apoio financeiro à reestruturação das dívidas acumuladas...

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Sua Excelência Dr. Diogo FREITAS DO AMARAL Ministro dos Negócios Estrangeiros Largo do Rilvas P – 1399-030 - Lisboa Commission européenne, B-1049 Bruxelles – Belgique/Europese Commissie, B-1049 Brussel – België Telefone: 00-32-(0)2-299.11.11. COMISSÃO EUROPEIA Bruxelas, 04.VII.2006 C(2006) 2952 final Assunto: Auxílio estatal NN 31/2006 (ex-CP 164/2001, CP 60/2003 e CP 114/2004) – Portugal Apoio financeiro à reestruturação das dívidas acumuladas da empresa pública de televisão portuguesa RTP. Excelência, I. PROCESSO 1. Através de três denúncias de 1993, 1996 e 1997, apresentadas pela empresa privada de televisão SIC, a Comissão foi informada de que Portugal tinha aplicado uma série de medidas pontuais e concedido indemnizações compensatórias anuais a favor da empresa pública de televisão RTP no período compreendido entre 1992 e 1998. 2. Através de duas outras denúncias apresentadas em 2001 e 2003, a Comissão foi informada pela SIC da concessão, pelo Estado, de novas indemnizações compensatórias anuais a favor da RTP no período compreendido entre 1999 e 2003 e de um plano do Governo no sentido de conceder apoio financeiro à RTP para reestruturar as suas dívidas financeiras acumuladas. Em 26 de Março de 2004, a SIC enviou à Comissão o relatório de uma auditoria de gestão à RTP, elaborado pelo Tribunal de Contas português 1 . 3. Em 31 de Outubro de 2003, Portugal comunicou à Comissão a existência de um Acordo de Reestruturação Financeira, concluído entre as Autoridades portuguesas e a RTP, destinado a reduzir as dívidas acumuladas pela RTP até 2003. Este acordo foi assinado em 22 de Setembro de 2003 e os pagamentos tiveram início em 30 de Setembro de 2003. Em 2 de Julho de 2004, as Autoridades portuguesas enviaram à Comissão um memorando, no qual eram apresentados elementos pormenorizados deste acordo. Em 24 de Fevereiro de 2005, a Comissão solicitou informações adicionais relativamente a este memorando. Portugal respondeu em 23 de Março de 2005. Em 8 de Novembro de 2005, 15 de Dezembro de 2005 e 23 de Maio de 2006, Portugal apresentou informações e esclarecimentos adicionais. 1 Auditoria de Gestão à RTP – Relatório n.º 08/02 – 2.ª Secção do Tribunal de Contas.

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Sua Excelência Dr. Diogo FREITAS DO AMARAL Ministro dos Negócios Estrangeiros Largo do Rilvas P – 1399-030 - Lisboa Commission européenne, B-1049 Bruxelles – Belgique/Europese Commissie, B-1049 Brussel – België Telefone: 00-32-(0)2-299.11.11.

COMISSÃO EUROPEIA

Bruxelas, 04.VII.2006 C(2006) 2952 final

Assunto: Auxílio estatal NN 31/2006 (ex-CP 164/2001, CP 60/2003 e CP

114/2004) – Portugal Apoio financeiro à reestruturação das dívidas acumuladas da empresa pública de televisão portuguesa RTP.

Excelência,

I. PROCESSO

1. Através de três denúncias de 1993, 1996 e 1997, apresentadas pela empresa privada de televisão SIC, a Comissão foi informada de que Portugal tinha aplicado uma série de medidas pontuais e concedido indemnizações compensatórias anuais a favor da empresa pública de televisão RTP no período compreendido entre 1992 e 1998.

2. Através de duas outras denúncias apresentadas em 2001 e 2003, a Comissão foi informada pela SIC da concessão, pelo Estado, de novas indemnizações compensatórias anuais a favor da RTP no período compreendido entre 1999 e 2003 e de um plano do Governo no sentido de conceder apoio financeiro à RTP para reestruturar as suas dívidas financeiras acumuladas. Em 26 de Março de 2004, a SIC enviou à Comissão o relatório de uma auditoria de gestão à RTP, elaborado pelo Tribunal de Contas português1.

3. Em 31 de Outubro de 2003, Portugal comunicou à Comissão a existência de um Acordo de Reestruturação Financeira, concluído entre as Autoridades portuguesas e a RTP, destinado a reduzir as dívidas acumuladas pela RTP até 2003. Este acordo foi assinado em 22 de Setembro de 2003 e os pagamentos tiveram início em 30 de Setembro de 2003. Em 2 de Julho de 2004, as Autoridades portuguesas enviaram à Comissão um memorando, no qual eram apresentados elementos pormenorizados deste acordo. Em 24 de Fevereiro de 2005, a Comissão solicitou informações adicionais relativamente a este memorando. Portugal respondeu em 23 de Março de 2005. Em 8 de Novembro de 2005, 15 de Dezembro de 2005 e 23 de Maio de 2006, Portugal apresentou informações e esclarecimentos adicionais.

1 Auditoria de Gestão à RTP – Relatório n.º 08/02 – 2.ª Secção do Tribunal de Contas.

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4. No que se refere às medidas pontuais a favor da RTP no período compreendido entre 1992 e 1998, a Comissão decidiu, em 13 de Novembro de 2001, dar início ao procedimento formal de investigação previsto no n.º 2 do artigo 88.º do Tratado2. Em 15 de Outubro de 2003, a Comissão decidiu que uma parte destas medidas não correspondia a auxílios estatais e que as medidas que constituíam auxílios estatais eram compatíveis com o n.º 2 do artigo 88.º do Tratado3. A SIC recorreu desta decisão4. O recurso encontra-se ainda pendente no Tribunal de Primeira Instância.

5. No que se refere às indemnizações compensatórias anuais a favor da RTP, os serviços da Comissão enviaram, em 30 de Setembro de 2003, uma carta às Autoridades portuguesas, ao abrigo do artigo 17.º do Regulamento (CE) n.° 659/1999 do Conselho, de 22 de Março de 1999, que estabelece as regras de execução do artigo 88.º do Tratado CE5. Os serviços da Comissão concluíram, a título preliminar, que estes pagamentos constituíam uma medida de auxílio existente, mas que seria necessário introduzir algumas alterações para que pudessem ser considerados compatíveis com o n.º 2 do artigo 86.º do Tratado.

6. Com base num compromisso apresentado pelas Autoridades portuguesas no sentido de introduzir determinadas alterações ao sistema de financiamento anual da RTP antes de 31 de Dezembro de 2006, a Comissão decidiu, em 22 de Março de 2006, ao abrigo dos artigos 18.º e 19.º do regulamento do Conselho acima referido, que o sistema era compatível com o Tratado6.

II. DESCRIÇÃO DA MEDIDA DE AUXÍLIO

A. CONTEXTO DA PRESENTE DECISÃO

7. A presente decisão diz exclusivamente respeito ao apoio financeiro concedido pelo Governo português à RTP, destinado a reduzir as dívidas acumuladas pela empresa até 2003. A evolução da situação financeira da RTP após 2003 não é, por conseguinte, abrangida pela presente decisão.

8. Segundo as Autoridades portuguesas, estas dívidas acumuladas devem-se exclusivamente ao constante subfinanciamento das obrigações de serviço público da RTP e não podem ser atribuídas às actividades comerciais, que não fazem parte dessas obrigações de serviço público. Assim, no presente caso, a Comissão deve determinar em que medida as dívidas acumuladas pela RTP até 2003 podem, com efeito, ser atribuídas ao subfinanciamento das obrigações de serviço público da empresa e em que medida o plano de reestruturação financeira do Estado é proporcional a essas dívidas acumuladas.

9. Na sua decisão de 15 de Outubro de 2003, relativa a medidas pontuais a favor da RTP entre 1992 e 1998, a Comissão concluiu que algumas dessas medidas

2 JO C 85 de 9. 4. 2002, pp. 9-25. 3 JO L 142 de 6.6.2005, pp. 1-25. 4 Processo T-442/2003. 5 JO L 83 de 27.3.1999, pp. 1-9. 6 Decisão notificada às Autoridades portuguesas por carta C(2006) 816 final de 22.3.2006 (aguarda

publicação no JO).

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constituíam auxílios estatais compatíveis com o mercado comum e que outras não constituíam auxílios estatais. Na presente decisão, a Comissão deve, consequentemente, ter em conta todas as medidas consideradas auxílios estatais na sua decisão de 15 de Outubro de 2003. No entanto, não é necessário ter em conta as medidas que não foram consideradas auxílios estatais.

10. Na sua decisão de 15 de Outubro de 2003, a Comissão considerou que as obrigações impostas à RTP, no sentido de fornecer um serviço público de televisão, constituía uma obrigação legítima de serviço público nos termos do n.º 2 do artigo 86.º do Tratado e que não existiam erros manifestos na definição do serviço público7. A Comissão considerou igualmente que as obrigações de serviço público tinham sido confiadas formalmente pelo Estado à RTP e que estava em vigor um mecanismo para assegurar o controlo efectivo do cumprimento, por parte da RTP, da sua missão de serviço público8. Esta decisão abrangeu o período compreendido em 1992 e 1998. O enquadramento jurídico das actividades de serviço público da RTP não sofreu alterações entre 1998 e 2003. Foi apenas em 2003 que foi adoptada nova legislação. Na sua decisão de 22 de Março de 2006, a Comissão considerou que, com base na nova legislação, o sistema de financiamento da RTP devia continuar a ser considerado um auxílio existente. Considerou igualmente que a nova definição de serviço público não continha erros manifestos e que a obrigação de serviço público tinha sido formalmente confiada à RTP. Na presente decisão, a Comissão apoiar-se-á nestas conclusões e abster-se-á de apreciar, uma vez mais, a definição de serviço público até 2003 e a sua atribuição à RTP. Por outro lado, a Comissão deve tomar em consideração todas as indemnizações compensatórias anuais pagas à RTP até 2003, a fim de avaliar a situação financeira da empresa até ao final desse ano.

B. A EMPRESA PÚBLICA DE TELEVISÃO RTP

11. A RTP foi criada em 15 de Dezembro de 1955, como uma empresa pública para a prestação de um serviço público de televisão.

12. A RTP detinha uma posição monopolística no mercado da radiodifusão televisiva até ao início da década de noventa. Começou, no entanto, a enfrentar concorrência das empresas privadas de televisão SIC e TVI em 1992, ano em que o Estado concedeu a estes canais duas licenças de radiodifusão. No mesmo ano, a RTP foi convertida numa sociedade anónima, continuando a ser participada em 100% pelo Estado.

13. A RTP desenvolve simultaneamente actividades de serviço público e actividades comerciais de televisão. A sociedade foi autorizada, legalmente, a desenvolver outras actividades, comerciais ou industriais, relacionadas com a actividade de televisão9.

