apostila curso de inverno

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  • 5/23/2018 Apostila Curso de Inverno

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    1 curso de inverno

    tpicos emfisiologia

    comparada12 a 30 jul 2004

    departamento de fisiologiainstituto de biocincias - usphttp://www.ib.usp.br/cursodeinverno

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    1 curso de inverno tpicos em fisiologia comparada i

    idealizao

    alunos de ps-graduao do

    departamento de fisiologia ib/usp

    elaborao

    adriano alonso pereira da cunha

    andr frazo helenejames fernando malta da silva

    jessica ruivo maximino

    jos eduardo de carvalho

    marcelo alves da silva

    merari de ftima ramires ferrari

    rodrigo pavo

    apoio

    pr-reitoria de cultura e extenso

    comisso de ps-graduao

    instituto de biocincias

    agradecimentos

    gustavo eiji kaneto

    gisele ortoli

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    1 curso de inverno tpicos em fisiologia comparada ii

    ndice

    NEUROTRANSMISSORES ...................................................................................................1

    RECEPTORES E SINALIZAO CELULAR........................................................................3

    ROTEIRO DE AULA PRTICA..........................................................................................5

    EVOLUO DO SISTEMA NERVOSO.................................................................................6

    MECANISMOS CENTRAIS DO CONTROLE CARDIOVASCULAR....................................12

    ROTEIRO DE AULA PRTICA........................................................................................15

    HIPERTENSO E EXERCCIO FSICO: UMA BREVE INTRODUO...............................19

    CONSIDERAES SOBRE A NEUROFISIOLOGIA DA MEMRIA ..................................22

    ASPECTOS FISIOLGICOS DAS TOXINAS DE ANIMAIS AQUTICOS E TERRESTRES

    .............................................................................................................................................29

    AS TOXINAS DE ANMONAS DO MAR COMO FERRAMENTAS PARA ENTENDER A

    FISIOLOGIA DE RGOS, TECIDOS E SISTEMAS..........................................................32

    ROTEIRO DE AULA PRTICA........................................................................................35

    A DEPRESSO METABLICA NOS ANIMAIS..................................................................37

    TERMORREGULAO EM INSETOS................................................................................40

    A RANA E O RATO: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS CAPACIDADES METABLICAS

    EM TECIDOS MUSCULARES DE DUAS ESPCIES DE VERTEBRADOS .......................43

    ECOFISIOLOGIA DE LAGARTOS......................................................................................49

    COMPORTAMENTO E FISIOLOGIA DE FORMIGAS ATTA ..............................................51

    RELGIO BIOLGICO DE MAMFEROS: MECANISMOS MOLECULARES E CONTROLE

    DA RITMICIDADE INTERNA DO ORGANISMO. ................................................................54

    SISTEMA DIGESTRIO......................................................................................................56

    MECANISMOS DE OSMORREGULAO EM ANIMAIS. ..................................................59

    EXERCCIO TERICO-PRTICO....................................................................................63

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    1 curso de inverno tpicos em fisiologia comparada 1

    NEUROTRANSMISSORESLotte Marianne Pires Renault

    Laboratrio de Neurocincias e Comportamento

    Neurotransmissores (NTs) so mensageiros qumicos utilizados na comunicao entre clulas

    do sistema nervoso. Podem ser categorizados por sua origem / estrutura qumica (ex: monoaminas,

    peptdeos).

    Neurotransmissores podem ser excitatrios ou inibitrios, no que concerne s suas aes

    imediatas sobre a clula-alvo. Entre os mais comuns NTs excitatrios, esto glutamato e acetilcolina.

    Aes inibitrias so mediadas por GABA e peptdeos (como opiides). No entanto, o resultado final

    destas aes no necessariamente a ativao ou inibio da projeo.

    Como exemplo, podemos considerar que a ao de uma projeo liberando NTs excitatrios,

    como glutamato, sobre interneurnios inibitrios, resultar na ativao destes e em ao inibitriasobre as reas-alvo destes interneurnios. Por outro lado, a ao de uma projeo liberando opiides

    (portanto, inibitria) sobre interneurnios inibitrios GABArgicos resulta na inibio destes e

    conseqente liberao das reas-alvo dos interneurnios.

    O resultado final destas aes um mosaico de ativaes / inibies. Isto ocorre em diversos

    nveis. Deve-se considerar que uma clula recebe uma enorme quantidade de sinapses, e que o

    resultado final sobre sua atividade uma somatria determinada pelo balano de efeitos

    intracelulares e pela posio das projees recebidas (sabe-se, por exemplo, que sinapses mais

    distantes do corpo celular tm efeito mais pronunciado sobre o disparo final, o que denominadocable effect). Alm disso, ao nvel de um ncleo, a atividade final pode resultar em modulao do

    disparo basal (em reas que exibem disparo rtmico espontneo, os chamados marcapassos), ativao

    / inibio generalizada, ou inibio parcial paralelamente ativao seletiva de algumas reas dentro

    do ncleo. Ou seja, ativao e inibio convivem lado a lado no SNC. Porque a inibio de uma rea

    dentro de um ncleo, ou mesmo de regies como um todo, seria interessante?

    A comunicao neuronal resulta na percepo sensorial, codificao de informaes e

    planejamento de aes. Estes processos so maciamente dependentes da ativao e inibio de

    clulas ao longo de diferentes vias por diversos NTs. Sabe-se que informaes so mantidas no SNCpelo reforo das sinapses em projees neuronais, e que sua codificao dependente de como estes

    neurnios disparam ao longo do tempo. Estas projees formam uma gigantesca rede, o que permite

    a ocorrncia de associaes.

    Se necessrio ao indivduo, no entanto, comparar a situao em que se encontra

    presentemente com outras vivenciadas no passado que contenham elementos semelhantes,

    necessrio que apenas uma parcela desta rede seja ativada, enquanto que muitas outras seriam

    mantidas silentes pela ao de interneurnios inibitrios. De fato, estudos de neuroimagem em tempo

    real em fatias cerebrais demonstraram que o hipocampo, uma rea do SNC que pea crucial no

    processamento de memria, permanece sob inibio a maior parte do tempo, e apenas sinais

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    excitatrios recorrentes atravs de uma das suas maiores aferncias levam sua subseqente

    ativao. Porm, esta ativao no generalizada: algumas reas so mantidas sob inibio,

    enquanto outras encontram-se ativas. Ou seja, ocorre uma ativao seletiva. Ativaes seletivas em

    regies do cerebelo, gnglios da base e medula tambm esto relacionadas preciso de

    movimentos. Na percepo visual, o processo de inibio lateral permite a definio das bordas deuma imagem. Assim, a presena de atividade inibitria est na base da coordenao refinada da

    atividade nervosa. Por outro lado, a liberao de interneurnios inibitrios previne ativaes

    patolgicas, como atividade epilptica. Alm disso, devemos recordar que o custo energtico da

    atividade neuronal representa uma porcentagem alta do metabolismo basal de um indivduo, o que

    torna interessante queda neste gasto, mantendo uma parte deste sistema silente.

    A coordenao refinada definida por este mosaico de ativao / inibio foi definida ao longo

    de um lento processo de evoluo do sistema nervoso. Sabe-se que alguns NTs, como acetilcolina,

    GABA, serotonina e peptdeos (como substncia P) j se encontravam presentes em estgios iniciaisda escala evolutiva. Alguns receptores, como o colinrgico do tipo nicotnico, com seus caractersticos

    sete domnios transmembrnicos, so altamente conservados ao longo da escala evolutiva. Em

    aneldeos e artrpodes, cujo sistema nervoso ganglionar, possvel observar neurnios ativados e

    inibidos por diferentes NTs. Em um estudo clssico, Kandel e col. mapearam um circuito neural em

    neurnios gigantes de lula, demonstrando a modulao sobre clulas marcapasso e controle inibitrio.

    Sabe-se que a modulao de gnglios marcapasso pela rede de interneurnios j ocorre em cnidrios.

    A necessidade por esta modulao refinada tornou-se ainda maior, conforme aumentou o

    tamanho do sistema nervoso, ao longo da escala evolutiva, com o processo de encefalizao, oagrupamento de clulas em ncleos, at o surgimento dos sistemas nervosos de vertebrados. Neste

    grupo, o agrupamento de gigantescas populaes de neurnios em ncleos, respondendo a mltiplos

    sistemas de neurotransmissores, aumentou consideravelmente a flexibilidade de aes, percepo

    sensorial e capacidade de arquivamento de informaes. Em uma comparao algo grosseira, poder-

    se-ia dizer que, em sistemas mais complexos, a ativao macia sinalizaria um estado de alerta,

    enquanto ativaes mais seletivas e precisas levariam seleo dos sinais sensoriais.

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    RECEPTORES E SINALIZAO CELULAR

    Merari de Ftima Ramires Ferrari

    Laboratrio de Neurotransmisso

    Este tpico abordar algumas das possveis vias de transmisso da informao de uma clula

    para a subseqente, assim como a sinalizao celular com nfase no sistema nervoso central. Sem

    pretenso de esgotar o assunto, trataremos tambm das vias de sinalizao intracelular at a

    regulao da transcrio gnica, assim como interaes entre receptores e alguns sistemas de

    neurotransmisso. Alm de discutirmos alguns fatores que modulam a resposta final, particularmente

    no que diz respeito regulao neural da presso arterial.

    Para que o transmissor obtenha sucesso em transmitir a informao para as clulas

    subseqentes, necessria a interao deste com seu receptor especfico.

    Existem basicamente 4 tipos de receptores: os ionotrpicos, os metabotrpicos, os acoplados

    a enzimas (como a tirosina-quinase) e os intracelulares

    A forma de ao destes receptores varia enormemente:

    1- Os ionotrpicos so mais rpidos e geralmente atuam na despolarizao celular embora

    tambm possam agir modulando a transcrio gnica.

    2- Os receptores acoplados protena G (metabotrpicos) desencadeiam cascatas

    intracelulares envolvendo a adenilil ciclase ou a fosfolipase C.

    3- Os receptores associados a enzimas, seja com atividade enzimtica intrnseca ou

    acoplados tirosina quinase, tambm desencadeiam cascatas intracelulares podendo

    fosforilar as MAP quinases e agir sobre fatores de transcrio.

    4- Os receptores intracelulares so ativados por substncias capazes de atravessar a

    membrana citoplasmtica como os estrgenos e o xido ntrico.

    Todos os receptores mencionados podem atuar tanto na resposta rpida, que a

    despolarizao celular, e/ou agir nas respostas a longo prazo, atravs de regulao da transcrio

    gnica, por meio dos fatores de transcrio.

    A localizao dos receptores muito importante para a eficincia da transmisso do estmulo.

    Existem os receptores na membrana ps e pr-sinptica, alm dos j mencionados intracelulares.

