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SISTEMA PLANTIO DIRETO: BASES PARA O MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO

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SISTEMA PLANTIO DIRETO: BASES PARA O MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLO

Afredo Scheid Lopes Srio Wiethlter Luiz Roberto Guimares Guilherme Carlos Alberto Silva

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ANDA Associao Nacional para Difuso de Adubos

Praa Dom Jos Gaspar, 30 - 9 Andar So Paulo - SP Telefone: 11 3255-9277 Telefax: 11 3214-2831 Seite: www.anda.org.br e-mail: [email protected]

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APRESENTAOO Brasil possui a segunda maior rea plantada no mundo sob sistema plantio direto (SPD). Esse fato representa uma grande conquista para a sociedade brasileira em termos de preservao do meio ambiente, uma vez que, em rea sob SPD, a perda de solo por eroso drasticamente reduzida e o estoque de matria orgnica aumentado. Essas mudanas implicam em melhoria da fertilidade e da qualidade do solo e em maior eficincia de uso de gua e de nutrientes, o que se traduz em maior produo de alimentos com as mesmas quantidades de fertilizantes e de corretivos usadas atualmente. Como resultado desses benefcios, o SPD experimenta, atualmente, um avano acelerado em todos os estados brasileiros, j que, de incio, as reas sob SPD concentravam-se no sul do Brasil. Todos esses aspectos resultaram de um grande esforo da pesquisa brasileira no sentido de entender os processos fundamentais para o estabelecimento do SPD em diferentes solos e biomas, sobretudo nas questes associadas ao manejo da fertilidade do solo. Cabe tambm ressaltar a contribuio que os agricultores, os extensionistas e as empresas de fabricao de mquinas e de insumos deram para a expanso do SPD no Brasil.

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NDICE1. Introduo........................................................................................... 1 2. Principais alteraes qumicas no solo decorrentes do sistema plantio direto................................................................................................. 3 2.1. Matria orgnica.............................................................................. 3 2.2. Acidez do solo e toxidez de alumnio ............................................... 5 2.2.1. Respostas aplicao de calcrio ................................................ 8 2.2.2. Efeitos da calagem superficial nas camadas subsuperficiais do solo............................................................................................. 17 2.3. Fsforo........................................................................................... 21 2.4. Nitrognio ...................................................................................... 32 2.4.1. Aplicao antecipada de nitrognio............................................... 39 2.4.2. Perdas de nitrognio por volatizao............................................. 53 3. Antes de netrar no sistema plantio direto............................................. 54 3.1. Calagem......................................................................................... 55 3.2. Gessagem....................................................................................... 58 3.3. Adubao corretiva......................................................................... 61 3.3.1. Adubao fosfatada corretiva....................................................... 61 3.3.2. Adubao potssica corretiva....................................................... 68 3.3.3. Adubao corretiva com micronutrientes....................................... 70 4. Manejo da fertilidade no sistema plantio direto..................................... 71 4.1. Amostragem do solo para fins de avaliao da fertilidade.................. 71 4.2. Calagem.......................................................................................... 75 4.3. Adubao nitrogenada..................................................................... 79 4.4. Adubao fosfatada e potssica....................................................... 83 4.5. Adubao com enxofre e micronutrientes......................................... 87 4.6. A importncia da cobertura do solo................................................. 90 5. Consideraes finais.......................................................................... 92 6. Literatura citada................................................................................. 96 7. Apndice - Classes de solo utilizadas no texto, figuras e tabelas nomenclatura anterior e atual..............................................................110

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SISTEMA PLANTIO DIRETO: BASES PARA O MANEJO DA FERTILIDADE DO SOLOAlfredo Scheid Lopes 1 Srio Wiethlter 2 Luiz Roberto Guimares Guilherme 3 Carlos Alberto Silva 4

1. Introduo Um dos maiores avanos no processo produtivo da agricultura brasileira foi a introduo do Sistema Plantio Direto (SPD) no Sul do Brasil, a partir do incio da dcada de 1970. Seu objetivo bsico inicial foi controlar a eroso hdrica. O desenvolvimento desse sistema s se tornou possvel graas a um trabalho conjugado de agricultores, pesquisadores, fabricantes de semeadoras, e tcnicos interessados em reverter o processo acelerado de degradao do solo e da gua verificado em nosso pas. Em solos de igual declividade, o SPD reduz em cerca de 75% as perdas de solo e em 20% as perdas de gua, em relao s reas onde h revolvimento do solo (Oliveira et al., 2002). Com crescimento inicial pouco expressivo, em termos de rea, foi a partir da dcada de 1990 que ocorreu grande expanso da rea sob SPD, tanto na regio sul como na regio do Cerrado, onde o SPD comeou apenas a ser utilizado nos anos 1980 (Figura 1). Atualmente so cultivados no Brasil cerca de 20 milhes de hectares sob plantio direto (Cervi, 2003), estando 25% dessa rea localizada na regio do Cerrado. Em nvel mundial, a rea sob SPD de 64 milhes de hectares e o Brasil ocupa a segunda maior rea, sendo os Estados Unidos o pas que apresenta a maior rea sob esse sistema. Regionalmente, o SPD j vem sendo adotado de modo sistemtico nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran (3,8, 0,8 e 4,5 milhes de hectares, respectivamente) havendo, nos anos1. Eng o Agro, PhD, Professor Emrito do Depto de Cincia do Solo, Universidade Federal da Lavras, Lavras, MG e Consultor Tcnico da ANDA, So Paulo, SP, e-mail: [email protected] 2 . Engo Agro, PhD, Pesquisador, Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, e-mail: [email protected] 3. Eng o Agro, PhD, Professor Adjunto do Depto de Cincia do Solo, Universidade Federal da Lavras, e-mail: [email protected] 4. Eng o Agro, Dr, Professor Adjunto do Depto de Cincia do Solo, Universidade Federal da Lavras, e-mail: [email protected]

6

recentes, uma maior adoo do SPD em outros estados brasileiros, principalmente em Gois, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. A expanso relativamente rpida do SPD no Brasil pode ser explicada, tambm, pelo menor custo de produo e facilidades de operao de prticas de campo verificados nesse sistema de cultivo, aliado a uma maior proteo do solo, da gua e da fauna.25Brasil

20Cerrado

Milhes ha

15

10

5

075 80 85 90 Ano agrcola 95 00 03 (e)

Figura 1. Evoluo da rea cultivada sob plantio direto na regio do Cerrado e no Brasil. 1975-2002 e expectativa para 2003. Fonte: Cervi (2003) e FEBRAPDP (2003).

As informaes obtidas em alguns experimentos de longa durao, implantados principalmente na regio Sul do Brasil, permitiram concluir que o SPD no apenas um sistema eficiente de conservao do solo. reas sob SPD apresentam inmeras caractersticas prprias, e que, por conseqncia, exigem um manejo diferenciado, principalmente em relao fertilidade do solo. Essas caractersticas so decorrentes dos seguintes fatores: a) do no revolvimento do solo e do acmulo progressivo de restos culturais; b) da adubao sucessiva em sulcos ou a lano superficial; c) da variedade de plantas adotada na rotao de culturas - tanto em relao quantidade quanto qualidade da matria seca das mesmas; d) de uma dinmica de gua no solo diferente da que ocorre com o preparo do solo e e) de uma condio diferenciada em relao a pragas, doenas e invasoras. 7

No caso do Cerrado, um fator adicional na implantao do SPD nesta regio do Brasil, a partir dos anos 1990, surgiu em decorrncia de, at recentemente, no haver muitas alternativas de plantas de cobertura que suportassem os seis meses de baixa disponibilidade de gua que ocorrem entre abril e setembro. Outro ponto que merece destaque, em face de um menor tempo de adoo dessa prtica nessa regio, que existem poucos experimentos de longa durao que permitem extrair informaes conclusivas sobre alteraes na dinmica da fertilidade do solo sob SPD, e sobre suas respectivas alternativas prticas. Embora existam vrios trabalhos de reviso de literatura recentes, enfocando o manejo da fertilidade do solo no SPD em algumas regies do pas (S, 1999; Wiethlter, 2000b, 2002c; Caires, 2000; Sousa e Lobato, 2000; Freire et al., 2000 e Oliveira et al., 2002), o acesso a essas informaes bastante limitado para os tcnicos que atuam diretamente no campo orientando os agricultores nas suas tomadas de deciso. Por esse motivo, tornou-se oportuna a presente publicao, a qual no pretende abranger todos os dados disponveis sobre o manejo da fertilidade do solo no SPD, mas to somente objetiva avaliar as principais alteraes de parmetros de fertilidade do solo com o passar dos anos sob esse sistema, assim como apresentar sugestes sobre o manejo prtico da fertilidade do solo para atingir-se a produtividade mxima econmica. 2. Principais alteraes qumicas no solo decorrentes do sistema plantio direto 2.1. Matria orgnica Uma das caractersticas marcantes do SPD o aumento do teor de matria orgnica na camada superficial do solo com o decorrer do tempo de implantao desse sistema. A ausncia de preparo do solo (prticas convencionais de arao e de gradagem) e a quantidade e qualidade, tanto dos resduos das culturas de interesse econmico em rotao ou sucesso como das plantas de cobertura ao longo dos anos, acarretam um aumento gradual no teor de matria orgnica, notadamente na camada superficial (0 a 10 cm). 8

A razo do acrscimo de matria orgnica decorre do fato de a taxa de decomposio de palha mantida na superfcie do solo ser menor do que se fosse incorporada ao solo. O aumento nos estoques de matria orgnica dependente de vrios fatores, tais como: quantidade de palha, tipo de rotao de cultura adotada, grau de revolvimento do solo, clima da regio e doses de fertilizantes aplicadas nas lavouras, (Machado e Silva, 2001). O aumento do teor de matria orgnica geralmente no ocorre nos primeiros anos de adoo do SPD, mas sim, aps 6 ou 7 anos de incio do sistema. A alterao no teor de matria orgnica, tanto em quantidade como em qualidade, tem implicaes graduais nas alteraes do pH, na toxidez de alumnio, na dinmica de nitrognio, do fsforo e de outros nutrientes. Nos trabalhos de pesquisa de Muzilli (1983) e Sidiras e Pavan (1985), conduzidos no Estado do Paran, foram observados aumentos significativos no teor de matria orgnica na camada de 0 a 5 cm em um Latossolo Roxo aps 5 anos sob SPD, em comparao com o sistema de plantio convencional (SPC). Para outro Latossolo Roxo e para uma Terra Roxa Estruturada, aps 4 anos sob SPD, o aumento significativo da matria orgnica atingiu a camada de 0 a 20 cm. Ainda no norte do Paran, foi observado que aps 15 anos do SPD ocorreu um aumento de 27% no teor de matria orgnica na camada de 0 a 10 cm (S, 1995). A elevao do teor de matria orgnica nas camadas mais superficiais do solo uma conseqncia no somente de sua mineralizao mais lenta no SPD em relao ao SPC, devido ao menor contato com o solo, o que retarda a ao dos microrganismos responsveis por este processo, mas, tambm, pela maior adio de fitomassa das culturas em rotao e/ou, sucesso e pela maior preservao da estrutura do solo, que confere matria orgnica maior proteo ao ataque de microrganismos e de seus complexos enzimticos. No Sul do Brasil, em termos gerais, tem-se observado um aumento no teor de matria orgnica de 0,5 a 1,5% na camada de 0 a 10 cm em cerca de 10 anos. Depreende-se, pois, que, em havendo aumento no teor de matria orgnica, est ocorrendo armazenamento de N no solo, pois a matria orgnica constituda por 5% de N (a relao C:N em solo constante, em torno de 10:1). Este aspecto, portanto, tem relao direta com as entradas e sadas de N do sistema. Em ltima instncia, o acmulo de matria orgnica depende da adio de N ao solo, seja pela fixao biolgica ou pelos fertilizantes minerais ou orgnicos. 9

