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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Curso de Engenharia de Produção MONIQUE MENENDEZ Y MENENDEZ APLICAÇÃO DO LEAN CONSTRUCTION EM OBRAS DE AMPLIAÇÃO E MODERNIZAÇÃO DE UMA REFINARIA DE PETRÓLEO COM O AUXÍLIO DA FERRAMENTA IPO (ÍNDICE DE PRODUTIVIDADE EM OBRAS) Campinas 2015

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO

Curso de Engenharia de Produção

MONIQUE MENENDEZ Y MENENDEZ

APLICAÇÃO DO LEAN CONSTRUCTION EM OBRAS DE

AMPLIAÇÃO E MODERNIZAÇÃO DE UMA REFINARIA DE

PETRÓLEO COM O AUXÍLIO DA FERRAMENTA IPO

(ÍNDICE DE PRODUTIVIDADE EM OBRAS)

Campinas

2015

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M538a Menendez, Monique Menendez Y.

Aplicação do Lean Construction em obras de ampliação e

modernização de uma refinaria de petróleo com o auxilio da

ferramenta IPO (Índice de produtividade em obras) / Monique

Menendez Y Menendez. - - Campinas, SP:

[s.n.], 2015.

92f.

Orientador: Emílio Gruneberg Boog

Trabalho de conclusão de curso (Curso de Engenharia de

Produção) –

Universidade São Francisco – USF

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MONIQUE MENENDEZ Y MENENDEZ – R.A. 004201100360

APLICAÇÃO DO LEAN CONSTRUCTION EM OBRAS DE

AMPLIAÇÃO E MODERNIZAÇÃO DE UMA REFINARIA DE

PETRÓLEO COM O AUXÍLIO DA FERRAMENTA IPO

(ÍNDICE DE PRODUTIVIDADE EM OBRAS)

Monografia apresentada ao Curso de

Engenharia de Produção da Universidade

São Francisco, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em

Engenharia de Produção.

Orientador: Profº. Msc. Emílio Gruneberg

Boog

Campinas

2015

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Para meus pais, irmão, namorado e amigos,

que me acompanharam e me apoiaram nesta jornada.

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“Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.”

Fernando Pessoa

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MENENDEZ Y MENENDEZ, MONIQUE. Aplicação do Lean Construction em obras de ampliação e modernização de uma refinaria de petróleo com o auxílio da ferramenta IPO (Índice de Produtividade em Obras). 2015. 92f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Engenharia de Produção. Universidade São Francisco, Campinas, 2015.

RESUMO

Devido à necessidade de reduzir os desperdícios associados à atividade da construção civil com o intuito de que sejam cumpridos - ou até mesmo otimizados - prazo, custo e qualidade assumidos, verificou-se a possibilidade de implementação de novos sistemas de gestão que busquem eliminar tais desperdícios sem que haja grandes investimentos. Assim, os conceitos da filosofia Lean surgem no setor da construção civil, adaptados da indústria fabril, após verificação de seus bons resultados na redução de custos, melhoria da qualidade, controle da produção, e relacionamento entre intervenientes dos processos. Embora recente, a aplicação deste novo sistema da gestão, denominado Lean Construction, vem sendo cada vez mais difundido, com diversas empresas optando por implementar tais seus conceitos, ferramentas e técnicas em busca do aumento da competitividade dos seus projetos. Este trabalho trata dos conceitos, princípios e ferramentas relacionados às filosofias Lean e Lean Construction, bem como demonstra a aplicação do Lean Construction em obras de ampliação e modernização de uma refinaria de petróleo. Para tanto, foi utilizada a ferramenta metodológica aqui denominada IPO (Índice de Produtividade em Obras), que quantifica os níveis de produtividade, bem como identifica gargalos e desperdícios em obras, utilizando como instrumento de análise o Modelo de Fatores. Entre as principais conclusões deste estudo, destacam-se os ganhos de produtividade advindos da aplicação do Lean Construction, evidenciando a possibilidade de melhoria do sistema de produção e ampliação das boas práticas no setor da construção, com técnicas de implementação simples.

Palavras-chave: Lean, Lean Construction, construção civil, Índice de Produtividade em Obras, desperdícios, produtividade, refinaria de petróleo.

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MENENDEZ Y MENENDEZ, MONIQUE. Application of Lean Construction in expansion and modernization of an oil refinery with assistance of the CPI tool (Construction Productivity Index). 2015. 92f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Engenharia de Produção. Universidade São Francisco, Campinas, 2015.

ABSTRACT

Due to the need of reducing construction activity waste with the purpose of accomplishing - or even optimizing – project time, cost and quality, it was noticed the possibility of implementing new management systems that seek to eliminate such waste without large investments. Thus, the concepts of Lean philosophy arise in the construction sector, adapted from the manufacturing industry, after verification of their good results in reducing costs, improving quality, production control, and relationships between stakeholders of processes. Although recent, the application of this new management system called Lean Construction, is becoming more widespread, with many companies choosing to implement its concepts, tools and techniques in order to increase the competitiveness of their projects. This study deals with concepts, principles and tools related to the philosophies Lean and Lean Construction, and demonstrates the application of Lean Construction in construction projects of expansion and modernization of an oil refinery. Therefore, the methodological tool IPO (Works Productivity Index) was used to quantify the levels of productivity and identifies constraints, bottlenecks and waste in the works, using as an analytical tool the Factors Model. Among the main conclusions of this study, are highlighted the productivity gains arising from the application of Lean Construction, proving the potential for improving the production and expansion of best practices system in the construction sector, with simple implementation techniques.

Key words: Lean, Lean Construction, construction, Construction Productivity Index, waste, productivity, oil refinery.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - A casa do TPS ................................................................................................. 18

FIGURA 2 - Sistemas empurrado e puxado: a analogia da gravidade ................................. 26

FIGURA 3 - Programação em grandes lotes x Programação nivelada ................................. 31

FIGURA 4 - Benefícios do SMED ........................................................................................ 39

FIGURA 5 - Comparação entre os Princípios do Lean Thinking e do Lean Construction ..... 41

FIGURA 6 - Esquema de fluxos na construção civil ............................................................. 45

FIGURA 7 - Cálculo da Razão Unitária de Produção (RUP) ................................................ 48

FIGURA 8 - Como a produtividade é monitorada nas obras (ocupações) ............................ 50

FIGURA 9 - Unidades para quantificação do serviço por processo ...................................... 51

FIGURA 10 - Plotagem das RUPs para análise ................................................................... 57

FIGURA 11 - Identificação, quantificação e tratamento das interrupções............................. 61

FIGURA 12 - Conteúdo do trabalho ..................................................................................... 62

FIGURA 13 - Contexto do trabalho ...................................................................................... 63

FIGURA 14 - Esquema de processamento com buffers ....................................................... 67

FIGURA 15 - Resultados obtidos (1ª medição) – Montagem de vigas pré-moldadas ........... 73

FIGURA 16 - Resultados obtidos (1ª medição) – Estaqueamento ....................................... 74

FIGURA 17- Resultados obtidos (2ª medição) – Montagem de vigas pré-moldadas ............ 78

FIGURA 18 - Resultados obtidos (2ª medição) – Estaqueamento ....................................... 81

FIGURA 19 - Resultados obtidos na atividade de tubulação – Etapa acoplamento ............. 84

FIGURA 20 - Análise da produtividade referencial e de diferentes obras ............................. 86

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - RUP diária e cumulativa ................................................................................ 52

GRÁFICO 2 - RUP diária e periódica ................................................................................... 53

GRÁFICO 3 - RUP diária, cumulativa e potencial ................................................................ 54

GRÁFICO 4 - Estratificação do indicador de produtividade .................................................. 58

GRÁFICO 5 - Estratificação das RUPs diárias ..................................................................... 59

GRÁFICO 6 - Estratificação das RUPs periódicas ............................................................... 59

GRÁFICO 7 - Estratificação das RUPs cumulativas ............................................................ 60

GRÁFICO 8 - Ganho de produtividade - Pré-moldados ....................................................... 79

GRÁFICO 9 - Ganho de produtividade – Estaqueamento .................................................... 83

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Comparação entre gestão convencional da construção e Lean Construction . 44

QUADRO 2 - Contexto e conteúdo do trabalho 1ª medição – Montagem de vigas .............. 72

QUADRO 3 - Contexto e conteúdo do trabalho 1ª medição – Estaqueamento .................... 74

QUADRO 4 - Contexto e conteúdo do trabalho 2ª medição – Montagem de vigas .............. 78

QUADRO 5 - Contexto e conteúdo do trabalho 2ª medição – Estaqueamento .................... 80

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Valores comparativos entre a 1ª e 2ª medições - Pré-moldados ...................... 79

TABELA 2 - Valores comparativos entre a 1ª e 2ª medições - Estaqueamento ................... 82

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 14

1.1 Justificativa ............................................................................................................ 15

1.2 Questão de Pesquisa ............................................................................................. 15

1.3 Objetivos ................................................................................................................ 15

1.4 Hipótese ................................................................................................................. 16

2 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................... 17

2.1 Lean Thinking - Origem, Evolução e Conceitos ...................................................... 17

2.2 Os Sete Desperdícios (Muda) ................................................................................ 19

2.3 Os Princípios do Lean Thinking .............................................................................. 24

2.4 Os Pilares e as Ferramentas do Lean .................................................................... 27

2.5 Lean Construction .................................................................................................. 39

3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 68

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ......................................................................... 71

4.1 Estudo de Caso...................................................................................................... 71

4.2 Análise dos Resultados .......................................................................................... 77

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 87

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1 INTRODUÇÃO

Nos anos 1950, os Estados Unidos possuíam uma produtividade nove vezes maior

na fabricação de carros em relação aos japoneses devido ao seu eficiente sistema de

produção em massa. A fim de que continuasse ativa e competitiva no mercado

automobilístico, a Toyota Motor Company, do Japão, na figura de seu engenheiro mecânico

Taiichi Ohno, buscou desenvolver um sistema de produção que superasse os americanos.

Diante disso, foi questionado se era possível diminuir o desperdício e fazer a produtividade

aumentar, sendo este o pontapé inicial para o surgimento do Sistema Toyota de Produção,

hoje mundialmente conhecido como Lean Production (produção enxuta). Este sistema tem

como principal objetivo elevar os lucros eliminando os custos, tendo como pilares o Just in

time e a autonomação (MATIAS, 2012).

Desde então, diante dos ótimos resultados obtidos pela Toyota, todos advindos deste

sistema, outros setores têm buscado adaptar e implementar as ferramentas da filosofia Lean

em suas atividades, com o intuito de reduzir os desperdícios e, por conseguinte, aumentar

os lucros. Corroborando esta busca, diversos artigos e pesquisas concluíram que o uso das

ferramentas Lean em diversos setores diminuiu desperdícios (custos, tempo, recursos,

materiais e mão de obra), concomitantemente com o aumento da qualidade de serviços,

produtos e da satisfação de clientes.

Seguindo esta tendência, em 1992, o finlandês Lauri Koskela publicou o trabalho

Application of the New Production Philosophy to Construction, no qual adaptou os princípios

do Sistema Toyota de Produção para a construção civil, a fim de beneficiar o setor da

construção civil com um sistema de gestão de qualidade de sucesso como aquele

implementado pela Toyota. Desta publicação, nasceu uma nova filosofia de geração de

valores, conceituada em uma produção sem geração de estoques e desperdícios chamada

de Lean Construction.

Desta forma, esse trabalho abordará os conceitos, princípios e ferramentas da

filosofia Lean e sua adaptação para o setor da construção civil, buscando o aprofundamento

nos estudos sobre o tema Lean Construction, considerado recente na literatura. A aplicação

prática do Lean Construction será verificada e evidenciada, por meio da análise de sua

implementação em obras de modernização e ampliação de refinarias de petróleo, cuja

aplicação ocorreu com o auxílio da ferramenta IPO (Índice de Produtividade em Obras), que

será descrita no Capítulo 2, sendo que todos os resultados advindos desta implementação

são demonstrados no Capítulo 4.

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1.1 Justificativa

Segundo Matias (2012), a filosofia Lean, desde sua implementação pela Toyota, tem

proporcionado inúmeros benefícios a diversas empresas do setor da manufatura,

principalmente, por meio da redução de desperdícios e, por conseguinte, aumentando a

produtividade. Considerando que é possível adaptar esta filosofia para outros setores com

sucesso, como o da construção civil, este trabalho justifica-se pela necessidade de

aprofundar os estudos sobre o Lean Construction, cujo tema é recente na literatura e muito

interessante devido à sua complexidade e possibilidade de aplicação prática, que será

verificada por meio de sua implementação em obras de modernização e ampliação de

refinarias de petróleo.

1.2 Questão de Pesquisa

Esse estudo promove uma revisão bibliográfica e pesquisa exploratória a fim de

responder à seguinte pergunta: como o Lean Construction pode ser aplicado a fim de

beneficiar o setor da construção civil, principalmente no que se refere ao aumento da

produtividade, bem como, especificamente, no que tange a obras executadas na

modernização e ampliação de uma refinaria de petróleo?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

O propósito do trabalho é compreender a aplicação do Lean Construction, bem como

identificar suas principais ferramentas, dificuldades de implementação e resultados obtidos,

principalmente quanto aos ganhos de produtividade quando aplicada em obras de uma

refinaria de petróleo.

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1.3.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos deste estudo são:

1. Conceituar a filosofia Lean e o Lean Construction;

2. Identificar quais são as principais ferramentas utilizadas para as abordagens Lean

e Lean Construction;

3. Investigar a aplicabilidade do Lean Construction em obras de modernização e

ampliação de uma refinaria de petróleo, bem como verificar os ganhos de produtividade

advindos desta aplicação.

1.4 Hipótese

Como hipótese desse estudo tem-se que os benefícios com a implantação do Lean

Construction são: maior índice de tarefas concluídas de acordo com o planejamento,

atendendo ao cronograma da obra ou até reduzindo o tempo total do projeto; redução do

tempo de atividades que não agreguem valor; apoio na padronização das tarefas; redução

de desperdícios e resíduos advindos das atividades de construção; aumento da

produtividade.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Lean Thinking - Origem, Evolução e Conceitos

De acordo com Gonçalves (2009), a aplicação das ideias Lean data dos tempos dos

romanos, que padronizavam seus instrumentos de guerra e processos construtivos.

No entanto, de forma mais sistemática, é Eli Whitney que é dado como o primeiro

pensador Lean, reconhecido ao desenvolver a ideia de peças intermutáveis para armas de

guerra no ano de 1799 (POPPENDIECK & POPPENDIECK, 2006). Posteriormente, outros

pensadores surgiram com ideias Lean, como Frederick Taylor e sua implementação da

padronização e estudo dos tempos de trabalho, bem como Henry Ford com as linhas de

produção e criação de valor para o cliente.

Henry Ford, após a Primeira Guerra Mundial, transformou a sua artesanal produção

industrial automobilística em produção em massa. Assim, nos anos 1950, os Estados

Unidos possuíam uma produtividade nove vezes maior na fabricação de carros em relação

aos japoneses devido ao seu eficiente sistema de produção em massa. A fim de que

continuassem ativos e competitivos no mercado automobilístico e, ainda, baseados nestes

conceitos, os japoneses criaram sua própria indústria automobilística, destacando-se o caso

da Toyota.

No entanto, houve a necessidade de adaptações ao mercado japonês, que exigia

grande variedade de produtos, qualidade garantida, oferta de acordo com a procura e custos

reduzidos. A solução encontrada pela Toyota considerava um sistema de produção em

fluxo, tecnologias flexíveis, processos à prova de erro, e organização por famílias de

produtos para garantir variedade na produção (FONTANINI, 2004).

Ademais, segundo Matias (2012), a Toyota questionou se era possível diminuir o

desperdício e fazer a produtividade aumentar, sendo este o pontapé inicial para o

surgimento do Sistema Toyota de Produção (TPS – Toyota Production System), hoje

mundialmente conhecido e difundido como Lean Production (produção enxuta).

Segundo Gonçalves (2009), a abordagem Lean é uma filosofia de gestão que

promove formas de especificar valor para o cliente, melhora sequência de fluxos de

processos, torna a performance mais eficiente e elimina desperdícios na produção.

De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2009), a Toyota, utilizando-se da

filosofia Lean, sincronizou todos os seus processos, de forma progressiva e simultânea, em

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busca da obtenção de alta qualidade, tempos rápidos de atravessamento e excepcional

produtividade.

Taiichi Ohno, um dos criadores do TPS, definiu a base do sistema como a absoluta

eliminação do desperdício, tendo como pilares Just in Time (JIT) e a Autonomação. A Figura

1 abaixo representa o sistema do TPS num esquema chamado “A casa do TPS”.

FIGURA 1 - A casa do TPS Fonte: Gonçalves, 2009

Assim, a partir da Figura 1, verifica-se que o TPS é o telhado da casa, tendo como

objetivos principais o menor custo, menor lead time, maior qualidade, maior segurança e

maior motivação. O alcance desses objetivos é suportado pelos pilares JIT e autonomação

(jidoka). Ademais, destacam-se como ferramentas do TPS:

- 5S (do japonês Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu e Shitsuke, que significa separe,

organize, limpe, padronize e sustente, respectivamente);

- Gestão visual;

- Kanban;

- Sistema de troca rápida de ferramentas (do inglês Single Minute Exchange of Die -

SMED);

- Manutenção Produtiva Total (do inglês Total Productive Maintenance - TPM);

- 3P (Processo de Preparação da Produção);

- Sistema de sugestão de ideias criativas.

O alicerce para toda a filosofia e ferramentas é a aplicação do heijunka, de

operações padronizadas e do Kaizen. A maioria dos conceitos citados serão explicitados

mais adiante neste trabalho.

