apostila contos e fabulas

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS ESTÂNCIA BALNEÁRIA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO Equipe Interdisciplinar Ensino Fundamental Língua Portuguesa Santos 2003

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Page 1: Apostila Contos e Fabulas

PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTOS ESTÂNCIA BALNEÁRIA

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO

Equipe Interdisciplinar

Ensino Fundamental

Língua Portuguesa

Santos 2003

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Literatura infantil

A literatura tem funções diversas e se presta a diferentes usos. O motivo básico de as pessoas lerem obras literárias, no entanto, é a procura do prazer.Esse prazer manifesta-se primeiramente como entretenimento. Mas a Literatura é diferente de outras formas de diversão. Quando se trata de um grande texto o que o leitor nunca consegue é o mero “ escapismo” .O grande texto sempre deixa sua marca no leitor. Ninguém lê uma grande obra sem ser afetado por ele em algum nível ou algum aspecto. A primeira marca que a literatura deixa é a do crescimento interior. Isto ocorre porque a literatura nos propicia uma das formas mais espetaculares de conhecimento do homem. Por meio dela, percebemos a complexidade que nos caracteriza como seres humanos, nossas ambigüidades e nossos paradoxos. A Literatura , em todas as suas formas, inclusive a infantil, não se presta apenas a fornecer conhecimento . Ela se presta , fundamentalmente , ao ensino da linguagem oral e escrita. Em primeiro lugar, nas fases iniciais do aprendizado,ela enriquece o vocabulário , põe o aluno em contato com as mais ricas possibilidades sintáticas, explora às últimas conseqüências o aspecto semântico e, em suma,amplia e aprofunda conhecimento da língua, inclusive sua face sonora. A Literatura, assim, nas diversas fases do ensino, fornece ao aluno meios de apreender a linguagem e também de produzir textos. Ninguém aprenderá a escrever com um mínimo e competência se não for colocado em contato com a Literatura desde a infância. Quando se priva o aluno da Literatura não é só de compreender e escrever que ele se torna incapaz: ele não adquire condições de pensar no sentido pleno da palavra. Tudo isto indica que o texto literário deve ser utilizado desde os primeiros anos de escola,primeiro na forma da Literatura infantil. É bom lembrar-se que, hoje em dia, a tarefa de colocar a Literatura nas mãos das crianças ou dos jovens não é executada normalmente pela família. A escola , é em geral,a única oportunidade que o aluno tem de experimentar a Literatura. Se o professor dominar determinadas técnicas e, principalmente, se ele tiver sensibilidade, ele acabará levando seus alunos a gostarem de ler. Caso contrário, será mais difícil que surja o gosto pela leitura em ambientes extra- escolares.

Características do leitor infantil e juvenil A criança apreende a vida por meio de sensações e impressões. Tudo que a rodeia, em virtude da animação que empresta às coisas e ao significado que atribui aos seres, adquire o sentido da variedade e da multiplicidade.A vida para ela é um pluriverso. Buscando a conquista e afirmação num mundo em que seus sentidos e seu entendimento não conseguem totalmente decifrar, funde e confunde o real e o mágico, movendo-se num cosmo onde a fantasia transpassa a vida e a vida toma aspectos de fantasia. A Literatura Infantil com suas fadas e bruxas, animais que falam e heróis invencíveis vai ao encontro dos interesses e anseios da criança, mostrando-lhe um mundo de contornos imprecisos, mas perfeitamente compreensível e aceitável, um mundo povoado de seres imaginários, porém vivos e atuantes dentro da lógica infantil. Os interesses e exigências do leitor em termos de personagens, temas, estruturas e gêneros narrativos, não permanecem sempre os mesmos. Atravessando estágios de desenvolvimento, em cada fase evolutiva demonstra preferência por uma modalidade de leitura. Na fase animista, que se estende aproximadamente até os oito anos, tudo tem vida para a criança; é a fase do pensamento lúdico.

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Vivenciam uma etapa de pensamento, onde o jogo e o mistério são os estimulantes da sua imaginação. Como a criança, nesta fase, ainda não se encontra dotada de capacidade para interpretar racionalmente os fenômenos naturais, aprecia narrativas em que predomine o ilogismo, o assombro, o divertimento. Contos de fadas, fábulas, contos de mistério, história sobre animais e plantas que falam fazem parte de seu mundo de encantamento. Por volta dos nove anos, a criança começa a se interessar pela realidade circundante, substituindo personagens sobrenaturais por tipos humanos heróicos e empreendedores; é a fase do pensamento mágico. A ação, a aventura, o risco e o esforço pessoal são os requisitos procurados numa narrativa funcional. Embora impulsionada pelo sentido de coragem, de perigo, de audácia, necessita de justiça, exigindo verossimilhança e possibilidade de veracidade nos relatos. São indicados para esta fase os contos populares, lendas, histórias humorísticas e aventuras. Dos doze aos quatorze anos, a criança se encontra na fase do pensamento lógico, a etapa fantástico-realista. A descoberta do mundo interior e as questões pessoais passam a assumir a preocupação do leitor adolescente. Começando a dominar as noções abstratas, razão e sentimento são a tônica do seu pensar. Interessando-se por temas relacionados ao sexo, amor, luta do homem no combate a obstáculos e adversidades, gozam da preferência do leitor nesta fase de pensamento lógico as novelas sentimentais e policiais, as biografias romanceadas e os romances históricos. Na literatura, que caracterizava a fase do pensamento lúdico, o herói vencia por milagre. Na fase do pensamento mágico, vencia o esforço. Agora, nesta fase de pensamento abstrato, o herói adquire contornos definidos. Tem capacidade para amar, sofrer, vivenciar experiências pessoais que possibilitem a superação das adversidades. Com isso, um novo elemento instaura-se na estruturação das personagens: o sentimental.

Os gêneros literários Conto de fadas O conto de fadas caracteriza-se pela instauração de um universo próprio, regido por normas que apresentam um distanciamento e uma ruptura com a ordem natural.Dotado de um caráter mágico que o liberta das limitações e contingências do mundo concreto, seres e situações pertencem ao plano do maravilhoso, da verdade ilógica aceita sem surpresa ou hesitação. O “Era uma vez...” com que tem início à quase totalidade dos relatos coloca-o sob uma perspectiva de verdades simbólicas, perdendo os fatos e os seres sua logicidade e adquirindo o fantástico, o absurdo e o impossível, características de realidade, veracidade e a fórmula encantatória. “E foram felizes para sempre...” intensifica o caráter de sonhos do conto de fadas com a solução de todos os conflitos e a realização de todos os anseios. Atualmente, ao lado das clássicas histórias de princesas, bruxas e varas-de-condão, surgem um novo conto de fadas, rompendo com o determinismo e a estatização de personagens das fadas tradicionais. Desmistificando o manual de mágicas, propõe uma nova forma de apreensão do mundo por meio da mescla de fantasia e questionamento da realidade. Fábula A fábula é uma alegoria da condição humana. Relato curto, freqüentemente em versos, expressa uma sabedoria popular, um imediatismo moral e político, produto de um determinado contexto histórico. Apresentada sob uma aparente finalidade lúdica encerra uma filosofia moralista expressa na crítica de caracteres e costumes humanos.

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Seres do mundo zoológico que falam, agem e pensam são seus personagens centrais.Participantes de um jogo onde sempre prevalece, a força, a violência, a astúcia, caracterizam-se os animais por traços distintivos constantes e por formas padronizadas de comportamento: laboriosidade da formiga, imprevidência da cigarra, sagacidade da raposa e outros. Um conflito entre personagens antagônicas determina a ação e conduz o desfecho. Popularizada por meio de Esopo e Fedro, encontrou a fábula sua maior expressão em La Fontaine. Modernamente destacaram-se como fabulistas Walt Disney e Monteiro Lobato. Disney apresentando animais em seu habitat natural e Lobato instaurando a ética de situação deram nova perspectiva ao gênero, libertando-o do moralismo e pedagogismo das fábulas tradicionais. Contos O conto de aventura fundamenta-se na fantasia. Esta, ao contrário do que ocorre no conto de fadas, aproxima-se da realidade imediata. É o mundo material ou um cosmo imaginário possível de concretização, o ponto de partida dos relatos em busca do aventuresco, do exótico e do inusitado. O texto narrativo caracteriza-se na prevalência da ação, na ação, no desenvolvimento rápido e dinâmico dos fatos e acontecimentos. Motivo único e central, encadeamento de episódios, seqüência cronológica, suspense, humor e final determinado são elementos essenciais num texto infantil. Idéias abstratas, enredos complexos e intrincados, recuos ou desvios no tempo, inexatidão de espaços escapam à compreensão da criança, dificultando o entendimento e acompanhamento da intriga. Reconhecendo a importância da leitura e a escolha dos gêneros literários, as sugestões a seguir, foram selecionadas com o objetivo de auxiliar o trabalho do professor em sua prática pedagógica, ampliando o acervo de textos narrativos, contos e fábulas.

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A LEBRE E A TARTARUGA Uma lebre vangloriava-se de sua rapidez, perante os outros animais: — Nunca perco de ninguém. Desafio a todos aqui a tomarem parte numa corrida comigo.

— Aceito o desafio! Disse a tartaruga calmamente. — Isto parece brincadeira. Poderia dançar à sua volta, por todo o caminho, respondeu a

lebre. A um sinal dado pelos outros animais, as duas partiram. A lebre saiu a toda velocidade. Mais adiante, para demonstrar seu desprezo pela rival, deitou-se cochilou. A tartaruga continuou avançando, com muita perseverança. Quando a lebre acordou, viu-a já pertinho do ponto final e não teve tempo de correr, para chegar primeiro. Moral da história: Com perseverança tudo se alcança.

Esopo

A GANSA QUE PUNHA OVOS DE OURO

Uma cabra e um asno comiam ao mesmo tempo no estábulo. A cabra começou a invejar o asno porque acreditava que ele estava mais bem alimentado, e lhe disse: — Tua vida é um tormento inacabável. Finge um ataque e deixa-te cair num fosso para que te dêem umas férias. Aceitou o asno o conselho, e deixando-se cair, machucou todo o corpo. Vendo-o amuado, chamou o veterinário e lhe pediu um remédio para o pobre. Prescreveu o curandeiro que necessitava uma infusão com o pulmão de uma cabra, pois era muito eficiente para devolver o vigor. Para isso então degolaram a cabra e assim curaram o asno. Moral da história: Em todo plano de maldade, a vítima principal sempre é seu próprio criador.

Esopo

A Raposa e a Serpente

Havia uma figueira à margem de um caminho. Uma raposa viu junto a ela uma serpente adormecida. Vendo aquele corpo tão largo, e pensando em igualá-lo, se deitou à raposa no chão, ao lado da serpente, e tentou estirar-se o quanto pôde, até que por fim, de tanto esforço, rebentou-se. Moral da história: Não imites os maiores se não tens condições de fazê-lo.

Esopo

A Gata e Afrodite Uma gata que se apaixonara por um fino rapaz pediu a Afrodite para transformá-la em mulher. Comovida por tal paixão, a deusa transformou o animal numa bela jovem. O rapaz a viu, apaixonou-se por ela e a desposou.

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Para ver se a gata havia se transformado completamente em mulher, Afrodite colocou um camundongo no quarto nupcial. Esquecendo onde estava, a bela criatura foi logo saltando do leito e pôs-se a correr atrás do ratinho para comê-lo. Indignada, a deusa fê-la voltar ao que era. Moral da história: O perverso pode mudar de aparência, mas não de hábitos.

Esopo

A Raposa e o Lenhador

Uma raposa era perseguida por uns caçadores, quando viu um lenhador e suplicou que ele a escondesse. O homem então lhe aconselhou que entrasse em sua cabana. De imediato chegaram os caçadores, e perguntaram ao lenhador se havia visto a raposa. Com a voz ele disse que não, mas com sua mão disfarçadamente mostrava onde havia se escondido. Os caçadores não compreenderam os sinais da mão e se confiaram no que disse com as palavras. A raposa, ao vê-los irem, saiu sem dizer nada. O lenhador a reprovou porque, apesar de tê-la salvo, não agradecera, ao que a raposa respondeu: — Agradeceria se tuas mãos e tua boca tivessem dito o mesmo. Moral da história: Não negues com teus atos, o que pregas com tuas palavras.

Esopo

O ADIVINHO

Acomodado em uma praça pública, um adivinho se ocupava em seu ofício. De repente aproximou-se dele um homem, avisando que as portas de sua casa estavam abertas e que haviam roubado tudo o que havia em seu interior. Levantou-se em um salto e correu, desengonçado e suspirando, para ver o que havia acontecido. Um dos que ali se encontravam, vendo-o correr lhe disse: — Olhe, amigo! Tu que dizes prever o que ocorrerá aos outros, por que não previu o que se sucederia a ti?

Moral da história: Sempre há pessoas que pretendem controlar o que não lhes corresponde, mas não conseguem administrar suas próprias coisas.

Esopo

O camelo, o elefante e o macaco

Votavam os animais para eleger um rei. O camelo e o elefante se puseram a disputar os votos, já que esperavam ser preferidos por causa de seu tamanho e sua força. Porém, chegou o macaco e os declararam incapazes de reinar. — O camelo não serve - disse - porque não se encoleriza contra os bandidos e o elefante tampouco nos serve porque teremos de temer o ataque do marrano, animal a quem teme o elefante. Moral da história: A maior fortaleza sempre se mede no ponto mais fraco.

Esopo

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O cão dorminhoco e o lobo

Como estava dormindo à porta de um estábulo, um cão foi surpreendido por um lobo que se lançou sobre ele, pronto para devorá-lo. Mas o cão lhe pediu para adiar o sacrifício: — Agora - disse ele - estou raquítico e doente. Mas espera um pouco, meus donos estão para comemorar suas núpcias; comerei muito e, bem gordinho, serei para ti um prato delicioso. O lobo acreditou nele e se foi. Alguns anos depois, ele voltou e viu que o cão estava dormindo no andar de cima da casa. De baixo, ele chamou: — Lembras de mim - disse ele - daquilo que combinamos? O cão então falou: — Ô seu lobo, quando me vires de agora em diante dormir diante do estábulo, não esperes mais as núpcias. Moral da história: Uma vez salvo do perigo, o homem sensato se previne para sempre.