2.2. Acidez do solo e toxidez de alumnio No SPC, a calagem uma prtica indispensvel a cada 4 a 5 anos visando corrigir a acidez do solo e tornar insolvel o alumnio. A gerao de acidez pode ser atribuda, em parte, mineralizao dos resduos orgnicos, lixiviao de ctions de reao bsica da camada arvel e intensificao da eroso hdrica (Sidiras e Vieira, 1984). J no SPD estabilizado, de uma maneira geral, tem sido observada menor demanda de calcrio. De forma anloga, o teor de alumnio trocvel e a percentagem de saturao da CTC efetiva por alumnio tendem a diminuir com o decorrer dos anos de implantao do SPD (Sidiras e Pavan, 1985). Nos Campos Gerais do Paran, em 40 reas avaliadas sob plantio direto, observou-se ausncia de alumnio na profundidade de 0 a 10 cm, enquanto que apenas 5% das reas apresentaram saturao por alumnio entre 0 e 15% na profundidade de 10 a 20 cm (S, 1993). Vrios mecanismos tm sido propostos para explicar a reduo da acidez e a diminuio da toxidez de alumnio no solo pela aplicao de resduos orgnicos, cabendo destaque as publicaes de Miyazawa et al. (1993), Salet (1998), Franchini et al. (1999), Cassiolato et al. (1999), Sumner e Pavan (2000) e Miyazawa et al. (2000). Segundo Miyazawa et al. (2000), a capacidade dos resduos vegetais em reduzir a acidez do solo est associada aos seus teores de ctions de reao bsica e carbono orgnico solvel, que normalmente so maiores em resduos de adubos verdes, tais como: aveia preta, nabo forrageiro, tremoo, leucena, mucuna, crotalria e outros. A menor capacidade de neutralizao da acidez do solo dos resduos de culturas de espcies comerciais, como soja, trigo e milho, est relacionada reduo dos teores de ctions e carbono solvel com o avano da idade fisiolgica da planta. Dessa forma, o efeito mximo das plantas no pH ocorre quando essas esto em pleno desenvolvimento. Um aspecto interessante em relao s reaes dos resduos vegetais que sua natureza anftera (ora reage como base, ora como cido) faz com que ocorra um aumento do pH de solos cidos e uma reduo do pH de solos alcalinos, tendendo a um valor prximo ao pKa mdio de uma mistura de diferentes substncias orgnicas. O pH tende a valores entre 4,5 a 7,0, dependendo do 10

balano entre grupamentos carboxlicos (com pKa entre 2 e 5) e fenlicos (pKa entre 7 a 9) presentes nos resduos. Um resumo das reaes qumicas que ocorrem, em relao a possveis alteraes do pH, mostrado a seguir: a) Neutralizao da acidez, envolvendo a participao de radicais carboxlicos: (R-COO)nM + nH+ nR-COOH + Mn+ onde, Mn+ = K+, Ca2+ e Mg2+ e R = cadeia de carbonos b) Neutralizao da alcalinidade, envolvendo a participao de radicais amdicos e fenlicos: R-C(NH3)+-COOH + OH- R-C(NH2)-COOH + H2O R-OH + OH- R-O- + H2O. Outro aspecto que merece destaque a reduo da toxidez de Al3+ (a forma qumica mais txica para plantas) aps a aplicao de resduos vegetais e esterco de animais observada em vrios estudos citados por Miyazawa et al. (2000). Isso ocorre por dois processos qumicos, exemplificados a seguir: a) Hidrlise devido ao aumento de pH (R-COO)nM + nH2O nR-COOH + nOH- + Mn+ Al3+ + 3OH- Al(OH)3 (precipitado) b) Complexao por cidos orgnicos 3(R-COO)nM + nAl3+ n(R-COO)3Al + 3Mn+ onde, Mn+ = K+, Ca2+ e Mg 2+ e R = cadeia de carbonos. Existe, entretanto, considervel variao do efeito neutralizante da acidez pela aplicao de diferentes resduos vegetais em experimentos conduzidos 11

em laboratrio. Os resultados obtidos por Cassiolato et al. (1999) (Figura 2-A), indicam que extratos de nabo forrageiro e de tremoo azul foram mais eficientes na neutralizao da acidez potencial, sendo o efeito do milheto quase nulo. Por sua vez, Miyazawa et al. (1993), avaliando vrias espcies de resduos vegetais quanto capacidade de neutralizao de H+ da soluo, verificaram que resduos de adubos verdes apresentaram maior capacidade de neutralizao de H+ (feijobravo-do-Cear = 1,0 mmolc/g) do que resduos ps-colheita (palha de trigo = 0,26 mmolc/g e de milho = 0,30 mmolc/g de resduo) (Figura 2-B). Depreendese, pois, que a capacidade de reduo da toxidez de Al por plantas depende da espcie, mas principalmente do estdio da planta, sendo plantas em desenvolvimento mais eficientes que plantas no estdio de maturao.(A)Legenda: Acidez potencial do solo neutralizada pelo resduo vegetalT. azul Nabo Crotalaria blev. Crotalaria espec. Aveia Tremoo branco Caf folha Mucuna an Mucuna cinza Cana folha Trigo Arroz Guandu Milheto Testemunha (solo percolado com gua) Centeio Trigo Milho Azevm Guandu Chcharo Aveia preta Serradela Girassol Esprgula Nabo forrageiro Mucuna cinza Crotalria Tremoo branco Mucuna an Feijo-de-porco Colza Casca de caf Ervilhaca comum Feijo-bravo-do-Cear

(B)

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0 0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

H + Al (cmolc/kg)

H neutralizado (mmolc/g)

Figura 2. Neutralizao da acidez potencial do solo (A) e da soluo de HCl por resduos vegetais (B). Fonte: Miyazawa et al. (1993) e Cassiolato et al. (1999), modificado por Miyazawa et al. (2000).

Os dados apresentados na Figura 2, embora tenham sido obtidos em laboratrio, sugerem que os resduos vegetais de diferentes culturas em rotao e/ou sucesso no SPD podem levar a diferenas na diminuio da acidez e da 12

toxidez de alumnio. Esses efeitos dos resduos vegetais na dinmica da matria orgnica, na elevao do pH e na diminuio da toxidez de alumnio no SPD podem ter implicaes na definio da dose de calcrio medida que aumenta o tempo de implantao do SPD nas glebas, chegando-se, em muitos casos, a alcanar produtividade mxima econmica (PME) com nveis de pH em gua de 5,0 e percentagem de saturao por alumnio de 40%. Deve ser considerado, no entanto, que o efeito das plantas no pH do solo ocorre em um curto espao de tempo. Para mais detalhes sobre o efeito de resduos vegetais na diminuio da acidez e neutralizao da toxidez do alumnio, o leitor pode consultar o trabalho de Miyazawa et al. (2000). Sob certas situaes, o SPD pode, entretanto, resultar no inverso, ou seja, em decrscimo do pH. Isso ocorre, principalmente, pela aplicao de doses elevadas de fertilizantes nitrogenados na forma amoniacal (NH4+) e amdica (NH2) geralmente associada a alta taxa de absoro e exportao de bases (Freire et al., 2000). 2.2.1.Respostas aplicao de calcrio Considerando que a gerao de acidez no solo um processo contnuo em climas midos, e considerando que a incorporao de calcrio invivel no plantio direto, desde o incio dos estudos sobre o SPD havia preocupao com a forma de se corrigir a acidez do solo. Existem, entretanto, no Brasil, relativamente poucos experimentos de longa durao no campo envolvendo doses e mtodos de aplicao de calcrio e seus efeitos com o passar dos anos, sobre atributos qumicos nas diversas camadas do solo e na produo das culturas em rotao adotadas no SPD. Os dados apresentados nas Tabelas 1 e 2 exemplificam o que ocorre com alguns atributos de acidez do solo, trs ou quatro anos aps a aplicao de doses variveis de calcrio em lavouras sob plantio direto. Para todos os tratamentos que envolveram a aplicao superficial de calcrio, houve aumento do pH, do Ca + Mg e diminuio do teor 13

de Al trocvel at 10 cm, mas relativamente pouco efeito na camada de 10 20 cm, a no ser nas doses mais elevadas de calcrio. A diferena de rendimento mdio de gros da seqncia de culturas soja/trigo/milho/ aveia branca/soja/cevada/soja, entre aplicao superficial e incorporao de calcrio de uma mesma dose (1 SMP) foi inexpressiva (Pttker et al., 1998) (Tabela 3). Mesmo as doses de 1/2 e 1/4 SMP, aplicadas na superfcie, no resultaram em queda acentuada na produo mdia dessa seqncia de culturas, indicando que o retorno da acidez mais lento que no sistema convencional de preparo do solo. Porm, os dados da Tabela 3 devem ser considerados no contexto de terem sido obtidos em solos com teor alto de P. Dessa forma, levando-se em conta o conhecido fato de haver efeito substitutivo do P pelo calcrio, o efeito da calagem poderia ter sido maior se o solo no apresentasse teor elevado de P.

Tabela 1. Efeito de calcrio aplicado na superfcie do solo no pH e no teor de Al em Latossolo Vermelho Distrfico tpico (LVdt), Unidade de Mapeamento Passo Fundo, sob plantio direto. Capingu, Passo Fundo, RS. Embrapa Trigo. Fonte: Pttker et al. (1998).Dose de calcrio, Camada de 1993 (Incio) 1996 (1) solo, cm pH (H2O) Al, cmolc/dm3 pH (H2O) Al, cmol c/dm3 SMP

0-5 5 - 10 10 - 20 0-5 1 - incorporado 5 - 10 10 - 20 0-5 1 - superficial 5 - 10 10 - 20 0-5 1/2 - superficial 5 - 10 10 - 20 0-5 1/4 - superficial 5 - 10 10 - 20 0(1)

5,0 4,9 4,7 5,0 4,9 4,7 5,0 4,9 4,7 5,0 4,9 4,7 5,0 4,9 4,7

1,0 1,3 2,9 1,0 1,3 2,9 1,0 1,3 2,9 1,0 1,3 2,9 1,0 1,3 2,9

4,5 4,6 4,8 4,5 4,6 4,8 4,5 4,6 4,8 4,5 4,6 4,8 4,5 4,6 4,8

1,0 1,3 2,8 1,0 1,3 2,8 1,0 1,3 2,8 1,0 1,3 2,8 1,0 1,3 2,8

1 SMP para pH 6 = 10,7 t/ha.

14

Tabela 2. Resultados de pH em gua, Al e Ca + Mg trocveis, em quatro profundidades e em 2 anos, em funo de doses de calcrio (mdias de trs repeties). Epagri, Campos Novos , SC. Fonte: W iethlter (2000), citando Carla Pandolfo (comunicao pessoal).p H em gua Doses de Profundidade, calcrio cm 1996 1999 Al trocvel Anos 1996 1999 19963

Ca + M g trocveis

1999

------------- cmolc /dm -----------0,0 - 2,5 0 SMP 2,5 - 5,0 5,0 - 10,0 10,0 - 20,0 0,0 - 2,5 1/4 SM P 2,5 - 5,0 5,0 - 10,0 10,0 - 20,0 0,0 - 2,5 1/3 SM P 2,5 - 5,0 5,0 - 10,0 10,0 - 20,0 0,0 - 2,5 1/2 SM P 2,5 - 5,0 5,0 - 10,0 10,0 - 20,0 0,0 - 2,5 1 SMP 2,5 - 5,0 5,0 - 10,0 10,0 - 20,0 4,6 4,6 4,5 4,6 5,4 5,1 4,7 4,5 5,4 4,8 4,7 4,6 5,7 5,2 4,7 4,6 6,0 5,4 4,8 4,6 4,4 4,4 4,3 4,3 5,2 5,0 4,9 4,7 5,6 5,4 5,2 4,8 5,6 5,3 5,1 4,8 5,8 6,2 6,0 5,2 3,8 3,8 3,7 3,5 0,2 1,2 2,8 3,5 0,5 2,7 2,7 2,8 0,0 0,6 2,8 3,3 0,0 0,2 1,8 3,1 2,2 2,8 3,0 3,2 0,1 0,5 0,7 1,4 0,0 0,4 0,5 1,5 0,0 0,7 0,4 0,9 0,0 0,0 0,0 0,3 3,5 3,1 3,1 2,5 9,4 7,3 4,1 2,3 9,0 4,3 4,1 3,3 11,4 7,5 4,1 2,8 12,5 9,5 5,2 2,8 3,9 3,2 3,2 3,5 9,1 7,2 7,8 6,2 10,3 8,5 8,0 5,6 12,0 7,9 7,8 7,3 12,2 12,7 11,8 8,9

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Latossolo Vermelho distrfico tp ico, Unidade de M ap eamento Passo fundo. 1 SM P = 10,7 t/ha. Cultivado no SPD desde 1990. (2) Latossolo Vermelho aluminofrrico, Unidade de M ap eamento Erechim. 1 SM P = 7,2 t/ha. Calagem anterior realizada em 1983. Cultivado no SPD desde 1984. (3) Valores mdios de sete cultivos em cada solo. Em ambos os exp erimentos as doses de calcrio foram ap licadas em 1993.

