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TEORIA DA LITERATURA-IESB 2 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO BRASIL IESB Av. Desembargador Moreira da Rocha, 452 Centro CEP. : 62010-140, Sobral -Ceará Telefone: (88) 3613.1002 e-mail: iesb.academico@gmail.com CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS PLANO DE DISCIPLINA DISCIPLINA Teoria da Literatura CURSO Letras CARGA HORÁRIA 60 H/A EMENTA Estudo do texto literário como entidade discursiva resultante de um encontro de linguagens. Pesquisas de questões relacionadas às conceituações de Literatura e de Teoria da Literatura. IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR A disciplina Teoria da Literatura visa introduzir o acadêmico nos Estudos Literários, a partir de um aporte teórico que resulte em uma compreensão mais aprofundada do texto de criação artística, compreendido em suas relações com o contexto e com o intertexto. A disciplina busca ainda prepará-lo para a compreensão dos gêneros literários, compreendidos como formas do discurso, além de, através da reflexão sobre as grandes linhas da evolução diacrônica da teorização literária, levá-lo a uma compreensão mais efetiva sobre as variadas formas de abordagem do texto de criação artística. A relevância da disciplina consiste contribuir na ampliação de horizontes acerca do fenômeno literário e, igualmente, na obtenção de um instrumental teórico, buscando fornecer, assim, uma maior consistência na elaboração de critérios de análise, interpretação textual, e processos de pesquisas a serem levados a efeito tanto nas disciplinas subsequentes do Curso quanto em sua futura prática pedagógica. OBJETIVO GERAL Construir uma visão compreensiva e crítica de aspectos teóricos, históricos e formais em que se baseia a literatura enquanto arte e pensamento, bem como a sua inserção histórica; discussão e problematização da legitimidade dos gêneros literárias. METODOLOGIA Aulas expositivas dialogadas, com Power Point; discussão de textos; exercícios individuais ou em grupos; análise de textos; pesquisa e apresentação de trabalhos acerca dos tópicos abordados em aula. CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO Em consonância com a metodologia definida a avaliação será voltada para o acompanhamento contínuo e dinâmico das aprendizagens realizadas pelos discentes em todo percurso da disciplina, numa perspectiva crítico reflexivo e relacional (prática-teoria-prática) considerando os critérios: Frequência, comprometimento com a disciplina, participação, interesse e

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TEORIA DA LITERATURA-IESB

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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO BRASIL – IESB Av. Desembargador Moreira da Rocha, 452 – Centro CEP. : 62010-140, Sobral -Ceará Telefone: (88) 3613.1002 – e-mail: [email protected]

CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS

PLANO DE DISCIPLINA

DISCIPLINA Teoria da Literatura CURSO Letras CARGA HORÁRIA 60 H/A EMENTA

Estudo do texto literário como entidade discursiva resultante de um encontro de linguagens. Pesquisas de questões relacionadas às conceituações de Literatura e de Teoria da Literatura.

IMPORTÂNCIA DA DISCIPLINA NA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR

A disciplina Teoria da Literatura visa introduzir o acadêmico nos Estudos Literários, a partir de um aporte teórico que resulte em uma compreensão mais aprofundada do texto de criação artística, compreendido em suas relações com o contexto e com o intertexto. A disciplina busca ainda prepará-lo para a compreensão dos gêneros literários, compreendidos como formas do discurso, além de, através da reflexão sobre as grandes linhas da evolução diacrônica da teorização literária, levá-lo a uma compreensão mais efetiva sobre as variadas formas de abordagem do texto de criação artística. A relevância da disciplina consiste contribuir na ampliação de horizontes acerca do fenômeno literário e, igualmente, na obtenção de um instrumental teórico, buscando fornecer, assim, uma maior consistência na elaboração de critérios de análise, interpretação textual, e processos de pesquisas a serem levados a efeito tanto nas disciplinas subsequentes do Curso quanto em sua futura prática pedagógica.

OBJETIVO GERAL

Construir uma visão compreensiva e crítica de aspectos teóricos, históricos e formais em que se baseia a literatura enquanto arte e pensamento, bem como a sua inserção histórica; discussão e problematização da legitimidade dos gêneros literárias.

METODOLOGIA

Aulas expositivas dialogadas, com Power Point; discussão de textos; exercícios individuais ou em grupos; análise de textos; pesquisa e apresentação de trabalhos acerca dos tópicos abordados em aula.

CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO

Em consonância com a metodologia definida a avaliação será voltada para o acompanhamento contínuo e dinâmico das aprendizagens realizadas pelos discentes em todo percurso da disciplina, numa perspectiva crítico – reflexivo e relacional (prática-teoria-prática) considerando os critérios: Frequência, comprometimento com a disciplina, participação, interesse e

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postura ativa nas atividades propostas, qualidade das produções textuais e práticas realizadas e auto-avaliação.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

MAIA, Everton Alencar; PEREIRA, Antonio Nunes; PINHERIO, Maria do Socorro. A essência teórica da literatura em língua portuguesa. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2004. LUFT, Celso Pedro. Língua liberdade. São Paulo: Ática, 1994. AMORA, Antonio Soares. Introdução a teoria da Literatura. São Paulo: Cultrix, 2004.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 34. Ed. São Paulo: Cultrix, 1994. CUNHA, Celso; CINTRA, lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de janeiro: Nova Fonteira, 1985. DE NICOLA, José. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 1998. DOMÍCIO FILHO, Proença. Estilos de época na literatura. São Paulo: Ática, 1987. FARACO; MOURA. Literatura brasileira. São Paulo: Ática, 1988. FIGUEREDO, Fidelino de. História da lietartura clássica portuguesa. Lisboa: [s.n], 1967. HORACE. Oevres. Paris: Hachette, 1935. MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 2. Ed. São Paulo: Cultrix, 1978. .A literatura brasileira através dos textos. 20. Ed. São Paulo: Cultrix, 1997. .A criação literária: prosa I. 16. Ed. São Paulo: Cultrix, 1997. . A criação literária: prosa II. 16. Ed.São Paulo: Cultrix, 1997. OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de. Manual compacto de redação e estilo. São Paulo: Rideel, 1994. PAES, José Paulo; MOISÉS, Massaud. Pequeno dicionário de literatura brasileira. São Paulo: Cultrix,[s.d]. SILVA; AGUIAR, Vítor Manuel de. Teoria da literatura. Lisboa: Livraria Almedina, 1992. TAVARES, Hênio. Teoria literária. Belo Horizonte: Itatiaia, 1984.

Observações:

O componente prático desta disciplina será executado através do trabalho de pesquisa bibliográfica solicitado aos alunos, além da elaboração de exercícios de escrita, visando à prática ensaística.

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Professor Osmar Hélio Alves Araújo 1

A presente apostila reúne textos relacionados à Teoria Literária em seus alicerces basilares. Constituindo um vasto aporte de informações que serão utilizadas no decorrer da disciplina, preparando o discente para as outras disciplinas que se sucederão no âmbito de toda a literatura e das disciplinas afins. Apresentando uma breve história da teoria da literatura; objetivos de estudos da teoria da literatura; o que é literatura e suas funções, entre outros. As informações aqui contidas tendem a provocar no discente o gosto pelo crescimento intelectual e levá-lo a pesquisas posteriores, desenvolvendo e ampliando o seu conhecimento ao longo do tempo. Sem este conhecimento básico, o mesmo não conseguirá atingir o necessário para o seu desenvolvimento intelectual, ético e profissional.

1 Pós-graduando do curso de Supervisão e Orientação Educacional da Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, Especialista em Língua Portuguesa e Literatura; Gestão escolar e Coordenação escolar pela Faculdade IEducare, Professor CTPD – SEDUC-CE, e Supervisor Educacional da Secretaria da Educação de Ipueiras- SME. e-mail:[email protected]

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SUMÁRIO

1. O que é teoria da literatura?

1.1 Introdução

1.2 A teoria da literatura

1.3 A Teoria da Literatura e outros tipos de estudos dos fatos literários 1.4 Conclusão

1.5 Questionário

1.6 Temas para indagação e reflexão

1.7 Leitura Complementar

2. Princípios, objetos e objetivos da teoria da literatura

2.1 Introdução

2.2 Princípios que se fundam a teoria da literatura

2.3 Objetos de estudos da teoria da literatura

2.4 Objetivos da teoria da literatura

2.5 Conclusão

3. O que é literatura?

3.1 Introdução

3.2 O que é literatura?

4. Funções da literatura

5.Teoria dos gêneros

6. Formas literárias

6.1 Prosa

_Romance. Características e tipos de romance

_Novela. Características e tipos de novela

_Conto. Características e tipos de conto.

_Crônica. Características da crônica

6.2 Poesia

7. Estilos de época

Textos complementares

Literatura (...) não é um fenômeno natural como a mudança de dia e noite ou os

elefantes africanos.

Gebhard Rusch

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PALAVRAS INICIAS

Aprender é descobrir aquilo que você já sabe. Fazer é demonstrar que você sabe.

Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você. Somos, todos,

aprendizes, fazedores, professores.

Richard Bach

Caro aluno/parceiro, Você pode estar considerando estranho chamá-lo dessa forma, mas

sem dúvida é essa a relação que gostaria de ter com você durante esta disciplina. Na qual você terá a oportunidade de ensinar/aprender, como diz Paulo Freire, ensinar já não pode ser este esforço de transmissão do chamado saber acumulado, que faz uma geração á outra, e aprender não é a pura recepção do objeto ou do conteúdo transferido. Dessa forma você terá a oportunidade de refletir e de trocar idéias com seus colegas sobre a teoria da literatura, como: origem, natureza, finalidade, conceito entre outros.

Espero de você comprometimento com a disciplina, participação, interesse e muita dedicação. É isso mesmo, dedicação, pois é necessário se entregar para a realização de nossos sonhos/objetivos. Não conheço ninguém que conseguiu realizar um sonho sem sacrificar sábados e domingos pelo menos uma centena de vezes. Se você quiser atingir uma meta especial, terá de estudar no horário em que os outros estão tomando chope com batatas fritas. Terá de planejar enquanto os outros permanecem à frente da televisão. Terá de trabalhar, enquanto os outros tomam sol à beira da piscina. A realização de nossos sonhos depende da dedicação.

Desejo a você, expressando o meu respeito e interesse na sua apropriação/construção de um conhecimento, que esta disciplina propicie seu crescimento pessoal e profissional.

Bons estudos, bons questionamentos!