Esopo

O camponês e os cães

Um camponês ficou preso em seu estábulo pela tempestade. Como não podia sair para procurar alimento, começou a comer seus carneiros. Como a tempestade continuasse, devorou as cabras. No terceiro dia, como não houvesse melhora, matou os bois de arado. Vendo-o agir assim, os cães falaram entre si: — Vamos embora, pois se o nosso dono não hesitou em matar os bois, por que iria nos poupar?

Moral da história: Resguardemo-nos de quem não hesita em fazer o mal a seus próximos.

Esopo

LOBO EM PELE DE CORDEIRO

Um dia, o lobo teve a idéia de mudar sua aparência para conseguir comida de uma forma mais fácil. Então, vestiu uma pele de cordeiro e saiu para pastar com o resto do rebanho, despistando totalmente o pastor. Para sua sorte, ao entardecer, foi levado junto com todo o rebanho para um celeiro. Durante a noite, o pastor foi buscar um pouco de carne para o dia seguinte. Chegando no celeiro, puxou a primeira ovelha que encontrou. Era o lobo fingindo ser um cordeiro. Moral da história: Sempre que enganamos os outros, pagamos pelo nosso erro logo em seguida.

Esopo

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A reunião geral dos Rato

Há muito tempo, em uma fazenda, um gato, ótimo caçador de ratos, andava fazendo um grande estrago entre a rataria. Caçava tantos ratos que os sobreviventes estavam quase morrendo de fome, pois tinham muito medo de sair de suas tocas.

Como o problema havia atingido grandes proporções, os ratos resolveram marcar uma assembléia para tentar encontrar uma saída.

Esperaram uma noite em que o gato dormiu profundamente no topo da chaminé e reuniram-se no celeiro. A apreensão era grande, todos estavam nervosos, mas um rato teve uma idéia e falou:

— A melhor maneira de nos defendermos é pendurarmos um sino no pescoço do gato. Assim, quando ele se aproximar, escutaremos o sino e teremos tempo para fugir. Foi uma grande festa. Todos adoraram a idéia e aprovaram com aplausos. Mas um rato mais velho, que estava em cima de um saco de milho, pediu a palavra e disse: — A idéia é muito boa... é boa sim, mas... Quem é que vai pendurar o sino no pescoço do gato? Silêncio geral. Um a um, os ratos foram se retirando, e acabou-se a assembléia geral dos ratos. Moral da história: Falar é fácil, fazer é difícil!

Esopo, Adaptação de Monteiro Lobato

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O patinho feio

Era uma vez uma mamãe pata que pôs cinco ovos. Quatro lindos patinhos saíram primeiro da casca e, por último, um patinho tão feio que dava dó. - Quando crescer ficará bonito - pensou esperançosa, a mamãe pata. O patinho crescia e a mamãe pata ficava mais triste. Ele continuava feio e esquisito. Os mais velhos o olhavam com pena. Os mais moços zombavam dele chamando-o de "Patinho Feio". Pobre patinho! Vivia triste e não brincava com ninguém por causa da sua feiúra. O patinho preferia ficar sozinho a perto daqueles que riam dele. Um dia, resolveu ir embora para bem longe. Andou muito pela floresta, até que anoiteceu. Ele estava cansado, com fome e com muito medo. Também estava triste com seus amigos e, por isso, venceu o medo e adormeceu ali mesmo. De manhã, quando acordou, ainda tinha fome. Andou mais um pouco e ouviu um barulho de água. Correu e encontrou um lago, onde alguns patos selvagens brincavam alegremente. Quis falar com eles, mas um barulho de espingarda espantou a todos. E ele ficou sozinho novamente. O patinho resolveu ficar ali mesmo, pois tinha muitos peixes para se alimentar. Com o tempo, foi ficando mais forte e robusto. A primavera chegou e todos os cisnes resolveram aparecer no lago. Um deles veio conversar com o patinho. Ele não acreditava que um belo cisne quisesse ser seu amigo de verdade. - Ora, olhe seu reflexo na água - pediu o cisne. O patinho viu o reflexo e descobriu que ele também era um cisne! Então, resolveu juntar-se àqueles lindos e majestosos cisnes e viveu feliz para sempre.

Hans Christian Andersen

O gato de botas Um velho moleiro, sentindo a morte chegar, dividiu seus bens entre seus três filhos. O mais velho herdou o moinho, o segundo um jumento capenga e o caçula um gato. O gato, vendo o seu novo dono muito desiludido com a sua parte na herança, disse-lhe: — Não te entristeças, meu amo, tenhas confiança em mim. Eu te farei um homem rico. Preciso somente que tu me dês algumas roupas. Assim, o rapaz deu ao gato um velho chapéu e um par de botas que ele havia recuperado no celeiro. Também lhe fez uma capa e deu-lhe um grande saco. — Eu te prometo voltar com boas novas - disse o gato a seu amo quando partiu. No caminho, encontrou uma bela ovelha e colocou imediatamente seus projetos em execução. Pulou sobre ela e enfiou-a no saco.

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—Majestade, é uma felicidade para mim, oferecer-lhe este humilde presente. Quem o envia é marquês de Carabás, meu amo - disse ao rei, fazendo uma profunda reverência. Nos dias seguintes o monarca continuou recebendo presentes da parte do famoso marquês que ninguém conhecia... Alguns dias depois, o gato disse a seu amo: —Não me faças perguntas, mas faz o que eu digo. Amanhã de manhã, vai tomar banho no rio e espera que a carruagem do rei passe por ali. Na manhã seguinte, enquanto o seu amo banhava-se no rio, o rei passou por ali com a sua filha. —Socorro, socorro! Meu amo, o marquês de Carabás está se afogando! - gritou o gato. O rei parou a carruagem e deu ordem a seus lacaios para socorrer o marquês e procurar-lhe roupas adequadas. O monarca não tinha esquecido os numerosos presentes recebidos... Depois o convidou para subir na carruagem. A princesa logo ficou encantada com o charme do jovem marquês. Os campos estendiam-se a perder de vista ao longo do caminho que a carruagem real percorreria. — O rei logo vai passar por aqui - disse o gato aos lavradores. Se ele perguntar a quem pertencem estas terras, respondam-lhe que pertencem ao marquês de Carabás, caso contrário farei picadinho de vocês! Os camponeses ficaram amedrontados e obedeceram ao gato de botas. O rei ficou impressionado com os muitos bens que o amável marquês possuía. O soberano pensou que jamais encontraria melhor partido para sua filha. E vendo os olhares que ela dedicava ao jovem marquês, compreendeu que ela já o amava. Alguns dias mais tarde a princesa e o filho do moleiro se casaram e foram muito felizes.

http://www.terravista.pt/FerNoronha/2352/

O Príncipe Sapo

Há muito tempo, quando os desejos funcionavam, vivia um rei que tinha filhas muito belas. A mais jovem era tão linda que o sol, que já viu muito, ficava atônito sempre que iluminava seu rosto. Perto do castelo do rei havia um bosque grande e escuro no qual havia um lagoa sob uma velha árvore. Quando o dia era quente, a princesinha ia ao bosque e se sentava junto à fonte. Quando se aborrecia, pegava sua bola de ouro, a jogava alto e recolhia. Essa bola era seu brinquedo favorito. Porém, aconteceu que uma das vezes que a princesa jogou a bola, esta não caiu em sua mão, mas sim no solo, rodando e caindo direto na água. A princesa viu como ia desaparecendo na lagoa, que era profunda, tanto que não se via o fundo. Então, começou a chorar, mais e mais forte, e não se consolava e tanto se lamenta, que alguém lhe diz:

— Que te aflige, princesa? Choras tanto que até as pedras sentiriam pena. Olhou o lugar de onde vinha a voz e viu um sapo colocando sua enorme e feia cabeça fora d’água. — Ah, és tu, sapo - disse - Estou chorando por minha bola de ouro que caiu na lagoa.

— Calma, não chores -disse o sapo – Posso ajudar-te, porém, que me darás se te devolver a bola? — O que quiseres, querido sapo - disse ela - Minhas roupas, minhas pérolas, minhas jóias, a coroa de ouro que levo. O sapo disse: — Não me interessam tuas roupas, tuas pérolas nem tuas jóias, nem a coroa. Porém, me prometes deixar-me ser teu companheiro e brincar contigo, sentar a teu lado na mesa, comer em teu

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pratinho de ouro, beber de teu copinho e dormir em tua cama ? Se me prometes isto, eu descerei e trarei tua bola de ouro. — Oh, sim- disse ela - Te prometo tudo o que quiseres, porém, devolve minha bola – mas pensou- Fala como um tolo. Tudo o que faz é sentar-se na água com outros sapos e coachar. Não pode ser companheiro de um ser humano. O sapo, uma vez recebida a promessa, meteu a cabeça na água e mergulhou. Pouco depois, voltou nadando com a bola na boca, e a lançou na grama. A princesinha estava encantada de ver seu precioso brinquedo outra vez, colheu-a e saiu correndo com ela. — Espera, espera - disse o sapo – Leva-me. Não posso correr tanto como tu ! Mas, de nada serviu coachar atrás dela tão forte quanto pôde. Ela não o escutou e correu para casa, esquecendo o pobre sapo, que se viu obrigado a voltar à lagoa outra vez. No dia seguinte, quando ela sentou à mesa com o rei e toda a corte, estava comendo em seu pratinho de ouro e algo veio arrastando-se, splash, splish splash pela escada de mármore. Quando chegou ao alto, chamou à porta e gritou: — Princesa, jovem princesa, abre a porta. Ela correu para ver quem estava lá fora. Quando abriu a porta, o sapo sentou-se diante dela e a princesa bateu a porta. Com pressa, tornou a sentar, mas estava muito assustada. O rei se deu conta de que seu coração batia violentamente e disse: - Minha filha, por que estás assustada? Há um gigante aí fora que te quer levar? — Ah, não, respondeu ela - não é um gigante, senão um sapo. — O que quer o sapo de ti? — Ah, querido pai, estava jogando no bosque, junto à lagoa, quando minha bola de ouro caiu na água. Como gritei muito, o sapo a devolveu, e porque insistiu muito, prometi-lhe que seria meu companheiro, porém, nunca pensei que seria capaz de sair da água. Entretanto, o sapo chamou à porta outra vez e gritou: — Princesa, jovem princesa, abre a porta. Não lembras que me disseste na lagoa? Princesa, jovem princesa, abre a porta. Então o rei disse: — Aquilo que prometeste, deves cumprir. Deixa-o entrar. Ela abriu a porta, o sapo saltou e a seguiu até sua cadeira. Sentou-se e gritou: — Sobe-me contigo. Ela o ignorou até que o rei lhe ordenou. Uma vez que o sapo estava na cadeira, quis sentar-se à mesa. Quando subiu, disse: — Aproxima teu pratinho de ouro porque devemos comer juntos. Ela o fez, porém se via que não de boa vontade. O sapo aproveitou para comer, porém, ela enjoava a cada bocado. Em seguida, disse o sapo: — Como eu estou satisfeito, mas estou cansado. Leva-me ao quarto, prepara tua caminha de seda e nós dois vamos dormir. A princesa começou a chorar porque não gostava da idéia de que o sapo ia dormir na sua preciosa e limpa caminha. Porém, o rei se aborreceu e disse: — Não devias desprezar àquele que te ajudou quando tinhas problemas. Assim, ela pegou o sapo com dois dedos e o levou para cima e a deixou num canto. Porém, quando estava na cama o sapo se arrastou até ela e disse: — Estou cansado, eu também quero dormir, sobe-me senão conto a teu pai. A princesa ficou então muito aborrecida. Pegou o sapo e o jogou contra a parede. — Cale-se, bicho odioso – disse ela. Porém, quando caiu ao chão não era um sapo, e sim um príncipe com preciosos olhos. Por desejo de seu pai, ele era seu companheiro e marido. Ele contou como havia sido encantado por uma bruxa malvada e que ninguém poderia livrá-lo do feitiço exceto ela. Também disse que, no dia seguinte, iriam todos juntos ao seu reino. Se foram dormir e na manhã seguinte, quando o sol os despertou, chegou uma carruagem puxada por oito cavalos brancos com plumas de avestruz na cabeça. Estavam enfeitados com correntes de ouro. Atrás, estava o jovem escudeiro do rei, Henrique. Henrique havia sido tão

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desgraçado quando seu senhor foi convertido em sapo que colocou três faixas de ferro rodeando seu coração, para se acaso estalasse de pesar e tristeza. A carruagem ia levar o jovem rei a seu reino. Henrique os ajudou a entrar e subiu atrás de novo, cheio de alegria pela libertação, e quando já chegavam a fazer uma parte do caminho, o filho do rei escutou um ruído atrás de si como se algo tivesse quebrado. Assim, deu a volta e gritou: — Henrique, o carro está se rompendo. — Não amo, não é o carro. É uma faixa de meu coração, a coloquei por causa da minha grande dor quando eras sapo e prisioneiro do feitiço. Duas vezes mais, enquanto estavam no caminho, algo fez ruído e cada vez o filho do rei pensou que o carro estava rompendo, porém , eram apenas as faixas que estavam se desprendendo do coração de Henrique porque seu senhor estava livre e era feliz.

Irmãos Grim

O Resgate dos Filhotes

Sou Pongo e minha esposa Perdita. Temos quinze lindos filhotes. Uma noite saímos para dar um passeio, e dois homens maus chamados Alípio e Leitão roubaram nossos filhotes. Usamos o Latido do Anoitecer para pedir ajuda a nossos amigos animais.

Logo as notícias se espalharam pelo campo. Um cão de caça chamado Towser soube das notícias a respeito de nossos filhotes. Ele contou a seus amigos: Capitão, Coronel e Sargento Neco. Eles decidiram ajudar a procurar os filhotes. O Sargento Neco ouviu latidos em uma casa grande e velha. Ele foi investigar. Encontrou mais de quinze filhotes. Havia noventa e nove! Quando soubemos das notícias, fomos em direção à casa. Enquanto isso, nosso amigo, o Sargento Neco, com muita coragem começou a salvar os filhotes. Perdita e eu entramos em ação assim que chegamos. Os vilões não tinham nenhuma chance! Graças a nosso novo amigo, nossos filhotes estavam a salvo. E levamos também os outros filhotes para nossa casa.

