apostila atualizada 44° exame

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AÇÃO PENAL AÇÃO PENAL PRIVADA : Inicia-se por queixa no prazo em regra, fixado pelo art. 38 do CPP sob pena de ser extinta a punibilidade do agente devido a ocorrência da decadência. O mesmo prazo deve ser observado pelos representantes legais da vitima ou seus sucessores (art. 31 c/c 38 e § único do CPP). Trata-se de ação penal privada e como ocorre em tos os tipos de ação o ofendido quando necessário, deve requerer a instauração de inquérito para dar justa causa à ação. O advogado deve receber poderes especiais, ou seja, a procuração deve fazer expressa menção a propositura da queixa com um breve resumo dos fatos. Se preferir o ofendido deve assinar a queixa juntamente com o advogado (art. 44 do CPP). Tratando-se de dois agentes a queixa deve ser oferecida em relação a ambos (desde que se tenha justa causa) sob pena de configuração de renúncia (arts. 48 e 49 do CPP), tudo em respeito ao princípio da indivisibilidade. O Ministério Publico funcionará em todos os termos da ação como custus legis. O rito procedimental é o previsto no art. 520 do CPP e não o do JECRIM em virtude da pena máxima do crime extrapolar os dois anos já que terá que ser aplicada a causa de aumento prevista no art. 141, III do CP.

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Apostila para exame da OAB, com dicas e resumos interessantes para auxiliar os estudantes nesta importante jornada.

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Page 1: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

AÇÃO PENAL

AÇÃO PENAL PRIVADA : Inicia-se por queixa no prazo em regra, fixado pelo art. 38 do CPP sob pena de ser extinta a punibilidade do agente devido a ocorrência da decadência. O mesmo prazo deve ser observado pelos representantes legais da vitima ou seus sucessores (art. 31 c/c 38 e § único do CPP).

Trata-se de ação penal privada e como ocorre em tos os tipos de ação o ofendido quando necessário, deve requerer a instauração de inquérito para dar justa causa à ação.

O advogado deve receber poderes especiais, ou seja, a procuração deve fazer expressa menção a propositura da queixa com um breve resumo dos fatos. Se preferir o ofendido deve assinar a queixa juntamente com o advogado (art. 44 do CPP).

Tratando-se de dois agentes a queixa deve ser oferecida em relação a ambos (desde que se tenha justa causa) sob pena de configuração de renúncia (arts. 48 e 49 do CPP), tudo em respeito ao princípio da indivisibilidade.

O Ministério Publico funcionará em todos os termos da ação como custus legis.O rito procedimental é o previsto no art. 520 do CPP e não o do JECRIM em virtude da pena máxima do crime extrapolar os dois anos já que terá que ser aplicada a causa de aumento prevista no art. 141, III do CP.

Page 2: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

EXMO.SR.DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DA .

QUERELANTE, nome, nacionalidade, estado civil, profissão, identidade, cpf, residente e domiciliado, por seu advogado, vem, com fundamento no art 41 do CPP c/c 100 parágrafo 2° do CP e art. 520 e segs. do CPP, perante V.Exa. propor a presente

QUEIXA

Em face de QUERELADO, nome, nacionalidade, estado civil, profissão, identidade, cpf, residente e domiciliado, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

1) No dia ----, por volta das ---- horas, em reunião realizada na sede da empresa-----, situada na------, nesta cidade, na presença de inúmeros diretores e gerentes, muitos dos quais constam do rol de testemunhas em anexo, o querelado imputou ao querelante a prática do crime descrito no art. ---do CP sendo certo que esta afirmação foi falsa já que sabiam ser o mesmo inocente. A imputação falsa consiste em ------tendo em vista ter o querelante sido preterido em promoção realizada pela empresa objetivando vingar-se da gerencia pela sua não indicação ao posto.2) A história inventada idealizava prejudicar o querelante comprometendo sua reputação perante terceiros, seus diretores e gerentes, justamente para afasta-lo da concorrência ao próximo cargo da gerência a ser disputado em data próxima.3) Torna-se nítida, pois a prática do crime de calúnia por parte dos querelados, sem afastar-se que o crime fora praticado na presença de várias pessoas o que torna o fato passível de uma maior propagação e automaticamente dotado de maior reprovabilidade.

Face ao exposto, requer a V.Exa.:I - Seja recebida a presente queixa, após a realização do procedimento previsto no art. 520 do CPP.II – A citação do querelado para responder a presente sob pena de revelia.III- A condenação do acusado como incurso nas sanções previstas nos arts. 138 c/c 141, III do Código Penal por ser medida de justiça.IV- A oitiva do Ministério Público em todos os termos do processo.

Protesta por todos os meios de prova admitidos em Direito, em especial, documental e testemunhal, .......

Termos em que, após ouvido o Ilustre representante do Ministério Público,

Pede deferimento,

Local, data,

Advogado

Querelante

ROL DE TESTEMUNHAS (Arrolar até o número máximo de 08 tendo em vista o rito especial referir-se ao rito ordinário).

Page 3: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PROCURAÇÃO

Outorgante(s): Nome, nacionalidade, profissão, estado civil, identidade, CPF, residente e domiciliado...

Outorgado(s): Nome do procurador, nacionalidade, advogado inscrito na OAB/RJ sob o nº , com escritório situado na rua Poderes: Representar os outorgantes em juízo ou fora dele para os fins abaixo referidos, outorgando-lhes os poderes da clausula ad judicia e et extra, e todos os demais para praticar quaisquer atos do processo e extras judiciais se a ele relacionados, inclusive para transigir, desistir, receber e dar quitação, firmar compromissos e inclusive substabelecer no todo ou em parte, com ou sem reservas de iguais poderes e, em especial, para.....(*) (**)

*Especificar poderes exclusivos envolvendo a ação penal para a qual a outorga de poderes se refere.** No caso de crime de ação penal privada, a especificação de poderes outorgados pelo subscritor e detalhamento da conduta do agente é obrigatória (art. 44 do CPP)

Page 4: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

RESPOSTA DO RÉU ou RESPOSTA À ACUSAÇÃO

Estrategicamente a defesa não costuma oferecer desde logo a base dos seus argumentos que serão apresentados somente por ocasião das alegações finais. O fundamental nesta peça é verificar que a defesa deve, obrigatoriamente, ter sido citada para a sua apresentação no prazo de 10 dias a contar do dia seguinte da citação e não da juntada do mandado aos autos (Súmula 710 do STF), apresentar o rol das testemunhas (no rito ordinário são no máximo 08 e no sumário são no máximo 5), requerer diligencias que entenda necessário e , caso haja, suscitar as questões e procedimentos incidentais (questões prejudiciais, questões preliminares, exceções, incompatibilidades e impedimentos, conflitos de competência, restituição de coisas apreendidas, incidente de falsidade, incidente de insanidade mental, medidas assecuratórias).Quanto ao mérito, via de regra, deve-se negar tudo por negativa geral pedindo-se ao final que seja julgado improcedente o pedido condenatório com a consequente absolvição do acusado por ser medida de justiça.Com a reforma implementada pelo CPP entretanto a resposta passa a ser uma peça obrigatória (art. 396 A § 2° do CPP) onde pode-se requerer a absolvição sumária prevista no art. 397 do CPP. O pedido, neste caso, será pautado primariamente em uma das hipóteses previstas nos incisos do art. 397 do CPP.

No Tribunal do Júri: A resposta do réu, fundamentada no art. 406 §§1°, 2° e 3° do CPP, ainda é mantida no modelo antigo, ou seja, no mérito deve ser feita a negativa geral não sendo solicitada a absolvição sumária do art 397 do CPP por ser incabível neste procedimento. Após a negativa geral o pedido será de improcedência do pedido acusatório (que foi da pronúncia) e requerer uma das decisões possíveis nesta etapa, quais sejam: impronúncia (art. 414 do CPP), desclassificação (art. 419 do CPP) ou absolvição sumária (art. 415 do CPP). Via de regra, nosso pedido nesta etapa será de impronúncia pois não teremos dados suficientes para pleitearmos outras decisões salvo se o examinador oferecê-las.

Na Lei de Entorpecentes: Quando a resposta se referir a crime previsto na Lei de Entorpecentes aplica-se o rito procedimental previsto na Lei 11.343/08 .(ver art. 48 da referida lei).Relatar, quando possível, que a denúncia deve ser rejeitada quando não tiver sido feito o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga ilícita (art. 50, § 1º da lei 11.343/06), firmado por perito oficial ou, na sua falta, por pessoa idônea, escolhida, preferencialmente entre aquelas que possuam habilitação técnica. Não podendo tal constatação ser feita por policial. A materialidade é fator preponderante para a caracterização da justa causa. Havendo, nestes casos, prisão em flagrante, analisar a questão do flagrante forjado (que leva a punição dos policiais por abuso de autoridade) ou do flagrante preparado (Súmula 145 do STF).

Atualmente, em todos os procedimentos, a defesa prévia ocorrerá no prazo de 10 dias a contar do dia SEGUINTE da citação do réu.

Page 5: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

DEFESAS PRELIMINARES

Crimes de responsabilidade do Funcionário Público: cabe defesa preliminar nos crimes afiançáveis (arts. 312 a 326 do CP salvo as figuras dos arts. 316§ 1º e 318 do CP), devendo o Juiz ouvir o funcionário público antes do recebimento da denúncia.(art. 514 do CPP)

Cabe defesa preliminar nos crimes de competência originária quando se trata de apurar infração penal cometida por autoridade que tenha foro privilegiado. Assim, antes de ser recebida a denúncia ouve-se o denunciado (art. 4º da Lei 8038/90)

Estas defesas preliminares não se confundem com a defesa prévia e o pedido é sempre de rejeição da denúncia calcado numa das causas previstas no art. 395 do CPP.

Page 6: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

(MODELO DOS RITOS ORDINÁRIO E SUMÁRIO)

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da ----- Vara Criminal da Comarca -------.Processo nº_------------

“A” qualificado as fls. , por seu advogado infra-assinado, nos autos da ação penal que lhe move o Ministério Público, vem, perante V.Exa., com fundamento no art. 396 e 396 A do CPP apresentar sua

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

PRELIMINIARMENTEDevemos estar atentos as questões de ordem processual trazidas pelo examinador. Nulidades (ex: falta de condições da ação, pressupostos processuais, etc,..), afronta a preceitos constitucionais (ex: do cerceamento de defesa,...) e vícios relacionados a prisões processuais (ex: da prisão ilegal,...) deverão ser suscitados neste tópico.Para uma melhor organização devemos suscitar a preliminar através de um sub-tópico, narrarmos o ocorrido e formularmos o pedido que é a conseqüência processual do ocorrido (ex: extinção do processo sem julgamento do mérito – art. 395 do CPP – declaração da nulidade e reestruturação dos atos processuais decorrentes do ato nulo, relaxamento da prisão – art. 5° LXV da CRFB, ...)

DO MÉRITO

-Narramos os fatos.-Apresentaremos, na ordem da narrativa, fundamentos para combatermos cada um dos fatos narrados pela acusação.Pelo atual modelo o examinador me dará os fundamentos baseados no art. 397 do CPP.

DO PEDIDO

-Caso tenhamos argüido questões preliminares iniciaremos nossos pedidos por elas na mesma ordem que a apresentamos.-Colocaremos após os pedidos em relação as preliminares: caso não sejam acolhidas as preliminares argüidas, no mérito:-Seja julgado improcedente o pedido acusatório para absolver sumariamente o acusado com fundamento no art. 397 do CPP (teremos que indicar qual será o inciso que estará incorrendo o acusado) e caso assim não entenda o juiz, que ao final da instrução criminal, absolva o réu por ser medida de justiça.

Page 7: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Apresenta, oportunamente, o rol de testemunhas em anexo que serão ouvidas independentemente de intimação.

Termos em que, Pede deferimento

Comarca, data.

Advogado OAB n°

ROL DE TESTEMUNHAS: (O n° dependerá do rito. No ordinário poderão ser arroladas até 8 testemunhas e no rito sumário até 5).

1- Nome e qualificação completa2- Nome e qualificação completa3- Nome e qualificação completa4- Nome e qualificação completa5- Nome e qualificação completa6- Nome e qualificação completa7- Nome e qualificação completa8- Nome e qualificação completa

Page 8: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAL

A defesa tem que ser obrigatoriamente intimada para a apresentação da peça (Súmula 710 do STF)

Deve-se ter atenção às nulidades (art.564 do CPP) bem como ao prazo fixado, para alega-las, sob pena de preclusão (art.572 CPP). Quando a ocorrência das nulidades se der no curso do processo, é necessário que, em preliminar sejam discutidas antes do mérito. Somente as nulidades absolutas podem ser alegadas a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição a requerimento das partes ou de ofício pelo Juiz.

O acolhimento pelo Juiz das preliminares argüidas pode implicar na reabertura da instrução processual afim de que seja produzida prova faltante ou que seja sanado algum vício. Após o processo estará pronto para ser julgado.

Devem ser citadas posições que corroborem a tese sustentada. Quando possível, é necessário que se sustente teses subsidiárias que beneficiem

o réu. Desta forma, caso o Juiz não acolha o pedido de absolvição poderá, ao condenar o réu aplicar-lhe pena menos grave.

A defesa deve, ainda, suscitar benefícios penais em caso de condenação demonstrando as virtudes do réu e solicitando sempre o seu direito de permanecer em liberdade para recorrer caso não hajam os motivos da prisão preventiva (vide art. 387 e parágrafo único do CPP) mas se os motivos existirem devemos solicitar os benefícios da LEP, tais como: progressão de regime ( vide Súmula 716 do STF).

Nos crimes de competência do tribunal do júri a defesa não pede a absolvição do acusado e sim que o Juiz profira uma das decisões previstas nos arts. 414, 415 ou 419 do CPP.

Em regra, após a reforma do CPP as alegações finais são orais. No rito ordinário teremos as alegações finais por memórias caso o Juiz tenha deferido pedido de diligências e neste caso o prazo será de 05 dias para cada uma das partes apresentarem a peça (art. 404 do CPP). Caso não haja requerimento de diligências ou não tenham sido as mesmas deferidas as alegações finais serão orais (art. 403 do CPP) salvo se houver um excessivo número de acusados ou o Juiz entender pela complexidade do fato (art. 403 parágrafo 3° do CPP) ocasião em que as partes apresentarão as alegações por memoriais no prazo de 05 dias.

Nos ritos Sumário e do Tribunal do Júri as alegações em regra também serão orais mas se o Juiz entender pela complexidade do fato ou pelo excessivo número de acusados poderá acordar com as partes as alegações por memoriais no prazo de 05 dias isto porque podemos aplicar subsidiariamente o rito ordinário a todos os demais ritos (art. 394 parágrafo 5° do CPP c/c art. 403 parágrafo 3° do CPP).

Page 9: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

EXMO.SR.DR. JUIZ DE DIREITO DA ------VARA CRIMINAL DO --------.

Proc. nº ------

FULANO, já qualificado nos autos da presente ação penal que lhe move o Ministério Público, por seu advogado, vem, com fundamento no art. 404 e parágrafo único do CPP (se as alegações finais eram orais em regra no rito ordinário por não ter havido requerimento ou deferimento de diligências mas se deferiu as alegações por memorial o fundamento será o art. 403 parágrafo 3° do CPP já se for no rito do Tribunal do Júri a fundamentação será: 411 parágrafo 4° c/c 394 parágrafo 5° c/c 403 parágrafo 3° do CPP), perante V.Exa., propor a presente

ALEGAÇÕES FINAIS

Pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

I – PRELIMINARMENTE:

1) Do cerceamento de defesa:

Isto posto, requer, PRELIMINARMENTE, que V.Exa. converta o julgamento em diligência para a colheita da prova supra citada.

II – MÉRITO:

DO PEDIDO NO CASO DO RITO SER O ORDINÁRIO: (ROTEIRO)

1- Acolhimento das preliminares arguidas.2- Absolvição (sempre amparada por um dos incisos do art. 386 do CPP)3- Afastamento das qualificadoras.4- Afastamento das causas de aumento de pena.5- Afastamento das circunstâncias agravantes (art. 61 do CP)6- Pena base fixada no mínimo legal já que o réu é sempre portador de bons

antecedentes (art. 59 do CP)

Page 10: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

7- Reconhecimento das circunstâncias atenuantes (art. 65 do CP)8- Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos

QUANDO POSSIVEL (art. 44 do CP)9- Regime de pena menos severo possível para o réu (art. 33 do CP)10- Sursis da pena CASO O RÉU TENHA DIREITO (art. 77 do CP).

PEDIDO NO CASO DO RITO SER O DO TRIBUNAL DO JÚRI: (ROTEIRO)

1- Dependendo do caso: IMPRONÚNCIA (art. 414 do CPP) OU ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA (art. 415 do CPP) OU DESCLASSIFICAÇÃO (art. 419 do CPP) SOMENTE!!!!

Local, data Advogado.

Page 11: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

EXMO.SR.DR.JUIZ DE DIREITO DA __VARA CRIMINAL DA COMARCA DE __________________.

Proc. n° xxxxxxxxx

Fulano, qualificado às fls, nos autos do processo em epígrafe, por seu advogado, inconformado com a respeitável decisão de fls., indeferindo a progressão do regime fechado ao semi-aberto, vem , respeitosamente, com fundamento no artigo 382 do Código de Processo penal, à presença de V.Exa interpor os presentes

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Pelos motivos que passa a expor:

(argumentação – indicar a omissão, obscuridade, contradição e/ou ambigüidade)

Termos em que,

Pede deferimento

Local, data.

Advogado

Page 12: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Exmo. Sr.Dr. Juiz de Direito da Vara ------Criminal da Comarca ---------

Proc. Nº ------------------------

“X” qualificado a fls. ------, por seu advogado, nos autos do processo que lhe move o Ministério Público, inconformado com a decisão de fls. , vem, com fundamento no art. 581 ---- (o inciso depende da decisão) do CPP à presença de V.Exa. apresentar o presente

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Requerendo seja o mesmo recebido e, levando-se em consideração as razões em anexo, possa haver o juízo de retratação. Assim não entendendo V.Exa., requer o processamento do recurso, remetendo-o ao Egrégio tribunal de Justiça.

Termos em que, Pede Deferimento

Comarca, data

Advogado

Page 13: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

------Vara Criminal da Comarca------Processo nº -------Recorrente : XRecorrido: Ministério Público

Egrégio Tribunal,

O réu foi (falar da decisão), porque (fazer um breve relato da imputação).A decisão de fls.---, entretanto, não deve prevalecer (relatar motivos que o levam a crer que a decisão é injusta).

Espera, ao final, ser julgado procedente o recurso para (motivação do pedido) por ser medida de Justiça.

Comarca, data

Advogado

Page 14: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ---VARA CRIMINAL DA COMARCA DE------

Proc. nº-------------

“X”, qualificado nos autos em epígrafe que lhe move o Ministério Público, por seu advogado, vem, à presença de V.Exa., inconformado com a respeitável decisão de fls.--, que contem nulidade (se for o caso), além de ser o réu inocente e, não sendo o caso, merecer a pena mínima, interpor a presente

APELAÇÃO

Com fundamento no art. 593 (apontar o inciso) do CPP.

Requer que, após o recebimento desta, com as razões inclusas, ouvida a parte contraria, sejam os autos encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça, onde serão processados e provido o presente recurso.

Termos em quePede deferimento

Comarca, data

Advogado

Page 15: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

------Vara da Comarca de -----Processo, nºApelante: “X”Apelado:Ministério Público

Egrégio Tribunal,

“X” foi processado como incurso nas sanções previstas nos arts.---- porque (fazer uma breve narrativa da imputação).

O MM. Juiz condenou-o ao cumprimento da pena de ----anos de reclusão, em regime ---. (permitindo ou não que o réu apelasse em liberdade).

A R. decisão de fls. merece ser reformada, pelos seguintes motivos:

I – PRELIMINARMENTE (aduzir a questão processual caso exista):

Requer, pois a nulidade do feito, a partir de ...., refazendo-se.....o que, por certo, acarreta na oportunidade de melhor detalhamento dos fatos, a ensejar a absolvição do apelante.

II – MÉRITO:

1- Da Absolvição: (narrar os motivos pelos quais deve o réu ser absolvido, como, por exemplo, a insuficiência de provas, etc, ...)

2- Da aplicação errônea da pena:

Somente para argumentar, caso não seja acolhida a preliminar argüida nem tampouco o pedido de provimento do apelo para a absolvição do réu, torna-se fundamental corrigir as distorções existentes na sentença condenatória.

(Segue exemplos de argumentos que podem ser utilizados):

2.1 – Do afastamento da causa de aumento de pena:

2.2 – Do afastamento da circunstancia agravante:

2.3 – Da inviabilidade de consideração dos antecedentes na fixação da pena- base:

2.4 – Da insuficiência dos argumentos quanto a personalidade dos réus.

2.5 – Da inconstitucionalidade do regime integralmente fechado.

Page 16: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

DO PEDIDO NO CASO DO RITO SER O ORDINÁRIO: (ROTEIRO)

1- Acolhimento das preliminares arguidas.2- Absolvição (sempre amparada por um dos incisos do art. 386 do CPP)3- Afastamento das qualificadoras.4- Afastamento das causas de aumento de pena.5- Afastamento das circunstâncias agravantes (art. 61 do CP)6- Pena base fixada no mínimo legal já que o réu é sempre portador de bons

antecedentes (art. 59 do CP)7- Reconhecimento das circunstâncias atenuantes (art. 65 do CP)8- Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos

QUANDO POSSIVEL (art. 44 do CP)9- Regime de pena menos severo possível para o réu (art. 33 do CP)10- Sursis da pena CASO O RÉU TENHA DIREITO (art. 77 do CP).

PEDIDO NO TRIBUNAL DO JÚRI:

1- Caso o fundamento da apelação seja 593, III, a do CPP requerer a nulidade do processo e a remessa ao juízo a quo para novo julgamento.

2- Caso o fundamento seja o art. 593, III b do CPP que o Tribunal ad quem reforme a sentença para atribuir ao réu o que foi determinado pelos jurados e/ou pela lei (art. 593 III parágrafo 1° do CPP).

3- Caso o fundamento seja o art. 593, III c do CPP que o Tribunal ad quem reforme a sentença para diminuir a pena imposta pelo Juiz Presidente (art. 593, III parágrafo 2° do CPP).

4- Caso o fundamento seja que o julgamento dos jurados tenha sido manifestamente contrário a prova dos autos 593, III d do CPP requerer que o Tribunal ad quem submeta o réu a novo julgamento (art. 593, III parágrafo 3°).

Comarca, data

Advogado

Page 17: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR RELATOR DO ACORDÃO N° ___________ DA __CÂMARA CRIMINAL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Apelação n° xxxxxxxxx

Fulano, qualificado às fls, nos autos do recurso em epígrafe, por seu advogado, vem , com fundamento no artigo 609,parágrafo único Código de Processo penal, à presença de V.Exa opor

EMBARGOS INFRINGENTES OU DE NULIDADES OU INFRINGENTES E DE NULIDADES

ao venerando acórdão para tanto requerendo seja recebido e ordenado o processamento do presente recurso, frente as razões sustentadas em apartado.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local, data.

Advogado

Page 18: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

RAZÕES DE EMBARGOS INFRINGENTES OU DE NULIDADES OU INFRINGENTES E DE NULIDADES

Pelo embargante: Fulano

Embargado: Ministério Público

Apelação n° xxxxxxxxx

Egrégio Tribunal

O embargante obteve, em sentença proferida em 1°grau , condenação por conduta prevista no artigo_______________ do Código Penal ( ou da Lei tal), impingindo-lhe a pena de _____________..

(Histórico do processo)

A decisão de 2° grau, contudo não foi unânime em confirmar a sentença proferida pelo juízo singular. Em verdade, foi confirmada a sentença atacada em decisão de cunho majoritário, a sustentar a hipótese do presente recurso, ora interposto, em torno do voto vencido.

(argumentação)

Diante do exposto, postula-se se digne Vossa Excelência receber o presente recurso, esperando sejam estes embargos de nulidade, ao final, julgados de forma a restar reformado o venerando acórdão, para prevalecer o teor do voto vencido ........ como medida de JUSTIÇA.

Local, data.

Advogado

Page 19: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

EXMO.SR.DR.JUIZ DE DIREITO DA VARA DE EXECUÇÕES PENAIS DA COMARCA DE __________________

Fulano, qualificado às fls, nos autos da Execução Penal n° __________, atualmente recolhido no Presídio ____________, por seu advogado, inconformado com a decisão de fls., indeferindo a progressão do regime fechado ao semi-aberto, vem , respeitosamente, à presença de V.Exa, com fundamento no artigo 197 da Lei 7.210/84, interpor o presente

AGRAVO EM EXECUÇÃO,

Requerendo que, recebido este, já com as inclusas razões possa V.Exa retratar-se, concedendo o benefício pleiteando. Assim, não entendendo, ouvindo-se o ilustre representante do MP, aguarda-se o encaminhamento do recurso ao Egrégio Tribunal de Justiça.

Pede deferimento

Local, data.

Advogado

Page 20: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

RAZÕES DE AGRAVO EM EXECUÇÃO

Vara das Execuções criminais da Comarca ________________________

Execução n°__________Pelo agravante: “ fulano”Agravado: Ministério Público

Egrégio Tribunal

O agravante, condenado a ____________ anos de reclusão, pela prática do crime ____________, iniciou o cumprimento da pena em regime fechado. Entretanto completado 1/6 da pena, pleiteou aos MM Juiz das Execuções Criminais a progressão ao regime semi-aberto, nos termos do art.33§ 2°, do Código Penal. Sob o argumento ______________, negou-lhe o benefício.

Não agiu o magistrado com o costumeiro acerto.

(argumentação)

Ante o exposto, requer-se o provimento do agravo para o fim de assegurar a progressão do regime fechado ao semi-aberto, como lhe assegura a previsão legal enfocada.

Comarca, data.

Advogado

Page 21: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ILMO.SR.ESCRIVÃO DA __VARA CRIMINAL DA COMARCA DE __________________.

Proc. n° xxxxxxxxx

Fulano, qualificado às fls, nos autos do processo em epígrafe, por seu advogado, inconformado com a respeitável decisão de fls., que não admitiu o processamento de recurso em sentido estrito, vem , com fundamento no artigo 639, I do Código de Processo penal, à presença de V.Sa interpor a presente

CARTA TESTEMUNHÁVEL

Para que seja, devidamente, recebida, processada e encaminhada ao Egrégio Tribunal de Justiça. Desde logo, apresenta as anexas razões e a lista das peças indicadas para a formação do translado:__________________________.

Local, data.

Advogado

Page 22: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

-----------Vara Criminal da Comarca de -----------------

Proc. nº -------

Testemunhante:--------------

Testemunhado:---------------

Egrégio Tribunal:

(DESCRIÇÃO DO FATO QUE LEVOU AO NÃO RECEBIMENTO DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO OU DO AGRAVO EM EXECUÇÃO)

Ante o exposto, aguarda, o testemunhante, seja dado provimento ao presente recurso, determinando-se o processamento do recurso em sentido estrito ou agravo em execução, possibilitando a nova análise da decisão ---------------, pois assim agindo estará esse EGREGIO TRIBUNAL realizando a tão aguardada JUSTIÇA.

Comarca, data.

Advogado

Page 23: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Apelação n° xxxxxxxxx

___ª Câmara Criminal

Relator: Desembargador _________________

Fulano, qualificado às fls, nos autos da apelação em epígrafe, por seu advogado, não se conformando com o V. Acórdão de fls._, vem , respeitosamente, à presença de V.Exa, com fundamento no artigo 105, III, a, da Constituição Federal, interpor

RECURSO ESPECIAL

Para o Colendo Superior Tribunal de Justiça, levando em consideração que a decisão atacada contrariou o disposto no artigo 617 do Código de Processo Penal, conforme restará demonstrado nas razões articuladas em anexo.

Requer o recebimento do presente recurso, ordenando-se o seu processamento e a remessa à Superior Instância para novo julgamento.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local, data.

Advogado

Page 24: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Recorrente:-------------------

Recorrido: Ministério Público

Colendo Tribunal:

1- DA EXPOSIÇÃO DOS FATOS E DO DIREITO

Assim agindo, contrariou expressa disposição do Código de Processo Penal, que não admite a ------------------

2- DO CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL

(Mencionar o dispositivo da Constituição – art. 105, III, “a” da CRFB e descrever minuciosamente qual o dispositivo da lei infra-constitucional infringe)

3- DA DOUTRINA

4- DA JURISPRUDENCIA SOBRE O TEMA

5- PEDIDO

Restou evidenciado, nitidamente, ter havido contrariedade à lei federal (art. -----) não podendo subsistir as condições fixadas pelo V.Acórdão recorrido para a -------------.

Ante o exposto, requer seja o presente RECURSO ESPECIAL conhecido e provido, para o fim de ser alterado o V.Acórdão de flas.----, invalidando-se o estabelecimento -------, mantida a sentença que determinou a sua concessão, eis que não atacada neste prisma, de modo a afirmar --------------------------------------.

Comarca, data.

Advogado

Page 25: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Apelação n° xxxxxxxxx

___ª Câmara Criminal

Relator: Desembargador _________________

Fulano, qualificado às fls, nos autos da apelação em epígrafe, por seu advogado, não se conformando com o V. Acórdão de fls._, vem , respeitosamente, à presença de V.Exa, com fundamento no artigo 102, III, a, da Constituição Federal, interpor

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Para o Colendo Superior Tribunal de Justiça, levando em consideração que a decisão atacada contrariou o disposto no artigo ----- da Constituição Federal, conforme restará demonstrado nas razões articuladas em anexo.

Requer o recebimento do presente recurso, ordenando-se o seu processamento e a remessa à Superior Instância para novo julgamento.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local, data.

Advogado

Page 26: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR 3° VICE PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Apelação n° xxxxxxxxx

___ª Câmara Criminal

Relator: Desembargador _________________

Fulano, qualificado às fls, nos autos da apelação em epígrafe, por seu advogado, não se conformando com o V. Acórdão de fls._, vem , respeitosamente, à presença de V.Exa, com fundamento no artigo 102, III, a, da Constituição Federal, interpor

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Para o Colendo Supremo Tribunal Federal, levando em consideração que a decisão atacada contrariou o disposto no artigo 5ª, XLVII , conforme restará demonstrado nas razões articuladas em anexo.

Requer o recebimento do presente recurso, ordenando-se o seu processamento e a remessa à Superior Instância para novo julgamento.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local, data.

Advogado

Page 27: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

MÓDULO IICASOS CONCRETOS

Page 28: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 01

Em 17/1/2010, Rodolfo T., brasileiro, divorciado, com 57 anos de idade, administrador

de empresas, importante dirigente do clube esportivo LX F.C., contratou profissional da

advocacia para que adotasse as providências judiciais em face de conhecido jornalista e

comentarista esportivo, Clóvis V., brasileiro, solteiro, com 38 anos de idade, que, a

pretexto de criticar o fraco desempenho do time de futebol do LX F.C. no campeonato

nacional em matéria esportiva divulgada por meio impresso e apresentada em programa

televisivo, bem como no próprio blog pessoal do jornalista na Internet, passou, em

diversas ocasiões, juntamente com Teodoro S., brasileiro, de 60 anos de idade, casado,

jornalista, desafeto de Rodolfo T., a praticar reiteradas condutas com o firme propósito

de ofender a honra do dirigente do clube. Foram ambos interpelados judicialmente e se

recusaram a dar explicações acerca das ofensas, mantendo-se inertes. Por três vezes

afirmou, em meios de comunicação distintos, o comentarista Clóvis V., sabendo não

serem verdadeiras as afirmações, que o dirigente "havia 'roubado' o clube LX F.C. e os

torcedores, pois tinha se apropriado, indevidamente, de R$ 5 milhões pertencentes ao

LX F.C., na condição de seu diretor-geral, quando da venda do jogador Y, ocorrida em

20/12/2008" e que "já teria gasto parte da fortuna 'roubada', com festas, bebidas, drogas

e prostitutas". Tal afirmação foi proferida durante o programa de televisão Futebol da

Hora, em 7/1/2010, às 21 h 30 m, no canal de televisão VX e publicado no blog do

comentarista esportivo, na Internet, em 8/1/2010, no endereço eletrônico

www.clovisv.futebol.xx. Tais declarações foram igualmente publicadas no jornal

impresso Notícias do Futebol, de circulação nacional, na edição de 8/1/2010. Destaque-

se que o canal de televisão VX e o jornal Notícias do Futebol pertencem ao mesmo

grupo econômico e têm como diretor-geral e redator-chefe Teodoro S., desafeto do

dirigente Rodolfo T. Sabe-se que todas as notícias foram veiculadas por ordem direta e

expressa de Teodoro S. Prosseguindo a empreitada ofensiva, o jornalista Clóvis V.

disse, em 13/1/2010, em seu blog pessoal na Internet, que o dirigente não teria

condições de gerir o clube porque seria "um burro, de capacidade intelectual inferior à

de uma barata" e, por isso, "tinha levado o clube à falência", porém estava "com os

bolsos cheios de dinheiro do clube e dos torcedores". Como se não bastasse, na última

edição do blog, em 15/1/2010, afirmou que "o dirigente do clube está tão decadente que

passou a sair com homens", por isso "a mulher o deixou".

Entre os documentos coletados pelo cliente e pelo escritório encontram-se a gravação,

em DVD, do programa de televisão, com o dia e horário em que foi veiculado, bem

Page 29: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

como a edição do jornal impresso em que foi difundida a matéria sobre o assunto, além

de cópias de páginas e registros extraídos da Internet, com as ofensas perpetradas pelo

jornalista Clóvis V. Rodolfo T. tomou conhecimento da autoria e dos fatos no dia

15/1/2010, tendo todos eles ocorrido na cidade de São Paulo – SP, sede da emissora e

da editora, além de domicílio de todos os envolvidos.

Em face dessa situação hipotética, na condição de advogado(a) contratado(a) por

Rodolfo T., redija a peça processual que atenda aos interesses de seu cliente,

considerando recebida a pasta de atendimento do cliente devidamente instruída,

com todos os documentos pertinentes, suficientes e necessários, procuração com

poderes especiais e testemunhas.

Page 30: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 02

A Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul recebe notícia crime identificada,

imputando a Maria Campos a prática de crime, eis que mandaria crianças brasileiras

para o estrangeiro com documentos falsos. Diante da notícia crime, a autoridade policial

instaura inquérito policial e, como primeira providência, representa pela decretação da

interceptação das comunicações telefônicas de Maria Campos, “dada a gravidade dos

fatos noticiados e a notória dificuldade de apurar crime de tráfico de menores para o

exterior por outros meios, pois o ‘modus operandi’ envolve sempre atos ocultos e exige

estrutura organizacional sofisticada, o que indica a existência de uma organização

criminosa integrada pela investigada Maria”. O Ministério Público opina

favoravelmente e o juiz defere a medida, limitando-se a adotar, como razão de decidir,

“os fundamentos explicitados na representação policial”.

No curso do monitoramento, foram identificadas pessoas que contratavam os serviços

de Maria Campos para providenciar expedição de passaporte para viabilizar viagens de

crianças para o exterior. Foi gravada conversa telefônica de Maria com um funcionário

do setor de passaportes da Polícia Federal, Antônio Lopes, em que Maria consultava

Antônio sobre os passaportes que ela havia solicitado, se já estavam prontos, e se

poderiam ser enviados a ela. A pedido da autoridade policial, o juiz deferiu a

interceptação das linhas telefônicas utilizadas por Antônio Lopes, mas nenhum diálogo

relevante foi interceptado.

O juiz, também com prévia representação da autoridade policial e manifestação

favorável do Ministério Público, deferiu a quebra de sigilo bancário e fiscal dos investi

gados, tendo sido identificado um depósito de dinheiro em espécie na conta de Antônio,

efetuado naquele mesmo ano, no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). O

monitoramento telefônico foi mantido pelo período de quinze dias, após o que foi

deferida medida de busca e apreensão nos endereços de Maria e Antônio. A decisão foi

proferida nos seguintes termos: “diante da gravidade dos fatos e da real possibilidade de

serem encontrados objetos relevantes para investigação, defiro requerimento de busca e

apreensão nos endereços de Maria (Rua dos Casais, 213) e de Antonio (Rua Castro,

170, apartamento 201)”. No endereço de Maria Campos, foi encontrada apenas uma

relação de nomes que, na visão da autoridade policial, seriam clientes que teriam

requerido a expedição de passaportes com os nomes de crianças que teriam viajado para

o exterior. No endereço indicado no mandado de Antônio Lopes, nada foi encontrado.

Entretanto, os policiais que cumpriram a ordem judicial perceberam que o apartamento

Page 31: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

202 do mesmo prédio também pertencia ao investi gado, motivo pelo qual nele

ingressaram, encontrando e apreendendo a quantia de cinquenta mil dólares em espécie.

Nenhuma outra diligência foi realizada.

Relatado o inquérito policial, os autos foram remeti dos ao Ministério Público, que

ofereceu a denúncia nos seguintes termos: “o Ministério Público vem oferecer denúncia

contra Maria Campos e Antônio Lopes, pelos fatos a seguir descritos: Maria Campos,

com o auxílio do agente da polícia federal Antônio Lopes, expediu diversos passaportes

para crianças e adolescentes, sem observância das formalidades legais. Maria tinha a

finalidade de viabilizar a saída dos menores do país. A partir da quantia de dinheiro

apreendida na casa de Antônio Lopes, bem como o depósito identificado em sua conta

bancária, evidente que ele recebia vantagem indevida para efetuar a liberação dos

passaportes. Assim agindo, a denunciada Maria Campos está incursa nas penas do artigo

239, parágrafo único, da Lei n. 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), e nas

penas do artigo 333, parágrafo único, c/c o artigo 69, ambos do Código Penal. Já o

denunciado Antônio Lopes está incurso nas penas do artigo 239, parágrafo único, da Lei

n. 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e nas penas do artigo 317, § 1º, c/c

artigo 69, ambos do Código Penal”.

O juiz da 15ª Vara Criminal de Porto Alegre, RS, recebeu a denúncia, nos seguintes

termos: “compulsando os autos, verifico que há prova indiciária suficiente da ocorrência

dos fatos descritos na denúncia e do envolvimento dos denunciados. Há justa causa para

a ação penal, pelo que recebo a denúncia. Citem-se os réus, na forma da lei”. Antonio

foi citado pessoalmente em 27.10.2010 (quarta-feira) e o respectivo mandado foi

acostado aos autos dia 01.11.2010 (segunda-feira). Antonio contratou você como

Advogado, repassando-lhe nomes de pessoas (Carlos de Tal, residente na Rua 1, n. 10,

nesta capital; João de Tal, residente na Rua 4, n. 310, nesta capital; Roberta de Tal,

residente na Rua 4, n. 310, nesta capital) que prestariam relevantes informações para

corroborar com sua versão.

Nessa condição, redija a peça processual cabível desenvolvendo TODAS AS TESES

DEFENSIVAS que podem ser extraídas do enunciado com

indicação de respectivos dispositivos legais. Apresente a peça no último dia do

prazo.

Page 32: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 03

José de Tal, brasileiro, divorciado, primário e portador de bons antecedentes, ajudante

de pedreiro, nascido em Juazeiro – BA, em 7/9/1938, residente e domiciliado em

Planaltina – DF, foi denunciado pelo Ministério Público como incurso nas penas

previstas no art. 244, caput, c/c art. 61, inciso II, "e", ambos do Código Penal. Na

exordial acusatória, a conduta delitiva atribuída ao acusado foi narrada nos seguintes

termos: Desde janeiro de 2005 até, pelo menos, 4/4/2008, em Planaltina – DF, o

denunciado José de Tal, livre e conscientemente, deixou, em diversas ocasiões e por

períodos prolongados, sem justa causa, de prover a subsistência de seu filho Jorge de

Tal, menor de 18 anos, não lhe proporcionando os recursos necessários para sua

subsistência e faltando ao pagamento de pensão alimentícia fixada nos autos n.º

001/2005 – 5.ª Vara de Família de Planaltina – DF (ação de alimentos) e executada nos

autos do processo n.º 002/2006 do mesmo juízo. Arrola como testemunha Maria de Tal,

genitora e representante legal da vítima.

A denúncia foi recebida em 3/11/2008, tendo o réu sido citado e apresentado, no prazo

legal, de próprio punho — visto que não tinha condições de contratar advogado sem

prejuízo de seu sustento próprio e do de sua família — resposta à acusação, arrolando as

testemunhas Margarida e Clodoaldo.

A audiência de instrução e julgamento foi designada e José compareceu

desacompanhado de advogado. Na oportunidade, o juiz não nomeou defensor ao réu,

aduzindo que o Ministério Público estaria presente e que isso seria suficiente.

No curso da instrução criminal, presidida pelo juiz de direito da 9.ª Vara Criminal de

Planaltina – DF, Maria de Tal confirmou que José atrasava o pagamento da pensão

alimentícia, mas que sempre efetuava o depósito parcelado dos valores devidos. Disse

que estava aborrecida porque José constituíra nova família e, atualmente, morava com

outra mulher, desempregada, e seus 6 outros filhos menores de idade.

As testemunhas Margarida e Clodoaldo, conhecidos de José há mais de 30 anos,

afirmaram que ele é ajudante de pedreiro e ganha 1 salário mínimo por mês, quantia que

é utilizada para manter seus outros filhos menores e sua mulher, desempregada, e para

pagar pensão alimentícia a Jorge, filho que teve com Maria de Tal. Disseram, ainda,

que, todas as vezes que conversam com José, ele sempre diz que está tentando encontrar

mais um emprego, pois não consegue sustentar a si próprio nem a seus filhos, bem

como que está atrasando os pagamentos da pensão alimentícia, o que o preocupa muito,

visto que deseja contribuir com a subsistência, também, desse filho, mas não consegue.

Page 33: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Informaram que José sofre de problemas cardíacos e gasta boa parte de seu salário na

compra de remédios indispensáveis à sua sobrevivência.

Após a oitiva das testemunhas, José disse que gostaria de ser ouvido para contar sua

versão dos fatos, mas o juiz recusou-se a interrogá-lo, sob o argumento de que as provas

produzidas eram suficientes ao julgamento da causa.

Na fase processual prevista no art. 402 do Código de Processo Penal, as partes nada

requereram.

Em manifestação escrita, o Ministério Público pugnou pela condenação do réu nos

exatos termos da denúncia, tendo o réu, então, constituído advogado, o qual foi

intimado, em 15/6/2009, segunda-feira, para apresentação da peça processual cabível.

Considerando a situação hipotética acima apresentada, redija, na qualidade de

advogado(a) constituído(a) por José, a peça processual pertinente, privativa de

advogado, adequada à defesa de seu cliente. Em seu texto, não crie fatos novos,

inclua a fundamentação que embase seu(s) pedido(s) e explore as teses jurídicas

cabíveis, endereçando o documento à autoridade competente e datando-o no

último dia do prazo para protocolo.

Page 34: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 04

Leila, de quatorze anos de idade, inconformada com o fato de ter engravidado de seu

namorado, Joel, de vinte e oito anos de idade, resolveu procurar sua amiga Fátima, de

vinte anos de idade, para que esta lhe provocasse um aborto. Utilizando seus

conhecimentos de estudante de enfermagem, Fátima fez que Leila ingerisse um remédio

para úlcera.

Após alguns dias, na véspera da comemoração da entrada do ano de 2005, Leila abortou

e disse ao namorado que havia menstruado, alegando que não estivera, de fato, grávida.

Desconfiado, Joel vasculhou as gavetas da namorada e encontrou, além de um envelope

com o resultado positivo do exame de gravidez de Leila, o frasco de remédio para úlcera

embrulhado em um papel com um bilhete de Fátima a Leila, no qual ela prescrevia as

doses do remédio. Munido do resultado do exame e do bilhete escrito por Fátima, Joel

narrou o fato à autoridade policial, razão pela qual Fátima foi indiciada por aborto.

Tanto na delegacia quanto em juízo, Fátima negou a prática do aborto, tendo

confirmado que fornecera o remédio a Leila, acreditando que a amiga sofria de úlcera.

Leila foi encaminhada para perícia no Instituto Médico Legal de São Paulo, onde se

confirmou a existência de resquícios de saco gestacional, compatível com gravidez, mas

sem elementos suficientes para a confirmação de aborto espontâneo ou provocado.

Leila não foi ouvida durante o inquérito policial porque, após o exame, mudou-se para

Brasília e, apesar dos esforços da autoridade policial, não foi localizada.

Em 30/1/2010, Fátima foi denunciada pela prática de aborto. Regularmente processada

a ação penal, o juiz, no momento dos debates orais da audiência de instrução, permitiu,

com a anuência das partes, a manifestação por escrito, no prazo sucessivo de cinco dias.

A acusação sustentou a comprovação da autoria, tanto pelo depoimento de Joel na fase

policial e ratificação em juízo, quanto pela confirmação da ré de que teria fornecido

remédio abortivo. Sustentou, ainda, a materialidade do fato, por meio do exame de

laboratório e da conclusão da perícia pela existência da gravidez.

A defesa teve vista dos autos em 12/7/2010.

Em face dessa situação hipotética, na condição de advogado(a) constituído(a) por

Fátima, redija a peça processual adequada à defesa de sua cliente, alegando toda a

matéria de direito processual e material aplicável ao caso. Date o documento no

último dia do prazo para protocolo.

Page 35: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 05

Agnaldo, que reside com sua esposa, Ângela, e seus dois filhos na cidade de Porto

Alegre – RS, pretendendo fazer uma reforma na casa onde mora com a família, dirigiu-

se a uma loja de material de construção para verificar as opções de crédito existentes.

Entre as opções que o vendedor da loja apresentou, a mais adequada ao seu orçamento

familiar era a emissão de cheques pré-datados como garantia da dívida.

Como não possui conta-corrente em agência bancária, Agnaldo pediu a seu cunhado e

vizinho, Firmino, que lhe emprestasse seis cheques para a aquisição do referido

material, pedido prontamente atendido. Com o empréstimo, retornou ao estabelecimento

comercial e realizou a compra, deixando como garantia da dívida os seis cheques

assinados pelo cunhado.

Dias depois, Firmino, que tivera seu talonário de cheques furtado, sustou todos os

cheques que havia emitido, entre eles, os emprestados a Agnaldo. Diante da sustação, o

empresário, na delegacia de polícia mais próxima, alegou que havia sido fraudado em

uma transação comercial, uma vez que Firmino frustrara o pagamento dos cheques pré-

datados.

Diante das alegações, o delegado de polícia instaurou inquérito policial para apurar o

caso, indiciando Firmino, por entender que havia indícios de ele ter cometido o crime

previsto no inciso VI do § 2.º do art. 171 do Código Penal.

Inconformado, Firmino impetrou habeas corpus perante a 1.ª Vara Criminal da Comarca

de Porto Alegre, tendo o juiz denegado a ordem.

Considerando essa situação hipotética, na condição de advogado(a) contratado(a)

por Firmino, interponha a peça judicial cabível, privativa de advogado, em favor

de seu cliente.

Page 36: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 06

No dia 17 de junho de 2010, uma criança recém-nascida é vista boiando em um córrego

e, ao ser resgatada, não possuía mais vida. Helena, a mãe da criança, foi localizada e

negou que houvesse jogado a vítima no córrego. Sua filha teria sido, segundo ela,

sequestrada por um desconhecido. Durante a fase de inquérito, testemunhas afirmaram

que a mãe apresentava quadro de profunda depressão no momento e logo após o parto.

Além disso, foi realizado exame médico legal, o qual constatou que Helena, quando do

fato, estava sob influência de estado puerperal. À míngua de provas que confirmassem a

autoria, mas desconfiado de que a mãe da criança pudesse estar envolvida no fato, a

autoridade policial representou pela decretação de interceptação telefônica da linha de

telefone móvel usado pela mãe, medida que foi decretada pelo juiz competente. A prova

constatou que a mãe efetivamente praticara o fato, pois, em conversa telefônica com

uma conhecida, de nome Lia, ela afirmara ter atirado a criança ao córrego, por

desespero, mas que estava arrependida. O delegado intimou Lia para ser ouvida, tendo

ela confirmado, em sede policial, que Helena de fato havia atirado a criança, logo após o

parto, no córrego. Em razão das aludidas provas, a mãe da criança foi então denunciada

pela prática do crime descrito no art. 123 do Código Penal perante a 1ª Vara Criminal

(Tribunal do Júri). Durante a ação penal, é juntado aos autos o laudo de necropsia

realizada no corpo da criança. A prova técnica concluiu que a criança já nascera morta.

Na audiência de instrução, realizada no dia 12 de agosto de 2010, Lia é novamente

inquirida, ocasião em que confirmou ter a denunciada, em conversa telefônica, admitido

ter jogado o corpo da criança no córrego. A mesma testemunha, no entanto, trouxe nova

informação, que não mencionara quando ouvida na fase inquisitorial. Disse que, em

outras conversas que tivera com a mãe da criança, Helena contara que tomara substância

abortiva, pois não poderia, de jeito nenhum, criar o filho. Interrogada, a denunciada

negou todos os fatos. Finda a instrução, o Ministério Público manifestou-se pela

pronúncia, nos termos da denúncia, e a defesa, pela impronúncia, com base no

interrogatório da acusada, que negara todos os fatos. O magistrado, na mesma

audiência, prolatou sentença de pronúncia, não nos termos da denúncia, e sim pela

prática do crime descrito no art. 124 do Código Penal, punido menos severamente do

que aquele previsto no art. 123 do mesmo código, intimando as partes no referido ato.

Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas

pelo caso concreto acima, na condição de advogado(a) de Helena, redija a peça

Page 37: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

cabível à impugnação da mencionada decisão, acompanhada das razões

pertinentes, as quais devem apontar os argumentos para o provimento do recurso,

mesmo que em caráter sucessivo.

Page 38: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 07

Márcio, brasileiro, solteiro, pedreiro, atualmente recluso no Centro de Readaptação

Penitenciária de Presidente Bernardes – SP, foi condenado, pelo juiz da 2.a Vara

Criminal de São Paulo – SP, a 8 anos de reclusão, em regime fechado, pela prática do

crime previsto no art. 157, § 2.º, incisos I e II.

Recentemente, progrediu ao regime semi-aberto, razão pela qual ainda não faz jus à

progressão ao regime aberto.

Márcio, que já cumpriu 5 anos do total da pena, tem profissão certa e definida e está

trabalhando, com carteira assinada, como pedreiro, demonstra intenção de fixar

residência na Colônia Agrícola Águas Lindas, lote 1, Guará – DF, em companhia de

seus pais, bem como de constituir uma família tão logo seja colocado em liberdade.

Em razão disso, por meio da defensoria pública, pleiteou ao juízo competente a

concessão do livramento condicional.

O juiz indeferiu o pedido de livramento condicional, visto que, no relatório carcerário

expedido pelo diretor daquele estabelecimento prisional, consta uma tentativa de fuga

em 22/4/2006, na qual Márcio estivera envolvido. Entretanto, no mesmo relatório, a

autoridade carcerária informa que, atualmente, o detento, não reincidente em crime

doloso, ostenta bom comportamento e exerce trabalho externo.

Considerando a situação hipotética descrita, formule, na condição de advogado(a)

contratado(a) por Márcio, a peça — diversa de habeas corpus — que deve ser

apresentada no processo.

Page 39: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 08Odilon Coutinho, brasileiro, com 71 anos de idade, residente e domiciliado em Rio

Preto da Eva – AM, foi denunciado pelo Ministério Público, nos seguintes termos:

“No dia 17 de setembro de 2007, por volta das 19 h 30 min, na cidade e comarca de

Manaus – AM, o denunciado, Odilon Coutinho, juntamente com outro não identificado,

imbuídos do propósito de assenhoreamento definitivo, quebraram a janela do prédio

onde funciona agência dos Correios e de lá subtraíram quatro computadores da marca

Lunation, no valor de R$ 5.980,00; 120 caixas de encomenda do tipo 3, no valor de R$

540,00; e 200 caixas de encomenda do tipo 4, no valor de R$ 1.240,00 (cf. auto de

avaliação indireta às fls.).

Assim agindo, incorreu o denunciado na prática do art. 155, §§ 1.º e 4.º, incs. I e IV, do

Código Penal (CP), combinado com os arts. 29 e 69, todos do CP, motivo pelo qual é

oferecida a presente denúncia, requerendo-se o processamento até final julgamento.”

O magistrado recebeu a exordial em 1.º de outubro de 2007, acolhendo a imputação em

seus termos. Após o interrogatório e a confissão de Odilon Coutinho, ocorridos em 7 de

dezembro de 2007, na presença de advogado ad hoc, embora já houvesse advogado

constituído não intimado para o ato, a instrução seguiu, fase em que o magistrado,

alegando que o fato já estava suficientemente esclarecido, não permitiu a oitiva de uma

testemunha arrolada, tempestivamente, pela defesa.

O policial Jediel Soares, responsável pelo monitoramento das conversas telefônicas de

Odilon, foi inquirido em juízo, tendo esclarecido que, inicialmente, a escuta telefônica

fora realizada “por conta”, segundo ele, porque havia diversas denúncias anônimas, na

região de Manaus, acerca de um sujeito conhecido como Vovô, que invadia agências

dos Correios com o propósito de subtrair caixas e embalagens para usá-las no tráfico de

animais silvestres. Jediel e seu colega Nestor, nas diligências por eles efetuadas,

suspeitaram da pessoa de Odilon, senhor de “longa barba branca”, e decidiram realizar a

escuta telefônica.

Superada a fase de alegações finais, apresentadas pelas partes em fevereiro de 2008, os

autos foram conclusos para sentença, em março de 2008, tendo o magistrado, com base

em toda a prova colhida, condenado o réu, de acordo com o art. 155, §§ 1.º e 4.º, incs. I

e IV, do CP, à pena privativa de liberdade de 8 anos de reclusão (a pena-base foi fixada

em 5 anos de reclusão), cumulada com 30 dias-multa, no valor de 1/30 do salário

mínimo, cada dia. Fixou, ainda, para Odilon Coutinho, réu primário, o regime fechado

de cumprimento de pena. O Ministério Público não interpôs recurso.

Page 40: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Em face da situação hipotética acima apresentada, na qualidade de advogado(a)

constituído(a) de Odilon Coutinho, e supondo que, intimado(a) da sentença

condenatória, você tenha manifestado seu desacordo em relação aos termos da

referida decisão e que, em 13 de outubro de 2008, tenha sido intimado(a) a

apresentar as razões de seu inconformismo, elabore a peça processual cabível,

endereçando-a ao juízo competente, enfrentando todas as matérias pertinentes e

datando o documento no último dia do prazo para apresentação

Page 41: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 09

O Ministério Público ofereceu denúncia contra Pedro Antunes Rodrigues, por infração

prevista no art. 121, caput, c/c o art. 14, inciso II, e art. 61, inciso II, alínea e, todos do

Código Penal. Conforme a inicial acusatória, no dia 2 de novembro de 2006, por volta

das 15 horas, na quadra 5, em via pública, na localidade de Planaltina – DF, o

denunciado, fazendo uso de uma pistola, da marca Taurus, calibre 380, semi-

automática, com capacidade para doze cartuchos, conforme laudo de exame em arma de

fogo, efetuou um disparo contra seu irmão Alberto Antunes Rodrigues, na tentativa de

matá-lo, causando-lhe lesões no peito, do lado esquerdo. O delito de homicídio não se

consumou por circunstâncias alheias à sua vontade, sendo evitado porque a vítima

recebeu pronto atendimento médico. O que motivou o fato, conforme a exordial, foi a

divisão de uma área de terras oriunda de herança. Narra a denúncia que Pedro Antunes

Rodrigues disse à vítima, na véspera dos fatos, que “a fazenda seria sua de qualquer

jeito, nem que, para isso, tivesse que matar o próprio irmão”. Ao ser interrogado, o réu

admitiu que teria dito ao seu irmão, um dia antes do crime, exatamente as palavras

narradas na denúncia. Durante a instrução do feito, a acusação apresentou testemunhas

não-presenciais. A defesa, por seu turno, arrolou Catarina Andrade, que informou que,

depois de efetuar um único disparo de arma de fogo contra a vítima, Pedro Antunes

Rodrigues absteve-se, voluntariamente, de reiterar atos agressivos à integridade física da

vítima e, ato contínuo, retirou-se, caminhando, do local onde ocorreram os fatos. Consta

nos autos informação da polícia técnica de que na arma, apreendida imediatamente após

o crime, havia 7 cartuchos intactos. E, ainda, que Pedro não possui antecedentes penais.

Conforme o laudo de exame de corpo de delito (lesões corporais), a vítima foi atingida

no lado esquerdo do peito, tendo o projétil transfixado o coração, do que resultou perigo

de vida. Em razão da lesão sofrida, Alberto ficou 40 dias sem exercer suas atividades

normais. Sobreveio, então, sentença que pronunciou o réu nos termos da denúncia.

Submetido a julgamento pelo tribunal do júri, o réu foi condenado a 5 anos de reclusão,

em regime semi-aberto, conforme o disposto no art. 121, caput, c/c o art. 14, inciso II, e

art. 61, inciso II, alínea e, todos do Código Penal.

Considerando essa situação hipotética, redija, na qualidade de advogado de Pedro

Antunes Rodrigues, a peça processual que não seja o habeas corpus, privativa de

advogado, pertinente à sua defesa, incluindo a fundamentação legal.

Page 42: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 10

Em 7/8/2005, CAIO foi condenado, pelo Juízo da 9.ª Vara Federal Criminal da Seção

Judiciária do Rio de Janeiro, a pena de dois anos de reclusão e multa pela prática do

crime previsto no artigo 171, § 3.º, do Código Penal, porque teria recebido,

fraudulentamente, benefício previdenciário, no valor de R$ 5.000,00, em prejuízo do

INSS, por meio de saque da quantia no caixa bancário, com o uso de documento de

identidade que pertencia a beneficiário já falecido. O fato ocorreu em 8/5/2004. A

sentença determinou o cumprimento da pena em regime aberto, negando expressamente

a sua substituição por pena restritiva de direitos por considerar que o réu não preenchia

o requisito do artigo 44, III, do Código Penal, por se encontrar indiciado em outros

inquéritos por fatos análogos. O apelo interposto pela defesa de Caio teve provimento

negado pela 3.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2.ª Região, por maioria de

votos. Na ocasião, restou vencido o desembargador federal Tício, que (A) acolhia a

preliminar de nulidade da sentença pela ausência de exame pericial no documento

utilizado por Caio; (B) no mérito, reformava a sentença condenatória para absolver Caio

por insuficiência de provas para a condenação, a qual foi baseada no testemunho

judicial da autoridade policial que oficiou na fase do inquérito, informando ter chegado

a Caio por meio de denúncia anônima, corroborada por confissão policial, sendo certo

que Caio foi submetido pelo juízo a reconhecimento pelo caixa do banco, de acordo

com o procedimento previsto no artigo 226 do Código de Processo Penal, que restou

negativo; (C) autorizava a substituição da pena por pena restritiva de direitos, mesmo

havendo na folha de antecedentes criminais de Caio diversas anotações relativas a

inquéritos policiais, em andamento, por outras fraudes contra o INSS.

Redija a peça processual adequada à situação descrita, invocando todos os

fundamentos jurídicos pertinentes. Ao final, assine como advogado, utilizando o

nome JOSÉ DA SILVA, inscrição OAB/RJ 0001.

Page 43: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 11

Rodrigo Malta, brasileiro, solteiro, nascido em 4/5/1976, em São Paulo – SP, residente

na rua Pedro Afonso n.o 12, Moema, São Paulo – SP, foi preso em flagrante delito, em

2/8/2008. Em 9/9/2008, foi denunciado como incurso nas sanções previstas no art. 14,

caput, e no art. 16, parágrafo único, IV, ambos da Lei n.º 10.826/2003 (porte de arma de

fogo de uso permitido e posse de arma de fogo de uso restrito, com a numeração

raspada), de acordo com o que dispõe o art. 69 do Código Penal brasileiro.

O advogado de Rodrigo pleiteou a liberdade provisória de seu cliente, entretanto o

pleito foi indeferido pelo juiz a quo, que assim se manifestou: “Após analisar os autos,

entendo que o pedido de liberdade provisória formulado não merece acolhida. Com

efeito, os crimes imputados ao acusado são sobremaneira graves, indicando a prova

indiciária, até o momento, que o acusado é provavelmente soldado do tráfico, o que só

será dirimido, com exatidão, durante a instrução. De outro lado, a primariedade e os

bons antecedentes não são pressupostos a impor a liberdade de forma incontinente,

destacando-se que, em casos como o presente, melhor razão está com a bem pautada

promoção do Ministério Público, que oficiou contrariamente à liberdade provisória. Isto

posto, indefiro o pedido de liberdade.”

A defesa, então, impetrou habeas corpus perante o Tribunal de Justiça do Estado de São

Paulo, objetivando a concessão de liberdade provisória, sob o argumento de que o

decreto de prisão cautelar não explicitara a necessidade da medida nem indicara os

motivos que a tornariam indispensável, entre os elencados no art. 312 do Código de

Processo Penal.

A ordem, contudo, restou denegada, confirmando-se a decisão do juiz a quo, em razão

do disposto no art. 21 da Lei n.º 10.826/2003, que proíbe a liberdade provisória no caso

dos crimes de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.

Registre-se que Rodrigo Malta é primário, possui bons antecedentes e compareceu à

delegacia e ao juízo todas as vezes em que foi intimado. Outrossim, não demonstrou

qualquer intenção de fuga.

Considerando a situação hipotética apresentada, na condição de advogado(a)

contratado(a) por Rodrigo Malta, interponha a peça jurídica cabível, diversa de

habeas corpus, em favor de seu cliente, diante da denegação da ordem.

Page 44: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 12

Pedro Paulo e Marconi estavam sendo investigados pela autoridade policial de distrito

policial da comarca de São Paulo em razão da prática do delito de tentativa de furto

qualificado pelo concurso de pessoas, ocorrido no dia 9/6/2008, por volta das 22 h. O

inquérito policial foi autuado e tramitava perante a 2.a vara criminal da capital.

Ao registrar ocorrência policial, a vítima, Maria Helena, narrou ter visto dois indivíduos

de estatura mediana, com cabelos escuros e utilizando bonés, no estacionamento do

shopping Iguatemi, tentando subtrair o veículo Corsa/GM, de cor verde, placa IFU

6643/SP, que lhe pertencia. Disse, ainda, que eles só não alcançaram êxito na

empreitada criminosa por motivos alheios às suas vontades, visto que foram impedidos

de concluí-la pelos policiais militares que estavam em patrulhamento na região.

No dia 30/6/2008, Pedro Paulo foi convidado para que se fizesse presente naquela

delegacia de polícia e assim o fez, imediata e espontaneamente, a fim de se submeter a

reconhecimento formal. Na ocasião, negou a autoria do delito, relatando que, no horário

do crime, estava em casa, dormindo.

A vítima Maria Helena, e a testemunha Agnes, que, no dia do crime, iria pegar uma

carona com a vítima não reconheceram, inicialmente, Pedro Paulo como autor do delito.

Em seguida, Pedro Paulo foi posto em uma sala, junto com Marconi, para

reconhecimento, havendo insistência, por parte dos policiais, para que a vítima

confirmasse que os indiciados eram os autores do crime. Então, a vítima assinou o auto

de reconhecimento, declarando que Pedro Paulo era a pessoa que, no dia 9/6/2008,

havia tentado furtar o seu veículo, conforme orientação dos agentes de polícia.

Diante disso, o delegado autuou Pedro Paulo em flagrante delito e recolheu-o à prisão.

Foi entregue a Pedro Paulo a nota de culpa, e, em seguida, foram feitas as comunicações

de praxe.

Pedro Paulo não é primário, porém possui residência e emprego fixos.

Considerando a situação hipotética apresentada, redija, em favor de Pedro Paulo, a peça

jurídica, diversa de habeas corpus, cabível à espécie.

Page 45: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PEÇA 13

Maria, saindo de uma escola, em horário noturno, no dia 25 de agosto de 2007, dirigia-

se a sua casa quando foi agarrada por Mário, que a levou para um matagal e, com uma

faca, obrigou-a a ter com ele conjunção carnal. Após, a vítima foi até a sua casa e

contou para os seus pais o que havia sucedido. Estes entraram em contato com a polícia,

que se dirigiu ao local do fato e, nas proximidades, depois de cerca de quatro horas de

sua ocorrência, encontraram uma pessoa com as características semelhantes às descritas

pela vítima e com uma faca. Foi elaborado auto de prisão em flagrante. A vítima, ao ser

ouvida, disse que a pessoa presa era muito parecida com a que a atacou, mas, como era

noite, não tinha certeza. Afirmou ainda que ela e seus pais preferiam que aquela pessoa

não fosse processada, pois temiam que pudesse ser novamente atacada. Foram ouvidos

os policiais que confirmaram a prisão. Mário preferiu o silêncio, asseverando que

somente prestaria declarações em juízo. Encaminhado o auto de prisão em flagrante ao

Ministério Público, este, no dia 3 de setembro de 2007, ofereceu denúncia contra Mário

pela prática do crime de estupro . O Juiz recebeu a denúncia somente.

A família de Mário o procura entregando-lhe cópia da sua carteira de trabalho onde

consta que há 8 anos ele trabalha no mesmo emprego, cópia dos seus comprovantes de

residência e cópia de todos os seus documentos.

QUESTÃO: Como Advogado de Mário, apresente a peça mais adequada para defendê-

lo, com todos os argumentos e pedidos cabíveis.

Page 46: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

MÓDULO IIIRESOLUÇÃO DE QUESTÕES

Page 47: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Ação Penal:

(36º Exame)

Pietro, acusado de ter atropelado fatalmente Júlia, esposa de Maurício, foi absolvido,

após o regular trâmite processual, por falta de provas da autoria.

Inconformado, Maurício continuou a investigar o fato e, cerca de um ano após o trânsito

em julgado da decisão, conseguiu reunir novas provas da autoria de Pietro.

Considerando a situação hipotética apresentada, na qualidade de advogado(a)

consultado(a) por Maurício, elabore parecer acerca da possibilidade de Maurício

se habilitar como assistente da acusação e de Pietro ser novamente processado.

(34º Exame)

Lear possui três filhas — Goneril, Regan e Cordélia —, que, encontrando-se com ele

em local público, no dia 5/3/2007, chamaram-no, em razão de desavenças familiares,

“deserdado”, “pé-de-chinelo”, “pé-rapado”, na presença de outras pessoas. Lear,

inconformado com as ofensas assacadas contra si, constituiu advogado que ajuizou

queixa-crime, no dia 5/9/2007, contra todas as três filhas de Lear, imputando-lhes o

crime de injúria (artigo 140 do Código Penal).

Durante a fase de instrução processual, Lear celebrou suas bodas de ouro matrimoniais

com grande festa, para a qual convidou somente Goneril e Regan. A primeira aceitou o

convite, comparecendo ao evento e se reconciliando com o pai. A segunda não aceitou o

convite, tendo optado por manter rompidas suas relações com Lear.

Na qualidade de advogado constituído por Cordélia, exponha, de forma

juridicamente fundamentada, as duas teses jurídicas defensivas que podem ser

inferidas do enunciado da questão.

(41º exame)

A autoridade policial titular da delegacia de combate aos delitos contra o patrimônio de

determinado município instaurou inquérito para a apuração da prática de crime contra

certo comerciante local, que teve seu estabelecimento furtado há quase oito anos. As

investigações desenvolvem-se de forma lenta, pois várias diligências foram efetuadas

em outras circunscrições policiais da mesma comarca, razão pela qual o delegado

Page 48: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

responsável pelo caso constantemente vale-se da expedição de cartas precatórias e

requisições para as autoridades policiais dessas unidades, a fim de cumprir os atos

necessários ao esclarecimento do delito. Em uma dessas diligências, houve demora de

mais de um ano para promover a oitiva de apenas uma testemunha. Apesar do tempo

transcorrido, a polícia ainda não dispõe de elementos capazes de identificar a autoria do

delito. O comerciante não mantinha, em seu estabelecimento, sistema de segurança

pessoal nem sistema eletrônico de segurança, não dispondo, assim, de nenhuma prova

da autoria dos fatos. Dada a iminência do fim do prazo prescricional, o referido

comerciante solicitou orientação a profissional da advocacia, no intuito de tomar alguma

providência para a punição dos criminosos.

Em face dessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, aos

seguintes questionamentos.

a) Diante da necessidade de cumprir diligências em outra circunscrição, a

autoridade policial poderia ordená-las diretamente

sem a expedição de carta precatória ou de requisições?

b) Seria viável, na hipótese, intentar ação penal privada subsidiária da pública?

Competência – Prerrogativa de Função

(38º Exame)

Suponha que Ismael seja secretário de segurança do estado de Minas Gerais e, nessa

condição, tenha cometido delito de homicídio doloso contra Ricardo. Nessa situação

hipotética, dado que a Constituição mineira assegura prerrogativa de foro aos

secretários estaduais, de quem é a competência para processar e julgar Ismael?

Justifique sua resposta com base no Código de Processo Penal e na jurisprudência

do Supremo Tribunal Federal.

Reformatio in Pejus

(39º Exame)

Eduardo foi condenado à pena de 6 anos de reclusão e 100 dias-multa pela prática de

roubo contra uma agência da Caixa Econômica Federal. A sentença, no entanto, foi

proferida por juízo absolutamente incompetente, tendo sido anulada por decisão do

Page 49: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

órgão recursal em julgamento de recurso interposto pela defesa, determinando-se a

remessa dos autos à autoridade judiciária competente.

O Ministério Público, conformando-se com a condenação, não interpôs recurso. Após

nova tramitação processual perante o juízo competente, Eduardo foi condenado à pena

de 7 anos de reclusão e a 150 dias-multa.

Nessa situação hipotética, cabe sustentar que a nova condenação não poderia ter

sido superior à primeira? Justifique a resposta.

(34º Exame de Ordem)

Júlio foi condenado a doze anos de reclusão em regime integralmente fechado, pela

prática de homicídio qualificado pela torpeza. Apenas a defesa do acusado recorreu, por

entender que a decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos. O

tribunal ad quem deu provimento ao recurso e determinou que Júlio fosse submetido a

novo júri.

Com base na situação hipotética apresentada e no princípio constitucional da

soberania dos veredictos, redija, na qualidade de advogado de Júlio, um texto,

orientando-o a respeito da aplicação do princípio no reformatio in pejus, no novo

julgamento, em relação aos jurados e ao juiz presidente.

Questões e Processos Incidentes

(34º Exame)

Carlos lesionou Messias em uma briga. Os dois foram conduzidos à delegacia de

polícia, que os encaminhou ao Juizado Especial Criminal. Frustrada a conciliação,

Messias apresentou representação criminal contra Carlos. O representante do Ministério

Público fez a proposta de transação penal, que não foi aceita. A ação penal foi iniciada

e, ao final, Carlos foi absolvido por ter agido em legítima defesa própria. A decisão

transitou em julgado. Passados dois meses, Carlos recebeu um mandado de citação

relativo a processo em curso junto ao tribunal do júri, no qual a denúncia narra o mesmo

fato, Messias, figurando como vítima e a acusação de tentativa de homicídio.

Com base na situação hipotética apresentada, redija um texto dissertativo,

especificando:

a) a providência, privativa de advogado, que deve ser adotada nesse processo pelo

advogado de Carlos e seu fundamento;

Page 50: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

b) os requisitos e a conseqüência do acolhimento dessa medida.

(40º Exame)

Ricardo, depois de descobrir que vinha sendo traído por sua namorada, Marta,

aproveitando-se do momento em que ela dormia, asfixiou-a até a morte e esquartejou o

corpo. O crime chocou toda a população da comarca de Cabo Frio – RJ, que passou a

clamar por justiça e a exigir punição exemplar para Ricardo. A denúncia foi recebida, a

fase de prelibação transcorreu de forma regular e Ricardo foi pronunciado.

Durante o curso de toda a instrução preliminar, tanto a família de Ricardo quanto o juiz

presidente da vara do tribunal do júri foram, por diversas vezes, alertados, por

intermédio de cartas, bilhetes e mensagens eletrônicas, de que os jurados que poderiam

vir a compor o conselho de sentença não seriam isentos para julgar o caso, sob a

alegação de que vários deles integravam grupo de extermínio que havia decidido dar

cabo à vida de Ricardo no dia designado para a realização do julgamento em plenário.

Todas as mensagens foram devidamente juntadas aos autos, tendo sido os fatos

amplamente divulgados pela imprensa.

Houve uma tentativa de linchamento de Ricardo por populares, após a qual a imprensa

veiculou imagens da delegacia de polícia local, oportunidade em que alguns jurados

alistados foram identificados nas fotos.

Considerando a situação hipotética apresentada, indique, com base nos

dispositivos legais pertinentes, a providência jurídica a ser adotada para garantir a

imparcialidade do julgamento e a autoridade judiciária competente para apreciar

o pedido a ser feito.

Provas

(37º Exame)

Túlio, sabendo que Romero praticava habitualmente crimes contra crianças e

adolescentes, adentrou o local de trabalho dele e dali subtraiu diversas fotografias nas

quais eram retratadas crianças nuas e mantendo relações sexuais. De posse do material

incriminador, Túlio passou a exigir dinheiro de Romero, sob a ameaça de entregar as

fotografias à polícia. Recusada a exigência, as fotos foram efetivamente encaminhadas à

autoridade policial, tendo o Ministério Público denunciado Romero, com base,

exclusivamente, nessas provas.

Page 51: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Em face dessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, aos

seguintes questionamentos:

É válida a denúncia? Houve violação dos direitos humanos fundamentais de

Romero? Se houve, de que direitos? Romero poderá ser condenado? Caso a

resposta seja afirmativa, por qual crime?

(35º Exame)

José é acusado da prática de pedofilia. Na denúncia, o Ministério Público arrolou, entre

as testemunhas, Júlia, mãe de uma das vítimas. Há notícia nos autos de que algumas

mães recebiam dinheiro ou drogas para permitir que as vítimas se encontrassem com o

acusado. Durante a oitiva de Júlia, testemunha compromissada, o promotor de justiça

fez perguntas acerca de seu possível conhecimento e consentimento em relação aos

fatos narrados na denúncia.

Considerando a situação hipotética apresentada, responda, de forma

fundamentada, se Júlia é obrigada a responder às perguntas formuladas pela

acusação, abordando, necessariamente, o fato de ela ser testemunha

compromissada.

(33º Exame)

Hattori Hanzo teve decretada sua prisão temporária no curso de um inquérito em que se

investigava o crime de sonegação fiscal (artigo 1.º da Lei 8.137/90) praticado por uma

quadrilha de fraudadores. Segundo os policiais que realizaram a investigação, Hattori

Hanzo era o intermediário da quadrilha, aquele que captava clientela interessada em

beneficiar-se das fraudes e contatava os servidores públicos responsáveis por

implementar a fraude nos sistemas de dados do INSS.

Ao ser preso, Hattori Hanzo foi interrogado pela autoridade policial, ocasião em que se

recusou a prestar depoimento, invocando seu direito constitucional de permanecer em

silêncio. Passados quinze dias da prisão, a autoridade policial não lograra obter

nenhuma prova do crime nem indícios da autoria de outros criminosos. Assim, no

décimo quinto dia, a autoridade policial retornou à cela de Hattori Hanzo e indagou-lhe

se pretendia continuar a exercer seu direito de calar ou preferia prestar novo depoimento

e colaborar com a justiça. Hattori Hanzo prestou um novo depoimento, no qual

confessou as fraudes que praticara, apontando, inclusive, os co-autores. Com base nesse

Page 52: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

depoimento, foram feitas novas investigações, descobrindo-se provas que não teriam

sido descobertas sem que Hattori Hanzo tivesse colaborado com sua confissão.

Considerando a situação hipotética acima narrada, responda, de forma

juridicamente fundamentada, aos seguintes questionamentos.

É válido o segundo depoimento prestado em sede policial por Hattori Hanzo?

(40º Exame)

O juiz criminal responsável pelo processamento de determinada ação penal instaurada

para a apuração de crime contra o patrimônio, cometido em janeiro de 2010, determinou

a realização de importante perícia por apenas um perito oficial, tendo sido a prova

pericial fundamental para justificar a condenação do réu.

Considerando essa situação hipotética, esclareça, com a devida fundamentação

legal, a viabilidade jurídica de se alegar eventual nulidade em favor do réu, em

razão de a perícia ter sido realizada por apenas um perito.

(40º Exame)

Júlio foi denunciado pela prática do delito de furto cometido em fevereiro de 2010.

Encerrada a instrução probatória, constatou-se, pelas provas testemunhais produzidas

pela acusação, que Júlio praticara roubo, dado o emprego de grave ameaça contra a

vítima.

Em face dessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, às seguintes

indagações.

a) Dada a nova definição jurídica do fato, que procedimento deve ser adotado pela

autoridade judicial, sem que se fira o princípio da ampla defesa?

b) O princípio da correlação é aplicável ao caso concreto?

c) Caso Júlio tivesse cometido crime de ação penal exclusivamente privada, dada a

nova definição jurídica do fato narrado na queixa após o fim da instrução

probatória, seria aplicável o instituto da mutatio libelli?

Prisão

(34º Exame)

José foi preso em flagrante pela prática de crime de roubo. Concluído no prazo previsto

em lei, o inquérito policial foi encaminhado ao juiz, que considerou a prisão em

Page 53: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

flagrante legal e remeteu-o ao Ministério Público. O representante do Ministério

Público, após dez dias de vistas, não ofereceu denúncia, tendo solicitado que os autos

fossem encaminhados à delegacia de polícia para o cumprimento de mais diligências.

O requerimento foi deferido pelo juiz, que manteve a prisão de José.

Considerando a situação hipotética acima, redija um texto dissertativo, avaliando

a legalidade da prisão de José e indicando, justificadamente, que medida judicial

seria a mais adequada para impugnar essa prisão.

Recursos

(39º Exame)

Edson, condenado à pena de 8 anos de reclusão pela prática do crime de atentado

violento ao pudor contra sua genitora, e seu defensor foram intimados da sentença em

8/5/2009, sexta-feira. Inconformada com a sentença, a defesa interpôs recurso de

apelação em 15/5/2009, antes do final do expediente forense. O juiz, contudo, alegando

intempestividade do apelo, não recebeu o recurso, tendo sido essa decisão publicada em

1º/6/2009, segunda-feira, data em que Edson e seu advogado compareceram em juízo e

tomaram ciência da denegação.

Considerando a situação hipotética apresentada, esclareça, de forma

fundamentada, com a indicação dos dispositivos legais pertinentes, se o juiz agiu

corretamente ao denegar a apelação e se o Código de Processo Penal prevê algum

recurso contra a decisão proferida.

Em caso afirmativo, indique o recurso cabível e o último dia do prazo para sua

interposição.

(39º Exame)

Pedrosa foi condenado, definitivamente, perante a 1.ª, a 3.ª, a 5.ª e a 2.ª Vara Criminal

da Comarca A, respectivamente, por ter subtraído, em cada um dos dias 11/1/2007,

12/1/2007, 13/1/2007 e 14/1/2007, aparelho de som automotivo do interior de veículo

estacionado, mediante arrombamento do vidro traseiro.

Nessa situação hipotética, havendo o início da execução de todas as penas

privativas de liberdade e tendo o juiz da execução negado a unificação das penas,

que medida judicial privativa de advogado é cabível para beneficiar o condenado?

Page 54: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Sob que fundamentos jurídicos de direito material e processual? A que órgão

compete o julgamento?

(35º Exame)

Lauro foi denunciado e, posteriormente, pronunciado pela prática dos crimes previstos

no art. 121, § 2.º, incisos II e IV, em concurso material com o art. 211, todos do Código

Penal Brasileiro (CPB). Em 24/6/2008, Lauro foi regularmente submetido a julgamento

perante o tribunal do júri. A tese de negativa de autoria não foi acolhida pelo conselho

de sentença e Lauro foi condenado pelos dois crimes, tendo o juiz fixado a pena em 16

anos pelo homicídio qualificado e, em 3 anos, pela ocultação de cadáver. O Ministério

Público não recorreu da decisão. A defesa ficou inconformada com o resultado do

julgamento, por entender que havia prova da inocência do réu em relação aos dois

crimes e que a pena imposta foi injusta.

Considerando a situação hipotética apresentada, indique, com os devidos

fundamentos jurídicos:

O recurso cabível à defesa de Lauro;

A providência jurídica cabível na hipótese de o juiz denegar o recurso.

(35º Exame)

Em 11/1/2008, Celso foi preso em flagrante pela prática do crime previsto no art. 213

do Código Penal. Regularmente processado, foi condenado a 6 anos de reclusão, em

regime inicialmente fechado. Somente a defesa recorreu da decisão e, logo após a

interposição do recurso, Celso fugiu da prisão.

Considerando essa situação hipotética, redija um texto dissertativo acerca a

situação processual de Celso, indicando, com a devida fundamentação legal e com

base nos princípios constitucionais:

o recurso interposto pela defesa;

a possibilidade de conhecimento e de julgamento do recurso interposto em face da

fuga de Celso.

(40º Exame)

Tomé responde a ação penal submetida ao procedimento ordinário pela suposta prática

do delito de estelionato, na modalidade de fraude no pagamento por meio de cheque

(CP, art. 171, VI). Condenado o réu em primeira instância, o juiz sentenciante fixou a

Page 55: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

pena em dois anos de reclusão e vinte dias-multa, omitindo-se quanto à substituição da

pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. A sentença condenatória foi

publicada em 8/3/2010, segunda-feira, mesmo dia da intimação pessoal de Tomé e de

seu advogado.

Durante a instrução processual, restou comprovado que Tomé é réu reincidente,

constando em sua folha de antecedentes criminais condenação anterior, transitada em

julgado, pela prática de delito de furto (CP, art. 155, caput). As outras circunstâncias

judiciais, no entanto, lhe são plenamente favoráveis.

Em face dessa situação hipotética, indique, com a devida fundamentação, a medida

judicial adequada para sanar a referida omissão e o prazo final para sua

apresentação, bem como esclareça se Tomé faz jus à substituição da pena privativa

de liberdade por restritiva de direitos.

Ações Autônomas

(40º Exame)

Em processo criminal que tramitou perante a justiça federal comum, foi apurada a

prática de crime de extorsão mediante sequestro. O juiz da causa ordenou, no curso da

instrução do processo, que se expedisse carta rogatória para a oitiva da vítima e se

colhesse depoimento de uma testemunha arrolada, na denúncia, pelo Ministério Público.

Foi encerrada a instrução do processo, sem o retorno das sobreditas cartas, tendo o juiz

proferido sentença na qual condenou os réus, entre os quais, Jair K. Os réus apelaram e

a condenação foi mantida pelo tribunal regional federal, por unanimidade. O acórdão

condenatório transitou em julgado em 20/3/2010. Após essa data, as cartas rogatórias

regressaram, e o juiz originário do feito mandou juntá-las aos autos. O conteúdo das

cartas afastou, de forma manifesta e cabal, a participação de Jair K. nos fatos apurados,

tendo ele constituído advogado, em 26/3/2010.

Em face dessa situação hipotética, indique, com a devida fundamentação legal, a

medida judicial a ser adotada em favor de Jair K. bem como o órgão competente

para julgá-la, o fundamento legal da medida, o prazo para o ajuizamento, o mérito

da questão e seus pedidos e efeitos.

AÇÃO CIVIL EX DELICTO

(41º exame)

Page 56: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Em 27/8/2009, na cidade de Goiânia – GO, o servidor público federal Lucas, motorista

do Ministério da Saúde, no exercício de suas funções e no horário de expediente,

atropelou e matou Almir, na faixa de pedestres. Instaurado e concluído o inquérito

policial, com regular tramitação, foi o servidor denunciado pela prática do crime de

homicídio culposo.

Após recebimento da denúncia, o feito transcorreu em perfeita obediência aos comandos

legais e resultou na condenação de Lucas. O magistrado, ao proferir a sentença penal

condenatória, fixou, desde logo, o valor mínimo para a reparação dos danos causados

pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido e devidamente

comprovados no processo, nos expressos termos do art. 387, inciso IV, do Código de

Processo Penal (CPP). Inconformado, Lucas apelou, encontrando-se o recurso pendente

de julgamento.

Em face dessa situação hipotética, responda, com fundamento no atual

disciplinamento do CPP, às seguintes indagações.

a) O valor fixado pelo juiz na sentença penal condenatória poderá ser objeto

imediato de execução?

b) O valor fixado pelo juiz criminal impede que os herdeiros de Almir promovam a

liquidação do julgado para a apuração do

dano efetivamente sofrido?

PROCEDIMENTOS

(41º exame)

Jânio foi denunciado pela prática de roubo tentado (Código Penal, art. 157, caput, c/c

art. 14, II), cometido em dezembro de 2009, tendo sido demonstrado, durante a

instrução processual, que o réu praticara, de fato, delito de dano (Código Penal, art. 163,

caput).

Considerando essa situação hipotética, responda, de forma fundamentada, às

seguintes indagações.

a) Em face da nova definição jurídica do fato, que procedimento deve ser adotado

pelo juiz?

Page 57: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

b) Caso a nova capitulação jurídica do fato fosse verificada apenas em segunda

instância, seria possível a aplicação do instituto da emendatio libelli ?

(41º exame)

Tadeu foi preso em flagrante e denunciado pela prática do crime de abandono de

incapaz (art. 133 do Código Penal), para o qual é prevista a pena de detenção de seis

meses a três anos.

Considerando a situação hipotética apresentada, indique, com a devida

fundamentação, o procedimento a ser adotado no curso da instrução criminal

(comum ou especial; ordinário, sumário ou sumaríssimo), o número máximo de

testemunhas que poderão ser arroladas pela defesa e o prazo, incluída eventual

possibilidade de prorrogação, para a defesa apresentar suas alegações finais orais.

QUESTÕES FGV

Questão (Exame de Ordem 2010.2)

José da Silva foi preso em flagrante pela polícia militar quando transportava em seu

carro grande quantidade de drogas. Levado pelos policiais à delegacia de polícia mais

próxima, José telefonou para seu advogado, o qual requereu ao delegado que aguardasse

sua chegada para lavrar o flagrante. Enquanto esperavam o advogado, o delegado de

polícia conversou informalmente com José, o qual confessou que pertencia a um grupo

que se dedicava ao tráfico de drogas e declinou o nome de outras cinco pessoas que

participavam desse grupo. Essa conversa foi gravada pelo delegado de polícia.

Após a chegada do advogado à delegacia, a autoridade policial permiti u que José da

Silva se entrevistasse particularmente com seu advogado e, só então, procedeu à

lavratura do auto de prisão em flagrante, ocasião em que José foi informado de seu

direito de permanecer calado e foi formalmente interrogado pela autoridade policial.

Durante o interrogatório formal, assisti do pelo advogado, José da Silva optou por

permanecer calado, afirmando que só se manifestaria em juízo.

Com base na gravação contendo a confissão e delação de José, o Delegado de Polícia,

em um único ato, determina que um de seus policiais atue como agente infiltrado e

requer, ainda, outras medidas cautelares investigativas para obter provas em face dos

Page 58: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

demais membros do grupo criminoso: 1. quebra de sigilo de dados telefônicos,

autorizada pelo juiz competente; 2. busca e apreensão, deferida pelo juiz competente, a

qual logrou apreender grande quantidade de drogas e armas; 3. prisão preventiva dos

cinco comparsas de José da Silva, que estavam de posse das drogas e armas. Todas as

provas coligidas na investigação corroboraram as informações fornecidas por José em

seu depoimento.

Relatado o inquérito policial, o promotor de justiça denunciou todos os envolvidos por

associação para o tráfico de drogas (art. 35, Lei 11.343/2006), tráfico ilícito de

entorpecentes (art. 33, Lei 11.343/2006) e quadrilha armada (art. 288, parágrafo único).

Considerando tal narrativa, excluindo eventual pedido de aplicação do instituto da

delação premiada, indique quais as teses defensivas, no plano do direito material e

processual, que podem ser arguidas a partir do enunciado acima, pela defesa de

José. Indique os dispositivos legais aplicáveis aos argumentos apresentados.

Recursos

Questão (Exame de Ordem 2010.2)

Pedro, almejando a morte de José, contra ele efetua disparo de arma de fogo, acertando-

o na região toráxica. José vem a falecer, entretanto, não em razão do disparo recebido,

mas porque, com intenção suicida, havia ingerido dose letal de veneno momentos antes

de sofrer a agressão, o que foi comprovado durante instrução processual. Ainda assim,

Pedro foi pronunciado nos termos do previsto no artigo 121, caput, do Código Penal.

Na condição de Advogado de Pedro:

I. indique o recurso cabível;

II. o prazo de interposição;

III. a argumentação visando à melhoria da situação jurídica do defendido.

Indique, ainda, para todas as respostas, os respectivos dispositivos legais.

