aplicaÇÃo do modelo de anÁlise hierÁrquica...
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APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA
COPPETEC-COSENZA
NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIO
Paulo Afonso Rheingantz
TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS
DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE
JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO
GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Aprovada por:
Prof. Paulo Rodrigues Lima, D.Sc.
Prof. Fernando Rodrigues Lima, D.Sc.
Prof. Carlos Alberto Nunes Cosenza, D.Sc.
Profa. Sheila Walbe Ornstein, D.Sc.
Prof. Walmor José Prudêncio, D. Sc.
Profa. Liana de Ranieri Pereira, D.Sc.
2
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
MAIO DE 2000
RHEINGANTZ, PAULO AFONSO
Aplicação do Modelo de Análise
Hierárquica COPPETEC-COSENZA na
Avaliação do Desempenho de Edifícios de
Escritório [Rio de Janeiro] 2000
xxv, 344 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, D.Sc.,
Engenharia de Produção, 2000)
Tese – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, COPPE
1. Análise Hierárquica. 2. Avaliação de
Desempenho. 3. Edifícios de Escritório.
I. COPPE/UFRJ II. Título ( série )
3
Dedico este trabalho a todos os usuários
dos edifícios de escritório, na esperança
de que ele venha a contribuir para
produzir ambientes onde as pessoas
possam viver e trabalhar com mais prazer
e bem-estar.
4
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Fernando Rodrigues Lima, pelo conhecimento e pela orientação
segura, que viabilizaram este trabalho.
Aos professores Carlos Alberto Nunes Cosenza e Paulo Rodrigues Lima, por sua
sabedoria.
À Professora Sheila Walbe Ornstein, por suas críticas, sugestões e pela
preciosa indicação de bibliografia sobre Avaliação Pós-ocupação.
À Professora Vera Cristina Feitosa por desmistificar a redação do texto
científico.
Aos professores Mário Vidal, Francisco Duarte, Orlando Cosenza e Elton
Fernandes, por seu conhecimento compartilhado.
À professora e amiga Ivonice Raimunda L. da Silva, por seu interesse e
dedicação em me ajudar a desvendar os mistérios da lógica fuzzy.
A todos os colegas do Curso de Doutorado em Engenharia de Produção, em
especial Maria Cristina Sampaio, Giselle Arteiro Azevedo, Cláudia Cordeiro,
Marcello Santos e Elder Pordeus, por sua curiosidade compartilhada.
Aos professores Leopoldo Bastos, Aldo Gonçalves, Maria Maia Porto, Cláudia
Barroso-Krause, e à arquiteta Lygia Niemeyer, por sua contribuição na definição
dos critérios para mensuração dos atributos de conforto ambiental.
Aos professores visitantes Wolfgang Preiser, Henry Sanoff e Theo van der
Voordt.
À Anna Carla Rocha, por sua contribuição para a compreensão do MAH-
COPPETEC.
À Rosina Trevisan Ribeiro, por compartilhar sua amizade e coleguismo, e por
sua revisão crítica das fichas de mensuração dos atributos de desempenho.
Ao Vicente del Rio, por ter me aberto as portas da percepção ambiental, e
por compartilhar a disciplina de Metodologia da Pesquisa.
Ao Marcelo Peçanha, amigo e colega de arquitetura e de ensino de projeto.
À Cláudia Nóbrega e Ceça Guimaraens, pelo interesse e amizade.
5
À minha esposa, Ana Maria, por sua compreensão e por sua dedicação e
competência na revisão do texto, além de suas preciosas “dicas” bibliográficas.
Às professoras Maria Ângela Dias, Diretora da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da UFRJ e Elisabete Martins, Chefe do Departamento de
Planejamento de Arquitetura, e a todos os colegas professores do
Departamento de Planejamento de Arquitetura, por sua compreensão.
À Cláudia Andrade e Elena Salvatori, por suas críticas, sugestões e amizade.
Ao Luis Alberto Teixeira Filho e à Daniela Yoshie Kussama, pela valiosa e
competente ajuda na edição das imagens e dos textos.
Ao Túlio Andrade, por sua excelente biblioteca sempre disponível.
Aos meus filhos, Gabriel e Marcelo, pelos incontáveis fins-de-semana
inexistentes.
Aos doutores Humberto Navarro Lins, Farid Haikal, Beatriz Trope, Helder Costa,
Lucas Fortes Maya, Elizabeth de Oliveira e Tatiana Fichman que, com sua
competência, asseguraram minha saúde física e mental ao longo desta longa
e estressante jornada.
Ao Eduardo Martins (Dudu), que assegurou a saúde de meu fiel computador,
sem o qual este trabalho não poderia ter sido realizado.
A todas as pessoas e organizações que colaboraram com este trabalho, em
especial:
Lourival Regini de Andrade, Luis F. Fadigas de Almeida e Rosaria Peixoto (PREVI); Francisco
Eduardo e Harvey Cosenza (PETROS), Patrícia R. Cecílio (PORTUS), Carla Meirelles (VALIA),
Alberto Oliveira (ACLO), Sylvio Kanmitzer (ODEON); Paulo Roberto Goulart (FACILITY), Moisés
Grinapel e Sérgio de Carvalho (PROLINE), Daniel Werneck (DW Engenharia), Luiz F. da Costa,
Fábio Oliveira e Alex Guerra (Ed. RB1); Sérgio Monteiro (Ed. Teleporto), Micheli Bruno (Ed.
Mourisco), Altair Beling e Jorge Ottolini (Mark Building); Sérgio Machado (CENTROIN), Roberto
Borges (McKINSEY), Marcos Osvaldo Chaves (Banco do Brasil), Olga Loffredi (Loffredi
Associados), Léo Schneider (GLR); Ana Cláudia de Lemos Santos e João Batista dos Santos
(Escritório de Advocacia João Batista dos Santos), Moraes José Lopes (GBOEx), Ricardo
Aronovich (OFFICE-DOLUTION), José Guilherme Oliveira; Davino Pontual, Márcio Roberto,
Edison Musa, Paulo Musa, Pablo Benetti, Heitor Derbli de Carvalho, Claudia Santos, Marcelo
Peçanha, José Ruy Rezende, Victor Sportelli; Walmor Prudêncio, Peter Sweizer, Luciana
Andrade, Siva Werneck, Ananias Godoy, Paulo Jardim de Moraes, Cheng Liang Yee, Ana Lúcia
Harris, Leo Schneider, Ronaldo Martins, Joe Yaqub Khzouz, Claudia Guedes, Adriane Almeida e
Silva, Margaret Jobim, Marcos Donida, Antonio Tadeu Lannes, Maria Isabel Canto, Antonio
Canto, Silvia Vianna, Alex Puig, Vanessa Lima e Ubiratan de Souza.
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7
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)
APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA
COPPETEC-COSENZA
NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIO
Paulo Afonso Rheingantz
Maio/2000
Orientadores: Paulo Rodrigues Lima
Fernando Rodrigues Lima
Programa: Engenharia de Produção
Fundamentado no paradigma social complexo, este trabalho apresenta
um instrumento de análise qualitativa do desempenho dos edifícios de
escritórios derivado do Modelo de Análise Hierárquica COPPETEC-COSENZA
(MAH). Seu principal objetivo é demonstrar a utilidade de uma ferramenta que
alia grande flexibilidade à possibilidade de representação formal do
subjetivismo inerente aos processos de decisão em mais de dois níveis de
apuração. Para contextualizar o problema, analisa as transformações
provocadas pelas tecnologias da informação na economia, no trabalho e seus
reflexos na produção do ambiente de trabalho. A seguir, analisa o estado da
arte da avaliação de desempenho em geral e dos edifícios de escritório, em
particular. Através de uma operação com matrizes, a partir de uma listagem
de atributos de desempenho de natureza comum a um grupo de edifícios,
confronta a demanda por espaço e por recursos prediais de diferentes
organizações com a oferta de um conjunto de edifícios. Os atributos são
classificados segundo seu vínculo, e seu desempenho, mensurado a partir de
variáveis previamente identificadas. Os valores resultantes, expressos através de
uma matriz de possibilidades, permitem identificar, pela observação visual do
conjunto hierarquizado das possibilidades, os pontos onde determinada
organização encontra melhor adequação às condições especificadas na
demanda e mapeadas no conjunto de edifícios.
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9
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)
APPLICATION OF THE COPPETEC-COSENZA MODEL OF
HIERARCHICAL ANALYSIS IN THE
PERFORMANCE EVALUATION OF OFFICE BUILDINGS
Paulo Afonso Rheingantz
May/2000
Advisors: Paulo Rodrigues Lima
Fernando Rodrigues Lima
Department: Production Engineering
Based in the complex social paradigm, this dissertation presents an instrument for
qualitative analysis of the performance of office buildings, derived from the COPPETEC-
COSENZA Model of Hierarchical Analysis (MHA). The main objective is to demonstrate the
utility of a tool that combines great flexibility to the possibility of formal representation of the
subjectivity that is inherent to decision-making processes in more than one level of evaluation.
To reach your objective, it analyzes the transformations provoked by the technologies of the
information in the economy, in the work and your reflexes in the production of the workplace.
Next, it analyzes the state of the art of the building performance evaluation in general and of
the workplace, in specifics. Through na operation with matrixes, from a list of performance
attributes common to a group of buildings, it confronts the demand for space and for building
resources of different organizations, to what a group of buildings offer. The attributes are
classified according to their linkages - and their performance – that is measured based in
variables that are previously identified. The values or performance indexes that result are
expressed through a matrix of possibilities, and they allow to identify – by the visual
observation of a hierarchical grouping of possibilities – where a certain organization finds the
best fitting to the conditions that are specified at the demand, and are mapped within the
group of buildings.
10
SUMÁRIO
Ficha catalográfica ii
Dedicatória iii
Agradecimentos iv
Resumo em português vi
Resumo em inglês vii
Sumário viii
Lista de Figuras x
Lista de Tabelas xi
Glossário de termos e conceitos-chave xii
APRESENTAÇÃO xxii
INTRODUÇÃO: 01
I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. 09
1.1 Paradigma, Horizonte, Sociedade Sustentável e Fim das Certezas 16
1.2 Caráter Autobiográfico e Auto-referenciável da Ciência 23
1.3 Pensamento Complexo (Social) 31
1.4 Ambiente Construído: organização social complexa 35
1.5 Desempenho: interação homem X ambiente construído 37
II. CONTEXTUALIZAÇÃO: 41
2.1 Um Mundo em Transformação: Era Industrial X Era Pós-Industrial 42
2.2 Trabalho e Economia na Era Pós-Industrial 49
2.3 Espaço e Tempo na Era Pós-Industrial: do “real” ao virtual 57
2.4 Transformações do Ambiente de Trabalho 65
2.5 Repensando o Projeto dos Edifícios de Escritórios 77
III. AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS: 92
3.1 Mercado Imobiliário e Avaliação dos Edifícios de Escritórios: foco no produto, fragmentação e opacidade de procedimentos
94
3.2 Avaliação Pós-Ocupação: foco no usuário, interdisciplinaridade e sistematização de procedimentos
100
3.3 Avaliação de Desempenho de Edifícios de Escritórios: BQA, ST&M, REN 112
3.4 Avaliação de Desempenho de Edifícios de Escritórios:
a experiência brasileira
129
IV. MODELO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA COPPETEC-COSENZA NA
AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS:
137
4.1 Subconjuntos Fuzzy, Variáveis Lingüísticas e suas Aplicações na Avaliação do Desempenho do Ambiente Construído
138
4.2 Descrição do Modelo de Análise Hierárquica COPPETEC-COSENZA 146
4.3 Construção do Modelo de Análise 154
11
V. ATRIBUTOS DE DESEMPENHO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS 176
5.1 Atributos Corporativos 179
5.2 Atributos de Infraestrutura 188
5.3 Atributos Construtivos 201
5.4 Atributos de Espaço 209
5.5 Atributos de Ambiência Interna 218
5.6 Atributos de Recursos e Serviços Prediais 234
VI. SIMULAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE UM CONJUNTO
DE EDIFÍCIOS
251
6.1 Simulação com Base nos Atributos Gerais de Desempenho 254
6.2 Simulação com Base nos Atributos Corporativos 260
6.3 Simulação com Base nos Atributosde Espaço 263
CONCLUSÕES 267
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 272
ANEXOS 282
ANEXO I - Edifícios de escritório da Praia de Botafogo 283
ANEXO II - Visão serial da enseada de Botafogo 285
ANEXO III - A Década Perversa 292
ANEXO IV - Carta de Edison MUSA ao Presidente do IAB-RJ 302
ANEXO V - Padrões de Espaço de Escritório 303
ANEXO VI - O mercado da automação predial no Brasil 308
ANEXO VII - Classificação dos edifícios de escritórios do Rio de Janeiro 313
ANEXO VIII - Instrumentos de análise do BQA, REN e ST&M 317
ANEXO IX - Função de pertinência de variáveis lingüísticas 325
ANEXO X - Exemplo das diferenças entre as abordagens crisp e fuzzy 326
ANEXO XI - Tendência nos novos centros empresariais do Rio 330
ANEXO XII - Cálculo das Matrizes (C) e (D) - Simulação 331
ANEXO XIII: Formulários 337
12
LISTA DE FIGURAS
Figura n° Título Págin
a
Fig. 01 - Vista da Baía e do Morro Cara de Cão 13
Fig. 02 - Vista da enseada de Botafogo (1999) 14
Fig. 03 - Vista da enseada de Botafogo no início do Século XIX 25
Fig. 04 - Vista da enseada de Botafogo em 1893 25
Fig. 05 - Vista da enseada de Botafogo em 1906 25
Fig. 06 - Áreas conquistadas ao mar às lagoas e alagadiços 26
Fig. 07 - Gabarito de 15 pavimentos na enseada de Botafogo 27
Fig. 08 - Edifício Larkin, (Buffalo, 1920) 66
Fig. 09 - Edifício BNDES (Rio de Janeiro, 1974) 66
Fig. 10 - Burolandschaft – Escritório Paisagem (Guttersloh 1960) 67
Fig. 11 - Action Office Herman Miller (1968) 67
Fig. 12 - Centraal Beheer (Apeldoorn, 1970-72) 68
Fig. 13 - O escritório é onde você está 69
Fig. 14 - SAS - Scandinavian Airlines (Estocolmo, 1988) 70
Fig. 15 - Microsoft (Seattle, anos 90) 73
Fig. 16 - Hewlet-Packard (Palo Alto, anos 80) 73
Fig. 17 - Escritório de Advocacia em São Paulo 77
Fig. 18 - Sede da Rede Globo em São Paulo 77
Fig. 19 - TDWA Chiat/Day (New York, 1994-96) 78
Fig. 20 - Edifício RB1 (Rio de Janeiro, 1986/90) 79
Fig. 21 - Edifício Metropolitan (Rio de Janeiro 1989/94) 79
Fig. 22 - Edifício Teleporto (Rio de Janeiro, 1988/94) 79
Fig. 23 - Biblioteca Nacional da França (Paris, anos 80) 80
Fig. 24 - Petrona Twin Towers (Kuala Lumpur, 1991-97) 80
Fig. 25 - Consórcio Vida (Santiago do Chile, anos 90) 80
Fig. 26 - Sun Tower (Seul anos 90) 81
Fig. 27 - Menara Mesiniaga (Kuala Lumpur, anos 90) 81
Fig. 28 - Avião-Escritório 81
Fig. 29 - Sistema Dynamics Schärf 82
Fig. 30 - Commerzbank (Frankfurt, 1991-97) 83
Fig. 31 - Passos para o desenvolvimento de um módulo BQA 121
Fig. 32 - Diferenças entre Função de Pertinência “Crisp” e “Fuzzy” 143
Fig. 33 - Esquema do MAH-COPPETEC Simplificado 153
Fig. 34 - Edifício 1 – Jardim Botânico 158
Fig. 35 - Edifício 2 – Praia de Botafogo 158
Fig. 36 - Edifício 3 – Largo do Machado 158
Fig. 37 - Edifício 4 – Praça Mauá 159
Fig. 38 - Edifício 5 – Avenida Chile 159
Fig. 38 - Edifício 6 – Cidade Nova 159
13
LISTA DE TABELAS
Tabela n° Título Página
Tabela 01
-
Articulação ou Confronto psiqué X physys 32
Tabela 02 - Relação Entre Empresa e Mercado 46
Tabela 03 - Valores das sociedades industrial e pós-industrial 47
Tabela 04 - Padrões de Trabalho e de Espaço de Escritório 71
Tabela 05 - Estrutura básica do REN 123
Tabela 06 - Comparação entre os métodos de avaliação BQA, ST&M
e REN
128
Tabela 07 - MATRIZ (A) – Demanda dos Usuários 148
Tabela 08 - MATRIZ (B) – Oferta de Edifícios 149
Tabela 09 - MATRIZ (C) – Prioridades de Ocupação 150
Tabela 10 - Tabela de Cotejo A B = C 150
Tabela 11 - MATRIZ (E) – Diagonal 151
Tabela 12
-
MATRIZ (D) – Índices Ocupacionais 151
Tabela 13 - Perfil dos Edifícios 160
Tabela 14 - Perfil de Usuário Tradicional [ou Preservador] 162
Tabela 15 - Perfil de Usuário de Equilíbrio [ou Revitalizador] 162
Tabela 16 - Perfil de Usuário Inovador [ou Renovador] 163
Tabela 17 - Caracterização do Respondente 165
Tabela 18 - Atributos Corporativos 165
Tabela 19 - Atributos do Sítio 165
Tabela 20 - Atributos Construtivos 166
Tabela 21 - Atributos de Espaço 166
Tabela 22 - Atributos do Ambiente Interno 167
Tabela 23 - Atributos do Ambiente Interno 167
Tabela 24 - Graus dos Atributos Corporativos 168
Tabela 25 - Graus dos Atributos de Infraestrutura 169
Tabela 26 - Graus dos Atributos Construtivos 169
Tabela 27 - Graus dos Atributos de Espaço 170
Tabela 28 - Graus dos Atributos do Ambiente Interno 171
Tabela 29 - Graus dos Atributos de Recursos e Serviços Prediais 172
Tabela 30 - Freqüência e Percentual por Categoria de Especialistas 173
14
Tabela 31 - Atributo 01 – Localização 180
Tabela 32 - Atributo 02 – Relação com Vizinhança 181
Tabela 33 - Atributo 03 – Imaginabilidade 182
Tabela 34 - Atributo 04 – Custo de Instalação 184
Tabela 35 - Atributo 05 – Custo Operacional 186
Tabela 36 - Atributo 06 – Valor Imobiliário 187
Tabela 37 - Atributo 07 – Condições do Terreno 190
Tabela 38 - Atributo 08 – Acesso de veículos 191
Tabela 39 - Atributo 09 – Transporte Terrestre 193
Tabela 40 - Atributo 10 – Transporte Aéreo 194
Tabela 41 - Atributo 11 – Rede de Telecomunicações 195
Tabela 42 - Atributo 12 – Rede de Energia Elétrica 196
Tabela 43 - Atributo 13 – Rede de Água 197
Tabela 44 - Atributo 14 – Rede de Esgoto 198
Tabela 45 - Atributo 15 – Rede de Drenagem 199
Tabela 46 - Atributo 16 – Rede de Iluminação Pública 200
Tabela 47 - Atributo 17 – Forma 202
Tabels 48 - Atributo 18 – Qualidade Construtiva 203
Tabela 49 - Atributo 19 – Garagem 205
Tabela 50 - Atributo 20 – Flexibilidade Tecnológica 206
Tabela 51 - Atributo 21 – Facilidade de Manutenção 208
Tabela 52 - Atributo 22: Área Útil 210
Tabela 53 - Atributo 23: Flexibilidade do Layout 212
Tabela 54
-
Atributo 24: Centro de Convenções 214
Tabela 55 - Atributo 25: Espaços de Apoio 215
Tabela 56 - Atributo 26: Espaços Complementares 217
Tabela 57 - Atributo 27: Acessibilidade 219
Tabela 58 - Atributo 28: Circulação Interna 221
Tabela 59 - Atributo 29: Conforto Aeróbico 223
Tabela 60 - Atributo 30: Conforto Térmico 225
Tabela 61 - Atributo 31: Conforto Visual 228
Tabela 62 - Atributo 32: Conforto Auditivo 231
15
Tabela 63 - Atributo 33: Conforto Tátil 233
Tabela 64 - Atributo 34: Gerenciamento Predial 235
Tabela 65 - Atributo 35: Sistema de Energia Elétrica 237
Tabela 66 - Atributo 36: Sistema de Deteção e Prevenção de
Incêndio
238
Tabela 67 - Atributo 37: Sistema de Transporte Vertical 239
Tabela 68 - Atributo 38: Sistema de Ar Condicionado 240
Tabela 69 - Atributo 39: Sistema de Água, Gás e Esgoto 242
Tabela 70 - Atributo 40: Sistema de Sonorização Ambiente e de
Comunicação por Rádio
243
Tabela 71 - Atributo 41: Sistema de Segurança Patrimonial 244
Tabela 72 - Atributo 42: Telemática 246
Tabela 73 - Atriburo 43: Birótica (Automação de Serviços de
Escritório)
248
Tabela 74 - Atributo 44: Domótica 249
Tabela 75 - Perfil de Oferta de Edifícios - Simulação 251
Tabela 76 - Perfil de Demanda por Edifícios - Simulação 253
Tabela 77 - MATRIZ (A) – Demanda por Edifícios / Atributos Gerais 254
Tabela 78 - MATRIZ (B) – Oferta de Edifícios / Atributos Gerais 254
Tabela 79 - MATRIZ (C) – Prioridades de Ocupação / Atributos Gerais 255
Tabela 80 - Cotejo (A) (B) = (C) / Atributos Gerais 255
Tabela 81 - MATRIZ (E) – Diagonal / Atributos Gerais 255
Tabela 82 - MATRIZ (D) – Índice Ocupacional / Atributos Gerais 256
Tabela 83 - MATRIZ (A) – Demanda de Edifícios / Atributos
Corporativos
260
Tabela 84
-
MATRIZ (B) – Oferta de Edifícios / Atributos Corporativos 260
Tabela 85 - Cotejo (A) (B) = (C) / Atributos Corporativos 260
Tabela 86 - MATRIZ (C) – Prioridades de Ocupação / Atributos
Corporativos
261
Tabela 87 - MATRIZ (E) – Diagonal / Atributos Corporativos 261
Tabela 88 - MATRIZ (D) – Índice Ocupacional / Atributos Corporativos 261
Tabela 89 - MATRIZ (A) – Demanda de Edifícios / Atributos de Espaço 263
Tabela 90 - MATRIZ (B) – Oferta de Edifícios / Atributos de Espaço 263
Tabela 91 - Cotejo (A) (B) = (C) / Atributos de Espaço 264
Tabela 92 - MATRIZ (C) – Possibilidades dos Atributos de Espaço 264
16
Tabela 93 - MATRIZ (E) – Diagonal / Atributos de Espaço 264
Tabela 94 - MATRIZ (D) – Índice Ocupacional/Atributos de Espaço 264
17
GLOSSÁRIO DE TERMOS E DE CONCEITOS-CHAVE
ABCI - Associação Brasileira de Construção Industrializada.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
ABSIC - Advanced Building Systems Integration Consortium, parceria indústria-
universidade que analisa as perspectivas internacionais para os escritórios do
futuro – América do Norte (estação de trabalho), Alemanha (envolvente), Reino
Unido (material, qualidade estética e desempenho), Japão (núcleo de
serviços/recursos).