    Os receptores na membrana ps-sinptica podem transmitir a resposta ao ncleo das clulas,

    regular a atividade de receptores vizinhos e/ou regular a despolarizao neuronal. Na membrana pr-

    sinptica, os receptores podem controlar a liberao de neurotransmissores, e os receptores

    intracelulares medeiam a resposta a longo prazo.

    A presena de receptores muito importante para a interao da clula com o meio em que

    se encontra. Desta forma, todos os grupos celulares conhecidos possuem molculas receptoras de

    alguma natureza. Existem muito poucos estudos filogenticos com nfase nos diversos tipos de

    receptores. Sabe-se que receptores ionotrpicos esto presentes em clulas pertencentes aos trsgrupos filogenticos (eucariontes, bactrias e arqueobactrias). Os estudos da evoluo de receptores

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    metabotrpicos restringem-se a poucos trabalhos que demonstraram protenas com 7 domnios

    transmembrnicos e que se utilizam de fosforilao para transmitir o sinal, anlogas aos receptores

    acoplados protena G, identificadas em protozorios e em metazorios ancestrais.

    Bibliografia:Receptores Acoplados Protena G:Bennett, M.R. (2000) The concept of transmitter receptors:100 years on. (2000) Neuropharmacology

    39:523-540.Milligan, G. & White, J.H. (2001) Protein-protein interations at G-protein-coupled receptors. Trends in

    pharmacological sciences22(10): 513-518.Clapham, D. E. & Neer, E.J. (1997) G protein subunits. Annu. Rev. Pharmacol. Toxicol. 37:167-203.

    Receptores Ionotrpicos:Engelman H.S. & MacDermott, A.B. (2004) Presynaptic ionotropic receptors and control of transmitter

    release. Nat. Rev. Neurosci. 5(2):135-45.

    Evoluo de Receptores:Martinac,B. & Kloda, A. (2003) Evolutionary origins of mechanosensitive ion channels. Prog. Biophys.

    Mol. Biol.82(1-3):11-24.Parmentier, M.L.; Galvez T.; Acher F.; Peyre B.; Pellicciari R.; Grau Y.; Bockaert J. & Pin, J.P. (2000).

    Conservation of the ligand recognition site of metabotropic glutamate receptors duringevolution. Neuropharmacology39(7):1119-31.

    New, D.C. & Wong, J.T. (1998)The evidence for G-protein-coupled receptors and heterotrimeric Gproteins in protozoa and ancestral metazoa. Biol. Signals Recept.7(2):98-108.

    Fatores de Transcrio:Papavassilov, A.G. (1995) Transcription factors. N. Engl. J. Med.332(1):45-47.Wang, L.L.; Chan, S.H.H. & Chan, J.Y.H. (2001) Fos protein is required for the re-expression of

    angiotensin II type 1 receptor in the nucleus tractus solitraiui after baroreceptor activation inthe rat. Neuroscience103(1): 143-151.

    Revises sobre o controle cardiovascular pelo SNC:Lawrence, A.J. & Jarrott,B. (1996) Neurochemical modulation of cardiovascular control in the nucleus

    tractus solitarius. Progress in Neurobiology 48:21-53van Giesbergen, P.L.M.; Palkovits, M. & de Jong, W. (1992) Involvement of neurotransmitters in the

    nucleus tractus solitarii in cardiovascular regulation. Physiological Reviews72(3):791-824.

    Sitesrelacionados:http://www.cis.upenn.edu/~krice/receptor.htmlhttp://www.gene-regulation.com

    http://www.cerebronosso.bio.br

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    ROTEIRO DE AULA PRTICAAVALIAO DE NEUROTRANSMISSORES E SEUS

    RECEPTORESMerari de Ftima Ramires Ferrari

    Laboratrio de Neurotransmisso

    1. Analisar o padro de marcao dos seguintes neurotransmissores em tecido nervoso:

    - Tirosina hidroxilase (enzima da cadeia de sntese das catecolaminas

    dopamina, noradrenalina e adrenalina).

    - Neuropeptdeo Y

    - Oxido Ntrico Sintase (enzima que converte l-arginina em citrulina e xido

    ntrico, um neurotransmissor no convencional).

    - Glutamato

    - GABA

    - Colina acetil transferase (enzima de sntese da acetilcolina)

    - Vasopressina

    - Protena Fos (produto do gene de expresso primria c-fos)

    2. Observar filmes radioautogrficos com a marcao de receptores no sistema nervoso

    central:- Receptor alfa-2 adrenrgico

    - Receptores Y

    - Receptores nicotnicos

    3. Observar a marcao do RNAm em filme radioautogrfico:

    - Tirosina hidroxilase

    - Neuropeptdeo Y e seus receptores

    - Oxido ntrico sintase- Colina acetil transferase

    - Receptores nicotnicos

    - Protena Fos

    Questes para reflexo:

    1. Quais as vantagens de estudar o RNA, o neurotransmissor e o receptor?

    2. Havendo alteraes em um dos componentes do sistema, haver necessariamente

    alterao na resposta final?

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    EVOLUO DO SISTEMA NERVOSOAdriano Alonso Pereira da Cunha

    Rodrigo Pavo

    Laboratrio de Neurocincias e Comportamento

    INTRODUO

    Neste mdulo discutiremos a evoluo do sistema nervoso atravs de uma abordagem

    comportamental e neuroanatmica. Sero apresentados experimentos que avaliam as capacidades

    sensoriais, motoras e cognitivas de animais de diferentes nveis da escala filogentica. Ao mesmo

    tempo em que apresentaremos as estruturas neuroanatmicas que estariam diretamente relacionadas

    com essas funes. Uma vez descritos e comparados os sistemas nervosos desses diferentes grupos,

    sero apresentadas as teorias mais consistentes sobre seus padres evolutivos.

    Antes de iniciarmos a discusso relacionada ao sistema nervoso, faamos uma breve reviso

    dos conceitos evolutivos. A evoluo estaria ocorrendo de uma forma natural e no determinada, pois

    no sabemos qual ser a caracterstica que ir acrescentar valor adaptativo aos indivduos, ou seja,

    quais caractersticas sero filogeneticamente conservadas. Podemos comparar a evoluo a gotas

    sucessivas de gua que percorrem caminhos diferentes ao serem jogadas em uma rocha, no se pode

    prever qual caminho elas iro percorrer e nem onde iro cair devido a mudanas na umidade, vento,

    etc. Cada caminho diferente, nessa analogia, seria uma linhagem que pode ter originado os animais

    atuais, mostrando toda a diversidade de seres que existem hoje.

    Cada organismo tem feies neuroanatmicas distintas que, em ltima instncia, refletem suarelao com o meio. O estudo evolutivo do sistema nervoso feito essencialmente atravs de

    evidncias indiretas. Isso porque esse sistema no fossilizvel e o comportamento de seres extintos

    pode apenas ser inferido. As caractersticas do sistema nervoso desses seres, como complexidade dos

    circuitos, conexes sinpticas, organizao cortical e subcortical so inacessveis; o que observvel

    o volume da caixa craniana e as impresses nela gravadas. Assim, o estudo do sistema nervoso e do

    comportamento baseiam-se na premissa de que capacidades funcionais de sistemas filogeticamente

    mais antigos so refletidas em animais originrios dessas linhagens primitivas.

    Imagem de crnio fossilizado de Captorhinus aguti: informaes sobre osistema nervoso so restritas em registros dessa natureza.

    Vale a pena lembrar que essa concepo sobre animais primitivos e derivados, que parece

    estar intimamente relacionada com a capacidade de processar informao e de agir favoravelmente

    para beneficio individual, no pode ser diretamente interpretada como superioridade. Uma pequena

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    massa cerebral pode ser mais vantajosa do que uma grande, dependendo das circunstncias

    envolvidas. Um crebro grande e capaz de lidar com muita informao tem gasto energtico maior,

    ampla necessidade de O2. Limitaes a esses fatores podem beneficiar animais com crebros

    pequenos e mais econmicos.

    Dois princpios nortearam a configurao dos sistemas nervosos dos grandes grupos deanimais: (1) a capacidade de integrar mais informao sensorial e motora e (2) o sistema ter

    dimenses reduzidas, com menor nmero de neurnios envolvidos. O resultado da atuao conjunta

    desses padres resultou em sistemas eficientes, capazes de processar informaes diversas e de gerar

    comportamentos complexos.

    Definidos os elementos bsicos da evoluo do sistema nervoso, apresentaremos agora uma

    discusso filogentica do tema, apresentando alguns grupos, suas estruturas enceflicas e

    comportamentos.

    Um ser vivo que capaz de coletar as informaes do meio em que vive, e, em seguida,demonstrar uma resposta interna ou externa. Esse ser vivo apresentaria portanto ao menos um

    sistema sensorial e um sistema efetor. Esse ser vivo poderia ser um homem, que ao sair de casa,

    entra em contato com vento, e ao sentir essas condies do meio, efetua respostas, sejam estas

    internas (apresenta um temor involuntrio e piloereo) ou externas (decide voltar para o interior de

    sua casa para buscar um agasalho). Mas no, quem descreveu esse ser vivo no estava se referindo a

    um ser humano, mas sim a um organismo unicelular, uma ameba. O estmulo era substncia p que

    est usualmente associada a bactrias, das quais as amebas se alimentam. A resposta foi citocinese,

    os pseudpodos da ameba direcionavam-se no sentido do gradiente de concentrao da substncia p,ou seja, em direo a bactria. Integrao funcional entre estmulo e resposta, funo exercida pelo

    sistema nervoso. Porm, o termo sistema nervoso no pode ser adotado para esse organismo. Esse

    termo s ser aplicvel em nveis superiores da escala filogentica.

    O primeiro organismo a apresentar um sistema nervoso verdadeiro pertenceu ao grupo dos

    cnidrios. considerado um sistema nervoso verdadeiro porque apresenta clulas especializadas para

    a conexo entre reas diferentes, os neurnios. O sistema desses animais permitiu uma comunicao

    efetiva entre as diferentes partes do animal. Apresenta alta densidade de clulas sensoriais,

    principalmente nos tentculos, e integra estmulos apresentados aos quimiorreceptores com respostas

    musculares, proporcionando a esse animal uma movimentao adequada no sentido de alcanar

    sucesso em suas atividades.

    Dentro dos invertebrados, um grupo bastante interessante o dos insetos himenpteros.

    Peguemos por exemplo, a formiga. So animais que apresentam alto grau de cefalizao, com

    conexes razoavelmente densas para receptores sensoriais (existem receptores complexos acoplados

    a olhos compostos altamente eficientes pelo menos nas castas aladas, rainha e macho). Alm disso,

    estes animais apresentam organizao social complexa, com a existncia de diversas castas com

    tarefas especficas. Toda essa complexidade foi possibilitada pelo desenvolvimento de uma estrutura

    nervosa ampla e eficiente.