Questão (Exame de Ordem 2010.2)

Lucas, processado em liberdade, foi condenado na 1ª instância à pena de 05 (cinco) anos

em regime integralmente fechado, pelo crime de tráfico de drogas, cometi do em

setembro de 2006. Interpôs Recurso de Apelação o qual foi parcialmente provido. O

Tribunal alterou apenas o dispositivo da sentença que fixava o regime em integralmente

Page 59: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

fechado para inicialmente fechado. Após o trânsito em julgado, Lucas deu inicio ao

cumprimento de pena em 10 de fevereiro de 2009. O juízo da execução, em 10 de

outubro de 2010, negou a progressão de regime sob o fundamento de que Lucas ainda

não havia cumprido 2/5 da pena, em que pese os demais requisitos tenham sido

preenchidos.

Diante dos fatos e da decisão acima exposta, sendo que sua intimação, na condição de

Advogado de Lucas, ocorreu em 11.10.2010:

I. indique o recurso cabível.

II. apresente a argumentação adequada, indicando os respectivos dispositivos

legais.

Questão (Exame de Ordem 2010.3)

Caio, na qualidade de diretor financeiro de uma conhecida empresa de fornecimento de

material de informática, se apropriou das contribuições previdenciárias devidas dos

empregados da empresa e por esta descontadas, utilizando o dinheiro para financiar um

automóvel de luxo. A partir de comunicação feita por Adolfo, empregado da referida

empresa, tal fato chegou ao conhecimento da Polícia Federal, dando ensejo à

instauração de inquérito para apurar o crime previsto no artigo 168-A do Código Penal.

No curso do aludido procedimento investigatório, a autoridade policial apurou que Caio

também havia praticado o crime de sonegação fiscal, uma vez que deixara de recolher

ICMS relativamente às operações da mesma empresa. Ao final do inquérito policial, os

fatos ficaram comprovados, também pela confissão de Caio em sede policial. Nessa

ocasião, ele afirmou estar arrependido e apresentou comprovante de pagamento

exclusivamente das contribuições previdenciárias devidas ao INSS, pagamento

realizado após a instauração da investigação, ficando não paga a dívida relativa ao

ICMS. Assim, o delegado encaminhou os autos ao Ministério Público Federal, que

denunciou Caio pelos crimes previstos nos artigos 168-A do Código Penal e 1º, I, da Lei

8.137/90, tendo a inicial acusatória sido recebida pelo juiz da vara federal da localidade.

Após analisar a resposta à acusação apresentada pelo advogado de Caio, o aludido

magistrado entendeu não ser o caso de absolvição sumária, tendo designado audiência

de instrução e julgamento.

Page 60: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Com base nos fatos narrados no enunciado, responda aos itens a seguir, empregando os

argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.

a) Qual é o meio de impugnação cabível à decisão do Magistrado que não o

absolvera sumariamente?

b) A quem a impugnação deve ser endereçada?

c) Quais fundamentos devem ser utilizados?

Questão (Exame de Ordem 2010.3)

Caio, residente no município de São Paulo, é convidado por seu pai, morador da cidade

de Belo Horizonte, para visitá-lo. Ao dirigir-se até Minas Gerais em seu carro, Caio dá

carona a Maria, jovem belíssima que conhecera na estrada e que, ao saber do destino de

Caio, o convence a subtrair pertences da casa do genitor do rapaz, chegando a sugerir

que ele aguardasse o repouso noturno de seu pai para efetuar a subtração. Ao chegar ao

local, Caio janta com o pai e o espera adormecer, quando então subtrai da residência

uma televisão de plasma, um aparelho de som e dois mil reais. Após encontrar-se com

Maria no veículo, ambos se evadem do local e são presos quando chegavam ao

município de São Paulo.

Com base no relatado acima, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos

jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.

a) Caio pode ser punido pela conduta praticada e provada?

b) Maria pode ser punida pela referida conduta?

c) Em caso de oferecimento de denúncia, qual será o juízo competente para

processamento da ação penal?

Questão (Exame de Ordem 2010.3)

Jeremias é preso em flagrante pelo crime de latrocínio, praticado contra uma idosa que

acabara de sacar o valor relativo à sua aposentadoria dentro de uma agência da Caixa

Econômica Federal e presenciado por duas funcionárias da referida instituição, as quais

prestaram depoimento em sede policial e confirmaram a prática do delito. Ao oferecer

denúncia perante o Tribunal do Júri da Justiça Federal da localidade, o Ministério

Público Federal requereu a decretação da prisão preventiva de Jeremias para a garantia

Page 61: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

da ordem pública, por ser o crime gravíssimo e por conveniência da instrução criminal,

uma vez que as testemunhas seriam mulheres e poderiam se sentir amedrontadas caso o

réu fosse posto em liberdade antes da colheita de seus depoimentos judiciais. Ao receber

a inicial, o magistrado decretou a prisão preventiva de Jeremias, utilizando-se dos

argumentos apontados pelo Parquet.

Com base no caso acima, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a

fundamentação legal pertinente ao caso, indique os argumentos defensivos para

atacar a decisão judicial que recebeu a denúncia e decretou a prisão preventiva.

Questão (Exame de Ordem 2010.3)

Caio, professor do curso de segurança no trânsito, motorista extremamente qualificado,

guiava seu automóvel tendo Madalena, sua namorada, no banco do carona. Durante o

trajeto, o casal começa a discutir asperamente, o que faz com que Caio empreenda

altíssima velocidade ao automóvel. Muito assustada, Madalena pede insistentemente

para Caio reduzir a marcha do veículo, pois àquela velocidade não seria possível

controlar o automóvel. Caio, entretanto, respondeu aos pedidos dizendo ser perito em

direção e refutando qualquer possibilidade de perder o controle do carro. Todavia, o

automóvel atinge um buraco e, em razão da velocidade empreendida, acaba se

desgovernando, vindo a atropelar três pessoas que estavam na calçada, vitimando-as

fatalmente. Realizada perícia de local, que constatou o excesso de velocidade, e ouvidos

Caio e Madalena, que relataram à autoridade policial o diálogo travado entre o casal,

Caio foi denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime de homicídio na

modalidade de dolo eventual, três vezes em concurso formal. Recebida a denúncia pelo

magistrado da vara criminal vinculada ao Tribunal do Júri da localidade e colhida a

prova, o Ministério Público pugnou pela pronúncia de Caio, nos exatos termos da

inicial.

Na qualidade de advogado de Caio, chamado aos debates orais, responda aos itens

a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação

legal pertinente ao caso.

a) Qual(is) argumento(s) poderia(m) ser deduzidos em favor de seu constituinte?

b) Qual pedido deveria ser realizado?

Page 62: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

c) Caso Caio fosse pronunciado, qual recurso poderia ser interposto e a quem a

peça de interposição deveria ser dirigida?

Questão (Exame de Ordem 2010.3)

Em 22 de julho de 2008, Caio foi condenado à pena de 10 (dez) anos de reclusão, a ser

cumprida em regime inicialmente fechado, pela prática, no dia 10 de novembro de 2006,

do crime de tráfico de drogas, previsto no artigo 33 da Lei 11.343/2006. Iniciada a

execução da sua pena em 7 de janeiro de 2009, a Defensoria Pública, em 10 de fevereiro

de 2011, requereu a progressão do cumprimento da sua pena para o regime semiaberto,

tendo o pedido sido indeferido pelo juízo de execuções penais ao argumento de que,

para tanto, seria necessário o cumprimento de 2/5 da pena.

Considerando ter sido procurado pela família de Caio para advogar em sua defesa,

responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a

fundamentação legal pertinente ao caso.

a) Qual(is) o(s) meio(s) de impugnação da decisão que indeferiu o pedido da

Defensoria Pública?

b) Qual(is) argumento(s) jurídico(s) poderia(m) ser usado(s) em defesa da

progressão de regime de Caio?

Page 63: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

MÓDULO IVOFICINA DE PEÇAS

Page 64: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 01

Elisa, inconformada com o fato de ter sido abandonada no altar por Jorge, contratou um

detetive particular para descobrir se o seu ex-noivo tinha uma amante. Passados sete

meses, Elisa obteve a confirmação de que Jorge vinha

mantendo relação amorosa com Ana, com quem, inclusive, estava residindo.

Transtornada, imediatamente após ter recebido a notícia, Elisa escreveu uma carta para

Jorge, referindo-se a Ana como destruidora de lares, meretriz e interesseira.

Ao chegar em casa, Ana viu a carta sobre a cômoda e, após já ter sido a mesma lida por

João, decide ler o que Elisa havia escrito. Ao se deparar com as referências desairosas

feitas na correspondência, Ana decidiu lhe contratar como advogado com intuito de

buscar a punição de Ana.

Com base nessa situação hipotética, apresente a peça processual cabível.

Page 65: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 02

Alessandro, de 22 anos de idade, foi denunciado pelo Ministério Público como incurso

nas penas previstas no art. 217-A parágrafo 1°, do Código Penal, por crime praticado

contra Geisa, de 20 anos de idade. Na peça acusatória, a conduta delitiva atribuída ao

acusado foi narrada nos seguintes termos: "No mês de agosto de 2009, em dia não

determinado, Alessandro dirigiu-se à residência de Geisa, ora vítima, para assistir, pela

televisão, a um jogo de futebol. Naquela ocasião, aproveitando-se do fato de estar a sós

com Geisa, o denunciado constrangeu-a a manter com ele conjunção carnal, fato que

ocasionou a gravidez da vítima, atestada em laudo de exame de corpo de delito. Certo é

que, embora não se tenha valido de violência real ou de grave ameaça para constranger

a vítima a com ele manter conjunção carnal, o denunciando aproveitou-se do fato de

Geisa ser incapaz de oferecer resistência aos seus propósitos libidinosos assim como de

dar validamente o seu consentimento, visto que é deficiente mental, incapaz de reger a

si mesma."

Nos autos, havia somente a peça inicial acusatória, os depoimentos prestados na fase do

inquérito e a folha de antecedentes penais do acusado.

O juiz da 2.ª Vara Criminal do Estado XX recebeu a denúncia e determinou a citação do

réu para se defender no prazo legal, tendo sido a citação efetivada em 18/11/2009.

Alessandro procurou, no mesmo dia, a ajuda de um profissional e outorgou-lhe

procuração ad juditia com a finalidade específica de ver-se defendido na ação penal em

apreço. Disse, então, a seu advogado que não sabia que a vítima era deficiente mental,

que já a namorava havia algum tempo, que sua avó materna, Romilda, e sua mãe,

Geralda, que moram com ele, sabiam do namoro e que todas as relações que manteve

com a vítima eram consentidas. Disse, ainda, que nem a vítima nem a família dela

quiseram dar ensejo à ação penal, tendo o promotor, segundo o réu, agido por conta

própria. Por fim, Alessandro informou que não havia qualquer prova da debilidade

mental da vítima.

Em face da situação hipotética apresentada, redija, na qualidade de advogado(a)

constituído(a) pelo acusado, a peça processual, privativa de advogado, pertinente à

defesa de seu cliente. Em seu texto, não crie fatos novos, inclua a fundamentação

legal e jurídica, explore as teses defensivas e date o documento no último dia do

prazo para protocolo.

Page 66: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 03

Mariano Pereira, brasileiro, solteiro, nascido em 20/1/1987, foi denunciado pela prática

de infração prevista no art. 157, § 2.º, incisos I e II, do Código Penal, porque, no dia

19/2/2007, por volta das 17 h 40 min, em conjunto com outras duas pessoas, ainda não

identificadas, teria subtraído, mediante o emprego de arma de fogo, a quantia de

aproximadamente R$ 20.000,00 de agência do banco Zeta, localizada em Brasília – DF.

Consta na denúncia que, no dia dos fatos, os autores se dirigiram até o local e

convenceram o vigia a permitir sua entrada na agência após o horário de encerramento

do atendimento ao público, oportunidade em que anunciaram o assalto.

Além do vigia, apenas uma bancária, Maria Santos, encontrava-se no local e entregou o

dinheiro que estava disponível, enquanto Mariano, o único que estava armado, apontava

sua arma para o vigia.

Fugiram em seguida pela entrada da agência. Durante o inquérito, o vigia, Manoel

Alves, foi ouvido e declarou: que abriu a porta porque um dos ladrões disse que era

irmão da funcionária; que, após destravar a porta e o primeiro ladrão entrar, os outros

apareceram e não conseguiu mais travar a porta; que apenas um estava armado e ficou

apontando a arma o tempo todo para ele; que nenhum disparo foi efetuado nem

sofreram qualquer violência; que levaram muito dinheiro; que a agência estava sendo

desativada e não havia muito movimento no local.

O vigia fez retrato falado dos ladrões, que foi divulgado pela imprensa, e, por

intermédio de uma denúncia anônima, a polícia conseguiu chegar até Mariano. O vigia

Manoel reconheceu o indiciado na delegacia e faleceu antes de ser ouvido em juízo.

Regularmente denunciado e citado, em seu interrogatório judicial, acompanhado pelo

advogado, Mariano negou a autoria do delito. A defesa não apresentou alegações

preliminares.

Durante a instrução criminal, a bancária Maria Santos afirmou: que não consegue

reconhecer o réu; que ficou muito nervosa durante o assalto porque tem depressão; que

o assalto não demorou nem 5 minutos; que não houve violência nem viu a arma; que o

Sr. Manoel faleceu poucos meses após o fato; que ele fez o retrato falado e reconheceu

o acusado; que o sistema de vigilância da agência estava com defeito e por isso não

houve filmagem; que o sistema não foi consertado porque a agência estava sendo

desativada; que o Sr. Manoel era meio distraído e ela acredita que ele deixou o primeiro

ladrão entrar por boa fé; que sempre ficava até mais tarde no banco e um de seus 5

Page 67: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

irmãos ia buscá-la após as 18 h; que, por ficar até mais tarde, muitas vezes fechava o

caixa dos colegas, conferia malotes etc.; que a quantia levada foi de quase vinte mil

reais.

O policial Pedro Domingos também prestou o seguinte depoimento em juízo: que o

retrato falado foi feito pelo vigia e muito divulgado na imprensa; que, por uma denúncia

anônima, chegaram até Mariano e ele foi reconhecido; que o réu negou participação no

roubo, mas não explicou como comprou uma moto nova à vista já que está

desempregado; que os assaltantes provavelmente vigiaram a agência e notaram a pouca

segurança, os horários e hábitos dos empregados do banco Zeta; que não recuperaram o

dinheiro; que nenhuma arma foi apreendida em poder de Mariano; que os outros autores

não foram identificados; que, pela sua experiência, tem plena convicção da participação

do acusado no roubo.

Na fase de requerimento de diligências, a folha de antecedentes penais do réu foi

juntada e consta um inquérito em curso pela prática de crime contra o patrimônio.

Na fase seguinte, a acusação pediu a condenação nos termos da denúncia.

Em face da situação hipotética apresentada, redija, na qualidade de advogado(a)

de Mariano, a peça processual, privativa de advogado, pertinente à defesa do

acusado. Inclua, em seu texto, a fundamentação legal e jurídica, explore as teses

defensivas possíveis e date no último dia do prazo para protocolo, considerando

que a intimação tenha ocorrido no dia 23/6/2008, segunda-feira.

Page 68: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 04

Cristiano foi denunciado pela prática do crime previsto no art. 121, § 2.º, incisos III e

IV, do Código Penal, nos seguintes termos:

No dia 8/5/2008, no período compreendido entre 19 h e 19 h 30 min, nas proximidades

da rua Paulo Chaves, casa 32, no bairro Aricanduva, São Paulo – SP, o denunciado,

Cristiano, brasileiro, solteiro, ajudante de pintor, residente na rua Paulo Chaves, casa 32,

no bairro Aricanduva, São Paulo – SP, imbuído de inequívoco animus necandi,

utilizando-se de um facão, golpeou João cinco vezes, causando-lhe a lesão descrita no

laudo de exame de corpo de delito, a qual foi a causa eficiente de sua morte. O delito foi

cometido mediante meio cruel, causando intenso e desnecessário sofrimento à vitima.

O crime foi, ainda, praticado de surpresa, recurso que dificultou a defesa da vítima.

A denúncia foi recebida, em 20/8/2008, pelo juiz da primeira vara do júri da capital, que

ordenou a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10

dias.

Na resposta, o acusado alegou que havia agido para se defender, juntou comprovante de

residência e sua folha penal bem como arrolou uma testemunha, qualificando-a e

requerendo sua intimação.

O Ministério Público não se opôs à juntada dos documentos e, no dia e hora marcados,

procedeu-se à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta

ordem.

A acusação arrolou Pedro, que informou que conhecia Cristiano havia 5 anos e que o

acusado tinha o hábito de beber, comumente se embriagando e causando confusão nos

bares da cidade.

A defesa arrolou Francisco, irmão do réu e único a presenciar o fato, o qual foi ouvido

com a concordância da acusação e sem o compromisso legal, tendo afirmado em juízo:

que presenciou o fato ocorrido no dia 8/5/2008, aproximadamente às 19 h, no interior da

casa; que avisou Cristiano de que havia uma pessoa subtraindo madeira e telhas de sua

residência. Diante disso, Cristiano dirigiu-se ao local onde o larápio estava. Chegando

lá, Cristiano, de posse de um facão, mandou que o ladrão parasse com o que estava

fazendo, tendo o ladrão o desafiado e, de posse de um pé-de-cabra, caminhado em sua

direção.

Imediatamente, Cristiano tentou desferir alguns golpes no ladrão, que, ao ser atingido,

tombou ao solo.

Page 69: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Por fim, Cristiano, ao ser interrogado em juízo, disse que a acusação não era verdadeira,

porque havia atuado para se defender da iminente agressão por parte da vítima. Disse,

ainda, que, apesar de ter tentado desferir cinco golpes na vítima, somente a atingiu no

quinto golpe, momento em que a vítima caiu.

Ressalta-se que o laudo cadavérico indicou a existência de apenas uma lesão no corpo

da vítima, na altura do peito, e apontou como causa mortis hemorragia no pulmão, em

consequência de ação perfurocortante.

Em manifestação escrita, o Ministério Público reportou aos termos da denúncia.

A família de Cristiano lhe contratou como advogado.

Considerando a situação hipotética apresentada, redija, em favor de Cristiano, a

peça profissional, diversa de habeas corpus, cabível à espécie.

Page 70: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 05

João e Mário, juntos, ingressaram, no dia 20 de janeiro de 2007, na residência de Pedro,

com a intenção de subtrair coisas que nela encontrassem. Os dois eram empregados de

Pedro e este não estava efetuando os pagamentos de seus salários. Pretendiam, assim,

com o que subtraíssem, receber o que lhes era devido. Quando estavam no interior da

casa, antes que tivessem começado a subtrair qualquer coisa, Pedro, com um revólver,

desferiu disparos contra os dois, vindo a atingi-los e causar-lhes a morte. Os dois não

traziam consigo nenhuma arma. Ele próprio chamou a polícia e solicitou uma

ambulância. Chegou a ser preso, mas foi liberado. Foi acusado, por denúncia do

Ministério Público, de duplo homicídio qualificado pela surpresa, recurso que

impossibilitou a defesa das vítimas, e, por motivo torpe, vingança, porque as vítimas

queriam subtrair bens como forma de receberem seus salários e, ainda, por guardar em

sua residência arma não registrada e sem autorização regular. Ouvido, confessou o

crime, mas disse que não sabia que as vítimas eram seus empregados, pois, se soubesse,

não as teria atingido. Quanto à arma, disse que, como já havia sido vítima de três roubos

anteriormente, a havia comprado recentemente e ainda não tivera tempo para registrá-la.

As testemunhas de acusação ouvidas foram os policiais que atenderam a ocorrência. As

testemunhas de defesa afirmaram que as vítimas eram boas pessoas e nunca haviam

cometido qualquer crime. O promotor pediu a pronúncia do acusado nos termos da

denúncia. O advogado apresentou alegações. O Juiz, afirmando que, nesse momento,

prevalece o princípio do in dúbio pro societate, pronunciou o acusado, acolhendo

integralmente a denúncia. O acusado foi intimado no dia 5 de setembro de 2007 e

manifestou interesse em recorrer.

QUESTÃO: Como advogado, apresente a peça mais adequada para a defesa do acusado,

com os fundamentos e pedidos.

Page 71: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 06

João, condenado definitivamente por vários crimes de homicídio qualificado, roubo,

latrocínio e seqüestro, a 156 (cento e cinqüenta e seis) anos de reclusão, iniciou o

cumprimento de sua pena no dia 01.09.2006. Sob o argumento de que ele pertenceria a

organização criminosa, o Ministério Público, no dia 04.09.2006, requereu sua colocação

em regime disciplinar diferenciado pelo prazo de três anos. O juiz, no dia 05.09.2006,

sem ouvir o sentenciado, acatou o pedido, e determinou o encaminhamento de João para

penitenciária destinada ao cumprimento da pena no regime disciplinar diferenciado.

Como defensor de João, tomando ciência da decisão no dia 15.9.2006, utilize os

meios necessários a sua defesa.

Page 72: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 07

LUIZ CARLOS DE CASTRO, nascido em 10/12/1930, foi denunciado pelo crime de

estelionato (Art. 171 do Código Penal), em 13/08/2005, por vender um terreno

inexistente na orla de Cabo Frio, na Região dos Lagos, a uma turista, MARIA DO

CARMO MENDES, senhora de 65 anos, que participava de uma excursão naquela

cidade. Os valores pagos por MARIA DO CARMO foram devolvidos a ela pelo Réu,

no ato de seu interrogatório. Os trâmites processuais correram sem problemas, e LUIZ

CARLOS, primário e de bons antecedentes, na sentença proferida pela 3ª Vara Criminal

de Cabo Frio, foi condenado a uma pena base de 5 anos de reclusão e 50 dias multas, na

proporção de 1/30 do salário mínimo para cada dia, sendo o regime inicial para

cumprimento da pena, o fechado. O Juiz justificou a condenação bem acima do mínimo

legal nos seguintes termos: "o Réu já é pessoa idosa, e não tinha o direito de cometer

este crime contra uma pessoa também idosa, devendo servir de exemplo para as

presentes e futuras gerações. Por isso, não deve o Réu ser mantido em liberdade, pois é

uma ameaça à educação de nossos filhos". O advogado de LUIZ CARLOS renunciou o

caso, e você foi contratado nesta fase do processo, já tendo LUIZ CARLOS tomado

ciência da sentença. Elabore a peça processual que entender cabível.

Page 73: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 08

Caio foi condenado pelo III Tribunal do Júri, no último dia 5 de abril de 2010, em

primeiro julgamento, por infração ao artigo 121, § 2º, II, CP, à pena de 18 anos de

reclusão, determinando a sentença a expedição de mandado de prisão somente após o

trânsito em julgado. A denúncia afirmava que Caio teria efetuado quatro disparos de

arma de fogo contra Tício, causa de sua morte, pelo motivo de estar paquerando Mevia,

ex-namorada de Caio, em uma festa "rave". Durante a instrução criminal, todas as

testemunhas arroladas pelo Ministério Público, afirmaram que estavam presentes na

festa mas não ouviram os disparos porque o som estava muito alto, e nada viram. Já as

três testemunhas de defesa, afirmaram terem passado a noite toda ao lado de Caio,

sendo falsa a acusação, pois o mesmo não efetuou qualquer disparo e nem sequer estava

armado, trajando apenas bermuda e camiseta. O laudo da perícia do local assegura que

foram encontradas quatro cápsulas deflagradas, de munição 380 próximas ao cadáver,

enquanto que, no laudo de exame cadavérico foram observados quatro ferimentos

característicos de entrada de PAF (projetil de arma de fogo). Não foi encontrada

nenhuma arma no local ou mesmo em poder de Caio, que lá permaneceu sem evadir-se.

Em sede policial, determinada testemunha, não ouvida em juízo, havia informado que

Caio era desafeto de Tício.

Na qualidade de advogado de Caio, intimado em plenário, na data do julgamento,

elabore a medida jurídica tempestiva a ser adotada, datando no último dia do

prazo.

Page 74: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 09

João interpôs apelação contra condenação por estupro com violência presumida,

pleiteando absolvição por insuficiência de prova e, subsidiariamente, alteração do

regime integralmente fechado para inicialmente fechado. No julgamento da apelação, a

Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou a condenação, por unanimidade,

e, por maioria, manteve o regime integralmente fechado. O voto divergente assentou-se

em dois motivos: é inconstitucional a imposição de regime integralmente fechado e o

estupro com violência presumida não é crime hediondo.

Como advogado de João, sendo intimado do julgamento em 23/06/2010 utilize os

meios necessários a sua defesa.

Page 75: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 10

Bruno Mello, brasileiro, solteiro, nascido em 20/03/1985, em Niterói – RJ, residente na

Rua General Rondon n.o 432, São Francisco, Niterói – RJ, foi preso em flagrante delito,

em 24/07/2009. Em 02/8/2009, foi denunciado como incurso nas sanções previstas no

art. 121, caput do Código Penal.

O advogado de Bruno pleiteou a liberdade provisória de seu cliente, entretanto o pleito

foi indeferido pelo juiz a quo, que se manifestando no sentido de estarem presentes os

requisitos autorizadores da prisão preventiva.

A defesa, então, impetrou habeas corpus perante o Tribunal de Justiça do Estado do RJ,

objetivando a concessão de liberdade provisória, sob o argumento de que o decreto de

prisão cautelar não explicitara a necessidade da medida nem indicara os motivos que a

tornariam indispensável, entre os elencados no art. 312 do Código de Processo Penal.

A ordem, contudo, restou denegada, confirmando-se a decisão do juiz a quo, em razão

da gravidade da conduta, dispondo não ser a primariedade e os bons antecedentes

pressupostos a se impor a liberdade. Registre-se que Bruno Mello é primário, possui

bons antecedentes, residência e emprego fixos, bem como compareceu à delegacia e ao

juízo todas as vezes em que teve sua presença solicitada.

Considerando a situação hipotética apresentada, na condição de advogado

contratado por Bruno Mello, interponha a peça jurídica cabível, diversa de habeas

corpus, em favor de seu cliente, diante da denegação da ordem.

Page 76: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 11

Por volta das 15 horas de uma sexta-feira, na Avenida das Américas, na qual há

fiscalização eletrônica de velocidade, cujo limite é de 80 km/h, José conduzindo seu

carro à velocidade de 100 km/h, vem a atropelar Eva que, sem observar a situação de

trânsito e fora da faixa de pedestres, imprudentemente iniciara a travessia, correndo.

José ao ser surpreendido pela conduta de Eva, aciona rapidamente os freios de seu carro

a fim de evitar o resultado lesivo, vindo a pará-lo bruscamente sem, no entanto, evitar a

colisão do mesmo com o corpo da vítima que é lançado ao solo. Diante da situação, José

presta-lhe imediato socorro, aguardando a chegada das autoridades policiais, bem como

da ambulância do corpo de bombeiros. Não obstante o pronto e imediato socorro

realizado por José, a vítima vem a falecer horas mais tarde em decorrência das lesões

sofridas. Preso em flagrante delito e conduzido à Delegacia Policial, o mesmo é

indiciado pela prática de delito de trânsito.

A família de José lhe contrata como advogado, informando ser o mesmo primário,

portador de bons antecedentes, ser trabalhador e possuir residência fixa.

Considerando a situação hipotética, tendo em vista que José permanece detido,

elabore a peça processual cabível.

Page 77: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TAREFA 12

Foi instaurado contra Mariano, brasileiro, solteiro, nascido em 23/1/1960, em Prado –

CE, comerciante, residente na rua Monsenhor Andrade, n.º 12, Itaim, São Paulo – SP,

inquérito policial a fim de apurar a prática do delito de fabricação de moeda falsa.

Intimado a comparecer à delegacia, Mariano, acompanhado de advogado, confessou o

crime, inclusive, indicando o local onde falsificava as moedas.

Alegou, porém, que não as havia colocado em circulação.

As testemunhas foram ouvidas e declararam que não sofreram qualquer ameaça da parte

do indiciado.

O delegado relatou o inquérito e requisitou a decretação da prisão preventiva de

Mariano, fundamentando o pedido na garantia da instrução criminal. Foi oferecida

denúncia contra o acusado pelo crime de fabricação de moeda falsa. O juiz competente

para julgamento do feito decretou a custódia cautelar do réu, a fim de garantir a

instrução criminal.

Em face dessa situação hipotética e considerando que as cédulas falsificadas eram

quase idênticas às cédulas autênticas e, ainda, que Mariano é residente na cidade

de São Paulo há mais de 20 anos, não tem antecedentes criminais e possui

ocupação lícita, redija, em favor do réu, peça privativa de advogado e diversa de

habeas corpus, para tentar reverter a decisão judicial.

Page 78: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

MÓDULO VINFORMATIVOS

2010/2011

Page 79: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

INFORMATIVOS STJ – DIREITO PROCESSUAL PENAL

INFORMATIVO 477

Quinta Turma

NULIDADES. FASE PRÉ-PROCESSUAL. PROVAS ILÍCITAS.

CONTAMINAÇÃO. AÇÃO PENAL.

Trata-se de paciente denunciado na Justiça Federal pela suposta prática do crime de

corrupção ativa previsto no art. 333, caput, c/c o art. 29, caput, ambos do CP. A

ação penal condenou-o em primeira instância e, contra essa sentença, há apelação

que ainda está pendente de julgamento no TRF. No habeas corpus, buscam os

impetrantes que seja reconhecida a nulidade dos procedimentos pré-processuais

(como monitoramento telefônico e telemático, bem como ação controlada) que

teriam subsidiado a ação penal e o inquérito policial; pois, a seu ver,  incorreram

em inúmeras ilegalidades, visto que os atos típicos de polícia judiciária foram

efetuados por agentes de órgão de inteligência (pedido negado em habeas corpus

anterior impetrado no TRF). Pretendem que essa nulidade possa ser utilizada em

favor do paciente nas investigações e/ou ações penais decorrentes de tais

procedimentos, inclusive, entre elas, a sentença da ação penal que o condenou.

Anotou-se que o inquérito policial foi iniciado formalmente em 25/6/2008, mas as

diligências seriam anteriores a fevereiro de 2007 e, até julho de 2008, os

procedimentos de monitoramento foram efetuados, sem autorização judicial, por

agentes de órgão de inteligência em desatenção à Lei n. 9.296/1999. Inclusive, o

delegado da Polícia Federal responsável teria arregimentado, para as ações de

monitoramento, entre 75 e 100 servidores do órgão de inteligência e ex-agente

aposentado sem o conhecimento do juiz e do MP, consoante ficou demonstrado em

outra ação penal contra o mesmo delegado – a qual resultou na sua condenação por

violação de sigilo funcional e fraude processual quando no exercício da apuração

dos fatos relacionados contra o ora paciente. O Min. Relator aderiu ao parecer do

MPF e concedeu a ordem para anular a ação penal desde o início, visto haver a

participação indevida e flagrantemente ilegal do órgão de inteligência e do

investigador particular contratado pelo delegado, o que resultou serem as provas

ilícitas – definiu como prova ilícita aquela obtida com violação de regra ou

Page 80: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

princípio constitucional. Considerou que a participação de agentes estranhos à

autoridade policial, que tem a exclusividade de investigação em atividades de

segurança pública, constituiria violação do art. 144, § 1º, IV, da CF/1988, da Lei n.

9.883/1999, dos arts. 4º e 157 e parágrafos do CPP e, particularmente, dos preceitos

do Estado democrático de direito. Destacou também como fato relevante a edição

de sentença condenatória do delegado por crime de violação de sigilo profissional e

fraude processual – atualmente convertida em ação penal no STF (em razão de

prerrogativa de foro decorrente de cargo político agora ocupado pelo delegado).

Asseverou ser razoável que a defesa do paciente tenha apresentado documentos

novos na véspera do julgamento dos embargos de declaração opostos contra a

denegação do writ pelo TRF, visto não tê-los obtido antes (tratava-se de um CD-

ROM de leitura inviável até aquele momento).  Como foram consideradas ilícitas

as provas colhidas, adotou a teoria dos frutos da árvore envenenada (os vícios da

árvore são transmitidos aos seus frutos) para anular a ação penal desde o início,

apontando que assim se posicionam a doutrina e a jurisprudência – uma vez

reconhecida a ilicitude das provas colhidas, essa circunstância as torna destituídas

de qualquer eficácia jurídica, sendo que elas contaminam a futura ação penal.

Contudo, registrou o Min. Relator, os eventuais delitos cometidos pelo paciente

devem ser investigados e, se comprovados, julgados, desde que seja observada a

legalidade dos métodos utilizados na busca da verdade real, respeitando-se o

Estado democrático de direito e os princípios da legalidade, da impessoalidade e do

devido processo legal; o que não se concebe é o desrespeito às normas

constitucionais e aos preceitos legais. Para a tese vencida, inaugurada com a

divergência do Min. Gilson Dipp, é inviável a discussão do tema na via do habeas

corpus, pois ela se sujeita a exame de prova e não há os elementos de certeza para a

conclusão pretendida pelos impetrantes. Destacou a coexistência de apelação no

TRF sobre a mesma discussão do habeas corpus, com risco de invasão ou

usurpação da competência jurisdicional local. Relembrou, assim, as observações

feitas em julgamentos semelhantes de que esse expediente de medidas

concomitantes e substitutivas de recursos ordinários é logicamente incompatível

com a ordem processual por expor à possível ambiguidade, contradição ou

equívoco os diferentes órgãos judiciais que vão examinar o mesmo caso concreto. 

Asseverou ser fora de qualquer dúvida que o órgão de inteligência em comento se

rege por legislação especial e institucionalmente serve ao assessoramento e como

Page 81: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

subsídio ao presidente da República em matéria de interesse ou segurança da

sociedade e do Estado, mas tal situação, a seu ver, não afastaria a possível

participação dos agentes de inteligência nessa ou noutra atividade relacionada com

seus propósitos institucionais, nem impediria aquele órgão de relacionar-se com

outras instituições, compartilhando informações. Entende, assim, que, mesmo

admitindo o suposto e possível excesso dos agentes de inteligência nos limites da

colaboração ou mesmo a eventual invasão de atribuições dos policiais, essa

discussão sujeitar-se-ia à avaliação fático-probatória, que só poderia ser

formalmente valorizada quando inequívoca e objetivamente demonstrada, a ponto

de não remanescerem dúvidas. No entanto, explicitou que, nos autos, há uma

grande quantidade de cópias de documentos e referências que requer largueza

investigatória incompatível com a via do habeas corpus. Ressaltou que, conquanto

exista prova produzida em outra instrução penal, o suposto prevalecimento dessa

prova emprestada (apuração dos delitos atribuídos ao delegado) pressupõe

discussão de ambas as partes quanto ao seu teor e credibilidade, o que não ocorreu.

Todavia, a seu ver, se fosse considerável tal prova, a conclusão seria inversa, pois

houve o arquivamento dos demais crimes atribuídos ao delegado relacionados com

a suposta usurpação da atividade de polícia judiciária, que, no caso, é a Polícia

Federal, no que se baseou toda a impetração. Ademais, estaria superada a fase de

investigação, pois há denúncia recebida, sentença de mérito editada pela

condenação e apelação oferecida sobre todos os temas referidos havidos antes da

instauração da ação penal; tudo deveria ter sido discutido no tempo próprio ou no

âmbito da apelação, caso as supostas nulidades ou ilicitudes já não estivessem

preclusas pela força do disposto na combinação dos arts. 564, III; 566; 571, II, e

573 e parágrafos do CPP. Ademais, o juiz afirmou implicitamente a validade dos

procedimentos no ato de recebimento da denúncia e as interceptações ou

monitoramentos tidos por ilícitos foram confirmados por depoimentos de

testemunhas colhidos em contraditório, respeitada a ampla defesa. Para o voto de

desempate do Min. Jorge Mussi, entre outras considerações, o órgão de inteligência

não poderia participar da investigação na clandestinidade sem autorização judicial;

essa participação, na exposição de motivos da Polícia Federal, ficou evidente.

Assim, a prova obtida por meio ilícito não é admitida no processo penal brasileiro,

tampouco pode condenar qualquer cidadão. Explica que não há supressão de

instância quando a ilicitude da prova foi suscitada nas instâncias ordinárias e,

Page 82: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

nesses casos, o remédio jurídico é o habeas corpus ou a revisão criminal. A Turma,

ao prosseguir o julgamento, por maioria, concedeu a ordem. Precedentes citados do

STF: HC 69.912-RS, DJ 26/11/1993; RE 201.819-RS, DJ 27/10/2006; do STJ: HC

100.879-RJ, DJe 8/9/2008, e HC 107.285-RJ, DJe 7/2/2011. HC 149.250-SP, Rel.

Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do TJ-RJ), julgado

em 7/6/2011.

HC. ANULAÇÃO. EDCL. OFENSA. JUIZ NATURAL.

O paciente foi pronunciado como incurso nas sanções do art. 121, caput, c/c o art.

70, ambos do CP, por ter causado acidente automobilístico com morte em razão de

ingestão de bebida alcoólica. Contra a decisão de pronúncia, a defesa interpôs

recurso em sentido estrito para o TJ, a que foi negado seguimento; houve embargos

de declaração (EDcl) que também não foram acolhidos. Então, a defesa interpôs

recurso especial ao qual foi negado seguimento, dando ensejo a agravo de

instrumento ao STJ. No habeas corpus, busca a defesa do paciente o

reconhecimento da nulidade dos julgamentos do recurso em sentido estrito e dos

EDcl por alegada ofensa ao princípio do juiz natural. Segundo consta dos autos, foi

convocado pela presidência do TJ um juiz para responder pelo cargo vago de

desembargador em decorrência de aposentadoria. Para o Min. Relator, ao contrário

do que foi consignado na impetração, o decreto de convocação foi referendado pela

corte especial do TJ nos termos do art. 118 da Loman (LC n. 35/1979). Também

explica não haver violação do regimento interno do TJ, que, após a emenda

regimental n. 4, passou a exigir somente que o juiz convocado seja da capital. No

entanto, assevera existir a apontada nulidade do julgamento dos EDcl, haja vista

que, na data do julgamento, o magistrado não se encontrava mais em substituição,

inclusive, à época, já havia outro magistrado convocado. Dessa forma, a Turma,

por maioria, anulou os EDcl decididos por órgão julgador do qual fazia parte

magistrado que não estava mais no exercício da substituição de desembargador

aposentado por revelar constrangimento ilegal diante da não observância do

princípio do juiz natural, determinando que outro seja realizado dentro das normas

legais e regimentais pertinentes. Precedentes citados: HC 109.456-DF, DJe

20/10/2009, e HC 97.623-AL, DJe 30/6/2008. HC 134.463-GO, Rel. Min. Jorge

Mussi, julgado em 7/6/2011.

Page 83: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Sexta Turma

DETRAÇÃO. CUSTÓDIA CAUTELAR.

A Turma denegou a ordem de habeas corpus e reafirmou ser inviável aplicar o

instituto da detração penal nos processos relativos a crimes cometidos após a

custódia cautelar. Precedentes citados do STF: HC 93.979-RS, DJe 19/6/2008; do

STJ: REsp 1.180.018-RS, DJe 4/10/2010; HC 157.913-RS, DJe 18/10/2010, e

REsp 650.405-RS, DJ 29/8/2005. HC 178.129-RS, Rel. Min. Og Fernandes,

julgado em 7/6/2011.

PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. FURTO. MOTOR ELÉTRICO.

A Turma não aplicou o princípio da insignificância no caso em que o paciente foi

denunciado pelo furto de um motor elétrico avaliado em R$ 88,00. De acordo com

o Min. Relator, não obstante o pequeno valor da res furtiva, o réu é reincidente e a

conduta delituosa foi perpetrada mediante arrombamento da janela da residência da

vítima, um lavrador de frágil situação financeira. Precedentes citados do STF: HC

96.202-RS, DJe 27/5/2010; do STJ: HC 130.365-SP, DJe 1º/2/2011; HC 152.875-

SP, DJe 7/6/2010, e HC 139.600-RS, DJe 29/3/2010. HC 195.178-MS, Rel. Min.

Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ-CE), julgado em

7/6/2011.

INFORMATIVO 476

Terceira Seção

RCL. CRIME. FALSA IDENTIDADE.

A reclamação tem por base a Res. n. 12/2009-STJ, visto que a turma recursal dos

juizados especiais estaduais em questão teria proferido acórdão que diverge da

jurisprudência do STJ. Houve a concessão de liminar para determinar a suspensão

dos processos em trâmite nos juizados especiais que tratem de tema semelhante ao

da reclamação. O reclamante foi condenado por ter declarado, diante da autoridade

policial, nome diverso do seu com o fim de ocultar sua vida pregressa (art. 307 do

CP). Contudo, prevalece no STJ o entendimento de que, em regra, essa conduta é

Page 84: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

atípica, pois geralmente não se subsume ao tipo constante do referido artigo, visto

que se está buscando não uma vantagem ilícita, mas sim o exercício de possível

direito constitucional – a autodefesa. Anote-se, todavia, que essa averiguação faz-

se caso a caso. Quanto ao tema, a Min. Maria Thereza de Assis Moura trouxe ao

conhecimento da Seção recente julgado do STF nesse mesmo sentido. Assim, a

Seção julgou procedente a reclamação para reformar a decisão da turma recursal

dos juizados especiais estaduais e absolver o reclamante por atipicidade, ratificando

a liminar concedida apenas quanto a ele, revogando-a no que diz respeito aos

demais processos, que deverão ser analisados um a um pelos respectivos órgãos

julgadores, mas com a observância do entendimento reiterado pelo STJ. Por último,

cogitou-se sobre a remessa do julgamento à Corte Especial em razão da cláusula de

reserva de plenário, diante da aventada inconstitucionalidade parcial do referido

artigo do CP, o que foi descartado. Precedentes citados do STF: HC 103.314-MS,

DJe 7/6/2011; do STJ: HC 171.389-ES, DJe 17/5/2011; HC 99.179-SP, DJe

13/12/2010; HC 46.747-MS, DJ 20/2/2006; HC 21.202-SP, DJ 13/3/2006; HC

153.264-SP, DJe 6/9/2010; HC 145.261-MG, DJe 28/2/2011, e REsp 432.029-MG,

DJ 16/11/2004. Rcl 4.526-DF, Rel. Min. Gilson Dipp, julgada em 8/6/2011.

RCL. INTEIRO TEOR. ACÓRDÃO.

Infere-se do julgamento de HC que o STJ, além da ação penal, anulou a própria

denúncia. Apesar de figurar apenas o TRF como autoridade coatora, também o

juízo federal singular foi comunicado, via telegrama, do julgamento. Consta dessa

missiva que o inteiro teor do acórdão estaria disponível no sítio mantido pelo STJ

na Internet. Sucede que o juízo federal não cumpriu a determinação do STJ ao

fundamento de que aguardava eventual trânsito em julgado da decisão ou mesmo

recurso do MP, além de alegar não ter recebido a cópia integral daquele acórdão.

Primeiramente, cabe ressaltar que o STJ, apesar de a CF/1988 dar à reclamação

conceito que se afina mais com o combate à usurpação da competência, também a

aceita em certos casos para o controle do descumprimento de suas decisões. Nesse

panorama, ainda que a mera comunicação do resultado do julgamento feita dessa

forma fosse insuficiente ao efetivo cumprimento da ordem, seja pelo tribunal

impetrado seja pelo referido juízo, mostra-se bastante a indicação de que o inteiro

teor estava disponível na Internet, quanto mais se as partes trouxeram o aresto ao

conhecimento do juízo. Daí a conclusão de que o magistrado não poderia recusar o

Page 85: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

razoável conhecimento da ordem do STJ, quanto mais negar seu cumprimento, o

que levou a Seção a reconhecer a procedência parcial da reclamação para

determinar ao juízo o imediato acatamento da decisão do STJ. Rcl 4.640-CE, Rel.

Min. Gilson Dipp, julgada em 8/6/2011.

ANISTIA. CARREIRA. DIPLOMATA.

O impetrante, apesar de ser aprovado em sucessivos exames iniciais para ingresso

na carreira diplomática, sempre se viu excluído dos certames pela comissão

responsável por entrevistá-lo, a qual persistia em considerá-lo inapto. Sucede que,

mediante a concessão de mandado de segurança pelo extinto TFR, foi-lhe

autorizada a participação nos exames finais e, aprovado, ingressou, ao final, na

carreira diplomática. Após, requereu a concessão de anistia política, que lhe foi

concedida. Contudo, diante da renitência da Administração em conceder-lhe o

reposicionamento na carreira, formulou novo mandamus. Nesse contexto, a Seção

reafirmou sua jurisprudência (acorde com a do STF) de que é direito do servidor

anistiado político, civil ou militar, a promoção por merecimento

independentemente de análise subjetiva (aprovação de cursos ou avaliação do

merecimento), bastando a observância dos prazos de permanência na atividade

previstos em lei ou regulamento, o que também se aplica ao impetrante. Assim, ao

constatar-se que grande parte dos integrantes da turma de formatura a qual ele

deveria primeiro compor hoje são ministros de segunda classe e que ele, em 2004,

já reunia as condições necessárias a ser promovido à classe de conselheiro, está

demonstrado seu direito líquido e certo ao reenquadramento no cargo de ministro

de segunda classe do quadro permanente da carreira diplomática (art. 53 da Lei n.

11.440/2006). Precedentes citados do STF: RE 165.438-DF, DJ 5/5/2006; AgRg no

AI 138.331-DF, DJ 11/10/1991; do STJ: REsp 769.000-RJ, DJ 5/11/2007, e REsp

701.919-DF, DJ 18/6/2007. MS 15.005-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 8/6/2011.

COMPETÊNCIA. CRIME. MEIO AMBIENTE.

O suposto delito contra o meio ambiente (pesca sem autorização mediante

petrechos proibidos) foi praticado em área adjacente à unidade de conservação

federal. Assim, vislumbra-se prejuízo à União, autarquia ou empresa pública

Page 86: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

federais a ponto de determinar a competência da Justiça Federal para seu processo

e julgamento. Precedentes citados: CC 100.852-RS, DJe 8/9/2010, e CC 92.722-RJ,

DJe 19/4/2010. CC 115.282-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,

julgado em 8/6/2011.

INFORMATIVO 475

Corte Especial

PECULATO. CONFIGURAÇÃO. RECEPTAÇÃO QUALIFICADA.

EMENDATIO LIBELLI. DENÚNCIA.

Para o Min. Relator, os fatos narrados na denúncia, a saber, que o recebimento pelo

denunciado de depósito em cheque diretamente na sua conta-corrente, valores que

eram resultantes de crime de peculato para o financiamento de campanha eleitoral

de seu irmão, são insuficientes para a configuração do tipo penal de lavagem de

dinheiro, uma vez que a tipicidade nesse caso reclama também a existência de um

contexto capaz de evidenciar que o agente realizou tais ações com a finalidade

específica de ocultar ou dissimular a utilização desses bens, direitos ou valores. Na

denúncia, embora conste a descrição da ocorrência de um crime antecedente

incluído entre aqueles contra a Administração Pública (o peculato), bem como a

afirmação de que o denunciado, ao receber os valores, sabia serem provenientes

desse crime, ao explicitar que, em tese, o denunciado teria recebido o dinheiro para

financiar a campanha de seu irmão à prefeitura e não em razão de seu cargo de

conselheiro do Tribunal de Contas estadual, acabou-se por descrever a conduta

típica do delito de receptação qualificada. Nesse contexto, explica impor-se a

emendatio libelli já que dos fatos narrados resulta a conduta típica do delito de

receptação qualificada, prevista no art. 180, § 6º, do CP. Assim, alude a precedente

do STJ, registrando que, na hipótese de erro de capitulação na peça inicial, pode o

magistrado proceder à correção e adequação da tipificação, atribuindo aos fatos

definição jurídica diversa, ainda que tenha que aplicar pena mais grave; nessa

situação, em que não há a superveniência de fato novo, não existe a necessidade de

impor aditamento da denúncia – tal como ocorre com a mutatio libelli, regulada no

art. 384 do CPP – e, consequentemente, de abrir prazo para a defesa se manifestar,

Page 87: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

indicando, inclusive, novas testemunhas. Diante do exposto, a Corte Especial

julgou procedente a denúncia para condenar o acusado pela prática do crime de

receptação qualificada à pena privativa de liberdade de dois anos e seis meses de

reclusão a ser cumprida em regime inicial aberto, ficando substituída pelas

restritivas de direitos de prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária

e multa de 25 dias-multa, no valor cada dia-multa de um salário mínimo e sem

custas (art. 7º da Lei n. 11.636/2007). Precedente citado: HC 91.474-RJ, DJe

2/8/2010. APn 472-ES, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgada em 1º/6/2011.

Quinta Turma

EFEITO. APELAÇÃO. JÚRI.

Na hipótese, a alegação de que o laudo pericial utilizado nos autos é nulo por ser

assinado por um só perito não foi formulada nas razões de apelação interposta

contra a condenação firmada pelo tribunal do júri. Sucede que, no processo penal,

só a apelação interposta contra a sentença do juízo singular tem efeito devolutivo

amplo. Assim, nos processos de competência do tribunal do júri, não há falar em

aplicar a orientação do STJ de que é possível conhecer de matéria não ventilada nas

razões de apelação criminal, pois isso redundaria na vedada supressão de instância,

daí a razão de o STF editar sua Súm. n. 713. Precedentes citados: HC 121.365-RJ,

DJe 17/12/2010; HC 132.870-RJ, DJe 2/8/2010, e HC 93.128-RJ, DJe 15/3/2010.

AgRg no HC 162.481-BA, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 31/5/2011.

POSSE. ARMA. USO PERMITIDO. NUMERAÇÃO RASPADA.

A impetração busca reconhecer a atipicidade da conduta de posse de arma de fogo,

visto entender incidir o período de abolitio criminis temporalis advindo da

prorrogação da entrega espontânea de armas até 31/12/2008 (vide arts. 30, 31 e 32

da Lei n. 10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento). Nesse contexto, vê-se que a

doutrina e a jurisprudência do STJ, debruçadas sobre o Estatuto e as Leis n.

10.884/2004, 11.118/2005 e 11.191/2005, fixaram o entendimento de que se

considera atípica a conduta de posse irregular de arma de fogo, seja ela de uso

permitido ou restrito, perpetrada entre 23/12/2003 e 23/10/2005, em razão da

abolitio criminis temporalis ou vacatio legis indireta que exsurge da redação do

referido art. 30 do Estatuto. É certo, também, que a prorrogação do prazo de

Page 88: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

entrega do armamento até 31/12/2008 preconizada pela MP n. 417/2008

(convertida na Lei n. 11.706/2008), que, assim, alterou o período da vacatio legis

indireta, só incide em casos de arma de fogo de uso permitido, dada a necessária

apresentação do respectivo registro exigida também pela nova redação do citado

art. 30 do Estatuto. No caso, cuida-se de conduta apurada em 20/11/2006 de porte

de arma de fogo de uso permitido (revólver calibre .32) mas com a numeração

suprimida, a qual a jurisprudência do STJ equipara à arma de fogo de uso restrito.

Portanto, na hipótese, não há falar em atipicidade da conduta porque esta não se

encontra abarcada pela referida vacatio legis indireta. Esse entendimento foi

acolhido pela maioria dos Ministros da Turma, visto que o Min. Gilson Dipp

(vencido), ao ressaltar conhecer a orientação traçada pelos precedentes do STJ, dela

divergiu, pois, a seu ver, ela, ao cabo, entende que a equiparação das condutas

previstas no parágrafo único do art. 16 do Estatuto pela pena prevista em seu caput

as iguala às condutas lá descritas, ou seja, às armas de uso proibido ou restrito.

Contudo, aduziu que essa equiparação (quoad poenam) não transmuta a natureza

das condutas, pois se cuida de recurso do legislador destinado a aplicar a mesma

pena para crimes que vislumbra semelhantes ou de mesma espécie. Assim, firmou

que o porte da arma com a numeração raspada somente sujeita o agente à pena do

art. 16 do Estatuto, mas não a transforma em arma de uso restrito, que possui

características legais próprias. Anotou, por último, que essa equiparação vem

agravar a situação do paciente, o que não se justifica no sistema constitucional e

legal penal. Daí conceder a ordem para trancar a ação penal por falta de justa causa

(atipicidade da conduta) decorrente da referida abolitio criminis temporalis, no que

foi acompanhado pelo Min. Napoleão Nunes Maia Filho. Precedentes citados: HC

64.032-SP, DJe 12/8/2008; RHC 21.271-DF, DJ 10/9/2007; HC 137.838-SP, DJe

2/8/2010, e HC 124.454-PR, DJe 3/8/2009. HC 189.571-SP, Rel. Min. Jorge

Mussi, julgado em 31/5/2011.

TRABALHO EXTRAMUROS. REGIÃO. CRIME ORGANIZADO.

Constatou-se que a sociedade empresária em que o paciente apenado pretendia

realizar trabalho extramuros (art. 35, § 2º, do CP) situa-se em região tomada pelo

crime organizado a ponto de impedir a fiscalização do cumprimento do benefício

pelos fiscais da vara de execuções penais. Assim, mostra-se irrepreensível a

cassação da decisão concessiva da benesse determinada pelo TJ; pois, apesar de o

Page 89: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

paciente apresentar mérito carcerário, o trabalho extramuros em tal localidade

poderia servir de estímulo à delinquência e até de meio à burla da execução da

pena, o que desvirtuaria sobremaneira a própria finalidade do instituto do trabalho

extramuros, qual seja, de contribuir para a reinserção social do apenado. HC

165.081-DF, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 31/5/2011.

PRESCRIÇÃO. ADITAMENTO. DENÚNCIA.

O aditamento da denúncia (nova capitulação sem descrição de fato novo) não torna

nula a primeva exordial acusatória. Assim, mantém-se o recebimento da denúncia

como marco da interrupção do prazo prescricional. HC 188.471-ES, Rel. Min.

Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 31/5/2011.

CRIMES. SFN. GESTÃO FRAUDULENTA.

In casu, os recorrentes e outros foram condenados pelos crimes previstos nos arts.

4º, caput, 5º, caput, e 7º, III, c/c o art. 25 da Lei n. 7.492/1986 em concurso

material. Contra essa sentença, foi interposta apelação, provida parcialmente em

relação aos recorrentes para absolvê-los quanto ao crime do art. 5º e redimensionar

as penas quanto às demais imputações. Nesta instância especial, consoante os

autos, entendeu-se que os recorrentes, na qualidade de diretores e administradores

da sociedade empresária que administravam, no período de janeiro de 1994 a

dezembro de 1995, geriram fraudulentamente a instituição, provocando a

insolvência e a consequente liquidação extrajudicial e, ainda, enormes prejuízos

não só ao Sistema Financeiro Nacional (SFN) como também a milhões de

investidores que adquiriram os títulos de capitalização denominados “Papatudo”,

emitidos pela referida sociedade empresária. Ressaltou-se que a inicial descreve, de

forma satisfatória, a conduta delituosa dos acusados, relatando os elementos

indispensáveis para a demonstração da existência dos crimes em tese praticados,

bem assim os indícios suficientes para a deflagração da persecução penal. Desse

modo, deve ser tida por apta a denúncia, reservando-se para a instrução criminal o

detalhamento mais preciso das condutas dos réus, ora recorrentes, e a comprovação

dos fatos a eles imputados, a fim de permitir a correta e equânime aplicação da lei

penal. Observou-se que este Superior Tribunal, na linha do entendimento do STF,

tem decidido que, nos crimes de autoria coletiva, é prescindível a descrição

Page 90: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

minuciosa e individualizada da ação de cada acusado, bastando a narrativa das

condutas delituosas e da suposta autoria, com elementos suficientes para garantir o

direito à ampla defesa e ao contraditório, tal como verificado na hipótese. Quanto

ao segundo recorrente, contudo, consignou-se que não poderia a sentença utilizar

um mesmo fato consistente nos prejuízos causados pela conduta delituosa para

considerar desfavoráveis as circunstâncias e as consequências do crime, em

indevido bis in idem. Igualmente, era vedado ao tribunal a quo valorar

negativamente circunstância, a culpabilidade, em recurso exclusivo da defesa; em

assim procedendo, houve reformatio in pejus. Em relação ao primeiro recorrente,

registrou-se que não há como aplicar, na espécie, a atenuante da confissão

espontânea, tendo em vista que ele negou a autoria delitiva e, no exame da

culpabilidade do agente e das circunstâncias do crime, verificou-se que os

elementos concretos foram detidamente analisados pelo tribunal a quo, para

demonstrar por que sua conduta se reveste de especial reprovabilidade. Assim,

ficou consignado, no acórdão, que os ilícitos foram perpetrados sob a orientação do

primeiro recorrente, que engendrou complexo esquema para gerir e desviar

recursos e emitir títulos sem lastro por longo lapso temporal. Além disso, ele foi o

maior beneficiário da empreitada. Quanto ao recurso do MP, assentou-se ir de

encontro ao óbice contido na Súm. n. 7-STJ o pedido de condenação pelo crime do

art. 5º, caput, da Lei n. 7.492/1986, relativo à apropriação ou desvio de dinheiro,

título, valor ou outro bem, pois o tribunal de origem fundamentou a absolvição

também no fato de que o desvio de valores para sociedades empresárias

controladas pelo primeiro recorrente constitui a própria gestão fraudulenta e se

identifica plenamente com o conceito jurídico definido no art. 4º, caput, da mesma

lei. Diante dessas considerações, entre outras, a Turma, por unanimidade, não

conheceu do recurso do MP e, por maioria, conheceu do recurso do segundo

recorrente e deu a ele parcial provimento, bem como negou provimento ao recurso

do primeiro recorrente. REsp 946.653-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em

2/6/2011.

Sexta Turma

FALTA GRAVE. POSSE. COMPONENTE. CELULAR.

O paciente foi surpreendido, em 25/10/2008, na posse de componente de aparelho

Page 91: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

de telefonia celular que, segundo o impetrante, seria uma placa. A Turma negou a

ordem ao entender que, com o advento da Lei n. 11.466/2007, que incluiu o inciso

VII ao art. 50 da Lei de Execução Penal, a referida conduta passou a ser

considerada típica após 28/3/2007, data de sua entrada em vigor. Após tal data, este

Superior Tribunal firmou o entendimento de que não só a posse do aparelho de

telefonia celular como também o de acessório essencial a seu funcionamento

ensejam o reconhecimento de falta grave. Precedentes citados do STF: HC 99.896-

RS, DJe 1º/2/2011; RHC 106.481-MS, DJe 3/3/2011; do STJ: HC 154.356-SP, DJe

18/10/2010; HC 139.789-SP, DJe 3/11/2009, e HC 133.986-RS, DJe 21/6/2010.

HC 188.072-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em

31/5/2011.

FALSIFICAÇÃO. DOCUMENTOS. USO.

No caso, o paciente fora condenado pela prática de três crimes, dois de falsificação

de documentos e um de uso de documento falso. Isso porque teria falsificado duas

certidões de casamento, uma que fora utilizada por ele próprio para obtenção do

passaporte e outra utilizada pelo corréu para o mesmo fim. Assim, apenas a

condenação relativa a um dos três crimes deve ser afastada. Somente com relação à

falsificação e utilização do mesmo documento pelo paciente pode incidir o

princípio da consunção. Como a falsificação e o respectivo uso se encontram

teleologicamente ligados, em respeito ao princípio mencionado, tem-se um único

delito. Quanto ao delito de falsificação da outra certidão de casamento, é inviável

tal proceder, uma vez que foi utilizado pelo corréu, pois o bis in idem somente é

reconhecido quando o mesmo agente falsifica e usa o documento. Precedentes

citados: HC 107.103-GO, DJe 8/11/2010; HC 146.521-SP, DJe 7/6/2010, e CC

107.100-RJ, DJe 1º/6/2010. HC 150.242-ES, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 31/5/2011.

COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL. SURSIS PROCESSUAL. MULTA.

Conforme a remansosa jurisprudência deste Superior Tribunal, o critério do

legislador para definir a competência dos juizados especiais criminais é o quantum

máximo da pena privativa de liberdade abstratamente cominada. No caso, a pena

máxima abstrata prevista para o crime descrito no art. 7º, II, da Lei n. 8.137/1990 é

Page 92: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

de cinco anos, logo não há constrangimento ilegal na conduta do juiz da vara

criminal de declarar-se competente para o feito. O referido artigo comina sanção

mínima superior a um ano de pena privativa de liberdade ou, alternativamente,

multa. Assim, se a Lei n. 9.099/1995 autoriza o sursis processual nos casos em que

haja cominação de pena privativa de liberdade, mesmo que restrinja sua aplicação

aos crimes cuja pena mínima seja igual ou inferior a um ano, é de rigor admitir tal

benefício quando o legislador preveja ao delito pena alternativa de multa; pois,

nesses casos, independente da pena privativa de liberdade abstratamente prevista,

não se trata de delito de alta reprovabilidade, não sendo aqueles que,

necessariamente, devam ser punidos com pena de prisão. Destarte, como salientado

pelo impetrante, a pena de multa é menos gravosa do que qualquer pena privativa

de liberdade. Logo, o oferecimento de proposta de suspensão condicional do

processo do paciente, além de ser plenamente cabível, é providência consentânea

com os institutos trazidos pela Lei n. 9.099/1995. Precedentes citados: HC 34.422-

BA, DJ 10/12/2007; HC 109.980-SP, DJe 2/3/2009; RHC 27.068-SP, DJe

27/9/2010, e REsp 968.766-SC, DJe 28/9/2009. HC 125.850-SP, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, julgado em 31/5/2011.

ALEGAÇÕES FINAIS. DESENTRANHAMENTO. NULIDADE

ABSOLUTA.

O juiz determinou o desentranhamento das alegações finais apresentadas

intempestivamente pela defesa, sentenciou o paciente como incurso nas sanções do

art. 316 do CP e o condenou à pena de dois anos de reclusão a ser cumprida em

regime aberto, bem como ao pagamento de dez dias-multa. O tribunal reformou a

sentença e o condenou com base no art. 158, § 1º, do CP. Daí houve recurso para

este Superior Tribunal, que entendeu ser a falta de alegações finais causa de

nulidade absoluta, uma vez que, em observância ao devido processo legal, é

necessário o pronunciamento da defesa técnica sobre a prova produzida. Se o

defensor de confiança do réu não apresentar a referida peça processual, incumbe ao

juiz nomear um substituto, mesmo que provisoriamente ou só para o ato, tendo

inteira aplicação o art. 265 do CPP. A extemporaneidade da apresentação das

imprescindíveis alegações finais defensivas constitui mera irregularidade que não

obsta, evidentemente, a cognição a bem do devido processo legal. Precedentes

citados: RHC 9.596-PB, DJ 21/8/2000, e HC 9336-SP, DJ 16/8/1999. HC 126.301-

Page 93: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 31/5/2011.

PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. RECEPTAÇÃO. CELULAR.

A Turma aplicou o princípio da insignificância na hipótese de receptação de um

celular avaliado em R$ 55,00, mas adquirido pelo paciente por R$ 10,00.

Ressalvou seu entendimento a Min. Maria Thereza de Assis Moura. Precedentes

citados do STF: HC 91.920-RS, DJe 12/3/2010; HC 84.412-SP, DJ 19/11/2004; do

STJ: HC 142.586-SP, DJe 1º/7/2010, e HC 153.757-MG, DJe 3/5/2010. HC

191.067-MS, Rel. Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ-

CE), julgado em 2/6/2011.

HC. BUSCA. APREENSÃO. BENS. RAZOABILIDADE.

A ordem de busca e apreensão empreendida na hipótese foi determinada em

procedimento administrativo instaurado para apurar a prática de diversos ilícitos

(lavagem de dinheiro e crimes contra a ordem tributária e contra o sistema

financeiro). Assim, não se sustenta a alegada violação do art. 4º, § 1º, da Lei n.

9.613/1998, pois o juízo não está adstrito a determinar a constrição com lastro

apenas na referida lei se ela só trata de um dos vários delitos em apuração.

Dessarte, o juízo não se sujeita ao prazo nela previsto para o levantamento da

medida (120 dias). Contudo, apesar da legalidade da busca e apreensão, pesa o fato

de que a denúncia em desfavor dos representantes da sociedade empresária

investigada só ocorreu após sete anos da efetivação do bloqueio de bens, sem que

haja qualquer previsão de término do processo, quando é consabido que a retenção

de bens pelo juízo deve pautar-se pelos princípios da razoabilidade e

proporcionalidade, que, com certeza, foram aviltados no caso. Daí a concessão de

habeas corpus de ofício, para que sejam liberados os bens apreendidos após a

nomeação de seu proprietário como legítimo depositário, o que assegura eventual

pena de perdimento. Anote-se, por fim, que o STJ admite o cabimento do habeas

corpus para a discussão da legalidade de medida assecuratória, pois é possível que

venha a restringir o direito de ir e vir do paciente. Precedentes citados: RMS

21.453-DF, DJ 4/6/2007; HC 80.632-SP, DJ 18/2/2008, e REsp 1.079.633-SC, DJe

30/11/2009. REsp 865.163-CE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 2/6/2011.

Page 94: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

NULIDADE. ANTECIPAÇÃO. PROVA. PRECLUSÃO.

A paciente e outras três pessoas foram denunciadas pela prática de roubo

circunstanciado e extorsão mediante sequestro seguida de morte. Na ocasião do

recebimento da denúncia, foi decretada a prisão preventiva de todos os acusados.

Após a frustração de todas as tentativas de sua citação pessoal e editalícia, o juízo

determinou a produção antecipada da prova testemunhal com fundamento na

gravidade do fato, na possibilidade de esquecimento do ocorrido pelas

testemunhas, além de invocar, para tanto, o princípio da economia processual.

Depois de ouvidas as testemunhas de acusação, o mandado de prisão da paciente

acabou por ser cumprido, o que determinou a retomada do andamento processual

mediante seu interrogatório, que contou com a presença de seu advogado

constituído. Esse causídico arrolou testemunhas e requereu perícia e diligência,

todas acolhidas pelo juízo, além de reiterar, por três vezes, a ultimação dessas

providências. Já quando finda a instrução, a defesa, intimada para manifestar-se

sobre a fase prevista no revogado art. 499 do CPP, afirmou não haver mais provas a

produzir além das indicadas na fase das alegações finais. Por sua vez, a sentença

condenou-a a 28 anos de reclusão, o que foi diminuído para nove anos e quatro

meses com o julgamento da apelação. Agora, no habeas corpus, pretende, com

lastro em precedentes do STJ, que seja decretada a nulidade do processo a partir da

decisão que determinou a produção antecipada da prova. É certo que ainda se

mantém hígida a Súm. n. 455-STJ, mas o caso dos autos é peculiar a ponto de

exigir a aplicação do princípio da preclusão e o brocardo pas de nulitté sans grief: a

defesa nada disse sobre a nulidade nas diversas vezes em que pôde interferir na

produção da prova, mas insistiu sim na feitura de perícia e diligência, o que denota

não haver desrespeito ao princípio da ampla defesa, visto que até pôde postular a

repetição da prova produzida antecipadamente. Desse modo, se não agiu assim, é

porque não tinha interesse, não se podendo falar em prejuízo, o que revela a

preclusão. Gize-se que a paciente não desconhecia a instauração da ação penal,

tanto que constituiu advogado tão logo decretada sua prisão, daí ser pertinente

destacar que a ninguém é dado se beneficiar da própria torpeza. Por último,

saliente-se que eram comuns a todos os réus as testemunhas de acusação e, assim, a

imediata realização da audiência de instrução é condizente com o princípio da

economia processual, quanto mais se aberta a possibilidade de reinquirição das

testemunhas na presença da paciente. Precedentes citados: HC 113.733-SP, DJe

Page 95: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

6/12/2010; RHC 3.503-SP, DJ 18/4/1994; HC 140.361-SP, DJe 16/11/2010; HC

154.945-RJ, DJe 18/10/2010; HC 132.254-SP, DJe 21/6/2010, e HC 141.695-MS,

DJe 7/12/2009. HC 172.970-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 2/6/2011.

INFORMATIVO 474

Terceira Seção

COMPETÊNCIA. JF. CRIME AMBIENTAL. EXTRAÇÃO. CASCALHO.

Os recursos minerais, inclusive os do subsolo, são bens da União, assim, os delitos

relativos a eles devem ser julgados na Justiça Federal nos termos do art. 109, IV, da

CF/1988. Com esse entendimento, a Seção conheceu do conflito de competência e

declarou competente o juízo federal suscitante para processar e julgar o suposto

crime de extração de cascalho, bem da União, sem autorização do órgão ambiental

em área particular (fazenda). No caso, o MPF, ao receber os autos do inquérito,

manifestou-se pela competência da Justiça estadual ao argumento de que o ato

supostamente delituoso teria sido praticado em propriedade particular, não havendo

laudo ou constatação de a área estar próxima a ou localizada em faixa litorânea,

terras ou rio cujo domínio estaria afeto à União; então, o juízo federal suscitou o

conflito de competência. Destacou a Min. Relatora que, de acordo com a

jurisprudência deste Superior Tribunal, não são todos os crimes ambientais que se

sujeitam à competência da Justiça Federal, apesar de, na CF/1988, não haver

determinação nesse sentido. Daí esclarecer que realmente não se pode entender a

designação “patrimônio nacional” contida no art. 225, § 4º, da CF/1988 como

sinônimo de bens da União, visto que, a seu ver, essa locução é uma espécie de

proclamação concitando todos à defesa dos ecossistemas citados no mencionado

artigo, até porque há casos em que o particular será dono de parcelas de trechos

contidos nesses ecossistemas, como também dentro deles foram criados parques

nacionais e municipais, o que irá determinar, conforme o caso concreto, a

competência federal ou estadual. No entanto, observou não ser pacífica a

jurisprudência quanto à fixação da competência para o julgamento do delito de

Page 96: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

extração de recursos minerais sem autorização. Assim, com esse julgamento, com

base no voto da Min. Relatora, reafirmou-se o posicionamento de serem mais

adequados perante a CF/1988 e a posição do STF os acórdãos do STJ segundo os

quais, para definir a competência do julgamento, não basta analisar o local da

prática dos crimes contra os recursos minerais (previstos no art. 55 da Lei n.

9.605/1998). Isso porque os recursos minerais, inclusive os do subsolo, são bens da

União, como, expressamente e sem ressalva, prevê o inciso IX do art. 20 da

CF/1988. Ademais, o art. 176, caput, da mesma Constituição dispõe serem as

jazidas, em lavra ou não, e os demais recursos minerais propriedade distinta da do

solo para efeito de exploração ou aproveitamento e pertencerem à União, garantida

ao concessionário a propriedade do produto da lavra. Por essa razão, assevera só se

poder concluir que os delitos relativos aos recursos minerais, por estes serem bens

da União, são da competência da Justiça Federal. Precedentes citados do STF:

AgRg no RE 140.254-SP, DJ 6/6/1997; do STJ: HC 23.286-SP, DJ 19/12/2003; CC

33.377-RJ, DJ 24/2/2003; CC 29.975-MG, DJ 20/11/2000; CC 30.042-MG, DJ

27/11/2000; CC 7.673-RJ, DJ 13/6/1994; CC 4.167-RJ, DJ 22/11/1993, e CC

99.294-RO, DJe 21/8/2009. CC 116.447-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 25/5/2011.

PAD. PRESCRIÇÃO. PENA. DEMISSÃO.

A Seção denegou a segurança ao entendimento de que, quando há sentença penal

condenatória, o prazo de prescrição no processo administrativo disciplinar (PAD)

conta-se pela pena em concreto aplicada na esfera penal nos termos dos arts. 109 e

110 do CP. In casu, guarda de presídio integrante de quadro em extinção de ex-

território foi demitido do serviço público, sendo-lhe atribuída a prática dos crimes

de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver (arts. 121, § 2º, III,

IV, e 211, todos do CP), pelos quais o tribunal do júri o condenou a 18 anos de

reclusão. Desse modo, para haver prescrição da pretensão punitiva, no caso,

deveriam ser ultrapassados 20 anos. Destacou-se ainda que este Superior Tribunal,

ao interpretar o art. 142, § 2º, da Lei n. 8.112/1990, entendeu que, se o servidor

público cometer infração disciplinar também tipificada como crime, somente se

aplica o prazo prescricional previsto na legislação penal quando os fatos

igualmente forem apurados na esfera criminal. Noticiam ainda os autos que, em um

primeiro PAD, o impetrante foi punido com advertência, mas posteriormente tal

Page 97: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

penalidade foi tornada sem efeito e, em outro processo disciplinar em que foram

observados os princípios do contraditório e da ampla defesa, foi-lhe aplicada a pena

de demissão. Assim, segundo a jurisprudência do STJ e do STF, nessa hipótese não

ocorre a vedação da Súm. n. 19-STF. Ainda houve um outro procedimento

administrativo, mas foram apurados outros fatos diferentes daqueles que ensejaram

a demissão do impetrante. Daí não haver razão para as alegações do impetrante de

que, em três ocasiões, ele teria sido julgado administrativamente pelos mesmos

fatos. Precedentes citados do STF: AgRg no RMS 24.308-DF, DJ 25/4/2003; do

STJ: RMS 19.887-SP, DJ 11/12/2006; RMS 18.551-SP, DJ 14/11/2005; RMS

13.134-BA, DJ 1º/7/2004; RMS 15.933-RJ, DJe 2/2/2009; RMS 13.395-RS, DJ

2/8/2004; MS 10.026-DF, DJ 2/10/2006, e MS 7.491-DF, DJ 4/3/2002. MS

14.040-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 25/5/2011.

MS. ANISTIA. RETROATIVOS. DECADÊNCIA.

A Seção, na linha dos precedentes e verificada a disponibilidade orçamentária,

concedeu a segurança para determinar que o ministro de Estado da Defesa cumpra

integralmente a portaria que concedeu a anistia política ao impetrante, visto que,

comprovada a omissão, também não há falar em decadência do direito; pois, como

se trata de ato omissivo continuado, renova-se seguidamente. Precedentes citados

do STF: RMS 27.357-DF, DJe 6/8/2010; do STJ: MS 13.426-DF, DJe 23/9/2008;

MS 13.017-DF, DJe 25/8/2008; MS 15.216-DF, DJe 17/11/2010, e MS 13.816-DF,

DJe 4/6/2009. MS 14.671-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,

julgado em 25/5/2011.

AUDIÊNCIA PRELIMINAR. NÃO COMPARECIMENTO. AUTOR.

DELITO.

Trata-se de conflito negativo de competência travado entre o juízo da vara de

inquéritos policiais (suscitante) e o juízo da vara do juizado especial criminal

(suscitado), ambos da mesma comarca. Noticiam os autos que fora lavrado termo

circunstanciado pela prática, em tese, do delito tipificado no art. 28 da Lei n.

11.343/2006 (usuário de droga/pequena quantia) e, sendo designada audiência

preliminar para oferecimento de transação penal, ela não se realizou em razão do

não comparecimento do acusado. Então, o juízo suscitado acolheu manifestação do

Page 98: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

MP estadual e determinou a remessa dos autos ao juízo da vara criminal, com

fundamento no art. 66, parágrafo único, da Lei n. 9.099/1995 e, por sua vez, o juízo

da vara de inquéritos policiais suscitou o conflito de competência, alegando que

não foi cumprido o art. 77, caput e § 1º, da Lei n. 9.099/1995, pois o MP deveria

ter oferecido denúncia oral ao juízo suscitado. Explica o Min. Relator que, não

comparecendo o acusado à audiência preliminar designada para oferecimento de

transação penal e não havendo a necessidade de diligências imprescindíveis, o MP

deve oferecer de imediato a denúncia oral nos termos do art. 77 da Lei n.

9.099/1995 e, somente após a apresentação dessa exordial acusatória, é que

poderiam ser remetidos os autos ao juízo comum para proceder à citação editalícia,

conforme dispõe expressamente o art. 78, § 1º, da referida lei. Diante do exposto, a

Seção conheceu do conflito e declarou a competência do juízo suscitado.

Precedente citado: CC 102.240-PB, DJe 30/4/2009. CC 104.225-PR, Rel. Min.

Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ-CE), julgado em

25/5/2011.

MS PREVENTIVO. ATO DE IMPROBIDADE. APLICAÇÃO DA PENA.

AÇÃO JUDICIAL OU PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR.

Trata-se de mandado de segurança (MS) preventivo com pedido liminar impetrado

por servidor contra aplicação da pena de demissão conforme sugerida pela

comissão processante em processo administrativo disciplinar (PAD) com base no

art. 132, IV (improbidade administrativa), c/c os arts. 10 e 11 da Lei n. 8.429/1992

(atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário e atentam contra

os princípios da Administração Pública). O impetrante respondeu a PAD porque,

na qualidade de subsecretário de planejamento, orçamento e administração de

Ministério, autorizou sem licitação a contratação de serviços de desenvolvimento

de projeto de pesquisa com instituição privada, no valor de quase R$ 20 milhões.

Esses fatos estão sendo apurados no procedimento administrativo, mas também em

ação judicial de improbidade administrativa e em ação penal de iniciativa do

Ministério Público. Discute-se aqui se a apuração e a sanção de atos de

improbidade administrativa poderiam ser efetuadas pela via administrativa ou se

exigiriam a via judicial, como defendeu o Min. Relator. Para o Min. Gilson Dipp,

em voto-vista vencedor, a independência das instâncias civil, penal e administrativa

permite que a Administração imponha ao servidor a pena de demissão em caso de

Page 99: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

improbidade administrativa, pois uma infração disciplinar tanto pode ser

reconhecida como ato de improbidade na via administrativa quanto se sujeitar ao

processo judicial correspondente. Assevera que o que distingue o ato de

improbidade administrativa da infração disciplinar de improbidade, quando

coincidente a hipótese de fato, é a natureza da infração, pois a lei funcional tutela a

conduta funcional do servidor, enquanto a lei de improbidade dispõe sobre sanções

aplicáveis a todos os agentes públicos, servidores ou não, principalmente no

interesse da preservação e integridade do patrimônio público. Explica que, por essa

razão, a CF/1988 dispôs, no art. 37, § 4º, com relação aos servidores, que os atos de

improbidade poderão importar a suspensão dos direitos políticos, perda da função

pública, indisponibilidade (e perda) de bens e ressarcimento ao erário. Embora a lei

estatutária do servidor público também tenha previsto no art. 132, IV, como causa

de demissão o ato de improbidade, isso não significa que ele e a infração

disciplinar tenham uma só natureza, visto que submetem-se cada qual ao seu

regime peculiar e, assim, não se excluem. Daí que mesmo as improbidades não

previstas ou fora dos limites da Lei n. 8.429/1992 envolvendo servidores

continuam sujeitas à lei estatutária. Com esse entendimento, a Seção, ao prosseguir

o julgamento, por maioria, denegou a segurança e cassou a medida liminar.

Precedentes citados do STF: RMS 24.699-DF, DJ 1º/7/2005; MS 21.310-DF, DJ

11/3/1994; MS 23.401-DF, DJ 12/4/2002; MS 22.534-PR, DJ 10/9/1999; MS

22.899-SP, DJ 16/5/2003, e do STJ: MS 12.735-DF, DJe 24/8/2010. MS 15.054-

DF, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min.

Gilson Dipp, julgado em 25/5/2011.

Quinta Turma

CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. REGIME FECHADO.

A Turma denegou a ordem de habeas corpus e reafirmou que as circunstâncias

judiciais desfavoráveis – in casu, culpabilidade, circunstâncias do crime e maus

antecedentes (duas condenações transitadas em julgado) – autorizam a adoção do

regime inicial fechado para o cumprimento da reprimenda, ainda que o paciente

tenha sido condenado à pena de cinco anos e oito meses de reclusão (homicídio

tentado). Precedente citado: HC 126.311-SP, DJe 15/6/2009. HC 193.146-MG,

Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 24/5/2011.

Page 100: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

INTIMAÇÃO. EDITAL. DECISÃO. PRONÚNCIA.

A Turma entendeu que o novo regramento trazido pela Lei n. 11.689/2008 aos arts.

420, parágrafo único, e 457 do CPP – intimação por edital da decisão de pronúncia

e prescindibilidade da presença do réu no plenário do júri – deve ser temperado

pelos princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa a fim de

evitar que o acusado venha a ser condenado pelo conselho de sentença sem nunca

ter tido ciência da acusação que lhe é imposta. Explicou o Min. Relator que a

antiga redação do art. 366 do CPP permitia que o processo prosseguisse à revelia

do acusado que, citado por edital, não comparecesse em juízo para defender-se.

Com a nova redação conferida pela Lei n. 9.271/1996, seu não comparecimento

passou a conduzir à suspensão do processo e do curso do prazo prescricional.

Nesse contexto, consignou que a novel disciplina trazida pelos arts. 420, parágrafo

único, e 457 do CPP deve ser aplicada em consonância com o art. 366 do mesmo

codex, de forma a vedar a intimação por edital da decisão de pronúncia nos casos

em que o processo prosseguiu sem que o réu tenha sido localizado na fase

inaugural da acusação. Concluiu, portanto, que o réu tem direito a ser intimado

pessoalmente quando, nos processos submetidos ao rito escalonado do tribunal do

júri, tiver sido citado por edital e não comparecer em juízo nem constituir

advogado para defendê-lo, os fatos tiverem ocorrido antes do advento da Lei n.

9.271/1996 e o feito tiver sido paralisado em decorrência da redação anterior do art.

414 do CPP. Salientou que as disposições da Lei n. 11.689/2008 têm como

pressuposto a citação real do réu ou seu comparecimento em cartório quando tiver

sido citado da acusação por edital, não sendo possível aplicá-las retroativamente.

HC 172.382-RJ, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 24/5/2011.

NULIDADE. REMISSÃO. FUNDAMENTOS. SENTENÇA.

A Turma concedeu a ordem de habeas corpus para reconhecer a nulidade do

acórdão do tribunal a quo por ausência de motivação e determinar que a apelação

do paciente seja novamente julgada. Para o Min. Relator, na espécie, a simples

remissão do desembargador relator aos fundamentos da sentença atacada e ao

parecer ministerial – sem sequer transcrever os trechos indicativos da motivação

acolhida – não permitiu aferir as razões que teriam sido incorporadas à sua decisão.

Ressaltou que, não obstante seja admissível, na fundamentação do decisum,

Page 101: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

reportar-se a outras peças constantes do processo, exige-se que o julgado exponha,

de forma clara, as razões que o motivaram e ensejaram o desprovimento do apelo,

garantindo-se às partes e à sociedade a possibilidade de acessá-las e compreendê-

las. Considerou, portanto, não atendidos, in casu, os requisitos que as cortes

superiores impõem para admitir a motivação ad relationem. Precedente citado: HC

90.684-RS, DJe 13/4/2009. HC 176.238-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em

24/5/2011.

Sexta Turma

TRÁFICO. DROGAS. TRANSPORTE PÚBLICO. MAJORANTE. ART. 40,

III, DA LEI N. 11.343/2006.

Na espécie, a paciente foi surpreendida ao transportar seis quilos de maconha

dentro de um ônibus intermunicipal. O tribunal a quo fixou a pena-base no mínimo

legal e reconheceu a causa de aumento da pena prevista no art. 40, III, da Lei n.

11.343/2006, tornando-a definitiva em seis anos e oito meses de reclusão a ser

inicialmente cumprida em regime fechado. A Turma denegou a ordem apoiada em

remansosa jurisprudência, afirmando que a causa do aumento de pena do art. 40,

III, da Lei 11.343/2006 incide quando o agente utiliza transporte público com

grandes aglomerações de pessoas no intuito de passar despercebido, tornando a

traficância mais fácil e ágil. Para a incidência da referida norma, basta o simples

uso daquele tipo de transporte, independentemente da distribuição da droga naquele

local, sendo irrelevante se o paciente ofereceu ou tentou disponibilizar a substância

para outros passageiros. Precedentes citados: HC 116.051-MS, DJe 3/5/2010, e HC

119.635-MS, DJe 15/12/2009. HC 199.417-MS, Rel. Min. Haroldo Rodrigues

(Desembargador convocado do TJ-CE), julgado em 24/5/2011 (ver

Informativo n. 472).

INFORMATIVO 473

Corte Especial

DESMEMBRAMENTO. DENÚNCIA. GOVERNADOR. CONCURSO.

PESSOAS.

Page 102: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

No caso, apenas um entre os nove réus tem foro por prerrogativa de função neste

Superior Tribunal, a teor do art. 105, I, a, da CF/1988. Logo, conforme precedentes

da Corte Especial ao interpretar o art. 80, última parte, do CPP, existem várias

razões idôneas para justificar o desmembramento do processo, entre as quais o

número excessivo de acusados que não tem foro por prerrogativa de função neste

Superior Tribunal, a complexidade dos fatos apurados, bem assim a necessidade de

tramitação mais célere do processo em razão da potencial ocorrência de prescrição.

Ademais, o fato de imputar a prática do crime de formação de quadrilha a

detentores de foro por prerrogativa de função não impede o desmembramento.

Assim, a Corte Especial determinou o desmembramento do processo. QO na APn

425-ES, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgada em 18/5/2011.

Quinta Turma

ERRO MATERIAL. LATROCÍNIO. REGIME INICIAL ABERTO.

In casu, o paciente foi condenado à pena de 18 anos de reclusão em regime inicial

aberto pela prática do crime tipificado no art. 157, § 3º, do CP (latrocínio). Então, o

juiz de execução determinou o início do cumprimento da pena em regime fechado

ao argumento de que o regime aberto foi fixado de forma equivocada. Agora a

impetração no writ sustenta, em síntese, que não há como modificar o regime

fixado na sentença condenatória, pois ela transitou em julgado para a condenação.

Para o Min. Relator Napoleão Nunes Maia Filho e o Min. Gilson Dipp, a fixação

do regime aberto para o paciente condenado à pena de 18 anos de reclusão é mero

erro material, possível de correção mesmo após o trânsito em julgado da

condenação. No entanto, a maioria dos Ministros da Turma aderiu à divergência

inaugurada pelo Min. Jorge Mussi, que, apesar de considerar tratar-se de erro

material, pois o paciente condenado por latrocínio não poderia cumprir a pena em

regime inicial aberto conforme o disposto no art. 33, § 2º, do CP, reconheceu agora

não haver dúvida de que ocorreu a coisa julgada, pois o MP, como fiscal da lei,

deveria ter interposto os embargos declaratórios, mas deixou de fazê-lo. Observou

ainda serem nesse sentido as decisões do STF. Com esse entendimento, a Turma,

ao prosseguir o julgamento, concedeu a ordem. HC 176.320-AL, Rel. originário

Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi,

julgado em 17/5/2011.

Page 103: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PRINCÍPIO. IDENTIDADE FÍSICA. JUIZ. ART. 399, § 2º, DO CPP. ART.

132 DO CPC.

O princípio da identidade física do juiz, introduzido no sistema penal brasileiro

pela Lei n. 11.719/2008 (art. 399, § 2º, do CPP), deve ser observado em

consonância com o art. 132 do CPC. Assim, em razão de férias da juíza titular da

vara do tribunal do júri, foi designado juiz substituto que realizou o interrogatório

do réu e proferiu a decisão de pronúncia, fato que não apresenta qualquer vício a

ensejar a nulidade do feito. Daí, a Turma denegou a ordem. Precedente citado: HC

163.425-RO, DJe 6/9/2010. HC 161.881-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em

17/5/2011.

PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.

Na impetração, foi requerida a alteração da capitulação legal atribuída na denúncia,

o que é inviável no habeas corpus, uma vez que exige o revolvimento do conjunto

fático-probatório. No caso, a acusação descreve fato criminoso com todas as

circunstâncias, satisfazendo os requisitos do art. 77 do CPPM. De acordo com a

peça acusatória, os fatos revelam indícios suficientes para justificar apuração mais

aprofundada do caso. Mesmo que a capitulação esteja equivocada, como alegam os

impetrantes, o que somente será verificado na instrução criminal, a defesa deve

combater os fatos indicados na denúncia e não a estrita capitulação legal, não

havendo assim qualquer prejuízo ao exercício da ampla defesa e do contraditório.

Quanto ao princípio da insignificância, a Turma entendeu não ser possível sua

aplicação aos crimes praticados contra a Administração, pois se deve resguardar a

moral administrativa. Embora o crime seja militar, em última análise, foi praticado

contra a Administração Pública. Precedentes citados: HC 154.433-MG, DJe

20/9/2010, e HC 167.915-MT, DJe 13/9/2010. HC 147.542-GO, Rel. Min. Gilson

Dipp, julgado em 17/5/2011.

PRISÃO PREVENTIVA. DENÚNCIA. PRINCÍPIO. INDIVISIBILIDADE.

A denúncia formulada pelo MP estadual descrevia, além do crime de quadrilha (art.