Walt Disney

Tarzan

Numa noite de tempestade, perto da costa da África, um homem usou um barco a remo para salvar sua esposa e seu bebê de um naufrágio. Logo alcançaram a praia de uma ilha próxima e construíram uma casa em uma árvore para abrigar-se. Nenhum outro ser humano vivia naquela ilha, cuja selva estava cheia de animais. Um dia, uma gorila chamada Kala desgarrou-se do seu grupo. Ela estava muito triste, pois tinha perdido seu bebê para o maior inimigo dos gorilas, o leopardo fêmea Sabor. Foi então que Kala ouviu o choro de outro bebê e, seguindo o barulho, encontrou à casa da árvore. Bastou apenas uma olhadela para ver que a maldita Sabor tinha passado também por ali. Kala sabia que aquela criaturinha que deveria ter uma família, pois encontrou o retrato dos pais, precisava de cuidados. Então, a aconchegou com bondade em seus braços fortes. Quando Kala voltou para casa, os outros macacos olharam espantados para o pequeno humano. — O que é essa coisa esquisita? - resmungou Terk, a filha de Kala.

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— É um bebê - disse Kala. - Agora vou ser mãe dele também. E, com cuidado, colocou o bebezinho nos braços de Terk. — Ele não é igual a nós! - exclamou Kerchak, o chefe dos gorilas.

— Ele é um perigo para nossa família. Você tem de devolvê-lo! Mas , Kala já estava muito apegada ao bebê e acabou convencendo Kerchak a deixá-la ficar com a criança. Deu-lhe o nome de Tarzan. Um dia, quando tinha cinco anos, Tarzan provocou sem querer o estouro de uma manada de elefantes. Zangado, Kerchak reclamou de Tarzan, dizendo a Kala que ele jamais se adaptaria. Tarzan ficou chateado e com raiva de Kerchak. Ficou também muito triste por perceber quanto era diferente dos outros gorilas. Kala logo compreendeu o sofrimento do filho. Com muito carinho, mostrou-lhe que, por dentro, eram iguais. Era isso que importava.

Tarzan estava decidido a provar seu valor a Kerchak. Queria ser o melhor gorila do mundo. Com os hipopótamos, aprendeu a nadar. Com os macacos, a se balançar nos cipós. Observando o chifre do rinoceronte, teve a idéia de criar uma ferramenta especial: uma lança. Um dia, Kerchak travou uma grande batalha com Sabor. A fera assassina estava quase vencendo a luta quando Tarzan chegou para ajudar o gorila. Derrotou Sabor e salvou Kerchak. Os gorilas ficaram muito contentes! Kala estava orgulhosa. Finalmente, Kerchak aceitava Tarzan como membro da família! De repente, ecoou pela selva um barulho terrível e nunca antes ouvido: tiros! Kerchak imediatamente conduziu sua família para um lugar seguro. Mas, Tarzan ficou curioso. Correu para ver de onde tinha vindo aquele "trovão”. Ficou chocado quando viu três criaturas muito parecidas com ele. As criaturas eram o professor Porter, sua filha Jane e o guia deles, Clayton. Os Porters tinham vindo para a África estudar gorilas. Então, Jane foi atacada por um grupo de babuínos. Tarzan logo pulou num cipó para salvá-la! Tarzan queria falar com Jane também. Pegou suavemente no queixo da moça e finalmente os dois se apresentaram. Kerchak ordenou a Tarzan que ficasse longe daquelas criaturas estranhas e barulhentas. Mas, Tarzan queria saber mais a respeito delas. No acampamento dos humanos, Tarzan aprendeu muitas coisas.Tarzan ensinou-lhes a dizer "Jane fica com Tarzan" na língua dos gorilas.

Kerchak estava furioso com a atitude de Tarzan, levando os humanos para ver os gorilas. Os bebês macacos adoraram Jane! Mas, Kerchak os atacou e Tarzan o segurou para que os humanos fugissem. Kala ,então, resolveu contar a verdade levando Tarzan à casa da árvore para que ele soubesse da sua origem e pudesse escolher: viver com os macacos ou com os humanos. Tarzan escolheu Jane! E todos assistiram à partida do amigo. Estavam mais tristes do que zangados. A bordo do navio, Tarzan teve uma surpresa desagradável. Clayton assumiu o comando e deixou-o todo prisioneiros.

Quando soube do plano para capturar macacos, Tarzan deu um grito terrível. Os amigos da selva vieram todos ajudar Tarzan a salvar os gorilas das garras de Clayton. Jane e Porter também vieram ajudar os amigos. De repente, Clayton atira em Kerchak. Antes de morrer, desculpa-se e pede ao filho que

cuide da família, porque de agora em diante, ele seria o grande líder. E, assim, todos ficaram juntos e viveram felizes para sempre.

Wal Disney

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O Lobo e os sete cabritinhos “Era uma vez uma cabra que tinha sete cabritinhos. Ela os amava com todo o amor que as mães sentem por seus filhinhos. Um dia, ela teve que ir à floresta em busca de alimento. Então, chamou os cabritinhos e lhes disse”: — Queridos filhinhos, preciso ir à floresta. Tenham muito cuidado por causa do lobo. Se ele entrar aqui, vai devorá-los todos. É seu costume disfarçar-se, mas vocês o reconhecerão pela sua voz rouca e por suas patas pretas. Os cabritinhos responderam: — Querida mãezinha, pode ir descansada, pois teremos muito cuidado. A cabra saiu e foi andando despreocupada. Não se passou muito tempo e alguém bateu à porta dizendo: — Abram a porta, queridos filhinhos. A mamãe está aqui e trouxe uma coisa para cada um de vocês. Os cabritinhos perceberam logo que era o lobo, por causa de sua voz rouca, e responderam: — Não abriremos a porta, não! Você não é nossa mãezinha. Ela tem uma voz macia e agradável. A sua é rouca. Você é o lobo! O lobo, então, foi a uma loja, comprou uma porção de giz e os comeu para amaciar a voz. Voltou à casa dos cabritinhos, bateu à porta, e disse: — Abram a porta, meus filhinhos. A mamãe já voltou e trouxe um presente para cada um de vocês. Mas , o lobo tinha posto as patas na janela e os cabritinhos responderam: — Não abriremos a porta, não! Nossa mãe não tem patas pretas como as suas. Você é o lobo. O lobo foi à padaria e disse ao padeiro: — Tenho as patas feridas. Preciso esfregá-las em um pouco de farinha. O padeiro pensou consigo mesmo: "O lobo está querendo enganar alguém". E recusou-se a fazer o que ele pedia. O lobo, porém, ameaçou devorá-lo e o padeiro, com medo, esfregou-lhe bastante farinha nas patas. Pela terceira vez, foi o lobo bater à porta dos cabritinhos:

— Meus filhinhos, abram a porta. A mãezinha já está aqui, de volta da floresta, e trouxe uma coisa para cada um de vocês. Os cabritinhos disseram: — Primeiro, mostre-nos suas patas, para vermos se você é mesmo nossa mãezinha. O lobo pôs as patas na janela e, quando eles viram que eram brancas, acreditaram e abriram a porta. Mas, que surpresa!!! Ficaram apavorados quando viram o lobo entrar.

Procuraram esconder-se depressa. Um entrou debaixo da mesa; outro se meteu na cama; o terceiro entrou no fogão; o quarto escondeu-se na cozinha; o quinto, dentro do guarda-louça; o sexto, embaixo de uma tina, e o sétimo, na caixa do relógio. O lobo os foi achando e comendo, um a um. Só escapou o mais moço, que estava na caixa do relógio. Quando satisfez o seu apetite, saiu e, mais adiante, deitou-se num gramado. Daí a pouco, pegou no sono. Momentos depois, a cabra voltou da floresta. Que tristeza a esperava! A porta estava escancarada. A mesa, as cadeiras e os bancos, jogados pelo chão. As cobertas e os travesseiros, fora das camas. Ela procurou os filhinhos, mas não os achou. Chamou-os pelos nomes, mas não responderam. Afinal, quando chamou o mais moço, uma vozinha muito sumida respondeu: — Mãezinha querida, estou aqui, no relógio. Ela o tirou de lá, e ele lhe contou tudo o que havia acontecido. A pobre cabra chorou ao pensar no triste fim de seus filhinhos!!! Alguns minutos depois, ela saiu e foi andando tristemente pela redondeza. O cabritinho acompanhou-a. Quando chegaram ao gramado, viram o lobo

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dormindo, debaixo de uma árvore. Ele roncava tanto que os galhos da árvore balançavam. A cabra reparou que alguma coisa se movia dentro da barriga do lobo. — Oh! Será possível que meus filhinhos ainda estejam vivos, dentro da barriga do lobo? pensou ela falando alto. Então, o cabritinho correu até sua casa e trouxe uma tesoura, agulha e linha. Mal a cabra fez um corte na barriga do lobo malvado, um cabritinho pôs a cabeça de fora. Ela cortou mais um pouco e os seis saltaram, um a um. Como ficaram contentes!!! Cada qual queria abraçar mais a mamãe. Ela também estava radiante, contudo, precisava acabar a operação antes que o lobo acordasse. Mandou que os cabritos procurassem umas pedras bem grandes. Quando eles as trouxeram, ela as colocou dentro da barriga do bicho e coseu-a rapidamente. Daí a momentos, o lobo acordou. Como sentisse muita sede, levantou-se para beber água no poço. Quando começou a andar, as pedras bateram, umas de encontro às outras, fazendo um barulho esquisito. O lobo pôs-se a pensar: "Estavam bem gostosinhos Os cabritos que comi. Mas depois, que coisa estranha! Que enorme peso senti!” Quando chegou ao poço e se debruçou para beber água, com o peso das pedras, caiu lá dentro e morreu afogado. Os cabritinhos, ao saberem da boa notícia, correram e foram dançar, junto ao poço, cantando, todos ao mesmo tempo”: "Podemos viver,

Sem ter mais cuidado. O lobo malvado morreu, No poço afogado.”

Irmãos Grimm

Dumbo E as cegonhas sobrevoavam o alojamento de um circo de inverno à procura das mães dos filhotes que carregavam em seus enormes bicos. Todas ganhavam, a mamãe girafa, a mamãe ursa, a mamãe hipopótamo, só Dona Jumbo, a mamãe elefante não ganhou seu filhote tão esperado. Assim o circo embarca trazendo muita diversão. De repente, uma cegonha um pouco atrasada, chega trazendo o tão esperado filhote de Dona Jumbo. Puxa, que alegria! Jumbo Júnior era o seu nome. — Mas que orelhas! disse uma companheira da Sra Jumbo. O seu nome será Dumbo! Não importava, Dumbo ou Jumbo Júnior, era o filhote mais querido e esperado. Dona Jumbo tratava-o com muito carinho! E assim a Sra. Jumbo e Dumbo passaram a noite mais feliz de suas vidas. Mãe e filho, juntos. No dia seguinte, o público começou a chegar para o grande espetáculo. Dumbo chamou muito a atenção de todos, pois sua orelha era enorme mesmo. As crianças começaram a zombar de Dumbo e como toda mãe, Dona Jumbo foi defender seu filhote daquela zombaria, mas se excedeu demais. Acabou indo para solitária Pobre Dumbo, ficou só. As companheiras da Sra Jumbo, ignoravam o elefantinho que precisava apenas de um pouco de atenção. Mas Timóteo, um simpático ratinho, estava sentado comendo as sobras de amendoim deixadas pelo público, observava tudo e ficou indignado com a atitude daqueles paquidermes e resolveu ajudar Dumbo. Tornou-se o melhor amigo de Dumbo!

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No dia seguinte, o número que os elefantes iriam apresentar seria a formação de uma pirâmide e no topo Dumbo seria lançado. Timóteo como seu amigo, deu-lhe a maior força, mas foi um desastre! Dumbo então foi transformado em um palhaço! Mas Dumbo estava muito triste, pois ele era um elefante e não um palhaço! E timóteo para reanimá-lo conseguiu que Dumbo fosse ver sua mãe na solitária. Sra. Jumbo naquela noite ninou o seu bebê! Sem querer os dois amigos vão parar em cima de uma árvore, onde estavam sendo observados pelos corvos. Timóteo então descobriu que eles poderiam ter voado! — Você pode voar, suas orelhas são perfeitas asas - disse Timóteo! Dumbo, então, é incentivado a voar pelos corvos que lhe dão uma pena e Timóteo dizia ser a pena mágica. — Voe, voe, bata as asas, vamos! Você pode! Você pode! - gritava Timóteo! Finalmente, Dumbo voou! No dia seguinte, Dumbo transforma-se na principal atração do circo. Usando suas orelhas, ele faz o que nenhum outro elefante conseguiu: voar! Agora, Dumbo é um verdadeiro herói e brilha como a estrela voadora do circo, trazendo alegria e diversão para todos.

Walt Disney

Robin Hood

— “Escutem! Escutem a história de Robin Hood”. Ele defende as pessoas pobres e as infelizes, de um príncipe malvado que sempre tira seu dinheiro. — “Silêncio ! - diz Robin Hood a seu amigo João pequeno. O que você está escutando?”. — É o som de um tambor.”

Aproxima-se uma grande carruagem puxada por elefantes. O que tem atrás de suas cortinas fechadas? — Seguramente, um homem importante!- diz João Pequeno. — Só pode ser o Príncipe! - responde Robin Hood. No interior da carruagem, o Príncipe está brincando diante de seu amigo Sir Chio. Ele brinca com suas moedas de ouro. — Vamos nos disfarçar de ciganos?- diz Robin para João Pequeno. O Príncipe viu os ciganos e fez sua carruagem parar. — Você, pequena, encoberta com um lenço de bolinhas, venha prever o meu futuro". Robin está dentro da carruagem. . . E João Pequeno está embaixo do cofre. Ele o abre e o esvazia. João Pequeno escondeu o ouro dentro de seu colete. Ele corre. Hop! Hop! Hop! Tão rápido, que Robin Hood, encoberto com o lenço de bolinhas, salta da carruagem. — Ladrões! Ladrões! Socorro! — Eles me roubaram! - grita o Príncipe. — Vamos pegá-los! — Vamos recuperar o roubo! — Meu ouro! Eles carregam meu tesouro! Roubaram todo meu tesouro! — Meu ouro! Meu ouro! Onde está meu ouro? Eis o príncipe deitado no barro, enlameado, sujo e triste! — Trala-lá, você caiu por terra! Bem feito para você! Viva Robin e João Pequeno! -exclamam as pessoas. Eles vêm nos entregar o dinheiro. — Cantemos!

