apostila da disciplina jornalismo internacional . eco/ufrj 2008.2

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicação Curso de Comunicação Social habilitação em Jornalismo Apostila 2008.2 Jornalismo Internacional (Jornalismo Especializado) ECS503 | ECS502 Prof. Dr. Mohammed ElHajji Pedro Aguiar (mestrando) com monitoria do Programa de Educação Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ (PET-ECO)

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Textbook used at the classes of International Journalism course taught at the University of Rio de Janeiro (UFRJ) in 2008, second semester. It's a collection of texts about covering world news, foreign reporting, war coverage and the work of foreign correspondents.Language: Portuguese

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Page 1: Apostila da disciplina Jornalismo Internacional . ECO/UFRJ 2008.2

Universidade Federal do Rio de Janeiro Escola de Comunicação

Curso de Comunicação Social habilitação em Jornalismo

Apostila 2008.2

Jornalismo Internacional (Jornalismo Especializado)

ECS503 | ECS502

Prof. Dr. Mohammed ElHajji Pedro Aguiar (mestrando)

com monitoria do Programa de Educação Tutorial da Escola de Comunicação da UFRJ (PET-ECO)

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Índice Créditos ......................................................................................................... 2 Ementa ......................................................................................................... 3 Objetivos ......................................................................................................... 3 Avaliação ......................................................................................................... 3 Programa ......................................................................................................... 4 Bibliografia ......................................................................................................... 5 Textos auxiliares

“Jornalismo Internacional” – definição da Wikipedia, a enciclopédia livre .................... 7 “O Jornalista Brasileiro e a Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação”

Guy de Almeida ...... 9

“A Batalha no Mundo” (Fluxo de Informação e Pauta de Internacional) Clóvis Rossi

....................... 13

“Olhai (direito) pra nós!” (Jornalismo Internacional Alternativo) J.P. Charleaux

................................. 16

“Lula, o Bin Laden do Reverendo Moon” (Mídia Conservadora dos EUA) Joel Conrado

....................... 21

“A Grande Matéria: Washington, as Nações Unidas, o Mundo” John Hohenberg

................................... 26

“Meio Século de Memórias” (História do Fotojornalismo Internacional) John Morris

....................... 40

“Os Atacadistas de Notícias” (Agências Internacionais de Notícias) John Hohenberg

............................ 44

“Jornalismo Internacional, Correspondentes e Testemunhos sobre o Exterior” Guillermo García Espinosa de Los Monteros

............. 50

“Do Outro Lado do Mundo” (Trabalho do Correspondente Internacional) Fritz Utzeri

.................... 56

“O Fim de uma Era” (Correspondentes Internacionais da TV Globo) Antônio Brasil

............................ 63

“Crise na Cobertura Internacional” Antônio Brasil

......................................................................... 66

“Cobertura Internacional é para gente grande” Cristiana Mesquita

....................................................... 68

Cobertura Brasileira sobre Guerras Jayme Brener

......................................................................... 71

“Jornalismo sem Fronteiras” (História da CNN) Sidney Pike

....................................................... 73

“Em Directo da Guerra: o impacto da Guerra do Golfo no discurso jornalístico” José Rodrigues dos Santos

............. 80

“A Internet e o Futuro do Jornalismo Internacional” Alan Knight

.................................................. 84

Apêndices de Referência

Editorias Brasileiras de Internacional Agências Internacionais (telefones/contatos das que atuam no Brasil) Websites de Veículos da Mídia Estrangeira (Jornais, Revistas, Rádios e TVs) Correspondentes Brasileiros no Exterior Correspondentes Estrangeiros no Brasil Sedes de Estado e de Governo de Alguns Países Parlamentos de Alguns Países Outros websites úteis Cronologia da Formação da Mídia Internacional (Veículos e Agências) Fatos marcantes na pauta de Internacional no semestre anterior

90 91 92 99

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Créditos Docente

Prof. Dr. Mohammed ElHajji

Assistente de docência

Pedro Aguiar

Monitores

Iasmine

Erick Dau

Manuela

Editoração da Apostila

Anna Virginia Balloussier Ancora da Luz

Pedro Aguiar

Rafael Moura Vargas

Projeto Gráfico

Pedro Aguiar

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Ementa

O jornalismo como intérprete das questões globais. O discurso jornalístico sobre fatos internacionais. Distanciamento e identificação. O noticiário de política internacional. Agências de notícias, correspondência internacional e correspondência de guerra. Pauta, apuração, redação e edição em Jornalismo Internacional. Novas tecnologias e impacto na práxis profissional.

Objetivos

1. Apresentar as questões globais, antigas e contemporâneas, como objeto do trabalho jornalístico. Discutir em que medida essas questões traduzem e/ou afetam nossa realidade.

2. Introduzir os principais elementos, aspectos e personagens da política internacional, discutindo os papéis que efetivamente têm e a sua representação cotidiana no noticiário.

3. Apresentar a prática do Jornalismo Internacional; as funções, os locais e as possibilidades de trabalho nesta área. Se possível, realizar visitas aos locais onde se exerce.

4. Debater temas contemporâneos da geopolítica e da política internacional, a partir de exemplos da mídia.

Avaliação 1. Exercícios práticos especulativos (individuais)

Após cada aula expositiva ou filme, será proposto um exercício especulativo com base nas questões discutidas. Os exercícios deverão ser entregues por escrito.

Valor: 10%

2. Prova

Na segunda metade do semestre será realizada uma prova objetiva sobre o conteúdo abordado até então. A prova deverá ser feita individualmente, em sala.

Valor: 40%

3. Reportagem e/ou ensaio sobre determinada questão de noticiário internacional (individual)

O aluno deverá escolher um tema atual de política internacional (ou outros temas internacionais), de preferência não destacado pela mídia, e redigir uma matéria de cerca de uma lauda (ou 3.000 caracteres, corpo 12, espaçamento simples), em linguagem jornalística, utilizando fontes alternativas para a apuração (como as sugeridas no final da apostila). Poderá também fazer um texto ensaístico sobre a questão abordada. Valor: 50%

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Regras disciplinares

• A chamada será feita no fim da aula.

• Nos dias de exibição de filmes, o tempo de aula ultrapassará o horário, necessariamente. Os exercícios só serão passados após os filmes. Para os alunos quem têm estágio ou outro compromisso logo em seguida, aconselha-se cursar a matéria em outro semestre. Os que saírem antes da chamada sistematicamente serão reprovados por falta.

• Os celulares devem estar desligados ou no modo vibratório. Não se deve atender

dentro de sala – se sentir o aparelho vibrar, o aluno deve sair de sala para atender.

• Casos de plágio resultarão em nota zero peremptoriamente.

• O website da disciplina terá à disposição dos alunos a apostila do curso – com os textos a serem trabalhados em cada aula – mais textos avulsos de interesse para quem quiser se aprofundar no tema.

• Grande parte do conteúdo será enviada por correio eletrônico. Aconselha-se aos

alunos checar sua correspondência de e-mail regularmente.

• e-mail da disciplina: [email protected]

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Programa 1. Jornalismo e Questões Globais

1.1. Definição e Gênese. Jornalismo Internacional como produto do industrialismo do século XIX. Primeiras coberturas de guerra (Criméia, Secessão, Guerra Estados Unidos-Espanha e William Hearst, guerras imperialistas, Primeira Guerra Mundial).

1.2. O Discurso da Mídia e os Fatos Internacionais. A visão de mundo que a mídia transmite. O etnocentrismo na imprensa estrangeira. Fluxo de informação.

1.3. Teorias da Globalização e suas influências no Discurso Midiático (Fukuyama, Huntington, Negri).

1.4. Hegemonia e Alteridade. O olhar do outro anulado pela mídia hegemônica. Distanciamento x Identificação: o regional interessa mais que o estrangeiro?

2. O Noticiário de Política Internacional

2.1. A Pauta no Noticiário Internacional. A hegemonia da política externa de Washington. Vizinhos latino-americanos e países do Terceiro Mundo. Guerras, eleições, golpes e desastres: não há mais nada além disso?

2.2. Principais atores na Política Internacional. Organismos Multilaterais e Blocos Político-Econômicos. ONGs e instituições humanitárias. Partidos políticos e entidades suprapartidárias. Movimentos sociais e minorias.

2.3. Grupos Culturais-Étnicos-Religiosos. Islamismo, Catolicismo, Anglo-Saxônicos, Pan-Africanismo, Pan-Eslavismo. Unicidades e fragmentações. Subculturas e rebeldia. Dicotomia Ocidente x Oriente.

2.4. Esquerda x Direita pelo Mundo Afora. Políticas, eleições e conflitos baseados firmemente em ideologia.

2.5. Problemas Históricos. Colonizadores e ex-colonizados; ex-aliados e ex-inimigos; estados multinacionais e nações sem estado.

3. O Trabalho em Jornalismo Internacional

3.1. Reportagem em Jornalismo Internacional. Apuração e checagem a distância. Presença x Acompanhamento Constante. Barreiras à informação in loco (censuras, manipulações por interesses locais etc.). Internet e credibilidade.

3.2. Correspondentes Estrangeiros e Enviados Especiais.

3.3. Correspondentes de Guerra e Roving Correspondents: o repórter internacional permanente e itinerante.

3.4. Agências Internacionais de Notícias. Como funcionam, quais as principais no mundo, quais as que atuam no Brasil. Rapidez x Precisão. Agências Oficiais x Agências Privadas. Cooperação e pools entre agências de notícias.

3.5. A Editoria Internacional no Jornalismo Diário (jornal, revista, TV, rádio e Internet). Estrutura e funcionamento.

3.6. Novas Mídias, Multiplicidade das Fontes e Responsabilidade. Imprensa alternativa e redes alternativas de informação (CMI, rádios).

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4. Questões Contemporâneas de Política Internacional

4.1. Relações Internacionais no Século XXI

4.2. Imperialismo x Império. Unipolaridade x Multipolaridade

4.3. Terrorismo Global: algo mudou depois do 11.set.2001? “Eixo do Mal”

4.4. Nacionalismos e Conflitos Étnicos

4.5. Geopolítica dos Recursos Naturais

4.6. Opinião Pública Internacional

4.7. Cultura e Imaginário Geopolítico

4.8. (sugestões dos alunos)

Bibliografia básica

AGUIAR, Pedro. Jornalismo Internacional em Redes. Rio de Janeiro: Prefeitura do Rio/Secretaria Especial de Comunicação Social, 2008 (Cadernos da Comunicação).

BALDESSAR, Maria José. A Ordem Invertida: o fluxo internacional de notícias a partir do advento da Internet. tese de doutorado apresentada à ECA/USP. São Paulo: USP, 2006 (Orientadora: Elizabeth Saad Corrêa).

COLOMBO, Furio. Últimas Noticias sobre el Periodismo: manual de periodismo internacional. Barcelona: Anagrama, 1997. (sem publicação no Brasil)

DORNELES, Carlos. Deus é inocente, a imprensa não. Rio de Janeiro: Globo, 2002.

FERREIRA, Argemiro. Informação e Dominação: a dependência informativa do Terceiro Mundo e o papel do jornalista brasileiro, Rio de Janeiro: Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro: 1982.

HAŠKOVEC, Slavoj. FIRST, Jaroslav. Introducción al Trabajo de las Agencias de Noticias. Santiago de Cuba: Editorial Oriente, 1984

HESS, Stephen. International News & Foreign Correspondents. Washington: The Brookings Institution, 1996.

MATTELART, Armand. Comunicação-Mundo: história das técnicas e das estratégias. Petrópolis: Vozes, 1994.

NATALI, João Batista. Jornalismo Internacional. São Paulo: Contexto, 2004.

PATERSON, Chris. SREBERNY, Annabelle. International News in the Twenty-First Century. Eastleigh (Reino Unido): John Libbey/University of Luton Press, 2004.

PERES, Andréa Carolina Shvartz. Notas sobre jornalismo internacional no Brasil. in Observatório da Imprensa, 22/11/2005.

REYES MATTA, Fernando (org). A Informação na Nova Ordem Internacional. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

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Jornalismo Internacional Verbete da Wikipedia, a Enciclopédia Livre, 2005 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornalismo_Internacional) Chama-se Jornalismo Internacional a especialização da profissão jornalística nos eventos estrangeiros ao país onde está sediado o veículo de imprensa em que o jornalista trabalha. Por isso, a definição é relativa por natureza: o que é assunto "doméstico" num determinado país será "internacional" em todos os demais. Este fato faz com que o Jornalismo Internacional seja provavelmente a área do Jornalismo com maior abrangência de temas entre todas, já que deve dar conta de política, economia, cultura, acidentes, natureza e todos os assuntos que aconteçam fora de seu país de origem.

O Jornalismo como atividade profissional já teria nascido Internacional em seus primórdios, pois os veículos de imprensa pioneiros – criados no contexto da ascensão da burguesia na Europa nos séculos XVII e XVIII – foram criados principalmente para informar leitores locais (em grande parte, comerciantes e banqueiros) sobre fatos acontecidos no exterior.

A partir do século XIX, com jornais já consolidados na Europa, nos Estados Unidos e em determinados países – como o Brasil -, e com as inovações nas telecomunicações, como o telégrafo, as notícias do estrangeiro ganharam novo impulso. Começaram a ser formadas as primeiras agências de notícias, inicialmente como associações entre jornais para cobrir eventos de grande relevância, como guerras e revoluções. Os primeiros conflitos a receber ampla cobertura jornalística foram a Guerra da Criméia e a Guerra de Secessão dos EUA.

Agências de Notícias

As Agências de Notícias são empresas jornalísticas especializadas em difundir informações e notícias diretamente das fontes para os veículos de mídia. As agências operam

através de escritórios locais, em diferentes cidades e países, que transmitem sua apuração para as centrais, que por sua vez redistribuem o material para os clientes (i.e., jornais, revistas, rádios, televisões, websites etc.).

As agências surgiram em meados do século XIX, com a fundação da primeira agência, a Havas (mais tarde dividida entre AFP e Reuters). Inicialmente sediada em Paris, a Havas enviava as principais informações e notícias do exterior por telegramas para os jornais, que pagavam por esse serviço. Durante a Guerra de Secessão nos Estados Unidos, os maiores jornais de Nova York se juntaram para formar a Associated Press, e enviar um pool de correspondentes para o campo de batalha.

Hoje, as agências mantêm uma rede de correspondentes e stringers (colaboradores) nas maiores cidades do mundo e assim repassam para os veículos de imprensa. Nos últimos anos, o trabalho das agências e seus correspondentes foi enormemente facilitado pelas novas tecnologias de comunicação, como a Internet.

Correspondentes e Enviados

Há dois tipos de reportagem que podem ser feitas no exterior: o trabalho de Correspondência Estrangeira (ou Correspondência Internacional) e o do Enviado Especial ao Exterior. Embora haja semelhanças entre ambos, as diferenças se dão no cotidiano do trabalho e da produção de material para seus respectivos veículos de imprensa.

O Correspondente é um repórter baseado fixamente numa cidade estrangeira – muitas vezes a capital de um país -, cobrindo uma região, um país ou às vezes até um continente inteiro. Ele deve enviar matérias regularmente para a redação da sede de seu veículo. Para

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isso, ele acompanha toda a imprensa local, mantém contatos freqüentes com jornalistas e colegas correspondentes e identifica fontes estratégicas – como entidades, governos, diplomatas, militares e outras que possam fornecer informações importantes. Na maior parte das vezes, o correspondente é auto-pautado – ou seja, ele mesmo define sobre o que irá escrever, o que irá apurar, que assuntos vai selecionar. O correspondente deve ter conhecimento profundo da realidade local e um talento discricionário elevadíssimo para identificar os fatos mais relevantes no país onde trabalha e ao mesmo tempo interessantes para seu país de origem.

Já o Enviado Especial é um repórter expatriado com um tema previamente definido para cobrir ou investigar (uma guerra, uma crise, uma epidemia etc.). Diferente do correspondente, o enviado especial pode produzir uma única matéria, se for o caso, ou uma série, sem necessidade de envio regular de produção. Normalmente, o enviado especial é selecionado entre os profissionais da redação por ter maiores conhecimentos sobre o tema ou o lugar dos fatos. Muitas vezes, o enviado passa poucos dias no local e retorna à sede logo em seguida.

Quando jornalistas trabalham no exterior sem vínculos fixos com veículos de imprensa ou em regime de prestação de serviço, são chamados de Stringers. Estes são mais comuns em locais onde a mídia não acha tão interessante ou compensatório manter um correspondente fixo, como em países do Terceiro Mundo. Stringers geralmente produzem matérias para várias empresas diferentes ao mesmo tempo.

Correspondência de Guerra

O trabalho de Correspondente de Guerra propriamente dito surgiu na segunda metade do século XIX, com o envio de repórteres europeus e norte-americanos para conflitos como a Guerra da Criméia, Guerra do México, Guerra do Ópio, Guerra de Secessão dos EUA, Guerra do Paraguai e Guerra Hispano-Americana.

Entretanto, antes mesmo já havia os chamados "cronistas de guerra", que produziam relatos sobre os conflitos – sem que houvesse, na época, técnicas de produção jornalística. O general romano Júlio César, por exemplo, escreveu crônicas de guerra em seu diário De Bello Galico. A diferença para os correspondentes modernos é que estes são enviados especificamente para cobrir conflitos para um veículo determinado (jornal, TV, rádio, revista etc.).

O correspondente de guerra pode ficar baseado numa cidade perto da zona de conflito (por haver mais infraestrutura e acesso a comunicação com a redação da sede) ou ir direto para o front de combate, se as condições e os militares permitirem. Tecnologias de comunicação recentes, como a internet, permitiram maior mobilidade ao correspondente de guerra, já que ele agora pode enviar textos, sons e imagens de praticamente qualquer ponto do mapa, incluindo o campo de batalha. O trabalho é de altíssimo risco, mas cada informação obtida tem valor igualmente alto. Correspondentes de guerra estão entre as maiores vítimas de casualidades (mortes por assassinatos ou acidentes) entre jornalistas.

O QUE É A WIKIPEDIA A Wikipedia é uma enciclopédia online de conteúdo livre, o que significa que qualquer usuário pode editar os verbetes, alterando o que quiser, sem nenhum tipo de controle ou censura. Isso também significa, por outro lado, que pode haver erros ou opiniões e ideologias embutidos nos textos e, nestes casos, a redação final fica a cargo do senso-comum. Para acessar a Wikipedia, visite http://www.wikipedia.org

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Texto I

O Jornalista Brasileiro e a Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação Guy de Almeida, 1980 A importância, para o jornalista profissional, do estabelecimento de uma Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação (NOMIC) se caracteriza em vários aspectos. Como cidadão, sua ótica deve ser não apenas a do captador-emissor de informações, mas também a do receptor, mais consciente, por sua própria especialização, do importante papel que a comunicação joga na sociedade. Nessas circunstâncias, pelo menos dois aspectos, entre outros, devem ser motivo de reflexão permanente para o jornalista profissional: 1. A função essencial da comunicação democratizada, particularmente em uma sociedade como a brasileira que, após muitos anos, reabre e aprofunda o debate em busca de um modelo política, econômica e socialmente mais justo.

Já parece suficientemente claro para os estudiosos do problema que a criação da Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação inclui um acurado exame da Ordem Informativa Nacional, também caracterizada por sérios desequilíbrios. Ela deveria ser abordada de acordo com as peculiaridades de cada país, tomando sempre em consideração que, tal como é reivindicado por diversos grupos de países do Terceiro Mundo em relação à Ordem Internacional, deveria ampla, paulatina e substancialmente os níveis de participação dos diferentes segmentos da sociedade e das diferentes regiões de cada país, seja no sentido de uma mais equilibrada circulação interna de informações e opiniões em relação aos seus diversificados interesses, seja em relação à qualidade e credibilidade daquele material.

A exclusão desta preocupação comprometeria a retórica desenvolvida por aqueles governos em defesa da Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação, na medida em

que seus efeitos e vantagens estariam condicionados no âmbito nacional em grande medida aos interesses de limitados setores.

O fluxo interno de informações sob controle apenas do governo ou de determinados setores da sociedade agrava na prática interna as distorções denunciadas em relação ao controle da informação internacional pelas grandes nações industrializadas em detrimento das nações em desenvolvimento.

2. A democratização da comunicação é essencial para o jornalista – porque, na medida da qualidade de seu trabalho profissional, tende a dignificar e consolidar o seu importante papel na sociedade.

Basicamente, o processo de busca da Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação instaurou-se como conseqüência da percepção, pelos países do Terceiro Mundo, baseada em sua longa experiência histórica, da importância da atual Ordem como instrumento fundamental para o controle das Ordens Política e Econômica Internacionais pelos países industrializados.

Aquele processo nasceu assim do diagnóstico primário do desequilíbrio informativo entre nações desenvolvidas e nações em desenvolvimento e transitou rapidamente para o aprofundamento de pesquisas e estudos para a proposição de alternativas e fórmulas para a sua viabilização. Constatou-se, então, a existência de uma complexa teia de problemas cuja superação seria essencial para que aquele objetivo fosse alcançado.

O trabalho mais profundo e importante elaborado até agora com essa finalidade é o da Comissão Internacional para o Estudo dos Problemas da Comunicação, criada em 1977 pela UNESCO, que ficou mais conhecida como Comissão MacBride, uma derivação do nome de seu presidente, o irlandês Sean

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MacBride. Ela esteve formada por 16 especialistas de prestígio mundial1, oriundos de diferentes nacionalidades e representati-vos, em linhas gerais, das situações e tendências políticas e econômicas, mais em evidência do mundo de hoje.

O seu Relatório final, aprovado por consenso pela XXI Conferência Geral da UNESCO (Belgrado, 1980), apontou uma série de problemas básicos da área de Comunicação, particularizando também em três capítulos especiais, aqueles que afetam a atividade do jornalista: “Os profissionais da comunicação”, “Direitos e responsabilidades dos jornalistas” e “Normas de conduta profissional”.

Seu exame, ainda que superficial, mostrará, até mesmo por uma pragmática consciência em relação à influência que terá para a estruturação da profissão no futuro, que o jornalista profissional deverá estar pelo menos atento ao desenvolvimento do debate e posicionado para influir expressando a sua opinião.

Quase todos os aspectos abordados pela Comissão MacBride têm sido objeto de preocupação intermitente ou permanente dos setores representativos da categoria profissional em todo o mundo ao longo dos últimos anos. Pela primeira vez, no entanto, eles surgem apresentados e analisados em conjunto, enriquecidos, portanto, pelas vantagens de uma visão global e articulada, apesar de várias limitações observadas devido ao próprio ecletismo da composição da Comissão e dos interesses nacionais envolvidos no debate na UNESCO, levada,

1 Os 16 membros da Comissão foram, além do irlandês Sean MacBride, seu presidente: Elie Abel (Estados Unidos), Humbert Beuve-Méry (França), Elebe Ma Ekonzo (Zaire), Gabriel García Márquez (Colômbia), Sergei Losev (União Soviética), Mochtar Lubis (lndonésia), Mustapha Masmoudi (Tunísia), Michio Nagai (Japão). Fred Isaac Akporuaro Omu (Nigéria), Bogdan Osolnik (Iugoslávia), Gamal El Oteifi (Egito), Johannes Pieter Pronk (Países Baixos), Juan Somavia (Chile). Boobli George Verghese (Índia) e Betty Zimmerman (Canadá).

por isso, à conciliação de posições para a obtenção do consenso.

O principal objetivo do documento parece, no entanto, ter sido razoavelmente atingido, como evidencia a própria controvérsia que suscitou: detectar e descrever os problemas essenciais relacionados com a estruturação da Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação e a partir daí apresentar alternativas para os mesmos.

Torna-se, assim, pelo menos um instrumento de estímulo a um debate mais ordenado e conseqüente que deve promover novos níveis de consciência quanto ao tema e à viabilização de fórmulas para a superação dos problemas já conhecidos.

Nesse quadro, alguns aspectos em debate que interessam diretamente aos jornalistas profissionais são, por exemplo, sinteticamente:

1. O estabelecimento de Políticas Nacionais de Comunicação, envolvendo um conceito de desenvolvimento global e integrado. A implantação de novos mecanismos internos e externos de informação no país deverá ter, além de sua importância como instrumento para o desenvolvimento econômico e social, um peso específico na valorização profissional e na dinâmica do mercado de trabalho.

2. A multiplicação das profissões requeridas no mercado de comunicação em conseqüência da revolução tecnológica (satélites, laser, computadores, etc.) superando o sentido tradicional de transferência da informação, que envolvia basicamente os jornalistas (repórteres, redatores, pessoal da radiodifusão, televisão, etc.). O surgimento de diferentes atividades profissionais na área e a sua articulação para o exame de problemas comuns são elementos importantes para as relações internas nas novas estruturas de trabalho em elaboração.

3. O impacto da nova tecnologia sabre o atual mercado de trabalho e particularmente sobre o exercício profissional, problema que deverá atingir de maneira objetiva o Brasil, proximamente, como já ocorreu na região

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latino-americana, na Venezuela, por exemplo, em relação à instalação de terminais na redação. Ressalta-se também o problema da concentração da tecnologia em um número reduzido de países industrializados e nas empresas transnacionais, criando relações de dependência extremamente delicadas para o desenvolvimento do país.

4. A importância da formação dos jornalistas profissionais para o estabelecimento e consolidação de um novo quadro de comunicação, não apenas no sentido de sua capacitação primária (prática ou escolar). Aqui, é importante realçar também o aspecto da demanda crescente de especialização, seu aperfeiçoamento, readaptação, atualização e/ou reciclagem quando já em exercício, devido à evolução constante do mundo da comunicação, como ocorre agora, por exemplo.

Esse ponto tem particular relevância, por exemplo, no que se refere ao próprio tratamento dado à informação internacional na imprensa dos países em desenvolvimento. Várias pesquisas mostram que o responsável por este setor muitas vezes, por carências de formação, não dá um aproveitamento mais adequado ao material informativo disponível por desconhecer as'circunstâncias e antecedentes que cercam determinados acontecimentos e sua importância para o país ou por estar incapacitado para examinar criticamente o material recebido das agências. Produzem-se, então, supressões, cortes, falta de enriquecimento do material com dados adicionais para melhor ilustração do leitor, etc.

Quanto a este aspecto, vale estar atento para a possibilidade de uma crescente presença nas redações de especialistas (cientistas políticos, economistas, etc.) não apenas como. colaboradores-articulistas, mas também para suprir deficiência do pessoal de redação, particularmente em publicações que já se preocupam com maiores níveis de interpretação do acontecimento.

5. A definição e garantia dos direitos do jornalista como, por exemplo, o de buscar uma

informação sem obstáculos e transmiti-la sem perigos, o direito de omitir livremente as suas opiniões, etc.

6. O estabelecimento de um estatuto ou normas de proteção ao jornalista, não apenas no aspecto físico, mas também no da independência e da integridade profissional de todos que intervêm no trabalho de coleta e difusão de notícias.

7. A regulamentação da profissão, tema cercado de argumentos contraditórios. O Relatório Final da Comissão MacBride, por exemplo, chega a assinalar que o "pluralismo dos sistemas econômicos e sociais que caracterizam o mundo, assim como as necessidades específicas de cada país, impedem evidentemente dar uma resposta afirmativa ou negativa a esta questão".

8- A co-gestão editorial, como um caminho para a participação nas decisões importantes e como um instrumento de democratização da profissão na empresa (pública ou privada), incluindo, para isso, a intervenção do jornalista na formulação e na execução da política editorial.

9. As normas de conduta profissional, mediante o estabelecimento de Código Deontológico (ou de ética) com a definição das responsabilidades e deveres do jornalista profissional.

10. O estabelecimento de Conselhos de Imprensa ou de Comunicação nas redações, com o prévio exame dos vários modelos e experiências já observados no mundo.

11. O direito de resposta e de retificação, fundamental, pois, como também assinala o Relatório MacBride, "em nosso mundo instável, uma falsa notícia pode'provocar distúrbios, suscitar ou reforçar os conflitos sociais, desalentar ou inclusive acelerar os investimentos e ir em detrimento da confiança que depositam em um dado país os demais".

Nessa amostragem geral e sintética, merece uma referência especial a necessidade de uma reflexão profunda e permanente do jornalista profissional sobre o seu papel ante o receptor

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da informação. Isto é: tem-se observado em todo o mundo um crescente exercício crítico do profissional ante o caráter da empresa jornalística pública ou privada e o seu predomínio político e/ou econômico sobre a criatividade, a responsabilidade informativa e o sentido ético do profissional. Mas apenas começa o exame do papel do receptor de informação (leitor, radioouvinte ou telespectador) no processo de produção do

meio de comunicação seja sob o ponto de vista da empresa, seja sob o ponto de vista do jornalista profissional.

Estes dados preliminares são importantes para que o jornalista profissional possa entender com mais clareza a relevância das informações que se seguem sobre os esforços realizados para o desenvolvimento do debate em torno do estabelecimento da Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação.

Referência bibliográfica

FENAJ, “O Jornalista e a Luta por uma Nova Ordem Mundial da Informação e Comunicação”, Série Documentos da FENAJ, vol.III, Brasília: FENAJ, 1983, págs.6-16

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• O texto é do início dos anos 1980. Desde então, a situação do fluxo mundial de informações alterou-se significativamente?

• Que tipos de iniciativas ajudariam a equilibrar (ou até reverter) o fluxo de mundial

de informações?

• Jornalismo Internacional, movimentos sociais e opinião pública internacional: qual é o papel destes agentes na construção de uma democracia global?

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Texto II

A Batalha no Mundo (Fluxo de Informação e Pauta de Internacional) Clóvis Rossi, 1980 Talvez seja no noticiário internacional — ou, mais precisamente, no controle do fluxo internacional de informações — que mais fique evidente o quanto o jornalismo é uma batalha pela conquista de mentes e corações. Como funciona esse mecanismo? A resposta mais ilustrativa pode ser encontrada numa publicação mensal brasileira, dirigida essencialmente a homens de negócio, a revista Banas, que assinalava em seu número de março de 1980:

“Como os países industrializados controlam inclusive os meios de comunicação, e como os centros de produção agrícola ou mineral, na maioria dos casos, não dispõem de estruturas culturais, empresariais e noticiosas fortalecidas, até as informações sobre mercados, os boatos e a barragem de notícias forjadas desencorajam uma eficiente defesa de interesses dos produtores de matérias-primas, porque a sua imprensa local funciona como satélite do mercado noticioso do exterior.”

Não é uma constatação vazia: os países desenvolvidos controlam praticamente o circuito mundial de notícias, através de cinco agências, editam 83% dos livros publicados no mundo, controlam as dez maiores agências de publicidade do mundo (sete são norte-americanas e três têm participação majoritária de capital norte-americano), produzem e exportam 77% de filmes para cinema — e assim por diante. As cinco agências que ditam os rumos do noticiário internacional são a francesa Agence France Presse (AFP), as norte-americanas United Press International (UPI) e Associated Press (AP), a inglesa Reuters, a italiana ANSA e a alemã DPA, às quais se poderia acrescentar a espanhola EFE, além de algumas menores, mas igualmente baseadas nos países desenvolvidos.

Uma pesquisa feita com jornais mineiros, o Jornal do Brasil, do Rio, e O Estado de São Paulo mostra resultados absolutamente estarrecedores, embora de conhecimento geral no meio jornalístico: no período de uma semana, o noticiário internacional de O Estado foi preenchido, em 55,8%, com material fornecido pelas grandes agências citadas. Mais 9,4% ficou com reproduções de jornais estrangeiros (The New York Times, The Washington Star etc.). Somem-se outros 4,8% de outras fontes externas e verifica-se que o jornal paulista preencheu apenas 30% de sua informação internacional com material de seus próprios jornalistas ou colaboradores. No caso do Jornal do Brasil, os números são apenas ligeiramente melhores: 42,5% de seu espaço internacional era preenchido por fontes próprias.

E, quando a pesquisa se estende à imprensa regional, a situação se agrava consideravelmente: os jornais de Belo Horizonte, a terceira cidade do país, ocuparam 93,6% de seu espaço com notícias fornecidas por apenas três agências internacionais: a AFP, a AP e a UPI.

Esses números são reveladores e devem ser entendidos no seu contexto político: quase todas as agências mencionadas têm vínculos, diretos ou indiretos, com os governos de seus respectivos países e refletem, na maioria das vezes, posições ou interesses deles — posições e interesses que raramente coincidem com os dos países em vias de desenvolvimento.

A rede das grandes agências internacionais de notícias é tentacular: elas estão presentes na grande maioria dos países do mundo e vendem seus serviços, da mesma forma, para quase todos eles. Vejamos alguns números ilustrativos: a Associated Press, com sede central em Nova York, tem 8.500 assinantes

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em mais de cem países; a Reuters, britânica, está estabelecida em 69 países e vende seu material para 6.500 clientes (dos quais 4.700 são jornais); a France Presse, com suas 92 sucursais no Exterior, atinge 12.400 assinantes. O resultado dessa extensão das redes das grandes agências é o seu domínio quase absoluto do mercado: um estudo realizado em 1967 demonstrou que quase 80% das notícias do Exterior divulgadas na América Latina foram distribuídas tão-somente por duas agências, ambas norte-americanas, a UPI e a AP.

O problema não é apenas de volume: esse virtual monopólio confere às notícias divulgadas pelas agências um tal peso, inclusive no interior de cada redação brasileira, que elas se sobrepõem às notícias produzidas por fontes próprias das publicações brasileiras.

(...)

Se o papel das agências internacionais é tão poderoso, no mundo todo, no caso específico da América Latina — subcontinente que deveria nos interessar mais de perto, pela proximidade e semelhança de problemas — a questão se torna ainda mais grave: a grande maioria das publicações brasileiras parece pautar seu enfoque, em assuntos internacionais, por aquilo que interessa a The New York Times ou Le Monde, e não pelos interesses nacionais brasileiros. Essa deformação se torna evidente pela simples conferência do número de correspondente que as publicações brasileiras têm na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, de um lado, e na América Latina, de outro.

Em 1990, havia apenas cinco correspondentes de meios de comunicação brasileiros na América Latina: da Folha, Estado, Globo, Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil, todos baseados em Buenos Aires. Nenhuma emissora brasileira de televisão tem correspondentes na América Latina.

Esse é um território em que se viola uma das primeiras lições que se aprende no primeiro ano de qualquer faculdade razoável de

jornalismo, qual seja a de que o que acontece perto de minha casa é mais importante do que o que acontece a quilômetros e quilômetros de distância.

Ora, o “perto de minha casa”, para o Brasil, é a América Latina, gostemos ou não. Por fatalidade geográfica, o Brasil fica na América Latina e não pode escapar dessa fatalidade. Não se trata, portanto, de uma questão ideológica. Basta atentar para o seguinte: ao se iniciar a década de 90, vários países latino-americanos decidiram seguir uma política econômica parecida, assentada na liberalização da economia e na sua abertura ao mundo, entre várias outras semelhanças. É natural que interesse ao leitor brasileiro saber como vai indo a experiência de cada um dos países vizinhos ou próximos, até para poder perceber o que pode eventualmente acontecer de parecido no seu próprio país.

É pouco provável que as agências internacionais, cujas atenções estão concentradas no mundo desenvolvido, dêem conta adequadamente desse tipo de cobertura. Logo, acompanhar melhor a América Latina não é um problema de combater uma suposta “informação imperialista” mas um problema simples de saber, mais depressa e com mais profundidade, o que está acontecendo “perto da minha casa”.

É óbvio que o ideal seria que cada veículo dispusesse de um correspondente em cada capital relativamente importante do mundo, mas, quando não se acompanha diretamente o que acontece na esquina de casa, fica difícil entender uma cobertura tão ampla em pontos tão distantes.

A atenção ao que ocorre nas vizinhanças, entretanto, não pode impedir que o jornalismo brasileiro olhe cada vez mais para o mundo todo. Hoje, a globalização da economia é tamanha, as telecomunicações tornaram o mundo tão “pequeno”, que tudo, a rigor, passou a ser doméstico, de alguma maneira.

(...)

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Não se inventou ainda nada que substitua a visão peculiar de cada país sobre os acontecimentos mundiais. Um brasileiro certamente olhará a Espanha, digamos, de uma maneira que um espanhol não consegue ou um americano tampouco.

Esse fato implica maiores desafios para o jornalista. Se já é difícil e complicado entender o Brasil, mais difícil e complicado é entender outros países. Mas é igualmente inevitável.

Referência bibliográfica

ROSSI, Clóvis. “O que é jornalismo”, São Paulo, Brasiliense (Coleção Primeiros Passos), 2000, 10ª edição, págs.78-87

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• Facilidades econômicas para os veículos; sai mais barato contratar serviços de agências em vez de manter pessoal expatriado

• Credibilidade das agências é reforçada por questão da proximidade: “eles estão lá;

nós não” e “se o mundo todo deu, por que nós não?”. Isso é mito?

• A Agência EFE vem tentando preencher essa lacuna na cobertura da América Latina pelas agências internacionais, facilitada em muito pelo idioma espanhol e contratando jornalistas locais para cobrir os países latino-americanos. Isto é suficiente?

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Texto III

Olhai (direito) pra nós! (Jornalismo Internacional Alternativo) João Paulo Charleaux, 2001 Índios, negros, mulheres, sem-terra, pequenos agricultores, seringueiros, líderes comunitários, sindicalistas e sem-teto. A quem interessa tratar desses temas com seriedade? Quem consegue olhar com lupa os países do Terceiro Mundo? As grandes agências internacionais dizem que não, o assunto não é com elas. Reuters, France Presse e companhia já provaram ter as antenas conectadas com pautas grandes, manchetes fortes e assuntos nem sempre edificantes para os países pobres. Isso se deve à natureza de seu trabalho, seu público alvo e seus interesses.

Há ainda muitos que se dispõem a cobrir o Brasil apostando na fórmula folclórica da “desgraça social/futebol/carnaval”, ou nas notícias econômicas de interesse para o investidor estrangeiro. Mas, em ambos os casos, falta espaço para histórias humanas e situações nem sempre decifráveis à primeira vista forasteira. Assuntos que não abalam cúpulas de governo nem derrubam bolsas de valores, mas são fundamentais na vida de milhões de pessoas. São histórias que precisam ser vistas de perto, com vagar e atenção; adjetivos nem sempre compatíveis com o ritmo de trabalho das grandes redações ao redor do mundo.

É nesse espaço que se encaixam as agências cidadãs. Ligadas a ONGs internacionais, fundações beneficentes, associações e confederações de todo tipo, elas garantem estar chegando ao mercado com capacidade e disposição para encarar a realidade com um "enfoque social". Elas esperam acabar de vez com estigma de que países pobres só entram na editoria internacional pela porta dos fundos.

“Seja mal-vindo”

“Seria preciso uma pesquisa profunda, mas eu me arriscaria a dizer que em 70% das notícias,

o Brasil aparece mal na mídia internacional”, diz o historiador e jornalista brasileiro José Luiz Del Roio, da Radio Popolare de Milão, na Itália. Ele lembra que o caso mais recente foi o da comemoração dos 500 anos, “a polícia batendo em índios foi uma coisa fortíssima e é claro que isso rendeu muita notícia ruim na Europa”. A radio italiana onde trabalha Del Roio conta com correspondentes fixos em Paris, Londres, Berlim, Nova Iorque e Cairo, que produzem uma cobertura alternativa às grandes empresas.

No Brasil, a colunista da Folha de S. Paulo Eliane Catanhêde engrossa o coro de críticas à cobertura das grandes agências e não usa meias palavras para avaliar o trabalho dos jornais estrangeiros na cobertura de “Brasil”. “Quando morei quase um ano na Itália, em 1991, a imprensa européia praticamente só publicava o lado exótico ou cruel do Brasil: mulatas, bundas, violência, menor abando-nado, descaso com a Amazônia. E isso era em pleno governo Collor, com a política pegando fogo, a economia girando, a abertura come-çando. Nada do que era sério interessava”.

Por outro lado, o colunista Clóvis Rossi, colega de Catanhêde na Folha de S. Paulo, diz que em geral “discorda de generalizações, que empobrecem a análise”. Ele acha difícil concordar com a tese de que o Brasil é mal tratado pela mídia internacional sem uma observação mais profunda do assunto. “Seria preciso examinar caso a caso, o que é trabalho para pesquisadores, não para jornalistas”.