Absortância (ou absortividade) - é o fator de absorção de uma superfície; o
corpo negro têm absortância igual a um (LAVIGNE 1992). Cf. A. W. Collieu (1977),
a absortância de uma superfície em relação a um determinado comprimento
de onda é a fração da energia radiante total incidente na faixa de onda
considerada que é absorvida pela superfície (in: GONZALEZ et al., 1986, v.2.; 80).
Academicismo - tendência nas artes em geral que se caracteriza pela
padronização de valores estéticos, fixando de antemão condições para a
estrutura do objeto artístico (CORONA & LEMOS 1972), enquanto o
Funcionalismo, é um movimento surgido nas décadas de 20-30, cuja primeira
regra [...] surgiu da crença de que a forma deveria refletir uma função.' (HATJE
1970). Ambos tiveram (e ainda têm) grande influência na formação dos
arquitetos brasileiros, especialmente no entendimento do edifício enquanto
objeto estético isolado, desvinculado de seu contexto urbano e das
características climáticas locais.
Ambiente construído – Cf. ORNSTEIN et al (1995: 7), “todo o ambiente eregido,
moldado ou adaptado pelo homem. São artefatos humanos ou estruturas físicas
realizadas pelo homem.”
Ambiente social – Cf. ORNSTEIN et al (1995: 7), “indivíduo ou grupo de indivíduos
entre os quais se vive e que se relacionam socialmente entre si.”
Anima - espécie de persona de caráter compensatório, forma de compromisso
inconsciente entre o indivíduo e o mundo (inconsciente) das imagens históricas
ou primordiais, que traduz o modo pelo qual o sujeito é visto pelo inconsciente
coletivo. (JUNG 1984: 151)
Anosmia - perda ou enfraquecimento do olfato. (AURÉLIO Eletrônico 1994)
ANTAC - Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído.
APO - Avaliação Pós-Ocupação – “método interativo que detecta patologias e
determina terapias no decorrer do processo de produção e uso de ambientes
construídos, através de participação intensa de todos os agentes envolvidos na
tomada de decisões”. (ORNSTEIN & ROMÉRO 1992: 23)
ASHRAE - American Society of Heating Refrigeration and Air Conditioning
Engineers.
Aspereza - sensação percebida através do contato com superfícies desiguais,
acidentadas, irregulares, desagradável ao tato, duras, sem oleosidade natural,
sem vida (KRECH & CRUTCHFIELD 1971).
ASTM - American Society for Testing and Materials.
Auto-organização - “a emergência espontânea de novas estruturas e de novas
formas de comportamento em sistemas abertos, afastados do equilíbrio,
caracterizados por laços de realimentação internos e descritos
matematicamente por meio de equações não-lineares” (CAPRA 1997: 80).
18
Autopoiese [Organização dos Seres Vivos] – “os sistemas vivos ... [estão]
organizados num processo circular causal fechado que leva em consideração
a mudança evolutiva na maneira como a circularidade é mantida, mas não
permite a perda da própria circularidade” (MATURANA, in CAPRA 1997: 87).
“Auto” significa “si mesmo” e se refere à autonomia dos sistemas auto-
organizadores, e “poiese” – compartilha da mesma raiz grega com a palavra
“poesia” – significa “criação”, “construção. Portanto, autopoiese significa
“autocriação”. (CAPRA 1997: 88).
Auto-referente – a “percepção e, mais geralmente, a cognição não representam uma realidade exterior, mas, em vez disso, especificam uma por meio do processo de organização circular do sistema nervoso” (MATURANA in CAPRA 1997: 88).Bem-estar - estado de perfeita satisfação física ou moral: conforto. (AURÉLIO ELETRÔNICO 1996)
Bioclima - é a relação entre os organismos vivos e o clima (PETROBRÁS 1991).
Biótopo - suporte inorgânico do hábitat, incluindo substrato (água, solo, etc.) e
todos os fatores físico-químicos (temperatura, iluminação e outros (FERNANDEZ
s/d: 10), ; unidade ambiental facilmente identificável, podendo ser de natureza
inorgânica ou orgânica, e cujas condições de hábitat são uniformes. Pode
abrigar uma ou mais comunidades. É geralmente parte não viva do
ecossistema. (CARVALHO 1981)
BQA - Building Quality Assesment.
CBPR - Centre for Building Performance Research da Victoria University of Wellington, Nova Zelândia.
CEDSERJ - Condomínio do Edifício de Serviços do BNDES no Rio de Janeiro.
Cibernética – do grego kybernetiké, ou téchne kybernetiké, 'a arte do piloto' ,
ciência que estuda as comunicações e o sistema de controle dos organismos
vivos e das máquinas.
CLP - controlador lógico programável.
COAM - Colegio Oficial de Arquitectos de Madrid.
Comunidade ecológica – “conjunto (assemblage) de organismos aglutinados
num todo funcional por meio de relações mútuas” ... [possibilita aplicar] os
mesmos tipos de concepções a diferentes níveis de sistemas” (CAPRA 1997: 44)
Conforto - Bem-estar, comodidade.
Conforto auditivo - Cf. Idéias de Arquitetura 11 (Hunter Douglas s/d) ou acústico,
avalia a inteligibilidade dos sons e o distúrbio causado pelos sons nos indivíduos;
depende dos seguintes parâmetros: freqüência e intensidade do som, distância
e posição relativas das fontes de ruído (internas ou externas) e da forma de
transmissão do ruído.
Conforto aeróbico - Cf. Idéias de Arquitetura 11 (Hunter Douglas s/d), diz respeito
à qualidade do ar respirado pelos indivíduos no interior de um ambiente
construído, determinada pelo teor de oxigênio, teor de umidade e teor de
poluentes químicos ou orgânicos.
Conforto ambiental - estudo das condições ambientais mais confortáveis para
o homem.
Conforto tátil - diz respeito às sensações de “textura” (rugosidade, etc.), de
“maciez”, de “calor” com que os indivíduos sentem os materiais e os objetos;
segundo KRECH & CRUTCHFIELD (1971), do ponto de vista perceptivo, as
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sensações epidérmicas podem ser classificadasem dois grupos: sensações
básicas (tato, pressão ou dor) e sensações complexas (umidade, oleosidade,
prurido, aspereza, maciez).
Conforto térmico - Cf. Idéias de Arquitetura 11 (Hunter Douglas s/d), diz respeito
à temperatura ideal para cada tipo de ambiente, levando-se em conta não
apenas a presença de indivíduos e a atividade que estes desempenham, mas
também a presença de equipamentos ou produtos sensíveis; suas variáveis são:
exigências humanas e funcionais, condições geográficas (clima, topografia,
ventos) e características arquitetônicas (volumetria interior e exterior, desenho e
materiais das vedações e dos acabamentos internos)
Conforto visual - Cf. Idéias de Arquitetura 11 (Hunter Douglas s/d), depende,
basicamente, da iluminação e diz respeito à inteligibilidade ou clareza de leitura
de toda informação visual (cor, forma, movimento, escrita) ou aos efeitos sobre
o indivíduo decorrentes dos conteúdos estéticos e psicológicos trasnmitidos por
essa visualidade.
Contraste [luminoso] - Cf. OLLSWANG (1984), é definido em termos de relação
de brilho: quanto maior a relação, maior o nível de contraste.
Desejo mimético – termo utilizado por Celso FURTADO para explicitar a ilusão de
“uma modernidade que nos condena a um mimetismo cultural esterilizante ...
[e a] ... obsessão de reproduzir o perfil daqueles que se auto-intitulam
desenvolvidos.” (in SUNG s/d: 52) – das sociedades capitalistas criado pelo
próprio mercado, e que se torna ele próprio o “critério para desejos aceitáveis
ou não.” (SUNG s/d: 55)
Desempenho – [do inglês performance] Cf. ISO 6241, comportamento de um
produto em relação ao seu uso. Neste sentido, seu conceito deve ser entendido
como o processo de interação homem ambiente.
EAESP – European Association of Experimental Social Psychology.
EBS – Environment/Behavior Studies
Ecologia - parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio
ou ambiente em que vivem, bem como as suas recíprocas influências (AURÉLIO
Eletrônico 1994).
Ecologia Profunda - Escola filosófica fundada por Arne NAESS no início dos anos
70 com base na distinção entre ecologia rasa – antropocêntrica, ou
centralizada no ser humano, vê os seres humanos situados acima ou fora da
natureza – e ecologia profunda – não separa seres humanos ou qualquer outra
coisa do meio ambiente natural, que reconhece o valor intrínseco de todos os
seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia
da vida.
Economia informacional - é informacional porque a produtividade e a
competitividade de unidades ou agentes nessa economia dependem de sua
capacidade de gerar, processar e aplicar a informação baseada em
conhecimento. A emergência de um novo paradigma tecnológico organizado
em torno de novas tecnologias da informação, mais flexíveis e poderosas,
possibilita que a própria informação se torne o produto do processo produtivo.
(CASTELLS 1999: 87)
EDRA - Environment Design Research Association (América do Norte).
Entropia - ou medida da desordem crescente, introduz a idéia de
irreversibilidade, de uma “seta do tempo” na ciência. Em qualquer sistema físico
isolado ou ‘fechado’, “alguma energia mecânica é sempre dissipada em forma
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de calor que não pode ser completamente recuperado” (CAPRA 1997: 54)
[segunda lei da Termodinâmica].
Escritório aberto ou paisagem [landscape office] – ambientes abertos e grandes conjuntos de mobiliário e equipamento são organizadas em função do fluxo de trabalho, separados por “caminhos curvilíneos e um sentimento de paisagem interior” (SMITH & KEARNY, 1994: 7).
Escritório combinado [combi office] – onde os funcionários ocupam “pequenas salas fechadas, dispostas na periferia do ambiente, de tal forma que a área central destina-se às atividades de uso comum, seja para reunir equipamentos, estações para trabalho em grupo, ou áreas de estar e convívio social” (ANDRADE 1996: 22); e
Escritório de uso eventual [drop-in] – termo usado por diversas empresas para descrever escritórios compartiljhados que são utilizados por curtos períodos de tempo (por exemplo, uma poucas horas) por empregados que não precisam fazer reserva de espaço de escritório. Em geral é usado para empregados de diferentes lugares que “usam eventualmente” o espaço de trabalho e precisam de um lugar para trabalhar.
Terminal doméstico [Home-based telecommuting] – designação utilizada para caracterizar os funcionários que trabalham meio turno em casa, utilizando a tecnologia necessária para comunicar-se com seus colegas de trabalho ou com sua empresa.
Escritório do cliente – modalidade de trabalho cada vez mais presente, à
medida que cresce a modalidade de prestação de serviços e a
desregulamentação dos contratos de trabalho, onde o funcionário trabalha,
durante um período de freqüência e duração variável, no próprio escritório do
cliente.
Escritório fechado – modelo tradicional de espaço de escritório, dividido em salas estanques, que podem ser individuais ou para pequenos grupos de até 4 ou 6 pessoas.
Escritório móvel – que caracteriza veículos ou locais especialmente equipados,
tais como um avião, um barco, uma van, um ônibus ou até mesmo um local
adequado em um aeroporto ou em uma sala de hotel, de um centro de
convenções ou de um centro de treinamento. Neste grupo também se insere o
conceito do escritório incorpóreo – que, segundo STONE & LUCHETTI (1985) “ está
onde você está” – numa analogia às empresas incorpóreas de Tom PETERS
(1995), que considera que o escritório é a própria mente.
Escritório não territorial – designação proposta por Thomas ALLEN (MIT) para caracterizar as novas formas de trabalho de escritório contendo variadas zonas de atividades disponíveis para uso de qualquer membro da equipe, combinando sistemas de maior liberdade de cenário com os fluxos de pessoas, materiais ou informações; “os funcionários não têm sala, estação de trabalho ou mesa fixa e o uso de espaço ou tecnologia se dá em função de suas necessidades e tarefas” (SIMS, BECKER & QUINN 1995). Estas novas forma de escritório vêm sendo utilizados por organizações que buscam maior efetividade e redução de custos escritório, com significativos efeitos na demanda por espaço de escritório, na qualidade de vida no trabalho de seus empregados e na competitividade organizacional. Existem diversas formas de escritório sem território e diferentes modalidades de reserva de uso do espaço ou de tecnologia:
Escritório para grupos de alto desempenho [high performance team) – onde
equipes de funcionários, compartilham processos de trabalho em um mesmo
ambiente, possibilitando “aumento de envolvimento e agilidade de decisões,
sinergia, aumento de suporte emocional, melhor desempenho” (ANDRADE
1996: 22).
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Escritório satélite [telework centers] – designação utilizada para caracterizar
pequenos centros de teletrabalho com ambientes totalmente equipados
localizados nas proximidades das moradias dos funcionários ou dos clientes;
estes locais também pode ser utilizados.