Professor Osmar Hélio Alves Araújo

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1. QUE É A TEORIA DA LITERATURA

Antonio Soares Amora 1.1 Introdução

O conhecimento que temos de nós mesmos (de nosso organismo, de nossa psicologia) e da realidade que nos envolve (a sociedade e a natureza) pode ser prático ou teórico. O conhecimento prático é produto da natural experiência da vida, ao passo que o teórico é produto da elaboração mental dessa experiência, em termos científicos ou filosóficos. No caso particular da literatura, sabemos, por exemplo, que a poesia é lida de uma maneira e a prosa, de outra, e, portanto, pela prática distinguimos poesia de prosa. Mas se quisermos definir cada uma dessas formas, teremos de abstrair delas as características que essencialmente as distinguem, e daí chegar a uma definição geral e teórica de uma e outra.

Existe, portanto, um conhecimento prático e um conhecimento teórico dos fatos literários; e é esse conhecimento teórico, denominado Teoria da Literatura, que vamos procurar compreender.

1.2 A Teoria da Literatura.

Para entrarmos num ramo de estudo é necessário que saibamos: 1) quais são os “objetos” ou fatos que constituem seu campo de trabalho; 2) como se caracteriza o comportamento do estudioso diante desses “objetos”; 3) no que se distingue, esse comportamento, em face de outros comportamentos interessados nos mesmos “objetos”. E se assim é, não podemos entrar no estudo da Teoria da Literatura, sem ter no espírito as seguintes noções:

1º-como existe uma vida animal, uma vida vegetal, uma vida política, uma vida artística, existe uma vida literária;

2º-Se analisarmos a vida literária de um escritor, de um país ou mesmo da humanidade, encontraremos, como fato principal desta vida, a obra literária (que pode ser um poema, um romance, um drama, etc.);

3º- Ao lado desse fato principal, e com ele intimamente relacionado, existem outros fatos que formam a vida literária; é o caso do autor, do leitor e do público da obra; e é também, para irmos a realidades mais complexas, o caso do ambiente cultural, que se inter-relaciona com a obra, no momento de sua criação, e ao longo de sua vida, e o da história literária, que é a evolução de todos os fatos literários através do tempo.

4º-Diante do fato literário principal, isto é, da obra literária, podemos adotar cinco tipos de comportamento: a) o de leitor (auditor ou espectador), interessado apenas em compreender a obra; b) o de analista, interessado em decompor a obra nos seus elementos, com vistas à compreensão profunda e rigorosa de sua forma e de seu conteúdo; c) o de crítico, interessado em julgar a obra segundo determinadas escalas de valor, como a artística, a moral, a intelectual; d) o de historiador, interessado em determinar a situação da obra em seu sistema histórico; finalmente, e) o de teórico,

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interessado em extrair da obra e de tudo o que com ela se relaciona, idéias gerais, e em elaborar essas idéias tendo em vista formular uma teoria acerca do que é essencial nos fenômenos literários.

A Teoria da Literatura resulta, portanto de um específico comportamento diante dos fatos literários, o qual não se confunde com o comportamento do leitor comum, do analista de obras literárias, do crítico e do historiador da literatura. E resumindo o que fica explicado, diríamos que; 1º) a Teoria da Literatura tem como objeto de estudo todos os fatos literários; 2º) tem, diante desses fatos, um comportamento específico (procura neles o que tem de mais geral); 3º) com esse geral visa a elaborar um sistema de teorias.

1.3 A Teoria da Literatura e outros tipos de estudos dos fatos literários

Como a Análise, a Crítica e a historiografia literária têm como objetivo de estudo os fatos literários, algumas vezes a Teoria da Literatura foi confundida com estas disciplinas. Hoje tal confusão não é admissível, pois sabemos que cada uma das disciplinas dos Estudos Literários tem diante dos fatos literários comportamento ou métodos de trabalho e objetivos específicos.

A análise Literária se aplica a uma determinada obra e visa a explicar sua forma e seu conteúdo; a Crítica Literária também se aplica a uma determinada obra visa a determinar seu valor; a Historiografia Literária se ocupa de todos os fatos literários (de uma época, de um país ou de toda a humanidade) e visa a explicar sua evolução; e a Teoria da Literatura, que também se ocupa de todos os fatos literários procura neles o que têm de mais geral, e, com essas generalidades, visa a construir um sistema de teorias.

A Teoria da Literatura, portanto, não se confunde com outros estudos literários; mas isto não significa que não mantenha com eles (como veremos na última parte deste manual) íntimas relações.

1.3 Conclusão

Destas noções já podemos tirar as seguinte conclusões, indispensáveis à compreensão e a prática da Teoria da Literatura: 1º) diante de uma obra literária podemos comportar-nos de dois modos: como leitor comum, interessado apenas no prazer e na utilidade intelectual da leitura ou da audiência dessa obra, ou como profissional; 2º) comportando-nos como profissional, temos de nos definir por um tipo de estudo literários (Análise, Crítica, Historiografia ou Teoria Literária); 3º) escolhido um destes tipos, temos de saber qual seu objeto de estudo, seus métodos de trabalho e seus objetivos; 4º) escolhida particularmente a Teoria da Literatura, temos de saber que ela se ocupa de todos os fatos literários, formula teorias sobre os aspectos mais gerais desses fatos e organiza essa teoria num sistema.

1.4 Questionário 1. A teoria da Literatura é um tipo particular de conhecimento dos fatos literários.

Quais são as características deste tipo de conhecimento? 2. Quis são os objetivos de estudo da Teoria da Literatura?

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3. Além da Teoria da Literatura. Que disciplina se ocupa dos fatos literários?

1.5 Temas para indagação e reflexão 1. Há no âmbito de seu saber, algum campo de conhecimento especializado? 2. Se há, qual a natureza desse conhecimento: teórico ou prático? 3. Além de se interessar pela leitura das obras literárias já se preocupou, você,

como explicar, teoricamente, o que é uma obra literária?

1.6 Leitura Complementar Acreditamos [....] que é possível fundamentar uma teoria da literatura [. . .] que

estude as estruturas genéricas da obra literária, as categorias estético-literárias que condicionam a obra e permitem a sua compreensão, que estabeleça um conjunto de métodos susceptível de assegurar a análise rigorosa do fenômeno literário. Negar a possibilidade de instaurar este saber no mundo profuso e desbordante da literatura, equivale a transformar os estudos literários em desconexos esforços que jamais podem adquirir o caráter de conhecimento sistematizado.

Desta forma, a Teoria da Literatura, sem deixar de constituir um saber válido em si mesmo, torna-se uma disciplina propedêutica largamente frutuosa para os diversos estudos particulares e estes – estudos de História e Crítica literária – hão de contribuir cada vez mais para corrigir e fecundar os princípios e as conclusões da Teoria da Literatura.

Parece-nos, com efeito, que a Teoria da Literatura, para alcançar resultados válidos, não pode transformar-se em disciplina de especulação apriorística, mas tem de recorrer contínua e demoradamente às obras literárias em si: existe um conhecimento exato, concreto, vivífico do fenômeno literário. A disciplina que cultivamos não pode, sob pena de se esterilizar, erguer as suas construções segundo uma tendência filosofante que desconheça ou deforme a realidade histórica da obra literária.

A Teoria da Literatura igualmente deve evitar uma tentação que arruinou e desacreditou a Poética e a Retórica dos séculos XVI, XVII e XVIII; a tentação de estabelecer regras que pretendam vincular o criador literário. Perante a diversidade histórica do fenômeno literário é absurdo emitir regras dogmáticas que pretendam assumir função normativa e judicativa. /. . . / Não se trata de elaborar regras ou normas, mas sim de compreender, de organizar conceptualmente um determinado conhecimento acerca do fenômeno estético-literário.

Vitor Manuel de Aguiar e Silva, Teoria da Literatura, Coimbra, Livraria Almeidina, 1967, p. 31-33.

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2. PRINCÍPIOS, OBJETOS E OBJETIVOS DA TEORIA DA LITERATURA

2.1 1ntrodução Compreendida a Teoria da Literatura como um tipo de conhecimento teórico dos

fatos literários; compreendida a evolução desta disciplina, dede a antiguidade aos nossos dias, e compreendido, finalmente, que hoje os teóricos da literatura trabalham integrando Ciência da Literatura com Filosofia da Literatura e individualizando cada campo de estudos literários (Teoria, Análise, Crítica e Historiografia Literária) – podemos sistematizar os princípios em que se funda a Teoria Literária, quais os objetos com que trabalha e quais os objetivos que vida alcançar.

2.2 Princípios em que se funda a Teoria da Literatura Para seus trabalhos de investigação e análise, e para suas ulteriores

especulações, os modernos teóricos da Literatura se fundam nos seguintes princípios ou postulados:

1.º - O estudo teórico de um fato literário, como por exemplo, a obra literária, o ato criador do artista ou as reações do leitor diante de uma obra, justamente por ser teórico não pode confundir-se com outros tipos de tratamento dos mesmos fatos, como são o tratamento analítico (próprio da Análise Literária) e o tratamento historiográfico (próprio da Historiografia Literária).

2.º - O estudo teórico de um fato literário pode ser feito em dois níveis de conhecimento: o nível científico e o nível filosófico. No nível científico o fato literário é considerado apenas nos seus aspectos analisáveis objetivamente; por exemplo: a forma ou estrutura da obra literária; os comportamentos de um leitor, ou do público por influência da obra; etc.; e as conclusões de tal estudo objetivo dos fatos literários são levados apenas até o ponto a que sua análise permite chegar. No nível filosófico consideram-se, dos fatos literários, aqueles aspectos que já não são analisáveis objetivamente, mas têm de ser admitidos como “realidade”; por exemplo: a vocação literária; o ideal de belo literário; o estado emocional provocado por uma obra, etc.; e aqui as condições do teórico, dado seu caráter especulativo, podem ir muito mais longe que as dos cientistas da literatura.

3.º - Para o estudo do fato literário no nível cientifico ou no nível filosófico é indispensável partir da análise dos aspectos objetivos do mesmo fato, o que significa que as especulações filosóficas acerca de realidades abstratas da vida literária, têm de estar fundamentada em conhecimento científico daquilo que nessa realidade é concebível cientificamente. Por exemplo: para refletir sobre vocação literária, que é um dom inexplicável (pelo menos no estado atual de nosso conhecimento) é necessário partir de análises rigorosas da psicologia artística; para refletir acerca do belo literário, em termos de uma filosofia estética, é indispensável partir da análise das qualidades das obras consideradas belas.

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4.º - Para a análise objetiva de um fato literário temos sempre de estar orientados por um método de trabalho; tais métodos variam de acordo com o objeto a ser analisado (uma obra; o ato psicológico que criou essa obra; uma moda literária, etc.) e também vão variando à proporção que progride o conhecimento do mesmo fato. Esses métodos são concebidos e postos em prática por uma ciência literária própria – a Análise Literária – e os teóricos da literatura têm de conhecê-los e saber aplicá-los.

