apostila de ce - revisada - 2o. semeste 2015

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    FATEC –  Sorocaba “José Crespo Gonzales” Análise e Desenvolvimento de Sistemas –  Noturno

    Logística - Vespertino

    Fabricação Mecânica –  Turma 1 e Turma 2 –  Noturno

    Coletânea de Textos de Comunicação e ExpressãoProf. Dr. Luiz Fernando Fonseca Silveira

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    Caros alunos

    Estão reunidos nesta coletânea todos os itens da ementa de COMUNICAÇÃO EEXPRESSÃO.

    Todo nosso trabalho terá como ponto de partida os conceitos aqui elencados, o que nãoobstará a oportunidade de nossa reflexão e extrapolação, visto que a Educação é umarealidade dinâmica e muitas vezes relativa no que diz respeito aos contextos que educandose educadores podem vivenciar.

    Espero que as aulas dialogadas com base nos conteúdos pré-estabelecidos sejam uminício para uma vida de pesquisa que todos abraçarão.

    Prof. Luiz Fernando

    Email: [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]

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    ÍNDICE

    ORALIDADE E ESCRITA .................................................................................................................................. 4 

    COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL ....................................................................................................................... 7 

    A QUALIDADE DA LEITURA .......................................................................................................................... 10 

    NOÇÕES DE TEXTO: UNIDADE DE SENTIDO ................................................................................................. 20 

    NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA ........................................................................ 25 

    QUANDO A CRASE MUDA O SENTIDO......................................................................................................... 30 

    O DESVIO DA CONCORDÂNCIA ................................................................................................................... 34 

    RELATÓRIO .................................................................................................................................................. 39 

    CURRÍCULO (CURRICULUM VITAE) .............................................................................................................. 41 

    OS DEZ MANDAMENTOS DO E-MAIL .......................................................................................................... 45 

    ARTIGO DE OPINIÃO ............................................................................................................................... 49 

    RESUMO ...................................................................................................................................................... 62 

    RESENHA ................................................................................................................................................... 65 

    COMUNICAÇÃO E CULTURA ........................................................................................................................ 79 

    O TEXTO NA ERA DIGITAL ........................................................................................................................... 84 

    MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA (MCM) E INDÚSTRIA CULTURAL (IC) ............................................... 88 

    COMUNICAÇÃO ORAL ................................................................................................................................. 92 

    A CARREIRA NAS ALTURAS.......................................................................................................................... 99 

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    ORALIDADE E ESCRITA

    AFINAL, QUE PORTUGÊS FALAMOS E ESCREVEMOS?

    Por vezes, assistimos, nos meios de comunicação, aos inúmeros debates entre especialistas sobre oestágio em que se encontra a língua padrão do país. Ouvimos, na verdade, uma busca desenfreada pelos possíveis responsáveis pelo uso “vulgar” do Português. Entre as causas está a má formação de

     professores, o preconceito com a universalização da escola, a falta de leitura... Sempre a conclusãoa que se chega que a Língua Portuguesa em terras brasileiras vai de mal a pior.Entretanto, há necessidade de um debate sério a respeito da questão, livre dos purismos tão comunsno século XX. É preciso lembrar que toda e qualquer língua natural (português, espanhol, inglês,francês, etc) é falada por homens e mulheres que, tendo-a como referência, expressam sua pluralidade. E, neste sentido, revelam as diversidades que se fazem presentes nas camadas sociais.Além disto, todo e qualquer cidadão, atualmente, convive com pessoas de diversos estratos e, pormeio deste intercâmbio, vão modificando o seu falar, quer por meio de uso diferenciado do léxico,quer pelo uso mais específico da sintaxe.Isto não significa dizer que cada um faz da língua o que bem entende. O que é preciso entender é quea língua varia e é, nesta variação, que revela sua riqueza. Entre os diversos fatores de variação há osgeográficos, sociais, profissionais e situacionais.

    Dizemos que as variações geográficas ocorrem em razão das diversas formas que a língua assumenas regiões de nosso país, em razão, por exemplo, do processo de colonização. È sempre bom lembrarque a migração existente no Brasil, favorece o intercâmbio entre os diversos falares, como porexemplo, no sudeste do Brasil. No que tange ao social, a camada mais escolarizada tende a usar um registro mais próximo ao padrão,embora isto não seja uma “lei”. Parafraseando Maurizzio Gnerre, a variante padrão nada mais é doque a expressão de um poder e as pessoas que não a utilizam são vítimas de preconceito ediscriminação. Não se pode negar que nos diversos estratos sociais é que surgem os movimentos derenovação, sem os quais estaríamos falando a língua do século XV.De igual modo o exercício de algumas requer o domínio de certas formas linguísticas maisespecíficas, criando determinados jargões nos campos da medicina, engenharia, educação, porexemplo.Talvez o que mais incomode os puristas seja o uso situacional da língua. Um mesmo indivíduo utiliza,no cotidiano, diferentes variantes do português. Desta forma, em casa, no lazer, na escola, no trabalhosomos o que o professor Evanildo Bechara afirma “poliglotas de nossa própria língua”. Ora, nestesentido, não há como negar que o “falar português” é, antes de tudo, mais do que uma questãonormativa, uma prática social que se adapta aos seus diversos usos.Uma outra questão que incomoda bastante a sociedade é o uso do internetês. Esta modalidade estásendo bastante estudada. Sem querer detalhar a situação, aquela modalidade é tão somentetranscrição da fala, já que se caracteriza por um código que não é o utilizado na escrita. É importanteque nós, usuários do Português, saibamos que a escrita tem uma outra dinâmica e que o registro nomundo virtual é apenas um dos tipos possíveis de registro. Em outras palavras, pode ser que um dosusos do português virtual possa vir a ser utilizado na escrita, mas isto demanda um longo processo

    histórico. Para um falante do século XVI, seria impensável o uso de “você”, em vez de “vossa mercê”.Isto nos remete a uma outra questão, a escrita. Esta é a cristalização de uma determinada variante. Aela está atrelado o conceito de correção e é esta variante a que chamamos padrão e pela qual a escrita

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    se norteia. Bom, lembrar que, assim como o falar, o escrever é também uma prática social queenvolve estratégias bem distintas.Ao falar temos um interlocutor presente no processo –  seja real ou virtual -, ao passo que, na escrita,nosso interlocutor se encontra, espacialmente, ausente. Em razão disto, a escrita faz rigorosasexigências à memória e ao raciocínio. Interessante registrar que as pessoas escrevem mal, não porquenão sabem a sua língua, mas porque não lêem. Sem a prática da leitura, não há como constituir umrepertório pessoal significativo, o que dificulta e muito o exercício da modalidade escrita.Por fim, é importante salientar que as duas modalidades –  fala e escrita –  são faces da mesma moeda,cada uma com suas especificidades e que não mantêm uma relação de simetria absoluta. Quer emuma, quer em outra, o importante é que os usuários saibam que, ao utilizá-las, revelam não só um pouco de si mesmos, mas o muito construído ao longo da história.

    COMPARANDO AS DUAS MODALIDADES

    As considerações feitas até agora nos levam a afirmar que:

    1.  língua escrita e língua oral são dois códigos diversos, cada qual com suas características, seusrecursos expressivos, seu campo de ação. A expressividade da língua oral se apresenta por meio daacentuação, da entonação, das pausas, da fluência, da mímica, dos gestos. Na escrita, o emprego dodiscurso direto e a pontuação se sobressaem como traços de expressividade. É importante notar quea pontuação tem, também, função lógica: evita erros de interpretação;2.  o sistema gramatical mantém-se o mesmo nas duas modalidades, embora cada uma atualizerecursos diferentes em função das exigências interacionais e comunicativas próprias;3. as condições da língua oral - a simultaneidade entre planejamento e produção do texto - deixammarcas na sintaxe: desvios, construções interrompidas, reorganização, intromissão de elementosextra-estruturais, alternância de vozes, presença intensa de marcadores conversacionais,exclamações, onomatopeias, omissão de termos, pouco rendimento de alguns tempos verbais;4. a língua escrita é mais específica no emprego do vocabulário. Em consequência, é mais precisa e

    menos alusiva do que a língua oral;5.  tanto na língua escrita quanto na língua oral, é preciso haver sintonia entre os participantes do processo para o sucesso da comunicação. A sintonia pressupõe adequação da linguagem usada peloemissor (vocabulário, nível de formalidade, etc.) à do receptor e domínio de áreas de conhecimentosemelhantes. Na língua oral, a falta de sintonia prejudica o diálogo, e, na língua escrita, provocatextos inadequados (por exemplo, em termos do vocabulário utilizado) e, até mesmo,incompreensíveis;6. é possível perceber as marcas da organização do texto falado, à medida que vai sendo construído,o que pode gerar fragmentação, do ponto de vista sintático. Já o texto escrito não se deixa mostrar noseu processo de organização: apresenta-se pronto, com suas frases acabadas, coesas e maiscomplexas, do ponto de vista sintático.A seguir são mostrados dois textos sobre o mesmo tema: o primeiro, escrito; o segundo, umareprodução da língua oral.

    TEXTO 1: 

    A exemplo dos homens do campo, eles também começam a trabalhar cedo.Mal o sol nasce e lá estão, cantando e se alternando na busca de barro e palhapara erguer o futuro lar. Quando alguém se aproxima, abandonam o serviçoe voam para longe. Por isso foram enormes os cuidados e a paciência dofotógrafo para poder acompanhar o dia-a-dia de um casal de joão-de-barrona construção de sua casa, numa velha jaqueira.(Revista Globo Rural, Agosto/93) 

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    TEXTO 2 (conversa entre duas pessoas na praça) 

    - Você já viu um joão-de-barro?- Eu já porque lá no norte tem bastante.

    - Como é o ninho? - De barro.- Você sabe como ele faz? - Faz na árvore, de manhã cedo. Ele vai na beira de um rio onde tem barrovermelho e mole.

