apostila 6 ano arte rupestre

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ARTE RUPESTRE NA PRÉ-HISTÓRIA CONTEXTO HISTÓRICO O Animal Homem surge na superfície da Terra por volta de 1 milhão de anos atrás. Ele não tem garras e dentes afiados como os tigres, e nem couraças rígidas como os rinocerontes. O que determina a soberania do Homo animalia sobre os outros animais é o seu cérebro de tamanho aumentado, polegares opositores e a sua capacidade de andar sobre duas patas - o que lhe permite utilizar as mãos para se defender usando instrumentos como pedras lascadas e lanças. Ele é capaz de criar soluções alternativas, graças ao seu cérebro mais desenvolvido, e de se organizar em bandos maiores e complexos, aumentando suas chances de sobrevivência. A Terra, que passava por uma Era Glacial, era um lugar difícil de sobreviver. A comida era escassa, os animais grandes demais e as plantas comestíveis raras. O homem era caçador-coletor e precisava se mudar sempre para achar alimento. Eles viviam em cavernas em grandes bandos, de 20 a 60 membros. E é nessas cavernas que os arqueólogos puderam encontrar os primeiros vestígios da existência do homem, dos seus hábitos e da sua evolução. AS PRIMEIRAS PINTURAS A Arte é a primeira manifestação da inteligência humana e marca o ponto onde o homem deixa de ser Homo animalia e caminha para a evolução do Homo sapiens. Ela teve início não na história, mas na pré-história, milhares de anos atrás. Nossos ancestrais paleolíticos, que viveram entre 30.000 e 8.000 a.C., eram pequenos, peludos e iletrados, e nem mesmo a arqueologia consegue afirmar muito a respeito deles. Mas uma coisa é certa: esses habitantes das cavernas da Idade da Pedra eram artistas, e não apenas no sentido de serem capazes de representar nas paredes os bichos com que tinham contato no dia-a-dia. Mais que ilustração, a pintura das cavernas é grandiosa e evidencia uma percepção e capacidade de simbolização aguçada. 1 Bisão da caverna de Altamira, c. 15000 a 12000 a.C., 2 metros de comprimento. A partir do momento em que o homem grava a sua mão na parede de uma caverna, ele mostra a sua capacidade de se perceber enquanto indivíduo. A partir do momento em que ele passa a representar símbolos e imagens do seu cotidiano nas cavernas, podemos observar a evolução do pensamento abstrato do homem e sua capacidade de simbolizar, representar e registrar os indícios das complexas estruturas sociais e ritualísticas que regem a sua organização social. As pinturas das paredes das cavernas de Altamira foram as primeiras a serem descobertas nos tempos modernos. As cavernas ficam próximas a Santander, no norte da Espanha. Esse grande bisão foi pintado no teto de um longo e estreito corredor de uma caverna subterrânea. Ele não está sozinho. Toda uma manada surge majestosamente no teto – cavalos, javalis, mamutes e outras criaturas –, as caças desejadas pelo homem da Idade da Pedra. As cavernas de Lascaux, descobertas no sul da França, são totalmente subterrâneas e, por isso, estão sempre às escuras. Os arqueólogos descobriram que os artistas pintavam com a ajuda de pequenas lâmpadas de pedra, cheias de banha ou tutano. Os esboços eram trabalhados na rocha macia, ou então finas linhas de tinta colorida. Os artistas usavam ocre, um mineral que poderia ser socado até virar pó e produzir pigmentos, vermelhos, marrons e amarelos. O preto talvez consistisse de pó de carvão mineral. Esses pigmentos eram esfregados na parede com as mãos (resultando em gradações de tom muito delicadas, ou misturados a banha e sangue animal, por exemplo, e aplicados com toscos pincéis feitos de caniços ou cerdas. 2 Cavalos da caverna de Lascaux, sul da França, c. 17000 a.C. Acredita-se que essas pinturas tivessem profunda importância para a sociedade pré-histórica. O bicho terá sido uma figura sagrada, necessária a algum ritual? Talvez nunca saibamos, mas elas certamente desempenhavam uma função mágica, até mesmo ritualística. Os artistas também eram caçadores, e suas vidas dependiam dos bichos pintados nas cavernas. É possível que esses artistas-caçadores achassem que, pintando os animais com precisão, eles ganhariam poderes mágicos. Com ele, poderiam ser capazes de controlar-lhes o espírito e subtrair- lhes a força antes da caçada. Muitas das pinturas mostram animais feridos ou flechados, e em alguns casos há até indícios de ataque físico contra a imagem pintada. Isso já não acontece com os registros do cotidiano da comunidade, pois a figura humana é simbolicamente representada através de uma forma básica mais tosca, como um “graveto” ou um “homem-palito” Isso demonstra que o homem já tinha a capacidade de simbolizar, ou seja, era dotado de pensamento abstrato. Por isso eles acreditavam em forças maiores que eles, que regiam a natureza, e pintura rupestre era uma forma de reverência e reconhecimento a essa força universal.