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— Dancemos! — Que todos estejam contentes! — Agora é festa!

Walt Disney

A Bela e a Fera

Era uma vez... um comerciante que morava com sua filha, uma moça chamada Bela, que gostava muito de ler. Em certa ocasião, quando o pai voltava de uma viagem muito distante, anoiteceu e ele perdeu o caminho. Como não sabia o que fazer, o homem deixou-se guiar pelo cavalo. Depois de um certo tempo, chegaram a um palácio que parecia abandonado. O comerciante refugiou-se ali para passar a noite.

No dia seguinte, cortou uma rosa do jardim para levar a sua filha. Apareceu, então, uma fera rugindo, um ser selvagem e monstruoso que disse: — Morrerás por roubar as rosas do meu jardim! Aterrorizado, o pobre homem suplicou: — Deixa que me despeça da minha filha. A Fera concedeu-lhe o pedido. De volta a sua casa, contou o ocorrido a sua filha. Sem medo, ela decidiu voltar ao palácio com o pai. Uma vez no palácio da Fera, Bela tomou coragem e fez uma proposta: — Deixa meu pai ir embora. Eu ficarei no lugar dele. Bela tinha medo de morrer, mas podia perceber que a Fera a tratava bem, permitindo-lhe inclusive ler na biblioteca do castelo. Com o passar dos dias, o monstro apaixonou-se por Bela, e numa noite pediu-a em casamento. Bela não aceitou, mas ofereceu sua amizade. Um dia, Bela pediu permissão à Fera para visitar o seu pai. — Voltarei logo - prometeu. A Fera, que nada lhe podia negar, a deixou partir. Bela passou muitos dias cuidando de seu pai, que estava doente, tinha envelhecido de tristeza pensando que tinha perdido a filha para sempre. Quando Bela retornou ao palácio, encontrou a Fera no chão meio morta de saudade por sua ausência. Então Bela ,soube o quanto era amada. — Não morras, caso-me contigo - disse-lhe chorando. Comovida, Bela o beija... ... E, nesse momento, o monstro transformou-se num belo príncipe. Uma bruxa o havia enfeitiçado até que alguém o amasse. A verdadeira beleza está no coração.

Clássicos de Ouro

Cachinhos de Ouro

Era uma vez... uma menina chamada Cachinhos de Ouro. Ela gostava de passear pela floresta nas manhãs de primavera. Numa dessas manhãs, ela ia andando, andando, andando, quando avistou lá longe uma casinha. Curiosa, apressou o passo e logo, logo chegou bem perto. Cachinhos de Ouro ficou encantada com a formosura da casa. Mas nunca imaginaria que ali moravam o Senhor Urso, a Dona Ursa e o filhote do casal, o Ursinho.

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Cachinhos de Ouro, ao ver que a casa estava fechada, espiou pela janela e viu que não havia ninguém. Deu uma volta ao redor da casa e nada, ninguém... Então, ela teve a certeza de que os donos daquela casa tinham saído. Mas, ela não queria voltar pra casa sem ver o que havia dentro daquela casinha. E com um forte empurrão, conseguiu abrir a porta e entrou. Na sala, havia uma mesa com três pratos cheios de sopa. A menina, que estava com muita fome, sentou-se e rapidinho tomou a sopa. Em seguida, ela sentou na cadeira do senhor Urso; depois, na cadeira da Dona Ursa e, por fim, na cadeirinha do Ursinho, que era a mais bonitinha e muito gostosa de se sentar. Logo que ela sentou, ela começou a se espreguiçar. Ah! Ah! Foi quando a cadeirinha... ploft... quebrou, e a menina foi ao chão. Daí, Cachinhos de Ouro foi até o quarto e lá viu três camas. Deitou na cama do senhor Urso, depois na cama de Dona Ursa. E a caminha do Ursinho, assim como a cadeirinha, parecia a mais gostosa de todas pra se dormir. Não parou para pensar. Deitou-se nela e acabou dormindo suavemente. A família Urso, que despreocupada passeava pela floresta, resolveu voltar. Ao chegarem, logo perceberam que alguém tinha tomado a sopa toda. Aí o Ursinho exclamou: — Alguém tomou a minha sopa! Viram depois que alguém tinha sentado em todas as cadeiras da casa. E, imediatamente, o Ursinho berrou: — Minha cadeirinha está quebrada! Os três olharam muito espantados e foram juntos para o quarto pra ver se alguma coisa tinha acontecido ali também. E o Ursinho gritou logo: — Tem alguém dormindo na minha caminha! Com os gritos do Ursinho, Cachinhos de Ouro acordou muito assustada... Porque se viu frente a frente com toda a família Urso. Então, ela pulou da cama e, muito envergonhada, pediu desculpas e saiu correndo pra casa.

Clássicos de Ouro

Soldadinho de Chumbo

Era uma vez um menino que tinha muitíssimos brinquedos. Guardava todos no seu quarto e, durante o dia, passava horas e horas felizes brincando com eles. Um dos seus brinquedos preferidos era o de fazer a guerra com seus soldadinhos de chumbo. Colocava-os uns de frente para os outros e começava a batalha. Quando os ganhou de presente, se deu conta de que a um deles lhe faltava uma perna por causa de um defeito de fabricação. Não obstante, enquanto jogava, colocava sempre o soldado mutilado na primeira linha, diante de todos, incentivando-o a ser o mais valente. Mas, o menino não sabia que os seus brinquedos durante a noite adquiriam vida e falavam entre eles, e, às vezes, ao colocar ordenadamente os soldados, colocava por descuido o soldadinho mutilado entre os outros brinquedos. E foi assim que um dia o soldadinho pôde conhecer uma gentil bailarina, também de chumbo. Entre os dois se estabeleceu uma corrente de simpatia e, pouco a pouco, quase sem se dar conta, o soldadinho se apaixonou por ela. As noites continuavam rapidamente, uma atrás da outra, e o soldadinho apaixonado não encontrava nunca o momento oportuno para declarar seu amor. Quando o menino o deixava no meio dos outros soldados em uma batalha, torcia para que a

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bailarina se desse conta do sua coragem pela noite, quando ela lhe perguntava se tinha tido medo, ele lhe respondia com veemência que não. Mas, os olhares insistentes e os suspiros do soldadinho não passaram despercebidos pelo diabinho que estava trancado em uma caixa de surpresas. Cada vez que, por um passe de mágica, a caixa se abria à meia-noite, um dedo ameaçador apontava para o pobre soldadinho. Finalmente, uma noite, o diabo explodiu: — Hei, você! Deixe de olhar para a bailarina! O pobre soldadinho ruborizou-se , mas a bailarina, muito gentil, o consolou: — Não lhe dê ouvidos, é um invejoso. Eu estou muito feliz por falar com você. E disse isso se ruborizando. Pobres estatuazinhas de chumbo, tão tímidas, que não se atrevem a confessar seu mútuo amor! Mas um dia foi separado, quando o menino colocou o soldadinho no batente de uma janela. — Fique aqui e vigie para que não entre nenhum inimigo, porque mesmo que você seja manco, bem que pode servir para sentinela. O menino logo colocou os outros soldadinhos em cima de uma mesa para brincar. Passavam os dias e o soldadinho de chumbo não era deslocado do seu posto de guarda. Uma tarde, começou de repente uma tormenta, e um forte vento sacudiu a janela, batendo na figurinha de chumbo, que se precipitou no chão. Ao cair do batente, com a cabeça para baixo, a baioneta do fuzil se cravou no chão. O vento e a chuva continuavam. Uma tempestade de verdade! A água, que caía a cântaros, logo formou amplas poças e pequenos riachos que escapavam pelo esgoto. Um grupo de garotos esperava que a chuva diminuísse, cobertos na porta de uma escola próxima. Quando a chuva parou, começaram a correr em direção às suas casas, evitando pôr os pés nas poças de lama maiores. Dois garotos refugiaram-se das últimas gotas que escorriam dos telhados, caminhando muito próximos às paredes dos edifícios. Foi assim que viram o soldadinho de chumbo enterrado no chão, encharcado de água. — Que pena que só tenha uma perna! Se não, eu o levaria para casa - disse um deles. — Vamos levá-lo assim mesmo, para algo servirá - disse o outro, e o colocou em um dos bolsos. No outro lado da rua, descia um riachinho, que transportava um barquinho de papel que chegou até ali, não se sabe como. — Colocamo-lo em cima e parecerá um marinheiro! - disse o pequeno que o havia recolhido. E foi assim que o soldadinho de chumbo transformou-se em um navegante. A água vertiginosa do riachinho era engolida pelo esgoto, que acabou engolindo também o barquinho. No canal subterrâneo o nível das águas turvas era alto. Enormes ratazanas, cujos dentes rangiam, viram como passava diante delas o insólito marinheiro em cima do barquinho afundando. Mas, não fazia falta umas míseras ratazanas para assustá-lo, a ele que havia enfrentado tantos e tantos perigos em suas batalhas! O esgoto desembocava no rio, até que o barquinho chegou ao final e afundou, sem solução, empurrado por redemoinhos turbulentos. Depois do naufrágio, o soldadinho de chumbo acreditou que seu fim estava próximo, ao se submergir nas profundezas das águas. Milhares de pensamentos passaram, então, pela sua mente, mas, sobretudo, havia um que lhe angustiava mais que nenhum outro: era o de não voltar a ver jamais a sua bailarina... Logo, uma boca imensa o engoliu para mudar seu destino. O soldadinho encontrou-se no escuro estômago de um enorme peixe, que avançou vorazmente sobre ele, atraído pelas cores brilhantes do seu uniforme. Sem dúvida, o peixe não teve tempo de ter problemas de digestão com uma comida tão pesada, já que em pouco tempo foi preso pela rede que um pescador havia jogado ao rio. Pouco depois, acabou agonizando em uma cesta de compra, junto com outros peixes tão infelizes como ele. Acontece que a cozinheira da casa na qual havia estado o soldadinho chegou ao mercado para comprar peixe.

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— Esse exemplar parece apropriado para os convidados desta noite - disse a mulher, contemplando o peixe exposto em cima de um balcão. O peixe acabou na cozinha, e, quando a cozinheira o abriu para limpá-lo, ficou surpresa com o soldadinho em suas mãos. — Mas esse é um dos soldadinhos de...! - gritou, e foi em busca do menino para contar-lhe onde e como havia encontrado seu soldadinho de chumbo que estava sem uma perna. — Sim, é o meu! - exclamou espantado o menino ao reconhecer o soldadinho mutilado que havia perdido. — Quem sabe como chegou até a barriga deste peixe! Coitadinho, quanta aventura haverá passado desde que caiu da janela! - e o colocou na estante da chaminé onde sua irmãzinha havia colocado a bailarina. Um milagre havia reunido de novo os dois apaixonados. Felizes de estar outra vez juntos, durante a noite contavam o que havia acontecido desde a sua separação. Mas, o destino lhes reservava outra surpresa ruim: um vendaval levantou a cortina da janela, e, batendo na bailarina, derrubou-a na lareira. O soldadinho de chumbo, assustado, viu como sua companheira caía. Sabia que o fogo estava aceso porque notava seu calor. Desesperado, sentia-se incapaz de salvá-la. Que grande inimigo é o fogo, que pode fundir umas estatuazinhas de chumbo como nós! Balançando-se com sua única perna, tratou de mover o pedestal que o sustentava. Depois de muito esforço, acabou finalmente caindo também ao fogo. Juntos dessa vez pela desgraça, voltaram a estar perto um do outro, tão perto que o chumbo de suas pequenas pernas, envolto em chamas, começou a fundir-se. O chumbo da perna de um se misturou com o do outro, e o metal adquiriu surpreendentemente a forma de um coração. Seus corpinhos estavam a ponto de se fundir, quando coincidiu passar por ali o menino. Ao ver as duas estatuazinhas entre as chamas, empurrou-as com o pé longe do fogo. Desde então, o soldadinho e a bailarina estiveram sempre juntos, tal como o destino os havia unido: sobre apenas uma perna em forma de coração.

Hans Christian Andersen

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A Mula-Sem-Cabeça Nos pequenos povoados ou cidades, onde existam casas rodeando uma igreja, em noites escuras, pode haver aparições da Mula-Sem-Cabeça. Também se alguém passar correndo diante de uma cruz à meia-noite, ela aparece. Dizem que é uma mulher que namorou um padre e foi amaldiçoada. Toda passagem de quinta para sexta feira ela vai numa encruzilhada e ali se transforma na besta. Então, ela vai percorrer sete povoados, ao longo daquela noite, e se encontrar alguém chupa seus olhos, unhas e dedos. Apesar do nome, Mula-Sem-Cabeça, na verdade, de acordo com quem já a viu, ela aparece como um animal inteiro, forte, lançando fogo pelas narinas e boca, onde tem freios de ferro. Nas noites em que ela sai, ouve-se seu galope, acompanhado de longos relinchos. Às vezes, parece chorar como se fosse uma pessoa. Ao ver a Mula, deve-se deitar de bruços no chão e esconder Unhas e Dentes para não ser atacado. Se alguém, com muita coragem, tirar os freios de sua boca, o encanto será desfeito e a Mula-Sem-Cabeça, voltará a ser gente, ficando livre da maldição que a castiga, para sempre.

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O Lobisomem Diz a lenda que quando uma mulher tem sete filhas e o oitavo filho é homem, esse menino será um Lobisomem. Também o será, o filho de mulher amancebada com um Padre. Sempre pálido, magro e orelhas compridas, o menino nasce normal. Porém, logo que ele completa 13 anos, a maldição começa. Na primeira noite de terça ou sexta-feira, depois do aniversário, ele sai à noite e vai até uma encruzilhada. Ali, no silêncio da noite, se transforma em Lobisomem pela primeira vez, e uiva para a lua. Daí em diante, toda terça ou sexta-feira, ele corre pelas ruas ou estradas desertas com uma matilha de cachorros latindo atrás. Nessa noite, ele visita, sete partes da região, sete pátios de igreja, sete vilas e 7 encruzilhadas. Por onde passa, açoita os cachorros e apaga as luzes das ruas e das casas, enquanto uiva de forma horripilante. Antes de o Sol nascer, quando o galo canta, o Lobisomem volta ao mesmo lugar de onde partiu e se transforma outra vez em homem. Quem estiver no caminho do Lobisomem, nessas noites, deve rezar três Ave-Marias para se proteger.