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Nos primeiros anos após a introdução do TPS, as questões focaram-se em descobrir

se o seu sucesso não seria devido à cultura japonesa, ou se não seria aplicado apenas à

Toyota. Discussões em torno do sistema de negócio Lean foram geradas, levantando as

questões acerca da exequibilidade desse sistema somente na indústria manufatureira, ou se

o Lean poderia ser aplicado aos outros departamentos de uma organização, ou até mesmo

nos demais setores da economia.

Womack, Jones e Roos (2007) respondem a tais respostas por meio das

investigações publicadas pela primeira vez em 1990 no livro “The Machine That Changed

The World”, no qual introduziram o termo Lean Production. Segundo os autores, esta

filosofia poderia ser aplicada por qualquer companhia, em qualquer parte do mundo, mas

teria a sua máxima eficácia se empregada a todos elementos da empresa.

Foi adotado o termo Lean (enxuto) de forma a caracterizar esta nova filosofia de

gestão, que em comparação com a produção em massa, utiliza:

metade dos esforços dos operários em fábrica, metade do espaço de fabricação, metade do investimento em ferramentas, metade das horas de planejamento para desenvolver novos produtos em metade do tempo. Também requer muito menos de metade do inventário no local, resulta em muito menos defeitos e produz uma maior e sempre crescente variedade de produtos (WOMACK; JONES; ROOS, 2007, p.11).

Womack e Jones (2003) foram também os criadores do termo Lean Thinking (uma

generalização do TPS), ao publicarem em 1996 pela primeira vez o livro com o mesmo

nome, no qual estabeleceram as bases da mentalidade proposta em cinco princípios, a

partir dos quais diversas ferramentas foram desenvolvidas.

Segundo Gonçalves (2009), outros autores também contribuíram sobremaneira ao

generalizar o TPS, encontrando-se em todos eles uma linha comum. Alguns exemplos:

Fujimoto (1999), Spear e Bowen (1999), e Koskela (1992), que interpretaram os princípios

da filosofia Lean de forma diferente.

2.2 Os Sete Desperdícios ( Muda)

Muda é uma expressão japonesa que significa desperdício, caracterizada por ser

uma atividade que consome recursos e não acrescenta valor (GONÇALVES, 2009). Na

busca pela eliminação total de desperdícios, a filosofia Lean promove a forma de fazer mais

por menos (material, recursos humanos, tempo e espaço), bem como aproximando mais o

produto dos desejos do consumidor. Também torna o trabalho mais satisfatório ao fornecer

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retorno (feedback) imediato dos esforços de transformar desperdício em valor (WOMACK;

JONES, 2003). A identificação dos desperdícios é muito importante para o sistema de

produção, pois estes significam também oportunidades de melhoria para a empresa.

Taiichi Ohno identificou sete diferentes formas de desperdício, segundo as quais são

responsáveis por 95% do total de custos dos ambientes non-lean, os quais são

discriminados a seguir:

2.2.1. Superprodução

Desperdiçar por superprodução significa produzir mais do que é imediatamente

necessário para o próximo processo na produção, sendo a maior das fontes de desperdício

(SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009).

Para Peneirol (2007), superprodução significa produzir antes do pedido do cliente, ou

mais do que é pedido. É altamente dispendioso, pois impede um fluxo suave de materiais,

consome valor de mão-de-obra e de recursos que poderiam ser usados em outras

atividades mais úteis, e cria necessidade de inventários.

Seja ela quantitativa (fazer mais que o necessário) ou antecipada (fazer antes do

necessário), o TPS (Toyota Production System) não tolera qualquer superprodução e, para

eliminá-la, utiliza o método JIT (just in time), que implica em produzir no momento certo e,

por conseguinte, realiza a produção com estoque zero (ou sem geração estoque), ou seja,

cada processo deve ser abastecido com os itens necessários, na quantidade necessária, no

momento necessário (SHINGO, 1996).

Da mesma forma que o sistema Just in Time significa produzir apenas quando o

cliente solicita, McBride (2003) refere-se à superprodução como Just in Case, pois permite a

obtenção do produto mesmo quando ocorrem imprevistos, isto é, torna mais difícil a

detecção de problemas e defeitos da produção. Para tanto, a solução passa por aplicar o

JIT a fim de que esses problemas sejam revelados e resolvidos (planos de manutenção de

máquinas, melhor formação das equipes de trabalho, planos de atividades, entre outros).

2.2.2 Espera

É o tempo de espera por material, equipamento, informação, ferramentas, entre

outros. Segundo Hicks (2007), ocorre quando há períodos de inatividade em um processo a

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jusante porque uma atividade a montante ainda não está concluída, ou seja, sempre que o

produto ou serviço não está sendo processado.

De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2009), eficiência de máquina e

eficiência de mão-de-obra são medidas comuns e amplamente utilizadas para avaliar os

tempos de espera de máquinas e mão-de-obra, respectivamente. Não obstante e menos

óbvio é o montante de tempo de espera de materiais.

O desperdício decorrente da espera ocorre mais frequentemente quando o fluxo de

material é pobre, o ciclo de produção demasiado longo, ou as distâncias são longas entre os

centros de trabalho (McBride, 2003). Medidas como reduzir a burocracia, nivelar a carga de

trabalho das equipes de produção e unir processos formando um fluxo contínuo, de modo

que cada tarefa esteja diretamente ligada à seguinte, podem reduzir drasticamente o tempo

de espera.

2.2.3 Transporte

É o movimento e transporte desnecessário de materiais, tal como trabalho/bens em

processamento sendo transportado entre operações. Embora não agregue valor, esta

atividade é necessária, devendo então ser minimizada por meio de uma organização física

do espaço que minimize as distâncias a serem percorridas (CORRÊA; GIANESI, 1993).

Ademais, Slack, Chambers e Johnston (2009) afirmam que, para reduzir os

desperdícios advindos do transporte, podem ser realizadas mudanças no arranjo físico de

forma a aproximar os estágios do processo, bem como aprimorar os métodos de transporte

e a organização do local de trabalho.

2.2.4 Processo

Para Slack, Chambers e Johnston (2009), pode haver fontes de desperdício no

próprio processo. Assim, algumas operações devem ser eliminadas, pois podem existir

apenas em função da má qualidade do projeto de componentes ou da manutenção.

Segundo Gonçalves (2009), o processamento inapropriado ocorre em operações

extra, como trabalho por refazer, reparar ou retocar, armazenamento, excesso de etapas de

processamento, inspeção, utilização de máquinas demasiado potentes para os objetivos

propostos e, por conseguinte, criação de excesso de inventário na tentativa de

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rentabilização máxima destas máquinas. A melhor ferramenta para exclusão deste

desperdício é o Mapeamento de Fluxo de Valor.

De acordo com Reis (2004), os constituintes do produto devem ser feitos sem

imperfeições, com design adequado e ferramentas de manutenção. Para tanto, podem ser

utilizados dispositivos anti-erro (poka-yoke, que serão tratados mais adiante). As máquinas

devem ser menores e mais flexíveis, ajustadas à produção necessária. O processamento

pode ser melhorado por meio de uma análise eficaz dos passos de todo o processo,

eliminando aqueles que sejam desnecessários.

2.2.5 Estoque

Todo o estoque deve se tornar um alvo para eliminação; no entanto, de acordo com

Slack, Chambers e Johnston (2009), somente se pode reduzir os estoques por meio da

eliminação de suas causas.

Para Gonçalves (2009), inventário em excesso é todo o inventário que não foi

encomendado pelo cliente, incluindo matéria-prima, trabalho em processamento e produto

final. Tal excesso requer espaço precioso de armazenamento, esconde defeitos de

produção, atrasa identificação de problemas e compromete capital financeiro. Para evitar

este desperdício, deve-se padronizar o espaço e as atividades, implementar o JIT (just in

time) e manter o fluxo contínuo.

2.2.6 Movimentação

O movimento em excesso pode ser aquele de trabalhadores, de informação, ou de

documentos. O movimento excessivo dos trabalhadores está diretamente relacionado com o

planejamento do espaço e a organização das ferramentas de trabalho, podendo ser

resolvido, segundo Gonçalves (2009), com análise e redefinição do espaço para melhorar,

com envolvimento de quem nele trabalha.

Segundo Slack, Chambers e Johnston (2009), muitas vezes um operador pode

parecer ocupado, mas nem sempre algum valor está sendo agregado pelo trabalho. Assim,

a simplificação do trabalho é uma rica fonte de redução do desperdício de movimentação.

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2.2.7 Defeitos

Defeitos são erros durante o processo, que acabam por recorrer ao retrabalho ou

trabalhos a mais. Segundo Peneirol (2007), os desperdícios por defeitos são de quatro

formas: materiais consumidos; mão-de-obra utilizada que não é recuperável; mão-de-obra

novamente requisitada para retocar, reparar, refazer e/ou inspecionar; uso de recursos para

responder a potenciais reclamações dos clientes. É possível a redução dos defeitos através

de um processo contínuo de melhoria com envolvimento das equipes de trabalho,

dispositivos anti-erro (poka-yoke) e controle esquematizado.

Para Slack, Chambers e Johnston (2009), os defeitos caracterizam-se por

desperdícios de qualidade, que são normalmente bastante significativos em operações.

2.2.8 Outros desperdícios

Diferentes formas de desperdício foram identificadas por outros autores em trabalhos

posteriores ao de Ohno, tais como os descritos a seguir.

a) Making-do: refere-se à situação em que uma atividade é iniciada sem que todos

inputs necessários para a sua eficaz conclusão estejam disponíveis (material, ferramentas,

mão-de-obra, condições externas, instruções, etc.), podendo ser eliminado por meio de um

sistema estruturado de planejamento e execução de curto prazo, no qual a regra de não

começar uma tarefa sem os inputs necessários possa ser transparentemente aplicada, tal

como o Last Planner System (KOSKELA, 2004).

b) Subutilização do potencial humano: inclui a capacidade mental, criativa e física

dos trabalhadores, tendo como as causas mais comuns para este tipo de desperdício: a

própria cultura organizacional, práticas de contratação inadequadas, investimento em

formação inexistente ou muito fraca e salários baixos (PENEIROL, 2007). A eliminação

deste desperdício se dá somente por meio do aproveitamento da criatividade e capacidades

dos trabalhadores.

c) Produto desajustado: este desperdício compreende a concepção e a projeção de

bens e serviços que não convergem com as necessidades do cliente, podendo ser eliminado

por meio do estudo e identificação de valor para o cliente (WOMACK; JONES, 2003).

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2.3 Os Princípios do Lean Thinking

Os fundamentos do Lean, basicamente, são voltados para o valor para o cliente,

eliminando o desperdício em processos de ponta a ponta. Estabelece fluxos e implementa

um sistema puxado de produção, se esforçando para conquistar a perfeição por meio da

melhoria contínua.

Segundo Shingo (1996), o TPS (Toyota Production System) visa a eliminação total

das perdas. Após repetidas tentativas e erros, o TPS evoluiu até sua presente condição,

tornando-se uma referência mundial. Os cinco princípios destacados a seguir fundamentam

essa revolucionária abordagem da produção moderna.

2.3.1 Valor

Este princípio é o primeiro passo para a aplicação de todos os outros conceitos Lean.

Diferentemente do que se acredita, não é a empresa, mas sim o cliente que define o que é

valor. São suas necessidades que geram o valor, restando às empresas determinarem qual

é essa necessidade, tentar satisfazê-la e cobrar um preço por isso, no intuito de manter a

empresa no negócio e aumentar seus lucros por meio da melhoria contínua dos processos,

da redução de custos e da melhoria da qualidade (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2015).

Ou seja, o valor é definido pela perspectiva do cliente final, tornando-se significativo

quando expresso em termos de produto específico que vai ao encontro das suas

necessidades com determinado preço e num determinado tempo. Existem ideias distorcidas

de Valor causadas pelo poder das organizações e pela tecnologia existente. E quando o

mercado não responde bem ao produto, geralmente é ajustado o preço, ao invés de se

analisar e repensar os conceitos mal definidos do que realmente é Valor para o cliente, uma

vez que fornecer da melhor maneira o produto errado é uma forma de desperdício

(GONÇALVES, 2009)

2.3.2 Fluxo de Valor

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Na sequência, de acordo com o Lean Institute Brasil (2015), é necessário mapear o

fluxo de valor, que significa dissecar a cadeia produtiva, separando os processos em três

tipos: aqueles que efetivamente geram valor; aqueles que não geram valor, mas são

essenciais para a manutenção dos processos e da qualidade; e aqueles que não agregam

valor, os quais devem ser eliminados imediatamente.

Normalmente, as empresas, ao examinarem sua cadeia produtiva, focam na redução

de custos não acompanhada pelo exame da geração de valor. Ou seja, analisam apenas

números e indicadores no curto prazo, permanecendo alheia aos processos reais de

fornecedores e revendedores. Womack e Jones (2003) propõem que o fluxo de valor seja

analisado de forma global, ou seja, abrangendo todos os agentes desta cadeia, desde a

criação do produto até a venda final e, inclusive, até o pós-venda.

De acordo com Gonçalves (2009), a corrente de valor é o conjunto de todas

atividades específicas necessárias para produzir determinado produto, que se dá por meio

das três tarefas críticas de gestão:

• Resolução de problemas, que ocorre durante as fases de concepção, projeto e

empreitada;

• Gestão de informação, desde o recebimento do pedido até a entrega final do

produto;

• Transformação física, desde a lista de materiais ao produto acabado nas mãos do

cliente.

2.3.3 Fluxo contínuo

Conforme o Lean Institute Brasil (2015), após o mapeamento do fluxo de valor, deve-

se promover “fluidez” para os processos e atividades que restaram, alinhando as etapas

sequencialmente para estabelecer o fluxo. Para tanto, as pessoas devem mudar a

mentalidade, deixando de lado a ideia que possuem de que a melhor alternativa é a

produção por departamento. Assim, constituir fluxo contínuo com as etapas restantes é uma

tarefa difícil do processo, mas, por outro lado, a mais estimulante.

O efeito imediato da criação de fluxos contínuos pode ser traduzido na redução dos

tempos de concepção de produtos, de processamento de pedidos e em estoques, tornando

o atendimento às necessidades do cliente quase que instantâneo, uma vez que a empresa

passa a ter a capacidade de desenvolver, produzir e distribuir rapidamente seus produtos,

conferindo a ele uma “atualidade”.

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2.3.4 Produção puxada

A produção puxada caracteriza-se por permitir a inversão do fluxo produtivo, no qual

as empresas não mais empurram os produtos para o consumidor, mas sim, o consumidor

passa a puxar a produção (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2015).

De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2009), em um sistema de produção

puxada, o passo e as especificações do que é feito são estabelecidos pela próxima estação

(estação de trabalho do “consumidor”), que puxa o trabalho da estação antecedente

(fornecedor). Ou seja, o consumidor atua como único gatilho para a movimentação. Assim,

se uma requisição não é passada do consumidor ao fornecedor, este último não está

autorizado a produzir ou movimentar nada. Sob uma visão geral, uma requisição de um

consumidor não só ativa a produção no estágio anterior como também o prepara para

requisitar outra entrega de seus próprios fornecedores. Desta forma, a demanda é

transmitida para trás a longo das etapas, a partir do ponto de demanda original.

Este sistema de produção difere da produção empurrada e, por conseguinte, traz

diferentes efeitos e consequências em termos de estoque. Por exemplo, os sistemas

puxados têm menor propensão a resultar em criação de estoque e, portanto, são

favorecidos pelas operações just in time. Para tornar compreensível este fato, Slack,

Chambers e Johnston (2009) utilizam-se da analogia da gravidade, conforme Figura 2.

FIGURA 2 - Sistemas empurrado e puxado: a analogia da gravidade Fonte: Slack, Chambers e Johnston, 2009

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Conforme observado, o sistema empurrado é representado por uma operação, cada

etapa da qual está em um nível mais baixo que a anterior e, portanto, assim que o produto

(ou trabalho) é produzido, ele é então empurrado rampa abaixo para o próximo estágio, sem

considerar se o centro seguinte pode utilizá-los. Ou seja, qualquer problema ou atraso neste

último estágio resultará em acúmulo de produtos em estoque.

Por outro lado, na produção puxada, os produtos não podem fluir naturalmente para

cima, podendo progredir somente se o estágio seguinte deliberadamente os puxar. Ou seja,

o passo é dado pela estação de trabalho consumidora, puxando o trabalho da antecedente.

Sob essas circunstâncias, dificulta-se o acúmulo de estoque.

2.3.5 Perfeição/Melhoria Contínua

Quinto e último princípio do Lean, a perfeição deve ser o objetivo constante de todos

os envolvidos nos fluxos de valor, que devem buscar o aperfeiçoamento contínuo rumo a um

estado ideal. Isso só pode ser atingido se esse pensamento nortear todos os esforços da

empresa em processos transparentes, em que todos os membros da cadeia tenham

conhecimento profundo do processo como um todo, dialogando e buscando continuamente

melhores formas de se criar valor (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2015).

2.4 Os Pilares e as Ferramentas do Lean

2.4.1 Just in Time (JIT)

De acordo com Gonçalves (2009), a metodologia Just in Time (JIT) foi introduzida no

Japão nos anos 1970 pela Toyota Motor Company, que procurava um sistema que

coordenasse a produção com a procura específica de diferentes modelos e cores de

veículos com o mínimo atraso. Surge como um dos pilares de sustentação do Toyota

Production System (TPS).

O JIT é uma técnica de gestão fabril que ganhou ares de filosofia de gestão em anos

mais recentes, inclusive passando a ter seus próprios princípios fundamentais aplicados em

operações não fabris (CORRÊA; CORRÊA, 2013).