(1)

Tabela 3. Efeito da aplicao de calcrio em SPD, no rendimento mdio de gros da seguinte seqncia de culturas: soja, trigo, milho, aveia branca, soja, cevada e soja. Embrapa Trigo. Fonte: Pttker et al. (1998). Solo (3) Tratamento Mdia (1) (2) LVdt LVaft --------------------- kg/ha --------------------Testemunha (sem calcrio) 2.174 2.926 2.550 1 SMP incorporado 2.857 3.439 3.148 1 SMP s uperfcie 2.819 3.450 3.134 1/2 SMP s uperfcie 2.756 3.448 3.102 1/4 SMP s uperfcie 2.626 3.340 2.983 1/8 SMP s uperfcie 2.535 3.290 2.912 1/16 SMP superfcie 2.524 3.210 2.862 Mdia 2.612 3.300 2.956

Como mencionado anteriormente, no Estado do Paran, um dos fatos marcantes em relao ao SPD, h alguns anos, foi a constatao de que, durante a avaliao da fertilidade do solo realizada em 40 reas sob SPD na regio dos Campos Gerais (S, 1993), foi constatada elevada acidez em 70% delas, com valores de pH (CaCl2 0,01M) entre 4,0 e 4,7 (pH em gua entre 4,6 e 5,3) na camada de 30-40 cm e saturao por bases na faixa de 35-45% na camada de 0-20 cm. Entretanto, segundo S (1999), o rendimento mdio das culturas de soja e de milho, nessas reas, foi de 3.100 e 7.280 kg/ha, respectivamente, sendo que rendimentos inferiores somente foram obtidos sob valores de saturao por bases entre 20 e 30%. Outro ponto constatado foi o pH mais baixo aps o cultivo de trigo sobre os resduos de milho em relao quele observado quando uma leguminosa foi intercalada entre essas duas culturas. Nessa situao, a adio de N mineral para suprir as necessidades dessas gramneas foi de 190 kg/ha (120 e 70 kg/ha para milho e trigo, respectivamente), proporcionando, ao solo, um possvel efeito acidificante associado ao fertilizante nitrogenado. 16

Essas observaes levaram instalao de uma srie de experimentos de longa durao no Estado do Paran, tendo como objetivo a avaliao de mtodos de aplicao de calcrio no SPD (S, 1999). Os dados referentes a algumas caractersticas qumicas nas camadas de 0-20 e 20-40 cm, antes da implantao dos experimentos nos vrios locais (Tibagi, Arapoti e Ponta Grossa), so apresentados na Tabela 4.Tabela 4. Res ultados das anlis es qumicas, em duas profundidades de amos tragem, antes da implantao dos experimentos envolvendo mtodos de aplicao de calcrio s ob plantio direto. Fonte: S (1999).Profundidade cm p H (CaCl2 ) Al trocvel cmolc /dm 3 M atria orgnica g/kg Valor V(1) Valor m(2)

------------- % -------------

(1)

Solo 1: Latos solo Vermelho-Es curo, argilos o (640 g/kg de argila), Tibagi, 0 - 20 4,1 1,2 38 23,4 26,0 1,4 35 18,2 28,3 20 - 40 4,2 Solo 2: Latos so Vermelho-Amarelo, arenos o, Arapoti, PR. 0,6 20 18,3 34,6 0 - 20 4,2 0,6 16 13,4 43,6 20 - 40 4,2 Solo 3: Cambiss olo lico, Ponta Gros s a, PR. 0,4 43 40,6 11,0 0 - 20 4,8 2,2 28 10,2 60,9 20 - 40 4,0Saturao da CT C a p H 7 p or bases. (2) Saturao da CT C efetiva p or Al.

No solo 1, em Tibagi, PR, no inverno de 1982, foi feita aplicao de calcrio dolomtico com base no teor de Al x 2 e incorporao com arado de discos na profundidade de 0-20 cm. Posteriormente, foi semeada aveia-preta para a implantao do plantio direto com a seguinte rotao de culturas: aveiapreta/milho/aveia-preta/soja/trigo/soja. De 1982 a 1990, no foram aplicadas doses complementares de calcrio e, em dezembro de 1990, foi feita a amostragem do solo, antes da implantao do experimento, sendo os resultados das anlises qumicas mostrados na Tabela 4. Os tratamentos, os resultados de produo e o retorno econmico acumulados no perodo de 1991-1996 para trs culturas de soja, duas de trigo e duas de milho, no solo 1, so mostrados na Tabela 5. Apesar da melhoria da fertilidade nas profundidades amostradas, para vrios atributos (pH, V%, m%, Ca,) nos tratamentos com incorporao (principalmente os tratamentos d e e), o rendimento acumulado indicou que as cultivares suscetveis a Al responderam com diferena estatisticamente significativa aos tratamentos com incorporao 17

(c, d, e), em relao testemunha sem calcrio (a), porm, foram semelhantes aplicao em superfcie (b). Nas cultivares tolerantes a Al, a aplicao em superfcie (b) apresentou resultados estatisticamente iguais queles com incorporao (c, d, e). O comportamento entre cultivares tolerantes e suscetveis foi diferenciado somente nos primeiros anos aps a aplicao do calcrio. Isso indica que a escolha de cultivares um fator preponderante para estudos envolvendo mtodos de calagem no SPD (S, 1999). Mesmo tendo havido melhoria da fertilidade no perfil com a incorporao do corretivo at 20 e 35 cm, o efeito da aplicao de menor dose em superfcie restringiu-se camada de 0-10 cm de profundidade. O maior retorno econmico, aps sete cultivos de gros, foi obtido com a aplicao de calcrio em superfcie, utilizando cultivares tolerantes acidez. Em conseqncia, parece que h outros mecanismos to ou mais importantes do que a simples elevao do teor de bases e reduo da saturao por alumnio em subsuperfcie.Tabela 5. Efeitos de mtodos de calagem na produo acumulada de gros de cultivares tolerantes e s us cetveis acidez em um Latos s olo VermelhoEs curo, argilos o, s ob plantio direto em Tibagi, PR, no perodo de 1991 a 1996. Fonte: S (1999).Tratamentos Produo acumulada Retorno (1) no p erodo econmico (2) Cultivares Cultivares Cultivares Cultivares tolerantes suscetveis tolerantes suscetveis

(1) (2)

a) Tes temunha s em calcrio b) Calcrio em s uperfcie, 2 t/ha c) Calcrio incorporado com es carificador tipo cruzador, 2 t/ha d) Calcrio incorporado na camada de 0-20 cm (arado de dis cos ), 7,1 t/ha e) Calcrio incorporado na camada de 0-35 cm (arado de aiveca), 13,5 t/ha (3) DMS C.V. (%)

-------- kg/ha -------- ---------- R$ ---------28.542 a 28.650 a ----32.308 b 31.489 b 551,00 267,26 31.026 b 31.498 b 31.654 b 31.730 b 336,82 313,32 319,66 270,43

32.145 b 2.741 4,02

33.089 b 2.805 3,9

405,30 -----

507,62 -----

Produo acumulada de trs culturas de soja; duas de trigo e duas de milho;

Retorno econmico = ganho total custo do tratamento; (3) Valores seguidos p or letras iguais na coluna no diferem entre si estatisticamente p elo teste de Tukey p ara p < 0,05.

18

J no Latossolo Vermelho-Escuro arenoso de Arapoti, PR, (solo 2, Tabela 4), com menor teor de matria orgnica e alumnio, tanto na camada de 0-20 como de 20-40 cm, os dados da produo acumulada de gros (2 cultivos de soja, 1 de milho e 1 de trigo) mostram que no ocorreu resposta calagem (Tabela 6), embora tenha ocorrido melhoria da fertilidade nas profundidades amostradas para vrios atributos (pH, m%, Ca,), nos tratamentos com incorporao, com a mesma tendncia observada para o Latossolo Vermelho-Escuro, argiloso, solo 1 (S, 1999). A hiptese do autor para explicar esse comportamento foi a de que a liberao de compostos orgnicos oriundos da elevada produo de resduos de aveia-preta, antes de iniciar o experimento, pode ter atuado na mobilizao de clcio para as camadas subsuperficiais e na complexao de Al por cidos orgnicos, conforme observado por Pavan (1996). Essa constatao importante para o plantio direto, porque permite mudar o enfoque sobre calagem nesse sistema de manejo do solo.Tabela 6. Efeito de mtodo de calagem na produo acumulada de gros de cultivares tolerantes e susceptveis acidez, em Latossolo VermelhoEscuro, arenoso, sob plantio direto, em Arapoti, PR, no perodo de 1993 a 1995. Fonte: S (1999).Tratamentos

a) Testemunha sem calcrio b) Calcrio em superfcie, 1,5 t/ha c) Calcrio incorporado com grade aradora (0-10 cm), 2 t/ha d) Calcrio incorporado na camada de 0-20 cm (arado de discos), 4,1 t/ha e) Calcrio incorporado na camada de 0-35 cm (arado de aiveca), 7,1 t/ha DMS C.V. (%)(1) (2)

Produo acumulada no perodo Cultivares Cultivares tolerantes susceptveis ------------------- kg/ha ------------------15.698 a 15.626 a 16.213 a 15.526 a 15.410 a 16.675 a 15.557 a 3.177 8,86 15.124 a 16.547 a 17.332 a 2.583 7,15

(1)

(2)

Produo acumulada p ara duas culturas de soja; uma de trigo e uma de milho;

Letras iguais na coluna no diferem entre si estatisticamente p elo teste de Tukey p ara p < 0,05.

19

interessante notar que, mesmo no Cambissolo lico de Ponta Grossa, PR (22,5 mmolc/dm3 de Al e 60,9% de saturao por Al na camada de 20-40 cm, solo 3) (Tabela 4), h apenas trs anos sob plantio direto, no houve efeito significativo no 1o ano de produo de milho, pela incorporao mais profunda de altas doses de calcrio (Tabela 7, S, 1999), em comparao com a aplicao superficial de 2 t/ha, sendo, inclusive, esse ltimo tratamento, o que apresentou maior ndice relativo de produo. As altas produtividades de milho obtidas com a aplicao de apenas 2 toneladas de calcrio por hectare para essa condio de camada subsuperficial cida parece confirmar a hiptese de que, no plantio direto, existem mecanismos adicionais de reduo do efeito prejudicial da acidez.Tabela 7. Efeito de mtodo de calagem no rendimento de gros de trs hbridos de milho emumCambissolo lico, sob plantio direto h trs anos, em Ponta Grossa, PR. Fonte: S (1999). Mdia Hbridos ndice dos trataTratamentos relativo P-3230 C-805 AG-514 mentos -------------------- kg/ha -------------------a) Calcrio em superfcie, 11.406 9.561 9.935 10.300 a 100,0 2,0 t/ha b) Calcrio incorporado na 9.988 a 97,0 camada de 0-20 cm (arado de 10.452 9.530 9.982 discos), 4,1 t/ha c) Calcrio incorporado na 9.770 a 95,0 camada de 0-35 cm (arado de 10.769 9.227 9.314 aiveca), 7,1 t/ha Mdia dos hbridos 10.875 b 9.439 a 9.473 a 10.019 95,7 C. V. (%) = 9,1

Um resumo de alguns resultados de pesquisa da aplicao de doses de calcrio na superfcie, em plantio direto, em latossolos cidos no Estado do Paran, foi elaborado por Caires (2000). Segundo o autor, essa prtica vivel na produo de gros em rotao no SPD, pois foram observados aumentos mdios de rendimento de 4 a 42% (Tabela 8). Um fato importante foi a obteno de produtividades relativamente altas das culturas, mesmo na 20

ausncia de calcrio em solos com acidez elevada inicialmente (pH 4,1 em CaC l 2 0,01M) confirmando observaes anteriores de S (1993; 1999). O alto teor inicial de matria orgnica desses solos (33 a 46 g/dm 3) e o aporte de restos de materiais vegetais mantidos na superfcie do solo nos sistemas de rotao de culturas no SPD parecem confirmar os efeitos positivos sobre a acidez, quais sejam, o aumento do pH e a reduo do teor de Al txico, conforme j discutido no tpico 2.2.

Tabela 8. Efeito da aplicao de calcrio na superfcie, em sistema plantio direto, sobre a produo de gros de culturas em latossolos cidos do Paran. Fonte: Adaptado de Cares (2000b).Anlise qumica inicial do solo (0-20 cm) pH (CaCl2) Al3+

Cultura

Produo Dose de Aumento de gros na calcrio mdio na ausncia de na p roduo M . O. calcrio sup erfcie

Fonte

cmolc /dm3 g/dm3

kg/ha 1.792 2.818 2.775 8.205 9.517 1.865 1.365(1 ) (2 ) (3 ) (4 ) (5 ) (6 ) (7 )

t/ha 5,5 2 4 2 4 2 4

% 42 20 9 9 4 4 34Oliveira e Pavan (1996)

4,1 Soja 4,1 4,5 4,1 Milho 4,5 4,1 Trigo(1)

0,8 1,2 0,6 1,2 0,6 1,2 0,6

46 38 33 38 33 38 33

4,5

S (1999) Caires et al., (2000a) S (1999) Caires et al., (2000a) S (1999) Caires et al., (2000a)(2)

Valor mdio de quatro cultivos (soja/centeio/soja/trigo/soja/trigo/soja). Valor mdio de quatro cultivos(4)

Valor

mdio de trs cultivos (soja/aveia p reta/milho/trigo/soja/aveia p reta/milho/trigo/soja).(3)

(soja/ervilhaca(5) (6)

mais

aveia

p reta/milho/

p ousio/soja/trigo/soja/triticale/soja).