288 do CP), a prática dos crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens,

direitos e valores provenientes de crime (art. 1º, V e VII, da Lei n. 9.613/1998)

Page 104: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

mediante coautoria e continuidade, visto que foram constatadas reiteradas fraudes

em licitações de vários órgãos e instituições públicas por meio da corrupção de

agentes públicos, a demonstrar a existência de complexa organização criminosa

supostamente encabeçada pelo ora paciente. Contudo, apesar de mencionar

autoridades estaduais detentoras de foro especial, a denúncia não enumerou, entre

os acusados, qualquer um que ostentasse tal privilégio e sequer descreveu condutas

que, por sua natureza ou outro motivo, estariam reservadas à competência

jurisdicional especial. Assim, é forçoso reconhecer a competência da Justiça

comum estadual do local da infração, juízo que lhe decretou a prisão preventiva. A

possível participação de agentes que tenham foro especial não deve derivar de

suposição subjetiva, mas sim de objetiva acusação inserta na denúncia pelo

Parquet, a quem cabe, pelo princípio da indivisibilidade da ação penal, a obrigação

de denunciar todos os partícipes da ação delituosa: se não o fez é porque não

existem indícios contra tais autoridades. Quanto à prisão preventiva, não se

desconhece a jurisprudência de que é necessária, na fundamentação do decreto

prisional, a identificação e a descrição das condutas e razões objetivas que

justifiquem a invocação de qualquer das cláusulas insertas no art. 312 do CPP.

Contudo, há situações em que se mostra mais relevante a descrição do conjunto das

ações delituosas (o universo delituoso) do que a discriminação individual das

condutas, tal como no caso, particularmente pela atribuição ao paciente da prática

do crime de quadrilha. Todavia, vê-se que, apesar da parcimônia com a qual a

decisão combatida, apoiada em fatos consistentes e compatíveis com as provas

indicadas, descreveu os atos individuais atribuídos ao paciente, há um mínimo de

detalhamento das condutas, mostrando-se suficiente a manter a custódia cautelar

decretada em garantia à instrução processual (há risco de comprometimento e

eliminação de provas, tais como limpezas de arquivos, apagamento de indícios

etc.), da aplicação da lei penal (foi apurada a intenção de fuga do paciente, o que

levou à determinação de que se retivesse seu passaporte) e da ordem pública (em

liberdade, voltaria a delinquir). Com esses fundamentos, ao prosseguir o

julgamento, a Turma, por maioria, denegou a ordem. HC 184.660-SP, Rel.

originário Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do TJ-

RJ), Rel. para acórdão Min. Gilson Dipp, julgado em 19/5/2011.

Page 105: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

QUEBRA. SIGILO BANCÁRIO. TERCEIRO.

Na execução de medida cautelar de sequestro de bens, o juízo singular determinou

a quebra de sigilo bancário e fiscal da ora recorrente ao fundamento de que haveria

indícios de ser alvo de transferências irregulares de patrimônio do investigado, seu

pai. Alega a recorrente que não participou da atividade delitiva atribuída a seu pai,

qual seja, o recebimento indevido de verbas do SUS; daí ser impertinente a quebra

do sigilo. Nesse contexto, é incensurável a decisão que relativizou o direito de

sigilo da recorrente, contudo também se mostra correto o posicionamento do

tribunal a quo, de manter lacrados os documentos obtidos com a diligência e os

enviar ao MPF, com o fito de que tome as providências que entender cabíveis, visto

que a ocultação do patrimônio promovida pelo investigado em conjunto com

terceiros é matéria estranha aos autos, devendo ser sindicada de forma autônoma.

Precedentes citados: REsp 690.877-RJ, DJ 30/5/2005, e RMS 15.511-SP, DJ

28/4/2003. RMS 27.180-RJ, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador

convocado do TJ-RJ), julgado em 19/5/2011.

Sexta Turma

QUEIXA-CRIME. CALÚNIA. DIFAMAÇÃO. ASSÉDIO. MENSAGENS.

CELULAR.

In casu, a paciente responde pela prática dos crimes de calúnia e difamação porque,

em 20/8/2008, dirigiu-se a um dos sócios administradores do escritório de

advocacia no qual estagiava e afirmou, segundo a queixa-crime, ter-se sentido

assediada, pois recebera do querelante, o advogado que a supervisionava, dois

torpedos em seu celular no dia da sua viagem para os Estados Unidos da América,

com a declaração amorosa “eu te amo”. Recebida a queixa, foi impetrado habeas

corpus prévio, o qual foi denegado pelo tribunal a quo sob o fundamento de que, de

um lado, a alegação de atipicidade demandaria deslindar o mérito da ação penal

privada e, de outro, a decisão que recebeu a queixa-crime estaria suficientemente

fundamentada. No writ em questão, pretende-se o trancamento da ação penal por

atipicidade de conduta, tendo em vista que a paciente agiu com exclusivo animus

narrandi, estando ausente o dolo específico necessário para caracterizar a

difamação e, consequentemente, a justa causa para tal ação. Sustenta-se que a

paciente sentiu-se constrangida com as mensagens recebidas em seu telefone

Page 106: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

celular e que, por isso, entendeu não haver mais condições de prosseguir no

estágio, razão pela qual entrou em contato com o então sócio administrador do

escritório a fim de tratar de sua saída, apontando o ocorrido. A Turma concedeu a

ordem por entender que os fatos, conforme narrados na queixa-crime, não são

suficientes à caracterização de crime contra a honra e, muito menos, de calúnia.

Consignou-se que a paciente, sentindo-se desconfortável com as mensagens

recebidas do supervisor, tratou de pedir afastamento, exibindo as mensagens, sem

alarde, apenas para justificar a sua decisão de encerrar antecipadamente o estágio.

Registrou-se, ainda, que, para a caracterização dos crimes contra a honra, é

necessária a intenção dolosa de ofender, o que não ocorreu no caso. Assim, falta à

peça acusatória o mínimo de plausibilidade, revelando-se ausente a justa causa,

condição necessária para o recebimento da queixa-crime, nos termos do art. 395,

III, do CPP. Precedentes citados do STF: RHC 81.750-SP, DJe 10/8/2007; do STJ:

RHC 15.941-PR, DJ 1º/2/2005, e APn 347-PA, DJ 14/3/2005. HC 173.881-SP,

Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em

17/5/2011.

JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO. INIMPUTABILIDADE. PROVA

TESTEMUNHAL.

Trata-se de habeas corpus no qual se busca, em síntese, o reconhecimento de justa

causa para a persecução penal do paciente, bem como a existência de hipótese de

inimputabilidade e, caso sejam superadas as argumentações expostas na exordial, a

declaração de nulidade dos atos processuais praticados a partir da pronúncia, com a

submissão do ora paciente a novo julgamento. In casu, o paciente foi submetido a

júri e condenado por homicídio qualificado à pena de 15 anos de reclusão,

afastadas as teses de legítima defesa e de sua inimputabilidade. Em apelação, a

defesa sustentou contrariedade à prova dos autos, salientando que o laudo pericial

realizado anotou que, à época dos fatos, o paciente possuía doença mental, sendo

inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar. Tal

apelo foi negado pelo tribunal a quo sob o fundamento de que os jurados optaram

por uma das teses existentes. Apontou-se que a prova testemunhal evidenciaria a

imputabilidade do paciente. Diante disso, a Turma, ao prosseguir o julgamento,

entendeu, entre outras questões, que, em face da existência de duas teses

antagônicas, o corpo de jurados entendeu acolher uma delas, o que afasta a

Page 107: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

contrariedade à prova colhida durante a instrução. Isso significa que a

determinação de submissão a novo júri não se justifica ante o previsto no art. 593,

III, d, do CPP, pois a decisão dos jurados não se mostrou manifestamente contrária

à prova dos autos. Contrariou-se, é certo, a prova produzida pelos experts, mas não

todo o conjunto probatório, pois havia elementos para adotar a tese em sentido

diverso. Assim, prevalecendo o voto médio, denegou-se a ordem, mas se concedeu

habeas corpus de ofício para, afastando as circunstâncias judiciais indevidamente

valoradas, reduzir a pena imputada ao paciente a 12 anos de reclusão e determinar

ao juízo das execuções que proceda a novo exame de insanidade mental. Ressaltou-

se que, no caso de ser constatada nessa perícia a inimputabilidade do paciente, a

medida de segurança a ser aplicada não deve ultrapassar o lapso fixado para a pena

privativa de liberdade. Precedentes citados: HC 130.160-SP, DJe 14/12/2009, e HC

88.849-SP, DJ 17/12/2007. HC 141.598-GO, Rel. originário Min. Celso Limongi

(Desembargador convocado do TJ-SP), Rel. para o acórdão Min. Og

Fernandes, julgado em 17/5/2011.

HOMICÍDIO CULPOSO. AUMENTO. PENA. REGRA TÉCNICA. BIS IN

IDEM.

Trata-se de recurso em habeas corpus em que se discute o afastamento da causa de

aumento de pena constante do § 4º do art. 121 do CP, relativa à inobservância de

regra técnica de profissão, sustentando o recorrente que essa mesma causa foi

utilizada para a caracterização do próprio tipo penal. A Turma, ao prosseguir o

julgamento, por maioria, deu provimento ao recurso sob o fundamento de que,

embora a causa de aumento de pena referente à inobservância de regra técnica de

profissão se situe no campo da culpabilidade, demonstrando que o comportamento

do agente merece uma maior censurabilidade, não se pode utilizar do mesmo fato

para, a um só tempo, tipificar a conduta e, ainda, fazer incidir o aumento de pena.

Consignou-se que, no caso, a peça exordial em momento algum esclarece em que

consistiu a causa de aumento de pena, apenas se referindo à inobservância de regra

técnica como a própria circunstância caracterizadora da negligência do agente,

fazendo de sua ação uma ação típica. Assim, entendeu-se estar claro que a

inobservância de regra técnica foi utilizada para configurar o próprio núcleo da

culpa, não podendo servir também para possibilitar o aumento de pena, visto que

não se pode recair em indesejável bis in idem. Precedentes citados do STF: HC

Page 108: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

95.078-RJ, DJe 15/5/2009; do STJ: REsp 606.170-SC, DJ 14/11/2005. RHC

22.557-SP, Rel. Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ-

CE), julgado em 17/5/2011.

ECA. CRIME ANÁLOGO. ROUBO QUALIFICADO.

Noticiam os autos que foi aplicada ao adolescente medida socioeducativa de

internação provisória pela prática de ato infracional análogo ao crime de roubo

previsto no art. 157, § 2º, I, do CP, c/c o art. 103 do ECA. Alegou-se no habeas

corpus ser inadequada a medida imposta ao adolescente por não estarem presentes

as hipóteses previstas no art. 122 do ECA e ainda sustenta-se ser possível a

aplicação do princípio da insignificância ao caso. Para o Min. Relator, não há

possibilidade de aplicação do referido princípio no caso concreto, embora se trate

da subtração de um boné avaliado em R$ 15,00 e algumas moedas no valor de

aproximadamente R$ 0,80, visto que a conduta foi praticada mediante violência e

grave ameaça: para isso se utilizou uma faca. Também, segundo consta na

sentença, o adolescente possui pelo menos mais cinco processos em andamento,

quase todos com representação recebida por crime contra o patrimônio, prática

reiterada para que, com a venda dos produtos, consiga dinheiro para sustentar o

vício do crack; consignou ainda o juiz que o MP estadual acredita que, enquanto o

menor estiver nas ruas, continuará a delinquir. Diante desses fatos, para o Min.

Relator, o valor da coisa subtraída não pode ser analisado de forma isolada.

Dessarte, no caso dos autos, o paciente efetivamente praticou ato infracional que

pressupõe tanto a violência quanto a grave ameaça, incidindo na tipificação

prevista pelo inciso I do art. 122 do ECA, por isso deve ser-lhe aplicada a medida

de internação, até por contingência legal. Diante do exposto, a Turma denegou a

ordem. Precedentes citados: AgRg no AgRg no HC 49.689-SP, DJ 5/2/2007; AgRg

no HC 73.934-SP, DJe 25/5/2009; HC 80.734-SP, DJ 17/12/2007, e HC 39.451-SP,

DJ 22/8/2005. HC 188.177-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/5/2011.

DETRAÇÃO PENAL. CRIME POSTERIOR. PRISÃO CAUTELAR.

A Turma denegou a ordem de habeas corpus, reafirmando a jurisprudência deste

Superior Tribunal de ser inviável a aplicação da detração penal em relação aos

crimes cometidos posteriormente à custódia cautelar. No writ, a Defensoria

Page 109: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

sustentava constrangimento ilegal na decisão de não concessão da detração ao

paciente que permaneceu preso cautelarmente em outro feito criminal no período

de 27/9/2006 a 7/9/2007 e buscava a detração da pena pela prática de crime

perpetrado em 27/11/2007. Precedentes citados do STF: HC 93.979-RS, DJe

19/6/2008; do STJ: REsp 650.405-RS, DJ 29/8/2005; HC 157.913-RS, DJe

18/10/2010, e REsp 1.180.018-RS, DJe 04/10/2010. HC 197.112-RS, Rel. Min.

Og Fernandes, julgado em 19/5/2011.

COLIDÊNCIA. DEFESA. PREJUÍZO.

In casu, o paciente foi denunciado, juntamente com outro, pela suposta prática dos

delitos de formação de quadrilha e estelionato. A sentença condenou-o à pena de

um ano e três meses de reclusão, a ser cumprida inicialmente no regime semiaberto

pelo delito previsto no art. 171 do CP. Sem a interposição de recurso, a condenação

transitou em julgado. Sucede que, depois, impetrou-se habeas corpus em favor do

paciente, alegando a existência de constrangimento ilegal porque o mesmo patrono

teria defendido o paciente e o corréu, sustentando defesas antagônicas (colidência

de defesa), mas a ordem foi denegada. Agora, o impetrante, por meio do habeas

corpus substitutivo de recurso ordinário, repisa as mesmas alegações para que seja

anulada a sentença. Explica o Min. Relator que a colidência de defesa apontada na

impetração foi constatada pelo juízo singular, que a sanou com a nomeação de

novo patrono, diverso daquele encarregado de atuar na defesa do corréu. Assim,

assevera que, afastada a nulidade e não havendo prejuízo, incide na hipótese a

Súm. n. 523-STF. Por outro lado, esclarece que, no caso, o paciente tinha

conhecimento das imputações a ele dirigidas, visto que houve a citação pessoal,

entretanto optou por permanecer revel, o que motivou a nomeação da Defensoria

Pública. Ademais, aponta que, nas alegações finais, nada se arguiu a respeito da

tese de colidência da defesa, o que levou à preclusão da matéria. Precedentes

citados: HC 80.734-SP, DJ 17/12/2007; RHC 13.930-SC, DJ 26/5/2003, e HC

79.533-PE, DJe 13/10/2008. HC 143.643-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado

em 19/5/2011.

INFORMATIVO 472

Page 110: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Plenário

EMENDA REGIMENTAL N. 13.

O Plenário aprovou a emenda regimental n. 13, que acrescenta a alínea k ao inciso

XIII do art. 21 do RISTJ. Com isso, o Presidente do STJ pode decidir, até eventual

distribuição, os habeas corpus e as revisões criminais inadmissíveis por

incompetência manifesta, impetrados ou ajuizados em causa própria ou por quem

não seja advogado, defensor público ou procurador, encaminhando os autos ao

órgão que repute competente. ER n. 13, Rel. Min. Nancy Andrighi, em 9/5/2011.

Quinta Turma

PRESO. SAÍDA TEMPORÁRIA. VISITAÇÃO. RELIGIOSO.

Trata-se de habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública estadual em favor de

paciente condenado à pena de 30 anos pela prática do crime de estupro seguido de

morte (arts. 214 c/c 223, parágrafo único, e 61, II, d, todos do CP) que, após sua

transferência para o regime semiaberto, busca saída temporária para visitar agente

religioso, o qual o aconselhou na prisão por cerca de cinco anos. O juiz de

execução negou o pedido; houve agravo em execução, mas o tribunal a quo negou

provimento por tratar-se de visita a amigo em vez de a familiar. Naquela instância,

ainda houve os embargos infringentes que foram rejeitados. Na impetração,

ressalta-se a existência de parecer da comissão técnica favorável à saída temporária

relacionada à atividade religiosa. Para o Min. Relator, apesar da impossibilidade de

enquadramento do pedido da impetração no inciso I do art. 122 da Lei de

Execuções Penais (LEP) por não se tratar de visita à família, o pleito da Defensoria

não se restringiu ao enquadramento do inciso I, mas abrangeu também o inciso III,

ao afirmar, entre outros questionamentos, que a visitação ao conselheiro religioso

concorrerá para o retorno do paciente ao convívio social. Também o Min. Relator

considera ser relevante a informação dos autos de que o amigo missionário logrou

converter o paciente à vida religiosa, visto que essa adesão e estima aos preceitos

religiosos contribui para desenvolver a noção dos fundamentos morais essenciais a

uma vida social apropriada. Ainda destaca o fato de a pessoa a ser visitada ter

mantido auxílio espiritual ao paciente por período prolongado e habitualidade, a

demonstrar a seriedade do trabalho do religioso. Assim, afirma que a convivência

Page 111: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

com o missionário oportunizará o fortalecimento dos ensinamentos morais, além de

possibilitar a demonstração da recompensa advinda do interesse em acolher uma

vida ética e digna. Tudo isso deve ser considerado como atividade que irá

efetivamente contribuir para o retorno do paciente ao convívio social. HC 175.674-

RJ, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 10/5/2011.

CRIME CONTRA FLORA. INDICIAMENTO POSTERIOR. DENÚNCIA.

O paciente foi denunciado como incurso nas penas do art. 38 da Lei n. 9.605/1998

por ter danificado área de floresta em formação considerada de preservação

permanente, fatos supostamente ocorridos em 2/10/2007. No habeas corpus, o

impetrante/paciente busca que seja determinada a revogação do seu indiciamento

formal após já ter sido oferecida a denúncia sobre os mesmos fatos. Registra o Min.

Relator que, por ocasião da impetração do writ (no STJ) ainda não havia

julgamento do HC originário impetrado no tribunal de origem; somente depois

sobreveio o acórdão denegando a ordem, motivo pelo qual examina esse habeas

corpus como substitutivo de recurso ordinário. Observa ser cediço que este

Superior Tribunal, em reiterados julgados, vem afirmando seu posicionamento

jurisprudencial de que caracteriza constrangimento ilegal o formal indiciamento do

paciente que já teve contra si oferecida denúncia, como no caso, inclusive esta já

foi recebida pelo juízo a quo. Diante do exposto, a Turma concedeu a ordem.

Precedentes citados: RHC 21.657-SP, DJe 15/3/2010, e HC 145.935-SP, DJe

7/6/2010. HC 179.951-SP, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 10/5/2011 (ver

Informativo n. 471).

LEI MARIA DA PENHA. AUDIÊNCIA. RETRATAÇÃO.

Trata-se de paciente condenado à pena de três meses de detenção pela prática do

crime previsto no art. 129, § 9º, do CP (lesões corporais leves). No habeas corpus,

a impetração da Defensoria Pública busca anular a ação penal desde o recebimento

da denúncia porque não teria sido realizada a audiência prevista no art. 16 da Lei n.

11.340/2006 (Lei Maria da Penha) que, a seu ver, tem finalidade de permitir a

retratação da vítima quanto à representação oferecida para o ajuizamento da ação

penal contra o agente da violência doméstica. Explica o Min. Relator que a

audiência prevista no citado dispositivo, ao contrário do alegado no writ, depende

Page 112: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

de prévia manifestação da parte ofendida antes do recebimento da denúncia, a

demonstrar sua intenção de retratar-se, seja por meio da autoridade policial seja

diretamente no forum. Somente após a manifestação dessa vontade da vítima, o

juízo deverá designar a audiência para sanar as dúvidas sobre a continuidade da

ação penal. Na hipótese dos autos, a denúncia foi recebida sem haver qualquer

manifestação da vítima quanto a se retratar, daí não ter ocorrido a audiência

prevista no art. 16 da Lei Maria da Penha. Nesse mesmo sentido é a jurisprudência

firmada em ambas as Turmas de Direito Penal deste Superior Tribunal. Precedentes

citados: HC 96.601-MS, DJe 22/11/2010, e REsp 1.199.147-MG, DJe 14/3/2011.

HC 178.744-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 10/5/2011.

PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. TENTATIVA. FURTO QUALIFICADO.

ALIMENTO. HABITUALIDADE. CONDUTA.

Noticiam os autos que o paciente foi absolvido sumariamente em primeira instância

pela prática do crime previsto no art. 155, § 4º, IV, c/c 14, II, ambos do CP

(tentativa de furto qualificado). Houve apelação e o tribunal a quo reformou a

decisão do juiz, dando provimento ao recurso do MP estadual para receber a

denúncia oferecida contra os pacientes. Irresignada, a Defensoria Pública interpôs

embargos de declaração que foram rejeitados. Daí o habeas corpus, sustentando

que deve ser reconhecida a atipicidade da conduta em razão da aplicação do

princípio da insignificância, haja vista o irrisório valor da res furtiva (6 kg de carne

avaliados em R$ 51,00). No entanto, para a maioria dos ministros da Turma, a

habitualidade da conduta tida por criminosa descaracteriza sua insignificância.

Assim, se consta dos autos que o paciente continua praticando delitos de pequeno

valor patrimonial, não se poderia dar salvo conduto à prática delituosa. Por outro

lado, somados os reiterados delitos, ultrapassar-se-ia o pequeno valor, que, assim,

deixa de ser irrisório e passa a ter relevância para a vítima. Ademais, mesmo

verificada a necessidade e utilidade da medida de política criminal do princípio da

insignificância, é imprescindível que sua aplicação se dê de forma prudente e

criteriosa, razão pela qual é necessária a presença de certos elementos, como exige

a jurisprudência do STF: a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência

total de periculosidade social da ação, o ínfimo grau de reprovabilidade do

comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica ocasionada. Destarte, cabe ao

intérprete da lei penal delimitar o âmbito de abrangência dos tipos penais

Page 113: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

abstratamente positivados no ordenamento jurídico, de modo a excluir de sua

proteção aqueles fatos provocadores de ínfima lesão ao bem jurídico por ele

tutelado, nos quais tem aplicação o princípio da insignificância. Anotou-se ainda

que, nesses casos, não é possível aplicar esse princípio, pois haveria a possibilidade

de incentivar o pequeno delinquente, sabendo que nunca será apenado, a fazer

sucessivos furtos de pequenos valores. Com esses argumentos, entre outros, a

Turma, por maioria, denegou a ordem. O Min. Adilson Vieira Macabu

(Desembargador convocado do TJ-RJ) ficou vencido por entender que, no caso,

não se trata de reincidência, mas de habitualidade na repetição da conduta e a

habitualidade é uma conduta que lhe é atribuída, mas que não teve ainda o crivo do

Poder Judiciário, ou seja, nem do contraditório nem do devido processo legal.

Precedente citado do STF: HC 84.412-SP, DJ 19/11/2004. HC 196.132-MG, Rel.

Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 10/5/2011.

CARGA ROUBADA. RECEPTAÇÃO. CONCURSO. PESSOAS.

In casu, os pacientes foram condenados por receptação de carga roubada e, na

ocasião do crime, o motorista foi morto. Na primeira instância, cada um deles

recebeu como pena dois anos e seis meses de reclusão em regime aberto e o

pagamento de 30 dias-multa. Irresignada com a condenação, a defesa apelou e o TJ

deu parcial provimento ao recurso para determinar a substituição da pena privativa

de liberdade por duas restritivas de direitos: prestação de serviços à comunidade

pelo mesmo período da sanção reclusiva e prestação pecuniária, mas manteve a

sentença quanto à fixação da pena-base dos pacientes acima do mínimo legal

previsto. No habeas corpus, sustenta ser nula a sentença condenatória no tocante à

dosimetria da pena mantida pelo tribunal a quo, já que a sanção básica teria sido

aplicada um ano e seis meses acima do mínimo legalmente previsto sem a devida

fundamentação e com base nas elementares do delito. Ressalta o Min. Relator que

o juiz, ao analisar as circunstâncias judiciais conforme dispostas no art. 59 do CP,

considerou-as desfavoráveis aos pacientes, apontando-as com base concreta nos

fatos narrados nos autos, que evidenciaram ser desfavoráveis a culpa, as

circunstâncias e as consequências do delito praticado pelos pacientes. Assim,

verificada a adequação da análise dessas circunstâncias, a Turma denegou a ordem.

HC 149.456-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 10/5/2011.

Page 114: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Sexta Turma

CONCURSO. AGENTES. CARACTERIZAÇÃO.

A Turma, entre outras questões, asseverou que, para caracterizar o concurso de

agentes, basta que duas ou mais pessoas concorram para a prática delituosa, não

sendo necessária a identificação dos corréus. Consignou-se, ainda, que essa causa

de aumento pode ser reconhecida mesmo nas hipóteses em que o crime (in casu,

roubo) tenha sido supostamente cometido na companhia de inimputável. Segundo o

Min. Relator, os motivos que impõem o agravamento da punição são o maior risco

que a pluralidade de pessoas proporciona à integridade física e ao patrimônio

alheios e o maior grau de intimidação infligido à vítima. Precedentes citados: HC

85.631-SP, DJe 23/11/2009; HC 169.151-DF, DJe 2/8/2010; HC 131.763-MS, DJe

14/9/2009, e HC 88.444-DF, DJe 13/10/2009. HC 197.501-SP, Rel. Min. Og

Fernandes, julgado em 10/5/2011.

LATROCÍNIO. PENA-BASE. MÍNIMO LEGAL.

A Turma reduziu a pena do paciente condenado pelos crimes de roubo seguido de

morte e corrupção de menores por entender que os fundamentos utilizados pelo

magistrado sentenciante para fixar a pena-base acima do mínimo legal foram

genéricos e inerentes ao próprio tipo penal. In casu, o juiz entendeu, no tocante ao

latrocínio, ter o réu agido com culpabilidade elevada pelo fato de ele ter efetuado,

juntamente com um menor, disparo de arma de fogo contra a vítima. Entretanto,

consignou o Min. Relator que, além de o paciente também ter sido condenado pelo

delito autônomo do art. 1º da Lei n. 2.252/1954, o resultado morte – somente

alcançado por meio do disparo – já integra o tipo penal. Ademais, salientou que a

justificativa referente à motivação econômica do apenado é inerente aos delitos

contra o patrimônio, ressaltando que a circunstância de a conduta ter sido

perpetrada em via pública de madrugada não representa desvalor que ultrapassa o

modus operandi comum a esses crimes. Precedentes citados: HC 50.672-RJ, DJ

23/4/2007; HC 178.660-GO, DJe 21/2/2011, e HC 109.831-DF, DJe 1º/2/2011. HC

150.231-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/5/2011.

TRÁFICO. DROGAS. TRANSPORTE PÚBLICO.

Page 115: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

A Turma reafirmou que, no delito de tráfico ilícito de drogas, a causa de aumento

de pena do art. 40, III, da Lei n. 11.343/2006 incide pela simples utilização do

transporte público na condução da substância entorpecente, sendo irrelevante se o

agente a ofereceu ou tentou distribuí-la aos demais passageiros no local.

Precedentes citados: HC 116.051-MS, DJe 3/5/2010, e HC 119.635-MS, DJe

15/12/2009. HC 118.565-MS, Rel. Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador

convocado do TJ-CE), julgado em 10/5/2011.

INFORMATIVO 471

Quinta Turma

LATROCÍNIO. PATRIMÔNIO. CASAL.

Na espécie, o paciente foi condenado pela prática de dois crimes de latrocínio – um

consumado e outro tentado – em concurso formal. Na impetração, sustentou-se que

os delitos foram praticados contra um casal, o que caracterizaria violação de apenas

um patrimônio, devendo ser reconhecido, portanto, o cometimento de crime único.

Nesse contexto, a Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, denegou a

ordem de habeas corpus por entender que o fato de as vítimas serem casadas não

necessariamente significa que os objetos subtraídos de sua residência compunham

um patrimônio comum indivisível. Segundo salientou o Min. Relator, mesmo nas

hipóteses de os cônjuges adotarem o regime da comunhão universal, há bens que

não se comunicam, como os do caso: foram subtraídos, entre outros itens, um par

de alianças de ouro e quantia em dinheiro proveniente, ao que tudo indica, da

aposentadoria por eles recebida. Concluiu, portanto, que, in casu, foram cometidos

dois crimes contra duas vítimas diferentes mediante uma única ação e lesão a mais

de um patrimônio, o que caracteriza o concurso formal nos termos do art. 70 do

CP, ainda que as vítimas fossem casadas civilmente. Precedente citado: REsp

729.772-RS, DJ 7/11/2005. HC 122.061-RS, Rel. originária Min. Laurita Vaz,

Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 3/5/2011.

DIREITO INTERTEMPORAL. EMBARGOS. EXECUÇÃO. ART. 738 DO

CPC.

Page 116: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

A Turma deu provimento ao recurso especial para afastar a intempestividade dos

embargos à execução oferecidos pelo ora recorrente, tendo em vista a aplicação da

teoria do isolamento dos atos processuais. In casu, a execução do contrato de

locação e a citação do executado foram promovidas antes da vigência da Lei n.

11.382/2006, que alterou o art. 738 do CPC, sem que o devedor tivesse sido

intimado da penhora. Esse dispositivo previa que os embargos seriam apresentados

no prazo de 10 dias, contados da juntada aos autos da prova da intimação da

penhora; com a novel legislação, passou a prever que eles seriam ofertados no

prazo de 15 dias, contados da data da juntada aos autos do mandado de citação.

Contudo, após a entrada em vigor da mencionada lei, o magistrado não intimou o

executado para oferecer os embargos, ordenando, desde logo, que a penhora fosse

realizada. Nesse contexto, consignou a Min. Relatora que, sendo o mandado de

penhora o ato processual que mais se assemelha à intimação prevista na redação

anterior do art. 738 do CPC, sua juntada aos autos (devidamente cumprido) deve

ser considerada o termo a quo para opor os embargos à execução, observado o

prazo de 15 dias trazido pelo novo diploma legal. Precedentes citados: REsp

1.107.662-SP, DJe 2/12/2010, e REsp 1.043.016-SP, DJe 23/6/2008. REsp

1.124.979-RO, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 3/5/2011.

HC. EXCESSO. PRAZO. DESAFORAMENTO.

A Turma reafirmou que a concessão de habeas corpus por excesso de prazo na

formação da culpa constitui medida excepcional e só é admitida nas hipóteses em

que a dilação resulte exclusivamente das diligências aventadas pela acusação,

decorra da inércia do próprio aparato judicial ou importe violação do princípio da

razoabilidade. Ressaltou-se, ademais, não estar evidenciado, in casu, o

constrangimento ilegal no fato de o magistrado não submeter o feito imediatamente

ao tribunal do júri por ter promovido o pedido de desaforamento do processo para

comarca diversa. Segundo o Min. Relator, o juiz procurou garantir a imparcialidade

dos jurados e a observância dos princípios da presunção de inocência e da paridade

de armas, tendo em vista a repercussão e a comoção social ocasionadas pela

gravidade com que o crime foi cometido. Salientou, ainda, que a segregação

cautelar imposta à paciente fundamentou-se na necessidade de garantir a ordem

pública e assegurar a aplicação da lei penal, tendo em vista a notícia de que ela

havia deixado o distrito da culpa sem informar a autoridade policial. Consignou,

Page 117: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

portanto, que feriria a boa técnica processual conceder a liberdade provisória no

momento em que a instrução já se encerrou, a acusação foi admitida e o pedido de

desaforamento foi deferido. Conforme explicitou, o processo cautelar busca

assegurar a eficácia prática de uma providência cognitiva ou executiva, de forma

que a concessão da liberdade quando essa finalidade está próxima de alcançar o

resultado desejado tornaria sem efeito o que sempre foi o objetivo da segregação –

garantir o cumprimento de eventual sanção penal. HC 185.450-PR, Rel. Min.

Gilson Dipp, julgado em 3/5/2011.

RITO ESPECIAL. INOBSERVÂNCIA. PREJUÍZO.

A Turma, entre outras questões, entendeu que a eventual inversão de algum ato

processual ou a adoção do procedimento ordinário em detrimento do rito especial

apenas conduz à nulidade do processo se houver prejuízo à parte. In casu, o

paciente foi condenado pela prática do crime de abuso de autoridade nos autos da

ação penal processada e julgada pelo juízo comum, tendo em vista o fato de não

haver juizado especial criminal instalado na respectiva comarca. Na impetração,

sustentou-se, entre outras alegações, que o rito sumaríssimo previsto na Lei n.

9.099/1995 não foi integralmente obedecido, razão pela qual as decisões até então

proferidas deveriam ser anuladas. Nesse contexto, consignou o Min. Relator que,

na espécie, a não realização da audiência preliminar, nos termos dos arts. 71 e 72

dessa lei, não acarretou prejuízos, já que, em se tratando de crime de ação penal

pública incondicionada, a eventual homologação da composição civil dos danos

entre autor e vítima – finalidade da mencionada audiência – não obstaria o

prosseguimento do processo criminal. Ressaltou, ainda, não ter ocorrido nulidade

pelo não oferecimento de defesa preliminar antes de ter sido recebida a denúncia e

pela realização do interrogatório antes da oitiva das testemunhas. Para o Min.

Relator, a adoção do rito comum ordinário, no caso, trouxe benefícios ao paciente,

porquanto permitiu a utilização de maior amplitude probatória. HC 127.904-SC,

Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/5/2011.

QO. ESTELIONATO. PREVIDÊNCIA. PRESCRIÇÃO.

A Turma, em questão de ordem (QO), decidiu remeter o julgamento do REsp à

Terceira Seção. Trata o caso do marco inicial para a contagem do prazo

Page 118: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

prescricional nos crimes de estelionato praticados contra a Previdência. QO no

REsp 1.206.105-RJ, Rel. Min. Gilson Dipp, em 5/5/2011.

COMPETÊNCIA. DOCUMENTOS FALSOS. PECULATO.

Trata-se de recurso em habeas corpus contra acórdão que manteve a condenação

do paciente à pena de quatro anos e dois meses de reclusão em regime semiaberto e

pagamento de 31 dias-multa, pela suposta prática dos delitos previstos nos arts. 304

e 312, caput, do CP. Consoante os autos, o paciente fora condenado porque teria

usado cartões de ponto ideologicamente falsos nos autos de reclamação trabalhista,

além de ter-se apropriado, em proveito próprio, de bem móvel de que tinha a posse

em razão do cargo, já que teria subtraído os documentos comprobatórios de seu

horário de trabalho da autarquia municipal em que exercia a função de

superintendente. Portanto, pretende-se, em síntese, a decretação da nulidade da

ação penal que culminou com a condenação do recorrente ou, alternativamente, a

redução da pena imposta a ele. A Turma, entre outras questões, consignou que, na

hipótese, no que se refere ao delito de uso de documento falso, o juiz estadual,

prolator da sentença, é absolutamente incompetente, pelo que se impõe a anulação

do édito repressivo quanto ao ponto, facultando-se a ratificação, pela Justiça

Federal (competente para o julgamento de tal crime), dos demais atos processuais

anteriormente praticados, inclusive os decisórios não referentes ao mérito da causa.

Por outro lado, quanto ao crime de peculato-apropriação, registrou-se que, para a

configuração, é imprescindível que o funcionário público se aproprie de coisa que

possua significação patrimonial, de modo que simples cartões de ponto, embora

posteriormente utilizados para pleitear verbas trabalhistas indevidas, não podem ser

considerados objeto material do mencionado ilícito porque não possuem qualquer

valor monetário, já que, por si só, não representam acréscimo ao patrimônio do

agente ou de quem quer que seja. Ressaltou-se que, mesmo não se admitindo a

aplicação do princípio da insignificância nos crimes contra a Administração

Pública, o certo é que, no peculato-apropriação, o bem objeto da conduta do

funcionário público deve possuir, em si mesmo, algum significado patrimonial,

ainda que ínfimo, o que não se verifica no tocante aos comprovantes de frequência

supostamente apropriados indevidamente pelo ora recorrente. Desse modo,

constatou-se a ausência de justa causa para a ação penal no que se refere ao crime

previsto no caput do art. 312 do CP, impondo-se o trancamento da ação penal.

Page 119: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Trancado o feito com relação ao crime de peculato-apropriação, entendeu-se

prejudicado o exame das alegações de nulidade da ação penal por deficiência de

defesa, pela inobservância do art. 514 do CPP, pela inversão na ordem de

intimação do acusado e de seu defensor e pela ilegalidade na dosimetria da pena.

Diante desses fundamentos, entre outros, deu-se provimento ao recurso.

Precedentes citados do STF: HC 88.262-SP, DJ 30/3/2007; HC 83.006-SP, DJ

29/8/2003; do STJ: CC 109.021-RS, DJe 19/3/2010; CC 85.803-SP, DJ 27/8/2007;

HC 117.722-PR, DJe 13/4/2009; HC 76.946-SP, DJe 16/3/2009, e HC 160.623-RS,

DJe 6/12/2010. RHC 23.500-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/5/2011.

Sexta Turma

PUBLICAÇÃO. DECISÃO. VISTA. AUTOS.

No caso, foi interposto recurso de apelação pela defesa via fax, o qual foi

inadmitido por não ter sido juntada aos autos a respectiva peça original. Contra

essa decisão, o paciente manejou recurso em sentido estrito, objetivando o

destrancamento do apelo. Contudo, constituiu novo advogado, que requereu vista

dos autos para estudá-los e, assim, ter condição de realizar sustentação oral. O

relator deferiu o pedido de vista, mas não houve a intimação do advogado, que,

sem acesso aos autos, não realizou a sustentação oral. A Turma entendeu

malferidos, ao menos, os princípios da publicidade e da ampla defesa. O ato de

deferimento de vista dos autos deveria ter sido publicado, não cabendo ao

advogado o dever de acompanhar pessoalmente o andamento do processo,

dirigindo-se ao gabinete do relator ou à respectiva secretaria judiciária para

verificar se, nos autos, fora lançado algum despacho. Assim, a Turma concedeu a

ordem para reconhecer a nulidade do acórdão proferido no recurso em sentido

estrito, devendo outro julgamento ser realizado, assegurando, previamente, ao

advogado, vista dos autos. HC 160.281-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em

3/5/2011.

DENÚNCIA. RECEBIMENTO. INDICIAMENTO.

A jurisprudência do STJ diz que o indiciamento formal dos acusados após o

recebimento da denúncia os submete a ilegal e desnecessário constrangimento,

visto não mais se justificar tal procedimento próprio da fase inquisitorial quando a

Page 120: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ação penal já se encontra em curso. Precedentes citados: HC 174.576-SP, DJe

18/10/2010, e HC 92.117-SP, DJe 18/12/2009. HC 182.455-SP, Rel. Min.

Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ-CE), julgado em

5/5/2011.

VENDA. ÁLCOOL. ADOLESCENTES.

A venda de bebida alcoólica a menores de 18 anos é típica e encontra

correspondência no art. 63, I, da Lei de Contravenções Penais. No caso, a errônea

capitulação dos fatos no art. 243 do ECA não justifica o trancamento da ação penal;

como consabido, o agente defende-se dos fatos e não de sua capitulação jurídica.

Com esse entendimento, a Turma acolheu o parecer do MPF e concedeu a ordem

de ofício para alterar a capitulação dos fatos. Precedentes citados: RHC 20.618-

MG, DJe 6/9/2010; HC 89.696-SP, DJe 23/8/2010; HC 113.896-PR, DJe

16/11/2010, e Ag 1.275.948-PR, DJe 6/4/2010. RHC 28.689-RJ, Rel. Min. Celso

Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 5/5/2011.

PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. ARROMBAMENTO.

O paciente foi denunciado por tentar, mediante arrombamento, subtrair duas facas

de cozinha, um alicate de unhas e uma chave de fenda (arts. 155, caput e § 4º, I, c/c

14, II, ambos do CP). Nesse contexto, a Turma, por maioria, entendeu não aplicar o

princípio da insignificância e denegar a ordem. HC 134.940-DF, Rel. originário

Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), Rel. para acórdão

Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ-CE), julgado em

5/5/2011.

TRÁFICO. PRESCRIÇÃO. ANSIOLÍTICO. ANORÉXICO.

O paciente firmou prescrição médica de medicamentos que continham ansiolíticos

e anoréxicos, o que é proibido pelos arts. 47 e 48 da Portaria n. 344/1998 da

Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Destaca-se a

peculiaridade de que não se prescreviam ambos os medicamentos na mesma

receita, mas em separadas, daí a alegação de falta de justa causa para a ação penal.

Nesse contexto, a Turma, ao prosseguir o julgamento, entendeu negar provimento

ao recurso. O Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP) destacou,

Page 121: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

em seu voto-vista, que, mesmo diante da peculiaridade, é certo que se tomavam os

medicamentos em associação, o que poderia ocasionar a dependência química.

Assim, concluiu que essa conduta deve ser analisada primeiramente pelas

instâncias ordinárias, lembrando, também, que o crime de tráfico ilícito de drogas

caracteriza-se como norma penal em branco, a depender de regulamentação

administrativa. Por último, aduziu que a falta de apreensão das receitas não tem

importância, visto que são devolvidas aos pacientes (art. 35, § 5º, da referida

portaria) e que as notificações juntadas nos autos são “espelhos” das receitas. RHC

26.915-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/5/2011.

JUIZ. PROMOÇÃO. ANTIGUIDADE. MORTE. CANDIDATO.

Foi aberto o procedimento administrativo para o preenchimento de vaga de

desembargador mediante a promoção de magistrado estadual por antiguidade.

Constavam da lista três nomes submetidos ao crivo do conselho de magistratura;

contudo, no dia da votação, deu-se o falecimento da juíza inscrita mais antiga.

Diante disso, o órgão especial, lastreado no art. 3º, § 2º, da Resolução n. 3/1989 do

TJ-RJ, entendeu anular o concurso de promoção e abrir outro pela publicação de

novo edital. Daí a impetração do mandado de segurança em favor do juiz que

ocupava a segunda posição na lista. Frise-se que cerca de 50 magistrados mais

antigos do que o impetrante não se inscreveram no primevo concurso. Nesse

contexto, a Turma, ao prosseguir o julgamento, negou provimento ao recurso. O

Min. Og Fernandes trouxe à baila o art. 80 da Loman, dando sentido lato ao termo

“lei” constante do dispositivo. Já o Min. Celso Limongi (Desembargador

convocado do TJ-SP), em seu voto-vista, ressaltou que, ao cabo, a ratio legis do

referido dispositivo da resolução não é outro senão promover o mais antigo da

carreira e não o mais antigo da lista e que não há falar em falta de fundamentação

no ato atacado, que preservou o interesse coletivo de garantir a finalidade da

norma, estabelecendo a livre participação dos magistrados mais antigos. RMS

24.644-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/5/2011.

DANO AMBIENTAL. CASEBRE.

O paciente foi condenado pela prática do crime previsto no art. 40 da Lei n.

9.605/1998, pois em 1996 invadiu área de preservação ambiental e construiu uma

Page 122: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

moradia de madeirite de 22 m², depois convertida em outra, de barro. Nesse

contexto, vê-se que o dano não deriva da construção da casa, mas sim da retirada

da vegetação ali existente, ou seja, quando da construção, o dano já ocorrera, além

do fato de que não havia a norma incriminadora à época. A reforma da casa nada

acrescenta ao dano ambiental, visto não se poder dizer que o barro utilizado na obra

consubstanciasse nova infração, pois isso não está na denúncia. Outrossim, a

afirmativa feita pelo MP de que os danos também decorrem da permanência ilegal

na área não se relacionam com o referido tipo penal, mas sim com a ocupação de

área pública. Anote-se, também, que o depoimento do paciente nos autos bem

mostra que não se cuida de dolo necessário ao tipo do art. 40 da Lei n. 9.605/1998,

mas sim que o dolo era o de construir moradia para si e para sua família, mesmo

ciente de que a área não lhe pertencia: trata-se de caso de política ambiental, não de

política criminal. Por último, ressalte-se que a área degradada é diminuta, menor do

que a admitida no programa “Minha Casa, Minha Vida”, que a dimensão do dano

causado à vegetação perde relevância diante do direito de morar, garantido, no art.

6º da CF/1988, como direito fundamental e que o paciente, reconhecidamente, tem

baixo grau de instrução ou escolaridade. Com esses fundamentos, a Turma

concedeu a ordem para restaurar a sentença absolutória. Precedentes citados: REsp

897.426-SP, DJe 28/4/2008, e HC 148.061-SC, DJe 23/8/2010. HC 124.820-DF,

Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em

5/5/2011.

SENTENÇA. ABSOLVIÇÃO. HC.

A paciente foi denunciada pela suposta prática do art. 121, §§ 3º e 4º, do CP, pois

prescreveu o medicamento Flutamida para o combate da acne que acometia a

vítima, o qual pode, ao final de uma série de desventuras, ter-lhe ocasionado a

morte por problemas hepáticos. Sucede que a ação penal foi julgada improcedente,

mas pende ainda o julgamento da apelação do MP. Quanto a isso, não se

desconhece entendimento jurisprudencial de que estaria prejudicado o habeas

corpus que persegue o trancamento da ação penal quando sobrevinda a sentença

absolutória ou condenatória. Contudo, ele não se mostra como verdade

indiscutível: quando a impetração, desde seu nascedouro, insurge-se contra a

validez formal e substancial da denúncia, é possível o exame do tema mesmo que

já haja sentença. Quanto ao trancamento, conforme o parecer do MPF, diante da

Page 123: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

singularidade da hipótese, conclui-se que só mediante o exame aprofundado de

fatos e provas, inclusive perícias, seria possível infirmar a acusação, quanto mais se

afastada a alegação de inépcia da denúncia, pois apta a iniciar a persecução penal

mediante o atendimento de todos os requisitos do art. 41 do CPP e a permitir a

defesa da paciente. Precedentes citados: HC 86.861-SP, DJe 3/11/2010, e HC

89.696-SP, DJe 23/8/2010. HC 120.601-SP, Rel. Min. Celso Limongi

(Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 5/5/2011.

INFORMATIVO 470

Sexta Turma

ESTELIONATO. PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA.

Policial rodoviário da reserva remunerada (ora paciente) utilizou-se de documento

falso (passe conferido aos policiais da ativa) para comprar passagem de ônibus

intermunicipal no valor de R$ 48,00. Por esse motivo, foi denunciado pela suposta

prática do crime de estelionato previsto no art. 171 do CP. Sucede que a sentença o

absolveu sumariamente em razão do princípio da insignificância, mas o MP

estadual interpôs apelação e o TJ determinou o prosseguimento da ação penal.

Agora, no habeas corpus, busca a impetração seja restabelecida a decisão de

primeiro grau devido à aplicação do referido princípio. Para o Min. Relator, a

conduta do paciente não preenche os requisitos necessários para a concessão da

benesse pretendida. Explica que, embora o valor da vantagem patrimonial seja de

apenas R$ 48,00 (valor da passagem), as circunstâncias que levam à denegação da

ordem consistem em ser o paciente policial da reserva, profissão da qual se espera

outro tipo de comportamento; ter falsificado documento para parecer que ainda

estava na ativa; além de, ao ser surpreendido pelos agentes, portar a quantia de R$

600,00 no bolso, a demonstrar que teria plena condição de adquirir a passagem.

Assim, tais condutas do paciente não se afiguram como um irrelevante penal, nem

podem ensejar constrangimento ilegal. Por fim, assevera que não caberia também,

na via estreita do habeas corpus, o exame da alegação da defesa quanto a eventuais

dificuldades financeiras do paciente. Esclarece ainda que, de acordo com a

jurisprudência do STF, para a incidência do princípio da insignificância, são

Page 124: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

necessários a mínima ofensividade da conduta do agente, nenhuma periculosidade

social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a

inexpressividade da lesão jurídica provocada. Diante dessas considerações, a

Turma denegou a ordem e cassou a liminar deferida para sobrestar a ação penal até

o julgamento do habeas corpus. Precedentes citados do STF: HC 84.412-SP, DJ

19/11/2004; do STJ: HC 146.656-SC, DJe 1º/2/2010, e HC 83.027- PE, DJe

1º/12/2008. HC 156.384-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/4/2011.

APN. DESPESAS ANTECIPADAS. OFICIAL. JUSTIÇA.

No habeas corpus, o impetrante sustenta existir cerceamento de defesa quanto a um

dos acusados, visto que, por falta de depósito da taxa referente às diligências para

intimação de testemunhas, exigência fundada em lei estadual, não foi intimada a

testemunha arrolada e foi indeferido pedido de sua substituição para que outra

testemunha presente fosse ouvida em juízo. Quanto ao outro paciente (corréu),

alegou prejuízo por ineficiência de defesa técnica do defensor dativo que, na defesa

preliminar, não arrolou testemunhas. Os dois pacientes foram presos em fragrante,

denunciados e condenados como incursos no art. 33 da Lei n. 11.343/2006 (tráfico

de drogas). Para a Min. Relatora, quanto às alegações do último paciente, não há

qualquer constrangimento ilegal na defesa prévia do art. 395 do CPP (redação

anterior), visto que não houve prova do prejuízo; a defesa pode formular peça mais

genérica, reservando-se a discutir o mérito nas fases posteriores da ação penal

(APn) e não está obrigada a arrolar testemunhas. No entanto, observa ser a quaestio

juris principal no mandamus saber se o magistrado, em razão do não recolhimento

da taxa para as despesas do oficial de justiça, poderia ter deixado de ouvir a

testemunha arrolada pela defesa. Lembra a Min. Relatora que este Superior

Tribunal, ao interpretar o art. 804 do CPP, afirmou que, em se tratando de ação

penal pública, somente se admite a exigência do pagamento das custas processuais

após a condenação, incluindo as despesas com oficial de justiça. No mesmo

sentido, há decisões do STF sobre custas processuais e preparo, bem como do

Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (PCA 200910000024970, DJe 21/12/2009)

quanto à cobrança de despesas antecipadas. Explica que, mesmo na ação penal

privada, na qual expressamente se exige o depósito antecipado do valor da

diligência, há a faculdade de o juiz determinar de ofício inquirição de testemunhas

ou outras diligências (arts. 806 e 807 do CPP), tudo em homenagem aos princípios

Page 125: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

da ampla defesa e da verdade real que regem o direito penal e o processo penal. Por

outro lado, anota ter sido essa nulidade oportunamente arguida pela defesa em

todas as fases do processo, desde as alegações finais, na sentença e no acórdão da

apelação. Sendo assim, conclui haver constrangimento ilegal por cerceamento de

defesa e ser de rigor a anulação do processo para que seja reaberta a instrução do

processo quanto ao citado paciente, garantindo-se a oitiva da testemunha. A Turma

considerou, com relação a um dos pacientes, que houve constrangimento ilegal por

cerceamento de defesa, anulando a APn desde a instrução, para que seja ouvida a

testemunha arrolada nas alegações preliminares, dando-se, após, o prosseguimento

da ação, com relaxamento da prisão cautelar por excesso de prazo e, quanto ao

segundo paciente, ficou preservada sua condenação. Precedentes citados do STF:

HC 95.128-RJ, DJe 5/3/2010; HC 74.338-PB, DJ 23/6/2000; RE 102.968-MS, DJ

9/8/1985; do STJ: HC 144.269-SP, DJe 20/9/2010; HC 171.197-PE, DJe

11/10/2010; HC 95.089-SC, DJe 23/8/2010; HC 48.534-PB, DJe 28/6/2010, e HC

110.703-SP, DJe 2/2/2009. HC 125.883-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 26/4/2011.

HC. INTERROGATÓRIO. LEI N. 11.719/2008.

A impetração busca a imediata aplicação da Lei n. 11.719/2008, uma vez que a

audiência para o interrogatório do paciente e demais corréus (todos indiciados pela

prática de roubo triplamente circunstanciado, em concurso material por seis vezes,

além de, em tese, integrarem bando armado), embora estivesse agendada sob a

égide de lei anterior, deu-se, conforme consta da ata da audiência, um dia após

entrar em vigor a citada lei, em 22/8/2011. Na ocasião, o juiz, instado pelo

defensor, não redesignou o ato para depois da instrução, momento apropriado nos

moldes da novel legislação, ao argumento de que, nos termos do art. 196 do CPP,

ao juiz é dado estabelecer quando realizará o interrogatório. Contra essa decisão,

foi impetrado habeas corpus, mas o tribunal a quo, por maioria, manteve-a.

Assevera a Min. Relatora que, superado o período de vacatio legis, a Lei n.

11.719/2008 (que reformou o CPP) incide imediatamente sobre os feitos em curso.

Por esse motivo, o interrogatório, como meio de defesa, passou a ser realizado

somente ao final da instrução para que o acusado possa exercer sua ampla defesa,

não podendo o momento do interrogatório ficar ao arbítrio do juiz. Explica que o

art. 196 do CPP apenas confere ao juiz a possibilidade de reinterrogar o réu, de

Page 126: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ofício ou a pedido das partes. A Turma, bem como a Min. Relatora, acolheu o

parecer do subprocurador-geral da República e, ratificada a liminar, concedeu a

ordem em menor extensão, pois devem permanecer hígidos os atos posteriores ao

interrogatório tido por nulo, mas ficou assegurado ao paciente e demais corréus o

direito de serem interrogados ao final da ação penal, como determina a nova

sistemática processual da citada lei. Precedente citado: HC 120.197-PE, DJe

16/2/2009. HC 123.958-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado

em 26/4/2011.

APRESENTAÇÃO. PRESO. AUDIÊNCIA.

A Turma, quando do julgamento do habeas corpus, acolheu sugestão feita pelo

Min. Og Fernandes e entendeu solicitar ao Conselho Nacional de Justiça que

busque, na seara administrativa e nos Poderes Judiciário e Executivo do Estado de

Pernambuco, a solução para o problema da apresentação de presos nas audiências

realizadas naquele ente federado. HC 196.101-PE, Rel. Min. Maria Thereza de

Assis Moura, julgado em 28/4/2011.

DEMISSÃO. ESTÁGIO PROBATÓRIO. PAD.

A jurisprudência do STJ entende que a exoneração de servidores públicos

concursados e nomeados para cargo efetivo, ainda que se encontrem em estágio

probatório, necessita do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório

(vide, também, a Súm. n. 21-STF). Contudo, na hipótese de servidor em estágio

probatório, apregoa que não se faz necessária a instauração de processo

administrativo disciplinar (PAD) para tal, admitindo ser suficiente a abertura de

sindicância que assegure os princípios da ampla defesa e do contraditório. Anote-se

que essa exoneração não tem caráter punitivo, mas se lastreia no interesse da

Administração de dispensar servidores que, durante o estágio probatório, não

alcançam bom desempenho no cargo. Precedentes citados: RMS 20.934-SP, DJe

1º/2/2010; EDcl no AgRg no RMS 21.078-AC, DJ 28/6/2006; RMS 21.012-MT,

DJe 23/11/2009; AgRg no RMS 13.984-SP, DJ 6/8/2007; RMS 21.000-MT, DJ

4/6/2007, e RMS 13.810-RN, DJe 26/5/2008. RMS 22.567-MT, Rel. Min. Og

Fernandes, julgado em 28/4/2011.

Page 127: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ROUBO. PORTADOR. NECESSIDADES ESPECIAIS.

Desponta dos autos que as decisões das instâncias ordinárias de condenar o

paciente ao cumprimento de pena de reclusão no regime inicial fechado pela

prática de roubo circunstanciado (art. 157, § 2º, I, do CP) valeram-se de

circunstâncias judiciais, especialmente da personalidade do paciente evidenciada

nas circunstâncias do crime, que foi praticado com grave ameaça (mediante arma)

contra pessoa portadora de necessidades especiais (limitações físicas que a

impediram de qualquer tipo de defesa). Dessarte, embora a pena aplicada não

alcance o patamar de oito anos de reclusão, veda-se a fixação do regime semiaberto

diante da valoração negativa e fundamentada das circunstâncias judiciais (art. 33, §

3º, do CP). Com esse entendimento, a Turma, por maioria, denegou a ordem.

Precedentes citados: HC 173.848-SP, DJe 1º/2/2011; HC 45.110-DF, DJ

21/11/2005, e HC 98.295-PR, DJe 30/6/2008. HC 188.899-SP, Rel. Min. Og

Fernandes, julgado em 28/4/2011.

INFORMATIVO 469

Quinta Turma

CNH. DADOS FALSOS. TRÁFICO. INFLUÊNCIA. CRIME ELEITORAL.

Noticiam os autos que dois irmãos (ora pacientes), um deles político e o outro

funcionário público, juntamente com 11 pessoas, montaram um esquema de

entrega de carteiras de habilitação (CNH) a candidatos a motorista para que eles

obtivessem a habilitação sem serem submetidos aos cursos preparatórios. Para isso,

por meio de tráfico de influência, eram inseridos dados falsos no sistema Renach

de informações do Detran a fim de os candidatos obterem a CNH sem aquelas

exigências legais, tudo com finalidade eminentemente eleitoral. Consta dos autos

que a prática do crime comprometeu a lisura e o equilíbrio eleitoral, pois a fraude

foi perpetrada com finalidade de compra de votos, o que teria favorecido o paciente

político a se eleger deputado federal. À época dos fatos, esse paciente era vereador,

sendo eleito deputado federal; assim o processo foi enviado ao STF, que declarou

as nulidades da denúncia e de seu recebimento. Só após a apresentação de nova

denúncia, o TRE julgou procedente a ação de investigação judicial eleitoral,

Page 128: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

decidindo pela cassação do seu diploma de deputado federal. Apesar dessa decisão,

ele foi eleito e tomou posse como prefeito da mesma cidade onde aconteceram os

fatos, sendo, inclusive, reeleito; houve, então, uma mudança na competência. Por

outro lado, a decisão do TRE só foi confirmada bem depois pelo TSE, decidindo,

apenas, a captação ilícita de sufrágio pelo fornecimento de carteira de motorista em

troca de votos (art. 41-A da Lei n. 9.504/1997). Daí afirmar a impetração a

usurpação de competência ao argumento de que há conexão entre o crime eleitoral,

os crimes comuns e o processo julgado pelo TRE. Busca, ainda, anular a ação penal

instaurada perante a Justiça comum, a qual, recentemente, resultou na condenação

dos pacientes e, no momento, os autos da ação penal encontram-se conclusos ao

Presidente do TJ, para que se pronuncie acerca da admissibilidade do recurso

especial e do extraordinário interpostos pelos pacientes. Para o Min. Relator, no

caso concreto, as causae petendi são diversas: enquanto no processo eleitoral se

apurou a existência de compra de votos, proibida ante o disposto no art. 41-A da

Lei n. 9.504/1997, na ação penal originária discute-se a ocorrência ou não de

infração de natureza penal relacionada à expedição irregular de carteiras de

habilitação, tipificada como crime contra a Administração Pública. Explica,

invocando a doutrina, que, nessas hipóteses, as ações são autônomas, visto que

possuem requisitos legais próprios e consequências jurídicas distintas; não há,

portanto, conexão entre a ação eleitoral e a ação penal de modo a atrair a

competência para julgar tão somente para a Justiça Eleitoral. Também não é

possível o trancamento da ação penal na via estreita do habeas corpus. No entanto,

assevera o Min. Relator que, em razão do transcurso do lapso temporal entre a data

dos fatos e o recebimento da denúncia quanto ao crime de quadrilha ou bando e

respaldado nas determinações do art. 61 do CPP, faz-se necessário declarar ex

officio a extinção da punibilidade do crime previsto no art. 288 do CP em relação

aos pacientes, no que foi acompanhado pela Turma. Precedentes citados do STF:

HC 89.344-MS, DJ 23/3/2007; RHC 89.721-RO, DJ 16/2/2007; do TSE: REspe

21.248-SC, DJ 8/8/2003, e AgRg no Ag 6.553-SP, DJ 12/12/2007. HC 159.369-

AP, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do TJ-RJ),

julgado em 12/4/2011.

COMPETÊNCIA. JÚRI. ACIDENTE. TRÂNSITO. HOMICÍDIO.

Page 129: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Trata-se de acidente de trânsito fatal com duas vítimas e quatro lesões corporais –

segundo consta dos autos, o recorrente, no momento em que colidiu com outro

veículo, trafegava em alta velocidade e sob a influência de álcool. Por esse motivo,

foi denunciado pela suposta prática dos delitos previstos nos arts. 121, caput, por

duas vezes e 129 por quatro vezes, ambos do CP, e pronunciado para ser submetido

a julgamento no tribunal do júri. Ressalta o Min. Relator que o dolo eventual

imputado ao recorrente com submissão ao júri deu-se pela soma de dois fatores: o

suposto estado de embriaguez e o excesso de velocidade. Nesses casos, explica, o

STJ entende que os referidos fatores caracterizariam, em tese, o elemento subjetivo

do tipo inerente aos crimes de competência do júri popular. Ademais, a atribuição

de indícios de autoria e da materialidade do delito foi fundamentada nas provas dos

autos, não sendo possível o reexame em REsp (óbice da Súm. n. 7-STJ). Quanto à

desclassificação do delito de homicídio doloso para o crime previsto no art. 302 do

CTB – conforme a alegação da defesa, não está provada, nos autos, a ocorrência do

elemento subjetivo do tipo (dolo) –, segundo o Min. Relator, faz-se necessário

aprofundado exame probatório para ser reconhecida a culpa consciente ou o dolo

eventual, pois deve ser feita de acordo com as provas colacionadas. Assim, explica

que, além da vedação da citada súmula, conforme a jurisprudência, entende-se que,

de acordo com o princípio do juiz natural, o julgamento sobre a ocorrência de dolo

eventual ou culpa consciente deve ficar a cargo do tribunal do júri,

constitucionalmente competente para julgar os crimes dolosos contra a vida. Dessa

forma, a Turma negou provimento ao recurso, considerando que não houve ofensa

aos arts. 408 e 74, § 1º, do CPP nem ao art. 302, parágrafo único, V, da Lei n.

9.503/1997, diante de indícios suficientes de autoria e da materialidade delitiva.

Quanto à reavaliação desses elementos, isso não seria possível em REsp, pois

incide a citada súmula, bem como não cabe o exame de dispositivo da CF.

Precedentes citados: HC 118.071-MT, DJe 1º/2/2011; REsp 912.060-DF, DJe

10/3/2008; HC 26.902-SP, DJ 16/2/2004; REsp 658.512-GO, DJe 7/4/2008; HC

36.714-SP, DJ 1º/7/2005; HC 44.499-RJ, DJ 26/9/2005; HC 91.397-SP, DJe

15/12/2008, e HC 60.942-GO, DJ 29/10/2007. REsp 1.224.263-RJ, Rel. Min.

Jorge Mussi, julgado em 12/4/2011.

TROCA. PLACAS. VEÍCULO. ART. 311 DO CP.

Page 130: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

A Turma deu provimento ao recurso do Parquet ao entender que a troca das placas

originais de automóvel por outras de outro veículo constitui adulteração de sinal

identificador (art. 311 do CP). Precedentes citados: AgRg no REsp 783.622-DF,

DJe 3/5/2010, e HC 107.301-RJ, DJe 21/6/2010. REsp 1.189.081-SP, Rel. Min.

Gilson Dipp, julgado em 14/4/2011.

Sexta Turma

HC. PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. AFASTAMENTO.

A Turma não conheceu da ordem de habeas corpus por entender que o pedido de

afastamento ou diminuição da prestação pecuniária arbitrada na sentença

condenatória demanda o revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos. Na

impetração, alegou-se que o paciente não teria condições financeiras de suportar os

valores da referida pena. Precedentes citados: HC 45.397-MG, DJ 1º/10/2007; HC

115.256-MS, DJe 23/11/2009; HC 65.441-PR, DJe 16/11/2010, e HC 136.738-MS,

DJe 8/11/2010. HC 160.409-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/4/2011.

PREVARICAÇÃO. JULGAMENTO ADIADO. NOVA INTIMAÇÃO.

In casu, os recorrentes, primeiro-tenente e segundo-sargento da Polícia Militar

estadual, foram denunciados, respectivamente, por incursos nos arts. 334, parágrafo

único (patrocínio indébito), 303, caput (peculato), e 322 (condescendência

criminosa), todos do Código Penal Militar (CPM), e pelas infrações aos arts. 303,

caput, 305, 316 (supressão de documento) e 334, parágrafo único, do mesmo

diploma legal; isso porque teriam realizado contrato de prestação de serviços de

segurança privada, utilizando-se do aparato público do policiamento ostensivo,

recebendo, para tanto, a importância de R$ 22.500,00. O Conselho Especial da

Auditoria Militar desclassificou a maior parte das condutas com fundamento no

instituto da emendatio libelli e na previsão da Súm. n. 5-STM, para o crime de

prevaricação, constante do tipo previsto no art. 319 do CPM. Ao mesmo tempo,

absolveu-os das demais condutas descritas na denúncia, sendo, portanto,

condenado o primeiro recorrente à pena de um ano e quatro meses de detenção por

incurso no art. 319 c/c 53, § 2º, I, ambos do CPM, enquanto o segundo recorrente

foi apenado com um ano de detenção, por incurso no tipo do art. 319, caput, do

mesmo código. Tanto a defesa quanto a acusação apelaram, no entanto somente a

Page 131: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

pretensão ministerial foi acolhida, ou seja, os recorrentes foram condenados

também pelo crime de peculato. No REsp, os recorrentes sustentam nulidade

absoluta do processo, visto que a sessão de julgamento, várias vezes adiada,

ocorreu à revelia das partes e advogados, sem que houvesse nova intimação; assim,

teria havido cerceamento de defesa porque inviável a realização de sustentação oral

oportuna. Afirmam, ainda, haver bis in idem em razão de a condenação dos

recorrentes pelos crimes de peculato e também de prevaricação basear-se nos

mesmos fatos. Por fim, apontam ofensa ao princípio da correlação ante a

ocorrência de mutatio libelli, na medida em que a condenação pelo crime de

prevaricação não manteve alinhamento com a denúncia, que apontou os fatos

noutra direção. A Turma entendeu, entre outras questões, que, encontrando-se o

advogado dos recorrentes devidamente intimado para a sessão que julgaria a

apelação, mas sendo o julgamento adiado, não ocorre a nulidade pretendida pela

falta de nova intimação, pois essa não é necessária ante a data em que efetivamente

se realizou o referido julgamento. Registrou-se, ainda, que, ao se permitir a

emendatio libelli para unir num mesmo tipo penal todas as condutas imputadas aos

réus, não resta outro caminho ao órgão de acusação senão pugnar pela manutenção

do quadro acusatório, sob pena de admitir bis in idem em torno de único

enquadramento fático. No caso, não se afigura possível o MP ratificar a emendatio

libelli e, ao mesmo tempo, pugnar para que seja mantida uma das imputações da

denúncia. Quanto ao crime de prevaricação, conforme previsão do art. 319 do

CPM, tem-se como um dos núcleos a conduta de praticar ato contrário à disposição

de lei, sendo, na hipótese, considerada a previsão de norma estadual, o que não

pode ser examinado em recurso especial. Diante disso, deu-se parcial provimento

ao recurso para restabelecer a sentença que condenou os recorrentes somente pelo

crime de prevaricação. REsp 941.367-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 14/4/2011.

INFORMATIVO 468

Quinta Turma

TRÁFICO. SUBSTITUIÇÃO. PENA. REGIME ABERTO.

Page 132: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

A Turma concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus para possibilitar a

substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ao paciente

condenado pela prática do crime de tráfico de entorpecentes, desde que cumpridos

os demais requisitos exigidos pela lei. Salientou-se que, uma vez verificada essa

possibilidade, não há impedimento para que se fixe o regime inicialmente aberto

para o cumprimento da pena, já que o objetivo da conversão é evitar o

encarceramento. Frisou-se, ainda, que esse posicionamento busca apenas adequar a

fixação do regime ao entendimento do STF, aplicando-se especificamente aos

delitos de tráfico e apenas em razão da declaração de inconstitucionalidade das

expressões da lei que vedavam a substituição. Precedentes citados do STF: HC

97.256-RS, DJe 15/12/2010; HC 104.423-AL, DJe 7/10/2010; HC 102.678-MG,

DJe 23/4/2010, e HC 105.779-SP, DJe 21/2/2011. HC 196.199-RS, Rel. Min.

Gilson Dipp, julgado em 5/4/2011.

MEDIDA. SEGURANÇA. DURAÇÃO.

A Turma concedeu a ordem de habeas corpus para limitar a duração da medida de

segurança à pena máxima abstratamente cominada ao delito praticado pelo

paciente, independentemente da cessação da periculosidade, não podendo ainda ser

superior a 30 anos, conforme o art. 75 do CP. Precedentes citados: HC 135.504-RS,

DJe 25/10/2010; HC 113.993-RS, DJe 4/10/2010; REsp 1.103.071-RS, DJe

29/3/2010, e HC 121.877-RS, DJe 8/9/2009. HC 147.343-MG, Rel. Min. Laurita

Vaz, julgado em 5/4/2011.

ESTUPRO. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. CONTINUIDADE

DELITIVA.

In casu, o recorrido foi condenado à pena de nove anos e quatro meses de reclusão

pela prática de dois crimes de atentado violento ao pudor em continuidade e à pena

de sete anos de reclusão por dois delitos de estupro, igualmente em continuidade,

cometidos contra a mesma pessoa. Em grau de apelação, o tribunal a quo

reconheceu a continuidade delitiva entre os crimes de estupro e atentado violento

ao pudor e reduziu a pena para sete anos e seis meses de reclusão em regime

fechado. O MP, ora recorrente, sustenta a existência de concurso material entre os

delitos. A Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, negou provimento ao

Page 133: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

recurso, adotando o entendimento de que os delitos de estupro e de atentado

violento ao pudor correspondem a uma mesma espécie de tipo penal, confirmando

a possibilidade do crime continuado. Dessarte, consignou-se que o tribunal de

origem nada mais fez que seguir a orientação de uma vertente jurisprudencial

razoável que acabou por harmonizar-se com a legislação nova que agora prestigia

essa inteligência, isto é, sendo os fatos incontroversos, o que já não pode ser objeto

de discussão nessa instância especial, o acórdão recorrido apenas adotou a tese de

que os crimes são da mesma espécie e, assim, justificou a continuidade.

Precedentes citados do STF: HC 103.353-SP, DJe 15/10/2010; do STJ: REsp

565.430-RS, DJe 7/12/2009. REsp 970.127-SP, Rel. originária Min. Laurita

Vaz, Rel. para acórdão Min. Gilson Dipp, julgado em 7/4/2011.

TRÁFICO. ENTORPECENTES. CAUSAS. DIMINUIÇÃO. PENA.

Trata-se de habeas corpus em que se pretende o incremento da fração redutora

prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 sob a alegação de que o paciente

preenche os requisitos legais. Pretende-se, ainda, a fixação do regime aberto e a

substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. A Turma, ao

prosseguir o julgamento, denegou a ordem ao entendimento de que, na hipótese,

justifica-se o percentual de 1/6 para a diminuição da pena por força do art. 33, § 4º,

da Lei n. 11.343/2006, sendo perfeitamente possível a utilização da quantidade e da

qualidade da droga, bem como da conduta social (o exercício da prática delitiva

como meio de subsistência) para tal balizamento. Quanto ao regime prisional em

que a reprimenda será inicialmente cumprida, esclareceu-se que os fatos que

ensejaram a propositura da ação penal ocorreram em 21/1/2008, ou seja, após a

vigência da Lei n. 11.464/2007, que, alterando a Lei n. 8.072/1990, impôs o regime

fechado como o inicial para todos os condenados pela prática de tráfico ilícito de

entorpecentes, independentemente do quantum de pena aplicado. Assim,

consignou-se que, na espécie, o aresto hostilizado, ao eleger o regime prisional

fechado para o início do cumprimento da pena imposta ao paciente, nada mais fez

do que seguir expressa determinação legal (art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/1990).

Registrou-se, por fim, não possuir o paciente os requisitos necessários a fim de

obter a concessão da substituição da pena por restritiva de direitos, visto que a pena

aplicada foi superior a quatro anos. Precedentes citados: HC 134.249-SP, DJe

14/9/2009, e HC 122.106-SP, DJe 22/6/2009. HC 175.907-ES, Rel. Min.

Page 134: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 7/4/2011.

REVISÃO CRIMINAL. SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA. TRANSAÇÃO

PENAL.

Trata-se de REsp em que se pretende, com fundamento no art. 621, III, do CPP,

desconstituir sentença homologatória de transação penal via revisão criminal.

Inicialmente, salientou a Min. Relatora que a ação de revisão criminal fundada no

referido dispositivo objetiva reexame da sentença condenatória transitada em

julgado pela existência de novas provas ou pela possibilidade de reduzir a pena

fixada, visto que os outros incisos do mencionado artigo referem-se aos processos

findos. Contudo, nos termos do art. 625, § 1º, do mesmo Codex, o pedido revisional

deve ser instruído com a certidão de trânsito em julgado da sentença condenatória e

com as peças necessárias à comprovação dos fatos arguidos. Portanto, é

imprescindível a existência de sentença condenatória transitada em julgado, isto é,

uma decisão que tenha analisado a conduta do réu, encontrando presentes as provas

de autoria e materialidade. Dessa forma, consignou ser incabível revisão criminal

na hipótese, tendo em vista que não existiu condenação e nem sequer análise de

prova. Na verdade, ao se aplicar o instituto da transação penal, não se discute fato

típico, ilicitude, culpabilidade ou punibilidade, mas possibilita-se ao autor do fato

aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa para que não se prossiga

a ação penal, sendo o acordo devidamente homologado pelo Poder Judiciário e

impugnável por meio do recurso de apelação. Ressaltou, ainda, que a discussão

doutrinária e jurisprudencial referente à natureza jurídica da sentença prevista no

art. 76, § 4°, da Lei n. 9.099/1995 em nada influencia a solução desse caso, isso

porque, independentemente de ser homologatória, declaratória, constitutiva ou

condenatória imprópria, a sentença em questão não examina conteúdo fático ou

probatório, mas apenas homologa uma proposta realizada pelo Parquet e aceita

pelo autor do fato, não podendo ser desconstituída por revisão criminal em que se

argumenta a existência de novas provas. Com esse entendimento, a Turma negou

provimento ao recurso. REsp 1.107.723-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em

7/4/2011.

Sexta Turma

Page 135: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TERMO A QUO. PRAZO. DECADÊNCIA. MS.

Trata-se, na espécie, de mandado de segurança no qual se busca a decretação de

nulidade do processo administrativo disciplinar que aplicou a pena de

aposentadoria compulsória com proventos proporcionais a juiz de direito. A

Turma, por maioria, entendeu que o prazo decadencial para a impetração deve ser

contado a partir da publicação do acórdão do processo administrativo julgado pelo

órgão especial do Tribunal de Justiça, e não da publicação do decreto judiciário da

referida aposentadoria. Assim, a Turma, por maioria, ao prosseguir o julgamento,

negou provimento ao recurso. RMS 26.289-GO, Rel. originário Min. Celso

Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), Rel. para acórdão Min.

Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado TJ-CE), julgado em 5/4/2011.

EXAME. RAIOS X. TRÁFICO. ENTORPECENTES.

Uma das questões suscitadas pela defesa no writ afirma a ilegalidade da prova

produzida, sob o fundamento de que a submissão dos pacientes ao exame de raios

x, a fim de constatar a ingestão de cápsulas de cocaína, ofende o princípio segundo

o qual ninguém pode ser compelido a produzir prova contra si (nemo tenetur se

detegere). A Turma entendeu que não houve violação do referido princípio, uma

vez que não ficou comprovada qualquer recusa na sujeição à radiografia

abdominal; ao contrário, os pacientes teriam assumido a ingestão da droga,

narrando, inclusive, detalhes da ação que culminaria no tráfico internacional do

entorpecente. Ressaltou que os exames de raios x não exigiram qualquer agir ou

fazer por parte dos pacientes, tampouco constituíram procedimentos invasivos ou

até mesmo degradantes que pudessem violar seus direitos fundamentais,

acrescentando, ainda, que a postura adotada pelos policiais não apenas acelerou a

colheita da prova, como também visou à salvaguarda do bem jurídico vida, já que o

transporte de droga de tamanha nocividade no organismo pode ocasionar a morte.

Assim, a Turma, entre outras questões, denegou a ordem. HC 149.146-SP, Rel.

Min. Og Fernandes, julgado em 5/4/2011.

INDULTO. NOVO JÚRI.

O paciente foi condenado pelo júri, mas ambas as partes apelaram. Nesse ínterim, o

juízo de execuções criminais deferiu indulto pleno em seu favor (Dec. n.

Page 136: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

4.495/2002). Contudo, ao julgar aqueles recursos, o TJ, de ofício, anulou a decisão

concessiva da benesse e determinou que o paciente fosse submetido a novo

julgamento, pelo qual, ao final, foi condenado a 12 anos de reclusão. Vê-se, então,

que está correta a decisão do TJ, pois o referido decreto presidencial não permite a

concessão de indulto se houver recurso interposto pelo MP em busca da

exasperação da pena. Na hipótese, o apelo ministerial almejava o reconhecimento

de ser a decisão combatida contrária à prova dos autos e, em consequência,

pleiteava a submissão do paciente a novo júri sob a imputação de homicídio

qualificado, de pena mais severa do que a aplicada no primevo julgamento

(homicídio privilegiado). Anote-se que a apelação é dotada dos efeitos devolutivo e

suspensivo, o que impõe reconhecer que a sentença só produz efeitos após sua

submissão ao colegiado. Assim, no caso, a decisão concessiva do indulto ficou

condicionada à confirmação da sentença na apelação, o que, definitivamente, não

ocorreu. HC 69.385-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 7/4/2011.

CONDENAÇÃO. PROVA. INQUÉRITO.

O acórdão condenatório proferido pelo TJ lastreou-se apenas em provas colhidas

no inquérito. Porém a função do inquérito, como se sabe, é de fornecer elementos

tendentes à abertura da ação penal (vide Exposição de Motivos do CPP, arts. 12 e

155, desse mesmo código, este último na redação que lhe deu a Lei n.

11.690/2008), pois, conforme vetusta doutrina, a prova, para que tenha valor, deve

ser feita perante o juiz competente, mediante as garantias de direito conferidas aos

indiciados e de acordo com as prescrições estabelecidas em lei. Assim, o inquérito

toma feitios de instrução provisória, cabendo à acusação fazer a prova no curso da

instrução criminal ou formação da culpa, atenta ao contraditório: é trabalho da

acusação transformar os elementos do inquérito em elementos de convicção do

juiz. Dessarte, a condenação deve fundar-se, sobretudo, nos elementos de

convicção da fase judicial, o que não ocorreu na hipótese. Precedentes citados: HC

112.577-MG, DJe 3/8/2009; HC 24.950-MG, DJe 4/8/2008, e HC 56.176-SP, DJ

18/12/2006. HC 148.140-RS, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador

convocado do TJ-SP), julgado em 7/4/2011.

INFORMATIVO 467

Page 137: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Terceira Seção

COMPETÊNCIA. HOMICÍDIO. LESÃO CORPORAL. MILITAR.

O policial militar abordou o civil e constatou divergências em sua identificação, o

que o levou a externar a intenção de encaminhá-lo ao presídio para averiguações.

Ato contínuo, o civil empreendeu fuga e foi alvejado em parte vital (bexiga e

intestino delgado) por disparo de arma de fogo efetuado pelo militar, vindo a sofrer

cirurgia e convalescer em hospital por sete dias. Discute-se, então, a competência

diante da subsunção da conduta ao tipo do homicídio doloso (tentativa), o que atrai

a competência da Justiça comum (art. 125, § 4º, da CF), ou ao da lesão corporal de

competência da Justiça Militar, pela necessária determinação do elemento subjetivo

do agente (se havia o animus necandi). Vê-se, então, haver necessidade de um

exame mais detido do conjunto probatório, revelando-se prudente aguardar o

desfecho da instrução probatória, em prol da precisão e clareza que os fatos

reclamam. Dessarte, o processo deve tramitar no juízo comum por força do

princípio in dubio pro societate aplicável à fase do inquérito policial; pois, só

mediante prova inequívoca, o réu pode ser subtraído de seu juiz natural. Assim,

diante da ausência de prova inconteste e tranquila sobre a falta do animus necandi,

há que declarar competente o juízo de direito do Tribunal do Júri suscitado. CC

113.020-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/3/2011.

Quinta Turma

PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. POLICIAL.

O paciente, policial militar, fardado e em serviço, subtraiu uma caixa de bombons

de um supermercado, colocando-a dentro de seu colete à prova de balas. Vê-se,

assim, não ser possível aplicar o princípio da insignificância à hipótese, visto não

estarem presentes todos os requisitos necessários para tal (mínima ofensividade da

conduta, nenhuma periculosidade social da ação, reduzidíssimo grau de reprovação

do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada). Apesar de

poder tachar de inexpressiva a lesão jurídica em razão de ser ínfimo o valor dos

bens subtraídos (R$ 0,40), há alto grau de reprovação na conduta do paciente, além

de ela ser relevante para o Direito Penal; pois, aos olhos da sociedade, o policial

militar representa confiança e segurança, dele se exige um comportamento

Page 138: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

adequado, dentro do que ela considera correto do ponto de vista ético e moral.

Anote-se que a interpretação que se dá ao art. 240, § 1º, do CPM (que ao ver do

paciente justificaria a aplicação do referido princípio) não denota meio de trancar a

ação penal, mas sim que cabe ao juízo da causa, após o processamento dela,

analisar se a infração pode ser considerada apenas como disciplinar. Precedentes

citados do STF: HC 84.412-0-SP, DJ 19/11/2004; HC 104.853-PR, DJe

18/11/2010; HC 102.651-MG, DJe 30/6/2010; HC 99.207-SP, DJe 17/12/2009; HC

97.036-RS, DJe 22/5/2009; do STJ: HC 141.686-SP, DJe 13/11/2009. HC

192.242-MG, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 22/3/2011.

INTERROGATÓRIO. LEI ESPECIAL. CPP.

O paciente é detentor do foro privilegiado por prerrogativa de função (prefeito) e,

por isso, encontra-se processado sob o rito da Lei n. 8.038/1990, pela prática de

gestão temerária. Dessa forma, logo se percebe tratar de procedimento especial em

relação ao comum ordinário previsto no CPP, cujas regras, em razão do princípio

da especialidade, devem ser afastadas na hipótese. Não se olvida que o § 5º do art.

394 do CPP traz a ressalva de aplicar-se subsidiariamente o rito ordinário nos

procedimentos especial, sumário e sumaríssimo nos casos em que há omissões ou

lacunas; contudo, quanto aos arts. 395 a 397 do CPP, por exemplo, alguns

doutrinadores entendem que eles somente podem incidir no primeiro grau, não

atingindo os procedimentos de competência originária dos tribunais. Na hipótese,

busca-se novo interrogatório do paciente, agora ao final da instrução processual, tal

qual determina o art. 400 do CPP. Sucede que o art. 7º da Lei n. 8.038/1990 prevê

momento específico para a inquirição do réu (após o recebimento da denúncia ou

queixa) e, constatado não haver quanto a isso lacuna ou omissão nessa lei especial,

não há falar em aplicação do mencionado artigo do CPP. Mesmo que se admitisse a

incidência do art. 400 do CPP à hipótese, anote-se que o réu foi ouvido antes da

vigência da Lei n. 11.719/2008, que trouxe o interrogatório do réu como o último

ato da instrução e, como consabido, não é possível a aplicação retroativa dessa

norma de caráter procedimental. Precedente citado: HC 152.456-SP, DJe

31/5/2010. HC 121.171-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 22/3/2011.

Sexta Turma

Page 139: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

CRIME AMBIENTAL. TRANSPORTE. PRODUTOS PERIGOSOS.

Em habeas corpus, busca-se o trancamento da ação penal a que o paciente

responde por suposto crime ambiental, devido ter sido apreendido caminhão de sua

empresa que transportava produto considerado perigoso (dióxido de carbono, NR

ONU-2187, classe 2.2, grau de risco-22) sem licença do órgão ambiental estatal

competente, em desacordo com o Dec. n. 96.044/1988, que regulamenta o

transporte de produtos perigosos, e a Res. n. 420/2004 da Agência Nacional de

Transportes Terrestres (ANTT). Narra-se, na impetração, que o paciente foi

denunciado juntamente com outros diretores da empresa como incurso nos arts. 2º,

3º e 56, caput, todos da Lei n. 9.605/1998 e, mesmo após ter cumprido o termo de

ajustamento de conduta (TAC), a denúncia foi aceita pelo juízo, também foi

proposta a suspensão condicional do processo pelo MP estadual, contudo o

paciente recusou-a por entender que, no caso, não existe crime. Diante dessas

circunstâncias, aponta ausência de justa causa para a instauração da ação penal e

argumenta que, lavrado o TAC, perdeu o sentido o ajuizamento de uma ação penal

em razão de ilícito ambiental praticado e, por fim, alega a inépcia da denúncia, que

reputa genérica por não individualizar a conduta dos acusados. Para a Min.

Relatora, o TAC, conforme o disposto nos §§ 2º e 3º do art. 79-A da Lei n.

9.605/1998, surgiu em dado momento histórico, para ajuste de comportamentos

potencialmente poluidores, inclusive com período delimitado na própria legislação

para a suspensão das sanções administrativas, ou seja, empreendimentos em curso

até 30/3/1998 e requerido por pessoas físicas e jurídicas interessadas até

31/12/1998. Assim, explica que, pelo princípio da subsidiariedade, como as

sanções não penais encontravam-se suspensas, não seria razoável cobrar

responsabilidade penal pelo mesmo comportamento no período de suspensão. Na

hipótese dos autos, o TAC afasta-se dos requisitos dos citados parágrafos, apesar

de ter logrado o arquivamento do inquérito civil público, além de alcançar o

licenciamento tanto no âmbito estadual como federal, pois o termo de conduta foi

firmado em 23/9/2008, depois de uma década das condições legais cronológicas

para obtê-lo. Nesse contexto, assevera a Min. Relatora que a assinatura do TAC

(concedido em esfera administrativa) e a reparação do dano ambiental não têm a

extensão pretendida no âmbito penal, visto que não elidem a tipicidade penal,

porém serão consideradas em caso de eventual condenação. No entanto, reconhece

a inépcia formal da denúncia por ser extremamente sucinta e não haver a

Page 140: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

individualização da conduta criminosa dos acusados, o que impede o exercício da

ampla defesa. Acrescenta que, nos casos de autoria coletiva, embora a

jurisprudência do STJ não exija a descrição pormenorizada da conduta de cada

denunciado, é imprescindível que o órgão acusatório estabeleça a mínima relação

entre o denunciado e o delito que lhe é imputado. Com esse entendimento, a Turma

conheceu em parte do habeas corpus e concedeu a ordem apenas para anular a ação

penal a partir da denúncia, reconhecendo sua inépcia formal, sem prejuízo que

outra seja oferecida, estendendo a concessão aos demais corréus (art. 580 do CPP).

Precedentes citados: HC 82.911-MG, DJe 15/6/2009; RHC 21.469-SP, DJ

5/11/2007; RHC 24.239-ES, DJe 1º/7/2010; APn 561-MS, DJe 22/4/2010; HC

58.157-ES, DJe 8/9/2009; RHC 24.390-MS, DJe 16/3/2009; HC 117.945-SE, DJe

17/11/2008; HC 62.330-SP, DJ 29/6/2007; HC 69.240-MS, DJ 10/9/2007; PExt no

HC 61.237-PB, DJe 12/4/2010, e PExt no HC 114.743-RJ, DJe 5/4/2010. HC

187.043-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 22/3/2011.

RECURSO. SENTIDO ESTRITO. FUNGIBILIDADE RECURSAL. RHC.

In casu, o recorrente foi condenado pela prática de tráfico internacional de drogas,

sendo-lhe negado o direito de recorrer em liberdade. Na origem, impetrou habeas

corpus, que foi negado, sendo mantida a prisão cautelar. Então, interpôs recurso em

sentido estrito, o qual, em análise de admissibilidade, o tribunal a quo, aplicando o

princípio da fungibilidade, recebeu como recurso ordinário em habeas corpus.

Busca o recorrente a sua absolvição, alegando para isso que não há provas

suficientes da materialidade e autoria do delito; requer, ainda, o direito de

responder ao processo em liberdade, sustentando faltar fundamentação para a

custódia cautelar, além de afirmar tratar-se de réu primário, com bons antecedentes.

