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Comércio Exterior

Brasília, 2006

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Diretor-Presidente Alberto Borges Matias

Instituidores Responsáveis Carlos Alberto Campello David Forli Inocente

Gestor de Operações João Deléo

Professor Autor Comércio Exterior Prof. José Lopes Vazquez

O autor é responsável pelo conteúdo.

Reitor Lauro Morhy

Vice-Reitor Timothy Martin Mulholland

Diretor Bernardo Kipnis

Coordenadora Pedagógica Maria de Fátima Guerra de Sousa

Designer Educacional Bruno Silveira Duarte

Ilustradores do Projeto Carlos Miguel Rodrigues; André Tunes; Tatiana Tibúrcio; Ribamar Araújo e Paulo Rodrigues

Capa Rodrigo Mafra e Eduardo Miranda

Editoração Alissom Lazaro; Evaldo Abreu; Gibran Lima e Télyo Nunes

Universidade de Brasília – UnBCentro de Educação a Distância – CEADCampus Universitário Darcy Ribeiro, Multiuso 1 Bl. B Ent. B1/14 – CEP: 70919-790 Brasília-DFTel (61) 3349-0996 Fax (61) 3307-3048www.cead.unb.br [email protected]

INEPAD – Instituto de Ensino e Pesquisa em AdministraçãoRua Marechal Rondon, 571 – Jardim AméricaCEP: 14020-220 Ribeirão Preto-SPTel (16) 3911-2212www.inepad.org.br [email protected]

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................7

TEMA 1 - TEORIAS CLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL .......................................9

TEMA 2 - BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL .................................................. 23

TEMA 3 - DIREITO INTERNACIONAL E COMÉRCIO EXTERIOR ......................................... 35

TEMA 4 - BLOCOS ECONÔMICOS E ORGANISMOS REGIONAIS ...................................... 43

TEMA 5 - MERCADO CAMBIAL ................................................................................... 61

TEMA 6 - OPERAÇÕES FINANCEIRAS E NEGÓCIOS INTERNACIONAIS ............................... 79

TEMA 7 - TAXA DE CÂMBIO ....................................................................................... 91

TEMA 8 - TRIBUTAÇÃO NO COMÉRCIO EXTERIOR ......................................................... 97

TEMA 9 - REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS ................................................................107

SIGLAS, TERMOS TÉCNICOS E GLOSSÁRIO ............................................116

BIBLIOGRAFIA BÁSICA ....................................................................................118

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APRESENTAÇÃO

Este material apresenta temas cuidadosamente selecionados e contêm não apenas teorias, doutrinas, práticas comerciais, tributárias e bancárias mas também dispositivos jurídicos brasileiros em sua relação imediata com a malha internacional da exportação e importação.

O pensamento dominante no planejamento e elaboração desse mate-rial foi o de buscar um canal capaz de levar saber e conhecimento para sua vida profissional e seus projetos pessoais.

A matéria vale tanto para pessoas que já estão profissionalmente na área como para pessoas que desejam conhecer a natureza do comércio exterior. Inicialmente você perceberá que o modo como a matéria se apresenta irá pedir bastante atenção. Mas isso é natural.

Um texto é como uma casa. É preciso entrar, olhá-la e vê-la pessoalmen-te para sabermos bem o que ela tem por dentro. Acontecerá que, progres-sivamente, você se familiarizará com os temas e com o processo de exposi-ção adotado. Chegará o momento em que as temáticas passarão a ganhar espaço em sua mente, e a despertar suas habilidades, e a consolidar suas competências.

O módulo desenvolverá a matéria na base de nove temas. Veja os tí-tulos: teorias clássicas sobre comércio exterior, barreiras ao comércio interna-cional, direito internacional e comércio exterior, blocos econômicos, mercado cambial, operações financeiras e pagamentos, taxa de câmbio, tributação no comércio exterior, e regimes aduaneiros especiais.

Cada um desses temas levará a você um conjunto de informações que lhe darão uma idéia sobre aquilo que mais ocupa o centro de atenções dos estudiosos, dos empresários, dos governos, dos bancos, dos fiscais, e dos trabalhadores no campo do comércio exterior.

A fim de facilitar o acompanhamento da exposição, há uma tábua de si-glas, glossário e termos técnicos mais usados. Uma bibliografia básica final ajudará você a ampliar suas leituras e a descobrir um caminho para novos conhecimentos.

Bom estudo!

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TEMA 1TEMA 1

TEORIAS CLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

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TEMA 1 TEORIAS CLÁSSICAS DO

COMÉRCIO INTERNACIONAL

TEMA 1 - TEORIAS CLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Objetivos do Tema

• Apresentar os fundamentos que norteiam o comércio internacional, em sua íntima conjugação com a realidade do mercado brasileiro, no duplo capítulo das semelhanças e das diferenças.

Conhecer a essencialidade das três teorias clássicas que ajudarão a entender melhor o jogo do comércio exterior.

1.1 ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE O MERCADO INTERNACIONAL

Muitas vezes as pessoas imaginam que o mercado internacional é apenas um mero prolongamento do mercado doméstico. Mas é mais do que isso. No fundo, os dois se assemelham na medida em que tratam de compras e vendas de bens e serviços. Também é verdade que o mercado internacional pode ser analisado mediante a aplicação dos mesmos critérios e métodos comumente utilizados para a explicação do comércio interno.

Ambos, comércio interno e internacional, se encontram alicerçados no atendi-mento das necessidades e desejos dos indivíduos . E neste aspecto, estão muito próximos.

Outra aproximação pode ser feita quando examinamos os motivos que dão origem aos dois tipos de comércio, o internacional e o nacional. O principal mo-tivo, tanto para regiões como para países, reside na impossibilidade de uns e outros produzirem vantajosamente todos os bens e serviços para atender as ne-cessidades de demanda de seu mercado interno . Isto é proveniente de fatores diversos, dentre os quais pode-se destacar a desigualdade na distribuição geo-gráfica dos recursos naturais, as diferenças de clima e de solo e as diferenças nos processos de produção.

1.1.1 Desigualdades e diferenças entre o comércio doméstico e o in-ternacional

Algumas regiões ou países são possuidores de recursos naturais que outros não têm. O carvão é abundante na América do Norte e em alguns países europeus, enquanto que é escasso em outras regiões. O petróleo, de igual forma, pode ser encontrado apenas em determinadas regiões . O Estado de Minas Gerais possui abundância de minério de ferro ao con-trário de outros Estados que não possuem jazidas deste mineral ou, então, o possuem em menores quantidades.

As diferenças de clima e de solo também contribuem para essa de-sigual distribuição. A cana-de-açúcar e o café, por exemplo, podem ser produzidos em larga escala em certas regiões do Brasil. E o trigo apre-senta melhor produtividade em países como a Rússia e a Argentina,

ao contrário dos países de climas quentes, como nos de várias regiões do continente africano.

Estes e outros fatores de origem natural fazem com que alguns países tenham a possibilidade de produzir determinados produtos, enquanto que outros não têm essa mesma possibilidade. Além do mais, é oportuno ressaltar que, mesmo quando há igualdade de condições quanto ao aspecto físico da produção, pode-rá ser mais interessante produzir os mesmos bens em outras regiões, em função de uma simples diferença de preços dos recursos produtivos, tributos etc.

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TEMA 1 TEORIAS CLÁSSICAS DO

COMÉRCIO INTERNACIONAL

No ambiente internacional é sempre bom considerar, também, as diferenças de preços provenientes das relações de valor das diferentes moedas. Em conse-qüência, torna-se mais vantajoso, para cada país e região, aplicar o princípio da divisão de trabalho, buscando a especialização naquelas atividades produtivas que oferecerem melhores condições e vantagens deixando como alternativa a permuta dos produtos entre si.

1.1.2 Semelhanças entre comércio doméstico e o internacional

Ainda no tocante às características dos dois tipos de comércio, outros pontos de semelhança podem ser encontrados. Tanto o comércio internacional quanto o comércio interno de países e regiões têm como ponto fundamental a troca de determinados bens e serviços. De igual modo, ambos envolvem compradores e vendedores, benefícios mútuos para as partes, políticas de produção e de vendas, problemas de assistência creditícia, preferências de consumidores, faturamento, detalhes de transportes, seguros domésticos e internacionais da carga transporta-das, e no caso específico de comércio externo, seguro de crédito à exportação etc.

1.1.3 Algumas diferenças importantes entre comércio doméstico e o inter-nacional

Apesar de tudo, não obstante a existência dessas semelhanças, possui o co-mércio internacional tantos pontos divergentes em relação ao comércio interno, que se justifica o seu tratamento como assunto à parte.

Essas diferenças podem ser sistematizadas da seguinte maneira, observando-se o grau de mobilidade dos fatores de produção:

• A mobilidade de fatores no mercado interno

Embora a mobilidade dos fatores ocorra tanto no mercado interno como no internacional, ela apresenta-se em maior grau no campo interno do que no inter-nacional, especialmente em relação ao fator-trabalho.

Se, por exemplo, para a instalação de uma determinada indústria no interior de São Paulo – São José do Rio Preto, por exemplo - se fizer necessária uma pro-dução complementar na cidade de São Paulo, o deslocamento de máquinas ou de equipamentos produzidos pela indústria paulistana para aquela região far-se-á sem maiores dificuldades de ordem jurídica, política etc. De igual forma, se em uma região houver falta de mão-de-obra, ao mesmo tempo em que outra se registra excesso dela, é natural que em virtude disso se produzam movimentos migratórios, que num curto prazo poderão atender a dificuldade, antes apresen-tada, de falta de mão-de-obra. No caso de um empreendimento a ser feito, se uma região necessitar de recursos financeiros é lógico pensar que os necessários recursos não deixarão de aparecer desde que a região ofereça adequada com-pensação aos donos do capital que se dispõem a investir no local.

• A mobilidade de fatores no mercado internacional

No mercado internacional a mobilidade de fatores é muito menor, por uma série de motivos. Assim como observa Killough (In: Ratti, 2000:342), “a especia-lização profissional, associações, laços de família, costumes, idioma e legislação imigratória restritiva retardam os movimentos de trabalhadores de um para ou-tro país”. Há países como o Brasil que não oferecem maiores dificuldades à entra-da de estrangeiros. O mesmo não acontece em certos países como, por exemplo, nos Estados Unidos, onde a legislação imigratória e as associações profissionais dificultam grandemente a entrada de trabalhadores de outras nacionalidades.

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• Transferência de matérias-primas e outros produtos

As transferências de matérias-primas e de outros produtos também estão su-jeitas a restrições de diversas naturezas. Além das barreiras aduaneiras, existem outros impedimentos como as quotas de importação, regulamentos sanitários, proteção aos produtores locais etc.

• Dificuldades e riscos de movimentação de capitais financeiros

O mesmo ocorre em relação aos capitais financeiros, cuja movimentação pode ser dificultada ou, em casos extremos, impedida de entrar em determinados paí-ses. Isso sem mencionar os maiores riscos a que estão sujeitos, como é o caso do risco político e cambial. O risco político está condicionado à implementação de regras e regulamentos que se manifestam sob a forma de nacionalização, desa-propriação e confisco. O risco cambial, por sua vez, é causado pela variação da taxa de câmbio entre duas moedas que podem causar exposições de natureza contábil e econômica ao detentor do capital financeiro

1.1.2 Natureza do mercado

No mercado interno predominam os fatores de coesão, enquanto no mercado internacional a predominância é dos fatores de dispersão.

1.1.2.1 fator de coesão no mercado interno

Quando se analisa o mercado interno de um país, chama a atenção a unidade de idioma, costumes, hábitos de comércio, sistemas de pesos e medidas etc.

Essa unidade tende a padronizar os hábitos de consumo e os bens produzi-dos, o que, indiscutivelmente, oferecerá maiores facilidades para a adoção de um sistema de produção em larga escala.

1.1.2.2 O fator de dispersão no mercado internacional

No mercado internacional, porém, as diferenças existentes em relação aos as-pectos apontados tornam problemática essa padronização. Uma empresa que opere no mercado internacional deverá se aprofundar no estudo dos hábitos e comportamentos dos habitantes dos países com os quais comercia. De igual modo, deverá adaptar os seus produtos de modo a atender, na medida do pos-sível, às peculiaridades de cada população. Isso, evidentemente, dificultará de certo modo a aplicação de uma política de produção em massa.

1.1.3 Existência de barreiras aduaneiras e outras restrições

Durante a Idade Média, era comum a ocorrência de barreiras aduaneiras internas, condicionando o comércio entre cidades de um mesmo país. Tais barreiras foram desaparecendo progressivamente, com o surgimento dos Estados-Países. Mas não totalmente. Elas ainda persistem no campo inter-nacional.

Essas barreiras, juntamente com outras restrições, além de dificultarem a cir-culação de mercadorias entre os países, contribuíram para o surgimento do que se chama cobrança de direitos aduaneiros. Tal cobrança acarreta maiores dificuldades para as empresas que se dedicam ao comércio internacional, uma vez que deverão ser considerados os reflexos da cobrança desses direitos nos preços de seus produtos e nas possibilidades de sua colocação junto aos con-sumidores de outros países.

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1.1.4 Longas distâncias

Embora possa haver exceções, as distâncias a serem percorridas pelos pro-dutos no campo internacional são, de modo geral, muitos maiores do que no mercado interno, salvo exceções específicas.

Além das elevadas despesas com fretes, outros fatores devem ser considerados. Entre esses fatores está o tempo gasto nos transportes e sua influência sobre as condições físicas dos produtos transporta-dos. Esse fato implica a necessidade de embalagens e condições es-peciais de transportes, entre outras coisas.

1.1.5 Variações de ordem monetária

A utilização de diferentes moedas no comércio internacional é um dos fatores de distinção comumente apontados no confronto entre o comércio interno e o internacional.

No mercado interno, inexiste o problema do poder liberatório da moeda na-cional. Todas as transações realizadas internamente são liquidadas na moeda do país. No mercado internacional isso não ocorre. Exatamente por ser quase impos-sível impor a um exportador que ele aceite como pagamento de sua exportação outra moeda que não seja a de seu país.

Surge assim a necessidade de se trocar diferentes moedas, para que as liqui-dações financeiras do comércio internacional possam se efetivar. Aí está o pro-blema do câmbio.

1.1.6 Variações de ordem legal

No mercado interno, as transações comerciais estão sujeitas a um mesmo sis-tema legal, o que implica unidade de regulamentos, tributos etc., embora pos-sam surgir pequenas variações de uma região para outra.

No mercado internacional, contudo, poderá haver grandes diferenças entre os sistemas legais, o que implica numa diversidade de critérios de arbitramento das pendências que porventura ocorram. Ainda que o Direito tenda a se universalizar, essas distinções persistem. Em conseqüência, deve o comerciante internacional levar em consideração uma grande variedade de dispositivos e complexidades de ordem legal, que inexistem quando se considera apenas o mercado interno.

1.1.7 A grande questão que aqui se debate

De que maneira um país determinará o que lhe será mais vantajoso Produzir, exportar ou importar?

A resposta para esta pergunta pode ser encontrada nas Teorias Clássicas dos eco-nomistas ingleses do século XIX sobre comércio exterior, apresentadas a seguir.

1.2 AS TEORIAS SOBRE O MERCADO EXTERIOR

De acordo com Passos e Nogami (2005:522), por diversas questões que en-volvem desde a sobrevivência de uma nação até a satisfação de necessidades menos vitais, fortes razões induzem os países ao comércio exterior de bens e serviços.

Entre essas razões pode-se citar:

• as desigualdades entre as nações no tocante às reservas não reprodutivas (re-cursos naturais);

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TEMA 1 TEORIAS CLÁSSICAS DO

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• diferenças internacionais no tocante a fatores climáticos (que são determina-dos por fatores relativamente estáticos como altitude, latitude, topografia e tipo de superfície) e a fatores edáficos (natureza e distribuição de solos);

• desigualdades nas disponibilidades estruturais de capital e trabalho; e

• diferenças nos estágios de desenvolvimento tecnológico.

É a partir da combinação desses quatro fatores que surge a divisão interna-cional do trabalho, a especialização das nações. Por decorrência, o comércio ex-terno tem contribuído, contínuo e persistentemente, para a internacionalização dos processos econômicos e, é inegável, para o gradativo aumento das taxas de dependência de cada economia com relação ao resto do mundo.

Três são as principais teorias que procuram explicar a existência do comércio internacional. A primeira é a chamada Teoria da Vantagem Absoluta. Seu formu-lador foi Adam Smith (1723-1790), economista inglês, que a desenvolve em seu livro Uma Pesquisa sobre a natureza e as causas da Riqueza das Nações (Inquiry into the nature and the causes of the Wealth of the Nations), publicado em 1776.

A segunda, a Teoria das vantagens comparativas de David Ricardo (1772-1823), considerado o mais legítimo sucessor de Adam Smith, aperfeiçoou as idéias con-tidas na Teoria da Vantagem Absoluta.

A terceira chama-se Teoria da Demanda Recíproca, e foi desenvolvida por John Stuart Mill(1806-1873), filósofo e economista inglês, em Princípios de economia po-lítica com algumas de suas aplicações à filosofia social (Principles of political economy and some of the applications to social philosophy) em 1848, obra que se tornou no principal guia dos estudos em economia no século XIX, durante muitos anos.

1.2.1 A TEORIA DAS VANTAGENS ABSOLUTAS DE ADAM SMITH

A Teoria das Vantagens Absolutas mostra em que condições determinado pro-duto ou serviço pode ser oferecido, com preços de custos inferiores aos dos con-correntes. Em geral, essa situação é criada pela especialização, mas no caso de produtos agrícolas, a condição climática é fundamental.

A teoria fica mais clara quando dizemos que um país tem uma vantagem ab-soluta na produção de um determinado produto, ao ser comparado com outro país produtor.

Isso significa que as necessidades de insumo por unidade de produto na in-dústria são menores em certos países do que em outros. Para entender melhor, compare dois países, Rússia e Inglaterra, ambos produtores de trigo e aço.

Na Rússia, um operário poderá produzir por ano, por exemplo , 30 unidades de trigo ou seis unidades de aço. Procurando entender melhor: se, nessa perspecti-va, um operário resolver produzir 30 unidades de trigo, produzirá zero unidades de aço. Se resolver produzir seis unidades de aço, produzirá zero unidades de tri-go. Tudo vai depender da maneira como ele vai distribuir seu tempo de trabalho. Se ele distribuir o tempo de produção pelos dois artigos, poderá produzir, por exemplo, 15 unidades de trigo e três unidades de aço. Outras combinações de produção também são possíveis. Isso, na Rússia.

Por outro lado, na Inglaterra, um operário poderá produzir 20 unidades de trigo ou dez unidades de aço ou, então, uma combinação dos dois, se resolver distribuir seu tempo na produção de ambos.

Com base nas hipóteses assinaladas acima, pode-se construir uma tabela contendo as alternativas de produção, tal como é apresentada abaixo:

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TEMA 1 TEORIAS CLÁSSICAS DO

COMÉRCIO INTERNACIONAL

Quadro 1.1

Possibilidades de produção por homem/anoPossibilidades de produção por homem/ano

PAÍS TRIGO AÇO

RÚSSIA 30 ou 6

INGLATERRA 20 ou 10

Observa-se que a Rússia tem uma vantagem absoluta na produção de trigo e a Inglaterra uma vantagem absoluta na produção de aço.

Assim, de acordo com Adam Smith, a Rússia se especializará na produção de trigo e a Inglaterra na produção de aço, trocando entre si, posteriormente, os excedentes de produção.

A condição de vantagem absoluta pode, entretanto, sofrer restrições em ter-mos de comércio internacional. É comum que novos produtores ou fabricantes peçam medidas protecionistas ao Estado. O argumento fundamental – tese da indústria nascente – é que só com essa proteção a indústria nacional poderia desenvolver-se e criar novos mercados. Um exemplo é o da indústria automo-bilística brasileira: a economia de escala (vantagem absoluta) conseguida tantos nos EUA como na Europa, tornava inviável um parque automobilístico brasileiro; apenas o protecionismo do Estado, sobretaxando a importação permitiu que a produção local, embora mantida por multinacionais, se desenvolvesse e chegas-se a concorrer no mercado mundial.

1.2.2 TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS (OU DOS CUSTOS COMPA-RATIVOS)

O conceito de custos foi introduzido na teoria de comércio exterior pelo econo-mista inglês David Ricardo em 1817. Relacionam-se os custos de produção dos produtos A e B, produzidos por dois países distintos, N e W, comparando-os. Os custos de produção do produto A são expressos em relação aos custos de produ-ção do produto B. Possui a vantagem comparativa o país onde for menor a rela-ção de custos de produção dos produtos A e B. Ricardo introduziu esse conceito como prova de que é vantajosa para um país sua especialização internacional.

Ricardo aperfeiçoou o modelo de Smith, mostrando que, para que os países se benefi ciem dessa atividade, é necessário que apenas haja vantagens compa-rativas. Desse modo, na hipótese de comércio entre dois países, poderia ocorrer que um país obtivesse vantagens absolutas na produção de todos os bens em relação ao seu parceiro.

Nesse caso, a teoria das vantagens comparativas esclarece que, mesmo assim, é benéfi co o comércio entre dois países, desde que a desvantagem absoluta não seja da mesma quantia em todas as linhas de produção. Em outras palavras, as trocas benéfi cas entre países são possíveis sempre que a capacidade relativa de produzir bens for diferente entre eles, quer dizer, sempre que um país tiver uma vantagem comparativa, mesmo que seja absolutamente mais ou menos produ-tivo que o outro na produção de todos os bens (Willianson, 1996). A condição básica para a existência de comércio seria apenas que o custo de oportunidade de produzir um bem fosse diferente entre diferentes países.

No contexto da teoria clássica, as diferenças nos custos comparativos existem somente quando os países apresentam diferentes funções de produção, ou seja, o grau de especialização de cada país dependerá de sua função de produção.

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

Quadro 1.2

Possibilidades de produção por homem/ anoPossibilidades de produção por homem/ ano

PAÍS TRIGO AÇO

RÚSSIA 18 ou 6

INGLATERRA 20 ou 10

Neste caso, a Inglaterra possui uma vantagem absoluta sobre a Rússia na pro-dução dos dois produtos. De acordo com Adam Smith, não haveria a especializa-ção da produção, nem a troca entre os dois países.

O grande mérito de Ricardo foi mostrar que o comércio também será provei-toso para os dois países, mesmo que um deles tenha vantagem absoluta sobre o outro na produção de todas as mercadorias. Sua vantagem, porém, sempre será maior em alguns produtos do que em outros. Dito de outra maneira, devem ser consideradas não as vantagens absolutas, mas sim as vantagens comparativas ou relativas.

No Quadro 1.2 nota-se que, embora a Inglaterra tenha uma vantagem ab-soluta sobre a Rússia na produção dos dois artigos, sua vantagem é maior na produção de aço (10 contra6) e menor na produção de trigo (20 contra18). Assim, a Inglaterra tem uma vantagem comparativa na produção de aço (onde sua van-tagem absoluta é maior) e uma desvantagem comparativa na produção de trigo (onde sua vantagem absoluta é menor).

A Rússia, por sua vez, tem uma vantagem comparativa na produção de trigo, onde sua desvantagem comparativa é menor, e uma desvantagem comparativa na produção de aço, onde sua desvantagem comparativa é maior.

Desse modo, compensará à Inglaterra especializar-se na produção de aço e à Rússia a especialização na produção de trigo, trocando entre si os excedentes de produção.

1.2.3 Custos de Oportunidade

Embora de grande utilidade, a teoria das vantagens comparativas apresentava uma limitação muito séria, por estipular que as relações de valores entre dois bens eram determinados pelas quantidades de trabalho incorporadas na produ-ção de cada um deles.

Um trabalhador, durante um certo período de tempo, pode produzir 30 unida-des de trigo ou 15 unidades de aço. Portanto, 30 unidades de trigo valeriam tanto quanto 15 unidades de aço. Isto signifi ca que o valor de uma unidade de aço é igual a duas unidades de trigo e o valor de uma unidade trigo seria igual a meia unidade aço. A relação de valor considera, portanto, um único fator de produção : o trabalho.

Na realidade, porém, há uma série de outros fatores de produção que também têm sua participação no processo produtivo, como a terra, as matérias-primas, os capitais, as tecnologias etc. Todos esses fatores, portanto, devem ser conside-rados.

Em 1933, Gottfried Von Haberler procurou refi nar a Teoria das Vantagens Com-parativas, introduzindo o conceito de custo de oportunidade, o qual permite con-siderar todos os fatores de produção e não apenas o fator trabalho.

Segundo Haberler (In: Ratti, 2000:359) que, com uma certa dotação de recursos, um país pode produzir várias combinações de mercadorias. Consideremos apenas dois produtos: trigo e aço. Com os recursos de que dispõe e admitindo-se o pleno

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emprego de fatores de produção, o país poderá produzir apenas trigo ou apenas aço ou, ainda, ou fazer combinações de dois produtos, como vamos exemplifi car a seguir.

Quadro 1.3

Possibilidades de Produção na relação de quantidades

COMBINAÇÕES TRIGO AÇO

A 400 0

B 300 150

C 200 300

D 100 450

E 0 600

Colocando esses valores em um gráfi co, teremos o seguinte:

Gráfi co 1.1

Curva de possibilidades de produção

Observando o Quadro 1.3 nota-se que a tabela mostra apenas algumas das possíveis combinações. Na realidade, qualquer ponto localizado na reta, apresen-tada no Gráfi co 1.1 indica uma combinação possível. Acima da reta não é possí-vel. Abaixo da reta é possível; porém, seria uma combinação que, ou não estaria utilizando plenamente todos os fatores de produção (capacidade ociosa) ou, en-tão, não estaria obtendo o máximo de aproveitamento desses fatores.

Essa curva (no caso, uma reta) é conhecida como curva de possibilidades de produção, e nos mostra as combinações máximas entre dois bens que a socieda-de está apta a produzir (Passos, Nogami, 2005:54).

Os preços ou custos do trigo serão expressos em termos de aço e vice-versa. No gráfi co, a linha reta representa não apenas a curva de possibilidades de pro-dução dos dois artigos, mas também a relação de valor (preços) entre eles, dada pela inclinação da reta.

Quanto mais aço for produzido, menor será a produção de trigo. Por outro lado, se quisermos produzir mais trigo teremos de produzir menos aço. O custo de oportunidade corresponde ao número de unidades de um produto que deve-rão ser sacrifi cadas para que se possa produzir uma unidade do outro produto.

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Exemplo: Examinando o Quadro 1.3 pode-se verificar que para um país pro-duzir 150 unidades de aço (A) deve deixar de produzir 100 unidades de trigo (T). Estes dados permitem estabelecer a seguinte relação de que 100 unidades de trigo são iguais a 150 unidades de aço. Desta forma, podemos dizer que uma unidade de trigo equivale a 1,5 unidades de trigo, ou que uma unidade de aço é equivalente a 0,67 unidades de trigo.

No caso focalizado, a curva de possibilidades de produção é representada por uma reta. Isso significa que os custos de produção (custos de oportunidade), tan-to do trigo como do aço, são constantes. Isto significa dizer que o custo para produzir uma unidade adicional do produto será sempre idêntico ao custo da unidade anterior produzida.

Quando os custos de oportunidade foram crescentes, ou seja, quando o custo de cada unidade produzida for superior ao custo da unidade anteriormente pro-duzida, a curva de possibilidades de produção deixa de ser uma reta, passando a ser côncava em relação à origem.

Figura 1.2

Curva de possibilidades de produção com custos de oportunidade crescente

No caso apresentado na Figura 1.2, teremos diferentes custos de oportunidade para cada ponto da curva. No ponto C, por exemplo, a relação de custos é repre-sentada pela inclinação da reta tangente PP. Conforme o ponto que escolhermos na curva, teremos retas com diferentes inclinações e, portanto, diferentes rela-ções de custos.

1.2.4 TEORIA DA DEMANDA RECÍPROCA

Na exposição anterior verificou-se que David Ricardo havia formulado sua teoria da vantagem comparativa comparando o custo de produção de uma uni-dade de uma mesma mercadoria em dois países diferentes. Portanto, a base de comparação é a unidade do produto. Exemplificando:

• 100 toneladas de açúcar no país A custam 80 horas/homem;

• 100 toneladas de açúcar no país B custam 120 horas/homem.

Posteriormente, John Stuart Mill formulou a Teoria da Demanda Recíproca de modo inverso a Ricardo. Na teoria de Stuart Mill, a base não será mais a unidade do produto, mas o que em um determinado número de horas dois países dife-

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

rentes podem produzir. Senão vejamos:

• Em 10 horas o país A produz 20 toneladas de aço;

• Em 10 horas o país B produz 10 toneladas de aço.

Aparentemente a diferença parece não ser grande, mas pelas análises que se pode fazer , as verdadeiras diferenças se tornarão mais claras. Antes de mais nada, observa-se que Mill procura evidenciar a efi ciência comparativa, conforme apresentado no Quadro 1.4.