Um periscópio para cobertura internacional

Apesar de ninguém conhecer nenhuma grande pesquisa ou grande censo sobre o assunto, há um lugar que pode servir de termômetro importante nessa questão. No endereço www.globalpress.com.br é colocada

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diariamente a coletânea das reportagens e artigos sobre o Brasil ao redor do mundo. A responsável pelo trabalho é a jornalista Anna Lúcia Carneiro, que já trabalhou para a agência americana UPI (United Press International) e para a alemã, DPA (Deutsche Press-Agentur). Ela diz que "em economia, as reportagens têm sido mais sérias, principalmente depois da crise das bolsas e da recuperação. Outro assunto que dá boas notícias é a música brasileira, eles acompanham muito bem e muitas vezes melhor que nós mesmos."

A dose de exagero tem ficado por conta da cobertura dada ao MST (Movimento Sem-Terra). Anna observa que as publicações acabam muitas vezes carregando nas cores com que pintam esse quadro. O mais exagerado dos jornais estrangeiros, nesse caso, é o The Guardian, da Inglaterra. “Eles dizem coisas como ‘é imprevisível, tudo pode acontecer no Brasil, com esse movimento dos sem-terra”.

Essas e outras notícias “curiosas” poderão em breve ser pesquisadas com maior exatidão no site da Global Press. A empresa ensaia uma parceria com a E-Clipping, produtora de clippings direcionados a empresas a partir da observação dos jornais brasileiros. A página, que já conta com uma média de cinco mil acessos diários, deverá receber ainda mais visitas depois que tiver implantado seu sistema de busca por palavras-chaves.

Um dos outros lados

De onde olha o jornalista argentino Aldo Gamboa, no entanto, a visão é diferente. Ele está no Brasil há 12 anos e é correspondente da France Presse no Rio de Janeiro desde 1997. Na sua redação, as laudas circulam fartas em recheio econômico, esportivo, político, ecológico e, mais recentemente, Mercosul. Gamboa acha que as grandes agências estão voltadas para grandes assuntos, grandes manchetes e que, por isso, “as agências cidadãs tem um papel importante a desempenhar num espaço que está aí e que

precisa ser ocupado.” Ele sabe que o trabalho da France Presse e das agências cidadãs não são concorrentes, mas podem ser complementares.

Gamboa avalia que o tratamento dado ao Brasil e a outros países subdesenvolvidos está melhorando. “Acontecimentos como o caso Collor ajudaram muito a atrair atenções e melhorar o nível da cobertura.”. A sensação de que o Brasil é visto de forma folclórica pelas grandes agências é normal em sua opinião, afinal, “dói muito mais quando falam da gente e não do país vizinho”. O jornalista argentino pode estar certo com relação à cobertura da France Presse, mas, em outros casos, o vizinho diz sofrer de dor no mesmo calo.

Os países que falam a língua portuguesa são um bom exemplo. No Brasil, pouco ou nada se sabe sobre o que acontece em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, ou mesmo Portugal. “Ninguém aqui sabe o que está acontecendo em lugares de infinitas semelhanças com o Brasil”, diz o jornalista Jorge Manuel Rama-lho, que nasceu em Portugal, viveu 30 anos em Angola e está no Brasil há 20. “Os jornais brasileiros não falam dos países da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) e não é porque não há notícias”, diz Ramalho que chegou a protagonizar uma experiência quase quixotesca com A Gazeta de Angola, que circulou no Rio de Janeiro entre 1991-92.

Por um ano o jornalista tentou colocar o país na pauta do dia dos brasileiros com essa pequena publicação. O plano de Ramalho mostrou-se pretensioso demais, o jornal angolano/brasileiro acabou fechando e o país “primo” do Brasil amarga um anonimato forçado até hoje. Depois da aventura, o jornalista português descobriu que há outros culpados nesse jogo que põe os países pobres para escanteio.

Um dos carrascos nos anseios de Ramalho foi o próprio consulado angolano no Brasil. Lá, ele pôde ver que não existiam releases nem materiais de assessoria voltados para a

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imprensa. “Quem vai querer cavar notícias de Angola se nem o consulado divulga nada?”

Novos ventos

O principal elemento de contraponto nesse cenário é o trabalho das pequenas agências, as chamadas agências cidadãs, ou de enfoque social. Um dos fatores importantes na viabilização delas é a Internet. A nova mídia possibilitou a apuração da notícia e sua distribuição numa velocidade antes inimaginável. Além disso, o custo de funcionamento de agências menores caiu muito, substituindo o preço de ligações internacionais e remessas postais para o exterior por chamadas telefônicas locais no acesso à rede e envio de e-mails em apenas alguns segundos.

Além de representar um barateamento do processo, essas novas tecnologias encurtaram a distância entre os maus e bons produtos. Qualquer jornalista de agência do interior mais longínquo e inacessível pode trabalhar em condições técnicas semelhantes aos das grandes empresas de comunicação, desde que esteja conectado à internet. Agências de notícias como a InterWorld Radio (www.interworldradio.org), com sede em Londres, na Inglaterra, distribuem matérias para rádio pela internet. A qualidade do material é tão boa que qualquer emissora pode levar as notícias ao ar na hora em que elas são colocadas no site.

Entre seus assinantes estão emissoras de rádio de língua inglesa, jornalistas, líderes comunitários e ONGs. A agência cobre a área econômica, de desenvolvimento, ciência e tecnologia e direitos humanos. Tudo isso, do ponto de vista de “como as pessoas normais são afetadas pelas mudanças globais provocadas nesses campos”. A agência é fruto de uma parceria entre o Panos Institute e a OneWorld.net. Seus editores afirmam que esta é uma publicação totalmente independente, apesar de ter sido fundada com doações da Ford Foundation, além da Unicef, Novib e USAid. A InterWorld Radio aposta nas

reportagens de fôlego, matérias de mais de cinco minutos, coisa rara no radiojornalismo brasileiro.

No próprio site existe um link para o jornalista que quiser trabalhar para a InterWorld. Os correspondentes recebem aproximadamente R$ 600 por cada reportagem de seis minutos. As exigências, no entanto, são rigorosas. Os editores cobram qualidade máxima da coleta de dados até a transmissão da matéria pelo computador.

Outra experiência interessante em noticiário internacional com enfoque cidadão via internet é a Agência Pulsar. Desde 1996, mais de 2 mil assinantes em 53 países contam com material dessa agência. A Pulsar tem uma rede de correspondentes em 20 países da América Latina, Caribe e Europa. Eles abastecem diariamente a central da Agência, sediada em Quito, no Equador. De lá, esse noticiário é distribuído aos assinantes através de internet, com texto e som em formato MP3. Através do endereço www.pulsar.org.ec, o leitor assina gratuitamente esse serviço e recebe, em tempo real, boletins diários, análises, comentários, resumos semanais e reportagens em texto e em áudio especialmente editados para rádios.

"Os intercâmbios de programas gravados em fita cassete, sempre chegavam tarde ou muitas vezes se perdiam no correio," explica o jornalista venezuelano, Andrés Cañizález, diretor da Pulsar. "Dificilmente poderia se falar de notícias quentes com o material chegando em outro país depois de três semanas", completa.

Foi o surgimento de tecnologias de comunicação como a Internet, o correio eletrônico, e, por último, o MP3, que nasceram novas possibilidades de troca de informações, sobretudo com material gravado em áudio.

A Pulsar é uma produção da Amarc (Associação Mundial de Rádios Comunitárias e Cidadãs), com o apoio da ASDI (Suécia), CAF (Holanda), Fundação Friedrich EBERT (Alemanha) e Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). No Brasil, ela funciona com

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correspondentes em São Paulo, através da Oboré - Projetos Especiais, que é o escritório paulista da Unirr (União Nacional de Redes de Radiodifusão pela Democracia). No Rio de Janeiro, a correspondente é a Produtora Criar, ligada à Unirr como escritório carioca da Amarc.

Além de enviar textos, os jornalistas brasileiros colaboram também com material em áudio gravado em português. Notícias como as que vêm sendo distribuídas pela Pulsar sobre o Brasil dificilmente encontrariam espaço em outras agências do mesmo porte. Um exemplo recente foi a cobertura feita quando o juiz paulista José Marcos Lunardelli determinou o fechamento de 2 mil rádios comunitárias, em São Paulo, em janeiro deste ano. O trabalho em tempo real acabou despertando reações contra a decisão do juiz, no Brasil e no exterior. Mensagens de ouvintes e rádios de todo o mundo foram enviadas em solidariedade às rádios comunitárias paulistas.

Seguindo a iniciativa da Pulsar, a Rádio Popolare de Milão dedicou dez minutos ao assunto em sua programação no horário nobre transmitindo ao vivo para todo país. Quando a notícia foi ao ar, os jornalistas envolvidos vibravam com um pool de alcance provavelmente inédito na história da comunicação popular e alternativa.

As experiências protagonizadas por essas agências cidadãs são ricas não só em jornalismo e novas tecnologias, mas, sobretudo, no tratamento humano que dão ao seu material. O curioso é que o programa que possibilita a execução de todo esse serviço e com essa qualidade pode ser "baixado" na rede sem que se gaste sequer um tostão (www.realaudio.com ou www.download.com). Mais ainda: o assinante dessas agências usa seus serviços sem pagar nada.

Exemplo brasileiro

Tanto Clóvis Rossi quanto Eliane Catanhêde, Memélia Moreira quanto Aldo Gamboa

apontam a Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância) como o melhor exemplo de agência cidadã no Brasil. Fundada em 1992, a Andi, na verdade, presta uma assessoria à imprensa. Ela trabalha muito mais com o conceito de turbina de informações do que com a idéia tradicional de agência produtora e distribuidora de notícias. No endereço www2.uol.com.br/andi, os jornalistas encontram nomes, números, pesquisas e informações de contexto para a produção de reportagens sobre os direitos da criança e do adolescente.

A Andi distribui também um clipping via e-mail com as principais notícias que circularam pelo país sobre esse assunto. Além de informar, o clipping do dia acaba pautando muita gente e colaborando para uma cobertura maior e melhor dos assuntos relacionados aos direitos da infância. "Esse é um trabalho invejável", diz Catanhêde. "Em 1995, os 50 maiores jornais do país publicaram pouco mais de 7.500 reportagens sobre menores. Em 1999, foram quase 50 mil! As coisas andam devagar, mas andam."

A Time dos pobres

As novas tecnologias ajudam, mas não são o "ovo de Colombo". Fazer jornalismo internacional de qualidade, com reportagens de fôlego e enfoque social vem sendo o trabalho diário dos jornalistas dos Cadernos do Terceiro Mundo (www.etm.com.br) desde 1975. A publicação nasceu com o compromisso de tratar os países do Terceiro Mundo de uma forma diferente, falando de ecologia, direitos humanos e política com uma perspectiva social.

A revista foi fundada pelo deputado Neiva Moreira, na época exilado na Argentina, e pelos jornalistas Pablo Piacentini, argentino que hoje vive na Itália, e Beatriz Bissio. Muita gente acha que a revista fez água. É comum ouvir jornalistas mais velhos dizerem que "era uma grande publicação, combativa, bem feita, mas onde anda?".

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Ao contrário do que pensam, a experiência rendeu frutos. Além dos Cadernos do Terceiro Mundo, nasceu na década de 80, o Caderno do Mercosul, e em 1991, os Cadernos de Ecologia e Desenvolvimento, ambos, filhos da publicação mais antiga. No seu expediente, constam nomes de agências como de Moçambique, Angola, Cuba, Guiné-Bissau e outros países que sequer sonham em entrar nas edições de grandes jornais pela porta da frente.

Cadernos do Terceiro Mundo é uma prova de experiência jornalística alternativa e bem sucedida. Com 25 anos de existência, a tiragem hoje é de 35 mil exemplares. A maior parte é vendida para assinantes, mas a revista também está em bancas de todo o País, embora seja uma missão impossível encontrá-la. Em suas páginas, além das pautas e reportagens originais, chamavam atenção os anúncios. Café, diamantes, combustíveis e companhias aéreas de Angola, Moçambique e Colômbia, o próprio Pasquim e até vale postal para assinatura do jornal Barricada Internacional, da Frente Sandinista de Libertação Nacional chegaram a desfilar por suas páginas.

“Essa é a Time do Terceiro Mundo”, diz Memélia Moreira, jornalista que trabalha para os Cadernos desde sua fundação e assina a Coluna do Planalto, com notícias de Brasília. “A nossa idéia é mesmo de tratar os países subdesenvolvidos de uma forma mais correta, menos grotesca”, explica. Ela é a jornalista responsável pela cobertura de assuntos como política, direitos humanos e questões indígenas. Memélia lembra que os maus tratos dispensados aos países pobres não são uma atitude exclusiva dos países desenvolvidos. “Aqui no Brasil o noticiário internacional também é terrível. Também as grandes nações desenvolvidas recebem uma cobertura péssima. É uma falta de qualidade de um modo geral”.

Memélia considera as matérias dos jornais franceses sobre o Brasil, por exemplo, muito melhores do que as dos jornais brasileiros sobre os outros países. Para ela, a falta de qualidade na cobertura internacional é “uma via de mão dupla”, onde o Brasil entra como mais um.

Referência bibliográfica CHARLEAUX, João Paulo. “Olhai (direito) pra nós!” in Revista Pangea, 2001 (publicação online) disponível em: [http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=94&ed=9]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• É possível considerar as experiências apresentadas como uma alternativa ao Jornalismo Internacional hegemônico?

• A revista Cadernos do Terceiro Mundo corre o risco de oferecer uma visão tão

etnocentrista e ideologizada quanto a que critica na grande mídia?

• Qual é a participação das novas tecnologias de mídia, como a Internet, na construção desse Jornalismo Internacional “alternativo”?

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Texto IV

Lula, o Bin Laden do Reverendo Moon (Mídia Conservadora dos EUA) Joel Conrado, 2002 Como se não bastasse o terrorismo econômico e político que o mundo enfrenta, o Washington Times, jornal ultraconservador do reverendo Moon, publicou em 7/8 um exemplo antológico do terrorismo midiático: um artigo de Constantine C. Menges, ex- integrante do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, pau-mandado dos interesses econômicos conservadores americanos e do governo Bush, que está conduzindo seu país à paranóia do perigo terrorista.

O autor do texto só falta chamar Lula, tratado como "Mr. da Silva" no artigo, de o novo bin Laden da América Latina. Não sou de esquerda, não pertenço ao PT. Mas causa surpresa e revolta ver como o Washington Times se permite a ousadia de publicar um artigo eivado de suposições fantasiosas, falácias e mentiras. Leiam:

"Bloqueando um novo Eixo do Mal

Uma nova ameaça terrorista com armas nucleares e míssil-balísticas pode vir de um eixo incluindo Fidel Castro de Cuba, o regime de Chávez na Venezuela e a eleição de um radical como presidente do Brasil, todos com ligações com o Iraque, Irã e China. No ano passado, visitando o Irã, o Sr. Castro disse: "Irã e Cuba podem pôr a América de joelhos", enquanto Chávez expressava sua admiração por Saddam Hussein numa visita ao Iraque.

O novo eixo ainda pode ser evitado, mas se o candidato pró-Castro é eleito presidente do Brasil os resultados poderiam incluir um regime radical no país, restabelecendo seus programas

nuclear e míssil-balístico, estreitando ligações com Estados patrocinadores do terrorismo, como Cuba, Iraque e Irã, e participando da desestabilização das frágeis democracias vizinhas. Isto poderia deixar 300 milhões de pessoas em seis países sob o controle de regimes radicais e anti-EUA e possibilitar que milhares de recém-doutrinados terroristas tentem atacar os Estados Unidos a partir da América Latina. Por ora, Washington parece pouco se preocupar."

"Os brasileiros realizarão eleições presidenciais em outubro, e se as pesquisas atuais são um guia o vencedor poderia ser um radical pró-Castro com amplas ligações com o terrorismo internacional. Seu nome é Luiz Inácio da Silva, presidente do Partido dos Trabalhadores e candidato com 40% das intenções de voto.. O candidato comunista (!!!) é segundo, com 25%, e o concorrente pró-democracia está com cerca de 14%."

Quanta desinformação. Se o segundo candidato brasileiro é "comunista", com 25% nas pesquisas, os candidatos "antidemocracia" teriam 65% nas pesquisas.

"O Sr. da Silva não faz segredo das suas simpatias. Ele tem sido um aliado do Sr. Castro por mais de 25 anos. Com o apoio do Sr. Castro, o Sr. da Silva fundou o Fórum São Paulo em 1990, uma reunião anual de comunistas e

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outras organizações políticas radicais da América Latina, da Europa e do Oriente Médio. Isso tem sido usado para coordenar e planejar atividades terroristas e políticas em todo o mundo e contra os Estados Unidos. O último encontro teve lugar em Havana, em dezembro de 2001. Envolveu terroristas da América Latina, da Europa e do Oriente Médio e condenou duramente o governo Bush e suas ações contra o terrorismo internacional."

Num país como os EUA, onde se pode facilmente ser processado por calúnia, essa afirmação – "coordenar e planejar atividades terroristas e políticas em todo o mundo e contra os Estados Unidos" –, por não ser verdadeira, expõe o jornal e o autor do texto a processo que custaria muito caro.

"Como o Sr. Castro, o Sr. da Silva acusa os Estados Unidos e o neoliberalismo por todos os problemas sociais e econômicos que o Brasil e a América Latina enfrentam." Mal-informado, o articulista não acrescenta que, mais do que o neoliberalismo, a roubalheira, a corrupção dos últimos governos é que afundaram o Brasil.

Nada de política exterior

"O Sr. da Silva classificou a Alca como uma conspiração dos Estados Unidos para "anexar" o Brasil, e tem dito que os banqueiros internacionais que desejam a devolução dos US$ 250 bilhões que emprestaram "são terroristas econômicos". Ele tem dito também que aqueles que estão retirando seu dinheiro do Brasil, porque têm medo de seu regime, são igualmente "terroristas econômicos". Isso dá uma idéia do tipo de ‘guerra ao terrorismo’ que seu governos conduzirá." O autor do texto não menciona que Lula vai também combater o terrorismo do tipo contido no artigo...

Mais adiante o autor afirma: "(...) O Brasil poderia brevemente tornar-se também uma das nações detentoras de força nuclear. Entre 1965 e 1994, os militares ativamente trabalharam para desenvolver armamento nuclear, e com sucesso desenharam duas bombas atômicas, e estavam prontos a testar um artefato nuclear quando o governo democrático eleito e uma investigação do Congresso obrigaram o desmantelamento do projeto." Entre desenhar e fabricar há um longo caminho...

"A investigação revelou, entretan-to, que os militares haviam vendido oito toneladas de urânio ao Iraque em 1981. Também foi revelado que após esse projeto de sucesso ter sido interrompido, um general e 24 cientistas que lá trabalhavam foram para o Iraque. Relatórios revelam que, com financiamento do Iraque, a capacidade nuclear foi mantida em segredo, contrariando a política dos líderes democráticos civis.

A China já vendeu urânio enriquecido e tem investido na indústria espacial brasileira num projeto de satélite de reconhecimento." Certamente isso é tão perigoso e terrorista como vender aviões militares e tanques e enviar militares instrutores ao Kuwait e às Filipinas. "(...) Ao mesmo tempo, ajudando as guerrilhas comunistas a assumirem o poder na convulsionada democracia da Colômbia, o regime de da Silva no Brasil estaria em posição favorável para ajudar comunistas, narcoterroristas e outros grupos antidemocráticos para desestabilizar as frágeis democracias da Bolívia, do Equador e do Peru, como também se aproveitar da profunda crise econômica na Argentina e do Paraguai."

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Quem diria! Lula um segundo bin Laden... Isso é dose para americano nenhum dormir sossegado!

"Mais, o regime de da Silva provavelmente recusará pagar as dívidas, causando um profundo agravamento da economia em toda a América Latina, e conseqüente-mente aumentando a vulnerabili-dade de suas democracias. Isto poderia causar uma segunda fase de diminuição nas exportações dos Estados Unidos. Um eixo Castro-Chávez-da Silva significaria a ligação de 43 anos da guerra política de Fidel Castro contra os Estados Unidos à rica em petróleo Venezuela e ao armamento nuclear/míssil-balístico e o poten-cial econômico do Brasil."

Esse parágrafo daria uma fantástica novela das oito na Globo. Só falta FHC dizer que graças aos seus oito anos de governo o Brasil comandaria um complô econômico e militar contra os Estados Unidos...

"Com eleições em novembro em 2004, os americanos podem perguntar: "Quem perdeu a América do Sul?" (...) "Os Estados Unidos foram politicamente passivos no governo Clinton, quando ignoraram os pedidos dos democratas da Venezuela para ajudar no combate às atividades anticonstitucionais do Sr. Chávez e também ignorou suas públicas alianças com Estados patrocinado-res do terrorismo. Oportuno acompanhamento político e ações por parte dos Estados Unidos e outras democracias deveriam incluir incentivo aos partidos democráticos no Brasil a se unirem em torno de um líder político honesto e capaz, que represente as esperanças da maioria dos

brasileiros numa democracia genuína com recursos para montar uma efetiva campanha nacional."

Com essa afirmação – "que represente as esperanças da maioria dos brasileiros numa democracia genuína" – o autor se contradiz. Se as pesquisas apontam preferência de 40% pela candidatura de Lula, é a maioria que o prefere. Mais ainda, faz tácito e vergonhoso apelo ao poder econômico para que desestabilize as eleições brasileiras. De política exterior Constantine C. Menges não manja nada.

Duas ou três coisas sobre o Dr. Menges

Ninguém deve levar o Dr. Constantine Menges (muito) a sério. Ele tem sido, por 25 anos, um (mau) relações públicas da linha-dura do Partido Republicano. Suas tão freqüentes quanto catastróficas previsões de política externa vêm sendo desmontadas uma a uma pelos acontecimentos, mas ele está sempre lá, nos jornais americanos conservadores, prevendo perigos inimagináveis para a "democracia americana". Não previu, é claro, o 11 de setembro, mas isso não tem a menor importância. Há ameaças de sobra para prever e manter o Dr. Menges ganhando dinheiro com sua atividade.

Mas de onde vem o Dr. Menges? Segundo o site da Casa Branca (www.whitehouse.gov), ele nasceu em Ancara, na Turquia, e tem 62 anos. Era, em 1983 – portanto, nomeado pelo governo Reagan –, diretor para assuntos latino-americanos do Conselho de Segurança Nacional. Anteriormente, entre 1981-1983, era nada mais nada menos que analista de informações da Central Intelligence Agency, a boa e velha CIA, para a América Latina. Desde esta época já pertencia ao Hudson Institute, think tank sediado em Washington que reúne a fina flor do conservadorismo americano.

Tem doutorado em Ciência Política pela Columbia University, dá aulas em várias universidades, mas seus pares não o levam

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(muito) a sério. Um deles, Thomas Risse-Kappen, especialista em Europa da Universidade de Konstanz, na Alemanha, comentando as avaliações do antigo agente sobre o "perigo alemão", disse que Menges não consegue parar de "ver em vermelho": representa uma geração inteira do establishment de segurança nacional que se concentrou na Guerra Fria por tempo demais, "e sua percepção, é claro, nada tem a ver com os verdadeiros problemas atuais de seguran-ça". Quando Menges escreveu sobre a ameaça de uma aliança russo-chinesa, William D. Shingleton, da National Defense Council Foundation, outro think tank, de Alexandria, perto de Washington, afirmou no Washington Post que Menges julga mal a realidade, e fica "hiperventilado" ao analisar eventuais alianças que considera estratégicas, "o que em nada aumenta a segurança americana".

Explosiva receita de bolo

O New York Times até fez pequena penitência no ano passado, em matéria de Tim Weiner, por ter o jornalão publicado em 1980 artigo de "um escritor conservador chamado Constantine C. Menges, alertando que os avanços comunistas na América Central ameaçam transformar o México no ‘Irã ali ao lado’: um estado revolucionário . movido a terror de esquerda, desestabilizado por uma coalizão de grupos reformistas, radicais e comunistas". Conta Weiner que William J. Casey, diretor da CIA no governo Reagan, "acreditou em tudo e contratou o homem, e juntos promoveram aquela visão política de forma muito, muito dura". Só que nada daquilo aconteceu. "A Guerra Frita foi uma máscara que nos cegou para a realidade do mundo", disse ao Times em 1992 o poeta e Nobel Octavio Paz, conforme cita Weiner.

Assim é o Dr. Menges. Em 28 de abril ele já tinha destilado seu veneno no próprio Washington Times contra – principalmente – Hugo Chávez e Lula. No último parágrafo do artigo, disse: "Se Chávez consolidar seu controle nos próximos meses, suas ações

ameaçarão a democracia na Colômbia, na Bolívia, no Equador, no Peru e no Brasil, onde o Sr. Chávez e Fidel Castro esperam ver repetido seu padrão de golpe pseudo- constitucional com a eleição do radical Inácio da Silva como presidente, em outubro. Isso poria 300 milhões de pessoas sob o controle de regimes radicais pró-Castro-Iraque antes de 2004 – um enorme ganho para o terrorismo anti-EUA e uma enorme derrota para as populações locais e para o governo Bush."

Segundo Risse-Kappen, os ensaios de Menges nada acrescentam em pesquisa e reflexão sobre as questões internacionais: suas fontes são as matérias do New York Times, do Washington Post e do Economist, que ele não se envergonha de citar. Para escrever sobre o novo eixo do mal latino-americano, o Dr. Menges, que fala quatro línguas, provavel-mente teve acesso às resenhas – de repercus-são internacional – do livro da jornalista Tânia Malheiros sobre o programa nuclear brasileiro e o nunca esclarecido embarque de urânio para o Iraque; soube dos experimentos da Marinha em enriquecimento de urânio em Iperó; ouviu falar dos testes de lançamento na base de Alcântara; leu que líderes do PT, como milhares de outros brasileiros, visitaram Havana. Bateu tudo, botou no forno e pronto: Lula no poder se aliará aos militares e ao narcotráfico, invadirá os países vizinhos e criará um enclave nuclear terrorista.

O dever de casa é fácil

Tais sandices estão em sintonia com a linha do Washington Times, criado pelo coreano Sun Myung Moon para ajudar na guerra ao comunismo liderada pelo então presidente Ronald Reagan e como alternativa conservadora ao Washington Post. O jornal tem pequena circulação e já deu US$ 1 bilhão de prejuízo ao grupo News World, de Moon. Mas não falta dinheiro ao "reverendo", dono de vastas extensões de terras no Brasil: ele recentemente comprou a United Press International (UPI), uma agência de notícias americana de quase 100 anos, cuja atual

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correspondente em São Paulo manda matérias regularmente ao Washington Times sobre a crise e as eleições.

Para não dizer que não persegue os padrões americanos de "liberdade de expressão", o Washington Times publicou na terça, dia 19/8, duas cartas de protesto contra o artigo do Dr. Menges, uma de Pedro Giglio, do Rio de Janeiro, e outra de Mark Andrews, estudante de Relações Internacionais e Estudos do Pacífico da Universidade da Califórnia em San Diego, ambas sob o título "Próxima parada da guerra ao terror: Brasil?". A primeira, cujo autor afirma não ser eleitor de Lula, rebate uma a uma as afirmações do articulista e diz que o texto é uma afronta ao povo brasileiro. A segunda lamenta que, não bastando a punição que a comunidade financeira internacional inflige aos brasileiros por expressarem sua insatisfação nas pesquisas, "neocombatentes da Guerra Fria como Menges jogam a carta do

terrorismo para desacreditar um dos maiores campeões da democracia na América Latina, Luiz Inácio Lula da Silva". E termina: "As pessoas que devemos temer no Brasil são os inimigos do Sr. da Silva: armados da ideologia do medo, podem derrubar o governo e remilitarizar o Brasil."

Quer dizer, até um estudante americano de graduação, quando quer, faz seu dever de casa bonitinho sobre o Brasil. Imagine-se do que seria capaz, se quisesse, a poderosa mídia americana. Mesmo não levando (muito) a sério pasquins como o Washington Times e dinossauros como o Dr. Menges, a imprensa tem obrigação de ficar de olho (bem) aberto com essa gente. Afinal, é ela que mantém azeitado, com sua propaganda do perigo externo, o complexo industrial-militar americano, fagueiramente ativo nesta era de tantos eixos do mal.

Referência bibliográfica

CONRADO, Joel. “Besteirol à Americana: Lula, o bin Laden do reverendo Moon”, in Observatório da Imprensa, ?

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• As incorreções publicadas pelo Washington Times sobre o Brasil, seja por ignorância ou por deturpação ideológica, são diferentes das que o Jornalismo Internacional brasileiro comete sobre outros países?

• Em que medida a visão-de-mundo de um regime, governo ou grupo no poder em

um país pode influenciar a cobertura internacional da mídia e a opinião pública em relação a outro(s) país(es)?

• Até que ponto o correspondente estrangeiro não representa uma possibilidade de

interferência ou espionagem na política do país onde está baseado?

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Texto V

A Grande Matéria: Washington, as Nações Unidas, o Mundo John Hohenberg, 1981 Os Correspondentes

Entre os 70.000 ou mais jornalistas contratados em tempo integral pelas empresas jornalísticas nos Estados Unidos, um número bem menor fica permanentemente em Washington, nas Nações Unidas, ou é correspondente em bases sólidas. Para os que possuem experiência, conhecimento, instrução, habilidade e a sorte de sobreviver aos rigorosos testes do jornalismo prático, o privilégio de cobrir os acontecimentos nacionais e internacionais do nosso tempo é o maior prêmio que lhes pode conferir a profissão.

Para os repórteres que estão a serviço na Casa Branca, no Congresso ou nas Nações Unidas, nas Chancelarias da Europa, na Grande Casa do Povo, em Pequim, ou no Kremlin, sua função é escrever e explicar as decisões que levarão à paz ou à guerra. A eles, principalmente, pertencem as matérias de uma era de conturbação política, social e econômica uma era na qual o homem caminhou sobre a Lua, enviou robôs para explorar Marte e lançou foguetes para alcançar planetas longínquos, mas continua incapaz de resolver os problemas da fome e da superpopulação que assolam o mundo.

Características

Há sempre alguns jovens corajosos que gostam de desafios e que se metem no meio de uma guerra ou desordem civil e se juntam, como repórteres "free-lancers", aos repórteres profissionais que representam as organizações noticiosas. Eles trabalham para jornais ou agências de notícias, redes de televisão ou revistas, ou tentam por seus próprios meios conseguir a função de informantes. Quase sempre os melhores tornam-se corresponden-tes. Mas esses são exceções no desenvolvi-

mento profissional dos correspondentes internacionais.

A maioria dos representantes das empresas jornalísticas americanas existentes hoje em dia se compõe de homens maduros e educados. Podem não ser poliglotas (poucos o são), mas se revelam sempre capazes de lidar com os mais variados tipos de problemas, conhecem bem o seu trabalho e acham soluções próprias para as situações difíceis. A maioria deles tem a habilidade de assimilar as partes essenciais da história, geografia e cultura das regiões onde trabalham. Quase todos são agressivos e não gostam de receber "orientações" do pessoal da Embaixada americana local. Todos possuem uma característica dominante: a independência.

O Corpo de Correspondentes Estrangeiros

Os altos e baixos do interesse público e dos editores pelas notícias são bem ilustrados nas contratações de correspondentes estrangeiros efetuadas pelas empresas jornalísticas americanas. Ao fim da II Guerra Mundial, 2.500 correspondentes – muitos dos quais estiveram no campo de batalha – foram desmobilizados pelas suas empresas com uma velocidade maior do que a desmobilização das forças armadas.

Houve épocas de grandes mobilizações de grupos de correspondentes durante crises mundiais, do cerco de Berlim em 1948-1949, à guerra do Vietnã, e às várias rebeliões no Oriente Médio, mas tais períodos não podem ser comparados ao de 1942-1945. Mesmo no auge da guerra do Vietnã, não mais que 500 correspondentes estavam credenciados pelas empresas jornalísticas americanas. Logo após, quando os Estados Unidos entraram em época de paz incerta, pela primeira vez em muitos anos, os meios de comunicação reduziram a menos de 400 o número de jornalistas tempo

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integral no estrangeiro. E dois terços deles estavam na Europa. Por isso, é um exagero considerável dizer, como algumas vezes acontece, que 3.000 ou 4.000 jornalistas americanos cobrem uma guerra em um pequeno país da Ásia ou da África.

A maioria é constituída de repórteres independentes e alguns mostram caracterís-ticas tão estranhas que se suspeita sejam agentes secretos.

Uma prova de falsidade de número pode ser obtida por qualquer um que visite o quartel-general da imprensa nas Nações Unidas em um dia de rotina e veja que há menos de 50 correspondentes tempo integral credenciados pelas empresas jornalísticas americanas e um número bem menor de estrangeiros. Ainda assim, durante o dia da abertura de uma Assembléia Geral, a Secretaria de Imprensa das Nações Unidas anuncia o credenciamento de 1.500 a 2.000 "jornalistas", que vão embora tão logo as grandes personalidades retornam aos seus postos regulares. Esse fato serve como lembrete de que nem toda pessoa que diz ser jornalista realmente o é.

O Corpo de Correspondentes em Washington

Embora alguns jornais tenham retirado seus correspondentes de Washington, a capital americana é ainda o maior centro de notícias, tanto para as coberturas domésticas quanto para as estrangeiras, e o número de representantes de todos os países atinge a 2.000 nos períodos de pique. Enquanto muitos diários americanos, médios e pequenos, não fazem segredo de seu preconceito contra as matérias rotineiras de Washington e do exterior, e o jornalismo eletrônico local esteja ainda menos interessado, nenhum editor gostaria de suprimir o serviço.Durante congressos de editores há sempre um acordo solene de que esse tipo de notícia deve ser dado ao público americano, porém os seus jornais nem sempre publicam tais notícias. Editores responsáveis, entretanto, se sentem orgulhosos de poder oferecer informações sólidas da capital do país. Os que não podem

contar com seus próprios correspondentes utilizam as informações oriundas das grandes organizações noticiosas, o que faz com que as notícias tenham um custo relativamente baixo e sejam utilizadas como suplemento ao serviço das agências.

Washington como centro noticioso

Apesar de todas as restrições que lhes são impostas, os correspondentes em Washington são efetivos representantes de jornais e agências de notícias, revistas, semanários e associações, estações de rádio e de televisão e dos boletins informativos. Há, também: os correspondentes "one shot" (enviados espe-ciais), que estão quase sempre em ou fora de Washington a trabalho das suas estações ou jornais locais, em reportagens de pouca importância. Os representantes da imprensa estrangeira freqüentemente fazem o mesmo em ocasiões de grande interesse.

É importante saber o que fazer para estabelecer uma base em Washington, permanente ou temporária, e que opere com eficiência. Os credenciados para trabalhar em Washington, como membros de burôs já estabelecidos, têm sorte, pois as empresas compensam os períodos fracos em acontecimentos e provêem casa, mudanças e escola para os dependentes. Mas para quem vai pela primeira vez e por conta própria é uma experiência dura e às vezes traumatizante. São avisados de que devem conhecer os chefes das agências noticiosas e organizações aos quais suas empresas estão filiadas, as suas delegações no Congresso, e devem ter conhecimentos pessoais importantes em lugares tais como a Casa Branca, o Departamento de Estado, o Pentágono e as salas de imprensa do Congresso e do Senado.

Devido à publicidade dada ao “National Press Club”, e à proximidade dos teletipos, repórteres solitários tentam às vezes trabalhar nesse clube como uma espécie de sócio temporário. Mas em geral sentem-se oprimidos pelos agentes de imprensa de todos os tipos. É boa prática trabalhar fora de um

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lugar como a sala de imprensa do Senado, quando o Congresso está em sessão, ou pegar uma notícia a cada dia e transmiti-Ia de qualquer lugar, não importa qual. Uma regra inflexível para os que vão a Washington é a de obter suas credenciais com bastante antecedência. Outra, a de se assegurar acesso rápido a um telefone ou a um terminal de telex – algumas vezes é melhor ditar a matéria por telefone para jornal do que escrevê-la em Washington (em caso de grande matéria).

Em um manual de regras dessa natureza, que pode ser somente um auxiliar para as coberturas em Washington, e não um profundo estudo sobre o assunto, insere-se uma pequena relação de pontos importantes e sugestões do que se deve e não se deve fazer. Ei-la:

1) A Casa Branca

Ao Presidente dos Estados Unidos, sendo a mais importante fonte de notícias no país, bem como a mais influente, dá-se cobertura intensa, diariamente, por todos os veículos noticiosos do país e de outros países. Aos membros de sua família, amigos e assessores diretos, também se faz o mesmo.

As facilidades para a imprensa na Casa Branca são poucas, se comparadas às facilidades obtidas nos palácios dos governadores estaduais ou até mesmo nas Prefeituras. Somente pequeno número de correspondentes regularmente credenciados na Casa Branca dispõe de um dos pequenos cubículos com telefone na sala de imprensa. A grande maioria tem de encontrar meios de comunicação por si própria.

O Secretário de Imprensa2 do Presidente está geralmente disponível uma ou duas vezes ao dia para reuniões com a imprensa, para fazer declarações ou fornecer material aos jornalistas. Ele e seus assistentes são as pessoas-chaves capazes de facilitar o acesso de um jornalista pela primeira vez na cidade aos membros da equipe presidencial, e às várias

2 Nos EUA, equivalente a porta-voz.

repartições sob a responsabilidade direta do Presidente. Os correspondentes já conhecidos marcam seus próprios encontros com essas pessoas e normalmente trabalham utilizando-se do telefone, exceto para grandes reportagens. Nos dias em que o Presidente se reúne com a imprensa, é normal comparecerem 200 ou mais correspondentes, especialmente quando assuntos de importância estão pautados. Se a reunião for de última hora, somente comparecerão os correspondentes regulares, não havendo tempo para avisar a todos. O jornalismo eletrônico está permanentemente pronto e em alerta para trabalhar na Casa Branca, mas há dificuldades no uso das minicâmeras em tripés. Elas são colocadas na sala de recepção para filmar visitantes importantes quando deixam o escritório do Presidente. Com as minicâmeras e o vídeo-teipe, a equipe de televisão tem maior mobilidade, podendo ficar nas entradas laterais, utilizadas por visitantes que querem evitar publicidade.

Equipes de televisão podem também entrar no Rose Garden para uma filmagem rápida, se a reunião com a imprensa ali se realizar.

Reuniões com personalidades do governo, para informações de "background", ocorrem em uma sala menor, a "Fish Room", assim chamada em razão dos quadros de peixes pendurados em suas paredes. Quando o Presidente viaja, os correspondentes que o acompanharão devem ter suas autorizações fornecidas pela Casa Branca. Há períodos de bonança na Casa Branca, quando os repórteres se sentam e esperam que algo aconteça, mas cais'períodos são pouco freqüentes. O Presidente, a fonte número um de notícias, mantém os correspondentes sempre ocupados.

2) O Congresso

Se o Presidente dos Estados Unidos e os principais membros de sua Assessoria mostram-se reticentes sobre determinado assunto, o Congresso dos Estados Unidos rapidamente preenche esse vazio. Perto da Casa Branca está o “Hill”, o mais importante

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ponto de notícias na Capital. Repórteres que regularmente cobrem o Senado e o Congresso têm uma boa relação de trabalho com os líderes da Maioria e da Minoria de ambas as Casas, assim como com outros membros do Legislativo. Eles conhecem os presidentes das Comissões e desenvolvem métodos eficientes de estar sempre por perto. Os integrantes do G0verno normalmente dão entrevistas para fornecer detalhes de apoio a determinado assunto, e os congressistas geralmente querem ter suas declarações gravadas. Querem que seus pontos de vista sejam conhecidos. Como funcionários eleitos, precisam de publicidade para suas ações e posições nos principais assuntos do dia; os eleitores esquecem rapidamente um deputado ou senador que "desaparece" durante semanas.

Para o jornalista recém-chegado, as salas de imprensa, tanto no Senado como na Câmara, são os lugares mais convenientes para trabalhar. Os superintendentes e suas pequenas mas competentes equipes de assessores nas salas de imprensa conhecem mais do que muitos repórteres tudo sobre horários, discursos, reuniões das comissões e numerosos outros fatos sobre acontecimentos que podem ser esperados durante o decorrer de um dia no Congresso. Cópias de discursos podem ser previamente solicitadas às salas de imprensa ou aos escritórios dos seus respectivos autores. Os funcionários da sala de imprensa e da Assessoria do Congresso podem ser muito úteis quando se deseja uma entrevista por telefone ou pessoalmente com um senador. Os repórteres aprendem rapidamente a não ficar perdendo tempo rondando o Congresso, exceto quando o acontecimento requer tal procedimento. Usar o telefone torna-se às vezes mais fácil.