    - E aí? - Aí ele começa a operação.- Que operação é essa?- De carregar o barro para cima da árvore porque ele só faz em árvore. Ele vailevando o barro pra lá, é os dois que faz.- Quem mais trabalha?- Parece que é o homem. Como a mulher é menor que o homem. Acho que é ohomem.- Eles deixam alguém acompanhar o trabalho?- De longe.- Como é a casa deles?- A casa deles é de dois andares. Eles faz a sala e a cozinha. Na sala eles bota osovinho e na frente guarda um monte de inseto, lagarta pra alimentar os bichinho.

    Entendeu? Aí quando eles nasce já tem um montão.

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    COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL1 

    Quando precisamos ou queremos falar com alguém, nossa primeira preocupação é com o que falare, sem dúvida, o conteúdo é um aspecto fundamental da comunicação. Nesta parte, veremos outrocomponente importante: a Comunicação Não verbal (CNV).O senso comum nos diz que o sucesso da comunicação depende da habilidade com que usamos as palavras  —   embora não determine se essa é uma habilidade que nasce conosco ou se adesenvolvemos ao longo de nossas experiências.Os estudos de alguns psicólogos têm demonstrado que, no convívio social, importa mais o quefazemos, ou deixamos de fazer, enquanto falamos do que o conteúdo de nossa mensagem.É comum ouvir frases como:"O problema não foi o que você disse, mas como disse". "Ela falou com tristeza"."Quando recebeu a notícia, ficou muito preocupado".As emoções são comunicadas sem palavras, antes de serem formuladas na linguagem oral.Ansiedade, decepção, alegria, tranquilidade, agressividade, equilíbrio, e tantas outras emoções sãoexpressas por intermédio de gestos, tom de voz, expressões faciais e dos olhos, postura, toque etc.E importante sempre considerar que não há regra, mas tendência, nesse aspecto. Afirmar,categoricamente, que uma pessoa sorrindo ou acenando positivamente com a cabeça indicaaprovação, pode ser um grande erro. Principalmente se não considerarmos os antecedentes desse atoou suas características pessoais. Diante disso, é fundamental desenvolver nosso feeling  paradistinguir as pessoas e as situações.Imagine que um candidato à entrevista, nos minutos antecedentes ao seu horário, sente e levantevárias vezes, cruze e descruze pernas e braços, caminhe em vários sentidos pela sala, suspire  —  o

    que ele estará expressando sobre seu estado emocional?

    Movimentos com a cabeça, expressão dos olhos e da face

    Observar a expressão dos olhos de nossos interlocutores pode ser muito útil nas relaçõesinterpessoais, pois ela revela reações ao que esta sendo falado  —  o que desperta mais interesse,desinteresse, desconfiança, aprovação, desaprovação etc.Para o senso comum, "olhar nos olhos" é sinal de integridade e força moral. Entretanto, é sabido quealgumas pessoas usam o domínio de olhar como técnica de persuasão para dizer as mentiras maisatrozes. Já quando se diz algo desagradável, ou se manifesta discordância, é comum evitar olhardiretamente para o interlocutor.Identificar a expressão dos olhos pode servir para orientar o fluxo de uma conversa entre pessoas

    com pouca convivência. A alternância de quem fala e de quem ouve pode ser determinada pelahabilidade de perceber quem tem o que dizer ou perguntar sobre o que está em pauta, evitandosilêncios embaraçosos.Um aceno com a cabeça pode indicar concordância ou discordância, encorajando, ou não, a continuara linha de raciocínio desenvolvida. Se acompanhado de um sorriso, pode ressaltar a aprovação oudenotar ironia.As mais diversas emoções humanas podem ser visualmente transmitidas por meio das contrações dosmúsculos da face. Torcer os lábios pode significar desprezo, abrir a boca e levantar as sobrancelhas, pode significar espanto. Franzir os lábios, projetando-os para frente e para os lados pode indicardúvida.

    Gestos

    1 Texto adaptado de in PIMENTA, Maria Alzira. Comunicação Empresarial . 6ª. Ed. São Paulo: Alínea, 2009

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    São formas e movimentos com as mãos que, frequentemente, acompanham o discurso para auxiliara expressão de quem fala e a compreensão de quem ouve. Servem para reforçar ou transmitir umaatitude, e também podem demonstrar os sentimentos a respeito de alguma questão.É necessário considerar também que, muitas vezes, os gestos são inconscientes. Enrolar ou mexer nocabelo, tocar, alisar o pescoço ou a face são gestos involuntários, que podem servir para extravasartensões acumuladas, gerando equilíbrio e bem-estar.Alguns gestos têm significados universais (o V da vitória, OK, a linguagem dos surdos-mudos etc.),outros são convencionados, variando seu significado para grupos ou culturas específicas.

    Toque

    O toque revela o grau de intimidade e o tipo de relação estabelecida entre duas pessoas. A maneira pela qual pais e filhos se abraçam e beijam é diferente daquela dos namorados. No trabalho, em razão da preponderância do caráter profissional nas relações, o toque é mais raro,em geral, circunscrito às mãos, braços e ombros, tem como objetivo chamar ou direcionar a atençãode nossos interlocutores. E possível observar dois tipos de toque ritualísticos: apertar as mãos e o

    controvertido "tapinha nas costas". O primeiro simboliza uma predisposição à proximidade e/ou ànegociação. O segundo, pode indicar cumplicidade.

    Postura

    É comum durante a infância e adolescência, as pessoas ouvirem de seus pais recomendações sobrecomo sentar e como andar (com "peito para fora e barriga para dentro"). Entretanto, mais importanteque julgar se a postura de alguém é correta ou não, a observação desta pode nos informar a respeitode suas características. Ombros muito encolhidos e caídos podem significar falta de motivação eenergia ou até baixa autoestima. O contrário disso: peito exageradamente estufado para fora, podedenotar exibicionismo ou, ainda, arrogância.Sentar-se, para uma entrevista ou reunião, sem uma postura adequada, "largado" na cadeira, pode ser

    entendido como desleixo, desinteresse, falta de concentração ou, ainda, cansaço (imagine o efeitodisso quando uma pessoa se propõe a começar em um novo emprego).

    Aparência

    A aparência de uma pessoa tende a revelar seus conhecimentos, hábitos, preocupações e valores.Quando alguém vive com as unhas sujas, provavelmente, se expondo a adquirir doenças, é possíveldeduzir que ele desconhece ou não se preocupa com esse fato.Sabemos que é impossível todos nascerem com os dotes físicos das "estrelas", que circulam na mídia.Felizmente, qualquer um pode constatar o efeito que cuidados simples têm sobre os dotes queherdamos: alimentação adequada e sono suficiente podem tornar-se hábitos saudáveis, juntamentecom outros —  há muitos livros bons sobre esse assunto.

    Para complementar o cuidado com o interior, é essencial que o exterior também esteja em harmonia:higiene, cabelos e unhas bem cortados, são fundamentais.O modo de vestir, outro componente da aparência, é um aspecto bastante controvertido, mas passívelde inferências. Guardadas as diferenças culturais (na Europa, tradicionalmente, usam-se roupasescuras e, nos trópicos, roupas coloridas), trajes extravagantes para mulheres e homens podemdenotar uma necessidade de chamar a atenção ou uma total despreocupação com a estética e o bomgosto.A vestimenta é tão importante que em instituições: hospitais, empresas, escolas, forças armadas etc.,o uso de uniformes tem a função de facilitar a identificação de quem os usa (médico. bombeiro.aluno, faxineiro, soldado, general etc.), seu status e os valores associados à função que desempenha.

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    Orientação e proximidade

    A orientação é a forma pela qual as pessoas se posicionam fisicamente entre si. Dependendo de comoo corpo é direcionado, pode revelar a disponibilidade ou interesse em interagir com o interlocutor.Colocar-se frente a frente demonstra uma abertura, porque facilita contato verbal, visual e até o toque.Já "dar as costas" para alguém revela a falta de empenho para estabelecer contato. Por princípio, égerada uma situação que dificulta a compreensão e a troca de mensagens.A proximidade é outro fator que permite avaliar se existe, ou não, relação entre um conjunto de pessoas e, ainda, que tipo de relação. Toda pessoa tem um território próprio, que só serácompartilhado por outros com sua concordância. Em um espaço público, é possível perceber aformação dos grupos, observando a proximidade de seus componentes e de como define um território próprio. Por outro lado, em espaços públicos mais restritos, como elevadores, ônibus, metrô etc.,existe uma proximidade física que não indica a existência de relacionamento. Para demonstrar oisolamento em relação às pessoas próximas, o silêncio é mantido, em geral, acompanhado do olhar

    fixo em algum ponto (porta, paisagem, livro etc.), o que coloca obstáculo a qualquer contato.  Paralinguagem

    A paralinguagem compreende:

    os sons ou expressões verbais que transmitem um significado (em geral, sentimentos), semconstituírem palavras: "ts, ts, ts" (muxoxo), "uau!", "Hummm!" etc.;a entonação ou acento atribuídos às palavras enquanto são faladas. Com eles é possível transmitircarinho, raiva, espanto e outros acontecimentos. Essas variáveis são tão determinantes que diferentesentonações empregadas em uma mesma frase podem traduzir respeito e admiração ou,contrariamente, ironia e sarcasmo.

    Outro aspecto importante, em relação à entonação, pode ser percebido ao se pensar em como é difícilmanter a concentração quando se ouve alguém falar sempre no mesmo tom. Assim, transmitiremoções, valorizar ideias e manter a atenção dos interlocutores depende, também, da habilidade emvariar o tom do discurso. 

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    A qualidade da leitura2 

    1. O que é leitura

    Como vimos, a escrita não pode ser considerada desvinculada da leitura. Nossa forma de ler e nossas

    experiências com textos de outros redatores influenciam de várias maneiras nossos procedimentosde escrita. Pela leitura vamos construindo uma intimidade muito grande com a língua escrita, vamosinternalizando as suas estruturas e as suas infinitas possibilidades estilísticas. Nosso convívio com a leitura de textos diversos consolida também a compreensão do funcionamentode cada gênero em cada situação. Além disso, a leitura é a forma primordial de enriquecimento damemória, do senso crítico e do conhecimento sobre os diversos assuntos acerca dos quais se podeescrever.