5.º - Como o conhecimento literário progride constantemente, e como a literatura está em constante variação, fácil é compreender que a Teoria da Literatura tem de ser (tanto quanto outras formas do saber) uma disciplina em permanente progresso. Por isso, quando a estudamos procuramos compreender sua evolução, seu estado atual e, na medida em que isso for possível suas perspectivas.

2.3 Objeto de estudo da Teoria da Literatura Todas as ciências e todos os ramos da Filosofia têm um objeto de estudo

primordial e outros objetos relacionados com este, aos quais podemos dar o nome de secundários.

No caso da Teoria da Literatura o objeto primordial é a obra literária, e os secundários são: o escritor, o leitor, o público (entidade coletiva), o meio ambiente

cultural da obra e a história literária de que ela faz parte.

Como qualquer destes objetos de estudo, uma vez analisados, revelam (como veremos adiante) grande número de aspectos e como de todos eles tem, o teórico da literatura, de extrair idéias gerais, resultou a Teoria da Literatura em ser uma disciplina extremamente complexa. E dada essa complexidade, indispensável se torna, no seu estudo, arrumar seus objetos numa ordem quanto possível prática. E a ordem mais prática é a que põe esses objetos na seguinte sequência:

1.º - a obra literária; 2.º - o autor; 3.º - o leitor (ou auditor), sem o qual nem a obra nem o autor ocorreriam; 4.º - o público, que não é tão-só uma soma de leitores (ou auditores), mas

também uma entidade coletiva ou um grupo social, com seu peculiar comportamento; 5.º - o meio ambiente cultural, que envolve a obra no momento de sua criação,

exercendo influência sobre essa criação; 6.º - a história literária, que é a interação dos citados fatos literários e sua

evolução no tempo.

Pode-se ainda tomar como objeto de estudo da Teoria da Literatura suas relações com os demais estudos literários (a Análise, a Crítica e a Historiografia Literária) e com outras disciplinas que ajudam a compreender seus objetos de estudo (a Psicologia, a Lingüística, a Estilística, a Sociologia, a História, a Filosofia, a Ética, a Estética).

2.4 Objetivos da Teoria da Literatura. Em princípio, o que visam os teóricos da literatura é formular um conhecimento

organizado e em termos de idéias gerais, a respeito de todos os fatos literários, o

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primordial e os secundários, e oferecer, com esse conhecimento, que está em constante progresso, uma orientação aos demais estudos literários. Com razão, portanto, se diz que a Teoria da Literatura é uma Introdução aos Estudos Literários, e por esse motivo é ela ensinada em todos os cursos de literatura, como uma espécie de propedêutica desses cursos. Mas se assim é, não levemos este raciocínio até ao ponto de concluir que a Teoria da Literatura é uma disciplina menor e subordinada às demais disciplinas Literárias. Tal conclusão estaria errada, pois a Teoria da Literatura (não importa sua utilidade e seu lugar nos currículos escolares) é um ramo de conhecimento que tem seus próprios interesses científicos e especulativos.

2.5 Conclusão Compreendidos os princípios em que se funda, os objetos que estuda e os

objetivos a que visa a Teoria da Literatura, bem como sua evolução histórica e seu estado atual, estamos agora em condições de compreender como esta disciplina trabalha um dos seus objetos, isto é, a obra, o autor, o leitor, o público, o meio ambiente cultural e a história literária, e que teorizações e especulações decorrem dos resultados desses trabalhos. Mas antes dessa compreensão, que decorrerá da leitura dos capítulos que se seguem constituem a segunda parte deste manual, temos de tirar uma conclusão do que fica dito ao longo dos quatro capítulos desta Introdução Geral à Teoria da Literatura: o que fica dito é a sistematização de uma longa e intricada história da Teoria da Literatura e, por fim, uma sistematização de várias tentativas que se fazem em nossos dias para definir com rigor os objetos de estudo, os métodos de trabalhos e os objetivos desta disciplina.

Não concluamos, entretanto, que estas sistematizações já nos habilitam a compreender todas as obras de Teoria Literária, escritas desde Aristóteles aos dias de hoje, as sistematização lidas (dado o caráter deste manual) são simplificadoras, e as referidas obras têm sua natural complexidade e por vezes especiosidade de problemas. Esta Introdução Geral – concluamos agora corretamente – quando muito nos leva a iniciar nossa familiarização com os aspectos da história e do estado atual da Teoria da Literatura.

Referência do livro

AMORA, Antonio Soares. Introdução a teoria da Literatura. São Paulo: Cultrix, 2004.

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3. O QUE É LITERATURA?

Maria do socorro Pinheiro 3.1 Introdução A literatura expressa vida, sonho, fantasia. Caminhar nas veredas da arte literária é poder manifestar atitudes de pura magia.

Neste momento primordial, é dado aos professores e alunos do programas Magister a oportunidade de conhecer a arte literária. A literatura serve como instrumento, imprescindível, para o conhecimento das manifestações literárias de um povo. Esse momento é sublimemente real e como tal, os professores podem adentrar nessa realidade e viajar pelas obras dos grandes escritores, mergulhar na poesia e passear pelas mais variadas formas literárias.

Muitas são as pessoas que frequentemente se perguntam: o que é literatura? O que são textos literários e não literários? Que são gêneros? Quais os elementos que caracterizam um texto literário? Espera-se que essas perguntas encontrem-se respondidas nesse material e outras que por ventura não foram elucidadas aqui. Deseja-se que os professores passem a trabalhar a literatura com mais força percebendo, dessa forma, o caráter sublime da arte.

É necessário mostrar o conceito de literatura com o objetivo de fazer com que esse significado fique expresso em toda sua amplitude, revelando a importância da literatura na formação da nossa história. A literatura precisa estar incutida na alma do homem como forma de transformação do próprio homem e também da realidade.

A literatura é um veículo muito importante como meio de expressão e esta recebe um tratamento particular para fazer parte desse âmbito propriamente literário. Os temas expressos são conhecidos, mas usado numa dimensão simbólica, pois é dado um novo tipo de tratamento a começar pela linguagem, construções verbais, conjunto de imagens, musicalidades, inversões, etc., tudo isso são elementos que ajudam a definir um texto literário.

Trabalhar um texto literário implica reconhecer uma forma particular da linguagem que envolve conhecimento, sensibilidade e emoção. A literatura não tem compromisso direto com o real, mas pode retratar a realidade, as circunstâncias da vida e do mundo através do imaginário dos autores.

Um tema pode ser apresentado em vários gêneros e essa diversidade precisa ser distinguida pelos professores para que consigam conceber a importância de cada espécie, que por sua vez apresenta funções diferentes de acordo com e especificidade do texto.

Esperamos que os professores-alunos do Magister absorvam a arte literária como um componente indispensável na evolução e no desenvolvimento dos povos e que também percebam as sutilezas, vivenciem os sentidos, as imagens, a extensão e a profundidade das construções literárias.

3.2 O que é literatura?

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Everton Alencar Maia

Tal qual a esfíngica indagação, ou as oraculares resposta, não há como responder a esta questão de maneira simplista. Diversos ângulos de visão, inúmeras abordagens conceituais procuraram, ao longo do tempo, um termo de consenso para responder esta pergunta, a qual é, a um só tempo, objetiva e subjetiva no homem.

O critico Azorin chegou a afirmar: EI mistério de La obra literária no será jamas por nodie enteramente esclarecido. Certamente, a literatura, como a arte em geral, cristaliza em nós uma busca infinita por um absoluto perdido,assim como, seres racionais com a possibilidade de uma extensão espiritual. L´art c´est ma religion. Disse certa vez o escritor Marcel Proust, refletindo sobre como a arte pode nos gratificar existencialmente, dando-nos, inclusive, uma certa imortalidade. Se todas as religiões estiverem erradas, se nada houver depois da morte além da mera matéria a se decompor, a única coisa que terá valido a pena, significando uma utopia que, afinal, nos diferenciou e nos tornou superiores aos outros seres viventes, tal coisa foi a arte, da qual faz parte a literatura.

Somos, na verdade, criaturas pequenas, fugazes, destinadas á morte. Nossa realidade, da qual muitas vezes nos orgulhamos e, enlouquecidamente, procuramos coroar com as conquistas do ter, não passa de mera sombra, vã aparência. Meteoricamente, sem nos darmos conta, passamos pela vida: estudamos, construímos, amamos, sofremos e, ao fim, desaparecemos. Por alguns meses somos lembrados... de toda esta infrene jornada, quantos momentos temos de êxtase? Quantos instantes de verdadeira e pura felicidade? De acordo com Schopenhauer, no caótico quadro de cor que é a existência, somente a arte pode nos dar um pouco da perdida plenitude, do lost paradise. “A poesia é autêntico real verdadeiro” , afirmou o poeta alemão Novalis. Realmente, a realidade da arte, a qual é feita de belas mentiras, pode ser a “verdadeira realidade”, a única que nos proporciona um encontro íntimo com nosso ser. Ars mutat singulam mendaciam in veris; (A arte muda cada mentira em coisas verdadeiras). São as palavras do último poeta pagão ocidental: Claudius Claudianus.

Como vimos, a discussão sobre o que é literatura não pode prescindir de uma dimensão filosófica, pois a mesma não é um mero oficio humano, mas uma superior manifestação do espírito.

Recorramos agora a uma conceituação mais pragmática, mais metodológica. Na basilar obra Teoria da literatura, do critico português Vitor Manuel de Aguiar e Silva, encontramos a seguinte definição preliminar para o lexema “literatura: “O lexema complexo literatura, derivado do radical littera (latim) – letra, caráter, alfabeto – significa saber relativo á arte de escrever e ler, gramática, introdução, erudição.

Este primeiro conceito é abrangente, por demais genéricos, mas nos ajuda, com o olhar etimológico, a entender como a literatura deve aliar o conhecimento cognitivo á presença do chamado “dom do artista”.

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Tristão de Athyde, por sua vez, conceitua a literatura de forma mais subjetiva, enfocando os elementos espirituais que ela suscita: “A literatura é no homem aquela vocação misteriosa e imprevista condicionada por mil elementos exteriores e íntimos, mas desabrochada pelo mistério do espírito que sopra onde quer”.

Entre o caráter por demais abrangente e o apelo notoriamente subjetivo, transcrevamos a definição de literatura proposta por Fidelino de Figueredo, ao nosso ver, a mais completa, uma vez que apresenta os pontos viscerais do fazer literário. “Literatura é ficção. Criação de uma supra-realidade com os dados profundos e singulares trabalhadas e utilizada”.