As fontes de notícias no Congresso são inúmeras, como mostra o Registro do Congresso. E o Diário Oficial publica todo dia muitos discursos e pronunciamentos que não atraem o interesse público, até serem divulgados na imprensa; além do mais, um discurso publicado pode estar bem diferente da versão original, porque os congressistas têm o

direito de corrigir e revê-los antes da publicação. Uma observação final para os recém-chegados (e para muitos veteranos também): familiarizem-se com os procedimen-tos de ambas as casas, Senado e Câmara; sem esse conhecimento, muitas das intrincadas manobras que ocorrem durante o processo legislativo não podem ser traduzidas para melhor entendimento público.

Há tantas notícias em Washington que se torna um problema não a decisão sobre o que publicar, mas o que eliminar.

3) O Departamento de Estado

No sólido e cinzento edifício no "Foggy Bottom", cerca de 50 ou 60 correspondentes cobrem regularmente os assuntos do Departamento de Estado e outra centena deles corre quando há crise. A inadequada sala de imprensa, com seus estreitos cubículos para os repórteres, é uma caixa de ecos, mas mesmo assim utilizada na falta de coisa melhor. As equipes das agências de notícias, com melhores acomodações, ditam por telefone as notícias para os seus escritórios em Washington.

A primeira fonte no Departamento de Estado é constituída pelos departamentos de notícias do Departamento, situados próximos à sala de imprensa e ao escritório do Assistente do Secretário de Estado para Assuntos Públicos, no sexto andar. Um correspondente conhecido e respeitado tem acesso à maioria dos funcionários do Departamento, e algumas vezes até ao próprio Secretário de Estado. Quase todo correspondente pode conseguir, através do pequeno grupo de oficiais de imprensa, acesso às seções q\.le mantêm contato direto com Embaixadas e ministros estrangeiros. Esse tipo de informação geralmente aparece como "background". Para informações mais precisas e diretas, o primeiro recurso é a reunião diária de imprensa com um dos funcionários do Escritório de Assuntos Públicos. O mecanismo do Departamento de Estado é sobremodo flexível para tratar de questões ou petições a qualquer hora do dia,

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mas, à noite, torna-se quase impossível conseguir uma notícia, fora do Departamento, com os seus membros.

O Secretário de Estado e seus assessores imediatos fazem sua própria rotina para encontros com a imprensa, mas sempre consultam a respeito da Casa Branca. O material impresso à disposição no Departamento é imenso, mas pouco pode ser considerado "notícia", exceto um ocasional "White Paper" ou outro pronunciamento sobre uma linha de ação em nível de documento. Ainda assim, o Departamento de Estado pode oferecer uma facilidade valiosa à pesquisa de correspondentes que sabem como trabalhar lá e cujos jornais permitem-lhes perder algum tempo preparando uma matéria.

Figuras acadêmicas como Arthur M. Schlesinger Jr., no governo Kennedy, Walt Whitman Rostow, no governo Johnson, e Kissinger, no governo Nixon (enquanto foi o conselheiro da Segurança Nacional), receberam mais atenções da imprensa do que todo o Departamento de Estado.

Isso foi particularmente verdadeiro com Kissinger devido à sua diplomacia pessoal, ao seu gosto por longas viagens e negociações privadas e a sua inclinação pelos segredos e procedimentos da imprensa. Antes e depois de se tornar Secretário de Estado, ele foi uma grande figura para a imprensa e sempre tomava o cuidado de verificar se não estaria negligenciado pelos meios de comunicação. Ele era, em certo sentido, deleite para os repórteres, por "conversas confidenciais", apesar disso sempre reportáveis. Quando o Presidente Carter adotou uma linha de ação de "abertura com o povo americano" na formulação da política internacional, tentava, com efeito, reverter uma tendência do governo americano em geral e da manipulação dos assuntos internacionais, em particular. Seu secretário de Estado, Cyrus Vance, concordou. Resta ver-se até onde poderão chegar, pois até mesmo o Presidente Wilson, que clamava por "pactos francos obtidos com franqueza", não conseguiu pôr o ideal em prática.

4) O Departamento de Defesa

Qualquer correspondente fixo trabalhando no Departamento de Defesa tem pouca dificuldade de acesso aos oficiais do Pentágono. Em períodos de crise, porém, existem restrições em larga escala. Uma das mais severas normas iniciadas na época da crise dos mísseis em Cuba exigia que os oficiais do Pentágono relatassem todos os seus contatos com jornalistas. Essa imposição tornou-se motivo de controvérsias infindáveis.

A despeito das dificuldades para a obtenção de informações vitais, o mecanismo de divulgar e manipular notícias no Pentágono é, provavelmente, o mais elaborado em qualquer departamento governamental nos Estados Unidos. O Departamento de Defesa (OOD) com seu próprio esquema de informações, tem como encarregado um assistente do secretário de Defesa, e inclui representantes de todos os serviços militares, com uma grande sala de imprensa no segundo andar do Pentágono. Cada assunto dispõe de seção específica e nelas trabalha grande número de oficiais. O Exército, a Marinha e a Aeronáutica têm, cada qual, a sua própria equipe de informação (Exército e Aeronáutica possuem programa consolidado de informações internas e externas). Quase 1.000 oficiais do Pentágono são designados para trabalhar algumas facetas das atividades de Relações Públicas. Eles dirigem o trabalho de informação e relações públicas de pequenas equipes em cada base, e nos postos através do mundo; um pequeno exército de oficiais de relações públicas é credenciado especificamente para trabalhar com a imprensa e o público e com as próprias Forças Armadas.

A grande e antiquada sala de imprensa do Pentágono não pode ser comparada à sala destinada aos repórteres na Casa Branca. Geralmente poucos correspondentes fazem ali cobertura diária, mas, quando o Secretário da Defesa marca uma entrevista coletiva, ou quando o Estado-Maior das Forças Armadas entra em pauta, a responsabilidade é muito grande. Os correspondentes em Washington fazem por telefone a maior parte do trabalho de rotina com as várias seções militares.

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Em razão da intensa rivalidade dentro do Pentágono e do igualmente intenso sentimento dos militares contra incursões nos seus territórios, sentimentos esses preservados pelo Departamento de Estado e até pela Casa Branca, a divulgação de documentos secretos nos meios de comunicação considera-se atividade não autorizada. Durante a "guerra" contra a proposta de construção dos superbombardeiros B-36 para a Força Aérea, nos anos 40, facções militares rivais divulgaram documentos secretos, num esforço de desacreditar esses aviões junto ao público. A situação atingiria um clímax em 1971 e 1972, com a revelação pública dos "Documentos do Pentágono" pelo Dr. Daniel Eusberg, antigo oficial do Pentágono, supostamente com fins pacíficos, e a divulgação de toda uma série de documentos relacionados aos planos secretos de ação do governo pelo colunista Jack Anderson, através de fontes que ele identificou como "militares, em parte".

Esse tipo de atitude continuará enquanto houver facções de militares que queiram dirigir a opinião pública nessa ou naquela direção. A decisão de se publicar tais matérias é uma responsabilidade que cada empresa jornalística deve tomar por si própria, baseada nas circunstâncias e na extensão dos interesses públicos envolvidos.

5) A Corte Suprema

Os correspondentes credenciados à Corte Suprema são poucos e altamente especializados. Não é qualquer repórter que pode receber credencial. Não é fácil quem desconhece o assunto escrever um artigo, capaz de ser entendido pelo público, sobre decisões e acontecimentos na mais alta Corte do país. Alguns repórteres que fazem a cobertura da Corte são advogados; outros tiveram aprendizado em leis. Os que não tiveram contato anterior com assuntos jurídicos têm que desenvolver um conhecimento próprio para poder exercer adequadamente suas funções.

6) O Tesouro

Uma das mais importantes inovações desenvolvidas pelo Departamento de Tesouro é a "Budget School" à qual é enviado, antes de ser divulgado, o Orçamento Federal.

Correspondentes, muitos deles com experiência em assuntos econômicos, têm oportunidade de estudar esse formidável documento e conversar com os líderes da nação antes de apresentarem suas conclusões ao público.

Esse tipo de preparação é deficiente em muitas outras áreas de coberturas em Washington. O Tesouro mostrou que é possível entrar em entendimento com os meios de comunicação em questões de importância para o público, tais como expedientes governamentais e propostas de novos impostos, para obter tempo apropriado a estudos e reflexões. Em assuntos dessa natureza, poucos parágrafos escritos apressadamente podem conter informações imprecisas e confusas. É melhor esperar, de acordo com a fonte de informação e com a competência do jornalista, antes de dar perspectiva própria ao assunto.

Em períodos de tensão econômica, o Tesouro também é fonte de notícias sobre políticas monetárias e os vários controles temporários da economia e dos salários.

7) Agricultura

Os correspondentes que cobrem o Departamento de Agricultura, como os correspondentes nos Departamentos de Estado, Defesa e Tesouro, são geralmente especializados nesse campo.e trabalham para empresas jornalísticas com um interesse particular no assunto. A rotina diária desses repórteres é apoiada pelas agências de notícias. Mas nas reportagens mais detalhadas e profundas em assuntos de importância para os fazendeiros e consumidores, os meios de comunicação devem se voltar para os especialistas.

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8) Outras Áreas

Todas, exceto as maiores e mais fortes empresas jornalísticas, não têm condições de colocar diariamente equipes em muitos outros importantes departamentos do governo. Em conseqüência, os Departamentos de Justiça, do Trabalho, do Comércio, do Interior e da Saúde, Educação e Bem-Estar, para mencionar apenas alguns, são cobertos pelas agências de notícias. Um correspondente com interesse especial em questões da Justiça ou Trabalho, por exemplo, pode dedicar mais tempo a esses assuntos que a outros. Ou toda a equipe concentrará seus esforços em um único Departamento, como o do Trabalho, durante uma emergência nacional. A questão é que mesmo as maiores corporações noticiosas na capital do país têm que trabalhar em termos de "prioridade", salvo em relação às fontes de notícias.Desafortunado é o repórter que passa um dia inteiro pesquisando um projeto no Departamento de Saúde, Educação e Bem-Estar, e descobre, depois, que nesse mesmo dia o Presidente enviou mensagem de urgência ao Congresso; isso acontece quando um repórter "desliga-se" das suas fontes geradoras de notícias.

Entre as agências reguladoras, os meios de comunicação têm um interesse natural e contínuo em quase tudo feito pela Comissão Federal de Comunicações. E, com o aumento do interesse pelos assuntos de consumo, dá-se maior atenção à Comissão Federal de Comércio. Por outro lado, as agências reguladoras e os correios são provavelmente as organizações criadoras de notícias em Washington que recebem a pior cobertura diária.

Riscos nas relações com meios de Comunicação

Os assuntos de ações públicas e os ligados à segurança nacional algumas vezes criam dificuldades entre o governo e os meios de comunicação. Revelações que embaraçam o governo jamais são aceitas com bons olhos ou indiferença. Não é boa política a Casa Branca compilar uma "lista de inimigos" e entregá-la

ao Serviço de Taxas e Impostos sobre o Comércio Interno, como fez o ex-Presidente Nixon, da mesma forma que não são simpáticos a qualquer administração os repórteres muito inquisitivos. Acontece também algumas vezes que, quando um Presidente ou pessoa da sua administração tenta usar os meios de comunicação como instrumento de aliciamento público, os efeitos podem ser desastrosos e se "voltarem contra o feiticeiro".

“Os Mal-Entendidos”

A despeito de algumas dúvidas quanto aos tipos de informações militares fornecidas pelos governos Roosevelt e Truman, durante a II Guerra Mundial, suas linhas de ação não foram criticadas; de fato, manter o segredo sobre o desenvolvimento da bomba atômica foi considerado um triunfo, até que se ficou sabendo que espiões haviam enviado dados importantes à União Soviética. Contudo, os mal-entendidos não haviam começado até o governo Eisenhower, quando a União Soviética descobriu, em 1960, a despeito dos desmentidos da Casa Branca, que um avião de espionagem U-2 fora acionado dentro de seu território. E isso alastrou-se em 1961, quando o Presidente Kennedy tentou e falhou em envolver a alta administração da CIA na organização do desembarque desastroso na Baía dos Porcos, em Cuba. De novo, em 1963, o governo Kennedy aceitou o argumento do regime de Diem, no Vietnã do Sul, de que a "vitória" sobre o Vietcong era iminente.

Com a continuação da guerra, algumas declarações dos governos Johnson e Nixon foram desmascaradas como falsas. A indignação final, decerto, ocorreu com o caso Watergate, que levou o Presidente Nixon à renúncia forçada.

Em virtude desses acontecimentos, ficou difícil para os governos seguintes restabelecer a confiança do povo americano e dos países estrangeiros nas informações divulgadas pelo Governo dos Estados Unidos em matérias-chave que afetam a conduta do público,

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particularmente aquelas ligadas à segurança nacional. Infelizmente, o sucesso da imprensa ao divulgar as falhas do governo não torna os jornalistas queridos do público americano. Estava escrito que os jornalistas seriam desacreditados, assim como o governo – e que ficariam ressentidos os mais zelosos partidários do Presidente derrubado.

Jornalismo Interpretativo: Liberdade e Segurança

O governo e os meios de comunicação concordam sempre com as proposições gerais de que nenhuma notícia que viole a segurança nacional deve ser tornada pública, em tempo de crise. Entretanto, nenhum acordo parece possível sobre o que constitui a segurança nacional em qualquer tipo de circunstância. Segue-se que a responsabilidade de determinar qual a informação a ser preservada deve ser exercida pelo governo. Entretanto, quando, e se a imprensa perceber que esse tipo de informação está sendo guardado em segredo erradamente, por motivos outros que não o da segurança nacional, é da sua responsabilidade divulgá-lo, no interesse do povo. Eis, em suma, a substância do fato conhecido como relação de adversidade entre governo e imprensa.

Essa posição conflitante tem sido assunto de muitas discussões entre jornalistas e autoridades do governo durante anos. Tal relação é típica somente nos Estados Unidos. Há muitos anos, durante a guerra da Criméia, em meados do século XIX, as revelações de William Howard Russel sobre a maneira trágica como estavam sendo comandados os militares ingleses trouxe grande prestígio ao The Times de Londres e causou a queda do governo de Aberdeen. Tais fatos podem ser documentados numa democracia praticante, onde existe imprensa livre, competente e com poder de crítica.

Prevalece a teoria de que o interesse público é melhor servido pela rivalidade constante entre as duas partes. Entretanto, se o conflito for excessivo, e se todas as restrições impostas vierem a ser abandonadas, tanto pelo governo

quanto pelos meios de comunicação, o resultado provável será a anarquia.

Em assuntos nacionais e internacionais, com muitos efeitos sobre a segurança nacional, correspondentes e editores são avisados sobre toda a filosofia dos dois lados da questão e o que devem ou não revelar. A despeito de todas as pressões, cabe aos jornalistas decidir o que divulgar das matérias em seu poder. Essa é a maior responsabilidade dos jornalistas em uma sociedade aberta. No exercício de tal atividade, põem muitas vezes em dúvida o seu próprio julgamento.

Coletiva com o Presidente

É um costume peculiar americano colocar o Presidente dos Estados Unidos regularmente frente a frente com questões propostas pelos jornalistas. Até a virada do século a nenhum presidente ocorrera promover esses encontros e os próprios jornais não demonstravam interesse pelo assunto. Embora Theodore Roosevelt tenha sido o primeiro Presidente a conversar com repórteres (ficava irritado quando publicavam matérias das quais não gostava), foi Wilson quem iniciou os encontros ocasionais com a imprensa.

A reunião do Presidente com a imprensa, como a conhecemos atualmente, foi fruto do trabalho do Presidente Franklin Roosevelt, um artista na arte de envolver e manipular repórteres e editores, um político talentoso que gostava de competições com a imprensa.

Determinou que as reuniões com a imprensa seriam duas vezes por semana, durante o seu mandato. O Presidente Truman manteve esse sistema. Embora não houvesse tantas reuniões como na Presidência anterior, elas eram muito inteligentes, sob todos os pontos de vista.

No governo do Presidente Eisenhower, a última barreira que protegia o Chefe do Executivo foi derrubada. Historicamente, presidentes gozaram sempre do privilégio de ter suas respostas a todas as perguntas publicadas em forma de discurso indireto. Se os presidentes permitiam a reprodução exata de algumas palavras ou talvez

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uma frase era um grande acontecimento. Quando Eisenhower permitiu que câmaras de televisão gravassem as reuniões com a imprensa e os filmes fossem levados ao ar, após uma revisão, tornou-se impossível impedir que os repórteres usassem reproduções diretas do que fora dito. Assim, depois de uma verificação rápida, as gravações das reuniões presidenciais com a imprensa eram divulgadas.

A cobertura das Nações Unidas

Nos anos em que os Estados Unidos dominavam as Nações Unidas, os assuntos a ela concernentes mereciam atenção dos jornalistas, embora os meios de comunicação americanos dessem pouca atenção a esses temas, a não ser quando havia alguma crise. Desde que os Estados Unidos começaram a ocupar posição minoritária, perdendo votos ou sendo colocados em xeque-mate pela maioria dos países em desenvolvimento com vínculos com o bloco soviético, China, ou ambos, as Nações Unidas tornaram-se impopulares na América. Discursos enérgicos antiamericanos, crises afetando os Estados Árabes ou os nacionalistas negros da África, e as manobras pretensiosas do bloco soviético são de pouco interesse para o povo americano e até para muitos correspondentes estrangeiros, exceto quando esses fatos tocam em um ponto nevrálgico de seus países.

Ainda assim, pelo simples fato de existirem as Nações Unidas, e porque a sua sede está localizada em Nova York, é matéria à qual deve dar-se cobertura. Mesmo se o assunto for desinteressante ou se provocar o repúdio americano, continuará importante.

Problemas de Cobertura

Não é difícil fazer cobertura das Nações Unidas. O problema, tal como no Departamento de Estado, é que há muita burocracia e pouca ação. A maioria das delegações tem seus assessores de imprensa, poucos podendo ser considerados excelentes. As próprias Nações Unidas têm um pequeno grupo de assessores de imprensa de carreira,

muito qualificados, que trabalham para o Secretário-Geral Kurt Waldheim. Na seção de documentação é facilmente encontrado material de valor relevante; na biblioteca, há uma quantidade enorme de informações sobre todos os assuntos pendentes e outra grande quantidade sobre temas já esquecidos.

Os procedimentos das Nações Unidas, os métodos das suas organizações principais e as interpretações da sua Constituição são complicados, mas não tão complicados como os de qualquer governo. Correspondentes qualificados não tiveram muita dificuldade em trabalhar nas Nações Unidas. O principal problema das coberturas é que há muito pouco a fazer.

Métodos e Fontes

Seguem-se as quatro principais fontes de notícias nas Nações Unidas:

1) A abertura das reuniões, discursos e resoluções dos vários componentes da organização. Principalmente a Assembléia Geral e o Conselho Econômico e Social, com suas comissões subsidiárias.

2) As delegações estrangeiras, geralmente reticentes sobre os negócios de seus países, podem fornecer informações oficiosas de "background" sobre o que está acontecendo "atrás do pano". Algumas não fornecem detalhes; mas as delegações – como os advogados inclinam-se a falar dos seus casos aos jornais quando julgam tirar proveito da publicidade.

3) A missão americana nas Nações Unidas. Ela é uma extensão do Departamento de Estado, mas tem os seus próprios negócios públicos e oficiais de informação e uma excelente biblioteca. A equipe de informações é competente, mas geralmente não tem muita liberdade de ação, por razões óbvias.

4) A própria equipe de informações das Nações Unidas e os recursos do Secretário Geral. Através dos anos as Nações Unidas desenvolveram um sistema de arquivar

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cronologicamente as atas das grandes reuniões; cópias dessas atas podem ser obtidas em pouco mais de uma hora após a requisição. Esse pequeno mas qualificado grupo trabalha em uma seção própria no segundo andar do edifício do Secretariado das Nações Unidas, e pode ser consultado por qualquer correspondente.

O Secretário Geral, sendo o responsável por todos os membros das Nações Unidas, não pode fazer pronunciamentos agressivos que afetem esses membros, mas ele consegue tornar-se "notícia" em reuniões periódicas com a imprensa durante o ano, e nas ocasiões em que discursa na organização.

Fisicamente, o centro da cobertura de imprensa nas Nações Unidas fica no terceiro andar do edifício do Secretariado, onde a sala de imprensa, centro de documentação, sala de "briefing", e alguns dos escritórios de correspondentes estão localizados. Telex, telefones e outros recursos de comunicação são também encontrados. Credenciais são fáceis de obter com o preenchimento de pequeno formulário, cuja exigência principal é uma carta de solicitação das credenciais escrita pelo editor de um jornal ou seu substituto.

Correspondência Estrangeira

É quase unânime nas redações americanas o sentimento de que uma matéria vinda de fora do país não está normalmente escrita em termos de fácil entendimento dos leitores e dos espectadores médios. O resultado final é a pequena utilização de notícias estrangeiras na maioria dos jornais americanos e menos ainda no jornalismo eletrônico, o que causa o desânimo em qualquer um que trabalhe nessa área e sabe quanto talento, esforço e dinheiro são gastos nas cobertura de acontecimentos no estrangeiro. I Normalmente, matérias sobre crises, guerras e pessoas, bastante detalhadas, avolumam-se. Mas, infelizmente, as matérias que colocariam o público americano "em guarda" não são publicadas em larga escala. É um fato, também, que pouco menos de uma dúzia de correspondentes americanos estava

em Saigon nos anos cruciais, quando os Estados Unidos vagarosamente se envolviam em uma guerra que não poderiam vencer, e era quase certa sua derrota.

O Fluxo de Notícias Estrangeiras

Em geral, cresce a cada dia o fluxo de notícias estrangeiras que poderiam ser utilizadas nos meios de comunicação dos Estados Unidos. A Associated Press e a UPI distribuem cada uma cerca de 200.000 palavras por semana, com notícias estrangeiras. Se a média dos jornais americanos usasse 10.000 palavras por semana (o jornalismo eletrônico não pode absorver número próximo desse total), os editores das agências de notícias considerariam isso um triunfo. Alguns jornais com agências no estrangeiro e que vendem notícias provavelmente as fornecem de acordo com as necessidades dos seus clientes.

A Audiência

Há bons sinais de que um número maior de pessoas nos Estados Unidos segue regularmente o noticiário internacional. Os milhões de americanos que viajam pata fora do país todo ano, mais os milhões de pessoas que vêm visitar o país, contribuem pata estimular a publicação de matérias internacionais. Na década de 70, o Departamento de Estado identificou aumento no volume de comunicações, por carta e telefone, com os cidadãos americanos, sobre vários problemas envolvendo política internacional. Publicações especializadas em assuntos internacionais estão-se expandindo vagarosamente; o Foreign Affairs, por exemplo, com uma circulação de 20.000 exemplares em 1950, atingiu cerca de 75.000 nos anos 70. E cursos universitários sobre assuntos internacionais se tornaram bastante populares. Ainda assim, o processo educacional é inevitavelmente vagaroso e duvida-se que mais de 10% do povo americano se interessem por assuntos internacionais, provavelmente esse número cai para 5% nos períodos em que não há crise.

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Estudos têm revelado que um número bastante reduzido de pessoas importantes, as que decidem em todos os níveis do governo, não se interessa por esses assuntos. Mas isso não torna mais fácil o trabalho dos editores e correspondentes estrangeiros numa época em que os Estados Unidos passam por um envolvimento global maior do que em qualquer outra época da sua história.

O desenvolvimento mais promissor na disseminação de notícias internacionais nos Estados Unidos é o rápido progresso dos "syndicates"3 de jornalistas. O New York Times, com o maior e mais eficiente serviço internacional, tem mais de 300 jornais como seus clientes. O Los Angeles Times, em poucos anos, obteve mais de 200 jornais, e o Washington Post (somente em notícias internacionais) se tem expandido considerável-mente. O Baltimore Sun, depois de se recusar a sindicalizar-se por vários anos, agora oferece suas notícias internacionais a outros jornais e conquistou grande e respeitável audiência. Algumas das mais antigas agências internacionais, a Christian Science Monitor entre elas, estão sendo revitalizadas. E jornais como o Minneapolis Tribune, St. Louis Post-Dispatch, Miami Herald e outros enviam especialistas para reportarem determinados assuntos do noticiário internacional. Mas o famoso Chicago Daily News desativou sua equipe internacional.

Nas áreas em que há jornais pobres com uma cobertura mínima dos assuntos nacionais e internacionais, as revistas de notícias vendem grande parte dos seus 7 milhões de exemplares semanalmente com seções internacionais detalhadas. Assim como as cadeias de televisão, que ainda tiram a maior parte das suas matérias das agências de notícias, elas desenvolvem uma equipe sofisticada de correspondentes estrangeiros para trabalharem principalmente com seus operadores. Empresas jornalísticas especializadas em negócios e comércio, como as publicações da Dow Jones, McGraw-Hill e Fairchild, têm

3 N.doE. Cooperativas.

uma equipe competente cobrindo os maiores centros de comércio no mundo.

O Espaço para as Notícias Internacionais

É difícil precisar o volume de notícias internacionais usado, porque isso varia em função de um assunto determinado, das empresas de notícias envolvidas e da audiência potencial do assunto. Num Período em que os Estados Unidos estão em paz com o mundo, é óbvio haver pouco interesse público e pouco tempo e espaço dedicados aos assuntos internacionais. Em tempos de guerra, a situação muda rapidamente; em qualquer crise prolongada, o espaço e o tempo dedicados às notícias internacionais têm uma correlação específica com os anseios do público.

Mesmo fora de crises, o New York Times publica entre 16 a 18 colunas por dia de notícias internacionais. Nas mesmas circunstâncias, o Los Angeles Times publica uma média de 10 a 11 colunas; o Washington Post, 9 ou 10; o Baltimore Sun, 8 ou 9, com um número entre 4 a 6 colunas diariamente em, talvez, 30 outros jornais importantes com uma circulação de cerca de 10 milhões de exemplares. Somando-se a isso, certamente, estão as seções internacionais nas revistas semanais e os comentários e apresentações, algumas vezes importantes, nos noticiários noturnos da televisão.

O Wall Street Journal publica uma seção internacional de um dos seus excelentes correspondentes, a intervalos regulares, com um impacto considerável nos seus mais de 1 milhão de leitores. E quando o New Yorker Magazine publica um artigo internacional de um elemento do seu pequeno mas brilhante grupo de redatores de assuntos internacionais, alcança significativa penetração entre o público leitor. O mesmo vale para os raros documentários na televisão acerca de assuntos internacionais.

Isso não justifica, e está longe de ser desempenho satisfatório, a fraqueza da imprensa americana na publicação diária e

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semanal de notícias internacionais, ou a pouca quantidade desse tipo de material nas emissoras, quando não há guerra. Como foi mostrado, o modelo, como um todo, é confuso. Poderia ser muito melhor. Mas já foi muito pior.

O Trabalho dos Correspondentes Internacionais

Os correspondentes internacionais que manipulam as notícias para as empresas jornalísticas americanas são jornalistas maduros, com excelente desempenho profissional e sólida instrução. Não é difícil encontrar entre eles homens e mulheres com títulos universitários. Alguns são "Nieman Fellows" em Harvard, e existem pós-graduados.

Eles dirigem vários assuntos de suas "bases" e são designados para outros locais a cada três anos. Se tiverem que assumir riscos, assim o fazem, não por diversão, mas porque isso faz parte do seu trabalho. Em zonas de combate, a primeira coisa que aprendem a fazer é manter as cabeças abaixadas. Um correspondente morto pode ser um herói, mas as empresas para as quais trabalham os preferem vivos. E os que esperam subir às alturas ao atacar governos ditatoriais, bem cedo descobrem que ser demitido por provocações não é o melhor caminho, do sucesso.

Como Ser Correspondente

A forma de alguém tornar-se correspondente internacional é ainda incerta, a despeito de tudo que se diga sobre modernos métodos pessoais. Alguns são escolhidos para o trabalho e treinados rigorosamente em cursos especiais de grandes universidades e estudam várias horas por dia um idioma estrangeiro. Muitos estão no lugar e na hora certos e tiram proveito dessa oportunidade. Outros convencem os editores a testá-los, com resultados não muito bons (embora, às vezes, surjam agradáveis surpresas). O restante dos correspondentes internacionais consegue

atingir esse posto através de promoções nas agências de notícias e em jornais que têm equipes no estrangeiro, e muitas vezes são convidados para trabalhar como correspondentes internacionais em revistas ou jornais que mantêm uma equipe no estrangeiro.

Enquanto a maioria dos correspondentes mais velhos pode contar com um salário decente, há jovens que querem trabalhar ganhando menos do que ganhariam em suas cidades.

Entretanto, somente em lugares conturbados e onde existem riscos, particularmente áreas de guerra, é que se dá preferência aos jovens. Na primeira guerra documentada pela televisão, a Guerra do Vietnã, os jovens predominaram na cobertura das batalhas. Isso também ocorreu no Oriente Médio, especialmente na longa e brutal guerra civil libanesa.

Como Trabalham os Correspondentes

A maioria dos correspondentes internacionais acredita que sua primeira obrigação é contar a história do povo do país onde trabalham, e não somente os atos oficiais do governo e os comunicados de seu Ministério à imprensa. O trabalho é difícil e exigente, requer longas, e algumas vezes irregulares horas de trabalho durante o dia e a noite, e pode perturbar a vida em família. Não admira que o índice de divórcio entre os correspondentes internacionais seja elevado.

Quando os correspondentes são credenciados a cobrir um país inteiro, naturalmente dependem das facilidades locais de comunicação de massa para se manterem informados.

Bem cedo descobrem que precisam fazer mais do que ler os jornais, ouvir o rádio, assistir à televisão, verificar o que está sendo enviado por telegramas e manter relações cordiais com a Embaixada americana e com os jornalistas do país. Precisam obter e desenvolver suas próprias fontes de informação, suas próprias idéias para matérias e reportagens, seus próprios métodos de trabalho – e isso leva tempo e custa muito dinheiro. Sem contar os

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custos de transmissão, a média gasta pelas empresas jornalísticas com um único correspondente, excluindo os serviços de telex;, é de 75.000 a 100.000 dólares por ano – quantia ainda maior em lugares como Moscou e Pequim.

Em países totalitários e em muitos países em desenvolvimento, os correspondentes ficam "amarrados" às fontes oficiais. Em um número cada vez menor de países democráticos há liberdade de ação, se os correspondentes souberem o que fazer e como conseguir. Não é comum os editores guiarem os corresponden-tes pela mão, ou tentarem isso, a despeito da disponibilidade de milagres da moderna comunicação. O serviço de um correspondente internacional é ainda uma operação altamente individual e assim deve permanecer.

Propaganda

É falso que o americano típico no exterior seja presa fácil da propaganda internacional. Os políticos americanos que participam de conferências internacionais estão condenados por antecipação. Quanto aos correspondentes internacionais, até seus próprios editores algumas vezes recusam-se a acreditar quando sua reportagem coincide com as declarações ou os anúncios de uma agência de propaganda.

A dificuldade fundamental é definir propaganda e separá-la da atividade jornalística denominada "notícia". A propaganda não precisa necessariamente basear-se em uma informação falsa ou leviana; a "grande mentira", de fato, foi certamente menos eficiente no passado do que a verdade – quando acontecia a verdade servir aos fins da propaganda. De certo, poucos propagandistas são tolos o suficiente para "rotular" os seus mais indeléveis ideais, mas nenhum propagandista consegue enganar por muito tempo um correspondente experimentado.

Transmissão da Informação

É um hábito, normalmente _praticado pelas empresas com grandes volumes de notícias a

transmitir, contratar circuitos especiais para essas transmissões. Um serviço completo de telex, por exemplo, poderia manter circuitos abertos 24 horas por dia, para comunicação nos dois sentidos através do Atlântico. Em tais. circunstâncias, a notícia é transmitida tanto por cima quanto por baixo da superfície dos oceanos, para lugares em que não se pode ter uma ligação fio a fio e para a redação de uma grande empresa jornalística. As antigas mensagens codificadas somente têm função agora entre as seções de uma agência.

Para um serviço internacional como o do New York Times, a transmissão de certos tipos de dados a uma velocidade de 1.000 a 1.500 palavras por minuto não é incomum. Os modernos serviços de telex trabalham a essa velocidade. Além do mais, o sistema de ditar pelo telefone para gravadores, o que possibilita rápida transcrição do texto, vem ganhando a preferência em muitos lugares como concorrente para o telex. Para a televisão, o sistema de transmissão por satélites tem sido de grande vantagem; com o aumento do número de satélites e dos sofisticados cabos de múltiplos canais, muitos outros meios estão em desenvolvimento. Satélites transatlânticos poderão, em breve, prover 42.000 canais para comunicação simultânea, ou 24 canais "full-time" para televisão em cores. E a adaptação da tecnologia e da transmissão do "laser" pela luz ao longo de fibras de vidro trará grandes facilidades aos processos de transmissão.

A quantidade de notícias internacionais transmitida é estabelecida pela União Internacional de Telecomunicações, principalmente durante as reuniões anuais em Genebra dos representantes dos países membros. É norma geral fixar essa cota pelo número de palavras transmitidas, ao invés de estabelecer um período de tempo determinado.

Com o aumento das despesas, não é de estranhar que o modesto carteiro tenha reassumido o seu papel. Os aviões a jato, que ligam Nova York à Europa ou Los Angeles a Tóquio em poucas horas, tornam o correio aéreo bastante prático e útil na transmissão de

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notícias antes enviadas por cabos telefônicos ou por sistemas de radiocomunicação. É necessário colocar-se a data e o local nos envelopes (por exemplo, Londres, 12 de março), assim como o dia da publicação pode ser inserido de acordo com as necessidades, mas tal procedimento é questionável, não se sabendo ainda por quanto tempo poderá ser aceito. O transporte por aviões supersônicos (SST) pode ser uma opção mais em conta para os jornais e revistas de pequeno porte, ao invés de se utilizarem dos satélites, dos cabos sofisticados e do popular mas ainda menos confiável sistema de rádio para teleimpressão.

Censura

Outro impedimento ao fluxo das notícias através dos países, ainda maior que os custos das transmissões, é a censura, sempre perniciosa. De um jeito ou de outro, os censores existem em todo o mundo e o seu número aumenta gradualmente, até mesmo no "berço" da liberdade de expressão, a Europa Ocidental A cruel censura totalitária do início do século, quando os despachos eram retidos ou mutilados em parte ou no seu conteúdo total, está voltando agora. Particularmente no mundo comunista, o sistema deixa os correspondentes numa posição em que se tornam os seus próprios censores, pelo medo de serem deportados.

A União Soviética aboliu formalmente a censura em 1961, e permitiu que correspondentes internacionais inaugurassem um sistema de teletipo com os seus jornais, se

assim o quisessem. Seguiu-se certa liberdade. Os correspondentes, cautelosamente testando o regime, descobriram que podiam transmitir algumas críticas veladas e até mesmo especular sobre o rumo dos acontecimentos atrás da cortina de ferro. Mas também descobriram que a União Soviética deportava mais rapidamente do que nunca correspondentes contrários às suas determinações.

Também na China os correspondentes concluíram não haver censura formal, no sentido exato da palavra, mas também perceberam que estavam sendo constantemente observados, e suas fontes de informação eram restritas e limitadas, de acordo com as normas do governo.

Abriu-se uma exceção aos correspondentes que acompanharam os Presidentes Nixon e Ford quando de suas visitas ao país. Em conseqüência, Max Frankel, do New York Times, ganhou o primeiro Prêmio Pulitzer com sua cobertura sobre a China.

O censor que o correspondente nunca vê e a voz fanhosa que corta uma ligação telefônica são as duas figuras mais difíceis de serem vencidas. São comumente censores de menor expressão, cumprindo à risca instruções superiores. Tudo o que os correspondentes podem fazer é reclamar e apelar pata as autoridades de sua própria Embaixada ou às autoridades do país em que estejam credenciados. Normalmente não ganham uma batalha desse tipo, mas devem tentar e jamais desistir da intenção.

Referência bibliográfica

HOHENBERG, John. “O Jornalista Profissional: guia às práticas e aos princípios dos meios de comunicação de massa”, Rio de Janeiro, Interamericana, 1981. págs.362-378

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Texto VI

Meio Século de Memórias (História do Fotojornalismo Internacional) John Morris, 1994 Das grandes revistas distribuídas por jornais, testemunhamos recentemente a extinção da Sunday Times Magazine, de Londres. Os jornalistas da minha geração conviveram com os dias difíceis da Grande Depressão — a depressão mundial ocorrida após a Primeira Guerra – e com a devastação e o sofrimento das guerras que se seguiram. O fotojornalismo moderno estava, ainda, dando os primeiros passos quando essas guerras começaram. A fotografia era utilizada como uma arma. Do lado dos Nazistas, as fotos eram parte do aparelho de propaganda. Do nosso lado, os fotógrafos que eu conhecia, e com os quais trabalhava, acreditavam plenamente na causa dos aliados. Suas fotos... talvez vocês se lembrem da foto do soldado espanhol morrendo, de Robert Capa, ou da foto de uma mãe legalista espanhola, de David Simor. Fotos assim foram as precursoras de centenas de imagens inspiradoras, capturadas por dezenas de fotógrafos dedicados, que alertaram os Estados Unidos sobre os perigos do fascismo e, depois, documentaram a marcha dos aliados para a vitória.

Havia um editor na época, que tinha a coragem para realizar suas convicções. Henry Lewis, das revistas Time e Life, arriscou milhões pelos ideais de uma revista. Não apenas uma vez, mas várias vezes. Quando Lewis ficou mais velho, as coisas mudaram. Quando a Time Inc., em 1964, decidiu vender a revista mensal Architectural Form, aquilo representou um retrato do futuro. A Form era uma pequena revista, bastante séria, que Lewis publicava há muito tempo como inspiração para os arquitetos, só que ela deixou de dar lucro. Passou a ser considerada dispensável. Hoje, nos perguntamos se a própria mídia impressa está para desaparecer ralo abaixo, se vai entrar mesmo pelo cano. Será que leitores têm mesmo que ser reduzidos a telespectadores?

Nós, fotojornalistas – estou falando daqueles que trabalham com fotografias estáticas – proporcionamos uma ponte entre o filme e a mídia impressa. Há quatro anos, aqui neste palco, Tony Hall, da SSC, um jornalista de televisão, disse: "Nada fica na memória daqueles que simplesmente observam." A importância do fotojornalismo é que ele induz o público a ler e a reter a mensagem transmitida pelas palavras. Minha primeira revista foi a Life, na época uma revista semanal. Ela era tida como a maior força editorial da América. Eu comecei na Life em 1938, como contínuo, recém-saído da Universidade de Chicago. A maior parte da equipe, na época, tinha menos de 30 anos e coragem de tentar tudo. Eu me lembro de ter pedido ao Arcebispo de Canterbury que subisse na torre do Palácio de Atlanta, para posar para a capa da Life. Eu pedi a Alfred Hitchcock, o diretor de cinema, que posasse como garçom em Santa Monica. Nós pedimos a milhares de trabalhadores da aviação que abrissem mão da sua hora de almoço para posar ao lado do bombardeiro que estavam construindo. Nós insistíamos em levar nossas máquinas fotográficas a todos os lugares aonde íamos, ao laboratório, ao boudoir; às reuniões fechadas dos homens de negócios e aos encontros entre grandes líderes e generais. Os jornais ficavam para trás, porque seus fotógrafos continuavam carregando câmeras de imprensa, das grandes, com flashes. Os editores desses jornais encaravam fotos como meros artifícios para criar espaços, quebrar um pouco aquela salada de textos. Já os tablóides exageravam na direção oposta, publicando fotos grandes, chocantes e sensuais, mas ignorando o conteúdo sério das notícias.

A grande diferença entre a Life e as outras publicações era que, nela as fotos vinham em primeiro lugar. As palavras eram escritas para

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serem encaixadas entre a disposição das fotos. Se não houvesse fotos, não havia matéria. Nós nos inspiramos nas revistas de fotos anteriores à Guerra de Weimar: na Alemanha. A Life reuniu uma equipe de fotógrafos, alguns generalistas, outros especialistas, que jamais encontrou rivais.

Em 1943, a Life me mandou para Londres, com nove meses de antecedência, conforme ficou constatado depois, para preparar a cobertura do Dia D, a invasão da Normandia. A operação militar mais complexa da história, comandada pelo general Eisenhower. Os aliados exigiram que tirássemos nossas fotos junto com as três grandes agências distribuidoras de fotos: Associated Press, United Press e a International News Service.

