis destaca-se o Cdigo Comercial alemo (1897) e,mais especificamente, o Cdigo Civil italiano (1949) que, se contra-pondo doutrina francesa, de base objetiva, fulcrada* na teoria dosatos de comrcio), adotam concepes e fundamentos distintos ao de-senvolverem uma teoria subjetiva moderna (a alem fundada na pes-soa do comerciante em sua atividade comercial e a italiana na empresacomercial).

    Aps estes breves apontamentos histricos, constata-se que trs soas fases pelas quais perpassou o Direito Comercial, em sua evoluo:

    Num primeiro momento (sc. XI at XVIII), marcado pelasCorporaes de Ofcio ou Guildas, constata-se um direito pautado nocorporativismo classista, seja dos mercadores, dos artfices, dos arqui-tetos, dentre outros, que criavam suas regras (fundadas nos usos e cos-tumes) e se submetiam a elas, e baseavam-se num direito fechado eclassista, no qual os conflitos eram solucionados pelos cnsules, mem-bros eleitos dentre os pares, que julgam os litgios sem grandes forma-lidades. Tal perodo corresponde ao subjetivo-corporativista.

    Em outro momento, j na Idade Moderna, sob a influncia doIluminismo, em especial do liberalismo econmico, ps RevoluoFrancesa, temos o perodo objetivo, que tem no Cdigo Comercialfrancs de 1808, seu marco referencial. Durante esta fase, preconiza-da* pela burguesia, prepondera a liberdade de trabalho, livre concor-rncia e livre iniciativa, o Direito Comercial marcado pelo direitodos atos de comrcio, aplicvel a qualquer um que praticasse os atos

    GLOSSRIO*Fulcro Base, fun-damento, alicerce.Fonte: Aurlio(2008).*Preconizar (...)divulgar, propagar:preconizar ideiasnovas. Fonte: Aur-lio (2008).

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    previstos em lei, tanto no comrcio e na indstria como em outras ati-vidades econmicas, independentemente de classe (RAMOS, 2008,p. 38).

    Nessa segunda fase do direito comercial, podemos perceberuma importante mudana: a mercantilidade, antes definidapela qualidade do sujeito (o direito comercial era o direitoaplicvel aos membros das Corporaes de Ofcio), passa aser definida pelo objeto (os atos de comrcio) (RAMOS, 2008,p. 38).

    No final do sculo XIX (com o Cdigo Comercial alemo de1897) e, de forma mais marcante, em meados do sculo XX (com oCdigo Civil italiano de 1942), nasce a teoria subjetiva moderna teoria da empresa. Forjada a partir das incongruncias* do sistemaanterior, incapaz de estabelecer uma teoria coerente dos atos de co-mrcio, que paulatinamente fora cedendo espao a outros fundamen-tos, in casu: hbridos, a teoria objetiva revelou-se imprpria a definirseu objeto (atos de comrcio) e acompanhar a dinmica do mercado.A partir de tais constataes desenvolve-se a teoria da empresa na qualse pretende a transposio para o mundo jurdico de um fenmenoque scioeconmico: a empresa como centro fomentador do comr-cio, como sempre foi, mas com um colorido com o qual nunca foivista. (HENTZ, apud, RAMOS, 2008, p. 42).

    Neste diapaso:

    Para a teoria da empresa, o direito comercial no se limita aregular apenas as relaes jurdicas em que ocorra a prticade um determinado ato definido em lei como ato de comrcio(mercancia). A teoria da empresa faz com que o direito co-mercial no se ocupe apenas com alguns atos, mas com umaforma especfica de exercer uma atividade econmica: a for-ma empresarial (RAMOS, 2008, p. 43).

    Assim, a partir de tal concepo o foco de ateno do DireitoComercial desvia-se dos atos de comrcio para a empresa.

    GLOSSRIO*Incongruente In-conveniente, impr-prio, incompatvel.Fonte: Aurlio(2008) .

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    Evoluo histrica do Direito Empresarial brasileiro

    O Brasil, desde o seu descobrimento, fora marcado por ser umacolnia de explorao. Neste tempo vigorava o Pacto Colonial im-posto pela metrpole colnia, que estabelecia as regras mercantisento vigentes (1500 a 1808). Caracterizado por ciclos de explorao,como o do Pau Brasil, o do acar e o do ouro, tudo que era exploradoe/ou produzido e comercializado na colnia passava pela prvia auto-rizao e rigorosa fiscalizao da metrpole.