7 Tal como exigido no ponto 36 da Comunicação da Comissão relativa à aplicação das regras em

matéria de auxílios estatais ao serviço público de radiodifusão (JO C 320 de 15.11.2001, pp. 5-11); a seguir designada “Comunicação relativa à radiodifusão”.

8 Tal como exigido nos pontos 40 e 41 da Comunicação relativa à radiodifusão. 9 O anexo da Lei n.º 21/92 relativo aos estatutos da RTP estabelece nos n.ºs 2 e 3 do seu artigo 3.º que a

sociedade pode prosseguir as seguintes actividades comerciais: i) exploração da actividade

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14. Até 2003, as diversas actividades comerciais da RTP eram desenvolvidas através de participações financeiras noutras empresas, juridicamente distintas da RTP e que possuíam uma estrutura e um sistema de contabilidade próprios10.

15. Em 2003, o serviço público de televisão foi reestruturado. Entre outras medidas, a RTP vendeu ou liquidou a maior parte das suas filiais, mantendo apenas uma empresa de produção de programas e uma empresa imobiliária.

C. FINANCIAMENTO DAS OBRIGAÇÕES DE SERVIÇO PÚBLICO DA RTP ATÉ 2003

16. As obrigações de serviço público da RTP têm sido principalmente financiadas através de indemnizações compensatórias anuais pagas pelo Estado. Entre 1957 e 1991, parte destes pagamentos provinha das receitas obtidas pela cobrança de uma taxa anual de televisão11.

17. Entre 1992 e 2003 o sistema de financiamento da RTP baseava-se na Lei n.º 21/9212 e em dois Contratos de Serviço Público concluídos entre a RTP e o Estado português em 1993 e 199613.

18. Para além do sistema de indemnizações compensatórias anuais, os dois Contratos de Serviço Público previam igualmente outros tipos de financiamento para fins específicos:

– O pagamento de serviços específicos previstos em acordos de prestação de serviços assinados ou a assinar pela administração pública e pela RTP14;

– A participação do Estado em todos os investimentos a realizar pela RTP, especialmente os relativos às infra-estruturas necessárias ao funcionamento dos centros de produção e emissão das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, aos arquivos audiovisuais, às emissões internacionais da RTP e outros que, por condicionalismos tecnológicos, a concessionária viesse a ser obrigada a fazer15.

19. Para determinar os custos e as receitas inerentes às obrigações de serviço público, elegíveis para efeitos de indemnização compensatória, a RTP utilizava um

publicitária na televisão; ii) comercialização de produtos, nomeadamente de programas e publicações, relacionados com as suas actividades; iii) prestação de serviços de consultoria técnica e de formação profissional e cooperação com outras entidades, nacionais ou estrangeiras; iv) comercialização e aluguer de equipamentos de televisão, filmes, fitas magnéticas, videocassetes e produtos similares; v) participar em agrupamentos complementares de empresas e agrupamentos europeus de interesse económico, bem como participar no capital social de outras sociedades por qualquer das formas previstas na legislação comercial.

10 Como a RTC, TV Guia, Eurovídeo, Multidifusão e Sport TV. 11 Este sistema, introduzido pelo Decreto-Lei n.º 41 486, de 30 de Dezembro de 1957 e revogado pelo

Decreto-Lei n.º 53/91, obrigava os proprietários de aparelhos de televisão ao pagamento de uma taxa anual para receberem o sinal televisivo.

12 Artigo 5.º da Lei nº 21/92 de 14 de Agosto de 1992. 13 Assinados em 17 de Março de 1993 e 31 de Dezembro de 1996. O Contrato de Serviço Público de

1996 veio substituir o Contrato de Serviço Público de 1993. 14 Cláusula 13.ª do Contrato de Serviço Público de 1993 e cláusula 20.ª do Contrato de Serviço Público

de 1996. 15 Cláusula 14.ª do Contrato de Serviço Público de 1993 e cláusula 21.ª do Contrato de Serviço Público

de 1996.

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sistema de contabilidade analítica. Os Contratos de Serviço Público precisavam os critérios para o cálculo dos custos elegíveis para indemnizações compensatórias, relativos a cada obrigação de serviço público16.

20. No quadro do seu sistema de contabilidade analítica, a RTP imputava os custos e as receitas (por exemplo, custos de pessoal e de publicidade) a um determinado número de actividades (por exemplo, gestão da programação, custos directos e indirectos de programação, custos de difusão, custos de emissão, etc.).

21. Os custos e receitas das diferentes actividades dividiam-se entre os diferentes centros de custos (por exemplo, RTP1, RTP2, Regiões Autónomas, etc.)17.

22. O sistema de imputação de custos em vigor entre 1992 e 2003 possuía as seguintes características:

– Apenas os custos de exploração líquidos podiam ser compensados. Os encargos financeiros, as despesas extraordinárias e as provisões não directamente relacionados com uma actividade estavam excluídos da compensação18;

– A fim de calcular os custos líquidos de exploração reembolsáveis, a RTP devia deduzir as receitas de exploração de cada actividade de serviço público dos respectivos custos de exploração;

– No âmbito do Contrato de Serviço Público de 1993 não era possível obter qualquer compensação pela obrigação geral de serviço público de explorar a RTP1 e a RTP2 e de cobrir as Regiões Autónomas através de um dos canais19;

– No âmbito do Contrato de Serviço Público de 1996, os custos de exploração previstos da RTP1 e da RTP2 podiam ser objecto de compensação, mas não era possível obter qualquer compensação suplementar no caso de os custos efectivos se revelarem superiores aos previstos20.

D. CONTROLO

23. Os Contratos de Serviço Público em vigor até 2003 previam a criação de um Conselho de Opinião, composto por representantes dos vários sectores da opinião

16 A cláusula 12.ª do Contrato de Serviço Público de 1993 estabelecia os custos a compensar e o seu

método de cálculo. Estes custos incluíam, por exemplo, o défice de exploração nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, o défice de exploração do arquivo audiovisual, o custo operacional da RTP Internacional, etc. A cláusula 15.ª do Contrato de Serviço Público de 1996 alterou a lista dos custos a compensar, incluindo nomeadamente o custo líquido de exploração da RTP1 e da RTP2.

17 Os custos indirectos eram atribuídos aos centros de custos com base em critérios analíticos (por exemplo, o número de horas de emissão).

18 {0>Clause 14(2) of the 1996 Public Service Contract.<}90{>N.º 2 da cláusula 14.ª do Contrato de Serviço Público de 1996.<0}

19 Excepto os custos associados ao diferencial de cobertura. 20 N.ºs 1 e 3 da cláusula 19.ª do Contrato de Serviço Público de 1996. Este contrato estipulava

igualmente que os custos de exploração da RTP2 podiam ser compensados retroactivamente a partir de 1 de Janeiro de 1996.

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pública, que podia intervir para verificar se a RTP cumpria as suas obrigações gerais e específicas de serviço público de televisão21.

24. A RTP devia apresentar anualmente ao Ministro das Finanças um plano de actividades e um orçamento relativos ao serviço público para o ano seguinte, acompanhados de pareceres emitidos pelo Conselho Fiscal e pelo Conselho de Opinião da empresa. Além disso, devia apresentar um relatório sobre as obrigações de serviço público do ano anterior, acompanhado de um parecer do Conselho Fiscal22.

25. O Ministro das Finanças e o membro do Governo responsável pela comunicação social deviam verificar o cumprimento dos contratos de serviço público. A Inspecção-Geral de Finanças devia controlar o plano financeiro. Por outro lado, devia ser efectuada anualmente uma auditoria externa por uma empresa especializada23.

26. O Contrato de Serviço Público de 1996 previa igualmente sanções a aplicar pelo Estado no caso de incumprimento do contrato, que podiam consistir em multas, apreensões, restituições ou na rescisão do contrato.

27. No período relevante, as actividades comerciais da RTP foram desenvolvidas através da participação financeira em empresas juridicamente distintas da RTP e que possuíam um sistema de contabilidade próprio24. As contas financeiras da RTP apresentavam todos os custos e receitas das actividades de serviço público, bem como os resultados da participação em empresas comerciais.

E. SUBFINANCIAMENTO DAS ACTIVIDADES DE SERVIÇO PÚBLICO DA RTP

28. Entre 1992 e 2003, as indemnizações compensatórias anuais pagas pelo Estado constituíam a principal fonte de financiamento das actividades de serviço público da RTP.

29. O Quadro 1 apresenta as indemnizações compensatórias anuais concedidas à RTP durante este período.

21 Cláusula 9.ª do Contrato de Serviço Público de 1993 e cláusula 23.ª do Contrato de Serviço Público

de 1996. 22 Cláusulas 15.ª, 16.ª, 18.ª e 19.ª do Contrato de Serviço Público de 1993 e cláusulas 18.ª e 25.ª do

Contrato de Serviço Público de 1996. 23 Cláusula 19.ª do Contrato de Serviço Público de 1993, cláusula 25.ª do Contrato de Serviço Público

de 1996 e n.º 2 do artigo 47.º da Lei 31-A/98. 24 Tal como referido no ponto 46 da Decisão da Comissão de 15 de Outubro de 2003.

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Quadro 1 – Montante das indemnizações compensatórias anuais – 1991-2003 (em milhões de euros)

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Total 0 26,925 35,4 35,6 35,9 72,3 51,6 69,8 103,7 88,9 84,4 91,4 117,5 813,7

Fonte: Resoluções do Conselho de Ministros.

30. Uma vez que, no período até 2003, as indemnizações compensatórias anuais estavam reservadas aos custos de exploração das actividades de serviço público, a RTP recebeu igualmente injecções de capital pontuais26 para financiar os investimentos necessários à manutenção e melhoria da qualidade dos serviços públicos fornecidos.

Quadro 2 – Injecções de capital – 1991-2003 (em milhões de euros)

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Total 0 0 0 49,9 63,8 49,9 69,8 0 0 0 47,9 0 40,0 321,3

Fonte: Dados fornecidos pelas Autoridades portuguesas.

31. Para além das injecções de capital a favor da RTP, concedidas no período 1992-1998, a Comissão considerou, na sua decisão de 15 de Outubro de 2003, que duas outras medidas ad hoc constituíam auxílios estatais.

32. Em 6 de Maio de 1993, o Governo anulou 6,0 milhões de euros de multas e juros relacionados com as dívidas acumuladas da RTP para com a Segurança Social27.

33. Em Dezembro de 1998 foi celebrado um contrato de empréstimo subordinado num montante de 99,8 milhões de euros entre o Fundo de Regularização da Dívida Pública e a RTP. O empréstimo ficou sujeito ao pagamento de juros anuais à taxa Lisbor28 a 12 meses, majorada de 20 pontos de base. Até 2003, a RTP não pagou juros sobre o empréstimo, uma vez que o contrato determinava que os juros devidos e relativos às quatro primeiras prestações anuais deviam ser capitalizados. Em 25 de Fevereiro de 2004, este empréstimo foi convertido em capital social. Esta conversão elevou-se a 117,63 milhões de euros, correspondentes ao empréstimo inicial acrescido dos juros capitalizados.