Quadro 1.4

Produção comparativa entre dois países

INSUMO DE TRABALHO (HOMENS/

HORA)

PAÍS PRODUÇÃO DE AÇO

(toneladas)

PRODUÇÃO DE TRIGO

(toneladas)

10 A 20 20 10 B 10 15

No quadro acima verifi ca-se que país A tem vantagem absoluta nos dois pro-dutos apresentados (aço e trigo). Mas tem maior vantagem comparativa no aço. Por outro lado, o país B não tem vantagem absoluta nos dois produtos. Tem me-nor desvantagem comparativa no trigo.

Se não houver comércio entre os dois países, as trocas serão apenas internas e nas seguintes condições:

• O país B pode trocar 10 toneladas de aço por 15 toneladas de trigo na base de 10 homens/horas;

• O país A pode trocar 10 toneladas de aço por 10 toneladas de trigo tomando por base 5 homens/horas.

Admitindo-se que o país B está disposto a vender 15 toneladas de trigo por 11 toneladas de aço, pode-se considerar que está havendo aí um bom negócio, exatamente porque o custo de produção de 15 toneladas de trigo nesse país equivale ao custo de produção de 10 toneladas de aço. Vamos admitir ainda que o país A aceite vender 11 toneladas de aço por 15 toneladas de trigo. Também é um bom negócio porque o custo de produção no país A é de 11 toneladas de aço, que equivalem a 11 toneladas de trigo.

Diante dos números acima, B exportaria trigo para A e compraria aço de A, desde que tivesse nisso alguma vantagem. Dito de outra maneira, haverá vanta-gem para o país B: se este conseguir trocar pelo menos, mais de 10 toneladas de aço por 15 toneladas de trigo (ou + 10A : 15tr.);

Por sua vez, o país A terá vantagem se conseguir trocar pelo menos, 10 tone-ladas de aço por mais de 10 toneladas de trigo.

As condições serão vantajosas se os países conseguirem fazer trocas externas mais vantajosas que as trocas internas. Será vantajoso para A trocar 10 toneladas de aço por mais de 10 toneladas de trigo e para B trocar mais de 10 toneladas de aço por 15 toneladas de trigo. Esses números constituem os limites de possibili-dade de troca, como está representado no Quadro 1.5.

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TEMA 1 TEORIAS CLÁSSICAS DO

COMÉRCIO INTERNACIONAL

Quadro 1.5

Limites de possibilidade de troca mostrados em gráfi coLimites de possibilidade de troca mostrados em gr

PAÍS AÇO TRIGOA 10 toneladas Por + 10 toneladasB + 10 toneladas Por 15 toneladas

Portanto, poderá ser realizado o comércio entre os dois países dentro desses limites. Porém há um fator novo que vai estabelecer o valor exato de troca. Esse fator é a demanda por essas mercadorias nos dois países. Daí o nome de Teoria da Demanda Recíproca.

De acordo com essa teoria, o comércio se realizará quando os preços equa-lizarem as demandas nos dois países. Em outras palavras, suponhamos que os preços desses produtos sejam:

Quadro 1.6

Grau de interesse de troca

Valor de Troca Demanda de A Demanda de BA = aço

Tr = trigo Grau de interesse Grau de interesse

10A :10TrNão há interesse em comprar trigo de B

Há interesse em comprar aço de A

Em face da situação acima, B propõe nova condição de troca.

Quadro 1.7

Condição de Trocaçã

Valor de Troca Demanda de A Demanda de B10A : 12Tr Há interesse, porém a

demanda é pequenaContinua grande

interesse

Para que haja comércio, B melhora as condições de troca.

Quadro 1.8

Nova Condição de trocaçã

Valor de Troca Demanda de A Demanda de B

10A :14Tr Aumenta o interesse de A Há interesse de B

Agora, supondo que as condições de troca fossem tal como apresentadas no quadro abaixo, tem-se uma nova possibilidade de troca.

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TEMA 1 TEORIAS CLÁSSICAS DO

COMÉRCIO INTERNACIONAL

Quadro 1.9

Condição de Trocaçã

Valor de troca Demanda de A Demanda de B10A : 15Tr Há interesse Há pouco interesse

10A : 20TrHá alto interesse de A

na trocaNeste caso, não há

interesse de B na troca

Desta forma , sucessivamente, os preços vão se alterando até chegar ao ponto de equilíbrio, que poderia ser 10 toneladas de aço por 14 toneladas de trigo.

Entretanto, essa relação de troca (10A : 14Tr) se altera de acordo com a maior ou menor demanda pelos respectivos produtos. Essa demanda sofre os efeitos dos problemas conjunturais que podem determinar a maior ou menor necessi-dade de mercadorias negociadas em cada país.

Deste modo, à luz das Teorias Clássicas do Comércio Internacional (Vantagens Absolutas, Vantagens Comparativas e da Demanda Recíproca), pode-se dizer que é viável a troca de produtos sempre que os países tiverem recursos semelhantes em economias de escala. A utilização de novas tecnologias enseja um rendimen-to crescente de escala.

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ANOTE

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TEMA 2TEMA 2

BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

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TEMA 2 BARREIRAS AO COMÉRCIO

INTERNACIONAL

TEMA 2 - BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Objetivos do Tema

• Mostrar o protecionismo adotado por certos Estados no que toca à defesa de algumas de suas matérias-primas e à entrada de capital estrangeiro.

• Evidenciar como os países organizam seus esquemas protecionistas concretizados em barreiras alfandegárias, em taxas múltiplas de câmbio para estimular a exportação, e em subsídios a certos produtos nacionais a fim de os tornarem mais competitivos

• Mostrar que, apesar do estatuto do livre comércio internacional, há tacitamente ou declaradamente limites na concorrência mundial e os Estados procuram se proteger contra o dumping1, os trustes2 e os cartéis3 internacionais.

2.1 PROTEÇÃO À PRODUÇÃO

Embora se pregue, até com ardor, o livre comércio, as nações preocupam-se em proteger sua produção nacional.

Afinal, a invasão de produtos vindos do exterior, acaba tomando o lugar da-queles que são produzidos domesticamente. E com eles, vão-se as matérias-pri-mas (que seriam adquiridas), o trabalho (o emprego) e o capital.

A teoria econômica estabelece que os recursos produtivos (também denomi-nados fatores de produção) são elementos utilizados no processo de fabricação dos mais variados tipos de mercadorias, as quais, por sua vez, são utilizadas para satisfazer necessidades e desejos. O trabalho, a terra, as matérias-primas, os com-bustíveis, a energia e os equipamentos são, entre outros, exemplos de recursos produtivos. Estes recursos produtivos podem ser classificados em quatro gran-des grupos: terra, trabalho, capital e capacidade empresarial.

Assim, com o objetivo de manter o equilíbrio da economia doméstica, no sentido da manutenção do pleno emprego (utilização plena dos recursos pro-dutivos disponíveis), os países podem criar medidas protecionistas utilizando o argumento, por exemplo, de proteger a indústria nascente.

Uma indústria nascente pode não estar em condições de sobreviver à com-petição externa. O argumento da indústria nascente sustenta que tais indústrias deveriam ser protegidas, ao menos temporariamente, por altas tarifas ou cotas até que conseguissem desenvolver eficiência tecnológica e economias de escala que lhes possibilitassem competir com as indústrias estrangeiras.

2.2 PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

Em dezembro de 1997, em Kyoto, no Japão, realizou-se a terceira conferência das Nações Unidas sobre a mudança do clima, com a presença de representantes de mais de 160 países. Seus objetivos eram, em primeiro lugar, o de obter o com-promisso dos países desenvolvidos em reduzir e limitar a emissão de dióxido de carbono e de outros gases responsáveis pelo efeito estufa. Em segundo lugar, pretendia a Conferência da ONU criar a possibilidade de utilização de mecanis-

1Prática comercial que consiste em vender produtos a preços inferiores aos custos, com a finalidade de eliminar concorrentes e/ou ganhar maiores fatias de mercado.2Tipo de estrutura empresarial na qual várias empresas, já detendo a maior parte de um mercado, combinam-se ou fundem-se para assegurar esse controle, estabelecendo preços elevados que lhes garantam elevadas margens de lucros.3Grupo de empresas independentes que formalizam um acordo para sua atuação coordenada, com vistas a interesses comuns.

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TEMA 2 BARREIRAS AO COMÉRCIO

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mos de flexibilidade para que os países em desenvolvimento pudessem atingir os objetivos de redução de gases do efeito-estufa.

2.2.1 Em que consiste o efeito-estufa

O efeito-estufa consiste, basicamente, na ação do dióxido de carbono e de outros gases sobre os raios infravermelhos refletidos pela superfície da terra, re-enviando-os para ela, mantendo assim uma temperatura estável no planeta.

Ao irradiarem para a Terra, parte dos raios luminosos oriundos do Sol são ab-sorvidos e transformados em calor, outros são refletidos para o espaço, mas só parte destes chega a deixar a Terra, em conseqüência da ação refletora que os chamados “gases de efeito-estufa” (dióxido de carbono, metano, clorofluorocar-bonetos (CFCs) e óxidos de azoto) têm sobre tal radiação reenviando-a para a superfície terrestre na forma de raios infravermelhos.

Desde a época pré-histórica o dióxido de carbono tem tido um papel de-terminante na regulação da temperatura global do planeta. Com o aumento da utilização de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), a concentra-ção de dióxido de carbono na atmosfera duplicou nos últimos cem anos. Neste ritmo e com o abatimento massivo de florestas que se tem praticado (é nas plan-tas que o dióxido de carbono, através da fotossíntese, forma oxigênio e carbono, que é utilizado pela própria planta), o dióxido de carbono começará a proliferar levando, muito certamente, a um aumento da temperatura global. Este aumento de temperatura, mesmo que seja de poucos graus, levará ao degelo das calotas polares e a grandes alterações a nível topográfico e ecológico do planeta.

2.2.2 Seqüestro de Carbono

O refém desse seqüestro é todo o carbono que é capturado e mantido pela vegetação, durante o processo respiratório da fotossíntese. Sua finalidade é con-ter e reverter o acúmulo de CO2 na atmosfera visando a diminuição do efeito-estufa.

Dessa maneira, o seqüestro de carbono se tornou assunto presente em ques-tões ambientais, pois, apesar de as quantidades de CO2 retiradas da atmosfera pela vegetação não estarem definidas, esse tipo de medida é visto como uma importante atitude para sinalizar uma redução na emissão de carbono e atingir as metas estabelecidas pelo protocolo de Kyoto (diminuição de, no mínimo, 5,8% da quantidade de carbono presente na atmosfera).

2.2.3 Créditos de Carbono

Para tanto, foram criados mecanismos de flexibilização através dos quais os países ricos podem promover a redução fora de seu território. Esta alternativa ficou conhecida como Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), sendo a ne-gociação de créditos de carbono sua forma transacional.

A negociação de créditos de carbono já beneficia uma série de empresas no Brasil. São empresas de diversos setores, como siderurgia, papel e celulose, sane-amento e recursos renováveis, entre outras. Estas empresas estão acessando um mercado que, segundo alguns especialistas, deve movimentar US$10 bilhões de dólares em crédito de carbono ao ano, e o Brasil deve ser responsável por 10% desta quantia.

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2.2.4 O que é o crédito de carbono

O crédito de carbono consiste em certificar reduções de emissões de gazes de efeito estufa (GHG Protocol4), que através de um custo marginal de redução no Brasil possam compensar um possível custo de oportunidade nos países desen-volvidos.

2.3 PROTEÇÃO AO TRABALHO

Todo governo tem entre seus objetivos principais a proteção ao trabalho e toda a gama de preocupações que o tema carrega. É um escopo social.

Isto posto, podemos afirmar que os países podem enfrentar, em relação ao emprego, três situações: falta de mão-de-obra, pleno emprego de mão-de-obra e desemprego.

2.3.1 Falta de mão-de-obra

O mundo passou por muitas transformações após a segunda guerra mundial (1939-1945). No início, havia a necessidade de mão-de-obra. A Europa se recuperava dos estragos e empresas eram reconstituídas. Mas, em grande parte, o avanço da tecnologia veio substituir o trabalho humano. E com isso, grandes quantidades de trabalhadores foram colocadas na rua. Os países passa-ram a proteger-se dificultando a entrada de trabalhado-res de outros países. É o reverso da medalha. Na medida em que a tecnologia avança, cresce o recuo no recruta-

mento de trabalho humano. É uma situação que tende a se agravar em todo o mundo.

2.3.2 Pleno emprego da mão-de-obra

Pleno emprego da mão-de-obra significa todas as vagas preenchidas. Neste caso não há necessidade de se contratar no exterior e a força de trabalho local, com a tecnologia disponível, ocupa as vagas ofertadas.

Nas palavras de Sandroni (1999:474), é uma situação em que a demanda de trabalho é igual ou maior que a oferta. Isso significa que todos que desejarem vender sua força de trabalho pelo salário corrente terão condições de obter um emprego.

Ainda segundo o autor, numa economia dinâmica é muito difícil que ocorra a eliminação total do desemprego, pois:

• há atividades – como a agricultura – que não ocupam continuamente a mes-ma força de trabalho (desemprego sazonal);

• é necessário certo tempo para que as pessoas troquem de emprego (é o cha-mado desemprego friccional);

• além disso, certas pessoas podem optar por viver desempregadas.

Por essa razão, considera-se haver uma situação de pleno emprego de mão-de-obra quando não mais que 3 a 4% da força de trabalho está desempregada.

4GHG Protocol – The Greenhouse Gas Protocol Initiative.

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2.3.3 Desemprego de mão-de-obra

É a pior situação para o trabalhador. Dependendo de seu grau de empregabili-dade, será mais fácil ou difícil sua volta ao mercado. O que seria empregabilidade? A palavra vem do inglês employability e significa o conjunto de conhecimentos, habilidades e comportamentos que tornam um executivo/ profissional impor-tante. Ter conhecimentos, habilidades e comportamentos compatíveis para de-sempenhar tarefas trabalhistas é importante não apenas para o indivíduo, mas para toda e qualquer empresa. Esses dotes são características que transcendem a organização, pois atendem às necessidades do mercado de executivos/ profis-sionais como um todo.

O desemprego da mão-de-obra pode ocorrer, devido à recessão econômica, ao crescimento econômico menor que o crescimento demográfico, às novas tec-nologias que dispensam a mão-de-obra, e a políticas econômicas governamen-tais inadequadas.

Analisando-se as estatísticas da atividade econômica brasileira pode-se ob-servar que o desemprego vem crescendo nos últimos anos no país. Segundo o IBGE, 7,14% da população economicamente ativa estava desempregada em 2002, 12,30% em 2003, e 11,50% em 2004.

De acordo com o ex-ministro Roberto Campos, citado por Maia (1999:127), os promotores do desemprego no Brasil são os sindicatos agressivos, o nacionalis-mo, os monopólios estatais e a legislação trabalhista.

2.3.4 Sindicatos agressivos

Os investidores (particularmente os donos do capital estrangeiro) procuram defender-se das excessivas reivindicações, estabelecendo-se em países onde a atividade sindical não seja muito forte.

2.3.5 Nacionalismo

A legislação nacionalista, criando restrições ao capital estrangeiro faz com que as multinacionais procurem outros países para se instalar. Este é um argu-mento morto, posto que a abertura efetuada nos últimos anos equiparou o ca-pital estrangeiro ao nacional em muitos aspectos. Problemas aos estrangeiros são comuns aos nacionais, como a insegurança da propriedade, só para citar um exemplo.

2.3.6 Monopólios estatais

Argumento já desqualificado tendo em vista o grande número de privatiza-ções ocorridas no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

2.3.7 Legislação trabalhista

Este argumento ainda perdura. As empresas, de qualquer porte, sofrem com os pesados encargos sociais, tendo como conseqüência o desemprego e o au-mento da economia informal5.

5Esta denominação vem do fato de que a maioria dessas unidades dedicadas à produção ou venda de mercadorias ou à produção de serviços não é constituída de acordo com as leis vigentes, não recolhe impostos, não mantém uma contabilidade de suas atividades.

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2.4 PROTEÇÃO AO CAPITAL

Os países procuram proteger o capital nacional, criando barreiras à entrada do capital estrangeiro, seja ele capital financeiro ou representado pela entrada de máquinas e equipamentos (uma fábrica nova, por exemplo).

Muitas vezes, como já ocorreu aqui mesmo no Brasil, a proteção é um guarda-chuva que protege a ineficiência. Muito se falou sobre a invasão dos produtos têxteis, notadamente chineses, mas nada se disse sobre a obsolescência de nos-so parque fabril. A cidade de Americana, no interior paulista, é um bom exemplo do antes e do depois. Antes, havia uma indústria obsoleta que quase foi dizimada quando da invasão de produtos têxteis chineses e coreanos. Hoje, há uma indús-tria moderna e competitiva que não teme os asiáticos.

Nos últimos tempos tem-se travado uma dura batalha entre empresários da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O motivo está em o Banco oficial ter anunciado que voltará a financiar a importação de máqui-nas e equipamentos sem similar nacional. Trata-se de crédito salutar e que deve ser incentivado. Só beneficiará as importações de produtos não fabricados no Brasil. Não haverá concorrência predatória com os fabricantes nacionais uma vez que serão financiados somente aqueles equipamentos que não são produzidos no Brasil.

2.5 DESVIOS DO MODELO DO COMÉRCIO LIVRE

Há um esforço muito grande da comunidade internacional em tornar o co-mércio exterior mais livre, mais fluente. Entretanto, o trânsito comercial mundial pode se defrontar com algumas formas de obstáculos como o dumping, os oli-gopólios, os trustes e dos cartéis.

2.5.1 Dumping

Como já foi definido anteriormente, o dumping consiste em vender uma mer-cadoria ou um serviço, no exterior ou no mercado doméstico, por preço abaixo do custo de produção.

Conforme especifica Sandroni (1999:187), no mercado internacional, o dum-ping pode ser persistente quando existem subsídios governamentais para o in-cremento das exportações e as condições de mercado permitem uma discrimi-nação de preços tal que a maior parte dos lucros de uma empresa que o pratica seja obtida no mercado interno.

O dumping temporário é utilizado para afastar concorrentes de determinados mercados quando um país necessita colocar neles excedentes de certos produ-tos, sem prejudicar os preços praticados em seu mercado interno.

A União Européia proíbe o dumping. A Organização Mundial do Comércio (OMC), por sua vez, permite a introdução de tarifas especiais ou sobretaxas de importação como forma de limitar os efeitos de tal política.

2.5.2 Oligopólio

De acordo com Passos e Nogami (2005:349) o oligopólio é a forma de merca-do que atualmente prevalece nas economias do mundo ocidental. Ele pode ser conceituado como uma estrutura de mercado em que um pequeno número de

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empresas controla a oferta de um determinado bem ou serviço. De acordo com essa conceituação, a indústria automobilística é um exemplo de indústria com pequeno número de firmas. Entretanto, o oligopólio pode também ser enten-dido como uma indústria em que há um grande número de firmas, mas poucas dominam o mercado. Como exemplo, pode-se citar a indústria de bebidas.

Atualmente, podemos incluir alguns outros oligopólios como os de produto-res de suco de laranja, as indústrias de aço e de fumo e a atividade de comercia-lização de soja.

Desta forma, o oligopólio é uma tendência que reflete a concentração da pro-priedade em poucas empresas de grande porte, pela fusão entre elas, incorpo-ração ou mesmo eliminação (por compra, dumping e outras práticas restritivas) das pequenas empresas.

2.5.3 Trustes

Os trustes representam a fusão de várias empresas, levando ao monopólio. A indústria siderúrgica está passando por esse processo.

Os trustes têm sido proibidos em vários países, mas a eficácia dessa proibição não é muito grande.

2.5.4 Cartel

Nas palavras de Maia (1997:93) o cartel é uma forma de eliminar a concorrên-cia. Vários produtores fazem um acordo comercial para distribuir entre si cotas de produção, determinar preços, suprimindo a livre concorrência. Uma das ca-racterísticas importantes é que cada empresa conserva sua autonomia interna. Um bom exemplo de cartel é a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que determina o preço do barril de petróleo e estabelece a cota de produção de cada associado.

Na verdade, existem muitos tipos de cartel. Em sua forma mais perfeita tem-se o Cartel Centralizado, que determina todas as decisões para todas as firmas-membro. Assim, por meio de uma agência coordenadora, organizam-se as firmas de modo que elas ajam como se participassem de um grande conglomerado monopolista, possuidor de várias fábricas. Por essa razão tal forma perfeita de conluio leva à solução de monopólio.

2.6 ESQUEMAS PROTECIONISTRAS

Constituem, também, barreiras ao comércio internacional as seguintes medi-das protecionistas:

• Subsídios;

• Barreiras tarifárias;

• Taxas múltiplas de câmbio; e

• Licenças de importação e exportação.

2.6.1 Subsídios

É comum os governos subsidiarem alguns setores produtivos com a finalida-de de os tornarem competitivos com os similares produzidos no exterior. Se o

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TEMA 2 BARREIRAS AO COMÉRCIO

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subsídio for apenas direcionado para baixar os preços, sem a contrapartida da melhoria de qualidade, o subsídio é, na verdade, uma proteção à ineficiência e ao atraso.

Quando o subsídio é destinado à exportação, ele poderá constituir-se num dumping, sobre o qual já foi comentado anteriormente.

Outras vezes o subsídio é aplicado para a produção de mercadorias destina-das ao consumo interno, com o objetivo de manter a competitividade da produ-ção nacional, que em condições normais não poderia competir com a produção estrangeira. Isso onera o bolso do consumidor nacional, que acaba pagando mais por um produto igual ou pior que o importado.

Conforme salienta Maia (1999:94), normalmente os subsídios trazem outras distorções que mais prejudicam do que ajudam. A produção nacional não me-lhora porque está protegida e torna-se obsoleta.

Como exemplo de subsídio à ineficiência cabe lembrar a proteção implemen-tada ao setor de informática, na década de 1970, quando foi criada a reserva de mercado para este setor. O subsídio, se mal direcionado é caro e acaba punindo o país.

2.6.2 Barreiras tarifárias

O governo pode aplicar uma barreira tarifária, isto é, um imposto que, adicio-nado ao preço internacional do produto, poderá fazer que o preço da mercadoria produzida internamente se torne competitivo; dessa forma, o governo protege os produtores nacionais a fim de que não sofram a concorrência de produtos importados mais baratos.

As barreiras tarifárias representam verdadeiro flagelo para o setor importador. Muitas vezes são baixadas medidas sem critérios claros e objetivos consistentes. Barreiras tarifárias podem ser estabelecidas para proteger indústrias nascentes. Citamos o caso do setor de informática, que acabou se revelando um fracasso monumental.

Hoje temos alíquotas no setor siderúrgico que tornam o produto final do se-tor altamente caro internamente. Seria o caso de baixar ou reduzir a zero as alí-quotas de importação, forçando a baixa dos produtos internamente.

Segundo o empresário Sérgio Machado6, , os estaleiros nacionais estariam pagando 30% a mais pela matéria-prima do que os concorrentes internacionais. Mas a reclamação é mais antiga7: em 2004 , as montadoras já reclamavam do pre-ço do aço que só no período de janeiro a agosto subira cerca de 41%. A ABIMAQ espera um aumento de até 15% no preço de aço para o ano de 2006.

A indústria automobilística é uma das mais atingidas por essa onda altista. O consumidor final, obviamente é quem está pagando por isso.

No caso das exportações, práticas alfandegárias tornam nosso açúcar pouco competitivo na Europa e nos Estados Unidos. A União Européia tem que proteger os ineficientes produtores franceses. Nos EUA o suco de laranja é também agra-vado com altas taxas de imposto de importação.

6Presidente da Transpetro, em Globo Online, edição de 16 de janeiro de 2.0067Folha Online, de 6 de outubro de 2004.

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2.6.3 Taxas Múltiplas de Câmbio

O sistema de taxas múltiplas foi criado para estimular a exportação e favore-cer a importação de produtos considerados essenciais. E, também, para inibir ou favorecer entradas e saídas financeiras. Assim, um país pode ter uma moeda local desvalorizada, beneficiando a exportação e inibindo a importação, uma outra taxa de câmbio para a importação de produtos essenciais, como o petróleo, e uma terceira taxa para operações financeiras.

O sistema de taxas múltiplas já foi utilizado no passado, até por países da União Européia (Peseta A e Peseta B, na Espanha), mas não encontra guarida nos mercados cambiais em funcionamento no mundo atual.

Mesmo o Brasil passou por essa experiência nos anos 1950, quando o Gover-no fixou cinco categorias de enquadramento dos bens importáveis. Perdurou por pouco tempo, sendo substituído pela fixação de uma cotação cambial que era manejada pelos dirigentes do Ministério da Fazenda.

Tal prática terminou com a criação do Banco Central do Brasil em 31 de de-zembro de 1964 (Lei 4.595/64, ou Lei do Mercado de Capitais).

2.6.4 Licenças de Importação e Exportação

É necessário entender que licenciamentos de importação e exportação para fins estatísticos são uma coisa, e licenciamentos com a finalidade de tornar di-fícil a importação ou exportação de determinados produtos são outra coisa. A licença de importação é emitida para permitir a entrada de mercadorias no país. O que ocorre é que essa licença pode estar condicionada ao cumprimento de alguma exigência, como a sujeição a uma determinada cota, exame por diferen-tes órgãos (IBAMA8, se produto que sensibiliza o meio ambiente; Ministério do Exército, no caso de armas; DETRAN9, se veículo etc.). Tais exigências costumam travar o processo de uma importação. Na área das exportações existem poucas exigências. Há que se emitir o Registro de Exportação (RE), um documento obti-do via SISCOMEX10 e autorizado on line pelos órgãos competentes.

Embora condenada no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) esta prática é utilizada por muitos países, inclusive pelo Brasil.

Sistemas de licenciamento engessam as operações de comércio internacio-nal. O processo burocrático torna-se lento, impaciente e altamente corruptível. As decisões passam a ser subjetivas, tirando todo o aspecto técnico da questão.

2.7 NOVAS BARREIRAS AO COMÉRCIO INTERNACIONAL

A intensificação do comércio internacional, seu crescimento em volume, valor e tecnologia, com a entrada de novos atores, especialmente da China, tornaram a arena muito competitiva e novas formas de protecionismo surgiram, represen-tadas por barreiras técnicas e ecológicas.

Nesses casos, assim como no caso da barreira tarifária, o governo visa dar maior competitividade ao produto nacional. A diferença básica é que não se aplica um imposto, mas sim obstáculos quantitativos ou burocráticos, segundo Passos e Noga-mi (2005:527), que oneram ou inviabilizam as importações. Como novas restrições pode-se citar os certificados de origem e vistos consulares, fixação de cotas etc.

8Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis9Departamento Estadual de Trânsito

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2.7.1 Barreiras Técnicas

A abertura dos mercados incrementou o processo de trocas entre os países e aprofundou a necessidade do uso de uma linguagem comum para o estabeleci-mento de requisitos de desempenho e de ausência de riscos para o consumidor e o meio ambiente.

Sob esta ótica, o texto do Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (Tech-nical Barrier to Trade - TBT), resultante da revisão do GATT11 na Rodada Uruguai, apresenta o critério de que “um regulamento técnico não se consistiria em bar-reira desnecessária ao comércio quando, buscando o alcance de objetivos legíti-mos, fosse baseado em norma internacional”.

A “democracia” do acesso à participação em uma organização internacional de normalização foi o princípio que poderia assegurar as condições necessárias para que a norma internacional refletisse um consenso entre os interesses de todos os países.

Todavia, ter as condições necessárias para a elaboração de uma norma verda-deiramente internacional não implica que elas tenham sido suficientes, até hoje.

Embora o objetivo seja não se constituir em barreira desnecessária ao comér-cio, alguns países vêm exagerando no estabelecimento e implementação de tais regulamentos.

2.7.2 Dumping Social

Dumping Social é o termo utilizado para caracterizar a venda, no mercado in-ternacional, de produtos a um preço inferior ao praticado no mercado domésti-co, em virtude da falta ou da não-observância dos padrões trabalhistas interna-cionalmente reconhecidos. O trabalho infantil, o trabalho escravo ou a falta de respeito aos padrões trabalhistas serviriam como fatores diferenciais na compo-sição do preço dos produtos. O tema é sensível e opõe os países desenvolvidos, que defendem a inclusão de cláusulas trabalhistas nas regras do comércio inter-nacional, aos países em desenvolvimento, que preferem que o tema seja tratado no âmbito da Organização Internacional do Trabalho.

2.7.3 Responsabilidade Sócio-Ambiental

Os desequilíbrios do homem ao tratar das relações que estabelece entre seus objetivos econômico-financeiros e o espaço natural têm despertado a socieda-de, cujas preocupações se voltam cada vez mais para iniciativas de preservação do meio ambiente, visando o bem estar comum.

A atuação socialmente responsável de todos os segmentos da sociedade, com destaque para os fatores econômicos e educacionais, está se transforman-do numa questão fundamental, que requer estudo, reflexão e comportamentos, principalmente pró-ativos, e em última instância, reativos, haja vista tratar-se da mola propulsora para manutenção da qualidade de vida presente sem compro-meter as possibilidades de sobrevivência das gerações futuras.