Escritório temporário [Just in time] – designação utilizada pela Anderson
Consulting em San Francisco para descrever seu programa de escritórios não
destinados como base permanente de um determinado indivíduo; os escritórios
podem ser designados como uma base temporária, variando desde meio dia
a diversos dias, mediante sistema de reserva.
Escritório virtual – designação genérica utilizada para descrever a idéia de
espaço de escritório dissociado de um lugar e um tempo específicos.
Estrutura [de um sistema] – é a incorporação física de seu padrão de
organização ... “enquanto o padrão de organização envolve um mapeamento
abstrato de relações, a descrição da estrutura envolve a descrição dos
componentes físicos efetivos do sistema – suas formas, composições químicas, e
assim por diante”. (CAPRA 1997: 134)
Estruturas Dissipativas [Teoria das] - de Ilya PRIGOGINE, introduz uma mudança
radical na noção de desperdício associado à dissipação de energia da
termodinâmica clássica, ao mostrar que nos sistemas abertos a dissipação
torna-se uma fonte de ordem. “A evolução explica-se por flutuações de energia
que em determinados momentos, nunca inteiramente previsíveis,
desencadeiam espontaneamente reações que, por via de mecanismos não
lineares, pressionam o sistema para além de um limite máximo de instabilidade
e o conduzem a um novo estado macroscópico. Esta transformação irreversível
e termodinâmica é o resultado da interação de processos microscópicos
segundo uma lógica de auto-organização numa situação de não-equilíbrio. A
situação de bifurcação, ou seja, o ponto crítico em que a mínima flutuação de
energia pode conduzir a um novo estado, representa a potencialidade do
sistema em ser atraído para um novo estado de menor entropia. Desse modo a
irreversibilidade nos sistemas abertos significa que estes são produto da sua
história”. SANTOS (1995: 27-28)
Facility Manager - gerente de recursos e serviços prediais.
Fatores Comportamentais - Cf. RABINOWITZ (1984: 407), possibilitam observar
como a imagem do edifício influi no comportamento dos usuários e como outros
fatores se combinam com o ambiente físico para afetar o usuário. Cf. PREISER et
al (1998: 45-46), abrange: proxemia e territorialidade, privacidade e interação,
percepção ambiental, imagem e intenções, cognição ambiental e orientação.
Fatores Funcionais - Cf. RABINOWITZ (1984: 407), possibilitam observar os
aspectos do ambiente construído que apóiam as atividades dos usuários e o
desempenho organizacional. Cf. PREISER et al (1998: 43), abrange: acessos,
segurança pessoal, estacionamento, capacidade espacial, serviços,
comunicações, segurança patrimonial, adaptabilidade, circulação,
equipamentos.
Fatores Técnicos - Cf. RABINOWITZ (1984: 407), possibilitam verificar o
desempenho dos componentes do edifício, especialmente de materiais e
instalações. Cf. PREISER et al (1998: 43-44), abrange: segurança contra incêndio,
estrutura, ventilação e higiene, elétrica, vedações externas, tetos,
acabamentos internos, acústica, iluminação, sistemas de controle ambiental
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Fluxos - Cf. CASTELLS (1999a), “seqüências intencionais, repetitivas e
programáveis de intercâmbio e interação entre posições fisicamente
desarticuladas, mantidas por atores sociais nas estruturas econômica, política e
simbólica da sociedade"; expressão dos processos que dominam nossa vida
econômica, política e simbólica, a configuração espacial das práticas sociais
da sociedade em rede e a organização material das práticas sociais de tempo
compartilhado, que funcionam por meio de fluxos – de capital, de informação,
de tecnologia, de interação organizacional, de imagens, sons e símbolos.
Free Address – designação utilizada para descrever um programa de ocupação de espaço sem previsão de mesa individual por funcionário; cada funcionário apanha seu equipamento móvel (volante, telefone, computador, etc.) e ocupa a primeira estação de trabalho disponível, contando com suporte de secretaria e recepção; podem existir estações de trabalho individuais e para grupos, além de salas de reunião; a IBM usa o termo para definir o espaço interno dotados de mesas individuais, que podem ser utilizadas por qualquer funcionário.
Geratividade – designação adotada por MORIN (1996: 336) para caracterizar a “fonte da constante renovação da vida de um organismo complexo edifício de escritórios que se caracteriza por um processo incessante de degradar-se, de simplificar-se, em função da necessidade de conservar sua complexidade mediante uma recriação intelectual permanente.” (1996: 336)
Group Address – designação utilizada pela IBM para definir o espaço interno sem previsão de mesas individuais, com a intenção de ser utilizada por seus grupos de funcionários ou departamentos.
Hipótese de Gaia [James LOVELOCK] – descobriu que o fato de todos os seres
vivos extraírem energia e matéria e descartarem produtos residuais era a mais
geral das características da vida que ele podia identificar. ... reconheceu a
atmosfera da Terra como um sistema aberto, afastado do equilíbrio,
caracterizado por um fluxo constante de energia e de matéria. Sua análise
química detectava a própria “marca registrada” da vida. (CAPRA 1997: 91).
Mostra que há um estreito entrosamento entre as partes vivas do planeta –
plantas, microorganismos e animais – e suas partes não-vivas – rochas, oceanos
e a atmosfera (CAPRA 1997: 93). O planeta Terra é um sistema vivo, auto-
organizador
Hoteling – designação adotada pela Ernst and Young de Chicago para descrever seu programa de escritórios não individualizados em uma base permanente; o uso dos ambientes é realizado através de um sistema de reservas tipo de hotel, com o apoio de equipes de suporte; este sistema também possibilita adaptações no espaço para atender às demandas específicas de cada tipo de projeto/atividade.
IAPS – International Association for the Study of People and Their Physical Surroundings (Europa), cujos principais objetivos, são: (1) facilitar a comunicação entre os interessados nas relações entre as pessoas e seu ambiente físico, (2) estimular a pesquisa e a inovação para melhorar o bem-estar humano e o ambiente físico, e (3) promover a integração entre pesquisa, educação, política e prática.
IATSS - International Association of Traffic and Safety Sciences.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro.
IBI - Intelligent Buildings Institute.
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IBPE - Internacional Building Performance Evaluation Project, coordenado por
PREISER, cujo objetivo é desenvolver um conjunto de instrumentos
metodólogicos "padrão" para avaliação de desempenho de ambientes de
trabalho passíveis de serem aplicados em qualquer parte do mundo. (ORNSTEIN,
LEITE e ANDRADE 1999)
Imagem evocada – Cf. DAMÁSIO (1996: 123), imagens independente de serem compostas principalmente por formas, cores, movimentos, sons ou palavras faladas ou omitidas que constitui nossos pensamentos: evocar nos olhos, ouvidos ou na mente, imagens aproximadas armazenadas em nosso pensamento, a partir de de experiências anteriores, tais como pensar na tia Maria, na torre Eiffel, na voz de Placido Domingo, etc.
Imagem perceptiva – Cf. DAMÁSIO (1996: 123), formação de imagens de modalidades sensoriais diversas, tais comoL: olhar por uma janela, ouvir a música de fundo que está tocando, deslizar os dedos por uma superfície de metal polido ou ainda ler estas palavras, linha após linha, até o fim da página.
Imagem simbólica - uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato. (JUNG s/d: 20)
Imaginabilidade - designação utilizada por Kevin Lynch (1960) para designar as
formas que geram imagens fortes.
Inconsciente coletivo – designação utilizada por JUNG, “o inconsciente coletivo se estrutura em arquétipos (disposições hereditárias de reação) e pertence à espécie humana e jamais se torna de fato plenamente consciente.”(JAPIASSÚ & MARCONDES 1996: 152)
Inconsciente pessoal – designação utilizada por JUNG para caracterizar os
“elementos reprimidos, adquiridos durante a história pessoal dos indivíduos em
sua experiência de vida” (JAPIASSÍ & MARCONDES (1996: 152) que o constituem.
Indentação - marcas produzidas por impacto de objetos contundentes (PREISER et al 1989).
Interação – Cf. MORIN (1996), é um conjunto de relações, ações e retroações que se efetuam e se tecem num sistema; Cf. DAMÁSIO (1996: 255), “o organismo inteiro, e não apenas o corpo ou o cérebro, interage com o meio ambiente ... quando vemos, ouvimos, tocamos, saboreamos ou cheiramos, o corpo e o cérebro participam na interação com o meio ambiente.”
ISO 6241 - Performance Standards in building – principles for their preparation and factors to be considered.
Lugares globais – designação de SANTOS (1997) para as metrópoles que, além
de combinarem um grande número de variáveis típicas de nossa época,
“guardam numerosos aspectos herdados de épocas anteriores, em virtude da
resistência da paisagem metropolitana às mudanças gerais”. Estes lugares
globais configuram os nós de uma intrincada rede que preside e vigia as
atividades características do mundo globalizado.
Maciez - sensação percebida através do contato com superfícies suaves ao
tato, brandas, sem asperezas, lisas, aprazíveis, agradáveis (KRECH &
CRUTCHFIELD 1971).
MAH – Modelo de Análise Hierárquica COPPETEC-COSENZA.
Meio – Cf. SANTOS (1997), noção resultante “de uma adaptação sucessiva da
face da Terra às necessidades dos homens ... [inicialmente] isoladas, ao sabor
das civilizações emergentes, até chegar ao atual processo de
internacionalização”, que tende a generalizar os mesmos objetos e paisagens
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geográficos de modo a torná-los semelhantes nos mais diversos lugares do
mundo.
MERA – Man-Environment Research Association (Japão).
Mesa compartilhada [Desk sharing] – termo genérico para caracterizar a situação onde a mesma mesa ou estação de trabalho é utilizada por diferentes empregados ao longo de um dia ou semana.
Mesa quente [Hot desking] – inspirado na designação da Marinha norteamericana para descrever beliches utilizados por muitos marinheiros em diferentes turnos/vigílias (o beliche é aquecido pelo ocupante anterior); forma pejorativa de designar algumas formas de escritório de uso compartilhado.
NUTAU - Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo da
FAUUSP.
OCDE – Organisation de Coopération et de Dévelopment Économiques.
Oleosidade - sensação percebida através do contato com materiais oleosos ou
gordurosos (KRECH & CRUTCHFIELD 1971).
Olhar compartilhado – conjunto ou constelação de concepções, valores,
percepções e práticas compartilhadas por uma determinada comunidade que
dá forma à uma visão particular da realidade; configuração multidimensional
do paradigma pós-moderno de SANTOS (1995a), de modo a assegurar maior
coerência e racionalidade na definição dos atributos e do seu grau de
importância.
ORBIT-2 – Organizations, Buildings and Information Technology, abordagem
pioneira na sistematização e na classificação dos recursos e instalações prediais
dos edifícios de escritórios por “níveis, iniciada em 1983 sob a coordenação da
DEGW.
Organização – exprime o caráter constitutivo das interações; coluna vertebral à
idéia de sistema
OSHA – Occupacional Safety and Health Administration.
Padrão [de organização de um sistema] – “configuração de relações entre os
componentes do sistema que determinam as características essenciais desse
sistema. Certas relações devem estar presentes para que algo seja reconhecido
como uma cadeira, uma bicicleta ou uma árvore”. (CAPRA 1997: 134)
PAPER – People and the Physical Environment Research Association associação interdisciplinar envolvendo os países do Nordeste da Ásia e Oceania, fundada em 1983.
Paradigma científico – “conjunto de realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência.” (KUHN 1991: 13)
PDR - Pre-Design Research.
Percepção ambiental – processo de interação mental e corporal om o
ambiente que permite ao homem tanto atuar “sobre o meio ambiente como
dele receber sinais.” (DAMÁSIO 1996: 256)
Persona - Cf. Carl JUNG (1984), palavra que, originalmente, designava a máscara usada pelo ator, assinalando o papel que este ia desempenhar na peça, utilizada por para caracterizar a máscara da psique coletiva, máscara que aparenta uma individualidade, procurando convencer aos outros e a si mesma que é individual, quando, na realidade, não passa de um papel ou desempenho através do qual fala a psique coletiva.
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PIB - produto interno bruto.
Princípio geométrico - Cf. MANDOLESI (1980), valoriza o significado global da
forma, a percepção dos valores de superfície e volumétricos.
Princípio matérico - Cf. MANDOLESI (1980), valoriza os atributos intrínsecos da
forma e do material que constrói a forma.
Processo [da vida] – é a atividade envolvida no padrão de organização do
sistema ... é a ligação entre padrão e estrutura.”(CAPRA 1997: 134) No caso do
edifício de escritórios, o padrão de organização é representado pelos desenhos
dos projetos utilizados na construção do edifício, a estrutura é um edifício
específico e a ligação entre padrão e estrutura está na mente do projetista. Já
no caso de um organismo vivo, “o padrão de organização está sempre
incorporado na estrutura do organismo, e a ligação entre padrão e estrutura
reside no processo da incorporação contínua”. (CAPRA 1997: 135)
Projeto pragmático - apropriação de formas da natureza utilizadas sem modificar sua forma; a razão básica para construir é a modificação física do clima natural para facilitar o desenvolvimento de determinadas atividades; as formas tridimensionais são abordadas, neste caso, e podem ser descritas como um método de ensaio e erro, por sucessivas modificações de pequenos detalhes. (BROADBENT 1973)
Projeto icônico - modo culturalmente consagrado de fixação de uma imagem que um objeto determinado deve ter, mantida inalterada por gerações posteriores nos seus edifícios; procura o equilíbrio entre o controle climático e os recursos disponíveis na sua própria cultura; a forma de um objeto está amarrada ao modo de vida da sociedade, que luta contra as pressões e tende a tornar-se muito rígida. (BROADBENT 1973)
Projeto analógico - forma bastante rica para criar formas tridimensionais, uma vez que as analogias da forma dos edifícios são baseadas, geralmente, em outros edifícios; a partir de materiais reais, o projetista prepara os desenhos com determinada intenção, e o desenho se torna uma ferramenta analógica que possibilita ao projetista simular experimentos pragmáticos de ensaio e erro antes do início da construção; desta forma, a ação projetual torna-se uma atividade diferenciada, destinada à construção de um determinado objeto projetado. (BROADBENT 1973)
Projeto canônico - segue o analógico, uma vez que, tendo o projetista preparado os desenhos antes de começar a construir, os desenhos adquirem uma forma particular de o projetista desenvolver suas intenções de ordem e regularidade; estas intenções começam aparecer independentemente dos efeitos do produto na realidade; um exemplo desta ordem e regularidade são sistemas de proporções utilizados por diversos arquitetos modernos, (módulo, seção áurea, etc). (BROADBENT 1973)
PWC - Public Works Canada
Qualidade da Luz - Cf. OLLSWANG (in SNYDER & CATANESE 1984), se refere a
todos os outros fatores que não a intensidade da luz.
RB1 - Edifício Centro Empresarial Internacional Rio.
Red carpet – termo utilizado pela Hewlet-Packard para descrever seu programa de estações de trabalho compartilhadas pelos empregados, que “agrega, além dos conceitos de Hoteling e Free-addres, áreas destinadas ao convívio social e ao lazer, e em geral é implantado em escritórios satélites” (ANDRADE 1996: 22); diferentemente da Hot desking, sua intenção foi criar uma imagem positiva.
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Redes – Cf. SANTOS (1997), são “realidades concretas, formadas de pontos
interligados que, praticamente, se espalham por todo o planeta, ainda que
com densidade desigual”, e representam a “base da modernidade atual e
condição de realização da economia e da sociedade global ... veículo por
onde fluem as informações”, motor dos “dinamismos hegemônicos” e
“quintessência do meio técnico-científico-informacional”.
REN - Real Estate Norm, Países Baixos.
Rendimento visual ou eficiência visual depende diretamente dos níveis de iluminação (iluminâncias) e das tarefas visuais. Com base em análises de diferentes tipos de tarefas visuais, relacionando dados sobre acuidade visual, brilho e sensibilidade ao contraste, foram determinados índices de iluminação recomendados através das quais é possível calcular a iluminação para cada tipo de tarefa visual (HOPKINSON 1975). No Brasil, são normatizados pela NBR-5413 - Iluminância de Interiores (ABNT; 1982).
Representação mental – Cf. DAMÁSIO (1996: 259), resposta construída pelo
cérebro humano para descrever uma determinada situação e os movimentos
formulados como resposta a esta situação, que dependem de interações
mútuas cérebro-corpo.
Retrofit - palavra inglesa, que significa readaptação ou reajustamento, utilizada
para designar um tipo especial de intervenção nos edifícios que implica uma
modificação conceitual do sistema para melhorar seu desempenho, do ponto
de vista econômico e da produtividade. (CASTRO NETO 1994)
Reverberação - ocorre quando dentro do tempo de persistência se ouve o som
refletido, e ao separar-se as duas audições se superpõem confundindo-se o som
direto e o refletido em uma audição prolongada (ARIZMENDI 1980).
Sinestesia - Relação subjetiva que se estabelece espontaneamente entre uma
percepção e outra que pertença ao domínio de um sentido diferente (p. ex.,
um perfume que evoca uma cor, um som que evoca uma imagem, etc.)
(AURÉLIO Eletrônico 1994)
Sistema – é uma unidade complexa e caráter fenomenal do todo, bem como
o complexo das relações todo-partes (MORIN 1996)
Sistema vivo [aberto em estado estacionário afastado do equilíbrio] – o “organismo não é um sistema estático fechado ao mundo exterior e contendo sempre os componentes idênticos; é um sistema aberto num estado (quase) estacionário ... onde materiais ingressam continuamente vindos do meio ambiente exterior, e neste são deixados materiais provenientes do organismo.”( BERTALANFFY in CAPRA 1997: 54)
SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro.
ST&M - Serviceability Tools & Methods.
Tato - quando se toca ou apalpa com delicadeza um objeto, é ativada a
sensação do tato, que varia conforme a pressão; ato de apalpar, de tatear
com cautela, com habilidade; existe ainda o tato visual, que corresponde
àquele “sentido” sem contato físico, através da visão de um objeto ou de uma
textura previamente armazenada na memória (KRECH & CRUTCHFIELD 1971).
TEAG - The Environmental Group to Ottawa, primeiro grupo de profissionais de programação dos edifícios, fundado em 1956 por Gerald DAVIS.