     A leitura é um processo complexo e abrangente de decodificação de signos e de compreensão eintelecção do mundo que faz rigorosas exigências ao cérebro, à memória e à emoção. Lida com acapacidade simbólica e com a habilidade de interação mediada pela palavra. É um trabalho queenvolve signos, frases, sentenças, argumentos, provas formais e informais, objetivos, intenções,

    ações e motivações. Envolve especificamente elementos da linguagem, mas também os daexperiência de vida dos indivíduos. 

    Os procedimentos de leitura podem variar de indivíduo para indivíduo e de objetivo para objetivo.Quando lemos apenas para nos divertir, o procedimento de leitura é bem espontâneo. Não precisamosfazer muito esforço para manter a atenção ou para gravar na memória algum item. Mas, em todas asformas de leitura, muito do nosso conhecimento prévio é exigido para que haja uma compreensãomais exata do texto. Trata-se de nosso conhecimento prévio sobre:

      a língua

      os gêneros e os tipos de texto

     

    o assunto

    Eles são muito importantes para a compreensão de um texto. É preciso compreendersimultaneamente o vocabulário e a organização das frases; identificar o tipo de texto e o gênero;ativar as informações antigas e novas sobre o assunto; perceber os implícitos, as ironias, as relaçõesestabelecidas com o nosso mundo real. Esse é o jogo que torna a leitura produtiva.Como exemplo, vamos analisar uma crônica de Luís Fernando Veríssimo.

    O PRESIDENTE TEM RAZÃO

     Mais uma vez os adversários pinçam, maliciosamente, uma frase do presidente para criticar. No

    caso, a sua observação de que é chato ser rico. Pois eu entendi a intenção do presidente. Ele estava falando para pobres e preocupado em prepará-los para o fato de que não vão ficar menos pobres e podem até ficar mais, no seu governo, e que isso não é tão ruim assim. E eu concordo com o presidente. Ser pobre é muito mais divertido do que ser rico. Pobre vive amontoado em favelas,quase em estado natural, numa alegre promiscuidade que rico só pode invejar. Muitas vezes o pobreconstrói sua própria casa, com papelão e caixotes. Quando é que um rico terá a mesma oportunidadede mexer assim com o barro da vida, exercer sua criATIVIDADE e morar num lugar que podechamar de realmente seu, da sua autoria, pelo menos até ser despejado? Que filho de rico verá umdia sua casa ser arrasada por um trator? Um maravilhoso trator de verdade, não de brinquedo, ali,no seu quintal! Todas as emoções que um filho de rico só tem em vídeo game o filho de pobre temao vivo, olhando pela janela, só precisando cuidar para não levar bala. Mais de um rico obrigado

    2 GARCEZ, Lucia H. do Carmo. Técnica de Redação: o que é preciso saber para bem escrever. 2004. SãoPaulo: Martins Fontes

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    a esperar dez minutos para ser atendido por um especialista, aqui ou no exterior, folheando uma National Geographic de 1950, deve ter suspirado e pensado que, se fosse pobre, aqui/o não estariaacontecendo com ele. Ele estaria numa fila de hospital público desde a madrugada, conversandoanimadamente com todos à sua volta, lutando para manter seu lugar, xingando o funcionário quevem avisar que as senhas acabaram e que é preciso voltar amanhã, e ainda podendo assistir a umavisita teatral do Ministro da Saúde ao hospital, o que é sempre divertido em vez de se chateandodaquela maneira. E pior. Com toda as suas privações, rico ainda sabe que vai viver muito mais doque pobre, ainda mais neste modelo, e que seu tédio não terá fim. Efe Agá tem razão, è um inferno. Correio Braziliense. Brasília, 2 dez. 1998.

    Para compreender adequadamente esse texto, levamos em consideração, além de outros, os seguintesconhecimentos prévios:quem é Veríssimo (um escritor de humor, cronista crítico que se opõe ao governo emquestão);como são, em geral, os outros textos de Luís Fernando Veríssimo (sempre de humor eironia);qual é a sua posição no jornalismo de sua época (é um dos mais conceituados e respeitados

    cronistas de costumes e de política; seus textos são publicados em espaços nobres dos principais jornais e revistas brasileiros);quem é o presidente a que ele se refere (o presidente da República no ano de publicação,1998);a que fala do presidente ele se refere (a comparação que estabeleceu entre a vida do pobre edo rico);qual é a situação social do Brasil em nossa época e como é realmente a vida nas classesmenos favorecidas.

    Entrelaçando essas informações e a forma como o texto foi escrito, vamos reconsiderar o título e asideias que se repetem pelo texto: o presidente tem razão; eu entendi o presidente; eu concordo com

    o presidente. Quando comparamos as descrições da forma de vida dos pobres e dos ricos e a afirmação de que ser

     pobre é muito mais divertido do que ser rico, penetramos no mundo da ironia, que no DicionárioAurélio Eletrônico é definida como:

    [Do grego: eiróneia, interrogação; pelo latim, ironia.] S.f. "   Modo de exprimir-se que consiste em dizer o contrário daquilo que se está pensando ou sentindo, ou por pudor em relação a si próprio ou com intenção depreciativa e sarcásticaem relação a outrem; Contraste fortuito que parece um escárnio; Sarcasmo, zombaria. 

     Nessa experiência, podemos constatar que a leitura não é um procedimento simples. Ao contrário, éuma ATIVIDADE extremamente complexa, pois não podemos considerar apenas o que está escrito. No texto analisado, por exemplo, para compreender as intenções e posições do autor, lemos muitomais o que não está escrito, pois suas ideias são contrárias ao que está escrito.Como a leitura faz inúmeras solicitações simultâneas ao cérebro, é necessário desenvolver,consolidar e automatizar habilidades muito sofisticadas para pertencer ao mundo dos que leem comnaturalidade e rapidez. Trata-se de um longo e acidentado percurso para a compreensão efetiva eresponsiva, que envolve:

      decodificação de signos;

     

    interpretação de itens lexicais e gramaticais;

      agrupamento de palavras em blocos conceituais;

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      identificação de palavras-chave;

      seleção e hierarquização de ideias;

      associação com informações anteriores;

      antecipação de informações;

      elaboração de hipóteses;

      construção de inferências;

      compreensão de pressupostos;

      controle de velocidade;

      focalização da atenção;

      avaliação do processo realizado;

      reorientação dos próprios procedimentos mentais.

    Vamos analisar algumas dessas habilidades. 

    2. Recursos para uma leitura mais produtiva

    Um leitor ativo considera os recursos técnicos e cognitivos que podem ser desenvolvidos para umaleitura produtiva. A leitura não se esgota no momento em que se lê. Expande-se por todo o processode compreensão que antecede o texto, explora-lhe as possibilidades e prolonga-lhe o funcionamentoalém do contato com o texto propriamente dito, produzindo efeitos na vida e no convívio com asoutras pessoas.Há procedimentos específicos de seleção e hierarquização da informação como:observar títulos e subtítulos;analisar ilustrações;reconhecer elementos paratextuais importantes (parágrafos, negritos, sublinhados,

    deslocamentos, enumerações, quadros, legendas etc.);reconhecer e sublinhar palavras-chave;identificar e sublinhar ou marcar na margem fragmentos significativos;relacionar e integrar, sempre que possível, esses fragmentos a outros;decidir se deve consultar o glossário ou o dicionário ou adiar temporariamente a dúvida paraesclarecimento no contexto;tomar notas sintéticas de acordo com os objetivos.

    Há também procedimentos de eletrificação e simplificação das ideias do texto como:

    construir paráfrases mentais ou orais de fragmentos complexos;

    substituir itens lexicais complexos por sinônimos familiares;reconhecer relações lexicais/ morfológicas/ sintáticas.

    Utilizamos ainda procedimentos de detecção de coerência textual, tais como:

    identificar o gênero ou a macroestrutura do texto;ativar e usar conhecimentos prévios sobre o tema;usar conhecimentos prévios extratextuais, pragmáticos e da estrutura do gênero.

    Um leitor maduro usa também, frequentemente,  procedimentos de controle e monitoramento dacognição:

     planejar objetivos pessoais significativos para a leitura;

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    controlar a atenção voluntária sobre o objetivo;controlar a consciência constante sobre a ATIVIDADE mental;controlar o trajeto, o ritmo e a velocidade de leitura de acordo com os objetivosestabelecidos;detectar erros no processo de decodificação e interpretação;

    segmentar as unidades de significado;associar as unidades menores de significado a unidades maiores;autoavaliar continuamente o desempenho da ATIVIDADE;aceitar e tolerar temporariamente uma compreensão desfocada até que a própria leituradesfaça a sensação de desconforto.

    Alguns desses procedimentos são utilizados pelo leitor na primeira leitura, outros na releitura. Háainda aqueles que são concomitantes a outros, constituindo uma ATIVIDADE cognitiva complexaque não obedece a uma sequencia rígida de passos. É guiada tanto pela construção do próprio textocomo pelos interesses, objetivos e intenções do leitor.Como são interiorizados e automatizados pelo uso consciente e frequente, e são apenas meios e não

    fins em si mesmos, nem sempre esses procedimentos estão muito claros ou conscientes para quemos utiliza na leitura cotidiana. Vamos aprofundar nosso conhecimento acerca de alguns desses procedimentos.

    3. Os tipos de leitura e seus objetivos

    O objetivo da leitura, como já foi explicado anteriormente, determina de que forma lemos um texto.Lemos:

     por prazer, em busca de diversão, de emoção estética ou de evasão; para obter informações gerais, esclarecimentos, em busca de atualização; para obter informações precisas e exatas, analisá-las e escrever um texto relativo ao tema; para estudar, desenvolver o intelecto, em busca de qualificação profissional; para seguir instruções; para comunicar um texto a um auditório; para revisar um texto etc.