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Para quebrar o encanto, é preciso chegar bem perto, sem que ele perceba, e bater forte em sua cabeça. Se uma gota de sangue do Lobisomem atingir a pessoa, ela também vira Lobisomem.

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O ATAQUE DO LOBISOMEM É noite de quinta para sexta-feira. Uma chuva fina cai sobre a cidade deserta e um vento forte sopra sobre suas ruas. Um homem caminha depressa pelas ruas mal-iluminadas. Ao ouvir um estranho ruído, apressa ainda mais o passo. Porém, sente que está sendo observado. Completamente apavorado, começa a correr. Na esquina , vê um vulto escuro. Sentindo que está prestes a se tornar sua vítima, grita por socorro. Mas de nada adianta. Desesperado, cai de joelhos ao chão e com os olhos cheios de lágrima vê a criatura atacar. Com uma dentada no pescoço, o Lobisomem suga seu sangue. Seu corpo fica inerte no chão. Meio bicho, meio gente, a besta sai em disparada para atacar outras possíveis vítimas. Quando o galo começa a cantar, o Lobisomem retoma a sua condição anterior: volta a ser homem, cansado e com os cotovelos cobertos de sangue. Isolado, fica aguardando a próxima oportunidade em que voltará a atacar suas vítimas.

Lendas e Mitos do Folclore Brasileiro

O Papa Figo O Papa Figo, ao contrário dos outros mitos, não tem aparência extraordinária. Parece mais

com uma pessoa comum. Outras vezes, pode parecer como um velho esquisito que carrega um grande saco às costas.

Na verdade, ele mesmo pouco aparece. Prefere mandar seus ajudantes em busca de suas vítimas. Os ajudantes, por sua vez, usam de todos os artifícios para atrair as vítimas- todas crianças claro-, tais como; distribuir presentes, doces, dinheiro, brinquedos ou comida. Eles agem em qualquer lugar público ou em portas de escolas, parques, ou mesmo locais desertos.

Depois de atrair as vítimas, estas são levadas para o verdadeiro Papa-Figo, um sujeito estranho, que sofre de uma doença rara e sem cura. Um sintoma dessa doença seria o crescimento anormal de suas orelhas.

Diz a lenda, que para aliviar os sintomas dessa terrível doença ou maldição, o Papa-Figo, precisa se alimentar do fígado de uma criança. Feita a extração do fígado, eles costumam deixar junto com a vítima, uma grande quantia em dinheiro, que é para o enterro e também para compensar a família.

Origem: Mito muito comum em todo meio rural. Acredita-se que a intenção do conto era para alertar as crianças para o contato com estranhos, como no conto de Chapeuzinho Vermelho.

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Mulher da Meia Noite

A Mulher da Meia Noite, também Dama de Vermelho, Dama de Branco, é um mito universal. Ocorre nas Américas e em toda Europa.

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É uma aparição na forma de uma bela mulher, normalmente vestida de vermelho, mas pode ser também de branco. Alguns dizem, que é uma alma penada que não sabe que já morreu , outros afirmam que é o fantasma de uma jovem assassinada que ,desde então, vaga sem rumo.

Na verdade, ela não aparece à meia-noite, e sim, desaparece nessa hora. Linda como é, parece uma jovem normal. Gosta de se aproximar de homens solitários nas mesas de bar. Senta com ele, e logo o convida para que a leve para casa. Encantado com tamanha beleza, todos topam na hora. Eles caminham, e conversando logo chegam ao destino. Parando ao lado de um muro alto, ela então diz ao acompanhante: "É aqui que eu moro...". É nesse momento que a pessoa se dá conta que está ao lado de um cemitério, e antes que possa dizer alguma coisa, ela desaparece e, nessa hora, o sino da igreja anuncia que é meia noite.

Outras vezes, ela surge nas estradas desertas, pedindo carona. Então pede ao motorista que a acompanhe até sua casa. E, mais uma vez, a pessoa só percebe que está diante do cemitério, quando ela com sua voz suave e encantadora diz: "É aqui que eu moro, não quer entrar comigo...?".

Gelado da cabeça aos pés, a única coisa que a pessoa vê é que ela acabou de sumir diante dos seus olhos, à meia-noite em ponto.

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Chupa Cabra Nos estados de São Paulo, Paraná e no Sul de Minas, pequenos animais

têm sido atacados e aparecem estranhamente sem sangue e com órgãos extirpados. É um Alien, um vampiro, um lobisomem, um novo ser ou simplesmente mais uma lenda a

assolar o planeta? A resposta ainda é tão confusa quanto a história, mas alguma coisa acontece no interior dos Estados de São Paulo e Paraná e no Sul de Minas Gerais.

Uma coisa estranha, misteriosa e ainda sem uma explicação lógica está matando animais de pequeno porte de maneira nada convencional. Cabras, ovelhas, galinhas, bezerros têm amanhecido mortos, sem sangue, sem os órgãos principais, estranhamente retirados por pequenos orifícios e, muitas vezes, mutilados, sem orelhas, patas e focinhos.

Ela ataca geralmente à noite, deixa poucos rastros, domina as vítimas sem vestígios de luta e não faz o menor barulho. No caso das ovelhas e cabritas, prefere as prenhas. Até agora, ninguém testemunhou um ataque, mas o número de casos tem aumentado e a coisa está ganhando notoriedade, em páginas de jornal, revistas, televisão e até em sites da Internet.

A opinião da população está dividida, duplicando a confusão em torno da origem da criatura. Em primeiro lugar, na busca pela verdade, deve-se dizer que o fenômeno é mundial, com fortes características terceiro-mundistas, e chegou ao Brasil recentemente. Já há alguns casos de ataques a seres humanos registrados, no Estado de Minas Gerais, mas

sempre sem vítimas fatais. Sua característica principal é drenar o sangue da vítima. A "criatura" recebe o nome de Chupa-cabras. Primeiro, porque a característica principal dela, segundo ufólogos interessados no assunto, é drenar totalmente o sangue dos animais abatidos. Segundo, por ter surgido pela primeira vez em Porto Rico, na América Central, lugar de grande concentração de criação de cabras. Os ataques dos Chupa-cabras também são relatados em outros países, como Estados Unidos, México e na região do Caribe, na Espanha, Portugal, Índia e, mais recentemente, na Turquia.

Aos olhos da Ufologia, apenas cerca de 2,5% de todos os casos apresentados pode ser considerado verdadeiro ou no mínimo inexplicável (Contudo, podendo ser esclarecido com o tempo).

Muitas vezes, trata-se de ataques feitos por cães, onças, suçuaranas, lobos ou raposas, mas devido ao medo, boatos e exageros, somados à falta de veterinários e biólogos nos locais dos supostos ataques, aumentam, cada vez mais, a crença no Chupa-cabras.

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Vampiros Lendas sobre a existência de terríveis criaturas chupadoras de sangue já são mencionadas

nas antigas literaturas egípcia e grega. A crença nestes seres deve ter nascido devido à percepção de que os moribundos enfraquecem com a perda de sangue. Assim, pessoas de pouca cultura devem ter concluído que beber sangue restaurava as forças ou, até mesmo, que o sangue dos vivos podia ressuscitar os mortos. Mas, a principal fonte para compor o mito sobre vampiros foi a crendice profundamente enraizada da Romênia rural.

Segundo a religião ali dominante, a da Igreja Ortodoxa Oriental, as pessoas que morriam excomungadas ou sob maldição eram transformadas em mortos-vivos até serem absolvidas pela Igreja. Diziam ,ainda, as lendas romenas que certas pessoas, como as crianças ilegítimas ou as não-batizadas, as bruxas e o sétimo filho de um sétimo filho, estavam condenadas a serem vampiros.

Também acreditavam na existência de pássaros demoníacos, conhecidos como Strigoi, que só voavam de noite, ávidos por carne e sangue humanos. Além de trazer a morte para a vítima atacada, os vampiros também eram considerados os causadores da peste, sendo desta maneira extremamente odiados e temidos. Acreditava-se , também, que vampiros odiavam alho; assim os aldeões esfregavam o tempero em todas as portas e janelas para se proteger de possíveis ataques noturnos dos bebedores de sangue. Em algumas aldeias, quem se recusa a comer alho torna-se suspeito de vampirismo, especialmente estranhos recém-chegados.

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A Roupa Nova do Rei

"Era uma vez um rei, tão exageradamente amigo de roupas novas, que nelas gastava todo o seu dinheiro. Ele não se preocupava com seus soldados, com o teatro ou com os passeios pela floresta, a não ser para exibir roupas novas. Para cada hora do dia, tinha uma roupa diferente. Em vez de o povo dizer, como de costume, com relação a outro rei:” Ele está em seu gabinete de trabalho “, dizia” Ele está no seu quarto de vestir”.

A vida era muito divertida na cidade onde ele vivia. Um dia, chegaram hóspedes estrangeiros ao palácio. Entre eles, havia dois trapaceiros. Apresentaram-se como tecelões e gabavam-se de fabricar os mais lindos tecidos do mundo. Não só os padrões e as cores eram fora do comum, como, também as fazendas tinham a especialidade de parecer invisível às pessoas destituídas de inteligência, ou àquelas que não estavam aptas para os cargos que ocupavam.

"Essas fazendas devem ser esplêndidas, pensou o rei. Usando-as, poderei descobrir quais os homens, no meu reino, que não estão em condições de ocupar seus postos, e poderei substituí-los pelos mais capazes... Ordenarei, então, que fabriquem certa quantidade deste tecido para mim”.

Pagou aos dois tecelões uma grande quantia, adiantadamente, para que logo começassem a trabalhar. Eles trouxeram dois teares nos quais fingiu tecer, mas nada havia em suas lançadeiras. Exigiram que lhes fosse dada uma porção da mais cara linha de seda e ouro, que puseram imediatamente em suas bolsas, enquanto fingia trabalhar nos teares vazios. — Eu gostaria de saber como vai indo o trabalho dos tecelões, pensou o rei. Entretanto, sentiu-se um pouco embaraçado ao pensar que quem fosse estúpido, ou não tivesse capacidade para ocupar seu posto, não seria capaz de ver o tecido. Ele não tinha propriamente dúvidas a seu respeito, mas achou melhor mandar alguém primeiro, para ver o andamento do trabalho.

Todos na cidade conheciam o maravilhoso poder do tecido e cada qual estava mais ansioso para saber quão estúpido era o seu vizinho.

— Mandarei meu velho ministro observar o trabalho dos tecelões. Ele, melhor do que ninguém, poderá ver o tecido, pois é um homem inteligente e que desempenha suas funções com o máximo da perfeição, resolveu o rei. Assim sendo, mandou o velho ministro ao quarto onde os dois embusteiros simulavam trabalhar nos teares vazios.

— "Deus nos acuda!" Pensou o velho ministro, abrindo bem os olhos. "Não consigo ver nada!”. Não obstante, teve o cuidado de não declarar isso em voz alta. Os tecelões o convidaram para aproximar-se a fim de verificar se o tecido estava ficando bonito e apontavam para os teares. O pobre homem fixou a vista o mais que pôde, mas não conseguiu ver coisa alguma.

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— "Céus , pensou ele. Será possível que eu seja um tolo? Se é assim, ninguém deverá sabê-lo e não direi a quem quer que seja que não vi o tecido”.

— O senhor nada disse sobre a fazenda, queixou-se um dos tecelões. — Oh, é muito bonita. É encantadora!!! Respondeu o ministro, olhando através de seus

óculos. O padrão é lindo e as cores estão muito bem combinadas. Direi ao rei que me agradou muito.

— Estamos encantados com a sua opinião, responderam os dois ao mesmo tempo e descreveram as cores e o padrão especial da fazenda. O velho ministro prestou muita atenção a tudo o que diziam, para poder reproduzi-lo diante do rei. Os embusteiros pediram mais dinheiro, mais seda e ouro para prosseguir o trabalho. Puseram tudo em suas bolsas. Nem um fiapo foi posto nos teares, e continuaram fingindo que teciam. Algum tempo depois, o rei enviou outro fiel oficial para olhar o andamento do trabalho e saber se ficaria pronto em breve. A mesma coisa lhe aconteceu: olhou, tornou a olhar, mas só via os teares vazios.

— Não é lindo o tecido? Indagaram os tecelões, e deram-lhe as mais variadas explicações sobre o padrão e as cores.

"Eu penso que não sou um tolo, refletiu o homem. Se assim fosse, eu não estaria à altura do cargo que ocupo. Que coisa estranha!!!...” Pôs-se então a elogiar as cores e o desenho do tecido e, depois, disse ao rei: "É uma verdadeira maravilha!!!”.

Todos na cidade não falavam noutra coisa senão nessa esplendida fazenda, de modo que o rei, muito curioso, resolveu vê-la, enquanto ainda estava nos teares. Acompanhado por um grupo de cortesões, entre os quais se achavam os dois que já tinham ido ver o imaginário tecido, foi ele visitar os dois astuciosos impostores. Eles estavam trabalhando mais do que nunca, nos teares vazios.

— É magnífico! Disseram os dois altos funcionários do rei. Veja Majestade, que delicadeza de desenho! Que combinação de cores! Apontavam para os teares vazios com receio de que os outros não estivessem vendo o tecido.

O rei, que nada via, horrorizado pensou: "Serei eu um tolo e não estarei em condições de ser rei? Nada pior do que isso poderia acontecer-me!" Então, bem alto, declarou:

— Que beleza! Realmente merece minha aprovação!!! Por nada neste mundo ele confessaria que não tinha visto coisa nenhuma. Todos aqueles que o acompanhavam também não conseguiram ver a fazenda, mas exclamaram a uma só voz:

— Deslumbrante!!! Magnífico!!! Aconselharam eles ao rei que usasse a nova roupa, feita daquele tecido, por ocasião de um

desfile, que se ia realizar daí a alguns dias. O rei concedeu a cada um dos tecelões uma condecoração de cavaleiro, para ser usada na lapela, com o título "cavaleiro tecelão". Na noite que precedeu o desfile, os embusteiros fizeram serão. Queimaram dezesseis velas para que todos vissem o quanto estava trabalhando, para aprontar a roupa. Fingiu tirar o tecido dos teares, cortaram a roupa no ar, com um par de tesouras enormes e coseram-na com agulhas sem linha. Afinal, disseram:

— Agora, a roupa do rei está pronta. Sua Majestade, acompanhado dos cortesões, veio vestir a nova roupa. Os tecelões fingiam

segurar alguma coisa e diziam: "aqui está a calça, aqui está o casaco, e aqui o manto. Estão leves como uma teia de aranha. Pode parecer a alguém que não há nada cobrindo a pessoa, mas aí é que está a beleza da fazenda".