A tese vencedora conheceu em parte do recurso e, nessa parte, julgou-o

prejudicado, posicionando-se no sentido de ser possível o recebimento do recurso

em sentido estrito como recurso ordinário em habeas corpus em atenção ao

princípio da fungibilidade recursal, como fez o tribunal a quo, ao verificar não

haver má-fé ou erro grosseiro dos defensores. Explicou, quanto às alegações

formuladas de falta de tipicidade da conduta ou, ainda, não comprovação de

autoria, quando já proferida sentença condenatória, como no caso dos autos, que

elas se confundem com o pleito de absolvição do acusado, demandando, assim,

análise fático-probatória dos autos, providência incabível na via estreita desse

Page 141: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

remédio constitucional (incidência da Súm. n. 7-STJ). Como, segundo

informações, a apelação já foi julgada, reduzindo-lhe a pena para um ano, 11 meses

e 10 dias de reclusão, e expedido alvará de soltura em seu favor desde 16/6/2010, o

pedido de aguardar em liberdade o trânsito em julgado da condenação perdeu seu

objeto. Note-se que, ao prosseguir o julgamento, houve empate na votação,

prevalecendo a decisão mais favorável ao recorrente. Precedentes citados do STF:

RHC 87.304-PR, DJ 1º/9/2006; do STJ: AgRg no AgRg no RHC 19.174-RJ, DJe

28/4/2008; RHC 21.095-PR, DJ 18/6/2007; HC 181.973-DF, DJe 14/2/2011, e

AgRg no HC 79.910-RJ, DJe 17/12/2010. RHC 26.283-PR, Rel. originário Min.

Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), Rel. para acórdão Min.

Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ-CE), julgado em

22/3/2011.

ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. DESCAMINHO. LAVAGEM. DINHEIRO.

Trata-se de paciente denunciada em decorrência de operação policial a qual

investigava as atividades de sociedades empresárias pertencentes ao mesmo grupo

empresarial, como incursa nos arts. 288 e 334 do CP c/c art. 1º, V e VII, da Lei n.

9.613/1998, em continuidade delitiva. Na impetração, busca-se o trancamento

parcial da ação penal quanto à acusação de lavagem de dinheiro (art. 1º, VII, da Lei

n. 9.613/1998) e em relação à acusação por formação de quadrilha (art. 288 do CP).

Alega haver inépcia da peça vestibular no que diz respeito ao crime previsto no art.

288 do CP, sustentando que não existe conceito legal da expressão “organização

criminosa”. Para o Min. Relator, o trancamento da ação penal em habeas corpus é

medida excepcional e a tese da impetração não merece prosperar. Explica que a

expressão “organização criminosa” ficou estabelecida no ordenamento jurídico

brasileiro com o Dec. n. 5.015/2004, o qual promulgou a Convenção das Nações

Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo, que, no

art. 2, a, definiu tal conceito), aprovado pelo Dec. Legislativo n. 231/2003.

Segundo o Min. Relator, a definição jurídica de organização criminosa não se

submete ao princípio da taxatividade como entende a impetração, pois o núcleo do

tipo penal previsto na norma é "ocultar ou dissimular a natureza, origem,

localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores

provenientes, direta ou indiretamente, de crime", sendo a expressão "organização

criminosa" um complemento normativo do tipo, tratando-se, no caso, de uma

Page 142: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

norma penal em branco heteróloga ou em sentido estrito, que independe de

complementação por meio de lei formal. Assevera que entender o contrário, de

acordo com a tese defendida pelos impetrantes, seria não admitir a existência de

normas penais em branco em nosso ordenamento jurídico, situação que implicaria

o completo esvaziamento de inúmeros tipos penais. Também destaca que a

Recomendação n. 3/2006 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) propõe a adoção

do conceito de “crime organizado” estabelecido na Convenção de Palermo, bem

como a jurisprudência do STF e do STJ não diverge desse entendimento. Por fim,

ressalta que não procedem as alegações de inépcia da inicial, pois a denúncia

aponta fatos que, em tese, configuram o crime de formação de quadrilha para

prática de crimes de lavagem de dinheiro e contra a Administração Pública, bem

como que somente o detalhamento das provas na instrução criminal esclarecerá se

houve e qual foi a participação da paciente nos delitos imputados pelo Parquet.

Diante do exposto, a Turma denegou a ordem. Precedentes citados do STF: RHC

102.046-SP, DJe 10/11/2010; HC 100.637-BA, DJe 24/6/2010; HC 91.516-PI, DJe

4/12/2008; do STJ: APn 460-RO, DJ 25/6/2007; HC 77.771-SP, DJe 22/9/2009;

HC 63.716-SP, DJ 17/12/2007; HC 89.696-SP, DJe 23/8/2010; HC 89.472-PR, DJe

3/8/2009, e HC 102.292-SP, DJe 22/9/2008. HC 138.058-RJ, Rel. Min. Haroldo

Rodrigues (Desembargador convocado do TJ-CE), julgado em 22/3/2011.

INFORMATIVO 466

Terceira Seção

COMPETÊNCIA. EXTORSÃO. CONSUMAÇÃO.

A quaestio juris consistiu em saber se a competência para apurar suposto crime de

extorsão na modalidade de comunicação por telefone de falso sequestro com

exigência de resgate por meio de depósito bancário seria o juízo do local onde a

vítima teria sofrido a ameaça por telefone e depositado a quantia exigida ou aquele

onde está situada a agência bancária da conta beneficiária do valor extorquido. Para

a Min. Relatora, como a extorsão é delito formal, consuma-se no momento e no

local em que ocorre o constrangimento para que se faça ou se deixe de fazer

alguma coisa (Súm. n. 96-STJ). Assim, o local em que a vítima foi coagida a

Page 143: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

efetuar o depósito mediante ameaça por telefone é onde se consumou o delito. Por

isso, aquele é o local em que será processado e julgado o feito independentemente

da obtenção da vantagem indevida, ou seja, da efetivação do depósito ou do lugar

onde se situa a agência da conta bancária beneficiada. Com esse entendimento, a

Seção declarou competente o juízo suscitado. Precedentes citados: REsp

1.173.239-SP, DJe 22/11/2010; AgRg no Ag 1.079.292-RJ, DJe 8/2/2010, e CC

40.569-SP, DJ 5/4/2004. CC 115.006-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 14/3/2011.

COMPETÊNCIA. CRIME. FAUNA.

Trata-se de conflito negativo de competência para processar e julgar o crime

tipificado no art. 29, § 1º, III, da Lei n. 9.605/1998 em razão de apreensão em

residência de oryzoborus angolensis (curió), espécime que pertence à fauna

silvestre. Sucede que o juízo de direito do juizado especial, suscitado, encaminhou

os autos ao juizado especial federal com fulcro no enunciado da Súm. n. 91-STJ,

que foi cancelada pela Terceira Seção deste Superior Tribunal em 8/11/2000, em

razão da edição da Lei n. 9.605/1998, já que o entendimento sumulado tinha como

base a Lei n. 5.197/1967, que até então tratava da proteção à fauna. Após o

cancelamento da citada súmula, o STJ firmou o entendimento, em vários acórdãos,

de que, quando não há evidente lesão a bens, serviços ou interesse da União,

autarquias ou empresas públicas (art. 109 da CF), compete à Justiça estadual, de

regra, processar e julgar crime contra a fauna, visto que a proteção ao meio

ambiente constitui matéria de competência comum à União, aos estados, aos

municípios e ao Distrito Federal (art. 23, VI e VII, da CF). Com esse entendimento,

a Seção declarou competente o juízo suscitado. Precedentes citados: AgRg no CC

36.405-MG, DJ 26/9/2005; REsp 499.065-RS, DJ 13/10/2003; AgRg no CC

33.381-MS, DJ 7/4/2003; CC 34.081-MG, DJ 14/10/2002; CC 32.722-SP, DJ

4/2/2002, e CC 39.891-PR, DJ 15/12/2003. CC 114.798-RJ, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, julgado em 14/3/2011.

COMPETÊNCIA. FURTO. LOCAL. ADMINISTRAÇÃO MILITAR.

In casu, houve um furto de bem móvel (aparelho de som) nas dependências de

local sob a administração militar do Exército Brasileiro, a saber, em delegacia de

Page 144: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

serviço militar, no entanto o aparelho furtado é de propriedade privada, pois

pertence a um capitão que, na época do delito, ali trabalhava. Anotou a Min.

Relatora que, na espécie, não se apura a invasão do local da unidade militar, apura-

se tão somente o furto do aparelho de som praticado por civil, sendo que o bem

furtado também não pertence ao patrimônio público sob administração militar, mas

a particular; assim, embora a vítima seja militar, não incidiria nenhuma das

hipóteses previstas no art. 9º, I e III, do Código Penal Militar (CPM). Nessas

circunstâncias, não houve crime militar, visto que o delito não atingiu as

instituições militares, única hipótese apta a caracterizar o crime militar no caso

concreto.Trata-se, na verdade, de crime comum, em que a competência para

processar e julgar o feito é do juízo de direito criminal que, nos autos, é o

suscitado. Precedente citado do STF: CJ 6.718-RJ, DJ 1º/7/1988. CC 115.311-PA,

Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/3/2011.

COMPETÊNCIA. DOCUMENTOS FALSOS. LEASING. CARRO.

Noticiam os autos que fora instaurado inquérito policial para apurar a autoria e

materialidade de estelionato a partir da apresentação de documentos falsos para

obtenção de recursos financeiros junto à instituição bancária em contrato de

arrendamento mercantil na modalidade de leasing financeiro de veículo. Esses

autos foram encaminhados primeiro pelo juízo de direito, ao acolher a

representação da autoridade policial e parecer do MP estadual, ao juízo federal

naquela comarca para a apuração de crime contra o sistema financeiro previsto no

art. 19 da Lei n. 7.492/1986, mas esse juízo, por sua vez, declinou de sua

competência para o juízo de uma das varas federais especializadas da capital.

Então, o juízo da vara federal especializada suscitou o conflito de competência.

Para a Min. Relatora, a matéria em exame é complexa, tendo sido apreciada neste

Superior Tribunal uma única vez, na Sexta Turma, na qual o voto da relatoria do

Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), com base em

precedente do STF, asseverou que o fato de o leasing financeiro não constituir

financiamento não afasta, por si só, a configuração do delito previsto no art. 19 da

Lei n. 7.492/1986. Naquela ocasião, o colegiado concluiu que, ao fazer um leasing

financeiro, obtém-se invariavelmente um financiamento e o tipo penal em análise

descrito no citado art. 19 refere-se exatamente à obtenção de financiamento

mediante fraude, sem exigir que isso ocorra num contrato de financiamento

Page 145: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

propriamente dito. Observa ainda a Min. Relatora que o leasing financeiro possui

certas particularidades, mas que não se pode, de pronto, afastar a incidência do tipo

penal descrito no art. 19 em comento, no qual se refere à obtenção de

financiamento mediante fraude, porque, embora não seja financiamento

propriamente dito, ele constitui o núcleo ou elemento preponderante dessa

modalidade de arrendamento mercantil. Com esse entendimento, a Seção declarou

competente para processar e julgar o feito o juízo federal da vara criminal

especializada em crimes contra o sistema financeiro nacional e lavagem, ocultação

de bens e direitos e valores, o suscitante. Precedentes citados do STF: RE 547.245-

SC, DJe 4/3/2010; do STJ: REsp 706.871-RS, DJe 2/8/2010. CC 114.322-SP, Rel.

Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/3/2011.

Quinta Turma

TRÁFICO. DROGAS. REGIME PRISIONAL.

A Turma denegou a ordem de habeas corpus, com ressalva do ponto de vista

pessoal de alguns Ministros, firmando o entendimento de que o delito de tráfico de

entorpecentes, por ser equiparado aos crimes hediondos segundo expressa

disposição constitucional, sujeita-se ao tratamento dispensado a esses crimes.

Ademais, com o advento da Lei n. 11.464/2007, que deu nova redação ao § 1º do

art. 2º da Lei n. 8.072/1990 (crimes de tráfico), ficou estabelecida a obrigatoriedade

do regime inicial fechado para os crimes ali previstos. Assim, o regime inicial

fechado para o desconto das penas impostas por desrespeito ao art. 33 da Lei n.

11.343/2006, nos termos da alteração trazida pela Lei n. 11.464/2007, é imposição

legal que independe da quantidade de sanção imposta e de eventuais condições

pessoais favoráveis do réu. O Min. Relator ressaltou ainda que, no caso, o fato

delituoso é posterior ao advento da nova redação do art. 2º da Lei dos Crimes

Hediondos, já que foi praticado em 29/6/2008, e os pacientes foram condenados,

respectivamente, às penas de quatro anos, três meses e 20 dias de reclusão e quatro

anos e dois meses de reclusão em regime inicialmente fechado pela prática do

delito previsto no art. 33 da Lei n. 11.343/2006. Precedente citado: REsp

1.193.080-MG, DJe 16/11/2010. HC 174.543-SP, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado

em 15/3/2011.

Page 146: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

SERVIDOR PÚBLICO. PECULATO.

Consta dos autos que os pacientes, funcionários públicos municipais, foram

condenados, em primeira instância, às penas de seis anos de reclusão em regime

inicial semiaberto e ao pagamento de multa pela prática do crime de peculato (art.

312, caput, c/c o art. 71, ambos do CP), em razão de depósitos de dinheiro em sua

conta-corrente proveniente de suposto desvio de verbas públicas. Mas o tribunal a

quo proveu somente em parte a apelação interposta pela defesa, reduzindo a pena

aplicada para quatro anos e seis meses de reclusão em regime inicial semiaberto.

Isso posto, no habeas corpus explica o Min. Relator que a realização de corpo de

delito é sempre necessária e insubstituível para evidenciar a materialidade quando

se trata da prática de ilícito que deixa vestígios ou produz alterações no mundo dos

fatos ou da natureza; porém, no caso, a questão da imprescindibilidade do exame

de corpo de delito sequer foi submetida à apreciação do tribunal a quo, o que veda

a análise do tema neste Superior Tribunal, pois consubstanciaria supressão de

instância. Destaca que a condenação veio suficientemente arrimada no acervo das

provas colhidas, principalmente por farta prova documental juntada, como extratos

bancários, cópias das declarações de imposto de renda e nos depoimentos colhidos,

inclusive do prefeito do município, não sendo admissível seu reexame na via

estreita do habeas corpus. Por outro lado, reduz a pena-base fixada em três anos de

reclusão para dois anos e seis meses de reclusão, tornando-a definitiva em três anos

e nove meses de reclusão, em razão da aplicação do aumento pela continuidade

delitiva nos moldes definidos nas instâncias ordinárias (1/2). Expõe o Min. Relator,

quanto ao reconhecimento da confissão espontânea, que, em nenhum momento, os

pacientes confessaram a prática do delito, houve apenas a confirmação do depósito,

entretanto a defesa afirma que o dinheiro foi transferido para a conta de forma lícita

para cobrir despesas do município. Assim, assevera que, como se trata de confissão

qualificada, não há que aplicar a atenuante (art. 65, III, d, do CP). Reajusta também

o regime prisional para o semiaberto em consequência do quantum da pena

aplicada. Com esse entendimento, a Turma concedeu em parte o writ, com

recomendação ao juízo da execução para examinar a possibilidade de substituição

da sanção. Precedentes citados: HC 72.073-SP, DJ 21/5/2007; HC 69.007-SP, DJ

14/5/2007; HC 100.911-SP, DJe 16/2/2009; HC 102.362-SP, DJe 2/2/2009; HC

68.719-SP, DJ 4/6/2007; HC 81.206-PR, DJe 3/11/2008; HC 111.341-MS, DJe

9/11/2009, e HC 129.278-RS, DJe 25/2/2009. HC 124.009-SP, Rel. Min.

Page 147: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 15/3/2011.

TRÁFICO. DROGAS. SUBSTITUIÇÃO. PENA.

A Turma concedeu a ordem para assegurar ao paciente a substituição da pena

privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, a ser implementada pelo juízo

das execuções penais nos termos do art. 44 do CP. É cediço que a vedação da

substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos constante

do art. 44 da Lei n. 11.343/2006 aos apenados pela prática do crime de tráfico de

drogas não subsiste após o Plenário do STF ter declarado incidentalmente a

inconstitucionalidade dos termos desse art. 44 que vedavam tal benefício.

Precedentes citados: HC 97.256-RS, DJe 15/5/2008, e HC 106.296-SP, DJe

2/8/2010. HC 162.965-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/3/2011.

DIREÇÃO. EMBRIAGUEZ. PERIGO ABSTRATO.

A Turma reiterou que o crime do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro é de

perigo abstrato, pois o tipo penal em questão apenas descreve a conduta de dirigir

veículo sob a influência de álcool acima do limite permitido legalmente, sendo

desnecessária a demonstração da efetiva potencialidade lesiva do condutor. Assim,

a denúncia traz indícios concretos de que o paciente foi flagrado conduzindo

veículo automotor e apresentando concentração de álcool no sangue superior ao

limite legal, fato que sequer é impugnado pelo impetrante, não restando

caracterizada a ausência de justa causa para a persecução penal do crime de

embriaguez ao volante. Logo, a Turma denegou a ordem. Precedentes citados: HC

140.074-DF, DJe 22/2/2010, e RHC 26.432-MT, DJe 14/12/2009. HC 175.385-

MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 17/3/2011.

PESCA PREDATÓRIA. PEQUENA QUANTIDADE. PRINCÍPIO.

INSIGNIFICÂNCIA.

Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de réu denunciado como incurso nas

penas do art. 34, parágrafo único, II, da Lei n. 9.605/1998, uma vez que foi

flagrado pela Polícia Militar de Proteção Ambiental praticando pesca predatória de

camarão, com a utilização de petrechos proibidos em período defeso para a fauna

aquática e sem autorização dos órgãos competentes. Postula o paciente a

Page 148: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

atipicidade da conduta com a aplicação do princípio da insignificância, visto que

pescara aproximadamente quatro kg de camarão, que foram devolvidos ao habitat

natural. A Turma denegou a ordem com o entendimento de que a quantidade de

pescado apreendido não desnatura o delito descrito no art. 34 da Lei n. 9.605/1998,

que pune a atividade durante o período em que a pesca seja proibida, exatamente

como no caso, ou seja, em época da reprodução da espécie e com utilização de

petrechos não permitidos (parágrafo único, II, do referido artigo). Há interesse

estatal na repreensão da conduta em se tratando de delito contra o meio ambiente,

dada sua relevância penal, tendo a CF destinado um capítulo inteiro à sua proteção.

HC 192.696-SC, Rel Min. Gilson Dipp, julgado em 17/3/2011.

Sexta Turma

MP. INSTRUÇÃO. AÇÃO PENAL. PARIDADE. ARMAS.

A Turma, entre outras questões, consignou não haver disparidade de armas no fato

de o MP ter acessado as provas coligidas durante a investigação e instruído a ação

penal com aquelas que entendeu pertinentes à comprovação da conduta delituosa.

Segundo o Min. Relator, além de se tratar de exigência legal descrita no art. 156 do

CPP, o réu também tomou conhecimento dessas provas no momento oportuno e lhe

foi garantido o exercício da ampla defesa. HC 190.917-SP, Rel. Min. Celso

Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 15/3/2011.

ROUBO ARMADO. DISPAROS. COAUTORIA.

A Turma entendeu, entre outras questões, que o paciente condenado por roubo

armado seguido de morte responde como coautor, ainda que não tenha sido o

responsável pelos disparos que resultaram no óbito da vítima. Na espécie, ficou

demonstrado que houve prévio ajuste entre o paciente e os outros agentes,

assumindo aquele o risco do evento morte. Precedentes citados: REsp 622.741-RO,

DJ 18/10/2004; REsp 418.183-DF, DJ 4/8/2003, e REsp 2.395-SP, DJ 21/5/1990.

HC 185.167-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/3/2011.

INQUÉRITO POLICIAL. ARQUIVAMENTO. COISA JULGADA

MATERIAL.

Cuida-se de habeas corpus em que se discute, em síntese, se a decisão que

determina o arquivamento do inquérito policial no âmbito da Justiça comum,

Page 149: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

reconhecendo a atipicidade do fato e a incidência de cláusula excludente da

ilicitude, impede o recebimento da denúncia pelo mesmo fato perante a Justiça

especializada, no caso a Justiça Militar. A Turma concedeu a ordem ao

entendimento de que a decisão de arquivamento do inquérito policial no âmbito da

Justiça comum, acolhendo promoção ministerial no sentido da atipicidade do fato e

da incidência de causa excludente de ilicitude, impossibilita a instauração de ação

penal na Justiça especializada, uma vez que o Estado-Juiz já se manifestou sobre o

fato, dando-o por atípico, o que enseja coisa julgada material. Registrou-se que,

mesmo tratando-se de decisão proferida por juízo absolutamente incompetente,

deve-se reconhecer a prevalência dos princípios do favor rei, favor libertatis e ne

bis in idem, de modo a preservar a segurança jurídica que o ordenamento jurídico

demanda. Precedentes citados do STF: HC 86.606-MS, DJ 3/8/2007; do STM: CP-

FO 2007.01.001965-3-DF, DJ 11/1/2008; do STJ: APn 560-RJ, DJe 29/10/2009;

HC 90.472-RS, DJe 3/11/2009; RHC 17.389-SE, DJe 7/4/2008; HC 36.091-RJ, DJ

14/3/2005, e HC 18.078-RJ, DJ 24/6/2002. HC 173.397-RS, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, julgado em 17/3/2011.

INFORMATIVO 465

Quinta Turma

INSIGNIFICÂNCIA. VALOR MÁXIMO. AFASTAMENTO.

A Turma afastou o critério adotado pela jurisprudência que considerava o valor de

R$ 100,00 como limite para a aplicação do princípio da insignificância e deu

provimento ao recurso especial para absolver o réu condenado pela tentativa de

furto de duas garrafas de bebida alcoólica (avaliadas em R$ 108,00) em um

supermercado. Segundo o Min. Relator, a simples adoção de um critério objetivo

para fins de incidência do referido princípio pode levar a conclusões iníquas

quando dissociada da análise do contexto fático em que o delito foi praticado –

importância do objeto subtraído, condição econômica da vítima, circunstâncias e

resultado do crime – e das características pessoais do agente. No caso, ressaltou

não ter ocorrido repercussão social ou econômica com a tentativa de subtração,

tendo em vista a importância reduzida do bem e a sua devolução à vítima (pessoa

Page 150: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

jurídica). Precedentes citados: REsp 778.795-RS, DJ 5/6/2006; HC 170.260-SP,

DJe 20/9/2010, e HC 153.673-MG, DJe 8/3/2010. REsp 1.218.765-MG, Rel. Min.

Gilson Dipp, julgado em 1º/3/2011.

ADVOCACIA ADMINISTRATIVA FAZENDÁRIA. PARTÍCIPE.

A Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, denegou a ordem de habeas

corpus por entender que, no delito de advocacia administrativa fazendária (art. 3º,

III, da Lei n. 8.137/1990), o particular pode figurar como partícipe, desde que saiba

da condição de funcionário público do autor, a teor dos arts. 11 da mencionada lei e

29, caput, do CP. Em voto vista que acompanhou a Min. Relatora, o Min. Gilson

Dipp consignou que a suposta participação do paciente diz respeito à condição de

servidor público do autor, que é elementar do crime e da qual ele tinha

conhecimento, razão por que a ele pode se comunicar nos termos do art. 30 do CP.

Precedentes citados: HC 93.352-SC, DJe 9/11/2009; HC 30.832-PB, DJ 19/4/2004,

e RHC 5.779-SP, DJ 1º/12/1997. HC 119.097-DF, Rel. Min. Laurita Vaz,

julgado em 1º/3/2011.

PRISÃO PREVENTIVA. ATUAÇÃO. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA.

A Turma entendeu que a necessidade de paralisar ou reduzir as atividades de

organizações criminosas é fundamento válido à manutenção da prisão preventiva

por se enquadrar no conceito de garantia da ordem pública, razão pela qual

denegou a ordem de habeas corpus. Na espécie, ressaltou a Min. Relatora haver

indícios de que o paciente faz parte de um grupo especializado na prática reiterada

de estelionatos. Precedentes citados do STF: HC 95.024-SP, DJe 20/2/2009; HC

92.735-CE, DJe 9/10/2009; HC 98.968-SC, DJe 23/10/2009; do STJ: HC 113.470-

MS, DJe 22/3/2010, e RHC 26.824-GO, DJe 8/3/2010. HC 183.568-GO, Rel.

Min. Laurita Vaz, julgado em 1º/3/2011.

HC. EXTRAÇÃO. CÓPIA.

A Turma asseverou que o habeas corpus não é a via adequada para pleitear a

extração gratuita de cópias do processo criminal em que o paciente é beneficiário

da Justiça gratuita, por não se tratar de hipótese de ameaça ou ofensa ao seu direito

de locomoção nos termos permitidos pelos arts. 5º, LXVIII, da CF/1988 e 647 do

Page 151: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

CPP. Com essas considerações, o writ não foi conhecido. Precedente citado: HC

82.997-PB, DJ 22/10/2007. HC 111.561-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em

1º/3/2011.

MP. CUSTOS LEGIS. CONTRADITÓRIO.

A Turma denegou a ordem de habeas corpus por entender que o MP, quando oferta

parecer em segundo grau de jurisdição, atua como custos legis, e não como parte,

razão pela qual a ausência de oportunidade à defesa para se manifestar sobre essa

opinião não consubstancia violação dos princípios do contraditório, da ampla

defesa e da paridade de armas. Precedentes citados: HC 127.630-SP, DJe

28/9/2009, e RHC 15.738-SP, DJ 28/3/2005. HC 167.910-MG, Rel. Min. Jorge

Mussi, julgado em 1º/3/2011.

HC. PATROCÍNIO INFIEL.

Trata-se de habeas corpus em que se pretende o trancamento de ação penal

referente ao crime de patrocínio infiel imputado ao paciente. Para tanto, alega-se a

atipicidade da conduta ao fundamento de que não há procurações nos autos

constituindo o paciente como defensor dos réus contra os quais teria sido praticado

tal crime, tampouco existe liame de confiança entre eles, além de não haver registro

de prejuízo para os mencionados réus em decorrência da conduta imputada ao

paciente. A Turma, por maioria, denegou a ordem ao entendimento de que os fatos

narrados na peça acusatória revelam indícios suficientes para justificar a apuração

mais aprofundada do suposto crime. Observou-se que, embora fossem pagos por

outros denunciados os honorários advocatícios do acusado, este figurava como

advogado dos referidos réus, uma vez que havia entre eles um liame de confiança

que se estabelece entre o advogado e seus clientes, sendo que o paciente utilizou

essa confiança para induzi-los por diversas vezes ao erro e a atitudes que lhes

trouxeram grandes prejuízos no decorrer do processo. Desse modo, o acusado

quebrou o dever de lealdade que a condição de advogado lhe impunha, visto que,

na realidade, defendia os interesses de outros em detrimento dos interesses dos

aludidos réus, sobretudo no momento em que os orientou a assumir toda a

responsabilidade criminal. Assim, consignou-se que, no caso, além da descrição do

fato típico, há indícios suficientes da autoria e materialidade, não sendo possível

Page 152: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

descartar de plano o cometimento do patrocínio infiel, bem como não existe motivo

que justifique o arquivamento prematuro do processo. HC 135.633-PA, Rel. Min.

Gilson Dipp, julgado em 3/3/2011.

HC. SUBSTITUIÇÃO. AG.

Na hipótese, inadmitido o REsp, preferiu o impetrante utilizar o habeas corpus

(HC) em substituição ao agravo de instrumento (Ag), recurso ordinariamente

previsto no ordenamento jurídico para que este Superior Tribunal analise os

fundamentos da inadmissão do recurso especial. A Turma, entre outras

considerações, assentou que, conquanto o uso do HC em substituição aos recursos

cabíveis ou, incidentalmente, como salvaguarda de possíveis liberdades em perigo,

crescentemente fora de sua inspiração originária, tenha sido muito alargado pelos

tribunais, há certos limites a respeitar em homenagem à própria Constituição,

devendo a impetração ser compreendida dentro dos limites da racionalidade

recursal preexistente e coexistente para que não se perca a razão lógica e

sistemática dos recursos ordinários e mesmo dos excepcionais por uma irrefletida

banalização e vulgarização do habeas corpus. Assim, consignou-se que o Ag não

pode ser substituído pelo HC, exceção que se liga necessariamente à violência, à

coação, à ilegalidade ou ao abuso, circunstâncias que obviamente não constituem a

regra senão a exceção, em que seu uso reclama naturalmente as restrições da

exceção. Diante disso, não se conheceu do habeas corpus por consistir em

utilização inadequada da garantia constitucional em substituição aos recursos

ordinariamente previstos nas leis processuais. HC 165.156-MS, Rel. Min. Gilson

Dipp, julgado em 3/3/2011.

COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.

Trata-se de habeas corpus em que se discute a competência para o processamento e

julgamento de crimes dolosos contra a vida em se tratando de violência doméstica.

No caso, cuida-se de homicídio qualificado tentado. Alega a impetração sofrer o

paciente constrangimento ilegal em decorrência da decisão do tribunal a quo que

entendeu competente o juizado especial criminal para processar e julgar, até a fase

de pronúncia, os crimes dolosos contra a vida praticados no âmbito familiar. A

Turma concedeu a ordem ao entendimento de que, consoante o disposto na própria

Page 153: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

lei de organização judiciária local (art. 19 da Lei n. 11.697/2008), é do tribunal do

júri a competência para o processamento e julgamento dos crimes dolosos contra a

vida, ainda que se trate de delito cometido no contexto de violência doméstica.

Precedentes citados: HC 163.309-DF, DJe 1º/2/2011, e HC 121.214-DF, DJe

8/6/2009. HC 145.184-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 3/3/2011.

Sexta Turma

PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. ARROMBAMENTO.

Cuida-se de furto qualificado pelo rompimento de obstáculo: o paciente arrombou

as duas portas do veículo da vítima para subtrair apenas algumas moedas. Assim,

apesar do valor ínfimo subtraído (R$ 14,20), a vítima sofreu prejuízo de R$ 300,00

decorrente do arrombamento, o que demonstra não ser ínfima a afetação do bem

jurídico a ponto de aplicar o princípio da insignificância, quanto mais se

considerado o desvalor da conduta, tal qual determina a jurisprudência do STJ.

Anote-se não se tratar de furto simples, mas de crime qualificado sujeito a um plus

de reprovabilidade por suas peculiaridades. Precedentes citados do STF: HC

84.412-SP, DJ 19/11/2004; do STJ: HC 103.618-SP, DJe 4/8/2008; HC 160.916-

SP, DJe 11/10/2010, e HC 164.993-RJ, DJe 14/6/2010. HC 122.347-DF, Rel. Min.

Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 3/3/2011.

DETRAÇÃO. CÔMPUTO. PERÍODO ANTERIOR.

A Turma reiterou o entendimento de que se admite a detração por prisão ocorrida

em outro processo, desde que o crime pelo qual o sentenciado cumpre pena tenha

sido praticado anteriormente à prisão cautelar proferida no processo do qual não

resultou condenação. Contudo, nega-se a detração do tempo de recolhimento

quando o crime é praticado posteriormente à prisão provisória, para que o

criminoso não se encoraje a praticar novos delitos, como se tivesse a seu favor um

crédito de pena cumprida. Precedentes citados: RHC 61.195-SP, DJ 23/9/1983; do

STJ: REsp 878.574-RS, DJ 29/6/2007; REsp 711.054-RS, DJ 14/5/2007, e REsp

687.428-RS, DJ 5/3/2007. HC 155.049-RS, Rel. Min. Celso Limongi

(Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 1º/3/2011.

NULIDADE. AUSÊNCIA. INTIMAÇÃO PESSOAL. PRECLUSÃO.

Page 154: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

No caso, o writ trata do exame de nulidade em razão de ausência de intimação

pessoal de defensor público da data designada para a sessão de julgamento do

recurso em sentido estrito no tribunal a quo. A defensora pública foi intimada

apenas pela imprensa oficial da data da mencionada sessão e, cientificada

pessoalmente da íntegra do acórdão, permaneceu silente. Após quase dois anos do

trânsito em julgado e com o julgamento do júri marcado é que pretende ver

reconhecida a nulidade. Assim, a Turma entendeu que, no caso, houve preclusão da

arguição de nulidade. A defesa do paciente foi exercida de maneira regular, não

havendo qualquer dúvida técnica ou ausência de defesa. O feito teve seu trânsito

normal após o julgamento do recurso em sentido estrito e o suposto vício só foi

arguído às vésperas do julgamento do júri, o que não se admite. Logo, a Turma

denegou a ordem. Precedentes citados do STF: HC 99.226-SP, DJe 8/10/2010; HC

96.777-BA, DJe 22/10/2010; do STJ: HC 39.818-CE, DJ 6/2/2006; HC 59.154-

MS, DJ 27/8/2007, e HC 68.167-SP, DJe 16/3/2009. HC 188.637-SP, Rel. Min.

Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1º/3/2011.

INFORMATIVO 464

Terceira Seção

SÚMULA N. 471-STJ.

Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência

da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei

de Execução Penal) para a progressão de regime prisional. Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, em 23/2/2011.

Quinta Turma

TRÁFICO INTERNACIONAL. INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS.

PERÍCIA.

Cuida-se de condenado pela prática dos delitos previstos nos arts. 33, caput, 35,

caput, c/c o art. 40, I, todos da Lei n. 11.343/2006, em que o tribunal a quo afastou

as preliminares suscitadas na apelação e deu parcial provimento apenas para

reduzir a pena imposta. O REsp foi conhecido na parte em que o recorrente

Page 155: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

apontou nulidade das interceptações telefônicas por inobservância ao disposto no

art. 6º, §§ 1º e 2º, da Lei n. 9.296/1996 quanto à necessidade da identificação dos

interlocutores por meio de perícia técnica e de degravação dos diálogos em sua

íntegra, também efetuada por perícia técnica, pleiteando, consequentemente, a

imprestabilidade da escuta telefônica realizada e sua desconsideração como meio

de prova. Observa o Min. Relator que este Superior Tribunal, em diversas

oportunidades, já afirmou não haver necessidade de identificação dos interlocutores

por meio de perícia técnica ou de degravação dos diálogos em sua integridade por

peritos oficiais, visto que a citada lei não faz qualquer exigência nesse sentido.

Assim, verificada a ausência de qualquer vício na prova obtida por meio de

interceptações telefônicas, a Turma conheceu em parte do recurso e, nessa parte,

negou-lhe provimento, afastando a hipótese de ofensa ao citado artigo. Precedentes

citados: HC 138.446-GO, DJe 11/10/2010; HC 127.338-DF, DJe 7/12/2009; HC

91.717-PR, DJe 2/3/2009, e HC 66.967-SC, DJ 11/12/2006. REsp 1.134.455-RS,

Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 22/2/2011.

COMPETÊNCIA. ROUBO. INTERIOR. AERONAVE.

Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de paciente condenado por roubo e

formação de quadrilha em continuidade delitiva (arts. 288 e 157, § 2º, I e II, ambos

do CP). Alega o impetrante a incompetência da Justiça Federal para processar e

julgar o crime, visto que, apesar de o roubo dos malotes (com mais de R$ 4

milhões) ter ocorrido a bordo de aeronave, deu-se em solo (aeroporto) contra a

transportadora, sendo a vítima o banco, que possui capital privado e público; nessas

circunstâncias, não deslocaria a competência para a Justiça Federal. Para o Min.

Relator, não há falar em qualidade da empresa lesada diante do entendimento

jurisprudencial e do disposto no art. 109, IX, da CF/1988, que afirmam a

competência dos juízes federais para processar e julgar os delitos cometidos a

bordo de aeronaves, independentemente de elas se encontrarem no solo. Com esse

entendimento, a Turma denegou a ordem. Precedentes citados do STF: RHC

86.998-SP, DJ 27/4/2007; do STJ: HC 40.913-SP, DJ 15/8/2005, e HC 6.083-SP,

DJ 18/5/1998. HC 108.478-SP, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu

(Desembargador convocado do TJ-RJ), julgado em 22/2/2011.

Page 156: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

HC. PROGRESSÃO. FALTA GRAVE.

Trata-se de paciente que ajuizou pedido de progressão de regime intermediário

(semiaberto) por entender preenchidos os requisitos necessários a sua concessão.

Sucede que o juízo das execuções indeferiu o pedido ao fundamento de que o

paciente não havia descontado 1/6 da pena em regime mais gravoso devido à

interrupção pela prática de três faltas graves. Então, a defesa impetrou habeas

corpus (HC) e o tribunal a quo denegou a ordem ao entendimento de que, na

hipótese, seria cabível a interposição de agravo em execução. Daí a nova

impetração neste Superior Tribunal com os mesmos argumentos da irresignação

anterior do paciente. Assevera o Min. Relator que, na espécie, embora o TJ tenha

negado a ordem, a matéria não foi analisada; assim, sua análise neste Superior

Tribunal configuraria supressão de instância. No entanto, explica que, no caso,

houve negativa da prestação jurisdicional, visto que o tribunal a quo deixou de

conhecer do writ, consignando, naquela ocasião, ser inviável apreciar a matéria na

via escolhida por não ser o HC sucedâneo de recurso. Nessas circunstâncias, para o

Min. Relator, a existência de recurso próprio para análise do pedido não obsta a

apreciação das questões em HC devido a sua celeridade e à possibilidade de

reconhecer flagrante ilegalidade no ato recorrido sempre que se achar em jogo a

liberdade do réu. Diante do exposto, a Turma não conheceu do writ, mas concedeu

a ordem de ofício. Precedente citado: HC 151.250-SC, DJe 5/4/2010. HC 167.337-

SP, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 22/2/2011.

JÚRI. SOBERANIA. VEREDICTOS.

In casu, a impetração sustenta que o tribunal de origem teria se excedido na

fundamentação, externando convicções acerca do mérito da acusação em

detrimento do paciente, as quais poderiam influenciar o juízo a ser feito pelos

integrantes do conselho de sentença por ocasião do novo julgamento do júri. A

Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, denegou a ordem, reafirmando

que, nas hipóteses em que a negativa de autoria é reconhecida pelo conselho de

sentença do tribunal do júri, mas o TJ entende ser o veredicto manifestamente

contrário à prova dos autos por não encontrar guarida no conjunto probatório

produzido, a decisão do júri deve ser cassada, indicando quais os elementos de

prova que apontam a autoria do crime para o acusado, sem que isso signifique

violação da soberania dos veredictos; caso contrário, incidiria no vício da falta de

Page 157: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

fundamentação das decisões judiciais (repudiada pela redação do art. 93, IX, da

CF/1988). A Min. Relatora, vencida, concedia a ordem em parte por entender que

as expressões de emprego excessivo deveriam ser retiradas. Precedentes citados:

HC 46.920-PB, DJ 15/10/2007, e HC 59.151-PR, DJ 6/11/2006. HC 172.097-PR,

Rel. originária Min. Laurita Vaz, Rel. para acórdão Min. Napoleão Nunes

Maia Filho, julgado em 22/2/2011.

Sexta Turma

CONFISSÃO ESPONTÂNEA. PRISÃO. FLAGRANTE.

A Turma, entre outras questões, entendeu que o fato de a prisão do paciente ter sido

em flagrante não impede, por si só, que se reconheça a atenuante da confissão

espontânea. Precedente citado: REsp 435.430-MS, DJ 18/12/2006. HC 135.666-

RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/2/2011.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. REPRESENTAÇÃO.

A Turma reafirmou que a ação penal relativa ao delito disposto no art. 129, § 9º, do

CP é de iniciativa pública condicionada à representação, razão pela qual a

retratação da vítima em juízo impossibilita o prosseguimento da persecutio

criminis por ausência de condição de procedibilidade da ação. Precedente citado:

REsp 1.097.042-DF, DJe 21/5/2010. HC 154.940-RJ, Rel. Min. Maria Thereza

de Assis Moura, julgado em 22/2/2011.

INFORMATIVO 463

Quinta Turma

HOMICÍDIO. CONDENAÇÃO. JÚRI.

Trata-se de paciente condenado pelo tribunal do júri como um dos mandantes de

homicídio duplamente qualificado, em concurso de pessoas e praticado contra

maior de 60 anos (art. 121, § 2º, I e IV, c/c arts. 29 e 61, II, h, todos do CP), à pena

de 30 anos de reclusão em regime inicial fechado. Agora, em habeas corpus (HC),

a impetração alega nulidade do julgamento que culminou com a condenação do

paciente por haver cerceamento do direito de defesa – devido à deficiência da

Page 158: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

defesa técnica diante de exíguo prazo da Defensoria Pública para estudar o

processo – e desrespeito às prerrogativas do advogado. Noticiam os autos que o

paciente foi julgado pela primeira vez em 2007, sendo condenado a 30 anos de

reclusão, o que, na época, pela legislação vigente, garantiu-lhe automaticamente o

direito de um novo júri. Esse novo júri ocorreu em 2009, sendo o paciente

absolvido, mas depois foi anulado. Marcado novo júri para o dia 31/3/2010, o

defensor antigo não compareceu sob a justificativa de estar aguardando apreciação

de liminar em HC impetrado no STF na qual pleiteava a suspensão daquela sessão

e solicitou adiamento da sessão. Por isso, foi remarcada a sessão do novo júri para

12/4/2010, respeitado o prazo de dez dias estabelecido no art. 456, § 2º, do CPP, e,

por cautela, o presidente do júri também intimou a Defensoria Pública para

participar do julgamento no caso de ausência dos defensores constituídos. No dia

12/4/2010, antes do início da sessão de julgamento do júri, o novo causídico

protocolizou o substabelecimento sem reservas de poderes, pedindo o adiamento da

sessão para estudar os autos, o que lhe foi negado com base no art. 456, § 1º, do

CPP – o qual disciplina que, quando não há escusa legítima, o julgamento só pode

ser adiado uma vez. Assim, foi mantida a sessão e, perguntado ao réu se aceitava a

defesa dos defensores públicos, ele concordou. Isso posto, observou o Min. Relator

que este Superior Tribunal entende que o processo penal não é um fim em si

mesmo, pois objetiva, sobretudo, garantir o respeito aos princípios constitucionais

considerados fundamentais; todavia, em vista de sua importância e dos postulados

a serem resguardados, devem ser repelidas as tentativas de sua utilização como

forma de prejudicar ou impedir a atuação jurisdicional. Logo, no momento em que

o causídico renuncia ao mandato e outro é nomeado no dia do julgamento ou ele

deixa de comparecer na sessão para a qual foi devidamente intimado sem qualquer

justificativa, fica claro que se trata de estratégia montada pela defesa para

procrastinar o feito e frustrar o julgamento do júri, o que o Poder Judiciário não

pode tolerar. Dessa forma, não há a alegada deficiência da defesa técnica, pois, no

caso, houve anuência do paciente em ser representado pela Defensoria e, em

nenhum momento, o réu apresentou objeções nem exigiu que sua defesa fosse feita

única e exclusivamente pelo impetrante. Quando o advogado estrategicamente não

compareceu à sessão anterior do júri em 30/3/2010, o juiz intimou também a

Defensoria Pública para atuar no caso de o causídico não comparecer, naquela

oportunidade também foi concedido prazo superior ao estabelecido na legislação

Page 159: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

para o estudo dos autos pelos defensores. Destacou que, quando não há escusa

legítima, o legislador estabeleceu um só adiamento para haver o novo julgamento,

procurando impedir as eventuais manobras defensivas observadas antes da reforma

do CPP. Por fim, ressaltou o Min. Relator que, na hipótese, era imprescindível a

demonstração do prejuízo, uma vez que, no processo penal, a falta de defesa

constitui nulidade absoluta, entretanto sua deficiência, segundo a Súm n. 523-STF,

só o anulará se houver prova do prejuízo para o réu. Diante do exposto, entre outras

argumentações, a Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, denegou a

ordem. Precedente citado: HC 38.317-BA, DJ 14/3/2005. HC 178.797-PA, Rel.

Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 15/2/2011.

COMPETÊNCIA. HC. FORNECIMENTO. PROVAS. INQUÉRITO.

Trata-se de habeas corpus (HC) no qual se suscitou preliminar de incompetência

deste Superior Tribunal para dele conhecer. In casu, narram os impetrantes que foi

instaurado inquérito policial destinado a apurar fatos ligados a autoridade com foro

privilegiado no STJ e a outros indiciados em operação policial; porém, atendendo

pedido do procurador-geral da República, o Min. Relator determinou seu

desmembramento para o Tribunal Regional Federal (TRF) com relação aos ora

pacientes. Anotou-se que, no HC, foram apontados como autoridades coatoras o

desembargador relator do inquérito policial, que, segundo alega a impetração, teria

negado o acesso ao material probatório, e o procurador regional da República, que,

como membro do MP da União, oficia perante o TRF e é o responsável pela

apuração dos fatos questionados; alega a impetração que o procurador estaria, por

conta própria, conduzindo as investigações. Para a Min. Relatora, nesse contexto,

seria manifesta a competência deste Superior Tribunal para apreciar

originariamente o habeas corpus a teor do art. 105, I, a e c, da CF/1988. Assim,

entendeu, ao contrário da tese vencedora, que o procurador regional não estaria

atuando por delegação do procurador-geral da República, isto é, ele não estaria

exercendo uma atribuição que é própria deste, mas desempenhando uma função

que lhe é conferida pelos arts. 8º, I, V e VII, e 18, parágrafo único, ambos da LC n.

75/1993, mediante designação daquela autoridade. Entretanto, a maioria dos

membros da Turma entendeu que, quando o procurador-geral da República

encarregou o procurador regional para acompanhar o inquérito, houve uma

designação especial, o que não se confundiria com aquela designação dada aos

Page 160: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

procuradores para atuar em um dos órgãos julgadores do TRF. Assim, no momento

em que foi retirado um desses procuradores originários da Turma em que o

desembargador é relator, o procurador-geral da República assumiu a

responsabilidade de dizer que tal procurador é que serve para acompanhar o feito;

logo, é a participação desse caso do procurador-geral da República que só pode ter

seus atos questionados no STF. Diante do exposto, a Turma, por maioria, não

conheceu do HC e determinou sua remessa ao STF, tornando sem efeito a liminar

concedida. HC 185.495-DF, Rel. originária Min. Laurita Vaz, Rel. para

acórdão Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 15/2/2011.

HC SUBSTITUTIVO. RESP.

In casu, o paciente e o corréu foram condenados nas instâncias ordinárias por crime

de lavagem de dinheiro e naturalização fraudulenta, sendo que a pena do corréu foi

reduzida por ter sido reconhecida a continuidade nos crimes de lavagem. Ressaltou

o Min. Relator que o uso do habeas corpus em substituição aos recursos cabíveis

ou, incidentalmente, como salvaguarda de possíveis liberdades em perigo fora de

sua inspiração originária tem sido alargado pelos tribunais. Dessa forma, entendeu

que há certos limites a serem respeitados em homenagem à própria Constituição;

devendo, portanto, a impetração ser compreendida dentro dos limites da

racionalidade recursal preexistente e coexistente para que não se perca a razão

lógica e sistemática dos recursos ordinários e mesmo dos excepcionais por uma

irrefletida banalização e vulgarização do habeas corpus. Asseverou que cabe

prestigiar a função constitucional excepcional do habeas corpus, mas sem

desmerecer as funções das instâncias regulares de processo e julgamento, sob pena

de desmoralizar o sistema ordinário de julgamento e forçosamente deslocar para os

tribunais superiores o exame de matérias próprias das instâncias ordinárias, que

normalmente não são afetas a eles. Segundo o Min. Relator, não procede a

alegação de que houve falta de justa causa para a ação penal por ausência de

demonstração do crime antecedente de suposto tráfico de entorpecente praticado

em outro país, uma vez que há fortes elementos de convicção, reafirmados pela

sentença e pelo acórdão na apelação e uniformemente reportados por depoimentos

precisos de testemunhas ouvidas diretamente pelo juízo, entre elas, um agente

especial da Drug Enforcement Administration (DEA) – entidade estatal americana

de repressão ao tráfico de drogas – e a companheira de chefe de cartel no exterior,

Page 161: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

que comprovam a prática de tráfico internacional de drogas de organização

criminosa da qual participava o paciente com destacada atuação. Por outro lado,

também não procede a alegação de nulidade do processo por utilização de prova

ilícita constituída sem a participação da defesa do paciente, visto que a cooperação

internacional bilateral entre Brasil e Estados Unidos em matéria penal, disciplinada

pelo acordo denominado Mutual Legal Assistance Treatie (MLAT), prevê a

colaboração por via direta, observados a organização e os procedimentos de cada

parte, sendo certo que o depoimento da testemunha que cumpre pena naquele país

foi tomado por autoridade competente, com obediência às praxes locais e na

presença de agentes brasileiros, só não teve a participação da defesa porque ela,

previamente ciente, recusou-se. Diante disso, a Turma denegou a ordem,

reconhecendo a inexistência de nulidade ou de falta de justa causa, a inviabilidade

de reexame de provas e fatos e a utilização inadequada da garantia constitucional

(HC). Determinou, ainda, a retificação da autuação devido à falsa identidade e o

levantamento do segredo de justiça por falta de fundamento legal para sua

manutenção. HC 128.590-PR, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 15/2/2011.

APENADO. PENA. LOCAL. TRABALHO.

O apenado cumpre pena em regime semiaberto pela prática de roubo e conseguiu

um emprego em cidade distante da comarca do juízo da execução. Logo, a Turma

negou provimento ao recurso do MP e manteve o réu em prisão domiciliar, não se

aplicando o art. 117 da LEP. Assim, em razão da peculiaridade do caso, visando à

ressocialização do condenado e levando em consideração suas condições pessoais,

entendeu ser possível enquadrá-lo como exceção às hipóteses discriminadas no

referido artigo. O condenado tem direito garantido de trabalho, além de possuir

obrigação de fazê-lo como meio de promover a cidadania e a sua ressocialização,

objetivo principal da pena na moderna concepção de Estado democrático de direito.

REsp 962.078-RS, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador

convocado do TJ-RJ), julgado em 17/2/2011.

CITAÇÃO. EDITAL. ANTECIPAÇÃO. PROVA. SUSPENSÃO.

PROCESSO.

A Turma deu provimento ao recurso por entender que a produção antecipada de

Page 162: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

provas, conforme dispõe o art. 366 do CPP, não deve ser utilizada em todos os

casos em que haja a suspensão do processo em razão da ausência do réu citado por

edital. A providência deve ser resultante de uma avaliação do risco concreto do

perecimento da prova e de impossibilidade de sua obtenção futura, caso não seja

realizada antecipadamente. Logo, é uma medida excepcional que deve ser

devidamente justificada. Precedentes citados: RHC 24.964-DF, DJe 13/12/2010;

HC 102.758-SP, DJe 22/11/2010, e HC 138.837-DF, DJe 1º/2/2010. REsp

1.224.120-PR, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 17/2/2011.

PODERES. INVESTIGAÇÃO. MP.

A Turma deu provimento ao recurso por entender, entre outras questões, que o

Ministério Público possui legitimidade para proceder à coleta de elementos de

convicção no intuito de elucidar a materialidade do crime e os indícios da autoria.

Proceder à referida colheita é um consectário lógico da própria função do Parquet

de promover, com exclusividade, a ação penal. A polícia judiciária não possui o

monopólio da investigação criminal. O art. 4º, parágrafo único, do CP não excluiu

a competência de outras autoridades administrativas ao definir a competência da

polícia judiciária. Assim, no caso, é possível ao órgão ministerial oferecer

denúncias lastreadas nos procedimentos investigatórios realizados pela

Procuradoria de Justiça de combate aos crimes praticados por agentes políticos

municipais. Precedentes citados do STF: RE 468.523-SC, DJe 19/2/2010; do STJ:

HC 12.704-DF, DJ 18/11/2002; HC 24.493-MG, DJ 17/11/2003, e HC 18.060-PR,

DJ 26/8/2002. REsp 1.020.777-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em

17/2/2011.

Sexta Turma

INSIGNIFICÂNCIA. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. AGENDA.

A Turma concedeu a ordem de habeas corpus para reconhecer a atipicidade da

conduta imputada ao paciente denunciado pela suposta prática do crime previsto no

art. 168 do CP (apropriação indébita), ante a aplicação do princípio da

insignificância. In casu, a vítima, advogado, alegou que o paciente – também

advogado e colega do mesmo escritório de advocacia – teria se apropriado de sua

agenda pessoal (avaliada em cerca de dez reais), a qual continha dados pessoais e

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profissionais. Para a Min. Relatora, a hipótese dos autos revela um acontecimento

trivial, sem que tenha ocorrido qualquer circunstância hábil a lhe conferir maior

relevância. Consignou que, por mais que se considere que o objeto supostamente

tomado continha informações importantes à vítima, a conduta é dotada de mínimo

caráter ofensivo e reduzido grau de reprovação, assim como a lesão jurídica é

inexpressiva e não causa repulsa social. Precedentes citados do STF: HC 84.412-

SP, DJ 19/11/2004; do STJ: HC 103.618-SP, DJe 4/8/2008; REsp 922.475-RS, DJe

16/11/2009; REsp 1.102.105-RS, DJe 3/8/2009, e REsp 898.392-RS, DJe 9/3/2009.

HC 181.756-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em

15/2/2011.

CITAÇÃO. INTERROGATÓRIO. MESMO DIA.

A Turma, na parte conhecida, denegou a ordem de habeas corpus por entender que

não há nulidade quando a citação e o interrogatório do acusado ocorrem no mesmo

dia, porquanto a lei não estabelece intervalo mínimo de tempo para a prática de tais

atos e não foi demonstrado qualquer prejuízo à sua defesa. Precedentes citados:

AgRg no REsp 1.094.850-RS, DJe 3/8/2009, e HC 119.512-MG, DJe 2/3/2009.

HC 144.067-RJ, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-

SP), julgado em 15/2/2011.

EXPEDIENTE FORENSE. ALTERAÇÃO. PORTARIA.

Trata-se de REsp em que a controvérsia cinge-se à possibilidade de o TJDFT,

mediante portaria, transferir o feriado de 1º de novembro, existente na Justiça

Federal por força do disposto no art. 62 da Lei n. 5.010/1966, para outro dia útil

com o objetivo de otimizar o trabalho forense. Inicialmente, ressaltou a Min.

Relatora que, consoante julgados deste Superior Tribunal, a lei federal n.

5.010/1966, que organiza a Justiça Federal do Poder Judiciário Federal, não é

aplicável ao TJDFT. O conceito de Justiça Federal, que abarca somente os TRFs e

os juízes federais (art. 106 da CF/1988), não se confunde com o de Poder Judiciário

Federal do qual faz parte a Justiça do DF. Dessarte, não há falar em violação do

referido dispositivo legal suscitado nas razões do especial, como visto, inaplicável

à espécie. Ademais, a Administração Pública, por intermédio de seus órgãos, tem

competência para editar atos administrativos ordinatórios, como a portaria, com o

Page 164: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

fito de organizar e otimizar a atividade administrativa. Na hipótese, foi o que fez o

TJDFT quando editou portaria conjunta, transferindo o feriado de 1º de novembro

(quarta-feira) para o dia 3 de novembro (sexta-feira) com o único objetivo de

viabilizar e otimizar o trabalho forense. Assim, não há qualquer ilegalidade na

edição do citado ato administrativo, que se encontra revestido de todos os

elementos necessários a chancelar sua validade. Com esse entendimento, a Turma

negou provimento ao recurso. Precedentes citados: AgRg no REsp 869.893-DF,

DJe 3/11/2008; AgRg no REsp 1.053.210-DF, DJe 13/10/2009; EDcl no AgRg no

REsp 672.233-PR, DJ 5/9/2005; AgRg no Ag 1.275.071-SP, DJe 10/11/2010;

AgRg no REsp 779.403-SP, DJe 26/10/2010, e REsp 1.111.606-AL, DJe

3/11/2009. REsp 990.834-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,

julgado em 17/2/2011.

PROGRESSÃO. REGIME. MANIFESTAÇÃO. MP.

Trata-se de habeas corpus objetivando desconstituir acórdão que, diante da

ausência do prévio pronunciamento do Ministério Público (MP), cassou a

progressão de regime concedida ao paciente e, ainda, determinou que ele fosse

submetido a exame criminológico, do qual havia sido dispensado pelo juiz com

base na nova redação do art. 112 da Lei de Execuções Penais (LEP). A Turma

concedeu parcialmente a ordem ao entendimento de que, a despeito do vício formal

da decisão de primeiro grau, não se mostra razoável determinar o retorno do

paciente ao regime fechado, uma vez que o apenado não pode ser prejudicado com

nulidade à qual não deu causa. Consignou-se, ainda, que a gravidade em abstrato

das condutas que ensejaram a condenação e a longa pena a ser cumprida pelo

paciente são circunstâncias que não constituem fundamento suficiente para negar a

progressão, sobretudo quando há atestado recente de bom comportamento

carcerário. Precedentes citados: HC 109.925-SP, DJe 27/9/2010; HC 21.449-GO,

DJ 18/11/2002, e HC 55.899-DF, DJ 16/10/2006. HC 191.569-SP, Rel. Min. Og

Fernandes, julgado em 17/2/2011.

TRÁFICO. ENTORPECENTES. CONFISSÃO ESPONTÂNEA.

In casu, o ora paciente foi condenado como incurso no art. 33 c/c o art. 40, III,

ambos da Lei n. 11.343/2006, à pena de sete anos, nove meses e 22 dias de

Page 165: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

reclusão, a ser cumprida inicialmente em regime fechado. Em recurso de apelação,

o tribunal a quo manteve a sentença. Daí sobreveio o habeas corpus em que se

pretende o reconhecimento da atenuante de confissão espontânea disposta no art.

65, III, d, do CP. Ao apreciar o writ, observou o Min. Relator que o paciente

alegou ter comprado 20 gramas de maconha para consumo próprio, quando, na

realidade, conforme o boletim de ocorrência, ele foi flagrado à beira do muro da

delegacia de polícia local portando 180 gramas dessa substância entorpecente.

Contudo, apesar de o paciente ter admitido a propriedade da droga, negou a sua

comercialização, aduzindo que o entorpecente destinava-se ao consumo próprio,

procurando, com isso, minimizar a sua conduta. Assim, consignou que, como o

acusado não assumiu o fato criminoso que lhe foi imputado, é impossível aplicar a

atenuante do art. 65, III, do CP. Registrou, ademais, que, para o reconhecimento da

referida atenuante, exigir-se-ia aprofundada incursão na seara fático-probatória, o

que não é possível na via do habeas corpus. Diante disso, a Turma denegou a

ordem. Precedentes citados: REsp 1.133.917-PR, DJe 1º/2/2011; HC 150.408-SP,

DJe 12/4/2010; HC 105.408-MS, DJe 1º/6/2009, e REsp 934.004-RJ, DJ

26/11/2007. HC 191.105-MS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 17/2/2011.

INFORMATIVO 462

Quinta Turma

JÚRI. NULIDADE.

Trata-se de habeas corpus contra acórdão que confirmou condenação do paciente à

pena de 24 anos de reclusão em regime inicial fechado mais 12 dias-multa pelo

crime de latrocínio, desacolhendo a alegação de cerceamento de defesa, por ter sido

dada, no Plenário do Júri, nova capitulação jurídica ao crime cometido. A Turma,

ao prosseguir o julgamento, por maioria, concedeu a ordem por entender, entre

outras questões, que ficou demonstrado ser inquestionável o fato de que o paciente

foi denunciado por crime descrito como homicídio qualificado; em sendo assim, o

julgamento popular teria de limitar-se aos termos da sentença de pronúncia.

Consignou-se que, apesar da soberania do júri (art. 5º, XXXVIII, c e d, da CF),

forçoso se faz reconhecer que há limites a serem observados, isto é, para

Page 166: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Assim, a sentença que condenou o

paciente por crime de latrocínio no Tribunal do Júri incorreu em nulidade por

incompetência manifesta, haja vista que o latrocínio não é crime contra a vida, mas

contra o patrimônio. Além disso, registrou-se que, in casu, o réu foi condenado por

crime de que não pôde se defender adequadamente, visto que a pronúncia não fez

referência a roubo ou subtração de bens e, sobretudo, porque ofendeu claramente o

princípio dos limites da acusação previsto no art. 476 do CPP (tanto na redação

nova quanto na redação anterior do então art. 473 do mesmo código). Assentou-se,

por fim, que nem mesmo a desclassificação imprópria invocada pelo presidente do

Tribunal do Júri e admitida pelo TJ pode ser aceita como justificação para a

sentença; pois, mesmo assim, decorreria a necessária alteração da competência com

renovação do julgamento pelo juiz competente, mediante as garantias de ampla

defesa e contraditório prévio. Desse modo, tendo em vista que, na descrição da

pronúncia não está manifesta a conduta latrocida, desaparece a hipótese de possível

prorrogação da competência do Tribunal do Júri (art. 492, § 1º, CPP) e, quando

muito, para admitir a capitulação adotada pela sentença e acórdão impetrado, seria

necessário observar o disposto no art. 384 e §§ do CPP, com sua nova redação. HC

125.069-SP, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para o

acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 8/2/2011.

Sexta Turma

SONEGAÇÃO FISCAL. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO.

Para a promoção da ação penal referente ao delito de sonegação fiscal (art. 1º da

Lei n. 8.137/1990), não é necessário que se instaure procedimento administrativo

fiscal contra cada um dos corréus na qualidade de pessoas físicas, se já transcorreu

outro procedimento de igual natureza em que se apurou haver a prática do crime

por meio da pessoa jurídica. O fato de o paciente não ser sócio da empresa em

questão não afasta a possibilidade de imputar-lhe o aludido crime, visto que há

liame causal, estabelecido em razão de sua qualidade de procurador da sociedade,

além de existir suficiente descrição na denúncia de sua participação no crime.

Precedentes citados: HC 40.994-SC, DJ 24/4/2006; HC 41.310-MA, DJ 29/8/2005,

e HC 89.386-RJ, DJe 20/10/2008. HC 86.309-MS, Rel. Min. Maria Thereza de

Assis Moura, julgado em 8/2/2011.

Page 167: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ATIPICIDADE. DECLARAÇÃO. NOME FALSO.

A paciente foi presa em flagrante pela suposta prática de delitos previstos nas Leis

ns. 11.343/2006 e 10.826/2003, mas o MP somente a denunciou pelo pretenso

cometimento do crime previsto no art. 307 do CP, visto que ela, na delegacia de

polícia, declarou chamar-se por nome que, em realidade, não era o seu, mas sim de

sua prima, tudo a demonstrar que almejava encobrir seus antecedentes criminais.

Contudo, este Superior Tribunal já firmou que a conduta de declarar nome falso à

autoridade policial é atípica, por inserir-se no exercício do direito de autodefesa

consagrado na CF, o que levou a Turma a absolvê-la da imputação. Precedentes

citados: HC 153.264-SP, DJe 6/9/2010, e HC 81.926-SP, DJe 8/2/2010. HC

145.261-MG, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP),

julgado em 8/2/2011.

DEFENSOR DATIVO. INTIMAÇÃO. DIFICULDADE. LOCALIZAÇÃO.

Sob o fundamento de que havia dificuldade em localizar a advogada dativa

regularmente constituída para a defesa do paciente, o TRF nomeou-lhe outra

mediante publicação no Diário da Justiça e, assim, realizou o julgamento da

apelação. Então, vê-se, pelas peças acostadas aos autos, que o julgamento dessa

apelação deu-se em desacordo com julgado do STJ. Uma circunstância é a total

impossibilidade de efetuar a intimação, essa sim justificadora da nomeação de novo

defensor, outra é a simples dificuldade de localização, pois se faz necessário

esgotar todos os meios de localização do defensor para garantir a estrita

observância do devido processo legal e da ampla defesa. Note-se, outrossim, que o

entendimento esposado por este Superior Tribunal é que deve ser pessoal a

intimação do defensor dativo, o que nem sequer se deu quando nomeado o novo

defensor. Precedentes citados: HC 82.766-GO, DJe 24/5/2010, e HC 130.191-SP,

DJe 11/10/2010. HC 178.192-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 8/2/2010.

PRESCRIÇÃO. PENDÊNCIA. RESP. INTERESSE.

O tribunal a quo, na ocasião do julgamento da apelação, declarou extinta a

punibilidade do primeiro recorrente, pela ocorrência da prescrição da pretensão

punitiva estatal. No Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamento do

Page 168: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Recurso Especial, o segundo recorrente também veio a ser beneficiado com o

instituto da prescrição. Questionou-se, então, se a Turma julgadora, diante do

reconhecimento da extinção da punibilidade dos recorrentes, poderia conhecer do

apelo especial, no qual se alega, entre outros temas, a atipicidade das condutas, e

prosseguir no julgamento com o exame da matéria de fundo. Nesse contexto, após

a convocação sucessiva de dois Ministros da Quinta Turma para a composição do

quórum, a Sexta Turma, por maioria, entendeu que, consumado o lapso

prescricional na pendência do julgamento do especial, há que se declarar,

preliminarmente, a extinção da punibilidade, ficando prejudicada, em

consequência, a análise da matéria objeto de irresignação. Segundo o Relator,

mostra-se patente a falta de interesse dos recorrentes em obter a absolvição em

razão da atipicidade da conduta, diante dos amplos efeitos produzidos pelo

reconhecimento daquele instituto, tal como apregoado pela doutrina e

jurisprudência desta Corte. Já os votos vencidos entendiam que, nesses casos em

que se busca a absolvição, o reconhecimento da prescrição poderia produzir alguns

reflexos na esfera extrapenal (tal como no caso, de funcionários públicos sujeitos à

decretação da perda do cargo pela Administração), devendo-se, assim, assegurar-

lhes o direito de ver o mérito analisado. Precedentes citados do STF: HC 96.631-

RS, DJe 20/11/2009; do STJ: AgRg no Ag 811.515-CE, DJe 23/3/2009; RHC

17.276-SP, DJ 18/2/2008; REsp 661.338-RS, DJ 14/11/2005, e REsp 691.696-PE,

DJ 27/3/2006. REsp 908.863-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 8/2/2011.

INFORMATIVO 461

Quinta Turma

IDENTIDADE FÍSICA. JUIZ. PROCESSO PENAL.

A Turma denegou a ordem de habeas corpus, reiterando que o princípio da

identidade física do juiz, aplicável no processo penal com o advento do § 2º do art.

399 do CPP, incluído pela Lei n. 11.719/2008, pode ser excetuado nas hipóteses em

que o magistrado que presidiu a instrução encontra-se afastado por um dos motivos

dispostos no art. 132 do CPC – aplicado subsidiariamente, conforme permite o art.

3º do CPP, em razão da ausência de norma que regulamente o referido preceito em

matéria penal. Precedente citado: HC 163.425-RO, DJe 6/9/2010. HC 133.407-RS,

Page 169: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/2/2011.

Sexta Turma

EXECUÇÃO PENAL. SINDICÂNCIA. INSTRUÇÃO. AUSÊNCIA.

ADVOGADO.

Foi instaurada contra o ora paciente sindicância para apurar falta disciplinar

considerada de natureza grave (art. 53, III e IV, da LEP), consistente em

desrespeitar as normas de disciplina da unidade prisional, por ter ameaçado

funcionário no exercício de suas funções (art. 52 do mesmo diploma). As

declarações do sindicado e os depoimentos das testemunhas não foram realizados

na presença de defensor, constituído ou nomeado. A Turma concedeu a ordem e

anulou a sindicância por entender que não se aplica à espécie a Súmula vinculante

n. 5 do STF, porque os precedentes que a embasaram não dizem respeito à

execução penal e desconsiderada a condição de vulnerabilidade a que submetido o

encarcerado. HC 135.082-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado

em 3/2/2011.

NULIDADE. AUSÊNCIA. DEFENSOR. AUDIÊNCIA.

Foi realizada audiência para oitiva de testemunha de acusação, em 17/4/2000, sem

a presença do advogado do paciente, não tendo o juiz de primeiro grau, na

oportunidade, nomeado defensor e, na sentença, o juiz valeu-se desses depoimentos

para amparar sua conclusão sobre a autoria e a materialidade. Assim, verifica-se o

constrangimento ilegal sofrido pelo paciente que conduz à nulidade absoluta do

processo a partir do vício reconhecido, por inequívoco cerceamento de defesa.

Logo, a Turma anulou o processo desde a audiência da oitiva de testemunhas de

aval da denúncia realizada sem a presença de defensor e, após o paciente responder

em liberdade, assegurou o prosseguimento da referida ação penal, facultando a ele

ser novamente interrogado. HC 102.226-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em

3/2/2011.

TRANCAMENTO. AÇÃO PENAL. HC. APLICAÇÃO. PRINCÍPIO DA

Page 170: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

INSIGNIFICÂNCIA.

Trata-se, no caso, do furto de um “Disco de Ouro”, de propriedade de renomado

músico brasileiro, recebido em homenagem à marca de 100 mil cópias vendidas.

Apesar de não existir nos autos qualquer laudo que ateste o valor da coisa

subtraída, a atitude do paciente revela reprovabilidade suficiente para que não seja

aplicado o princípio da insignificância, haja vista a infungibilidade do bem. Para

aplicar o referido princípio, são necessários a mínima ofensividade da conduta do

agente, nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de

reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da ordem jurídica

provocada. Assim, a Turma denegou a ordem. Precedentes citados: HC 146.656-

SC, DJe 1º/2/2010; HC 145.963-MG, DJe 15/3/2010, e HC 83.027-PE, DJe

1º/12/2008. HC 190.002-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 3/2/2011.

INFORMATIVO 460

Quinta Turma

EXCESSO. PRAZO. DEFESA. PROCURAÇÃO.

Está evidenciado que a defesa contribuiu para a demora no julgamento do feito,

visto que as testemunhas que arrolou não compareceram à audiência de instrução e

julgamento, houve requerimento de oitiva de testemunhas em outra comarca, sem

falar no atraso na entrega de instrumento de procuração. Note cuidar-se de causa

complexa (três acusados e dois advogados constituídos), além do fato de que a

audiência foi, ao final, realizada, conforme atesta o sítio eletrônico mantido pelo

TJ. Por tudo isso se afastou a alegação de excesso de prazo na formação da culpa.

Precedentes citados: HC 141.026-MG, DJe 31/5/2010, e HC 137.574-GO, DJe

23/11/2009. HC 162.936-ES, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 16/12/2010.

Sexta Turma

LEI MARIA DA PENHA. SURSIS PROCESSUAL.

Trata-se de habeas corpus em que se discute a possibilidade de oportunizar ao MP

o oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo (sursis

Page 171: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

processual) nos feitos vinculados à Lei Maria da Penha. A Turma, por maioria,

concedeu a ordem pelos fundamentos, entre outros, de que, na hipótese, tendo a

inflição da reprimenda culminado na aplicação de mera restrição de direitos (como,

em regra, é o caso das persecuções por infrações penais de médio potencial

ofensivo), não se mostra proporcional inviabilizar a incidência do art. 89 da Lei n.

9.099/1995, por uma interpretação ampliativa do art. 41 da Lei n. 11.340/2006,

pois tal providência revelaria uma opção dissonante da valorização da dignidade da

pessoa humana, pedra fundamental do Estado democrático de direito. Consignou-se

que, havendo, no leque de opções legais, um instrumento benéfico tendente ao

reequilíbrio das consequências deletérias causadas pelo crime, com a possibilidade

de evitar a carga que estigmatiza a condenação criminal, mostra-se injusto, numa

perspectiva material, deixar de aplicá-lo per fas et nefas. Precedentes citados do

STF: HC 82.969-PR, DJ 17/10/2003; do STJ: REsp 1.097.042-DF, DJe 21/5/2010.

HC 185.930-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em

14/12/2010.

HOMICÍDIO. COMPETÊNCIA FEDERAL.

Trata-se de homicídio praticado por quadrilha com o intuito de impedir

investigações desenvolvidas pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa

Humana (CDDPH), órgão do Ministério da Justiça. Anotou-se que essas

investigações estão inseridas no exercício das atribuições do CDDPH definidas no

art. 4º da Lei n. 4.319/1964. Relata a denúncia que o homicídio foi praticado com

objetivo de evitar que a vítima prestasse declarações ao CDDPH de maneira a

impedir que esse órgão federal descobrisse as práticas da organização criminosa.

Dessa forma, para o Min. Relator, ficou evidente que a infração penal maculou de

forma indelével serviço e interesse da União. Com esse fundamento, entre outros, a

Turma, ao prosseguir o julgamento, denegou a ordem de habeas corpus,

concluindo que se trata de competência da Justiça Federal. HC 57.189-DF, Rel.

Min. Og Fernandes, julgado em 16/12/2010. 

JÚRI. ORDEM. QUESITOS.

O julgamento do paciente ocorreu em 23/10/2008 quando já vigorava a Lei n.

11.689/2008, mas o juízo não obedeceu à ordem prevista no art. 483, I, II, III, §§ 1º

Page 172: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

e 2º, do CPP, com a redação dada pela citada lei. Explica o Min. Relator que, na

sessão de julgamento, foi admitida a existência do fato e reconhecida a autoria do

crime, em seguida, questionou-se a respeito da tentativa, tendo os jurados

respondido afirmativamente. Assim, segundo o Min. Relator, tornou-se prejudicada

a votação de qualquer quesito relativo à tese de desclassificação do delito. No

entanto, explica que, mantido o crime doloso contra a vida, o quesito genérico

sobre a absolvição do paciente deixou de ser formulado pela presidência do júri

conforme dispõe o art. 483, III e § 2º, do CPP. Dessarte, para o Min. Relator, trata-

se de quesito obrigatório, incidindo, na espécie, a Súmula n. 156/STF. Em

consequência, a Sexta Turma anulou o julgamento do tribunal do júri e deferiu ao

acusado o direito de aguardar em liberdade o novo julgamento, em restrita

obediência ao princípio da razoável duração do processo, visto que preso desde

junho de 2008. Diante do exposto, concedeu a ordem. Precedentes citados: HC

78.404-RJ, DJe 9/2/2009, e HC 109.283-RJ, DJe 10/11/2008. HC 137.710-GO, Rel.

Min. Og Fernandes, julgado em 16/12/2010.

INFORMATIVO 459

Sexta Turma

COMPETÊNCIA. LOCAL. CRIME. DÚVIDA.

A Turma denegou a ordem de habeas corpus e entendeu que, havendo dúvidas

quanto ao local da consumação do delito de homicídio, a competência para o

processamento e julgamento do feito deve seguir a regra subsidiária da prevenção

nos termos do art. 83 do CPP. Precedentes citados: HC 81.588-BA, DJe 14/4/2008;

RHC 14.667-MG, DJ 11/10/2004; HC 23.710-PE, DJ 18/11/2002, e CC 36.333-SP,

DJ 10/2/2003. HC 184.063-MG, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador

convocado do TJ-SP), julgado em 7/12/2010.

INFORMATIVO 458

Page 173: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Sexta Turma

AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA. INÉRCIA. MP.

No trato de crime de denunciação caluniosa (art. 339 do CP), a ação penal privada

subsidiária só teria guarida diante da prova inequívoca de haver a total inércia do

MP: mesmo de posse de todos os elementos necessários para formular acusação,

ele deixa de ajuizar a ação penal no prazo legal sem qualquer motivo justificado.

No caso, o MP instaurou procedimento investigatório contra a promotora

(querelada), o qual, ao final, foi arquivado pela Procuradoria-Geral de Justiça por

falta de tipicidade da conduta. Assim, não há como ter por cabível a ação privada

subsidiária, mesmo que se reconheça como ausência de manifestação do MP o fato

de o procurador-geral só ter arquivado a representação após o ajuizamento da

citada ação penal subsidiária, pois eventual inação do MP estaria suprida por seu

parecer de rejeição da queixa-crime, pedido que, segundo a jurisprudência, é

irrecusável. Precedentes citados do STF: AgRg no Inq 2.242-0-DF, DJ 25/8/2006;

do STJ: AgRg na APn 557-DF, DJe 9/11/2010; AgRg na SD 180-RJ, DJe

28/6/2010; REsp 857.063-PR, DJe 23/6/2008, e HC 64.564-GO, DJ 9/4/2007. HC

175.141-MT, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP),

julgado em 2/12/2010.

INFORMATIVO 457

Terceira Seção

COMPETÊNCIA. DOCUMENTO FALSO. HABILITAÇÃO.

Trata-se de conflito de competência (CC) entre as Justiças Federal e Militar. No

caso, o Ministério Público Militar denunciou o acusado pela suposta prática do

crime previsto no art. 315 c/c o art. 311, ambos do Código Penal Militar (uso de

documento falso). Isso porque ele teria apresentado carteira de habilitação de arrais

amador (para condução de embarcação) falsificada à equipe de inspeção naval da

capitania dos portos. A Seção conheceu do conflito e declarou competente para o

julgamento do feito a Justiça Federal, ao entendimento de que, não obstante o

objeto da falsificação seja carteira de habilitação de arrais amador, cuja emissão é

realizada pela Marinha do Brasil, órgão integrante das Forças Armadas, a hipótese

Page 174: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

não atrai a competência da Justiça Militar. Observou-se que se trata de delito de

falso cometido por sujeito ativo civil que apresentou a documentação quando

instado para tanto no ato de fiscalização naval. Contudo, conforme dispõe o art. 21,

XXII, da CF/1988, a execução de polícia marítima é da competência da União e

exercida pela Polícia Federal (art. 144 do mesmo texto constitucional). Precedentes

citados do STF: HC 103.318-PA, DJe 10/9/2010, e HC 90.451-SP, DJe 3/10/2008.

CC 108.134-SP, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 24/11/2010.

COMPETÊNCIA. CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA. DEPUTADO

ESTADUAL.

Cuida-se de conflito de competência cuja essência é saber a quem cabe julgar os

crimes dolosos contra a vida quando praticados por deputado estadual, isto é, se a

prerrogativa de função desses parlamentares está inserida na própria Constituição

Federal ou apenas na Constituição do estado. A Seção, por maioria, entendeu que

as constituições locais, ao estabelecer para os deputados estaduais idêntica garantia

prevista para os congressistas, refletem a própria Constituição Federal, não se

podendo, portanto, afirmar que a referida prerrogativa encontra-se prevista,

exclusivamente, na Constituição estadual. Assim, deve prevalecer a teoria do

paralelismo constitucional, referente à integração de várias categorias de princípios

que atuam de forma conjunta, sem hierarquia, irradiando as diretrizes

constitucionais para os demais diplomas legais do estado. Consignou-se que a

adoção de um critério fundado na aplicação de regras simétricas reforça a

relevância da função pública protegida pela norma do foro privativo. Ademais, a

própria Carta da República institui, em seu art. 25, o princípio da simetria,

dispondo que os estados organizam-se e se regem pelas constituições e leis que

adotarem, observando-se, contudo, os princípios por ela adotados. Diante desses

fundamentos, por maioria, conheceu-se do conflito e se declarou competente para o

julgamento do feito o TJ. CC 105.227-TO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 24/11/2010.

Quinta Turma

COMPETÊNCIA. CRIME. POLICIAL FEDERAL.

Page 175: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

A Turma, entre outras questões, assentou, por maioria, que compete à Justiça

Federal o julgamento dos delitos cometidos por policiais federais que estejam fora

do exercício de suas funções, mas utilizem farda, distintivo, identidade, arma e

viatura da corporação. REsp 1.102.270-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia

Filho, julgado em 23/11/2010.

Sexta Turma

IMPEDIMENTO. JUIZ CONVOCADO. TJ.

No caso, foi proferida sentença por juiz que, posteriormente, foi convocado

para compor o TJ e, efetivamente, veio a participar do julgamento da apelação

interposta pela defesa do ora paciente, no qual foi mantida a sentença. Assim, a

Turma entendeu que houve ofensa ao art. 252, III, do CPP, que prevê regra de

impedimento, devendo-se decretar a nulidade do respectivo acórdão por

infração à lei processual e, em última razão, à própria imparcialidade do

magistrado. Precedentes citados: HC 121.416-RS, DJe 3/11/2009; HC 57.018-

SP, DJe 22/3/2010; HC 113.176-AL, DJe 31/8/2009, e HC 31.042-RJ, DJe

3/8/2009. HC 172.009-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,

julgado em 23/11/2010.

INFORMATIVO 456

Sexta Turma

RECEPTAÇÃO. QUADRILHA. REFORMATIO IN PEJUS.

In casu, o ora paciente foi condenado à pena de quatro anos e seis meses de

reclusão em regime semiaberto pela prática dos delitos tipificados no art. 180, § 1º,

c/c art. 29 e art. 70, duas vezes, e no art. 288 na forma do art. 69, todos do CP. Em

apelação, reconheceu-se o cometimento do delito de receptação apenas uma vez,

em concurso com o crime de formação de quadrilha, reduzindo-se a pena imposta.

No habeas corpus, sustenta-se, entre outras questões, que houve um equívoco não

sanado na via dos embargos de declaração, a questão da redução da pena, o que

Page 176: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

possivelmente daria o direito ao paciente de cumpri-la no regime inicial aberto e

substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Ao apreciar o writ,

asseverou a Min. Relatora que o tribunal a quo promoveu reforma na sentença,

afastando o concurso formal. Não obstante, o quantum da reprimenda quanto ao

crime de receptação não sofreu alteração, porque o colegiado, apesar disso, fez

incremento de um sexto em razão do significado econômico dos medicamentos

receptados. Isso, contudo, afigura-se incongruente; pois, após fixar a pena-base no

mínimo legal, ou seja, três anos, fez o mencionado aumento fora dos ditames dos

arts. 59 e 68 do CP, pois o significado econômico da receptação não se enquadra

nas duas etapas posteriores, ou seja, circunstâncias atenuantes e agravantes e as

causas de diminuição e de aumento. Ressaltou que, nesse particular, o acórdão

promoveu reformatio in pejus, pois se trata de consideração não aventada pela

sentença que, como visto, depois de encontrar uma pena-base no mínimo legal,

promoveu um único aumento relativo ao concurso formal. Assim, afastado esse

pelo julgado combatido, não podia ser aplicado outro tipo de aumento, não

contemplado na instância singular e tampouco objeto de recurso, ainda mais porque

desprovido de previsão legal, nos moldes em que engendrado. Diante disso, a

Turma concedeu a ordem para reduzir a pena pelo crime de receptação qualificada

(art. 180, § 1º, do CP) a três anos de reclusão e fixar o regime aberto para o início

do cumprimento (art. 33, § 2º, c, e § 3º, do mesmo código) do total da reprimenda,

que é de quatro anos em face também da condenação de um ano pelo crime de

quadrilha. Precedente citado: REsp 225.248-MG, DJ 6/3/2006. HC 177.401-SP,

Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 16/11/2010.

INFORMATIVO 455

Quinta Turma

LAUDO PERICIAL. CRIPTOANÁLISE. DESENTRANHAMENTO.

AUTOS.

A Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, concedeu a ordem de habeas

corpus para reconhecer a ilicitude do laudo pericial de criptoanálise e determinar o

desentranhamento dos autos. Esse laudo é uma interpretação sofisticada de

anotações codificadas constantes em agenda, contudo realizada de forma unilateral

Page 177: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

pelo MP. Segundo o Min. Relator, o habeas corpus pretendeu, em síntese, o

reconhecimento da ilicitude de laudo pericial de criptoanálise produzido por

profissional ligado ao MP (órgão acusador) sem a participação do réu ou do

magistrado. Destacou ainda que, embora a prova tenha sido produzida na vigência

do art. 159 do CPP, com a redação dada pela Lei n. 8.862/1994, tanto o texto

anterior quanto o atual da Lei n. 11.690/2008 exigem que a perícia seja feita por

perito oficial, distinguindo-se apenas quanto à quantidade de técnicos necessária

para a realização dos exames. No caso, a busca e apreensão da agenda cuja perícia

se contesta foram realizadas em 28/11/2007, ocasião em que foi apreendida em

poder do paciente acusado de envolvimento em crimes contra a ordem tributária, de

lavagem de dinheiro e de quadrilha. No entanto, a criptoanálise da agenda só

ocorreu em 19/8/2008, quando já em curso o processo criminal. Assim, observou o

Min. Relator que não se trata de perícia feita durante a fase policial tampouco feita

em situação de urgência diante do risco de desaparecimento dos sinais do crime ou

pela impossibilidade ou dificuldade de conservação do material a ser examinado.

Dessa forma, explicou que a perícia foi realizada sem observância dos postulados

do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, já que produzida por

servidora que compõe o quadro do MP em vez de órgão destinado exclusivamente

à produção de perícias. Ademais, asseverou que foi produzida sem que houvesse

autorização, controle judicial ou mesmo possibilidade de a defesa ofertar quesitos,

de nomear assistente técnico, ou de manifestar-se sobre a eventual suspeição ou

impedimento do perito, de acordo com o disposto no art. 159, §§ 3º e 5º, do CPP.

Para a tese vencida, primeiro não houve impugnação da perícia pelos meios

próprios da defesa, mas em habeas corpus como substitutivo processual. Por outro

lado, considerou que a iniciativa do MP de juntar o laudo técnico com as

interpretações da agenda regularmente apreendida em diligência não constitui a

prova pericial prevista no art. 159 do CPP, nem tem valor de prova produzida sob

direção judicial, seria apenas oferta de documento da parte, ou seja, prova

extrajudicial legalmente admissível. Não seria, portanto, caso de desentranhar o

laudo dos autos por considerá-lo ilícito ou inválido, sem que o juiz primeiro

apreciasse seu valor, segundo sua livre avaliação das provas, isso antes do

encerramento da instrução processual ou das alegações finais, ocasiões em que

seria possível verificar se houve prejuízo à defesa. HC 154.093-RJ, Rel. Min. Jorge

Page 178: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Mussi, julgado em 9/11/2010.

Sexta Turma

QUALIFICADORA. AFASTAMENTO. NOVO JÚRI.

In casu, o recorrente sustenta que o tribunal a quo, ao reconhecer como

circunstância agravante, e não como qualificadora, o fato de o crime ter sido

cometido para facilitar ou assegurar a execução, ocultação, impunidade ou

vantagem de outro crime (art. 61, II, b, do CP), deveria apenas retificar a pena

fixada, nos termos do § 2º do art. 593 do CPP, e não anular o julgamento. Contudo,

ressaltou a Min. Relatora que o tribunal local tratou a qualificadora como elementar

do crime (art. 121, § 2º, V, do CP), afastando-a por entender ser manifestamente

contrária à prova dos autos, o que atrai a aplicação do § 3º do art. 593 do CPP e

impõe a nulidade do decisum para nova submissão do réu ao tribunal do júri.

Precedentes citados do STF: HC 66.334-SP, DJ 19/5/1989; do STJ: REsp 702.223-

MT, DJe 28/6/2010. REsp 981.057-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 9/11/2010.

INFORMATIVO 454

Quinta Turma

SIGILO. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. BUSCA. APREENSÃO.

Trata-se de habeas corpus em que, entre outras alegações, pretende-se a anulação

das informações cadastrais obtidas com a alegada exacerbação de decisão judicial

de quebra de sigilo telefônico, bem como das interceptações telefônicas e das

buscas e apreensões operadas em desfavor do paciente, além da cassação do

despacho que recebeu a denúncia com relação a ele. A Turma, por maioria,

denegou a ordem pelos fundamentos, entre outros, de que, ao contrário do que

asseverado pelos impetrantes, a identificação dos terminais que mantiveram

contato com os telefones interceptados e o fornecimento dos respectivos dados

cadastrais constituíram medidas efetivamente autorizadas pela decisão judicial, que

Page 179: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

acolheu todos os pedidos formulados pelo Parquet, entre os quais se inseria o

envio, por parte das operadoras de telefonia, das contas reversas de vários números,

que constituem o detalhamento das linhas a partir das quais foram efetuadas

ligações para determinado telefone. Observou-se que posteriores requerimentos

ministeriais contiveram o pedido expresso de fornecimento de contas reversas de

vários números de telefone, providência autorizada pelos respectivos provimentos

jurisdicionais que deferiram as diversas medidas solicitadas pelo órgão acusador,

razão pela qual não se constata qualquer discrepância entre os ofícios

encaminhados às operadoras de telefonia e as decisões judiciais emanadas.

Destarte, a inclusão do paciente nas investigações em decorrência da obtenção de

seus dados cadastrais pelo fato de ter conversado com um dos corréus cujo sigilo

das comunicações telefônicas estava quebrado deu-se de maneira lícita, a partir de

pedidos do MP para que lhe fossem fornecidas cópias de contas reversas, o que foi

deferido pelos magistrados responsáveis pelo feito. Registrou-se que o art. 5º, XII,

da CF/1988 assegura o sigilo das comunicações telefônicas no qual não se inserem

os dados cadastrais do titular de linha de telefone celular. Quanto à busca e

apreensão, assinalou-se não se ter retirado, no caso, a exclusividade da execução da

medida por autoridade policial, a que inclusive se franqueia a requisição de auxílio,

bem como que não houve qualquer ofensa ao art. 144 da CF/1988, já que os

policiais militares não invadiram a competência reservada à polícia civil, nos

termos dos §§ 4º e 5º do referido dispositivo. Precedentes citados do STF: RE

404.593-ES, DJe 23/10/2009; HC 91.481-MG, DJe 24/10/2008; do STJ: EDcl no

RMS 25.375-PA, DJe 2/2/2009, e HC 57.118-RJ, DJe 19/10/2009. HC 131.836-RJ,

Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2010.

Sexta Turma

PARECER. MP. CONTRADITÓRIO.