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Segundo Pinto (2008 apud GONÇALVES, 2009), JIT é um sistema no qual a

produção e movimentação de materiais ocorrem à medida que estes são necessários, ou

seja: produto certo, no momento certo, nas quantidades certas.

Para Slack, Chambers e Johnston (2009), JIT é definido como a movimentação

rápida e coordenada de componentes ao longo do sistema de produção e rede de

suprimentos para atender à demanda do consumidor.

Para os autores, a abordagem enxuta de operações visa atender à demanda

instantaneamente, com qualidade perfeita e nenhum desperdício, enfatizando o tempo de

atravessamento rápido e baixos estoques. Ademais, a habilidade de fornecimento JIT não

só economiza capital de giro (devido à redução de níveis de estoque), mas também

promove um impacto significativo na habilidade da operação em aprimorar sua eficiência

intrínseca.

Segundo Gonçalves (2009), o JIT baseia-se num sistema de “puxar” a produção

originando apenas o necessário, no momento necessário e nas quantidades necessárias, e

inclui aspectos de administração de materiais, gestão da qualidade, espaço físico, projeto do

produto, organização do trabalho e gestão de recursos humanos.

O JIT pode ser resumido como concentrando-se em três elementos sobrepostos:

eliminação de desperdícios em todas suas formas; participação de todos os funcionários no

aprimoramento; a ideia de que todo aprimoramento deve acontecer em um regime contínuo,

ou kaizen (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009).

Segundo Corrêa e Gianesi (1993), o JIT tem determinadas limitações: requer que a

demanda seja estabilizada, pois a redução de estoques pode tornar-se um problema se

houver interrupções por motivos administrativos em qualquer dos agentes da cadeia

envolvidos, tais como a ocorrência de greves.

De acordo com os mesmos autores, os requisitos para implementação do JIT numa

organização são:

• Compromisso da alta administração;

• Implementação de medidas de avaliação de desempenho;

• Modificação da estrutura organizacional descentralizando o poder de decisão;

• Organização do trabalho: trabalho em equipa, comunicação, flexibilidade dos

trabalhadores;

• Conhecimento dos processos e eliminação das tarefas que não agregam valor

através do Mapeamento do Fluxo de Valor;

• Melhor relacionamento com os fornecedores para garantir padrão elevado de

qualidade e entregas dentro do prazo.

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2.4.2 Autonomação ( Jidoka)

De acordo com Womack e Jones (2003), autonomação é um sistema de

transferência de inteligência humana para máquinas automáticas, de modo que sejam

capazes de detectar o processamento de qualquer peça defeituosa e imediatamente parar a

produção e acionar um alarme. Isso permite a um único operário controlar várias máquinas

sem correr risco de produzir grandes quantidades de peças defeituosas.

Slack, Chambers e Johnston (2009) descrevem a autonomação (jidoka) como capaz

de humanizar a interface entre operador e máquina. A filosofia da Toyota é de que a

máquina está disponível para servir ao propósito do operador, devendo este ser deixado

livre para exercitar seu julgamento. Assim, jidoka é operacionalizado por meio das ideias “à

prova de falhas” (jidoka de máquinas), autoridade para interromper a linha (jidoka humano) e

controle visual (status visual dos processos de produção e visibilidade dos padrões do

processo).

Shingo (1996) destaca que a separação entre trabalhador e máquina iniciou à

medida que as máquinas foram gradualmente substituindo a força e trabalho humanos. Tal

separação ocorreu a fim de aumentar a eficiência da produção, bem como para promover o

uso mais efetivo e significativo dos recursos humanos. Esta transformação envolve seis

estágios, conforme descritos sequencialmente a seguir, pelos quais a Toyota passou ao

converter, gradualmente, operações manuais em operações executadas por máquinas.

i) Trabalho Manual: estágio no qual os trabalhadores fabricam os produtos

manualmente, sem qualquer ajuda de máquinas;

ii) Alimentação manual com usinagem automatizada: neste estágio, os trabalhadores,

manualmente, alimentam as ferramentas, fixam e removem os produtos das

máquinas, restando às máquinas somente o processo de usinagem.

iii) Alimentação e usinagem automáticos: as máquinas efetuam a alimentação de

ferramentas e a usinagem, enquanto os trabalhadores fixam e removem os produtos,

bem como dão partida nas máquinas. Além disso, resta aos trabalhadores identificar

condições anormais e corrigi-las.

iv) Semiautomático: enquanto a alimentação de ferramentas e usinagem continuam

automáticas, a fixação e remoção dos produtos passam a ser automatizadas. Os

trabalhadores executam somente a detecção e correção de condições anormais.

v) Pré-Automação: neste estágio, os trabalhadores executam somente a correção de

defeitos, ou seja, todas as outras funções, incluindo a detecção destes defeitos, são

realizadas pela máquina.

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vi) Automação: todas as funções são feitas inteiramente de forma automática pelas

máquinas.

A taxa de capacidade-utilização da Toyota é estimada em torno de 40%, ou seja, se

comparada com empresas similares, para um mesmo nível de produção, a Toyota possui

bem mais equipamentos que a maior parte das outras companhias, conferindo a ela uma

taxa de produção real de suas máquinas de duas a três vezes maior. Este fato destaca-se

como um dos pontos fortes da Toyota, sendo o resultado natural da separação do

trabalhador e máquinas (SHINGO, 1996).

Assim, na Toyota, as baixas taxas de operação são preferíveis à ociosidade dos

operadores. Isto significa que poucos operadores operam muitas máquinas

simultaneamente (uma máquina termina seu ciclo enquanto o trabalhador está atendendo

outra) e, por isso, não há o risco destes trabalhadores terem que esperar, ociosos, as

máquinas terminarem suas operações.

Shingo (1996) apresenta duas razões para a Toyota evitar a ociosidade dos

operadores em detrimento do grande número de máquinas: quando totalmente depreciadas,

as máquinas não apresentam custos contábeis; ademais, o custo por hora do trabalhador é

geralmente muito maior que o custo da máquina e, portanto, uma máquina parada é melhor

que um trabalhador ocioso do ponto de vista da redução de custos.

Em termos de planejamento do equipamento, o exposto acima significa que se

baixas taxas de operação puderem ser previstas, equipamentos de menor capacidade e

mais baratos podem ser adquiridos com antecedência. Ademais, a empresa pode projetar

suas próprias máquinas, podendo produzi-las internamente ou não (produção de terceiros),

ou adquirir máquinas de baixo custo de fontes externas, adaptando-as às necessidades da

empresa.

Além disso, o grande número de máquinas confere flexibilidade à produção, que

pode ser aumentada rapidamente durante períodos de pico de demanda, pela simples

contratação de trabalhadores temporários. Devido ao fato de que as máquinas são

aperfeiçoadas para permitir manuseio fácil, é possível que estes trabalhadores temporários

trabalhem de forma independente após um curto período de treinamento.

2.4.3 Heijunka

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Palavra japonesa que significa “nivelar”, Heijunka tem por objetivo garantir fluxo

contínuo de materiais e de informação, evitando estoques e tempos de espera na produção

(GONÇALVES, 2009).

Para Slack, Chambers e Johnston (2009), heijunka significa nivelamento e

suavização do fluxo de itens, sendo a palavra japonesa para o nivelamento do planejamento

da produção, de modo que o mix e o volume sejam constantes ao longo do tempo.

Heijunka é fazer a programação da produção através do sequenciamento de pedidos

em um padrão repetitivo de curta duração, mas que está relacionado à demanda no longo

prazo. A programação nivelada permite a produção constante de itens diferentes, de forma a

garantir um fluxo contínuo, nivelando também a demanda dos recursos de produção (TAKT

CONSULTORIA LEAN, 2010).

Slack, Chambers e Johnston (2009) exemplificam a diferença entre o Heijunka e a

programação convencional por meio da Figura 3 a seguir.

FIGURA 3 - Programação em grandes lotes x Programação nivelada Fonte: Slack, Chambers e Johnston, 2009

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No exemplo, a empresa precisa fabricar um mix de produtos A, B e C, dos quais

3000 unidades do produto A e 1000 unidades dos produtos B e C (cada), sendo capaz de

produzir 250 unidades de quaisquer destes produtos por dia.

Convencionalmente (representado por “a” na Figura 3), se for necessária a produção

deste mix de produtos num determinado período, o tamanho do lote será calculado para

cada produto e os lotes produzidos em uma determinada sequência. Assim, são produzidos

lotes de 600, 200 e 200, respectivamente, para os produtos A, B e C. Tal produção é

caracterizada por uma programação em grandes lotes, tendo como consequências o alto

estoque de material acumulado na unidade produtiva e entre os setores produtivos.

Com a programação nivelada (representada por “b” na Figura 3), o tamanho dos

lotes dos produtos é reduzido a um quarto dos níveis anteriores, promovendo maior

flexibilidade da unidade produtiva e permitindo que um lote de cada produto possa ser

completado em um único dia. Assim, lotes menores de materiais estarão se movendo entre

cada estágio, reduzindo o nível global de estoque em processo na produção. Tão importante

quanto a redução dos estoques é o efeito na regularidade e no ritmo de produção da

unidade, já que, agora, a atividade em processo é a mesma todo dia, fazendo com que o

planejamento e controle de cada estágio da produção seja muito mais fácil.

De acordo Takt Consultoria Lean (2010), a Toyota dividiu o nivelamento em cinco

partes diferentes:

• Grau 1: produção tradicional com grandes lotes. Cada produto é fabricado somente

uma única vez por mês;

• Grau 2: lotes menores. Nesse nível, já foi realizado algum esforço de redução das

séries, conseguindo-se produzir um mesmo produto de duas a dez vezes por mês;

• Grau 3: lotes diários com volumes desiguais. É uma melhoria do grau anterior,

passando a produzir os itens diariamente;

• Grau 4: lotes de tamanho constante, várias vezes ao dia; e

• Grau 5: lote unitário, produção mista e sincronizada. É a melhor eficiência que se

pode conseguir utilizando a técnica do nivelamento. Nela os itens são fabricados

um a um em um sistema altamente flexível.

2.4.4 Kanban

Kanban é a palavra japonesa que significa cartão ou sinal. Segundo Slack,

Chambers e Johnston (2009), o controle Kanban é um método de operacionalizar o sistema

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de planejamento e controle puxado, sendo a sinalização para os processos anteriores de

que mais componentes são necessários. Ou seja, ele controla a transferência de material de

um estágio a outro da operação. De acordo com os autores, há diferentes tipos de kanban:

a) Kanban de movimentação (transporte, retirada ou requisição): é utilizado para

avisar o estágio anterior que o material pode ser retirado do estoque e transferido

para certa destinação. Geralmente, há detalhes como número e descrição do

material, lugar de onde ele deve ser retirado e sua destinação.

b) Kanban de produção: é um sinal para um processo produtivo de que ele pode

começar a produzir um item para que seja colocado em estoque. Inclui número e

descrição do componente, descrição do processo, materiais necessários para

sua produção, destinação a qual deve ser enviado após a produção.

c) Kanban do fornecedor: é usado para avisar ao fornecedor da necessidade de

envio de material ou componentes para um estágio da produção. Embora seja

similar ao kanban de movimentação, este kanban é geralmente utilizado com

fornecedores externos.

Independente de qual seja o tipo de kanban, seu princípio de utilização é sempre o

mesmo: o recebimento de um kanban dispara o movimento, a produção ou o fornecimento

de um lote padronizado de componente/material. Assim, o kanban permite agilizar a entrega

e a produção de peças permitindo que a produção se realize Just in time.

2.4.5 5S

O 5S é uma simples ferramenta para organizar o espaço de trabalho em um modo

limpo, eficiente e seguro para aumentar a produtividade e a gestão visual, bem como

assegurar a introdução ao modelo de trabalho padronizado. Ou seja, o real objetivo do 5S

advém da necessidade de introduzir prática operacional padrão para garantir a eficiência,

repetitividade e segurança no modo de trabalho, pois, a partir do trabalho padronizado,

proporciona uma base estável para gerar todas as outras melhorias advindas da

implementação de ferramentas Lean (LEAN MANUFACTURING TOOLS, 2015).

Segundo Lean Innovations (2015), o 5S é uma técnica que resulta em um local de

trabalho limpo, bem organizado, seguro e completo, com controles visuais e ordem,

tornando-se um ambiente que tem um lugar para tudo e tudo em seu lugar, quando você

precisar dele. "Ordem visual é a base de excelência na fabricação. Quando se está em seu

lugar no chão de fábrica, o trabalho é feito de forma eficiente e eficaz. Quando não há

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ordem visual, o trabalho ainda é feito - mas a um nível de custo que é difícil de justificar"1

(LEAN INNOVATIONS, 2015).

De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2009), 5S significa:

- Seiri (separe): deve-se eliminar o que não é necessário para a atual operação da

atividade, mantendo somente o que é necessário. Na dúvida, jogue fora;

- Seiton (organize): posicionar os itens de forma que sejam facilmente visualizados e

acessados sempre que necessário, além de rotulá-los para que qualquer pessoa possa

encontra-los ou eliminá-los;

- Seiso (limpe): manter tudo limpo e arrumado, sem qualquer lixo ou sujeira no local

de trabalho. O objetivo fundamental é manter tudo em melhores condições para que quando

alguém precisa usar alguma coisa, ele esteja pronto para ser usado. Limpeza de uma área

de trabalho produz e oportunidade de inspecionar visualmente equipamentos, ferramentas,

materiais e condições de trabalho;

- Seiketsu (padronize): manter sempre a ordem e a limpeza. Definir o que é a

condição “normal” da área de trabalho, bem como definir como corrigir condições

"anormais". O padrão deve ser de fácil compreensão e de fácil comunicação;

- Shitsuke (sustente): desenvolver o compromisso e o orgulho em manter os

padrões. Implementar soluções para abordar as causas dos problemas de organização da

área de trabalho. Todos os funcionários devem ser treinados adequadamente e usar

técnicas de gerenciamento visuais.

Segundo o Kaizen Institute (2015), os benefícios da aplicação do 5S advêm do fato

de que esta ferramenta refere-se à organização do local de trabalho e forma uma base

sólida sobre a qual muitas organizações baseiam a sua unidade para a melhoria contínua. É

igualmente aplicável e bem-sucedida em todos os setores, ajudando a alcançar resultados

de alto impacto. Além disso, é uma abordagem sistemática e metódica permitindo que as

equipes organizem o seu trabalho da forma mais segura e eficiente.

2.4.6 Kaizen

1 “Visual order is the foundation of excellence in manufacturing. When it is in its place on the production floor, work gets done efficiently and effectively. When it is not in place, work still gets done – but at a level of cost that is hard to justify” (LEAN INNOVATIONS, 2015).

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Kaizen, segundo sua definição original japonesa, significa “mudar para melhor”, mais

comumente conhecido como “melhoria contínua”. Este conceito é uma parte chave da

filosofia Lean.

Trata-se de um método no sentido de envolver a força de trabalho para chegar a

muitas ideias de melhoria. O poder deste método não é na melhoria pequena individual, mas

no poder combinado de muitas centenas de pequenas melhorias que movem o negócio para

a frente, melhorando-o, constantemente.

Kaizen foi originalmente introduzido no Ocidente por Masaaki Imai em seu livro

“Kaizen: A chave para o sucesso competitivo do Japão”, em 1986. Atualmente, Kaizen é

reconhecido mundialmente como um importante pilar da estratégia competitiva de longo

prazo de uma organização (KAIZEN INSTITUTE, 2015). Esta melhoria contínua se baseia

em alguns princípios orientadores, conforme descritos a seguir:

- Bons processos trazem bons resultados;

- Ver por si mesmo para compreender a situação atual;

- Falar com dados, gerenciar por fatos;

- Tomar medidas para conter e corrigir causas dos problemas;

- Trabalhar em equipe;

- Kaizen é assunto de todos.

Segundo o Kaizen Institute (2015), uma das características mais notáveis do Kaizen

é que grandes resultados vêm de muitas pequenas variações acumuladas ao longo do

tempo. No entanto, esta característica tem sido mal interpretada como significando que

Kaizen é igual a pequenas mudanças. Na realidade, Kaizen significa todos envolvidos em

realizar melhorias, todos os dias em todos os lugares e níveis da organização.

2.4.7 Poka-Yoke

De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2009), concomitantemente à

introdução dos métodos japoneses de melhoramento da produção, surgiu o conceito de

prevenção de falhas, também chamados de poka-yoke.2

Esta ferramenta tem como base o princípio de que os erros humanos são inevitáveis

até certo grau, tornando-se importante que se previna que estes erros se transformem em

defeitos. Assim, poka-yoke são dispositivos ou sistemas simples, preferencialmente baratos,

2 Do japonês yokeru e poka, que significam “prevenir” e “erros de desatenção”, respectivamente.

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que são incorporados ao processo com o objetivo de prevenir erros ocasionados devidos à

falta de atenção dos operadores, que acarretam defeitos (SLACK; CHAMBERS;

JOHNSTON, 2009).

Recentemente, o poka-yoke também tem sido aplicado a operações de serviços,

podendo ser classificados como aqueles que previnem as falhas do prestador de serviço e

aqueles que previnem falhas do cliente.

Alguns exemplos de dispositivos poka-yoke: sensores e interruptores em máquinas

que só permitem sua operação se a peça estiver corretamente posicionada; gabaritos,

contadores digitais, listas de verificação, entre outros.

2.4.8 3P (Processo de Preparação da Produção)

O 3P é uma ferramenta tipicamente aplicada em organizações que já possuem

experiência na implementação de outros métodos Lean e tem como objetivo desenvolver um

sistema que satisfaça as exigências de qualidade, produção e custo.

