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Civilizaes Clssicas IGrcia

Apontamentos de: Jos Cruz Email: [email protected] Data: 2000/01

Resumo do manual da disciplina, de autoria de Jos Ribeiro Ferreira, e resoluo das actividades propostas.

http://salaconvivio.com.sapo.pt

A Sala de Convvio da Universidade Aberta um site de apoio aos estudantes da Universidade Aberta, criado por um aluno e enriquecido por muitos. Este documento um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor , para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O autor no pode, de forma alguma, ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes neste documento. Este documento no pretende substituir de forma alguma o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questo. A Universidade Aberta no tem quaisquer responsabilidades no contedo, criao e distribuio deste documento, no sendo possivel imputar-lhe quaisquer responsabilidades.

Copyright: O contedo deste documento propriedade do seu autor, no podendo ser publicado e distribuido fora do site da Sala de Convvio da Universidade Aberta sem o seu consentimento prvio, expresso por escrito.

Civilizaes Clssicas I Grcia

Introduo 1. Fontes para o estudo da Grcia antiga Poemas homricos Os Poemas Homricos, a introduo do alfabeto e a realizao dos primeiros Jogos Olmpicos so as primeiras manifestaes culturais que anunciam o fim da Idade das Trevas que sucedeu ao declnio micnico. Valores e ideais da Ilada e da Odissia marcaram profundamente a mentalidade e a vida dos Gregos. Aquelas duas obras exerceram um papel determinante na educao, paradigma admirao dos ouvintes e dos leitores, o valor e a actuao das diversas figuras. Plato diz que Homero era considerado o educador da Hlade. Influencia a religio, costumes, lngua, literatura, vida dos vindouros e ao comportamento com a Polis. Os Poemas Homricos permitem entender algumas das linhas mestras que enformaro a cultura grega e alguns dos valores do mundo moderno. Hesodo Hesodo, poeta da Becia, inicia-se o individualismo e o didactismo. Individualismo uma das caractersticas mais salientes da poca arcaica, evidncia em poetas como Arquloco e Tegonis de Mgara. Didactismo, modelo honesto, dever do poeta dizer apenas o que honesto. O ideal de Hesodo de Justia e de trabalho e, sobretudo, a noo de que o trabalho dignifica so ainda hoje de grande actualidade. Poesia Arcaica Os Poemas Homricos e Hesodo exerceram significativa influncia na cultura grega posterior. Os poetas no se alheiam dos problemas das pleis: procuram intervir na sua vida, contribuir para a resoluo dos conflitos, participar no aperfeioamento das instituies. Filosofia e Cincia Primrdios da filosofia, mesmo mbito cronolgico, relacionados com a vida da sociedade-estado. Filodofia e cincia primeiros passos na poca arcaica, pensadores de Mileto Tales, Anaximandro e Anaxmenes e os pr-socrticos subseqentes. PrSocrticos, orientao cosmolgica, explicao do mundo pelos primeiros princpios: para Tales, gua; o ar (ou melhor, a bruma), para Anaxmenes; o fogo, para Herclito; para Empdocles, os quatro elementos (gua, terra, ar e fogo); para Demcrito, tudo advm dos tomos, movem-se no espao em nmero infinito. Estudos de matemtica (em que se distinguem Tales, os Pitagricos e Parmnides), Astronomia (Tales,

