apontamentos economia política

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Teoria Keynesiana – baseada na irracionalidade e no desequilíbrio. Economia é essencial – É importante ter presente que a economia está ligada ao essencial da vida de cada um. Cada pessoa depende dos outros, do funcionamento da Economia para a maior parte das coisas: alimentação, vestuário, informação. Somos incapazes de produzir as coisas mais básicas: um pão, um fósforo, uma lâmpada, um par de calças, um motor de automóvel. Foi a compreensão desta ideia que deu início à teoria económica. A harmonia do sistema económico moderno não residia só na eficiência do seu funcionamento, mas também na redução das diferenças entre pessoas, embora ainda grandes. Como se consegue esta maravilhosa harmonia? A Economia baseia-se na troca. Na verdade, se cada um de nós tivesse de produzir tudo o que precisa e consome, da comida aos talheres, dos transportes ao mobiliário, não lhe seria possível possuir um décimo do que consome. Mas, no fundo, cada família produz o que consome. Na verdade, ela não produz cada uma das coisas que utiliza, mas produz uma coisa, que troca pelas outras. Nós não consumimos directamente as coisas que consumimos. Só temos o que consumimos por troca. Este, como veremos, é um dos princípios essenciais da Economia. A troca está na base da nossa economia e, se ela falhasse, o nível de vida das sociedades desceria muito, mesmo que cada um continuasse a produzir o que produz. Vemos isso claramente quando por razões várias (guerras, revoluções, catástrofes naturais) algumas sociedades vêem o seu sistema de trocas deixar de funcionar. Destas reflexões sai a primeira grande conclusão da nossa análise: o grande poder da Economia. As suas análises podem induzir ou prevenir enormes catástrofes pessoais ou sociais. Os temas que vamos tratar por muito abstractos que pareçam, estão ligados directamente a questões de que depende a prosperidade e o desenvolvimento do Mundo ou a fome de gerações e o desemprego de milhões. 1

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Page 1: Apontamentos Economia Política

Teoria Keynesiana – baseada na irracionalidade e no desequilíbrio.Economia é essencial – É importante ter presente que a economia está ligada ao essencial da vida de cada um. Cada pessoa depende dos outros, do funcionamento da Economia para a maior parte das coisas: alimentação, vestuário, informação. Somos incapazes de produzir as coisas mais básicas: um pão, um fósforo, uma lâmpada, um par de calças, um motor de automóvel. Foi a compreensão desta ideia que deu início à teoria económica.A harmonia do sistema económico moderno não residia só na eficiência do seu funcionamento, mas também na redução das diferenças entre pessoas, embora ainda grandes. Como se consegue esta maravilhosa harmonia? A Economia baseia-se na troca. Na verdade, se cada um de nós tivesse de produzir tudo o que precisa e consome, da comida aos talheres, dos transportes ao mobiliário, não lhe seria possível possuir um décimo do que consome.Mas, no fundo, cada família produz o que consome. Na verdade, ela não produz cada uma das coisas que utiliza, mas produz uma coisa, que troca pelas outras. Nós não consumimos directamente as coisas que consumimos. Só temos o que consumimos por troca. Este, como veremos, é um dos princípios essenciais da Economia.A troca está na base da nossa economia e, se ela falhasse, o nível de vida das sociedades desceria muito, mesmo que cada um continuasse a produzir o que produz. Vemos isso claramente quando por razões várias (guerras, revoluções, catástrofes naturais) algumas sociedades vêem o seu sistema de trocas deixar de funcionar.Destas reflexões sai a primeira grande conclusão da nossa análise: o grande poder da Economia. As suas análises podem induzir ou prevenir enormes catástrofes pessoais ou sociais. Os temas que vamos tratar por muito abstractos que pareçam, estão ligados directamente a questões de que depende a prosperidade e o desenvolvimento do Mundo ou a fome de gerações e o desemprego de milhões.Economia como ciência – Vamos aqui tratar do que se chama a Ciência ou a Teoria Económica, que exige conhecimento rigoroso, sistemático dessa realidade.Em Economia cada caso é um caso e não existem, como tantas vezes se observa nas propostas políticas reais, receitas de uso geral; é necessário encontrar muitas causas de cada fenómeno, mas também procurar as muitas situações em que a mesma causa aparece. Em Economia estuda-se o ser humano e a sociedade. O facto de o objecto da ciência económica ser o próprio ser humano traz à Economia algumas características especiais.Em primeiro lugar, é de notar que esse facto torna a ciência muito mais difícil; nas ciências humanas a única garantia é que a certeza de hoje será contestada na nova realidade de amanhã. Por outro lado, uma enorme quantidade de problemas científicos nasce do facto de o analista e o objecto de análise serem da mesma natureza, pelo que é difícil separar o resultado científico da opinião pessoal.A ciência descreve factos, estuda relações de forma o mais rigorosa e neutra possível, para evitar ser enviesada por erros ou confusões. Mas, quando os factos e as relações estudados tem influência sobre a vida das pessoas, para alem do fenómeno em si, aparece a forma particular como cada pessoa o encara: a sua opinião, a doutrina que perfilha, deduzida a partir de uma visão particular do Mundo. Estas envolvem ética e julgamentos particulares, que são diferentes de pessoa para pessoa.

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Princípios básicos de Economia – A teoria económica enfrenta os grandes obstáculos que se lhe apresentam e estuda este agente tão variável, multifacetado e imprevisível. Os dois princípios, postulado da racionalidade e o postulado do equilíbrio, constituem o essencial da abordagem económica e são os elementos caracterizadores da Economia em relação às outras ciências.Exemplo de postulado de racionalidade: Um autocarro, completamente cheio, chega ao término da carreira. Precisa de largar todos os passageiros e, para isso, abre as duas portas que possui. Neste caso, a racionalidade significa que cada passageiro, no caso geral, vai procurar sair pela porta que está mais perto de si ou, em termos económicos, vai tentar minimizar o espaço percorrido, o esforço e o tempo despendido para obter o seu fim: sair do autocarro. O princípio básico da racionalidade é geral, mas a regra particular que dele foi deduzida só se aplica a certos casos, mesmo que seja à maioria, como no exemplo.Cada pessoa actua de forma racional, mas defronta outras, que também querem o mesmo. Ao encontrar os outros, adapta o seu comportamento às suas acções. Assim, o sistema (o autocarro) encontra um equilíbrio, que é como que uma racionalidade do grupo, onde cada um decide por si. Aplicamos assim o segundo postulado, o postulado do equilíbrio.Natureza dos axiomas e dos mecanismos económicos – da sua aplicação resulta apenas a tentativa de evitar o desperdício e, por isso, eles são conceitos funcionais na sua essência. As empresas maximizam o lucro e as pessoas maximizam a utilidade. Ao supor-se que maximizam o lucro, exige-se apenas que o empresário tente usar da melhor maneira os recursos de que dispõe para prosseguir os seus objectivos, que podem ser os mais altruísticos. E, tal como o passageiro ao escolher a porta mais próxima, nada o obriga a necessariamente violar a civilidade e a delicadeza nesse processo.Repare-se que, embora cada um esteja dedicado apenas à resolução do seu problema (o que, como vimos, nada tem a ver com egoísmo), consegue, sem dar por isso, resolver o problema global: o autocarro é esvaziado da maneira mais rápida possível. Este é o conceito da “mão invisível” que afirma que, se cada um prosseguir os seus objectivos próprios, se consegue no fim o máximo bem-estar para todos.Aspecto mais importante do estudo económico da sociedade global: a sociedade funciona bem, sem que ninguém se preocupe com isso. Ela constitui um dos principais elementos da harmonia do sistema económico.Constatação existência de situações fora da alçada da “mão invisível”, quer no sistema económico, quer no autocarro do exemplo.Se cada um dos agentes se preocupa apenas com a situação, não é neles que poderemos encontrar a resposta para um problema que é global. Mas na maioria dos casos existe um, mas só um agente que se preocupa com o problema global. A esse agente chamamos o Estado. Se o mercado não resolve o problema, o Estado pode intervir, para resolver o problema. No nosso exemplo, poderia ser colocado um funcionário na porta do meio, impedindo que por essa porta saíssem na parte da frente do autocarro.Mas, por vezes, o custo da intervenção é tal que não vale a pena. Este caso é um exemplo evidente: o custo de ter um funcionário à porta do autocarro é de tal maneira elevado que não justifica o ganho de alguns minutos na desocupação do autocarro. E aqui aparece outro dos princípios fundamentais da Economia: como em todas as decisões económicas, só o que der maior benefício líquido é que deve ser feito.Economia – “Estudo da humanidade nos assuntos correntes da vida.” – Marshall

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Não é só a Economia que estuda os assuntos correntes da vida, mas a Economia estuda todos os assuntos correntes da vida. Todos os assuntos correntes da vida do homem podem (e devem) ser objecto da Economia.Samuelson afirmou que “Economia é o estudo de como as pessoas e a sociedade escolhem o emprego de recursos escassos, que podem ter usos alternativos, de forma a produzir vários bens e a distribuí-los para consumo, agora e no futuro, entre as várias pessoas e grupos na sociedade”.O objectivo da Economia é o ser humano, mas nele, a Economia dirige-se à compreensão do seu comportamento.Bem – Algo que satisfaz uma necessidade humana. O pão que satisfaz a fome, a roupa, a chapa de ferro são bens; uma aula de Economia, um concerto, o ar, uma cama, um cão, uma conversa com um amigo, tudo isto são bens económicos.Mas existem algumas coisas que não satisfazem directamente as necessidades humanas e, por isso, estritamente não são bens, mas servem para produzir bens. A essas entidades económicas chamamos recursos. Um pedaço de terra ou uma máquina não são bens, mas algo que produz bens; são recursos. O trabalho é também um recurso, mas também pode ser um bem, se se tira prazer do que se faz. A utilidade dos recursos existe apenas indirectamente, através dos bens que virá a produzir e, nesse sentido, alguns economistas chamam-lhes “bens intermédios” ou “factores”.Bens – São meios materiais (suporte físico) ou imateriais (serviços) que as pessoas utilizam bem ou mal para satisfazer as necessidades económicas. Neste sentido, é possível classificar bens económicos (pão, gasolina, carvão), que são aqueles que existem em quantidades limitadas, de tal forma que, para os obter, é necessário gastar dinheiro, ou seja, existem em quantidades inferiores às que seriam necessárias para satisfazer as necessidades de todos, exigindo processos de transformação para poderem ser utilizados; ou os bens livres (luz e calor solares, vento), os que existem ilimitadamente e que, por isso, são gratuitos, nomeadamente os que estão disponíveis na Natureza. Um bem pode ser livre num determinado local e não o ser noutro. Para ser considerado económico, um bem tem que ser disponível, ter aptidão para satisfazer pelo menos uma necessidade e tem que ser escasso. Quanto à função que desempenham, os bens podem ser bens de produção que permitem, ao serem utilizados, ajudar na produção de outros. São, portanto, bens de capital. Tal não sucede com os bens de consumo, uma vez que são usados para satisfazer imediatamente uma qualquer necessidade. Quando se utilizam certos bens, eles deixam imediatamente de existir. A esses bens denominam-se perecíveis ou não-duradouros. Mas, pelo contrario, se forem duradouros, persistem, mesmo após uma ou mais utilizações. Quanto às relações que mantêm entre si, os bens podem ser substituíveis ou concorrentes e não substituíveis ou complementares. Dois ou mais bens são substituíveis se for indiferente para o consumidor qualquer um deles. Serão, no oposto, complementares ou não substituíveis se uma dada necessidade só for satisfeita pela utilização simultânea dos dois. Serão, por último, economicamente independentes se não mantiverem entre si nenhuma destas duas espécies e relações. Por fim, existe ainda o termo bens finais, que são todos aqueles que já sofreram todas as transformações possíveis, nomeadamente, o pão, a máquina, entre outros.Necessidade – No domínio da ciência económica, uma necessidade é uma situação em que a pessoa e / ou uma comunidade sentem a falta de qualquer coisa (um bem ou um serviço), correspondendo, em simultâneo, a um certo mal-estar e a um desejo. As