Temperatura do Ar - É uma medida do grau de agitação das moléculas do gás; a energia cinética média de cada molécula do gás varia diretamente com a sua temperatura absoluta. (VIANELLO & ALVES, 1991)
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Teoria Bootstrap – abordagem psicológica de Geoffrey CHEW, que concebe o
universo como uma teia dinâmica de eventos inter-relacionados onde
nenhuma das partes é fundamental; todas elas seguem-se das propriedades
das outras partes, e a consciência total de suas interrelações mútuas determina
a estrutura de toda a teia. (CAPRA 1991: 42)
Teoria de Gaia – [James LOVELOCK e Lynn MARGULIS] considera o Cosmos e o
Planeta Terra como um “verdadeiro sistema, abrangendo toda a vida e todo o
seu meio ambiente, estreitamente acoplados de modo a formar uma entidade
auto-reguladora.” (LOVELOCK in CAPRA 1997: 92).
Teoria de Santiago – [Umberto MATURANA e Francisco VARELA] “considera a cognição parte integrante do processo de interação de um organismo vivo com seu meio ambiente. A cognição é uma atividade contínua de criar um mundo por meio do processo de viver”(CAPRA 1997: 211).
Totalidade e Ordem Implicada – [David BOHM] concebe o universo como um
todo interligado e hierarquicamente ordenado de forma não linear; matéria e
energia, seres vivos e não vivos, mente, corpo e espírito referem-se, todos eles,
a diferentes níveis do mesmo sistema unificado. (in WILBER 1994)
Total Workplace – [ARONOFF e KAPLAN] metodologia de análise do desempenho dos diversos aspectos dos edifícios de escritórios – engenharia, arquitetura, medicina, psicologia e sociologia – que considera o desempenho do edifício e de seus ocupantes como uma unidade funcional integrada.
Umidade - sensação percebida através do contato com superfície ligeiramente molhada, de vestir uma roupa suada ou molhada pela chuva ou sereno (KRECH & CRUTCHFIELD 1971).
Umidade Relativa do Ar (UR) - relação, em porcentagem, entre umidade
absoluta do ar e a umidade absoluta do ar saturado, ou entre a pressão de
vapor, a uma temperatura, e com um conteúdo de vapor determinados, e a
que esse mesmo ar, a essa mesma temperatura, teria se estivesse saturado
(RAMÓN 1986).
Unitas multiplex – designação utilizada por MORIN (1996) para caracterizar o
processo não hierárquico, não totalitário e aberto às politonalidades, de
retroativo de interação todo/partes.
Variabilidade – reconhecimento das variações, mudanças, incertezas,
instabilidades e inconstâncias do comportamento humano no desempenho de
suas ações, decorrente de vaalores e/ou culturas distintos e segundo as
circunstâncias.
Walkthrough - método de análise que possibilita a identificação descritiva e
significante de falhas, problemas e aspectos positivos do edifício; “um dos
métodos mais utilizados em APOs, consiste em simplesmente percorrer todo o
edifício, preferencialmente munido de plantas e/ou acompanhado do autor do
projeto ou de usuários, formulando perguntas com o objetivo de se familiarizar
com o edifício e com sua construção ... é um bom método para descobrir as
diferenças entre como foi construído e como ele foi projetado” (BECHTEL 1997:
313), e como é mantido e utilizado. Para tanto, se vale de diversas técnicas de
registro – mapas comportamentais, fitas de áudio e de vídeo, fotografia,
desenhos, diários, fichas, etc. A primeira referência ao termo é atribuída a
PREISER & PUGH (1986).
Wish Poem – ou “Poema dos Desejos”, método desenvolvido por SANOFF para
levantamento de desejos e expectativas dos usuários, através de cartazes
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contendo textos e desenhos que expressem seus desejos com relação ao
edifício, previamente à etapa de programação arquitetônica (DEL RIO &
SANOFF 1999).
Zona de bem-estar térmico - Cf. GONZALEZ et al (1986), a ASHRAE define como
[...] aquela condição da mente que expressa satisfação do ambiente térmico
[...], enquanto Givoni, [...] ausência de irritação ou mal-estar térmico.
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APRESENTAÇÃO:
Acredito que a ciência e o conhecimento são os “motores” da mudança que impulsionam o
“modelo de sobrevivência (o animal muda para conservar-se, em vista da agressão do meio)”
[OLIVEIRA LIMA 1980: 225]; que a ciência e o conhecimento se caracterizam por um
permanente processo de (re)construção da visão de uma determinada realidade a partir do
conflito dialético conservação versus transformação. Esta (re)construção está diretamente
associada ao conceito de paradigma [KUHN 1962], ou conjunto de pensamentos, percepções e
valores que configuram uma determinada visão de realidade que serve de base para a
organização de uma sociedade.
Concordo com o caráter autobiográfico, auto-referenciável, incerto e multidimensional da
ciência do paradigma pós-moderno de Boaventura SANTOS (1995), chave de um mundo a ser
contemplado segundo o critério e a imaginação pessoal do cientista. Por este motivo, o texto
assume um estilo mais pessoal, mais leve e comunicativo (FEITOSA 1991). Além de evitar as
ambigüidades criadas pela impersonalização, esta opção apresenta como vantagem o fato de
comprometer o autor com seu discurso.
Entendo que a relutância dos arquitetos em investir seus esforços em
reconsiderar sistema de crenças e seus princípios tradicionais e processos
projetuais que ZEIZEL (1981) relaciona a um determinismo arquitetônico que
pressupõe que o ambiente físico é o principal determinante do comportamento
social pode ser superada quando a arquitetura for considerara um fechamento
cultural, e não apenas um fechamento físico (WIGLEY 1994).
Além destas três questões que ilustram minha visão de mundo, da ciência e da
arquitetura, são necessários alguns breves comentários sobre determinados
momentos da minha vida profissional que contribuíram de forma decisiva para
moldar a forma como contemplo o mundo. Desta forma, acredito que a
justificativa do trabalho e de sua abordagem serão mais facilmente
compreendidas e contextualizadas.
Em agosto de 1976, recém formado, em meio aos sonhos de vir a criar belos e
imponentes edifícios modernistas, trabalhei durante um ano no então Território
Federal do Amapá, como arquiteto residente de H. J. Cole + Associados.
As crenças modernistas começaram a ficar abaladas pela revisão do Plano
Diretor de Macapá, que proibia construções de madeira na zona central e que
determinava a pavimentação de todas as vias com asfalto. Na ocasião (1976),
Macapá era uma cidade com cerca de 3.000 veículos, situada numa região
onde a brita, o cimento, o ferro e o asfalto chegavam de navio. A seguir, a praça
cívica da cidade, projetada por arquitetos locais, desprovida de árvores e
30
pavimentada com blocos de concreto e seus bancos, expostos ao sol em pleno
trópico!
Em 1982, como Chefe do Escritório de Planejamento Físico da Universidade Federal de Pelotas,
a resistência dos usuários das unidades que ocupavam prédios alugados e adaptados em
colaborar com a elaboração dos projetos dos novos edifícios a serem construídos no campus da
universidade. A experiência de projeto participativo semelhante à desenvolvida por
Christopher ALEXANDER na Universidade do Oregon fracassou. Motivo: os usuários preferiam
continuar instalados em seus prédios precários, mas situados na zona urbana da cidade, a mudar
para o campus, afastado cerca de 15 km da cidade.
Estas experiências motivaram a suspensão, em 1984, das atividades projetuais em função da
opção pela dedicação exclusiva ao ensino e, alguns anos mais tarde (1992), a cursar o mestrado
em conforto ambiental na FAU/UFRJ. Ao retornar ao Rio de Janeiro, a convite do então diretor
Luiz Paulo CONDE, acabei por me transferir definitivamente para o Departamento de
Planejamneto de Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Através da obra de importantres pensadores – tais como Paulo FREIRE, Fritjof CAPRA, Illya
PRIGOGINE, Jane JACOBS, Kevin LYNCH, J. ECKAMBI-SCHMIDT, Christopher ALEXANDER, C.
NORBERG-SCHULZ, Yi-fu TUAN, Robert SOMMER, Edward HALL, John ZEISEL, Henry SANOFF e
Fernando RAMÓN – nasceu o interesse por conhecer os valores e gostos dos usuários, em sua
validação1 sobre os edifícios que freqüentavam, e em estabelecer relações entre os edifícios e o
clima.
O primeiro contato com a percepção e com a psicologia ambiental, por influência de Vicente del
RIO, e com o trabalho da professora Sheila ORNSTEIN e de Wofgang PREISER, foram
determinantes para a escolha do edifício RB1 como objeto de estudo e da metodologia da
Avaliação Pós-Ocupação em minha dissertação de mestrado, concluída sob a orientação segura
e atenta da Professora Liana DE RANIERI PEREIRA.
Os trabalhos de APO no RB1 (1996), no edifício-sede do BNDES (1997), na Clínica São Vicente
(1998) e no Colégio Aplicação da UFRJ, e o contato com o Modelo Cosenza de Localização
Industrial pesaram na decisão de cursar meu doutorado em Engenharia de Produção da COPPE.
O curso, por suas características interdisciplinares, possibilitou o convívio com colegas e
professores das mais diversas profissões, contribuindo para confirmar o acerto da difícil opção
por assumir a condição de “arquiteto de fronteira”, feliz designação criada por Anna Carla
ROCHA.
A decisão de um certo afastamento das fronteiras tradicionais da Arquitetura para buscar, na
Engenharia de Produção, contribuiu para uma maior compreensão e aceitação da riqueza dos
múltiplos olhares e valores dos usuários dos edifícios. O conhecimento acumulado durante o
curso de doutorado foi decisivo para descortinar novos horizontes para a compreensão do
ambiente construído, especialmente o dos edifícios de escritórios, compartilhando olhares e
desejos com os diversos grupos de seus usuários. Neste sentido, o contato com o trabalho dos
professores visitantes Sheila ORNSTEIN (1998) e Henry SANOFF (1999) – especialmente seus
métodos e técnicas de consulta – foi decisivo.
1 LEE (1977: 54) sugere a palavra ‘validação’ – por sua “obrigação moral, mais forte, imposta ao
arquiteto, no sentido de aferir as suas criações pela realidade e de aprender pelos êxitos e
fracassos” – em lugar de “avaliação” - porque esta tem “conotações que são benignas,
moderadas, estéticas, quase opcionais”.
31
Em suma, este trabalho é o resultado da trajetória de alguém que acredita que o arquiteto deve
abandonar sua pretensão de CRIADOR de edifícios e ambientes para um homem ideal (abstrato),
para se tornar INTÉRPRETE dos sonhos dos cidadãos, contribuindo para produzir ambientes
onde as pessoas possam viver e trabalhar com mais prazer e bem-estar.
I. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.
“Se o século XX nos ensinou alguma coisa foi acrescentar ‘salvo erro’ a
todas as previsões ‘salvo evidência em contrário’ a todas as conclusões.
Foi um século que desmoralizou profetas e acabou com o definitivo e o
categórico.”
LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO2
“A expansão da economia destrói a beleza das paisagens com edifícios
medonhos, polui o ar, envenena os rios e os lagos. Mediante um
condicionamento implacável, ela rouba das pessoas o seu senso de
beleza, enquanto gradualmente destrói aquilo que há de belo em seu
meio ambiente.”
E. F. SCHUMACKER 3
Nos séculos XVI e XVII, a visão de mundo predominante no Ocidente fundada na noção de um
universo orgânico, vivo e espiritual sofreu uma profunda e radical modificação. A partir da
“Revolução Científica” associada a COPÉRNICO (1473-1543), GALILEU (1564-1642), DESCARTES
(1596-1650), BACON (1561-1626) e NEWTON (1642-1727), esta visão “foi substituída pela
noção do mundo como uma máquina, e a máquina do mundo tornou-se a metáfora dominante
da era moderna” (CAPRA 1997: 34). A nova visão de mundo – conhecida como cosmovisão
cartesiana – considera a Terra matéria inerte a ser explorada e manipulada e o ambiente
construído, um “mundo morto”, inanimado, fragmentado, que pode ser estudado e
manipulado para os propósitos humanos.
Acreditando que poderia “forçar a natureza a revelar os seus segredos ao homem” (BACON), o
homem desenvolve um poderoso método “reducionista” de investigação: é possível
compreender o todo através do exame de suas partes – segundo BOFF (1999: 72) “a ciência
moderna ... não soube o que fazer com a complexidade. A estratégia foi reduzir o complexo ao
simples.” O universo, o planeta e o corpo humano são reduzidos a um sistema mecânico
composto de blocos de construção elementares que poderia ser racionalmente compreendido.
A ciência passa a oferecer ao homem um mundo morto no qual “extinguem-se a visão, o som,
2 in Antiamericanos, O GLOBO, Rio de Janeiro, 11/11/1999, p.7. 3 In CAPRA (1991: 170)
32
o sabor, o tato e o olfato, e junto com eles vão-se também as sensibilidades estética e ética, os
valores, a qualidade, a alma, a consciência, o espírito” (LAING in CAPRA 1997: 34) e grande
contingente de cientistas, em lugar de atuar no sentido de promover ou de preservar a vida,
atua no sentido de destruí-la, colocando em risco a sobrevivência das futuras gerações.
Embora os resultados desta prática sejam visíveis em qualquer ramo da atividade humana, em
função dos objetivos deste trabalho, a seguir são analisadas suas conseqüências na produção
do ambiente construído.
Até a Revolução Industrial, a atividade do homem desenvolveu-se predominantemente ao ar
livre. O fora é identificado com a atividade física e com o trabalho, enquanto o dentro é
identificado com o repouso e com a proteção contra todos os perigos naturais ou
sobrenaturais que provêm do ‘exterior’. Valendo-se de materiais e de técnicas de construção
disponíveis, sem obrigá-los a comportar-se em contradição com sua natureza e com o clima, o
homem transforma o espaço exterior onde desenvolve suas atividades, e produz diversas
manifestações inteligentes de arquitetura onde a forte interação homem-edifício-ambiente
possibilita afirmar que formam um sistema, ou até mesmo um organismo dotado de vida
própria, de uma alma perceptível (ECKAMBI-SCHMIDT 1974; BACHELARD 1989), ou de uma
qualidade sem nome: “qualidade central que é o critério fundamental da vida e o espírito de
um homem, uma cidade, um edifício, um vazio. Esta qualidade é objetiva e precisa, mas carece
de nome.” (ALEXANDER 1979a: 29)
O paradigma cartesiano, o capitalismo, a industrialização e a urbanização produzem profundas
modificações na dimensão cultural do ambiente. Os limites naturais do habitável são
substituídos pelos limites técnicos, econômicos e políticos, cujas formas passam a ser
ajustadas às novas tecnologias, subvertendo o saber acumulado na produção de edifícios e de
aglomerações – até então concebidos para satisfazer às necessidades essenciais para a vida de
cada grupo, fossem elas materiais, espirituais, estéticas ou econômicas (ECKAMBI-SCHMIDT
1974). O espaço passa a ter a função de distribuição ordenada dos indivíduos e dos serviços.
As práticas higienistas e o desenvolvimento dos sistemas de saneamento, de transporte e dos
equipamentos da habitação (instalações, calefação, eletricidade) revolucionam os conceitos de
habitabilidade, produzindo três conseqüências importantes (BEGUIN 1991): (1) os limites
naturais do hábitat são substituídos pelos limites técnicos, econômicos e políticos; (2) o
desenho do espaço urbano passa a operar sobre informações baseadas nos dados topográficos
e geológicos necessários para o planejamento e para a instalação dos sistemas urbanos; (3)
reduzida a dados geológicos e técnicos, a densidade histórica da cidade dissolve-se em
33
benefício de uma concepção banalizada do urbano: o apelo aos dados sensíveis é descartado
em benefício de novas configurações operacionais.
A nova arquitetura se desenvolve fora dos padrões tradicionais, subvertendo o saber anterior.
Conforme BEGUIN (1991), o espaço passa de bem de uso para bem de troca, tendo três
funções positivas: (1) função distributiva — distribuição ordenada dos indivíduos e dos
serviços; (2) função prática — o espaço e os equipamentos arquitetônicos devem facilitar a
vida e a higiene das pessoas; (3) função climática — o hábitat edificado deve permitir a
captação e circulação da luz e do ar, e as diversas canalizações devem ser incorporadas à sua
estrutura.
Os novos operadores de controle ambiental – ventilação mecânica, iluminação elétrica e
climatização, na escala urbana ou do edifício (BEGUIN 1991) – transformam-se em agentes
promotores de uma nova história do hábitat e interferem diretamente na arquitetura. A
função climática dos edifícios e dos ambientes urbanos se dilui em função dos ajustes das
formas arquitetônicas às novas máquinas e a célula torna-se cada vez mais dependente dos
aparelhos, enquanto a cidade se torna impessoal, desumana e fria.
A cultura que privilegia as relações ao ar livre é substituída pela privatização das práticas do
habitante, rompendo os elos de comunicação entre o dentro e o fora. A qualidade do
ambiente construído independe cada vez mais das relações entre cultura e geografia, e as
condições de conforto passam a ser garantidas pela tecnologia. O homem coloca-se na
posição de “criar” o meio em que vive a tal ponto que até a atividade produtiva passa a ser
identificada com um dentro — ambiente fechado — mais ou menos adequado: a industrial,
através da fábrica e a doméstica, através do alojamento desprovido de área de fora — exceto
sacadas, terraços ou outros espaços exteriores simbólicos (RAMÓN 1980).
A arquitetura de dentro (RAMÓN 1980) possibilita realizar o sonho de construir um espaço
habitável fechado que exclui qualquer influência do ambiente externo: apenas a agricultura, as
atividades “improdutivas” permissíveis que exigem dispersão térmica — esportivas, por
exemplo — e a circulação são realizadas no espaço de fora. O homem entra em uma espécie
de “transe” tecnológico e acaba produzindo violenta perda na dimensão cultural da cidade,
produto do conhecimento acumulado por sucessivas depurações às diferentes condições
climáticas, através da ação solidária e continuada dos seus habitantes.