— Sim! Concordaram todos, embora nada estivessem vendo. - Poderia Vossa Majestade tirar a roupa? Propuseram os embusteiros. Assim poderíamos vestir-lhe a nova, aqui, em frente ao espelho. O rei fez-lhes a vontade e eles fingiram vestir-lhe peça por peça. Sua majestade virava-se para lá e para cá, olhando-se no espelho e vendo sempre a mesma imagem, de seu corpo nu.

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— Como lhe assentou bem o novo traje! Que lindas cores! Que bonito desenho! Diziam todos com medo de perderem seus postos se admitissem que não viam nada. O mestre de cerimônias anunciou:

— A carruagem está esperando à porta, para conduzir Sua Majestade, durante o desfile. — Estou quase pronto, respondeu ele. Mais uma vez, virou-se em frente ao espelho, numa atitude de quem está mesmo apreciando

alguma coisa. Os camareiros que iam segurar a cauda inclinaram-se, como se fossem levantá-la do chão e

foram caminhando, com as mãos no ar, sem dar a perceber que não estavam vendo roupa alguma. O rei caminhou à frente da carruagem, durante o desfile. O povo, nas calçadas e nas janelas, não querendo passar por tolo, exclamava:

— Que linda é a nova roupa do rei! Que belo manto! Que perfeição de tecido! Nenhuma roupa do rei obtivera antes tamanho sucesso! Porém, uma criança que estava entre a multidão, em sua imensa inocência, achou aquilo

tudo muito estranho e gritou: — Coitado!!! Ele está completamente nu!! O rei está nu!! O povo, então, enchendo-se de coragem, começou a gritar: — Ele está nu! Ele está nu! O rei, ao ouvir esses comentários, ficou furioso por estar representando um papel tão

ridículo! O desfile, entretanto, devia prosseguir, de modo que se manteve imperturbável e os camareiros continuaram a segurar-lhe a cauda invisível. Depois que tudo terminou, ele voltou ao palácio, de onde envergonhado, nunca mais pretendia sair. Somente depois de muito tempo, com o carinho e afeto demonstrado por seus cortesões e por todo o povo, também envergonhados por se deixarem enganar pelos falsos tecelões, e que clamavam pela volta do rei, é que ele resolveu se mostrar em breves aparições... Mas nunca mais se deixou levar pela vaidade e perdeu para sempre a mania de trocar de roupas a todo o momento.

Quanto aos dois supostos tecelões, desapareceram misteriosamente, levando o dinheiro e os fios de seda e ouro. Mas, depois de algum tempo, chegou a notícia na corte, de que eles haviam tentado fazer o mesmo golpe em outro reino e haviam sido desmascarados, e agora cumpriam uma longa pena na prisão.

Hans Christian Andersen

Tiquinho de Carvão “Uma senhora fez, um dia, cinco tortas. Quando elas saíram do forno, estavam tão duras que

não podiam ser comidas. Por isso, a senhora disse à filha”: — Querida, ponha as tortas na prateleira e deixe-as lá, descansando um pouco, para ver se

amolecem. A mocinha, que era muito gulosa, disse consigo mesma: "Pois sim, eu vou comê-las de uma só vez". E comeu-as, da primeira à última. Mais tarde, quando acabaram de jantar, a senhora disse à filha:

—Vá buscar uma daquelas tortas. Agora já poderemos comê-la. A moça levantou-se da mesa, foi até a prateleira, onde só havia pratos vazios, voltou e disse à mãe:

— As tortas ainda não amoleceram. — Nenhuma delas? Perguntou a senhora. — Nenhuma, respondeu a moça. — Bem, volte lá e traga-me uma de qualquer maneira. Quero comê-la assim mesmo,

resolveu a senhora. — Mas é impossível, ainda estão muito duras, continuou a filha. — Não faz mal, respondeu a mãe. Veja a que estiver melhor. — Melhor ou pior, você não poderá comer nenhuma, porque eu comi todas, explicou a

moça.

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A senhora ficou muito aborrecida. Apanhou a roca e foi fiar na varanda. Enquanto fiava, ia falando alto:

— Que vergonha! Minha filha comeu cinco tortas de uma só vez... O Rei tinha saído para passear. Quando passou pela porta da casa da senhora, como não

entendesse o que ela estava dizendo, parou e perguntou-lhe: — O que você está dizendo, boa mulher??? Ela, com vergonha do que a filha tinha feito, respondeu: — Eu estava dizendo que minha filha hoje fiou cinco meadas de linha, meu Rei! — Céus, exclamou o Rei. Nunca ouvi dizer que alguém conseguisse fazer tal coisa. Escute,

eu preciso de uma esposa prendada e casar-me-ei com sua filha. Preste, porém, muita atenção: durante onze meses no ano, ela poderá comer o que desejar usará as roupas que quiser e terá as companhias que mais lhe agradarem. Entretanto, no último mês do ano, ela terá que fiar cinco meadas de linha por dia ou, então, mandarei matá-la.

— Muito bem, disse a senhora, que estava pensando apenas nas vantagens de ter a filha casada com o rei.

Quanto às cinco meadas que ela teria que fiar em cada dia do último mês, bem... Depois ela encontraria uma solução. Quem sabe, até lá, o Rei poderia esquecer-se disso...

Casaram-se, então, o Rei e a mocinha. Durante onze meses, de fato, ela comeu coisas gostosas, usou roupas bonitas e teve companhias agradáveis. Quando já ia se aproximando o décimo segundo mês, ela começou a pensar de que modo se arranjaria para fiar cinco meadas por dia. Como, porém, o rei não se referisse ao assunto, ela pensou que ele o tivesse esquecido. Todavia, no último dia do décimo primeiro mês, ele a levou a um quarto que ela nunca tinha visto, onde havia uma roca e um banco. O Rei explicou-lhe:

— Amanhã, minha querida, você virá para aqui, onde passará todo o mês, fiando cinco meadas por dia. Um empregado trará suas refeições e, à noite, eu virei recolher sua tarefa. Se não estiver pronta, já sabe o que lhe acontecerá, não é? Dito isso, retirou-se. A moça ficou muito nervosa. Ela nunca soubera fiar. Que seria dela, sem ter quem a ajudasse? Foi até a cozinha e sentou-se num banco, chorando. Daí a momentos ouviu uma pancada leve na porta. Levantou-se e abriu-a. O que viu foi simplesmente um animalzinho preto, muito pequeno e esquisito, com uma cauda longa que balançava sem parar.

— Por que está chorando? Perguntou ele. — Quem é você? Retrucou ela. — Não se preocupe com isso, continuou o bichinho. — Porque terei que fazer uma coisa que não sei. Se não a fizer, estarei perdida. E contou-lhe

a história toda, desde o começo. — Esteja tranqüila, pois vou ajudá-la. Todas as manhãs baterei à sua janela para apanhar a

linha e, à noite, trarei as cinco meadas prontas. — Que lhe darei em troca deste favor? Perguntou ela. — Você terá que adivinhar meu nome, ou eu contarei tudo a seu marido. — Está bem, concordou ela. Balançando a cauda, retirou-se o animalzinho. No dia seguinte, o Rei levou-a ao quarto onde

já estava a linha para fiar. Fechou a porta por fora e foi-se embora. Mal ele havia saído, bateram de leve à janela. A moça foi espiar e lá estava o animalzinho preto. Ela então lhe entregou a linha. À noitinha, a moça ouviu nova pancada na janela. Abriu-a e seu protetor colocou em suas mãos cinco meadas muito bem fiadas.

— Agora, responda-me, qual é o meu nome? Perguntou ele. — Será Juquinha? O bichinho sacudiu a cabeça negativamente. — Será Tonico? Ele continuou a sacudir a cabeça e balançava a cauda cada vez mais depressa. — Será Maneco? — Não, disse ele e saiu correndo. Quando o Rei voltou, à noite, encontrou as meadas prontas e disse:

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— Muito bem, minha querida. Amanhã você receberá mais linha para continuar sua tarefa. E assim sempre acontecia. Pela manhã lhe traziam a linha e, às horas certas, um empregado

aparecia com as refeições. O animalzinho preto aparecia cedo para apanhar a linha e voltava ao anoitecer, trazendo as meadas prontas. A moça passava os dias pensando qual seria o nome do bichinho, mas nunca o descobria. Afinal, chegou a véspera do último dia. À noite, quando o animalzinho apareceu, perguntou-lhe:

— Já descobriu meu nome? Ela fez novas tentativas: — Chiquinho? Janico? Cada vez o bichinho sacudia mais a cauda e seus olhinhos brilhavam, cheios de malícia. — Escute, você só tem o dia de amanhã para adivinhar, do contrário... Avisou ele, e saiu

correndo. A moça ficou horrorizada. Logo a seguir, ouviu os passos de seu marido que vinha vindo.

Quando ele entrou, ela lhe entregou as cinco meadas prontas e ele lhe disse: — Amanhã é o último dia. Tome cuidado, se não aprontar sua tarefa, perderá a vida. Hoje,

vou jantar aqui com você. Entrou um empregado trazendo o jantar e outro banquinho para o Rei. Os dois sentaram-se e o Rei começou a rir.

— Por que está rindo? perguntou a moça. — Porque hoje vi uma coisa muito interessante, respondeu ele. Pela manhã, saí para caçar.

Fui andando pela mata e cheguei a um lugar que nunca havia visto antes. Sentei-me um instante para descansar e ouvi um barulhinho estranho. Levantei-me para verificar o que havia. Olhei para todos os lados e, afinal, atrás de uma árvore, descobri um animalzinho preto, muito pequeno e esquisito, com uma cauda comprida que agitava sem parar. À sua frente estava uma roca, onde ele fiava com rapidez espantosa. Enquanto fazia isso, ia cantando:

"Eu sou todo pretinho, Pareço um tição, Meu nome é Tiquinho, Tiquinho de Carvão." O coração da moça deu um salto ao ouvir isso. Quase ela gritou de alegria, mas conservou-

se muito quietinha no banco, sem dizer palavra. Na manhã seguinte, o bichinho veio apanhar a linha. Quando a noite já vinha chegando, apareceu ele, trazendo de volta as meadas. Seus olhinhos brilhavam mais maliciosos do que nunca e a caudinha girava sem parar um instante.

— Qual é o meu nome? Perguntou ele. — Será Salomão? Indagou ela. — Não, respondeu ele. — Zebedeu? Tornou a perguntar a moça. — Não, entretanto, vou dar-lhe mais uma oportunidade. Se ainda não acertar, já sabe o que

vai acontecer... A moça deu uma grande gargalhada e disse: "Tu és todo pretinho, Pareces um tição, Teu nome é Tiquinho, Tiquinho de Carvão." Quando o animalzinho ouviu isso, deu um guincho horrível, saiu correndo pela escuridão a

dentro e nunca mais apareceu. Mais tarde veio o Rei. Apanhou as meadas e tirou a moça do quarto. No dia seguinte, ofereceu um banquete à esposa, para o qual convidou todas as pessoas da cidade. Havia, na mesa, as tortas mais deliciosas que se possa imaginar. A moça, no entanto, lembrando-se dos maus momentos por que tinha passado, por ter comido cinco tortas de uma vez, não quis provar de nenhuma..."

Adaptação do English Fairy Tales, por Joseph Jacobs

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A Pequena Vendedora de Fóforos Que frio tão atroz! Caía a neve, e a noite vinha por cima. Era dia de

Natal. No meio do frio e da escuridão, uma pobre menina passou pela rua com a cabeça e os pés descobertos.

É verdade que tinha sapatos quando saiu de casa; mas não lhe serviram por muito tempo. Eram uns tênis enormes que sua mãe já havia usado: tão grandes, que a menina os perdeu quando atravessou a rua correndo, para que as carruagens que iam em direções opostas não lhe atropelassem.

A menina caminhava, pois, com os pezinhos descalços, que estavam vermelhos e azuis de frio, levava no avental algumas dúzias de caixas de fósforos e tinha na mão uma delas como amostra. Era um péssimo dia: nenhum comprador havia aparecido, e, por conseqüência, a menina não havia ganho nem um centavo. Tinha muita fome, muito frio e um aspecto miserável. Pobre menina! Os flocos de neve caíam sobre seus longos cabelos loiros, que caíam em lindos caracóis sobre o pescoço; porém, não pensava nos seus cabelos. Via a agitação das luzes através da janela; sentia-se o cheiro dos assados por todas as partes.

Era dia de Natal, e nesta festa pensava a infeliz menina. Sentou-se em uma pracinha e se acomodou em um cantinho entre duas casas. O frio se

apoderava dela e inchava seus membros; mas não se atrevia a aparecer em sua casa; voltava com todos os fósforos e sem nenhuma moeda. Sua madrasta a maltrataria, e, além disso, na sua casa também fazia muito frio. Viviam debaixo do telhado, a casa não tinha teto, e o vento ali soprava com fúria, mesmo que as aberturas maiores haviam sido cobertas com palha e trapos velhos. Suas mãozinhas estavam quase duras de frio. Ah! Quanto prazer lhe causaria esquentar-se com um fósforo! Se ela se atrevesse a tirar só um da caixa, riscaria na parede e aqueceria os dedos! Tirou um! Rich! Como iluminava e como esquentava! Tinha uma chama clara e quente, como de uma velinha, quando a rodeou com sua mão. Que luz tão bonita! A menina acreditava que estava sentada em uma chaminé de ferro, enfeitada com bolas e coberta com uma capa de latão reluzente. Luzia o fogo ali de uma forma tão linda! Esquentava tão bem!

Mas, tudo acaba no mundo. A menina estendeu seus pezinhos para esquentá-los também, mas a chama se apagou: não havia nada mais em sua mão além de um pedacinho de fósforo. Riscou outro, que acendeu e brilhou como o primeiro; e ali onde a luz caiu sobre a parede, fez-se tão transparente como uma gaze. A menina imaginou ver um salão, onde a mesa estava coberta por uma toalha branca resplandecente com finas porcelanas, e sobre a qual um peru assado e recheado de trufas exalava um cheiro delicioso. Oh surpresa! Oh felicidade! Logo teve a ilusão de que a ave saltava de seu prato para o chão, com o garfo e a faca cravados no peito, e rodava até chegar a seus pezinhos. Mas, o segundo fósforo apagou-se, e ela não viu diante de si nada mais que a parede impenetrável e fria.