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    O anfioxo pertence ao grupo do protocordados, grupo que considerado originrio dos

    cordados. O sistema nervoso desse animal bastante reduzido: o encfalo minsculo e est ligado

    rgos sensoriais rudimentares ou ausentes. Os estmulos processados por esse sistema so

    essencialmente tteis; no consegue reconhecer comida ou perigo distncia.

    Os cordados (grupo que inclui todos os vertebrados e grupos mais primitivos comourocordados e cfalocordados) apresentam a maior riqueza de estruturas neuroanatmicas e de

    comportamentos. Grupo originrio de ancestral invertebrado (no se sabe de qual grupo, diversas

    teorias consistentes afirmam a origem em diferentes grupos), teve obviamente alterao do seu

    sistema nervoso. Organizaes neuronais do grupo filogeneticamente mais antigo (invertebrado)

    foram reorganizadas e possivelmente suplementadas por estruturas adicionais. Os vertebrados

    apresentam um plano nervoso comum, com concentrao de reas sensoriais na cabea

    (=cefalizao, j presente no ancestral invertebrado) e organizao de tecido nervoso juntamente ao

    eixo cordal (estrutura que mais adiante na escala filogentica ser denominada medula espinhal).Os sistemas nervosos dos vertebrados foram alterados progressivamente na escala

    filogentica. Apesar de contarmos com um registro fssil incompleto para propor estudos evolutivos

    mais consistentes, provvel que tenham existido ancestrais em que os sentidos de olfato e viso

    surgiram consecutivamente, permitindo que o sistema percebesse estmulos distantes. So

    desconhecidos tambm os ancestrais em que apareceram os sentidos de gustao, equilbrio, dor e

    temperatura. Sabe-se que a audio apareceu mais recentemente.

    Os peixes atuais mais primitivos, os ciclostomados, tem um sistema nervoso com o padro

    bsico de componentes motores e sensoriais, tronco cerebral, corpo estriado e telencfalo. Conformeos organismos se tornaram mais complexos (complexidade aqui pode ser entendida como um maior

    nmero de palavras para se descrever o animal), cada nova capacidade sensorial teve que ser

    integrada centralmente com as outras sensaes. E o encfalo teve seu tamanho aumentado. Os

    peixes primitivos tornaram-se predadores mveis. Essa maior mobilidade deve ter exercido presso

    evolutiva para o aumento de algumas regies do encfalo. O sistema nervoso e o comportamento dos

    peixes eram simples, mas superior ao dos grupos primitivos devido a maior quantidade de informao

    e de movimento que estava sendo integrada. Acredita-se que as alteraes observveis no sistema

    nervoso de peixes caverncolas (que tiveram reduo das reas relacionadas com o processamento

    visual, como o tecto ptico, e aumento de reas relacionadas com o olfato, como o trato olfativo e as

    reas telenceflicas associadas) sejam semelhantes s alteraes que teriam ocorrido nesses peixes

    primitivos que se tornaram mveis: a alterao do padro de estmulos e respostas que tem que ser

    processado diferenciada, e o sistema acaba sendo moldado pelo processo evolutivo para atender

    esse processamento e aumentar a eficincia. como se houvesse uma conversa entre o processo

    evolutivo e os sistemas sensoriais e sistema nervoso.

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    1 curso de inverno tpicos em fisiologia comparada 9

    Representao de encfalos de vertebrados: peixe (bacalhau), anuro (sapo), rptil (crocodilo), ave

    (ganso) e mamferos (gato e homem)

    Os anfbios foram o grupo vertebrado que conquistou ambientes terrestres. As barbatanas

    transformaram-se em membros. O encfalo ainda era pequeno, simples e cilndrico. Olfato continuou

    sendo importante e a viso era til para reconhecimento de padres. Tato, equilbrio e audio foram

    retidas.Os rpteis apareceram posteriormente e desenvolveram ampla gama de estruturas. Alguns

    desenvolveram uma armadura para proteo, como nas tartarugas; outros atingiram tamanhos

    enormes, como os dinossauros. Suas respostas comportamentais eram estereotipadas e limitadas,

    mas seus encfalos tubulares eram capazes de processar maior integrao sensrio-motora do que o

    de anfbios. Uma pequena quantidade de neocrtex foi adicionada ao paleocrtex. Alguns rpteis

    podiam agarrar objetos, usar os membros como armas e ficar de p e correr sobre as pernas

    traseiras. O julgamento dos rpteis em resposta s necessidades de comida e de defesa contra

    inimigos era superior a dos anfbios. Os arcossauros, dinossauros e seus descendentes, os crocodilos e

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    1 curso de inverno tpicos em fisiologia comparada 10

    aves, em muitos aspectos eram superiores aos rpteis modernos como lagartos e cobras, em

    relao ao tamanho do crebro e comportamento.

    Os rpteis dependem principalmente da viso e do olfato, pouco da audio, para informao

    distante. Muito dos dados da viso so processados na retina e no tronco cerebral, e relativamente

    menos no prosencfalo, dessa forma o crebro propriamente dito ainda pequeno em relao aosmamferos.

    Rpteis da linhagem que deu origem aos mamferos, os sinpsidas, de tamanho prximo ao

    de um camundongo, foi um dos primeiros grupos rpteis a aparecer. Eles esto extintos agora, e j

    tinham passado sua densidade e diversidade mxima antes de aparecerem os primeiros dinossauros.

    Mais tarde, os terpsidas surgiram. Eles existiram durante o tempo desde os primeiros rpteis at os

    mamferos, e tinham caractersticas anatmicas desses dois grupos. Em um mundo ocupado pelos

    rpteis andando durante o dia e descansando durante a noite, sinpsidas e terpsidas tornaram-se

    noturnos. Eles expandiram seus sentidos de olfato e audio distncia, pois eles andavamgeralmente noite. Viso por cones provavelmente regrediu parcialmente, mas os bastonetes foram

    preservados, assumindo o mesmo padro de viso observado em mamferos modernos. A melhora da

    audio necessria para a sobrevivncia resultou em aumento da rea responsvel pelo

    processamento desse tipo de informao, e por uma encfalo maior com sinapses no tronco cerebral,

    tlamo e crebro propriamente dito. O olfato, porm, diferenciado em relao aos demais sentidos,

    pois no tem retransmisso com o tronco cerebral e tlamo. Os animais fazendo a transio entre

    rpteis e mamferos tiveram que integrar os sentidos de olfato, viso e audio, e mais uma vez

    houve presso para aumentos relativos e absolutos do crebro.As aves originaram-se de grupos reptilianos, podem ser considerados rpteis com penas ao

    invs de escamas crneas. Seus encfalos so relativamente maiores aos de rpteis do mesmo

    tamanho, mas esse aumento no de neocrtex (relativo aos mamferos). O neocrtex primordial das

    aves pode ser incorporado a ncleos telenceflicos subcorticais. A estratgia evolutiva observada nas

    aves diverge da estratgia dos mamferos.

    A maior parte das aves tem boa viso, mas olfato menos importante para criaturas

    voadoras do que para criaturas terrestres. Os centros visuais apresentam-se aumentados, assim como

    reas relacionadas coordenao do vo. Tecido neural adicional foi necessrio para o

    desenvolvimento de comportamentos definidos geneticamente de naturezas complexas. A habilidade

    dos pssaros para voar milhares de quilmetros para refgios de inverno e para voltar toda primavera

    um exemplo desse comportamento inato, assim como a construo de ninhos, comportamentos de

    corte e hbitos alimentares.

    Com o declnio do nmero de rpteis, mamferos placentrios de hbito insetvoro ganharam

    espao. Esses animais e os que deles derivaram tornaram-se diurnos. A necessidade de reintegrar o

    sistema visual de alto desempenho e o novo desenvolvimento dos cones resultaram em aumento de

    entrada de informaes, e um encfalo maior. Mamferos mantiveram o tamanho do crebro estvel

    durante longo perodo.

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    Essas informaes geram uma impresso de evoluo progressiva, de que animais cada vez

    mais desenvolvidos foram originados conforme o passar do tempo. A evoluo, porm, seguiu

    caminhos diferenciados, no s progressivamente (pelo aumento da capacidade integrativa sensrio-

    motora), mas tambm regressivamente (reduo dessa capacidade) e estavelmente, de acordo com

    as presses seletivas exercidas pelo meio. Existem animais que mantiveram sua estrutura bsica porlongos perodos de tempo, mesmo que algumas delas tivessem encfalos pouco desenvolvidos, mas

    que eram capazes de manter-se em ambientes diferentes, resistentes e flexveis a alteraes efetivas

    do meio.

    Os mamferos possuem hoje grande diversidade e habitam os mais variados ambientes com

    uma ampla gama de comportamentos. O encfalo de mamferos aumentou enormemente, permitindo

    que o homem tenha se tornado o vertebrado dominante no planeta, mas o aumento do tamanho total

    no significa o mesmo tenha ocorrido com cada parte. A maioria dos mamferos no-humanos tem um

    sistema olfatrio aumentado medido pelo tamanho do bulbo olfatrio, cheirar relativamente maisimportante para esses animais do que para os primatas mais prximos ao homem, nos quais essa

    rea regrediu. Em seres humanos temos uma regio neocortical muito desenvolvida, acompanhada

    por uma expanso do cerebelo e tronco.

    Bibliografia:Sarnat, B H & Netsky M G (1981). Evolution of Neurvous System. Oxford University

    Press.Maturana H R & Varela F J (1988). The Tree of Knowledge: The biological roots of

    Human Understanding.New Science Library Shambhala.Bullock T H (1977). Introduction to Nervous Systems. W.H. Freeman and CompanyAnderson P A V (1989). Evolution of the First Nervous Systems. Plenum Press.

    Siteshttp://www.ib.usp.br/~gfxavier/geoclima.html (texto sobre evoluo utilizado no curso

    Fisiologia I do curso de Biologia)http://www.fortunecity.com/campus/biology/752/snc.htm (Anatomia Comparada do Sistema

    Nervoso Central Humano e de Ratus norvegicus)

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    MECANISMOS CENTRAIS DO CONTROLE

    CARDIOVASCULAR

    Jessica Ruivo Maximino

    Laboratrio de Neurotransmisso

    1. INTRODUO

    A perfuso tecidual garantida pela manuteno da fora motriz da circulao em nveis

    adequados e razoavelmente constantes ao longo de toda a vida dos indivduos, estejam eles em

    repouso ou desenvolvendo diferentes atividades comportamentais. Os nveis de presso arterial (PA),

    gerados pela atividade cardaca e vascular so controlados por diversos sistemas inter-relacionados

    que realizam funes especficas.Assim, conhece-se alguns mecanismos de ajuste da PA:

    - Mecanismo de controle a curto-prazo da PA (Mecanismos neuro-humorais)

    - Mecanismos de controle a longo-prazo da PA (Mecanismos de fluidos corporais)

    2. CONTROLE DA PRESSO ARTERIAL PELO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

    O Sistema Nervoso Central (SNC) tem um papel importante na regulao do sistema

    cardiovascular, por controlar tanto a atividade do sistema nervoso autonmico quanto a liberao defatores hormonais circulantes. O SNC modifica agudamente a PA e os batimentos cardacos,

    facilitando a homeostase e as respostas apropriadas ao meio ambiente (WYSS et al

    tem um papel fundamental na regulao a curto-prazo da PA.

    iniciado em terminaes nervosas localizadas no seio carotdeo e no arco artico, as quais captam

    K ., 1990).