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necessidades variam com a época em que vivemos, com o local onde habitamos, com as condições de vida, com os gastos dos consumidores e com o seu nível cultural. Utilizam-se com frequência vários critérios para classificar as necessidades económicas. De acordo com a sua natureza, elas podem ser primárias (as que têm obrigatoriamente que ser satisfeitas, sob pena de o indivíduo não sobreviver, sendo exemplos a alimentação, a habitação, os cuidados de saúde), secundárias (referentes ao que é necessário, contudo, não essencial, como é o caso do acesso a bens culturais e da deslocação automóvel) e terciárias (efeito snob; supérfluos, como as jóias e o turismo). As necessidades também podem ainda ser individuais, se disserem respeito a uma só pessoa individualmente considerada, como é o caso da alimentação e do vestuário de cada um de nós, ou colectivas, se respeitarem a toda a sociedade, como a segurança pública e a defesa nacional. Por último, atendendo à sua onerosidade (encargo), as necessidades podem ser consideradas não-económicas, se a sua aplicação não obrigar a dispêndio de dinheiro (como o ar que respiramos) e económicas, se obrigar a desembolsos de dinheiro (como sucede com o transporte e a diversão). As necessidades têm ainda algumas características, como: a multiplicidade, a saciabilidade, a substituibilidade e a hierarquização.Decisão económica – Racionalidade e equilíbrio.Escolha e escassez – Um dos elementos humanos que mais encaixam na abordagem particular da economia é o da escolha. A escolha é um elemento essencial da Economia, pois é dessa decisão que nasce o problema a resolver pelo agente ou pela sociedade, o qual vai motivar o comportamento. A Economia gosta de analisar a realidade em termos de decisões ou escolhas, pelo que a sua presença é essencial. Se não há escolha não há problema. Para haver escolhas são precisos vários elementos, nomeadamente:

Existência de alternativas – Se não há alternativas para escolher, a escolha é forçada, pelo que não existe.

Liberdade – Para existir uma escolha é necessário que seja físico e humanamente possível optar entre elas e eleger qualquer uma delas. A liberdade de opção é um elemento essencial da escolha.

Os dois adjectivos presentes na frase indicam os principais qualificativos da actividade económica: alternativos e escassos. Mesmo que existam alternativas, muitas necessidades para satisfazer, e a liberdade de escolher como satisfazê-las, se os bens disponíveis para satisfazer essas necessidades forem mais do que suficientes para todas elas, não há problema económico. Na verdade, não existe nesse caso uma escolha, porque nem sequer há problema.A economia está muito ligada ao conceito de escassez, porque é ela que causa a necessidade de escolhas e decisões que são essenciais para um problema económico.Consumo – A finalidade da Economia é o estudo da satisfação das necessidades humanas através de bens. Ao acto de satisfação das necessidades, chamamos consumo – utilização de bens para a satisfação das necessidades. Repare-se que o consumo não tem de ser material. Um soneto, uma sinfonia, são bens económicos e o acto de os utilizar, contemplando-os ou escutando-os, é consumo. O consumo é a única finalidade do comportamento económico: a satisfação das suas necessidades.O tempo – As decisões económicas implicam comportamentos que se repercutem “agora e no futuro”. Todas as pessoas, ao decidirem como devem usar os bens para consumo hoje, entram em conta com o que prevêem que possa vir a acontecer. Por outro lado, o facto de o futuro ser incerto complica fortemente essa decisão. Por outro lado, o

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facto de o futuro ser incerto complica fortemente essa decisão. Por todas estas razões, o tempo é um dos elementos mais importantes da Economia e mais difíceis de analisar.Tratando-se de uma ciência, a Economia utiliza como instrumento o método científico. O objectivo central do método científico consiste em tentar conseguir obter uma compreensão clara e profunda do fenómeno em estudo, evitando da forma mais perfeita possível os erros, falácias e confusões que, inevitavelmente, perseguem quem procura o conhecimento.Tradicionalmente, divide-se o método científico em três partes: experimentação, observação e análise. Em Economia, estas três componentes tem características particulares. É costume dizer que a experimentação não tem lugar na Economia.A observação directa dos fenómenos é a grande fonte de informação para a Economia. Ao longo dos tempos, muito do esforço que os economistas gastaram nos seus estudos foi na recolha de factos e dados.A análise científica constitui a terceira parte do método científico. Neste ponto, realiza-se a formulação e teste de teorias económicas. Aqui, a imaginação e a intuição do cientista dominam a investigação.Teoria – Consiste numa invenção abstracta do analista, o seu entendimento profundo do fenómeno.Muito se tem dito da matemática e da estatística como veículos de exposição e teste de teorias, apoiando ou contestando o seu uso. O uso destes instrumentos tem como única finalidade facilitar a apresentação e desenvolvimento da teoria científica.Quando um economista afirma que uma subida de preços, por exemplo, causa uma descida da quantidade procurada supõe sempre que tudo o resto para além dos preços (as condições do produto, o meio ambiente, a vontade do consumidor) se mantém constante, e que apenas este pequeno aspecto da realidade foi alterado.“Hipótese coeteris paribus” – expressão latina que significa que “o resto fica igual”.Outro problema, também ligado às características humanas do objecto da Economia, é o da incerteza. A realidade, alem de complexa, é extremamente volúvel e variável e, consequentemente, as leis e os teoremas económicos nunca conseguem captar a enorme variedade das realizações concretas dos fenómenos. Por essa razão, as leis e os teoremas económicos são leis estatísticas. Assim, elas não são leis universais e imutáveis, não se aplicam a todos os casos, mas apenas, “em média”, à generalidade das situações “normais”.Outras fontes de erro na Economia:

1. Sendo uma ciência humana, o grau de subjectividade incluído nos julgamentos ser muito maior que numa ciência chamada exacta.

2. “Falácia da composição”: o que se passa numa parte não é necessariamente válido no todo. Se uma pessoa grita faz-se ouvir; se todos gritam ninguém ouve nada.

3. Falácia do post hoc: “depois de, por isso, por causa de” – corresponde à atribuição de um nexo de causalidade entre dois factos apenas contemporâneos.

O problema económico – Se toda a realidade pode ser encarada de um ponto e vista económico, nem toda a realidade tem um problema económico. Só existe um problema económico quando existe a necessidade de tomar uma decisão, e esta só aparece quando existe escassez e escolha. Quando não há necessidade de tomar decisões, não há problema.

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Escassez – Consiste na impossibilidade de os bens disponíveis satisfazerem as necessidades presentes. Assim, o conceito de escassez depende centralmente das necessidades humanas. Assim, a situação de escassez de um bem pode ser alterada radicalmente devido apenas à alteração de gostos das pessoas.Mas a principal razão que causa a escassez é a existência de necessidades humanas ilimitadas. É importante notar que a escassez e a escolha estão ligadas. É a escassez que gera alternativas. Se não houvesse escassez era possível ter todas as alternativas e, se eu pudesse ter todas as alternativas, não teria de haver uma escolha.Conceito económico de custo – custo de oportunidade: o custo de algo é o valor do que de melhor deixámos de fazer para fazer o que fizemos. Os recursos são escassos, é preciso ter a noção do que é que é melhor para se apostar, para se investir. Ponderação do sacrifício da melhor oportunidade possível.Assim, em Economia, o custo de uma coisa não se mede em dinheiro. O custo de um livro não são os 25€ que uma pessoa pagou por ele, mas o valor do que ela deixou de fazer com esses 25€, para poder comprar esse livro. É a satisfação que deixou de ter com o que poderia ter comprado em vez de comprar o que comprou. Claro que poderia escolher fazer muitas outras coisas, mas o que nos interessa para definir o custo é o que de melhor deixou de fazer.Assim se define o custo de oportunidade, pelo beneficio da melhor alternativa a cada coisa. Uma coisa escassa nunca é de graça, embora possa parecer. Na realidade, o que aconteceu é que o custo foi disfarçado, foi já pago por nós anteriormente, ou virá depois. Uma coisa grátis só o é porque não há escassez dela: água do rio, luz do Sol, areia da praia. Mas a maior parte das coisas da vida não são grátis.Deste modo, sabemos que nem tudo o que desejamos pode ser satisfeito. As necessidades são de mais para os bens disponíveis ou produzíveis. É preciso escolher, decidir. A questão que se levanta é a da escolha. A selecção das necessidades que vão ser satisfeitas em relação às que vão ser preteridas.Características essenciais da escolha económica (problema económico):

1. O que produzir? Quais produtos, em que quantidade, e quando? O que é que as pessoas querem consumir? Resposta: mecanismo dos preços.