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Anaximandro, Pitagricos, Parmnides e Anaxgoras) e observaes sobre fsseis (Anaximandro e Xenfanes). Os Pitagricos fizeram do filosofar um sistema de vida, notveis matemticos e astrnomos, deram umprimeiro passo em relao ao heliocentrismo, a terra era redonda e girava volta de um fogo. Xenfanes, gelogo e fundador da Paleontologia, considera haver um progresso na humanidade, critica o antropomorfismo dos deuses, prenncios de monotesmo. Parmnides chega descoberta da razo, o caminho para a verdade (eltheia), pois os sentidos apenas atingem a aparncia (doxa). Empdocles descobre a respirao cutnea, o ar um corpo, a luz propaga-se no espao e demora tempo a fazelo. Os sofistas preparam os jovens para intervir na vida da polis, orientao antropolgica, defendem que no h verdades absolutas, tudo relativo, vo exercer uma grande influncia na sociedade grega. Scrates nada escreveu, ensino oral, processo da maiutica; utilizava o raciocnio indutivo, ideal o culto da virtude, domnio de si mesmo e a definio de conceitos; criador da tica. Plato eleva a gnero literrio o dilogo filosfico, nos quais utiliza como processos de expor as suas idias, o dilogo, a discusso dialctica e o mito. Mitos da Atlntida, da Caverna e vrios mitos escatolgicos: por ex., o do Grgias, o de Fedro, o de Er na Repblica. As obras focam problemas de ordem moral e poltica, de filosofia da linguagem, de questes matemticas e astronmicas, de jurisprudncia. Existem dois mundos: o sensvel ou das aparncias e o inteligvel, o verdadeiro ou do Ser. Neste encontram-se as idias, tipos universais e imutveis, sujeitas a uma hierarquia, cujo topo ocupado pela idia do Bem. A cincia apenas uma reminiscncia. Plato, Academia, funciona no jardim de Academos, o estudo da matemtica e da astronomia tinham a primazia, preparao para a arte da filosofia. entrada inscrio: Quem no souber geometria no entra. Aristteles, mestre de Alexandre, morres um ano depois dele, 322 C., marca sculo IV e a posteridade. Criador da prosa cientfica, vasta obra: lgica, psicologia, tica, metafsica, sociologia, poltica, teoria literria, biologia, fsica. A filosofia tem por objecto o ser, temos que distinguir a substncia, ou verdadeiro ser e os acidentes. A substncia compe-se de matria e forma, potncia e acto. Na cincia, biologia de que foi o criador, preocupao de sistematizar, agrupar; classifica os animais em vertebrados e invertebrados. Utiliza a observao, disseca e deixa estudos de notvel preciso (anlise do aparelho bucal do ourio do mar). Distingue os dentes em caninos, incisivos e molares. Fsica, o ar um corpo pesado; geografia, apresenta provas da esfericidade da Terra, semelhantes s actuais e afirma a existncia de duas zonas temperadas a enquadrar uma trrida. Escola, Liceu, funcionou num ginsio, situado junto ao templo de Apolo Lykeios, mtodos de trabalho, a investigao organizada, a especializao, a observao, a classificao e sistematizao e possivelmente experimentao. Criado em 335, Teofrasto, sucede a Aristtele na direco. Aristteles no era cidado ateniense, pelo que o Liceu no podia ser propriedade sua. S com Teofrasto se tornou numa instituio com edifcios prprios. Escola de ensino superior, algo equivalente a um centro de investigao. Teofrasto, criador da Botnica. Foi o seu mtodo que, incutido nos discpulos, permitiu o florescimento cientfico do perodo helenstico.

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O Epicurismo e o Estoicismo, aparecidos no sculo IV C, primazia tica e teoria social. Esticos, a verdadeira moralidade assenta no saber e identificam o ser virtuoso com o ser sbio. Os objectos corpreos so a nica realidade; deus vapor gneo, a alma humana parte desse vapor gneo. O mundo obra da razo. Tudo obedece a leis universais que o homem est apto a conhecer, graas razo. O estoicismo chega noo de humanidade. A concepo estica exerceu grande influncia no perodo helenstico e entre os Romanos. O Epicurismo, desenvolvido por Epicuro de Samos, o homem tem condies de atingir a felicidade (ou eudaimonia) que reside no prazer, tica utilitarista, quietista que visa a ataraxia. Explicao mecnica do mundo que vo buscar a Demcrito: as coisas tm origem nos tomos e no vcuo. A filosofia a medicina da alma, e que a investigao e o saber tm por finalidade regulara a vida. De incio, no havia uma separao entre cincia e filosofia, que s acontecer com Aristteles. Pr-Socrticos descobertas no domnio da matemtica, da astronomia, da fsica, de medicina que aparece no sc. V C, com a escola de Hipcrates. Formao de um currculo de estudos Currculo de estudos a partir dos sofistas, ensinam disciplinas herdadas dos prsocrticos (msica, aritmtica, geometria e astronomia) e outras por eles criadas (retrica, gramtica e dialctica). Scrates, ideal a virtude, ignorncia leva a proceder mal e o saber conduz prtica do bem, a educao deve ser orientada nesse sentido e proporcionada a todos. Historiografia Na poca arcaica os Gregos comeam a sedimentar a noo de conscincia histrica. Poemas Homricos, noo das trs grandes divises temporais (presente, passado e futuro) e do passar das geraes, e com diferenciao qualitativa de uma para outra. Hesodo, noo do passar das geraes (bem evidente na sucesso dos deuses da Teogonia), conscincia histrica. Evoluo ao longa da poca arcaica, relatos de viagens por mar (priplos) e de fundaes de cidades. Hecateu de Mileto, explicao racional de alguns mitos, d a cada gerao um mbito de 40 anos e cria uma cronologia. Herdoto, conscincia de que a histria, alm de imparcial, deve perpetuar o passado, exaltar os feitos gloriosos, encontrar as causas dos eventos. Na composio das suas Histrias utiliza fontes orais, escritas e arqueolgicas, priviligiando a sua observao pessoal ou a informao de quem presenciou os factos; se no consegue colher informaes, no recusa a tradio, mas nunca deixa de lhe aplicar a reflexo. Perante a tradio, atitude cptica e racional. Acredita na interveno da divindade na histria. O Teatro Na poca arcaica, segunda metade do sculo VI C., ligao com o festival ateniense das Grandes Dionsias, nasce o teatro grego. Prometeu Agrilhoado e a Oresteia de squilo; a Antgona e o Rei dipo de Sfocles; a Medeia, o Hiplito, as Troinas e as Bacantes de Eurpedes; Os Acarnenses, a Paz, as Nuvens e as Rs de Aristfanes.

