aplicaÇÃo do modelo de anÁlise hierÁrquica...

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1 APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA COPPETEC-COSENZA NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIO Paulo Afonso Rheingantz TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Aprovada por: Prof. Paulo Rodrigues Lima, D.Sc. Prof. Fernando Rodrigues Lima, D.Sc. Prof. Carlos Alberto Nunes Cosenza, D.Sc. Profa. Sheila Walbe Ornstein, D.Sc. Prof. Walmor José Prudêncio, D. Sc. Profa. Liana de Ranieri Pereira, D.Sc.

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APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA

COPPETEC-COSENZA

NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIO

Paulo Afonso Rheingantz

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS

DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE

JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO

GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Aprovada por:

Prof. Paulo Rodrigues Lima, D.Sc.

Prof. Fernando Rodrigues Lima, D.Sc.

Prof. Carlos Alberto Nunes Cosenza, D.Sc.

Profa. Sheila Walbe Ornstein, D.Sc.

Prof. Walmor José Prudêncio, D. Sc.

Profa. Liana de Ranieri Pereira, D.Sc.

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RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

MAIO DE 2000

RHEINGANTZ, PAULO AFONSO

Aplicação do Modelo de Análise

Hierárquica COPPETEC-COSENZA na

Avaliação do Desempenho de Edifícios de

Escritório [Rio de Janeiro] 2000

xxv, 344 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, D.Sc.,

Engenharia de Produção, 2000)

Tese – Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPE

1. Análise Hierárquica. 2. Avaliação de

Desempenho. 3. Edifícios de Escritório.

I. COPPE/UFRJ II. Título ( série )

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Dedico este trabalho a todos os usuários

dos edifícios de escritório, na esperança

de que ele venha a contribuir para

produzir ambientes onde as pessoas

possam viver e trabalhar com mais prazer

e bem-estar.

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Fernando Rodrigues Lima, pelo conhecimento e pela orientação

segura, que viabilizaram este trabalho.

Aos professores Carlos Alberto Nunes Cosenza e Paulo Rodrigues Lima, por sua

sabedoria.

À Professora Sheila Walbe Ornstein, por suas críticas, sugestões e pela

preciosa indicação de bibliografia sobre Avaliação Pós-ocupação.

À Professora Vera Cristina Feitosa por desmistificar a redação do texto

científico.

Aos professores Mário Vidal, Francisco Duarte, Orlando Cosenza e Elton

Fernandes, por seu conhecimento compartilhado.

À professora e amiga Ivonice Raimunda L. da Silva, por seu interesse e

dedicação em me ajudar a desvendar os mistérios da lógica fuzzy.

A todos os colegas do Curso de Doutorado em Engenharia de Produção, em

especial Maria Cristina Sampaio, Giselle Arteiro Azevedo, Cláudia Cordeiro,

Marcello Santos e Elder Pordeus, por sua curiosidade compartilhada.

Aos professores Leopoldo Bastos, Aldo Gonçalves, Maria Maia Porto, Cláudia

Barroso-Krause, e à arquiteta Lygia Niemeyer, por sua contribuição na definição

dos critérios para mensuração dos atributos de conforto ambiental.

Aos professores visitantes Wolfgang Preiser, Henry Sanoff e Theo van der

Voordt.

À Anna Carla Rocha, por sua contribuição para a compreensão do MAH-

COPPETEC.

À Rosina Trevisan Ribeiro, por compartilhar sua amizade e coleguismo, e por

sua revisão crítica das fichas de mensuração dos atributos de desempenho.

Ao Vicente del Rio, por ter me aberto as portas da percepção ambiental, e

por compartilhar a disciplina de Metodologia da Pesquisa.

Ao Marcelo Peçanha, amigo e colega de arquitetura e de ensino de projeto.

À Cláudia Nóbrega e Ceça Guimaraens, pelo interesse e amizade.

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À minha esposa, Ana Maria, por sua compreensão e por sua dedicação e

competência na revisão do texto, além de suas preciosas “dicas” bibliográficas.

Às professoras Maria Ângela Dias, Diretora da Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da UFRJ e Elisabete Martins, Chefe do Departamento de

Planejamento de Arquitetura, e a todos os colegas professores do

Departamento de Planejamento de Arquitetura, por sua compreensão.

À Cláudia Andrade e Elena Salvatori, por suas críticas, sugestões e amizade.

Ao Luis Alberto Teixeira Filho e à Daniela Yoshie Kussama, pela valiosa e

competente ajuda na edição das imagens e dos textos.

Ao Túlio Andrade, por sua excelente biblioteca sempre disponível.

Aos meus filhos, Gabriel e Marcelo, pelos incontáveis fins-de-semana

inexistentes.

Aos doutores Humberto Navarro Lins, Farid Haikal, Beatriz Trope, Helder Costa,

Lucas Fortes Maya, Elizabeth de Oliveira e Tatiana Fichman que, com sua

competência, asseguraram minha saúde física e mental ao longo desta longa

e estressante jornada.

Ao Eduardo Martins (Dudu), que assegurou a saúde de meu fiel computador,

sem o qual este trabalho não poderia ter sido realizado.

A todas as pessoas e organizações que colaboraram com este trabalho, em

especial:

Lourival Regini de Andrade, Luis F. Fadigas de Almeida e Rosaria Peixoto (PREVI); Francisco

Eduardo e Harvey Cosenza (PETROS), Patrícia R. Cecílio (PORTUS), Carla Meirelles (VALIA),

Alberto Oliveira (ACLO), Sylvio Kanmitzer (ODEON); Paulo Roberto Goulart (FACILITY), Moisés

Grinapel e Sérgio de Carvalho (PROLINE), Daniel Werneck (DW Engenharia), Luiz F. da Costa,

Fábio Oliveira e Alex Guerra (Ed. RB1); Sérgio Monteiro (Ed. Teleporto), Micheli Bruno (Ed.

Mourisco), Altair Beling e Jorge Ottolini (Mark Building); Sérgio Machado (CENTROIN), Roberto

Borges (McKINSEY), Marcos Osvaldo Chaves (Banco do Brasil), Olga Loffredi (Loffredi

Associados), Léo Schneider (GLR); Ana Cláudia de Lemos Santos e João Batista dos Santos

(Escritório de Advocacia João Batista dos Santos), Moraes José Lopes (GBOEx), Ricardo

Aronovich (OFFICE-DOLUTION), José Guilherme Oliveira; Davino Pontual, Márcio Roberto,

Edison Musa, Paulo Musa, Pablo Benetti, Heitor Derbli de Carvalho, Claudia Santos, Marcelo

Peçanha, José Ruy Rezende, Victor Sportelli; Walmor Prudêncio, Peter Sweizer, Luciana

Andrade, Siva Werneck, Ananias Godoy, Paulo Jardim de Moraes, Cheng Liang Yee, Ana Lúcia

Harris, Leo Schneider, Ronaldo Martins, Joe Yaqub Khzouz, Claudia Guedes, Adriane Almeida e

Silva, Margaret Jobim, Marcos Donida, Antonio Tadeu Lannes, Maria Isabel Canto, Antonio

Canto, Silvia Vianna, Alex Puig, Vanessa Lima e Ubiratan de Souza.

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Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)

APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA

COPPETEC-COSENZA

NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIO

Paulo Afonso Rheingantz

Maio/2000

Orientadores: Paulo Rodrigues Lima

Fernando Rodrigues Lima

Programa: Engenharia de Produção

Fundamentado no paradigma social complexo, este trabalho apresenta

um instrumento de análise qualitativa do desempenho dos edifícios de

escritórios derivado do Modelo de Análise Hierárquica COPPETEC-COSENZA

(MAH). Seu principal objetivo é demonstrar a utilidade de uma ferramenta que

alia grande flexibilidade à possibilidade de representação formal do

subjetivismo inerente aos processos de decisão em mais de dois níveis de

apuração. Para contextualizar o problema, analisa as transformações

provocadas pelas tecnologias da informação na economia, no trabalho e seus

reflexos na produção do ambiente de trabalho. A seguir, analisa o estado da

arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório, em

particular. Através de uma operação com matrizes, a partir de uma listagem

de atributos de desempenho de natureza comum a um grupo de edifícios,

confronta a demanda por espaço e por recursos prediais de diferentes

organizações com a oferta de um conjunto de edifícios. Os atributos são

classificados segundo seu vínculo, e seu desempenho, mensurado a partir de

variáveis previamente identificadas. Os valores resultantes, expressos através de

uma matriz de possibilidades, permitem identificar, pela observação visual do

conjunto hierarquizado das possibilidades, os pontos onde determinada

organização encontra melhor adequação às condições especificadas na

demanda e mapeadas no conjunto de edifícios.

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Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)

APPLICATION OF THE COPPETEC-COSENZA MODEL OF

HIERARCHICAL ANALYSIS IN THE

PERFORMANCE EVALUATION OF OFFICE BUILDINGS

Paulo Afonso Rheingantz

May/2000

Advisors: Paulo Rodrigues Lima

Fernando Rodrigues Lima

Department: Production Engineering

Based in the complex social paradigm, this dissertation presents an instrument for

qualitative analysis of the performance of office buildings, derived from the COPPETEC-

COSENZA Model of Hierarchical Analysis (MHA). The main objective is to demonstrate the

utility of a tool that combines great flexibility to the possibility of formal representation of the

subjectivity that is inherent to decision-making processes in more than one level of evaluation.

To reach your objective, it analyzes the transformations provoked by the technologies of the

information in the economy, in the work and your reflexes in the production of the workplace.

Next, it analyzes the state of the art of the building performance evaluation in general and of

the workplace, in specifics. Through na operation with matrixes, from a list of performance

attributes common to a group of buildings, it confronts the demand for space and for building

resources of different organizations, to what a group of buildings offer. The attributes are

classified according to their linkages - and their performance – that is measured based in

variables that are previously identified. The values or performance indexes that result are

expressed through a matrix of possibilities, and they allow to identify – by the visual

observation of a hierarchical grouping of possibilities – where a certain organization finds the

best fitting to the conditions that are specified at the demand, and are mapped within the

group of buildings.

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SUMÁRIO

Ficha catalográfica ii

Dedicatória iii

Agradecimentos iv

Resumo em português vi

Resumo em inglês vii

Sumário viii

Lista de Figuras x

Lista de Tabelas xi

Glossário de termos e conceitos-chave xii

APRESENTAÇÃO xxii

INTRODUÇÃO: 01

I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. 09

1.1 Paradigma, Horizonte, Sociedade Sustentável e Fim das Certezas 16

1.2 Caráter Autobiográfico e Auto-referenciável da Ciência 23

1.3 Pensamento Complexo (Social) 31

1.4 Ambiente Construído: organização social complexa 35

1.5 Desempenho: interação homem X ambiente construído 37

II. CONTEXTUALIZAÇÃO: 41

2.1 Um Mundo em Transformação: Era Industrial X Era Pós-Industrial 42

2.2 Trabalho e Economia na Era Pós-Industrial 49

2.3 Espaço e Tempo na Era Pós-Industrial: do “real” ao virtual 57

2.4 Transformações do Ambiente de Trabalho 65

2.5 Repensando o Projeto dos Edifícios de Escritórios 77

III. AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS: 92

3.1 Mercado Imobiliário e Avaliação dos Edifícios de Escritórios: foco no produto, fragmentação e opacidade de procedimentos

94

3.2 Avaliação Pós-Ocupação: foco no usuário, interdisciplinaridade e sistematização de procedimentos

100

3.3 Avaliação de Desempenho de Edifícios de Escritórios: BQA, ST&M, REN 112

3.4 Avaliação de Desempenho de Edifícios de Escritórios:

a experiência brasileira

129

IV. MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA COPPETEC-COSENZA NA

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS:

137

4.1 Subconjuntos Fuzzy, Variáveis Lingüísticas e suas Aplicações na Avaliação do Desempenho do Ambiente Construído

138

4.2 Descrição do Modelo de Análise Hierárquica COPPETEC-COSENZA 146

4.3 Construção do Modelo de Análise 154

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V. ATRIBUTOS DE DESEMPENHO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS 176

5.1 Atributos Corporativos 179

5.2 Atributos de Infraestrutura 188

5.3 Atributos Construtivos 201

5.4 Atributos de Espaço 209

5.5 Atributos de Ambiência Interna 218

5.6 Atributos de Recursos e Serviços Prediais 234

VI. SIMULAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE UM CONJUNTO

DE EDIFÍCIOS

251

6.1 Simulação com Base nos Atributos Gerais de Desempenho 254

6.2 Simulação com Base nos Atributos Corporativos 260

6.3 Simulação com Base nos Atributosde Espaço 263

CONCLUSÕES 267

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 272

ANEXOS 282

ANEXO I - Edifícios de escritório da Praia de Botafogo 283

ANEXO II - Visão serial da enseada de Botafogo 285

ANEXO III - A Década Perversa 292

ANEXO IV - Carta de Edison MUSA ao Presidente do IAB-RJ 302

ANEXO V - Padrões de Espaço de Escritório 303

ANEXO VI - O mercado da automação predial no Brasil 308

ANEXO VII - Classificação dos edifícios de escritórios do Rio de Janeiro 313

ANEXO VIII - Instrumentos de análise do BQA, REN e ST&M 317

ANEXO IX - Função de pertinência de variáveis lingüísticas 325

ANEXO X - Exemplo das diferenças entre as abordagens crisp e fuzzy 326

ANEXO XI - Tendência nos novos centros empresariais do Rio 330

ANEXO XII - Cálculo das Matrizes (C) e (D) - Simulação 331

ANEXO XIII: Formulários 337

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LISTA DE FIGURAS

Figura n° Título Págin

a

Fig. 01 - Vista da Baía e do Morro Cara de Cão 13

Fig. 02 - Vista da enseada de Botafogo (1999) 14

Fig. 03 - Vista da enseada de Botafogo no início do Século XIX 25

Fig. 04 - Vista da enseada de Botafogo em 1893 25

Fig. 05 - Vista da enseada de Botafogo em 1906 25

Fig. 06 - Áreas conquistadas ao mar às lagoas e alagadiços 26

Fig. 07 - Gabarito de 15 pavimentos na enseada de Botafogo 27

Fig. 08 - Edifício Larkin, (Buffalo, 1920) 66

Fig. 09 - Edifício BNDES (Rio de Janeiro, 1974) 66

Fig. 10 - Burolandschaft – Escritório Paisagem (Guttersloh 1960) 67

Fig. 11 - Action Office Herman Miller (1968) 67

Fig. 12 - Centraal Beheer (Apeldoorn, 1970-72) 68

Fig. 13 - O escritório é onde você está 69

Fig. 14 - SAS - Scandinavian Airlines (Estocolmo, 1988) 70

Fig. 15 - Microsoft (Seattle, anos 90) 73

Fig. 16 - Hewlet-Packard (Palo Alto, anos 80) 73

Fig. 17 - Escritório de Advocacia em São Paulo 77

Fig. 18 - Sede da Rede Globo em São Paulo 77

Fig. 19 - TDWA Chiat/Day (New York, 1994-96) 78

Fig. 20 - Edifício RB1 (Rio de Janeiro, 1986/90) 79

Fig. 21 - Edifício Metropolitan (Rio de Janeiro 1989/94) 79

Fig. 22 - Edifício Teleporto (Rio de Janeiro, 1988/94) 79

Fig. 23 - Biblioteca Nacional da França (Paris, anos 80) 80

Fig. 24 - Petrona Twin Towers (Kuala Lumpur, 1991-97) 80

Fig. 25 - Consórcio Vida (Santiago do Chile, anos 90) 80

Fig. 26 - Sun Tower (Seul anos 90) 81

Fig. 27 - Menara Mesiniaga (Kuala Lumpur, anos 90) 81

Fig. 28 - Avião-Escritório 81

Fig. 29 - Sistema Dynamics Schärf 82

Fig. 30 - Commerzbank (Frankfurt, 1991-97) 83

Fig. 31 - Passos para o desenvolvimento de um módulo BQA 121

Fig. 32 - Diferenças entre Função de Pertinência “Crisp” e “Fuzzy” 143

Fig. 33 - Esquema do MAH-COPPETEC Simplificado 153

Fig. 34 - Edifício 1 – Jardim Botânico 158

Fig. 35 - Edifício 2 – Praia de Botafogo 158

Fig. 36 - Edifício 3 – Largo do Machado 158

Fig. 37 - Edifício 4 – Praça Mauá 159

Fig. 38 - Edifício 5 – Avenida Chile 159

Fig. 38 - Edifício 6 – Cidade Nova 159

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13

LISTA DE TABELAS

Tabela n° Título Página

Tabela 01

-

Articulação ou Confronto psiqué X physys 32

Tabela 02 - Relação Entre Empresa e Mercado 46

Tabela 03 - Valores das sociedades industrial e pós-industrial 47

Tabela 04 - Padrões de Trabalho e de Espaço de Escritório 71

Tabela 05 - Estrutura básica do REN 123

Tabela 06 - Comparação entre os métodos de avaliação BQA, ST&M

e REN

128

Tabela 07 - MATRIZ (A) – Demanda dos Usuários 148

Tabela 08 - MATRIZ (B) – Oferta de Edifícios 149

Tabela 09 - MATRIZ (C) – Prioridades de Ocupação 150

Tabela 10 - Tabela de Cotejo A B = C 150

Tabela 11 - MATRIZ (E) – Diagonal 151

Tabela 12

-

MATRIZ (D) – Índices Ocupacionais 151

Tabela 13 - Perfil dos Edifícios 160

Tabela 14 - Perfil de Usuário Tradicional [ou Preservador] 162

Tabela 15 - Perfil de Usuário de Equilíbrio [ou Revitalizador] 162

Tabela 16 - Perfil de Usuário Inovador [ou Renovador] 163

Tabela 17 - Caracterização do Respondente 165

Tabela 18 - Atributos Corporativos 165

Tabela 19 - Atributos do Sítio 165

Tabela 20 - Atributos Construtivos 166

Tabela 21 - Atributos de Espaço 166

Tabela 22 - Atributos do Ambiente Interno 167

Tabela 23 - Atributos do Ambiente Interno 167

Tabela 24 - Graus dos Atributos Corporativos 168

Tabela 25 - Graus dos Atributos de Infraestrutura 169

Tabela 26 - Graus dos Atributos Construtivos 169

Tabela 27 - Graus dos Atributos de Espaço 170

Tabela 28 - Graus dos Atributos do Ambiente Interno 171

Tabela 29 - Graus dos Atributos de Recursos e Serviços Prediais 172

Tabela 30 - Freqüência e Percentual por Categoria de Especialistas 173

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14

Tabela 31 - Atributo 01 – Localização 180

Tabela 32 - Atributo 02 – Relação com Vizinhança 181

Tabela 33 - Atributo 03 – Imaginabilidade 182

Tabela 34 - Atributo 04 – Custo de Instalação 184

Tabela 35 - Atributo 05 – Custo Operacional 186

Tabela 36 - Atributo 06 – Valor Imobiliário 187

Tabela 37 - Atributo 07 – Condições do Terreno 190

Tabela 38 - Atributo 08 – Acesso de veículos 191

Tabela 39 - Atributo 09 – Transporte Terrestre 193

Tabela 40 - Atributo 10 – Transporte Aéreo 194

Tabela 41 - Atributo 11 – Rede de Telecomunicações 195

Tabela 42 - Atributo 12 – Rede de Energia Elétrica 196

Tabela 43 - Atributo 13 – Rede de Água 197

Tabela 44 - Atributo 14 – Rede de Esgoto 198

Tabela 45 - Atributo 15 – Rede de Drenagem 199

Tabela 46 - Atributo 16 – Rede de Iluminação Pública 200

Tabela 47 - Atributo 17 – Forma 202

Tabels 48 - Atributo 18 – Qualidade Construtiva 203

Tabela 49 - Atributo 19 – Garagem 205

Tabela 50 - Atributo 20 – Flexibilidade Tecnológica 206

Tabela 51 - Atributo 21 – Facilidade de Manutenção 208

Tabela 52 - Atributo 22: Área Útil 210

Tabela 53 - Atributo 23: Flexibilidade do Layout 212

Tabela 54

-

Atributo 24: Centro de Convenções 214

Tabela 55 - Atributo 25: Espaços de Apoio 215

Tabela 56 - Atributo 26: Espaços Complementares 217

Tabela 57 - Atributo 27: Acessibilidade 219

Tabela 58 - Atributo 28: Circulação Interna 221

Tabela 59 - Atributo 29: Conforto Aeróbico 223

Tabela 60 - Atributo 30: Conforto Térmico 225

Tabela 61 - Atributo 31: Conforto Visual 228

Tabela 62 - Atributo 32: Conforto Auditivo 231

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15

Tabela 63 - Atributo 33: Conforto Tátil 233

Tabela 64 - Atributo 34: Gerenciamento Predial 235

Tabela 65 - Atributo 35: Sistema de Energia Elétrica 237

Tabela 66 - Atributo 36: Sistema de Deteção e Prevenção de

Incêndio

238

Tabela 67 - Atributo 37: Sistema de Transporte Vertical 239

Tabela 68 - Atributo 38: Sistema de Ar Condicionado 240

Tabela 69 - Atributo 39: Sistema de Água, Gás e Esgoto 242

Tabela 70 - Atributo 40: Sistema de Sonorização Ambiente e de

Comunicação por Rádio

243

Tabela 71 - Atributo 41: Sistema de Segurança Patrimonial 244

Tabela 72 - Atributo 42: Telemática 246

Tabela 73 - Atriburo 43: Birótica (Automação de Serviços de

Escritório)

248

Tabela 74 - Atributo 44: Domótica 249

Tabela 75 - Perfil de Oferta de Edifícios - Simulação 251

Tabela 76 - Perfil de Demanda por Edifícios - Simulação 253

Tabela 77 - MATRIZ (A) – Demanda por Edifícios / Atributos Gerais 254

Tabela 78 - MATRIZ (B) – Oferta de Edifícios / Atributos Gerais 254

Tabela 79 - MATRIZ (C) – Prioridades de Ocupação / Atributos Gerais 255

Tabela 80 - Cotejo (A) (B) = (C) / Atributos Gerais 255

Tabela 81 - MATRIZ (E) – Diagonal / Atributos Gerais 255

Tabela 82 - MATRIZ (D) – Índice Ocupacional / Atributos Gerais 256

Tabela 83 - MATRIZ (A) – Demanda de Edifícios / Atributos

Corporativos

260

Tabela 84

-

MATRIZ (B) – Oferta de Edifícios / Atributos Corporativos 260

Tabela 85 - Cotejo (A) (B) = (C) / Atributos Corporativos 260

Tabela 86 - MATRIZ (C) – Prioridades de Ocupação / Atributos

Corporativos

261

Tabela 87 - MATRIZ (E) – Diagonal / Atributos Corporativos 261

Tabela 88 - MATRIZ (D) – Índice Ocupacional / Atributos Corporativos 261

Tabela 89 - MATRIZ (A) – Demanda de Edifícios / Atributos de Espaço 263

Tabela 90 - MATRIZ (B) – Oferta de Edifícios / Atributos de Espaço 263

Tabela 91 - Cotejo (A) (B) = (C) / Atributos de Espaço 264

Tabela 92 - MATRIZ (C) – Possibilidades dos Atributos de Espaço 264

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16

Tabela 93 - MATRIZ (E) – Diagonal / Atributos de Espaço 264

Tabela 94 - MATRIZ (D) – Índice Ocupacional/Atributos de Espaço 264

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GLOSSÁRIO DE TERMOS E DE CONCEITOS-CHAVE

ABCI - Associação Brasileira de Construção Industrializada.

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro.

ABSIC - Advanced Building Systems Integration Consortium, parceria indústria-

universidade que analisa as perspectivas internacionais para os escritórios do

futuro – América do Norte (estação de trabalho), Alemanha (envolvente), Reino

Unido (material, qualidade estética e desempenho), Japão (núcleo de

serviços/recursos).

Absortância (ou absortividade) - é o fator de absorção de uma superfície; o

corpo negro têm absortância igual a um (LAVIGNE 1992). Cf. A. W. Collieu (1977),

a absortância de uma superfície em relação a um determinado comprimento

de onda é a fração da energia radiante total incidente na faixa de onda

considerada que é absorvida pela superfície (in: GONZALEZ et al., 1986, v.2.; 80).

Academicismo - tendência nas artes em geral que se caracteriza pela

padronização de valores estéticos, fixando de antemão condições para a

estrutura do objeto artístico (CORONA & LEMOS 1972), enquanto o

Funcionalismo, é um movimento surgido nas décadas de 20-30, cuja primeira

regra [...] surgiu da crença de que a forma deveria refletir uma função.' (HATJE

1970). Ambos tiveram (e ainda têm) grande influência na formação dos

arquitetos brasileiros, especialmente no entendimento do edifício enquanto

objeto estético isolado, desvinculado de seu contexto urbano e das

características climáticas locais.

Ambiente construído – Cf. ORNSTEIN et al (1995: 7), “todo o ambiente eregido,

moldado ou adaptado pelo homem. São artefatos humanos ou estruturas físicas

realizadas pelo homem.”

Ambiente social – Cf. ORNSTEIN et al (1995: 7), “indivíduo ou grupo de indivíduos

entre os quais se vive e que se relacionam socialmente entre si.”

Anima - espécie de persona de caráter compensatório, forma de compromisso

inconsciente entre o indivíduo e o mundo (inconsciente) das imagens históricas

ou primordiais, que traduz o modo pelo qual o sujeito é visto pelo inconsciente

coletivo. (JUNG 1984: 151)

Anosmia - perda ou enfraquecimento do olfato. (AURÉLIO Eletrônico 1994)

ANTAC - Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído.

APO - Avaliação Pós-Ocupação – “método interativo que detecta patologias e

determina terapias no decorrer do processo de produção e uso de ambientes

construídos, através de participação intensa de todos os agentes envolvidos na

tomada de decisões”. (ORNSTEIN & ROMÉRO 1992: 23)

ASHRAE - American Society of Heating Refrigeration and Air Conditioning

Engineers.

Aspereza - sensação percebida através do contato com superfícies desiguais,

acidentadas, irregulares, desagradável ao tato, duras, sem oleosidade natural,

sem vida (KRECH & CRUTCHFIELD 1971).

ASTM - American Society for Testing and Materials.

Auto-organização - “a emergência espontânea de novas estruturas e de novas

formas de comportamento em sistemas abertos, afastados do equilíbrio,

caracterizados por laços de realimentação internos e descritos

matematicamente por meio de equações não-lineares” (CAPRA 1997: 80).

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Autopoiese [Organização dos Seres Vivos] – “os sistemas vivos ... [estão]

organizados num processo circular causal fechado que leva em consideração

a mudança evolutiva na maneira como a circularidade é mantida, mas não

permite a perda da própria circularidade” (MATURANA, in CAPRA 1997: 87).

“Auto” significa “si mesmo” e se refere à autonomia dos sistemas auto-

organizadores, e “poiese” – compartilha da mesma raiz grega com a palavra

“poesia” – significa “criação”, “construção. Portanto, autopoiese significa

“autocriação”. (CAPRA 1997: 88).

Auto-referente – a “percepção e, mais geralmente, a cognição não representam uma realidade exterior, mas, em vez disso, especificam uma por meio do processo de organização circular do sistema nervoso” (MATURANA in CAPRA 1997: 88).Bem-estar - estado de perfeita satisfação física ou moral: conforto. (AURÉLIO ELETRÔNICO 1996)

Bioclima - é a relação entre os organismos vivos e o clima (PETROBRÁS 1991).

Biótopo - suporte inorgânico do hábitat, incluindo substrato (água, solo, etc.) e

todos os fatores físico-químicos (temperatura, iluminação e outros (FERNANDEZ

s/d: 10), ; unidade ambiental facilmente identificável, podendo ser de natureza

inorgânica ou orgânica, e cujas condições de hábitat são uniformes. Pode

abrigar uma ou mais comunidades. É geralmente parte não viva do

ecossistema. (CARVALHO 1981)

BQA - Building Quality Assesment.

CBPR - Centre for Building Performance Research da Victoria University of Wellington, Nova Zelândia.

CEDSERJ - Condomínio do Edifício de Serviços do BNDES no Rio de Janeiro.

Cibernética – do grego kybernetiké, ou téchne kybernetiké, 'a arte do piloto' ,

ciência que estuda as comunicações e o sistema de controle dos organismos

vivos e das máquinas.

CLP - controlador lógico programável.

COAM - Colegio Oficial de Arquitectos de Madrid.

Comunidade ecológica – “conjunto (assemblage) de organismos aglutinados

num todo funcional por meio de relações mútuas” ... [possibilita aplicar] os

mesmos tipos de concepções a diferentes níveis de sistemas” (CAPRA 1997: 44)

Conforto - Bem-estar, comodidade.

Conforto auditivo - Cf. Idéias de Arquitetura 11 (Hunter Douglas s/d) ou acústico,

avalia a inteligibilidade dos sons e o distúrbio causado pelos sons nos indivíduos;

depende dos seguintes parâmetros: freqüência e intensidade do som, distância

e posição relativas das fontes de ruído (internas ou externas) e da forma de

transmissão do ruído.

Conforto aeróbico - Cf. Idéias de Arquitetura 11 (Hunter Douglas s/d), diz respeito

à qualidade do ar respirado pelos indivíduos no interior de um ambiente

construído, determinada pelo teor de oxigênio, teor de umidade e teor de

poluentes químicos ou orgânicos.

Conforto ambiental - estudo das condições ambientais mais confortáveis para

o homem.

Conforto tátil - diz respeito às sensações de “textura” (rugosidade, etc.), de

“maciez”, de “calor” com que os indivíduos sentem os materiais e os objetos;

segundo KRECH & CRUTCHFIELD (1971), do ponto de vista perceptivo, as

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sensações epidérmicas podem ser classificadasem dois grupos: sensações

básicas (tato, pressão ou dor) e sensações complexas (umidade, oleosidade,

prurido, aspereza, maciez).

Conforto térmico - Cf. Idéias de Arquitetura 11 (Hunter Douglas s/d), diz respeito

à temperatura ideal para cada tipo de ambiente, levando-se em conta não

apenas a presença de indivíduos e a atividade que estes desempenham, mas

também a presença de equipamentos ou produtos sensíveis; suas variáveis são:

exigências humanas e funcionais, condições geográficas (clima, topografia,

ventos) e características arquitetônicas (volumetria interior e exterior, desenho e

materiais das vedações e dos acabamentos internos)

Conforto visual - Cf. Idéias de Arquitetura 11 (Hunter Douglas s/d), depende,

basicamente, da iluminação e diz respeito à inteligibilidade ou clareza de leitura

de toda informação visual (cor, forma, movimento, escrita) ou aos efeitos sobre

o indivíduo decorrentes dos conteúdos estéticos e psicológicos trasnmitidos por

essa visualidade.

Contraste [luminoso] - Cf. OLLSWANG (1984), é definido em termos de relação

de brilho: quanto maior a relação, maior o nível de contraste.

Desejo mimético – termo utilizado por Celso FURTADO para explicitar a ilusão de

“uma modernidade que nos condena a um mimetismo cultural esterilizante ...

[e a] ... obsessão de reproduzir o perfil daqueles que se auto-intitulam

desenvolvidos.” (in SUNG s/d: 52) – das sociedades capitalistas criado pelo

próprio mercado, e que se torna ele próprio o “critério para desejos aceitáveis

ou não.” (SUNG s/d: 55)

Desempenho – [do inglês performance] Cf. ISO 6241, comportamento de um

produto em relação ao seu uso. Neste sentido, seu conceito deve ser entendido

como o processo de interação homem ambiente.

EAESP – European Association of Experimental Social Psychology.

EBS – Environment/Behavior Studies

Ecologia - parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio

ou ambiente em que vivem, bem como as suas recíprocas influências (AURÉLIO

Eletrônico 1994).

Ecologia Profunda - Escola filosófica fundada por Arne NAESS no início dos anos

70 com base na distinção entre ecologia rasa – antropocêntrica, ou

centralizada no ser humano, vê os seres humanos situados acima ou fora da

natureza – e ecologia profunda – não separa seres humanos ou qualquer outra

coisa do meio ambiente natural, que reconhece o valor intrínseco de todos os

seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia

da vida.

Economia informacional - é informacional porque a produtividade e a

competitividade de unidades ou agentes nessa economia dependem de sua

capacidade de gerar, processar e aplicar a informação baseada em

conhecimento. A emergência de um novo paradigma tecnológico organizado

em torno de novas tecnologias da informação, mais flexíveis e poderosas,

possibilita que a própria informação se torne o produto do processo produtivo.

(CASTELLS 1999: 87)

EDRA - Environment Design Research Association (América do Norte).

Entropia - ou medida da desordem crescente, introduz a idéia de

irreversibilidade, de uma “seta do tempo” na ciência. Em qualquer sistema físico

isolado ou ‘fechado’, “alguma energia mecânica é sempre dissipada em forma

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de calor que não pode ser completamente recuperado” (CAPRA 1997: 54)

[segunda lei da Termodinâmica].

Escritório aberto ou paisagem [landscape office] – ambientes abertos e grandes conjuntos de mobiliário e equipamento são organizadas em função do fluxo de trabalho, separados por “caminhos curvilíneos e um sentimento de paisagem interior” (SMITH & KEARNY, 1994: 7).

Escritório combinado [combi office] – onde os funcionários ocupam “pequenas salas fechadas, dispostas na periferia do ambiente, de tal forma que a área central destina-se às atividades de uso comum, seja para reunir equipamentos, estações para trabalho em grupo, ou áreas de estar e convívio social” (ANDRADE 1996: 22); e

Escritório de uso eventual [drop-in] – termo usado por diversas empresas para descrever escritórios compartiljhados que são utilizados por curtos períodos de tempo (por exemplo, uma poucas horas) por empregados que não precisam fazer reserva de espaço de escritório. Em geral é usado para empregados de diferentes lugares que “usam eventualmente” o espaço de trabalho e precisam de um lugar para trabalhar.

Terminal doméstico [Home-based telecommuting] – designação utilizada para caracterizar os funcionários que trabalham meio turno em casa, utilizando a tecnologia necessária para comunicar-se com seus colegas de trabalho ou com sua empresa.

Escritório do cliente – modalidade de trabalho cada vez mais presente, à

medida que cresce a modalidade de prestação de serviços e a

desregulamentação dos contratos de trabalho, onde o funcionário trabalha,

durante um período de freqüência e duração variável, no próprio escritório do

cliente.

Escritório fechado – modelo tradicional de espaço de escritório, dividido em salas estanques, que podem ser individuais ou para pequenos grupos de até 4 ou 6 pessoas.

Escritório móvel – que caracteriza veículos ou locais especialmente equipados,

tais como um avião, um barco, uma van, um ônibus ou até mesmo um local

adequado em um aeroporto ou em uma sala de hotel, de um centro de

convenções ou de um centro de treinamento. Neste grupo também se insere o

conceito do escritório incorpóreo – que, segundo STONE & LUCHETTI (1985) “ está

onde você está” – numa analogia às empresas incorpóreas de Tom PETERS

(1995), que considera que o escritório é a própria mente.

Escritório não territorial – designação proposta por Thomas ALLEN (MIT) para caracterizar as novas formas de trabalho de escritório contendo variadas zonas de atividades disponíveis para uso de qualquer membro da equipe, combinando sistemas de maior liberdade de cenário com os fluxos de pessoas, materiais ou informações; “os funcionários não têm sala, estação de trabalho ou mesa fixa e o uso de espaço ou tecnologia se dá em função de suas necessidades e tarefas” (SIMS, BECKER & QUINN 1995). Estas novas forma de escritório vêm sendo utilizados por organizações que buscam maior efetividade e redução de custos escritório, com significativos efeitos na demanda por espaço de escritório, na qualidade de vida no trabalho de seus empregados e na competitividade organizacional. Existem diversas formas de escritório sem território e diferentes modalidades de reserva de uso do espaço ou de tecnologia:

Escritório para grupos de alto desempenho [high performance team) – onde

equipes de funcionários, compartilham processos de trabalho em um mesmo

ambiente, possibilitando “aumento de envolvimento e agilidade de decisões,

sinergia, aumento de suporte emocional, melhor desempenho” (ANDRADE

1996: 22).

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Escritório satélite [telework centers] – designação utilizada para caracterizar

pequenos centros de teletrabalho com ambientes totalmente equipados

localizados nas proximidades das moradias dos funcionários ou dos clientes;

estes locais também pode ser utilizados.

Escritório temporário [Just in time] – designação utilizada pela Anderson

Consulting em San Francisco para descrever seu programa de escritórios não

destinados como base permanente de um determinado indivíduo; os escritórios

podem ser designados como uma base temporária, variando desde meio dia

a diversos dias, mediante sistema de reserva.

Escritório virtual – designação genérica utilizada para descrever a idéia de

espaço de escritório dissociado de um lugar e um tempo específicos.

Estrutura [de um sistema] – é a incorporação física de seu padrão de

organização ... “enquanto o padrão de organização envolve um mapeamento

abstrato de relações, a descrição da estrutura envolve a descrição dos

componentes físicos efetivos do sistema – suas formas, composições químicas, e

assim por diante”. (CAPRA 1997: 134)

Estruturas Dissipativas [Teoria das] - de Ilya PRIGOGINE, introduz uma mudança

radical na noção de desperdício associado à dissipação de energia da

termodinâmica clássica, ao mostrar que nos sistemas abertos a dissipação

torna-se uma fonte de ordem. “A evolução explica-se por flutuações de energia

que em determinados momentos, nunca inteiramente previsíveis,

desencadeiam espontaneamente reações que, por via de mecanismos não

lineares, pressionam o sistema para além de um limite máximo de instabilidade

e o conduzem a um novo estado macroscópico. Esta transformação irreversível

e termodinâmica é o resultado da interação de processos microscópicos

segundo uma lógica de auto-organização numa situação de não-equilíbrio. A

situação de bifurcação, ou seja, o ponto crítico em que a mínima flutuação de

energia pode conduzir a um novo estado, representa a potencialidade do

sistema em ser atraído para um novo estado de menor entropia. Desse modo a

irreversibilidade nos sistemas abertos significa que estes são produto da sua

história”. SANTOS (1995: 27-28)

Facility Manager - gerente de recursos e serviços prediais.

Fatores Comportamentais - Cf. RABINOWITZ (1984: 407), possibilitam observar

como a imagem do edifício influi no comportamento dos usuários e como outros

fatores se combinam com o ambiente físico para afetar o usuário. Cf. PREISER et

al (1998: 45-46), abrange: proxemia e territorialidade, privacidade e interação,

percepção ambiental, imagem e intenções, cognição ambiental e orientação.

Fatores Funcionais - Cf. RABINOWITZ (1984: 407), possibilitam observar os

aspectos do ambiente construído que apóiam as atividades dos usuários e o

desempenho organizacional. Cf. PREISER et al (1998: 43), abrange: acessos,

segurança pessoal, estacionamento, capacidade espacial, serviços,

comunicações, segurança patrimonial, adaptabilidade, circulação,

equipamentos.

Fatores Técnicos - Cf. RABINOWITZ (1984: 407), possibilitam verificar o

desempenho dos componentes do edifício, especialmente de materiais e

instalações. Cf. PREISER et al (1998: 43-44), abrange: segurança contra incêndio,

estrutura, ventilação e higiene, elétrica, vedações externas, tetos,

acabamentos internos, acústica, iluminação, sistemas de controle ambiental

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Fluxos - Cf. CASTELLS (1999a), “seqüências intencionais, repetitivas e

programáveis de intercâmbio e interação entre posições fisicamente

desarticuladas, mantidas por atores sociais nas estruturas econômica, política e

simbólica da sociedade"; expressão dos processos que dominam nossa vida

econômica, política e simbólica, a configuração espacial das práticas sociais

da sociedade em rede e a organização material das práticas sociais de tempo

compartilhado, que funcionam por meio de fluxos – de capital, de informação,

de tecnologia, de interação organizacional, de imagens, sons e símbolos.

Free Address – designação utilizada para descrever um programa de ocupação de espaço sem previsão de mesa individual por funcionário; cada funcionário apanha seu equipamento móvel (volante, telefone, computador, etc.) e ocupa a primeira estação de trabalho disponível, contando com suporte de secretaria e recepção; podem existir estações de trabalho individuais e para grupos, além de salas de reunião; a IBM usa o termo para definir o espaço interno dotados de mesas individuais, que podem ser utilizadas por qualquer funcionário.

Geratividade – designação adotada por MORIN (1996: 336) para caracterizar a “fonte da constante renovação da vida de um organismo complexo edifício de escritórios que se caracteriza por um processo incessante de degradar-se, de simplificar-se, em função da necessidade de conservar sua complexidade mediante uma recriação intelectual permanente.” (1996: 336)

Group Address – designação utilizada pela IBM para definir o espaço interno sem previsão de mesas individuais, com a intenção de ser utilizada por seus grupos de funcionários ou departamentos.

Hipótese de Gaia [James LOVELOCK] – descobriu que o fato de todos os seres

vivos extraírem energia e matéria e descartarem produtos residuais era a mais

geral das características da vida que ele podia identificar. ... reconheceu a

atmosfera da Terra como um sistema aberto, afastado do equilíbrio,

caracterizado por um fluxo constante de energia e de matéria. Sua análise

química detectava a própria “marca registrada” da vida. (CAPRA 1997: 91).

Mostra que há um estreito entrosamento entre as partes vivas do planeta –

plantas, microorganismos e animais – e suas partes não-vivas – rochas, oceanos

e a atmosfera (CAPRA 1997: 93). O planeta Terra é um sistema vivo, auto-

organizador

Hoteling – designação adotada pela Ernst and Young de Chicago para descrever seu programa de escritórios não individualizados em uma base permanente; o uso dos ambientes é realizado através de um sistema de reservas tipo de hotel, com o apoio de equipes de suporte; este sistema também possibilita adaptações no espaço para atender às demandas específicas de cada tipo de projeto/atividade.

IAPS – International Association for the Study of People and Their Physical Surroundings (Europa), cujos principais objetivos, são: (1) facilitar a comunicação entre os interessados nas relações entre as pessoas e seu ambiente físico, (2) estimular a pesquisa e a inovação para melhorar o bem-estar humano e o ambiente físico, e (3) promover a integração entre pesquisa, educação, política e prática.

IATSS - International Association of Traffic and Safety Sciences.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro.

IBI - Intelligent Buildings Institute.

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IBPE - Internacional Building Performance Evaluation Project, coordenado por

PREISER, cujo objetivo é desenvolver um conjunto de instrumentos

metodólogicos "padrão" para avaliação de desempenho de ambientes de

trabalho passíveis de serem aplicados em qualquer parte do mundo. (ORNSTEIN,

LEITE e ANDRADE 1999)

Imagem evocada – Cf. DAMÁSIO (1996: 123), imagens independente de serem compostas principalmente por formas, cores, movimentos, sons ou palavras faladas ou omitidas que constitui nossos pensamentos: evocar nos olhos, ouvidos ou na mente, imagens aproximadas armazenadas em nosso pensamento, a partir de de experiências anteriores, tais como pensar na tia Maria, na torre Eiffel, na voz de Placido Domingo, etc.

Imagem perceptiva – Cf. DAMÁSIO (1996: 123), formação de imagens de modalidades sensoriais diversas, tais comoL: olhar por uma janela, ouvir a música de fundo que está tocando, deslizar os dedos por uma superfície de metal polido ou ainda ler estas palavras, linha após linha, até o fim da página.

Imagem simbólica - uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato. (JUNG s/d: 20)

Imaginabilidade - designação utilizada por Kevin Lynch (1960) para designar as

formas que geram imagens fortes.

Inconsciente coletivo – designação utilizada por JUNG, “o inconsciente coletivo se estrutura em arquétipos (disposições hereditárias de reação) e pertence à espécie humana e jamais se torna de fato plenamente consciente.”(JAPIASSÚ & MARCONDES 1996: 152)

Inconsciente pessoal – designação utilizada por JUNG para caracterizar os

“elementos reprimidos, adquiridos durante a história pessoal dos indivíduos em

sua experiência de vida” (JAPIASSÍ & MARCONDES (1996: 152) que o constituem.

Indentação - marcas produzidas por impacto de objetos contundentes (PREISER et al 1989).

Interação – Cf. MORIN (1996), é um conjunto de relações, ações e retroações que se efetuam e se tecem num sistema; Cf. DAMÁSIO (1996: 255), “o organismo inteiro, e não apenas o corpo ou o cérebro, interage com o meio ambiente ... quando vemos, ouvimos, tocamos, saboreamos ou cheiramos, o corpo e o cérebro participam na interação com o meio ambiente.”

ISO 6241 - Performance Standards in building – principles for their preparation and factors to be considered.

Lugares globais – designação de SANTOS (1997) para as metrópoles que, além

de combinarem um grande número de variáveis típicas de nossa época,

“guardam numerosos aspectos herdados de épocas anteriores, em virtude da

resistência da paisagem metropolitana às mudanças gerais”. Estes lugares

globais configuram os nós de uma intrincada rede que preside e vigia as

atividades características do mundo globalizado.

Maciez - sensação percebida através do contato com superfícies suaves ao

tato, brandas, sem asperezas, lisas, aprazíveis, agradáveis (KRECH &

CRUTCHFIELD 1971).

MAH – Modelo de Análise Hierárquica COPPETEC-COSENZA.

Meio – Cf. SANTOS (1997), noção resultante “de uma adaptação sucessiva da

face da Terra às necessidades dos homens ... [inicialmente] isoladas, ao sabor

das civilizações emergentes, até chegar ao atual processo de

internacionalização”, que tende a generalizar os mesmos objetos e paisagens

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geográficos de modo a torná-los semelhantes nos mais diversos lugares do

mundo.

MERA – Man-Environment Research Association (Japão).

Mesa compartilhada [Desk sharing] – termo genérico para caracterizar a situação onde a mesma mesa ou estação de trabalho é utilizada por diferentes empregados ao longo de um dia ou semana.

Mesa quente [Hot desking] – inspirado na designação da Marinha norteamericana para descrever beliches utilizados por muitos marinheiros em diferentes turnos/vigílias (o beliche é aquecido pelo ocupante anterior); forma pejorativa de designar algumas formas de escritório de uso compartilhado.

NUTAU - Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo da

FAUUSP.

OCDE – Organisation de Coopération et de Dévelopment Économiques.

Oleosidade - sensação percebida através do contato com materiais oleosos ou

gordurosos (KRECH & CRUTCHFIELD 1971).

Olhar compartilhado – conjunto ou constelação de concepções, valores,

percepções e práticas compartilhadas por uma determinada comunidade que

dá forma à uma visão particular da realidade; configuração multidimensional

do paradigma pós-moderno de SANTOS (1995a), de modo a assegurar maior

coerência e racionalidade na definição dos atributos e do seu grau de

importância.

ORBIT-2 – Organizations, Buildings and Information Technology, abordagem

pioneira na sistematização e na classificação dos recursos e instalações prediais

dos edifícios de escritórios por “níveis, iniciada em 1983 sob a coordenação da

DEGW.

Organização – exprime o caráter constitutivo das interações; coluna vertebral à

idéia de sistema

OSHA – Occupacional Safety and Health Administration.

Padrão [de organização de um sistema] – “configuração de relações entre os

componentes do sistema que determinam as características essenciais desse

sistema. Certas relações devem estar presentes para que algo seja reconhecido

como uma cadeira, uma bicicleta ou uma árvore”. (CAPRA 1997: 134)

PAPER – People and the Physical Environment Research Association associação interdisciplinar envolvendo os países do Nordeste da Ásia e Oceania, fundada em 1983.

Paradigma científico – “conjunto de realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência.” (KUHN 1991: 13)

PDR - Pre-Design Research.

Percepção ambiental – processo de interação mental e corporal om o

ambiente que permite ao homem tanto atuar “sobre o meio ambiente como

dele receber sinais.” (DAMÁSIO 1996: 256)

Persona - Cf. Carl JUNG (1984), palavra que, originalmente, designava a máscara usada pelo ator, assinalando o papel que este ia desempenhar na peça, utilizada por para caracterizar a máscara da psique coletiva, máscara que aparenta uma individualidade, procurando convencer aos outros e a si mesma que é individual, quando, na realidade, não passa de um papel ou desempenho através do qual fala a psique coletiva.

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PIB - produto interno bruto.

Princípio geométrico - Cf. MANDOLESI (1980), valoriza o significado global da

forma, a percepção dos valores de superfície e volumétricos.

Princípio matérico - Cf. MANDOLESI (1980), valoriza os atributos intrínsecos da

forma e do material que constrói a forma.

Processo [da vida] – é a atividade envolvida no padrão de organização do

sistema ... é a ligação entre padrão e estrutura.”(CAPRA 1997: 134) No caso do

edifício de escritórios, o padrão de organização é representado pelos desenhos

dos projetos utilizados na construção do edifício, a estrutura é um edifício

específico e a ligação entre padrão e estrutura está na mente do projetista. Já

no caso de um organismo vivo, “o padrão de organização está sempre

incorporado na estrutura do organismo, e a ligação entre padrão e estrutura

reside no processo da incorporação contínua”. (CAPRA 1997: 135)

Projeto pragmático - apropriação de formas da natureza utilizadas sem modificar sua forma; a razão básica para construir é a modificação física do clima natural para facilitar o desenvolvimento de determinadas atividades; as formas tridimensionais são abordadas, neste caso, e podem ser descritas como um método de ensaio e erro, por sucessivas modificações de pequenos detalhes. (BROADBENT 1973)

Projeto icônico - modo culturalmente consagrado de fixação de uma imagem que um objeto determinado deve ter, mantida inalterada por gerações posteriores nos seus edifícios; procura o equilíbrio entre o controle climático e os recursos disponíveis na sua própria cultura; a forma de um objeto está amarrada ao modo de vida da sociedade, que luta contra as pressões e tende a tornar-se muito rígida. (BROADBENT 1973)

Projeto analógico - forma bastante rica para criar formas tridimensionais, uma vez que as analogias da forma dos edifícios são baseadas, geralmente, em outros edifícios; a partir de materiais reais, o projetista prepara os desenhos com determinada intenção, e o desenho se torna uma ferramenta analógica que possibilita ao projetista simular experimentos pragmáticos de ensaio e erro antes do início da construção; desta forma, a ação projetual torna-se uma atividade diferenciada, destinada à construção de um determinado objeto projetado. (BROADBENT 1973)

Projeto canônico - segue o analógico, uma vez que, tendo o projetista preparado os desenhos antes de começar a construir, os desenhos adquirem uma forma particular de o projetista desenvolver suas intenções de ordem e regularidade; estas intenções começam aparecer independentemente dos efeitos do produto na realidade; um exemplo desta ordem e regularidade são sistemas de proporções utilizados por diversos arquitetos modernos, (módulo, seção áurea, etc). (BROADBENT 1973)

PWC - Public Works Canada

Qualidade da Luz - Cf. OLLSWANG (in SNYDER & CATANESE 1984), se refere a

todos os outros fatores que não a intensidade da luz.

RB1 - Edifício Centro Empresarial Internacional Rio.

Red carpet – termo utilizado pela Hewlet-Packard para descrever seu programa de estações de trabalho compartilhadas pelos empregados, que “agrega, além dos conceitos de Hoteling e Free-addres, áreas destinadas ao convívio social e ao lazer, e em geral é implantado em escritórios satélites” (ANDRADE 1996: 22); diferentemente da Hot desking, sua intenção foi criar uma imagem positiva.

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Redes – Cf. SANTOS (1997), são “realidades concretas, formadas de pontos

interligados que, praticamente, se espalham por todo o planeta, ainda que

com densidade desigual”, e representam a “base da modernidade atual e

condição de realização da economia e da sociedade global ... veículo por

onde fluem as informações”, motor dos “dinamismos hegemônicos” e

“quintessência do meio técnico-científico-informacional”.

REN - Real Estate Norm, Países Baixos.

Rendimento visual ou eficiência visual depende diretamente dos níveis de iluminação (iluminâncias) e das tarefas visuais. Com base em análises de diferentes tipos de tarefas visuais, relacionando dados sobre acuidade visual, brilho e sensibilidade ao contraste, foram determinados índices de iluminação recomendados através das quais é possível calcular a iluminação para cada tipo de tarefa visual (HOPKINSON 1975). No Brasil, são normatizados pela NBR-5413 - Iluminância de Interiores (ABNT; 1982).

Representação mental – Cf. DAMÁSIO (1996: 259), resposta construída pelo

cérebro humano para descrever uma determinada situação e os movimentos

formulados como resposta a esta situação, que dependem de interações

mútuas cérebro-corpo.

Retrofit - palavra inglesa, que significa readaptação ou reajustamento, utilizada

para designar um tipo especial de intervenção nos edifícios que implica uma

modificação conceitual do sistema para melhorar seu desempenho, do ponto

de vista econômico e da produtividade. (CASTRO NETO 1994)

Reverberação - ocorre quando dentro do tempo de persistência se ouve o som

refletido, e ao separar-se as duas audições se superpõem confundindo-se o som

direto e o refletido em uma audição prolongada (ARIZMENDI 1980).

Sinestesia - Relação subjetiva que se estabelece espontaneamente entre uma

percepção e outra que pertença ao domínio de um sentido diferente (p. ex.,

um perfume que evoca uma cor, um som que evoca uma imagem, etc.)

(AURÉLIO Eletrônico 1994)

Sistema – é uma unidade complexa e caráter fenomenal do todo, bem como

o complexo das relações todo-partes (MORIN 1996)

Sistema vivo [aberto em estado estacionário afastado do equilíbrio] – o “organismo não é um sistema estático fechado ao mundo exterior e contendo sempre os componentes idênticos; é um sistema aberto num estado (quase) estacionário ... onde materiais ingressam continuamente vindos do meio ambiente exterior, e neste são deixados materiais provenientes do organismo.”( BERTALANFFY in CAPRA 1997: 54)

SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro.

ST&M - Serviceability Tools & Methods.

Tato - quando se toca ou apalpa com delicadeza um objeto, é ativada a

sensação do tato, que varia conforme a pressão; ato de apalpar, de tatear

com cautela, com habilidade; existe ainda o tato visual, que corresponde

àquele “sentido” sem contato físico, através da visão de um objeto ou de uma

textura previamente armazenada na memória (KRECH & CRUTCHFIELD 1971).

TEAG - The Environmental Group to Ottawa, primeiro grupo de profissionais de programação dos edifícios, fundado em 1956 por Gerald DAVIS.

Temperatura do Ar - É uma medida do grau de agitação das moléculas do gás; a energia cinética média de cada molécula do gás varia diretamente com a sua temperatura absoluta. (VIANELLO & ALVES, 1991)

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Teoria Bootstrap – abordagem psicológica de Geoffrey CHEW, que concebe o

universo como uma teia dinâmica de eventos inter-relacionados onde

nenhuma das partes é fundamental; todas elas seguem-se das propriedades

das outras partes, e a consciência total de suas interrelações mútuas determina

a estrutura de toda a teia. (CAPRA 1991: 42)

Teoria de Gaia – [James LOVELOCK e Lynn MARGULIS] considera o Cosmos e o

Planeta Terra como um “verdadeiro sistema, abrangendo toda a vida e todo o

seu meio ambiente, estreitamente acoplados de modo a formar uma entidade

auto-reguladora.” (LOVELOCK in CAPRA 1997: 92).

Teoria de Santiago – [Umberto MATURANA e Francisco VARELA] “considera a cognição parte integrante do processo de interação de um organismo vivo com seu meio ambiente. A cognição é uma atividade contínua de criar um mundo por meio do processo de viver”(CAPRA 1997: 211).

Totalidade e Ordem Implicada – [David BOHM] concebe o universo como um

todo interligado e hierarquicamente ordenado de forma não linear; matéria e

energia, seres vivos e não vivos, mente, corpo e espírito referem-se, todos eles,

a diferentes níveis do mesmo sistema unificado. (in WILBER 1994)

Total Workplace – [ARONOFF e KAPLAN] metodologia de análise do desempenho dos diversos aspectos dos edifícios de escritórios – engenharia, arquitetura, medicina, psicologia e sociologia – que considera o desempenho do edifício e de seus ocupantes como uma unidade funcional integrada.

Umidade - sensação percebida através do contato com superfície ligeiramente molhada, de vestir uma roupa suada ou molhada pela chuva ou sereno (KRECH & CRUTCHFIELD 1971).

Umidade Relativa do Ar (UR) - relação, em porcentagem, entre umidade

absoluta do ar e a umidade absoluta do ar saturado, ou entre a pressão de

vapor, a uma temperatura, e com um conteúdo de vapor determinados, e a

que esse mesmo ar, a essa mesma temperatura, teria se estivesse saturado

(RAMÓN 1986).

Unitas multiplex – designação utilizada por MORIN (1996) para caracterizar o

processo não hierárquico, não totalitário e aberto às politonalidades, de

retroativo de interação todo/partes.

Variabilidade – reconhecimento das variações, mudanças, incertezas,

instabilidades e inconstâncias do comportamento humano no desempenho de

suas ações, decorrente de vaalores e/ou culturas distintos e segundo as

circunstâncias.

Walkthrough - método de análise que possibilita a identificação descritiva e

significante de falhas, problemas e aspectos positivos do edifício; “um dos

métodos mais utilizados em APOs, consiste em simplesmente percorrer todo o

edifício, preferencialmente munido de plantas e/ou acompanhado do autor do

projeto ou de usuários, formulando perguntas com o objetivo de se familiarizar

com o edifício e com sua construção ... é um bom método para descobrir as

diferenças entre como foi construído e como ele foi projetado” (BECHTEL 1997:

313), e como é mantido e utilizado. Para tanto, se vale de diversas técnicas de

registro – mapas comportamentais, fitas de áudio e de vídeo, fotografia,

desenhos, diários, fichas, etc. A primeira referência ao termo é atribuída a

PREISER & PUGH (1986).

Wish Poem – ou “Poema dos Desejos”, método desenvolvido por SANOFF para

levantamento de desejos e expectativas dos usuários, através de cartazes

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contendo textos e desenhos que expressem seus desejos com relação ao

edifício, previamente à etapa de programação arquitetônica (DEL RIO &

SANOFF 1999).

Zona de bem-estar térmico - Cf. GONZALEZ et al (1986), a ASHRAE define como

[...] aquela condição da mente que expressa satisfação do ambiente térmico

[...], enquanto Givoni, [...] ausência de irritação ou mal-estar térmico.

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APRESENTAÇÃO:

Acredito que a ciência e o conhecimento são os “motores” da mudança que impulsionam o

“modelo de sobrevivência (o animal muda para conservar-se, em vista da agressão do meio)”

[OLIVEIRA LIMA 1980: 225]; que a ciência e o conhecimento se caracterizam por um

permanente processo de (re)construção da visão de uma determinada realidade a partir do

conflito dialético conservação versus transformação. Esta (re)construção está diretamente

associada ao conceito de paradigma [KUHN 1962], ou conjunto de pensamentos, percepções e

valores que configuram uma determinada visão de realidade que serve de base para a

organização de uma sociedade.

Concordo com o caráter autobiográfico, auto-referenciável, incerto e multidimensional da

ciência do paradigma pós-moderno de Boaventura SANTOS (1995), chave de um mundo a ser

contemplado segundo o critério e a imaginação pessoal do cientista. Por este motivo, o texto

assume um estilo mais pessoal, mais leve e comunicativo (FEITOSA 1991). Além de evitar as

ambigüidades criadas pela impersonalização, esta opção apresenta como vantagem o fato de

comprometer o autor com seu discurso.

Entendo que a relutância dos arquitetos em investir seus esforços em

reconsiderar sistema de crenças e seus princípios tradicionais e processos

projetuais que ZEIZEL (1981) relaciona a um determinismo arquitetônico que

pressupõe que o ambiente físico é o principal determinante do comportamento

social pode ser superada quando a arquitetura for considerara um fechamento

cultural, e não apenas um fechamento físico (WIGLEY 1994).

Além destas três questões que ilustram minha visão de mundo, da ciência e da

arquitetura, são necessários alguns breves comentários sobre determinados

momentos da minha vida profissional que contribuíram de forma decisiva para

moldar a forma como contemplo o mundo. Desta forma, acredito que a

justificativa do trabalho e de sua abordagem serão mais facilmente

compreendidas e contextualizadas.

Em agosto de 1976, recém formado, em meio aos sonhos de vir a criar belos e

imponentes edifícios modernistas, trabalhei durante um ano no então Território

Federal do Amapá, como arquiteto residente de H. J. Cole + Associados.

As crenças modernistas começaram a ficar abaladas pela revisão do Plano

Diretor de Macapá, que proibia construções de madeira na zona central e que

determinava a pavimentação de todas as vias com asfalto. Na ocasião (1976),

Macapá era uma cidade com cerca de 3.000 veículos, situada numa região

onde a brita, o cimento, o ferro e o asfalto chegavam de navio. A seguir, a praça

cívica da cidade, projetada por arquitetos locais, desprovida de árvores e

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pavimentada com blocos de concreto e seus bancos, expostos ao sol em pleno

trópico!

Em 1982, como Chefe do Escritório de Planejamento Físico da Universidade Federal de Pelotas,

a resistência dos usuários das unidades que ocupavam prédios alugados e adaptados em

colaborar com a elaboração dos projetos dos novos edifícios a serem construídos no campus da

universidade. A experiência de projeto participativo semelhante à desenvolvida por

Christopher ALEXANDER na Universidade do Oregon fracassou. Motivo: os usuários preferiam

continuar instalados em seus prédios precários, mas situados na zona urbana da cidade, a mudar

para o campus, afastado cerca de 15 km da cidade.

Estas experiências motivaram a suspensão, em 1984, das atividades projetuais em função da

opção pela dedicação exclusiva ao ensino e, alguns anos mais tarde (1992), a cursar o mestrado

em conforto ambiental na FAU/UFRJ. Ao retornar ao Rio de Janeiro, a convite do então diretor

Luiz Paulo CONDE, acabei por me transferir definitivamente para o Departamento de

Planejamneto de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

Através da obra de importantres pensadores – tais como Paulo FREIRE, Fritjof CAPRA, Illya

PRIGOGINE, Jane JACOBS, Kevin LYNCH, J. ECKAMBI-SCHMIDT, Christopher ALEXANDER, C.

NORBERG-SCHULZ, Yi-fu TUAN, Robert SOMMER, Edward HALL, John ZEISEL, Henry SANOFF e

Fernando RAMÓN – nasceu o interesse por conhecer os valores e gostos dos usuários, em sua

validação1 sobre os edifícios que freqüentavam, e em estabelecer relações entre os edifícios e o

clima.

O primeiro contato com a percepção e com a psicologia ambiental, por influência de Vicente del

RIO, e com o trabalho da professora Sheila ORNSTEIN e de Wofgang PREISER, foram

determinantes para a escolha do edifício RB1 como objeto de estudo e da metodologia da

Avaliação Pós-Ocupação em minha dissertação de mestrado, concluída sob a orientação segura

e atenta da Professora Liana DE RANIERI PEREIRA.

Os trabalhos de APO no RB1 (1996), no edifício-sede do BNDES (1997), na Clínica São Vicente

(1998) e no Colégio Aplicação da UFRJ, e o contato com o Modelo Cosenza de Localização

Industrial pesaram na decisão de cursar meu doutorado em Engenharia de Produção da COPPE.

O curso, por suas características interdisciplinares, possibilitou o convívio com colegas e

professores das mais diversas profissões, contribuindo para confirmar o acerto da difícil opção

por assumir a condição de “arquiteto de fronteira”, feliz designação criada por Anna Carla

ROCHA.

A decisão de um certo afastamento das fronteiras tradicionais da Arquitetura para buscar, na

Engenharia de Produção, contribuiu para uma maior compreensão e aceitação da riqueza dos

múltiplos olhares e valores dos usuários dos edifícios. O conhecimento acumulado durante o

curso de doutorado foi decisivo para descortinar novos horizontes para a compreensão do

ambiente construído, especialmente o dos edifícios de escritórios, compartilhando olhares e

desejos com os diversos grupos de seus usuários. Neste sentido, o contato com o trabalho dos

professores visitantes Sheila ORNSTEIN (1998) e Henry SANOFF (1999) – especialmente seus

métodos e técnicas de consulta – foi decisivo.

1 LEE (1977: 54) sugere a palavra ‘validação’ – por sua “obrigação moral, mais forte, imposta ao

arquiteto, no sentido de aferir as suas criações pela realidade e de aprender pelos êxitos e

fracassos” – em lugar de “avaliação” - porque esta tem “conotações que são benignas,

moderadas, estéticas, quase opcionais”.

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Em suma, este trabalho é o resultado da trajetória de alguém que acredita que o arquiteto deve

abandonar sua pretensão de CRIADOR de edifícios e ambientes para um homem ideal (abstrato),

para se tornar INTÉRPRETE dos sonhos dos cidadãos, contribuindo para produzir ambientes

onde as pessoas possam viver e trabalhar com mais prazer e bem-estar.

I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.

“Se o século XX nos ensinou alguma coisa foi acrescentar ‘salvo erro’ a

todas as previsões ‘salvo evidência em contrário’ a todas as conclusões.

Foi um século que desmoralizou profetas e acabou com o definitivo e o

categórico.”

LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO2

“A expansão da economia destrói a beleza das paisagens com edifícios

medonhos, polui o ar, envenena os rios e os lagos. Mediante um

condicionamento implacável, ela rouba das pessoas o seu senso de

beleza, enquanto gradualmente destrói aquilo que há de belo em seu

meio ambiente.”

E. F. SCHUMACKER 3

Nos séculos XVI e XVII, a visão de mundo predominante no Ocidente fundada na noção de um

universo orgânico, vivo e espiritual sofreu uma profunda e radical modificação. A partir da

“Revolução Científica” associada a COPÉRNICO (1473-1543), GALILEU (1564-1642), DESCARTES

(1596-1650), BACON (1561-1626) e NEWTON (1642-1727), esta visão “foi substituída pela

noção do mundo como uma máquina, e a máquina do mundo tornou-se a metáfora dominante

da era moderna” (CAPRA 1997: 34). A nova visão de mundo – conhecida como cosmovisão

cartesiana – considera a Terra matéria inerte a ser explorada e manipulada e o ambiente

construído, um “mundo morto”, inanimado, fragmentado, que pode ser estudado e

manipulado para os propósitos humanos.

Acreditando que poderia “forçar a natureza a revelar os seus segredos ao homem” (BACON), o

homem desenvolve um poderoso método “reducionista” de investigação: é possível

compreender o todo através do exame de suas partes – segundo BOFF (1999: 72) “a ciência

moderna ... não soube o que fazer com a complexidade. A estratégia foi reduzir o complexo ao

simples.” O universo, o planeta e o corpo humano são reduzidos a um sistema mecânico

composto de blocos de construção elementares que poderia ser racionalmente compreendido.

A ciência passa a oferecer ao homem um mundo morto no qual “extinguem-se a visão, o som,

2 in Antiamericanos, O GLOBO, Rio de Janeiro, 11/11/1999, p.7. 3 In CAPRA (1991: 170)

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o sabor, o tato e o olfato, e junto com eles vão-se também as sensibilidades estética e ética, os

valores, a qualidade, a alma, a consciência, o espírito” (LAING in CAPRA 1997: 34) e grande

contingente de cientistas, em lugar de atuar no sentido de promover ou de preservar a vida,

atua no sentido de destruí-la, colocando em risco a sobrevivência das futuras gerações.

Embora os resultados desta prática sejam visíveis em qualquer ramo da atividade humana, em

função dos objetivos deste trabalho, a seguir são analisadas suas conseqüências na produção

do ambiente construído.