10Sistema Integrado de Comércio Exterior - SISCOMEX, instituído pelo Decreto n° 660, de 25.9.92, é a sistemática administrativa do comércio exterior brasileiro, que integra as atividades afins da Secretaria de Comércio Exterior - SECEX, da Secretaria da Receita Federal-SRF e do Banco Central do Brasil - BACEN, no registro, acompanhamento e controle das diferentes etapas das operações de exportação.11Acordo Geral sobre Tarifas de Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade). A sigla GATT denomina o organismo internacional que visava propiciar a redução de obstáculos ao comércio entre as nações. Dentre os 23 países que, em 1947, assinaram o acordo de criação do GATT, estava o Brasil. O sucesso e a importância do GATT é atestado pelo fato do comércio internacional, desde o fim da Segunda Grande Guerra, ter crescido até multiplicar-se por dez. Em 1995, os então 95 países membros do GATT, assinaram um acordo constituindo a Organização Mundial do Comércio (OMC), organismo de caráter permanente, em substituição ao GATT, que tinha um caráter temporário.

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TEMA 2 BARREIRAS AO COMÉRCIO

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Durante anos, os recursos naturais foram explorados sem nenhum critério de propriedade e preservação, apenas, como bens úteis ao desenvolvimento. Neste sentido, o meio ambiente tem sido um bem econômico gratuito que a empresa utiliza, sem considerar ou influenciar no preço do produto ou serviço e sem con-siderar, principalmente, a finitude dos recursos naturais.

Assim, por não se ater ao futuro, até pela falta de planejamento em longo prazo, verificam-se inúmeros problemas, que estão atingindo o planeta, e agora o homem se volta para a sua própria sobrevivência, preocupando-se também com o futuro.

Mas, este lento processo de transformação não tem sido galgado com espon-taneidade, tendo em vista que o comportamento da sociedade em relação ao meio ambiente sempre foi influenciado por acontecimentos de natureza políti-co-social. Essa mudança de postura iniciou-se em Paris, no ano de 1968, quando se realizou a Conferência sobre a Biosfera.

A ocasião serviu como base para o lançamento do programa “O Homem e a Biosfera”, em 1971, pela UNESCO12. Outros eventos seguiram-se a este, como a reu-nião do Clube de Roma, em 1970, a qual chamava a atenção para a necessidade de conter o crescimento econômico mundial. Em 1972, realizou-se em Estocolmo a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente. Seu objetivo era a conscientiza-ção dos governos e instituições internacionais quanto à necessidade de imple-mentar medidas efetivas para preservar e diminuir a degradação ambiental.

No Brasil, a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, promoveu uma série de de-bates sobre problemas prementes de hoje e a preparação do mundo para este século. A Declaração do Rio Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento destaca que este “deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas eqüitativamen-te as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações pre-sentes e futuras”, que ficou conhecida como Agenda 2113.

Nesse sentido, um dos maiores desafios, em se tratando da questão ambien-tal, é a compatibilização entre o crescimento econômico e a preservação do meio ambiente. Aqueles que buscam apenas a geração de valor econômico, em pou-cos anos, terão dificuldades em sobreviver.

A relação do ser humano com o meio ambiente tem, obrigatoriamente, que se tornar harmoniosa. A mesma é vital no processo de sobrevivência e possibilita reflexões a respeito da capacidade competitiva e da permanência no mercado das indústrias poluidoras, da influência dos acordos internacionais no perfil das empresas e a tendência que começa a aflorar no sentido de direcionar os re-cursos financeiros para projetos que reúnam, além de vantagens econômicas, segurança ambiental.

12United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)13Agenda 21 é um programa de ação para viabilizar a adoção do desenvolvimento sustentável e ambientalmente racional em todos os países. Nesse sentido, o documento da Agenda constitui, fundamentalmente, um roteiro para a implementação de um novo modelo de desenvolvimento que se quer sustentável quanto ao manejo dos recursos naturais e preservação da biodiversidade, equânime e justo tanto nas relações econômicas entre os países como na distribuição da riqueza nacional entre os diferentes segmentos sociais, economicamente eficiente e politicamente participativo e democrático.

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ANOTE

TEMA 3

DIREITO INTERNACIONAL E COMÉRCIO EXTERIOR

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TEMA 3TEMA 3

DIREITO INTERNACIONAL E COMÉRCIO EXTERIOR

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TEMA 3 DIREITO INTERNACIONAL

E COMÉRCIO EXTERIOR

TEMA 3 – DIREITO INTERNACIONAL E COMÉRCIO EXTERIOR

Objetivos do Tema

• Apresentar as linhas gerais do Direito Internacional Privado e dar a conhecer os princípios que regulam a relação internacional entre os Estados;

• Mostrar os pressupostos do Direito Internacional Privado que tenham interferência no Comércio Exterior. São eles: a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro, o conflito de leis e o conflito de jurisdições;

• Dar a conhecer o sistema brasileiro de Direito Internacional Privado na sua relação com o sistema aduaneiro, tarifário, de direito anti-dumping etc.

3.1 INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO

Segundo Costa (2005:196), nos últimos anos, o desenvolvimento das trocas econômicas internacionais gerou uma série de mudanças no cenário do comér-cio internacional. O fenômeno comércio internacional interessa a vários atores. O economista, por exemplo, por meio de suas observações e até mesmo previsões, fornece os dados de base. Já o cientista político, levando em conta os dados for-necidos, determina as metas e os objetivos a serem seguidos. E, por fim, o jurista concretiza os instrumentos legais que servirão de fundamento para as transa-ções internacionais de bens e serviços.

Desta forma, os contratos internacionais são, segundo Strenger (2003:43) fru-to de uma multiplicidade de fatores, envolvendo métodos e sistemas interdisci-plinares, inspirados na economia, na política, no comércio exterior, nas ciências sociais e com muitos frutos colhidos nas relações internacionais.

3.1.1 Direito Internacional Público

É o conjunto de normas que regem as relações dos direitos e deveres cole-tivos, quanto aos tratados, convenções e acordos entre as nações. Também se chama Direito das Gentes.

O Direito Internacional Privado é tido como um ramo do Direito Público, que compreende um conjunto de normas reguladoras das relações entre as nações no tocante à proteção das pessoas, direitos e interesses particulares dos seus nacionais em país estrangeiro e, reciprocamente, dos estrangeiros radicados no país.

Quanto ao Direito Internacional, afirma Alessandro Groppali, que se trata de uma ordem normativa ainda em formação, sendo seus dispositivos desprovi-dos da eficácia que caracteriza as normas estatais. O Direito Internacional não possui outras fontes além dos tratados e do costume. Não são suas normas do-tadas do poder coercitivo que caracteriza a ordem estatal. Enquanto os ramos do Direito Positivo já apresentam certo grau de estabilidade, o Direito Inter-nacional nem codificado se acha, estando impossibilitado, portanto, de atuar coercitivamente.

O Estado totalitário, seguindo as pegadas de Hans Kelsen, considerou como Direito apenas as normas estatais, sendo confrontado pela doutrina corporativis-ta cristã, que afirma a necessidade de o Estado atuar só supletivamente perante

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TEMA 3 DIREITO INTERNACIONAL

E COMÉRCIO EXTERIOR

os indivíduos e as sociedades menores. No contexto desta doutrina, o Estado não seria a única fonte de normas jurídicas.

Na verdade, Estado e Direito são irmãos xifópagos, predestinados a viver uni-dos, sem poderem separar-se. Se, na verdade, a idéia de um direito difuso, es-palhado na comunidade primitiva, representado pelo totem ou mana, entidade espiritual que governaria os destinos da comunidade, pode ser uma hipótese encantadora para explicar a precedência do Direito sobre o Estado, na verdade, quando surge o Estado, tal entidade passa a ser a fonte suprema do Direito, supe-rior em poder e eficácia a todas as outras, embora a existência destas não possa ser negada.

3.1.2 O DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

De acordo com Ledel (2004), para compreender adequadamente o tema , “faz-se necessário, primeiramente, fazer uma análise, ainda que breve, de alguns pontos gerais de Direito Internacional Privado, visando estabelecer o âmbito de aplicação dessa área do direito”.

Assim, segundo José Maria Rossani Garcez, o direito internacional privado, em síntese, pode ser apresentado como o conjunto de normas ou princípios apli-cados ou admitidos por cada Estado, destinadas a regular os direitos, atos ou fa-tos que tenham conexão internacional e se destinem a ter efeitos entre pessoas naturais ou jurídicas privadas ou a entidades públicas ou privadas no exercício de atividades jusprivatistas.

O direito internacional privado, apesar da denominação, é um conjunto de normas de direito público e interno. Interno porque se compõe de normas que cada país adota voluntariamente, como Estado soberano que é. E é direito pú-blico porque consiste em uma das espécies de normas de superdireito, ou so-bredireito, que não disciplinam diretamente o comportamento dos homens em sociedade, mas a aplicação de outras normas.

Quanto ao objeto do direito internacional privado, entende Jacob Dolinger que a disciplina envolve as seguintes matérias: a nacionalidade, a condição jurí-dica do estrangeiro, o conflito de leis e o conflito de jurisdições.

Já para a corrente liderada por Irineu Strenger, a finalidade principal do direi-to internacional privado seria a normatividade selecionadora para a aplicação da lei estrangeira em determinado país e da lei nacional deste país a casos que comportem algum elemento de conexão com mais de uma legislação nacional, algum elemento de estraneidade.

Enfim, as normas de conflito elaboradas pelos Estados soberanos visam facili-tar a aplicação e disciplinar da forma mais adequada o relacionamento interna-cional, oferecendo aos operadores do direito os princípios regulamentares que permitam a aplicação da legislação estrangeira ou nacional a casos que guardem alguma conexão internacional. Com isso busca-se evitar a possibilidade de jul-gamentos contraditórios nos diferentes Estados, capazes de disciplinar a mesma relação social.

As normas de direito internacional privado indicam o direito aplicável às di-versas situações jurídicas conectadas a mais de um sistema legal. Essas normas são constituídas pelos elementos de conexão, que são expressões legais, de con-teúdos variáveis, que têm o efeito de indicar e permitir a determinação do direito ou sistema legal que deve tutelar uma determinada relação jurídica.

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TEMA 3 DIREITO INTERNACIONAL

E COMÉRCIO EXTERIOR

No sistema de direito internacional privado brasileiro, são estes os principais elementos de conexão: a) domicílio; b) nacionalidade; c) residência; d) lugar do nascimento ou falecimento; e) lugar da constituição da pessoa jurídica; f ) lugar da situação do bem; g) lugar da constituição ou execução da obrigação; h) lugar em que se encontre o proponente do contrato; i) lugar da prática do ato ilícito.

Assim, observa-se que apesar de existir o princípio de que as leis não valem ou não produzem efeitos ultraterritorialmente, na verdade ele é mitigado, pois vários são os ordenamentos jurídicos que inserem normas e mecanismos rela-tivos ao seu direito internacional privado , propiciando formas de aplicação em seu território da legislação estrangeira e estabelecendo critérios para que suas leis também possam aplicar-se em outros países, quando for o caso., de acordo com Daiana Vasconcellos.

3.2 ATOS INTERNACIONAIS

Segundo definiu a Convenção de Viena do Direito dos Tratados, de 1969, em seu artigo 2, alínea a, tratado internacional é “um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um ins-trumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica” .

No Brasil, o Ato internacional necessita, para a sua conclusão, da colaboração dos Poderes Executivo e Legislativo. Segundo a vigente Constituição Brasileira, celebrar tratados, convenções e atos internacionais é competência privativa do Presidente da República (art. 84, inciso VIII), embora estejam sujeitos ao referen-do do Congresso Nacional, a quem cabe, ademais, resolver definitivamente sobre tratados, acordos e atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional (art. 49, inciso I). Portanto, embora o Presidente da República seja o titular da dinâmica das relações internacionais, cabendo-lhe decidir tanto sobre a conveniência de iniciar negociações, como a de ratificar o ato internacional já concluído, a interveniência do Poder Legislativo, sob a forma de aprovação congressual, é, via de regra, necessária.

A tradição constitucional brasileira não concede o direito de concluir tratados aos Estados-membros da Federação. Nessa linha, a atual Constituição diz compe-tir à União, “manter relações com Estados estrangeiros e participar de organiza-ções internacionais” (art. 21, inciso I). Por tal razão, qualquer acordo que um Esta-do federado ou Município deseje concluir com Estado estrangeiro, ou Unidade dos mesmos que possua poder de concluir tratados, deverá ser feito pela União, com a intermediação do Ministério das Relações Exteriores, decorrente de sua própria competência legal.

Cabe registrar, finalmente, que, na prática de muitos Estados, vicejou, por vá-rias razões, o costume de concluir certos tratados sem aprovação legislativa.

Eles passaram a ser conhecidos como acordos em forma simplificada ou acor-dos do Executivo. As Constituições brasileiras, inclusive a vigente, desconhecem tal expediente.

3.3 SISTEMA BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Existem estudos na área do Direito Internacional, abrangendo tópicos foca-dos nas áreas de comércio exterior e suas atividades complementares (câmbio, seguros, financiamentos, tributação, etc).

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TEMA 3 DIREITO INTERNACIONAL

E COMÉRCIO EXTERIOR

Assim, o estudo de Introdução ao Direito Aduaneiro, produzido por Leonar-do Correia Lima Macedo, Auditor Fiscal da Receita Federal, se nos afigura como instrumento esclarecedor e de apoio no entendimento do Direito Internacional aplicável à matéria.

Devido às especificidades de princípios e normas relativas ao comércio exte-rior, alguns autores argumentam sobre a existência de um Direito Aduaneiro.

3.3.1 Conceituação do Direito Aduaneiro

Vejamos como o conceitua José Lence Carluci: “Na esteira de Idelfonso Sán-chez González podemos conceituar o Direito Aduaneiro como o conjunto de nor-mas e princípios que disciplinam juridicamente a política aduaneira, entendida esta como a intervenção pública no intercâmbio internacional de mercadorias e que constitui um sistema de controle e de limitações com fins públicos”.

3.3.2 Objetivo do Direito Aduaneiro

O objetivo deste ramo do Direito seria disciplinar os controles de ingressos e saídas de veículos, pessoas e mercadorias, em harmonia com os tratados inter-nacionais e, ainda, atender aos interesses pátrios de intervenção na política de comércio exterior.

Juridicamente, seria composto pelo conjunto de normas internas aplicáveis às importações e exportações, assim como pelos tratados internacionais sobre comércio exterior. Neste sentido, apresenta uma ambivalência entre normas in-ternas e internacionais.

Roosevelt Baldomir Sosa, citando Eduardo Raposo de Medeiros, lembra: “Uma questão está fora de dúvida: o Direito Aduaneiro não tem nada a ver com o Direito Fiscal, quer pelo seu próprio contorno conceitual, quer pela es-pecificidade da ação em função dos regimes mais diversos devido a espaços econômicos, aos tipos de acordos internacionais, a procedimentos normalizados ou simpli-ficados de facilitação do comércio externo, a suportes documentais de decla-ração das mercadorias, etc. Por outras palavras, o Direito Aduaneiro tem particu-laridades técnicas e econômicas susceptíveis de considerar os seus mecanismos jurídicos de intervenção no comércio internacional, como um conjunto à parte, com uma técnica e originalidades independentes do Direito Fiscal, e com uma terminologia própria. Daí espraiar-se pela nomenclatura pautal em conexão com questões da taxação em eventuais alternativas de aplicação dos regimes geral ou preferencial, passando pelos regimes suspensivos de conteúdo econômico das mercadorias e regime aduaneiro dos meios de transporte, e terminando no contencioso aduaneiro”.

Diante do exposto, fica claro que os direitos exercidos por um país na política de comércio exterior são, na maioria das vezes, direitos aduaneiros. É o caso, por exemplo, dos direitos antidumping e compensatório.

Supondo a existência de tal ramo do direito, devemos delimitar suas vertentes.

Ainda segundo Roosevelt, as vertentes que contribuem para a formação do Di-reito Aduaneiro seriam: “Direito Interno: Regime legal das operações de Comér-cio Exterior (controle administrativo); Regime cambiário sobre pagamentos e

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TEMA 3 DIREITO INTERNACIONAL

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recebimentos das operações de Comércio Exterior (controle do valor aduaneiro); Regimes fiscal e de controle aduaneiro sobre pessoas que demandam ou saem do território aduaneiro e, principalmente, sobre os fluxos de transporte e de mer-cadorias, objeto de operações de Comércio Exterior, inclusive ingressos tempo-rários; Regime legal de combate às contravenções em matérias alfandegária e penal”.

3.4 DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO ADUANEIRO

Fazem parte do Direito Internacional os acordos sobre tarifação ou tributação das mercadorias, objeto do comércio exterior, os acordos sobre certificação de origem das mercadorias, os acordos sobre valoração de mercadorias, os acordos sobre classificação de mercadorias e os acordos de cooperação internacional em matéria aduaneira.

Devido à sua forte característica internacional, o Direito Aduaneiro tem uma tendência natural de universalizar-se, ou seja, de produzir normas, cujo principal objetivo seja harmonizar procedimentos em nível mundial do comércio exte-rior.

No Brasil, tal ramo do direito não é reconhecido como autônomo e para muitos é considerado um sub-ramo do Direito Tributário. Este não reconhecimento leva a um conflito de competências (Ministério da Fazenda, Ministério do Desenvolvi-mento, Indústria e Comércio Exterior e Ministério das Relações Exteriores), o que contribui para a ineficácia de políticas no setor.

Independentemente do reconhecimento, no Brasil, da existência do direito aduaneiro como um ramo autônomo, existem poucos profissionais qualificados para assuntos aduaneiros.

Na imensa maioria dos casos, os profissionais que atuam no setor são especia-listas em outras áreas, dificultando excessivamente o entendimento das regras de comércio exterior e, principalmente, da problemática aduaneira.

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ANOTE

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BLOCOS ECONÔMICOS E ORGANISMOS REGIONAIS

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TEMA 4 BLOCOS ECONÔMICOS EORGANISMOS REGIONAIS

TEMA 4 – BLOCOS ECONÔMICOS E ORGANISMOS REGIONAIS

Objetivos do Tema

• Oferecer a oportunidade de conhecer os diversos blocos econômicos regio-nais existentes no mundo, suas finalidades, seus participantes e seus obje-tivos;

• Dar a conhecer os principais debates levantados na opinião pública que mexem com a política de sustentação destes blocos.

4.1 BLOCOS ECONÕMICOS

Os blocos econômicos foram criados com a finalidade de desenvolver o co-mércio de terminada região, segundo Maia (1999:117). Para alcançar esse objeti-vo, eliminam as barreiras alfandegárias, o que torna o custo do produtos menor.

Este tipo de integração regional visa criar melhor poder de compra dentro do bloco econômico, melhorando o nível de vida de sua população. Assim, como os mercados domésticos passam a ser disputados também por empresas dos outros países, membros do bloco, cresce a concorrência, o que acaba implicando em uma melhoria na qualidade dos produtos e redução nos custos de produ-ção.

Desta forma, com a economia mundial globalizada, a tendência comercial é a formação de blocos econômicos por todo o mundo. Adotam redução ou isen-ção de impostos ou de tarifas alfandegárias e buscam soluções em comum para problemas comerciais. Em tese, o comércio entre os países constituintes de um bloco econômico aumenta e gera crescimento econômico para os países.

Geralmente estes blocos são formados por países vizinhos ou que possuem afinidades culturais ou comerciais.

Esta é a nova tendência mundial pois, cada vez mais, o comércio entre blocos econômicos cresce. Economistas afirmam que ficar de fora de um bloco econô-mico é viver isolado do mundo comercial.

Segundo Balassa (1964:13), cinco são as fases para a constituição de um bloco econômico, que podem evoluir até atingir a integração total:

• Zona de Livre Comércio

Sistema no qual as tarifas alfandegárias são zero para os países que integram uma zona de livre comércio, embora cada país tenha um nível diferente de tarifas para os países externos ao acordo de livre comércio.

Cada país-membro mantém a ampla liberdade no que se refere à sua política interna, bem como no tocante à política comercial com os países não associados.

• União Aduaneira

Também conhecida como União Alfandegária, é um acordo entre dois ou mais países que visa a eliminação das barreiras alfandegárias, estabelecendo uma tarifa comum externa em relação aos países não-membros. O acordo, em

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TEMA 4 BLOCOS ECONÔMICOS EORGANISMOS REGIONAIS

geral, abrange taxas de importação e exportação e quaisquer encargos ou cotas que tendem a restringir o comércio. Este tipo de integração pode limitar-se a um grupo de produtos, como ferro e aço, ou constituir uma integração econômica completa, tal como existia no Mercado Comum Europeu.

• Mercado Comum

O Mercado Comum é um tipo de integração econômica que vai além do que estabelece a União Aduaneira, não admitindo restrições aos fatores de produção, isto é, capital e trabalho.

• União Econômica

Extensão do Mercado Comum, a União Econômica procura harmonizar as po-líticas econômicas nacionais. Assim, os países membros mudam suas legislações, para torna-las coerentes com os princípios estabelecidos neste tipo de bloco econômico.

• Integração Econômica Total

Neste estágio, os países componentes do bloco concordam com as condi-ções estabelecidas na união econômica e vão além. Adotam uma política mo-netária comum.

Os países membros passam a adotar, também, uma política monetária, fiscal, social e anticíclica uniforme, bem como delega-se a uma autoridade supra-na-cional poderes para elaborar e aplicar essas políticas. As decisões dessa autori-dade devem ser acatadas por todos os Estados-Membros.

4.2 PRINCIPAIS BLOCOS ECONÔMICOS

4.2.1 UNIÃO EUROPÉIA (UE)

Dentre os blocos econômicos formados, destacamos em primeiro lugar, a União Européia (UE). É um bloco econômico, político e social de 25 países euro-peus que participam de um projeto de integração política e econômica.

4.2.1.1 Países participantes

Os países integrantes desse bloco, atualmente, são: Alemanha, Áustria, Bélgi-ca, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos (Holanda), Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa e Suécia.

Estes países são politicamente democráticos, com um Estado de Direito. Ob-serva-se que a maioria dos dez últimos países que aderiram ao bloco, foram pa-íses comunistas. Com o total de 25 países, em 2004 o bloco passou a ter uma população de 455 milhões de habitantes e um PIB de US$ 12,56 trilhões.

4.2.1.2 Tratados que definiram a constituição jurídica, política e econômica da UE

Os tratados que definem a União Européia são: o Tratado da Comunidade Eu-ropéia do Carvão e do Aço (CECA), o Tratado da Comunidade Econômica Euro-péia (CEE), o Tratado da Comunidade Européia da Energia Atômica (EURATOM) e o Tratado da União Européia (UE), conhecido também pelo nome de Tratado

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TEMA 4 BLOCOS ECONÔMICOS EORGANISMOS REGIONAIS

de Maastricht. Este tratado, assinado em 7 de fevereiro de 1992 na cidade ho-landesa de Maastricht, estabelece os fundamentos da integração política, que é sustentada por três pilares: o mercado único constituído pela União Econômica e Monetária e mais dois pilares inter-governamentais constituídos pela Política Externa e Segurança Comum (PESC) e Justiça e Assuntos Internos (JAI).

4.2.1.3 Instituições básicas da União Européia

A União Européia não é uma federação, nem é uma organização de coope-ração entre governos como as Nações Unidas. Possui, de fato, um caráter único. Seus Estados membros congregaram as suas soberanias em algumas áreas para ganharem uma força e uma influência no mundo que não poderiam obter isola-damente.

Entenda-se por congregação de soberanias o fato de os Estados membrosde-legarem alguns de seus poderes a instituições comuns que criaram, de modo a assegurar que assuntos de interesse comum possam ser decididos democratica-mente no âmbito da Comunidade Européia.

Desta forma, para alcançar seus objetivos, a União Européia conta com três instituições básicas:

• O Parlamento Europeu;

O Parlamento possui três funções principais: partilha o poder legislativo com o Conselho; exerce o controle democrático de todas as instituições da União Européia, especialmente da Comissão; e partilha com o Conselho, a autoridade sobre o orçamento da União Européia, o que significa que pode influenciar as despesas relativas ao bloco.

O Parlamento Europeu tem sedes na França, na Bélgica e em Luxemburgo.

• A Comissão Européia;

É o órgão executivo da União Européia. A Comissão é a instituição politica-mente independente que representa e salvaguarda os interesses da União Eu-ropéia. Ela é a força impulsionadora do sistema institucional: propõe legislação, políticas, programas de ação e é responsável pela execução das decisões do Par-lamento e do Conselho.

• O Conselho da União Européia,

O Conselho é o principal órgão de tomada de decisões da União Européia, tendo sido instituído através dos tratados de fundação da década de 1950-1960. Representa os Estados membros e, nas suas reuniões participa um ministro do governo nacional de cada um dos países do bloco. A decisão de qual o ministro que irá participar depende do tema a ser tratado.

4.2.1.4 A Moeda única: o euro

Com o propósito de unificação monetária e facilitação do comércio entre os países membros, a União Européia adotou o euro como moeda única. A partir de janeiro de 2002, doze países ou Estados-membros, dentre os 15 que então a constituíam, adotaram o Euro para livre circulação. Esses países são: Alemanha,

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TEMA 4 BLOCOS ECONÔMICOS EORGANISMOS REGIONAIS

Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália Luxemburgo, Pa-íses Baixos e Portugal. Grã-Bretanha, Suécia e Dinamarca ficaram de fora da zona do euro por opção política.

4.2.1.5 Objetivos da União Européia

Os objetivos prioritários da União Européia são:

• Promover a unidade política e econômica da Europa;

• Melhorar as condições de vida e de trabalho dos cidadãos europeus;

• Melhorar as condições de livre comércio entre os países-membros;

• Reduzir as desigualdades sociais e econômicas entre as regiões;

• Fomentar o desenvolvimento econômico dos países em fase de crescimento;

• Proporcionar um ambiente de paz, de harmonia e de equilíbrio na Europa.

4.2.2 MERCADO COMUM DO SUL - MERCOSUL

O Mercado Comum do Sul ou Mercado Comum do Cone Sul, também co-nhecido de forma simplificada como MERCOSUL , foi instituído pelo Tratado de Assunção, assinado em 26.03.91, pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com o objetivo de promover o desenvolvimento dos quatro países mediante a confor-mação de um espaço econômico ampliado e, por via de conseqüência, de uma inserção mais competitiva na economia internacional.

A concepção do bloco evoluiu a partir do programa de aproximação econô-mica entre Brasil e Argentina de meados dos anos 80 e tem dois grandes pilares: a democratização política e a liberalização econômico-comercial.

4.2.2.1 A base legal do MERCOSUL

A base legal do MERCOSUL no Brasil está contida nos seguintes diplomas legais:

• Decreto nº 350, de 21.11.91, que promulga o Tratado de Assunção.

• Decreto nº 922, de 10.09.93, que promulga o Protocolo de Brasília, assinado em 17.12.91, que estabelece as distintas etapas e procedimentos para a solu-ção de controvérsias no MERCOSUL.

• Decreto nº 1.901, de 09.05.96, que promulga o Protocolo de Ouro Preto, assi-nado em 17.12.94, que definiu a estrutura institucional do MERCOSUL e con-feriu ao MERCOSUL personalidade jurídica de Direito Internacional.

4.2.2.2 Objetivo do MERCOSUL

O objetivo principal do MERCOSUL é a constituição de um Mercado Comum entre os países integrantes e, para tanto, se preocupa com:

a) eliminação de barreiras tarifárias e não-tarifárias no comércio entre os países membros;

b) adoção de uma Tarifa Externa Comum (TEC);

A Tarifa Externa Comum (TEC) é o pilar da União Aduaneira. A TEC, composta das alíquotas de importação e da Nomenclatura Comum do MERCOSUL - NCM foi implantada pelos Estados-Partes, a partir de 01.01.95.

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Em função da TEC, todos os produtos importados de países não-participantes do MERCOSUL, estão sujeitos à mesma alíquota de imposto de importação ao serem internalizados em qualquer dos Estados-Partes.

c) coordenação de políticas macroeconômicas;

d) livre comércio de serviços;

e) livre circulação de mão-de-obra;

f ) livre circulação de capitais.

4.2.2.3 Procedimentos indispensáveis à Exportação

A empresa que quiser exportar para o MERCOSUL deve verificar a classificação tarifária da sua mercadoria (NCM) e se esta consta da lista do Regime de Adequa-ção do país de destino, para conhecer a alíquota a ser aplicada. A empresa deve fazer essa consulta porque, em princípio, todos os participantes da área podem importar e exportar entre si sem gravames tarifários. Só os produtos constantes da lista do Regime de Adequação é que são tarifados. Daí a necessidade do exa-me prévio.

O Registro de Exportação, que é um documento básico de exportação, deverá conter o Código do Acordo de Complementação Econômica nº. 18 (ACE 18), que poderá ser verificado na tabela do SISCOMEX.

Finalmente, o exportador deverá providenciar o Certificado de Origem a ser enviado ao importador, emitido por entidades de classe privadas, que tenham jurisdição federal ou estadual, relacionadas na Portaria Interministerial MF-MICT-MRE nº. 11, de 21.01.97. Esse documento comprova que a mercadoria foi produ-zida no país de origem, integrante do bloco econômico.