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I Os Primeiros Povos da Grcia: Encontros. Helenizao 1. O aparecimento dos Gregos complexo o problema do aparecimento dos Gregos na Pednnsula Balcnica. Na Antiguidade, meados do sc.corrente explicava-se a helenizao desses lugares, entrada sucessiva de povos de lngua grega. Variedade de dialectos nos tempos histricos. Incio diferentes estirpes: Inios, Elios ou Aqueus e Drios. Hesodo, atribui a origem das referidas raas a Xuto, Elo e Doro, filhos de Helen, neto de Prometeu e nascido de Deucalio e Pirra, progenitores da humanidade. Doutrina tradicional explica a origem dos dialectos grego da poca histrica pela chamada teoria das trs invases. Os Gregos teriam entrado na Pennsula Balcnica em trs vagas sucessivas, cada uma delas com o seu dialecto prprio, e ter-se-iam sobreposto umas s outras, provocando um conjunto de interferncias que originam o leque dos dialectos da poca histrica. Os Inios, os primeiros a chegar (c. 2000 C), durante o Heldico Mdio, Aqueus (nos fins do Heldico Mdio, cerca de 1550 c), na base da opulenta civilizao micnica e falariam lngua que teria dado origem ao elico e ao arcado-cipriota; aps a decifrao do Linear B, o micnico identificado com o aqueu. Drios chegados no final do Heldico Recente (1200 C), destruio da civilizao micnica. Srias reservas e limitaes: 1 A teoria implica a formao da lngua grega fora da Hlade, num local onde os Gregos teriam vivido pelo menos durante cerca de 800 anos sem deixar rasto, da teriam vindo os Drios, passadas essas oito centrias sobre a chegada dos Inios, improvvel que a lngua de uns fosse compreendida pelos outros e viceversa; 2 Palavras recebidas da rea egeia apresentam as diferenas prprias do tratamento dialectal, o que implica uma importao anterior formao dos vrios dialectos. 3 E. Risch, com base na geografia lingstica e na cronologia, concluiu que antes de 1200 C, o elico no diferia do drico (grego do norte). J Chadwick rejeita, em 1956 e 1963, a teoria das 3 invases e considera que a lngua grega se formou no interior da Hlade pelo caldeamento do falar de IndoEuropeus com substrato de outra ou outras lnguas existentes. Vrios dialectos, condicionalismos locais. Um deles ter-se-ia imposto como supradialecto que, graas influncia minica, se torna a lngua da aristocracia: o micnico. Os resultados das escavaes arqueolgicas no favorecem a teoria das trs invases. Nos fins do Heldico Antigo (c. 2000 C), continente grego, perodo de perturbaes, destruio ou abandono de povoaes, mudana das tradies da arquitectura e da cermica: 1 Aparece a casa com uma sala central ou mgaron.