Concentra-se na eliminação de desperdícios por meio do desenho do processo e

produtos, sendo um método disciplinado de projetar um processo de produção Lean para

um novo produto ou para um produto já existente. Diferentemente do Kaizen e outras

ferramentas Lean que focam em um processo de produção para realizar melhorias, o 3P

concentra-se na eliminação de desperdícios através do projeto do produto e processo.

Segundo Silveira (2013), a implantação do 3P é justificada principalmente nas

seguintes situações:

- Quando deseja-se desenvolver um produto novo minimizando desperdícios sendo

que quanto mais cedo forem envolvidos os projetistas no pensamento Lean,

melhores serão os resultados;

- Para aprovação de capital de investimento, já que o 3P é uma excelente ferramenta

para direcionamento de projetos de investimentos (CAPEX);

- Para decisões com relação a necessidades de mudanças no projeto do produto.

Neste caso, as decisões ficam mais fáceis quando se recorre à revisão do 3P;

- Em situações que exigem mudanças significativas em volume de produção;

- Em situações de realocação de processos.

O 3P é desenvolvido por equipes pré-definidas, que se reúnem com a finalidade de

desenvolver as melhores alternativas para cada etapa do processo analisado. O objetivo

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final é desenvolver um processo, projeto ou produto que atenda da melhor maneira as

necessidades dos clientes.

Para tanto, são avaliadas alternativas com relação a critérios de produção (takt time

desejado, por exemplo) e custos envolvidos para implementar estas alternativas. Uma vez

estabelecidas as alternativas, as melhores são eleitas e implementadas.

O 3P é formado por três etapas, descritas sucintamente a seguir:

- Fase de informações: nesta etapa, deve-se definir o problema, estabelecer metas e

objetivos claros, analisar e diagramar as informações referentes ao problema;

- Fase criativa: nesta fase, são desenvolvidos os processos alternativos, a refinação e

a priorização de ideias;

- Fase de redefinição: etapa na qual ocorrem a validação e a implementação do novo

processo.

Ao final destas etapas, os equipamentos e o sistema produtivo estarão mais

próximos do Sistema Toyota de Produção (STP).

2.4.9 TPM (Total Productive Maintenance)

Manutenção Produtiva Total (TPM, do inglês Total Productive Maintenance) é “a

manutenção produtiva realizada por todos os empregados por meio de atividades de

pequenos grupos” (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009, p. 613). Caracteriza-se por

entender que a manutenção produtiva deve ser implementada como a gestão de

manutenção que reconhece a importância de confiabilidade, manutenção e eficiência

econômica nos projetos de fábricas.

Ou seja, o TPM é visto como a extensão natural na evolução de manutenção

corretiva para manutenção preventiva, adotando alguns dos princípios de trabalho em

equipe e empowerment (autonomia), além de uma abordagem de melhoria contínua para

prevenir falhas (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2009).

De acordo com Lean Manufacturing Tools (2015), TPM é um dos blocos de fundação

de qualquer implementação da filosofia Lean, pois entende que não é possível melhorar

processos se não puder confiar nos equipamentos e máquinas.

O TPM foi desenvolvido por uma empresa chamada Nippondenso (um importante

fornecedor da Toyota), que utilizou a ideia de criação de departamentos de manutenção de

algumas empresas americanas (que focavam em manutenções preventivas e preditivas), e

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tentou combinar estas ideias com aspectos do que na época era chamado de Controle de

Qualidade Total (TQC), atualmente conhecido como Gestão da Qualidade Total (TQM).

A partir de adaptações dos métodos TQM, foi criado o TPM, considerado um

programa de manutenção que envolve toda a organização, assim como TQM faz. O TPM

também se assemelha ao TQM no sentido de que muitas das responsabilidades do dia-a-dia

são transferidas aos operadores, que se tornaram mais envolvidos na manutenção real da

máquina e liberando os especialistas para fazer trabalhos mais preventivos (LEAN

MANUFACTURING TOOLS, 2015).

Segundo Slack, Chambers e Johnston (2009), o TPM visa estabelecer boa prática de

manutenção na produção por meio da busca das cinco metas do TPM, a saber: melhorar a

eficácia dos equipamentos; realizar manutenção autônoma, planejar a manutenção; treinar

todo o pessoal em habilidades relevantes de manutenção; e conseguir gerir os

equipamentos logo no início usando manutenção preventiva.

2.4.10 SMED (Single Minute Exchange of Die)

SMED (do inglês “Single Minute Exchange of Die”, ou simplesmente “troca rápida”), é

o método pelo qual o equipamento pode ser alterado de um produto para o próximo da

maneira mais eficaz e no menor tempo possível. Tem como objetivo reduzir o tempo de

preparação da máquina a um período de apenas um dígito em minutos, sendo uma parte

integrante da TPM. Para tanto, deve-se ter todo o material necessário pronto e próximo à

máquina antes que o processo de preparação se inicie (CORRÊA; CORRÊA, 2013).

A metodologia SMED é de Shigeo Shingo, sendo considerada referência principal

quando se trata de redução dos tempos de setup3 de máquinas, enfatizando a separação e

a transferência de elementos do setup interno para o setup externo (SHINGO, 1985). Ou

seja, ressalta a conversão do trabalho executado enquanto a máquina está parada (setup

interno) em trabalho executado enquanto a máquina está operando (setup externo).

Segundo Slack, Chambers e Johnston (2009), há três métodos principais para

realizar essa transformação:

- Pré-montagem das ferramentas de modo que uma unidade completa seja fixada à

máquina, em vez de ter que montar vários componentes enquanto a máquina está parada;

- Montagem de diferentes ferramentas ou matrizes em um dispositivo padrão;

3 Tempo de setup: tempo de configuração

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- Facilitação da carga e descarga de novas ferramentas e matrizes ao utilizar, por

exemplo, dispositivos simples tais como esteiras rolantes.

Os benefícios da utilização do SMED são relacionados na figura a seguir, de acordo

com o Kaizen Institute (2015).

FIGURA 4 - Benefícios do SMED Fonte: Adaptado pela autora

2.5 Lean Construction

2.5.1 História e conceito

Diante dos ótimos resultados obtidos pela Toyota, todos advindos do TPS (Toyota

Production System), outros setores têm buscado adaptar e implementar as ferramentas da

filosofia Lean em suas atividades, com o intuito de reduzir os desperdícios e, por

conseguinte, aumentar os lucros. Corroborando esta busca, diversos artigos e pesquisas

concluíram que o uso das ferramentas Lean em diversos setores diminuiu desperdícios

(custos, tempo, recursos, materiais e mão de obra), concomitantemente com o aumento da

qualidade de serviços, produtos e da satisfação de clientes.

Seguindo esta tendência, em 1992, o finlandês Lauri Koskela publicou o trabalho

Application of the New Production Philosophy to Construction, no qual adaptou os princípios

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do Sistema Toyota de Produção para a construção civil, a fim de beneficiar o setor da

construção civil com um sistema de gestão de qualidade de sucesso como aquele

implementado pela Toyota. Desta publicação, nasceu uma nova filosofia de geração de

valores e conceituada em uma produção sem geração de estoques e desperdícios chamada

de Lean Construction.

2.5.2 Princípios do Lean Construction

Devido à dificuldade de aplicação direta das ferramentas desenvolvidas para a

manufatura na área da construção civil, recorre-se à adaptação destas ferramentas a partir

de níveis mais generalizados, tal como a partir dos princípios estabelecidos (PICCHI, 2003).

Segundo Fisher (1995), a partir da definição de Womack e Jones acerca do Lean

Production, já explicitada anteriormente, temos que os princípios do Lean Construction

podem ser definidos como:

• trabalho de equipe;

• comunicação;

• uso eficiente de recursos;

• eliminação de desperdícios; e

• melhoria contínua.

Assim, Koskela (1992) apresentou onze princípios heurísticos para o projeto e

melhoria de fluxo de processo. Tais princípios tem embasado diversos trabalhos acerca de

Lean Construction, possuindo semelhanças e uma linha comum com os cinco princípios do

Lean Thinking destacados no item 2.3 desta monografia, como se pode ver na Figura 4 e

explicitados posteriormente.

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FIGURA 5 - Comparação entre os Princípios do Lean Thinking e do Lean Construction Fonte: Adaptado pela autora de Gonçalves, 2009

Os onze princípios podem ser explicados da seguinte forma:

1. Aumentar o valor do produto por meio da consideração das necessidades dos

clientes: as necessidades dos clientes internos e externos devem ser identificadas e essa

informação deve ser considerada no planejamento e gestão da produção. A aplicação deste

princípio envolve o mapeamento do processo, no qual identifica-se sistematicamente os

clientes e os respectivos requisitos para cada fase.

2. Reduzir tempo de ciclo (Lead Time): o tempo de ciclo refere-se ao tempo

necessário para que uma peça atravesse um fluxo, ou seja, compreende a soma dos

tempos de processamento, espera, transporte e inspeção. A redução do lead time pode ser

adquirida por meio da diminuição das três últimas parcelas, ou também através da

Produção PuxadaAumentar a flexibilidade do resultado final

Introduzir melhoria contínua no processo

Fazer benchmarking

Perfeição

Valor

Fluxo de Valor

Fluxo Contínuo

Princípios do Lean Thinking

Aumentar o valor do produto através da consideração dos requisitos dos clientes

Reduzir o tempo de ciclo

Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor

Simplificar através da redução de passos, partes e ligações

Focar o controle no processo global

Manter equilíbrio entre melhorias no fluxo e nas conversões

Reduzir a variabilidade

Aumentar a transparência do processo

Princípios do Lean Construction (KOSKELA, 1992)

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eliminação de inventário e descentralização na hierarquia organizacional (PENEIROL,

2007). Com a redução do lead time, pode-se obter as seguintes vantagens: entrega mais

rápida ao cliente; redução da necessidade de elaboração de relatórios sobre procura futura;

redução de vulnerabilidade do sistema da produção às alterações pedidas pelo cliente;

gestão dos processos mais fácil, pois o volume de produtos inacabados (trabalho em

processo) é menor; a aprendizagem e experiência tende a aumentar, pois com lotes

menores, há menos sobreposição na execução de diferentes unidades.

3. Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor: compreende a eliminação

de desperdício. Este princípio não pode ser aplicado de forma simplista, pois podem existir

atividades que, embora não criem valor para o cliente final, elas são muito valorizadas pelo

cliente interno, como por exemplo o planejamento, a contabilidade, ou a prevenção de

acidentes.

4. Simplificar através da redução de passos, partes e ligações: a simplificação pode

ser feita tanto por meio da eliminação de tarefas que não agregam valor, quanto pode ser

obtida reconfigurando os passos ou partes do processo que agregam valor. Há várias

formas de simplificar o processo de produção, tal qual o uso de elementos pré-fabricados,

equipes polivalentes, planejamento eficaz do processo, etc.

5. Focar o controle no processo global: compreende a otimização do fluxo global do

processo por meio da atribuição de autonomia às equipes de trabalho e cooperação a longo

prazo com os fornecedores (PENEIROL, 2007).

6. Manter equilíbrio entre melhorias no fluxo e nas conversões: segundo Koskela

(2000), as melhorias no fluxo e na conversão estão interligadas da seguinte maneira:

melhores fluxos requerem menor capacidade de conversão e, por conseguinte, menor

investimento em equipamentos; fluxos mais controlados facilitam a implementação de novas

tecnologias na conversão; novas tecnologias na conversão podem acarretar menor

variabilidade e consequentes benefícios no fluxo.

7. Reduzir a variabilidade: há vários tipos de variabilidade, dentre elas: variabilidade

do tempo de processamento (tempo para processar uma tarefa em um canteiro de obra);

variabilidade do fluxo (chegada de tarefas a um canteiro de obra); e variabilidade da procura

(relacionada com os desejos e necessidades dos clientes de um processo). Para este

princípio utiliza-se o conceito de padronização, a fim de manter estabilidade de processos,

garantindo que as atividades sejam realizadas sempre da mesma forma e na mesma

sequência, num determinado intervalo de tempo e com mínimo de desperdícios,

conseguindo elevada qualidade e alta produtividade (NISHIDA, 2007). Além da

padronização, a variabilidade pode também ser reduzida por meio do uso de equipamentos

que diminuam a probabilidade de erro humano, bem como aplicação de boas práticas na

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gestão de fornecimentos com base em alianças e acordos com fornecedores (TREVILLE &

ANTONAKIS, 2006).

8. Aumentar a transparência do processo: além de diminuir a propensão ao erro, a

transparência do processo aumenta a motivação para melhorias. Com este princípio, a

identificação de problemas na execução do processo é facilitada por meio de dispositivos e

indicadores que contribuem para uma melhor disponibilização da informação no posto de

trabalho. Ademais, contribui para a transparência do processo a remoção de obstáculos

visuais (divisórias e tapumes), o uso de dispositivos visuais (cartazes, sinalização) e

indicadores de desempenho, bem como a aplicação de programas de melhoria da

organização e limpeza dos espaços, tal como o 5S (KOSKELA, 2000).

9. Aumentar flexibilidade do resultado final: compreende a capacidade de alteração

do produto final de acordo com os desejos do cliente sem gerar grande aumento de custos.

A aplicação deste princípio pode ser realizada por redução dos tamanhos dos lotes e do

tempo de ciclo, na personalização do produto no tempo mais tarde possível, na utilização de

processos construtivos que permitam flexibilidade, e de mão de obra polivalente que permita

uma adaptação das mudanças da demanda (MARQUES, 2007).

10. Introduzir melhoria contínua no processo: este princípio pode ser alcançado à

medida que os outros vão sendo cumpridos. A redução de desperdícios e o aumento de

valor para o cliente devem ocorrer de forma contínua na empresa. Para além da gestão

visual implementada, deve ser promovido o trabalho em equipe e a gestão participativa, que

são considerados requisitos essenciais para introdução de melhoria contínua no processo,

por meio do envolvimento das pessoas da organização, usando caixas de sugestões,

premiando o eficiente cumprimento de tarefas, e estabelecendo planos de carreira

(POZZOBON; HEINECK; FREITAS, 2004, apud JUNQUEIRA, 2006).

11. Fazer benchmarking: este é essencialmente um procedimento de comparação da

performance atual com a melhor prática conhecida, num determinado segmento ou aspectos

específicos, aplicado em atividades que agregam valor. Isso implica o conhecimento dos

processos próprios da empresa e a identificação das boas práticas em empresas similares.

Assim que a performance é comparada com a melhor, as atividades selecionadas e suas

metas são redefinidas de acordo com os objetivos estratégicos da empresa.

2.5.3 Aplicação do Lean Construction

Segundo Gonçalves (2009), os principais problemas encontrados na construção civil

estão estabelecidos em baixa produtividade, falta de segurança, fracas condições de

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trabalho e qualidade insuficiente. A fim de minimizar estes problemas, várias soluções

apresentadas tiveram como referência a manufatura, tal como a industrialização (pré-

fabricação e modularização), integração computorizada e automação (KOSKELA, 1992).

Conforme exposto, outra referência da manufatura exportada para a construção foi o

sistema de gestão Lean, já que foram grandes os ganhos apresentados por diversos

estudos sobre a aplicação deste na manufatura. Desta forma, surgiram estudos sobre a

aplicabilidade de Lean Production na construção, o denominado Lean Construction. Tal

aplicabilidade é possível devido ao próprio processo construtivo ser um tipo de produção, no

qual se realiza a gestão de projetos e, tal como o sistema Lean Production, o Lean

Construction focaliza a entrega de valor de forma viável e rápida para o cliente, e desafia a

crença nas relações de permuta (trade-off) entre tempo, custo e qualidade (PENEIROL,

2007).

Uma grande diferença entre Lean na construção e na manufatura é a forma como o

trabalho é entregue à equipe. No Lean Production, o trabalho é iniciado e segue para uma

linha de montagem baseada no projeto da fábrica, enquanto o Lean Construction é

principiado por um ato administrativo, o planejamento (HOWELL, 1999).

Peneirol (2007) apresenta um quadro comparativo entre o sistema de gestão

convencional da construção e o sistema Lean Construction, de forma que seja possível

melhor identificar as diferenças entre eles.

QUADRO 1 - Comparação entre gestão convencional da construção e Lean Construction

Gestão convencional da construção Lean Construction Conhecimento sobre como transformar

materiais em estruturas Conhecimento (também) sobre como transformar materiais em estruturas

É provável que aconteçam mudanças de intenções e erros de projeto durante a

construção, que serão resolvidos e novamente preparados pela equipe de

construção

O produto e processo de construção são projetados em conjunto, a fim de evitar

erros/omissões de desenho e dimensionamento que levantem questões

de possibilidade de execução

Dá-se poder aos gestores para que sejam os únicos responsáveis pelo planejamento

Os gestores são os primeiros a planejar (processos e fases), e os encarregados e trabalhadores os últimos (as operações)

Assume-se que a redução de custos numa peça irá reduzir os custos de todo o projeto,

ou seja, o todo é a soma das partes

Trata-se o sistema como um todo e usa-se o Target Costing para atingir reduções de custo, ou seja, o todo é maior que a soma

de cada parte

A produção é empurrada ao nível local, com o intuito de alcançar eficiência global

A produção é empurrada para maior processamento do sistema, considerando ser a única forma de alcançar eficiência

global O processo é gerido utilizando os

elementos que referem a evolução de custos – os quais estão na base dos

pagamentos

Utiliza-se os elementos de evolução de custos como um INPUT para o

planejamento e controle das operações

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A gestão é guiada pelo paradigma de retornos em termos de

prazo/custo/qualidade, no qual só se pode ter dois deles, mas não o terceiro

Desafia-se o paradigma de retorno em termos de tempo/custo/qualidade ao remover as fontes de desperdício nos

processos de projeto/produção, de forma a promover um melhor e mais confiável fluxo

de trabalho As operações de produção não são

planejadas ou controladas, a não ser que sejam verificados desvios de custo e de prazo; espera-se até que os problemas aconteçam para se reagir no sentido de voltar a ter o projeto no rumo definido

As operações de produção são planejadas e controladas de forma a prevenir que os

indicadores de evolução do projeto não se desviem dos prazos e custos definidos

Considera-se fornecer valor ao cliente quando se maximize a performance em

relação ao custo – perspectiva Value Engineering

Considera-se fornecer valor ao cliente quando o valor do produto é aumentado (a infraestrutura efetivamente corresponde às

necessidades do cliente), por meio da gestão do processo de valor da construção

– perspectiva Value-based Management Fonte: Peneirol, 2007

O setor da construção caracteriza-se por ser complexo e diversificado, abrangendo

diversos agentes e atuando em distintas fases de um empreendimento. Para aplicação do

Lean Construction, é necessário primeiramente conhecer os fluxos da construção civil.