Até a Revolução Industrial, a atividade do homem desenvolveu-se predominantemente ao ar

livre. O fora é identificado com a atividade física e com o trabalho, enquanto o dentro é

identificado com o repouso e com a proteção contra todos os perigos naturais ou

sobrenaturais que provêm do ‘exterior’. Valendo-se de materiais e de técnicas de construção

disponíveis, sem obrigá-los a comportar-se em contradição com sua natureza e com o clima, o

homem transforma o espaço exterior onde desenvolve suas atividades, e produz diversas

manifestações inteligentes de arquitetura onde a forte interação homem-edifício-ambiente

possibilita afirmar que formam um sistema, ou até mesmo um organismo dotado de vida

própria, de uma alma perceptível (ECKAMBI-SCHMIDT 1974; BACHELARD 1989), ou de uma

qualidade sem nome: “qualidade central que é o critério fundamental da vida e o espírito de

um homem, uma cidade, um edifício, um vazio. Esta qualidade é objetiva e precisa, mas carece

de nome.” (ALEXANDER 1979a: 29)

O paradigma cartesiano, o capitalismo, a industrialização e a urbanização produzem profundas

modificações na dimensão cultural do ambiente. Os limites naturais do habitável são

substituídos pelos limites técnicos, econômicos e políticos, cujas formas passam a ser

ajustadas às novas tecnologias, subvertendo o saber acumulado na produção de edifícios e de

aglomerações – até então concebidos para satisfazer às necessidades essenciais para a vida de

cada grupo, fossem elas materiais, espirituais, estéticas ou econômicas (ECKAMBI-SCHMIDT

1974). O espaço passa a ter a função de distribuição ordenada dos indivíduos e dos serviços.

As práticas higienistas e o desenvolvimento dos sistemas de saneamento, de transporte e dos

equipamentos da habitação (instalações, calefação, eletricidade) revolucionam os conceitos de

habitabilidade, produzindo três conseqüências importantes (BEGUIN 1991): (1) os limites

naturais do hábitat são substituídos pelos limites técnicos, econômicos e políticos; (2) o

desenho do espaço urbano passa a operar sobre informações baseadas nos dados topográficos

e geológicos necessários para o planejamento e para a instalação dos sistemas urbanos; (3)

reduzida a dados geológicos e técnicos, a densidade histórica da cidade dissolve-se em

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benefício de uma concepção banalizada do urbano: o apelo aos dados sensíveis é descartado

em benefício de novas configurações operacionais.

A nova arquitetura se desenvolve fora dos padrões tradicionais, subvertendo o saber anterior.

Conforme BEGUIN (1991), o espaço passa de bem de uso para bem de troca, tendo três

funções positivas: (1) função distributiva — distribuição ordenada dos indivíduos e dos

serviços; (2) função prática — o espaço e os equipamentos arquitetônicos devem facilitar a

vida e a higiene das pessoas; (3) função climática — o hábitat edificado deve permitir a

captação e circulação da luz e do ar, e as diversas canalizações devem ser incorporadas à sua

estrutura.

Os novos operadores de controle ambiental – ventilação mecânica, iluminação elétrica e

climatização, na escala urbana ou do edifício (BEGUIN 1991) – transformam-se em agentes

promotores de uma nova história do hábitat e interferem diretamente na arquitetura. A

função climática dos edifícios e dos ambientes urbanos se dilui em função dos ajustes das

formas arquitetônicas às novas máquinas e a célula torna-se cada vez mais dependente dos

aparelhos, enquanto a cidade se torna impessoal, desumana e fria.

A cultura que privilegia as relações ao ar livre é substituída pela privatização das práticas do

habitante, rompendo os elos de comunicação entre o dentro e o fora. A qualidade do

ambiente construído independe cada vez mais das relações entre cultura e geografia, e as

condições de conforto passam a ser garantidas pela tecnologia. O homem coloca-se na

posição de “criar” o meio em que vive a tal ponto que até a atividade produtiva passa a ser

identificada com um dentro — ambiente fechado — mais ou menos adequado: a industrial,

através da fábrica e a doméstica, através do alojamento desprovido de área de fora — exceto

sacadas, terraços ou outros espaços exteriores simbólicos (RAMÓN 1980).

A arquitetura de dentro (RAMÓN 1980) possibilita realizar o sonho de construir um espaço

habitável fechado que exclui qualquer influência do ambiente externo: apenas a agricultura, as

atividades “improdutivas” permissíveis que exigem dispersão térmica — esportivas, por

exemplo — e a circulação são realizadas no espaço de fora. O homem entra em uma espécie

de “transe” tecnológico e acaba produzindo violenta perda na dimensão cultural da cidade,

produto do conhecimento acumulado por sucessivas depurações às diferentes condições

climáticas, através da ação solidária e continuada dos seus habitantes.

A verticalização gradativa da cidade “tradicional” produz um ambiente onde

as poucas áreas públicas (ruas e praças) ou privadas (pátios e jardins),

confinadas pelos edifícios, contribuem para diversificar o clima local urbano.

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Deste processo resulta um ambiente de relativa exclusão do sol, do vento e da

chuva, condicionado pela inércia térmica dos edifícios circundantes e das

superfícies pavimentadas que, ao armazenar frio ou calor, reduz as oscilações

térmicas e ameniza as situações extremas.

Seu desdobramento posterior, representado pelo Racionalismo – especialmente

a vertente International Style – rompe a ordem urbana, induz ao uso

indiscriminado de superfícies envidraçadas “impermeáveis” – desprovidas de

janelas móveis e de dispositivos de proteção da radiação direta do sol, das

precipitações ou do vento – e, ao eliminar a ação inercial do “tecido esponjoso”

tradicional, modifica a ecotermia urbana.

As torres de vidro climatizadas modificam a incidência de radiação sobre o

entorno, tornando a ecotermia urbana incontrolável. Se antes, no verão a

massa edificada acumulava o frescor da noite e, no inverno, o calor do dia,

agora acumula o calor do dia no verão, e o frio da noite no inverno. Ao

aprisionar o calor produzido pelo efeito estufa, o envidraçamento desvairado

torna os edifícios indefesos contra a radiação – mesmo quando são utilizados

vidros especiais.

Viabilizado pelas técnicas de condicionamento artificial, dissemina-se por todo o planeta o

edifício selado [janelas fixas], que desconsidera as influências do ambiente externo. O que

varia é a potência do equipamento, o grau de isolamento do envoltório externo e o seu custo

operacional, cuja conta será [sempre] repassada para o usuário. Confirma-se a previsão de que

os edifícios, a exemplo das naves espaciais, vão “permitir atingir tudo o que queremos buscar

fora, inclusive o ar.” (BEGUIN 1991)

Os novos edifícios de escritório, com sua estética globalizada, condicionados pela implacável

expansão da economia – que desconsidera os aspectos ambientais, os valores culturais e

desfigura a fisionomia das cidades –, dependentes de energia e dotados de uma complexa

rede de instalações, equipamentos e serviços informatizados, demandam novos instrumentos

e métodos para avaliar seu desempenho, que permitam uma representação formal para o

subjetivismo da opinião dos seus usuários (APO).

Partindo desta problemática – como avaliar os modernos e complexos edifícios de escritórios –

neste trabalho procuro estabelecer as bases para uma abordagem que incorpore conceitos

subjetivos. Uma abordagem que permita superar a manipulação social e dos indivíduos,

“coisificados” pelo processo de industrialização, de urbanização, de burocratização e de

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tecnologização em proveito dos princípios de ordem, de economia e de eficácia (MORIN 1996;

BEGUIN 1991). Uma abordagem que possibilite aos países periféricos libertarem-se da ação

mimética que os condiciona a afastar-se de suas tradições culturais, a importar as novas

configurações urbanas e edilícias, e a produzir as manifestações mais degradadas de

arquitetura jamais vistas. Uma abordagem que permita superar o equívoco que faz com que as

pessoas confundam hábitat “civilizado” com um ambiente construído que se torna cada vez

mais despersonalizado e desconfortável.

A cidade do Rio de Janeiro é um bom exemplo deste processo de degradação das tradições

culturais da arquitetura e da paisagem natural. Situada em uma baía de beleza exuberante, a

paisagem o Rio de Janeiro encanta a todos que aqui chegam, como evidenciam os relatos de

Ernest MÜZELL, oficial militar alemão exilado pelo Governo Prussiano e contratado para

combater contra Rosas, que chegou ao Rio em 1852:

“oferece o mais lindo e completo quadro de todas as maravilhas da

natureza e talvez de toda a Terra e parece que a Criação empregou toda

sua força e esbanjou todos seus encantos ao fazer surgir esse ponto. Todo

o estranho que chega pela primeira vez a esta Capital de toda América

do Sul, fica encantado e admirado do aspecto de majestade, beleza,

grandeza, exuberância e alegria.” (MÜZELL s/d: 7-8),

ou de Ina von BINZEN, preceptora alemã que chegou em 1882:

“É preciso confessar que este Rio é fantasticamente lindo e maravilhoso, visto da

baía, como vi na minha chegada e novamente agora, na minha volta de

Petrópolis. ... Como num conto de fadas, ele surge aos nossos humildes olhos

alemães do Norte ... dentro da suntuosa enseada, formada por um mar de luz

resplandecente, apenas interrompido, ou melhor, ainda ampliado pela variedade

das palmeiras esbeltas e das bananeiras de folhas largas espalhadas por toda

parte ...” (in BINZEN 1994: 73)

Este encantamento (Fig. 1) pode ter

influenciado a escolha do sítio “complexo

morro-brejal”, inadequado para a

construção da cidade. Marcada pela luta

para transformar em planície “as colinas e

os vales, avançando sobre os brejos, os

mangues e também sobre a montanha e

fazendo recuar a linha do litoral”

(BERNARDES 1995: 82), a história do Rio

de Janeiro confirma o desejo de submeter Figura 1: Vista da Baía e do Morro Cara

de Cão no final do Século XIX

Fonte: IPHAN s/d

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a natureza aos caprichos do homem

(BACON).

A “fúria urbanística” (DRUMMOND e BANDEIRA 1965) teima em testemunhar “o trânsito

perverso do progresso que fomenta, em nome do moderno, a transformação grosseira e

desnecessária da fisionomia da cidade” (GOMES 1994: 94). Segundo Nelson BRISSAC, “hoje

nem a cidade – sem rastros e sem história – nem os homens que não sabem mais ver –

habitam a cidade” (in GOMES 1994: 155) cujos lugares, reduzidos a locais moldados

pelo hábito e por traçados pré-estabelecidos, perderam para sempre sua “alma” e seu

“encantamento. A julgar pela opinião dos cariocas, que consideram as belezas naturais a maior

qualidade da cidade e a praia como seu programa favorito4, o Rio de Janeiro está diante de

um novo dualismo: o reconhecimento da beleza natural como o maior patrimônio da cidade

convive com um processo de verticalização que substitui a paisagem natural por uma

paisagem construída “sem alma” e “sem encanto”. Configura-se, assim, a “fuga das realidades

do capitalismo tardio, pois forja-se uma ideologia compensatória, uma sentimentalização da

natureza e de uma vida social comunitária, bucólica e solidária,

que nossa experiência mostra já ter desaparecido há algum tempo” apontada por Fredric

JAMESON (in SANTOS & DEL RIO 1998: 118).

Até onde a cidade e sua arquitetura continuarão a reproduzir a “lógica do excesso” da

produção econômica que transforma a destruição em seu objetivo – destruir para controlar

efetivamente o crescimento e administrar o excedente (FEATHERSTONE 1995) – limitando a

função do espaço à sua função distributiva e substituindo os limites naturais e culturais do

4 Paula AUTRAN, in Uma relação de amor e medo, O GLOBO, Rio de Janeiro, 15/nov/1999.

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

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hábitat pelos limites técnicos, econômicos e políticos – tornando seus lugares impessoais,

desumanos, frios e “civilizados”?

Que novas surpresas estão sendo pensadas para aumentar o misto de

segregação e fantasia com que a manipulação dos desejos por meio de

imagens de consumo que, ao misturar “códigos, pastiche, fragmentação,

incoerência, disjunção e sincretismo” (FEATHERSTONE 1997: 163), transformou a

Barra da Tijuca na “Barralândia – a Orlando Brasileira” (SANTOS & DEL RIO 1998),

dotada até mesmo de uma réplica da Estátua da Liberdade?5 Nossas elites

continuarão a viver como personagens de um mundo virtual situado em “uma

espécie de terceiro mundo, entre o país real em que vivem e a comunidade

internacional onde imaginam viver” (Jurandir Freire COSTA in NASCIMENTO 1997:

73)?6 Esta “industrialização” de procedimentos e comportamentos, de jogos e

simulações, poderia significar que estamos mais próximos do que imaginamos

de uma “vida virtual.”

Nas próximas seções, procuro demonstrar que os problemas até aqui

levantados estão relacionados à deficiência de nossos sistemas de crenças e

ao sistema de idéias e valores do paradigma da racionalidade científica, da

visão mecânica e inorgânica da ciência moderna, que levou a uma

especialização e a uma fragmentação progressiva do conhecimento. Crenças

que consideram a vida em sociedade como uma luta competitiva pela

existência, que preconizam o progresso material ilimitado a ser obtido por

intermédio de crescimento econômico, acentuando a ênfase na tecnologia e

nos métodos de produção industriais.

5 Este tipo de empreendimento confirma a suposição de RIEWOLDT (1997:8), de que nos próximos anos, os

conceitos de marcos territoriais dos parques temáticos dos EUA tais como Segaworld ou The Edge estarão

implantados em dezenas de cidades pelo mundo.

6 FEATHERSTONE (1997: 164), atribui este comportamento à diversidade cultural, sincretismo e

deslocamento que ocorre na periferia, que transforma o Rio de Janeiro [a exemplo de Calcutá

ou Cingapura] na primeira cidade multicultural.

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1.1 Paradigma, Horizonte, Sociedade Sustentável e o Fim das Certezas

“Um paradigma, para mim, significaria a totalidade de pensamentos,

percepções e valores que formam uma determinada visão de realidade,

uma visão que é a base do modo como uma sociedade se organiza.”

Fritjof CAPRA (1991: 17)

“O horizonte é parte inseparável da paisagem. Não pode haver uma

paisagem sem um horizonte, nem um horizonte sem uma paisagem. Mas

o horizonte não é a paisagem. O horizonte recua à medida que você

caminha em direção a ele e ele continua sendo o horizonte ... à medida

que você se move, o horizonte muda, e portanto ele não é, na realidade,

alguma coisa absoluta. É um conceito que muda.” David STEINDL-RAST7

“Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades

sem diminuir as perspectivas das gerações futuras.” Lester BROWN 8

“A incerteza do conhecimento transforma-se na chave do entendimento

de um mundo que mais do que controlado tem de ser contemplado.”

Boaventura SANTOS (1985a: 53)

O modelo mecanicista acreditava na existência de somente duas formas de conhecimento

científico – as disciplinas formais da lógica e da matemática e as ciências naturais, empíricas –

e que era possível aplicar os princípios epistemológicos e metodológicos do estudo da

natureza ao estudo da sociedade. Com base no “pressuposto de que as ciências naturais são

uma aplicação ou concretização de um modelo de conhecimento universalmente válido e, de

resto, o único válido” (SANTOS 1995: 19), desconsideravam-se as diferenças existentes entre

os fenômenos naturais e os sociais e as dificuldades para compatibilizar as ciências sociais com

os critérios de cientificidade das ciências naturais, em função da: (1) inexistência de teorias

explicativas que permitissem às ciências sociais formularem abstrações passíveis de serem

metodologicamente controladas e adequadamente comprovadas no mundo real; (2)

impossibilidade de estabelecer previsões confiáveis em função da variabilidade do

comportamento humano; (3) dificuldade de captar a subjetividade dos fenômenos sociais pela

ótica da objetividade do comportamento; e (4) impossibilidade do cientista social se libertar

dos valores que informam sua própria prática.

Se estabelece uma fronteira

“entre o estudo do ser humano e o estudo da natureza [que] não deixa de ser

prisioneira do reconhecimento da prioridade cognitiva das ciências naturais, pois,

7 In CAPRA & STEINDL-RAST (1994: 98). 8 In CAPRA (1996: 24).

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se de um lado, se recusam os condicionantes biológicos do comportamento

humano, pelo outro usam-se argumentos biológicos para fixar a especificidade

do ser humano.” (SANTOS 1995: 23)

Esta fronteira favoreceu o surgimento de uma “crise” ou “revolução científica” em direção a

um novo paradigma científico – “conjunto de realizações científicas universalmente

reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma

comunidade de praticantes de uma ciência” (KUHN 1991: 13) que, ao mudar, produz

transformações revolucionárias na evolução científica. Diversos pensadores – Fritjof CAPRA,

Boaventura SANTOS, Edgar MORIN, Hazel HENDERSON, Ilya PRIGOGINE, Humberto

MATURANA e Francisco VARELA, entre outros – acreditam que a impressão de crise está

relacionada à inadequação do sistema de crenças e da visão de mundo do paradigma da

racionalidade científica, da visão mecânica e inorgânica da ciência, que levou a uma

especialização e a uma fragmentação progressiva do conhecimento. Crenças que consideram a

vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, que preconizam o progresso

material ilimitado a ser obtido por intermédio de crescimento econômico, acentuando a

ênfase na tecnologia e nos métodos de produção industriais.

Contrariando esta tendência, estes autores acreditam que a visão de mundo

da racionalidade científica é inadequada para lidar com um mundo

superpovoado e globalmente interligado, e que o homem precisa deixar de

encarar a Terra e o ambiente construído como um “mundo morto” e

fragmentado a ser explorado e manipulado.

A crise profunda e irreversível do modelo da racionalidade científica da ciência moderna está

associada a quatro “rombos” ou condições teóricas (SANTOS 1995a): (1) se inicia quando

EINSTEIN demonstra as limitações da mecânica de NEWTON e da crença numa simultaneidade

universal onde o tempo e o espaço são absolutos; (2) prossegue quando HEISENBERG e BOHR

demonstram a impossibilidade de evitar a interferência do observador em qualquer

observação ou medição e que existem diversos sistemas de referência e dão corpo à idéia de

que “não conhecemos do real senão a nossa intervenção nele” (HEISENBERG); (3) a seguir,

GÖDEL questiona o próprio rigor da matemática, que também se assenta num critério de

subjetividade; e culmina (4) com Ilya PRIGOGINE e sua “Teoria das Estruturas Dissipativas” e o

princípio da “ordem através das flutuações” – os organismos são sistemas que se auto-

organizam a partir de uma ordem estabelecida no interior dos próprios sistemas.

Ironicamente, o avanço do conhecimento científico evidenciou a fragilidade das fundações do

“edifício da ciência” que ele próprio ajudou a construir:

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“de Galileu a Einstein, de Laplace a Hubble, de Newton a Bohr, perdemos

o trono de segurança que colocava nosso espírito no centro do universo:

aprendemos que somos, nós cidadãos do planeta Terra, os suburbanos de

um Sol periférico, ele próprio exilado no entorno de uma galáxia também

periférica de um universo mil vezes mais misterioso do que se poderia

imaginar há um século.” (MORIN 1996: 24)

CONSIDERANDO OS OBJETIVOS DESTE TRABALHO – ANALISAR O DESEMPENHO DE

UM EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS), A PARTIR DE UMA METODOLOGIA PRÓPRIA,

BASEADA EM NOVOS PARADIGMAS CIENTÍFICOS E NA APLICAÇÃO DE

CONCEITOS SUBJETIVOS –, A SEGUIR SÃO DESTACADOS OS ASPECTOS DA OBRA

DE ALGUNS DOS PENSADORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA FORMULAR A VISÃO DE

MUNDO E DE CIÊNCIA QUE O FUNDAMENTA. ESTES PENSADORES ACREDITAM SER

NECESSÁRIO REAPROXIMAR O CONHECIMENTO CIENTÍFICO DO SENSO COMUM,

TRANSFORMANDO O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO EM “SABEDORIA DE

VIDA.” (SANTOS 1995: 57) AO CONSIDERAREM QUE A CIÊNCIA UTILIZA MÉTODOS

CADA VEZ MAIS SOFISTICADOS DE MANIPULAÇÃO “SOBRE AS COISAS FÍSICAS E

OS SERES VIVOS” (MORIN 1996: 19), DESMASCARAM O ARGUMENTO DA

“NEUTRALIDADE” E DA “VERDADE OBJETIVA”, ESPECIALMENTE NO CONTROLE E

NO USO DAS DESCOBERTAS CIENTÍFICAS9. A POSSIBILIDADE DE MANIPULAÇÃO10

PODE SER ATENUADA PELA DILUIÇÃO DO CONTROLE SOBRE A PROPRIEDADE DO

CONHECIMENTO PROVOCADA PELAS REDES DA “SOCIEDADE DA

INFORMAÇÃO”, UM BELO EXEMPLO DE CONHECIMENTO COMPARTILHADO.

Com base no pressuposto de que os problemas de nossa época são problemas

sistêmicos, interligados e interdependentes, que não podem ser entendidos

9 Segundo MORIN (1996: 108), a ciência ocidental “começou como um processo em que se

manipula para verificar, ou seja, para encontrar o conhecimento verdadeiro, objeto ideal da

ciência. Mas a introdução do circuito manipular <> verificar no universo social provoca, ao

contrário, inversão de finalidade, isto é, cada vez mais verifica-se para manipular”. A

manipulação dos desejos pelo marketing é um bom exemplo desta prática e dos seus efeitos

sobre a sociedade. 10 MORIN (1996: 19-20) afirma que a ciência é “subvencionada, alimentada, controlada pelos poderes econômicos e

estatais ... [que] desempenham seu papel ativo neste circuito de acordo com suas finalidades, seus programas, suas

subvenções ... nem o Estado, nem a indústria, nem o capital são guiados pelo espírito científico: utilizam os poderes

que a investigação científica lhes dá.” SANTOS (1995A: 34) considera que a industrialização global da ciência dos

últimos 50 anos comprometeu-a com os centros de poder econômico, social e político, que “passaram a ter um

papel decisivo na definição das prioridades científicas.”

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isoladamente, e fundamentado na ecologia profunda11, CAPRA formula sua

proposta de “Paradigma Social”: “uma constelação de concepções, de

valores, de percepções e de práticas compartilhadas por uma comunidade,

que dá forma a uma visão particular da realidade” (CAPRA 1997: 25), e que

serve de base para a forma de organização desta comunidade. Ao introduzir a

concepção de “comunidade” e “rede” ao pensamento sistêmico, substituindo

o termo sistêmico por social12, CAPRA (1997) expande os horizontes do conceito

de sociedade sustentável aplicados no desenvolvimento deste trabalho.

Crítico da ciência moderna – que “faz do cientista um ignorante especializado

e do cidadão comum um ignorante generalizado” (SANTOS 1995a: 55) – e do

conhecimento científico moderno – “um conhecimento desencantado e triste

que transforma a natureza num autômato” (SANTOS 1995a: 32) –, Boaventura

SANTOS afirma que a incerteza do conhecimento é a chave para o

entendimento de um mundo a ser contemplado. Sua proposta de “Paradigma

Emergente ou Social” – que, além de científico [“paradigma de um

conhecimento prudente”] deve ser também social [“paradigma de uma vida

decente”] – fundamenta-se na ciência pós-moderna, que abriga uma

configuração multidimensional de estilos onde nenhuma forma de

conhecimento é, em si mesma, racional: só a configuração de todas elas é

racional. SANTOS apresenta importantes contribuições para o processo de

avaliação do desempenho do ambiente construído, especialmente no

desenvolvimento de instrumentos e técnicas de observação participante: (1)

recoloca o pesquisador como sujeito da aventura do conhecimento, ao

reconhecer o “caráter autobiográfico” e “auto-referenciável” da ciência,

construído através da imaginação pessoal e dos critérios estabelecidos pelo

próprio cientista13; (2) insinua os efeitos da globalização na ciência, ao

11 Disciplina alicerçada em valores ecocêntricos (centralizados na Terra), “que reconhece o valor

inerente da vida não-humana”, em lugar do sistema de valores antropocêntricos (centralizados

no homem) do velho paradigma. 12 CAPRA trabalha com dois conceitos importantes: (1) comunidade [ecológica] – “conjunto

(assemblage) de organismos aglutinados num todo funcional por meio de relações mútuas” ...

[possibilita aplicar] os mesmos tipos de concepções a diferentes níveis de sistemas” (CAPRA 1997:

44); (2) sistemas vivos como rede – “desde que os sistemas vivos são redes, devemos visualizar a

teia da vida como sistemas vivos (redes) interagindo em rede com outros sistemas (redes)”

(CAPRA 1997: 44). 13 A condição de sujeito justifica a personalização do texto científico – o “uso do eu, do você e

até mesmo do nós” (FEITOSA 1991: 52) – com o objetivo de evitar as ambigüidades do texto

impessoal que “parecem isentar o autor da responsabilidade pelo que expõe.” (FEITOSA 1991: 52)

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considerar que a investigação capital-intensiva aumenta a defasagem

científica e tecnológica dos países periféricos em relação aos centrais; (3)

reforça a importância do conhecimento pelo ponto de semelhança, em geral

impreciso e subjetivo, e reconhece a emergente intangibilidade da natureza;

(4) reforça a importância do contexto e do pensamento sistêmico, ao afirmar

que todo o conhecimento é local e total, numa relação de duplo sentido que

extrapola seu espaço de origem, e que o conhecimento avança na razão da

ampliação do seu objeto; (5) valoriza a pluralidade metodológica transgressora

e trabalha com as condições de possibilidade da ação humana projetada no

mundo a partir de um espaço-tempo local [o conhecimento pós moderno não

é “determinístico nem descritivista”]; (6) resgata a interação dialética

sujeito/objeto ao reconhecer que o ato e o produto do conhecimento são

inseparáveis; (7) reconhece que nenhuma forma de conhecimento é, em si

mesma, racional [a racionalidade acontece no seu conjunto]; (8) resgata a

importância do diálogo com o senso comum [todo o conhecimento científico

visa constituir-se em senso comum].

Edgar MORIN, crítico do paradigma da racionalidade14 da “palavra-resposta”

ou “palavra-solução” – que acredita ser possível construir “uma visão coerente,

totalizante do universo, a partir de dados parciais, de uma visão parcial, ou de

um princípio único” (MORIN 1996: 157)15 – e da ambivalência da “ciência

elucidativa, enriquecedora, conquistadora e triunfante”, propõe a ciência da

complexidade (MORIN 1998): “uma fraqueza do pensamento”, uma busca de

resposta à incapacidade de explicar: uma “palavra-pergunta”, ou “palavra-

problema”. Contra as limitações impostas pela separação e

compartimentação dos conhecimentos procura um saber integrado no

contexto e no conjunto global de que faz parte, “tecido em conjunto e reúne

os saberes separados” (MORIN 1998). Outras duas importantes observações de

MORIN relacionadas com a produção do ambiente construído, são: (1)

14 Segundo MORIN (1996: 157), “a racionalidade é o estabelecimento de adequação entre uma

coerência lógica (descritiva, explicativa) e uma realidade empírica” enquanto “o racionalismo

é (1°) uma visão do mundo afirmando a concordância perfeita entre o racional (coerência) e a

realidade do universo; exclui, portanto, do real o irracional e o arracional; (2°) uma ética

afirmando que as ações e as sociedades humanas podem e devem ser racionais em seu princípio,

sua conduta, sua finalidade.” 15 Este argumento coincide com a opinião de PRIGOGINE & STENGERS (1992: 20): “uma ‘visão

científica de mundo’ é por definição fechada, cheia de certezas, privilegiando as respostas em

detrimento das perguntas que as suscitaram.”

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enquanto grande contingente de cientistas atua no sentido de promover ou de

preservar a vida, outro atua no sentido de destruí-la, colocando em risco a

própria sobrevivência das futuras gerações; (2) o saber, em sua crescente

“tendência para o anonimato”, pode deixar de ser pensado e discutido por

seres humanos, para ser destinado à acumulação em bancos de dados

facilmente manipuláveis, favorecendo o surgimento de

“um neo-obscurantismo generalizado, produzido pelo mesmo movimento

das especializações, no qual o próprio especialista torna-se ignorante de

tudo aquilo que não concerne a sua disciplina e o não-especialista

renuncia prematuramente a toda possibilidade de refletir sobre o mundo,

a vida, a sociedade, deixando esse cuidado aos cientistas, que não tem

tempo, nem meios conceituais para tanto. Situação paradoxal, em que o

desenvolvimento do conhecimento instaura a resignação à ignorância e

o da ciência significa o crescimento da inconsciência.” (MORIN 1996: 17)

Ilya PRIGOGINE e Isabelle STENGERS sugerem uma “nova racionalidade que não mais identifica

ciência e certeza, probabilidade e ignorância” (1997: 14-15); uma “nova aliança” do homem

com a natureza que ele descreve, que busque compartilhar uma visão da ciência, em lugar de

uma visão de ciência, e que [a exemplo da arte e da filosofia] se transforma em uma

experimentação “criadora de questões e de significações”]. Seu pensamento contribui para

superar as visões racionalista e homocêntrica ainda dominantes nas práticas acadêmicas – e na

avaliação do desempenho do ambiente construído – e servem de incentivo para a construção

de novos processos e instrumentos de análise que reconheçam a subjetividade inerente a

qualquer processo de avaliação. Por suas implicações nos processos de avaliação participante,

destaco os seguintes aspectos do pensamento de PRIGOGINE & STENGERS (in SANTOS 1995a):

(1) a história em lugar da eternidade; (2) a imprevisibilidade em lugar do determinismo; (3) a

espontaneidade e a auto-organização em lugar do mecanicismo; (4) a desordem em lugar da

ordem; (5) a evolução e a irreversibilidade em lugar da reversibilidade; (6) a criatividade e o

acidente em vez da necessidade.

Humberto MATURANA e Francisco VARELA, com a “Teoria de Santiago” – que “considera a

cognição parte integrante do processo de interação de um organismo vivo com seu meio

ambiente. A cognição é uma atividade contínua de criar um mundo por meio do processo de

viver” (CAPRA 1997: 211). Ao afirmarem que “viver é conhecer” [e inclui a percepção, a

emoção e o comportamento], possibilitam que em qualquer observação de edifícios ocupados

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– que são organizacões sociais (autopoiéticas16) –, se considere as interações recorrentes que

desencadeiam mudanças estruturais no sistema onde: (1) seus usuários se acoplam

estruturalmente entre si, com o edifício e com seu entorno, ao mesmo tempo em que; (2)

permite que o edifício se acople estruturalmente com seu entorno, num processo que passa

por contínuas mudanças estruturais enquanto preserva seu padrão de organização semelhante

a uma teia. A exemplo de PRIGOGINE & STENGERS, a Teoria de Santiago influencia

diretamente o significado das observações participantes e a construção dos critérios para

avaliação do desempenho dos edifícios.

Hazel HENDERSON propõe que se considere a Terra como um sistema vivo, dinâmico e auto-

organizador onde as novas constantes seriam a “mudança” e a “incerteza”, um sistema que

considere os princípios de “redistribuição e reciclagem de todos os elementos, a heterarquia, a

complementaridade, a interconexão e a indeterminação” (HENDERSON 1995: 264). Os riscos

crescentes que nossa tecnologia cria para as gerações futuras, “a cooperação e a resolução

pacífica dos conflitos são agora a condição sine qua non para a nossa sobrevivência.”

(HENDERSON 1995: 265) Seu pensamento é importante para a determinação de novas

estratégias “ecológicas” e “auto-sustentáveis”17 a serem aplicadas na produção do ambiente

construído e nas relações homem X homem e homem X ambiente.

Outras contribuições importantes para este trabalho, pelos desdobramentos

para a análise do ambiente construído enquanto organização social complexa,

foram: a “Abordagem Bootstrap” de Geoffrey CHEW18, a “Totalidade e a

Ordem Implicada” de David BOHM19, e a “Teoria de Gaia” de James LOVELOCK

e Lynn MARGULIS20.

Estes novos horizontes da ciência que possibilitam contemplar o Planeta Terra como uma

organização social auto-sustentável e em permanente mudança confirmam os argumentos de

16 De “autopoiese” – “padrão de rede de organização circular da vida auto-organizador e auto-

referente que identifica a percepção e a cognição com o próprio processo da vida.” (CAPRA

1997: 87) 17 Cf. Lester BROWN, “uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem

diminuir as perspectivas das gerações futuras.” (in CAPRA 1996: 24) 18 Cf. CAPRA (1991), CHEW concebe o universo como “uma teia dinâmica de eventos inter-

relacionados onde nenhuma das partes é fundamental; todas elas seguem-se das propriedades

das outras partes, e a consciência total de suas interrelações mútuas determina a estrutura de

toda a teia.” 19 Cf. WILBER (1994), BOHM concebe o universo como um todo interligado e hierarquicamente

ordenado de forma não linear; matéria e energia, seres vivos e não vivos, mente, corpo e espírito

referem-se, todos eles, a diferentes níveis do mesmo sistema unificado. 20 Cf. LOVELOCK (in CAPRA 1997: 92), considera o cosmos e o Planeta Terra como um “verdadeiro

sistema, abrangendo toda a vida e todo o seu meio ambiente, estreitamente acoplados de modo

a formar uma entidade auto-reguladora.”

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CAPRA (1996): (1) de que a humanidade vive uma crise de percepção que a impede de

enxergar que o universo do qual somos parte está em evolução; e (2) que a humanidade nunca

viveu período tão rico e criativo, caracterizado pela ruptura das fronteiras do conhecimento,

que muda em um movimento de velocidade acelerada.

Na seção seguinte procuro retratar uma experiência cognitiva de criar um

mundo por meio do processo de viver (“viver é conhecer”). Admitindo a

influência do olhar compreensivo do sujeito da criação científica – que é

autobiográfica, auto-referencial e não é neutra –, o texto assume uma postura

mais contemplativa, socializadora e subjetiva de um conhecimento científico

que procura responder à questão formulada por Stanislav GROF: “devemos ser

capazes ... de combinar informações provenientes dos estados internos com os

conhecimentos adquiridos graças à ciência objetiva e à tecnologia numa visão

totalmente nova da realidade?” (in CAPRA 1991: 118)

Stanislav GROF um saber prático, possibilitando a união dialética entre dois

sujeitos, tanto na relação “observador-objeto de estudo” como na relação

“autor-leitor”.

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1.2 Caráter Autobiográfico e Auto-referenciável da Ciência

“A razão por que privilegiamos hoje uma forma de conhecimento assente na previsão e

no controle dos fenômenos nada tem de científico. É um juízo de valor. A explicação

científica dos fenômenos é a auto-justificação da ciência enquanto fenômeno central

da nossa contemporaneidade. A ciência é, assim, autobiográfica.”

Boaventura SANTOS (1995a: 52)

“O observador é, pois, como sistema vivo, como realidade cerebral e

neuronal, uma unidade de interações com o contexto em que sempre

se encontra: o que ele é implica uma circularidade inextricável com o

percebido.”

Francisco VARELA (1992: 7)

“Não conhecemos do real senão a nossa intervenção nele.”

Werner HEISENBERG 21

A possibilidade de transformar o observador em sujeito do conhecimento é uma atividade

contínua, fascinante e complexa. Contínua porque cria um mundo no próprio processo de viver

– “viver é conhecer” (MATURANA & VARELA). Fascinante por introduzir o EU na aventura do

conhecimento. Complexa, porque obriga o observador-sujeito a compartilhar [ou tecer em

conjunto] uma experimentação “criadora de questões e de significações“ (PRIGOGINE &

STENGERS 1992: 20); e, em conseqüência disto, a retratar, ou seja, comunicar, em linguagem

escrita, uma experiência viva de diálogo com o leitor que desperte sua sensibilidade, sua

percepção, sua emoção, estimulando-o a “colorir”, “sonorizar”, “saborear”, “cheirar”,

“dialogar”, “interagir” com o texto-autor22.

Diante da impossibilidade de evitar a interferência do observador-sujeito em sua relação com

o [organismo] ambiente construído, e entendendo que, neste novo contexto de ciência, é

necessário que o autor forneça indícios da sua visão de mundo – ou “sabedoria de vida”

(SANTOS 1995a: 57) –, nesta seção procuro compartilhar uma leitura pessoal da Praia de

Botafogo, recinto urbano que abriga diversos edifícios de escritórios. Para tanto, procuro

integrar em um único texto as visões de morador/cidadão, de arquiteto, de mestre em

conforto ambiental e de pesquisador em APO [Avaliação Pós-Ocupação] (RHEINGANTZ 1995a,

1995b; COSENZA et al 1996, 1997; DEL RIO et al 1998; DEL RIO & SANOFF 1999).

21 In SANTOS (1995a: 26). 22 Cf. FEITOSA (1991: 15-16), a comunicação eficiente [mensagem] demanda que o autor [emissor] atente para os

interesses do leitor [receptor], e deve estar livre de ruído [“qualquer elemento que atrapalhe ou impeça o bom

andamento do processo comunicativo”].

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A escolha do sítio deveu-se a diferentes fatores:

(1) Sou parte integrante de sua organização social, uma vez que meu apartamento situa-se na

Praia de Botafogo e de sua janela, é possível contemplar toda a enseada (Fig. 2). Além da vista,

as caminhadas diárias no calçadão da avenida Beira-mar, ou mesmo na Praia de Botafogo,

contribuíram para uma experiência “criadora de questões e significações“ (PRIGOGINE &

STENGERS) que desencadeou “mudanças estruturais” (MATURANA & VARELA) no modo como

percebo o sítio. Minha cidadania sistêmica – identidade comum – é fruto do processo de

interação com o contexto da organização social local.

(2) Sua paisagem natural contém os principais elementos característicos da cidade do Rio de

Janeiro – presença do mar, da montanha e da praia; de baixios alagadiços [hoje aterrados] e

vegetação [resquícios da Mata Atlântica].

(3) A intervenção humana na paisagem contém diversas características do processo de

urbanização do Rio de Janeiro – praia e ar poluídos, morro devastado/modificado por túneis,

viadutos e cortes; aterro de lagoa, de áreas alagadiças e de praias; freqüência de

engarrafamentos, alagamentos e proximidade do metrô; seu cenário é marcado pela

variedade de edifícios que destoam entre si por sua variedade de cores, volumetria, gabarito,

partido de implantação, por sua aparência inusitada ou pelo seu uso.” (Fig. 2).

(4) A diversidade de usos que abriga: habitação de luxo, de classe média e popular; shopping-

center, edifícios de escritórios/corporativos, bancos, hospital, cinemas, igreja, bares e

restaurantes, escolas, universidade, parques, além da proximidade com favela.

(5) A diversidade de grupos humanos que habitam ou freqüentam o local, quer como

moradores, trabalhadores, usuários ou passageiros: convívio do “luxo” com o “lixo”

[moradores de rua e de alguns edifícios “pouco recomendáveis”]; presença de idosos e

crianças; ocorrência de assaltos e roubos de automóveis.

(6) Seu poder de atração, evidenciado pela presença de alguns dos mais modernos edifícios de

escritórios abrigando importantes organizações – Fundação Getúlio Vargas, Intelig, Coca-Cola,

Telemar, Telefônica, IBM, etc.

Os quatro primeiros fatores estão relacionados com o olhar profissional de um arquiteto

interessado em compreender as conseqüências materiais da intervenção humana no

ambiente. Os dois últimos fatores estão relacionados com a possibilidade de aproveitar a

experiência acumulada, especialmente nas observações participantes e nas análises

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walkthrough23 desenvolvidas nas APOs produzidas pela COPPE e pelo PROARQ: a possibilidade

de desenvolver um instrumento que possibilite conhecer e ponderar os valores e os

significados da interação entre os diversos grupos envolvidos com a produção, o consumo e o

uso do ambiente construído e a Praia de Botafogo.

O processo de ocupação da Praia de Botafogo e o acúmulo de objetos “ávidos por atenção”,

produzidos para atender aos interesses de seus proprietários e projetistas, reflete o descaso

com a paisagem natural e evidencia o modo como a lógica implacável e

abstrata do paradigma da racionalidade promove a destruição da beleza da paisagem e do

meio ambiente. Este processo característico da expansão da cidade, pode ser observado

através do confronto da situação atual com o relato da alemã Ina von BINZEN (1882):

23 Método de análise que possibilita a identificação descritiva e significante de falhas, problemas

e aspectos positivos do edifício; um dos métodos mais utilizados em APOs, “consiste em

simplesmente percorrer todo o edifício, preferencialmente munido de plantas e/ou

acompanhado do autor do projeto ou de usuários, formulando perguntas com o objetivo de se

familiarizar com o edifício e com sua construção ... é um bom método para descobrir as

diferenças entre como foi construído e como ele foi projetado” (BECHTEL 1997: 313) [tradução do

autor], e como é mantido e utilizado. Para tanto, se vale de diversas técnicas de registro – mapas

comportamentais, fitas de áudio e de vídeo, fotografia, desenhos, diários, fichas, etc. A primeira

referência ao termo é atribuída a PREISER & PUGH in Senior Centers: A Process Description of

Literature Evaluation, Walkthrough Post-occupancy Evaluations, A Generic Program and Design

for the City of Albuquerque (1986).

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“Botafogo é adorável com suas

vivendas dispostas como uma

grinalda em tomo da praia de

mesmo nome, seus jardins

dominados ao fundo pelo

imponente Corcovado e na frente

pelo curioso Pão de Açúcar,

dentro da enseada. A

magnificência das flores neste

bairro, onde só mora gente rica e

distinta, é fascinantemente

admirável! As mais viçosas

trepadeiras, de um verde intenso,

cobrem os muros mostrando

grandes e deslumbrantes flores

Figura 3 – Vista da Enseada de

Botafogo no Início do Século

XIX

Fonte: RUGENDAS (1989: Pl.11)

Figura 4 – Vista da Enseada de

Botafogo em 1893

Fonte: FERREZ (1989: 108-109)

Figura 5 – Vista da Enseada de

Botafogo em 1905

Fonte: FERREZ (1989: 202-203)

ou do confronto entre imagens colhidas em

diferentes períodos: (1) no início do século XIX,

povoada de chácaras de uso residencial (Fig. 3);

(2) no final do século XIX, servida de transporte

por barcas a vapor e por bondes, quando já

apresenta os primeiros lotes urbanos (Fig. 4);

(3) no início do século XX , quando iniciam-se as

obras de aterro da praia e a perfuração do túnel

do Pasmado (Fig. 5); e (4) situação a atual,

desfigurada por edifícios cuja concepção

despreza o contexto e a geografia do sítio (Fig.

2).

Apesar de sua configuração ter condicionado

seu traçado inicial, hoje é possível observar pelo

menos dois dos princípios de

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vermelho-escuras, roxas, amarelas,

brancas...” (BINZEN 1994: 75);

ordenamento identificados por BEGUIN (1991):

(a) Limites naturais foram substituídos pelos limites técnicos, econômicos e políticos – a função

de passagem do bairro justifica os aterros de alagadiços (Fig. 6), as obras viárias (corte de

morro, abertura de túnel, construção de viadutos), perfuração da linha 1 do metrô e a

construção, em área pública de preservação ambiental [postos de gasolina, restaurantes,

clubes e edifício de escritórios]. (b) Densidade histórica da cidade dissolve-se em benefício

da banalização do urbano – verticalização e densificação imobiliária, mantendo o

parcelamento do solo; liberação da taxa de ocupação

[Shopping Praia de Botafogo] e do gabarito [edifícios Fundação Getúlio Vargas, Casa Alta,

Apollo, Argentina, CAEMI, Coca-Cola/Intelig]; permissão para construir edifício praticamente

desprovido de janelas [Telemar].

Para Sérgio SANTOS (1981: 214), a área evidencia que o “poder público não tem senão

corroborado tendências ‘espontâneas’, implementando serviços e infra-estrutura urbana e

mesmo regulamentando, onde a iniciativa privada já ‘criou o fato.” O autor explicita a lógica do

processo de desenvolvimento da cidade: (1) dependência das soluções técnicas em relação às

condições e interesses políticos dos grupos que comandam a Administração Pública que

dificulta e/ou impede sua implementação; (2) ação regulamentadora do Poder Público apenas

corrobora a ação da iniciativa privada, principal elemento criador de tendências de

transformação do espaço urbano. Neste sentido, Botafogo “mostra os efeitos dessa ação

Convenções

Figura 6 – Áreas Conquistadas ao mar, às lagoas

e alagadiços

Fonte: BARREIROS (1965: 27)

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conjugada, ao refletir em seu espaço os efeitos transformadores impostos por sua recriada

função de passagem” (SANTOS 1981: 214).

Quanto ao processo de atração das grandes empresas verificado a partir da década de 70, é

possível afirmar que está diretamente relacionado com a saturação e valorização da área

central da cidade. A velocidade do processo de transformação de Botafogo em um “centro

especializado de serviços ... [revela a] forma predatória e imediatista com que se consolida e

expande o espaço conquistado pela cidade” (SANTOS 1981: 216). As marcas desta urbanização

fragmentada podem ser atribuídas à adequação da “racionalidade científica” (“saber técnico”)

aos interesses econômicos dos “donos da cidade” (NIEMEYER 1980: 36) e à lógica da “mão

invisível” do mercado, sempre com o beneplácito do Estado.

A prevalência da concepção do edifício como obra isolada de arquitetura em detrimento de

seu relacionamento com o contexto (CULLEN 1983) pode ser comparada com a existente entre

o monolito do filme 2001 Uma Odisséia no Espaço e os macacos que o observam: sua melhor

expressão, a metáfora dos “transatlânticos ancorados nas calçadas das metrópoles” (MUSA in

CAMARGO 1989: 84), ilustra o processo de internacionalização e globalização característico da

produção dos novos edifícios de escritórios e suas diferentes concepções:

A primeira concepção é representada pelo edifício da Fundação Getúlio Vargas (1955) –

exemplar único da proposta de Oscar NIEMEYER, que previa a construção de “edifícios

semelhantes paralelos, eqüidistantes e com a mesma altura, visando à preservação da silhueta

das montanhas ao fundo e da paisagem natural circundante” (XAVIER et al 1991: 97) –, que

apresenta os seguintes equívocos: (1) embasamento e lâmina do edifício “opacos”,

desprovidos de “olhos”24 para a via, rompendo a tradicional relação edifício-pedestre; (2)

desobediência ao limite de pavimentos recomendado por NIEMEYER para os edíficios da orla –

“a primeira [medida] seria intervir na densidade demográfica, fixando para toda a cidade –

excluída a Barra da Tijuca – o gabarito máximo de 4 pavimentos”. (NIEMEYER 1980: 49) – para

preservar a paisagem natural circundante (Fig. 7);

24 Referência à metáfora utilizada por Jane JACOBS em Morte e Vida das Grandes Cidades (1960). Figura 7 – Gabarito de 15 pavimentos na Enseada de

Botafogo

Fonte: NIEMEYER (1980: 41)

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“O desprezo pela natureza foi tão grande que nem as montanhas escaparam e a linha barroca e

magnífica que as ligava ficou perdida entre os prédios próximos delas construídos. E os passeios,

os pontos pitorescos, os panoramas esplêndidos que ofereciam, fracionaram-se entre os altos

edifícios que o Carlos Lacerda, num dia de confraternização imobiliária, resolveu aprovar” (1980:

38-40);

(3) desprezo ao clima, ao propor duas cortinas de vidro orientadas para leste e

para oeste, condenando os usuários do edifício ao eterno desconforto

provocado pelo efeito estufa.

A segunda concepção é representada pela transposição mimética do estilo internacional e seus

edifícios-máquina de trabalhar. Estes edifícios-monolitos são localizados, concebidos e

ocupados segundo uma lógica de exploração predatória das condições locais e de exclusão das

relações sociais que ocorrem em seu entorno: os “transatlânticos na calçada” escolhem o

“porto” mais conveniente para que seu seleto grupo de “passageiros” possa usufruir, sem

preocupar-se com o impacto ambiental.

A terceira concepção é representada pelo casuísmo com que as autoridades públicas tratam

sua cidade e pelo tipo de interesses a que ela tem servido: ao privatizar áreas públicas e de

preservação ambiental25, confirma-se a função corrobaradora do Estado em relação aos

interesses da iniciativa privada apontada por Sérgio SANTOS (1981).

Os pressupostos e paradigmas que fundamentam a produção desses edifícios – o desprezo

pela vida local, pelos seus moradores e seu direito de usufruírem a paisagem – são

explicitados por MORIN (1996: 162) –

“a industrialização, a urbanização, a burocratização, a tecnologização se efetuaram segundo as

regras e os princípios da racionalização, ou seja, a manipulação social, a manipulação dos

indivíduos tratados como coisas em proveito dos princípios de ordem, de economia, de eficácia”

25 Os exemplos mais evidentes são: Iate Clube, Piscina do Botafogo, Sede do Clube Guanabara, restaurante Sol e

Mar e Centro Empresarial Mourisco, cuja concessão do direito de construção, em troca da preservação do Pavilhão

Mourisco do Botafogo Futebol e Regatas – a exemplo do tombamento do edifício do Canecão – merece um capítulo

à parte no livro negro da história recente da cidade.

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– e ilustrados através de trechos de material publicado em jornais e em revistas

especializadas (ANEXO 01-A).

Modificar esta visão e esta prática fragmentada não é uma tarefa simples, uma

vez que o sucesso comercial e o reconhecimento popular destes edifícios

sugerem que o problema não deve ser analisado exclusivamente quanto aos

interesses de determinados grupos sociais, econômicos ou categorias

profissionais. Não se trata de uma questão de natureza tecnológica ou de

capacidade técnica, mas uma questão de natureza cultural que está cada vez

mais sedimentada [com sutis variações] tanto no saber técnico, quanto no

gosto de proprietários, ocupantes e cidadãos: na verdade, é uma clara

manifestação do “desejo mimético” – termo utilizado por Celso FURTADO para

explicitar a ilusão de “uma modernidade que nos condena a um mimetismo

cultural esterilizante ... [e a] ... obsessão de reproduzir o perfil daqueles que se

auto-intitulam desenvolvidos.” (in SUNG s/d: 52) – das sociedades capitalistas

criado pelo próprio mercado, e que se torna ele próprio o “critério para desejos

aceitáveis ou não.” (SUNG s/d: 55)

Passadas três décadas de explicitação dos equívocos – em decorrência da

defasagem cultural inerente a todos os períodos de ruptura de valores e

paradigmas (DE MASI 1999a, CASTELLS 1999a) – ainda persistem as idéias que

justificam estes monumentos da irracionalidade: basicamente os investidores

escolhem os edifícios, por sua aparência, pela sua localização [e facilidade de

acesso], pelo seu custo inicial e pela tecnologia embarcada [sistemas

eletrônicos de supervisão e controle nem sempre operacionais]; os produtores

não medem seus gastos com a singularidade da aparência e com a novidade

tecnológica; pouca importância é dada, por ambos, aos custos operacionais,

ao desperdício de energia, à operacionalidade e eficiência dos sistemas

prediais; nenhuma importância é dada, por ambos, à adequação climática do

envelope, cuja aparência “reflete” o “desejo mimético” que transforma seus

proprietários e ocupantes em “personagens de um mundo fantasma ... uma

espécie de terceiro mundo, entre o país real em que ... vivem e a comunidade

internacional onde imaginam viver” (Jurandir Freire COSTA in NASCIMENTO 1997:

73).

A arquitetura da racionalidade afasta-se cada vez mais de sua razão ética –

facilitar e tornar mais confortável a vida do homem sobre a terra – para servir

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aos interesses do capital imobiliário, ao ego de seus autores e ao “desejo

mimético” de seus proprietários e ocupantes. A razão “técnica” que move sua

prática passa a propor e a resolver “desafios”26 cujas conseqüências são, em

geral, repartidas entre poder público, contribuintes e ocupantes – condenando

estes últimos à dependência de dispendiosos equipamentos para garantir seu

conforto e bem-estar.

Outras condições que contribuem para a perpetuação dos equívocos, são: (a)

a quase inexistência de crítica de arquitetura associada à presença da

“louvação” (RHEINGANTZ 1995) e da manipulação do marketing nas matérias

que garantem a difícil sobrevivência da imprensa especializada nacional; (b) a

prática ingênua e “neutra” da maioria dos pesquisadores que, alheios às

modernas estratégias de comunicação, distanciam-se das necessidades e

expectativas dos profissionais de projeto, dos construtores e dos cidadãos. Suas

descobertas são divulgadas em linguagem incompreensível para o público e,

em geral, ficam restritas ao reconhecimento de uns poucos “iniciados”.

Para reverter esta tendência, é imprescindível substituir o paradigma da

racionalidade que a fundamenta pelo paradigma social (CAPRA 1997; SANTOS

1995a) e pelo pensamento complexo (MORIN 1996); é indispensável que se

procure convencer a todos os envolvidos com a produção e com o consumo

do ambiente construído da necessidade de se começar a olhar o mundo [e o

ambiente construído] com outros olhos; é necessário modificar a relação

autoritária e desigual que caracteriza o processo de urbanização; é preciso

substituir a prática da exploração capital-intensiva e seu “condicionamento

implacável que destrói a beleza do meio ambiente em função da expansão de

uma economia que manipula o ‘saber técnico’ e sua racionalidade

compartimentalizada.” (SCHUMACKER in CAPRA 1991: 170)

Estará a humanidade “civilizada” inexoravelmente condenada a viver em um

hábitat despersonalizado, desconfortável, cujo cenário se aproxima da sombria

Los Angeles do filme Blade Runner ou de “um mundo simulacional que aboliu a

distinção entre o real e o imaginário: uma alucinação estetizada e superficial

26 Em Mais um moderninho: Rio Branco ganha novo prédio “inteligente” (in Veja Rio, 9/09/1992:

19), o autor do projeto do Edifício Manhattan Tower declara: “nunca fizeram um prédio tão alto

num terreno tão pequeno, de apenas 726 metros quadrados.”

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da realidade” (FEATHERSTONE 1995), a exemplo do que ocorre na excludente

“Barralândia”?

Acredito que somente a aceitação do paradigma social e do pensamento complexo e o

questionamento sistemático da validade das conquistas da ciência e do avanço da tecnologia –

que leva as pessoas a se afastarem de suas tradições culturais e a produzirem as manifestações

mais degradadas da arquitetura e da cidade – poderá livrar a humanidade desta dura pena.

Por esta razão, nas seções seguintes são analisadas as possibilidades da aplicação do

pensamento sistêmico [social] e complexo na produção de um ambiente construído entendido

como uma organização social complexa.

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1.3 Pensamento Complexo (Social):

A teoria geral dos sistemas é uma ciência geral de “totalidade”, o que

até agora era considerado uma concepção vaga, nebulosa e

semimetafísica. Em forma elaborada, ela seria uma disciplina

matemática puramente formal em si mesma, mas aplicável às várias

ciências empíricas. Para as ciências preocupadas com “totalidades

organizadas”, teria importância semelhante àquela que a teoria das

probabilidades tem para as ciências que lidam com “eventos aleatórios”

Ludwig von BERTALANFFY 27

Uma nova racionalidade deixa-se entrever. A antiga racionalidade procurava apenas

pescar a ordem na natureza. Pescavam-se não os peixes, mas as espinhas. A nova

racionalidade, permitindo conceber a organização e a existência, permitiria ver os

peixes e também o mar, ou seja, também o que não pode ser pescado.

Edgar MORIN (1996: 275)

O reconhecimento crescente dos processos participativos possibilita o surgimento de uma

nova racionalidade, complexa (social), que reconhece e utiliza de forma criativa e integrada os

vários modos de conhecimento, inclusive o tecnológico, confere um sentido transformador à

interação homem/mundo. A transformação do desenvolvimento tecnológico em “sabedoria de

vida” (SANTOS 1995) possibilita a compreensão de significados que escapam ao olhar

“técnico” e “neutro” dos observadores (RHEINGANTZ 1995).

O pensamento complexo (social) deriva do pensamento sistêmico e surge em

contraposição ao pensamento mecanicista, a partir da “concepção dos

organismos como totalidades integradas”: enquanto o pensamento

mecanicista é analítico, e busca a explicação no estudo das partes ou

elementos de base, o pensamento social (sistêmico) é contextual, e busca a

explicação no estudo da totalidade.28

27 In General System of Open Systems in Phisics and Biology, 1968 (Cf. CAPRA 1996: 53). 28 Cf. CAPRA (1997: 40-41), “as propriedades essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são

propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das interações e das relações

entre as partes. Essas propriedades são destruídas quando o sistema é dissecado, física ou

teoricamente, em elementos isolados. Embora possamos discernir partes individuais em qualquer

sistema, essas partes não são isoladas, e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma

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Em contraposição à metáfora inorgânica do “edifício do conhecimento” do

pensamento mecanicista e a objetividade de suas descrições [que são

independentes do observador e do processo de conhecimento], surge a

metáfora orgânica da “rede do conhecimento”, que inclui necessariamente a

compreensão do processo de conhecimento na descrição dos fenômenos

naturais. “Quando percebemos a realidade como uma rede de relações,

nossas descrições também formam uma rede interconectada de concepções

e de modelos, na qual não há fundamentos”. (CAPRA 1997: 48) O entendimento

da realidade como uma rede de relações inviabiliza a “objetividade da

explicação”, uma vez que a explicação de qualquer fenômeno demanda algo

humanamente impossível: o entendimento da totalidade.

O pensamento sistêmico clássico opera com três elementos interdependentes:

(1) Padrão [de organização] – configuração de relações entre os componentes

que determinam as características essenciais de um sistema.29 (2) Estrutura –

incorporação física do padrão de organização do sistema que “envolve a

descrição dos componentes físicos efetivos do sistema – suas formas,

composições químicas, e assim por diante”. (CAPRA 1997: 134) 30. (3) Processo

[da vida] – “é a atividade envolvida no padrão de organização do sistema ... é

a ligação entre padrão e estrutura” (CAPRA 1997: 134).31 O padrão de

de suas partes. ... As propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser

entendidas dentro do contexto do todo mais amplo. ... O pensamento sistêmico concentra-se

não em blocos de construção básicos, mas em princípios de organização básicos.”

29 No caso de um edifício, devem haver várias relações funcionais entre os componentes,

conhecidos como esqueleto sustentante, vedações horizontais e verticais, sistema de transporte

vertical, sistemas prediais, equipamentos, blocos funcionais e assim por diante. A configuração

completa dessas relações funcionais constitui o padrão de organização edifício “X”. Todas essas

relações devem estar presentes para dar ao sistema as características essenciais de um edifício.

30 A estrutura de um edifício é a incorporação física de seu padrão de organização em termos de

componentes de formas específicas, feitos de materiais específicos; a descrição da estrutura

envolve a descrição dos componentes físicos efetivos do sistema. O mesmo padrão “edifício”

pode ser incorporado em muitas estruturas diferentes – o esqueleto estrutural pode ser modelado

para um esqueleto sustentante ou para paredes autoportantes; as vedações verticais podem ser

em paredes cortina (curtain wall) ou em alvenaria; as divisões internas podem ser em alvenaria,

em painéis móveis, ou em sistema “aberto” – e essas combinações serão facilmente reconhecidas

como diferentes materializações do mesmo padrão de relações que define um edifício. 31 No caso de um edifício não habitado, o padrão de organização é representado pelos desenhos

dos projetos utilizados na sua construção, a estrutura é um edifício específico e a ligação entre

padrão e estrutura está na mente do projetista. No caso de um sistema vivo, “o padrão de

organização está sempre incorporado na estrutura do organismo, e a ligação entre padrão e

estrutura reside no processo da incorporação contínua” (CAPRA 1997: 135).

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organização só pode ser reconhecido se estiver incorporado a uma estrutura

física que, nos sistemas vivos, é um processo em andamento.

O pensamento complexo surge com a afirmação de que sistema “é uma palavra-raiz para a

complexidade” (MORIN 1996: 274). O movimento de retroatividade inerente à relação entre

todo e partes, sugere a “introdução da complexidade no nível paradigmático” (MORIN 1996:

260), e propõe que se considere o sistema não apenas como unidade global, mas como “unitas

multiplex” – “conceito não-totalitário e não-hierárquico do todo, aberto às politotalidades.”

(MORIN 1996: 264) Este processo recorrente32 gera um circuito do tipo [uno diverso] onde

a tendência de homogeneização do “pensamento unificador”, com a perda de diversidade e de

perda de identidade do “pensamento diferenciador”, demandam um esforço para “dosar” ou

“equilibrar” esses dois processos de explicação integrando-os num circuito ativo onde a

diversidade organiza a unidade que organiza a diversidade ...

O pensamento complexo trata com três faces indissociáveis (MORIN 1996: 264):

(1) Sistema – exprime a unidade complexa e o caráter fenomenal do todo, assim

como o complexo das relações entre o todo e as partes. (2) Interação – exprime

o conjunto das relações todo-partes que se efetuam e se tecem nos [e entre]

sistemas constituídos “não de ‘partes’ ou ‘constituintes’, mas de ações entre

unidades complexas, que são constituídas de interações. (3) Organização –

conceito que dá coerência construtiva às interacões, que forma, mantém,

regula, regenera-se e à idéia de sistema; o conjunto das interações constitui a

organização do sistema.

Para o estudo dos sistemas vivos, MORIN prefere o conceito de organização –

organizar a ação – ao de estrutura, “um conceito atrofiado, que remete mais à

idéia de ordem (regras de invariância) do que à de organização” (MORIN 1996:

265). E nos sistemas vivos, a “organização cria ordem, mas também cria

desordem.” Sua concepção de sistema complexo é um conceito com duas

entradas indissociáveis: “físico pelos pés e psíquico pela cabeça” MORIN (1996:

269). Desta indissociabilidade do caráter psico-físico resulta uma relação

complexa sujeito-observador/objeto-observado (Tabela 1) “em que um dos

parceiros pode enganar o outro.” (MORIN 1996: 171)

TABELA 1: Articulação ou Confronto psiqué X physys

32 Cf. MORIN (1996: 262), que considera: (a) que as partes são ao mesmo tempo menos e mais do

que as partes; (b) que as partes são eventualmente mais do que o todo; (c) que o todo é menos

do que o todo; (d) que o todo é insuficiente; (e) que o todo é incerto; (f) que o todo é conflituoso.

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O observador X O sistema observado

O sujeito X O objeto

A cultura

(que produz uma ciência física)

X A physis

(que produz organização biológica, que, por sua

vez, produz organização antropossocial, portanto,

cultura)

Fonte: MORIN 1996: 270

Como esta “operação de distinção” se insere em uma determinada cultura [fornecedora de

paradigmas] e obriga a unir noções que se excluem no âmbito do princípio

simplificação/redução do real – incerteza, indeterminação, aleatoriedade, contradições – seu

caráter é ideológico.

Ao reconhecer a necessidade de “um método que saiba distinguir, mas não separar e dissociar,

... que respeite o caráter multidimensional da realidade antropossocial, ... que possa enfrentar

as questões do sujeito e da autonomia” (MORIN 1996: 279), o autor: (1) considera que a

complexidade é inerente às inter-relações dos elementos diversos de um sistema cuja unidade

se torna complexa (una e múltipla); (2) define sistema “aberto” como aquele cuja essência e

manutenção da diversidade “são inseparáveis de inter-relações com o ambiente, por meio das

quais o sistema tira do externo matéria/energia e, em grau superior de complexidade,

informação” (MORIN 1996: 292); (3) ressalta a importância da geratividade, princípio

qualitativamente novo, que reconhece que a “constante degradação dos componentes

moleculares e celulares é a enfermidade que permite a superioridade do ser vivo sobre a

máquina. É fonte da constante renovação da vida.” (MORIN 1996: 299)

Em relação ao risco incessante de degradar-se, de simplificar-se, em função da necessidade de

uma teoria conservar sua complexidade mediante uma recriação intelectual permanente,

MORIN identifica os três “rostos” que esta simplificação assume (MORIN 1996: 336): (1) A

degradação tecnicista, que conserva da teoria – que deixa de ser logos para ser techné – aquilo

que é operacional, manipulador, e que pode ser aplicado. (2) A degradação doutrinária da

teoria que, menos aberta à contestação da experiência, à aprovação do mundo exterior, abafa

e cala aquilo que a contradiz. (3) A pop-degradação que, ao eliminar as obscuridades e

dificuldades, reduz e vulgariza a teoria a poucas fórmulas de choque, à custa dessa

simplificação de consumo. A seguir, MORIN observa que essas três degradações podem ser

combinadas. (ABORDADO NA SEÇÃO SEGUINTE)

As contribuições de CAPRA e MORIN sugerem interessantes desdobramentos

na produção e na avaliação do desempenho do ambiente construído, que

serão abordados na seção seguinte.

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1.4 Ambiente Construído: organização social complexa

“Somos seres ao mesmo tempo físicos, biológicos, sociais, culturais, psíquicos e

espirituais, é evidente que a complexidade é aquilo que tenta conceber a articulação, a

identidade e a diferença de todos esses aspectos”.

Edgar MORIN (1996: 176)

“Existe uma qualidade central que é o critério fundamental da vida e o

espírito de um homem, uma cidade, um edifício, um vazio. Esta

qualidade é objetiva e precisa, mas carece de nome”.

Christopher ALEXANDER (1979a: 11) 33

“Edificação, entendida como produto de um processo complexo e articulado, em

conteúdo e finalidade, que implica uma multiplicidade de protagonistas e comporta ao

mesmo tempo instâncias sócio-econômicas, científico-técnicas e ideológico-culturais.”

Enrico MANDOLESI (1978: 12)

Entendido como uma organização social complexa regida pela incerteza e

pela possibilidade (PRIGOGINE & STENGERS) – constituído pelo conjunto das

relações que se estabelecem entre suas partes – o ambiente construído não se

restringe apenas às relações entre suas medidas e seus materiais. O ambiente

construído não vale por si próprio; seu valor ou significado surge em função das

relações que estabelece com o entorno e com seus habitantes. Ele não pode

sem visto isoladamente de seu contexto maior, com quem interage em um

movimento de retroatividade todo/partes – “unitas multiplex” (MORIN).

Ao pesquisarem as imagens e os julgamentos transmitidos pela percepção

indireta – leitura e jornais – e percepção em campo – análise walkthrough – e

identificar as imagens os conflitos de percepções e de expectativas de

realizadores, administradores, proprietários, locatários, usuários e funcionários do

Centro Empresaria Internacional Rio (RB-1) e do Edifício de Serviços do BNDES

(EDSERJ), COSENZA et al (1996; 1997), RHEINGANTZ (1998) e RHEINGANTZ et al

(1998) evidenciam a importância do caráter não-hierárquico e aberto às

politonalidades na avaliação do desempenho do organismo social ambiente

construído. Um organismo social que adquire dupla identidade, ou seja, uma

identidade própria [não redutível ao todo] e uma identidade comum ou

“cidadania sistêmica”, na medida em que interage com seus usuários e com o

33 Tradução do autor.

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ambiente onde está inserido. Esta dupla identidade é evidenciada por

RHEINGANTZ (1995: 215-220), ao reconhecer que o inconsciente coletivo34 dos

ocupantes de um edifício incorpora a persona e a anima de JUNG: “o ‘clima’

de satisfação com o edifício é perceptível e, a exemplo das relações de afeto

e amor, justifica a aceitação de defeitos e inconvenientes; a aparência do

edifício intensifica ... ‘inconscientemente a importância do eu’ ... [JUNG 1984]”

(RHEINGANTZ 1995: 215). Além do inconsciente coletivo, acredito que também

o inconsciente pessoal35 de JUNG, também está presente na interação [homem

ambiente].

As pesquisas desenvolvidas por RHEINGANTZ (1995; 1998) e por COSENZA et al (1996, 1997)

evidenciam as mudanças estruturais que ocorrem ao longo da “vida” de uma organização

social complexa edifício de escritórios: mudança de usuários, modificação de layout dos

pavimentos, modificação de sistemas e instalações e da própria gestão predial.36 Estes autores

também reconhecem que o processo de organização social que se dá no interior de um

edifício de escritórios não se limita a seus aspectos construtivos ou à sua qualidade estética,

uma vez que ele também incorpora as relações “todo/partes” e “uno/diverso” apontadas por

MORIN (1996): (1) o todo é mais do que a soma das partes – a exemplo da doçura do açúcar, o

ambiente construído é indescritível e somente pode ser percebido em sua plenitude no

próprio processo de interação; (2) o todo é menos do que a soma das partes – assim como

“cada pessoa tem em mente uma cidade exclusivamente de diferenças, uma cidade sem

figuras e sem forma, preenchida pelas cidades particulares” (CALVINO 1993: 34), a soma dos

significados particulares que um edifício ou ambiente construído pode assumir para cada um

de seus ocupantes deve ser menor do que a soma das partes que o compõem; (3) o todo é

mais do que o todo – a complexidade da relação onde o todo é um dinamismo organizacional

que transcende a realidade global:

“A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das

recordações e se dilata. Uma descrição de Zaíra como é atualmente

deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o

34 Cf. JAPIASSÚ & MARCONDES (1996: 152), o inconsciente coletivo se estrutura em arquétipos

(disposições hereditárias de reação) e pertence à espécie humana e jamais se torna de fato

plenamente consciente. 35 Cf. JAPIASSÍ & MARCONDES (1996: 152), o inconsciente pessoal é constituído por elementos

reprimidos, adquiridos durante a história pessoal dos indivíduos em sua experiência de vida. 36 As constantes modificações realizadas no Shopping-center Rio-Sul ou da orla marítima da Zona Sul são exemplos

das mudanças estruturais que ocorrem em um ambiente construído ao longo de sua “vida”.

