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JOGO APLIC Profa. HEL OS COOPERATIVOS CADOS A EDUCAÇÃ LEN RITA M. COUTINH 1 S ÃO HO, MSc.

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Page 1: Apost jog cooperativos

JOGOS COOPERATIVOS APLICADOS

Profa. HELEN RITA M. COUTINHO, MSc.

JOGOS COOPERATIVOS APLICADOS A EDUCAÇÃO

Profa. HELEN RITA M. COUTINHO, MSc.

1

JOGOS COOPERATIVOS A EDUCAÇÃO

Profa. HELEN RITA M. COUTINHO, MSc.

Page 2: Apost jog cooperativos

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SUMÁRIO

1 PLANO DE ENSINO ........................................................................................................... 3

1.1 EMENTA ............................................................................................................. 3 1.2 OBJETIVOS DA DISCIPLINA ............................................................................ 3 1.3 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ......................................................................... 4 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICO .............................................................. 5 1.5 AVALIAÇÃO ....................................................................................................... 5 1.6 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 5 AULA 1 - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS ............ 5 TEXTO 1: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS ........... 5 AULAS 2 e 3 - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS .... 9 TEXTO2 - ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS ....................... 9 AULA 4 - O EDUCADOR .......................................................................................... 25 TEXTO 3 - EDUCANDO NOS DIAS DE HOJE ! ....................................................... 25 AULA 5– OS CONTATOS ........................................................................................ 27 TEXTO 4 - OS PRIMEIROS CONTATOS ................................................................. 27 AULAS5e 6 – O MELHOR DOS JOGOS COOPERATIVOS ................................... 29 TEXTO 5- ENTENDENDO MELHOR OS JOGOS COOPERATIVOS ....................... 29 AULA7 –TIPOS DE JOGOS ..................................................................................... 39 TEXTO 6–TIPOS DE JOGOS ................................................................................... 39 AULA8 –APLICAÇÃO DOS JOGOS ........................................................................ 44 TEXTO 7- JOGOS COOPERATIVOS E EXPRESSÃO CORPORAL ........................ 44 TEXTO 8- JOGOS COOPERATIVOS NAS ORGANIZAÇÕES ................................. 51 TEXTO 9- JOGANDO COM TODOS......................................................................... 55 TEXTO 10- CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 57 ANEXOS –JOGOS ................................................................................................... 58

Page 3: Apost jog cooperativos

3 1 PLANO DE ENSINO

DISCIPLINA CARGA

NÚMERO

TURMA

HORÁRIA DE AULAS

JOGOS COOPERATIVOS APLICADOS A EDUCAÇÃO

40 horas 08

1.1 Ementa

Os jogos e brincadeiras na cultura brasileira. A origem dos jogos. O brincar como

ludicidade e produção de conhecimento na instituição de ensino. Estudo dos jogos e

brincadeiras: sentidos, significados, apropriações, influências e a importância para a

Educação.

1.2 Objetivos da disciplina Geral

É promover aos Pós-Graduados do Curso de Docênciaa reflexão, a discussão e a

fundamentação teórica, a fim da ressignificação das concepções sobre os jogos

cooperativose a brincadeira visando a construção de conhecimento sobre a

importância do lúdico no contexto educativo.

Específicos

a) Relacionar as diversas fases do desenvolvimento do jogo cooperativo;

b) Conhecer a história e o espaço ocupado pela ludicidade no contexto histórico

e atual da educação;

c) Reconhecer a importância do lúdico como um meio para o desenvolvimento

físico, cognitivo, afetivo e social;

d) Reconhecer a importância dosjogos cooperativos no processo educativo;

e) Compreender a dinâmica de criação, montagem e dinamização de espaços

ludopedagógicos.

1.3 Conteúdo Programático

UNIDADE I - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS.

Texto 1: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS.

Texto 2: ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS.

UNIDADE II– O EDUCADOR

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4 Texto 3: EDUCANDO NOS DIAS DE HOJE!

UNIDADE III – OS CONTATOS

Texto 4: OS PRIMEIROS CONTATOS.

UNIDADE IV– O MELHOR DOS JOGOS COOPERATIVOS

Texto 5: ENTENDENDO MELHOR OS JOGOS COOPERATIVOS.

UNIDADE V– TIPOS DE JOGOS

Texto 6: TIPOS DE JOGOS.

UNIDADE VI– APLICAÇÃO DOS JOGOS

Texto 7: JOGOS COOPERATIVOS E EXPRESSÃO CORPORAL.

Texto 8: JOGOS COOPERATIVOS NAS ORGANIZAÇÕES

Texto 9: JOGANDO COM TODOS

1.4 Procedimentos Metodológico

As aulas se darão a partir de exposições orais e dialogadas, leituras e análises de

textos, elaboração de sínteses e apresentação de trabalhos. Será privilegiado a

leitura, á reflexão, o diálogo, a criatividade, o compromisso e o envolvimento de

todos, articulando-os com a formação e a experiência de cada participante. Serão

utilizados recursos variados, de acordo com os conteúdos trabalhados e as

possibilidades existentes.

1.5 Avaliação

Avaliações são previstas será realizada no decorrer do módulo, combinando

momentos de expressão individual e grupal. Serão realizadas três avalições: a

primeira referente a leitura do primeiro e segundo texto, a segunda referente aos

terceiros e quartos textos, a terceira exposição de trabalhos que serão realizados no

final do módulo. O peso de cada avaliação será de 10 pontos, que dividido por 3, ter-

se-á a média da disciplina.

1.6 Bibliografia

AMARAL, J. D. Jogos cooperativos.São Paulo: Phorte, 2004. ______.Jogos cooperativos.3.ed..São Paulo: Phorte, 2008.

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5 BERTHARAT, T.; BERNSTEIN, C. O corpo tem suas razões:antiginástica e conscientcia de si. 4.ed. São Apulo: Martins Fontes, 1977. BRIKMAN, L. A linguagem do movimento corporal. São Paulo: Summus, 1989. BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como em exercício de convivência. Santos: Projeto cooperação, 2001. BROWN, G. Jogos cooperativos: teoria e prática. São Leopoldo: Sinodal,1994. FREIRE,P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 11.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999. ORLICK, T. Libres para cooperar libres para crear.3.ed. Barcelona. Editorial Paidotribo, 1999. SOLER, Reinaldo. Jogos cooperativos. 3.ed. São Paulo: Sprint, 2006. ______. 100 jogos competitivos de apresentação: jogando e recreando um novo mundo. São Paulo: Sprint, 2009. ______. Jogos com para-quedas: mantendo nossos sonhos no ar. São Paulo: Sprint, 2009. STOKOE, P. HARF, R. Expressão corporal na pré-escola. São Paulo: Summus, 1987.

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AULA 1 e 2 – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS

Texto 1: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DOS JOGOS COOPERATIVOS.

JanderDenicol Amaral1

Reinaldo Soler2

“Concordo que o estudo, tanto quantoo trabalho, são coisas sérias. Coisa séria, não sisuda”.

(JOÃO BATISTA FREIRE)

Para viver em uma época como a que vivemos, lidando com tantas crises,

mudanças, problemas e expectativas, faz-se necessário estar bem preparado para

as exigências da vida moderna. Uma vida que exige do ser humano uma adaptação

contínua às novas circunstâncias e que ele aprenda e reaprenda permanetemente.

Uma pessoa que conhece muita gente, uma pessoa que tem que gostar de gente,

de todas as idades, raças, ideologias e manias. Ser humano, uma pessoa que se

dedica ao crescimento do outro, que compartilha sentimentos, desejos efrustrações.

Uma pessoa que deve estar preparada a cada instante, porque as mudanças são

muitas e muito rápidas. Uma pessoa que se relacione bem com o outro e que seja

competente na sua ação, para, então, tentar ajudar essa gente a pensar, sentir, agir

e viver como gente.

Conviver é facilitar um processo que busca o desenvolvimento pessoal, social

e profissional durante toda a vida do indivíduo, com a finalidade de melhorar sua

qualidade de vida e da coletividade.

Para isso, temos, mais do que nunca, o dever de resgatar o humano. O

humano caracterizado pela paz, pelo amor e pelasolidariedade, pois somos uma

comunidade depessoas. Eesse resgate encontra uma pessoa que,

independentemente de sua idade cronológica, é sempre colocada à prova, e,

quando isso acontece, passa por crises, transformações e modificações que

envolvem muitos aspectos que às vezes não nos damos conta e que tem uma

importância fundamental, como, por exemplo, as mudanças de papéis frente as

diferentes situações que a vida nos coloca. E nos é cobrado diante desses papéis

1AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. São Paulo: Phorte, 2004.

2 SOLER, Reinaldo. Jogos cooperativos. 3.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.

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uma grande maturidade. Somos pessoas que sempre estão começando suas vidas

e relações interpessoais.

Temos que aprender a trabalhar o erro, o desequilíbrio. O conflito e a crise

são momentos fundamentais para o crescimento como pessoa e especialmente para

o crescimento em grupo. Sejamos tolerantes e pacienciosos.

Um outro aspecto importante é a auto realização. Temos que criar condições

para que as pessoas desenvolvam a capacidade de auto realização, que

pressupomos, chegar a ser algo realmente importante para nós mesmos e quando

fazemos isso colaboramos para o crescimento das outras pessoas.

Enfim, uma pessoa que saiba viver em comunidade, pois somos comunicação

essencial. E nessa comunicação devemos criar pontes de acesso ao outro por meio

do que temos em comum e deixar de lado as diferenças que criam os muros, o

preconceito. Devemos estimular mais o sorriso, recriar os ambientes de

aprendizagem fomentando a dinâmica integrativa.

Não devemos esquecer de fazer sempre essas perguntas: Que tipo de

pessoas eu quero para amanhã? Que tipo de sociedade eu quero ajudar a construir?

É uma missão difícil, cheia de desafios e muito enriquecedora. A construção

do humano é uma questão impreterível, porque significa a reconstrução dos valores,

para o desenvolvimento da existência humana alicerçada no amor através da

criação, recriação, inovação e principalmente da ousadia de mudar.

Estamos diante de um contexto que nos exige soluções coletivas, criativas e

cooperativas. Necessitamos recriar a forma de vermos o mundo e as nossas

dinâmicas de interação social para que resultem numa dimensão ampliada da

convivência humana, resgatando nosso potencial para vivermos juntos e

compartilharmos o nosso espaço social, político e de lazer.

Nesse sentido, elegemos o jogo cooperativo como um instrumento de

articulação e promoção do processo educativo, no qual se destacam algumas de

suas principais características, como a alegria e a inclusão. Todos participam, todos

ganham e todos se divertem. É um jogo que tem como fundamento levar em

consideração as condições, as qualidades e as características individuais de cada

pessoa. O importante é a soma de esforços para, com eficiência, realizarmos e

solucionarmos as tarefas propostas através da cooperação.

Ao trabalharmos com esse tipo de estrutura cooperativa, temos a difícil

missão de compartilhar as alegrias, perdas e realizações não somente com parte do

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grupo, como acontece nas estruturas competitivas, mas com todos os integrantes.

Os Jogos Cooperativos são um forte instrumento para promover a integração,

socialização e manifestação dos valores e emoções que levam à realização e ao

bem-estar de todos.

Além de potencializar a criatividade e a espontaneidade, os Jogos

Cooperativos auxiliam na criação de uma consciência humanitária, que, ao valorizar

a participação e o esforço do outro, constitui-se em um trabalho de crescimento

mútuo, contribuindo através dos valores positivos com a sociedade para uma melhor

qualidade de vida e a construção de um mundo melhor.

Os jogos cooperativos nasceram da necessidade que temos se tem em viver

juntos, pois desde cedo foi ensinado que jogo é sinônimo de competição, e que

competição é sinônimo de jogo. Hoje, sabe-se que isso é mito, pois um jogo, para

ser interessante e desafiador, não precisa ser jogado como se estivesse numa

guerra. Enfim, existem alternativas, e uma delas é o jogo cooperativo.

Quando se joga cooperativamente, cada pessoa é responsável por contribuir

com o resultado bem-sucedido do jogo e assim cada um se sente co-participante. O

medo da rejeição é eliminado e aumenta o desejo de se envolver, de fazer parte do

grupo.

Nesse sentido a ideia da disciplina é sensibilizar para uma mudança real,

desejando que dessa mudança surja uma nova visão a respeito do jogo, e que com

isso se possa criar uma ética cooperativa.

Na escola se tem mais contato com os jogos competitivos do que com os

jogos cooperativos, e a própria escola valoriza só os vencedores, pois não ensina o

estudante a amar o aprendizado e sim a tirar notas cada vez mais altas. A educação

física por sua vez não ensina as pessoas a amarem o jogo, e sim a vencer.

Brotto (1999, apud SOLER, 2006) deixa uma lição quanto a isso, pois ele

entende que aprender é sempre uma aprendizagem compartilhada, que ocorre

numa situação dinâmica de coeducação e cooperação, em que todos são,

simultaneamente, professores e alunos.

Acredita-se que o jogo cooperativo nos ajuda a ensinar-e-aprender a viver uns

com os outros ao invés de uns contra os outros.

É certo que desde pequeno se condicionado a competir, e a todo o momento

se tem a impressão de que se está em uma batalha brutal e feroz, em que só um

pode ser o grande vencedor, e ocupar o mais alto grau do pódio.

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Hoje, com o crescimento da violência e o desenvolvimento das cidades, a

pessoa já não tem espaço para jogar, e uma das últimas alternativas para se jogar é

o espaço escolar, mas é necessário estar atento a para qual jogo se necessita. Será

que os jogos que as pessoas estão jogando ajudam a transformar nossa difícil

realidade?