2. Como produzir? Por quem, de que forma e com que tecnologia? Resposta: eficiência.

3. Para quem produzir? Quem beneficia com a produção? Como se divide a produção nacional entre as várias famílias? Resposta: produz-se para quem tem mais poder de compra – problema de justiça, equidade.

4. Quem decide? Resposta: se for um economista dirigista é o sector público; economia de mercado; economia mista.

5. Como confiar? Resposta: espírito de confiança no Estado.Racionalidade e interdependência – Hipóteses-base de toda a teoria económica (e delas saem praticamente todos os teoremas da economia):

1. Os agentes são racionais; os sistemas equilibram – Em termos exactos, a racionalidade exige duas coisas:

a. Optimização – O primeiro elemento da racionalidade é tirar partido de uma melhoria, em relação aos objectivos do agente, sempre que essa alternativa não represente custo adicional. Para saber se uma situação é ou não racional, preciso de ter a certeza de duas coisas:

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i. Disponibilidade: as oportunidades têm de estar mesmo disponíveis e todas igualmente disponíveis.

ii. O outro aspecto é a definição de o que é melhor. O que é melhor para uns pode não ser melhor para outros.

b. Coerência – O segundo elemento da racionalidade é a coerência: se, entre duas alternativas, uma pessoa escolhe uma, todas as vezes que estiver nas mesmas circunstâncias, deve manter a escolha. O elemento fundamental é a questão de saber o que significa as mesmas circunstâncias. Uma pessoa pode mudar de gostos, ao longo do tempo, e isso implica falta de coerência, desde que, quando tem certas preferências, elas sejam coerentes. Nem sempre é realista supor a racionalidade. É preciso confirmar se as alternativas são mesmo acessíveis, e quais os gostos, circunstâncias e subjectividade dos agentes envolvidos.Outra situação muito frequente é tomar a posteriori como irracional uma decisão já tomada. A racionalidade da decisão deve ser avaliada no momento da decisão, a priori, e não quando vemos os seus resultados, a posteriori; deve ser avaliada nas condições iniciais, e não pelos resultados. A descoberta de Adam Smith deu origem à teoria económica. O essencial dessa descoberta é que, na troca, as duas partes ganham. A razão reside no facto de, pela troca, cada um poder aproximar-se mais da situação em que produz o que melhor sabe fazer e consome o que mais gosta, ou seja, melhorar a sua situação. E como a troca tem de ser voluntária, os dois lados da troca estão a conseguir essa melhoria.Alguns economistas discutiram este aspecto, defendendo que, na maioria das situações, quando duas pessoas trocam, um ganha e o outro perde, um explora e outro é explorado. Esta posição de confrontação e dialéctica contínua tem particular presença na chamada “escola marxista”, dos discípulos do grande economista alemão Karl Marx.Em economia tudo tem a ver com tudo. As trocas fazem com que as várias decisões de um agente, como as de quanto produzir e consumir, vão ter impactos e sofrem efeitos das decisões de outros, que por sua vez influenciam terceiros, e assim por diante. O sistema económico torna-se uma teia muito fina e intrincada de relações entre todos. A interdependência é uma realidade essencial do problema económico.

As possibilidades de produção – Vimos que o objectivo da actividade económica era o de satisfazer as necessidades humanas, as múltiplas e variadas necessidades humanas. Para isso, os agentes faziam consumo de bens. Os bens definiam-se como algo que satisfazia uma necessidade. Mas dificilmente esses bens se encontram já disponíveis. Normalmente precisam de ser produzidos, ou seja, de sofrerem alterações que os tornem aptos para satisfazerem as necessidades humanas. A produção faz-se a partir de recursos e factores produtivos. Factores ou recursos:

A terra ou recursos naturais, que inclui a terra arável, os minérios, a água, a energia, os peixes do mar;

O trabalho, que é toda a actividade humana para produção; O capital, que é constituído pelos instrumentos duráveis, como máquinas,

fábricas, estradas, pontes, prédios.

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Eficiência – Quando se utiliza todos os factores produtivos – terra, trabalho, capital; uma utilização plena e ideal (própria vocação) dos recursos.Para produzir pão, é preciso trabalho, forno (capital) e farinha. Para produzir farinha é preciso trigo, trabalho e o moinho (capital). Para produzir trigo é preciso terra, trabalho, máquinas agrícolas e sementes, e assim por diante. Assim, temos três tipos de entidades económicas: os bens (o pão) que têm utilidade em si, os recursos ou factores produtivos (terra, trabalho e capital) e recursos intermédios, que são produzidos mas não têm utilidade em si.

No gráfico (pág. 50), para cada montante produzido de um bem, marcamos o máximo de produção que é possível produzir de um bem, com os recursos disponíveis. Obtemos assim um gráfico muito importante em Economia: a fronteira de possibilidade de produção: o lugar geométrico dos pontos de produção máxima de pão e livros, dado um certo montante de recursos disponíveis.

Esta curva (pág. 51) representa a disponibilidade, nesta economia, dos dois bens. Em primeiro lugar, cada ponto da curva representa um ponto de produção de pão e livros que exige que todos os recursos da sociedade estejam aplicados. Todos eles são pontos de pleno emprego dos recursos. Não era racional desperdiçar, e por isso foi a racionalidade que nos disse que devíamos usar todos os recursos. Alem de todos os recursos estarem a ser usados, eles estão a ser usados da melhor maneira.

Se agora olharmos para a curva que desenhámos (pág. 51), vemos que ela tem algumas características particulares. Em primeiro lugar, ela é negativamente inclinada (a curva está sempre a descer). Este facto resulta exactamente da racionalidade. Como há emprego pleno e óptimo dos recursos, não é possível ter mais de um bem sem ter menos do outro. Por isso, quando a curva se desloca para a direita (mais livros), desce (menos pão). Não é possível ter mais de um bem sem ter menos do outro, e por isso nunca existe um bem grátis. E o custo é o que deixei de ter do outro bem, que é a melhor alternativa. Por isso, aqui o custo é o custo de oportunidade, medido no outro bem.Voltando à forma da curva, vemos que ela é não só decrescente, mas abaulada para fora (ou côncava, na designação económica). Isso significa que, à medida que vamos sacrificando pão, para obter livros (descendo ao longo da curva), cada livro custa sucessivamente mais pão. Chamamos a este facto a lei dos custos relativos crescentes.Alem de ilustrar os aspectos económicos que já conhecíamos, a curva serve também para nos introduzir a outros elementos novos. Por exemplo, ela pode ilustrar o fenómeno do desenvolvimento económico. Este fenómeno consiste no facto de, em várias economias do mundo, se verificar que os bens disponíveis para a escolha dos agentes se vão

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alargando ao longo do tempo. Este processo que, após se ter desenrolado durante os últimos séculos, gerou o aparecimento de disparidades entre países ricos e países pobres, pode ser representado por um deslocamento da curva de possibilidades de produção, para fora.

Este deslocamento para fora da curva (pág. 53) pode ser devido a um aumento dos recursos disponíveis ou de uma melhoria da tecnologia de produção, que permite produzir mais com os mesmos recursos. No essencial, portanto, o desenvolvimento é apenas um alargamento das possibilidades de escolha. O desenvolvimento não é garantia de melhoria, mas apenas de mais alternativas.Lei dos rendimentos decrescentes – segundo a qual aumentos de u ou mais recursos variáveis, quando outro se mantém fixo, geram aumentos de produção sucessivamente menores.As previsões pessimistas de Malthus e Ricardo não se verificaram. As primeiras décadas do século XIX foram de grande melhoria das condições de vida e não de miséria crescente. Porque razão falharam as previsões dos clássicos? Porque, alem do fenómeno descrito pela Lei dos Rendimentos Decrescentes, apareceu paralelamente um outro facto, que inverteu os resultados: o progresso tecnológico. O aparecimento e desenvolvimento de muitas máquinas e novos métodos de produção, que se verificou nesta altura, e a que foi dado o nome de “revolução industrial”, e os benefícios que isso gerou em toda a economia anularam os efeitos da Lei dos Rendimentos Decrescentes.Justiça, equidade: como se mede – índice de Corrado Gini (é um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos; mede o grau de desigualdade na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita; o seu valor varia de 0 quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor) a 1 quando a desigualdade é máxima (apenas um detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula)): baseia a sua análise na curva de Lawrence (a população deve ser dividida em 10).

Salário mínimo é um tabelamento, mas não vai resolver os problemas de mercado.Economias de escala – grandes produções que, devido às enormes quantidades, invariavelmente vai diminuir o preço de custo (ex.: o autocarro, comparativamente com o táxi).Rendimento marginal (do custo, da vantagem, do aumento) – o valer a pena ou não fazer algo (ex.: pôr um 6º empregado, porque há muitos clientes; ir ou não uma 5ª vez ao

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cinema este mês, dependendo dos ganhos que poderão daí advir. O investimento é sempre marginal (+1; +X).As trocas internacionais geram vantagens gerais à medida que a economia vai sendo mais específica. A bota da fábrica é mais barata que a bota do sapateiro. Troca predatória – troca imposta não permite que o vendedor sobreviva. A troca permite que haja algo a decidir: quem produz, como produz.A economia é muito dirigida (ex.: ordem dos médicos, advogados). Economia planificada – surgiu e verificou-se muito na Rússia socialista e nos países à volta da Rússia. No Oriente, o que predomina é a liberdade de fazer., sistema de produção é ilimitado, culto de regulação; preço (decide o que se produz, a maneira como se produz). Os preços como mecanismo ordenador de mercado – controlando quem produz. Em Portugal, o preço vai determinar quem o produz.Soluções do problema – principais formas de organização do sistema económico:

1. Tradição – Em todas as sociedades, um grande número de regras e costumes tradicionais regula a maior parte das actividades económicas, criando fortíssimas influências religiosas, sociais, culturais sobre todos os aspectos do seu funcionamento. Nas sociedades tradicionais, desde a escolha da profissão, estabelecida por hábitos, castas, corporações ou pela família, até o preço e acesso a boa parte dos bens e aos métodos de comércio, pesos, medidas e moedas, quase tudo estava definido por tradições religiosas, culturais e regionais. Este método de solução económica, que eliminava em muito a necessidade de novas decisões, dava grande estabilidade ao sistema económico, mas reduzia muito a sua flexibilidade e eficiência. Hoje, a tradição tem grande influência na vida económica, não só em casos mais notáveis, como a proibição de matar vacas na Índia, ou de trabalhar ao domingo em Portugal, mas sobretudo no dia-a-dia de cada sociedade.