De acordo com Picchi (2003), estes fluxos são: projeto (da concepção ao

consumidor); construção (do pedido à entrega, da matéria-prima à entrega); e sustentação

(ao longo da vida até à reciclagem).

No entanto, considerando os diversos agentes intervenientes na execução do

empreendimento, adotou-se a nomenclatura proposta por Picchi (2003), sendo os fluxos

definidos conforme figura a seguir.

FIGURA 6 - Esquema de fluxos na construção civil

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Fonte: Picchi, 2003

a) Fluxo de negócio: liderado pelo dono de obra, começa na identificação das

necessidades, passando pelo planejamento geral do empreendimento, aprovação do

mesmo, obtenção de financiamento, contratações, controle do projeto e construção,

recepção da obra e entrega ao cliente;

b) Fluxo de projeto: liderado pelo arquiteto ou engenheiro projetista, envolve a

identificação de necessidades e briefing com o dono de obra e seus representantes;

c) Fluxo de obra: liderado pela empresa a quem se confiou a obra (construtora),

envolve um elevado grau de subcontratação;

d) Fluxo de suprimentos: liderado pela empresa construtora, envolve fornecedores de

serviços e materiais;

e) Fluxo de uso e manutenção: liderado por empresas de manutenção, geralmente

diferentes das envolvidas nos outros fluxos. Começa após a entrega e compreende o

uso, operação e manutenção, reparações, remodelação e demolição.

2.5.3.1 Ferramentas e metodologias de aplicação Lean Construction

Alarcón et al. (2005, apud MARQUES, 2007) estudaram vários projetos com

aplicação Lean, identificando os principais impedimentos inerentes à implementação desta

abordagem, que são:

- Falta de tempo para implementar novas práticas em projetos;

- Falta de formação;

- Falta de elementos necessários à organização para a implementação correta;

- Falta de crítica pessoal que limita a capacidade de aprendizagem com os erros.

Por meio do conhecimento dos principais obstáculos dos princípios Lean, dos

objetivos pretendidos e da situação da empresa, são escolhidas as ferramentas e

metodologias a aplicar. Além das ferramentas apresentadas anteriormente (5S, Kanban,

Poka-Yoke, SMED, TPM, entre outros), a seguir são apresentadas as principais

metodologias e ferramentas de aplicação Lean Construction. Dentre estas ferramentas, será

dado enfoque no Índice de Produtividade em Obras (IPO), em conjunto com o Modelo dos

Fatores, que foram as ferramentas mais utilizadas neste estudo. Ademais, serão

explicitados o mapeamento de fluxo de valor e o Last Planner System, que também são

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muito utilizados na aplicação do Lean Construction e cujo embasamento teórico ajudou a

nortear a aplicação do Lean Construction neste estudo de caso.

2.5.3.1.1 Índice de Produtividade em Obras (IPO) e o Modelo dos Fatores 4

De forma a quantificar os níveis de produtividade, bem como identificar gargalos e

desperdícios em obras, foi desenvolvida uma ferramenta metodológica, aqui denominada

como Índice de Produtividade em Obras (IPO). Esta ferramenta utiliza como instrumento de

análise o Modelo de Fatores.

O Modelo dos Fatores é um método de medição e análise da produtividade da mão

de obra voltado exclusivamente para a indústria da construção civil. O seu nome advém do

fato de o mesmo estar baseado no estudo dos fatores que afetam a produtividade da mão

de obra.

Este modelo se diferencia de outros em vários aspectos, dentre os quais ressalta-se

o foco na produtividade no nível da equipe de trabalhadores, considerando o efeito da curva

de aprendizagem e incluindo vários outros fatores que podem ser mensurados.

O Modelo de Fatores considera que a simples apropriação de índices de

produtividade não será tão importante ou útil caso não esteja associada ao entendimento da

mesma. Desse modo, conhecer os fatores que fazem a produtividade de uma obra ser

melhor ou pior que outra é tão ou mais relevante que simplesmente calcular índices de

produtividade.

As principais ideias que servem de fundamento para o Modelo de Fatores são:

a) O modelo se refere à discussão da variação da produtividade. Se as condições

de trabalho se mantivessem constantemente iguais a uma situação padrão, a

produtividade somente variaria se houvesse aprendizado;

b) Duas categorias de fatores – qualitativos e quantitativos – podem, quando

presentes, fazer com que a produtividade estabelecida seja diferente da de

referência.

Em face da importância do estudo da produtividade da mão de obra, há que se

discutir como proceder à avaliação da mesma. A experiência mostra que uma das grandes

4 Toda a explicitação acerca do IPO e do Modelo de Fatores, bem como dos indicadores, apropriações, cálculos e análises de produtividade deste trabalho foi retirada dos documentos que ditam os padrões e procedimentos vigentes na E1, caracterizada no Capítulo 4 deste trabalho.

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dificuldades em se tratar este assunto diz respeito, muitas vezes, à falta de atenção quanto

à padronização dos sistemas de mensuração da produtividade.

Portanto, uma recomendação fundamental para tratar a produtividade é a

necessidade de se definir uma linguagem padronizada sobre o assunto.

Atualmente, adota-se o indicador denominado “Razão Unitária de Produção” (RUP)

como mensurador da produtividade, relacionando os recursos humanos demandados,

avaliados em homens no tempo dedicados ao trabalho (homens x hora, ou Hh), com a

quantidade de serviço (QS) realizado, conforme demonstrado na Figura a seguir.

FIGURA 7 - Cálculo da Razão Unitária de Produção (RUP) Fonte: Padrão E1

Ressalta-se, por essa definição, que valores de RUP altos expressam produtividades

ruins; valores de RUP baixos, melhores valores de produtividade. Uma vez que se pretende

padronizar a avaliação da RUP, quatro aspectos devem ser padronizados:

1. A definição de quais Homens estão inseridos na avaliação;

2. A quantificação das horas de trabalho a considerar;

3. A quantificação do serviço;

4. A definição do período de tempo ao qual as mensurações se referem.

Assim, em resumo, o método aplicado para avaliar a produtividade nas obras e, por

conseguinte, analisar os dados e aplicar fundamentos do Lean Construction para buscar

melhorias tanto nos índices de produtividade quanto em outras áreas (segurança, meio

ambiente e saúde, por exemplo), objeto de estudo desta monografia, consiste basicamente

de duas partes: a aferição da produtividade (medida do tempo pela quantidade de serviço

produzido) e a da improdutividade, que faz o acompanhamento e a análise dos tempos não

produtivos e que permite verificar se seu impacto é baixo ou alto e se o problema é

episódico ou recorrente.

Para tanto, um profissional acompanha a realização de uma tarefa por um

determinado grupo desde o momento em que ele chega ao canteiro para trabalhar até o fim

do expediente, registrando tudo o que acontece e preenchendo todas as ocorrências em um

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terminal PDA (Personal Digital Assistant), utilizando uma matriz com as ocupações pré-

determinadas.

Com as informações obtidas pela observação do trabalho, são realizadas análises a

fim de detectar pontos de melhoria (desperdícios, gargalos, etc.) e vislumbrar as melhores

ações para dirimir os problemas que impactam na produtividade.

A seguir, são descritos todos os pormenores da ferramenta IPO (Índice de

Produtividade da Obra), desde a apropriação das entradas (coleta de dados) até as

possíveis análises e conclusões dessas aferições, que servem de base para a

implementação do Lean Construction nas obras do presente estudo de caso.

A apropriação das entradas considera como as horas disponíveis para o trabalho o

tempo total que o operário está presente no canteiro e pronto para trabalhar. Não se adota a

postura de computar apenas os tempos produtivos, pois considera-se que,

independentemente de o operário estar mais ou menos engajado em diferentes momentos

do dia, em todos estes momentos ele está disponível.

O tempo disponível para o trabalho é apropriado de acordo com uma estrutura pré-

definida de ocupações. Esta estrutura possui um primeiro nível – padrão para todos os

processos de produção – que se subdivide em sete classes de ocupação, conforme

explicitado a seguir e exemplificado por meio dos números correspondentes na Figura 5:

1) serviço: parcela do tempo na qual o colaborador executa os serviços da tarefa

acompanhada;

2) delay: parcela do tempo na qual o colaborador acompanhado aguarda a execução

de um serviço inerente e necessário à continuidade da tarefa acompanhada, ou seja, é uma

paralisação inerente ao serviço;

3) mobilização: preparação dos colaboradores para a execução de uma tarefa, seja

preparando o local de trabalho, seja vestindo Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)

ou separando ferramentas. Também compreende a desmobilização;

4) paralisação: ocorrências que impactam a execução das atividades decorrentes de

falhas na gestão de recursos. Inclui necessidades humanas;

5) canteiro: ocorrências associadas a Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS),

condições climáticas e requisitos legais e contratuais;

6) deslocamento: ocorrências que envolvam a locomoção do colaborador, seja na

entrada, na saída, no refeitório, etc.;

7) apoio: execução de tarefas diferentes da tarefa objeto de estudo.

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FIGURA 8 - Como a produtividade é monitorada nas obras (ocupações) Fonte: Padrão E1

A partir do primeiro nível, cada uma das setes classes de ocupação é subdividida em

subclasses, que assumem particularidades em razão dos processos considerados.

Muitos processos de produção contemplam, na sua execução, a realização de um

conjunto de etapas construtivas, que podem acontecer em momentos distintos, contar com

profissionais de diferentes especialidades, envolver equipamentos diferenciados, entre

outros.

Por razões como as citadas, que acabam por conferir complexidade à apropriação

em campo, a mensuração da produtividade torna-se factível quando tratada no âmbito das

etapas de cada processo construtivo.

Caracteriza-se a etapa construtiva como sendo aquela capaz de produzir unidades

mensuráveis de serviço, sendo que tais unidades de serviço são específicas a cada etapa

construtiva, conforme exemplificado na figura 6 a seguir.

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FIGURA 9 - Unidades para quantificação do serviço por processo Fonte: Padrão E1

A definição destas unidades carece, para alguns casos, de estudos mais

aprofundados para que o indicador obtido seja realmente expressivo. O exemplo do

indicador definido para a mensuração da produtividade para a etapa de acoplamento

(processo de montagem de tubulação) elucida bem esta questão. Considerar como unidade

de mensuração “toneladas”, poderia comprometer as análises: tubulações de maiores

diâmetros e, portanto, mais pesadas, mascarariam o indicador em razão dos altos valores

de quantidade de serviço.

Por exemplo, acoplar um spool 5 de 8” ou um spool de 10” demandam esforços muito

próximos. No entanto, se considerada a tonelada para expressar o serviço realizado, ter-se-

iam valores de RUP distintos. Neste caso, definiu-se como unidade de mensuração das

saídas o número de juntas acopladas em vez do peso dos spools.

Quanto aos indicadores de produtividade, pode-se ter diferentes tipos de RUP em

função do período de tempo ao qual se relacionam as medidas de entrada e saída.

A RUP pode ser medida com base diária (calculada a partir dos valores de Hh e

quantidade de serviço relativos ao dia de trabalho em análise) ou cumulativa (calculada a

partir dos valores de Hh e quantidade de serviço relativos ao período que vai do primeiro dia

em que se estudou a produtividade até o dia em questão).

5 Spool, na construção civil, é o termo utilizado para denominar um pequeno trecho de tubulação pré-montado que será soldado a outros spools para completar uma linha de tubulação.

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A RUP diária demanda maior esforço de coleta, na medida em que, a cada dia, ter-

se-iam de computar Hh e QS. Por outro lado, significa uma avaliação constante da

produtividade, fomentando o envolvimento dos usuários da informação; assim é que, ao

receber, dia-a-dia um diagnóstico quanto ao seu desempenho, o gestor fica constantemente

envolvido com a produtividade. Ganha-se, também, mais sensibilidade quanto ao efeito dos

vários fatores que podem influenciar a produtividade; isto ocorre, pois a variação destes

fatores, numa obra, é muitas vezes um fenômeno de base diária.

Enquanto a RUP diária mostra o efeito sobre a produtividade dos fatores presentes

no dia de trabalho, a RUP cumulativa serve para se detectar tendências de mais longo

prazo, de desempenho do serviço, sendo útil para se fazer previsões quanto ao andamento

da obra em questão. É com base em curvas desse tipo que fica mais fácil vislumbrar os

níveis finais que serão alcançados caso não se varie muito as condições vigentes.

As RUPs diária e cumulativa podem ser representadas graficamente, conforme

demonstrado no Gráfico 1 a seguir.

GRÁFICO 1 - RUP diária e cumulativa Fonte: Padrão E1

É possível, também, que se estude a produtividade através de RUP cujos períodos

analisados sejam intermediários aos já citados. Poder-se-ia ter RUPs periódicas, em que se

analisa o ciclo de execução de um determinado serviço, como, por exemplo, a execução de

fôrmas de um certo pavimento.

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Na medida em que se reúne, no cálculo desta RUP, o desempenho de alguns dias

(por exemplo, na RUP semanal, os valores de produtividade representam o desempenho

acumulado ao longo dos dias de cada semana), possui um efeito semelhante, em curtos

prazos, ao da RUP cumulativa, “escondendo” um pouco os efeitos de bons ou maus dias

esporádicos. A RUP periódica (semanal) é representada no Gráfico 2 a seguir.

GRÁFICO 2 - RUP diária e periódica Fonte: Padrão E1

Possui um interesse particular na medida em que, lidando com um período de dias,

onde tal período pode ser definido em termos de prazo (por exemplo, semanas) para o qual

se possa fixar metas de produtividade, que poderiam ser checadas sucessivamente ao final

de cada período.

Um outro tipo de RUP, bastante importante, é a RUP potencial. Define-se essa RUP

como a produtividade considerada representativa de um bom desempenho e passível de ser

repetida muitas vezes na obra que esteja sendo avaliada. É definida, matematicamente,

como a mediana das RUP diárias cujos valores estejam abaixo do valor da RUP cumulativa

ao final do período de estudo.

Os princípios que norteiam essa definição baseiam-se nas seguintes considerações:

i) pela própria definição de RUP cumulativa, seu valor é formado pela agregação das

produtividades ocorridas tanto em dias “bons” quanto em dias “ruins”. Assim, pode-se dizer

que qualquer valor superior ao da RUP cumulativa, não representa um dia de boa

produtividade;

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ii) por sua vez, os valores de RUP diária inferiores ao da RUP cumulativa sugerem

dias com produtividade de normal a boa. Assim, o valor mediano destes dias representa um

dia de produtividade boa em relação àquela obra e, mais do que isso, uma produtividade

real, possível de se obter na respectiva obra.

A RUP potencial é demonstrada no Gráfico 3 a seguir.

GRÁFICO 3 - RUP diária, cumulativa e potencial Fonte: Padrão E1

Entender a produtividade significa mensurá-la e detectar os fatores que estão

associados à sua ocorrência. Assim é que, para entender a produtividade ocorrendo, é

necessário coletar dados relativos à equipe trabalhando (Homens), às horas disponibilizadas

para o trabalho (horas), à quantidade de serviço realizada (QS), aos fatores relevantes

presentes e às ocorrências diárias que impactem o andamento dos serviços. Este é o

levantamento em campo.

Cabe ainda comentar que se podem ter critérios para a definição de quantos e quais

serviços acompanhar. É sempre importante priorizar os serviços aos quais se poderia dar

mais atenção em termos de gestão da produtividade. Pode-se citar que:

i) Serviços que façam parte do caminho crítico do empreendimento;

ii) Serviços que demandam maiores quantidades de mão de obra, uma vez que a

melhoria da produtividade teria um efeito mais significativo em termos gerais;

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iii) Serviços que se detenha menor conhecimento. Normalmente é nestas atividades

que podemos encontrar as maiores oportunidades de melhoria.

iv) Serviços mais longos permitem oportunamente maiores intervenções durante sua

ocorrência, o que incentiva o diagnóstico, subsidiando a condução dos mesmos.

As principais características do levantamento em campo são:

- Levantamentos diários de: Hh, QS, fatores de conteúdo do trabalho, fatores de

contexto do trabalho, e ocorrências marcantes;

- Acompanhamento da equipe ao longo do dia de trabalho por períodos pré-

determinados;

- Foco na equipe de colaboradores, e não no indivíduo;

- As equipes são escolhidas aleatoriamente no início do dia.

Os dados podem ser apropriados a partir de diferentes fontes, que costumeiramente

eram classificadas como disponíveis apenas “antes” ou “após” o início da execução. A

proposta aqui é que os dados sejam coletados durante a execução do serviço.