O parecer do Ministério Público ofertado em segundo grau de jurisdição, na

qualidade de custos legis e não de parte (no caso, o previsto no art. 610 do CPP),

não enseja contraditório. Portanto, a falta de manifestação da defesa a seu respeito

não causa nulidade. Precedentes citados: HC 128.181-SP, DJe 9/8/2010, e HC

Page 180: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

127.630-SP, DJe 28/9/2009. HC 163.972-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 4/11/2010.

DEFESA PRÉVIA. GREVE. DEFENSORIA PÚBLICA.

A defesa da paciente estava sob a tutela de defensor público. Ao acompanhá-la a

seu interrogatório, o defensor saiu de lá intimado para a apresentação da defesa

prévia, peça que não apresentou. Contudo, em razão da greve da Defensoria

Pública, foi nomeado defensor dativo, que estava presente à audiência de instrução

e julgamento. Note-se que a paciente foi devidamente intimada, mas não se

insurgiu contra a nomeação. Dessarte, é lógico concluir que a razão pela qual a

paciente era defendida pela Defensoria seria não possuir recursos para constituir

advogado próprio de sua confiança, o que justifica a nomeação do defensor dativo

diante da greve deflagrada, sem que se paralisasse o processo até o fim do

movimento grevista ou mesmo se consultasse previamente a paciente sobre o

possível interesse em constituir advogado particular. Vê-se, também, que, poucos

dias após a referida intimação do defensor público, o próprio TJ editou resolução

que suspendia retroativamente os prazos até a solução da greve. Porém, quando da

nomeação do dativo, não lhe foi devolvido o prazo para que apresentasse suas

alegações. Quanto a isso, é certo que a jurisprudência do STJ não reconhece

nulidade no fato de não haver a apresentação da defesa preliminar ao tribunal do

júri pela defensoria quando intimada para tal, pois isso pode configurar estratégia

defensiva. Todavia, no caso, considerou-se que a defesa não apresentou a peça e se

determinou o prosseguimento do feito, apesar da suspensão dos prazos pela

referida resolução. Assim, na hipótese, houve cerceamento de defesa, que deve ser

sanado de ofício, quando mais se sopesada a impossibilidade de arrolar

testemunhas, decorrente da falta de oportunidade de a defesa apresentar a referida

peça. Daí, apesar de denegar o habeas corpus, há que conceder ordem de ofício

para anular a sentença de pronúncia e possibilitar à defesa o dito arrolamento,

prosseguindo-se no feito, após a oitiva, mantida a instrução já realizada.

Precedentes citados: HC 103.408-MG, DJe 8/3/2010, e HC 92.642-MS, DJe

1º/7/2010. HC 124.429-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado

em 4/11/2010.

INFORMATIVO 453

Page 181: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Terceira Seção

COMPETÊNCIA. DESLOCAMENTO. JUSTIÇA FEDERAL. HOMICÍDIO.

GRUPOS DE EXTERMÍNIO.

Trata-se de incidente de deslocamento de competência suscitado pelo procurador-

geral da República para transferir à Justiça Federal a investigação, o processamento

e o julgamento do homicídio de advogado e vereador conhecido defensor dos

direitos humanos que, durante toda a sua trajetória pública, vinha denunciando

grupos de extermínio que agem impunes há mais de uma década em região

nordestina. O vereador foi assassinado em 24/1/2009, depois de sofrer diversas

ameaças e atentados por motivo torpe (vingança), supostamente em decorrência de

sua atuação de enfrentamento e denúncias contra os grupos de extermínio. As ações

desses grupos denunciados pelo vereador resultaram em cerca de duzentos

homicídios com características de execução sumária e com suposta participação de

particulares e autoridades estaduais, tendo, inclusive, assassinado testemunhas

envolvidas. Segundo a Min. Relatora, tais fatos decorrem de grave violação de

direitos humanos, o que acabou por atrair a atenção de organizações da sociedade

civil, das autoridades municipais locais, das Secretarias de Segurança dos dois

estados do Nordeste envolvidos, dos respectivos Ministérios Públicos e Tribunais

de Justiça, do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, do Ministério da Justiça

e da Polícia Federal, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), da

Ordem dos Advogados, passando pelo Ministério Público Federal, até a

manifestação do então procurador-geral da República. Ressalta que a instauração

de comissão parlamentar de inquérito na Câmara dos Deputados (CPI) para

investigar a atuação desses grupos de extermínio deu-se, em 2005. Entretanto

observa que desde 2002 já haviam sido feitas, na jurisdição internacional na OEA,

recomendações para que fossem adotadas medidas cautelares destinadas à proteção

integral de diversas pessoas envolvidas, entre elas o vereador, medidas as quais ou

deixaram de ser cumpridas ou não foram efetivas. Para a Min. Relatora, os fatos

que motivaram o pedido de deslocamento da competência nos moldes do § 5º do

art. 109 da CF/1988 fundamentaram-se nos pressupostos exigidos para sua

concessão: na existência de grave violação de direitos humanos, no risco de

responsabilização internacional decorrente do descumprimento de obrigações

jurídicas assumidas em tratados internacionais e na incapacidade das instâncias e

Page 182: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

autoridades locais de oferecer respostas efetivas como levantar provas, combater,

reprimir ou punir as ações desses grupos de extermínio que deixaram de ser feitas,

muitas vezes, pela impossibilidade de condições. Por outro lado, destaca que não

foram trazidos elementos concretos em que se evidenciaria o envolvimento de

membros do Judiciário ou do MP local ou ainda inércia em apurar os fatos.

Também explica que não poderia acolher pedidos genéricos quanto ao

desarquivamento de feitos ou outras investigações de fatos não especificados ou

mesmo sem novas provas. Diante do exposto, a Seção, ao prosseguir o julgamento,

acolheu em parte o incidente, deslocando a ação penal para a Justiça Federal da

Paraíba, que designará a circunscrição competente sobre o local do crime e dos

fatos a ele conexos, bem como determinando a comunicação deste julgamento ao

ministro da Justiça e às Corregedorias dos Tribunais de Justiça dos estados

nordestinos envolvidos. Precedente citado: IDC 1-PA, DJ 10/10/2005. IDC 2-DF,

Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/10/2010.

INFORMATIVO 452

Quinta Turma

AUDIÊNCIA. MEIO AUDIOVISUAL. DEGRAVAÇÃO.

O tribunal a quo, em sede de apelação, converteu o julgamento em diligência para

que a primeira instância providenciasse a degravação do interrogatório dos

acusados, registrado por meio audiovisual. A Turma, entre outras questões,

reafirmou o entendimento de que o art. 405 do CPC, com a redação dada pela Lei

n. 11.719/2008, ao possibilitar o registro da audiência de instrução em meio

audiovisual, buscou dar celeridade ao andamento dos trabalhos com a

desnecessidade de redução a termo dos depoimentos do acusado, vítima e

testemunhas, bem como possibilitou um registro fiel da íntegra do ato, com

imagem e som, em vez de simples escrita. Assim, a Turma concedeu parcialmente

a ordem. Precedente citado: HC 153.423-SP, DJe 26/4/2010. HC 172.840-SP, Rel.

Min. Gilson Dipp, julgado em 19/10/2010.

QO. CANCELAMENTO. JULGAMENTO.

Page 183: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Na espécie, a Min. Relatora, via telefone, comunicou ao advogado que não julgaria

o recurso do qual era patrono na sessão previamente marcada. Contudo, o processo

foi julgado sem a presença do advogado, que pugnou pela sustentação oral da

tribuna. Assim, a Min. Relatora propôs, em questão de ordem, o cancelamento do

pregão e consequente anulação do julgamento para que outro se realize a fim de

que o advogado possa fazer a sustentação oral. A Turma, por maioria, entendeu não

ser possível a anulação do julgamento, pois ele tem solenidades formais

imprescindíveis e uma deficiência de comunicação não acarreta seu cancelamento

por meio de questão de ordem. QO no REsp 833.950-MG, Rel. Min. Laurita Vaz,

em 19/10/2010.

DEPRECAÇÃO. PROVA. JUIZADO ESPECIAL.

A Turma, por maioria, concedeu a ordem de habeas corpus e entendeu que não é

possível deprecar ao Juizado Especial Criminal da capital do estado a coleta de

provas em processo que tramita no juízo de Direito de outra comarca (crimes

previstos na Lei n. 9.605/1998), apesar da edição de norma estadual permissiva

(resolução do conselho da magistratura). Essa impossibilidade deriva, por último,

do preceito constitucional que reserva ao Juizado a competência nos crimes de

menor potencial ofensivo (art. 98, I, da CF/1988). Para denegar a ordem, os votos

vencidos lastreavam-se em precedentes e no fato de que não houve prejuízo na

deprecação (princípio pas de nullité sans grief). HC 118.504-RS, Rel. originário

Min. Jorge Mussi, Rel. para acórdão Min. Gilson Dipp, julgado em

21/10/2010.

SENTENÇA. INCOMPETÊNCIA. QUANTUM. VINCULAÇÃO.

Se apenas há recurso da defesa, a sentença penal exarada por juiz incompetente tem

o efeito de vincular o juízo competente em relação ao quantum da pena. Trata-se da

garantia fundamental a non reformatio in pejus. Anote-se que o art. 617 do CPP

não estabelece ressalva quanto aos casos de anulação do processo, ainda que por

incompetência absoluta. Precedentes citados do STF: HC 80.263-SP, DJ

27/6/2003; HC 75.907-RJ, DJ 9/4/1999; do STJ: HC 99.274-SP, DJe 20/5/2010;

HC 105.384-SP, DJe 3/11/2009; HC 90.472-RS, DJe 3/11/2009, e RHC 20.337-

PB, DJe 4/5/2009. HC 114.729-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em

Page 184: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

21/10/2010.

Sexta Turma

COMPETÊNCIA. JÚRI FEDERAL. ANULAÇÃO. PRONÚNCIA.

Na origem, o ora paciente foi denunciado no juízo federal, juntamente com outros

corréus, como incurso nas sanções do art. 121, § 2º, I e IV, c/c art. 14, II, art. 288,

parágrafo único, e art. 334, § 1º, c, todos do CP. Alegando a incompetência daquele

juízo para instruir e julgar a ação penal com relação aos crimes de homicídio, sob o

argumento de que tais ilícitos não seriam conexos com os de descaminho e

formação de quadrilha, a defesa do paciente opôs exceção de incompetência, a qual

foi rejeitada. Tal decisão deu ensejo à impetração de habeas corpus no TRF, que

denegou a ordem, mantendo a competência da Justiça Federal. Encerrada a

instrução criminal, o paciente foi pronunciado pelo referido juízo federal, a fim de

que fosse levado a julgamento do Tribunal do Júri pelos ilícitos que lhe foram

atribuídos na denúncia. Dessa decisão, a defesa do paciente não recorreu, fazendo-

o apenas alguns dos corréus. Na sessão de julgamento do paciente no Tribunal do

Júri, ele foi absolvido das imputações referentes aos crimes de homicídio e

condenado à pena de oito anos de reclusão pela prática dos crimes de descaminho e

formação de quadrilha, sendo-lhe concedido o direito de recorrer em liberdade.

Irresignadas, tanto a defesa quanto a acusação apelaram, ambas pugnando pela

reforma da decisão tomada pelos jurados, reputando-a manifestamente contrária à

prova dos autos. Posteriormente, o TRF, ao julgar os recursos em sentido estrito

interpostos pelos corréus, anulou a sentença pela qual foram pronunciados e, em

virtude de tal provimento, julgou prejudicado o recurso de apelação interposto pela

defesa do paciente, declarando nulo o julgamento, decisão que ora se aponta como

ato coator. Assim, o objeto da impetração cinge-se à alegação de ilegalidade do

aresto, porquanto teria o tribunal a quo, de ofício, determinado a anulação da

pronúncia em desfavor do paciente. A Turma, ao prosseguir o julgamento, denegou

a ordem ao entendimento de que a posição adotada pelo tribunal a quo, ao apreciar

as apelações da sentença do júri federal, não foi pior nem melhor para o paciente,

mas sim neutra, de forma a prestigiar o cânone constitucional do juiz natural.

Observou-se que a absolvição quanto aos crimes contra a vida (e a condenação

Page 185: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

pelos demais delitos) alcançada não era definitiva; pois, caso a Corte de origem

julgasse a apelação (providência que ora se persegue), haveria o risco de

provimento à insurgência ministerial. A partir daí, novo júri seria designado, com a

possibilidade de condenação mais gravosa. Por outro lado, com a anulação da

pronúncia, nada impediria que nova absolvição viesse a lume. Assim, todos os

veios argumentativos abertos não passam de mera conjectura. Reafirmou-se

também que a incompetência é matéria de ordem pública e deve ser declarada de

ofício, em qualquer grau de jurisdição, conforme jurisprudência reiterada desta

Corte Superior. Por fim, registrou-se, ainda, que o aresto não afrontou a Súm. n.

160-STF, uma vez que o reconhecimento da nulidade não foi contra o paciente, na

justa medida em que não havia qualquer situação consolidada em seu favor.

Precedentes citados: AgRg no REsp 804.123-AP, DJe 16/12/2009; RMS 18.433-

MA, DJ 28/2/2005, e HC 90.014-MS, DJe 10/5/2010. HC 87.249-MT, Rel. Min.

Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19/10/2010.

JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO. VINGANÇA. MOTIVO TORPE.

In casu, o recorrido foi condenado como incurso no art. 121, § 2º, I e IV, do CP à

pena de 13 anos, cinco meses e 11 dias de reclusão a ser cumprida inicialmente no

regime fechado. Em sede de apelação, o tribunal a quo anulou o julgamento e

submeteu o réu, ora recorrido, a novo júri. No REsp, o MP, ora recorrente, alegou

violação do art. 593, III, d, do CPP, bem como do art. 121, § 2º, I, do CP, ao

sustentar que a qualificadora do motivo torpe encontra-se devidamente comprovada

nos autos. Nesta instância especial, inicialmente, observou o Min. Relator que as

circunstâncias qualificadoras reconhecidas pelo plenário do júri somente podem ser

excluídas em sede de apelação, com base no art. 593, III, d, do CPP, quando

absolutamente improcedentes, sem amparo nos elementos dos autos, o que não se

verificou na espécie. Ressaltou que “manifestamente contrária à prova dos autos é a

decisão arbitrária, dissociada do conjunto fático-probatório produzido, e não aquela

que apenas diverge do entendimento firmado pelo órgão julgador a respeito da

matéria.” Segundo o Min. Relator, no caso vertente, constata-se que o Conselho de

Sentença, diante das versões apresentadas pela acusação e pela defesa, concluiu

que o homicídio foi praticado por motivo torpe. Assim, reconhecida a qualificadora

pelo tribunal do júri em conformidade com os fatos apresentados, não poderia o

tribunal de origem, via recurso de apelação, desconstituir a escolha dos jurados,

Page 186: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

procedendo à interpretação que, sob sua ótica, coaduna-se melhor com a hipótese

dos autos. Anotou-se, ainda, que, “a verificação se a vingança constitui ou não

motivo torpe deve ser feita com base nas peculiaridades de cada caso concreto, de

modo que não se pode estabelecer um juízo a priori, positivo ou negativo”.

Conforme assentou o STF, “a vingança, por si só, não consubstancia o motivo

torpe; a sua afirmativa, contudo, não basta para elidir a imputação de torpeza do

motivo do crime, que há de ser aferida à luz do contexto do fato.” Diante desses

fundamentos, a Turma, ao prosseguir o julgamento, deu provimento ao recurso

para cassar o acórdão impugnado e restabelecer a decisão proferida pelo Tribunal

do Júri. Precedentes citados do STF: HC 83.309-MS, DJ 6/2/2004; do STJ: REsp

21.261-PR, DJ 4/9/2000; REsp 256.163-SP, DJ 24/4/2006; REsp. 417.871-PE, DJ

17/12/2004, e HC 126.884-DF, DJe 16/11/2009. REsp 785.122-SP , Rel. Min. Og

Fernandes, julgado em 19/10/2010.

PRÉVIA NOTIFICAÇÃO. RÉU. NOVO DEFENSOR.

A Turma não conheceu do recurso em que o recorrente, entre outros argumentos,

defendia que o juiz não poderia nomear defensor dativo antes de conferir ao réu a

oportunidade de constituir outro causídico. Porém, concedeu ordem de habeas

corpus de ofício, extensiva aos corréus, para anular o processo desde as alegações

finais apresentadas pelo defensor dativo e determinou, ainda, que antes o recorrente

seja notificado a fim de que informe se pretende constituir outro advogado para

apresentar suas alegações finais. Ficaram prejudicadas, em consequência da

concessão de ofício, as questões referentes à fixação da pena e do regime prisional.

Observou o Min. Relator que a jurisprudência deste Superior Tribunal tem oscilado

quanto à necessidade da prévia notificação do réu para possibilitar, se quiser,

constituir novo defensor antes de o magistrado nomear defensor dativo para

apresentar as alegações finais. Nessas situações, também se afasta, na maioria dos

casos, a necessidade de demonstrar o prejuízo quando a prova for impossível.

Precedentes citados do STF: AgRg na AI 559.632-MG, DJ 3/2/2006; HC 85.155-

SP, DJ 15/4/2005; e HC 84.835-SP, DJ 26/8/2005; do STJ: HC 53.211-SP, DJ

21/5/2007; HC 57.849-SP, DJ 27/8/2007; REsp 1.028.101-MG, DJe 16/6/2008, e

HC 47.612-BA, DJe 29/9/2008. REsp 565.310-TO, Rel. Min. Celso Limongi

Page 187: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

(Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 21/10/2010.

MP. LEGITIMIDADE. INVESTIGAÇÃO.

Trata-se de habeas corpus impetrado em benefício próprio em que o paciente,

condenado pelo crime de extorsão (seis anos e oito meses), alega constrangimento

ilegal na apuração do crime pelo Ministério Público, visto que, sendo policial civil,

estaria subordinado à corregedoria da Polícia Civil, detentora da atribuição de

apurar as infrações cometidas pelos integrantes da corporação. O Min. Relator fez

considerações sobre as funções do MP como titular da ação penal pública de

proceder e efetuar diligências de investigação, que são consentâneas com a sua

finalidade constitucional prevista no art. 129, VI e VIII, da CF/1988, LC n.

75/1993 e art. 26 da Lei n. 8.625/1993. Ainda com base em precedentes do STF e

do STJ, afirmou não haver óbice para que o MP requisite esclarecimentos ou

diligencie diretamente a obtenção da prova para formar seu convencimento de

determinado fato, inclusive aqueles que envolvem policiais. No caso, o Min.

Relator esclareceu que a colheita de declarações pelo MP serviu de fundamento

para instalação de inquérito policial cuja presidência coube à autoridade policial

que, inclusive, representou pela interceptação telefônica e outras diligências.

Diante do exposto, a Turma denegou a ordem. Precedentes citados do STF: RE

468.573-SC, DJe 19/2/2010; do STJ: HC 33.682-PR, DJe 4/5/2009; HC 84.266-RJ,

DJ 22/10/2007, e HC 94.810-MG, DJe 13/10/2008. HC 133.818-SP, Rel. Min. Og

Fernandes, julgado em 21/10/2010.

INFORMATIVO 451

Terceira Seção

CC. JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL E FEDERAL. CRIME MILITAR.

Trata-se de conflito negativo de competência entre o juízo de Direito da 1ª

auditoria da Justiça Militar estadual, suscitante, e o juízo auditor da 1ª auditoria da

2ª circunscrição judiciária militar da União do mesmo estado, suscitado, em autos

Page 188: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

de ação penal em que o denunciado, sargento da polícia militar do estado, à época,

teria disparado, culposamente, arma de fogo, causando lesões corporais na vítima,

capitão do exército brasileiro. Realizada a instrução criminal, o juízo ora suscitado

declinou da competência, invocando o art. 125, § 4º, da CF/1988, por entender que

o crime teria sido praticado por policial militar; sendo, pois, a competência da

Justiça Militar estadual. O juízo ora suscitante, por sua vez, entendeu ser a

competência da Justiça Militar federal, pois os fatos atentam contra interesses da

União, já que ocorreram dentro de unidade militar federal e contra capitão do

exército. Além disso, salientou que o Superior Tribunal Militar, ao julgar

prejudicado habeas corpus impetrado em favor do acusado no qual se buscava o

trancamento do inquérito, consignou fundamentos acerca da competência em favor

da Justiça Militar federal. Neste Superior Tribunal, inicialmente, entendeu-se ser a

hipótese de crime militar impróprio, pois se trata de lesão corporal praticada por

um sargento da polícia militar estadual contra um capitão do exército nas

dependências de um quartel, uma unidade militar da União. Assim, reconheceu-se

ter havido, ainda que de forma indireta, lesão a interesses da União, não só pela

vítima, mas também, especialmente, pelo local onde tudo ocorreu. Observou-se que

entender de modo contrário importaria conceber, por exemplo, a entrada de

policiais militares no batalhão, para proceder a perícias, avaliações e pesquisas,

atuação que seria, por óbvio, imprópria e impertinente, notadamente em face do

que as Forças Armadas, como instituições destinadas à garantia dos poderes

constitucionais, da lei e da ordem, estão, em última ratio, em posição de

supremacia quanto às polícias militares dos estados (art. 142 da CF/1988). Diante

desses fundamentos, entre outros, a Seção conheceu do conflito e declarou

competente para julgar o feito o juízo auditor da 1ª auditoria da 2ª circunscrição

judiciária militar da União, o suscitado. Precedentes citados: CC 85.607-SP, DJe

8/9/2008, e CC 14.755-DF, DJ 13/5/1996. CC 107.148-SP, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, julgado em 13/10/2010.

INFORMATIVO 450

Quinta Turma

OITIVA. TESTEMUNHA. LIMITE MÁXIMO.

Page 189: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Trata-se de habeas corpus no qual se sustenta vulneração do disposto no revogado

art. 398 do CPP, vigente à época, uma vez que o juiz de primeiro grau determinou

que o rol de testemunhas fosse ajustado ao número máximo permitido no citado

codex. Inicialmente, observou o Min. Relator que, conforme a jurisprudência tanto

deste Superior Tribunal quanto do STF, o limite máximo de oito testemunhas a

serem arroladas pelas partes, quer de acusação quer de defesa, leva em conta a

quantidade de fatos imputados ao denunciado. Assim, no caso, sendo o ora paciente

denunciado pelo cometimento de um único fato criminoso, qual seja, o homicídio

de um juiz de Direito, não se demonstra a excepcional hipótese de ouvir mais

testemunhas que o máximo determinado em lei. Ressaltou ser certo que a conduta

descrita ensejou a imputação ao paciente da prática de mais que um ilícito penal,

considerando-o incurso nas sanções de diversos crimes, todavia todos são

remetidos ao mesmo fato delituoso. Ademais, as testemunhas foram ouvidas

conforme pleito dos advogados do réu, sendo deferidas várias substituições em

atendimento aos pedidos da defesa. Desse modo, não há falar em nenhum

cerceamento na fase de instrução do feito para julgamento no Tribunal do Júri,

porquanto se está diante de juízo precário de admissibilidade, que poderá sofrer

reparo tanto por parte do juiz presidente quanto pela manifestação dos jurados, caso

se julgue imprescindível a produção da prova como requerida. Por fim, assinalou

não ser admissível que o processo se torne instrumento de perpetuação da condição

de acusado do ora paciente, sob o pálio das garantias constitucionais do exercício

da ampla defesa, porquanto a razoabilidade de sua duração também é ordem maior

que se reveste de garantia da devida prestação jurisdicional nos mesmos termos da

CF/1988. Com esses fundamentos, entre outros, a Turma denegou a ordem.

Precedente citados do STF: HC 72.402-PA, DJ 29/9/1995; do STJ: HC 63.712-GO,

DJ 15/10/2007; HC 26.834-CE, DJ 20/11/2006; HC 80.856-SE, DJ 3/12/2007; HC

123.492-MG, DJe 13/10/2009, e HC 95.279-AP, DJe 30/6/2008. HC 55.702-ES,

Rel. Min. Honildo de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ-AP),

julgado em 5/10/2010.

COMPETÊNCIA. CRIMES. SISTEMA FINANCEIRO. LAVAGEM.

DINHEIRO.

In casu, trata-se de ação penal em curso contra a ora recorrente pela suposta prática

dos crimes de quadrilha, lavagem de dinheiro e contra o sistema financeiro

Page 190: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

nacional. No RHC, a recorrente sustenta, em suma, que a competência para o

julgamento da referida ação deve ser fixada em razão do seu domicílio, uma vez

que realmente não é possível fixar o local de consumação dos delitos no país. A

Turma negou provimento ao recurso sob o fundamento de que a competência em

processo penal é determinada pelo lugar em que se consumou o crime e, quando

iniciada a execução no território nacional e a infração se consumar fora dele, como

no caso, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no

Brasil, o último ato de execução. Assim, tendo em vista que a exordial acusatória

imputa à recorrente a prática de operações de câmbio e remessas de divisas ao

exterior irregulares por meio de instituições financeiras sediadas em lugar diverso

do seu domicílio, a competência para o processamento e julgamento do feito,

inclusive diante de reconhecida conexão probatória, é do juízo da vara criminal

especializada em crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro, ou seja,

onde se encontra a mencionada ação penal, ainda que em seção judiciária diversa

da do estado onde reside a recorrente. Precedentes citados: RHC 19.909-PR, DJ

3/12/2007; HC 57.991-PR, DJ 27/3/2007, e HC 35.138-PR, DJ 13/9/2004. RHC

25.163-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 5/10/2010.

PRISÃO PREVENTIVA. INFLUÊNCIA. TESTEMUNHAS.

Trata-se de paciente pronunciado pela suposta prática dos crimes previstos no art.

121, § 2º, I e IV, art. 211, ambos do CP, e art. 14 da Lei n. 10.826/2003. No

momento da pronúncia, também foi decretada sua prisão preventiva por

conveniência da instrução criminal, visto que o paciente estaria influenciando as

testemunhas. Para o Min. Relator, em se tratando de processo de competência do

Júri, essas testemunhas poderão vir a ser chamadas para depor em plenário.

Ademais, explica que há provas nos autos que indicam a existência de influência

do acusado no depoimento das testemunhas, o que é suficiente para motivar sua

segregação provisória como garantia da regular instrução do feito. Quanto aos

argumentos da impetração sobre as condições pessoais favoráveis ao paciente, o

Min. Relator entende que elas não são garantidoras de eventual direito subjetivo à

liberdade provisória, quando a necessidade da prisão é recomendada por outros

elementos, como na hipótese dos autos. Diante do exposto, a Turma denegou a

ordem. Precedentes citados: RHC 27.105-CE, DJe 23/8/2010; HC 141.125-MG,

DJe 3/11/2009, e HC 97.799-SP, DJe 1º/9/2008. HC 177.774-DF, Rel. Min. Gilson

Page 191: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Dipp, julgado em 7/10/2010.

Sexta Turma

PERÍCIA. INTIMAÇÃO.

Em atenção ao princípio do contraditório, o juiz deve intimar as partes a fim de

possibilitar-lhes a indicação de assistentes técnicos e a apresentação de quesitos,

após nomear seu perito responsável pela produção da prova pericial (art. 421, § 1º,

do CPC). As partes têm o direito de contradizer o laudo, refutá-lo ou mesmo

requerer esclarecimentos sobre ele, providências que só podem ser ultimadas se

intimadas as partes para tanto. Não pode ser acolhida a alegação de ser necessária a

demonstração do prejuízo para o fim de reconhecer a nulidade arguída, visto que o

prejuízo foi evidenciado quando o juízo singular, ao ter como improcedente o

pedido nos embargos à execução, expressamente se embasou na prova pericial

obtida sem a ciência das partes. Anote-se que aquele juízo determinou, de ofício, a

produção da prova pericial. Precedente citado: REsp 421.342-AM, DJ 25/11/2002.

REsp 812.027-RN, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em

5/10/2010.

PREVENTIVA. ADULTERAÇÃO. ALIMENTO. INTERDIÇÃO.

EMPRESA.

A Turma concedeu a ordem de habeas corpus para revogar a prisão preventiva de

paciente denunciado pela suposta prática do delito tipificado no art. 272 do CP

(adulteração de produto alimentício destinado a consumo, tornando-o nocivo à

saúde). Segundo a Min. Relatora, não mais subsiste o fundamento relativo à

necessidade de garantia da ordem pública, tendo em vista que a empresa de

laticínios da qual o denunciado é proprietário já foi interditada pelas autoridades

sanitárias. Precedentes citados: HC 104.215-SP, DJe 4/8/2008; HC 74.665-RJ, DJ

14/5/2007, e HC 20.693-PI, DJ 3/6/2002. HC 177.036-MG, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, julgado em 7/10/2010.

INFORMATIVO 448

Sexta Turma

Page 192: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PREFEITO. CONTRATAÇÃO SEM LICITAÇÃO. ADVOGADO.

A Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, denegou a ordem de habeas

corpus cuja impetração buscava o trancamento da ação penal na qual o paciente,

ex-prefeito, foi incurso no art.1º, III, do DL n. 201/1967 e art. 89 da Lei

n.8.666/1993 e o segundo acusado, advogado contratado sem licitação, foi incurso

no art. 89, parágrafo único, da mesma lei. Noticiam os autos que o ex-prefeito, a

menos de três meses do término do mandato, contratou advogado sem o devido

procedimento de licitação para que ele atuasse na defesa de medidas cautelares de

ações referentes a diversos precatórios, contudo se apurou que, apesar de o

advogado receber a quantia de R$ 28 mil, não houve contraprestação de quaisquer

serviços. Questionou-se ainda no habeas corpus a regularidade formal da denúncia,

ou seja, se ela descreveria a participação do paciente nos termos do art. 41 do CPP.

Para a Min. Relatora, a denúncia, embora sucinta, narra o comportamento do

paciente, bem como descreve os fatos a permitir sua ampla defesa. Destacou que

há, inclusive, sentença condenatória em relação ao corréu cuja ação seguiu

caminho diferente em razão de desmembramento. Precedentes citados: HC 85.356-

SP, DJe 7/12/2009; HC 113.067-PE, DJe 10/11/2008, e HC 34.995-SP, DJ

11/10/2004. HC 76.880-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado

em 21/9/2010.

INFORMATIVO 447

Quinta Turma

QUALIFICADORA. COMPETÊNCIA. TRIBUNAL. JÚRI.

Trata-se de cinco denunciados por suposta prática do crime previsto no art. 121, §

2º, II, III e IV, do CP e um deles também denunciado pelo art. 129 do mesmo

codex. Discute-se, no REsp, se o acórdão recorrido que deu provimento ao recurso

em sentido estrito, retirando a qualificadora de ter sido o crime cometido por meio

que impossibilitou a defesa da vítima, devidamente apresentada na exordial e

reconhecida na pronúncia, invadiu a competência do Tribunal do Júri de analisar as

provas em crimes dolosos contra a vida. Para o Min. Relator, com base em

Page 193: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

precedentes deste Superior Tribunal, não compete ao juiz, no momento da

pronúncia, ainda de formação de culpa, decidir o mérito da pretensão punitiva sob

pena de invasão da competência do Tribunal do Júri. Observa que, nessa fase

processual (art. 413, § 1º, do CPP), são estreitos os limites de atuação do julgador,

sendo absolutamente inviável, durante o juízo de formação de culpa, adentrar o

conjunto probatório, o que poderia influenciar os jurados. Ademais, explica que o

argumento utilizado pelo tribunal a quo para afastar a qualificadora de que a

superioridade numérica dos acusados frente à vítima, por si só, não seria capaz de

sustentar a qualificadora também poderia ensejar argumento contrario sensu.

Conclui assim que, quando não há prova plena da procedência da qualificadora,

prudente seria analisar sua manutenção pelo conselho de sentença na fase de

julgamento em plenário diante das provas dos autos. Diante do exposto, a Turma

deu provimento ao recurso para restabelecer os efeitos da sentença de pronúncia.

Precedentes citados: REsp 214.245-GO, DJ 11/3/2002; REsp 973.603-MG, DJe

10/11/2008; REsp 707.303-DF, DJ 10/9/2007, e REsp 816.506-DF, DJ 19/6/2006.

REsp 1.102.422-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/9/2010.

Sexta Turma

COMPLEXIDADE. CAUSA. RAZOABILIDADE.

A Turma denegou a ordem de habeas corpus a paciente denunciado pela suposta

prática do delito de lavagem de dinheiro. Segundo o Min. Relator, não há falar em

excesso de prazo na formação da culpa quando a duração do processo dá-se dentro

dos limites da razoabilidade, dada a complexidade da causa e o comportamento das

partes. In casu, cuidou-se de feito em que foram inquiridas dezesseis testemunhas

da acusação e 113 da defesa, com expedição de dezessete cartas precatórias e

pedido de oitiva de quatro residentes no exterior. Ressaltou, ainda, o envolvimento

de dezesseis acusados e a apreensão de grande quantidade de entorpecentes, bem

como a impetração de vários habeas corpus em favor do paciente e a necessidade

de intimação de todos os advogados para a realização de novos interrogatórios.

Precedentes citados: HC 134.591-SC, DJe 28/9/2009; RHC 21.528-DF, DJ

5/11/2007; HC 51.540-ES, DJ 24/9/2007, e HC 83.917-DF, DJ 8/10/2007. HC

Page 194: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

138.654-GO, Rel. Min. Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP),

julgado em 14/9/2010.

FURTO QUALIFICADO. FRAUDE. INVESTIGAÇÃO. PROVA ILÍCITA.

Trata-se de habeas corpus no qual se alega, em síntese, que a sentença

condenatória dos pacientes pela prática do crime previsto no art. 155, § 4º, II, do

CP (furto qualificado mediante fraude) e o acórdão que a confirmou devem ser

anulados, uma vez que toda a investigação se originou de prova ilícita consistente

em documento expedido sem a devida autorização judicial. Sustenta-se que a

autorização para quebra de sigilo bancário dos pacientes só se concretizou seis

meses depois da publicidade dada ao documento, que gozava de proteção do sigilo

bancário. Inicialmente, ressaltou o Min. Relator que, quanto à proteção dada às

informações de operações bancárias, o sigilo, segundo disposição legal,

corresponde à obrigação imposta às instituições financeiras, configurando infração

penal sua quebra injustificada. Porém, sobre o que dispõe o art. 5º, XII, da

CF/1988, entende ser necessário que sua interpretação seja feita com

temperamentos, afinal, inexiste, no ordenamento pátrio, direito absoluto. Assim,

diante do caso concreto, cabe ao intérprete fazer uma ponderação de valores. A

inviolabilidade dos sigilos é, portanto, a regra e a quebra, a exceção; como tal se

deve observar que a fundamentação para a quebra dos sigilos seja de modo que

encontre apoio no princípio da proporcionalidade, sob pena de serem consideradas

ilícitas as provas obtidas dessa violação. Desse modo, a par da regra da liberdade

dos meios de prova, excetua-se a utilização daquelas obtidas por meios ilegais,

conforme dispõe o art. 5º, LVI, da CF/1988, inserindo-se, nesse contexto, as

oriundas da quebra de sigilo sem autorização judicial devidamente motivada.

Entretanto, no caso em foco, entendeu o Min. Relator haver peculiaridade que

afasta, por completo, a proteção à violação de sigilo bancário que é reivindicada,

isto é, tratou-se toda a operação bancária de um golpe efetivado por meio de um

engodo. Aliás, a própria titularidade solidária que detinha uma das pacientes e que

agora é reclamada para respaldar eventual autorização legal nasceu como início da

trama que foi efetivada contra a vítima, conforme se inferiu da sentença

condenatória. Dessa forma, antes mesmo de verificar eventual tensão entre

Page 195: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

princípios que ensejasse a relativização daquele que prevê o sigilo das informações,

observou que a pretensão de reconhecimento da nulidade é precedida do desejo de

beneficiar os pacientes com o fruto do ato ilícito, o que foge à razoabilidade.

Lembrou, ainda, o § 2º do art. 157 do CPP, o qual entende servir para mitigar a

teoria da contaminação da prova, restringindo-a para os casos em que a prova

ilícita foi absolutamente determinante para a descoberta da prova derivada que sem

aquela não existiria, o que não aconteceu na espécie. Asseverou, por fim, que, in

casu, o sobrinho da vítima, na condição de herdeiro, teria, inarredavelmente, após a

habilitação no inventário, o conhecimento das movimentações financeiras e,

certamente, saberia do desfalque que a vítima havia sofrido; ou seja, a descoberta

seria inevitável, não havendo, portanto, razoabilidade alguma em anular todo o

processo e demais provas colhidas, não só durante a instrução criminal, mas

também aquelas colhidas na fase pré-processual investigativa. Diante desses

fundamentos, entre outros, a Turma denegou a ordem. Precedentes citados: HC

133.347-PE, DJe 30/11/2009, e HC 67.435-RS, DJe 23/3/2009. HC 52.995-AL, Rel.

Min. Og Fernandes, julgado em 16/9/2010.

INFORMATIVO 446

Terceira Seção

FRAUDE. CONTRATO. LEASING. CRIME. SISTEMA FINANCEIRO

NACIONAL.

Trata-se de conflito de competência que visa definir qual o juízo competente para

apurar, processar e julgar eventual crime consistente na conduta de adquirir um

veículo mediante fraude em contrato de leasing. Assim, a questão cinge-se em

saber se tal conduta configura crime contra o Sistema Financeiro Nacional. Para o

Min. Celso Limongi, segundo entendimento assentado na Sexta Turma em REsp do

qual foi relator, o fato de o leasing financeiro não constituir financiamento não

afasta, por si só, a configuração do delito previsto no art. 19 da Lei n. 7.492/1986,

isso porque, embora não seja um financiamento, ele constitui o núcleo ou elemento

preponderante dessa modalidade de arrendamento mercantil. Ressaltou, entre

outras questões, que o tipo penal do referido dispositivo legal refere-se,

exatamente, à obtenção de financiamento, sem exigir que isso ocorra num contrato

Page 196: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

de financiamento propriamente dito. Desse modo, a Seção, ao prosseguir o

julgamento, por maioria, julgou procedente o conflito e declarou competente o

juízo federal (suscitante) para processar e julgar o feito. Os votos vencidos,

contudo, entendiam que, quando as pessoas enganadas e efetivamente lesadas pelas

eventuais práticas dos crimes de falsificação e estelionato são os particulares, ainda

que tenha a União interesse na punição do agente, tal seria genérico e reflexo, pois

não há ofensa a seus bens, serviços ou interesses. Dessa forma, a eventual obtenção

de crédito concedido por instituição financeira por meio de contrato de

arrendamento mercantil (leasing) não configura delito tipificado na Lei n.

7.492/1986, visto que o leasing não é propriamente um contrato de financiamento.

Precedentes citados do STF: RE 547.245-SC, DJe 5/3/2010; do STJ: REsp

706.871-RS, DJe 2/8/2010. CC 111.477-SP, Rel. originário Min. Arnaldo

Esteves Lima, Rel. para acórdão Min. Celso Limongi (Desembargador

convocado do TJ-SP), julgado em 8/9/2010 (ver Informativo n. 440).

INFORMATIVO 445

Quinta Turma

PRISÃO CAUTELAR. PORTE ILEGAL. ARMA.

In casu, o paciente foi preso em flagrante e denunciado como incurso nas sanções

do art. 14, caput, da Lei n. 10.826/2003. Formulado pedido de liberdade provisória

em seu favor, o juízo processante houve por bem mantê-lo constrito até a prolação

da sentença, oportunidade em que lhe impôs a pena de três anos de reclusão em

regime inicial fechado, além do pagamento de 20 dias-multa, proibindo-lhe apelar

em liberdade. O tribunal impetrado ratificou a necessidade da medida ao

fundamento, entre outros, de que a prolação da sentença condenatória é um motivo

a mais para justificar a constrição, que não padece de ilegalidade. Antes, esse

mesmo tribunal havia indeferido a tutela de urgência ao argumento de que,

tratando-se de condenado reincidente específico em crime de porte ilegal de arma,

evidentemente não se qualifica como ilegal a denegação do apelo em liberdade,

mormente em se tratando de réu que já vinha custodiado. Nesta superior instância,

entendeu-se não haver, na hipótese, a presença de quaisquer dos fundamentos de

cautela exigidos pela legislação processual para que a medida constritiva perdure.

Page 197: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Observou-se que não há concreta notícia de que o paciente tenha procurado se

evadir no intuito de frustrar a aplicação da lei penal, ou de que tenha obstruído a

colheita de provas ou intimidado testemunhas, fatos que prejudicariam o bom

andamento da instrução. Da mesma forma, as circunstâncias não apontam que sua

liberdade venha a colocar em risco a ordem pública, tendo o órgão ministerial se

manifestado favorável à soltura em duas oportunidades, sobretudo em razão de

estar a arma devidamente registrada a ser utilizada, ao que indicam os elementos

dos autos, para a prática de tiro em local apropriado, não se podendo daí inferir que

o paciente, retornando ao status libertatis, dedicar-se-ia a atividades criminosas.

Ademais, o STF, ao deferir liminarmente o pleito libertatório formulado em favor

do paciente, destacou estar-se diante de caso concreto em que houve apresentação

de autorização do Ministério do Exército para o deslocamento da arma, tratando-se

de cidadão, conforme noticiado, que praticava tiro em estande próprio. Assim, o

fato de, em data anterior, ter sido o paciente condenado pelo mesmo crime não se

mostraria suficiente para chegar, como vem ocorrendo na espécie, à execução

precoce da pena. Quanto à pleiteada fixação de regime menos gravoso para o início

do resgate da pena, trata-se de matéria pendente de análise pelo tribunal a quo em

sede de apelação criminal, motivo por que não se conheceu do writ neste ponto,

evitando-se a ocorrência de indevida supressão de instância. Diante disso, a Turma

concedeu parcialmente a ordem. Precedentes citados: HC 119.680-SP, DJe

19/10/2009; HC 132.231-SP, DJe 19/20/2009, e HC 139.392-SP, DJe 9/8/2010. HC

150.837-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 2/9/2010.

PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS AUTORIZADORES.

Trata-se de habeas corpus contra decisão proferida pelo tribunal a quo que proveu

o recurso do MP, revogando o relaxamento da prisão cautelar por entender que a

ausência de advogado na lavratura do auto de prisão em flagrante não enseja

nulidade do ato. Alegam os impetrantes não haver justificativa para a mantença do

paciente sob custódia, uma vez que, após efetuada a prisão, foi-lhe negado o direito

de comunicar-se com seu advogado, o que geraria sim nulidade na lavratura do

auto de prisão. Além disso, sustentam inexistirem os pressupostos autorizadores da

prisão preventiva. A Turma, ao prosseguir o julgamento, concedeu parcialmente a

ordem pelos fundamentos, entre outros, de que a jurisprudência do STF, bem como

a do STJ, é reiterada no sentido de que, sem que se caracterize situação de real

Page 198: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

necessidade, não se legitima a privação cautelar da liberdade individual do

indiciado ou do réu. Ausentes razões de necessidade, revela-se incabível, ante a sua

excepcionalidade, a decretação ou a subsistência da prisão cautelar. Ressaltou-se

que a privação cautelar da liberdade individual reveste-se de caráter excepcional,

sendo, portanto, inadmissível que a finalidade da custódia provisória,

independentemente de qual a sua modalidade, seja deturpada a ponto de configurar

antecipação do cumprimento da pena. Com efeito, o princípio constitucional da

presunção de inocência se, por um lado, não foi violado diante da previsão no

nosso ordenamento jurídico das prisões cautelares, por outro não permite que o

Estado trate como culpado aquele que não sofreu condenação penal transitada em

julgado. Dessa forma, a privação cautelar do direito de locomoção deve-se basear

em fundamento concreto que justifique sua real necessidade. Desse modo, não

obstante o tribunal de origem ter agido com acerto ao declarar a legalidade da

prisão em flagrante, assim não procedeu ao manter a custódia do paciente sem

apresentar qualquer motivação sobre a presença dos requisitos ensejadores da

prisão preventiva, mormente quando suas condições pessoais o favorecem, pois é

primário e possui ocupação lícita. Precedentes citados do STF: HC 98.821-CE, DJe

16/4/2010; do STJ: HC 22.626-SP, DJ 3/2/2003. HC 155.665-TO, Rel. Min.

Laurita Vaz, julgado em 2/9/2010.

INFORMATIVO 444

Terceira Seção

COMPETÊNCIA. FRAUDE. FINANCIAMENTO. VEÍCULOS.

A fraude praticada em contratos de financiamento perante instituição financeira,

com destinação específica, no caso a aquisição de veículos automotores com

garantia de alienação fiduciária, subsume-se, em tese, ao tipo previsto no art. 19 da

Lei n. 7.492/1986, devendo ser processada perante a Justiça Federal, conforme o

art. 26 do mesmo diploma. Precedentes citados: CC 30.427-RS, DJ 20/5/2002, e

Cat 45-RJ, DJ 4/8/1997. CC 112.244-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em

25/8/2010.

Page 199: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

INFORMATIVO 443

Quinta Turma

HC. TRANCAMENTO. AÇÃO. JUSTA CAUSA.

Segundo consta da sentença condenatória, o paciente, na qualidade de sócio-

gerente de uma empresa, teria vendido um automóvel com hodômetro adulterado,

marcando quilometragem menor que a efetivamente rodada pelo veículo. Foi,

portanto, condenado à pena de dois anos de reclusão no regime aberto, substituída

por duas restritivas de direitos, consistentes em prestações, pecuniária e de serviços

à comunidade, pela prática da conduta prevista no art. 7º, IX, da Lei n. 8.137/1990.

Assim, a Turma negou provimento à ordem. Entendeu, entre outras questões, que,

quanto à inépcia da denúncia, houve preclusão, pois alegada somente após a

prolação da sentença condenatória (art. 569 do CPP). Ademais, para o trancamento

da ação penal na via estreita do habeas corpus, é necessário exsurgir, à primeira

vista, a alegada falta de justa causa para sua continuidade. Precedentes citados: HC

124.936-RS, DJe 26/4/2010; HC 33.232-MS, DJ 20/9/2004; HC 91.115-RJ, DJe

4/8/2008, e HC 54.399-PE, DJe 2/6/2008. HC 135.906-MG, Rel. Min. Jorge

Mussi, julgado em 17/8/2010.

Sexta Turma

TRÁFICO. ASSOCIAÇÃO. PRISÃO PREVENTIVA.

A impetração insurge-se, preliminarmente, contra a pendência de dois processos

sobre os mesmos fatos, pois a prisão em flagrante do paciente foi homologada por

juiz da capital do estado-membro, enquanto as prisões temporária e a preventiva,

com base em outro processo, deram-se em comarca do interior. Também, debate a

necessidade da prisão preventiva do paciente, acusado de ser integrante de

quadrilha de tráfico. Noticiam os autos tratar-se de organização criminosa com

sofisticado esquema de distribuição de drogas, tendo sido apreendido significativo

volume de entorpecentes, além de dinheiro e veículos utilizados como pagamento

Page 200: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

da substância ilícita. Isso posto, esclarece a Min. Relatora que não pendem mais os

processos perante juízos distintos, visto que o juiz da capital enviou os autos ao

juízo prevento da comarca, de onde partiu ordem para interceptação telefônica.

Mediante essa interceptação, identificou-se a atuação delitiva do grupo em

municípios da mesma região. Daí, observa a Min. Relatora que se leva em conta,

no caso dos autos, a proximidade entre as comarcas, para reconhecer que não

houve violação do Juízo Natural. Ressalta ainda que, diante das circunstâncias de

gravidade concreta, como na hipótese dos autos, a jurisprudência tem admitido a

prisão provisória para garantia da ordem pública. Por fim, assevera que os bons

antecedentes, residência fixa no distrito da culpa, nas situações em comento, não

são aptas para garantir a desconstituição de prisão preventiva. Diante do exposto, a

Turma denegou a ordem. Precedentes citados: HC 111.041-MG, DJe 15/12/2009;

HC 64.346-GO, DJe 4/8/2008, e HC 134.237-MG, DJe 3/8/2009. HC 150.187-SP,

Rel. Min. Maria Thereza da Assis Moura, julgado em 19/8/2010.

NULIDADE. DEFESAS COLIDENTES. DEFENSOR ÚNICO.

Na impetração, afirma-se a nulidade da audiência de oitiva das testemunhas de

acusação, em razão de os réus serem assistidos pelo mesmo advogado. Sucede que,

antes de os acusados sustentarem versões antagônicas dos fatos, eles tinham o

mesmo patrono, só depois a corré constituiu outro advogado. Porém, o novo

advogado da corré não compareceu à audiência, tendo o juiz, então, designado seu

antigo defensor e advogado do ora recorrente para sua defesa no ato. Note-se que o

tribunal a quo reconheceu, no habeas corpus originário, a colidência das teses

defensivas, porém entendeu que não houve demonstração do prejuízo. Para a Min.

Relatora, trata-se de nulidade absoluta, visto que o reconhecimento da colidência

de defesa dispensa a demonstração do prejuízo. Diante do exposto, a Turma deu

provimento ao recurso, apenas para declarar a nulidade da audiência de oitiva das

testemunhas de acusação, devendo o magistrado repeti-la, e, depois, abrir novo

prazo para as alegações finais. Precedentes citados: HC 135.445-PE, DJe

7/12/2009, e HC 42.899-PE, DJ 7/11/2005. RHC 22.034-ES, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, julgado em 19/8/2010.

PRISÃO PREVENTIVA. DESTEMPO. MOTIVAÇÃO IDÔNEA.

Page 201: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

In casu, o TJ manteve prisão preventiva decretada em desfavor do recorrente,

denunciado pela suposta prática de duas tentativas de homicídio qualificado e

tráfico de drogas, em 12/2/2008. Sucede que a determinação da prisão preventiva

somente ocorreu em 27/11/2009, por ocasião do recebimento de denúncia, tendo

em vista que houve idas e vindas dos autos da ação penal, com as manifestações de

juízes e um promotor sobre não se tratar de crime doloso contra vida. Para a Min.

Relatora, é importante ter presente que os fundamentos para prisão preventiva

necessitam de concretização e devem ser atuais ao tempo dos fatos, sob pena de

degenerarem em arbítrio. Observa que, no caso dos autos, entre o suposto delito e o

advento da segregação, não houve ocorrências a indicar riscos para o processo ou

para a ordem pública. Ademais, segundo a Min. Relatora, a medida acautelatória

prisional teve como foco a gravidade dos fatos e a circunstância de o recorrente não

residir no distrito da culpa, portanto, careceu de motivação idônea. Destacou ainda,

não ser possível o tribunal a quo acrescentar novos fundamentos àqueles já

lançados pelo juiz por ocasião da decretação da prisão preventiva. Diante do

exposto, a Turma concedeu a ordem. Precedentes citados: HC 162.981-MT, DJe

2/8/2010; HC 159.904-SP, DJe 28/6/2010; HC 142.772-MS, DJe 21/6/2010; HC

100.264-MA, DJe 22/9/2008; RHC 25.042-PI, DJe 6/4/2009; HC 43.715-MA, DJ

19/9/2005; HC 117.779-MG, DJe 3/8/2009, e HC 132.767-MA, DJe 28/9/2009. HC

172.727-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19/8/2010.

SURSIS PROCESSUAL. INDEFERIMENTO. JUIZ.

O Ministério Público (MP) ao oferecer denúncia, propôs a suspensão condicional

do processo (sursis processual) em relação aos recorrentes. Entretanto, após

realizada audiência e aceita a proposta do sursis processual, o juiz negou-a por

motivo de suposta prática de lesão corporal grave. Por sua vez, o tribunal a quo

manteve o indeferimento, sem constatar irregularidade no ato. Para a Min.

Relatora, o juiz não poderia negar a aplicação do sursis processual depois de o

parquet ter reconhecido presentes os requisitos que autorizariam a suspensão (art.

89 da Lei n. 9.099/1995). Explicita ainda que, nessa fase, não se antecipa qualquer

juízo de mérito sobre aquele que aceita as propostas alternativas do processo. Por

isso, tampouco é possível, nessa fase, o juiz amparar-se nos elementos de cognição,

Page 202: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ou seja, laudo pericial, depoimentos, exames médicos e declarações da vítima, para

afastar a incidência do benefício da suspensão. Nessas hipóteses, a jurisprudência

deste Superior Tribunal tem reconhecido o direito ao sursis processual. Diante do

exposto, a Turma deu provimento ao recurso, para determinar a suspensão nos

termos formulados pelo MP. Precedente citado: HC 48.556- RJ, DJ 1º/8/2006. RHC

21.445-BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19/8/2010.

HC. LIBERDADE. JULGAMENTO. REVISÃO CRIMINAL.

O paciente foi condenado à pena de 24 anos de reclusão e 280 dias-multa pela

prática do delito tipificado no art. 157, § 3º, última parte, do CP, sendo a sentença

confirmada em sede de apelação, transitando em julgado. Afirma-se, no habeas

corpus impetrado nesta Corte, que o acusado está sofrendo constrangimento ilegal

decorrente da demora no julgamento da Revisão Criminal ajuizada no Tribunal

Federal da 1ª Região, postulando, em razão disso, que ele seja posto em liberdade.

Para o Min. Relator, mostra-se incabível o pedido do paciente, visto que sua prisão

decorre de sentença condenatória transitada em julgado e a ação revisional não

possui efeito suspensivo capaz de impedir a execução do julgado. Por outro lado,

quanto ao paciente aguardar há aproximadamente um ano e oito meses o

julgamento da revisão criminal, após consulta ao sítio daquele tribunal, na internet,

constatou-se que os autos encontram-se atualmente relatados e conclusos ao

revisor, revelando-se, diante das informações prestadas pela autoridade coatora,

razoável a tramitação do feito. Diante do exposto, a Turma denegou a ordem,

recomendando ao tribunal prioridade no julgamento da revisão criminal. HC

169.605-GO, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/8/2010.

INFORMATIVO 442

Quinta Turma

INVERSÃO. ORDEM. PERGUNTAS. TESTEMUNHAS.

Trata-se de paciente condenado como incurso nas sanções do art. 33, § 4º, da Lei n.

11.343/2006, à pena de um ano e dez meses de reclusão, em regime fechado, e

pagamento de 188 dias-multa. Busca-se, no habeas corpus, entre outros: o direito

Page 203: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

de apelar em liberdade; a nulidade da instrução, do julgamento e dos atos

subsequentes, visto que o juiz inverteu a ordem de oitiva de testemunhas, em

desacordo com a previsão do art. 212 do CPP. No entanto, a Turma só concedeu a

ordem para anular a audiência de instrução e julgamento realizada em

desconformidade com a previsão do citado artigo. Dessa forma, tendo em vista a

anulação da audiência, os outros pleitos da impetração perderam o objeto. Para o

Min. Relator , de acordo com precedentes, após a nova redação do art. 212, dada

pela Lei n. 11.690/2008, as perguntas são formuladas diretamente pelas partes às

testemunhas, e o magistrado, se achar conveniente, somente pode complementar a

inquirição com esclarecimentos, bem como pode inadmitir perguntas já feitas ou

não pertinentes ao caso. Assim, esclareceu que, na espécie, como houve inversão

da inquirição das testemunhas, inclusive admitida pelo tribunal a quo, o juízo

singular incorreu em error in procedendo, caracterizando constrangimento, por

ofensa ao devido processo legal, sanável pela via do habeas corpus. Por outro lado,

entre outras colocações, destacou decisão do STF e de sua relatoria quanto ao

pedido referente à progressão de regime. Segundo essas decisões, a aplicação da

causa de diminuição de pena disposta no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006,

interfere na quantidade de pena, mas não na qualificação ou natureza do crime de

tráfico de drogas, já que as circunstâncias levadas em consideração para diminuir a

pena não têm o condão de mitigar o juízo de reprovação incidente sobre a conduta

de traficar. Precedentes citados do STF: HC 102.881-SC, DJe 11/3/2010; do STJ:

HC 137.091-DF, DJe 13/10/2009; HC 121.216-DF, DJe 1º/6/2009, e HC 149.942-

MG, DJe 3/5/2010. HC 153.140-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em

12/8/2010.

CONEXÃO. FACILITAÇÃO. CONTRABANDO. CORRUPÇÃO.

Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de policial supostamente

arregimentado por organização criminosa de exploração de jogos de azar, da qual

fazem parte outros agentes públicos. O paciente foi denunciado pela suposta prática

dos delitos de corrupção passiva qualificada, quadrilha ou bando, e facilitação de

contrabando ou descaminho, além de violação de sigilo funcional. Segundo a

denúncia, embasada em farto suporte probatório colhido em investigação, entre as

quais diligências de busca e apreensão, bem como interceptação telefônica,

deferida por autorização judicial de Ministro do STF, o paciente teria recebido

Page 204: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

vantagem patrimonial indevida, por intermédio de corréu, para se omitir e dar

informações de ações policiais, além de agregar novos interessados na quadrilha.

Também foi narrado que o paciente encontrava-se mensalmente com corréu, em

datas apontadas nas investigações como o dia de pagamento dos agentes públicos

cooptados, constando ainda da denúncia menção a diálogos interceptados. No

habeas corpus, busca-se: a) o trancamento do processo sob as alegações de

incompetência da Justiça Federal; b) a inépcia da denúncia; c) a ilicitude de prova –

porque não teria existido autorização para a interceptação via rádio ou, se

considerada autorizada, a decisão seria ilegal por falta de fundamentação; e d) a

atipicidade das condutas, porquanto a imputação dos crimes ao paciente deu-se de

maneira genérica e defeituosa. Nesse ponto, afirma a impetração não haver prova

da materialidade nem indício de autoria dos crimes. Observou a Min. Relatora que,

como é cediço, o trancamento de ação por falta de justa causa, na via estreita do

HC, somente é possível quando se comprova, de plano, a atipicidade da conduta, a

incidência de causa de extinção da punibilidade ou a ausência de indícios de autoria

ou de prova sobre a materialidade do delito, hipóteses que não ocorreram na

espécie. Por outro lado, ressalta aplicar-se ao caso a Súm. n. 122-STJ, a qual

reconhece ser da competência da Justiça Federal os casos de crimes conexos de

competência federal e estadual, isso porque diversas ações penais foram

instauradas em virtude de ser numerosa e complexa a organização criminosa e de

haver, entre seus membros, alguns acusados da prática de crimes da competência

da Justiça Federal. Também ressaltou que a denúncia permitiu ao paciente, sem

dificuldade, a ciência das condutas ilícitas que lhe foram imputadas, bem como lhe

garantiu o livre exercício do contraditório e da ampla defesa. Logo, ao contrário do

que sustenta a defesa, não houve inépcia da inicial nem atipicidade dos fatos. A

denúncia descreveu com detalhes os crimes em tese, além de fundamentá-los,

justificando-se pelos indícios não só a ação, mas seu prosseguimento. Destacou

ainda que a comunicação por meio de rádio (Nextel) deu-se no mesmo aparelho da

linha interceptada. Dessa forma, não procede a alegação de ilicitude da prova

porque não estava prevista na decisão que deferiu a interceptação telefônica. Por

fim observou que, por absoluta ausência de competência constitucional, este

Superior Tribunal não poderia conhecer de pedido da impetração com o qual se

pretende a revisão de decisões proferidas pelo Supremo. Diante do exposto, a

Turma conheceu em parte da ordem e, nessa extensão, denegou-a. Precedentes

Page 205: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

citados do STF: HC 94.592-SP, DJe 3/4/2009; do STJ: CC 100.653-GO, DJe

6/4/2010; HC 110.704-RJ, DJe 9/3/2009; HC 69.551-PR, DJ 4/6/2007, e RHC

18.502-SP, DJ 15/5/2006. HC 96.476-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em

10/8/2010.

INFORMATIVO 441

Sexta Turma

COMPETÊNCIA. FALSIFICAÇÃO. CERTIDÃO.

O documento que se tem por falsificado, certidão de distribuição de ações e

execuções, cuja expedição é atribuição da Justiça Federal, foi utilizado para fins

particulares na celebração de compromisso de compra e venda. Dessarte, não há

lesão a interesse, bem ou serviço da União a ponto de determinar a competência da

Justiça Federal, pois foi o particular quem sofreu o prejuízo, o que determina a

competência da Justiça estadual para apreciar a suposta prática do delito de

falsificação. Precedentes citados: CC 104.893-SE, DJe 29/3/2010, e CC 45.243-SC,

DJ 28/11/2005. HC 143.645-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 5/8/2010.

PRAZO. RECURSO. LEITURA. SENTENÇA. JÚRI.

O prazo do recurso a ser interposto contra a sentença proferida no plenário do

tribunal do júri começa a fluir da data da respectiva sessão de julgamento (art. 798,

§ 5º, b, do CPP). Para tanto, mostra-se irrelevante questionamento sobre se a

sentença foi impressa no momento da leitura em plenário, pois é dada ao advogado

a oportunidade de recorrer oralmente e apresentar, posteriormente, suas razões

recursais. Pesa, também, a constatação de que não houve qualquer insurgência da

defesa no sentido de que não teve acesso ao inteiro teor da sentença. No caso, a

sentença foi lida em plenário da tela de um computador portátil. Precedentes

citados do STF: HC 89.999-SP, DJ 7/3/2008; do STJ: HC 66.810-MG, DJ

5/2/2007. HC 92.484-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em

5/8/2010.

ACÓRDÃO. FUNDAMENTAÇÃO. SENTENÇA.

Não se pode admitir que o tribunal a quo limite-se a manter a sentença por seus

Page 206: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

fundamentos, pois é de rigor que acrescente fundamentação que lhe seja própria a

respeito das teses apresentadas pela defesa, sob pena de violação do dever de

motivação das decisões (art. 93, IX, da CF/1988). A simples repetição da sentença

recorrida não só desrespeita o referido dever constitucional, mas também causa

prejuízo à garantia do duplo grau de jurisdição, pois descarta a substancial revisão

judicial da primeva decisão. Anotou-se não desconhecer precedentes tanto do STF

quanto do STJ em sentido contrário. Precedentes citados: HC 90.684-RS, DJe

13/4/2009; HC 63.664-SP, DJ 26/2/2007, e HC 23.893-PA, DJ 17/11/2003. HC

91.892-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/8/2010.

COMPETÊNCIA. ROUBO. CORREIOS.

No caso, compete à Justiça estadual o processo e julgamento da ação penal

instaurada em razão do roubo qualificado perpetrado na agência dos Correios, pois

os valores subtraídos, conforme as instâncias ordinárias, eram de exclusiva

propriedade do Banco Postal (convênio entre o Bradesco e a EBCT). Assim, o

prejuízo é dirigido ao franqueado, sem que haja qualquer lesão a bens, serviços, ou

interesses da União. Precedentes citados: HC 109.810-MG, DJe 19/12/2008; HC

39.200-SP, DJ 19/12/2005; CC 46.791-AL, DJ 6/12/2004; CC 27.343-SP, DJ

24/9/2001, e CC 30.537-PR, DJ 20/8/2001. HC 96.684-BA, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, julgado em 5/8/2010.

INFORMATIVO 440

Sexta Turma

ATRASO. AUDIÊNCIA. JUIZ.

O advogado está autorizado a ausentar-se do ato processual caso a autoridade que o

preside não se apresente até trinta minutos do horário designado (art. 7º, XX, da

Lei n. 8.906/1994 – EOAB). Contudo, na espécie, a juíza não estava ausente, mas

sim conduzindo outra audiência no mesmo fórum, daí seu atraso. Desse modo, a

invocação do citado dispositivo não alberga a ausência do advogado e do próprio

acusado da sala de audiências. Sequer há falar em nulidade por cerceamento de

defesa, quanto mais se não demonstrado qualquer prejuízo, visto que a referida

Page 207: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

audiência (oitiva de testemunhas de acusação) deu-se com a assistência de

advogado dativo. Precedentes citados: REsp 253.660-RJ, DJ 23/8/2004, e HC

96.059-GO, DJe 19/4/2010. HC 97.645-PE, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 22/6/2010.

SURSIS PROCESSUAL. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA.

Na hipótese dos autos, os pacientes foram denunciados como incursos no art. 171,

§ 3º, do CP, sendo-lhes concedida a suspensão condicional do processo (sursis

processual). Sobrevindo a notícia de que respondiam a outra ação penal, o sursis

foi revogado, designando-se data para a audiência de instrução. Sucede que, nessa

segunda ação, os pacientes foram absolvidos sumariamente, motivo pelo qual a

defesa requereu o restabelecimento da suspensão condicional do processo. O pleito,

contudo, foi negado ao fundamento de que, contra a sentença absolutória, ainda

pendia recurso de apelação interposto pelo MP. No HC, sustenta-se, em síntese,

que, absolvidos os pacientes sumariamente, notadamente por não constituir crime o

fato a eles imputado, não mais se justifica a manutenção da revogação do sursis.

Assim, objetiva-se a concessão da ordem para o fim de restabelecer aos pacientes o

benefício da suspensão condicional do processo. A Turma, ao prosseguir o

julgamento, entendeu razoável a interpretação sustentada no habeas corpus

segundo a qual a absolvição sumária tem por consequência a reconsideração da

decisão revogadora do sursis processual. Observou-se que, na espécie, os pacientes

e também os corréus foram absolvidos por serem penalmente atípicos os fatos a

eles imputados. Especialmente no tocante aos pacientes, assentou-se, ainda, a

inépcia da exordial acusatória. Desse modo, fulminada a ação penal, não há como

concluir que os pacientes possam ser processados por outro crime nos termos do §

3º do art. 89 da Lei n. 9.099/1995. Interpretação em sentido contrário, isto é, a de

que o simples oferecimento da denúncia autoriza, de modo irreversível, a

revogação do sursis processual, não anda em sintonia com os princípios da ampla

defesa, do devido processo legal e da boa-fé processual, destoando dos anseios da

reforma do processo penal. Não se está, com isso, a falar em inconstitucionalidade

do referido artigo, apenas não há como concluir que alguém esteja a responder a

processo por crime, quando nele foi sumariamente absolvido, com espeque no art.

Page 208: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

397 do CPP, por manifesta atipicidade dos fatos e inépcia da denúncia. Ressaltou-

se que a circunstância de estar pendente apelação do MP contra a sentença de

absolvição sumária em nada altera o quadro delineado, isso porque o recurso não

tem efeito suspensivo e, ainda, se não é exigida condenação com trânsito em

julgado para efeito de revogação do sursis, o raciocínio não deve ser diferente para

o caso de absolvição sumária, vale dizer, a sentença tem efeito imediato. Nada

impede, todavia, que o benefício seja revogado se a sentença de absolvição sumária

for reformada pelo tribunal a quo. Com esses fundamentos, entre outros, concedeu-

se a ordem. HC 162.618-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/6/2010.

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. DENÚNCIA ANÔNIMA.

A Turma entendeu que a interceptação telefônica autorizada pelo juiz foi necessária

para o prosseguimento das investigações que estavam em curso, diante da

impossibilidade de obtenção de provas por meios diversos. A denúncia anônima

não foi o único elemento a lastrear a autorização do monitoramento telefônico.

Assim, a Turma, por maioria, denegou a ordem. HC 128.776-SP, Rel. Min. Celso

Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 22/6/2010.

INFORMATIVO 439

Sexta Turma

PRINCÍPIO. JUIZ NATURAL. FORO PRIVILEGIADO.

Embora seja pacífico o entendimento deste Superior Tribunal e do Pretório Excelso

no sentido de ser possível a convocação de juízes de primeiro grau para substituir

desembargadores nos tribunais, quando de acordo com a legislação de regência e

sem nenhuma ofensa à CF/1988, o caso em questão trata de ação penal originária

em que o paciente, membro do Ministério Público (MP), por expressa previsão

constitucional (art. 96, III, CF/1988), possui foro privilegiado, mas, ainda assim,

foi julgado por juízes de primeiro grau convocados. Convém ressaltar que, na

época da votação, dos 30 membros efetivos componentes do TJ, conforme previsto

na Lei de Organização Judiciária estadual, 23 votaram na sessão de julgamento,

sendo apenas 16 votos proferidos por desembargadores e sete por juízes

Page 209: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

convocados. O próprio Regimento Interno daquele tribunal estabelecia a

competência do Tribunal Pleno para processar e julgar, originariamente, os

membros do MP nos crimes comuns, devendo ser observada a presença de pelo

menos dois terços de seus membros na sessão de julgamento. Tal dispositivo

excluiu, expressamente, da sessão de julgamento aqueles que não são membros do

tribunal, ou seja, os juízes de primeiro grau convocados. Portanto, não eram esses

magistrados os juízes naturais para o julgamento da referida ação penal em que o

paciente, na qualidade de membro do MP, fazia jus ao direito de ser julgado por,

pelo menos, dois terços dos integrantes do tribunal, isto é, por, no mínimo, 20

desembargadores. Com essas considerações, entre outras, a Turma anulou o

julgamento da ação penal originária, devendo outro ser realizado pelo Tribunal

Pleno composto de, pelo menos, dois terços dos desembargadores efetivos daquele

tribunal. HC 88.739-BA, Rel. Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador

convocado do TJ-CE), julgado em 15/6/2010.

LEI MARIA DA PENHA. RETROATIVIDADE. JUIZ NATURAL.

Na espécie, em 2007, a vítima (ex-esposa do paciente) ajuizou ação penal privada

em face do paciente, distribuída a juizado especial criminal, acusando-o da prática

de violência doméstica consistente nos delitos de injúria e difamação. No entanto,

alega-se, na impetração, a incompetência do juizado especial, visto que a legislação

estadual criou, em 2006, juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher

com competência específica para conhecer e julgar processos referentes a esses

delitos e, por isso, houve violação do art. 41 da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da

Penha). No entanto, o Min. Relator ressaltou que, indubitavelmente, a Lei Maria da

Penha, que contém disposições de direito penal e de direito processual penal, é

mais gravosa do que a Lei n. 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e

Criminais), porque, como cediço, seu art. 41 veda, expressamente, a aplicação da

Lei dos Juizados Especiais às infrações penais cometidas com violência doméstica

e familiar contra a mulher, não admitindo a concessão de benefícios peculiares aos

crimes de menor potencial ofensivo, razão pela qual não pode retroagir. Destarte, o

art. 5º, XL, da CF/1988 veda a retroatividade de lei penal mais gravosa. Além

disso, não se trata de competência superveniente, visto que os fatos criminosos

foram consumados antes da edição da Lei Maria da Penha, portanto antes da

instalação do juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher. Por isso

Page 210: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

tudo, a ordem não pode ser concedida, pois violaria o princípio do juiz natural, ex

vi do art. 5°, LIII, da CF/1988. HC 152.465-PE, Rel. Min. Celso Limongi

(Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 15/6/2010.

PROVA TESTEMUNHAL. ATIVIDADE RURÍCOLA.

In casu, o tribunal a quo, embora ausente pedido específico das partes para

produção de prova testemunhal, de ofício, anulou a sentença e determinou o

retorno dos autos ao juízo singular para a reabertura da fase instrutória,

oportunizando às partes a inquirição de testemunhas para comprovação da

atividade rural. Nesta instância especial, observou-se inicialmente que, na espécie,

a parte autora postulou apenas a juntada de prova documental, quedando-se inerte

quanto à postulação pela produção de prova testemunhal, tanto na fase instrutória

quanto nas razões de apelação. Diante disso, a Turma entendeu que não poderia

prevalecer o entendimento expresso no acórdão recorrido, pois estaria prejudicado

o equilíbrio na relação processual e, consequentemente, desrespeitado o princípio

da igualdade entre as partes, o que violaria o art. 125, I, do CPC. REsp 894.443-SC,

Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/6/2010.

PEDIDO. ABSOLVIÇÃO. MP. VINCULAÇÃO. JUIZ.

A Turma reiterou o entendimento de que o magistrado não está vinculado ao

pedido de absolvição formulado pelo Parquet, se as provas dos autos apontarem

em sentido diverso. Precedentes citados: REsp 1.073.085-SP, DJe 22/3/2010; HC

84.001-RJ, DJ 7/2/2008, e HC 76.930-SP, DJ 5/11/2007. HC 162.993-DF, Rel.

Min. Og Fernandes, julgado em 17/6/2010.

INFORMATIVO 438

Terceira Seção

COMPETÊNCIA. FALSIFICAÇÃO. DARF.

A sociedade empresária apresentou à Receita Federal guias DARF para comprovar

o pagamento de receitas federais. Contudo, não existia, na Receita, qualquer

registro da correspondente arrecadação, e o banco no qual se alega feito o

Page 211: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

pagamento negou serem suas as autenticações mecânicas existentes nos

documentos. Por isso, houve a instauração de inquérito para apurar a suposta

prática de crime de falsificação de papéis públicos (art. 293, V e § 1º, I, do CP).

Diante do fato de que o contribuinte fez novo recolhimento dos tributos, constata-

se não haver qualquer lesão à Receita Federal que possa impor a competência da

Justiça Federal. Assim, em similitude à Súm. n. 107-STJ, fixou-se a competência

da Justiça estadual. Precedentes citados: CC 103.269-SP, DJe 20/5/2010, e CC

37.933-SP, DJ 23/6/2003. CC 110.529-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado 9/6/2010.

COMPETÊNCIA. INDÍGENA. DELITO. SERVIDOR PÚBLICO.

Emerge dos autos a constatação de ser praxe, entre os indígenas, a entrega de seus

cartões magnéticos à custódia de servidores da Funai para movimentação de suas

contas bancárias. Foram comprovados saques indevidos e existem fortes indícios

de que esses fatos delituosos foram praticados por servidor público federal no

exercício de sua função. Assim, compete à Justiça Federal processar e julgar esses

delitos, tal qual previa a Súm. n. 254 do extinto TFR. Anote-se não incidir a Súm.

n. 140-STJ, pois o que atrai a competência da Justiça Federal é o possível sujeito

ativo do delito (servidor público), sendo desinfluente figurar indígena como vítima.

Precedentes citados: HC 47.364-SC, DJ 4/9/2006, e CC 97.679-RO, DJe

19/12/2008. CC 105.202-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 9/6/2010.

COMPETÊNCIA. TRANSFERÊNCIA. PRESÍDIO FEDERAL.

Conforme o juízo estadual (suscitante), os encarcerados em questão são de alta

periculosidade, vinculados a facções criminosas e ao narcotráfico, exercem forte

influência na população carcerária dos presídios daquele estado, além de terem

arquitetado constatados planos de fuga e de execução de autoridades, fatos que

justificariam a submissão ao regime disciplinar diferenciado, em garantia da

segurança pública. Em 2007, a pedido daquele juízo, houve a transferência deles

para presídio federal de segurança máxima localizado em outro estado da

Federação, permanência que foi prorrogada até 2009. Contudo, novo pedido de

renovação dessa permanência foi refutado pelo juízo federal (suscitado), o que

Page 212: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

desencadeou o conflito de competência. Anote-se que os presos continuam

segregados na penitenciária federal e faltam apenas três meses para o final da

controvertida permanência. Na hipótese, apesar de as autoridades judiciárias não

afirmarem ou negarem sua competência, vê-se que há entre elas franca

discordância a ponto de autorizar entrever-se um conflito fora dos moldes

tradicionais. É certo que há possibilidade de renovação do prazo de permanência

em presídio de segurança máxima quando cumpridos os requisitos do art. 10, § 1º,

da Lei n. 11.671/2008. Esse pedido de transferência há que ser fundamentado pelo

juízo de origem (arts. 3° e 4° da referida lei). Todavia, o acompanhamento da

execução da pena em razão da citada transferência cabe ao juízo federal

competente da localidade em que se situar o presídio de segurança máxima,

ressalvados os casos de presos provisórios (art. 4º, §§ 1º e 2º, também da citada

lei). Com esses fundamentos, a Seção, mediante o voto de desempate da Min.

Presidente Laurita Vaz, entendeu declarar a competência do juízo federal, bem

como manter os presos no presídio federal até o final do prazo de prorrogação da

permanência. Os votos vencidos alertavam para o objetivo do regime diferenciado,

de apenas temporariamente segregar presos de alta periculosidade, visto que, por

ser medida tão drástica, em que o preso permanece isolado muitas horas por dia,

não poderia eternizar-se, o que seria desumano. Precedente citado: CC 40.326-RJ,

DJ 30/3/2005. CC 110.576-AM, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em

9/6/2010.

Quinta Turma

COMPETÊNCIA. DESVIO. SELO. CAMPANHA ELEITORAL.

A denúncia, amparada em inquérito policial, narra que o paciente (deputado

estadual), em sua campanha eleitoral, utilizou dolosamente selos postais obtidos de

forma ilícita por funcionários públicos federais dos Correios (em possível

detrimento de verbas da Assembléia Legislativa), além de apresentar notas fiscais

falsas para esquivar-se da fiscalização do TRE. Alega não ter participação no

delito, pois apenas contratou com uma sociedade empresária a coleta e postagem

das correspondências. Sustenta, também, que a suposta aquisição dos selos deu-se

após a consumação do peculato, o que configuraria receptação, não se podendo

Page 213: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

falar, também, em tal crime porque não teria ciência de que os selos eram produto

do crime. Nesse contexto, ressalta-se que é imputado crime de peculato aos

funcionários dos Correios, pois consta dos autos que atuaram na condição de

funcionários públicos. Como consabido, dá-se na Justiça Federal a apuração de

crime praticado por funcionário público federal no exercício de suas atribuições

funcionais. Outrossim, a princípio, houve violação dos serviços dos Correios

(empresa pública federal), o que, por si só, atrai a competência da Justiça Federal

(art. 109, IV, da CF/1988). Entender pela falta de ofensa aos referidos serviços

demandaria ampla dilação probatória, o que é incompatível com a via eleita.

Quanto à configuração do peculato ou receptação, frise-se que ambos os crimes

seguem o mesmo rito e nenhum deles é hediondo. Daí que, tal como propalado pela

jurisprudência, o paciente deve defender-se dos fatos imputados no decorrer da

instrução, pois sua capitulação pode alterar-se no momento da sentença, conforme

as hipóteses previstas no CPP. Já no que concerne à falta de provas da ciência de

ilicitude ou mesmo da própria utilização dos selos, a denúncia aponta vários

indícios de prova quanto à participação do paciente, tais como o depoimento de

servidores da Assembléia Legislativa e o interrogatório dos corréus. Assim, ao

considerar os limites cognitivos do writ e os dados colhidos até então, constata-se

haver um mínimo de elementos a autorizar o prosseguimento da ação penal.

Precedentes citados do STF: HC 87.324-SP, DJ 18/5/2007; HC 91.634-GO, DJ

5/10/2007; RHC 88.139-MG, DJ 17/11/2006; do STJ: CC 97.955-RS, DJe

26/8/2008; CC 97.679-RO, DJe 19/12/2008; HC 147.953-RS, DJe 3/5/2010, e HC

116.490-RJ, DJe 7/12/2009. HC 147.964-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em

8/6/2010.

INFORMATIVO 437

Corte Especial

APN. DECADÊNCIA. EXTINÇÃO. PUNIBILIDADE.

Trata-se de ação penal (APn) em que o querelante ofereceu duas queixas-crime

(arts. 139 e 140 do CP) contra desembargador de Tribunal de Justiça, em razão de

que, durante sessão plenária daquela Corte, ele teria ofendido a reputação e a honra

Page 214: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

subjetiva do querelante. A Corte Especial, por maioria, entendeu que, na hipótese

dos autos, ocorreu a decadência do direito de queixa e a consequente extinção da

punibilidade quanto ao querelado, visto que os supostos delitos de injúria e

difamação teriam sido consumados na data de 17/9/2008, conforme se verifica em

certidão juntada aos autos e, diante da não manifestação do querelante a respeito de

que a ciência do fato poderia ter-se dado em data posterior, considerou-se que o

início do prazo decadencial ocorreu na referida data. Todavia, as queixas, tanto

pela difamação como pela injúria, só foram apresentadas neste Superior Tribunal

na data de 17/3/2009, isto é, um dia depois de findo o prazo para o oferecimento da

inicial. Ressaltou-se, ainda, que o prazo decadencial para oferecimento de queixa-

crime é de seis meses, independentemente do número de dias de cada mês, já que a

contagem dá-se pelo número de meses. Precedentes citados: APn 390-DF, DJ

10/4/2006; APn 360-MG, DJ 25/4/2005, e REsp 203.574-SP, DJ 6/11/2000. APn

562-MS, Rel. originário Min. Fernando Gonçalves, Rel. para acórdão Min.

Felix Fischer (art. 52, IV, b, do RISTJ), julgada em 2/6/2010.

Quinta Turma

ALEGAÇÃO. NULIDADE. OFENSA. ART. 514 DO CPP.

A denúncia afirma que o ora recorrente teria praticado o crime tipificado no

art. 1º, II, c/c os arts. 11 e 12, II, da Lei n. 8.137/1990, na forma do art. 71 do

CP. Dizia que a ação criminosa do servidor consistia em burlar a fiscalização

tributária, concedendo, contrariamente à lei, benefícios fiscais a empresas que

não possuíam os requisitos para tal, estabelecendo um esquema que

possibilitasse aos empresários a prática das mais variadas fraudes, suprimindo

ou reduzindo os valores de ICMS devidos, sem que fossem importunados por

quaisquer outros servidores fazendários. A Turma reiterou o entendimento de

que o procedimento previsto no art. 514 do CPP aplica-se aos delitos previstos

nos arts. 312 a 326 do CP, ou seja, aos crimes funcionais próprios (somente o

funcionário público pode praticar). No caso, o recorrente teria concorrido para

a prática de infração penal contra a ordem tributária, cujos bens tutelados são,

essencialmente, a fé e a Administração públicas e o erário. Mesmo que a

Administração seja atingida pelo crime fiscal, percebe-se que, nele, a condição

Page 215: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

de funcionário não é inerente à prática delituosa, uma vez que o agente pode

ser, em regra, o próprio contribuinte. Assim, a Turma negou provimento ao

recurso. Precedentes citados do STF: HC 95.969-SP, DJe 12/6/2009; do STJ:

HC 91.228-RS, DJ 10/12/2007; HC 79.751-RJ, DJe 14/4/2008, e RHC 22.164-

MG, DJe 15/3/2010. RHC 22.118-MT, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em

1º/6/2010.

INFORMATIVO 436

Terceira Seção

COMPETÊNCIA. TJ. TURMA RECURSAL. MESMO ESTADO. LEI

MARIA DA PENHA.

Trata-se de conflito de competência em que o suscitante é a primeira turma recursal

criminal dos juizados especiais e o suscitado, o tribunal de justiça do mesmo

estado, nos autos de ação penal que tratam de violência doméstica contra a mulher.

A ação penal teve início no primeiro juizado de violência doméstica e familiar

contra a mulher, que remeteu os autos ao terceiro juizado, também da violência

doméstica e familiar contra a mulher, que, por sua vez, suscitou o conflito negativo

de competência, remetendo os autos ao TJ. Este declinou da competência,

sustentando tratar-se de infração penal de menor potencial ofensivo, e os remeteu à

primeira turma recursal criminal, que, acolhendo parecer do MP, suscitou conflito

de competência. Para o Min. Relator, o mesmo raciocínio de não caber ao Superior

Tribunal de Justiça julgar conflitos de competência entre juizados especiais e juízes

de primeiro grau da Justiça Federal de uma mesma seção judiciária – segundo o

entendimento do STF por ocasião do julgamento no RE 590.409-RJ, DJe

29/10/2009 – deve ser aplicado em relação a eventual conflito suscitado entre

tribunal de justiça e turma recursal criminal do mesmo estado, tendo em vista que

as turmas recursais constituem órgãos recursais ordinários de última instância

relativamente às decisões dos juizados especiais, mas não se qualificam como

tribunal, requisito essencial para que se instaure a competência especial do STJ

(nesse sentido, há precedente da Seção). Dessa forma, por um lado, conclui o Min.

Relator, não há conflito de competência a ser dirimido. Por outro lado, observa que

a Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) afastou a competência da turma recursal

Page 216: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ao determinar a não aplicação da Lei n. 9.099/1995, criando mecanismos para

coibir a violência doméstica com o objetivo de dar maior proteção à mulher no

âmbito de suas relações. Sendo assim, compete ao TJ, e não à turma recursal,

decidir as questões relativas à violência doméstica contra a mulher, portanto a

decisão do TJ, ao declinar da sua competência para a turma recursal processar e

julgar o conflito negativo de competência instaurado entre os juizados de violência

doméstica e familiar contra a mulher, configura constrangimento ilegal, impondo a

correção de tal ilegalidade por meio da concessão de habeas corpus de ofício.

Diante do exposto, a Turma não conheceu do conflito de competência, porém

concedeu o habeas corpus de ofício a fim de determinar que o TJ do estado aprecie

o conflito negativo de competência instaurado, como entender de direito.

Precedentes citados: CC 90.072-SP, DJe 30/4/2010, e CC 110.609-RJ, DJe

28/4/2010. CC 110.530-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/5/2010.

COMPETÊNCIA.TJ. TURMA RECURSAL. MESMO ESTADO.

 Trata-se de conflito negativo de competência, sendo o suscitante a turma criminal

do colégio recursal de circunscrição judiciária e o suscitado, o tribunal de justiça do

mesmo estado. Noticiam os autos que os réus foram denunciados perante o juízo da

vara criminal pela prática do crime previsto no art. 155, § 4º, IV, c/c o art. 14, todos

do Código Penal. Recebida a exordial, foi acolhida a proposta de suspensão

condicional do processo formulada pelo MP, que, no entanto, posteriormente,

requereu a revogação do benefício ao fundamento de que foram descumpridas as

condições impostas. O juízo de Direito, entretanto, indeferiu o pleito e, ainda,

julgou extinta a punibilidade dos réus. Diante desse fato, o Parquet, irresignado,

interpôs recurso em sentido estrito, contudo o tribunal de justiça determinou a

remessa dos autos ao colégio recursal, que, por sua vez, suscitou o conflito. Isso

posto, segundo observa o Min. Relator, no caso dos autos, aplicam-se os mesmos

argumentos explicitados no conflito de competência (CC 110.530-RJ) julgado

anteriormente, de acordo com o entendimento do STF de não caber ao Superior

Tribunal de Justiça julgar conflitos de competência entre juizados especiais e juízes

de primeiro grau da Justiça Federal de uma mesma Seção Judiciária e, nesse

sentido, há precedente da Seção. Da mesma forma, não há conflito de competência

a ser dirimido na espécie. Para o Min. Relator, nesse caso, a competência para

julgamento de recurso interposto contra sentença de juiz de direito no exercício da

Page 217: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

jurisdição comum é do tribunal de justiça, não da turma recursal do juizado

especial. Assim, a decisão do TJ que remeteu os autos para o colégio recursal

configura nítido constrangimento ilegal, impondo-se a correção de tal ilegalidade

por meio da concessão de habeas corpus de ofício. Ante o exposto, a Seção não

conheceu do conflito de competência, porém concedeu o habeas corpus de ofício a

fim de determinar que o Tribunal de Justiça aprecie o recurso em sentido estrito

interposto. Precedentes citados do STF: RE 590.409-RJ DJe 29/10/2009; do STJ:

CC 56.271-RS, DJ 25/9/2006; CC 85.947-SC,  DJ 20/8/2007; CC 107.635-PR, e

CC 90.072-SP, DJe 30/4/2010. CC 107.994-SP, Rel. Min. Og Fernandes,

julgado em 26/5/2010.

COMPETÊNCIA. ANOTAÇÕES FALSAS.

Noticiam os autos que foi instaurado inquérito policial para apurar a suposta prática

dos crimes de sonegação de contribuição previdenciária e de ausência de anotação

na carteira de trabalho (CTPS), previstos nos arts. 203 e 297, §§ 3º e 4º, do CP. Por

um lado, quanto ao crime de sonegação de contribuição previdenciária, o juízo

federal e juizado especial determinou o arquivamento do feito, declinando da

competência quanto aos demais crimes. Por outro lado, o juízo de direito da vara

criminal suscitou o conflito, alegando que o sujeito passivo da infração penal é a

Previdência Social, haja vista incidir a regra do art. 109, IV, da CF/1988 – que

atribui aos juízes federais a competência para julgar as infrações penais praticadas

contra bens, serviços ou interesses da União ou de suas autarquias.

Preliminarmente, o Min. Relator ressalvou seu ponto vista sobre a competência da

Justiça Federal para processar e julgar o delito descrito no art. 297, §§ 3º e 4º, do

CP, porquanto, nesse delito, o principal sujeito passivo do crime, a seu ver, é a

União, representada pela Previdência Social e, só secundariamente, o segurado e

seus dependentes que vierem a ser prejudicados, pois a ausência de anotação de

informações relativas ao vínculo empregatício na CTPS afeta diretamente a

arrecadação de tributos, já que a contribuição previdenciária é calculada com base

no valor do salário pago ao empregado. Explica ser esse também o entendimento

da doutrina, contudo a Terceira Seção, com base na Súm. n. 62-STJ, tem decidido

pela competência da Justiça estadual para processar e julgar o crime de ausência de

anotação na CTPS. A Seção tem decidido nesse mesmo sentido quanto ao crime de

frustração de direitos trabalhistas, tipificado no art. 203 do CP, pois entende, em

Page 218: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ambos os casos, que a conduta delituosa atinge apenas interesse privado, visto que

acarreta prejuízo somente a um empregado da empresa. Por essa razão, não o

considera crime contra a organização do trabalho, justificando, assim, a fixação da

competência da Justiça estadual. Diante do exposto, a Seção, declarou competente

o juízo de Direito suscitante. Precedentes citados: CC 20.334-SP, DJ 15/5/2000;

CC 100.744-PR, DJe 22/5/2009, e AgRg no CC 62.750-SP, DJe 5/5/2008. CC

96.365-PR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 26/5/2010.

