apoio respiratório na voz cantada

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    APOIO RESPIRATRIO NA VOZ CANTADA: PERSPECTIVA

    DE PROFESSORES DE CANTO E FONOAUDILOGOS

    Support and singing voice: perspective of singing teachers

    and speech language pathologists

    Wilson Gava Jnior (1), Leslie Piccolotto Ferreira(2), Marta Assumpo de Andrada e Silva(3)

    RESUMO

    Objetivo:analisar a denio de apoio respiratrio, assim como as estratgias de trabalho e benef-cios de sua aplicao, segundo a perspectiva de professores de canto e fonoaudilogos. Mtodos:seis prossionais com experincia em voz cantada foram entrevistados sobre questes relacionadasao apoio respiratrio no canto. As respostas foram submetidas anlise de contedo e denidas qua-

    tro categorias: denio de apoio respiratrio, tipo de apoio, estratgias e benefcios. Resultados:osaspectos mais mencionados pelos entrevistados foram: a denio de apoio est relacionada com aparticipao do msculo diafragma e dos intercostais; o tipo de apoio mais adequado o intercostale diafragmtico; dentre as estratgias de trabalho, utilizadas para a adequao do apoio respiratrio,as mais citadas foram propriocepo corporal, conscientizao da musculatura envolvida, equilbriodo uxo areo, alvio de tenses e correo da postura. H discrepncias com relao utilizaoda contrao abdominal, do uso de objetos de apoio, de imagens mentais e realizao de vocalizes.Para os entrevistados, o maior benefcio do apoio respiratrio est no alvio das tenses larngeas emelhoria na coordenao pneumofonoarticulatria. Houve pouca concordncia sobre a ao ben-ca do apoio, principalmente quanto sua melhoria na emisso cantada. Concluso:os resultadosapontam para uma convergncia da maioria dos entrevistados quanto denio, estratgias detrabalho e benefcios do apoio respiratrio, porm ainda sem consenso.

    DESCRITORES:Voz; Exerccios Respiratrios; Diafragma; Treinamento da Voz; Qualidade da Voz

    (1) Professor de Canto com Especializao em Fonoaudio-logia pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo;Bilogo pela PUCCAMP; Diretor do Studio Gava CursosMusicais Especializados, Santo Andr, SP; Diretor da N&GArtcompany, So Paulo; Professor do Instituto de Canto eTecnologia de So Paulo; Professor de Canto do StudioWolf Maya, So Paulo; Preparador Vocal da Ocina deAtores Nilton Travesso, So Paulo; Membro da SociedadeBrasileira de Educao e Integrao; Membro da Acade-mia Brasileira de Artes Cultura e Histria; Mestrando em

    Fonoaudiologia na Pontifcia Universidade Catlica de SoPaulo.

    (2) Fonoaudiloga formada pela PUC-SP, Mestre em Lin-gstica Aplicada pela PUC-SP; Doutora em Distrbios daComunicao Humana pela UNIFESP-EPM; ProfessoraTitular do Departamento de Fundamentos da Fonoaudiolo-gia e Fisioterapia da PUC-SP (Professora da Faculdade deFonoaudiologia e do Programa de Estudos Ps-Graduadosem Fonoaudiologia); Coordenadora e docente do Cursode Especializao em Fonoaudiologia Voz; PUC-SP/COGEAE

    (3) Fonoaudiloga; Professora Doutora Assistente do Pro-grama de Estudos Ps-Graduados e do Curso de Gradua-o em Fonoaudiologia da Pontifcia Universidade Catlicade So Paulo PUCSP; Professora Adjunta do Curso de

    Graduao em Fonoaudiologia da Faculdade de CinciasMdicas da Santa Casa de So Paulo; Docente nos Cur-sos de Especializao em Voz do COGEAE-PUC/SP e doCEFAC. Parecerista da Revista Distrbios da Comunica-o, da Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologiae da Revista CEFAC; Coordenadora do Ambulatrio deArtes Vocais do Departamento de Otorrinolaringologia daSanta Casa e do Curso de Fonoaudiologia da Faculdadede Cincias Mdicas da Santa Casa de So Paulo; Mestreem Fonoaudiologia e Doutora em Comunicao e Semi-tica pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo.

    Conito de interesses: inexistente

    INTRODUO

    No campo da voz cantada em geral o apoio respi-ratrio, support em ingls ou appoggiona tradioitaliana, tem sido preconizado por vrias geraesde cantores, professores de canto e tcnica vocal,com o objetivo de melhorar o controle da emissovocal.

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    Cantar um ato que envolve diversos recursosdo aparelho fonador e impe uma demanda sensi-velmente maior quando comparada fala natural.Para falar e cantar os mesmos rgos fonoarticu-latrios so utilizados, porm, no canto, os ajustesvariam de acordo com as exigncias impostaspela msica e estilo em questo, como, por

    exemplo, os de sustentao da coluna sonora, osde igualdade tmbrica, de dico, de fraseado e deinterpretao 1.

    Quando se adquire uma melhor condio derespirao e apoio no canto, observa-se maiorpotncia vocal, com uma melhor projeo da voz 2.A necessidade do aumento dessa potncia (loud-ness) nasceu com a pera. Segundo registros, foiem 1637, a partir do surgimento da dramaturgiaoperstica italiana, que se deram as primeiras apre-sentaes do denominado Drama Musical. Taismanifestaes ocorreram em Veneza, na Itlia, e

    estimularam o aparecimento das primeiras escolasde canto na Europa 3.Autores da poca do Barroco ressaltavam a

    importncia de se desenvolver um controle respi-ratrio eciente, porm, em seus textos, no costu-mavam detalhar sobre como isso deveria ocorrer, demodo que no se sabe se o controle era adquiridopela respirao clavicular, intercostal ou diafragm-tica 4.