Segundo Orlick (1989, apud SOLER, 2006),quando participamos de um

determinado jogo, fazemos parte de uma minissociedade, que pode nos formar em

direções variadas.

E qual direção que se quer?

Investir no jogo cooperativo como forma de mudança, transformador da

cultura, que atualmente é altamente competitiva. Deve-se para isso tentar

ritualizar a cooperação e desmistificar a competição.

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CONTINUAÇÃO DA AULA 2 e AULA 3

Texto 2: ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS JOGOS COOPERATIVOS.

Reinaldo Soler3

"Se todo animal inspira ternura, o que houve, então,com os homens?"

(GUIMARÃES ROSA)

O JOGO

Através da história da humanidade foram inúmeros osautores que se

interessaram, direta ou indiretamente pela questão do jogo, do brincar e do

brinquedo. Aqui seguem algumas informações importantes sobre esse tema

tãoantigo mas ao mesmo tempo tão desconhecido. Confira!

Idade Média – o jogo é considerado não sério (associado ao jogo de azar).

Servetambém para divulgar princípios de moral, ética e conteúdos de disciplinas

escolares.

Renascimento – compulsão lúdica. O jogo é visto como conduta livre que

favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo: foi adotado como

instrumento de aprendizagem de conteúdos escolares (Quintiliano, Erasmo,

Rabelais, Basedow)

O jogo é um instrumento de desenvolvimento da linguagem e do imaginário. É

do escritor, o poeta, sua prioridade, segundo Montaigne (1612).

“O jogo é um meio de expressão de qualidades espontâneas ou naturais da

criança, como recriação, momento adequado para observar a criança, que expressa

através dele sua natureza psicológica e inclinações, de acordo com Vives (1612).

O jogo tem valor educativo, na medida em que alia oprazer à condição de

uma livre aprovação e de uma submissão autônoma às regras. O valor do jogo tem

implicações políticas e morais, indo bem além da simples distração. O jogo passa a

ser associado à formação do ser humano em sua plenitude. (ROUSSEAU, 1761).

Para Kant (1787), os jogos da criança são o insubstituível lugar de uma auto-

aprendizagem por si mesma, em que vemos que se trata de uma cultura livre. Por

3 SOLER, Reinaldo. Jogos cooperativos. 3.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.

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10

meio do jogo, a criança aprende a coagir a si mesma, a se investir de uma atividade

duradoura, a conhecer e a desenvolver as forças do seu corpo.

Já para Tomás de Aquino (1856), o jogo é necessário na vida humana.

Segundo Stanley Hall (1882), a brincadeira reflete o decurso da evolução do

homem, desde a pré-história até o momento presente. É como se a historia da raça

humana fosse recapitulada por cada criança, cada vez que ela brinca.

“... A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e,

ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo.... Ela dá alegria,

liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo ... O

brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente sério e de profunda

significação”– Froebel, 1912

“O jogo é uma atividade livre, conscientemente tomada como não-sériae

exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorvero jogador de

maneira intensa e total. É uma atividade desligadade todo e qualquer interesse

material, com a qual não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de limites

espaciais e temporais, próprios, segundo uma certa ordem e certas regras”–

Huizinga, 1938

“Os jogos são geradores e expressão da personalidade e da cultura” –

Roberts e Sutton-Smith, 1960-1970

“Os jogos tem um papel expressivo no desenvolvimento decertas habilidades

cognitivas” – Bateson (1956), Vygotsky (1967), Sutton-Smith (1967), Sylva, Bruner e

Genova (1976)

“O jogo é uma atividade espontânea oposta à atividade do trabalho” “É uma

atividade que dá prazer ...” “Caracteriza-se por um comportamento livre de conflito”

Piaget, 1964

“Importância da exploração no jogo: a ausência de pressão do ambiente cria

um clima propício para investigações necessárias à solução de problemas” – Bruner,

1976-1983

“O jogo é uma forma de infração do cotidiano e suasnormas” – Wallon, 1981

“O Brincar traz de volta a alma da nossa criança: no ato de brincar, o ser

humano se mostra na sua essência, sem sabê-lo, de forma inconsciente. O

brincante troca, socializa, coopera e compete, ganha e perde. Emociona-se, grita,

chora, ri, perde a paciência, fica ansioso, aliviado. Erra, acerta. Põe em jogo seu

corpo inteiro: suas habilidades motoras e de movimento vêm-se desafiadas. No

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brincar, o ser humano imita, medita, sonha, imagina. Seus desejos e seus medos

transformam-se, naquele segundo, em realidade. O brincar descortina um mundo

possível e imaginário para os brincantes. O brincarconvida a ser eu mesmo”

“O brincar, assim como a arte, o movimento, a expressão plástica, verbal e

musical, é uma das linguagens expressivas do ser humano” – “O jogo designa tanto

a atitude quanto o objeto que envolve regras externas” - Friedmann, 1998

JOGO COOPERATIVO

Você sabe o que é jogo cooperativo? E cooperação?

JOGO: brincadeira, divertimento, folguedo, passatempo, exercício de crianças

em que elas fazem prova da sua habilidade, destreza ou astúcia.

COOPERATIVO: aquele que coopera, que age ou trabalha junto com o outro

para um fim comum, que colabora, contribui ou age conjuntamente para produzir um

efeito.

JOGOS COOPERATIVOS possuem no seu âmago de desenvolvimento a

COOPERAÇÃO.

São atividades de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para

assumir riscos com pouca preocupação com o fracasso e o sucesso em si mesmos.

Os jogos cooperativos reforçam a confiança em si mesmo e nos outros, propiciando

uma participação autêntica, fazendo com que o ganhar e o perder sejam, apenas,

referências para o crescimento pessoal e coletivo.

Através dos jogos cooperativos, crianças e adolescentes “descobrem” outras

possibilidades: regras, aprendizagem e educação, a ajuda, a solidariedade, a

compreensão, o lúdico. A disputa e a competição podem ser confrontadas, abrindo-

se uma possibilidade de inserção da COOPERAÇÃO – ONDE TODOS GANHAM.

A UNESCO coloca como alguns dos valores essenciais para a paz e a

convivência ecológica entre as pessoas: respeitar a vida, rejeitar a violência, ser

generoso, escutar para compreender, preservar o planeta, redescobrir a

solidariedade. Esses e outros valores como: união, amor, colaboração, bondade,

paz, responsabilidade, organização, inclusão ética, são trabalhados através das

VIVÊNCIAS COOPERATIVAS.

Os JOGOS COOPERATIVOS (VIVÊNCIAS COOPERATIVAS) permitem o

desenvolvimento do viver e do conviver em grupo, do aprender para cooperar e do

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cooperar para aprender, exercitando o compartilhar como instrumento de

crescimento pessoal.

O jogo cooperativo não é algo novo, pois, segundo Orlick(1982, apud SOLER,

2006), começou há milhares de anos, quando membros das comunidades tribais se

uniam para celebrar a vida.

Com toda certeza, os jogos cooperativos sempre existiram, mas começaram a

ser sistematizados na década de 1950 nos Estados Unidos, através do trabalho de

Ted Lentz.

Um dos maiores estudiosos do tema jogos cooperativos é, sem dúvida

nenhuma, Terry Orlick, da Universidade de Ottawa, no Canadá, que pesquisou a

relação entre jogo e sociedade. Em 1978, publicou o livro Vencendo a competição,

que serve de referência para qualquer trabalho sobre cooperação.

De acordo com Terry Orlick (1989, apud SOLER, 2006), nós não ensinamos

nossos estudantesa terem prazer em buscar o conhecimento, nós as ensinamos a

se esforçarem para conseguir notas altas. Da mesma forma, não os ensinamos a

gostar dos esportes, nós as ensinamos a vencer jogos.

No Brasil, o grande pioneiro é o professor Fábio OtuziBrotto, que vem

silenciosamente desencadeando uma nova geração de pessoas mais felizes e

cooperativas.

Atualmente, o jogo cooperativo já é encarado com naturalidade. Muito

diferente de alguns anos atrás, quando ninguém acreditavaem seu potencial, hoje

existe um grande interesse em pesquisar e produzir academicamente sobre o

assunto.

Qual será o motivo que nos tem levado a competir em momentos que não

precisamos?

Hoje, já sabemos que tanto cooperação quanto competição são

comportamentos ensinados-aprendidos através das diversas formas de

relacionamento humano.

O que falta é uma nova postura do educador, ou seja, das pessoas

significativas nesse processo educativo, pois sabemos que só haverá uma mudança

se as pessoas que são significativas na vida do estudante a mudarem a forma como

oferecem os jogos. Pois parece que, se falo de jogo, tenho que falar de competição,

criando erroneamente uma relação de sinonímia entre as palavras.

Page 14: Apost jog cooperativos

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Muitas pessoas inclusive acreditam que a graça do jogo está na competição,

quando sabemos que para uma criança tanto faz competir ou cooperar; o que ela

quer é se divertir.

Reproduzo a seguir um resumo das hipóteses de Deutsch (1949, apud

SOLER, 2006), que foram comprovadas através de provas experimentais em seu

trabalho:

a) Os indivíduos em situações cooperativas consideram que a realização de

seus objetivos é, em parte, consequência das ações dos outros

participantes, enquanto os indivíduos em situações competitivas

consideram que a realização de seus objetivos é incompatível com a

realização dos objetivos dos demais membros;

b) Os membros de grupos cooperadores terão mais facilidade do que os

membros de grupos competitivos para valorizar as ações de seus

companheiros propensos a atingir os objetivos comuns e para não reagir

negativamente diante das ações capazes dedificultar ou impedir a

obtenção de tais objetivos;

c) Os indivíduos em situações cooperativas são mais sensíveis às

solicitações dos companheiros do que indivíduos em situações

competitivas;

d ) Os membros de grupos cooperadores ajudam-se mutuamente com maior

frequência do que os membros de grupos competidores;

e ) Após certo tempo, registra-se uma frequência maior na coordenação de

esforços em situações cooperativas do que em situações competitivas;

f ) A homogeneidade quanto à quantidade de contribuições ou participações

é maior nas situações cooperativas do que nas situações competitivas;

g) A especialização numa atividade é maior nos grupos cooperativos do que

em grupos competitivos;

h) Existe maior pressão para o agir nos grupos cooperativos do que em

grupos competitivos;

i) A atenta observação da produção de sinais emitidos pelos membros de

uma situação competitiva é menor do que a revelada numa situação

cooperativa;

j) Existe maior aceitação da intercomunicação nos grupos cooperativos do

que nos competitivos;

Page 15: Apost jog cooperativos

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k) A produtividade, em termos qualitativos, é maior nos grupos cooperativos

do que nos grupos competitivos;

l) Existe uma maior manifestação de amizade entre os membros dos grupos

cooperativos do que entre os dos grupos competitivos;

m) Dentro dos grupos, os membros cooperativos avaliam a sua produção

mais favoravelmente do que os membros competitivos;

n) Registra-se um percentual maior de funções coletivas nos grupos

cooperativos do que nos competitivos;

o) Os membros de grupos cooperativos consideram que são mais capazes

de produzir efeitos positivos sobre seus companheiros de grupo do que os

membros competitivos. A esse respeito, Brown (1994) nos esclarece mais

um pouco, ao afirmar que como observação final, poderíamos comentar

que a intercomunicação de ideias, a coordenação de esforços, a amizade

e o orgulho em permanecer ao grupo parecem desaparecer quando seus

membro se veem na situação de competir pela obtenção de objetivos

mutuamente excludentes.

Como vimos, apesar da distinção, nossa ideia não ‘’e colocar um em

contraposição ao outro, acreditamos, isso sim, que os dois (cooperação/competição)

devem fazer parte da vida. Só devemos nos preocupar como passamos esse jogo,

pois, se colocamos que vencer é a única coisa que importa, que não interessam os

meios que se usem, então estaremos reforçando a cultura competitiva que nos

cerca.

Se, ao contrário, mostramos que a pessoa é mais importante, num movimento

de transformação real, tentando tornar o mundo um lugar melhor.

Brown (1994, apud SOLER, 2006) nos dá uma preciosa dica: é hora de

começar a perguntar: por quê?

Sim, é hora de, despertando as consciências, modificarmos a atual estrutura

competitiva, e um grande elemento para isso é o jogo cooperativo, pois nele:

a) A gente joga com e não contra os outros;

b) Joga para superar desafios ou obstáculos e não para vencer os outros;

c) Busca a participação de todos;

d) Dá importância a metas coletivas e não a metas individuais;

e) Busca a criação e a contribuição de todos;

f) Busca eliminar a agressão física contra os outros;

Page 16: Apost jog cooperativos

15

g) Desenvolve atitudes de empatia, cooperação, estima e comunicação.

Acreditamos que asdefinições que mais se aproximam da realidade sãoas

descritas por Brotto(1999, apud SOLER, 2006):

a) Cooperação: é um processo de interação social, em que os objetivos são

comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos

para todos.

b) Competição: é um processo de interação social, em que os objetivos são

mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou em oposição umas às

outras, e os benefícios são concentrados somente para alguns.

Acreditamos que utilizando o jogo cooperativo, diminuiremos os problemas. E

com uma total harmonia, realizaremos o objetivo deste trabalho, que é utilizar os

jogos cooperativos como um exercício de convivência.

Como nos diz Brotto (1997, apud SOLER, 2006), nós estamos nesse jogo

com-muitos-outros-jogadores. Portanto, o COMO jogamos é o fator que poderá

definir o placar final.

Os estudos de MortonDeusth (1999, apud SOLER, 2006), no campo da

psicologia social, nos mostram quando uma situação é cooperativa e quando é

competitiva, conforme a figura 1 a seguir.

FIGURA 1 – Situação cooperativa e competitiva.