COMPETÊNCIA. CRIME. SISTEMA FINANCEIRO.

DESCLASSIFICAÇÃO. ESTELIONATO.

Trata-se de conflito negativo de competência entre TRF e juízo de direito de vara

criminal estadual. Consta dos autos que o Ministério Público Federal (MPF)

ofereceu denúncia por utilização de documentos falsos para contraírem

empréstimos na modalidade CDC no Banco do Brasil, o que viola o art. 19, caput e

parágrafo único, da Lei n. 7.492/1986, bem como os arts. 297 e 304 c/c 69 e 71,

todos do CP, causando, dessa forma, prejuízos ao banco. Sobreveio a sentença

proferida pelo titular da vara criminal federal, condenando a ré a seis anos de

reclusão e ao pagamento de 30 dias-multa no menor valor unitário. Então, a ré

interpôs recurso de apelação, sustentando, em preliminar, a incompetência absoluta

da Justiça Federal ao fundamento de que não foi comprovado o prejuízo

patrimonial da União, mas apenas o da sociedade de economia mista com foro na

Justiça estadual e, no mérito, buscava a desclassificação do crime para estelionato,

o que resultaria também na incompetência absoluta da Justiça Federal. O TRF

acolheu as alegações da defesa ao argumento de que a conduta da ré não poderia

ser considerada crime financeiro, mas sim estelionato, visto que o prejuízo causado

atingira apenas o patrimônio da instituição financeira, por isso declarou a nulidade

do processo desde o recebimento da denúncia, revogando a prisão preventiva

imposta à ré. Assim, após deslocados os autos para a Justiça comum estadual, o

Parquet estadual afirmou que já se havia manifestado sobre o tema no sentido de

ser a competência da Justiça Federal e pugnou que os autos fossem devolvidos ao

TRF para que ele suscitasse o conflito de competência. Dessa forma, o julgamento,

em questão de ordem, foi retificado pelo TRF, suscitando o conflito de

competência. Para o Min. Relator, o art. 19 da Lei n. 7.492/1986 exige, para

configuração do crime contra o sistema financeiro, a utilização de fraude para obter

Page 219: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

financiamento de instituição financeira, o que difere da obtenção de empréstimo.

Isso porque os financiamentos são operações realizadas com destinação específica,

em que, para a obtenção de crédito, existe alguma concessão por parte do Estado

como incentivo, assim há vinculação entre a concessão do crédito e o patrimônio

da União. Também se exige a comprovação da aplicação desses recursos, por

exemplo: os financiamentos de parques industriais, máquinas e equipamentos, bens

de consumo duráveis, rurais e imobiliários. Dessarte, segundo o Min. Relator, na

hipótese dos autos, tem razão o suscitante, pois não houve lesão ao patrimônio da

União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, conforme exigido pelo

art. 109, IV, da CF/1988, visto que, em todas as vezes, a ré obteve empréstimo na

modalidade de crédito direto ao consumidor (CDC); isso causou lesão

exclusivamente à instituição financeira, como apontou o TRF. Por outro lado,

quanto à imputação pelos delitos de uso de documento falso e falsificação de

documento público tipificados nos arts. 304 e 297 do CP, destaca não existirem,

nos autos, elementos que apontem a utilização dos documentos falsos em outras

situações que não a obtenção dos empréstimos, por isso incide, na espécie, a Súm.

n. 17-STJ. Diante do exposto, a Seção conheceu do conflito para declarar

competente o juízo da vara criminal, o suscitado. Precedentes citados: CC 104.893-

SE, DJe 29/3/2010; CC 106.283-SP, DJe 3/9/2009, e CC 31.125-SP, DJ 1º/7/2004.

CC 107.100-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 26/5/2010.

CC. USO. PASSAPORTE ESTRANGEIRO. FALSIFICAÇÃO.

Trata-se de conflito negativo de competência entre juízo de Direito e juízo federal.

A indiciada foi presa em flagrante ao tentar embarcar para Paris com carteira de

identidade e passaporte venezuelanos falsos. Destacou-se que, no caso, não se

discute eventual apresentação de documentos na entrada do país. Segundo a

jurisprudência deste Superior Tribunal, o crime de documento falso consuma-se no

momento e lugar em que ele é utilizado. Na hipótese, o delito foi praticado em

detrimento do serviço prestado na fronteira, em que a União, por meio da Polícia

Federal, fiscaliza o controle de ingresso e saída de estrangeiros do país,

evidenciando-se, assim, segundo a Min. Relatora, o interesse da União na sua

apuração. Diante do exposto, a Seção declarou competente o juízo federal

suscitado. Precedentes citados: CC 46.728-SP, DJ 26/9/2005, e CC 36.360-RJ, DJ

19/12/2002. CC 110.436-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado

Page 220: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

em 26/5/2010.

COMPETÊNCIA. TORTURA. PM. PF.

In casu, o indiciado foi preso em flagrante pela suposta prática de crime de roubo e,

em depoimento, alegou ter sido torturado para que confessasse os fatos a ele

imputados. Feito o exame de corpo de delito, comprovaram-se as lesões corporais

supostamente praticadas por policiais militares na dependência de delegacia da

Polícia Federal. Esses fatos denotariam indícios de crime de tortura. Noticiam os

autos que, no momento do recebimento da notícia do suposto delito de roubo, os

policiais militares estavam em diligência de apoio a policiais federais. Daí o

juizado especial criminal, ao acolher parecer do MP estadual, remeteu os autos à

Justiça Federal de Subseção Judiciária. Por sua vez, o juízo federal de vara única,

ao receber os autos, suscitou o conflito de competência ao considerar que os

policiais federais não participaram do suposto ato de tortura. Para o Min. Relator,

com base na doutrina, o crime de tortura é comum, porém se firma a competência

conforme o lugar em que for cometido. Assim, se o suspeito é, em tese, torturado

em uma delegacia da Polícia Federal, deve a Justiça Federal apurar o débito.

Destaca, ainda, que a Lei n. 9.455/1997 tipifica também a conduta omissiva

daqueles que possuem o dever de evitar a conduta criminosa (art. 1º, I, a, § 2º, da

citada lei). Quanto à materialidade e autoria do suposto crime de tortura, embora

não haja, nos autos, informações de que os policiais federais teriam participado

ativamente do crime de tortura, os fatos, em tese, foram praticados no interior de

delegacia da Polícia Federal, o que, segundo o Min. Relator, atrai a competência da

Justiça Federal nos termos do art. 109, IV, da CF/1988. Nesse contexto, a Seção

conheceu do conflito para declarar competente o juízo federal suscitante. CC

102.714-GO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 26/5/2010.

COMPETÊNCIA. CRIME. RELAÇÕES. CONSUMO.

Em conflito de competência entre juízos de vara criminal de comarcas situados em

estados federados diversos, a questão consiste em definir a competência para

processar e julgar possível crime contra as relações de consumo (art. 7º, IX, da Lei

n. 8.137/1990) supostamente perpetrado por sociedade empresária responsável pela

venda de pneus impróprios para o consumo, visto que laudo técnico apontou a

Page 221: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

existência de defeito de fabricação. Anotou o parecer do MPF que a norma citada

descreve uma conduta voltada não para a sociedade empresária responsável pela

sua fabricação, mas para aquela responsável pela sua exposição à venda e

comercialização. Para a Min. Relatora, a questão suscitada consiste em definir a

competência para processar e julgar o crime contra relação de consumo previsto no

art. 7º, IX, da Lei n. 8.137/1990. Assim, verifica-se que o núcleo da ação inicia-se e

se encerra com a exposição do produto à venda; nesse caso, deve incidir o art. 70

do CPP, segundo o qual a competência será, de regra, determinada pelo lugar em

que se consumar a infração ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for

praticado o último ato de execução, conforme também sufragado em precedente.

Com esse entendimento, a Seção declarou competente o juízo da vara criminal do

local onde foi exposto o produto à venda, o suscitado. Precedente citado: CC

27.315-SP, DJ 18/2/2002. CC 107.764-BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 26/5/2010.

COMPETÊNCIA. CONEXÃO. DELITOS. EXTINÇÃO. PUNIBILIDADE.

Em conflito de competência entre o suscitante juízo de Direito e o suscitado juízo

federal, consta dos autos que o MPF ofereceu denúncia contra um agente quanto à

suposta prática do delito descrito no art. 334, caput, do CP (descaminho) e contra

os outros dois corréus pela suposta prática do delito previsto no art. 180 do CP

(receptação). Entretanto, com relação ao primeiro denunciado, houve a extinção da

punibilidade devido ao seu falecimento. Diante disso, o juízo federal declinou de

sua competência para o julgamento dos corréus em favor do juízo estadual. Porém,

o MP estadual manifestou-se no sentido de competir à Justiça Federal o

julgamento do feito, com base na perpetuatio jurisdictionis. Observou, ainda, o

MP estadual que, nos termos do art. 81 do CPP, nos casos de conexão ou

continência, quando há absolvição ou desclassificação do crime que atraiu a

competência, o feito continua no mesmo juízo para apreciação dos demais delitos

conexos. Para a Min. Relatora, as razões de conduzir a competência no processo

penal são sempre de ordem pública, pois decorrem da CF/1988. Assim, as normas

de conexão, de índole meramente legal, não poderiam sobrepor-se aos regramentos

constitucionais de determinação de competência. Logo, na hipótese de conexão

entre os crimes de descaminho e de receptação, em que o primeiro atraiu a

competência da Justiça Federal para processar e julgar os delitos, não mais

Page 222: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

existindo atração para a Justiça Federal processar e julgar o feito devido à extinção

da punibilidade pela morte do agente, desaparece o interesse da União, o que

desloca a competência para a Justiça estadual. Destaca que não é o caso de

aplicação do princípio da perpetuatio jurisdictionis: o juiz não proferiu sentença de

mérito, apenas decretou de oficio a extinção da punibilidade. Diante do exposto, a

Seção conheceu do conflito para declarar competente o juízo de Direito, o

suscitante. Precedentes citados do STF: HC 69.325-GO, DJ 4/12/1992; do TFR:

CC 7.043-RS, DJ 6/11/1986. CC 110.998-MS, Rel. Min. Maria Thereza de

Assis Moura, julgado em 26/5/2010.

Quinta Turma

JUNTADA. DOCUMENTOS. MP. CORREIÇÃO.

In casu, a correição parcial foi manejada pelo MP estadual contra decisão de juíza

que não foi conhecida pelo TJ em razão de sua intempestividade, mas, de ofício,

determinou-se a juntada dos documentos desentranhados por força da decisão

impugnada. Daí a impetração do habeas corpus para ser determinado o

desentranhamento dos documentos atacados. Note-se que os documentos consistem

em duas denúncias ofertadas e recebidas, bem como decretos de prisão preventiva,

matérias jornalísticas publicadas a respeito de tráfico de drogas cuja juntada o MP

estadual requereu para sustentar a tese de acusação. Para o Min. Relator, não há

nenhuma vedação legal à apresentação de documentos que auxiliem a parte na

sustentação de sua tese, desde que para aferir outros aspectos não ligados à culpa,

sob a vigilância e tutela do juiz presidente acerca de eventual excesso das partes.

Observa que não havia ilegalidade a ser sanada devido à juntada dos documentos

de ofício, visto que, como consabido, a correição parcial é o instrumento adequado

a reparar vício de procedimento (error in procedendo) interposto contra ato de juiz

do qual não haja previsão de recurso. Assim, no caso, a correição parcial serviu

apenas de instrumento para noticiar ao tribunal a existência de documentos

relevantes para a sustentação da tese acusatória. Explica que, apesar de o art. 234

do CPP autorizar ao juiz, de ofício, juntar documentos aos autos desde que

respeitados os prazos legais e os princípios da ampla defesa e do contraditório, a

sua interpretação não pode ser literal e possibilita a qualquer instância ou juízo

Page 223: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

competente sua aplicação. Ademais, este Superior Tribunal, ao interpretar o art.

231 do CPP, entende que é facultada às partes a juntada de documentos em

qualquer fase processual, só podendo haver o indeferimento do órgão julgador

quando os documentos apresentados tiverem caráter meramente protelatório ou

tumultuário. Esclarece, ainda, que, segundo a atual redação do art. 479 do CPP, não

será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto não juntado aos autos

com a antecedência mínima de três dias úteis sem que seja dada ciência a outra

parte. Destacou também que a posterior decisão proferida pela juíza substituta, que

fez detida análise do procedimento, demonstrou a inocorrência de qualquer

ilicitude a macular a juntada de tais documentos, tornou sem efeito o decisum

impugnado pela correição parcial. Com esse entendimento, a Turma, por maioria,

denegou a ordem e revogou a liminar anteriormente deferida. Precedente citado:

HC 44.780-SC, DJ 21/11/2005. HC 151.267-PR, Rel. Min. Arnaldo Esteves

Lima, julgado em 25/5/2010.

ANULAÇÃO. JÚRI. PRONÚNCIA. QUALIFICADORAS.

Em habeas corpus, o impetrante busca a anulação do acórdão impugnado

restabelecendo a absolvição da paciente ou, subsidiariamente, o reconhecimento da

nulidade da sentença de pronúncia por falta de fundamentação das qualificadoras.

Explica o Min. Relator que a anulação do julgamento pelo Tribunal do Júri sob o

fundamento previsto no art. 593, III, d, do CPP exige que o veredicto atente contra

as evidências dos autos, revelando-se incoerente e arbitrário, sem nenhum respaldo

no conjunto probatório; nesse sentido, tem decidido o Supremo e este Superior

Tribunal. Portanto, assevera que infirmar os fundamentos consignados no acórdão

impugnado com o objetivo de reconhecer que o julgamento do júri não foi

contrário à prova dos autos é medida que não cabe em habeas corpus, de cognição

sumária e rito célere, demandando aprofundado exame do conjunto fático-

probatório, peculiar ao processo de conhecimento. Quanto ao pedido subsidiário de

nulidade da sentença de pronúncia decorrente da suposta falta de fundamentação

das qualificadoras, não foi arguida a tempo por meio recursal adequado, o que,

conforme a jurisprudência, ensejaria a preclusão da matéria. Contudo, no caso dos

autos, houve a impetração de habeas corpus e a única referência às qualificadoras

na sentença de pronúncia consiste no seguinte: “pela prova oral dos autos estão

indicadas as qualificadoras”. Sendo assim, a ausência de fundamentação sobre as

Page 224: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

qualificadoras na sentença de pronúncia na hipótese não é mera deficiência, mas

causa de nulidade absoluta, sanável a qualquer tempo, portanto não sujeita ao

instituto da preclusão. Daí a Turma ter concedido parcialmente a ordem, para

declarar nula a sentença de pronúncia. Precedentes citados do STF: HC 80.892-RJ,

DJ 23/11/2007; HC 75.072-SP, DJ 27/6/1997; do STJ: REsp 16.025-DF, DJ

27/4/1992; HC 133.667-RJ, DJe 8/3/2010; REsp 931.151-RJ, DJe 29/9/2008, e HC

127.210-GO, DJe 13/4/2009. HC 136.446-RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima,

julgado em 25/5/2010.

PRONÚNCIA. JURISDIÇÃO. JUIZ SUBSTITUTO.

Trata-se de habeas corpus com pedido de liminar impetrado em favor de preso

pronunciado pela prática, em tese, do delito de homicídio qualificado. Alega o

impetrante que o juiz substituto, quando prolatou a sentença de pronúncia, não

ostentava mais jurisdição, porque já estava lotado em outra vara judicial. Isso

porque que a sentença de pronúncia foi prolatada no último dia de validade de sua

nomeação como juiz substituto para atuar na vara do Tribunal do Júri, às 19h e

40min, horário em que já cessara a competência do magistrado, após o expediente

forense, o qual tem início ao meio-dia e termina às 19h. Assim, busca,

liminarmente e no mérito, a declaração de nulidade da sentença de pronúncia. Para

a Min. Relatora é despropositada a tese da defesa de nulidade da pronúncia por

incompetência do juiz, visto que a jurisdição não pode ser confundida com o

horário de expediente forense, pois o expediente forense apenas vincula os atos do

público externo e não do juiz. De outra parte, assevera que, quando houver portaria

designando o juiz para atuar em substituição, sua jurisdição permanece até às 23h e

59min do dia anterior à designação noutra vara. Dessa forma, explica a Min.

Relatora, o fato de a sentença de pronúncia ter sido prolatada após o término do

expediente forense não afastou a competência do juiz substituto designado para

atuar na vara do tribunal do júri até o término daquele dia. Nesse mesmo sentido

foi o parecer da Subprocuradoria da República e a decisão do tribunal a quo, ao

rejeitar a preliminar de nulidade sustentada no recurso em sentido estrito. Diante do

exposto, a Turma denegou a ordem. HC 105.405-DF, Rel. Min. Laurita Vaz,

julgado em 27/5/2010.

INFORMATIVO 435

Page 225: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Corte Especial

APN. DENÚNCIA. CONCUSSÃO.

A Corte Especial recebeu, em parte, a denúncia para instaurar ação penal em

relação aos acusados de crime de concussão em que, nos autos, há suporte

probatório de indícios de autoria, preenchendo os requisitos do art. 41 do CPP.

Contudo, a denúncia foi rejeitada quanto ao crime de responsabilidade,

observando-se que, segundo o MP, a conduta estaria descrita no art. 39, IV, da Lei

n. 1.079/1950. Todavia, segundo o Min. Relator, essa norma traz como possíveis

sujeitos ativos do delito os Ministros do STF, assim, não seria legítima sua

aplicação analógica ou extensiva a desembargadores de Tribunais de Justiça, visto

que essa norma só os alcança quando na presidência ou no exercício da presidência

e apenas quanto às condutas tipificadas no art. 10, estranhas à denúncia oferecida.

Observa que embora a capitulação legal imposta pelo MP não tenha caráter

vinculativo, a descrição das condutas, no particular, conduz a um juízo de

atipicidade. Também se considerou ilícita a prova obtida por interceptação

telefônica autorizada por fundamento genérico e sem a observância dos arts. 4º e 5º

da Lei n. 9.296/1996. Ademais, a Corte Especial afastou o desembargador do

exercício de suas funções por um ano, podendo a medida ser renovada ao final do

período. Precedentes citados do STF: HC 81.260-ES, DJ 19/4/2002; RMS 23.002-

RJ, DJ 27/11/1998; do STJ: APn 329-PB, DJ 23/4/2007, e HC 56.222-SP, DJe

7/2/2008. APn 422-RR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgada em

19/5/2010.

Sexta Turma

DESAFORAMENTO. PRONÚNCIA. PRECLUSÃO.

Trata-se de habeas corpus em favor de paciente que recorreu da decisão de

pronúncia e, na pendência da apreciação desse recurso, obteve, sem que houvesse

requerido, extensão, de ofício, de decisão concessiva de desaforamento a outros

corréus. No entanto, tanto a doutrina quanto a jurisprudência são pacíficas no

Page 226: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

sentido de que não é possível determinar a excepcional providência do

desaforamento sem a preclusão da pronúncia, ex vi do art. 427, § 4º, do CPP. Com

essas considerações, a Turma concedeu a ordem. HC 145.312-SE, Rel. Min.

Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 18/5/2010.

SALVO-CONDUTO. TESTE. "BAFÔMETRO".

O recorrente, visando obter salvo-conduto para não ser obrigado a se submeter ao

teste do “bafômetro”, alega que a Lei n. 11.705/2008 encerra conteúdo

inconstitucional, ameaçando seu direito de ir e vir e que ninguém pode ser obrigado

a produzir prova contra si mesmo. Ressalte-se, porém, que o habeas corpus

preventivo tem cabimento quando, de fato, houver ameaça à liberdade de

locomoção, isto é, sempre que fundado for o receio de o paciente ser preso

ilegalmente. E tal receio resultará de ameaça concreta de iminente prisão. A Turma,

por unanimidade, negou provimento ao recurso sob o argumento de que, na

espécie, não há efetiva ameaça, atual ou iminente, capaz de autorizar a expedição

de salvo-conduto, por isso o que se pede é, por via reflexa, à custa de desrespeito a

princípios constitucionais, eximir o impetrante do âmbito da vigência da lei

supramencionada, especificamente quanto à realização do referido teste. Além do

que, este Superior Tribunal já firmou o entendimento de o habeas corpus, remédio

constitucional destinado a reparar ilegalidades que envolvam o direito de

locomoção do cidadão, não ser via adequada para impugnar medidas

administrativas, como ocorre na hipótese. Precedentes citados: HC 141.282-SP,

DJe 6/8/2009; HC 124.468-RJ, DJe 5/8/2009, e HC 113.415-PE, DJe 12/5/2009.

RHC 27.590-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em

18/5/2010.

INFORMATIVO 434

Terceira Seção

COMPETÊNCIA. INTERNET. CRIMES CONTRA HONRA.

A Seção entendeu, lastreada em orientação do STF, que a Lei de Imprensa (Lei n.

5.250/1967) não foi recepcionada pela CF/1988. Assim, nos crimes contra a honra,

Page 227: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

aplicam-se, em princípio, as normas da legislação comum, quais sejam, o art. 138 e

seguintes do CP e o art. 69 e seguintes do CPP. Logo, nos crimes contra a honra

praticados por meio de publicação impressa em periódico de circulação nacional,

deve-se fixar a competência do juízo pelo local onde ocorreu a impressão, uma vez

que se trata do primeiro lugar onde as matérias produzidas chegaram ao

conhecimento de outrem, de acordo com o art. 70 do CPP. Quanto aos crimes

contra a honra praticados por meio de reportagens veiculadas na Internet, a

competência fixa-se em razão do local onde foi concluída a ação delituosa, ou seja,

onde se encontra o responsável pela veiculação e divulgação das notícias,

indiferente a localização do provedor de acesso à rede mundial de computadores ou

sua efetiva visualização pelos usuários. Precedentes citados do STF: ADPF 130-

DF, DJe 6/11/2009; do STJ: CC 29.886-SP, DJ 1º/2/2008. CC 106.625-DF, Rel.

Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 12/5/2010.

INFORMATIVO 433

Sexta Turma

QO. INTIMAÇÃO. MP. PRAZOS RECURSAIS.

Em questão de ordem, a Turma decidiu que a intimação pessoal do Ministério

Público (MP) por mandado dá-se na data ali registrada. Então, o prazo recursal é

contado conforme o art. 800 c/c o 798, § 5º, e o 370, § 4º, todos do CPP. Dessa

forma, se houver recusa do MP em receber a intimação, o prazo recursal será

contado da certidão do meirinho. Precedentes citados: EDcl no REsp 1.032.034-SP,

DJe 7/12/2009; AgRg nos EREsp 310.417-PB, DJe 27/3/2008, e REsp 724.550-

GO, DJ 16/6/2005. QO no REsp 761.811-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis

Moura, julgada em 4/5/2010.

HC. DENÚNCIA. INSERÇÃO DE FOTOGRAFIA E INCLUSÃO DA

EXPRESSÃO AÇÃO PENAL "CONDENATÓRIA".

No habeas corpus, alega-se constrangimento ilegal do paciente pelo fato de, na

denúncia, constar sua foto digitalizada por meio eletrônico, o que fere o princípio

Page 228: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

do direito de imagem, além de que a expressão “condenatória” para nomear ação

penal, no rosto da denúncia, fere o princípio da presunção de inocência. Por outro

lado, há notícias, no site que o TJ mantém na internet, de que a condenação do

paciente por roubo circunstanciado (em crime continuado) já transitou em julgado.

De acordo com o Min. Relator, é cediço que, para ser cabível o habeas corpus, é

necessário que haja fundado receio de o paciente estar sofrendo ou de se achar

ameaçado de sofrer violência ou coação à sua liberdade de ir, vir e permanecer.

Pondera que, nesse entendimento, não se pode considerar per se o habeas corpus

como meio para corrigir inserção de foto em peça acusatória bem como a inclusão

da expressão “condenatória”, usada para definir a ação penal. Apesar dessas

considerações, no caso dos autos, afirma que a aposição de fotografia do acusado

na denúncia viola várias normas constitucionais: o direito à honra, à imagem e à

dignidade da pessoa humana. Além disso, foi desnecessária a digitalização da foto

na denúncia, uma vez que já consta dos autos da ação penal a identificação civil e

criminal do acusado. Assim, não haveria necessidade de, novamente, inseri-la na

peça acusatória da denúncia. Assevera, no entanto, não haver constrangimento na

utilização do termo “ação penal condenatória” porque essa é a classificação dada à

ação penal instaurada pelo Estado contra o acusado. Dessa forma, apesar de a

sentença estar acobertada pelo manto da coisa julgada, determinou-se que seja

riscada da denúncia a parte na qual consta a foto do ora paciente. Com esse

entendimento, a Turma concedeu parcialmente a ordem. HC 88.448-DF, Rel. Min.

Og Fernandes, julgado em 6/5/2010.

APELAÇÃO. CONTRARRAZÃO. NULIDADE.

A Turma reiterou seu entendimento de que, mesmo que o advogado constituído

pelo paciente tenha sido intimado para apresentar contrarrazões, tendo ele

permanecido inerte, era imperiosa a intimação do paciente para que constituísse

novo causídico. Persistindo a situação, era necessária a nomeação de defensor

público para o ato. Inadmissível proceder ao julgamento da apelação sem a

cristalização da dialética em segundo grau. Precedentes citados: HC 84.153-RS,

DJe 4/8/2008, e HC 29.816-PR, DJ 2/8/2004. HC 118.904-RS, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, julgado em 6/5/2010.

INFORMATIVO 432

Page 229: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Terceira Seção

SÚMULA N. 438-STJ.

É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva

com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do

processo penal. Rel. Min. Felix Fischer, em 28/4/2010.

SÚMULA N. 439-STJ.

Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em

decisão motivada. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, em 28/4/2010.

SÚMULA N. 440-STJ.

Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime

prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base

apenas na gravidade abstrata do delito. Rel. Min. Felix Fischer, em 28/4/2010.

SÚMULA N. 441-STJ.

A falta grave não interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional. Rel.

Min. Felix Fischer, em 28/4/2010.

SÚMULA N. 442-STJ.

É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante

do roubo. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, em 28/4/2010.

SÚMULA N. 443-STJ.

O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado

exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera

indicação do número de majorantes. Rel. Min. Felix Fischer, em 28/4/2010.

SÚMULA N. 444-STJ.

É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a

pena-base. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, em 28/4/2010.

Page 230: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

TRÁFICO. COMBINAÇÃO. LEIS.

Como consabido, vem do art. 5º, XL, da CF/1988 o reconhecimento do princípio

da retroatividade da lei mais benéfica como garantia fundamental, aplicando-se,

imediatamente, a nova norma mais favorável ao acusado até mesmo após o trânsito

em julgado da condenação. Contudo, a verificação da lex mitior no confronto de

leis é feita in concreto, pois a norma aparentemente mais benéfica em determinado

caso pode não sê-lo em outro. Daí que, conforme a situação, há retroatividade da

norma nova ou a ultra-atividade da antiga (princípio da extra-atividade). Isso posto,

o § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 (nova lei de tráfico de drogas), que, ao

inovar, previu causa de diminuição de pena explicitamente vinculada ao novo

apenamento constante no caput daquele mesmo artigo, não pode ser combinado ao

conteúdo do preceito secundário do tipo referente ao tráfico previsto no art. 12 da

Lei n. 6.368/1976 (antiga lei de tráfico de entorpecentes), a gerar terceira norma,

não elaborada e jamais prevista pelo legislador. A aplicação dessa minorante,

inexoravelmente, aplica-se somente em relação à pena prevista no caput do art. 33

da nova lei. Dessarte, há que se verificar, caso a caso, a situação mais vantajosa ao

condenado, visto que, conforme apregoam a doutrina nacional, a estrangeira e a

jurisprudência prevalecente no STF, jamais se admite a combinação dos textos para

criar uma regra inédita. Precedentes citados do STF: RHC 94.806-PR, DJe

16/4/2010; HC 98.766-MG, DJe 5/3/2010, e HC 96.844-MS, DJe 5/2/2010. EREsp

1.094.499-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgados em 28/4/2010.

RCL. DESAFORAMENTO. JÚRI.

O STJ, ao julgar anterior habeas corpus, em razão da influência política do

reclamante no município, entendeu estar justificado o desaforamento de seu

julgamento pelo júri, mas considerou ilegal o deslocamento diretamente para a

capital do estado-membro, sem qualquer justificativa, visto que existem outras

comarcas alheias a essa influência que podem abrigar o julgamento e estão mais

próximas do local dos fatos. Contudo, o julgamento deu-se na comarca da capital,

justamente o local refutado pelo STJ. Daí que procedente a reclamação para anular

o julgamento do júri, o acórdão da apelação criminal e seus respectivos embargos.

Determinou-se a renovação do julgamento do pedido de desaforamento feito ao

Page 231: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

tribunal a quo na parte cassada pelo STJ, dando efetivo cumprimento ao decidido

no referido HC. Rcl 2.855-PE, Rel. Min. Jorge Mussi, julgada em 28/4/2010.

COMPETÊNCIA. ESTELIONATO. EMPRÉSTIMO. APOSENTADA.

Cuida-se da suposta prática de estelionato mediante a contratação fraudulenta de

empréstimo consignado em folha de pagamento de proventos do INSS. Constatou-

se que foi utilizada a senha de um representante de corretora de seguros para

realizar o empréstimo fraudulento na instituição financeira privada e consigná-lo na

folha de pagamento da aposentada. Diante disso, constata-se que o estelionato não

foi cometido em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou suas

entidades autárquicas, o que afasta a competência da Justiça Federal e determina a

da Justiça comum estadual. Precedentes citados: CC 102.207-SP, DJe 3/8/2009;

CC 38.293-RS, DJ 9/6/2003, e AgRg no CC 37.487-RS, DJ 20/10/2003. CC

100.725-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 28/4/2010.

Quinta Turma

PROVA EMPRESTADA. PERÍCIA. ARMA.

Trata-se de paciente condenado à pena de seis anos de reclusão em regime inicial

fechado, mais multa por infringência ao art. 157, § 2º, I e II, do CP (roubou um

veículo com o objetivo de fugir da cena do crime de latrocínio que cometeu).

Houve apelação e o TJ reduziu a reprimenda para cinco anos e seis meses, além de

26 dias-multa. Agora, em habeas corpus, sustenta a nulidade da sentença

fundamentada exclusivamente em prova emprestada, afirma ser imprescindível a

apreensão e perícia de arma de fogo para incidência da majorante do emprego de

arma e, por fim, alega que o aumento da pena em razão de duas majorantes não foi

corretamente fundamentado. Para o Min. Relator, a súplica quanto à prova

emprestada não pode ser acolhida, visto que tanto a jurisprudência do Supremo

quanto a deste Superior Tribunal admitem a prova emprestada no processo penal,

desde que observados os princípios do contraditório e da ampla defesa, quando a

prova emprestada for um dos elementos de convicção que sustentam o decreto

condenatório. Ressalta que, no caso dos autos, essas premissas foram observadas e,

segundo a denúncia, a prova emprestada foi colhida de processo entre as mesmas

Page 232: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

partes. Quanto a ser imprescindível apreensão e perícia da arma de fogo para a

incidência de majorante, também não acolheu a irresignação. Ainda expôs estudo

com base na doutrina e jurisprudência sobre a prova pericial no direito processual

pátrio. Assim destaca, entre outras considerações, que, conforme dispõe o art. 158

do CPP, é indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, sob pena de

tornar-se nulo o processo. É indispensável a perícia quando as infrações deixam

vestígios mas, se esses vestígios desaparecem, a perícia pode ser suprida pela prova

testemunhal (art. 167 do CPP). Por outro lado, aponta doutrina de que a conjugação

do princípio do livre convencimento fundamentado (ou da persuasão racional, ex vi

art. 155 do CPP), com a denominada busca da verdade real processual, com a

limitação estabelecida pelo sistema, numa visão mais moderna, estabelece que a

livre convicção do juiz não é absoluta, é condicionada às provas colhidas no

processo, às admitidas, às sujeitas a um juízo de credibilidade e ao valor legal da

prova, se for o caso. Afirma não haver incompatibilidade entre o disposto no art.

155 e o 158 do CPP, apenas há a prudência do legislador ao dar garantias contra

acusações injustas. Observa ainda que a injustificável falta de exame de corpo de

delito, apesar de constituir uma nulidade por força legal, também pode,

eventualmente, ensejar a falta de prova essencial da materialidade do delito ou

circunstância qualificadora ou majorante, tudo a depender do caso em si. Esse

entendimento deve ser aplicado também para verificar a ocorrência da majorante

do emprego de arma no crime de roubo. Assinala que, para a configuração da

majorante, a realização da perícia, quando possível, torna-se imprescindível.

Contudo, ressalta ficar comprovado, nos autos, que o autor efetuou disparos com

arma de fogo e, nesse caso, sua apreensão e perícia estão dispensadas; pois, nessa

circunstância, ficou evidenciada sua potencialidade lesiva. Explica que como não

consta dos autos o motivo pelo qual a arma não foi apreendida e periciada, na

impossibilidade da realização do exame pericial, incide o art. 167 do CPP. Quanto

ao aumento da pena acima do patamar mínimo, em razão de duas majorantes,

registra ser isso possível desde que fundamentado (art. 68, parágrafo único, e 157,

§ 2º, ambos do CP). No entanto, na espécie, há ausência de circunstâncias que

possam justificar o aumento além do mínimo legal e ainda verifica a hipótese de

concessão de HC de ofício quanto à fixação do regime semiaberto para o

cumprimento da pena, uma vez que preenchidos os requisitos do art. 33, § 2º, b e §

3º, c/c o art. 59, todos do CP. Diante do exposto, a Turma concedeu parcialmente a

Page 233: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ordem somente para aplicar o aumento mínimo de 1/3, em razão das majorantes, e

de ofício concedeu-a a fim de fixar o regime inicial semiaberto para cumprimento

da pena. Precedentes citados do STF: HC 67.707-RS, DJ 14/8/1992; HC 95.019-

SP, DJe 9/10/2009; HC 69.591-SE, DJ 29/9/2006; HC 72.283-SP, DJ 9/6/1995; HC

76.420-SP, DJ 14/8/1998; do STJ: HC 47.813-RJ, DJ 10/9/2007; HC 103.510-RJ,

DJe 19/12/2009; REsp 336.553-SP, DJ 24/3/2003; HC 37.900-RJ, DJ 1º/8/2005;

HC 25.097-RS, RS, DJ 16/6/2003; HC 1.257-PE, DJ 14/9/1992, e HC 101.895-SP,

DJe 8/9/2008. HC 155.149-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 29/4/2010

(ver Informativo n. 345-STJ).

INFORMATIVO 431

Quinta Turma

PRISÃO PREVENTIVA. CONDIÇÕES FAVORÁVEIS.

Para o Min. Relator, as condições pessoais favoráveis não têm o condão de, por si

sós, garantir a revogação da prisão preventiva, se há nos autos elementos hábeis a

recomendar a manutenção da custódia. Além disso, ao contrário do que afirma a

impetração, no caso dos autos, a prisão preventiva está satisfatoriamente

fundamentada na garantia da ordem pública, tendo em vista a periculosidade do

paciente, evidenciada não só na gravidade do crime, mas também em razão do

modus operandi de sua conduta criminosa que, tal como praticada, extrapola o

convencional. Ressalta que, segundo consta dos autos, o paciente vem cometendo

crimes sexuais contra menores e, entre elas, sua própria filha. Daí ter sido

denunciado como incurso nas sanções do art. 214 c/c o 224, a; 213 c/c 224, a, e

226, II, por várias vezes, na forma do art. 71, todos do CP (antiga redação).

Ademais, consta também dos autos que o paciente vem promovendo diversas

ameaças contra os familiares das vítimas, o que é fundamento suficiente para

manutenção da segregação cautelar, uma vez que há concreta possibilidade de

ameaça contra a vítima e testemunhas. Diante do exposto, a Turma denegou a

ordem. Precedentes citados: RHC 18.170-MG, DJ 21/11/2005; RHC 17.809-CE,

DJ 14/11/2005; HC 42.061-DF, DJ 26/9/2005, e HC 44.752-GO, DJ 26/9/2005.

HC 155.702-GO, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 20/4/2010.

Page 234: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Sexta Turma

RECURSO EXCLUSIVO. DEFESA. MAJORAÇÃO. PENA.

Trata-se de habeas corpus que se cingiu à verificação do acerto do acórdão

recorrido que promoveu, em recurso exclusivo da defesa, correção de erro material,

de cálculo, incrementando significativamente as penas dos pacientes. A Turma

reconheceu procedente o reclamo da impetração, visto que o tribunal a quo corrigiu

o erro de cálculo em que teria incorrido o magistrado de primeiro grau e, assim, em

recurso exclusivo da defesa, majorou de modo significativo a sanção criminal

imposta aos pacientes. Manifesta, pois, a reformatio in pejus, visto que, por mais

que erro houvesse, não seria por meio de recurso defensivo que o tribunal de

origem poderia modificar a sentença, acarretando gravame tão intenso em desfavor

dos pacientes. Com esse entendimento, concedeu-se a ordem. Precedentes citados:

HC 92.088-RS, DJe 16/3/2009; HC 121.382-RJ, DJe 9/3/2009; HC 93.251-SP, DJe

1/9/2008, e HC 56.953-DF, DJ 9/4/2007. HC 80.133-SE, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, julgado em 20/4/2010.

INFORMATIVO 430

Corte Especial

PRISÃO PREVENTIVA. EX-GOVERNADOR. REVOGAÇÃO.

A Corte Especial, por maioria e em questão de ordem, deferiu o pedido de

revogação de prisão de ex-governador por entender inexistentes os motivos para

mantê-lo sob custódia, uma vez que não há mais elementos para que subsista a

prisão preventiva. O argumento é que ele não tem mais condições de interferir na

coleta de provas relacionadas ao Inquérito n. 650, que cuida do suposto esquema

de corrupção no GDF. O Min. Ari Pargendler, em voto vencido, entendia que a

prisão deveria ser mantida até que, encerrada a instrução, a denúncia fosse ou não

oferecida. QO na APn 622-DF, Rel. Min. Fernando Gonçalves, julgada em

12/4/2010.

Page 235: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Quinta Turma

INTIMAÇÃO. RÉU REVEL.

In casu, discute-se a nulidade do processo que culminou na condenação do réu, ora

paciente, que, revel, com o falecimento de seu advogado, não fora intimado para

que pudesse constituir um novo causídico de sua confiança, tendo o juiz nomeado

um defensor dativo. A Turma entendeu que a escolha de defensor, de fato, é um

direito inafastável do réu, porquanto deve haver uma relação de confiança entre ele

e seu patrono. Assim, é de rigor que, uma vez verificada a ausência de defesa

técnica a amparar o acusado, por qualquer motivo que se tenha dado, deve-se

conceder prazo para que ele, ainda que revel, indique outro profissional de sua

confiança, para, só então, caso permaneça inerte, nomear-lhe defensor dativo.

Diante disso, concedeu-se a ordem para anular o feito a partir da nomeação de

defensor dativo, determinando-se a intimação do réu para que, caso queira, nomeie

advogado de sua confiança; mantida, porém, a custódia cautelar do paciente.

Precedentes citados: RHC 6.949-SP, DJ 22/6/1998; HC 22.157-RS, DJ 11/11/2002,

e HC 137.527-RS, DJe 3/11/2009. HC 162.785-AC, Rel. Min. Napoleão Nunes

Maia Filho, julgado em 13/4/2010.

INFORMATIVO 429

Quinta Turma

PERÍCIA. ALIMENTO IMPRÓPRIO. CONSUMO.

A Turma, por maioria, reiterou que não é suficiente para configurar o crime do art.

7º, IX, da Lei n. 8.137/1990 a simples constatação de que os alimentos apresentam-

se impróprios ao consumo, pois é necessária a feitura de laudo pericial para sua

comprovação. A hipótese era de alimentos de procedência ignorada e fora do prazo

de validade. REsp 1.154.774-RS , Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia

Filho, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 6/4/2010.

Sexta Turma

Page 236: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

PRESO. INTIMAÇÃO. ADVOGADO. CAUSA PRÓPRIA.

Trata-se de habeas corpus em que o paciente foi condenado como incurso no art.

16, caput, da Lei n. 10.826/2003 e art. 304 c/c o art. 297, na forma do art. 69, todos

do CP (porte ilegal de arma de fogo e uso de carteira de identidade funcional falsa

de policial civil carcereiro). Questiona, entre outros argumentos, a sentença e o

acórdão condenatórios com relação aos tipos penais, pois afirma ser o crime

impossível – por ser xerox colorida o documento considerado falso, cujo original

estaria em poder da polícia; também alega a nulidade, porque advoga em causa

própria e não foi intimado da data do julgamento da apelação na unidade prisional

onde se encontra. Por fim, alega excesso na fixação da pena e busca a devolução de

sua carteira de juiz arbitral apreendida no momento da prisão. O Min. Relator não

conheceu em parte da impetração, porquanto as instâncias ordinárias solucionaram

a questão com base em prova testemunhal e laudo pericial que comprovaram a

falsidade do documento, bem como seu poder de convencimento, embora se trate

de fotocópia. Também não conheceu do pedido de restituição de carteira de juiz

arbitral por ausência de ameaça ou constrangimento à liberdade de locomoção. Os

demais questionamentos ficaram prejudicados, uma vez que conhecido em parte o

habeas corpus quanto à nulidade de acórdão da apelação, por falta de intimação

pessoal do paciente que advoga em causa própria. Diante do exposto, a Turma

acompanhou o Min. Relator concedendo a ordem e anulou o julgamento da

apelação, a fim de que outro se realize após a intimação prévia do paciente, bem

como relaxou sua prisão por excesso de prazo, permitindo que ele recorra em

liberdade, se por outro motivo não estiver preso. HC 143.076-RJ, Rel. Min. Celso

Limongi (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 6/4/2010.

EXAME. SANIDADE. LAUDOS.

O paciente foi denunciado pela suposta prática de dois crimes de homicídio

duplamente qualificado (sendo um tentado), além de aborto. Em habeas corpus

substitutivo de recurso ordinário, discute-se a necessidade de novo exame

psiquiátrico (terceiro) em razão do antagonismo entre as duas perícias antes

realizadas. O primeiro laudo psiquiátrico concluiu por sua inimputabilidade penal,

mas foi anulado em grau de reexame necessário. Já o segundo laudo reconheceu a

Page 237: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

imputabilidade penal. Nas instâncias ordinárias se indeferiu a realização da terceira

perícia por a considerarem desnecessária. Para o Min. Relator, a simples existência

de dois laudos não justifica a realização de um terceiro. Isso porque o primeiro

exame foi cassado não por ser desfavorável à defesa, mas, sim, por conter vícios –

ausência dos quesitos elaborados pelo MP e pela defesa e não ter explicitado

conclusivamente se, à época dos fatos, o paciente era capaz de entender o caráter

ilícito de sua conduta. Acrescentou que o segundo laudo, precedido das

formalidades legais, fez referência ao estado psicológico do acusado tanto à época

dos fatos quanto ao tempo da elaboração da perícia. Observou, ainda, que os laudos

são dirigidos ao Magistrado para que forme seu livre convencimento, podendo

adotá-los ou não. Salientou, ademais, que os jurados, soberanamente, concluíram,

no júri, pela responsabilização do paciente e sua perfeita imputabilidade,

condenando-o a 25 anos de reclusão. Com esse entendimento, a Turma denegou a

ordem. HC 63.087-PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 6/4/2010.

TRANCAMENTO. FALTA. JUSTA CAUSA.

Sociedades empresárias uniram-se e, para isso, uma delas vendeu 50% de suas

quotas, consequentemente foram alterados os contratos sociais. Agora, os sócios da

empresa cedente afirmam que os contratos sociais alterados foram adulterados,

passando a constar a venda total da empresa e falsificados datas e valores dos

textos. Consta dos autos que, instaurado o inquérito policial, foram ouvidas

testemunhas que se posicionaram favoráveis ao réu (paciente) e, realizadas três

perícias oficiais, todas concluíram pela inexistência de fraude nos contratos sociais.

Diante desses fatos, o Ministério Público (MP), por duas vezes, após diligências,

deixou de oferecer a denúncia. Mas, segundo os impetrantes, dada a insistência das

supostas vítimas, o juiz remeteu os autos ao procurador-geral de Justiça, o qual

designou novo promotor para atuar nos autos. Esse novo promotor ofereceu

denúncia embasada em nova perícia não oficial encomendada pelos autores que

não foi conclusiva. Daí impetrado habeas corpus substitutivo de recurso ordinário

em que se alega a falta de justa causa para extinguir a ação. Para o Min. Relator,

admite-se habeas corpus nesses casos, basta que o paciente esteja sofrendo coação,

ache-se ameaçado ou precise de proteção à sua liberdade de ir e vir. Observa que,

no caso, há três perícias oficiais nos autos sem indícios suficientes da materialidade

do crime, assim não poderia valer-se o MP de perícia extrajudicial para dar inicio à

Page 238: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ação penal. Ademais, é ato de autoridade a nomeação dos peritos no processo

criminal (arts. 276, III, e 156 do CPP). Diante do exposto, a Turma concedeu a

ordem. Precedente citado: HC 38.717-SP, DJ 15/5/2006. HC 119.354-GO, Rel.

Min. Nilson Naves, julgado em 6/4/2010.

INFORMATIVO 428

Quinta Turma

EXCESSO. PRAZO. INSTRUÇÃO CRIMINAL. RÉU PRESO.

No caso, o ora paciente foi denunciado pela suposta prática dos crimes de

homicídio e quadrilha ou bando armado. Foi preso temporariamente em 24/5/2005

e a prisão foi convertida em preventiva em 18/7/2005. Posteriormente, foi

pronunciado como incurso nos crimes do art. 121, § 2º, I, IV e V, c/c 29 e 288,

parágrafo único, do CP. Assim, permanece o paciente preso há mais de quatro anos

e 10 meses sem que tenha sido submetido ao Tribunal do Júri, o que conduz à

violação do devido processo legal. A demora injustificável para a prestação

jurisdicional, quando encerrada a instrução criminal, permanecendo o réu preso

preventivamente, constitui constrangimento ilegal. Logo, a Turma conheceu em

parte da ordem de habeas corpus e, nessa extensão, concedeu-a para que seja

desconstituído o decreto de prisão cautelar, determinando a expedição do alvará de

soltura, caso o paciente não esteja preso por outro motivo, devendo ele assumir o

compromisso de comparecer a todos os atos do processo, não se ausentar do

distrito da culpa sem autorização judicial e manter o juízo informado de seu

endereço residencial e do trabalho. Precedente citado do STF: HC 85.237-DF, DJ

29/4/2005. HC 117.466-SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em

23/3/2010.

INFORMATIVO 427

Sexta Turma

COMPETÊNCIA. PRINCÍPIO. SIMETRIA.

Page 239: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Trata-se de habeas corpus que objetiva a liberação do paciente, alegando a

incompetência do juiz prolator do decreto de prisão e a ausência de fundamentos de

cautelaridade. No caso, trata-se de procurador geral de estado-membro, invocando-se,

assim, a aplicação do princípio da simetria. A Turma, ao prosseguir o julgamento,

denegou a ordem por entender, entre outras questões, que não há falar em

incompetência do juiz de primeiro grau, invocando-se regra constitucional estadual

declarada, incidentalmente, inconstitucional em razão da violação do princípio da

simetria. Observou-se existirem fundamentos de cautelaridade no decreto de prisão

preventiva, mantidos no seio da sentença condenatória, que apontam plano de fuga do

paciente a envolver até aeronave do governo, além de haver referência à gravidade

concreta das imputações: crimes contra a liberdade sexual, com vítimas adolescentes.

HC 116.459-RR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 16/3/2010.

INFORMATIVO 426

Quinta Turma

HC. AUDIÊNCIA. VIDEOCONFERÊNCIA. ARMA. PERÍCIA.

O paciente foi condenado, por infração ao art. 157, § 2º, I e II, do CP, à pena de

reclusão em regime inicial fechado, além de pena pecuniária. O impetrante

pretende a nulidade do processo em razão de a audiência de instrução, na qual

foram colhidos os depoimentos das testemunhas, ter sido realizada sem a presença

física do acusado. Porém, a jurisprudência deste Superior Tribunal é no sentido de

que a ausência do réu na mencionada instrução não configura nulidade, se a ela

tiver comparecido seu defensor e não lhe tenha sobrevindo qualquer prejuízo, como

no caso. Contudo, quanto à alegação de impossibilidade de majoração da pena do

crime pelo emprego de arma ante a ausência de perícia, entendeu o Min. Relator

que a súplica é procedente. O exame de corpo de delito é, em regra, indispensável

quando a infração deixar vestígios. Apenas quando inviável sua realização ou no

caso de desaparecimento dos vestígios, poderá a prova testemunhal suprir-lhe a

falta (arts. 158 c/c 167, ambos do CPP). No caso, o afastamento da majorante do

emprego de arma é medida que se impõe em face da viabilidade da realização de

tal exame e, pelo que foi exposto na denúncia, a arma utilizada no crime foi

apreendida pela polícia na residência do réu e reconhecida pela vítima. Dessa

Page 240: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

forma, não tendo sido realizada perícia como determina o CPP, não haveria como

reconhecer a qualificadora do emprego de arma. Já quanto ao alegado equívoco no

aumento da pena, também o Min. Relator entendeu comportar acolhimento o

pedido, tendo em vista o disposto no parágrafo único do art. 68 e no § 2º do art.

157, ambos do CP. O aumento de pena acima do patamar mínimo, pela ocorrência

de duas majorantes específicas, não pode dar-se pela simples constatação da

existência delas, como no caso, mas deve ser feito com base nos dados concretos

em que se evidenciou o fato criminoso. E quanto à fixação do regime mais gravoso

somente em razão da gravidade do crime, o Min. Relator entendeu também assistir

razão à impetrante, uma vez que, atendidos os requisitos constantes do art. 33, § 2º,

b, e § 3º, c/c o art. 59, todos do CP, quais sejam, a ausência de reincidência, a

condenação por um período superior a quatro anos e não excedente a oito e a

existência de circunstâncias judiciais favoráveis, deve o paciente cumprir a pena

privativa de liberdade no regime inicial semiaberto. A gravidade genérica do delito,

por si só, é insuficiente para justificar a imposição do regime inicial fechado para o

cumprimento da pena. É indispensável a criteriosa observação dos preceitos

inscritos nos arts. 33, § 2º, b, e § 3º, do CP. Diante disso, a Turma concedeu

parcialmente a ordem. Precedentes citados do STF: HC 69.591-SE, DJ 29/9/2006;

HC 72.283-SP, DJ 9/6/1995; HC 76.420-SP, DJ 14/8/1998; HC 89.330-SP, DJ

22/9/2006; HC 83.927-SP, DJ 4/6/2004; HC 83.508-SP, DJ 6/2/2004; do STJ: HC

96.319-MS, DJe 8/9/2008; HC 79.080-SP, DJe 26/5/2008; REsp 336.553-SP, DJ

24/3/2003; HC 37.900-RJ, DJ 1º/8/2005; HC 25.097-RS, DJ 16/6/2003; HC 1.257-

PE, DJ 14/9/1992; HC 101.005-SP, DJe 1º/9/2008; HC 91.162-SP, DJe 16/6/2008;

HC 97.882-SP, DJe 5/5/2008; HC 59.370-SP, DJ 13/8/2007, e HC 64.817-SP, DJ

6/8/2007. HC 131.655-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 9/3/2010.

HC. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA. ORDEM PÚBLICA.

A Turma conheceu parcialmente da ordem de habeas corpus e, nessa parte,

denegou-a ao entendimento de que o pedido de trancamento da ação penal fundado

na irregularidade e ilicitude dos procedimentos realizados durante a investigação,

além de ausência de justa causa para a instauração de persecutio criminis, não foi

sequer suscitado no Tribunal de origem, ficando impedido este Superior Tribunal

de examinar tal questão sob pena de supressão de instância. No que se refere à

alegada falta de fundamentação da prisão preventiva, o Min. Relator destacou que,

Page 241: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

na hipótese, a prisão está satisfatoriamente fundamentada na garantia da ordem

pública. A prisão preventiva justifica-se desde que demonstrada sua real

necessidade com a satisfação dos pressupostos a que se refere o art. 312 do CPP,

não bastando a mera explicitação textual de tais requisitos. Não se exige, contudo,

fundamentação exaustiva, sendo suficiente que o decreto constritivo, ainda que de

forma sucinta, analise a presença, no caso, dos requisitos legais da prisão

preventiva. Assim, o STF tem reiteradamente reconhecido como ilegais as prisões

preventivas decretadas, por exemplo, com base na gravidade abstrata do delito, na

periculosidade presumida do agente, no clamor social decorrente da prática da

conduta delituosa, ou, ainda, na afirmação genérica de que a prisão é necessária

para acautelar o meio social. Mas, na hipótese, o paciente é acusado de pertencer à

facção criminosa cuja atuação controla o tráfico de entorpecentes de dentro dos

presídios e ordena a prática de outros crimes como roubos e homicídios, tudo de

forma organizada. De fato, a periculosidade do agente para a coletividade, desde

que comprovada concretamente, é apta a manutenção da restrição de sua liberdade.

Precedentes citados do STF: HC 90.862-SP, DJ 27/4/2007; HC 92.069-RJ, DJ

9/11/2007; RHC 89.972-GO, DJ 29/6/2007; HC 90.858-SP, DJ 22/6/2007; HC

90.162-RJ, DJ 29/6/2007; HC 90.471-PA, DJ 14/9/2007; HC 84.311-SP, DJ

8/6/2007; HC 86.748-RJ, DJ 8/6/2007; HC 89.266-GO, DJ 29/6/2007; HC 88.608-

RN, DJ 6/11/2006, e HC 88.196-MS, DJ 18/5/2007. HC 134.340-SP, Rel. Min.

Felix Fischer, julgado em 9/3/2010.

Sexta Turma

JÚRI. DESAFORAMENTO.

É certo que o réu deve ser julgado no lugar em que supostamente cometeu o delito.

Daí, mostra-se inconveniente o desaforamento de júri por simples alegação de

dúvida quanto à imparcialidade dos jurados, gravidade dos crimes cometidos ou

periculosidade dos réus. HC 106.102-SP, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em

9/3/2010.

INTERROGATÓRIO. CORRÉUS. ADVOGADO.

Page 242: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Há julgados da Turma e do STF no sentido de ser possível, em casos de delação, a

intervenção de advogado em interrogatório de réu diverso daquele que defende.

Contudo, esse entendimento deve ser estendido a casos em que não houve a

referida delação, isso em respeito ao devido processo legal. Anote-se que todas as

partes devem contribuir para a busca da verdade, conforme se extrai do art. 188 do

CPP. No caso, a Turma refutou as alegações de excesso de prazo e falta de acesso

ao teor da interceptação telefônica realizada; contudo, ao adotar o entendimento

acima descrito, anulou a sentença e converteu o julgamento em diligência para que

se intimem os defensores com o fim de se manifestarem sobre o interesse na

arguição dos réus que não defendem, designar data para a dita complementação e,

após, retomar a marcha processual a partir do art. 402 do CPP. Precedentes citados

do STF: HC 94.601-CE, DJe 11/9/2009; HC 94.016-SP, DJe 27/2/2009; HC

91.292-PR, DJ 24/8/2007; do STJ: HC 83.875-GO, DJe 4/8/2008. HC 112.993-ES,

Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 9/3/2010.

INFORMATIVO 425

Quinta Turma

RECEBIMENTO. DENÚNCIA. ART. 396 DO CPP.

A Lei n. 11.719/2008, como consabido, reformou o CPP, mas também instaurou,

na doutrina, polêmica a respeito do momento em que se dá o recebimento da

denúncia oferecida pelo MP, isso porque tanto o art. 396 quanto o art. 399 daquele

codex fazem menção àquele ato processual. Contudo, melhor se mostra a corrente

doutrinária majoritária no sentido de considerar como adequado ao recebimento da

denúncia o momento previsto no citado art. 396: tão logo oferecida a acusação e

antes mesmo da citação do acusado. Por sua vez, o art. 396-A daquele mesmo

diploma legal prevê a apresentação de revigorada defesa prévia, na qual se podem

arguir preliminares, realizar amplas alegações, oferecer documentos e justificações,

especificar provas e arrolar testemunhas. Diante disso, se o julgador verificar não

ser caso de absolvição sumária, dará prosseguimento ao feito ao designar data para

audiência. Contudo, nessa fase, toda a fundamentação referente à rejeição das teses

defensivas apresentadas dar-se-á de forma concisa, pois o juízo deve limitar-se à

demonstração da admissibilidade da demanda instaurada sob pena de indevido

Page 243: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

prejulgamento, caso acolhido o prosseguimento do processo-crime. Daí que, no

caso, a decisão ora combatida, de prosseguir no processo, apesar de sucinta, está

suficientemente fundamentada. Precedente citado: HC 119.226-PR, DJe 28/9/2009.

HC 138.089-SC, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/3/2010.

ACESSO. AUTOS. AÇÃO PENAL.

O juízo não explicitou qual prejuízo adviria do acesso dos defensores aos autos,

simplesmente indeferiu a extração de cópias da ação penal em razão do genérico

apego à celeridade processual. Assim, vê-se que feridos os ditames da Súmula

vinculante n. 14 e a jurisprudência do STF e do STJ, a possibilitar ao réu e seus

advogados legalmente constituídos vista dos autos, para que possam extrair cópias,

ressalvados os atos que, por sua própria natureza, não dispensam o necessário

sigilo. Precedentes citados do STF: HC 82.354-PR, DJ 24/9/2004; do STJ: HC

67.114-SP, DJ 26/2/2007. HC 145.029-CE, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia

Filho, julgado em 2/3/2010.

SUSPEIÇÃO. PARCIALIDADE. MAGISTRADO.

Trata-se de habeas corpus contra acórdão que julgou improcedente a exceção de

suspeição oposta em desfavor do juiz da vara em que o ora paciente responde à

ação penal, visando afastá-lo dos feitos criminais na referida ação. Alega-se que,

pelos atos no exercício da judicatura e as opiniões manifestadas extra-autos, estaria

caracterizada a parcialidade do referido magistrado de 1º grau, reclamando, assim,

sua suspeição. Desse modo, pugna-se não só pelo reconhecimento da suspeição,

mas também pela redistribuição da citada ação penal, bem como pela nulidade ab

initio de todos os atos jurisdicionais já praticados pelo mencionado juiz. A Turma

entendeu, entre outras questões, que, sendo do excipiente o ônus de produção de

prova, ela, quando apresentada, deve ser confrontada com os argumentos do

excepto, possibilitando ao julgador aferir sua veracidade e o contexto fático no qual

foi gerada. Observou-se que, embora possíveis, mas pouco prováveis, ocorrem

hipóteses nas quais a parcialidade do magistrado revela-se ostensiva, viabilizando,

desde logo, a utilização da via do habeas corpus para afastar o constrangimento.

Page 244: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Contudo, no caso, tal não ocorreu, visto que a documentação apresentada, por si só,

não demonstrou a pretensa parcialidade do magistrado (excepto), conforme bem

ponderou o acórdão impugnado. Ademais, é notório o descabimento, mediante a

estreita ação em foco, do aprofundado exame de provas, tal como, por exemplo,

coligir tópicos isolados de várias decisões do magistrado, apenas aqueles que

seriam adversos, inseridos em contexto amplo, para formar, em decorrência,

suposto conjunto probatório que justificaria a imputação a ele do grave vício de

parcialidade. Assinalou-se que a exceção que consistiria em pretensa parcialidade,

para ser acolhida, deveria restar sobejamente demonstrada pelo excipiente, com

apoio em elementos de persuasão indenes de dúvidas, convergentes, sobretudo, em

ação de pedir habeas corpus. Isso, porém, não ocorreu na hipótese. Diante de tais

fundamentos, entre outros, o habeas corpus foi parcialmente conhecido, e, na parte

conhecida, denegou-se a ordem. HC 146.796-SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves

Lima, julgado em 4/3/2010.

 

 

Sexta Turma

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. DURAÇÃO.

Nos autos, devido à complexidade da organização criminosa, com muitos agentes

envolvidos, demonstra-se, em princípio, a necessidade dos diversos pedidos para

prorrogação das interceptações telefônicas. Tal fato, segundo o Min. Relator, não

caracteriza nulidade, uma vez que não consta da Lei n. 9.296/1996 que a

autorização para interceptação telefônica possa ser prorrogada uma única vez; o

que exige a lei é a demonstração da sua necessidade. De igual modo, assevera que a

duração da interceptação telefônica deve ser proporcional à investigação efetuada.

No caso dos autos, o prolongamento das escutas ficou inteiramente justificado

porquanto necessário à investigação. Com esse entendimento, a Turma ao

prosseguir o julgamento, denegou a ordem, pois não há o alegado constrangimento

ilegal descrito na inicial. Precedentes citados: HC 13.274-RS, DJ 4/9/2000, e HC

110.644-RJ, DJe 18/5/2009. HC 133.037-GO, Rel. Min. Celso Limongi

(Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 2/3/2010.

Page 245: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ESCUTA TELEFÔNICA. ACESSO.

Trata-se de habeas corpus impetrado pela defesa da paciente para ter acesso aos

arquivos de áudio, com fornecimento de senhas, a fim de que possa fazer o cotejo

analítico do que fora transcrito nos autos e o conteúdo das escutas telefônicas

realizadas pela autoridade policial. No caso dos autos, a paciente e mais sete

pessoas foram denunciadas pelo MP como incursas nas sanções do arts. 33, caput,

e 35, ambos da Lei n. 11.343/2006, na forma do art. 69, caput, do CP. Para o Min.

Relator, apresenta-se ilegal o ato que, por fim, indeferiu o requerimento da defesa

de ter acesso ao inteiro teor das escritas telefônicas, até porque, segundo o art. 9º da

Lei n. 9.296/1996, a gravação que não interessa à prova será inutilizada por decisão

judicial. Observa, ainda, que, assim como se impõe a juntada de parte da

degravação (§ 2º do art. 6º da citada lei), deveria impor-se a degravação de todo o

conteúdo. Expõe que, na espécie, a defesa viu-se tolhida diante do indeferimento

do acesso às escutas telefônicas, o que se equipara à violação do princípio da ampla

defesa, pois não se pode esquecer a inviolabilidade do sigilo das comunicações

telefônicas é a regra (inciso XII do art. 5º da CF/1988) e a violabilidade, a exceção.

Assim, ao interessado assiste o direito líquido e certo de amplo conhecimento do

inteiro teor da interceptação telefônica. Com esse entendimento, a Turma concedeu

a ordem para assegurar à defesa da paciente o acesso à escuta/quebra do sigilo

telefônico, anulando o processo e, por outro lado, garantiu a liberdade provisória

mediante termo de comparecimento aos atos do processo. Precedentes citados: HC

92.397-SP, DJ 18/12/2007; APn 464-RS, DJ 15/10/2007. HC 150.892-RS, Rel.

Min. Nilson Naves, julgado em 2/3/2010.

INFORMATIVO 424

Sexta Turma

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. INTERROGATÓRIO.

A Turma, prosseguindo o julgamento, por maioria, entendeu cabível anular o

processo criminal desde o interrogatório por violação ao princípio da ampla defesa,

porquanto a inviolabilidade das comunicações telefônicas (art. 5º, XII, da

Page 246: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

CF/1988), por ser regra referente à dignidade humana, deve ser considerada com

todo o cuidado quando da colheita de prova a ser apensada aos autos do inquérito

policial ou do processo criminal. A ninguém mais do que ao interceptado assiste o

direito líquido e certo de amplo conhecimento do resultado da interceptação, para

que se desenvolva a plenitude da ampla defesa, até mesmo antes do início da ação

penal, e não depois da audiência das testemunhas de defesa, como se deu no caso.

HC 92.397-SP, Rel. originário Min. Haroldo Rodrigues (Desembargador

convocado do TJ-CE), Rel. para acórdão Min. Nilson Naves, julgado em

23/2/2010.

ADVOGADO. EXTORSÃO. INQUÉRITO POLICIAL.

Trancada a ação penal por falta de justa causa em relação ao advogado denunciado

como incurso nos arts. 148 e 158, § 1º, na forma do art. 69, caput, do CP. No caso,

o acusado apenas acompanhou uma pessoa a uma diligência e, em razão disso, a

toda hora, a investigação perquiria provas, sem haver, contudo, nada que o

vinculasse aos fatos delituosos atribuídos aos demais corréus, contra os quais

existem outras provas, essas decorrentes do ajuizamento de ação de rescisão

contratual pela pretensa vítima contra os ora denunciados, sem menção sobre a

suposta extorsão. No Estado de direito democrático, não se pode sujeitar o

indivíduo à premissa in dubio pro societate, sob pena de oferecer denúncia calcada

em inquérito policial que tramita há sete anos, sem ter estabelecido liame seguro

entre o comportamento do paciente e as imputações. Precedentes citados: HC

46.751-MG, DJ 5/2/2007, e HC 41.576-RS, DJ 25/6/2007. HC 147.105-SP, Rel.

Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 23/2/2010.

UNFORMATIVO 423

Quinta Turma

BUSCA E APREENSÃO. HD. EXTENSÃO.

Trata-se de habeas corpus com pedido de liminar em que o impetrante busca a

declaração de ilegalidade de extensão de mandado de busca e apreensão o qual

Page 247: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

esultou na apreensão de disco rígido (HD) do banco (supostamente de propriedade

do paciente). Também pretende a impetração a análise de nulidade e suspensão de

diferentes ações em razão da prova supostamente ilícita. Note-se que o paciente foi

investigado em duas operações deflagradas pela Polícia Federal em momentos

diferentes. A primeira ensejou a apreensão dos HDs na residência, no escritório e

no banco, esse ato é atacado no writ. A segunda operação, investigação ainda em

curso, refere-se a crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. O Min. Relator

descartou a análise dos pedidos de suspensão de ações penais, inquéritos, bem

como procedimentos incidentais, ainda não apreciados pelo tribunal a quo, para

não incorrer em indevida supressão de instância. Dessa forma, a impetração foi

parcialmente conhecida: só quanto à extensão da busca e apreensão do HD do

banco. Ressalta o Min. Relator que a cópia acostada nos autos revela que o

mandado de busca e apreensão está destinado ao endereço domiciliar e profissional

do paciente e tinha como alvo documentos, bens, computadores, arquivos em meio

magnético ou óptico ou outros elementos de convicção da prática de eventuais

crimes em poder de quem os detiver os quais tenham relacionamento direto com os

fatos. Assim, reconhece o Min. Relator que o mandado autorizava a diligência, ao

determinar que a apreensão dos objetos fosse realizada por fundadas suspeitas de se

relacionarem com o crime em apuração. Ademais, depois do cumprimento do

mandado na residência, no escritório, no mesmo prédio do banco, por informação

da secretária do paciente, chegou-se à conclusão de que também os dados estariam

no HD do banco. Daí o delegado ter solicitado por telefone ao juiz de plantão

autorização judicial para efetuar a cópia por espelhamento do HD do banco, o que

foi concedido por fac-símile. Nesse contexto para o Min. Relator, há indícios da

existência de provas relativas à investigação no servidor do banco, a justificar a

apreensão, embora não tenha sido expresso o endereço do banco situado em andar

no mesmo prédio em que sito o escritório. Sendo assim, conclui que o ato de busca

e apreensão do HD do banco não apresenta nenhuma ilegalidade, uma vez que

realizado conforme o disposto nos arts. 240 e 243 do CPP. Observa que, quanto ao

acesso a dados sigilosos dos correntistas e investidores do banco, o mandado só

buscou elementos que indicassem os delitos investigados contra o paciente.

Asseverou, ainda, que, com o atual desenvolvimento da informática, é possível

separar dados de um HD por meio digital, evitando-se quebra de sigilo de dados de

terceiros acobertados por garantia constitucional e que o tribunal a quo enumerou

Page 248: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

todas as cautelas a serem observadas no caso. Por outro lado, destacou que,

segundo a jurisprudência, o direito ao sigilo bancário bem como ao sigilo de dados,

a despeito de ser direito constitucional, não é absoluto quando presente, em

dimensão maior, o interesse público. Por fim, quanto à perda de objeto da apelação

alegada pelo impetrante, considerou que o juízo de primeiro grau não revogou a

decisão que determinou a busca e apreensão do HD do banco, apesar de ter

discorrido sobre eventual ilegalidade, tanto que utilizou-se de medidas

acautelatórias para preservar o objeto apreendido e aguardou o pronunciamento do

TJ na apelação, assim, cabia ao tribunal a quo pronunciar-se. Diante do exposto, a

Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, conheceu parcialmente da ordem

e, nessa extensão, denegou-a. Os votos vencidos declaravam nula a extensão da

busca e apreensão. Precedente citado: HC 15.026-SC, DJ 4/11/2002. HC 124.253-

SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 18/2/2010.

ANULAÇÃO. SUSTENTAÇÕES ORAIS. CORRÉUS. APELAÇÃO.

Em habeas corpus, alega-se que o paciente estaria sofrendo constrangimento ilegal

por cerceamento de defesa, pois havia 44 corréus na apelação, cada qual com seu

defensor, e o TJ determinou que o prazo em dobro fosse dividido entre os

defensores, o que fez caber a cada um menos de um minuto e meio. O Min. Relator

ressaltou que, em recente precedente da Corte Especial, estabeleceu-se que,

havendo vários corréus com diferentes advogados, cada um teria o prazo de 15

minutos para sustentação oral, somente se ressalvando os casos em que há mais de

um patrono para o mesmo réu, situação em que o prazo deve ser dividido entre os

advogados. Ademais, citou julgados deste Superior Tribunal e do Supremo

Tribunal que consideram a frustração da sustentação oral violar as garantias

constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. Com

esse entendimento, a Turma concedeu a ordem para anular o julgamento da

apelação criminal em relação a todos os réus para que outro julgamento seja

realizado com a observância do prazo para sustentação oral de 15 minutos de cada

advogado. Precedentes citados do STF: HC 69.142-SP, DJ 10/4/1992; HC 71.551-

MA, DJ 6/12/1996; HC 70.727-RS, DJ 10/12/1983; do STJ: HC 41.698-PR, DJ

20/3/2006, e HC 32.862-RJ, DJ 16/8/2004. HC 150.937-RJ, Rel. Min. Felix

Fischer, julgado em 18/2/2010.

Page 249: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

INTERNET. QUEIXA. ADITAMENTO.

In casu, foi oferecida queixa-crime pela suposta prática dos crimes de calúnia,

injúria e difamação por meio de mensagens eletrônicas contra só uma das autoras

do delito. Posteriormente se realizou emenda à inicial para incluir a segunda

recorrente. Daí o habeas corpus da defesa, denegado no TJ. Para o Min. Relator, na

mensagem eletrônica acostada, afigura-se clara a ocorrência de coautoria, que

deixou de ser incluída na queixa-crime. Explica caber à querelante propor a ação

penal privada obrigatoriamente contra todos os supostos coautores do delito que,

no caso, são perfeitamente identificáveis. Observa, ainda, que o direito de queixa é

indivisível; assim, a queixa contra qualquer autor do crime obrigará ao processo de

todos os envolvidos (art. 48 do CPP). Consequentemente, o ofendido não pode

limitar a acusação a este ou aquele autor da conduta tida como delituosa. Esclarece

que não observar o princípio da indivisibilidade da ação penal, que torna

obrigatória a formulação da queixa contra todos os autores, co-autores e partícipes

do crime, além de acarretar a renúncia ao direito de queixa a todos, é causa da

extinção da punibilidade (art. 107, V, do CP). Diante do exposto, a Turma deu

provimento ao recurso em habeas corpus, declarando a extinção da punibilidade

em relação a ambas as recorrentes. Precedentes citados: HC 19.088-SP, DJ

22/4/2003; APn 186-DF, DJ 17/6/2002; HC 15.989-RJ, DJ 4/2/2002, e HC 12.203-

PE, DJ 12/6/2000. RHC 26.752-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em

18/2/2010.

Sexta Turma

HC. NOVO JÚRI. HOMICÍDIO SIMPLES.

O paciente foi denunciado por dois homicídios qualificados (motivo fútil) em

continuidade delitiva e teve decretada a prisão preventiva. Na pronúncia, foi

mantida sua prisão cautelar e, levado a júri, foi condenado à pena de 15 anos e dois

meses de reclusão, sendo-lhe indeferido o direito de apelar em liberdade. No writ,

Page 250: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

reitera o pedido de liberdade por excesso de prazo e pede, ainda, o reconhecimento

da prescrição virtual. O Min. Relator entendeu que, embora tenha fôlego o fato

atinente à prescrição denominada virtual, a questão reveste-se de total novidade e

se ateve à liberdade do paciente. No caso, o julgamento do júri ocorreu em

23/8/2008 e o feito tramitava normalmente até quando o Tribunal anulou o

julgamento popular por inexistir a qualificadora do motivo fútil, submetendo o réu

a novo julgamento. Com o afastamento da figura do motivo fútil que tornava o

crime hediondo, agora o paciente responderá a novo júri somente pelas sanções do

homicídio simples. Para o Min. Relator, está evidente a prisão por mais tempo do

que determina a lei (art. 648, II, do CPP). Assim, a Turma conheceu em parte do

pedido e, nessa parte, deferiu-o, impondo-lhe, no entanto, o compromisso de

comparecer a todos os atos do processo. HC 149.066-TO, Rel. Min. Nilson

Naves, julgado em 18/2/2010.

HC. INTERPRETAÇÃO. ART. 212 CPP.

O impetrante pedia a concessão de medida liminar para que, preventivamente,

fosse determinada a paralisação da ação penal até o julgamento do writ e a

concessão da ordem, no mérito, para que fosse decretada a nulidade da audiência,

conforme determina o art. 212 do CPP, com a nova redação conferida pela Lei n.

11.690/2008. O Min. Relator deferiu a liminar para suspender, até o julgamento

final do habeas corpus, a tramitação da ação penal na qual figura como réu o

paciente. Segundo o impetrante, com o novo texto, tal dispositivo alterou a ordem

de quem pergunta, estabelecendo que, primeiramente, as partes devem perguntar e,

apenas ao final, poderá o juiz, de forma suplementar, formular perguntas. Assim,

tal ordem não teria sido observada, o que, na sua visão, ensejaria nulidade absoluta.

Mas o Min. Relator observou que a matéria fora examinada recentemente pela

Sexta Turma no HC 121.212-RJ e reiterou seu entendimento de que a oitiva da

testemunha sem a observância da ordem prevista no novel modelo processual não

altera o sistema acusatório. Diante disso, a Turma cassou a liminar e denegou a

ordem. HC 133.655-DF, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 18/2/2010 (ver

Informativo n. 421).

NULIDADE. INTERROGATÓRIO. VIDEOCONFERÊNCIA.

Page 251: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Ao paciente é imputado o fato de ter-se associado a outras pessoas para o tráfico

internacional e para dar continuidade, no Brasil, ao comércio da droga de forma a

prepará-la (misturar a droga pura com outros produtos químicos para aumentar a

quantidade e, consequentemente, a margem de lucro) para futura venda a

distribuidores regionais. Além da associação, consta a descrição de fatos que

configuram, em tese, crime de tráfico ilícito de entorpecentes, com expressa

menção das condutas por ele praticadas, ao qual se atribui a responsabilidade ora

pela aquisição ora pelo fornecimento de drogas apreendidas pela Polícia Federal,

quando da efetivação da prisão em flagrante de determinadas pessoas. Entendeu o

Min. Relator que, conforme a conclusão do tribunal de origem, a denúncia atende a

todos os requisitos legais de forma suficiente à compreensão da acusação e ao

exercício do direito de defesa, não havendo, no ponto, nenhum constrangimento

ilegal a ser reparado. Contudo, entendeu que a ordem há de ser concedida para

reconhecer a nulidade do interrogatório; pois, à época em que realizado

(21/8/2007), não havia previsão legal permitindo a sua realização pelo sistema de

videoconferência, o que somente passou a existir com a Lei n. 11.900/2009, ainda

assim, em caráter excepcional e mediante decisão devidamente fundamentada. Não

deve prevalecer o entendimento do MPF de que a superveniência da mencionada

lei teria suprido o vício consistente na falta de previsão legal para a realização do

ato de interrogatório pelo sistema de videoconferência. Para o Min. Relator,

pretende-se a aplicação retroativa da lei, o que não é permitido; pois, no processo

penal, aplica-se a lei vigente ao tempo da prática do ato (art. 2º do CPP). Também

não deve prosperar o fundamento lançado pelo tribunal a quo de que a nulidade

teria precluído, já que não alegada oportunamente, isto é, quando da realização do

ato do interrogatório. Cuida-se de nulidade absoluta, insusceptível de

convalescimento por falta de protesto oportuno e, mesmo que a nulidade fosse

relativa, não seria possível falar em preclusão: o interrogatório constitui ato que

integra a instrução do processo e o CPP é categórico ao prever o prazo das

alegações finais como o momento específico para a alegação de eventuais vícios da

instrução criminal (art. 571, II, do CPP). No caso, quando das alegações finais, o

paciente requereu, expressamente, o reconhecimento da nulidade do interrogatório

pelo sistema de viodeoconferência. HC 128.600-SP, Rel. Min. Celso Limongi

(Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 18/2/2010.

Page 252: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

INFORMATIVO 422

Corte Especial

PRISÃO PREVENTIVA. GOVERNADOR. GARANTIA. ORDEM

PÚBLICA.

Trata-se de inquérito requerido pelo procurador-geral da República e por

subprocuradora-geral da República com base no art. 312 do CPP no qual o Min.

Relator decretou a prisão preventiva do governador do Distrito Federal e de outras

cinco pessoas, para garantia da ordem pública e por conveniência da instrução

criminal. Investiga-se, entre outros, a suposta prática dos crimes de falsidade

ideológica de documento privado (art. 299 do CP) e de corrupção de testemunha

(art. 343 do mesmo código) em coautoria. Nessas situações, segundo o Min.

Relator, a lei penal autoriza a decretação de prisão preventiva, para que a aplicação

da lei penal não fique comprometida. O Min. Nilson Naves posicionou-se contrário

à decretação da prisão preventiva e, em preliminar, sustentou que o STJ só poderia

adotar a medida contra o governador se houvesse, antes, autorização da Câmara

Legislativa do Distrito Federal (art. 60, XXIII, da Lei Orgânica do Distrito

Federal). Diante disso, a Corte Especial, por maioria, rejeitou a preliminar

levantada pelo Min. Nilson Naves de impossibilidade de apreciação pelo STJ em

face da ausência de autorização legislativa. No mérito, por maioria, ficou

referendada a decisão do Min. Relator de decretação da prisão preventiva. Inq 650-

DF, Rel. Min. Fernando Gonçalves, julgado em 11/2/2010.

INFORMATIVO 421

Quinta Turma

COMPETÊNCIA. REDISTRIBUIÇÃO. PRINCÍPIO. JUIZ NATURAL.

Na impetração, sustenta-se que, quando já definida a competência pela distribuição,

Page 253: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

resolução alguma, ainda que de criação de varas, pode ter o condão de determinar a

redistribuição de processos anteriormente distribuídos, sob pena de clara e grave

violação do princípio do juiz natural, que macula com a pecha de nulidade todos os

atos decisórios desde então praticados por juízo incompetente. Diante disso, a

Turma denegou o habeas corpus ao entendimento de que a redistribuição do feito

decorrente da criação de vara com idêntica competência com a finalidade de

igualar os acervos dos juízos e dentro da estrita norma legal, não viola o princípio

do juiz natural, uma vez que a garantia constitucional permite posteriores

alterações de competência. Observou-se que o STF já se manifestou no sentido de

que inexiste violação ao referido princípio, quando ocorre redistribuição do feito

em virtude de mudança na organização judiciária, visto que o art. 96, a, da

CF/1988 assegura aos tribunais o direito de dispor sobre a competência e o

funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais. Precedentes citados do STF:

HC 91.253-MS, DJ 14/11/2007; do STJ: HC 48.746-SP, DJe 29/9/2008; HC

36.148-CE, DJ 17/4/2006; HC 44.765-MG, DJ 24/10/2005; REsp 675.262-RJ, DJ

2/5/2005; HC 41.643-CE, DJ 3/10/2005; HC 10.341-SP, DJ 22/11/1999, e RHC

891-SP, DJ 4/3/1991. HC 102.193-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em

2/2/2010.

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. ADVOGADO. SIGILO.

Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso ordinário contra decisão do

Tribunal a quo que indeferiu a liminar pleiteada. Sustenta-se a nulidade da

interceptação telefônica e das suas prorrogações e se requer, nesta superior

instância, que seja garantido o sigilo do material colhido nas gravações. A Turma,

por maioria, concedeu parcialmente a ordem, para que seja garantido o sigilo das

interceptações realizadas em desfavor do paciente, em observância à liberdade do

exercício legítimo da profissão (no caso, trata-se de advogado), sendo que, diante

da pendência de julgamento do mérito do HC pelo Tribunal de origem, este

Superior Tribunal não conheceu do writ nessa parte, caso contrário, configurar-se-

ia supressão de instância. HC 114.458-SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima,

julgado em 2/2/2010.

Page 254: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

NULIDADE. ORDEM. INQUIRIÇÃO. TESTEMUNHAS.

Cuida-se de habeas corpus impetrado pelo Ministério Público em favor da

paciente, contra acórdão proferido pelo TJ que julgou improcedente reclamação

ajuizada nos autos de processo crime pelo qual foi condenada à pena de um ano e

cinco meses e 15 dias de reclusão em regime semiaberto e ao pagamento de 15

dias-multa, pela prática do delito disposto no art. 342, § 1º, do CP. O impetrante

narra que, designada audiência de instrução e julgamento, ela se realizou em

desacordo com as normas do art. 212 do CPP, com a nova redação que lhe foi dada

pela Lei n. 11.690/2008, pois houve inversão na ordem de formulação das

perguntas. Isso posto, a Turma concedeu a ordem para anular a audiência realizada

em desconformidade com o art. 212 do CPP e os atos subsequentes, determinando-

se que outra seja procedida nos moldes do referido dispositivo, ao entendimento de

que ficou suficientemente demonstrada a nulidade decorrente do ato em apreço, em

razão de evidente ofensa ao devido processo legal, sendo mister reiterar que contra

a paciente foi proferida sentença condenatória, bem demonstrando que, diante do

novo método utilizado para a inquisição de testemunhas, a colheita da prova de

forma diversa, indubitavelmente, acarretou-lhe evidente prejuízo, sendo bastante

para declarar nulo o ato reclamado e os subsequentes e determinar que outro seja

realizado dentro dos ditames legais. HC 145.182-DF, Rel. Min. Jorge Mussi,

julgado em 4/2/2010.

Sexta Turma

NULIDADE. ORDEM. INQUIRIÇÃO. TESTEMUNHAS.

A Lei n. 11.690/2008 alterou a redação do art. 212 do CPP e modificou a ordem de

inquirição das testemunhas, ao estabelecer que, primeiramente, as partes devem

perguntar e, só ao final, poderá o juiz fazê-lo de forma suplementar, tal qual pugna

o modelo norte-americano (cross-examination). Porém, a oitiva de testemunha sem

observância dessa nova ordem não resulta nulidade absoluta, pois não se altera o

sistema acusatório nem se viola a lei. O juiz, no modelo brasileiro, não é mero

expectador, visto que possui participação ativa no processo cujo controle incumbe-

lhe. Dele se espera a proteção de direitos e garantias constitucionais e também a

busca da verdade real. Anote-se que o próprio CPP, em seu art. 473, permite que,

Page 255: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

no júri, as perguntas sejam feitas inicialmente pelo juiz presidente e, depois, pelas

partes diretamente. Vê-se que o caráter acusatório é o mesmo nos dois

procedimentos, de sorte que não há a nulidade pela alteração da ordem de

perguntas. Precedente citado: HC 121.215-DF, DJe 18/11/2008. HC 144.909-PE,

Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 4/2/2010.

Page 256: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

INFORMATIVOS STF – DIREITO PROCESSUAL PENAL

Ação Penal

Crime contra o Sistema Financeiro Nacional e Autoria - 7

Por reputar presentes indícios suficientes de autoria e de materialidade, o Tribunal,

por maioria, recebeu denúncia contra ex-Governador de Estado, atual Senador, e outras

três pessoas pela suposta prática do crime previsto no art. 20 da Lei 7.492/86, os quais

teriam aplicado, em finalidade diversa da prevista, recursos provenientes de

financiamento concedido, à República Federativa do Brasil, pelo BIRD - Banco

Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento. Na espécie, a União, mediante

convênio, transferira ao Governo do Estado de Rondônia parte desses recursos, a fim de

que fossem integralmente utilizados na execução do Plano Agropecuário e Florestal de

Rondônia - PLANAFLORO — v. Informativos 464, 535 e 572. Asseverou-se,

inicialmente, que o argumento de atipicidade da conduta, por ausência de dolo, seria

questão a ser aferida no bojo da ação penal e que a denúncia não teria imputado aos

acusados uma ordenação de despesa indevida, e sim a ilícita transferência de recursos

que deveriam ser aplicados estritamente no PLANAFLORO e foram desviados para a

Conta do Tesouro Estadual. Aduziu-se que o Senador denunciado, então Governador do

referido Estado, comprometera-se, no Termo Simplificado de Convênio, na qualidade

de convenente, a aplicar os recursos discriminados exclusivamente na consecução do

objeto, tendo sido descrito, ainda, no anexo 1 do aludido convênio, como responsável

pelo plano de trabalho. Além disso, constariam da denúncia documentos apontando para

a materialidade do delito e contendo indícios de autoria contra os acusados. Ressaltou-

se, ademais, que, pairando dúvida quanto à possibilidade de os outros denunciados com

o Senador — à época dos fatos, o Secretário da Fazenda do Estado, o Coordenador do

PLANAFLORO e a Chefe do seu Departamento Financeiro — terem agido com

conhecimento e, mais, sob a determinação do então Governador, não seria adequado

acolher, de plano, antes da instrução criminal, a tese defensiva. Considerou-se, por fim,

que a alegação de inexistência de vínculo contratual de financiamento entre o BIRD e o

Page 257: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Estado de Rondônia seria irrelevante, haja vista que os recursos supostamente desviados

seriam, de fato, provenientes do financiamento concedido por instituição financeira, nos

exatos termos do art. 20 da Lei 7.429/86. Vencidos os Ministros Gilmar Mendes, Dias

Toffolli, Ricardo Lewandowski, Ellen Gracie e Cezar Peluso, que rejeitavam a

denúncia.

Inq 2027/RO, rel. Min. Joaquim Barbosa, 12.8.2010. (Inq-2027)

(Informativo 595, Plenário)

Deserção: Diligência e Cerceamento de Defesa

A Turma proveu recurso ordinário em habeas corpus para anular o julgamento da ação

penal de origem e determinar a sua conversão em diligência para que se verifique se o

recorrente preenche a condição de arrimo de família. No caso, o juízo de primeiro grau

indeferira diligência, requerida pelo Ministério Público Militar, com o intuito de se

apurar se o recorrente preencheria a condição de arrimo de família, de modo a ensejar a

extinção da ação penal de origem, na qual o paciente é acusado da suposta prática do

crime de deserção. Considerou-se que o mencionado pedido tivera por base provas

colhidas ao longo da instrução processual da ação de origem, não sendo desarrazoado,

desprovido de fundamento ou procrastinatório. Asseverou-se que, em realidade, cuidar-

se-ia de uma questão prejudicial de mérito.

RHC 102854/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 10.8.2010. (RHC-102854)

(Informativo 595, 2ª Turma)

Tráfico de Drogas e Exercício Ilegal da Medicina - 1

A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que o paciente, formado em

psicologia, fora denunciado pela suposta prática dos crimes de exercício ilegal da

medicina (CP, art. 282) e tráfico ilícito de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33), ao se fazer

passar por médico psiquiatra e, nessa qualidade, haver prescrito, em receituário médico,

o uso de duas substâncias sujeitas a controle especial da Agência Nacional de Vigilância

Sanitária - Anvisa. A defesa sustentava que tais medicamentos não poderiam ser

considerados drogas para efeitos da referida lei, pois incapazes de causar dependência

física ou psíquica e que a conduta do paciente de prescrever tais substâncias teria sido

realizada uma única vez, o que poderia caracterizar, em tese, apenas o delito de

exercício ilegal da medicina, sob pena de bis in idem. Requereu, nesse sentido, o

Page 258: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

trancamento da ação penal em relação ao tráfico, quer por atipicidade da conduta, quer

por absorção desse delito pelo descrito no art. 282 do CP.