    De tradicional e reconhecida importncia, comum que indivduos que cantam ou ensinamtcnica vocal, atribuam ao apoio respiratrio algum

    tipo de benefcio para a voz. Do ponto de vista dapercepo, a voz apoiada est diretamente relacio-nada a um bom controle da emisso vocal 5. Atmesmo aqueles que atuam com cantores em faixaetria inferior, ou seja, infanto-juvenil, ressaltamque o apoio respiratrio, a articulao pneumofono-articulatria, bem como a anao, so parmetrosfundamentais nos processos de avaliao fonoau-diolgica 6.

    Se por um lado, a importncia do apoio respi-ratrio reconhecida, por outro, seu conceito eaplicao no se mostram to bvios. No h, por

    exemplo, concordncia na utilizao de termos aose referir a um mesmo aspecto.Na literatura estudada, por exemplo, arma-se

    que o padro de apoio costodiafragmaticoabdo-minal o ideal, por determinar uma fonao maisadequada e proporcionar um melhor equilbrio naemisso do ar para a voz cantada7. Tambm feitareferncia ao diafragma e a musculatura abdominalcomo de apoio na emisso vocal tanto falada quantocantada 8. Outros autores, por sua vez, armam quea denominada coluna de ar, responsvel pelo apoio, formada pela musculatura abdominal-diafragm-tica e/ou intercostal, de modo conjunto 9.

    Segundo a literatura, o apoio denominado infe-rior contribui para uma voz mais estvel, com melhorprojeo e controle da hiperfuno larngea e, para ocanto, pode promover uma emisso de voz cantadalivre de tenses cervicais. 10Pode-se vericar queos cantores que utilizam dos msculos inferiorestais como os abdominais, diafragma e intercostais

    inferiores adquirem uma emisso mais controladaEm contrapartida, aqueles que trabalham apenas amusculatura intercostal superior (torcica) duranteo canto, promovem uma elevao da parte torcica,anteriorizao do esterno, tendem a uma captaomenor de ar e um aumento das tenses cervicais elarngeas no ato de cantar.

    O conhecimento sobre o funcionamento dosistema respiratrio, assim como o domnio tcnicosobre ele so alguns dos elementos relevantespara a manuteno do bem estar vocal do pros-sional da voz 11. Por esse motivo, os professores de

    canto realizam exerccios com foco na contrao demsculos abdominais ou ainda na preciso articu-latria de vogais e consoantes, de modo exaustivo.

    Pesquisas mostram que a qualidade vocal e ocomportamento respiratrio e muscular esto inti-mamente relacionados 12,13. A arte do canto exigeo controle da respirao e esse o resultado deum sinergismo de todo o aparelho vocal 14 Namesma direo, pesquisa com cantores prossio-nais submetidos preparao vocal evidencia queesses tiveram uxo areo mais adequado prticado canto, quando comparados aos indivduos que

    no se submeteram a tal preparo15

    .Em trabalho realizado com cantores de coral,autores tambm apontaram para diculdades frente falta de tcnica de apoio respiratrio. Alertaramque a necessidade de realizar ajustes muscularesrenados pode delatar as limitaes de habilidadesdo cantor, fato esse que repercute de modo maisperceptvel na voz cantada do que na falada 16.

    Outros estudiosos armam que o uso da muscu-latura costodiafragmticoabdominal em voz cantadadepende diretamente da inteno do som, ou seja,daquilo que se pretende produzir 17.

    Na literatura referente voz cantada em geral,comenta-se que o diafragma participa ativamenteno modo de inspirao em duas tcnicas utilizadaspor bons e maus cantores em geral, respectiva-mente: uma induz ao recolhimento abdominal(belly-in) e outra que emprega a manuteno daexpirao torcica (belly-out) 18. No entanto, estudoque comparou as duas tcnicas no encontrou dife-renas nos parmetros vocais 19.

    De modo geral, evidente que a maioria dosautores concorda em dizer que o apoio respiratriotem sua importncia no canto. Contudo, observou-se que existem diferenas no entendimento dessa

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    importncia, uma vez que os estudos sugerem aparticipao de diferentes msculos na execuodesse apoio. Quanto s estratgias utilizadas paraadequar o apoio respiratrio no est claro na litera-tura o que tem sido utilizado. Discordncias relacio-nadas ao controle da emisso vocal foram obser-vadas at mesmo entre cantores do mesmo gnero

    musical, de acordo com estudo no qual foram utili-zados depoimentos baseados na propriocepodos participantes20.

    Independentemente das divergncias exempli-cadas acima, os autores defendem que o trabalhomuscular deve ser estimulado no estudo do canto edas tcnicas de apoio. Em uma pesquisa realizadacom cantores de coral, constatou-se que a atividadefsica promove melhorias no desempenho vocal dosparticipantes, e dentre essas as mais signicativasforam dana, expresso corporal e ginstica rtmica.Os resultados obtidos revelaram diculdades dos

    cantores para considerar seus corpos como umaunidade mente-fsico-emoo. Concluiu-se que ocansao fsico e o mental so de difcil controle, einuenciam no desempenho artstico 21.

    Frente a essas questes que apontam para anecessidade de aprofundar pesquisas sobre oapoio respiratrio, o objetivo deste estudo analisara denio, as estratgias de trabalho utilizadas eos benefcios destas em relao ao tipo de apoiorespiratrio para a voz cantada, segundo a pers-pectiva de professores de canto e fonoaudilogos.

    MTODOS

    Foram entrevistados seis prossionais queatuam na rea de voz: trs professores de canto etrs fonoaudilogos, todos com experincia pros-sional mnima de trs anos em voz cantada, commdia de experincia de 16 anos e com idademdia de 38 anos de idade. O critrio de escolhadesses prossionais foi baseado na reconhecidacompetncia no canto, principalmente no conheci-mento sobre o canto, tanto no meio cientco quantoclnico e/ou na pedagogia vocal. Os entrevistadosconvidados foram selecionados pelo pesquisadore indicados por sua orientadora por se trataremde prossionais conhecidos na preparao decantores, por possurem publicaes cientcas emvoz cantada, alm de fazerem parte de instituiesde pesquisa, ou apresentarem vnculos de trabalhocom conservatrios musicais de notrio renome.No houve restrio com relao a sexo ou idadedos participantes.