SITUAÇÃO COOPERATIVA SITUAÇÃO COMPETITIVA Percebem que o atingimento de seus objetivos é, em parte, consequência da ação dos outros membros

Percebem que o atingimento de seus objetivos é incompatível com a obtenção dos objetivos dos demais

São mais sensíveis as solicitações dos outros. São menos sensíveis às solicitações dos outros. Ajudam-se mutuamente com frequência Ajudam-se mutuamente com menor freqüência Há maior homogeneidade na quantidade de contribuições e participações

Há menor homogeneidade na quantidade de contribuições e participações

A produtividade em termos qualitativos é maior. A produtividade em termos qualitativos é menor A especialização de atividades é maior. A especialização de atividades é menor

Fonte: adaptado de Soler, 2006, p.23.

Competir e cooperar são possibilidades de agir e ser no mundo. Cabe

escolhermos, e acabar com o mito de que é a competição que nos faz evoluir.

Os jogos competitivos são rígidos, o que impede que suas regras sejam

modificadas. Sobre esse tema Spencer Kagan, in Brotto (1999, apud SOLER, 2006),

afirma que as crianças não jogam jogos competitivos, elas lhes obedecem.

Page 17: Apost jog cooperativos

16

A orientação é sempre não mexer nas regras, ou seja, aceitar o que está

pronto e acabado. Nos jogos cooperativos acontece exatamente o contrário, isto é,

quanto mais houver contribuições do grupo, melhor.

O nosso objetivo principal de trabalhar a auto-estima através de jogos

cooperativos é completamente alcançado, pois os jogos cooperativos foram criados

com o objetivo de promover a auto-estima e a convivência, sendo dirigidos para a

prevenção de problemas sociais, antes de se tornarem problemas reais.

Brown (1995, apud SOLER, 2006), afirma que a interação cooperativa com os

outros é necessária para o desenvolvimento da auto-estima, da confiança e da

identidade pessoal, que são elementos importantes para o bem-estar psicológico. Se

o jogo tem presentes os valores de solidariedade e cooperação, começamos a

descobrir a capacidade que cada um de nós tem para sugerir ideias.

SOMOS COMPETITIVOS POR NATUREZA?

Mas afinal, somos competitivos por natureza?

Na grande maioria de vezes em que falamos em jogos cooperativos,

escuramos como resposta: "Mas o Ser Humano e competitivo por natureza. O

mundo é dos mais fortes."

Com muita frequência também ouvimos falar da teoria de seleção natural de

Darwin, para justificar a competição.

O conceito de sobrevivência do mais apto tem sido usado com abuso para

justificar o princípio de que "a força estácerta".

Entretanto "o mais apto" não significa ser o mais forte ou o mais bruto. Darwin

ficou amargurado por suas teorias terem sido distorcidas para justificar negociatas,

crueldade e guerras contra os mais fracos. Charles Darwin afirmou, claramente, que,

para a raça humana, o valor mais alto de sobrevivência está na inteligência, no

senso moral e na cooperação social, e não na competição.

Entretanto, o homem moderno está se afastando cada vez mais da

coexistência harmoniosa, que foi fundamental para o seu desenvolvimento e

sobrevivência. A direção em que o homem está indo na sociedade ocidental pode

ser comparada ao desenvolvimento do câncer. O aspecto mais característico do

câncer dentro de um corpo humano, ou dentro de uma sociedade, é que as células

cancerosas cuidam somente de si próprias. Elas se alimentam das outras partes do

Page 18: Apost jog cooperativos

17

seu hospedeiro, até efetivamente matá-lo. Consequentemente, elas cometem

suicídio biológico, uma vez que a célula cancerosanão sobrevive fora do corpo em

que ela iniciou seu desenvolvimento descuidado e egocêntrico.

A competição em suas formas extremas nos torna a todos perdedores.

A longo prazo, não haverá vencedores, somente perdedores, a não ser que

comecemos a nos voltar para uma direção mais cooperativa e harmoniosa.

Afinal, o ser humano é competitivo ou cooperativo?

Através de novas alternativas para se jogar, podemos estimular o encontro,

como nos orienta Brotto (1997, apud SOLER, 2006), quando afirma que jogar-e-viver

é uma oportunidade criativa para encontrar: com a gente mesmo, com os outros e

com o todo.

Devemos permitir que através do jogo diminuamos a distância que nos

separadas outras pessoas. Para isso parece claro que não devemos nos deixar

levar pelo mito de que o ser humano é competitivo por natureza, pois, como já

vimos, é a estrutura social que nos leva a competir ou cooperar, então depende de

cada um de nós, ou melhor, de todos nós.

Orlick (1989, apud SOLER 2006) indica um caminho: se nossa qualidade de

vida futura, e talvez até nossasobrevivência, depender da cooperação, todos

pereceremosse não estivermos aptos a cooperar, a ajudar uns aos outros, a sermos

abertos e honestos, a nos preocuparmos com os outros, com as nossas gerações

futuras.

Concordamos com essa opinião, e vamos mais fundo: só conseguiremos

superar o que vem pela frente com muita cooperação e ajuda mútua.

COMO ENSINAR A JOGAR?

Para iniciar, temos aquilo que Brotto (1999, apud SOLER, 2006) chamou de

ciclo de ensinagem, que se divide em:

a) Vivência;

b) Reflexão;

c) Transformação.

A pedagogia dos jogos cooperativos é apoiada nessas três dimensões de

ensino-aprendizagem.

Page 19: Apost jog cooperativos

18

a) Vivência: Incentivando e valorizando a inclusão de todos, respeitando as

diferentes possibilidades de participação;

b) Reflexão: Criando um clima de cumplicidade entre os praticantes,

incentivando-os a refletirem sobre as possibilidades de modificar o jogo,

na perspectiva de melhorara participação, o prazer e a aprendizagem de

todos;

c) Transformação: Ajudando a sustentar a disposição para dialogar, decidir

em consenso, experimentar as mudanças propostas e integrar, no jogo, as

transformações desejadas.

Resumindo, a cooperação é um exercício, e, sendo um exercício, carece de

ser praticado, então podemos, ajudados pelo ciclo de ensinagem, dizer que o

processo do jogo cooperativo é assim dividido:

Então teremos que viver um jogo, depois fazer uma reflexão do que jogamos,

para recomeçar, mas de forma sempre nova/melhorada, lembrando que a principal

característicado jogo cooperativo é não ter fim. E um dos seus objetivos é fazer com

que as pessoas que jogam sintam prazer em sempre continuar jogando/vivendo.

Terry Orlick (1989, apud SOLER, 2006) dividiu os jogos cooperativos em

diferentes categorias, pois sempre é necessário adequar os jogos ao grupo que se

propõe a jogar:

a) Jogos cooperativos sem perdedores: Todos os participantes formam um

único grande time. São jogos plenamente cooperativos.

b) Jogos de resultado coletivo: Permitem a existência de duas ou mais

equipes, havendo um forte traço de cooperação dentro de cada equipe e

entre as equipes, também. O principal objetivo é realizar metas comuns.

c) Jogos de inversão: Enfatizam a noção de interdependência, por meio da

aproximação e troca de jogadores, que começam em times diferentes. Os

jogos de inversão se dividem em quatro tipos:

AÇAO REFLEXÃO AÇÃO MELHORADA

Page 20: Apost jog cooperativos

19

- Rodízio: Os jogadores mudam de lado de acordo com situações

preestabelecidas, como, por exemplo: depois de sacar (voleibol); após a

cobrança de escanteio (futebol); assim que arremessar um lance livre

(basquete).

- Inversão do goleador: O jogador que marca o ponto possa para o outro

time;

- Inversão do placar: o ponto conseguido é marcado para o outro time.

- Inversão total: Tanto o jogador que fez o ponto como o ponto conseguido

passam para o outro time.

d) Jogos semi-cooperativos: Indicados para um início de trabalho com jogos

cooperativos, especialmente com adolescentes, num contexto de

aprendizagem.

Oferecem oportunidade de os participantes jogarem em diferentes posições:

- Todos jogam: Todos os que querem jogar recebem o mesmo tempo de

jogo;

- Todos tocam/todos passam: A bola deve ser passada por entre todos os

jogadores do time para que o ponto seja validado;

- Todos marcam ponto: Para que um time vença é preciso que todos os

jogadores tenham feito pelo menos 01 ponto durante o jogo. (Podem-se

utilizar também outros critérios, tais come bola na trave, no aro ou tabela,

um saque correto etc.);

- Todas as posições: Todos passam pelas diferentes posições no jogo

(goleiro, técnico, torcedor, dirigente, etc);

- Passe misto: a bola deve ser passada, alternadamente, entre homens e

mulheres.

- Resultado misto: Os pontos são convertidos, ora por um homem, ora por

uma mulher.

Podemos através dessas categoriasadequaro tipo de jogo que usaremos,

pões é muito importante fazer com que as pessoas que jogam se sintam seguras e

felizes, daí a importância de se iniciar gradativamente de se iniciar gradativamente o

trabalho, pois cada grupo tem suas próprias características, condições e ritmos, que

devem sempre ser levados em consideração.

Page 21: Apost jog cooperativos

20

CRIANDO NOVOS GRUPOS

Um dos momentos mais esperados quando se vai jogar é a formação dos

times ou grupos, e é justamente nesse instante que podemos mudar nossa forma de

separar/formar grupos. Devemos criar alternativas criativas e divertidas, e para isso

podemos levar em consideração o que diz Brotto(1999, apud SOLER, 2006), formar,

desfazere transformar grupos em times é um exercício que pode nos preparar para

circular com maior leveza, flexibilidade e prazer por entre os vários contextos que

vivemos no dia-a-dia.

O que acontece na maioria das vezes é que as pessoas preferem ficar ao

lado de quem já conhecem, e com quem têm mais intimidade. Então, o nosso papel

é fazer com que elas deem a oportunidade a si mesmas de conhecer novas pessoas

e formar novas e interessantes parcerias. Não significa que haja algo de ruim estar

com quem se gosta, é só uma chance de novas participações com a inclusão de

novos amigos.

Existem alguns critérios que podem ser utilizados quando queremos "mexer"

com o grupo, misturando de modo saudável as diferenças:

a) Dia do nascimento: Grupo 1a quinzena; grupo 2a quinzena;

b) Cores das roupas: clara e escura;

c) Tipo de calçado: tênis, sapato, sandália, tamanco etc;

d) Cor dos cabelos: claros e escuros;

e) Mês do nascimento: 1o trimestre; 2o trimestre; 3o trimestre e 4o trimestre;

Dividimos o grupo em dois, também utilizando a seguinte divisão: Os

nascidos no 1o semestre em um time; e os nascidos no 2o semestre em

outro.

As formas são variadas e tudo dependerá da criatividade do facilitador, e

também do grupo que joga, pois as ideias de divisão devem partir também de quem

joga.

Aproposta dos jogos cooperativos deve estar acompanhada de atitudes que

favoreçam o respeito, a valorização e a integração de todos.

Enquanto educadores conscientes, devemos sempre eliminar as diferenças,

sem, contudo, deixar de reconhecer que cada ser é um indivíduo com possibilidades

e limitações. Neste sentido, devemos oferecer oportunidades iguais a todos sem

Page 22: Apost jog cooperativos

21

discriminação, para que ele possa se sentir como peça fundamental dentro do

grupo.

Segundo Orlick (1989, apud SOLER, 2006), quando todos podem ganhar com

a contribuição de todos, algo estranho acontece. As pessoascomeçam a ajudar

umas às outras.

Dando chance para que as pessoas joguem juntas, tentando superar um

desafio comum, contribuímos para que se tornem mais cooperativas e solidárias.

TRANSFORMANDO JOGOS CONHECIDOS

Uma alternativa muito interessante é a transformação de jogos antigos e

competitivos em jogos totalmente cooperativos.

A primeira coisa a fazer é eliminar a ênfase na competição e focar o objetivo

em metas coletivas, não se destacando o vencedor.

As características principais do jogo, como o desafio e a ludicidade, devem

ser mantidas, pois é o que faz com que quem joga seja seduzido por ele.

Devemos, sempre que possível, pedir para os participantes darem opiniões

sobre como transformar o jogo.

Brown (1994, apud SOLER, 2006) nos ensina como modificar um jogo

competitivo transformando-o em cooperativo: Exemplo de adaptação de um jogo

competitivo está na ponte de cadeiras. Na versão competitiva, preveem-se duas

equipes que formam filas para ver quem pode chegar primeiro a um determinado

lugar. Todos estão parados sobre as cadeiras.O objetivo é deslocar-se sempre em

cima das cadeiras, passando-as para frente, estabelecendo uma espécie de ponte.

Agora, como adaptar esse jogo para que seja cooperativo? Em vez de duas equipes,

formamos somente uma e planejamos que o objetivo é que todos se desloquem

antes que termine uma canção. Fica mais interessante quando a forma de

deslocamento não é explicada; apenas se pede a todos que parem sobre as

cadeiras(pode ser em círculo), Explica-se que o objetivo é que todo o grupo chegue

a um lugar marcado, sem descer das cadeiras. O grupo deve consegui-lo antes que

termine uma canção.

Ficaevidente que o mais importante é que o grupo perceba como fazer para

alcançar o objetivo final, e que essa lição fique para ser utilizada depois, na própria

vida.

Page 23: Apost jog cooperativos

22

CRIANDO UM JOGO NOVO

Outra alternativaé criar um jogo cooperativo totalmente novo, em que,

segundo Brown (1994, apud SOLER, 2006), devemos levar alguns fatores em conta:

a) Estabelecer o uso possível do jogo: para relaxar, um jogo quebra gelo etc.

b) Estabelecer o destinatário do jogo: crianças, jovens, adultos, grupos

maiores ou grupos com necessidades especiais;

c) Determinar se o jogo é para grupos pequenos, grandes e onde se pode

jogá-lo (dentro de um salão, na rua, numa quadra etc).