HC 104382/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 17.8.2010. (HC-104382)

(Informativo 596, 1ª Turma)

Tráfico de Drogas e Exercício Ilegal da Medicina - 2

Consignou-se que a peça acusatória demonstraria que o paciente, por diversas

vezes, prescrevera substâncias sujeitas a controle especial, relacionadas na lista “C 1” da

Portaria 344/98, da Anvisa. Assim, ao enfatizar o disposto no parágrafo único do art. 1º,

c/c o art. 66, ambos da Lei 11.343/2006, entendeu-se não haver falar-se em falta de justa

causa para a persecução penal, pois a mera prescrição de substâncias controladas pelo

Ministério da Saúde permitiria a formulação de denúncia pela prática, em tese, do crime

de tráfico de drogas. (Lei 11.343/2006: “Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de

Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso

indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece

normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e

define crimes. Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as

substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei

ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da

União. ... Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1º desta Lei, até que

seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas

substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da

Portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1998.”). Salientou-se que o potencial lesivo

dessas substâncias teria sido aferido no momento em que foram incluídas na referida

portaria, de modo a dispensar, para fins penais, exame pericial com esse objetivo.

Destacou-se que o verbo “prescrever” integraria um dos núcleos do tipo penal em

questão. Reputou-se, ainda, serem insuscetíveis de discussão, na via eleita, a

controvérsia relativa ao número de vezes que a conduta teria sido realizada, a

capacidade, ou não, de as substâncias gerarem dependência e a ocorrência, ou não, de

dolo em relação ao crime de tráfico. Afastou-se, por fim, a tese de absorção do tráfico

pelo exercício ilegal da medicina, por se tratar de espécies autônomas de delitos, sem

que houvesse vinculação entre ambos. Vencido o Min. Marco Aurélio, que deferia o

writ, por julgar atípica a conduta do paciente em relação ao crime de tráfico, pois a

denúncia claramente não teria mencionado “droga a encerrar dependência química”,

Page 259: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

mas apenas “remédio controlado”, cuja prescrição não seria apanhada pela Lei

11.343/2006. Mencionava que, se esses medicamentos gerassem a dependência, o

fabricante alertaria os consumidores.

HC 104382/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 17.8.2010. (HC-104382)

(Informativo 596, 1ª Turma)

Trancamento de Ação Penal e “Bis In Idem”

A Turma indeferiu habeas corpus em que pretendido o trancamento de ação penal

movida contra o paciente, sob alegação de que estaria sendo processado duas vezes pelo

mesmo fato. Na espécie, o réu fora inicialmente acusado pela prática do delito de

comunicação falsa de furto de uma motocicleta (CP, art. 340) e obtivera o benefício da

transação penal, cumprindo as condições impostas, motivo pelo qual fora extinta sua

punibilidade. Ocorre que, posteriormente, fora denunciado pela suposta participação em

crime de homicídio, no qual sua conduta teria consistido na dissimulação decorrente da

referida falsa comunicação de furto da mesma motocicleta, que teria sido utilizada no

assassinato. Reputou-se que a ação penal que se pretendia trancar trataria de crime

distinto, o que não significaria punir o paciente mais uma vez pelo cometimento da

infração cuja punibilidade já se encontra extinta. Aduziu-se que a participação do

paciente no crime de homicídio englobaria atos totalmente diversos daqueles relativos à

falsa comunicação de crime. Salientou-se que, embora a circunstância fática tivesse sido

a mesma, houvera a prática de duas condutas distintas.

HC 103501/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 24.8.2010. (HC-103501)

(Informativo 597, 1ª Turma)

Carta Rogatória

Não conhecimento de HC: “Exequatur” e Auxílio Judiciário - 1

Por reputar não configurado risco à liberdade de locomoção do paciente, a Turma, em

votação majoritária, não conheceu de habeas corpus impetrado contra decisão da

Presidência do STJ que concedera exequatur a carta rogatória expedida pelo Tribunal de

Grande Instância de Paris. Na situação em apreço, o paciente e membros de sua família

figuram como investigados pela suposta prática do crime de lavagem de dinheiro em

procedimento instaurado no país rogante, o qual solicitara às autoridades brasileiras a

realização de interrogatórios, a inquirição de testemunhas, o exame e a extração de

Page 260: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

cópias de documentos constantes de processos no Brasil em que envolvidos os

demandados, bem como a remessa de parte da sua movimentação bancária. A

impetração argumentava: a) descompasso do exequatur com a ordem constitucional

brasileira; b) litispendência entre o procedimento francês e ação penal em curso no STF;

c) ausência, na rogatória, de cópia integral das peças do aludido procedimento; d)

negativa de vista dos autos ao advogado constituído pelo paciente, em ofensa aos

princípios do contraditório e da ampla defesa; e) conseqüente desconhecimento dos

fatos que envolvem as acusações dirigidas ao paciente e f) transgressão ao art. 3º, item

1, do Acordo de Cooperação Judiciária celebrado entre o Brasil e a França, objeto do

Decreto 3.324/99, que condiciona a produção de provas requeridas pelo Estado rogante

à observância da legislação local.

HC 97511/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 10.8.2010. (HC-97511)

(Informativo 595, 1ª Turma)

Não conhecimento de HC: “Exequatur” e Auxílio Judiciário - 2

Entendeu-se que, na espécie, tratar-se-ia de um mero pedido de auxílio judiciário,

uma vez que a rogatória apenas pretendia a obtenção de provas a instruir procedimento

em curso na França. Ademais, enfatizou-se que o paciente não poderá ser extraditado,

porquanto é brasileiro nato. Consignou-se, ainda, que, mesmo que fosse possível

adentrar o mérito do writ, as alegações da defesa não prosperariam. Primeiramente,

mencionou-se que, para a concessão de exequatur das rogatórias, não seria preciso

investigar em profundidade o mérito da causa originária, dado que as questões que o

envolvem devem ser postas perante a Justiça estrangeira. Desse modo, afirmou-se

irrelevante averiguar, para fins de concessão de exequatur, se o advogado do paciente

tivera, ou não, acesso aos autos objeto de investigação na França. Acrescentou-se, no

ponto, a inexistência de provas quanto à suposta negativa de vista. Rejeitou-se, também,

a aludida litispendência, porquanto o procedimento no país rogante encontrar-se-ia em

fase de investigação, não constituindo um processo penal. Além disso, registrou-se a

desnecessidade de que a rogatória fosse instruída com todos os documentos referentes

ao caso, sendo suficiente a narrativa razoável dos fatos envolvidos. Por fim, aduziu-se

que as diligências requeridas pelas autoridades francesas estariam previstas também no

ordenamento pátrio, a afastar a assertiva de ofensa à soberania ou à ordem interna.

Vencido o Min. Marco Aurélio que admitia o writ por considerar pertinente o receio do

Page 261: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

paciente de vir a sofrer futuramente um ato de constrição de sua liberdade, se vier a

viajar à França.

HC 97511/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 10.8.2010. (HC-97511)

(Informativo 595, 1ª Turma)

Competência

Prevenção: Redistribuição do Feito e Atos Decisórios

Por reputar que a prática de atos decisórios implica prevenção, mesmo que em fase pré-

processual, a Turma deferiu habeas corpus impetrado em favor de denunciado perante a

Justiça Militar, para declarar prevento o juiz-auditor titular da 3ª Auditoria da 3ª

Circunscrição da Justiça Militar e anular a ação penal desde o recebimento da peça

acusatória. Considerou-se que, no caso, após o oferecimento da denúncia, o feito teria

sido redistribuído ao juiz-auditor substituto, o que violaria as regras de distribuição por

prevenção, previstas na legislação processual castrense (CPPM, artigos 94 e 98,

parágrafo único), e o princípio do juiz natural. Aduziu-se que a existência de portaria do

juízo de origem determinando a redistribuição do processo seria irrelevante, uma vez

que não poderia se sobrepor à legislação federal.

HC 99403/RS, rel. Min. Joaquim Barbosa, 10.8.2010. (HC-99403)

(Informativo 595, 2ª Turma)

Competência da Justiça Militar: Agentes Civis e Excepcionalidade

Ao reafirmar orientação da Corte, no sentido de que o cometimento do delito militar por

agente civil, em tempo de paz, dá-se em caráter excepcional, a Turma concedeu habeas

corpus para declarar a incompetência da justiça castrense para o julgamento de civis

suspeitos de realizar “pichações” em edifício residencial sob a administração militar.

Realçou-se a peculiaridade de o Ministério Público Militar ter impetrado este writ, em

favor dos pacientes, contra acórdão do STM. Frisou-se, ainda, a ausência de vontade

dos pacientes de se contraporem às Forças Armadas ou de impedir a continuidade de

eventual operação militar ou atividade genuinamente castrense. HC deferido para

determinar a remessa dos autos à justiça comum federal. Precedente citado: CC

7040/RS (DJU de 22.11.96).

HC 100230/SP, rel. Min. Ayres Britto, 17.8.2010. (HC-100230)

(Informativo 596, 2ª Turma)

Page 262: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Habeas Corpus

“Habeas Corpus” e Princípio da Colegialidade

Para evitar supressão de instância, a Turma, por maioria, não conheceu de habeas

corpus impetrado contra decisão monocrática proferida por Ministro do STJ, que negara

seguimento a writ impetrado perante aquela Corte. Asseverou-se que a análise do mérito

exigiria reexame fático-probatório, inadmissível na via eleita. Afastou-se, ainda, a

remessa do feito para que o STJ procedesse ao julgamento colegiado do writ. Destacou-

se, no ponto, que o paciente, por meio de outro habeas corpus impetrado perante aquele

Tribunal, no qual foram analisados os mesmos fatos, obtivera a redução de sua pena.

Além disso, ele ajuizara ação de revisão criminal, que seria a sede própria para a

pretendida revaloração probatória. Vencido o Min. Marco Aurélio, que, ao reafirmar o

princípio da colegialidade, concedia a ordem.

HC 101836/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 3.8.2010. (HC-101836)

(Informativo 594, 1ª Turma)

Demora no Julgamento de HC

A Turma indeferiu habeas corpus em que se alegava excesso de prazo para o

julgamento no STJ de medida de idêntica natureza impetrada em favor do paciente.

Reputou-se que, embora objetivamente constatado certo retardamento, houvera razão

que poderia justificar a situação excepcional, qual seja, a aposentadoria do Ministro

relator naquela Corte. Considerou-se que, em virtude de trâmites burocráticos,

procrastinara-se um pouco a redistribuição dos autos. Salientou-se que o procedimento

terá sua seqüência normal com a redistribuição do feito a um novo relator.

HC 102457/SP, rel. Min. Celso de Mello, 3.8.2010. (HC-102457)

(Informativo 594, 2ª Turma)

Negativa de Prestação Jurisdicional

Para evitar manifesta supressão de instância, a Turma não conheceu de habeas corpus,

mas concedeu, de ofício, a ordem para que o STJ proceda ao julgamento de medida de

idêntica natureza lá manejada. A defesa requeria a suspensão da execução das penas

impostas ao paciente e o reconhecimento da nulidade de todos os atos praticados desde

a audiência de oitiva de testemunha da defesa, na qual fora supostamente assistido por

estagiária de Direito sem habilitação legal ou supervisão. De início, observou-se que a

Page 263: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

sentença condenatória já transitara em julgado, portanto, eventual erro judiciário, de

regra, deveria ser impugnado por revisão criminal. Em seguida, explicitou-se que a

defesa impetrara dois habeas corpus naquela Corte, o primeiro não conhecido, sob o

fundamento de supressão de instância, e o segundo julgado prejudicado, por ser mera

reiteração do primeiro. Asseverou-se que as mencionadas impetrações combatiam

acórdãos distintos e que o STJ não teria apreciado os pedidos formulados em quaisquer

delas, a evidenciar uma negativa de prestação jurisdicional.

HC 97253/DF, rel. Min. Joaquim Barbosa, 31.8.2010. (HC-97253)

(Informativo 598, 2ª Turma)

Liberdade Provisória

Liberdade Provisória e Tráfico de Drogas

A Turma retomou julgamento de dois habeas corpus nos quais se questiona a proibição

de liberdade provisória — prevista no art. 44 da Lei 11.343/2006 — a presos em

flagrante por tráfico ilícito de entorpecentes. O Min. Eros Grau, relator, na sessão de

20.4.2010, concedera a ordem, em ambos, por entender que a vedação legal abstrata à

liberdade provisória contida na nova lei de entorpecentes consubstanciaria afronta

escancarada aos princípios da presunção de inocência, do devido processo legal e da

dignidade da pessoa humana (CF, artigos 1º, III e 5º, LIV e LVII). Nesta assentada,

após a devolução do pedido de vista do Min. Joaquim Barbosa, deliberou-se afetar ao

Plenário o julgamento dos writs. Por fim, deferiu-se liminar no HC 92687/MG, para,

afastando o óbice do art. 44 da Lei 11.343/2006, determinar ao juiz que examine se

estão presentes os pressupostos do art. 312 do CPP.

HC 92687/MG, rel. Min. Eros Grau, 31.8.2010. (HC-92687)

HC 100949/SP, rel. Min. Eros Grau, 31.8.2010. (HC-100949)

(Informativo 598, 2ª Turma)

Nulidades

Audiência de Instrução: Inversão na Formulação de Perguntas e Nulidade

A Turma indeferiu habeas corpus em que se objetivava a anulação da audiência de

instrução e julgamento e, conseqüentemente, da sentença condenatória proferida contra

o paciente. A impetração sustentava a existência de nulidade absoluta, consistente na

Page 264: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

inversão da ordem de inquirição das testemunhas, pois a magistrada de 1º grau teria

feito suas perguntas em primeiro lugar para, somente depois, permitir que as partes o

fizessem. Salientou-se, de início, tratar-se de vício sujeito à sanção de nulidade relativa,

que deveria ser argüido oportunamente, o que não ocorrera, daí a superveniência da

preclusão. Ademais, não teria sido demonstrado prejuízo concreto decorrente da alegada

nulidade, pois a inversão da ordem do sistema de perguntas diretas, previsto no art. 212

do CPP (“Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à

testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem

relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida.”), não

alteraria o sistema acusatório. Nesse sentido, a decretação de nulidade a partir desse fato

seria considerar o processo um fim em si mesmo, e não um meio para se conseguir a

aplicação da lei penal. No ponto, divergiu o Min. Marco Aurélio, por entender que a

forma prevista no citado artigo seria essencial e que o prejuízo estaria certificado na

sentença condenatória. Contudo, tendo em conta a organicidade do Direito, asseverou

que a inobservância de forma prevista em lei, como essa alusiva ao interrogatório,

encerraria nulidade relativa. Por sua vez, não houvera o insurgimento da defesa no

momento próprio, o que implicara preclusão.

HC 103525/PE, rel. Min. Cármen Lúcia, 3.8.2010. (HC-103525)

(Informativo 594, 1ª Turma)

Defesa Técnica e Nulidade

A defesa técnica é um direito irrenunciável e irrevogável. De acordo com esse

entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus em que o paciente/impetrante, sob

alegação de cerceamento de defesa, pleiteava a nulidade do processo pelo qual

condenado. Afirmava que tivera negado o direito de redigir pessoalmente sua defesa

técnica, em desrespeito ao Pacto de São José da Costa Rica, o qual asseguraria a

qualquer pessoa a possibilidade de se defender diretamente. Aduzia que suas garantias

constitucionais haviam sido violadas. Reputou-se, inicialmente, a indispensabilidade da

defesa feita por advogado, salvo em situações excepcionalíssimas, como o caso do

habeas corpus. Asseverou-se, ademais, que a autodefesa se limitaria ao interrogatório e

ao comparecimento aos demais atos instrutórios, nos termos da legislação vigente.

Concluiu-se não haver ilegalidade ou inconstitucionalidade no fato de o réu deixar de

participar da defesa técnica.

HC 102019/PB, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 17.8.2010. (HC-102019)

Page 265: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

(Informativo 596, 1ª Turma)

Tribunal do Júri: Alegações Finais e Intimação do Advogado

A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pleiteava a decretação de

nulidade do processo, desde o oferecimento da denúncia, que culminara na condenação

do paciente pelo delito de homicídio qualificado. Rejeitaram-se as alegações formuladas

na impetração. Quanto à inépcia da denúncia, asseverou-se que a inicial acusatória

apresentara narrativa congruente dos fatos, suficiente para a apresentação de defesa em

relação ao crime imputado. Relativamente ao excesso de linguagem empregado na

pronúncia, avaliou-se que o magistrado não julgara procedente o fato, mas,

simplesmente, dissera que haveria elementos a possibilitar a pronúncia. No tocante à

ausência de fundamentação da decisão de pronúncia, entendeu-se que avaliar este

argumento implicaria a reanálise de fatos e provas, o que não seria condizente com a via

de habeas corpus. Repeliu-se à assertiva de deficiência de quesitação, pois a tese

apresentada de legítima defesa fora objeto de quesito. Em relação à falta de embate da

tese de deficiência/ausência de defesa — consubstanciada na desistência de oitiva das

testemunhas arroladas na defesa prévia e, principalmente, na ausência de alegações

finais antes da sentença de pronúncia —, assentou-se a preclusão dos temas, fundada no

art. 571, I, do CPP (“As nulidades deverão ser argüidas: ... I - as da instrução criminal

dos processos da competência do júri, nos prazos a que se refere o art.406;”).

Esclareceu-se, ainda, ter ocorrido a regular intimação do advogado para apresentação de

alegações finais. Ressaltou-se que o paciente constituíra novo profissional de advocacia

após a pronúncia, mas não fora articulada suposta nulidade, alusiva às mencionadas

alegações, na sessão do Tribunal do Júri. Registrou-se entendimento da Corte segundo o

qual as alegações finais em processo da competência do Júri não são indispensáveis.

Vencido o Min. Marco Aurélio que concedia a ordem para reconhecer a nulidade dos

atos praticados após o prazo em que as alegações deveriam ter sido apresentadas.

Concluía que a falta de apresentação delas, somada ao fato de o advogado não ter

seguido na representação do paciente, equivaleria à ausência de defesa e refletiria uma

nulidade absoluta, que, portanto, não seria afastada com a passagem do tempo e não se

enquadraria no disposto no art. 571, I, do CPP.

HC 103569/CE, rel. Min. Dias Toffoli, 24.8.2010. (HC-103569)

(Informativo 597, 1ª Turma)

Page 266: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Tribunal do Júri: Nulidades e Dosimetria da Pena

A Turma deu parcial provimento a recurso em habeas corpus para reformar, em parte,

acórdão do STJ e, desde logo, proceder à nova dosimetria da pena. No caso, condenado

por homicídio qualificado à pena de 13 anos e 6 meses de reclusão reiterava as

alegações de: a) erros na dosimetria da pena; b) ausência de quesito obrigatório que

contivesse a tese de autodefesa do acusado e de desclassificação para homicídio

culposo; c) nulidade absoluta decorrente da dispensa de todas as testemunhas no

plenário do júri; d) nulidade dos quesitos apresentados aos jurados e subtração de sua

competência constitucional; e) ausência do exame de eventual excludente de motivação

fútil pelo Tribunal de Justiça estadual e pelo Superior Tribunal de Justiça; f)

inexistência de motivo fútil. Considerou-se, em relação ao item “b”, que a tese relativa à

autodefesa fora devidamente submetida aos jurados no respectivo quesito e que a defesa

técnica, durante os debates orais, não sustentara eventual desclassificação. No que

concerne ao item “d”, reputou-se que qualquer impugnação referente à redação dos

quesitos formulados deveria ter sido feita na sessão de julgamento, sob pena de

preclusão, que teria ocorrido na espécie. A respeito do item “c”, aduziu-se que a

desistência das testemunhas teria obedecido à disposição legal, com a anuência das

partes por ocasião do julgamento e que não teria sido demonstrado prejuízo decorrente

de tal fato. Por sua vez, quanto aos itens “e” e “f”, entendeu-se que tais teses

implicariam revolvimento profundo de fatos e provas, o que ultrapassaria o âmbito de

cognição da via eleita. Ademais, não competiria à Corte anular a decisão dos jurados,

sob pena de ofensa ao princípio constitucional da soberania dos veredictos, dado que a

decisão dos jurados estaria em consonância com uma das versões possíveis. Finalmente,

em relação ao item “a”, aduziu-se que haveria erro alusivo à fixação da pena-base

quanto às circunstâncias judiciais e ao motivo do crime. Asseverou-se que a análise da

conduta social do réu não poderia ter sido utilizada para sua exasperação, uma vez que

considerado, para esse fim, o fato de o acusado responder a outro processo criminal.

Reputou-se, nesse sentido, que houvera violação ao princípio da presunção de

inocência. Além disso, enfatizou-se que o motivo do crime, por ter sido considerado

pelo júri como qualificadora, não poderia exasperar a pena e a sentença, incorrendo,

assim, em bis in idem. Dessa forma, consignou-se que, retiradas essas 2 circunstâncias

Page 267: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

judiciais, a pena-base deveria ser reduzida em 1 ano — haja vista que o juízo de 1º grau

aplicara o aumento de 6 meses para cada circunstância. Ademais, incidente a redução da

pena-base ante o reconhecimento de atenuantes, a pena definitiva do paciente deveria

ser fixada em 12 anos e 6 meses de reclusão. Por derradeiro, assinalou-se que o pleito de

arbitramento de honorários advocatícios em favor de defensor dativo competiria ao

juízo nomeante que, na espécie, seria o juízo de 1ª instância.

RHC 99293/PR, rel. Min. Cármen Lúcia, 31.8.2010. (RHC-99293)

(Informativo 598, 1ª Turma)

Princípios Processuais Penais

Condenação e Elementos Coligidos em Inquérito Policial - 2

Em conclusão de julgamento, a Turma, por maioria, concedeu habeas corpus para

restabelecer a decisão absolutória do juízo processante. Tratava-se de writ em que se

questionava condenação fundada unicamente em elementos colhidos na fase

investigatória. No caso, o paciente, absolvido pelo juízo monocrático, tivera sua

sentença reformada pela Corte estadual — que o condenara a 27 anos de reclusão —,

com base em depoimentos colhidos no inquérito, muito embora houvessem sido

refutados em juízo — v. Informativo 594. Inicialmente, superou-se a preliminar

suscitada pelo Ministério Público Federal no sentido do não conhecimento da

impetração ante a necessidade de revisão dos elementos probatórios coligidos no

processo. Asseverou-se, no ponto, que o não conhecimento do writ resultaria em

violência ao princípio do acesso ao Judiciário, o qual visa afastar lesão ou ameaça de

lesão a direito. Em seguida, considerou-se que elementos reunidos em sede de inquérito

policial, sem o indispensável contraditório, esvaziados por completo em juízo, não

serviriam à condenação. Salientou-se que o paciente fora condenado sem que fosse

apresentada contra si, em juízo, prova de fato criminoso e demonstrada a culpa. Vencido

o Min. Ricardo Lewandowski.

HC 96356/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 24.8.2010. (HC-96356)

(Informativo 597, 1ª Turma)

Prisão

Prisão Cautelar: Fundamentação e Cota Ministerial

Page 268: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se questionava decreto de

prisão preventiva expedido contra acusado pela suposta prática dos crimes de

adulteração de combustíveis e falsidade ideológica. A impetração sustentava a

inobservância dos requisitos previstos no art. 312 do CPP, bem como argumentava que

o decreto prisional teria adotado como razão de decidir apenas o pedido ministerial.

Entendeu-se, primeiramente, que, muito embora a sucinta ordem judicial tivesse

adotado como fundamentação o requerimento do Ministério Público, sem, entretanto,

transcrevê-lo, a constrição cautelar teria sido baseada em fatos concretos, portanto, em

conformidade com o citado dispositivo legal. Consignou-se estar evidenciado que o

paciente e seu sócio na empresa seriam contumazes na comercialização clandestina de

combustíveis adulterados. Enfatizou-se, ademais, a fuga do paciente em momento

anterior ao decreto prisional. Salientou-se, por fim, que as condições subjetivas

favoráveis ao paciente não obstariam a segregação cautelar. Vencido o Min. Marco

Aurélio, que, ao aduzir a excepcionalidade da custódia preventiva, deferia o writ por

considerar que o decreto atacado baseara-se em meras presunções, tanto em relação à

culpa do acusado quanto em relação à sua possibilidade de fuga.

HC 102864/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 3.8.2010. (HC-102864)

(Informativo 594, 1ª Turma)

Prisão Cautelar: Fundamentação e Excesso de Prazo

Ao considerar a superveniência de pronúncia, em que alterado o fundamento para a

manutenção da custódia cautelar do paciente, a Turma, por maioria, julgou prejudicado

habeas corpus, haja vista a substituição da natureza do título prisional. Entretanto, ante

a excepcionalidade do caso, concedeu a ordem de ofício, para garantir liberdade

provisória ao paciente. Na espécie, a impetração alegava excesso de prazo para

encerramento da instrução criminal, uma vez que o paciente estaria preso

preventivamente há mais de dois anos pela suposta prática, em concurso de agentes, do

crime de homicídio duplamente qualificado. Assentou-se que a constrição cautelar seria

ilegal, pois a única testemunha arrolada pela acusação já teria prestado depoimento em

juízo e afastado totalmente a versão consignada no inquérito policial, a qual seria

supostamente desfavorável à defesa. Enfatizou-se a demora de quase um ano para a

oitiva de co-réus e da aludida testemunha, todos eles presos. Destacou-se, ainda, que os

acusados teriam se apresentado espontaneamente à autoridade policial e empreendido

fuga somente após a decretação da prisão preventiva, a qual, por ser ilegal, legitimaria a

Page 269: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

evasão do distrito da culpa. Vencido, em parte, o Min. Marco Aurélio, que concedia a

ordem ao fundamento de que, sem o trânsito em julgado da condenação, a causa de

pedir — excesso de prazo — persistiria, não sendo modificada pelo advento da

pronúncia. Ao salientar que o excesso de prazo seria fator objetivo, afirmava que o

interregno de dois anos seria tempo em demasia, considerado o direito constitucional ao

término do processo em prazo razoável. Vencido na integralidade o Min. Ricardo

Lewandowski, que indeferia a ordem. Aduzia estar superada a questão relativa ao

excesso de prazo, ter o paciente permanecido preso durante toda a instrução e ser

iminente o seu julgamento pelo júri.

HC 101981/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 17.8.2010. (HC-101981)

(Informativo 596, 1ª Turma)

Prisão Cautelar e Fuga

A Turma indeferiu habeas corpus no qual se alegava falta de fundamentação da

decisão que determinara a segregação cautelar do paciente. Esclareceu-se que os

diversos registros atinentes à gravidade do delito, ao clamor público, à insegurança do

meio social e à credibilidade das instituições afastar-se-iam da jurisprudência

consolidada pela Corte, em tema de fundamento apto a embasar as denominadas prisões

processuais. Todavia, asseverou-se que, da leitura dos demais argumentos, apontados

pelo juízo, constatar-se-ia a existência de fatos concretos que justificariam a custódia,

tanto para garantir a aplicação da lei penal, como para resguardar a ordem pública. Não

obstante destacando entendimento da Turma no sentido de que a simples fuga não

justificaria, per se, a determinação da prisão provisória, consignou-se que, conforme os

motivos do mencionado decreto, fora demonstrada inequívoca intenção de o paciente se

furtar à aplicação da lei penal, pois estaria foragido antes mesmo da expedição do

decreto prisional. Enfatizou-se que a fuga ocorrera antes mesmo de decretada, e não

para impugnar decisão constritiva tida por ilegal, sendo, por isso, causa idônea a ensejar

a segregação cautelar. Asseverou-se que o decreto de prisão preventiva também se

baseara na necessidade de colocar a salvo a ordem pública, patente a configuração do

periculum libertatis. Constatou-se, ademais, a indicação de fatos concretos que

justificariam o alegado risco também para a tranqüilidade e a paz do meio social.

Assentou-se, portanto, que o paciente fora conduzido ao cárcere por questões

instrumentais devidamente justificadas, razão de ser da prisão preventiva.

HC 101206/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.8.2010. (HC-101206)

Page 270: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

(Informativo 596, 2ª Turma)

Prisão Cautelar e Fundamentação

A Turma, por maioria, desproveu recurso ordinário em habeas corpus para manter a

prisão cautelar do paciente. Na espécie, preso em flagrante e condenado à pena de 5

anos e 4 meses de reclusão, em regime inicial fechado, pela prática do delito de roubo

duplamente qualificado, o paciente permanecera custodiado com o advento da sentença

condenatória. Reputou-se que o juízo sentenciante teria mantido a prisão em flagrante

lastreado em motivação idônea, com o objetivo de resguardar a ordem pública e a

aplicação da lei penal. Considerou-se o fato de o recorrente haver permanecido preso

durante todo o processo como elemento a corroborar a mantença do decreto. Vencido o

Min. Marco Aurélio, que provia o recurso por entender que o fundamento alusivo à

necessidade de garantia da aplicação da lei penal não estaria satisfeito, pois baseado na

presunção de culpa do recorrente, bem como que o simples fato de haver permanecido

preso durante o processo não se prestaria como justificativa para a manutenção da

cautelar. Em seguida, concedeu-se habeas corpus de ofício, ante o empate na votação,

para determinar ao juízo das execuções que verifique a possibilidade de progressão de

regime, tendo em vista que a prisão em flagrante teria ocorrido em 5.2.2009, portanto,

passado mais de um sexto da pena não transitada em julgado. Vencidos, no ponto, os

Ministros Ricardo Lewandowski, relator, e Cármen Lúcia.

RHC 103744/SP, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/acórdão Min. Dias

Toffoli, 31.8.2010. (RHC-103744)

(Informativo 598, 1ª Turma)

Prisão Cautelar: Excesso de Prazo e Nova Decretação

O relaxamento de prisão preventiva, por excesso de prazo, não impede sua decretação

por outros fundamentos explicitados na sentença. Com base nessa orientação, a Turma,

por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pleiteava o direito de recorrer em

liberdade. No caso, o paciente, preso em flagrante delito por transportar e trazer consigo

substâncias entorpecentes, tivera sua constrição relaxada em virtude do excesso de

prazo. Após a prolação da sentença condenatória (Lei 11.343/2006, artigos 33 e 35), o

juiz decretara nova segregação cautelar, invocando os fundamentos do art. 312 do CPP.

A impetração sustentava a falta de motivação da custódia, bem como a ausência dos

Page 271: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

seus pressupostos autorizadores. Reputou-se que o réu, por ostentar a suposta condição

de líder de grupo de tráfico, se solto, representaria fundado risco à ordem pública e que,

por se tratar de crime hediondo, caberia ao magistrado, motivadamente, decidir sobre

eventual direito de o sentenciado recorrer em liberdade. Vencido o Min. Marco Aurélio,

que deferia a ordem por entender que essa nova prisão, com aparência de cautelar,

configuraria execução precoce da pena imposta. Reputava não ser possível, num mesmo

processo, considerado o mesmo quadro, ter-se novamente uma prisão, uma vez

reconhecido o anterior excesso de prazo, o qual seria definitivo e não se interrompera

com a liberdade do acusado.

HC 103881/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 31.8.2010. (HC-103881)

(Informativo 598, 1ª Turma)

Gravidade em Abstrato do Delito e Prisão Preventiva

Ante o empate na votação, a Turma deferiu habeas corpus para que a paciente aguarde

em liberdade o encerramento da ação penal, ressalvada a possibilidade de nova

decretação de prisão de natureza cautelar, se necessária. Na espécie, a paciente e o co-

réu foram presos em flagrante pela suposta prática do delito previsto no art. 121, § 2º, I,

III e IV, e no art. 211, ambos do CP. Asseverou-se que a prisão da paciente fora

decretada tendo por único fundamento a gravidade em abstrato do delito. Consignou-se

que tal justificativa somada à hipotética periculosidade do agente — não demonstradas

nos autos — não autorizariam por si sós a custódia cautelar, consoante reiterado pela

jurisprudência da Corte. Vencidos os Ministros Ellen Gracie e Ayres Britto que

indeferiam a ordem, por considerarem que a decisão do magistrado estaria devidamente

fundamentada. A Min. Ellen Gracie observava que o delito hediondo teria sido

praticado com extrema crueldade e que o juiz circunstanciara, inclusive, as condições

em que perpetrado. O Min. Ayres Britto entendia que fora consubstanciado um juízo de

alta periculosidade da ré quanto ao modo de execução de crime, e que o magistrado

fizera o vínculo entre a garantia da ordem pública e a necessidade de acautelamento do

meio social no caso concreto. Ressaltava, ainda, o fato de o juízo de periculosidade —

que teria relação com o acautelamento do meio social, portanto, com o pressuposto da

ordem pública de que trata o art. 312 do CPP — ser exatamente aquele sobre a

gravidade no modo de execução do delito.

HC 95460/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 31.8.2010. (HC-95460)

(Informativo 598, 2ª Turma)

Page 272: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Procedimento do Tribunal do Júri

Desaforamento e Popularidade da Vítima

A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pleiteava o

desaforamento do julgamento de pronunciado, pelo juízo da comarca de

Hidrolândia/GO, em razão da suposta prática de homicídio de Vereador. A impetração

requeria que o júri fosse realizado na capital, porquanto a vítima fora a mais votada

daquela municipalidade. Alegava que, por ser o voto secreto, não haveria como saber

“se o jurado sorteado para o conselho de sentença era ou não eleitor da suposta vítima,

ou vinculado de alguma forma com a sua coligação”. Inicialmente, assentou-se que o

desaforamento constituiria medida excepcional de modificação da competência e que,

para ser determinado, dever-se-ia comprovar, de forma inequívoca, um dos seguintes

motivos: a) interesse da ordem pública; b) dúvida sobre a imparcialidade do júri e c)

temor quanto à segurança pessoal do acusado. Em seguida, asseverou-se a ausência, na

hipótese sob apreço, de qualquer das razões mencionadas. Ressaltou-se doutrina

segundo a qual não seria motivo suficiente para o desaforamento a situação de a vítima,

ou agressor, ou ambos, serem pessoas conhecidas no local da infração, o que,

certamente, provocaria o debate prévio na comunidade a respeito do fato. Assim, a

situação deveria ser considerada normal, pois seria impossível evitar que pessoas

famosas, ou muito conhecidas, ao sofrer ou praticar crimes, deixassem de despertar a

curiosidade geral em relação ao julgamento. Vencido o Min. Marco Aurélio que deferia

o writ por julgar recomendável o deslocamento para a comarca mais próxima.

Considerava que a vítima seria político local, mais votado por duas eleições, que a

escolha do corpo de jurados poderia recair sobre seus eleitores, e que o Município,

aparentemente, não seria de grande proporção.

HC 103646/GO, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 24.8.2010. (HC-103646)

(Informativo 597, 1ª Turma)

Progressão de Regime

Tráfico de Drogas: Liberdade Provisória e Progressão de Regime

Page 273: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

A Turma concedeu, de ofício, habeas corpus para que o juízo competente examine

os requisitos necessários à obtenção da progressão de regime a condenado à pena de 10

anos de reclusão, em regime inicialmente fechado, por tráfico ilícito de entorpecentes e

associação para o tráfico (Lei 11.343/2006, artigos 33 e 35). Na espécie, o paciente —

preso em flagrante delito em 1º.2.2007 — permanecera enclausurado durante todo o

processo. A impetração pleiteava o direito dele de recorrer em liberdade da condenação,

não transitada em julgado, imposta pelo juízo de primeiro grau. Alegava, ainda, que a

manutenção da prisão cautelar ocorrera sem a devida fundamentação legal.

Preliminarmente, denegou-se a ordem. Reafirmou-se a jurisprudência da 1ª Turma, no

sentido de ser vedada a concessão de liberdade provisória aos presos em flagrante por

tráfico de drogas, não havendo ilegalidade na manutenção da custódia daquele que

respondera a ação penal nessa condição. Por outro lado, observou-se que o paciente

cometera o delito antes do advento da Lei 11.464/2007; já teria permanecido em regime

fechado por mais de 1/6 da pena aplicada e que somente a defesa desta recorrera.

Alguns precedentes citados: HC 92747/SP (DJE de 25.4.2008); HC 98340/MG (DJE de

23.10.2009); HC 92612/PI (DJE de 11.4.2008); HC 101483/GO (DJE de 14.5.2010).

HC 98679/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 10.8.2010. (HC-98679)

(Informativo 595, 1ª Turma)

Recursos

Suspensão de Prazo: Portaria do STJ e Tempestividade

A Turma deferiu habeas corpus para reconhecer a tempestividade de embargos de

declaração opostos pela paciente e determinar ao STJ que prossiga com o regular

processamento do recurso. Tratava-se de writ impetrado contra acórdão daquela Corte

que reputara intempestivos embargos de declaração em feito criminal, protocolizados

em 2.2.2007, opostos em face de acórdão que desprovera agravo regimental em agravo

de instrumento, publicado em 18.12.2006. O STJ, tendo em conta a entrada em vigor da

EC 45/2004 (DOU de 31.12.2004) — que vedara as férias coletivas nos juízos e

tribunais de segundo grau e determinara a não-interrupção da atividade jurisdicional —,

entendera que “o prazo final para a interposição dos embargos declaratórios,

considerando o recesso forense, seria o dia 02/01/2007”, não havendo mais a suspensão

do prazo recursal no período de férias forenses. Consignou-se que o próprio STJ

publicara a Portaria 191, de 5.12.2006, na qual ficara explicitamente definida a

Page 274: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

suspensão dos prazos para recursos a partir de 20.12.2006, voltando a fluir em

1º.2.2007. Ressaltou-se que a referida portaria, ao fixar expressamente a suspensão,

induzira a parte em erro. Assim, ao considerar a jurisprudência do STF — segundo a

qual a regra da contagem dos prazos recursais, prevista no art. 798 do CPP, pressupõe o

funcionamento regular da Justiça —, e o teor da Portaria 191/2006, concluiu-se pela

tempestividade dos embargos. Alguns precedentes citados: HC 100344/RJ (DJE de

6.11.2009); HC 89827/SP (DJU de 27.4.2007); HC 69522/GO (DJU de 18.12.92).

HC 99206/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 10.8.2010. (HC-99206)

(Informativo 595, 1ª Turma)

Apelação: Efeito Devolutivo e “Reformatio In Pejus”

A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pretendia fosse aplicada — a

condenada pelo crime de tráfico internacional de entorpecentes, à pena de 4 anos, 10

meses e 10 dias de reclusão — a causa de diminuição prevista no § 4º do art. 33 da Lei

11.343/2006 em seu grau máximo, bem como substituída a pena privativa de liberdade

por restritiva de direitos (Lei 11.343/2006, art. 33: “§ 4º Nos delitos definidos no caput e

no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada

a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons

antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização

criminosa.”). A defesa sustentava que teria havido reformatio in pejus, uma vez que a

sentença de 1º grau considerara a consumação do delito para fins de incidência da causa

de diminuição em seu patamar mínimo, ao passo que, no julgamento da apelação, a

justificativa para o uso da fração mínima teria sido modificada ante a constatação da

significativa quantidade de droga apreendida. Primeiramente, aduziu-se que teriam sido

apontados elementos concretos a justificar a aplicabilidade da causa de diminuição em

seu grau mínimo, tanto no 1º quanto no 2º grau e que, apesar de o órgão de 2ª instância

ter mantido a referida causa de diminuição com fundamentos diversos dos utilizados

pelo juízo de 1º grau, o efeito devolutivo do recurso de apelação — ainda que exclusivo

da defesa — autorizaria a revisão dos critérios de individualização definidos na sentença

penal condenatória, limitada tão-somente pelo teor da acusação e pela prova produzida.

Ademais, reputou-se não haver falar em reformatio in pejus, uma vez que o quantum da

causa de diminuição e da pena total teria sido mantido na apelação. Vencido o Min.

Marco Aurélio, que concedia a ordem para implementar a causa de diminuição em seu

grau máximo, por entender que seus requisitos estariam satisfeitos na espécie.

Page 275: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

HC 101917/MS, rel. Min. Cármen Lúcia, 31.8.2010. (HC-101917)

(Informativo 598, 1ª Turma)

INFORMATIVOS 598 A 602 - SETEMBRO DE 2010

Ação Penal

Ação Penal: Apropriação Indébita e Sonegação Previdenciárias - 1

O Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação penal promovida pelo

Ministério Público Federal para condenar Deputado Federal pela prática dos crimes

tipificados no art. 168-A, § 1º, I e art. 337-A, III, c/c o art. 71, caput e art. 69, todos do

CP, à pena de 7 anos de reclusão e ao pagamento de 60 dias-multa, calculados na base

de meio salário-mínimo vigente em agosto de 2002 (término da continuidade delitiva),

atualizados monetariamente. No caso, a partir de ação fiscal realizada em empresa de

propriedade do acusado, ele e sócia foram denunciados pela suposta ausência de

repasse, ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, de valores arrecadados a título

de contribuições incidentes sobre a remuneração de empregados, relacionados em folha

de pagamento mensal e rescisões de contrato de trabalho. A inicial acusatória também

descrevera a omissão de fatos geradores de contribuições previdenciárias na Guia de

Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e Informações à Previdência

Social - GFIP. Preliminarmente, afastou-se a ocorrência de extinção da punibilidade

pela prescrição da pena em abstrato. Ao salientar que esta operaria em 12 anos (CP, art.

109, III) e que a pena máxima cominada aos crimes imputados aos réus seria de 5 anos

de reclusão, para ambos os tipos penais, afirmou-se que os fatos delituosos teriam sido

perpetrados no período de janeiro de 1995 a agosto de 2002, sendo o crédito tributário

definitivamente constituído em abril de 2003. Em seguida, absolveu-se a co-ré, ao

fundamento de que não haveria como lhe atribuir a responsabilidade penal pelos fatos

imputados na denúncia. Consignou-se não ter ficado demonstrado, durante a instrução

criminal, que ela detivesse poder de mando ou que houvesse exercido qualquer

atividade na empresa, sendo esta gerida pelo parlamentar, o qual exercia todos os atos

de administração necessários ao seu funcionamento.

AP 516/DF, rel. Min. Ayres Britto, 27.9.2010. (AP-516)

(Informativo 602, Plenário)

Page 276: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Ação Penal: Apropriação Indébita e Sonegação Previdenciárias - 2

Logo após, reconheceu-se a materialidade delitiva das condutas atribuídas ao

parlamentar, tendo em conta a existência de farta documentação, detalhada nas

notificações fiscais de lançamento de débito. Ressaltou-se, inclusive, que a empresa

sequer impugnara o débito fiscal na esfera administrativa. Rejeitou-se a alegação de que

os crimes exigiriam a comprovação do animus rem sibi habendi. Enfatizou-se que a

orientação da Corte encontra-se consolidada no sentido de que, para a caracterização

dos aludidos tipos penais, é suficiente a demonstração do dolo genérico, sendo

dispensável um especial fim de agir. Observou-se, também, que o “recibo de pedido de

parcelamento” da Lei 11.941/2009, juntado pela defesa, não se prestaria para a

pretendida suspensão da pretensão punitiva estatal, porquanto o pagamento da primeira

parcela fora efetuado mais de 6 meses após o seu vencimento. Relativamente à autoria,

mencionou-se que a situação contratual da empresa permanecera inalterada desde sua

constituição, embora esta se encontrasse atualmente desativada, sem baixa registrada na

junta comercial. Destacou-se que a mera participação no quadro societário como sócio-

gerente não poderia significar a automática responsabilização penal. Nada obstante,

repeliu-se a assertiva de que, apesar de o parlamentar figurar no contrato social como

único responsável pela gerência da sociedade, a efetiva administração teria sido

delegada a seu filho. Afirmou-se que tal outorga de poderes de representação não

conferira exclusividade ao outorgado, de modo que o acusado teria preservado seus

poderes. Ademais, asseverou-se que inexistira alteração contratual válida que o

excluísse do quadro societário da empresa. Enfatizou-se, no ponto, inclusive, que o

acusado ainda responde a uma ação penal por suposta falsidade de modificação

contratual no registro de junta comercial. Assinalou-se que a prova testemunhal

carreada não infirmaria a condição do parlamentar de responsável pela administração de

sua empresa, haja vista que a defesa somente arrolara pessoas que não tinham contato

direto ou vínculo com a sociedade empresária. Refutou-se, também, o argumento de

não-ocorrência do crime de sonegação previdenciária (CP, art. 337-A), por

inexigibilidade de conduta diversa, em função das dificuldades financeiras da empresa.

Verificou-se que a supressão ou redução da contribuição social e de quaisquer

acessórios são implementados por meio de condutas fraudulentas instrumentais à

evasão, incompatíveis com a boa-fé necessária para tal reconhecimento. Além disso, o

conjunto probatório não revelaria a precária condição financeira da empresa.

AP 516/DF, rel. Min. Ayres Britto, 27.9.2010. (AP-516)

Page 277: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

(Informativo 602, Plenário)

Ação Penal: Apropriação Indébita e Sonegação Previdenciárias - 3

No tocante à dosimetria da pena, prevaleceu o voto do Min. Joaquim Barbosa,

revisor, que estabeleceu a pena-base em 3 anos de reclusão e 30 dias-multa, para cada

delito, e, ante a ausência de circunstâncias atenuantes e agravantes, aplicou, para ambas

as penas provisórias, o aumento de 1/6, em razão da continuidade delitiva, tornando-as

definitivas em 3 anos e 6 meses de reclusão mais 30 dias-multa, as quais, somadas (CP,

art. 69), totalizaram 7 anos de reclusão e 60 dias-multa. Em conseqüência, fixou o

regime semi-aberto para o cumprimento inicial da pena. Entendeu incabível a

substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, em virtude do

montante da pena aplicada e, pela mesma razão, o sursis. Deixou, contudo, de aplicar o

disposto no art. 92, I, b, do CP, por reputar que não se trataria de efeito automático, e

que, no caso, a reprimenda imposta revelar-se-ia suficiente. Por fim, determinou que,

após o trânsito em julgado, seja dada a ciência à Justiça Eleitoral e inscrito o nome do

réu no rol dos culpados. Vencidos os Ministros Ayres Britto, relator, Cármen Lúcia e

Marco Aurélio relativamente à fixação da pena e ao seu regime inicial de cumprimento,

que assentavam a pena-base em 3 anos de reclusão e 126 dias-multa, e 3 anos e 6 meses

de reclusão e 180 dias-multa, respectivamente, para os crimes previstos nos artigos 168-

A, § 1º, I e 337-A, III, ambos do CP. Ademais, em virtude da continuidade delitiva,

impunham o aumento de metade, para o delito de apropriação indébita previdenciária, e

de 1/3, para o de sonegação previdenciária, a perfazer 9 anos e 2 meses de reclusão e

429 dias-multa, pena esta a ser cumprida em regime inicial fechado.

AP 516/DF, rel. Min. Ayres Britto, 27.9.2010. (AP-516)

(Informativo 602, Plenário)

Evento Esportivo e Ausência de Licitação - 1

O Tribunal, por maioria, recebeu denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal em

desfavor de Deputado Federal, e outros co-denunciados, pela suposta prática do delito

de dispensa ou inexigibilidade de licitação. Relata a denúncia que o parlamentar, então

prefeito, e seu secretário de comunicação social teriam contratado os serviços de

determinada empresa de publicidade para realizar, em 2003, evento esportivo na

municipalidade, sem o devido procedimento licitatório. A conduta dos agentes públicos

Page 278: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

e a do particular beneficiado com a contratação fora enquadrada, respectivamente, no

art. 89 e no seu parágrafo único, da Lei 8.666/93 (“Dispensar ou inexigir licitação fora

das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à

dispensa ou à inexigibilidade: ... Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que,

tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se

da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.”).

De início, salientou-se que o parquet sustentava a ocorrência de burla ao preceito

contido no art. 25, III, do mesmo diploma legal (“Art. 25. É inexigível a licitação

quanto houver inviabilidade de competição, em especial: ... III - para contratação de

serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com

profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a exigibilidade para

serviços de publicidade e divulgação.”).

Inq 3016/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 30.9.2010. (Inq-3016)

(Informativo 602, Plenário)

Evento Esportivo e Ausência de Licitação - 2

Em seguida, reputou-se que, nesta etapa processual, haveria substrato mínimo a

sustentar a deflagração da ação penal, e que a defesa não conseguira infirmar a

plausibilidade da peça acusatória. Aduziu-se que a circunstância de o contrato firmado

pelos agentes públicos contar com o aval e a aprovação da Procuradoria do Município

não elidiria a responsabilidade dos acusados, haja vista que o parecer não conteria carga

opinativa e não vincularia o administrador público. Ademais, afastou-se a assertiva de

que os preços oferecidos pela empresa do co-réu seriam condizentes com os cobrados

no mercado, dado que isso demandaria análise da matéria de fundo. De igual modo,

entendeu-se inviável o exame da alegação de inexistência de dolo dos investigados.

Consignou-se, no ponto, que a dilação probatória reconstruiria, historicamente, os fatos

e que ela também permitiria a apreciação relativa à exigência, ou não, de finalidade

específica para a configuração do tipo penal. Destacou-se, ainda, que a peça acusatória

não poderia ser rejeitada em face da suposta falta de prejuízo, porquanto o crime em

apreço caracterizar-se-ia pelo simples “dispensar” ou “inexigir” o certame, não podendo

o resultado naturalístico ser considerado condição imprescindível à consumação do

delito. Refutou-se o argumento de atipicidade da conduta do empresário, haja vista que

demonstrado pela acusação que, embora a marca do evento tivesse sido registrada

perante o INPI, isso não implicaria a conclusão de ser o prestador de serviço um

Page 279: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

especialista de natureza singular. Observou-se que, não obstante os eventos de 1996 a

2000 terem ocorrido sem licitação, o Tribunal de Contas já se manifestara, em 2002,

sobre a necessidade do certame no evento de 1999, o que, ao que parece, sinalizaria

terem os investigados arriscado realizar algo irregular. Por derradeiro, assinalou-se que

a manifestação do Ministério Público sobre o arquivamento do caso na esfera cível,

rejeitando as ponderações da Corte de Contas estadual, não impediria a investigação e

deflagração da ação penal, ante a independência das instâncias. Vencidos os Ministros

Dias Toffoli, Celso de Mello e Cezar Peluso, Presidente, que, por falta de justa causa,

rejeitavam a denúncia, quanto ao empresário beneficiado, ao não vislumbrarem a

existência de descrição mínima de sua suposta participação no delito.

Inq 3016/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 30.9.2010. (Inq-3016)

(Informativo 602, Plenário)

Habeas Corpus

HC: Uso de Algemas e Demora no Julgamento

A Turma não conheceu de habeas corpus em que o paciente, em sessão de julgamento

realizado pelo Tribunal do Júri, permanecera algemado e fora condenado pela prática

dos crimes de homicídio consumado e tentado. Alegava-se que o uso das algemas o

teria exposto a situação vexatória e, portanto, acarretaria a nulidade do julgamento.

Salientou-se que a questão não teria sido suscitada no STJ, razão pela qual analisá-la

nesse momento implicaria supressão de instância. Entretanto, concedeu-se a ordem de

ofício para determinar que o pedido de medida liminar impetrado perante o STJ seja

apreciado, uma vez que o writ fora lá apresentado em 6.11.2009, o que configuraria

demora excessiva na prestação jurisdicional. Vencido o Min. Marco Aurélio, que

concedia a ordem em maior extensão, por entender que, no caso, o emprego das

algemas não se justificaria, pois baseado tão-somente no fato de o réu ostentar maus

antecedentes, motivo pelo qual teria sido presumida a sua periculosidade. Ademais,

aduzia que o uso de tal equipamento poderia ter induzido os jurados à presunção de

culpa do acusado.

HC 103175/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 21.9.2010. (HC-103175)

(Informativo 601, Plenário)

Juiz

Page 280: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Impedimento de Magistrado: Atuação em Feito Criminal e Sentença em Ação Civil

Pública - 3

Em conclusão de julgamento, a Turma, por maioria, denegou habeas corpus em que se

discutia se estaria comprometida, ou não, a imparcialidade de juiz de vara única que

condenara o paciente em ação civil pública e, depois, recebera denúncia em ação penal

pelos mesmos fatos — v. Informativo 585. Reputou-se não se tratar de causa de

impedimento a circunstância de o magistrado com jurisdição ampla julgar,

sucessivamente, feito criminal e de natureza cível decorrentes dos mesmos fatos.

Consignou-se que o Supremo, ao assentar a impossibilidade de se estender, pela via de

interpretação, o rol do art. 252 do CPP, teria concluído não ser permitido ao Judiciário

legislar para incluir causa não prevista pelo legislador. No ponto, realçou-se que essa

inclusão ocorreria por analogia pura e simples ou por denominada interpretação

extensiva, que nada mais seria do que adicionar, a partir de um referencial legal, um

item não previsto pelo legislador em um rol taxativo. Entendeu-se que o caso de varas

únicas — em que o magistrado exerce simultaneamente jurisdição cível e penal — não

estaria abrangido pela intenção da norma que fixara como critério de impedimento o

exercício de função em outra instância. Ressaltou-se que a mencionada norma impediria

a mitigação do duplo grau de jurisdição em virtude da participação em ambos os

julgamentos de magistrado que já possuísse convicção formada sobre os fatos e suas

repercussões criminais. Assim, não visaria atingir o tratamento de um só fato em suas

diversas conotações e conseqüências pelo mesmo juiz. Afirmou-se, ademais, que as

pequenas comarcas do Brasil possuiriam apenas uma vara e um magistrado. Portanto,

posicionar-se no sentido de que o mesmo acontecimento com repercussões

administrativas, cíveis ou penais deveria ser julgado por juízes diferentes, exigiria a

presença de, no mínimo, dois magistrados em cada localidade do país. Consignou-se,

ademais, que o juiz poderia decidir que, comprovado o fato, dele fossem obtidos apenas

efeitos cíveis, e não criminais. Asseverou-se inexistir comprometimento do julgador

com as conseqüências dos atos por ele reconhecidos em julgamento anterior, na mesma

instância, porém em outra esfera. Por derradeiro, não se vislumbrou possibilidade de

interpretação extensiva do art. 252, III, do CPP sem criação judicial de nova causa de

impedimento. Vencido o Min. Eros Grau, relator, que, por conferir interpretação

extensiva ao referido preceito, deferia o writ para anular a ação penal, desde o

recebimento da denúncia, e determinava a remessa dos autos ao substituto legal do juiz.

Page 281: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Alguns precedentes citados: HC 92893/ES (DJe de 12.12.2008), HC 98901/PI (DJe de

4.6.2010).

HC 97544/SP, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/acórdão Min. Gilmar Mendes,

21.9.2010. (HC-97544)

(Informativo 601, 2ª Turma)

Liberdade Provisória

Liberdade Provisória e Tráfico de Drogas

A Turma indeferiu habeas corpus em que pleiteada a liberdade provisória de preso em

flagrante pela suposta prática do crime de tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33). A

defesa sustentava a inconstitucionalidade do art. 44 da mesma lei, que veda a concessão

desse benefício. Inicialmente, por maioria, rejeitou-se questão preliminar, suscitada pelo

Min. Marco Aurélio, vencido, no sentido de afetar o caso ao Plenário ou aguardar que

tal órgão decida sobre a argüição de inconstitucionalidade do art. 44 em processo que já

se encontra a ele submetido, pois não caberia à Turma deliberar a respeito. Afirmou-se

que, se a Corte vier a reputar inconstitucional o referido dispositivo, tanto não haverá

óbice a uma nova impetração quanto o próprio juízo processante poderá agir de ofício e

conceder a liberdade ao paciente. No mérito, invocaram-se precedentes das Turmas

segundo os quais tal vedação seria legítima e considerou-se hígida a constrição cautelar

imposta, uma vez que presentes os requisitos da prisão preventiva.

HC 104616/MG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 21.9.2010. (HC-104616)

(Informativo 601, 1ª Turma)

Nulidades

Remissão e Necessidade de Oitiva do Ministério Público

É imprescindível a manifestação do Ministério Público para a concessão, pelo

magistrado, de remissão extintiva em procedimento judicial de apuração de ato

infracional. Com base nessa orientação, a Turma indeferiu habeas corpus no qual se

sustentava a possibilidade de outorga desse benefício ao paciente sem a prévia oitiva do

parquet. Asseverou-se que tal ausência implicaria nulidade do ato, conforme preceituam

os artigos 186, § 1º, e 204, do ECA (“Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais

ou responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mesmos, podendo

Page 282: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

solicitar opinião de profissional qualificado. § 1º Se a autoridade judiciária entender

adequada a remissão, ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo

decisão. ... Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade

do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer

interessado”).

HC 96659/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 28.9.2010. (HC-96659)

(Informativo 602, 2ª Turma)

Princípios e Garantias Processuais Penais

Lei 11.719/2008: Interrogatório e “Tempus Regit Actum”

A Turma indeferiu habeas corpus em que se pleiteava renovação de interrogatório

para observância da novel redação do art. 400 do CPP, conferida pela Lei 11.719/2008

[“Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60

(sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das

testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto

no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e

ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado”].

Observou-se que o interrogatório fora realizado em data anterior à vigência daquela lei,

o que, pelo princípio tempus regit actum, excluiria a obrigação de se renovar ato

validamente praticado sob a égide de lei anterior, para que o paciente fosse interrogado

ao final da audiência de instrução e julgamento. Por fim, reafirmou-se o entendimento

do Supremo segundo o qual não se declara a nulidade de ato processual se a alegação

não vier acompanhada de prova do efetivo prejuízo sofrido pelo paciente.

HC 104555/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 28.9.2010. (HC-104555)

(Informativo 602, 1ª Turma)

Prisão

Prisão Cautelar e Excesso de Prazo - 2

Em conclusão, nos termos do voto médio proferido pelo Min. Dias Toffoli, a

Turma julgou prejudicadas duas impetrações, mas concedeu as ordens, de ofício, para

tornar definitiva a liberdade dos pacientes. Tratava-se de habeas corpus em que se

alegava, em suma, constrangimento ilegal imposto aos pacientes em virtude da

Page 283: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

ausência/insuficiência de fundamento do decreto prisional e de excesso de prazo para o

encerramento da instrução criminal — v. Informativo 600. O redator para o acórdão

mencionou que realizara diligência e, em consulta ao sítio do tribunal de justiça

estadual, verificara a superveniência de sentença condenatória, o que tornaria superada a

questão quanto ao excesso de prazo, e o fato de estar a ação penal em fase de apelação.

Consignou que o referido édito condenatório mantivera a segregação cautelar de vários

co-réus, mas se silenciara a respeito da necessidade de prisão dos pacientes destes writs.

Ressaltou a inexistência, no momento, de título prisional idôneo embasador das

constrições cautelares, que não poderiam subsistir. Vencidos os Ministros Cármen Lúcia

e Ricardo Lewandowski que denegavam a ordem, por considerarem idôneo o

fundamento do decreto das prisões preventivas e inexistente o excesso de prazo, tendo

em conta a complexidade do feito e a circunstância de o Estado não ter permanecido

inerte. Ademais, ressaltavam o fato de não haver notícia no aludido sítio eletrônico de

que o magistrado, ao condenar os pacientes, deixara de se manifestar acerca de suas

prisões. Vencido, em parte, o Min. Marco Aurélio, relator, que, por reputar configurado

o excesso de prazo, deferia o HC 97013/SE, para tornar definitivo o relaxamento da

prisão implementado em medida acauteladora, e estendia a ordem ao paciente do outro

habeas.

HC 97013/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/o acórdão Min. Dias Toffoli,

28.9.2010. (HC-97013)

HC 98402/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/o acórdão Min. Dias Toffoli,

28.9.2010. (HC-98402)

(Informativo 602, 1ª Turma)

Revisão Criminal

Crimes contra a Dignidade Sexual: Nulidade e Assistência à Acusação

A Turma, em votação majoritária, indeferiu habeas corpus no qual o réu, absolvido em

1ª instância das acusações de estupro e atentado violento ao pudor, por ausência de

prova da materialidade delitiva, fora condenado pelo tribunal local, em virtude do

provimento de apelo interposto por assistente de acusação. A defesa alegava nulidade

no acórdão que julgara improcedente revisão criminal, haja vista a participação, na

qualidade de relator designado para redigir o acórdão, de desembargador que tomara

parte no julgamento da apelação. Inicialmente, rejeitou-se a tese de ilegitimidade do

Page 284: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

assistente de acusação para recorrer de sentença absolutória quando o Ministério

Público se queda inerte, nos termos do art. 598 do CPP (“Nos crimes de competência do

Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for interposta apelação pelo

Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no

art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação,

que não terá, porém, efeito suspensivo”). Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio, que

entendia inconcebível a atuação da assistência se o Ministério Público não recorresse da

absolvição do paciente. Repeliu-se, de igual modo, a alegada nulidade do julgamento da

revisão criminal. Aduziu-se que a vedação constante do art. 625 do CPP (“O

requerimento será distribuído a um relator e a um revisor, devendo funcionar como

relator um desembargador que não tenha pronunciado decisão em qualquer fase do

processo”) não impediria que, vencidos o relator e o revisor, fosse designado, para

lavrar o acórdão denegatório da revisão criminal, o desembargador que funcionara como

revisor da apelação, por ter sido o autor do primeiro voto vencedor. Afirmou-se que

foram designados como relator e revisor da ação revisional desembargadores distintos

do redator do acórdão. Precedente citado: HC 102085/RS (DJe de 27.8.2010).

HC 100243/BA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 28.9.2010. (HC-100243)

(Informativo 602, 1ª Turma)

INFORMATIVOS 603 A 606 - OUTUBRO DE 2010

Ação Penal

Interrogatório: Lei 11.719/2008 e Lei 8.038/90

O Tribunal resolveu questão de ordem suscitada em ação penal, movida pelo Ministério

Público Federal contra diversas pessoas acusadas da suposta prática de crimes ligados

ao esquema denominado “Mensalão”, para indeferir a renovação de interrogatórios. A

defesa pleiteava que os réus fossem ouvidos novamente, haja vista as modificações

promovidas pela Lei 11.719/2008, que alterou o momento em que efetuado o

interrogatório, transferindo-o para o final da instrução. Aduziu-se que, no caso, quando

sobreviera o novel regramento, os acusados já teriam sido interrogados, com

observância de todos os direitos e as garantias, de acordo com a Lei 8.038/90, a qual

institui normas procedimentais específicas para os processos de competência do STF e

do STJ. Assentou-se, assim, a validade dos interrogatórios realizados segundo a

Page 285: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

legislação então vigente. Salientou-se que o tema relativo à incidência, ou não, da

mencionada Lei 11.719/2008 aos feitos de competência originária do STF ficaria em

aberto, devendo ser apreciado pela Corte naquelas hipóteses em que ainda não realizado

o interrogatório. O relator, ao aplicar o princípio da especialidade, deixou consignado,

desde logo, que a nova norma legislativa não alteraria o procedimento previsto na Lei

8.038/90, uma vez que a fase processual em que deve ocorrer o interrogatório continua

expressamente prescrita no seu art. 7º (“Recebida a denúncia ou a queixa, o relator

designará dia e hora para o interrogatório, mandando citar o acusado ou querelado e

intimar o órgão do Ministério Público, bem como o querelante ou o assistente, se for o

caso.”).

AP 470 Oitava-QO/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 7.10.2010. (AP-470)

(Informativo 603, Plenário)

Crimes da Lei 8.666/93: Prestação de Serviços e Enquadramento

A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus impetrado em favor de acusado

pela suposta prática de delitos previstos na Lei 8.666/93, no qual se alegava a inépcia da

denúncia e a atipicidade das condutas imputadas ao paciente. Pretendia a impetração,

sob alegada ausência de justa causa, o trancamento da ação penal. No que se refere à

apontada inépcia da denúncia, afirmou-se que ela consignara a qualidade de

administrador e sócio da empresa contratada. Assentou-se, daí, que a responsabilidade,

se procedente a imputação, seria subjetiva. No tocante à tipologia, ou seja, se o

procedimento estaria, ou não, enquadrado na Lei das Licitações, aduziu-se que o art. 96

desse diploma legal não se referiria a serviços, mas a bens. Assim, conferiu-se

interpretação sistemática a ponto de se entender que no vocábulo “bens” se teria a

inclusão de serviços. Para tanto, considerou-se o disposto no art. 1º dessa mesma lei, a

revelar que o diploma versaria licitações e contratos administrativos pertinentes a obras,

serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ressaltou-se que,

na denúncia, aludira-se, também, ao art. 92 da Lei 8.666/93 que teria uma abrangência a

apanhar a prestação de serviços. Registrou-se que a referência na peça acusatória não

vincularia o juízo e que o pano de fundo — aditamento com majoração substancial do

que contratado inicialmente com a Administração Pública — sinalizaria, em princípio,

uma prática delituosa. O Min. Ricardo Lewandowski salientou que a denúncia

descreveria adequadamente os fatos, pelo menos para propiciar a defesa ao paciente, e

Page 286: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

que o acusado se defenderia deles e não da imputação jurídica. Vencido o Min. Dias

Toffoli que concedia a ordem para trancar a ação penal, ao fundamento de ocorrência de

responsabilidade objetiva.

HC 102063/ES, rel. Min. Marco Aurélio, 5.10.2010. (HC-102063)

(Informativo 603, 1ª Turma)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 1

O Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação penal para

condenar Deputado Federal pela prática dos delitos tipificados nos artigos 288 e 312,

este na forma do art. 71, c/c o art. 69, todos do CP, à pena de 13 anos, 4 meses e 10 dias

de reclusão e ao pagamento de 66 dias-multa, no valor de um salário mínimo vigente à

época do fato, corrigido monetariamente. Na espécie, o Ministério Público do Estado de

Rondônia instaurara procedimento investigatório a partir de representações em que

questionada a licitude de contrato publicitário firmado entre a Assembléia Legislativa

local e determinada empresa. No decorrer das apurações, o parquet constatara a

existência de suposto esquema criminoso — engendrado para desviar dinheiro daquela

Casa Legislativa — no qual o réu, na qualidade de diretor financeiro da Assembléia

Legislativa, teria assinado vários cheques e os repassado, por mais de 2 anos, à

mencionada empresa de publicidade a pretexto de pagamento pelos serviços, sequer

prestados. Em razão disso, o Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público daquela

unidade federativa oferecera denúncia contra o parlamentar e outros 7 co-réus por

formação de quadrilha e peculato, em concurso material e de pessoas. Após o

recebimento da inicial acusatória pela Corte de origem, o réu fora empossado Deputado

Federal e o processo, desmembrado, remetido ao STF, que assim o mantivera e afirmara

a validade dos atos judiciais praticados anteriormente à diplomação e à posse do

parlamentar federal.

AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)

(Informativo 606, Plenário)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 2

Inicialmente, por maioria, resolveu-se questão de ordem suscitada pela Min.

Cármen Lúcia, relatora, no sentido de se reconhecer a subsistência da competência do

Supremo para a causa. Tendo em conta que o parlamentar apresentara, perante à

Presidência da Câmara dos Deputados, manifestação formal de renúncia ao seu

Page 287: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

mandato, a defesa alegava que a prerrogativa de foro não mais se justificaria. Realçou-

se que o pleito de renúncia fora formulado em 27.10.2010 e publicado no Diário da

Câmara no dia seguinte, data para a qual pautado o julgamento da presente ação penal.

Aduziu-se que os motivos e fins desse ato demonstrariam o intento do parlamentar de se

subtrair ao julgamento por esta Corte, em inaceitável fraude processual, que frustraria as

regras constitucionais e não apenas as de competência. Destacou-se, desse modo, que os

fins dessa renúncia — às vésperas da apreciação do feito e após a tramitação do

processo por mais de 14 anos — não se incluiriam entre aqueles aptos a impedir o

prosseguimento do julgamento, configurando, ao revés, abuso de direito ao qual o

sistema constitucional vigente não daria guarida. Vencido o Min. Marco Aurélio que, ao

salientar a competência de direito estrito do Supremo, assentava que, com a renúncia

operada, o réu teria deixado de ser membro do Congresso Nacional, o que cessaria, em

conseqüência, a competência desta Corte. Os Ministros Dias Toffoli e Joaquim Barbosa

sinalizavam, ainda, não ter efeito a renúncia operada após o fim da instrução, quando o

processo já estiver concluso para o relator, faltando apenas a elaboração do voto.

AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)

(Informativo 606, Plenário)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 3

Em seguida, rejeitaram-se todas as preliminares argüidas pelo réu. No tocante à

alegação de que o inquérito teria sido instaurado e dirigido pelo Ministério Público em

ofensa aos princípios do devido processo legal e da ampla defesa, enfatizou-se que os

elementos de informação que serviram de suporte para a denúncia não teriam sido

extraídos de investigação penal conduzida pelo parquet, mas de autos de inquérito civil.

Relativamente à eventual quebra do princípio do promotor natural, observou-se que a

peça acusatória fora apresentada pelo titular do órgão ministerial em âmbito estadual.

Ressaltou-se, ainda, que os crimes em apreço seriam crimes contra a Administração

Pública, o que afastaria a assertiva de que, por se tratar de crime político, haveria a

impossibilidade de instauração de ação de improbidade. Repeliram-se, de igual modo,

os argumentos de inépcia da denúncia e de ausência de subsunção dos fatos narrados ao

tipo penal do art. 288 do CP ao fundamento de que a inicial teria delineado os limites de

atuação do parlamentar. Por fim, quanto à necessidade de unidade do julgamento,

mencionou-se que o desmembramento do processo fora mantido, em conformidade com

a jurisprudência deste Tribunal.

Page 288: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)

(Informativo 606, Plenário)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 4

No mérito, reputou-se que a materialidade do crime de peculato estaria demonstrada

pela vasta prova documental carreada, especialmente pelos cheques destinados ao

pagamento da empresa. Acrescentou-se que a prova testemunhal produzida revelaria

que a empresa de publicidade, embora tivesse recebido os pagamentos, não prestara

serviços para o Poder Legislativo do Estado-membro e nem emitira notas fiscais. No

ponto, assinalou-se que testemunha afirmara que documentos teriam sido incinerados

por um dos co-réus. No que concerne à autoria, considerou-se que o acervo probatório,

produzido sob o crivo do contraditório, apresentaria elementos de convicção suficientes

para a formação de um juízo de certeza sobre o envolvimento do parlamentar na

empreitada criminosa. Além dos cheques por ele assinados, as testemunhas ouvidas em

juízo confirmaram que o parlamentar seria o diretor financeiro da Assembléia

Legislativa à época. Também constariam depoimentos afirmando que a empresa que

recebia os cheques não possuiria registro contábil, empregados, escritório,

equipamentos ou telefone para contato. Consignou-se que não se trataria de

responsabilização do acusado com base em prova indiciária, entretanto, ter-se-iam

elementos de informação em simetria com o conjunto de provas produzidas durante a

instrução processual. Assim, explicitou-se que os indícios obtidos na fase de

investigação teriam sido confirmados pela instrução processual. Registrou-se não ser

razoável supor-se que um diretor financeiro, ao efetuar o pagamento de serviços que

custaram milhões de reais aos cofres públicos, desconhece a não realização dos serviços

de publicidade. Por derradeiro, reconheceu-se a ocorrência de crime continuado (CP,

art. 71), haja vista que os delitos de peculato teriam sido perpetrados no exercício do

cargo de diretor financeiro da Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia, por meio

da assinatura de cheques pertencentes a tal órgão e a emissão de cada um deles fora

efetuada com regularidade de tempo.

AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)

(Informativo 606, Plenário)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 5

Page 289: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Com relação ao crime de formação de quadrilha, destacou-se que o tipo exigiria que,

pelo menos, 4 pessoas se associassem, em caráter estável e permanente, com a

finalidade de cometer crimes. Assinalou-se que no esquema criminoso teria ficado

comprovado o envolvimento do Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de

Rondônia, irmão do réu, de empresário do setor de comunicações naquele ente

federativo, de servidores daquela Casa Legislativa e de sócios e patrono da empresa de

publicidade. O caráter estável e permanente da associação também estaria demonstrado,

já que efetuados, pelo menos, 22 pagamentos indevidos em um período de quase 1 ano.

Ademais, avaliou-se que a continuidade delitiva seria bastante para a caracterização da

elementar “finalidade de cometer crimes”. Quanto ao parlamentar, destacou-se que o

delito de formação de quadrilha teria prova autônoma e independente, de forma a

inexistir impedimento à sua condenação por tal crime, independentemente da apuração,

nestes autos, da responsabilidade dos demais envolvidos. Informou-se, ademais, que os

outros co-réus estariam sendo processados pelo mesmo crime na instância própria, com

prolação de sentença penal condenatória. Afirmou-se que, na hipótese de absolvição

desses co-réus em instância diversa e de condenação do parlamentar na presente ação

penal, existiriam soluções processuais para evitar essa aporia, a exemplo da revisão

criminal. Vencido o Min. Cezar Peluso, Presidente, que absolvia o réu da imputação do

art. 288 do CP. Ao enfatizar a plurissubjetividade do tipo penal em apreço e o

desmembramento do processo, considerava que, para haver condenação pelo Supremo,

seria necessário que os demais co-réus tivessem sido definitivamente condenados pelo

juízo competente, sob pena do reconhecimento de formação de quadrilha a um único

membro.

AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)

(Informativo 606, Plenário)

Ação Penal: Renúncia a Mandato de Parlamentar e Competência do STF - 6

No tocante à dosimetria da pena, prevaleceu o voto do Min. Dias Toffoli, revisor,

relativamente ao delito de peculato, que estabeleceu a pena-base em 5 anos de reclusão

e 30 dias-multa (culpabilidade, conduta social, personalidade, circunstâncias, motivos e

conseqüências do delito desfavoráveis ao sentenciado) e, ante a ausência de

circunstâncias atenuantes e agravantes, aplicou, à pena provisória, a majoração em 1/3,

ante a causa especial de aumento prevista no § 2º do art. 327 do CP, a totalizar 6 anos e

8 meses de reclusão e 40 dias-multa. Nos termos preceituados no art. 71 do CP,

Page 290: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

aumentou a pena em 2/3, tornando-a definitiva em 11 anos, 1 mês e 10 dias de reclusão

e 66 dias-multa. No que concerne à formação de quadrilha, fixou-se a pena em 2 anos e

3 meses de reclusão. Em conseqüência, determinou-se o regime fechado para o

cumprimento inicial da pena. Na reparação do dano, seguiu-se a proposta da relatora no

sentido da restituição, pelo sentenciado, aos cofres públicos do Estado de Rondônia do

valor correspondente a R$ 1.647.500,00, atualizados na execução pelos índices de

correção monetária, e da suspensão dos seus direitos políticos enquanto durarem os

efeitos da condenação, além de outras cominações constantes de seu voto. Assentou-se

o não cabimento da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos

e a possibilidade de o réu recorrer em liberdade, até que a pena se torne definitiva.

Vencidos, quanto à dosimetria em relação ao peculato, os Ministros Cármen Lúcia,

Joaquim Barbosa e Ellen Gracie, que aplicavam a pena de 13 anos e 9 meses de

reclusão e 230 dias-multa, e Cezar Peluso, Presidente, que a fixava em 11 anos, 1 mês e

10 dias de reclusão e 66 dias-multa.

AP 396/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 28.10.2010. (AP-396)

(Informativo 606, Plenário)

Recebimento de Denúncia e Provas Ilícitas - 3

Em conclusão de julgamento, a 2ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em

que se pretendia o trancamento de ação penal instaurada contra o paciente. Alegava-se

que o STJ não poderia receber denúncia oferecida com esteio em provas que antes

declarara ilícitas, obtidas por meio de interceptações telefônicas realizadas em outra

investigação criminal, cuja ação penal correspondente fora trancada com fundamento na

ilicitude da prova em julgamento, naquela Corte, do HC 57624/RJ — v. Informativo

589. Salientou-se, inicialmente, que as transcrições que os impetrantes diziam terem

sido declaradas ilícitas no julgamento do citado writ objetivavam a apuração do crime

de sonegação fiscal e que, como as escutas telefônicas haviam sido autorizadas antes da

constituição definitiva do crédito tributário, condição de procedibilidade da ação penal,

o STJ as anulara. Asseverou-se que a denúncia que resultara na ação penal instaurada

contra o ora paciente não se valeria exclusivamente das escutas invalidadas, mas,

principalmente, de documentos extraídos de inquérito, não se podendo afirmar que esses

documentos seriam derivados da prova obtida ilicitamente. Ressaltou-se que o

trancamento de ação penal em habeas corpus seria medida excepcionalíssima e que o

cenário de incerteza que haveria no caso impediria que assim se procedesse.

Page 291: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

HC 92467/ES, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/o acórdão Min. Gilmar Mendes,

26.10.2010. (HC-92467)

(Informativo 606, 2ª Turma)

Recebimento de Denúncia e Provas Ilícitas - 4

Extraiu-se do voto do relator no HC 57624/RJ que as interceptações telefônicas

realizadas tinham a finalidade de servir à investigação da suposta prática do crime de

sonegação fiscal. Assim, reputou-se haver dúvida a respeito da exclusividade, ou não,

da escuta telefônica como prova dos fatos imputados na peça acusatória, referentes aos

crimes de estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica e uso de documento

falso. Concluiu-se que a certeza da exclusividade da prova e da contaminação de outras

a partir dela demandaria aprofundado reexame do acervo fático-probatório coligido nas

investigações, o que seria inviável em habeas corpus. Vencido o Min. Celso de Mello

que concedia a ordem, por considerar que se mostraria indivisível a questão da ilicitude

da prova penal resultante de interceptação telefônica tal como qualificada no anterior

julgamento do HC 57624/RJ pelo STJ.

HC 92467/ES, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/o acórdão Min. Gilmar Mendes,

26.10.2010. (HC-92467)

(Informativo 606, 2ª Turma)

Competência

Portador do Vírus HIV e Tentativa de Homicídio - 2

Em conclusão de julgamento, a Turma deferiu habeas corpus para imprimir a

desclassificação do delito e determinar o envio do processo para distribuição a uma das

varas criminais comuns estaduais. Tratava-se de writ em que se discutia se o portador

do vírus HIV, tendo ciência da doença e deliberadamente a ocultando de seus parceiros,

teria praticado tentativa de homicídio ao manter relações sexuais sem preservativo. A

defesa pretendia a desclassificação do delito para o de perigo de contágio de moléstia

grave (CP: “Art. 131 Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que

está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: ...”) — v. Informativo 584.

Entendeu-se que não seria clara a intenção do agente, de modo que a desclassificação do

delito far-se-ia necessária, sem, entretanto, vinculá-lo a um tipo penal específico. Tendo

em conta que o Min. Marco Aurélio, relator, desclassificava a conduta para o crime de

Page 292: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

perigo de contágio de moléstia grave (CP, art. 131) e o Min. Ayres Britto, para o de

lesão corporal qualificada pela enfermidade incurável (CP, art. 129, § 2º, II), chegou-se

a um consenso, apenas para afastar a imputação de tentativa de homicídio. Salientou-se,

nesse sentido, que o Juiz de Direito, competente para julgar o caso, não estaria sujeito

sequer à classificação apontada pelo Ministério Público.

HC 98712/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 5.10.2010. (HC-98712)

(Informativo 603, 1ª Turma)

Crime Militar praticado por Civil e Competência

A 2ª Turma deferiu habeas corpus para extinguir a ação penal instaurada contra civil

pela suposta prática do crime de dano contra o patrimônio castrense (CPM, art. 259),

consistente na colisão de veículo automotor, por ele conduzido, com uma viatura

militar. Aduziu-se que a materialização do delito militar perpetrado por civil, em tempo

de paz, seria de caráter excepcional e que a Corte teria firmado entendimento segundo o

qual o art. 9º do CPM deve ser interpretado restritivamente, no sentido da necessidade

de haver deliberada intenção de ofensa a bens jurídicos tipicamente associados à

estruturação militar ou à função de natureza castrense. Asseverou-se, no caso, que o

paciente não teria manifestado tal intento, o que afastaria a competência da justiça

especial. Precedente citado: CC 7040/RS (DJU de 22.11.1996).

HC 105348/RS, rel. Min. Ayres Britto, 19.10.2010. (HC-105348)

(Informativo 605, 2ª Turma)

Execução das Penas

HC e Transferência de Presídio

A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que pretendida a transferência de interno do

sistema prisional a presídio distinto do que se encontra e mais perto da residência de

seus familiares. Alegava a impetração que estabelecimento em que ora cumprida a pena

seria destinado ao recolhimento de presos de alta periculosidade, o que não seria o caso

do paciente. Aduziu-se que a via estreita do writ não seria adequada para analisar os

fundamentos pelos quais o paciente fora encaminhado à unidade prisional tida como de

maior rigor. Reputou-se, ademais, que a defesa não teria formulado nenhum pedido de

transferência em favor do apenado perante o juízo das execuções, ao qual caberia

analisar o pleito, pois mais próximo da realidade factual. Entretanto, observou-se que o

Page 293: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

simples fato de o paciente estar condenado a delitos tipificados como de gravidade

elevada não obstaria, por si só, a possibilidade de ser transferido para um presídio não

distante de sua família, considerada a base da sociedade e dotada de especial proteção

por parte do Estado (CF, art. 226).

HC 101540/SP, rel. Min. Ayres Britto, 19.10.2010. (HC-101540)

(Informativo 605, 2ª Turma)

Habeas Corpus

Agravo em Execução e “Habeas Corpus”

A Turma, por maioria, deferiu habeas corpus para que o tribunal de justiça de

origem aprecie medida de igual natureza lá impetrada — em que se discute a exclusão

de anotação de falta grave cometida pelo paciente —, mas que não fora conhecida ao

fundamento de que a decisão desafiaria agravo em execução. Consignou-se que, diante

da passagem do tempo, não seria possível a interposição do referido recurso de agravo

em execução, restando apenas a via do habeas corpus, sob pena de o paciente ficar sem

jurisdição. Ademais, asseverou-se que o writ não sofre o empecilho da coisa julgada e,

menos ainda, o da preclusão. Vencido o Min. Ricardo Lewandowski, relator, que, além

de ressaltar que a matéria não fora apreciada pelas instâncias inferiores, considerava, no

caso, o habeas corpus infrutífero, já que incabível, na sede eleita, a análise dos

requisitos para a progressão de regime, obstada em virtude da falta disciplinar praticada.

HC 104190/SP, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min.

Marco Aurélio, 5.10.2010. (HC-104190)

(Informativo 603, 1ª Turma)

Inquérito Policial

Inquérito Policial e Arquivamento Implícito

O sistema processual penal brasileiro não prevê a figura do arquivamento implícito de

inquérito policial. Ao reafirmar esse entendimento, a 1ª Turma denegou habeas corpus

em que se sustentava a sua ocorrência em razão de o Ministério Público estadual haver

denunciado o paciente e co-réu, os quais não incluídos em denúncia oferecida

anteriormente contra terceiros. Alegava a impetração que o paciente, por ter sido

identificado antes do oferecimento da primeira peça acusatória, deveria dela constar.

Page 294: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Inicialmente, consignou-se que o Ministério Público esclarecera que não incluíra o

paciente na primeira denúncia porquanto, ao contrário do que afirmado pela defesa, não

dispunha de sua identificação, o que impediria a propositura da ação penal naquele

momento. Em seguida, aduziu-se não importar, de qualquer forma, se a identificação do

paciente fora obtida antes ou depois da primeira peça, pois o pedido de arquivamento

deveria ser explícito (CPP, art. 28). Nesse sentido, salientou-se que a ocorrência de

arquivamento deveria se dar após o requerimento expresso do parquet, seguido do

deferimento, igualmente explícito, da autoridade judicial (CPP, art. 18 e Enunciado 524

da Súmula do STF). Ressaltou-se que a ação penal pública incondicionada submeter-se-

ia a princípios informadores inafastáveis, especialmente o da indisponibilidade, segundo

o qual incumbiria, obrigatoriamente, ao Ministério Público o oferecimento de denúncia,

quando presentes indícios de autoria e prova de materialidade do delito. Explicou-se que

a indisponibilidade da denúncia dever-se-ia ao elevado valor social dos bens tutelados

por meio do processo penal, ao se mostrar manifesto o interesse da coletividade no

desencadeamento da persecução sempre que as condições para tanto ocorrerem.

Ademais, registrou-se que, de acordo com a jurisprudência do Supremo, o princípio da

indivisibilidade não se aplicaria à ação penal pública. Concluiu-se pela higidez da

segunda denúncia. Alguns precedentes citados: RHC 95141/RJ (DJe de 23.10.2009);

HC 92445/RJ (DJe de 3.4.2009).

HC 104356/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 19.10.2010. (HC-104356)

(Informativo 605, 1ª Turma)

Nulidades

Tribunal do Júri e Nulidade

A 1ª Turma indeferiu habeas corpus em que pretendido o restabelecimento de decisão

absolutória proferida pelo Tribunal do Júri em favor de denunciado pela suposta prática

do crime de homicídio qualificado. No caso, o parquet, ao alegar nulidade decorrente de

violação, por parte da defesa, ao disposto na antiga redação do art. 475 do CPP

(“Durante o julgamento não será permitida a produção ou leitura de documento que

não tiver sido comunicado à parte contrária, com antecedência, pelo menos, de três

dias, compreendida nessa proibição a leitura de jornais ou qualquer escrito, cujo

conteúdo versar sobre matéria de fato constante do processo”) interpôs recurso perante

o tribunal de justiça local, ao qual dado provimento, para determinar a realização de

Page 295: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

novo julgamento pelo júri popular. A defesa alegava que essa decisão teria violado o

princípio constitucional da soberania dos veredictos. Reputou-se que, no julgamento

absolutório, teria havido a leitura, por parte do patrono do acusado, de folhas de

antecedentes criminais dos policiais que teriam atuado na fase inquisitória, sem que

observada a referida regra instrumental. Salientou-se, ademais, que a proibição contida

nesse dispositivo seria bilateral, ou seja, atingiria tanto o Estado-acusador quanto a

defesa.

HC 102442/MT, rel. Min. Cármen Lúcia, 26.10.2010. (HC-102442)

(Informativo 606, 1ª Turma)

Princípios Processuais Penais

Tráfico de Drogas: Combinação de Leis e Princípio do “Ne Reformatio in Pejus”

A 2ª Turma indeferiu habeas corpus impetrado contra acórdão do STJ que

determinara ao Juízo das Execuções que aplicasse à pena de condenado, como incurso

no art. 12 da Lei 6.368/76, a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei

11.343/2006, no montante de 1/6 a 2/3, até o limite de 1 ano e 8 meses de reclusão. No

caso, a defesa insurgia-se contra a fixação desse limite de redução, porquanto utilizada a

pena mínima cominada em abstrato do art. 33 da Lei 11.343/2006 (5 anos de reclusão),

mas não aquela em vigor à época dos fatos (3 anos de reclusão). Reputou-se não ser

possível combinar dispositivos contidos em ambos os diplomas, sob pena de invasão da

competência do Poder Legislativo e ofensa, por conseguinte, ao princípio constitucional

da separação dos Poderes. Salientou-se que, muito embora o ato apontado como coator

tivesse permitido a combinação de leis, contrariando entendimento fixado por esta

Corte, ele não poderia ser desconstituído, em obediência ao princípio do ne reformatio

in pejus. Precedentes citados: HC 96884/MS (DJe de 5.2.2010) e RHC 101278/RS,

(DJe de 21.5.2010).

HC 97221/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 19.10.2010. (HC-97221)

(Informativo 605, 2ª Turma)

Prisão e Liberdade Provisória

Prisão Cautelar e Excesso de Prazo

Page 296: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

A Turma, ante a excepcionalidade do caso, deferiu habeas corpus para conceder

liberdade provisória aos pacientes, presos preventivamente, desde 2003, pela suposta

prática do crime de homicídio qualificado. Reputou-se, inicialmente, não se tratar de

superação do Enunciado 691 da Súmula do STF, pois o pedido de liminar no writ

impetrado perante o STJ ainda não teria sido apreciado naquela Corte e o feito sequer

possuiria relator. Aduziu-se a excessiva demora na constrição cautelar. Estabeleceram-

se, por fim, algumas condições a que os pacientes deverão se submeter, dentre elas o

compromisso de comparecimento a todos os atos do processo e a proibição de se

ausentarem do distrito da culpa sem autorização judicial.

HC 102668/PA, rel. Min. Dias Toffoli, 5.10.2010. (HC-102668)

(Informativo 603, 1ª Turma)

Prisão Penal

Recâmbio de Preso e Inércia Estatal

A 1ª Turma, por maioria, não conheceu de habeas corpus, mas concedeu a ordem, de

ofício, para o fim de revogar a prisão preventiva decretada em ação penal de comarca do

interior de Pernambuco, com a determinação de expedição de alvará de soltura

clausulado. Na espécie, o paciente fora denunciado por homicídio quadruplamente

qualificado, supostamente cometido naquela unidade federativa, sendo preso em

20.1.2009, em São Paulo, sem que providenciado, até o mês de setembro deste ano, o

seu recâmbio àquela comarca. A impetração pleiteava a revogação da custódia

preventiva em virtude de ausência de fundamentação idônea e excesso de prazo.