Valor mdio de dois cultivos (soja/ aveia Valor referente a ap enas um cultivo Valor mdio de dois cultivos (soja/aveia

p reta/milho/trigo/soja/aveia p reta/milho). (soja/ervilhaca mais aveia p reta/milho).

p reta/milho/trigo/soja/aveia p reta/milho/trigo). (7) Valor mdio referente a ap enas um cultivo (soja/ervilhaca mais aveia p reta/milho/p ousio/soja/ trigo).

21

2.2.2.Efeitos da calagem superficial nas camadas subsuperficiais do solo. Outro aspecto importante em relao calagem no SPD o possvel movimento do calcrio aplicado na superfcie do solo e se esse fato apresenta efeitos significativos em relao melhoria de atributos de acidez (pH, teor de Al, Ca, Mg, V% e m%) nas camadas subsuperficiais do solo. H trabalhos que indicam que o calcrio no se movimenta para camadas profundas do solo (Gonzles-Erico et al., 1979; Ritchey et al., 1980; Pavan et al., 1984), enquanto que outros encontraram considerveis aumentos no pH e teores de Ca e Mg trocveis abaixo da regio de aplicao de calcrio, em reas de culturas anuais preparadas convencionalmente (Quaggio et al., 1983; Oliveira et al., 1997; Caires e Rosolem, 1998) e em culturas perenes (Chaves et al., 1984; Pavan, 1994). Especificamente em SPD, algumas pesquisas mostram efeitos significativos da aplicao de calcrio na superfcie nas camadas subsuperficiais do solo, como o caso dos resultados obtidos por Oliveira e Pavan (1996), em um Latossolo Vermelho textura argilosa que havia sido cultivado por dcadas pelo sistema convencional de preparo, e por Caires et al. (1998, 1999, 2000) em um Latossolo Vermelho textura mdia manejado h quinze anos sob SPD, ambos no Paran. Os dados da Figura 3 indicam que a calagem proporcionou no s aumentos significativos no pH, Ca+Mg trocveis e saturao por bases, mas tambm reduo significativa nos teores de H+Al, nas cinco profundidades estudadas. Os efeitos observados nas camadas de 20-40 e 40-60 cm, embora menos intensos que nas camadas superficiais, mostram os efeitos positivos do calcrio aplicado na superfcie sobre a correo da acidez no subsolo. Esse comportamento foi tambm observado, nas camadas de 10-20 cm, em experimentos conduzidos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina (Tabelas 1 e 2), e at 40 cm de profundidade, em outros trs solos no Estado do Paran (S, 1999). 22

6

9,0

pH, CaCl2 0,01 mol/L

4

0 - 5 cm 5 - 10 cm 10 - 20 cm 20 - 40 cm 40 - 60 cm

H + Al, cmolc/dm3 Saturao por bases, %

5

6,5

4,0

3 9,0 c

1,5 90

Ca + Mg, cmolc/dm3

6,0

60

3.0

30

0

0

2

4

6

0

0

2

4

6

Calcrio, t/ha

Figura 3. Alteraes de atributos de solo em diferentes profundidades de um Latossolo Vermelho, textura mdia, considerando a aplicao de doses de calcrio na superfcie em SPD. Pontos so mdias de cinco amostragens de solo realizadas no perodo de 1993 a 1998. Fonte: Adaptado de Cares et al. (2000).

23

O tempo de reao de calcrio aplicado na superfcie em SPD pode variar em funo da dose aplicada, do tipo de solo, da adubao, do sistema de rotao e manejo dos resduos culturais, da reatividade do corretivo e da precipitao pluvial (Caires, 2000). Em Latossolo Vermelho textura mdia da regio centro-sul do Paran (Figura 3, Caires et al., 2000), foi observado grande efeito da calagem superficial em vrios atributos de acidez avaliados at 10 cm de profundidade, aps 12 meses, com a mxima reao do calcrio ocorrendo entre 28 e 30 meses de sua aplicao. Na camada de 10-20 cm, o efeito do calcrio aplicado na superfcie foi bem mais lento, ocorrendo aumentos mais pronunciados no pH, Ca + Mg trocveis e saturao por bases e maior reduo na acidez potencial somente aps 28 meses (Caires et al., 2000). Os dados apresentados nesse tpico, obtidos na regio Sul do Brasil, demonstram que o calcrio aplicado na superfcie no SPD apresenta efeitos significativos na correo da acidez de subsolos e benefcios na produo das culturas sob esse sistema. Demonstram, ainda, que esses efeitos so altamente dependentes das doses de calcrio aplicadas, do tempo decorrido da aplicao superficial bem como, so, certamente, dependentes da precipitao pluvial. Entretanto, ainda no h consenso sobre os mecanismos que possam explicar esses efeitos no subsolo e vrias hipteses tm sido levantadas por diversos pesquisadores, com destaque para as proposies apresentadas por Caires et al., (2000) e mostradas a seguir: a) a formao e migrao de Ca(HCO3)2 e Mg(HCO3)2 para camadas subsuperficiais do solo, tendo em vista que, no SPD, a acidez superficial, como explicada anteriormente, diminuda por diferentes mecanismos, tendo os resduos orgnicos um papel de destaque (Oliveira e Pavan, 1996), pelo menos temporariamente; b) a ocorrncia de deslocamento mecnico de partculas de calcrio atravs de canais formados por razes mortas e insetos, mantidos intactos em razo da ausncia de preparo do solo (Pavan, 1994); c) a adio de calcrio e fertilizantes nitrogenados levando a reduo da acidez em razo da absoro de nitrato e exsudao de OH- e HCO3- pelas razes (Raij et al., 1988); 24

d) a permanncia de resduos vegetais na superfcie e a ausncia de revolvimento do solo reduzem a taxa de decomposio por microrganismos dos ligantes orgnicos (L - ) complexando Ca 2+ da camada superficial na forma de CaL o ou CaL - . A alterao da carga do Ca 2+ mediante a formao de pares inicos do tipo CaL - facilita a sua mobilidade no solo e, na camada subsuperficial, o Ca desses complexos orgnicos deslocado pelo Al trocvel do solo, porque os ons Al 3+ formam complexos mais estveis do que o Ca 2+ , diminuindo a acidez trocvel e aumentando o Ca trocvel (Pavan e Roth, 1992; Oliveira e Pavan, 1996; Ziglio et al., 1999). Reaes semelhantes tambm ocorrem com magnsio (Miyazawa et al., 2000). Os dados apresentados nesse tpico, envolvendo experimentos de longa durao, permitem inferir critrios tcnicos especficos para a prtica da calagem no SPD, nos seguintes termos: a) possvel atingir altas produtividades das culturas em rotao no SPD, pela aplicao de calcrio na superfcie do solo em doses menores que aquelas utilizadas no sistema convencional, especialmente quando o teor de P no solo satisfatrio; b) A probabilidade de obteno de resultados positivos pela aplicao de menores doses de calcrio na superfcie do solo no SPC maior quando praticada rotao de culturas e quando so utilizadas cultivares tolerantes a acidez; c) O efeito da aplicao de calcrio na superfcie do solo no SPD, em relao a atributos da acidez do solo (pH, Al, Ca+Mg, V% e m%), acentuado na camada de 0-10 cm; d) Com o passar dos anos de implantao do SPD, podem ocorrer melhorias nos atributos de acidez do solo (pH, Al, Ca+Mg, V% e m%) nas camadas subsuperficiais do solo, 25

mas essas alteraes so significativas apenas quando so usadas altas doses de calcrio aplicadas na superfcie; e) Quando so usadas pequenas doses de calcrio com aplicao na superfcie do solo no SPD, as alteraes nos atributos de acidez (pH, Al, Ca+Mg, V% e m%) abaixo da camada de 0-10 cm no parecem suficientes para explicar as altas produtividades alcanadas pelas culturas nesse sistema. f) Para solos em que a camada subsuperficial do solo extremamente cida, com altos teores de Al trocvel, baixos teores de Ca + Mg trocveis, baixa saturao por bases (V%) e alta saturao por Al da CTC efetiva (m%), recomendvel, na ltima calagem antes de entrar no SPD, faz-la em dose para atingir saturao por bases >60%, com incorporao do calcrio o mais profundo possvel. 2.3. Fsforo O comportamento do fsforo no SPD difere, em relao ao SPC, em dois pontos bsicos: (a) o no revolvimento do solo reduz o contato entre os colides e o on fosfato, amenizando as reaes de adsoro, mormente se a adubao foi na linha de semeadura; (b) a mineralizao lenta e gradual dos resduos orgnicos proporciona a formao de formas orgnicas de P menos suscetveis s reaes de adsoro (S, 1999). Outro aspecto que cabe destacar que, com o passar dos anos de implantao do SPD, ocorre um acmulo de fsforo na camada superficial do solo, sobretudo, nos primeiros 5 a 10 cm. Isto tem sido observado em vrios trabalhos entre os quais destacam-se os de Muzilli (1983), Sidiras e Pavan (1985) e S (1993). Nas mesmas 40 reas, envolvendo as diversas unidades pedolgicas dos Campos Gerais do Paran e com tempos variveis de adoo do SPD anteriormente mencionadas, S (1993) observou que a maior concentrao de fsforo ocorria, principalmente, na camada de 0 a 2,5 cm, confirmando a baixssima mobilidade desse nutriente sob esse sistema (Tabela 9). 26

Tabela 9. Distribuio de fsforo extravel do solo (Mehlich) em seis profundidades, no perfil de cinco solos, sob plantio direto na regio dos Campos Gerais do Estado do Paran. Fonte: S (1993). Solos avaliados Profundidade LE arenoso cm 0,0 2,5 2,5 5,0 5,0 10,0 10,0 20,0 20,0 30,0(1)

LV argilo(1)

LV argiloso(3 )

LE argiloso3 (4 )

Cb arenoso(5 )

arenoso

(2 )

Mdia

--------------------------------- mg/dm --------------------------------28,8 79,2 129,0 119,7 82,5 87,8 17,9 10,7 2,9 0,9 35,5 10,6 3,0 0,9(3)

89,6 36,6 11,5 1,3

68,5 59,8 12,2 1,5

58,8 67,5 13,1 2,5(5)

54,1 37,0 6,4 1,4SPD = 15

SPD = 4 anos; (2) SPD = 9 anos; anos .

SPD = 16 anos; (4) SPD = 15 anos;

A baixa mobilidade do fsforo e maior disponibilidade na camada superficial do solo decorrente da aplicao anual de fertilizantes fosfatados em sulco ou a lano, da liberao de fsforo orgnico atravs da decomposio dos resduos vegetais deixados na superfcie e da menor intensidade de fixao de fsforo ocasionada pelo menor contato desse nutriente com os constituintes inorgnicos passveis de alta fixao de P (xidos, oxi-hidroxi e hidrxidos de ferro e alumnio) (Muzilli, 1983; Sidiras e Pavan, 1985; S, 1993; S, 1995; S, 1999; Caires, 2000; Sousa e Lobato, 2000). O comportamento especfico do fsforo no SPD tem implicaes no manejo da adubao fosfatada, principalmente em reas j estabilizadas e com muitos anos de adoo desse sistema. A ao isolada ou conjunta desses fatores (aplicao localizada em sulco, maior participao do fsforo orgnico e menor fixao de fsforo) tem levado a respostas bem menos pronunciadas a altas doses de fsforo em alguns experimentos sob SPD. Em experimento instalado em setembro de 1991, em um Latossolo Vermelho-Amarelo do Paran, com trs anos sob plantio direto, foram avaliadas, nos trs anos subseqentes, cinco doses de P2O5/ha, aplicadas no sulco de semeadura, na rotao aveia-preta/soja/trigo/soja/aveia-preta/milho. O teor de fsforo no extrator Mehlich-1, na camada de 0-20 cm, antes da implantao era de 1 mg/dm3. Durante os trs anos de avaliao foi observada resposta somente para a dose de 30 kg de P2O5/ha (Tabela 10, S; 1999). 27

Tabela 10. Efeito de dos es de fs foro no rendimento de gros de milho em um Latos solo Vermelho-A marelo s ob plantio direto, em trs anos de avaliao. Fonte: S (1999). A no M dia Dos e de P2 O5 1991/92 1992/93 1993/94 --------------------- kg/ha --------------------0 7.717 a 5.664 a 6.227 a 6.536 30 8.976 b 6.181 a 7.071 a 7.409 60 8.942 b 6.564 a 6.905 a 7.470 90 8.928 b 6.928 a 7.253 a 7.703 120 9.216 b 6.732 a 6.761 a 7.569M dias seguidas da mesma letra na coluna no diferem entre si p elo teste de Tukey ao nvel de 5%.