    W et al

    1990) e algumas reas enceflicas parecem ter uma grande importncia na regulao cardiovascular.

    envolvido na recepo e integrao de mltiplos processos viscerosensoriais, incluindo o controle

    L & J , 1996). Ele o principal

    no arco artico, dos quimiorreceptores dos corpos carotdeos e das aferncias provenientes do

    (M & R , 1971; IPSKI ., 1975 ; IRIELLO ALARESU

    1981).

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    1 curso de inverno tpicos em fisiologia comparada 13

    O NTS influencia o controle cardiovascular atravs de suas projees para ncleos medulares

    (OTAKE, 1993), rea postrema (SAPER et al.,1983), locus coeruleus (LC) e ncleos hipotalmicos, como

    o ncleo paraventricular do hipotlamo (PVN) (SAWCHENKO &SWANSON, 1982).

    Assim, alm do NTS outros centros bulbares esto envolvidos no controle cardiovascular,

    como neurnios da poro caudal (CVL) e da poro rostral (RVL) da medula ventrolateral (VLM),reas da formao reticular nesta regio do SNC. A CVL recebe projees diretas do NTS que, por sua

    vez, envia projees inibitrias RVL. A RVL envia projees para os neurnios pr-ganglionares

    simpticos na coluna intermdio lateral da medula espinhal exercendo dessa forma, efeito modulatrio

    sobre o tono do sistema nervoso simptico (revisado por DAMPNEY, 1994). Essas projees constituem

    o barorreflexo, assim, a circuitaria do barorreflexo ativada em decorrncia da variao da PA.

    O NTS rico em variedade e quantidade de neurotransmissores, sendo que a participao

    destes no controle neural da PA vem sendo muito discutida (VAN GIERSBERGEN et al., 1992; LAWRENCE &

    JARROT, 1996). Mais de trinta neurotransmissores bem como seus respectivos receptores so descritosno NTS, sendo que o papel funcional de cada um deles ainda no foi adequadamente demonstrado.

    Alm disso, possvel que interaes entre sistemas de neurotransmisso neste ncleo ampliem a

    capacidade de modulao das respostas que acontecem aps determinado estmulo pressrico.

    O LC, localizado na ponte tambm tem participao relevante nas respostas reflexas

    autonmicas e neuroendcrinas em decorrncia de alteraes da PA. O LC envia projees para

    diversas reas do encfalo e medula espinhal (FOOTE et al., 1983), recebendo aferncias

    principalmente da medula oblonga (ASTON-JONESet al., 1986).

    Outro ncleo importante no controle da PA o PVN, localizado bilateralmente ao terceiroventrculo, o PVN recebe e envia projees diretas para o NTS podendo modular o processamento

    bulbar do controle cardiovascular (SAWCHENKO & SWANSON, 1982). A estimulao deste ncleo pode

    causar tanto efeito pressor quanto depressor. O efeito difere para cada rgo alvo. O fato de existir

    projees diretas do PVN para a coluna intermdio lateral e do NTS para o PVN, pode-se relacionar

    esse circuito com o barorreflexo (SAWCHENKO & SWANSON, 1982).

    No SNC diversos mediadores qumicos participam do controle/modulao da PA, tais como as

    catecolaminas, o neuropeptdeo Y (NPY), a angiotensina II (Ang II), o gaba, o glutamato, a

    vasopressina entre outros.

    Referncias Bibliogrficas:

    ASTON-JONES, G., ENNIS, M., PIERIBONE, V.A., NICKELL, W.T., SHIPLEY, M.T. The brain nucleuslocus coeruleus: restricted afferent control of a broad efferent network. Science , 7;234(4777):734-737, 1986.

    CIRIELLO, J. & CALARESU, F.R. Projections from buffer nerves to the nucleus of the solitary tract: ananatomical and electrophysiological study in the cat. J. Aut on. Ner v . Syst., 3(2-4): 299-310,1981.

    DAMPNEY, R.A.L. Functional organization of central pathways regulating the cardiovascular system.Physiol . Rev., 74(2): 323-364, 1994.

    FOOTE, S.L., BLOOM, F.E. & ASTON-JONES,G. Nucleus locus coeruleus: new evidence of anatomicaland physiological specificity. Physiol . Rev.,63(3): 844-914, 1983.

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    1 curso de inverno tpicos em fisiologia comparada 14

    KUMADA, M., TERUI, N. & KUWAKI, T. Arterial baroreceptor reflex: its central and peripheral neuralmechanisms. Prog. Neurob io l ., 35(5):331-61, 1990.

    LAWRENCE, A.J. & JARROTT, B. Neurochemical modulation of cardiovascular control in the nucleustractus solitarius. Prog. Neuro b io l., 48(1): 21-53, 1996.

    LIPSKI, J., MCALLEN, R.M. & SPYER, K.M. The sinus nerve and baroreceptor input to the medulla ofthe cat.J. Phy sio l., 251(1): 61-78, 1975.

    MIURA, M. & REIS, D.J. The paramedian reticular nucleus: a site of inhibitory interaction betweenprojections from fastigial nucleus and carotid sinus nerve acting on blood pressure. J.Phys io l., 216(2): 441-460, 1971.

    OTAKE, K., NAKAMURA, Y. & EZURE, K. Projections from the commissural subnucleus of the solitarytract onto catecholamine cell groups of the ventrolateral medulla. Neurosc i . Let t .,12;149(2):213-216, 1993.

    SAPER, C.B., REIS, D.J. & JOH, T. Medullary catecholamine inputs to the anteroventral thirdventricular cardiovascular regulatory region in the rat. Neurosc i . Let t.,11;42(3):285-291,1983.

    SAWCHENKO, P.E. & SWANSON, L.W. Immunohistochemical identification of neurons in theparaventricular nucleus of the hypothalamus that project to the medulla or to the spinal cord inthe rat. J. Com p. Neuro l . , 1;205(3):260-272, 1982.

    VAN GIERSBERGEN, P.L., PALKOVITS, M. & DE JONG, W. Involvement of neurotransmitters in thenucleus tractus solitarii in cardiovascular regulation.Physiol . Rev., 72(3):789-824, 1992.WYSS, J.M., OPARIL, S. & CHEN, YUI-CHEN The role of the central nervous system in hypertension.

    In: Hyper tens ion : Pathoph ys io logy , D iagnosisand Managem en t,edited by J. H. Laraghand B.M. Brenner. New York: Raven, p.679-701, 1990.

    Site interessante:www.pubmed.com

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    ROTEIRO DE AULA PRTICANEUROANATOMIA

    Jessica Ruivo Maximino

    Laboratrio de Neurotransmisso

    OBJETIVO:Apresentar o Sistema Nervoso (SN) e suas possveis divises didticas.

    O SN um todo. Sua diviso em partes tem um significado exclusivamente didtico, pois vrias delas

    esto intimamente relacionadas do ponto de vista morfolgico e funcional. O SN pode ser divido

    levando-se em conta critrios anatmicos, funcionais e embriolgicos.

    DIVISO DO SISTEMA NERVOSO COM BASE EM CRITRIOS ANATMICOS

    DIVISO DO SISTEMA NERVOSO COM BASE EM CRITRIOS EMBRIOLGICOS

    1) Crnio:sustentao e proteo para o Sistema Nervoso Central.

    Sistema Nervoso

    C

    CerebeloTronco Encef lico Mesenc faloPonte

    NervosGngliosTerminaes Nervosas

    EspinhaisCranianos

    Sistema Nervoso

    Sistema Nervoso

    Sistema NervosoPerif rico

    Enc falo

    Medula espinhal

    C rebro

    Cerebelo lico faloBulbo

    Nervosnglios

    es Nervosas

    Espinhais

    Sistema NervosoSomtico

    Sistema NervosoVisceral

    AferenteEferente

    AferenteEferente

    SimpticoParassimptico

    Sistema NervosoSomtico

    Sistema NervosoVisceral

    AferenteEferente

    AferenteEferente

    SimpticoParassimptico

    Prosencfalo

    Mesencfalo

    Rombencfalo

    TelencfaloDiencfalo

    MetencfaloMielencfalo

    Crebro

    Mesencfalo

    Rombencfalo

    Prosencfalo

    Mesencfalo

    Rombencfalo

    TelencfaloDiencfalo

    MetencfaloMielencfalo

    Crebro

    Mesencfalo

    Rombencfalo

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    2) Encfalo(crebro, cerebelo e tronco enceflico).

    a) Para o tecido sseo no entrar em contato com o tecidonervoso existem membranas fibrosas chamadas

    meninges, que so: dura-mter, pia-mter e aracnide.

    b) Crebro (Telencfalo + Diencfalo): giros e sulcos(as artrias e veias ficam localizadaspreferencialmente nos sulcos).Lobos (frontal, parietal, temporal e occipital)

    c) Cerebelo

    d) Tronco Enceflico: mesencfalo, ponte e bulbo

    e) Tlamos: Comunicao

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    3) Pares de Nervos Cranianos

    I - bulbo olfatrio / trato olfatrioII - nervo ptico / trato pticoIII - nervo culomotorIV - nervo troclear

    V - nervo trigmeoVI - nervo abducenteVII - nervo facialVIII - nervo vestbulo coclearIX - nervo glossofarngeoX - nervo vagoXI - nervo acessrioXII - nervo hipoglosso

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    4) Cauda eqina

    5) Vrtebra: Msculo e medula

    6) Observar a reconstituio do encfalo

    Referncias:

    Machado, A.B.M. Neuroanatomia Funcional. 2aedio. So Paulo. Ed. Atheneu, 2000.

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    HIPERTENSO E EXERCCIO FSICO: UMA BREVEINTRODUO

    Regiane Xavier de Moraes

    Laboratrio de Neurotransmisso

    Neste tpico ser sucintamente abordado a interao do exerccio fsico com a hipertenso,

    alm de atualidades e tendncias em pesquisa na rea da fisiologia do exerccio e doenas

    cardiovasculares.

    O sedentarismo pode contribuir para o aparecimento e/ou agravamento de doenas

    cardiovasculares como a hipertenso. De acordo com 3 Consenso brasileiro de hipertenso (1998),

    15 a 20% da populao brasileira est acometida. Atualmente 90 a 95% dos idosos so hipertensos.