    Se lemos um jornal, por exemplo, apenas para saber se há alguma novidade interessante,empreendemos uma leitura do geral para o particular (descendente): olhamos as manchetes, fixamosalguns parágrafos iniciais, passamos os olhos pela página, procurando um ponto de atração, e quandoo encontramos fazemos um outro tipo de leitura: do particular para o geral (ascendente). No primeiro tipo somos superficiais, velozes, elaboramos rápidas hipóteses que não testamos,fazemos algumas adivinhações. No segundo tipo de leitura somos mais detalhistas, queremos sabertudo, procuramos garantir a compreensão precisa, exata.

    Um leitor maduro distingue qual é o momento de fazer uma leitura superficial erápida {descendente)  daquele em que é necessária uma leitura detalhada,desacelerada {ascendente),  mesmo quando está trabalhando ou estudando. Pois, mesmo quandoestuda, há momentos em que você pode dispensar certos textos, ou partes de textos, que já sãoconhecidos.

    4. Procedimentos estratégicos de leitura 

    Um texto para estudo, em geral, exige do leitor uma grande concentração, uma atenção voluntária econtrolada. Esse tipo de leitura detalhada, minuciosa, que um estudante precisa desenvolver é o quevamos focalizar aqui. Há muitos recursos e procedimentos para uma leitura mais produtiva. Algunsvocê já usa naturalmente, outros pode incorporar ao seu acervo de habilidades.

    a) Estabelecer um ob jet ivo claro  

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    Sempre que temos um objetivo claro para a leitura vamos mais atentos para o texto. Já sabemos oque queremos e ficamos mais atentos às partes mais importantes em relação ao nosso objetivo.Estabelecer previamente um objetivo nos ajuda a escolher e a controlar o tipo de leitura necessário:ascendente ou descendente; detalhada, lenta, minuciosa, ou rápida e superficial.É importante construir previamente algumas perguntas que ajudam a controlar o objetivo e a atenção,como, por exemplo:Qual é a opinião do autor?Quais são as informações novas que o texto veicula?O que este autor pensa desse assunto? Em que discorda dos que já conheço? O que acrescentaà discussão?Qual é o conceito, a definição desse fenômeno?Como ocorreu esse fato? Onde? Quando? Quais são suas causas? Quais são suasconsequências? Quem estava envolvido? Quais são os dados quantitativos citados?O que é mais importante nesse texto? O que eu devo anotar para utilizar depois no meutrabalho'?

    Quando começamos uma leitura sem nenhuma pergunta prévia, temos mais dificuldade emidentificar aspectos importantes, distinguir partes do texto, hierarquizar as informações.

    b) identif ic ar e sublin har co m lápis as palavras-chave  

    As palavras que sustentam a maior carga de significado em um texto são chamadas de palavras-chave. Elas podem apresentar uma pequena variação de leitura para leitura, de leitor para leitor, poiscada um imprime sua visão ao que lê. O Dicionário Aurélio Eletrônico registra:

    Verbete: palavra-chave S.f.  Palavra que encerra o significado global de um contexto, ou que o explica e identifica: A

     palavra-chave deste romance é angústia.  Palavra que serve para identificar num catálogo de livros ou de artigos, numa listagem ouna memória de um computador, os elementos que têm entre si um certo parentesco ou que

     pertencem a um certo grupo. 

    Sem elas o texto perde totalmente o sentido. Por meio delas podemos reconstituir o sentido de umtexto, elaborar um esquema ou síntese. Normalmente são os substantivos, verbos e certos adjetivos. Não são palavras gramaticais: artigos, conectivos, pronomes, preposições ou advérbios. Nos dois parágrafos seguintes, vamos identificar as palavras-chave:

     Nenhuma  cri ança trabalha    porque quer. Mas porque é  obrigada.   Prova disso é que sóas pobres  entram precocemente no mercado de trabalho. No Brasil, três milhões de menores entre10 e 14 anos saem de casa todos os dias para garantir o próprio sustento  e, muitas vezes, o da

     família. Alguns nunca entraram mana escola. Outros tiveram que abandonar os livros   antes dotempo. Jogados nas ruas ou em insalubres, a maioria tem o destino  traçado. De uma ou outra forma,está condenada.  Não terá direito  ao futuro. 

     Entre a multidão de  trabalhadores mirins,  encontram-se cerca de cinquenta milem si tuação  desumana e degradante. São os catadores de lixo.  Eles disputam com cães, porcos,ratos e urubus o que os outros jogam fora. A partir dos três ou quatro anos, os menores acompanhamos pais aos aterros sanitários para catar a sobrevivência. O resultado de um dia  de labor sob sol ouchuva é parco. Rende de um a seis reais. Correio Braziliense. Brasília, 19jun. 1999. Editorial.

    A partir das palavras destacadas (você poderia sugerir outras) podemos compreender e reconstituir oassunto principal do texto. O reconhecimento das relações lexicais, morfológicas e sintáticasestabelecidas na configuração da superfície do texto é um pressuposto necessário para que leitor

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     possa tomar decisões. É importante aprender a selecionar e hierarquizar as ideias para identificar as palavras principais. Há muitos detalhes que são usados em um texto para esclarecer ou enriquecer ainformação já dada. Não fazem falta a não ser estilisticamente.Veja, por exemplo, a frase: Eles disputam com cães, porcos, ratos e urubus o que os outros jogam

     fora. O teor de informação nova agregado ao que já tinha sido dito é muito pequeno. E apenas umailustração explicativa contundente.Observe a continuação desse texto e exercite sua capacidade de selecionar palavras importantes,destacando-as:

     Na tentativa de pôr fim a esse quadro dramático, o Fundo das Nações Unidas para a Infância(Unicef), em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria do DesenvolvimentoUrbano, lançou a campanha Criança no Lixo Nunca Mais. A meta é erradicar o trabalho doscatadores mirins até 2002. Para chegar lá, 31 instituições governamentais e não governamentais

     fornecerão orientações a prefeituras de 5.507 municípios sobre elaboração de projetos e formas debuscar recursos para implementá-los. A meta é ambiciosa. Ninguém imagina que seja fácil atingi-la. O desenvolvimento de um programa com semelhante dimensão deve, necessariamente, envolvera União, os estados, os municípios, além de parcerias com a iniciativa privada e a população em

     geral. Acima de tudo, exige vontade política. O governo está convocado a estabelecer políticas eficazes para atrair às escolas as crianças agoralançadas no mais abjeto dos infortúnios - a disputa de alimentos com os abutres. Há caminhosabertos nesse sentido. Um deles é a garantia de renda mínima para as famílias em estado de pobrezaabsoluta, incapazes de alimentar os filhos e, ao mesmo tempo, mantê-los no colégio. Nenhum esforçode tirar o menor do labor diário dará resultado se não for assegurado o sustento do núcleo em queele vive. Outro caminho é a reciclagem educacional dos pais para que possam comparecer aomercado de trabalho em condições de disputar empregos dignos. 

     Não há tempo a perder. São 50 mil brasileiros que pedem socorro. Clamam por saúde e educação. A sociedade espera que a iniciativa do Unicef prospere. Espera, sobretudo, que o governo faça a sua parte. O amanhã se constrói a partir de hoje. E a perspectiva é de que nossos filhos e netosherdem um país melhor. A existência de uma multidão de meninos buscando a sobrevivência no lixo

    constitui mau presságio. Sugere que poderá não haver nenhum futuro. E indispensável e urgentemodificar, para melhor, o cenário. Correio Braziliense. Brasília, 19jun. 1999. Editorial.

    Observe como as palavras destacadas por você carregam o significado mais importante da mensageme permitem que as ideias principais sejam recuperadas. É preciso observar e compreender parahierarquizar e selecionar. Tudo depende de treino, experiência. Ou seja, uma boa leitura depende demuita leitura anterior.

    c) Tomar notas  

    Uma ajuda técnica imprescindível, principalmente para quem lê com o objetivo de estudar, é tomar

    notas. A partir das palavras-chave, o leitor pode ir destacando e anotando pequenas frases queresumem o pensamento principal dos períodos, dos parágrafos e do texto. Pode também marcar comlápis nas margens para identificar por meio de títulos pessoais as partes mais importantes, osobjetivos, as enumerações, as conclusões, as definições, os conceitos, os pequenos resumos que o próprio autor elabora no decorrer do texto e tudo o mais que estiver de acordo com o objetivo principal da leitura (algumas edições já trazem esse destaque na margem para facilitar a leitura).Essas notas podem gerar um esquema, um resumo ou uma paráfrase.

    d) Est ud ar o v oc abulário  

    Durante a leitura de um texto, temos que decidir a cada palavra nova que surge se é melhor consultaro dicionário, o glossário, ou se podemos adiar essa consulta, aceitando nossa interpretação temporária

    da palavra a partir do contexto. Observe o seguinte período do texto:

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    O governo está convocado a estabelecer políticas eficazes para atrair às escolas as crianças agoralançadas no mais abjeto dos infortúnios - a disputa de alimentos com os abutres. 

    A palavra abjeto pode gerar dúvidas no leitor, mas podemos perceber que ela não é essencial aotexto. Quando retirada, o período preserva significado. Talvez não seja tão necessário nesse casoconsultar o dicionário, já que o contexto esclarece que se trata de uma ideia negativa que intensifica(junto com o advérbio mais) a negATIVIDADE que está em infortúnios. Poderíamos tentar substituí-la por outras mais conhecidas: indigno, horrível, desprezível, e a frase continuaria apresentando ideialógica.Esses procedimentos de inferência e compreensão lexical são realizados com muita velocidade peloleitor. Quando a continuidade da leitura se torna prejudicada, o melhor mesmo é parar e ir aodicionário.

    e) Destacar div isões n o t exto p ara agrupá-las pos ter iormen te  

    É importante compreender essas divisões para estabelecer mentalmente um esquema do texto. Muitasvezes o autor não insere gráficos, esquemas, nem explicita por meio de enumerações as divisões quefaz das ideias. Preste bem atenção quando o texto apresenta estruturas assim:

     Em primeiro lugar... em seguida... em terceiro lugar...  Inicialmente... a seguir... finalmente...  Primeiramente... em prosseguimento... por último...  Por um lado... por outro lado...  Num primeiro momento... num segundo momento...  A primeira questão é... A segunda... A terceira... 