34. Apesar destes fluxos financeiros, a RTP registava em 2003 uma situação financeira grave, resultante da acumulação de resultados negativos sucessivos, o que levou a dívidas acumuladas de mais de mil milhões de euros.

25 Na decisão da Comissão de 15 de Outubro de 2003, o montante da indemnização compensatória

apresentado para 1992 é de 30,9 milhões de euros e não de 26,9 milhões de euros. As Autoridades portuguesas esclareceram que o montante de 26,9 milhões de euros é o montante correcto. Trata-se do montante apresentado nas demonstrações financeiras e corresponde ao montante referido no Orçamento Geral do Estado, deduzido do montante despendido em actividades de cooperação com os organismos públicos de radiodifusão de língua portuguesa. Os custos destas actividades de cooperação foram igualmente deduzidos das contas da RTP.

26 As injecções de capital que a RTP recebeu durante o período 1992-1998 foram consideradas auxílios estatais pontuais na decisão da Comissão de 15 de Outubro de 2003.

27 Através de um decreto conjunto do Ministério das Finanças e do Ministério da Segurança Social. 28 Posteriormente substituída pela taxa Euribor.

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35. Segundo as Autoridades portuguesas, esta situação resultou principalmente do subfinanciamento crónico das actividades de serviço público da RTP. Na sua decisão de 15 de Outubro de 2003, a Comissão reconheceu que “o sistema de indemnizações compensatórias anuais escolhido pelas autoridades portuguesas implicou que os custos efectivos das funções de serviço público asseguradas pela RTP fossem subestimados, tendo o sistema conduzido à acumulação de dívidas.”29.

36. As Autoridades portuguesas apresentarem três razões principais para a acumulação de dívidas:

(1) As indemnizações compensatórias anuais estavam sujeitas ao pagamento de IVA, mas tal não foi tomado em consideração nos montantes que a RTP recebeu pela prestação das suas actividades de serviço público. Consequentemente, o valor líquido das indemnizações compensatórias anuais foi inferior ao montante que o Estado devia à RTP, ao abrigo dos Contratos de Serviço Público30.

(2) O Estado não pagou os montantes totais devidos por força dos Contratos de Serviço Público. Esta situação deveu-se principalmente ao facto de as indemnizações compensatórias previstas no Orçamento do Estado não reflectirem plenamente os montantes devidos por força das condições dos Contratos de Serviço Público. A interpretação destas condições suscitou dificuldades, o que levou a avaliações distintas dos custos do serviço público por parte da RTP, da Inspecção-Geral das Finanças e da empresa de auditoria externa BDO.

(3) Os Contratos de Serviço Público em vigor não permitiam que a RTP exigisse uma compensação correspondente à totalidade dos custos da prestação do serviço público. Em especial até 1997, não era possível receber qualquer indemnização compensatória pela obrigação geral de serviço público de explorar a RTP1 e a RTP2 e cobrir as Regiões Autónomas através de um dos canais31. Os custos de exploração previstos para a RTP1 e a RTP2 passaram a ser elegíveis para indemnizações compensatórias a partir de 1997 e 1996, respectivamente. Contudo, não era possível qualquer indemnização compensatória suplementar no caso de os custos efectivos se revelarem superiores aos previstos.

37. Em Julho de 2004, as Autoridades portuguesas enviaram à Comissão um memorando em que explicavam o impacto destes factores sobre a acumulação das dívidas da RTP até 2003.

38. Em Novembro de 2005, as Autoridades portuguesas enviaram um relatório de uma empresa de auditoria externa sobre os dados incluídos no memorando de Julho de 2004. Os trabalhos de auditoria consistiram em verificar se as informações financeiras fornecidas pelas Autoridades portuguesas estavam em

29 Ver ponto 198. 30 Na sua decisão de 22 de Março de 2006 (ponto 73), a Comissão reconheceu esta situação e

considerou que a correcção de 2003 era uma alteração de natureza técnica, que não afectava a qualificação das indemnizações compensatórias anuais como auxílio existente.

31 Até 1996, no caso da RTP2.

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conformidade com as demonstrações financeiras da RTP para o período 1991-2003, com os montantes incluídos nos relatórios de auditoria do serviço público e com outras fontes de informação consideradas relevantes para garantir a conformidade dos montantes apresentados.

39. No que se refere à questão do IVA, o quadro que se segue apresenta um resumo das perdas para a RTP:

Quadro 3 – Subcompensação devida ao IVA – 1992-2003 (em milhões de euros)

Pagas Ano

Indemnizações compensatórias

atribuídas No mesmo ano No ano seguinte Total

Taxa de IVA (%)

Montante de IVA devido pela RTP

Perdas acumuladas para a RTP

1992 26.9 26.9 0 26.9 16% 4.3 4.3

1993 35.4 35.4 0 35.4 16% 5.7 10.0

1994 35.6 29.7 0 29.7 16% 4.8 14.7

1995 35.9 25.6 5.9 31.6 17% 5.4 20.1

1996 72.3 22.0 10.3 32.3 17% 5.5 25.6

1997 51.6 51.6 50.3 101.9 17% 17.3 42.9

1998 69.8 0 0 0 17% 0 42.9

1999 103.7 0 69.8 69.8 17% 11.9 54.8

2000 88.9 88.9 103.7 192.7 17% 32.8 87.5

2000 Pagamento pelo Estado destinado a compensar o IVA tributado -74.8 12.7

2001 84.4 0 0 0 17% 0 12.7

2002 91.4 91.4 84.4 175.8 17% 25.5 38.3

2003 117.5 117.5 0 117.5 19% 18.8 57.0

Fonte: Dados fornecidos pelas Autoridades portuguesas.

40. O quadro supra apresenta o montante de IVA cobrado pelo Estado sobre as indemnizações compensatórias pagas à RTP. Até 2000, este montante era calculado “a partir do exterior” e após 2000 “a partir do interior”32. Em 2000, o Estado efectuou um pagamento único à RTP para compensar a empresa pelo montante de IVA pago. O montante total relacionado com o IVA que o Estado devia à RTP no final de 2003 elevava-se, consequentemente, a 57 milhões de euros.

41. O relatório de auditoria33 confirmou que as indemnizações compensatórias anuais apresentadas no Quadro 3 correspondem aos montantes indicados nas Resoluções do Conselho de Ministros. As taxas de IVA foram igualmente validadas e os cálculos considerados correctos.

42. A segunda causa de subfinanciamento crónico reside no facto de o Estado não ter pago os montantes totais devidos ao abrigo dos Contratos de Serviço Público. A terceira causa reside no facto de estes contratos não permitirem que a RTP

32 Até 2000: imposto = indemnização compensatória X taxa de IVA; a partir de 2000: imposto =

indemnização compensatória - [indemnização compensatória/ (1+ taxa de IVA)]. 33 Mencionado no ponto 38.

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recuperasse a integralidade dos custos da prestação do serviço público. O quadro que se segue apresenta um resumo do subfinanciamento global devido ao efeito combinado destes factores.

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Quadro 4 – Subfinanciamento global das actividades de serviço público – 1991-2003 (em milhões de euros)34

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Total

Vendas 118,1 142,8 126,5 90,5 78,6 72,3 65,7 76,7 83,8 74,6 50,4 48,8 53,4 1 082,1

Outras receitas 0,5 0,6 7,8 5,8 3,8 3,0 2,1 3,1 12,3 7,9 7,1 8,7 8,9 71,7 Outras receitas de exploração 2,3 2,6 1,8 1,5 1,4 1,6 1,5 2,9 1,6 3,5 2,2 2,0 1,6 26,4

Subsídios 29,7 10,2 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 40,0

Total das receitas de exploração 150,5 156,1 136,0 98,0 83,8 77,0 69,2 82,7 97,7 86,0 59,7 59,4 63,9 1 220,1

Custo das mercadorias vendidas 1,5 1,3 1,1 1,1 1,0 1,0 0,9 0,9 0,8 0,8 0,8 111,5 98,7 221,5

Fornecimentos e serviços de terceiros 101,2 139,8 136,9 138,0 129,4 130,9 145,4 160,1 157,6 197,2 246,3 64,2 50,6 1 797,6

Custos com pessoal 55,3 58,8 61,0 57,8 56,9 59,5 66,2 82,0 86,8 86,3 115,0 78,9 66,5 931,2 Impostos indirectos 0,6 0,3 0,7 0,7 0,9 1,7 2,2 7,3 1,6 1,8 2,4 3,0 4,6 27,7 Outros custos 2,0 2,4 2,5 2,4 2,2 2,0 1,9 2,1 2,4 2,7 1,0 0,9 1,0 25,3 Variação das existências -16,5 -20,1 0,8 1,4 11,3 -0,6 -5,0 -8,2 1,4 -12,0 -45,4 0,0 0,0 -92,9 Trabalhos em curso 0,0 -0,2 0,0 0,0 0,0 0,0 -0,5 -7,6 -0,1 0,0 -0,2 -1,0 0,0 -9,8 Total dos custos de exploração

t144,0 182,2 202,9 201,5 201,8 194,4 211,2 236,6 250,5 276,8 319,8 257,5 221,4 2 900,6

Resultados de exploração 6,6 -26,1 -67,0 -103,5 -117,9 -117,4 -142,0 -153,9 -152,8 -190,7 -260,1 -198,1 -157,5 -1 680,5 Impostos sobre os lucros 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 -0,1 -0,2 -0,2 -0,2 -0,8

Resultados do serviço público 6,6 -26,1 -67,0 -103,5 -117,9 -117,4 -142,0 -153,9 -152,9 -190,9 -260,3 -198,3 -157,7 -1 681,3

Indemnizações compensatórias do serviço público

0,0 26,9 35,4 35,6 35,9 72,3 51,6 69,8 103,7 88,9 84,4 91,4 117,5 813,7

Subfinanciamento da exploração 6,6 0,8 -31,6 -67,8 -82,0 -45,1 -90,4 -84,0 -49,1 -101,9 -175,9 -106,9 -40,3 -867,6

34 Este quadro não inclui o efeito da tributação pelo IVA referido no Quadro 3.

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Investimentos 0,0 13,1 0,5 9,9 0,8 0,1 20,1 30,6 12,7 5,7 15,7 8,9 0,0 118,1 Amortizações 9,2 9,9 9,6 9,5 9,4 9,2 6,7 9,7 12,0 10,9 11,2 13,4 12,9 133,5 Injecções de capital 0,0 0,0 0,0 49,9 63,8 49,9 69,8 0,0 0,0 0,0 47,9 0,0 40,0 321,3

Sobrefinanciamento dos investimentos -9,2 -9,9 -9,6 40,4 54,4 40,7 63,1 -9,7 -12,0 -10,9 36,6 -13,4 27,1 187,8