2. Autoridade – Método usado para resolver as questões económicas. O poder do Estado, do faraó, do príncipe, do partido, do ayatolla, regula de tal forma a actividade económica em certas sociedades que ela pode resolver todo o problema. Os agentes do Estado podem chegar a definir o que cada pessoa produz, o que pode vender e o preço dessa venda. Nos nossos dias, e mesmo fora das sociedades de direcção central, a autoridade do Estado tem enorme influência sobre o sistema económico, alterando e impondo decisões aos agentes económicos. Através de impostos e subsídios, mas sobretudo dos efeitos económicos das leis, empresas públicas e acordos internacionais, o Estado resolve muitos dos problemas económicos dos nossos dias.

3. Mercado – Quanto mais vasto é o mercado, mais rápida é feita a especialização. O mercado não é apenas a compra e a venda, mas sim todos os casos onde a decisão é deixada à livre escolha dos interessados. A economia moderna baseia-se na liberdade de iniciativa e no sistema de preços, lucros, prejuízos e incentivos.

Todas as sociedades usam simultaneamente os três métodos, constituindo, por isso, sociedades mistas. O segredo das sociedades modernas, na linha de Smith, é o uso extensivo do mercado, como meio de afectação de recursos e bens e um equilíbrio saudável com a autoridade e a tradição. A tradição tem como principal característica a sua estabilidade e generalidade. Mas a tradição tem, em contrapartida, o defeito de ser extremamente difícil de mudar. A autoridade tem a característica de ser conhecida de

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todos. Mas a vantagem de poder ser mudada e adaptada quando for necessário, sem a rigidez da tradição. O mercado tem a característica de ser mais a flexível das três formas de tomar decisão. Mas a sua flexibilidade está ligada à sua grande fragilidade. Quando existem convulsões sociais ou militares, o mercado entra em colapso, coisa que não aconteceu tanto com a tradição e a autoridade. Nenhum dos três métodos referidos pode funcionar correctamente sem a existência dos outros dois.Dado que o cliente do táxi é racional, por que razão, uma vez chegado ao seu destino, deve pagar a corrida?

Em primeiro lugar, o cliente sabe que, se não pagar, aquele taxista não o tornará a servir, e dirá aos seus amigos que não sirvam um caloteiro. Ou seja, o mercado tem autodefesas. Se o táxi trabalhasse numa pequena cidade em que todos se conhecem, estas defesas funcionariam.

Mas se o caso se passasse numa grande cidade, numa zona onde o cliente seja desconhecido e onde não espera voltar tão cedo, a situação seria bem diferente. A resposta, neste caso, seria certamente que o taxista poderia chamar a policia e forçar o cliente a pagar. O cliente, com medo dessa ameaça, pagaria. Essa é uma realização do papel do Estado no mercado. As autodefesas do mercado são fracas, e o Estado é chamado a intervir.

E se for à noite, num sítio ermo, onde não há policia? Neste caso, o condutor pode exercer sevícias, de forma aliás plenamente justificada, sobre o passageiro pouco cumpridor, de forma a obrigá-lo a pagar. Este seria um custo directo do mau funcionamento do mercado. O taxista teria de andar armado para impor que lhe pagassem o que devem. Mas nesse caso, invertendo o problema, que impede o referido motorista de, depois do pagamento, exercer ainda as referidas sevícias, para ser pago de novo? Este último ponto põe finalmente em destaque a questão central: trata-se de uma falha de mercado.

Não existe um mercado selvagem. O mercado, para a generalidade das transacções, exige confiança, e esta só existe no meio de uma sociedade em que as regras da civilidade são respeitadas por todos.

A. O mercado na sociedade moderna – Mercado é o arranjo (praça, telefone, leilão, bolsa) pelo qual compradores e vendedores de um bem interagem para determinar o preço e a quantidade transaccionada. O centro do mercado é o preço. Como é que funciona o mercado? O truque, centrado nos preços, reside nos incentivos. Se os consumidores querem mais de um bem, lutam por ele, oferecendo mais dinheiro pelo mesmo bem, subindo o preço. Os vendedores, perante a subida do benefício retirado da venda do produto, são incentivados a aumentar a produção e, a preço mais alto, menos consumidores o querem. Sobe a quantidade oferecida e desce a procurada. Este mecanismo automático tem como resultado que cada um produz o que de melhor sabe fazer e troca por aquilo de que mais gosta. A este resultado do mercado chamamos eficiência. As famílias e os consumidores vão ao mercado comprar os bens de que necessitam, fazendo para isso a sua despesa, que é recebida pelas empresas e os produtores. O dinheiro gasto pelas famílias no mercado dos bens será usado pelas empresas para comprar os serviços dos factores produtivos (terra, trabalho e capital) no mercado de recursos ou factores. Quem possui esses recursos são as famílias, que assim recebem rendimentos (salários, rendas e juros) pela venda

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dos serviços dos seus factores produtivos. É claro que esses rendimentos constituem o dinheiro que as famílias vão usar para comprar os bens.

Circuito económico (representação):

A questão de o quê produzir é resolvida pelos escudos oferecidos pelos consumidores, que revelam as suas preferências. A concorrência entre as empresas que produzem o bem resolve a questão de como produzir. O problema de quem beneficia com os resultados da actividade económica, “para quem” se produz, é resolvida pelo mercado de recursos ou factores produtivos. Esse mercado determina o preço dos factores. O mercado só pode ser concebido em dinamismo, e esse dinamismo vem das novas ideias, que nascem a cada momento e ameaçam a situação actual. A este fenómeno dinâmico, resultante da concorrência, chamamos desenvolvimento económico. Uma outra característica do mercado: ele é muito delicado. As transacções, baseadas nas relações entre as pessoas e na confiança, facilmente são destruídas.B. O papel do Estado numa economia moderna centra-se essencialmente em

três funções: promoção da eficiência, equidade e estabilidade. Promoção da eficiência – Pode o Estado tomar directamente a condução das

transacções, regulando-as com leis (como no caso da herança) ou então proibindo directamente a sua transacção (como na droga ou na escravatura). Por outro lado, existem situações de imperfeição na concorrência. Aí o Estado pode e deve intervir, regulando as situações e dando voz aos que a não têm. Existem fenómenos, a que Economia chama de “externalidades” (ou exterioridades), que constituem influências que o mercado não consegue captar. A poluição, o ruído, o impacto de certas produções sobre outras produções ou consumos que o mercado não consegue incorporar no seu mecanismo. Aí, o Estado deve intervir, para corrigir os efeitos e integrar essas relações no tecido económico global. Um caso especial de externalidade tem particular interesse. Trata-se do fenómeno chamado de “bens públicos”, bens que embora não sejam grátis, num sistema de mercado todos podem gozar sem pagar, pois não existe modo de o mercado cobrar o seu custo. A defesa nacional, os jardins públicos, estradas, a televisão são bens que todos gozamos sem pagar. Embora o mercado, pelo mecanismo dos incentivos, garanta em geral a solução mais racional, existem casos em que o Estado deve intervir para garantir essa mesma racionalidade. Externalidades positivas: uma escola é instalada numa aldeia; é um benefício para a aldeia (a educação é um bom exemplo, assim como as vacinas). Externalidade negativa: uma discoteca muito rentável, mas incómoda para quem vive ao lado.

Promoção da equidade – Um dos principais objectivos da maior parte das sociedades é garantir que a distribuição dos bens produzidos que seja mais ou menos igualitária entre todos os elementos dessa sociedade. Grandes disparidades entre ricos e pobres, mesmo que isso corresponda à maior eficiência, são normalmente repudiadas pelas sociedades modernas. O Estado

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deve intervir no sentido de aproximar essa distribuição da noção de justiça que a sociedade tem. Os impostos progressivos, os subsídios e transferências, a segurança social, ou métodos mais drásticos, como a expropriação, a reforma agrária, a revolução social, são instrumentos de que a sociedade se serve para conseguir a equidade. Não devemos esquecer a existência de um conflito de eficiência-equidade. Se o Estado retira a uns para dar a outros, é natural que uns e outros reduzam a sua produção.

Promoção da estabilidade – O Estado, a pedido da sociedade, pode intervir, no sentido de aliviar a tensão, alinhar desequilíbrios e ajudar os mais sacrificados pelos seus efeitos. Os mecanismos de apoio aos desempregados, a correcção de desequilíbrios sectoriais ou regionais, a preocupação com as contas externas ou a inflação e a utilização de impostos e despesas estatais no sentido de compensar as perturbações ou flutuações que o processo de desenvolvimento criou são formas de o Estado promover a redução da insegurança económica, de forma a encontrar um comportamento estável para a economia como um todo. Aqui pode aparecer mais um conflito, o conflito desenvolvimento-estabilidade: ao buscar a estabilidade, perde-se rapidez de desenvolvimento. A maior parte das sociedades está disposta a sacrificar algum desenvolvimento para conseguir certa estabilidade. Mas há que ter consciência dos custos para conseguir o equilíbrio mais favorável. Em todos estes esforços, o Estado trabalha com o Mercado, não contra ele.

cruz marshalliana – A idéia básica deste diagrama é a de que um mercado funciona pela interacção de dois lados: os compradores e os vendedores, os consumidores e os produtores.

A curva da procura – No diagrama marshalliano, a representação dos compradores é feita por um elemento conhecido como curva da procura. Lei da procura: quanto maior o preço, menor a quantidade. O traçado da curva da procura faz-se do seguinte modo: em relação a certo bem, pergunta-se a um consumidor quanto está disposto a comprar desse bem se o preço for um dado. Depois, vai-se variando o preço, e refaz-se a pergunta: quanto compraria o consumidor a cada novo preço. Marcando os vários pontos num gráfico como o abaixo, obtemos a curva da procura:

Quanto maior utilidade o consumidor retira do bem, mais ele estará disposto a pagar por esse bem.