O Dia D, o dia mais longo, como ficou conhecido, foi uma terça-feira, 6 de junho de 1 944. Apesar de todos os nossos preparativos, nós ainda não tínhamos boas fotos no final da tarde de quarta-feira. O tempo estava terrível, o que inviabilizava as fotografias aéreas. As esperanças da Ufe de obter c/osestirados da invasão por terra estavam depositadas em Robert Capa, o famoso fotógrafo húngaro, que já havia feito a cobertura das guerras da Espanha, China, África do Norte e Itália. No começo da noite de quarta-feira, recebi um telefonema de um dos portos do canal: "O filme de Capa está indo para Londres de motocicleta." Nosso prazo final para conseguir mandar fotos originais para Nova York, para a edição da Life daquela semana, era na quinta de manhã, quando o malote sairia de Governor Square, em Londres. Além disso, tínhamos que fazer cópias para as três agências, o mais rápido possível, para distribuição como radiofotos para um mundo ansioso por detalhes da grande ofensiva.

Finalmente o filme chegou, acompanhado de um recado do Capa, explicando que todo o material deveria estar em quatro rolos de filme de 35 milímetros. Eu disse ao pessoal do laboratório, que ficava debaixo do meu escritório, que trabalhasse o mais depressa possível para me liberar as fotos para a edição.

Alguns minutos depois, eles retornaram:"f'.ó fotos estão ótimas e os filmes estão secando." Mas traga só os negativos, e rápido, eu disse.

Alguns minutos depois, o rapaz que havia revelado o filme entrou em meu escritório chorando, quase histérico: "Os filmes estão destruídos, estragaram todos." Ele explicou que os havia colocado em um armário de aço com um aquecedor. para que secassem e, por causa da minha pressa, fechou as portas. A emulsão dos filmes simplesmente derreteu. Eu desci correndo com ele e examinei filme por filme. Por fim, encontrei 11 fotos que poderiam ser impressas, embora estivessem muito granuladas. Elas foram salvas, mas por um triz. Essa foi a pior noite da minha carreira.

Eu vou poupá-los de mais histórias de horror como essa. Ao invés disso, gostaria de falar sobre aonde chegou o fotojornalismo hoje. Acho que temos fotógrafos tão talentosos quanto os antigos, ou até mais, trabalhando pelo mundo inteiro, com maiores concentrações na França e nos Estados Unidos. Eles possuem recursos que causariam inveja aos pioneiros do passado, tal como Eric Solomon, que tinha que tirar suas fotos com pequenas placas de vidro, segurando com as mãos as exposições que duravam apenas um ou dois segundos. Os fotógrafos de hoje têm microcâmeras maravilhosas, lentes com zoom de alta velocidade e filmes velozes. Suas fotos são transmitidas quase que instantaneamente, em cores, para o mundo inteiro. Os fotógrafos de hoje, os mensageiros, possuem equipamentos fantásticos para contar suas histórias. Mas qual é a mensagem deles? Será que a estão transmitindo?

Sim e não. O paradoxo da revolução tecnológica é que as grandes revistas de fotos estão extintas. O semanário americano Ufe acabou em 1972, seguido por Look, e Saturday Evening Post, que só ocasionalmente levou o foto jornalismo a sério. Na Inglaterra, não surgiu nenhuma outra revista de fotos independente desde a Picture Post. Além disso, acabamos de presenciar o fim da Sunday Times Magazine, do senhor Murdoch.

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Na França, a Paris Match, seguindo a fórmula da revista americana People, se concentra em celebridades e em algumas matérias mais recentes e óbvias. Na Alemanha, temos a Stern, que é uma colcha de retalhos com coisas boas e ruins, mas sem qualquer convicção. Na Itália, os suplementos de jornais possuem muitas fotos, só que a grande maioria não é produzida naquele país. Eu temo que o mesmo possa ser dito a respeito da revista Manchete, no Brasil. O que aconteceu? A explicação de sempre é a televisão.

A telinha redirecionou o grande público e os anunciantes de massa. A televisão é mais rápida, mais barulhenta e não requer muito esforço para ser absorvida.

Infelizmente, na minha opinião, os meios de comunicação impressos tentaram concorrer com a televisão, procurando imitá-la. Temos, então, o USA Today, que embala as notícias em espaços curtos e coloridos, equivalentes às emissões da televisão e tão superficiais quanto elas.

Infelizmente, o USA Today é o jornal mais imitado nos Estados Unidos. Tenho que admitir que, pelo menos na previsão do tempo, eles se saíram bem. Seria mais sensato separarmos aquilo que a televisão faz melhor daquilo que a mídia impressa faz melhor. Com seu incrível imediatismo, a televisão concentra a atenção do mundo em um único evento, como, por exemplo, a abertura dos Jogos Olímpicos, o bombardeio de Bagdá, ou um protesto no Kremlin. Ela realmente consegue despertar compaixão pelos africanos vítimas da fome, ou pelos prisioneiros que estão sofrendo.

A acusação mais séria contra a influência da televisão nos meios de comunicação impressos é que, com o auxílio da publicidade, o jornalismo foi transformado em entreteni-mento. O mundo inteiro é um grande show, não deixando muito clara a distinção entre a guerra das estrelas de Hollywood e as guerras reais como as do Golfo e da Bósnia. O tempo que a televisão dedica a cada assunto é limitado, a televisão logo perde o interesse. E,

como disse Pamela, o tempo de atenção do público telespectador é mais limitado ainda. Além disso, a televisão faz muito pouco para explicar as causas e as ligações subjacentes entre os fatos. Isso cria um desafio muito especial para o fotojornalismo, e por foto jornalismo estou me referindo agora a fotos e textos trabalhando juntos em jornais, revistas e livros, para que o leitor possa determinar seu próprio ritmo de absorção da informação. O aspecto que mais me dá esperanças para o foto jornalismo mundial de hoje é a escolha, cada vez mais cuidadosa, das fotos que acompanham textos em revistas generalistas semanais, como a Time e a Newsweek mensais como a National Geographic e Geo, e em jornais como o New York Times, o britânico Independent, o francês Libération, além de vários jornais regionais dos Estados Unidos, liderados pelo Detroit Free Press.

Eu gostaria de voltar um pouco ao cenário da editoração, logo após a Segunda Guerra Mundial. Foi uma época de oportunismo para nós que sobrevivemos. Pensávamos que nunca mais teríamos que cobrir uma guerra novamente. Mas não foi bem assim, nossas previsões não levaram em conta o mundo que emergia do colonialismo. Nós não poderíamos imaginar que as paixões religiosas, étnicas e de classes, resultariam na morte de centenas de milhares de pessoas nas divisões da Índia ou da Palestina, e em revoluções na China, Indonésia e África. Nós também nunca imaginamos que ocorreria uma guerra chamada de Guerra Fria.

Numa espécie de irmandade, com o objetivo comercial de dividir as despesas, fotógrafos de meia dúzia de nacionalidades se reuniram em 1947 para fundar a Magnum Photos, com escritórios em Nova York e Paris. Eu fui seu primeiro cliente, assinando uma série chamada “People are People The World Over” (Gente é Gente no Mundo Inteiro), que fazia uma comparação das vidas dos agricultores em uma série de países. Foi um ato de humanidade. Publicada no jornal feminino Home Journal do qual eu era editor de arte na época, despertou muito pouca atenção, a não ser de

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um homem, o fotógrafo Edward Steichen, então diretor de fotografia do Museu de Arte Moderna. A série o inspirou a buscar fundos para uma grande exposição que ele intitulou “The Family of Man” (A Família do Homem). A família de Steichen foi vista por milhões de pessoas em muitos países e, no início deste ano, em Toulouse, ela deu início à sua segunda turnê mundial.

Infelizmente, as guerras coloniais nos atingiram. Em 1954, Robert Capa, um dos fundadores da Magnum, foi morto quando cobria a guerra francesa na Indochina, uma guerra na qual ele não acreditava. Em 1956, outro fundador da Magnum, David Seymour, conhecido como Chim, foi morto por uma metralhadora egípcia em Suez. A Magnum, no entanto, resistiu e inspirou todo um grupo de outras agências independentes: Gama, Sigma, a Sipa na França, Bilderberg na Alemanha, Network na Inglaterra, e muitas outras cujos fotógrafos, substituindo as antigas equipes das revistas de fotos, agora cobrem os eventos no mundo inteiro.

O Vietnã foi uma guerra terrível para o foto-jornalismo, uma guerra que produziu apenas perdedores. Pelo menos uma dúzia de fotojor-

nalistas estavam entre os correspondentes que morreram. Entre eles, estava o Larry Burrows, da Life, que trabalhava em Londres, em uma sala escura, na noite do Dia D, mas não foi. como eu disse antes, o rapaz que estragou o filme do Capa. Eu era totalmente contra a Guerra do Vietnã, da mesma maneira que o era contra a histeria da Guerra Fria e também contra a recente Guerra do Golfo. Fico satisfeito de ver que, mesmo um especialista em Guerra Fria, como John le Carré, também já julga a Guerra Fria desnecessária.

Gostaria de ver a comunidade do fotojorna-lismo desviar sua atenção das celebridades, e da invasão de sua privacidade, para assuntos que realmente interessam, como o abismo entre os ricos e os pobres, entre os muçulmanos e os cristãos, entre os brancos e os pretos, entre o homem e a máquina, entre o Norte e o Sul. E também para a preservação do nosso planeta. Eu diria que as mensagens importantes não estão sendo bem entendidas, porque a mídia foi corrompida pela comercialização. O mercado editorial é uma indústria, mas o jornalismo é uma profissão. Não nos esqueçamos dessa distinção. Será que estamos vendendo jornais ou nos vendendo?

Referência bibliográfica:

MORRIS, John. “Meio Século de Memórias” in 4º Encontro Internacional de Jornalismo: conferências e debates (edição: Adhemar Altieri), São Paulo: IBM, 1994.

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Texto VII

Os Atacadistas de Notícias (Agências Internacionais de Notícias) John Hohenberg, 1981 As Agências Estrangeiras de Notícias

A agência britânica Reuters é a principal rival dos dois gigantes americanos. Embora em número menor, os clientes da Reuters nos Estados Unidos incluem alguns dos maiores jornais norte-americanos. Os ingleses estão aperfeiçoando os seus serviços para atender às exigências da América do Norte. A Reuters tem um serviço especial de informe econômico para o comércio, similar ao Dow Jones da AP e ao UNI COM da UPI.

Geralmente a Reuters compete no mesmo plano com as agências americanas em certos tipos de notícias estrangeiras importantes, e tem no Reino Unido fontes de informação que geralmente dão preferência ao seu serviço. Não se pode dizer, portanto, que os Estados Unidos ocupam posição dominante no que se refere à origem e transmissão de notícias fora das suas fronteiras.

Além da Reuters existe o serviço informativo francês, Agence France Presse, importante fator competitivo no noticiário mundial. Naturalmente, é mais favorecida na França e nos países de língua francesa.

A France Presse tem um serviço em língua inglesa, com poucos clientes. A agência francesa e sua predecessora, a Havas, sempre foram mais populares na América Latina do que as agências de língua inglesa. Essa popularidade existe ainda. Mas não atinge o mesmo nível das "3 grandes" agências mundiais de notícias – AP, UPI e Reuters.

Tass e Hsinhua

Nos países comunistas dois são os órgãos de informação, ambos pertencentes aos respectivos governos. A Tass, serviço oficial de informação da União Soviética, e a sua rival, a Hsinhua (Agência de Notícias da Nova

China, ou ANNC), o informativo oficial para a República Popular da China. Com seus jornais nacionais e equipamento eletrônico sob controle dos governos, as duas agências comunistas mantêm o monopólio nos seus respectivos países. Enquanto as "3 grandes" do Ocidente independem do Governo, financiadas em grande parte pela mídia à qual servem, as agências comunistas devotam-se ao serviço dos seus governantes. Isto naturalmente significa que a Tass e a Hsinhua devem ser consideradas órgãos de propaganda, além de agências noticiosas, pois freqüentemente alteram as notícias a fim de adaptá-las aos objetivos nacionais, e chegam a omitir informações quando conveniente. Sem compu-tadores, não se preocupam com outra coisa que não seja agradar ao governo a que servem.

Contudo, apesar dessas restrições e das diferenças óbvias, no que diz respeito à teoria da imprensa livre em vigor há dois séculos no Ocidente, as agências comunistas são as fontes principais das notícias sobre a União Soviética e a China. Nenhum correspondente, em Moscou ou em Pequim, pode ignorá-las; além disso, nenhum correspondente que opere na periferia da grande extensão do mundo comunista, a Eurásia, pode realizar o seu trabalho sem dar atenção à Tass e à Hsinhua. A Tass, por exemplo, foi, como não podia deixar de ser, a primeira a noticiar os grandes feitos da União Soviética na corrida para a Lua; da mesma forma, a Hsinhua foi a fonte principal das muitas notícias sobre os tumultos havidos na China nos últimos dias de Mao Tsé-tung. E ambas, através de rigorosa seleção diária das notícias, forneceram ao mundo não-comunista detalhes da luta pelo poder, entre Moscou e Pequim, e a aproximação entre o Governo da China e o Governo norte-americano.

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Tanto na União Soviética como na China já está abolida a primitiva censura militar, em vista da eficiência do controle governamental sobre os meios de comunicação. Teoricamente, todos os correspondentes estrangeiros têm liberdade para enviar o que bem entenderem; na prática, contudo, sabem que, se insistirem em ofender os seus hospedeiros, serão expulsos imediatamente e, em casos raros, presos como espiões. Portanto, na realidade o correspondente deve exercer uma autocensura, o que é uma tortura refinada para o jornalista. Do ponto de vista dos regimes comunistas, essa situação é satisfatória. Alegam, com tranqüila inocência, que não praticam a censura; porém, ao mesmo tempo mantêm os correspondentes sob controle absoluto.

Apesar dos períodos de hostilidade do Oriente e do Ocidente, e das lutas internas em ambos os lados, os acordos mútuos entre as principais agências de notícias têm sido mantidos. A Tass, por exemplo, compartilha seu material com as agências ocidentais, em base de reciprocidade, há anos, sem levar em conta o que Washington e Moscou dizem um do outro. E a Hsinhua tem mantido acordos similares com as agências que obtiveram permissão para enviar correspondentes a Pequim, e mais recentemente, com a AP e a UPI. Porém, durante períodos de intensa agitação política, as coisas mudam na China. Foi num desses períodos, no auge da Revolução Cultural, que um correspondente da Reuters, Anthony Grey, foi mantido em cárcere domiciliar, num quarto em Pequim, por dois anos. E um correspondente japonês permaneceu na prisão por tempo ainda mais longo.

Quanto ao relacionamento entre Pequim e os americanos, ocorreu uma mudança depois que o Primeiro-Ministro Chou En-lai, ao receber um time americano de pingue-pongue, em Pequim, em 1971, voltou-se para John Roderick, da AP, antigo correspondente na China, e disse "Senhor Roderick, os senhores acabam de abrir uma porta". A partir desse momento, durante as negociações para o reconhecimento mútuo dos dois governos,

após a primeira visita de Nixon à China, o Governo chinês passou a admitir os correspondentes americanos por períodos limitados. Mas não se pode duvidar que as agências de notícias americanas e chinesas têm assumido maiores responsabilidades, incluindo a troca de serviços.

Entretanto, com exceção dos grandes acontecimentos, como a visita de um Presidente a Moscou ou a Pequim, raramente as notícias fornecidas pelas agências ocidentais e japonesas são divulgadas nos centros da União Soviética ou na China. O mesmo se dá com o material das empresas jornalísticas. Geralmente as notícias do mundo não-comunista são transmitidas de Moscou ou de Pequim apenas quando perfilham os objetivos desses governos. E os correspondentes ocidentais e japoneses que trabalham nessas capitais precisam estar sempre muito atentos ao que dizem e ao que escrevem.

Em vista dos obstáculos impostos às agências e aos correspondentes estrangeiros em geral, é quase um milagre que as nações do mundo sejam pelo menos parcialmente informadas sobre os acontecimentos mundiais. Como as agências de notícias arcam com grande parte desse peso, merecem bem mais elogios do que as críticas que geralmente recebem.

Mas assim são os editores de jornais. Poucos consideram satisfatório um despacho não dirigido por eles próprios.

As Agências Nacionais

O sistema de comunicações das agências expandiu-se gradualmente no correr dos anos, por meio da ligação de uma cadeia de serviços nacionais aos cabos e circuitos de rádio do mundo todo. Isso se faz mediante vários tipos de acordos. Algumas agências nacionais são, na realidade, extensões de um ou mais serviços globais, em determinadas áreas. Assim, a Canadian Press é a principal agência do Canadá, e a Australian Associated Press principal da Austrália, ambas parte da

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Associated Press. Na Grã-Bretanha, a British United Press é uma extensão da United Press International. Na Índia, a Press Trust of India tem um acordo com a Reuters. E, no Japão, a Kyodo tem acordos bilaterais com as "3 grandes" do Ocidente. Quase todos os grandes países, e alguns dos pequenos, possuem serviços que operam nessa base. E onde não há agências nacionais, os governos geralmente compram diretamente das agências o noticiário por eles selecionado. Isto ocorre especialmente na África.

Naturalmente a lista das agências nacionais é bastante extensa, e suas características variam de acordo com o grau de supervisão governamental, oficial ou extra-oficial, e com o tipo de treinamento acessível ao seu pessoal. Geralmente a agência nacional não pode ser melhor do que a mídia a que serve – jornais, rádios e televisões, ou todos eles, – porque depende' deles para as notícias nacionais, que trocam pelas estrangeiras.

Agências Locais

Nos centros mais importantes dos Estados Unidos as agências locais existem desde que o telégrafo entrou em uso. Mesmo antes de 1844, a coleta e distribuição de notícias era feita de modo cooperativo por meio de mensageiros a cavalo, diligências e até navios. Algumas das agências locais começaram a operar independentes das grandes agências. Outras eram filiais e outras ainda acabaram por ser controladas pelas agências maiores.

Atualmente, em Washington, tanto a AP como a UPI oferecem um tipo especial de serviço local aos que o desejam. Em Nova York, o escritório local da Associated Press serve a grande parte da cidade na base de encargos isolados. Em Chicago e 10s Angeles há outros serviços. Com a alta do custo da coleta de notícias, é de se prever que surjam outros tipos de acordos, nos quais as empresas rivais possam obter as notícias nas mesmas fontes.

Os Enviados Especiais e as Empresas

A alta no custo da manutenção de correspondentes no estrangeiro, em Washington, e até mesmo nas capitais dos Estados, provocou uma redução no número de "enviados especiais" – como são chamados os correspondentes de jornais que trabalham sempre distante do escritório central. É uma grande perda para a profissão. Um enviado especial talentoso pode realizar melhor trabalho para o jornal, em várias missões, do que uma agência abastecendo milhares de jornais.

As agências enfrentam séria competição dos jornais que podem manter uma grande e competente equipe de repórteres no campo nacional e internacional.

O New York Times, operando uma das mais antigas empresas, presta serviço a mais de 200 jornais nos Estados Unidos e no exterior. O Los Angeles Times, uma das mais novas empresas jornalísticas, conseguiu, em poucos anos, ocupar lugar de destaque graças, em parte, ao vago acordo de sociedade que mantém com o serviço do Washington Post. Quando se trata de notícias importantes, seja no município vizinho, seja em Washington ou no exterior, o jornalismo americano dá ainda uma cobertura completa tentando, na maioria das vezes, enviar imediatamente correspon-dentes ao local. Mas o princípio de cobertura tipo "corpo de bombeiros" da imprensa já não é tão completo. Os enviados especiais precipitam-se literalmente dos aviões ao local de uma conferência internacional e enviam suas matérias. Reúnem material sobre as motivações do fato e esperam os furos. Esse tipo de matéria, na televisão ou nos jornais, não chega a tirar o sono dos escritórios das agências de notícias.

O hábito de depender das agências é insidioso. Por serem capazes e dignas de confiança, é fácil ao editor do jornal recorrer a elas nas coberturas nacionais e internacionais, escravizando a sua consciência com a desculpa de que não tem pessoal suficiente. Quase que de forma automática, a mesma desculpa vale

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quando se trata de dar cobertura a casos legais e ao governo estadual. Assim, a reportagem geral sobre notícias importantes estaduais e nacionais tende cada vez mais a passar para o domínio das agências de notícias, embora os grandes jornais realizem ainda o trabalho que o público deles espera.

O declínio do enviado especial afeta também a cobertura e a redação das notícias locais.

Nas cidades onde existe uma boa agência, é grande a tentação de designar repórteres apenas para as notícias mais importantes do dia, deixando o resto às agências. No decorrer dos anos a tendência tem levado alguns jornais a publicar material das agências locais sem atribuição de crédito e sem se darem ao trabalho de redigir novamente as notícias para que pareçam escritas pela sua equipe. É fácil compreender que essa atitude provoque o aumento da demanda de jornalistas capazes de escrever com originalidade e – acima de tudo – com rapidez. Por mais elegante que seja o estilo, não substitui a presença do repórter, seja para o fato local, seja estadual, nacional ou internacional. Apenas a reportagem bem feita pode ser bem escrita.

Empresas de Artigos

Embora as agências também distribuam artigos, essa função é executada em conjunto com as grandes empresas. As empresas modernas são organizações comerciais que contratam especialistas os mais variados, artistas, escritores e fotógrafos, para um sem-número de artigos populares vendidos às centenas, e muitas vezes aos milhares de jornais. Uma das principais características dessas empresas é o grande quadro de vendedores que circula constantemente pelos jornais nacionais e estrangeiros, oferecendo uma imensa variedade de material que ajuda a aumentar a circulação. As agências e as empresas jornalísticas também vendem, mas poucas podem rivalizar com organizações como a King Features Syndicate, pertencente à Hearst, a maior no gênero. Os artigos especializados para jornais constituem o

negócio dessas empresas. E é um grande negócio.

Algumas centenas de empresas de venda de artigos oferecem suas listas aos jornais.

Nelas está tudo o que um editor pode imaginar, transformado em mercadoria jornalística popular. São oferecidos best-sellers de ficção ou não-ficção, para serem publicados em série. Vendem colunas políticas, colunas culinárias, colunas de puericultura, como jogar bridge, sobre moda, saúde, charges, artigos de fundo, vários tipos de conselhos, sem esquecer o conselheiro sentimental, finanças e orientação familiar, crítica literária e teatral, histórias para adormecer crianças e outros assuntos básicos.

Os jornais pagam por artigo, de acordo com a sua circulação e possibilidades. Enquanto os grande jornais pagam alto preço por uma história em quadrinhos, os pequenos podem contratar um colunista popular por preço razoável. Os editores vão muito a Nova York, o quartel-general das grandes empresas, levando enormes listas de pedidos.

Contribuir para uma dessas organizações não é o mesmo que realizar o trabalho do jornalista profissional, que se ocupa especialmente da notícia. Quando muito, o trabalho numa empresa de artigos é uma espécie de amálgama de arte, literatura popular e jornalismo. Os redatores de notícias raramente sabem como essas empresas funcionam, porque têm pouco contato com elas, até se tornarem famosos.

Apesar do aspecto promocional, tais organizações não estão na mesma classe dos anunciantes que patrocinam os programas de rádio ou de televisão. Um grande patrocinador, Xerox, promoveu recentemente (isto é, comprou) uma série de artigos sobre viagens, escritos por um repórter aposentado do New York Times, Harrison E. Salisbury, para a revista Esquire. Tantos foram os protestos contra o contrato que a Xerox resolveu não repetir a experiência.

O Trabalho nas Agências

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Segundo estimativas abalizadas, as agências fornecem 90% das notícias estrangeiras publicadas na imprensa americana, e 75%, ou mais, das nacionais. Muitos jornais recebem da agência pelo menos a metade das notícias estaduais. Portanto, excetuando-se os grandes jornais, aparentemente só as notícias locais são produto de trabalho pessoal. O mesmo acontece com o rádio e a televisão.

Se a confiança depositada no serviço das agências tem como resultado a padronização mais ou menos generalizada da cobertura internacional, nacional e estadual, a culpa não cabe às agências. Os culpados são os jornais que delas exigem tanto. Sem dúvida, considerando a desvantagem de tempo e outros fatores que pressionam as agências, elas fazem pequenos milagres todos os dias para conseguir notícias – e, às vezes, grandes milagres.

Seria injusto presumir que as agências, tendo herdado tanta responsabilidade, devido à negligência dos seus clientes, cumpram seus deveres por capricho ou por acaso. Longe disso.

Funcionam sob o mais rigoroso controle, sob a vigilância de todas as organizações do País, pois nem mesmo uma comissão especial do Senado pode demonstrar indignação tão vigorosa quanto os dirigentes dos jornais quando lhes parece não estarem recebendo a mercadoria que compraram.

A agência deve satisfazer os padrões de milhares de jornais das mais variáveis religiões, nacionalidades e simpatias. O que interessa a uma empresa pode não ter significado para a agência, a não ser que um editor requeira cobertura especial, mas o que parece interessar à agência nem sempre agrada a todos os seus clientes. Os diretores de jornais são, por natureza, difíceis de contentar; o que dizer então de milhares deles ao mesmo tempo?

Portanto, a agência tem o máximo cuidado em apresentar todas as facetas de uma notícia capaz de gerar controvérsia. Pode não ser o

melhor meio de tratar a informação, mas é sempre o mais justo.

A equipe das agências não é paga para dar opinião. Em conseqüência, seus repórteres e redatores são vigiados de perto para que não haja nem sombra de opinião pessoal no seu trabalho. Aos que possuem experiência e bom senso permite-se acrescentar aos fatos os antecedentes e dar uma interpretação, quando é o caso. Porém, dizer por que algo aconteceu, isto é, o processo interpretativo, é bem diferente de argumentar sobre o que devia ser feito, a prerrogativa do editorial. Eis a primeira norma que o repórter novato da agência de notícias deve aprender, e muitas vezes aprende ao ser despedido por não segui-la.

Críticas

Todas as críticas que se pode imaginar sobre as agências de notícias já foram feitas pelos diretores de jornais. Em certa ocasião queixaram-se de que as agências enviavam muitos boletins, diversas versões de uma matéria em desenvolvimento, muito material sobre política local, às vezes muito pouco sobre notícias importantes. Na pressa de elaborar a matéria, a sacrificada equipe da agência é freqüentemente acusada de dar muita importância ao último fato acontecido, quando não é realmente importante. Ou é acusada do crime pavoroso de glorificar o trivial.

O Livro Azul da APME registra as queixas de editores que chamaram a atenção para a "imensa quantidade de trivialidades" numa reportagem da AP, e pergunta solenemente: "O que é trivialidade? Supondo que definíssemos trivialidade, o que faríamos para substituí-la?" A trivialidade, bem como o excesso de "leads" numa notícia importante, faz parte do trabalho da agência. Os atacadistas apresentam uma linha completa de mercadorias. Os varejistas compram. O princípio ainda é "caveat emptor".

As agências de notícias têm defeitos, e não são poucos, mas também possuem qualidades. Muitas vezes estão melhor informadas que os

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diplomatas sobre os grandes acontecimentos da política mundial. Quanto aos militares, todo o mundo sabe que muitos oficiais do serviço secreto estariam perdidos na névoa das comunicações militares, lentas e obscuras, se não tivessem um teleimpressor no escritório.

Quando um político tem algo a dizer, importante ou não, uma das primeiras perguntas que faz ao seu Secretário de Imprensa é se as agências foram informadas. Sejam grandes ou pequenas agências, manchete ou artigo, sexo ou ciência, negócios ou crime, pode-se confiar nas agências de notícias para sua divulgação. São também fornecedoras de informação para todo o inseguro edifício da moderna comunicação de massa.

O jornalismo americano não existiria sem elas. Tornaram-se indispensáveis.

Como Trabalham as Agências de Notícias

As técnicas usadas pelas agências no tratamento das notícias diferem dos processos usados pelos jornais, em alguns aspectos.

1) Programação: Antes do início de cada ciclo, envia-se uma programação a todos os clientes de um determinado circuito para que tomem conhecimento do material avaliável para transmissão. Essa programação ou relação de estoque informa os editores sobre cada matéria que receberão, com título, descrição, e, às vezes, número de palavras. Não indica o tempo específico em que cada uma será transmitida, porque este pode variar. Os furos, enviados no momento em que acontecem,

podem desorganizar a programação mais cuidadosa.

Os métodos da AP e os da UPI diferem em alguns detalhes, porém, no todo seguem os mesmos princípios, porque trabalham sempre com jornais na iminência de impressão. As partes das notícias seguem uma ordem, não necessariamente consecutiva. Podem ser colocadas entre boletins ou outro material que tenha precedência.

2) Titulagem: Por todos esses motivos não é prático para a agência redigir a matéria do mesmo modo que o jornal, com os títUlos das páginas numeradas, 1 - 2 - 3 - 4. O material da agência consiste em um primeiro "take" e uma série de adições, para a maioria das matérias. As adições são facilmente identificáveis porque trazem o título, local e data do original e a seqüência da transmissão.

Os títulos, nas agências, funcionam também como código para indicar urgência na transmissão. As agências americanas usam geralmente as indicações: "Flash", Boletim e Urgente, em ordem decrescente de importância.

Tais indicações são incluídas no material de "cabeçalho", necessário para o computador, e colocado no início de cada matéria. Por indicação da Associação Americana de Editores de Jornais, ambas as agências incluem no "cabeçalho" certos dados, como número da transmissão, indicador do nível da mesma, código especial "pré-cabeçalho", prioridade e categoria. Dito assim, parece muito complicado, mas na prática é mais fácil e necessário à publicação.

Referência bibliográfica

HOHENBERG, John. “O Jornalista Profissional: guia às práticas e aos princípios dos meios de comunicação de massa”, Rio de Janeiro, Interamericana, 1981. págs.187-202

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Texto VIII

Jornalismo Internacional, Correspondentes e Testemunhos sobre o Exterior Guillermo García Espinosa de Los Monteros, 1998 (tradução: Pedro Aguiar) Jornalismo em Escala Mundial

O jornalismo internacional é um fenômeno da atividade intelectual e econômica que data do segundo quartel do século XIX. Sua história está ligada ao desenvolvimento da escrita, à imprensa, à indústria editorial, às tecnologias de comunicação e ao transporte.

Em todo o mundo, de uma forma ou de outra, se tem feito jornalismo, oral e impresso, mas, nos últimos dois séculos, a história e a economia do jornalismo foram configuradas na era industrial. Foi aberto o caminho para uma organização acadêmica e institucional que identifica os jornalistas. Foi constituída uma atividade profissional próxima às ciências sociais e humanas.

O jornalismo impresso toma forma sob certas condições do desenvolvimento da economia de mercado. Há cinco séculos de distância entre a prensa de Gutenberg e a rotativa. A invenção desta máquina teve um impacto direto na forma de fazer jornalismo. Os avanços tecnológicos para a impressão e a produção em massa de papel foram os motores da mudança da imprensa política e literária do século XIX para o jornalismo diário, com as grandes tiragens, a figura do repórter e o conceito genérico de notícia e nota informativa. Primeiro foram relevantes as notícias locais e o que era de interesse das elites sociais.

Os acontecimentos sobre o exterior entraram nas páginas dos jornais tardiamente, porque não havia formas de compilação de fatos ou porque o interesse não transcendia fronteiras. Assim foi, em geral, a história da imprensa no mundo. O jornalismo nasceu como uma atividade de comunicação local, com uma vocação comunitária. A primeira agência de notícias internacionais é organizada no segundo quartel do século XIX. As notícias sobre o exterior ganham seu espaço na

imprensa diária, quase um século depois da Revolução Industrial.

O jornalismo internacional não só teve que ser antecedido pelo desenvolvimento da indústria editorial, como também pela transformação dos transportes, das comunicações telegráficas e do comércio internacional de metais e produtos agrícolas, especialmente grãos e o gado. A difusão em Nova York de notícias sobre preços de grãos em Londres foi um dos elos genéticos do jornalismo econômico e das variáveis internacionais do mesmo.

As guerras, os conflitos político-militares nos estados coloniais europeus, foram os primeiros condutores temáticos do jornalismo em países como Inglaterra e França. Até hoje, as guerras são objeto de interesse primordial para os jornalistas; as motivações são as mesmas ontem e hoje: a vontade de relatar os dramas da guerra, a ambição de publicar as notícias que estremecem os leitores, a necessidade de relatar com imparcialidade os fatores de uma mudança social e política. Por estas razões, a história do jornalismo está cheia de repórteres que cobriram conflitos armados de maior ou menor dimensão, por períodos curtos ou longos.

Com o tempo, os estadunidenses ultrapassaram ingleses, franceses e alemães na cobertura informativa internacional.

“A longo prazo” – escreveu Anthony Smith na geopolítica da informação –, “os Estados Unidos acabaram com o predomínio da Reuters no final dos anos 1940, com o interesse de criar um fluxo de notícias mais equilibrado que entrara nos Estados Unidos e que não estivesse mediado por uma organização que, ainda quando não é controlada pelo governo britânico, parecia impor um conjunto de prioridades e valores ingleses às notícias de todo o globo”.

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Apesar de tudo, persiste uma constante disputa pela vanguarda no estilo e a influência política mundiais. Mais que qualquer outro exercício jornalístico, o escrito em inglês ganhou uma dupla reputação no mundo: é escandaloso, sensacionalista e intrometido, mas também é penetrante em fatos e impõe pautas sobre o conceito de notícia e redação.

A Economia do Jornalismo Internacional

As agências de notícias foram criadas nos anos trinta do século XIX. A informação econômica foi sua primeira matéria-prima; difundiram dados sobre a agricultura e a mineração no mundo. O jornalismo é uma atividade econômica do capitalismo, que em suas origens satisfez a necessidade de comunicação dos comerciantes e banqueiros, de informar-se sobre preços de mercadorias e mercados de grãos e metais.

A informação política foi entregue primeiro em forma de suplemento. O francês Charles Havas pôs à venda a tradução de documentos com informação de atualidades sobre o exterior; este foi o primeiro produto de comunicação jornalística que ofertava acontecimentos de terceiras nações. O inglês Julius Reuter, que foi empregado de Havas, introduziu seu serviço de difusão de "fatos súbitos e imprevistos". Reuter abriu a profissão a uma esfera intelectual até então inimaginável, sem o desenvolvimento político e tecnológico alcançado até então.

A venda de informação agrícola e mineralógica foi só o primeiro meio de intercâmbio para as empresas jornalísticas. As primeiras agências de notícias internacionais funcionaram como monopólios traçados a partir de fronteiras nacionais. O jornalismo internacional é uma expressão intelectual do capitalismo, em vez de um gênero empresarial. Seu produto de exportação é a informação, segundo interpretação de Smith.

"O fluxo de exportação de meios de informação atua como um tipo de

requisito ideológico para o fluxo de outras exportações materiais."

Reuter deu ao jornalismo de correspondência no exterior a estrutura de negócio. Havas, o inglês Reuter, o alemão Peter Wolff, que plantou as raízes da DPA de hoje, e o inglês William Howard Russell, o primeiro correspondente de guerra da imprensa industrial, foram os mais notáveis jornalistas da primeira geração de repórteres enviados para missões no exterior, e marcaram caminhos para esta categoria, que chegou a ser uma família peculiar do jornalismo, identificada por um afã migratório.

Da Redação de Despachos Internacionais

As técnicas de redação de despachos internacionais tiveram seu próprio processo evolutivo. Elas existiram sob a forma da crônica, o relato quase literário, ou narrativa breve de fatos, a interpretação política, ou análise econômica.

Houve uma mudança constante nas técnicas de redação no jornalismo internacional. Quando John Reed escreveu para a imprensa nova-iorquina e bostoniana, seus despachos sobre a Revolução Mexicana eram crônicas que se transformaram em contos literários. As peças de Reed, como as de seus contemporâneos na África ou na Ásia, foram escritas com liberdade de estilo, cumprindo com o propósito de dar notícias e inteirar os leitores dos acontecimentos que alteravam a normalidade dos povos sobre os quais faziam jornalismo de correspondência. Hoje os textos de informação internacional são em geral informativos e sucintos.

Os despachos de correspondentes e enviados especiais às guerras européias ocupavam luga-res privilegiados nos periódicos. Os conflitos armados foram um motor do desenvolvimento profissional do correspondente e da evolução das técnicas de redação de crônicas do exterior. Os historiadores do jornalismo apon-tam Russel como o primeiro correspondente

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de guerra no exterior, designado para a cobertura da Guerra da Criméia, de 1861 a 1865.

De acordo com Smith, os correspondentes de guerra têm sido um tipo de militares. Sem dúvida, a cobertura deste tipo de acontecimento foi uma dura prova para a habilidade dos jornalistas em entregar seus textos à redação. Os meios de transmissão da notícia para as redações centrais dos correspondentes e dos jornalistas em geral mudaram, assim como as formas de redação. Reuters utilizou pombos-correio e adquiriu cabos submarinos para transmitir os serviços informativos de sua empresa, ininterruptamente. As vantagens da comunicação via satélite também tornaram instantânea a comunicação entre redações.

Dos Correspondentes

Quem exerce o jornalismo internacional é geralmente conhecido como correspondente ou enviado especial de algum veículo. Estas duas formas de exercício profissional são as facetas jornalísticas de vocação e orientação internacionalista.

Em seu conceito mais primitivo, as obras de enviados ao exterior e correspondentes se encontram na própria história da literatura universal antiga, começando pelas cartas de São Paulo em Atos. As origens mais próximas do que hoje é o jornalismo internacional são encontradas em várias cidades da Europa, no início do século XIX, especialmente em Paris e Londres. Não só o desenvolvimento industrial da Inglaterra propiciou a tecnificação do jornalismo diário e da difusão de notícias sobre os acontecimentos no mundo. Houve também uma necessidade da metrópole colonial, que estimulou a formação de uma classe intelectual especializada nos fenômenos do exterior. José Ortega y Gasset reconhece em Arnold Toynbee o promotor da primeira grande historiografia sistemática das nações do mundo, internacionalista, na Universidade de Londres.

Hoje, o exercício do jornalismo internacional, como correspondente e como enviado especial, é menos romântico do que parece ter sido para as primeiras gerações de repórteres no exterior (o lendário John Reed é um exemplo). Atualmente, é uma tarefa que requer preparação especializada, inclusive formada em universidades estadunidenses.

No ensaio “O Jornal, Ator Político”, o espanhol Héctor Borrat faz uma definição do correspondente com sentido político-administrativo:

“A figura do correspondente identifica um tipo de jornalista profissional que se apresenta em agências de notícias, jornais, revistas e emissoras de rádio e de televisão; trabalha para qualquer uma destas organizações, de maneira permanente, fora da sede central de sua redação, seja dentro ou fora do país. Envia informações, comenta acontecimentos e representa sua redação perante organizações de todo tipo. Pode pertencer ao quadro funcional de sua empresa ou atuar como um simples colaborador que cobra por trabalho.”

Entendido nestes termos, o correspondente é o típico habitante da diáspora jornalística, destinado a trabalhar em um dos lugares onde o jornal concentra esforços informativos.

Uma definição de correspondente elaborada em função do gênero e da fonte a que o jornalista recorre para redigir seus despachos é encontrada em “Teoria do Jornalismo”, do também espanhol Lorenzo Gomís:

“A crônica tem uma função de relato do que acontece ao longo do tempo por um lugar ou um tema. A distinção primeira é a que separa a crônica local da temática. O correspondente de um veículo em

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uma cidade é o cronista do que acontece nela e no país do qual é capital. O cronista ou correspondente é um especialista no lugar cuja vida conta e por isso assina suas crônicas. A crônica temática é também o produto de um entendido, mas em vez de contar-nos o que ocorre em um lugar, conta o que acontece em um âmbito temático.”

Para identificar as notícias de interesse no exterior, o correspondente se apóia na imprensa e nos meios locais. As diferenças nas técnicas de um repórter e de um correspondente são quase imperceptíveis, mas há uma regra que pareceria fundamental na redação dos despachos de correspondência e, nem sempre, nos textos de um repórter local: a notícia é gerada e entregue ao leitor (ou audiência) em contextos específicos, com causas e conseqüências. Pelo uso de gêneros, não há exclusividade para repórteres locais ou correspondentes; a forma mais comum de redação é a nota informativa. A entrevista, a reportagem e a crônica são pouco freqüentes no papel, mas são coisa cotidiana nas divagações de repórteres.

Dos Testemunhos sobre Nações

Os serviços noticiosos sobre os acontecimentos internacionais e os ensaios sobre as nações são um produto intelectual europeu, notavelmente francês e anglo-saxão. É o que Smith definiu como "uma seqüela colonial".

No principio, foi só a tradução de reportagens publicadas em jornais do exterior, mas em duas ou três décadas os despachos jornalísticos tomaram sua própria identidade. O correspondente se tornou uma extensão da figura do repórter, e progressivamente adotou suas características distintivas.