Despesas financeiras líquidas / dívidas financeiras acumuladas

10,4% 12,0% 12,5% 9,5% 9,0% 9,3% 8,2% 5,4% 5,2% 5,1% 5,2% 3,9% 3,9%

Receitas de juros 2,7 2,4 1,2 1,3 2,0 0,8 0,8 1,6 1,2 1,6 0,7 4,0 5,8 26,1 Despesas de juros 8,6 11,3 17,6 18,0 22,3 24,2 25,9 24,1 27,3 35,1 44,0 42,5 46,5 347,4

Despesas financeiras líquidas -5,9 -8,9 -16,5 -16,7 -20,3 -23,4 -25,0 -22,5 -26,2 -33,5 -43,3 -38,5 -40,7 -321,4

Subfinanciamento anual -8,5 -18,0 -57,6 -44,1 -47,8 -27,8 -52,3 -116,2 -87,3 -146,4 -182,6 -158,8 -53,9 -1 001,2

Subfinanciamento acumulado -8,5 -26,5 -84,1 -128,3 -176,1 -203,9 -256,1 -372,3 -459,6 -606,0 -788,5 -947,3 -1 001,2

Dívidas iniciais 47,8 Receitas provenientes das filiais 1,1 1,8 1,5 1,7 1,0 0,3 0,3 0,6 0,8 0,0 0,8 -7,4 13,2 15,9

Despesas com as filiais 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,2 3,9 7,4 5,5 15,6 37,2 0,6 70,5

Resultados das actividades comerciais 1,1 1,8 1,5 1,7 1,0 0,2 0,2 -3,3 -6,6 -5,5 -14,7 -44,6 12,7 -54,6

Receitas extraordinárias 16,1 3,2 25,1 5,7 2,8 2,9 3,7 5,1 2,7 16,3 10,1 60,6 112,0 266,3

Despesas extraordinárias 0,8 0,9 3,5 3,2 13,3 3,7 4,6 5,7 4,1 12,8 4,1 67,6 43,1 167,4 Resultados extraordinários 15,3 2,3 21,5 2,5 -10,6 -0,8 -0,9 -0,6 -1,3 3,5 6,1 -7,0 68,9 98,9

Provisões -5,4 -6,6 -4,8 -7,7 -8,6 -14,0 -37,9 -4,8 -28,7 -11,4 -11,2 -17,9 -1,8 -160,9

Resultados não associados a serviços públicos

11,0 -2,5 18,3 -3,5 -18,2 -14,7 -38,6 -8,7 -36,6 -13,4 -19,9 -69,5 79,8 -116,6

Fonte: dados fornecidos pelas Autoridades portuguesas.

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43. O Quadro 4 baseia-se em dados provenientes das contas anuais da RTP. Embora estejam disponíveis relatórios específicos relativos às actividades de serviço público da RTP para alguns dos anos, estes relatórios abrangem apenas uma parte das suas missões gerais de serviço público, ou seja, as definidas nos Contratos de Serviço Público. Por conseguinte, a extensão do subfinanciamento da RTP, incluindo igualmente as missões de serviço público não reembolsáveis ao abrigo dos Contratos de Serviço Público35, é apreciada com base nos dados globais provenientes das suas contas.

44. Uma vez que, no período relevante, as actividades comerciais eram desenvolvidas através da participação financeira em empresas que possuíam um sistema de contabilidade próprio, as contas financeiras da RTP apresentavam separadamente todos os custos e receitas das actividades de serviço público e os resultados da participação em empresas comerciais.

45. A primeira parte do quadro revela o subfinanciamento de exploração das actividades de serviço público da RTP. Tomando em consideração as indemnizações compensatórias anuais recebidas, o subfinanciamento de exploração eleva-se a 867,6 milhões de euros.

46. A segunda parte do quadro revela o sobrefinanciamento dos investimentos, que se eleva a 187,8 milhões de euros. Neste cálculo, as Autoridades portuguesas utilizam o valor das amortizações do activo e não o valor dos investimentos subjacentes. Pretendem assim reflectir o custo anual dos investimentos e tomar em consideração as instalações e equipamento existentes no início do período.

47. A terceira parte do quadro revela os custos incorridos com o financiamento dos défices. As dívidas acumuladas, incluindo as dívidas já existentes no final de 1990, implicaram determinados custos financeiros. O rácio entre os custos financeiros líquidos e as dívidas líquidas acumuladas revela as taxas de juro implícitas pagas para financiar os défices acumulados. Segundo as Autoridades portuguesas, as taxas implícitas assim obtidas situam-se em valores muito próximos dos das taxas de referência do mercado, o que revela que os custos financeiros incorridos se referem inteiramente à realização das actividades de serviço público e constituem um corolário da ausência de um financiamento adequado destas actividades.

48. A quarta parte do quadro limita-se a adicionar o subfinanciamento de exploração aos custos financeiros líquidos, deduzindo o sobrefinanciamento dos investimentos, a fim de determinar o subfinanciamento acumulado global. Destes cálculos resulta um montante de 1 001,2 milhões de euros no final de 2003.

49. Segundo as Autoridades portuguesas, a dívida inicial (47,8 milhões de euros) está exclusivamente relacionada com as actividades de serviço público da RTP e não com as suas actividades comerciais, uma vez que as filiais comerciais apenas começaram a gerar perdas em 1998 e, portanto, não podiam ter provocado dívidas adicionais para a RTP.

35 Ver ponto 22.

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50. A quinta parte do quadro apresenta os resultados das actividades comerciais desenvolvidas pelas filiais da RTP, bem como resultados extraordinários e provisões. Uma vez que algumas das receitas extraordinárias resultaram da anulação de provisões (embora a maioria estivesse associada à actividade de serviço público), as Autoridades portuguesas decidiram excluir os resultados extraordinários do cálculo do subfinanciamento das actividades de serviço público, incluindo-os nos resultados do serviço não público. Em 2003, o montante significativo de custos e receitas extraordinários deve-se à liquidação ou venda de filiais que desenvolviam actividades não essenciais para a obrigação de serviço público. No que se refere às provisões, as Autoridades portuguesas alegaram que seria muito complexo determinar qual a parte resultante das actividades de serviço público. Desta forma, tal como aconteceu com os resultados extraordinários, decidiram também inclui-las nos resultados do serviço não público. Uma vez que a soma dos resultados extraordinários e das provisões é negativa, a exclusão destes elementos dos resultados do serviço público levará necessariamente a uma subavaliação do défice global do serviço público. O défice global do serviço não público eleva-se a 116,6 milhões de euros.

51. O relatório de auditoria verificou os dados incluídos no Quadro 4 face aos seguintes documentos:

• Demonstrações financeiras relativas aos anos de 1991 a 2003, aprovadas pelos accionistas e certificadas por auditores;

• Relatórios anuais de gestão aprovados pelos accionistas; • Resoluções do Conselho de Ministros que estabelecem as indemnizações

compensatórias anuais para as empresas que desenvolvem actividades de serviço público.

52. Os dados foram validados, não suscitando observações significativas.

53. As Autoridades portuguesas concluem que o subfinanciamento global das actividades de serviço público da RTP durante o período relevante se elevou a 1 058,2 milhões de euros. Este montante corresponde à soma do subfinanciamento das actividades de serviço público (1 001,2 milhões de euros) e do montante de IVA devido à RTP no final de 2003 (57 milhões de euros).

54. Segundo as Autoridades portuguesas, o subfinanciamento da exploração (867,6 milhões de euros) explica-se tanto pelo défice provocado pelo financiamento insuficiente do Estado ao abrigo dos Contratos de Serviço Público como pelo défice originado pela impossibilidade de a RTP exigir uma compensação pelos custos de serviço público excluídos desses contratos36.

55. As Autoridades portuguesas estimam o défice provocado pelo financiamento insuficiente do Estado ao abrigo dos Contratos de Serviço Público em 549,7 milhões de euros. Consequentemente, é atribuído um montante de 317,9 milhões de euros à impossibilidade de a RTP exigir uma compensação pelos custos de serviço público excluídos desses contratos, nomeadamente os custos relativos à obrigação geral de serviço público de explorar a RTP1 e a RTP2 e de cobrir as

36 Ver ponto 36.

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Regiões Autónomas com um dos canais, que não eram reembolsáveis até 199737. A partir de 1997, os custos de exploração previstos da RTP1 e da RTP2 podiam ser objecto de indemnizações compensatórias, mas não era possível qualquer indemnização compensatória suplementar no caso de os custos efectivos se revelarem superiores aos previstos38.

F. ACORDO DE REESTRUTURAÇÃO FINANCEIRA 56. De forma a fornecer apoio financeiro para a redução das dívidas acumuladas da

RTP, o Estado concluiu um Acordo de Reestruturação Financeira (a seguir designado “Acordo”) com a RTP em 22 de Setembro de 2003. Este Acordo é válido por um período de 16 anos, mas será revisto decorridos 10 anos (em 2013).

57. A RTP financia actualmente a maior parte das suas dívidas através de um empréstimo de 800 milhões de euros que se vencerá em 2013. O Acordo será revisto em 2013, a fim de tomar em consideração as condições de refinanciamento deste montante.

58. Nos termos do Acordo, o Estado compromete-se a participar na redução das dívidas acumuladas através de injecções de capital, segundo o calendário seguinte:

Quadro 5 – Injecções de capital ao abrigo do Acordo de Reestruturação Financeira de 2003-2013 (montantes em milhões de euros)

Data Montante Data Montante Data Montante

30 de Setembro de 2003 20,00 15 de Dezembro de

2006 28,65 15 de Dezembro de 2010 32,15

15 de Dezembro de 2003 20,00 15 de Junho de 2007 29,50 15 de Junho de 2011 33,10

15 de Março de 2004 45,00 15 de Dezembro de

2007 29,50 15 de Dezembro de 2011 33,10

15 de Junho de 2004 27,10 15 de Junho de 2008 30,35 15 de Junho de 2012 34,10

15 de Dezembro de 2004 27,10 15 de Dezembro de

2008 30,35 15 de Dezembro de 2012 34,10

15 de Junho de 2005 27,85 15 de Junho de 2009 31,20 15 de Junho de 2013 180,2039

15 de Dezembro de 2005 27,85 15 de Dezembro de

2009 31,20 Total 813,20

15 de Junho de 2006 28,65 15 Junho de 2010 32,15

37 Até 1996, no caso da RTP2. Ver ponto 22. 38 A partir de 1996, no caso da RTP2. 39 Este montante pressupõe um montante de 110 milhões de euros correspondentes à venda do arquivo

histórico.

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59. Para além destes fluxos financeiros, o Estado concederá à RTP uma injecção de capital de 56 milhões de euros, correspondente à problemática do IVA acima descrita40.

60. Além disso, tal como acima mencionado41, o empréstimo do Fundo de Regularização da Dívida Pública foi convertido em capital em 25 de Fevereiro de 2004. O valor desta conversão elevou-se a 117,63 milhões de euros.