4.2.2.4 Estrutura do Mercosul

• Conselho do Mercado Comum

Órgão superior do bloco, formado pelos ministros de Economia e Relações Exteriores que trata da condução do processo de integração e dos acordos com outros países, organismos e blocos econômicos.

• Grupo do Mercado Comum

Órgão executivo do Mercosul, formado por técnicos e especialistas em inte-gração. Suas funções são as de propor projetos de decisão do Mercado Comum e fixar programas de trabalho que garantam avanços.

• Comissão de Comércio do Mercosul

Órgão de assistência do Grupo do Mercado Comum, com o objetivo de cuidar da aplicação dos instrumentos de política comercial.

• Comissão Parlamentar Conjunta

Órgão representativo dos Parlamentos dos países do Mercosul.

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TEMA 4 BLOCOS ECONÔMICOS EORGANISMOS REGIONAIS

• Foro Consultivo Econômico-Social

Órgão representativo dos setores econômicos, sociais, integrado por entida-des empresariais e trabalhistas.

• Secretaria Administrativa do Mercosul

Órgão de apoio operacional, responsável pela prestação de serviços aos de-mais órgãos do bloco, fornecendo documentos e publicações das decisões to-madas no Mercosul.

4.2.2.5 O Mercosul e a consolidação da zona de livre comércio

No ano de 1997, o MERCOSUL deu continuidade aos esforços para a consoli-dação da zona de livre comércio e para o aprofundamento da união aduaneira. Nesse sentido, tentando melhor aproximação internacional, quer seja com blo-cos econômicos, quer seja com países, o MERCOSUL avançou na discussão de diversos temas, com destaque para:

a) código aduaneiro e gestão aduaneira;

b) circulação intra-zona de mercadorias sujeitas ao pagamento de Tarifa Externa Comum (TEC);

c) medidas e restrições não-tarifárias;

d) regulamentos técnicos;

e) regime automotor.

f ) regime açucareiro. regime de adequação.

g) anti-dumping e subsídios

h) defesa do consumidor.

i) políticas públicas que distorcem a competitividade.

j) regimes especiais de importação.

k) compras governamentais.

l) serviços;

m) propriedade intelectual.

4.2.2.6 Relacionamento externo do MERCOSUL

O MERCOSUL é pessoa jurídica de direito internacional. Assim, o bloco coor-dena a atuação das delegações dos governos dos Estados-Partes nos distintos foros econômico-comerciais internacionais, bem como instrui as respectivas representações permanentes em organismos econômicos internacionais para a coordenação de posições e atuação conjunta em temas relacionados com a política comercial comum da União Aduaneira.

4.2.2.7 Regime de Origem para o Comércio Intra-MERCOSUL

Para que o produto brasileiro circule livre de tarifa de importação dentro do MERCOSUL deve preencher determinados requisitos para ser considerado originário de um dos Estados-Partes, e, para tanto, deve estar acompanhado do Certificado de Origem do MERCOSUL.

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De acordo com o estabelecido no Regulamento de Origem do MERCOSUL, as mercadorias que tiverem que cumprir com o índice de nacionalização deverão observar o percentual de 60%. Este cálculo é feito considerando que o preço CIF dos materiais importados não deve exceder 40% do preço FOB de exportação da mercadoria.

As mercadorias dos setores químico e siderúrgico, de informática e de teleco-municações, deverão cumprir os requisitos específicos previstos no ACE nº. 18.

4.2.2.8 Como Solucionar Dificuldades

O exportador brasileiro que se sentir prejudicado por alguma restrição im-posta à sua mercadoria por parte de qualquer país-membro, deverá dar conhe-cimento de suas dificuldades, entre outros, ao Departamento de Negociações In-ternacionais da SECEX14 que submeterá o assunto à Seção Nacional da Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM), para exame.

À parte destas colocações, cabe ressaltar, conforme descreve Ratti (2001:498), que a mudança do regime cambial brasileiro, com a desvalorização do real frente ao dólar, em 15/01/1999, contribuiu para o surgimento de uma crise no Mercosul.

Com a desvalorização os preços dos produtos exportáveis brasileiros torna-ram-se mais baratos em termos de dólar, causando preocupações na Argentina com a possibilidade de uma “invasão” de produtos brasileiros. Pressionadas por setores que se sentiram prejudicados, as autoridades argentinas adotaram uma série de medidas protecionistas. Surgiram restrições contra vários produtos bra-sileiros: tecidos, calçados, papel, produtos siderúrgicos, frango e açúcar.

4.2.3 NAFTA - ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO DA AMÉRICA DO NORTE

O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (North American Free Trade Agreement – NAFTA) teve início em 1988 com a participação dos EUA e Canadá. Os dois países firmaram Acordo de Liberalização Econômica tendo sido criada uma zona de livre comércio entre os países- membro. O acordo foi assinado em 1991. O México aderiu ao bloco em 13 de agosto de 1992.

Este projeto entrou em vigor em 01 de janeiro de 1994 tendo sido acertado um prazo de 15 anos para a total eliminação das barreiras alfandegárias entre os três países-membros, ficando facultada, a todos os Estados da América Central e do Sul, a livre adesão ao bloco.

4.2.3.1 Objetivos do NAFTA

O Acordo NAFTA visa promover a adequada e efetiva proteção aos direitos de propriedade intelectual, estabelecer mecanismos para solução de controvérsias e fomentar uma rede trilateral e regional de cooperação na expansão dos bene-fícios conseguidos com o acordo.

Na opinião de Manoel Ruiz, “o NAFTA obteve bons resultados com o comércio regional no hemisfério norte do Continente Americano, sendo um projeto para fazer frente à Comunidade Européia, e para ajudar a enfrentar a concorrência representada pela economia japonesa e pelo bloco econômico europeu.”

De acordo com os dados publicados por esse autor, em novembro de 2005, “a

14Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

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população do NAFTA abriga uma população de 417.600.000 de habitantes, com um PIB superior a US$ 11 trilhões, o qual gera US$ 1,5 trilhão em exportações e US$ 1,8 trilhão em importações. O acordo estabelece a livre circulação de merca-dorias e serviços entre os países-membros, com a eliminação das barreiras legais e das tarifas alfandegárias, limitadas somente à área comercial. O objetivo é am-pliar os horizontes de mercado dos países-membros e maximizar a produtivida-de interna de cada país. O NAFTA não pretende a unificação total das economias dos países-membros, ao contrário da União Européia.”

4.2.3.2 Desnível sócio-econômico entre os membros

O NAFTA – diz ainda Manoel Ruiz - gerou muita polêmica em relação à dife-rença socioeconômica entre o (México) e (EUA e Canadá) e enfrenta grande resis-tência para consenso em alguns acordos, pois o México por ser o país mais pobre, com a menor renda per capita, maior índice de analfabetismo e menor expecta-tiva de vida entre os países-membros, pode oferecer mão-de- obra mais barata e aumentar a imigração mexicana, tudo isso preocupa os EUA e Canadá. Por outro lado, o México está preocupado com o intercâmbio tecnológico, automatização e a robotização da sua indústria, que poderia aumentar o desemprego, e ainda com uma economia mais fraca não teria condições de competir com o restante do bloco.

4.2.4 Associação Latino-Americana de Integração - ALADI

A Associação Latino-Americana de Integração - ALADI - foi instituída pelo Tra-tado de Montevidéu, em 12.08.80, para dar continuidade ao processo de integra-ção econômica iniciado, em 1960, pela Associação Latino-Americana de Livre Co-mércio - ALALC. Este processo visa à implantação, de forma gradual e progressiva, de um mercado comum latino-americano, caracterizado, principalmente, pela adoção de preferências tarifárias e pela eliminação de restrições não-tarifárias.

4.2.4.1 Membros-participantes divididos em três categorias

A ALADI reúne doze países classificados em três categorias, de acordo com suas características econômico-estruturais:

• Países de Menor Desenvolvimento Econômico Relativo (PMDER): Bolívia, Equador e Paraguai

• Países de Desenvolvimento Intermediário (PDI): Chile,Colômbia, Peru, Uru-guai e Venezuela.

• Demais países: Argentina, Brasil e México

4.2.4.2 Tipos de Acordo no Âmbito da ALADI

Os Acordos podem ser de Alcance Parcial ou Regional, diferindo entre si pela totalidade ou não de signatários entre os países-membros da Associação.

Os Acordos de Alcance Parcial – (AAP) , são aqueles que não contam com a participação da totalidade dos países-membros da ALADI, sendo utilizados para aprofundar o processo de integração regional, através de sua progressiva multi-lateralização.

Para exportar para algum país da ALADI, a empresa deve verificar se o produto

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em questão é objeto de preferência em algum Acordo firmado com o Brasil e seu respectivo código (os códigos constam de tabela existente no SISCOMEX). Deve verificar também se o produto em questão se encontra negociado, assim como sua respectiva classificação em NALADI/SH15 (classificação tarifária da ALADI). Por fim, deve providenciar a emissão do Certificado de Origem junto a uma das entidades credenciadas e enviá-lo ao importador. Em caso de dúvida quanto à classificação, contatar a Secretaria da Receita Federal de sua região.

4.2.4.3 Certificado De Origem

O Certificado de Origem é emitido pelas Federações de Comércio, Indústria e Agricultura e algumas Associações Comerciais, habilitadas, junto à ALADI, para tal fim.

4.2.4.4 Regime de origem da ALADI x MERCOSUL

O Regime de Origem da ALADI é mais flexível que o do MERCOSUL, pois per-mite que os produtos tenham 50%, no mínimo, de conteúdo nacional para todos os países, exceto para os de menor desenvolvimento econômico, que poderão ter 40%.

No Regime de Origem do MERCOSUL é necessário que o produto apresente 60% de conteúdo regional.

4.2.4.5 Convênio de Créditos Recíprocos – ALADI

Em 1965 foi subscrito pelo Brasil, na cidade de México, México, o Acordo Geral de Créditos Recíprocos, o CCR, com vistas a estimular a cooperação financeira La-tino-Americana, facilitar e expandir o comércio regional de bens e serviços, redu-zir as transferências de divisas entre os Bancos Centrais dos países convenentes.

Na verdade tal convênio veio suprir a falta de moeda forte, o dólar americano, pois a moeda, embora grafada em dólares é escritural e não desembolsada no momento em que a operação é liquidada.

Esses convênios se destinam ao registro de pagamentos correspondentes a operações diretas de qualquer natureza que se efetuem entre o Brasil e aqueles países conveniados, com reembolso através do Banco Central.

Entretanto, a operação só é considerada segura se tiver uma garantia bancá-ria. Uma exportação em cobrança não oferece a garantia dada pelo Convênio embora transitada dentro do mesmo, mas sem a garantia bancária. Ocorre que os Bancos Centrais garantem os bancos conveniados, o que não acontece com outras empresas não financeiras.

4.2.5 Comunidade Andina (CAN)

É uma organização sub-regional com personalidade jurídica internacional composta por Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.

O principal objetivo da CAN é contribuir para o desenvolvimento da região

15Em 1985, o Comitê de Representantes da ALADI adotou a Nomenclatura Aduaneira da Associação Latino-Americana de Integração (NALADI), como base comum dos Acordos. A NALADI foi criada utilizando a Nomenclatura do Conselho de Cooperação Aduaneira (NCCA). Era a NALADI/NCCA, que continha 7 dígitos. Posteriormente, o Sistema NCCA foi substituído pelo Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (SH), aprovado pelo Conselho de Cooperação Aduaneira, com o objetivo de atender a todos os segmentos do comércio, como instrumento fiscal ou gerador de dados para estatísticas de produção, comércio exterior e transporte, além de facilitar a compatibilização de estatísticas internacionais e simplificar as negociações bilaterais e multilaterais.

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mediante a integração econômica e social dos países membros e a gradual for-mação de um mercado comum latino-americano.

4.2.6 Mercado Comum do Caribe (CARICOM)

Pelo tratado assinado em 30/04/1968 foi constituída a Associação de Livre Comércio do Caribe, mais conhecida por CARIFTA (Caribbean Free Trade Associa-tion). Era composta de quatro países (Barbados, Guiana, Jamaica e Trinidad-Toba-go) e sete territórios (Antígua, Dominica, Granada, Montserrat, San Kitts-Nevis-Anguilla, Santa Lúcia e São Vicente). Em 01/05/1971, houve a adesão de Belize (antiga Honduras Britânicas).

A Associação foi formada com o objetivo de expandir e diversificar o comércio intrazonal através da eliminação das barreiras aduaneiras, bem como promover o desenvolvimento equilibrado e progressivo das economias da área.

Em 04/07/1973, Barbados, Guiana, Jamaica e Trinidad-Tobago firmam o trata-do que criava o Mercado Comum do Caribe ou CARICOM (Caribbean Common Market), em substituição à CARIFTA.

4.2.5 Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC)

A APEC (Asia-Pacific Economic Cooperation) foi criada no ano de 1989 na Aus-trália, inicialmente apenas como um fórum de conversações informais entre os países membros da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) e seus parceiros econômicos da região do Pacífico, como EUA e Japão. Porém, só no ano de 1993 adquiriu características de um bloco econômico na Conferência de Seattle (Estados Unidos), quando os membros se comprometeram a transformar o Pacífico em uma área de livre comércio.

4.2.5.1 Por que foi criada a APEC

A criação da APEC surgiu em decorrência de um intenso desenvolvimento econômico ocorrido na região da Ásia e do Pacífico, propiciando uma abertu-ra de mercado entre 22 países mais Hong Kong (China), além da transforma-ção da área do sudeste asiático em uma área de livre comércio nos anos que antecederam a criação da APEC, causando um grande impacto na economia mundial. Um aspecto estratégico da aliança, é aproximar a economia norte-americana dos países do Pacífico, a para contrabalançar com as economias do Japão e de Hong Kong.

4.2.5.2 Aspectos positivos da Apec

Entre os aspectos positivos da criação da APEC estão o desenvolvimento das economias dos países-membros que expandiram seus mercados, sendo que hoje em dia, além de produzirem sua mercadoria, correspondem a 46% das ex-portações mundiais, além da aproximação entre a economia norte- americana e os países do Pacífico e do crescimento da Austrália como exportadora de maté-rias-primas para outros países membros do bloco.

Como aspecto negativo, pode-se salientar que um dos maiores problemas da APEC, senão o maior, é a grande dificuldade em fazer coincidir os diferentes in-teresses dos países-membros e daqueles que estão ligados ao bloco, como Peru, Nova Zelândia, Filipinas e Canadá.

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O bloco reúne uma população de 2.559,3 milhões de habitantes, alcançando um PIB de US$ 18,6 trilhões, exportações no valor de US$ 2,9 trilhões e importa-ções de US$ 3,1 trilhões.

4.2.5.3 Países-membros da APEC

Os países-membros da APEC são: Austrália, Brunei, Canadá, Darussalam, Cana-dá, Indonésia, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Cingapura, Coréia do Sul, Tailândia e Estados Unidos, desde 1989; China, Hong Kong e Formosa (Taiwan), desde 1991; México e Papua-Nova Guiné, desde 1993; Chile, a partir de 1994; e Peru, Rússia e Vietnã, a partir de 1998.

4.2.6 Área de Livre Comércio das Américas (ALCA)

A Cúpula de Miami, também chamada Cúpula das Américas, realizou-se de 9 a 11 de dezembro de 1994, em Miami, Estados Unidos. Reuniu chefes de Estado e de Governo de trinta e quatro países de todas as Américas que tomaram a iniciativa de criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Na deno-minação original ela é conhecida como FTAA (Free Trade Área of the Américas).

4.2.6.1 Países que fazem parte da ALCA

A ALCA é composta por 34 países: Antígua e Barbuda, Argentina, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Chile, Domini-ca, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Grenada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Do-minicana, St. Kittis e Nevis, Santa Lucia, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai, e Venezuela. Atualmente o Brasil detém a Pre-sidência e, o Equador, a Vice-Presidência. O único país que não participa da ALCA é Cuba.

4.2.6.2 Evolução estrutural e negocial da ALCA

Na Primeira Reunião Ministerial sobre Comércio, realizada em Denver, EUA, em 30.6.95, foram constituídos sete Grupos de Trabalho: acesso a mercados; direi-tos aduaneiros e regras de origem; investimentos; normas e barreiras técnicas ao comércio; medidas sanitárias e fitossanitárias; subsídios; e economias menores. Esses grupos tinham o objetivo de iniciar um programa de trabalho para pre-parar o início das negociações da ALCA, na qual as barreiras ao comércio e aos investimentos seriam eliminadas progressivamente, o mais tardar até 2005, ano em que as negociações seriam concluídas.

Na Segunda Reunião Ministerial sobre Comércio, realizada em março de 1996, em Cartagena, Colômbia, criaram-se mais quatro grupos de trabalho serviços, compras governamentais, defesa da concorrência e direitos de propriedade in-telectual.

Esses grupos de trabalho realizaram reuniões ao longo de 1995, 1996 e 1997. O Banco Central do Brasil participou do Grupo de Trabalho sobre Investimentos (GTI) e do Grupo de Trabalho sobre Serviços (GTS).

Na Quarta Reunião Ministerial sobre Comércio, realizada em março de 1998, em São José da Costa Rica, foram definidos os seguintes aspectos sobre as nego-ciações da Alca:

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a) início formal em abril de 1998.

b) o acordo final será equilibrado, abrangente, congruente com a OMC e constitui-rá um compromisso único. Serão levadas em conta as necessidades, as condi-ções econômicas e as oportunidades das economias menores. As negociações serão transparentes e se basearão no consenso para a tomada de decisões.

c) a ALCA pode coexistir com acordos bilaterais e sub-regionais. As negociações deveriam estar concluídas , no mais tardar, no ano de 2005. Motivos políticos e econômicos não permitiram que as negociações fossem concluídas.

Com as eleições majoritárias que ocorrerão no Brasil em 2006 (Presidência da República e Governo dos Estados Federados) dificilmente as negociações serão concluídas. A agenda será doméstica e política.

A estrutura institucional para as negociações será composta por: um Comitê de Negociações Comerciais (CNC) no nível de Vice-Ministros; nove grupos de ne-gociação: acesso a mercados; investimentos; serviços; compras governamentais; solução de controvérsias; agricultura; direitos de propriedade intelectual; subsí-dios, anti-dumping e medidas compensatórias; e políticas de concorrência.

4.2.6.3 A ALCA hoje

A alínea c) acima inserida é suficiente para comprovar o estado inercial em que se encontram os trabalhos para implementação da ALCA. Nada foi concluí-do. Outros assuntos estão tomando a agenda das nações envolvidas e o assunto ALCA foi colocado em segundo plano . Entretanto, para o bem ou para o mal, o acordo será alcançado. Só não se sabe quando.

4.3 ORGANISMOS INTERNACIONAIS

4.3.1 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

O PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - tem como objetivo central o combate à pobreza. Em resposta ao compromisso dos líde-res mundiais de atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), o PNUD adota uma estratégia integrada, sempre respeitando as especificidades de cada país. Seus objetivos estão voltados, em primeiro lugar, para a promoção da governabilidade democrática e para o apoio à implantação de políticas públicas e ao desenvolvimento local integrado, para a prevenção de crises e recuperação de países devastados, assim como para a utilização sustentável da energia e do meio ambiente. Mas trabalha também pela disseminação da tecnologia da in-formação e da comunicação em prol da inclusão digital, e ainda na luta contra o HIV/AIDS. O PNUD é uma instituição multilateral e uma rede global presente hoje em 166 países, pois está consciente de que nenhuma nação pode gerir sozinha a crescente agenda de temas do desenvolvimento.

Advogado das mudanças necessárias para a sustentabilidade do planeta e de melhores condições de vida dos povos, o PNUD conecta países a conhecimen-tos, experiências e recursos, ajudando pessoas a construir uma vida mais digna. Dessa forma, trabalha conjuntamente no âmbito das soluções traçadas pelos pa-íses-membros, para fortalecer as capacidades locais e proporcionar acesso, tanto aos recursos humanos, técnicos e financeiros do PNUD e da cooperação externa, quanto à sua ampla rede de parceiros constituída pelos governos nacionais e locais, pelo terceiro setor, pelas universidades e centros de excelência, pelo setor privado, e por outros organismos internacionais.

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4.3.1.1 Projetos do PNUD no Brasil

Projetos de desenvolvimento local já foram implantados em 58 municípios. Setecentas e vinte organizações foram incentivadas e 13.908 produtores capaci-tados, graças ao trabalho conjunto de 150 parceiros identificados e coordenados pelo PNUD. Trata-se de iniciativas para expandir as condições de cidadania plena e estimular a abertura de novas oportunidades sócio-econômicas e políticas nas localidades com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH16).

Em parceria com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), foi implementado o EMPRETEC (Programa de Desenvolvimento de Empreendedores), que já orientou mais de 50 mil pessoas para a montagem e administração de negócios próprios.

Em parceria com o Ministério da Educação, o PNUD apoiou a implantação do Programa Proformação, que emprega ensino a distância e presencial para certifi-cação de professores leigos do ensino fundamental. Até 2002, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, cerca de 23 mil professores das escolas públicas de mil e quatrocentos municípios concluíram o curso Proformação.

4.3.2 PNUMA

O PNUMA é um Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Foi criado como resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Huma-no realizada em Estocolmo, no ano de 1972. Pela primeira vez, o tema ambiental e a necessidade de compatibilizar crescimento econômico com o manejo sus-tentável de recursos naturais foram incorporados na agenda política internacio-nal. Como parte da Organização das Nações Unidas, o PNUMA tem como missão promover atividades e encorajar parcerias na área ambiental.

4.3.3 Organização Internacional do Trabalho (OIT)

A OIT foi criada em 1919 pela Conferência de Paz, após a Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de promover a justiça social.

A sua Constituição converteu-se na Parte XIII do Tratado de Versalhes. Em 1944, à luz dos efeitos da Grande Depressão, a da Segunda Guerra Mundial, a OIT ado-tou a Declaração da Filadélfia como anexo da sua Constituição. A Declaração an-tecipou e serviu de modelo para a Carta das Nações Unidas e para a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em 1969, em seu 50º aniversário, a Organização foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz. Em seu discurso, o presidente do Comi-tê do Prêmio Nobel afirmou que a OIT era “uma das raras criações institucionais das quais a raça humana podia orgulhar-se”.

Em 1998, após o fim da Guerra Fria, foi adotada a Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho e seu Seguimento. O documento é uma reafirmação universal da obrigação de respeitar, promover e tornar rea-lidade os princípios refletidos nas Convenções fundamentais da OIT, ainda que não tenham sido ratificados pelos Estados Membros.

Desde 1999, a OIT trabalha pela manutenção de seus valores e objetivos em prol de uma agenda social que viabilize a continuidade do processo de globa-lização através de um equilíbrio entre objetivos de eficiência econômica e de equidade social.

16O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mede o nível de desenvolvimento humano dos países utilizando como critérios indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida ao nascer) e renda (PIB per capita).

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4.3.3.1 Objetivos estratégicos da OIT

Os objetivos estratégicos da OIT podem ser resumidos nos seguintes:

a) Promover os princípios fundamentais e direitos no trabalho através de um sistema de supervisão e de aplicação de normas;

b) Promover melhores oportunidades de emprego/ renda para mulheres e ho-mens em condições de livre escolha, de não discriminação e de dignidade;

c) Aumentar a abrangência e a eficácia da proteção social;

d) Fortalecer o tripartismo e o diálogo social.

4.3.4 FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura

4.3.4.1 Finalidade da criação da FAO

A FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura- foi criada em 1945 com o mandato de “liberar a humanidade da fome”. No pre-âmbulo de sua carta constitutiva, os Estados-membros fundadores, entre eles o Brasil, comprometeram-se a fomentar o bem-estar geral, intensificando as ações individuais coletivas com vistas a:

a) elevar os níveis de vida e de nutrição dos povos sob sua jurisdição;

b) melhorar o rendimento da produção e a eficácia da distribuição dos produtos agrícolas e dos alimentos em geral;

c) melhorar as condições das populações rurais e contribuir para a expansão da economia mundial.

No final de 2005, faziam parte do Organismo internacional, 187 países. O Brasil é um de seus mais importantes contribuintes e o mais importante entre os pa-íses em desenvolvimento. O Governo brasileiro e a FAO firmaram, em 1995, im-portante acordo de cooperação denominado “Acordo para Uso de Peritos”, que compreende o apoio financeiro do organismo a atividades de cooperação téc-nica entre países em desenvolvimento. Iniciou-se, assim, um processo de coope-ração tripartida Brasil/FAO/PALOPS, envolvendo o Brasil, a FAO e os cinco Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

Merece menção, ainda, o papel fundamental desempenhado pelo Brasil ao lon-go do processo de negociação dos textos adotados durante a Cúpula Mundial da Alimentação, organizada e patrocinada pela FAO. A Cúpula realizou-se em Roma, em novembro de 1996, tendo aprovado dois documentos: a Declaração Política e o Plano de Ação, cujo objetivo é o de combater a fome e a desnutrição no mundo e garantir, por conseguinte, a segurança alimentar em escala global. Esta meta en-contra-se em plena consonância com a política social do Governo brasileiro, que tem na busca da segurança alimentar um dos seus pontos cardeais.

4.4 AS ONGs INTERNACIONAIS

4.4.1 Característica das ONG’s

As Organizações Não-Governamentais (ONGs) têm desempenhado um impor-tante papel na sociedade contemporânea, atuando no espaço público, embora não sendo estado, ou atuando no setor privado, mesmo não sendo entidades lucrativas. Com origem ou sustentação neste espaço, vieram a constituir-se, em cada uma, referências institucionais originais próprias. No conjunto, elas se dife-

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renciavam do primeiro setor, o Estado, e do segundo setor, o mercado, assumindo uma característica e um modo peculiar de ser e agir, baseado na concepção de gestão social.

4.4.2 Mudanças e ajustes organizacionais

A partir das mudanças ocorridas no macro-contexto mundial, as ONGs tam-bém passaram a experimentar profundos ajustes organizacionais, baseados na concepção de gestão estratégica, que têm provocado alterações conceituais no seu caráter institucional original. Foram pesquisadas as transformações ocorri-das em tal caráter institucional de sete ONGs Internacionais de maior porte no Brasil, após a implantação de modernas práticas administrativas, próprias do se-tor privado.

4.4.3 Tornam-se estrategicamente mais funcionais

Tomando-se por base aquela amostra, pôde constatar-se que as ONG’s estão se tornando mais funcionais, dentro da lógica de gestão estratégica, imposta principalmente pelas regras atuais do mercado, e isso tem trazido impacto desfi-gurador imediato sobre os valores de referência institucional delas.

Nas décadas anteriores aos anos oitenta do século passado, o macro-ambien-te das Organizações Não-Governamentais - ONGs - apresentava-se extremamen-te estável. Era caracterizado por fontes de financiamento abundantes e pouca exigência em termos de eficácia e impacto nos resultados. Tal contexto fazia com que não houvesse muita preocupação, por parte delas, com gerenciamento e estratégias organizacionais.

4.4.4 Adaptam estrutura e organização

No entanto, transformações ocorridas no cenário mundial obrigaram as ONGs a experimentarem sucessivos ajustes organizacionais. grande maioria das ONGs viveu processos bastante severos de reengenharia interna e externa, na tentativa de garantir a sobrevivência. Muitas delas não conseguiram. A ênfase passou a ser na sustentabilidade financeira e na consecução de resultados mensuráveis, prin-cipalmente através da sua inserção no ambiente de mercado. Com isso, as ações de pressão política e militância social, tão presentes no cotidiano das ONGs du-rante os anos 70, passaram para segundo plano na última década.

ONGs internacionais, como Anistia Internacional, Human Rights Watch, Comis-são Internacional de Justiça e Oxfam, são organizações globais poderosas com equiparados interesses organizacionais e capacidades. A Anistia Internacional, por exemplo, recebe doações de seus sócios que variam de meio a um milhão de dólares, e seu orçamento anual opera 30 milhões de dólares, com projetos em mais de 140 países. A Human Rights Watch vangloria-se em terde mais de 22 milhões, e o recurso anual da Oxfam Internacional é mais que 300 milhões. Estes recursos constituem uma poderosa base para manter acesso à mídia (projeção na mídia e reportagens detalhadas), e para a comunidade diplomática.

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ANOTE

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ANOTE

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MERCADO CAMBIAL

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TEMA 5MERCADO CAMBIAL

TEMA 5MERCADO CAMBIAL

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TEMA 5 – MERCADO CAMBIAL

Objetivos do tema

• Oferecer noções sobre política cambial, operações de câmbio e características do mercado de câmbio no que diz respeito ao comércio exterior;

• Proporcionar o conhecimento dos instrumentos de pagamentos que amparam as operações de comércio exterior;

• Evidenciar a importância dos mesmos e o cuidado em utilizá-los de maneira a assegurar a liquidação de suas operações, nas óticas de empresários, comer-ciantes, exportadores, banqueiros e financiadores.

5.1 GENERALIDADES

O mercado de câmbio pode ser considerado como uma passagem através da qual os fluxos de moeda estrangeira se convertem em moeda nacional e vice-versa.

São ofertantes nesse mercado as pessoas físicas e jurídicas que possuem mo-eda estrangeira e desejam trocar por moeda nacional.