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seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos

ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas,

nas antenas dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada

segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.”

(CALVINO 1993: 14-15):

A geratividade é a fonte da constante renovação da vida de um organismo social edifício de

escritórios que se caracteriza por um processo incessante de degradar-se, de simplificar-se, em

função da necessidade de conservar sua complexidade mediante uma recriação intelectual

permanente que assume os três “rostos” visíveis de MORIN (1996):

A degradação tecnicista – [concepção e produção deixam de ser logos para ser techné] a

análise do sítio e Sérgio SANTOS (1981) confirmam a crença na “inevitabilidade das

transformações no espaço urbano” (SUNG s/d: 34); a ênfase na racionalidade científica, nos

interesses econômicos, na técnica e na tecnologia pode ser confirmada pela prevalência

daquilo que é operacional, manipulador e incorpora as três funções positivas de BEGUIN

(1991), em detrimento das necessidades essenciais para a vida de cada grupo que configura o

organismo social complexo Praia de Botafogo.

A degradação doutrinária – o “determinismo econômico” presente na doutrina e nas crenças

subjacentes à produção do ambiente construído, especialmente sua pouca tolerância à

contestação e à crescente desqualificação de quem ou daquilo que contradiz o saber

messiânico de técnicos e especialistas ou a “religiosidade do capitalismo” (SUNG s/d: 23);

crença de que somente a “defesa dos interesses próprios [do mercado] contra os interesses

dos outros gera a eficácia e a solidariedade” (SUNG s/d: 34) ao mercado.37

A pop-degradação – o “desejo mimético” (COSTA 1997: 78) que justifica e produz um mundo

fantasma entre o país real e a comunidade internacional em que nossas elites imaginam viver,

exemplificado pela “Barralândia” (SANTOS & DEL RIO 1998), pelos “edifícios de nível

internacional” ou de padrão de comparável aos existentes no “primeiro mundo”, pela lógica

37 Em carta publicada na revista Arquitetura n° 81 (ANEXO 02-B), o arquiteto Edison MUSA procura

desqualificar o tom do número anterior da revista, cujo tema central são os “Edifícios Inteligentes”

(RHEINGANTZ 1997a): “a produção da arquitetura no País é um ofício tão sofrido e difícil, que não

precisa, a título de uma crítica construtiva e positiva, de comentários e charges e chamadas

pouco sérias, a trabalhos que estão aí, realizados de peito aberto, nas regras de um sistema que

todos conhecemos ... acho que o IAB prestaria um melhor serviço a toda a comunidade se

realmente procurasse divulgar o trabalho do arquiteto, com seus problemas, suas falhas e seus

acenos, vistos da mesma planície da batalha e não, de um Olimpo artificial, que o coloca distante

das realidades vivenciadas.”

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dos “transatlânticos nas calçadas” e pela paisagem esquizofrênica que acumula objetos

“ávidos por atenção” (SEÇÃO 1.3).

A possibilidade de considerar um edifício, seu contexto e seus usuários como uma organização

social complexa – “unitas multiplex” – fornece as bases para analisar as principais implicações

do entendimento de desempenho enquanto interação homem ambiente construído à luz

do paradigma social complexo, assunto da próxima SEÇÃO.

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1.5 Desempenho: interação homem X ambiente construído

“A doçura que saboreamos num torrão de açúcar não é propriedade nem do açúcar

nem de nós mesmos. Estamos produzindo a experiência da doçura do açucar no

processo de interagirmos com o açúcar.”

Roland FISCHER 38

“Qualquer experiência da realidade é indescritível! Olhe ao seu redor por um instante e

veja, ouça, cheire e sinta onde você está [...] sua consciência pode partilhar de tudo isto

num único instante, mas você jamais conseguirá descrever tal experiência.”

R. D. LAING 37

“O mundo que todos vêem não é ‘o’ mundo, mas ‘um’ mundo, que nós criamos com os

outros.”

Humberto MATURANA e Francisco VARELA (1995: 262)

Com base na metáfora de FISCHER, R. D. LAING propõe a questão: “se o universo inteiro for

como a doçura do açúcar, que não está no observador nem na coisa observada, e sim na

relação entre ambas, como vocês podem falar do universo como se fosse um objeto

observado?” (in CAPRA 1991: 116). Se aplicadas ao ambiente construído, a metáfora de

FISCHER e a questão de LAING permitem reconhecer que o desempenho não é uma

propriedade nem do ambiente construído nem do homem, mas uma experiência [relação]

produzida no processo de interação do “observador-sujeito” com o organismo social

complexo. De modo análogo, se o desempenho de um edifício não está no observador nem na

coisa observada, mas na relação entre ambos e com o contexto com que interagem, parece

pouco sensato concebê-lo ou analisá-lo isoladamente.

Se o ambiente, os edifícios e seus ocupantes compõem uma organização social integrada,

configurada por uma rede de relações complexas que se fundamentam em determinados

princípios ou padrões de organização, então desempenho pode ser definido como a

experiência produzida no processo de interação. Uma experiência que não é objetiva,

conforme preconiza a racionalidade científica subjacente à produção do ambiente construído,

que acredita que um homem ou grupo de homens seja capaz de “controlar por completo um

edifício e a projetar o que este vai ser, até o último detalhe, sobre um pedaço de papel.”

(ALEXANDER 1979b: 14) O ambiente não é um contexto absoluto. Ele é criado no próprio

processo de viver [e de conhecer], e é condicionado cultural e historicamente: “todo

38 In CAPRA (1991: 116).

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conhecimento significativo é conhecimento contextual, e grande parte dele é tácita e vivencial”

(CAPRA 1997).

O estudo da percepção ambiental é um processo cognitivo que lida com as conformações

subjetivas, imagens, impressões e crenças que as pessoas possuem do meio ambiente. Este

processo cognitivo está sujeito a “filtros” socioculturais, categorias e sistemas resultantes do

processo de socialização do indivíduo e a “filtros psicológicos” dependentes do sistema

interpretativo pessoal, de valores e de expectativas de cada pessoa.39 Mas o processo

cognitivo não se resume a um processo mental realizado no interior do nosso cérebro:

segundo CAPRA (1996: 68), “sempre pensamos também com nosso corpo”; na mesma linha de

raciocínio, DAMÁSIO (1996: 255) observa: “quando vemos, ouvimos, tocamos, saboreamos ou

cheiramos, o corpo e o cérebro participam na interação com o meio ambiente.”

Assim, é possível considerar que observadores, usuários e suas experiências, percepções e

expectativas sejam “instrumentos” (ZUBE in DEL RIO 1991) adequados para avaliar o

desempenho dos edifícios, enquanto organismos sociais complexos. A condição de

observadores e usuários como “instrumentos” de avaliação de um mundo complexo, incerto e

dinâmico coloca em cheque o “saber messiânico” dos técnicos e especialistas,

“salvadores dos demais, donos da verdade, proprietários do saber,

que deve ser doado aos ‘ignorantes e incapazes’ ... habitantes de

um gueto, de onde saem messiânicamente para salvar os ‘perdidos’,

que estão fora. Ao procederem assim, não estarão se

comprometendo verdadeiramente como profissionais nem como

homens. Simplesmente estarão se alienando.” (FREIRE: 1978).

A possibilidade de arquitetos e engenheiros deixarem de agir como donos da verdade para

atuarem como terapeutas40 do ambiente construído, compartilhando seu conhecimento e suas

técnicas com os cidadãos, confere um novo significado ao conjunto de pensamentos,

percepções e valores da “realidade”. O reconhecimento de que a essência da arquitetura são

as “cerimônias que ocupam um determinado espaço físico e um espaço psicológico, e que

desta cerimônia está feita a vida” (LIVINGSTON 1990), possibilita firmar um novo tipo de

39 Segundo MERLEAU-PONTI (1994), a percepção não é uma sensação pura, pois versa sobre relações e não sobre

termos absolutos: o homem incorre em um experience error ao acreditar que sabe o que é “ver”, “ouvir”, “sentir”

os objetos através da percepção.

40 Do grego ‘therapeutes’, especialista em prestar atenção e em ter consciência de uma

situação.

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compromisso onde os projetistas abdiquem de sua pretensão de criadores, para tornar-se

intérpretes do desejo coletivo, a ser transformado em projetos, edifícios e lugares urbanos.

A análise da paisagem da Praia de Botafogo (Fig. 2), desfigurada pela desproporção e falta de

harmonia das torres de vidro, concreto e granito que bloqueiam a vista do perfil dos morros

que a emolduram, ilustra o argumento (ANEXO II). A comparação com a paisagem natural (Fig.

1) ou até mesmo com a paisagem do século XIX (Figs. 3 e 4) confirma que a metrópole,

“mediante o que se tornou pode-se recordar com saudades aquilo que foi.” (CALVINO 1993:

30)

É possível que esta opinião não seja compartilhada por um empresário instalado em um dos

modernos edifícios “fundeados” na praia de Botafogo – onde entra e sai em seu automóvel e

que, de seu escritório climatizado, desfruta o esplendor deste “cartão postal” pintado pelo

“supremo pintor e arquiteto do mundo” (Padre CARDIM). Sua relação com a cidade “real” é

similar àquela representada pelo “domo” que envolve a cidade de Seaside, no filme O Show de

Truman. Diversa deve ser a opinião de um morador da rua Muniz Barreto, cuja vista da

enseada foi bloqueada pelos novos edifícios. Retomando os princípios de SANTOS (1995a),

MORIN (1996) e PRIGOGINE & STENGERS (1992), a racionalidade da observação somente será

obtida pelo conjunto de visões e significados produzidos pelas diferentes “cidadanias

sistêmicas” que configuram o organismo social Praia de Botafogo – e que pode ser aferida

através de diferentes perfis de demanda com o MAH-COPPE.

A construção de um modelo de análise que possibilite comparar o desempenho

de um conjunto de edifícios – existente ou em projeto – de escritório sugere uma

nova metodologia baseada no paradigma social complexo (CAPRA, SANTOS,

MORIN) e na aplicação de conceitos subjetivos. Sua construção (CAPÍTULO 4),

está referenciada em dois instrumentos: o Modelo de Análise Hierárquica (MAH-

COPPE), por sua flexibilidade e possibilidade de modelagem de estruturas

complexas através de conjuntos nebulosos e variáveis lingüísticas, mais

adequados para mensurar sua subjetividade cuja compreensão normalmente

escapa ao olhar ‘técnico’ e ‘neutro’. A possibilidade de substituir a definição da

“objetividade científica” pela de “problema comum” (PRIGOGINE 1992)

subjacente ao princípio do olhar compartihado, amplia os horizontes da

avaliação de desempenho – ainda fortemente condicionados por métodos

que limitam-se a investigar os comportamentos através de mensurações

verificáveis, e que não atentam para a riqueza e complexidade de uma

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organização social e de suas representações –, e confere um sentido

transformador à experiência perceptiva.

Uma vez explicitados os pressupostos teóricos que fundamentam a visão de

mundo adotada neste trabalho, no CAPÍTULO 2 procurarei aplicá-los numa

leitura de cenário das principais transformações decorrentes da globalização

da economia neste final do século XX, suas conseqüências para o processo de

trabalho, para os conceitos de espaço e de tempo e seus reflexos na produção

atual e futura dos edifícios de escritórios.

II. CONTEXTUALIZAÇÃO

“Hoje, a árvore do conhecimento corre o risco de cair sob o peso dos seus

frutos, esmagando Adão, Eva e a infeliz serpente.”

EDGAR MORIN (1996)

“Sob o impacto da extraordinária explosão econômica da Era do Ouro e

depois, com suas conseqüentes mudanças sociais e culturais – a mais

profunda revolução na sociedade desde a Idade da Pedra –, o galho

começou a estalar e partir-se. No fim deste século, pela primeira vez, tornou-

se possível ver como pode ser um mundo em que o passado, inclusive o

passado no presente, perdeu seu papel, em que os velhos mapas e cartas

que guiavam os seres humanos pela vida individual e coletiva não mais

representam a paisagem na qual nos movemos, o mar em que navegamos.

Em que não sabemos aonde nos leva, ou mesmo aonde deve levar-nos,

nossa viagem.”

Eric HOBSBAUWM (1995)

“O que se tem visto é a expansão geométrica da polarização entre países e entre classes

sociais, nos países industrializados como nos países periféricos. E, apesar de tudo, a idéia

da globalização reina inconteste no discurso das elites mundiais, seja como diagnóstico,

seja como ‘utopia possível’ do desenvolvimento capitalista”.

Maria da Conceição TAVARES e José Luiz FIORI (1997: 88)

No capítulo anterior, foi traçado um panorama sobre as grandes transformações do

pensamento atual e sobre as conseqüências do paradigma da racionalidade e seu modelo

mecanicista, que considera a Terra um “mundo morto”, fragmentado e manipulado para

atender aos propósitos e à curiosidade humana. A partir das perspectivas de uma nova ciência

fundada no pensamento sistêmico e complexo, que retoma a noção de universo orgânico, vivo

e espiritual e possibilita que se considere o ambiente construído um organismo sistêmico

complexo, foi proposta a ampliação do conceito de desempenho, entendido como um

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processo de interação homem X ambiente que reconhece a incerteza e a subjetividade do

conhecimento humano.

Neste capítulo, procuro focalizar o contexto das transformações sociais, especialmente a

passagem da Sociedade Industrial para a Sociedade Pós-Industrial, e analisar seus reflexos

sobre o processo do trabalho e sobre a produção do ambiente construído para o trabalho de

escritório. A seguir, analiso os efeitos das tranformações sociais e tecnológicas no espaço e no

tempo, especialmente a nova hierarquia da rede globalizada das relações econômicas e

organizacionais e traça um panorama da evolução do conceito de escritório e seus reflexos na

produção dos edifícios de escritórios de alta tecnologia. Por último, relaciono os conteúdos dos

capítulos I e II e, fundamentado no conceito de adaptabilidade e sustentabilidade, proponho

algumas diretrizes para uma abordagem complexa da concepção e da produção dos edifícios

de escritório com sistemas de alta tecnologia.

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2.1 Mundo em Transformação: Era Industrial X Era Pós-Industrial

Final da Era Industrial:

Com o sugestivo título A Era dos Extremos: o Breve Século XX, Eric HOBSBAUWM (1995),

resume com precisão o final da Revolução Industrial, que divide em três Eras:

(a) Era da Catástrofe – englobando as duas guerras mundiais e o período entre-guerras; em

meio à calamidade das duas grandes guerras, abalada por rebeliões, revoluções e pelo avanço

dos regimes autoritários de cunho fascista, a democracia se salvou devido a “uma aliança

temporária e bizzara entre capitalismo liberal e comunismo” (HOBSBAUWM 1995: 17) é o

ponto crítico da história do século XX.

(b) Era de Ouro – do final Segunda Guerra Mundial até o início da década de

70, configurando um curto período marcado por profundas mudanças sociais,

e fechando o ciclo da Revolução Industrial; durante a “Guerra Fria” do pós-

guerra, o risco real de uma alternativa global socialista incentiva o capitalismo

a buscar no planejamento econômico a sua mais ampla, rápida e fundamental

transformação econômica, social e cultural. As inovações tecnológicas e a

coincidência entre a Era de Ouro capitalista e as grandes realizações dos países

comunistas possibilitam altas taxas de produtividade [1950-70] e o surgimento

de “uma economia mundial única, cada vez mais integrada e universal,

operando em grande medida por sobre as fronteiras de Estado

(“transnacionalmente”)” (HOBSBAUWM 1995: 19). A década de 50 consolida os

Estados Unidos como grande potência do mundo capitalista e prenuncia os

primeiros conflitos entre gerações – que ainda compartilham a mesma visão de

mundo: a crença na tecnologia e no progresso (CAPRA 1991). A

compartimentação das ciências, do conhecimento e das atividades

produtivas (taylorismo e linha de montagem fordista, segundo DE MASI [1999a:

155], “a mais refinada aparelhagem industrial de envolvimento e de controle,

que conquistou as fábricas e oficinas, contagiou escritórios e cidades”) chegam

ao seu ponto máximo nesta década da especialização e do pesquisador

isolado (small science). Em contrapartida, os anos 60 são marcados pelo

conflito entre a opulência da sociedade de massa e os movimentos de contra-

cultura, prenunciando o esgotamento da Era de Ouro capitalista e o surgimento

de um novo modelo de sociedade. Diversas manifestações de contestação

social e cultural – explosão do rock’n’roll, talvez a primeira manifestação cultural

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global, movimento hyppie, arte pop, arquitetura pós-modernista, etc –

explicitam a ruptura do sistema de crenças dominante. A dificuldade de

interpretar a complexidade dos problemas sociais e culturais incentiva a

formação de grupos interdisciplinares de pesquisa, configurando o modelo do

trabalho em equipe (big science) que viria a se consolidar nas décadas

seguintes.

(c) Era de Decomposição, Incerteza, Crise [e de Catástrofe para a África, a ex-

URSS e a Europa Socialista] – com o “divisor tecnológico dos anos 70” (CASTELLS

1999a) o mundo entra na “num futuro desconhecido e problemático, mas não

necessariamente apocalíptico” (HOBSBAUWM 1995: 16). A Era da Catástrofe é

originária do colapso da civilização ocidental do Século XIX: “uma civilização

capitalista na economia; liberal na estrutura legal e constitucional; burguesa na

imagem de sua classe hegemônica característica; exultante com o avanço da

ciência, do conhecimento e da educação e também com o progresso material

e moral.” (HOBSBAWM 1995: 16) Os movimentos feminista e ecológico

proporcionam o arcabouço teórico que consolida as visões alternativas de

mundo surgidas nos anos 60 (CAPRA 1991) e importantes trabalhos científicos

rompem a fragmentação das disciplinas acadêmicas, trazendo novos

elementos para o entendimento das relações homem-ambiente. Ao mesmo

tempo em que as barreiras ideológicas são transpostas, o mundo assiste à

afirmação da hegemonia dos Estados Unidos nos planos geoeconômico e

geopolitico, modificando a hierarquia das relações internacionais (FIORI 1997).

Os grandes investimentos tecnológicos na infra-estrutura de comunicações e

informação propiciam que a globalização financeira seja o carro chefe das

transformações capitalistas (FIORI 1997). A regulamentação dos mercados e a

globalização do capital aceleram o comércio mundial e a integração global

dos mercados financeiros (CASTELLS 1999a), especialmente de empresas de

alta tecnologia e da área econômica, com grande lucratividade do capital.

Para DE MASI (1999a), este processo desnuda as falhas dos sistemas comunista

– que “demonstrou saber distribuir a riqueza mas não saber produzi-la” – e

capitalista – que “demonstrou saber produzi-la mas não distribuí-la” – e contribui

para configurar uma crise econômica e política de longo prazo e de

abrangência planetária que culmina com o colapso da URSS: “desemprego em

massa, depressões cíclicas severas, contraposição cada vez mais espetacular

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de mendigos sem teto a luxo abundante, em meio a rendas ilimitadas de Estado

e despesas ilimitadas de Estado.” (HOBSBAUWM 1995: 19) As conseqüências da

crise são: desestruturação e desestabilização do sistema de relações

internacionais, fragilização dos sistemas políticos que se apoiavam nesta

estabilidade, esfacelamento dos Estados-Nação marcados pelo conflito das

forças de uma “economia supranacional” (globalismo) com as forças de

regiões e grupos étnicos separatistas (localismo), e a consolidação da

hegemonia global norte-americana ou “dominação consentida” (TAVARES &

MELIN 1997). Em À espera dos escravos globais Robert KURZ explicita os efeitos

desta crise planetaria, à exceção dos EUA, cuja economia e poder têm sido

muito beneficiados.41

Juntamente com o “triunfo da sociedade industrial”, DE MASI (1999a) aponta

três novos fenômenos que contribuem para agravar a sensação de “crise”

decorrente da inadequação de uma visão de mundo condicionada por

categorias sociais e mentais de interpretação obsoletas para compreender a

passagem de um modelo de sociedade [industrial] para outro [pós-industrial]:

(a) tendência crescente dos países industrializados prescindirem do regime

político42; (b) crescimento das classes médias no nível social e na afirmação da

‘tecnoestrutura’ (GALBRAITH) no nível empresarial; (c) disseminação do

consumo e da sociedade de massa. Este sentimento é reforçado pela

diversidade de rótulos utilizados para caracterizar o período atual: pós-

41 Cf. KURZ (1999), “tal como as diversas sociedades foram inseridas com um "descompasso"

histórico no moderno sistema produtor de mercadorias, assim também o grau e a extensão da

crise apresentam-se com o respectivo descompasso, de modo que a periferia relativamente

subdesenvolvida, ao contrário da perspectiva de Marx para o século 19, prefigura o futuro dos

centros capitalistas desenvolvidos. Todo o Terceiro Mundo, mas também grande parte do sul da

Europa, é ameaçado por uma constante ruína do desenvolvimento econômico nacional, que já

ocorreu em diversos países: a moeda nacional entra em colapso e torna-se moeda de indigentes;

o estoque de capital converte-se irremediavelmente em "indústrias fantasmas" não rentáveis, que

atrasam ou não pagam salários; a infra-estrutura reduz-se a frangalhos, água e energia só fluem

esporadicamente, interrompe-se o serviço de coleta de lixo, os órgãos públicos de saúde fecham

as portas, seguindo o exemplo dos correios. O Estado retira-se de cena, e o que resta de sua

política econômica é gerido pelo FMI.”

42 Cf. SOMBART, a pouca diferença entre capitalismo estabilizado e regulado e socialismo

tecnicizado e racionalizado reduz a importância se a economia do futuro será capitalista ou

socialista: o que importa é que em ambos, o trabalho e a economia se baseiam no processo de

despersonalização. (in DE MASI 1999a)

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capitalista, pós-modernidade, pós-industrial, fim da modernidade, fim da

história, revolução informacional, era da informação e sociedade da

informação-globalizada, entre outras. Por seu contraponto com o período

anterior (Industrial), utilizarei a designação Pós-Industrial uma vez que

“parece até legítimo levantar a hipótese de que a sociedade pós-industrial,

diferentemente das sociedades precedentes (que exploraram sucessivamente a

caça, a criação, a agricultura, o mercado, a indústria), não se apoiará mais

sobre um setor único, centralizado, mas sobre uma pequena rede de setores e

fatores no mesmo nível de importância (a informação, a ciência, os serviços, a

própria indústria etc.). Por conseqüência, não estamos nem em condições de

dar um nome preciso a essa mudança de época, de que, entretanto,

percebemos o imenso alcance. [...] É por isso que eu prefiro usar ainda o termo

“pós-industrial”: um nome que não ousa dizer o que seremos, mas se limita a

recordar o que já não somos.” (DE MASI 199a: 169)

Revolução Pós-Industrial:

Embora as origens da Revolução Pós-Industrial remontem à invenção do transistor, do circuito

integrado e dos semicondutores, é a “revolução” do microprocessador e dos

microcomputadores que, associada com o avanço dos sistemas de telecomunicações,

revoluciona a “revolução”.

A velocidade de difusão da informação coloca em questão “os modos de pensar, os esquemas

mentais, as tradições, a cultura ideal e social de milhões e milhões de leitores, ouvintes de

rádio, telespectadores e navegadores em rede.” (DE MASI 1999a: 168) As tecnologias da

informação estruturadas em redes viabilizam um novo paradigma sociotécnico, da tecnologia

da informação, ou a “transferência de uma tecnologia baseada principalmente em insumos

baratos de energia para uma outra que se baseia predominantemente em insumos baratos de

informação derivados do avanço da tecnologia em microeletrônica e telecomunicações.”

(Christopher FREEMAN in CASTELLS 1999a: 77)

CASTELLS (1999a) aponta os principais aspectos deste novo paradigma: (1) sua

matéria prima é a informação ou as tecnologias para agir sobre a informação;

(2) a penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias que moldam os

processos de nossa existência individual e coletiva; (3) a lógica de redes

presente em qualquer sistema ou conjunto de relações; (4) a flexibilidade ou

capacidade de reconfiguração de processos, organizações e instituições; (5) a

convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado

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englobando a microeletrônica, as telecomunicações, a optoeletrônica e os

computadores, além da biologia, cuja lógica vem sendo progressivamente

introduzida nas máquinas.

DE MASI (1999a) caracteriza os efeitos do processo de “globalização” como:

(1) Grande dificuldade de situar os novos relacionamentos sociais no tempo e no espaço;

consome-se informações, objetos e imagens pensados e produzidos sabe-se lá por quem, onde

e quando e emergem duas classes sociais opostas [quem desfruta/produz e quem é

desfrutado/consome].

(2) Se, na sociedade industrial os problemas precediam as soluções, na sociedade pós-

industrial o computador possibilita infinitas respostas a infinitas perguntas, possibilitando a

passagem da descoberta à invenção, da busca de soluções à busca de questões. Segundo

Zsuzsa HEGEDUS (in DE MASI 1999a), a ciência passa a se valer da “mercadoria” informação e

se modela por um método que passa a formular problemas e objetivos de solução sem se

deixar enredar por seus vínculos.

(3) O futuro passa de produto natural a problema social43: se na sociedade industrial os

trabalhadores lutavam por aumentos salariais, hoje eles precisam apropriar-se do saber e

“intervir ... lá onde, por exemplo, se escolhe se e como produzir mais bactérias para fins

bélicos ou mais proteínas com fins alimentares.” (in DE MASI 1999a: 197).

A variedade de possibilidades e a complexidade dessa nova realidade social

que desestrutura e fragmenta “os lugares, os tempos da produção, do consumo

e do conflito” (DE MASI 1999a: 198), demanda um novo modelo de produção

industrial que se caracteriza pela precedência da invenção e da decisão

estratégica e pela nova geografia, que possibilita que a invenção, a decisão, a

produção e o consumo ocorram em diferentes lugares. O novo modelo de

produção industrial – que se aplica à produção das cidades e dos edifícios –

requer quatro etapas:

(1) Invenção – “grupos de saber” espalhados pelo mundo produzem e

desenvolvem idéias, descobertas e invenções; eles não decidem o que fazer

com as novidades, mas podem influenciar as decisões de quem decide.

43 Cf HEGEDUS (in DE MASI 1999a: 197), se quisermos prever se no futuro haverá alimento suficiente,

não é preciso saber o que está acontecendo nas plantações, mas o que preparam os laboratórios

de Stanford ou MIT.

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(2) Decisão – “grupos de decisão” também espalhados pelo mundo, decidem

quais e como as novas idéias, descobertas e invenções devem ser

aproveitadas; eles detêm o poder, mas dependem do conhecimento de quem

detêm o saber.

(3) Produção – tomada a decisão, inicia-se a produção propriamente dita, que

pode acontecer locais diferentes dos das duas fases anteriores.

(4) Consumo – pronto o produto, inicia-se sua distribuição, venda e consumo.

Este modelo de produção viabiliza uma nova divisão internacional do trabalho:

“existem países que detêm a primazia da pesquisa, outros que não tem

propriedades de patente mas têm os meios de produção e outros ainda que

são forçados ao papel de consumidores dos produtos e das idéias alheias” (DE

MASI 1999a: 200).44 Na sociedade pós-industrial tudo é programado com

antecedência: “quando experimentamos as conseqüências das decisões

tomadas pelos fortes, já é muito tarde para impedi-las.” (DE MASI 1999a: 201)

As TABELAS 2 e 3 ilustram as diferenças entre as duas sociedades:

TABELA 2. Relação Entre Empresa e Mercado

Sociedade Industrial

[organizações product oriented]

Sociedade Pós-Industrial

[organizações market oriented]

marketing centrado na produção X

marketing centrado no mercado

indústria produz bens, serviços que são impostos à sociedade que, por isso, se chama “industrial”

X

mulheres, jovens, marginalizados,

artistas, cientistas e imigrantes também

produzem idéias negócio é o sistema mais dinâmico/moderno,

cientificamente mais sofisticado [pensar novos

produtos para depois impô-los ao mercado virgem do

consumismo, mas ávido de bens industriais]

X

negócio - apenas um dos muitos sistemas novos

[modelos de vida e valores] que operam na

sociedade, nem sempre o mais moderno ou

dinâmico

a oferta dos bens, embora crescente, é inadequada à

demanda X

relações empresa e sociedade são invertidas -

sociedade elabora suas necessidades, valores

emergentes e demandas latentes

baseada na execução, na imposição, na fiscalização, na repetitividade

X

baseada na

escuta/motivação/compromisso

[cientistas antes, e negócio depois,

devem saber escolher/decodificar

44 Cf. CASTELLS (1999a: 123), este sistema econômico global caracteriza-se por sua interdependência, assimetria,

regionalização, crescente diversificação dentro de cada região, inclusão seletiva, segmentação excludente e, em

conseqüência de todos esses fatores, por uma geometria extraordinariamente variável que tende a desintegrar a

geografia econômica e histórica.

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oportunamente sinais, inspirando idéias,

bens e serviços a produzir] Fonte: DE MASI (1999a)

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TABELA 3. Valores das sociedades industrial e pós-industrial

Valores da Sociedade Industrial Valores Emergentes na Sociedade

Pós-Industrial

Pensamento Cartesiano Reducionista X Pensamento Sistêmico Complexo

racionalidade - subjetividade, estética e

emoção são considerados desvalores X

criatividade - síntese das esferas racional e

emotiva; organização criativa reabilita

esfera emotiva substância e funcionalidade:

fundamentais, em detrimento do valor

estético

X valor estético - formas, cores, sons e boas

maneiras, tão importantes quanto

substância e funcionalidade

padronização da coletividade: exalta

afinidades, reduz diferenças; parecer,

falar, vestir, agir como os outros

X subjetividade - necessidade de afirmar a

subjetividade, individualidade,

particularidades, diferenças dos outros

estandartização de produtos, processos,

sistemas de distribuição, preços e gostos X customização de produtos, processos,

sistemas de distribuição, preços e gostos

especialização e parcelização das tarefas:

operadores “autômatos” nas linhas de

montagem nas fábricas e nos escritórios

X

intelectualização da atividade humana:

tudo se faz com o cérebro e requer

inteligência, criatividade, preparação

cultura quantidade, eficiência e produtividade X qualidade, confiabilidade e precisão

emprego X empregabilidade

vida - posicionamento de sacrifício,

fatalista, expiatório, calvinista X vida - qualidade de vida em contraponto

com o posi-cionamento de sacrifício

capacidade de execução X confiança e ética

privilegia a prática e o material X privilegia o conhecimento

concorrência, dominação X cooperação, parceria

organização monolítica: informação e poder

centralizados; hierarquia rígida (pirâmide) X organização fluida, horizontal, flexível,

adaptável

estruturação do trabalho e do lazer: sincronização

de tempos de trabalho; horários rígidos, trabalho

regular, férias coletivas X

desestruturação do trabalho e lazer - horários flexíveis,

trabalho temporário, férias personalizadas, trabalho

em parceria

realidade - associa relações com pessoas e objetos

com a presença física X virtualidade - dissocia cada vez mais relações com

pessoas e objetos da presença física

sincronia X assincronia

gigantismo da economia de escala: fábrica e

escritório, unidades fechadas de tempo/lugar;

amontoa trabalhadores em grandes oficinas X

progressivo esvaziamento dos locais de trabalho -

trabalhadores dispersos em unidades menores e

distantes

nacionalismo, racismo, elitismo X globalização - crescente familiaridade com o mundo

inteiro, assumido como nossa vizinhança

Fonte: DE MASI (1999a), CASTELLS (1999a), TOFLER (1995)

Globalização:

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O discurso das elites mundiais sobre a globalização e suas diferentes dimensões, formas ou

mitos apresenta algumas limitações, a começar pela crença de que a globalização [econômica]

é um fenômeno recente: entendida como uma tendência humana de “explorar”, “colonizar” e

controlar o planeta, ela remonta aos primórdios da civilização.

Outro aspecto importante é apresentado por CASTELLS (1999a), que diferencia economia

mundial – avanço mundial da acumulação do capital – de economia global ou economia

informacional global 45 – que funciona como “uma unidade em tempo real, em escala

planetária”, favorecida pelas novas tecnologias que “permitem que o capital seja transportado

de um lado para o outro entre economias em curtíssimo prazo.” (CASTELLS 1999a: 111) O

autor aponta alguns limites a transpor para que a economia internacional possa ser

considerada global: (1) parte significativa da economia internacional ainda não é global; (2) a

tendência de ignorar “a persistência do Estado-nação e o importantíssimo papel do governo na

definição da estrutura e da dinâmica da nova economia” (CASTELLS 1999a: 110). Em função da

concorrência econômica, as fronteiras e separações entre as principais regiões econômicas

devem continuar a co-existir como uma rede global “hierárquica e assimetricamente

interdependente em torno do triângulo ‘riqueza, poder e tecnologia” (CASTELLS 1999a: 118),

onde países e regiões buscam atrair capital, profissionais especializados e tecnologia.

A globalização é um processo resultante de ações humanas com uma

pluralidade de abordagens cujos significados nem sempre são claramente

delimitados, ou são erroneamente generalizados apenas em suas dimensões

tecnológica e/ou financeira (REBOUÇAS 1998). A confusão e a falta de

coerência das três idéias mais presentes no conceito impreciso de globalização

produzem alguns mitos que precisam ser desmascarados (MICKLETHWAIT &

WOOLDRIDGE 1998): (1) os mesmos produtos podem ser vendidos em qualquer

lugar da mesma forma está completamente desacreditada; (2) o triunfo das

empresas globais, uma vez que existem poucas marcas realmente globais,

como Coca Cola, McDonald’s e Malboro; e (3) que a geografia não é

importante, uma vez que os produtos globais mudam de significado em Pequim

(“status”), Paris ou em New York.

45 Segundo CASTELLS (1999a: 160), “a mais nova divisão internacional do trabalho, que ocorre

entre agentes econômicos dispostos em torno de uma estrutura global de redes e fluxos está

disposta em quatro posições diferentes na economia informacional/global: (a) produtores de alto

valor com base no trabalho informacional; (b) produtores de grande volume baseado no trabalho

de mais baixo custo; (c) produtores de matérias-primas que se baseiam em recursos naturais; e

(d) produtores redundantes, reduzidos ao trabalho desvalorizado.

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Uma vez desmascarados os três mitos, e considerando os princípios de

“redistribuição”, “heterarquia”, “complementaridade”, “interconexão” e

“indeterminação” (HENDERSON 1995: 264) é possível romper com a tendência

de disseminar uma arquitetura globalizada e aplicar novas estratégias “sociais”,

complexas” e “auto-sustentáveis” na produção do ambiente construído com

reflexos nas relações homem X homem e homem X ambiente.

Na seção seguinte, analisarei as conseqüências provocadas por estas transformações no

processo do trabalho.

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2.2 Trabalho e Economia na Era Pós-Industrial:

“O aspecto mais aterrorizador sobre o “futuro do trabalho” pode ser

simplesmente o quanto familiar ele será”.

MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE (1998: 181)

“A reestruturação de empresas e organizações, possibilitada pela

tecnologia da informação e estimulada pela concorrência global, está

introduzindo uma transformação fundamental: a individualização do

trabalho no processo de trabalho. Estamos testemunhando o reverso da

tendência histórica da assalariação do trabalho e socialização da

produção que foi a característica predominante da era industrial. A nova

organização social e econômica baseada nas tecnologias da informação

visa a administração descentralizadora, trabalho individualizante e

mercados personalizados e com isso segmenta o trabalho e fragmenta as

sociedades.”

MANUEL CASTELLS (1999A: 285-286)

“À medida que essas máquinas [computador e robô] absorvem o trabalho

repetitivo de mera execução (seja ele físico ou intelectual), aos

trabalhadores resta o monopólio do trabalho criativo, que empenha o

cérebro mais do que os músculos e que, por sua natureza, não encontra

pausa no tempo e é perfeitamente conciliável com a desestruturação do

tempo e do espaço de trabalho.”

DOMENICO DE MASI (1999: 224)

As transformações que a tecnologia e a competição provocaram no mundo

do trabalho tornam cada dia mais real o argumento de Charles HANDY: “o

trabalho é algo que se faz, em vez de um lugar para onde se vai” (MICKLETHWAIT

& WOOLDRIDGE 1998: 163). Para adaptar-se às imprevisibilidade e rapidez das

transformações econômicas e tecnológicas que desarticulam o tempo –

segundo DE MASI (1999a: 168) hoje ainda convivem “modelos de vida rural,

industrial e pós-industrial” – e o lugar do trabalho, as grandes empresas

monolíticas, verticais e hierárquicas, mudam seu modelo de gestão, tornam-se

horizontais46, deixam de ser autônomas e auto-suficientes e articulam-se em

redes globais. As organizações e empresas tornam-se complexos

conglomerados de atividades aparentemente incongruentes. Segundo

46 CASTELLS (1999a) aponta sete tendências apresentadas pela empresa horizontal: (1)

organização em torno do processo, não da tarefa; (2) hierarquia horizontal; (3) gerenciamento

em equipe; (4) medida do desempenho pela satisfação do cliente; (5) recompensa com base no

desempenho da equipe; (6) maximização dos contatos com fornecedores e clientes; (7)

informação, treinamento e retreinamento de funcionários em todos os níveis.

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CASTELLS (1999a), existem seis tendências dominantes na evolução

organizacional com influência no processo do trabalho:

(1) T

ransição da produção em massa para a produção flexível, ou do “fordismo” ao

“pós-fordismo”, viabilizada pelas novas tecnologias, que permitem transformar

as grandes linhas de montagem em unidades de produção de fácil

programação, para atender às variações do mercado (flexibilidade do

produto) e as transformações (flexibilidade de processos).

(2) Crise do modelo de integração vertical e de divisão técnica e social do

trabalho das empresas de grande porte e a flexibilidade das pequenas e

médias empresas como agentes de inovação e fontes de criação de empregos

e de ganhos de produtividade e eficiência, favorecendo a produção

personalizada.

(3) Valorização dos novos métodos de gerenciamento do processo de trabalho,

que substituem os trabalhadores profissionais especializados por especialistas

multifuncionais, que compartilham seus conhecimentos no chão de fábrica.

(4) Flexibilidade organizacional caracterizada por conexões entre empresas: o

modelo de redes multidirecionais posto em prática por empresas de pequeno

e médio porte.

(5) Modelo de licenciamento e subcontratação de produção sob controle de

uma grande empresa.

(6) Interligação de empresas de grande porte em alianças estratégicas que não

excluem a concorrência em áreas não cobertas pelos acordos, são

particularmente importantes nos setores de alta tecnologia, em função do

aumento dos custos de P&D e do acesso a informações privilegiadas.

As alianças estratégicas formadas pelas empresas de diferentes países

provocam a “destruição criativa” (CASTELS 1999) de diversos segmentos da

economia, afetando de forma desigual empresas, setores, regiões e países. Este

processo foi decisivo na nova configuração do processo do trabalho e dos

valores do sistema de produção. A rapidez na difusão das informações induzem

ao questionamento do pensamento, das idéias, das tradições e da cultura de

milhares de leitores, ouvintes de rádio, telespectadores e internautas. (DE MASI

1999a: 167) Com a desarticulação e diluição da grande empresa monolítica,

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um número crescente de dependentes passam a trabalhar em sua “própria

casa ou em unidades organizativas intermediárias ... [determinando] uma

progressiva desestruturação do espaço produtivo” (DE MASI 1999a: 174). No

limite deste processo, estão as “empresas incorpóreas” de Tom PETERS, que

giram em torno do “poder cerebral inovadoramente reunido, e não do poder

muscular”. (PETERS 1995: 8)

A concorrência coletiva internacional obriga os Estados a direcionarem suas políticas

econômicas, tecnológicas e educacionais para aumentar a competitividade das empresas e a

qualidade dos fatores de produção em seus territórios. (CASTELLS 1999a) A privatização das

empresas estatais de setores estratégicos – energia, telecomunicações, finanças e transportes

– e a desregulamentação dos mercados tornam-se os pré-requisitos para o crescimento

econômico em uma economia globalizada. As novas fontes de competitividade são capacidade

tecnológica, acesso a um mercado afluente integrado, diferencial entre os custos de produção

local e os preços do mercado de destino, e dependência da capacidade política das instituições

nacionais e supranacionais para impulsionar a estratégia de crescimento de países ou regiões

sob sua jurisdição. (CASTELLS 1999a)

O tempo de trabalho se desestrutura e cada vez mais trabalhadores

conseguem “horários flexíveis, trabalho temporário ou interino, distribuição

personalizada das férias, possibilidade de delegar a um parceiro parte do seu

trabalho e assim por diante.” (DE MASI 1999a: 174) Substituem-se os antigos

conceitos de carreira e estabilidade pelo de empregabilidade: diante de uma

carreira instável, individualizada e desenvolvida em torno do esforço criativo, o

indivíduo assume sua auto-realização e auto-desenvolvimento47. Segundo

artigo publicado pela TIME (1993), estamos entrando na “era do funcionário

temporário ou eventual, do consultor ou subcontratado, da força de trabalho

just-in-time, fluida, flexível, descartável. William BRIDGES compara o processo de

trabalho em um mundo sem empregos”48 ao das naves espaciais onde,

47 Cf. MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE (1998: 158), “O futuro é esse: ‘Cada um por si.” Esta mudança

devolve o significado da palavra emprego na era pré-industrial – no século XVIII “emprego”

referia-se a um empreendimento específico, não a um cargo fixo. (BRIDGES in MICKLETHWAIT &

WOOLDRIDGE 1998: 158) 48 Esta visão é contestada por CASTELLS (1999a), DE MASI (1999a) ou MICKLETHWAIT &

WOOLDRIDGE (1998), que consideram que os empregos, em lugar de estarem chegando ao fim,

estão se transformando em um processo onde a defasagem cultural nos impede de perceber e

compreender. Estes autores afirmam que, desde a Revolução Industrial, as máquinas eliminaram

diversos empregos, mas criaram outros, e que o mesmo está ocorrendo com a automação e

informatização do trabalho.

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“embora cada membro da tripulação tenha sua própria especialidade, as

habilidades mais importantes serão as de equipe. (MICKLETHWAIT &

WOOLDRIDGE 1998: 171) Os novos conceitos de empregabilidade e de política

corporativa, a quebra da estabilidade e a reengenharia mudam o foco da

“empresa-família”, valorizam o conhecimento de seus empregados, agora

prestadores de serviços, não mais conformando os verdadeiros “exércitos

corporativos.”49

A perspectiva de individualização do trabalho leva a algumas “teorias” e “receitas” como a de

PETERS (1995): esqueça a lealdade à corporação e experimente a lealdade à sua agenda ou

rede de relações; trabalhar é ser um currículo – todos devem se tornar ou ver-se como

contratantes independentes50. Outra análise curiosa é formulada por HANDY:

“O núcleo de uma empresa ... composto de um pequeno esquadrão de

empreendendores e burocratas, e governado pela regra de adaptação

empresarial do ‘1/2 por 2 ou 3’: metade das pessoas receberão duas vezes

mais para trabalhar três vezes mais. Dois tipos de pessoas tentarão vender

seus serviços a esse grupo. As primeiras serão os ‘alguéns’ gerais (como em

‘alguém pode fazer isso’). As segundas serão as ‘pessoas com portfólio’ –

trabalhadores do conhecimento que tenham montado um portfólio de

habilidades que possam ser vendidas e diversas empresas”. (in

MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998: 160)

A defasagem cultural que faz com que se continue a aplicar a lógica do modelo industrial à

sociedade pós-industrial, que se caracteriza pela “hibridização das várias lógicas organizativas”

(DE MASI 1999a: 183), produz dois efeitos: (1) aprofunda-se a polarização social e econômica

entre elites hegemônicas e massas subalternas, configurando uma sensação de “crise” de

abrangência planetária que submete a periferia relativamente subdesenvolvida a ameaças

constantes, tais como ruína do desenvolvimento econômico nacional, colapso da moeda

nacional e falta de competitividade do sistema produtivo; ou ainda desemprego em massa e

depressões cíclicas, fragilização ou esfacelamento de Nações marcadas pelo conflito entre

49 Os efeitos da política do “cada um por si” no Brasil são explicitados por BARBOSA e

KISCHINHEVSKY (1999), BARBOSA (1999a e 1999b) [ANEXO 02-A].

50 Cf. RIEWOLDT (1997: 10), Richard SENNET compara o ganho global em flexibilidade com a perda

de segurança existencial: "O trabalho já não proporciona ao trabalhador uma identidade estável.

Graças a estas mudanças econômicas, o espaço de trabalho perdeu sua importância e

identidade".

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globalismo e localismo51, e o Estado sai de cena e sua política econômica passa a ser gerida

pelo FMI; ou então, contraposição entre profunda miséria e luxo abundante, e

desestruturação e desestabilização do sistema de relações internacionais.52

(2) Faz proliferar teorias gerenciais e processos de “reengenharia”, “qualidade total”,

“avaliação em 360 graus”, produzidas pelos “gurus empresariais” e sua “bilionária indústria de

seminários, livros vídeos e uma gama de subprodutos” (BLECHER in MICKLETHWAIT &

WOOLDRIDGE 1998: XII) que, além de enriquecer seus autores, têm acelerado o desemprego e

provocado a quebra de empresas pelo mundo afora.

O quadro de estagnação econômica a que estão submetidos diversos países,

entre os quais o Brasil, associado à mecanização e automação progressivas do

trabalho aumenta a polarização entre pobres e ricos em um processo cujo

resultado “mais temível é que – pelo menos por alguns decênios – o

desemprego cresça e, com ele, a violência e a ilegalidade, que fariam pensar

na decomposição da velha sociedade mais do que no nascimento de uma

nova (DE MASI 1999a: 224).

Na verdade, o mundo pós-industrial do trabalho não tem se demonstrado fiel às

suas otimistas teorias liberalizantes. Segundo MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE

(1998: 174), aumenta a probabilidade de os pobres e sem habilidades passarem

a vida pulando de um emprego temporário para outro ou de, até, serem

inteiramente excluídos do mundo do emprego formal; diminui o tempo médio

de férias; aumentam as doenças relacionadas ao trabalho – especialmente LER

(lesões por esforço repetitivo), depressão53, estresse – decorrente do sentimento

de que “não foram as probabilidades que desapareceram, mas sim as

possibilidades” (MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998: 177), especialmente a

possibilidade de ser incorporado ao exército de demitidos que não

51 Para Michael LÖWY (in Cláudio FIGUEIREDO, A idéia de nação na era global, JORNAL DO BRASIL, 23/09/1999 –

Internacional), as diversas manifestações de surtos nacionalistas em plena era de internacionalização, queda de

fronteiras e integração econômica são a resposta a uma situação em que os países se vêem submetidos à uma

mesma lógica econômica, política e social. "As nações procuram compensar este esvaziamento econômico pela

hipertrofia da suas identidades étnicas e culturais". LÖWY identifica duas vertentes nos nacionalismos do fim de

século: "Uma tem caráter emancipador e nela os povos lutam por sua liberdade. Outra tem uma natureza

regressiva: a afirmação se dá pela opressão de outros grupos e nações. E às vezes os dois aspectos estão

inextricavelmente combinados".

52 Os efeitos destas “ameaças” no Brasil são explicitados por BARBOSA e KISCHINHEVSKY (1999) e

(BRAFMAN 1999) [ANEXO 01]. 53 Segundo estudo elaborado pelo MIT, a depressão custa aos EUA U$ 47 bilhões/ano.

(MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998: 175)

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conseguiram um novo emprego, ou então “de que a tecnologia substitua seu

emprego, em vez de facilitá-lo.” (MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998: 177)54.

Para CASTELLS, a nova estrutura ocupacional – que se caracteriza pelo

envolvimento das pessoas em diferentes atividades e a ocupação de novos

cargos na estrutura ocupacional – apresenta marcantes diferenças entre países

e evidencia a valorização dos cargos administrativos, técnicos e profissionais

especializados, a desvalorização dos “cargos de artífices e operadores e

aumento do número de funcionários administrativos e de vendas.” (CASTELLS

1999a: 238) O autor atribui a grande diversidade de empregos existentes no

paradigma da sociedade informacional às diferentes trajetórias de cada

sociedade e à interação entre essas várias trajetórias, e critica o simplismo com

que tem sido tratada a estrutura explicativa do processo de transição histórica

da agricultura para a indústria e depois para serviços, identificando três falhas

fundamentais com reflexos na produção dos edifícios de escritórios: (1) a

suposta homogeneidade entre a transição da agricultura à indústria e da

indústria a serviços, que desconsidera a ambigüidade e a diversidade interna

das atividades rotuladas como “serviços”; (2) não considera a natureza

verdadeiramente revolucionária das novas tecnologias da informação que, ao

permitirem uma conexão direta on-line entre as diferentes atividades de um

mesmo processo de produção, administração e distribuição, relacionam

estruturalmente esferas de trabalho e emprego tradicionalmente separadas; (3)

esquece a diversidade cultural, histórica e institucional das sociedades

avançadas e sua interdependência na economia global.

Em outra observação que se reflete na produção dos edifícios de escritórios,

CASTELLS identifica alguns aspectos básicos comuns característicos ao processo

de transformação do trabalho e do emprego nas sociedades informacionais:

54 Segundo José R. TOLEDO, em Indústria ‘exporta 1,2 mi de empregos (Folha de São Paulo, São

Paulo 08/mar/1999), a indústria brasileira “exportou” cerca de 1,240 milhão de empregos entre

1984 e 1998, “como conseqüência da política de abertura comercial e também da

sobrevalorização da moeda nacional.” Contrariando a tese do governo, de que os ganhos de

produtividade foram os responsáveis pelo número de empregos eliminados pela indústria, na

mesma matéria, o economista Mário POCHMANN, da Unicamp, questiona a tese do governo que

atribui aos ganhos de produtividade a responsabilidade pelo número de empregos eliminados

pela indústria. Segundo POCHMANN, enquanto o número de empregos na indústria brasileira caiu

43% (passou de 4,2 milhões para 2,4 milhões), a produção industrial cresceu somente 2,7%. Para o

economista, os grandes beneficiados foram os países industrializados, que aumentaram suas

vendas para o Brasil. Os artigos de BARBOSA e KISCHINHEVSKY (1999), BARBOSA (1999a, 1999b,

1999c) BRAFMAN (1999) e FRANCO (1999) [ANEXO 02-A], apresentam um quadro do real do

problema brasileiro

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(1) eliminação gradual do emprego rural; (2) declínio estável do emprego

industrial tradicional e nos setores administrativos de baixa qualificação, que

devem ser eliminados pela automação dos escritórios; (3) aumento dos serviços

relacionados à produção e dos serviços sociais (especialmente de saúde); (4)

diversificação das atividades do setor de serviços; (5) rápida elevação do

emprego para administradores, profissionais especializados e técnicos; (6)

formação de proletariado “de escritório”, composto de funcionários

administrativos e de vendas; (7) relativa estabilidade do emprego no comércio

varejista; (8) crescimento simultâneo dos níveis superior e inferior da estrutura

ocupacional; (9) valorização relativa da estrutura ocupacional ao longo do

tempo, com crescente participação das profissões mais qualificadas,

especializadas e de nível de instrução avançado em proporção maior que o

aumento das categorias inferiores.

Entretanto, o processo de transformação do emprego não significa que as

“qualificações especializadas, a educação, as condições financeiras nem o

sistema de estratificação das sociedades em geral tenham melhorado”

(CASTELLS 1999a: 251); seu impacto sobre a estrutura social depende da

capacidade do mercado de incorporar a demanda de trabalho e de valorizar

os trabalhadores segundo seu nível de conhecimento.

Outra interessante observação de CASTELLS com reflexos na produção dos

edifícios de escritórios, é a tendência histórica para a interdependência da

força de trabalho em escala global, que baseia-se em três mecanismos:

emprego global nas empresas multinacionais e em suas redes internacionais

coligadas55, impactos do comércio internacional sobre o emprego e as

condições de trabalho, e influência da concorrência global e do novo método

de gerenciamento flexível sobre a força de trabalho de cada país56. A expansão

da interpenetração das redes de produção e administração através das

fronteiras nivela a força de trabalho em termos de tecnologia e qualificação,

apesar das diferentes condições salariais e de serviços sociais, possibilita amplas

55 Cf. CASTELLS (1999a: 257), “o número de empresas multinacionais aumentou de 7.000 em 1970

para 37.000 em 1993, com 150.000 coligadas em todo o mundo.” 56 Cf. RIEWOLDT (1997: 10), diversas companhias estão re-localizando suas unidades operacionais de alto-custo

para locais mais baratos: American Express, Lufthansa e outras grandes corporações mudaram seus centros de

contas computadorizados para a Índia. O trabalho emigra para os cantos mais distantes do planeta.

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oportunidades para as empresas definirem suas opções estratégias em relação

aos seguintes aspectos (CASTELLS 1999a: 260-261), visíveis no mercado brasileiro:

(1) redução do quadro funcional, mantendo apenas os empregados mais

qualificados e indispensáveis no Norte e importando insumos das áreas de baixo

custo; ou (2) subcontração parcial do trabalho nos estabelecimentos

transnacionais e redes auxiliares cuja produção pode ser absorvida no sistema

da empresa em rede; ou (3) empregar mão-de-obra temporária, trabalhadores

de meio-expediente ou empresas informais como fornecedores no país-sede;

ou (4) automatizar ou relocar aquelas tarefas ou funções de alto custo no

mercado de trabalho em comparação com as fórmulas alternativas; ou ainda

(5) negociar com a força de trabalho condições mais rígidas de trabalho e

pagamento como garantia para a manutenção de seus empregos, revertendo

benefícios sociais até então estabelecidos nos contratos.

Para a organização desta “colcha confusa, tecida pela interação histórica

entre transformação tecnológica, política das relações industriais e ação social

conflituosa” (CASTELLS 1999a: 262) que caracteriza o trabalho na atualidade, o

autor propõe um modelo analítico. Deste modelo, extraí apenas os aspectos

relativos à transformação tecnológica e à divisão do trabalho relevantes para

a produção dos edifícios de escritórios:

(1) Transformação tecnológica – em meio aos acirrados debates sobre os

impactos da mecanização e da automação no trabalho (demissão,

“desespecialização” versus “reespecialização”, produtividade versus

alienação, controle versus autonomia), a principal transformação decorrente

da automação integral é a tendência ao desaparecimento da linha de

montagem taylorista – “que se tornou uma relíquia histórica (embora ainda uma

dura realidade para milhões de trabalhadores do mundo em fase de

industrialização)” (CASTELLS 1999a: 264) – com suas tarefas repetitivas e

programadas, que podem ser executadas por máquinas. Os efeitos das

tecnologias da informação são semelhantes nas fábricas, escritórios e

organizações de serviços: a automação aumenta a importância dos recursos

cognitivos no processo de trabalho e as tecnologias da informação possibilitam

maior liberdade aos trabalhadores que buscam atingir seu pleno potencial

produtivo.

(2) A nova divisão de trabalho – CASTELLS propõe a seguinte tipologia:

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(a) Realização de valor – tarefas reais executadas em determinado processo

de trabalho, dentre as quais se distinguem:

• “tomada de decisão estratégica – pelos dirigentes;

• “inovação em produtos e processo – pelos pesquisadores;

• “adaptação, embalagem e definição dos objetivos da inovação –

pelos projetistas;

• “gerenciamento das relações entre a decisão, o projeto e a execução,

considerando os meios disponíveis para a organização alcançar seus

objetivos – pelos integradores;

• “execução das tarefas sob a própria iniciativa e entendimento – pelos

operadores;

• “execução de tarefas auxiliares, pré-programadas, que não foram ou

não podem ser automatizadas – pelos “dirigidos” ou “robôs humanos”.

(CASTELLS 1999a: 265-266)

(b) Capacidade relacional ou cultivo de relações – relação entre

organização e seu ambiente, permite que se identifiquem três cargos

fundamentais:

• “os trabalhadores ativos na rede – que estabelecem conexões por

iniciativa própria (Por exemplo, engenharia em conjunto com outros

departamentos das empresas) e navegam pelas rotas da empresa em

rede;

• “os trabalhadores passivos na rede – que estão on-line, mas não

decidem quando, como, por que ou com quem;

• “os trabalhadores desconectados – que estão presos a suas tarefas

específicas, definidas por instruções unilaterais não-interativas.

(CASTELLS 1999a: 266)

(c) Capacidade de atuar no processo decisório ou tomada de decisão –

relação entre administradores e empregados em determinada organização

ou rede:

• “os trabalhadores que dão a última palavra, que tomam a decisão em

última instância;

• “os trabalhadores participantes, que estão envolvidos no processo

decisório;

• “os trabalhadores executores, que apenas implantam as decisões.

(CASTELLS 1999a: 266)

Esta seção possibilita três considerações:

(1) Os efeitos da concorrência global no modelo de produção e administração

global equivalem “à integração simultânea do processo de trabalho e à

desintegração da força de trabalho” (CASTELLS 1999a: 261).

(2) Nunca a humanidade esteve tão próxima de libertar-se do jugo do trabalho

mecânico e repetitivo que dispensa o uso do cérebro para dedicar-se

exclusivamente ao trabalho criativo.

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(3) Como a evolução social é bem mais lenta do que a científica e tecnológica,

demora-se em colocar em ação os mecanismos de redistribuição das tarefas [e

da renda], de modo que todos possam trabalhar menos e em melhores

condições de igualdade e possibilidade.

“A prevalência dos interesses econômicos e a manutenção das

estratégias e políticas que garantem a hegemonia dos países do G-7 [FMI,

Banco Mundial], indicam que a redistribuição do trabalho e da renda está

mais próxima da utopia do que da realidade. O mundo deve continuar a

organizar-se como uma “rede hierárquica e assimetricamente

interdependente, conforme países e regiões diferentes competem para

atrair capital, profissionais especializados e tecnologia a suas praias” em

torno do triângulo riqueza, poder e tecnologia.” (CASTELLS 1999a: 118)

Na próxima seção, serão analisados os efeitos das transformações da

sociedade e do trabalho na era pós-industrial no espaço e no tempo.

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2.3 Espaço e Tempo na Sociedade Pós-Industrial – do “real” ao virtual:

“Proponho a hipótese de que o espaço organiza o tempo na sociedade

em rede ... Tanto o espaço quanto o tempo estão sendo transformados

sob o efeito combinado do paradigma da tecnologia de informação e

das formas e processos sociais induzidos pelo processo atual de

transformação histórica.”

Manuel CASTELLS (1999a: 403)

“A combinação de dispersão espacial e integração global criou novo

papel estratégico para as principais cidades. Além de sua longa história

como centros de comércio e atividades bancárias internacionais, essas

cidades agora funcionam em quatro novas formas: primeira, como

pontos de comando altamente concentrados na organização da

economia mundial; segunda, como localizações-chave para empresas

financeiras e de serviços especializados ...; terceira, como locais de

produção, inclusive a produção de inovação nesses importantes setores;

e quarta, como mercados para os produtos e as inovações produzidas”.

Saskia SASSEN (1996: 211) 57

Nas duas seções anteriores analisei as transformações provocadas pela

passagem da Era Industrial para a Era Pós-Industrial e os efeitos produzidos por

estas transformações no mundo do trabalho e na economia. Nesta seção

analisarei as conseqüências das transformações de significado da noção de

espaço e tempo. Inicialmente apresento uma visão panorâmica do problema

para, a seguir, detalhar aqueles aspectos mais diretamente relacionados com

os objetivos deste trabalho: a desestruturação do espaço e do tempo que

possibilita a dispersão espacial e a integração social.

Milton SANTOS58 indica a necessidade de novos conceitos para tratar das novas realidades

geográficas da era pós-industrial, como a mudança de significado da palavra “espaço” – “que

passou a ser utilizada com maior ênfase para caracterizar o espaço sideral interplanetário”

(SANTOS 1997) ou como metáfora, em algumas disciplinas. O autor considera as noções de

meio técnico-científico-informacional, redes e cidade global mais adequados para representar

o atual significado do conceito clássico de “espaço” [geográfico]. A noção de meio, resultante

57 Tradução do autor. 58 in Geografia, caderno Mais!, Folha de São Paulo, São Paulo 13/abr/1997.

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“de uma adaptação sucessiva da face da Terra às necessidades dos homens ... [inicialmente]

isoladas, ao sabor das civilizações emergentes, até chegar ao atual processo de

internacionalização” (SANTOS 1997), que tende a generalizar os mesmos objetos e paisagens

geográficos de modo a torná-los semelhantes nos mais diversos lugares do mundo. Conforme

SANTOS, a globalização

“leva à afirmação de um novo meio geográfico cuja produção é deliberada e que é tanto mais

produtivo quanto for maior o seu conteúdo em ciência, tecnologia e informação. Esse meio

técnico-científico-informacional dá-se em muitos lugares de forma extensa e contínua (Europa,

Estados Unidos, Japão, parte da América Latina), enquanto em outros (África, Ásia, parte da

América latina) apenas pode se manifestar como manchas ou pontos. Cria-se desse modo uma

oposição entre espaços adaptados às exigências das ações econômicas, políticas e culturais

características da globalização e outras áreas não dotadas dessas virtualidades, formando o que,

imaginativamente, podemos chamar de espaços luminosos e espaços opacos.” (SANTOS 1997)59

Estes diversos lugares se relacionam não mais segundo uma divisão territorial em regiões, mas

em um território de redes que, viabilizado pelas novas tecnologias de comunicação, se

superpõe à divisão territorial em regiões.60 Segundo SANTOS, as redes são “realidades

concretas, formadas de pontos interligados que, praticamente, se espalham por todo o

planeta, ainda que com densidade desigual”, e representam a “base da modernidade atual e

condição de realização da economia e da sociedade global ... veículo por onde fluem as

informações”, motor dos “dinamismos hegemônicos” e “quintessência do meio técnico-

científico-informacional”. Sua qualidade e quantidade definem a lógica espacial dominante da

nova hierarquia global dos lugares e regiões neste novo “espaço de fluxos” (CASTELLS 1999a) 61

59 O autor exemplifica este processo no Brasil através do “velho contraste entre o país costeiro e

o país interior e a mais recente oposição antre centro e periferia cedem lugar a uma nova

oposição entre, de um lado, esse meio-técnico-científico-informacional, espaço do artifício,

formado, sobretudo, pelo Sul e pelo Sudeste e, de outro lado, o resto do território nacional.”

(SANTOS 1997) 60 Cf. CASTELLS (1999a: 406), estudo de CAPPELINI sobre a formação de redes de serviços nas

cidades européias mostra a crescente interdependência e complementaridade entre os centros

urbanos de tamanho médio na União Européia: A importância relativa das relações entre cidades

e regiões parece diminuir quando comparada à importância das relações que interligam várias

cidades de regiões e países diferentes ... As novas atividades concentram-se em pólos específicos,

e isso implica um aumento das disparidades entre os pólos urbanos e as respectivas hinterlândias.

61 Cf. CASTELLS (1999a), fluxos são “seqüências intencionais, repetitivas e programáveis de

intercâmbio e interação entre posições fisicamente desarticuladas, mantidas por atores sociais

nas estruturas econômica, política e simbólica da sociedade"; são a expressão dos processos que

dominam nossa vida econômica, política e simbólica, a configuração espacial das práticas

sociais da sociedade em rede e a organização material das práticas sociais de tempo

compartilhado, que funcionam por meio de fluxos – de capital, de informação, de tecnologia, de

interação organizacional, de imagens, sons e símbolos.

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– que, por não ser estrutural, é concebida, decidida e implementada por atores sociais que

exercem as funções direcionais em torno das quais esse espaço é articulado.

Esta hierarquia obedece a dois níveis de complexidade: lugares globais simples

e lugares globais complexos – as metrópoles que, além de combinarem um

grande número de variáveis típicas de nossa época, “guardam numerosos

aspectos herdados de épocas anteriores, em virtude da resistência da

paisagem metropolitana às mudanças gerais” (SANTOS 1997).62 Estes lugares

globais configuram os nós de uma intrincada rede que preside e vigia as

atividades características do mundo globalizado. (SANTOS 1997)

Em relação ao “poder gravitacional” (CASTELLS 1999a) – ou ao papel e posição conferidos na

hierarquia global dos lugares e regiões –, SANTOS (1997) classifica as metrópoles globais em

dois níveis: Metrópoles de Primeira Ordem, “capazes de exercer um papel de comando efetivo

e de regulação sobre o que se faz nas outras cidades e no resto do mundo” [Nova York, Los

Angeles, Tóquio, Londres e Paris], e Metrópoles de Segunda Ordem, cujo papel de comando e

regulação têm uma influência mais restrita e delimitada [São Paulo, Cidade do México,

Johannesburgo e Rio de Janeiro, por sua condição de polo turístico internacional, por sua

vocação para a economia de serviços e por abrigar importantes empresas de

telecomunicações e de petróleo].63

Ao considerar que as cidades globais

“são aquelas que dispõem dos instrumentos de comando da economia e sociedade em escala

mundial, seja na condição de pólo, seja na condição de relé da influência das grandes metrópoles

globais. Mas o exercício da ação hegemônica sobre a face da Terra não é um dado exclusivo das

metrópoles de primeira ordem: sem as outras cidades a economia global não se realizaria” (SANTOS 1997)

o autor evidencia a necessidade de relacionar as futuras demandas por

edifícios de escritórios com sistemas de alta tecnologia de cada cidade global

com o seu papel na hierarquia do novo “espaço de fluxos” – que pode ser

determinada através do MAH-COPPE – , que desestrutura as noções de espaço

e de tempo.

62 Cf. SANTOS (1997), “é um equívoco considerar as metrópoles como se fossem inteiramente modernizadas e globalizadas”. O cosmopolitismo desses lugares complexos é garantido pela manutenção de uma diversidade de origens, idades [e raças], que garantem o enriquecimento da variedade e da multiplicidade, o que inclui a possibilidade de abrigar os mais diversos tipos de capital, trabalho e cultura” ou, segundo DE MASI (1999a: 168), “modelos de vida rural, industrial e pós-industrial.” 63 A matéria Megaespeço, uma tendência nos novos centros empresariais do Rio, publicada no,

O GLOBO, Rio de Janeiro 06/02/2000, caderno Morar Bem, p. 2. reconhece o grande afluxo de

empresas nacionais e multinacionais dos setores de telefonia e petróleo que se instalam no Rio de

Janeiro atraídas pelas privativações.

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A desestruturação do espaço e do tempo

As sociedades contemporâneas, de um modo geral, ainda estão presas ao

conceito do tempo cronológico, essência da modernidade – que “pode ser

concebida como o domínio do tempo cronológico sobre o espaço e a

sociedade” CASTELLS (1999a: 459) – do capitalismo industrial e do estatismo.

Com as novas tecnologias da informação, o capital da sociedade em rede

liberta-se gradualmente das limitações impostas pelo espaço geográfico e pelo

tempo e da cultura do relógio, viabilizando uma nova forma dominante do

tempo social do espaço de fluxos: o tempo intemporal, resultado da negação

do tempo [passado e futuro] nas redes do espaço de fluxos (CASTELLS 1999a).

A “compressão temporal e espacial” (David HARVEY in CASTELLS 1999a: 461)

produzida pela associação entre espaço de fluxos e tempo intemporal

possibilita uma nova forma de dominação social, por inclusão seletiva e

exclusão de funções e pessoas em diferentes estruturas temporais e espaciais.

Este processo de transformação do capitalismo desestrutura e fragmenta os

lugares da produção, do consumo e do conflito, e desarticulam o tempo.

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Espaço de fluxos e espaço de lugares

Mas o espaço de fluxos da sociedade em rede não engloba toda a experiência

humana – segundo CASTELLS (1999a), a maioria das pessoas ainda vive em

lugares e percebe seu espaço com base no lugar, ambiente que se diferencia

por suas qualidades físicas e simbólicas –, mas modifica o significado e a

dinâmica dos lugares.