61. O montante global das injecções de capital eleva-se, consequentemente, a 986,83 milhões de euros. Deste montante, 40 milhões de euros, correspondentes às duas primeiras parcelas constantes do Quadro 5, tinham já sido tomados em consideração no cálculo do subfinanciamento global das actividades de serviço público da RTP42.

62. Este Acordo impõe as seguintes obrigações para a RTP:

• A RTP obriga-se a atingir o equilíbrio de exploração em 2005, fixando em 240 milhões de euros (valores de 2003) o montante máximo, incluindo amortizações, mas excluindo eventuais custos de reestruturação, do custo total anual da prestação de serviço público de rádio e televisão;

• Dentro do prazo de vigência do acordo, a RTP obriga-se a limitar o valor de novos investimentos ao valor das amortizações contabilizadas, deduzidas das rendas de contratos de locação financeira celebrados;

• Dentro do prazo de vigência do acordo, a RTP obriga-se a transferir, para uma entidade a designar pelo Estado, o seu Arquivo Histórico. A RTP receberá uma indemnização compensatória correspondente ao valor contabilístico do seu Arquivo Histórico, embora esse valor não possa ser inferior a 110 milhões de euros nem superior a 150 milhões de euros;

• No caso de o valor das receitas comerciais (principalmente provenientes de publicidade) ultrapassar o montante estimado, a diferença deve ser afectada ao serviço da dívida, para além dos montantes de serviço da dívida acordados através das injecções de capital regulares.

63. […]*

64. […]

65. Se, durante dois anos consecutivos, a execução orçamental ao abrigo do acordo divergir significativamente dos pressupostos com base nos quais foi elaborado o plano de reestruturação financeira, as partes devem rever o acordo de forma a adequá-lo a tal plano.

40 Ver quadro 3. 41 Ver ponto 33. 42 Ver o montante das injecções de capital em 2003, indicado no Quadro 4, supra. * Abrangido pela obrigação de sigilo profissional.

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III. APRECIAÇÃO

A. AUXÍLIOS ESTATAIS AO ABRIGO DO N.º 1 DO ARTIGO 87.º DO TRATADO

66. Para que as injecções de capital concedidas à RTP ao abrigo do Acordo de Reestruturação Financeira constituam auxílios estatais na acepção do n.º 1 do artigo 87.º, devem encontrar-se preenchidas as seguintes condições:

– Ser concedidos pelo Estado ou através de recursos estatais, independentemente da forma que assumam;

– Favorecer certas empresas ou a produção de certos bens (vantagem selectiva), falseando ou ameaçando falsear a concorrência;

– Afectar as trocas comerciais entre os Estados-Membros.

Existência de recursos públicos

67. As injecções de capital concedidas à RTP ao abrigo do Acordo de Reestruturação Financeira são concedidas pelo Estado, directamente a partir do seu Orçamento. Por conseguinte, é evidente que estes fundos constituem recursos estatais na acepção do n.º 1 do artigo 87.º do Tratado.

Favorecimento de certas empresas e distorção da concorrência

68. Tendo em conta a débil situação financeira da RTP na altura em que o Acordo de Reestruturação Financeira foi concluído, que se reflecte num valor de dívidas acumuladas superior a mil milhões de euros, a Comissão considera que nenhum investidor privado estaria disposto a injectar capital na empresa, uma vez que não seria previsível a obtenção de uma rendibilidade normal dentro de um período de tempo razoável.

69. O mercado português da televisão está aberto à concorrência desde 1992. Em Fevereiro de 1992, as empresas privadas de televisão SIC e TVI receberam licenças de exploração. A SIC iniciou as suas emissões em 1992 e a TVI em 1993. A partir de 1998, outros canais iniciaram emissões através da distribuição por cabo. Desta forma, a RTP encontra-se em concorrência com outros organismos de radiodifusão de acesso livre, no que se refere às quotas de audiência e às receitas comerciais, por exemplo, provenientes da venda de tempo de publicidade.

70. Por conseguinte, as injecções de capital concedidas à RTP ao abrigo do Acordo de Reestruturação Financeira proporcionam à empresa uma vantagem económico-financeira em comparação com os seus concorrentes que não beneficiariam de tais injecções de capital em condições normais de mercado.

Efeito no comércio entre Estados-Membros

71. A RTP pode participar no mercado internacional de radiodifusão. Além disso, a RTP encontra-se em concorrência directa com empresas privadas de radiodifusão, que desenvolvem actividades no mercado internacional de

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radiodifusão43. Por conseguinte, as injecções de capital concedidas à RTP são susceptíveis de afectar as trocas comerciais entre os Estados-Membros, na acepção do n.º 1 do artigo 87.º do Tratado CE.

72. Embora pareçam estar preenchidas todas as condições previstas no n.º 1 do artigo 87.º do Tratado CE, a Comissão deve tomar em consideração as obrigações de serviço público impostas à RTP.

Condições Altmark

73. Tal como acima referido, a RTP está incumbida de uma obrigação de serviço público de televisão. O Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias determinou, no acórdão Altmark, que as medidas estatais que compensam os custos de serviço público não são consideradas auxílios estatais, na acepção do n.º 1 do artigo 87.º, sempre que estiverem reunidas as quatro condições seguintes44:

– A empresa beneficiária deve ser efectivamente responsável pelo cumprimento de obrigações de serviço público e essas obrigações devem estar claramente definidas;

– Os parâmetros que servem de base para o cálculo da indemnização compensatória devem ser previamente estabelecidos de forma objectiva e transparente;

– A indemnização compensatória não pode ultrapassar o necessário para cobrir a totalidade ou parte dos custos incorridos no cumprimento das obrigações de serviço público, tendo em conta as receitas relevantes e um lucro razoável, no quadro do cumprimento dessas obrigações;

– Quando a escolha da empresa não é efectuada através de um processo de concurso público, o nível da compensação necessária deve ser determinado com base numa análise dos custos que uma empresa média, bem gerida e adequadamente equipada teria suportado para cumprir essas obrigações.

74. A Comissão considera que a segunda condição não se encontra preenchida, uma vez que as injecções de capital não integram um sistema compensatório com parâmetros estabelecidos previamente de forma objectiva e transparente. Resultam, pelo contrário, de uma decisão ad hoc do Governo no sentido de compensar a RTP retroactivamente devido à inadequação do seu sistema compensatório anterior. O acórdão Altmark define expressamente as medidas financeiras retroactivas como auxílios estatais: “Assim, a compensação por um Estado-Membro dos prejuízos sofridos por uma empresa sem que os parâmetros dessa compensação tenham sido previamente estabelecidos, quando se revela a posteriori que a exploração de determinados serviços no cumprimento de

43 De acordo com a jurisprudência do Tribunal de Justiça, quando um auxílio reforça a posição de uma

empresa relativamente às demais empresas concorrentes nas trocas comerciais intracomunitárias, deve entender-se que tais trocas são influenciadas pelo auxílio. Processos 730/79, Philip Morris Holland/Comissão, Col. 1980, p. 2671, ponto 11; C-303/88, Itália/Comissão Col. 1991, p. I-1433, ponto 17; C-156/98, Alemanha/Comissão, acórdão de 19.9.2000, ponto 33.

44 Acórdão de 24 de Julho de 2003, processo C-280/00, Altmark Trans, JO C 226 de 20.9.2003.

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obrigações de serviço público não foi economicamente viável, constitui uma intervenção financeira abrangida pelo conceito de auxílio estatal, na acepção do artigo 92.º, n.º 1, do Tratado.”

75. A Comissão considera igualmente que as injecções de capital não preenchem a quarta condição, uma vez que o respectivo montante não é, manifestamente, determinado em função dos custos de uma empresa bem gerida.

76. Por conseguinte, a Comissão conclui que as injecções de capital devem ser consideradas auxílios estatais nos termos do n.º 1 do artigo 87.º do Tratado.

B. NATUREZA DO AUXÍLIO 77. Tal como acima referido45, a Comissão considerou, em 22 de Março de 2006, que

o actual sistema de financiamento da RTP, que consiste no pagamento, pelo Estado, de indemnizações compensatórias anuais, constitui um auxílio existente.

78. Em contrapartida, as injecções de capital concedidas à RTP ao abrigo do Acordo de Reestruturação Financeira devem ser consideradas auxílios novos devido ao seu carácter ad hoc. Embora os Contratos de Serviço Público previssem uma possibilidade de financiamento específica para investimentos em equipamento destinado ao serviço público, através de injecções de capital, é evidente que as injecções de capital concedidas ao abrigo do Acordo de Reestruturação Financeira não se destinam a financiar investimentos concretos. Tal como acima referido, resultam de uma decisão ad hoc do Estado e não são calculadas em função dos parâmetros existentes do sistema compensatório da RTP. Além disso, essas injecções de capital destinam-se, nomeadamente, a cobrir determinados custos de serviço público, relativamente aos quais a RTP não podia exigir uma compensação nos termos do disposto nos Contratos de Serviço Público em vigor durante o período relevante.

C. OBRIGAÇÃO DE NOTIFICAÇÃO 79. O Acordo de Reestruturação Financeira foi concluído entre as Autoridades

portuguesas e a RTP em 22 de Setembro de 2003 e os pagamentos tiveram início em 30 de Setembro de 2003.

80. As Autoridades portuguesas informaram pela primeira vez a Comissão da existência do plano de reestruturação em 31 de Outubro de 2003. Nessa data, o plano tinha já entrado em vigor e tinha já sido concedida uma injecção de capital à RTP.

81. Deve, por conseguinte, concluir-se que Portugal não cumpriu a obrigação que lhe incumbe, por força do n.º 3 do artigo 88.º do Tratado CE, de informar a Comissão atempadamente, para que esta possa apresentar as suas observações, dos projectos relativos à aplicação ou alteração de quaisquer auxílios. Por conseguinte, a medida foi tratada como um auxílio ilegal.

45 Ver ponto 10.

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D. APRECIAÇÃO DA COMPATIBILIDADE 82. A Comissão considera que a compatibilidade do auxílio deve ser apreciada à luz

do n.º 2 do artigo 86.º do Tratado, tomando em consideração o disposto na Comunicação relativa à radiodifusão e no Protocolo de Amesterdão46.

83. Em conformidade com a Comunicação relativa à radiodifusão, a Comissão deve apreciar se (i) as actividades da RTP correspondem a obrigações de serviço público definidas claramente enquanto tal; (ii) a prestação deste serviço foi formalmente confiada pelo Estado à RTP; (iii) o financiamento é proporcional ao custo líquido da prestação do serviço público.

Definição e atribuição

84. Tal como acima referido47, a Comissão concluiu já em decisões anteriores que as obrigações impostas à RTP no sentido de fornecer um serviço público de televisão constituíam uma obrigação legítima de serviço público de televisão, nos termos do n.º 2 do artigo 86.º do Tratado, e que não existiam erros manifestos na definição de serviço público. A Comissão considerou igualmente que as obrigações de serviço público tinham sido formalmente confiadas à RTP e que se encontrava em vigor um mecanismo para assegurar um controlo efectivo do cumprimento, por parte da RTP, da sua missão de serviço público.