    Os participantes foram divididos em dois grupos:no denominado PC foram alocados os professoresde canto e no F, os fonoaudilogos.

    O PC foi constitudo por sujeitos na faixa etriade 35 e 45 anos, dois do sexo feminino e um dosexo masculino, residentes e atuantes na cidadese So Paulo. Um com experincia prossionalde oito anos, o segundo com experincia de 10anos e o terceiro com experincia de 20 anos.Todos possuem formao superior em msica e

    um deles tambm especializao em Fonoaudio-logia Os focos de atuao desses prossionais sodistintos, atingindo um diferente pblico alvo, consi-derando populao, classes sociais, demandasde interesses, bem como estilo de canto distintos:um segue a linha do canto popular, outro teatromusical, com formao no exterior, e o terceiroatua na preparao de cantores nos gneros BlackMusic e Rock.

    O grupo F foi formado por sujeitos na faixa etriade 30 e 45 anos, todos do sexo feminino, atuantesnas cidades de So Paulo e Belo Horizonte. Um,

    com mestrado e doutorado em Fonoaudiologia, professor universitrio e autor de diversas publi-caes sobre o assunto; os outros dois atuam eorientam cantores de coral e artistas de diversosgneros musicais. Todos especialistas em voz,pertencentes a diferentes grupos cientcos. Valedestacar que no h conito de interesses entreesses prossionais e tambm no existem dadosque revelem um denominador cientco em comum,uma vez que no apresentar publicaes emconjunto. Quanto experincia prossional em vozcantada, o primeiro possui mais de vinte anos, o

    segundo cinco anos e o terceiro dez anos de expe-rincia no trabalho com cantores.

    Para a coleta de dados foi realizada entrevistaestruturada, aplicada pelo prprio pesquisador doestudo em questo, com trs perguntas relacio-nadas ao apoio respiratrio, a saber: dena o que,em sua opinio, vem a ser o apoio respiratrio nocanto; cite as estratgias utilizadas para que oaluno ou paciente utilize, de modo correto, o apoiorespiratrio; quais so os benefcios que o apoiorespiratrio promove.

    As entrevistas foram audiogravadas e ocor-reram de modo individual, em dias e locais esta-belecidos em comum acordo entre o pesquisadore cada um dos entrevistados. Para a gravao foiutilizado um gravador digital marca PANASONIC,modelo RR-US430. As entrevistas foram transcritasem ortograa regular.

    Este estudo, de natureza descritiva, foi apro-vado pelo Comit de tica e Pesquisa da PontifciaUniversidade Catlica de So Paulo PUC-SP, sobo nmero 301/2008. Obteve-se o ConsentimentoLivre e Esclarecido por escrito dos participantes dapesquisa.

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    A avaliao das entrevistas pautou-se na anlisede contedo proposta por Bardin em 1977 22. Assim,aps sucessivas leituras do material transcrito, asrespostas obtidas nas entrevistas foram categori-zadas, segundo as convergncias e divergnciasencontradas.

    RESULTADOS

    As entrevistas realizadas apresentaram umamdia de 11 minutos e 25 segundos, sendo que adurao mnima foi de sete minutos e 34 segundose a durao mxima, de 15 minutos e 16 segundos.

    Com base na recorrncia dos aspectospresentes nas respostas dos entrevistados, deter-minados pelas perguntas realizadas, foi possveldenir quatro categorias, que permitiram a orga-nizao do material de forma sistemtica, e favo-

    receram a apresentao dos dados. Essa foi feitapor meio de quadros sintticos de cada categoria erecortes da analise de contedo para exemplicar.As categorias foram apresentadas nas Figuras de1 a 4.

    A Figura 1 apresenta a distribuio dos sujeitosde acordo com os aspectos mencionados na de-nio de apoio respiratrio. Verica-se a relaoentre o diafragma e a musculatura intercostal citadapor todos os entrevistados em suas denies

    do tema. Os recortes da anlise de contedo queexemplicam a questo so:

    ... o apoio uma sensao que se tem de umponto de suspenso do ar... que feita pelosmsculos abdominais mais baixos...(PC1).Tem algumas tcnicas que trabalham o

    diafragma como na respirao da Yoga,empurrando pra baixo. Eu gosto de trabalhar odiafragma junto com a intercostal(PC2).Para uma msica ele vai usar a respiraoabdominal, para a outra, que exige frases maislongas, ele vai usar o costodiafragmtico. Existetambm o costodiafragmtico abdominal quemexe tanto o abdmen quanto as costelas(F3).Ento para eu poder apoiar a voz e manter,quando eu estou cantando... devo ter sempreos msculos do baixo abdmen ligeiramentecontrados e o diafragma livre(F1).

    A Figura 2 apresenta as referncias feitas pelosentrevistados quanto nomenclatura utilizada parase referirem ao apoio respiratrio na voz cantada.Os principais recortes das anlises so exempli-cados a seguir:

    ... o diafragma o msculo responsvel pelarespirao, que tambm auxiliada pelosmsculos intercostais. (PC3);