A verticalização gradativa da cidade “tradicional” produz um ambiente onde
as poucas áreas públicas (ruas e praças) ou privadas (pátios e jardins),
confinadas pelos edifícios, contribuem para diversificar o clima local urbano.
34
Deste processo resulta um ambiente de relativa exclusão do sol, do vento e da
chuva, condicionado pela inércia térmica dos edifícios circundantes e das
superfícies pavimentadas que, ao armazenar frio ou calor, reduz as oscilações
térmicas e ameniza as situações extremas.
Seu desdobramento posterior, representado pelo Racionalismo – especialmente
a vertente International Style – rompe a ordem urbana, induz ao uso
indiscriminado de superfícies envidraçadas “impermeáveis” – desprovidas de
janelas móveis e de dispositivos de proteção da radiação direta do sol, das
precipitações ou do vento – e, ao eliminar a ação inercial do “tecido esponjoso”
tradicional, modifica a ecotermia urbana.
As torres de vidro climatizadas modificam a incidência de radiação sobre o
entorno, tornando a ecotermia urbana incontrolável. Se antes, no verão a
massa edificada acumulava o frescor da noite e, no inverno, o calor do dia,
agora acumula o calor do dia no verão, e o frio da noite no inverno. Ao
aprisionar o calor produzido pelo efeito estufa, o envidraçamento desvairado
torna os edifícios indefesos contra a radiação – mesmo quando são utilizados
vidros especiais.
Viabilizado pelas técnicas de condicionamento artificial, dissemina-se por todo o planeta o
edifício selado [janelas fixas], que desconsidera as influências do ambiente externo. O que
varia é a potência do equipamento, o grau de isolamento do envoltório externo e o seu custo
operacional, cuja conta será [sempre] repassada para o usuário. Confirma-se a previsão de que
os edifícios, a exemplo das naves espaciais, vão “permitir atingir tudo o que queremos buscar
fora, inclusive o ar.” (BEGUIN 1991)
Os novos edifícios de escritório, com sua estética globalizada, condicionados pela implacável
expansão da economia – que desconsidera os aspectos ambientais, os valores culturais e
desfigura a fisionomia das cidades –, dependentes de energia e dotados de uma complexa
rede de instalações, equipamentos e serviços informatizados, demandam novos instrumentos
e métodos para avaliar seu desempenho, que permitam uma representação formal para o
subjetivismo da opinião dos seus usuários (APO).
Partindo desta problemática – como avaliar os modernos e complexos edifícios de escritórios –
neste trabalho procuro estabelecer as bases para uma abordagem que incorpore conceitos
subjetivos. Uma abordagem que permita superar a manipulação social e dos indivíduos,
“coisificados” pelo processo de industrialização, de urbanização, de burocratização e de
35
tecnologização em proveito dos princípios de ordem, de economia e de eficácia (MORIN 1996;
BEGUIN 1991). Uma abordagem que possibilite aos países periféricos libertarem-se da ação
mimética que os condiciona a afastar-se de suas tradições culturais, a importar as novas
configurações urbanas e edilícias, e a produzir as manifestações mais degradadas de
arquitetura jamais vistas. Uma abordagem que permita superar o equívoco que faz com que as
pessoas confundam hábitat “civilizado” com um ambiente construído que se torna cada vez
mais despersonalizado e desconfortável.
A cidade do Rio de Janeiro é um bom exemplo deste processo de degradação das tradições
culturais da arquitetura e da paisagem natural. Situada em uma baía de beleza exuberante, a
paisagem o Rio de Janeiro encanta a todos que aqui chegam, como evidenciam os relatos de
Ernest MÜZELL, oficial militar alemão exilado pelo Governo Prussiano e contratado para
combater contra Rosas, que chegou ao Rio em 1852:
“oferece o mais lindo e completo quadro de todas as maravilhas da
natureza e talvez de toda a Terra e parece que a Criação empregou toda
sua força e esbanjou todos seus encantos ao fazer surgir esse ponto. Todo
o estranho que chega pela primeira vez a esta Capital de toda América
do Sul, fica encantado e admirado do aspecto de majestade, beleza,
grandeza, exuberância e alegria.” (MÜZELL s/d: 7-8),
ou de Ina von BINZEN, preceptora alemã que chegou em 1882:
“É preciso confessar que este Rio é fantasticamente lindo e maravilhoso, visto da
baía, como vi na minha chegada e novamente agora, na minha volta de
Petrópolis. ... Como num conto de fadas, ele surge aos nossos humildes olhos
alemães do Norte ... dentro da suntuosa enseada, formada por um mar de luz
resplandecente, apenas interrompido, ou melhor, ainda ampliado pela variedade
das palmeiras esbeltas e das bananeiras de folhas largas espalhadas por toda
parte ...” (in BINZEN 1994: 73)
Este encantamento (Fig. 1) pode ter
influenciado a escolha do sítio “complexo
morro-brejal”, inadequado para a
construção da cidade. Marcada pela luta
para transformar em planície “as colinas e
os vales, avançando sobre os brejos, os
mangues e também sobre a montanha e
fazendo recuar a linha do litoral”
(BERNARDES 1995: 82), a história do Rio
de Janeiro confirma o desejo de submeter Figura 1: Vista da Baía e do Morro Cara
de Cão no final do Século XIX
Fonte: IPHAN s/d
36
a natureza aos caprichos do homem
(BACON).
A “fúria urbanística” (DRUMMOND e BANDEIRA 1965) teima em testemunhar “o trânsito
perverso do progresso que fomenta, em nome do moderno, a transformação grosseira e
desnecessária da fisionomia da cidade” (GOMES 1994: 94). Segundo Nelson BRISSAC, “hoje
nem a cidade – sem rastros e sem história – nem os homens que não sabem mais ver –
habitam a cidade” (in GOMES 1994: 155) cujos lugares, reduzidos a locais moldados
pelo hábito e por traçados pré-estabelecidos, perderam para sempre sua “alma” e seu
“encantamento. A julgar pela opinião dos cariocas, que consideram as belezas naturais a maior
qualidade da cidade e a praia como seu programa favorito4, o Rio de Janeiro está diante de
um novo dualismo: o reconhecimento da beleza natural como o maior patrimônio da cidade
convive com um processo de verticalização que substitui a paisagem natural por uma
paisagem construída “sem alma” e “sem encanto”. Configura-se, assim, a “fuga das realidades
do capitalismo tardio, pois forja-se uma ideologia compensatória, uma sentimentalização da
natureza e de uma vida social comunitária, bucólica e solidária,
que nossa experiência mostra já ter desaparecido há algum tempo” apontada por Fredric
JAMESON (in SANTOS & DEL RIO 1998: 118).
Até onde a cidade e sua arquitetura continuarão a reproduzir a “lógica do excesso” da
produção econômica que transforma a destruição em seu objetivo – destruir para controlar
efetivamente o crescimento e administrar o excedente (FEATHERSTONE 1995) – limitando a
função do espaço à sua função distributiva e substituindo os limites naturais e culturais do
4 Paula AUTRAN, in Uma relação de amor e medo, O GLOBO, Rio de Janeiro, 15/nov/1999.
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
37
hábitat pelos limites técnicos, econômicos e políticos – tornando seus lugares impessoais,
desumanos, frios e “civilizados”?
Que novas surpresas estão sendo pensadas para aumentar o misto de
segregação e fantasia com que a manipulação dos desejos por meio de
imagens de consumo que, ao misturar “códigos, pastiche, fragmentação,
incoerência, disjunção e sincretismo” (FEATHERSTONE 1997: 163), transformou a
Barra da Tijuca na “Barralândia – a Orlando Brasileira” (SANTOS & DEL RIO 1998),
dotada até mesmo de uma réplica da Estátua da Liberdade?5 Nossas elites
continuarão a viver como personagens de um mundo virtual situado em “uma
espécie de terceiro mundo, entre o país real em que vivem e a comunidade
internacional onde imaginam viver” (Jurandir Freire COSTA in NASCIMENTO 1997:
73)?6 Esta “industrialização” de procedimentos e comportamentos, de jogos e
simulações, poderia significar que estamos mais próximos do que imaginamos
de uma “vida virtual.”
Nas próximas seções, procuro demonstrar que os problemas até aqui
levantados estão relacionados à deficiência de nossos sistemas de crenças e
ao sistema de idéias e valores do paradigma da racionalidade científica, da
visão mecânica e inorgânica da ciência moderna, que levou a uma
especialização e a uma fragmentação progressiva do conhecimento. Crenças
que consideram a vida em sociedade como uma luta competitiva pela
existência, que preconizam o progresso material ilimitado a ser obtido por
intermédio de crescimento econômico, acentuando a ênfase na tecnologia e
nos métodos de produção industriais.
5 Este tipo de empreendimento confirma a suposição de RIEWOLDT (1997:8), de que nos próximos anos, os
conceitos de marcos territoriais dos parques temáticos dos EUA tais como Segaworld ou The Edge estarão
implantados em dezenas de cidades pelo mundo.
6 FEATHERSTONE (1997: 164), atribui este comportamento à diversidade cultural, sincretismo e
deslocamento que ocorre na periferia, que transforma o Rio de Janeiro [a exemplo de Calcutá
ou Cingapura] na primeira cidade multicultural.
38
1.1 Paradigma, Horizonte, Sociedade Sustentável e o Fim das Certezas
“Um paradigma, para mim, significaria a totalidade de pensamentos,
percepções e valores que formam uma determinada visão de realidade,
uma visão que é a base do modo como uma sociedade se organiza.”
Fritjof CAPRA (1991: 17)
“O horizonte é parte inseparável da paisagem. Não pode haver uma
paisagem sem um horizonte, nem um horizonte sem uma paisagem. Mas
o horizonte não é a paisagem. O horizonte recua à medida que você
caminha em direção a ele e ele continua sendo o horizonte ... à medida
que você se move, o horizonte muda, e portanto ele não é, na realidade,
alguma coisa absoluta. É um conceito que muda.” David STEINDL-RAST7
“Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades
sem diminuir as perspectivas das gerações futuras.” Lester BROWN 8
“A incerteza do conhecimento transforma-se na chave do entendimento
de um mundo que mais do que controlado tem de ser contemplado.”
Boaventura SANTOS (1985a: 53)
O modelo mecanicista acreditava na existência de somente duas formas de conhecimento
científico – as disciplinas formais da lógica e da matemática e as ciências naturais, empíricas –
e que era possível aplicar os princípios epistemológicos e metodológicos do estudo da
natureza ao estudo da sociedade. Com base no “pressuposto de que as ciências naturais são
uma aplicação ou concretização de um modelo de conhecimento universalmente válido e, de
resto, o único válido” (SANTOS 1995: 19), desconsideravam-se as diferenças existentes entre
os fenômenos naturais e os sociais e as dificuldades para compatibilizar as ciências sociais com
os critérios de cientificidade das ciências naturais, em função da: (1) inexistência de teorias
explicativas que permitissem às ciências sociais formularem abstrações passíveis de serem
metodologicamente controladas e adequadamente comprovadas no mundo real; (2)
impossibilidade de estabelecer previsões confiáveis em função da variabilidade do
comportamento humano; (3) dificuldade de captar a subjetividade dos fenômenos sociais pela
ótica da objetividade do comportamento; e (4) impossibilidade do cientista social se libertar
dos valores que informam sua própria prática.
Se estabelece uma fronteira
“entre o estudo do ser humano e o estudo da natureza [que] não deixa de ser
prisioneira do reconhecimento da prioridade cognitiva das ciências naturais, pois,
7 In CAPRA & STEINDL-RAST (1994: 98). 8 In CAPRA (1996: 24).
39
se de um lado, se recusam os condicionantes biológicos do comportamento
humano, pelo outro usam-se argumentos biológicos para fixar a especificidade
do ser humano.” (SANTOS 1995: 23)
Esta fronteira favoreceu o surgimento de uma “crise” ou “revolução científica” em direção a
um novo paradigma científico – “conjunto de realizações científicas universalmente
reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma
comunidade de praticantes de uma ciência” (KUHN 1991: 13) que, ao mudar, produz
transformações revolucionárias na evolução científica. Diversos pensadores – Fritjof CAPRA,
Boaventura SANTOS, Edgar MORIN, Hazel HENDERSON, Ilya PRIGOGINE, Humberto
MATURANA e Francisco VARELA, entre outros – acreditam que a impressão de crise está
relacionada à inadequação do sistema de crenças e da visão de mundo do paradigma da
racionalidade científica, da visão mecânica e inorgânica da ciência, que levou a uma
especialização e a uma fragmentação progressiva do conhecimento. Crenças que consideram a
vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, que preconizam o progresso
material ilimitado a ser obtido por intermédio de crescimento econômico, acentuando a
ênfase na tecnologia e nos métodos de produção industriais.
Contrariando esta tendência, estes autores acreditam que a visão de mundo
da racionalidade científica é inadequada para lidar com um mundo
superpovoado e globalmente interligado, e que o homem precisa deixar de
encarar a Terra e o ambiente construído como um “mundo morto” e
fragmentado a ser explorado e manipulado.
A crise profunda e irreversível do modelo da racionalidade científica da ciência moderna está
associada a quatro “rombos” ou condições teóricas (SANTOS 1995a): (1) se inicia quando
EINSTEIN demonstra as limitações da mecânica de NEWTON e da crença numa simultaneidade
universal onde o tempo e o espaço são absolutos; (2) prossegue quando HEISENBERG e BOHR
demonstram a impossibilidade de evitar a interferência do observador em qualquer
observação ou medição e que existem diversos sistemas de referência e dão corpo à idéia de
que “não conhecemos do real senão a nossa intervenção nele” (HEISENBERG); (3) a seguir,
GÖDEL questiona o próprio rigor da matemática, que também se assenta num critério de
subjetividade; e culmina (4) com Ilya PRIGOGINE e sua “Teoria das Estruturas Dissipativas” e o
princípio da “ordem através das flutuações” – os organismos são sistemas que se auto-
organizam a partir de uma ordem estabelecida no interior dos próprios sistemas.
Ironicamente, o avanço do conhecimento científico evidenciou a fragilidade das fundações do
“edifício da ciência” que ele próprio ajudou a construir:
40
“de Galileu a Einstein, de Laplace a Hubble, de Newton a Bohr, perdemos
o trono de segurança que colocava nosso espírito no centro do universo:
aprendemos que somos, nós cidadãos do planeta Terra, os suburbanos de
um Sol periférico, ele próprio exilado no entorno de uma galáxia também
periférica de um universo mil vezes mais misterioso do que se poderia
imaginar há um século.” (MORIN 1996: 24)
CONSIDERANDO OS OBJETIVOS DESTE TRABALHO – ANALISAR O DESEMPENHO DE
UM EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS), A PARTIR DE UMA METODOLOGIA PRÓPRIA,
BASEADA EM NOVOS PARADIGMAS CIENTÍFICOS E NA APLICAÇÃO DE
CONCEITOS SUBJETIVOS –, A SEGUIR SÃO DESTACADOS OS ASPECTOS DA OBRA
DE ALGUNS DOS PENSADORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA FORMULAR A VISÃO DE
MUNDO E DE CIÊNCIA QUE O FUNDAMENTA. ESTES PENSADORES ACREDITAM SER
NECESSÁRIO REAPROXIMAR O CONHECIMENTO CIENTÍFICO DO SENSO COMUM,
TRANSFORMANDO O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO EM “SABEDORIA DE
VIDA.” (SANTOS 1995: 57) AO CONSIDERAREM QUE A CIÊNCIA UTILIZA MÉTODOS
CADA VEZ MAIS SOFISTICADOS DE MANIPULAÇÃO “SOBRE AS COISAS FÍSICAS E
OS SERES VIVOS” (MORIN 1996: 19), DESMASCARAM O ARGUMENTO DA
“NEUTRALIDADE” E DA “VERDADE OBJETIVA”, ESPECIALMENTE NO CONTROLE E
NO USO DAS DESCOBERTAS CIENTÍFICAS9. A POSSIBILIDADE DE MANIPULAÇÃO10
PODE SER ATENUADA PELA DILUIÇÃO DO CONTROLE SOBRE A PROPRIEDADE DO
CONHECIMENTO PROVOCADA PELAS REDES DA “SOCIEDADE DA
INFORMAÇÃO”, UM BELO EXEMPLO DE CONHECIMENTO COMPARTILHADO.
Com base no pressuposto de que os problemas de nossa época são problemas
sistêmicos, interligados e interdependentes, que não podem ser entendidos
9 Segundo MORIN (1996: 108), a ciência ocidental “começou como um processo em que se
manipula para verificar, ou seja, para encontrar o conhecimento verdadeiro, objeto ideal da
ciência. Mas a introdução do circuito manipular <> verificar no universo social provoca, ao
contrário, inversão de finalidade, isto é, cada vez mais verifica-se para manipular”. A
manipulação dos desejos pelo marketing é um bom exemplo desta prática e dos seus efeitos
sobre a sociedade. 10 MORIN (1996: 19-20) afirma que a ciência é “subvencionada, alimentada, controlada pelos poderes econômicos e
estatais ... [que] desempenham seu papel ativo neste circuito de acordo com suas finalidades, seus programas, suas
subvenções ... nem o Estado, nem a indústria, nem o capital são guiados pelo espírito científico: utilizam os poderes
que a investigação científica lhes dá.” SANTOS (1995A: 34) considera que a industrialização global da ciência dos
últimos 50 anos comprometeu-a com os centros de poder econômico, social e político, que “passaram a ter um
papel decisivo na definição das prioridades científicas.”
41
isoladamente, e fundamentado na ecologia profunda11, CAPRA formula sua
proposta de “Paradigma Social”: “uma constelação de concepções, de
valores, de percepções e de práticas compartilhadas por uma comunidade,
que dá forma a uma visão particular da realidade” (CAPRA 1997: 25), e que
serve de base para a forma de organização desta comunidade. Ao introduzir a
concepção de “comunidade” e “rede” ao pensamento sistêmico, substituindo
o termo sistêmico por social12, CAPRA (1997) expande os horizontes do conceito
de sociedade sustentável aplicados no desenvolvimento deste trabalho.