    No que tange explorao do Pau Brasil ou do ouro e produ-o do acar, que caracterizaram os ciclos supracitados, tal prticaera monoplio* da metrpole, somente sendo exercida com sua auto-rizao e sob sua fiscalizao. Assim, tudo que era extrado ou produ-zido tinha por destino a metrpole, que adquiria tais produtos a preose sob taxas por ela fixadas. Com relao ao comrcio de produtosmanufaturados, rigorosas tambm eram as regras impostas, desde aproibio da produo de tais produtos na colnia e/ou sua aquisiode outros pases, at a tributao exclusiva da metrpole.

    Trezentos anos se passaram sob a gide do Pacto Colonial, atque no incio do sculo XIX, com a expanso das conquistasnapolenicas na Europa e a vinda da famlia real para a colnia (1808),que fora elevada categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves,tal pacto sucumbiu nova realidade, principalmente aps o decretoreal de abertura dos portos s naes amigas que incrementou o co-mrcio na colnia, fazendo com que fosse criada a Real Junta deComercio, Agricultura, Fabrica e Navegao, a qual tinha, entre ou-tros objetivos, tornar vivel a ideia de criar um direito comercial brasi-leiro (RAMOS, 2008, p. 45).

    No demorou muito tempo at que, aps a Independncia, em1832, foi constituda uma comisso com a finalidade de elaborar umprojeto de Cdigo Comercial e em 1834, tal projeto foi apresentadoao Congresso, que o aprovou e o promulgou em 15/06/1850. Tratava-se da Lei n 556.

    No diferente do que ocorreu em outros cdigos editados nomesmo perodo (espanhol 1829, portugus 1833, holands 1838,dentre outros), o Cdigo Comercial brasileiro foi influenciado pela

    GLOSSRIO*Monoplio (...)direito ou privilgioexclusivo. Fonte:Aurlio (2008).

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    legislao francesa (1807), adotando a teoria objetiva, que tem nosatos de comrcio seu marco referencial.

    Todavia, conforme j referido, algum tempo depois, a supracitadateoria, fundada nos atos de comrcio (teoria objetiva), por ser por de-mais limitada e casustica, sucumbiu dinmica do comrcio, no acom-panhando sua evoluo e caractersticas cada vez mais complexas.

    Direito Francs e outros que seguiram aquele modelo jamaisconseguiram erigir uma teoria coerente dos atos de comrcio,a qual pouco a pouco veio sendo abrandada ou abandonadaem favor de outros fundamentos, havendo resultado posteri-ormente, como ser visto, em alguns ordenamentos jurdicos,a um retorno ao critrio subjetivo, referenciado pessoa doempresrio (RAMOS, 2008, p. 39).

    Ento, ainda com fundamento no mesmo autor:

    A noo de direito comercial fundada exclusiva ou prepon-derantemente na figura dos atos de comrcio, com o passardo tempo, mostrou-se uma noo totalmente ultrapassada, jque a efervescncia do mercado, sobretudo aps a Revolu-o Industrial, acarretou o surgimento de diversas outras ati-vidades econmicas relevantes, e muitas delas no estavamcomprometidas no conceito de atos de comercio ou de mer-cancia (RAMOS, 2008, p. 41).

    Diante da j abordada e reconhecida limitao da teoria objeti-va, adotada no Cdigo Comercial (1850), e das sucessivas crticas re-alizadas mesma, a doutrina e a jurisprudncia nacional, principal-mente aps a edio do Cdigo Civil italiano de 1942 (que adotara ateoria da empresa), foi, aos poucos se adaptando realidade irrefutveldas modernas concepes tericas.

    Em 2002, com a entrada em vigor do novo Cdigo Civil brasi-leiro, ocorre a total transio da teoria objetiva (francesa) para a teoriada empresa (italiana) revogando grande parte do Cdigo Comercialbrasileiro e unificando, ainda que no plano formal, o direito privadonacional (direito civil e comercial).

    Ao disciplinar o direito de empresa, o direito brasileiro seafasta, definitivamente, da ultrapassada teoria dos atos de

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    comrcio, e incorpora a teoria da empresa ao nossoordenamento jurdico, adotando o conceito deempresarialidade para delimitar o mbito de incidncia doregime jurdico comercial (RAMOS, 2008, p. 48).