Lei da procura negativamente inclinada: se o preço de um bem sobe, a quantidade procurada desce, e vice-versa. Motivos para este comportamento: em primeiro lugar,

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porque, a preço mais alto, as pessoas tendem a comprar outras coisas. Logo, a quantidade procurada do bem desce quando o preço sobe, porque o consumidor substitui esse bem por outros. A este resultado de uma variação de preços chamamos efeito substituição. A um preço mais alto, o mesmo dinheiro agora compra menos. Isso quer dizer que, ao subirem os preços, o consumidor, mesmo continuando a ganhar dinheiro, fica mais pobre, porque apenas pode comprar menos. Assim, ao subir o preço, a quantidade procurada de um bem desce porque o consumidor tem menos possibilidade de o comprar. Chamamos a este o efeito rendimento. Assim, a lei da procura negativamente inclinada é justificada por duas razões diferentes: porque, ao subir o preço, o consumidor passa a comprar outras coisas (efeito substituição) e porque o consumidor fica mais pobre (efeito rendimento). Se o preço descer, dão-se os efeitos inversos. A curva da procura é uma relação entre a quantidade desejada de um bem e o preço.Factores que influenciam as escolhas dos consumidores:

o Os preçoso O rendimento disponível (o que fica depois do pagamento dos impostos; o nível

de rendimento de cada um)o Gostos ou preferências dos consumidoreso Publicidade (subliminar – porque ninguém se vai lembrar que viu o produto;

manipulação)o Expectativas (na evolução dos preços, na evolução dos rendimentos)

Uma alteração no mercado de um bem altera o comportamento dos consumidores nos outros mercados. Em particular, são mais afectados os mercados dos bens relacionados. Estes são sobretudo de dois tipos:

Bens substitutos – são os que contribuem para a satisfação da mesma necessidade (manteiga e margarina, ou autocarro e metropolitano).

Bens complementares – são os que necessitam uns dos outros para satisfazer a necessidade (automóvel e pneus, ou mostarda e bife).

Deslocamento ao longo da curva ou deslocamentos da curva – vamos supor que um consumidor tem a curva abaixo desenhada, e que o preço do bem é p1. Nesse caso, é claro que, como ele nos disse, o consumidor deseje consumir a quantidade q1. Então ele situa-se no ponto A.

Suponhamos agora que se deu uma descida do preço, passando de p1 para p2. Nesse caso, o consumidor vai passar a consumidor q2, ou seja, passa para o ponto B. Deu-se um deslocamento, ao longo da curva, do ponto A para o ponto B.

Mas se, voltando ao ponto A, em vez de se ter dado uma variação do preço, se tivesse dado uma alteração de qualquer um dos outros factores que influenciam a quantidade

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procurada. Nesse caso seria necessário traçar uma outra curva da procura, encontrando-se o consumidor sobre a nova curva. Agora, por exemplo, se o consumidor está a ganhar mais, a cada nível de preço ele está disposto a comprar mais quantidade do bem. Ter-se-ia dado um deslocamento da curva. Na verdade, o consumidor passou da curva D1 para a curva D2 e, nelas, do ponto A para o ponto C.

Deste modo, vemos que alterações do preço geram deslocamentos ao longo de uma mesma curva e alterações de outros factores externos dão deslocamentos entre curvas.

A curva da oferta – Temos agora de passar para o outro lado do mercado, para a representação dos vendedores (ou produtores). Esta, na cruz marshalliana, é feita pelo elemento conhecido como curva da oferta. Lei da oferta: quanto maior o preço, maior as quantidades oferecidas. Trata-se do lugar geométrico dos pontos de produção e venda desejada do bem, para cada nível de preços. Aqui a curva é traçada perguntando a um vendedor do bem quanto está disposto a vender do seu bem a cada nível de preços. Quanto maior for o custo de produzir um bem, menos é oferecido desse bem a certo preço. Também aqui está presente a racionalidade do vendedor. A sua resposta representa a melhor quantidade a cada preço, a quantidade que ele deseja produzir do bem, de forma a maximizar o seu lucro.

A forma da curva leva-nos a formular a lei da oferta positivamente inclinada – se o preço de um bem sobe, a quantidade oferecida aumenta, e vice-versa. Por que razão se verifica esta lei? A razão reside na lei dos rendimentos decrescentes. Para produzir mais de um bem temos de aumentar os factores produtivos, mas como há alguns que se mantêm, é normal que, à medida que se aumente a quantidade produzida, cada vez seja mais caro produzir uma unidade.Factores que influenciam a decisão da oferta, por parte do produtor:

o Os preçoso Rendibilidade das produções alternativaso Tecnologia (uma forma de reduzir os custos de produção)o Escala produtiva (dimensão do produtor)o Objectivos (o produtor quer estratégia e eficácia, evitar o agravamento dos custos)o Expectativas (se houver uma previsão colectiva de que os preços vão subir, então

vai todos comprar antes que suba, sendo melhor para a economia, para o mercado)

Veremos mais adiante que a organização do mercado tem também grande influência na definição da quantidade oferecida. Na verdade, se o produtor fora o único vendedor do

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produto (monopolista) é normal que ofereça, a certo preço, uma quantidade diferente do que se tiver dois ou três concorrentes, ou se tiver mil.

Lei da oferta e da procura – quanto maior for a procura, maior o preço; quanto menor for a procura, menor o preço (a procura varia no mesmo sentido da oferta).

O equilíbrio – Em Economia temos sempre de ter em conta dois lados. Os soberanos da decisão económica são o benefício e o custo, a procura e a oferta, os gostos e a tecnologia. Uma regra muito importante: Se alguém nos tenta convencer que algo é muito bom e nos louva os benefícios dele, não nos devemos esquecer de perguntar: que custos traz consigo? Quanto custa? Quem paga? Se nos descrevem os enormes defeitos, os custos de certa entidade ou actividade, que alguém nos pretende convencer a abandonar ou a destruir, devemos sempre perguntar: Para que serve? Quem beneficia dela? Nunca nos devemos esquecer de que, em Economia, as coisas são sempre duplas. Assim, devemos juntar a curva da procura e da oferta, o benefício e o custo, para obter um quadro global: a cruz marshalliana. A introdução da hipótese do equilíbrio dos mercados faz-se, neste caso, através da adopção de um mecanismo de mercado, ou seja, da definição dos contornos entre a interacção das curvas da procura e oferta. O mecanismo centra-se à volta do ponto de interacção entre as curvas da procura e da oferta (o ponto E). Neste ponto encontramos um preço (Pe) que faz com que a quantidade procurada e oferecida sejam iguais (Qe). Chamaremos a este ponto o ponto de equilíbrio, e a Pe e Qe, o preço e quantidade de equilíbrio.

A característica essencial do ponto de equilíbrio é que se a economia se situar nele, toda a gente (consumidores e produtores) está satisfeita: dadas as circunstâncias, àquele preço eles compram e vendem exactamente o que querem. Nos pontos A e B, por exemplo, os compradores estão descontentes, porque àquele preço (p1) queriam comprar menos do que são obrigados a comprar (só queriam comprar a quantidade definida pela curva da procura ao preço p1). No ponto B, aliás, também os vendedores estão descontentes por serem obrigados a vender mais do que queriam ao preço p1.

Inversamente, nos pontos C e D, são os produtores que estão insatisfeitos, pois são obrigados a vender menos do que queriam a esse preço (queriam vender o que está definido na curva da oferta), e se no ponto C os compradores estão a comprar o que queriam (estão sobre a sua curva da procura), no ponto D também eles estão infelizes por serem obrigados a comprar mais do que queriam. Deste modo vemos facilmente que o ponto de intercepção das duas curvas é o único que, dadas as circunstâncias e as

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restrições, consegue satisfazer, simultaneamente, produtores e consumidores. Ao preço Pe, temos equilíbrio na Economia. Repare-se que esse não é o único ponto em que a quantidade comprada é igual à quantidade vendida. Em todos os pontos a quantidade vendida é igual à quantidade comprada. Na verdade, uma pessoa só pode comprar certa quantidade se alguém a vender. Mas no ponto de equilíbrio a quantidade oferecida é igual à quantidade procurada, ou seja, a quantidade que se pretende comprar (e não só a que se comprou) é igual à quantidade que se pretende vender.

O mecanismo de mercado, além de determinar o ponto de equilíbrio, define como se comporta a economia se se encontrar fora do ponto de equilíbrio. Se o preço for mais alto que Pe, temos um excesso de oferta, a quantidade que os produtores querem vender é superior à que os consumidores querem comprar. Nesse caso o mecanismo de mercado diz-nos como eles se vão comportar: os produtores, não conseguindo vender o que queriam, reduzem o preço para escoar a produção em excesso. Por outro lado, os consumidores só aceitam a quantidade se o preço for inferior.

Assim, o preço desce, o que tende a resolver o problema do excesso de oferta por duas formas: reduz a quantidade oferecida e aumenta a quantidade procurada. Como esta situação se dá para todos os preços superiores a Pe, o processo só termina no ponto de equilíbrio. Deste modo, a preços superiores ao de equilíbrio existe uma tendência para descida de preços, ou seja, uma tendência para o ponto de equilíbrio. A preços menores que Pe, temos um excesso de procura, pois os consumidores querem comprar mais do que os produtores querem vender. Nesse caso, os consumidores estão dispostos a oferecer mais dinheiro para conseguir mais do bem, enquanto os produtores só o oferecem se lhes pagarem mais. Logo o preço sobe, tendendo para o equilíbrio. A preços menores que Pe, temos um excesso de procura, pois os consumidores querem comprar mais do que os produtores querem vender. Nesse caso, os consumidores estão dispostos a oferecer mais dinheiro para conseguir mais do bem, enquanto os produtores só o oferecem se lhes pagarem mais. Logo, o preço sobe, tendendo para o equilíbrio.

Os problemas globais da economia – O todo e as partes: o mercado, como regulador da actividade económica, sofria de dois grandes problemas:

Conflito eficiência-equidade – Se se pretender dar a todos uma fatia justa da riqueza nacional, segundo qualquer critério, é preciso alterar as remunerações dos

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recursos que o mercado define, e que são motivadas pela eficiência. Mas, o bolo fica menor quanto é melhor distribuído. Na verdade, alguns, se virem que os outros ganham o que eles produziram, reduzem a produção, enquanto os outros, que ganham sem produzirem, não vêem razão para o fazer.