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2 Desenvolve-se a cermica mnia cinzenta ou a pintura mate. 3 Surgem novos tipos de povoamento e alteram-se os costumes de enterramento dos mortos, que passa a fazer-se no interior dos muros, volta das casas ou no interior delas. 4 Introduzem-se diferentes utrnslios e animais domsticos. Estas alteraes foram motivadas pela chegada dos Indo-Europeus, antepassados dos Gregos. A invaso da Pennsula Balcnica integra-se numa vasta movimentao populacional que abrngeu outros povos Indo-Europeus: Trcios, Frgios, Ilrios, Lvios, Hititas. A passagem do Heldico Antigo ao Mdio foi um fenmeno complexo em que h muito de formao prpria e local. A chamada chegad dos Gregos significaria apenas vinda de um novo elemento que se combina com os precedentes para criar lentamente uma civilizao nova: a miscigenao e uma evoluo de cerca de quatro sculos origina a cultura micnica. 1.1 Os Minicos Para tal evoluo contribuiu decisiva a influncia minica, impacto na lngua e na cultura. Origem desconhecida, os minicos espalharam-se por vrias ilhas do Egeu e pelo continente, mas foi Creta o seu lugar de eleio. Cnossos, Evans descobre um complexo edifcio, estrutura arquitectnica diferente doas encontradas em Micenas e Tirinto: emaranhado de compartimentos, dispostos irregularmente, em volta de um ptio central. Runas pertencentes o palcio real do famosos rei Minos. Desvendar nova cultura, perodo ureo do Minico Mdio I ao Minico Recente I, ou seja entre c. 2000 a 1500 C, nova luz s lendas do Minotauro e do Labirinto. Civilizao requintada, j conhecia a escrita (Linear A, ainda no decifrada), grandes palcios de estrutura complexa, colunas de menor espessura na base, ornados com belos frescos nas paredes e providos de sistemas de iluminao e de esgotos: Escultura em relevo e no tratamento dos anomais na finura e mincia do trabalho do ouro e das gemas, rica cermica, motivos martimos e vegetais. 1.2 Os Micnios Os minicos exerceram influncia profunda nos povos do continente, muitos aspectos minoicizaa pelo menos da aristocracia. Seduzidos pela cultura de Creta, os Micnios adaptam-na profundamente sua mundividncia. Entre 1700 e 1600 C, os Micnios sobrepem-se aos Minicos. Rivalidade comercial entre ambos, nunca inimizade declarada, at cerca de 1450. Micnios passaram a liderar progressivamente. Os artefactos continentais encontrados em Creta e o aparecimento do Linear B explicar-seiam pelo longo intercmbio entre Micnios e Minicos e pela necessidade de uma lngua franca que facilitasse o comrcio. Micnios, nome moderno, advm da cidadela mais opulenta, Micenas o nome mais antigo seria provavelmente Aqueus. Os Micnios no apresentavam unidade poltica, tende-se a falar em grupos de Micnios ou reinos micnicos. Divididos em reinos, estendiam-se at s ilhas dos mares Egeu e Inico e s costas da sia Menor, os

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Micnios formaram uma sociedade opulenta e poderosa, amante da guerra e da caa ( e nisso se distinguia da minica), com um comrcio florescente e relativamente desenvolvido, por mar e por terra, uma rede de estradas, exibia uma certa homogeneidade, sobretudo no domnio cultural. O palcio como a casa mais simples apresentam uma base arquitectnica comum: um trio seguido de vestbulo que d para um aposento com lareira, o mgaron. Esta estrutura entra no continente grego por volta de 2000 C.. Cermica semelhana da minica, muito ornamentada, motivos animais e vegetais, progressiva evoluo para uma decorao mais abstracta e convencional, crescente estilizao, barras e linhas horizontais e verticais. Tipo de cermica bastante uniforme em todo o mundo micnico, com pequenas variaes locais. Joalharia, mesmas caractersticas dos minicos (mincia, finura e perfeio no tratamento do ouro, prata, gemas e no trabalho de incrustao), variedade de lias e adornos para o vesturio. Armamento, uniformidade considervel, elmo, escudo-armadura (que protegia o corpo dos ps ao pescoo) e lana longa e pesada, substitudo no sc. XIV c por elmo, couraa, grevas, escudo arredondado (mais pequeno e leve), um par de lanas (tipo dardo) e espada. A similitude nos objectos de culto, com relevo para as figurinhas em T aponta para uma certa unidade de culto e de crenas religiosas. Acentuada identidade, ritos ligados ao culto dos mortos: a inumao com prtica geral, mesmos tipos de tmulos, de fossa e tholos (edifcio arredondado em cpula depois coberto por uma colina artificial), onde so feitos vrios enterramentos em geraes sucessivas. 1.3 Os Drios Entre 1200 e 1100 C mundo micnico em declnio. Origem complexa. Factos relacionveis com a movimentao dos povos sc XIII e incio do XII, actuavam no Egeu oriental: os misteriosos Povos do Mar, causadores da queda do Imprio Hitita e atacaram o Egipto e Chipre. Difcil as destruies virem dos povos do mar: a) cidades costeiras como Atenas sobreviveram, povoaes do interior aniquiladas; b) refugiados dirigiram-se para o mar, ilhas e regies costeiras, impensvel se o perigo da proviesse. Outra invaso de povos pouco evoludos, vindos do norte ou do noroeste, que, conhecedores da tcnica do ferro, com facilidade conquistaram e saquearam a regio de norte a sul, destruindo a evoluda sociedade micnica. Lenda Regresso dos Heraclidas. J no vem nessa invaso movimento efectuado dentro dos prprios limites da Grcia: nas isoladas regies do noroeste, os Drios tinham evoludo em segregao total, ou quase, das influncias minica e micnica, pelo que teriam alcanado um menor grau de cultura e de desenvolvimento civilizacional e mantido uma lngua de aspecto mais conservador; dessas regies teriam partido e provocado outras movimentaes populacionais. Na sua deslocao, teriam atravessado a Grcia central e ter-seiam fixado predominantemente no Peloponeso. Essas regies de onde viriam os Drios, no apresentam o menor vestgio de despovoamento. Estranho que no surjam quaisquer testemunhos de mudana cultural, alm da alterao lingstica e destruio das muralhas. Progressivo declneo, cermica, evoluo do Submicnico no sentido do Protogeomtrico e do Geomtrico. Nunca mudana brusca e violenta que se esperaria de uma invaso como seria a dos Drios.