    DEFINIO DE APOIO RESPIRATRIO PC FEst relacionado com o diafragma 1, 2,3 1, 2, 3

    Est relacionado com msculos Intercostais 1, 2,3 1, 2, 3

    O apoio respiratrio uma sensao 1, 2 1, 2

    Est relacionado com baixos abdominais contrados 1 1, 2, 3

    Est relacionado a um equilbrio entre foras musculares 1, 3

    Imagem de um ponto de suspenso do ar 1

    Imagem de um alicerce ou parede de sustentao 2

    Est relacionado com msculos glteos 1

    Figura 1 Distribuio dos sujeitos (PC professores de canto; F fonoaudilogos) de acordo com

    os aspectos mencionados na denio de apoio respiratrio

    NOMENCLATURA DO APOIO PC F

    Intercostal 1, 2, 3 1, 2, 3

    Diafragmtico 1, 2, 3 1, 2, 3

    Baixo abdominal 1 1, 2, 3

    Costodiafragmtico-abdominal - 1, 2

    Costodiafragmtico _ 2, 3

    Figura 2 Distribuio dos sujeitos (PC professores de canto; F fonoaudilogos) de acordo coma nomenclatura dada ao apoio respiratrio

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    ... para a outra, que exige frases mais longas,ele vai usar o costodiafragmtico... voc movi-menta o abdmen junto com as costelas.(F2);Eu trabalho com a respirao costodiafragmati-coabdominal. (F1)

    A Figura 3 representa as estratgias colocadasem prtica pelos entrevistados para conseguir oapoio respiratrio. Os seguintes trechos ilustram asrespostas dos entrevistados:

    Ento a primeira coisa que fao trazer asmos. Fazer com a pessoa coloque as mosna parte mais baixa das costelas, na ltimacostela que ela consegue sentir embaixo, prada comear a trabalhar a respirao(PC3);Peo, inclusive, para ele fechar os olhos e logoem seguida dou como exemplo a imagem deuma bexiga que ina no baixo abdmen. Ainda

    sentado, coloco a mo no abdmen do sujeitoe a mo dele por cima da minha. medida queisso (respirao baixa) vai se instalando eu voucorrigindo a postura de queixo e as tenses(F2).Primeiro muitos exerccios de respirao praque a pessoa sinta. Sinta como fazer para deixaras costelas abertas. Se as costelas esto abai-xando, oriento para que ela perceba que temque aumentar a fora de baixo para equilibrar

    isso. Depois trabalho exerccios com canto.(PC1);

    Abro os msculos intercostais, quero dizer,abro minhas costelas, lateralmente, funcionandocomo uma sanfona(F1);

    Deitar no cho e, s vezes, colocar um pequeno

    peso em cima: um livro, ou alguma coisa assim,no abdmen, pra gente sentir a respirao...(PC3);

    ... eu sempre uso uma vela. Peo pra ele aplicaresse apoio respiratrio com uma vela acesa.Com aproximadamente um palmo de distanciados lbios, peo pra ele soprar a vela fazendo achama tremer. No deve apagar. Ele deve coor-denar essa sada de ar, sentido que o abdmenest encolhendo.(F3);

    ... imagine como se voc tivesse um elsticovertical interno e ai, com essa musculatura, voc

    vai empurrando o ar, sem deixar a intercostalrelaxada, sempre com a intercostal montada.(PC2);

    melhor deixar essa parte mais aberta e para obaixo ventre trabalhar. (C1);

    Voc no pensa: Estou respirando, estouapoiando, estou articulando... essas coisas vocpensa durante a aula de canto, na correo queo professor faz durante os vocalizes.(C3)

    ESTRATGIAS PC F

    Estratgias de estmulo a propriocepo (ampliao daconscincia corporal)

    1, 2, 3 1, 2, 3

    Conscientizao da participao da musculaturaabdominal e intercostal

    1, 2, 3 1, 2, 3

    Estratgias para o equilbrio do fluxo areo 1, 2, 3 1, 2, 3

    Alvio de tenses e correo de postura 1, 2, 3 1, 2, 3

    Estratgias para a manuteno das intercostais abertas naexpirao

    1, 2, 3 1, 2

    Estratgias com certa contrao abdominal 2 1, 2, 3

    Objetos como artifcios auxiliares (espelho,livro no

    abdmen, vela, bexiga etc.)

    3 1, 2, 3

    Exerccios expiratrios com sons fricativos 2, 3 2, 3

    Explicaes sobre a fisiologia 1, 3 1, 2

    Imagens mentais (elstico interno, coluna de ar, bexiga noabdmen, etc.)

    1,2 -

    Estratgias com abdome livre 1, 3 -

    Vocalizes 1, 3

    Figura 3 Distribuio dos sujeitos (PC professores de canto; F fonoaudilogos) de acordo comos aspectos mencionados nas estratgias utilizada para o apoio respiratrio

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    Na Figura 4 foram reunidos os benefcios doapoio respiratrio, segundo os prossionais entre-vistados. Como exemplos de relatos dos prossio-nais, segue:

    ... se voc no trabalha o apoio respiratrio nodiafragma esse apoio vem pra garganta e (isso)

    no legal.(PC2);Para retirar o foco de tenso da regio larngea,cervical e da cintura escapular. Tambm para teruma voz mais projetada alm de se conseguiruma melhor coordenao pneumofonoarticula-tria.(F3);Com esse tipo de apoio respiratrio eu consigocoordenar melhor a respirao.(F3);Eu acho que o apoio interfere na ressonnciatambm. O aparelho funciona muito conjugado e

    no d pra separar articulao, emisso e resso-nncia. Acho que tudo tem inuncia em tudo.(PC1);... eu acho que se ca com uma voz com maisbrilho, com uma ressonncia mais equilibrada,voc tem uma possibilidade de ter uma resso-nncia mais de acordo com o que voc deseja.