Aps a colheita da safra 1991/1992, foram coletadas amostras de solo para determinar o P-total, o P-inorgnico, o P-orgnico e o P extrado por resina de troca aninica, atributos importantes para explicar as baixas respostas s doses de fsforo nesse experimento (Tabela 11). O contedo do P-orgnico foi em mdia 2,2 vezes superior ao P-inorgnico em todas profundidades analisadas.Tabela 11. Contedo de P-total (Pt), P-inorgnico (Pi), P-orgnico (Po), percentagem de P-orgnico (Po %) em relao ao P-total e P extravel por resina de troca aninica (Pr), em Latossolo Vermelho-Amarelo sob plantio direto em Castro (PR). Fonte: Adaptado de S (1999). Profundidade Pt Pi Po Po Pr ------------- mg/kg ------------cm % mg/kg 0,0 2,5 311 91,5 219,5 70,6 10,0 2,5 5,0 251 76,8 174,2 69,4 7,8 5,0 10,0 271 84,1 186,9 69,0 16,8 10,0 20,0 210 62,5 147,5 70,2 7,8 20,0 30,0 179 58,9 120,1 67,1 6,9

Um fato que merece destaque nos dados da Tabela 11 que todos os dados do P-resina enquadram-se na classe baixa, no qual seria esperada maior resposta para a aplicao de fsforo. S (1999), com base em vrios trabalhos de pesquisa desenvolvidos no exterior e nos de Guerra (1993) e S (1994) no Brasil, explica que esse comportamento respaldado no argumento de que a frao orgnica de P poderia ser o reservatrio principal de reabastecimento do on fosfato para a soluo do solo no sistema plantio direto. Porm, essa possibilidade talvez s venha a ocorrer aps ter 28

cessado o acmulo de matria orgnica no solo, pois, para haver formao de matria orgnica nova h necessidade de uma fonte de P, j que a matria orgnica contm cerca de 0,5% desse nutriente. Em outro trabalho foram igualmente obtidas pequenas respostas adubao fosfatada - em geral entre 30 e 60 kg de P2O5/ha, para a mdia geral dos dados - em diversas unidades pedolgicas sob plantio direto em sete localidades da regio dos Campos Gerais do Estado do Paran, (Tabela 12; S, 1999). O que chama ateno, quando se observam os resultados dos experimentos individualmente, que tanto os dados do fsforo extrado pelo mtodo Mehlich-1 quanto os de resina (ambos de amostras tomadas na camada de 0-20 cm) no explicam o nvel de resposta da cultura do milho em reas sob SPD. Mesmo os solos 1, 2, 5 e 6, pobres em fsforo pelo mtodo Mehlich-1, e 2 e 5, que tambm o so pelo mtodo da resina, no apresentaram altas respostas aos aumentos da dose de fsforo. Segundo S (1999), a utilizao de extratores que avaliam uma pequena proporo do P-inorgnico no permite explicar o nvel de resposta da cultura, havendo outros fatores envolvidos e que no foram quantificados.Tabela 12. Efeito de doses de fsforo aplicadas no sulco de semeadura no rendimento de gros de milho (mdias de quatro repeties) sob plantio direto (SPD) em diversas unidades pedolgicas dos Campos Gerais, Paran. Fonte: S (1999).Doses de P2O5 Solos LEd Cb LV Cb Rubrozm LV LE Mdia (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) aren. aren. arg. aren. arg. arg. arg. ----------------------------------------------- kg/ha -----------------------------------------------

(1)

0 30 60 90 120 D.M.S. (Tukey 5%) C. V. (%) (8) P-Mehlich (8) P-resina

8.217 9.113 9.404 9.609 9.566 987 4,8 6 61

8.274 9.148 8.567 8.839 7.984 14,7 5 10

6.850 7.383 7.870 7.371 7.178 6,9 44 101

6.011 6.162 7.140 6.684 6.144 13 12 41

7.128 7.990 7.787 7.709 7.913 1.160 6,8 3 8

6.227 7.071 6.905 7.253 6.761 1.527 9,9 1 27

8.380 9.112 9.144 9.009 8.688 800 4 7 59

7.298 7.997 8.117 8.068 7.748 -

2.864 1.157 1.945

Tibagi: SPD 6 anos; Carambe: SPD 2 anos; Castrolanda: SPD 18 anos; Castro (5) (6) (7) SPD 7 anos; Curitiba: SPD 2 anos; Castrolanda: SPD 3 anos; Tibagi: SPD 12 anos. (8) 3 Teor de P em mg/dm na profundidade de amostragem de 0-20cm.

(2)

(3)

(4)

29

O P orgnico representa de 30 a 70% do P total presente no solo. As formas de P orgnico presentes no solo englobam ortofosfatos de monosteres (RO-PO3), representados pelos (hexa)fosfatos de inositol, ortofosfatos de disteres, ou seja, os cidos nuclicos e fosfolipdeos, e os fosfonatos, que so molculas contendo radicais de fosfato associados a compostos orgnicos (Novais e Smyth, 1999). Para que o P associado matria orgnica do solo seja aproveitado pelas plantas, preciso que haja a converso do P orgnico a inorgnico, atravs do processo de mineralizao, cujas reaes em solo so mediadas por enzimas denominadas fitases e fosfatases (Stevenson, 1986). Em solos mais intemperizados, o P associado a compostos orgnicos representa de 25 a 35% do P total (Oliveira et al., 2002). Nesses solos, invariavelmente, constata-se a presena de baixos teores disponveis de P para as plantas, em funo de o carter-dreno de P de solos mais intemperizados predominar sobre o carter-fonte, o que torna o solo mais competitivo do que a planta pelo fsforo aplicado na forma de fertilizantes solveis (Novais e Smyth, 1999). bastante provvel, que na fase inicial (cinco primeiros anos) de implantao do SPD, o P seja imobilizado em compartimentos de matria orgnica novos, ou dos j existentes, como ocorre com o nitrognio (Oliveira et al., 2002), havendo, portanto, imobilizao de P. A ausncia de revolvimento e a maior permanncia de palha nas reas de plantio favorecem a ciclagem de P no solo, o que resulta em acmulo desse nutriente nas camadas superficiais (Oliveira et al., 2002), acompanhando, portanto, o aumento de matria orgnica. Esse acmulo de P na superfcie do solo pode ser acompanhado de um aumento na contribuio do P orgnico ao P total na camada de solo de 0 a 10 cm de profundidade (Selles et al., 1997), ou nas camadas subsuperficiais do solo (Rheinheimer et al., 1998), em funo de uma possvel maior mobilidade das formas de P orgnico no perfil, em relao s formas inorgnicas (Oliveira et al., 2002). Em reas com mais de 6 anos de implantao do SPD, ou seja, nos locais onde j ocorreu um aumento e estabilizao dos estoques de matria orgnica do solo, bastante provvel que haja um uso mais eficiente de P pelas plantas, em funo do bloqueio de stios inorgnicos de adsoro de P por molculas orgnicas (Stevenson, 1996), da saturao desses mesmos stios em funo da aplicao superficial de fertilizantes e da maior presena nas reas de SPD de P-lbil e P associado biomassa microbiana (Selles et al., 1997; Oliveira et al., 2002). Com o 30

tempo, isso pode representar uma diminuio na aplicao de fertilizantes fosfatados nas reas de SPD, em relao s quantidades aplicadas em reas onde h revolvimento do solo, ou, pelo menos, a possibilidade de obteno de produtividades maiores com as mesmas quantidades de fertilizantes preconizadas para sistemas de cultivo convencional, onde o solo arado.. Um componente adicional na avaliao do nvel de resposta dentro da rotao de culturas no sistema de produo no plantio direto o efeito da adubao sendo diludo em funo das culturas em seqncia, tornando ainda mais complexa a interpretao (S, 1999). Mesmo assim, o que tem sido observado confirma a tendncia geral das respostas s doses de fsforo serem mais baixas e se situarem entre 30 a 60 kg de P 2 O 5 /ha para aplicaes no sulco de semeadura das culturas em sucesso, como mostrado na Tabela 13, em experimento instalado em uma rea aps 13 anos de plantio direto, no Estado do Paran (S, 1999).Tabela 13. Rendimento de gros de milho, trigo e s oja em um LEd, argilos o, s ob plantio direto, s ubmetido a dos es de fs foro aplicadas no s ulco de s emeadura. Fonte: S (1999). Cultura -------------- Produo por P2 O5 aplicado -------------0 8.380 920 2.571 11.871 30 9.112 933 2.814 12.859 90 10,9 60 9.144 1.043 2.816 13.003 180 6,2 90 9.009 1.022 2.931 12.962 270 4,0 120 8.688 1.062 2.869 12.619 360 2,1 ------------------------------ kg/ha ----------------------------M ilho (1993/1994) Trigo (1994) Soja (1994/1995) Produo acumulada P2 O5 acumulado Eficincia relativa das dos es acumuladas de P 2 O5(1)

(1)

(Produo acumulada p or tratamento p roduo acumulada da testemunha) / kg de P 2O 5 acumulado.

31

Um dos maiores desafios para a pesquisa em relao a adubao fosfatada no SPD o estabelecimento de padres confiveis de interpretao de anlise de solo, j que existem evidncias de que a frao orgnica de P pode ser um reservatrio importante para o reabastecimento do on fosfato na soluo do solo no plantio direto (Guerra, 1993; S, 1994). Cabe citar que praticamente todos os trabalhos de calibrao de anlise de fsforo disponvel do solo, no Brasil, seja pelo mtodo do duplo cido (Mehlich) ou pela resina de troca aninica - os principais extratores de fsforo utilizados no pas - foram feitos com amostras de solo tomadas na camada arvel (0-20 cm), em reas submetidas anualmente s prticas de arao e gradagem e sem o aporte de resduos culturais na superfcie do solo. Embora em nmero reduzido, existem trabalhos evidenciando que o P-resina e mesmo o carbono orgnico apresentam melhor correlao com o P-orgnico total do solo do que o P-Mehlich, conforme mostrado na Tabela 14, para seis solos sob SPD no Estado do Paran (S,1999). Tambm em um experimento em uma rea com treze anos sob plantio direto, os coeficientes de correlao linear (r) para P-resina foram superiores aos observados para P-Mehlich, para a profundidade de amostragem de 0-10 cm, em relao a vrios atributos de planta, inclusive para rendimento de gros do milho (Tabela 15, S, 1999).

Tabela 14. Coeficiente de correlao linear entre o P-orgnico do solo (valores de seis anos sob plantio direto), fraes inorgnicas extraveis por Mehlich e resina de troca aninica e o carbono orgnico. Fonte: S (1999). P-Mehlich 0,43* P-resina 0,77*** Carbono orgnico 0,66***

*, *** Ao nvel de significncia do coeficiente de correlao para p < 0,05 e p < 0,001, respectivamente.

32

Tabela 15. Coeficiente de correlao linear (r) entre o P extrado por Mehlich e resina de troca aninica em trs profundidades de amostragem (cm) em um LE argiloso, h treze anos sob plantio direto e atributos relacionados a P na planta de milho. Fonte: S (1999). Mtodos de extrao de P e profundidade de amostragem Atributos de planta P-Mehlich 0-20 Folha ndice (%P) Massa seca (%P) Gros (%P)(3) (4) (1) (2)

P-resina 10-20 -0,29 -0,03 -0,08 -0,33 -0,10 -0,69 -0,22 0-20 0,81 0,77 0,83 0,95 0,44 0,52 0,72 0-10 0,96 0,98 0,91 0,94 0,76 0,75 0,88 10-20 -0,20 -0,15 -0,45 -0,25 -0,57 -0,56 -0,36

------------------ Profundidade (cm) -----------------0-10 0,98 0,87 0,84 0,75 0,64 0,54 0,77 0,94 0,90 0,88 0,68 0,67 0,45 0,75(4)

Massa seca-extrao Gros-extrao Rendimento de gros Mdia(1)

Porcentagem de P no tecido foliar (tero mdio da folha) no estdio de florescimento. (2) Porcentagem de P no tecido da p arte area da p lanta no estdio de maturao fisiolgica. (3) Porcentagem de P nos gros. (4) Quantidade de P extrado pela parte area (colmo + folhas) no estdio de maturao fisiolgica e pelo gro.