De acordo com tal conceito, em princípio, a literatura está ligada a uma noção de verdade, de realidade, que não é a mesma do pensamento cartesiano. Assim, deve ser sempre “ficção”, (fingere, do latim) isto é, jamais pode ser cópia idêntica do mundo real, mas, mesmo quando ligada a fotos ou pessoas históricas, deve transmutar, estilizar o objeto escolhido. Daí a adoção do termo ‘“supra-realidade”, ou seja, uma “outra” percepção do mundo objetivo; na verdade, superior (supra: preposição latina que quer dizer acima) do nosso pequeno cotidiano.

Finalidade, e não menos importante, a obrigação de trabalhar expressamente a linguagem explorando seus recursos subliminares, seus porões de significado. A língua literária jamais pode ser transparente, explícita. Necessita ser opaca, para que o leitor seja um recriador do texto, descobrindo-se nas entrelinhas.

Nesse sentido, percebemos que há um conjunto de fatores que instauram o texto literário. A eles, os críticos deram o nome de “literariedade”, isto é, aquilo que faz com que um determinado texto seja literatura.

No momento, é de suma importância diferenciar o texto literário dos outros tipos de texto, como o cientifico ou o jornalístico, por exemplo.

A principal marca distintiva do texto literário e a linguagem. Ela será sempre opaca, plurívoca, ambivalente, carregada de imagens. Predomina na mesma a função poética, bem como o compromisso maior com a beleza, isto é, com a estesia. Nos outros tipos textuais, ocorre o predomínio de outras funções da linguagem, como a informativa, no jornalístico, por exemplo, ou a referencial, no cientifico.

O texto literário sempre será conotativo, enquanto que os outros trarão a denotação como tônica de linguagem.

Finalmente, o romancista brasileiro Machado de Assis; ele assim definiu a literatura: “Esta é a gloria que fica, eleva, honra e consola”.

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4. FUNÇÕES DA LITERATURA?

Maria do Socorro Pinheiro

Talvez a melhor forma de iniciar esse capítulo seja perguntando qual a natureza e a função da literatura? Que tipo de reações uma obra de arte pode provocar num leitor? Você já leu alguma obra de arte? Qual foi o seu comportamento diante dela? Será que a literatura provoca alguma transformação no espírito? Reflita e apresente o seu questionamento.

A literatura como toda arte, deve apresentar algumas funções, dada a sua importância no contexto político e social na história da humanidade. Inicialmente, precisa-se saber se a literatura apresenta uma única função ou se várias.

Com a tradicional doutrina clássica e com a fase renascentista, a função poderia resumir-se nos conhecidos versos de Horácio:

Omene tulit punctum qui miscuit utilt dulci, Lectores delectando, pariterque monendo. (“Arte poesia,” 343)

As palavras dulci e utile mostra assumir a criação literária as funções hedonística e utilitária, respectivamente. Pode-se concluir que ela ensina deleitando ou deleita ensinando. É o que se pode observar nos versos moralistas de Horácio:

Lembra-se de manter, ó morituro Délio, Na amarga desventura, o ânimo sereno, Bem como afastá-lo, nas horas favoráveis De excessos de alegria.

Nesses versos, Horácio instrui deleitando, seus ensinamentos são passados de formas prazerosos e harmônica. A poesia causa manifestação expressiva da moral artística ao lodo de um profundo deleite. Assim a arte deve instruir e deleitar, provocando conhecimento e ao mesmo tempo um prazer, um bem-estar, pois a arte literária proporciona ao homem um encontro com seu próprio eu, com a sua própria imagem, não com a imagem refletida na água (Narciso), mas refletida na alma.

Hênio Tavares em seu livro Teoria da literatura diz que foi a partir do romantismo, movimento “que encarna o princípio dionisíaco”, ou seja, “a metamorfose sem trégua”, - o horizonte se ampliou na pletora de soluções, decorrência inevitável das múltiplas atitudes subjetivas então surgidas.

A literatura passa a ter conceito dinâmico, conforme observa Guilherme de Torre, na sua obra Problemática de La literatura: Esses conceitos não são analisados com critérios estáticos, pois implicaria na falta de compreensão. A partir dos aspectos dinâmicos da literatura, a obra chega ao zênite da sua natureza literária.

Raul Castagnino, em Que Literatura?, após examinar respostas tradicionais, compendiadas nos manuais didáticos ad usum scholae, sugere cinco soluções, que

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não são única no próprio dizer do poeta, mas dentre as possíveis, aquelas que ele julga fundamentais.(Cf.Op.cit.,p.10.)

As cinco respostas por ele aventadas são: 1 Literatura é sinfronismo; 2 Literatura: função lúdica do espírito; 3 Literatura é evasão; 4 Literatura é compromisso; 5 Literatura: ânsia de imortalidade. Examinemos cada uma dessas soluções:

1. Literatura é sinfronismo. Para Hênio Tavares, é a coincidência espiritual de estilo, de modo vital, entre o homem de uma época e os de todas as épocas. Pelo sinfronismo estabelece-se uma simpatia, independente do tempo e do espaço, entre o autor e o leitor.

O sinfronismo seria a prova definitiva da autenticidade clássica de uma obra. E citando Sainte Beuve, Diz que Castagnino, ser o clássico “contemporâneo de todas as idades, de todos os tempos” há uma ligação, um interesse que prende atenção de todos aqueles que manifestam simpatia pela arte.

O que caracteriza o sifronismo é, pois, a intemporalidade e o universalismo, característica que rompem com as barreiras do tempo, atravessado horizontes infindos e temas os mais diversos possíveis. O sinfronismo se fundamente na simpatia, despertada pela emoção ( a emoção criadora no dizer de Charles Du Bos ).

Cada vez que frente a uma obra literária – qualquer que tenha sido a época em que foi criada – consegue emocionar-se reviver em si os estremecimentos que comoveram o autor no instante em o compôs, opera-se o efeito do sinfronismo,flui a onda maravilhosa de sintonia espiritual capaz de aproximar simpaticamente a dois seres, mais além do tempo e do espaço. A Literatura é veiculo sinfrônico que apaga as distâncias e as idades conjuntas pela emoção. (R. Castagnino. Op.cit.,p.28.)

A Literatura é marcada pela atemporalidade e isso está presente na relação existente entre o autor e o leitor. A atenção do leitor diante de uma obra de arte pode ser avaliada de acordo com a simpatia nos temas abordados, portanto, obras escritas em tempo imemorável ainda hoje provocam entusiasmo e emoção.

Os artistas de todas as eras são como que imunes ao tempo, como também o berço de cada um deles, um mero acidente geográfico que não delimita o espaço. Isto tornam legítimos os versos de um nosso Castro Alves,quando irmanando aos cantores de todas as épocas e nações, diz:

Canto nest´hora, como o bardo antigo Das priscas eras que bem longe vão, O grande NADA dos heróis que dormem Do vasto pampa no funéreo chão... (In”Quem dá aos pobres empresta a Deus”)

Ou como aquele de Bilac, no soneto XXV da sua “Via Láctea”,referindo-se a Bocage:

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Mestre querido! Viverás, enquanto Houver quem pulse o mágico instrumento, E preze a língua que prezavas tanto: E enquanto houver num canto do universo Quem ame e sofra, e amor e sofrimento Saiba, chorando, traduzir no verso.

2. Literatura é função lúdica do espírito. A idéia da arte associada ao jogo vem de muito tempo, encontrada em muitos poetas, cada um desenvolvendo a sua teoria.

Para alguns deles, a teoria da arte como jogo, deve ser entendida como uma espécie refinada de jogo, mostrando analogias entre o prazer estético e o prazer lúdico; a arte e um jogo, uma vez que o homem luta contra a natureza ou contra si próprio e esse amálgama produz efeitos positivos no espírito humano.

Se arte e jogo estão associados ao espírito de luta do homem, como analisaremos a arte dos cantadores de improviso nos seus torneios e desafios? Seria alguma espécie de jogo?

Quando aqueles cantadores se entregam á arte do improviso. Há interiormente uma luta, um jogo que provocará reações das mais variadas formas tanto no poeta, quanto no leitor.

Segundo Hênio, o poeta é uma criança que se compraz em estilizar suas emoções, como um menino a edificar castelos na areia ou a fazer bolhas de sabão (Baudelaire já não disse ser ‘ a poesia a infância que se encontrou de novo”?):

Cresci. Sofri. Sonhando vivo. E, homem e artista, ainda agora, Me apraz aquela distração... E, fico, às vezes, pensativo, Fazendo versos, como outrora Fazia bolhas de sabão. (Martins Fortes, in “Inocência”)

“Não foi o grande e admirável Fernando Pessoa quem disse, na “Autopsicografia”, ser o artista um ‘fingidor”?

O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.

A arte Literatura é divertimento, é alegria para o espírito. O grande e inesquecível Machado de Assis já dizia que a arte era um passa-tempo, como um jogo. O poeta cria e recria a realidade de forma mágica, prazerosa e lúdica, contagiando os mais diversos tipos de leitores. A Literatura eleva o homem a um magno conhecimento, capacitando-o ir além dos seus limites, dos seus sonhos, da sua imaginação e através disso o espírito revela uma fortaleza e indestrutível por esta alimentada pela força lúdica da poesia.

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3. Literatura é evasão. Segundo Hênio Tavares, a arte é compensação, é fuga, é êxtase, é viver subjetivamente “num mundo da lua”, ou incrustar-se orgulhosamente “numa torre de marfim”.

“A arte pela arte” também pode ser vista como evasão, cujos motivos seriam a ilusão, os sonhos e mais ainda a fuga á vulgaridade ambiente no dizer de Ortega y Gasset. É como canta Horácio, nos tão famosas versos: “Odi profanum vulgus”(Odes,II.1.1).

A arte ainda pode ser entendida como uma outra vida, a subjetiva, a do próprio eu, originando sonho, fantasia, ela é compensadora das decepções que se nos deparam na existência brutalmente real, para como diz o poeta:

Dentro de ti mesmo obras. Achares essa pura Paz de espírito e essa intima alegria Que debalde entre os homens se procura. (Raimundo Correia, in “Horácio Flacco”)

A dor inspira a grandes obras. Não foi Goethe que aconselhou aos artistas “a fazerem da dor um poema”? Não foi a dor a consoladora válvula de escarpe de Varela no seu transe de amor paterno, quando fez explodir em versos imperecíveis toda sua imensa angústia naquele patético e incomparável “ Cântico do Calvário”?

A arte é o derradeiro abrigo, o “último trono” e “último asilo”, segundo canta o poeta: Entra! O verso – é uma pousada Aos reis que perdidos vão. A estrofe – é a púrpura extrema, Último trono – a canção... Último asilo - canção!... (Castro Alves, in “O Fantasma e a Canção”)

A evasão é a fuga do tempo e do espaço, mergulhando em outras dimensões, talvez nunca navegadas. Os poetas mergulham nos seus textos e fogem da realidade como remédio para seus, ales, como saída para suas angústias.