    Durante os ltimos tempos, o exerccio fsico, bem como as suas implicaes e conseqncias,tem sido extensamente estudado por cientistas de todo o mundo. Usualmente, os exerccios,

    aerbicos e/ou de resistncia, mais recomendados e utilizados so a caminhada e corrida em esteiras

    rolantes, a natao em piscinas, a musculao com pesos e pedalar em bicicletas ergomtricas. Em

    animais normalmente so utilizados a roda de corrida espontnea, a esteira para corrida induzida e a

    natao. Estas pesquisas buscam compreender as aes do exerccio no organismo, quais os

    mecanismos centrais e perifricos que as norteiam e, principalmente, quais os benefcios que poucas

    horas de mudana na rotina diria podem causar tanto para uma pessoa ou animal saudvel como

    para os acometidos por patologias.

    A realizao do exerccio fsico provoca uma srie de respostas fisiolgicas nos diversos

    sistemas corporais, em particular no cardiovascular e nervoso. Objetivando manter a homeostasia

    celular, diante do aumento das necessidades metablicas, h incremento do dbito cardaco,

    redistribuio do fluxo e aumento da perfuso sangunea para a musculatura em atividade.

    Sabe-se que exerccios fsicos regulares, quando so adequadamente prescritos, e de baixa

    intensidade podem provocar alteraes autonmicas importantes que influenciam o sistema

    cardiovascular. Dentre estas, a atenuao da hipertenso arterial tanto em humanos quanto em ratos

    espontaneamente hipertensos (SHR). A atividade fsica contribui para a melhora do controle

    barorreflexo e reduo de 8 a 11 mmHg da presso arterial sistlica e diastlica, respectivamente, em

    indivduos hipertensos (Hagberg, et al.,2000). Estudos mostram que a diminuio da presso arterial

    deve-se diminuio do dbito cardaco que est associado diminuio da frequncia cardaca ps

    exerccio (bradicardia de repouso) (Vras-Silva, et. al.,1997). Entretanto, alguns autores propem que

    exerccios crnicos provocam queda na resistncia vascular sistmica e, consequentemente na

    reduo da presso arterial (Nelson, et al.,1986). O treinamento fsico normaliza o tnus simptico,

    que controla a frequncia cardaca em SHRs (Gava, et al.,1995) e diminui a atividade nervosa

    simptica em humanos, ou seja, estes resultados sugerem que a atividade fsica pode modular a

    atividade nervosa simptica para o corao e vasos perifricos, explicando, em partes, a queda

    pressrica.

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    Modulaes especficas da frequncia cardaca durante o exerccio constituem um mecanismo

    muito preciso de manuteno do suprimento do fluxo sanguneo para o crebro, corao, pele e

    msculos em atividade.

    Os neurotransmissores vasopressina (AVP) e ocitocina (OT) so produzidos em neurnios

    magnocelulares do Ncleo Paraventricular do Hipotlamo (PVN) que envia e recebe projees doNcleo do Trato Solitrio (NTS). O PVN e o NTS so importantes centros de controle cardiovascular

    (Michelini e Morris, 1999).

    A AVP facilita a resposta taquicrdica durante a atividade fsica. Contraditoriamente, a OT

    diminui a taquicardia e contribui para a bradicardia. Desta forma, estes neurotransmissores possuem

    efeitos especficos e opostos no controle da frequncia cardaca. Este balano entre o estmulo

    excitatrio (AVP) e inibitrio (OT) prov a eficincia do ajuste fisiolgico requerido

    momentaneamente, j que a taquicardia necessria para suprir a maior demanda de fluxo

    sanguneo e metablica da musculatura em atividade durante o exerccio. Assim, no NTS de indivduostreinados, a AVP e OT atuam como moduladores da frequncia cardaca durante a atividade fsica por

    potencializar ou moderar, respectivamente, a taquicardia (Michelini, 2001).

    importante enfatizar que as vias vasopressinrgicas e ocitocinrgicas do tronco enceflico

    no so os nicos mecanismos centrais envolvidos na gnese da taquicardia. Assim, projees

    descendentes vasopressinrgicas e ocitocinrgicas do PVN para o NTS so parte do mecanismo

    central de modulao do reflexo barorreceptor no controle da frequncia cardaca durante o exerccio

    e outras condies ambientais (Michelini, 2001).

    Podem ser observadas ainda outras alteraes cardiovasculares decorrentes do treinamentofsico tais como a hipertrofia cardaca. Exerccios aerbicos, por meio do aumento de volume

    sanguneo, podem estimular adaptaes na morfologia cardaca, metabolismo energtico e funes.

    Estes podem produzir hipertrofia cardaca ecntrica, na qual o aumento da massa ventricular

    proporcional ao aumento da cmara cardaca (Frohlic, et al.,1992). Trata-se de uma resposta

    fisiolgica e compensatria fundamental para suportar o aumento da carga de trabalho. Para que tal

    modificao acontea ocorre no msculo cardaco aumento da sntese proteica, aumento da espessura

    das miofibrilas, aumento de filamentos contrteis dentro da fibra muscular, etc. Estas alteraes

    estruturais, morfo-funcionais e metablicas do corao induzidas pelo exerccio resultam em maior

    volume de ejeo sistlica, que torna-se mais vigorosa, e maior esvaziamento ventricular.

    Entretanto, a hipertrofia cardaca pode se instalar em resposta a certos estados patolgicos

    crnicos como e hipertenso arterial. Na hipertrofia concntrica o aumento da massa ventricular no

    proporcional ao aumento da cmara cardaca. Desta forma o trabalho cardaco feito contra uma

    excessiva resistncia ao fluxo sanguneo. O corao hipertrofiado pode falhar e tornar-se incapaz, em

    casos mais graves, de prover o fluxo sanguneo normal para o indivduo hipertenso.

    Em suma, o exerccio fsico crnico de intensidade baixa a moderada possui implicaes

    clnicas importantes j que pode reduzir ou mesmo abolir a necessidade de uso de medicamentos

    anti-hipertensivos, diminuindo, desta forma, o custo do tratamento, extinguindo efeitos colaterais e

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    principalmente promovendo melhora na qualidade de vida de indivduos hipertensos. Assim pode ser

    tido como uma importante conduta no farmacolgica no tratamento da hipertenso arterial.

    Referncias Bibliogrficas Citadas

    FROHLIC, E.D., et al. The Heart in Hypertension. N. England. J. Med. v.327, p. 998-1008, 1992.GAVA, N.S.; VRAS-SILVA, A.S.; NEGRO, C.E.;et al. Low-Intensit Exercise Training Attenuates

    Cardiac -adrenergic Tone During Exercise in Spontaneously Hypertensive Rats.Hypertension. v.26 (2), p.1129-1133, 1995.

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    MICHELINI, L.C.; MORRIS, M. Endogenous Vasopressin Modulates the Cardiovascular Responses toExercise.Annals New York Acad. Sci.v.897, p. 198-221,1999.

    NELSON, L.; JENNINGS, G.L.; ESLER, M.D.; et al. Effect of Changing Levels of Physical Activity onBlood-pressure and Haemodynamics in Essential Hypertension. Lancet,v. 2, p. 473476, 1986.

    VRAS-SILVA, A.S.; MATTOS, K.C.; GAVA, N.S.; et al. Low-intensity Exercise Training DecreasesCardiac Output and Hypertension in Spontaneously Hypertensive Rats. Am J Physiol: HeartCirc Physiol, v.273(6 Pt2), p. H2627-H2631, 1997.

    Referncias Bibliogrficas SugeridasDUFLOTH, D.L.; MORRIS, M.; MICHELINI, L.C. Modulation of Exercise Tachycardia by Vasopressin in

    the Nucleus Tractus Solitarii.Am.J.Physiol. v.273,p.R1271-R1282, 1997.KRAMER, J.M.; BEATTY, J.A.; PLOWER,E.D.; WALDROP, T.G. Exercise and Hypertension: a model for

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    Preveno de Hipertenso Arterial. Rev Hipertenso. v.4 (3), 2001.SILVA, G.J.J.; BRUM,P.C.; NEGRO,C.E.; KRIEGER,E.M. Acute and Chronic Effects of Exercise on

    Baroreflexes in Spontaneously Hypertensive Rats. Hypertension.v.30(3),p. 1997.TURNER, D.L. Cardiovascular and Respiratory Control Mechanisms During Exercise: an Integrated

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    Sites Relacionadoswww.cardiol.brwww.sbh.org.br

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    1 curso de inverno tpicos em fisiologia comparada 22

    CONSIDERAES SOBRE A NEUROFISIOLOGIA DAMEMRIA

    Andr Frazo Helene

    Laboratrio de Neurocincias e Comportamento

    1. Proposta:

    aula terica com durao de uma a duas horas

    2. Objetivo:

    tratar de forma sucinta da expresso da memria no SNC

    3. Conceitos:

    bases de neuroanatomia funcional

    tcnicas de abordar experimentalmente o problema da relao crebro-funo

    sistemas de memria

    4. Material didtico:

    apenas aula com utilizao de projetor digital

    Texto de apoio

    A atividade e o funcionamento do SNC esto diretamente ligados sua capacidade de gerar a

    partir basicamente da ativao individual de clulas neuronais processos que em ltima instncia

    permitem gerar atitudes to sofisticadas quanto dirigir um carro, lembrar o nome de uma cidade ou

    tomar uma deciso, considerando diferentes informaes e expectativas simultaneamente.

    A proposta presente aqui pretende abarcar estas questes, tentando aproximar propostas

    experimentais e a vida cotidiana, sempre com um enfoque de anlise formal da natureza antomo-

    funcional das funes expressadas pelo SNC.

    Sistemas de memria

    O uso de um termo nico pode sugerir que memria um sistema unitrio, uma entidade

    independente qual um nico sistema responde. No entanto, quando falamos de memria temos de

    nos referir a muito mais do que apenas um sistema simples e unitrio. Sob o termo "memria" esto

    presentes todos os processos de reteno, gerenciamento e evocao de informaes, sejam estes

    por perodos de tempo que podem ser to curtos quanto fraes de segundo at perodos to longos

    como uma vida inteira. Informaes estas que abarcam a capacidade de arquivar informaes as mais

    variadas: sobre ns mesmos e sobre nosso ambiente.