    (F1);O ar para o cantor como o combustvel parao carro, se voc no se abastece direito, de ar,voc no tem como cantar, ou melhor, se vocno trabalha o apoio respiratrio no diafragmaesse apoio vem pra garganta, e no legal.(C2);Poupando a voz e estamos falando no s deesttica, mas de sade e longevidade vocal.A gente percebe que os cantores que usam oapoio se beneciam por esse motivo.(C1)

    Figura 4 Distribuio dos sujeitos (PC professores de canto; F fonoaudilogos) de acordo comos aspectos mencionados nos benefcios do apoio respiratrio

    BENEFCIOS PC F

    Alvio de tenses larngeas 1, 2, 3 1, 2, 3

    Maior controle respiratrio - pneumofonoarticulatrio 1, 2, 3 1, 3

    Melhoria na expressividade Interpretao 2, 3 1, 3

    Ao benfica geral e melhoria na emisso cantada 1, 2, 3 1

    Sustentao de frases - 1, 2, 3

    Melhoria na ressonncia 1 1, 2

    Recursos relacionados maior mobilidade do foco vocal(ressonantal)

    2, 3 1

    Melhoria na postura corporal 2, 3 3

    Ampliao da potncia vocal Loudness 3 3Aumento da longevidade vocal 1 -

    Melhor condio para vibratos 1 -

    Alvio de tenso escapular e cervical - 3

    DISCUSSO

    Os dados discutidos sero apresentados inicial-mente de acordo com cada grupo professores decanto e fonoaudilogos para explicitar as informa-es de cada categoria prossional e mostrar suarelao com a literatura estudada.

    Entre os dois grupos houve unanimidade nadenio de apoio respiratrio quanto a esteapresentar relao direta com a musculatura dodiafragma, bem como a musculatura intercostal.Na literatura investigada, autores consideram oapoio com participao do diafragma e muscula-tura intercostal, quando armam que o padro de

    apoio costodiafragmticoabdominal o ideal 7,10.

    Faz-se referncia ao diafragma e musculaturaabdominal como de apoio na emisso vocal, tantona voz falada quanto cantada 8. Outros estudos, porsua vez, armam que o apoio respiratrio formadopela musculatura abdominal-diafragmtica e/ouintercostal de modo conjunto 9. O segundo aspectomais comentado entre os dois grupos foi o fatode o apoio respiratrio tratar-se de uma sensao(dois professores de canto e dois fonoaudilogos).Um dos professores de canto valoriza o fato de talapoio ter funo de sustentao da voz, faz analo-gias a um alicerce ou parede e preconiza a parti-cipao do diafragma com a abertura lateral das

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    costelas. Tal denio apresenta suporte na lite-ratura, uma vez que possvel encontrar estudosque denem o apoio como uma sensao que oscantores tem durante o canto23. Ao se consideraro termo sensao pode-se aludir percepo dossons, ou aes musculares, que o cantor deve terno prprio corpo, ou seja, a propriocepo. Na lite-

    ratura vrios autores valorizam o trabalho proprio-ceptivo, tanto no processo de aprendizagem docanto quanto para se obter bons resultados no usoda voz em geral 5,7,10,17. Tais autores armam que,do ponto de vista da percepo, a voz apoiadaest diretamente relacionada boa voz. Uma daspesquisas 5evidencia tal relao ao analisar amos-tras de slabas cantadas por cantores prossionaiscom e sem apoio respiratrio. Juzes com e semexperincia em canto, ao ouvirem as amostras,associaram os trechos com apoio emisso maisestvel na voz cantada. Em estudo realizado com

    cantores amadores e prossionais, os depoimentosanalisados foram baseados na propriocepo dosparticipantes 20. Vale destacar que o professor decanto PC2 no utilizou o termo sensao, porm talconceito apareceu de modo subjetivo no discursoquando o mesmo armou utilizar estratgias depropriocepo em sua conceituao de apoio respi-ratrio. Uma fonoaudiloga, por sua vez, quandoquestionada sobre o apoio respiratrio, iniciou odiscurso com a classicao do tipo de apoio e seestendeu com a explicao das estratgias e bene-fcios promovidos pelo apoio respiratrio.

    Houve disparidade de conceitos entre os gruposquando, na denio de apoio respiratrio, foiconsiderada a contrao dos msculos da regiomais baixa do abdome, tais como os msculosdo assoalho plvico, inclusive o diafragma. Todosos fonoaudilogos consideraram esse aspectoenquanto apenas por um professor de canto (PC1)o incluiu em suas consideraes. Dois fonoaudi-logos consideraram a expanso da regio baixa doabdome de modo enftico. O que se apresenta emconcordncia com a literatura 10, quando a autoraarma que o apoio, tambm denominado inferiorcontribui para uma voz mais estvel, com melhorprojeo e controle da hiperfuno larngea. Emoutra pesquisa, autora arma que so elementosrelevantes para a manuteno da sade do pros-sional da voz a realizao de exerccios com focona contrao de msculos abdominais 10e tambm referido que se deva, durante o canto, manter orecolhimento abdominal (belly-in) 18.

    Ainda dentre os aspectos menos abordadosentre todos os entrevistados esto s deni-es que referem o Apoio Respiratrio como umequilbrio entre foras musculares, aludindo aodiafragma, intercostais e msculos da regio baixa

    do abdome (grande oblquo externo, pequenooblquo, transverso abdominal, parte inferior do retoabdominal e diafragma). Menos referidos ainda soos aspectos onde apenas um, entre todos os entre-vistados, considerou: ponto de suspenso do ar(PC1), alicerce ou parede de ar (PC2) relao commsculos glteos (F1), ou seja, no se observou

    consenso intra ou intergrupos, em relao a taisparmetros. A literatura faz referncia objetivaao equilbrio de foras e em estudos recentes, osautores referem que a denominada coluna de ar,responsvel pelo apoio, formada pela muscula-tura abdominal-diafragmtica e/ou intercostal, demodo conjunto 9,14.

    Vale acrescentar que, no momento da entre-vista, apesar da caracterstica objetiva da perguntarelacionada denio de apoio respiratrio, osentrevistados, se mostraram hesitantes no modo deresponder. Alguns explicaram as estratgias utili-

    zadas para a obteno do apoio, outros iniciaramo discurso com a classicao dos tipos de apoioou mesmo os seus benefcios, sem a objetivaoda resposta.