    Pessoas ou Sujeitos de Direito

    Introduo

    A Religio, a Moral, as Regras de Trato Social e, em ltimainstncia, o Direito, enquanto instrumentos de controle e pacificaosocial que so, no tm existncia seno na sociedade, sendo o serhumano, em primeiro plano, seu destinatrio final.

    No campo estrito do Direito, cabe ressaltar que o ser humanono o nico ente a integrar a noo jurdica de pessoa, no estandoesta reduzida naquele, ou melhor, no se encerra a pessoa na concep-o de ser humano. Este, pelo contrrio, uma espcie daquela, que o gnero. Neste sentido, a pessoa, enquanto destinatria final das re-gras jurdicas, chama-se sujeito de direito, que pode ser tanto uma pes-soa fsica, individual ou natural (ser humano), quanto uma pessoa ju-rdica, moral ou coletiva (empresa) (REALE, 2003, p. 227).

    Em sua origem, a expresso pessoa remonta ao teatro romano,do latim, personae; na esclarecedora lio de Limongi Frana:

    Pessoa vem do latim persona-ae, que por sua vez tem a ori-gem no verbo personare (per + sonare), que quer dizer soarcom intensidade. Servia aquele vocbulo inicialmente paradesignar a mscara usada pelos atores teatrais, graas quallhes era assegurado o aumento do volume da voz. Por analo-gia, passou a palavra a ser utilizada no Direito para designaro ser humano, enquanto desempenha o seu papel no teatro davida jurdica (FRANA, 1994, p. 45).

    Momentos especficos, ditados pelo ordenamento jurdico, mar-cam a existncia incio e fim da pessoa, que sujeito de direitos,ou seja, ente capaz de adquirir direito e contrair obrigaes (artigo 1

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    ATENO: Confirano Cdigo Civil os

    artigos citados. Lei n10.406/2002 - Cdigo

    Civil - Acesso

    em: 28 ago. 2008.

    Cdigo Civil). Neste sentido, estritamente vinculado noo jurdicade pessoa est a ideia de personalidade, que representa a aptido ge-nrica de ser sujeito de direitos; e, a de capacidade, que consiste namedida jurdica das atribuies da personalidade, em especial, na es-trita aptido para adquirir direitos e exercer, por si ou por outrem, atosda vida civil. Assim, as noes que envolvem e permeiam as concep-es de pessoa, personalidade e capacidade, no se excluem, pelo con-trrio, se completam.

    Por fim, em breve classificao, podemos observar espcies dis-tintas de pessoas e diferentes formas e manifestaes de personalidadee capacidade: 1. Quanto s pessoas, conforme j visto, estas podemser: natural, fsica ou individual, ou seja, o homem; ou, jurdica,moral ou coletiva, ou seja, o agrupamento humano visando a fins einteresses comuns. 2. Quanto personalidade podem ser estas: jur-dica, que igual para todos os homens, todos tm na mesma medida;ou, natural, que ir variar de indivduo para indivduo, assim, tere-mos tantas personalidades naturais quantos foram os seres humanosexistentes (tal noo est diretamente ligada psicologia). 3. Quanto capacidade que pode ser natural ou jurdica e, esta ltima, de direi-to ou de fato. A capacidade natural est vinculada rea psquica,corresponde higidez (sade) mental do ser humano, j a capacidadejurdica, corresponde medida jurdica das atribuies da personali-dade jurdica. Esta pode variar em capacidade de direito, oriunda dapersonalidade, para adquirir direitos e contrair obrigaes na vida ci-vil; e, a capacidade de fato, que consiste na aptido de exercer por sios atos da vida civil (NUNES, 2003, p. 136 e 137).

    Pessoa Natural, Fsica ou Individual

    O artigo 1 do Cdigo Civil em vigor reza que: toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil, diferentemente do queocorria na legislao civil revogada de 1912, que dispunha em seuartigo 2 que: todo homem capaz de direitos e obrigaes. Nestesentido, andou bem o legislador ao utilizar a expresso pessoa, maisabrangente e adequada ao contexto jurdico do que a palavra homem,que no se coadunava com o verdadeiro significado e amplitude da

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    norma, pois conforme j visto a concepo jurdica de pessoa no sereduz ao ser humano, sendo aquela mais ampla.

    A pessoa natural corresponde criatura com vida que provenhade mulher, ou, numa possvel definio jurdica, ao ser humano, con-siderado como sujeito de direitos e obrigaes. A pessoa natural tempor termos inicial e final de sua existncia o nascimento com vida e amorte.