Acendeu um novo fósforo. Acreditou, então, que estava sentada perto de um magnífico nascimento: era mais bonito e maior que todos os que havia visto aqueles dias nas vitrines dos mais ricos comércios. Mil luzes ardiam nas arvorezinhas; os pastores e pastoras pareciam começar a sorrir para a menina. Esta, embelezada, levantou então as duas mãos, e o fósforo se apagou. Todas as luzes do nascimento se foram, e ela compreendeu, então, que não eram nada além de estrelas. Uma delas passou traçando uma linha de fogo no céu.

— Isto quer dizer que alguém morreu - pensou a menina; porque sua vovozinha, que era única que havia sido boa com ela, mas que já não estava viva, havia lhe dito muitas vezes: "Quando cai uma estrela, é que uma alma sobe para o trono de Deus". A menina ainda riscou outro fósforo na parede, e imaginou ver uma grande luz, no meio da qual estava sua avó em pé, e com um aspecto sublime e radiante.

— Vovozinha! - gritou a menina. - Leve-me com você! Quando o fósforo se apagar, eu sei bem que não lhe verei mais! Você desaparecerá como a chaminé de ferro, como o peru assado e como o formoso nascimento!

Depois se atreveu a riscar o resto da caixa, porque queria conservar a ilusão de que via sua avó, e os fósforos lhe abriram uma claridade vivíssima. Nunca a avó lhe havia parecido tão grande

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nem tão bonita. Pegou a menina nos braços e as duas subiram no meio da luz até um lugar tão alto, que ali não fazia frio, nem se sentia fome, nem tristeza: até o trono de Deus.

Quando raiou o dia seguinte, a menina continuava sentada entre as duas casas,com as bochechas vermelhas e um sorriso nos lábios. Morta, morta de frio na noite de Natal! O sol iluminou aquele terno ser, sentado ali com as caixas de fósforos, das quais uma havia sido riscada por completo.

— Queria esquentar-se, a pobrezinha! - disse alguém. Mas , ninguém podia saber as coisas

lindas que havia visto, nem em meio de que esplendor havia entrado com sua idosa avó no reino dos céus.

Hans Christian Andersen

O Gigante Egoísta Todas as tardes, à saída da escola, as crianças estavam

acostumadas a ir brincar no jardim do gigante. Era um jardim grande e muito bonito, coberto de grama verde e suave. Dispersas sobre a grama brilhavam belas flores como estrelas e havia uma dúzia de pessegueiros que, na primavera, cobriam-se de delicados botões rosáceos e, no outono, davam saborosos

frutos. Os pássaros pousavam nas árvores e cantavam tão deliciosamente que as crianças

interrompiam suas brincadeiras para escutá-los . — Que felizes somos aqui! - gritavam uns aos outros. Um dia, o gigante regressou. Fora visitar seu amigo, o ogro de Cornualles e permanecera

com ele durante sete anos. Transcorridos sete anos, havia dito tudo o que tinha que dizer, pois era um homem parco em palavras e decidiu voltar para seu castelo. Ao chegar, viu as crianças brincando no jardim.

— O que vocês estão fazendo aqui? - gritou-lhes com voz azeda e as crianças saíram correndo.

— Meu jardim é meu jardim - disse o gigante. -Já chegou a hora de vocês entenderem isso e não vou permitir que ninguém além de mim brinque nele.

Então, construiu um alto muro ao redor do jardim e pôs o seguinte cartaz: Proibida a entrada. Os transgressores serão processados judicialmente. Era um gigante muito egoísta. As pobres crianças não tinham, então, onde brincar. Tentaram fazê-lo na estrada, mas a estrada estava cheia de poeira e de pedras pontiagudas e

não gostaram. Acostumaram-se a vadiar de um lado para o outro, ao terminar os deveres da escola, ao

redor do alto muro, para conversar sobre o lindo jardim que havia do outro lado. — Que felizes éramos ali! - diziam-se uns aos outros. Então, chegou a primavera e o país todo encheu-se de botões e passarinhos. Só no jardim do

gigante egoísta continuava sendo inverno. Os pássaros não se preocupavam de cantar ali desde que não houvesse crianças e as árvores

se esqueceram de florescer. Só uma bonita flor levantou a cabeça sobre o mato, mas quando viu o cartaz entristeceu-se tanto, pensando nas crianças, que se deixou cair outra vez na terra e adormeceu.

Os únicos satisfeitos eram a Neve e o Gelo.

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— A primavera esqueceu-se deste jardim - gritavam. -Poderemos viver aqui durante o ano todo.

A Neve cobriu a grama toda com seu manto branco e o gelo pintou de prata todas as árvores. Então, convidaram o vento do Norte para passar uma temporada com eles e o Vento aceitou.

Chegou coberto de peles e uivava o dia todo pelo jardim, derrubando as capuchas das chaminés.

— Este é um lugar delicioso - dizia. -Temos que dizer ao Granizo que venha nos visitar. E chegou o Granizo. Cada dia durante três horas tocava o tambor sobre o telhado do castelo,

até que quebrou a maioria das telhas e então pôs-se a dar voltas ao redor do jardim correndo o mais veloz que podia. Ia vestido de cinza e seu hálito era como o gelo.

— Não posso compreender como a primavera demora tanto para chegar - dizia o gigante egoísta, ao olhar pela janela e ver seu jardim branco e frio. -Espero que este tempo mude!

Mas ,a primavera não chegou e o verão também não. O outono deu dourados frutos a todos os jardins, mas ao jardim do gigante não lhe deu nenhum.

— É egoísta demais - dizia. Assim sendo, sempre era inverno na casa do gigante e o Vento do Norte, o Gelo, o Granizo e

a Neve dançavam entre as árvores. Uma manhã, o gigante ainda estava deitado, quando ouviu uma música deliciosa. Soava tão

docemente aos seus ouvidos que ele pensou que seria o rei dos músicos que passava por ali. Na realidade era só um pintassilgo que cantava diante de sua janela, mas fazia tanto tempo que ele não ouvia um pássaro cantar no seu jardim, que lhe pareceu a música mais bonita do mundo. Então o Granizo deixou de dançar sobre sua cabeça, o Vento do Norte deixou de rugir, e um delicado perfume chegou até ele, através da janela aberta.

— Acho que, finalmente, chegou a primavera - disse o gigante; e saltando da cama olhou para fora. O que foi que ele viu?

Viu um espetáculo maravilhoso. Por uma fresta aberta no muro, as crianças tinham penetrado no jardim, tinham subido às arvores e estavam sentadas nos seus galhos. Em todas as árvores que estavam ao alcance de sua vista, havia uma criança. E as árvores se sentiam tão felizes de tornar a ter as crianças consigo, que se cobriram de botões e agitavam suavemente seus galhos sobre a cabeça das crianças .

Os pássaros revoluteavam e conversavam com deleite e as flores riam erguendo a cabeça sobre a grama. Era uma cena maravilhosa. Só num cantinho continuava sendo inverno.

Era o cantinho mais afastado do jardim e ali se encontrava um menino muito pequeno. Tão pequeno que não podia alcançar os galhos da árvore e dava voltas ao seu redor chorando desconsolado. A pobre árvore continuava ainda coberta de gelo e neve e o Vento do Norte soprava e rugia a sua volta.

— Suba, pequeno! Dizia-lhe a árvore e lhe esticava seus galhos bem abaixo o mais que podia; mas o menino era pequeno demais. O coração do gigante enterneceu-se ao contemplar aquele espetáculo.

Que egoísta que eu fui - disse lá com seus botões. -Agora compreendo porque a primavera não veio até aqui. Vou colocar o menininho no alto da árvore, derrubarei o muro e meu jardim será o parque de recreio das crianças para sempre .

Estava verdadeiramente arrependido pelo que tinha feito. Lançou-se escadas abaixo, abriu a porta principal com toda suavidade e saiu ao jardim. Mas, as crianças ficaram tão assustadas quando o viram que fugiram correndo e no jardim

voltou a ser inverno. Só o menininho não correu, pois seu olhos estavam tão cheios de lágrimas, que não viu o

gigante chegar perto dele. E o gigante deslizou-se atrás dele, pegou-o carinhosamente no colo e colocou-o sobre a árvore. A árvore floresceu imediatamente, os pássaros se aproximaram e a criança estendeu os bracinhos, rodeou com eles o pescoço do gigante e beijou-o.

Quando as outras crianças viram que o gigante já não era mau, voltaram correndo e a primavera voltou com eles.

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— De agora em diante, este é o jardim de vocês, minhas queridas crianças - disse o gigante, e pegando um grande machado derrubou o muro. E quando ao meio-dia passaram por ali pessoas que iam ao mercado, encontraram o gigante brincando com as crianças no jardim mais bonito que eles já tinham visto.

Durante todo o dia estiveram brincando e ao entardecer foram se despedir do gigante. — Mas onde está o menininho, aquele que eu subi à árvore? - perguntou. Esta era a criança que o gigante mais gostava porque o havia beijado. — Não sabemos - responderam as crianças - foi-se embora. — Diga-lhe que venha amanhã sem falta - disse-lhes o gigante . Mas, as crianças disseram que não sabiam onde ele morava e nunca tinham-no visto antes. O

gigante ficou muito triste. Todas as tardes, quando terminavam as aulas, as crianças iam brincar com o gigante. Mas ,o

menininho, de que o gigante tanto gostava, não apareceu nunca mais. O gigante era muito bom com todas as crianças, mas sentia saudade daquele pequenininho e, muitas vezes, falava dele.

— Como eu gostaria de vê-lo - costumava dizer. Transcorreram vários anos e o gigante envelheceu muito e cada vez estava mais débil. Já não

podia participar das brincadeiras; sentado na sua grande poltrona via as crianças brincarem e admirava seu jardim.

— Tenho muitas flores formosas - dizia - mas as crianças são as flores mais belas. Uma manhã invernal olhou pela janela, enquanto estava se vestindo. Já não detestava o inverno, pois sabia que o inverno não era mais que a primavera adormecida e o repouso das flores.

De repente, esfregou os olhos, atônito e olhou e tornou a olhar. Verdadeiramente, tratava-se de uma visão maravilhosa. No mais longínquo cantinho do jardim, havia uma árvore totalmente coberta de lindos botões brancos. Seus galhos eram dourados, frutos de prata penduravam-se deles e debaixo, de pé, estava o menininho que ele tanto gostava.

O gigante correu escadas abaixo com grande alegria e saiu ao jardim. Correu precipitadamente pela grama e chegou perto do menino. Quando estava perto dele, seu rosto ficou vermelho de raiva e exclamou:

— Quem se atreveu a feri-lo? -Pois nas palmas das mãos do menino havia a marca de dois pregos, e a mesma coisa acontecia nos seus pezinhos.

— Quem se atreveu a feri-lo? - gritou o gigante - Diga-me quem foi para que eu pegue minha espada e o mate.

— Não - respondeu o menininho. Estas são feridas do amor. — Quem é você? - perguntou o gigante; e um estranho temor invadiu-o, fazendo-o cair de

joelhos diante do pequeno. E o menino sorriu ao gigante e lhe disse: — Uma vez você me deixou brincar no seu jardim, hoje você virá comigo ao meu jardim,

que é o Paraíso. E quando chegaram as crianças àquela tarde, encontraram o gigante deitado, morto, debaixo

da árvore, todo coberto de botões brancos. Oscar Wilde

O Príncipe Pobre

Era uma vez um príncipe bom e simples, que resolveu se casar. Achou que era grande atrevimento perguntar à filha do

imperador se o queria por esposo, já que não era tão rico assim; mas decidiu-se a fazê-lo porque a fama do seu honrado nome se estendia por toda parte.

Acontece que, no lugar onde o pai estava enterrado, tinha crescido uma esplêndida roseira que só dava flor de cinco em cinco anos e, mesmo nestas ocasiões, só nascia uma rosa; era, porém,

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uma rosa magnífica, que exalava um aroma tão suave e delicioso que quem o aspirava esquecia todas as suas tristezas e inquietações.

O príncipe também possuía um rouxinol; cantava com voz tão harmoniosa que parecia ter na garganta todas as melodias da terra.

O nosso príncipe resolveu oferecer à princesa estas duas raridades como prova do seu amor; colocou-as em dois preciosos cofres de prata e enviou-as à sua amada.

O imperador mandou que levassem a oferta para um amplo salão onde estava a filha a divertir-se com as damas da corte. Quando a princesa viu os cofres, começou a bater palmas em sinal de regozijo, exclamando:

— Que alegria, se algum deles contiver uma linda prenda! Mas, aberto o primeiro, apareceu a linda roseira com a sua magnífica rosa, e quando a princesa a viu foi tal a sua desilusão que esteve a ponto de chorar.

— Ora, meu pai! - exclamou ela, muito amargurada. — Vamos ver o que contém o outro cofre. - lembrou o imperador. Abriu-se o segundo, e saiu de dentro o rouxinol, que começou a cantar de maneira tão suave

e melodiosa que todos ficaram encantados... todos menos a princesa, que o considerou com indiferença.

— Parece-me que não é verdadeiro. - disse ela. — É sim, princesa. - responderam os que o tinham trazido. — Neste caso, soltem-no. - acrescentou ela. E não quis de forma alguma ver o príncipe. Mas este não perdeu por isso a esperança. Sujou o rosto com lama, enfiou o chapéu até as

orelhas e foi bater à porta do imperador. — Deus traga felizes dias a Vossa Majestade Imperial! - disse ele. - Há qualquer lugar no

palácio que me possam dar? — Sim, por acaso, - respondeu o imperador - preciso de uma pessoa que cuide da grande

quantidade de porcos que tenho. E o príncipe foi nomeado "Porqueiro Imperial". Passou o dia inteiro trabalhando num

casebre imundo, contíguo ao curral, que lhe indicaram como seu quarto; ao fim da tarde, tinha já feito uma linda caçarola enfeitada com umas campainhas penduradas em redor; e quando se punha ao fogo e o conteúdo fervia, as campainhas tocavam alegremente, fazendo ouvir uma antiga canção.