A tendência predominante é para um horizonte de espaço de fluxos a-histórico

em rede, visando impor sua lógica nos lugares segmentados e espalhados, cada

vez menos relacionados uns com os outros, cada vez menos capazes de

compartilhar códigos culturais. A menos que, deliberadamente, se construam

pontes culturais e físicas entre essas duas formas de espaço, poderemos estar

rumando para a vida em universos paralelos, cujos tempos não conseguem

encontrar-se porque são trabalhados em diferentes dimensões de um

hiperespeço social. (CASTELLS 1999a: 451-452)

Esta observação de CASTELLS fornece a chave para reconhecer que os problemas relacionados

com a produção, o consumo e a avaliação do ambiente construído decorrem de diferentes

visões de mundo ou paradigmas. A dificuldade de diálogo entre os diversos indivíduos ou

grupos sociais envolvidos com a questão, especialmente em relação aos edifícios de escritórios

– pode ser evidenciada pela leitura da carta de MUSA (ANEXO IV) 64. O texto ilustra a difícil

comunicação entre logos e techné que caracteriza o convívio entre a teoria e a prática da

arquitetura65. Ao tentar desqualificar o trabalho daqueles que, mesmo sendo colegas de

profissão, discordam de sua visão de mundo, de profissão e de mercado, a carta evidencia a

inexistência de “pontes de comunicação” entre os “universos paralelos” configurados a partir

de diferentes “visões de mundo” com base em diferentes “códigos culturais” e que são

“trabalhados em diferentes dimensões de um hiperespeço social.” A polêmica subjacente ao

objeto da discussão reforça a necessidade de se considerar a proposta de sistema “unitas

multiplex” de MORIN (1996).

Sociedade em rede

64 Publicada in Arquitetura IAB-RJn° 81. Rio de Janeiro, jun/1998, p. 31. 65 A frase “quem sabe faz, quem não sabe ensina”, ilustra o “campo de batalha” e as armas que

estão em jogo. A tentativa de caracterizar a dicotomia entre teoria e prática presente no discurso

de grande parte dos arquitetos, sejam eles “praticantes” ou “de mercado” – que produzem uma

arquitetura ora intuitiva, “realista” ou pragmática e ora “delirante”, mas em geral concebida a

partir de uma reflexão superficial ou ingênua de mundo – ou “teóricos” – que, de seu “Olimpo

distante”, contemplam com desprezo os simples mortais – somente tem contribuído para piorar a

qualidade da produção da arquitetura brasileira e de sua teoria.

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A morfologia da rede reorganiza as relações de poder, e as conexões [nós ou

pontes] que ligam as redes representam os instrumentos privilegiados do poder.

Assim, os conectores são os detentores do poder: a nova economia está

organizada em torno de redes globais de capital, gerenciamento e informação

cujo acesso a know-how tecnológico é importantíssimo para a produtividade e

competitividade. (CASTELLS 1999a: 498-499)

A topologia definida por redes e nós

“determina que a distância (ou intensidade e freqüência de interação) entre dois

pontos (ou posições sociais) é menor (ou mais freqüente, ou mais intensa) , se

ambos os pontos forem nós de uma rede do que se não pertencerem à mesma

rede. Por sua vez, dentro de determinada rede os fluxos não têm nenhuma

distância, ou a mesma distância, entre os nós. Portanto, a distância (física, social,

econômica, política, cultural) para um determinado ponto ou posição varia entre

zero (para qualquer nó da mesma rede) e infinito (para qualquer ponto externo à

rede).”(CASTELLS 1999a: 498)

A crescente interdependência entre o capital financeiro, o capital industrial e a

alta tecnologia indica o surgimento de algo diferente:

“uma entidade capitalista coletiva sem rosto, formada de fluxos financeiros

operados por redes eletrônicas. Não é apenas a expressão da lógica abstrata do

mercado porque, na realidade, não segue a lei da oferta e da procura: responde

às turbulências e aos movimentos imprevisíveis, de expectativas não-calculáveis

induzidas pela psicologia e sociedade na mesma medida que pelos processos

econômicos. Essa rede das redes de capital ... dependem da lógica capitalista

não humana de um processo de informação aleatório operado eletronicamente.

(CASTELLS 1999a: 501-502)

No espaço de fluxos, as funções dominantes são organizadas em redes próprias

que as interligam em escala global, ao mesmo tempo em que fragmentam

funções e pessoas no espaço de lugares múltiplos em locais cada vez mais

segregados e desconectados entre si. Este processo faz com que muitas pessoas

percebam a sociedade em rede como uma desordem social transcendente,

ou como “uma seqüência automática e aleatória de eventos, derivada da

lógica incontrolável dos mercados, tecnologia, ordem geográfica ou

determinação biológica”. (CASTELLS 1999a: 505)

À luz da tradição sociológica – que entendia a ação social em seu nível mais fundamental como

o padrão em transformação das relações entre a Natureza e a Cultura – CASTELLS sugere que a

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sociedade pós-industrial entrou numa nova era66 onde a “Cultura refere-se à Cultura, tendo

suplantado a Natureza a ponto de a Natureza ser renovada (‘preservada’) artificialmente como

uma forma cultural”. (CASTELLS 1999a: 505)

A nova ordem urbana: cidades globais67

Na sociedade em rede, as cidades globais são a um só tempo: os centros de

dinamismo econômico, tecnológico e social, os centros de inovação cultural e

política; e os nós de conexão aos diversos tipos de redes globais. As cidades

globais concentram o que há de melhor e o que há de pior e se caracterizam

por sua conexão física e social com o globo e por sua desconexão do local que

as torna uma nova forma urbana. Elas ocupam grandes extensões territoriais

marcadas pela descontinuidade de padrões de uso do solo que “alimentam da

população, da riqueza, do poder e dos inovadores de suas hinterlândias”

(CASTELLS 1999a: 435) e seu crescimento [em tamanho e em atratividade] está

diretamente relacionado com seu poder gravitacional em termos de

localização de funções de alto nível e de escolhas pessoais. Elas configuram um

espaço relativamente segregado no mundo ao longo dos nós do espaço de

fluxos: hotéis internacionais e edifícios de escritórios com ambientação

semelhante em todo o planeta, para garantir alguma

“familiaridade com o mundo interior e induzir à abstração do mundo ao redor;

salas VIP de aeroportos, destinados a manter a distância em relação à sociedade

nas vias do espaço de fluxos; acesso móvel, pessoal e on-line às redes de

telecomunicações, de modo que o viajante nunca se perca; e um sistema de

procedimentos de viagem, serviços secretariais e hospitalidade recíproca que

mantém um círculo fechado da elite empresarial por meio do culto de ritos

similares em todos os países. Além disso, há um estilo de vida cada vez mais

homogêneo na elite da informação, que transcende as fronteiras culturais de

todas as sociedades: o uso regular de spas (mesmo em viagens) e a prática de

jogging; a dieta obrigatória de salmão grelhado e salada verde com udon e

sashimi como equivalente funcional japonês; a cor “de camurça clara” da

66 CASTELLS (1999a) caracteriza as anteriores como (1) dominação da Natureza sobre a Cultura

[há milênios] e (2) dominação da Natureza pela Cultura [Revolução Industrial e triunfo da Razão]. 67 CASTELLS (1999a) adota a designação cidade informacional e DE MASI (1999a: 212) adota a

designação [de Javier ECHEVERRÍA] telépolis – “novíssima cidade-mundo em que os cidadãos

interagem virtualmente, a política transforma o privado em público, a economia transforma o

ócio em trabalho e o consumo em produção.” Neste trabalho, adoto a designação cidade

global de Milton SANTOS, por considerá-la mais adequada para tratar da cidade neste mundo

globalizado.

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parede com o objetivo de criar a atmosfera aconchegante do espaço interno; o

ubíquo laptop; a combinação de ternos e roupas esportes; o estilo de vestir

unissex, e assim por diante. Tudo isso são símbolos de uma cultura internacional

cuja identidade não está ligada à nenhuma sociedade específica, mas aos

membros dos círculos empresariais da economia informacional em âmbito cultural

global. (CASTELLS 1999a: 441-442)

Estes monumentos de conexão simbólica são construídos

“nos lugares que constituem os nós de cada rede pelo mundo ... [a arquitetura

afasta-se] da história e cultura de cada sociedade e torna-se refém do novo e

admirável mundo imaginário das possibilidades ilimitadas que embasam a lógica

transmitida pela multimídia: a cultura do surfing eletrônico, como se pudéssemos

reinventar todas as formas em qualquer lugar, apenas sob a condição de

mergulhar na indefinição cultural dos fluxos do poder”. O encerramento da

arquitetura em uma abstração histórica é a fronteira formal do espaço de fluxos.

(CASTELLS 1999a: 442)

Assim como as cidades da era industrial foram afetadas pela fábrica, as cidades

globais da era pós-industrial são afetadas pela desindustrialização, pelo

crescimento quantitativo e por uma profunda transformação qualitativa que as

torna um misto de telépolis – “locais privilegiados da produção e do consumo

intelectuais” (Javier ECHEVERRÍA in DE MASI 1999a: 212) – e cidades

informacionais de CASTELLS – “não é uma forma, mas um processo, um processo

caracterizado pelo predomínio estrutural do espaço de fluxos.” (CASTELLS

1999a: 423). A cidade-global em rede “não tem limites ... não é localizável, não

se caracteriza pelo fato de estar. A sua essência é o fluxo, a circulação, a

velocidade cada vez maior, em mais bairros e na mente do maior número de

pessoas." (DE MASI 1999a: 214-215) Os “lugares” da cidade-global são metáforas

das velhas estruturas urbanas: a praça (telemática) e a auto-estrada

(informática). Ela também é multirracial, multicultural, multilingüística e se

sobrepõe, mas não substitui a vida precedente das metrópoles e a experiência

direta68, transformando “a essência do fenômeno, a sua epistemologia, a sua

semiologia, a sua antropologia, a sua ética e a sua estética”. (DE MASI 1999a:

68 Cf. DE MASI (1999a), a experiência virtual também se diferencia da experiência vivenciada

pessoalmente pelo lado emocional: viver uma guerra ou uma partida de futebol ao vivo é uma

experiência completamente diferente de vivê-las virtualmente através do vídeo e

confortavelmente instalado em uma poltrona. O “clima real” é apenas parcialmente captado

pelas câmeras e pela narrativa de quem as trasnmite.

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215). Na cidade-global, é possível escolher entre o real e o virtual: quem gosta

de futebol, pode ir ao estádio ou ver a partida pela TV; quem gosta de cinema,

pode ver uma fita em seu videocassete ou ir a um cinema; quem gosta de

discutir pode ir até o bar ou acessar uma chat line. (DE MASI 1999a: 216)

A cidade-global representa uma completa ruptura com a nossa experiência de cidade:

“é uma nova prática virtual ... [uma] cidade sem território e sem fronteiras que dilata o âmbito

doméstico até fazer dele um recipiente do mundo; que amplia a cultura de cada um e do seu clã,

confrontando-a e misturando-a com toda a cultura do planeta; que faz de cada indivíduo de

hábitos caseiros um nômade, com a cabeça girando pelo mundo enquanto o corpo permanece

em casa; que substitui as circunscrições comunitárias pelas telecircunscrições das amostragens

estatísticas de propriedade; que prolonga a vida além da morte, permitindo ver e ouvir os

defuntos imortais nas fitas de vídeo ou até utilizar suas feições para fazê-los agir com efeitos

especiais em novas alternativas virtuais.” (DE MASI 1999a: 215-216)

Esta combinação de dispersão espacial com integração global configura um novo conceito de

cidade global que modifica a logística e a produção dos edifícios de escritórios e das indústrias

(especialmente as de alta tecnologia). O espaço passa a ser o suporte material de práticas

sociais de tempo compartilhado e a sociedade passa a ser constituída em torno de fluxos (de

capital, informação, tecnologia, integração organizacional, imagens, sons, símbolos), que são a

expressão dos processos que dominam nossa vida econômica, política e simbólica.

Diferentes reações ao processo de globalização

As considerações sobre as transformações por que vêm passando a sociedade na Era Pós-

Industrial – especialmente aquelas relativas ao ambiente social das cidades-globais e dos

ambientes internos, que se dispersam espacialmente, se integram globalmente e desarticulam

o tempo – tornam imprecisas as noções de um “meio geográfico” cuja complexidade é

diretamente proporcional ao seu conteúdo em ciência, tecnologia e informação: (1)

complexidade das defasagens culturais de diferentes tempos, valores culturais e modelos de

vida aparentemente incongruentes que compartilham ou se articulam em redes globais ou

locais; (2) dificuldade de lidar com níveis crescentes de complexidade cultural e as dúvidas e

ansiedades produz reações de “localismo” ou “desejo de permanecer em uma localidade

delimitada ou retornar a um sentimento de ‘lar’ tornam-se um tema importante”

(FEATHERSTONE 1997: 144) que se manifesta de diversas formas:69

• imersão em uma cultura local – resistência por permanência ou barreira de fluxos culturais;

69 Cf. RIEWOLDT (1997:11), em resposta à crescente exigência por experiências autênticas, o historiador Dieter

HOFFMANN-AXTHELM prevê o surgimento de uma nova urbanidade: "A insubstancialidade das redes eletrônicas

resulta numa ênfase crescente de materialidade, localidade, bordas e limites fixos”.

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• tendência de participação de uma configuração global – lidar com os refugiados da

modernização;

• redescoberta da etnicidade e das culturas regionais – tendência à diversidade regional e

multiculturalismo, uso de máscara de afiliação local;

• viajantes levam sua cultura local consigo – aspectos reconfortantes de sua cultura local

limitam [atitude de reserva] perigos dos encontros interculturais;

• orientação cosmopolita, com afiliação local limitada e de grande mobilidade geográfica e

cultural – circulam entre diversas culturas locais e se comunicam com o mundo inteiro;

• pós-nostálgicos – intelectuais cosmopolitas e intermediários culturais que, em lugar de julgar

as culturas locais em termos de seu progresso em direção a algum ideal derivado da

modernidade, as interpretam para amplas platéias integradas à cultura de consumo.

Esta nova lógica de localização “formada em torno de fluxos da informação ...

que, ao mesmo tempo, reúnem e separam seus componentes territoriais”

(CASTELLS 1999a: 419) transforma as cidades em um “produto social” que pode

ser consolidado ou “inventado” através da decisão estratégica, em função de

sua capacidade de gerar sinergia com base em conhecimentos e informação”

(CASTELLS 1999a: 75). Na sociedade informacional, a hierarquia dos lugares

obedece ao modelo de produção industrial de DE MASI, apresentado na

SEÇÃO 2.1: (a) invenção – “grupos de saber” [marketing, arquitetos,

planejadores] formulam idéias, planos e projetos; (b) decisão – “grupos de

decisão” [investidores e/ou Estado] decidem quais idéias ou projetos podem ser

aproveitadas em que lugares; (c) produção – incorporadores produzem

[constróem]; e (d) consumo – venda ou exploração do negócio. Neste

processo, é possível observar a maioria senão a totalidade dos valores e

relações da sociedade pós-industrial (QUADROS 1 e 2).70

70 Estas questões levantadas por CASTELLS (1999a), DE MASI (1999a), SANTOS (1997) e

FEATHERSTONE (1997) sugerem uma releitura da obra de Kevin LYNCH, especialmente de A Theory

of Good City Form (1981) e What Time is this place? (1972), onde o autor analisa a relação entre

tempo e ambiente físico, e o modo como os símbolos externos se ajustam às imagens e noções

pessoais de tempo – sejam elas individuais ou de determinados grupos sociais.

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2.4 TRANSFORMAÇÕES DO AMBIENTE DE TRABALHO

“O ambiente de trabalho sempre em modificação requer o reexame do seu

propósito, do espaço que ocupa, da tecnologia requerida e da forma de

disposição dos grupos de trabalho. Para o arquiteto, o desafio está em não

ser eclipsado por modelos bem consolidados, mas em estar preparado para

reconsiderar a natureza do trabalho e para repensar as conseqüências

físicas que esta mudança produz em seus princípios. Talvez a expressão física

do ambiente de trabalho seja bem diferente dos estereótipos normalmente

reconhecidos.”

JOHN WORTHINGTON (1997: 7) 71

“O trabalho é algo que se faz, e não um lugar para onde se

vai”

Charles HANDY 72

O início da era pós-industrial foi marcado pela busca desenfreada por inovação tecnológica e

automação, além da intensificação do uso do capital nas sociedades industrializadas cuja

compreensão demanda uma visão mais abrangente da evolução das transformações

produzidas no ambiente de escritório.

O Escritório da Era Industrial:

Em meados do século XIX,

“o ambiente de trabalho era aberto, frio, ruidoso, escuro e fedorento. As pessoas,

normalmente, se sentavam em cadeiras idênticas, utilizavam escrivaninhas

idênticas organizadas em filas idênticas, enquanto faziam trabalho quase

idêntico, indo e vindo. Os chefes tinham escritórios privativos para indicar o seu

“status” e, eventualmente, para ajudar a pensar mais facilmente. Todos no

interior das suas células estavam indubitavelmente agradecidos até mesmo à

atividade ao seu redor, que estimulava seu trabalho rotineiro e monótono. Para

a maioria das pessoas, individualmente, não haviam expectativas. Este tipo de

lugar de trabalho permaneceu assim durante mais de cem anos, e algumas

variações suas existem ainda hoje. (SMITH & KEARNY, 1994: 7)

No início do século XX, inspirados no modelo taylorista de eficiência e controle das fábricas e

na linha de produção fordista, a concepção destes edifícios-fábrica ajusta as dimensões dos

ambientes, de modo a adequá-los à ventilação e iluminação naturais, asseguradas pelas

janelas, todas reguláveis. Os pavimentos são altos e estreitos ou com o núcleo central vazado

e dotado de clarabóia (Fig. 8) Nos anos 20, a atividade de gerência começa a ser sistematizada

71 Tradução do autor. 72 In MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE (1998: 160)

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ao mesmo tempo em que os especialistas em eficiência estudam os procedimentos e rotinas

de trabalho – estudos de tempo e movimento (KLEIN 1982)73. A arquitetura dos edifícios de

escritórios consolida os valores tayloristas da ordem, hierarquia, supervisão e

despersonalização.

Esta situação permanece estável até o fim da

Segunda Guerra, quando surgem os edifícios

corporativos, as primeiras firmas especializadas em

planejamento de escritórios e os componentes

padronizados.74 Os sistemas de calefação, ar

condicionado e de iluminação artificial de grandes

áreas tornam-se economicamente viáveis,

possibilitando a construção de edifícios maiores,

mais largos e com pavimentos mais baixos. Os

ambientes internos passam a receber maior

atenção, e a coordenação modular do projeto e da

construção procura integrar os diversos sistemas:

estrutura, envelope externo, transporte

vertical, divisões internas, mobiliário, iluminação artificial, telefonia e ar condicionado, com o

objetivo de garantir maior flexibilidade e eficiência.

A crença na tecnologia se reflete na arquitetura

International Style (Fig. 9) cuja concepção, dominada

pelo lado da oferta, prioriza os sistemas e equipamentos

prediais aos empregados, além de incorporar e

expressar a hierarquia piramidal das organizações em

seu layout interno: o tamanho dos escritórios, o nível do

pavimento – com a direção sempre no topo75 – e o

mobiliário evidenciam o status de seu ocupante na

73 A rotinização e repetição das atividades de trabalho da linha de produção fordista foi

imortalizada por CHAPLIN no filme Tempos Modernos. 74 Em 1947 a Herman Miller lança a primeira estação de trabalho: uma mesa com formato em “L”. 75 Com relação a esta questão, entre os profissionais da arquitetura, comenta-se uma curiosa

história que dá a dimensão da relação entre hierarquia e layout. O projeto de um edifício

construído no Rio de Janeiro para abrigar duas empresas multinacionais, cuja concepção previa

a divisão vertical do edifício, ficando uma empresa com a metade inferior e a outra com a

superior, permitindo um melhor aproveitamento da área de pavimento, teve de ser reformulado

e dividido na vertical, para atender aos caprichos da direção de uma das empresas, que não

aceitou a possibilidade de ocuparem andares inferiores aos da outra.

Figura 8 – Edifício Larkin (Buffalo,

1920)

Fonte: DUFFY (1997: 20)

Figura 9 – Edifício BNDES/RJ

(Rio de Janeiro, 1974)

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escala hierárquica da organização. O aumento da

eficiência dos sistemas prediais e o desenvolvimento de

materiais acústicos, possibilita o surgimento de

ambientes internos

mais amplos cujos layouts incorporam salas e ambientes desprovidos de janelas para o

exterior, o que permite uma nova forma de exteriorização do status: os executivos ocupam a

periferia, enquanto os funcionários de apoio, os ambientes internos.

Na década de 60, a concepção do edifício-

fábrica taylorista começa a ser modificada com

o surgimento de duas propostas inovadoras.

Na Alemanha, surge o "escritório paisagem"

[Burolandschaft] (Fig. 10), cuja abordagem

para eficiência no desempenho revoluciona o

layout do escritório retilíneo. Os ambientes

passam a ser abertos e organizadas em grupos

ou blocos em função do fluxo de trabalho. Para

facilitar a comunicação baseada no grupo. O

mobiliário e os equipamentos são agrupados

em grandes conjuntos separados por

“caminhos curvilíneos e um sentimento de

paisagem interior” (SMITH & KEARNY, 1994: 7).

Nos Estados Unidos, surge o Action Office

[Herman Miller] (Fig. 11), um kit de

componentes que, respondendo a uma

variedade de tarefas de trabalho de escritório,

reconhecia os conflitos entre privacidade e

comunicação inerentes na organização dos

escritórios. O projeto orientado pelo uso

prioriza a máquina ao homem, reduzido a simples operador.

Outro fator importante na concepção dos escritórios do final da Era Industrial foi

o uso de mainframes para processamento de dados – centralizados em centros

de processamento de dados e operados por especialistas –, que automatiza as

Figura 10 – Burolandschaft (escritório-

paisagem)

Fonte: WORTHINGTON (1997: 28)

Figura 11 – Action Office (Herman Miller

1968)

Fonte: PILE (1984: 20-21)

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tarefas de rotina do trabalho administrativo e “desespecializado”, formando um

sistema rígido e hierárquico de controle dos fluxos de informação.

“Assim, enquanto na base do processo há crescente rotinização (e,

portanto, automação), no nível médio há reintegração de várias tarefas

em uma operação decisória bem-informada, geralmente processada,

avaliada e executada por uma equipe composta de funcionários

administrativos com autonomia cada vez maior para tomadas de

decisão”. (CASTELLS 1999: 269)

O Escritório da Era Pós-Industrial:

Embora o lado da oferta continue a dominar a concepção dos edifícios de escritórios –

predomina a concepção em torre com núcleo central –, começam a surgir conceitos

inovadores que procuram reabilitar a subjetividade, a emoção e a criatividade76. Em

contraposição à idéia dominante de um edifício-abrigo estático, e em resposta às necessidades

emergentes de pequenos grupos de trabalho autônomos e dinâmicos, surge o conceito de

malha estrutural auto-regulada, flexível (Fig. 12). A arquitetura e o projeto

de interiores sofisticam-se e o mobiliário e equipamento

passam a ser utilizados para delimitar os ambientes

internos dos escritórios de planta aberta. Mas os avanços

da concepção do ambiente não se refletem na estrutura

das organizações, ainda fortemente hierarquizada e

departamentalizada, demandando exércitos de

trabalhadores para desempenhar variadas tarefas cada

vez mais especializadas, com a utilização de sofisticados

equipamentos. Com o trabalho mais especializado, as

células abertas do “escritório paisagem”, consideradas

prejudiciais para o desempenho, são substituídas por

cubículos organizados com um layout retilíneo; qualquer

centímetro quadrado

do espaço interno passa a ser aproveitado para assegurar a cada indivíduo um lugar de

trabalho mais definido. Embora os fabricantes de mobiliário e de sistemas em painel tenham

produzido sistemas criativos e flexíveis para satisfazer as mais variadas necessidades

individuais, cada vez mais valorizadas, a “generalidade das normas prevaleceu, e uma nova

76 Especialmente na Alemanha, Países Baixos, Escandinávia e Reino Unido.

Fifura 12 – Centraal Beheer

(Apeldoom, 1970-72)

Fonte: PILE (1984: 60)

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célula de cubículos quase-idênticos surgiu, oferecendo às pessoas um sentido de território e

uma ilusão de privacidade”. (SMITH & KEARNY, 1994: 7)

Mas a descentralização da entrada de dados – informações são colhidas e

registradas o mais próximo possível da fonte – que começa a ser viabilizada à

medida que surgem os primeiros terminais operados fora dos centros de

processamendo de dados, permite eliminar grande parte do trabalho

administrativo mecânico e de rotina e, logo a seguir, “também desaparece a

supervisão de gerentes de nível médio, e os controles e procedimentos de

segurança são padronizados no computador.” (CASTELLS 1999: 269)

Ao longo dos anos 80, as organizações iniciam um processo de reestruturação que consome

bilhões de dólares em informatização, robotização e outras inovações77, com o objetivo de

cortar custos [e mão-de-obra]. Em sua fase inicial, esta “síndrome de automação insensata”

(HENDERSON 1995) que se abate sobre as organizações78 se caracteriza pela simples

superposição das novas tecnologias aos antigos padrões de trabalho. Os resultados

desanimadores e a descoberta de que o trabalho sustentado em tecnologia exige mais uma

“mudança de mentalidade do que de máquinas” (CASTELLS 1999a: 189), obrigam as empresas

a repensarem seus “objetivos e alternativas para maximizar a eficiência e agregar valor aos

empregados.” (WORTHINGTON 1997: 2) O efeito combinado das novas tecnologias79 em

telecomunicações e dos primeiros sistemas dedicados de gerenciamento predial –

inicialmente independentes, mas à medida que evoluem, tornam-se cada vez mais

multifuncionais e operativos – e do desenvolvimento dos

77 Cf. WORTHINGTON (1997), 90% dos recursos para modenização foram investidos na automação dos escritórios e

apenas 10% foram investidos nos trabalhadores produtivos. Cf. PROENÇA e CAULLIRAUX (COPPE/UFRJ 1996, in

Sonia JOIA, Os erros na modernização, JORNAL DO BRASIL, 18/05/1997, Economia), para enfrentar a concorrência

dos importados, a indústria brasileira optou pela compra de pacotes prontos de máquinas, equipamentos e

softwares, em lugar da criação de produtos e processos para ganhar mercados diferenciados. “As empresas

compraram o desempenho embutido nas máquinas, o que não é a rota mais inteligente possível ... A trajetória

brasileira é única no mundo e está inserida não só na abertura acelerada como na valorização do real frente ao

dólar, que barateou o preço dos equipamentos importados. O que se faz hoje é ordenhar as máquinas, ou seja, tirar

o que se pode delas tal e qual o fornecedor previu. O esforço de criação de produtos e processos é mínimo.”

(PROENÇA) Apenas 20% das 286 empresas pesquisadas realizaram esforços de inovação do processo de produção.

Os investimentos foram concentrados no controle da produção (mais de 93%) e da qualidade do produto (quase

70%), mas investiram muito pouco na educação da mão-de-obra no chão-de-fábrica (74% têm apenas o primeiro

grau).

78 Cf. CASTELLS, na década de 80, nos Estados Unidos, “uma tecnologia nova era, com certa

freqüência, considerada dispositivo para economizar mão-de-obra e oportunidade de controlar

os trabalhadores, e não um instrumento de transformação organizacional.” (CASTELLS 1999a: 189) 79 Cf. LAING (1997) e DUFFY (1997), em 1983 a empresa inglesa DEGW inicia o programa ORBIT –

ORganizations, Buildings and Information Technology – que estabelece novos parâmetros para o

projeto dos edifícios incorporando a Tecnologia da Informação e as mudanças na natureza das

organizações nos Estados Unidos e Europa.

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microcomputadores80 induz à formação de redes de

estações de trabalho, e revoluciona o trabalho de

escritório. Os sistemas de escritórios passam a

ser integrados em redes interativas

capazes de processar a informação, a comunicar-

se e a tomar decisões em tempo real. Estes

sistemas interativos de informação formam a base

do escritório automatizado – e dos “escritórios

virtuais”, que permitem a execução à distância de

tarefas (CASTELLS 1999a), ou ainda o “escritório é

onde você está” (STONE & LUCHETTI, 1985) –

aumentando a importância do gerenciamento e

do trabalho profissional nos escritórios, bem como

o reconhecimento das suas variações. (Fig. 13)

“A conexão crucial torna-se, então, aquela entre os profissionais

especializados, que avaliam e decidem as questões mais importantes, e

os funcionários bem-informados, que decidem as operações do dia-a-dia

embasados nos arquivos dos computadores com suas possibilidades de

trabalho em rede. Dessa forma, a terceira fase da automação de

escritórios, em vez de simplesmente racionalizar a tarefa ..., racionaliza o

processo, porque a tecnologia permite a integração da informação

oriunda de muitas fontes diferentes e, uma vez processada, sua

redistribuição a diferentes unidades descentralizadas de execução.

Portanto, em vez de automatizar tarefas separadas (como digitação,

cálculos) o novo sistema racionaliza um procedimento inteiro ... [e] integra

os vários procedimentos pelas linhas de produtos ou mercados

segmentados. Assim, os funcionários são reintegrados funcionalmente em

vez de serem distribuídos organizadamente.” (CASTELLS 1999: 269-270)

A disseminação da tecnologia da informação

permite que o espaço e o tempo do escritório

sejam utilizados de diversas maneiras. Para

80 Cf. DUFFY (1997: 52), no início dos anos 80, com a invenção e a popularização do computador pessoal, os

computadores saíram de suas salas para o próprio escritório.

Figura 13 – O Escritório é onde você está

Fonte: WORTHINGTON (1997: 32)

Figura 14 – Scandinavian Airlines

(Estocolmo, 1988)

Fonte: DUFFY (1997: 39)

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abarcar as necessidades do trabalho isolado ou

interativo, surgem variados padrões de trabalho

– espaço-colméia, espaço-célula, espaço-

recanto e espaço-clube (DUFFY 1997) 81 [TABELA

4 e ANEXO 02-C] –, e o conceito de espaço de

trabalho individual tende a ser substituído pelo

de espaço e equipamento compartilhados.

Mas as mudanças não se restringem ao

ambiente interno e aos padrões de trabalho:

o edifício “arranha-céu” localizado no centro

urbano, gradualmente cede lugar ao edifício

de subúrbio, baixo, espalhado e de alta

tecnologia “arranha-solo”, desenvolvido nos

subúrbios, “despovoado” em relação aos “escritórios fervilhantes de

empregados, funcionários e profissionais ... para se transformar em habitações

cujos inquilinos combinarão atividades de produção, reprodução, estudo e

lazer”. (DE MASI 1999: 216) (Fig. 14)

Os Anos 90 e o fim da tirania da oferta

Os edifícios com suas máquinas “auto-reguláveis” e seus sistemas cada vez mais convergentes

e interativos – que permitem o controle, por estação de trabalho, da temperatura, da

iluminação e do som ambiente – enquanto o computador on-line passa da

condição de ferramenta administrativa e se torna um “meio múltiplo de informação e

comunicação” (RIEWOLDT 1997:8): se na década anterior os computadores saíram de suas

salas para o próprio escritório, agora eles estão espalhando seus cabos por debaixo deles. A

aceleração contínua do ritmo de absorção da tecnologia da informação e a importância

estratégica das redes de informação torna-se cada vez mais evidente e a disseminação dos

telefones móveis, dos laptops e dos modens possibilitam concordar com STONE & LUCHETTI

(1985) e afirmar que “o escritório realmente é onde você está”. A possibilidade de “trabalhar

81 Cf. DUFFY (1997: 61), esquema simplificado teórico para diferenciar os principais aspectos dos

quatro principais padrões de projeto: (1) espaços-colméias, comparado a colônias ocupadas por

atarefadas abelhas trabalhadoras; (2) espaços-células ou celas, lembram as celas dos antigos

conventos e as células de escritório utilizadas pelos hóspedes da Corte em Londres; (3) espaços-

recantos, lugares ocupados e interativos onde é fácil trabalhar informalmente em equipes; (4)

espaços-clube inspirados no tradicional e aristocrático clube de cavalheiros. Segundo DUFFY, esta

separação dificilmente pode ser encontrada no mundo real, uma vez que toda organização, de

qualquer tamanho ou complexidade, pode ser caracterizada por uma mistura em permanente

transformação de todas as quatro.

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com o terminal na própria casa ou em unidades organizativas intermediárias. Isso determina

uma progressiva desestruturação do espaço produtivo. (DE MASI 1999: 174)

TABELA 4: Padrões de Trabalho e de Espaço de Escritório

Espaço-colméia Espaço-célula Espaço-recanto Espaço-clube

Padrão de

trabalho

Trabalho dividido

em partes menores

e desenvolvido

pelo próprio staff

que tem instruções

precisas e pouca

discrição

Trabalho de alto

nível desenvolvido

com

independência

por talentos

individuais

(trabalho e

conhecimento

isolado)

Projeto ou outro

grupo de trabalho

em linha direta ao

tipo e necessidade

de mudança na

proporção de

diferentes

habilidades

interdependentes

Trabalho de alto

nível desenvolvido

com

independência

por indivíduos que

tanto precisam

trabalhar ao em

colaboração e

individual:

processo de

trabalho tende a

ser seguidamente

redesenhado

Ocupação

do espaço

com mais

tempo,

capacidad

e de

compartilh

ar espaço

por mais

tempo

Convencional 9h-

5d, mas tendendo

em direção a turno

de trabalho. Rotina

de horário, pouca

interação e

ocupação

permanente do

espaço oferece

pequena

possibilidade de

compartilhar

espaço usado

exceto em

trabalho em turnos

de 24 horas

Incrivelmente

esparso, dias de

trabalho mais

extensos,

dependendo de

acertos individuais.

Se a ocupação é

mais baixa, existem

oportunidades de

compartilhar

arranjos individuais

(fechados ou

abertos)

Convencional 9h-

5d, tende à maior

variedade de

atividades de

subgrupos.

Oportunidade

para compartilhar

espaço por mais

tempo aumenta

desde que o staff

interativo mais

gostar de ficar

afastado de mesas

ou do próprio

edifício

Complexo,

depende das

necessidades e de

acordos

individuais.

Demanda padrões

de uso de alta

densidade

ocupacional por

longos períodos de

tempo. Ocupação

intermitente de

suportes

compartilhados

utilizados no

arranjo das tarefas

Tipo de

layout do

espaço

Aberto, agrupado

(4 a 6 pessoas),

mínima divisão,

máxima área de

arquivo.

Imposição de

padrões espaciais

simples.

Células de

escritórios

fechadas ou uso

de estações de

trabalho individuais

com divisórias ou

separações altas.

Grupo de espaços

ou salas, área

média para

arquivos.

Ambientes

complexos e

contínuos

incorporam

Diverso, complexo

e manipulável

extensão de

arranjos baseados

em ampla

variedade de

tarefas.

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107

espaços

p/encontros e

trabalho

Uso Simples terminais

mudos ou PCs em

rede.

Variedade de PCs

individuais e ampla

utilização de

notebooks.

PCs e alguns

grupos de

equipamentos

especializados

compartilhados

Variedade de PCs

individuais em rede

e amplo uso de

notebooks

Organiza-

ções

típicas

tele-vendas,

recepção e

processamento de

dados, rotinas

bancárias,

operações

financeiras e

administrativas e

serviços básicos de

informação

contadores,

advogados,

gerentes e

consultores de

pessoal, além de

cientistas em

computação

projeto, processos

de segurança,

algum trabalho

com mídia -

particularmente

rádio e televisão e

publicidade

firmas de criação

como empresas

de

publicidade/mídia,

companhias de

tecnologia da

informação e todo

tipo de consultoria

gerencial

Fonte: DUFFY 1997: 62-66.

Enquanto a teoria das organizações tem sido especialmente rica e inventiva –

especialmente nos Estados Unidos –, a inovação no planejamento dos escritórios

foi relegada a um segundo plano, aumentando o “abismo existente entre a

fertilidade das aspirações gerenciais sem limite e a fechada e estéril realidade

física dos escritórios convencionais”. (DUFFY 1997: 49)

Antigos símbolos de status – espaço individual, mais área de carpete, maior

privacidade, janela com vista para o exterior, etc. – perdem importância ou

significado nos edifícios que devem ser pensados de forma a aumentar o

controle dos usuários e possibilitar rápidas mudanças para atender às

demandas das equipes organizadas em função de projetos. A importância dos

novos horários e padrões de locação, cada vez mais flexíveis, aproxima as

fronteiras entre trabalho e casa. “A lógica do velho centro urbano de negócios

onde cada um obedientemente ocupa seu lugar de longa permanência em

breve não será mais aplicável” (DUFFY 1997: 51) – segundo Franklin BECKER82

“cerca de 70% das pessoas que trabalham em consultoria em administração,

82 Diretor do International Workplace Studies Programa na Cornell University e autor de Workplace:

Creating Environments on Organizations (1981)The Total Workplace (1990), Workplace by Design

(1994).

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vendas e serviço ao cliente normalmente não ficam em suas mesas de

trabalho.” (in MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998: 169)

Para Gerald ROSS, fundador do Change Lab International, “a nova organização

molecular precisa ser construída muito mais em torno de mercados do que de

produtos ou funções.” (DUFFY 1997: 51) Os novos escritórios devem ser

concebidos de modo a acomodar as

“organizações em permanente mudança que, continuamente, precisam

responder ao incremento de um ambiente de negógios instável e imprevisível.

Caminhos estáveis, antiquados, hierárquicos de disposição dos escritórios não

podem lidar facilmente com mudança sem a ajuda de sua administração”.

(DUFFY 1997: 51)

Paradoxalmente, com o avanço do processo de globalização econômica, a

concepção dos edifícios e ambientes de escritórios sofre a influência das

diferenças culturais: nos Estados Unidos e no Reino Unido, superestima-se a

eficiência e a minimização de custos83; no Japão os proprietários procuram

reduzir os custos ocupacionais superlotando seus escritórios; nos países do norte

da Europa – Alemanha, Países Baixos e Escandinávia – a ênfase busca a

eficiência do ambiente interno, como forma de agregar valor ao desempenho

organizacional (DUFFY 1997: 47-48).

O modismo de escritórios abertos, conectados “em rede” tende a privar as

pessoas de um lugar onde possam pensar, levando algumas empresas a

adotarem o uso de bonés ou de

crachás coloridos como forma de sinalizar seu

estado de espírito ou desejo de privacidade. Estas

práticas aparentemente desorientadoras estão

diseminadas nas empresas de alta tecnologia: os

gerentes da Intel, da Microsoft (Fig. 15) e da

Hewlet-Packard (Fig. 16) são forçados a se

acostumarem com a idéia de que são membros

de uma força-tarefa temporária, sem local físico

ou cargo preciso, e não líderes de uma divisão

permanente. O ritmo de trabalho também muda:

83 Cf. MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE (1998: 169), a modificação da relação de pessoa por mesa

de 2:1 para 12:1 possibilitou ao braço inglês da Digital Equipment economizr 3,5 milhões de libras

por ano; ao reorganizar seus imóveis, forçando seus gerentes a compartilhar escritórios, a IBM

economizou U$ 14 bilhões.

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em vez de trabalhar em turnos diários de 8 horas,

“o projeto tende a se desenvolver em um

crescendo de pizza-à-meia-noite, não-dá-tempo-

de-ver-os-filhos, seguido de uma folga quando

termina.” (MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998:

171)

Nos anos 80 Mitchel MOSS (in CASTELLS 1999a)

descobriu que as telecomunicações avançadas e

os grandes investimentos em imóveis de alto valor

imobiliário estavam entre os fatores responsáveis

pela morosidade do processo de relocação de

empresas para longe de Nova York – os grandes

investimentos empresariais em imóveis valiosos

explicam a relutância em mudar-se, porque tal

iniciativa desvaloriza seus ativos fixos. Esta tendência coloca

por terra duas crenças: (1) que as telecomunicações tornariam ubíqua a

localização dos escritórios, “permitindo que empresas transferissem suas sedes

de bairros comerciais centrais caros, congestionados e desagradáveis para

instalações personalizadas em bonitos lugares ao redor do mundo” (CASTELLS

1999: 403-404), e (2) que a comunicação eletrônica domiciliar reduziria a

densidade urbana e a interação tecnologia-sociedade-espaço. Na verdade o

espaço de fluxos aumenta a concentração da economia informacional em

torno das cidades-globais [nós] e o desenvolvimento do tele-trabalho, que não

é uma “conseqüência direta da tecnologia disponível.” (CASTELLS 1999: 404)

Tendências e perspectivas.

Existe muita especulação e controvérsia em relação à configuração dos edifícios e ambientes

de escritório do futuro próximo. E isto se deve, principalmente, à defasagem entre a

inventividade e fertilidade das teorias das organizações e a “esterilidade” do ambiente físico

dos escritórios convencionais, ainda inspirados no edifício-fábrica taylorista. Enquanto

MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE (1998: 181) sugerem que o aspecto mais aterrorizador sobre

o futuro do trabalho “pode ser simplesmente o quanto familiar ele será”, alguns estudiosos se

debruçam sobre o problema do futuro do ambiente de trabalho e formulam algumas idéias e

questionamentos bastante relevantes para este estudo.

Figura 15 – Microsoft

(Seattle, anos 90)

Fonte: DUFFY (1997: 47)

Figura 16 – Hewlet-Packard

(Palo Alto, anos 80)

Fonte: HMRC (1985: 80)

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Francis DUFFY (1997) observa a estreita ligação entre o projeto físico do escritório com a

filosofia organizacional; mudanças de projeto e de orientação estão intimamente interligadas e

delas dependem o sucesso e a sobrevivência do negócio – “o planejamento do projeto de

escritório e o planejamento das estratégias de negócios podem ser integrados com benefício

mútuo” (DUFFY 1997: 67). O autor sugere uma abordagem “integrada e sistemática sobre

estrutura organizacional, processos de trabalho e conseqüências físicas”... [em um processo

que] ... “envolve mudanças no total da população do escritório e nos níveis de interação e de

autonomia dos trabalhadores”. (DUFFY 1997: 67) Ele também ressalta a importância de

analisar a tendência de mudança dos padrões de escritório – passagem do padrão de espaço-

colméia, para padrões que favoreçam o trabalho em grupo (espcáo-recanto), o trabalho

individual mais concentrado (espaço-célula), ou para uma combinação nos processos de

trabalho mais comunicativos e colaborativos e o ambiente (espaço-clube). A seguir, DUFFY

sistematiza um procedimento de planejamento para explorar as direções de mudança e

investigar as linhas de ação projetual com vistas a prever as futuras demandas de espaço de

escritório em diferentes lugares, culturas ou circunstâncias econômicas: (1) identificação das

proporções relativas dos padrões de trabalho e espaço encontrados; (2) avaliar as

conseqüências das mudanças na importância relativa de cada padrão de trabalho e espaço no

interior da organização; (3) identificar a proporção de cada um dos quatro diferentes padrões

de trabalho e espaço; (4) elaborar previsões de demandas para os padrões de trabalho e de

espaço no processo de “transição decorrente da mescla de diferentes tipos de espaço de

escritório”. (DUFFY 1997: 67)

John WORTHINGTON (1997) reporta a um estudo realizado pela DEGW London

Ltd. e Teknibank, que identifica três abordagens projetuais distintas em função

de diferentes percepções ou culturas sobre o valor dos edifícios – (1) a

abordagem alemã, que procura maximizar o valor de uso para a organização;

(2) a abordagem anglo-saxônica, que procura maximizar o valor de troca; (3) e

a abordagem que procura maximizar o valor estético ou tecnológico – para

sugerir que se busque novas soluções que, além de integrarem as três

abordagens, explorem o uso da tecnologia com o objetivo de assegurar

soluções que ampliem as opções dos usuários e que maximizem o seu valor

negocial.

Franklin BECKER e Fritz STEELE (1994) acreditam que uma organização é mais saudável quando

pensada como um sistema integrado total que inclui instalações físicas, informática, políticas

organizacionais, práticas organizacionais, e estilo de administração, e propõem que o

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ambiente de trabalho seja entendido como ferramenta para atingir metas. Críticos do “lugar

de trabalho típico” – que reprime a efetividade organizacional –, introduzem os conceitos de

qualidade do lugar de trabalho e de ecologia organizacional – o ambiente de trabalho pensado

como um sistema que depende da integração de padrões físicos, processos de trabalho,

cultura organizacional e informática para suportar os novos processos negociais, ou seja,

“sobre as escolhas das lideranças das organizações sobre o modo de reunir seus empregados

no espaço e tempo em busca de uma margem competitiva de longo prazo.” (BECKER & STEELE

1994: 12).

Phyl SMITH e Lynn KEARNY (1994) questionam os quatro pressupostos gerais que

fundamentam o planejamento dos ambientes de trabalho: (1) Associam a lacuna no

entendimento da administração sobre as perdas de produtividade decorrentes de projetos que

não se baseiam no desempenho à crença na adaptabilidade infinita das pessoas, ensinadas

desde pequenas a ajustar-se, em lugar de “fazer ondas.” Os autores criticam a falta de atenção

de projetistas de interiores ou arquitetos em relação ao comportamento e desempenho

humanos no trabalho, e o ênfase nos aspectos materiais e operacionais: estrutura, estética,

materiais, produtos, métodos de instalação, de manutenção, e de orçamento. (2) O uso da

estética para demonstrar hierarquia e para motivar as pessoas, confunde imagem e privilégio,

direcionando o desempenho: a tendência de aplicar “diferentes padrões de espaço aos

diferentes níveis de trabalho (local, tamanho, quantidade e qualidade de mobiliário),

desconsiderando as reais necessidades de desempenho” (SMITH & KEARNY, 1994: 9) indica

desconhecimento sobre outras necessidades do trabalho humano. (3) A crença de que as

necessidades das pessoas custam mais do que o que elas valem84 que fundamenta a

concepção do ambiente de trabalho com foco na tarefa. Esta concepção dominante

desconsidera os valores humanos, sublinha a convicção em adaptabilidade humana que

ignora a possibilidade de mudar o trabalho, o equipamento, o mobiliário e os ambientes, que

pressupõe a mudança do corpo humano e de suas necessidades de desempenho (SMITH &

KEARNY, 1994: 9) e que produz lugares genéricos de trabalho “auto-ajustáveis-a-pessoas-de-

qualquer-tamanho.” Esta prática demanda menor quantidade de dados, e requer um

projetista com menos habilidade. Em contrapartida, ambientes de trabalho projetados com

84 Fundamentados em BRILL (1985), os autores afirmam que “em geral, os custos de pessoas são muito maiores do

que o valor do escritório: 13 a 1 para os escritórios construídos; 5 a 1 para escritórios arrendados.” (SMITH &

KEARNY, 1994: 9) Com base nestes valores, os autores questionam os motivos pelos quais os custos humanos têm

sido pouco considerados no planejando ambientes de trabalho. Cláudia ANDRADE (in CAPOZZI 1996: 9) e MOLESKI

(1986, in SMITH & KEARNY, 1994: 9) observam que em um período de dez-anos, do custo total necessário para

realizar a missão de uma organização, mais de 90% são gastos com pessoal, 7% são gastos com a operação do

edifício, e MOLESKI complementa que apenas 2% são gastos com construção/compra e equipamento do escritório.

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base no homem – foco no desempenho – exigem a inversão do processo projetual. A

possibilidade de cada indivíduo modificar seu ambiente e equipamento para torná-lo mais

confortável e interativo com o desempenho de suas tarefas passa a ser determinante do

projeto, e requer um projetista com mais habilidades analíticas e prescritivas. A predominância

da concepção do espaço de trabalho baseado na tarefa em relação à concepção baseada no

desempenho humano também se deve ao fato da primeira desconsiderar a instabilidade dos

altos custos contínuos provocados pelo desconforto ou descontentamento das pessoas

(recrutamento, contratação, treinamento, pagamento e demissão dos empregados) e valorizar

os custos mais estáveis de manter um edifício. (SMITH & KEARNY, 1994: 9)

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2.5 Repensando os Edifícios de Escritórios

“A maioria dos trabalhadores não precisa da pesquisa para lhes dizer aquilo

que eles bem sabem. Eles sabem como o seu ambiente de trabalho está

conseguindo atrapalhar seu caminho e interferir no seu desempenho, mas

lhes falta o poder e a corajem para mudar isto.”

Phyl SMITH & Lynn KEARNY (1994: 8) 85

Nesta seção, mesmo reconhecendo dificuldade de explicar um mundo incerto

e subjetivo a ser contemplado, experimentado e criado continuamente no

próprio processo de viver (MATURANA & VARELA), procurarei traçar um

panorama da produção dos edifícios de escritórios na era pós-industrial. Como

nenhuma forma de conhecimento é, em si mesma, racional, o panorama

procura contemplar um conjunto de diversas visões: a da “planície da batalha”

dos “arquitetos estabelecidos e ativos”, a “masoquista”, a “de louvação” da

crítica, ou até mesmo a de “um Olimpo

artificial... distante das realidades vivenciadas.”

A mudança das relações entre

empresa e mercado86 e a substituição

do foco na tarefa para o foco no

desempenho (SMITH & KEARNY)

também serão consideradas para a

determinação das diretrizes de oferta

orientadas para atender às futuras

demandas organizacionais – também

consideradas – e que,

esquematicamente, podem ser

representados e classificados segundo

três diferentes cenários:

(1) demanda tradicional, ou

“preservadora”, representada por

85 Tradução do autor. 86 Cf. TABELA 2 da SEÇÃO 2.1, a substituição do foco na produção – os bens são impostos à

sociedade, gerando uma demanda por excesso de oferta – para o foco no mercado – os

produtos passam a ser produzidos a partir das necessidades e valores emergentes da sociedade

e das demandas latentes – inverte as tradicionais relações entre empresa e sociedade do período

industrial.

Figura 17 – Escritório de Advocacia

(São Paulo, anos 90)

Fonte: Casa Vogue (nov/1996: 126)

Figura 18 – Sede da Globo em SP

Fonte: Projeto-Design 229

(mar/1999: 83)

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advogados, psiquiatras, psicólogos,

médicos, artesãos, etc., cujas

demandas são menos dependentes da

inovação tecnológica nos setores de

informações e comunicações, e cujas

práticas, neste sentido, podem ser

consideradas conservadoras; (Fig. 17)

(2) demanda de equilíbrio ou

”revitalizadoras” representada por

organizações que procuram

incorporar múltiplos valores,

imagens e leituras da cultura

organizacional mesclando algumas

demandas tradicionais com outras

inovadoras; (Fig. 18) e

3) demanda inovadora ou

“renovadoras”, de desenvolvimento

mais radical, que tende a

desconsiderar valores e cultura

tradicionais, representadas pelo 4° setor da economia, (Fig. 19)

“intrinsecamente tecnologia-informação-conhecimento intensivos ... suporta e

fomenta os demais setores da economia, desenvolvendo, contudo, uma lógica

própria que não se liga, necessariamente, ao aumento de produtividade mas à

construção do conhecimento como um produto com um valor em si ... Em outras

palavras a transição da propriedade material para a propriedade intelectual”

(REBOUÇAS 1998: 14),

caracterizadas como conhecimento, informação, propriedade intelectual, experiência.

A produção dos edifícios e ambientes de escritórios na era pós-industrial

A transformação provocada pelas novas tecnologias da informação – que desarticula a noção

de espaço e de tempo e provoca o surgimento de uma nova divisão internacional do trabalho

em torno do tripé riqueza, poder e tecnologia – e a nova relação entre empresa e mercado se

refletem de uma forma bastante particular nas futuras demandas por ambiente construído

para o trabalho. Segundo Andrew LAING, as mudanças nas teorias e modelos organizacionais

surgidos a partir de meados dos anos 80 receberam um tratamento cosmético e superficial na

Figura 19 – TDWA Chiat/Day (New York

1996)

Fonte: RIEWOLDT (1997: 32-33)

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concepção tradicional de escritório. Uma análise mais atenta das novas estações de trabalho e

de suas tecnologias, sistemas de iluminação, mobiliário e padrões de uso do espaço revela que

muito pouco mudou em relação aos “pressupostos do núcleo de ocupação do espaço em

tempo integral” (LAING 1997: 26).

Em geral o ambiente de trabalho convencional continua a ser projetado, construído, servido e

ocupado sem que sejam consideradas as características emergentes das novas formas e

padrões de trabalho (LAING 1997): (1) padrões de trabalho altamente móveis e nômades; (2)

uso compartilhado de múltiplos ambientes de trabalho de grupo; (3) ambientes baseados na

diversidade de tarefas; (4) períodos prolongados e irregulares de trabalho; (5) padrões

variados e/ou de alta densidade de uso do espaço; (6) uso mais compartilhado e temporário

do ambiente de escritório, combinado com as diversas modalidades de teletrabalho. Uma

leitura atenta do discurso corrente dos projetistas de edifícios e ambientes

de escritórios evidencia a prevalência dos pressupostos

tayloristas e do paradigma da racionalidade. Persiste a

crença de “que o conhecimento necessário já está sob

controle dos projetistas pela sua virtuosa intuição” (ZEISEL

1981: 4); que um homem ou grupo de homens, seja capaz

de “controlar por completo um edifício e a projetar o que

este vai ser, até o último detalhe, sobre um pedaço de

papel” (ALEXANDER 1979 b: 14). Deste processo resulta

uma visão que dissocia “o espaço físico cultural e natural

do social, como se estas não fossem dimensões

complementares e interdependentes de um ambiente.”

(DEL RIO 1991: 358) A dissociação entre a concepção do

edifício e a atividade interna de seus usuários se acentua

com a disseminação do ‘International Style’ que, além de

desconsiderar a relação entre os edifícios e as atividades

de seus ocupantes, provoca a separação entre projeto do

edifício e projeto de interiores (LAING 1997) (Figs. 20, 21)

Esta tendência de conceber os edifícios como espaços

vazios e flexíveis atinge seu ápice com os arranha-céus

pós-modernos norteamericanos do início dos anos 80 –

modelo “mimetizado” nos edifícios construídos no eixo

Rio-São Paulo –, quando arquitetos e construtores,

Figura 20 - Edifício RB1

(Rio Janeiro, 1986-90)

Figura 21 – Edifício

Metropolitan

(Rio de Janeiro, 1989/94)

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seduzidos pelas possibilidades dos novos sistemas de alta

tecnologia, abdicam “da responsabilidade de decidir para

que vai servir o edifício, como vai ser utilizado e como

será mantido” LAING 1997: 24). Em lugar de rever seus

fundamentos e pressupostos à luz das novas demandas

organizacionais, a concepção dos novos edifícios-fábrica

de escritórios – agora “inteligentes” – passa a investir na

oferta de edifícios abarrotados de novos aparatos

tecnológicos de finalidade ou eficiência social

questionável. (Fig. 22)

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O paradoxo entre oferta e demanda de

edifícios e ambientes de escritório

A predominância dos edifícios International

Style maquiados por fachadas pós-modernas

e recheados de novas tecnologias em meio a

um ambiente em efervescente mudança,

indica a situação paradoxal que caracteriza a

fase de transição representada pelo conflito

entre tradição e inovação. De um lado, a

visão tradicional, representada pelos

fabricantes de sistemas, construtores e

projetistas da corrente pragmática, alinhada

com os interesses do mercado imobiliário e

com as demandas das organizações

tayloristas. Seus adeptos acreditam na

aplicação da lógica das máquinas “às nossas

próprias concepções de sociedade, vida e

homem” (MORIN 1996: 109), e que o

problema do desempenho e da adaptação

dos ambientes de trabalho está na

dificuldade das pessoas adaptarem-se ao

ambiente-fábrica87 (Figs. 23, 24, 25). De outro

lado, a visão inovadora, representada pelas

organizações, alguns projetistas e

pesquisadores engajados em uma reflexão

mais profunda e abrangente do problema.

Seus adeptos reconhecem a possibilidade de

que um edifício ou ambiente

tecnologicamente eficiente possa vir a ser

87 Cf. SMITH & KEARNY (1994: 5-6), os sintomas de interferência do lugar de trabalho freqüentemente são

interpretados como falta de habilidade, falta de conhecimento ou como uma atitude indesejável, incitando os

gerentes a buscarem uma solução no treinamento. Segundo os autores, é pouco provável que um administrador

diga "algo está errado com nossos lugares de trabalho - ajude-nos a solucionar isto. " De um modo geral, as pessoas

estão acostumadas a se adaptarem às disfunções dos lugares de trabalho, que tendem a ser ignoradas enquanto

fontes de problemas de desempenho. Primeiro olha-se para as pessoas para, finalmente, na esperança de resolver

o problema através de treinamento, de recompensas, de ameaças ou até mesmo, da substituição das pessoas.

Figura 24 – Petrona Twin Towers

(Kuala Lumpur, 1991/97)

Fonte: AU73 (ago/set 97: 36)

Figura 23 – Biblioteca Nacional da Françs

(Paris, anos 80/90)

Fonte: Projeto Desingn 199 (ago/96: 35)

Figura 25 – Consórcio Vida

(Santiago do Chile, anos 90)

Fonte: Projeto Design 195 (abr/96: 33)

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“socialmente ineficiente” (HENDERSON in

CAPRA 1991: 223) e acreditam que o

problema está no ambiente de trabalho, que

deve ser repensado para atender às novas

demandas de seus usuários e organizações. O

paradoxo da situação é que enquanto

aumenta a oferta de edifícios-fábrica cada

vez mais sofisticados e dispendiosos (Figs. 26

e 27), também aumenta a demanda de

empresas Inovadoras por ambientes de

trabalho que

possibilitam que seus funcionários administrem as quatro necessidades sugeridas por SMITH &

KEARNY (1994): (1) a possibilidade de influir na organização do seu ambiente de trabalho; (2) a

capacidade de controlar o mobiliário, o equipamento e as condições internas de conforto; (3) a

capacidade de controlar sua privacidade; e (4) a facilidade de interagir com seus colegas.

“A pressão de mudança das organizações e o desenvolvimento

continuado da informática ao longo dos anos noventa significou que estas

demandas complexas por parte dos usuários continuam requerendo uma

aproximação radical e holística por parte dos arquitetos e projetistas do

ambiente de escritório.” (LAING 1997: 26)

As pesquisas desenvolvidas por LAING para a DEGW International indicam que as organizações

que repensaram seus processos e modos de trabalhar e que buscaram traduzir estas inovações

em novos padrões de ambientes de trabalho e de uso do escritório,

Figura 26 – Sun Tower (Seul, anos 90)

Fonte: Projeto Design 225 (out/98: 64)

Figura 27 – Menara Mesiniaga

(Kuala Lumpur, anos 90)

Fonte: DUFFY (1997: 71)

Figura 28 – Avião-Escritório

Fonte: KLEIN (1982: 228)

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encontraram resistência nos projetistas, que continuam a olhar o ambiente de trabalho com

muita rigidez. Esta resistência levou diversas empresas a buscarem soluções inovadoras para

seus escritórios em outros ambientes, tais como: (1) espaços íntimos e mobiliário descontraído

do ambiente doméstico; (2) ocupação espacial flexível e eficiente do hotel; (3) senso de

opulência, sociabilidade e prestígio do clube dos cavalheiros, do restaurante e do aeroporto;

(4) ultra-ergonômico projeto de salas de estar dos velozes aviões dos executivos (Fig. 28); (5)

flexibilidade, manuseabilidade e transitoriedade associadas com o cenário de um teatro,

cinema ou com a instalação de uma galeria de arte. (LAING 1997: 25-27)

Segundo SMITH & KEARNY (1994), pesquisas desenvolvidas nos Estados Unidos88 evidenciam

que: (1) o aumento do grau de satisfação com o ambiente de trabalho pode garantir um

rendimento adicional entre 5% a 15% do valor das despesas anuais com salários; (2) o uso de

estações de trabalho ambientalmente responsivas possibilita ganhos de produtividade em

torno de 2%; (3) o uso de cadeiras e estações de trabalho mais ergonômicas possibilitam

reduzir em até 50% os índices de absenteísmo dos funcionários.89 (Fig. 29)

O discurso do “marketing da inteligência” dos edifícios espertos

A partir da inauguração, em 1984, do edifício da AT&T [JOHNSON & BURGEES] – primeiro

edifício de uso não-industrial de alta tecnologia – o marketing começa a forjar a designação

“inteligente”, derivada da palavra inglesa intelligence (serviço de informações), e hoje

consagrada no mundo inteiro para caracterizar o mais novo e lucrativo ramo de negócio no

88 Buffalo Organization for Social and Technological Change, Rensselaer Polytechnic Institute e

Norwegian State Institute of Working Physiology. 89 Em outro exemplo ilustrativo, SMITH & KEARNY (1994: 5) propõem uma situação onde seis sócios de uma

empresa estimam que as inadequações de seu ambiente de trabalho estão fazendo cada deles desperdiçar cerca

de uma hora por dia. A perda semanal do grupo é de 30 horas e o salário básico, $25. por hora, acrescido de 30% de

leis sociais, chega aos $32.50 por hora. A perda de 30 horas semanais a $32.50 por hora chega a $975. por semana.

Multiplicada por 52 semanas, a perda anual soma $50,700. Esta perda, representa o custo da não satisfação das

necessidades das pessoas, que em geral é desconsiderado.

Figura 29 – Sistema Dynamics Schärf

Fonte: Projeto Design 204 (jan/97: 85)

Apesar de todas estas evidências, os

agentes responsáveis pela concepção e

produção de edifícios e ambientes de

escritórios relutam em modificar suas

práticas, com o que aumenta cada vez mais

a dissociação entre a oferta e a demanda.

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mercado imobiliário: o dos edifícios de alta tecnologia. Seu significado impreciso varia

conforme os interesses envolvidos: dos fabricantes dos sistemas, das construtoras, das

consultorias em automação predial ou imobiliárias e os dos projetistas. Os fabricantes de

sistemas e construtores falam em “edifício que oferece um ambiente produtivo e econômico

através da otimização de quatro elementos básicos – Estrutura, Sistemas, Serviços e

Gerenciamento”90 ou de “edifícios que possuem um bom e atualizado projeto e uma

construção racional e econômica; ou aqueles que são bem projetados e construídos, levando-

se em conta as exigências de uso e evolução tecnológica”91.

Entre os que representam os interesses de arquitetos e consultores de sistemas, existem os

que restringem o problema à alta tecnologia (automação predial), os que acreditam que um

edifício inteligente surge a partir da definição de seus propósitos e de sua concepção e, em

uma posição intermediária entre ambos, os que acreditam que um edifício inteligente envolve

tanto a alta tecnologia quanto seus propósitos e concepção. Seus adeptos, em geral, falam em

instalação inteligente e preconizam que a incorporação de tecnologia aos edifícios é uma

exigência gerada pela complexidade das novas edificações ou, em outras palavras, uma forma

irreversível de agregar valor às edificações. Há, ainda, os que defendem que o edifício

inteligente tem um projeto inteligente, os que restringem a questão ao atendimento das

necessidades do cliente, os que falam em conjunto inteligente de soluções, materiais,

equipamentos e sistemas integrados a uma arquitetura esteticamente criativa e, finalmente,

os que acreditam que a inteligência de um edifício está vinculada à qualidade, à profundidade

e à seriedae de seu projeto arquitetônico.

90 IBI – Intelligent Buildings Institute. 91 ABCI – Associação Brasileira de Construção Industrializada.

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Pesquisadores do Advanced Building Systems Integration Consortium da

Carnegie Mellon

“espaços inteligentes não seriam aqueles projetados para acomodação ou exibição otimizada

de tecnologias de multimídia, mas sim os que provêem as oportunidades de subsistência das

novas tecnologias para a humanização dos ambientes habitados”. (Fig. 30)

Particularmente, considero que um edifício inteligente deve espelhar a

sabedoria de seu tempo, em lugar de crenças e interesses setoriais,

contrariando a tentativa pouco lógica de considerar inteligente o uso de

fórmulas mágicas e universais para o desenho das cidades e dos edifícios.92 Esta

postura justifica-se apenas sob o enfoque do marketing imobiliário,

fundamentado na manipulação comercial das imagens através da

publicidade, da mídia, das exposições, desempenhos e espetáculos,

determinando uma constante reativação de desejos por meio de imagens

(RHEINGANTZ 1997).

Como, em geral, o interior destes edifícios é concebido como espaço vazio e flexível, a

pretensão de considerá-los inteligentes, especialmente à luz das novas relações entre empresa

92 Um bom exemplo são as torres de vidro construídas no trópico. Apesar do consenso entre os pesquisadores e

especialistas em conservação de energia que independentemente do tipo de vidro utilizado, as fachadas cortina

sempre terão um alto consumo de energia, alguns arquitetos, influenciados pelo grande esforço da indústria do

vidro e dos sistemas de automação predial, alardeiam que os vidros reflexivos reduzem o consumo de energia

elétrica, crença que desafia a física, a lógica e o bom senso. Enquanto um projeto cuidadoso pode reduzir até 50%

do consumo de energia, a intervenção em uma edificação existente pode reduzir em até 25%.

Figura 30 – Commerzbank

(Frankfurt, 1991/97)

Fonte: AU74 (out/nov 97: 36)

University questionam a definição tradicional de

“edifício de serviços inteligente”, caracterizada por

uma “extensa lista de novos produtos de

telecomunicações, de eletrônica, de segurança, de

automação e sistemas de controle predial que

demonstrou ser insuficiente para garantir

antecipadamente um ambiente de trabalho high-

tech a proprietários e usuários dos edifícios”

(HARTKOPF et al 1993: 5). Em contrapartida,

propõem nova definição: “aquele que incorpora as

tecnologias mais recentes em um cenário físico, a

comunicação e a produtividade global.” (HARTKOPF et

al 1993: 5) RIEWOLDT (1997: 55) sugere que

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e mercado, torna-se um exercício de abstração, uma vez que é impossível avaliar a adequação,

a qualidade, a profundidade e a seriedade de um projeto que é concebido para alguém

inespecífico. É impossível falar em inteligência nas instalações e equipamentos, se também

eles são concebidos para um genérico ambiente vazio. Sem questionar a seriedade de seus

autores e de suas intenções, seu discurso evidencia a inexistência de base teórica indicada por

ZEISEL (1981) e por DEL RIO (1992)93. A persistência do paradigma cartesiano e do modelo

taylorista – que, em sua versão pós-moderna, concebe os novos edifícios com o objetivo de

transformar os homens em máquinas cada vez mais eficientes de trabalhar94 – bem como a

permanência do foco na oferta e em sua capacidade de gerar novas demandas, são evidentes.

Para não ficar apenas no plano teórico, e evitando assumir a postura de uma “crítica olímpica”,

a seguir apresento a opinião de projetistas de ambientes de escritório alinhados com a

tendência inovadora sobre a “inteligência” dos novos edifícios de alta tecnologia.

Em Além da tecnologia, CAPOZZI reconhece a mudança de perfil dos consumidores, que se

tornam cada vez mais bem informados e exigentes frente as regras do mercado:

“acostumados com as regras de marketing nem sempre muito sinceras

ou específicas, os consumidores estão implacáveis e literalmente

investigam até que ponto chega a propagada “inteligência” dos

prédios onde pretendem instalar suas empresas, escritórios ou

consultórios. ... corre à boca pequena entre esses profissionais ... que os

edifícios inteligentes o são até a porta dos escritórios, quando se tornam

... burros.” (CAPOZZI 1996: 6)

O texto faz referência a uma modalidade de trabalho com demanda crescente, a avaliação

técnica de edifícios, como a space audit95 realizada pela Saturno Planejamento, Arquitetura e

Consultoria – “cujo objetivo principal é avaliar as principais características arquitetônicas e de

infraestrutura dos edifícios em contraposição com as necessidades efetivas dos usuários que

poderão vir a ocupá-las” (ANDRADE 1996). Segundo CAPPOZZI, a Saturno identifica problemas

na relação entre área útil do pavimento-tipo e a área de carpete [área efetivamente ocupada]

que, em alguns prédios, chega a ser inferior a 80% quando o mínimo aceitável seria 92%;

93 Cf. DEL RIO (1992: 73), no Brasil “majoritariamente ainda se produz, ensina e avalia arquitetura

sem teoria”; o autor sugere que “grande parte do impasse atual da arquitetura brasileira tem

origem na falta de teorias de base, conceitos projetuais e avaliações sistemáticas das obras

construídas.” 94 Esta afirmação pode ser confirmada pela leitura do discurso dos projetistas de ambientes de

escritório que, em geral, enfatizam a produtividade, a lucratividade e a economia. 95 Procedimento que visa identificar as qualidades e deficiências na ocupação e uso do ambiente

corporativo, que serve de orientação no planejamento, projeto e gerenciamento do espaço.