    Neste sentido, conforme disposto no Cdigo Civil em seu artigo2: a personalidade civil da pessoa comea do nascimento com vida;mas a lei pe a salvo, desde a concepo, os direitos do nascituro, datemos que somente com o nascimento com vida, termo inicial de suaexistncia, que o ser humano adquire personalidade, ou seja, torna-se apto a adquirir direitos e contrair obrigaes. Deve-se ressaltar, en-tretanto, que conforme mandamento legal, desde a concepo, a leiassegura os direitos, ou melhor, as expectativas de direitos do nascituro,que se confirmam se houver nascimento com vida, ou se desmentem,se desintegram, como se nunca tivessem existido, no caso contrrio(p. ex. natimorto).

    No mesmo diapaso, mas em sentido diametralmente oposto,conforme disposto no artigo 6 do Cdigo Civil, in verbis: A existn-cia da pessoa natural termina com a morte (...), temos, ento, portermo final da existncia da pessoa humana a morte, sendo que, seme-lhante ao que ocorre com o nascituro, a lei tambm assegura ao faleci-do proteo post mortem (p. ex. reparao honra via processo judi-cial cvel e criminal, artigo 138, 2 do Cdigo Penal, testamento etc.),isto por meio de terceiro legitimado (p. ex. cnjuge, descendentes,ascendentes e irmo).

    Conforme disposto na lei civil, com o nascimento com vida apessoa natural adquire personalidade que se encerra com a morte.Liga-se, assim, pessoa a ideia de personalidade. Pessoa, ento, adimenso atributiva do ser humano, ou seja, a qualificao do indiv-duo como ser social enquanto se afirma e se correlaciona no seio daconvivncia atravs de laos tico-jurdicos (REALE, 2004, p. 231).J a personalidade exprime a aptido genrica para adquirir direitos econtrair obrigaes (DINIZ, 2005, p. 510).

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    Os direitos da personalidade so absolutos, intransmissveis, in-disponveis, irrenunciveis, ilimitados, imprescritveis, impenhorveise inexpropriveis. Tais direito abrangem a intimidade, a vida privada,a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito indenizaopor dano material ou moral (artigo 5, X, da Constituio Federal de1988 e artigo 12 do Cdigo Civil), abrangendo tambm o nome e opseudnimo (artigo 18 e 19 da Legislao Civil).

    Da concepo jurdica de personalidade flui a noo de capa-cidade que corresponde ao poder de exercer os direitos inerentes pessoa. Assim, para ser pessoa basta que o homem exista, nasacom vida, quando ento adquire personalidade, j para ser capaz o serhumano precisa preencher os requisitos necessrios, previstos em lei,para agir por si ou por outrem, como sujeito ativo ou passivo dumarelao jurdica (DINIZ, 2005, p. 511).

    Do estudo da capacidade jurdica fluem duas modalidades, umachamada capacidade de fato e de exerccio, que aquela exercidapessoalmente pelo titular do direito ou do dever subjetivo; e, outra,que a capacidade de direito ou de gozo, nsita ao ente humano.Toda pessoa normalmente tem essa capacidade; nenhum ser pode serprivado do exerccio da capacidade de direito pelo ordenamento jur-dico. O Cdigo Civil expressa enfaticamente no art.1 que toda pes-soa capaz de direitos e deveres na ordem civil. A capacidade defato pressupe a de direito, mas esta pode subsistir independentemen-te daquela.

    Ainda sobre a capacidade, o ordenamento jurdico no se in-cumbiu de defini-la de forma estrita, limitando-se a enumerar os casosde capacidade e incapacidade absoluta e relativa.

    Neste sentido, em conformidade com a Lei civil temos que: noartigo 5 encontram-se relacionadas as pessoas capazes ao exercciode atos da vida civil, informando, no caput que a menoridade cessaaos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada prticade tais atos. No pargrafo nico do referido artigo so citadas exce-es ao exerccio de tais atos, antes de completada a maioridade, noqual encontra disposto que, cessar, para os menores, a incapacidade:I pela concesso dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    instrumento pblico, independentemente de homologao judicial, oupor sentena do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anoscompletos; II pelo casamento; III pelo exerccio de emprego pbli-co efetivo; IV pela colao de grau em curso de ensino superior; V pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existncia de relaode emprego, desde que, em funo deles, o menor com dezesseis anoscompletos tenha economia prpria.