    Por meio da identificação dessas estruturas é possível reconstruir o raciocínio do autor e torna-semais fácil elaborar esquemas e resumos. No texto que estamos analisando há um exemplointeressante:

    O governo está convocado a estabelecer  políti cas eficazes   para atrair às escolas as crianças agoralançadas no mais abjeto dos infortúnios a disputa de alimentos com os abutres.  Hácaminhos  abertos nesse sentido. Um deles  é a garantia de renda mínima para as famílias em estadode pobreza absoluta, incapazes de alimentar os filhos e, ao mesmo tempo, mantê-los no colégio.

     Nenhum esforço de tirar o menor do labor diário dará resultado se não for assegurado o sustentodo núcleo em que ele vive. Outro caminho  é a reciclagem educacional dos pais para que possamcomparecer ao mercado de trabalho em condições de disputar empregos dignos.

    A identificação dessas estruturas textuais na leitura facilita a compreensão das ideias e cria umamatriz mental para organização e hierarquização das informações.

    (....)f) Iden tif ic ação da co erênc ia tex tu al

    Diante de cada novo texto temos de identificar as estruturas básicas para compreender seufuncionamento. Assim, identificamos imediatamente o que é um poema, o que é uma fábula, o queé um texto dissertativo.Como a escrita é para ser lida e compreendida à distância, sem interferência do autor no momentoda leitura, sua elaboração exige uma estrutura exata, precisa, clara, que assegure ao leitor umadecodificação correta e adequada. Para tanto o autor usa estruturas sintáticas complexas,estabelecendo minuciosamente as relações entre as ideias, já que não pode contar com o apoio docontexto, das expressões faciais, do conhecimento comum. Isso acontece principalmente nos textos

    de natureza informativa: dissertações, argumentações, reportagens e ensaios, os quais privilegiamosneste livro. Quanto menos compromisso o texto tem com a informação exata, mais espaço deixa para

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    os acréscimos e interpretações do leitor, como é o caso da publicidade, da poesia e dos textosliterários em geral, nos quais a polissemia (convívio de uma multiplicidade de significações sobreuma mesma base) predomina.Um texto bem escrito apresenta sempre uma certa dose de repetição, de redundância, para auxiliar oleitor a chegar às conclusões desejadas pelo autor. Quando o interesse for assegurar umacompreensão predeterminada, precisa, exata, naturalmente será produzido um texto mais denso, maisestruturado. Terá por base um planejamento lógico, em que as sequencias tenham uma articulaçãonecessária entre si mesmas. Esses textos não são fáceis e não são compreendidos à primeira leitura,superficial e rápida. É preciso um rígido controle da atenção, um objetivo claro para a leitura, umempenho constante para fazer os relacionamentos adequados tanto entre as ideias interiores ao próprio texto, como entre o texto e os conhecimentos prévios do leitor e suas experiências vividas.Isso significa que a leitura para apreensão de informações deve ser uma leitura pausada, desacelerada,que vai do particular para o geral e volta do geral para o particular constantemente. Uma decifraçãoque procura percorrer o mesmo raciocínio do autor do texto, refazendo o trajeto do seu pensamentooriginal, para apreender, discutir, concordar ou se opor a essas ideias.Durante a leitura é preciso conferir as interpretações, fazendo perguntas ao texto. Para isso fazemos perguntas elementares:

    Quem escreve? Autor. Que tipo de texto é? Gênero. A quem se destina? Público. Onde é veiculado? Suporte editorial. Qual o objetivo?  Intenções. Com que autoridade? Papel social do autor. O que eu já sei sobre o tema? Conhecimentos prévios do leitor. Quais são os outros textos que estão sendo citados? Intertextualidade. Quais são as ideias principais? Informações. Quais são as partes do texto que apresentam objetivos, conceitos, definições, conclusões?Quais são as relações entre essas partes? Estrutura textual. 

    Com que argumentos as ideias são defendidas? Provas. Onde e de que maneira a subjetividade está evidente? Posicionamento explicitado. Quais são as outras vozes que perpassam o texto? Distribuição da responsabilidade pelasideias. Quais são os testemunhos utilizados? Depoimentos. Quais são os exemplos citados? Fatos, dados. Como são tratadas as ideias contrárias? Rebatimento ou antecipação de oposições. 

    Além dessas, há muitas outras perguntas que o leitor vai propondo à medida que lê e de acordo comos seus objetivos. Esse diálogo, essa interação entre leitor e texto exige a ativação de conhecimentosque extrapolam a simples decodificação dos elementos constitutivos do texto. Essas informações

     pragmáticas vêm iluminar e esclarecer os significados e estabelecer a coerência textual do que é lido.Caso essas perguntas não sejam respondidas de maneira adequada, podemos incorrer em equivoco,interpretando mal os objetivos e consequentemente as informações e os significados.

    g) Per cepção da in tert ext ual id ade  

    Um texto traz em si marcas de outros textos, explícitas ou implícitas. A esse fenômeno chamamosintertextualidade. Essa ligação entre textos pode ir de uma simples citação explícita a uma leve

    alusão, ou até mesmo a uma paródia completa, em que a estrutura do texto inicial é utilizada como base para o novo texto. Essa associação é prevista pelo autor e deve ser feita pelo leitor de forma

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    espontânea, na proporção em que partilhe conhecimentos com o autor. Em textos mais complexos, aintensidade do esforço para compreender a intertextualidade pode variar e sempre depende deconhecimentos prévios comuns ao autor e ao leitor. Vamos analisar um exemplo bem simples deintertextualidade:

    CONTRAFÁBULA DA CIGARRA E DA FORMIGA  Adaptação Feita por Pedro Bandeira do texto do escritor português Antônio A. Batista 

     A formiga passava a vida naquela formigação, aumentando o rendimento da sua capita e dizendoque estava contribuindo para o crescimento do Produto Nacional Bruto. Na trabalheira doinvestimento, sempre consultando as cotações da Bolsa, vendendo na alta e comprando na baixa,

     sempre atenta, aos rateios e às subscrições. Fechava contratos em Londres já com um pé no Boeing para Frankfurt ou Genebra, para verificar os dividendos de suas contas numeradas.  Mas vivia também roendo-se por dentro ao ver a cigarra, com quem estudara no ginásio, metida em shows e boates, sempre acompanhada de clientes libidinosos do Mercado Comum.  E vivia a formiga a dizer por dentro: -Ah, ahl No inverno, você há de aparecer por aqui a mendigar o que não poupou no verão! E vai

    cair dura com a resposta que tenho preparada para você!  Ruminando sua terrível vingança, voltava a formiga a tesourar e entesourar investimentos e lucros,incutindo nos filhos hábitos de poupança, consultando advogados e tomando vasodilatadores. Um dia, quando voltava de um almoço no La Tambouille com os japoneses da informática, encontroua cigarra no shopping Iguatemi, cantarolando como de costume. 

     Lá vem ela dar a sua facada, pensou a formiga. "Ah, ah, chegou a minha vez!"   Mas a cigarra aproximou-se só querendo saber como estava ela e como estavam todos no formigueiro.  A formiga, remordida, preparando o terreno para sua vingança, comentou: - A senhora andou cantando na tevê todo este verão, não foi, dona Cigarra? - É claro! - disse a cigarra. - Tenho um programa semanal. - Agora no inverno é que vai ser mau - continuou a formiga com toda maldade na voz. - A senhora

    não depositou nada no banco, não é?  Não faz mal. Os meus discos não saem das paradas. E acabei de fechar um contrato com o Olympiade Paris por duzentos mil dólares... O quê?! -- exclamou a formiga. - A senhora vai ganhar duzentos mil dólares no inverno? - Não. Isso é só em Paris. Depois, tem a excursão a Nova York, depois Londres, depois Amsterdam... 

     Aí a formiga pensou no seu trabalho, nas suas azias, na sua vida terrivelmente cansativa e nas suasameaças de enfarte, enquanto aquela inútil da cigarra ganhava tanto cantando e se divertindo! E

     perguntou: - Quando a senhora embarca para Paris? - Na semana que vem... - E pode me fazer um favor? Quando chegar a Paris, procure lá um tal La Fontaine. E diga-lhe queeu quero que ele vá para o raio que o parta! 

    Trata-se de uma fábula, ou seja, uma historieta de ficção, de cunho popular e de caráter alegórico,destinada a ilustrar um preceito, uma sabedoria. O próprio título anuncia a intenção. O autor parte do pressuposto de que seus leitores conhecem a fábula da Cigarra e da Formiga do autor francês LaFontaine e que reconhecerão imediatamente a sua paródia. Utilizando uma situação similar à fábulaoriginal, atualiza suas circunstâncias e modifica seu final (intertextualidade implícita naestrutura).  Segundo sua posição crítica, hoje em dia, no mundo dominado pelos meios decomunicação e pelo hedonismo, os artistas podem chegar a ser milionários com mais rapidez efacilidade do que quem trabalha incansavelmente pensando exclusivamente no dinheiro, e amensagem original, contrária ao prazer, não estaria mais funcionando. E também um juízo a favorda arte em oposição à especulação financeira.A história em si é engraçada, mas a alusão à fábula original (na última fala da formiga) criaa intertextualidade explícita, já que remete à lição de moral tradicional e multiplica o humor do texto.