Um aspecto interessante em relao adubao fosfatada, sucesso e rotao de culturas e sistemas de cultivo (convencional e plantio direto) foi observado por Kochhann (1991). Este autor comparou esses sistemas atravs da aplicao de doses de P2O5 no SPD (0, 20, 40, e 80 kg/ ha) e no sistema convencional (40 kg/ha), em um Latossolo Vermelho distrfico tpico, Unidade de Mapeamento Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, com teor inicial de 10 mg P/dm3 de solo pelo extrator Mehlich-1. Os dados resumidos na Tabela 16 apresentam o rendimento mdio de 14 cultivos de trigo, 10 de soja e 7 de milho. Nesse caso, tambm, semelhana daqueles resultados obtidos no Paran (S, 1999), verificou-se que a resposta aplicao de fsforo no plantio direto foi pequena, pois o solo j apresentava um teor de P considerado suficiente. Na dose de 40 kg de P2O5/ha, a soma de todos os rendimentos mdios indicou que o SPD apresentou rendimento 3,6% superior ao SPC, cuja tendncia poderia ser interpretada como um efeito vantajoso e duradouro do SPD. 33

Outro aspecto dos dados da Tabela 16 o efeito da rotao de culturas nos rendimentos de trigo e de soja, quando comparados com a simples sucesso trigo-soja. O trigo apresentou rendimento mdio de 8,8% (2.998/2.756 = 1,088) superior quando cultivado na rotao trigo/soja, linho/soja, aveia preta+ervilhaca/milho, comparativamente ao cultivado na seqncia trigo-soja. De forma equivalente, a soja cultivada em rotao no esquema trigo/soja, linho/soja, aveia preta+ervilhaca/milho conferiu rendimento mdio 29% (2.272/1.766 = 1,29) superior ao da soja cultivada na sucesso trigo-soja. Esses dados so exemplos inquestionveis dos efeitos benficos da rotao de culturas no SPD.Tabela 16. Efeito da aplicao de P ao solo nos sistemas plantio direto e convencional de manejo do solo. Embrapa Trigo, 1985 a 1991. Fonte: Kochhann (1991).P2O5(1)

Trigo em Trigo em Soja em Soja em (2) (3) (4) (5) sucesso rotao sucesso rotao

Milho

(6)

Soma

(7)

---------------------------- kg/ha ----------------------------Plantio direto 0 20 40 80 Convencional 40 Mdia Efeito da rotao, %(1)

2.588 2.686 2.874 2.994 2.636 2.756 -

2.743 2.964 3.059 3.226 3.000 2.998 8,8

1.692 1.793 1.751 1.884 1.705 1.766 -

2.091 2.276 2.370 2.383 2.241 2.272 29

4.624 4.750 5.262 5.380 5.208 5.045 (2)

13.738 14.469 (8) 15.316 15.867 14.790 (8)

Aplicado a cada cultura, no sulco de semeadura, de 1985 a 1991. Trigo cultivado (3) em sucesso a soja; valores mdios de 7 cultivos. Trigo cultivado em rotao: trigo/soja, linho/soja, aveia preta+ervilhaca/milho; valores mdios de 7 cultivos. Soja (5) cultivada em sucesso a trigo; valores mdios de 5 cultivos. Soja cultivada em rotao: trigo/soja, linho/soja, aveia preta+ervilhaca/milho; valores mdios de 5 (6) Milho cultivado em rotao: trigo/soja, linho/soja, aveia cultivos. (7) preta+ervilhaca/milho; valores mdios de 7 cultivos. Soma da mdia dos rendimentos, envolvendo 31 cultivos. Diferena entre plantio direto e convencional igual a 3,6% (15.316/14.790 = 1,036).(8) (4)

Uma preocupao, em relao ao manejo da adubao fosfatada no SPD, se a aplicao superficial, tanto em linha como a lano na 34

superfcie, uma forma que representa alta eficincia agronmica da aplicao desse insumo ao longo dos anos de cultivo sob esse sistema. Isso decorre principalmente porque se pensava que o P necessitava ser uniformemente incorporado na camada arvel para que maior volume de razes tivesse contato com o P do fertilizante. Os dados apresentados na Tabela 17 mostram o teor de P em vrias camadas do solo, quatro anos aps o incio do experimento, com a aplicao de doses de P2O5 no sulco de semeadura de 8 cultivos. Verifica-se que, na dose de 40 kg de P2O5/ha, os teores de P na camada de 05 cm foram semelhantes no SPD e SPC, 23,0 e 22,8 mg P/dm 3, respectivamente, com valores ligeiramente menores na camadas de 5-10 e 10-20 cm no SPD. Entretanto, a soma das produes das 31 culturas mostradas na Tabela 16 mostrou 3,6% de ganho adicional para a aplicao de 40 kg de P2O5/ha em linha no SPD, em relao mesma dose no plantio convencional.Tabela 17. Teores de P e de K no solo em funo da aplicao de doses de P2 O 5 , no sulco de semeadura em 8 cultivos , entre 1985 e 1989. Fonte: Kochhann (1991). P2 O 5 Profundidade P K 3 kg/ha cm ------------ mg/dm -----------Plantio direto 0 0-5 13,5 192 0 5-10 10,7 133 0 10-20 10,9 81 20 0-5 18,4 188 20 5-10 11,6 141 20 10-20 11,1 74 40 0-5 23,0 185 40 5-10 12,3 148 40 10-20 10,5 82 80 0-5 33,0 184 80 5-10 15,9 122 80 10-20 13,4 82 Convencional 40 0-5 22,8 180 40 5-10 16,9 141 40 10-20 13,8 98T eor inicial de P no solo igual a 10 mg/dm3.(1 )

(1)

35

Esses dados ajudam a esclarecer, para as nossas condies, resultados experimentais com fsforo marcado (32P) obtidos j na dcada de 60 com a cultura do milho nos Estados Unidos, onde se observou que o 32Pfertilizante aplicado na superfcie do solo no SPD absorvido pelas plantas nos perodos iniciais de seu desenvolvimento, em quantidade superior quela observada quando incorporado ao solo no sistema convencional. Isso ocorre porque, medida que aumenta a proporo de solo fertilizado com P, a absoro aumenta porque maior volume de razes entra em contato o Pfertilizante, at que a absoro atinge um mximo e, ento, diminui, pois o teor de P no solo adubado diminui mais que o aumento da rea radicular (Tabela 18). Alm disso, as razes em geral se desenvolvem mais densamente nos pontos em que h maior suprimento de P (Klepker e Anghinoni, 1993) e a absoro mxima de P ocorre quando 20% do volume de solo foi adubado, o que corresponde a uma camada de solo de 4 ou 5 cm (Anghinoni e Barber, 1980; Barber, 1998). Porm, a eficincia de absoro de P pelas plantas tambm dependente da interao entre a dose de P, a frao de solo fertilizado, o teor de P no solo e a capacidade de reteno de P (Figura 4, Anghinoni, 2003). Assim, doses menores de P so mais eficientes quando misturadas com menores fraes de solo e, medida que as doses aumentam, fraes intermedirias de mistura com o solo so mais eficientes. J para doses elevadas de P, o efeito da mistura no importante (Anghinoni, 2003). No SPD, as razes para a eficincia da aplicao superficial de P so atribudas ao maior teor de gua (necessrio para a difuso de P) na camada superficial do solo e tambm porque, havendo maior teor de matria orgnica nessa camada, haver menor atividade de Al3+, alm do P ligado ao Al nessa matria orgnica ser mais solvel que o P ligado argila (Thomas, 1986).Tabela 18. Percentagem de P absorvido por milho em funo do mtodo de aplicao de P. Fonte: Singh et al. (1966). 32 % de P na planta % de P como P Dias aps a Plantio direto Convencional Plantio direto Convencional semeadura na superfcie incorporado na superfcie incorporado 30 54 16 0,22 0,15 46 43 32 0,18 0,18 60 25 21 0,16 0,13 67 36 37 0,15 0,1532

36

600

P absorvido ( moles/vaso)

400 300 200 100 0 1,0 0,8

Solos: Siltoso Franco-siltoso Argiloso

0,6

0,4

0,2

0,0

Frao fertilizada do solo

Figura 4. Fsforo predito absorvido pelo milho em funo da adio de 100 mg de P/ kg em diferentes fraes de solos com diferentes capacidades de adsoro de fsforo. Fonte: Anghinoni (2003).

2.4. Nitrognio Um dos nutrientes cuja dinmica mais influenciada no SPD do que no SPC o nitrognio. O aporte contnuo de resduos vegetais na superfcie do solo e, por conseqncia, de carbono e de nitrognio fato este indispensvel ao funcionamento do sistema contribuem significativamente para a melhoria da qualidade do solo. O nitrognio o nutriente que mais limita o desenvolvimento, produtividade e biomassa da maioria das culturas. Esse nutriente, quando suprido pelo solo, na maioria dos casos, no suficiente para garantir altas produtividades, havendo necessidade de um aporte externo desse elemento ao sistema (Freire et al., 2000). Alm disso, devido s transformaes microbiolgicas por que passa no solo, o nitrognio est sujeito a perdas por lixiviao, volatilizao e desnitrificao, constituindose, na forma de NO3-, quando em excesso, um eventual poluente de mananciais dgua. Porm, conforme indicado no item 2.4.1, a lixiviao de N na forma de nitrato geralmente de pouca expresso, mormente 37

nos perodos em que h crescimento de plantas. necessrio, portanto, que os processos envolvidos na incorporao e transformao de N, perdas de solo e de fertilizantes sejam compreendidos, para que se possam desenvolver estratgias de manejo que contribuam para aumentar a eficincia de aproveitamento do nitrognio (Freire et al., 2000). A reserva de N orgnico, que representa cerca de 95% do total de N no solo, est sujeita a uma srie de transformaes mediadas por microrganismos, que iro determinar as relaes de equilbrio entre as formas orgnicas e inorgnicas, sendo as formas inicas de NO3- e NH4+, as absorvidas pelas plantas. A taxa de mineralizao, ou seja, a velocidade de decomposio de resduos vegetais e a transformao de N em NH4+ e NO3- depende da temperatura, relao C/N dos resduos vegetais, pH, tipo de argila e umidade do solo. Nas regies de clima temperado, a temperatura um fator limitante na primavera, enquanto que nos climas tropicais e subtropicais, a mineralizao raramente limitada pela temperatura do solo, exceto durante o inverno nas regies subtropicais. Nos trpicos, a alternncia dos ciclos de molhamento e secagem do solo, a relao C/N dos resduos vegetais e o pH do solo so os fatores que exercem papis primordiais nas transformaes qumicas do nitrognio, afetando os processos microbiolgicos envolvidos na mineralizao. O processo de mineralizao predomina no caso da presena de resduos que possuem relao C/N ao redor de 15/1 a 20/1 (soja, feijo, tremoo, nabo forrageiro e ervilhaca, dentre outros). J uma relao C/N mais ampla, superior a 30/1, ou seja, quando existe falta de N no sistema, em decorrncia da presena de resduos vegetais ricos em carbono (aveia, centeio, milho, milheto e trigo, dentre outros), resulta na imobilizao temporria de N mineral pela biomassa microbiana. Nesse caso, para decompor o resduo vegetal, os microrganismos precisam incorporar N em suas clulas na forma de protenas, aminocidos e outros compostos e, estando em quantidades insuficientes no resduo, o N passa a ser obtido atravs de formas minerais (NH4+ e NO3-) existentes no solo (Caires, 2000). 38