    Em relao nomenclatura do apoio todos osparticipantes, de ambos os grupos, consideraramque o apoio intercostal e diafragmtico. Todosos fonoaudilogos e um professor de canto (PC1)ainda consideram a participao ativa da muscula-tura do baixo abdome. Apenas dois fonoaudilogos(F1 e F2) denominaram o tipo de apoio respiratriocomo costodiafragmticoabdominal, ou apenas

    costodiafragmtico7-10,18

    .Interessante ressaltar que, em cada um dosgrupos, dois dos trs prossionais entrevistadosno responderam objetivamente questo. Dessaforma, alguns dos participantes no classicaramde modo imediato o tipo de apoio quando objetiva-mente questionados, porm apresentaram a classi-cao ao discorrerem sobre as estratgias. Todosos entrevistados consideraram mais de um grupomuscular quando se referiram ao tipo de apoiorespiratrio. Um fonoaudilogo (F1) armou que otipo respiratrio o costodiafragmticoabdominal,contudo durante a descrio de suas estratgiasincluiu a musculatura intercostal.

    Todos os fonoaudilogos tambm considerarama participao dos msculos baixo-abdominais eapenas um professor de canto (PC1) considerou talaspecto.

    Observou-se que os trs fonoaudilogoszeram referncia ao tipo de apoio respiratriocomo costodiafragmtico ou costodiafragmticoa-bdominal, enquanto que os professores de cantono utilizaram essa nomenclatura, o que podeindicar que tais termos sejam mais empregados porfonoaudilogos. F2 e F3 armaram que o apoio

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    costodiafragmtico com a participao das inter-costais e um deles ainda comentou que o apoio dotipo baixo abdominal o mais ecaz para o canto.O prossional explicou que, em algumas situaes,o apoio deve mudar para costodiafragmticoabdo-minal, e tal mudana depende do estilo musical emquesto. Essa abordagem corrobora com alguns

    estudos existentes que tambm enfatizam esse tipode apoio 7-10,18.

    A utilizao de diferentes estruturas para seatingir o apoio respiratrio mais adequado foi obser-vada tambm em estudo que investigou a consis-tncia do comportamento respiratrio durante ocanto. Foi observado que os participantes reali-zaram movimentos variados de caixa torcica e doabdome para atingir um volume pulmonar duranteos trechos cantados, mostrando que no ocorreu,entre os cantores, uma estratgia de respiraouniforme24.

    Na terceira categoria denominada estratgiaspara o apoio no canto, houve unanimidade entretodos os entrevistados em relao s estratgias deestmulo propriocepo, participao da muscu-latura abdominal e intercostal, equilbrio do uxoareo, alvio das tenses e correo de postura.

    Com relao s estratgias de estimulo proprio-cepo, F2 detalha a aplicao de exerccios comsons surdos, enquanto utiliza recursos tteis paraa identicao do tipo respiratrio. Comenta quecoloca tanto a sua prpria mo quanto a do cantorsobre o abdmen do mesmo. Mantm o paciente

    sentado e orienta a postura do queixo e alvio dastenses. PC2 e PC3 orientam a propriocepo dodiafragma com a ajuda das mos na parte inferiordas costelas. PC3 explica que enquanto se inspira,deve-se observar a expanso lateral da parte baixado abdmen e, com isso, se evitar a elevao tor-cica. Sob esse aspecto encontram-se refernciasna literatura em diversos trabalhos 7-10,18.

    Ao utilizar a participao da musculaturaabdominal e intercostal como estratgia para seconseguir o apoio respiratrio, um fonoaudi-logo preconiza que o abdmen deve estar leve-

    mente contrado. Um professor de canto orienta aexpanso do baixo abdmen durante o processo deinspirao e um fonoaudilogo, alm dos msculosabdominais, diafragma e intercostais, explica que oapoio respiratrio vem da regio baixa da coluna e auxiliado pela participao da musculatura gltea. Adiferena nas estratgias realizadas indica tambmuma distino entre os prossionais com relao aopadro de apoio respiratrio que preconizam. Naliteratura, tais diferenas tambm aparecem. Algunsautores armam que o padro de apoio costodia-fragmticoabdominal o ideal6; outros fazem refe-rncia ao diafragma e a musculatura abdominal 8;

    comenta-se que o diafragma participa ativamenteno modo de inspirao em duas tcnicas uma induzao recolhimento abdominal e outra que empregaa manuteno da expirao torcica 18. Refere-setambm que o apoio denominado inferior contribuipara uma voz mais estvel 10.

    Sobre a correo de postura, um fonoaudilogoalerta sobre a importncia do encaixe da pelve eda criao de um eixo corporal para facilitar o apoio.Investiga a ergonomia do paciente inclusive duranteo sono. Tal preocupao com a postura pode servericada tambm na literatura 10,17.

    Em relao ao controle do uxo areo deve-sedestacar que esse talvez seja o aspecto queaparece de forma mais recorrente na tradio doensino. Estudo revela que autores da poca doBarroco ressaltavam a importncia de se desen-volver um controle respiratrio eciente 4. Um fono-

    audilogo explicou que, com o objetivo de melhoraro controle do uxo areo, utiliza uma vela acesa.Mantm a mesma a um palmo de distncia doslbios do paciente e o orienta a manter um uxo dear constante, de modo que a chama no se apague.Na literatura, arma-se que a arte do canto exigeo controle da respirao e esse o resultado deum sinergismo conquistado por todo o aparelhovocal 14. Em pesquisa realizada com cantoresprossionais submetidos preparao vocal, essestiveram uxo areo mais adequado prtica docanto, quando comparados aos indivduos que nose submeteram a tal preparo 15.