Em contraposição aos ofertantes, as pessoas que desejam ou necessitam ad-quirir a moeda estrangeira são, no sistema cambial, demandantes

Isso significa que a mercadoria transacionada nesse mercado é a divisa. Divisa é qualquer moeda estrangeira utilizável em transações econômicas internacio-nais. As transações envolvem, em geral, qualquer cidadão, tanto os residentes no país como os residentes no exterior. Da mesma forma, o custo em moeda nacio-nal das divisas, isto é, a taxa de câmbio, representa o preço nesse mercado.

No grupo de ofertantes de moeda estrangeira estão:

• os exportadores, que vendem suas mercadorias para o exterior e são pagos em moeda estrangeira. São obrigados, pela legislação cambial, a vender às instituições autorizadas a operar em câmbio;

• os turistas estrangeiros, que trazem moeda estrangeira e necessitam trocá-la pela moeda nacional (doméstica);

• os investidores internacionais, que trazem divisas para aplicar no país;

• os agentes econômicos, em geral, que tomam recursos no exterior para apli-carem em suas atividades.

No grupo dos demandantes da moeda estrangeira estão:

• os importadores;

• os turistas brasileiros em viagem para o exterior;

• os agentes econômicos que investem ou enviam renda para o exterior;

• os agentes econômicos (pessoas, empresas e governo) que possuem dívidas no exterior e que precisam enviar divisas para quitar seus compromissos.

5.2 POLÍTICA CAMBIAL

A política cambial passou por alterações nos últimos 30 anos. Até agosto de 1968, tínhamos uma taxa fixa que só se alterava na mudança presidencial. A par-

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TEMA 5MERCADO CAMBIAL

tir de agosto de 1968 foi introduzido o regime de minidesvalorização. O objetivo da mudança era fazer com que nossa moeda, desvalorizada a conta-gotas, tor-nasse mais competitivo nossos produtos no exterior, dando maior rentabilidade ao setor exportador. Foi o início da era denominada “milagre brasileiro”, quando o país cresceu com altas taxas do PIB e nas exportações.

Intercalamos períodos de abundância em divisas, com escassez no período de 1982 a 1987, quando o câmbio chegou a ser centralizado no Banco Central.

No dia primeiro de julho de 1994, com a introdução da moeda nacional atual, o real, o mercado foi se tornando livre, isto é, passou a atuar sem a presença os-tensiva do Banco Central do Brasil (Bacen).

Tal prática levou a uma valorização do Real criando também incentivos para as importações.

Aquele ano – 1994 – foi o último da década de 1990 em que o país teve superávit na balança comercial. O Brasil só voltaria a ter superávit na balança comercial no ano de 2001. A moeda manteve-se estável em relação ao dólar dos Estados Unidos e só em janeiro de 1999, com a unificação dos Mercados Livres e Flutuantes é que a moeda brasileira se descolou da moeda norte-americana.

Uma desvalorização cambial é uma medida de política econômica governa-mental, mas ela ocorre simplesmente porque o Banco Central, que é o maior de-tentor de divisas estrangeiras, anuncia que passará a praticar um preço mais alto em suas transações cambiais. Não é um anúncio formal. Percebe-se a ação do Banco Central pelo comportamento dos dealers que agem em nome da autar-quia federal. Este fato – ou ação – tem o poder de alterar as curvas de oferta e demanda por divisas instantaneamente.

Se o Banco Central do Brasil estiver comprando divisas a um preço mais alto do que o mercado, irá elevar a curva de demanda, desvalorizando a moeda na-cional.

Mas, quais os impactos de uma desvalorização cambial sobre os demais ma-cromercados?

No mercado de bens e serviços, teremos um aumento na demanda agrega-da por produtos nacionais. Isto porque o preço dos importados ficará mais alto em moeda local, fazendo com que uma parcela maior do gasto seja canalizada para a compra de produtos nacionais. Por outro lado, com os produtos nacionais mais baratos em moeda internacional, aumentará a procura dos mesmos pelos importadores no exterior, aumentando nossas exportações.

5.3 OPERAÇÕES DE CÂMBIO

5.3.1 Conceito

Câmbio é uma operação financeira que consiste em vender, trocar ou com-prar valores em moedas de outros países ou papéis que representem moedas de outros países. É a troca de moeda de um país pela de outro.

5.3.2 Mercado de Câmbio

É o conjunto de operações de câmbio, ajustadas entre operador e cliente ou entre operadores, situados na mesma cidade, país ou em cidades e países dife-rentes.

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5.3.3 Características do Mercado

De acordo com as condições, podemos ter:

• Mercado calmo (estável);

• Mercado nervoso (sujeito a oscilações de segundos ou minutos);

• Mercado oferecido (grande oferta de moeda ou excesso);

• Mercado procurado (grande procura de moeda ou escassez).

De acordo com as características das operações, temos:

• Mercado pronto;

• Mercado futuro;

• Mercado interbancário;

Fatores sensibilizadores do mercado de câmbio

• Medidas adotadas pelas autoridades monetárias;

• Balanços de Pagamentos;

• Cotações do ouro;

• Alterações acentuadas nas condições climáticas;

• Resultados de eleições presidenciais;

• Conflitos entre nações.

5.4 CLASSIFICAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE CÂMBIO

5.4.1 Quanto ao Tipo

• Câmbio Manual: consiste na compra e venda de moeda estrangeira em espé-cie, ou seja, é a troca física de dinheiro estrangeiro pela moeda nacional ou vice-versa;

• Câmbio Sacado: são operações que envolvem saques sobre haveres junto a banqueiro no exterior.

5.4.2 Quanto à Natureza

• Comerciais: são operações relacionadas com o comércio exterior (importa-ções exportações), tais como: importação, exportação, frete, seguro, comissão de agente;

• Financeiras: ingresso e saída de capitais;

• Pagamento de Assistência Técnica;

• Pagamento de Direitos Autorais;

• Royalties;

• Juros;

• Dividendos;

• Lucros.

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5.4.3 Mercado paralelo de câmbio

O mercado paralelo de câmbio nada mais é do que realizar operações conduzi-das por meio de pessoas físicas ou jurídicas não autorizadas a operar no merca-do de câmbio. Trata-se, pois, de operações ilegais . Assim, a denominação correta desse mercado seria “mercado negro” ou mercado “clandestino” de câmbio. Con-sagrou-se, porém, a expressão “paralelo”, por se tratar de uma operação de câmbio paralela ao câmbio oficial ou talvez, até, por ser um termo menos chocante que “clandestino” ou “ilegal”,

Por ser um mercado “ilegal”, constituído, alimentado, ofertado e demandado ao arrepio das leis, encontra terreno fértil em operações clandestinas de câmbio, nas remessas clandestinas de lucros e nas operações de lavagem de dinheiro por desvio de verbas públicas. Atua sempre no âmbito de operações ilegais.

5.4.4 Posição de Câmbio

Tempos atrás, os bancos que atuavam no mercado de câmbio eram obrigados a manter uma posição, de acordo com o limite previamente acertado com o BA-CEN e sempre levando em conta seu patrimônio líquido. Hoje o BACEN dispen-sou a exigência de limite, mas passou a fixar a posição do Banco de acordo com seu patrimônio líquido. Qual a diferença? Se, no passado, o Banco não poderia ter mais do que US$ 10.000.000,00 de posição comprada, mesmo que seu patrimô-nio líquido permitisse, agora poderá ter uma posição comprada de qualquer va-lor, desde que seu patrimônio Líquido esteja ajustado às exigências do BACEN.

Mas, o que vem a ser posição de câmbio comprada, vendida e nivelada?

• Posição comprada (long position) revela a posição em câmbio de uma insti-tuição financeira autorizada a operar nesse mercado e que comprou moeda estrangeira no mercado e seu saldo ultrapassa as sua vendas de câmbio.

• A posição vendida (short position), por outro lado, revela a posição cambial de uma instituição que vendeu muita moeda estrangeira no mercado, superan-do as compras efetuadas.

• E assim, temos que a posição nivelada (balanced) é uma posição conservado-ra do Banco. Está simplesmente empatado em vendas e compras de divisas estrangeiras.

E qual seria a posição ideal de câmbio? Depende, certamente, da instituição envolvida na operação. A cada banco compete analisar situações e diante dos dados reais e tendências do mercado tem condições de projetar uma operação de câmbio mais rentável.

No início de fevereiro de 2006, o mercado previa uma forte queda do dólar americano, com o fortalecimento da moeda brasileira o Real. Nesse caso, a ins-tituição procurava manter uma posição vendida, pois adquiriria por um valor menor as divisas que deveria entregar, no futuro, ao importador.

5.5 MOEDAS ESTRANGEIRAS

Moeda é a unidade de valor aceita como instrumento de troca numa comu-nidade. A moeda estrangeira é aquela que é utilizada como meio de troca em outros países, isto é, fora de seu mercado doméstico.

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5.5.1 Quanto ao Aspecto Cambial

• São conversíveis, aceitas livremente por outros países:

Dólar dos Estados Unidos Estados Unidos

Libra Esterlina Inglaterra

Iene Japão

Euro União Européia

Coroa Sueca Suécia

Coroa Dinamarquesa Dinamarca

Coroa Norueguesa Noruega

Dólar Canadense Canadá

Franco Suíço Suíça

• São inconversíveis, mas não são aceitas ou têm curso dificultado por outros países:

Real Brasil

Guarani Paraguai

Rúpia Índia

Dinar Argelino Argélia

5.5.2 Moeda Escritural ou de Convênio

Moeda escritural ou de convênio é aquela que decorre de acordos bilaterais ou multilaterais de pagamentos, com o objetivo de desenvolver ou de regular o intercâmbio comercial entre países de moedas inconversíveis.

5.5.3 Acordo bilateral

Os convênios bilaterais de pagamento têm por objetivo facilitar e por conseqü-ência, desenvolver o intercâmbio comercial entre dois países. Podem fixar quan-titativamente ou qualitativamente as importações, exportações e operações fi-nanceiras. Geralmente contêm dispositivos sobre a forma de compensação dos débitos e créditos e estabelecem um teto operacional, assim como a moeda para pagamento das transações entre os países convenientes, o prazo para pagamen-to de saldos além do referido teto, etc.

As compras ou vendas de câmbio referentes a transações ao amparo de con-vênios bilaterais mantidos pelo Brasil são celebradas em dólares americanos. Quando da liquidação de tais compras, o banco operador recebe do Banco Cen-tral o valor em dólares, através de ordens de pagamento, junto ao banqueiro que for indicado. Na liquidação de vendas, é o Banco Central que recebe do banco operador o crédito no exterior. Cabe ao Banco Central debitar ou creditar, confor-me o caso, a conta do Banco Central do outro país.

Foi um instrumento muito usado no passado, à época da Guerra Fria, isto é, até à queda do Muro de Berlim e à era das reformas no tempo da glasnost e da perestroika na União Soviética.

A partir dessa época, os convênios vencidos não foram renovados, permane-cendo apenas um, com a Hungria.

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5.5.4 Acordos Multilaterais

São acordos do tipo Convênio de Créditos Recíprocos, mantido com os países da ALADI (Associação Latino-Americana de Integração). A moeda utilizada nos convênios, geralmente, é o dólar dos Estados Unidos.

São os convênios mantidos entre diversos países, com um texto uniforme bá-sico e instrumentos específicos entre os países participantes (convenientes).

Em 1965 foi subscrito pelo Brasil, na cidade de México, México, o Acordo Geral de Créditos Recíprocos, o CCR, com o objetivo de estimular a cooperação finan-ceira Latino-Americana, facilitar e expandir o comércio regional de bens e ser-viços e reduzir as transferências de divisas entre os Bancos Centrais dos países convenientes.

Na verdade, tal convênio veio suprir a falta de moeda forte, o dólar americano, pois a moeda, embora grafada em dólares, é escritural e não desembolsada no momento em que a operação é liquidada.

Como foi dito acima, trata-se, verdadeiramente, de uma contabilização escri-tural da moeda e não de transferência bancária para a conta do credor. Seria, nos dias de hoje, como que uma moeda virtual. Por isso, é possível que alguns países fiquem inadimplentes na compensação, pois o acerto tem que ser em moeda forte, isto é, em dólar dos Estados Unidos. Nesses encontros de contas (compen-sação) cada banco central comunica ao respectivo banco central de cada país, quanto tem a haver e quanto deve em relação ao terceiro país. Cada banco cen-tral efetua apenas um pagamento ao banco agente, ou faz jus ao recebimento, se for o caso.

As operações ao amparo de CCR dos clientes com bancos autorizados a operar no convênio e destes com o banco central, são expressas em dólares dos Estados Unidos, bem como todos os documentos pertinentes (saques, faturas, etc).

São muitas as operações cursadas dentro do convênio pela segurança que ofe-rece aos exportadores e importadores, pois a garantia do pagamento deixa de ser comercial (importador) e passa a ser política (Governo), pois os bancos cen-trais é que se responsabilizam pelo reembolso.

5.5.5 Garantia bancária

A operação só é considerada segura se tiver uma garantia bancária. Uma ex-portação em cobrança não oferece a garantia dada pelo convênio, embora tran-sitada dentro do mesmo, mas sem a garantia bancária.

Ocorre que os bancos centrais garantem os bancos conveniados, o que não ocorre com outras empresas não financeiras. Atualmente, o Banco Central do Brasil mantém convênios com os seguintes países: Argentina, Bolívia, Chile, Co-lômbia, Equador, México, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.

5.5.6 Paridade

Definida como sendo o preço de uma moeda estrangeira em relação à outra. A mais utilizada é a paridade em relação ao Dólar dos Estados Unidos.

Exemplo: Se para comprar US $ 1,00 são necessários oitenta e dois centavos de euros (€ 0,82) , diz-se que a paridade da Euro em relação ao Dólar Americano é de 0,82 por 1, ou seja, € 0,82 valem US $ 1,00.

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Assim, se alguém tem € 500,00 e quer transformá-los em dólares, divide-se o valor por 0,82, que é a paridade, resultando em US $ 609,75.

5.5.7 Arbitragem

A arbitragem consiste na compra de determinada quantidade de uma moeda e na venda de outra moeda estrangeira, de forma que, aplicada a paridade en-tre elas, o resultado seja de equivalência, podendo a liquidação ser simultânea, pronta ou futura. De forma resumida, é a troca de determinada moeda estran-geira por outra.

Essas transações são efetuadas geralmente para:

• Suprir o saldo em determinada moeda estrangeira junto a banqueiro que não tem disponibilidade para cumprir compromissos nessa moeda, mas tem disponi-bilidade em outra

Exemplo: o banco fez uma venda para atender a importação de um cliente.Ocorre que sua posição em moeda estrangeira mantida no exterior é em dólares americanos e a venda interna foi em ienes. Vendeu ¥125.000.000 e precisa com-prar os mesmos no exterior para atender a importação. Verifica qual é a paridade do iene em relação ao dólar americano: US$ 1,00 por ¥125,00. Assim, necessita de US$ 1.000.000,00 para comprar os ienes necessários. Isso é o que o banqueiro faz. E o importador no Brasil, quanto pagará por essa transação?

Sabemos que US$ 1,00 = ¥125,00

E que US$ 1,00 = R$ 2,15

Então

¥125,00 = R$ 2,15

¥1 = x R$

Logo

“x “ R$ = ( ¥1 x R$ 2,15 ) / ¥125 = 0,01720

Assim, US$ 1.000.000,00 equivale a ¥125.000.000 que é igual a R$ 2.150.000,00.

• Obter vantagens em transações envolvendo duas ou mais praças

Exemplo: Cotações do dólar americano em duas praças:

New York US $ 0,62 Sw.Fr. 1,00

Zurich Sw.Fr. 1,00 US $ 0,64

O Banco Operador compra Francos Suíços em New York e os envia para Zu-rich, onde alcança US $ 0,64, obtendo vantagem de US $ 0,02 por Franco Suíço negociado.

New York: US $ 1.000.000,00 compra Sw.Fr. 1.612.903,23

Em Zurich vende os Sw.Fr. por US $ 1.032.258,07

É claro que as compras e vendas são feitas com Bancos diferentes.

• Evitar riscos com determinadas moedas que, no mercado cambial, oscilam com freqüência, ou presume-se que se desvalorizarão

Exemplo: Alguém que tenha tomado recursos em Euro em 05.01.99.

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Um milhão de euros (€1.000.000) valia US$1.000.000 em 06.04.99. O Euro tinha perdido 8,8% em relação ao Dólar Americano. A mesma quantia de Euros valia US $ 1.007.00,00. Para o Tomador fora ótimo tomar em Euros porque agora sua necessidade em dólar americano era 8,8% menor do que há 4 meses.

A decisão de se arbitrar depende da “posição” em que se encontra . Exemplo foi a desvalorização do Real frente ao dólar americano ocorrida em janeiro de 1999. Quem estava “comprado” em dólar americano ganhou e a ponta “vendedora” perdeu.

5.5.7.1 Tipos de arbitragem

• Arbitragem Direta

É a transação efetuada por dois operadores localizados em praças de países diferentes, que arbitram suas respectivas moedas

• Arbitragem Indireta

É a transação realizada por um operador que, atuando em sua base, efetua operações envolvendo as moedas nacionais de duas praças estrangeiras, quer arbitrando as duas moedas ou mais de duas. Em linhas gerais, é uma operação envolvendo três moedas, utilizando-se o “cross rate”. É o sistema cambial brasilei-ro, envolvendo a paridade do Real em relação ao Dólar e este em relação à sua paridade com terceiras moedas.

Siglas: * DKK=coroa dinamarquesa; **NOK= coroa norueguesa - ***SEK= coroa sueca

• Arbitragem interna – operações simbólicas

As operações simbólicas de compra e venda simultâneas de câmbio têm por fi nalidade regularizar exigências de ordem cambial, não fi gurando, portanto, entre as transações normais que se caracterizam pela entrega efetiva da moe-da. Estas operações ocorrem nas seguintes situações: conversão de créditos em investimento; constituição e liberação de depósitos, no Bacen; regularização de fraude cambial.

Estas operações não provocam movimentação nas contas em moedas estran-geiras mantidas no exterior pelo Bacen.

• Arbitragem externa

Esta operação consiste na remessa de divisas de uma praça para outra, bus-cando obter vantagens em função das diferenças de preço existentes. É repre-sentada pela venda de uma moeda estrangeira contra o recebimento de outra moeda também.

5.5.7.2 Operações de arbitragem e suas modalidades

• Prontas (spots)

Operações em que a entrega das moedas se dá em de dois dias úteis.

MOEDAPARIDADE: COTAÇÃO EM R$:

COMPRA CROSS VENDA CROSS COMPRA VENDA

US $ 1,000 1,000 1,000 1,000 3,58500 3,59000

DKK* 7,43610 0,134479 7,47091 0,133853 0,479861 0,482780

NOK 7,36634 0,135753 7,40087 0,135119 0,484403 0,487352

SEK 9,10046 0,109885 9,14195 0,109386 0,392148 0,394486

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• Futuras (forwards)

Operações em que a entrega da moeda se dará em prazo superior a dois dias úteis.

As paridades e o cross utilizados neste caso (futuro) podem ser diferentes das utilizadas em operações prontas, porque as moedas envolvidas podem sofrer oscilações em suas cotações. Podem estar com “prêmio” ou “a descon-to”. Isto é, vai-se receber mais ou menos moeda estrangeira no futuro. Ou se despenderá mais ou menos moeda na operação.

Em princípio, as arbitragens futuras servem para fazer o hedge (proteção) da moeda comprada ou vendida para entrega futura.

Exemplo: Se a empresa tem compromisso para pagar Sw.Fr. 1,000,000.00 em 90 dias e o Financeiro acha que poderá ocorrer uma valorização da mo-eda em relação ao dólar americano, ele pode arbitrar futuro, pagando algum prêmio.

Assim, hoje Sw.Fr. 1.000.00,00 são comprados no mercado spot por US $ 550.000,00 e no mercado futuro (90 dias) por US $ 600.000,00. Se pagar à vista, pagará o primeiro valor; se no vencimento, o segundo. O segundo valor cor-responde a uma desvalorização de 9,09% do dólar em relação ao Franco Suí-ço. Aí caberá ao Financeiro decidir: compra à vista (spot) e entrega os dólares ou compra a prazo (forward), suportando aquele custo.

Poderá ocorrer o contrário: o dólar se valorizar e ele perder na operação.

O conhecimento do cenário e das tendências do mercado serão os baliza-dores da tomada de decisão. Muitas vezes, a arbitragem futura nada tem a ver com operação comercial, tornando-se meramente como operação especula-tiva. Como ocorreu no Brasil (em janeiro de 1999, para ser mais exato). É certo que as operações datavam de período anterior, mas muitas foram feitas dias antes da desvalorização, deixando no ar a dúvida de vazamento de informa-ções sobre a valorização do dólar.

5.6 Contratos de Câmbio

Define-se como contrato de câmbio o instrumento especial firmado entre o vendedor e o comprador de moedas estrangeiras, no qual se mencionam as ca-racterísticas completas das operações de câmbio e as condições sob as quais se realizam.

5.6.1 Quanto à forma jurídica

• Bilateral: existência de um comprador e de um vendedor;

• Sinalagmático: ambas as partes têm direitos e deveres concomitantes;

• Consensual: depende do bom senso, do consentimento e da anuência das partes;

• Cumulativo e incondicional: faz a estimativa das obrigações a serem cumpridas independentemente de quaisquer eventos futuros e incertos;

• Oneroso: as obrigações assumidas representam comprometimento patrimo-nial equivalente às vantagens visadas;

• Solene: as normas cambiais exigem forma determinada e escrita.

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5.6.2 Elementos Essenciais

• Nome do comprador e do vendedor;

• Valor em moeda estrangeira;

• Valor em moeda nacional;

• Taxa de câmbio, prêmios e bonificações;

• Vencimento;

• Natureza da operação;

• Forma da entrega da Moeda Estrangeira.

5.6.3 Elementos Imutáveis

• Comprador e vendedor;

• Moeda estrangeira, taxa cambial e moeda nacional.

5.7 ADIANTAMENTOS (CONTRATOS DE CÂMBIO DE EXPORTAÇÃO)

O adiantamento sobre contrato de câmbio constitui antecipação parcial ou total,por conta do preço, em moeda nacional, da moeda estrangeira comprada (vendida) a termo, devendo ter a sua concessão pelos bancos e sua utilização pe-los exportadores dirigida para o fim precípuo de apoio financeiro à exportação.

5.7.1 Modalidades de Adiantamentos

• ACC – Adiantamento sobre Contratos de Câmbio

Os bancos que operam com câmbio podem conceder aos exportadores os adiantamentos sobre os ACC, que constituem na antecipação parcial ou total dos reais equivalentes à quantia em moeda estrangeira comprada a termo desses exportadores pelo banco.

É a antecipação do preço da moeda estrangeira que o banco negociador das divisas concede ao exportador amparado por uma linha de crédito externa, intermediada pelo banco negociador, que é autorizado a operar em câmbio.

O objetivo desta modalidade de financiamento é proporcionar recursos ante-cipados ao exportador para que possa fazer frente às diversas fases do proces-so de produção e comercialização da mercadoria a ser exportada, constituin-do-se, assim, num incentivo à exportação.

Efetuado antes do embarque da mercadoria para o exterior. Prazo de até 360 dias.

• ACE – Adiantamento sobre as Cambiais Entregues

Esta segunda modalidade de financiamento ocorre quando a mercadoria já está pronta e embarcada, podendo ser solicitado até 60 dias após o embar-que, aproveitando ao máximo possível a variação cambial.

fase, passa a se chamar ACE, podendo o seu prazo se estender em até 180 dias da data do embarque.

O adiantamento nesta fase poderá caracterizar-se pela simples manutenção do ACC, efetuando-se apenas a transformação contábil através, se for o caso, de complementação de valor.

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Nestes tipos de operação aplicam-se as taxas Libor17 ou Prime Rate, mais o spread dos bancos negociadores.

A taxa Libor é a taxa praticada pelos bancos londrinos com os seus clientes preferenciais. A taxa Prime Rate é a taxa de juros praticada pelos bancos na praça financeira de Nova Iorque, junto aos seus clientes preferenciais.

5.8 CÂMBIO SIMPLIFICADO (EXPORTAÇÃO)

O câmbio simplificado é caracterizado por aquelas operações de valor até US $ 20.000,00, cuja negociação da moeda estrangeira se formalizará mediante a assinatura do boleto, pelo exportador, em banco autorizado a operar em câmbio. Essas operações de câmbio simplificado podem , ocorrer até 180 dias antes ou 180 dias após o embarque.

5.8.1 Vantagens

Nas operações de câmbio simplificado dispensa-se a:

• apresentação pelo exportador, ao banco autorizado a operar em câmbio, dos documentos comprobatórios da operação comercial;

• vinculação, pelo banco comprador da moeda estrangeira, do contrato de câmbio ao respectivo Registro de Exportação – RE.

5.8.2 Desvantagens

• As operações não são passíveis de alteração, cancelamento, baixa ou contabi-lização na posição especial;

• Não existe adiantamento.

5.8.3 Comprometimento do vendedor e comprador de moeda estrangeira

• Ao vendedor (exportador) interessa: manter, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à dis-posição do Bacen, os documentos que respaldam a operação de câmbio (bo-leto, fatura comercial, pedido ou contrato mercantil);

• Ao comprador (banco) interessa: manter em seu poder o boleto, pelo mesmo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição do Banco Central do Brasil, para apresen-tação, quando solicitado.

5.8.4 Câmbio simplificado (importação)

As operações de importação de valor até US$ 20.000,00 têm seu procedimen-to facilitado através da contratação do câmbio simplificado. Para tal, a contrata-ção deverá ter sido desembaraçada através de DSI (Declaração Simplificada de Importação).

Estão dispensadas de vinculação à DSI:

• Fechamento: até 90 dias, antes ou após o registro da DSI;

• Guarda de documentos: cinco anos;

• Licença Simplificada de Importação, quando cabível.

17Iniciais de London InterBank Offer Rate

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5.9 POSIÇÃO ESPECIAL

O contrato de câmbio é transferido para a posição especial quando o paga-mento das mercadorias embarcadas não tenha ocorrido no prazo previsto para a liquidação do contrato e o seu cancelamento não seja possível, de imediato, por falta do cumprimento de pré-requisitos regulamentares previstos para tal fim.

5.10 LIQUIDAÇÃO DO CONTRATO DE CÂMBIO

• Liquidação pronta: até 2 (dois) dias úteis;

• Liquidação futura: no vencimento, e excepcionalmente, na exportação, até 30 dias depois de vencido.

5.11 PROTESTO DO CONTRATO DE CÂMBIO

Quando deixa de haver consenso entre as partes, mesmo que exista a possi-bilidade de cancelamento, o contrato de câmbio deve ir para o protesto para ser dada baixa cambial.

5.12 MERCADO BRASILEIRO DE CÂMBIO

Em março de 2005 foram divulgadas pelo Banco Central do Brasil as Resolu-ções do Conselho Monetário Nacional nº 3.265 e nº 3.266, ambas de 04/03/2005, e a Circular do Banco Central do Brasil nº 3.280, de 09/03/2005. Tais normativos deram continuidade ao trabalho do Banco Central em desburocratizar o merca-do de câmbio, objetivando a redução de custos e aumento da produtividade.

As modificações promovidas pelo Conselho Monetário Nacional extinguiram a Consolidação das Normas Cambiais, até então vigentes, e instituíram um re-gulamento único denominado Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais (RMCCI). Indiscutivelmente este no regulamento representa um avanço para a transparência e liberalização dos controles das operações cam-biais no Brasil.

A principal mudança ocorrida foi a unificação dos mercados de câmbio exis-tentes (flutuante e livre) em um mercado único para todas as operações de câm-bio, abrangendo as compras e moeda estrangeira, compra e venda de ouro, ca-pitais brasileiros no exterior, capitais estrangeiros no Brasil e transferências inter-nacionais em reais. Embora as taxas de câmbio fossem similares, as regras eram diferentes e implicavam incongruências entre os procedimentos fixados para cada mercado, provocando situação de incerteza para o mercado.

Entre outras modificações introduzidas, as pessoas físicas e jurídicas podem comprar ou vender moeda estrangeira e efetuar investimentos no exterior, sem limitação de valor, observada a legalidade da trnsação e tendo fundamentação econômica e respaldo documental exigido pelos bancos comerciais, sendo obri-gatório o registro no SISBACEN ou no SISCOMEX, conforme a natureza da opera-ção, e a identificação das partes, independente do valor da operação, ressalvadas algumas exceções.

Existam no Brasil, até então, dois mercados de câmbio: um que se chamava mercado de taxas livres (Resolução 1.690, de 18.03.90) e outro, denominado mer-cado de taxas flutuantes (Resolução 1.552, de 22.12.88).

Nesse mercado eram realizadas as operações comerciais e financeiras, em ge-

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ral, por pessoas jurídicas e de interesse geral para o país.

Em 22.12.1988 foi criado o mercado de taxas flutuantes. Adiante, veremos quais as operações que podiam ser efetuadas nesse mercado.