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    h) Moni to ram ent o e conc ent ração  

    Durante a leitura podemos exercer um relativo controle consciente sobre as nossas mentais,disciplinando-as e submetendo-as aos nossos interesses. Esse controle é essencial para que a leituraseja produtiva. Ele não é espontâneo e depende de treino e concentração. Por isso é necessário prestar bem atenção no que fazemos enquanto lemos para termos mais domínio sobre as nossas próprias

    habilidades de leitura.

    · Fidelidade ao planejamento: antes de começar a ler um texto sempre estabelecemos, conscienteou inconscientemente, uma espécie de roteiro: como vamos ler? para que vamos ler? Esse roteirodeve ser controlado e reavaliado durante a leitura. Algumas vezes pode merecer reorientação. Estoumesmo perseguindo meu objetivo? Já me distraí? Mudei o meu trajeto de leitura? Criei outro objetivono percurso?

    · Detecção de erros no processo de leitura: algumas vezes lemos muito rapidamente enquanto pensamos em outra coisa e, quando percebemos a distração, temos que voltar e reler aquele trecho.Esse é um exemplo de como controlamos naturalmente os nossos erros de leitura. Outras vezes,interpretamos mal uma passagem e no decorrer da leitura percebemos que as ideias estãocontraditórias. Voltamos, então, para conferir a decodificação das palavras e a interpretação. Essacapacidade de avaliar constantemente a própria leitura precisa ser desenvolvida.

    · Ajuste de velocidade: o leitor deve controlar a velocidade de leitura de acordo com as dificuldadesque o texto oferece e com os objetivos da leitura. Às vezes, podemos ler mais rapidamente: quandoo assunto é conhecido, quando o trecho é fácil ou quando a leitura tem por objetivo a simplesdistração. Outras vezes, temos que ler desaceleradamente: quando estudamos assuntosdesconhecidos, quando o texto é denso e complexo ou quando contém muitos implícitos. Paragarantir esse controle é necessário ter uma consciência contínua dos procedimentos que estão sendoutilizados, além de uma disposição para avaliar a qualidade da própria leitura.

    · Tolerância e paciência: muitas vezes, desistimos da leitura de um texto no primeiro parágrafo.Esse procedimento é precipitado. É preciso mergulhar profundamente no texto para dar-lhe umachance de ser bem sucedido. Na maioria das vezes, a leitura se torna, pouco a pouco, mais fácil e asdificuldades preliminares vão se resolvendo. Esse desconforto no início de um texto é muito comum, pois é natural que o começo da compreensão seja ainda uma ideia desfocada. A primeira leitura, comfrequência, não é satisfatória e é preciso empreender uma segunda, já com alguma informação sobreo texto e com mais atenção e concentração.

    5. Conhecendo melhor o processo de leitura

    Como vimos, a escrita depende de nosso conhecimento do assunto, da língua e dos modelos de texto; para isso, a leitura é fundamental. É um processo complexo que exige do leitor uma série de

    habilidades cognitivas muito sofisticadas. Uma única leitura nem sempre é suficiente; geralmente énecessário voltar ao texto algumas vezes, conforme nossos objetivos. E são os objetivos que vãodirecionar o tipo de leitura que vai ser realizado. Em qualquer situação de leitura utilizamos procedimentos que nos auxiliam a compreender e interpretar o texto. É importante desenvolveradequadamente essas estratégias de apoio técnico, de simplificação e de monitoração das mentaisde forma que possamos otimizar nosso esforço, ou seja, conseguir o melhor resultado da maneiramais prática e simples. Habilidades que agilizem os procedimentos contribuem para que não hajadesperdício de energia e de tempo, e também para que a leitura se transforme, a cada dia, em umexercício mais prazeroso. Pela leitura interiorizamos as estruturas da língua, os gêneros, os tipos detexto, os recursos estilísticos com mais eficácia que pelas aulas e exercícios gramaticais. Assim,naturalmente, a leitura ajuda a escrever melhor.

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    NOÇÕES DE TEXTO: UNIDADE DE SENTIDO

    O texto, considerado como um todo organizado de sentido, é a unidade básica com quedevemos trabalhar, porque é no texto que o usuário da língua exercita a sua capacidade deorganizar e transmitir ideias, informações, opiniões em situações de interação comunicativa.

    Conceitos de Texto

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    A - Segundo Koch e Travaglia

    O texto será entendido como uma unidade linguística concreta, que é tomada pelos usuários dalíngua, em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como

     preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da suaextensão. (Koch e Travaglia, 1989).

    B - Segundo M. H. Duarte Marques

    Do ponto de vista linguístico, que nos interessa nessa unidade, adotamos, como ponto de partida, asconsiderações de Marques (1990). Na sua abordagem, textos são conjuntos de unidades discursivasestruturadas, não apenas de acordo com padrões sintático-gramaticais, mas também inter-relacionadas segundo princípios lógico-semânticos, de que a gramática não dá conta.

    “As unidades discursivas inter -relacionadas de acordo com os princípios lógico-semânticosconstituem textos”. Textos caracterizam-se, assim, pela coerência conceitual, pela coesão

     sequencial de seus constituintes no plano do significado, pela adequação às circunstâncias econdições de uso da língua.O conceito que normalmente temos de texto é empírico. Diante de uma série de enunciados nãointer-relacionados dentro desses princípios lógico-semânticos, numa dada situação de uso dalíngua, sabemos que não estamos diante de um texto. Para que identifiquemos como texto uma sériede enunciados encadeados, é preciso que a sequencia de enunciados forme um todo significativo,constitua uma unidade de sentido, nas circunstâncias de uso em que ocorrem.Um texto pode ser, portanto, escrito ou falado, apresentar extensão ou duração variáveis,concretizar-se em qualquer registro, ou modalidade de uso, da língua.Um texto pode ser uma passagem escrita, em verso, ou em prosa, um provérbio, uma legenda de

     fotografia, uma simples exclamação, a totalidade de um livro, um artigo de periódico, uma crônica,um verbete de dicionário, uma reportagem, um anúncio. Um texto pode ser uma sequencia de atos

    de fala, um diálogo, uma conversa telefônica, uma conferência, uma aula, um simples grito, longasdiscussões acerca de um tema, comentários, informes, notícias veiculadas oralmente."

    C - Segundo Fiorin e Savioli

    Embora as definições de texto sejam muitas, repetimos aqui as palavras de Fiorin e Savioli (1996), por considerar que se trata de uma definição bastante abrangente:

    "Um todo organizado de sentido, delimitado por dois brancos e produzido por um sujeito num dadoespaço e num dado tempo."

    O texto como processo 3  

    A Linguística Textual parte do pressuposto de que todo fazer (ação) é necessariamente acompanhadode processos de ordem cognitivo, de modo que o agente dispõe de modelos e tipos de operaçõesmentais. No caso do texto, consideram-se os processos mentais de que resulta o texto, numa

    3 Texto extraído do artigo “A Linguística Textual e seus mais recentes avanços” de Paulo de TarsoGalembeck  (UEL), disponível em http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/06.htm, acesso em

    10/02/2010

    http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/06.htmhttp://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/06.htm

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    abordagem procedimental. De acordo com KOCH (2004) , nessa abordagem “os parceiros dacomunicação possuem saberes acumulados quanto aos diversos tipos de da vida social, têmconhecimentos na memória que necessitam ser ativados para que a ATIVIDADE seja coroada desucesso”. Essas geram expectativas, de que resulta um projeto nas de compreensão e produção dotexto.A partir da noção de que o texto constitui um processo, HEINEMANN e VIEHWEGER (1991)definem quatro grandes sistemas de conhecimento, responsáveis pelo processamento textual:Conhecimento linguístico: corresponde ao conhecimento do léxico e da gramática, responsável pelaescolha dos termos e a organização do material linguístico na superfície textual, inclusive doselementos coesivos.Conhecimento enciclopédico ou de mundo: compreende as informações armazenadas na memóriade cada indivíduo. O conhecimento do mundo compreende o conhecimento declarativo, manifestado por enunciações acerca dos fatos do mundo (“O Paraná divide-se em trezentos e noventa e novemunicípios”; “Santos é o maior porto da América Latina”) e o conhecimento episódico e intuitivo,adquirido através da experiência (“Não dá para encostar o dedo no ferro em brasa.”). Ambas asformas de conhecimento são estruturadas em modelos cognitivos. Isso significa que os conceitos sãoorganizados em blocos e formam uma rede de relações, de modo que um dado conceito sempre evoca

    uma série de entidades. É o caso de futebol, ao qual se associam: clubes, jogadores, uniforme,chuteira, bola, apito, arbitro... Aliás, graças a essa estruturação, o conhecimento enciclopédicotransforma-se em conhecimento procedimental, que fornece instruções para agir em situações particulares e agir em situações específicas.Conhecimento interacional: relaciona-se com a dimensão interpessoal da linguagem, ou seja, com arealização de certas ações por meio da linguagem. Divide-se em:conhecimento ilocucional: referentes aos meios diretos e indiretos utilizados para atingir um dadoobjetivo;conhecimento comunicacional: ligado ao anterior, relaciona-se com os meios adequados para atingiros objetivos desejados;conhecimento metacomunicativo: refere-se aos meios empregados para prevenir e evitar distúrbiosna comunicação (procedimentos de atenuação, paráfrases, parênteses de esclarecimento, entre

    outros).Conhecimento acerca de superestruturas ou modelos textuais globais: permite aos usuáriosreconhecer um texto como pertencente a determinado gênero. 