    O segundo aspecto mais concordante entre osgrupos (cinco entrevistados todos os professoresde canto e dois fonoaudilogos) relacionou-se coma utilizao de estratgias para a manutenodos intercostais expandidos na expirao. Umdos participantes detalha que aplica exerccios derespirao com foco na expanso e manutenoda musculatura intercostal, alm da contrao doabdmen, de modo a equilibrar as duas foras. Nasequncia trabalha vocalizes para a voz cantada euma msica aplicada de modo que o apoio respi-

    ratrio se estabilize. Ainda, como estratgia, solicitaque o aluno cante, e mantenha a postura anterior,com a abertura e sustentao da musculatura inter-costal, para melhor controle do uxo areo. Justicaque as costelas so mantidas abertas para o nofechamento da musculatura abdominal, para quese evite a constrio larngea e conseqente perdade qualidade na emisso vocal. Esse prossionalutiliza o termo coluna de ar ao se referir ao apoiorespiratrio e foca em seu discurso a importnciade no haver excesso de presso. Citaes relacio-nais a esse tipo respiratrio so encontradas outrostrabalhos 7-10,14,17.

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    Estratgias que se utilizam de certa contraoabdominal foi um aspecto considerado por todosos fonoaudilogos e por apenas um professor decanto. Um professor de canto arma que orienta amodulao sonora, do grave para o agudo, e esti-mula a contrao abdominal de modo lento. Na lite-ratura, faz-se referncia ao diafragma e a muscula-

    tura abdominal como de apoio na emisso vocal 8.Outras pesquisas tambm consideram a muscula-tura abdominal para a obteno do apoio respira-trio 7,9,10,17.

    A utilizao de objetos como artifcios paraexplicar o apoio respiratrio tambm representouuma estratgia empregada por quatro dos entre-vistados ( todos os fonoaudilogos e apenas umprofessor de canto). Para citar um exemplo, estevepresente no discurso de dois fonoaudilogos a utili-zao de bales de festas, como estratgia. Umdeles detalha que com o balo cheio, colocadoentre o abdome do paciente e uma parede, solicitaao mesmo que realize uma inspirao abdominal.Pede que esse observe a compresso do balo defestas. Explica que para a percepo da expansodas intercostais, muda a posio do balo. Com opaciente de perl, posiciona o balo entre a paredee as intercostais de ambos os lados. Um professorde canto explica que como estratgia, comenta quetambm utiliza a colocao de um livro na regioabdominal; com o aluno na posio deitado, comfoco na ampliao da conscincia respiratria.Conclui suas orientaes com a conscientizao doaluno para a importncia do treinamento dos exer-ccios, diariamente, para que a tcnica seja incorpo-rada. Ressalta-se que, na literatura, encontradoregistro de utilizao de objetos como artifcio pararealizar o tipo e no o apoio respiratrio.

    Quatro entrevistados (dois professores de cantoe dois fonoaudilogos) incluram explicaes sobreconceitos siolgicos nas descries de suas estra-tgias. Na literatura, a utilizao desses conceitos naexecuo das estratgias muito comum entre osautores. Mais quatro prossionais, dois professoresde canto e dois fonoaudilogos, referiram exerc-cios expiratrios com sons fricativos como estrat-gias para o apoio respiratrio. Um dos fonoaudi-logos explica que como parte de suas estratgiasaplica exerccios de emisso de /s/, /z/ e /f/ susten-tado, do mesmo modo que outro fonoaudilogo edois professores de canto. Esses dois professoresde canto salientaram que, durante suas explicaesorientam sobre a necessidade de manter expandidada regio baixa do abdome durante os exercciosexpiratrios com sons fricativos, com o objetivo dedesenvolver um maior controle do uxo areo. Umexplica que enquanto se inspira, deve-se observar

    a expanso lateral da parte inferior do abdome e,com isso, evitar a elevao torcica 7,10.

    Dentre os aspectos menos referidos pode-seconsiderar imagens mentais, estratgias com oabdome livre e vocalizes que foram consideradosapenas por dois professores de canto e nenhumfonoaudilogo. Apesar da pouca referncia nessapesquisa, observa-se que estratgias com oabdome livre so referidas na literatura 9. Quantos estratgias de imagens mentais e vocalizes,sabe-se que seu uso difundido na rea do ensinode canto, porm no foi encontrada referncia naliteratura pesquisada.

    Quanto aos benefcios do apoio respiratriohouve unanimidade entre todos os entrevistadosem relao ao alvio das tenses larngeas. Umprofessor de canto comenta que o apoio respi-ratrio promove o alivio das tenses larngeas eque isso alm da melhoria na qualidade esttica

    da voz benecia a sade e a longevidade vocal.Um dos fonoaudilogos entrevistados explica quecom o apoio respiratrio conquista-se um maiordomnio geral da voz. O trato vocal se mantm maisaberto e isso alivia as tenses larngeas. Fluxo dear constante permite frases musicais mais longas.O brilho e a ressonncia so beneciados e umamaior mobilidade de foco vocal. O apoio respiratriocontribui para uma voz mais estvel, com melhorcontrole da hiperfuno larngea10.

    O segundo aspecto mais apontado pelos entre-vistados foi melhoria no controle respiratrio

    (pneumofonoarticulatrio). Todos os professoresde canto comentaram tal benefcio, bem como duasfonoaudilogas. Um professor de canto refere comobenefcio do apoio respiratrio o maior equilbrio depresso do uxo areo e, com isso, melhor estabili-dade na emisso sonora. Na literatura pesquisada,em trabalho com cantores infanto-juvenis, vericou-se que o apoio respiratrio, a articulao pneumo-fonoarticulatria, bem como a anao, so par-metros fundamentais nos processos de avaliaofonoaudiolgica 6. Uma melhor ventilao pulmonartambm comentada por outros autores 7. A arte

    do canto exige o controle da respirao e esse oresultado de um sinergismo conquistado por todo oaparelho vocal 14. Em pesquisa com cantores pros-sionais submetidos preparao vocal, evidencia-se que esses tiveram uxo areo mais adequado prtica do canto, quando comparados aos indiv-duos que no se submeteram a tal preparo 15.