Essa fuga alcançou grande expressividade com o romantismo, época em que a evasão tomou conta dos poetas em busca do seu passado histórico, de sua pátria ou do seu passado individual. A evasão também pode ser representada pela presença da morte Mors Liberatrix, a solução imediata e eficaz que rompe com o “Taedium vitae”. Podemos verificar nos versos do poeta lírico Ligdamo.

Quando levado eu for pela sombra dos anos, Negras cinza cobrirão os brancos ossos; Que Neera venha então, com os cabelos ao vento, Chorar diante da minha fogueira.

4. Literatura é compromisso. “No referido livro de Hênio Tavares a palavra compromisso é utilizada no sentido de “aliciante”, engajada”, de limitada ao tempo de

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autor, como queria Sartre e o que sustenta Sartre, por exemplo, por ser radical e unilateral, não pode ser tomado como a idéia de “ compromisso” no bom e admissível ângulo literário. Para esse filósofo, a arte prende-se a rígido e se desvaloriza em função do tempo, presa que deve estar a rigoroso sincronismo.

Há uma ligação entre o homem e as coisas em sua volta, pois todo homem tem compromisso com a vida e não pode fugir, já que a própria existência é uma imposição. Até mesmo o silêncio e um compromisso, uma definição por omissão, uma revelação expressa sem um discurso previamente referido. Os horrores e a Inanidade produzidos pela guerra fizeram brotar da consciência do talento de um Erich Maria remarque o seu Nada de Novo na Frente ocidental. A ignomínia da escravatura, as injustiças sociais encontram eco nas páginas comoventes da A cabana do pai Tomás, de Beecher Stowe, e as estrofes fulgurantes de um “navio Negreiro” ou de um “ Vozes d´Àfrica” de Castro Alves.

São os guerreiros ousados, Que com os tigres mosqueados Combatem na solidão...

No percurso da história literária, quantos poetas não já devotaram esse compromisso com os fatos ligados á vida. Castro Alves no seu poema “Navio Negreiro” demonstra a sua total devoção ás sociais. O poeta utiliza a sua obra para revelar os acontecimentos da vida real, para tanto, o recurso utilizado é a obra, a palavra não em si mesmo, mas contextualizada, imbricada dos mais variadas recursos imagética.

Guilherme de torre Afirma:

Assim a única literatura comprometida, válida e transcendente, haverá de ser recusando todo risco e equvoco de dirigismo, comprometa antes que outra coisa a consciência de seu criador com mundo. De tal forma que ainda aplicando-se á defesa ou exaltação de uma ideologia, faça-o desinteressada e livremente, isento de coações, sensível a todos os desdobramentos dialéticos, disposto a não escamotear problema algum, e, em síntese, a encontrar na contradição a última medida da verdade. (Op.cit. p.213-214.)

Em literatura, o compromisso está associado a essa atitude acima referida, como também a temas universais: o sonho do poeta, decepção, luta constância, fidelidade, liberdade, felicidade, amor, etc. Dentro de tais temas os mais gritantes são determinados por aparente peculiaridade. Por exemplo: a escravatura da raça negra, as injustiças sociais, a miséria humana, a seca, etc., são exemplos que retratam essa universalidade. Vejamos um trecho do inesquecível Graciliano Ramos:

A catinga entendia-se de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor dos bichos moribundos. (Vidas secas).

De acordo com Hênio Tavares, o tratamento infame que se deu a uma raça, afrontosamente injusto e ostensivamente ignóbil, como no século XIX, é um tema contingencial e temporal que serviu de pano de fundo apenas para a configuração em

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arte de um intemporal e universal. A exemplo disso Castro Alves é tomado, historicamente, como o defensor de uma raça, sincronicamente, da raça negra. Mas artisticamente, no plano verdadeiro, sinfonicamente, como uma das mais generosas e imortais vozes que já exaltaram a liberdade.

5.Literatura ânsia de imortalidade: Há no espírito humano uma ânsia desmedida pela imortalidade: o da sobrevivência. É em arte, sobrevivência implica nas idéias de glória, de consagração, de imortalidade. Todo poeta almeja por essa consagração, pela glória no porvir. Goethe, na suas” conversações”, reunidas por Eckermann, afirmava categoricamente que “uma enteléquia não pode desaparecer”. Prevendo a glória e a imortalidade de seus versos, Horácio expressou-se na passagem famosa:

Em Camões, o desejo da consagração é uma constante: Cesse tudo o que a musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta. Daí-me uma fúria grande e sonorosa, Que se espalhe e se cante no universo, Se tão sublime preço cabe em verso.

A idéia de gloria também é percebida nos românticos, ora direta e frontal, enroupada em pretensiosa modéstia ou fingido desdém:

Eu sinto em mim o borbulhar do gênio. Vejo além um futuro adiante: Avante!- branda-me o talento n´alma E o eco a´o longe me repete – avane!- O futuro ... o futuro ... no seio seio... Entre louros e bênçãos dorme a gloria! Após – um nome do universo na´alma, Um nome escrito no peateon da história. (Castro Alves, in “Mocidade e Morte”) Quanta glória pressente em meu futuro! Que autora de porvir e que manhã! Eu perdera chorando essas coroas Se eu morresse amanhã (Álvares de Azevedo, in “Se eu morresse amanhã”) Lerás porem algum dia Meus Versos d´alma arrancados, D´amargo pranto banhado Com sangue escrito... (Gonçalves Dias).

O poeta busca a glória a fim de ser lembrado e de ser estudado. Essa vontade de permanecer na história, cria no poeta uma atmosfera de potência avassaladora. Ele pode alcançar a transcendência, percorrer os tempos e torna-se vivo atual, presente. Essa imortalidade ascende no ânimo do poeta para a sobrevivência no tempo e no espaço, tornando-o imortal, penetrando em todos os tempos e construindo e transformando a história do homem. Essa ânsia o torna inatingível capaz de ultrapassar, as barreiras do tempo.

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Como diz Hênio Tavares, todo artista, no fundo, é como o pai da tragédia grega, que dedicou as suas obras “ao tempo”, ou seja, á imortalidade e á glória. Podemos concluir que a função da literatura é algo complexo que envolver muitos aspectos, possibilitando respostas de várias formas, cada qual satisfatória ou não sob determinado ângulo. Utilizando assim a palavras (função) dizemos, a poesia tem muitas funções. A primeiras e principal é a fidelidade á sua própria natureza.

(Wellek e Warren.op.cit., p.59.)

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5. TEORIA DOS GÊNEROS Everton Alencar Maia

Considerando que cada discurso literário possui um tônus e se manifesta

estilisticamente a partir de formas específicas, revelando motivações interiores orientadoras da escolha do sujeito, ao longo do tempo, na literatura ocidental, os críticos observaram tais preferências, tais, recorrências e, afinal, convencionalmente, elaboraram uma segmentação para tais escolhas estilísticas.

Embora estas convenções ainda sejam discutidas por parte da Teoria da Literatura, pois não há como determinar se partem de um íntimo impulso do criador, ou se não meros estereótipos, sabemos que o verbo literário se veicula, principalmente, por três caminhos, os quais fundamentam a discussão sobre a supracitada teoria. São os gêneros, a saber: épico, lírico e dramático.

Antes de mais nada, é preciso lembrar que não podemos encará-los como matérias estanques, apartados uns dos outros. Na verdade, mesmo durante o período clássico, no qual a existência de regras rígidas para o fazer literário era uma constante, eles se interpenetraram, havendo, com efeito, uma relação de complementaridade, de simbiose entre os mesmos. Assim, por exemplo, na Eneide poema épico do poeta romano Virgílio, o episódio de Dido e Enéas no Canto IV traz notórias presenças do gênero lírico, uma vez que a temática do amor passional ali se desenvolve. Camões, seguidor da influência virgiliana, também insere elementos líricos em seu Os Lusíadas referimo-nos ao relato dos amores de Dom Pedro com Inês de Castro, passagem esta que se encontra no Canto III da obra.

O gênero dramático é talvez o mais terreno para estas complementaridades. Seu discurso, como veremos, visa representar a própria vida em seu constante real movimento. Assim, momentos da subjetividade lírica e da altivez épica se encontram no mesmo com bastante frequência.

Na referencial obra conceitos fundamentais da poética, o crítico Emil Staiger propõe os seguintes conceitos para os três gêneros: a “recordação”, para o lírico; a “representação”, para o épico e a “tensão” para o dramático. Analisemos minudentemente.

O gênero lírico, cujo nome deriva do instrumento lira usado na antiguidade greco-latina para acompanhar canções sentimentais, caracteriza-se pela expressão da emotividade, do mundo interior do sujeito. O eu é a sua matriz, enquanto que a realidade exterior é, muitas vezes, apenas metáfora para a cristalização de afetos e profundas intuições. A subjetividade, naturalmente, é a maior Tônica deste gênero, desenvolvendo-se, via de regra, verticalmente, isto é, na direção da busca, da inquirição filosófica. Obviamente, o ponto de partida deste discurso é o indivíduo, ou seja, o sujeito e sua camada singular de afetividades. O termo “recordação”, proposto por Staiger, diz respeito ao modo de criação do lírico, o qual, por ser sempre uma veiculação dos sentimentos do eu mais profundo, não pode ter um andamento assaz objetivo, linear. Quando o poeta lírico manifesta-se, devido à emoção por demais forte

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do momento inspirador, não o pode fazer com total objetividade, descrevendo, no próprio momento, suas impressões de arte. Assim, sempre no ato de recordar (verbo que etimologicamente significa “trazer de volta ao coração”: re + cordis, do latim) realiza-se retoricamente tal gênero. O crítico e poeta romântico inglês Coleridge assim define a poesia (lírica, no caso): poetry is emotion recoleted. (a poesia é uma emoção recolhida). Em fim, do ponto de vista da linguagem, notamos no lírico uma opacidade, às vezes beirando o herbetismo. O poeta não tem compromisso algum com a objetividade, com qualquer linearidade na estrutura de sua composição. Tal qual um rio a fluir, o discurso lírico é fugidio, evanescente, aproximando-se consideravelmente da expressão musical.

O gênero épico, por sua vez, é a “representação” de uma determinada realidade histórica ou mitológica ocorrida, via de regra, ab illo tempore (num tempo remoto). Geralmente o poeta épico volta-se para o passado de uma nação e procura resgatar fatos heróicos ligados ao mesmo. Invariavelmente, há presença de um vir

epicus,isto é de um herói sobre o qual reside a alma desta nação. Tal herói cumpre uma árdua missão em nome de seu povo, sendo festejado depois por toda a posteridade.