Por força da Resolução 2.588, de 25.01.99, com validade a partir de 01.02.99, foram unificadas as posições dos mercados de taxas livres e de taxas flutuan-tes, ficando mantida a regulamentação cambial vigente para os dois mercados, devendo tais operações serem conduzidas conforme dispunham as normas de regência para sua natureza.

5.12.1 Estrutura antiga

Para entender a importância da unificação do mercado de câmbio, basta veri-ficar que o mercado de câmbio no Brasil estava, até março de 2005, oficialmente dividido em:

• Mercado de Câmbio de Taxas Livres (Dólar Comercial)

Instituído pela Resolução nº 1.690, de 18/03/1990, do Conselho Monetário Na-cional, é destinado às operações de câmbio em geral, enquadrando-se neste segmento as operações comerciais de exportação e importação, bem como as operações financeiras de empréstimos e investimentos externos, bem como o retorno ao exterior da remuneração destas operações.

• Mercado de Câmbio de Taxas Flutuantes (Dólar Flutuante)

Instituído pela Resolução nº 1.552, de 22/12/1988, do Conselho Monetário Na-cional, legitimando um segmento de mercado que era até então considera-do ilegal, enquadrando neste segmento as operações de compra e venda de câmbio a clientes, gastos com cartão de crédito no exterior, transferências uni-laterais e movimentação na CC-5 e outras operações entre instituições finan-ceiras como definidas pelo Bacen.

Importante salientar que, no início de 1999, o Banco Central do Brasil já tinha iniciado os procedimentos para a unificação do mercado de câmbio, isto é, a cria-ção de uma única taxa, e o fim da divisão até então existente entre o mercado de câmbio livre e flutuante. Desta forma, a partir de 01/02/1999 os dólares que sobravam em um segmento já podiam ser utilizados no outro.

A contabilização dos dólares comercial e do flutuante passaram a ser con-juntas. Faltava, portanto, acabar com as diferenças de registro e regulamentação entre os dois segmentos para a completa unificação.

5.12.2 Operações do Mercado de Taxas Flutuantes

Muito mais a título de curiosidade, está listada abaixo a relação das operações que eram registradas no mercado de taxas flutuantes:

Serviços e operações com ouro

• Turismo;

• Negócios, serviços e treinamentos;

• Fins educacionais, científicos e culturais;

• Participação em competições esportivas;

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TEMA 5MERCADO CAMBIAL

TEMA 5MERCADO CAMBIAL

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TEMA 5MERCADO CAMBIAL

TEMA 5MERCADO CAMBIAL

• Tratamento de saúde;

• Operações com ouro.

Investimento brasileiro no exterior

• De pessoa jurídica;

• De pessoa física.

Investimentos no mercado de capitais entre os países signatários do MER-COSUL

• Investimentos Brasileiros no Exterior em Certificados de Depósito de Ações emitidas por Companhias sediadas em países do MERCOSUL;

• Membros do Congresso Nacional e do Poder Judiciário.

Transferências unilaterais

• Transferências de Patrimônio;

• Heranças e legados;

• Aposentadorias e pensões;

• Contribuições a entidades associativas;

• Contribuições a entidades previdenciárias;

• Compromissos diversos;

• Aluguel de veículo no exterior;

• Multas de trânsito;

• Reservas em estabelecimentos hoteleiros;

• Despesas com comunicações (telefone, fax, telex etc.);

• Aquisição de edital.

Outras despesas eventuais

• Manutenção de pessoas físicas no exterior;

• Prêmios auferidos no País;

• Indenizações não amparadas por seguros.

Outras transferências

• Fiança de créditos de exportações;

• Garantias bancárias;

• Aquisição de “software”;

• Vencimentos e ordenados;

• Serviços técnicos profissionais;

• Serviços de Imprensa;

• Cursos e congressos;

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TEMA 5MERCADO CAMBIAL

TEMA 5MERCADO CAMBIAL

TEMA 5MERCADO CAMBIAL

TEMA 5MERCADO CAMBIAL

• Passagens marítimas internacionais;

• Passe de atleta profissional;

• Capitais estrangeiros a curto prazo – menos de 360 dias;

• Encomendas internacionais;

• Remuneração, reembolso de despesas e custeio de torneios, competições e outros eventos esportivos semelhantes;

• Remuneração de eventos internacionais de natureza artística;

• Aquisição de medicamentos no exterior por pessoas físicas não destinados à comercialização;

• Participação em feiras e exposições;

• Publicidade e propaganda;

• Transmissão de eventos;

• Aquisição de imóveis;

• Aluguel de imóveis;

• Multas e/ ou juros contratuais;

• Honorários de membros de conselhos consultivos;

• Serviços aeroportuários;

• Utilização de bancos de dados internacionais;

• Honorários profissionais referentes a cursos, palestras e seminários;

• Instalação e/ ou manutenção de escritório no exterior.

Outras transferências não especificadas anteriormente

• Cartões de crédito Internacionais;

• Vales postais Internacionais;

• Reembolso postal Internacional.

Exportações de jóias, gemas, pedras preciosas e de artefatos de ouro de pedras preciosas

5.12.3 AGENTES INTERVENIENTES NO MERCADO DE CÂMBIO

5.12.3.1 Banco Central do Brasil

Entidade autárquica criada pela Lei 4.595, em 31/12/1964, é o “Banco dos Bancos”.

Por delegação do Conselho Monetário Nacional, o Bacen instrui, supervisiona, fiscaliza e controla o Sistema Financeiro Brasileiro. É dele que parte toda a orien-tação sobre o mercado cambial doméstico.

5.12.3.2 Bancos Autorizados

São os bancos que, cumpridas as exigências determinadas pelo Banco Central do Brasil, são credenciados a operar nos mercados de câmbio.

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TEMA 5MERCADO CAMBIAL

TEMA 5MERCADO CAMBIAL

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TEMA 5MERCADO CAMBIAL

TEMA 5MERCADO CAMBIAL

5.12.3.3 Agências de Turismo, Hotéis e Similares

São as entidades que, cumpridas as exigências da Resolução 1.522/88, são au-torizadas pelo Bacen a operar no segmento de taxas flutuantes.

5.12.3.4 Pessoas Físicas e Jurídicas

São as pessoas que buscam os mercados para comprar ou vender moeda es-trangeira. Cumprida a legislação cambial, elas podem comprar ou vender a moe-da estrangeira, restritas ao mercado (livre ou flutuante) específico para suas ope-rações. Poderão ou não manter conta em moeda estrangeira, mas não poderão transacionar livremente.

5.12.3.5 Corretores de Cãmbio

Antigamente, era obrigatória a presença do corretor de câmbio, nas praças que mantinham bolsas de valores, em operações de câmbio superiores a US$ 100.000,00.

Desde a implantação do Plano Real não existe mais essa obrigação. Todavia, no interesse do comprador ou vendedor, haverá a interveniência do corretor.

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ANOTE

TEMA 6

OPERAÇÕES FINANCEIRAS E PAGAMENTOS INTERNACIONAIS – MODALIDADES DE PAGAMENTOS

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TEMA 6TEMA 6

OPERAÇÕES FINANCEIRAS E PAGAMENTOS INTERNACIONAIS – MODALIDADES DE PAGAMENTOS

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TEMA 6OPERAÇÕES FINANCEIRAS E

PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-MODALIDADES DE PAGAMENTOS

TEMA 6 – OPERAÇÕES FINANCEIRAS E PAGAMENTOS INTERNACIONAIS – MODALIDADES DE PAGAMENTOS

Objetivos do Tema

• Conhecer os instrumentos de pagamentos que amparam as operações de comércio exterior;

• Evidenciar a importância dos mesmos e o cuidado em utilizá-los de maneira a assegurar a liquidação de suas operações, nas óticas de empresários, comerciantes, exportadores, banqueiros e financiadores;

• Mostrar as principais modalidades de pagamento utilizadas no mercado internacional: pagamento antecipado, remessa sem saque, cobrança, carta de crédito.

6.1 PRINCIPAIS MODALIDADES DE PAGAMENTO

As principais modalidades de pagamento utilizadas no mercado internacional são:

• Pagamento antecipado;

• Remessa Sem saque;

• Cobrança;

• Carta de crédito.

6.1.1 Pagamento antecipado

É a melhor condição de pagamento para o ex-portador e a de maior risco para o importador. Nes-te caso o importador faz uma remessa antecipada dos recursos para o seu fornecedor (exportador) e este, no prazo avençado previamente, remete a mercadoria adquirida pelo importador.

É uma modalidade de pagamento utilizada mais entre matrizes e filiais ou estas e suas congêneres.

Pressupõe uma confiança irrestrita entre as partes. Há a agravante de muitos pa-íses colocarem obstáculos a essa prática, pois envolve uma saída antecipada de divisas, o que sempre não é bem visto pelo país do importador.

No Brasil, as instruções cambiais (RMCCI18 1-12-5-3) permitem pagamento ante-cipado de importação para embarque em até 180 dias. Isto significa que o exporta-dor estrangeiro deverá embarcar em até 180 dias a mercadoria para o Brasil.

Em contrapartida, os exportadores brasileiros podem remeter as mercadorias em até 360 dias (RMCCI 1-11-4-2A) do recebimento antecipado de suas exporta-ções. Nota-se aí o tratamento diferenciado: quando nos beneficia, a legislação é mais condescendente com o setor exportador e mais exigente com o importador.

Em todo o caso recomenda-se que as partes (exportador e importador) te-nham um contrato assinado entre as si, de maneira a proteger os direitos e obri-gações dos contratantes vendedores/compradores.

18Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais

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TEMA 6OPERAÇÕES FINANCEIRAS E

PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-MODALIDADES DE PAGAMENTOS

6.1.2 Remessa sem saque

Trata-se de modalidade de pagamentos em que o exportador remete os do-cumentos diretamente ao importador/sacado no exterior, sem transitar pela rede bancária. Também representa uma operação de risco e pressupõe, como no pagamento antecipado, uma confiança irrestrita entre as partes. De novo, ope-ração realizada entre Matrizes e Filiais e entre estas últimas e suas congêneres e Matrizes.

Por que operação de risco?

O importador tendo recebido a documentação diretamente do exportador/vendedor, pega o conhecimento de embarque e a fatura, dirige-se à alfândega de destino e recebe a mercadoria. E pode fazê-lo sem pagar a importação.

Ao lado desse risco, apresenta também algumas vantagens operacionais e fi-nanceiras:

• documentação chega mais rapidamente às mãos do importador. Assim que a documentação de exportação estiver pronta, o exportador utiliza-se dos serviços de courier e remete imediatamente os documentos ao exterior. Essa agilidade vai permitir ao importador preparar-se convenientemente para a liberação da mercadoria (suprir-se para os impostos, contratar seguro e frete locais etc.);

• despesas bancárias reduzidas, pois o banco não estará envolvido na operação da remessa e manuseio dos documentos, apenas na sua liquidação, via con-tratação de câmbio.

Até o advento da Carta-Circular BACEN no 3.280, de 09.03.2005, o Banco Cen-tral obrigava o exportador (com exceções pontuais) a entregar os documentos originais da exportação do banco negociador de câmbio. Atualmente, o expor-tador, independentemente da via de transporte, poderá enviar a documentação diretamente ao importador. Se ocorrer fechamento de câmbio, o exportador de-verá negociar com o banco comprador das divisas a remessa direta ou não dos documentos de exportação.

Por que o banco comprador de câmbio deverá autorizar? Muito provavel-mente o banco adquirente da moeda estrangeira financiou o exportador. Para manter-se a par da operação e zelar pelos seus ativos financeiros o banco deverá acompanhar o processo da operação até ao seu final. Isso não quer dizer que não autorizará. Dependendo de sua política de crédito, e do histórico do exportador com o banco, este autorizará ou não a remessa direta.

6.1.3 Cobrança

Cobrança, de acordo com as regras e usos uniformes para cobranças, Revisão nº 522, de 01.01.1996, da Câmara de Comércio Internacional, Paris, França, repre-senta a entrega de documentos a um banqueiro, com instruções de:

• Obter pagamento e/ou aceite desses documentos;

• Entregar documentos contra pagamento ou aceite;

• Entregar outros documentos com outros termos e condições especificados.

6.1.3.1 Tipos de cobrança

A cobrança poderá ser documentária comercial e/ou financeira e cobrança limpa.

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TEMA 6OPERAÇÕES FINANCEIRAS E

PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-MODALIDADES DE PAGAMENTOS

• Cobrança documentária

Uma cobrança documentária comercial poderá vir ou não, acompanhada de documentos financeiros.

Os documentos financeiros são representados pelas cambiais (letras de câm-bio ou saques), notas promissórias ou outros documentos similares utilizados para pagamento.

Os documentos comerciais são representados pelas faturas comerciais, docu-mentos de transportes, outros documentos não-financeiros.

• Cobrança limpa

A cobrança limpa é uma cobrança não acompanhada de documentos comer-ciais (faturas, conhecimentos etc.), mas acompanhada de um documento finan-ceiro (saque, nota promissória etc.).

6.1.3.2 Quanto ao prazo de pagamento

As cobranças podem ser à vista ou a prazo.

• Cobrança à vista

O importador paga à vista ao banco encarregado da cobrança, recebe a docu-mentação de importação, habilitando-se a retirar sua mercadoria junto à alfândega.

• Cobrança a prazo

O importador, quando recebe a documentação da importação junto ao banco assume o compromisso de pagar a operação em um determinado número de dias do aceite da cambial ou saque. O saque ou cambial é um título aceito pelo im-portador que se comprometeu a pagar a importação em um prazo determinado. No prazo avençado ele dirige-se ao Banco, compra a moeda estrangeira, o Banco faz a remessa para o país do exportador, via SWIFT19, e a operação é liquidada.

6.1.4 CARTA DE CRÉDITO DOCUMENTÁRIO

A carta de crédito é, de longa data, uma das manifestações da prática mercantil destinada a oferecer certa garantia aos contratos de compra e venda, principal-mente no mercado internacional.

O crédito documentário (ou Documentado), de criação mais recente, vem se desenvolvendo e se aperfeiçoando através dos anos.

Com a crise que se abateu sobre o mundo, durante e após a Primeira Grande Guerra (1914 -1918), agravada pela crise de 1929 (crash da Bolsa de Nova Iorque, EUA ), os vendedores, no mercado internacional, como forma de cercar os contra-tos de venda de suas mercadorias de maiores e mais sólidas garantias, passaram a exigir um pacto acessório de garantia, ao lado dos contratos mercantis de com-pra e venda, representado pela intervenção de um estabelecimento de crédito.

A partir de então os créditos dos devedores passaram a ser amparados por garantia bancária que tanto podia ser fornecida por um estabelecimento de crédito da praça do exportador quanto do importador, e, às vezes, quando havia a descrença da solvabili-

19Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication

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PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-MODALIDADES DE PAGAMENTOS

dade de bancos distantes do mercado de venda, exigiam os vendedores que a garantia de um Banco fosse confirmada por outro de sua confiança. Com esta exigência faziam com que aquele Banco que assim agisse passasse a assumir, diretamente, a responsa-bilidade pelo bom termo do negócio. A partir do empenho ou obrigação direta de um banqueiro, ao que se convencionou chamar crédito bancário, estabeleceu-se um certo equilíbrio nas relações contratuais entre vendedores e compradores de países distin-tos. Ao vendedor ficava assegurado que o preço de venda lhe seria pago; ao compra-dor se dava a certeza de que receberia a coisa comprada, nas condições ajustadas.

Com o decorrer dos anos, os agentes do comércio internacional foram criando práticas e procedimentos assemelhados para se adequarem a essa modalidade de negócio. Porém, o mercado mundial ressentia-se da falta de regras claras e uni-formes que estabelecessem as obrigações e responsabilidades de todas as partes envolvidas. Surge então em cena um organismo mundial, cuja tarefa primordial é a de contribuir para a expansão do comércio internacional, através da criação de fa-cilitadores da realização de negócios entre empresas de diferentes países. Esse or-ganismo mundial que faltava chama-se Câmara de Comércio Internacional – CCI.

6.1.4.1 Regras e usos uniformes sobre créditos documentários

De uma reunião de trabalho da Câmara de Comércio Internacional, ocorrida em Viena, Áustria, em 1933, resultou a publicação de um documento denomina-do de “Regras e Usos Uniformes Sobre Créditos Documentários” cuja finalidade maior foi a de proteger os banqueiros a respeito de instruções incompletas e im-precisas dadas pelo comprador. Com o passar dos anos, as “Regras” foram sendo aperfeiçoadas mediante a incorporação de costumes bancários internacionais e outras regras que facilitassem as funções bancárias. Seu aprimoramento tem sido buscado por meio de revisões e atualizações periódicas levadas a efeito pela Comissão de Bancos da Câmara de Comércio Internacional. Foram feitas revisões em 1951, 1962, 1974, 1983 e, por último, em 1993.

6.1.4.2 Negociação da carta de crédito

De uma maneira sucinta você tomou conhecimento de alguns cuidados que o empreendedor deve tomar na negociação da carta de crédito, seja para a expor-tação, seja para importação.

Todavia, é importante um outro lembrete muito especial: independentemen-te da negociação ocorrer em ordem, sem discrepâncias, é necessário que o ex-portador tenha informações seguras sobre o importador e vice-versa.

6.1.4.3 Informações importantes para importadores e exportadores. Os bancos negociam documentos. Há que se considerar com cuidado os aspec-tos cadastrais da outra parte, bem como a idoneidade de seus proprietários.

6.1.4.4 Conceito de crédito documentário- Disposições gerais e definições

O crédito documentário é uma modalidade de pagamento bastante usual, porque oferece maiores garantias, tanto para o vendedor (exportador) como para o comprador (importador). Em que pese o fato de que é o importador quem procura um banco para propor a abertura de um crédito, convém ressaltar que o mesmo decorre de exigência feita pelo exportador, cabendo a este, portanto,

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TEMA 6OPERAÇÕES FINANCEIRAS E

PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-MODALIDADES DE PAGAMENTOS

determinar as condições e os termos principais do instrumento, de modo que possa cumpri-lo integralmente e, por conseqüência, exigir tempestivamente sua garantia. Cabe, portanto, ao exportador, caso sua escolha recaia - dentre as diver-sas modalidades de operações internacionais- sobre a modalidade do “crédito”, procurar certificar-se, dentre outros itens:

a) de que o emitente é banco sólido e tradicional, de primeira linha, não repre-sentando risco comercial para a operação;

b) de que o país do emitente não está sujeito a restrições cambiais ou regula-mentos que possam impedir ou dificultar certas transações de comércio exte-rior, particularmente as suas importações;

c) não sendo favorável o cenário oferecido pela análise dos itens precedentes, de que será possível obter “Confirmação” do Crédito;

d) que será possível obter “confirmação” do crédito, caso o cenário oferecido pela análise dos itens precedentes não seja favorável;

e) se o crédito estabelece compromisso revogável, irrevogável ou irrevogável confirmado;

f ) de que os documentos a serem exigidos pelo importador ou seu país poderão ser apresentados.

g) de que sua emissão não acarretará gastos adicionais;

h) de que o país do importador permite a instituição do crédito cobrindo o valor total da operação;

i) se o tipo de mercadoria exige ou não flexibilidade no tocante ao valor ao Cré-dito (“about”);

j) se serão permitidos ou proibidos embarques parcelados; se haverá restrição/exigência de porto, para embarque/desembarque da mercadoria, de trans-portadores e bandeiras de navios/ aeronaves;

k) de que o Crédito poderá ser emitido para utilização no seu país e de que os prazos de validade(de embarque e apresentação dos documentos) serão compatíveis com as condições e natureza da venda;

l) de que ele, exportador, poderá satisfazer plenamente as condições gerais do crédito.

6.1.4.5. A Red Clause ou Cláusula Vermelha

A Red Clause (Cláusula Vermelha), muito comum no comércio internacional, permite que o beneficiário receba antecipadamente o valor total ou parcial do crédito para, posteriormente, entregar os documentos ao banco.

Via de regra, ela é instituída para dar ao beneficiário meios para adquirir ou fabricar o produto a ser exportado.

Por sua natureza de adiantamento sem garantia, ela deverá existir apenas quando o importador tiver plena confiança no seu fornecedor estrangeiro (exporta-dor). No Brasil, salvo em casos especiais, expressamente autorizados pelo Banco Central do Brasil, ela é proibida para as importações, sendo permitida somente quando instituída para os créditos de exportação.

A abertura, negociação e liquidação do crédito devem ser processadas de acordo com as “Regras e Usos Uniformes Relativos a Créditos Documentários”,

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TEMA 6OPERAÇÕES FINANCEIRAS E

PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-MODALIDADES DE PAGAMENTOS

Publicação No. 500, da C.C.I20., as quais, salvo se expressamente estipulado em con-trário no crédito, obrigam, ao seu cumprimento, todas as partes interessadas.

Segundo essas “Regras”, as expressões “créditos documentários” (ou “créditos”) abrangem qualquer ajuste pelo qual um banco (banco emitente), agindo a pedido e em conformidade com instruções de seu cliente (tomador):

• deve efetuar pagamento a terceiros (beneficiários) ou à sua ordem, ou aceitar e pagar letras de câmbio emitidas pelo beneficiário; ou

• autoriza outro banco a efetuar tal pagamento, ou aceitar e pagar as referidas letras de câmbio; ou

• autoriza outro banco a negociar, contra a entrega de documentos exigidos, desde que respeitados os termos e condições do crédito.

Os créditos são, por sua natureza, transações distintas das vendas ou de outro(s) contrato(s) que lhes possam ter servido de base, e de modo algum tal(is) contrato(s) envolve(m) ou obriga(m) os bancos, mesmo que alguma referência a ele(s) esteja incluída no crédito. Portanto, o compromisso de um banco de pagar, aceitar le-tras ou negociar e/ou cumprir qualquer outra obrigação relativa ao crédito, não está sujeito a reclamações do tomador do crédito decorrentes de seu relaciona-mento com o banco emitente ou com o beneficiário.

Insistindo, nas operações amparadas em crédito, todas as partes intervenien-tes transacionam com documentos e não com mercadorias, serviços e/ou outros itens aos quais os documentos possam referir-se.

6.1.4.6 Forma e Notificação do Crédito

Em linhas gerais, o procedimento para o estabelecimento de um crédito docu-mentário é o seguinte:

• O importador providencia junto a um banco da praça a abertura de uma car-ta de crédito no exterior, através do correio ou por teletransmissão (SWIFT), em favor do exportador da mercadoria (ou dos serviços). Tal crédito pode ser transmitido ao beneficiário diretamente pelo banco emitente, como através de um seu correspondente na praça do exportador.;

• Nessa carta de crédito são delineados os termos e condições em que a operação deve ser concretizada; termos e condições esses que dizem respeito, especialmen-te, aos seguintes itens: nome e endereço completo do beneficiário, forma do cré-dito, valor e moeda do crédito, prazos de validade para embarque e negociação, documentação exigida (fatura, conhecimento de embarque, apólice de seguro, saque, certificado de origem etc.), porto de embarque e desembarque, forma de utilização (pagamento à vista, aceite ou negociação), em que banco será utilizável, permissão ou não para embarques parcelados ou transbordos etc;

• Todo o crédito documentário deve indicar claramente se ele é revogável ou irrevogável. À falta de indicação, todo o crédito é considerado, por princípio, como irrevogável;

• O crédito revogável pode ser emendado ou cancelado pelo banco emitente a qualquer momento, sem qualquer comunicação prévia ao beneficiário. Este tipo de Crédito não oferece garantias ao exportador no que se refere à conti-nuidade da transação, motivo pelo qual é pouco utilizado;

• O crédito irrevogável, ao contrário, somente pode ser emendado ou cance-

20A Publicação no. 500 da Câmarra de Comércio Internacional (CCI) também é conhecida como Brochura 500.

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TEMA 6OPERAÇÕES FINANCEIRAS E

PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-MODALIDADES DE PAGAMENTOS

lado mediante prévia e expressa concordância do banco emitente, do banco confirmador, se houver, e do beneficiário. É o mais utilizado no comércio exte-rior por ser a modalidade de crédito que oferece maiores garantias ao expor-tador.

6.2 OUTROS TIPOS DE CRÉDITO

Além dos tipos citados acima, os créditos podem ser, ainda, transferíveis e con-firmados.

6.2.1 Crédito Transferível

No crédito transferível, o banco é autorizado a pagar o total ou parte do seu valor a uma ou a várias terceiras pessoas, de acordo com instruções recebidas do primeiro beneficiário. Um crédito pode ser transferido, desde que expressamen-te seja designado como “transferível” pelo banco emitente.

Mesmo que um Crédito não seja declarado “transferível”, o beneficiário poderá exercer a faculdade de ceder os direitos que tenha ou venha a ter segundo os termos do crédito. Entretanto, essa faculdade refere-se tão somente à cessão de direitos de valores e não à faculdade de cumprir os termos do próprio crédito.

6.2.2 Crédito Confirmado

No crédito confirmado, o exportador fica amplamente garantido, já que uma confirmação de um crédito irrevogável por um outro banco constitui um com-promisso firme do Banco confirmador, adicionalmente ao do Banco emitente, desde que os seus termos e condições sejam integralmente cumpridos:

• se o crédito estipular pagamento à vista - de pagar à vista;

• se o crédito estipular pagamento a prazo - de pagar na(s) data(s) de vencimento(s) determinada(s) segundo as condições do crédito;

• se o crédito estipular aceite - de aceitar letra(s) sacada(s) pelo beneficiário contra o Banco confirmador ou outro banco designado e pagá-las no venci-mento;

• se o crédito estipular negociação - de negociar, sem direito de regresso contra os sacadores, letra(s) sacada(s) pelo beneficiário e/ou documentos apresenta-do (s) conforme os termos do crédito.

6.3 FORMAS DE UTILIZAÇÃO DOS CRÉDITOS

Todos os créditos devem indicar, também, de forma clara, se são utilizáveis por pagamento à vista, por pagamento a prazo, por aceite ou por negociação.

6.4 PARTES INTERVENIENTES DA CARTA DE CRÉDITO. DIREITOS E ORBRIGAÇÕES

Todo o crédito documentário tem como partes intervenientes:

• o beneficiário = exportador (vendedor);

• o tomador do crédito = importador (comprador);

• o banco emitente = aquele que age a pedido do importador no processo de abertura;

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TEMA 6OPERAÇÕES FINANCEIRAS E

PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-MODALIDADES DE PAGAMENTOS

• o banco avisador = banqueiro da praça do exportador que transmite/comuni-ca a abertura do crédito, sem responsabilidade de sua parte;

• o banco negociador = banqueiro que paga ao exportador e ainda, opcional-mente;

• o banco confirmador = banco que assume o compromisso de pagar ao expor-tador, em qualquer circunstância.

Todas as obrigações e responsabilidades das partes intervenientes na moda-lidade de crédito documentário acham-se consolidadas nos 49 artigos que com-põem o conjunto das “Regras”. Na seqüência serão apresentadas algumas delas.

6.5 DOCUMENTOS – EMISSÃO E PRAZOS PARA APRESENTAÇÃO

Os bancos não assumem quaisquer responsabilidades pela forma, suficiên-cia, exatidão, autenticidade, falsificação ou eficácia legal de qualquer (quaisquer) documento(s), nem pelas condições gerais e/ou particulares estabelecidas nos documentos ou neles sobrepostos. Tão pouco assumem qualquer obrigação pela descrição, quantidade, peso, qualidade, embalagem, entrega, valor ou existência da mercadoria representada por qualquer (quaisquer) documento(s).

Todos os créditos devem estipular data de vencimento e local para a apresen-tação dos documentos para pagamento, ou para aceite. Também devem indicar, à exceção dos créditos livremente negociáveis, o local para apresentação dos documentos para negociação. Uma data de pagamento estipulada para paga-mento, para aceite ou para negociação será entendida como data final para apre-sentação dos documentos.

Além de estipular uma data de vencimento para apresentação dos documen-tos, todo o crédito, que exija documento(s) de transporte, deve também estipu-lar um prazo definido, a partir da data do embarque, durante o qual devem ser apresentados. Caso não seja estipulado tal prazo, os bancos recusarão os docu-mentos que lhes forem apresentados após 21 dias da data do embarque. Em qualquer caso, entretanto, os documentos não devem ser apresentados após a data do vencimento do crédito.

6.6 OPERAÇÕES FINANCEIRAS INTERNACIONAIS

6.6.1 Derivativos - Créditos Especiais

O comércio internacional, em razão de sua complexidade e do seu constan-te desenvolvimento, está sempre a exigir de seus participantes grande dose de criatividade e alto poder de adaptação. Resultado direto de tais exigências, os chamados créditos especiais surgiram como forma de adequação do mercado às peculiaridades que envolvem certos tipos de operações.

6.6.2 Carta de Crédito de Reserva ou Emergência - Standby Letter of Credit

Enquanto o crédito documentário é destinado a garantir o cumprimento e/ou desempenho (performance), as cartas de crédito standby são destinadas a garantir o não cumprimento e/ou o não desempenho (non performance).

Trata-se de uma operação de crédito externo, a fim de possibilitar a obten-ção de recursos junto a um banco, formalizada através de uma carta de crédito com vencimento estipulado. São utilizadas, também, como forma de abertura de

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TEMA 6OPERAÇÕES FINANCEIRAS E

PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-MODALIDADES DE PAGAMENTOS

crédito a favor de um país, por organismos econômicos mundiais – como o FMI - Fundo Monetário Internacional - para ser utilizado quando necessário (emer-gência).