    A noo de que memria pode ser dividida em diferentes componentes antiga e muito

    baseada na observao de casos clnicos neurolgicos, que sempre tiveram papel vital ao longo da

    histria dos estudos da memria. Um dos mais clssicos casos clnicos foi estudado e descrito por

    Brenda Milner e William Scoville e publicadas em 1957, sobre o paciente H.M.. Aps passar por uma

    cirurgia realizada por Scoville para extirpao de um foco epilptico grave, que envolveu a remoo

    bilateral de parte considervel de seu crtex temporal medial e hipocampo (Figura 1), o paciente H.M.

    apresentou um caso de perda de suas capacidades de formao de novas memrias (amnsia).Apesar desta no ser a nica origem possvel de casos de amnsia (pacientes com a doena de

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    1 curso de inverno tpicos em fisiologia comparada 23

    Korsakoff tambm apresentam um quadro de amnsia, apesar de terem leses em estruturas no

    corticais), as sndromes amnsicas se mostram de natureza extremamente seletiva. Pacientes

    amnsicos embora no consigam se lembrar da maioria dos eventos que experienciam tem muitas de

    suas funes de memria preservadas. Por exemplo, a capacidade de aprendizagem de novas

    habilidades, motoras ou perceptuo-cognitivas esto mantidas, mesmo que no acompanhadas dacapacidade de reconhecer isto por parte do paciente, exatamente pela seletividade apontada. Da

    mesma forma, a capacidade de manter informaes por curtos perodos de tempo tambm est

    mantida, favorecendo o conceito de modularidade de funes presente no sistema (Figura 2).

    Quantos tipos de memria existem?

    O estudo dos processos de memria vem se beneficiando do conceito de modularidade defunes, isto , da noo de que memria compreende um conjunto de habilidades mediadas por

    diferentes mdulos do sistema nervoso, que funcionam de forma independente, porm cooperativa. O

    processamento de informaes nesses mdulos dar-se-ia de forma paralela e distribuda, permitindo

    que um grande nmero de unidades de processamento influencie outras em qualquer momento no

    tempo, e que grande quantidade de informaes seja processada concomitantemente.

    Memria de longa durao

    Memria de longa durao se refere a qualquer reteno de natureza perene e duradoura.

    Esta pode ser dividida em duas diferentes modalidades, ou mdulos. A primeira, chamada dedeclarativa, se refere habilidade de armazenar e recordar ou reconhecer de maneira consciente e

    passvel de declarao fatos e eventos. Esta tipicamente descrita pela declarao verbal (de onde

    advm o nome declarativa) mas tambm pode se dar atravs de reconhecimento ou de uma imagem.

    No exemplo do caso H.M. exatamente esta modalidade de memria que foi perdida, fazendo com

    que o paciente no se "lembre". Assim esta modalidade de memria poderia ser descrita como um

    "saber que" (Figura 3).

    Diferentemente, a memria implcita (ou procedimental), se refere capacidade de

    aprender novas habilidades motoras ou perceptuo-cognitivas (Figura3). Estas, por seu carter no

    consciente de execuo e aquisio, so tarefas que demandam treino longo e repetitivo e que muito

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    dificilmente podem ser adquiridas de outra forma que no pela execuo em si da tarefa em questo.

    Sua evocao se d, necessariamente, pela execuo da habilidade e poderia ser descrita como

    "saber como". exatamente esta habilidade que est preservada em pacientes amnsicos, tal como

    o caso do paciente H.M..

    Memria Operacional (inicialmente descrito como "de curta durao")

    Memria operacional um conceito hipottico que refere-se ao arquivamento temporrio da

    informao para o desempenho de uma diversidade de tarefas cognitivas. Embora ela seja

    usualmente identificada com (e mesmo tratada como sinnimo de) memria de curta durao, estaltima mostrou-se por demais simples para lidar com os tipos de reteno de informao por curtos

    perodos de tempo evidenciados experimentalmente. Assim, desenvolveu-se o conceito de memria

    operacional como um sistema de capacidade limitada e com mltiplos componentes, responsveis no

    s pela manuteno de informaes por curtos perodos mas tambm pela capacidade de selecionar

    estmulos relevantes no ambiente e entre as informaes de longa durao (Figura 4).

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    A essncia da memria

    Sabe-se hoje que a aquisio de memria basicamente se d pela modulao das sinapses,

    nome dado ao processo pelo qual duas clulas nervosas se conectam (Figura 5). A partir da descrio

    das sinapses, conceito primeiramente proposto por Wilhem Waldeyer e posteriormente demonstrado

    por Ramn y Cajal, mudanas na organizao de conexes sinpticas tm sido exaustivamente

    associadas aos processos de aprendizagem e memria em uma diversidade de espcies de

    invertebrados e vertebrados, favorecendo a interpretao sobre a ubiqidade destes mecanismos nos

    processos de arquivamento de informaes. Sendo assim, podemos descrever memria pela

    facilitao - e pela eliminao seletiva - de ligaes entre clulas neuronais, que desta forma se

    agrupam funcionalmente em agregados (ns) e propiciam a conexo posterior destes entre si,

    tambm por modulao de conexes sinpticas, gerando a possibilidade destes ns representarem em

    si o arquivamento de uma informao.

    Para termos uma idia do que representa na prtica esta caracterstica associativa do

    funcionamento do sistema nervoso na gerao de memrias, assim como para vislumbrarmos o poder

    de arquivamento de informaes deste sistema, vale ressaltar que estima-se que tenhamos cerca de

    cem bilhes de clulas neuronais (ou neurnios) no nosso sistema nervoso. Mais ainda, que cada uma

    destas clulas tem em mdia vinte mil conexes (sinapses) com outras clulas. Ou seja, sendo osistema nervoso um sistema que traz em si a riqueza de poder arquivar informaes atravs de

    conexes entre cada uma de suas clulas componentes, o sistema nervoso humano tem em si uma

    ordem de grandeza inimaginvel resguardada em sua estrutura.

    Levando adiante o fato de sabermos que memrias se estruturam em redes de conexes

    sinpticas de neurnios podemos montar um mapa mais claro do que estamos falando. Haveria, no

    sistema nervoso, uma grande quantidade de unidades dedicadas de processamento inerentemente

    plstico, cada qual devotada a uma tarefa especfica mas simples. Quando ativadas, essas unidades

    excitam e inibem outras ao longo de uma rica rede de conexes. Algumas acabam por gerar ligaes

    associativas cuja fora pode ser alterada em funo de diferentes fatores. Seguindo o raciocnio,

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    novas informaes geram novas ativaes, gerando novas conexes que sero somadas quelas j

    existentes, tornando-se assim um novo "ramo" de ativao a partir de um n anterior. Nessas redes,

    conjuntos de ns podem representar informaes da memria compartilhadas entre diferentes

    arquivamentos (Figura 6).

    Topologia da Memria

    Para entender melhor a formao e a topografia de memrias til pensar que o crtex

    sensorial primrio e as reas motoras do crtex so repositrios de uma forma em muito inata de

    memria, chamada de memria filtica, ou "memria das espcies". No nascimento estas reas j

    contm em sua estrutura de conexes sinpticas as "experincias" essenciais selecionadas

    evolutivamente ao longo do tempo, sendo basicamente informaes de natureza simples sobre

    sensao e movimento. Sem dvida podemos chamar esta estrutura bsica de conexes sinpticas de

    memria, uma vez que so informaes que adquiridas, esto armazenadas e podem facilmente ser

    evocadas. Um bom exemplo disso pode ser visto no comportamento de mamar dos bebs, um

    comportamento extremamente complexo, que envolve a utilizao de grande nmero de msculos

    sincronizadamente e que certamente ser evocada pela estimulao correta.

    Poder caracterizar memria frente observao da forma como esta se estrutura

    topologicamente no sistema nervoso traz em si a possibilidade de ampliarmos a abrangncia do

    debate sobre memria. O sistema nervoso, em seu processo histrico de interao com o ambiente,

    reage no apenas a estmulos, mas tambm s contingncias espaciais e temporais entre os

    estmulos, e tambm destes com suas respostas - inicialmente seguindo regras bsicas j

    determinadas em suas estruturas sinpticas inatas e colhendo informaes de resposta de maneira

    muito abrangente e inespecfica. Com o acmulos destes registros sobre ocorrncias anteriores o

    sistema passa a ser treinado, identificando regularidades na ocorrncia desses eventos, formando

    memrias e, conseqentemente, passando a poder gerar previses (probabilsticas) sobre o ambiente.

    Desta forma, passa a agir antecipatoriamente frente ao ambiente. Uma das conseqncias deste

    processo o desenvolvimento de intencionalidade; ou seja, como resultados almejados podem ser

    previstos com base em registros sobre regularidades passadas, o sistema pode gerar aes que levem

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    a resultados desejados, ao invs de simplesmente esperar que eles ocorram desta forma quase que

    aleatoriamente.

    Consideraes possveis

    A busca por regularidades no ambiente gera a possibilidade de previso que se identificadas

    adequadamente agiro diretamente no sucesso das decises que sero tomadas. Por outro lado,centrar esforos na busca de regularidades observando pistas no informativas no ambiente tero o

    resultado oposto: tomadas de deciso equivocadas. No entanto muitas vezes a deteco de

    regularidades se torna extremamente difcil, seja por uma inadequao do treino ao que fomos

    expostos, seja pela prpria natureza do estmulo em questo. Por exemplo, um indivduo neurtico,

    em ltima anlise no capaz de discriminar entre estmulos realmente perigosos e aqueles

    inofensivos. Exatamente por isso tem medo de gatos, cachorros, elevador, de outras pessoas, ou as

    mais variadas condies de estimulao incua. Da mesma forma, o neurtico pode se tornar incapaz

    de escolher entre ocupaes realmente importantes e desnecessrias, dedicando um tempo enorme aatividades como lavar as mos ou no pisar em faixas na rua.

    Este efeito, de produo de neuroses, possvel de ser replicado em animais de laboratrio.

    Ivan Pavlov, cientista russo nascido em 1849 e que teve importncia decisiva nos estudos da

    psicologia experimental, produziu animais neurticos. Aps condicionar cachorros a salivarem frente

    apresentao de um crculo mas no de uma elipse (associando temporalmente estes estmulo

    oferta e no oferta de alimento), Pavlov passou a aproximar a forma da elipse ao do crculo (Figura

    7). O limite ao qual os animais conseguiam diferenciar adequadamente os dois estmulos era de

    elipses quase circulares de proporo entre o tamanho dos eixos que a compunham de 7 para 8. Apartir deste ponto, elipses mais circulares (no caso com propores de 8 para 9, por exemplo) se

    tornaram indissociveis dos crculos, para os animais. Esta exigncia era demasiada para a capacidade

    de discriminao do animal. A saliva punha-se a correr inicialmente diante da elipse, depois diante do

    crculo e, finalmente, diante de qualquer um deles ou mesmo de ambos, sem distino. O co punha-

    se a ganir e latir ferozmente para a tela, tentava saltar da mesa e cortar as amarras com os dentes.

    Da por diante o animal passou a ser intil para experimentao. Salivava ao ver a experimentadora, a

    sala de experincias ou ainda qualquer outro estmulo. Aparentemente a capacidade de discriminao

    do animal sofrera colapso quase completo, tornando-o, dessa forma, um animal neurtico.