Conflito desenvolvimento-estabilidade – Só é possível conseguir a estabilidade sacrificando o desenvolvimento. No fundo, os dois conflitos podem ser vistos como duas faces da mesma questão, onde a diferença está sobretudo no elemento tempo. Em ambos o que está em causa é a eficiência; no primeiro caso a eficiência estática, no segundo, a dinâmica, pois o desenvolvimento é a eficiência ao longo do tempo. Estes problemas são problemas diferentes de todos os outros que vimos, na medida em que afectam a totalidade da economia. O que está em causa não é o desemprego ou a pobreza de uma pessoa, mas a má distribuição da riqueza nacional ou a instabilidade e insegurança em que o pais vive. Trata-se de problemas globais. Embora a sociedade seja composta de indivíduos, nem sempre o efeito global é a soma das partes. Tocamos aqui numa nova fonte de erros e confusões em Economia, mas que é fácil de evitar: a falácia da composição. Este erro ou falácia consiste exactamente em afirmar que o que é verdade na parte tem de ser verdade no todo. Nem sempre tem de ser assim. As principais fontes de problemas que afectam a totalidade da Economia são três: o Estado, o espaço e o tempo.

O espaço e o tempo – A taxa de juro era o preço da moeda hoje face à moeda amanhã, ou seja, o preço da moeda ao longo do tempo. A taxa de câmbio é o preço da moeda nacional face à estrangeira, ou seja, o seu preço ao longo do espaço.

Conceitos: Elasticidade : representa a sensibilidade de uma variável económica em face da

alteração de outra variável relacionada. O conceito mais vulgarizado de elasticidade é do de elasticidade-preço da procura. O conceito de elasticidade é muito usado pelos economistas em microeconomia, no que respeita à teoria dos preços.

Elasticidade-preço da procura : representa a sensibilidade da quantidade procurada de um bem em face de uma alteração de preços. Existem múltiplos factores que podem estar na base de um aumento ou redução da sensibilidade do consumidor, a saber: (1) rendimento (efeito de rendimento) – a sensibilidade (elasticidade) tende a aumentar se as limitações orçamentais do consumidor vão aumentando; (2) existência de alternativas (efeito de substituição) – a sensibilidade (elasticidade) tende a aumentar se o consumidor passa a dispôr de mais alternativas de consumo, podendo assim fugir ao aumento do preço de um bem; (3) prioridades das necessidades – a sensibilidade

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(elasticidade) tende a aumentar quanto menor for a prioridade de uma necessidade e (4) tempo – a passagem do tempo faz aumentar a sensibilidade (elasticidade) do consumidor.

Elasticidade-rendimento da procura : representa a sensibilidade da quantidade procurada de um bem em face de uma alteração do rendimento do consumidor. Da elasticidade-rendimento resultam três tipos de bens, consoante a relação estabelecida: (1) bens normais de luxo, cuja quantidade procurada aumenta mais que proporcionalmente que o aumento de rendimento; (2) bens normais, cuja quantidade procurada aumenta proporcionalmente que o aumento de rendimento; (3) bens inferiores, cuja quantidade procurada aumenta menos que proporcionalmente que o aumento de rendimento.

Elasticidade-preço da oferta : representa a sensibilidade da quantidade oferecida de um bem em face de uma alteração de preços. A oferta no mercado de produtos encontra porém alguns limites: (1) o condicionamento temporal, porque as decisões nem sempre podem tomar-se de forma imediata; (2) a capacidade produtiva da empresa – ver Lei dos Rendimentos marginais decrescentes – e (3) da flexibilidade do produtor, isto é, do grau de universalidade dos factores de produção disponíveis.

Elasticidade cruzada : representa a sensibilidade da quantidade procurada de um bem em face de uma alteração de preços de um outro bem. A elasticidade cruzada é positiva no caso dos bens sucedâneos, negativa no caso dos bens complementares, e nula no caso dos bens que não tenham qualquer relação. Factor tempo:

Curto prazo (microeconomia): há uma impossibilidade de manipulação dos factores de produção; período no qual a oferta dos factores de produção não consegue ajustar-se à procura estabelecida. É neste período que ao produtor se deparam escassas alternativas (menor elasticidade - inelasticidade) em virtude da impossibilidade de expansão de todos os factores de produção disponíveis, já que pelo menos um factor de produção permanece fixo gerando rendimentos marginais decrescentes.

Longo prazo (microeconomia): possibilidade de manipulação dos factores de produção; período no qual, face a um nível de preços estável, a oferta dos factores de produção se ajusta à procura estabelecida. É neste período que se disponibiliza um maior conjunto de alternativas para o produtor (maior elasticidade) em virtude da possibilidade de expansão de todos (produção em escala) os factores de produção disponíveis (evitando, assim, custos relativos crescentes e rendimentos marginais decrescentes). Bem-estar económico total : representa a soma dos excedentes do consumidor

(diferença entre a disposição de pagar e o preço a pagar) e do produtor (diferença entre o custo médio (produção) e o preço).

Inflação : representa uma subida generalizada do nível de preços, que está na base da redução do poder de compra associado a uma determinada moeda nacional.

Deflação : representa uma queda do nível geral dos preços, associada a uma retracção da procura agregada e a uma expansão da oferta agregada.

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Microeconomia : parte da ciência económica que estuda o funcionamento do mercado de produtos e de factores, por referência às decisões individuais tomadas, aos preços estabelecidos, à produção, à repartição de rendimento e ao consumo. Reportando-nos ao circuito económico, a microeconomia estuda os fluxos monetários e reais entre os agentes nos diferentes mercados (de produtos e de factores).

Macroeconomia : parte da ciência económica que estuda a interdependência dos valores médios (preços), a oferta de moeda e os valores totais agregados (produção, rendimento e emprego). Por referência ao circuito económico, a macroeconomia estuda o somatório dos fluxos monetários e a sua relação com o nível de preços e a oferta de moeda.

Bem público (puro): bens cuja utilização (1) é indivisível, na medida em que o seu gozo não diminui com a intensidade subjectiva do seu uso, (2) não pode ser excluída pelo seu produtor; (3) não pode ser rejeitada pelo seu consumidor. Sempre que o bem não seja indivisível, mas reúna as características da impossibilidade de exclusão e da não rejeitabilidade, fala-se em bem público impuro, bem colectivo ou recurso comum(v.g. pense-se nos peixes que povoam os oceanos). Discute-se, na actualidade, sobre a forma de financiamento destes bens – na verdade, os preços destes são difíceis de apurar e a análise custo-benefício apresenta-se como um instrumento falível.

Bens privados : se o Estado detiver é um bem público; se não detiver, é privado (ex.: transportes públicos).

Bens directos : satisfação imediata das necessidades. Bens indirectos : matérias-primas ou semi-produtos (já são transformados, mas ainda

não têm utilização como produto). Vantagens absolutas : conceito advogado por Adam Smith (1723 – 1790) e que

representa o poder de produzir um determinado bem ao menor custo possível dentro de um determinado universo de produtores. Faz-se neste conceito referência à vantagem na produção em qualquer dos bens em relação aos quais se está a ponderar a susceptibilidade de troca.

Vantagens comparativas : como não tem o máximo das oportunidades, tem que ponderar no custo de oportunidade (ponderação do sacrifício da melhor oportunidade possível); ex.: Tratado de Meetwing (vinho português)

Concorrência imperfeita : encerra todos os tipos de mercado que não reúnem, individual ou cumulativamente, as características da concorrência perfeita: (1) quando o mercado não é atomístico, o preço é susceptível de ser manipulado, existindo poder de mercado (como no monopólio e no oligopólio); (2) quando o mercado não é livre, existem barreiras à entrada e à saída (como no monopólio e no oligopólio, ver, ainda, que a falta de liberdade está, na maior parte das vezes, associada à falta de atomicidade); (3) quando o mercado não é fluído, é porque não é exclusivo para um determinado tipo de bem (ver concorrência monopolística).

Concorrência monopolística : tipo de mercado não fluído, independentemente da sua atomicidade e liberdade. Este tipo de mercado foi pela primeira vez apresentado por Edward Chamberlin, em 1932, e é similar ao da concorrência perfeita, salvo no aspecto da falta de fluidez, ou na diferenciação dos produtos (assim, um bem pode ter vários mercados, pense-se no mercado dos refrigerantes, em que existem mercados próprios para cada uma das marcas conhecidas). A referida diferenciação de produtos

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tem como efeito a criação de custos de venda, que constituem verdadeiras barreiras à entrada de novos produtores, permitindo, assim, a existência de poder de mercado.

Concorrência perfeita : tipo de mercado que reúne três características: atomicidade, liberdade e fluidez, e que constitui o modelo económico para o qual os sujeitos intervenientes no mercado (no papel de produtores e consumidores) tendem, pela maximização da sua liberdade de escolha individual.

Modelo de concorrência perfeito : Atomicidade (vários vendedores e compradores): característica do mercado

de concorrência perfeita que está associada à multiplicidade de sujeitos, de pequena dimensão, existentes no mercado, do lado da oferta e do lado da procura. Sendo múltiplos, os agentes contribuem colectivamente para a formação dos preços, não existindo o poder individual de os fixar. Dada a inexistência de poder de mercado resta (a) aos produtores o controlo dos custos dos factores de produção, e (b) aos consumidores a ponderação da utilidade, ou grau de satisfação, do bem ou serviço a adquirir.

Fluidez (de informação – o produto tem que ser igualzinho para haver concorrência perfeita): característica do mercado de concorrência perfeita e que está associado à consciência dos participantes de que um bem tem um mercado e não vários. O que move o consumidor são os preços, o que une o bem no mercado são os preços. A partir do momento em que o vendedor tenta convencer do contrário o mercado deixa de ser fluído, passando a falar-se em concorrência monopolística.

Liberdade (inexistência de barreiras à entrada e à saída): característica do mercado de concorrência perfeita e que está associado ao poder de acção dos intervenientes do mercado sem qualquer impedimento à entrada e saída. Do ponto de vista dos entraves à entrada, por exemplo, os produtores podem controlar o acesso ao mercado (a) através de uma redução dos custos de produção (monopólios naturais); (b) através da detenção exclusiva de factores de produção (monopólios de factores); (c) pela obtenção de benefícios e de benesses do poder político (monopólios legais).

Bens reversíveis : podem ser destruídos numa só geração (impostos). Bens irreversíveis : são partilhados por várias gerações. Falhas de mercado : A falha de mercado pressupõe a falta de eficiência no mesmo.