A linguagem épica é objetiva, de cunho narrativo, embora a epopéia tradicional tenha sido lavrada em versos. A clareza e a harmonia entre as partes são fundamentais neste discurso, pois o sujeito da composição assume o papel do “aedo”, ou seja,” do lendário cantor de sagas na antiguidade. A propósito, deste período histórico procedem os pilares máximos desse gênero, os quais foram os modelos da chamada epopéia clássica. Referimo-nos às obras de Homero: ilíada e a odisséia e à Eneida do romano Virgilio.

O distanciamento é outro traço distintivo do gênero em questão. Ao contrário do lírico, o sujeito épico não se envolve significativamente com a matéria narrada. Seu ponto de vista é objetivamente distanciado, dirigido um olhar descritivo em relação ao assunto desenvolvido.

Vejamos agora o gênero dramático, o qual procura manifestar a concretude, a plasticidade e o movimento da realidade. O termo “tensão”, proposto por Staiger, procura identificar o posição crítica deste discurso, o qual facilmente pode propender, ora para o lírico, ora para o épico.

Originalmente, o gênero dramático se dividia em tragédia, a qual cantava assuntos elevados, altivos, e comédia, a qual incidia sobre o risível humano trazendo, às vezes, elemento de crítica social. Na tragédia os atores se vestiam com roupas comedidas, calçando altos sapatos, os “coturnos”, para representar a majestade dos assuntos tratados. Geralmente os personagens eram deuses, semideuses ou homens que lutavam contra a fatalidade do destino. A comédia diferentemente não trazia a preocupação com a grandeza dos temas ou do vestuário. Era muitas vezes propositadamente vulgar, colocando francamente em sena o ridículo dos homens e até dos deuses.

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No século XIX, durante o Romantismo surge com Victor Hugo o drama. Nele se fundem a tragédia e a comédia, uma vez que a proposta do mesmo é a encenação da vida tal qual ela é, ou seja, com momentos trágicos e cômicos.

Como acontece com o épico o sujeito dramático também deve estar distanciado em relação à matéria encenada. Seu ponto de vista é do flagrante de um certo momento do fluir multiforme da vida. A linguagem deve se adequar à celebridade deste fluir continuo, dai a presença do diálogo. Eventualmente, pode ocorrer monólogos ou solilóquios, quando o autor quer transmitir elucubrações intimas de algum personagem.

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6. FORMAS LITERÁRIAS

Antonio Nunes Pereira Texto 01

Tu, moça; eu, quase velho... Entre nóis dous, que horror, Vinte anos de distância. Entre nós dous, mais nada. E hoje, pensando em ti, pus-me a sonhar de amor Somente porque vi por acaso, na estrada, Sobre um muro em ruína uma roseira em flor... Vicente de Carvalho apud Tavares (1984, p.107)

Texto 2

A porta abriu-se... Deixa-me contar a história à loira de novela, disse Tosta à mulher, um mês depois de casados, quando ela lhe perguntou Quem era o homem representado numa velha fotografia, achava na Secretária do marido. A porta abriu-se, e apareceu este homem, alto e Sério moreno metido numa infinita sobrecasaca cor de rapé que os Rapazes chamavam opa. - Aí vem a opa do Elisiário. - Entre a opa só. - Não, a opa não pode; entre só o Elisiário, mas, primeiro há de glosar Um monte. Quem dá o mote? Ninguém dava o mote. A casa era uma simples sala, sublocada por um Alfaiate, que morava nos fundos com a família; rua do Lavradio, 1866. Era a segunda vez que ia ali, a convite de um dos rapazes. Machado de Assis apud Tavares (1984, p.107)

Observando os textos acima, podemos perceber que eles apresentam alguns elementos em comum e outros diferentes. No texto 1, notamos que as palavras estão dispostas em linhas, numa sucessão ordenada de sons verbais, que despertam um determinado ritmo, causado pelo número de sílabas e pausas. Neste caso, podemos afirmar que as linhas do texto 1 são chamadas de versos, posto que são unidades de ritmo, e que a forma desse texto está em verso.

Já no texto 2, percebemos que a forma não está disposta em linhas arranjadas simetricamente. Ademais, notamos que não há um ritmo continuado e marcado como o anterior, já que as pausas se fazem em função exclusiva da respiração e do pensamento lógico. Desse modo, podemos afirmar que no texto 2 está em forma de prosa.

Baseados na análise desses textos, podemos afirmar que os textos literários, quanto à forma, podem ser classificados em prosa ou em verso.

6.1 Prosa

A prosa literária é caracterizada pelo gênero narrativo e apóia sua construção nos seguintes elementos: a) Personagens: agentes da ação; b) Ação: seqüência dos fatos narrados, trama;

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c) Tempo: cronológico ou psicológico em que se desenvolve a ação; d) Espaço: lugar ou cenário onde se desenvolve a ação.

De acordo com esses elementos é que surgem as diferentes modalidades do texto literário em prosa que podem ser classificados na seguinte espécie: Romance, Epopéia, Novela, Conto; Crônica; Anedota, Fábula Apólogo e Parábola. Restringiremos nosso estudo às espécies romance, novela, conto e crônica, por considerarmos os mais utilizados nos estilos de época da literatura brasileira.

_Romance

A palavra romance, na acepção de MOSÉS (1997, p.157), teria origem do provençal romans, derivada da forma latina romanicus ou de romanice, do latim modificado pelos falares dos povos conquistados, aposto ao latine loqui, que era o “falar latino” empregado na região do Lácio e arredores.

Entretanto, em vernáculo, a palavra romance exibe dois sentidos: a) Composição poética tipicamente espanhola, de origem popular, autoria não

raro anônima e temática lírica e/ou histórica, geralmente em versos de sete sílabas, ou redondilhas maiores;

b) Composição em prosa. Historicamente a palavra “romance” só começou a ter o sentido que lhe

atribuímos hoje a partir do século XVIII com a revolução cultural originária da Escócia e da Prússia, denominada romantismo, que o deu maturidade e afirmação como espécie literária.

No Brasil, o romance começou a ser cultivado com Joaquim Manoel de Macedo, em 1844, com a obra A Moreninha, só passando a ser largamente cultivado em 1857 com O Guarani, de José de Alencar. Durante o realismo vive um período de grandeza relevante através de autores como Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Inglês de Sousa, Domingos Olímpio, Raul Pompéia e coelho Neto. Entretanto, é com o Modernismo que o romance atingi sua maior altura que é observado até hoje em obras de autores que surgiram a partir de 1930, como Jorge Amado, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, dentre outros.

_Características do Romance

À Luz de MOISÉS (1997), o romance possuiu as seguintes características:

a) Estrutura: pluralidade da ação, através da coexistência de várias células dramáticas, conflitos ou drama e simultaneidade dos conflitos, os quais estão interligados e desenrolam-se ao mesmo tempo, exercendo, pois isso, influência recíproca.

Se compararmos o romance com a novela vamos perceber que ele apresenta menos células dramáticas que a novela, uma vez que está pode ser estendida para além do último episódio, enquanto aquele termina completamente na ultima cena.

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Tudo se passa, no romance, como uma pedra que, jogada na água, formasse uma série de anéis concêntricos que fossem

Obtendo á proporção que se afastassem do foco gerador: o romancista escolhe para núcleo um drama, julgado o mais importante, e inspeciona os que lhe aglutinados. Montase, desse modo, uma genuína simbiose entre o conflito central e os secundários: deles recebe auxilio esclarecedor. (MOISÉS,1978,p.453).

b) Espaço: pluralidade geográfica, o que possibilita o descolamento de personagens de um lugar a outro, desde que a situação conflitiva o justifique.

c) Tempo: podem ser considerados dois tempos no romance: o histórico (ou cronológico) e o psicológico (e/ ou metafísico).

O tempo cronológico é aquele caracterizado pelo ritmo do calendário, do relógio, pela alternância dia- noite. O tempo psicológico é aquele que transcorre no interior de cada pessoa e, por esta razão, imune à regularidade geométrica do tempo histórico. Podemos considerar o tempo psicológico como um tempo subjetivo, tempo de memória que obedece a um fluxo mental ecoante e que varia de pessoa para pessoa.

d) Número de personagens: varia de acordo com o romancista e as necessidades impostas pelos dramas. Entretanto, dois é o número mínimo de personagens, pois, do contrário, o conflito não se estruturaria.

e) Recursos expressivos: apesar de apresentar a mesma liberdade e complexidade que outros níveis, o diálogo é o ingrediente da maior relevância, na veiculação do drama dos protagonistas.

Narração: estará presente em razão direta do tipo de romance e dos dramas nele configurados. Portanto, quanto mais entrelaçado for à trama e mais densos os conflitos, menor papel representativo da narração e quanto mais o enredo predominar sobre o conflito, maior será a sua interferência no romance.

Descrição: acompanha a narração no interior do romance de acordo com sua índole, quanto mais ênfase na antiga, maior necessidade de descrição. Porém, quando prevalecer o tempo psicológico (em.:Dom Casmurro) há uma tendência em a descrição ausentar-se, uma vez que esse tempo repele os pormenores.

Dissertação: muda segundo o tipo de romance e da própria função que ficcionista lhe atribui: em uma obra de entretenimento (o tronco do Ipê e Senhora) aparece por acaso, mas uma obra com função social ( Dom casmurro e o Cortiço) certamente faria apelo à dissertação.

f) Começo e epílogo: o problema fundamental do romancista é finalizar a obra e não principiá-la uma vez que as páginas introdutórias de um romance podem transcorrer num ritmo algo pausado, lento, como a servir de preparação ao drama que se montará logo adiante. O epílogo depende da consistência que as páginas precedente ganharam ou perderam.

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_Tipos de Romance

De acordo com o prisma adotado pelo critico e como aspecto da obra em relevo, MOISÉS (1978, p.456) classifica o romance em:

a) Romance de tempo historia ou cronológico e Romance do tempo psicológico ou instrutivo, caso explore uma outra dimensão temporal;

b) Romance histórico, picaresco, de terror, de formação, etc. MOISÉS (op.cit.) aconselha que, para abreviar a compreensão acerca dos tipos de romance, seria mais pertinente utilizar a divisão proposta por Edwin Muir:a)Romance de ação ( em que a antiga ressalta mais que os demais componente ); b)romance de personagem (dá ênfase aos protagonistas); e) romance de drama (quando a personagem e a ação se fundem num corpo só). Esquematicamente, representamos o romance de seguinte forma:

· Pluralidade e simultaneidade dramática · Numero limitado de personagens

· Liberdade total de tempo e espaço · Dialogo (presente e importantíssimo) · Descrição (presente e importantíssimo)

· Narração (presente e importantíssimo) · Dissertação (eventualmente presente)

_Novela

A palavra novela provém do italiano novella, originada do latim novella, (de) novellus, a, derivada de novus, a, com o sentido de “jovem”, “novo”, “recente”.