Quando se está satisfeito com a ideia, podem-se anotar os passos do jogo e

experimentar para sentir se dão os resultados esperados.

Continuamos com Brown (1994, apud SOLER, 2006), que diz quais são as

perguntas que podem ser feitas para se ver se o novo jogo corresponde ao objetivo:

a) O jogo reflete bom humor? Permite que os participantes riam todosjuntos?

Reflete a ideia de que, às vezes, faz sentido fazer coisas que não têm

sentido?

b) O jogo é cooperativo? Os participantes podem jogar com os outros e não

contra os outros? Pode-se ter prazerno jogo e não no resultado?

c) O jogo é positivo? Anima os participantes a apoiarem-se? Há ausência de

comentários críticos? Os participantes se sentem bem durante e depois do

jogo?

d ) O jogo é participativo? Anima todos a jogarem em vez de observarem? Os

participantes se sentem mais unidos depois do jogo?

e ) O jogo permite que os participantes sejam criativos e espontâneos?

Permite a recreação, a possibilidade de mudá-lo?

f ) Há igualdade de participantes no jogo? E um jogo em que o facilitador é

também mais um jogador?

g ) Cada participante pode estabelecer seu próprio ritmo? O jogo evita

projeções pessoais e facilita a participação coletiva?

h ) O jogo oferece um desafio? Tem espírito de aventura?

i ) O jogo leva em conta os participantes? Coloca ênfase no desenvolvimento

ou resultado?

j ) O jogo é divertido?

Page 24: Apost jog cooperativos

23

Se o novo jogo atende a todas as perguntas, então já podemos dizer, sem

medo de errar, que estamos diante de um jogo cooperativo, o qual tem o poder

transformador de ajudar a nos tornarmos o tipo de pessoas que realmente

gostaríamos de ser.

E segundo Orlick (1989, apud SOLER, 2006), muitas dasbasesaonosso

comportamento podem estar nas brincadeiras e jogos infantis.

A nossa missão maior é fazer com esses jogos modifiquem o comportamento,

tornando as pessoas mais honestas e atenciosas. E para isso temos o que Brotto (1999,

apud SOLER 2006) chama de habilidades de relacionamento cooperativo, em que

se destacam:

a) Focalizar uma visão e propósito como-um, identificando um centro de

interesse comum a partir de interesses pessoais compartilhados;

b) Descobrir, valorizar e praticar o estilo pessoal de ser, despertando

talentos, qualidades e virtudes em nós mesmos e uns nos outros;

c) Harmonizar crises, solucionar conflitos e superar obstáculos e dificuldades

através da recreação coletiva;

d) Sustentar a auto-mútua confiança, oferecendo e pedindo ajuda.

e) Preservar um ambiente de alegria e descontração, favorecendo a tomada

de decisão e iniciativa;

f ) Alcançar objetivos, aparentemente impossíveis, acreditando que tudo é

possível, desde que seja (im) possível para todos, sem exceção;

g) E celebrar os sucessos e insucessos em comum-unidade, desfrutando de

todo o processo do jogo como um instante de encontro e realização

humana.

Quando temos o interesse, ou melhor, a necessidade de transformar uma

prática, podemos citar Diem (1981, apud SOLER, 2006) que afirma que afim de

permitir a cada um dos estudantes as mesmas oportunidades de aprendizagem, é

necessário haver ofertas variadas.

Importante que quando falamos em criarum novo jogo, seja levado em conta

que todas as pessoas são diferentes no início do processo, e com certeza serão

diferentes ao final.

Num mesmo grupo podemos encontrar pessoas bem treinadas, seguras,

autoconfiantes, extrovertidas, ao lado de outras, amedrontadas, gordas,

desengonçadas ou deficientes.

Page 25: Apost jog cooperativos

24

Então, podemos fazer como nos sugere Joseph (1998, apud SOLER, 2006),

na terapia do divertimento: Divirta-se com os outros. O desafio das brincadeiras em

grupo amplia sua visão e estimula seu talento.

Através dos jogos cooperativos, Brotto (1999, apud SOLER, 2006), sugere

que dois aspectos fundamentais são desenvolvidos:

a) Autoestima: despertando e desenvolvendo os talentos, vocações, dons e

tons pessoais, como peças singulares, importantes e fundamentais ao

grande jogo de coexistência.

b) Relacionamento interpessoal: como um princípio vital para a aproximação,

entrelaçamento e arranjo harmonioso, de cada uma das diferentes peças

para a recreação do todo.

E ele (Brotto, 1999) continua, afirmando que é através do jogo cooperativo a

sinergia entre autoestima e relacionamento interpessoal é sintetizada e ganha

proporções extraordinariamente educativas e transformadoras.

Page 26: Apost jog cooperativos

25

AULA 4 – O EDUCADOR

Texto3: EDUCANDO NOS DIAS DE HOJE!

Estamos passando por uma mudança de paradigmas, poruma fase em que os

saberes não são mais exclusividade de quem ensina, tanto quanto seres humanos

quanto como educadores. O papel do educador é muito mais o de um facilitador e

orientador do processo de desenvolvimento do(s) outro(s). O objetivo do educador é

o de oferecer instrumentos ao educando para que ele possa procurar dentro de si

eno mundo externo, as informações necessárias para o seu crescimento. O

educador/facilitador é um alavancador de novos rumos, motivador para a mudança,

auto-conhecimento,auto-transformação e reformulação de valores. O papel do

educador é o de levantar questionamentos que “provoquem” e “desequilibrem”

seu(s) interlocutor(es), em prol damudança.

Porque e quando isto acontece?

Não é um acontecimento instantâneo e sim um processo, onde para cada

indivíduo ocorre a partir de eventos ou fatos muito particulares. A partir de um

desconforto, de um sentimento de que as coisas não estão certas do jeito que estão

Para mudar precisamos nos desvencilhar de ideias preconcebidas, formas viciadas

de relacionamento, para reconstruir, tijolo por tijolo, nossa nova forma e, aos poucos,

ir experimentando qual é o clima que darei a cada encontro, a cada oficina, a cada

aula. Quais as bases de pensamento sobre as quais irei “sentar”, me alimentar e

dormir; ou seja, os novos paradigmasque irão servir de norte para o meu novo

comportamento, minha nova postura; que estilo irei adotar.

Se refletirmos a respeito de :

a) que estilo quero adotar(filosofia);

b) o que é essencial para mim (meus valores) e o que é superficial

(justificativa);

c) o que quero nesta nova fase (meus objetivos);

d) como vou apresentar essas questões (metodologia);

e) que materiais vou utilizar.

Avaliar o que está confortável, o que está prático,ir fazendo os pequenos

ajustes para ir adequando o meu espaço ao meu jeito. A minha filosofia de trabalho

às necessidades de todos aqueles que moram comigo ou vem me visitar.

Page 27: Apost jog cooperativos

26

Vamos refletir à respeito da postura do educador até os dias de hoje:

a) autoritária, centrada em um único indivíduo, considerado “detentor dos

saberes”, dono da verdade;

b) unilateral, no sentido de não ter flexibilidade, utilizando e repetindo

velhas fórmulas ou receitas sem atentar para as necessidades

daqueles a quem nos dirigimos;

c) o seu maior objetivo é ensinar, informar, transmitir conhecimentos;

d) considera o outro como uma tábua rasa que deveria incorporar, adotar

os seus saberes incontestáveis;

e) abomina o conflito;

f) condena e rejeita o erro;

g) avalia, taxa e classifica o bom e o ruim, o melhor e o pior.

Vamos fazer agora, uma reflexão a respeito da postura do novo educador,

facilitador do processo do outro:

a) ele ouve, observa e reconsidera o processo de desenvolvimento do

seu aluno/educando/aprendiz;

b) reflete a respeito da sua própria prática, recriando-a em função das

necessidades do(s) seu(s) interlocutor(es): avalia o seu processo e

postura;

c) reconstrói junto com o(s) outro(s) os saberes;

d) é flexível e aberto para a mudança;

e) trabalha a partir dos conflitos, procurando caminhos para resolvê-los;

f) utiliza o erro como alavanca e desafio para novas aprendizagens;

g) o seu maior objetivo é formar, propiciar a abertura de canais no outro e

oferecer ferramentas para que o outro possa ser ele mesmo, se

descobrir, expressar-se.

Baseado No texto de Adriana Friedmann

Page 28: Apost jog cooperativos

27

AULA 5 – OS CONTATOS

Texto 4: OS PRIMEIROS CONTATOS.

JanderDenicol Amaral4

"Nunca duvide da força de um pequeno grupo de pessoas para transformar a realidade.Na verdade

eles são a única esperança de que isso possa acontecer".

(MARGARET MEAD)

Nossa intenção é mostrar, por meio de uma proposta cooperativa, outras

possibilidades, outros caminhos de promover um desenvolvimento humano mais

enriquecedor e eficaz.

ACESSANDO O GRUPO

Quando entramos em contato com um grupo para desenvolvermos um

trabalho, é muito importante levarmos em consideração algumas orientações que

irão facilitar o desenvolvimento e a continuidade da proposta:

a) conhecer as necessidades e limitações dos membros do grupo;

b) encontrar o melhor caminho para entender o grupo e cada indivíduo;

c) entender que alguns integrantes apresentam dificuldades de se

relacionar com outras pessoas;

d) idade cronológica.

SELECIONANDO UMA ATIVIDADE

Escolher uma atividade não é uma tarefa muito fácil. Devemos ter atenção

aos objetivos e à estrutura da proposta:

a) adequação das atividades às necessidades do grupo;

b) adequação das ati\ idades ao ambiente;

c) atividades com nível de dificuldade gradativo;

d) atividades que proporcionem um incremento no nível de motivação

ecooperação do grupo. 4AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. São Paulo: Phorte, 2004.

Page 29: Apost jog cooperativos

28

CONDUZINDO A ATIVIDADE

Devemos permitir que ogrupo explore todas as possibilidades que surgirem

durante a atividade. É aconselhável ficar atento àspercepções dos participantes,

pois isso enriquecea nossaforma de contribuir com o grupo.

Para isso é necessário:

a) Proporcionar uma discussão durante a atividade em que o grupo

perceba o seu próprio desenvolvimento;

b) Permitir que a atividade se desenvolva naturalmente no ritmo do grupo;

c) Preparar o grupo para o tipo de atividade a ser realizada.

CONDUZINDO A DISCUSSÃO

Temos várias possibilidades de intervenção que podem favorecer o bom

andamento de uma discussão. Partindo de uma crítica de nossos estudantes e de

uma reflexão de nossa prática, estaremos contribuindo para um melhor

entendimento das vivências realizadas. E sugerimos que:

a) O grupo seja organizado em círculo;

b) Sejamos flexíveis, tentando entender os diferentes sentimentos em

relação à atividade;

c) Sempre dê retorno de cada observação realizada;

d) Encerre a discussão com aspectos positivos.

Page 30: Apost jog cooperativos

29

AULA 5e 6 – O MELHOR DOS JOGOS COOPERATIVOS

Texto 5: ENTENDENDO MELHOR OS JOGOS COOPERATIVOS.

JanderDenicol Amaral5

“Podemos chorar, implorar desesperadamente para que o tempo se congele, mas ele é surdo a

qualquer apelo e, com muita pressa, segue em frente. Sobre os ossos petrificados e os restos

amontoados de inúmeras civilizações estão as palavras patéticas:’Tarde de mais!’.”

(MARTIN LUTHER KING JR.)

Os jogos cooperativos são atividades que requerem um trabalho em equipe

com o objetivo de alcançar metas mutuamente aceitáveis. Não é necessário que os

indivíduos que cooperam tenham os mesmos objetivos, porém seu alcance deve

proporcionar satisfação para todos os integrantes do grupo.

O jogo cooperativo busca aproveitar as condições, capacidades, qualidades

ou habilidades de cada indivíduo, aplicá-las em um grupo e tentar atingir um objetivo

comum. O mais importante é a colaboração de cada um, é o que cada um tem para

oferecer naquele momento, para que o grupo possa agir com mais eficiência nas

tarefas estabelecidas. Esse tipo de jogo traz uma alternativa ao jogo de competição,

no qual, algumas vezes, o outro passa a ser um obstáculo que se tem que passar a

qualquer custo para atingir um objetivo.

O jogo é um espaço riquíssimo em que se produzem infinitas situações que

exigem a participação na solução de problemas. Essa busca para solucionar

problemas, característica fundamental da estrutura COOPERATIVA, implica em um

processo de exploração, escolha e, finalmente, tentativa de responder a algumas

questões (O que fazer? Como fazer? Quando fazer? Onde atuar?) para definir a

ação.

Assim, o processo de participação no jogo pode resultar em um

enriquecimento e crescimento, tanto pessoal como do grupo e das próprias

atividades propostas.

Os jogos cooperativos propõem a busca de novas formas de jogar, com o

intuito de diminuir as manifestações de agressividade nos jogos, promovendo

atitudes de sensibilidade, cooperação, comunicação, alegria e solidariedade.

5AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. São Paulo: Phorte, 2004.

Page 31: Apost jog cooperativos

30

A esperança, a confiança e a comunicação são as principais características

dos jogos cooperativos. O jogo cooperativo busca a integração de todos, a alegria e

a valorização do indivíduo na construção do processo de participação. Os jogos

cooperativos buscam incluir e não excluir, como diz Brown (1994).

Cabe recordar que entendemos os jogos cooperativos como componentes

essenciais de um projeto educativo baseado na cooperação e resolução pacífica dos

conflitos, onde os meios empregados não sejam antiéticos.