Existe em duas situações: (1) No caso de desemprego, ou seja, quando os factores produtivos não estejam a ser afectados na totalidade. O que significa que a economia não está a funcionar na Fronteira de possibilidades de produção. Desta forma, a intervenção estatal é importante, na medida em que a promoção de eficiência gera movimentos de pareto (encontro de pontos produtivos mais próximos da Fronteira de possibilidades de produção). Este problema é estudado pela macroeconomia; (2) No caso de pleno emprego, ou seja, desde que os factores produtivos estejam a ser afectados na totalidade, mas de forma irracional (não ideal). Classicamente, são apresentadas quatro formas de falhas de mercado, desde que assegurado o pleno emprego dos factores produtivos: (a) existência de externalidades (custos sociais superiores aos indivíduos); (b) existência de poder de mercado (quando alguém tem monopólio, um só produtor no mercado); (c) insuficiência no fornecimento de bens públicos (indivisibilidade); (d) falta de informação (assimetrias informativas – risco

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moral: é mais eficiente ao nível económico não ter seguro automóvel, porque o condutor tem mais cuidado; selecção adversa: em princípio, só fica no mercado quem está disposto a tudo, a vender a qualquer preço).

Teoria do consumidor: Utilidade – Ao grau com que os bens dão satisfação às necessidades chamamos utilidade. O essencial desta ideia reside na mudança de perspectiva que causou. Ao contrario dos primeiros autores, que procuravam o valor das coisas nas próprias coisas, agora vemos que o valor das coisas não está nelas, mas sim no consumidor. O agente económico, com as suas preferências e desejos, é que dá o valor às coisas.

A decisão do consumidor – Partindo da utilidade que atribui a cada bem, aos mais diferentes bens, o agente, que é racional, vai escolher a combinação que lhe dá maior satisfação, dadas as limitações. A questão teórica reside em encontrar a regra que o consumidor deve seguir para “maximizar” (tornar máximo) a utilidade. É intuitivo perceber que a regra mais razoável é ir gastando cada euro naquilo que dá, nesse instante, mais prazer. Mas, à medida que se vai consumindo de um bem, a utilidade que ele dá varia. Quando se tem sede, o primeiro copo de água sabe muito bem, mas o segundo já não sabe tão bem. Claro que é melhor beber dois copos do que só um, mas o segundo já não é tão bom como o primeiro, porque parte da necessidade já está satisfeita. Vale a pena aqui introduzir a distinção que a Economia faz entre :

o Utilidade total : é a utilidade que o indivíduo obtém de dois copos de água.o Utilidade marginal : e a utilidade de cada um dos copos; é o acréscimo de

utilidade que a última unidade consumida trouxe.Logo, a utilidade total de cinco unidades (cinco copos de água) é a soma de todas as unidades marginais do primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto copos de água. Existe uma lei, a que chamamos lei da utilidade marginal decrescente, a qual afirma que, à medida que se consome mais do bem, a utilidade de cada unidade consumida desce. O acréscimo de satisfação que o consumo vai dando desce quando o consumo sobe. A regra de oro da decisão do consumidor é: A utilidade marginal do último euro gasto em cada bem deve ser igual em todos os bens. O que determina o valor de cada coisa é a utilidade da última unidade consumida. Assim, aparece a segunda idéia essencial da revolução: O que dá valor às coisas é a utilidade marginal. O que passou já não interessa, só interessa a última unidade. É este, pois, o essencial desta revolução em Economia, que se passou a chamar revolução marginalista. Mas o mais curioso na história da revolução, foi a constatação de que estas idéias já tinham sido apresentadas cerca de vinte anos antes por Hermann Gossen, o que ficou conhecido como as “duas leis de Gossen”:

Primeira lei de Gossen – À medida que se consome mais do bem, a utilidade de cada unidade adicional consumida desce.

Segunda lei de Gossen – O consumidor, para obter o máximo de satisfação, deve consumir até que a utilidade marginal do último escudo gasto em cada bem seja igual em todos os bens.

A curva da utilidade marginal significa a utilidade de cada unidade adicional do bem, que é também o valor atribuído pelo consumidor a essas unidades. A curva da procura define a quantidade de bem que o consumidor está disposto a comprar a cada preço. No fundo as duas coisas são o mesmo. A diferença reside em que a primeira curva representa o valor do bem medido em utilidade, enquanto a segunda mede esse valor em dinheiro.

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Na verdade, se o valor (o preço) do bem é igual à utilidade marginal, então o que se paga por um bem não representa o que ele, em média, vale, mas sim o que a última unidade vale. Logo o que se compra vale mais do que paga. Alfred Marshall referiu-se a este aspecto dizendo que existia um excedente do consumidor.

Excedente do consumidor – Diferença entre o que o sujeito estava disposto a pagar e o que efectivamente pagou.

O facto de o consumidor estar disposto a pagar 10 euros pela primeira unidade, 8 pela segunda, 6 pela terceira e 4 pela quarta representa o valor que ele atribui a essas quantidades. Mas, como o preço é de 4 euros, isso quer dizer que ele vai comprar as quatro unidades todas ao preço de 4 euros. Mas nesse caso ele ganhou com a troca, pois a primeira unidade custou-lhe 4 euros e valia 10, a segunda também custou 4 euros e valia 8, e a terceira custou outros 4 euros e valia 6. Este é o excedente do consumidor. Note-se que se paga menos do que se dá. É por esta razão que a troca é benéfica. O que se dá é menos que o que se recebe. Aliás se não fosse assim não se dava a troca. Os dois lados ganham.

A análise moderna do consumidor – A ideia de Edgeworth e Pareto é muito engenhosa: como só existe problema económico quando não há alternativas, pelo menos duas, não interessa saber “quanto vale” cada uma das alternativas, mas “qual a melhor”. Assim, mais do que a valorização individual de cada bem, só interessa a “ordem de preferências”. Perante estes dois bens (por exemplo livros e pão), o que é preciso saber é qual a avaliação relativa dos vários “cabazes” dos dois bens. A avaliação absoluta de um bem não tem significado, em Economia, porque a economia só existe quando há alternativas, trocas, e para isso só é preciso comparar e não avaliar absolutamente. Repare-se que o que é necessário que o consumidor saiba é quanto vale, para ele, um livro em relação ao pão. Ele ignora o valor absoluto, mas pode saber de quanto pão precisa para o compensar da perda do livro. A avaliação é, pois, relativa. Quanto menos livros tem, mais pães lhe têm de dar para ficar igual. Em Economia chama-se a esta lei a lei da substituição, a qual resulta do facto de, quanto menos livros se tem, maior é a utilidade marginal do livro, pela lei de Gossen.

Três outras questões do consumidor – A primeira questão aparece quando supomos alterações do rendimento. Que acontecerá à escolha do nosso consumidor se ele, de repente, tiver uma subida súbita do seu rendimento? Ou se for despedido e perder muito dinheiro?

Paradoxo de Giffen : num estudo sobre as classes mais pobres, Giffen notou que, para alguns bens, quando o preço subia as pessoas compravam mais deles. O que essa contestação poderia significar era que a curva da procura subia com o preço. Tratava-se de uma clara violação da lei da curva da procura negativamente inclinada. Este problema foi resolvido trinta anos depois, pelo economista Slutsky. Curiosamente, a sua resolução ficou esquecida, tendo sido redescoberta mais tarde por dois economistas ingleses, Hicks e Allen. A ideia essencial de Slusky já é nossa conhecida. Quando varia o preço, ao longo da curva da procura há

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dois efeitos: o efeito substituição (porque o bem fica mais caro, o consumidor desloca-se ao longo da curva de indiferença, para um ponto em que o consumo desse bem é menor) e o efeito rendimento (porque se fica mais pobre pela subida de preço, o consumidor é forçado a deslocar-se para uma curva de indiferença inferior). O padrão dos efeitos é fácil de compreender. No que respeita ao efeito substituição, ele leva sempre a uma redução da quantidade do bem cujo preço aumenta. Na verdade, tem de ser assim devido à primeira lei de Gossen. Uma variação de preço implica uma variação na utilidade marginal, e essa tem uma relação negativa com a quantidade devida a essa lei. Quanto ao efeito de rendimento, uma queda no rendimento pode aumentar ou diminuir ou aumentar a quantidade consumida do bem, conforme o bem seja superior /normal, ou inferior. Normalmente, o efeito que domina é o efeito substituição, que, aliás, é o mais intuitivo (se o preço sobe, eu compro mais). E, por vezes, o efeito rendimento pode reforçar o efeito substituição, descendo ainda mais a quantidade. O raciocínio faz apelo à variação relativa percentual que se mede pelo conceito de elasticidade. Em particular, o que determina qual a sensibilidade da receita a variações de preço é a elasticidade preço da procura. Tal como se passava na elasticidade de rendimento, também a elasticidade preço determina várias classes de bens. Assim, um bem que tenha uma elasticidade procura-preço maior que 1 diz-se que é um bem de procura elástica. Nesses bens, o aumento do preço faz descer a receita, pois a quantidade desce proporcionalmente mais que a subida do preço. Um bem que tenha elasticidade procura-preço menor que 1 têm procura inelástica ou rígida, o que faz com que o aumento de preço suba a receita. Finalmente existem bens com procura de elasticidade unitária nos quais as variações de preço mantêm a receita. Por que razão os bens têm diferentes elasticidades-preço, ou seja, a sua procura reage diferentemente a variações de preço?

1. A distinção entre bens de necessidade e bens supérfluos. Se um bem é essencial ao consumidor, ele pouco varia a quantidade que compra, mesmo que o preço suba muito, enquanto se o consumidor puder viver bem sem ele, é normal que desça muito a quantidade. Por essa razão, os bens de primeira necessidade têm procura muito mais rígida do que os bens supérfluos.

2. A existência ou não de substitutos gera diferentes elasticidades da procura ao preço. Um bem que é facilmente substituível por outro reage muito mais a variações de preço do que um que constitui a única forma de satisfazer essa necessidade.

3. O peso desse bem no orçamento do consumidor é também determinante. Se um consumidor compra muito pouco de certo bem, ele não pode, por simples razões de dimensão, reagir muito a variações de preço.

4. É muito importante o tempo de reacção. Confrontado com uma subida de preços, o consumidor pode, imediatamente, ter

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dificuldade em modificar os seus hábitos, e por isso mantém uma procura rígida em relação a esse bem.

Para terminar a análise da elasticidade preço, vale a pena falar de uma outra elasticidade, a elasticidade preço cruzada da procura. Trata-se da variação da procura de um bem causada por alterações de preço de outro bem. A compreensão das razões que levam às leis de Gossen levaram-nos a introduzir as curvas de indiferença e a recta do rendimento, que corporizam as determinantes do problema do consumidor: preferências, preços e rendimento.