O serviço de agências informativas uniu o jornalismo à observação de fenômenos do

exterior. Os primeiros ofícios de correspondência foram organizados por Havas, Reuter e Wolff. Os jornalistas escreveram seus primeiros testemunhos sobre as nações no momento de maior expansão do Império Britânico. Antropólogos e historiadores eram, até então, os principais produtores de testemunhos etnocêntricos sobre sociedades distantes.

O testemunho dos jornalistas não acaba com a difusão de notícias. Alguns dos correspondentes que conseguiram escrever ensaios jornalísticos se beneficiaram de uma experiência de reportagem no país coberto.

Os testemunhos sobre as nações não constituem um gênero plenamente identificado e delimitado, e não há manual que tenha referências a este conceito, mas a experiência jornalística dos dois últimos séculos trouxe como herança a conjunção entre os jornalistas e a narração dos acontecimentos noticiosos e os fenômenos dos povos do mundo.

Uma leitura de textos escritos por correspondentes que se proponha a extrair ferramentas técnicas e guias metodológicos pode conduzir à descoberta de algumas tendências e regras gerais que ajudem à formulação-retórica do testemunho: os testemunhos não tentam fazer literatura, ainda que circunstancialmente o façam; a redação de alguns testemunhos é motivada pela história ou pela geografia, o homem e seu meio, mas o valor final é muito maior que o correspondente a uma só disciplina do conhecimento humano.

Os jornalistas que recentemente escreveram testemunhos sobre o exterior afirmam que sua intenção não é dizer tudo sobre um país, mas só o que observaram e registraram em um momento determinado da história. Hedrick Smith, correspondente do New York Times em Moscou entre 1971 e 1974, escreveu na introdução de “The Russians” que seu propósito não era falar das tramas da política ou da economia soviética, mas das pessoas que participam individual e coletivamente das estruturas do sistema. Nas palavras de Alan Riding, os testemunhos sobre nações devem

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explicar ao leitor como funciona o país observado, quais são os valores essenciais que formam seu sistema.

A aparição do testemunho de Smith, em “The Russians”, de 1975, teve o efeito de uma notícia. Ao final de sua missão e de volta a Washington, o ex-correspondente do New York Times escreveu um testemunho de 775 páginas. Suas descrições sobre a vida dos russos foram tema de comentário em artigos jornalísticos em todo o país. Em sua explicação de motivos, o jornalista refletiu sobre as diferenças entre os povos e a importância do conhecimento mútuo. Sua idéia da transcendência de seu trabalho como correspondente no exterior, com a visão etnocentrista estadunidense, ficou expressada na introdução do livro:

“Nós estadunidenses somos um tanto provincianos. Para nós é difícil sair de nossas próprias peles e entender outra cultura que seja realmente diferente da nossa. Olhamos para os russos, vemos seus mísseis, seus carros, seus monitores de televisão e suas ambições de poder no mundo, e logo presumimos que são como nós, exceto por serem comunistas.”

Para o entendimento real é necessário ter vontade para projetar-nos mais além de nossa própria vida e da maneira como funcionam nossos sistemas econômicos e políticos; para conseguir compreender como e por quê outras pessoas são verdadeiramente diferentes.

Outra observação que Smith deixou em “The Russians” sobre a relação entre a cobertura cotidiana do repórter e a preparação de um testemunho é a seguinte:

“Supõe-se que os jornalistas devem concentrar-se no que é novo e fresco. Tipicamente, em Moscou, isso significava a difusão de notícias sobre a diplomacia da

détente, as mudanças de poder no Kremlin, o lançamento de naves espaciais, compras repentinas de grãos estadunidenses, ou a última prisão de dissidentes. Outros repórteres de notícias, especializados, acadêmicos e Kremlinólogos ofereceram aos leitores ocidentais um amplo acervo de obras sobre estes temas, de modo que eu tratei pouco da alta política, da anatomia da economia soviética, da estrutura do Partido Comunista, ou das manobras da diplomacia.

O que me impactou como fresco e novo, como para satisfazer aos leitores, foi o componente humano, a textura e a fibra da vida pessoal dos russos como povo. Os especialistas podem estudar várias facetas do sistema soviético, comodamente a distância. O que o repórter no local pode fornecer de maneira única é o sentido tátil, no que sente estando sentado junto aos russos.

(...)

Nenhum volume individual pode dar conta de tudo que é a Rússia, especialmente um que seja baseado na experiência pessoal e uma observação de um correspondente em um jornal de tempo (...)”

Estas idéias são só um aporte à construção retórica dos testemunhos, de seus vínculos com o jornalismo e as relações internacionais. Os limites do gênero estão traçados. Há história e tradições. Esta é outra das formas em que o jornalismo serve ao intercâmbio de informação entre as nações.

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Referência bibliográfica Título Original: “Periodismo Internacional, Corresponsales y Testimonios sobre el Extranjero”, disponível em [http://www.hemerodigital.unam.mx/ANUIES/colmex/foros/152-153/sec_14.htm] LOS MONTEROS, Guillermo García Espinosa de. “Periodismo Internacional, Corresponsales y Testimonios sobre el Extranjero”, in Foro Internacional nº 152-153, México: Hemeroteca Virtual/UNAM, 1998

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• A afirmação do autor de que “o jornalismo nasceu como uma atividade de informação local” contradiz a do livro-base “Jornalismo Internacional”, de que “o jornalismo nasceu internacional”. Qual das duas está correta — ou seriam ambas?

• Que critérios podem orientar o correspondente a utilizar o formato crônica ou

matéria jornalística para escrever seus relatos?

• Em que medida o testemunho do correspondente é influenciado pela cultura de sua própria origem?

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Texto IX

Do Outro Lado do Mundo Fritz Utzeri, 1989 A primeira coisa que posso dizer, com relação ao trabalho de correspondente, é que não existe nenhuma posição para mim dentro do jornalismo que seja melhor. O Reale Jr., que é correspondente de O Estado de São Paulo, costuma definir essa posição como a de um repórter da geral numa cidade que não é a dele. O correspondente é alguém que tem que tratar de tudo, que tem que falar, por exemplo, da eleição francesa, e tentar explica-la para um publico que não vai participar dela. Então, ele tem que traduzir a realidade do pais em que está, e fazer o máximo possível de comparações que permitam às pessoas identificar o que esta acontecendo com os referenciais que estão acostumadas a usar aqui em casa.

O correspondente não pode, de maneira alguma, perder o contato com o seu país. O tempo todo ele funciona como um brasileiro que está na Europa, nos Estados Unidos, no Japão, enfim, onde estiver, observando uma realidade que não é a dele. É fundamental que o correspondente esteja sempre bem informado tanto sobre a realidade do país em que esta como sobre a realidade do seu próprio pais. Não é possível, por exemplo, não saber quem é Fernando Collor de Melo, ou Leonel Brizola, ou a Xuxa. São coisas fundamentais para pinçar na realidade francesa, por exemplo, uma comparação brasileira.

O correspondente, pela estrutura dos jornais brasileiros, é o mais livre dos jornalistas. Isso é mais verdade ainda na Europa, quando se tem cinco horas a favor. O que significa que, quando o correspondente esta com a sua matéria pronta, o pessoal aqui ainda não chegou ao jornal. O correspondente trabalha no século XXI. Em casa, com um computador na sua frente, ele passa a matéria direto para o jornal. Eu costumo brincar dizendo que o único jornalista que pode bater uma matéria de cueca, em casa, tranqüilo, é o correspondente.

Os jornais brasileiros, em geral, têm uma estrutura que é muito amadorística. Eu fui para os Estados Unidos e para a França e ninguém jamais me perguntou sequer se eu falava a língua. Até achei que falava. Quando cheguei aos Estados Unidos, tomei um susto quando liguei a televisão. Havia uma crise no ar, e eu não estava entendendo nada do que a televisão dizia. Entrei em pânico, achei que não ia passar de uma semana. No exterior trabalha-se de uma forma muito pouco estruturada – com exceção de algumas empresas como a Globo e a Abril, que têm escritórios. Para o resto dos correspondentes, o que acontece é que temos que ser o produtor, o telefonista, o continuo. Isso é um pouco angustiante, porque se chega numa cidade desconhecida com um caderninho em branco. E como ser "foca" de novo. Rapidamente é preciso montar um sistema que permita não ser "furado" se acontecer alguma coisa importante, E o importante, no caso, vai desde o fato político local, até a passagem de algum brasileiro ilustre pela cidade.

Dificilmente o jornal pede as matérias. Em 90% dos casos a decisão do que escrever, do que apurar é do próprio correspondente. Se, por um lado, isso da uma grande liberdade, por outro obriga que ele seja muito disciplinado, porque tem que manter um fluxo regular de matérias. E o problema é saber que matérias. Pode ser que um assunto, muito interessante para o correspondente ou para o leitor francês, não interesse ao público brasileiro. Essa sensibilidade tem que estar sempre presente. Descobrir um bom assunto, escrever de uma maneira atraente é importante, porque a maioria dos leitores do jornal não lê a seção internacional. É importante que o correspondente tenha um certo estilo, que descubra um gancho, algo que nem é necessariamente uma noticia importante.

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O essencial é transmitir para as pessoas que estão lendo como é o país onde o correspondente está baseado. No meu caso particular, como repórter de gera!, sempre achei que, quando não ha um grande assunto — quando não se esta cobrindo uma eleição,uma guerra ou uma crise política —, é melhor simplesmente sair pela cidade. Sempre aconselho aos repórteres que não fiquem na redação, porque ha coisas interessantes acontecendo na rua, e e!e tem que estar de olho aberto, à procura de uma novidade. Um simples passeio por Nova York ou Paris permite praticamente esbarrar em pautas na rua. Em ultimo caso, pratica-se o chamado vampirismo: pega-se, por exemplo, o Libération e chupa-se uma matéria. É uma coisa que o correspondente não gosta de admitir, mas que acontece. Mas mesmo isso requer uma certa arte. Não basta simplesmente pegar e copiar uma matéria. É preciso reescrever o texto de um jeito que o Brasil tenha alguma coisa a ver com aquilo. Não é necessariamente a matéria mais importante do jornal, às vezes é uma notinha.

Quando eu estava em Nova York, li uma matéria pequena num jornal sensacionalista, New York Post. Era sobre uma escola sofisticada na Califórnia que estava usando as crianças, há vários anos, para fazer filmes pornográficos. Apurei mais alguma coisa, e a matéria teve a maior repercussão porque a historia era muito estranha. E era mais estranha para mim do que para os americanos. Eu me perguntava como nenhuma dessas crianças, durante anos, disse nada em casa. Através de uma matéria como essa se tem uma reflexão do tipo de sociedade que é aquela. É a mesma sociedade onde, de vez em quando, um louco pega uma carabina e vai ao MacDonald’s matar criancinhas. É o que e!es chamam de hostage situation (situação de refém). Na França, eram freqüentes as matérias mostrando mordomias, marajás, mas em geral os corruptos acabavam na cadeia ou afastados. O papel do correspondente nesses casos é comparar as situações.

Quando eu era criança, na época em que ainda havia bonde no Rio, as pessoas me perguntavam quando ia a outras cidades: "Lá na tua cidade tem bonde?" Cidade que não tivesse bonde era ruim. Isso é um pouco o que todos fazem com o correspondente: "As pessoas comem o quê? Como vivem? Como se vestem? o que gostam? o que não gostam?" Tudo isso nos temos que responder, e bem. Isso não significa que o correspondente não dê um tratamento diferenciado às mesmas noticia.s que as agências estão enviando, mas não ha condição de ele competir com o tipo de estrutura de uma UPI ou AP, por exemplo.

Quando eu era correspondente em Nova York, tinha uma dupla dificuldade, porque na época o Jornal do Brasil comprava o serviço do New York Times. Numa cidade onde se tinha o maior jornal do mundo cobrindo e mandando na mesma noite tudo o que acontecia, fora as outras agências, era preciso realmente procurar muito por um assunto interessante. Mas é sempre possível encontrar, até pela liberdade que o correspondente tem. O fato é que ele precisa montar uma estrutura. Trabalhando em casa, eu não podia me dar ao luxo de ter quatro ou cinco maquinas de telex, uma da Associated Press, outra da UPI, outra da France Press. Aliás, pegar um telex de agência e "pentear" é bobagem, porque o mesmo texto que estaria batendo na minha casa, estaria entrando, exatamente na mesma hora, na redação do Jornal do Brasil.

O que quero dizer é que nos precisamos saber basicamente o que esta acontecendo, mas de uma maneira diferente, com uma perspectiva local, que permita ao correspondente trabalhar em cima dela. Nos Estados Unidos o nosso trabalho é facilitado pela CNN, uma rede de televisão chamada Cable News Network, que pertence ao Ted Turner e permite receber 24 horas por dia material não editado. Lembro que, quando explodiu a embaixada americana em Beirute, a CNN entrou no ar ao vivo, e as imagens foram tão horríveis que eles pararam, pediram desculpas e editaram um pouco. Isso mostra que, se o Reagan levasse um tiro, eu teria imagens ao vivo. Para não perder nada,

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compra-se um videocassete e deixa-se gravando o dia inteiro. Quando se chega em casa, tudo aquilo que aconteceu no país está bem à frente.

Em geral, os correspondentes gostam de dizer q\le boa cobertura é aquela em que se vai para urna guerra, ou para urna revolução. No período em que estive fora, infelizmente ou felizmente — no sentido de que não sou tão deformado que quero que o circo pegue fogo para que eu faça urna boa matéria —, não houve nada nesse sentido. Entre 82 e 85, nos Estados Unidos, o único episódio realmente empolgante do ponto de vista militar foi a invasão de Granada, mas ninguém pôde chegar perto. Foi o único caso que vi de censura à imprensa nos EUA.

Havia a tal ponto, que as redes de televisão: à noite, mostravam alguns pequenos barquinhos de borracha com equipes da televisão tentando chegar perto e helicópteros voando baixo, fazendo marola para que o pessoal fosse embora. Foi um bloqueio completo e com aprovação do publico.

Quando cheguei à França, estávamos em plena época dos atentados. Em Paris havia urna verdadeira histeria, todo mundo era revistado. E a população até queria realmente que se revistasse, porque não é muito interessante estar numa loja e, a qualquer momento, voar tudo pelos ares. Enfim, a única crise internacional que houve, e à qual os correspondentes em Paris não conseguiram ter acesso, foi o episódio do bombardeio à Líbia. Todos os jornalistas franceses, inclusive eu, já tinham lugar marcado a bordo de um avião líbio que sairia de Paris.

Demos azar parque o governo francês resolveu expulsar quatro líbios e, obviamente, não iriam dar a chance de eles viajarem no mesmo avião que a imprensa. O vôo foi cancelado e, então, saiu um avião, com os jornalistas que estavam em Roma — inclusive quem viajou nesse avião foi o Roberto Pompeu, que era da Veja.

Em geral, o correspondente tem pouco contato profissional com os "coleguinhas" do país onde esta. A não ser que o assunto envolva

brasileiros. Quando houve aquele caso das máquinas de videopôquer do Castor de Andrade, e os franceses estavam envolvidos — havia um burocrata do governo, Yves Chalier, que tinha vindo ao Brasil com um passaporte falso, dado pelo ministério do Interior francês, e tinha participado da montagem do esquema -, n6s trabalhamos em ligação com repórteres da televisão francesa. Eu era o bom canal para transmitir a eles o que acontecia na polícia do Rio de Janeiro e, por outro lado, era muito mais fácil para eles ir à delegacia em Paris e conseguir informações.

Não adianta ficar indo às redações de jornal chateando o "coleguinha", porque o fechamento dele é mais apertado e os interesses não são iguais.

Eventualmente posso recorrer a algum "coleguinha" se não entendo alguma coisa muito complicada, ou quando, numa viagem, preciso assimilar muito rapidamente a rea1idade do local. Isso aconteceu quando fui cobrir, antes de ser correspondente, a queda da lsabelita Perón. A primeira pessoa que entrevistei na Argentina foi o Jacopo Timmerman que era do Opinion, para ele me dar uma luz. Lembro o que ele me disse: "Bom, o senhor, quando chegar na Argentina, sua primeira impressão vai ser do caos total. O senhor vai olhar pra Argentina e não vai entender absolutamente nada, vai pensar que está maluco. Com uma semana de Argentina o senhor vai ficar feliz, vai achar que entendeu tudo. E ai quando o senhor estiver bem feliz, de repente vai lhe bater a certeza de que o senhor jamais entenderá a Argentina, e assim o senhor vai continuar para o resto de sua vida junto com todos os argentinos." É mais ou menos o que acontece no Brasil. O que é mais freqüente é um jornalista francês ou americano, que vai viajar para o Brasil, precisar de informações ou dicas.

Em geral, os correspondentes brasileiros no exterior se ajudam na cobertura dos eventos que envolvem personagens brasileiros, até por causa da precariedade da nossa estrutura. Numa reunião do Clube de Paris, nós tínhamos

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que ficar na rua a uma temperatura de 15 graus abaixo de zero. Virar uma noite, a 15 graus abaixo de zero, na rua, brigando com o “coleguinha”, é absolutamente impossível.

Nos Estados Unidos, por exemplo, existem os chamados Foreign Press Centers, que são Centros de Imprensa Estrangeira, nos quais o correspondente se inscreve e tem acesso a todas as publicações que saem no país, a documentos do governo americano, material de pesquisa e xerox livre, o que significa uma facilidade de pesquisa para qualquer matéria. Na França não existe nenhum lugar para os correspondentes se reunirem, e a televisão só dá as notícias no dia seguinte. É realmente mais complicado. Mas como existem as cinco horas de diferença — nos Estados Unidos se trabalha contra o relógio — fica muito mais difícil acontecer algo importante que não possa ser utilizado.

A posição do correspondente brasileiro é muito diferente dos outros. Os corresponden-tes americanos no Brasil, em geral, estão na coluna social, até pela própria posição político-econômica dos Estados Unidos em relação a nós. Os correspondentes americanos na Europa, obviamente, são importantes, e os correspondentes europeus nos Estados Unidos, alguns deles, são importantes também.

Lembro numa das entrevistas coletivas do Reagan, por exemplo, que era o próprio presidente que escolhia quem faria as perguntas. Ele começava: "Helen Thomas, da UPI" — que era, e ainda é, a decana do corpo de imprensa de Washington e invariavelmente fazia a primeira e a última perguntas — "Fulano de TaI da AP", "Sicrano do New York Times", "Beltrano do Washington Post" e assim por diante. O Pravda, certamente, se tivesse alguma pergunta para fazer, faria.

O resto, nós, o Jornal do Brasil e O Globo, nunca tínhamos chance. A única oportunidade de nos aproximarmos de uma figura assim era se, por acaso, ela visitasse o Brasil. Logo que cheguei à França, o Mitterrand deu uma coletiva para a imprensa brasileira porque viria ao Brasil. No exterior nos ganhamos a noção

da nossa desimportância. Na França é um pouco melhor, porque a bagunça quase é igual à do Brasil. Liga-se para uma pessoa e ela não responde à ligação, briga-se com a secretária e acaba-se conseguindo falar com um ministro. Nos Estados Unidos, não se passa, em geral, do Secretário de Assuntos Latino-Americanos.

A volta para o Brasil não é muito fácil, e é completamente diferente para quem até então escrevia tudo e só dependia de si mesmo. O JB, antes da minha volta, tinha me feito a proposta de montar a editoria de ciência e tecnologia. Devo fazer um parêntesis e dizer que sou médico e entrei no jornal em 68 exatamente para cobrir o setor de saúde. Fazer o chamado jornal medicamentoso era tranqüilo, porque ainda era uma época em que a censura não estava muito preocupada com esse assunto. Depois ela ficou, porque começou a meningite e nós descobrimos que através da saúde podia-se contar a historia social do país. Até que se descobriu isso, e ficou difícil também. E foi o que fiz durante alguns anos, e não com muito boa vontade. Por melhor que fosse a matéria, havia sempre uma coisa que pesava contra mim: "O Fritz é médico." Eu sentia que jamais seria aceito como jornalista se ficasse apenas nesse setor. E foi aí que mudei assim que pude.

Quando o JB me fez o convite de voltar para fazer a mesma coisa, a minha resposta foi simplesmente não. Ficou uma situação estranha, porque fiquei deslocado, completamente à margem, e sem muita perspectiva de crescimento. Tinha a sensação de que, depois de ter sido correspondente eu não iria mais a lugar nenhum. E foi então que resolvi sair. Quando a Globo me fez a mesma proposta, aceitei, e não ha nenhuma incoerência nisso, porque o veículo é diferente. Eu começaria fazendo aquilo que já fazia em jornal, mas desta vez aprendendo num veículo diferente. Os problemas de origem persistem, passei a escrever pouco e dependo muito mais do trabalho dos outros. A televisão é alucinada e não existe um trabalho individual.

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Em relação ao país, depois de sete anos no exterior, entre os Estados Unidos e a França, é claro que é difícil voltar e se acostumar. O nível da deterioração dos serviços e até mesmo o empobrecimento que noto são enormes. Tomei um susto quando recebi o meu primeiro salário brasileiro, e era um salário razoável para os padrões locais. O correspondente, mesmo dentro dos padrões brasileiros, com a penúria empresarial e o custo do dólar, em geral, é um profissional bem pago, inclusive para os padrões franceses ou americanos. Eu ganhava na França iguaI a um bom jornalista francês, o que significa um bom salário, porque os salários dos jornalistas de lá são melhores do que os daqui. Em geraI os salários lá são o suficiente para viver. Essa é a diferença básica. Mesmo no caso de um "foca" que está começando e ganha mal, esse mal é o suficiente para ele viver.

Uma das propostas que o Jornal do Brasil tinha me feito, e era até uma boa proposta, era para ser editor nacional, porque eu seria alguém que teria uma visão ainda um pouco escandalizada do Brasil, e poderia transmiti-la às pessoas. Quando cheguei, os deputados brasileiros estavam querendo aumentar os salários deles e as pessoas me perguntaram: "Quanto é que ganha um deputado na França?" Eu disse: "Olha, um deputado na França ganha exatamente a mesma coisa que os deputados querem ganhar aqui, a única diferença é que esse dinheiro na França equivale a 12 salários mínimos, aqui equivale a 120." Há uma distorção maior dentro da sociedade, e são coisas com as quais não é possível se acostumar. Talvez fosse bom não se adaptar realmente. Acho que ainda estou resolvendo a minha volta. Conheço alguns "coleguinhas" que não resolveram bem esse problema, que saíram do jornalismo e foram fazer assessoria, "piraram" ou voltaram para o exterior.

A experiência de correspondente é muito boa, tanto que eu não pedi para voltar. Mas os jornais, hoje, criaram uma espécie de rodízio, em que acham que o jornalista deve permanecer três anos no exterior. O prazo adequado para um correspondente ficar no

exterior está em torno de quatro a cinco anos. Depois ele deveria .voltar. O primeiro ano é um ano de construção, não se sabe de nada. No segundo, já se começa a ficar à vontade, e o terceiro é o ano em que, efetivamente, a pessoa já é conhecida, já tem um alentado caderninho de endereços. Quando chega a esse ponto a pessoa é transferida, pega o caderninho, arquiva na mala, e vai para outro lugar com uma nova folha em branco. Fiz isso duas vezes, e estou fazendo pela terceira, porque voltar para o Rio depois de tanto tempo é recomeçar do zero. Aliás, espero que daqui a três anos alguém me mande para fora. Até acho que pode existir uma carreira de correspondente, afinal, hoje, os jornais costumam ser cada vez mais especializados. Mas, mesmo que existisse essa carreira, o jornalista deveria passar um tempo na redação antes de seguir para outro país.

Em geral, o cargo de correspondente é visto como um prêmio, ou então como solução para uma questão política interna da redação. Quando saí daqui em 82, tinha chegado ao Jornal do Brasil e dito: "Não agüento mais o JB, vou me embora." Então, eles me fizeram a proposta de ir para Nova York.

Na mesma hora eu disse: "Vou." E fui. Mas imaginem desembarcar em Nova York — Manhattan, Empire State, World Trade Center, Wall Street, milhões de carros na rua, todo mundo falando inglês — com uma folha de papel em branco, sem conhecer ninguém. É preciso ir à polícia tirar uma credencial, ao Foreign Press Center, arranjar um apartamen-to, descobrir quem são os correspondentes dos outros jornais, começar a conhecer as pessoas, pôr as crianças na escola. A agenda em branco leva um certo tempo para se encher. O que mais complicou a minha chegada a Nova York foi que, dois meses depois, o México decretou a moratória, e o sistema financeiro internacional quase foi à falência. Eu, que nunca tinha coberto economia, fui aprender navegação a bordo do Titanic.

Quando se está lá fora, pode-se reparar que o mundo está se integrando cada vez mais, que

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estão se formando grandes blocos econômicos e políticos: a Europa de 92, os Estados Unidos, o México e o Canadá que estão praticamente formando uma unidade econômica, o Japão e os países do Sudeste Asiático e a China, namorando essa órbita de influência. Nós nos vemos aqui no quintal, longe desse processo, às voltas com as nossas velhas histórias. Os jornais estão muito preocupados com: “Fulano diz”, “Sicrano faz”. Na época em que comecei, os jornais tinham um ar mais corajoso, se investia mais em reportagem. Posso estar até generalizando. Os jornais não são muito diferentes uns dos outros. O Globo, por exemplo, para mim não mudou nada. Outros jornais mudaram um pouco, a Folha aperfeiçoou o que já vinha fazendo, é interessante, mas ainda é um jornal muito confuso. Sinto falta da grande matéria, da matéria de repórter.

No período em que fui correspondente, observei dois universos muito diferentes em termos de jornal. Os nossos jornais e televisões têm um padrão muito mais parecido com o americano. O Jornal do Brasil é muito mais parecido com o New York Times do que com o Le Monde, sem sombra de dúvida. O americano tem um jornalismo mais investigativo. Basta acompanhar, por exemplo, os escândalos que periodicamente acontecem sobre a vida privada dos políticos americanos. Quando o Jornal do Brasil publicou uma matéria sobre a filha do Lula, ele disse que isso acontecia porque estava morando aqui e não nos Estados Unidos. Lula disse uma bobagem, porque lá, possivelmente, iriam querer saber não só da filha dele, mas da primeira namorada que ele teve... Isso dá idéia de que lá as coisas têm conseqüência. Basta ver o efeito da imprensa em cima do caso Watergate, e, recentemente, do Irãgate. É só comparar com o que acontece no Brasil. Aqui as coisas se diluem.

Os jornais americanos são muito ágeis. Até porque eles têm uma enorme quantidade de dinheiro. Há os grandes jornalões, o Washington Post, o Los Angeles Times, o New York Times; que são nacionais, e as duas

grandes revistas a Time, e a Newsweek, além de uma infinidade de outras revistas da melhor qualidade. O New York Times tem um corpo enorme de correspondentes, um staff gigantesco, e é um jornal massudo, com um faturamento absurdo, que cobre tudo que se puder imaginar. Mas há um outro fenômeno nos Estados Unidos, que é fundamental, a televisão. As três grandes redes e a CNN têm programas de jornalismo com os quais nós não podemos nos comparar. Só para ter uma idéia, um programa chamado 60 Minutes tem 150 produtores.

Na França, todos os jornais têm opinião sobre tudo. O Le Monde, por exemplo, é um belo jornal, com uma perspectiva histórica que, certamente, explicará tudo ou quase, até porque o francês médio pensa melhor do que o americano. Mas é difícil saber o que aconteceu ontem. Uma vez houve uma manifestação muito grande da CGT em Paris e o Le Monde garantiu, em três linhas, que aquela manifestação tinha sido menos importante do que a de 1984. Eu li e disse: "Obrigado." Essas três linhas resumiam tudo o que tinha acontecido naquela tarde, e seguia-se uma página de análise sobre sindicalismo. Ou seja, notícia é em outro lugar.

Existe ainda um jornal chamado Libération. um tablóide muito bem-feito, que não tem a pretensão de cobrir tudo mas sempre tem alguns assuntos muito bons. O Figaro é o que mais se aproximaria do nosso modelo de jornalão, uma espécie de Estado de S. Paulo. É o maior jornal nacional da França. Há 25 jornais em Paris, cada um deles tem uma tendência política. O Figaro é escandaloso, porque a posição política não está só no editorial, o noticiário também sofre essa interferência. Quem lê o L'Humanité e o Figaro vê dois fatos completamente diferentes, porque eles têm uma posição política que é muito mais marcada do que estamos acostumados a ver.

No Brasil, todo mundo sabe de que lado um jornal está, apesar de eles gostarem de, pelo menos, dar uma aparência de que isso não é

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verdade. Na França as pessoas, em geral, não se preocupam muito com isso., Os jornais defendem suas bandeiras abertamente. O jornal mais "furão" da França é um semanário satírico que chama-se Le Cal1ard Enchainé, que é, literalmente, o pato acorrentado. Esse jornal, de vez em quando, dá furos, denuncia escândalos, cria crises de governo. É como se fosse o Pasquim dos bons tempos dele.

A televisão não tem o mesmo papel, principalmente porque ela era estatal até pouco tempo. Além disso, o francês não gosta muito de televisão. Não é igual aos Estados Unidos ou ao Brasil. Basta dizer, por exemplo, que um dos programas de maior audiência na França chama-se Apostrophes, um programa literário. Alguém consegue imaginar um programa literário no Brasil às 9h da noite na Rede Globo? No metrô de Paris, as pessoas, em geral, estão todas apertadinhas com o seu livrinho, nas posições mais esdrúxulas, tentando ler alguma coisa. lê-se alucinadamente. Inclusive, às vezes, os noticiários terminam recomendando um livro. Realmente isso não faz parte da nossa cultura. Os jornais franceses atendem muito a esse tipo de necessidade. Os franceses têm uma idéia talvez maior da história, existe uma memória que nós aqui, infelizmente, não. temos.

A preocupação com a imagem do país não é só dos brasileiros: Fiz uma matéria que saiu publicada num livro na França, chamado A França no exterior, em que se reuniram 250 artigos de imprensa para mostrar como o país era visto pelos correspondentes. Depois a revista Actuel traduziu três desses artigos, o meu abria e o do Pravda fechava, dizendo

inclusive que as mulheres francesas eram feias e raquíticas.

Meu artigo era sobre o seguinte: quando se mora na França, todo ano é preciso ir à polícia e tirar uma Carte de Sejour, uma autorização de permanência. A Carte de Sejour é o terror do estrangeiro na França, porque ele tem que ir para uma fila quase igual à do Félix Pacheco do Rio. Os jornalistas são mais bem tratados, tiram o documento no mesmo lugar em que os diplomatas obtêm os deles. Quem não é nem uma coisa nem outra vai para a fila, e no inverno, fica-se esperando na rua. Resolvi não tomar conhecimento da simpática velhinha que cuidava disso para mim no serviço dos diplomatas e fui como um mortal comum. Depois de três horas e meia de fila, a 15 graus abaixo de zero, finalmente me colocaram numa sala, que media 9m2, junto com outras 60 pessoas. Quando consegui chegar ao guichê, a mulher carimbou um papel e disse: "Volte em maio", ou seja, quatro meses depois. Não me deu a Carte de Sejour, me mandou para uma nova fila, em maio, quando já estaria um pouco mais quente. Então tive um ataque, gritei, e quase quebrei uma porta de vidro, porque eu queria ser preso. Não aconteceu nada, porque os franceses não reagem. Saí de lá morrendo de raiva e escrevi uma matéria no jornal, contando tudo, inclusive dizendo que "quando a gente importou a cultura francesa, a gente importou a arrogância, a prepotência". Foi uma matéria editorializada e de um mau humor absoluto. Obviamente que os franceses souberam, porque depois a matéria apareceu traduzida na revista. Aliás, não me pagaram por isso até hoje.

Referência bibliográfica UTZERI, Fritz. “Do Outro Lado do Mundo” in RITO, Lúcia; ARAÚJO, Maria Elisa de; ALMEIDA, Cândido J. Mendes de (orgs.). Imprensa ao Vivo, Rio de Janeiro: Rocco, 1989. págs.145-158

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Texto X

O Fim de uma Era (Correspondentes Internacionais da TV Globo) Antônio Brasil, 2003 Primeiro vieram os boatos sobre demissões em Londres. Mais uma vez, o "passaralho" estava solto e voava baixo. Em seguida, a TV Globo enviou nota à imprensa sobre as "mudanças", transferências ou "realocação" de correspondentes internacionais. Também fala-se em um "novo modelo" de cobertura internacional, mas a verdade é que se tratava do fim de uma era.

Após anos de muita "gastança" em escritórios suntuosos com correspondentes desfrutando vidas de "diplomatas", parece que a crise finalmente bateu à porta da cobertura internacional da emissora. Há muito tempo a ameaça estava no ar e já se aguardavam medidas drásticas em relação à cobertura internacional da Globo. A enorme e luxuosa redação da emissora em Londres já vivia "às moscas", lembrança de outros tempos de grandes planos e muitos dólares. Os gastos aumentavam e a produção diminuía. O dinheiro não sobrava para viagens e todos os correspondentes tinham que se contentar em cobrir o mundo do estacionamento da APTN ou de qualquer esquina de Londres ou NY.

A gota d'água pode ter sido a guerra no Iraque. Enviar coordenador de cobertura internacional, chefe de bureau em Londres, para a cidade do Kuwait e transmitir as ultimas notícias das agências via videofone não fazia mesmo o menor sentido. O pior é que outro veiculo brasileiro, a Folha de S.Paulo, conseguiria enviar seus correspondentes, Sérgio D'Ávila e Juca Varella para o "olho do furacão". Em contrapartida, assistíamos ao Marcos Uchôa todos os dias, ao vivo com aquelas imagens precárias do seu "videofone" (sic), imóvel com um indisfarçável ar de frustração e tédio anunciar os últimos acontecimentos diretamente do balcão de hotel 5 estrelas. Muito dinheiro para pouco esforço e ainda menos cobertura jornalística. Enquanto isso

centenas de jornalistas do mundo inteiro utilizavam suas novas tecnologias como o "videofone" para mostrar uma guerra de verdade com imagens extraordinárias. É bem verdade que muitos jornalistas morreram. Em nenhum outro conflito até hoje, tantos colegas morreram em tão pouco tempo. Em cenário competitivo com muitas alternativas, todos buscavam imagens ainda mais exclusivas e sensacionais. Apesar das limitações impostas pela censura militar americana, nenhuma outra guerra foi tão "imagética", permissiva e televisiva como a guerra do Iraque. As informações eram certamente filtradas, contraditórias e confusas. Mas poder assistir, pela primeira vez, às imagens de tropas em movimento captadas por pequenas câmeras digitais da CNN e transmitidas ao vivo via Internet foi uma experiência inesquecível. Mas também tornou muito difícil a vida dos demais correspondentes internacionais. Muitos ainda preferem ou aceitam fazer suas coberturas diretamente do conforto e segurança dos estacionamentos mais próximos dos pontos de geração, seja em Londres ou seja no Kuwait. O público que não é bobo e pode, muda de canal ou desliga a TV. Depois é só culpar o público e a cobertura internacional pelo desinteresse e queda de audiência para justificar mais cortes de verbas ou demissões.

Em tempos de vacas magras, a cobertura internacional não tem que ser cara, mas certamente deve ser audaciosa e criativa. Pesquisas recentes nos EUA e na Inglaterra comprovam que o público se interessa pela cobertura internacional, mas não aprova ou aceita facilmente a "frieza" e distanciamento impessoal das coberturas homogêneas das agências de notícias. A presença do repórter em Bagdá ou em países distantes e desconhecidos como Camboja personaliza a cobertura. Garante qualidade e audiência, mas

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somente quando as matérias são bem produzidas e fazem conexões com as peculiaridades da cultura nacional.

Cobertura internacional exige estratégias a longo prazo que educam e formam um publico exigente. Mas, por outro lado, muito editores acreditam que podem mostrar o mundo nos telejornais com algumas "lapadas" – aquelas imagens rápidas, sem pé nem cabeça que tanto mostram enchentes em Bangladesh como mostram desfiles de modas em Milão. Isso é no mínimo ingênuo e irresponsável, mas explica o desinteresse do público.

Sempre acreditei na cobertura internacional, mas, de preferência, produzido por gente jovem e qualificada. Nada contra os veteranos. Muito pelo contrário. Mas transformar a função de correspondente internacional da Globo em prêmio, homenagem merecida ou maneira de "esfriar" jornalistas famosos em situações de perigo no Brasil, nunca me pareceu a solução. Afinal, bem sabemos que você pode ser um excelente jornalista especializado em esportes e coberturas policiais e não entender nada de jornalismo internacional. Assim como nem todo bom repórter se transforma da noite para o dia em bom editor, nem todo bom repórter no Brasil vai ser bom correspondente no exterior. Tem que ter uma vocação especifica dentro da própria vocação do jornalismo.

Em outros tempos pioneiros, pude participar de um outro momento histórico no jornalismo da Globo. Nos anos 70, com uma censura feroz nas redações brasileiras, a direção da Globo na época resolveu investir na cobertura internacional. Nomes como Sandra Passarinho, a primeira correspondente brasileira de TV, passariam a ser referência de qualidade em jornalismo para milhões de brasileiros. Sandra foi transferida da editoria do Jornal Internacional com Heron Domingues para o escritório de Londres aos vinte e poucos anos. Era uma jornalista competente, mas não era uma das estrelas globais. Falava diversas línguas e conhecia profundamente o noticiário internacional. Bem sabemos que muitos

jornalistas brasileiros são transferidos para Londres, não entendem nada de jornalismo internacional e sequer falam inglês.

Repito, ser correspondente internacional não deveria ser prêmio ou oportunidade para passar alguns anos no exterior desfrutando de um "televidão". Ser correspondente internacional deveria significar uma vontade muito grande de viajar pelo mundo a qualquer custo e sempre em busca de boas pautas com pouquíssimo dinheiro no bolso, muitas idéias ou pautas na cabeça e muita coragem para enfrentar as dificuldades.

Correspondente internacional contratado a peso de ouro pelas grandes redes de TV parece ser cada dia mais uma espécie em extinção. Hoje, muitos jornalistas que cobrem os grandes eventos internacionais estão baseados em suas próprias sedes, mas também estão sempre prontos para serem deslocados para qualquer parte do mundo a qualquer instante. Manter "embaixadas" ou escritórios suntuosos no exterior é coisa do passado. Hoje, a cobertura internacional economiza trocados e correspondente tanto pode ser contratado como pode ser um "free-lancer" em busca de uma oportunidade profissional no exterior. É um trabalho árduo, muito competitivo e perigoso que envolve enfrentar situações extremamente hostis para cobrir eventos de qualquer maneira, vencer barreiras cada vez maiores e convencer editores indiferentes a "comprar" as suas historias todos os dias. Não é fácil, mas certamente é possível. Pode abrir portas para muitos jovens jornalistas que querem viajar, falam diversas línguas e estão dispostos a enfrentar muitas dificuldades. A cobertura internacional em TV ainda custa caro, mas rende uma boa audiência para quem sabe fazer.

Mas o maior problema do jornalismo da Globo é não ter uma competição de verdade. Tanto faz mudanças de modelo que implicam reduzir, realocar ou demitir correspondentes. É tudo pura questão de semântica para explicar ou justificar a necessidade de redução de custos. Mas, infelizmente, as demais emissoras

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não oferecem uma alternativa à cobertura internacional. As poucas tentativas não foram bem sucedidas, tiveram vida curta e jamais chegaram a incomodar. Quem sabe, chegou a

hora dos competidores acreditarem na cobertura internacional e, quem sabe, atingirem o "calcanhar de Aquiles" do Império.

Referência bibliográfica BRASIL, Antônio. “O fim de uma era”, in Comunique-se, 10 de outubro de 2003. disponível em: [http://comuniquese.com.br]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• Quais devem ser os pré-requisitos para um correspondente internacional? • Por que o autor afirma que o maior problema da TV Globo é não ter concorrência

na cobertura internacional?

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Texto XI

Crise na Cobertura Internacional Antônio Brasil, 2002 A notícia é assustadora. Apesar dos atentados nos Estados Unidos e a guerra no Afeganistão os americanos continuam cada vez menos interessados no noticiário internacional. É o que revela uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center – e divulgada no domingo (9/6) pelo The Washington Post – que ouviu 3.082 adultos e chegou às seguintes conclusões:

Somente 12% dos americanos entrevistados acompanham o noticiário internacional. Em comparação a 2000, a porcentagem dos que não se interessam pelo noticiário internacional passou de 45% para 44%. O segmento que mostrou mais interesse pelas informações internacionais inclui os profissionais de mais de 40 anos, mais especificamente as mulheres, e os maiores de 65 anos. Entre os entrevistados, 55% declararam ter acompanha-do o noticiário da TV na véspera da pesquisa, contra 72% em 1994. Outros 41% disseram ter lido um jornal, contra 49% em 1994.