Para Broto,(2001), a convivência, a consciência e a transcendência são os

principais eixos da pedagoga cooperativa.

a) Convivência: a vivência compartilhada como contexto principal para a

aprendizagem no processo de reconhecimento de si mesmo e dos

outros;

b) Consciência: a reflexão sobre a vivência e as possibilidades de

modificar atitudes, na perspectiva de melhorar a participação, o prazer

e a aprendizagem;

c) -Transcendência: ajudando a sustentar a disposição para dialogar,

decidir em consenso, experimentar as mudanças propostas e integrar,

no jogo e na vida, as transformações desejadas.

Todos os participantes, em lugar de competir, aspiram uma finalidade comum,

trabalhando juntos, combinando suas diferentes habilidades e unindo seus esforços

para conseguir atingir um determinado objetivo.

A pessoa jogará pelo prazer de jogar. Não por uma vitória, e sim pelo

divertimento, sem a ameaça de não atingir o objetivo. Nos jogos cooperativos, os

companheiros se vêem como companheiros de jogo com relações de igualdade,

onde todos são protagonistas.

São valores educativos dos jogos cooperativos:

a) Construção de uma relação social positiva: os jogos cooperativos

mudam as atitudes das pessoas para o jogo e para elas mesmas,

favorecendo a criação de um ambiente de apreço;

b) Empatia: capacidade para situar-se na posição do outro e

compreender seu ponto de vista, suas preocupações, suas

expectativas, suas necessidades e sua realidade;

c) Cooperação: valor e destreza necessários para resolver juntos tarefas

e problemas, através de relações baseadas na reciprocidade e não no

Page 32: Apost jog cooperativos

31

poder e controle. As experiências cooperativas são a melhor maneira

de aprender a compartir, a socializar-se e a preocupar-se pelos

demais;

d) Comunicação: desenvolvimento da capacidade para expressar,

deliberada e autenticamente, nosso estado de ânimo, nossas

percepções, nossos conhecimentos, nossas emoções e nossas

perspectivas;

e) Participação: gera um clima de confiança e de implicação comum;

f) Apreço e autoconceito positivos: desenvolver uma opinião positiva de

si mesmo, reconhecer e apreciar a importância do outro. A auto-

estima, confiança e segurança em si mesmo são alguns elementos de

identidade vital que desempenham um importante papel na

determinação de nossa conduta comunicativa. O jogo cooperativo ofe-

rece ao jogador a ocasião de apreciar-se, de valorizar-se, sentir-se

respeitado em sua totalidade. Pouco importam as suas aptidões

físicas, é sempre ganhador e nunca eliminado. Respeitar-se envolve o

respeito aos outros. Respeitar-se traz a aceitação e o melhor de si.

Quando alguém se ama, transforma-se e melhora;

g) Alegria: uma das metas do ensino-aprendizagem deve ser a formação

de pessoas felizes e o desaparecimento do medo do fracasso e do

rechaço.

Um dos grandes pesquisadores no campo da educação para a cooperação,

Orlick (1999), valoriza quatro características essenciais do jogo cooperativo: a coo-

peração, a aceitação, a participação e a diversão. Vincula, também, esse jogo à

liberdade em cinco esferas importantes, que são:

a) Liberdade da competição: uma das principais características que

distinguem as atividades de cooperação das outras atividades é a sua

estrutura interna. O objetivo é comum para todos os envolvidos. Dessa

forma, a atividade está centrada em superar o desafio proposto e não

em superar os integrantes do grupo.

b) Liberdade para criar: uma importante característica do jogo cooperativo

é que ele não é um jogo pronto, acabado, isto é, apresenta distintos

caminhos para sua solução e realização.

Page 33: Apost jog cooperativos

32

c) Liberdade da exclusão: excluir alguém de uma atividade significa não

dar oportunidades para essa pessoa continuar jogando, corrigir seus

erros, crescer e continuar aprendendo.

d) Liberdade para eleger: um dos grandes incentivos dos jogos

cooperativos é estimular a iniciativa e o respeito às ideias do grupo.

e) Liberdade da agressão: os participantes estão livres do enfrentamento

e da batalha de vencer o outro. A atenção do grupo está voltada para

união de esforços, valorizando o que cada um tem, na busca de

alternativas para solucionar os problemas.

O jogo propicia oportunidades atraentes e ricas em diversas situações, o que

possibilita uma grande dinamicidade de vivências: confrontamento de pontos de

vista, defesa de interesses, participação em discussões, vivência da crise e do

conflito. O jogo evidencia-se, portanto, como um potencializador de fatores sócio-

emocionais, como a cooperação e a descontração. O jogo contribui para a

construção do conhecimento, das habilidades motoras, do movimento tecnificado, do

desenvolvimento da moralidade, da sociabilidade, da emocionalidade, do desejo e

da solidariedade.

Conhecer as características e necessidades individuais das pessoas, nos

seus diferentes momentos de vida, suas vontades e desejos, associados a uma

leitura crítica do nosso cotidiano, é uma tarefa básica para criarmos um ambiente

favorável no processo de humanização do homem.

Figura 2 – Jogo com o para quedas.

Fonte: Amaral, 2004.

Page 34: Apost jog cooperativos

33

ALEGRIA

Parece tão fácil falar de alegria. Mas será que sabemos realmente qual o seu

valor? A alegria é um dos fatores que mais fomenta nosso gosto pela vida. E a

busca incansável por este tesouro que nos fortalece e nos encoraja a ponto de

superar todas as dificuldades e sofrimentos que enfrentamos em nosso dia-a-dia. O

cotidiano apresentado hoje está longe de ser considerado alegre. E as pessoas

também têm se apresentado cada vez mais tristes.

No mundo em que vivemos, todos se dedicam às preocupações com o

trabalho, dinheiro, a família etc. Além disso, o cotidiano é repleto de tristes notícias

que chegam até nós pelos meios de comunicação. Com a carga negativa que entra

todo dia na vida das pessoas, não é estranha a falta do sorriso.

As pessoas, tomadas pela realidade, esqueceram de alegrar-se com a

simplicidade da vida. Um mar cristalino, um banho de cachoeira, o canto de um pás-

saro, o pôr-do-sol e nem mesmo a própria vida é capaz de "arrancar" um sorriso das

pessoas. É preciso fazê-las redescobrir a alegria de viver.

Se pensarmos e agirmos sempre de forma positiva, veremos que este

fenômeno encontra-se presente nas pequenas coisas e atitudes que compõem a

nossa vida. Se tivermos nossos referenciais de beleza em um jardim florido e

colorido, saberemos extrair toda a alegria de poder enxergar.

O sorriso é a maior demonstração de alegria. Um sorriso transforma as

pessoas, pois exterioriza e oferece ao outro todas as nossas mais puras emoções

de carinho, afeto e felicidade. É a mais clara demonstração de que o nosso coração

está em perfeita harmonia com o meio externo. O sorriso é contagiante e depende

de cada um de nós espalhar esse vírus (idéia), a fim de que tenhamos um mundo

onde as alegrias prevaleçam sobre toda e qualquer tristeza. O riso é a linguagem da

alma. Que tal deixá-la se expressar?

Uma pessoa feliz e sorridente transforma um ambiente, criando um clima de

alegria e contagiando todos ao seu redor. Este clima é motivante e estimula a

aprendizagem e a boa convivência. As pessoas alegres se interessam pelos outros

e pensam mais nas outras pessoas. A capacidade de ajuda é mútua onde existe

alegria.

Um dia perguntei a uma criança o que era alegria. No mesmo instante,

respondeu-me sem pensar duas vezes: "o meu time ganhar". Essa vitória dita é

Page 35: Apost jog cooperativos

34

conseqüência de uma reprodução de esquemas competitivos. Esta é uma proposta

ilusória, quando do seu início, pois cria uma perspectiva da realização e alcance do

defeito em todos os participantes. Porém, à medida que o jogo acontece, as

diferenças vão se acentuando, e, ao término da disputa, encontramos as duas

emoções extremas divididas. De um lado, a alegria proveniente da vitória e, de

outro, o fracasso e a tristeza decorrentes da derrota, mesmo com todo o esforço e

dedicação de todos os participantes.

A proposta cooperativa se diferencia, pois a união dos participantes para

solucionar o desafio valoriza as competências do grupo. Todos se tornam

insubstituíveis, aumentando a auto-estima dos mesmos. Ao sentirem-se valorizados,

os jogadores estão à vontade para curtir o jogo e ter a liberdade de alegrar-se com a

atividade proposta.

O Jogo Cooperativo possui também uma característica diferenciada. Ele tem

uma dose de humor. Estimula a imaginação, além de ser engraçado. Trabalhar com

a fantasia das pessoas é extraordinário, pois exterioriza nossa criança interior.

A alegria não é algo passivo e por isso requer ATITUDE. Agir para conquistar

a tão sonhada felicidade. E como já dizia Tom Jobim: "É impossível ser feliz

sozinho".

CRIANDO E TRANSFORMANDO JOGOS

Tendo em vista o paradigma cultural em que vivemos, desde a fase pré-natal

já se iniciam as perspectivas dos pais e demais membros próximos à família para as

orientações e determinações a serem transmitidas à criança, com o objetivo de

montar um perfil o mais adaptável possível aos costumes sociais.

Este modelo extremamente competitivo é inserido sutilmente, quando que

para nossos pais somos a criança mais bela do planeta, nossas roupas são as mais

lindas, nossa pele é a mais macia. Assim vamos aprendendo a construir nossos

valores, não em um processo somatório com outras pessoas, mas individualmente,

utilizando sempre parâmetros de comparação.

Na medida em que o referencial de superação é representado pelo

adversário, torna-se insustentável a orientação de valores como ajuda, compreensão

e respeito, a partir do momento em que nossa realização depende do fracasso do

outro indivíduo.

Page 36: Apost jog cooperativos

35

Culturalmente, a sociedade apresenta valores invertidos. Devido a isso, as

pessoas não se sentem motivadas a mudanças. Assim, os jogos perdem uma de

suas principais características: a fantasia. A falta de imaginação toma conta,

apresentando uma sociedade sem criatividade.

"Se alguém pode imaginar, pode criar. Pode-se criar, pode fazer do mundo

um lugar melhor. A imaginação é a primeira faísca que acende a chama da

realização"

Aqui está um grande desafio para o professor! Estimular a criatividade, não

apenas na execução dos jogos, mas também na sua criação. Além de criar novos

jogos, existe a possibilidade de transformá-los: trans (mudança)-forma-açâo. Ou

seja, mudar a forma da ação no jogo.

Porém, transformar jogos competitivos em cooperativos não é uma tarefa

muito simples. Modificar o início ou o fim da atividade não irá caracterizá-la como

cooperativa. Para isso, será necessária uma atenção especial na estrutura do jogo.

Na estrutura competitiva, cada pessoa ou equipe procura atingir um objetivo

melhor do que o outro. Já na estrutura cooperativa existe um problema a ser

resolvido pelos participantes: em conjunto, superam desafios ou tentam alcançar

metas, porém essa meta é comum a todos. Portanto, ao adaptar uma atividade, o

confronto entre os participantes deve ser eliminado.

Ao modificar a estrutura de um jogo, consequentemente as regras serão

alteradas. Essas se apresentam mais flexíveis e adaptáveis ao grupo e ao momento

nos Jogos Cooperativos. A liberdade para criar também pode partir dos

participantes, que, juntos, podem encontrar maneiras diferentes de jogar.

Ao transformar um jogo, alguns cuidados devem ser tomados. O primeiro é o

referente à inclusão. Como existe uma meta comum, todos os participantes deverão

alcançá-la, permanecendo na atividade do início ao fim.

Quando se transforma o tradicional, algo novo e diferente surge. E tudo aquilo

que se aproxima do nunca visto é mais divertido. E assim ocorre também com os

jogos. Além das novas regras e adaptações, transforma-se o jogo em algo mais

divertido. Dar boas risadas e compartilhar sorrisos não é uma ótima jogada?

Page 37: Apost jog cooperativos

36

A criatividade e a comunicação são estimuladas não apenas pelo processo de

busca da melhor estratégia para se chegar ao proposto, mas também pelo processo

de criação e transformação dos jogos.

COOPERAÇÃO E COMPETIÇÃO

A Educação é hoje uma preocupação em nível mundial. Muitos países,

conforme suas características, propõem reformas em seus sistemas educacionais.

As Universidades não cessam suas longas buscas por caminhos que apontem para

modelos de ensino mais efetivos, para a construção do cidadão melhor, preparado

para enfrentar esta revolução em todos os processos da nossa vida. A Educação

deve preparar o indivíduo, em todas as suas fases existenciais, para este novo perfil

de qualificação dos serviços, para o exercício da cidadania e para esta nova

dimensão de mundo.

Sabemos que o conhecimento, a criatividade e a iniciativa constituem-se em

elementos fundamentais no desenvolvimento do indivíduo, e partimos do

pressuposto que o ser humano está em um processo contínuo de crescimento, em

permanente evolução.

É iminente criarmos espaços de aprendizagem em que a Educação formal

não atua. Habilitarmos as pessoas nas suas comunidades, como gerentes do seu

processo de desenvolvimento, em suas múltiplas funções, como um ser feliz, social

e político.

Preocupados com o bem-estar dos indivíduos, devemos oportunizar a essas

pessoas um espaço de crescimento, descoberta e lazer. Entendemos que a auto-

imagem e auto-estima positiva são de fundamental importância para o

desenvolvimento saudável do indivíduo e que devemos fomentar mais a

cooperação.