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outros problemas que dificultam a organização do layout interno, são: a concepção do núcleo

de serviços (elevadores, sanitários, áreas de apoio/técnicas) distribuído, a obstrução de pilares,

a forma irregular da planta do pavimento-tipo e sanitários fixos fora do núcleo de serviços.

Outros especialistas consultados por CAPOZZI identificam os seguintes problemas nos

“edifícios inteligentes”: (1) previsão genérica da malha de piso e do sistema de ar-

condicionado freqüentemente não coincide com o ponto exigido pelo usuário (Frederico

MORÁN); (2) número insuficiente de controles individuais do sistema de ar condicionado – em

torno um para cada aleatórios 30 m2 de área de piso, quando deveria ser por estação de

trabalho (Marcos de SOUZA e Marcio KOGAN); (3) falta de inteligência da concepção de uma

planta que desconhece as necessidades de um cliente genérico (Marcel MONACELLI); (4) falta

de coordenação dimensional entre as malhas de forro e piso e caixilharia (MONACELLI); (5)

falta de previsão de shafts sob o piso ou sobre o teto, rodapés com canaletas e divisórias com

espaço para passagem de cabeamento, que dificulta a versatilidade necessária a este tipo de

projeto (Israel REWIN); (6) uso indiscriminado do piso elevado – mais indicado para setores

como CPDs – o “pop-star” dos edifícios inteligentes (Vasco LOPES); (7) controle centralizado do

sistema de iluminação, que dificulta eventuais trabalhos noturnos imprevistos (KOGAN); (8)

supervalorização dos avanços tecnológicos de supervisão predial em detrimento do aspecto

humano (KOGAN); (9) frente à ineficiência dos transportes públicos, o número de vagas de

garagem deveria ser de 1 vaga para cada 25 m2 de piso, mas que em média, em São Paulo, é de

1 vaga para cada 40 m2 (SOUZA).

As APOs realizadas pela COPPE/PROARQ também indicam a presença de problemas similares

nos edifícios RB1 e BNDES, no Rio de Janeiro (COSENZA et al 1996, 1997; RHEINGANTZ 1995,

1997, 1998).

A persistência do modelo tradicional de concepção dos edifícios e ambientes de

escritórios

Segundo John ZEISEL (1981: 3), a relutância dos arquitetos em considerar a defasagem dos

pressupostos e processos projetuais tradicionais está relacionada com suas crenças no

determinismo arquitetônico – “o ambiente físico é o maior determinante do comportamento

social ... [e que a] arquitetura é uma disciplina ampla e não teórica” (ZEISEL 1981: 4) – e com a

atitude de considerar qualquer imposição projetual como “uma subcultura do gosto das

pessoas com diferentes expectativas de necessidades e aspirações”. (ZEISEL 1981: 7) Este

sistema de crenças produz um movimento circular de causa-e-efeito que se reflete: (1) na

formação dos arquitetos, através da ênfase excessiva no aprender pela experiência, que

praticamente exclui o aprender da experiência – o que explica a forma casual, asistemática e

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tendenciosa de seu discurso; (2) na própria natureza da teoria da arquitetura, que tem

focalizado muito mais “o relacionamento do arquiteto com o artefato que ele produz e as

ideologias e testemunhos individuais dos projetistas, do que o relacionamento entre as

pessoas (individualmente ou em geral) e o ambiente construído” (ZEISEL 1981: 8), procurando

entender o modo como o ambiente é percebido, ou os significados – sejam eles reais ou

simbólicos – que assume para cada pessoa.

SMITH & KEARNY (1994: 8) sugerem que a persistência desta prática se deve à sua maior

facilidade de execução, pois requer menos dados e informações e não demanda maiores

habilidades do projetista. Os autores recorrem a WILLIAMS, ARMSTRONG & MALCOLM 96 para

afirmar que ambientes de trabalho projetados com base no homem e no seu desempenho,

demandam novos processos projetuais – que considerem a necessidade individual de cada

trabalhador para o desempenho de suas tarefas, sejam elas operacionais [visíveis] ou mentais

[invisíveis] como determinantes do projeto. Esta aproximação requer novas habilidades

analíticas e prescritivas por parte do projetista e sua aceitação poderá vir a ser dificultada pela

inexistência de uma teoria da arquitetura e/ou pela inadequação da formação profissional dos

arquitetos (DEL RIO 1992).

A necessidade de um novo paradigma do trabalho para a economia do

“conhecimento”

John WORTHINGTON (1997) defende a necessidade de buscar um novo paradigma do

trabalho e um reenfoque de expectativas para fazer frente à mudança de uma economia de

“serviços” para uma economia do “conhecimento”. Ao justificar sua proposta observa que

enquanto a economia de serviço preocupava-se com a organização de dados e produtos, a

economia do conhecimento trabalha com informações e idéias, aumentadas por uma ampla

rede de comunicações e informação mundial e dentro de uma estrutura organizacional de

comunidades de interesse. Segundo WORTHINGTON, a linha de produção global e o trabalho

de grupo em funcionamento simultâneo são novas realidades que se refletem diretamente na

produção dos edifícios e ambientes de escritórios, que se tornam cada vez mais dispersos,

reduzidos, e equipados.

Nesta mesma linha de raciocínio, LAING (1997) sugere que o projeto do escritório deva ser

continuamente repensado e transformado de modo a acompanhar as transformações das

estruturas e formas das organizações. Para tanto, é indispensável romper com a idéia do

ambiente de trabalho como uma escrivaninha individual ocupada diariamente em tempo

96 The Negotiable Environment. Ann Arbor, Mich.: Facility Management Institute, 1985.

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integral em turnos de nove horas por dia, cinco dias por semana. Segundo LAING, somente

quando o estereótipo básico de projeto de escritório for questionado, será possível tornar

realidade um novo conjunto de padrões ambientais e de trabalho que sirvam de suporte para

a mudança organizacional.

SMITH & KEARNY observam a importância de identificar as necessidades individuais e de

avaliar o custo das interferências ambientais no trabalho e atribuem a persistência deste tipo

de problema à falta de clareza, por parte de projetistas e consultores sobre as conexões

existentes entre ambiente de trabalho, comportamento de trabalho e lucro – “que não sabem

o que fazer com esse tipo de problema.” (SMITH & KEARNY 1994: 2) Os autores ressaltam a

necessidade de se prestar maior atenção ao que acontece quando as pessoas estão pensando

e como o ambiente interfere positivamente ou negativamente nas atividades que exigem

concentração ou trabalho mental, ou seja, que se estude com mais cuidado como os diferentes

tipos de ambientes estimulam o pensamento e sua posterior transformação em ações. (SMITH

& KEARNY 1994: 11) Como as pessoas têm uma capacidade limitada e variável para prestarem

atenção a estímulos externos, uma configuração das zonas de conforto (seus limites de

capacidade de atenção) que permita eliminar ou reduzir as interferências no trabalho mental,

possibilita que seu desempenho seja melhorado.97 Assim, é necessário desenvolver técnicas

para avaliar e conceber ambientes de trabalho adequados para o trabalho mental, criar áreas

para grupos de trabalho, melhorar o foco, a comunicação e o fluxo do trabalho e prever

ambientes para o trabalho individual que sejam responsivos ao estilo e às necessidades

individuais e dos grupos. Estes ambientes devem equalizar os níveis de privacidade e de

estímulo à interação com os colegas: “as pessoas trabalham melhor e com mais naturalidade, a

seu modo.” (SMITH & KEARNY 1994: 2)98 As diferenças entre as atividades desenvolvidas em

um ambiente de trabalho precisam ser devidamente identificadas e mapeadas. Algumas

atividades que podem ser automatizadas mediante algum tipo de treinamento, requerem

menos atenção e possibilitam que se façam outras atividades ao mesmo tempo, demandando

um determinado tipo de ambiente. Já as atividades que demandam maior concentração, como

escrever e falar, podem requerer uma atenção maior e um outro tipo de ambiente. (SMITH &

KEARNY 1994: 13) Este tipo de problema raramente é levado em consideração pelos

97 Cf. GOPHER & DONCHIN (1986 in SMITH & KEARNY 1994: 11), o desempenho se torna mais fácil

quando a capacidade de atenção for adequada para as demandas de informação-processo

globais da tarefa. Quando as demandas forem maiores que sua capacidade de atenção, pode

ser criada uma carga de trabalho mental. 98 CF. SMITH & KEARNY (1994: 2), a maioria das pessoas trabalha em ambientes anônimos e

impessoais, sendo forçadas a investir na adaptação do ambiente às suas características pessoais;

estes ambientes dificultam e interferem em suas necessidades comportamentias de trabalho,

reduzindo sua produtividade organizacional.

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projetistas de tendência tradicional, e as razões para tal são as mesmas anteriormente

apontadas: falta de base teórica, formação inadequada, maior complexidade.

Para Otto RIEWOLDT (1997: 9), o empreendimento global do futuro deve ser uma combinação

que troque o trabalho em rede por unidades autônomas onde os ambientes vivos serão

totalmente computadorizados: "coisas que pensam" vão prover integração e sistemas

“espertos" de controle de todas as funções. As esferas privadas e profissionais começarão,

finalmente, a se fundir neste paraíso digital. Em termos construtivos, os edifícios devem

evoluir em uma interface sensível entre o seu interior e o ambiente externo, a natureza da

camada externa do edifício está mudando. Está se tornando uma pele que desenvolve novas

qualidades técnicas e estéticas99.

Além dos aspectos até aqui levantados, a relutância em inovar a concepção

e a produção dos escritórios e ambientes de trabalho é uma questão que

transcende a competência dos arquitetos. Restringir o problema apenas aos

arquitetos é, no mínimo, uma atitude ingênua, que pode ser comprovada pelo

sucesso de vendas de alguns edifícios “extravagantes” e “carentes de

atenção” recentemente construídos no Rio de Janeiro, em São Paulo e até

mesmo em Brasília, e por algumas imposições cosméticas por parte dos

incorporadores100. Na verdade, todos os protagonistas envolvidos com a

produção do ambiente construído precisam rever e equalizar suas crenças e

mudar o foco da oferta para a demanda. Para tanto, além da revisão de

paradigma, é necessário que todos os agentes envolvidos com a produção do

ambiente construído abandonem sua postura de “saber messiânico”, para

compartilhar seu conhecimento e suas técnicas com os usuários. Esta nova

prática possibilitaria conferir um novo significado ao conjunto de pensamentos,

percepções e valores da “realidade” e uma maior responsabilidade e

participação ao “usuário-paciente”, que sabe perfeitamente o que está errado

com ele e com seu ambiente de trabalho em suas diferentes dimensões ou

contextos: estação de trabalho, ambiente, edifício, lugar, ...

99 RIOWOLDT (1997: 9) cita a nova sede do Commerzbank em Frankfurt, de Norman FOSTER como

um protótipo de como a inovação de ecocêntrica afetará em larga escala os projetos do futuro.

O projeto é uma impressionante torre que alia alta tecnologia com biosfera ego-regulável, pátios

internos ocupados por jardins suspensos internos e um alto nível de eficiência energética. 100 Em entrevistas concedidas ao autor, os arquitetos Márcio ROBERTO (Edifício Bolsa de Valores)

e Davino PONTUAL (Teleporto), justificam que as fachadas-cortina destes projetos foram uma

imposição dos incorporadores/proprietários. A concepção original dos edifícios previa elementos

externos de proteção da radiação do sol e redução da área envidraçada, suprimidos por

imposição dos proprietários.

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SVIGETI & DAVIS (1997: 3) sugerem um caminho a ser perseguido pelos projetistas

de edifícios e ambientes de escritórios: “há muito o que aprender com a

experiência da indústria de software e de seu foco nas interfaces amigáveis

para os usuários.”

Uma digressão sobre o futuro dos edifícios de escritórios

A incerteza que permeia a reflexão sobre as futuras demandas por edifícios de escritórios não

impede que se façam algumas digressões a seu respeito. Inicialmente, a possibilidade de

explorar a disseminação de novas estruturas temáticas similares às atualmente concebidas

para os complexos de compras e de diversões. Utilizando edifícios com ambientes

predominantemente do tipo espaço-clube e uma variedade de serviços de apoio ou

complementares e concebidos para atender às novas demandas por parte das empresas do

quarto setor da economia, sua concepção, produção e operação poderia ser integrada sob um

novo tipo de organização que participaria ativamente de todas as etapas do processo

produtivo e de sua vida operacional. A administração e o gerenciamento destes complexos –

inclusive a organização dos ambientes internos, seu mobiliário e equipamentos além de todos

os serviços de apoio101 – ficaria inteiramente a cargo do mesmo grupo que o concebeu e

produziu e sua venda ou locação seria realizada através de cotas ou títulos de diferentes

modalidades.102 Os grupos de investidores entrariam com os recursos e venderiam ou locariam

cotas de diferentes modalidades que atenderiam às necessidades de cada organização ou

profissional. Estas cotas lhes dariam o direito de uso de um ambiente com determinados

equipamentos, recursos e serviços regulares ou eventuais.

Esta modalidade de ocupação do espaço por cotas de direito de uso pode ser reforçada pela

incerteza em relação ao futuro das relações de trabalho que, com sua tendência acelerada de

redução de quadros e de individualização e desregulamentação do emprego, transformam os

investimentos imobilizados em um risco potencial para a saúde futura da organização. A

indefinição com relação às necessidades de área, de instalações, equipamentos e pessoal

poderá favorecer o surgimento de edifícios mais orgânicos em termos da oferta de tipos de

101 A aquisição de direito de uso ou de locação pode se transformar em um atrativo para as

empresas do quarto setor, que dispendem grande quantidade de recursos na aquisição de

equipamentos que rapidamente se tornam obsoletos. A possibilidade de locação flexível poderia

garantir a estas empresas a modernização permanente de seus equipamentos e reduzir seu

capital imobilizado, que poderia ser direcionado para sua atividade produtiva. 102 Possibilitando reduzir os problemas decorrentes das obras internas nos ambientes, realizadas

pelos proprietários e sem o controle ou supervisão da administração condominial, em alguns

casos colocando em risco a própria segurança ou a integridade do edifício. Este tipo de problema

foi identificado por COSENZA et al (1996) na APO realizada no edifício RB1.

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espaços de trabalho (ANEXO 02-C) e de seu compartilhamento, e a tendência à redução e à

dispersão do espaço fixo de trabalho.

Outra questão diz respeito à persistência de algumas atividades que demandam ambientes

“tradicionais” ou “convencionais”, tais como advogados, economistas, administradores de

empresas, dentistas, médicos clínicos, cartórios, alguns tipos de consultorias, etc. Estas

atividades podem ser atendidas pelo atual estoque imobiliário, à medida que for recuperado

através de retrofit103. Repete-se aqui a situação identificada por DE MASI (1999a: 169): no

mesmo indivíduo ou organização, convivem modelos de vida e de trabalho rural, industrial e

pós-industrial em um processo dinâmico e contínuo de substituição de modelos, valores,

práticas e paradigmas onde o “um elemento passa a ser central em vez de outro, que perde a

hegemonia mas não a presença e influência” (DE MASI 1999a: 169).

Além destas possibilidades, persiste o desejo de superação dos paradigmas cartesiano e

homocêntrico e dos princípios tayloristas, em benefício de um paradigma social que considere

o homem como um dos bilhões de cidadãos sistêmicos de um universo “vivo” “pulsante” e em

constante evolução, cujos artefatos que produz, especialmente seus edifícios, precisam ser

concebidos como elementos de interação com o meio social. Como conseqüência, que todos

os agentes envolvidos com a concepção e a produção do ambiente construído, abandonem

sua pretensão de produzir artefatos “ávidos de atenção” em conflito ou competição com a

esplendorosa beleza do sítio natural. Que estes agentes reconheçam que em sítios como o Rio

de Janeiro, diferentemente de Nova Iorque ou Paris, a arquitetura deve abdicar da condição de

protagonista para se tornar apenas o pano de fundo deste “cenário divino.” Para ilustrar a

visão dominante na concepção e produção do ambiente construído, foram selecionados alguns

textos de divulgação dos mais recentes empreendimentos imobiliários realizados em Botafogo

(ANEXO I).

Analisados os diferentes contextos onde se inserem os edifícios de escritórios, e

os reflexos das transformações das novas tecnologias no mundo do trabalho, no

CAPÍTULO 3 focalizarei a questão da avaliação dos edifícios, abrangendo a

avaliação imobiliária [de mercado], a APO, os principais instrumentos

desenvolvidos para avaliar o desempenho dos edifícios de escritório e um

panorama da experiência brasileira.

103 Cf. CASTRO NETO (1994: 151), designação derivada da palavra inglesa retrofit, que significa

readaptação ou reajustamento, é um tipo especial de intervenção na instalação que implica

uma modificação conceitual do sistema para melhorar seu desempenho, do ponto de vista

econômico e da produtividade.

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III. AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS:

“O que observamos não é a natureza em si, mas a natureza exposta ao nosso

método de questionamento”

Werner HEISENBERG 104

“Os edifícios estão entre os maiores, mais complexos e duráveis “produtos”

criados pelos humanos. Seu propósito é garantir abrigo para as atividades

humanas; portanto, eles devem responder àquilo que, depois da comida, é uma

das necessidades primárias humanas.”

Gerald DAVIS & Françoise SZIGETI 105

À medida que a qualidade do ambiente construído começa a se tornar

independente das relações entre cultura e geografia, e que as condições de

conforto passam a ser garantidas pela tecnologia, inicialmente mecânica e,

atualmente, eletrônica e informacional, o desempenho dos edifícios se torna

uma atividade complexa. Enquanto os edifícios resistiam passivamente às

variações climáticas, o processo de avaliação do seu desempenho era

relativamente simples. Bastava conceber um envelope adequado, em geral

composto por espessas paredes de alvenaria e coberturas, dotado de

aberturas suficientes para prover seu interior de iluminação natural e, nas

estações quentes, permitir a aeração dos ambientes. Nos climas tropicais e

chuvosos, os edifícios eram concebidos como coberturas providas de grandes

beirais e varandas, e grandes aberturas para permitir a livre passagem do ar e

impedir a incidência direta dos raios solares. A arquitetura acompanhou a

evolução das sociedades, tornando-se cada vez mais eficiente e adaptada.

A partir da Revolução Industrial, e do desenvolvimento dos sistemas urbanos e

prediais de água, esgoto, energia elétrica e calefação, os edifícios começam

a se transformar em máquinas relativamente simples e eficientes,

especialmente nas regiões de clima frio. O surgimento das estruturas metálicas

e de contrato armado, aliado ao desenvolvimento dos sistemas mecânicos de

transporte vertical, possibilitou o nascimento da arquitetura moderna, com sua

estrutura independente das vedações externas e divisões internas. O

aperfeiçoamento dos sistemas mecânicos (anos 50), viabiliza a arquitetura

104 In SANTOS (1995a: 26). 105 In BAIRD et al (1996: 58) – tradução do autor.

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International Style, cujos edifícios tornam-se cada vez mais esbeltos e dotados

de sistemas ativos de conforto. Quanto mais independente dos

condicionantes climáticos a arquitetura se torna, mais ela afasta-se de suas

raízes culturais, seu desempenho torna-se mais complexo e dependente das

“máquinas do conforto” (BEGUIN 19991). Ainda assim, o edifício-máquina era

um sistema de operação relativamente simples, o mercado imobiliário seguia

as regras e procedimentos dos demais setores do sistema produtivo e a

avaliação de seu desempenho, partia de pressupostos pré-determinados e

padrões estandartizados.

Com a chegada da Era Pós-industrial e a tendência crescente de re-

humanizar e customizar106 as relações do mercado e os valores da sociedade,

em meio às crises do petróleo e ao desenvolvimento das novas tecnologias de

informação, que marcaram o “divisor tecnológico dos anos 70” (CASTELLS

1999a), possibilitam o surgimento dos chamados “sistemas inteligentes” que

passam a ser incorporados aos edifícios. A partir de então, sua operação

torna-se cada vez mais complexa, especialmente à medida que o ênfase

passa a ser dado à customização, em lugar de à padronização. Enquanto

todo sistema produtivo reestrutura-se e reorganiza-se em função dos novos

valores da sociedade e das novas demandas do mercado, a produção dos

edifícios continua a se pautar nas antigas regras do mercado centrado na

produção (CAPÍTULO 2). A inovação passa a ser orientada para a tecnologia

dos edifícios, cada vez mais complexa, interativa e maleável.

Por conta disso, os antigos processos e modelos de avaliação e análise

começam a se tornar inadequados para avaliar a complexidade de um

produto que continua a ser produzido em função da oferta [por imposição] de

bens, desconsiderando as demandas de seus clientes. Esta inadequação de

todo o processo produtivo levou ao desenvolvimento de novas abordagens e

metodologias para avaliar o desempenho dos edifícios, que focalizaram as

necessidades e expectativas do usuário, e que passaram a ser conhecidas

como Avaliação Pós-Ocupação (APO). Apesar de contemplar plenamente as

novas relações de um mercado “market oriented”, via de regra, a APO no

Brasil ainda está limitada ao meio acadêmico. Os agentes relacionados com o

106 Termo utilizado na área de marketing, derivado do inglês customize que significa feito sob

medida, sob encomenda, adaptado.

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mercado imobiliário continuam insensíveis às novas demandas, e insistem em

aplicar suas velhas receitas.

Neste capítulo, procuro demonstrar a inadequação dos procedimentos e

instrumentos adotados para avaliar a organização social complexa edifício de

escritórios com sistemas de alta tecnologia. Inicialmente, apresento um

panorama da evolução da APO e analiso sua aplicação na avaliação dos

edifícios e ambientes de escritório e os principais instrumentos desenvolvidos

para sua análise. A seguir analiso a experiência brasileira de APO em edifícios

de escritório para, caracterizo o conceito de avaliação de desempenho

construído com base no estado da arte da pesquisa mundial e brasileira e na

experiência adquirida nos projetos desenvolvidos pela COPPE/PROARQ. Assim,

com base no paradigma social (CAPÍTULO 1), e na análise das transformações

da sociedade pós-industrial e de sua influência na produção do ambiente de

trabalho de escritório (CAPÍTULO 2), será possível construir um modelo de

análise para avaliar o desempenho de edifícios de escritório (CAPÍTULO 4).

3.1 Mercado Imobiliário e Avaliação dos Edifícios de Escritórios: foco no

produto, fragmentação e opacidade de procedimentos

Nesta seção, procurarei demonstrar que os instrumentos e critérios de

avaliação adotados pelo mercado imobiliário não são adequados para

avaliar os novos e complexos edifícios de alta tecnologia, nem as diferentes

demandas de usuários individuais ou corporativos. Enquanto as novas

demandas estão a exigir métodos de análise mais transparentes, qualitativos e

não lineares, os consultores e corretores imobiliários seguem trabalhando com

procedimentos “caixa preta”, intuitivos e lineares, que utilizam a lógica binária

– “tem- não-tem” – ou sua experiência pessoal, que é guardada a sete

chaves.

O mercado da concepção, construção e operação dos edifícios de alta

tecnologia demanda um profissional com o conhecimento necessário para

transitar com naturalidade por todas as áreas de arquitetura e engenharia

envolvidas no seu processo de produção.107 A literatura internacional e

107 O ANEXO 03-A analisa com detalhes a situação atual do mercado da automação predial no

Brasil.

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nacional108, os contatos com as áreas técnicas de alguns dos fundos de

pensão das empresas estatais, a experiência pessoal adquirida nos trabalhos

desenvolvidos pela COPPE/PROARQ (RHEINGANTZ 1995, 1996; COSENZA et al

1996, 1997; RHEINGANTZ et al 1998) evidenciam que também o mercado

imobiliário está demandando um novo perfil de profissional dotado de

conhecimentos técnicos necessários que o capacitem a transitar com

desembaraço e o conhecimento por todas as áreas da arquitetura,

engenharia e sistemas prediais, capacitado para orientar a escolha do cliente.

A dificuldade em encontrar um profissional com este perfil pode vir a ser

solucionada através de um enfoque sistêmico do processo de produção dos

edifícios de escritórios e do mercado imobiliário que integre ao longo de todo

processo produtivo, profissionais de concepção, construção, venda, operação

ou manutenção dos edifícios.

A chegada das empresas multinacionais atraídas pelas privatizações, fez com

que a procura por salas comerciais em “edifícios inteligentes”109 no Rio de

Janeiro aumentasse o valor de locação em 142% no período de 1995-1998110.

Conforme Antônio NEVES, diretor da Plarcon, hoje há uma carência de um

milhão e meio de metros quadrados de escritórios inteligentes no Rio de

Janeiro111. Esta falta de estoque produz dois efeitos aparentemente

antagônicos: (1) mascara o descompasso entre a visão dos empreendedores

e a expectativa das empresas, e aumenta a busca por imóveis de segunda

108 No plano internacional ZEISEL (1981); PREISER et al (1988); HARTKOPF et al (1993); SMITH & KEARNY

(1994); BECKER & STEELE (1995); BAIRD et al (1996); ARONOFF & KAPLAN (1997); DUFFY (1997);

WORTHINGTON (1997), BECHTEL (1997); no plano nacional, ORNSTEIN et al (1992, 1993); ANDRADE

(1996); MONACELLI (1996); ORNSTEIN (1996a, 1997), DEL RIO (1990), DEL RIO e OLIVEIRA org. (1996),

DEL RIO org. (1998). 109 CF. FLÁVIA BARBOSA: INVESTIDORES REDESCOBREM IMÓVEIS - CRISE NOS MERCADOS MUNDIAIS

LEVOU AO AQUECIMENTO DO SETOR, LEMBRADO AGORA COMO O MAIS TRADICIONAL E SEGURO

A LONGO PRAZO, IN JORNAL DO BRASIL, RIO DE JANEIRO, 08/11/1998 – ECONOMIA;

MEGAESPAÇO, UMA TENDÊNCIA NOS NOVOS CENTROS EMPRESARIAIS DO RIO (IN O GLOBO RIO

DE JANEIRO, 06/02/2000, MORAR BEM, P.2)

110 Preço da locação varia com modernização e revitalização (in encarte ABADI, Jornal do Brasil,

1998, p. 6-7); 111 Cf. NEVES, “os números mostram que dos 5.250 milhões de metros quadrados de escritórios

existentes na cidade, 78% estão concentrados no Centro e na Zona Sul, apenas 1% na Barra. Do

total, apenas 8,5% estão vazios. Sendo que se avaliados só os prédios modernos, classe A, essa

taxa cai para 1,9%. Passamos cinco anos sem investimentos nesse setor; hoje não há mercadoria

suficiente para suprir a demanda das empresas” (in Megaespaço, uma tendência nos novos

centros empresariais do Rio, O GLOBO Rio de Janeiro, 06/02/2000, Morar Bem, p.2)

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mão; o “sucesso” de vendas pode gerar a ilusão de que o produto ofertado

atende às demandas112; e (2) sinaliza para a necessidade de melhorar a

qualidade da produção dos “edifícios Inteligentes”, de modo a atender aos

padrões de qualidade e de ocupação e às necessidades das novas empresas

internacionais que chegam para se instalar no Rio de janeiro, que “já vêm

com um padrão de ocupação de escritório da matriz que exige prédios

inteligentes, com facilidades de telecomunicação, bom acabamento e

grandes espaços.” (NEVES in O GLOBO 06/02/2000) A pressão para a “desova”

de espaços tem sido tão intensa que levou a Shell do Brasil a negociar, no final

de 1999, o edifício que ocupava na Praia de Botafogo com a empresa de

telecomunicações Intelig, remanejando seu pessoal para suas instalações no

bairro de Ramos.

Como no Rio de Janeiro ainda existem poucos edifícios que se enquadram

nesta classificação em um mercado com demanda fortemente represada, os

empreendedores e empresas imobiliárias que implantarem processos

sistemáticos de pesquisa de demanda futura terão melhores condições de

sobreviver em um setor cada vez mais competitivo e exigente. Mas esta

correção de rota – que nada mais é do que a passagem do setor do modo de

produção industrial para o pós-industrial – pressupõe a mudança do sistema

de valores dominante – substituição do paradigma cartesiano-racionalista

para o social-complexo. Resolvido o problema inicial de falta de espaço, é

previsível que aquelas empresas que tiveram que se instalar em edifícios com

padrão de qualidade ambiental inferior ao inicialmente desejado – as

empresas multinacionais determinam rigorosos padrões de qualidade

ambiental para suas sedes – adotem uma atitude mais seletiva com relação

ao mercado de edifícios de escritórios e com relação à qualidade da análise

imobiliária (ANEXO VII). Isto implica em duas possibilidades com reflexos

diferentes no mercado: retrofitar os edifícios já ocupados, ou sair em busca de

edifícios de melhor padrão e com baixo custo operacional, dado fundamental

da nova sociedade competitiva.

112 Esta falta de estoque de espaço para escritório pode explicar o alto valor negocial atingido

pelo mais recente “edifício inteligente” concluído na Rio de Janeiro, o Centro Empresarial

Mourisco, chegou a ser negociado a R $ 4.000,00/m2 e o aluguel, livre de taxas e despesas de

condomínio, a R $ 43,00/m2.

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A situação atual, em termos de oferta de escritórios de alto padrão, segundo

Luiz CONSTANTINO, consultor de imóveis da Richard Ellis, “é resultante da visão

que os empreendedores tinham há três ou quatro anos, o tempo necessário

para que um projeto desse tipo saia do papel e chegue de fato ao

mercado.”113 Confirma-se assim a defasagem cultural do mercado que, além

de não prever as futuras demandas, segue praticando sua tradicional política

de imposição da oferta114.

A análise das planilhas comparativas das empresas “A” e “B”115 (TABELAS 1 e 2

do ANEXO VII) permite algumas considerações interessantes para o

desdobramento deste trabalho. A comparação entre as planilhas das

empresas “A” e “B” evidencia a discrepância entre os padrões adotados pelas

duas empresas e sugere a inexistência de critérios confiáveis de análise: (1)

Enquanto a empresa “B “ adota seis padrões – AAA, AA, A, AB, B e C – a

empresa “A” adota apenas dois – AA e A. (2) Enquanto a empresa “B”

apresenta uma planilha anexa (QUADRO 3 do ANEXO VII), descrevendo de

forma resumida as especificações de cada padrão, a empresa “A” se resume

aos itens constantes da planilha-resumo (QUADRO 1 do ANEXO VII). (3) O

padrão de avaliação desconsidera diversos importantes serviços e recursos

prediais disponíveis em alguns dos edifícios avaliados – tais como se o edifício é

operacional 24 hs por dia [inclusive sábados, domingos e feriados],

possibilidade de utilização do ar condicionado 24hs por dia, relação

elevador/m2 de área, relação vaga de garagem/m2 de área, discriminação

dos serviços incluídos no valor da despesa com condomínio116, relação área

de carpete X área útil, etc. – ou seja, equipara “organismos” completamente

diferentes. (4) A imprecisão entre dados importantes dos edifícios, tais como

113 in Brasil ainda produz poucos escritórios novos de altíssimo padrão. Facility n° 5, mar-mai/1998,

p. 17. 114 A defasagem da visão dos empreendedores é confirmada por Sérgio GOLDBERG, presidente da Agenco, que está construindo na Barra o Centro Empresarial Mário Henrique Simonsen, com previsão de estar concluído em 2002: “se eu tivesse uma varinha de condão, concluiria este empreendimento da noite para o dia, para atender à grande demanda que existe hoje na cidade.” (O GLOBO 06/02/2000, Morar Bem, p.2) Se tivesse optado pelo caminho do pensamento estratégico com base em pesquisa sistemática de demanda, esta descoberta teria sido antecipada sem a necessidade de recorrer à desejada “varinha de condão.” 115 O nome verdadeiro das empresas foi omitido em função da dificuldade em obter autorização

das empresas. O material utilizado foi obtido junto a um dos fundos de pensão que colaborou

com a pesquisa. 116 O trabalho desenvolvido pela COPPE/PROARQ no edifício RB1 (COSENZA et al 1996)

evidenciou a discrepância entre os serviços condominiais oferecidos, que são desconsiderados

pelas planilhas das empresas de consultoria imobiliária.

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área privativa por andar – no edifício Teleporto, a planilha da empresa “A”

indica área de 2.500 m2, enquanto a da empresa “B”, 2.803 m2 [uma diferença

de 305 m2 que, ao custo de R$ 2.400,00/m2, chega a um total de R$ 732.000,00,

em valores de janeiro de 1997]117; no edifício CAEMI, a planilha da empresa

“A” indica área de 1.700 m2, enquanto a empresa “B”, 1.650 m2 [erro 50 m2].

(5) As planilhas não incluem nenhum item relativo a facilidade de acesso,

proximidade de transportes de massa, de aeroportos, a vias expressas, ao

centro de negócios, localização, qualidade do entorno, qualidade da vista e

qualidade arquitetônica do edifício.

Diante de uma situação como esta, e considerando que o mercado

imobiliário não é regulamentado, é prudente que o comprador tome maiores

precauções – tais como (1) consultar outras empresas, ponderando todas as

avaliações, ou (2) contratar os serviços de empresas especializadas ou de

grupos de pesquisa vinculados a universidades e com experiência em

avaliação de desempenho. Caso estas medidas sejam adotadas, abrem-se

grandes perspectivas para a consolidação da APO e da construção de um

banco de dados disponível para os diversos segmentos envolvidos com o

setor.

Com relação à planilha da empresa “A” (QUADRO 1, ANEXO VII), chama a

atenção o fato de alguns edifícios “não inteligentes” – Lineu de Paula

Machado, Argentina, Citibank e Promon – receberem a mesma pontuação

dos “inteligentes”, assim como edifícios que não oferecem vagas de garagem

– Lineu de Paula Machado, Citibank e Paço do Ouvidor – receberem a mesma

pontuação de edifícios com uma relação próxima de 1 vaga por 35 m2 de

área. A planilha da empresa “A” se resume a alguns poucos dados relativos a

área privativa, valor de venda, valor de aluguel, despesas com condomínio e

IPTU, vagas por pavimento. Não há nenhuma referência aos sistemas e

equipamentos prediais instalados [especialmente SAP, controle de acessos,

segurança contra incêndio e segurança patrimonial], nem com relação aos

serviços condominiais ofertados [importantes para avaliar a relação custo-

117 Como a ficha técnica do Edifício Teleporto (suplemento da revista Projeto jan/fev 1996) indica

o terreno com área de 2.750 m2, o valor da área privativa indicado na planilha “B” é superior à

área total do terreno.

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benefício], nem se o edifício é operacional 24 horas por dia. Também não há

nenhuma referência com relação ao sistema de operação da garagem.

Com relação à planilha da empresa “B” (QUADRO 2, ANEXO VII), embora mais

completa do que a da empresa “A” – é acompanhada de um quadro-resumo

(QUADRO 3, ANEXO VII) contendo alguns critérios para classificar os edifícios

como AAA, AA, A, AB, B ou C – chama a atenção a classificação AA atribuída

ao edifício RB1, embora ele atenda a 17 dos 20 itens correspondentes à

classificação AAA [além de atender a outros importantes quesitos não

previstos]. A avaliação do RB1 o equipara à Torre Rio-Sul, cujo ar-condicionado

não funciona 24 horas por dia e não tem SAP. Também chama a atenção o

alto valor de aluguel do Edifício Avenida Atlântica 1122, R$ 50,00, superior

inclusive ao do Centro Empresarial Mourisco, cujo teto chegou a R$ 43,00

[valores correspondentes ao mês de maio/1998]. Apesar do QUADRO 3

(ANEXO VII) significar um avanço significativo em relação aos critérios

adotados por outras empresas de consultoria imobiliária, sua utilidade restrita à

simples lógica binária – tem-não tem – é bastante questionável. Alguns

exemplos da inadequação do instrumento, são: (1) O uso indiscriminado do

índice de iluminamento de 500 lux para a atividade de escritório, desconsidera

a atual tendência de valorizar uma paisagem visual diferenciando a

iluminação de fundo da iluminação no plano de trabalho, além de significar

desperdício de energia. (2) O SAP, reduzido a um simples sim ou não, favorece

a manutenção da visão negocial118, e não considera a eficiência e a utilidade

do recurso – informações como sistema proprietário ou aberto, controle

centralizado ou distribuído, sistemas integrados ou não, controle de demanda,

etc., não são consideradas. (3) Com relação ao sistema de ar-condicionado

self-contained, preteridos para os sistemas centrais no padrão AAA, cabe

observar que em edifícios divididos em conjuntos ou salas, o self-contained

apresenta diversas vantagens para os usuários, tais como manutenção e

consumo individualizados. (4) Inexistência de item relativo ao controle de

demanda de energia, item importante em termos de redução de custos

operacionais. (5) Inexistência de item relativo às práticas de economia de

consumo de energia que, aliadas a um eficiente SAP, podem reduzir o

118 O ANEXO VI, evidencia a tendência de utilizar o SAP como estratégia de marketing,

descuidando de sua real utilidade e eficiência.

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consumo médio de energia por m2 de US $ 1,40 para até US $ 0,40

(ROIZENBLATT, in SOUSA 1994: 17). (6) Inexistência de item relativo à oferta de

serviços complementares, tais como central de reprografia, serviço de

recepção, academia de ginástica, snack-bar, cafés, lojas de conveniências,

posto de correio, agência bancária aérea 24 horas, etc. (7) A

obrigatoriedade de 2 escadas de incêndio desconsidera as dimensões do

edifício; em edifícios com pavimentos com área inferior a 1000m2 uma

segunda escada, além de reduzir a relação área de carpete/área útil, pode

tornar-se desnecessária e antieconômica. (8) Os itens não excludentes,

embora constem do quadro, não foram considerados para a classificação,

embora alguns deles sejam indispensáveis em edifícios de alto padrão, tais

como videoconferência, transmissão de dados por fibra ótica e por antena

parabólica, telecomunicações residente e centro de convenções.

Já o texto Classificação depende de características arquitetônicas e também

da localização (ANEXO VII, p.4)119, embora reconheça alguns importantes

aspectos desconsiderados pelas empresas “A” e “B”, também comete alguns

equívocos, especialmente sob o aspecto do desempenho energético do

envelope dos edifícios. Ao recomendar o uso de “vidros termo-acústicos, que

garantam bom nível de sombreamento e consigam reduzir bastante o barulho

externo”, o texto peca pela imprecisão, uma vez que vidros termo-acústicos

não asseguram sobreamento, mas escurecimento e redução da radiação

solar. Conforme já foi observado no CAPÍTULO 1, em climas tropicais, o vidro

necessariamente deve estar protegido da incidência direta da radiação solar.

Todas estas questões assinaladas estão contempladas nas fichas de avaliação

de oferta e demanda dos atributos prediais, que serão analisados no

CAPÍTULO 4, de modo que é possível afirmar que o MAH-COPPE possibilita

superar a maior parte das limitações observadas nos procedimentos das

empresas “A” e “B”.

A impossibilidade de conhecer os procedimentos e critérios de avaliação

utilizados pelos consultores imobiliários e a discrepância entre os dados

comparativos dos edifícios, foram determinantes para a modificação do

119 In Facility n° 5, mar-mai/1998, p. 17.

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projeto de pesquisa, que inicialmente pretendia comparar o desempenho de

dez edifícios de escritórios com sistemas de alta tecnologia.

A seção seguinte analisa as vantagens e as possibilidades da utilização da

interdisciplinaridade e sistematização da APO para superar as limitações, a

fragmentação e a opacidade do processo de avaliação praticado pelo

mercado imobiliário, que são incompatíveis com os valores da sociedade pós-

industrial.

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3.2 Avaliação Pós-Ocupação: foco no usuário, interdisciplinaridade e

sistematização de procedimentos

Um edifício é, fundamentalmente, o que esperamos dele.

Edward ALLEN (1982: 35) 120

“Produzir ambientes com qualidade deve passar a ser prioridade em

relação ao simples projetar e construir corretamente.”

Sheila ORNSTEIN (1996a: 45)

A Avaliação Pós-Ocupação surgiu como um procedimento de avaliação

análogo ao adotado em relação aos produtos em geral:

“para impedir que falhem (o que em edifícios pode resultar em acidentes,

disfunções ou desajustes), para assegurar bom valor aos usuários do edifício,

responsabilizar os encarregados de sua implementação e prover reais

incrementos de progresso em termos de promoção do campo ou produto”

(RABINOWITZ 1984: 396)

Suas origens remontam a três vertentes distintas de pesquisa iniciadas nos

Estados Unidos e Canadá a partir do final dos anos 40: (1) O surgimento da

psicologia ambiental, que estuda as relações entre ambiente e

comportamento [1947], com a fundação, por Roger BARKER e Herbert WRIGHT

(BETCHEL et al 1987)121, da Midwest Psychological Field Station, em Oskaloosa,

associada à University of Kansas, e responsável pela formação de diversos

pesquisadores no campo das relações ambiente-comportamento

[environment behavior]122 (ORNSTEIN 1992). (2) O surgimento do conceito de

desempenho dos edifícios, através do U.S. National Institute of Standards and

Technology e da ASTM (American Society for Testing and Materials) [1946], que

resultou em diversas publicações sobre o desempenho para os edifícios de

escritórios do governo e para as escolas municipais da California (School

Systems Development Corporation), de Ontário e Quebec (DAVIS & SZIGETI

120 Tradução do autor. 121 Embora o surgimento da psicologia comportamental (behaviorista) seja atribuído a B. F.

SKINNER (Walden II 1948), foi mantida a indicação de BETCHEL et al (1987) que, além de anterior

ao lançamento do livro de SKINNER, é aceita pela maioria dos autores de publicações sobre

ambiente e comportamento (AC). 122 Método da psicologia experimental que estuda o homem e os animais a partir de seus

comportamentos (reações e determinadas por algum tipo de estímulo) “para extrair daí as leis

que os reúnem” (JAPIASSÚ & MARCONDES 1996: 27) muito criticado por desconsiderar a

consciência e a emoção.

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1997). (3) A consolidação da Architectural Programming123 (Programação

Arquitetônica) – “elemento prescritivo usado pelos projetistas para desenvolver

soluções” (RABINOWITZ 1984: 396), ou então

“reconhecimento e compreensão das necessidades e

comportamentos das pessoas, e pré-requisito para estabelecer as

metas para o programa do edifício ... [onde] o arquiteto atua como

facilitador para tornar o ambiente flexível e adaptável para acomodar

os desejos das pessoas” (SANOFF 1977:1) –

que se consolida com a criação do primeiro grupo de profissionais de

programação dos edifícios, o TEAG (The Environmental Analisys Group),

fundado em 1956 por Gerald DAVIS.

Em lugar de uma abordagem que priorize e descreva o histórico e a evolução

da APO, procuro relacionar o processo de surgimento, consolidação e

sistematização da avaliação de desempenho com as principais transformações

ocorridas a partir de meados do século XX 124 –, especialmente ao processo de

globalização da economia que se desenvolve com a formação de

corporações multinacionais e transnacionais (CAPÍTULO II). Assim, é possível

associar a diluição das fronteiras nacionais – promovida pelo deslocamento de

investimentos e da produção das grandes corporações para ambientes mais

favoráveis, beneficiadas pelos avanços no setor de comunicações, transportes

e finanças (REBOUÇAS 1998) – com a disseminação da arquitetura International

Style, e com a integração das disciplinas acadêmicas e dos pesquisadores de

diversos países nas pesquisas sobre o ambiente construído.125

Em função da extensa bibliografia relativa à APO (Preiser et al 1988; ORNSTEIN &

ROMÉRO 1992; ANTAC/NUTAU 1994; ORNSTEIN 1996b; BECHTEL 1997), serão

123 Nos Estados Unidos, a programação tem sido considerada como uma atividade distinta da

prática projetual. Segundo David HAVILAND (1996: 57), as metas de programa e projeto são

interativas e recíprocas: se, de um lado, o programa parametriza os projetos, de outro, ele

também pode ser implementado por um projeto. 124 Para uma leitura mais detalhada da história da APO é indispensável a leitura de PREISER,

RABINOWITZ & WHITE (Post-Occupancy Evaluation 1988), de BETCHEL (Environment & Behavior, an

Introduction,1997), ORNSTEIN e ROMERO (Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente Construído,

1992) e de ORNSTEIN (Avaliação Pós-Ocupação [APO] no Brasil: Estado da Arte, Desenvolvimento

e Necessidades Futuras, 1996; Desempenho do Ambiente Construído, Interdisciplinaridade e

Arquitetura, 1996a). 125 Cf. REBOUÇAS (1998), além de definir um mercado global de bens e serviços, a dimensão

tecnológica da globalização também define um mercado global de conhecimento.

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observados apenas os aspectos que contribuíram para a consolidação do

processo de avaliação que se refletem de algum modo sobre o objeto deste

estudo: os edifícios e ambientes de escritório dotados de sistemas de alta

tecnologia. Inicialmente, o texto toma a forma de uma análise descritiva mais

genérica e compartimentada – arquitetura, programação e avaliação de

desempenho dos edifícios são analisados em separado. À medida que se

diluem as fronteiras geográficas, culturais, científicas, tecnológicas e

acadêmicas e que aumenta sua interação – especialmente a partir de meados

dos anos 80 – o foco se direciona para a avaliação dos aspectos teóricos e

práticos relativos ao processo de concepção, produção e avaliação dos

edifícios.

Surgimento e consolidação das primeiras associações e grupos

interdisciplinares.126

Enquanto a “Cortina de Ferro” provoca o acirramento da “guerra fria” e

eclodem as guerras da Coréia e do Vietnã, os primeiros aviões a jato

intercontinentais reduzem as distâncias entre os continentes, as cidades são

tomadas pelos automóveis e pelos arranha-céus. As casas são invadidas pelos

eletrodomésticos, pelo rádio portátil, pela televisão, pelas roupas de nylon e

de tergal, e surgem as bases da revolução cultural dos anos 60.127

A década de 60 é marcada por conturbados momentos na política

internacional, por manifestações de contestação social128 e efervescência nas

126 Cf. SAARINEN & SELL (in BECHTEL 1997: 94), em 1967 a Anglo-América concentra 88,5% dos

trabalhos de APO, enquanto a Europa Ocidental responde pelos 11,5% restantes. 127 Simone de BEAUVOIR (O segundo Sexo 1949) lança as bases do movimento de emancipação

feminina; com Bill HALLEY and the Comets (Rock Around the Clock 1954), surge o Rock’n’roll que,

através de Elvis PRESLEY, embala as esperanças da “Geração James Dean”; Herbert MARCUSE

(Eros e a Civilização 1955) lança as bases da revolução comportamental nas universidades;

Allen GINSBERG (Howl 1955 e América 1956) e Jack KEROUAC (On the road 1957), lançam o

movimento Beat, que influencia os movimentos hippie, ecológico e gay. Noam CHOMSKY

(Estruturas Sintáticas 1957) se contrapõe ao behaviorismo, ao afirmar que a capacidade

humana para a gramática é inata; Roland BARTHES (Mitologias 1957), exalta a semiologia de

SUASSURE e afirma que todas as atitudes sociais expressas através da arte, da mídia e do senso

comum mascaram a realidade; Ingmar BERGMAN (O Sétimo Selo 1957) inaugura o cinema

autoral, que se consolida com a Nouvelle Vague francesa (1959), de François TRUFFAUT, Alain

RESNAIS, Jean-Luc GODARD.

128 Suas duas principais tendências a expansão da consciência na direção do transpessoal e na

direção do social (CAPRA 1991) – explicitam o esgotamento do sistema de crenças até então

dominante. Este período, conhecido como “contracultura” desferiu um ataque às coerções

emocionais e favoreceu o relaxamento dos padrões formais de vestuário, apresentação e

comportamento.” FEATHERSTONE (1995: 71)

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artes, na cultura129 e na ciência130. Em meio a estas transformações e a um

ambiente social que supervaloriza a especialização nas diversas áreas das

ciências e nas atividades produtivas, o surgimento das primeiras experiências

em psicologia ambiental e em programação arquitetônica, com a

colaboração de sociólogos e antropólogos evidencia seu caráter inovador. Os

psicólogos ambientais consolidam suas teorias em pesquisas realizadas,

principalmente, em alojamentos de estudantes e hospitais. Os programadores,

atuando como “tradutores” entre proprietários, usuários e projetistas,

produzem os fundamentos metodológicos da avaliação de desempenho.

Alguns dos mais importantes pesquisadores e autores de APO e estudiosos dos

edifícios e ambientes de escritório iniciam sua atuação neste período.131

Na arquitetura, desponta o trabalho de Kevin LYNCH e Christopher

ALEXANDER132. Com A imagem da cidade (1960) LYNCH lança as bases do

desenho urbano e estabelece a primeira conexão da arquitetura com a

psicologia ambiental e com a antropologia. ALEXANDER busca um princípio

de organização capaz de gerar um entorno físico onde o homem urbano

possa novamente levar uma vida equilibrada, e lança as bases para um

modelo racional de decisão projetual – conjunto de regras que governam os

procedimentos do processo projetual133 (SALAMA 1995). Em Notes on the

Synthesis of Form (1964), ALEXANDER afirma que a insistência na intuição e na

individualidade do arquiteto na invenção de novas formas está esgotada

diante da atual complexidade do mundo e da vida do homem, que exigem

uma nova ordem física, e uma nova organização e forma para o processo

projetual ou “processo de invenção de coisas físicas”. Ao subjetivismo do

129 WAHROL inaugura a “arte pop” dos clichês, o rock inglês, liderado pela irreverência dos Beatles

e pelo anarquismo dos Rolling Stones, ganha o mundo, enquanto BAEZ e DYLAN inauguram a

música de protesto; dois grandes festivais, White e Woodstock, consolidam o rock como a 1a

manifestação cultural global. 130 A física é revolucionada pela invenção do raio laser e do quark; o homem pousa na Lua; os

cabos telefônicos de fibra ótica e os satélites revolucionam as comunicações, e prenunciam a

Revolução Informacional (anos 70).

131 Robert BECHTEL, Wolfgang PREISER, Henry SANOFF, Franklin BECKER, Volker HARTKOPF, David

KERNOUHAN, Vivian LOFTNESS, John WORTHINGTON, Francis DUFFY, Gerald DAVIS e outros. 132 Cf. BETCHEL (1997), junto com BARKER, HALL e SOMMER, os pioneiros da pesquisa do ambiente

construído e do comportamento humano. 133 Coexistem três diferentes modelos: (a) modelo intuitivo ou “abordagem caixa preta” (JONES

1970); (b) modelo racional ou “abordagem caixa de vidro” (JONES 1970); e (c) modelo

participativo ou “projeto comunitário”, ou “abordagem pesquisa-ação” (SANOFF 1978, 1988 e

1992).

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143

modelo intuitivo, contrapõe uma representação matemática de um problema

de projeto expresso através da teoria dos conjuntos.134

Outros autores influentes, são Jane JACOBS, Robert VENTURI, Aldo ROSSI e Henry

LEFEBVRE. JACOBS (The Death and Life of Great American Cities 1961) produz

um manifesto contra o planejamento e as práticas de reordenamento urbano.

VENTURI (Complexity and Contradiction in Arquitecture 1966) questiona a

ambigüidade, pouca atratividade e falta de crítica presentes na doutrina e nos

dogmas dominantes da arquitetura, expressas em suas composições abstratas,

condicionadas pela tecnologia e pela legislação; em contrapartida, preconiza

a retomada da pluralidade funcional e da ambigüidade significativa como

valores mais relevantes e coerentes com as exigências simbólicas dos grupos

sociais. ROSSI (A Arquitetura da Cidade 1966), em contraposição à

fragmentação entre arquitetura e urbanismo, lança os fundamentos do

Contextualismo Cultural e sugere que a cidade seja entendida como

arquitetura. LEFEBVRE (Le droit a la ville 1968) questiona A Carta de Atenas, um

dos principais dogmas do urbanismo moderno, que reduz a vida humana a

quatro necessidades funcionais simplistas – habitar, trabalhar, circular e cultivar

o corpo e o espírito – e fragmenta os espaços onde elas se realizam. Ao afirmar

que “efetivamente é mais fácil construir cidades do que vida urbana”, denuncia

a prevalência dos interesses burocráticos [funcionalistas] que permeiam a

estratégia política que sustenta o urbanismo moderno.

Estas obras explicitam a crise de valores que dificulta a interpretação das

transformações produzidas no ambiente construído, pela visão especializada,

e reconhecem a incapacidade da arquitetura interpretar e propor soluções

adequadas. Mas o ambiente construído passa a ser uma preocupação de

arquitetos, sociólogos, antropólogos, psicólogos e geógrafos começam a

relacionar problemas comportamentais com ambiente construído.

Além de BARKER, Edward HALL, Robert SOMMER e Amos RAPOPORT publicam

importantes trabalhos. HALL (The Silent Language 1959; The Hidden Dimention

1966) evidencia a diversidade de abordagem do espaço nas diferentes

culturas e introduz o conceito de proxêmica e distância pessoal. SOMMER

134 ALEXANDER propõe correlações entre um conjunto de possibilidades de desajuste de forma e

contexto, e um conjunto de articulações associadas com as variáveis do conjunto anterior, em

um determinado domínio.

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144

(Personal Space: The Behavioral Basis of Design 1969) critica os projetistas, que

dão forma aos edifícios e às pessoas, e sugere que “se deva fazer algum

esforço para ver até que ponto um edifício é satisfatório do ponto de vista do

público” (SOMMER 1973). RAPOPORT (House Form and Culture 1969) analisa e

sistematiza as relações biunívocas existentes entre o homem e o ambiente

construído, a partir de um viés da psicologia ambiental e da antropologia.

Nos anos 60, são publicados os resultados de diversas pesquisas sobre as

relações entre comportamento humano e projeto dos edifícios, em livros ou

em periódicos como Environment and Behavior, Architecture e Progressive

Architecture (PREISER et al 1988: 8-9). Importantes contribuições conceituais e

metodológicas para a análise ambiental são divulgadas por H. OSMOND

(1966)135, E. EHRENKRANTZ (1967), S. Van der RYM & M. SILVERSTEIN (1967) e por

W. PREISER (1969), que propõe perfis de desempenho e correlações entre

medidas subjetivas e objetivas de desempenho.

A dificuldade para compreender a complexidade das transformações sociais,

culturais e tecnológicas favorece o surgimento de associações e grupos

interdisciplinares de pesquisa. Em 1968, é criada a EDRA – Environment Design

Research Association)136, associação profissional interdisciplinar, com o

propósito de “avançar a pesquisa na arte e na ciência do desenho ambiental,

melhorar o entendimento dos relacionamentos entre as pessoas e os seus

ambientes construído e natural, ajudando a produzir ambientes responsivos

para as necessidades do homem.”137 Seu primeiro encontro (1969) é um marco

para o desenvolvimento da pesquisa do ambiente construído como campo

interdisciplinar.138 Neste mesmo ano, no Reino Unido, realiza-se a Dalanday

Conference, evento bianual que possibilita a futura criação da IAPS

(International Association for the Study of People and Their Physical

Surroundings).

135 Cf. BECHTEL (1997: 79) Mentor de SOMMER, que cunhou os termos sociofugal space para áreas

abertas e sociopetal space para ambientes de restaurante e salas de estar. 136 CF. BETCHEL (1997: 81), por influência das aulas de Christopher ALEXANDER em Berkeley. 137 Disponível na internet no endereço: http://www.telepath.com/edra/ 138 Publicado por H. SANOFF e S. COHN (1970).

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145

Perspectiva compreensiva do projeto e pouca atenção com meio

ambiente.139

Marcada pela consolidação do arcabouço teórico das visões alternativas de

mundo surgidas na década de 60, pela crise do petróleo e pelo início da

“Revolução da Tecnologia da Informação”, a década de 70 produz diversos

trabalhos científicos interdisciplinares. Surgem importantes contribuições para o

entendimento das relações homem-ambiente140 e da percepção ambiental141,

especialmente sua relação com a cidade142. Em meio aos problemas

econômicos decorrentes da crise do petróleo, da crescente competição

global, dos novos conceitos corporativos e da complexidade dos novos

edifícios de escritórios com seus diversos sistemas “inteligentes”, a avaliação de

desempenho assume importante papel de apoio para a produção de

edifícios mais responsivos às necessidades e às expectativas de seus usuários. A

APO é uma de suas principais vertentes metodológicas.

Na arquitetura, ALEXANDER e seus colaboradores de Berkeley transformam em

realidade o sonho de “conseguir um processo projetual que proceda do

corpo dos homens que habitam os lugares projetados, e não da mente de uns

especialistas e técnicos ou estetas que excluem os usuários com seus próprios

problemas e interesses” (ALEXANDER 1987: contracapa). Em seqüência a Notes

on the Synthesis of Form, produz a trilogia: (1) The Timeless Way of Buildindg

(1979), que propõe uma nova teoria da arquitetura, da construção e do

planejamento fundada no processo secular através do qual as diferentes

sociedades e culturas extraem a ordem do mundo; (2) A Pattern Language:

Towns. Buildings. Construction (1977), formula um princípio geral de projeto

capaz de ser utilizado em qualquer escala de ambiente por qualquer pessoa,

que desafia as idéias dominantes sobre arquitetura e planejamento; (3) The

139 Cf. SAARINEN & SELL (in BECHTEL 1997: 94), em meados dos anos 70 a Anglo-América concentra

84,4% dos trabalhos de APO, enquanto a Europa Ocidental 12,2%, a Australasia 1,4 %, a América

Latina 1,3%, a Europa Oriental 1,0%, a África 0,2% e a Ásia 0,0 %. 140 BATESON (Steps to na Ecology of Mind 1972; Mind and Nature 1979), SCHUMACHER (Small is

Beautifull 1973), CHEW (Teoria Bootstrap), HENDERSON (Creating Alternative Futures 1979), DORST

(Antes que a natureza morra 1971). 141 Yi-fu TUAN (Topophilia: a study of environmental perception, attitudes, and values 1974).

142 Italo CALVINO (As cidades invisíveis 1971), Manuel CASTELLS (La question Urbaine (1972),

Christian NORBERG-SCHULZ (Existence, Space and Architecture 1975), Robert GOODMAN (After

the planners 1971).

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146

Oregon Experiment (1975), traça o Plano Diretor da University of Oregon e

exemplifica como suas idéias inovadoras de arquitetura e urbanismo podem

ser aplicadas na prática de uma determinada comunidade. O conjunto dos

quatro livros de ALEXANDER representa a primeira aplicação dos princípios da

lógica fuzzy na resolução de um problema de arquitetura e A Pattern

Language: Towns. Buildings, desenvolve sentenças e variáveis lingüísticas

[padrões] que descrevem os diferentes relacionamentos no ambiente físico e

formulam empiricamente as condições necessárias para conseguir a saúde

individual e coletiva de uma comunidade ou grupo.

Na programação arquitetônica, Henry SANOFF (Methods of Architectural

Programming 1977; Designing With Community Participation 1978) lança as

bases do “projeto comunitário” ou “abordagem pesquisa-ação”, e defende o

envolvimento dos usuários no processo de decisão para garantir que suas

necessidades e valores sejam levadas em consideração. SANOFF considera

que o processo projetual deve procurar unir os métodos tradicionais, baseados

na intuição e na experiência, com um processo lógico e rigoroso de raciocínio,

de modo a absorver o melhor de cada um dos dois lados.

Na APO, os anos 70 caracterizam-se pela sistematização dos métodos

múltiplos (PREISER et al 1988: 11), segundo uma perspectiva compreensiva do

projeto, que se caracteriza (1) pela pouca atenção ao meio-ambiente físico e

à saúde, segurança e bem-estar de seus ocupantes, e (2) pela ênfase

excessiva no desempenho energético dos edifícios, decorrente da crise de

energia. R. GOODRICH (Post-Design Evaluation of Centre Square Project 1976)

conduz projeto inovador de Avaliação Pós-Projeto143 de escritório aberto com

600 empregados, e organismos oficiais desenvolvem e publicam importantes

trabalhos: J. M. DUNPHY e D. SADBOLT do PWC (Public Works Canada)

elaboram estudo que incluem recomendações para melhoria da

programação, para avaliação da construção e para responder às

necessidades dos usuários. A GENERAL SERVICES ADMINISTRATION produz a

primeira publicação oficial contendo padrões de desempenho dos sistemas

de escritórios (The PBS Building Systems Program and Performance

Specifications for Office Buildings: 1975).

143 Também denominada Avaliação Pré-Ocupação.

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147

Em 1976, surge o primeiro programa de graduação em facility management

(1976) na School of Architecture at Carleton University de Otawa, cuja

implantação foi coordenada pelo TEAG (The Environmental Group to Ottawa).

[SZIGETI & DAVIS 1997: 8] Enquanto isso, na Europa, realizam-se três International

Conference on Architectural Psycology: em 1970 (Kingston, Reino Unido), 1973

(Lund, Suécia), e 1976 (Estrasburgo, França).

No Brasil, Ualfrido del CARLO e C. MOTTA (Níveis de satisfação em conjuntos

habitacionais da Grande São Paulo 1975) realizam a primeira APO.

Sistematização de procedimentos, terminologia e formação de redes de

pesquisadores.144

Os anos 80 se caracterizam por um processo de desaceleração produtiva e

de reestruturação sócio-econômica e organizacional – desregulamentação,

liberalização, privatizações, crescimento dos serviços e redes de

telecomunicações, integração global dos mercados financeiros e articulação

segmentada da produção e do comércio mundial – influenciado e moldado

por um novo paradigma sócio-técnico: o paradigma da tecnologia da

informação (CAPÍTULO 1), que globaliza a economia e o trabalho145 para um

pequeno segmento de profissionais especializados [e cientistas], que

demandam edifícios dotados de modernos recursos e instalações ambientais,

informacionais e telemáticas.

Na arquitetura, Kevin LYNCH (A Theory of Good City Form 1981) critica a

atenção excessiva da academia nos aspectos sócioeconômicos dos

assentamentos urbanos, na análise do funcionamento da forma física e na

história – “todos sabem como é uma boa cidade; o único problema é como

consegui-la. Devemos deixar que estes juízos de valor sigam sem serem

questionados?” (LYNCH 1985: 10)146 –, e explicita sua proposta de teoria

normativa sobre a forma urbana, aplicável a qualquer contexto humano.

144 Cf. SAARINEN & SELL (in BECHTEL 1997: 94), em meados dos anos 80 a Anglo-América concentra

48,5% dos trabalhos de APO, enquanto a Europa Ocidental 30,4%, a Ásia 9,5%, a Australasia 4,6%,

a Europa Oriental 2,5%, A África e a América Latina 2,2% cada. 145 CF. CASTELLS (1999a: 113), a mão-de-obra continua um recurso a ser buscado onde for mais

necessária, “em termos de especialização, custos ou controle social” e que pode fluir para onde

existam empregos. Sobre este assunto, é interessante retomar as quatro posições diferentes da

divisão internacional do trabalho na economia informacional/global indicadas por CASTELLS em

Globalização (SEÇÃO 2.1). 146 Tradução do autor.

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148

Françoise CHOAY (La régle et le modèle 1980) denuncia a imposição de uma

“disciplina que, num período de construção febril, impunha sua autoridade

incondicional” (CHOAY 1985: 2) e, em um trabalho de “escavação” dos

extratos dos vocábulos e tempos – “arquelogia da teoria da edificação”

(CHOAY 1985: 13) –, desmistifica as intenções e as anomalias produzidos pelos

principais tratados e utopias da teoria do espaço urbano.

A APO e a programação arquitetônica desenvolvem-se como disciplina,

padroniza-se a terminologia, formam-se redes de pesquisadores profissionais, e

sua aplicação se estende a grandes conjuntos de edifícios. Estudam-se as

relações dos usuários, cruzam-se resultados das medições físicas das

atividades/relações internas com as atividades/relações externas, fatores

físicos específicos, grau de satisfação, desempenho e facilidades de

comunicação no ambiente de trabalho. Seguindo os passos da globalização

da economia e da cultura de consumo, as pesquisas tornam-se transnacionais

e cada vez mais interdisciplinares, possibilitando grandes avanços em termos

de metodologias, teorias e estratégias. Na Inglaterra, David CANTER publica o

Journal of Environmental Psychology (1981) e novas associações

interdisciplinares surgem na Europa (IAPS – International Association for the

Study of People and Their Physical Surroundings 1981). No Nordeste da Ásia e

Oceania (PAPER – People and the Physical Environment Research Association

1983) e no Japão (MERA – Man-Environment Research Association 1980)147.

PREISER, RABINOWITZ & WHITE (Post-Occupancy Evaluation 1988), sistematizam

os instrumentos e métodos, em seu manual de APO onde apresentam os

conceitos básicos, o processo de avaliação pós-ocupação, e modelos de

instrumentos de coleta de dados, relatórios e uma check-list de fatores

técnicos.

No Brasil, em 1984 o Programa de Pós-graduação da FAUUSP oferece a

disciplina APO em Edificações, ministrada por DEL CARLO com a colaboração

de PREISER (ORNSTEIN e ROMÉRO 1992: 37). Em 1988, a ANTAC (Associação

Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído) incorpora a área de APO e

Sheila ORNSTEIN conclui a primeira tese de doutorado na área de APO

147 Cf. ORNSTEIN e ROMÉRO (1992: 36), o primeiro encontro realiza-se em 1982.

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149

(Avaliação da Habitação Autogerida no Terceiro Mundo). Em 1989, a FAUUSP

realiza o primeiro seminário brasileiro sobre APO.

Maturidade e reconhecimento da APO:

Além do colapso da URSS, e dos problemas na maioria dos países da África e

da Europa Socialista, e pela disseminação das redes de comunicação e

informação, os anos 90, se caracterizam pela(o): (1) desestruturação do sistema

de relações internacionais, (2) esfacelamento dos Estados-Nação e pela

consolidação de uma “economia supranacional”, (3) pelo conflito entre

localismo e globalismo, e (4) consolidação da hegemonia global norte-

americana. A precedência da invenção e da decisão estratégica e a nova

geografia possibilitam que a invenção, a decisão, a produção e o consumo

ocorram em diferentes lugares, e a ciência passa a ser programado com

antecedência, com base na “mercadoria” informação. Na nova divisão

internacional do trabalho e do conhecimento, alguns países detêm a primazia

da pesquisa, outros os meios de produção e outros são meros consumidores dos

produtos e das idéias alheias.

Na arquitetura, a sensação de crise aparente entre os profissionais de projeto

evidencia que a profissão está mudando sem muita clareza do rumo que vai

seguir (ROWE 1996). Saskia SASSEN (1996) identifica a permanência da

centralidade como chave do novo sistema econômico onde a tecnologia

neutraliza em escala global a distância e o lugar. A autora considera que este

fato provoca uma abertura teórica e prática da arquitetura em torno das

quatro novas formas de identidade da centralidade: (1) a permanência da

centralidade do centro de negócios que, nos centros internacionais, assume

uma nova reconfiguração com base na tecnologia; (2) o centro de uma área

metropolitana pode se expandir em uma malha com nós de intensa atividade

negocial cujos benefícios decorrentes da telemática podem ser beneficiados

pela infraestrutura convencional; (3) a formação de um “centro” transterritorial

constituído pela telemática e pela intensidade do fluxo de negócios; e (4) as

novas formas de centralidade são constituídas pelos espaços gerados pela

eletrônica, que é estrategicamente operada pela indústria financeira.148 Peter

148 A exemplo de CASTELLS (1999a) e Milton SANTOS (1997), SASSEN observa a capacidade

potencial de controle global de certas cidades geograficamente distantes, que são

transformadas pela eletrônica e pelas telecomunicações em “cidades globais” gerenciados à

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150

ROWE (1996) reconhece a tendência à diminuição do mundo da arquitetura,

em função da facilidade e rapidez de transferência de tecnologia, estilos e

modelos intelectuais, que circulam de uma região para outra, gerando tensões

oscilantes entre os ‘fundamentalistas’ locais e os ‘universalistas’ globais.149 Outra

forma de tensão identificada por ROWE é representada, de um lado, pela

homogeneização das práticas profissionais que faz desaparecer as distinções

espaciais, tornando semelhantes os altos edifícios que surgem pelo mundo

afora; de outro lado, suas atividades na Harvard Graduate School of Design

revelam a tendência dos estudantes estrangeiros analisarem com mais

profundidade sua própria cultura, seus valores e crenças, que deveriam estar

incorporadas em seus trabalhos.