    Em sentido contrrio, no artigo 3 encontram-se enumerados osabsolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vidacivil, os quais so: I os menores de dezesseis anos; II os que, porenfermidade ou deficincia mental, no tiverem o necessriodiscernimento para a prtica desses atos; e, III os que, mesmo porcausa transitria, no puderem exprimir sua vontade.

    Por fim, no artigo 4, enumerou a lei civil os relativamente in-capazes a certos atos ou maneira de os exercer, in casu: I os maio-res de dezesseis e menores de dezoito anos; II os brios habituais, osviciados em txicos, e os que, por deficincia mental, tenham odiscernimento reduzido; III os excepcionais, sem desenvolvimentomental completo; e, IV os prdigos. Deixou para lei especial a regula-mentao da capacidade do silvcola, conforme pargrafo nico.

    Pessoa Jurdica, Moral ou Coletiva

    Se no Cdigo Civil de 1916 o homem era o ser capaz de direitose obrigaes (artigo 2), tal impreciso tcnica (terminolgica) foicorrigida pelo ordenamento civil em vigor ao estatuir que toda pes-soa capaz de direitos e deveres na ordem civil (artigo 1 do CdigoCivil - 2002), pois, conforme j analisado, a noo jurdica de pessoano se restringe pessoa natural, abrangendo tambm a pessoa moralou jurdica.

    A pessoa jurdica a entidade constituda de homens (universitaspersonarum) ou bens (universitas bonorum), com existncia (vida),direitos, obrigaes e patrimnio prprios. O Cdigo Civil enumeraas pessoas jurdicas e regulamenta aquelas que lhes so afetas (artigo40 a 69).

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    Para Maria Helena Diniz:

    Sendo o ser humano eminentemente social, para que possaatingir seus fins e objetivos une-se a outros homens forman-do agrupamentos. Ante a necessidade de personalizar taisgrupos, para que participem da vida jurdica, com certa indi-vidualidade e em nome prprio, a norma de direito lhes con-fere personalidade e capacidade jurdica, tornando-os sujei-tos de direito e obrigaes.Surge assim a pessoa jurdica, que a unidade de pessoasnaturais ou de patrimnios que visa a consecuo de certosfins, reconhecidos pelo ordenamento normativo como sujei-to de direitos e obrigaes (DINIZ, 2004, p. 517).

    Assim, a pessoa moral forma-se: 1. ou a partir de uma corporao,in casu, um conjunto de pessoas que, apenas coletivamente, goza decertos direitos e os exerce por meio de uma vontade nica (associaoe sociedade); 2. ou, de um patrimnio personalizado destinado a umfim, reconhecido por lei (fundaes) (DINIZ, 2005, p. 518).

    Na ordem jurdica nacional temos as Pessoas Jurdicas de Direi-to Pblico e as de Direito Privado. As primeiras se dividem em Pesso-as Jurdicas de Direito Pblico Externo (pases soberanos, Santa Se organizaes internacionais: ONU, OEA etc.); e Pessoas Jurdicasde Direito Pblico Interno (representadas pela Administrao Pbli-ca direta: Unio, Distrito Federal, Estados, Municpios; e, pela Admi-nistrao Pblica indireta: autarquias, fundaes pblicas, Agnciasreguladoras e Agncias executivas). J as Pessoas Jurdicas de Di-reito Privado apresentam-se divididas em Fundaes particulares, As-sociaes, Organizaes religiosas, Sociedades civis ou simples, So-ciedades comerciais ou empresariais, Partidos Polticos (artigo 44 doCdigo Civil) e entidades estatais, representadas, estas, pelas empre-sas pblicas e sociedades de economia mista.

    Limongi Frana, em lapidar estudo sobre a natureza jurdica daspessoas morais, estabelece algumas caractersticas especificas: I Aspessoas jurdicas possuem uma existncia real (autonomia de persona-lidade e patrimonial); II A realidade das pessoas jurdicas se verificano apenas no plano moral e jurdico, mas ainda no plano fsico; III As pessoas jurdicas, entretanto, no possuem uma vontade prpria,

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    totalmente diversa da dos seus componentes; IV A vontade das pes-soas jurdicas a resultante das vontades dos indivduos que a com-pem; e, V A personalidade das pessoas jurdicas est na dependn-cia do direito positivo; ao reconhec-la o direito no a cria nem a con-cebe, seno apenas atende a imperativos do direito (FRANA, 1994,p. 66).