A propriedade mais curiosa daquela caçarola era que, se alguém introduzia o dedo no vapor que se desprendia, e depois o aproximava do nariz, sentia o cheiro de todos os cozidos que se estavam fazendo nos fornos e fogões da cidade.

Por sorte, aconteceu que a princesa, no seu habitual passeio, chegou defronte do quarto do porqueiro; e ao ouvir a antiga canção, parou admirada, porque era a única peça de música que sabia.

— Ouçam! É a minha música! Este porqueiro deve ser uma pessoa instruída e bem educada. Perguntem-lhe quanto quer por esse instrumento. Uma das damas entrou no casebre e perguntou: — Quanto queres por essa caçarola? — Dez beijos da princesa. - respondeu o porqueiro. — Que atrevido! - exclamou a dama indignada. — Que disse ele? - indagou a princesa. E a dama repetiu ao ouvido da princesa as palavras do porqueiro. — É um atrevido - disse esta e continuou seu caminho. Tinha dado apenas alguns passos e as campainhas começaram de novo a soar tão

harmoniosamente que parou outra vez. — Vão perguntar-lhe - ordenou a jovem - se ele quer dez beijos das minhas damas. — Não, obrigado, - foi a resposta do porqueiro - dez beijos da princesa ou fico com a

caçarola. — Faça-se a tua vontade - disse, por fim, a princesa. – Mas, coloquem-se todas em roda de

mim para que ninguém nos veja. As damas da corte assim o fizeram e encobriram bem os dois, com suas saias.

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O porqueiro recebeu os beijos e a princesa a caçarola. Foi depois um grande divertimento. A caçarola esteve fervendo ao fogo toda a noite e todo o

dia seguinte e não houve ninguém no palácio que não ficasse sabendo o que se estava cozinhando em todas as casas, desde a do mais nobre até a do mais pobre. As damas da corte dançavam e mostravam-se contentíssimas.

— Agora sabemos - diziam elas, entusiasmadas - quem é que hoje come sopas e quem come pastéis; quem tem doces e quem só tem frutas. Que interessante isto é!

Entretanto, o porqueiro, quer dizer, o príncipe, que, como sabemos, assim se tinha disfarçado, não deixava passar um só dia sem fazer qualquer trabalho; compôs uma espécie de roca que, quando a faziam girar, tocava todas as músicas populares.

— Que maravilha! - exclamou a princesa, que a ouviu quando ia passando. - Perguntem-lhe quanto quer por esse instrumento.

— Dez beijos dos lábios de Vossa Alteza. - voltou dizendo a dama que tinha ido levar o recado da sua senhora.

— Parece-me que não está em seu juízo. - disse a princesa e continuou no seu passeio. Mas tinha dado apenas alguns passos, quando parou dizendo:

— Temos o dever de animar os artistas. Digam-lhe que lhe pagaremos com um beijo meu e um de cada uma das minhas damas.

— Mas, nós não estamos dispostas a dá-los! - protestaram as damas em coro. — Que dizeis??? - exclamou a princesa, indignada. - Então eu posso dá-los e vós não

podeis? As damas tiveram de entrar pela segunda vez no quarto do porqueiro, fazendo-lhe nova proposta.

— Dez beijos dos lábios da princesa. - repetiu inalterável o ousado porqueiro. — Ponham-se em volta de mim. - ordenou aquela, vendo que não tinha outro jeito. E as damas colocaram-se em torno da princesa, encobrindo-a com suas saias, enquanto ela

dava os beijos no porqueiro. — Que será aquela aglomeração junto do curral? - notou, curioso, o imperador, chegando-se

a uma das janelas do palácio. - Vou eu mesmo ver o que é aquilo. Desceu ao jardim e, andando nas pontas dos pés, aproximou-se sem fazer barulho do grupo

formado pelas damas; estas estavam tão entretidas na tarefa de contar os beijos da sua senhora no porqueiro que não deram pela chegada do imperador.

— Que significa isto? - exclamou o soberano, ao ver o que estava acontecendo. E, indignado, deu um repelão na princesa no momento em que esta dava o beijo número seis.

— Fora daqui! - rugiu o imperador, cego de cólera. E a princesa e o porqueiro foram expulsos da cidade. — Ai de mim, - soluçava a princesa, desolada - por que não havia eu de ter casado com

aquele príncipe tão gentil? Como sou desgraçada! Então o porqueiro se escondeu atrás de uma árvore, tirou toda a lama que lhe escondia o

semblante, desfez-se das roupas esfarrapadas e apareceu com seu traje principesco, tão nobre que a princesa se inclinou reverentemente.

— Tens o que mereces. - disse-lhe o príncipe. - Não quiseste receber como esposo um príncipe nobre e honrado; não soubeste apreciar o valor da rosa e do rouxinol; e, no entanto, não te custou nada dar beijos num porqueiro imundo em troca de uma futilidade.

E o príncipe girou sobre os calcanhares e partiu, só, em direção ao seu reino.

Do Tesouro da Juventude - Volume XIII

OS SETE URUBUS

Houve, em outros tempos, uma viúva que tinha oito filhos, sendo sete rapazes e uma menina. Esta, apesar de ser muito pequena, já era muito linda e muito dócil; os

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sete irmãos, ao contrário, eram tão maus e desobedientes, que ao velho avô se tornava impossível governá-los.

Um dia, aconteceu que os sete rapazes brincaram fora de casa mais tempo do que lhes havia sido concedido e não atenderam à ordem de sua mãe, que os chamara. Afinal, resolveram voltar para casa, mas entraram fazendo muito barulho e malcriações. A mãe, indignando-se com o mau procedimento dos filhos, exclamou:

— Acomodem-se, meninos perversos! Urubus malditos! Mal acabara de pronunciar essas palavras, eis que os rapazes se transformaram em sete

urubus, que principiaram a grasnar e a voar, e saíram, por fim, pela janela que estava aberta, desaparecendo no horizonte.

A mãe e o avô ficaram aterrorizados diante de tão triste espetáculo e a irmãzinha, compreendendo a terrível situação, começou a chorar, consolando-se somente quando a mãe e o avô lhe disseram que certamente os irmãos voltariam para casa, novamente transformados em meninos, como eram antes.

Passaram-se muitos anos e os irmãos não voltaram; a mãe e o avô já tinham perdido a esperança de tornar a vê-los. Somente a irmãzinha, por essa época, uma moça muito linda, continuava a alimentar a esperança de vê-los um dia voltar para casa. Não podem ter voado para fora do mundo, pensava ela. Irei procurá-los por toda parte porque, se não o fizesse, não teria paz durante toda a minha vida.

Assim resolvida, pediu licença a sua mãe e ao avô e, despedindo-se, partiu, levando um cesto com mantimentos e um banquinho para descansar.

Em todas as aldeias onde chegava, perguntava se não tinham visto os sete urubus, ao que todos respondiam negativamente.

Por esta forma, andou durante muito tempo, sem encontrar vestígio de seus infelizes irmãos. Uma tarde, achando-se muito fatigada, deitou-se perto de um bosque e adormeceu. Ao

despertar, viu brilhar no firmamento a estrela d'alva, que fazia refletir sobre ela o seu brilho resplandecente; diante de tão sublime espetáculo, não pôde deixar de exclamar:

Oh! tu, estrela tão linda, A ti, peço, estendo a mão. Procuro, choro por eles, Dize-me tu, onde estarão? A linda estrela logo se transformou em um galante menino, de cabelos loiros e anelados,

vestido de branco, que, descendo do céu, lhe disse, entregando uma chave de ouro: Habitam os teus irmãos no cimo do Montebelo; Toma esta chave, menina. Abre a porta do Castelo. Depois tornou a subir para o céu, desaparecendo através das nuvens. A menina, muito

contente, começou logo a caminhar na direção indicada e dentro em breve achou-se no Castelo do Falcão.

Neste castelo, tinha morado antigamente um conde, em companhia de um único filho; não se sabe porque, um dia, uma fada má dissera ao pobre pai:

— Seu filho será transformado em um falcão feroz, até que a estrela d'alva lhe mande uma noiva. Todas as suas riquezas serão escondidas em uma caixinha e você será transformado em um anão para guardá-las. Quando chegar a noiva do falcão, poderá entregar-lhe a caixa, acabando nessa ocasião o seu encanto e o de seu filho. A fada desapareceu e a sua predição imediatamente se realizou: o belo jovem se transformou em um falcão feroz e o conde em anão de barbas brancas. Tudo o que existia no castelo desapareceu, ficando nele somente as salas vazias, uma caminha, uma mesa e a caixinha fechada.

Fôra neste triste e sombrio palácio que os sete urubus acharam guarida, depois de terem vagado durante muito tempo pelo espaço. Ao se apresentarem, eles juraram fé ao falcão e

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prometeram não o abandonar, até que para todos chegasse o dia da libertação de tão horrível encanto.

Ao chegar ao castelo, a jovem, encontrando a porta fechada, tocou com a chave de ouro na fechadura, aparecendo, logo o anão, que lhe perguntou o que queria.

— Aqui vim - respondeu ela - por ordem da estrela d'alva, à procura dos sete urubus. Ouvindo isso, o anão inclinou-se reverentemente diante dela e respondeu: — Os urubus não estão em casa; foram à caça juntamente com o falcão, meu filho. Convido-

a a esperar até a meia-noite, pois estou certo que ficarão alegres e satisfeitos em vê-la aqui quando voltarem.

E assim falando, o anão a fez subir para o quarto, acrescentando: — Como vê, a mesa está posta e a cama feita; espero que coma e beba à vontade e que

depois durma até o despontar da madrugada. A jovem, aceitando com prazer o convite, serviu-se das finas iguarias e vinhos que estavam

sobre a mesa, deitando-se, em seguida, e adormecendo com um sono tão profundo, do qual não despertou nem com o ruído que os urubus e o falcão fizeram ao se recolherem.

Estes haviam chegado à meia-noite e o anão, muito alegre, logo lhes disse: — Silêncio! No aposento da torre está dormindo uma jovem que a estrela d'alva nos enviou. — É a minha noiva! - gritou alegremente o falcão, subindo apressadamente a escada que

conduzia ao aposento onde a jovem dormia. Ao entrar no quarto, devido talvez à emoção, não lhe possível ver o seu rosto. Por esse

motivo, muito triste, tornou a descer a escada à procura dos companheiros. Preocupados, os sete urubus juntaram-se ao seu amigo falcão e ao anão e subiram todos

juntos para ver o que havia de verdade. Ao entrar, viram sobre a cama, deitada e adormecida, uma jovem muito formosa. Sentaram-

se ao redor do leito e seus olhos fitaram, com alegria e espanto ao mesmo tempo, o gentil rosto da jovem.

Passada a primeira emoção, o urubu mais velho disse para os seus irmãos: — Não me resta a menor dúvida de que esta jovem é a nossa querida irmã. Como está

crescida e formosa! — É verdade! - acrescentou o segundo - É mesmo a nossa boa irmãzinha; reconheço-a pelos

seus cabelos loiros e ondulados. — E eu, pelas suas lindas faces. — E eu, pela interessante covinha. — E eu, reconheço-a muito bem pelas suas lindas mãozinhas. — E eu, pelo anel que usa. — E eu, decerto a reconheceria também, - disse o último - se ela abrisse seus belos olhos;

oh! se ela isto fizesse, logo poria termo ao mau encanto que nos persegue! Os sete irmãos resolveram logo acordar a menina, mas o anão a isso se opôs, dizendo: — Pelo amor de Deus, não façam isso! O que devem fazer é transportá-la imediatamente

para a casa de sua mãe, visto que, para que seja quebrado o nosso encanto, necessário é que ela saia deste castelo durante o sono.

Dito isso, o anão colocou no colo da menina a caixinha que encerrava as suas riquezas. — Quando ela despertar em casa de sua mãe, imediatamente todos nós ficaremos livres do

encantamento. Momentos depois, os sete urubus transportaram sua irmãzinha para a casa de sua mãe e

depois que ali a deixaram, voltaram apressados para o castelo encantado. Algum tempo depois, a jovem despertava e sua mãe e o avô, encarando-a assustados,

perguntaram-lhe: — Então, onde estão seus irmãos? — Eles também hão de vir. - respondeu a menina. Dizendo isso, entrou no quarto e abriu a

caixinha com a chave de ouro. E querem saber o que dentro dela havia? Nada mais, nada menos que um pequeno espelho.

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A jovem tirou-o da caixinha e ao colocá-lo diante dos olhos, as suas faces tingiram-se de vivo carmim, pois a sua imagem vista no espelho apresentava-se adornada de ouro e pedras preciosas, como se fora a noiva de um rei.

Ainda se achava sob a impressão de tão agradável surpresa e eis que, como que por encanto, surge à sua frente o jovem filho do conde do Castelo do Falcão, acompanhado pelos seus sete irmãos, então já sob a forma de esbeltos moços.

Eles abraçaram e beijaram sua mãe e seu avô; e o conde, com grande satisfação, pediu que concedessem a jovem para esposa do filho, no que foi atendido com grande contentamento de todos.

Uma alegria contagiante invadiu então o sombrio Castelo do Falcão, onde reapareceu o luxo e o brilhantismo dos tempos passados e ali se celebrou o mais feliz e festejado casamento de que há memória. Os sete irmãos, depois da penosa lição, tornaram-se homens estimados e dignos pelo resto da vida.

Coleção Reino Infantil - Volume 1

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BIBLIOGRAFIA

Site de busca: www.cade.com.br Conta Conto

Universo das Fábulas

Fábulas de Esopo

Fábulas e Poesias

Fábulas

WAGNER, Elísia. Criança Leitura Livro. Editora Nobel ,1986. LADEIRA, Julieta de Godoy. Falta de leitura : deu no que deu. A redução do poder do raciocínio. São Paulo , Global, 1995. CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: teoria e prática. São Paulo, Ática ,1983. KHÉDE, Sônia Salomão, org. Literatura Infanto-juvenil: um gênero polêmico. Petrópolis, Vozes , 1983. RESENDE , Vânia Maria. Literatura infantil e juvenil: relatos de experiência na escola. Belo Horizonte, Comunicação, 1983.

Observação: Devido aos desvios ortográficos, os textos da apostila foram corrigidos e adaptados pelo Deped, a fim de favorecer a compreensão e garantir o padrão da língua convencional.

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