    Contexto e interação  

    O processamento do texto depende não só das características internas do texto, como doconhecimento dos usuários, pois é esse conhecimento que define as estratégias a serem utilizadas na produção/recepção do texto. Todo e qualquer processo de produção de textos caracteriza-se comoum processo ativo e contínuo do sentido, e liga-se a toda uma rede de unidades e elementossuplementares, ativados necessariamente em relação a um dado contexto sociocultural. Dessa forma,

     pode-se admitir que a construção do sentido só ocorre num dado contexto.Aliás, segundo SPERBER e WILSON (1986:109 e ss.) o contexto cria efeitos que permitem ainteração entre informações velhas e novas, de modo que entre ambas se cria uma implicação. Essaimplicação só é possível porque existe uma continuidade entre texto e contexto e, além do mais, acognição é um fenômeno situado, que acontece igualmente dentro da mente e fora dela.O sentido de um texto e a rede conceitual que a ele subjaz emergem em diversas nas quais osindivíduos se engajam. Essas são sempre situadas e as operações de construção do sentido resultamde várias ações praticadas pelos indivíduos, e não ocorrem apenas na cabeça deles. Essas açõessempre envolvem mais de um indivíduo, pois são ações conjuntas e coordenadas: o escritor / falantetem consciência de que se dirige a alguém, num contexto determinado, assim como o ouvinte/leitorsó pode compreender o texto se o inserir num dado contexto. A produção e a recepção de textos são, pois, situadas e o sentido flui do próprio contexto.

    Essa nova perspectiva deriva do caráter dialógico da linguagem: o ser humano só se constrói comoator e agente e só define sua identidade em face do outro. O ser humano só o é em face do outro e só

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    define como tal numa relação dinâmica com a alteridade (BAKHTIN, 1992). A compreensão damensagem é, desse modo, uma ATIVIDADE interativa e contextualizada, pois requer a mobilizaçãode um vasto conjunto de saberes e habilidades e a inserção desses saberes e habilidades no interiorde um evento comunicativo.O sentido de um texto é construído (ou reconstruído) na interação texto-sujeitos (ou texto-co-enunciadores) e não como algo prévio a essa interação. A coerência, por sua vez, deixa de ser vistacomo mera propriedade ou qualidade do texto, e passa a ser vista ao modo como o leitor/ouvinte, a partir dos elementos presentes na superfície textual, interage com o texto e o reconstrói como umaconfiguração veiculadora de sentidos.Cabe assinalar, em forma de conclusão, que essa nova visão acerca de texto, contexto e interaçãoresulta, inicialmente, de uma contribuição relevante, proporcionada pelos estudiosos das ciênciascognitivas: a ausência de barreiras entre exterioridade e interioridade, entre fenômenos mentais efenômenos físicos e sociais. De acordo com essa nova perspectiva, há uma continuidade entrecognição e cultura, pois esta é apreendida socialmente, mas armazenada individualmente.Ressalta-se, também, a evolução da noção de contexto. Para a análise transfrástica o contexto eraapenas o co-texto (segmentos textuais precedentes e subsequentes, a um dado enunciado). Já para aGramática de Texto contexto é a situação de enunciação, conceito que foi ampliado para abranger,

    na Linguística Textual, o entorno sociocultural e histórico comum aos membros de uma sociedade earmazenado individualmente em forma de modelos cognitivos. Atualmente, o contexto érepresentado pelo espaço comum que os sujeitos constroem na própria interação.

    Texto 1 - Circuito Fechado, de Ricardo Ramos

    "Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme paracabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, jornais, documentos, caneta, chaves, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa,cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo.Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas,espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo.Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboço deanúncios, fotos, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha,cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos.Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro,

    fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, telefone, papéis, folheto,xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó,

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    gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeira, pratos, talheres, copos, guardanapos.Xícaras. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapato, meias, calça, cueca, pijama, chinelos. Vaso,descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro."

    Texto 2

    PORQUE É DOMINGORubem Machado

    Levantou tarde com vagar e simulacro de sorriso examinou os dentes no espelho dobanheiro e tirando o carro para a frente da casa lavou-o tendo para isso vestido o short etomou um chuveiro e fez barba e pôs sapato sem meia camisa esporte fora das calças ebebeu caipirinha discutindo futebol no bar da esquina e comprou uma garrafa de vinho trêsguaranás e comeu demais no almoço e folheou o grosso jornal pensando é só desgraça nomundo e bocejou diversas vezes e cochilou e acabou indo deitar no quarto e acordou àsquatro horas com preguiça pensando vou visitar o Ari ele não vai estar mas vou assimmesmo e pegou as chaves do carro e disse à mulher vou dar uma volta e rodou no volkspor ruas discretas cheias de sol o rádio ligado no futebol e batucada na casa do Ari nãotinha ninguém pensou então vou até o Paulinho e foi mesmo e por sorte o Paulinho estavaem casa de chinelo casaco de pijama veio até o portão e ele não quis entrar e gozou coma cara do Paulinho o teu time não é de nada está empatando logo com o lanterninha egirava as chaves do carro no dedo e o Paulinho disse o jogo ainda não acabou e ele contoupro Paulinho que estava comendo a secretária e o Paulinho despeitado só deu um sorrisoamarelo e depois o Paulinho disse que descobriu que o Carlinhos rouba no jogo de buracoe que não joga mais com aquele cara e insistiu para que entrasse e ele agradeceu já iaandando e abanou de dentro do carro e voltou pra casa antes botou gasolina no posto edisse pra mulher que tinha ido nas casas do Ari e do Paulinho e ela perguntou se ele queriacafé e ele disse que não e perguntou a ela se já tinha começado o programa de televisãoe enquanto sentava na poltrona e via comeu um pedaço de pudim e a mulher quebrou um

    copo na cozinha e ele gritou o que quebrou aí dentro e deu um arroto e quando o programa já estava quase no fim a mulher disse que queria sair ele levantou e foi trocar de roupa efoi ao cinema com a mulher e o filme era com a Sophia Loren e era colorido e eles gostarame quando voltaram para casa viram ainda um pouco mais de televisão e começaram os doisa bocejar e ele escovou os dentes e fechou a casa e deu corda no despertador e foramdormir já um pouco tarde, porque é domingo.Rubem MACHADO. Jacarés ao sol too Paulo: Atica. 1976. Citado a partir de J. W. GerakR Portos

    de passagem. SSo Paulo:Martins Fontes, 1991. pp. 1B6-187.) 

    Texto 3

    João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos. Também os mísseis sãocaríssimos. Os mísseis são lançados no espaço. Segundo a Teoria da RelATIVIDADE, o espaço écurvo. A geometria rimaniana dá conta desse fenômeno.

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    NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

    TIPOS DE ESCRITA 

    Existem dois tipos de escrita:Escrita Fonográfica –  baseada no somEscrita Ideográfica –   baseada na idéia (ex. a escrita do chinês)

     No caso do Português, nossa escrita é basicamente fonográfica, do tipo Escrita Alfabética.Entretanto, sabemos que a língua muda, no tempo e no espaço, fazendo surgir as v a r i e d a d e sque incluem os falares regionais.Daí surge o dilema: qual variedade vai ser usada na escrita?

    Em Português, por ex., em certas regiões do Brasil o encontro do fonema consonantal /t/ com a vogal/i/ dá origem à pronúncia /tch/ (ex. /tchio/), ao lado da forma usual (ex. /tio/), assim como o fonema

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    /d/, seguido da mesma vogal, dá origem à pronúncia /dj/, como em /djia/ em oposição à forma /dia/.Fica a pergunta: como devemos escrever essas palavras?Para evitar oscilação e confusão com escritas que variam o tempo todo, surge a necessidade de se padronizar a escrita, ou seja, criar uma forma padrão, como que neutra, que é simplesmente resultadode um acordo, uma convenção social: surge assim a ORTOGRAFIA.A Ortografia é uma invenção relativamente recente na história da escrita. Nas línguas neolatinas, ocaso do português ilustra a mais recente: nossa ortografia tem apenas 100 anos!

    O QUE É ORTOGRAFIA?

    “Entende-se por ortografia um conjunto de normas convencionais pelas quais se representamna escrita os sons da fala. Para tal fim também se utilizam acentos gráficos e outros sinais diacríticosque permitem a boa pronúncia das palavras representadas na escrita”(BECHARA, 2008, p. 71) 

    ACORDO ORTOGRÁFICO 

    BREVE HISTÓRICO

    O SURGIMENTO DA ORTOGRAFIA

    Cagliari (1999, 2001): As gramáticas antigas do séc. XVI propunham modos diferentes dese escrever o Português da época. Em geral, os autores grafavam as palavras como achavam melhor,havia muita confusão! Exemplos: 

    Documentos do séc. XII- Onrras (honras),- oueru (houveram)- Devison (divisão)- Forum (foram)- Deru (deram)

    Autores do séc. XVI- Omilde (humilde)- Omées (homens)- Sima, Çima (cima)- Jente (gente)

    Autores do séc. XIX

    - mactar (matar)- septe (sete)- thio (tio)- hombro (ombro)

    É dessa época a presença de /th/, /ph/, /w/,/y/, /k/

     No período que vai do séc. XVI até o XX (1904) a falta de uma forma padrão de se escrever as palavras em português –  uma ortografia oficial –  levou os gramáticos a uma longa discussão sobrequal seria a forma adequada de se escrever. A situação ficou bastante complicada até que em 1904,A.R. Gonçalves Viana lançou em Portugal a “Ortografia nacional –  simplificação e uniformizaçãodas ortografias portuguesas”. Esta obra teve grande impacto no Brasil e em 1907 a Academia

    Brasileira de Letras tentou uniformizar a escrita aqui também. A partir disso, houve modificaçõesem: 1912, 1915, 1919, 1929, 1931, 1938, 1943, 1945, 1955 e em 1971.

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    NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

    O novo Acordo de Língua Portuguesa foi aprovado em 1990, em Lisboa, pela Academia das Ciênciasde Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a delegação de observadores da Galiza. 

    POR QUE FAZER UM NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO?

    “Porque o Português é língua oficial em oito Estados soberanos, mas tem duas ortografias, ambascorretas, a de Portugal e a do Brasil. Existem desvantagens na manutenção desta situação e a línguaserá internacionalmente tanto mais importante quanto maior for o seu peso unificado. Assim, aexistência de dupla grafia:

     No plano intracomunitário: limita a dinâmica do idioma e as diferenças criam obstáculos, maioresou menores, em todos os incontáveis planos em que a forma escrita é utilizada: seja a difusão cultural(literatura, cinema, teatro); a divulgação da informação (jornais, revistas, mesmo a TV ou a Internet);as relações comerciais (propostas negociais, textos de contratos) etc., onde o Português escrito é

    utilizado.