Otto RIEWOLDT (1997) reconhece a necessidade de uma resposta apropriada

de arquitetos e projetistas para as demandas da revolução da mídia, onde a

arquitetura têm papel especial de garantir o “aperitivo” das delícias virtuais do

prometido cenário interno do ambiente construído. A materialidade das

estruturas dos edifícios da fronteira do mundo tecnológico está em uma forma

paradoxal de conflito com a realidade virtual – que se baseia em

simultaneidade, sincronicidade, permanência, imaterialidade, imediatismo e

globalidade – que precisa cada vez menos da arquitetura, tornando-a

obsoleta, redundante. RIEWOLDT identifica três tendências gerais para a

grande diversidade de soluções arquitetônicas: (1) Em termos formais, a

exploração do potencial futurístico contido no interior dos edifícios, inspirados

na ficção científica e em uma série de idéias que se estendem da arquitetura

divertida e nas caricaturas aos projetos deconstrutivistas, dá continuidade às

preocupações pós-modernistas com uma moda eclética e descontraída. (2) A

arquitetura reducionista, incluindo os improvisados estilos high-tech e

workshop, é uma resposta paralela para o mesmo problema. (3) Reagindo à

desmaterialização do mundo digital, a arquitetura se torna cada vez mais

individualizada. Em termos de programa, RIEWOLDT aponta a tendência de

distância. Mas o controle centralizado e gerido além de uma disposição de geografia dispersa

de plantas industriais, escritórios, e serviços de distribuição não é uma coisa inevitável que requer

uma vasta gama de serviços especializados, de funções de alta gerência e de controle de uma

infraestrutura avançada. 149 O autor ilustra os dois extremos destas tensões: (1) tente convencer uma dona de casa da

Arábia Saudita a abandonar os confortos de sua casa dotada de todos os recursos tecnológicos

para voltar a habitar em uma tenda; (2) a ameaça aos valores tradicionais provocada pelos

modernos edifícios construídos no Centro-este Norte Americano.

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edifícios de multi-função, construções híbridas que combinam sob um mesmo

teto, funções que até então eram consideradas separadas, e que vão da

urbanização de edifícios individuais ao desenvolvimento de novas mega-

estruturas urbanas. A clara preferência pelo vidro, pelo metal e pelas novas

combinações de materiais, que pode ser atribuído à grande flexibilidade

destes materiais, não indica, necessariamente, uma nova arquitetura

fundamentada na mídia. RIEWOLDT também observa: (1) O dualismo entre

transparência e encobrimento, abertura e retenção, anunciado como um

leitmotif dos dias modernos, fundamenta-se em princípios arquitetônicos muito

antigos; (2) A unidade entre conteúdo e forma, ou entre função e construção

começa a derrubar a crença de que a revolução digital deixa a arquitetura

aos seus próprios interesses: redes e estações de trabalho podem funcionar nos

mais diversos contextos. (3) A possibilidadede instalar sistemas prediais

computadorizados tanto em edifícios novos como em monumentos

protegidos, evidencia a possibilidade de transformação de edifícios históricos

em ultra-modernos centros bancários ou museus. Segundo o autor, na

realidade, a restauração, a criação de imagem e o estado-da-arte da

tecnologia de comunicações podem conviver muito bem entre si.

Com relação à APO, Robert BECHTEL (1997) publica amplo compêndio sobre as

diversas áreas conceituais da APO (e do PDR - Pre-Design Research) – valores,

crenças e atitudes, percepção ambiental e estética, cognição ambiental, e

estresse ambiental. Suas conclusões relativas às teorias de comportamento e

ambiente – que incluem as teorias GAIA, sociobiologia, biofilia, holismo orgânico

– confirmam o acerto e a atualidade da fundamentação teórica deste

trabalho. A exemplo de BECHTEL, SANOFF (1992) – que defende a necessidade

de se aprender a escutar e compreender “não somente aos clientes que

pagam pelos serviços dos arquitetos, mas as pessoas que usam e são afetadas

pelo ambiente” – procura interrelacionar os avanços do conhecimento de

programação, avaliação e participação, para maior compreensão dos efeitos

da intervenção humana no ambiente físico. SANOFF procura relacionar

avaliação e programação, analisar os processos e métodos da avaliação do

projeto e do projeto participativo, propõe e aplicar um processo integrado de

programação, avaliação e projeto participativo (Teoria Z).

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152

PREISER (in EDRA’30 1999) avalia a evolução dos estudos de ambiente e

comportamento (EBS – Environment/Behavior Studies) e da APO nos últimos 30

anos e, em especial, nos anos 90. Além da maturidade do campo de pesquisa

e sua contribuição no sentido de melhorar a responsividade dos edifícios às

necessidades dos usuários, o autor reconhece que os projetistas começam,

finalmente, a tomar conhecimento da necessidade da APO para avaliar o

desempenho – mais para atender à exigência de alguns clientes instituicionais

e corporativos como suporte à programação, do que por vontade própria.

No Brasil, ao longo da década de 90, surgem as primeiras publicações relativas

à APO, com destaque para a produção de ORNSTEIN, que contribuiu

decisivamente para dosseminar a APO no Brasil: Avaliação Pós-Ocupação do

Ambiente Construído, ORNSTEIN e ROMÉRO [colaborador] 1992), Ambiente

Construído & Comportamento: Avaliação Pós-Ocupação e a Qualidade

Ambiental, ORNSTEIN et al 1995), Desempenho do Ambiente Construído,

Interdisciplinaridade e Arquitetura (ORNSTEIN 1996). Merecem destaque suas

análises sobre as tendências e perspectivas da APO, especialmente no Brasil,

sua preocupação com os procedimentos metodológicos, e sua preocupação

em relaconar desempenho, tecnologia e comportamento humano a partir de

uma abordagem sistêmica (ORNSTEIN 1996a). O trabalho de ORNSTEIN foi

importante na definição dos perfis de oferta e de demanda dos atributos

construtivos e de ambiência interna (ANEXO 05).

Ao longo dos anos 90 a ANTAC e o NUTAU150, promovem eventos internacionais

interdisciplinares regulares (bianuais) com painéis específicos de APO, onde

são divulgados os trabalhos de pesquisadores ligados a diversas universidades

brasileiras. Por seu caráter pioneiro, merece destaque o Workshop Avaliação

Pós-Ocupação (ANTAC/NUTAU 1994), realizado em São Paulo, com o objetivo

de discutir e revisar (1) a terminologia e os conceitos (MEDVEDOVSKI); (2) os

métodos e técnicas de levantamentos e de análise de dados (LAY & REIS;

MONTEIRO & LOUREIRO); (3) e os procedimentos e técnicas estatísticas

aplicadas à APO (ORNSTEIN, BRUNA & TASCHNER). Dos mais de 100 trabalhos

publicados em eventos científicos, 1995 predominam os artigos voltados para

150 Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo da FAUUSP, criado em

1992, por SERRA, ORNSTEIN, ROMÉRO, SIMÕES e DEL CARLO.

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os aspectos teóricos e metodológicos e em edifícios educacionais, enquanto

a partir de 1995, a ênfase passa a ser a habitação social. (ORNSTEIN 1996b: 75)

No Rio de Janeiro, despontam os estudos de percepção ambiental

desenvolvidos por DEL RIO: Desenho Urbano e Revitalização na Área Portuária

do Rio de Janeiro (DEL RIO 1991), Percepção Ambiental (DEL RIO e OLIVEIRA,

org. 1996) e Perquisa & Projeto (DEL RIO et al 1998), importantes no

desenvolvimento dos instrumentos e técnicas de observação (RHEINGANTZ

1995), bem como na definição dos perfis de oferta e de demanda dos

atributos corporativos, de infraestrutura e de ambiência interna (CAPÍTULO V).

Sob a liderança de Sheila ORNSTEIN, o grupo de APO do NUTAU desenvolve

intensa atividade151 e inicia intercâmbio regular com instituições e

pesquisadores internacionais. Atualmente este grupo participa da equipe de

pesquisadores do IBPE – Internacional Building Performance Evaluation Project

– projeto de pesquisa coordenado por PREISER que conta com pesquisadores

americanos, alemães, brasileiros, holandeses, ingleses, japoneses e da Arabia

Saudita, cujo objetivo é desenvolver um conjunto de instrumentos

metodólogicos "padrão" para avaliação de desempenho de ambientes de

trabalho passíveis de serem aplicados em qualquer parte do mundo.

(ORNSTEIN, LEITE e ANDRADE 1999)

No Rio de Janeiro, a COPPE e o PROARQ têm desenvolvido trabalhos sistemáticos da

APO a partir de 1996152, através dos grupos de pesquisa Avaliação do Projeto e da

Gestão dos Edifícios de Serviço e Habitacionais (Sistema Diretório CNPq)153 e Hábitat.

Atualmente estão em andamento 5 teses de doutorado na COPPE e diversas de

mestrado no PROARQ. Em parceria com o NUTAU, a partir de 1998 o PROARQ tem

mantido permanente contato com pesquisadores de APO e em agosto de 2000 em

parceria com o EICOS-IP/UFRJ, promove o Seminário de Psicologia e Projeto do

Ambiente Construído.

151 Cf. BECHTEL (1997: 95), o fato de ORNSTEIN estar envolvida em nada menos do que 11 APOs

em diferentes estágios, faz com que em 1990, “São Paulo tenha se tornado a capital mundial da

APO.” 152 RHEINGANTZ (1995, 1998); COSENZA et al (1996, 1997); RHEINGANTZ et al (1997); DEL RIO et al.

(1998); ALVES & SANTOS (1998); BRASILEIRO et al. (1998); GONÇALVES & RIBEIRO (1998); LEITÃO &

ANDRADE (1998); SANTOS et al. (1998); DEL RIO & SANOFF (1999); 153 Coordenado por COSENZA e RHEINGANTZ, com a participação de Maria PORTO, Fernando

LIMA, Vicente del RIO, Rosina RIBEIRO, Adriano FONSECA, Ceça GUIMARAENS, Mauro SANTOS e

Giselle AZEVEDO.

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154

A seguir, serão analisados a evolução de APO de edifícios e ambientes de

escritório, e apresentados os principais instrumentos e técnicas desenvolvidos

para este tipo de análise e que, a exemplo do MAH-COPPE, confrontam oferta

e procura: o BQA, o ST&M e o REN.

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155

3.3 Avaliação de Desempenho de Edifícios de Escritórios: BQA, ST&M, REN

A avaliação de desempenho dos edifícios de escritórios surgiu a partir dos

trabalhos do U.S. National Institute of Standards and Technology154 e do

Committee E06 on Performance of Buildings of ASTM (American Society for

Testing and Materials) [1946], que abordavam o desempenho dos edifícios de

escritórios do governo e das escolas municipais da California, de Ontário e

Quebec.

Durante os anos anos 50 e 60, Gerald DAVIS cria o TEAG (The Environmetal

Analisys Group 1956) e P. MANNING, do Pilkington Research Unit, publica a

primeira avaliação realizada em edifícios de escritórios: Office Design: A Study

of Environment (1965). Durante os anos 70, enquanto a APO se dissemina, R.

GOODRICH (Post-Design Evaluation of Centre Square Project 1976) conduz

projeto de avaliação pós-projeto155 de escritório aberto com 600 empregados,

alguns organismos oficiais desenvolvem e publicam importantes trabalhos

relacionados a padrões de desempenho, recomendações para avaliação da

construção e para responder às necessidades dos usuários.156

Durante os anos 80, enquanto a APO se consolida e surgem importantes

trabalhos sobre a arquitetura de escritórios. Judy KLEIN (Office Book; ideas and

design for contemporary work spaces 1982) realiza estudo abrangente da

arquitetura dos ambientes de escritórios, onde: (1) ilustra a evolução do

escritório na história; (2) analisa os principais conceitos desenvolvidos a partir

do pós-guerra; (3) fornece recomendações para escritórios que atendam aos

diferentes tipos de uso, e (4) fornece um guia internacional sobre fontes de

informações. John PILE (Open Office Space 1984) estuda as origens, usos e

expectativas dos usuários do escritório aberto, com o objetivo de auxiliar e

orientar os projetistas. O autor analisa alguns projetos de escritório aberto

154 Atual National Bureau of Standards. 155 Antiga designação para o que hoje se denomina Avaliação Pré-Ocupação. 156 J. M. DUNPHY e D. SADBOLT do PWC (Public Works Canada), GENERAL SERVICES

ADMINISTRATION (The PBS Building Systems Program and Performance Specifications for Office

Buildings: 1975), a primeira publicação oficial contendo padrões de desempenho dos sistemas

de escritórios; DEPARTMENT OF THE ARMY (Design Guide DG 1 a 10-3-106 US Army Service Schools:

1976); SURVEY RESEARCH CENTER – INSTITUTE FOR SOCIAL RESEARCH (Interviewer's Manual: 1976);

PUBLIC WORKS CANADA (Project Delivery System, Stage 10: Level 1 Evaluation, Users Manual:

1979); SYNDICAT D’STUDES INTERINDUSTRIES–CONSTRUCTION e o CENTRE SCIENTIFIQUE ET

TECHNIQUE DE LA CONSTRUCTION de Bruxelas (Des Performances du Bâtiment: 1979).

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156

realizados entre meados dos anos 70 e início dos 80. A Herman Miller Research

Corporation [HMRC] (Everybody’s Business: a fund of retrievable ideas form

humanizing life in the office 1985) defende a humanização da vida no

escritório, e valoriza os trabalhadores não usuários de escritórios, “os

trabalhadores do neo-escritório”, ou “trabalhadores de escritório sem

escritórios”157. A seguir, questiona aspectos e imagens estereotipados sobre

trabalhadores e ambiente de escritório, e afirma que a maioria dos edifícios de

escritórios abriga pequenos e medianos inquilinos com grande discrepância

de interesses, propósitos e recursos, onde trabalhadores anônimos cumprem

suas jornadas nas escrivaninhas de edifícios cercados de divisórias e paredes

de vidro. O estudo também defende uma visão negocial que reconheça a

diferença entre ganhos de curto prazo e valores de longo prazo, entre uma

fachada ostensiva e um marco duradouro, entre empilhar pessoas e cultivar o

potencial humano. Na conclusão do livro são apresentados quatro lugares

excepcionalmente bons para trabalhar158: Hewlett Packard Company (Palo

Alto), Odetics Inc. (Anaheim), Meredith’s Corporation (Des Moines), e

Northwestern Mutual Life (Milwaukee).

Sobre a avaliação de ambientes de escritório, R.. MARANS & K. SPRECKELMEYER

(Evaluation Built Environments: A Behavioral Approach 1981) produzem um

modelo para determinar a influência do espaço de trabalho na percepção e

no comportamento dos trabalhadores (PREISER et al 1988: 13). M. BRILL et al

(Using Office Design to Increase Productivity 1984), publica os resultados de 5

anos de APO envolvendo 70 escritórios e cerca de 500 usuários, combinando

questionário, medições físicas das condições ambientais, identificando as

relações existentes entre fatores físicos, grau de satisfação no trabalho,

desempenho e facilidade de comunicação (PREISER et al 1988). Em Cornell, G.

DAVIS, F. BECKER, B. SIMS e F. DUFFY, com a colaboração de J. FARBSTEIN e F.

157 Como, por exemplo: escritório-mala do vendedor ambulante, o cubículo de um chaveiro ou

de um sapateiro; empregadas diaristas, a barraca de um salva-vidas, gerentes de

supermercado, frentistas de postos de gasolina, caixas de ferramentas de mecânicos, eletricistas

e carpinteiros, etc; segundo o HMRC (1985-1), seus escritórios estão nas suas cabeças, nos seus

porta-luvas, nos seus armários de material de limpeza, nas suas tumultuadas salas e mesas de

cozinha.

158 Cf. HMRC (1985: 77) qualificados a partir de 5 perguntas: (1) baixa rotatividade (especialmente

da maioria das pessoas com talento)? (2) Liberdade para cada empregado arrumar seu próprio

ambiente? (3) Um lugar onde se pode progredir? (4) Um lugar onde nos sentimos aceitos e

respeitados? (5) Um lugar onde se pode enriquecer material e emocionalmente?

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157

STEELE trabalham no estudo ORBIT-2, abordagem pioneira na sistematização e

na classificação dos recursos e instalações prediais dos edifícios de escritórios

por “níveis.” O desenvolvimento do projeto ORBIT-2 segue com SIMS e BECKER

em Cornell, DAVIS e SZIGETI em Ottawa e DEGW em Londres, fundamentando

diversos trabalhos, estudos e análises direcionadas para a reabilitação do Home

Office baseados em estações de trabalho genéricas e modulares (M. BELL -

Escritório’88 da Xerox; R. BARRY - estudos de tecnologia de escritório do Banco

Mundial), bem como a publicação do documento ORBIT-Information

Technology and Office Design (DEGW 1983). [DAVIS & SZIGETI 1997: 8-9]

A ASTM constitui o ASTM Committee E06 (posteriormente ASTM Subcommittee

E06.25), grupo de trabalho para analisar as normas gerais sobre funcionalidade

e qualidade dos edifícios e seus recursos e instalações, que reconhece a

necessidade de normas mais abrangentes e precisas sobre os conceitos e

processos para definir os itens técnicos e físicos. (DAVIS & SZIGETI 1997: 9). A EDRA

e alguns organismos oficiais norteamericanos e canadenses publicam trabalhos

sobre avaliação de desempenho de edifícios. A empresa DEGW International

Ltda, com sede em Londres desenvolve intensa atividade projetual e publica

importantes trabalhos de Francis DUFFY (ORBIT Summary Report159 1984; Building

appraisal and office design160 1989). Também desponta o trabalho de BECKER,

BECHTEL, WHITE, SANOFF e de DAISH, GRAY & KERNOHAN, do CBPR - Centre for

Building Performance Research da Victoria University of Wellington.

Durante os anos 90, enquanto a APO alcança maioridade e reconhecimento,

são publicados importantes trabalhos sobre a arquitetura de escritórios, que

procuram integrar e interrelacionar os diferentes aspectos da avaliação de

desempenho em termos atuais e de cenários futuros. Na DEGW, destacam-se

os trabalhos The New Office, de Francis DUFFY (1997)161, Reinventing the

Workplace, de John WORTHINGTON (1997) e Intelligent Buildings in Latin

America162. DUFFY (1997) identifica o legado e as lições das tradições de um

século de Office Design na Europa e na América do Norte. O trabalho

159 Em co-autoria com CHANDLER 160 Publicado in Architecture New Zeeland, set/out 1989, p. 106-107. 161 Outra importante obra de DUFFY é The Changing Workplace (1992). 162 In Proceedings of 3rd International Conference on High Technology Buildings, promovido pelo

Council on Tall Buildings and Urban Hábitat (atualmente coordenado pelo arquiteto brasileiro

Edison MUSA), realizado em São Paulo, em 20/21/10/1999.

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158

também analisa as respostas do Office Design às demandas decorrentes das

novas tecnologias da informação e sinaliza sobre as perspectivas da inovação

na produção dos componentes e sistemas de escritório, no ambiente de

serviços, na administração e na locação do escritório. A partir de uma

proposta de tipologia de espaços de escritório – colméia, célula, recanto e

clube (SEÇÃO 2.4 e ANEXO V), DUFFY: (1) analisa vinte estudos de caso

internacionais; (2) reafirma a importância da avaliação de desempenho –

especialmente as técnicas que inter-relacionem meios, causas e efeitos – para

os novos tipos de negócios; e (3) sugere algumas técnicas, entre as quais a

APO.163 Na conclusão, o autor apresenta algumas sugestões para traduzir as

técnicas de avaliação à linguagem negocial, para tornar o espaço de

escritório mais eficiente e, a exemplo de KLEIN (1982), fornece diversas fontes

de ajuda – revistas, livros, organizações, exposições e eventos internacionais,

grupos e redes de estudos, e fabricantes de mobiliário. WORTHINGTON (1997)

publica os resultados de um workshop promovido pelo Institute of Advanced

Architectural Studies da University of York (1995), acrescido de alguns trabalhos

de um evento promovido e organizado pela DEGW e pelo Europeean

Intelligent Building Group164. Na introdução, WORTHINGTON aponta: (1) A

importância de definir uma estratégia do lugar de trabalho que utilize todos os

recursos possíveis – pessoas, tempo, dinheiro, lugar e tecnologia até o limite de

suas potencialidades. (2) A possibilidade da expressão física do ambiente de

trabalho na economia de ‘conhecimento’ ser muito diferente dos atuais

estereótipos. (3) A necessidade de planejadores, projetistas e facility

managers165 reconhecerem o novo paradigma de trabalho. (4) O

reconhecimento de que não basta sobrepor a nova tecnologia aos velhos

163 As demais técnicas sugeridas por DUFFY (1997), são: (1) avaliação predial – baseada nas

preferências dos usuários e expressas através de perfis de usuários; (2) classificação das

organizações e seleção por tipologia de layout e de edifício – que, por serem definidos a partir

das preferências dos usuários, permitem que as organizações ou suas unidades funcionais

escolham o tipo de layout que consideram mais adequado; (3) imaginando o ambiente de

trabalho – com auxílio de computação gráfica para estimular administradores e staff a

investigarem as melhores formas de trabalho e de estrutura organizacional; (4) estudos de tempo

de utilização – com auxílio de computação, ajudam a mensurar como o tempo e o espaço de

escritório são efetivamente utilizados; e (5) observação do desempenho do lugar de trabalho –

percepção do staff sobre a efetividade e a importância de suas acomodações, especialmente

a adequação para o desempenho de suas tarefas. 164 Intelligent Buildings and New Ways of Working. 165 Termo sem equivalente em português, utilizado para caracterizar os gerentes dos recursos

prediais dos “edifícios inteligentes”.

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159

padrões de trabalho, implicando na necessidade de repensar o modo como

as novas organizações trabalham e aplicam tecnologia.166 (5) A diferença

entre os novos centros corporativos – que devem ser capazes de garantir um

senso de lugar, de reforçar a cultura e de reunir o pessoal – e os palácios

corporativos das décadas anteriores.167 LAING (1997) analisa as principais

mudanças ocorridas nos conceitos de escritório a partir de 1950 e as novas

propostas de layout (SEÇÃO 2.5); HARRIS (1997) caracteriza os anos 90 pelo

ajuste de um período de aparente estabilidade para um que se caracteriza

pela mudança – “a mudança é a única certeza com relação ao futuro do

ambiente de trabalho”; o autor observa a importância de se reconhecer a

complexidade da demanda por espaço para projetar, conceber e gerenciar

ambientes de trabalho mais responsivos à mudança, superando o

determinismo tecnológico; SOUTHWOOD (1997) analisa as relações entre o uso

tradicional e os novos usos da comunicação por voz, imagem e dados com os

sistemas prediais, e o impacto das novas tecnologias no gerenciamento e na

concepção dos novos edifícios; WITTE (1997), parte do pressuposto de que as

novas organizações são direcionadas em torno dos indivíduos, para observar

que a “mudança se refere às pessoas” e requer compromissos e atitudes dos

indivíduos de todos os níveis da organização.

HARTKOPF, LOFTNESS, DRAKE, DUBIN, MILL e ZIGA, do Center of Building

Performance and Diagnostic da Carnegie Mellon University (Designing the

Office of The Future; The Japanese Approach to Tomorrow’s Workplace 1993),

divulgam os resultados do ABSIC (Advanced Building Systems Integration

Consortium), parceria indústria-universidade que analisa as perspectivas

internacionais para os escritórios do futuro – América do Norte (estação de

166 CF. WORTHINGTON (1997: 2), as empresas de sucesso repensaram seus objetivos e formas de

trabalho suportados pela tecnologia para maximizar eficiência e agregar valor aos

empregados.

167 CF. WORTHINGTON (1997: 6), como as organizações enxutas reconhecem que a percepção

do status de possuir uma sede opulenta e inflexível assegura pouco valor negocial, em essência,

o novo centro corporativo deve ser/ter: (1) uma coleção de lugares – casa, carro, hotel, escritório

do cliente, ‘coração corporativo’ – trabalhando em rede; (2) um grupo de edifícios-chave que

refletem os valores incorporados, com espaços para agilizar a comunicação, o espírito de equipe

e a sensação de confiança; (3) condições e recursos adequados para atender o profissional

inovador; (4) tecnologia apropriada e integrada com a operação negocial.

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160

trabalho), Alemanha (envolvente), Reino Unido (material, qualidade estética e

desempenho), Japão (núcleo de serviços/recursos). O trabalho enfatiza a

diferença entre ambiente avançado e escritório “equipado” e, depois de

analisar os principais problemas causados pelo impacto das novas tecnologias,

seus autores sugerem um processo projetual inovativo e transdisciplinar que

integre os sistemas prediais para o desempenho total do edifício.168 Com base

nos principais aspectos da abordagem japonesa e analisar quatro edifícios

avançados – TOSHIBA, NTT, ARK MORI e UMEDA – os autores ponderam as

possibilidades de implementar as inovações japonesas nos campos da robótica

e da eletrônica na construção, manutenção e operação dos edifícios. O livro

também apresenta uma detalhada checklist dos componentes dos sistemas e

inovações, utilizada na definição dos itens de avaliação da oferta e demanda

dos atributos de recursos prediais.

Os canadenses Stan ARONOFF e Haudrey KAPLAN (Total Workplace

Performance 1995) publicam abrangente trabalho sobre o desempenho dos

edifícios de escritórios. Os diversos aspectos dos edifícios – engenharia,

arquitetura, medicina, psicologia e sociologia – configuram um contexto – total

workplace – que analisa o desempenho do edifício e de seus ocupantes,

considerados uma unidade funcional integrada169. ARONOFF e KAPLAN

enfatizam os aspectos importantes do escritório atual: (1) análise dos recursos

do escritório, especialmente em relação às mudanças na forma de

acomodação do escritório, à automação do escritório ao desempenho

humano e em termos de saúde, política de acomodação; (2) análise da

influência dos ocupantes no desempenho dos sistemas; (3) análise dos aspectos

relativos à saúde dos ocupantes, a natureza dos riscos à saúde no cenário do

escritório em termos de conforto térmico, qualidade do ar e acústica; (4) análise

168 Cf. HARTKOPF et al (1993), qualidade espacial, térmica, do ar, acústica, visual e maior

integridade construtiva atendendo simultaneamente às necessidades psicológicas, fisiológicas,

sociológicas e econômicas 169 Seu conteúdo abrange: (1) o invólucro para a qualidade do escritório; (2) recursos do escritório;

(3) produtividade, conhecimento do trabalho e os recursos de escritório; (4) sistemas prediais; (5)

conforto térmico, qualidade do ar e acústica; (6) o computador no cenário do escritório; (7)

fatores psicológicos e controle individual do ambiente; (8) diagnóstico do lugar de trabalho; (9)

gerenciando os recursos para a organização.

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161

da influência do computador no cenário do escritório, enfatizando traumas

cumulativos (LER), aspectos ergonômicos, visuais e eletromagnéticos.

Na Nova Zelândia, BAIRD, GRAY, ISAACS, KERNOUHAN e McINDOE (Building

Evaluation Techniques 1995) publicam completo manual contendo recursos e

técnicas para avaliação de desempenho dos edifícios de escritório, contendo

a contribuição de vários pesquisadores de renome internacional170, onde são

analisados: (1) processos de avaliação - regras básicas, motivações, métodos e

tomadas de posição; (2) práticas de avaliação – planejamento para

adaptabilidade, instrumentos que confrontam demanda e oferta171, a

participação de usuários e avaliações com foco direcionado e custos de

avaliação; (3) recursos de avaliação – apresentando a CBPR Checklist utilizada

como base na definição do conjunto de atributos do MAH-COPPE (ANEXO XI).

SZIGETI e DAVIS (Programming Evaluation: Relationship to the Design,

Management and Use of Facilities in EDRA’28: 1997), contribuem para o histórico

e o conceito de desempenho dos edifícios e suas ferramentas – BQA (Building

Quality Assessment), REN (Real Estate Norm) e ST&M (Serviceability Tools &

Methods).

PREISER (The International Building Performance Evaluation Project in EDRA’30 –

The Power of Imagination 1999) avalia a evolução dos estudos de ambiente e

comportamento (EBS – Environment/Behavior Studies) e reconhece a ênfase

crescente com a “humanização” do ambiente de trabalho, em detrimento da

preocupação com o downsizing corporativo e a redução de custos

(racionalização dos edifícios e espaços), que dominaram os projetos de

escritórios até o final dos anos 80.172

170 Entre seus colaboradores, estão Franklin BECKER, Gerald DAVIS, Hans de JONGE, Francis DUFFY,

Wolfgang PREISER, Henry SANOFF e William SIMS. 171 Sua análise do estado da arte dos instrumentos de avaliação que comparam oferta e

demanda – BQA (Building Quality Assesment), REN (Real Estate Norm), ORBIT-2 e ST&M

(Serviceability Tools & Methods) – fundamenta a SEÇÃO 3.3.

172 Cf PREISER (1999), maior preocupação com espaço pessoal, privacidade, re-utilização dos

edifícios e seu potencial de adaptação, sustentabilidade, “arquitetura verde”. PREISER (1999: 17)

associa o desinteresse dos arquitetos pela avaliação de desempenho a sete causas: (1) a aversão

em utilizar decisões projetuais baseadas no conhecimento; (2) falta de interesse em saber a

opinião dos clientes em relação ao desempenho dos seus projetos – os contatos posteriores com

os clientes se resumem a visitas de cortesia; (3) o medo de serem responsabilizados e acionados

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162

A seguir, são descritos três instrumentos de avaliação de desempenho

direcionados para o ambiente de escritório associados ao programa ORBIT-2

Study173 e ao ASTM Subcommittee E06.25.174 que, a exemplo do MAH-COPPE,

confrontam oferta e demanda.

BQA (Building Quality Assessment) 175

No início dos anos 80, o Centre of Building Performance Research (CBPR) da

Victoria University of Wellington, Nova Zelândia, tendo à frente John DAISH,

John GRAY – que trabalhou com a TEAG em 1982 e e, 1988-89 (SZIGETI & DAVIS

1997:8) – e David KERNOHAN, com a consultoria de Gerald DAVIS (TEAG),

desenvolve trabalho teórico e prático que procura relacionar todos os

fundamentos do projeto de um edifício, de modo a incorporar as

necessidades e expectativas dos seus usuários. Como resultado, em 1988 o

CBPR prepara um sistema proprietário – utilizado mediante de licença

profissional – o The Building Quality Assessment (BQA)176, inspirado em uma

versão preliminar do ST&M (SZIGETI & DAVIS 1997: 8). No Reino Unido, o Building

Research Establishment (BRE) constitui um grupo formado pelos escritórios

pelos clientes descontentes; (4) a crença de que seus edifícios são obras de arte e imunes à

qualquer crítica; (5) a crença predominante de que não podem se dar ao luxo de gastar tempo

e dinheiro com avaliações dos seus edifícios – mesmo reconhecendo que podem produzir

conhecimento a ser aplicado em futuros trabalhos; (6) maior preocupação com a repercussão

do que possa vir a ser publicado nas tendenciosas revistas de arquitetura do que com a satisfação

de seus clientes; (7) pouca preocupação com a durabilidade, a manutenção, custos

operacionais e consumo de energia dos edifícios que projetam. Em contrapartida, atribui a

crescente tendência dos clientes em avaliar o desempenho dos edifícios e de seus recursos, a três

objetivos: (1) identificar e corrigir problemas nos edifícios; (2) ajustar os edifícios às mudanças de

uso; (3) aprender com o desempenho positivo e negativo dos edifícios e aplicação deste

conhecimento nos novos edifícios.

173 Equipe inicial G. DAVIS (Coordenador), F. BECKER, W. SIMS e F. DUFFY; posteriormente,

participaram F. DUBIN, F. SZIGETI, F. STEELE e J. FARBSTEIN.

174 Por serem sistemas proprietários e utilizados mediante licenciamento, a análise do BQA e

ST&M, ficou restrita à documentação publicada na literatura especializada (BAIRD et al 1995;

EDRA’28 1997). Como sua principal diferença em relação ao MAH-COPPE relaciona-se à lógica

do processo de avaliação, o material disponível é suficiente para os propósitos deste trabalho,

pois ilustra o confronto entre oferta e demanda.

175 Adaptado de SZIGETI & DAVIS (1997: 8), e BRUHNS & ISAACS (1995: 53-58).

176 BQA foi desenvolvida pela Quality Assessment International Ltd., uma companhia de

propriedade de Rider Hunt, Ltd. Atualmente é distribuída na Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido

e Estados Unidos.

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163

DEGW (DUFFY, ELLEY, WORTHINGTON e MARMOTT) e BUS (ELLIS, WILSON e

LEAMAN), que desenvolve pesquisas que buscam integrar os conceitos da

Psicologia Ambiental à Arquitetura e à pesquisa dos edifícios, além de adaptar

o BQA para as condições do Reino Unido. (DAVIS & SZIGETI 1997: 8).

O BQA foi concebido como uma ferramenta para atender às necessidades de

investidores, incorporadores, construtores e proprietários, possibilita estimativas

precisas dos atributos dos edifícios e de seu valor de mercado, e fornece

informações comparativas entre edifícios para ajuda em decisões relativas aos

investimentos imobiliários.177 Antes de estimar a qualidade do edifício, é

necessário identificadar as necessidades e os interesses em jogo do(s) grupo(s)

de usuários do edifício – em geral divididos em dois grupos principais: os

produtores e os usuários. A abordagem do BQA possibilita separar as

necessidades comuns daquelas específicas de determinados grupos de

usuários, e assegura uma base comum que permite que sua aferição seja

utilizada por diferentes pessoas em diversos lugares. (BRUHNS & ISAACS 1997: 53)

A partir da pergunta:

O que o edifício oferece, e com que qualidade de desempenho?,

o BQA traduz a visão do especialista sobre as necessidades dos usuários,

focalizada nos atributos físicos e no desempenho – "aspectos de hardware" – de

um edifício traduzida em um valor único obtido pela soma dos valores parciais

de um conjunto de aspectos, organizados em nove categorias.

Categorias: O instrumento está estruturado em nove categorias de expectativas

ou necessidades humanas com relação aos edifícios, que associam suas

funções psicológicas e os conceitos utilizados para descrevê-las. As sete

primeiras, referem-se ao significado do edifício: (1) apresentação – imagem e

beleza; (2) espaço – adequação para usuários e atividades; (3) acesso e

circulação – facilidade e controle de entrada e saída das pessoas; (4) serviços

e recursos – serviços que auxiliam as tarefas dos usuários; (5) conforto pessoal –

177 Cf. BRUHNS & ISAACS (1997: 53), o BQA “é uma ferramenta para indicar o desempenho de um

edifício relacionando o desempenho atual com as necessidades de grupos de usuários deste tipo

de edifícios ... utilizada para treinar assessores como parte de um sistema compreensivo para

estimar a qualidade em bases compreensivas, classificando desempenho, e relatando as

descobertas.”

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164

sanitários, chuveiros, academia de ginástica e outros confortos pessoais; (6)

ambiente de trabalho – adequação do ambiente (conforto térmico, visual,

auditivo, etc.); (7) – saúde e segurança – grau ou ausência de risco para a

saúde de usuários e visitantes. As duas restantes referem-se à qualidade do

edifício e dos serviços: (8) considerações estruturais – estabilidade e resistência

estrutural; (9) gerenciamento – serviços de manutenção, limpeza e atendimento

das necessidades do primeiro grupo (1 a 7). (BRUHNS & ISAACS 1997)

Estrutura – as categorias dividem-se em seções segundo as expectativas e a

percepção dos usuários em relação ao edifício (Fig. 8). As seções se dividem em

fatores, que são avaliados em seis níveis correspondentes a valores pares

intermediários entre 0 (nulo ou inexistente) e 10 (excelente). Quando necessário,

os níveis de avaliação dos fatores podem ser ampliados com a incorporação

dos valores ímpares existentes entre os limites 0 e 10.

Cálculo do BQA – o BQA é uma combinação ponderada da pontuação das

categorias e dos fatores. Cada fator é avaliado com uma nota (de 0 a 10), que

é multiplicada por um peso previamente determinado (de 0 a 100). Os valores

obtidos para os fatores são somados por categoria e ponderados por um peso

estabelecido para a categoria correspondente. O valor final do BQA é obtido

pelo cruzamento dos resultados das nove categorias. (Fig. 1 – ANEXO VIII)

Aplicações – BQA possui recursos para considerar as exigências de uma

determinada organização e pode ser utilizado para comparar edifícios em

bases comuns. O BQA é uma ferramenta adequada para avaliar as

possibilidades de melhoria da atratividade dos edifícios – possibilita identificar os

edifícios pontuados acima ou abaixo da média de mercado (perfil previamente

estabelecido). A análise das notas globais ou de cada categoria permite

comparar o desempenho global dos edifícios e identificar as vantagens e as

desvantagens de cada edifício. (Fig. 2 – ANEXO VIII)

FATORES

Atributos mensuráveis

Forma de avaliação: medição

CATEGORIA

Codificação das Necessidades dos Usuários

FATORES

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165

ST&M (Serviceability Tools & Methods)178

Em meados dos anos 80, o ITC (International Centre for Facilities) de DAVIS e

SZIGETI assessora o PWC no trabalho de auxiliar seus arquitetos, engenheiros e

proprietários a “compreender e conhecer seus clientes”. O trabalho serviu de

base para as Normas de Utilização (Serviceability) da AST&M para a Total

Funcionalidade e Utilização do Edifício e para a construção da ST&M

(Serviceability Tools & Methods)179, instrumento de avaliação de desempenho

dos edifícios inspirado no projeto ORBIT-2, aprovado pela AST&M em 1987

(DAVIS & SZIGETI 1997: 9-10) e como parte da política de governo do Governo

Federal do Canadá, em 1993.

ST&M é um sistema proprietário orientado aos usuários, concebido para

facilitar a comunicação entre os usuários e os produtores dos edifícios e, se

necessário, pode ser totalmente operado por não especialistas, bastando um

curto programa de treinamento.

Baseado na pergunta:

178 Adaptado de SZIGETI & DAVIS, in AMIEL & VISCHER (Edit.) (1997: 5-16); SZIGETI & DAVIS, in BAIRD

et al, (1995: 58-68).

179 O ST&M foi financiado pelo PWC - Public Works of Canada, e desenvolvido por uma equipe

do ICF - International Centre for Facilities, conduzida por G. DAVIS e inclui L. BLAIR, J. GRAY, C.

MANUEL, D. SINCLAIR, F. SZIGETI, C. THATCHER, G. THATCHER, e vários outros consultores.

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166

“Qual é a capacidade do edifício para atender às

necessidades atuais e futuras dos usuários"?

o ST&M é uma ferramenta que procura definir as necessidades e as

expectativas dos "clientes" e estabelecer os vínculos entre as necessidades dos

usuários (demanda) e as combinações específicas das características do

edifício (oferta). Sua versatilidade possibilita que se transforme em ajuda para

planejar, orçar, projetar, procurar, utilizar, manter, operar, e administrar

recursos. Sua utilidade também se estende para a seleção de imóveis para

alugar ou comprar, para preparar um plano de investimento, para investigar

reclamações de usuários, para revisar projetos de arquitetura e propostas de

reabilitação, ou para planejar a construção de novos edifícios.180

O ST&M possibilita que os usuários estabeleçam suas necessidades e os meios

para comparar os perfis de oferta e demanda, enfatizando a qualidade dos

ambientes de trabalho, do espaço, e das instalações por usuário, com base

nas suas exigências operacionais. Foi concebido de modo a permitir que os

usuários selecionem e comparem as instalações disponíveis com suas

necessidades e exigências por qualidade. Adota descritores para os vários

níveis de desempenho e uma abordagem sistêmica para mensurar diferentes

combinações de características – pressupõe que a interação entre atributos e

partes de um edifício pode produzir um resultado que é diferente da soma das

partes.

Diferentemente do BQA, o ST&M evita a abordagem de pontuação única, e

procura apresentar um perfil "gráfico" das várias qualidades – “personalidade”

– do edifício. Um perfil típico de utilização do ST&M contém um quadro com

um gráfico de 14 barras, cujo comprimento representa a pontuação de cada

aspecto do edifício ou ambiente analisado.

Como, de um modo geral, os “clientes” dos edifícios – “produtos” – não são

devidamente orientados e pouco têm a dizer sobre porquê ou que tipo de

instalações foram comprados, alugados, recuperados, selecionados, ou

180 Cf. SZIGETI & DAVIS (1997), o ST&M fornece um "roteiro" para: descrever o grupo de usuários ou

a organização, sua missão, estrutura, pessoal, fluxos de trabalho, etc.; condição ou estado das

necessidades funcionais atuais e futuras, e produz um "perfil de demanda”; estimar a área útil

“efetiva” necessária para o grupo ou grupos a serem instalados; avaliar as capacidades dos

edifícios e instalações e produzir um "perfil de utilidade das instalações”; confrontar “oferta” e

"demanda", realçando suas deficiências e seus excessos.

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167

avaliados, o ST&M foi concebido com o propósito de fornecer um instrumento

com um formato consistente, compreensivo e flexível para avaliar o

desempenho dos edifícios e ambientes de escritórios a partir das necessidades

específicas de uma determinada organização. (SZIGETI & DAVIS 1997) 181

O núcleo do ST&M é composto por dois questionários de múltipla escolha: (1)

um conjunto de escalas para definir as exigências funcionais (demanda)

utilizando uma linguagem não técnica; (2) um conjunto de escalas para

avaliar a utilidade dos edifícios e dos recursos prediais (oferta) que se vale de

técnicas e condições de desempenho para descrever indicadores da

capacidade de combinar as características dos edifícios. Estas escalas

abrangem mais de 100 itens (Fig. 7 – ANEXO VIII) e avalia mais de 300

características dos edifícios. Cada conjunto de escalas pode ser usado

independentemente. O conjunto de ferramentas (documentos e software) é

composto de perfis textuais descritivos e gráficos das exigências funcionais,

planilhas de cálculos, tabelas de avaliação das perdas características dos

edifícios, guia de espaço e de layout.182

No lado de demanda, as ferramentas da ST&M foram desenvolvidas como um

conjunto compreensivo de questões independentes que podem ser usadas

pelos usuários para definir os principais componentes de um "programa

funcional básico ou sumário". O grau de participação dos usuários e

investidores é determinado em função da necessidade de cada situação.

No lado da oferta, a avaliação focaliza a capacidade das instalações e dos

edifícios e, quando descobertas deficiências, em lugar de prescrever soluções,

indica a necessidade de investigações adicionais, tais como relatórios ou

avaliações técnicas sobre as condições do edifício, análises walkthrough,

181 Cf. SZIGETI & DAVIS (1997: 59), “para que as avaliações de edifícios sejam significativas e

efetivas, elas devem estar diretamente relacionadas com uma descrição compreensiva sobre

as necessidades dos “clientes” e investidores em um formato e numa linguagem facilmente

compreendidos pelas pessoas comuns. Uma das principais metas no desenvolvimento da

abordagem ST&M (Serviceability Tools and Methods) foi criar tal estrutura compreensiva e um

processo para, sempre que possível, envolver todos os investidores”.

182 Cf. SZIGETI & DAVIS (1997: 59), até 1977, foram desenvolvidas três versões genéricas de perfis

funcionais com relação às necessidades típicas dos escritórios da América do Norte: (1) para as

funções básicas gerais dos ambientes de escritório; (2) para ambientes de trabalho com muito

contato público; e (3) para ambientes de trabalho com necessidade de maior proteção para a

informação sensível ou para documentos valiosos tais como cheques.

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168

estudos satisfação dos usuários com a mudança ou ocupação, e outras

investigações “especialistas".

Calibragem – as escalas são calibradas de 9 a 1, onde o “9” representa mais

e o “1” representa menos, em vez de bom a ruim. O nível “5” da escala de

oferta deve ser calibrado para indicar o “padrão de mercado” em termos de

funcionalidade e de construção, enquanto o nível “5” da escala de demanda

deve atender às características de desempenho de um edifício com nível de

oferta “5”. 183

Perfis de desempenho em tópicos – diferente do BQA, o ST&M utiliza perfis de

utilização descritos em sentenças lingüísticas, que podem ser rapidamente

visualizados e permitem "administração por exceção" – edifícios e instalações

podem ter diferentes níveis de qualidade e capacidade que podem ser

apropriados para um grupo de usuários e inadequados para outro. A análise é

realizada com base nas necessidades funcionais dos usuários e de suas

necessidades de localização, de aluguel, de instalação, de custo para

adaptar das instalações selecionadas na oferta, e do valor do projeto ou

edifício.

Um edifício é mais do que a soma de suas partes – embora o conjunto de

características de um edifício contribua para a capacidade de resposta de

uma instalação a uma determinada necessidade declarada – o desempenho

do sistema de iluminação depende das cores e da textura dos revestimentos;

o do sistema de ar-condicionado, do projeto do envelope externo, etc. –,

ainda predomina a avaliação fragmentada dos elementos e dos sistemas

construtivos dos edifícios.

As escalas da ST&M foram concebidas para serem genéricas,

independentemente dos códigos ou regulamentos locais, uma vez que seus

idealizadores não pretendiam que fossem utilizadas para atendimento dos

códigos e normas reguladores, embora sinalize uma investigação adicional

183 Cf. SZIGETI & DAVIS (1997), o nível “5” da escala de oferta foi calibrado para indicar “o nível

normal de funcionalidade e construção, em uma cidade de 50,000 habitantes, a exemplo de

um edifício definido como de nível “B” pela Noth American Building Owners and Managers

Association (BOMA). O nível “5” da escala de demandas deve atender ao desempenho das

características de um edifício descrito em nível “5” pelas escalas de avaliação.

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169

nos casos em que seu descumprimento seja evidenciado. As escalas dos perfis

genéricos do ST&M, embora tenham sido calibradas e testadas para os

padrões e necessidades da América do Norte e da Europa, podem ser

ajustadas para torná-las aplicáveis em escala mundial.

O ANEXO VIII (Fig. 3 a 6) ilustra a forma de utilização das escalas e de

apresentação dos resultados, para o tópico A.11.6 - Identidade Externa do

Edifício.

REN (Real Estate Norm)184

Na Holanda, no Rijksgebowendienst (RGD – Dutch Government Building

Agency), Hans de JONGE coordena estudo sobre os efeitos das inovações no

gerenciamento dos imóveis de propriedade do setor público. Com base numa

versão inicial do ST&M, elabora nova metodologia de classificação dos

edifícios, atualmente conhecida como REN, publicada pela primeira vez em

1991, que possibilita uma rápida avaliação dos edifícios.185 A segunda edição

da REN (1992) contou com a composição de 9 grupos de estudo: Localização,

Edificação, Ambiente Interno, Experiência e Projeto, Meio Ambiente,

Telemática, Exploração e Gerenciamento, Especificações de Desempenho, e

Consultoria Política ou Plano de Ação. O REN, é um sistema aberto [não

proprietário] que evita a pontuação única e procura apresentar um perfil

"gráfico" das várias qualidades – “personalidade” – do edifício, e baseia-se na

pergunta:

O que o edifício oferece, e com que qualidade de desempenho atual?

Foi concebido para ser operado por não especialistas, com o objetivo de

melhorar a comunicação entre os usuários e produtores, e orientado para os

usuários – permite que os usuários selecionem uma instalação ou um edifício

de escritório em função de suas necessidades específicas. Além de possibilitar

184 Norma de Bens Imóveis. Texto adaptado de: (1) de JONGE & GRAY. The Real Estate Norm (REN)

in BAIRD et al, (Edit.) Building Evaluation Techniques. Wellington: Victoria University of Wellington;

McGraw-Hill: New York, 1995, p. 69-76; e (2) REN NETHERLANDS FOUNDATION. Real Estate Norm.

Nieuwegein: REN Netherlands Foundation, 1992. 185 Cf. de JONGE & GRAY (1995), o REN foi introduzido no mercado holandês em novembro de

1991, quando cerca de 50 companhias e instituições foram então convidadas a participar de

workshops para testar, revisar, e refinar o método. A segunda edição do REN foi publicada em

novembro de 1992 de novembro pela Real Estate Norm Netherlands Foundation, criada para

administrar sua pesquisa adicional e seu desenvolvimento.

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170

a comparação objetiva entre instalações e edifícios de escritório, o REN

focaliza os atributos físicos e o desempenho de partes do edifício, que são

caracterizadas e analisadas individualmente e em separado. Apesar do

instrumento refletir a visão de um especialista sobre as necessidades dos

usuários, por sua simplicidade de uso e linguagem “compreensiva”, sua

utilização é especialmente satisfatória para: (1) analisar os "aspectos de

hardware"186 de um edifício, a partir da construção de um quadro de suas

principais qualidades e defeitos; (2) um processo simples e rápido que permite

que os usuários decidam a qualidade das acomodações que necessitam, e

então, comunicar essas necessidades aos produtores profissionais de

escritórios; ou (3) que os próprios usuários selecionem um instalação ou edifício,

com base em suas necessidades específicas. Seu sistema de classificação

para avaliar a qualidade do escritório procura trabalhar com características

físicas observáveis que não sejam ambíguas e que sejam entendidas por todos

os interessados no uso desta ferramenta.187

Estrutura: as duas categorias principais do REN são a qualidade da

localização e a qualidade do edifício – entendidas como considerações

fundamentais dos usuários na avaliação ou seleção das acomodações para

escritórios – que são divididas em cinco características gerais (TABELA. 5).

TABELA 5. Estrutura básica do REN.

TÍTULO SUBTÍTULO

LOCALIZAÇÃO Arredores

Sítio

EDIFÍCIO

Geral

Área de Trabalho

Instalações

Fonte: de JONGE & GRAY 1995: 69)

186 Equipamentos, instalações e recursos prediais. 187 Cf. de JONGE & GRAY (1995: 69), “os recursos de escritório devem atender a certas exigências

básicas organizacionais e individuais, incluindo conforto e bem-estar, segurança, e

funcionalidade. Porém, apesar de palavras como conforto aparecerem nas discussões cotidianas

sobre acomodação de escritório, muitas destas condições são comumente empregadas de

modo impreciso como base de medida”.

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171

Embora a estrutura do REM seja dividida em cinco aspectos, a maior parte

deles é subdividida em características mais detalhadas e específicas que

afetam a qualidade. Aspectos e características são os níveis para mensurar as

qualidades da localização e do edifício. Por exemplo, flexibilidade é um dos

sete aspectos listados sob a categoria principal edifício, subtítulo geral. A

flexibilidade é subdividida em cada uma das 11 características pontuadas no

processo de avaliação. Em conjunto, estas 11 características compõem as

qualidades observáveis de um edifício comercial que descrevem sua

flexibilidade de uso. O REN considera 135 aspectos e características para a

avaliação de um escritório. O ANEXO VIII (Fig. 8) ilustra parte da classificação

REN para o item edifício.

Medindo qualidade – a cada aspecto é atribuído um valor numa escala de 1

a 5, onde cada ponto indica um nível. JONGE & GRAY (1995) observam que,

embora o nível “5” seja atribuído para um nível “mais alto” de desempenho

do que o nível 4, ele pode não ser necessariamente melhor do que um nível

mais baixo, uma vez que um desempenho “bom” ou “ruim” depende das

necessidades e dos desejos específicos dos seus usuários.

Documentação – o REN é apresentado sob a forma de um pequeno livro que

contém a especificação ou a descrição de cada nível para cada aspecto,

concebido para ser entendido e utilizado tanto por especialistas quanto por

leigos para (1) no lado da oferta - avaliar uma instalação existente, e (2) no

lado da demanda - auxiliar um determinado grupo de usuários a estabelecer

suas necessidades.188 Por esta razão, utiliza o mínimo necessário de linguagem

técnica para assegurar a confiabilidade do processo de avaliação realizado

por qualquer pessoa dotada de conhecimento geral dos edifícios189. As

características de cada nível de desempenho, possuem diagramas ou

fotografias indicativas das características de cada nível de desempenho. (Fig.

9, ANEXO VIII)

O REN não especifica os níveis de importância para os diferentes aspectos –

que dependem das necessidades de cada organização ou grupo de usuários

188 O REN fornece uma ferramenta para avaliar o confronto entre demanda (o que o usuário

requer) e oferta (o que o recurso oferece) em uma determinada situação. 189 Cf. de JONGE & GRAY (1995), alguns aspectos mais complexos, como por exemplo, o

desempenho acústico, podem demandar a opinião de um especialista.

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172

que utiliza o REN. Os resultados de uma avaliação são registrados e

apresentados através de quadros (Fig. 10, ANEXO VIII) que incluem campos

para atribuir o seu nível de importância relativa ou "ponderação." No modelo

fornecido junto com a documentação, a estrutura de aspectos e

características é listada no lado esquerdo do formato, enquanto no lado

direito, são apresentadas colunas a serem preenchidas com os valores ou

níveis para: (1) importância relativa de cada aspecto para um grupo

especifico de usuários; (2) níveis de desempenho requeridos (no "lado de

demanda "); (3) notas para o desempenho de um determinado recurso (no

"lado da oferta"); e (4) discrepância entre "oferta” e “demanda" para cada

aspecto. (Fig. 10, ANEXO VIII)

Usos típicos – o REN possibilita uma sistemática de informações para vários

aspectos do negócio com bens imobiliários, entre os quais:

(1) Definição das necessidades dos usuários – um programa pode definir as

necessidades qualitativas de acomodação e pode servir como base para

profissionais que trabalham com a oferta de edifícios.

(2) Teste de acomodação – as necessidades dos usuários podem ser

periodicamente comparadas com suas premissas de desempenho, como

forma de verificar a adequação de uma instalação ou edifício para atender

às necessidades e para identificar o significado de suas preocupações.

(3) Busca por acomodação – as necessidades dos usuários podem facilmente

ser comparadas a partir de premissas opcionais para selecionar a

acomodação mais satisfatória ao melhor preço.

(4) Análise de Investimento – perfis de demanda para grupos típicos de

usuários podem ser comparados com os perfis de qualidade de um conjunto

de edifícios, fornecendo valiosas informações para seus proprietários ou

administradores.

(5) Negociação – pode explicitar eventuais divergências entre os padrões de

oferta e de demanda, fornecendo subsídios para a negociação do valor de

aluguel e outros aspectos relativos às negociações para locação.

(6) Auxílio na comunicação – uma linguagem comum pode servir como base

para melhorar o entendimento entre os profissionais de oferta e usuários.

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173

COMPARAÇÃO DOS TRÊS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO – BQA, ST&M E REN 190

Em 1994, o Rijksgebouwendienst (RGD) comparou os métodos de avaliação

REN, BQA, e ST&M – aspectos teóricos e práticos – com o objetivo de avaliar o

seu potencial de mercado. (TABELA 6). A comparação considerou três

aspectos: (1) Orientação ao cliente – grupos de interesse atendidos;

facilidade de aplicação; possibilidade e adaptabilidade para uso

internacional; (2) Conteúdo e abrangência – abrangência, principais usos; (3)

Método de mensuração – objetividade, precisão e viabilidade do sistema de

medição; tipo de controle; reunião das medições; ponderação das

necessidades específicas dos usuários na avaliação de um recurso. Para o

estudo comparativo, foi selecionado um edifício de escritório situado em

Gouda, Holanda e foram selecionadas organizações com experiência na

aplicação de cada método: a REN Foundation, da Holanda, o International

Centre for Facilities, do Canadá (ST&M), e a DEGW com Bernard Williams

Associates (licenciados europeus da BQA). O edifício foi analisado

independentemente por cada organização.

TABELA 6. Comparação entre os métodos de avaliação BQA, ST&M e REN

BQA ST&M REN

Protocolo Sistema proprietário,

operado mediante

licenciamento

Sistema proprietário, operado

mediante licenciamento

Sistema aberto , não

proprietário.

Problema “o que o edifício oferece,

com que qualidade de

desempenho?”

“qual é a capacidade do

edifício para atender às

necessidades atuais e futuras

dos usuários"?

"o que o edifício oferece,

com que qualidade de

desempenho?"

Visão Visão do especialista sobre

necessidades dos usuários;

Enfatiza qualidade dos

ambientes, espaços e

instalações, c/base nas

exigências operacionais dos

usuários.

Visão do especialista sobre

necessidades dos usuários;

Operação Somente pode ser aplicado

por especialistas autorizados

para operar o método.

Pode ser aplicado por não

especialistas, necessita curto

programa de treinamento;

pode demandar assessoria de

experts.

Operado por não

especialistas.

Cliente Orientado para atender às

necessidades de

investidores, incorporadores,

construtores e proprietários.

Orientado para a

comunicação entre usuários e

profissionais, atende

Orientado para

comunicação entre usuários

e profissionais, atende

melhor às necessidades dos

usuários dos edifícios.

190 Texto adaptado de de JONGE & GRAY. The Real Estate Norm (REN) in BAIRD et al, (Edit.) Building

Evaluation Techniques. Wellington: Victoria University of Wellington; McGraw-Hill: New York, 1995,

p. 69-76.

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174

parcialmente às necessidades

dos usuários.

Foco Focaliza atributos físicos e o

desempenho total/parcial

por categoria – hardware –

dos edifícios com um valor

único.

Focaliza as necessidades dos

“clientes” (usuários,

proprietários ou

administradores).

Focaliza atributos físicos e o

desempenho de partes do

edifício – hardware –,

caracterizadas e analisadas

individ. ou separado.

Estrutura (1) 9 categorias

(codificação das

expectativas usuários) em 2

grupos (edifício e estrutura/

serviços); (2) seções (efeitos

nos usuários); (3) fatores

(atributos mensuráveis).

2 questionários de múltipla

escolha abrangendo mais de

100 itens e de 300

características: (1) conjunto

de escalas de demanda; (2)

conjunto de escalas de oferta.

2 categorias principais e 5

características gerais:

qualidade (1) da

localização (entorno e sítio);

(2) e do edifício (geral, área

de trabalho e instalações);

135 aspectos das

características

Resultados Abordagem de pontuação

única (numérica) para o

desempenho do edifício,

possibilita: (a) combinação

ponderada da pontuação

das categorias e dos fatores;

(b) obter valor global final

pelo cruzamento dos

resultados das nove

categorias.

Evita abordagem de

pontuação única, apresenta

perfil "gráfico" das qualidades

do edifício com a pontuação

de cada aspecto analisado;

combina e associa avaliações

parciais dos atributos/

componentes do edifício. O

todo é mais do que a soma

de suas partes.

Evita abordagem de

pontuação única, apresenta

perfil "gráfico" das

qualidades dos

componentes ou atributos

do edifício com a

pontuação de cada

aspecto analisado.

Aplicações Possui recursos para

considerar exigências de

uma organização. Possibilita:

(a) avaliar e comparar

desempenho global dos

edifícios; (b) identificar

vantagens e desvantagens

de cada edifício; (c)

identificar valor de mercado

de cada edifício em bases

comuns; (d) análise de

investimento; e (e) avaliar as

possibilidades de melhoria

da atratividade dos edifícios.

Avaliar e comparar

desempenho de edifícios,

facilita escolha de edifício.

Possibilita: (a) relacionar

exigências do usuário e avalia

qualidade de utilização dos

edifícios; (b) comparar perfis

de oferta X demanda; e (c)

medir e combinar

características. Auxilia: a

planejar, orçar, projetar,

avaliar, procurar, utilizar,

manter, operar, e administrar

instalações/edifícios

Classificação e seleção dos

edifícios.

Possibilita: (a) construir

quadro comparativo de suas

qualidades e defeitos, (b)

avaliar e comparar

desempenho de instalações

de edifícios; (c) comparar

perfis de oferta X demanda;

(d) análise de investimento;

e (e) monitorar com rapidez

alcance das premissas

existentes.

Método de

medição

Precisão nas medições,

adota descritores para os

níveis de desempenho.

Precisão nas medições, adota

descritores para os vários

níveis de desempenho e uma

abordagem sistêmica para

mensurar diferentes

combinações de

características.

Menor precisão nas

medições.

Fonte: BRUHNS & ISAACS (1995: 53-58); de JONGE & GRAY (1995: 74-76); REAL ESTATE NORM

(1992).

Segundo de JONGE e GRAY (1995: 75), o relatório final do RGD indica que os

três instrumentos excluem as informações relativas a custos e não relacionam

as diferenças de qualidade das acomodações com as diferenças de custos

de capital ou operacionais – embora a ressalva de que

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175

“a REN Foundation têm planos para pesquisar a relação entre qualidade dos

custos do ciclo-de-vida, mas neste momento, o custo não faz parte do sistema do

REN. Isto se deve ao fato do custo de uma coisa necessariamente não ser uma

medida de sua conveniência; até mesmo como indicador de qualidade, o custo

não é sempre uma medida segura das necessidades dos usuários. É verdade que

o custo de aluguel (quando aceito por um inquilino) é uma medida do valor de

mercado de um determinado edifício em sua determinada localização. O

problema é que o custo de aluguel não revela as várias qualidades que fazem

um recurso adequado para um grupo particular de usuários e outro recurso,

inadequado.” (de JONGE e GRAY (1995: 69)191

Apesar do material para análise dos três instrumentos não ser homogêneo – em

função da dificuldade de obtenção de informações mais detalhadas dos dois

sistemas proprietários (BQA e ST&M) – eles foram mantidos por atenderem aos

propósitos deste trabalho. Conforme será visto no CAPÍTULO IV, a principal

diferença entre o MAH-COPPE, o BQA, o ST&M e o REN está na lógica

operacional de sua modelagem, que pode ser incorporada como instrumento

de análise do BQA, do ST&M e do REN. Mediante acordos internacionais de

cooperação técnica, a lógica do MHA-COPPE poderá ser adaptada como

base para aplicar os instrumentos do BAQ – em comparações de desempenho

global entre edifícios com foco no investimento –, do ST&M – em avaliações mais

complexas, como as desenvolvidas pela COPPE/PROARQ (COSENZA et al 1996,

1997) – ou do REN – no desenvolvimento de instrumentos para serem operados

pelos próprios usuários, proprietários, ou pelo mercado imobiliário, em

substituição aos atuais instrumentos de avaliação (SEÇÃO 3.1).

Na seção seguinte, apresento um breve panorama da experiência brasileira de

APO de edifícios de escritórios, especialmente a da UFRJ, através da COPPE e

do PROARQ.

191 Tradução do autor.

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176

3.4. Avaliação de Desempenho de Edifícios de Escritórios: a experiência

brasileira

A avaliação sistemática e interdisciplinar do desempenho dos edifícios de

escritórios é muito recente, no Brasil, e se concentra, basicamente, em torno de

dois grupos de pesquisa: COPPE/PROARQ192, no Rio de Janeiro, e NUTAU-

FAUUSP193, em São Paulo.

A primeira pesquisa de APO aplicada em edifícios de escritórios resultou na

dissertação de mestrado de Paulo RHEINGANTZ (1995), no PROARQ-FAU/UFRJ,

cujo desdobramento resultou em dois novos estudo de APO, através do

convênio de cooperação técnica assinado entre COPPETEC e Condomínio do

Edifício RB1 (COSENZA et al 1996) e entre COPPETEC e Condomínio do Edifício

de Serviços do BNDES [CEDSERJ] (COSENZA et al 1997). Estes trabalhos

resultaram na pesquisa desta tese de doutorado. Em 1998, foi realizada uma

Análise Walkthrough na Clínica São Vicente, como parte do curso Avaliação

Pós-Ocupação do Ambiente Construído, ministrado por Sheila ORNSTEIN para

os alunos do Curso de Mestrado em Arquitetura do PROARQ (DEL RIO et al

1998).

Em São Paulo, a primeira pesquisa de APO aplicada em edifícios de escritórios

foi desenvolvida por Cláudia ANDRADE, mestranda vinculada ao NUTAU-

FAUUSP, que analisa os espaços internos ocupados pelo antigo Banco

nacional em 10 edifícios do em SP e RJ (ANDRADE 1996a). Sheila ORNSTEIN

coordena, no período de 1996/97, pesquisa de APO em 4 edifícios de

escritórios de São Paulo, sendo 2 convencionais e 2 de alta tecnologia

(ORNSTEIN 1997). Brenda LEITE, mestranda vinculada ao NUTAU-FAUUSP, analisa

o desempenho de edifícios de escritórios automatizados, com ênfase nos

aspectos de conforto ambiental, segurança e economia energética e as

interfaces com a arquitetura, o usuário e a automação predial (LEITE 1998).

Marcelo ROMÉRO analisa os aspectos termo-energéticos e o potencial de

conservação de energia elétrica de alguns edifícios de escritórios construídos

em São Paulo (ROMÉRO 1998) – trabalho que resultou em sua tese de livre-

docência na FAUUSP (1999) e na linha de pesquisa Desempenho Energético

192 Carlos COSENZA, Fernando LIMA, Paulo RHEINGANTZ, Harvey COSENZA, Giselle AZEVEDO. 193 Sheila ORNSTEIN, Marcelo ROMÉRO, Claudia ANDRADE, Brenda LEITE, Nelson SOLANO.

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177

dos Edifícios, que também conta com a participação dos arquitetos Lucia

PIRRO e Nelson S. VIANNA. A dissertação de mestrado de Cláudia ANDRADE

(Avaliação da Ocupação física em edifícios de escritórios utilizando métodos

quali-quantitativos: O caso da editora Abril em São Paulo)194, estuda a

aplicação da avaliação quantitativa de desempenho da ocupação física –

Space Audit ou análise do layout, distribuição dos espaços e dos tipos de

ocupação, mobiliário e ocupantes – durante todo o ciclo de mudança de

uma empresa. O trabalho se baseia na Avaliação Pré Projeto (APP), realizada

em 11 edifícios anteriormente ocupados pela Editora Abril, e a APO, após a

mudança para o edifício Birmann 21.

A partir de 1998, ORNSTEIN (coordenadora), LEITE e ANDRADE participam do

projeto de pesquisa IBPE - Internacional Building Performance Evaluation

Project195 –, coordenado por Wolfgang PREISER, com o objetivo de desenvolver

um conjunto de instrumentos metodólogicos "padrão" para avaliação de

desempenho de ambientes de trabalho aplicáveis, a princípio, em qualquer

parte do mundo (ORNSTEIN, LEITE & ANDRADE 1999). Também merece menção

a atividade pioneira no Brasil, da empresa Saturno Planejamento Arquitetura

Consultoria, que desde 1995 utiliza o Space Audit, a APP e a APO).196

A experiência da UFRJ

(COPPE/PROARQ) em APOs de

Edifícios de Escritórios

Desde 1994, o PROARQ da FAU/UFRJ vêm desenvolvendo pesquisas de APO

de edifícios de escritório. A partir de 1996, através dos projetos desenvolvidos

em cooperação com as administrações dos condomínios do Centro

Empresaria Internacional Rio (RB1) e do Edifício Sede do BNDES no Rio de

Janeiro, os trabalhos passam a ser realizados em parceria com o Programa de

Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ.

194 Dissertação defendida em 20/03/2.000. 195 Participam do IBPE, pesquisadores brasileiros, americanos, alemães, holandeses, ingleses,

japoneses e da Arabia Saudita.

196 Cf. ANDRADE, a Saturno já avaliou mais de 100 edifícios de escritórios (cerca de 480.000 m²

de área útil) em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e

Recife.