Para MOISÉS (1978, p.361), o vocábulo designa uma forma literária ainda não plenamente configurada, em grande parte devido ao critério que alguns estudiosos continuam a empregar, como a distinção mecânica que baseia no número de páginas ou palavras, onde a novela contaria de cem a duzentas páginas, ao mais de vinte mil palavras, o que a colocaria entre o romance e o conto, isto é, menos extensa que primeiro e mais longa que o segundo. Entretanto, a experiência nos mostra que esse critério quantitativo é falho, uma vez que há novelas muito mais extensas que romance e vice-versa.

_Característica

a) Estrutura: assemelha ao conto por ser plástica concreta e horizontal. A solução para minimizar a questão da identificação da novela está no seu

aspecto estrutural, pois a mesma apresenta um quadro típico.

Sua ação é essencialmente multívoca, polivalente, ou seja, seja apresenta uma pluralidade dramática. Por esta razão, a novela é constituída de uma série de unidades (chamadas de células dramáticas) que são encadeadas e possuem começo, meio e fim. Entretanto, cada uma dessas unidades não é autônoma, já que sua

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fisionomia resulta da constituição de um conjunto, o que não permitiria sua existência separadamente, como também sua retirada comprometeria a progressão da trama.

Outra característica importante da novela é a sucessividade (as células dramáticas se dispõem linearmente uma após a outra). Esta sucessividade, porém, não é rigorosa, posto que o novelista não esgota o conteúdo de uma unidade antes de passar para seguinte, deixando, normalmente, uma certa carga dramática que servirá de base para a constituição de episódios seguintes. Portanto a novela é formada através da agregação de unidades dramáticas permanentemente abertas. A novela é identificada pelo predomínio da ação sobre os personagens.

a) Espaço: há uma pluralidade especial pressuposta pela pluralidade dramática, pois existe uma tendência ao deslocamento contínuo dos personagens.

b) Tempo: acompanha a estrutura linear da novela, razão pela qual não há restrição cronológica, podendo o novelista fazer uso arbitrário do tempo da ação. Entretanto, concentra-se nos momentos em que se processa cada aventura, por isso, o passado dos personagens é reduzido a breves notações.

c) Número de personagens: em função do número de células encadeadas, há uma numerosa quantidade de personagens centrais e, por essa razão, um número cada vez maior de personagens coadjuvantes. Os personagens da novela são em geral, personagens planos, carentes de profundidades, apolíneos, por isso, podem ser substituídos sem comprometer o todo da obra.

Recursos expressivos: ao contrário do romance em que o diálogo se dá num nível vertical (linguagem mais profunda), a novela apresenta um diáloga horizontal (sem muita profundidade), mas que prevalece entre os recursos expressivos. Narração: está presente, sendo elemento importante para a imaginação do novelista, uma vez que pode utilizá-la à vontade como uma saída que está permanentemente aberta à sua disposição. Descrição: pelo próprio ritmo da narrativa, tende a surgir com alguma frequência. Aumente ou diminui conforme aconteça o movimento narrativo. Dissertação: tende a omitir-se, podendo está presente em algumas modalidades de novelas (de cavalaria, sentimental quinhentista, romântica). Toda via, a dissertação não constitui elemento congenial à novela, pois como já observamos, a ação que prevalece na sua estrutura, coloca em segundo plano os demais ingredientes narrativos. f) começo e epílogo: o começo da novela se caracteriza por uma imediata atração do leitor ao cenário do primeiro episódio. Isto se dá porque o novelista se concentra na armação dos episódios colocando os num crescendo entrelaçado que culmina com a última célula dramática.

Desse modo, podemos perceber que o destino da novela não se concentra no episódio, mas em cada célula dramática.

O epílogo está articulado à sua macroestrutura, isto é, fecha-se mas estruturalmente permanece aberto, uma vez que, colocado o ponto final na sucessão de episódios, outros poderiam ser acrescentados bastando-se chamar a cena acontecimentos posteriores ou personagens secundário que não tiveram sua existência totalizada no curso da fabulação.

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_Tipos de novelas

a) Novela de cavalaria: nasceu na idade media como consequência da prosificação das canções de gesta. Se caracteriza por apresentarem a vida como aventura audaz, enfrentando toda a sorte de perigo, no enlcaço dum objetivo quase sempre inacessível ou acima da própria condição humana que pode ser Deus ou a mulher. O importante nesse tipo de novela não é alcançar o objetivo, mas combater até a morte para atingi-lo.

b) Novelas sentimentais e bucólicas: centram-se na descrição da natureza e na narração de idílios entre pastores.

c) Novelas picarescas: vindas do qualificativo picaresco (a), deriva do pícaro que designa “uma criatura de vida irregular, vadia, empregado de sucessivos patrões e vivendo de expedientes astuciosos e inescrupulosos para associar sua fome de miserável” (MOISÉS, 1997, p. 139).

d) Novela histórica: é caracterizada pela “recriação do passado remoto ou recente através de documentos verídicos, submetidos à imaginação transformadora do ficcionista” (IBID, p. 140).

e) Novelas policiais e/ou mistério: são aquelas identificas pela ocorrência de um crime, aparentemente perfeito em os protagonistas se empenham para solucioná-lo.

Esquema de novela:

· Pluralidade e sucessividade dramática · Número ilimitado de personagens

· Liberdade de tempo e espaço · Diálogo (importante) · Narração (importante)

· Descrição (importante) · Dissertação (presente ou eventualmente presente)

OBS.: 1) a novela é internamente fechada porque cada uma das células dramática tem uma vida independente. 2) É estruturalmente aberta por que seu final permite a dar continuidade em outra época caso o autor queira.

_Contos Na concepção de Moisés (1997, p. 40), o conto é “uma narrativa unívoca,

univalente: constitui uma unidade dramática, uma célula dramática, visto gravitar ao redor de um só conflito, um só drama, uma só ação.”

Desse modo, o conto é caracterizado pela unidade de ação que é tomada por uma sequência de atos praticados pelos protagonistas ou pelos acontecimentos de que participam.

_Características a) Estrutura: o conto apresenta uma estrutura própria que, embora seja uma

matriz da novela e do romance, corre em linhas paralelas com as unidades e o número de personagens. Por isso, essencialmente objetivo, plástico e horizontal. Normalmente é narrado em terceira pessoa e desenvolve sutilezas

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que acentuando-lhe a fisionomia estética, o aproxima de uma cena do cotidiano poeticamente surpreendida. Sua ação unívoca, univalente, isto é, contém, um só drama, uma única célula dramática.

b) Espaço: é limitado podendo transcorrer numa sala, num cômodo, numa rua, etc. O espaço de conto é restrito, razão pela qual raramente os protagonistas se movimentam para outros lugares.

c) Tempo: o conto decorre num restrito lapso de tempo, horas ou dias, por isso há uma unidade de tempo. Entretanto, se por acaso o tempo dilatar, parte dele se escoa sem carga dramática, ou se trata apenas de um tempo referido (“passaram-se semanas...”). No conto predomina o tempo psicológico.

d) Número de personagens: há um número reduzido de personagens, duas ou três, tão-somente as que participam diretamente do conflito.

e) Recursos expressivos: como a ênfase no conto é colocada antes na ação que nos personagens, antes no conflito que nos participantes, o diálogo predomina na sua trama. Narração: tende a ausentar-se, pois represente papel menor. Aparece para abreviar o desfile dos acontecimentos secundários ou anteriores à ação principal. Descrição: tende a ausentar-se, fica em segundo plano. Dissertação: no geral tende a ausentar-se do conto, uma vez que a inclusão pode tornar-se excrescente, mas comparece na medida em que o conto se aproxima da fábula ou do apólogo.

f) Começo e epílogo: o desenlace final da fabulação se determina desde o começo, razão pela qual a caracterização do bom contista está em saber principiar o conto, que é o elemento que condiciona o andamento da sua intriga. Portanto, todo cuidado deve ser colocado nas primeiras linhas, inclusive para servir de chamariz ao leitor.

O epilogo guarda um enigma que articula-se rumo a um desfecho inesperado, porém, coerente com toda a fabulação.

Tipos de contos

a) Conto de ação: é o tipo mais comum de conto, aquele que se perpetua nas histórias policiais e de mistério.

b) Conto de personagens: se identifica pela preferência que o contista dá aos protagonistas e não a ação que lhe executam.

c) Conto de cenários ou de atmosfera: tipo de conto em que o cenário ou ambiente predomina sobre o enredo e os protagonistas. É menos frequente que os contos de ação e de personagens.

d) Conto de idéia: se caracteriza por implicar uma visão crítica e filosófica da existência. Nele o autor procura oferecer uma síntese de suas observações acerca do mundo e dos homens.

e) Conto de efeitos emocionais: visa estimular no leitor uma sensação de terror, de pânico, de surpresa, etc., por isso, é apropriado a comunicação dos climas de mistério ou de medo.

Esquema do conto: · Unidade dramática

· Unidade de tempo e espaço

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· Número reduzido de personagens

· Diálogo permanente

· Narração – Tente a ausentar-se

· Descrição– Tente a ausentar-se

· Dissertação– Tente a ausentar-se

_Crônica O vocábulo crônica no início da era cristã designava uma lista ou relação de

acontecimentos arrumados conforme a sequência linear do tempo. Limitava-se a registrar os eventos, sem aprofundar-lhes as causas ou dar-lhes qualquer interpretação.

Atualmente, é a expressão literária de algo que é pitoresco, acidental, rotineiro, mas que, de repente, é interessante, embora de vida curta no nível da receptividade.

A crônica se classifica como expressão literária híbrida (que provém de espécies diferentes) ou múltipla, de vez que pode assumir forma de alegoria, necrológico, entrevista, invectiva (ofensiva), apelo, resenha, confissão, monólogo, diálogo, entorno de personagens reais e/ou imaginários.

As várias facetas da crônica lhe oferecem um lugar entre a poesia (lírica) e o conto, implicando sempre a visão pessoal, subjetiva, ante um fato qualquer do cotidiano. A crônica estimula a veia poética do prosador, ou dá margem a que este revele seus dotes de contador de histórias.

Portanto, a crônica é uma modalidade literária sujeita ao transitório e à leveza do formalismo, que sobrevive quando logra desentranhar o perene da sucessão anódina de acontecimentos diários e de graças aos recursos de linguagem do prosador. É uma documentação fortuita com a presença do cronista. É o jornalismo talentoso.