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Lutas entre reinos micnicos, alteraes na rea oriental do Mediterrneo, incios do sc. XIII c., que dificultam as relaes dos Micnios com as regies confinantes, de onde importariam produtos para eles essenciais. A asfixia econmica da resultante teria levado unio desses reinos e possivelmente foi organizada uma poderosa expedio militar para desbloquear a situao. O alvo, cidade que defendesse e impedisse a passagem para o Mar Negro: talvez a lendria Tria. Essa empresa militar, mobilizao da maior parte da nobreza micnica, enfraquecimento das cidadelas, dizimaria considervel nmero de efectivos. Ausncia, enfraquecimento aproveitados por faces contrrias ou pelas classes inferiores para se revoltarem. Chadwick e Hooker, Micnios e Drios coexistiram temporal e espacialmente: os Micnios seriam a classe dirigente, influenciada pela cultura e lngua minicas; os Drios, classe dominada, falariam uma lngua mais conservadora que poderia apresentar diferenas de regio para regio; desse modo se explicaria o aparecimento dos vrios dialectos futuros. A invaso drica no seria a entrada no Peloponeso de povos vindos do exterior, mas uma rebelio bem sucedida da populao, que falava drico, contra os palcios. Grcia, obscuridade dos sculos XI-IX c. A sociedade micnica teria encontrado em si mesma o germe da prpria destruio: os povos do Mar e grupos vindos das regies do noroeste podem ter dado uma ajuda ou pelo menos ter tirado partido do caos e progressivo enfraquecimento das cidadelas para a tentarem a sua fixao. Grande fraccionamento populacional e uma busca afanosa dos locais mais propcios e frteis, defender-se pequenas comunidades, coexistem com povoaes dricas e no dricas, acolhem-se em cidadelas, Atenas, regies menos acessveis e mais afastadas da Arcdia e do Noroeste do Peloponeso; lanam-se ao mar, regies mais calmas onde fundam cidades de tipo micnico, Chipre, caso mais frisante. A migrao dos Inios a partir da tica resultou com certeza da situao delicada de congesto populacional que o excesso de refugiados teria provocado. Processo conturbado, cerca de 1100 a 776 C., incio da poca arcaica grega. Perrodo muito pouco conhecido, Idade das Trevas Grega, Sculos Obscuros. Apenas cermica fornece informaes, atravs dela, divide-se esses trs sculos em Submicnico (1100 a 1025), Protogeomtrico (1025 a 875); e Geomtrico (875-700). Nos fins da Idade das Trevas, j no sculo VIII c, vrios factores significativos indiciam o novo floresciment da cultura grega: -a afirmao do sistema do sistema de polis como caracterstico modelo da sociedade grega. -incio do fenmeno da colonizao, espalhou gregos por todo o Mediterrneo. -a afirmao do orculo de Delfos, que se relaciona estreitamente com os dois factores anteriores. -a composio dos Poems Homricos;