Lei de Engel : num conjunto de famílias com gostos semelhantes e enfrentando preços iguais, o peso da despesa em alimentação é, em média, uma função decrescente do rendimento.

Paradoxo de Giffen : há bens cujo consumo sobe quando sobe o preço. Para isso introduzimos as curvas preço-consumo, as curvas da procura e a solução de Slusky pela distinção entre o efeito rendimento e o efeito substituição.

Teoria do produtor: empresas e produção – O problema do produtor é um pouco mais complexo que o do consumidor. Na verdade, um produtor é, ao mesmo tempo, vendedor (do seu bem) e consumidor (de factores produtivos). Isso faz com que ele tenha duas questões: quanto produzir do bem e como produzir essa quantidade. Todos os factores produtivos variam simultaneamente. Nesse caso o que varia é toda a escala de produção, e por isso se chama a este problema dos rendimentos de escala. Toda esta discussão e a distinção entre rendimentos marginais e rendimentos de escala tem, no fundo, a ver com o tempo, em particular com o prazo de análise e de equilíbrio. Se, por exemplo, existe uma subida da procura na primeira reacção, no equilíbrio momentâneo a empresa pouco pode fazer, e dificilmente aumentará muito a produção. Ao fim de algum tempo, no curto prazo, a empresa já consegue modificar o seu consumo de certos factores, mas não tem possibilidade de modificar os outros, que são mais rígidos. Nessa altura, a empresa está sujeita à lei dos rendimentos marginais decrescentes. Mas se o aumento de procura se mantiver, no longo prazo, já a empresa consegue modificar todos os seus recursos, e toda a escala de produção, aumentando-se ou diminuindo-se a capacidade produtiva.

Disposição de vender – Preço mínimo que ele está disposto a vender por mais uma unidade.

Bem estar geral ou excedente total – soma do excedente do produtor e do excedente do consumidor.

Execedente do produtor – para haver, o valor que ele recebe da transacção tem que ser superior à sua disposição de vender.

Tecnologia e custos – Um mercado competitivo tem como preço de mercado o custo de oportunidade. Vimos como se media o custo de produção de qualquer produto. Vamos agora ver, dentro desse custo, algumas distinções importantes. A primeira é entre custos fixos e custos variáveis. No equilíbrio momentâneo não há elementos variáveis. Mas se o horizonte se alarga, e é possível prever a curto ou médio prazo, então aí existem componentes dos custos que são fixas e outras variáveis. Será de esperar que, se se deixar passar tempo suficiente, num planeamento a longo prazo, tudo seja ajustável e, portanto, variável. Um outro elemento importante da análise do custo de uma empresa é o chamado custo

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médio, ou custo por unidade. Trata-se do custo que, em média, se pode atribuir a cada unidade produzida, e é definido simplesmente pela média aritmética dos custos totais. Talvez menos directa mas igualmente importante é a medição do custo marginal. Este custo é o custo da última unidade produzida, o custo da unidade marginal.

Estrutura de mercado – Para além da tecnologia que possui, o que um produtor produz depende crucialmente do tipo de mercado em que ele se situa. Uma empresa, com uma dada tecnologia, comporta-se de maneira diferente se é a única produtora de um bem, se tem dois concorrentes, ou se é uma entre muitas empresas produtoras desse bem. A quantidade que ela vai lançar no mercado será muito diferente nos três casos. Quatro situações gerais diferentes de mercado:

Muitos produtores iguais – concorrência perfeita; Muitos produtores diferentes – concorrência monopolística; Um só produtor – monopólio; Poucos produtores – oligopólio.

O que é um mercado? É todo o arranjo pelo qual produtores e consumidores se encontram, e trocam um bem, fixando o preço e a quantidade a transaccionar. Um mercado é, pois, definido pelos produtores e consumidores que entram em relação. A regra geral para definir um mercado é usar o preço.Concorrência perfeita – A situação de concorrência perfeita define-se quando existem muitos produtores e consumidores, todos pequenos. Consequentemente, nenhum deles pode influenciar o mercado e, assim, todos tomam o preço como um dado. Quer dizer que se a empresa tentar vender acima do preço vigente no mercado ninguém lhe compra, pois há outros concorrentes que vendem mais barato. Por outro lado, vender abaixo desse preço não lhe traz benefício, pois perde dinheiro por cada unidade vendida, e a descida de preço não lhe traz ganho por clientes adicionais que compense a perda de receitas, visto ser um produtor muito pequeno.

A eficiência de mercado – A situação de concorrência perfeita é aquela em que o mercado funciona em pleno, visto que aí ninguém tem poder de influenciar o preço. É aí que o mercado, funcionando sem interferências de poderes particulares, atinge a situação óptima. Que quer dizer óptimo? O conceito de óptimo gerou muita confusão ao longo dos tempos até que Vilfredo Pareto resolveu o problema. A ideia de Pareto era que o conceito de óptimo, que a concorrência garantia, estava ligado apenas à eficiência. Assim, o ponto de equilíbrio de um mercado de concorrência perfeita representa uma situação eficiente, ou seja, uma situação em que não é possível melhorar num sentido sem piorar no outro. Uma situação destas ficou conhecida pelo termo óptimo de Pareto. Um óptimo, no sentido de Pareto, é aquela posição onde não é possível melhorar em qualquer dimensão, sem piorar noutra.

Imperfeições na concorrência – Não espantará ninguém se dissermos que, na maior parte, os mercados não são perfeitamente competitivos. Nas situações em que não existe concorrência perfeita, ou em que existem imperfeições na concorrência, isso significa que algumas empresas têm poder de mercado, ou seja, têm influência sobre o preço. As razões desse poder são essencialmente duas:

o Padrões de custo e procura : a curva de custos relativa a uma certa tecnologia define a zona de produção da empresa que é economicamente

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razoável. Se essa dimensão de produção for muito próxima da quantidade procurada, então o número de empresas que são possíveis nesse mercado é relativamente baixo. Por outras palavras, se a curva de custo médio só se torna crescente a quantidades muito grandes face à procura, há poder de mercado.

o Barreiras à concorrência : a existência de leis, que podem ter motivações económicas, ou não, mas que forçam a existência de limites à concorrência, é uma das principais causas da falta de concorrência nos mercados. Além disso existe outro tipo de barreiras à concorrência, quer naturais quer artificiais (publicidade), que impedem a livre competitividade entre todos os potenciais participantes num mercado.

Monopólio – Este é o mercado que se caracteriza pela existência de apenas um produtor, que portanto controla todos os aspectos relativos à produção. A opinião comum afirma que o monopolista, sendo o único produtor, pode fazer o que quiser no mercado. Nós sabemos que isso não é verdade, pois o monopolista domina apenas um dos lados do mercado: a oferta. A situação do monopólio é ineficiente: na verdade, como por definição, do lado do consumidor, o preço iguala a utilidade marginal, e como aqui o preço é maior que a receita marginal, a qual é igual no equilíbrio, ao custo marginal, então temos em consequência que a utilidade marginal que a sociedade obtém devido a este bem é superior ao seu custo marginal. Isso quer dizer que a sociedade deveria produzir mais do bem, pois o que ganha pelo seu consumo, na margem, e superior ao custo. Logo, o equilíbrio do monopolista não garante a eficiência e causa o desperdício de recursos. O facto de os monopólios serem maus sistemas de produção leva à existência de políticas de intervenção por parte do Estado. Estas utilizam instrumentos (como a nacionalização da empresa, a fixação de preços, o lançamento de impostos sobre o monopolista) para sugar o lucro.

Oligopólios – A existência de algumas empresas, poucas, que concorrem no mercado de um produto. O facto de serem poucas, dá a cada uma o poder de influência sobre o mercado (poder de mercado), mas isso não quer dizer que não exista concorrência entre elas. Aliás, essa concorrência pode ser quase tão grande como na concorrência perfeita. Um caso especial é o do oligopólio coligado, ou seja de algumas empresas, poucas, que dominam um mercado mas, além disso, combinam entre si estratégias, preços e quantidades. Esta situação tem um resultado muito parecido com um monopólio. Devido aos inconvenientes para os consumidores, em muitos países os carteis são ilegais ou, pelo menos, limitados. Em Portugal, a “lei da concorrência” proíbe coligações entre empresas para combinarem preços ou outros elementos que perturbem o normal funcionamento do mercado.

Concorrência monopolística – Nesse mercado existem muitos produtores, tal como na concorrência perfeita, mas cada um deles produz e vende u produto ligeiramente diferente do produzido por qualquer dos outros. Assim, no seu produto particular, cada empresa é um monopólio, mas como os produtos satisfazem necessidades quase iguais, existe uma intensa concorrência entre eles.

Lição de Adam Smith

A evolução natural e livre das sociedades é muito próxima da ideal, pois o comportamento dos agentes é, em geral, racional e os mercados

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geralmente equilibram.Lição de Marx

O mercado tem perigos, e o Estado tem o dever de os corrigir.

Lição de Jevons, Menger e Walras

O que conta para definir o valor é a margem.

Lição de Marshall

Tudo no mercado se define simultaneamente pela procura e oferta: o benefício marginal e o custo marginal.

Lição de Walras

Os vários mercados interagem de múltiplas formas, encontrando um equilíbrio geral. Uma das ligações vem do facto de o total das ofertas ser sempre igual ao total das procuras.

Lição de Ricardo

Cada país deve especializar-se na produção do produto em que tem vantagem comparativa.

Curva de Laffer – Há um ponto que seria mais prejudicial para os produtores e consumidores, e mais arrecadamento para o Estado. Conforme o aumento da recita, maior a carga fiscal. Há um desincentivo com o aumento da carga tributária; só que o aumento da carga fiscal dá mais arrecadamentos para o Estado, minimizando a eventual diminuição da recita.Perda de bem estar – Absoluta (ambos os excedentes diminuem); relativa (só um deles diminui, o outro aumenta). Perda de quantidades transaccionadas (sem imposto, é feita a troca; com imposto, às vezes, não é feita a troca, uma vez que excede o bem estar).Custos – Fixos (factores de produção; fixos: a terra e o capital, em regra); variáveis (o trabalho; para aumentar a produção, os custos variáveis tendem a aumentar); médios (custo por unidade; tende a diminuir); marginais (tendem a aumentar).P O Muitos Poucos UmMuitos Concorrência

perfeitaOligopólio Monopólio

Poucos Oligopólio Oligopólio contrariado

Monopólio contrariado

Um Monopsónio Monopólio contrariado

Monopólio bilateral

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