Crítico da ciência moderna – que “faz do cientista um ignorante especializado
e do cidadão comum um ignorante generalizado” (SANTOS 1995a: 55) – e do
conhecimento científico moderno – “um conhecimento desencantado e triste
que transforma a natureza num autômato” (SANTOS 1995a: 32) –, Boaventura
SANTOS afirma que a incerteza do conhecimento é a chave para o
entendimento de um mundo a ser contemplado. Sua proposta de “Paradigma
Emergente ou Social” – que, além de científico [“paradigma de um
conhecimento prudente”] deve ser também social [“paradigma de uma vida
decente”] – fundamenta-se na ciência pós-moderna, que abriga uma
configuração multidimensional de estilos onde nenhuma forma de
conhecimento é, em si mesma, racional: só a configuração de todas elas é
racional. SANTOS apresenta importantes contribuições para o processo de
avaliação do desempenho do ambiente construído, especialmente no
desenvolvimento de instrumentos e técnicas de observação participante: (1)
recoloca o pesquisador como sujeito da aventura do conhecimento, ao
reconhecer o “caráter autobiográfico” e “auto-referenciável” da ciência,
construído através da imaginação pessoal e dos critérios estabelecidos pelo
próprio cientista13; (2) insinua os efeitos da globalização na ciência, ao
11 Disciplina alicerçada em valores ecocêntricos (centralizados na Terra), “que reconhece o valor
inerente da vida não-humana”, em lugar do sistema de valores antropocêntricos (centralizados
no homem) do velho paradigma. 12 CAPRA trabalha com dois conceitos importantes: (1) comunidade [ecológica] – “conjunto
(assemblage) de organismos aglutinados num todo funcional por meio de relações mútuas” ...
[possibilita aplicar] os mesmos tipos de concepções a diferentes níveis de sistemas” (CAPRA 1997:
44); (2) sistemas vivos como rede – “desde que os sistemas vivos são redes, devemos visualizar a
teia da vida como sistemas vivos (redes) interagindo em rede com outros sistemas (redes)”
(CAPRA 1997: 44). 13 A condição de sujeito justifica a personalização do texto científico – o “uso do eu, do você e
até mesmo do nós” (FEITOSA 1991: 52) – com o objetivo de evitar as ambigüidades do texto
impessoal que “parecem isentar o autor da responsabilidade pelo que expõe.” (FEITOSA 1991: 52)
42
considerar que a investigação capital-intensiva aumenta a defasagem
científica e tecnológica dos países periféricos em relação aos centrais; (3)
reforça a importância do conhecimento pelo ponto de semelhança, em geral
impreciso e subjetivo, e reconhece a emergente intangibilidade da natureza;
(4) reforça a importância do contexto e do pensamento sistêmico, ao afirmar
que todo o conhecimento é local e total, numa relação de duplo sentido que
extrapola seu espaço de origem, e que o conhecimento avança na razão da
ampliação do seu objeto; (5) valoriza a pluralidade metodológica transgressora
e trabalha com as condições de possibilidade da ação humana projetada no
mundo a partir de um espaço-tempo local [o conhecimento pós moderno não
é “determinístico nem descritivista”]; (6) resgata a interação dialética
sujeito/objeto ao reconhecer que o ato e o produto do conhecimento são
inseparáveis; (7) reconhece que nenhuma forma de conhecimento é, em si
mesma, racional [a racionalidade acontece no seu conjunto]; (8) resgata a
importância do diálogo com o senso comum [todo o conhecimento científico
visa constituir-se em senso comum].
Edgar MORIN, crítico do paradigma da racionalidade14 da “palavra-resposta”
ou “palavra-solução” – que acredita ser possível construir “uma visão coerente,
totalizante do universo, a partir de dados parciais, de uma visão parcial, ou de
um princípio único” (MORIN 1996: 157)15 – e da ambivalência da “ciência
elucidativa, enriquecedora, conquistadora e triunfante”, propõe a ciência da
complexidade (MORIN 1998): “uma fraqueza do pensamento”, uma busca de
resposta à incapacidade de explicar: uma “palavra-pergunta”, ou “palavra-
problema”. Contra as limitações impostas pela separação e
compartimentação dos conhecimentos procura um saber integrado no
contexto e no conjunto global de que faz parte, “tecido em conjunto e reúne
os saberes separados” (MORIN 1998). Outras duas importantes observações de
MORIN relacionadas com a produção do ambiente construído, são: (1)
14 Segundo MORIN (1996: 157), “a racionalidade é o estabelecimento de adequação entre uma
coerência lógica (descritiva, explicativa) e uma realidade empírica” enquanto “o racionalismo
é (1°) uma visão do mundo afirmando a concordância perfeita entre o racional (coerência) e a
realidade do universo; exclui, portanto, do real o irracional e o arracional; (2°) uma ética
afirmando que as ações e as sociedades humanas podem e devem ser racionais em seu princípio,
sua conduta, sua finalidade.” 15 Este argumento coincide com a opinião de PRIGOGINE & STENGERS (1992: 20): “uma ‘visão
científica de mundo’ é por definição fechada, cheia de certezas, privilegiando as respostas em
detrimento das perguntas que as suscitaram.”
43
enquanto grande contingente de cientistas atua no sentido de promover ou de
preservar a vida, outro atua no sentido de destruí-la, colocando em risco a
própria sobrevivência das futuras gerações; (2) o saber, em sua crescente
“tendência para o anonimato”, pode deixar de ser pensado e discutido por
seres humanos, para ser destinado à acumulação em bancos de dados
facilmente manipuláveis, favorecendo o surgimento de
“um neo-obscurantismo generalizado, produzido pelo mesmo movimento
das especializações, no qual o próprio especialista torna-se ignorante de
tudo aquilo que não concerne a sua disciplina e o não-especialista
renuncia prematuramente a toda possibilidade de refletir sobre o mundo,
a vida, a sociedade, deixando esse cuidado aos cientistas, que não tem
tempo, nem meios conceituais para tanto. Situação paradoxal, em que o
desenvolvimento do conhecimento instaura a resignação à ignorância e
o da ciência significa o crescimento da inconsciência.” (MORIN 1996: 17)
Ilya PRIGOGINE e Isabelle STENGERS sugerem uma “nova racionalidade que não mais identifica
ciência e certeza, probabilidade e ignorância” (1997: 14-15); uma “nova aliança” do homem
com a natureza que ele descreve, que busque compartilhar uma visão da ciência, em lugar de
uma visão de ciência, e que [a exemplo da arte e da filosofia] se transforma em uma
experimentação “criadora de questões e de significações”]. Seu pensamento contribui para
superar as visões racionalista e homocêntrica ainda dominantes nas práticas acadêmicas – e na
avaliação do desempenho do ambiente construído – e servem de incentivo para a construção
de novos processos e instrumentos de análise que reconheçam a subjetividade inerente a
qualquer processo de avaliação. Por suas implicações nos processos de avaliação participante,
destaco os seguintes aspectos do pensamento de PRIGOGINE & STENGERS (in SANTOS 1995a):
(1) a história em lugar da eternidade; (2) a imprevisibilidade em lugar do determinismo; (3) a
espontaneidade e a auto-organização em lugar do mecanicismo; (4) a desordem em lugar da
ordem; (5) a evolução e a irreversibilidade em lugar da reversibilidade; (6) a criatividade e o
acidente em vez da necessidade.
Humberto MATURANA e Francisco VARELA, com a “Teoria de Santiago” – que “considera a
cognição parte integrante do processo de interação de um organismo vivo com seu meio
ambiente. A cognição é uma atividade contínua de criar um mundo por meio do processo de
viver” (CAPRA 1997: 211). Ao afirmarem que “viver é conhecer” [e inclui a percepção, a
emoção e o comportamento], possibilitam que em qualquer observação de edifícios ocupados
44
– que são organizacões sociais (autopoiéticas16) –, se considere as interações recorrentes que
desencadeiam mudanças estruturais no sistema onde: (1) seus usuários se acoplam
estruturalmente entre si, com o edifício e com seu entorno, ao mesmo tempo em que; (2)
permite que o edifício se acople estruturalmente com seu entorno, num processo que passa
por contínuas mudanças estruturais enquanto preserva seu padrão de organização semelhante
a uma teia. A exemplo de PRIGOGINE & STENGERS, a Teoria de Santiago influencia
diretamente o significado das observações participantes e a construção dos critérios para
avaliação do desempenho dos edifícios.
Hazel HENDERSON propõe que se considere a Terra como um sistema vivo, dinâmico e auto-
organizador onde as novas constantes seriam a “mudança” e a “incerteza”, um sistema que
considere os princípios de “redistribuição e reciclagem de todos os elementos, a heterarquia, a
complementaridade, a interconexão e a indeterminação” (HENDERSON 1995: 264). Os riscos
crescentes que nossa tecnologia cria para as gerações futuras, “a cooperação e a resolução
pacífica dos conflitos são agora a condição sine qua non para a nossa sobrevivência.”
(HENDERSON 1995: 265) Seu pensamento é importante para a determinação de novas
estratégias “ecológicas” e “auto-sustentáveis”17 a serem aplicadas na produção do ambiente
construído e nas relações homem X homem e homem X ambiente.
Outras contribuições importantes para este trabalho, pelos desdobramentos
para a análise do ambiente construído enquanto organização social complexa,
foram: a “Abordagem Bootstrap” de Geoffrey CHEW18, a “Totalidade e a
Ordem Implicada” de David BOHM19, e a “Teoria de Gaia” de James LOVELOCK
e Lynn MARGULIS20.
Estes novos horizontes da ciência que possibilitam contemplar o Planeta Terra como uma
organização social auto-sustentável e em permanente mudança confirmam os argumentos de
16 De “autopoiese” – “padrão de rede de organização circular da vida auto-organizador e auto-
referente que identifica a percepção e a cognição com o próprio processo da vida.” (CAPRA
1997: 87) 17 Cf. Lester BROWN, “uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem
diminuir as perspectivas das gerações futuras.” (in CAPRA 1996: 24) 18 Cf. CAPRA (1991), CHEW concebe o universo como “uma teia dinâmica de eventos inter-
relacionados onde nenhuma das partes é fundamental; todas elas seguem-se das propriedades
das outras partes, e a consciência total de suas interrelações mútuas determina a estrutura de
toda a teia.” 19 Cf. WILBER (1994), BOHM concebe o universo como um todo interligado e hierarquicamente
ordenado de forma não linear; matéria e energia, seres vivos e não vivos, mente, corpo e espírito
referem-se, todos eles, a diferentes níveis do mesmo sistema unificado. 20 Cf. LOVELOCK (in CAPRA 1997: 92), considera o cosmos e o Planeta Terra como um “verdadeiro
sistema, abrangendo toda a vida e todo o seu meio ambiente, estreitamente acoplados de modo
a formar uma entidade auto-reguladora.”
45
CAPRA (1996): (1) de que a humanidade vive uma crise de percepção que a impede de
enxergar que o universo do qual somos parte está em evolução; e (2) que a humanidade nunca
viveu período tão rico e criativo, caracterizado pela ruptura das fronteiras do conhecimento,
que muda em um movimento de velocidade acelerada.
Na seção seguinte procuro retratar uma experiência cognitiva de criar um
mundo por meio do processo de viver (“viver é conhecer”). Admitindo a
influência do olhar compreensivo do sujeito da criação científica – que é
autobiográfica, auto-referencial e não é neutra –, o texto assume uma postura
mais contemplativa, socializadora e subjetiva de um conhecimento científico
que procura responder à questão formulada por Stanislav GROF: “devemos ser
capazes ... de combinar informações provenientes dos estados internos com os
conhecimentos adquiridos graças à ciência objetiva e à tecnologia numa visão
totalmente nova da realidade?” (in CAPRA 1991: 118)
Stanislav GROF um saber prático, possibilitando a união dialética entre dois
sujeitos, tanto na relação “observador-objeto de estudo” como na relação
“autor-leitor”.
46
1.2 Caráter Autobiográfico e Auto-referenciável da Ciência
“A razão por que privilegiamos hoje uma forma de conhecimento assente na previsão e
no controle dos fenômenos nada tem de científico. É um juízo de valor. A explicação
científica dos fenômenos é a auto-justificação da ciência enquanto fenômeno central
da nossa contemporaneidade. A ciência é, assim, autobiográfica.”
Boaventura SANTOS (1995a: 52)
“O observador é, pois, como sistema vivo, como realidade cerebral e
neuronal, uma unidade de interações com o contexto em que sempre
se encontra: o que ele é implica uma circularidade inextricável com o
percebido.”
Francisco VARELA (1992: 7)
“Não conhecemos do real senão a nossa intervenção nele.”
Werner HEISENBERG 21
A possibilidade de transformar o observador em sujeito do conhecimento é uma atividade
contínua, fascinante e complexa. Contínua porque cria um mundo no próprio processo de viver
– “viver é conhecer” (MATURANA & VARELA). Fascinante por introduzir o EU na aventura do
conhecimento. Complexa, porque obriga o observador-sujeito a compartilhar [ou tecer em
conjunto] uma experimentação “criadora de questões e de significações“ (PRIGOGINE &
STENGERS 1992: 20); e, em conseqüência disto, a retratar, ou seja, comunicar, em linguagem
escrita, uma experiência viva de diálogo com o leitor que desperte sua sensibilidade, sua
percepção, sua emoção, estimulando-o a “colorir”, “sonorizar”, “saborear”, “cheirar”,
“dialogar”, “interagir” com o texto-autor22.
Diante da impossibilidade de evitar a interferência do observador-sujeito em sua relação com
o [organismo] ambiente construído, e entendendo que, neste novo contexto de ciência, é
necessário que o autor forneça indícios da sua visão de mundo – ou “sabedoria de vida”
(SANTOS 1995a: 57) –, nesta seção procuro compartilhar uma leitura pessoal da Praia de
Botafogo, recinto urbano que abriga diversos edifícios de escritórios. Para tanto, procuro
integrar em um único texto as visões de morador/cidadão, de arquiteto, de mestre em
conforto ambiental e de pesquisador em APO [Avaliação Pós-Ocupação] (RHEINGANTZ 1995a,
1995b; COSENZA et al 1996, 1997; DEL RIO et al 1998; DEL RIO & SANOFF 1999).
21 In SANTOS (1995a: 26). 22 Cf. FEITOSA (1991: 15-16), a comunicação eficiente [mensagem] demanda que o autor [emissor] atente para os
interesses do leitor [receptor], e deve estar livre de ruído [“qualquer elemento que atrapalhe ou impeça o bom
andamento do processo comunicativo”].
47
A escolha do sítio deveu-se a diferentes fatores:
(1) Sou parte integrante de sua organização social, uma vez que meu apartamento situa-se na
Praia de Botafogo e de sua janela, é possível contemplar toda a enseada (Fig. 2). Além da vista,
as caminhadas diárias no calçadão da avenida Beira-mar, ou mesmo na Praia de Botafogo,
contribuíram para uma experiência “criadora de questões e significações“ (PRIGOGINE &
STENGERS) que desencadeou “mudanças estruturais” (MATURANA & VARELA) no modo como
percebo o sítio. Minha cidadania sistêmica – identidade comum – é fruto do processo de
interação com o contexto da organização social local.
(2) Sua paisagem natural contém os principais elementos característicos da cidade do Rio de
Janeiro – presença do mar, da montanha e da praia; de baixios alagadiços [hoje aterrados] e
vegetação [resquícios da Mata Atlântica].
(3) A intervenção humana na paisagem contém diversas características do processo de
urbanização do Rio de Janeiro – praia e ar poluídos, morro devastado/modificado por túneis,
viadutos e cortes; aterro de lagoa, de áreas alagadiças e de praias; freqüência de
engarrafamentos, alagamentos e proximidade do metrô; seu cenário é marcado pela
variedade de edifícios que destoam entre si por sua variedade de cores, volumetria, gabarito,
partido de implantação, por sua aparência inusitada ou pelo seu uso.” (Fig. 2).
(4) A diversidade de usos que abriga: habitação de luxo, de classe média e popular; shopping-
center, edifícios de escritórios/corporativos, bancos, hospital, cinemas, igreja, bares e
restaurantes, escolas, universidade, parques, além da proximidade com favela.
(5) A diversidade de grupos humanos que habitam ou freqüentam o local, quer como
moradores, trabalhadores, usuários ou passageiros: convívio do “luxo” com o “lixo”
[moradores de rua e de alguns edifícios “pouco recomendáveis”]; presença de idosos e
crianças; ocorrência de assaltos e roubos de automóveis.
(6) Seu poder de atração, evidenciado pela presença de alguns dos mais modernos edifícios de
escritórios abrigando importantes organizações – Fundação Getúlio Vargas, Intelig, Coca-Cola,
Telemar, Telefônica, IBM, etc.
Os quatro primeiros fatores estão relacionados com o olhar profissional de um arquiteto
interessado em compreender as conseqüências materiais da intervenção humana no
ambiente. Os dois últimos fatores estão relacionados com a possibilidade de aproveitar a
experiência acumulada, especialmente nas observações participantes e nas análises
48
walkthrough23 desenvolvidas nas APOs produzidas pela COPPE e pelo PROARQ: a possibilidade
de desenvolver um instrumento que possibilite conhecer e ponderar os valores e os
significados da interação entre os diversos grupos envolvidos com a produção, o consumo e o
uso do ambiente construído e a Praia de Botafogo.
O processo de ocupação da Praia de Botafogo e o acúmulo de objetos “ávidos por atenção”,
produzidos para atender aos interesses de seus proprietários e projetistas, reflete o descaso
com a paisagem natural e evidencia o modo como a lógica implacável e
abstrata do paradigma da racionalidade promove a destruição da beleza da paisagem e do
meio ambiente. Este processo característico da expansão da cidade, pode ser observado
através do confronto da situação atual com o relato da alemã Ina von BINZEN (1882):
23 Método de análise que possibilita a identificação descritiva e significante de falhas, problemas
e aspectos positivos do edifício; um dos métodos mais utilizados em APOs, “consiste em
simplesmente percorrer todo o edifício, preferencialmente munido de plantas e/ou
acompanhado do autor do projeto ou de usuários, formulando perguntas com o objetivo de se
familiarizar com o edifício e com sua construção ... é um bom método para descobrir as
diferenças entre como foi construído e como ele foi projetado” (BECHTEL 1997: 313) [tradução do
autor], e como é mantido e utilizado. Para tanto, se vale de diversas técnicas de registro – mapas
comportamentais, fitas de áudio e de vídeo, fotografia, desenhos, diários, fichas, etc. A primeira
referência ao termo é atribuída a PREISER & PUGH in Senior Centers: A Process Description of
Literature Evaluation, Walkthrough Post-occupancy Evaluations, A Generic Program and Design
for the City of Albuquerque (1986).