Esses dados são importante e comprovam uma tendência de muitos anos. Pelo jeito, o público americano insiste em ignorar o mundo. O país investe maciçamente na repressão ao terrorismo em lugares distantes e prefere menosprezar as lições do passado e do jornalismo internacional. O otimismo inicial de boa parte da crítica especializada em relação à possível reversão dessa tendência após os ataques suicidas em solo americano não parece ter se sustentado. Houve, sim, uma reação imediata do público. Os primeiros índices apontavam um novo cenário, mas, por vários motivos, não foi possível aproveitar a oportunidade e virar o jogo. Se os noticiários de TV estão em crise, o segmento internacional vive dias de desespero. Está numa verdadeira encruzilhada. Ao ser obrigada a reduzir custos para sobreviver, a cobertura internacional se torna imóvel e burocrática. A criatividade para buscar

alternativas encontra enormes resistências de toda a ordem. O jornalismo internacional precisa ser sustentado por guerras ou desastres para sobreviver.

Reduzir custos não é necessariamente o fim do jornalismo. É claro que se torna difícil ou quase impossível para aqueles que convivem com salários e despesas de embaixadores. Buscar novas pautas e tecnologias dentro dos padrões estabelecidos da ética, ou investigar o inusitado, não parece fazer parte de um novo menu de opções para boa parte do segmento internacional.

Cova rasa

E no Brasil? Como esses dados afetam o futuro da nossa cobertura internacional? Se você acredita que, por uma questão de modelo adotado, quase tudo o que acontece na TV americana tende a se refletir de alguma forma em nosso país, então estamos realmente com problemas.

No momento que a nossa categoria ainda está enlutada e perplexa pela morte violenta de um colega em circunstâncias que demandam, por si só, o "melhor" do nosso jornalismo investigativo, talvez estejamos assistindo igualmente à morte da cobertura internacional. Se o jornalismo investigativo na TV com direito às técnicas ocultas vive hoje o seu apogeu, outros segmentos pagam a conta.

A cobertura internacional dos noticiários de TV brasileira é hoje mera caricatura de outras eras. Em se tratando de Copa do Mundo com direito à exclusividade, o massacre do jornalismo internacional no Brasil é ainda mais significativo. O jornalismo se confunde com o marketing da própria emissora e dá-lhe de autopromoção, com divulgação incessante de quebras de recordes nos índices de audiência durante todos os telejornais. Há muito tempo nos acostumamos com a

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violência das ruas e com a violência de um noticiário que se recusa a manter o distanciamento legítimo entre os seus próprios interesses econômicos e os interesses do público. Afinal, para que tanta notícia? Internacional então, nem se fala – ou nem se cobre! A pátria de chuteiras, com o telejornalismo a reboque, esquece o resto do mundo e se torna apêndice do plantão das agências internacionais. Ou seja, quase nada.

Independente da Copa, os motivos por esse desinteresse do público está na falta de notícias, está no mundo e... no público. Não se fazem mais guerra fria e ameaças de holocausto nuclear como antigamente. Os tempos mudaram e a TV decidiu que ninguém mais se interessa por nada que esteja ocorrendo além das próprias fronteiras. Os fatos recentes e a História comprovam que isso é muito perigoso.

Ainda em relação aos americanos, os dados da pesquisa do Pew Center apontam para um isolacionismo informacional por parte daqueles que decidem o futuro de toda a

humanidade. Com todo seu poderio econômico e militar, ao se afastarem das notícias internacionais os americanos parecem apontar para tempos ainda mais difíceis. A informação utilitária imediata supera os dividendos de uma cobertura mais ampla, voltada para a conscientização do público. Globalização não é só abertura de fronteiras econômicas. Deveria ser uma orientação da ordem planetária na qual o jornalismo tem um papel essencial. Mas quando o sucesso se transmuda em índices de audiência e as notícias locais privilegiam as amenidades, existe pouco espaço para o jornalismo investigativo sério. A apuração se confunde com sensacionalismo, torna-se perigosa, mata jornalista e faz com que a cobertura internacional também seja declarada "desaparecida" – ou enterrada em cova rasa no cemitério do "novo" jornalismo de televisão. Um jornalismo de resultados com jornalistas mortos em todo o tipo de guerras e pautado pela redução de custos, aumento de riscos e do lucro.

Referência bibliográfica

BRASIL, Antônio. “Crise na cobertura internacional”, in Videotexto.tv, . disponível em: [http://videotexto.tv.br]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• É o público que não tem interesse em notícias internacionais ou é o atual noticiário internacional, da forma como é feito, que não desperta interesse?

• O que pode ser feito para atrair a atenção do público para o noticiário

internacional?

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Texto XII

Cobertura Internacional é para gente grande Cristiana Mesquita, 2002 Ao ser instada por este Observatório a escrever sobre a cobertura do conflito no Oriente Médio pela mídia brasileira, minha primeira reação foi rápida: "Que cobertura?". E tive que parar e pensar. O que estaria impedindo a Globo de enviar uma equipe a Israel? A Globo, sim, porque no Brasil é a única emissora a produzir uma cobertura internacional própria.

Confesso que tem sido uma tortura acompanhar o noticiário nacional sobre o Oriente Médio. Tenho preferido assistir aos telejornais da CNN ou da BBC – ao quais, apesar de não serem perfeitos, ao menos têm equipes reportando do olho do furacão. Se é uma tortura para mim, fico imaginando que como devem estar se sentindo os correspondentes internacionais da Rede Globo.

Tenho certeza que os repórteres da Globo estão infelizes por ter que destrinchar horas de imagens enviadas pelas agências para, depois, escrever um texto, também baseado nas agências, e, finalmente, descer três lances de escada para encerrar a matéria com uma "passagem" de Londres...

Desde o fim da ditadura, quando a cobertura internacional era fundamental para tapar os buracos deixados pela censura nos telejornais, as emissoras brasileiras optaram por delegar essa tarefa para as agências internacionais de notícias e para a CNN. Os altos custos de cobertura, aliado à idéia (totalmente absurda) de que o público brasileiro não se interessa por matérias do exterior, foi a pá de cal no jornalismo internacional de qualidade na televisão brasileira.

A Globo se esforça. Mantém escritórios em Londres e Nova York e, mesmo sem ter competidores, continua buscando os furos de reportagem – como a entrevista com brasileiros que estão passando o pão que o diabo amassou em Ramallah, por telefone. É melhor do que nada, mas não posso aceitar que

seja apenas uma questão de custos.Grandes redes em todo mundo também foram forçadas a fechar escritórios e a reduzir equipes. A diferença é que elas se adaptaram aos novos tempos de vacas magras.

Novas tecnologias

Há duas maneiras de cobrir um conflito violento ou guerra – seja em Israel, no Afeganistão, na Bósnia ou qualquer outro lugar.

Você pode planejar sua cobertura como uma grande rede americana, que envia equipes de pelo menos 10 pessoas, mais suas próprias facilidades de geração, e isso custa uma verdadeira fortuna. Ou você manda um pequeno grupo de profissionais altamente treinados que vai saber se virar com o mínimo de recursos. As emissoras brasileiras não têm dinheiro para a primeira opção e nem os profissionais, para a segunda.

Os jornalistas brasileiros que são enviados para o exterior foram criados e treinados nas emissoras, onde acostumaram-se a contar com uma estrutura de trabalho que jamais encontrarão no campo. Nas minhas coberturas de guerras para agências internacionais de notícias, raramente contei com mais de duas pessoas na equipe. E para que isso funcionasse era necessário que todos fizéssemos de tudo.

Repórteres e cinegrafistas são treinados para fazer muito mais do que suas respectivas funções exigem. Já aconteceu, por exemplo, de eu estar ocupada produzindo ou escrevendo uma matéria e o cinegrafista sair correndo para fazer uma entrevista; ou então o cinegrafista estar ocupado com uma edição e eu ter que sair para gravar imagens complementares.

Os tempos mudaram e a televisão, por mais irônico que pareça, deve se mirar no exemplo dos bons e velhos repórteres de jornal que

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saíam da redação de ônibus, com um endereço num pedaço de papel e uma câmera fotográfica pendurada no ombro, e voltavam com a matéria. Talvez esteja exagerando um pouco, mas esse é o espírito.

Cobertura de guerra é muito caro, a começar pelo seguro de vida dos profissionais. Se alguém já se deu ao trabalho de ler as letrinhas de alguma apólice de seguros vai notar que todas esclarecem que não cobrem acidentes ocorridos em zonas de guerra. Depois, vêm os custos de transmissão, hotéis, aluguel de carro, intérpretes, diárias e por aí vai. Não se pode abrir mão do seguro, mas, para todo o resto, uma equipe bem treinada pode dar um jeito.

As redes brasileiras de TV também têm sido incrivelmente lentas em reagir às novas tecnologias. Boa parte das equipes que estavam cobrindo a guerra no Afeganistão já usavam pequenas câmeras de vídeo e transmitiam suas matérias pelo computador. A própria CNN faz isso o tempo todo. O videofone, que permite ao jornalista entrar ao vivo de qualquer lugar do mundo utilizando apenas uma linha telefônica, já tem qualidade suficiente para ser adotado em qualquer telejornal com relatos de primeira mão.

Dou minha cara a tapa se uma entrada do repórter Caco Barcelos via videofone no Jornal Nacional, mesmo que com a qualidade inferior mas falando direto de Israel, não daria o maior ibope.

Paletó e gravata

O conflito em Israel, que a qualquer momento pode descambar para uma crise geral no Oriente Médio com conseqüências inimagináveis para todos nós, enquanto isso vai deixando de ser a matéria de abertura dos telejornais e daqui a pouco passa para o segundo bloco, depois para o terceiro, até virar uma notinha. Aí vão dizer que é porque o público cansou da história quando, na verdade, o público cansou é de ver aquela matéria fria que não acrescenta nada ao que já não tenha visto nos jornais ou em outro canal.

Muita gente talvez não tenha notado, mas a cobertura internacional da Globo melhorou. Houve uma época em que as matérias de fora entravam como "lapadas", isto é, dez segundos para cada assunto, como uma revista em que as páginas eram viradas rapidamente dando tempo de ler apenas as manchetes. Hoje já se pode ver longos minutos dedicados a uma matéria com participações de correspondentes em Londres, Nova York e Washington.

O Jornal Nacional, que tem um padrão extremamente rígido, inovou colocando no ar o trabalho do videojornalista Luis Nachbin, que viaja o mundo sozinho gravando suas próprias matérias. Por enquanto são apenas matérias frias, com formato quase idêntico ao das reportagens tradicionais, mas já é um começo. A Globo se arriscou, e muito, quando colocou no ar, para reportar direto do Afeganistão, uma completa desconhecida que nunca fez sequer uma aulinha de dicção. Está certo que houve um momento de pânico na redação quando me perguntaram se eu tinha um blazer para fazer o "ao vivo" – e eu respondi que não tinha blazer nem batom e o que o cabelo não era lavado havia pelo menos 5 dias. Foi importante lembrar a eles que eu estava em Cabul e não em Brasília.

Correspondente de guerra não é estrela, é operário. Trabalha feito operário e vive como operário. E não adianta mandar uma equipe para marcar presença por uma semana para acompanhar a visita a Israel do secretário de Estado americano Colin Powell. A equipe tem que ficar lá o tempo necessário para entender a história (ainda não inventaram maneira melhor para cobrir um fato), estabelecer contatos e se entrosar com a pequena comunidade de correspondentes de guerra que, no final das contas, são as únicas pessoas com quem se pode contar quando alguma coisa dá errado.

O correspondente de guerra tem que ter a experiência que vai lhe permitir total autonomia para decidir o que cobrir – e como. O correspondente de guerra tem que estar familiarizado com todo o tipo de tecnologia que vai facilitar e baratear sua cobertura.

Resta saber se a Globo está disposta a tirar o paletó e a gravata e botar a mão na massa. Esperamos que sim.

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Referência bibliográfica

MESQUITA, Cristiana. “Cobertura internacional é para gente grande”, in Observatório da Imprensa, 17 de abril de 2002. disponível em: [http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo170420021.htm]

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• O qie a autora quer dizer com “correspondente de guerra não é estrela, é operário”?

• Que inovações podem ser aplicadas no formato e no conteúdo do Jornalismo

Internacional em televisão?

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Texto XIII

Cobertura Brasileira sobre Guerras Entrevista com Jayme Brener, 2003 O professor e sociólogo Jayme Brener assumiu a cadeira de História da Comunicação na Cásper. Brener foi professor do curso de pós-graduação em Jornalismo Internacional da PUC-SP, chefe da Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de S.Paulo e da Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC).

Com extenso currículo, foi editor da IstoÉ, editor-assistente de Veja e do Jornal da Tarde, redator da Folha de S. Paulo, correspondente do Jornal do Brasil na América Central e da Rádio Eldorado na Europa.

Ganhou três prêmios pelo trabalho jornalístico, entre eles o Prêmio Jabuti, em 1999. É autor do livro Jornal do Século XX (Moderna, 1998, R$39,50). Atualmente, Brener dirige a Ex-Libris Assessoria e Edições, empresa que presta assessoria de imprensa e elabora publicações empresariais.

Nessa entrevista, Brener fala sobre como a imprensa brasileira se comporta na cobertura dos conflitos internacionais e conta um pouco da sua experiência como correspondente de guerra. “Sou um contador de histórias que usa instrumentos diferentes a cada momento”, diz Brener sobre a utilização de seu conhecimento histórico na profissão de jornalista.

Como o sr. vê a cobertura da imprensa brasileira sobre a guerra no Iraque? Quais veículos retratam o conflito de maneira fiel e quais o cobrem de maneira errada? Brener – Ainda é cedo para saber, uma vez que a guerra não começou. Mas há uma diferença fundamental entre a cobertura desta protoguerra e do conflito de 1991. Hoje, o mundo todo está contra a guerra, inclusive a imprensa brasileira. A imprensa retrata a guerra de maneira justa e imparcial? Ela pode realmente influenciar a população a favor ou contra um conflito armado? Brener – Quando se fala em imprensa, conceitos como “justiça” ou “imparcialidade” são discutíveis. Tanto é assim que toda a imprensa brasileira é “parcial” no caso, é contra a guerra. A mídia pode influenciar a população em relação a um conflito armado. A cobertura altamente profissional da Guerra do Vietnã (quase sem censura, ao contrário de hoje) teve papel decisivo para o crescimento do movimento pacifista nos EUA.

Como a cobertura norte-americana das guerras influencia o jornalismo brasileiro? A imprensa nacional faz apologias? Brener – A imprensa brasileira quase não tem mais correspondentes internacionais. Haverá poucos colegas na cobertura da guerra. Isso quer dizer que dependeremos basicamente das agências internacionais. Ainda assim, o grau de divisão que esta guerra vem provocando deve garantir uma cobertura mais pluralista. Para qual veículo o sr. trabalhava quando cobriu a Guerra da Nicarágua e como foi essa experiência? O que mudou na cobertura das guerras desde então? Brener – Cobri o conflito para o Jornal do Brasil e depois para a Rádio Eldorado e, principalmente, para o Jornal da Tarde. A experiência foi fantástica, com um detalhe: eu era stringer, isto é, um free lancer fixo. Quer dizer, não tinha nenhuma estrutura de apoio. O que mudou na cobertura tem a ver com o fim da Guerra Fria. Hoje, nas grandes guerras, o jornalista é muito mais monitorado. Veja-se o caso da Guerra do Golfo, em 1991. É quase impossível imaginar um jornalista ocidental

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entrando na guerra pelo lado iraquiano. Na América Central e no Oriente Médio, tive a sorte de poder cobrir a partir de vários lados diferentes. Qual sua visão sobre o Oriente Médio e a relação deste com a imprensa? Brener – Acho que estamos diante de uma situação sem solução de curto prazo. De um lado há o governo de Israel, que eterniza a ocupação dos territórios dominados. De outro lado, com Yasser Arafat temendo a força do integrismo islâmico, não se vislumbra nenhuma força disposta a negociar de fato, o que implicaria em concessões mútuas. Os dois lados parecem se orientar apenas pela destruição absoluta do outro. É voz corrente que numa guerra a primeira vítima é a verdade. Como o sr. mantém a verdade em uma cobertura de guerra? Brener – O que é verdade? Isso não existe. O que há é a busca por ouvir vários lados, ser mais ou menos objetivo. Mas qualquer matéria é versão, a partir da própria escolha dos tópicos principais. Isso é “uma” verdade. Para os pacifistas, nenhuma guerra é justa, pois, independentemente da razão pela qual se luta, pessoas morrem. Já os defensores dos conflitos armados alegam que uma guerra pode ser justa dependendo do que a motiva. Na sua opinião, existe guerra justa? Brener – Essa hipótese sobre a posição dos pacifistas não me parece correta. Uma guerra contra a ocupação pode ser justa. O conflito dos resistentes contra a ocupação nazi-fascista,

na 2ª Guerra Mundial, ou dos argelinos contra o colonialismo francês, nos anos 50 e 60, são exemplos disso. Como o conhecimento da história o ajudou no jornalismo? Brener – Por muito tempo tive uma certa crise de identidade Sou jornalista, professor de história, historiador ou o quê? Hoje, acho que essa divisão foi fundamental para o meu trabalho. Sou um contador de histórias que utiliza instrumentos diferentes a cada momento. Até que ponto o sr. nota uma diferença de método entre jornalismo e história? Brener – A pesquisa histórica requer um certo distanciamento de tempo que o jornalismo não pode tolerar. Mas há inúmeros pontos de intersecção. A narrativa de uma guerra é fundamental para a construção da massa crítica da historiografia. É isso que vou tentar trabalhar no curso da Cásper. Como autor de livros paradidáticos, o sr. acredita que o texto didático influencia o texto jornalístico? Brener – Acho que uma das coisas mais interessantes do jornalismo é o desenvolvimento da habilidade de escrever de formas diferentes, para públicos diferentes. O garoto que lê um paradidático não é o empresário que lê um release ou o engenheiro que lê uma publicação técnica. Acho que um dos temperos do ofício é justamente a arte de contar histórias de formas diferentes.

Referência bibliográfica:

Entrevista de Jayme Brener concedida a Fabiana Panachão e Noêmia Lopes, alunas do 3º ano de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero (São Paulo) disponível em: [http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=182&ed=2]

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Texto XIV

Jornalismo sem Fronteiras (História da CNN) Sidney Pike, 1991 Ted Turner começou a sua vida profissional trabalhando no negócio criado pelo pai: uma empresa de publicidade em outdoor. Depois quis entrar no show business e comprou algumas estações de rádio, que não fizeram muito sucesso. Seu passo seguinte foi uma pequena estação de TV em UHF, que também ia mal porque, na época, 1970, só as redes eram bem sucedidas, obtendo mais ou menos 96% da audiência. Dessa forma, quando ele me chamou para trabalhar eu hesitei muito, porque eu era um profissional e ninguém com experiência em TV trabalharia para uma estação terrível, que os telespectadores mal podiam localizar.

Naquele tempo, não havia esses seletores de canais com botões para apertar. O seletor de UHF a gente girava, como o dial do rádio, e era difícil sintonizar os canais. A emissora de Turner era uma das que estavam "perdidas no dial", mas, assim mesmo, resolvi trabalhar com ele. Logo descobrimos que os únicos telespectadores que conseguiam encontrar o nosso sinal eram as crianças. Elas não se incomodavam de girar o botão até achar o que queriam. Por isso, começamos a lutar para sair do anonimato colocando no ar programas infantis.

Aceitar o convite de Ted Turner foi, provavelmente, a decisão mais inteligente que já tomei na vida. A pequena estação em UHF que ninguém assistia logo seria vista por todo mundo – literalmente. Em 17 de dezembro de 1976, nós começamos a transmitir o seu sinal para um satélite e foi então que a coisa começou para valer. Apertamos um botão e, de repente, a estação podia ser vista em todos os Estados Unidos, além do Canadá e da América Central. Inicialmente, porém, só estávamos interessados nos Estados Unidos.

A distribuição do sinal que enviávamos para o satélite era feita a partir das instalações de TV a cabo de cada cidade. O sistema ainda era bem incipiente, porque as leis da época só permitiam que o cabo fosse usado para retransmitir as estações locais. Quem iria pagar pela TV a cabo, quando podia sintonizar as estações locais diretamente com a antena e de graça? Mas o governo mudou essa situação, permitindo que as estações de TV a cabo avançassem para além do seu mercado local. Foi nessa ocasião que Ted colocou no satélite a nossa estação, que tinha uma programação de entretenimento e esportes. Eu era o administrador da estação e comecei a receber cartas até de Yukon, no Alaska, pedindo que transmitíssemos determinados filmes, e assim por diante. Eu não conseguia acreditar que as pessoas, àquela distância, estavam recebendo nosso sinal.

Nesse começo, as redes nacionais de TV baseadas em VHF, UHF e microondas eram bem superiores às emissoras a cabo e abrangiam todos os Estados Unidos. O resto do mercado de teledifusão era muito fraco.

Mas Ted teve uma idéia que fez com que a TV a cabo se expandisse: criou um serviço de notícias para ficar 24 horas no ar. Assim, no dia 1 de junho de 1980, inauguramos a Cable News Network, CNN.

A CNN é hoje a maior rede de TV a cabo dos Estados Unidos. Atinge 58.892.000 residências, o que corresponde a 63,3% de todos os lares americanos. Seu índice de audiência mais alto foi alcançado durante a Guerra do Golfo: 23%, durante quinze minutos. Foi um índice cinco a sete vezes maior do que os usuais. junto aos jovens, a audiência atingiu uma faixa mais expressiva, variando de dez a treze vezes mais do que o normal.

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Mas o sucesso veio bem antes de janeiro e fevereiro de 1991. Logo que apareceu, a CNN começou a incomodar os concorrentes e alguns deles, como a ABC-TV e a Westinghouse, decidiram criar o seu próprio serviço de informações 24 horas. Tão logo eles os anunciaram, em 1982, Ted reagiu com outro serviço de notícias, com outro formato: Headline News.

O noticiário original da CNN tinha longa duração. Os jornais poderiam ter uma hora, duas, quanto tempo demorassem para dar a notícia. O serviço da Headline News, ao contrário, só durava meia hora.

Eram trinta minutos de programa que se repetiam seguidamente. Enquanto ia passando, mais notícias eram recolhidas. Portanto, alguém que estivesse com pressa e não tivesse tempo para sentar e assistir a notícias longas, poderia ver um resumo em meia hora. Se sintonizasse o canal, por exemplo, às 10h05, perderia os primeiros cinco minutos do jornal. Mas assistiria aos 25 minutos restantes e continuaria ligado para assistir aos cinco minutos iniciais do próximo noticiário. O telespectador sempre tinha acesso à meia hora completa de notícias.

A distribuição internacional dos nossos serviços teve início por acaso.

Estávamos realizando experiências de retransmissão do sinal no Pacífico, quando os australianos perguntaram se podiam testar a CNN. Então, "videoplexaram" o nosso sinal. Isso significa que apanharam o seu transponder, dividiram as linhas no meio e intercalaram as notícias da CNN com as notícias nacionais em seu sinal habitual, obtendo duas imagens em vez de uma. Os japoneses também fizeram experiências desse tipo. Quando percebemos o potencial desse uso múltiplo dos satélites, um dos membros da nossa equipe foi tentar vender a CNN a outros países que pudessem receber o nosso sinal, além do doméstico.

Durante dois anos, porém, esse colega não conseguiu realizar uma única venda e em dezembro de 1983, pediu demissão. Então me

perguntaram se eu gostaria de assumir o comando do setor internacional.

Aceitei imediatamente. Em janeiro de 1984, comecei minha primeira viagem pelo Pacífico e voltei com acordos que equivaliam a um total de quase dois milhões de dólares. Foi assim que tudo começou.

O único sinal disponível em satélite naquela época era o nacional americano, que abrangia também o Canadá e a América Central. Porém, havia mais um, que não era comercial: o Serviço de Rádio e Televisão das Forças Armadas, o AFRTS. Ele tinha uma programação de 24 horas de duração, com programas emprestados da NBC, CBS, ABC e CNN, que, aliás, ocupava metade do tempo.

Obtive, então, o direito de utilizar o sinal do AFRTS, já que estávamos cedendo material sem cobrar nada. Um dos sinais desse satélite, que foi projetado para chegar até as forças estacionadas na Islândia, além de cobrir o Oceano índico e a Europa, abrangia também toda a África e América do Sul, exceto o Peru e o Equador. Isso me permitiu fazer acordos na América do Sul e na África.

Agora já temos um sinal próprio, na faixa chamada KU. Ele é menor e o mais potente. Quanto menor o sinal, mais poderoso ele é. E quanto mais poderoso, menor a antena que exige para recepção.

Uma das primeiras coisas que descobri na minha primeira viagem ao Pacífico, quando fui fechar acordos com o Japão, foi que havia um consórcio chamado Intelsat, que controlava todos os satélites ao redor do mundo, exceto os soviéticos. Essa organização é formada por cerca de 117 países e os representantes de cada país são as PTTs, isto é, as empresas de post-telegraph-telephone (correio, telégrafo e telefone). A Embratel é a PTT do Brasil.

Descobri que as PTTs formam um monopólio. Ganham bastante dinheiro com a retransmissão de sinais e não querem mudar o sistema.

Quando fiz o acordo com a TV Asahi, por exemplo, ela teve que pagar um milhão de

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dólares por ano à KDD, a PTT japonesa, para receber o nosso sinal, quando poderia fazer isso usando simplesmente uma antena 20 vezes mais barata. Além disso, a PTT fez com que o sinal fosse enviado a 60 milhas de distância de Tóquio, obrigando a Asahi a investir mais 500 mil dólares em microondas para trazê-lo até a cidade. Nossos parceiros tiveram que desembolsar, então, um milhão e meio de dólares pelo sinal, quando tudo o que tinham que fazer era pagar 50 mil dólares por uma antena e colocá-la do lado de fora da estação. Mas era a PTT que controlava o envio de sinais do satélite para a Terra.

Quando fui a Taiwan, encontrei com representantes das três redes de emissoras locais e expliquei-lhes que a CNN estaria à disposição. Mostrei como nosso trabalho era realizado e eles aceitaram operar conosco.

Então, perguntaram: "como teríamos recursos para receber o sinal?"

Eu entendi o que queriam dizer. Quando os satélites apareceram, trinta anos atrás, as estações recebiam apenas dez minutos de notícias por dia, contendo de três a quatro histórias. O pagamento do envio do sinal à Terra foi estabelecido da seguinte forma: 350 dólares pelos dez primeiros minutos e 29 dólares para cada minuto adicional. Eu não estava oferecendo transmissões de dez minutos, mas uma programação de 24 horas. Então peguei minha calculadora e fiz 29 dólares vezes 60 minutos, vezes 24 horas, vezes 365 dias. Dava mais de 16 milhões de dólares.

Disse a eles que as três emissoras, juntas, iriam pagar apenas cerca de 400 mil dólares por ano pelo nosso serviço. Mas eles lembraram que tinham que prestar contas à PTT e que ela não aceitaria que o negócio fosse fechado fora das regras estabelecidas. Exigiria que pagassem 16 milhões de dólares para receber um sinal que eu estava oferecendo por 400 mil...

Esse era o tipo de situação que tínhamos que enfrentar no exterior.

Mas os problemas não eram muito diferentes quando se tratava de administrar o nosso sinal nacional. Em reunião com nosso departamento jurídico, criamos um documento chamado "Programa de Dispensa de Direitos Autorais". Com ele, podíamos dizer a um país do Caribe ou da América Central que não iríamos processá-los se estivessem utilizando nosso sinal, protegido por direitos autorais. Mas também dizíamos a eles que obter o sinal era problema deles...

Essa foi a forma que encontramos para começar e, com o tempo, conseguimos desgastar o esquema que nos tolhia. Primeiro, fizemos um acordo com o Intelsat, chamado "Sinal de Multitransmissão". Começamos a pagar não só pelo envio do nosso sinal ao satélite, mas também todos os encargos normalmente desembolsados pelas estações receptoras, para trazer os sinais à Terra. Todos os custos passaram a ser cobertos pela CNN e qualquer pessoa podia receber o sinal. O único problema no acordo era que as PTTs tinham que aprová-lo.

A outra forma que encontramos para romper o monopólio surgiu no Brasil. Este era um país crucial para a nossa estratégia, porque acreditávamos que se o Brasil entrasse no nosso sistema, todo o resto da América Latina o seguiria. Na época, um homem chamado René Anselmo, que era um dos donos da SIN - Spanish International Network, tinha acabado de vender sua parte na empresa por mais de 200 milhões de dólares e resolveu gastar 100 milhões para construir um satélite denominado PanAm Sat, que abrangeria toda a América Latina. Anselmo construiu, de fato, mas ninguém o utilizava. Então, ele nos procurou.

Imediatamente vi a oportunidade de utilizar esse satélite em nosso benefício. Mas, o Intelsat, percebendo que, pela primeira vez, enfrentaria competição, tornou-se mais flexível nas oportunidades que nos oferecia.

Só que a Embratel não queria permitir que o Intelsat fizesse uso de seus satélites para transmitir o sinal como necessitávamos. Sua rigidez era um grande problema.

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Foi quando alguém deu uma olhada na lei brasileira e descobriu que, embora a Embratel fosse apontada aí como a responsável pela transmissão dos sinais dos satélites brasileiros e do Intelsat à Terra, não havia nenhuma menção a respeito de outros satélites. Era o nosso caso. Tínhamos um satélite particular, que não era nem nacional, nem internacional, e cujo proprietário era um indivíduo. A Embratel teve de admitir que não era responsável por esse satélite e conseguimos a permissão para transmitir o sinal, como fazemos agora no Brasil.

O melhor exemplo desse problema com a Embratel foi o caso da TV Manchete. Três ou quatro anos atrás, vim ao Brasil e fiz um acordo com a Manchete, que foi a primeira estação daqui a se interessar pela CNN.

Assinamos um contrato que dependia da aprovação da Embratel, permitindo a transmissão do sinal pelo seu sistema, já que eles não tinham condições de pagar por 24 horas de transmissão pelo nosso. O pessoal da Manchete não conseguiu fazer com que o governo concordasse com isso, até o surgimento do PanAm Sat. Mas depois que a Embratel aceitou os nossos argumentos legais, tudo se acertou e, conforme o previsto, todos os outros países sul-americanos permitiram que continuássemos.

Alguns anos atrás criamos um terceiro canal de 24 horas de duração, especialmente para transmitir para fora dos Estados Unidos: o CNN International. Ele não é um canal tão americano. O interessante é que os únicos que fizeram objeção foram os japoneses, porque queriam assistir a tudo o que estivesse relacionado com os Estados Unidos. Ainda hoje, em alguns casos, eles trazem o sinal nacional da CNN ao Japão para utilizá-lo em seus noticiários. De qualquer forma, agora temos um sinal internacional separado, para os nossos clientes ao redor do mundo.

Oferecemos três opções de serviços. A primeira são notícias compactas, contendo histórias que acontecem a toda hora e são inseridas nos noticiários locais. Não importa

qual seja o seu noticiário local, você pode incluir as nossas histórias. É um serviço novo, igual ao da VisNews ou da WTN. A segunda opção são as notícias de impacto, as mais importantes e de maior efeito. Assim que algo acontece, nós colocamos imediatamente no ar, de modo que o fato pode ser visto na mesma hora em que está acontecendo e ao mesmo tempo em que as pessoas em Washington, Londres ou Tóquio também o estão vendo. Foi o serviço utilizado durante a Guerra do Golfo, por exemplo. Na terceira opção, permitimos que os licenciados utilizem nossas outras atrações: programas de ciência e tecnologia, alimentação, nutrição, moda, cozinha, etc. A emissora de televisão licenciada pode utilizar esse material não apenas em noticiários, como também em seus próprios programas.

Além das emissoras, vendemos um serviço de TV a cabo para os países onde o sistema já está implantado. Nossos clientes são hotéis e também particulares que possuem antenas parabólicas. Jornais recebem nossas imagens e colocam monitores na redação, para que todos vejam o que está acontecendo no mundo.

Nós fornecemos as imagens da CNN a todos os líderes mundiais. E de graça. Elas são vistas por Gorbatchov, Ieltsin, Bush, todos eles. Há uma história sobre um primeiro-ministro de Bahrein que foi ao Hemsley Plaza Hotel de Nova York com sua comitiva. Ele chegou, foi para a sua suíte e foi logo ligando a televisão na CNN. Mas, por alguma razão, não conseguiu encontrar o canal e ligou para a recepção. Desculpando-se, a recepcionista informou que o hotel não assinava a CNN. Na mesma hora, o primeiro-ministro saiu do quarto, mandou pagar a conta e ordenou aos assessores que encontrassem um hotel que recebesse o nosso sinal.

Fornecemos serviços atualmente a 122 países. Mas é certo que eles atingem uma audiência dez, vinte, talvez 100 vezes maior onde há algum tipo de pirataria. A CNN é vista em muitas partes do mundo por qualquer pessoa que possua uma antena parabólica. O sinal só é codificado no hemisfério ocidental, nas

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transmissões nacionais e no PanAm Sal. Mas utilizamos um satélite soviético chamado Statsionar 12, que abrange metade do mundo e é captado, sem codificação, na África, na Ásia Meridional e no Oriente Médio.

A pirataria é feita de várias formas. Há, por exemplo, o que chamo de "Sistema Guatemala". Quando fui àquele país fazer acordos para a CNN, descobri como funciona. Em um lugarejo qualquer, alguém instala uma antena e consegue receber as imagens da CNN. Então o seu vizinho pede para receber também. Eles puxam um fio da primeira casa até a do vizinho. Então outro vizinho diz que também quer assistir a CNN e puxa outro fio até sua casa. Assim, os fios vão se espalhando até que se tenha um serviço de cabo. O único problema é que ninguém paga por ele...

A CNN é pioneira em propaganda internacional. Temos um departamento que faz acordos com patrocinadores ou clientes interessados em anunciar mundialmente. A 18M, por exemplo, é uma dos clientes mais importantes que temos. Mas, à parte as considerações comerciais, uma característica da CNN é que através dela muitos povos descobrem como outros países são conduzidos. Opiniões sobre as formas de governo no mundo ou sobre as bolsas de valores agora correm de país em país. A informação é instantânea. Cenas de fome, tragédia e repressão estão à disposição de quem quiser assistí-las. Foi por isso que a Guerra do Golfo concentrou tanto a atenção mundial.

Visitei o Golfo um pouco antes da guerra, no final de 1989. Fui a Omã, Bahrein, Arábia Saudita, Kuwait e Iraque. O fato de ter trabalhado com a televisão no Iraque, conseguindo acordos para a CNN, e deles terem participado da Conferência Mundial de Reportagem que realizamos em Atlanta todos os anos, foram as únicas razões pelas quais conseguimos um bom relacionamento. Quando parti do Iraque, logicamente deixei meu cartão com eles, que vinha escrito em inglês na frente e em árabe atrás. Assim, sempre que Saddam

Hussein queria aparecer na televisão, mais especificamente na CNN, para que o mundo inteiro escutasse o que ele tinha a dizer, eu recebia um telefonema do Iraquee o transferia ao setor internacional da CNN. Cinco minutos depois, porém, eles me ligavam de novo. Não importava quantas vezes eu os transferisse, o telefonema sempre passava pelo meu escritório. Para eles, o meu cartão escrito em árabe era o meio de fazer Saddam aparecer na televisão...

Há alguns comentários a fazer sobre as condições de reportagem na Guerra do Golfo. Travou-se uma grande polêmica sobre o rigor das Forças Armadas. Li recentemente um artigo que foi publicado na revista da Universidade de Syracuse, com o qual concordo plenamente. O artigo foi escrito por Mel Elfen, um membro de grande destaque do “quarto poder” em Washington, e ele próprio chamou suas observações de “anticonvencionais”. Elfen trabalha na imprensa desde que se formou, em 1951, no curso de Jornalismo de Syracuse. Durante vinte tumultuados anos, entre 1965 e 1985, ele foi chefe do escritório da revista Newsweek em Washington. Atualmente é o redator de reportagens especiais na US News & World Report.

Ele diz que os jornalistas em ação no Golfo, ao contrário dos generais, estavam lutando a guerra anterior, a do Vietnã. O desapareci mento da credibilidade do poder público após a guerra do Vietnã provocou o surgimento de uma geração de jornalistas céticos e antagônicos ao poder.

Para eles, o Vietnã tornou-se um modelo de como cobrir uma guerra, de como ganhar uma enorme reputação como jornalista. E muitos desses jornalistas foram parar no centro de imprensa de um hotel de Riad.

Mas, no deserto, a situação era completamente diferente. Não havia aldeões com quem se misturar, não se podia fazer um apanhado dos corações e mentes do campo. Não se marchava com as tropas até a frente de batalha. Não havia nenhuma oportunidade de se fazer uma

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reportagem exclusiva. “No Golfo”, diz Elefen, “não havia muito para se ver”. A guerra teve uma duração de seis semanas, com um conflito em terra que durou apenas quatro dias. Por esse motivo, a imprensa ficou frustrada e atacou violentamente as restrições.

O fato é que essa não foi uma guerra jornalística. Não havia ambigüidades a investigar. A imprensa é notável quando há ambigüidades e houve bastante em Saigon. A imprensa ridicularizava os briefings militares diários, os chamando de "as loucuras exageradas e enganadoras das cinco horas". Por outro lado, Elfen elogia os instrutores militares do Pentágono e de Riad, dizendo que eles formaram um grupo bastante honesto. Diz, ainda, que não repetiram os erros cometidos nos briefings da fase de treinamento na Europa Ocidental.

Mas os repórteres moldados pela herança do Vietnã permaneceram profundamente céticos em relação aos militares no Golfo. Elfen diz que eles examinavam as declarações não tanto para descobrir as verdades que elas pudessem conter, mas para descobrir suas mentiras. Isso acarretava uma constante busca de falhas. "Ninguém espera que a imprensa tenha uma amizade íntima com o Exército, mas havia um relacionamento antagônico sem necessidade", diz o jornalista.

Quanto às restrições, a imprensa era mantida em pools escoltados pelo Exército. A mídia cresceu tanto nos Estados Unidos que há pools em toda parte, incluindo a Casa Branca. Elfen acha que se tivessem permitido que a imprensa se deslocasse à vontade, teria havido mais Bob Simons, o repórter da CBS que foi preso pelos iraquianos junto com sua equipe.

O que eles teriam obtido? Para onde iriam? O Golfo não era o tipo de guerra que eles esperavam. Para Elfen, Watergate e Vietnã pertencem ao passado. Ele diz: "O desafio da imprensa nos dias de hoje é lidar com as mentiras que surgem no nosso governo todos os dias, mas sem apresentar uma atitude agressiva, sem ficar pensando que cada detalhe é um novo Watergate".

A imprensa tinha que enfrentar também outro problema: o fato da CNN estar transmitindo todas as instruções militares. Diariamente transmitíamos os briefings matinais dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França, assim como da Arábia Saudita. A imprensa estava nesses lugares para obter as mesmas notícias que as pessoas recebiam em suas casas. Assi m, era bem compl icado enviar ao editor uma reportagem a que ele já tinha assistido. Isso pressionava bastante os repórteres e os deixava frustrados. Mas serviu para mostrar a eles como está mudando a forma pela qual as notícias são colhidas e apresentadas.

Devemos guardar de recordação alguns dos jornais que lemos hoje, porque não os veremos por muito tempo. Nós até podemos continuar a vê-los, mas os nossos netos com certeza não. Ecologicamente falando, não temos condições nem de sustentar a população que cresce rapidamente no planeta, nem de provê-la com jornais e revistas, derrubando todas as árvores necessárias para isso e para a construção de casas, para a mobília, ete. As notícias serão transmitidas eletronicamente.

O jornal não vai deixar de existir, mas o sistema que utiliza será transformado. Em vez de usar notícias impressas em papel, ele utilizará meios eletrônicos para a transmissão de informações. Temos canais de TV suficientes para isso. Atualmente, um único aparelho de TV pode sintonizar centenas de canais. Digamos que um jornal ocupe quatro ou cinco canais. Um deles poderia tratar de esportes, com repetições durante todo o dia. Outro poderia tratar de economia, um terceiro transmitiria só notícias gerais e assim por diante. Dessa forma, o público só teria a preocupação de escolher o canal a que quisesse assistir a cada momento.

Parte do jornal seria, então, transmitida pela televisão e parte seria impressa. Poderia haver, inclusive, um canal só para anúncios classificados.