Brown (1994) registra que: a interação cooperativa com os outros é

necessária para o desenvolvimento da auto-estima, da confiança e da identidade

pessoal, que são elementos importantes para o bem-estar psicológico.

A cooperação e a competição fazem parte do nosso cotidiano. Incentivar os

jogos cooperativos significa oferecer às pessoas opções de participação. Desde que

nascemos, parece que só nos oferecem uma opção. Competir, vencer alguém ou

ganhar alguma coisa. Vivemos no mundo do primeiro lugar, na ilusão da vitória,

Page 38: Apost jog cooperativos

37

onde quem se beneficia dos sorrisos, dos aplausos, dos olhares satisfeitos, das

caras de aprovação, dos gritos de exaltação e dos louvores é apenas uma pessoa.

Como aponta MortonDeutsch (apud BROWN, 1994), os membros de grupos

cooperativos consideram que são mais capazes de produzir efeitos positivos sobre

seus companheiros de grupo do que os membros competitivos.

A antropóloga Margaret Mead (apud ORLICK, 1999), nos diz que a estrutura

social é que determina se os membros de determinada sociedade irão competir ou

cooperar entre si, isto é, o comportamento do indivíduo, competitivo ou cooperativo,

é condicionado pela ênfase das estruturas dentro de uma dada sociedade.

Como aponta muito bem Brown (1994) acreditamos que nossa busca para

criar alternativas de educação, organização e comunicação devem partir

fundamentalmente da cooperação.

O autor enfatiza também que, se o jogo apresenta valores positivos como a

solidariedade e a cooperação, os indivíduos têm uma maior oportunidade de sugerir

suas idéias, de descobrir e expressar suas capacidades. Para Brown (1994) o

processo de desenvolver um ambiente afirmativo está diretamente vinculado às

possibilidades de criatividade do grupo.

Além disso, quando uma pessoa se sente motivada para atingir uma

finalidade, seja no jogo ou no trabalho, ela se sente mais sujeito de sua história.

Os indivíduos que se sentem aceitos pelo grupo podem explorar com mais

segurança e liberdade os problemas que aparecem, assim como assumir riscos,

analisar suas capacidades, aceitarem e aprenderem com seus erros.

Por meio do jogo o homem constrói pontes de comunicação. A partir disso,

devemos estar vigilantes para as mensagens que transmitimos através dele, para

não reproduzirmos os valores individualistas e agressivos da sociedade em que

vivemos.

Observa-se que os indivíduos de grupos cooperativos ajudam-se mutuamente

com mais frequência, são mais sensíveis às solicitações dos companheiros e

valorizam a ação do outro. Existe também uma maior manifestação de amizade,

maior coordenação de esforços para atingir um objetivo e uma maior produtividade

em termos qualitativos.

Jogar e viver cooperativamente vai muito além do simplesmente vencer ou

ganhar. Significa resgatar e valorizar o verdadeiro sentido do humano. Não somos

contra a competição. Podemos educar as pessoas através da cooperação e da

Page 39: Apost jog cooperativos

38

competição. Devemos dar mais atenção e um tratamento sério à competição, e não

simplesmente "virar de costas" e deixar as coisas como estão. Estamos trabalhando

e colocando em jogo os sentimentos das pessoas. Como eu vejo o outro? Como eu

vejo o jogo? Como poderia me sentir melhor durante o jogo? Como posso oferecer

para o outro um caminho de crescimento e desenvolvimento de valores positivos no

jogo?

Page 40: Apost jog cooperativos

39

AULA 7 – TIPOS DE JOGOS

Texto 6: TIPOS DE JOGOS.

Guilhermo Brown6

Regina Fourneuat Monteiro7

“As diferenças podem nos transformar em iguais”

(Autor desconhecido)

TIPOS DE JOGOS

Monteiro (2012) classifica os jogos em: jogos de apresentação,Jogos de

relaxamento e sensibilização, Jogos para favorecer a integração grupal, Jogos de

confiança, Jogos para estimular a observação e a percepção, Jogos de papéis,

Jogos para encerramento e Jogos para início de trabalho com grandes grupos.

Jogos de apresentação

Às vezes, quando entramos em contato com um grupo, observamos que nem

sempre as pessoas se conhecem. Será este, então, um grupo ou um agrupamento?

São pessoas de diferentes lugares, reunidas com um objetivo comum - o interesse

pelo trabalho a ser realizado -, mas que não mantêm, entre si, nenhum outro tipo de

relação?

Torna-se, portanto, necessário oferecer-lhes condições para maior

aproximação, para a criação de uma coesão interna que venha a facilitar o bom

desenvolvimento da atividade a ser realizada. Um "clima" propício para conduzir ao

que, em psicodrama, inspirados em Bion (foi psiquiatra e psicanalista, foi defensor

da psicoterapia em grupo e escreveu obras referentes ao assunto),chamamos de um

continente receptivo e favorável aos conteúdos que poderão emergir no decorrer da

ação.

Uma apresentação formal em que cada um dos participantes diz seu nome,

sua profissão, ou fornece alguma outra informação, nem sempre é suficiente.

Quando em situação social, por exemplo, somos apresentados a várias pessoas,

6BROWN, Guilhermo. Jogos cooperativos: teoria e prática. São Leopoldo: Sinodal, 1994.

7MONTEIRO, Regina, Fourneaut. O lúdico nos grupos: terapeuticos, pedagógicos e organizionais. São Paulo:

Agora, 2012.

Page 41: Apost jog cooperativos

40

geralmente esquecemos seus nomes; guardamos na memória apenas os nomes de

alguns - os demais, quem são mesmo?

Acreditamos ser o jogo a forma mais eficiente para iniciar um contato, pois

facilitará uma aproximação, certa intimidade ou maior afinidade entre os

participantes. Uma atividade descontraída e lúdica favorece a criação de laços

amigos e a coesão necessária. Assim, a estória (ficção, criação do imaginário) e a

história (fato verdadeiro, real, fato ocorrido) daquelas pessoas começam a ser

criadas. É o primeiro passo para constituir realmente o grupo.

Jogos de relaxamento e sensibilização

Relaxar é descontrair, desengessar, soltar-se à liberdade, atingir um estado

de alívio das tensões, sejam elas mentais ou corporais. Só assim podemos estar

sensibilizados para nos perceber e perceber o outro. A tão apregoada tele, no

psicodrama e descrita por Moreno (autor argentino de psicodrama citado por

Monteiro, 2012), é exatamente poder olhar-se, direcionar o olhar para o outro e

percebê-lo, e o outro, igualmente, poder nos olhar e nos perceber. Trata-se de um

processo interpessoal. Entrar em sintonia com o parceiro para que, juntos, possam

encontrar uma direção, um caminho comum.

Esses procedimentos induzem à improvisação e à livre interpretação -

estímulos à criação. Deixando de lado as preocupações do dia a dia, as tarefas e

obrigações, com a mente livre e aberta e o corpo distensionado, disponho-me a

receber o novo, criar, imaginar, fantasiar, e a expressar corporalmente minhas

sensações, emoções e sentimentos.

Jogos para favorecer a integração grupal

Falamos antes, ao introduzir os jogos de apresentação, sobre a necessidade

de criar uma relação mais próxima entre os participantes de um grupo. Mas esse é

apenas o primeiro passo. Torna-se necessária a criação de vínculos entre as

pessoas. Provavelmente nem todas chegarão a estreitar relações; a intensidade

destas será variável. Um novo perfil grupal, entretanto, é criado; o grupo adquire

uma identidade.

Para que isso ocorra, deve ser feito um cuidadoso trabalho de integração. Em

um campo relaxado, solto, sem tensões ou estresse, as pessoas se colocam mais

disponíveis para as relações. É fundamental criar condições para que isso ocorra.

Page 42: Apost jog cooperativos

41

Quantas vezes uma criança chega a um lugar qualquer, seja no parque, na

escola, na festinha de aniversário, e, em pouco tempo, começa a se relacionar com

as outras crianças? Sua linguagem é o lúdico, a brincadeira, o jogo. Que tal resgatar

no adulto essa capacidade que, com o tempo, foi relegada a segundo plano?

Jogos de confiança

Jogos que dependem de uma relação pré-estabelecida e como o próprio

nome já diz, confiança! A Questão do toque é sempre muito delicada e deve ser

abordada e introduzida com cautela para não afastar, esfriar ou até mesmo estragar

o clima entre os participantes.

Estes jogos ajudam os participantes a observar comolidam com a confiança

em suas vidas. Devem ser utilizados com bastante cuidado, o focalizador deve estar

atento ao momento do grupo e às reações de cada participante, assegurando-se de

que o momento é este, pois eles podem disparar processos psicológicos internos.

São Muito úteis também quando um grupo que já trabalha junto demonstra sinais de

desgaste, desequilíbrio e intrigas começam a aparecer.

Confiar em nosso semelhante é fácil? Sentir segurança no acolhimento do

outro, poder entregar-se sem medo? Quantas vezes pensamos em falar algo, agir

"assim ou assado", contar para alguém um fato que se passa conosco e ficamos

com receio? Vem a pergunta: como isso será recebido?

O grupo, por menor que seja, possuem em miniatura todas as características

de um grupo humano maior. As regras, os valores, os preconceitos, as conservas

culturais estão nele vivos e presentes. Como, então, confiar e poder entregar-se sem

receio de ser julgado ou rejeitado? Existe a certeza de ser aceito, recebido,

acolhido?

Em alguns momentos no decorrer do trabalho, torna-se necessária uma

avaliação, uma verificação de como anda a confiança de cada qual no grupo. Como

fazer isso? Falando sobre um assunto, escolhemos palavras, garimpo e me censuro.

Com a ação, o corpo fala por mim e "entrega", muitas vezes de modo ingênuo e

simples, sem barreiras, aquilo que sinto. Cá pra nós, ele nos trai! Que tal arriscar por

aí?

Page 43: Apost jog cooperativos

42

Jogos para estimular a observação e a percepção

Olhar e não enxergar! Como exercitar o olhar atento e nãoapenas perceber

as coisas de modo superficial, automaticamente, mas concentrar-se no que vê? É

possível desenvolver nossa capacidade de olhar de modo cuidadoso. Perceber deta-

lhes muitas vezes transforma o conjunto, que então se iluminae adquire novo

colorido.

Além da desatenção, outro fator que interfere e cega é quando estamos em

campo tenso. Você já deve ter passado por isso quando, por exemplo, está com

muita pressa, na correria, com os minutos contados, e não encontra a chave do

carro que está na mesa em sua frente!

Aprender a relaxar nesses momentos é como tomar distância, afastar-se.

Com isso, a atenção melhora e, consequentemente, a percepção torna-se mais

aguçada. O jogo demonstra ser um excelente auxiliar ao qual podemos recorrer

nesses casos. A brincadeira e a linguagem lúdica aliviam as tensões e criam uma

atmosfera permissiva e não angustiante.

Jogos de papéis

A noção de papel é fundamental. Por meio dele ocorre a interrelaçâo. Para

que qualquer trabalho psicodramático aconteça, cenas são descritas e realizam-se

no "como se", por meio da representação de papéis. Nesse contexto dá-se a

vivência de situações reais ou fantasiosas. Jogos que permitam a criação livre e

espontânea de papéis vão, com certeza, ampliar esse universo. Aqui, entendemos

papel como a unidade cultural de conduta. Na vida, desempenhamos papéis todo o

tempo -por exemplo: neste momento, desempenho o papel de escritora e você, que

agora lê este texto, o papel de leitor!

Jogos para início de trabalho com grandes grupos

Consideramoso número de participantes da seguinte forma:

Bipessoal: compõe-se de duas pessoas.

Nota: o grupo de três é de dinâmica edípica.

Grupo pequeno: de 4 a 15 pessoas.

Grupo médio: de 15 a 30 pessoas.

Grupo grande: de 31 a 60 pessoas.

Page 44: Apost jog cooperativos

43

Grupo sem limites: acima de 60 pessoas (sociodramas, psico-dramas

públicos).

Quando deparamos com um grupo com mais de 31 pessoas, precisamos, para

início do trabalho a ser realizado, "aquecer" os participantes, aproximá-los, criar um

ambiente favorável ao bom desempenho. Esse é um procedimento comum e

necessário a qualquer encontro, independentemente do tamanho do grupo. Entretanto,

quando se trata de um grupo mais numeroso, temos de recorrer a alguns jogos mais

específicos que facilitem o alcance desse objetivo. Uma atmosfera ágil, leve,

descontraída e facilitadora da ação. Como conseguir isso? Descrevemos, a seguir,

alguns procedimentos que julgamos adequados a esses momentos.

Jogos de Quebra-Gelo, Ativadores e de Integração

Jogos normalmente utilizados com grupos que ainda não se conhecem bem.

Abertura de eventos, seminários, formação de novos grupos. Independente de

permanecerem ou não juntos por muito tempo. Jogos de abertura, nomes, ação,

folia. São jogos curtos e com altas doses de ação e gasto de energia. Servem para

unir o grupo desde o início da sessão, ajudando os participantes a memorizar o

nome de cada um, começar um contato e se descontraírem. Os jogadores se

soltam, aquecem, descarregam as tensões físicas e superam reservas pessoais.

Servem também para momentos após refeições e/ou quando o grupo se apresenta

cansado da jornada.

Jogos Criatividade e Reflexão

Jogos que podem ser usados com grupos que precisam amadurecer alguma

idéia, ou pensar em novas soluções para determinadas coisas /assuntos / situações.

estimulam a expressão da imaginação, intuição e criatividade. Também podem ser

jogos de descontração, utilizados em momentos em que o grupo apresenta cansaço

ou desgaste no pensamento específico de algum assunto. Nestes jogos os

participantes podem se perceber e mostrar aos outros o que descobriram acerca de

si mesmos e do grupo. Os participantes também fazem contato com seu próprio

interior e com o grupo.