Equipes de Técnicos de Produtividade fazem um acompanhamento intensivo de

equipes de colaboradores ao longo de toda a sua jornada de trabalho. O foco está na equipe

de colaboradores, que é escolhida de maneira aleatória no início do dia. O período de

acompanhamento pode ser pré-determinado e neste intervalo de tempo o foco fica

direcionado para apenas uma etapa do processo construtivo.

Em resumo: após a definição da etapa a ser acompanhada no período, os Técnicos

de Produtividade acompanham equipes designadas para esta função. Estas equipes são

trocadas a cada dia, de maneira a se ter uma amostra representativa da produtividade

naquela etapa construtiva. O período mínimo de acompanhamento pode ser de:

- Duas semanas, quando o serviço está sendo acompanhando pela primeira vez em

uma determinada frente de obra;

- Uma semana, quando o serviço já fora acompanhado em outros momentos, naquela

mesma frente de obra e se deseja saber qual a situação de momento;

- Indeterminado, para serviços críticos, que demandam um acompanhamento

intensivo e aprimoramento constante.

Diferentes indicadores de produtividade podem ser utilizados. É importante sempre

entender o que cada um deles pode contribuir em termos da análise da produtividade em

estudo, para que possam ser adotados coerentemente com a tomada de decisões que

visam subsidiar.

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Os indicadores de produtividade são cada vez mais valorizados como subsídio para

a tomada de decisões, sendo que tal suporte é tão melhor quanto mais apuradas e

detalhistas forem as informações propiciadas aos gestores.

A rapidez no processamento das informações é imprescindível para a promoção de

melhorias na produtividade.

As informações apropriadas no campo em dispositivos móveis (Personal Digital

Assistant - PDAs), com software especificamente desenvolvido para este fim, são enviadas

para um banco de dados. Um sistema se responsabiliza por processar os dados e gerar

Informes Periódicos de Produtividade, bem como um conjunto de informações

complementares.

A partir deste processamento, são muitas as análises permitidas a partir do conjunto

de informações disponibilizadas. Sem a necessidade de referências externas, pode-se saber

se a produtividade vai bem ou mal. Se mal, é possível que se entre no detalhe, “dissecando”

o indicador de produtividade à procura de um caminho seguro para a proposição de

melhorias.

As análises podem ser feitas internamente à obra: a partir de levantamentos

sistemáticos na obra, instaura-se o “círculo virtuoso da produtividade”. O aprendizado é

constante e as melhorias devem ser contínuas, e a obra em andamento é a principal

beneficiada.

Um primeiro conjunto de informações disponibilizadas para análise trata-se dos

valores de RUP diária, cumulativas e potencial, plotadas em um único gráfico, conforme

demonstrado a seguir.

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FIGURA 10 - Plotagem das RUPs para análise Fonte: Padrão E1

A partir da análise destas informações é possível saber se os resultados estão

positivos ou negativos no âmbito da produtividade na obra em análise. A constatação de

grandes dispersões nos valores diários da produtividade pode sinalizar sobre-consumos

indesejados de recursos.

A diferença entre os valores da RUP cumulativa e RUP potencial (expressa pela

equação mostrada a seguir) quantifica a perda de produtividade e, por conseguinte, o

potencial de melhoria para a obra em questão.

Perda mo (%) = (RUP cum – RUP potencial) / (RUP potencial) x 100

Quando se tem valores referenciais externos de produtividade (benchmarks), eles

podem se trazidos, plotados no mesmo gráfico e confrontados com a RUP potencial,

sinalizando a existência, ainda, de espaço para melhoria da produtividade.

Quando o cenário visualizado por meio do gráfico das RUP sinaliza “espaço para

melhorias”, tal como visto no exemplo anterior, análises mais profundas tornam-se

necessárias.

A primeira ação consiste em “estratificar” o indicador de produtividade, de acordo

com níveis de ocupação da mão de obra. A “quebra” do indicador revela sua composição,

isto é, a quantidade de Hh consumida em cada uma das ocupações para realizar um valor

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unitário de serviço. Os valores são expressos graficamente através de barras, denominadas

“réguas verticais de produtividade”, conforme Figura 7 a seguir.

GRÁFICO 4 - Estratificação do indicador de produtividade Fonte: Padrão E1

Há um padrão na formatação de apresentação destas réguas de produtividade: cores

específicas para cada uma das sete classes do primeiro nível, bem como ordenamento na

disposição das mesmas.

As informações disponibilizadas a partir das réguas são reveladoras. No exemplo do

Gráfico 4, percebe-se que, para realizar uma unidade de serviço, foram consumidos 8 Hh

em serviço, 2 Hh em delay, 3 Hh em mobilização, 10 Hh em paralisação, 3 Hh em

deslocamento, 1 Hh em canteiro, e 1 Hh em apoio.

A partir desta visão analítica, começa a se ter um direcionamento para investigação e

tratativa da produtividade com vistas a combater as frações de improdutividade que

começam a ser evidenciadas.

Uma maneira própria de apropriação dos dados em campo permite que os todos os

valores de RUP sejam estratificados, tal como os valores de RUP diários, demonstrados no

Gráfico 5.

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GRÁFICO 5 - Estratificação das RUPs diárias Fonte: Padrão E1

Assim como as RUPs diárias, os valores de RUPs periódicas também podem ser

estratificados, conforme Gráfico 6. Graficamente pode-se perceber, por meio desta

abordagem, como a produtividade “reage” às ações que eventualmente estejam sendo

implementadas.

GRÁFICO 6 - Estratificação das RUPs periódicas Fonte: Padrão E1

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Finalmente, a estratificação dos valores da RUP cumulativa, conforme demonstrado

no Gráfico 7, evidencia o comportamento do período, sendo útil para caracterizar o impacto

de cada uma das frações que compõem a produtividade característica da obra.

GRÁFICO 7 - Estratificação das RUPs cumulativas Fonte: Padrão E1

A estratificação do indicador de produtividade não está limitada ao primeiro nível.

Estratificações sucessivas podem ser feitas a fim de aprofundar as análises e verificar as

composições das frações dos níveis superiores, conforme demonstrado na Figura 11.

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FIGURA 11 - Identificação, quantificação e tratamento das interrupções Fonte: Padrão E1

É assim que, por exemplo, causas de interrupções são nominalmente conhecidas,

bem como o tamanho da sua representatividade na composição do indicador.

Desta forma, ações de melhoria podem ser orientadas àqueles pontos que se

mostram mais impactantes, tornando mais eficaz a desejada melhoria da produtividade.

As interrupções mais representativas das etapas de produção são reveladas a cada

frente de obra, garantindo análises diretas e provocando ações objetivas. As obras devem

atuar para mitigá-las, e seu registro deverá ser sempre invocado para chamar a atenção das

novas obras, para o que já fora constatado não venha a se repetir.

As análises dos indicadores de produtividade devem ser sempre tratadas à luz dos

fatores influenciadores. Todo o indicador de produtividade carrega uma “carga de

informações” imprescindíveis a sua interpretação e análise.

Em situações usuais, existem dois grandes grupos de fatores majoritários que afetam

a produtividade da mão de obra.

O primeiro deles, conforme exemplificado na Figura 12, diz respeito ao trabalho que

precisa ser feito e abrange os componentes físicos do trabalho, especificações exigidas e

detalhes de projeto. São os fatores relacionados ao conteúdo do trabalho. Interpretar os

indicadores à luz de fatores de conteúdo é imprescindível para análises mais profundas da

produtividade.

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FIGURA 12 - Conteúdo do trabalho Fonte: Padrão E1

A RUP pode variar significativamente em razão de fatores ligados ao conteúdo do

trabalho, principalmente a RUP serviço (isto é, a fração do indicador de produtividade

referente ao Hh consumido em serviço). Diâmetro e profundidade das estacas, diâmetros de

tubulações e tipo de material empregado são alguns exemplos de fatores de conteúdo

capazes de influenciar a produtividade.

O outro grupo de fatores está relacionado ao ambiente de trabalho e como ele é

organizado e gerenciado; aspectos gerenciais, incluindo também condições atmosféricas,

disponibilidade de materiais e equipamentos, sequência de trabalho, caracterizam os

chamados fatores de contexto do trabalho, conforme demonstrado na Figura 13.

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FIGURA 13 - Contexto do trabalho Fonte: Padrão E1

2.5.3.1.2 Mapeamento do fluxo de valor

O mapeamento de fluxo de valor é uma aplicação comum do Lean Construction que

visa um dos princípios fundamentais do Lean Thinking: a eliminação de tarefas que não

agregam valor ao processo. Neste mapeamento, são considerados os fluxos de informação

e de materiais para determinado produto ou família de produtos, em que o principal objetivo

é a identificação e eliminação de desperdícios ao longo de toda a cadeia (ROTHER e

SHOOK, 1999, apud ABDULMALEK e RAJGOPAL, 2007).

Este mapeamento é suportado pelos esforços de se atingir eficiência nos processos

produtivos, por meio da redução de tempos de setup que, por conseguinte, aumenta a

flexibilidade do processo e do produto final, e o desempenho das equipes de trabalho, que

reduz tempos de ciclo, custos e inventários (VONDEREMBSE et al., 2006).

Enquanto uma boa parte das ferramentas existentes preocupa-se em melhorar as

atividades individualmente, o mapeamento permite melhorar também as ligações entre elas,

no sentido de criar valor e fazê-las fluir, desde os fornecedores até aos clientes finais

(GONÇALVES, 2009).

Gonçalves (2009) destaca estudos feitos por autores da área, analisaram o tipo de

relacionamento que os intervenientes num fluxo de valor devem ter, sendo os principais

fatores os seguintes:

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• Parceria: avaliar riscos e benefícios envolvidos entre comprador e fornecedor para a

melhoria do desempenho de ambos e vantagem competitiva; relacionamentos

cooperativos trazem benefícios mútuos, partilha de informação, acordos e cessão de

especialistas do comprador para efeitos de formação e garantia de qualidade e

conformidade no processo produtivo do fornecedor.

• Estabilidade nos relacionamentos: contratos repetidos com os mesmos fornecedores

em longo prazo cria estabilidade, que é alcançada a partir da confiança adquirida,

podendo, desta forma, estabelecer acordos quanto a regras de preços, garantia de

qualidade, direito de propriedade, encomendas e entregas.

• Redução da base de fornecedores: construção de uma base menor e mais dedicada

de fornecedores de alta qualidade, tornando os relacionamentos mais próximos, o

que facilita negociações em relação a qualidade, prazos e custos. A escolha desses

fornecedores é baseada no relacionamento passado e no histórico de bom

desempenho.

• Democratização do poder de negociação do comprador e fornecedores: o

fornecimento pela filosofia Lean ainda é dificultado pela relutância de grandes

empresas que se recusam a perder o poder de negociação que têm sobre os

fornecedores. Segundo a filosofia, os membros da cadeia de fornecimento devem

estabelecer protocolos com o objetivo de encorajar cooperação quando necessário.

• Redução de custos: os preços tendem a declinar nos anos seguintes devido aos

ganhos com o desempenho da produtividade, conforme há o compartilhamento de

ideias para a redução de custos pelas empresas parceiras.

• Fornecedores localizados próximos: de modo a facilitar o intercâmbio técnico e de

informações relativas ao fluxo de valor envolvido, os fornecedores podem ser

agrupados próximos ao comprador, proporcionando ganhos consideráveis na

logística e nos custos.

• Aprendizado mútuo: de forma a avaliar a qualidade e auxiliar na adequação de

processos, os especialistas dos compradores devem fazer visitas periódicas às

instalações dos fornecedores quando necessário. Devem ser asseguradas as

capacidades dos técnicos do fornecedor para o cumprimento dos requisitos exigidos

pelo comprador.

• Esforço conjunto para redução de desperdícios: significa garantir responsabilidades

entre cada agente, reduzir a burocracia, e garantir o apoio do comprador ao

fornecedor na correção de eventuais problemas em relação à qualidade do produto.

• Entregas e produção: é necessário um estímulo para os fornecedores aplicarem o

Just in Time, como as entregas no local de utilização (quando possível), em lotes

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pequenos, frequentes, no tempo requisitado, com programação inferior à capacidade

plena, ordem e higiene. Os fornecedores e compradores Lean trabalham para manter

o seu Heijunka, procurando manter o volume total de produção o mais constante

possível.

• Qualidade garantida: a qualidade deve ser praticada desde a fonte, usando

ferramentas e ideias Lean, tais como os 5W6, Poka-Yoke e controle estatístico de

processos. Cada agente é responsável pelos próprios erros, tendo que garantir

qualidade, prazo e custo. É necessário realçar as áreas críticas com o auxílio da

empresa cliente, em busca das melhores soluções.

• Criação de associações de fornecedores: os fornecedores de materiais com

características semelhantes devem se unir em associações para troca de

experiências e produção de novas ideias, de forma a proporcionar mais benefícios

com a atuação em conjunto que individualmente.

• Melhoria contínua (Kaizen): o aprendizado contínuo proporciona redução de custos

para todos os agentes. Os fornecedores e clientes devem ter capacidade de

aperfeiçoamento de técnicas e expansão dos efeitos de melhoria dentro do fluxo.

O mapeamento de fluxo de valor é uma ferramenta de “papel e caneta”, que se cria

através de um conjunto de ícones padronizados, apresentados por Rother e Shook (1999).

O primeiro passo consiste na escolha do produto ou família de produtos em que se

pretende implementar as melhorias, seguido da elaboração do desenho para o estado atual

do fluxo, ou seja, como decorrem os processos na atualidade.

A partir deste, faz-se uma análise em que se identificam as fraquezas e desperdícios.

O último passo consiste na elaboração do mapeamento do estado futuro, que é um

esquema de como o fluxo deve provir após a remoção dos processos ineficientes, tornando-

se este mapa a base para as mudanças necessárias no sistema (Abdulmalek e Rajgopal,

2007).

Devido à complexidade de processos e características particulares da indústria de

construção civil, o fluxo de valor e a sua respectiva cadeia de fornecedores é também

complexa, pois inúmeros fluxos convergem para a mesma obra.

2.5.3.1.3 Last Planner System

6 Técnica implementada por Taiichi Ohno de perguntar cinco vezes “Por que?” (“Why?”) cada vez que surge um problema na produção.

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O Last Planner System, uma das aplicações mais comuns no sistema Lean

Construction, é voltado ao planejamento e controle da produção, permitindo o planejamento

de curto e médio prazo, mais próximo da obra, onde as incertezas são menores

(MARQUES, 2007).

Além de ser flexível e ser capaz de readaptação, levando em conta os desvios

observados durante a sequência das operações, o objetivo do Last Planner é assegurar que

todos pré-requisitos e condicionalismos de determinada atividade sejam cumpridos quando

a mesma se inicia, de forma que a sua execução decorra sem perturbações e finalizada de

acordo com o planejado (PENEIROL, 2007).

2.5.4 Just in Time (JIT) e sua aplicação na construção

A aplicação do sistema JIT na construção difere substancialmente da sua original

aplicação na manufatura, devido à variabilidade, incerteza e complexidade da construção

(falta de padronização, elevado número de participantes e fatores de dependência).

Segundo Tommelein e Weissenberger (1999), o JIT, quando usado para descrever a

entrega de materiais de construção, significa que estes serão conduzidos para a sua

localização final e instalados imediatamente após a chegada sem permanecer

armazenados, evitando atrasos no transporte do armazém ao local de trabalho.

De acordo com Gonçalves (2009), o processo construtivo é guiado por um

planejamento que segue em fluxo contínuo e com o máximo desempenho caso seja bem

elaborado e conte com colaboração total de todos os intervenientes. Entretanto, devido à

complexidade do ramo da construção civil, raramente o planejamento é estritamente

seguido, pois está sujeito a mudanças nas condições de trabalho, falhas nos fornecimentos,

correções de projeto, condições meteorológicas, entre outros.

Constantemente, a fim de que se cumpram prazos, os intervenientes sofrem pressão

para acelerar a produção, aumentando os recursos necessários, criando buffers7 para cobrir

a variabilidade e desperdícios inerentes ao processo construtivo. A figura a seguir

esquematiza o fluxo de processamento com buffers.

7 Buffer, conhecido por “pulmão” na área da Engenharia de Produção (conforme método Tambor-Pulmão-Corda), é uma proteção ao sistema produtivo, objetivando reduzir os impactos de falta de insumos entre processos.

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FIGURA 14 - Esquema de processamento com buffers Fonte: Gonçalves, 2009

De acordo com Ballard e Howell (1995), existem na construção diversos tipos de

buffers utilizados: os físicos (materiais, mão de obra, ferramentas, equipamentos), os

schedule buffers e os plan buffers.

Os schedule buffers são tempos adicionados ao planejamento da obra que permitem

proteger o empreiteiro de atrasos e variabilidade nas entregas dos fornecedores, mas não

resolvem as causas dessa variabilidade. Quando necessários, devem ser bem

dimensionados tendo em conta o grau de incerteza, e colocados em pontos estratégicos,

como, por exemplo, entre a fabricação e a elaboração de projeto de colocação em obra,

diminuindo assim as probabilidades de erros de projeto.

Os plan buffers são tempos necessários para garantir que todas as tarefas sejam

planejadas de modo que a atividade de montante esteja terminada para iniciar a de jusante.

Para a correta implementação destes buffers, é aconselhável o uso da ferramenta Last

Planner System (LPS).

Os buffers físicos, além de ocuparem espaço no canteiro de obras, também

comprometem capital investido e escondem problemas inerentes à produção, em vez de

resolvê-los. À medida que esses problemas vão sendo eliminados, a necessidade de

estoque é reduzida, aumenta a qualidade, a confiança nos equipamentos e fornecedores, e

a flexibilidade de resposta (CORRÊA; GIANESI ,1993).