Um bom exemplo de como as coisas caminham nesse sentido foi o equipamento

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utilizado na Guerra do Golfo. Seis horas após a guerra estourar, todos os satélites de que a CNN necessitava já tinham sido reservados por seis meses. Isso incluía conexões com a Arábia Saudita, Jordânia e Bahrein. Toda a cobertura acabou sendo realizada através do Comsat, a PTT dos Estados Unidos, e do BTI de Londres, a PTT britânica.

Além disso, mantivemos um canal aberto no Intelsat 24 horas por dia.

Tivemos ainda permissão para utilizar dois uplinks, sistemas de comunicação via satélite que cabiam em um conjunto de pequenas malas. Pode-se fazer um uplink om uma antena pequena, de apenas 1,8 metro de diâmetro. Um deles foi instalado na Arábia Saudita e outro, um com antena de 12,4 metros, ficou em Amã. Ambos foram devidamente autorizados pelas PTT locais. Houve problemas com a permissão de trabalho no Iraque, já que, naturalmente, o Departamento de Estado tinha rompido relações com aquele país. O jeito, então, foi a Jordânia fazer os acordos necessários com Bagdá e nós realizarmos os acordos com a Jordânia. Assim, o sinal de Bagdá era enviado a Amã e de lá para Atlanta.

Os repórteres também utilizavam telefones do ImmarSat, um satélite de navegação marítima, que já tinha sido empregado pela imprensa um

ano antes, na Romênia e no Panamá. Como se vê, as possibilidades técnicas de uma cobertura ao vivo, simultânea, através dos meios eletrônicos, foram muitas nessa Guerra do Golfo. No futuro, então, serão praticamente infinitas e isso consolidará de vez a comunicação eletrônica como a base de toda a atividade jornalística.

Trabalhar na CNN não tem sido uma tarefa fáciI. Há alguns países que são bastante resistentes a nós, particularmente os países em desenvolvimento. Eles tentam manter afastadas não só a CNN, mas outras redes de televião, principalmente aquelas que transmitem notícias ao vivo. Tentam evitar que sua população e seu comércio tenham contato com a realidade que temos que enfrentar todos os dias e o tempo todo.

Mas não terão sucesso a longo prazo. Os governos e religiões que cultivam a ignorância de seus povos para se manter no poder acabarão perdendo o controle. Dentro em breve, a tecnologia dos satélites irá superar qualquer forma de resistência, emitindo sinais de fácil recepção, a custo baixo. Dessa forma, a população mundial poderá compartilhar as melhores formas de governo, comércio, medicina e justiça, sem nenhuma interferência.

Referência bibliográfica:

PIKE, Sidney. “O Jornalismo Sem Fronteiras” in Encontro Internacional de Jornalismo: conferências e debates (edição: Gabriel Priolli), São Paulo: IBM, 1991.

PONTOS DE DISCUSSÃO:

• Como a CNN se expandiu de pequeno canal a cabo para a maior emissora mundial de notícias, e por que essa estratégia não é aplicada em outros países?

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Texto XV

Em Directo da Guerra: o impacto da Guerra do Golfo no discurso jornalístico José Rodrigues dos Santos, 2003 Passava já das duas e meia da manhã de 20 de março de 2003 quando se ouviu um estrondo em Bagdade. Carlos Fino e Nuno Patrício, que se encontravam na varanda do seu quarto, no 14º andar do Hotel Palestina, deram o alerta para Lisboa. Começaram a soar os alarmes na capital iraquiana e a emissão da RTP foi imediatamente para o local.

"Eu presumo que estamos agora em directo. Portanto, eram cinco e meia daqui quando se começaram a ouvir estrondos. O hotel em que estamos sofreu um abanão e de imediato começaram a tocar as sirenes de alarme contra ataque aéreo. Neste momento essas sirenes sossegaram e voltam a ouvir-se o chilrear dos pássaros neste amanhecer em Bagdade. Mas é um sinal claro de que está iminente, ou já mesmo começou, um ataque por parte dos Estados Unidos (…) São claramente audíveis aqui mais explosões… É um trovejar sobre Bagdade, é um trovejar sobre Bagdade. Há também… há claramente mísseis no ar. É um trovejar profundo sobre Bagdade. No entanto, as luzes da cidade continuam acesas. Os pássaros fogem e silenciam-se. Vêem-se mísseis no ar, sinais luminosos, e tudo em redor começa a explodir como num fogo de artifício. Há um fogo de artifício aparente, um fogo mortal sobre os céus de Bagdade. Há carros que circulam na cidade e as luzes mantéem-se para já acesas, a energia eléctrica continua a funcionar. Mas é um ataque fortíssimo à capital do Iraque" (Fino, RTP, 20 de março 2003).

Esta reportagem de Carlos Fino, transmitida em directo pela RTP com uma panóplia de imagens confusas, luzes dançando no céu, a voz tensa do repórter abafada pelo trovejar das explosões e das rajadas, marcou um momento simbólico nas profundas mudanças que ocorreram no mundo do jornalismo, e foi adequado que essas alterações se tenham tornado visíveis na guerra de 2003 contra o Iraque, uma vez que foi na guerra de 1991 contra o Iraque que elas começaram.

Em boa verdade, o conflito de 2003 não foi mais do que o culminar das hostilidades encetadas em 1991. Quando da eclosão da Guerra do Golfo, o mundo intuiu que era possível ver uma guerra em directo. Na noite de 16 de Janeiro de 1991, a CNN foi colocada no mapa internacional quando transmitiu o relato telefónico de três repórteres seus, entrincheirados no 9º andar do Hotel Al-Rashid, a descrever em directo para todo o mundo o início do ataque aéreo da força multinacional contra Bagdade. As primeiras palavras de Bernard Shaw, atravessando a estática do telefone, ficaram imortalizadas.

"Os céus sobre Bagdade foram iluminados. Estamos a ver flashes brilhantes por todo o céu." (Shaw, CNN, 16 de janeiro 1991).

A reportagem em directo da CNN marcou então um decisivo ponto de viragem. Até 1991 era impensável ver repórteres de um país a descrever uma guerra a partir do território do país inimigo. Ninguém imagina jornalistas britânicos a relatar em Berlim os bombardeamentos aliados da Segunda Guerra Mundial. Além disso, até 1991 era igualmente impensável ver repórteres a relatar em directo operações militares. Mas isso aconteceu naquela madrugada de 16 de Janeiro devido

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essencialmente a um factor decisivo: o desenvolvimento tecnológico.

Harold Innis foi o primeiro a notar o peso que as evoluções tecnológicas na área da comunicação têm no desenvolvimento das sociedades, um conceito que seria mais tarde desenvolvido por Marshall McLuhan. A ideia fundamental é simples. As grandes revoluções sociais, económicas e de mentalidades têm por base a tecnologia. Por exemplo, foi a tecnologia agrícola que permitiu o sedentarismo, com todas as consequências que daí advieram. Mais tarde, foi a tecnologia industrial que permitiu profundas mudanças na organização do trabalho, da economia e da sociedade, incluindo na área cultural. Sem industrialização não haveria Gutenberg, o grande responsável pela democratização da cultura e do conhecimento. Arthur C. Clarke, o cientista britânico que inventou os satélites de comunicações, defende até a tese de que as grandes decisões do nosso tempo não são tomadas pelos políticos, pelos economistas ou pelos filósofos, mas pelos engenheiros. Eles criam a tecnologia, cabe aos outros aplicá-la.

Quais foram as tecnologias que permitiram o relato em directo, se bem que apenas ao telefone, da guerra de 1991? A resposta é evidente: os satélites de comunicação e os computadores. Não foram, é óbvio, estas tecnologias que tornaram politicamente aceitável em 1991 o que era totalmente inaceitável em 1945. O que fez a diferença foram as mudanças geradas pela dinâmica dos movimentos suscitados por estas tecnologias. Os satélites de comunicação e os computadores criaram um movimento global de intercâmbio de ideias e de conhecimentos, enfraquecendo gradualmente os projectos nacionais característicos da era industrial. No mundo pós-industrial, os mercados deixaram de ser nacionais, tornaram-se globais. As decisões económicas deixaram de ser da competência exclusiva dos governos nacionais, transferindo-se para esferas transnacionais como as ocupadas pelas multinacionais ou por centros de decisão fora do território nacional. As grandes decisões

económicas deixaram de ser tomadas pelo Banco de Portugal ou pelo Ministério das Finanças, e passaram a ser da esfera da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e da Ford- -Volkswagen. Com as novas tecnologias, o mundo tornou-se global e os projectos nacionais entraram em erosão.

O relato em directo da guerra em Bagdade por três jornalistas americanos só foi possível devido a estas mudanças. Noutros tempos, os repórteres seriam julgados por traição. Mas em 1991 as suas reportagens apenas geraram protestos pouco convictos de Washington. A transmissão da CNN foi um verdadeiro acto global, transnacional, com as palavras de Bernard Shaw, John Holliman e Peter Arnett a serem consumidas em simultâneo em todo o mundo, de Nova Iorque a Nova Deli, de São Paulo a Amã, de Estocolmo a Port Moresby. As novas tecnologias tinham já gerado mudanças sociais e culturais que tornaram normal o que antes seria intolerável.

As mudanças de 1991 foram, todavia, limitadas. Os três homens da CNN fizeram, é certo, o relato da guerra em directo, mas isso aconteceu sem imagens, só durou uma noite e foi feito às escondidas, com os jornalistas trancados no seu quarto, receando uma intervenção das autoridades iraquianas e submetidos a críticas das autoridades americanas. Além disso, foi um acontecimento transmitido por uma voz americana. A CNN, apesar do seu projecto internacional, está baseada nos Estados Unidos e era então formada quase integralmente por jornalistas americanos. Apesar da democratização introduzida pelos satélites de comunicações, o fluxo dominante de informação e imagens a nível mundial ainda era essencialmente de origem anglo-americana. Os únicos competidores credíveis da CNN eram as grandes cadeias americanas ou a BBC e a ITN, mais ninguém tinha acesso aos grandes orçamentos que requeriam as tecnologias inovadoras. O custo das unilaterais por satélite era proibitivo e o custo dos telefones por satélite, a grande novidade de 1991, não estava ao alcance de qualquer um.

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O conflito de 2003 veio preencher as promes-sas deixadas em aberto pelas hostilidades de 1991. O ataque anglo-americano foi lançado a 20 de março, mas a primeira estação de televisão do mundo a noticiar o início da guerra não foi a CNN nem a BBC nem a ITN nem qualquer estação americana. Foi a RTP. As palavras em directo de Carlos Fino marcaram simbolicamente uma mudança de fundo no panorama do jornalismo interna-cional. Já não é preciso ser um gigante para ter acesso às tecnologias necessárias que permi-tem a uma estação estar na vanguarda da infor-mação internacional. Basta um videofone, um instrumento barato e com custos de transmis-são dez vezes inferiores ao de um equipamento de alta definição, e um pouco de astúcia para bater a concorrência. A CNN levou três minutos a dar a informação transmitida em directo por Carlos Fino na RTP, e fê-lo apenas ao telefone, enquanto o jornalista português estava em directo com imagem a mostrar os acontecimentos. E, dois dias mais tarde, quando as forças anglo-americanas lançaram o grande bombardeamento contra Bagdade, as imagens que transmitiram o ataque em directo para todo o mundo voltaram a não ser as das estações anglo-americanas, mas antes da Al Jazira e da Abu Dhabi TV.

Outra importante alteração tem a ver com a natureza do directo. Em 1991, o relato de Shaw, Holliman e Arnett foi feito ao telefone, durou apenas uma noite e decorreu às escondidas. Em 2003, o relato de Carlos Fino e de todos os outros jornalistas que se encontravam no Hotel Palestina foi efectuado com imagem, durou toda a guerra e decorreu perante os olhos dos iraquianos. É importante notar, todavia, que, neste aspecto, o conflito de 2003 não foi pioneiro. A primeira acção militar transmitida com imagem em directo pela televisão foi a operação de 1998 contra o Iraque, quando a CNN transmitiu as imagens dos bombardeamentos da Operação Raposa do Deserto, com relato em directo de Christianne Amanpour em Bagdade, as câmaras equipadas com sistema de nightvision que permitia ver os mísseis e o fogo das antiaéreas em verde-negro.

Mas se a guerra de 2003 trouxe a novidade da democratização do scoop, com pequenas televisões como a RTP, a Al Jazira e a Abu Dhabi TV a bater as grandes anglo-americanas, as mudanças no tipo de cobertura jornalística não se ficaram por aqui. Foi em 1991 que pela primeira vez houve um relato em directo de uma guerra, se bem que audio, e foi na operação de 1998 que pela primeira houve um relato em directo com imagem de um bombardeamento. Mas nunca ninguém tinha visto imagens em directo de um campo de batalha. Esse derradeiro passo foi dado em 2003.

Quando as forças americanas pensaram no relacionamento que iriam ter com os jornalistas na altura em que eclodisse o último acto da Guerra do Golfo, decidiram retomar o conceito de "integrado" (embedded), que vinha da Segunda Guerra Mundial, quando os correspondentes faziam parte das forças militares e tinham até a patente de capitães. Ou seja, os militares optaram por integrar jornalistas nas suas unidades de combate. Foi uma decisão arriscada, uma vez que colocava em perigo o segredo operacional e expunha as suas forças ao escrutínio implacável dos repórteres, mas, aliada às inovações tecnológicas entretanto ocorridas, esta opção veio revelar-se revolucionária.

Ao integrar os jornalistas nas unidades, os responsáveis do Pentágono impuseram várias condições. Qualquer jornalista integrado teria de se sujeitar a um treino militar, teria de acompanhar sempre as forças militares e estava proibido de fazer descrições precisas sobre os locais onde se encontravam e as forças que constituiam a sua unidade. Além disso, os oficiais tinham o direito de rever os despachos dos repórteres para os expurgar de informações que pudessem pôr em risco a segurança operacional das suas missões.

A compensação por todos estes inconvenientes e estas restrições não era de menosprezar. Os correspondentes de guerra teriam acesso ao campo de batalha, algo que não acontecia desde a Guerra do Vietname. Percebendo plenamente o alcance dessa situação, as televisões americanas e britânicas compraram jipes militares e

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equiparam-nos com videofones. As antenas foram amarradas aos tejadilhos e, com a ajuda de uma espécie de osciloscópio e de um sistema de GPS, conseguiu-se mantê-las sempre viradas para o satélite, independentemente da direcção e velocidade dos veículos. Tal bastou para assegurar a transmissão ininterrupta das operações, apesar do movimento das colunas militares e dos jipes dos repórteres.

O resultado foi espantoso. Quando, na noite de 21 de março, as forças anglo-americanas cruzaram a fronteira do Kuwait e entraram no Iraque, as televisões mostraram em directo o acontecimento. As imagens eram de difícil leitura, vendo-se apenas pontos luminosos no meio da escuridão, mas o passo pioneiro estava dado. Ao nascer do dia, na manhã de 22 de março, vieram as primeiras imagens perceptíveis. O repórter Walter Rogers mostrou, em directo na CNN, as imagens dos blindados do 7º de Cavalaria literalmente a cavalgar pelo deserto iraquiano a enorme velocidade em direcção a norte. A transmissão durou mais de uma hora e deixou os telespectadores agarrados aos ecrãs. Na mesma altura, a Fox e a CBS mostravam em directo a progressão da coluna da 3ª Divisão de Infantaria. No dia seguinte vieram imagens ainda mais surpreendentes. A CNN mostrou em directo um combate, com os homens do 7º de Cavalaria a disparar contra uma posição iraquiana. Dias depois, a CBS transmitiu em directo uma batalha sobre o Eufrates, enquanto a CNN mostrava, também em directo, o 7º de Cavalaria a ser atacado por franco-atiradores, o som das rajadas a reverberar pelo videofone como teclas de máquinas de escrever. Nunca se tinha visto nada assim em televisão.

Para fazer esta cobertura, os repórteres submeteram-se às duras condições do terreno. Passaram dias sem dormir, comeram magras rações de combate, não tiveram acesso a água corrente nem dispuseram de liberdade de movimentos. A imagem de corpos carbonizados e mutilados tornou-se uma rotina na sua experiência e nunca os correspondentes tiveram

oportunidade de abandonar as colunas que integravam para fazer reportagem.

No final, muitos disseram que jamais repetiriam a experiência mas, contraditoriamente, consideraram-na globalmente positiva. "As experiências variam, mas alguns de nós verificaram que gozavam de uma surpreendente liberdade", comentou o repórter "integrado" da Reuters, Andrew Gray, observando que "nenhum oficial permaneceu junto de nós quando falávamos no telefone-satélite com os nossos superiores hierárquicos nem alguma vez alguém leu as nossas reportagens antes de as enviarmos" (Gray, Reuters, 18 Abril 2003). Alguns jornalistas foram expulsos, como o repórter tabloide da Fox, Geraldo Rivera, acusado de divulgar informação operacional sensível, mas estas raras situações ocorreram depois da reportagem, não antes.

Mais difícil de controlar foi a inevitável cumplicidade que se estabelece entre homens em perigo. Os repórteres queriam naturalmente manter boas relações com os soldados que os protegiam, alimentavam e lhes davam acesso ao campo de batalha. Alguns repórteres deram consigo, a partir de certa altura, a descrever os iraquianos como sendo "o inimigo", e houve um que concluiu estar a sofrer do Síndroma de Estocolmo, devido à relação de empatia que desenvolveu com os soldados. Uma situação deste género não decorreu sem consequências. Um repórter decidiu não publicar os nomes dos soldados que ele sabia terem cometido crimes de guerra, embora tivesse noticiado essas situações.

Feitas as contas, ninguém tem dúvidas de que, como dizia o senador Hiram Johnson, "quando uma guerra começa, a primeira baixa é a verdade" (Knightley, 1975), e a Guerra do Golfo, que eclodiu em 1991 e terminou em 2003, não foi excepção. Mas raras foram as guerras onde, apesar das muitas verdades que ficaram por expor, se tenha ido tão longe no esforço de relatar os acontecimentos. As sociedades pós-modernas estão assentes nas tecnologias da comunicação, e quanto mais informação circular mais difícil é controlá-la.

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Texto XVI

A Internet e o Futuro do Jornalismo Internacional Alan Knight, 1995 (tradução: Pedro Aguiar) Este artigo se refere à pesquisa acadêmica que, quando posta em prática por uma equipe multidisciplinar, tenta utilizar novas tecnologias para alterar práticas de reportagem. Pode ser considerado ensino de Jornalismo não apenas para matriculados em cursos universitários, mas talvez mais relevantemente para os vários jornalistas profissionais em busca de melhores maneiras de conduzir seu trabalho.

O trabalho se foca em reportagem internacional e espera potencializar as várias fontes socialmente importantes que normal-mente ficam de fora das pautas da corrente hegemônica.

Reportagem Internacional

Há muito tempo, correspondentes estrangeiros têm sido vistos por outros jornalistas como uma elite dentro do jornalismo4. Eles representam um componente relativamente raro e custoso do processo de noticiar. No passado, a relativa riqueza de países ocidentais permitiam-nos ter uma abordagem relaxada quanto à apuração de notícias na Ásia. Tome-se o caso do ex-correspondente da BBC Douglas Stuart, que foi enviado para Nova Délhi para cobrir a Índia em 1949. Em seu livro, A Very Sheltered Life (Uma Vida Muito Confortável), Stuart descreveu o trabalho diário de um correspondente estrangeiro no pós-guerra.

“Diariamente, pela manhã, eu lia os jornais, marcando os trechos que exigiriam maior investigação. Então, após alguns telefonemas, eu entrava no carro ao lado do motorista, que me levava à assessoria de imprensa do governo

4 TUNSTALL, Jeremy. Journalists at Work; Specialist Correspondents. (Londres: Constable, 1971) págs.138-142.

indiano. Lá, eu conversava com meus colegas dos jornais da Índia e com os assessores de imprensa. Juntos, nós bebíamos chá, depois do que, com algumas migalhas de informações anotadas, eu prosseguia até outros órgãos do governo indiano, o parlamento, a Alto Comissariado Britânico, as embaixadas, e voltava ao hotel para almoçar. Se houvesse uma matéria a fazer, eu datilografava na Agência Telegráfica de Nova Délhi.” [2]

Stuart dizia que, além dessas tarefas diárias, ele tinha que fazer uma transmissão semanal para Londres. Naqueles tempos, o trabalho de um correspondente estrangeiro sofria consideravelmente mais pressão. No início deste ano, eu estava no carro indo trabalhar em Sydney, ouvindo o rádio, quando uma correspondente da ABC entrou no ar ao vivo via satélite pelo telefone falando de um subúrbio no Taiti. A passagem dela foi pontuada pelo som de bombas de gás lacrimogêneo enquanto os policiais franceses tentavam conter os manifestantes.

Meio século de desenvolvimento na tecnologia de comunicações transformaram a habilidade dos correspondentes em apurar e distribuir notícias. Ainda assim, o trabalho elementar dos correspondentes estrangeiros continua sendo a capacidade de relatar e interpretar notícias do exterior de uma forma relevante e compreensível para o público doméstico5.

5 O escritor e correspondente Ian Fleming disse o que seriam para ele os ingredientes de um correspondente estrangeiro ideal: “Ele (sic) deve ser creditado por seu país e pelo seu jornal no exterior; ele deve ser ou solteiro ou estavelmente casado e feliz em ter seus filhos trazidos junto; sua personalidade deve ser tal que

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Nos últimos três anos, eu examinei o modo como correspondentes australianos no exterior cobrem o ASEAN e a Indochina. Como parte desse estudo, ao longo de 1993 eu visitei Jacarta, Hanói (uma vez cada), Kuala Lumpur (duas vezes), Singapura e Bangcoc (quatro vezes cada). Passei um mês no Camboja durante as eleições, cobrindo os repórteres enquanto eles trabalhavam. Mais de 40 entrevistas foram gravadas até agora com correspondentes expatriados, colunistas, editores e executivos, produzindo mais de 40.000 palavras de transcrições. As entrevistas foram complementadas por um questionário de sete páginas que foi preenchido por 16 dos 19 correspondentes australianos identificados.

Cobertura

A maior parte dos correspondentes australianos no exterior acreditava que a cobertura australiana sobre a região não era nem precisa nem equilibrada. Os que achavam que sim, consideravam que tal cobertura era “muito fraca em algumas áreas” ou carecia de “profundidade”. Outros disseram que, ainda que matérias individuais fossem bastante precisas, a cobertura em geral era seletiva e falha. Um entrevistado disse: “Geralmente eu acho que fica provavelmente preciso e equilibrado o suficiente, mas no conjunto é tão inconsistente e esporádico que pode dar uma imagem distorcida, principalmente por cobrir

nosso Embaixador fique feliz em recebê-lo. Quando a ocasião exigir, ele deve conhecer algo do protocolo e ainda assim gostar de beber com o espião mais grosseiro ou o contrabandista mais desprezível. Ele deve dominar completamente um idioma estrangeiro e ter outro à mão para recorrer. Ele deve estar bem inteirado da História e da cultura do território onde está trabalhando; deve ser intelectualmente insaciável e ter algum conhecimento da maior parte dos esportes. Ele deve saber guardar um segredo; deve ser fisicamente forte e não ser viciado em bebida. Ele deve se orgulhar do seu trabalho e do jornal em que trabalha, e finalmente deve ser um bom repórter com um vocabulário vasto, ligeiro na máquina de escrever, com conhecimento de taquigrafia e saber dirigir.” (FLEMING, Ian. "Foreign News". ed. Viscount Kelmsley. The Kelmsley Manual of Journalism (Londres: Cassell&Co.,1952) pág.238.)

incidentes isolados, em vez das tendências e questões em desenvolvimento”6.

Ainda assim, é muito fácil, para correspondentes estrangeiros, culpar os editores por pontos-de-vista; particularmente quando se considera de onde os correspondentes dizem que conseguem as matérias. Como parte do meu questionário, pedi aos correspondentes para identificar suas fontes e classificá-las como muito úteis, de alguma utilidade ou inúteis. Havia mais de 20 categorias à disposição deles, incluindo fontes primárias como políticos, empresários e dignatários, bem como fontes secundárias como agências internacionais de notícias, revistas, emissoras de rádio e televisão. Havia mais de 90 subcategorias para marcar.

De acordo com as respostas da pesquisa, os jornalistas australianos trabalhando na Ásia opressivamente favoreciam fontes ocidentais ao buscar informações sobre suas matérias sobre o ASEAN e a China. Fontes asiáticas, particularmente as das Filipinas, eram significativamente classificadas como as menos úteis. Fontes de um único país asiático já tinham alta probabilidade de receber baixa classificação, talvez por causa da disponibilidade reduzida em outros países, mas agências internacionais de notícias asiáticas com múltipla presença regional também receberam nota baixa. As únicas exceções foram os jornais tailandeses, a única fonte asiática ou não-ocidental a ficar entre as 10 mais.

Como Douglas Stuart, meio século antes, os correspondentes australianos no exterior atualmente dão preferência a diplomatas estrangeiros, particularmente os que vêm do seu próprio país. Eles ainda examinam a mídia em língua inglesa; neste caso, a Far Eastern Economic Review, rádio BBC, Radio Australia e os principais serviços a cabo, “marcando os trechos que exigiriam maior investigação”.

6 KNIGHT, Alan. "Re-inventing the Wheel: Australian Foreign Correspondents in Southeast Asia". Media Asia (Singapura: AMIC. vol 22. nº.1. 1995) págs.9-15.

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O Custo da Notícia

Há muito poucos correspondentes australianos no exterior, cobrindo países demais para patrões demais, para conseguirem acompanhar o passo da profundidade de um repórter especialista interno7. Enquanto isso, os custos na Ásia estão subindo, com o Japão, Hong Kong e Singapura já oferecendo rendas semanais mais altas do que a Austrália. Somente as empresas jornalísticas mais ricas podem sustentar correspondentes expatriados na Ásia. Os que o fazem precisam garantir o retorno de cada dólar investido; exigem maior produtividade, o que por sua vez aumenta a tentação dos correspondentes de se basear só em fontes secundárias, deste modo desmoralizando o motivo pelo qual a princípio se enviam correspondentes para a Ásia.

Alternativas

O Centro Australiano para o Jornalismo Independente (ACIJ em inglês) foi estabelecido na Universidade de Tecnologia de Sydney, em 1990, para realizar pesquisas e treinamento, e ao mesmo tempo praticar jornalismo investigativo. Seu objetivo é agir como um nexo entre a universidade e a

7 A ABC, que se gabava de ter o mais caro sistema de sucursais no Sudeste Asiático, tentou em 1993 maximizar a produtividade de seus correspondentes exigindo que falassem tanto na televisão quanto no rádio. A revista Dateline, publicação do Clube dos Correspondentes da Tailândia, publicou que o repórter da ABC em Bangcoc, Evan Williams, teve até que operar sua própria câmera de vídeo: “Como se pode imaginar, é um pouco difícil para uma pessoa operar uma câmera, gravar som e apresentar ao mesmo tempo... Trabalho em televisão leva tempo, e Evan aparenta ser a carne proverbial no sanduíche burocrático enquanto lida com os compromissos freqüentemente conflitantes das obrigações para com o rádio, com as exigências crescentes da televisão. Como seu cargo ainda é totalmente pago com o orçamento da Rádio, não é difícil imaginar as longas horas e frustrações organizacionais que são inevitáveis em qualquer tentativa de começar a satisfazer todo mundo, particularmente quando matérias regionais regularmente geram manchetes mundiais.” (BOND, Christine. "Jack of all Trades"", Dateline Bangkok (1993) pág.18.)

indústria; enriquecer o ensino de jornalismo mediante envolvimento profissional, e preparar profissionais para buscar padrões mais elevados.

Em 1992, o ACIJ formulou questões sobre a cobertura de áreas hostis dos aborígenes e temas multiculturais produzindo um livro: “Signposts, a guide to non racist reporting” (Signposts, um guia para jornalismo não-racista)8. O livro continha críticas, códigos de condutas, porém mais importante eram os números de contato, para que jornalistas profissionais, se desejassem, poderiam encontrar facilmente quase qualquer entidade aborígene ou multicultural na Austrália. O gabinete do Primeiro-Ministro liberou recursos para que pudessem ser enviados exemplares para 150 redações em toda a Austrália. Ainda assim, o meio impresso tinha limitações óbvias; números de telefone ficaram desatualizados e o custo de produzir, imprimir e distribuir edições atualizadas era proibitivo.

Em 1994, o ACIJ lançou “Mastering the Maze”, um guia para jornalistas investigativos que usassem bibliotecas, bancos de dados e material em CD-ROM para apurar suas matérias. De acordo com a autora, Christine Fogg, “sangue frio, telefone e estômago forte não são mais suficientes para o jornalista profissional”9.

O ACIJ está atualmente desenvolvendo um software para um sistema que vai propiciar um serviço de Internet interativo e facilmente atualizável para jornalistas cobrindo a Ásia e o Pacífico10. Estes jornalistas poderão acessar o 8 EGGERKING, Kitty and PLATER, Diana. Signposts. (Sydney: Australian Centre for Independent Journalism. 1992). 9 FOGG, Christine. Mastering the Maze: a guide for journalists and researchers in the media. (Sydney: ACIJ. 1994) pág.1. 10 A Bloombergs já aplicou a tecnologia PC para se tornar o segundo maior serviço de notícias econômicas do mundo, atrás da venerável Reuters. A empresa chegou a essa posição em menos de uma década. A Bloombergs estabeleceu uma rede internacional que fornece aos assinantes notícias baseadas em texto, áudio e vídeo, bem como pesquisa interativa e serviços de e-mail. É um precursor privado do que se promete com a

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serviço de qualquer lugar onde um computador portátil com modem seja conectável ao sistema de telefonia. Eles poderão estar no Hotel Cambodiana em Phnom Penh, assistindo a uma palestra em Jacarta ou em suas próprias mesas em seus escritórios em Christchurch.

A idéia é que repórteres possam entrar na World Wide Web, acessar o Signposts e escolher um país que gostariam de cobrir. Clicando no país selecionado, o jornalista irá encontrar uma lista de capítulos, que contêm informação sobre tudo de agricultura a direitos humanos. Nós pretendemos permitir aos usuários cruzar referências nesses temas, de modo que uma busca no tema “turismo sexual”, por exemplo, forneça informações das Filipinas, da Tailândia, do Camboja e do Sri Lanka. Também há uma proposta para seções interativas que permitiriam a publicação de comunicados de imprensa, a criação de um diário e o estabelecimento de um fórum de discussão editado. Artigos de conferências como este, que de outro modo seriam ignorados pela mídia, podem ser rapidamente convertidos e logados na home page, de modo que pesquisadores em qualquer lugar do mundo possam facilmente pesquisar e recuperar material. O sistema também usará hipertexto, para levar os usuários a outros sites na World Wide Web onde se poderá obter mais dados. Isto representa uma explosão de informação que deve ultrapassar de longe as fontes tradicionais reunidas pelas práticas convencionais de apuração.

O Signposts para a Ásia e o Pacífico será concentrado no fornecimento de telefones de contato, por fax e por Internet, via e-mail. O serviço está sendo construído de forma “amigável” para a maioria dos jornalistas: grupos de ex-correspondentes foram convidados para participar em grupos de consulta que irão revisar e sugerir alterações. Pretendemos incluir informações essenciais sobre governos, empresas de mídia, sindicatos,

Internet: uma teia mundial de interativa de intercâmbio de informação aberta a qualquer um com um computador moderno e um modem.

universidades, associações de imprensa, instituições de pesquisa, bancos e grupos empresariais.

Entretanto, nossa ênfase será dada aos grupos que carecem de operações substanciais de relações públicas mas ainda assim têm coisas significativas a dizer; ONGs ou organizações não-governamentais. Desta forma, esperamos expandir o leque de fontes que os repórteres australianos no exterior privilegiam.

Jornalistas podem participar pelo custo de um computador pessoal, um modem, alguns softwares e uma assinatura de Internet. Deste modo, eles poderão contribuir com a cobertura regional que seja menos "inconsistente e esporádica". Se correspondentes estrangeiros se mostrarem sem vontade ou incapazes de romper com o que Herman e Chomsky chamaram de “uma relação simbiótica com fontes poderosas”11, esperamos fornecer novas oportunidades para gerações emergentes em rádios públicas, talvez televisões estatais e finalmente os editores que publicam eletronicamente na própria rede.

Como nossos colegas jornalistas que foram pioneiros no uso do telégrafo, dos cabos oceânicos, do telex, do telefone, do fax, do PABX e do satélite, precisamos estar preparados para investigar e adotar novas tecnologias de comunicação. Isto pode até aprimorar a credibilidade do jornalismo que os próprios correspondentes acreditam estar deficiente. Tom Koch, autor de “Journalism for the 21st Century” (Jornalismo para o Século XXI), acredita que bancos de dados eletrônicos oferecem uma base objetiva da qual os pressupostos básicos do jornalismo podem ser desnudados. Koch argumenta que as perspectivas geradas destes novos recursos mais amplos levam a um nível de análise e abstração que antes era inconcebível:

11 HERMAN, Edward. CHOMSKY, Noam. Manufacturing Consent; The political economy of the mass media. (Nova York: Pantheon. 1988) pág.18.

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Talvez o maior benefício econômico a longo-prazo do uso crescente destes recursos eletrônicos possa advir da transformação do noticiário como um repositório oral de declarações oficiais para a apresentação destas declarações num contexto crítico e mais equilibrado. Até o ponto em que esta mudança criar um sistema de informação pública mais completo, mais “objetivo”, isto pode atrair aqueles que optaram por não ler, assistir ou ouvir os produtos jornalísticos nos seus formatos atuais.12

Conclusão

O Signposts afirma os Princípios de Conduta adotados pela Federação Internacional dos Jornalistas (IFJ).

Destaca-se o primeiro princípio da IFJ, que estabelece:

“O respeito à verdade e ao direito do público à verdade é o primeiro dever do jornalista.”13

Nós acreditamos numa mídia que vise à libertação da sociedade, inspire atos de consciência, abrindo brechas na neblina política e permitindo a conscientização de que é essencial construir a ordem social através do diálogo; um jornalismo comprometido com a justiça, conveniente e potencializado.

12 KOCH, Tom. Journalism for the 21st Century: Online Information, Electronic Databases and the News.(Londres: Praeger. 1991) pág.310 13 International Federation of Journalists, Danger: Journalists at work. (Bélgica: 1992) pág.27.

A notícia, nesta perspectiva, é uma construção narrativa que permite a seres culturais cumprir seus deveres cívicos. É um processo hermenêutico, buscar não a profusão de detalhes, mas a compreensão interpretativa. Leitores e espectadores aprendem a ler o texto sócio-político. Como uma criação simbólica, a notícia identifica os contornos da paisagem moral representando as delimitações de valores ao longo das quais a comunidade humana se forma.14

Professores de jornalismo deveriam fazer algo além de ensinar excelência na prática convencional. Deveríamos tentar aplicar nossa pesquisa às novas tecnologias para explorar métodos profissionais que nos levarão ao próximo século. Acreditamos que o projeto Signposts pode ter aplicação global e tem potencial para mudar a forma como o noticiário internacional é produzido.

14 CHRISTIANS, Clifford, FERRE, John, FACKLER, P. Mark. Good News: Social Ethics and the Press. (Oxford: Oxford University Press. 1993) pág.14.