Page 45: Apost jog cooperativos

44

Jogos para encerramento

O objetivo dos jogos de encerramento é compartilhar o vi-venciado. Depois de

realizada uma tarefa, é importante, também, fazer a avaliação dos resultados

obtidos. Relembrar e reviver o ocorrido requer atitude reflexiva, a ser alcançada com

a criação do clima propício. Por meio do uso de jogos, esse clima surge e permite

um encerramento proveitoso, rico em observações e depoimentos e profundo em

sentimentos.

São Jogos mais profundos e exigem alguma capacidadedo focalizador, para

lidar com demandas que surgem no decorrer das atividades. Sãonormalmente

usados em encerramentos de atividades com grupos que já se conhecem e

trabalharam juntos por algum tempo (seja ele de quanto for) Servem também para

dar às pessoas a chance de se posicionarem em relação ao grupo e a si mesmas,

transferindo o que fizeram no treinamento ou vivência para o seu dia-a-dia.

OBS: Normalmente, dentro de um processo grupal, todos os tipos de jogos são

utilizado.

CONDIÇÃO DOS JOGOS

Em nossas vidas, aprendemos que tudo o que é bom, sempre acaba. Mas

dentro do jogo cooperativo, só acaba quando o grupo achar que chegou o momento,

ou então,quando os desafios forem todos vencidos, e não quando um perde e o

outro ganha.

No Jogo cooperativo, podemos ficar jogando o mesmo jogo de diversas

formas, desde que isso seja divertido para todos.

Existem dois tipos de jogos. Um pode ser chamado definito, o outro de infinito.

FINITO INFINITO As regras não podem mudar Jogadores jogam dentro de limites Jogos são sérios Jogador joga para ser poderoso Jogador consome tempo Jogador busca a vida eterna

As regras devem mudar de acordo com as demandas Jogadores jogam com os limites Jogos são divertidos Jogador joga com o poder Jogador gera tempo Jogador busca o nascimento eterno

Fonte: Carse, 1986.

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AULA 8 – APLICAÇÃO DOS JOGOS

Texto 7: JOGOS COOPERATIVOS E EXPRESSÃO CORPORAL.

JanderDenicol Amaral8

"Só a descoberta desperta. Só a invenção prova que se pensa de verdade a coisa que se pensa, seja

qual for essa coisa... Só o sopro criativo dá vida, pois a vida inventa".

(MICHEL SERRES)

Trabalhando corpo e mente por meio da educação pelo movimento, a

Expressão Corporal entra como uma atividade que visa o desenvolvimento pessoal,

o domínio do próprio corpo e das coisas que nos cercam, como se situar no tempo e

no espaço; bem como o desenvolvimento da cooperação, da solidariedade, da

comunicação, da criatividade; o estímulo à alegria, ao trabalho em grupo, ao prazer

pelo movimento; o controle da ansiedade e da agressividade.

A importância deste trabalho com o corpo se justifica porque nosso corpo

somos nós. É nossa única realidade perceptível. Não se opõe à nossa inteligência,

sentimentos ou alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso, tomar consciência do

próprio corpo é ter acesso ao ser inteiro, pois corpo e espírito, psíquico e físico e até

força e fraqueza representam não a dualidade do ser, mas sua unidade, segundo

Bertherat e Bernstein (1977).

A Expressão Corporal foi a primeira forma de comunicação do homem, sua

primeira linguagem, pois bastava se utilizar do objeto mais acessível: seu próprio

corpo.

O homem, segundo Brikman (1989) é constituído por uma mente que pensa,

uma alma que sente e um corpo que expressa esse todo.

A Expressão Corporal engloba a sensibilização de nós mesmos, tanto para

nossas posturas, atitudes, gestos e ações cotidianas, como para nossas

necessidades de exprimir-comunicar-criar-compartilhar e interagir na sociedade em

quevivemos; porque sem o corpo o homem não existe, como dizem Stokoe e Harf

(1987)

Como já dizia Paulo Freire (1999) formar é muito mais do que puramente

treinar o educando no desempenho de destrezas. 8AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. 3.ed. São Paulo: Phorte, 2008.

Page 47: Apost jog cooperativos

46

A Expressão Corporal na Educação, entra para promover a aprendizagem, o

bem-estar, a educação pelo movimento e a modificação do comportamento, fazendo

que o estudante perceba, sinta, conheça e manifeste seu próprio estilo, ou seja, uma

manifestação pessoal.

Para Stokoe e Harf (1999) é um aprendizado em si mesmo: o que o indivíduo

sente, o que quer dizer e como dizê-lo.

Paulo Freire (1999) diz que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar

possibilidades para a sua produção ou construção. Não apenas ensinar conteúdos,

mas também ensinar a pensar certo.

A Expressão Corporal busca o pensar com o corpo e pelo corpo, aprendendo

a conhecer, a fazer, a viver com os outros, a SER.

Auxiliando na busca e construção destas aprendizagens, a Expressão

Corporal procura desenvolver na criança vários meios de expressão, o prazer pelo

movimento, a segurança, a confiança nos gestos. Assim, maior será sua riqueza

existencial.

No trabalho de Expressão Corporal na escola, projetar a criança do futuro

exige um pensar responsável sobre a criança do nosso tempo, pois a criança é um

agente ativo em sua própria construção e na construção do mundo. É um agente

cuja ação desenvolve-se no contexto de uma prática sócio-histórica.

O tratamento da infância tem evoluído, porém ainda existem dificuldades em

nossa sociedade em perceber na criança a capacidade de pensar, querer, sentir. A

tendência é vê-la apenas como um ser dependente, que precisa ser protegido.

Pensando em uma educação pelo movimento, evitando a escolarização

precoce e a inevitável comparação ao adulto, entra a Expressão Corporal na

formação da criança, valorizando seu corpo, pois é com ele que se movimenta,

conhece e se relaciona com o mundo.

A Expressão Corporal procura a vinculação do movimento com intenções,

raciocínios e planos de ação elaborados, atividades com significado, despertando o

interesse daquele que é o mais importante no processo: a criança.

A experiência da própria identidade, ou o processo de tornar-se uma pessoa,

é, ao mesmo tempo, a experiência mais simples e mais profunda da vida.

A Expressão Corporal na criança visa à sensibilização e conscientização do

corpo como um todo, em favordo desenvolvimento da personalidade como unidade

Page 48: Apost jog cooperativos

47

corpo-mente, tornando possível o mundo imaginário através da estimulação da

criatividade, da fantasia.

João Batista Freire (1999), também concorda quando diz que a marca

característica da criança é a intensidade da atividade motora e a fantasia.

Nesta época massificada, em que a tecnologia supera o homem, a

imaginação se limita e se torna apenas reprodutora. Sendo assim, como poderão as

crianças de hoje criar suas próprias imagens?

Atualmente, o mundo do adulto está inserido na rotina, na competição, na

falta de tempo, no estresse e, talvez, no vazio, na solidão. Onde quero chegar com

essa colocação é que a ansiedade presente no mundo dos adultos se reflete no

mundo das crianças. A resposta das crianças a isto depende do estado emocional e

das características pessoais, psicológicas, de cada um.

Da mesma forma que a ansiedade e o estresse, a agressividade que se

manifesta nas crianças também é um reflexo do mundo adulto no qual está inserida.

Ele está presente na imprensa, na TV, no esporte, nas ruas, na família, na escola.

Junto com a ansiedade, a agressividade, a solidão e o movimento

estereotipado existe mais um fator que dificulta a verdadeira afirmação do SER: a

competição.

Atualmente nossa sociedade transformou-se numa seqüência sem fim de

competições. Estamos tão envolvidos nelas que, às vezes, nem estamos

conscientes da competição em si, como afirma Brown (1994).

Na criança, a competição já está presente na mídia, nos desenhos animados,

na maioria das histórias infantis, nos jogos, no esporte, em casa, na escola é a

competição de quem é mais alto, quem tem o pé maior, o cabelo mais bonito, é o

mais querido pelos pais ou pela professora, perde o primeiro dente, aprende a ler

antes dos outros, joga a bola mais longe, salta mais alto, consegue se equilibrar

melhor. Os exemplos são intermináveis. O pior: competimos com nós mesmos!

É muito fácil observar nas crianças como a competição comanda seus atos,

gestos e decisões. Ela não pensa: faz, compete.

Na Expressão Corporal, o trabalho através dos jogos cooperativos busca

proporcionar às crianças possibilidades de verem, a si mesmos e aos outros, como

pessoas de igual valor, que buscam um objetivo comum, que se ajudam, se tocam,

se desinibem, se comunicam, brincam, riem e se divertem.

Page 49: Apost jog cooperativos

48

Brotto (2001) diz que a cooperação é uma aprendizagem, um processo

permanente de revisão de valores e transformação de atitudes pessoais e grupais.

Os jogos cooperativos são um enorme aliado para o trabalho de integração

do grupo no início de um período letivo, na formação de um novo grupo, na entrada

de um novo membro. Desde o início, as crianças vivenciam e aprendem a superar a

competição, a respeitar os outros e o grupo, a discutir os valores, a fazer amizades,

e assim estarem confiantes e suficientemente felizes consigo mesmas para se

expressarem livremente com todo o seu SER.

Piaget (1994) acrescenta que a criança passa pelo processo do egocentrismo

para o processo de socialização, e nesse caminho adquire uma consciência social

aberta à representação do outro e capaz de relações de reciprocidade.

Este processo de aprendizagem social se estende por toda a vida à medida

que as outras pessoas e as diferentes situações influenciam os indivíduos.

Quando atividades tipicamente competitivas são transformadas em

cooperativas, e apresentadas ao grupo, sempre tem aquele que diz:

_Ah, mas assim não tem graça!

_Eu não quero jogar, não vou ganhar mesmoi

_Por que eu deveria ajudar o fulano? Eu não! Estas crianças optam por ficar

temporariamente fora da atividade.

Conforme observam a alegria de quem está jogando, a cumplicidade, a

satisfação, a comunicação, a empatia que existe no grupo, entram e participam.

Proporcionando as atividades neste ambiente sócio-moral, utilizando como

estímulo alguns recursos como a música, objetos, imagens, desafios e a natureza,

faz-se com que a criança pare, pense, sinta, atue se pergunte "quem sou? O que

devo fazer? E como devo agir?". Assim, ela parte para o interrelacionamento, para o

ambiente social.

Ao surgir um conflito, uma manifestação de agressividade, o professor

aproveita para questionar os envolvidos e, da mesma forma, todo o grupo. Ouve

suas opiniões e deixa que decidam a melhor solução para o conflito, construam um

senso moral, tratem os outros como gostariam de ser tratados, criem um ambiente

de cumplicidade, empatia e amizade. Enfim, molda construtivamente

comportamentos e intenções morais.

Em situações que geram ansiedade e insegurança, cabe à sensibilidade do

professor conduzir a criança para uma centralização no EU, perceber-se, estimular

Page 50: Apost jog cooperativos

49

um outro aluno a se aproximar do primeiro, estimular o toque, a dupla, o trio, o

grupo. Assim o aluno inseguro parte do EU para o NÓS, percebe que integra aquele

grupo, sentindo-se mais confiante para expressar seus sentimentos e pensamentos

por meio do movimento, em resposta ao estímulo inicial.

Por meio do ambiente sócio moral, as crianças constróemidéias e

sentimentos sobre si mesmas, sobre o mundo dos outros e o mundo dos objetos;

usando a pesquisa, a exploração, a convivência, a descoberta, a experimentação, a

expressão autêntica do EU.

A cooperação, no início do trabalho, é apresentada através de jogos

específicos. Ao longo do tempo, conforme o grupo adota a filosofia, o

comportamento, o pensamento, a atitude e a expressão cooperativa, ela passa a

fazer parte e se insere no trabalho como um todo, como uma parte fundamental da

expressão corporal e do grupo. Na solução de conflitos, na integração e ligação do

EU e do OUTRO, na construção do NÓS, na capacidade de solucionar desafios e

problemas com confiança, segurança, personalidade e caráter.

Todos estes aspectos se manifestam e se concretizam no trabalho da

Expressão Corporal, passam a fazer parte da personalidade da criança, da sua

maneira de ver o ambiente e interagir com ele, solucionar desafios, relacionar-se

com os outros, e, principalmente, expressar-se de uma forma autêntica e segura,

livre de estereótipos.

Com isso, queremos mostrar e confirmar que a vida é um processo de

conquistas graduais, cada uma com o seu valor; e valor como base para todos os

passos seguintes.

Nossa intenção, através da Expressão Corporal, é mostrar a importância em

valorizar este pequeno SER em formação, mas grande SER em sentimentos, emo-

ções, angústias, alegrias, expressões. Torná-lo consciente da sua grandeza, da sua

fundamental importância na vida atual e futura, pois tudo o que ele construir

agora,servirá de base para continuar a construir. É fazer que conheça

profundamente a si mesmo, atingindo sua alma, seu espírito, para que cresça em

liberdade, porque liberdade é a capacidade de se tornar o que realmente É.

Torná-lo consciente para a vida, conservando promovendo e valorizando a

vida, pois nossa vocação tundamental é viver. E por que não vivê-la plenamente?

Orientar, pois, a ação e a atividade no sentido de reverenciar a vida.

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50

Buscar, através da Expressão Corporal, o estímulo, o início da consciência do

corpo, do EU, do grupo; o prazer de movimentar-se. a confiança e a algreia que

sentimos ao fazê-lo; e assim, levar esta vivência e este prazer por toda a vida, para

todas atividades, ações e atitudes.

Tornar-se um adulto seguro, autêntico, criativo, expressivo, cooperativo; seja

no trabalho, no esporte, na universidade, na família, na sociedade, no mundo.

“Mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou uma presença no mundo, com o mundo e com os outros.

Presença que se sabe presença, que intervémque transforma, que fala do que faz. mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe.

E no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção que se instaura a necessidade da ética e se impõe a responsabilidade.”

(FREIRA,1999)

Page 52: Apost jog cooperativos

51

Texto 8: JOGOS COOPERATIVOS NAS ORGANIZAÇÕES

JanderDenicol Amaral9

"Na verdade só conhecemos bem quando nutrimos afeto e

nos sentimos envolvidos com aquilo que queremos conhecer".

(LEONARDO BOJF)

JOGOS COOPERATIVOS E GINÁSTICA LABORAL

A primeira notícia que se tem sobre ginástica laboral (GL) é de 1925 na

Polônia. Também chamada de "ginástica de pausa", era destinada a operários.

No início dos anos 60, a GL surgiu na Bulgária, Alemanha, Suécia e Bélgica.

Nesta mesma época, ocorreu no Japão a consolidação e a obrigatoriedade da

ginástica laboral compensatória (GLC). No Brasil, esta proposta foi baseada em

análises biomecânicas estabelecidas pela escola de educação da FEEVALE, em

1973, quando se elaborou o projeto de educação física compensatória e recreação.

A ginástica laboral surgiu com o objetivo de prevenir os trabalhadores contra

doenças ocupacionais relacionadas ao trabalho e motivá-los à prática de UTI estilo

de vida mais saudável.

De acordo com o INSS, o crescimento de trabalhadores com doenças

ocupacionais é cada vez maior. Na maioria dos casos, o trabalho excessivo,

posturas inadequadas, repetições constantes e instalações precárias desencadeiam

tensões que tornar-se-ão as responsáveis pelo afastamento do trabalhador por

invalidez permanente. A lesão por esforço repetitivo (LER) abrange mais de 100

tipos de doenças, as quais causam danos aos nervos, músculos, tendões e

ligamentos.

A LER e a distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho(DORT)

ambas - as siglas representam a mesma patologia - causam as despesas médico-

ocupacionais nas empresas e tratam dos problemas causados no trabalho. Uma

atividade repetitiva por muito tempo cessa o estímulo que chega ao cérebro, devido

ao cansaço das vias respiratórias. A conseqüência é a falta de atenção, levando

assim o trabalhador ao acidente de trabalho e à baixa produtividade.

9AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. 3.ed. São Paulo: Phorte, 2008.

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52

A ginástica laboral pode ocorrer no início, meio e fim do expediente de

trabalho. Cada fase possui uma proposta definida. Que são:

a) Preparatória - dura geralmente de 5 a 10 minutos, antes do início da

jornada de trabalho. Tem como objetivo principal preparar o funcionário

para sua tarefa, aquecendo os grupos musculares que serão

solicitados. Aumenta a circulação sangüínea no nível muscular,

melhorando a oxigenação dos músculos.

b) Compensatória - ocorre durante a jornada de trabalho, interrompendo a

monotonia operacional; dura cerca de 10 minutos. São executados

exercícios de compensação aos esforços repetitivos e às posturas

inadequadas.

c) Relaxamento - ginástica com duração de aproximadamente 1 0

minutos. Baseia-se em exercícios de alongamento, realizados após o

expediente com o objetivo de oxigenar as estruturas musculares,

evitando o acúmulo de ácido láctico e prevenindo lesões.

Pesquisas revelam que empresas que promovem a realização de exercícios

físicos observam aumento de produtividade, trabalhadores menos cansados após a

jornada de trabalho, diminuição do estresse, ansiedade e depressão, fortalecimento

do relacionamento social e trabalho em equipe, redução de afastamento por LER e

DORT.

A compensação das estruturas menos utilizadas, o aumento da flexibilidade,

agilidade, força, coordenação, ritmo e resistência também são significativos.

Os jogos cooperativos podem fazer parte de qualquer fase da ginástica

laboral. Até porque brincar faz com que os trabalhadores saiam da rotina da

empresa e voltem no tempo, tornando-se crianças. Esse momento de pausa do

trabalho deve proporcionar benefícios pessoais e globais. A ginástica laborai

trabalha o "eu" como prevenção da LER/DORT, visando melhorar o dia-a-dia do

funcionário; já os jogos cooperativos auxiliarão o "todo", a integração da equipe,

fazendo que todos trabalhem como um time, jogando uns com os outros e não uns

contra os outros. A relação interpessoal dentro do local de trabalho será altamente

beneficiada e a mão de obra tornar-se-á mais qualificada.

Sabe-se que as capacidades físicas e emocionais de qualquer pessoa devem

estar equilibradas para que ela possa desenvolver-se em todos os sentidos com

atenção, agilidade, qualidade, motivação e trabalho em equipe. Contudo, o trabalho

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em grupo nem sempre é fácil de ser executado, ainda mais dentro de uma empresa

onde a competição de mercado é tão evidenciada.

Como seres humanos, primeiro sentimos e depois racionalizamos,

procuramos nos realizar em nossas ações. Todos almejamos construir vínculos com

as pessoas que convivemos, e, na empresa, esses vínculos estão diretamente

ligados à empatia entre os indivíduos; para isso é necessário confiança e respeito.

Mas nem sempre o clima empresarial favorece esse tipo de liberdade, por causa da

competição imposta no mercado de trabalho. Muitas pessoas acabam "defendendo-

se" de seus colegas e representando uma pessoa que não são,fogindo

completamente de sua essência, eautenticidade; isso afeta diretamente o tipo de

relação entre as pessoas. Para qualquer tipo de convivência, é necessário empatia,

mudança, adaptação. As relações humanas são nada mais que relações de ajuda

com os outros. Todos devemos estar abertos para aprender com os outros. Estamos

em constante mudança e o grande desafio é este, MUDAR.

Nosso desenvolvimento depende da capacidade que possuímos de facilitar o

crescimento do outro, da relação de ajuda.

Os jogos cooperativos tratam do reencontro, EU com o OUTRO, de

compartilhar, unir pessoas com objetivos comuns e os benefícios são distribuídos

igualmente a todos.

Por que a convivência em uma empresa não pode ser de ajuda, realização?

Não vivemos sozinhos, precisamos do outro para nos realizarmos. Um exemplo

disso é nosso organismo, um sistema de cooperação.

A atuação dos jogos cooperativos encontra-se na promoção e integração da

cooperação na cultura pessoal e organizacional, desenvolvendo o trabalho em

equipe. Isso deve ser uma construção diária e permanente.

A empresa deve proporcionar a idéia de que todos os funcionários são

interdependentes, ou seja, realizam metas em comum por um objetivo comum.

Desenvolvem diferentes funções no cotidiano da organização, mas todos almejam o

sucesso comum dos resultados, afinal o produto final de cada empresa depende

unicamente do todo.

Não podemos esquecer que muitos dos grandes empresários ainda são

irredutíveis em relação à ginástica laboral, não percebendo que o maior beneficiário

é a empresa. Estão tão preocupados com os lucros que esquecem que a atividade

Page 55: Apost jog cooperativos

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física faz que o número de funcionários dispensados por lesão ou por fadiga seja

menor quando este se sente valorizado pelo trabalho que exerce.

A ginástica laboral e os jogos cooperativos são a integração perfeita para o

sucesso de qualquer empresa, pois mostra que a "união" é o melhor antídoto contra

lesões no trabalho.

Page 56: Apost jog cooperativos

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Texto 9: JOGANDO COM TODOS

JanderDenicol Amaral10

"Tente, de alguma maneira, fazer alguém feliz. Aperte a mão, dê um abraço, um passo em sua direção.

Aproxime-se, sem cerimônia. Dê um pouco de calor de seu coração.

Assente-se bem perto e deixe-se ficar, muito tempo, ou pouco tempo. Não conte o tempo de se dar.

Deixe o sorriso acontecer. E não se espante, se a pessoa mais feliz for você".

(Do livro Construindo a Relação de Ajuda, de Clara e Márcio Miranda)

OS JOGOS COOPERATIVOS NA BUSCA DO (D)EFICIENTE QUE FAZ

DIFERENÇA

Ao despertar a sensibilidade que existe dentro de cada um de nós, nos

entregamos à oportunidade de enfrentar os desafios que encontramos ao interagir

com as mais diferentes pessoas, independente das limitações de qualquer natureza,

nos levando a repensar posturas e apostar no caminho que valorize o ser humano

em sua particular existência, oportunizando o acesso de todas as pessoas e

reconhecendo-as como integrantes da sociedade

Os Jogos Cooperativos são os mediadores da união entre as pessoas,

compartilhando e despertando a coragem de assumir riscos, reconhecendo a

importância do grupo e estimulando, por meio da convivência, o desenvolvimento da

auto-estima, autonomia e cooperação, promo\endo a alegria e o prazer.

A seguir, serão apresentadas algumas sugestões que visam facilitar a

atuação do professor ou instrutor com o aluno portador de deficiência.

Primeiramente, devemos estar cientes de que a maneira como tratamos os

Deficientes Mentais ocorre de acordo com a sua idade cronológica, ou seja, se é

uma criança, trate-o como criança; se for um adolescente ou adulto, trate-o como tal.

Ao aplicarmos uma atividade, devemos utilizar exemplos concretos,

explicando-a de forma lenta, facilitando a compreensão dos alunos, repetindo a

explicação se necessário, não esquecendo de estar constantemente incentivando-os

a tomar iniciativa, elogiando as tentativas, reforçando o bom desempenho e evitando

a super proteção.

10

AMARAL, Jader Denicol. Jogos cooperativos. 3.ed. São Paulo: Phorte, 2008.

Page 57: Apost jog cooperativos

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Em atividades realizadas com pessoas com síndrome de Down, devemos

ficar atentos às brincadeiras que envolvam impacto nos músculos da cabeça e

pescoço, pois eles podem ou não apresentar instabilidade atlantoaxial.

Quando falamos em Deficientes Visuais, devemos ter em mente que o

primeiro contato entre o professor ou monitor e o aluno deve iniciar com informações

sobre o espaço, tendo o máximo de silêncio, pois isso auxiliará na concentração

para que o aluno possa realizar o mapa mental (criando uma cena na cabeça) e

adquirir uma melhor localização com relação ao ambiente em que se encontra,

desenvolvendo sua autonomia. As explicações devem ser verbalmente detalhadas

para um melhor entendimento e, não havendo a compreensão, a demonstração

deverá ser feita através do contato físico.

Quando iniciamos as atividades com os Deficientes Auditivos, é necessário,

durante a explicação, colocar o grupo na formação em U, de costas para a claridade,

com o professor no campo visual de todos os alunos. Para a aplicação dos jogos é

importante fazer demonstrações de exemplos concretos com os próprios alunos

para facilitar o entendimento. Enfatizar algumas regras para evitar desentendimentos

durante a atividade, não esquecendo que a comunicação com os surdos deve ser

feita através da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), estabelecendo contato visual

e usando a expressão facial para demonstrar os sentimentos (triste, alegre, sério,

desconfiado etc), pois o surdo não pode perceber mudanças de emoções através da

voz.

No entanto, o que pretendemos ressaltar é que a inclusão nos Jogos

Cooperativos é possível, contanto que o profissional esteja capacitado para interagir,

proporcionando o convívio social, percebendo a importância da organização do

ambiente de aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento de potencialidades que

o auxiliarão no intuito deatingir a sua meta, que é atender as necessidades dos

alunos.

Page 58: Apost jog cooperativos

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Texto 10: CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ser humano é, ao mesmo tempo, único e múltiplo. Por esta razão,

necessitamos aprender a ser, viver, dividir e nos comunicar uns com os outros,

buscando compreender nossas semelhanças e diferenças. Partindo da idéia de que

os elementos que nos unem são maiores do que os que nos separam, obviamente,

pertencemos a um grande grupo em que a união das qualidades e potencialidades

de cada um fará deste todo um lugar melhor para se viver. Conhecer o outro é,

antes de tudo, enxergá-lo como parceiro. Isso tudo requer diálogo e generosidade,

ou seja, cooperação. Cooperar inclui um processo de empatia, confiança e afeição.

É também, aprender e reaprender incessantemente.

Os Jogos Cooperativos, sejam eles dirigidos a crianças, jovens ou adultos,

contribuem na sociabilização, uma vez que se estabelecem relações. Eles transitam

na importância do aspecto lúdico, promovendo, através de seus dinâmicos

estímulos, a cooperação, o coleguismo, o respeito; o fortalecimento de vínculos

afetivos; o auxílio no desenvolvimento das habilidades físicas e mentais; o aumento

da curiosidade, criatividade, imaginação, memória, atenção, raciocínio, entre outros

fatores.

Os Jogos Cooperativos possibilitam uma maior aceitação entre as pessoas,

resgatando a sociabilização e integração das mesmas. Através deles, as pessoas

passam a dar mais valor aos diferentes tipos de relacionamentos de suas vidas,

conscientizando-se mais pelos seus comportamentos, sentimentos, interesses,

escolhas e compromissos. Jogamos para que juntos possamos superar desafios, e

para isso libertamos nossas potencialidades e solidariedade em defesa do grupo. E

temos o prazer e satisfação de ver que o mesmo acontece com nossos parceiros.

Devemos saber jogar com o outro, para juntos termos a possibilidade de

compartilhar o sucesso.

Por essas razões, reafirma-se a importância e a influência dos jogos

Cooperativos no desenvolvimento das pessoas à medida que se motiva os

participantes, fazendo que os mesmos se dêem conta da importância que temos uns

para os outros, e como, juntos, podemos contribuir para um mundo melhor.

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ANEXOS: JOGOS