Asseverou-se que, embora houvesse motivação adequada para a segregação cautelar do

paciente, a situação dos autos apresentaria peculiaridade. Aduziu-se que, de acordo com

informações obtidas junto ao juízo processante, o feito ficara paralisado desde a prisão

do paciente. Fora produzida apenas antecipação da prova acusatória, e facultada à

defesa a realização de interrogatório por precatória na capital paulista. Em razão disso,

apontou-se a aparente irregularidade do caso, pois não haveria a indicação de que teria

ocorrido formal intimação para o oferecimento de defesa prévia e de apresentação de rol

de testemunhas e, ainda, porque não incumbiria à defesa requerer a providência do

interrogatório. Enfatizou-se que, apesar da gravidade do crime imputado ao paciente,

sua liberdade individual não poderia ficar ao arbítrio do Estado-acusador, quanto ao

andamento, ou não, do processo. Destacou-se a inércia estatal em recambiar de ofício o

Page 297: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

réu. Reputou-se que a demora no desfecho da ação penal não poderia ser debitada à

defesa e que o juízo processante desconsiderara recomendação da Corte pernambucana

no sentido de priorizar o recâmbio do réu àquela comarca.

Page 298: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Vencidos os Ministros Ricardo Lewandowski, quanto à concessão de ofício, e Marco

Aurélio, que conhecia do writ e concedia a ordem ante o excesso de prazo.

HC 104667/PE, rel. Min. Dias Toffoli, 19.10.2010. (HC-104667)

(Informativo 605, 1ª Turma)

Provas

Crime de Furto: Qualificadora e Nulidade de Perícia

A Turma, por maioria, denegou habeas corpus em que alegada a nulidade de laudo

pericial mediante o qual reconhecida a existência de qualificadora pertinente ao

rompimento de obstáculo em crime de furto. A defesa alegava inexistência de relação

entre a habilitação técnica dos peritos nomeados e a natureza do exame realizado, bem

como ausência de indicação da metodologia por eles utilizada para a resposta dos

quesitos, em dissonância com o que exigido pela legislação processual penal.

Sustentava ser aplicável ao fato, ademais, o princípio da insignificância. Para evitar

supressão de instância, conheceu-se da impetração, apenas na parte relativa à suposta

nulidade. Nessa parte, entendeu-se idônea a perícia realizada, pois, comprovada a

ausência de peritos oficiais, foram nomeados 2 peritos, ambos com curso superior,

atendidos, portanto, os requisitos contidos nos artigos 159, § 1º, e 171, do CPP. Vencido

o Min. Marco Aurélio, relator, que deferia a ordem. Reputava ser necessário

harmonizar-se o sistema processual como um todo, de modo a interpretar-se a legislação

instrumental penal em conjunto com a instrumental civil, na qual se exige que os peritos

comprovem sua especialidade na matéria sobre a qual deverão opinar, nos termos do art.

145, § 2º, do CPC (“Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que

deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos”).

Aduzia também configurar nulidade a não descrição da metodologia utilizada na

elaboração do “auto de constatação de dano”, de forma a desclassificar o delito para

furto simples.

HC 99035/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli,

5.10.2010. (HC-99035)

(Informativo 603, 1ª Turma)

Page 299: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Testemunha Não Arrolada em Denúncia e Oitiva pelo Juiz

A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pleiteava a anulação de

ação penal desde a audiência de oitiva de testemunhas, ao argumento de que

testemunha, não arrolada na denúncia, teria sido ouvida, em primeiro lugar, pelo juízo

processante. De início, ao salientar a condenação definitiva do paciente a 2 anos de

reclusão por furto qualificado, substituída por pena restritiva de direitos e multa,

observou-se não estar prejudicado o writ. No ponto, apurou-se, em contato com o juízo

da execução, que a pena ainda não teria sido totalmente solvida, a possibilitar, caso não

cumprida, eventual conversão em pena privativa de liberdade. Registrou-se que a

primeira testemunha inquirida — patrulhador que abordara o paciente — realmente não

fora arrolada na denúncia, comparecera à audiência e o juízo a ouvira como sua

testemunha. Enfatizou-se que o CPP e a teoria jurídica processual penal não

determinariam uma ordem necessária para a oitiva de testemunha do juízo. Avaliou-se

que sua inquirição em momento anterior teria favorecido a defesa. Realçou-se a

ausência de indicação de eventual prejuízo. Constatou-se, ainda, a preclusão da matéria,

haja vista a presença, naquele momento, de defensora do réu, a qual, de acordo com o

termo de deliberação da audiência, não teria impugnado imediatamente a inquirição da

testemunha ou oferecido resistência ou oposição a esse fato, nem interposto recurso. O

Min. Ricardo Lewandowski ressaltou que a busca da verdade real pelo juízo criminal

permitiria uma atuação com certa amplitude, sendo possível ao juiz ouvir, como se

fossem suas, tanto as testemunhas arroladas a destempo pelas partes quanto quaisquer

outras. Vencido o Min. Marco Aurélio que deferia o writ ao fundamento de que o

devido processo legal, no que se refere ao direito de defesa, seria sagrado e que a

nulidade seria absoluta. Entendia desnecessária, ao versar matéria sobre o exercício do

direito de defesa, a demonstração do prejuízo, por reputá-lo presumido, não obstante

reconhecer que o próprio título condenatório poderia consistir certidão judicial pública

desse prejuízo. Considerava, ainda, a possibilidade de oitiva nos termos do art. 209 do

CPP, mas não na forma realizada no caso presente, em que a acusação indicara

extemporaneamente a testemunha, segundo a decisão do STJ, tendo o juiz afastado a

inércia do Estado, ao ouvi-la sob a roupagem de testemunha do juízo.

HC 95319/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 19.10.2010. (HC-95319)

(Informativo 605, 1ª Turma)

Page 300: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

INFORMATIVOS 607 A 611 - NOVEMBRO DE 2010

Ação Penal

Pedido de extensão: falsidade ideológica e descaminho - 1

A 2ª Turma denegou dois habeas corpus impetrados — ambos em favor dos

mesmos pacientes — contra acórdãos proferidos em writs diversos no STJ. Nas

situações dos autos, eles foram denunciados, com outros réus, em várias ações penais

resultantes de uma operação policial. Num dos habeas, o STJ concedera a ordem para

trancar, no que tange ao delito de falsidade ideológica (CP, art. 299), uma ação penal,

cuja denúncia fora recebida também quanto ao crime de descaminho, estendendo a

decisão aos demais co-réus. No outro, aquela Corte determinara, quanto aos pacientes, o

trancamento da mesma ação sobre o crime de descaminho (CP, art. 334). Inicialmente,

observou-se que os casos não seriam exatamente iguais, apesar da proximidade das

matérias. Em seguida, acrescentou-se que, no HC 104314/PR, pleiteara-se a extensão

dos efeitos da decisão favorável aos pacientes para trancar as demais ações em trâmite

que também tratassem de acusação relativamente aos delitos de falsidade ideológica. Já

no HC 100875/PR, requerera-se a extensão para aquelas referentes aos crimes de

descaminho. Repeliu-se, nos dois habeas corpus, o pedido de extensão dos writs — sob

a alegação de haver identidade de acusações, de réus e conexão probatória entre os

feitos, a reclamar julgamento uniforme — formulado com base na interpretação

sistemática do art. 580 do CPP. Destacou-se que tal dispositivo conferiria, em caráter

excepcional, efeito extensivo às decisões benéficas com o objetivo de dar efetividade,

no plano jurídico, à garantia de eqüidade. Explicitou-se que esta diria respeito ao

tratamento igualitário aos agentes do delito quando houvesse concurso de pessoas, uma

vez que o direito penal pátrio teria adotado a teoria monista ou unitária, segundo a qual

todos aqueles que concorressem para a prática do crime sujeitar-se-iam às penas a ele

cominadas. Consignou-se que a conexão seria o liame que as coisas, pessoas e fatos

guardariam entre si; que tal instituto estaria ligado às regras de fixação da competência e

não encontraria relação com regras do julgamento propriamente dito, razão pela qual

não importaria necessariamente em julgamentos iguais. Além disso, asseverou-se que

cada fato imputado aos pacientes, apesar da conexão, deveria ser julgado

individualmente, de acordo com o livre convencimento motivado do magistrado.

HC 104314/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-104314)

Page 301: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

HC 100875/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-100875)

(Informativo 609, 2ª Turma)

Pedido de extensão: falsidade ideológica e descaminho - 2

Com relação ao crime de falsidade ideológica (HC 104314/PR), frisou-se

manifestação da Procuradoria Geral da República, no sentido de que: a) o STJ, ao negar

o pedido de extensão, concluíra que os fatos referentes às ações penais, embora

semelhantes, quanto ao modus operandi, seriam diversos daqueles discutidos na ação

penal cujo trancamento parcial fora determinado; b) o falsum, nas ações penais que se

pretenderia ver trancadas, poderia extrapolar totalmente o campo deduzido e até mesmo

integrar outra espécie de ilicitude que tivesse atingido não só a ordem tributária.

Verificou-se, ainda, que — a despeito de a maior parte dos processos instaurados

imputarem aos pacientes a prática dos delitos contidos nos artigos 299 e 334 do CP —

em três denúncias a eles se atribuíra somente a primeira infração em continuidade

delitiva. Inferiu-se, portanto, que as falsificações em tese perpetradas não poderiam ser

entendidas, em todas as ações penais, apenas como meio para a execução do crime de

descaminho. Ademais, assentou-se que reconhecer todas as imputações de prática do

crime de falsidade ideológica, como meio para a execução de outros delitos, implicaria

antecipação desse juízo, a inviabilizar a atividade do Ministério Público de comprovar

as imputações. Por fim, não se vislumbrou, na hipótese, ausência de justa causa ou

flagrante ilegalidade demonstrada em inequívoca prova pré-constituída, a justificar o

trancamento da ação penal.

HC 104314/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-104314)

HC 100875/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-100875)

(Informativo 609, 2ª Turma)

Pedido de extensão: falsidade ideológica e descaminho - 3

No tocante ao HC 100875/PR, entendeu-se que não haveria de prevalecer a posição

adotada no STJ que, ao decidir o writ referente a uma das ações penais, considerara

aplicável ao crime de descaminho o mesmo tratamento dado aos delitos mencionados no

art. 1º da Lei 8.137/90. Reputou-se que o descaminho não deveria ter o tratamento

aplicado aos crimes contra a ordem tributária. Desse modo, seria desnecessário o

encerramento do processo administrativo fiscal para o desencadeamento da ação penal.

Enfatizou-se que a consumação do crime em comento ocorreria com a importação ou

Page 302: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

exportação de mercadoria sem o pagamento, no todo ou em parte, do imposto devido

por sua entrada ou saída, logo, tratar-se-ia de crime formal, a não exigir resultado

naturalístico. Afirmou-se, entretanto, não ser possível a reforma do mencionado acórdão

do STJ, inclusive, já transitado em julgado. A respeito do argumento de que seria

aplicável às demais ações a solução jurídica determinada por essa Corte, naquele writ,

tendo em conta a conexão entre elas, reportou-se ao que decidido na presente assentada.

Salientou-se a conexão entre as ações em virtude do concurso de crimes. Por fim, não se

conheceu do pleito de extensão dos efeitos do habeas corpus no STJ aos co-réus na

ação penal trancada, o qual apresentado mediante petição no HC 100875/PR. No ponto,

consignou-se não ser possível apreciar o pedido sob pena de supressão de instância. O

Min. Ayres Britto registrou, ainda, que para chegar à conclusão de haver uma rigorosa

identidade de situação no plano fático-processual seria necessário amplo revolvimento

de fatos e provas, inadmissível na via eleita.

HC 104314/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-104314)

HC 100875/PR, rel. Min. Ellen Gracie, 16.11.2010. (HC-100875)

(Informativo 609, 2ª Turma)

Inquérito policial e denúncia anônima

A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que se pretendia o trancamento de ações penais

movidas contra a paciente, sob a alegação de que estas supostamente decorreriam de

investigação deflagrada por meio de denúncia anônima, em ofensa ao art. 5º, IV, da CF.

Ademais, sustentava-se ilegalidade na interceptação telefônica realizada no mesmo

procedimento investigatório. Reputou-se não haver vício na ação penal iniciada por

meio de denúncia anônima, desde que seguida de diligências realizadas para

averiguação dos fatos nela noticiados, o que ocorrido na espécie. Considerou-se, ainda,

que a interceptação telefônica, deferida pelo juízo de 1º grau, ante a existência de

indícios razoáveis de autoria e demonstração de imprescindibilidade, não teria violado

qualquer dispositivo legal. Concluiu-se que tanto as ações penais quanto a interceptação

decorreriam de investigações levadas a efeito pela autoridade policial, e não meramente

da denúncia anônima, razão pela qual não haveria qualquer nulidade.

HC 99490/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 23.11.2010. (HC-99490)

(Informativo 610, 2ª Turma)

Page 303: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Competência

Homicídio e competência da Justiça Federal

A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se alegava a

incompetência da Justiça Federal para processar e julgar pronunciado, como mandante,

pela suposta prática do crime de homicídio de cidadão brasileiro, juiz de direito,

perpetrado no Paraguai. As instâncias ordinárias reconheceram a competência da Justiça

Federal em razão da existência de indícios de que o referido homicídio estaria

relacionado ao tráfico internacional de drogas. Entendeu-se que a discussão acerca da

correta fixação da competência e da ocorrência de conexão do homicídio com o crime

de tráfico de drogas exigiria o exame aprofundado de fatos e provas, inviável em habeas

corpus. Vencido o Min. Marco Aurélio que concedia a ordem, tendo em conta o fato de

o réu estar respondendo exclusivamente pelo delito de homicídio e de o juiz de direito

não exercer atribuição própria aos interesses da União a atrair a competência da Justiça

Federal.

HC 100154/MT, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 16.11.2010. (HC-100154)

(Informativo 609, 1ª Turma)

“Habeas corpus” e conexão entre crimes

A 1ª Turma, por maioria, denegou habeas corpus em que se alegava a incompetência da

Justiça Federal — para processar e julgar ação instaurada contra o paciente por uso de

documento falso — e ilegalidade da prisão preventiva decretada. Na espécie, o paciente,

preso em flagrante, após apresentar documento de habilitação falsa, conduzia veículo no

qual os demais passageiros foram surpreendidos na posse de moeda falsa. Reputou-se

inviável, na via estreita do writ, o reexame aprofundado de fatos e provas necessário à

verificação da conexão, ou não, entre o crime de uso de documento ideologicamente

falso, imputado ao paciente, e o crime de posse de moeda falsa, atribuído aos co-réus, a

fim de se verificar a competência, ou não, da Justiça Federal. Ademais, ressaltou-se não

haver elementos no writ para se afirmar a inexistência de qualquer conexão entre os

crimes. Reputou-se, ainda, prejudicada a alegação de nulidade da prisão cautelar, haja

vista o trânsito em julgado da decisão condenatória e o subseqüente livramento

condicional do paciente. O Min. Ricardo Lewandowski, ao denegar a ordem, aplicou

alínea a do inciso II do art. 78 do CPP e o inciso IV do mesmo preceito legal. Vencido o

Page 304: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Min. Marco Aurélio que concedia a ordem, por não vislumbrar conexão probatória entre

os delitos.

HC 100183/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 23.11.2010. (HC-100183)

(Informativo 610, 1ª Turma)

Execução das Penas

Art. 50, VII, da LEP: tipicidade e falta grave

Caracteriza falta grave, nos termos do art. 50, VII, da Lei das Execuções Penais -

LEP, o condenado introduzir, em presídio, elementos que possam viabilizar a

comunicação direta com outros presos ou com o ambiente exterior (LEP: “Art. 50 ... VII

- Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: ... tiver em sua

posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a

comunicação com outros presos ou com o ambiente externo”). Com base nesse

entendimento, a 1ª Turma denegou habeas corpus impetrado em favor de paciente que,

no cumprimento de pena em regime aberto, retornara à penitenciária, para o pernoite,

portando 3 “chips” para telefones celulares. Asseverou-se que o mencionado preceito,

inserido em 2007, aditara o rol das faltas graves com o fim de evitar a entrada de objetos

que possibilitassem tais comunicações, por se ter percebido que custodiados em

presídios estariam a conduzir a criminalidade no ambiente externo. Registrou-se que,

conforme ressaltado pela Procuradoria-Geral da República, buscar-se-ia a segurança

maior. Reputou-se, por fim, que a norma alcançaria o fato imputado ao paciente como

configurador de falta grave.

HC 99896/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 23.11.2010. (HC-99896)

(Informativo 610, 1ª Turma)

Art. 50, VII, da LEP: tipicidade e falta grave - 1

Caracteriza falta grave, nos termos do art. 50, VII, da Lei das Execuções Penais -

LEP, o condenado introduzir, em presídio, componentes de aparelho telefônico que

possam viabilizar a comunicação direta com outros presos ou com o ambiente exterior

(LEP: “Art. 50 ... VII - Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade

que: ... tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar,

que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo”). Com base

nesse entendimento, a 2ª Turma denegou habeas corpus — impetrado em favor de

Page 305: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

paciente que, no cumprimento de pena em regime semi-aberto, retornara à penitenciária,

portando 2 “chips” para telefones celulares — e cassou a medida acauteladora, que

suspendera os efeitos da homologação do procedimento administrativo disciplinar -

PAD em que o mencionado fato fora reconhecido como falta disciplinar de natureza

grave. Enfatizou-se que paciente não tivera o cuidado de se adiantar à revista e informar

que portava os “chips”. Assentou-se que o fracionamento de um instrumento de

comunicação com o mundo exterior, como a utilização de “chips”, subsumiria à noção

de falta grave e observaria, de maneira absolutamente legítima, o postulado da estrita

legalidade, a qualificar-se como falta grave. Lembrou-se que seriam conseqüências de

prática de falta grave a regressão de regime prisional e a perda dos dias remidos.

Ressaltou-se que, sem o “chip”, o aparelho de telefone celular não teria qualquer

funcionalidade convencional, mas com ele formaria um todo operacional. Esclareceu-se

que a interpretação finalística do dispositivo legal levaria ao entendimento exposto.

HC 105973/RS, rel. Min. Ayres Britto, 30.11.2010. (HC-105973)

(Informativo 611, 2ª Turma)

Art. 50, VII, da LEP: tipicidade e falta grave - 2

Nesta assentada, o Min. Joaquim Barbosa salientou se estar diante de uma

tecnologia totalmente inovadora e que o aparelho celular seria o acessório, invólucro do

“chip”. A Min. Ellen Gracie, por sua vez, consignou que seria praxe nos crimes

relacionados a equipamentos eletrônicos, como o descaminho, a técnica de

fracionamento de peças. Já o Min. Celso de Mello realçou que a condição prisional de

alguém seria um fator de profunda restrição de direitos, e não só de privação de

liberdade, com a ressalva de certos direitos básicos que teriam sido verificados no caso

dos autos, como a garantia do devido processo, haja vista ter sido instaurado um

procedimento administrativo. O Min. Gilmar Mendes, por fim, asseverou que, uma vez

reconhecida a falta grave, dever-se-iam aplicar todas as conseqüências decorrentes da

lei, inclusive a perda do direito ao tempo remido, porquanto a Súmula Vinculante 9 teria

reforçado a idéia da plena compatibilidade entre a disposição legal e a Constituição

[Súmula Vinculante 9: “O disposto no artigo 127 da Lei nº 7.210/1984 (Lei de

Execução Penal) foi recebido pela ordem constitucional vigente, e não se lhe aplica o

limite temporal previsto no caput do artigo 58.”].

HC 105973/RS, rel. Min. Ayres Britto, 30.11.2010. (HC-105973)

(Informativo 611, 2ª Turma)

Page 306: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Nulidades

Impedimento de magistrado e nulidade absoluta

Há prejuízo quando o magistrado preside sessão de julgamento de recurso penal no

qual estava impedido de atuar. Com base nesse entendimento, a 2ª Turma deferiu

habeas corpus no qual se pleiteava — sob o argumento de que o Presidente da Câmara

julgadora seria pai da promotora de Justiça que atuara na ação penal em 1º grau — a

nulidade de julgamento, realizado no Tribunal de Justiça estadual, de recurso em sentido

estrito em que determinada a prisão preventiva do paciente. Na espécie, o juiz

processante não acolhera o pedido de prisão formulado pelo Ministério Público quando

do oferecimento da denúncia, decisão contra a qual a acusação recorrera. Ressaltou-se a

gravidade da participação de um juiz impedido no julgamento de qualquer causa,

notadamente de uma de índole penal. Aduziu-se que a própria doutrina ao tratar de

suspeição, defeito menos grave do que o impedimento, afirmaria que, reconhecida a

suspeição de magistrado, haveria nulidade absoluta, sendo desnecessária a comprovação

de prejuízo (CP, art. 566). Reputou-se haver presunção de prejuízo formulada pelo

próprio legislador, apesar de inexistir referência expressa ao impedimento, a causar a

nulidade do processo. Observou-se que, em matéria de processo civil, a suspeição não

tornaria rescindível uma sentença de mérito, mas o impedimento seria motivo de

rescindibilidade de julgado, por lhe ser ínsita a noção de prejuízo absoluto. Ressaltou-se

ser de ordem pública a matéria que cuidaria de impedimento. Consignou-se que,

especialmente em virtude de presunção absoluta, seria secundário saber se o voto do

Presidente influiria, ou não, no julgamento do recurso. Asseverou-se que, ademais, o

juízo responsável pela condução do procedimento penal do Júri, ao rejeitar o pleito

ministerial, oferecera razões que se ajustariam à orientação da jurisprudência do STF. O

Min. Gilmar Mendes frisou que o órgão julgador em questão não estaria devidamente

composto nos termos do princípio do juiz natural. Vencida a Min. Ellen Gracie, relatora,

que denegava o writ, por entender não ter ocorrido o exercício de jurisdição por parte do

magistrado, o qual teria se limitado a exercer a presidência da Câmara julgadora do

recurso.

HC 102965/RJ, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/o acórdão Min. Celso de Mello,

30.11.2010. (HC-102965)

(Informativo 611, 2ª Turma)

Page 307: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Princípios e Garantias Processuais Penais

CPI e convocação de magistrado

O Plenário deferiu, em parte, habeas corpus no qual questionada a convocação de

magistrado para prestar esclarecimentos perante Comissão Parlamentar de Inquérito -

CPI destinada a investigar a prática de delitos de pedofilia e a relação desses com o

crime organizado. A impetração aduzia que o requerimento não teria indicado

expressamente se o paciente seria ouvido na condição de testemunha ou de investigado.

Alegava, dentre outros, não caber à CPI convocar magistrado para ser objeto de

investigação quando em trâmite, pelos mesmos fatos, inquérito perante o Poder

Judiciário. Entendeu-se que esse argumento perdera o objeto, porque o tribunal

competente já teria afastado o paciente do cargo de magistrado da Justiça do Trabalho.

Entretanto, verificou-se que, no caso, estaria demonstrado o fundado receio do paciente

relativamente à possível ofensa de garantias constitucionais. Assim, concedeu-se a

ordem tão-somente para que lhe seja assegurado: a) o direito de ser assistido por seu

advogado e de se comunicar com este durante a sua inquirição; b) a dispensa da

assinatura do termo de compromisso legal de testemunha; c) o exercício do seu direito

ao silêncio, incluído o privilégio contra a auto-incriminação, excluída a possibilidade de

ser submetido a qualquer medida privativa de liberdade ou restritiva de direitos em

razão do exercício de tais prerrogativas processuais. Asseverou-se, ainda, que o paciente

não estaria dispensado da obrigação de comparecer perante a denominada “CPI da

Pedofilia” na audiência pública a ser designada oportunamente. Determinou-se, por fim,

a expedição de salvo-conduto, nesses termos, e a comunicação, com urgência, à

autoridade coatora.

HC 100341/AM, rel. Min. Joaquim Barbosa, 4.11.2010. (HC-100341)

(Informativo 607, Plenário)

Prisão e Liberdade Provisória

Tráfico de drogas e liberdade provisória

Ante a peculiaridade do caso, a 1ª Turma denegou habeas corpus, mas o concedeu,

de ofício, por votação majoritária, para que a paciente aguarde em liberdade o trânsito

em julgado da ação penal, se por outro motivo não estiver custodiada. Na espécie, presa

em flagrante, com outros réus, em 8.5.2007 — por suposto crime de tráfico ilícito de

Page 308: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

entorpecentes em associação (Lei 11.343/2006, artigos 33, caput, § 1º, I, e 35) —,

permanecera enclausurada durante todo o processo. O juízo de primeiro grau a

condenara à pena de 15 anos e 2 meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, e a

sanção pecuniária, mantendo a custódia cautelar. A defesa interpusera, dentre outros

recursos, apelação, desprovida por maioria, e embargos infringentes. De início,

salientou-se que o tema acerca da vedação da liberdade provisória a preso em flagrante

por tráfico de entorpecentes aguarda o posicionamento do Plenário. Consignou-se,

também, que a matéria relativa ao excesso de prazo não fora submetida ao crivo do STJ,

o que impediria o seu conhecimento, sob pena de supressão de instância. Considerou-se,

entretanto, que a situação dos autos admitiria concessão da ordem de ofício. No ponto,

registrou-se, com base no andamento processual constante do site do tribunal estadual, o

transcurso de praticamente 1 ano entre a sentença e o julgamento da apelação e, ainda, a

distribuição dos embargos de infringência, opostos em 20.1.2010, apenas em 8.11.2010.

Reputou-se patente o constrangimento ilegal, sobretudo por ser a paciente maior de 60

anos e portadora de doença grave (câncer), tendo assegurado, por lei, prioridade na

tramitação em todas as instâncias. Vencido o Min. Ricardo Lewandowski que, por não

entender configurado o excesso de prazo, apenas denegava o writ. Por fim, negou-se a

extensão da ordem aos demais co-réus. Enfatizou-se que somente a paciente teria jus às

benesses legais referidas, e que apenas ela obtivera um voto favorável pela absolvição e

opusera embargos infringentes. Ademais, observou-se que os co-réus, em face da

decisão unânime contra eles proferida, interpuseram recursos especial e extraordinário,

ambos em tramitação. Desse modo, em relação a eles não haveria mais instância

ordinária. Vencido, nesta parte, o Min. Marco Aurélio que estendia a concessão do

habeas aos co-réus.

HC 102015/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/acórdão Min. Dias Toffoli,

9.11.2010. (HC-102015)

(Informativo 608, 1ª Turma)

Tráfico de drogas: liberdade provisória e ausência de fundamentação

A 1ª Turma concedeu habeas corpus a preso em flagrante por tráfico de entorpecentes

para que aguarde em liberdade o trânsito em julgado da ação penal. Salientou-se que,

não obstante a jurisprudência majoritária desta Corte no sentido de não caber liberdade

provisória em tal crime, o caso concreto revelaria excepcionalidade a justificar a

concessão. Explicou-se que o paciente obtivera a liberdade provisória em liminar

Page 309: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

deferida no writ impetrado no tribunal de justiça estadual. Consignou-se que, no

julgamento de mérito daquele habeas corpus, a decisão por meio da qual fora

determinada sua prisão preventiva ocorrera sem quaisquer dos fundamentos do art. 312

do CPP. Salientou-se, no ponto, a orientação firmada pelo Supremo segundo a qual a

execução provisória da pena, ausente a justificativa da segregação cautelar, fere o

princípio da presunção de inocência. Ressaltou-se, também, que, durante o período em

que estivera solto, o paciente comparecera aos atos. Concluiu-se, dessa forma, que, se

ele estivera em liberdade durante certo tempo, poderia assim permanecer até o trânsito

em julgado.

HC 99717/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.11.2010. (HC-99717)

(Informativo 608, 1ª Turma)

Prisão preventiva e mudança de domicílio

A simples mudança, para o exterior, de domicílio ou residência de indiciado, com a

devida comunicação à autoridade competente, não justifica, por si só, a prisão

preventiva. Com base nesse entendimento, a 2ª Turma, concedeu habeas corpus a

acusada por suposto crime de estelionato na modalidade emissão de cheque sem fundo

cuja segregação cautelar tivera como exclusivo fundamento o fato de ela haver se

mudado para outro país por efeito de casamento. Considerou-se não se estar diante de

nenhuma das hipóteses enquadradas no art. 312 do CPP.

HC 102460/SP, rel. Min. Ayres Britto, 23.11.2010. (HC-102460)

(Informativo 610, 2ª Turma)

INFORMATIVOS 611 A 613 – DEZEMBRO DE 2010

Ação Penal

Ministério Público e investigação criminal

A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pretendia o trancamento de

ação penal, sob o argumento de que a investigação criminal teria partido exclusivamente

do Ministério Público. Observou-se que a denúncia se baseara em declarações

prestadas, espontaneamente, pelo co-réu ao representante do Ministério Público e que, a

partir dessas informações, o parquet realizara diligências, devidamente acompanhado

pela polícia civil, além de ouvir outras pessoas, o que não implicara presidir inquérito

Page 310: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

policial e nem invadir seara reservada à Polícia Judiciária. Afirmou-se, ademais, a

desnecessidade do inquérito policial se o Ministério Público já dispuser de elementos

capazes de formar sua opinio delicti. Concluiu-se não ter havido ilegalidade nos

procedimentos adotados pelo órgão ministerial nem ilicitude das provas produzidas.

Vencido o Min. Marco Aurélio, que sobrestava o feito até o julgamento pelo Plenário do

HC 84548/SP, no qual se discute a distinção do inquérito para propositura da ação civil

e para ação penal. No mérito, concedia a ordem por entender que o Ministério Público

procedera à investigação e que o acompanhamento da polícia inverteria a ordem natural

das coisas.

HC 96638/BA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2.12.2010. (HC-96638)

(Informativo 611, 1ª Turma)

Execução das Penas

Execução de pena e falta grave - 4

Ante a perda superveniente de objeto, a 1ª Turma declarou prejudicado habeas corpus

impetrado com o fim de anular decisão que determinara a regressão de regime prisional

do paciente e a alteração da data-base para a concessão de benefícios executórios — v.

Informativo 605. Alegava-se constrangimento ilegal por parte do STJ, que teria

extrapolado pedido feito pelo Ministério Público, relativo apenas à regressão de regime,

sem mencionar a alteração da data-base. Em razão de o paciente encontrar-se em

liberdade condicional desde 9.11.2009, reputou-se inócuo qualquer debate a respeito de

concessão de regime prisional mais brando ao condenado.

HC 96246/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 14.12.2010. (HC-96246)

(Informativo 613, 1ª Turma)

Habeas Corpus

HC e processo administrativo

Habeas corpus não é a via adequada para trancamento de processo administrativo, uma

vez não estar em jogo a liberdade de ir e vir (CF, art. 5º, LXVIII). Esse o entendimento

da 1ª Turma ao extinguir, sem julgamento de mérito, writ impetrado com o fim de sustar

o andamento de processo administrativo disciplinar instaurado contra o paciente.

HC 100664/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 2.12.2010. (HC-100664)

Page 311: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

(Informativo 611, 1ª Turma)

Inquérito Policial

TCU: independência das esferas administrativa e penal

A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que pleiteado o trancamento de inquérito

policial instaurado para apurar suposta existência de desvios de verba pública na

Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária – INFRAERO, e a prática dos

delitos de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, estelionato e peculato, bem

como de crimes contra a ordem econômica (Lei 8.137/90, art. 4º), de improbidade

administrativa e dos tipificados nos artigos 89, 90, 93 e 96 da Lei 8.666/93. Sustentava a

impetração, com base em analogia com os crimes contra a ordem tributária, a

necessidade de encerramento da via administrativa da constituição do débito tributário

como condição de procedibilidade. Entendeu-se que não mereceria reparo a conclusão

do STJ, segundo a qual o fato do Tribunal de Contas da União, eventualmente, aprovar

as contas a ele submetidas, não obstaria, em princípio, a persecução penal promovida

pelo Ministério Público. Explicitou-se que a jurisprudência do STF seria no sentido da

independência entre as esferas de contas e a judicial penal, de sorte a ser desnecessário

que o inquérito policial ou a denúncia aguardem a conclusão do processo de contas em

qualquer das instâncias dos Tribunais de Contas.

HC 103725/DF, rel. Min. Ayres Britto, 14.12.2010. (HC-103725)

(Informativo 613, 2ª Turma)

Nulidades

Tribunal do Júri e nulidades - 3

A 1ª Turma, em conclusão de julgamento, indeferiu, por maioria, habeas corpus em que

impugnadas duas supostas nulidades ocorridas em julgamento de Tribunal do Júri: a

utilização de prova alegadamente nova e o eventual excesso de linguagem por parte do

Juiz Presidente, ao apresentar relatório aos jurados no qual deferia a juntada de tal prova

— v. Informativo 609. Reputou-se, inicialmente, não haver ilicitude na prova colhida a

partir da fita cassete exibida no julgamento. Registrou-se que ela seria mero instrumento

magnético de uma prova que já constaria dos autos, qual seja, o interrogatório. Aduziu-

se, também, que o delegado utilizara esse dispositivo apenas para provar que o ato não

Page 312: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

teria sido realizado mediante tortura e que maior aprofundamento na questão implicaria

reexame de fatos e provas, inadmissível na via eleita. Ressaltou-se, em relação a essa

suposta nulidade, não haver sido demonstrado o prejuízo sofrido pelo paciente.

Considerou-se, acerca do argüido vício de linguagem no relatório apresentado aos

jurados, não haver parcialidade nas palavras proferidas pelo Juiz Presidente, que apenas

teria fundamentado o deferimento da citada prova por reputá-la lídima, sem, entretanto,

haver influenciado a íntima convicção dos jurados sobre o caso. Vencido o Min. Marco

Aurélio, que concedia a ordem.

HC 101806/MS, rel. Min. Dias Toffoli, 14.12.2010. (HC-101806)

(Informativo 613, 1ª Turma)

Interrogatório e entrevista reservada com defensor - 2

Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que

alegado constrangimento ilegal decorrente de ausência de citação do paciente e não

concessão do direito de entrevista reservada com seu defensor — v. Informativo 580.

Entendeu-se que a nulidade referente à ausência de citação seria relativa, visto que o

paciente teria comparecido espontaneamente à audiência de interrogatório. Assim,

aplicado o princípio da convalidação, a nulidade teria sido sanada. Em relação à não

concessão do direito de entrevista reservada com seu defensor, reputou-se que o

magistrado teria assegurado esse direito na audiência, muito embora a defesa não

tivesse feito uso dele, razão pela qual não existiria nulidade. Vencidos os Ministros

Marco Aurélio e Ayres Britto, que concediam a ordem.

HC 96465/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 14.12.2010. (HC-96465)

(Informativo 613, 1ª Turma)

Prisão e Liberdade Provisória

Prisão preventiva e indícios de ameaça a testemunha

A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se alegava constrangimento

ilegal ante a falta de fundamentação apta a justificar prisão preventiva, sobretudo, por

ausência de dado concreto e idôneo que comprovasse a suposta coação que o paciente

teria infligido às testemunhas. Afirmou-se que, embora o juiz não descrevesse

explicitamente essa coação, haveria, nos autos, fortes indícios de que ela ocorrera.

Vencido o Min. Marco Aurélio, que entendia que o mero indício não seria suficiente

Page 313: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

para embasar a custódia cautelar, sendo necessária a demonstração do ato concreto que

estaria a causar tumulto ao processo.

HC 103877/RS, rel. Min. Dias Toffoli, 2.12.2010. (HC-103877)

INFORMATIVOS 614 A 617 - FEVEREIRO DE 2011

Ação Penal

Ação penal: reautuação e novo recebimento de denúncia no STF

Por constatar a materialidade e indícios de autoria, o Plenário, em votação majoritária,

recebeu denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal contra Deputada Federal

pela suposta prática do crime previsto no art. 293, § 1º, do CP, consistente na utilização

de selos falsos de IPI. Relata a denúncia que a parlamentar e outros 13 investigados

seriam sócios, gerentes e administradores de empresas com atividades voltadas para a

fabricação, comercialização, distribuição e transporte de cigarros, que obteriam lucros

vultosos mediante a prática de vários delitos. De início, tendo em conta peculiaridades,

rejeitou-se a preliminar, suscitada pelo Min. Marco Aurélio, de validade do recebimento

da denúncia em 1º grau. Considerou-se, sobretudo, o fato de que, apesar de ter havido

recebimento da denúncia em 1ª instância, a acusada teria sido diplomada entre a data da

assinatura do despacho de recebimento da inicial acusatória e a data de sua publicação

em cartório, momento este em que o juízo não seria mais competente para julgar a

parlamentar. Frisou-se, também, que a própria defesa da acusada pedira a reautuação

dos autos como inquérito perante o STF, e que haveria manifestação da Procuradoria

Geral da República no sentido de concordar com esse pleito. Registrou-se, ainda, que o

rito fora reaberto, possibilitando-se a defesa prévia, e que não teria havido prejuízo para

a acusada, já que o recebimento da denúncia na origem provavelmente teria sido,

inclusive, em maior extensão. Vencido, no ponto, o Ministro Marco Aurélio, que

considerava ter-se ato formalizado, não afastado do cenário jurídico e praticado por

autoridade competente, ou seja, o juízo, já que a acusada não gozava, à época, de

prerrogativa de foro. Reputava que o recebimento da denúncia se dera antes da

diplomação, e que o ato deveria ser considerado na data em que formalizado e não na da

ciência à parte. Consignou, por fim, não estar sensibilizado com a concordância das

partes, por ser o direito instrumental imperativo, e de não se tratar de perquirir, em si, o

Page 314: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

prejuízo, ou não, mas de se verificar se o figurino instrumental estaria sendo respeitado.

Rejeitou-se, ainda, por unanimidade, a denúncia quanto ao crime de lavagem de

dinheiro (Lei 9.613/98, art. 1º, VII), e, por maioria, quanto ao crime de quadrilha ou

bando (CP, art. 288). Inq 2786/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 17.2.2011.(Inq-

2786) (Informativo 616, Plenário)

Habeas Corpus

HC e estrangeiro não domiciliado no Brasil - 1

Por reputar ausentes os requisitos de embargabilidade, a 2ª Turma rejeitou embargos de

declaração em que pretendido o aclaramento sobre a admissibilidade de habeas corpus,

bem como questão de ordem neles formulada. Tratava-se, na espécie, de embargos

declaratórios opostos contra acórdão proferido em habeas corpus no qual se decidira

que: a) o súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, teria plena

legitimidade para impetrar habeas corpus, em ordem a tornar efetivo, nas hipóteses de

persecução penal, o direito subjetivo, de que também seria titular, à observância e ao

integral respeito, por parte do Estado, das prerrogativas que compõem e dão significado

à cláusula do devido processo legal; b) seria inviável a execução do Acordo de

Cooperação Brasil/Rússia, presente o contexto em exame, resultar em imediata

aplicação, em território brasileiro, em detrimento do paciente — que sequer se

encontraria no Brasil —, de qualquer medida privativa de sua liberdade de locomoção

física; c) haveria impossibilidade jurídica de o STF expedir provimentos jurisdicionais

consubstanciadores de ordens mandamentais dirigidas a qualquer missão diplomática

sediada em território brasileiro. Na ocasião, buscava-se ordem

mandamental a ser dirigida à Missão Diplomática da Federação da Rússia, para que a

Federação da Rússia devolvesse o material informativo a ela encaminhado pela

Procuradoria Geral da República do Brasil e que teria, como destinatária específica, a

Procuradoria Geral da República da Federação da Rússia. HC 102041 ED/SP, rel. Min.

Celso de Mello, 15.2.2011. (HC-102041) (Informativo 616, 2ª Turma)

HC e estrangeiro não domiciliado no Brasil - 2

Entendeu-se que os embargos opostos teriam nítido caráter infringente, circunstância

que, por si só, bastaria para tornar incabível a espécie recursal ora em análise.

Asseverou-se que o acórdão embargado não teria afastado a possibilidade de utilização

Page 315: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

do remédio do habeas corpus, mesmo nas hipóteses de cooperação jurídica

internacional, em que o auxílio direto constituiria modalidade, desde que presentes, no

entanto, quanto ao writ, os requisitos de sua admissibilidade. Aduziu-se, apenas, a

inviabilidade, no caso específico, de utilização do habeas, uma vez que ausente do

território brasileiro a pessoa do súdito estrangeiro em questão e, por isso, inexistente

qualquer possibilidade de dano atual ou iminente à liberdade ou à locomoção física do

paciente. HC 102041 ED/SP, rel. Min. Celso de Mello, 15.2.2011. (HC-102041)

(Informativo 616, 2ª Turma)

Nulidades

Excesso de linguagem na pronúncia e oitiva de testemunhas

A 2ª Turma concedeu, em parte, habeas corpus para anular sentença de pronúncia, a ser

desentranhada dos autos de origem, devendo outra ser proferida pelo juiz da causa.

Tratava-se, na espécie, de writ impetrado em favor de pronunciado pelo crime de

homicídio qualificado. Alegava-se que, ao pronunciar o paciente, o magistrado afirmara

a autoria do acusado no crime, o que poderia influenciar negativamente os jurados.

Sustentava-se, ainda, que o juiz encerrara a instrução antes do término do prazo fixado

para o cumprimento das cartas precatórias expedidas para a oitiva das testemunhas

arroladas pelo réu, as quais somente teriam sido juntadas após as alegações finais das

partes. Quanto ao primeiro argumento, entendeu-se que o magistrado, na pronúncia, de

fato fizera afirmações no sentido de ser o paciente o autor do delito a ele imputado, não

se limitando, portanto, a indicar a existência de indícios suficientes quanto à autoria ou

participação no crime. Considerou-se, ademais, que a mera exclusão das expressões

tidas como excessivas poderia descontextualizar a redação da pronúncia, impondo-se a

sua anulação por excesso de linguagem. Rejeitou-se, em seguida, a segunda assertiva da

defesa. Asseverou-se que o prosseguimento do feito ocorrera antes da devolução das

cartas precatórias, mas depois de escoado o prazo fixado para o seu cumprimento, o que

estaria de acordo com o disposto no art. 222, §§ 1º e 2º, do CPP (“Art. 222. A

testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de

sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável,

intimadas as partes. § 1º A expedição da precatória não suspenderá a instrução

criminal. § 2º Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, mas, a todo

tempo, a precatória, uma vez devolvida, será junta aos autos”).

Page 316: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

HC 99834/SC, rel. Min. Joaquim Barbosa, 15.2.2011. (HC-99834) (Informativo 616,

2ª Turma).

Prisão

Recolhimento compulsório e direito de apelar em liberdade - 1

A exigência de recolhimento compulsório do condenado para apelar viola os princípios

constitucionais da ampla defesa, do contraditório e do duplo grau de jurisdição. Com

base nesse entendimento, a 2ª Turma deferiu habeas corpus para que seja devolvido o

prazo recursal e expedido contramandado de prisão em favor do paciente. No caso, o

juiz decretara a prisão preventiva do réu para assegurar a aplicação da lei penal, uma

vez que ele não fora localizado e, também, em decorrência da magnitude da lesão

causada, consistente em gestão fraudulenta de dois consórcios (Lei 7.492/86: “Art. 30.

Sem prejuízo do disposto no art. 312 do Código de Processo Penal, aprovado pelo

Decreto-lei nº 3.689,

de 3 de outubro de 1941, a prisão preventiva do acusado da prática de crime previsto

nesta lei poderá ser decretada em razão da magnitude da lesão causada. Art. 31. Nos

crimes previstos nesta lei e punidos com pena de reclusão, o réu não poderá prestar

fiança, nem apelar antes de ser recolhido à prisão, ainda que primário e de bons

antecedentes, se estiver configurada situação que autoriza a prisão preventiva.”). HC

103986/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 8.2.2011. (HC-103986) (Informativo 615, 2ª

Turma)

Recolhimento compulsório e direito de apelar em liberdade - 2

Ressaltou-se que o fato de o paciente não ter sido encontrado não seria motivo idôneo

para manter a prisão cautelar. Além disso, consignou-se que o réu não estaria obrigado a

colaborar com a instrução criminal e que a fuga do distrito da culpa, por si só, não

autorizaria o decreto constritivo. Assentou-se, ainda, que exigência de recolhimento

compulsório do condenado para recorrer, nos termos do que disposto no art. 594 do

CPP, sem que presentes quaisquer dos pressupostos do art. 312 do CPP, não seria

compatível com a CF/88. Reputou-se que essa mesma conclusão se aplicaria ao disposto

no art. 31 da Lei 7.492/86 (Lei do Colarinho Branco), que possui redação análoga à do

art. 594 do CPP. Precedente citado: RHC 83810/RJ (DJe de 23.10.2009). HC

Page 317: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

103986/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 8.2.2011. (HC-103986)(Informativo 615, 2ª

Turma).

Prisão cautelar e ausência de apreciação de HC no STJ

A 1ª Turma deferiu habeas corpus para determinar o julgamento imediato do mérito da

impetração pelo STJ. No caso, pleiteava-se a revogação da prisão cautelar por suposto

constrangimento ilegal infligido ao paciente, tendo em vista a omissão do STJ em

apreciar o writ lá impetrado. O feito fora distribuído em 11.5.2009 e, há mais de 21

meses, sequer fora apreciada a liminar requerida. Não se conheceu da impetração na

parte em que se alegava falta dos pressupostos autorizadores da segregação cautelar,

justamente pelo fato de o STJ não ter analisado a questão. Vencido o Min. Marco

Aurélio que concedia a ordem, ante a ausência de sentença transitada em julgado.

Reputava, ademais, que a gravidade do crime não levaria à prisão e assentava a

prejudicialidade do habeas corpus que tramitaria no mencionado Tribunal Superior. HC

101970/PA, rel. Min. Dias Toffoli, 15.2.2011. (HC-101970) (Informativo 616, 1ª

Turma).

Prisão cautelar e fundamentos - 1

Em conclusão de julgamento, a 2ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus para

restabelecer ordem de prisão preventiva decretada pelo juízo de 1º grau em desfavor do

paciente, à época denunciado pela suposta prática reiterada do crime descrito no art. 213

do CP. Na sessão de 30.11.2010, a Min. Ellen Gracie, relatora, preliminarmente apontou

que a questão já teria sido apreciada nos autos do HC 100429/SP, o que obstaria o

conhecimento do writ. No mérito, indeferiu a ordem e revogou a liminar anteriormente

concedida. Aduziu que o decreto prisional, renovado na sentença condenatória

superveniente, teria fundamentação idônea, considerada a necessidade de garantia da

ordem pública. Afirmou que o agente, na condição de médico, teria praticado uma série

de crimes contra diversas pacientes e uma funcionária, durante vários anos, nas

dependências de sua clínica, aproveitando-se da debilidade momentânea das vítimas,

algumas sob efeito de sedativos. Nesse sentido, considerada a gravidade concreta dos

crimes perpetrados, bem como seu modus operandi, reputou ser o paciente perigoso, de

modo que existiria o risco de reiteração criminosa, se solto. Ressaltou que o fato de ele

estar impossibilitado de exercer sua profissão, visto que seu registro profissional estaria

suspenso pelo Conselho Regional de Medicina, não impediria eventual prática de novos

Page 318: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

delitos. Naquela sessão, o julgamento fora suspenso com o pedido de vista do Min.

Joaquim Barbosa. HC 102098/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 15.2.2011. (HC-102098)

(Informativo 616, 2ª Turma).

Prisão cautelar e fundamentos - 2

Na presente assentada, destacou-se, de início, que muito embora houvesse sido

expedido novo decreto prisional contra o paciente, com base na garantia de aplicação da

lei penal, após ele haver tentado, em 27.12.2010, renovar seu passaporte, o suposto

constrangimento ilegal, objeto deste writ, estaria mantido, pois apenas liminarmente

suspenso. Salientou-se, também, que, na hipótese de se considerar inválido o novo título

prisional, remanesceria o anteriormente exarado. Preliminarmente, ainda, superouse o

óbice ao conhecimento da impetração apontado pela relatora. Reputou-se que a decisão

proferida naqueles autos de habeas corpus teria se cingido ao não conhecimento da ação

com base no Enunciado 691 da Súmula do STF. Nesse sentido, a análise do decreto

prisional lá realizada teria sido sumária e superficial, não fazendo coisa julgada

material. No mérito, acompanhou-se o entendimento da relatora para denegar a ordem.

HC 102098/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 15.2.2011. (HC-102098) (Informativo 616, 2ª

Turma).

Prisão cautelar e fundamentos - 3

Vencidos os Ministros Celso de Mello e Gilmar Mendes, que deferiam a ordem.

Aduziam não haver elementos concretos a autorizar a mantença da medida cautelar para

a garantia da ordem pública, haja vista não existir prova cabal de que, uma vez

impedido de exercer a medicina, o condenado voltaria a delinqüir, consideradas as

circunstâncias dos crimes e seu modus operandi. Dessa forma, a prisão cautelar

expedida seria mera antecipação de pena. Destacavam que o paciente, durante as

investigações criminais, solto, não teria se comportado de modo a justificar as

suposições contidas no decreto prisional e que, dada a notoriedade dos fatos na mídia,

seria pouco provável que outras vítimas em potencial a ele se submetessem ou que

silenciassem diante de novas condutas delitivas. HC 102098/SP, rel. Min. Ellen

Gracie, 15.2.2011. (HC-102098) (Informativo 616, 2ª Turma).

Page 319: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Progressão de Regime

Exame criminológico e tratamento de usuário de drogas

A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se alegava a possibilidade da

progressão de regime prisional a despeito de o tribunal de origem ter negado a referida

benesse com base em exame criminológico. O laudo psicológico atestava a necessidade

de tratamento do paciente — condenado por tráfico de drogas — que ainda se

comportava como usuário. Entendeu-se plenamente justificada a realização do exame

criminológico. Contudo, concedeu-se a ordem de ofício para assegurar ao paciente,

usuário de droga, que o Estado lhe ofereça tratamento psicológico por profissional

habilitado. Vencido, em parte, o Min. Marco Aurélio, que deferia o writ por reputar não

ser exigível tal exame em face da supressão do dispositivo que o condicionava para

progressão de regime prisional pela norma que alterou a Lei de Execução Penal. HC

106477/RS, rel. Min. Dias Toffoli, 1º.2.2011. (HC-106477) (Informativo 614, 1ª

Turma).

Recursos

Agravo em matéria penal e deficiência do traslado - 2

Em conclusão, a 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pretendia

fosse

conhecido agravo de instrumento que visava à subida de recurso especial em matéria

penal não admitido por deficiência do traslado. Na espécie, a decisão impugnada

considerara não legível carimbo do protocolo do recurso especial, na Secretaria do

Tribunal de Justiça, determinante para a verificação de sua tempestividade — v.

Informativo 614. Aduziu-se que, conforme precedentes da Corte, seria dever do

recorrente zelar pela correta formação do agravo de instrumento, inclusive em sede

criminal, de modo que a deficiência contida na referida peça processual não poderia ser

atribuída ao cartório. Vencido o Min. Marco Aurélio, que concedia o writ por entender

que, em processo criminal, caberia à parte somente indicar as peças, ao passo que, à

Secretaria, providenciar o instrumento.

HC 96647/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli,

22.2.2011. (HC-96647) (Informativo 617, 1ª Turma).

Page 320: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

INFORMATIVOS 618 A 621 - MARÇO DE 2011

Ação Penal

Lei “Maria da Penha” e Juizado Criminal - 1

O Plenário denegou habeas corpus no qual pretendida a suspensão dos efeitos da

condenação imposta ao paciente, nos termos do art. 89 da Lei 9.099/95, e, em

conseqüência, declarou a constitucionalidade do art. 41 da Lei 11.340/2006 (“Aos

crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,

independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de

1995.”). Na espécie, o paciente fora condenado, pela prática de contravenção penal de

vias de fato (Decreto-Lei 3.688/41, art. 21, caput), à pena de 15 dias de prisão simples,

substituída por restritiva de direitos consistente em prestação de serviços à comunidade.

HC 106212/MS, rel. Min. Marco Aurélio, 24.3.2011. (HC-106212) (Informativo 620,

Plenário) .

Lei “Maria da Penha” e Juizado Criminal - 2

Aduziu-se, inicialmente, que a Lei 11.340/2006 teria por escopo coibir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, em observância ao art. 226, § 8º, da CF (“Art.

226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. ... § 8º - O Estado

assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando

mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.”). A esse respeito,

salientou-se que a mesma lei, em seu art. 7º, definiria como “violência doméstica e

familiar contra a mulher” não apenas a violência física, mas também a psicológica,

social, patrimonial e moral. Reputou-se, por sua vez, que o preceito contido no art. 41

da referida lei afastaria, de forma categórica, a Lei 9.099/95 de todo processo-crime

cujo quadro revelasse violência doméstica ou familiar contra a mulher, o que abarcaria

os casos de contravenção penal. No ponto, o Min. Luiz Fux ressaltou que as causas a

envolver essa matéria seriam revestidas de complexidade incompatível com o rito

sumaríssimo dos Juizados Especiais. O Min. Marco Aurélio, relator, acrescentou que a

Lei “Maria da Penha” preveria a criação de juizados específicos para as situações de que

trata e que seria incongruente, pois, a aplicação de regras da Lei 9.099/95.

HC 106212/MS, rel. Min. Marco Aurélio, 24.3.2011. (HC-106212) (Informativo 620,

Plenário).

Page 321: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

Lei “Maria da Penha” e Juizado Criminal - 3

Assinalou-se, ademais, que o ato perpetrado pelo paciente teria atingido não só a

integridade física da mulher, mas também sua dignidade, a qual o contexto normativo

buscaria proteger. Nesse aspecto, o Min. Cezar Peluso, Presidente, observou que o art.

98, I, da CF não conteria a definição de “infrações penais de menor potencial ofensivo”,

de modo que a lei infraconstitucional poderia estabelecer critérios — não restritos

somente à pena cominada — aptos a incluir, ou não, determinadas condutas nesse

gênero. Entendeu-se, também, que a norma impugnada estaria de acordo com o

princípio da igualdade, na medida em que a mulher careceria de especial proteção

jurídica, dada sua vulnerabilidade, e que atenderia à ordem jurídico-constitucional, no

sentido de combater o desprezo às famílias, considerada a mulher como sua célula

básica. Destacou-se, por fim, que a pena imposta consubstanciaria mera advertência a

inibir a reiteração de práticas mais condenáveis. HC 106212/MS, rel. Min. Marco

Aurélio, 24.3.2011. (HC-106212) (Informativo 620, Plenário).

Interrogatório: Lei 11.719/2008 e Lei 8.038/90

A Lei 11.719/2008, que alterou o momento em que efetuado o interrogatório,

transferindo-o para o final da instrução criminal, incide nos feitos de competência

originária do STF, cujo mencionado ato processual ainda não tenha sido realizado. Com

base nessa orientação, o Plenário desproveu agravo regimental interposto pela

Procuradoria Geral da República contra decisão do Min. Ricardo Lewandowski que, nos

autos de ação penal da qual relator, determinara que os réus fossem interrogados ao

final do procedimento. Considerou-se que o art. 400 do CPP, em sua nova redação,

deveria suplantar o estatuído no art. 7º da Lei 8.038/90, haja vista possibilitar ao réu o

exercício de sua defesa de modo mais eficaz. Aduziu-se que essa mudança concernente

à designação do interrogatório conferiria ao acusado a oportunidade para esclarecer

divergências e incongruências que eventualmente pudessem surgir durante a fase de

consolidação do conjunto probatório. Registrou-se, tendo em conta a interpretação

sistemática do Direito, que o fato de a Lei 8.038/90 ser norma especial em relação ao

CPP não afetaria a orientação adotada, porquanto inexistiria, na hipótese,

incompatibilidade manifesta e insuperável entre ambas as leis. Ademais, assinalou-se

que a própria Lei 8.038/90 dispõe, em seu art. 9º, sobre a aplicação subsidiária do CPP.

Por fim, salientou-se não haver impedimento para que o réu, caso queira, solicite a

antecipação do seu interrogatório. O Min. Luiz Fux acrescentou que o entendimento

Page 322: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

poderia ser estendido à Lei 11.343/2006, que também prevê o interrogatório como o

primeiro ato do processo. AP 528 AgR/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski,

24.3.2011. (AP-528) (Informativo 620, Plenário).

Execução da Pena

HC e transferência de presídio

A 2ª Turma deferiu habeas corpus para autorizar ao paciente — recolhido em

estabelecimento localizado no Estado de São Paulo — transferência para presídio em

Mato Grosso do Sul. Observou-se a boa conduta carcerária do apenado, a existência de

vínculos familiares nesse Estado e a disponibilidade de vaga em presídio localizado

nesta mesma unidade da Federação. O Min. Celso de Mello ressaltou que a execução

penal, além de objetivar a efetivação da condenação penal imposta ao sentenciado,

buscaria propiciar condições para a harmônica integração social daquele que sofre a

ação do magistério punitivo do Estado. Por esta razão, aduziu que a Lei de Execução

Penal autorizaria ao juiz da execução determinar o cumprimento da pena em outra

comarca ou, até mesmo, permitir a remoção do condenado para Estado-membro diverso

daquele em que cometida a infração penal, conforme disposto no caput do art. 86 da

referida lei. Ressalvou-se o posicionamento da Corte no sentido de não haver direito

subjetivo do sentenciado à transferência de presídio, mas asseverou-se que, no caso,

estar-se-ia a permitir ao reeducando melhor ressocialização, na medida em que

garantido seu direito à assistência familiar. Precedentes citados: HC 71179/PR (DJ de

3.6.94); HC 100087/SP (DJe de 9.4.2010). HC 105175/SP, rel. Min. Gilmar Mendes,

22.3.2010. (HC-105175) (Informativo 620, 2ª Turma).

Nulidades

Tribunal do Júri e nulidades - 2

Em conclusão, a 1ª Turma negou provimento a recurso ordinário em habeas corpus,

mas, concedeu a ordem, de ofício, a fim de que a condenação imposta ao paciente pelos

dois crimes de homicídio simples fosse limitada a 22 anos de reclusão. Na espécie,

contra a primeira decisão do Tribunal do Júri que condenara o paciente a uma pena total

de 22 anos de reclusão, a defesa apelara e o parquet não se insurgira. No julgamento

que se seguira, o paciente fora absolvido, o que ensejara apelação do Ministério Público,

Page 323: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

provida, com determinação de novo Júri, ao fundamento de que a absolvição teria sido

contrária à prova dos autos. No 3º julgamento, o paciente recebera uma pena 4 anos

superior àquela inicialmente proferida — acréscimo de 2 anos para cada homicídio —,

em razão da sua propalada torpeza — v. Informativo 618. RHC 103170/RJ, rel. Min.

Dias Toffoli, 15.3.2011. (RHC-103170) (Informativo 619, 1ª Turma).

Tribunal do Júri e nulidades - 3

O Min. Dias Toffoli, relator, decotou da pena o acréscimo decorrente da citada

qualificadora, restabelecendo a condenação à pena de 11 anos de reclusão para cada um

dos homicídios. Rejeitou as alegações de nulidade do processo por falta de

fundamentação no tocante à fixação da pena-base (em piso superior ao mínimo legal) e

da necessidade de reconhecimento da continuidade delitiva entre os crimes perpetrados.

Salientou a jurisprudência do STF no sentido de ser suficiente a presença de uma das

circunstâncias judiciais desfavoráveis para que a pena básica não fique no patamar

mínimo, e, ainda, de ser incabível o reexame de matéria fático-probatória na via eleita.

Por sua vez, o Min. Marco Aurélio, tendo em conta que, no 1º julgamento, o juízo fixara

a pena de 11 anos para cada crime, com o silêncio do Ministério Público e, no 2º,

absolvera o réu, entendeu que, no 3º julgamento o magistrado não poderia chegar a uma

pena superior àquela do patamar inicial. A Min. Cármen Lúcia, em voto-vista, destacou

que seria vedada a reformatio in pejus no direito processual penal brasileiro, de modo

que decisões posteriores, mesmo que oriundas do Tribunal do Júri, não poderiam impor

valores superiores aos da primeira condenação que, conforme enfatizou, transitara em

julgado para a acusação. RHC 103170/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 15.3.2011. (RHC-

103170) (Informativo 619, 1ª Turma).

Pronúncia: excesso de linguagem e lacre - 1

A 1ª Turma concedeu habeas corpus para anular decisão de pronúncia e os consecutivos

atos processuais que ocorreram no processo principal, havendo de ser prolatada outra,

com reabertura de prazo para todos os atos, inclusive, recursais. No caso, o paciente fora

pronunciado passados mais de 11 anos do provimento de recurso em que reformada

decisão a qual rejeitara denúncia contra ele oferecida pela suposta prática de crime de

homicídio simples. Contra a pronúncia, a defesa interpusera sucessivos recursos. No

STJ, encerrado o julgamento de recurso especial, com participação de desembargador

convocado para compor o quórum, prevaleceu, ante o empate, voto médio no sentido do

Page 324: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

seu parcial provimento. À ocasião, constatara-se o excesso de linguagem da pronúncia,

sem que esta fosse anulada. Ordenara-se, ainda, o desentranhamento da sentença; o seu

envelopamento junto aos autos — de forma a evitar o contato dos jurados com seus

termos —; a certificação da condição de pronunciado do recorrente e o prosseguimento

da marcha processual. HC 103037/PR, rel. Min. Cármen Lúcia, 22.3.2011. (HC-

103037) (Informativo 620, 1ª Turma).

Pronúncia: excesso de linguagem e lacre - 2

Neste writ, observou-se que a questão principal referir-se-ia ao lacre da pronúncia e,

portanto, sua retirada sem a realização de outra. Ponderou-se que a legislação

determinaria que a pronúncia fosse possível de ser conhecida em sua inteireza. De igual

modo, aduziu-se que, quando cabível, riscar-se-ia somente o excesso. Assentou-se que a

retirada, com apenas a certificação da pronúncia, e o seu envelopamento lesaria a

legislação. Observou-se que, embora parcialmente provido o recurso especial, 4

membros do STJ que integravam a turma julgadora assentaram o excesso de linguagem

na pronúncia, bem assim a impossibilidade de apenas riscá-la, pois, no final, não

restaria texto. Assinalou-se que o acórdão ora impugnado apontaria precedentes daquela

Corte em que se apresentara a solução do desentranhamento e envelopamento da

sentença de pronúncia. No entanto, verificou-se que, nas hipóteses em que isso ocorrera,

o STJ mandava produzir outra para que, dessa forma, a primeira ficasse resguardada e a

posterior fosse de conhecimento. Registrou-se que o Supremo possui entendimento

firme no sentido de que o defeito da fundamentação gera nulidade absoluta e, ainda, de

que, em casos como o presente, impõe-se a anulação da sentença de pronúncia por

excesso de linguagem, sob pena de afronta ao princípio da soberania dos vereditos.

Explicitou-se que, depois de formado o conselho de sentença e realizada a exortação

própria da liturgia do Tribunal do Júri, os jurados devem receber cópia da pronúncia,

nos termos do art. 472 do CPP — alterado pela Lei 11.689/2008. Esclareceu-se,

inclusive, que se permitiria aos jurados manusear os autos do processo-crime, bem

assim pedir ao orador que indicasse as folhas onde se encontrasse a peça por ele lida ou

citada. Aludiu-se ao posicionamento segundo o qual, de um lado, os juízes e tribunais

devem submeter-se, quando praticam o ato culminante do judicium accusationis

(pronúncia), à dupla exigência de sobriedade e de comedimento no uso da linguagem,

de modo a evitar ilegítima influência sobre o ânimo e a vontade dos membros

integrantes do conselho de sentença. E de outro lado, que age ultra vires, e excede os

Page 325: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

limites de sua competência legal, o órgão judiciário que, descaracterizando a natureza

da sentença de pronúncia, converte-a, de um mero juízo fundado de suspeita, em um

inadmissível juízo de certeza. HC 103037/PR, rel. Min. Cármen Lúcia, 22.3.2011.

(HC-103037) (Informativo 620, 1ª Turma).

Pronúncia: excesso de linguagem e lacre - 3

Constatou-se que a solução apresentada no voto médio representaria constrangimento

ilegal imposto ao paciente, bem assim dupla afronta — ao CPP, como se extrai do art.

472, e, principalmente, ao art. 5º, XXXVIII, c, da CF — à soberania dos vereditos

assegurada à instituição do júri. Asseverou-se que o acesso à sentença de pronúncia

seria uma garantia de ordem pública e de natureza processual, assegurada legal e

constitucionalmente, cuja disciplina seria de competência da União, que teria lei sobre o

assunto. Reputou-se que isso seria razão suficiente para se admitir a existência, na

espécie, de constrangimento ilegal decorrente da restrição imposta pelo STJ ao acesso

dos jurados à sentença de pronúncia. Por fim, haja vista o lapso temporal transcorrido e

a necessidade de se garantir a aplicação da lei penal, determinou-se que seja dada a

prioridade ao julgamento no juízo competente. O Min. Ricardo Lewandowski destacou

inexistir no ordenamento jurídico peça processual sigilosa para os julgadores, que, na

hipótese dos autos, seriam os jurados. O Min. Marco Aurélio apontou a referida

pronúncia como decisão oculta, não agasalhada pelo sistema. Além disso, ressaltou que

o processo não tramitava em segredo de justiça e, se tal ocorresse, não o seria para

aqueles que o julgam. Por derradeiro, enfatizou que decisão interlocutória não seria

simples certidão. Alguns precedentes mencionados: HC 68606/SP (DJU de 21.2.92);

HC 77044/PE (DJU de 7.8.98); HC 99834/SC (DJe de 16.3.2011). HC 103037/PR, rel.

Min. Cármen Lúcia, 22.3.2011. (HC-103037) (Informativo 620, 1ª Turma).

Uso de algemas e fundamentação

A 2ª Turma indeferiu habeas corpus impetrado em favor de paciente que permanecera

algemada durante a realização de audiência. Na espécie, a paciente fora condenada pelo

crime previsto no art. 35 da Lei 11.343/2006 por integrar organização criminosa voltada

ao tráfico de entorpecentes. Aludiu-se às informações do juízo criminal de que, em

nenhum momento, a paciente e seu advogado teriam sido impedidos de se comunicar

durante a audiência e de que não houvera objeção quanto a isso por parte da defesa.

Assentou-se inexistir desrespeito à Súmula Vinculante 11 (“Só é lícito o uso de algemas

Page 326: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física

própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade

por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da

autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo

da responsabilidade civil do Estado”). Ademais, salientou-se que a magistrada

consignara, no termo de audiência, a determinação para que os réus permanecessem

algemados. Asseverou-se que a decisão daquele juízo teria sido suficientemente

fundamentada, porquanto se mostraria necessária ao desenvolvimento regular do

próprio ato e à segurança dos presentes. Entendeu-se, no ponto, que seria razoável a

menção à presença de muitos advogados e funcionários, tendo em conta o fato de haver

mais de 10 réus na audiência, com a agravante de que pertenceriam a uma facção

criminosa muito atuante no Estado de São Paulo. Ressaltou-se, por fim, que não seria

possível inverter o entendimento da magistrada sobre a situação do fórum — uma

cidade do interior — sem o exame de fatos e provas, não cabível na via eleita. O Min.

Ayres Britto considerou a ausência de efetivo prejuízo processual à paciente e o

espectro limitado do writ. O Min. Gilmar Mendes, por sua vez, reputou justificada a

medida do uso de algemas, todavia, ponderou que seria possível uma eventual

reavaliação, nos casos de notório abuso, para aplicar a Súmula Vinculante 11 na sua

integralidade. HC 103003/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 29.3.2011. (HC-103003)

(Informativo 621, 2ª Turma).

Assistente da acusação e mudança de competência - 1

A 2ª Turma desproveu recurso ordinário em habeas corpus interposto contra acórdão do

STJ que denegara o writ lá impetrado, sob o fundamento, dentre outros, de que seria

prematuro o reconhecimento de eventual prescrição, ante a possibilidade de a pena ser

alterada. Na espécie, o paciente fora condenado por juízo federal, em 28.7.2005, pelo

delito de denunciação caluniosa (CP, art. 339), o que ensejara o manejo de apelação

exclusivamente pela defesa. Em 12.9.2006, a vítima requerera o seu ingresso como

assistente de acusação, cujo pedido fora deferido, com a anuência do Ministério Público

Federal. No entanto, o TRF da 1 ª Região declarara, de ofício, a incompetência daquela

justiça para processar e julgar o feito, anulara todos os atos decisórios, julgara

prejudicada a apelação e determinara a remessa dos autos à justiça estadual. Após

ratificada, a peça acusatória fora recebida pelo juízo competente e proferida sentença

para condenar o réu à pena de 2 anos de reclusão, em regime inicial aberto, substituída

Page 327: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

por duas restritivas de direitos. Contra esta decisão, apenas a defesa deduzira recurso.

Em segundo grau, o ofendido ingressara com pedido de reautuação dos autos para fazer

deles constar o nome do assistente da acusação e de seu advogado, bem assim de

reconhecimento de nulidade processual, dada a ausência de intimação pessoal do

assistente, nos termos do art. 564, III, o, do CPP. O relator da apelação criminal

admitira a pleiteada inclusão, porém, a partir daquele momento processual, o que

resultara na interposição de agravo interno, não conhecido, por suposta incapacidade

postulatória, uma vez subscrito por defensor público. De ofício, fora decretada a

prescrição da pretensão punitiva estatal, pois, entre a data dos fatos (27.7.2002) e a da

sentença condenatória proferida por magistrado estadual (9.2.2009) teria transcorrido o

lapso de prescrição previsto no art. 109, V, do CP. A vítima da denunciação caluniosa

apresentara reclamação, insistindo na necessidade de sua intimação da sentença

estadual, bem como na existência de capacidade postulatória, porquanto seu advogado

teria ingressado na Defensoria Pública antes da atual Constituição. O pleito fora julgado

procedente. A defesa do paciente, então, impetrara o habeas corpus, objeto deste

recurso, perante o STJ. RHC 106710/AM, rel. Min. Gilmar Mendes, 29.3.2011.

(RHC-106710) (Informativo 621, 2ª Turma).

Assistente da acusação e mudança de competência - 2

De início, considerou-se que se à vítima fosse atribuída a qualidade de assistente,

nenhum efeito poderia ser colhido de decisão que não a intimara de seu conteúdo.

Assinalou-se que não seria a hipótese de se argumentar pela impossibilidade de

reformatio in pejus, porque a sentença recorrida seria nula de pleno direito e não haveria

sequer recurso de apelação a ser analisado. Salientou-se que as nulidades absolutas

poderiam ser argüidas a qualquer tempo. Aludiu-se ao entendimento do STF segundo o

qual o prazo para o assistente da acusação interpor recurso começa a correr do

encerramento in albis do prazo do Ministério Público e de sua necessária intimação.

Reafirmou-se jurisprudência desta Corte no sentido de que o assistente poderia

manusear recurso de apelação independentemente da postura adotada pelo titular da

ação penal. Aduziu-se que a anulação dos atos decisórios da justiça incompetente, neles

incluído o de deferimento do pedido da vítima naquela esfera, não teria o condão de

desconstituir o direito material da parte ofendida de figurar no pólo ativo da demanda e

que não se poderia desconhecer o pedido de habilitação constante dos autos. No ponto,

consignou-se que o status de assistente do Ministério Público, exercido pela vítima,

Page 328: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

perdurara formalmente enquanto o feito, por equívoco, tramitava na justiça federal e,

materialmente, durante todo o processo, a sua condição de ofendido apto a exercer a

assistência processual. Registrou-se, ainda, a inexistência de intimação da vítima, por

ocasião da mudança de jurisdição, para que se manifestasse quanto a seu interesse.

Asseverou-se ter ocorrido uma omissão flagrante da justiça estadual que deixara de

despachar a habilitação requerida em 12.9.2006 e sequer intimara o anterior assistente.

Em seguida, mencionou-se que a ação seria pública, sem a participação necessária do

ofendido no andamento processual. Nesse tocante, explicitou-se que nem todos que o

desejassem seriam aptos a cerrar forças em um dos lados da lide penal e, portanto, o

instituto da habilitação somente geraria efeitos quando deferido. Conquanto isso,

destacou-se que deveria ser observado que o contraditório e o devido processo legal

também atingiriam aquele que tem direito material e expressara-se livremente no

sentido de desejar exercer seu direito de figurar como assistente da acusação. Reputou-

se que a omissão consistente em desconhecer o pleito de habilitação do ofendido, na

qualidade de assistente, bem como negar-lhe os direitos de figurar no pólo ativo da

demanda, representaria afronta ao devido processo legal. Concluiu-se que, em virtude

da desobediência à referida cláusula, haja vista a ausência de intimação do ofendido, a

própria sentença estadual não se aperfeiçoara e não haveria, dessa maneira, como

reconhecer o trânsito em julgado para a acusação. RHC 106710/AM, rel. Min. Gilmar

Mendes, 29.3.2011. (RHC-106710) (Informativo 621, 2ª Turma).

Progressão de Regime

Progressão de regime: ação penal em curso e presunção de inocência

A existência de ação penal em curso não pode ser considerada para afastar a progressão

de regime de cumprimento da pena. Esse o entendimento da 1ª Turma ao conceder, em

parte, habeas corpus para determinar que o juízo de 1º grau analise se o paciente

preenche os requisitos legais para progredir ao regime semi-aberto, nos termos do art.

112 da Lei de Execução Penal - LEP (“A pena privativa de liberdade será executada em

forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada

pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior

e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do

estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão”). Asseverou-se que

tais requisitos seriam cumulativos, razão pela qual, atestado o seu preenchimento pelo

Page 329: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

juiz da execução, não se revelaria lícita a sua negativa com fundamento apenas na

situação processual indefinida do réu, porquanto a isso corresponderia antecipar o juízo

condenatório. Consignou-se que o ordenamento jurídico pátrio vedaria a possibilidade

de alguém ser considerado culpado com respaldo em meras suspeitas, tendo em vista o

princípio da presunção de inocência (CF, art. 5º, LXII). HC 99141/SP, rel. Min. Luiz

Fux, 29.3.2011. (HC-99141) (Informativo 621, 1ª Turma).

Prisão em unidade militar e progressão de regime - 2

Em conclusão, a 2ª Turma deferiu, em parte, habeas corpus para assegurar a militar

progressão de regime para o semi-aberto, em igualdade de condições com os civis. Na

espécie, o paciente fora condenado, sem decair da patente, e recolhido em

estabelecimento prisional castrense — v. Informativo 617. Observou-se a boa conduta

do paciente e o cumprimento de 1/6 da pena. Aduziu-se que o princípio ou a garantia da

individualização da pena seria um direito fundamental, uma situação jurídica subjetiva

do indivíduo, militar ou civil e que, ante a omissão ou falta de previsão da lei castrense,

seriam aplicáveis a LEP e o CP, que conjugadamente dispõem à saciedade sobre o

regime de progressão de pena. HC 104174/RJ, rel. Min. Ayres Britto, 29.3.2011.

(HC-104174) (Informativo 621, 2ª Turma).

INFORMATIVOS 622 A 624 - ABRIL DE 2011

Competência

Dupla imputação pelo mesmo fato: “bis in idem” e competência

A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que requerido trancamento de ação penal sob a

alegação de que os pacientes estariam sendo processados pela justiça militar pelos

mesmos fatos a que já responderiam como acusados em persecução criminal na justiça

federal. Ressaltou-se que, embora as ações penais tivessem se originado de um mesmo

fato, os pacientes não estariam sendo processados em ambos os juízos pela mesma

conduta delituosa. Na justiça federal, foram denunciados pela suposta prática de

atentado contra a segurança de transporte marítimo, fluvial ou aéreo (CP, art. 261),

enquanto na justiça militar, por eventual inobservância de lei, regulamento ou instrução

(CPM, art. 324) e por homicídio culposo — com idêntica definição na lei penal comum

e na lei castrense. Reputou-se que a competência absoluta seria improrrogável e

Page 330: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

inderrogável e que não seria possível, mesmo nos casos de conexão ou continência,

reunir o processamento e o julgamento dos delitos na mesma esfera jurisdicional, por

força do art. 79, I, do CPP (“A conexão e a continência importarão unidade de processo

e julgamento, salvo: I- no concurso entre a jurisdição comum e a militar”). HC

105301/MT, rel. Min. Joaquim Barbosa, 5.4.2011. (HC-105301) (Informativo 622,

2ª Turma).

Execução da Pena

Superveniência de condenação e regressão de regime

A superveniência de sentença condenatória no curso de execução criminal determina o

reinício da contagem do prazo para concessão do benefício da progressão de regime,

tendo como base a soma das penas restantes a serem cumpridas. Esse o entendimento da

1ª Turma ao indeferir habeas corpus em que se sustentava a ilegalidade da alteração da

data-base para fins dos direitos executórios. Entendeu-se que seriam aplicáveis, à

espécie, os artigos 111, parágrafo único, e 118, II, da Lei de Execução Penal - LEP

(“Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou

em processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo

resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração

ou remição. Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-

á a pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime ... Art.

118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a

transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado: ... II -

sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em

execução, torne incabível o regime ...”). Asseverou-se que, uma vez ocorrida a

unificação da pena, pouco importaria a data da prática do delito referente à condenação

subseqüente, pois o somatório apurado nortearia a fixação do seu regime de

cumprimento. HC 96824/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 12.4.2011. (HC-96824)

(Informativo 623, 1ª Turma).

Prisão

Busca e apreensão e prisão em flagrante

Page 331: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

A 1ª Turma, por maioria, concedeu habeas corpus para anular flagrante imposto ao

paciente, preso por haver sido encontrado drogas no interior de sua residência, onde

morava com o enteado. Na espécie, após a segregação deste pela suposta prática do

crime de tráfico, fora expedido mandado de busca e apreensão, que culminara na prisão

em flagrante do padrasto, única pessoa presente naquele local no momento da busca.

Asseverou-se que o enteado teria, posteriormente, confessado a prática criminosa e

declarado não existir envolvimento por parte do paciente, bem como que este ostentaria

bons antecedentes e primariedade. Concluiu-se que o flagrante teria decorrido de ilação

e que seria, portanto, ilegal. Determinou-se a expedição de alvará de soltura, a ser

cumprido com as cautelas próprias.Vencido o Min. Ricardo Lewandowski, relator, que

denegava a ordem. HC 106812/PR, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o

acórdão Min. Marco Aurélio, 5.4.2011. (HC-106812) (Informativo 622, 1ª Turma).

Provas

Escritório de advocacia e gravação clandestina

A 2ª Turma desproveu agravo regimental interposto contra decisão do Min. Joaquim

Barbosa, que negara seguimento a agravo de instrumento, do qual relator, tendo em

vista a jurisprudência sedimentada desta Corte, segundo a qual é lícita a prova

consistente em gravação de conversa realizada por um dos interlocutores, sem

conhecimento do outro, se não há causa legal específica de sigilo nem de reserva de

conversação. Na espécie, o autor da ação de indenização instaurada na origem, ora

agravado, na condição de advogado, sócio do escritório de advocacia recorrente e um

dos interlocutores da conversa, juntara ao processo prova obtida por meio da gravação

de diálogo, que envolvia a sua demissão, mantido com outros sócios nas dependências

do escritório. Asseverou-se que a gravação ambiental meramente clandestina realizada

por um dos interlocutores não se confundiria com a interceptação objeto de cláusula

constitucional de reserva de jurisdição. AI 560223 AgR/SP, rel. Min. Joaquim

Barbosa, 12.4.2011. (AI-560223) (Informativo 623, 2ª Turma).

Escuta ambiental e ação controlada

A 1ª Turma indeferiu habeas corpus no qual pretendida a decretação de nulidade de

provas colhidas por meio de escuta ambiental em ação controlada. Alegava a defesa que

tais provas teriam sido obtidas ilicitamente. Reputou-se não haver ilegalidade na

Page 332: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

denominada “ação controlada” e depreendeu-se, do contexto fático, que esta ocorrera

visando à elucidação de fatos aptos a consubstanciar tipo penal, procedendo-se em prol

da coisa pública. O Min. Luiz Fux salientou que as provas teriam sido colhidas de

acordo com o previsto no art. 2º, II e IV, da Lei 9.034/95 e que a sua nulificação

atingiria completamente o inquérito, instaurado em prol da moralidade administrativa e

do bem público. HC 102819/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 5.4.2011. (HC-102819)

(Informativo 622, 1ª Turma).

INFORMATIVOS 625 A 629 - MAIO DE 2011

Competência

Crime praticado por militar e competência

A 1ª Turma deferiu habeas corpus para declarar a incompetência da justiça castrense

para apreciar ação penal instaurada pela suposta prática do crime de lesão corporal

grave (CPM, art. 209, § 1º). Na espécie, o delito teria sido cometido por um militar

contra outro, sem que os envolvidos conhecessem a situação funcional de cada qual,

além de não estarem uniformizados. Entendeu-se que a competência da justiça militar,

conquanto excepcional, não poderia ser fixada apenas à luz de critério subjetivo, mas

também por outros elementos que se lhe justificassem a submissão, assim como a

precípua análise de existência de lesão, ou não, do bem juridicamente tutelado. HC

99541/RJ, rel. Min. Luiz Fux, 10.5.2011. (HC-99541) (Informativo 626, 1ª Turma).

Comunicação de Ato Processual

Intimação ficta e teor de publicação

A 1ª Turma, por maioria, concedeu habeas corpus para determinar ao Tribunal de

Justiça paulista que proceda à republicação do acórdão proferido em apelação criminal,

com a reabertura de prazo processual. Na espécie, a Secretaria daquela Corte — após o

processo retornar, com a devida ciência, da Procuradoria-Geral de Justiça — publicara

no Diário Oficial, para início de contagem de prazo da defesa, o resultado do

mencionado julgamento nos seguintes termos: “Por votação unânime, deram

provimento parcial ao apelo, nos termos do v. acórdão.” Observou-se, inicialmente, que

o STF firmara entendimento no sentido de se considerar suficiente a publicação do

Page 333: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

dispositivo de acórdão no Diário Oficial para efeito de intimação de réu e de abertura de

prazo recursal. Em seguida, constatou-se a plausibilidade jurídica e reputou-se haver

ilegalidade na forma como realizada a publicação. O Min. Marco Aurélio ressaltou que

o objeto da intimação ficta seria dar conhecimento à parte. Salientou, no ponto, que, no

tocante ao acórdão, a publicidade decorreria do lançamento de dispositivo no órgão

oficial, que não se resumiria a uma ou duas palavras, tais como, “desprovimento” ou

“provimento parcial”. Vencido o Min. Luiz Fux, que denegava a ordem, por considerar

cumprida a finalidade da lei. HC 100239/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 17.5.2011.

(HC-100239) (Informativo 627, 1ª Turma).

Acórdão condenatório e intimação pessoal do réu

A 2ª Turma concedeu habeas corpus em favor de condenado cuja sentença absolutória

fora reformada em apelação sem que ele fosse intimado desta decisão. No caso, em

razão de o réu não possuir advogado, fora-lhe atribuído defensor dativo, devidamente

intimado do resultado do recurso. A defesa não se manifestara, motivo pelo qual a

decisão transitara em julgado. Reputou-se que, dada a singularidade da espécie sob

exame, teria havido afronta ao devido processo legal, especificamente ao contraditório e

à ampla defesa. Consignou-se que seria razoável concluir que o paciente não tivera

conhecimento, por meio da imprensa oficial acerca de sua condenação, o que teria

prejudicado a interposição dos pertinentes recursos, caso considerasse conveniente.

Superada a restrição do Enunciado 691 da Súmula do STF, deferiu-se a ordem a fim de

anular o trânsito em julgado do acórdão, com conseqüente reabertura de prazo recursal.

Precedente citado: RHC 86318/MG (DJU de 7.4.2006). HC 105298/PR, rel. Min.

Gilmar Mendes, 31.5.2011. (HC-105298) (Informativo 629, 2ª Turma).

Nulidades

Intervalo entre citação e interrogatório e ampla defesa

Não há nulidade decorrente da inexistência de interregno entre a citação do réu e a

realização de seu interrogatório, presente o advogado. Com base nessa orientação, a 1ª

Turma, por maioria, denegou habeas corpus no qual sustentada afronta ao princípio da

ampla defesa e necessidade de assistência do réu por profissional da advocacia (CF, art.

5º, LV e LXIII). Aduziu-se que a conduta imputada ao paciente — roubo — não seria

complexa, além de ele ter sido acompanhado por defensora dativa, a qual poderia ter se

Page 334: APOSTILA ATUALIZADA 44° EXAME

insurgido quanto ao alegado vício e não o fizera oportunamente. Entendeu-se não

demonstrado o efetivo prejuízo para a defesa, o que inviabilizaria a declaração de

nulidade do feito, de acordo com o princípio pas de nullité sans grief, adotado pelo art.

563 do CPP. Vencidos os Ministros Marco Aurélio, relator, e Dias Toffoli, que

concediam a ordem, ao fundamento da imprescindibilidade de antecedência mínima da

citação em relação à audiência designada para interrogatório, a fim de se garantir a

defesa do réu por advogado de sua livre escolha. HC 100319/RS, rel. orig. Min.

Marco Aurélio, red. p/o acórdão Min. Luiz Fux, 24.5.2011. (HC-100319)

(Informativo 628, 1ª Turma).

Prisão

Prisão e prerrogativa de foro

A 1ª Turma concedeu habeas corpus para cassar decreto de prisão expedido por juiz de

direito contra deputado estadual. Entendeu-se que, ante a prerrogativa de foro, a vara

criminal seria incompetente para determinar a constrição do paciente, ainda que

afastado do exercício parlamentar. HC 95485/AL, rel. Min. Marco Aurélio, 24.5.2011.

(HC-95485) (Informativo 628, 1ª Turma).

Provas

Perito criminal e formação acadêmica - 2

Em conclusão, o Plenário, por maioria, deu parcial provimento a agravo regimental

interposto de decisão do Min. Joaquim Barbosa, proferida nos autos de ação penal, da

qual relator, movida pelo Ministério Público Federal contra diversas pessoas acusadas

da suposta prática de crimes ligados ao esquema denominado “Mensalão”. A decisão

questionada indeferiu pleito defensivo em que se pretendia o fornecimento de dados

sobre a formação acadêmica e experiência profissional de peritos criminais que atuaram

no processo — v. Informativo 624. Determinou-se que o Instituto Nacional de

Criminalística - INC informe apenas a formação superior dos peritos que atuaram nos

autos, sem suspensão do processo. Nesta assentada, o Min. Celso de Mello destacou o

art. 2º da Lei 11.690/2008 (“Aqueles peritos que ingressaram sem exigência do diploma

de curso superior até a data de entrada em vigor desta Lei continuarão a atuar

exclusivamente nas respectivas áreas para as quais se habilitaram, ressalvados os

peritos médicos”). Salientou, ademais, que o agravante pretenderia o esclarecimento

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dessa circunstância porque se trataria de peritos que ingressaram no INC antes do início

da vigência da citada lei e, por isso, deveriam atuar “exclusivamente” na área para a

qual se habilitaram. A Min. Cármen Lúcia reajustou o voto. Vencidos os Ministros

relator, Luiz Fux, Ellen Gracie, Ricardo Lewandowski e Ayres Britto, que desproviam o

recurso por considerarem preclusa a matéria.AP 470 Décimo Quarto AgR/MG, rel.

orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/o acórdão Min. Celso de Mello, 26.5.2011. (AP-

470) (Informativo 628, Plenário).

Tribunal do Júri

Júri: omissão de quesitos e nulidade

Ante empate na votação, a 2ª Turma concedeu, de ofício, habeas corpus para assentar

nulidade absoluta em julgamento realizado pelo tribunal do júri, que resultara na

condenação do paciente pela prática de homicídio. Considerou-se que, alegada a

legítima defesa, seria obrigatória a formulação dos quesitos sobre a moderação e o

elemento subjetivo do excesso punível, ainda que os jurados tivessem respondido

negativamente ao quesito sobre o uso dos meios necessários. Concluiu-se pela

gravidade dessa omissão porque, eventualmente reconhecido o excesso culposo, poder-

se-ia descaracterizar o homicídio doloso, com substancial redução da pena. Vencidos os

Ministros Ayres Britto, relator, e Ellen Gracie, que indeferiam a ordem por entenderem

que: a) a tese da legítima defesa teria sido afastada pelos jurados, portanto,

desnecessário indagar-se a natureza do excesso, se culposo ou se doloso; b) as partes

teriam anuído com a quesitação sem protesto e, por isso, precluso o momento

processual para se argüir qualquer nulidade. HC 98458/ES, rel. orig. Min. Ayres

Britto, red. p/ o acórdão Min. Celso de Mello, 31.5.2011. (HC-98458) (Informativo

629, 2ª Turma).