alta relao C/N, antes do plantio de uma cultura resultam em um consumo de N pela biomassa microbiana do solo, imobilizando-o na sua massa celular, podendo causar deficincia na cultura em desenvolvimento, caso no seja adicionado N mineral na semeadura. Um aspecto importante na dinmica e no balano de nitrognio no solo, que o processo de imobilizao, mesmo com drstica reduo dos teores de NH4+ e NO3- no solo, no representa perda irreversvel para a cultura subseqente. Como a populao microbiana no cresce indefinidamente, a partir do ponto em que o carbono facilmente oxidvel desaparece e o sistema de decomposio tiver uma relao C/N menor que 25:1, comea a ocorrer a liberao de N para as plantas. medida que a relao C/N se aproxima de 12/1, as transformaes microbiolgicas se tornam mais lentas at a quase completa paralisao, etapa em que o resduo considerado humificado ou estabilizado. Da em diante, a relao C/N pouco se altera porque o carbono e o nitrognio so mineralizados em propores constantes, ou seja, em torno de 8 a 12 partes de C para cada parte de N (Caires, 2000). A matria orgnica estvel do solo apresenta uma relao C/N prxima de 10. A influncia do pH sobre a atividade dos microrganismos do solo que controlam os processos de amonificao, nitrificao, desnitrificao e fixao biolgica bastante conhecida. Os principais efeitos do pH sobre a mineralizao da matria orgnica podem ser resumidas em Freire et al., (2000): a) A mineralizao do nitrognio orgnico ocorre em toda a faixa de pH do solo, porm, a taxa diminui gradativamente a valores de pH inferiores a 6,0-6,5; b) A taxa de nitrificao tima na faixa de pH entre 6,6 e 8,0, e, reduz progressivamente com a diminuio do pH, atingindo valores insignificantes a pH menor que 4,5; c) A faixa ideal de pH para desnitrificao 7,0 a 7,5, atingindo valores bem menores a pH 5,0; 39

d) A perda de amnia por volatilizao altamente dependente do pH, aumentando a probabilidade de ocorrncia acima de pH 7,0. De acordo com S (1999), os efeitos das altas relaes C/N tendem a ser mais expressivos nos primeiros anos de adoo do SPD e sero ainda maiores se o estdio de degradao do solo for elevado (perda do horizonte A, reduo acentuada do teor de matria orgnica em relao ao original e presena de camadas compactadas). Isso torna a demanda em N pela biomassa microbiana do solo e pelas culturas elevada, notadamente na fase inicial de crescimento, exigindo maiores doses de N para suprir as exigncias nutricionais nessa fase. Com base em diversos experimentos, S (1996) observou que o aumento do teor de carbono em funo do tempo de adoo do plantio direto proporciona maior liberao de N ao sistema (Figura 5). Nas condies desse estudo (regio CentroSul do Paran), a maior resposta adubao nitrogenada para as gramneas (milho e trigo) tem sido com o aumento da dose no sulco de semeadura, justamente para contornar a carncia em N, na fase inicial do desenvolvimento das culturas, causada pelo efeito da imobilizao do N mineral.IM

I = imobilizao M = mineralizao 0 3 6 9

Tempo de adoo de PD ( anos ) Figura 5. Influncia do tempo de adoo do plantio direto no aumento do teor de carbono e nos processos bioqumicos da dinmica de N no solo (imobilizaomineralizao) na regio dos Campos Gerais, Centro-Sul do Paran. Fonte: S (1999).

40

Em adio complexidade do comportamento do nitrognio no solo, est a falta de um mtodo de anlise de solo, adaptado s condies de rotina dos laboratrios, que indique a disponibilidade de nitrognio para as plantas durante o ciclo, como existe para a maioria dos outros nutrientes. A complexidade da dinmica de nitrognio no SPD e a importncia econmica do manejo da adubao nitrogenada justificam uma discusso mais ampla envolvendo aspectos relacionados a doses de N, mtodos de aplicao e tipos de rotao de culturas. S (1999) relata experimentos desenvolvidos durante 5 anos em 4 localidades na regio dos Campos Gerais do Paran avaliando duas rotaes de cultura (Rotao 1: ervilhaca ou tremoo/milho/aveia-preta/soja/trigo/ soja; Rotao 2: aveia-preta/milho/aveia-preta / soja/trigo/soja) e doses de nitrognio (0, 60, 120, 180, e 240 kg/ha). Nos tratamentos com nitrognio, aplicaram-se 30 kg/ha no sulco de semeadura e o restante da dose em cobertura na 6 a folha, a lano, usando uria como fonte de N. Os principais resultados desse estudo foram os seguintes: a) A contribuio mdia no rendimento de gros de milho da sucesso com leguminosa nos tratamentos sem N foi superior da sucesso aveia-preta/milho em 977 kg/ha no perodo de 5 anos, o que significa um ganho anual de 195 kg/ha (Figura 6). b) A utilizao de uma leguminosa, ao invs de aveiapreta, antecedendo o milho, proporcionou reduo de 40 a 60% na dose de N. A dose de 120 kg/ha na sucesso aveia-preta/ milho proporcionou o mesmo rendimento que a 60 kg/ha na sucesso leguminosa/milho. c) N a r o t a o a v e i a - p r e t a / m i l h o , o N a p l i c a d o n a semeadura apresentou maior eficincia em relao aplicao em cobertura, no estdio de alongamento do milho (V6). A dose de 30 kg/ha na semeadura foi responsvel por 42 a 88% de ganho 41

com a adubao nitrogenada. O retorno em quilograma de milho por quilograma de N aplicado na semeadura foi de 31 at 90 kg, enquanto a aplicao em cobertura proporcionou um ganho de at 30 kg.

b10000

Gramnea

Leguminosa

b Produtividade (kg/ha)9000

b

b

b

+ 970 kg a a

b

8000

7000

6000 0 120 240 a

Dose de N (kg/ha) : 30 (plantio), restante, 6 folha

Figura 6. Efeito de doses de N no rendimento de gros de milho em plantio direto aps leguminosa (ervilhaca comum ou tremoo-azul) e aveia-preta. Mdia de 5 anos em 4 locais Fonte: S (1999).

Na sucesso com aveia-preta, a hiptese apresentada por S (1993) para a expressiva resposta ao N aplicado no sulco de semeadura do milho, fundamenta-se na maior oferta de N mineral para a planta. Com isso reduz-se o efeito de competio durante a decomposio dos resduos com elevada relao C/N pela biomassa microbiana do solo, imobilizando o N que estaria disponvel para o milho (Figura 7). Em outras palavras, os 30 kg de N aplicados na semeadura compensaram o perodo inicial de imobilizao de nitrognio, que iria causar deficincia no estdio inicial do milho. 42

N semeadura

N cobertura

Curva de crescimento do m ilho

Contedo de NO3 Perodo de > imobilizao de N

Biomassa m icrobiana N Se me adurad e A veia M atu rao fi siol gica Manejo mecnico da aveia Resduos de soja Florescimento Estdio V6 > consumo de N p ela pla nta

Figura 7. Representao das alteraes no contedo de NO3- e da biomassa microbiana do solo durante o desenvolvimento da cultura do milho cultivada aps aveiapreta no sistema plantio direto. Fonte: S (1999).

Em anos com boa distribuio de chuva durante o ciclo da aveia e no desenvolvimento inicial da cultura de milho, S (1999) observou maior liberao do N acumulado na cultura da aveia-preta, coincidindo com o estdio de florescimento; nesse caso, somente a adubao de N na semeadura foi suficiente para garantir 100% da produo relativa (S, 1996). Entretanto, em anos com distribuio irregular de chuva, poderia ocorrer maior reteno de N, sugerindo sua imobilizao pela biomassa microbiana por um perodo mais longo, cujo pico de imobilizao de N no solo coincidiria com o perodo de demanda maior da planta. Esses resultados sugerem que, para uma regio com distribuio de chuva irregular como a do Cerrado, a simples 43

Semeadura de M ilho

aplicao do nitrognio no plantio raramente ser suficiente para atingir a produtividade mxima econmica. 2.4.1. Aplicao antecipada de nitrognio Uma srie de experimentos usando a metodologia da diluio isotpica de 15 N, a partir da dcada de 1980, no Brasil, permitiu um melhor entendimento da dinmica do nitrognio em solos tropicais e o destino de N-fertilizante aplicado s culturas (Libardi et al., 1981; Reichardt et al., 1982; Urquiaga, 1982; Coelho et al., 1991; Frana et al., 1994). Os resultados dessas pesquisas mostraram que (Coelho et al., 2002): a) o N-fertilizante recuperado pelas culturas variou de 53 a 64%, com a mdia de 56%, com aplicao de 60 a 100 kg de N/ha; b) a maior parte do N-fertilizante medido no solo aps a colheita estava na camada superficial do solo (0-30 cm); c) no houve indicao de movimentao de N-NO 3 - no perfil do solo; d) das perdas por lixiviao de 10 a 20 kg de N/ha, apenas 20% eram derivadas do fertilizante; e) do N-fertilizante encontrado na camada superficial do solo, aps a colheita, 70 a 90% estavam na forma orgnica, contribuindo para reduo das perdas por lixiviao; f) em mdia, 85% do N-fertilizante aplicado foram recuperados no sistema solo-planta. Ve r i f i c o u - s e t a m b m q u e e m s o l o s s o b c e r r a d o , o processo de nitrificao no rpido, prolongando a permanncia do N na forma amoniacal, o que contribui para a reduo das 44

p e r d a s p o r l i x i v i a o d e n i t r a t o ( M e l l o J r. e t a l . , 1 9 9 4 ; Coelho et al., 2002). Levando-se em conta esses fatos e a expanso em l a rg a e s c a l a d o S P D n o B r a s i l , o q u a l a t i n g i u c e r c a d e 20 milhes de hectares em 2002 (sendo 40% dessa rea localizada nos cerrados), e ainda, os aspectos associados rotao (principalmente de milho e soja) e sucesso de culturas, constata-se a necessidade de ajuste e/ou, de desenvolvimento de estratgias de manejo de nitrognio diferentes daquelas preconizadas para o SPC. E m f u n o d o s d a d o s a c i m a r e f e r i d o s , s u rg i u a necessidade de se pesquisar a possibilidade de antecipar a aplicao de todo ou parte do nitrognio que seria aplicado na cultura de interesse. A alternativa de se aplicar todo o N a lano ou em sulcos, na pr-semeadura, tem despertado interesse porque apresenta algumas vantagens operacionais, como maior flexibilidade no perodo de execuo da semeadura, e a racionalizao do uso de mquinas e mo-de-obra (Coelho, 2002). Vrios trabalhos de pesquisa nos ltimos anos tm enfocado esse aspecto, mas a complexidade na dinmica de nitrognio no solo, a qual fortemente influenciada pelas variveis ambientais, tem mostrado que os resultados de experimentos de campo no so consistentes o bastante para que se possa generalizar a recomendao dessa prtica (Coelho, 2002). Um exemplo de estudo com esse objetivo, envolvendo a rotao aveia-preta antecedendo o milho em 3 locais no Paran, utilizando doses de 0, 30 e 60 kg/ ha de N e vrias pocas de aplicao mostrado na Ta b e l a 1 9 ( S , 1 9 9 6 ) . 45

Tab ela 19. Efeito d a aplicao d e n itrog nio n a cultu ra d a aveia-preta e n o milho , n o rend imen to d e milho , em trs lo cais n a regio centro-s ul d o Paran . Fon te: A dap tad o de S (1996). N no M ilho N na av eia p reta (kg /ha) 0 30 60 M dia d e N no milho

------------------------- kg/h a ------------------------Tes temu nh a s em N 30 kg n a s emead u ra + 90 kg em co bertu ra (2) 90 kg n o man ejo + 30 kg n a s emeadu ra 30 kg n a semead ura 90 kg em cob ertu ra M dia d e N n a aveia preta Tes temu nh a s em N 30 kg n a s emead u ra + 90 kg em co bertu ra (2) + 30 kg 90 kg n o man ejo n a s emeadu ra 30 kg n a semead ura 90 kg em cob ertu ra M dia d e N n a aveia preta Tes temu nh a s em N 30 kg n a s emead u ra + 90 kg em co bertu ra (2) 90 kg n o man ejo + 30 kg n a s emeadu ra 30 kg n a semead ura 90 kg em cob ertu ra M dia d e N n a aveia preta(1) (1) (1)

Caramb e 6.101 7.156 8.893 8.930 9.310 9.599

7.533 9.477 9.748 8.327 9.112 8.839 b -

6.930 a 9.227 d 9.426 d 7.814 b 8.367 c

7.181 7.934 8.003 8.798 7.822 a 8.559 b Tib agi 5.227 6.261 7.122 7.777 7.737 8.142

5.744 a 7.429 bc 7.959 c 6.912 b 6.683 b

6.632 7.192 6.250 7.117 6.602 a 7.290 b Cas tro 4.356 4.918 7.625 7.869 5.627 7.954 6.686 a 7.742 7.397 5.462 7.681 6.640 a

4.637 a 7.683 c 7.633 c 5.544 b 7.817 c

M dias seguidas p or letras iguais no diferem significativamente p elo teste de T ukey ao nvel de 5%. (1) A dubao em cobertura no estdio da 6 a folha. (2) A dubao no estdio de gro leitoso da aveia, antes da op erao com o rolofaca.