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O primeiro trabalho, desenvolvido por RHEINGANTZ (Centro Empresarial

Internacional Rio: Análise Pós-Ocupação, por observação participante, das

condições internas de conforto 1995), relaciona percepção ambiental e

conforto e na avaliação do ambiente construído. Fundamentado na

Fenomenologia e na percepção ambiental, são analisadas as relações entre

homem, abrigo e ambiente externo – clima, clima local urbano – em um

estudo de caso – o Edifício RB1 e seu contexto urbano, a praça Mauá. Neste

estudo de observação participante, além dos instrumentos tradicionais de

uma APO: levantamentos, análise da documentação do edifício, entrevistas,

questionários, observação direta, medições das condições internas de

conforto – foram medidas com instrumentos, a iluminação, a temperatura e

umidade do ar –, foram analisadas as imagens do recinto urbano e do edifício

transmitidas através da literatura e da imprensa e da análise bioclimática,

através do estudo comparado do Centro Empresarial Internacional Rio com as

recomendações de alguns instrumentos de análise consagrados. O estudo

procura compreender e relacionar os diferentes significados e contradições do

edifício e demonstrar que o conforto ambiental não deve restringir-se apenas

às condições racionais (físicas) de conforto. Neste sentido, propõe a mudança

das designações tradicionalmente adotadas nos trabalhos de conforto

ambiental: (1) conforto térmico; (2) conforto auditivo, em lugar de acústico; (3)

conforto visual, em lugar de lumínico; o trabalho também inclui e analisa o

conforto olfativo/qualidade do ar e o conforto tátil.

Suas conclusões serviram de base para a assinatura de convênio de

cooperação técnica entre o Condomínio do RB1 e a COPPE/PROARQ,

trabalho desenvolvido por Carlos COSENZA (coordenador), Fernando LIMA,

Paulo RHEINGANTZ e Harvey COSENZA, do qual resultaram quatro relatórios

técnicos (Diagnóstico do Centro Empresarial Internacional Rio [RB1], COSENZA

et al 1996).

Este projeto, além dos instrumentos tradicionais da APO indicativa (PREISER et

al 1998) – questionários, entrevistas, reuniões técnicas, seminários, consulta nas

atas e documentos disponíveis no Condomínio e análise walkthrough –, se

utiliza de ferramentas da TQC, com o objetivo de identificar os conflitos de

percepções e expectativas, resultantes das diferenças entre os valores afetivos

e as atitudes do projetista, do incorporador, dos proprietários e dos usuários –

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não só os proprietários e locatários, mas também a administração, os

funcionários e os freqüentadores do edifício do Complexo RB1. Tais atitudes e

valores formam uma representação do que se deseja como resultado. A

seguir, foram identificadas características e elementos ambientais, bem como

símbolos de consistência e duração das formas de percepção e de conduta

dos usuários, divididos em três grupos distintos: administração e funcionários do

condomínio, proprietários e administradores das empresas instaladas, e

funcionários das empresas instaladas. A metodologia da pesquisa se

desenvolveu em três níveis distintos e complementares: (1) reconstituição da

história do empreendimento e de sua concepção; (2) identificar a percepção

indireta – imagens veiculadas da praça Mauá e do RB1 na imprensa e na

literatura; (3) identificar a percepção direta – imagens dos funcionários, dos

usuários, das empresas instaladas, e dos proprietários.

Para o registro gráfico de dados e informações dos edifícios, foi desenvolvido

um sistema de maquete virtual197 em ambiente de computação com interface

gráfica tridimensional gerada em ambiente CAD, associada a sistema de

registro de informações textuais utilizando banco de dados relacional. A partir

das representações gráficas, é possível consultar, acrescentar e alterar

informações contidas no banco de dados, bem como identificar

graficamente os elementos do edifício que atendam a determinadas

condições de consulta ao banco de dados. Este instrumento possibilita o

registro detalhado de dados gráficos (plantas, cortes e esquemas), dados

quantitativos (dimensionamento e condições desejáveis de conforto) e dados

qualitativos (especificações e instruções operacionais/de manutenção) de

todas as instalações, equipamentos e serviços do edifício.198

A partir das descobertas – (a) oferta [fatores que levaram as empresas a se

instalar no RB1, qualidades e defeitos dos ambientes de trabalho, grau de

satisfação com os serviços prestados pelo condomínio] (b) demanda

197 A maquete permite a vizualização tridimensional de pisos do edifício, já com a projeção de

elementos referenciais: alvenarias, elevadores, rampas, escadas, etc. Os desenhos são

organizados em camadas, possibilitando uma visão seletiva destes referenciais 198 O projeto da maquete e dos links com o banco de dados relacional foi totalmente

desenvolvido, mas não foi implementado pela administração do Condimínio.

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[necessidades percebidas dos clientes, em termos de melhoria de serviços e

instalações, sugestões de novos serviços] –, foi possível:

(1) compreender a importância absoluta e relativa dos fenômenos e valores

perceptivos identificados, bem como estabelecer sua representação, e

analisar a intensidade das imagens, valores e expectativas dos usuários no

processo de percepção;

(2) estabelecer diversas recomendações que serviram como diretrizes para a

administração avaliar as diretrizes e políticas em curso, definir novas metas e

estratégias e elaborar cronograma de desembolso com melhorias.

Em 1997, através do projeto de cooperação técnica entre o CEDSERJ e a

COPPE/ PROARQ, a equipe formada por Carlos COSENZA (coordenador),

Fernando LIMA, Paulo RHEINGANTZ, Harvey COSENZA e Giselle AZEVEDO,

realiza APO do edifício do BNDES, do qual resultaram três relatórios

(Diagnóstico do EDSERJ/BNDES, COSENZA et al 1997).

O trabalho teve como principal objetivo compreender as características de

desempenho do edifício e a avaliação dos usuários sobre a qualidade dos

serviços prestados pelo condomínio onde, pela primeira vez, foi utilizado o

MAH-COPPE em um diagnóstico de APO. Com relação aos procedimentos e

aos instrumentos utilizados na APO do RB1, foram aperfeiçoados os

instrumentos da TQC, e utilizadas técnicas de avaliação qualitativa –

brainstorming e matriz de prioridade – para a identificação descritiva e

qualitativa de falhas, problemas e aspectos positivos do edifício. Uma vez

identificados, os problemas foram analisados e hierarquizados em termos de

variáveis lingüísticas. A representação da importância absoluta e relativa dos

elementos e dos valores cognitivos – características/elementos ambientais,

intensidade de imagens, valores, expectativas e condutas dos usuários –

possibilitou identificar o peso relativo dos itens segurança e satisfação dos

usuários com o desempenho do edifício, bem como definir estratégias e

alternativas para melhorias do grau de satisfação dos usuários.

A partir do resultado destes dois trabalhos, a equipe da COPPE/PROARQ vêm

desenvolvendo técnicas de avaliação das questões ambientais tratadas pelos

conceitos de nebulosidade da lógica fuzzy e, para as pesquisas de opinião,

estão sendo desenvolvidas variáveis lingüísticas, que facilitam a compreensão

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e a hierarquização dos resultados. Também estão sendo adaptadas algumas

técnicas de planejamento e análise estratégica – cenários, administração

estratégica. Estas técnicas e instrumentos estão, em sua maioria, incorporadas

no processo do MAH-COPPE para avaliação de desempenho dos edifícios de

escritório (CAPÍTULO IV).

Além destes trabalhos, a possibilidade de participar de duas outras experiências em

APO, mesmo que não diretamente ligadas ao assunto deste trabalho, possibilitaram

aprimorar algumas questões metodológicas bem como aproximar as pesquisas

desenvolvidas pela equipe da UFRJ com a da USP. A primeira delas, foi a participação

como co-coordenador e colaborador do curso Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente

Construído, ministrado para o Curso de Mestrado em Arquitetura do PROARQ por Sheila

ORNSTEIN199, e que resultou na realização de um estudo de APO onde foi aplicado o

método walkthrough em um hospital – Clínica São Vicente – e na publicação do relatório

de pesquisa (DEL RIO et al 1998). A preparação, a realização e o acompanhamento da

redação do relatório final serviram para uma aproximação com o NUTAU-FAUUSP e

redundaram em um artigo aprovado para ser apresentado no ENTAC-2000, a realizar-

se em abril de 2000 em Salvador (Avaliação pos-ocupação [APO] walkthrough da clínica

são vicente, rj: experiência didática, metodologia e resultados DEL RIO, ORNSTEIN &

RHEINGANTZ). A segunda, foi a possibilidade de participar, como colaborador, do

Curso/workshop Metodologias para Programação e Participação no Projeto de

Arquitetura, coordenado e ministrado pelo prof. Henry SANOFF200, tendo como objeto de

estudo o Colégio de Aplicação da UFRJ (Cap). Neste trabalho, foi possível aprimorar o

conhecimento e a aplicação das técnicas de participatory design201 desenvolvidas por

SANOFF, especialmente suas técnicas de inventário ambiental, levantamento e análise

“Wish Poem” (Poema dos Desejos)202, questionário de desempenho físico-espacial,

método de preferências visuais para o partido arquitetônico e workshop com a

participação de pais, professores e arquitetos, com o objetivo de concluir sobre as

199 Professora Titular da FAUUSP - curso inserido no Projeto Apoio à Pesquisa e ao Ensino em

Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente Construído, aprovado pelo CNPq (processo n°

450.388/98-0), realizado no Rio de Janeiro, no período de 29 de maio a 07 de junho de 1998. 200 Distinguished Professor of Architecture, School of Design, North Carolina State University – curso

inserido no projeto Apoio à Pesquisa e ao Ensino em Programação e Métodos Participativos para

o Projeto de Arquitetura, bolsa de auxílio a pesquisador visitante APV/FAPERJ, processo n° E-

26/171.195/98), realizado no Rio de Janeiro, no período de 15 a 18 de junho de 1999. 201 Expressão utilizada nos EUA e no Reino Unido para referir-se aos projetos desenvolvidos com a

participação dos usuários. 202 Metodologia desenvolvida por SANOFF para levantamento de desejos e expectativas dos

usuários, através de cartazes contendo textos e desenhos relativos ao edifício ou ambiente,

previamente à etapa de programação arquitetônica (DEL RIO & SANOFF 1999).

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alternativas de programa e organização espacial mais adequados para atender às

necessidades do CAp.

Também merecem menção duas pesquisas visando teses de doutorado, em

desenvolvimento no Programa de Engenharia de Produção da COPPE. A

primeira, de Marcello SANTOS, do GENTE - Grupo de Ergonomia e Novas

Tecnologias (Gestão de Variabilidades Via Análise Pré-Ocupação: uma

metalepsia203 dos princípios da análise ergonômica do trabalho como auxiliar

no gerenciamento do ambiente construído da concepção à utilização), que

trabalha com o conceito de Análise Pré-Ocupação do Ambiente Construído

como ferramenta de análise ergonômica do trabalho, que busca apoio e

complementaridade entre a Ergonomia Contemporânea (que enfatiza os

aspectos relacionados ao desempenho do trabalho humano), a Engenharia e

a Arquitetura dos ambientes para o trabalho, com vistas a melhorar a

capacidade de intervenção ainda na fase de concepção do projeto e na

produção do edifício. O objeto de estudo de seu trabalho surgiu a partir de

uma aplicação da análise ergonômica do trabalho no projeto de reforma do

Bloco “I” do Prédio do Centro de Tecnologia da UFRJ (Projeto I-2000) e de sua

adequação como ferramenta para gestão e manutenção predial. A segunda,

de Cláudia C. CORDEIRO, da Linha de Pesquisa Ergonomia e Projeto (Entre o

Projeto e o Uso: a ergonomia na etapa de execução do ambiente do

trabalho), que se fundamenta na Ergonomia da Atividade – analisa a

atividade real, do ponto-de-vista do trabalhador, e focaliza as necessidades

do trabalho durante a atividade – considera seus diversos cenários e

variabilidades, e que a concepção do ambiente de trabalho (projeto)

continua durante as fases de execução e de uso.

Considerando que:

(1) a APO ainda é um campo de trabalho em processo de

amadurecimento e que, em breve, deve vir a ser incorporado ao processo

produtivo dos edifícios, da mesma forma que a atividade de programação tem

sido considerada um passo fundamental da etapa de pré-projeto;

203 Cf. Dicionário AURÉLIO Eletrônico Sëxulo XXI, “Ação de receber em troca”, ... Teoria das

substituições. Forma de pesquisa recorrente, ou seja, que retorna incessantemente ao ponto de

partida na busca de resgatar aspectos relevantes ao resultado.

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(2) a crise econômica, a elevação dos preços da energia elétrica e dos

serviços de manutenção, e o aumento do nível de exigência dos usuários,

contribuem para o surgimento de uma nova mentalidade que valoriza a

qualidade e a eficiência;

(3) a determinação das necessidades dos clientes passa a ser uma das

principais variáveis do processo de produção de bens e serviços, baseando-se

nos conceitos de qualidade expressos pela trilogia Juran (Introdução);

as pesquisas realizadas na UFRJ representam importante contribuição para a

construção de instrumentos mais eficientes no desenvolvimento do produto

(edifício), do seu processo (projeto e construção) e de seu uso.

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44).

ZEISEL, John. Inquiry by Design. Monterey: Brooks/Cole Publishing Co., 1981.

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ANEXOS

EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIO DA PRAIA DE BOTAFOGO

Neste ANEXO estão reunidas algumas matérias de divulgação dos projetos ou do lançamento dos

edifícios de escritórios mais modernos construídos e em operação na Praia de Botafogo, com a intenção

de demonstrar a presença do taylorismo e da racionalidade científica na sua concepção.

A primeira matéria refere-se à propaganda de lançamento do Edifício Praia de Botafogo 440 (1980)

[projeto de Edison e Edmundo MUSA] publicada nos jornais locais, sob o sugestivo título “A SEDE DA

SUA EMPRESA ESTÁ A ALTURA DA IMAGEM QUE VOCÊ DESEJA PARA ELA?”. Seu conteúdo representa o

apelo imobiliário presente no lançando dos novos prédios de escritórios construídos em Botafogo: “o

‘status’ da localização, a instalação anterior de redes de ‘grandes empresas’ e a posição privilegiada em

relação em termos de acessibilidade: AGORA O CENTRO DA CIDADE É AQUI!” (Sergio SANTOS 1981:

anexo 06). O texto ressalta o nível internacional do edifício “num bairro que já acolheu empresas do

porte de IBM, Coca Cola, Furnas, Nuclebrás, Shell e Chase” e as varandas executivas com a “mais linda

vista para a Baía de Guanabara”, valoriza as 207 vagas, os recursos e instalações prediais, a facilidade de

“se adaptar a qualquer layout de escritório” e a parede cortina [curtain wall] “vazada por varandas,

esquadrias bronze e cristais belgas nas fachadas” e conclui: “tudo isso com a comodidade de ter à frente

o aterro que liga o prédio aos aeroportos e saídas da Cidade sem nenhum sinal de trânsito’” e a

inteligência de um projeto “inteligente que oferece o máximo de segurança, exclusividade, eficiência e

privacidade a seus negócios.” A única referência ao local reforça a beleza da vista a ser usufruída e a

facilidade de sair ou chegar na cidade: nenhuma alusão à vida, aos habitantes locais e ao “porto” que

acolheu outros importantes “transatlânticos”. O edifício rompe o gabarito dominante de 12 pavimentos.

A segunda matéria, publicada na revista Projeto n° 71 (jan/1985: 73-76), com o título Centro Empresarial

Rio, divulga o edifício Centro Empresarial Rio (Edifício Argentina) [projeto de Cláudio FORTES e Roberto

VICTOR]. O texto ressalta as “amplas facilidades para a instalação de empresas de alto e médio porte

sem esquecer a integração com a natureza e as condições espaciais do bairro, harmonizadas com a

funcionalidade e beleza dos ambientes” e a facilidade de transporte de massa e de acesso. Apesar de o

edifício, enquanto objeto isolado de seu contexto e sua implantação em esplanada – destacando “as 15

palmeiras imperiais existentes” (XAVIER et al 1991: 196), valorizadas por um excelente projeto

paisagístico e pela presença de algumas obras de arte – ser reconhecido como belo e funcional, sua

altura (18 pavimentos) rompe o gabarito local (12 pavimentos) e obstrui a vista do corcovado para os

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moradores da praia de Botafogo no trecho situado entre o edifício e o Morro da Viúva. A matéria

também ressalta as facilidades de acesso do local e a beleza da sua paisagem, sem fazer referência à

vida, aos habitantes e ao bairro.

A terceira matéria, de divulgação do Edifício das empresas Caemi [projeto de Edison MUSA], foi

publicada na revista Projeto n° 110 (mai/88: 78-84), com o título Da Localização à obra, um projeto

completo, descreve com precisão o processo de concepção do edifício, evidenciando a ênfase na técnica

e na tecnologia: reconhece a vocação do lugar, “confirmada pela presença de várias grandes empresas,

como IBM, Shell, Chase, Coca-Cola, Fininvest, etc.”, a infraestrutura disponível, a proximidade do metrô

e a “maravilhosa situação paisagística” da área. Os dois relatórios de projeto – Inicial e Intermediário –

reúnem todas as informações técnicas disponíveis em relação ao terreno, ao clima local, a urbanística

local, projetos complementares, programa – restrito a “objetivos, prazos e destinação; forma geral,

conceitos preliminares de arquitetura, partido geral, resumo do edifício, materiais propostos;

cronograma de atividades” e o projeto – estudo preliminar e anteprojeto.

A quarta matéria, de divulgação do polêmico e “extravagante” (Jornal do Brasil 5/7/1998) edifício do

Centro Empresarial Mourisco [TAULOIS & TAULOIS Arquitetos Associados], foi publicada na revista

Finestra-Brasil n° 15 (out/dez/1998: 108-111), com o título Geometria Dinâmica, reconhece os “aspectos

paisagísticos excepcionais e surpreendentes em área urbana, pela proximidade da encosta verde” e o

pequeno risco de novas construções de porte no entorno, em função da área ser “protegida por

legislação de preservação ambiental.” A justificativa do projeto afirma a intenção de “valorizar a

integração do conjunto arquitetônico com os elementos da paisagem, concebendo-o com uma

geometria dinâmica, que acompanha o terreno e define grandes afastamentos ajardinados.” “Especial

atenção” foi dada à cobertura, considerada a “Quinta fachada”, em função da área ser um “cartão

postal do Rio de Janeiro, bem como “à integração de seus elementos técnicos, constituindo, dessa

forma, o que se pode chamar de a quinta fachada”. O átrio monumental, “protegido da insolação

excessiva e com boas condições de ventilação ... recebe tratamento marcante, alternando volumes

vazados, com predominância vertical ... local ideal para estar e convivência pela proximidade dos jardins

e pela visão, ao longe, do Pão de Açúcar.”

O edifício ainda apresenta os seguintes aspectos negativos: (a) bloqueia o eixo visual da enseada para os

transeuntes e moradores da rua Voluntários da Pátria, que ainda são “brindados” com a visão de uma

inexplicável caixa d’água de fibrocimento junto à saliência redonda de sua fachada; (b) a reconhecida

“extravagância” do edifício204, especialmente por sua forma rebuscada e pelo tratamento de sua

cobertura, que o aproximam da estética kitsch; (c) átrio envidraçado e aberto para uma pista de tráfego

intenso, configura um recinto sonoro inadequado para funcionar como “local ideal para encontros”.

VISÃO SERIAL DO AMBIENTE DA ENSEADA DE BOTAFOGO

Neste anexo, pretendo ilustrar com fotografias comentadas um “passeio” pela enseada de

botafogo, com um percurso iniciando em frente à antiga sede do Flamengo, no Morro da

Viúva, e terminando no Iate Clube, com diversas fotos dos edifícios e situações mais marcantes

do sítio, com o objetivo de melhor ilustrar as observações relativas à Enseada de Botafogo

constantes dos CAPÍTULOS I e II.

204 “Mas não é somente o luxo e a extravagância do prédio – que ocupa ampla área entre o mar

e o paredão de edifícios – que darão o que falar. Ele também tem alguns recordes de deixar o

cidadão de queixo caído. Cada um de seus sete andares tem 4 mil metros quadrados de área, o

que lhe garante a condição de dono dos maiores pavimentos da América latina. O centro

empresarial está na frente também no preço do aluguel mensal – o mais caro do Rio - , que será

de R $ 40 por metro quadrado ou R $ 160 mil por andar. Para venda, o metro está avaliado em R

$ 3,5 mil.”, in Um gigante de vidro surge em Botafogo, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5/07/1998,

p. 32:

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Figura 1 – Vista da Enseada de Botafogo (2000)

Figura 2 – Planta da Enseada de Botafogo

Fonte: Rio Listas 99, Planta 4

Figura 3 – Vista Panorâmica da Enseada a partir do Morro da Viúva

Esta figura evidencia a relação aleatória entre a massa edificada e o perfil natural dos

morros. Fragmentação da paisagem, fruto da prevalência da concepção do edifício como

obra isolada de arquitetura em detrimento de seu relacionamento com o contexto. O

conjunto de intervenções no sítio releva a presença de diversos objetos [principalmente

edifícios] ávidos por atenção. Arquitetura como protaginista do processo de degradação

da paisagem natural: monumentos da irracionalidade. Limites naturais e culturais são

substituídos pelos limites técnicos, econômicos e políticos, tornando os lugares

impessoais, despersonalizados, desumanos e frios.

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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta

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200

Figura 4 – Vista do Paredão de edifícios junto ao Morro da Viúva.

Figura 5 – Vista do Morro da Viúva junto ao Instituto Fernandes Figueira.

Figura 6 – Vista do conjunto de edifícios da Praia de Botafogo.

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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

Figura 5. gorjeta + serviço

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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta

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201

Figura 7 – Vista do conjunto de edifícios da Praia de Botafogo.

Figura 8 – Banco obstruindo o passeio de pedestres.

Figura 9 – Vista dos edifícios “cegos” (sem janelas para a Praia de

Botafogo)

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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta

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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

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203

Figura 10 – Vista do edifício da Fundação Getúlio Vargas

Figura 11 – Vista do edifício Argentina.

Figura 12 – Vista da Torre da Igreja da Imaculada Conceição e do

edifício Caemi.

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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta

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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

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204

Figura 13 – Vista do edifício Caemi, com o Corcovado ao fundo.

Figura 14 – Vista de conjunto de edifícios próximos à Rua Visc. de Ouro Preto

.

Figura 15 – Vista dos edifícios Coca-Cola/Intelig e Botafogo Praia Shopping

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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta

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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

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Figura 16. Edifício Praia de Botafogo 440.

.

Figura 17. Centro Empresarial Mourisco.

Figura 18. Vista da Piscina do Botafogo Futebol e Regatas.

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Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta

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Figura 19. Vista do edifício do Corpo de Bombeiros.

Figura 20. Edifícios “gêmeos” da IBM.

.

Figura 21. Vista do conjunto de edifícios da Avenida Nestor Moreira.

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Figura 22. “Paredão” de edifícios

Figura 23. Vista do Morro do Pasmado.

Figura 24 – Vista dos edifícios Anexo da Fundação Getúlio Vargas e da Telemar.

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Figura 25 – Vista do Edifício Argentina

O resultado deste conjunto de imagens que compõem um percurso de pedestre ao longo da

praia na enseada de Botafogo evidencia a presença das três degradações (MORIN 1996)

tratadas na SEÇÃO 1.4 – tecnicista, doutrinária e pop-degradação –, a prevalência da

concepção do edifício como obra isolada de arquitetura em detrimento de seu relacionamento

com o contexto (CULLEN 1983) e o casuísmo com que a cidade é tratada pelas autoridades

públicas. A estética destes edifícios e sua propaganda de venda evidenciam o “desejo

mimético” (Jurandir FREIRE COSTA) do lugar onde seus idealizadores e compradores imaginam

ou desejam viver. A metáfora dos “transatlânticos ancorados na calçada” ávidos por atenção

pode ser considerada sua mais pura expressão. O resultado desta lógica que despreza o clima

e a paisagem local é expresso através da produção de um ambiente construído que funciona

como tapume da esplendorosa paisagem natural delineada pelo contorno dos morros

circundantes.

O ambiente construído enseada de Botafogo pode ser considerado como um reflexo da

esquizofrenia [ou aleatoriedade] da arquitetura da razão técnica e seus “desafios” e evidencia

que, se a humanidade não superar as limitações do paradigma racionalista em prol de um

paradigma social complexo, estárá inexoravelmente condenada por si mesma a viver em um

hábitat despersonalizado, desconfortável e desumano.

A DÉCADA PERVERSA205

Anos 90 varreram do mapa brasileiro 2 milhões de

postos de trabalho destinados a jovens de 14 a 25 anos

FLÁVIA BARBOSA E MARCELO KISCHINHEVSKY

O Brasil foi implacável com os seus jovens nos anos 90. A pior crise de desemprego da

História provocou a destruição de dois milhões de vagas formais destinadas à parcela

da população entre 14 e 25 anos, o equivalente a dois terços do total de empregos

incinerados na fogueira da abertura comercial e da implantação de um novo modelo

205 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 03/out/1999 - Economia

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209

econômico caracterizado pela retirada do Estado da atividade econômica - com as

privatizações e o enxugamento da máquina pública - e que tomou como meta a

inserção do país no sistema financeiro internacional. Se, em termos de crescimento e

estruturação do mercado de trabalho, os anos 80 ficaram conhecidos como a

década perdida, esta poderá entrar para a história como a década perversa.

"É uma lástima, mas os efeitos foram devastadores: o grosso do ajuste do emprego

nesta década recaiu sobre os ombros da juventude", afirma o economista Marcio

Pochmann, do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (Cesit) da Unicamp. "São os

desempregados da reestruturação empresarial dos anos 90. E o pior é que o Brasil não

tem, nem nunca teve, uma política de trabalho com capacidade para responder

efetivamente aos problemas ocupacionais dos jovens."

Desemprego socializado - Diante do enxugamento de vagas na década de 90, as

dificuldades encontradas no momento de ingresso no mercado de trabalho são

partilhadas por jovens de quaisquer classes sociais e níveis de educação.

Evidentemente são mais imperativas para aqueles que nem sequer freqüentaram os

bancos escolares e são alijados da competição por falta de credenciais.

"O modelo anterior era o filho do pobre ir para a construção e o comércio aos 14 anos;

o da classe média, para indústria e bancos, aos 18; e os ricos, grosso modo, só iam

para o mercado depois de 20 anos, com diploma, para os cargos gerenciais. Só que

as mudanças foram tão graves que atingiram todos da mesma maneira. O pobre

praticamente não tem mais chances e os mais qualificados estão se atracando pelas

vagas restantes. Estão todos no mesmo barco", explica Pochmann.

A ansiedade, o desespero e a frustração marcam os jovens que, muitas vezes à custa

de sacrifício financeiro, cumpriram à risca a cartilha da empregabilidade dos anos 90 -

que receita doses generosas de qualificação e um diploma universitário debaixo do

braço - e dão de cara com um mercado de portas fechadas. A situação pode já ter

estado ruim para todo mundo muitas vezes; para este grupo, é a primeira.

"O mercado está muito fechado, quase ninguém da nossa turma consegue estágio na

profissão. Quem consegue, depois, acaba não sendo contratado", reclamam em coro

Eliane Souza da Silva, 23 anos, e Roldineia Ferreira, 22, alunas do sexto período de

Engenharia Química da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Ambas fazem parte da turma de 99, que apostou no nível superior como forma de

manter um padrão ou ascender socialmente e agora transpõe os muros da faculdade

para se transformar na pseudo-elite de quase 280 mil universitários que o Brasil

despejará no mercado de trabalho na entrada do ano 2000. Um mercado arrasado,

que viu evaporarem 50% das vagas na indústria, além de 420 mil dos melhores

empregos, e assistiu à taxa média de desemprego aberto bater na marca inédita de

7,8%.

São jovens que, estarrecidos, ouvem falar de um certo desemprego intelectual: jovens

que não encontram vaga na sua área de atuação e se submetem a um emprego

que exige qualificação bem inferior à que levaram anos para adquirir. Jovens que

vêem até mesmo os postos na informalidade e o setor de serviços darem

demonstrações de esgotamento.

Com o objetivo de ampliar a discussão sobre o tema, o JORNAL DO BRASIL publica, a

partir de hoje, uma série de reportagens que enfoca o drama dos jovens na hora de

encarar o mercado de trabalho e aponta possíveis saídas para essa encruzilhada

nacional.

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210

EM BUSCA DE TRABALHO

- 70 mil estudantes se inscreveram na Mostra PUC Rio III para disputar vagas para

estagiários e trainees

- Há promessa de 1,2 mil vagas no ano 2000

- A procura aumentou 40% em relação a 1998

- Relação chegou a 200 candidatos por vaga

- Trainee pode receber R$ 1,5 mil por mês

A IMPORTÂNCIA DO CRESCIMENTO

- O Brasil pecisa crescer pelo menos 4% ao ano na próxima década para absorver a

mão-de-obra que chega ao mercado de trabalho

- É preciso gerar 1,5 milhão de postos de trabalho por ano

- O PPA prevê a criação de 4 milhões de vagas em 4 anos

- O PIB deverá variar 0% em 1999

- O Planfor perdeu mais de R$ 300 milhões em verbas

- Foram cortadas 50% das vagas na indústria

- A taxa média de desemprego do Brasil é de 7,8%

- Há, hoje, 6,6 milhões de brasileiros desempregados

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211

FEIRAS SÃO OPORTUNIDADES PARA POUCOS 206

FLÁVIA BARBOSA* Os olhos grandes e atentos vasculham os estandes em busca de uma fila de inscrição

em que ela ainda não tenha entrado. Em meio à multidão ávida por uma

oportunidade de trabalho, Ludmila Rosa Martins, 28 anos, não faz cerimônia: preenche

todas as fichas que lhe são oferecidas durante a III Mostra PUC-Rio, feira de estágio e

trainee promovida pela universidade no fim de agosto, com apoio da Prefeitura do

Rio.

Ludmila é uma entre os cerca de 70 mil universitários e recém-formados que disputam

ombro a ombro as 1,2 mil promessas de oportunidades nas 35 grandes empresas que

participaram do evento.

É uma odisséia comparável às provas do vestibular. A relação, quando é aberta a

temporada de caça aos novos talentos, é de 58,3 candidatos por cada vaga

ofertada, de acordo com dados do professor Cesar Monerar Tardin, coordenador da

mostra. As duas edições anteriores da feira tiveram aproximadamente 50 mil

participantes e nunca havia faltado fichas de inscrição para os interessados - no

encerramento deste evento, que durou quatro dias, a média de formulários

distribuídos por cada estande chegou a três mil, para estágio, e mil, para trainees. E as

feiras vêm se multiplicando: na semana passada, foi a vez da Fundação Mudes.

Mesmo que as feiras tenham em comum a limitada oferta de vagas, os jovens sabem

que chegar a trainee de uma empresa de grande porte pode ser a linha tênue entre

a atuação na profissão escolhida e a sina de se submeter a um emprego que, a rigor,

exige menos qualificação. Do outro lado, está a possibilidade de, enquanto é

avaliado, receber mensalmente R$ 1,5 mil (mais do que a renda per capita média dos

brasileiros que têm mais de 12 anos de estudo), tíquete-refeição, vale-transporte e

plano de saúde. À frente, provado o talento, o jovem vislumbra uma carreira bem-

sucedida.

Este é o canto de sereia de empresas como a Companhia Estadual de Gás (CEG),

que, não à toa, teve de ajeitar seu banco de dados para que coubessem 4 mil novos

currículos recebidos na mostra, conferindo à empresa a espantosa marca de 200

candidatos por vaga. São sete para trainee e 13 para estagiários. Quem entra para o

programa de treinamento, a exemplo dos sete do ano passado, hoje contratados, é

incorporado por uma equipe de desenvolvimento de projetos e, com sorte, passa três

meses na Espanha. "Queremos ter na empresa os melhores alunos, a quem daremos

treinamento profissional, pensando nas nossas necessidades futuras", decreta José

Alves, diretor de Recursos Humanos.

Muitos estudantes ou recém-formados, porém, acabam buscando nestas feiras uma

chance de se colocar no mercado, mesmo que em atividades muito distintas

daquelas em que pretendiam originalmente se inserir. Ludmila, por exemplo, bióloga

formada pela Faculdade Celso Lisboa, há dois anos procura em vão por um emprego

e já está aceitando até trabalho sem necessidade de qualificação. "Vou me inscrever

em tudo. Eu quero um emprego!", exclama.

"Está tudo mais complicado, há muitas dúvidas sobre como será depois da formatura.

Na minha turma, as pessoas até conseguem estágio, mas contrato com carteira

assinada é difícil", afirma o estudante André Pereira do Nascimento, 22, que cursa o

206 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 03/out/1999 - Economia

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212

último ano de Arquitetura na UFRJ e, após a maratona de inscrições na feira da PUC,

já não sabia ao certo em que estandes havia se cadastrado.

Para piorar as perspectivas, muitas empresas utilizam as inscrições apenas para formar

um banco de dados, sem previsão de contratação a curto prazo. É o caso da

Telefônica, que acumula 4,3 mil currículos e, segundo Elena Lacambra, diretora de RH,

só irá recrutar os selecionados "à medida que tenhamos necessidade", diz.

*Colaboraram Marcelo Kischinhevsky e Luciana Brafman

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213

MELHORES VAGAS SÃO DEVASTADAS 207

Setores que oferecem os postos de maior qualidade e

salário demitiram 420 mil trabalhadores nesta década

FLÁVIA BARBOSA

A reestruturação do mercado de trabalho foi responsável pela eliminação de 420 mil

dos melhores empregos que a economia brasileira oferecia nos anos 90, revela estudo

inédito da economista Lilian Maria Miller, que defende amanhã, no Instituto de

Economia da UFRJ, a tese de doutorado Emprego em serviços: análise do crescimento

recente e da qualidade dos postos de trabalho no Brasil. É o pior desempenho da

década entre as categorias de qualificação dos postos de trabalho nacionais.

"Na classificação que montei para aferir a qualidade dos postos de trabalho, descobri

que os melhores empregos estavam confinados num seleto grupo de quatro setores e

que haviam sido devastados. Eram empregos de salários elevados, alto grau de

formalização e demandavam maior qualificação, ou seja, eram destinados aos mais

bem preparados profissionais, em que se encaixam os jovens formandos", explica Lilian

Miller. "Infelizmente, as chances de esses setores voltarem a contratar são praticamente

nulas diante da reestruturação a que foram submetidos", afirma a economista.

Escritório - De acordo com a análise de Lilian - que criou um Índice de Qualidade (IQ)

para os postos de trabalho nos diferentes setores econômicos, que varia de 0

(qualidade inferior) a 1 (qualidade superior) -, os melhores empregos do Brasil

compreendiam as ocupações de escritório (advogados, arquitetos, por exemplo); do

setor bancário e de seguro-saúde (instituições de crédito, seguro e capitalização e

previdência privada); do setor de previdência social pública; e, por fim, das entidades

científicas, tecnológicas e culturais, também ligadas ao Estado.

Esses empregos vêm reduzindo continuadamente sua participação no total da

ocupação, mas extrapolaram. Em 1989 representavam 3,1%; em 1996, já

representavam 2,8% do total, acirrando ainda mais a disputa por uma vaga nesse

oásis de boas chances em meio a um mercado de trabalho que, segundo a

economista, apresenta níveis muito baixos de qualificação (a média nacional está

abaixo de 0,5 IQ, o que significa elevado grau de informalização e baixos salários).

Como o desemprego global também aumentou, os jovens passaram a brigar não

apenas entre si mas também com os adultos. Na queda-de-braço, levam a pior: são

tradicionalmente associados à baixa produtividade, à irresponsabilidade e à

inexperiência.

Demissões - Os setores foram submetidos, no período entre 1989 e 1996, a uma

escalada de demissões. O campeão de dispensas foi o grupo de instituições de

créditos e seguros, fechando o ciclo com 359 mil empregos dizimados, tendência

puxada pelos bancos. O ajuste na administração pública sumiu com quase 100 mil

vagas: as entidades científicas foram encolhidas em cinco mil empregos e a

Previdência, em 90 mil.

O saldo positivo coube à previdência privada, que gerou 34 mil postos. "Mesmo assim, é

um setor que não apresenta chances de expansão significativa. A criação de empregos

foi uma necessidade dos grupos de previdência particular, pois eles surgiram no Brasil

justamente neste período", diz Lilian. Ela observa, ainda, que a indústria, que tem setores

entre os empregos de qualidade superior e intermediária, pôs na rua 373 mil pessoas.

207 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 04/out/1999 - Economia

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214

Baixa qualidade impera

Em sua tese de doutoramento, orientada pelo professor Claudio Salm, ex-presidente

da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet), a economista Lilian Miller

constata o que os especialistas em mercado de trabalho vêm apontando desde o

início da crise do emprego: a economia brasileira, mesmo gerando postos de

trabalho, perdeu a capacidade nesta década de produzir empregos de qualidade.

Enquanto de um lado 420 mil ocupações de alto padrão evaporaram, o saldo é

positivo, entre 1989 e 1996, em cerca de 6,9 milhões de postos para as demais

categorias de qualificação, sendo mais expressivo para as ocupações de pior

qualificação do setor de serviços, como o emprego doméstico, de limpeza e de

vigilância.

Por exemplo, houve crescimento da ocupação industrial entre 1989 e 1997, mas as

vagas geradas foram em serviços onde as condições são mais precárias, os salários

são baixos e os sindicatos têm o trabalho de fiscalização e negociação dificultado

pela dispersão das fábricas: 20 mil na fabricação caseira e 388 mil na categoria outras

indústrias. Esta certamente não inclui as fábricas pesadas que têm maior quadro de

pessoal, que, juntas, apresentam saldo de 1,5 milhão de postos destruídos no período.

"Esse resultado já era esperado, pois o ajuste do emprego na década de 90 foi feito

em cima dos trabalhadores com carteira assinada", avalia Marcio Pochmann,

economista da Unicamp. "As estatísticas se ocupam apenas com a evolução da

ocupação, porém não mostram a qualidade desses postos de trabalho."

"E foi uma transformação importantíssima", define Claudio Dedecca, presidente da

Abet, também economista da Unicamp e especialista em informalidade. (F.B.)

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215

FÉ NA VIDA ACADÊMICA 208

LUCIANA BRAFMAN

Especial para o JB

Os dados da tese da economista Lilian Miller são desoladores para os jovens que

escolheram profissões que, por gerações, foram acolhidas nas áreas acadêmicas. O

processo de enxugamento da máquina pública e de ajuste das contas do Estado

provocou, de um lado, dispensas nas entidades científicas, culturais e tecnológicas; de

outro, reduziu a freqüência dos concursos de admissão.

Por isso, o mercado de trabalho é ainda mais restrito quando se fala do curso de

História, acreditam as estudantes da UFRJ Joana Gaspar Pinto Braz, 18 anos, Débora

Paiva Monteiro, 19, e Julia Wagner Pereira, 19. Com a opção de seguir por dois

caminhos não muito valorizados no país, elas ainda sonham ingressar no universo da

pesquisa.

"Quem escolhe História tem a consciência de que não vai ficar rico", reconhece

Débora, que, quando optou pelo curso, ouviu de vários amigos que ia "morrer de

fome". "Se já está difícil para todo mundo, imagina para os estudantes de História",

compara Joana, que se imagina trabalhando na área de turismo. Ela admite que não

há muitas oportunidades de estágio em História, mas lembra as vagas oferecidas por

intermédio da universidade, que tem convênios com o Colégio de Aplicação e com o

Pedro II.

Conformadas com a difícil situação da educação e da pesquisa no país, e sem

grandes ambições financeiras, as futuras historiadoras vêem na especialização e no

exterior saídas para enfrentar o concorrido mercado de trabalho. Consideram o

aprendizado de línguas estrangeiras fundamental para a profissão e gostariam de

ingressar em cursos de extensão, de preferência na Europa, onde, segundo elas, a

pesquisa é valorizada.

Já o namorado de Débora, Rafael Gonçalves, 21, tem pretensões de ganhar muito

dinheiro e para isso escolheu a profissão da moda nos anos 90: economista. Ele está no

terceiro período do IBMEC e acredita que tirou a sorte grande ao atrelar o nome da

instituição ao seu currículo. "Cerca de 90% dos alunos do IBMEC já saem com estágio",

estima. Rafael, apesar de confiante, também se preocupa com a acirrada

concorrência do mercado, e gostaria de "passar um tempo lá fora".

Crescimento de serviços não é a saída

A afirmação de que o setor de serviços é o segmento da economia em que se

apresentarão as chances futuras de contratação, absorvendo boa parte das vagas

extintas na década de 90, é um sofisma, revelam os dados da economista Lilian Miller.

Apesar de terem saldo positivo na geração de postos de trabalho no período entre

1989 e 1996 - até mesmo durante a recessão de 1992, enquanto bancos e indústria

ceifavam o quadro de pessoal em 1,5 milhão de vagas -, o setor é a prova de que os

ajustes quantitativos do emprego foram acompanhados de severa piora nas

condições de trabalho.

"A criação de empregos (conceito econômico que define posto de trabalho

assalariado com carteira assinada) foi dificultada nesta década não apenas por

conta da introdução das novas tecnologias, mas também pela mudança setorial da

ocupação em favor dos serviços", afirma Lilian Miller. "Realmente, existe uma

208 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 04/out/1999 - Economia

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216

transferência setorial para os serviços na ocupação, mas o efeito, em termos de

qualidade, não é igualmente transferido para toda os setores econômicos, com

exceção de serviços modernos, como telecomunicações", analisa o economista João

Sabóia, da UFRJ.

O modelo desenvolvimentista adotado pelo Brasil nas décadas de 70 e 80, mas

notadamente na primeira, produziu um deslocamento da mão-de-obra da agricultura

para a indústria e para os serviços. O crescimento econômico gerou vagas, e uma

característica marcante foi que a formalização proliferou. Entretanto, como o país

nunca completou a estruturação de seu mercado de trabalho, foram mantidas

atividades precárias. E, quando o país entrou no ciclo da abertura econômica, diz

Lilian Miller, estas atividades foram revigoradas.

Heterogêneo - Mas, diferentemente do período anterior, na década de 90 o setor de

serviços tornou-se heterogêneo. Aglutina, no Brasil, segmentos atrasados - como o

camelô e a empregada doméstica - e modernos - serviços públicos, de educação, de

saúde e da produção, de qualidade intermediária, que requerem maior escolaridade

e geraram 1,4 milhão de vagas. A ocupação, no entanto, predomina em atividades

não tipicamente capitalistas, no setor informal, no pequeno comércio, no comércio

ambulante, nos serviços domésticos e de alimentação.

De fato, o crescimento do setor de serviços foi puxado na década pelas atividades

domésticas (com 1.375.000 vagas); de comércio de mercadorias (1.884.000); pelas

vagas em lojas (1.487.000); de transporte (349 mil); de comércio ambulante (302 mil);

serviços de higiene pessoal (225 mil); de prestação de serviços técnico-profissionais

(375 mil); e de limpeza e vigilância (351 mil).

Segmentos de prestação de serviços que exigem mais qualificação também tiveram

aumento de vagas: serviços de produção (480 mil); serviços sociais públicos (760 mil); e

sociais privados (884 mil). Mas os postos qualificados desses subsetores tiveram

desempenho negativo e foram suplantados por serviços precários: os de distribuição

têm saldo de 2,29 milhões de vagas e os pessoais, de 2,52 milhões. (F.B.)

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217

MERCADO INFORMAL NÃO ABSORVE JOVENS 209

Apenas um em cada nove trabalhadores que caíram

na informalidade, nos anos 90, tem entre 18 e 24 anos

FLÁVIA BARBOSA A década de 90 foi pródiga não apenas na destruição de vagas de alta qualidade.

Um dos fenômenos mais marcantes dos últimos anos é a assustadora informalização

do mercado de trabalho. Pesquisa do economista Claudio Dedecca, publicada pelo

JORNAL DO BRASIL em maio, revelou que 90% do aumento da ocupação entre 1990 e

1997 foi absorvido pelo mercado informal. A novidade desconcertante trazida à tona

agora pelo cruzamento dos dados, diz o professor da Unicamp, é que os jovens entre

18 e 24 anos - faixa etária que inclui boa parte da juventude que terminou o segundo

grau e o curso superior - representavam apenas pouco mais de 10% desse

contingente.

Trocando em miúdos, nove em cada 10 trabalhadores que entraram no mercado de

trabalho brasileiro nos oito primeiros anos da década foram absorvidos nos pequeno e

médio setores da economia voltados ao consumo próprio - o pessoal sem carteira

assinada, terceirizado precário e autônomo. Desses nove, porém, a juventude

compreendida entre 18 e 24 anos só tinha um único representante. "Ou seja, quando

há uma crise de emprego, mesmo na informalidade há dificuldades de inserção para

os jovens, até do fenômeno mais perverso da década a juventude ficou de fora",

afirma Claudio Dedecca.

Baixa renda - As faixas etárias que dominaram a informalidade foram entre 25 e 39

anos, com quatro trabalhadores entre os nove ocupados no setor, e entre 40 e 54

anos, com três. "Essa absorção está relacionada à renda baixa, esta é a faixa em que

predominam os chefes de família, eles pressionam mais o mercado de trabalho",

explica Claudio Dedecca.

Os trabalhadores informais representam hoje a metade do mercado brasileiro. São

25,2 milhões de pessoas, ou 48,4% do total. Estão distribuídos no mercado informal

tradicional (20,4 milhões) e no setor subcontratador - conceito desenvolvido por

Dedecca para abrigar empresas que se dedicam à terceirização, prestação de

serviços para o grande setor econômico (indústria, serviço público), que também têm

alarmantes índices de precariedade, afirma o economista. São 4,8 milhões de

trabalhadores nesta categoria.

Não há vagas - O pico de crescimento da informalidade aconteceu entre os anos de

1990 e 1995. "De lá para cá, o que aumentou foi o desemprego. Nem a economia

informal consegue absorver mais mão-de-obra", afirma Dedecca. "Não é à toa que o

desemprego tornou-se a principal preocupação dos brasileiros: se perder o emprego

com carteira assinada, também não há vagas na informalidade", explica.

Entre 1990 e 1997, período de análise do economista, com base nas pesquisas

nacionais por amostra de domicílios (PNADs) do IBGE, foram despejados no mercado

7,4 milhões de trabalhadores nas atividades sem qualquer proteção legal. Para se ter

uma idéia, é mais do que o saldo de geração de postos de trabalho do setor não-

agrícola da economia no período entre 1989 e 1996 (6,58 milhões de vagas), segundo

a economista Lilian Maria Miller, da UFRJ.

A análise dos dados permite ver que, na comparação entre 1990 e 1997, o número de

trabalhadores formais caiu de 27,7 milhões (60,2%) para 26,6 milhões (50%). Isso

209 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 06/out/1999 - Economia

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218

demonstra, de acordo com Claudio Dedecca, que a absorção de mão-de-obra se

deu na informalidade, "apesar de o setor público ter contratado até 1995". O número

de empregados informais saltou de 14,9 milhões para 20,4 milhões entre 1990 e 1997 e

o de subcontratados, de três milhões para 4,8 milhões.

Desemprego - Nas contas do economista da Unicamp, foi isso que impediu que a taxa

de desemprego aberto explodisse no período. "Entretanto, a juventude não

apresentou a mesma tendência de absorção no período", afirma Claudio Dedecca.

O economista considera, porém, que o fenômeno tem suas vantagens. Ao se deparar

com as resistências do mercado, a tendência da juventude é passar mais tempo nos

bancos escolares. De fato, a taxa de participação na População Economicamente

Ativa (PEA) dos jovens entre 10 e 17 anos cai nesta década, mais acentuadamente

entre os que se aproximam dos 10 anos e que têm baixo grau de instrução. Enquanto

isso, a taxa de participação das pessoas que cursaram a universidade aumentou.

O problema, segundo Dedecca, é que o ritmo de aumento da escolaridade é muito

lento diante das necessidades desses jovens e a situação da economia do país faz

com que as famílias tendam a buscar ocupação para seus vários membros como

forma de abrandar as conseqüências do agravamento da crise do emprego e das

substanciais perdas de renda, pressionando a juventude de volta ao mercado.

Escolaridade ainda faz diferença

Apesar da baixa taxa de absorção da mão-de-obra jovem, a informalidade é

crescente na faixa etária entre 18 e 24 anos. Dos 9,5 milhões de ocupados deste grupo

em 1990, 28% eram informais. O percentual não parou de crescer até 1997, quando

atingiu 34%. Entre aqueles sem instrução ou com o 1° grau incompleto, a evolução na

década foi de 38% de informais para 48%.

"A tendência é aumentar a informalidade entre os jovens de nível educacional mais

baixo, mas não quer dizer que os que estudaram são favorecidos. Isso é o reflexo de

uma estrutura histórica, de um perfil educacional trágico", afirma Claudio Dedecca. "É

um desperdício educacional a informalidade estar absorvendo a juventude", atesta o

economista Claudio Salm, da UFRJ.

Dos 9,8 milhões de ocupados há dois anos, 4,4 milhões não tinham instrução ou o 1°

grau completo. A parcela que tinha nível superior completo era de 193 mil. "Mas como

ao longo da década houve dificuldade de absorção de quem chega ao mercado, a

diferença na capacidade de arrumar um emprego nos dois extremos educacionais

desta faixa etária é mínima", avalia Dedecca.

Tanto na formalidade quanto na informalidade, a tendência de absorção da mão-de-

obra jovem é considerada bastante baixa pelo economista. A População

Economicamente Ativa (PEA) da faixa entre 18 e 24 anos era formada no início da

década por 12,5 milhões de pessoas. Passou a 14 milhões em 1997, crescendo 9%.

Em contrapartida, a ocupação (que reflete a acomodação de quem entrou no

mercado em um posto de trabalho) cresceu apenas 3% no mesmo período. "Isso quer

dizer que 1,5 milhão de jovens entraram no mercado, mas o número de ocupados

subiu apenas 200 mil. Há 1,3 milhão de jovens sobrando", explica o presidente da

Associação Brasileira de Estudos do Trabalho. (F.B.)

Trabalho ‘mirim’ é mais precário

O desperdício educacional a que se refere o economista Claudio Salm é refletido nos

números do trabalho na faixa etária entre 10 e 17 anos. Para este grupo, o nível de

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inserção na informalidade atingiu 58% dos jovens. Isso equivale a 2,03 milhões de

crianças e adolescentes.

Os esforços do Ministério da Educação quanto ao aumento do número de crianças no

ensino fundamental nos últimos anos, no entanto, têm sido razoavelmente bem-

sucedidos do ponto de vista do trabalho. A População Economicamente Ativa (PEA)

encolheu de quatro milhões para 3,5 milhões de jovens entre 1990 e 1997, embora

proporcionalmente o número de jovens trabalhadores informais tenha aumentado (de

50% para 58% do total). Em números absolutos, o número de informais mirins ficou

estacionado em dois milhões de trabalhadores.

Entre os jovens com 1° grau incompleto ou sem instrução, na faixa etária de 10 a 17

anos, aumenta a gravidade da situação. Em 1990, a informalidade era responsável

por 53% dos postos de trabalho que eles ocupavam. A taxa extrapolou em 1997,

segundo o economista Claudio Dedecca: bateu em 64%. (F.B.)

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220

EM SITUAÇÃO DEGRADANTE 210

MANOEL FRANCO

Eles formam um exército de aproximadamente 60 mil pessoas que trabalham

na produção de carvão vegetal, utilizado na fabricação de aço. A atividade

é responsável pelo desmatamento do cerrado brasileiro e por condições de

trabalho degradante, com ocorrência de trabalho infantil e focos de semi-

escravidão, devido à baixa remuneração e à distância dos grandes centros.

Como nômades, muitos trabalham sem nenhum amparo legal no sul de Minas

Gerais, na Bahia e, principalmente em Mato Grosso e em Goiás. São os

carvoeiros, que ajudam o Brasil a ser o oitavo maior produtor de aço bruto de

todo o mundo, com 22 milhões de toneladas anuais - 30% desse total são

originários da siderurgia a carvão vegetal.

Em mais uma estatística absurda do setor, o Brasil é o único país do mundo a

utilizar o carvão vegetal em larga escala como insumo industrial. Os números

são grandiosos. Estima-se que o país produza anualmente cerca de 30 milhões

de metros cúbicos de carvão vegetal - metade oriunda de florestas nativas.

São cinco milhões de toneladas de ferro-gusa feito com essa matéria-prima

todos os anos, criando mais de 100 mil empregos indiretos, num mercado que

movimenta anualmente US$ 660 milhões (R$ 1,28 bilhão).

Denúncia - O lado desumano do setor está sendo posto a nu pelo produtor de

cinema José Padilha e pelo fotógrafo Marcos Prado, que uniram suas forças

para realizar o documentário Os Carvoeiros - para cinema e televisão - e um

livro de fotografia e ensaios sobre o cotidiano dessas famílias no trabalho de

carvoejamento. O livro terá lançamento no próximo dia 11 em sessão para

convidados do filme. A bilheteria do documentário será doada ao Unicef e o

lançamento será no dia 12 durante o programa Criança Esperança, da Rede

Globo. A estréia está prevista para o dia 15, em circuito nacional.

Embora o faturamento da venda de carvão vegetal esteja na faixa de R$ 1

bilhão, somente uma parte do segmento é legalizada, cumpre exigências da

legislação trabalhista. "A outra parte funciona no mercado real, com dinheiro

à vista, ou trocando carvão por gêneros essenciais no velho sistema de

barracão, recrutando pessoas por empreitada ou por tarefa, sem qualquer

cobertura social", lembram os produtores do projeto.

Os trabalhadores não têm como reagir a um círculo cruel que envolve

fazendeiros e seus capatazes, grileiros de terras, capangas, informantes,

mateiros, além de donos de caminhões, gerentes ou prepostos de empresas

compradoras de carvão, e ainda credores e bancos que receberam terras

como penhores.

O destino final desse imbroglio vai para endereços mais nobres, onde estão

fincadas tradicionais e poderosas corporações, como Acesita e Belgo-Mineira.

Mas há também dezenas de usinas de pequeno e médio porte que

210 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 05/out/1999 - Economia

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geralmente só produzem o ferro-gusa. O faturamento anual dessas empresas

está estimado em US$ 380 milhões (R$ 745 milhões).

CARTA DE EDISON MUSA À PRESIDENTE DO IAB-RJ 211

Cara Lilia Varela.

Agradeço-lhe o envio dos exemplares do n° 80 da Revista Arquitetura.

Parabéns a você e Joaquim e a todos que contribuíram para este magnífico

esforço. Só a gente que trabalha sabe como é difícil produzir resultado como

este que vocês acabam de colher.

Pena ainda, que apesar de toda essa vontade de abertura e modernização, o

tom da revista ainda encontre ecos de atitudes antigas e mesquinhas.

A produção de arquitetura no país é um ofício tão sofrido e difícil, que não

precisa, a título de uma crítica construtiva e positiva, de comentários, charges

e chamadas pouco sérias, a trabalhos que estão aí, realizados de peito aberto,

nas regras de um sistema que todos conhecemos.

Acho que já é tempo do IAB perder este aspecto masoquista de criticar a

produção de arquitetura, por arquitetos estabelecidos e ativos, com base num

ideal absoluto desejável, na maioria das vezes impossível de ser alcançado e

longe da realidade cotidiana.

Acho que o IAB prestaria um melhor serviço a toda a comunidade se realmente

procurasse divulgar o trabalho do arquiteto, com seus problemas, suas falhas e

seus acenos, vistos da mesma planície da batalha e não, de um Olimpo artificial,

que o coloca distante das realidades vivenciadas.

Aproveito para solicitar a identificação dos desenhos ilustrativos das páginas 18

e 28, ambes de autoria do escritório Edison MUSA: Edifício Ipiranga – Porto

Alegre, e Edifício Caemi – Rio de Janeiro.

Desejando sucesso e continuidade ao projeto, envio-lhe meu cordial abraço.

Edison MUSA

arquiteto

211 Publicada na revista Arquitetura IAB-RJ – Revista do Instituto de Arquitetos do Brasil n° 81. Rio de

Janeiro, jun/1998, p. 31.

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O discurso emana o racionalismo do seu pensamento da “palavra-resposta” ou

“palavra-solução” – que acredita ser possível construir uma visão fechada,

“coerente, totalizante do universo, a partir de dados parciais, de uma visão

parcial, ou de um princípio único.” (MORIN 1996: 157).

Uma leitura mais atenta evidencia a presença combinada dos três rostos da

degradação da teoria apontados por MORIN e descritos no CAPÍTULO 1: (1)

degradação doutrinária da teoria, ao contrapor: as “atitudes antigas e

mesquinhas” dos autores dos textos ao “ofício tão sofrido e difícil” dos arquitetos

de mercado e as “atitudes antigas e mesquinhas” dos autores dos textos ao

“ofício tão sofrido e difícil” dos arquitetos de mercado; ao desqualificar o

conteúdo dos “comentários, charges e chamadas pouco sérias a trabalhos que

estão aí, realizados de peito aberto nas regras de um sistema que todos

conhecemos”; (2) degradação tecnicista da teoria, ao reagir ao “aspecto

masoquista de criticar a produção de arquitetura por arquitetos estabelecidos

e ativos com base num ideal absoluto desejável, na maioria das vezes impossível

de ser alcançado e longe da realidade cotidiana”; (3) pop-degradação da

teoria, ao sugerir que o IAB “prestaria um melhor serviço a toda a comunidade

se realmente procurasse divulgar o trabalho do arquiteto, com seus problemas,

suas falhas e seus acenos, vistos da mesma planície da batalha e não, de um

Olimpo artificial, que o coloca distante das realidades vivenciadas.”

O texto denuncia a presunção ao saber messiânico por parte de seu autor –

dono da verdade a ser doada aos ignorantes e incapazes, “habitantes de um

gueto, de onde saem messiânicamente para salvar os ‘perdidos’, que estão

fora. Ao procederem assim, não estarão se comprometendo verdadeiramente

como profissionais nem como homens. Simplesmente estarão se alienando.”

(FREIRE: 1978) – que sonha com um IAB e com uma crítica de “louvação”

(RHEINGANTZ 1995). Ambos subservientes aos interesses comerciais de um grupo

de profissionais que, guiado pela “mão invisível” do mercado, se pensa como o

único capaz de exercer pragmaticamente sua techné – mesmo que desprovido

de logos – e no direito de continuar a conceber seus cada vez mais altos e

maiores “transatlânticos ancorados nas calçadas”, verdadeiros “monumentos

da irracionalidade” (HENDERSON 1995).

Por outro lado, também enquadra seu autor no grupo daqueles profissionais que

atua não no sentido de promover ou de preservar a vida [e a natureza], mas

de destruí-la, colocando em risco a própria sobrevivência das futuras gerações;

além de confirmar a crescente tendência para ser pensado e discutido por

seres humanos, para ser “determinado” [e manipulado] pela mão invisível do

“mercado”, em proveito dos princípios de ordem, de economia, de eficácia.”

(MORIN 1996: 162). A “operação de distinção, que está fundamentada em todo ato cognitivo, torna-se complexa e

resulta de uma transação entre o observador e o mundo observado

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(1) que as partes são ao mesmo tempo menos e mais do que as partes; (2) que

a riqueza do universo está nas pequenas unidades reflexivas desviadas e

periféricas que se constituíram na sua totalidade; (3) que o indivíduo é

ignorante-inconsciente da totalidade social, ao mesmo tempo em que a

totalidade é ignorante-inconsciente do indivíduo; (4) que o todo é insuficiente;

(5) que o todo é incerto – no universo vivo, cada aspecto pode ser concebido

ao mesmo tempo enquanto todo e parte; (6) que o todo é conflituoso –

comporta forças antagônicas à sua perpetuação.

PADRÕES DE ESPAÇO DE ESCRITÓRIO 212

“Nenhuma organização pode ser categorizada completamente como

Colméia, Cela, Recanto ou Clube. A maioria as combina. Similarmente à

soma dos escritórios em qualquer tempo consiste numa proporção dos

quatro tipos. O que muda com o tempo é a sua proporção. Por exemplo,

a grande maioria dos escritórios, hoje, é de Colméias, com algumas

Células e Recantos mas poucos Clubes, e, como era de se esperar, com

o passar dos anos, a proporção de Colméias vem diminuindo

significativamente em favor de uma proporção mais alta de Celas, e as

vezes Recantos e um desemdidocrescimento dos Clubes.”

Francis DUFFY

Cada padrão característico de cada um dos quatro tipos de organização

implica, ele próprio, em uma forma específica de uso do espaço e do mobiliário.

Para conseguir o máxima de qualquer organização, diferentes tipos de layout

de escritório devem ser projetados para suportar seus padrões. Layouts que

suportem melhor os diferentes padrões, provavelmente podem ser melhor

utilizados de diversos modos: padrões de trabalho mais interativos e com maior

autonomomia são indicados para o compartilhamento de espaço e de tempo

- geralmente chamado de “intensificação do uso do espaço” - uma vez que

sua ocupação é intermitente e irregular.

Espaço-colméia: Demanda estações de trabalho relativamente simples.

Inspirado na indústria, onde a rotina das freqüentes repetições de tarefas é

desempenhada sob supervisão, adequado para o trabalho individual de rotina

com baixo nível de interação e pouca autonomia. O cenário típico de trabalho

é uniforme e impessoal, com planta aberta, resguardada com biombos.

[organizações típicas - tele-vendas, recepção e processamento de dados,

212 Adaptado de DUFFY (1997: 62-65).

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rotinas bancárias, operações financeiras e administrativas e serviços básicos de

informação.

Espaço-célula [ou cela]: Demanda alguns ambientes relativamente mais ricos.

Ambiente que possibilita o total controle do ambiente físico e intelectual

inspirado nas celas dos antigos conventos, acomoda o trabalho concentrado

individual realizado com pequena interação, adequado para atividades

autônomas com padrões intermitentes e irregulares em suas jornadas extra de

trabalho. Ambiente fechado ou estação de trabalho altamente protegida em

um escritório de planta aberta para ocupação individual. Cada lugar de

trabalho individual precisa ser projetado para prover uma complexa variedade

de tarefas. O padrão de trabalho autônomo de ocupação esporádica e

irregular, significa que cada ambiente de trabalho deve possibilitar que seu uso

seja compartilhado. [organizações típicas: contadores, advogados, gerentes e

consultores de pessoal, além de cientistas em computação].

Espaço-recanto [ou cubículo]: Requer cenários relativamente mais simples.

Associado aos grupos de trabalho interativo, mas não necessariamente com

alta autonomia, que se utilizam de recursos e ambiente compartilhados,

geralmente assegura um amplo leque de ambientes simples e diferentes,

usualmente dispostos em escritórios de planta aberta ou em grupos de salas. Em

geral, os ambientes são projetados com base no pressuposto de que os

trabalhadores individuais ocupam suas “próprias” mesas, enquanto os grupos

de trabalhadores também precisam ter acesso a espaços complementares

para reuniões de trabalho, para desenvolvimento de projetos e para

compartilhar equipamento - impressoras, copiadoras e outros equipamentos

técnicos especiais. As tarefas são, em geral, de curto prazo e intensas, embora

às vezes também possam ser de mais longo prazo, sempre envolvendo muito

empenho por parte de cada equipe. [projeto, processos de segurança, algum

trabalho com mídia - particularmente rádio e televisão e publicidade]. Ideal

para tarefas colaborativas e baseadas nos grupos de trabalho. [equipe

preparando e apresentando programas contínuos de noticiário de televisão,

um exemplo típico de recanto contemporânea, por não ter descontinuidade

entre os apresentadores e o pessoal de suporte.

Espaço-clube: Requer ambientes muito mais variados e complexos. Adequado

para trabalho com conhecimento, isto é, para escritórios onde a atividade de

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226

trabalho transcende o manuseio de dados, demandando consideráveis doses

de julgamento e de inteligência. O trabalho neste tipo de organização é, ao

mesmo tempo, altamente autônomo e altamente interativo. O padrão de

ocupação tende a jornadas de trabalho mais intermitente do que prorrogado.

Permite as pessoas selecionarem o cenário de trabalho que eles querem,

quando eles querem. Uma grande variedade de tarefas baseadas em cenários

de compartilhamento de tempo [time-shared] serve tanto para o trabalho

individual concentrado como para o de grupos interativos. Indivíduos e equipes

ocupam o espaço segundo as suas próprias necessidades, movendo-se em

torno dele, tirando vantagem de uma ampla variedade de recursos e de

equipamentos. O coeficiente de compartilhamento depende da

especificidade do trabalho e da mescla de trabalho interno e externo no

escritório, possibilitando combinar tele-trabalho, trabalho doméstico, trabalho

no cliente e trabalho em outros locais. [firmas de criação como empresas de

publicidade/mídia, companhias de tecnologia da informação e todo tipo de

consultoria gerencial. Estas organizações têm em comum uma equipe

altamente intelectualizada, capaz de solucionar problemas em aberto e, acima

de tudo, constante acesso a um vasto manancial de conhecimento

compartilhado.

Estes quatro tipos de espaços de escritório podem ser aplicados para configurar

as diferentes estratégias de ambientes de trabalho.

Estratégias de ambientes de trabalho213:

Basicamente, existem dois conceitos de ambiente de trabalho que, por não serem

excludentes, possibilitam uma grande diversidade de alternativas para configuração do

ambiente de trabalho:

1. Escritório territorial – que considera uma estação de trabalho para cada funcionário

(ANDRADE 1996: 22) e que se subdivide em quatro diferentes tipologias:

1.1 Escritório aberto ou paisagem [landscape office] – ambientes abertos e grandes conjuntos

de mobiliário e equipamento são organizadas em função do fluxo de trabalho, separados por

“caminhos curvilíneos e um sentimento de paisagem interior” (SMITH & KEARNY, 1994: 7).

1.2 Escritório fechado – modelo tradicional de espaço de escritório, dividido em salas

estanques, que podem ser individuais ou para pequenos grupos de até 4 ou 6 pessoas.

1.3 Escritório combinado [combi office] – onde os funcionários ocupam “pequenas salas

fechadas, dispostas na periferia do ambiente, de tal forma que a área central destina-se às

213 Adaptado de Cláudia ANDRADE (1996: 22) e SIMS, BECKER & QUINN (1995: 31-36)

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atividades de uso comum, seja para reunir equipamentos, estações para trabalho em grupo,

ou áreas de estar e convívio social” (ANDRADE 1996: 22); e

1.4 Escritório para grupos de alto desempenho [high performance team) – onde

equipes de funcionários, compartilham processos de trabalho em um mesmo

ambiente, possibilitando “aumento de envolvimento e agilidade de decisões,

sinergia, aumento de suporte emocional, melhor desempenho” (ANDRADE

1996: 22).

2. Escritório não territorial – designação proposta por Thomas ALLEN (MIT) para caracterizar as

novas formas de trabalho de escritório contendo variadas zonas de atividades disponíveis para

uso de qualquer membro da equipe, combinando sistemas de maior liberdade de cenário com

os fluxos de pessoas, materiais ou informações; “os funcionários não têm sala, estação de

trabalho ou mesa fixa e o uso de espaço ou tecnologia se dá em função de suas necessidades e

tarefas” (SIMS, BECKER & QUINN 1995). Estas novas forma de escritório vêm sendo utilizados

por organizações que buscam maior efetividade e redução de custos escritório, com

significativos efeitos na demanda por espaço de escritório, na qualidade de vida no trabalho de

seus empregados e na competitividade organizacional. Existem diversas formas de escritório

sem território e diferentes modalidades de reserva de uso do espaço ou de tecnologia:

2.1 Group Address – designação utilizada pela IBM para definir o espaço interno sem previsão

de mesas individuais, com a intenção de ser utilizada por seus grupos de funcionários ou

departamentos.

2.2 Free Address – designação utilizada para descrever um programa de ocupação de espaço

sem previsão de mesa individual por funcionário; cada funcionário apanha seu equipamento

móvel (volante, telefone, computador, etc.) e ocupa a primeira estação de trabalho disponível,

contando com suporte de secretaria e recepção; podem existir estações de trabalho

individuais e para grupos, além de salas de reunião; a IBM usa o termo para definir o espaço

interno dotados de mesas individuais, que podem ser utilizadas por qualquer funcionário.

2.3 Hoteling – designação adotada pela Ernst and Young de Chicago para descrever seu

programa de escritórios não individualizados em uma base permanente; o uso dos ambientes

é realizado através de um sistema de reservas tipo de hotel, com o apoio de equipes de

suporte; este sistema também possibilita adaptações no espaço para atender às demandas

específicas de cada tipo de projeto/atividade.

2.4 Uso compartilhado – designação utilizada pelo International Workplace Studies Program da

Cornell University para descrever programa de alocação de espaço onde dois ou mais

funcionários compartilham a mesma mesa em horários diferentes.