49
“Botafogo é adorável com suas
vivendas dispostas como uma
grinalda em tomo da praia de
mesmo nome, seus jardins
dominados ao fundo pelo
imponente Corcovado e na frente
pelo curioso Pão de Açúcar,
dentro da enseada. A
magnificência das flores neste
bairro, onde só mora gente rica e
distinta, é fascinantemente
admirável! As mais viçosas
trepadeiras, de um verde intenso,
cobrem os muros mostrando
grandes e deslumbrantes flores
Figura 3 – Vista da Enseada de
Botafogo no Início do Século
XIX
Fonte: RUGENDAS (1989: Pl.11)
Figura 4 – Vista da Enseada de
Botafogo em 1893
Fonte: FERREZ (1989: 108-109)
Figura 5 – Vista da Enseada de
Botafogo em 1905
Fonte: FERREZ (1989: 202-203)
ou do confronto entre imagens colhidas em
diferentes períodos: (1) no início do século XIX,
povoada de chácaras de uso residencial (Fig. 3);
(2) no final do século XIX, servida de transporte
por barcas a vapor e por bondes, quando já
apresenta os primeiros lotes urbanos (Fig. 4);
(3) no início do século XX , quando iniciam-se as
obras de aterro da praia e a perfuração do túnel
do Pasmado (Fig. 5); e (4) situação a atual,
desfigurada por edifícios cuja concepção
despreza o contexto e a geografia do sítio (Fig.
2).
Apesar de sua configuração ter condicionado
seu traçado inicial, hoje é possível observar pelo
menos dois dos princípios de
50
vermelho-escuras, roxas, amarelas,
brancas...” (BINZEN 1994: 75);
ordenamento identificados por BEGUIN (1991):
(a) Limites naturais foram substituídos pelos limites técnicos, econômicos e políticos – a função
de passagem do bairro justifica os aterros de alagadiços (Fig. 6), as obras viárias (corte de
morro, abertura de túnel, construção de viadutos), perfuração da linha 1 do metrô e a
construção, em área pública de preservação ambiental [postos de gasolina, restaurantes,
clubes e edifício de escritórios]. (b) Densidade histórica da cidade dissolve-se em benefício
da banalização do urbano – verticalização e densificação imobiliária, mantendo o
parcelamento do solo; liberação da taxa de ocupação
[Shopping Praia de Botafogo] e do gabarito [edifícios Fundação Getúlio Vargas, Casa Alta,
Apollo, Argentina, CAEMI, Coca-Cola/Intelig]; permissão para construir edifício praticamente
desprovido de janelas [Telemar].
Para Sérgio SANTOS (1981: 214), a área evidencia que o “poder público não tem senão
corroborado tendências ‘espontâneas’, implementando serviços e infra-estrutura urbana e
mesmo regulamentando, onde a iniciativa privada já ‘criou o fato.” O autor explicita a lógica do
processo de desenvolvimento da cidade: (1) dependência das soluções técnicas em relação às
condições e interesses políticos dos grupos que comandam a Administração Pública que
dificulta e/ou impede sua implementação; (2) ação regulamentadora do Poder Público apenas
corrobora a ação da iniciativa privada, principal elemento criador de tendências de
transformação do espaço urbano. Neste sentido, Botafogo “mostra os efeitos dessa ação
Convenções
Figura 6 – Áreas Conquistadas ao mar, às lagoas
e alagadiços
Fonte: BARREIROS (1965: 27)
51
conjugada, ao refletir em seu espaço os efeitos transformadores impostos por sua recriada
função de passagem” (SANTOS 1981: 214).
Quanto ao processo de atração das grandes empresas verificado a partir da década de 70, é
possível afirmar que está diretamente relacionado com a saturação e valorização da área
central da cidade. A velocidade do processo de transformação de Botafogo em um “centro
especializado de serviços ... [revela a] forma predatória e imediatista com que se consolida e
expande o espaço conquistado pela cidade” (SANTOS 1981: 216). As marcas desta urbanização
fragmentada podem ser atribuídas à adequação da “racionalidade científica” (“saber técnico”)
aos interesses econômicos dos “donos da cidade” (NIEMEYER 1980: 36) e à lógica da “mão
invisível” do mercado, sempre com o beneplácito do Estado.
A prevalência da concepção do edifício como obra isolada de arquitetura em detrimento de
seu relacionamento com o contexto (CULLEN 1983) pode ser comparada com a existente entre
o monolito do filme 2001 Uma Odisséia no Espaço e os macacos que o observam: sua melhor
expressão, a metáfora dos “transatlânticos ancorados nas calçadas das metrópoles” (MUSA in
CAMARGO 1989: 84), ilustra o processo de internacionalização e globalização característico da
produção dos novos edifícios de escritórios e suas diferentes concepções:
A primeira concepção é representada pelo edifício da Fundação Getúlio Vargas (1955) –
exemplar único da proposta de Oscar NIEMEYER, que previa a construção de “edifícios
semelhantes paralelos, eqüidistantes e com a mesma altura, visando à preservação da silhueta
das montanhas ao fundo e da paisagem natural circundante” (XAVIER et al 1991: 97) –, que
apresenta os seguintes equívocos: (1) embasamento e lâmina do edifício “opacos”,
desprovidos de “olhos”24 para a via, rompendo a tradicional relação edifício-pedestre; (2)
desobediência ao limite de pavimentos recomendado por NIEMEYER para os edíficios da orla –
“a primeira [medida] seria intervir na densidade demográfica, fixando para toda a cidade –
excluída a Barra da Tijuca – o gabarito máximo de 4 pavimentos”. (NIEMEYER 1980: 49) – para
preservar a paisagem natural circundante (Fig. 7);
24 Referência à metáfora utilizada por Jane JACOBS em Morte e Vida das Grandes Cidades (1960). Figura 7 – Gabarito de 15 pavimentos na Enseada de
Botafogo
Fonte: NIEMEYER (1980: 41)
52
“O desprezo pela natureza foi tão grande que nem as montanhas escaparam e a linha barroca e
magnífica que as ligava ficou perdida entre os prédios próximos delas construídos. E os passeios,
os pontos pitorescos, os panoramas esplêndidos que ofereciam, fracionaram-se entre os altos
edifícios que o Carlos Lacerda, num dia de confraternização imobiliária, resolveu aprovar” (1980:
38-40);
(3) desprezo ao clima, ao propor duas cortinas de vidro orientadas para leste e
para oeste, condenando os usuários do edifício ao eterno desconforto
provocado pelo efeito estufa.
A segunda concepção é representada pela transposição mimética do estilo internacional e seus
edifícios-máquina de trabalhar. Estes edifícios-monolitos são localizados, concebidos e
ocupados segundo uma lógica de exploração predatória das condições locais e de exclusão das
relações sociais que ocorrem em seu entorno: os “transatlânticos na calçada” escolhem o
“porto” mais conveniente para que seu seleto grupo de “passageiros” possa usufruir, sem
preocupar-se com o impacto ambiental.
A terceira concepção é representada pelo casuísmo com que as autoridades públicas tratam
sua cidade e pelo tipo de interesses a que ela tem servido: ao privatizar áreas públicas e de
preservação ambiental25, confirma-se a função corrobaradora do Estado em relação aos
interesses da iniciativa privada apontada por Sérgio SANTOS (1981).
Os pressupostos e paradigmas que fundamentam a produção desses edifícios – o desprezo
pela vida local, pelos seus moradores e seu direito de usufruírem a paisagem – são
explicitados por MORIN (1996: 162) –
“a industrialização, a urbanização, a burocratização, a tecnologização se efetuaram segundo as
regras e os princípios da racionalização, ou seja, a manipulação social, a manipulação dos
indivíduos tratados como coisas em proveito dos princípios de ordem, de economia, de eficácia”
25 Os exemplos mais evidentes são: Iate Clube, Piscina do Botafogo, Sede do Clube Guanabara, restaurante Sol e
Mar e Centro Empresarial Mourisco, cuja concessão do direito de construção, em troca da preservação do Pavilhão
Mourisco do Botafogo Futebol e Regatas – a exemplo do tombamento do edifício do Canecão – merece um capítulo
à parte no livro negro da história recente da cidade.
53
– e ilustrados através de trechos de material publicado em jornais e em revistas
especializadas (ANEXO 01-A).
Modificar esta visão e esta prática fragmentada não é uma tarefa simples, uma
vez que o sucesso comercial e o reconhecimento popular destes edifícios
sugerem que o problema não deve ser analisado exclusivamente quanto aos
interesses de determinados grupos sociais, econômicos ou categorias
profissionais. Não se trata de uma questão de natureza tecnológica ou de
capacidade técnica, mas uma questão de natureza cultural que está cada vez
mais sedimentada [com sutis variações] tanto no saber técnico, quanto no
gosto de proprietários, ocupantes e cidadãos: na verdade, é uma clara
manifestação do “desejo mimético” – termo utilizado por Celso FURTADO para
explicitar a ilusão de “uma modernidade que nos condena a um mimetismo
cultural esterilizante ... [e a] ... obsessão de reproduzir o perfil daqueles que se
auto-intitulam desenvolvidos.” (in SUNG s/d: 52) – das sociedades capitalistas
criado pelo próprio mercado, e que se torna ele próprio o “critério para desejos
aceitáveis ou não.” (SUNG s/d: 55)
Passadas três décadas de explicitação dos equívocos – em decorrência da
defasagem cultural inerente a todos os períodos de ruptura de valores e
paradigmas (DE MASI 1999a, CASTELLS 1999a) – ainda persistem as idéias que
justificam estes monumentos da irracionalidade: basicamente os investidores
escolhem os edifícios, por sua aparência, pela sua localização [e facilidade de
acesso], pelo seu custo inicial e pela tecnologia embarcada [sistemas
eletrônicos de supervisão e controle nem sempre operacionais]; os produtores
não medem seus gastos com a singularidade da aparência e com a novidade
tecnológica; pouca importância é dada, por ambos, aos custos operacionais,
ao desperdício de energia, à operacionalidade e eficiência dos sistemas
prediais; nenhuma importância é dada, por ambos, à adequação climática do
envelope, cuja aparência “reflete” o “desejo mimético” que transforma seus
proprietários e ocupantes em “personagens de um mundo fantasma ... uma
espécie de terceiro mundo, entre o país real em que ... vivem e a comunidade
internacional onde imaginam viver” (Jurandir Freire COSTA in NASCIMENTO 1997:
73).
A arquitetura da racionalidade afasta-se cada vez mais de sua razão ética –
facilitar e tornar mais confortável a vida do homem sobre a terra – para servir
54
aos interesses do capital imobiliário, ao ego de seus autores e ao “desejo
mimético” de seus proprietários e ocupantes. A razão “técnica” que move sua
prática passa a propor e a resolver “desafios”26 cujas conseqüências são, em
geral, repartidas entre poder público, contribuintes e ocupantes – condenando
estes últimos à dependência de dispendiosos equipamentos para garantir seu
conforto e bem-estar.
Outras condições que contribuem para a perpetuação dos equívocos, são: (a)
a quase inexistência de crítica de arquitetura associada à presença da
“louvação” (RHEINGANTZ 1995) e da manipulação do marketing nas matérias
que garantem a difícil sobrevivência da imprensa especializada nacional; (b) a
prática ingênua e “neutra” da maioria dos pesquisadores que, alheios às
modernas estratégias de comunicação, distanciam-se das necessidades e
expectativas dos profissionais de projeto, dos construtores e dos cidadãos. Suas
descobertas são divulgadas em linguagem incompreensível para o público e,
em geral, ficam restritas ao reconhecimento de uns poucos “iniciados”.
Para reverter esta tendência, é imprescindível substituir o paradigma da
racionalidade que a fundamenta pelo paradigma social (CAPRA 1997; SANTOS
1995a) e pelo pensamento complexo (MORIN 1996); é indispensável que se
procure convencer a todos os envolvidos com a produção e com o consumo
do ambiente construído da necessidade de se começar a olhar o mundo [e o
ambiente construído] com outros olhos; é necessário modificar a relação
autoritária e desigual que caracteriza o processo de urbanização; é preciso
substituir a prática da exploração capital-intensiva e seu “condicionamento
implacável que destrói a beleza do meio ambiente em função da expansão de
uma economia que manipula o ‘saber técnico’ e sua racionalidade
compartimentalizada.” (SCHUMACKER in CAPRA 1991: 170)
Estará a humanidade “civilizada” inexoravelmente condenada a viver em um
hábitat despersonalizado, desconfortável, cujo cenário se aproxima da sombria
Los Angeles do filme Blade Runner ou de “um mundo simulacional que aboliu a
distinção entre o real e o imaginário: uma alucinação estetizada e superficial
26 Em Mais um moderninho: Rio Branco ganha novo prédio “inteligente” (in Veja Rio, 9/09/1992:
19), o autor do projeto do Edifício Manhattan Tower declara: “nunca fizeram um prédio tão alto
num terreno tão pequeno, de apenas 726 metros quadrados.”
55
da realidade” (FEATHERSTONE 1995), a exemplo do que ocorre na excludente
“Barralândia”?
Acredito que somente a aceitação do paradigma social e do pensamento complexo e o
questionamento sistemático da validade das conquistas da ciência e do avanço da tecnologia –
que leva as pessoas a se afastarem de suas tradições culturais e a produzirem as manifestações
mais degradadas da arquitetura e da cidade – poderá livrar a humanidade desta dura pena.
Por esta razão, nas seções seguintes são analisadas as possibilidades da aplicação do
pensamento sistêmico [social] e complexo na produção de um ambiente construído entendido
como uma organização social complexa.
56
1.3 Pensamento Complexo (Social):
A teoria geral dos sistemas é uma ciência geral de “totalidade”, o que
até agora era considerado uma concepção vaga, nebulosa e
semimetafísica. Em forma elaborada, ela seria uma disciplina
matemática puramente formal em si mesma, mas aplicável às várias
ciências empíricas. Para as ciências preocupadas com “totalidades
organizadas”, teria importância semelhante àquela que a teoria das
probabilidades tem para as ciências que lidam com “eventos aleatórios”
Ludwig von BERTALANFFY 27
Uma nova racionalidade deixa-se entrever. A antiga racionalidade procurava apenas
pescar a ordem na natureza. Pescavam-se não os peixes, mas as espinhas. A nova
racionalidade, permitindo conceber a organização e a existência, permitiria ver os
peixes e também o mar, ou seja, também o que não pode ser pescado.
Edgar MORIN (1996: 275)
O reconhecimento crescente dos processos participativos possibilita o surgimento de uma
nova racionalidade, complexa (social), que reconhece e utiliza de forma criativa e integrada os
vários modos de conhecimento, inclusive o tecnológico, confere um sentido transformador à
interação homem/mundo. A transformação do desenvolvimento tecnológico em “sabedoria de
vida” (SANTOS 1995) possibilita a compreensão de significados que escapam ao olhar
“técnico” e “neutro” dos observadores (RHEINGANTZ 1995).
O pensamento complexo (social) deriva do pensamento sistêmico e surge em
contraposição ao pensamento mecanicista, a partir da “concepção dos
organismos como totalidades integradas”: enquanto o pensamento
mecanicista é analítico, e busca a explicação no estudo das partes ou
elementos de base, o pensamento social (sistêmico) é contextual, e busca a
explicação no estudo da totalidade.28
27 In General System of Open Systems in Phisics and Biology, 1968 (Cf. CAPRA 1996: 53). 28 Cf. CAPRA (1997: 40-41), “as propriedades essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são
propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das interações e das relações
entre as partes. Essas propriedades são destruídas quando o sistema é dissecado, física ou
teoricamente, em elementos isolados. Embora possamos discernir partes individuais em qualquer
sistema, essas partes não são isoladas, e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma
57
Em contraposição à metáfora inorgânica do “edifício do conhecimento” do
pensamento mecanicista e a objetividade de suas descrições [que são
independentes do observador e do processo de conhecimento], surge a
metáfora orgânica da “rede do conhecimento”, que inclui necessariamente a
compreensão do processo de conhecimento na descrição dos fenômenos
naturais. “Quando percebemos a realidade como uma rede de relações,
nossas descrições também formam uma rede interconectada de concepções
e de modelos, na qual não há fundamentos”. (CAPRA 1997: 48) O entendimento
da realidade como uma rede de relações inviabiliza a “objetividade da
explicação”, uma vez que a explicação de qualquer fenômeno demanda algo
humanamente impossível: o entendimento da totalidade.
O pensamento sistêmico clássico opera com três elementos interdependentes:
(1) Padrão [de organização] – configuração de relações entre os componentes
que determinam as características essenciais de um sistema.29 (2) Estrutura –
incorporação física do padrão de organização do sistema que “envolve a
descrição dos componentes físicos efetivos do sistema – suas formas,
composições químicas, e assim por diante”. (CAPRA 1997: 134) 30. (3) Processo
[da vida] – “é a atividade envolvida no padrão de organização do sistema ... é
a ligação entre padrão e estrutura” (CAPRA 1997: 134).31 O padrão de
de suas partes. ... As propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser
entendidas dentro do contexto do todo mais amplo. ... O pensamento sistêmico concentra-se
não em blocos de construção básicos, mas em princípios de organização básicos.”
29 No caso de um edifício, devem haver várias relações funcionais entre os componentes,
conhecidos como esqueleto sustentante, vedações horizontais e verticais, sistema de transporte
vertical, sistemas prediais, equipamentos, blocos funcionais e assim por diante. A configuração
completa dessas relações funcionais constitui o padrão de organização edifício “X”. Todas essas
relações devem estar presentes para dar ao sistema as características essenciais de um edifício.