85. Uma vez que as decisões acima mencionadas abrangem o período relevante para efeitos da presente decisão, ou seja, até ao final de 2003, a Comissão não é obrigada, no âmbito da presente decisão, a reapreciar a definição da obrigação de serviço público ou a sua atribuição à RTP.

Proporcionalidade

86. A terceira condição que a Comissão deve avaliar consiste em determinar se o financiamento é proporcional aos custos líquidos do serviço público. A Comunicação relativa à radiodifusão estabelece que os auxílios estatais não devem ultrapassar os custos líquidos das funções de serviço público e que não devem verificar-se distorções no mercado que não sejam necessárias para o preenchimento das funções de serviço público48.

87. Em primeiro lugar, a fim de determinar correctamente o custo das actividades de serviço público, a Comunicação relativa à radiodifusão requer uma distribuição adequada dos custos e receitas entre o serviço público e as actividades comerciais.

88. Na sua decisão de 15 de Outubro de 2003, a Comissão tinha já considerado que a RTP satisfazia esta exigência49. Uma vez que o sistema de distribuição dos custos

46 Protocolo relativo ao serviço público de radiodifusão nos Estados-Membros, anexo ao Tratado de

Amesterdão. 47 Ver ponto 10. 48 Pontos 57 e 58 da Comunicação relativa à radiodifusão. 49 Ver pontos 184-188.

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e receitas não sofreu alterações entre 31 de Dezembro de 199850 e 31 de Dezembro de 200351, a Comissão não é obrigada a reapreciar esta condição.

89. Em segundo lugar, a fim de determinar o custo líquido das actividades de serviço público, a Comunicação relativa à radiodifusão exige que sejam tidos em conta os benefícios comerciais gerados pelas actividades de serviço público52.

90. Na sua decisão de 22 de Março de 2006, a Comissão referiu que, a fim de calcular os custos líquidos de exploração do serviço público, a RTP deve deduzir as receitas obtidas com a exploração comercial dos serviços53, o que está em conformidade com os requisitos da Comunicação relativa à radiodifusão. Esta situação verificou-se durante todo o período abrangido pela presente decisão.

91. Contudo, na mesma decisão, a Comissão considerou que a legislação portuguesa em vigor durante o período relevante para efeitos da presente decisão, ou seja, até ao final de 2003, não previa garantias suficientes para assegurar o respeito dos princípios de mercado54 e recomendou às Autoridades portuguesas que criassem mecanismos para garantir que:

– Todas as actividades de serviço público sujeitas a exploração comercial fossem realizadas em condições de mercado e o benefício líquido dessa exploração comercial fosse tomado em consideração no cálculo dos custos do serviço público e da correspondente compensação;

– Todas as relações financeiras com filiais comerciais seguissem as práticas do mercado;

– O cumprimento destas regras fosse controlado periodicamente por uma autoridade competente independente.

92. Na presente decisão, a Comissão deve por conseguinte determinar se existem indícios de que, no período até 31 de Dezembro de 2003, a RTP tenha adoptado um comportamento anticoncorrencial em mercados comerciais, susceptível de conduzir a um maior financiamento estatal incompatível com o Tratado, incluindo a nível das relações da RTP com as suas filiais comerciais.

93. Na sua decisão de 15 de Outubro de 2003, a Comissão referiu que, na sequência do convite para a apresentação de observações, comunicado aquando do início do processo, não recebeu quaisquer observações de concorrentes da RTP neste contexto. A Comissão concluiu que não se afigurava que a RTP tivesse incorrido em comportamentos anticoncorrenciais em mercados comerciais que a tivessem levado a renunciar a receitas comerciais, provocando, consequentemente, uma maior necessidade de financiamento estatal.

50 Final do período abrangido pela Decisão da Comissão de 15 de Outubro de 2003. 51 Final do período abrangido pela presente decisão. 52 Ponto 57 da Comunicação relativa à radiodifusão. 53 Ver ponto 97. 54 Como o princípio segundo o qual a publicidade deve ser vendida a preços de mercado.

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94. Tal como referido supra55, em Março de 2004, a SIC informou a Comissão da existência de um relatório do Tribunal de Contas português. Este relatório abrangia as contas da RTP durante o período compreendido entre 1997 e 2000.

95. Relativamente a um eventual comportamento anticoncorrencial da RTP, este relatório faz referência ao facto de, no período compreendido entre 1998 e 2000, a RTP ter adquirido direitos de transmissão de eventos desportivos que foram posteriormente transferidos para a SPORT TV, uma antiga filial da RTP, sem quaisquer contrapartidas56. Segundo o relatório, o valor destes direitos foi estimado em 1,7 milhões de euros.

96. As Autoridades portuguesas explicaram que estes direitos de transmissão foram transferidos para a SPORT TV a custo zero porque tinham igualmente sido oferecidos à RTP pela União Europeia de Radiodifusão (UER) a título gratuito. Este tipo de direitos de transmissão encontra-se à disposição de todos os membros da UER de forma gratuita, desde que os membros suportem os custos da transmissão por satélite. Consequentemente, os únicos custos suportados pela RTP nestas transacções, para além da quotização anual da UER, que não seria afectada pela utilização ou não utilização dos direitos de transmissão, foram os custos de transmissão por satélite. Estes custos foram pagos pela SPORT TV à RTP em Maio de 2000.

97. A Comissão não pode excluir a existência de auxílios estatais nestas transacções. Mesmo que estes direitos estivessem à disposição da RTP a título gratuito, uma empresa que tivesse por objectivo maximizar os seus lucros poderia ter obtido uma contrapartida monetária pela sua venda. Uma vez que é difícil determinar retroactivamente o valor que uma empresa que tivesse por objectivo maximizar os seus lucros poderia ter obtido por estes direitos, a Comissão parte do pressuposto de que o valor total estimado de 1,7 milhões de euros constitui uma receita a que a RTP renunciou. Este montante não pode ser considerado como um custo do serviço público relativamente ao qual possa ser exigida uma compensação.

98. A Comissão não tem conhecimento de quaisquer indícios de um potencial comportamento anticoncorrencial por parte da RTP no período até 31 de Dezembro de 2003. Consequentemente, a Comissão conclui que, durante esse período, a RTP não incorreu em comportamentos anticoncorrenciais em mercados comerciais e não recebeu qualquer sobrecompensação em resultado desse comportamento.

99. Um terceiro e último elemento que a Comunicação relativa à radiodifusão obriga a Comissão a verificar consiste no facto de determinar se o apoio público, tal como previsto no Acordo de Reestruturação Financeira, não constituirá uma sobrecompensação, para a RTP, pelo cumprimento das suas obrigações de serviço público até 31 de Dezembro de 2003.

55 Ver ponto 2. 56 Ver ponto 12.4.4. (último parágrafo) do relatório.

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100. Por forma a determinar a eventual existência de tal sobrecompensação, a Comissão analisou, em primeiro lugar, se as dívidas acumuladas da RTP, num montante de 1 058,2 milhões de euros57 em 31 de Dezembro de 2003, se deviam inteiramente ao financiamento insuficiente das missões de serviço público da empresa ou se podem ser total ou parcialmente atribuídas a actividades comerciais não abrangidas pelas obrigações de serviço público.

101. Em segundo lugar, a Comissão verificou se o valor actual, reportado a 31 de Dezembro de 2003, do apoio financeiro concedido pelo Governo português à RTP ao abrigo do Acordo de Reestruturação Financeira é inferior ou, no máximo, equivalente ao subfinanciamento atribuível às actividades de serviço público da RTP58. Neste cálculo, a Comissão deve igualmente tomar em consideração as medidas consideradas auxílios estatais na sua decisão de 15 de Outubro de 2003.

Montante do subfinanciamento

Antecedentes

102. Na sua decisão de 15 de Outubro de 2003, a Comissão observou que “… as regras de compensação de custos podem subestimar o custo líquido efectivo do serviço público da RTP e podem conduzir a um subfinanciamento estrutural das necessidades efectivas de financiamento.”59 Referiu igualmente que “(…) de acordo com o método de cálculo de custos definido nos contratos, certos custos do serviço público foram excluídos de pagamento por meio de compensações anuais. Além disso, as Autoridades portuguesas informaram a Comissão de que embora a RTP tivesse de pagar IVA sobre as indemnizações compensatórias anuais recebidas, não puderam ser tidos em conta os respectivos custos, de acordo com as regras contabilísticas. Por último, nos seus relatórios sobre o serviço público a RTP não incluiu todos os investimentos feitos em equipamento para actividades de serviço público, embora fossem contabilizados nas suas contas financeiras.”60.

103. É óbvio que o Governo português decidiu excluir alguns custos do serviço público das indemnizações compensatórias previstas nos Contratos de Serviço Público. É também óbvio que esta situação levou ao subfinanciamento estrutural da RTP. Contudo, a Comissão deve determinar se os custos de serviço público que não eram reembolsáveis ao abrigo destes contratos podem ser considerados custos de serviço público legítimos, relativamente aos quais podem ser agora concedidas indemnizações compensatórias. A este respeito, a Comissão afirmara já na sua decisão de 15 de Outubro de 2003 que “(…) as obrigações de serviço público impostas à RTP, não elegíveis para compensação ao abrigo dos contratos de serviço público, podem efectivamente ser consideradas legítimas e como obrigações de serviço público claramente definidas e impostas formalmente pelo Estado ao prestador do serviço público. Por conseguinte, de

57 Ver ponto 53. 58 O valor actual dos pagamentos passados e futuros à RTP foi calculado à data de 31 de Dezembro de

2003, a fim de garantir a comparabilidade com as dívidas acumuladas na mesma data. 59 Ver ponto 189. 60 Ver ponto 190.

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acordo com a legislação comunitária, o Estado português pode financiar a totalidade dos custos líquidos do serviço público da RTP.”61.

104. Em conformidade com o ponto 57 da Comunicação relativa à radiodifusão, “a Comissão parte do princípio de que o financiamento estatal é normalmente necessário para que a empresa desempenhe as suas obrigações de serviço público. Contudo, a fim de preencher este critério [da proporcionalidade], é necessário que o auxílio estatal não ultrapasse os custos líquidos das funções de serviço público, tomando igualmente em consideração outras receitas directas ou indirectas resultantes das funções de serviço público. Por esta razão, o benefício líquido que as actividades de serviço não público obtêm das actividades de serviço público será tomado em consideração na apreciação da proporcionalidade do auxílio.”

105. De forma a estabelecer o subfinanciamento global das obrigações de serviço público da RTP em 31 de Dezembro de 2003, a Comissão deve basear-se nas contas anuais auditadas da RTP62. Tal como acima referido, durante o período relevante, a RTP dispunha de uma contabilidade separada entre as suas actividades comerciais, ou seja, não públicas, e as suas actividades de serviço público. Todas as actividades comerciais eram desenvolvidas através da participação financeira em empresas que possuíam sistemas de contabilidade distintos. As contas financeiras da RTP apresentam separadamente todos os custos e receitas das actividades de serviço público, bem como os resultados da participação em empresas comerciais63.