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    No entanto este um exemplo simplista do que passamos no dia a dia ao longo de nossas

    vidas. Apesar de ser importante identificarmos situaes simples e especficas possivelmente

    perigosas, tais como mentir na frente de crianas apesar de repreend-las severamente quando

    mentem (fazendo com que a criana no consiga detectar qual o estmulo importante na situao, j

    que mentir no parecer ser), as preocupaes validas so em geral de natureza muito mais

    abrangentes.

    Diferente de outros animais, temos crebros extremamente generalistas. Ou seja, estamos

    aptos a desenvolver diferentes habilidades frente s demandas de nosso ambiente. Na prtica talvezjamais sejamos to bons para lembrar onde guardamos as coisas como os animais especialmente

    adaptados a guardar alimento antes do inverno o so, de maneira a poder ach-los durante a poca

    de frio. No entanto seremos muito melhores em tarefas variadas nas quais estes animais no teriam

    sucesso algum, ao mesmo tempo em que teremos um desempenho satisfatrio em uma tarefa de

    recordao. Isto depende somente do treino ao qual seremos expostos para tanto, e aqui temos de

    entender treino como muito mais do que apenas uma vivncia curta para desempenho de uma tarefa,

    temos de considerar todos os estmulos aos quais passamos ao longo de nossa vida.

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    ASPECTOS FISIOLGICOS DAS TOXINAS DE ANIMAISAQUTICOS E TERRESTRES

    Dr. Joacir Stolarz de Oliveira

    Laboratrio de Imunoqumica do Instituto Butant

    O fascnio apresentado por animais aquticos e terrestres devido, em grande parte, pela

    imensa variedade de formas anatmicas e matizes de cores apresentados por seus corpos e tambm

    pela grande capacidade de adaptao aos diferentes ambientes em que vivem, seus diferentes

    hbitos de vida e suas relaes com os outros seres. Outra caracterstica bastante marcante e que

    aparece desde microorganismos at alguns vertebrados a capacidade de produzir e/ou acumular

    substncias txicas, as toxinas1, que so empregadas em diversas estratgias envolvidas na defesa

    contra predadores, no ataque a presas potenciais, alm da sua utilizao na comunicao qumica

    intra e interespecfica.Dentro deste contexto, atualmente conhecido uma enorme diversidade e complexidade de

    toxinas que compem os venenos2 e as peonhas3 de organismos, tanto aquticos (marinhos e de

    gua doce) como terrestres. Algumas peonhas foram desenvolvidas para a captura de presas como

    ocorre, por exemplo, nas glndulas de serpentes, escorpies e aranhas, nos nematocistos de guas

    vivas e anmonas do mar e nos arpes (ferres) de moluscos marinhos do gnero Conus. Outras,

    esto voltadas quase que exclusivamente para a defesa em ambientes altamente competitivos, como

    por exemplo quelas que so encontradas em peixes (peixe-pedra, peixe-escorpio, etc.) e em alguns

    anfbios. J os venenos so encontrados desde organismos unicelulares, como algas e dinoflagelados,e ao longo dos muitos filos que compreendem os metazorios como os chaetognatos, nemertneos,

    esponjas, moluscos, muitos peixes (peixe-porco, balistes, baiacus, etc.) e mesmo em aves, como s

    pertencentes ao gnero Pithoui (Pitus da Papua Nova Guin) e mamferos monotremados, o

    ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus).

    No que diz respeito natureza qumica das toxinas, tanto de peonhas quanto de venenos,

    esta pode ser a mais diversa possvel, variando desde compostos de baixos a elevados pesos

    moleculares, proticos ou no, polares ou apolares, termoestveis ou termolbeis, etc. Muitos

    compostos no proticos podem ser encontrados, como por exemplo os politeres produzidos pordinoflagelados marinhos e que acumulam-se em moluscos bivalves filtradores, e as molculas

    heterocclicas como as toxinas guanidnicas (tetrodotoxina e saxitoxina) encontradas em moluscos,

    1Toxinas so substncias txicas com maiores ou menores aes especficas em sistemasbiolgicos e que ocorrem em peonhas e venenos (Meier & Stocker, 1989).

    2Venenos (do ingls, poison) so produtos metablicos produzidos ou armazenados emrgos de um determinado organismo e que afetam a um outro quando estes so ingeridos, podendotambm atuar de modo artificial por via parenteral. (Freyvogel & Perret, 1973).

    3Peonhas (do ingls, venom) substncias originadas em glndulas especializadas e queesto associadas a ductos excretores, possuindo ou no uma estrutura inoculadora (Freyvogel &Perret, 1973).

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    crustceos, equinodermos e peixes. Estas substncias, algumas vezes podem chegar ao homem

    atravs da cadeia alimentar, podendo provocar srios casos de envenenamentos alimentares.Tambm

    so conhecidas aminas, presentes nas peonhas de aranhas, alcalides encontrados nas peles de

    anfbios, etc. De uma maneira em geral, compostos proticos apresentam-se mais freqentemente e

    em maior quantidade nas peonhas e venenos, e por sua vez, so as molculas mais investigadas doponto de vista farmacolgico. Muitos peptdeos e protenas so encontrados em escorpies, aranhas,

    anmonas moluscos e anfbios.

    Devido imensa diversidade qumica encontrada nas toxinas muitas estratgias e tecnologias

    de purificao e elucidao estrutural tiveram que ser desenvolvidas, sendo que somente mais

    recentemente com a popularizao e um maior acesso a equipamentos de elevado custo (como os

    empregados em espectrometria de massas e na anlise protemica) e a busca por novas molculas

    visando ao emprego na biotecnologia que muitas toxinas puderam ser caracterizadas. Alm disto,

    no que diz respeito s toxinas proticas, o avano da biologia molecular veio possibilitar a clonagem,expresso e a conseqente obteno de tais substncias em grandes quantidades, permitindo a

    realizao de estudos estruturais e de estrutura-funo, empregando tcnicas de ressonncia nuclear

    magntica e de cristalografia.

    Do ponto de vista fisio-farmacolgico as aes das toxinas podem ser as mais variadas.

    Dentre elas destacam-se as aes neurotxicas, hemolticas, cardiotnicas, necrticas,

    antimicrobianas, enzimticas, etc.

    A cincia que trata das substncias txicas produzidas ou acumuladas em organismos vivos,

    suas propriedades e seu significado biolgico para o organismo envolvido a Toxinologia (Meier &Stocker, 1989)4. A Toxinologia emprega muitos dos conhecimentos desenvolvidos em diferentes sub-

    reas da Biologia como a Fisiologia, Farmacologia e a Ecologia para auxiliar na investigao das

    toxinas, visando elucidao dos mecanismos de ao destas substncias, suas aplicabilidades tanto

    na cincia como medicina ou na indstria e, em alguns casos, busca por terapias cada vez mais

    eficazes a serem empregadas em casos de envenenamentos.

    A presente aula tratar dos principais grupos de animais considerados venenosos e/ou

    peonhentos, sejam eles terrestres ou aquticos, destacando suas principais toxinas produzidas e/ou

    acumuladas, bem como alguns aspectos relativos aos mecanismos de ao e interaes fisio-

    ecolgicas envolvidas.

    Bibliografia:Freitas, J. C. Nomenclatura em Toxinologia. Relaes com a comunicao qumica entre organismos e

    propriedades biolgicas das toxinas. Mem. Inst. Butantan, 53(2): 191-195.Freyvogel, T. A. & Perret, B. A., 1973. Notes on Toxinology. Experientia, 29 (11): 1317-1452.Meier, J. & Stocker, K. 1989. Review article: On the significance of animal experiments in Toxinology.

    Toxicon, 27(1): 91-104.

    Sugestes de leitura:

    4Freitas (1991) simplifica: Toxinologia refere-se ao estudo das toxinas.

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    1 curso de inverno tpicos em fisiologia comparada 31

    Freitas, J. C.; Rangel, M.; Oliveira, J. S.; Zaharenko, A. J. & Rozas, E., (2003) An outline on marinetoxinology studies in the Brazilian coast. Comments on Toxicology,9: 1-22.

    Halsted, B. (1967). Poisonous and venomous animals of the world, vol. 2. US Governmental PrintingOffice, Washington. 844p.

    Kaul, P. N. (1990). Drugs Molecules of Marine Origin. Progress in Drug Research, 35: 521-557.Lozoya, A. V. (1994). Envenenamientos por animales - animales venenosos y urticantes del mundo.

    Ediciones Diaz de Santos S.A., Madrid. 342p.Oliveira, J. S. & Freitas, J. C. (2001). Produtos Naturais Marinhos: caractersticas dos envenenamentos

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    AS TOXINAS DE ANMONAS DO MAR COMOFERRAMENTAS PARA ENTENDER A FISIOLOGIA DE

    RGOS, TECIDOS E SISTEMAS.Andr Junqueira Zaharenko

    Laboratrio de Produtos Naturais Marinhos

    As anmonas do mar so animais que pertencem ao filo Cnidaria e a classe Anthozoa. Todas

    as anmonas, assim como os celenterados em geral, possuem estruturas celulares microscpicas,

    similares a arpes, denominadas de nematocistos, responsveis pelo papel de paralisar presas e

    tambm atuam na defesa dos animais. Estas estruturas contm potentes neurotoxinas paralisantes

    que agem sobre crustceos e peixes pelo simples contato com esses animais. Essa estratgia de

    vital importncia para os mais distintos animais, desde esses cnidrios, passando por moluscos

    predadores, escorpies, aranhas e at serpentes.Todos esses tipos de animais produzem toxinas proticas e peptdicas em glndulas

    especializadas e as injetam, a partir de estruturas tambm especializadas na inoculao, como

    ferres, presas e, no caso dos cnidrios, nematocistos. Durante muitos anos os cientistas em geral se

    debruaram em tentativas de purificar e elucidar os mecanismos de ao das toxinas, ainda que por

    dcadas as limitaes tecnolgicas e operacionais dificultassem essa tarefa.

    Um dos aspectos mais importantes que devemos nos focar, quando vamos tentar investigar

    quais so os possveis mecanismos de ao e alvos das toxinas, exatamente qual o tipo de animal

    predado pelo nosso objeto de estudo. As anmonas, por exemplo, predam em geral peixes ecrustceos planctnicos. Essas presas, por sua vez, so de rpida locomoo e poderiam facilmente

    escapar de um predador que tambm no fosse rpido na captura.

    Quando pensamos nos ambientes ocupados pelas anmonas, logo devemos nos ater ao fato

    de que esses animais so ssseis, ou seja, vivem fixos em um substrato rochoso e basicamente no

    se movem. Se as presas das anmonas so animais de rpida locomoo, as toxinas direcionadas a

    sua captura devem ter um efeito o mais efetivo e letal possvel. Seguindo nessa linha de raciocnio, os

    alvos mais conhecidos onde as toxinas anmonas atuam so: na conduo nervosa e na contrao

    muscular das presas. Toxinas que bloqueiam a neurotransmisso, levando a paralisia seguida demorte, so as molculas mais investigadas nesse grupo de animais at hoje.