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-a introduo do alfabeto que no ter ocorrido muito depois de 800 C. Actividades: -Para alm do continente, a cultura minica espalhou-se por vrias ilhas do Egeu. -A cultura dos minicos conhece o seu apogeu entre 2000 e 1500 C. -O Linear B era a escrita dos Micnios. A escrita dos Minicos era o Linear A, ainda hoje no decifrada. -Os Mcnios estavam divididos em reinos, mais ou menos extensos, e no apresentavam unidade poltica. -Houve, efectivamente, contactos entre Minicos e Micnios; pode mesmo falar-se de um longo intercmbio e duma certa rivalidade comercial entre ambos. -Os objectos de culto e os objectos ligados ao culto dos mortos manifestam uma relativa unidade de culto e de crenas religiosas entre os Micnios. -Os Drios fixaram-se predominantemente no Peloponeso. -Os Micnios e os Drios coexistiram nos mesmos locais e nas mesmas pocas. Identificar e sintetizar a doutrina tradicional que explicava as origens dos dialectos gregos da poca histrica: Teoria das trs invases explicava trs dos dialectos da Pennsula balcnica na poca histrica como resultado de trs vagas de invases sucessivas: os Inios (c. 2000 C), os Aqueus (c. 1500 C) e os Drios (c. 1200 C). Esta teoria tem vindo a ser abandonada face s srias reservas e limitaes que lhe so apontadas. Explicar o sentido da expresso chegada dos Gregos aplicada ao fenmeno da transio do Heldico Antigo para o Heldico Mdio: A expresso significa apenas a vinda de um novo elemento que se combinou com os precedentes para criar uma civilizao nova, ou seje, um fenmeno de miscigenao e evoluo que est na base da cultura micnica. 2. Os Poemas Homricos Primeiras manifestaes do renascimento cultural verificado nos fins da Idade das Trevas, Poemas Homricos, a Ilada e a Odissia. Compostos provavelmente no no sc. VIII C, descrevem acontecimentos e factos da sociedade micnica (entra em declnio nos fins do sc. XIII e desaparece ao longo do sc. XII), Guerra de Tria e o regresso dos guerreiros aos seus palcios. Apresentam semelhanas significativas: a linguagem e os processos literrios, o fundo arqueolgico e social, a mundividncia, os conceitos ticos e normas de respeito, semelhanas que levaram os antigos a atriburem-nos a um poeta, Homero. 2.1 A historicidade dos Poemas Homricos Os Poemas Homricos narram momentos da Guerra de Tria e o regresso de alguns heris. Tradio pica. Problema da sua credibilidade e da sua historicidade.. Baseiamse na tradio oral, legada ininterruptamente desde os tempos micnicos. Objectos descritos nos poemas, alguns j estavam em desuso no sc. XII e de modo algum existiram durante a Idade das Trevas. A transmisso oral pode introduzir distores capazes de alterarem profundamente os factos.

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Algumas descries dos Poemas Homricos apresentam estreitas conexes com vrios testemunhos arqueolgicos do perodo micnico. Tria homrica, Tria VI, construda por volta de 1700 C. As tabunhas do Linear B apresentam uma boa parte dos deusas homricos e muitos dos nomes e eptetos que os Poemas atribuem aos heris. Poemas homricos, consistente modelo histrico na dupla rea dos objectos materiais e prticas tecnolgicas. Existem discrepncias, levantam dificuldades e constituem objeces: a) a geografia; b) na arquitectura da casa homrica concorrem elementos micnicos e elementos posteriores; c) no se faz qual quer meno de pinturas nas paredes dos palcios, nem referncias aos tmulos micnicos; d) fala-se sobretudo do bronze, esporadicamente o ferro, tcnica de fabrico ainda desconhecida na poca micnica. Alguns estudiosos preferem ver na cultura material dos Poemas Homricos uma sobreposio de pocas e a mistura de objectos que no chegaram a coexistir historicamente. A desconexo avoluma-se se examinarmos a estrutura social e poltica, as idias, as crenas, e os costumes. No se encontram na Ilada e na Odissia a forte burocratizao e a abundncia de escravos que as tabunas sobejamente evidenciam, nem se mencionam outros dignitrios, como os hequetas, telestas e lawagetas. As