Portanto, segundo Gonçalves (2009), uma estratégia de implementação gradual do

JIT na construção civil pode se dar por meio de: dimensionamento correto dos schedule

buffers e localização a montante das atividades que criam maior variabilidade no fluxo;

implementação dos plan buffers usando o LPS; substituição progressiva dos schedule

buffers pelos plan buffers por meio da redução da variabilidade; eliminação dos buffers

físicos.

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3 METODOLOGIA

A metodologia da pesquisa é responsável por subsidiar o planejamento e

desenvolvimento de uma investigação cientifica sobre um fenômeno observado (Berto;

Nakano, 1998).

Na pesquisa, se utiliza um ou vários métodos combinados de observações com a

intenção de entender, explicar e, se possível aplicar ou replicar para outros eventos

semelhantes. Em ambos os casos, a coleta de dados é sistemática, e utiliza criatividade,

percepção da relevância dos dados coletados, acréscimo de novas ideias, teorias, além de

atualizações constantes.

Para Brymam (1989), a pesquisa pode ser classificada quanto ao seu tipo, que pode

ser:

� Pesquisa quantitativa:

• Os conceitos da hipótese devem ser mensuráveis e verificados. Transformação de

conceitos em medidas;

• Demonstrar relação de causa-efeito na hipótese;

• A pesquisa deve dirigir-se para conclusões que possam ser generalizadas além

dos limites restritos da pesquisa;

• A pesquisa deve ser capaz de ser aplicada.

� Pesquisa qualitativa:

• O pesquisador analisa os fatos sob a ótica do membro interno da organização;

• A pesquisa procura uma profunda compreensão do contexto da situação;

• A pesquisa destaca a ordem dos fatos no decorrer do tempo;

• Foco da pesquisa é mais desestruturado, flexível;

• A pesquisa normalmente adota mais uma fonte de dados.

Quanto às abordagens de pesquisa, esse estudo se classifica na metodologia

quantitativa, pois, a partir de conceitos teóricos, aplica-se no campo levantamento de dados

e mensurações a fim de demonstrar a relação de causa-efeito na hipótese. Ademais, os

resultados obtidos por meio das análises e das ações de melhoria podem ser generalizados

e aplicados ao campo de pesquisa ora considerado.

Segundo Lakatos e Marconi (2006), o método consiste numa série de atividades

sistemáticas e racionais para se buscar, de maneira confiável, soluções para um dado

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problema. Assim, para se obter soluções para o problema apresentado neste estudo, que é

o da aplicabilidade e implementação do Lean Construction e sua influência na melhoria dos

índices de produtividade no setor da construção civil, utilizou-se de levantamentos em

campo, seguindo o Modelo dos Fatores.

O objeto de estudo deste trabalho contempla as obras de construção civil realizadas

em uma refinaria de petróleo, com o intuito de avaliar a produtividade destas obras e

demonstrar como a implementação da filosofia Lean Construction pode contribuir para a

melhoria da produtividade, além de outros benefícios.

Quanto ao tipo de estudo, para Filippini (1997), as categorias se dividem em:

• Survey: uso de instrumento de coleta de dados único (em geral um questionário),

aplicado a amostras de grande tamanho, com o uso de técnicas de amostragem e

análise e inferência estatística.

• Estudo de caso: análise aprofundada de um ou mais objetos (casos), com o uso de

múltiplos instrumentos de coleta de dados e presença da interação entre

pesquisador e objeto de pesquisa.

• Modelagem: uso de técnicas matemáticas para descrever o funcionamento de um

sistema ou de parte de um sistema produtivo.

• Simulação: uso de técnicas computacionais para simular o funcionamento de

sistemas produtivos a partir de modelos matemáticos.

• Estudo de campo: outros métodos de pesquisa (principalmente de abordagem

qualitativa) ou presença de dados de campo, sem estruturação formal do método de

pesquisa.

• Experimento: estudo da relação causal entre duas variáveis de um sistema sob

condições controladas pelo pesquisador.

• Teórico/conceitual: discussões conceituais a partir da literatura, revisões

bibliográficas e modelagens conceituais.

Neste estudo, será adotado o método de estudo de caso, considerado a forma mais

adequada de se apresentar o tema proposto, pois trata-se de um estudo fundamentado em

experiências, envolvendo a investigação e avaliação de um determinado fenômeno com o

objetivo de aprofundar o conhecimento a respeito de um problema não suficientemente

definido, visando instigar a compreensão, sugerir hipóteses e questões e também

desenvolver alguma teoria (YIN, 2001).

Ou seja, a partir da exposição e avaliação do estudo de caso de uma empresa

petroquímica que implementou ferramentas e metodologias voltadas ao estudo de

produtividade e Lean Construction, pretende-se demonstrar a possibilidade de obtenção de

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melhorias significativas nas obras executadas, no sentido de atender o planejado em termos

de custo, prazo e qualidade.

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71

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.1 Estudo de Caso

4.1.1. A Empresa 8

O estudo de caso desta monografia foi realizado em uma empresa do setor

petroquímico localizada no Brasil. A empresa em questão é de grande porte, reconhecida no

setor petrolífero do Brasil, atuando como uma companhia integrada de energia. O atual

Plano de Negócios e Gestão da empresa prevê investimentos em projetos de expansão da

capacidade produtiva.

Todas informações necessárias para o desenvolvimento do estudo foram adquiridas

com o auxílio de um grupo de estudos de produtividade operacional da própria empresa. No

entanto, tais dados poderão ser manipulados proporcionalmente, de forma que não reflitam,

de forma absoluta, os resultados obtidos.9

Durante o desenvolvimento deste trabalho, esta empresa será denominada “E1”.

4.1.2 Estado Atual

A fim de atender ao Plano de Negócios, a E1 investe na expansão de suas

instalações e, para tanto, é necessária a contratação de obras, com determinados preços e

prazos.

É neste cenário que surge a importância dos estudos de produtividade em obras

desenvolvidos pela E1. Com mais de oito anos de atividade, a Gestão da Produtividade em

Obras (GEPO) acompanha, identifica e registra os gargalos nos canteiros de obras da E1,

alimentando uma base de dados com informações de desempenho de milhares de homens

x hora (Hh).

8 Não serão fornecidos dados precisos acerca de número de empregados, investimentos, plano de negócios, entre outros, pois não há permissão da empresa para divulgação de tais dados. 9 A manipulação dos dados é exigência da empresa, para que os resultados reais de produtividade não sejam divulgados em ambientes externos. Entretanto, ressalta-se que as proporções permanecem consoantes à realidade.

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O valor estratégico deste trabalho, cujo acompanhamento teve início no final de

2006, pode ser medido pelos números dos investimentos e das metas de expansão da E1

que, na prática, se traduz na construção de novas unidades. Assim, alcançar melhores

níveis de produtividade significa reduzir custos, na medida em que estas obras passem a

cumprir prazos e custos.

De forma a quantificar os níveis de produtividade, bem como identificar gargalos e

desperdícios, foi desenvolvida uma ferramenta metodológica, aqui denominada como Índice

de Produtividade em Obras (IPO), criada inicialmente para encontrar respostas a duas

percepções: a dificuldade em cumprir os prazos planejados e a quantidade elevada de mão

de obra nos canteiros da E1. Esta ferramenta utiliza como instrumento de análise o Modelo

de Fatores.

Antes da implementação dos estudos de produtividade, não havia esforços formais e

organizados da E1 na busca por melhores resultados nas obras. Dentre as poucas

ferramentas que eram aplicadas, destacam-se o registro e disseminação de lições

aprendidas e de boas práticas. Após a implementação da ferramenta IPO, recursos

humanos foram alocados especialmente para coletar e analisar os dados das obras: o

administrativo é composto por 10 profissionais (entre engenheiros de produção, consultores

e técnicos), e mais outros 60 profissionais de campo nas diversas obras, aplicando a

metodologia nos vários canteiros.

De forma a demonstrar a aplicação dos estudos de produtividade e do Lean

Construction, serão utilizadas duas atividades como exemplos dos principais benefícios

advindos desta implementação, conforme descritas a seguir.

4.1.2.1 Atividade: montagem de vigas pré-moldadas

A obra analisada para esta atividade, antes do estudo de produtividade e da

implementação do Lean Construction, era caracterizada conforme contexto e conteúdo de

trabalho expostos no Quadro 1.

QUADRO 2 - Contexto e conteúdo do trabalho 1ª medição – Montagem de vigas

LOCAL Pipe-racks 10 CARACTERIZAÇÃO DA FASE DA OBRA Acessos ruins para máquinas e pedestres NECESSIDADE DE PERMISSÃO PARA

TRABALHO (PT) 11

Não

JORNADA DE TRABALHO 8,8 horas

10 Pipe-racks são cavaletes metálicos ou de concreto para sustentação de tubulações horizontais, caracterizando a interligação

de linhas de tubulação existentes na área. 11 Permissão de Trabalho (PT) é uma autorização necessária para realização de atividades em áreas operacionais e/ou de

risco, emitida por técnico qualificado da E1. Sem esta PT, não são permitidas quaisquer atividades no campo a serem realizadas pela equipe da empresa contratada.

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PRINCIPAIS LOCAIS DE LEVANTAMENTO Nível superior DISTÂNCIA DO REFEITÓRIO À OBRA 100m a 150m

DISTÂNCIA DO ALMOXARIFADO À OBRA 150m DISTÂNCIA DA CENTRAL DE PONTO À OBRA 150m

ACESSO ÀS ÁREAS DE SERVIÇO Apoio de plataforma elevatória PESO TOTAL DAS VIGAS PRÉ-MOLDADAS 7800 toneladas; Peso médio = 12t

EQUIPE DE TRABALHO 5 mecânicos montadores e 1 encarregado RUP (Hh POR UNIDADE) 23,55

Fonte: Adaptado pela autora

A primeira medição foi realizada em um período de duas semanas, cujos resultados

são apresentados na figura a seguir, que caracterizavam o estado atual desta atividade

nesta determinada obra da E1.

FIGURA 15 - Resultados obtidos (1ª medição) – Montagem de vigas pré-moldadas Fonte: Adaptado pela autora

A partir desta figura, nota-se que, para a montagem de uma unidade (Quantidade de

Serviço – QS) de viga pré-moldada, são necessários 23,6 Homens x hora (Hh), dentre os

quais o serviço de montagem é de fato realizado em somente 24%, enquanto em todo o

restante do tempo o Hh é consumido por outras classes de ocupação, sendo que as

paralisações representam o maior Hh despendido na tarefa (39%).

Assim, a partir da análise dos tempos desta atividade de montagem, verifica-se a

possibilidade de aumentar a produtividade na medida em que se aplicam as ferramentas do

Lean Construction, de forma a buscar a eliminação de desperdícios desta atividade. Tais

medidas e resultados serão tratados nos itens subsequentes.

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4.1.2.2 Atividade: estaqueamento

Em outra obra, foi analisada a atividade de estaqueamento.12 A obra, antes do

estudo de produtividade e da implementação do Lean Construction, era caracterizada

conforme contexto e conteúdo de trabalho expostos no Quadro 3.

QUADRO 3 - Contexto e conteúdo do trabalho 1ª medição – Estaqueamento

NECESSIDADE DE PT Sim JORNADA DE TRABALHO 8,8 horas

DISTÂNCIA PARA ALMOXARIFADO 30m DISTÂNCIA DA CENTRAL DE PONTO À OBRA 30m

DISTÂNCIA PARA VESTIÁRIO 30m ESTACAS ACOMPANHADAS NO PERÍODO 92

DIÂMETRO MÉDIO DAS ESTACAS (cm) 90 COMPRIMENTO MÉDIO DAS ESTACAS (m) 24

MÁQUINAS EM OPERAÇÃO 1 EQUIPE DE TRABALHO 1 operador de perfuratriz e 3 ajudantes

TIPO DE ESTACA Hélice RUP (Hh POR UNIDADE) 129,54

Fonte: Adaptado pela autora

A primeira medição foi realizada em um período de dezesseis dias, cujos resultados

são apresentados na figura a seguir.

FIGURA 16 - Resultados obtidos (1ª medição) – Estaqueamento Fonte: Adaptado pela autora

12 Estaqueamento é a atividade realizada para inserir estacas no solo, a fim de se firmar alguma estrutura.

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A partir da Figura 16, nota-se que, para o estaqueamento de um hectômetro de

estaca (Quantidade de Serviço – QS), são necessários 129,54 Hh, dentre os quais o serviço

de estaqueamento é de fato realizado em somente 15,2%, enquanto em todo o restante do

tempo o Hh é consumido por outras classes de ocupação, sendo que as paralisações

representam o maior Hh despendido na tarefa (73,3%).

4.1.3 Análise do problema

Diante da necessidade do cumprimento dos custos e prazos determinados

contratualmente e, por conseguinte, do atendimento ao Plano de Negócios da E1, verificou-

se a necessidade da compreensão do porquê as obras contratadas pela E1 e conduzidas

por empreiteiras nem sempre atendiam aos prazos e custos ora firmados, bem como por

que os resultados de produtividade estavam tão aquém do esperado, de acordo com os

números praticados no mercado.

Assim, a área de Gestão da Produtividade em Obras (GEPO) a fim de analisar os

fatores que estariam impactando o bom andamento das obras, utilizou-se da ferramenta

metodológica IPO (Índice de Produtividade em Obras) para identificar o tempo despendido

em cada classe de ocupação estabelecida, cujos resultados iniciais foram apresentados no

item 4.1.2 deste estudo.

De posse destes levantamentos, a E1 analisa os dados e identifica gargalos e

desperdícios e, consequentemente, oportunidades de melhoria dos processos. Tais análises

são exemplificadas a seguir, utilizando as atividades exemplificadas anteriormente.

4.1.3.1 Atividade: montagem de vigas pré-moldadas

A atividade de montagem de vigas pré-moldadas apresentava resultados iniciais

preocupantes: com uma RUP de 23,6 Hh/unidade, apenas 24% deste Hh era de fato

utilizado para realizar o serviço, enquanto 39% deste Hh era despendido com paralisações.

Diante de tais constatações, as condições da obra foram analisadas e, a partir de

uma análise crítica, as seguintes ações foram sugeridas pela E1 e adotadas pela

empreiteira responsável pela obra:

- Providenciada a melhoria dos acessos;

- Otimização da logística de transporte interno na unidade (refinaria);

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- Melhoria na forma de identificação dos componentes pré-moldados recebidos do

fabricante;

- Melhoria no sequenciamento dos materiais nas frentes de serviço;

- Alocação de um supervisor com experiência para coordenar as atividades e orientar

as equipes de acordo com as programações de serviços;

- Alocação de um encarregado no pátio de estocagem com rádio para organizar os

componentes pré-moldados a serem transportados.

Os resultados advindos destas ações serão explicitados no item 4.2 deste estudo.

4.1.3.2 Atividade: estaqueamento

Assim como a atividade de montagem de vigas pré-moldadas, o estaqueamento não

apresentava bons resultados na análise inicial: para o estaqueamento de um hectômetro de

estaca, eram necessários 129,54 Hh, dentre os quais o serviço de estaqueamento é de fato

realizado em somente 15,2%, sendo que as paralisações representam o maior Hh

despendido na tarefa (73,3%).

A partir destes dados, foi realizada uma análise crítica das condições da atividade na

obra, verificando-se que os principais fatores que impactaram a produtividade da atividade

de estaqueamento no campo para as equipes acompanhadas foram:

- Projeto liberado: por falta de projeto executivo liberado para construção, em

determinados momentos não foi possível realizar os serviços de estaqueamento. A falta de

projeto representa 89% das paralisações;

- Programação semanal: nos dias em que o projeto estava liberado, não foi possível

realizar 50% das estacas programadas para aquele dia, pois na programação não foi

considerado o tempo de “cura” do concreto e a proximidade entre as estacas;

- Concreto disponível: demora na realização do teste do concreto e na chegada do

mesmo na frente de trabalho;

- Manutenções corretivas da perfuratriz durante a execução dos serviços;

- Assembleia: ocasionou o atraso no início das atividades.

Com base na régua de produtividade gerada a partir dos dados apurados em campo,

foi possível identificar algumas sugestões de melhorias que poderiam ser implementadas

para o aumento da produtividade desta atividade para este contrato. As melhorias propostas

foram:

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- O processo de execução e liberação do projeto precisa atender as demandas da

construção e montagem;

- Realizar manutenção preventiva e limpeza periódica dos equipamentos para evitar

que os mesmos tenham problemas durante a realização dos serviços;

- Disponibilizar profissional substituto caso o principal operador da perfuratriz não

esteja disponível;

- Inspecionar o concreto antes da saída da usina;

- Trocar o trado com menos frequência, dando prioridade para as estacas de mesmo

diâmetro quando possível;

- Inserir dispositivo na perfuratriz para que a mesma faça a limpeza automática do

trado;

- Programar os serviços visando reduzir os deslocamentos da perfuratriz, bem como

considerar o tempo de “cura” do concreto e a distância entre as estacas programadas, para

que seja possível a realização das mesmas no mesmo dia;

- Verificar a real necessidade da emissão de Permissão de Trabalho (PT).

Os resultados advindos destas ações serão explicitados no item a seguir.

4.2 Análise dos Resultados

Este estudo de caso contemplou o acompanhamento de diversas atividades

específicas (montagem e acoplamento de tubulação, montagem de estruturas metálicas,

testes hidrostáticos, entre outros) em obras da E1. A seguir, serão apresentados os

resultados obtidos nas duas atividades descritas anteriormente, de forma a demonstrar a

aplicabilidade do Lean Construction, bem como os seus impactos nos resultados de

produtividade.