    Ainda sobre a natureza jurdica das pessoas coletivas, quatro te-orias se destacam: 1. Teoria da Fico legal, a qual entende que apessoa jurdica seria uma fico, uma mera criao artificial da lei,pois s o ser humano de fato sujeito de direito; 2. Teoria da Equipa-rao: quer entender que a pessoa moral um patrimnio equiparadono seu tratamento jurdico s pessoas fsicas; 3.Teoria da RealidadeObjetiva ou Orgnica, admite que h junto s pessoas naturais (orga-nismos fsicos) organismos sociais, constitudos pelas pessoas jurdi-cas, que tm existncia e vontade prpria distintas das de seus mem-bros, com finalidade de atingir um objetivo social; e, 4. Teoria da Re-alidade das Instituies Jurdicas: estabelece, a partir da conjugaodas teorias anteriores, com extrema propriedade, que a pessoa moral uma realidade jurdica (DINIZ, 2005, p. 518).

    Por derradeiro, cumpre ressaltar que, assim como as pessoasnaturais, as pessoas morais apresentam marco existencial (incio e fim),personalidade, capacidade e outras caractersticas que as tornam su-jeitos de direitos e obrigaes.

    As Pessoas Jurdicas de Direito Privado apresentam duas fasesno seu processo de criao, uma representada pelo ato constitutivo(escrito e preliminar) e outra pelo registro em cartrio. J as PessoasJurdicas de Direito Pblico, em regra, apresentam um determinadomomento histrico no seu processo de criao (p. ex. a Constituio).

    Igualmente ao que ocorre com a pessoa fsica, a capacidade dapessoa coletiva flui da personalidade que a ordem jurdica lhe reco-nhece por ocasio de seu registro (marco de seu nascimento).

    Neste sentido:

    Pode exercer todos os direitos subjetivos, no se limitando esfera patrimonial. Tem direito identificao; dotada deuma denominao e de uma nacionalidade. Logo, tem direito

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    personalidade (como o direito ao nome, liberdade, pr-pria existncia, boa reputao); direitos patrimoniais oureais (ser proprietria, usufruturia etc.); direitos industriais(CF, artigo 5, XXIX); direitos obrigacionais (contratar, com-prar, vender, alugar, etc.) e direitos sucesso, pois pode ad-quirir bens causa mortis (DINIS, 2004, p. 522).

    Em sentido contrrio, mas na mesma linha de raciocnio, temoso fim da pessoa moral que, em se tratando de Pessoa Jurdica de Direi-to Pblico, igualmente ao que ocorre no seu processo de formao,aqui tambm, sero fatores histricos que determinaro sua extino.J no que tange s Pessoas Jurdicas de Direito Privado, conformedescrito na lei, temos: 1. pelo decurso do seu prazo de durao ou pelaocorrncia de evento definido (quando expressamente previsto); 2. pordissoluo deliberada unanimemente por scios; 3. por determinaolegal; 4. por ato governamental; e, 5. por dissoluo judicial.

    Dos Fatos, dos Atos e dosNegcios Jurdicos

    Estabelecidas as noes jurdicas imprescindveis para a com-preenso da concepo legal das pessoas, torna-se necessrio, nestemomento, situar as condutas destas no mundo jurdico, em especial naTeoria Geral do Direito.

    Nesse sentido, no cabe, neste instante, conceituar as diversasmodalidades ou analisar os elementos e/ou os requisitos formadoresdos fatos jurdicos, mas to somente localiz-los na estrutura de classi-ficao dos fenmenos jurdicos.

    Assim, aps a identificao dos fatos jurdicos como ente jurdi-co, cumpre situ-los no organograma geral da ontologia jurdica.

    Ento, ocupando-se a Teoria Geral do Direito do estudo dos tra-os formais dos fenmenos jurdicos, estruturou-se um sistema de abs-trao e classificao, gerando, a partir da, uma hierarquia de princ-

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    pios e mandamentos jurdicos de notvel valor lgico e, principalmen-te, individualizador de tais fenmenos.

    Neste contexto, conforme j analisado, o Direito, ao recair sobreum fato social comum, transforma-o em um fato jurdico, fazendoeste sofrer, desde ento, a sua incidncia e regulamentao. Portanto,a primeira classificao fornecida pela Teoria Geral do Direito a dis-tino entre os fatos comuns, que no interessam ao Direito e os fatosjurdicos, que sofrem sua incidncia e produzem os efeitos que lhesso afetos e/ou correlatos.