106. No período relevante, a RTP elaborou igualmente relatórios sobre o serviço público, que apresentavam de forma pormenorizada os custos de exploração elegíveis para financiamento ao abrigo dos Contratos de Serviço Público. Alguns destes relatórios foram objecto de auditorias externas. Contudo, a existência ou inexistência de relatórios de auditoria relativos aos relatórios sobre o serviço público não é relevante para efeitos da apreciação da compatibilidade, uma vez que tais relatórios apenas abrangem uma parte das missões gerais de serviço público da RTP, ou seja, as obrigações reembolsáveis ao abrigo dos Contratos de Serviço Público. Uma vez que a Comissão considera que a RTP pode ser compensada por todos os custos de serviço público incorridos no passado, incluindo os não abrangidos pelo âmbito de aplicação dos Contratos de Serviço Público, deve basear-se nas contas anuais auditadas da RTP e não nos relatórios sobre o serviço público.

107. Por conseguinte, a Comissão considera que os dados relevantes para determinar a situação financeira da RTP em 31 de Dezembro de 2003 são os constantes dos Quadros 3 e 4 supra.

61 Ver ponto 194. 62 A Comissão regista e aceita o facto de, relativamente a 1992, as contas anuais auditadas

apresentarem um montante de indemnizações compensatórias de 26,9 milhões de euros, ou seja, um valor inferior em 4 milhões de euros ao montante apresentado na decisão da Comissão de 15 de Outubro de 2003. A razão desta diferença encontra-se explicada na nota 25 e o relatório de auditoria referido no ponto 38 confirmou que o montante correcto era de 26,9 milhões de euros. De notar que as conclusões da Comissão, na sua decisão de 15 de Outubro de 2003, não são afectadas pelo facto de ter sido tomado em consideração um montante superior de indemnizações compensatórias.

63 Ver ponto 27.

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IVA

108. Tal como foi referido supra64, as Autoridades portuguesas consideram que o subfinanciamento acumulado das missões de serviço público da RTP até ao final de 2003 se elevava a 1 058,2 milhões de euros.

109. Uma parte deste montante (57 milhões de euros65) corresponde à verba que o Estado deve à RTP relativa ao não reembolso do IVA aplicado às indemnizações compensatórias anuais pagas à RTP. Na sua decisão de 22 de Março de 2006, a Comissão considerou já que o acréscimo do IVA ao montante calculado das indemnizações compensatórias (introduzido em 2003 e aplicável a partir de 2004) “destina-se a corrigir a situação anterior, em que a RTP tinha de pagar IVA sobre as indemnizações compensatórias anuais, diminuindo assim o seu montante líquido e conduzindo a um correspondente subfinanciamento dos custos do serviço público. Esta correcção é igualmente de natureza técnica.”66 A Comissão concluiu que esta alteração não afectava a qualificação das indemnizações compensatórias anuais como auxílio existente.

110. Consequentemente, a Comissão considera que o valor efectivo das indemnizações compensatórias anuais pagas à RTP no período relevante para efeitos da presente decisão foi reduzido devido ao facto de ter sido aplicado IVA sobre tais indemnizações compensatórias. Assim, deve concluir-se que os pagamentos de IVA efectuados pela RTP e constantes do Quadro 3 supra podem ser considerados custos do serviço público legitimamente reembolsáveis.

Investimentos

111. De forma a estimar o sobrefinanciamento dos investimentos apresentado no Quadro 4, as Autoridades portuguesas compararam as injecções de capital recebidas pela RTP durante o período relevante com o valor anual das amortizações e não directamente com o valor dos investimentos. As Autoridades portuguesas alegam que ao procederem desta forma pretenderam reflectir o custo anual dos investimentos e tomar em consideração as instalações e equipamento existentes no início do período.

112. Os serviços da Comissão discordam desta posição. As injecções de capital destinadas a financiar investimentos específicos foram pagas numa base ad hoc e estão registadas como pagamentos de carácter extraordinário e não como fluxos financeiros anuais. Por conseguinte, não se afigura coerente comparar receitas ad hoc com custos em base anual.

113. Se for utilizado o valor das amortizações, o sobrefinanciamento global dos investimentos eleva-se a 187,8 milhões de euros, passando esta verba para 203,2 milhões de euros se for utilizado o valor dos investimentos efectivos. Por conseguinte, a Comissão considera que ao montante do subfinanciamento global

64 Ver ponto 53. 65 Ver quadro 3. 66 Ver ponto 73.

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de 1 001,2 milhões de euros, apresentado no Quadro 4 (que exclui o efeito do IVA), devem ser deduzidos 15,4 milhões de euros67.

Custos financeiros

114. No que se refere aos custos financeiros mencionados no Quadro 4, deve, em primeiro lugar, salientar-se que, durante o período relevante, a RTP desenvolvia as suas actividades comerciais através de filiais que possuíam sistemas de contabilidade distintos. Assim, podem ser determinados os resultados precisos das actividades comerciais da RTP.

115. Tal como foi referido acima68, as Autoridades portuguesas consideram que os custos financeiros incorridos se referem inteiramente à realização das actividades de serviço público e à ausência de um financiamento adequado, o que é demonstrado pelas taxas de juro implícitas que se situam em valores muito próximos dos das taxas de referência do mercado. Contudo, Portugal não apresentou uma separação das despesas e receitas financeiras entre as actividades comerciais e as actividades de serviço público.

116. Uma vez que os resultados das filiais foram consolidados nas contas globais da RTP, a Comissão considera que estes resultados devem ter contribuído, positiva ou negativamente, para as necessidades de financiamento da RTP.

117. De forma a verificar se uma parte das despesas e receitas financeiras apresentadas pode ser atribuída às actividades comerciais da RTP, é necessário calcular o valor actual líquido, referido a 31 de Dezembro de 2003, dos resultados dessas actividades comerciais. Este cálculo tem como resultado perdas de 48,4 milhões de euros69. As perdas nominais das actividades comerciais no período 1991-2003 elevam-se a 54,6 milhões de euros70.

118. A diferença entre o valor actual líquido dos resultados comerciais reportado a 31 de Dezembro de 2003 (-48,4 milhões de euros) e o respectivo montante nominal (-54,6 milhões de euros), ou seja, 6,2 milhões de euros, corresponde às receitas financeiras líquidas, geradas pelos resultados comerciais das filiais da RTP. O facto de este montante ser positivo explica-se por dois motivos. Em primeiro lugar, nos primeiros anos (até 1997) os resultados comerciais foram positivos, o que provocou um impacto destes resultados positivos sobre as receitas financeiras acumuladas superior ao impacto dos resultados negativos, que apenas

67 Uma vez que as necessidades de financiamento e os respectivos custos de financiamento dependem

do valor efectivo dos investimentos (numa base de fluxos pecuniários) e não do valor das amortizações contabilísticas, os custos financeiros apresentados no Quadro 4 não são afectados pelo facto de ser considerado o valor efectivo dos investimento em vez do valor das amortizações.

68 Ver ponto 47. 69 Os juros são calculados numa base composta para períodos de cinco anos, em conformidade com o

artigo 11.º do Regulamento (CE) n.º 794/2004 da Comissão, de 21 de Abril de 2004, relativo à aplicação do Regulamento (CE) n.º 659/1999 do Conselho que estabelece as regras de execução do artigo 93.º do Tratado CE; JO L 140 de 30 de Abril de 2004 (a seguir designado “Regulamento Processual”). Presume-se que os resultados anuais das actividades comerciais ocorreram em meados de cada ano (1 de Julho) e que as taxas de desconto utilizadas correspondem à média ponderada das taxas de referência da Comunidade relativas a cada ano. As taxas em causa são as seguintes: 16,50% de 1991 a 1993, 15,33% em 1994, 13,00% em 1995, 12,76% em 1996, 9,48% em 1997, 7,56% em 1998, 5,60% em 1999, 5,70% em 2000, 6,22% em 2001, 5,06% em 2002 e 4,43% em 2003.

70 Ver quadro 4.

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se verificaram nos últimos anos (1998-2002), sobre os custos com juros acumulados. Em segundo lugar, nos primeiros anos, quando se verificaram os resultados positivos, as taxas de juros eram mais elevadas, o que veio reforçar o impacto positivo destes resultados nas receitas financeiras acumuladas.

119. Neste contexto, deverá salientar-se que, apesar de as Autoridades portuguesas não terem apresentado os resultados das actividades comerciais anteriores a 1991, confirmaram que estes resultados foram sempre positivos até 1997. Por conseguinte, o facto de terem sido ignorados os resultados anteriores a 1991 implica necessariamente uma subavaliação da contribuição positiva das actividades comerciais para os custos financeiros líquidos (6,2 milhões de euros).

120. Assim, deve concluir-se que as actividades comerciais da RTP até 31 de Dezembro de 2003 tiveram um impacto positivo sobre os custos financeiros líquidos apresentados no Quadro 4 e que a dívida da RTP apresentada não foi, por conseguinte, sobrestimada devido a este factor. Contudo, uma vez que Portugal não apresentou uma separação precisa das despesas e receitas financeiras efectivas (ou seja, pagamentos e recebimentos de juros) entre as actividades comerciais e as actividades de serviço público, a Comissão não tomará em consideração a contribuição financeira positiva das actividades comerciais durante o período objecto da investigação, para efeitos de ajustamento do subfinanciamento global da RTP apresentado no Quadro 4.

Transferência a custo zero de direitos de transmissão para a SPORT TV

121. Tal como acima referido71, o montante de 1,7 milhões de euros relacionados com a transferência, a título gratuito, de direitos de transmissão para uma filial comercial da RTP constitui uma receita a que a RTP renunciou e que não pode ser considerada um custo de serviço público, relativamente ao qual possa ser invocado o direito a receber uma indemnização compensatória. Por conseguinte, deve considerar-se que as receitas da RTP para o período 1998-2000, tal como apresentadas no Quadro 4, foram subestimadas num montante de 1,7 milhões de euros e que, consequentemente, o subfinanciamento da RTP se encontra sobrestimado num montante correspondente. O valor actual líquido, referido a 31 de Dezembro de 2003, desse montante é de 2,2 milhões de euros72.

71 Ver pontos 95-97 72 O valor actual líquido deve ser calculado visto que o rendimento a que a RTP renunciou teria gerado

receitas provenientes de juros, facto que não é contemplado no Quadro 4. Os juros são calculados numa base composta, em conformidade com o artigo 11.º do Regulamento Processual. As taxas de referência aplicáveis no período em que os direitos de transmissão foram transferidos eram as seguintes: 7,56% de 1 de Janeiro de 1998 a 31 de Dezembro de 1998, 6,02% de 1 de Janeiro de 1999 a 31 de Julho de 1999, 4,76% de 1 de Agosto de 1999 a 31 de Outubro de 1999, 5,61% de 1 de Novembro de 1999 a 31 de Dezembro de 1999 e 5,70% de 1 de Janeiro de 2000 a 31 de Dezembro de 2000. É utilizada a taxa de referência média ponderada neste período (ou seja, 6,30%) no cálculo do valor actual líquido.