    Quatro entrevistados (dois professores de cantoe dois fonoaudilogos) atriburam ao Apoio Respi-ratrio o benefcio da melhoria na interpretao(expressividade), aspecto esse que vai ao encontroda literatura, uma vez que se arma que os efeitosbencos de um apoio respiratrio adequado podem

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    ser constatados siolgica e musicalmente, pormeio das caractersticas harmnicas da emisso eequilbrio dos ajustes do aparelho vocal 10.

    Pouca concordncia ocorreu em relao aobenca geral e melhoria na emisso cantada. Taisaspectos foram considerados por todos os profes-sores de canto, mas por apenas um fonoaudi-

    logo. Na literatura, arma-se que o uso da muscu-latura em voz cantada depende diretamente dainteno do som, ou seja, daquilo que se pretendeproduzir 17. Outros autores complementam que aparticipao do que denominam sustentao dacoluna sonora (Apoio Respiratrio) auxiliam nosajustes do aparelho fonador que sero realizadossegundo as exigncias de cada msica 1. Para umdos professores de canto entrevistados, o apoiorespiratrio permite que os benefcios envolvamtodo o aparelho vocal, melhorando o desempenhogeral do cantor. Promove ajustes mais corretos na

    posio da cabea, entre outros e, com isso, sepode cantar mais relaxado e pode-se direcionar aateno para outros aspectos no ato de cantar.

    Por outro lado, dois fonoaudilogos armam quea melhoria na qualidade ressonantal um benefcioadvindo do apoio respiratrio, aspecto mencionadoapenas por um professor de canto. Trs entrevis-tados (dois professores de canto e um fonoaudi-logo) comentam como benefcio do apoio respira-trio recursos relacionados maior mobilidade dofoco ressonantal e melhoria na postura corporal.

    A ao benca geral na voz e melhoria na

    emisso cantada foi considerada por todos osprofessores de canto e apenas um fonoaudilogo,em contrapartida todos os fonoaudilogos relatarama melhoria na sustentao de frases musicais,curiosamente esse aspecto no foi mencionado pornenhum professor de canto. Interessante observara pequena ocorrncia de respostas referentes aesses aspectos, uma vez que se trata de questesdiretamente relacionadas ao canto, porm poucoenfatizadas nas respostas fornecidas.

    Aspectos como melhoria na ressonncia,melhoria na postura corporal, recursos relacionados maior mobilidade do foco ressonantal e susten-tao de frases foram referidos cada um deles por

    trs, dos seis entrevistados, fato que indica que noh um consenso entre os dois grupos de prossio-nais quanto aos efeitos do apoio respiratrio nessesparmetros.

    Dois prossionais, um professor de canto e umfonoaudilogo referiram a ampliao da potenciavocal (loudness) ao apoio respiratrio. Na literatura,

    benefcios como o alvio das tenses cervicais,estabilidade na emisso e aumento na projeoda voz, encontram respaldo em dois trabalhos 5,10.Dentre os aspectos menos relatados, que foramconsiderados por apenas um, dentre todos os entre-vistados, temos: o aumento da longevidade vocale melhores condies para vibratos, referido porapenas um professor de canto bem como o alvioda tenso escapular e cervical, referido tambmsomente por um fonoaudilogo.

    CONCLUSO

    De acordo com a perspectiva dos fonoaudi-logos e professores de canto entrevistados nestapesquisa, pode-se denir o apoio respiratriocomo uma propriocepo ou sensao das aesmusculares relacionadas ao diafragma e muscu-latura intercostal, sendo que os tipos de apoio maismencionados foram o intercostal e o diafragm-tico. As estratgias utilizadas para se trabalhar oapoio relacionam-se o estmulo propriocepo,participao da musculatura abdominal e inter-costal, equilbrio do uxo areo, alvio das tenses

    e correo de postura. Para os entrevistados, omaior benefcio do apoio respiratrio est no alviodas tenses larngeas e melhoria na coordenaopneumofonoarticulatria.

    Observou-se que, apesar de haver concordnciaentre professores de canto e fonoaudilogos namaioria dos aspectos abordados, os prossionaisainda diferem entre si em aspectos como a nomen-clatura utilizada, bem como as estratgias apli-cadas para ensino do apoio respiratrio. Sugere-seque estudos futuros possam envolver um nmeromaior de prossionais para que essas discordn-cias sejam investigadas mais profundamente.

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    ABSTRACT

    Purpose:to analyze the denition of breath support, as well as the strategies used to achieve it andtheir benets according to both singing teachers and Speech Language Pathologists (SLP). Methods:six professionals experienced in singing voice answered an interview on issues pertaining to singingbreath support. The answers were submitted to content analysis from where four categories were

    derived: denition of breathing support, type of support, strategies and benets. Results:the aspectsthat were most often reported by the professionals are: the denition of breath support is related to theparticipation of the diaphragm and intercostal muscles; the most adequate type of support is intercostaland diaphragmatic; among the strategies used to improve breathing support, the most commonlymentioned were body perception, awareness of the muscles involved in the process, air ow balance,tension relief and posture alignment. There are discrepancies as for the abdominal contraction, use ofdifferent objects as guidelines, mental imagery, and use of singing exercises vocalizes. According tothe interviewed subjects, the greatest benet of breath support lies in the relief of laryngeal tensionsand improvement of respiratory coordination. There was a low level of agreement about the benetsof support, especially with regards to the improvement of the singing voice. Conclusion:the resultspoint out to a convergence of opinions as for most of the interviewed subjects when considering thedenition, approach strategies and benets of breathing support, however, still with no consensus on

    the subject.

    KEYWORDS: Voice; Breathing Exercises; Diaphragm; Vocal Training; Voice Quality

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    DOI: 10.1590/S1516-18462010005000047RECEBIDO EM: 12/10/2009APROVADO EM: 21/03/2010

    Endereo para correspondencia:Rua Leandro Dupret, 69Vila Mariana So PauloCEP: 04025-014E-mail: [email protected]