_Características da crônica a) Brevidade: referencia breve (banal) do dia a dia, texto curto (concisão

espacial). b) Subjetividade: documentação do irrisório com a presença do cronista; primeira

pessoa (o eu); a presença do cronista (repórter). c) Vocação poética: (lirismo) – jornalismo tratado com a vocação poética. d) Estilo entre oral e literário: conversa informal, mas bastante subjetiva; a

fronteira entre o oral e literário se abraçam. e) Efemeridade (fugacidade): vida curta do nível da receptividade, isto é, ela não

fica. f) Dialogicidade: diálogo na cumplicidade entre o cronista e o leitor. g) Ludismo: prazeroso, higiene mental. h) Ambigüidade: situação ligeiramente contraditória, não se define como história. i) Cotidianidade: corriqueiro, rotineiro, situações que acontecem no cotidiano.

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j) Expressão do pictórico, do irrisório, do circunstancial e do episódio: episódio de algo do rotineiro, provalmente presenciado pelo cronista, colocado com os olhos e o sentimento do mesmo.

6.2 Poesia De acordo com TAVARES (1984: P. 162), tradicionalmente a poesia é

linguagem de conteúdo lírico ou emotivo, escrita em verso (o que geralmente ocorre) ou em prosa.

Quando ocorre em prosa, a poesia denomina-se poema em prosa ou prosa poética, que se caracterizará através de:

a) Conteúdo lírico ou emotivo; b) Recriação lírica da realidade c) Utilização artística do poético; d) Linguagem conativa.

O verso é, para TAVARES (1984, P.167), “ uma linha de sentido completo ou não, que constitui a unidade rítmica de um poema”.

O verso possui os seguintes elementos:

a) Ritmo: sucessão alternada de sons tônicos e átonos, repetidos em intervalos regulares.

b) Metro: número de sílabas métricas (a medida do verso). c) Estrofe: linha ou agrupamento de linhas (versos) que formam uma unidade

rítmica e psicológica, indicada por uma pausa de duração máxima. d) Som: é a rima (conformidade de sons entre duas palavras a partir do acento

tônico).

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7. Estilos de época

Antonio Nunes Pereira

Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida. Não desistiu da luta. Renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos. Ser otimista. Creio numa força imanente que vai ligando a família humana numa corrente luminosa de fraternidade universal. Creio na solidariedade humana. Creio na superação dos erros E angústias do presente. Acredito nos moços. Exalto sua confiança, Generosidade e idealismo. Creio nos milagres da ciência e na descoberta de uma profilaxia futura dos erros e violências do presente. Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil. Antes acreditar do que duvidar. (Cora Coralina – Poesia goiana da atualidade)

Chamamos estilo de época à semelhança existente na maneira de conceber e expressar a realidade, no que diz respeito ao comportamento das pessoas, seus costumes e sua parte.

TAVARES (1984, p. 45), conceitua estilo de época como sendo “o estilo que apresenta uma fisionomia geral, própria e inconfundível em cada época”.

Estilo de época pode ser entendido, portanto, como as características de grupos de autores da mesma época que têm em comum a maneira de se expressar, a escolha do conteúdo e da forma, o conceito de beleza, de arte e de vida, abrangendo as artes em geral, os costumes e o modo de vida da sociedade.

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As datas que indicam o início e o fim de cada estilo de época têm caráter convencional, sendo, por isso, entendidas apenas como marcos e sua escolha obedece a dois critérios: Histórico: se apóia em acontecimentos de importância política ou social para indicar o começo e o fim de cada estilo; Literário: se baseia no aparecimento de uma obra que reflete uma significativa mudança em relação ao estilo anterior.

Um importante detalhe a observarmos em relação aos estilos de época é que, cada um deles, apresenta um período de ascensão, um ponto máximo e um período de decadência (que coincide com o período de ascensão do próximo estilo de época).

Os estilos de época apresentados pela literatura brasileira não são os mesmos apresentados pela literatura portuguesa, uma vez que o Brasil só foi descoberta em 1500. Desse modo, podemos sintetizar os estilos de época (ou escolas literárias) da história literária de Portugal e do Brasil no quadro seguinte: (Quadro será apresentado em Power-Point pelo professor da disciplicina em sala de aula).

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Nota Everton Alencar Maia Professor da UECE com doutorado. Maria do Socorro Pinheiro Professora da UECE com especialização. Antonio Nunes Pereira Professor da UECE com especialização. Ciências e Letras de Iguatu (FECLI – UECE), que vem desenvolvendo um esforço acadêmico no sentido de valorizar a produção intelectual de seus professores e integrar a significativa experiência docente destes profissionais na formação de novos professores.

Referência do livro

MAIA, Everton Alencar; PEREIRA, Antonio Nunes;PINHERIO, Maria do Socorro. A essência teórica da literatura em língua portuguesa. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2004. REFERÊNCIAS

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 34. Ed. São Paulo: Cultrix, 1994. CUNHA, Celso; CINTRA, lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de janeiro: Nova Fonteira, 1985. DE NICOLA, José. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 1998. DOMÍCIO FILHO, Proença. Estilos de época na literatura. São Paulo: Ática, 1987. FARACO; MOURA. Literatura brasileira. São Paulo: Ática, 1988. FIGUEREDO, Fidelino de. História da lietartura clássica portuguesa. Lisboa: [s.n], 1967. HORACE. Oevres. Paris: Hachette, 1935. MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 2. Ed. São Paulo: Cultrix, 1978. .A literatura brasileira através dos textos. 20. Ed. São Paulo: Cultrix, 1997. .A criação literária: prosa I. 16. Ed. São Paulo: Cultrix, 1997. . A criação literária: prosa II. 16. Ed.São Paulo: Cultrix, 1997. OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de. Manual compacto de redação e estilo. São Paulo: Rideel, 1994. PAES, José Paulo; MOISÉS, Massaud. Pequeno dicionário de literatura brasileira. São Paulo: Cultrix,[s.d]. SILVA; AGUIAR, Vítor Manuel de. Teoria da literatura. Lisboa: Livraria Almedina, 1992. TAVARES, Hênio. Teoria literária. Belo Horizonte: Itatiaia, 1984.

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REFERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d´Água, 1997.

CHRISTIANE, Martinatti Maia. Organização do trabalho pedagógico. Curitiba: IESD BRASIL S.A. 2009.

MAIA, Everton Alencar;PEREIRA, Antonio Nunes;PINHEIRO, Maria do Socorro. A essência teórica da literatura em língua portuguesa. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2004

LUFT, Celso Pedro. Língua liberdade. São Paulo: Ática, 1994.

AMORA, Antonio Soares. Introdução a teoria da Literatura. São Paulo: Cultrix, 2004.

TEXTOS COMPLEMENTARES

TEXTO A O que é Literatura?

A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais: objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social.

O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das realidades fatuais. Os fatos que manipulam não têm comparação com os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e julgamento das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida, o qual sugere antes que esgota o quadro.

A Literatura é, assim, vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana.

(COUTINHO, AFRÂNIO. Notas de teoria literária. 2 ed. Rio de janeiro, Civilização Brasileira, 1978. P. 9-10.)

TEXTO B As manifestações Artísticas

Pelo texto estudado, percebemos que a literatura é uma dentre as várias formas de manifestação da arte, como o são a pintura, a arquitetura, a música, a dança, a escultura. E já que a arte pode revelar-se de múltiplas maneiras, podemos

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concluir que há entre essas expressões artísticas pontos em comum e pontos específicos ou particulares.

Dentre os pontos em comum, o principal é a própria essência da arte, ou seja, a possibilidade de o artista recriar a realidade. O artista tem, dessa forma, um poder mágico em suas mãos: o de moldar a realidade segundo suas convicções, seus ideais, sua vivência. Um caso que ilustra bem esse poder mágico é o do pintor Cândido Portinari, que sempre demonstrou um profundo carinho pelos meninos de Brodósqui, na cidade natal, no interior de São Paulo, e, ao desenhá-los, colocava-os em balanços e gangorras. Quando perguntavam ao pintor por que a insistência com crianças em pleno vôo, respondia: “Gosto de vê-los assim, no ar, feito anjos”.

Essa possibilidade de recriar a realidade, dando corpo a uma outra verdade é que levou o pintor espanhol Pablo Picasso a afirmar:

“A arte é uma mentira que revela a verdade.”

No dizer do compositir Claude Debussy:

“A arte é a mais bela das mentiras”.

O poeta e crítico de arte Ferreira Gullar assim se manifesta sobre essa transformação simbólica do mundo:

“A Arte é muitas coisas. Uma das coisas é que a arte é, parece, é uma transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro - mais bonito ou mais intenso ou mais significativo ou mais ordenado – por cima da realidade imediata.

Naturalmente, esse mundo outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de suas experiência de vida, das idéias que ele tem na cabeça, enfim de sua visão de mundo.”

Dentre os pontos específicos, o principal é a própria maneira de se expressar que vai caracterizar cada uma das manifestações artísticas. O artista literário se exprime através da palavra oral ou escrita; o pintor, através das cores e formas; o escultor, das formas obtidas pela exploração das três dimensões: comprimento, largura e altura; o músico, do som, a dança, dos movimentos corporais acompanhando um determinado som.

“A linguagem é o material da literatura, tal como a pedra ou o bronze o são da escultura, as tintas da pintura, os sons da música. Mas importa ter meramente que a linguagem não é uma matéria meramente inerte como a pedra, mas já em si própria uma criação do homem.”

(René Wellek e Austin Warren, no livro Teoria da literatura)

A propósito do texto 1. Aristóteles, o clássico filósofo grego, afirmava que “a arte é imitação”. Esta afirmação está de acordo com o

texto acima? Justifique sua resposta. 2. O texto afirma que o artista, ao recriar a realidade, estabelece uma outra verdade. Como é essa outra

verdade? 3. O compositor francês Claude Debussy (1962 –1918) afirmou certa vez: “A arte é a mais bela das mentiras”.

Você concorda com esse pensamento?

PORTINARI Cândido Portinari nasceu em Brodósqui, São Paulo, a 29/12/1903. Faleceu a 6/12/1962, ao Rio de Janeiro. Segundo Jorge Amado, “Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiro – camponeses, retirantes, crianças, santos e artistas de circo, os animais e as paisagens – são a maneira com que trabalhou e construiu suas obra imorredoura”.

Pablo Ruiz Picasso nasceu na Espanha em 188, e faleceu em 1973. Um dos artistas de maior destaque das artes modernas, criou o Cubismo. Dentre suas principais obras, destaca-se Guernica, ela que denúncia os horrores da guerra, foco da resistência republicana, foi bombardeada pelas forças facistas.

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