Digamos que uma empresa brasileira pretenda obter um empréstimo junto a um banco na Inglaterra. Com o objetivo de prevenir-se contra uma eventual falta de pagamento do empréstimo (non performance), o banco daquele país exige uma garantia de um banco brasileiro. Tal garantia, uma vez emitida, representará um crédito de reserva (standby) ao banco inglês e será utilizada somente se a empresa nacional, tomadora do empréstimo, não honrar seu compromisso de pagamento.

6.6.3 Crédito Rotativo - Revolving Letter of Credit

Modalidade de crédito em que a totalidade ou parte do seu montante se tor-na disponível após a utilização, geralmente dentro das mesmas condições, sem que seja necessária a emissão de uma nova carta de crédito.

Os créditos com restabelecimento automático estipulam que os valores pa-gos tornar-se-ão novamente e automaticamente disponíveis, até que o total dos pagamentos a serem liquidados pelo tomador (importador) do crédito atinja o valor total da carta de crédito. Nos créditos sem restabelecimento automático, o valor torna-se novamente disponível para novos embarques, mas apenas após o recebimento, pelo beneficiário (exportador), de notificação de restabelecimento emitida pelo banco emitente.

O crédito rotativo é muito utilizado por importadores que adquirem, de um mesmo fornecedor, continuadamente, o mesmo tipo de mercadoria. No Brasil, as indústrias calçadistas encontram-se entre as maiores beneficiárias desta moda-lidade de crédito.

6.6.4 Crédito Transferível

O crédito transferível é um crédito sob o qual o beneficiário (primeiro benefi-ciário) pode solicitar ao banco autorizado a pagar, a responsabilizar-se pelo cum-primento da obrigação por pagamento diferido, a aceitar ou a negociar (o banco transferidor). Ou, no caso de um crédito livremente negociável, ao banco especi-ficamente autorizado no crédito como banco transferidor, que coloque o crédito à disposição no todo ou em parte a um ou mais outro(s) beneficiário(s), também conhecido(s) por segundo(s) beneficiários(s)).

Um crédito pode ser transferido somente se for expressamente designa-do como “transferível” pelo banco emitente. Termos como “divisível”, “cedível” e “transmissível” não tornam o crédito transferível.

6.6.5 Crédito Triangular - Back to Back Credit

É o crédito documentário vinculado a um primeiro crédito, denominado como crédito mestre (Master Credit), onde o beneficiário (exportador) do primeiro cré-dito é geralmente um intermediário (não produtor) que cede seus direitos a um banco para a emissão de um segundo crédito a favor do fornecedor (produtor) da mercadoria.

Na realidade, o Back to Back Credit não se configura como um tipo de carta de crédito, mas sim como uma modalidade de operação baseada em duas cartas de

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TEMA 6OPERAÇÕES FINANCEIRAS E

PAGAMENTOS INTERNACIONAIS-MODALIDADES DE PAGAMENTOS

crédito. Na prática, este tipo de operação ocorre da seguinte forma:

um importador desejando adquirir certa mercadoria no exterior emite uma carta de crédito a favor do exportador estrangeiro, que terá que adquirir a referi-da mercadoria de um produtor local que somente lhe venderá a mesma contra uma carta de crédito doméstica.

o exportador dirige-se a um banco de sua preferência e solicita a emissão de uma carta de crédito doméstica em favor do produtor local, apresentando, como garantia, o crédito emitido a seu favor pelo importador.O valor deste crédito é então transferido ao banco emitente do crédito doméstico que, via de regra, é de valor inferior ao do primeiro.

efetuada a exportação, o banco local paga ao exportador a diferença entre as duas cartas de crédito. A diferença representa o lucro do exportador.

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ANOTE

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TEMA 7TEMA 7

TAXA DE CÂMBIO

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TEMA 7TAXA DE CÂMBIO

TEMA 7 – TAXA DE CÂMBIO

Objetivos do Tema

• Proporcionar o conhecimento de como se movimentam as taxas no mercado de câmbio;

• Mostrar a lei da oferta e da procura de moeda estrangeira, as oscilações de mercado e

as cotações de câmbio, conectadas com o padrão da taxa de câmbio e com o sistema de

taxas livres, oficiais, fixas e variáveis;

• Mostrar como acontecem as oscilações cambiais e quais os tipos de operações que ocor-

rem no Mercado Brasileiro de Câmbio.

7.1 A TAXA DE CÂMBIO

Taxa de câmbio é o preço convencionado em unidades ou frações (centavos), para recebimento em moeda nacional, por instituição autorizada a operar em câmbio, pela venda de moeda estrangeira, ou paga em moeda nacional pela ins-tituição, pela compra de moeda estrangeira.

Esse valor arbitrado para compra ou venda é denominado de cotação.

Por isso dizemos que existe cotação para compra e cotação para a venda da moeda estrangeira. Para termos a cotação correta temos que nos posicionar em uma das pontas: vendedora ou compradora.

Você chega à cotação das diversas moedas estrangeiras em relação ao Real utilizando a paridade das mesmas em relação ao dólar e a paridade deste em relação à moeda nacional, isto é, ao Real ou R$.

No Brasil, a moeda estrangeira mais negociada é o dólar dos Estados Unidos, fazendo com que a cotação mais comumente utilizada seja a dessa moeda. Des-sa forma, quando se fala que a taxa de câmbio é 2,15, significa que o dólar norte-americano custa R$ 2,15.

7.1.1 A taxa e a lei da oferta e da procura

A compra e a venda de moeda estrangeira ocor-rem de acordo com as regras do mercado, isto é, dentro da lei de oferta e de procura.

Como qualquer outro ativo, o excesso ou falta da moeda estrangeira é que irá fixar o seu preço, isto é, o valor de mercado.

7.1.2 Taxa de Compra

É a cotação que o operador de câmbio utili-za para as operações de compra de uma determi-nada moeda. Exemplo: US$ 1,00 está cotado a R$

2,1500/2,1580.

A cotação para a compra pela instituição operadora de câmbio é a da esquerda, isto é, a instituição está disposta a comprar o dólar norte-americano por R$ 2,1500.

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TEMA 7TAXA DE CÂMBIO

7.1.3 Taxa de Venda

É a cotação utilizada pelos operadores de câmbio para as operações de venda de determinada moeda estrangeira. Exemplo: US$ 1,00 está cotado a R$ 2,1500/2,1580.

A cotação para a venda dada pela instituição autorizada a operar câmbio é a da direita, isto é, a instituição está disposta a vender dólar americano por R$ 2,1508.

7.1.4 Taxa ascendente

A taxa de câmbio estará em situação ascendente quando:

• A procura for maior que a oferta;

• A procura permanecer estável e a oferta diminuir;

• A procura e a oferta crescerem e o crescimento da procura for maior que o da oferta;

• A procura e a oferta diminuírem; e a diminuição da oferta for menor do que a procura.

7.1.5 Taxa descendente

A taxa cambial terá sentido descendente quando:

• A oferta aumenta e a procura permanece estável;

• A oferta aumenta e a procura diminui;

• A oferta e demanda aumentam e o aumento da oferta é maior do que a de-manda;

• A procura diminui e a oferta permanece estável;

• A oferta e a procura diminuem e a diminuição da procura é maior do que a oferta.

7.1.6 Taxas livres e oficiais

A taxa é livre quando é determinada pelo mercado segundo a lei da oferta e da procura. Ela se forma, portanto, dentro de um mercado totalmente livre. O Go-verno apenas intervirá se perceber que algum movimento especulativo (contra a moeda local ou divisa estrangeira) está ocorrendo e pode provocar oscilações indesejáveis no mercado.

7.1.7 Taxas fixas e variáveis

Taxa fixa é quando o valor de uma taxa, independentemente da oferta e da pro-cura da mesma no mercado, permanece imutável por determinado período. Esse tipo de situação já foi experimentado no passado, quando alguns planos econômi-cos foram implementados. No Plano Cruzado, na época do presidente José Sarney em que o câmbio permaneceu com a taxa fixa por alguns meses, no Plano Verão por ocasião do mandato do mesmo Presidente, no início do Governo Collor etc.

Na taxa variável, como se depreende, a cotação pode variar no sentido ascenden-te ou descendente, dependendo da oferta e da demanda pelas divisas no mercado.

Se a taxa é variável, podemos corretamente afirmar que a taxa é flutuante, ou

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TEMA 7TAXA DE CÂMBIO

seja, é comprada e vendida dentro da lei da oferta e da procura.

7.1.8 O spread

O spread é a diferença entre a taxa de compra e a taxa de venda, com a qual, os bancos ou estabelecimentos autorizados a operar em câmbio cobrem seus custos e realizam seus lucros.

7.1.9. Taxa PTAX do Banco Central do Brasil

É a taxa média de venda (compra) do dólar norte-americano comercial pon-derada em valor, apurada pelo Bacen ao final de cada dia e, que serve como refe-rência para os negócios em dólar norte-americano.

Segundo a Circular 3.300 em seu artigo 1º diz o seguinte: As cotações de compra e de venda da PTAX serão calculadas com base no resultado da taxa média (ponderada pelos volumes) das operações realizadas no mercado inter-bancário de cambio, com liquidação em d+2, obtida apos o expurgo de uma parcela dessas operações, cujo volume não é superior a 5% do volume nego-ciado no dia. O expurgo é feito para eliminar possíveis operações outliers21.

7.1.10 As bandas cambiais

Com a implantação do Plano Real, foi criado o conceito de bandas cambiais com o objetivo, entre outros, de controlar a entrada de recursos externos. O Ba-cen passou a, eventualmente, comprar dólar por uma taxa inferior à taxa de ven-da. Uma diferença ampla entre as duas cotações é um fator de desestímulo ao smart money22.

Em fevereiro de 1996, o Bacen estabelece a “faixa de flutuação” da Banda Cam-bial como sendo de R$ 0,97 por US$ 1,00 a paridade mínima para sua interven-ção de compra, e R$ 1,06 por US$ 1,00 sua paridade máxima para a intervenção de venda no mercado de taxas livres (dólar comercial).

Este mecanismo foi extinto em 15/01/1999, com a adoção do mecanismo de dólar flutuante em que a cotação do dólar passava a ser formada unicamente pelo mercado, com a intervenção do Bacen apenas em situação de crise, se fosse o caso, para controlar a volatilidade excessiva.

7.1.11 A desvalorização cambial

Quando a economia de um país sofre os efeitos da inflação, ou seja, se os cus-tos dos produtos produzidos internamente crescem, haverá a necessidade, de forma a manter a competitividade desses produtos no mercado internacional, de alterar as taxas de câmbio que permitam o reajuste de preços internos aos preços externos, após compensado o desconto da inflação externa.

No caso do Brasil, os ajustes são feitos sempre em relação ao dólar, que é a mo-eda de referência de nossas transações externas. A desvalorização do real frente ao dólar é calculada levando-se em conta a taxa de câmbio nominal média do período, considerando a cotação de venda do Bacen corrigida pela relação entre o índice de preço no atacado dos EUA e o IPA-DI da Fundação Getúlio Vargas.

21Operações que tenham sido fechadas com taxas muito discrepantes em relação à média do dia. 22Recurso externo que só é internalizado para obter ganho em prazo curto, à medida que o percentual dessa diferença não permita compensar, no prazo de oportunidade, a diferença entre as taxas de juros internas e externas.

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ANOTE

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ANOTE

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TEMA 8TEMA 8

TRIBUTAÇÃO NO COMÉRCIO EXTERIOR

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TEMA 8TRIBUTAÇÃO NO

COMÉRCIO EXTERIOR

TEMA 8 – TRIBUTAÇÃO NO COMÉRCIO EXTERIOR

Objetivos do Tema

• Oferecer os dados que proporcionam o conhecimento da tributação aplicada às operações de comércio exterior, tanto nas exportações como nas importações;

• Mostrar o tratamento fiscal nas exportações e como funcionam os regimes aduaneiros e a tributação alfandegária;

• Apresentar um comparativo da tributação brasileira com a de outros países.

8.1 QUEM TRIBUTA AS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO

Uma das questões fundamentais das transações comerciais internacionais é a de saber quem tributa as operações de exportação de mercadorias. A pergunta é: a tributação corre por conta do país vendedor ou do país comprador?

8.1.1 Alguns países adotam a tributação no destino

É bom saber que alguns países adotam o princípio da tributação no destino, ou seja, a incidência dos tributos ocorre no país onde serão consumidas as mer-cadorias. Dessa forma, a exportação é isenta dos tributos internos.

8.1.2 Outros países tributam a mercadoria na origem, ou seja, antes de ser exportada

Em contrapartida, há outros países que adotam o princípio da tributação na origem das mercadorias. As exportações são tratadas como qualquer transação interna, sofrendo a incidência dos tributos.

8.1.3 O Brasil adota o princípio da tributação no país de destino

No Brasil, é adotado o princípio da tributação no país de destino.Desta forma as exportações de mercadorias, ao saírem do país, não sofrem a incidência de impostos, respeitados os princípios internacionais.

8.2 RELAÇÃO DE IMPOSTOS ISENTOS NAS OPERAÇÕES DE EXPORTAÇÃO

Apresentamos abaixo uma relação de impostos que são suspensos ou isentos nas operações de exportação:

8.2.1 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)

Não há incidência do imposto sobre produtos industrializados na saída de produtos com destino ao exterior.

No caso de venda do produto no mercado interno, em operação equiparada à exportação ou para a qual sejam atribuídos os incentivos fiscais concedidos à exportação, a saída é efetuada com isenção do IPI. Como exemplo, a venda com o fim específico de exportação, nos termos do Decreto-Lei nº. 1.248, de 29.11.72, à empresa comercial exportadora.

No caso de venda do produto no mercado interno, com destino à exportação, para empresa comercial que opera no comércio exterior, a saída é efetuada com

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TEMA 8TRIBUTAÇÃO NO

COMÉRCIO EXTERIOR

suspensão do IPI.

A suspensão do imposto aplica-se, também, nas saídas com o fim de exporta-ção para:

• armazém-geral alfandegado, entreposto aduaneiro e entreposto industrial;

• outros estabelecimentos da mesma empresa.

A suspensão do IPI aplica-se ainda:

• a produto intermediário e material de embalagem, de fabricação nacional, vendidos a estabelecimento industrial para industrialização de produto a ser exportado;

• a suspensão é também aplicada quando produtos intermediários e material de embalagem são vendidos a estabelecimento comercial, para industriali-zação em outro estabelecimento da mesma empresa ou de terceiros, e que também se destinem à exportação.

É importante observar que além da não incidência na exportação, ao fabrican-te é concedido o direito à manutenção do crédito do IPI relativo à matéria-prima, produto intermediário e material de embalagem adquiridos para emprego na industrialização de produto exportado.

Neste caso, o crédito não é estornado e pode ser utilizado:

• por dedução do valor do IPI devido em saídas tributadas;

• por transferência para outro estabelecimento da empresa;

• por compensação com débitos de quaisquer tributos e contribuições sob a administração da Secretaria da Receita Federal, nos termos da legislação em vigor;

• mediante ressarcimento em dinheiro.

8.2.2 Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)

Não há incidência do imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços sobre operações que destinem ao exterior produtos industrializados, inclusive produtos semi-elaborados, produtos primários ou prestação de serviços.

O ICMS não incide, ainda, sobre operações de saída de mercadoria, com o fim específico de exportação para o exterior, destinada a empresa comercial expor-tadora, inclusive a constituída nos termos do Decreto-Lei n° 1.248, de 29.11.72 ou outro estabelecimento da mesma empresa, ou ainda a armazém alfandegado ou entreposto aduaneiro.

Da mesma forma que para o IPI, é concedido o direito à manutenção do crédi-to de ICMS relativo à mercadoria entrada no estabelecimento para integração ou consumo em processo de produção de mercadorias destinadas ao exterior.

Os créditos não necessitam ser estornados e os saldos credores do ICMS acu-mulados podem ser:

• transferidos e utilizados por qualquer estabelecimento do contribuinte no mesmo Estado;

• transferidos para outros contribuintes do mesmo Estado, mediante o reco-nhecimento formal do crédito pela autoridade competente.

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TEMA 8TRIBUTAÇÃO NO

COMÉRCIO EXTERIOR

8.2.3 Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS)

Na determinação da base de cálculo da COFINS são excluídas as receitas de-correntes da exportação de mercadorias ou serviços assim entendidos:

• as vendas de mercadorias ou serviços para o exterior, realizadas diretamente pelo exportado;

• as exportações realizadas por intermédio de cooperativas, consórcios ou enti-dades semelhantes;

• as vendas realizadas pelo produtor-vendedor às empresas comerciais expor-tadoras, nos termos do Decreto-Lei n° 1.248, de 29.11.72, desde que destina-das ao fim específico de exportação para o exterior;

• as vendas, com o fim específico de exportação para o exterior, às empresas exportadoras registradas no DECEX, da Secretaria de Comércio Exterior;

• o fornecimento de mercadorias ou a prestação de serviços para uso ou consu-mo de bordo em embarcações e aeronaves em tráfego internacional, quando o pagamento for efetuado em moeda conversível;

• as demais vendas de mercadorias ou serviços para o exterior, nas condições estabelecidas pelo poder executivo.

8.2.4 Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP)

Na determinação da base de cálculo do PIS/PASEP, pode ser excluído o valor da receita de exportação de mercadorias nacionais.

São consideradas exportadas, para fins do incentivo, as mercadorias vendi-das à empresa comercial exportadora de que trata o Decreto-Lei n° 1.248, de 29.11.72.

8.2.4.1 Crédito de COFINS - PIS/PASEP

Consoante às disposições da Lei 9.363/96 é concedido crédito presumido do IPI a título de ressarcimento dos valores da COFINS e do PIS/PASEP que hajam incidido sobre a aquisição de insumo nacional utilizado em produto exportado.

O incentivo aplica-se, inclusive, nos casos de venda a empresa comercial exportadora com o fim específico de exportação para o exterior. O crédito pode ser transferido para qualquer estabelecimento da empresa para efeito de compensação com o IPI.

Este ressarcimento objetiva compensar a tributação do COFINS e do PIS/PASEP, ocorrida em etapas anteriores do processo produtivo, de difícil mensuração e eliminação (a priori).

A base de cálculo do crédito presumido é determinada mediante a aplicação sobre o valor total das aquisições de matérias-primas, produtos intermediários e material de em-balagens, do percentual correspondente à relação entre a receita de exportação e a receita operacional bruta do produtor exportador.

O crédito fiscal é o resultado da aplicação de 5,37% (percentual fixado pelas autorida-des) sobre a base de cálculo anteriormente indicada.

8.2.5 Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF)

A alíquota é de 0% para as operações de crédito, câmbio e seguro, e sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários, nas operações de câmbio vinculadas à exportação de bens e serviços.

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TEMA 8TRIBUTAÇÃO NO

COMÉRCIO EXTERIOR

A alíquota é 0% (zero por cento), também:

• nas operações de crédito à exportação, bem como de amparo à produção para exportação ou de estímulo à exportação;

• nas operações relativas a adiantamento de contrato de câmbio de exportação.

8.2.6 Imposto de Renda na fonte

Alíquota de 0% do Imposto de Renda, incidente sobre os rendimentos auferi-dos no País, por residentes ou domiciliados no exterior, nos casos de:

• remessas para o exterior, exclusivamente para pagamento das despesas com promoção, propaganda e pesquisas de mercado de produtos brasileiros, in-clusive aluguéis e arrendamentos de “stands” e locais para exposições, feiras e conclaves semelhantes, bem como as de instalação e manutenção de escritó-rios comerciais e de representação, de armazéns, depósitos ou entrepostos;

• solicitação, obtenção e manutenção de direitos de propriedade industrial, no exterior;

• comissões pagas por exportadores a seus agentes no exterior;

• juros de descontos, no exterior, de cambiais de exportação e as comissões de banqueiro inerentes a essas cambiais;

• juros e comissões relativos a créditos obtidos no exterior destinados ao finan-ciamento de exportações.

8.2.7 Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) nas operações de expor-tações

As receitas de exportação estão sujeitas ao pagamento de imposto de renda, quando da apuração do resultado ao final do exercício conforme o enquadra-mento, seja no lucro presumido ou no lucro real.

8.3 REGIMES ADUANEIROS E TRIBUTOS

Este assunto será tratado no tema 9 – Tributação no Comércio Exterior, em Regimes Aduaneiros, com maior profundidade.

No item anterior foram listados os gravames pertinentes à exportação. Neste item estão aspectos pertinentes à tributação sobre operações de importação.

As importações sofrem tributação por ocasião da entrada da mercadoria no mer-cado interno, quando ocorre a nacionalização das mesmas. O imposto de importa-ção é o primeiro gravame a ser calculado e, sucessivamente, quando forem devi-dos, os impostos de produtos industrializados, o de circulação de mercadorias e serviços, e demais taxas, que veremos a seguir.

Para que seja apurado o valor a ser pago utiliza-se um dos métodos dispostos no Acordo de valoração aduaneira, conforme Decreto nº. 4.543/2002.

Estabelecendo a base fiscal, que é formada pelo valor da mercadoria, mais o valor do frete internacional, mais o valor do seguro, calcula-se a incidência dos impostos, começando com o cálculo do Imposto de Importação.

8.3.1 Imposto de Importação

O imposto de importação, segundo o art. 1º do Decreto-lei nº. 2.472/1988, que

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TEMA 8TRIBUTAÇÃO NO

COMÉRCIO EXTERIOR

deu nova redação ao mesmo artigo do Decreto-lei nº. 37/1966, incide sobre mer-cadoria estrangeira e tem, como fato gerador, sua entrada no território nacional.

A base de cálculo (art. 75 do Decreto nº. 4.543/2002) incidirá sobre,

• quando a alíquota for específica, a quantidade de mercadoria, expressa na unidade de medida estabelecida;

• quando a alíquota for ad valorem, o valor aduaneiro apurado segundo as nor-mas do art. VII do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio (GATT).

8.3.2 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)

Considera-se industrializado o produto que tenha sido submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou finalidade, ou o aperfeiçoe para con-sumo.

8.3.2.1 Incidência do imposto

Segundo Cassone (2004:224), o imposto de produtos industrializados se dá pela conjugação do art. 153, IV, e o art. 153, § 3º, II, da Constituição Federal, inci-dindo sobre operações relativas a produtos industrializados e será:

• seletivo, em função da essencialidade do produto;

• não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nos anteriores;

• não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao exterior.

São isentos do imposto sobre produtos industrializadosos produtos capitula-dos no art. 135 do Decreto nº. 4.543/2002, no que se refere ao inciso I e às alíneas a a o e q a t do inciso II, desde que satisfeitos os requisitos e condições exigidos para concessão do benefício análogo relativo ao Imposto de Importação. Isso significa dizer que, não havendo pagamento de Imposto de Importação, não ha-verá pagamento do Imposto sobre Produtos Industrializados.

Sempre que o imposto de importação dispensado vier a ser exigido, exigir-se-á também o IPI.

8.3.2.2 Fato gerador

• o desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira;

• a saída do produto do estabelecimento industrial, ou equiparado a industrial.

8.3.3 Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS)

O ICMS é um imposto estadual, de abrangência nacional. Cada Estado da Fe-deração tem legislação própria.

8.3.3.1 Da Base de Cálculo

• Operações relativas à circulação de mercadorias e às prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;

• Incide também sobre a entrada de mercadoria importada do exterior, ainda que se trate de bem destinado a consumo ou a ativo fixo do estabelecimento,

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TEMA 8TRIBUTAÇÃO NO

COMÉRCIO EXTERIOR

assim como sobre o serviço prestado no exterior;

• A base de cálculo do ICMS é o montante do custo da mercadoria (mais o frete e o seguro internacionais), mais o Imposto de Importação, mais o Imposto so-bre Produtos Industrializados, reajustado.

8.3.4 Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS na Importação

Instituídas pela Lei nº. 10.865, de 30-4-2004, a contribuição para os programas de integração social e de formação do patrimônio do servidor público incidente sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços (PIS/Pasep-Importação) e portador de bens estrangeiros ou serviços do exterior (Cofins-Importação), com base nos arts. 149, § 2º, inciso II, e 195, inciso IV, da Constituição Federal, observado o disposto no seu art. 195, § 6º.

O pagamento das contribuições deverá ser efetuado na data do registro da declaração de importação no SISCOMEX (art. 252 do Decreto nº. 4.543/2002 e Lei nº. 9.532/1997, art. 54).

Alíquotas:

• PIS/PASEP-Importação: –1,65% (um inteiro e sessenta e cinco centésimos por cento);

• COFINS-Importação: –7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento);

8.3.5 CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico–Combustíveis

A contribuição de intervenção no domínio econômico – combustíveis (CIDE – combustíveis) foi criada pela Lei nº. 10.336, de 19-12-2001 e incide sobre a impor-tação de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico com-bustível (Decreto nº. 4.543/2002, art. 253, e Lei nº. 10.336, de 19-12-2001, art. 1º).

É responsável solidário pela CIDE – combustíveis, o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora (Decreto nº. 4.543/2002, art. nº. 256, e Lei nº. 10.336, de 2001, art. 11).

8.3.6 Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM)

O AFRMM é um adicional ao frete cobrado pelas empresas brasileiras e es-trangeiras de navegação que operam em porto brasileiro, de acordo com o co-nhecimento de embarque e o manifesto de carga, pelo transporte de carga de qualquer natureza (art. 2º do Decreto-lei nº. 2.404, de 23-12-1987). O objetivo de tal arrecadação é apoiar o desenvolvimento da marinha mercante brasileira e a indústria de construção naval.

8.3.6.1 Fato gerador e base do cálculo

O AFRMM é devido na entrada no porto de descarga e é calculado sobre o frete, à razão de (art. 3º do Decreto-lei nº. 2.404/1987, modificado pela Lei nº. 8.032/1990):

• 25% (vinte e cinco por cento), na navegação de longo curso;

• 10% (dez por cento), na navegação de cabotagem;

• 5% (cinco por cento), na navegação lacustre e fluvial.

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TEMA 8TRIBUTAÇÃO NO

COMÉRCIO EXTERIOR

8.4 ENQUADRAMENTO DAS EMPRESAS INSCRITAS NO “SIMPLES”

O SIMPLES23 consiste em uma forma simplificada e unificada de recolhimen-to de tributos, por meio da aplicação de percentuais favorecidos e progressivos, incidentes sobre uma única base de cálculo - a receita bruta. A empresa SIMPLES originariamente não podia fazer operações de importação mas tal limitação foi suspensa a partir de 24 de agosto de 2001. Apenas pagará os impostos inciden-tes como uma outra empresa não caracterizada como SIMPLES.

8.5 TAXAS DE ARMAZENAGEM E DE CAPATAZIA

8.5.1 Portuárias

As demais despesas incidentes na importação de mercadorias são as de ca-patazia e armazenagem. Capatazia refere-se aos gastos com a movimentação de mercadorias pelo pessoal da administração do porto. A armazenagem, refere-se aos custos incidentes na mercadoria depositada nos armazéns, pátios, depósitos etc., de propriedade dos administradores dos portos, podendo ser:

• armazenagem interna;

• armazenagem externa;

• em armazéns gerais;

• armazém especial.

8.5.2 Aeroportuárias

Na movimentação de cargas em dependências dos aeroportos, temos as des-pesas de capatazia nos Terminais de Carga Aérea (Teca) e as de armazenagem.

Deve ser consultado um agente de cargas ou despachante aduaneiro antes de ser fechada a importação para que sejam levantados os preços cobrados nos diversos aeroportos e portos nacionais, considerando que os custos variam de um para outro local de descarga/ desembaraço.

Às vezes, é melhor para um importador de São Paulo desembaraçar o produto em Paranaguá ou no Rio de Janeiro, dependendo da carga a ser movimentada.

8.6 CONTRIBUIÇÃO PROVISÓRIA SOBRE MOVIMENTAÇÃO OU TRANSMIS-SÃO DE VALORES E DE CRÉDITOS E DIREITOS DE NATUREZA FINANCEIRA –CPMF

Essa contribuição foi criada provisoriamente (apenas por 13 meses) pela Lei nº. 9.311, de 24-10-1996. A alíquota à época era de 0,20% sobre o valor movimen-tado. Sistematicamente prorrogada, a contribuição, que deveria ser provisória, tornou-se permanente, e é cobrada a alíquota de 0,38%.

8.7 DEMAIS DESPESAS INCIDENTES NAS OPERAÇÕES DE IMPORTAÇÃO

No registro da declaração de Importação, o importador pagará pela utilização do SISCOMEX. Um registro com apenas uma adição custa R$ 50,00 ao importador; por cada adição excedente será cobrado R$ 10,00. Essas adições representam as

23SIMPLES – Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte. O Simples está em vigor desde 1.º de janeiro de 1997. Consiste no pagamento unificado dos seguintes impostos e contribuições: IRPJ, PIS, COFINS, CSLL, INSS Patronal e IPI (se for contribuinte do IPI). A inscrição no Simples dispensa a pessoa jurídica do pagamento das contribuições instituídas pela União, como as destinadas ao SESC, ao SESI, ao SENAI, ao SENAC, ao SEBRAE, e seus congêneres, bem como as relativas ao salário-educação e à Contribuição Sindical Patronal. O Simples poderá incluir o ICMS e/ou o ISS devido por microempresa e/ou empresa de pequeno porte, desde que o Estado e/ou o Município em que esteja estabelecida venha aderir ao Simples mediante convênio.