     No plano internacional: limita a capacidade de afirmação do idioma, provocando, por exemplo, traduções quer literárias quer técnicas diferentes para Portugal e Brasil.” (Carlos Alberto Faraco) 

    Diz respeito às alterações quanto ao uso dos chamados sinais diacríticos (trema, hífene acentos: agudo, grave e circunflexo).

    O QUE MUDA NA ORTOGRAFIA USADA NO BRASIL?

    I. O ALFABETO E OS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS E SEUS DERIVADOS 

    O ALFABETOAs letras k , w e y incorporam-se ao alfabeto da língua portuguesa, que passa de 23

    a 26 letras, cada uma delas com uma forma minúscula e outra maiúscula.

    II. ACENTUAÇÃO GRÁFICA

    PALAVRAS PAROXÍTONASCONCEITO: palavras paroxítonas são aquelas cuja sílaba tônica é a penúltima.

     NOVO ACORDO: manteve algumas regras de acentuação gráfica, enquanto outras foram alteradas.

    IMPORTANTE: mesmo com a perda do acento gráfico de algumas palavras, elas continuarãoa ser pronunciadas como antes.

    ACENTO AGUDO

     Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das sílabas tônicas das palavras paroxítonas,

    uma vez que existe oscilação em muitos casos entre pronúncia fechada e aberta:

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    (éi / ei): assembleia, ideia, boleia / baleia, cadeia, meia, cheia

    (ói / oi): jiboia, heroico, paranoico / dezoito, biscoito, comboio

    COMO ERA COMO FICAassembléia assembleiaalcatéia alcateiaandróide androideapóia (verbo apoiar) apoiaapóio (verbo apoiar) apoio bóia boiacelulóide celuloidecolméia colmeiaheróico heroicoidéia ideia

    ATENÇÃO: Essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser

    acentuadas as palavras oxítonas terminados em éi e ói seguidos ou não de -s.papéis fiéiscorrói heróis 

     Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando estas vogais estiverem precedidas de ditongo.

    COMO ERA COMO FICAfeiúra feiura

    bocaiúva bocaiuva

    ACENTO CIRCUNFLEXO

    Perde o acento gráfico a vogal tônica e fechada do hiato oo em palavras paroxítonas, seguidas ou nãode -s.

    COMO ERA  COMO FICA 

    abençôo abençoo

    dôo (verbo doar) dooenjôo enjoomagôo (verbo magoar) magooperdôo (verbo perdoar) perdoopovôo (verbo povoar) povoovôos vooszôo zoo

    Perdem o acento gráfico as formas verbais paroxítonas conjugadas na 3ª p. do pl. do presente doindicativo ou subjuntivo dos verbos crer, dar, ler e ver e seus derivados:

    COMO ERA  COMO FICA crêem creemdêem deem

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    lêem leemvêem veem 

    ACENTO DIFERENCIAL

    Perdem o acento gráfico as palavras paroxítonas que são homógrafas (mesma grafia, massignificados diferentes):

    COMO ERA  COMO FICA pára /para para (verbo e preposição)pêlo/pelo pelo (substantivo e per + lo)péla/pela pela (verbo pelar e per + lo)pêra/péra pera (substantivo e preposição antiga)pólo/polo  polo (substantivo e por + lo)

    EXCEÇÃO: pôr (verbo) / por (preposição)

    pôde (pret. perf. ind) / pode (presente ind.)OBSERVAÇÃO: Perde o acento gráfico também a forma para (do verbo parar ) quando entra numcomposto separado por hífen.

    para-brisa(s)para-choque(s)para-lama (s)

    TREMA

     Não se usa mais o trema em palavras portuguesas ou aportuguesadas nos grupos gue, gui, que,qui.

    COMO ERA COMO FICAagüentar aguentarcinqüenta cinquenta bilíngüe bilínguelingüiça linguiçatranqüilo tranquilo

    O trema será mantido em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: mülleriano de Müller.

    OBSERVAÇÃO:

    Com o fim do trema em palavras portuguesas ou aportuguesadas, não haverámodificação na pronúncia dessas palavras. O trema não será mais usado, mas as palavras queo possuíam continuarão a ser pronunciadas como antes. 

    O HÍFENEM PREFIXOS

    Regra básica Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-homem.

    Outros casos

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    1. Prefixo terminado em vogal:• Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.• Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, semicírculo.• Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracismo, antissocial, ultrassom.• Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-ondas. 

    2. Prefixo terminado em consoante:• Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-bibliotecário.• Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, supersônico.• Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.Casos específicos

    1. Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r sub-região, sub-raçaetc. Palavras iniciadas por h perdem essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.

    2. Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.

    3. Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-almirante. 

    4. O prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o:coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação.

    5. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, como girassol,madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista.

    6. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen: ex-aluno,sem-terra, além-mar, aquém-mar, recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.

    Quando a crase muda o sentidoLuiz Costa Pereira Jr –  Revista Língua –  no. 48

    O emprego da crase costuma desconcertar muita gente. A ponto de ter gerado um balaio de frasesinflamadas ou espirituosas de uma turma renomada. O poeta Ferreira Gullar, por exemplo, é autorda sentença "A crase não foi feita para humilhar ninguém", marco da tolerância gramatical ao acentográfico. O escritor Moacyr Scliar discorda, em uma deliciosa crônica "Tropeçando nos acentos", eafirma que a crase foi feita, sim, para humilhar as pessoas; e o humorista Millôr Fernandes, de formairônica e jocosa, é taxativo: "ela não existe no Brasil".

    O assunto é tão candente que, em 2005, o deputado João Herrmann Neto, que morreu em abril desteano aos 63 anos, propôs abolir esse acento do português do Brasil por meio do projeto de lei 5.154, pois o considerava "sinal obsoleto, que o povo já fez morrer". Bombardeado, na ocasião, porgramáticos e linguistas que o acusavam de querer abolir um fato sintático como quem revoga a lei

    da gravidade, Herrmann Neto logo desistiu do projeto.

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    O acento grave (`) no a tem duas aplicações distintas, explica Celso Pedro Luft (1921-1995) no hojeclássico Decifrando a Crase (Globo, 2005: 16):

    1) Sinalizar uma fusão (a crase): indica que o a vale por dois (à = a a): "Dilma Rousseff compareceuàs CPIs".2) Evitar ambiguidade: sinaliza a preposição a em expressões de circunstância com substantivofeminino singular, indicando que não se deve confundi-la com o artigo a. "Dilma Rousseff depôs àCPI". Sem a crase, a frase hipotética se revela ambígua: Dilma destituiu a comissão parlamentar deinquérito ou apenas deu depoimento à comissão? O sinal de crase tira a dúvida.

    Sinalizar a contração entre vogais idênticas (no caso, a preposição a e o artigo a) é um desafio que,mesmo quando parece complicado, pode ser intuído pelo usuário do idioma, em regras relativamentesimples de ser incorporadas.

    Ambiguidade

    A grande utilidade do acento de crase no a, entretanto, que faz com que seja descabida a proposta de

    sua extinção por decreto ou falta de uso, é a assinalada por Luft: crase é, antes de mais nada, umimperativo de clareza.

    Muitas frases em que a preposição indica uma circunstância (instrumento, meio etc.), em sequênciasdo tipo "preposição a + substantivo feminino singular", podem dificultar a interpretação por parte deum leitor ou ouvinte. Não raro, a ambiguidade se dissolve com a crase - em outras, só o contextoresolve o impasse.

    Exemplos de casos em que a crase retira a dúvida de sentido de uma frase, lembrados por Luft emDecifrando a Crase: Cheirar a gasolina (aspirar) x cheirar à gasolina (feder a).

    A moça correu as cortinas (percorrer) X A moça correu às cortinas. (seguiu em direção a).

    O homem pinta a máquina (usa pincel nela) X O homem pinta à máquina (usa uma máquina para pintar).Referia-se a outra mulher (conversava com ela) X Referia-se à outra mulher (falava dela).

    Contexto

    O contexto até se encarregaria, diz o autor, de esclarecer a mensagem em casos como: "vimos a

    cidade"; "viemos a cidade". "conserto a máquina"; "escrevo a máquina". Um usuário do idioma maisatento intui um acento necessário, garantido pelo contexto em que a mensagem se insere, se a finadatestemunha do exemplo a seguir destituiu a relatora da OAB ou prestou depoimento: Morta atestemunha que depôs a relatora da OAB.

    Mas, em geral, contextos elípticos ainda deixariam dúvidas em exemplos do tipo: "Fique a vontadeonde está" ou "A sombra das raparigas em flor".

    "Fique a vontade onde está" indica que uma entidade metafísica chamada "vontade" deve se mantersuspensa ou que o interlocutor da mensagem deve se sentir confortável?

    A falta de clareza, por vezes, ocorre na fala, não tanto na escrita. Exemplos de dúvida fonética,

    sugeridos por Francisco Platão Savioli, professor e coordenador de gramática e texto no AngloVestibulares: "A noite chegou." Na linguagem falada há ambiguidade; na escrita, com ou sem o

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    acento, não. Alguém chegou à noite, ao escurecer? Ou foi a noite que chegou no fim da tarde? Comosaber o sentido de uma frase como essa, sem o acento?

    - "Ela cheira a rosa." A afirmação será ambígua, se oral. Se escrita, terá sentidos diferentes, se houvero acento grave no a que precede "rosa" ou se ele for dispensado. "Ela cheira a rosa" significa que adama aspira o perfume da rosa. Já "ela cheira à rosa" indica que a princesa tem o perfume da flor. Naescrita, com a crase, nem é preciso explicar ou entender o contexto.

    - "Matar alguém à fome." Sem acento, alguém mata