    Fato jurdico , assim, todo fenmeno capaz de produzirconsequncias jurdicas, p. ex., fazendo nascer, transformar, alterar ouextinguir direitos subjetivos relaes jurdicas. Limongi Frana, emsua obra define: so os acontecimentos em virtudes dos quais as rela-es de direito nascem, bem como se modificam e se extinguem (1994,p. 124).

    Ento, em uma anlise detida do tema, constata-se que os fatosjurdicos dividem-se em duas grandes categorias, i. e., os naturais eas aes humanas. Aqueles tendo por origem os fenmenos da natu-reza (terremotos, enchentes, tempestades etc.), estas tendo por gnesisa conduta humana intencional ou no.

    As aes humanas se subdividem em aes humanas de efeitosjurdicos voluntrios, em que a atividade da pessoa se alia vontadede produzir as consequncias jurdicas oriundas do mandamento legal tambm chamadas atos jurdicos, que se apresentam em duas mo-dalidades: atos jurdicos em sentido estrito, estes delineados pelalei, na forma, nos termos e nos efeitos, com a mnima margem de deli-berao pelas partes; e o negcio jurdico, este caracterizado pela maiorliberdade de deliberao das partes, na fixao dos termos e das de-corrncias jurdicas, como nos contratos de locao, de compra e ven-da etc. Para sua validade a lei exige agentes capazes, objeto lcito epossvel e obedincia forma, esta ltima quando determinada por lei.

    Ainda em anlise aos fatos jurdicos, temos aqueles decorrentesde aes humanas de efeitos jurdicos involuntrios, em que o efeitojurdico produzido, independe da vontade do homem, ocorrendo porfora de lei; assim, o efeito jurdico no desejado pelo agente, mas

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    ocorre por imposio legal, independentemente do querer humano. Den-tre eles temos os ilcitos de natureza civil, administrativa e penal.

    Quanto ao ilcito penal, civil e administrativo no existe entre elesuma diferena substancial ou ontolgica. A diferena de natureza le-gal e extrnseca, residindo no grau de tutela dispensado ao bem da vidatutelado pelo ordenamento jurdico e na espcie de consequncia jurdi-ca, advinda a partir da violao do mandamento legal.

    Saiba mais...

    Quer conhecer um pouco mais sobre as temticas estuda-das? Pesquise as indicaes sugeridas abaixo!

    Confira a respeito da evoluo histrica do comrcio e suasprticas, nos stios: 1. ; 2. ; 3. ; 4. ; e, 5. Acesso em: 28 ago. 2008.

    Para um maior aprofundamento nas questes relativas s pesso-as do direito, personalidade e capacidade, visite o stio: Acesso em: 28 ago. 2008.

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    RESUMO

    Conforme voc viu nesta Unidade, atualmente, obser-va-se uma estabilidade em torno do conceito de Direito Em-presarial. Este, estritamente vinculado concepo de comr-cio, suas prticas e seus atores, no passado denominado Di-reito Comercial, foi criado e desenvolvido para fomentar, tor-nar estvel e regulamentar as prticas inerentes ao comrcio, eem razo disso existe.

    Foi visto tambm que a definio de Direito Empresari-al, preservados os preceitos necessrios noo bsica de Di-reito e acrescentando outros, inerentes e peculiares ativida-de comercial, empresarial ou mercantil, consiste: no conjun-to de normas que regem a atividade empresarial; porm, no propriamente um direito dos empresrios, mas sim um direitopara a disciplina da atividade econmica organizada para aproduo e circulao de bens ou de servios.

    Uma das prticas mais antigas dentre as atividades hu-manas, o comrcio sempre esteve presente nas sociedades, des-de as mais rudimentares at as mais complexas. Assim que,no decorrer da histria, constata-se que trs so as fases pelasquais passou o Direito Empresarial, em sua evoluo, a saber:Teoria Subjetivo-Corporativista; Teoria Objetiva e Teoria Sub-jetiva Moderna (Teoria da empresa).

    Ao longo do estudo foram tambm apresentados con-ceitos especficos e muito importantes para compreenso dasprximas Unidades, como a noo de pessoa, personalidade ecapacidade e os conceitos de fatos, atos e negcios jurdicos.

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    Atividades de Aprendizagem

    Aps estudar atentamente a evoluo histrica do Direito Empresa-rial discorra sobre as suas fases de transio, abordando suas pecu-liaridades.