Referência bibliográfica

KNIGHT, Alan. disponível em: [http://www.signposts.uts.edu.au/articles/Australia/Media_and_Journalism/321.html]

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Apêndices de Referência

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Editorias Brasileiras de Internacional Cidade Veículo Responsável Telefone E-mail Rio de Janeiro Jornal do Brasil Marcelo Ambrósio 3233-4406 [email protected] Website http://www.jb.com.br

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São Paulo Folha de S. Paulo Vinícius Mota 3224-3252 [email protected] Website http://www1.folha.uol.com.br

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São Paulo Diário de SP [email protected]

Website http://www.diariosp.com.br

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São Paulo BandNews Raquel Galé Website

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Agências Internacionais País/Região Agência/Sigla Tipo Website África (pan) PANA http://www.africanews.org/PANA África do Sul SAPA http://www.sapa.org.za Alemanha DPA http://www.dpa.de América Latina Adital ONG http://www.adital.org.br Arábia Saudita SPA (Saudi Press Agency) http://www.spa.gov.sa Argélia ANA http://www.aai-online.com Ásia (pan) Asia News Network http://www.asianewsnet.net Austrália AAP http://aap.com.au Áustria APA http://www.apa.co.at Brasil AE (Agência Estado) privada http://www.agestado.com.br Brasil Agência Brasil estatal http://www.radiobras.gov.br Camboja AKP (Agence Khmer Presse) [email protected] Canadá Canadian Press http://www.cp.org China Xinhua, Hsinhua estatal http://www.xinhua.org Coréia do Norte KCNA estatal http://www.kcna.co.jp Coréia do Sul Yonhap privada http://www.yonhapnews.net Cuba CubaPress estatal http://www.cubapress.com Cuba Prensa Latina estatal http://www.prensa-latina.org Emirados Árabes WAM http://www.wam.org.ae Espanha EFE estatal http://www.efe.com Estônia BNS http://www.bns.ee EUA AP privada http://www.ap.org EUA Bloomberg privada http://www.bloomberg.com EUA UPI privada http://www.upi.com Filipinas PNA http://www.pna.ops.gov.ph França AFP (France-Presse) privada http://www.afp.com global RSF ONG http://www.rsf.org Haiti AHP http://www.ahphaiti.org Holanda ANP http://www.anp.nl Índia PTI (Press Trust of India) http://www.ptinews.com Índia UNI http://www.uniindia.com Indonésia Antara http://www.antara.co.id/en Irã IRNA estatal http://www.irna.com Itália ANSA estatal http://www.ansa.it Japão Kyodo estatal http://home.kyodo.co.jp Jordânia Petra estatal http://accessme.com/Petra Líbia JANA http://www.jamahiriyanews.com Palestina WAFA http://www.wafa.pna.net/ Polônia PAP http://www.pap.com.pl Portugal Lusa http://www.lusa.pt Reino Unido Press Association privada http://www.pa.press.net Reino Unido Reuters privada http://www.reuters.com Rússia Interfax privada http://www.interfax.ru Rússia RIA Novosti estatal http://www.rian.ru Rússia TASS (Itar-Tass) estatal http://www.itar-tass.com Síria SANA http://www.sana-syria.com Tailândia Thai News Agency http://www.mcot.org Turquia Anadolu Ajansi estatal http://www.anadoluajansi.com.tr Vietnã VNA estatal http://www.vnagency.com.vn

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

92

Websites de Jornais Estrangeiros País Jornal Website International Herald Tribune http://www.iht.com Afeganistão Anis Daily http://www.anisdaily.com

Mail & Guardian http://www.mg.co.za The Citizen http://www.citizen.co.za

África do Sul

The Star http://www.star.co.za Albânia Albanian Daily News http://www.albaniannews.com

Bild Zeitung http://www.bild.t-online.de Der Tagesspiegel http://www.tagesspiegel.de Die Welt http://www.welt.de Frankfurter Allgemeine Zeitung

http://www.faz.net

Alemanha

Süddeutsche Zeitung http://www.sueddeutsche.de Angola Jornal de Angola http://www.jornaldeangola.com Arábia Saudita Arab News http://www.arabnews.com

Clarín http://www.clarin.com La Nación http://www.lanacion.com.ar La Prensa http://www.laprensa.com.ar

Argentina

Página 12 http://www.pagina12.com Sydney Morning Herald http://www.smh.com.au The Age http://www.theage.com.au The Canberra Times http://canberra.yourguide.com.au The Courier-Mail http://www.couriermail.news.com.au The Daily Telegraph http://www.dailytelegraph.com.au The Herald Sun http://www.heraldsun.com.au The West Australian http://www.thewest.com.au

Austrália

The West Australian http://www.thewest.com.au Áustria Die Presse http://www.diepresse.com Azerbaijão Baku Sun Bahamas The Nassau Guardian http://www.thenassauguardian.com Bahrein Bahrain Tribune http://www.bahraintribune.com Bangladesh The Daily Star http://thedailystar.net

De Morgen http://www.demorgen.be Bélgica Le Soir http://www.lesoir.be

Belize The Belize Times http://www.belizetimes.bz Benin La Nation http://www.gouv.bj/presse/lanation Bermudas Bermuda Sun http://www.bermudasun.org Birmânia Democratic Voice of Burma http://www.dvb.no Birmânia Irrawaddy http://www.irrawaddy.org

El Deber http://www.eldeber.com.bo El Diario http://www.eldiario.net La Razón http://www.la-razon.com

Bolívia

Los Tiempos http://www.lostiempos.com Daily News http://www.gov.bw/cgi-bin/news.cgi Botsuana The Botswana Gazette http://www.gazette.bw

Brunei Borneo Bulletin http://www.brunei-online.com/bb Kapital http://www.capital.bg Bulgária Pari http://www.pari.bg

Burkina Faso L'Observateur http://www.lobservateur.bf Butão Kuensel http://www.kuenselonline.com Camarões Cameroon Tribune http://www.cameroon-tribune.cm

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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País Jornal Website Camboja Phnom Penh Post http://www.phnompenhpost.com

Canadian Online Explorer http://www.canoe.ca La Presse http://www.cyberpresse.ca Le Devoir http://www.ledevoir.com The Gazette http://www.canada.com/montreal/montrealgazette The Globe and Mail http://www.theglobeandmail.com The National Post http://www.canada.com/national/nationalpost/index.html Toronto Star http://www.thestar.com

Canadá

Vancouver Sun http://www.canada.com/vancouver/vancouversun Cazaquistão Kazakhstanskaya Pravda http://www.kazpravda.kz Chade N'Djamena Hebdo http://www.chez.com/ndjamenahebdo

El Mercurio http://diario.elmercurio.com Chile La Tercera http://www.tercera.cl China Daily http://www.chinadaily.com.cn Diário do Povo http://english.people.com.cn Sing Tao Daily http://home.sina.com

China

South China Morning Post http://www.scmp.com El Colombiano http://www.elcolombiano.com El Espectador http://www.elespectador.com El Heraldo http://www.elheraldo.com.co El Tiempo http://eltiempo.terra.com.co La República http://www.la-republica.com.co

Colômbia

Portafolio http://www.portafolio.com.co Coréia do Norte Rodong Sinmun http://www.kcna.co.jp/today-rodong/rodong.htm

Chosun Ilbo http://www.chosun.co.kr Dong-a Ilbo http://www.donga.com Joong-Ang Ilbo http://www.joins.com The Korea Herald http://www.koreaherald.co.kr

Coréia do Sul

The Korea Times http://times.hankooki.com Costa Rica La Nación http://www.nacion.com Cuba Granma http://www.granma.cu Dinamarca Jyllands-Posten http://www.jp.dk EAU Khaleej Times http://www.khaleejtimes.com

Al Gomhuria http://www.algomhuria.net.eg Egito Middle East Times http://www.metimes.com El Diario de Hoy http://www.elsalvador.com El Salvador La Prensa Gráfica http://www.laprensa.com.sv El Comercio http://www.elcomercio.com Equador Expreso http://www.diario-expreso.com ABC http://www.abc.es Cinco Días http://www.cincodias.es/index.html El Mundo http://www.el-mundo.es El País http://www.elpais.es Expansión http://www.expansion.com

Espanha

La Vanguardia http://www.lavanguardia.es The Addis Tribune http://www.addistribune.com Etiópia The Africa Monitor http://www.theafricamonitor.com Chicago Tribune http://www.chicagotribune.com Houston Chronicle http://www.chron.com New York Post http://www.nypost.com San José Mercury News http://www.mercurynews.com/mld/mercurynews

EUA

The Boston Globe http://www.boston.com/news/globe

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País Jornal Website The Los Angeles Times http://www.latimes.com

The Miami Herald http://www.miami.com/mld/miamiherald The New York Times http://www.nytimes.com The Wall Street Journal http://www.wsj.com The Washington Post http://www.washingtonpost.com

EUA

USA Today http://www.usatoday.com Philippine Daily Inquirer http://www.inq7.net Filipinas

Filipinas The Manila Times http://www.manilatimes.net La Tribune http://www.latribune.fr Le Figaro http://www.lefigaro.fr Le Monde http://www.lemonde.fr Le Monde Diplomatique http://www.diplo.fr Le Parisien http://www.leparisien.fr L'Humanité http://www.humanite.fr

França

Libération http://www.liberation.fr Gana Daily Graphic http://www.graphic.com.gh Grécia Ta Nea http://ta-nea.dolnet.gr/front_page.php Guatemala Prensa Libre http://www.prensalibre.com Guiana Guyana Chronicle http://www.guyanachronicle.com Haiti Haïti en Marche http://www.haitienmarche.com Holanda De Volkskrant http://www.volkskrant.nl Honduras La Tribuna http://www.latribunahon.com Hungria Magyar Nemzet http://www.mno.hu Iêmen Yemen Observer http://www.yobserver.com

Deccan Herald http://www.deccanherald.com Hindustan Times http://hindustantimes.com Indian Express http://www.indianexpress.com The Hindu http://www.hinduonnet.com The Indian Express http://www.expressindia.com The Telegraph http://www.telegraphindia.com

Índia

The Times of India http://timesofindia.indiatimes.com Koran Tempo http://www.korantempo.com Indonésia

Indonésia The Jakarta Post http://www.thejakartapost.com Irish Daily Star http://www.thestar.ie The Irish Independent http://unison.ie/irish_independent

Irlanda

The Irish Times http://www.ireland.com/front Al Quds http://www.alquds.com Ha'aretz http://www.haaretzdaily.com Maariv http://www.maariv.co.il The Jerusalem Post http://www.jpost.com

Israel

Yedioth Ahronoth http://www.ynetnews.com Corriere della Sera http://www.rcs.it/corriere Corriere delle Alpi http://www.corrierealpi.it Il Manifesto http://www.ilmanifesto.it Il Messaggero http://ilmessaggero.caltanet.it Il Sole 24 Ore http://www.ilsole24ore.com

Itália

La Repubblica http://www.repubblica.it Jamaica The Gleaner http://www.jamaica-gleaner.com

Asahi Shimbun http://www.asahi.com Japão The Japan Times http://www.japantimes.co.jp

Jordânia Al Ghad http://www.alghad.jo Jordânia The Jordan Times http://www.jordantimes.com

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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País Jornal Website Jordânia The Star http://www.star.com.jo Laos Vientiane Times http://www.vientianetimes.com

Al Hayat http://www.daralhayat.com As Safir http://assafir.com L'Orient de le Jour http://www.lorient-lejour.com.lb

Líbano

The Daily Star http://www.dailystar.com.lb Líbia Azzah Falakhder http://www.azzahfalakhder.com Madagascar Madagascar Tribune http://www.madagascar-tribune.com

New Straits Times http://www.nst.com.my Malásia The Malay Mail http://www.mmail.com.my

Marrocos La Gazette du Maroc http://www.gazette-press.com El Universal http://www.el-universal.com.mx La Jornada http://www.jornada.unam.mx Milenio http://www.milenio.com

México

Reforma http://www.reforma.com Namíbia The Namibian http://www.namibian.com.na

Kantipur http://www.kantipuronline.com Nepal The Nepal Weekly http://www.catmando.com/explorenepal El Nuevo Diario http://www.elnuevodiario.com.ni Nicarágua La Prensa http://www.laprensa.com.ni The Guardian http://www.ngrguardiannews.com Nigéria This Day http://www.thisdayonline.com

Noruega The Norway Post http://www.norwaypost.no The New Zealand Herald http://www.nzherald.co.nz Nova

Zelândia The Press http://www.press.co.nz El Panamá América http://elpanamaamerica.terra.com.pa/diarios Panamá La Prensa http://www.prensa.com Dawn http://www.dawn.com Paquistão The News International http://www.jang.com.pk ABC Color http://www.diarioabc.com.py Paraguai Última Hora http://www.ultimahora.com El Comercio http://www.elcomercioperu.com.pe/online El Expreso http://www.expreso.com.pe/hoy_dia/index.html El Peruano http://www.elperuano.com.pe

Peru

La República http://www.larepublica.com.pe Gazeta Wyborcza http://www.wyborcza.pl Polônia Rzeczpospolita http://www.rzeczpospolita.pl El Nuevo Día http://www.endi.com Porto Rico Primera Hora http://www.primerahora.com Correio da Manhã http://www.correiodamanha.pt Diário de Notícias http://www.dn.pt Jornal de Notícias http://www.jnoticias.pt O Independente http://www.oindependente.pt

Portugal

O Público http://publico.pt Daily Nation http://www.nationmedia.com/dailynation Quênia The Standard http://www.eastandard.net

Quirguízia Vetcherny Bishkek http://www.vb.kg Rep.Dominic. El Nacional http://www.elnacional.com.do

Daily Mail http://www.dailymail.co.uk Daily Mirror http://www.mirror.co.uk Financial Times http://news.ft.com/home/us

Reino Unido

Metro http://www.metro.co.uk

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País Jornal Website The Daily Telegraph http://www.dailytelegraph.co.uk The Guardian http://www.guardian.co.uk The Independent http://www.independent.co.uk The Observer http://observer.guardian.co.uk

Reino Unido

The Sun http://www.thesun.co.uk Hospodárské Noviny http://www.ihned.cz Rep.Tcheca The Prague Post http://www.praguepost.com

Romênia Romania Liberã http://www.romanialibera.com Gazeta http://www.gzt.ru Izvestia http://www.izvestia.ru Pravda http://www.pravda.ru The Moscow News http://english.mn.ru/english The Moscow Times http://www.moscowtimes.ru The St. Petersburg Times http://www.sptimesrussia.com

Rússia

Vladivostok News http://www.vladnews.ru S.Tomé e Prí. Diário de S.Tomé e Príncipe http://www.cstome.net/diario/index.htm Senegal Le Soleil http://www.lesoleil.sn Sérvia Politika http://www.politika.co.yu Singapura The Straits Times http://straitstimes.asia1.com.sg

Daily Mirror http://www.dailymirror.lk Sri Lanka Daily News http://www.dailynews.lk Le Temps http://www.letemps.ch Suíça Neue Züricher Zeitung http://www.nzz.ch Bangkok Post http://www.bangkokpost.net Tailândia The Nation http://www.nationmultimedia.com China Times http://www.chinatimes.com.tw Taiwan Taipei Times http://www.taipeitimes.com

Tanzânia Tanzania Daily News http://www.dailynews.co.tz Timor Leste Suara Timor Lorosae http://www.suaratimorlorosae.com Tonga Tonga Star http://www.tongastar.com

The Trinidad Guardian http://www.guardian.co.tt Trin.&Tobago Trinidad & Tobago Express http://www.trinidadexpress.com

Essahafa http://www.essahafa.info.tn Tunísia La Presse de Tunesie http://www.lapresse.tn Turcomênia Neutralniy Turkmenistan http://www.tmpress.gov.tm

Sabah http://www.sabah.com.tr The New Anatolian http://www.thenewanatolian.com

Turquia

Turkish Daily News http://www.turkishdailynews.com Ucrânia Ukrainska Pravda http://www2.pravda.com.ua/en Uganda Uganda Daily http://www.ugandaglobe.com

El Observador http://www.observa.com.uy Uruguai El País http://www.elpais.com.uy Uzbequistão Narodnoie Slovo http://www.uzpak.uz Vaticano L'Osservatore Romano http://www.vatican.va/news_services/or/index.htm

Correo del Caroní http://www.correodelcaroni.com El Mundo http://www.elmundo.com.ve El Nacional http://www.el-nacional.com

Venezuela

El Universal http://www.eluniversal.com Nhân Dân http://www.nhandan.com.vn Vietnã

Viet Nam News http://vietnamnews.vnagency.com.vn Zâmbia Times of Zambia http://www.times.co.zm

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Websites de Revistas Estrangeiras País Revista Website

Der Spiegel http://www.spiegel.de Alemanha Munich Found http://www.munichfound.de Businessweek http://www.businessweek.com Christian Science Monitor http://www.csmonitor.com Foreign Affairs http://www.foreignaffairs.org National Geographic http://www.nationalgeographic.com New Left Review http://www.newleftreview.net Newsweek http://www.newsweek.com The New Republic http://www.tnr.com The New Yorker http://www.newyorker.com

EUA

Time Magazine http://www.time.com/time Courrier International http://www.courrierinternational.com Paris-Match http://www.parismatch.com

França

Photo http://www.photo.fr L'Espresso http://www.espressonline.it Itália Panorama http://www.panorama.it

Japão Weekly Post http://www.weeklypost.com Expresso http://www.expresso.pt Portugal Visão http://visaoonline.clix.pt Punch http://www.punch.co.uk Reino Unido The Economist http://www.economist.com

Websites de Rádios Estrangeiras País Rádio Website internacional InterWorld Radio http://www.interworldradio.org Alemanha Deutschlandradio Kultur http://www.dradio.de Austrália ABC National http://abc.net.au Bolívia Erbol http://www.erbol.com.bo Canadá CFRA http://142.46.199.62/cfra200367s Chile Radio Chilena http://wmedia.ifxnw.cl/radiochilena Cuba Radio Reloj http://media.enet.cu/radioreloj Equador La Luna http://www.radiolaluna.com

Federal News Radio http://www.federalnewsradio.com EUA Voice of America http://www.voanews.com

França Radio France Internation. http://www.rfi.fr/ Guiné-Bissau RDN http://www.guine-bissau.net/guine_net/rdn Holanda Rádio Nederland http://www2.rnw.nl/rnw/pt Irlanda Sky News http://www1.sky.com Nicarágua Radio Nicaragua http://www.radionicaragua.com.ni Reino Unido BBC Brasil http://www.bbcbrasil.com Rússia Rádio Moscou http://www.vor.ru

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Websites de TVs Estrangeiras País TV Website (Europa) Euronews http://www.euronews.net Alemanha Deutsche Welle http://www.dw-world.de Canadá CBC http://www.cbc.ca Catar Al Jazira http://www.aljazeera.net China CCTV http://www.cctv.com/english/index.html Colômbia Caracol TV http://www.caracoltvinternacional.com Espanha TVE http://www.rtve.es

CBS http://www.cbs.com CNN http://www.cnn.com Disney ABC http://www.abc.com Fox News http://www.foxnews.com i TV (PAX) http://www.ionline.tv MSNBC http://msnbc.com NBC http://www.nbc.com PBS http://www.pbs.org Telemundo http://www.telemundo.com The WB http://www.thewb.com Univisión http://www.univision.com

EUA

UPN http://www.upn.com Canal+ http://www.canalplus.fr TF1 http://www.tf1.fr

França

TV5 http://www.tv5.org Itália RAI http://www.rai.it Japão NHK http://www.nhk.or.jp/english México Televisa http://www.esmas.com/televisahome

RTPi http://www.rtp.pt Portugal SIC http://sic.sapo.pt BBC http://www.bbc.com Reino Unido Sky News http://www.sky.com/skynews

Romênia TVR http://www.tvr.ro Telesur http://www.telesurtv.net Venezuela Venevisión http://www.venevision.net

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Correspondentes Brasileiros no Exterior País Cidade Veículo Jornalista Alemanha Berlim O Globo Graça Magalhães-Ruether Alemanha Berlim Zero Hora Marcelo de Oliveira Argentina Buenos Aires Veja Raul Juste Lores Argentina Buenos Aires Folha de S. Paulo Silvana Arantes Argentina Buenos Aires BandNews Márcio Resende Jr. Argentina Buenos Aires Globonews Ariel Palacios Argentina Buenos Aires O Globo Janaína Figueiredo Argentina Buenos Aires Valor Econômico Paulo Braga Argentina Buenos Aires TV Globo Alberto Gaspar Bélgica Bruxelas O Globo Vivian Oswald China Pequim TV Globo Sonia Bridi China Pequim O Globo Gilberto Scofield Jr. Egito Cairo BBC Brasil Paulo Cabral Espanha Madri O Globo Priscila Guilayn EUA Boston O Dia Eliane Carvalho EUA Los Angeles Folha de S. Paulo Sérgio Dávila EUA Miami Direto da Redação Antonio Tozzi EUA Miami BBC Brasil Carolina Glycerio EUA Nova York TV Globo Cristina Serra EUA Nova York SBT Yula Rocha EUA Nova York Carta Capital Eduardo Graça EUA Nova York Globonews Jorge Pontual EUA Nova York Isto É Osmar Freitas Jr. EUA Nova York O Globo Helena Celestino EUA Nova York Jovem Pan Caio Blinder EUA Nova York TV Globo Roberto Kovalick EUA Nova York TV Globo Lucas Mendes EUA Nova York Folha de S. Paulo Fabiano Maisonnave EUA Nova York TV Globo Heloisa Vilela EUA Nova York Folha de S. Paulo Pedro Dias Leite EUA Nova York TV Record Gilberto Smaniotto EUA Nova York BandNews Pablo Toledo EUA Washington Globonews Edgar Júnior EUA Washington O Estado de S. Paulo Paulo Sotero EUA Washington O Globo José Meirelles Passos EUA Washington TV Globo Luiz Fernando Silva Pinto EUA Washington Valor Econômico Tatiana Bautzer EUA Washington BandNews Regina Beltrão EUA Washington BBC Brasil Denize Bacoccina França Paris Carta Capital Leneide Duarte França Paris O Globo Deborah Berlinck França Paris TV Globo Caco Barcellos França Paris BandNews Mário Sérgio Conti França Paris Rádio Eldorado Roseli Forganes Israel Jerusalém TV Globo Marcus Losekann Israel Tel-Aviv BandNews Michel Gawendo Israel Tel-Aviv TV Record Herbert Moraes Itália Milão SBT Guilherme Aquino Itália Roma Carta Capital Elisa Byington

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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País Cidade Veículo Jornalista Itália Roma TV Globo Ilza Scamparini Japão Tóquio TV Record Catarina Hong Líbano Beirute Globonews Munir Safatli Reino Unido Londres Carta Capital Gianni Carta Reino Unido Londres Correio do Brasil Denise Martins Reino Unido Londres TV Globo Marcos Uchôa Reino Unido Londres O Globo Fernando Duarte Reino Unido Londres BandNews João Carvalho Reino Unido Londres TV Globo Beth Lima Reino Unido Londres SBT Marcelo Torres Reino Unido Londres TV Record Paulo Panayotis Reino Unido Londres Folha de S. Paulo Érica Fraga Reino Unido Londres Globonews Jader de Oliveira Reino Unido Londres Freelance Wellington M. Mesquita Suíça Berna Correio do Brasil Rui Martins Suíça Genebra Valor Econômico Assis Moreira Suíça Genebra O Estado de S. Paulo Jamil Chade

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Correspondentes Estrangeiros no Brasil País Veículo Cidade Jornalista(s) Telefone Alemanha Der Spiegel Rio de Janeiro Matthias Matussek*

Jens Glusing 2275-1204

Argentina Clarín Eleonora Gosman Argentina La Nación São Paulo Luis Esnal Espanha Agência EFE Brasília Espanha Agência EFE Rio de Janeiro Omar Lugo

Eduardo Davis 2553-6355

Espanha Agência EFE São Paulo EUA Associated Press

Associated Press TV News

Rio de Janeiro Michael Astor Douglas H. Engle Edmar Figueiredo

2580-5066 2580-2309 2574-4169

EUA Bloomberg News Rio de Janeiro Jeb Blount 2516-1552 EUA Chicago Tribune Rio de Janeiro Patrice Jones

Terry William Harris 2275-6173 2541-6474

EUA CNN CNN (em espanhol)

Rio de Janeiro Marina Mirabella Fabiana Frayssinet

2527-0570

EUA Los Angeles Times Rio de Janeiro Hector Tobar Sebastian Rotella

2541-2672

EUA Miami Herald, Knight Rider Rio de Janeiro Kevin G. Hall 2542-6722 EUA New York Times Rio de Janeiro Larry Rohter

Mery Galanternick 2512-8686 2274-4196

EUA Newsweek Rio de Janeiro Mac Margolis 2286-1901 EUA Time Rio de Janeiro Andrew Downie 2512-8558 EUA Wall Street Journal Rio de Janeiro Matt Moffett 2274-7942 EUA Wall Street Journal São Paulo Jonathan Karp França AFP (Agence France-Presse) Rio de Janeiro François Castéran

Aldo Gamboa 2215-0222

França Libération São Paulo Chantal Rayes Itália Corriere della Sera Rio de Janeiro Rocco Cotroneo 3322-3500 Itália Il Manifesto Rio de Janeiro Maurizio Matteuzzi* Itália La Stampa São Paulo Giancula Bevilacqua Japão Agência Kyodo Rio de Janeiro Morihiro Fukumi 2553-5561 Noruega NRK Rio de Janeiro Arne Halvorsen 2523-3575 Portugal Agência Lusa São Paulo Ana Maria Fiori Portugal Diário de Notícias Rio de Janeiro Sérgio Barreto Motta 2294-0787 Portugal Expresso Rio de Janeiro Iza de Salles Freaza 2259-3160 Portugal Jornal de Negócios São Paulo Bárbara Leite Portugal Jornal de Notícias Rio de Janeiro Lúcia Souza Portugal O Público Rio de Janeiro Reino Unido BBC Rio de Janeiro Gideon Boulting 2507-8982 Reino Unido BBC São Paulo Steve Kingstone Reino Unido Financial Times São Paulo Richard Lapper Reino Unido Reuters Rio de Janeiro Leandra Câmera

Shasta P. Darlington Nicolas G. Ferrari

2223-7126 2223-7142 2223-7139

Reino Unido The Guardian, The Observer Rio de Janeiro Alex Bellos Reino Unido The Times Rio de Janeiro Gabriella Gamini 2265-5390 Rússia ITAR-TASS Rio de Janeiro Igor Varlamov 2430-8672 Rússia RIA Novosti Rio de Janeiro Vladimir Stepanov 2512-4729

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Entidades de Correspondentes Estrangeiros no Brasil Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil

Rua Senador Dantas, 105/16º andar 20031-201 – Rio de Janeiro – RJ http://www.acie.org.br [email protected] Tel.(21) 3808-3382 Fax.(21) 3808-3383

Associação de Correspondentes Estrangeiros

Rua Oscar Freire, 1049/143 05409-010 – São Paulo – SP http://www.ace.jor.br Tel.(11) 3486-2585

Associação de Imprensa Internacional

SHIN QI. 04 – conj. 03 – casa 15 – Lago Norte 71510-230 – Brasília – DF Tel.(61) 468-2924 | 468-1090 Tel. Secretária Genilda Lopes: (61) 322-9020 [email protected]

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Sedes de Governo e de Estado de Alguns Países País Cidade Prédio Função Website África do Sul Cid. do Cabo Groote Schuur presidência http://www.gov.za

Alemanha Berlim Chancelaria governo http://www.bundeskanzler.de

Alemanha Berlim Schloss Bellevue presidência http://www.bundespraesident.de

Argélia Argel El Mouradia presidência http://www.el-mouradia.dz

Argentina Buenos Aires Casa Rosada presidência http://www.presidencia.gov.ar

Austrália Canberra Yarralumla gov.geral http://www.gg.gov.au

Austrália Canberra The Lodge governo http://www.pm.gov.au

Áustria Viena Palácio Hofburg presidência http://www.hofburg.at

Irã Teerã Zafaraniyeh presidência http://www.president.ir

Bélgica Bruxelas Wetstraat 16 governo http://www.belgium.fgov.be

Bielorrússia Minsk Krupenino presidência http://www.president.gov.by

Brasil Brasília Palácio do Planalto presidência http://www.planalto.gov.br

Camboja Phnom Penh Khemarindra coroa http://www.cambodia.gov.kh

Canadá Ottawa Rideau Hall gov.geral http://www.gg.ca

Canadá Ottawa 24 Sussex Drive governo http://www.gc.ca

Chile Santiago La Moneda presidência http://www.presidencia.cl

Colômbia Bogotá Palácio de Nariño presidência http://www.presidencia.gov.co

Coréia Sul Seul Casa Azul presidência http://www.cwd.go.kr

Dinamarca Copenhague Marienborg governo http://www.stm.dk

Egito Cairo Abdeen presidência http://www.presidency.gov.eg

Equador Quito Carondelet presidência http://www.presidencia.gov.ec

Espanha Madri Palacio Real coroa http://www.casareal.es

Espanha Madri La Moncloa governo http://www.la-moncloa.es

EUA Washington Casa Branca presidência http://www.whitehouse.gov

Filipinas Manila Malacañang presidência http://www.op.gov.ph

França Paris Hôtel de Matignon governo http://www.premier-ministre.gouv.fr

França Paris Palácio do Eliseu presidência http://www.elysee.fr

Grécia Atenas Mansão Máximos governo http://www.primeminister.gr

Holanda Haia Huis ten Bosch coroa http://www.koninklijkhuis.nl

Holanda Haia Catshuis governo http://www.minaz.nl

Índia Nova Délhi Race Course Road governo http://pmindia.nic.in

Irlanda Dublin Áras an Uachtaráin presidência http://www.irlgov.ie/aras

Itália Roma Palácio do Quirinal presidência http://www.quirinale.it

Itália Roma Palácio Chigi governo http://www.palazzochigi.it

Turquia Ancara Basbakanlik governo http://www.basbakanlik.gov.tr

Japão Tóquio Kantei governo http://www.kantei.go.jp

Líbano Beirute Baabda, Beit Edine presidência http://www.presidency.gov.lb

México México Los Pinos presidência http://www.presidencia.gob.mx

Moçambique Maputo Ponta Vermelha presidência http://www.mozambique.mz

Paquistão Islamabad Aiwan-e-Sadr presidência http://www.pakistan.gov.pk

Portugal Lisboa Palácio de S.Bento governo http://www.primeiro-ministro.gov.pt

Portugal Lisboa Palácio de Belém presidência http://www.presidenciarepublica.pt

Reino Unido Londres Buckingham coroa http://www.royal.gov.uk

Reino Unido Londres Downing Street governo http://www.pm.gov.uk

Rep. Tcheca Praga Hradčany presidência http://www.hrad.cz

Rússia Moscou Kremlin presidência http://www.government.ru

Venezuela Caracas Palácio Miraflores presidência http://www.venezuela.gov.ve

Nota: “Governo”, em países parlamentaristas, denota exclusivamente o gabinete de ministros chefiado pelo Primeiro-Ministro e não inclui o chefe-de-estado (presidente ou monarca).

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Parlamentos de Alguns Países País Cidade Parlamento Tipo Website Alemanha Berlim Bundesrat câm.alta http://www.bundesrat.de

Alemanha Berlim Bundestag câm.baixa http://www.bundestag.de

Angola Luanda Assembléia Nacional unicameral http://www.parlamento.ao

Argentina Buenos Aires Cám. de Diputados câm.baixa http://www.diputados.gov.ar

Bélgica Bruxelas Federale Parlement ambas http://www.fed-parl.be

Bolívia La Paz Congreso Nacional ambas http://www.congreso.gov.bo

Brasil Brasília Congresso Nacional (Senado Federal + Câm. dos Deputados)

ambas (câm.alta + baixa)

http://www.camara.gov.br http://www.senado.gov.br

Canadá Ottawa Parlamento ambas http://www.parl.gc.ca

Chile Santiago Congreso Nacional ambas http://www.congreso.cl

China Pequim Congr. Nac. do Povo unicameral http://www.govonline.cn

Colômbia Bogotá Senado câm.alta http://www.senado.gov.co

Coréia Sul Seul Assembléia Nacional unicameral http://www.assembly.go.kr

Cuba Havana As. Nac. del Poder Popular unicameral http://www.cubagob.cu

Dinamarca Copenhague Folketinget unicameral http://www.folketinget.dk

Egito Cairo Conselho Shura câm.alta http://www.shoura.gov.eg

Espanha Madri Cortes Generales ambas http://www.congreso.es

Estônia Tallinn Riigikogu unicameral http://www.riigikogu.ee

EUA Washington U.S. Congress (Capitólio)

ambas http://www.house.gov http://www.senate.gov

França Paris Assemblée Nationale ambas http://www.assemblee-nationale.fr

Grécia Atenas Parlamento unicameral http://www.parliament.gr

Holanda Haia Parlement ambas http://www.parlement.nl

Índia Nova Délhi Sansad unicameral http://parliamentofindia.nic.in

Indonésia Jacarta Majelis Rakyat câm.alta http://www.mpr.go.id

Irã Teerã Majlis Shura Islami unicameral http://www.majlis.ir

Irlanda Dublin Câmara de Oireachtas unicameral http://www.irlgov.ie/oireachtas

Islândia Reikjavik Althingi unicameral http://www.althingi.is

Israel Tel-Aviv Knesset unicameral http://www.knesset.gov.il/index.htm

Itália Roma Parlamento ambas http://www.parlamento.it

Japão Tóquio Shugiin câm.baixa http://www.shugiin.go.jp

Líbia Trípoli Congr. Geral do Povo unicameral http://peoplescongress.gov.ly

Lituânia Vilnius Seimas unicameral http://www.lrs.lt

México México Senado de la República câm.alta http://www.senado.gob.mx

Peru Lima Congr. de la República ambas http://www.congreso.gob.pe

Polônia Varsóvia Sejm câm.baixa http://www.sejm.gov.pl

Portugal Lisboa Ass. da República unicameral http://www.parlamento.pt

Rep.Tchec Praga Poslanecká snæmovna câm.baixa http://www.psp.cz

Romênia Bucareste Câmera Deputatilor câm.baixa http://www.cdep.ro

Rússia Moscou Duma câm.baixa http://www.duma.gov.ru

Suécia Estocolmo Riksdagen unicameral http://www.riksdagen.se

Tailândia Bangcoc Parlamento unicameral http://www.parliament.go.th

Turquia Ancara Grande Ass. Nacional unicameral http://www.tbmm.gov.tr

Ucrânia Kiev Verkhovna Rada unicameral http://www.rada.gov.ua

UK Londres Parliament ambas http://www.parliament.uk

Uruguai Montevidéu Cám. Representantes câm.baixa http://www.parlamento.gub.uy

Venezuela Caracas Asamblea Nacional unicameral http://www.asambleanacional.gov.ve

Vietnã Hanói Assembléia Nacional unicameral http://www.na.gov.vn

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Outros websites úteis Sinopse da Mídia Internacional

http://www.presidencia.gov.br/secom/sinopses Clipping oficial do Palácio do Planalto com o que se publica sobre o Brasil no exterior.

Seleção Diária de Notícias

http://www.mre.gov.br/portugues/imprensa/noticias.asp Clipping oficial do Itamaraty com o noticiário internacional dos principais jornais brasileiros e com as matérias de destaque nos principais jornais estrangeiros.

Revista Foreign Affairs

http://www.foreignaffairs.org Publicação norte-americana sobre política externa e diplomacia.

Third World Media Journal

http://journal.twmn.org Site de destaques da cobertura da mídia em países do Terceiro Mundo

Rulers of the World

http://www.rulers.org Cronologia de todos os governantes de quase todos os países do mundo desde a Idade Moderna até atualmente. Atualização constante.

Nation Master

http://www.nationmaster.com Gráficos e Estatísticas Personalizáveis (e atualizadas)

Governments in the WWW

http://www.gksoft.com/govt/en Diretório de sites oficiais e outros links de referência sobre política, relações internacionais, mídia e direitos humanos

Newseum – Today’s Front Pages

http://www.newseum.org/todaysfrontpages Reproduções em PDF das primeiras páginas de vários jornais do mundo.

Press Display

http://www.pressdisplay.com Reproduções em PDF do conteúdo integral de 225 jornais em 55 países.

Online Newspapers

http://www.onlinenewspapers.com Links para centenas de websites de jornais estrangeiros.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Cronologia da Formação da Mídia Internacional

1041 – Invenção do tipo móvel na China.

1440 – Invenção da prensa por Gutenberg.

1605 – Primeira publicação periódica regular (semanal) aparece: o Nieuwe Tijdinghen, na Antuérpia.

1609 – Fundação do Relation e Avisa Relation oder Zeitung, primeiros periódicos em alemão.

1615 – Surge o Frankfurter Journal, primeiro periódico jornalístico, também semanal.

1622 – Fundado o Weekly News, em Londres. Pacto entre 12 oficinas de impressão inglesas, holandesas e alemãs determina intercâmbio sistemático de notícias.

1638 – O Weekly News é o primeiro jornal a publicar noticiário internacional.

1641 – A Gazeta, primeiro jornal em Portugal.

1665 – Journal de Savants, na França, primei-ra revista, em estilo almanaque.

1690 – Primeiro jornal das colônias britânicas (futuros EUA) é publicado em Boston: Publick Occurrences, Both Foreign and Domestick.

1729 – Nasce o Pennsylvania Gazette, de Benjamin Franklin, primeiro jornal a se manter com renda publicitária. São fundados a Gaceta de Guatemala e Las Primicias de la Cultura de Quito, primeiros jornais latino-americanos.

1743 – Primeiro jornal diário da América: Gaceta de Lima.

1785 – Começa a circular o Times de Londres.

1833 – Fundado o New York Sun, primeiro jornal “popular”, vendido a um cent.

1835 – Charles Havas funda a primeira agência de notícias, a Havas (hoje AFP).

1844 – Samuel Morse inventa o telégrafo.

1847 – Primeira rotativa começa a funcionar, nos EUA. Em 1848, o Times de Londres cria rotativa que imprime 10 mil exemplares/hora.

1848 – Jornais de Nova York se juntam para formar a Associated Press durante a guerra dos EUA contra o México.

1851 – Fundação do New York Times. O alemão Julius Reuter funda a agência Reuters.

1858 – Primeiro despacho transatlântico por telégrafo, enviado pela AP.

1861 – Início da Guerra de Secessão dos EUA. Repórteres e fotógrafos recebem credenciais para cobrir o conflito. Desenvolvem o lead para assegurar que a parte principal da notícia chegará à redação pelo telégrafo. Jornais dão primeiras manchetes com novidades da guerra.

1871 – The Guardian, de Manchester, é o primeiro jornal a enviar correspondentes para dois lados de uma guerra (Franco-Prussiana).

1874 – Comunicação por telégrafo liga o Brasil à Europa; começam a chegar despachos de agências internacionais ao país.

1889 – Invenção do linotipo.

1892 – Forma-se a United Press International.

1903 – Primeira transmissão de rádio transatlântica, por Marconi.

1915 – Fundação da agência Transocean, para cobrir a I Guerra Mundial na Europa.

1919 – Surge o New York Daily News, primeiro jornal em formato tablóide.

1927 – Criado o primeiro cinejornal, o Fox Movietone News, com o uso do som.

1949 – Três agências alemãs se unem para formar a Deutsche Presse-Agentur (DPA).

1951 – Invenção do videotape.

1962 – Entra no ar o Telsat I, primeiro satélite de telecomunicações para a mídia.

1969 – Transmissão da chegada da missão Apolo II, dos EUA, à Lua.

1972 – A revista Life deixa de ser publicada.

1980 – Começam as transmissões da CNN.

1992 – Chegam ao Brasil os canais internacionais de TV por assinatura e a Internet comercial.

2001.setembro.11 – Transmissão ao vivo do maior atentado terrorista da História

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Fatos marcantes na pauta de Internacional em 2008.1 Junho: 1/6 - Holandeses rejeitam a Constituição Européia. 5/6 - Suíça vota permissão de casamentos homossexuais. 13/6 - Michael Jackson absolvido de todas as acusações de abuso sexual e pedofilia. 30/6 - Espanha permite uniões civis para pessoas do mesmo sexo. Julho: 4/7 - Projétil da Nasa atinge o cometa Tempel. 16/7 - O comitê olímpico internacional concede os jogos olímpicos de 2012 a Londres. 7/7- Três explosões relatadas no metrô de Londres e uma em um ônibus, deixando 50 mortos, e mais de 200 feridos. 22/7 - Um eletricista brasileiro, Jean Charles de Menezes, recebeu um tiro fatal em uma estação do metrô de Londres disparado por um policial, que o confundiu com um terrorista suicida. 28/7 - As lideranças do IRA emitiram uma determinação formal ordenando o fim da campanha armada, que persiste desde 1969 e requisitaram todas suas unidades a depor suas armas. Agosto: 23/8 - Israel desapropria estabelecimentos palestinos na Faixa de Gaza. 29/8 - Ao menos 1.417 mortos e sérios danos foram causados ao longo da costa do golfo dos EUA, pelo furacão Katrina, que atingiu as áreas litorâneas da Louisiana, do Mississippi e do Alabama. Setembro: 11/9 - O primeiro ministro Junichiro Koizumi e o partido democrático liberal retornam ao poder nas eleições gerais japonesas. 26/9 - O reservista Lynndie England do exército dos EUA foi condenado por um júri militar por seis dos sete jurados, pelo escândalo do abuso do prisioneiro Abu Ghraib. Outubro: 4/10 - O furacão Stan atinge o México e a América central matando mais de 1.620 pessoas. 7/10 - O diretor da AIEA, Mohamed ElBaradei, recebe o prêmio Nobel da paz. 19/10 – Começa o julgamento de Saddam Hussein. 20/10- O furacão Wilma entra no Caribe mexicano, passando por Cozumel e pela península de Yucatan. 28/10 - O conselheiro do vice-presidente dos EUA Lewis Libby renuncia após ser acusado de obstrução da justiça, perjúrio e falso testemunho na investigação do vazamento de informações na CIA. Novembro: 8/11- Jacques Chirac declarou estado de emergência no 12º dia do levante popular francês. 12/11 - O secretário geral da ONU, Kofi Annan, faz sua primeira visita ao Iraque, desde o início da segunda Guerra do Golfo, e incita iraquianos a iniciar um processo de reconciliação entre os grupos étnicos e religiosos do país. 21/11 - Ariel Sharon anunciou sua renúncia do cargo de líder do Likud e sua intenção de criar um partido novo devotado à paz na região, Kadima, pedindo antecipação das eleições gerais 30/11 - Cirurgiões franceses realizam o primeiro transplante de face em humanos.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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Dezembro: 15/12 - Realizadas as primeiras eleições parlamentares iraquianas sob a nova constituição. 18/12 - Evo Morales ganha as eleições presidenciais bolivianas. 18/12 - O primeiro ministro de Israel, Ariel Sharon, é hospitalizado após ter sofrido um derrame. 24/12 - O papa Bento XVI conduz a sua primeira missa de natal, rezando pela paz no Oriente Médio.

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Jornalismo Internacional – ECO/UFRJ

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O que NÃO foi destaque na pauta de Internacional em 2008.1:

• 4/7 - Projétil da Nasa atinge o cometa Tempel. • 10/7 - O furacão Dennis atingiu as proximidades da praia de Navarre (Florida), matando 10

pessoas. • 12/7 - Terroristas matam 5 pessoas e ferem 90 em um shopping em Netanya, Israel. A

Jihad islâmica reivindica a responsabilidade do ataque. • 13/7 - Três trens colidem em Ghotki, Paquistão, matando mais de 150 pessoas • 20/7 - O ato civil canadense, legalizando uniões do mesmo sexo, recebe o consentimento

real. • 28/7 - As lideranças do IRA emitiram uma determinação formal ordenando o fim da

campanha armada, que persiste desde 1969 e requisitaram todas suas unidades a depor suas armas.

• 14/8 - O vôo 522 dos airways de Helios bateu em uma montanha na Grécia, matando 121 pessoas

• 28/8 - Um terrorista fere 52 num ponto de ônibus em Beersheba, Israel. Jihad islamic reivindica a responsabilidade para o ataque.

• 31/8 - Um boato de existência de um homem-bomba causou desespero numa multidão de peregrinos, que atravessava uma ponte sobre o rio Tigre, em Bagdá, matando mais de 800 pessoas e deixando aproximadamente 400 feridos.

• 1/10 – 26 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridos nos atentados em Bali. • 8/10 - Um terremoto na região da Cachemira mata aproximadamente 80.000 pessoas. • 16/10 - As aeronaves de guerra americanas bombardearam duas vilas próximas a Ramadi,

no Iraque ocidental, matando aproximadamente 70 pessoas. • 26/10 – O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse que Israel devia ser "banido

do mapa", em uma conferência realizada em Teerã, Irã, chamada “ O Mundo sem o Cionismo”.

• 26/10 - O número de americanos mortos no Iraque chega a 2.000. • 9/11 - Ao menos cinqüenta pessoas foram mortas e mais de 120 feridas em uma série de

ataques suicidas na Jordânia • 2/12 - Kenneth Boyd é a milésima pessoa a ser executada nos EUA desde a re-introdução

da pena de morte, em 1976. • 6/12 - Um avião iraniano C-130 Hercules colidiu em um edifício comercial, em uma área

civil de Teerã, capital de Irã, matando as 94 pessoas a bordo e 34 residentes do edifício - um total de 128 povos.

• 13/12 - Um terremoto de 6,7 graus na Escala Richter atinge o sul da Ásia. • 18/12 - A conferência da OMS foi concluída em Hong Kong com um acordo de comércio

limitado • 23/12 - República do Chade declara guerra ao Sudão depois de um ataque em 18 de

dezembro • 26/12 - Indonésios se reúnem para homenagear vítimas da Tsunami.