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TEMA 8TRIBUTAÇÃO NO

COMÉRCIO EXTERIOR

diversas classifi cações tarifárias das mercadorias importadas. É conveniente que o Importador se informe sobre essa despesa junto ao despachante aduaneiro que vai liberar sua mercadoria na alfândega pois os custos são reajustados perio-dicamente pela Secretaria da Receita Federal.

Assim, se importar apenas um item tarifário, isto é, apenas um tipo de merca-doria, a Declaração terá apenas uma adição; se importar quatro itens tarifários, a declaração de importações terá quatro adições.

8.8 COMPARATIVO DA TRIBUTAÇÃO BRASILEIRA COM A DE OUTROS PAÍSES

Grande parte dos países apresentam incidência tributária mais amena em relação ao fi sco brasileiro (Percentual sobre o PIB) :

• Países da OCDE24 – Pacífi co: 28,88%;

• América: 27,5%;

• Europa: 39,8%;

• União Européia: 41,3%.

Abaixo um quadro mostrando a incidência percentual da tributação no PIB de cada país. Percebe-se, infelizmente, que a carga tributária do Brasil está acima de muitos países.

Tal tributação onera nossos produtos quando concorrem no exterior. Embora a balança brasileira de mercadorias esteja sendo positiva, com refl exos na balan-ça de pagamentos do país, poderia estar muito melhor ainda se a tributação não fosse tão alta. O combate à economia informal (ilegal) poderia ser o remédio para essa situação. Afi nal, quando todos pagam, todos pagam menos.

Quadro 8.1

Carga Tributária de Países Selecionados

PAÍS PIB 2002 PIB 2003

SUÉCIA 53,20 50,80

NORUEGA 44,90 43,90

BRASIL 35,84 35,54

ALEMANHA 36,40 36,20

CANADÁ 35,20 33,90

ESPANHA 35,20 35,80

SUIÇA 34,50 29,80

PORTUGAL 34,50 33,90

ARGENTINA 19,20 20,70

ESTADOS UNIDOS 29,60 20,70

24A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Economico (OCDE) sucedeu à Organização Europeia de Cooperação Economica, que foi criada para administrar a ajuda dos Estados Unidos e do Canadá, no quadro do Plano Marshall, ao processo de reconstrução européia que se seguiu à 2ª Guerra Mundial. Desde que iniciou a sua atividade, em 1961, a OCDE, que conta hoje com 30 países membros, tem por missão reforçar a economia dos países membros, melhorar a sua efi cácia, promover a economia de mercado, desenvolver um sistema de trocas livres e contribuir para o desenvolvimento e industrialização dos países.

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ANOTE

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TEMA 9TEMA 9

REGIMES ADUANEIROS

ESPECIAIS

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TEMA 9REGIMES ADUANEIROS

ESPECIAIS

TEMA 9 – REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS

Objetivos do Tema

• Proporcionar uma visão ampla dos regimes aduaneiros especiais e atípicos que facilitam o comércio exterior, funcionando como alavancadores especiais no incremento das exportações;

• Fazer compreender a dinâmica do trânsito aduaneiro assim como a dimensão do funcionamento do regime comum e do regime extraordinário aduaneiro na exportação e também as leis que o regem;

• Oferecer dados sobre o funcionamento da operação de drawback na importação;

• Esclarecer o regime de entreposto industrial na importação.

9.1 REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS

Regimes aduaneiros especiais são mecanismos que permitem a importação e a exportação de mercadorias com a suspensão dos tributos incidentes.

9.1.1 Regimes aduaneiros especiais na exportação

9.1.1.1 Trânsito Aduaneiro na Exportação

Permite o transporte de mercadoria, sob controle da autoridade aduaneira, de um ponto a outro do território nacional, com suspensão de tributos.

O regime, concedido pela Secretaria da Receita Federal, pode ser aplicado ao:

• transporte de mercadoria nacional ou nacionalizada, verificada ou despacha-da para exportação, do local de origem ao local de destino, para embarque ou armazenamento em área alfandegada para posterior embarque;

• transporte, pelo território aduaneiro, de mercadoria nacional ou nacionaliza-da, verificada;

• ou despachada para exportação e conduzida em veículo com destino ao ex-terior.

O prazo de suspensão dos tributos será o necessário para amparar o transpor-te desde o local de origem até ao de destino, contado a partir do momento do desembaraço para trânsito aduaneiro, e limitado ao momento da certificação da chegada da mercadoria no destino.

O regime se extingue na conclusão da operação de trânsito, no território na-cional, mediante atestado de chegada da mercadoria ao destino.

9.1.1.2 Exportação Temporária

Considera-se exportação temporária a saída, do país, de mercadoria nacional ou nacionalizada, condicionada à re-importação em prazo determinado ou mes-mo estado ou depois de submetida a processo de conserto, reparo ou restaura-ção. O prazo máximo de permanência no exterior é de 2 (dois) anos.

O registro de exportação (RE), no SISCOMEX, constitui requisito para conces-são do regime, que se extingue com a reimportação da mercadoria. A exporta-ção temporária é concedida pela Secretaria da Receita Federal.

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TEMA 9REGIMES ADUANEIROS

ESPECIAIS

A aplicabilidade do Regime de Exportação Temporária cabe a

I) mercadorias destinadas a feiras, competições esportivas ou exposições, no ex-terior;

II) produtos manufaturados e acabados, inclusive para conserto, reparo ou res-tauração para seu uso ou funcionamento;

III) animais reprodutores para cobertura, em estação de monta, com retorno cheia, no caso de fêmea, ou com cria ao pé, bem como animais para outras finalidades;

IV) veículos para uso de seu proprietário ou possuidor;

V) minérios e metais, para fins de recuperação ou beneficiamento;

VI) mercadoria a ser submetida à operação de transformação, ela-boração, beneficiamento ou montagem, no exterior, e sua reim-portação, na forma do produto resultante dessas operações.

Na re-importação de mercadoria exportada temporariamente para conserto, reparo e restauração serão exigíveis os tributos incidentes na importação dos materiais empregados na execução dos serviços, enquanto que, na hipótese de ocorrência de aperfeiçoamento passivo, serão exigíveis os tributos incidentes so-bre o valor agregado.

O regime de exportação temporária para aperfeiçoamento passivo (Portaria MF 675/94) é o que permite a saída, do país, por tempo determinado, de mercadoria para ser submetida à operação de transformação, elaboração, beneficiamento ou montagem, no exterior, e sua re-importação, na forma do produto resultante dessas operações.

9.1.1.3 Entreposto Aduaneiro na Exportação

Compreende duas modalidades:

A) Regime Comum: aquele que, após terem sido observadas as normas pertinen-tes, depositar as mercadorias, destinadas ao mercado externo, em entreposto aduaneiro;

B) Regime Extraordinário: refere-se às empresas comerciais exportadoras de que trata a Lei 1.248/72, que adquirem mercadorias para o fim específico de ex-portação, e as depositam em entreposto aduaneiro, ou promovem o seu em-barque direto.

Assim, este regime permite o depósito de mercadorias a serem exportadas, em lugar determinado, com suspensão do pagamento de tributos e sob controle fiscal.

O regime de entreposto aduaneiro na exportação é concedido pela Secretaria da Receita Federal.

O prazo de permanência da mercadoria no regime de entreposto na exporta-ção é de até 1 (um) ano, prorrogável pelo mesmo período. Em situações especiais, o prazo de permanência no regime pode ser prorrogado até o limite máximo de 3 (três) anos.

Dentro do prazo de vigência do regime, acrescido de 45 (quarenta e cinco) dias após esgotar-se o prazo de permanência, deverá ser adotada uma das se-guintes providências com relação à mercadoria entrepostada:

• iniciar o despacho de exportação ( solicitar a SD no SISCOMEX);

• reintegrá-la ao estoque do estabelecimento do beneficiário;

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TEMA 9REGIMES ADUANEIROS

ESPECIAIS

• em qualquer outro caso, recolher os tributos suspensos, de acordo com a le-gislação pertinente.

Vencido o prazo do regime, sem a adoção de uma das providências previstas, a mer-cadoria é considerada abandonada, para fins de aplicação da pena de perdimento.

9.1.1.4 Drawback

A operação de drawback compreende a importação com isenção ou suspen-são do Imposto de Importação (II), do IPI, do ICMS, este na forma definida pelos Estados e Distrito Federal, inclusive no âmbito do CONFAZ25, do Adicional ao Fre-te para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), além da dispensa do reco-lhimento de outras taxas que não correspondam à efetiva contraprestação de serviços, nos termos da legislação em vigor.

Para efetivamente obterem estes benefícios tributários, as importações reali-zadas através de operação de Drawback devem ser obrigatoriamente utilizadas na industrialização de produtos destinados à exportação.

Trata-se de poderoso instrumento de incentivo às exportações brasileiras e incremento das vendas externas.

Modalidades de drawback

• Isenção; • Suspensão;• Restituição.

Principais vantagens

• Suspensão dos tributos incidentes na importação de mercadoria a ser utiliza-da em processo de industrialização de produto destinado à exportação;

• Isenção de tributos incidentes na importação de mercadoria, em quantidade e qualidade equivalentes, destinada à reposição de mercadoria anteriormen-te importada utilizada na industrialização de produto exportado.

Essa modalidade também poderá ser concedida, desde que haja uma justifi-cação, para a importação de mercadoria equivalente, adequada à realidade tecnológica, com a mesma finalidade da originariamente importada, obede-cidos os respectivos coeficientes técnicos de utilização, e ficando o valor total da importação limitado ao valor da mercadoria substituída.

Operações Especiais de Drawback

• Drawback Genérico

Dá-se exclusivamente na modalidade de suspensão. Caracteriza-se pela dis-criminação genérica da mercadoria a importar e o seu respectivo valor. Exemplo: importação de partes e peças de locomotiva, avião, turbinas elétricas, etc.

Percebe-se que essa operação é conveniente para exportação de produto de bens de capital, que exige muitos valores agregados e, muitas vezes, alta tecnologia.

• Drawback Sem Cobertura Cambial 25O Conselho Nacional de Política Fazendária - CONFAZ tem por finalidade promover ações necessárias à elaboração de políticas e harmonização de procedimentos e normas inerentes ao exercício da competência tributária dos Estados e do Distrito Federal, bem como colaborar com o Conselho Monetário Nacional - CMN na fixação da política de Dívida Pública Interna e Externa dos Estados e do Distrito Federal e na orientação às instituições financeiras públicas estaduais.

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TEMA 9REGIMES ADUANEIROS

ESPECIAIS

Exclusivamente para a modalidade de suspensão, é utilizado quando a impor-tação da mercadoria é feita sem cobertura cambial parcial ou total. Poderá ocor-rer quando o exportador brasileiro agregar ao produto exportado mercadoria remetida pelo próprio importador.

• Drawback Solidário

Exclusivamente na modalidade de suspensão. Caracteriza-se pela participa-ção solidária de duas ou mais empresas industriais. Exemplo: participação de lici-tação internacional em que o produto deverá conter insumos importados. Duas ou mais empresas locais serão as fornecedoras e atuam conjuntamente na im-portação de matéria-prima a ser utilizada no produto a exportar.

• Drawback Intermediário

Concedido nas modalidades de suspensão e Isenção. Caracteriza-se pela com-pra externa de mercadoria, por empresas fabricantes-intermediários, destinada a processo de fabricação de produto intermediário a ser fornecido a empresas in-dústriais-exportadoras, para utilização na industrialização de produto final des-tinado à exportação.

• Drawback para embarcação

Concedido nas modalidades de suspensão e isenção. Caracteriza-se pela im-portação de mercadoria destinada a processo de industrialização de embarca-ção para fins de venda no mercado interno conforme disposto no parágrafo 2º do artigo 1º. da Lei nº. 8.402/92. Essa lei restabeleceu os incentivos fiscais dados à exportação e o artigo citado equiparou a venda interna das embarcações às exportações no tocante ao benefício fiscal. É uma grande ajuda ao setor de cons-trução naval.

• Drawback para fornecimento no mercado interno:

Concedido exclusivamente na modalidade de suspensão e visa beneficiar aos fabricantes internos nas concorrências internacionais, para a aquisição de matéria-prima, produto intermediário e componentes destinados a processo de industrialização no País, de máquinas e equipamentos a serem fornecidos no mercado interno.

Ou seja, considera a licitação internacional para fornecimento doméstico como se fosse uma exportação.

• Drawback para reposição de matéria-prima nacional

Concedido exclusivamente na modalidade de isenção. Trata-se de importação de mercadoria para reposição de matéria-prima nacional utilizada em processo de industrialização de produto exportado, beneficiando a indústria exportadora ou o fornecedor nacional para atender a situações conjunturais de mercado.

• Drawback interno ou verde amarelo

As matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem, de fabricação nacional, vendidos a estabelecimento industrial e destinados à indus-trialização de produtos a serem exportados, gozam do incentivo da suspensão

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TEMA 9REGIMES ADUANEIROS

ESPECIAIS

do imposto sobre produtos Industrializados (IPI), e o assunto é tratado pela Ins-trução Normativa DpRF no. 84/92.

• Não concessão de drawback

Importação de mercadoria utilizada na industrialização de produto

destinado ao consumo na Zona Franca de Manaus e em áreas de livre comércio.

a) Exportação ou importação de mercadoria suspensa ou proibida;

b) Exportações contra pagamento em moeda nacional;

c) Exportações conduzidas em moeda-convênio ou outras não conversíveis, contra importações cursadas em moeda de livre conversibilidade;

d) Importações de petróleo e seus derivados, conforme o disposto no Decreto no. 1.495/95.

9.2 EXPORTAÇÕES VINCULADAS À COMPROVAÇÃO DE OUTROS REIMES ADUANEIROS OU INCENTIVOS À EXPORTAÇÃO

Resultado cambial

No exame do pedido de drawback, será levado em conta o resultado cambial da operação.

Assim, a relação básica a ser observada é de 40% (quarenta por cento), esta-belecida pela comparação do valor total das importações, isto é, valor da merca-doria na origem, mais despesas de frete, seguro e outras despesas formadoras do preço de importação, com o valor líquido das exportações, assim entendido o valor no local de embarque deduzido das parcelas de comissão de agente, even-tuais descontos e deduções.

Quando apresentar o pedido, a interessada deverá fornecer os valores estima-dos de frete, seguro de demais despesas incidentes na importação pretendida.

Modalidade Restituição

Ocorre quando o exportador não deseja mais vender mercadorias ao exterior com aqueles insumos agregados à sua exportação e pretende ser ressarcido, via crédito fiscal.

Recomenda-se aos interessados que se dirijam às respectivas Delegacias lo-cais da Secretaria da Receita Federal para se inteirarem de outros procedimen-tos que possam ser estabelecidos. Lembramos que essa matéria está sujeita a alterações e às mudanças da política econômica brasileira, principalmente no sentido de acabar ou diminuir benefícios fiscais, podendo intempestivamente inibir pedidos da espécie.

As operações de drawback, nas modalidades de suspensão e de isenção, são concedidas pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvi-mento, da Indústria e do Comércio; sendo a modalidade suspensão operada ele-tronicamente via SISCOMEX no módulo drawback e a modalidade de isenção é operacionalizada pelo Banco do Brasil; já a modalidade de restituição, é concedi-da pela Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda.

9.3 O REGIME ADUANEIRO ESPECIAL DO ENTREPOSTO INDUSTRIAL

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TEMA 9REGIMES ADUANEIROS

ESPECIAIS

O regime de entreposto industrial é o que permite a determinado estabe-lecimento de uma indústria importar, com suspensão de tributos, mercadorias que, depois de submetidas à operação de industrialização, deverão destinar-se ao mercado externo (artigo 372 do Decreto 4.543/2002, de 27 de dezembro de 2002 e artigo 69, do DL 37/66). A importação e o processo de produção do entre-posto industrial ficarão sob controle aduaneiro.

4.4 REGIMES ADUANEIROS ATÍPICOS

9.4.1 Loja Franca

O regime aduaneiro especial de loja franca é o que permite ao estabeleci-mento instalado em zona primária de porto ou de aeroporto alfandegado ven-der mercadoria nacional ou estrangeira a passageiro em viagem internacional, contra pagamento em cheque de viagem ou em moeda estrangeira conversível (Decreto-lei nº. 1.455, de 1976, art. 15 e Decreto nº. 4.543/2002, art. 421).

O regime será outorgado somente às empresas selecionadas mediante con-corrência pública, e habilitadas pela Secretaria da Receita Federal (Decreto-lei nº. 1.455, de 1976, art. 15, § 1º).

9.4.2 Depósito Especial

O regime aduaneiro de depósito especial é o que permite a estocagem de partes, peças, componentes e materiais de reposição ou manutenção, com sus-pensão do pagamento de impostos, para veículos, máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos, estrangeiros, nacionalizados ou não, nos casos defini-dos pelo Ministro de Estado da Fazenda (Decreto nº. 4.543/2002, art. 428).

9.4.3 Depósito afiançado

O regime aduaneiro especial de depósito afiançado (DAF) é o que permite a estocagem, com suspensão do pagamento de impostos, de materiais importa-dos sem cobertura cambial, destinados à manutenção e ao reparo de embarca-ção ou de aeronave pertencentes à empresa autorizada a operar no transporte comercial internacional e utilizadas nessa atividade (Decreto nº. 4.543/2002, art. 436, e Instrução Normativa SRF nº. 113, de 27-12-1994).

O DAF localizado em zona primária pode ser utilizado, inclusive, para a guarda de provisões de bordo.

9.4.4 Depósito Alfandegado Certificado (DAC)

O regime de depósito alfandegado certificado é o que permite considerar ex-portada, para todos os efeitos fiscais, creditícios e cambiais, a mercadoria nacio-nal depositada em recinto alfandegado, vendida a pessoa sediada no exterior, mediante contrato de entrega no território nacional e à ordem do adquirente (Decreto-lei nº. 2.472, de 1988, art. 6º e Decreto nº. 4.543/2002, art. 441).

Somente será admitida no DAC a mercadoria vendida mediante contrato Deli-vered Under Customs Bond (DUB), convencionada entre exportador e importador (Portaria SCE nº.15, de 17.11.2004, da SECEX, MDIC, Capítulo XIII).

9.4.5 Depósito Franco

O regime aduaneiro especial de depósito franco é o que permite, em recinto

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TEMA 9REGIMES ADUANEIROS

ESPECIAIS

alfandegado, a armazenagem de mercadoria estrangeira para atender ao fluxo comercial de países limítrofes com terceiros países (Decreto nº. 4.543, art. 447).

9.5 REGIMES ADUANEIROS APLICADOS EM ÁREAS ESPECIAIS

9.5.1 Zona Franca de Manaus

Considerada como um regime aduaneiro atípico, porque contemplada com uma série de benefícios, notadamente fiscais, a Zona Franca de Manaus foi nor-matizada pelo Decreto-Lei 288/67.

Caracteriza-se por ser uma área de livre comércio de importação e exporta-ção e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatores locais e da grande distância, a que se encontram, os centros consumidores de seus produtos.

É uma área de livre comércio por excelência, porém, seu desenvolvimento ocorreu graças à instalação de grandes grupos industriais no local, principalmen-te aqueles voltados para a área eletroeletrônica.

Esse conceito foi expendido em 1967. Trinta e nove anos depois, ainda se dis-cute a necessidade da região continuar contando com os incentivos da época da implantação.

Esses incentivos são, basicamente, a isenção de imposto de Importação e Im-posto sobre produtos Industrializados.

Pelas sucessivas alterações ocorridas desde a sua implantação, recomenda-se às pessoas interessadas em se instalar na região que verifiquem junto da Receita Federal de seu domínio fiscal as possíveis vantagens de instalação.

Importante lembrar que toda a consulta aos órgãos federais, estaduais e mu-nicipais devem ser formais, isto é, através de carta, devidamente identificado o responsável na empresa, pela consulta efetuada.

9.5.2 Zona de Processamento de Exportações (ZPE)

As ZPEs (Decreto-Lei nº 2.452/88, regulado pelo Decreto 846/93) caracteri-zam-se como áreas de livre comércio com o exterior, destinadas à instalação de empresas voltadas para a produção de bens a serem comercializados exclusiva-mente com o exterior, sendo consideradas zonas primárias para efeito de con-trole aduaneiro.

9.5.2.1 Finalidade das ZPE

A finalidade da ZPE é a de reduzir os desequilíbrios regionais, gerar novos em-pregos, bem como, fortalecer o balanço de pagamentos e promover a difusão tecnológica e o desenvolvimento econômico e social do País.

9.5.2.2 Requisitos para a criação de uma ZPE

A proposta para criação de ZPE partirá dos Municípios ou Estados interessa-dos e deverão satisfazer os seguintes requisitos:

• adequação de portos/aeroportos internacionais;

• comprometimento dos proponentes de realizarem as desapropriações neces-

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TEMA 9REGIMES ADUANEIROS

ESPECIAIS

sárias e obras de infra-estruturas;

• comprovação de disponibilidade financeira, considerando inclusive a possibi-lidade de aportes de recursos da iniciativa privada;

• comprovação de disponibilidade mínima de infra-estrutura e de serviços ca-pazes de absorver os efeitos de sua implantação;

• indicação da forma de administração da ZPE;

• atendimento de outras condições porventura estabelecidas em regula-mentos.

A administradora deverá atender às instruções do Ministério da Fazenda, perti-nentes ao fechamento da área, ao sistema de vigilância e aos dispositivos de segu-rança. Deverá também a Administradora responder pelas instalações de equipa-mentos necessários ao controle, vigilância e administração aduaneira local.

Existe muita controvérsia junto ao Governo Federal sobre a existência das ZPE. Uns são favoráveis, pois a instalação visa corrigir possíveis distorções regionais e produzir ganhos no comércio exterior. Outros acham que representam renúncia fiscal da qual o governo não deveria abrir mão.

São poucas as ZPE autorizadas e em funcionamento: Maracanaú, no Ceará; Parnaíba, no Piauí; Macaíba, no Rio Grande do Norte, São Luís, no Maranhão; João Pessoa, na Paraíba; Barcarena, no Pará; Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe; Araguaína, em Tocantins; Ilhéus, na Bahia; Complexo Suape, entre Cabo e Ipojuca, em Pernambuco; Itacoatiara, no Amazonas e Cáceres, em Mato Grosso.

9.5.3 Área de Livre Comércio (ALC)

Diferente da ZPE, a ALC – Área de Livre Comércio, é uma área demarcada, con-tínua, cuja finalidade é promover o comércio de importação e exportação, com regime fiscal especial, incentivando o desenvolvimento da região aonde for de-marcada.

A primeira área de livre comércio criada foi a de Tabatinga, no Amazonas, pela Lei 7.965/89.

A entrada dos produtos, para consumo ou reexportação, se fazem via suspen-são de impostos.

Mais tarde, atendidas as finalidades, quando destinadas ao consumo interno, beneficiamento (de acordo com a mercadoria), agropecuária e piscicultura, ins-talações de turismo, atividades de construção, reparos navais, estocagem para reexportação, as obrigações fiscais são transformadas em isenções.

A finalidade é promover o desenvolvimento regional, conforme o espírito da lei.

As áreas de livre comércio, são combatidas por uma parcela ponderável do Governo Federal que, acompanhando as críticas às ZPE, vêem possibilidade de contrabando, com desvio de parte da mercadoria importada para outros locais do Brasil e, a renúncia fiscal do Estado a essas receitas de importações.

Além de Tabatinga, podemos alinhar as seguintes ALC: Guajará-Mirim, em Rondônia; Pacaraima e Bonfim, em Roraima; Macapá e Santana, no Amapá; Brasi-léia e Cruzeiro do Sul, no Acre.

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SIGLAS, TERMOS

TÉCNICOS E GLOSSÁRIO

AAP – Acordo de alcance parcialACC – Adiantamento sobre contratos de câmbioACE – Adiantamento sobre as Cambiais EntreguesAcordo - Expressão de uso livre e de alta incidência na prática internacional, embora alguns juristas entendam por acordo os atos internacionais com reduzido número de participantes e importância relativa.AFRMM - Adicional ao frete para a renovação da Marinha MercanteAjuste ou acordo complementar - É o ato que dá execução a outro, anterior, devidamente concluído e em vigor, ou que detalha áreas de entendimento específicas, abrangidas por aquele ato.ALADI - Associação Latino-Americana de Integração ALCA - Área de Livre Comércio das AméricasArbitragem - É a troca de determinada moeda estrangeira por outra.APEC - Cooperação Econômica da Ásia e do PacíficoAtos Internacionais - Acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica.BACEN – Banco Central do Brasil.BB – Banco do Brasil S.A.Câmbio Manual - Compra e venda de moeda estrangeira em espécie, isto é, troca física de dinheiro estrangeiro pela moeda nacional ou vice-versa.Câmbio Sacado - São operações que envolvem saques sobre haveres junto a Banqueiro no exterior.Cartel – É uma forma de eliminar a concorrência. Vários produtores se unem e estabelecem cotas e preçosCCR - Convênio de Créditos RecíprocosCECA - Tratado da Comunidade Européia do Carvão e do Aço.CEE - Tratado da Comunidade Econômica Européia. CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico.Convenção - Num nível similar de formalidade, costuma ser empregado o termo Convenção para designar atos multilaterais, oriundos de conferências internacionais e versem assunto de interesse geral das nações.COFINS - Contribuição para Financiamento da Seguridade Social. Convênio – O termo convênio está relacionado a matérias sobre cooperação multilateral de natureza econômica, comercial, cultural, jurídica, científica e técnica.CPMF - Contribuição Provisória Sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira.Custo de oportunidade – Teoria econômica em que se permite considerar todos os fatores de produção e não apenas o fator trabalhista.Direito Internacional Privado - Ramo do Direito Público, que compreende um conjunto de normas reguladoras das relações entre as nações.Direito Internacional Público - É o conjunto de normas que regem as relações dos direitos e deveres coletivos, quanto aos tratados, convenções e acordos entre as nações.Drawback - A operação de drawback compreende a importação com isenção ou suspensão do imposto de importação(II).Dumping - Consiste em vender no exterior por preço abaixo do custo de produção. Dumping Social - Termo utilizado para caracterizar a venda, no mercado internacional, de produtos a um preço inferior ao praticado no mercado

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SIGLAS, TERMOS

TÉCNICOS E GLOSSÁRIO

doméstico, em virtude da falta ou não-observância dos padrões trabalhistas internacionalmente reconhecidos.EURATOM - Tratado da Comunidade Européia da Energia Atômica. FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.I.I. – Imposto de Importação.Incoterms – Termos internacionais de comércio.I.P.I. – Imposto sobre Produtos Industrializados.I.C.M.S. – Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços.LIBOR – London Interbanking offered rate – Taxa de juros, preferencial no mercado de Londres, Inglaterra.Memorando de Entendimento - O memorando de entendimento é semelhante ao acordo, com exceção do articulado, que deve ser substituído por parágrafos numerados com algarismos arábicos. Seu fecho é simplificado e normalmente entra em vigor na data da assinatura. MERCOSUL - Mercado Comum do Sul ou Mercado do Cone Sul. NAFTA – North América Free Trade Agreement - Acordo de Livre Comércio da América do Norte.OIT - Organização Internacional do Trabalho.Oligopólio - Concentração da exploração do mercado nas mãos de poucos concorrentes. ONG - Organização Não-Governamental.Paridade – (câmbio) Definida como sendo o preço de uma moeda estrangeira em relação à outra.PIS/PASEP - Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público.PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.Prime Rate – Taxa de juros preferencial no mercado de New York, Estados Unidos.Protocolo - Termo que tem sido usado nas mais diversas acepções, tanto para acordos bilaterais quanto para multilaterais. Aparece designando acordos menos formais que os tratados, ou acordos complementares ou interpretativos de tratados ou convenções anteriores. R.E. – Registro de Exportação.Spot – operação financeira de pagamento à vista.Spread - É a diferença entre a taxa de compra e taxa de venda.Swap - É a combinação de uma venda futura de determinada moeda, com sua simultânea compra pronta (ou vice-versa).TEC - Tarifa Externa ComumTeoria da Demanda Recíproca – Teoria Clássica do Comércio Internacional. De acordo com essa teoria o comércio se realizará quando os preços equalizarem as demandas nos dois países.Teoria das Vantagens Absolutas - Condições em que determinado produto ou serviço pode ser oferecido, com preços de custos inferiores aos dos concorrentes.Teoria das Vantagens Comparativas - Conceito de custos introduzido na teoria de comércio exterior pelo economista David Ricardo, em 1817.Tratado - Termo para designar, genericamente, um acordo internacional. Tripartismo – Termo utilizado no foro das relações de trabalho para indicar as três partes intervenientes no processo: governo, trabalhador e empregador.Trustes – Representam a fusão de várias empresas, levando ao monopólio.UE - União Européia.

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REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

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