    Diferencie personalidade de capacidade. Em seguida enfrente oquestionamento: possvel falarmos em capacidade jurdica inde-pendentemente de personalidade? Por qu? Justifique sua resposta.

    Fatos, atos e negcios jurdicos. D um exemplo para cada modali-dade.

  • UNIDADE

    3Direito de EmpresaDireito de Empresa

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    Objetivo

    Nesta Unidade voc ir estudar noes conceituais, tericas e legais

    necessrias para o conhecimento do Direito de Empresa. E ver como o

    Direito aborda questes relativas noo de empresrio, empresa,

    estabelecimento comercial, obrigaes profissionais dos empresrios,

    livros de empresa e a diversos outros temas relacionados a essa rea

    especializada do direito privado, enfim, tudo o que voc precisa saber

    para compreender a complexidade da Empresa.

  • Mdulo 7

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    Para se ter uma nooda importncia da

    empresa e do direitode empresa, no mundoatual, assista o vdeo-

    aula, do professorGladston Mamede:

    .Acesso em: 05 set.

    2008.

    Direito de Empresa

    Prezado aluno, estamos iniciando uma nova Unidade. Aqui,conforme voc pode constatar nos objetivos, iremos abor-dar noes conceituais, tericas e legais, imprescindveispara a compreenso da temtica: Direito de Empresa. Nes-ta Unidade, iremos abordar questes jurdicas relativas aoempresrio, empresa, ao estabelecimento empresarial, sobrigaes profissionais dos empresrios, aos livros deempresa e a diversos outros temas relacionados a esta reaespecializada do Direito Privado. Leia com muita ateno eno deixe de buscar auxlio para as suas possveis dvidas.

    Tenha ainda por certo que, embora j vencida a segundaUnidade, os conhecimentos obtidos at aqui no podem serdeixados de lado, pois so estritamente vinculados enorteadores dos temas que sero estudados a partir de agora.

    Neste sentido, as noes relativas s temticas j aborda-das, em especial o conceito de Direito Empresarial,o conceito de Direito Empresarial,o conceito de Direito Empresarial,o conceito de Direito Empresarial,o conceito de Direito Empresarial,sua evoluo histrica e de suas teorias informadorassua evoluo histrica e de suas teorias informadorassua evoluo histrica e de suas teorias informadorassua evoluo histrica e de suas teorias informadorassua evoluo histrica e de suas teorias informadorase as pessoas do direitoe as pessoas do direitoe as pessoas do direitoe as pessoas do direitoe as pessoas do direito, formaro a base de compreen-so sobre a qual se assentaro todas as noes, conceitos einstitutos que sero estudados nos itens que se seguiro.

    Introduo

    Vinculado originariamente noo de comrcio (que importa naideia de escambo, ou especificamente, em seu sentido econmico, queconsiste no emprego da atividade humana destinada a colocar em cir-culao a riqueza produzida, facilitando as trocas e aproximando oprodutor do consumidor), o Direito Comercial, atualmente denomina-do Empresarial, foi criado e desenvolvido a partir da necessidade de

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    Curso de Graduao em Administrao a Distncia

    regulamentar tais atividades. Consiste num sistema jurdico arquiteta-do para estruturar, preservar e fomentar a prtica comercial,modernamente ampliado para abranger tambm a prtica mercantil,bancria, agropastoril, enfim, a atividade empresarial.

    Atualmente, encontra-se o Direito Empresarial sob a gide daTeoria Subjetiva moderna (adotada pela primeira vez no Cdigo Civilitaliano 1949, seguida pelo Cdigo Civil brasileiro de 2002). Toda-via, este percorreu uma longa jornada, passando pela Teoria Subjeti-va corporativista (durante a Idade Mdia, direito corporativista, s-culos XI a XVIII) e pela Teoria objetiva dos atos de comrcio (C-digo de Napoleo, de 1808) (RESTIFFE, 2008, p. 14).

    Assim, muito tempo se passou at que o Direito Empresarial,que j fora denominado Direito Comercial, atingisse a estabilidade, aespecificidade e a autonomia que lhe so prprias.

    Da simples questo atinente nomenclatura, em especial Di-reito Comercial versus Direito Empresarial, percebe-se uma profun-da implicao de ordem prtica e jurdica, na qual, a partir da evolu-o das prticas comerciais e da necessidade do direito acompanh-las, constatou-se um profundo hiato, que fez com que o direito ampli-asse sua rea de