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Apostila de Arte sobre Arte Rupestre voltada para a Educação do Ensino Fundamental - 6º Ano

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Page 1: Apostila 6 Ano Arte Rupestre

ARTE RUPESTRE NA PRÉ-HISTÓRIA

CONTEXTO HISTÓRICO

O Animal Homem surge na superfície da Terra por volta de 1 milhão de anos atrás. Ele não tem garras e dentes afiados como os tigres, e nem couraças rígidas como os rinocerontes. O que determina a soberania do Homo animalia sobre os outros animais é o seu cérebro de tamanho aumentado, polegares opositores e a sua capacidade de andar sobre duas patas - o que lhe permite utilizar as mãos para se defender usando instrumentos como pedras lascadas e lanças. Ele é capaz de criar soluções alternativas, graças ao seu cérebro mais desenvolvido, e de se organizar em bandos maiores e complexos, aumentando suas chances de sobrevivência.

A Terra, que passava por uma Era Glacial, era um lugar difícil de sobreviver. A comida era escassa, os animais grandes demais e as plantas comestíveis raras. O homem era caçador-coletor e precisava se mudar sempre para achar alimento. Eles viviam em cavernas em grandes bandos, de 20 a 60 membros. E é nessas cavernas que os arqueólogos puderam encontrar os primeiros vestígios da existência do homem, dos seus hábitos e da sua evolução.

AS PRIMEIRAS PINTURAS

A Arte é a primeira manifestação da inteligência humana e marca o ponto onde o homem deixa de ser Homo animalia e caminha para a evolução do Homo sapiens. Ela teve início não na história, mas na pré-história, milhares de anos atrás.

Nossos ancestrais paleolíticos, que viveram entre 30.000 e 8.000 a.C., eram pequenos, peludos e iletrados, e nem mesmo a arqueologia consegue afirmar muito a respeito deles. Mas uma coisa é certa: esses habitantes das cavernas da Idade da Pedra eram artistas, e não apenas no sentido de serem capazes de representar nas paredes os bichos com que tinham contato no dia-a-dia. Mais que ilustração, a pintura das cavernas é grandiosa e evidencia uma percepção e capacidade de simbolização aguçada.

1 Bisão da caverna de Altamira, c. 15000 a 12000 a.C., 2 metros de comprimento.

A partir do momento em que o homem grava a sua mão na parede de uma caverna, ele mostra a sua capacidade de se perceber enquanto indivíduo. A partir do momento em que ele passa a representar símbolos e imagens do seu cotidiano nas cavernas, podemos observar a evolução do pensamento abstrato do homem e sua capacidade de simbolizar, representar e registrar os indícios das complexas

estruturas sociais e ritualísticas que regem a sua organização social.

As pinturas das paredes das cavernas de Altamira foram as primeiras a serem descobertas nos tempos modernos. As cavernas ficam próximas a Santander, no norte da Espanha. Esse grande bisão foi pintado no teto de um longo e estreito corredor de uma caverna subterrânea. Ele não está sozinho. Toda uma manada surge majestosamente no teto – cavalos, javalis, mamutes e outras criaturas –, as caças desejadas pelo homem da Idade da Pedra.

As cavernas de Lascaux, descobertas no sul da França, são totalmente subterrâneas e, por isso, estão sempre às escuras. Os arqueólogos descobriram que os artistas pintavam com a ajuda de pequenas lâmpadas de pedra, cheias de banha ou tutano. Os esboços eram trabalhados na rocha macia, ou então finas linhas de tinta colorida.

Os artistas usavam ocre, um mineral que poderia ser socado até virar pó e produzir pigmentos, vermelhos, marrons e amarelos. O preto talvez consistisse de pó de carvão mineral. Esses pigmentos eram esfregados na parede com as mãos (resultando em gradações de tom muito delicadas, ou misturados a banha e sangue animal, por exemplo, e aplicados com toscos pincéis feitos de caniços ou cerdas.

2 Cavalos da caverna de Lascaux, sul da França, c. 17000 a.C.

Acredita-se que essas pinturas tivessem profunda importância para a sociedade pré-histórica. O bicho terá sido uma figura sagrada, necessária a algum ritual? Talvez nunca saibamos, mas elas certamente desempenhavam uma função mágica, até mesmo ritualística.

Os artistas também eram caçadores, e suas vidas dependiam dos bichos pintados nas cavernas. É possível que esses artistas-caçadores achassem que, pintando os animais com precisão, eles ganhariam poderes mágicos. Com ele, poderiam ser capazes de controlar-lhes o espírito e subtrair-lhes a força antes da caçada. Muitas das pinturas mostram animais feridos ou flechados, e em alguns casos há até indícios de ataque físico contra a imagem pintada.

Isso já não acontece com os registros do cotidiano da comunidade, pois a figura humana é simbolicamente representada através de uma forma básica mais tosca, como um “graveto” ou um “homem-palito”

Isso demonstra que o homem já tinha a capacidade de simbolizar, ou seja, era dotado de pensamento abstrato. Por isso eles acreditavam em forças maiores que eles, que regiam a natureza, e pintura rupestre era uma forma de reverência e reconhecimento a essa força universal.