2.5 Mesa quente [Hot desking] – inspirado na designação da Marinha norteamericana para

descrever beliches utilizados por muitos marinheiros em diferentes turnos/vigílias (o beliche é

aquecido pelo ocupante anterior); forma pejorativa de designar algumas formas de escritório

de uso compartilhado.

2.6 Mesa compartilhada [Desk sharing] – termo genérico para caracterizar a situação onde a

mesma mesa ou estação de trabalho é utilizada por diferentes empregados ao longo de um dia

ou semana.

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2.7 Red carpet – termo utilizado pela Hewlet-Packard para descrever seu programa de

estações de trabalho compartilhadas pelos empregados, que “agrega, além dos conceitos de

Hoteling e Free-addres, áreas destinadas ao convívio social e ao lazer, e em geral é implantado

em escritórios satélites” (ANDRADE 1996: 22); diferentemente da Hot desking, sua intenção foi

criar uma imagem positiva.

2.8 Uso eventual [drop-in] – termo usado por diversas empresas para descrever escritórios

compartiljhados que são utilizados por curtos períodos de tempo (por exemplo, uma poucas

horas) por empregados que não precisam fazer reserva de espaço de escritório. Em geral é

usado para empregados de diferentes lugares que “usam eventualmente” o espaço de

trabalho e precisam de um lugar para trabalhar.

2.9 Escritório satélite [telework centers] – designação utilizada para caracterizar

pequenos centros de teletrabalho com ambientes totalmente equipados

localizados nas proximidades das moradias dos funcionários ou dos clientes;

estes locais também pode ser utilizados.

2.10 Escritório temporário [Just in time] – designação utilizada pela Anderson

Consulting em San Francisco para descrever seu programa de escritórios não

destinados como base permanente de um determinado indivíduo; os escritórios

podem ser designados como uma base temporária, variando desde meio dia

a diversos dias, mediante sistema de reserva.

Além destes dois conceitos de escritórios, existem outras alternativas de “espaço de trabalho”

que, embora não tenham reflexos no espaço de trabalho ocupado por uma determinada

organização, merecem menção:

(3) Terminal doméstico [Home-based telecommuting] – designação utilizada para caracterizar

os funcionários que trabalham meio turno em casa, utilizando a tecnologia necessária para

comunicar-se com seus colegas de trabalho ou com sua empresa.

(4) “Escritório virtual” – designação genérica utilizada para descrever a idéia de

espaço de escritório dissociado de um lugar e um tempo específicos.

(5) Escritório do cliente – modalidade de trabalho cada vez mais presente, à

medida que cresce a modalidade de prestação de serviços e a

desregulamentação dos contratos de trabalho, onde o funcionário trabalha,

durante um período de freqüência e duração variável, no próprio escritório do

cliente.

(6) Escritório móvel – que caracteriza veículos ou locais especialmente

equipados, tais como um avião, um barco, uma van, um ônibus ou até mesmo

um local adequado em um aeroporto ou em uma sala de hotel, de um centro

de convenções ou de um centro de treinamento. Neste grupo também se insere

o conceito do escritório incorpóreo – que, segundo STONE & LUCHETTI (1985) “

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está onde você está” – numa analogia às empresas incorpóreas de Tom PETERS

(1995), que considera que o escritório é a própria mente.

O MERCADO DA AUTOMAÇÃO PREDIAL NO BRASIL 214

Como acontece com qualquer processo de inovação tecnológica, a concepção, produção e operação dos sistemas de automação predial (SAP), ainda se ressente de profissionais adequadamente formados e de regras e práticas claras nas relações projetista-cliente e fabricante-cliente. Na opinião de Fábio RIBEIRO, não há um comprador à altura que, por desconhecimento do produto, acaba comprando o marketing da novidade, nem engenheiros e arquitetos, “que conhecem muito menos ainda. Em geral, os sistemas vendidos na maior parte dos edifícios de escritórios, tem muito mais marketing do que eficiência e utilidade”.

Os profissionais que atuam em projeto e manutenção de sistemas, por inexistência de cursos de formação específica – que deveriam integrar conhecimentos de mecânica, instalações prediais, elétrica, eletrônica e instrumentação – para atender às novas demandas do mercado. Ou são egressos da área comercial das empresas fabricantes com foco nos aspectos comerciais, ou da área de automação industrial com foco nos aspectos técnicos do problema. Ainda existem muito poucos profissionais que conseguem aliar os dois aspectos e no Brasil ainda não existe nenhum programa de graduação em facility management [gerenciamento de recursos]215. Como os clientes e profissionais do setor imobiliário ainda não têm conhecimento ou experiência com projetos de automação, e como não existe uma preocupação com nas demandas do cliente, o mercado de projetos e consultoria tem sido predominantemente ocupado por profissionais do primeiro grupo, que trabalham em parceria com os fabricantes – em geral grandes empresas multinacionais que se valem da inexistência de regulamentação para disseminar sistemas fechados, do ponto de vista de operação, consolidando uma prática semelhante à utilizada pelos fabricantes de elevadores (RHEINGANTZ 1995, COSENZA et al 1996, 1997).216 Na maioria dos edifícios “inteligentes”, a manutenção dos sistemas de automação acaba sendo realizada pelo próprio fabricante, em um processo onde operadores e sistemas atua como uma espécie de “biombo” entre a operação do edifício e o cliente.

A forma de escolha dos consultores e projetistas de automação – em geral por indicação de terceiros – em um mercado sem regras favorece a criação de alguns mitos217 que são

214 Texto fundamentado em: (a) entrevistas com Fábio RIBEIRO - Supervisor de Automação RB1

(12/12/1994), Moisés GRINAPEL e Sérgio CARVALHO, da Proline Equipamentos Eletrônicos Ltda.

(10/12/1998) e com o arquiteto Davino PONTUAL (09/12/1998); (b) em artigo de Paulo Roberto

GOULART, diretor de Facility Automation Systems (1997), e (c) na experiência pessoal acumulada

nos trabalhos desenvolvidos pela COPPE/PROARQ no RB1 e no BNDES (COSENZA et al 1996, 1997).

Foram tentados, sem sucesso, contatos com outras empresas fabricantes de sistemas de

automação predial. 215 Cf. SZIGETI & DAVIS (1997), no Canadá, a School of Architecture at Carleton University de

Otawa, implantou um programa de graduação nesta área em 1976. 216 Dificilmente o sistema de automação predial (SAP) consegue monitorar os elevadores, cuja

concepção ainda se vale da lógica da “caixa preta”. Apesar de os mais novos modelos serem

dotados de uma certa inteligência própria, o fabricante em geral se esquiva de fornecer um

contato resumo de defeito (se está bom ou ruim). Este é um dos principais entraves aos sistemas

de monitoramento e controle de incêndio e de segurança patrimonial. RHEINGANTZ (1995) e

COSENZA et al (1996, 1997) relatam a relação entre condomínios e fabricantes de elevadores. 217 Cf. GRINAPEL e CARVALHO, “a automação predial tem mitos que viciam a todos no Brasil: o

empresário pergunta ‘quem é o melhor?’, ou então, ‘quem fez este projeto?’; a resposta invariável

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convenientemente explorados pelas estratégias de marketing dos grandes fabricantes, até o momento mais preocupados em vender seus produtos do que em consolidar um mercado com regras claras e com foco na satisfação do cliente, baseado na eficiência, confiabilidade e baixo custo operacional218. Na prática, a predominância dos profissionais com perfil de vendas e a visão centrada nos interesses dos fabricantes aliadas ao desconhecimento dos clientes e contratantes de projetos e sistemas favorece o surgimento de um processo viciado na origem. Repetindo uma prática comum em outros setores da construção civil, os projetistas repassam o projeto para um determinado fabricante, que contrata profissionais com pouca experiência para seu desenvolvimento. O fabricante também orienta o projetista na especificação dos componentes do sistemam. Como o cliente (ou seu consultor) não sabe o que questionar, acaba investindo em um processo viciado, cujos erros são por ele assumidos deforma involuntária – em geral não é o cliente final quem contrata o projeto e constrói o edifício.

Como o comprador não dispõe de profissionais qualificados e treinados para avaliar os projetos e sistemas de automação, contrata novos consultores, nem sempre devidamente qualificados para avaliar os componentes especificados no SAP e para orientar seu cliente para uma decisão adequada e compatível com suas necessidades. Na maioria das vezes, este processo atende os interesses de projetistas, consultores, fabricantes e incorporadores, mas nem tanto os cliente final (investidor ou locatário), que acaba gastando mais do que o necessário por um produto sem confiabilidade e com altos custos operacionais – em geral os erros de projeto ou de especificação são repassados ao cliente final sob a forma de “custos operacionais” (“biombo”). Acostumado a um mercado desregulamentado e de baixa qualidade – a qualidade da produção da construção civil é um problema mundial (CALAVERA 1993; HAMMARLUND & JOSEPHSON 1992) – onde a justiça têm demonstrado pouca eficiência para fazer valer seus direitos, o cliente acaba praticando a política do silêncio e arcando com os custos adicionais decorrentes do retrabalho necessário para correção dos problemas.219

Atualmente, o mercado da automação predial brasileiro pode ser caracterizado pelas seguintes tendências:

(1) A avidez pela novidade que dá sustentação à tendência de substituição e retirada periódica do mercado de componentes que se tornam obsoletos por sua falta de compatibilidade com os sistemas em uso – obsolescência programada – que induz a freqüentes e onerosas substituições de todo o sistema, que em geral é fechado (proprietário)220. Curiosamente, na automação industrial, observa-se a tendência oposta: os sistemas são abertos e projetados de modo a garantir a substituição parcial dos componentes, sem necessidade de substituição do sistema. Em uma fábrica, um módulo defeituoso é substituído sem que seja necessário parar linha de montagem e substituir todo o sistema, fiação, etc. Com isso, o fabricante se obriga a manter sobressalentes para garantir a continuidade do processo produtivo e garantir sua imagem.

é ‘foi fulano’, que vira um mito, muitas vezes caro para o cliente, pois em geral, trabalha em

parceria com algum fabricante de sistemas.” 218 O mercado imobiliário predial ainda tem muito a aprender com o setor industrial, onde estas

práticas foram há muito abandonadas. No setor industrial, projetos ou sistemas ineficientes, pouco

confiáveis e dispendiosos não têm vez. 219 RHEINGANTZ (1995) aponta os esforços e investimentos realizados pelo condomínio do edifício

RB1 para reformular seus sistemas de automação predial e de ar-condicionado. Vendido como

“inteligente”, o SAP inicialmente se restringia à supervisão de uns poucos itens dos seus sistemas

prediais. 220 Cf. GRINAPEL e CARVALHO, o comprador do equipamento é obrigado a fazer um contrato de

operação, pois os sistemas são tão fechados que o próprio operador não tem controle do sistema

que opera.

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(2) A previsão de pontos desnecessários, que faz o cliente arcar com investimentos extra sem retorno, tais como: (a) a previsão de diferentes tipos de controle, incompatíveis entre si, para supervisionar um mesmo equipamento (fan-coil, bomba, etc) ou ponto; (b) a especificação de um sistema de detecção endereçável para o projeto de automação de uma sala de 30 m2, que pode ser controlada por um simples relance de olhar, ou então por um sistema digital de detecção de calor ou de fumaça. Esta prática, embora aparentemente absurda, pode ser explicada pelo fato do custo de um sistema ser estipulado em função do número de pontos e do seu custo unitário.

(3) A compra de equipamentos sofisticados e dispendiosos – como a detecção endereçável, “que pode se transformar no maior engodo aos clientes, uma vez que a maioria dos sistemas endereçáveis que estão vindo para o Brasil são protocolos fechados, ou seja, que somente se comunicam com aquela central produzida pelo fabricante221, de quem o cliente se torna refém. O fabricante dita as regras do jogo – sendo comum a prática de vender o equipamento por um preço baixo, que não se repete na reposição. Em alguns projetos, tais como shoppings e supermercados, segundo GRINAPEL e CARVALHO, ainda é perfeitamente aceitável e suficiente um sistema antigo de detecção – que usa o terceiro fio para a identificar222 –, que além de confiável, custa 1/5 do preço dos modernos sistemas endereçáveis, e que ao se comunicar em rede com outros dispositivos, se transforma em um sistema inteligente. Sem contar que os detectores para este tipo de sistema são facilmente encontráveis no mercado. Outro problema freqüente é a colocação de controladores de temperatura que indicam a temperatura ambiente em graus Celsius, 8 a 10 vezes mais caros do que os termostatos reguláveis que indicam apenas se a temperatura desejada está normal ou não. Também é comum a previsão de sistemas de automação mais sofisticados do que a capacidade de resposta dos próprios motores e equipamentos que deve monitorar.

(4) A resistência do cliente em aceitar sistemas de detecção fabricados no Brasil – embora existam empresas que fabricam equipamentos, integram e projetam, especialmente para automação industrial; com a abertura da economia, estão sendo importados equipamentos não tropicalizados, pouco robustos para as condições locais, e painéis prontos e montados sem a preocupação de formação adequada do pessoal de assistência técnica: segundo GRINAPEL e CARVALHO, “estamos desaprendendo e, o que é mais grave, utilizando equipamentos que ninguém sabe consertar”, acarretando extra-custos ao cliente.

(5) O processo de especificação funciona de modo semelhante à atividade de recortar e colar em um editor de textos: de posse de um catálogo de produtos, o projetista mistura equipamento analógico, endereçável ou antigo, muitas vezes produzindo incompatibilidades internas ao sistema.

(6) Deixar o projeto de automação para o final, quanto a concepção da arquitetura e da estrutura já estão definidas, sob o argumento de que o prédio vai funcionar com ou sem automação, que ainda é considerado apenas como um acessório ao projeto do edifício.

(7) Se despreocupar com a relação custo-benefício e com a solução da engenharia do problema. Diferentemente da automação industrial - onde: (a) qualquer investimento implica

221 Nos Estados Unidos os protocolos de comunicação são normalizados, de modo que cada tipo de detector seja fornecido por 3 ou 4 diferentes fabricantes; no Brasil é comum que um mesmo fabricante de detector forneça material para diferentes fabricantes de painéis que, por terem protocolos de comunicação proprietários, só se comunicam com aquela central.

222 Os sistemas de deteção, são configurados por circuitos com dois fios, sendo um positivo e um negativo. Nestes circuitos estão ligados até 20 detectores (limite normalizado). O terceiro fio possibilita identificar, dentro de um circuito com diversos detectores, qual foi efetivamente o que alarmou.

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em retorno imediato ao operador da máquina ou ponto; (b) se automatiza apenas aquilo que é reconhecidamente prioritário; e (c) vale a regra “o que é perdido hoje, não é recuperável” (GRINAPEL e CARVALHO) – na automação predial vale o interesse do fabricante e a possibilidade de exploração da “novidade” pela estratégia de vendas. Diante do receio do cliente (ou do responsável) assumir o erro (“biombo” frente ao mercado), é comum a situação de prédios “inteligentes” com mais de 5 anos que já tiveram que trocar todo sistema de automação. A maior parte reproduz um processo que obedece aos mesmos princípios que nortearam o projeto anterior, gerando uma operação circular onde existe apenas um perdedor: o cliente final.

(8) Enquanto no Brasil persiste a concepção de misturar todos os sistemas em

um único computador, cujo excesso de informação dificulta o controle por

parte do operador – que muitas vezes não sabe o que fazer com tantas

informações –, na Europa e nos EUA já existe consenso sobre a necessidade de

distribuir as informações em sistemas de redes. (9) As despesas anuais com os custos mensais de manutenção impostos ao cliente, em alguns casos, tornam-se equivalentes ao custo de substituição total do sistema de automação a cada ano.

A exemplo do trabalho desenvolvido na área de planejamento e layout interno de ambientes de escritórios (SEÇÃO 2.5), algumas empresas vêm desenvolvendo projetos de automação predial, utilizando um controlador lógico programável (CLP) para monitorar ambientes de escritório.223 Este processo permite transplantar para um edifício comercial a lógica e os equipamentos adotados na automação industrial e nas plataformas de petróleo da Petrobrás. Conforme GRINAPEL e CARVALHO, “na automação do CPD da Coca-Cola, foram empregados hardware e cartões utilizados em uma indústria, possibilitando um gasto zero em hardware em 5 anos – em virtude da alta confiabilidade de um equipamento projetado para operar em ambientes agressivos de áreas industriais ou marítimas e pela disponibilidade de equipamento sobressalente no mercado”. O custo dos sistemas e componentes industriais é incomparavelmente mais baixo do que o dos sistemas e componentes prediais. Outra vantagem dos equipamentos industriais é que eles são supervisórios consagrados, abertos e parametrizados para atender às necessidades do cliente, que passa a ser o dono de fato do sistema, dos seus pontos e supervisórios. Para a manutenção deste sistema, o mercado dispõe de diversos operadores treinados na indústria e empresas prestadoras de serviços, que podem ser contratados a custos bem inferiores aos atualmente praticados pelas empresas de automação predial.

Segundo GRINAPEL e CARVALHO, a adoção da lógica e dos procedimentos de

concepção, operação e manutenção da automação industrial pode conferir

à automação a função de uma verdadeira auditoria da obra para o cliente.

Executada por profissionais devidamente qualificados, uma análise criteriosa e

conscienciosa dos quadros de luz, do monitoramento da instalação elétrica e

hidráulica, possibilita a identificação da existência de quadros mal montados,

bombas engatilhadas, falta de exaustor ou de bomba, etc.

Com relação às perspectivas futuras, podem ser construídos dois cenários

possíveis e paradoxais, com “n” variantes intermediárias: (1) O primeiro, poderia ser considerado um cenário negativo, correspondente à manutenção das práticas atuais e seu risco de destruir um mercado com grande potencial. Apesar da crescente consciência por parte dos empresários com a satisfação dos seus clientes, o número de administradores de condomínio, e de clientes (investidores e locatários) que desconfia ter

223 Sistema utilizado nos CPDs da Coca-Cola, na Praia de Botafogo, e da FIAT Automóveis em

Betin, Minas Gerais.

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233

comprado edifícios com sistemas inteligentes pouco operacionais e dispendiosos. A persistir a lógica atual, o SAP tende a se distanciar cada vez mais dos pequenos empreendimentos – um mercado de varejo com grande potencial se convenientemente explorado. Outra conseqüência desta prática é a quebra sistemática dos pequenos fabricantes, sem condições de competir com as práticas monopolizantes dos grandes empresas multinacionais. Mas esta situação não se deve apenas às práticas dos grandes fabricantes de SAP: ela também se deve ao imediatismo do empresário brasileiro da construção civil que, segundo PONTUAL, age assim por conceito e porque têm limitações de capital: “quando não tem dinheiro, ele tem que ser imediatista”. E, assim, acaba deixando de acreditar e investir em fabricantes nacionais para se render às facilidades oferecidas pelos grandes fabricantes, que vendem o produto a preços convidativos e repassam seus lucros da venda para a operação e manutenção dos sistemas.

(2) O segundo, que poderia ser considerado um cenário otimista, aposta no amadurecimento do mercado, especialmente, em relação ao custo-benefício dos sistemas inteligentes, que poderá forçar o mercado de projeto, de instalação e manutenção a corrigir sua rota. A possibilidade de surgir um novo tipo de profissional ou empresa que atenda à preocupação de PONTUAL – que “transite e conheça todas as áreas da engenharia ... e sistemas prediais” – e que saiba orientar seu cliente para uma decisão adequada e compatível com suas necessidades, possibilita sanear e ampliar o mercado no atacado e no varejo. A possibilidade deste cenário se consolidar também pode estar relacionada ao aumento da competitividade decorrente do processo de globalização da economia, que deverá demandar projetos e sistemas mais operacionais, confiáveis e abertos, que se espelhem no modelo de automação industrial e permitam aos clientes se libertarem do modelo atual que condiciona o comprador de um SAP a uma “parceria” nem sempre desejada com o fabricante, de quem se torna dependente.

CLASSIFICAÇÃO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS DO RIO DE JANEIRO

TABELA 1 - EMPRESA “A“

Áre

a P

riv

ativ

a p

or

an

da

r

(m2)

Va

lor

de

ve

nd

a

(R $

/m2)

Va

lor

de

alu

gu

el(

jan

/

97

)

(R $

/m2)

Va

lor

do

co

nd

om

ínio

(R$

/m2)

Va

lor

do

IP

TU

(1/1

0 t

ota

l/a

no

) (

R$

/m2)

Alu

gu

el +

Co

nd

om

ínio

+

IPTU

(R

$/m

2)

Va

ga

s p

or

pa

vim

en

to

Pa

drã

o

CENTRO EMPRESARIAL

MOURISCO Praia de Botafogo, 501

EDIFÍCIO ARGENTINA PRAIA DE BOTAFOGO, 228

1.650 2.500 22,00

29,00 8,50 2,17

32,67

39,67 40 AA

Edifício CAEMI

Praia de Botafogo, 300 1.700 - 30,00 6,50 2,00 38,50 20 AA

Torre Rio-Sul

R. Lauro Muller, 116 1.550

2.000

2.500

23,00

30,00 10,00 1,70

34,70

41,70

24

30 AA

Edifício RB1

Av. Rio Branco, 1 1.635

2.100

2.500

20,00

28,00 12,70 2,00

34,70

42,70 40 AA

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234

Edifício Teleporto

Av. Presidente Vargas, 3.131 2.500 2.400

25,008,50

8,50 0,90 34,40 09 AA

Edifício Manhattan Tower

Av. Rio Branco, 89

190

370

1.800

2.300

16,00

19,00 10,50 2,00

28,50

31,50

03

05 AA

Ed. Rio Metropolitan Center

Av. República do Chile, 500 964 - 20,00 8,50 1,40 29,90 17 AA

Ed. Candelária Corporate

R. da Candelária, 65

Ed. Acad. Brasileira de Letras

Av. Presidente Wilson, 231

Ed. Lineu de Paula Machado

Av. Almiirante Barroso, 52 1.050

1.200

1.400 16,00 6,50 1,72 24,22 00 AA

Edifício Paço do Ouvidor

R. do Ouvidor, 161

370

500

1.700

2.000 15,00 10,50 1,50 27,00 - AA

Edifício Citibank

R. Assembléia, 100 542 - 17,00 12,00 2,00 31,00 00 AA

Edifício Madison Avenue

Av. Graça Aranha, 182 410 1.800 17,00 8,5 1,80 27,30 06 AA

Edifício Promon

Praia do Flamengo, 154 840 -

22,00

24,00 8,00 1,80 27,30 06 AA

Ed. Avenida Atlântica, 1122

Ed. Pres. Castello Branco (BNH)

Av. República do Chile, 230 920 -

10,00

13,00 7,00 1,30

18,30

21,30 11 A

Ed. Praia de Botafogo, 440 426 1.500

1.800

16,00

18,00 8,50 2,00

26,50

28,50 08 A

Ed. Praia do Flamengo, 200 950 1.000

1.300 15,00 7,50 2,00 24,50 16 A

Edifício Le Bourget

Av. Marechal Câmara, 160 840 1.000

10,00

12,00 6,00 1,04

17,04

19,04 08 A

Rua São Bento, 8 650 1.800 13,00 6,00 2,00 21,00 10 A

Edifício Generali

Av. Rio Branco, 128 575 - 15,00 6,00 1,50 22,50 00 A

Edifício Cândido Mendes

R. da Assembléia, 10

TABELA 2 - Empresa B

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235

Áre

a P

riv

ativ

a p

or

an

da

r

(m2)

Va

lor

de

ve

nd

a

(R $

/m2)

Va

lor

de

alu

gu

el(

ma

i/9

8)

(R $

/m2)

Va

lor

do

co

nd

om

ínio

(R$

/m2)

Va

lor

do

IP

TU

(1/1

0 t

ota

l/a

no

) (

R$

/m2)

Alu

gu

el +

Co

nd

om

ínio

+

IPTU

(

R$

/m2)

Va

ga

s p

or

pa

vim

en

to

Pa

drã

o

CENTRO EMPRESARIAL

MOURISCO Praia de Botafogo, 501

3.854 2.900

4.000

38,00

43,00 5,00 1,50

44,50

49,50 73 AAA

EDIFÍCIO ARGENTINA PRAIA DE BOTAFOGO, 228

1.650 1.800

2.300

32,00

40,00 5,42 1,48

38,90

46,90 40 AA

Edifício CAEMI

Praia de Botafogo, 300 1.750 -

35,00

40,00 8,57 isento

43,57

48,57 20 AAA

Torre Rio-Sul

R. Lauro Muller, 116 1.550

1.800

2.500

27,00

32,00 10,50 1,31

38,81

43,81 30 AA

Edifício RB1

Av. Rio Branco, 1 1.635

1.800

2.100

28,00

32,00 14,25 0,89

43,14

47,14 36 AA

Edifício Teleporto

Av. Presidente Vargas, 3.131 2.805

1.800

3.200

22,00

25,00 7,20 1,00

30,20

33,20 09 AAA

Edifício Manhattan Tower

Av. Rio Branco, 89

190

370 17,50 10,43 1,10 29,03 03 A

Ed. Rio Metropolitan Center

Av. República do Chile, 500 930 -

25,00

29,00 5,80 1,00

31,80

35,80 18 AA

Ed. Candelária Corporate

R. da Candelária, 65 893

2.200

2.400

22,00

29,00 4,10 1,00

27,10

34,10 06 AA

Ed. Acad. Brasileira de Letras

Av. Presidente Wilson, 231 1.450

16,00

20,00 9,03 1,03

23,24

28,24 04 A

Ed. Lineu de Paula Machado

Av. Almiirante Barroso, 52 1.100

19,00

20,00 6,60 0,66

31,69

32,69 0 A

Edifício Paço do Ouvidor

R. do Ouvidor, 161

Edifício Citibank

R. Assembléia, 100

Edifício Madison Avenue

Av. Graça Aranha, 182 430 16,00 6,09 1,09 23,18 03 A

Edifício Promon

Praia do Flamengo, 154 826

18,00

20,00 4,87 1,04

23,91

25,91 15 A

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236

Ed. Avenida Atlântica, 1122 550 50,00 5,00 1,50 56,50 06 AA

Ed. Pres. Castello Branco (BNH)

Av. República do Chile, 230 920

14,00

16,00 8,20 1,35

23,55

25,55 11 A

Ed. Praia de Botafogo, 440 400 20,00 7,25 1,50 28,75 09 A

Ed. Praia do Flamengo, 200 950 19,00 5,13 1,77 25,90 16 A

Edifício Le Bourget

Av. Marechal Câmara, 160 840 14,00 6,01 1,10 21,11 08 A

Rua São Bento, 8 750 10,00

13,50 4,72 0,89

15,61

19,11 10 A

Edifício Generali

Av. Rio Branco, 128 575

14,50

16,00 8,35 1,91

24,76

26,26 0 A

Edifício Cândido Mendes

R. da Assembléia, 10 vários

16,00

20,00 6,40 1,84

24,24

28,24 0 A

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237

QUADRO 3 – EMPRESA “B” Padrões de acabamento dos edifícios de escritórios do Rio

de Janeiro

ESPECIFICAÇÕES PADRÕES

AAA AA A AB B C

Heliponto ou heliporto

Fibra ótica e Back bone

Ar condicionado c/ água gelada

Iluminação de conforto c/ 500 lux no plano de trabalho

Central telefônica CPA

Área de laje acima de 1.000 m2

2 Escadas pressurizadas c/ante-câmara e portas corta-fogo

Sistema de automação predial

Brigada de incêncio

Elevadores auto-programáveis de acordo com o fluxo

Acesso controlado

Auditório

Geradores de emergência p/atender sistema de combate a incêndio, iluminação para rota de fuga

Unidade imobiliária acima de 90 m2

Prédio com menos de 25 anos

Sistema de sprinklers e detetores de fumaça

Vagas no local, mínimo 1 vaga por cada 30,00 m2

Vagas no local, mínimo 1 vaga por cada 50,00 m2

Sistema de vigilância patrimonial

Rede reticular no piso para telefone, rede lógica e elétrica

Hall com acabamento luxuoso

Ar condicionado água gelada com central de chiller

Ar condicionado com água gelada e termo acumulação

Ar condicionado com unidades self-contained

1 Escada pressurizada c/ante-câmara e portas corta-fogo

Área de laje abaixo de 1.000 m2

1 Escada enclausur. sem ante-câmara e sem porta corta-fogo

Prédio com mais de 25 anos

Prédio com mais de 35 anos

Ar condicionado de parede

Escada não enclausurada e sem porta corta-fogo

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238

Itens não excludentes

Sistema de transmissão de dados, voz e imagem (parabólica)

Sistema de transmissão de dados. voz e imagem (fibra ótica)

Sistema de telecomunicações residente

Local com videoconferência

Centro de convenções

Piso elevado

Restaurante

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239

CLASSIFICAÇÃO DEPENDE DE CARACTERISTICAS

ARQUITETÔNICAS E TAMBÉM DA LOCALIZAÇÃO224

Classificação AA ou Triple A designa edifícios de altíssimo padrão, novos, que possuam uma

série de características arquitetônicas. Precisam ter sistema de ar-condicionado central ACC,

com termo-acumulação de gelo e controle de volume de ar variável (VAV), complementado

por vidros termo-acústicos, que garantam bom nível de sombreamento e consigam reduzir

bastante o barulho externo. É necessário que exibam também sistemas avançados de

prevenção e combate a incêndios - incluindo escadas de emergência, sprinklers e detectores

de calor e fumaça.

É necessário também que e ostentem shafts convenientemente dimensionados para a

altíssima demanda de cabos de eletricidade, telefonia e lógica. Devem oferecer aos ocupantes

um bem estruturado sistema de segurança patrimonial e garantia de supervisão e

gerenciamento predial. Além disso tudo, é requisito fundamental muita qualidade tanto no

que diz respeito aos acabamentos internos e externos, quanto às possibilidades abertas aos

space planners para a ocupação dos espaços operacionais, que devem ser amplos, sem as

indesejáveis colunas.

Segundo Luiz CONSTANTINO (consultor da Richard Ellis), nem sempre um edifício que

formalmente responda a todos esses requisitos pode ser automaticamente reconhecido com

um AA ou Triple A. Isso porque a localização também deve ser levada em conta. Se o edifício

estiver numa área da cidade de baixa procura pelas empresas, não adiantará nada, do ponto

de vista do mercado, que ele tenha todas as principais características arquitetônicas de um

edifício de altíssimo padrão.

INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO BQA, REN E ST&M

224 Facility n° 05, São Paulo, mar-mai/1998, p.17.

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240

Figura 1: BQA - Exemplo da pontuação da Categoria 3 Fonte: BRUHNS & ISAAC (1995: 56)

Figura 2: BQA - Comparação entre dois edifícios Fonte: BRUHNS & ISAAC (1995: 57)

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241

Gorjeta

Page 242: APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA …prolugar.fau.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/10/tese_PA.pdf · arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório,

242

Gorjeta

0.1

Page 243: APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA …prolugar.fau.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/10/tese_PA.pdf · arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório,

243

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

Page 244: APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA …prolugar.fau.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/10/tese_PA.pdf · arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório,

244

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

Page 245: APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA …prolugar.fau.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/10/tese_PA.pdf · arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório,

245

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Page 246: APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA …prolugar.fau.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/10/tese_PA.pdf · arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório,

246

FUNÇÃO DE PERTINÊNCIA DE VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS

A figura 1 representa 4 variáveis lingüísticas relativas a condições diferentes para

analisar a sensação de conforto térmico: (a = frio); (b = confortável); (c =

relativamente quente); (e = quente).

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

5

Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta

serviço

0.25

0.20

0.15

0,1

0,05

10

8

6

2

Page 247: APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA …prolugar.fau.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/10/tese_PA.pdf · arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório,

247

Na análise da pertinência da FIGURA 1, temos:

• para a condição “a” frio, ambiente com temperatura 15oC têm a maior pertinência

[=1], enquanto as temperaturas 20oC têm pertinência nula [=0]; os ambientes

com temperaturas intermediárias entre 15oC e 20oC, possuem pertinência variável

[01];

• para a condição “c” confortável, os ambientes com temperatura de 25oC têm a

maior pertinência [=1], enquanto os ambientes com temperatura 20oC ou 30oC

têm pertinência nula [=0]; os ambientes com temperaturas intermediárias entre

20oC e 25oC ou entre 25oC e 30oC têm pertinência variável [01];

para a condição “d” quente, os ambientes com temperatura 35oC têm a maior pertinência [=1],

enquanto os ambientes com temperatura 30oC têm pertinência nula [=0]; os ambientes com

temperatura maior do que 30oC e menor do que 35oC têm pertinência variável [01].

EXEMPLO DAS DIFERENÇAS ENTRE AS ABORDAGENS CRISP E FUZZY

JANG & GULLEY (1997), no manual do usuário do programa MATLAB – Fuzzy Logic

Toolbox, propõem um interessante problema em relação ao valor da gorjeta a

ser paga pelo serviço em um restaurante, para caracterizar as diferenças entre

uma abordagem crisp e uma abordagem fuzzy:

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248

O problema básico: atribuindo um número entre 0 e 10 que represente a

qualidade do serviço de um restaurante (onde 10 é excelente), qual deveria

ser o valor da gorjeta?

Observação: o problema é baseado em uma prática culturalmente aceita e

praticada nos EUA. O valor médio da gorjeta por uma refeição é de 15%,

pensando que o valor atual pode variar dependendo da qualidade do serviço

ofertado.

1. Abordagem crisp:

A figura 1 representa a situação mais simples, corresponde a uma gorjeta

sempre igual a 15% do valor da conta.

Mas como esta situação não possibilita que se considere a qualidade do

serviço, é necessário adicionar um novo termo na equação. A figura 2

representa a situação onde o serviço é avaliado em uma escala de zero a dez,

e a gorjeta varia linearmente de 5% se o serviço é ruim até 25% se o serviço é

excelente.

Quanto mais, melhor: a fórmula atende ao nosso desejo, e aparenta

honestidade. Mas se quisermos adicionar a qualidade da comida, a extensão

do problema deve ser assim definida:

O problema básico extendido: dando valores entre 0 e 10 (onde 10 é excelente)

para representar a qualidade do serviço e a qualidade da comida,

respectivamente, qual deve ser a gorjeta?

Quanto a fórmula vai ser afetada quando adicionarmos outra variável? Neste

caso, deve ser observado que:

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Gorjet

a

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comid

a

5

10

0

0

Serviç

o

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

5

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

5

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

5

Figu

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

5

Figura 6.

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

5

Figura 6. mesclando situação da figuras

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

5

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Go

rje

ta

0.1

0.2

5

0.2

10

0.1

5

0.0

5

Co

mi

da

Gorjet

a

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comid

a

5

10

0

0

Serviç

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

5

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

5

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

5

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

5

Figura 6. mesclando situação da figuras

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

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249

A figura 4, por outro lado, representa uma situação onde consideramos que o

serviço tem mais importância do que a comida, atribuindo a ele 80% do total

da gorjeta, deixando os 20% restantes para a comida:

Mas a resposta ainda continua muito linear. E queremos nivelar as respostas

intermediárias; em outras palavras, queremos dar uma gorjeta de 15% em geral,

e sair deste patamar somente se o serviço for excepcionalmente bom ou ruim.

Isto significa que minha atual relação linear vai para o espaço. Mas ainda é

possível recuperar as coisas utilizando uma construção linear. Se voltarmos à

solução linear do problema (figura 2) que considerava apenas o serviço. É

possível incluir uma declaração condicional usando quebras como as

apresentadas na figura 5:

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

5

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

5

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

5

Figu

Gorjet

a

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comid

a

5

10

0

0

Serviç

o

5

Figura 6. mescl

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

5

Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

Gorjeta

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250

Extendendo esta saída bi-dimensional à solução do problema resolvido através

da figura 4, podemos novamente levar em conta a comida, chegamos à Figura

6:

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

5

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

5

Figura 6.

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

5

Figura 6.

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

5

Figura 6. mes

Gorjet

a

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comid

a

5

10

0

0

Serviç

o

5

Figura 6. mesclando situaç

Gorj

eta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Com

ida

5

10

0

0

Serv

iço

5

Gorjeta

0.1

0.25

0.2

10

0.15

0.05

Comida

5

10

0

0

Serviço

5

Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5

Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta

serviço

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251

2. Abordagem fuzzy

Seria ótimo se fosse possível apenas apreender a essência deste problema,

deixando de lado todos os fatores que podem ser arbitrários. Se listramos o que

realmente importa no problema, podemos chegar ao seguinte:

a. se serviço é pobre entrão corjeta é baixa

b. se serviço é bom então gorjeta é média

c. se serviço é excelente então gorjeta é generosa

A ordem em cada regra são apresentadas como arbitrárias. Não importa qual

delas venha primeiro. Se quisermos incluir os efeitos da comida na gorjeta,

precisamos adicionar duas novas regras:

d. se comida é insossa então gorjeta é baixa

e. se comida é deliciosa então gorjeta é generosa

Na verdade, é possível combinar as duas diferentes listas de regras em uma lista

que se resume a tres regras:

a. se serviço é pobre ou a comida insípida então gorjeta é baixa

b. se serviço é bom então gorjeta é alta

c. se serviço é excelente ou a comida deliciosa então a gorjeta é

generosa

Estas três regras são a essência do problema. Coincidentemente, acabaamos

de defir as regras de um sistema de lógica fuzzy. Agora se dermos um

tratamento matemático às variáveis lingüísticas (o que é uma gorjeta “média”,

or exemplo?) poderemos ter uma inferência fuzzy completa. É claro que até

agora, muita coisa da metodologia da lógica fuzzy deixou de ser mencionada,

como por exemplo:

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252

• como são combinadas as regras? ou

• como definir matematicamente o que é uma gorjeta “média”?

Mas os detalhes do método nrealmente não mudam muito de um problema

para outro. – a mecânixca da lógica fuzzy não é nada complexa. O que se

procurou demonstrar foi que a lógica fuzzy é adaptável, simples e facilmente

aplicada.

A figura 7 representa a solução fuzzy para o problema da gorjeta

Figura 7: Solução fuzzy para o problema da gorjeta

O gráfico da FIGURA 7 foi gerado através da Fuzzy logic Toolbox do programa

Matlab, a apartir da aplicação das três regras anteriormente definidas.

TENDÊNCIA NOS NOVOS CENTROS EMPRESARIAIS DO RIO 225

As privatizações, principalmente do setor de telefonia e petróleo, mexeram também no espaço interno dos centros empresariais do Rio. Para atender à demanda de grandes empresas nacionais e multinacionais que estão se instalando na cidade, os novos empreendimentos oferecem megaespaços: pavimentos abertos com 1.500 metros quadrados passaram a ser uma espécie de padrão do mercado, que antes trabalhava com salas de 30 metros quadrados a 50 metros quadrados. A Agenco é uma das construtoras que vem investindo nesse novo perfil. O Città América, na Barra da Tijuca, oferece espaços entre 1.500 metros quadrados e cinco mil metros quadrados para abrigar os grandes conglomerados. Os frutos começam a ser colhidos: o centro foi escolhido pela Michellin para abrigar a sede da empresa na América Latina, que ocupará uma área de cinco mil metros quadrados.

- Outras três multinacionais estão negociando a vinda para o Città - diz o presidente da Agenco, Sérgio Goldberg.

Outro projeto da construtora, o Centro Empresarial Mário Henrique Simonsen, também na Barra, que deve ser concluído em 2002, ocupará uma área de 70 mil metros quadrados. Dos seis prédios do centro empresarial, apenas dois foram construídos com salas para o varejo de

225 Matéria publicada sob o título Megaespaços, uma tendência dos centros empresariais do Rio, em O GLOBO – Rio de Janeiro, Domingo, 06 de fevereiro de 2000 – Morar Bem – p.2

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253

50 metros quadrados. As demais unidades oferecem pavimentos com área de 1.500 metros quadrados.

- Se eu tivesse uma varinha de condão, concluiria este empreendimento da noite para o dia, para atender à grande demanda que existe hoje na cidade - diz Goldberg.

Antônio Henrique Neves, diretor da Plarcon, informa que hoje falta no mercado um milhão e meio de metros quadrados de escritórios inteligentes.

- Os números mostram que dos 5.250 milhões de metros quadrados de escritórios existentes na cidade, 78% estão concentrados no Centro e na Zona Sul, apenas 1% na Barra. Do total, apenas 8,5% estão vazios. Sendo que se avaliados só os prédios modernos, classe A, essa taxa cai para 1,9%. Passamos cinco anos sem investimentos nesse setor; hoje não há mercadoria suficiente para suprir a demanda das empresas - explica Neves.

Segundo ele, a procura de cerca de 20 empresas por espaços no Rio Office Park - que prevê a construção de 27 prédios de escritórios, além de hotel, centro de convenções, fitness center e shopping - confirma a sua teoria. A proposta da construtora é que cada empresa ocupe no mínimo um andar, sendo que as maiores ocupariam um edifício inteiro, com área de mil a dez mil metros quadrados.

- As multinacionais que chegam à cidade já vêm com um padrão de ocupação de escritório da matriz que exige prédios inteligentes, com facilidades de telecomunicação, bom acabamento e grandes espaços - avalia.

A tendência de megaespaços também influenciou o projeto do Rio Design Barra, que será inaugurado em julho, apresentando um novo conceito de shopping de decoração. Ele tem apenas uma loja com menos de cem metros quadrados. Das 30 lojas já vendidas, mais de dez ultrapassam os 600 metros quadrados e duas tem 1.250 metros quadrados.

- Só para se ter uma idéia, no Rio Design do Leblon temos 55 lojas numa área de 5.100 metros quadrados. Na Barra, já comercializamos 11 mil metros quadros para 30 lojas - diz Nilson Gomes, diretor do Rio Design Center.

TABELA 1

Cálculo da MATRIZ (C) – DE PRIORIDADES DE OCUPAÇÃO /ATRIBUTOS GERAIS Cik aij x bjk cotejo aij bjk result.

C11= 22 42 33 11 42 41 1 0,67 1 1 0,67 0 0

C12= 23 43 33 13 43 42 1,17 0,83 1 1,33 0,83 0,67 5,83

C13= 22 43 32 11 43 41 1 0,83 0,83 1 0,83 0 0

C14= 24 43 33 14 42 44 1,33 0,83 1 1,5 0,67 1 6,33

C15= 24 43 34 13 44 44 1,33 0,83 1,17 1,33 1 1 6,66

C16= 23 43 34 14 44 44 1,17 0,83 1,17 1,5 1 1 6,67

C21= 32 32 23 21 42 11 0,83 0,83 1,17 0,83 0,67 1 5,33

C22= 33 33 23 23 43 12 1 1 1,17 0,83 0,83 1,17 6,00

C23= 32 33 22 21 43 11 0,83 1 1 0,83 0,83 1 5,49

C24= 34 33 23 24 42 14 1,17 1 1,17 1,33 0,67 1,5 6,84

C25= 34 33 24 23 44 14 1,17 1 1,33 1,17 1 1,5 7,17

C26= 33 33 24 24 44 14 1 1 1,33 1,33 1 1,5 7,16

C31= 12 22 13 21 12 31 1,17 1 1,33 0,83 1,17 0,67 6,17

C32= 13 23 13 23 13 32 1,33 1,17 1,33 1,17 1,33 0,87 7,20

C33= 12 23 12 21 13 31 1,17 1,17 1,17 0,83 1,33 0,67 6,34

C34= 14 23 13 24 12 34 1,5 1,17 1,33 1,33 1,17 1,17 7,67

C35= 14 23 14 23 14 34 1,5 1,17 1,5 1,17 1,5 1,17 8,01

C36= 13 23 14 24 14 34 1,33 1,17 1,5 1,33 1,5 1,17 8,00

C41= 32 42 23 11 22 21 0,83 0,67 1,17 1 1 0,83 5,50

C42= 33 43 23 13 23 22 1 0,83 1,17 1,33 1,17 1 6,50

Page 254: APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA …prolugar.fau.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/10/tese_PA.pdf · arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório,

254

C43= 32 43 22 11 23 21 0,83 0,83 1 1 1,17 0,83 5,66

C44= 34 43 23 14 22 24 1,17 0,83 1,17 1,5 1 1,33 7,00

C45= 34 43 24 13 24 24 1,17 0,83 1,33 1,33 1,33 1,33 7,32

C46= 33 43 24 14 24 24 1 0,83 1,33 1,5 1,33 1,33 7,32

C51= 32 42 33 41 42 41 0,83 0,67 1 0 0,67 0 0

C52= 33 43 33 43 43 42 1 0,83 1 0,83 0,83 0,67 5,16

C53= 32 43 32 41 43 41 0,83 0,83 0,83 0 0,83 0 0

C54= 34 43 33 44 42 44 1,17 0,83 1 1 0,67 1 5,67

C55= 34 43 34 43 44 44 1,17 0,83 1,17 0,83 1 1 6,00

C56= 33 43 34 44 44 44 1 0,83 1,17 1 1 1 6,00

C61= 32 22 33 31 32 41 0,83 1 1 0,67 0,83 0 0

C62= 33 23 33 33 33 42 1 1,17 1 1 1 0,67 5,84

C63= 32 23 32 31 33 41 0,83 1,17 0,83 0,67 1 0 0

C64= 34 23 33 34 32 44 1,17 1,17 1 1,17 0,83 1 6,34

C65= 34 23 34 33 34 44 1,17 1,17 1,17 1 1,17 1 6,68

C66= 33 23 34 34 34 44 1 1,17 1,17 1,17 1,17 1 6,68

C71= 32 42 43 41 42 41 0,83 0,67 0,83 0 0,67 0 0

C72= 33 43 43 43 43 42 1 0,83 0,83 0,83 0,83 0,67 4,99

C73= 32 43 42 41 43 41 0,83 0,83 0,67 0 0,83 0 0

C74= 34 43 43 44 42 44 0,83 0,83 0,83 1 0,67 1 5,16

C75= 34 43 44 43 44 44 0,83 0,83 1 0,83 1 1 5,49

C76= 33 43 44 44 44 44 1 0,83 1 1 1 1 5,83

C81= 42 42 43 31 32 41 0,67 0,67 0,83 0,67 0,83 0 0

C82= 43 43 43 33 33 42 0,83 0,83 0,83 1 1 0,67 5,16

C83= 42 43 42 31 33 41 0,67 0,83 0,67 0,67 1 0 0

C84= 44 43 43 34 32 44 1 0,83 0,83 1,17 0,83 1 5,66

C85= 44 43 44 33 34 44 1 0,83 1 1 1,17 1 6,00

C86= 43 43 44 34 34 44 0,83 0,83 1 1,17 1,17 1 6,00

Page 255: APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA …prolugar.fau.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/10/tese_PA.pdf · arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório,

255

TABELA 2: Cálculo da MATRIZ (D) – ÍNDICE OCUPACIONAL / ATRIBUTOS GERAIS

dik [eil]h x h x [cik]h x m result.

d11= 0 x 0,17 5,83 x 0 0 x 0 6,33 x 0 6,66 x 0 6,67 x 0 0

d12= 0 x 0 5,83 x 0,17 0 x 0 6,33 x 0 6,66 x 0 6,67 x 0 0,99

d13= 0 x 0 5,83 x 0 0 x 0,17 6,33 x 0 6,66 x 0 6,67 x 0 0

d14= 0 x 0 5,83 x 0 0 x 0 6,33 x 0,17 6,66 x 0 6,67 x 0 1,08

d15= 0 x 0 5,83 x 0 0 x 0 6,33 x 0 6,66 x 0,17 6,67 x 0 1,13

d16= 0 x 0 5,83 x 0 0 x 0 6,33 x 0 6,66 x 0 6,67x 0,17 1,13

d21= 5,33 x 0,17 6,00 x 0 5,49 x 0 6,84 x 0 7,17 x 0 7,16 x 0 0,90

d22= 5,33 x 0 6,00 x 0,17 5,49 x 0 6,84 x 0 7,17 x 0 7,16 x 0 1,00

d23= 5,33 x 0 6,00 x 0 5,49 x 0,17 6,84 x 0 7,17 x 0 7,16 x 0 0,93

d24= 5,33 x 0 6,00 x 0 5,49 x 0 6,84 x 0,17 7,17 x 0 7,16 x 0 1,16

d25= 5,33 x 0 6,00 x 0 5,49 x 0 6,84 x 0 7,17 x 0,17 7,16 x 0 1,22

d26= 5,33 x 0 6,00 x 0 5,49 x 0 6,84 x 0 7,17 x 0 7,16 x 0,17 1,21

d31= 6,17 x 0,17 7,20 x 0 6,34 x 0 7,67 x 0 8,01 x 0 8,00 x 0 1,05

d32= 6,17 x 0 7,20 x 0,17 6,34 x 0 7,67 x 0 8,01 x 0 8,00 x 0 1,22

d33= 6,17 x 0 7,20 x 0 6,34 x 0,17 7,67 x 0 8,01 x 0 8,00 x 0 1,08

d34= 6,17 x 0 7,20 x 0 6,34 x 0 7,67x 0,17 8,01 x 0 8,00 x 0 1,30

d35= 6,17 x 0 7,20 x 0 6,34 x 0 7,67 x 0 8,01x 0,17 8,00 x 0 1,36

d36= 6,17 x 0 7,20 x 0 6,34 x 0 7,67 x 0 8,01 8,00 x 0,17 1,36

d41= 5,50 x 0,17 6,50 x 0 5,66 x 0 7,00 x 0 7,32 x 0 7,32 x 0 0,94

d42= 5,50 x 0 6,50 x 0,17 5,66 x 0 7,00 x 0 7,32 x 0 7,32 x 0 1,11

d43= 5,50 x 0 6,50 x 0 5,66 x 0,17 7,00 x 0 7,32 x 0 7,32 x 0 0,96

d44= 5,50 x 0 6,50 x 0 5,66 x 0 7,00 x 0,17 7,32 x 0 7,32 x 0 1,19

d45= 5,50 x 0 6,50 x 0 5,66 x 0 7,00 x 0 7,32 x 0,17 7,32 x 0 1,24

d46= 5,50 x 0 6,50 x 0 5,66 x 0 7,00 x 0 7,32 x 0 7,32 x 0,17 1,24

d51= 0 x 0,17 5,16 x 0 0 x 0 5,67 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0

d52= 0 x 0 5,16 x 0,17 0 x 0 5,67 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0,88

d53= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0,17 5,67 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0

d54= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,67 x 0,17 6,00 x 0 6,00 x 0 0,96

d55= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,67 x 0 6,00 x 0,17 6,00 x 0 1,00

d56= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,67 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0,17 1,00

d61= 0 x 0,17 5,84 x 0 0 x 0 6,34 x 0 6,68 x 0 6,68 x 0 0

d62= 0 x 0 5,84 x 0,17 0 x 0 6,34 x 0 6,68 x 0 6,68 x 0 0,99

d63= 0 x 0 5,84 x 0 0 x 0,17 6,34 x 0 6,68 x 0 6,68 x 0 0

d64= 0 x 0 5,84 x 0 0 x 0 6,34 x 0,17 6,68 x 0 6,68 x 0 1,08

d65= 0 x 0 5,84 x 0 0 x 0 6,34 x 0 6,68 x 0,17 6,68 x 0 1,14

d66= 0 x 0 5,84 x 0 0 x 0 6,34 x 0 6,68 x 0 6,68 x 0,17 1,14

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256

d71= 0 x 0,17 4,99 x 0 0 x 0 5,16 x 0 5,49 x 0 5,83 x 0 0

d72= 0 x 0 4,99 x 0,17 0 x 0 5,16 x 0 5,49 x 0 5,83 x 0 0,85

d73= 0 x 0 4,99 x 0 0 x 0,17 5,16 x 0 5,49 x 0 5,83 x 0 0

d74= 0 x 0 4,99 x 0 0 x 0 5,16 x 0,17 5,49 x 0 5,83 x 0 0,88

d75= 0 x 0 4,99 x 0 0 x 0 5,16 x 0 5,49 x 0,17 5,83 x 0 0,93

d76= 0 x 0 4,99 x 0 0 x 0 5,16 x 0 5,49 x 0 5,83 x 0,17 0,99

d81= 0 x 0,17 5,16 x 0 0 x 0 5,66 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0

d82= 0 x 0 5,16 x 0,17 0 x 0 5,66 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0,88

d83= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0,17 5,66 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0

d84= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,66 x 0,17 6,00 x 0 6,00 x 0 0,96

d85= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,66 x 0 6,00 x 0,17 6,00 x 0 1,00

d86= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,66 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0,17 1,00

TABELA 3:

Cálculo MATRIZ (C) – PRIORIDADES DE OCUPAÇÃO/ATRIBUTOS CORPORATIVOS Cik aij x bjk cotejo aij bjk result.

C11= 22 22 23 24 42 34 1 1 1,17 1,33 0,67 1,17 6,36

C12= 23 24 24 22 43 33 1,17 1,33 1,33 1 0,83 1 6,66

C13= 22 21 22 24 42 34 1 0,83 1 1,33 0,67 1,17 1

C14= 24 24 24 22 44 31 1,33 1,33 1,33 1 1 0,67 6,66

C15= 24 23 24 22 44 32 1,33 1,17 1,33 1 1 0,83 6,66

C16= 23 23 23 22 44 31 1,17 1,17 1,17 1 1 0,67 6,18

C21= 32 32 13 34 32 24 0,83 0,83 1,33 1,17 0,83 1,33 6,30

C22= 33 34 14 32 33 23 1 1,17 1,5 0,83 1 1,17 6,66

C23= 32 31 12 34 32 24 0,83 0,67 1,17 1,17 0,83 1,33 1

C24= 34 34 14 32 34 21 1,17 1,17 1,5 0,83 1,17 0,83 6,66

C25= 34 33 14 32 34 22 1,17 1 1,5 0,83 1,17 1 6,66

C26= 33 33 13 32 34 21 1 1 1,33 0,83 1,17 0,83 6,18

C31= 12 12 13 14 42 14 1,17 1,17 1,33 1,5 0,83 1,5 7,50

C32= 13 14 14 12 43 13 1,33 1,5 1,5 1,17 0,83 1,33 7,68

C33= 12 11 12 14 42 14 1,17 1 1,17 1,5 0,67 1,5 7,02

C34= 14 14 14 12 44 11 1,5 1,5 1,5 1,17 1 1 7,68

C35= 14 13 14 12 44 12 1,5 1,33 1,5 1,17 1 1,17 7,68

C36= 13 13 13 12 44 11 1,33 1,33 1,33 1,17 1 1 7,14

C41= 32 32 33 34 22 34 0,83 0,83 1 1,17 1 1,17 1

C42= 33 34 34 32 23 33 1 1,17 1,17 0,83 1,17 1 6,36

C43= 32 31 32 34 22 34 0,83 0,67 0,83 1,17 1 1,17 5,70

C44= 34 34 34 32 24 31 1,17 1,17 1,17 0,83 1,33 0,67 6,36

C45= 34 33 34 32 24 32 1,17 1 1,17 0,83 0,67 0,83 5,70

C46= 33 33 33 32 24 31 1 1 1 1,17 0,67 1,33 6,18

C51= 32 42 33 14 42 14 0,83 0,67 1 1,5 0,67 1,5 6,18

C52= 33 44 34 12 43 13 1 1 1,17 1,17 0,83 1,33 6,48

C53= 32 41 32 14 42 14 0,83 0 0,83 1,5 0,67 1,5 0

C54= 34 44 34 12 44 11 1,17 1 1,17 1,17 1 1 6,54

C55= 34 43 34 12 44 12 1,17 0,83 1,17 1,17 1 1,17 6,54

C56= 33 43 33 12 44 11 1 0,83 1 1,17 1 1 1

C61= 42 32 33 14 42 14 0,67 0,83 1 1,5 0,67 1,5 6,18

C62= 43 34 34 12 43 13 0,83 1,17 1,17 1,17 0,83 1,33 6,48

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257

C63= 42 31 32 14 42 14 0,67 0,67 0,83 1,5 0,67 1,5 5,82

C64= 44 34 34 12 44 11 1 1,17 1,17 1,17 1 1 6,54

C65= 44 33 34 12 44 12 1 1 1,17 1,17 1 1,17 6,54

C66= 43 33 33 12 44 11 0,83 1 1 1,17 1 1 1

C71= 32 32 33 14 42 14 0,83 0,83 1 1,5 0,67 1,5 6,36

C72= 33 34 34 12 43 13 1 1,17 1,17 1,17 0,83 1,33 6,66

C73= 32 31 32 14 42 14 0,83 0,67 0,83 1,5 0,67 1,5 1

C74= 34 34 34 12 44 11 1,17 1,17 1,17 1,17 1 1 6,66

C75= 34 33 34 12 44 12 1,17 1 1,17 1,17 1 1,17 6,66

C76= 33 33 33 12 44 11 1 1 1 1,17 1 1 6,18

C81= 42 42 43 14 32 14 0,67 0,67 0,83 1,5 0,83 1,5 1

C82= 43 44 44 12 33 13 0,83 1 1 1,17 1 1,33 1

C83= 42 41 42 14 32 14 0,67 0 0,67 1,5 0,83 1,5 0

C84= 44 44 44 12 34 11 1 1 1 1,17 1,17 1 6,36

C85= 44 43 44 12 34 12 1 0,83 1 1,17 1,17 1,17 6,36

C86= 43 43 43 12 34 11 0,83 0,83 0,83 1,17 1,17 1 5,82

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258

TABELA 4:

Cálculo da MATRIZ (D) – ÍNDICE OCUPACIONAL DOS ATRIBUTOS CORPORATIVOS dik [eil]h x h x [cik]h x m result.

d11= 6,36 x 0,17 0 0 0 0 0 1,06

d12= 0 6,66 x 0,17 0 0 0 0 1,11

d13= 0 0 6,00 x 0,17 0 0 0 1

d14= 0 0 0 6,66 x 0,17 0 0 1,11

d15= 0 0 0 0 6,66 x 0,17 0 1,11

d16= 0 0 0 0 0 6,18 x 0,17 1,03

d21= 6,30 x 0,17 0 0 0 0 0 1,05

d22= 0 6,66 x 0,17 0 0 0 0 1,11

d23= 0 0 6,00 x 0,17 0 0 0 1

d24= 0 0 0 6,66 x 0,17 0 0 1,11

d25= 0 0 0 0 6,66 x 0,17 0 1,11

d26= 0 0 0 0 0 6,18 x 0,17 1,03

d31= 7,50 x 0,17 0 0 0 0 0 1,25

d32= 0 7,68 x 0,17 0 0 0 0 1,28

d33= 0 0 7,02 x 0,17 0 0 0 1,17

d34= 0 0 0 7,68 x 0,17 0 0 1,28

d35= 0 0 0 0 7,68 x 0,17 0 1,28

d36= 0 0 0 0 0 7,14 x 0,17 1,19

d41= 6,00 x 0,17 0 0 0 0 0 1

d42= 0 6,36 x 0,17 0 0 0 0 1,06

d43= 0 0 5,70 x 0,17 0 0 0 0,95

d44= 0 0 0 6,36 x 0,17 0 0 1,06

d45= 0 0 0 0 5,70 x 0,17 0 0,95

d46= 0 0 0 0 0 6,18 x 0,17 1,03

d51= 6,18 x 0,17 0 0 0 0 0 1,03

d52= 0 6,48 x 0,17 0 0 0 0 1,08

d53= 0 0 0 x 0,17 0 0 0 0

d54= 0 0 0 6,54 x 0,17 0 0 6,09

d55= 0 0 0 0 6,54 x 0,17 0 6,09

d56= 0 0 0 0 0 6,00 x 0,17 1

d61= 6,18 x 0,17 0 0 0 0 0 1,03

d62= 0 6,48 x 0,17 0 0 0 0 1,08

d63= 0 0 5,82 x 0,17 0 0 0 0,97

d64= 0 0 0 6,54 x 0,17 0 0 1,09

d65= 0 0 0 0 6,54 x 0,17 0 1,09

d66= 0 0 0 0 0 6,00 x 0,17 1

d71= 6,36 x 0,17 0 0 0 0 0 1,06

d72= 0 6,66 x 0,17 0 0 0 0 1,11

d73= 0 0 6,00 x 0,17 0 0 0 1

d74= 0 0 0 6,66 x 0,17 0 0 1,11

d75= 0 0 0 0 6,66 x 0,17 0 1,11

d76= 0 0 0 0 0 6,18 x 0,17 1,03

d81= 6,00 x 0,17 0 0 0 0 0 1

d82= 0 6,00 x 0,17 0 0 0 0 1

d83= 0 0 0 x 0,17 0 0 0 0

d84= 0 0 0 6,36 x 0,17 0 0 1,06

d85= 0 0 0 0 6,36 x 0,17 0 1,06

d86= 0 0 0 0 0 5,82 x 0,17 0,97

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259

TABELA 5:

Cálculo MATRIZ (C) PRIORIDADES DE OCUPAÇÃO/ATRIBUTOS DE ESPAÇO Cik aij x bjk cotejo aij bjk result.

C11= 11 31 11 21 11 1 0,60 1 0,80 1 4,40

C12= 13 33 13 23 12 1,40 1 1,40 1,20 1,20 6,20

C13= 11 32 11 21 11 1 0,80 1 0,80 1 4,60

C14= 13 32 14 24 14 1,40 0,80 1,60 1,40 1,60 6,80

C15= 13 34 11 22 13 1,40 1,20 1 1 1,40 6,00

C16= 14 34 14 23 13 1,60 1,20 1,60 1,20 1,40 7,00

C21= 21 11 21 21 21 0,80 1 0,80 0,80 0,80 4,20

C22= 23 13 23 23 22 1,20 1,40 1,20 1,20 1 6,00

C23= 21 12 21 21 21 0,80 1,20 0,80 0,80 0,80 4,40

C24= 23 12 24 24 24 1,20 1,20 1,40 1,40 1,40 6,60

C25= 23 14 21 22 22 1,20 1,60 0,80 1 1 5,60

C26= 24 14 24 23 22 1,40 1,60 1,40 1,20 1 6,80

C31= 21 41 21 11 21 0,80 0 0,80 1 0,80 3,40

C32= 23 43 23 13 22 1,20 0,80 1,40 1,40 1 5,80

C33= 21 42 21 11 21 0,80 0,60 0,80 1 0,80 4,00

C34= 23 42 24 14 24 1,20 0,60 1,40 1,60 1,40 6,20

C35= 23 44 21 12 23 1,20 1 0,80 1,20 1,20 5,40

C36= 24 44 24 13 23 1,40 1 1,40 1,40 1,20 6,40

C41= 11 11 21 31 11 1 1 0,80 0,60 1 4,40

C42= 13 13 23 33 12 1,40 1,40 1,20 1 1,20 6,20

C43= 11 12 21 31 11 1 1,20 0,80 0,60 1 4,60

C44= 13 12 24 34 14 1,40 1,20 1,40 1,20 1,60 6,80

C45= 13 14 21 32 13 1,40 1,60 0,80 0,80 1,40 6,00

C46= 14 14 24 33 13 1,60 1,60 1,40 1 1,40 7,00

C51= 11 21 41 41 41 1 0,80 0 0 0 0

C52= 13 23 43 43 42 1,40 1,20 0,80 0,80 0,60 4,80

C53= 11 22 41 41 41 1 1 0 0 0 0

C54= 13 22 44 44 44 1,40 1 1 1 1 5,40

C55= 13 24 41 42 43 1,40 1,40 0 0,60 0,80 0

C56= 14 24 44 43 43 1,60 1,40 1 1,20 1,20 6,40

C61= 11 31 41 31 11 1 0,60 0 0,60 1 0

C62= 13 33 43 33 12 1,40 1 0,80 1 1,20 5,40

C63= 11 32 41 31 11 1 0,80 0 1,40 1 0

C64= 13 32 44 34 14 1,40 0,80 1 1,20 1,60 6,00

C65= 13 34 41 32 13 1,40 1,20 0 0,80 1,40 0

C66= 14 34 44 33 13 1,60 1,20 1 1 1,40 6,20

C71= 21 41 41 41 31 0,80 0 0 0 0,60 0

C72= 23 43 43 43 32 1,20 0,80 0,80 0,80 0,80 4,40

C73= 21 42 41 41 31 0,80 0,60 0 0 0,60 0

C74= 23 42 44 44 34 1,20 0,60 1 1 1,20 5,00

C75= 23 44 41 42 33 1,20 1 0 0,60 1 0

C76= 24 44 44 43 33 1,40 1 1 0,80 1 5,20

C81= 21 41 41 41 31 0,80 0 0 0 0,60 0

C82= 23 43 43 43 32 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 4,00

C83= 21 42 41 41 31 0,60 0,60 0 0 0,60 0

C84= 23 42 44 44 34 0,60 0,60 1 1 1,20 4,40

C85= 23 44 41 42 33 1 0 0,60 0,60 1 0

C86= 24 44 44 43 33 1 1 1 0,80 1 4,80

Page 260: APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA …prolugar.fau.ufrj.br/wp-content/uploads/2017/10/tese_PA.pdf · arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório,

260

TABELA 6:

Cálculo da MATRIZ “D” – ÍNDICE OCUPACIONAL DOS ATRIBUTOS DE ESPAÇO dik [eil]h x h x [cik]h x m result.

d11= 4,4 x 0,20 0 0 0 0 0 0,88

d12= 0 6,2 x 0,20 0 0 0 0 1,24

d13= 0 0 4,6 x 0,20 0 0 0 0,92

d14= 0 0 0 6,8 x 0,20 0 0 1,36

d15= 0 0 0 0 6,0 x 0,20 0 1,20

d16= 0 0 0 0 0 7,2 x 0,20 1,44

d21= 4,2 x 0,20 0 0 0 0 0 0,84

d22= 0 6,0 x 0,20 0 0 0 0 1,20

d23= 0 0 4,40 x 0,20 0 0 0 0,88

d24= 0 0 0 6,6 x 0,20 0 0 1,32

d25= 0 0 0 0 5,8 x 0,20 0 1,16

d26= 0 0 0 0 0 6,8 x 0,20 1,36

d31= 0 x 0,20 0 0 0 0 0 0

d32= 0 5,8 x 0,20 0 0 0 0 1,16

d33= 0 0 4,0 x 0,20 0 0 0 0,80

d34= 0 0 0 6,2 x 0,20 0 0 1,24

d35= 0 0 0 0 5,4 x 0,20 0 1,08

d36= 0 0 0 0 0 6,4 x 0,20 1,28

d41= 4,4 x 0,20 0 0 0 0 0 0,88

d42= 0 6,2 x 0,20 0 0 0 0 1,24

d43= 0 0 4,6 x 0,20 0 0 0 0,92

d44= 0 0 0 6,8 x 0,20 0 0 1,36

d45= 0 0 0 0 6,0 x 0,20 0 1,20

d46= 0 0 0 0 0 7,0 x 0,20 1,40

d51= 0 x 0,20 0 0 0 0 0 0

d52= 0 5,4 x 0,20 0 0 0 0 1,08

d53= 0 0 0 x 0,20 0 0 0 0

d54= 0 0 0 6,0 x 0,20 0 0 1,20

d55= 0 0 0 0 0 x 0,20 0 0

d56= 0 0 0 0 0 6,2 x 0,20 1,24

d61= 0 x 0,20 0 0 0 0 0 0

d62= 0 4,6 x 0,20 0 0 0 0 0,92

d63= 0 0 0 x 0,20 0 0 0 0

d64= 0 0 0 6,0 x 0,20 0 0 1,20

d65= 0 0 0 0 0 x 0,20 0 0

d66= 0 0 0 0 0 6,2 x 0,20 1,24

d71= 0 x 0,20 0 0 0 0 0 0

d72= 0 4,4 x 0,20 0 0 0 0 0,88

d73= 0 0 0 x 0,20 0 0 0 0

d74= 0 0 0 5,0 x 0,20 0 0 1

d75= 0 0 0 0 0 x 0,20 0 0

d76= 0 0 0 0 0 5,2 x 0,20 1,04

d81= 0 x 0,20 0 0 0 0 0 0

d82= 0 4,4 x 0,20 0 0 0 0 0,88

d83= 0 0 0 x 0,20 0 0 0 0

d84= 0 0 0 5,0 x 0,20 0 0 1

d85= 0 0 0 0 0 x 0,20 0 0

d86= 0 0 0 0 0 5,2 x 0,20 1,04