4.2.1 Atividade: montagem de vigas pré-moldadas

A implementação das ações propostas pela E1 durou cerca de 30 dias (sem a

paralisação das atividades). Posteriormente, outra medição (comumente chamada de

“check”) foi programada para verificar a produtividade da atividade, de forma a avaliar se as

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ações tomadas foram de fato eficientes. No Quadro 4 a seguir, apresenta-se o conteúdo e

contexto deste segundo período.

QUADRO 4 - Contexto e conteúdo do trabalho 2ª medição – Montagem de vigas

LOCAL Pipe-racks

CARACTERIZAÇÃO DA FASE DA OBRA Melhorias de acesso, logística de apoio e

transporte NECESSIDADE DE PT Não

JORNADA DE TRABALHO 8,8 horas PRINCIPAIS LOCAIS DE LEVANTAMENTO Nível superior

DISTÂNCIA DO REFEITÓRIO À OBRA 100m a 150m DISTÂNCIA DO ALMOXARIFADO À OBRA 150m

DISTÂNCIA DA CENTRAL DE PONTO À OBRA 150m

ACESSO ÀS ÁREAS DE SERVIÇO Apoio de plataforma elevatória e dois

guindastes PESO TOTAL DAS VIGAS PRÉ-MOLDADAS 7800 toneladas; Peso médio = 12t

EQUIPE DE TRABALHO 5 mecânicos montadores, 2 encarregados

e 1 supervisor RUP (Hh POR UNIDADE) 9,32

Fonte: Adaptado pela autora

A estratificação dos dados obtidos nesta segunda medição é apresentada na figura a

seguir.

FIGURA 17- Resultados obtidos (2ª medição) – Montagem de vigas pré-moldadas Fonte: Adaptado pela autora

Conforme resultados apresentados, observou-se uma redução de 60% no Hh

utilizado para cada unidade de montagem, ou seja, a produtividade aumentou

consideravelmente. As paralisações, que eram as principais causas da baixa produtividade

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observadas na primeira medição, reduziram de 39% para 18%. Ademais, o Hh destinado à

real execução dos serviços passou a ser predominante na tarefa, correspondendo a 29%

(ante os 24% observados na primeira medição).

Os citados valores comparativos entre a primeira e a segunda medições, bem como

outros relacionados às demais classes de ocupação, podem ser observados na Tabela a

seguir.

TABELA 1 - Valores comparativos entre a 1ª e 2ª medições - Pré-moldados

Fonte: Adaptado pela autora

O ganho de produtividade, com base nas réguas e classes de ocupação, pode ser

verificado no Gráfico a seguir.

GRÁFICO 8 - Ganho de produtividade - Pré-moldados Fonte: Adaptado pela autora

Hh/unid. % Hh/unid. %

Apoio 0,23 1% 0,81 9% 252%

Canteiro 2,04 9% 0,75 8% -63%

Deslocamento 1,47 6% 0,84 9% -43%

Paralisação 8,98 39% 1,7 18% -81%

Mobilização 2,43 10% 1,43 15% -41%

Delay 2,67 11% 1,12 12% -58%

Serviço 5,73 24% 2,67 29% -53%

TOTAL 23,6 Hh/unid. 9,32 Hh/unid. -60%

1ª Medição (a) 2ª Medição (b) Relação (b/a)

Classe de

ocupação

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Além dos notáveis resultados positivos em relação ao aumento da produtividade a

partir de ações baseadas no Lean Construction, podemos destacar outros benefícios, tais

como: atingimento do prazo previsto para a execução da tarefa após a implementação das

ações; e maior integração entre a fiscalização da E1 e as lideranças da empreiteira

contratada.

Importante ressaltar que, nesta obra, todos os resultados foram informados à

empreiteira contratada por meio de reuniões de planejamento e correspondências.

4.2.2 Atividade: estaqueamento

A implementação das ações propostas pela E1 durou cerca de 45 dias (sem a

paralisação das atividades). Assim, outra medição (“check”) foi programada para verificar a

produtividade da atividade. A seguir, apresenta-se o conteúdo e contexto deste segundo

período.

QUADRO 5 - Contexto e conteúdo do trabalho 2ª medição – Estaqueamento

NECESSIDADE DE PT Sim JORNADA DE TRABALHO 8,8 horas

DISTÂNCIA PARA ALMOXARIFADO 30m DISTÂNCIA DA CENTRAL DE PONTO À OBRA 30m

DISTÂNCIA PARA VESTIÁRIO 30m ESTACAS ACOMPANHADAS NO PERÍODO 167

DIÂMETRO MÉDIO DAS ESTACAS (cm) 90 COMPRIMENTO MÉDIO DAS ESTACAS (m) 14

MÁQUINAS EM OPERAÇÃO 1 (durante 3 dias, foram utilizadas 2 máquinas) EQUIPE DE TRABALHO 1 operador de perfuratriz e 3 ajudantes

TIPO DE ESTACA Hélice RUP (Hh POR UNIDADE) 45,38

Fonte: Adaptado pela autora

A estratificação dos dados desta segunda medição é apresentada na figura a seguir.

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FIGURA 18 - Resultados obtidos (2ª medição) – Estaqueamento Fonte: Adaptado pela autora

Com base nos dados apurados nos períodos de medição, podemos evidenciar que

houve uma redução nas paralisações em função da liberação do projeto executivo, um

aumento do serviço pela disponibilização de novas frentes de trabalho, um aumento no

rendimento da equipe pelo entrosamento com a atividade, uma melhora na programação

das atividades, todos estes fatores que geraram aumento de produtividade de 65%.

Neste ganho de produtividade, destaca-se que as paralisações por falta de projeto

executivo reduziram significativamente (decréscimo de 82%). Porém, ainda há casos de

falta de projeto que representam 23% das paralisações. Assim, cabe ressaltar alguns

fatores, descritos a seguir, que impactaram a produtividade da atividade e que ainda podem

ser melhorados:

- Usina de concreto não estava atendendo a demanda da produção, bem como havia

falta de caminhões;

- Morosidade no teste do concreto;

- Concreto enviado pela usina com baixa qualidade (problemas na mistura).

Pode-se notar que os problemas em função da falta de concreto e os problemas de

qualidade do mesmo representaram 64% das paralisações apuradas.

Algumas análises adicionais das RUPs (resultados do período 2 em relação ao

período 1) são destacadas a seguir:

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- Apoio: melhora na eficiência da equipe durante a atividade de inserção da armação,

reduzindo a RUP de apoio em 22%;

- Canteiro: a emissão de PT foi considerada não mais necessária; com o aumento

das frentes de serviço, a equipe passou a realizar os Diálogos de Segurança em menor

tempo. Tais medidas reduziram em 86% a RUP de canteiro;

- Mobilização: redução de 35% em decorrência da troca menos frequente dos trados,

redução dos deslocamentos da máquina e redução das manutenções durante a atividade

em função da melhora da programação dos serviços;

- Delay: redução de 100%, já que nenhuma situação foi classificada como delay;

- Serviço: a melhora na eficiência da equipe promoveu uma redução de 13% na RUP

de serviço.

Apesar dos notáveis resultados positivos em relação ao aumento da produtividade a

partir de ações baseadas no Lean Construction, a E1 identificou outros pontos de melhoria,

conforme destacados a seguir, que poderiam ser aplicados a esta atividade:

- Melhorar o processo de execução e liberação do projeto executivo;

- Realizar manutenção preventiva e limpeza periódica dos equipamentos para evitar

que os mesmos tenham problemas durante a realização dos serviços;

- Melhorar a programação/solicitação do concreto;

- Melhorar o processo de inspeção/disponibilização do concreto;

- Reduzir as paralisações por falta de ferragens, disponibilizando armação de acordo

com a programação de estaqueamento.

Na tabela a seguir, constam todos os valores da primeira e segunda medições por

classe de ocupação, facilitando a visualização dos resultados.

TABELA 2 - Valores comparativos entre a 1ª e 2ª medições - Estaqueamento

Fonte: Adaptado pela autora

Hh/unid. % Hh/unid. %

Apoio 4,16 3% 3,24 7% -22%

Canteiro 13,3 10% 1,84 4% -86%

Deslocamento 5,78 4% 2,94 6% -49%

Paralisação 73,30 57% 13,4 30% -82%

Mobilização 16,7 13% 10,8 24% -35%

Delay 1,06 1% 0 0% -100%

Serviço 15,2 12% 13,2 29% -13%

TOTAL 129,50 Hh/unid. 45,42 Hh/unid. -65%

Classe de

ocupação

1ª Medição (a) 2ª Medição (b) Relação (b/a)

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O ganho de produtividade, com base nas réguas de produtividade e nas classes de

ocupação, pode ser verificado no Gráfico a seguir, no qual é possível visualizar facilmente o

excelente resultado obtido, com um aumento de 65% na produtividade na atividade de

estaqueamento.

GRÁFICO 9 - Ganho de produtividade – Estaqueamento Fonte: Adaptado pela autora

4.2.3 Análise de outras atividades

A título de exemplificação, análises e resultados de outras atividades podem ser

destacadas neste estudo.

Com base em um estudo detalhado sobre os impactos das paralisações no processo

de montagem de tubulação, considerada uma atividade crítica em todas as obras, foi

possível detectar que de 94.907 Hh em uma determinada obra, 30% estavam parados e,

destes, 6,24% aguardavam a instalação de um simples andaime.

Ademais, com a aplicação da metodologia nesta obra, foi identificado que os

encanadores dispendiam muito tempo em deslocamentos porque as escadas de acesso às

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estruturas eram do tipo marinheiro13. Bastou substituí-las por escadas coletivas para que o

impacto do deslocamento na jornada de trabalho fosse reduzido em 29%.14

Ou seja, os resultados dos diagnósticos se transformam em ações efetivas para

melhorar consideravelmente a produtividade.

Em outra obra, foram coletados dados da etapa construtiva de acoplamento de

tubulação. Os resultados obtidos tanto no início quanto após a implementação de ações

fundamentadas na metodologia Lean Construction (redução dos desperdícios e eliminação

de gargalos) são mostrados na figura a seguir.

FIGURA 19 - Resultados obtidos na atividade de tubulação – Etapa acoplamento Fonte: Adaptado pela autora

O caso mostrado ilustra a melhoria da produtividade ao longo de dois períodos

acompanhados. Ganhos da ordem de 60% foram obtidos num primeiro momento (período

de dois meses), com o índice de produtividade alcançando e passando o valor de referência.

E, em um segundo momento, um novo incremento de produtividade, na ordem de 20%.

Neste caso, as ações foram simples e de baixo custo, focadas basicamente na

organização e planejamento do trabalho, conforme destacadas a seguir e separados por

nível de ocupação:

13 Escadas do tipo marinheiro permitem a passagem (subida ou descida) de somente um profissional por vez. 14 O Hh despendido para construção e montagem da escada coletiva não foi considerada neste estudo (não afetou a o resultado de produtividade obtido), visto que a análise da produtividade, neste caso, visava somente as atividades ligadas diretamente à montagem de tubulação.

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- Canteiro: melhoria das condições para aferição da pressão arterial dos

colaboradores, na qual os exames deixaram de ser diários e passaram a valer por

três dias, onde os colaboradores recebiam um selo com a validade do exame;15

- Paralisação: melhoria da comunicação, onde todos os encarregados passaram a ter

rádios comunicadores, facilitando a localização dos mesmo em suas áreas de

serviço;

- Paralisação: melhoria na distribuição de tarefas, a partir da redução da quantidade

de colaboradores por encarregado, passando as tarefas a serem distribuídas na

véspera;

- Deslocamento: redução dos deslocamentos por meio da criação de pequenos

estoques de spools ao longo da unidade e próximos ao local de aplicação, bem como

maior proximidade entre os serviços passados aos colaboradores;

- Deslocamento: melhoria da logística do canteiro por meio do acesso feito por

escadas coletivas e tablado lateral ao longo de toda a unidade;

- Apoio: redução dos apoios, com o envolvimento dos colaboradores apenas com as

atividades da sua área de atuação.

Importante ressaltar que boas práticas constatadas e ações deflagradas que tenham

proporcionado ganhos de produtividade são documentadas, estando sempre à mão para

servir de exemplo às novas obras.

Os benefícios das informações colhidas continuam a ser úteis mesmo após o término

da obra. Devidamente organizadas em bancos de dados, conforme exemplificado na figura

a seguir, as informações são utilizadas para orientar e balizar o planejamento e o controle

de obras futuras.

15 A aferição da pressão arterial é exigência para realização dos trabalhos, principalmente para os profissionais que desenvolvem atividades em áreas elevadas, pois a pressão arterial anormal pode causar acidentes na obra – quedas, mal súbito, etc.

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FIGURA 20 - Análise da produtividade referencial e de diferentes obras Fonte: Adaptado pela autora

Além de todo os dados expostos, dentre os benefícios obtidos com a análise da

produtividade e implementação de ações baseadas no Lean Construction que mitiguem os

desperdícios, ressalta-se:

• Compreensão e necessidade de se melhorar o processo de planejamento e otimizar

a logística do trabalho;

• Melhorias podem ser implementadas em projetos em andamento e, assim, ganhos a

partir da gestão da produtividade podem ser alcançados imediatamente;

• Com as perdas de produtividade identificadas e quantificadas, é possível atuar

diretamente sobre as causas que levam às mesmas;

• Os gráficos de comparação permitem iniciar um processo de benchmarking interno

às próprias obras/empresa;

• A disseminação, em obras futuras, das boas práticas e dos pontos de atenção

detectados.

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5 CONCLUSÃO

A aplicação do Lean Construction, implementada primordialmente a partir da

utilização da ferramenta IPO (Índice de Produtividade em Obras), permitiu à E1 desfazer

conceitos anteriores em relação à produtividade, como por exemplo a ideia de que para

melhorar os índices desta é preciso mudar a tecnologia, com novos e pesados

investimentos; ou de que as obras não atendiam ao cronograma previamente estabelecido

por força da estrutura e burocracia da própria E1.

Ambas as noções são falsas, pois verificou-se que os problemas de baixa

produtividade eram atribuídos, na realidade, principalmente a falhas na gestão de recursos

que fazem, por exemplo, com que um trabalhador não possa realizar sua tarefa por falta de

material ou de maquinário. Ou seja, mais do que saber se os operários estão trabalhando ou

não, o que a ferramenta IPO registra é como as pessoas estão trabalhando e, se estão

paradas, por que estão paradas.

Assim, o estudo mostrou que a baixa produtividade advém principalmente de

problemas na gestão das obras (mão de obra indireta), e não no campo (mão de obra

direta). Ademais, uma das justificativas para o baixo desempenho da produtividade ao longo

dos anos na E1 pode ser a baixa qualificação dos envolvidos, devido ao crescimento muito

rápido do setor da construção civil no Brasil, que acarretou em menos disponibilidade de

mão de obra qualificada.16

Diante dos resultados expostos, verificou-se que a aplicação do Lean Construction

em obras de ampliação e modernização de uma refinaria de petróleo trouxe resultados

positivos à produtividade, proporcionando melhorias significativas superiores a 60%. Ainda,

com o auxílio da ferramenta IPO, as oportunidades de melhoria (por classe de ocupação) e

os ganhos de produtividade puderam ser melhor verificados e avaliados.

Pode-se concluir que o ganho com a implementação do Lean Construction advém do

fato de que as ações de melhoria possuem foco nas atividades gargalos e nos desperdícios,

os quais são mais facilmente identificados por meio da utilização da ferramenta IPO. Em

face disso, a ideia não é fazer com que os operários façam mais rápido no tempo em que de

fato está trabalhando (classe de ocupação “serviço”), mas sim fazê-los trabalhar/produzir no

restante do tempo que não está sendo utilizado para agregar valor (outras classes de

ocupação), aumentando, assim, a produtividade das obras.

Assim, verifica-se que a filosofia Lean pode ser aplicada na área da construção civil

e, ainda, que quando aliada à ferramenta IPO, pode trazer diversos benefícios além da 16 O crescimento do setor em 10 anos (2003 a 2013) foi de 52,10%, o que representa um crescimento médio anual de 4,28% (REVISTA CONSTRUÇÃO MERCADO, 2014).

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melhoria da produtividade, dentre eles: melhor compreensão do processo de planejamento e

otimização da logística do trabalho; disseminação de boas práticas e pontos de atenção

detectados; implantação de benchmarking interno a partir dos resultados obtidos.

Entretanto, a aplicação do Lean Construction nas obras da E1 sofreu algumas

resistências, principalmente das empresas contratadas (construtoras). Muitas não estavam

dispostas a expor suas dificuldades e baixa produtividade, bem como em alterar e adequar,

de acordo com os preceitos da filosofia Lean, suas práticas já estabelecidas e consolidadas.

No entanto, uma vez rompida esta barreira, é notável a aceitação das novas práticas pela

construtora diante de tantos benefícios constatados que, direta ou indiretamente, acarretam

em redução de custos, que contribui para sua própria competitividade.

Enfim, este trabalhou demonstrou que, com a utilização das ferramentas corretas e a

partir de uma análise consistente de dados, a simplicidade da aplicação das ferramentas

Lean na construção civil contrapõe a complexidade deste setor, trazendo benefícios

notáveis advindos desta implementação. A partir da constatação destes benefícios, conclui-

se que o Lean Construction pode ser difundido e implementado por organizações que

busquem maior produtividade e, por conseguinte, atendimento a prazo, custo e qualidade

esperados.

Desta forma, espera-se que este trabalho sirva de motivação para a realização de

estudos posteriores que aprofundem e encorajem a aplicação do Lean Construction.

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