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Conclusão

122. Com base no que precede, a Comissão conclui que o subfinanciamento global das actividades de serviço público da RTP em 31 de Dezembro de 2003 se elevava a 1 040,5 milhões de euros73.

Contribuições financeiras do Estado ao abrigo do Acordo de Reestruturação Financeira

123. De forma a comparar as injecções de capital a favor da RTP com o montante global de subfinanciamento em 31 de Dezembro de 2003, essas injecções devem ser reportadas à mesma data e convertidas no seu valor actual líquido74 75.

Quadro 6 – Valor actual líquido das injecções de capital concedidas ao abrigo do Acordo de Reestruturação Financeira de 2003-2013, referido a 31 de Dezembro

de 2003 (montantes em milhões de euros)76

Data VAL Data VAL Data VAL

15 de Março de 2004 44,54 15 de Junho de 2007 25,80 15 de Dezembro de 2010 24,55

15 de Junho de 2004 26,60 15 de Dezembro de 2007 25,31 15 de Junho de 2011 24,79

15 de Dezembro de 2004 26,01 15 de Junho de 2008 25,53 15 de Dezembro de 2011 24,32

15 de Junho de 2005 26,23 15 de Dezembro de 2008 25,04 15 de Junho de 2012 24,57

15 de Dezembro de 2005 25,82 15 de Junho de 2009 25,25 15 de Dezembro de 2012 24,10

15 de Junho de 2006 26,05 15 de Dezembro de 2009 24,77 15 de Junho de 2013 48,65

15 de Dezembro de 2006 25,55 15 de Junho de 2010 25,03 Total 548,50

73 O que corresponde ao montante de subfinanciamento apresentado pelas Autoridades portuguesas

(1 058,20 milhões de euros), se deduzido o montante correspondente ao ajustamento relativo ao sobrefinanciamento dos investimentos (15,44 milhões de euros) e a transferência dos direitos de transmissão para a SPORT TV (2,24 milhões de euros).

74 Uma vez que uma parte das injecções de capital ocorrerá num futuro longínquo, ou seja, até 2013, o seu valor actual líquido, referido a 31 de Dezembro de 2003, é muito inferior ao seu valor nominal.

75 Nos termos do artigo 11.º do Regulamento Processual são utilizados juros calculados numa base composta. Cf. nota 69.

76 A taxa de juro utilizada para determinar o valor actual das injecções de capital é de 3,95%, o que corresponde à taxa de desconto da Comissão aplicável a Portugal em 31 de Dezembro de 2003. As primeiras cinco injecções de capital (até 15 de Dezembro de 2005) tinham já sido pagas na data de elaboração da presente decisão. As datas de pagamento exactas, ligeiramente diferentes das datas previstas no Acordo de Reestruturação Financeira, foram tomadas em consideração no cálculo dos respectivos valores actuais líquidos.

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124. As duas primeiras injecções de capital do Quadro 5, que dizem respeito a 2003 (40 milhões de euros), foram excluídas, uma vez que tinham sido já tomadas em consideração no montante global de subfinanciamento apresentado no Quadro 477.

125. A injecção de capital de 15 de Junho de 2013 exclui o montante de 110 milhões de euros incluído no Quadro 5, que corresponde à venda do Arquivo Histórico. Tal acontece porque, em conformidade com o disposto no Acordo de Reestruturação, a venda pode ocorrer em qualquer altura durante a vigência do acordo e o preço pode atingir os 150 milhões de euros. É razoável pressupor que o Arquivo Histórico tem um valor intrínseco e que, consequentemente, essa parte das receitas provenientes da sua venda pode não constituir um auxílio estatal. O montante exacto do auxílio estatal envolvido corresponderá à diferença entre o preço de venda e o valor de mercado do arquivo. Contudo, o Arquivo Histórico da RTP constitui um activo único em Portugal, cujo valor de mercado intrínseco será extremamente difícil e arbitrário de determinar. As Autoridades portuguesas não tentaram também quantificar este valor de mercado. A Comissão foi informada de que, até 2 de Maio de 2006, esta venda não tinha ainda sido realizada. Por conseguinte, deve presumir-se que pode ocorrer a qualquer momento a partir de 2 de Maio de 2006. O respectivo valor actual líquido, em 31 de Dezembro de 2003, é de 137,02 milhões de euros.

126. A injecção de capital de 56 milhões de euros a favor da RTP, correspondente ao IVA, deve igualmente ser tomada em consideração. A Comissão foi informada de que, até 2 de Maio de 2006, este pagamento não tinha ainda sido realizado. Por conseguinte, deve presumir-se que pode ocorrer em qualquer momento a partir de 2 de Maio de 2006. O respectivo valor actual líquido, em 31 de Dezembro de 2003, é de 51,15 milhões de euros.

127. A Comissão deve igualmente tomar em consideração as medidas seguidamente apresentadas, consideradas auxílios estatais na sua decisão de 15 de Outubro de 200378.

Medidas consideradas auxílios estatais na Decisão da Comissão de 15 de Outubro de 2003

Injecções de capital

128. As injecções de capital consideradas auxílios estatais na Decisão da Comissão de 15 de Outubro de 2003 foram já tomadas em consideração no cálculo do subfinanciamento da RTP79.

Segurança social

129. Na sua decisão de 15 de Outubro de 2003, a Comissão considerou que a anulação das multas e juros sobre as dívidas acumuladas da RTP para com a Segurança

77 Ver ponto 61. 78 Ver pontos 31-33. 79 Ver Quadro 4.

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Social equivaliam a um auxílio estatal no montante de 6 milhões de euros80. Este montante deve ser considerado uma subvenção directa.

130. O valor, em 31 de Dezembro de 2003, de uma subvenção de 6 milhões de euros concedida em 6 de Maio de 1993, é de 19,18 milhões de euros81.

Empréstimo do Fundo de Regularização da Dívida Pública

131. Na sua decisão de 15 de Outubro de 2003, a Comissão considerou que o empréstimo de 99,8 milhões de euros concedido pelo Fundo de Regularização da Dívida Pública, com início em 15 de Dezembro de 1998, constituía um auxílio estatal e devia ser considerado uma subvenção a fundo perdido82.

132. O valor, em 31 de Dezembro de 2003, de uma subvenção de 99,8 milhões de euros concedida em 31de Dezembro de 1998, é de 143,89 milhões de euros83.

133. A injecção de capital num montante de 117,63 milhões de euros realizada em 25 de Fevereiro de 2004, correspondente à conversão do empréstimo em capital, não deve, por conseguinte, ser tomada em consideração, devendo ser substituída pela verba de 143,89 milhões de euros.

Outras disposições do Acordo de Reestruturação Financeira

134. Por último, tal como foi referido acima84, o Acordo de Reestruturação Financeira prevê a possibilidade de o montante das indemnizações compensatórias ser revisto em determinadas circunstâncias. Tais revisões implicariam alterações significativas na medida de auxílio estatal, devendo, por conseguinte, ser previamente notificadas à Comissão para aprovação. Assim, a presente decisão é apenas válida na medida em que não for alterado o montante global das injecções de capital previsto no Acordo de Reestruturação Financeira.

Conclusão

135. Com base no que precede, a Comissão conclui que o valor actual máximo global, referido a 31 de Dezembro de 2003, das injecções de capital concedidas ao abrigo do Acordo de Reestruturação a partir de 2004 e das medidas de auxílio estatal concedidas à RTP no período 1992-1998, se eleva a 899,7 milhões de euros. Este montante corresponde à soma das injecções de capital efectuadas entre 2004 e 2013 (548,50 milhões de euros), do preço de venda do Arquivo Histórico (137,02 milhões de euros), da injecção de capital única relacionada com o IVA (51,15 milhões de euros), dos pagamentos relativos à segurança

80 Ver ponto 32. 81 Os juros são calculados numa base composta para períodos de 5 anos, em conformidade com o artigo

11.º do Regulamento Processual. As taxas de referência da Comunidade relevantes são as seguintes: 16,50% de 6 de Maio de 1993 a 6 de Maio de 1998, 7,56% de 6 de Maio de 1998 a 6 de Maio de 2003 e 4,80% de 6 de Maio de 2003 a 31 de Dezembro de 2003.

82 Ver ponto 144 da decisão da Comissão. 83 Os juros são calculados numa base composta para períodos de 5 anos, em conformidade com o

Regulamento Processual. As taxas de referência da Comunidade relevantes são as seguintes: 7,56% de 15 de Dezembro de 1998 a 15 de Dezembro de 2003 e 3,95% de 15 de Dezembro de 2003 a 31 de Dezembro de 2003.

84 Ver pontos 57, 63, 64 e 65.

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social (19,18 milhões de euros) e do empréstimo (143,89 milhões de euros). Este montante pode ser significativamente inferior caso o Arquivo Histórico seja vendido por 110 milhões de euros em vez de 150 milhões de euros e numa data mais próxima do final do período de reestruturação.

136. Tal como foi acima mencionado, o montante global do subfinanciamento das actividades de serviço público da RTP, em 31 de Dezembro de 2003, elevava-se a 1 040,5 milhões de euros.

137. Por conseguinte, a Comissão conclui que a contribuição financeira do Estado para a redução das dívidas acumuladas da RTP, prevista no Acordo de Reestruturação Financeira, está, em primeiro lugar, relacionada com as missões de serviço público anteriores da RTP e, em segundo lugar, não excede os custos acumulados das actividades de serviço público da RTP, sendo por conseguinte proporcional.

IV. DECISÃO

138. A Comissão lamenta que Portugal tenha concedido ilegalmente os auxílios estatais ad hoc previstos no Acordo de Reestruturação Financeira, em violação do n.º 3 do artigo 88.º do Tratado.

139. Decidiu contudo, com base na apreciação acima apresentada, considerar o auxílio compatível com o n.º 2 do artigo 88.º do Tratado CE.

Caso a presente carta contenha elementos confidenciais que não devam ser divulgados a terceiros, a Comissão deve ser informada desse facto, no prazo de quinze dias úteis a contar da data de recepção da presente carta. Se a Comissão não receber um pedido fundamentado nesse sentido no prazo indicado, presumirá que existe acordo quanto à divulgação a terceiros e à publicação do texto integral da carta, na língua que faz fé, no site Internet http://ec.europa.eu/community_law/state_aids/index.htm. O referido pedido deve ser enviado por carta registada ou por fax para :

Comissão Europeia Direcção-Geral da Concorrência Registo dos Auxílios Rue de Spa 3 BE-1049 Brussels Fax: +32 2 296.12.42

Com os melhores cumprimentos,

Pela Comissão

Neelie KROES Membro da Comissão