46

A aplicao de 30 kg/ha de N na aveia proporcionou o mesmo rendimento de milho que a aplicao na semeadura do milho. Isso indica que o N dos resduos de aveia-preta apresentou rpida ciclagem no solo, tornando-se disponvel para a planta. O tratamento com a aplicao de todo o N at a semeadura (90 kg/ha no manejo mecnico da aveia-preta + 30 kg/na na semeadura do milho) promoveu resultado estatisticamente semelhante ao tratamento com parcelamento (30 kg/ ha na semeadura + 90 kg/ha em cobertura), indicando um fluxo de N mais estvel no solo e com picos de imobilizao mais baixos. Presumese que a aplicao de N no manejo da aveia-preta aumentaria a oferta de N mineral no solo, e este seria utilizado pela biomassa microbiana. Nesse caso, a hiptese seria a ocorrncia de uma mineralizao contnua de N no solo, em taxa proporcional demanda do milho (S, 1999). A Figura 8 ilustra a estratgia de aplicao antecipada de N na cultura de milho aps a aveia-preta. Observa-se que a curva de depleo de nitrato, nesse caso, seria menos acentuada do que a observada na Figura 7, quando parte do N foi aplicado na semeadura do milho e o restante em cobertura, no estdio de 6 a folha.N antecipado N semeadura Curv a de crescimento do m ilho

C ontedo de N O 3 Perodo de > Im obilizao de N Biomassa microbiana N Sem eadurade m ilho Maturao fisiolgica M anejo mecnico da aveia Sem eadurade aveia Resduos de soja Florescim ento Estdio V6 > consumo de N pela planta

Figura 8. Representao hipottica do efeito da aplicao de N em pr-semeadura do milho e alteraes no contedo de NO3- e da biomassa microbiana do solo, no sistema plantio direto. Fonte: S (1999).

47

Alguns comentrios adicionais merecem ser feitos em relao aos dados apresentados na Tabela 19. Mesmo nos tratamentos sem N (tanto na aveia-preta como no milho), as produes de 6.100 kg/ha em Carambe, 5.227 kg/ha em Tibag e 4.356 kg/ha em Castro, so relativamente altas, o que no se espera em muitas regies produtoras de milho no Brasil, onde as parcelas testemunhas, sem N, alcanam produes muito baixas. A importncia do tema envolvendo a antecipao de pelo menos parte da adubao nitrogenada do milho para a cultura antecedente justifica uma anlise mais detalhada do mesmo. Entretanto, so relativamente raros no Brasil, experimentos de longa durao, com dados de produo de trs ou mais anos, envolvendo pocas e modos de aplicao de nitrognio no SPD, que trazem informaes adicionais importantes relativas a regime pluviomtrico, textura do solo e teores iniciais de nitrognio mineral do solo, as quais so fundamentais para se explicar a razo das diferentes respostas do milho em rendimento de gros. Produtividades de milho, em SPD, com antecipao de pelo menos parte da adubao nitrogenada, para a cultura de cobertura antecedente (aveia-preta, aveia-preta + ervilhaca ou nabo forrageiro), em anos de precipitao normal, foram comparveis com aquelas do sistema tradicional (parte na semeadura e parte em cobertura), em Santa Maria, RS, em 1996/1997 e 1998/1999 (Figura 9, Basso e Ceretta, 2000, e Tabela 20), e em quatro (1998/ 1999, 1999/2000, 2000/2001 e 2001/2002) de cinco anos, com a cultura do milho cultivado sobre resteva de aveia-preta, em Passo Fundo, RS (Tabela 21, Pttker e Wiethlter, 2002). Nesse anos, segundo Pttker e Wiethlter (2002) e Ceretta et al., (2002), no houve reduo de rendimento do milho em decorrncia da aplicao antecipada de N, talvez devido ao estoque desse nutriente nesses solos, h anos sob plantio direto, ser maior, o que resultou em maiores rendimentos quando a aplicao desse nutriente foi realizada antes do perodo de demanda mxima de N. Entretanto, na safra 1997/1998, as melhores pocas de aplicao de N, em 48

ambos os experimentos, foram com o tratamento que envolveu o sistema tradicional de aplicao, ou seja, na base (25 a 30%) e em cobertura (70 a 75%), (Figura 9 e Ta b e l a 2 1 ) . N e s s e a n o o c o r r e r a m e l e v a d a s p r e c i p i t a e s pluviais em Santa Maria e em Passo Fundo (550 mm em outubro e 350 mm em novembro), fazendo com que, no experimento em Santa Maria, a quantidade do nitrognio absorvido pela cultura do milho no tratamento 90-30-00 fosse cerca de 2,5 vezes menor que no tratamento 00-3090, o que certamente refletiu-se nas diferenas de produtividade obtidas. Chama ainda ateno o fato de que, nesse ltimo experimento, no ano agrcola de 1997/98, o t e o r d e N m i n e r a l d o s o l o ( N H 4+ + N O 3-) a v a l i a d o imediatamente antes da semeadura do milho em sucesso aveia-preta na camada de 0 a 5 cm, no tratamento 9030-00, foi cerca de 10 vezes menor do que o mesmo tratamento no ano de 1996/1997.

Tabela 20. Rendimento de gros de milho em funo de pocas de aplicao de N no sis tema plantio direto, UFSM, Santa Maria, RS. Fonte: Bas so et al. (1998). poca de aplicao Semeadura Cobertura Pr-s emeadura ------------------- N (kg/ha) ------------------0 0 30 60 90(1)

Safra 1997/1998 ------- gros (kg/ha) ------5.616 d 6.804 c 6.867 bc 7.756 a 7.230 ab 2.812 e 5.786 a 5.174 b 4.322 c 3.647 d 1996/1997(2)

(1)

0 30 30 30 30

0 90 60 30 0

Alguns dias ap s a dessecao da aveia p reta. (2) Excesso de p recip itao p luvial em outubro e novembro de 1997.

49

00-00-00 8.000 b b 6.000 c

a

00-30-90 a

30-30-60

60-30-30

90-30-00

A = Aveia-preta CV = 4,3, 6,8 e 8,4% a b c d e b a a a a

4.000

2.000

0 8.000 Produtividade de milho (kg/ha) a 6.000

a

a a

a

B = Aveia-preta + ervillhaca CV = 7,1, 11,6 e 10,4% ab a bc b c a a

a a

a

4.000

2.000

0 8.000 b

ab ab a ab

C = Nabo forrageiro CV = 12,5, 11,7 e 13,3% a ab a ab b b a a ab

6.000

4.000 c 2.000

0

1996/97

1997/98 Ano agrcola

1998/99

Figura 9. Produtividade de gros de milho em sucesso com coberturas de inverno (A = aveia-preta; B = aveia-preta + ervilhaca; C = nabo forrageiro) com diferentes manejos da adubao nitrogenada (120 kg N/ha). Nmeros na legenda representam doses de N (kg/ha) em pr-semeadura (27 a 13 dias antes da semeadura), plantio e cobertura (4 a 6 folhas desenroladas). Colunas com a mesma letra, em cada ano, no diferem pelo teste de Duncan a 5%. A ordem dos coeficientes de variao (CV) segue a ordem crescente dos anos agrcolas. Fonte: Adaptado de Basso e Ceretta (2000).

50

Tabela 21. Efeito de poca e do modo de aplicao de nitrognio no rendimento de gros de milho cultivado sobre resduos de aveia-preta. Fonte: Pttker e Wiethlter (2002). 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 2001/02 Mdia ------------------------------- kg/ha ------------------------------(5) 7.320 ab 9.078 c 6.502 c 7.582 6.404 bc 8.604 a 6.897 b 9.148 a 7.383 ab 9.937 ab 6.940 abc 8.061 6.170 c 9.087 a 7.464 a 9.128 c 7.105 ab 7.791 6.653 bc 9.313 a 7.708 a 10.240 a 7.306 a 8.244 6.742 b 9.270 bc 6.573 bc 7.528 9.580 abc 6.993 abc 8.286 7.316 ab 9.253 bcd 6.954 abc 7.841 8.128 a 8.880 a 7.872 a 9.619 abc 6.692 bc 8.238 8.534 a 9.133 a 7.192 ab 9.972 ab 6.974 abc 8.361 6.538 bc 9.106 a 8.914 c 6.775 abc 7.833 7.407 ab 7.407 6.556 b 4.736 c 6.417 d 5.843 d 5.888 6.354 bc 9.260 a 7.398 ab 7.671 7.296 ab 9.997 a 7.201 a 8.165 6.960 8.787 7.153 9.284 6.822 6,8 6,4 6,9 5,4 5,3

-------------- N (kg/ha) -------------(1) PLA COB PRE (2) 0 0 1) 100 La (2) 0 0 2) 100 Li 30 Li 0 3) 70 La 4) 70 Li 30 Li 0 70 La 0 5) 30 La 70 Li 0 6) 30 La 0 70 La 7) 30 La 8) 0 30 Li 70 La 30 Li 70 Li 9) 0 100 La 0 10) 0 (3) 0 0 11) 100 La 12) 0 0 0 (4) 0 13) 0 70 Li + 30 Li 30 Li 40 La 14) 30 La Mdia geral anual CV %

PRE = N aplicado em pr-plantio, cerca de 10 dias aps a dessecao da aveia-preta; PLA = N aplicado no plantio e COB = N (2) (3) aplicado em cobertura. La = N aplicado a lano e Li = N aplicado em linhas (incorporado). Aplicao de N feita 20 dias antes da (4) (5) dessecao da aveia preta. Aplicao de 70 kg de N nas entrelinhas e 30 kg nas linhas de plantio. Mdias seguidas pelas mesmas letras no diferem entre si pelo Teste de Duncan (P = 0,05).

(1)

51

Um r e s u m o d e u m a s r i e d e o u t r o s t r a b a l h o s relativamente recentes envolvendo a antecipao da adubao nitrogenada do milho para a cultura precedente e/ou toda a aplicao na semeadura do milho, em comparao com o sistema tradicional (parte na semeadura e parte em cobertura) mostrado na Tabela 22. Desses 9 experimentos, conduzidos em vrios Estados, 6 mostram que aumentos significativos na produtividade do milho foram obtidas nos tratamentos que envolveram a aplicao de nitrognio seguindo o mtodo convencional, ou seja, aplicao de parte na semeadura e parte em cobertura no estdio de 4 a 6 folhas. Mesmo nos experimentos em que a antecipao de parte da adubao nitrogenada do milho para a cultura precedente atingiram boas produtividades, essas foram, na totalidade dos casos, estatisticamente equivalentes com aquelas obtidas pelo sistema convencional. Um fator adicional na questo da antecipao da adubao nitrogenada no SPD o efeito da cultura precedente poder ser determinante do potencial de rendimento da cultura seguinte. Os dados apresentados nas Tabelas 23 e 24 relatam resultados de experimentos conduzidos no Rio Grande do Sul onde o N aplicado no trigo apresentou efeito residual no rendimento de milho em ambos os anos (Wiethlter, 2002b). O rendimento mdio de milho foi 578 kg/ha superior na seqncia soja 97/98 trigo 98 milho 98/99 do que na seqncia milho 97/98 trigo 98 milho 98/99, indicando a efetiva contribuio da soja no sistema de cultivo (Tabela 23). Na safra 1999/2000 foram alternadas as culturas de soja e de milho (Tabela 24), verificando-se que a soja no demonstrou efeito residual do N aplicado em trigo (como era esperado), sendo o rendimento mdio igual a 4.248 kg/ha. Em termos gerais, o N aplicado na cultura do trigo aps soja proporcionou rendimentos mdios altos de milho (5.667 kg/ha, Tabela 23 e 5.087 kg/ha, Tabela 24), considerando-se que no foi aplicado N na cultura do milho. 52

Tabela 22. Resumo de experimentos envolvendo comparaes de manejo da adubao nitrogenada na cultura do milho (antecipao para a cultura precedente, e/ou, na semeadura, e/ou, em cobertura). Produo de gros (kg/ha) Doses de N - kg/ha Antecipa- SemeaLocais Autores Teste(1) (total e parcelas) da e/ou, dura e/ou, munha semeadura cobertura Ribeiro 120 (A80) (S40) 8.050 a --Lera et al. Preto, SP --(2000) 120 (S40) (C80) --7.524 a (argiloso) Santa Maria, RS (arnico) Selvria, MS (argiloso) Arapoti, PR (Arenoso) Selvria, MS (argiloso) Santa Maria, RS (arnico) Selvria, MS (argiloso) Lajes, SC (2000/01) (argiloso) Lajes, SC (2001/02) (argiloso)(1)

90 (A60) (S30) 90 (S30) (C60) 120 (S120) 120 (S60) (C60) 120 (A80) (S40) 120 (S40)