    Remetendo aos conhecimentos bsicos de fisiologia e biologia celular, sabemos que um

    potencial de ao (PA) evocado basicamente pela mudana de voltagem do interior de uma clula

    nervosa atravs da entrada de ons sdio (despolarizao) e a sada de ons potssio na mesma. Este

    ltimo processo um pouco mais tardio e permite o restabelecimento da voltagem inicial no interior

    da clula (repolarizao), o chamado potencial de membrana. A seqncia desses eventos,

    controlados refinadamente pelos canais para Na+e K+dependentes de voltagem, leva a transmisso

    do impulso eltrico, com consequncias fisiolgicas importantes para a comunicao neuronal e a

    contrao muscular. Para uma reviso completa, a leitura do captulo 11 (pginas 523-547) do livro

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    MOLECULAR BIOLOGY OF THE CELL (Alberts et al., 3a e 4a edies; 1994, 2002) bastante

    recomendada.

    Durante a passagem de um PA de um neurnio a outro, temos no neurnio pr-sinptico,

    durante a despolarizao, a abertura de canais para Ca2+ dependentes de voltagem prximos ao

    boto sinptico. Quando se abrem, esses canais permitem o influxo de Ca2+ que provoca,subsequentemente, a alterao da concentrao intracelular desse on e a ativao de maquinarias

    secretrias de neurotransmissores. Vesculas contendo neurotransmissores so liberadas na fenda

    sinptica e estes ligam-se aos respectivos receptores ps-sinpticos, propagando o PA ou

    desencadeando eventos secundrios importantes para a fisiologia celular. A contrao muscular

    desencadeia-se da mesma maneira, apenas diferindo na sequncia de eventos ps-sinpticos

    desencadeadas pela ligao da acetilcolina (no caso de mamferos, por exemplo) ou do glutamato (no

    caso de crustceos e invertebrados) nos respectivos receptores das fendas sinpticas. importante

    ressaltarmos que nesse caso no h um neurnio ps-sinptico e sim uma musculatura inervada porum neurnio pr-sinptico.

    Essa reviso de conceitos bsicos importante quando nos deparamos com os mecanismos

    de ao de neurotoxinas de anmonas e de outros animais peonhentos. A maioria dos peptdeos de

    anmonas descritos e estudados age em canais para Na+ ou para K+ dependentes de voltagem.

    Retardam o processo de inativao dos canais de Na+e bloqueiam os canais de K+, produzindo um

    influxo enorme de ons Na+e uma diminuio drstica da sada de ons K+nas clulas. Isso faz com

    que o PA tenha sua amplitude e durao aumentadas dramaticamente.

    Para a fisiologia celular, a liberao de neurotransmissores passa a ser tremenda, levando acontraes musculares que no cessam, paralisando um animal que tenha sofrido injees diretas

    dessas toxinas em seus tecidos.

    Existem, atualmente, cerca de 10 subtipos de canais de Na+ dependentes de voltagem (os

    chamados, Nav) distribudos nos sistemas nervosos central e perifrico, tecido cardaco, medula

    espinhal e msculo esqueltico. So protenas transmembranares que diferem levemente em termos

    de seqncias primrias e parmetros cinticos.

    Como nosso grupo de pesquisa vem trabalhando h longos anos com neurotoxinas de

    anmonas do mar, recentemente publicamos um trabalho no qual a comparao dos efeitos de 3

    toxinas praticamente idnticas difere pouco dependendo dos subtipos de Nav ensaiados (Oliveira et

    al., 2004). Ou seja, isso mostra que a atuao das molculas em seus stios de ligao sutilmente

    modulada por alguns aminocidos em suas estruturas. Dependendo do subtipo de Nav ensaiado,

    havia efeitos preferenciais ou no de cada uma das toxinas. Durante a aula expositiva os resultados

    sero apresentados e discutidos com os alunos. A leitura do trabalho de Oliveira et al., 2004- EM

    PUBLICAO, tambm requerida.

    Conforme os diferentes tipos de toxinas so purificados e caracterizados, cada vez mais essas

    molculas so empregadas como ferramentas farmacolgicas, para em laboratrio induzirem seus

    efeitos e ajudarem os cientistas a investigar diferentes aspectos da fisiologia.

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    Muitas companhias farmacuticas revendem toxinas com esse propsito, a preos

    elevadssimos. Acessando o site www.alomone.com e clicando em Ion Channel Modulators e

    Neurotoxins, podemos ver a lista de diferentes toxinas com seus respectivos preos.

    Embora companhias farmacuticas forneam toxinas como substncias para pesquisa bsica,

    muitas delas vm investindo milhes de dlares no desenvolvimento de frmacos a partir dessasmolculas. Como exemplo, existem peptdeos que bloqueiam especificamente canais de K+

    dependentes de voltagem expressos em linfcitos-T. Esse tipo de bloqueio leva a uma supresso do

    sistema imune e, conseqentemente, esse tipo de toxina torna-se altamente atrativo como um

    remdio para tratar artrite reumatide e rejeio a rgos transplantados. Na reviso apresentada por

    Chandy et al., 2001, os alunos podem acompanhar os avanos recentes nesse sentido.

    Finalizando, queremos mostrar que a partir de prottipos naturais pode-se obter substncias

    altamente eficazes para o estudo da fisiologia e que sirvam tambm como modelos para o

    desenvolvimento de medicamentos.

    Bibliografia:Alberts, B. et al. 1994. Molecular Biology of the Cell. Garland Publishing. New York. 3rdedition. 1294p.Chandy, K.G.; Cahalan, M.; Pennington, M.; Norton, R.; Wulff, H. & GUTMAN, G.A. (2001). Potassium

    channels in T lymphocytes: toxins to therapeutic immunosupressants. Toxicon. 39: 1269-1276.Oliveira, J. S.; Redaelli, E.; Zaharenko, A. J.; Cassulini, R. R.; Konno, K.; Curia, G.; Pimenta, D.C.;

    Freitas, J. C.; Clare, J. J. & Wanke, E. (2004). Binding of sea anemone toxins to Nav 1.1-1.6Sodium Channels: Unexpected Contributions from Differences in the IV/ S3-S4 Outer Loop.Journal of Biological Chemistry.ARTIGO ACEITO, EM PUBLICAO.

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    ROTEIRO DE AULA PRTICAAndr Junqueira Zaharenko

    Laboratrio de Produtos Naturais Marinhos

    Durante a aula prtica, os alunos acompanharo procedimentos de fracionamento de peonhastotais pela tcnica cromatogrfica de gel-filtrao. Basicamente, a metodologia consistir conforme

    descrito abaixo:

    Pur if icao da p eon ha p or g el- f i l t rao em gel d e Sephad ex G- 50 e est im at iv a do

    con t edo pr otico :

    O fracionamento da peonha liofilizada de anmona ser realizado atravs de uma coluna (1,9cm

    X 131cm) empacotada com gel Sephadex G-50 (Pharmacia LKB- Biotechnology, Uppsala, Sweden),

    para se obter as fraes neurotxicas e hemolticas j detectadas neste tipo de fracionamento. A

    peonha previamente centrifugada e liofilizada (cerca de 1-2g de material seco; 200mg de protena)ser dissolvida em 10-20mL de tampo acetato de amnio 0,1M, pH 7,0 e aplicada ao topo da coluna,

    equilibrada e eluda por gravidade com o mesmo tampo. Cerca de 60 fraes de 10mL cada uma

    foram coletadas, agrupadas e liofilizadas.

    A absorbncia de cada frao, uma medida relativa da quantidade de protena contida em

    cada uma, ser registrada diretamente na sada da coluna, atravs da passagem do efluente por um

    detector de UV (Spectra/ ChromTMFlow Thru UV Monitor com unidade ptica de 280nm e UV Monitor

    Controller, Spectrum, Austria) antes de entrar no coletor de fraes. A informao, captada pelo

    detector, integrada e registrada permanentemente em papel (Spectra/ Chrom TM 1 Channel

    Recorder, Spectrum, ustria). O registro direto na sada da coluna permite o acompanhamento

    constante do processo de filtrao em gel, desta maneira, otimizando o processo de coleta.

    Para estimar-se a quantidade de protena presente na peonha e nas fraes obtidas, durante

    esta etapa e nas subseqentes, ser empregado um kit que se baseia no mtodo de dosagem do

    cido bicinconnico (BCA) seguindo-se o protocolo do manual do fabricante (Pierce, Rockford, USA).

    Utiliza-se albumina srica bovina como padro.

    Pur if icao po r cro m at og raf ia de f ase rev ersa ( RP-HPLC) da f rao neu ro t xica

    ( FR I I I ) :

    Esta etapa ser realizada no Laboratrio Especial de Espectrometria de Massa (LEEM) do

    Centro de Toxinologia Aplicada (CAT/CEPID- FAPESP) do Instituto Butantan.

    O conjunto da frao neurotxica (FR III) obtida de cromatografias por filtrao em gel vai ser

    ressuspendido em gua Milli-Q (Millipore Inc.) e injetado em um sistema de purificao Shimadzu de

    HPLC constitudo por um detector UV-VIS SPD-10A VP, bombas LC-10AD VP e um sistema controlador

    SCL-10A VP (Shimadzu Corp., Japan). As amostras so ento cromatografadas em uma coluna C-18

    de fase reversa ODS (4.6 x 150 mm, 5m; Hi-Q) com um gradiente linear de 10 a 60% do solvente

    B composto de acetonitrila + 0,1% de cido trifluoroactico (CH3CN / 0,1%TFA) com fluxo de 1,0

    mL/min durante 40min, atravs de monitoramento em UV 214 nm. O solvente A composto de

    0,1% de TFA em gua Milli-Q.

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    Todos os picos obtidos so coletados manualmente e individualmente ou agrupados em fraes

    para serem posteriormente submetidos espectrometria de massa e ensaios biolgicos.

    Mon i to ramen to de a t i v idade neuro tx ica das amos t ras em nervo senso r ia l de

    cr ust ceo . Tcn ica de su cr ose -g ap :

    A preparao ser realizada utilizando-se nervos sensoriais de crustceos decpodos braquirosda espcie Callinectes danae(siri azul), coletados no canal de So Sebastio. Testaremos o efeito de

    neurotoxinas isoladas de peonhas de anmonas sobre o potencial de ao axonal de nervo de siri.

    O procedimento consiste na separao do 2o ou 3o par de patas provocando-se autotomia por

    compresso do artculo proximal (base-squio). Como o nervo ocupa uma posio aproximadamente

    central no pereipodo, o mesmo exposto at o dctilo, removendo-se um a um os artculos por

    seco das membranas artrodiais, apdemas musculares e separao dos cndilos articulares.

    Tcn ica de suc ro se- ga p - Essa tcnica consiste no isolamento eltrico de uma rea

    superficial do nervo, na regio entr