30 A estrutura de um edifício é a incorporação física de seu padrão de organização em termos de
componentes de formas específicas, feitos de materiais específicos; a descrição da estrutura
envolve a descrição dos componentes físicos efetivos do sistema. O mesmo padrão “edifício”
pode ser incorporado em muitas estruturas diferentes – o esqueleto estrutural pode ser modelado
para um esqueleto sustentante ou para paredes autoportantes; as vedações verticais podem ser
em paredes cortina (curtain wall) ou em alvenaria; as divisões internas podem ser em alvenaria,
em painéis móveis, ou em sistema “aberto” – e essas combinações serão facilmente reconhecidas
como diferentes materializações do mesmo padrão de relações que define um edifício. 31 No caso de um edifício não habitado, o padrão de organização é representado pelos desenhos
dos projetos utilizados na sua construção, a estrutura é um edifício específico e a ligação entre
padrão e estrutura está na mente do projetista. No caso de um sistema vivo, “o padrão de
organização está sempre incorporado na estrutura do organismo, e a ligação entre padrão e
estrutura reside no processo da incorporação contínua” (CAPRA 1997: 135).
58
organização só pode ser reconhecido se estiver incorporado a uma estrutura
física que, nos sistemas vivos, é um processo em andamento.
O pensamento complexo surge com a afirmação de que sistema “é uma palavra-raiz para a
complexidade” (MORIN 1996: 274). O movimento de retroatividade inerente à relação entre
todo e partes, sugere a “introdução da complexidade no nível paradigmático” (MORIN 1996:
260), e propõe que se considere o sistema não apenas como unidade global, mas como “unitas
multiplex” – “conceito não-totalitário e não-hierárquico do todo, aberto às politotalidades.”
(MORIN 1996: 264) Este processo recorrente32 gera um circuito do tipo [uno diverso] onde
a tendência de homogeneização do “pensamento unificador”, com a perda de diversidade e de
perda de identidade do “pensamento diferenciador”, demandam um esforço para “dosar” ou
“equilibrar” esses dois processos de explicação integrando-os num circuito ativo onde a
diversidade organiza a unidade que organiza a diversidade ...
O pensamento complexo trata com três faces indissociáveis (MORIN 1996: 264):
(1) Sistema – exprime a unidade complexa e o caráter fenomenal do todo, assim
como o complexo das relações entre o todo e as partes. (2) Interação – exprime
o conjunto das relações todo-partes que se efetuam e se tecem nos [e entre]
sistemas constituídos “não de ‘partes’ ou ‘constituintes’, mas de ações entre
unidades complexas, que são constituídas de interações. (3) Organização –
conceito que dá coerência construtiva às interacões, que forma, mantém,
regula, regenera-se e à idéia de sistema; o conjunto das interações constitui a
organização do sistema.
Para o estudo dos sistemas vivos, MORIN prefere o conceito de organização –
organizar a ação – ao de estrutura, “um conceito atrofiado, que remete mais à
idéia de ordem (regras de invariância) do que à de organização” (MORIN 1996:
265). E nos sistemas vivos, a “organização cria ordem, mas também cria
desordem.” Sua concepção de sistema complexo é um conceito com duas
entradas indissociáveis: “físico pelos pés e psíquico pela cabeça” MORIN (1996:
269). Desta indissociabilidade do caráter psico-físico resulta uma relação
complexa sujeito-observador/objeto-observado (Tabela 1) “em que um dos
parceiros pode enganar o outro.” (MORIN 1996: 171)
TABELA 1: Articulação ou Confronto psiqué X physys
32 Cf. MORIN (1996: 262), que considera: (a) que as partes são ao mesmo tempo menos e mais do
que as partes; (b) que as partes são eventualmente mais do que o todo; (c) que o todo é menos
do que o todo; (d) que o todo é insuficiente; (e) que o todo é incerto; (f) que o todo é conflituoso.
59
O observador X O sistema observado
O sujeito X O objeto
A cultura
(que produz uma ciência física)
X A physis
(que produz organização biológica, que, por sua
vez, produz organização antropossocial, portanto,
cultura)
Fonte: MORIN 1996: 270
Como esta “operação de distinção” se insere em uma determinada cultura [fornecedora de
paradigmas] e obriga a unir noções que se excluem no âmbito do princípio
simplificação/redução do real – incerteza, indeterminação, aleatoriedade, contradições – seu
caráter é ideológico.
Ao reconhecer a necessidade de “um método que saiba distinguir, mas não separar e dissociar,
... que respeite o caráter multidimensional da realidade antropossocial, ... que possa enfrentar
as questões do sujeito e da autonomia” (MORIN 1996: 279), o autor: (1) considera que a
complexidade é inerente às inter-relações dos elementos diversos de um sistema cuja unidade
se torna complexa (una e múltipla); (2) define sistema “aberto” como aquele cuja essência e
manutenção da diversidade “são inseparáveis de inter-relações com o ambiente, por meio das
quais o sistema tira do externo matéria/energia e, em grau superior de complexidade,
informação” (MORIN 1996: 292); (3) ressalta a importância da geratividade, princípio
qualitativamente novo, que reconhece que a “constante degradação dos componentes
moleculares e celulares é a enfermidade que permite a superioridade do ser vivo sobre a
máquina. É fonte da constante renovação da vida.” (MORIN 1996: 299)
Em relação ao risco incessante de degradar-se, de simplificar-se, em função da necessidade de
uma teoria conservar sua complexidade mediante uma recriação intelectual permanente,
MORIN identifica os três “rostos” que esta simplificação assume (MORIN 1996: 336): (1) A
degradação tecnicista, que conserva da teoria – que deixa de ser logos para ser techné – aquilo
que é operacional, manipulador, e que pode ser aplicado. (2) A degradação doutrinária da
teoria que, menos aberta à contestação da experiência, à aprovação do mundo exterior, abafa
e cala aquilo que a contradiz. (3) A pop-degradação que, ao eliminar as obscuridades e
dificuldades, reduz e vulgariza a teoria a poucas fórmulas de choque, à custa dessa
simplificação de consumo. A seguir, MORIN observa que essas três degradações podem ser
combinadas. (ABORDADO NA SEÇÃO SEGUINTE)
As contribuições de CAPRA e MORIN sugerem interessantes desdobramentos
na produção e na avaliação do desempenho do ambiente construído, que
serão abordados na seção seguinte.
60
1.4 Ambiente Construído: organização social complexa
“Somos seres ao mesmo tempo físicos, biológicos, sociais, culturais, psíquicos e
espirituais, é evidente que a complexidade é aquilo que tenta conceber a articulação, a
identidade e a diferença de todos esses aspectos”.
Edgar MORIN (1996: 176)
“Existe uma qualidade central que é o critério fundamental da vida e o
espírito de um homem, uma cidade, um edifício, um vazio. Esta
qualidade é objetiva e precisa, mas carece de nome”.
Christopher ALEXANDER (1979a: 11) 33
“Edificação, entendida como produto de um processo complexo e articulado, em
conteúdo e finalidade, que implica uma multiplicidade de protagonistas e comporta ao
mesmo tempo instâncias sócio-econômicas, científico-técnicas e ideológico-culturais.”
Enrico MANDOLESI (1978: 12)
Entendido como uma organização social complexa regida pela incerteza e
pela possibilidade (PRIGOGINE & STENGERS) – constituído pelo conjunto das
relações que se estabelecem entre suas partes – o ambiente construído não se
restringe apenas às relações entre suas medidas e seus materiais. O ambiente
construído não vale por si próprio; seu valor ou significado surge em função das
relações que estabelece com o entorno e com seus habitantes. Ele não pode
sem visto isoladamente de seu contexto maior, com quem interage em um
movimento de retroatividade todo/partes – “unitas multiplex” (MORIN).
Ao pesquisarem as imagens e os julgamentos transmitidos pela percepção
indireta – leitura e jornais – e percepção em campo – análise walkthrough – e
identificar as imagens os conflitos de percepções e de expectativas de
realizadores, administradores, proprietários, locatários, usuários e funcionários do
Centro Empresaria Internacional Rio (RB-1) e do Edifício de Serviços do BNDES
(EDSERJ), COSENZA et al (1996; 1997), RHEINGANTZ (1998) e RHEINGANTZ et al
(1998) evidenciam a importância do caráter não-hierárquico e aberto às
politonalidades na avaliação do desempenho do organismo social ambiente
construído. Um organismo social que adquire dupla identidade, ou seja, uma
identidade própria [não redutível ao todo] e uma identidade comum ou
“cidadania sistêmica”, na medida em que interage com seus usuários e com o
33 Tradução do autor.
61
ambiente onde está inserido. Esta dupla identidade é evidenciada por
RHEINGANTZ (1995: 215-220), ao reconhecer que o inconsciente coletivo34 dos
ocupantes de um edifício incorpora a persona e a anima de JUNG: “o ‘clima’
de satisfação com o edifício é perceptível e, a exemplo das relações de afeto
e amor, justifica a aceitação de defeitos e inconvenientes; a aparência do
edifício intensifica ... ‘inconscientemente a importância do eu’ ... [JUNG 1984]”
(RHEINGANTZ 1995: 215). Além do inconsciente coletivo, acredito que também
o inconsciente pessoal35 de JUNG, também está presente na interação [homem
ambiente].
As pesquisas desenvolvidas por RHEINGANTZ (1995; 1998) e por COSENZA et al (1996, 1997)
evidenciam as mudanças estruturais que ocorrem ao longo da “vida” de uma organização
social complexa edifício de escritórios: mudança de usuários, modificação de layout dos
pavimentos, modificação de sistemas e instalações e da própria gestão predial.36 Estes autores
também reconhecem que o processo de organização social que se dá no interior de um
edifício de escritórios não se limita a seus aspectos construtivos ou à sua qualidade estética,
uma vez que ele também incorpora as relações “todo/partes” e “uno/diverso” apontadas por
MORIN (1996): (1) o todo é mais do que a soma das partes – a exemplo da doçura do açúcar, o
ambiente construído é indescritível e somente pode ser percebido em sua plenitude no
próprio processo de interação; (2) o todo é menos do que a soma das partes – assim como
“cada pessoa tem em mente uma cidade exclusivamente de diferenças, uma cidade sem
figuras e sem forma, preenchida pelas cidades particulares” (CALVINO 1993: 34), a soma dos
significados particulares que um edifício ou ambiente construído pode assumir para cada um
de seus ocupantes deve ser menor do que a soma das partes que o compõem; (3) o todo é
mais do que o todo – a complexidade da relação onde o todo é um dinamismo organizacional
que transcende a realidade global:
“A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das
recordações e se dilata. Uma descrição de Zaíra como é atualmente
deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o
34 Cf. JAPIASSÚ & MARCONDES (1996: 152), o inconsciente coletivo se estrutura em arquétipos
(disposições hereditárias de reação) e pertence à espécie humana e jamais se torna de fato
plenamente consciente. 35 Cf. JAPIASSÍ & MARCONDES (1996: 152), o inconsciente pessoal é constituído por elementos
reprimidos, adquiridos durante a história pessoal dos indivíduos em sua experiência de vida. 36 As constantes modificações realizadas no Shopping-center Rio-Sul ou da orla marítima da Zona Sul são exemplos
das mudanças estruturais que ocorrem em um ambiente construído ao longo de sua “vida”.
62
seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos
ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas,
nas antenas dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada
segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras.”
(CALVINO 1993: 14-15):
A geratividade é a fonte da constante renovação da vida de um organismo social edifício de
escritórios que se caracteriza por um processo incessante de degradar-se, de simplificar-se, em
função da necessidade de conservar sua complexidade mediante uma recriação intelectual
permanente que assume os três “rostos” visíveis de MORIN (1996):
A degradação tecnicista – [concepção e produção deixam de ser logos para ser techné] a
análise do sítio e Sérgio SANTOS (1981) confirmam a crença na “inevitabilidade das
transformações no espaço urbano” (SUNG s/d: 34); a ênfase na racionalidade científica, nos
interesses econômicos, na técnica e na tecnologia pode ser confirmada pela prevalência
daquilo que é operacional, manipulador e incorpora as três funções positivas de BEGUIN
(1991), em detrimento das necessidades essenciais para a vida de cada grupo que configura o
organismo social complexo Praia de Botafogo.
A degradação doutrinária – o “determinismo econômico” presente na doutrina e nas crenças
subjacentes à produção do ambiente construído, especialmente sua pouca tolerância à
contestação e à crescente desqualificação de quem ou daquilo que contradiz o saber
messiânico de técnicos e especialistas ou a “religiosidade do capitalismo” (SUNG s/d: 23);
crença de que somente a “defesa dos interesses próprios [do mercado] contra os interesses
dos outros gera a eficácia e a solidariedade” (SUNG s/d: 34) ao mercado.37
A pop-degradação – o “desejo mimético” (COSTA 1997: 78) que justifica e produz um mundo
fantasma entre o país real e a comunidade internacional em que nossas elites imaginam viver,
exemplificado pela “Barralândia” (SANTOS & DEL RIO 1998), pelos “edifícios de nível
internacional” ou de padrão de comparável aos existentes no “primeiro mundo”, pela lógica
37 Em carta publicada na revista Arquitetura n° 81 (ANEXO 02-B), o arquiteto Edison MUSA procura
desqualificar o tom do número anterior da revista, cujo tema central são os “Edifícios Inteligentes”
(RHEINGANTZ 1997a): “a produção da arquitetura no País é um ofício tão sofrido e difícil, que não
precisa, a título de uma crítica construtiva e positiva, de comentários e charges e chamadas
pouco sérias, a trabalhos que estão aí, realizados de peito aberto, nas regras de um sistema que
todos conhecemos ... acho que o IAB prestaria um melhor serviço a toda a comunidade se
realmente procurasse divulgar o trabalho do arquiteto, com seus problemas, suas falhas e seus
acenos, vistos da mesma planície da batalha e não, de um Olimpo artificial, que o coloca distante
das realidades vivenciadas.”
63
dos “transatlânticos nas calçadas” e pela paisagem esquizofrênica que acumula objetos
“ávidos por atenção” (SEÇÃO 1.3).
A possibilidade de considerar um edifício, seu contexto e seus usuários como uma organização
social complexa – “unitas multiplex” – fornece as bases para analisar as principais implicações
do entendimento de desempenho enquanto interação homem ambiente construído à luz
do paradigma social complexo, assunto da próxima SEÇÃO.
64
1.5 Desempenho: interação homem X ambiente construído
“A doçura que saboreamos num torrão de açúcar não é propriedade nem do açúcar
nem de nós mesmos. Estamos produzindo a experiência da doçura do açucar no
processo de interagirmos com o açúcar.”
Roland FISCHER 38
“Qualquer experiência da realidade é indescritível! Olhe ao seu redor por um instante e
veja, ouça, cheire e sinta onde você está [...] sua consciência pode partilhar de tudo isto
num único instante, mas você jamais conseguirá descrever tal experiência.”
R. D. LAING 37
“O mundo que todos vêem não é ‘o’ mundo, mas ‘um’ mundo, que nós criamos com os
outros.”
Humberto MATURANA e Francisco VARELA (1995: 262)
Com base na metáfora de FISCHER, R. D. LAING propõe a questão: “se o universo inteiro for
como a doçura do açúcar, que não está no observador nem na coisa observada, e sim na
relação entre ambas, como vocês podem falar do universo como se fosse um objeto
observado?” (in CAPRA 1991: 116). Se aplicadas ao ambiente construído, a metáfora de
FISCHER e a questão de LAING permitem reconhecer que o desempenho não é uma
propriedade nem do ambiente construído nem do homem, mas uma experiência [relação]
produzida no processo de interação do “observador-sujeito” com o organismo social
complexo. De modo análogo, se o desempenho de um edifício não está no observador nem na
coisa observada, mas na relação entre ambos e com o contexto com que interagem, parece
pouco sensato concebê-lo ou analisá-lo isoladamente.
Se o ambiente, os edifícios e seus ocupantes compõem uma organização social integrada,
configurada por uma rede de relações complexas que se fundamentam em determinados
princípios ou padrões de organização, então desempenho pode ser definido como a
experiência produzida no processo de interação. Uma experiência que não é objetiva,
conforme preconiza a racionalidade científica subjacente à produção do ambiente construído,
que acredita que um homem ou grupo de homens seja capaz de “controlar por completo um
edifício e a projetar o que este vai ser, até o último detalhe, sobre um pedaço de papel.”
(ALEXANDER 1979b: 14) O ambiente não é um contexto absoluto. Ele é criado no próprio
processo de viver [e de conhecer], e é condicionado cultural e historicamente: “todo
38 In CAPRA (1991: 116).
65
conhecimento significativo é conhecimento contextual, e grande parte dele é tácita e vivencial”
(CAPRA 1997).
O estudo da percepção ambiental é um processo cognitivo que lida com as conformações
subjetivas, imagens, impressões e crenças que as pessoas possuem do meio ambiente. Este
processo cognitivo está sujeito a “filtros” socioculturais, categorias e sistemas resultantes do
processo de socialização do indivíduo e a “filtros psicológicos” dependentes do sistema
interpretativo pessoal, de valores e de expectativas de cada pessoa.39 Mas o processo
cognitivo não se resume a um processo mental realizado no interior do nosso cérebro:
segundo CAPRA (1996: 68), “sempre pensamos também com nosso corpo”; na mesma linha de
raciocínio, DAMÁSIO (1996: 255) observa: “quando vemos, ouvimos, tocamos, saboreamos ou
cheiramos, o corpo e o cérebro participam na interação com o meio ambiente.”
Assim, é possível considerar que observadores, usuários e suas experiências, percepções e
expectativas sejam “instrumentos” (ZUBE in DEL RIO 1991) adequados para avaliar o
desempenho dos edifícios, enquanto organismos sociais complexos. A condição de
observadores e usuários como “instrumentos” de avaliação de um mundo complexo, incerto e
dinâmico coloca em cheque o “saber messiânico” dos técnicos e especialistas,
“salvadores dos demais, donos da verdade, proprietários do saber,
que deve ser doado aos ‘ignorantes e incapazes’ ... habitantes de
um gueto, de onde saem messiânicamente para salvar os ‘perdidos’,
que estão fora. Ao procederem assim, não estarão se
comprometendo verdadeiramente como profissionais nem como
homens. Simplesmente estarão se alienando.” (FREIRE: 1978).
A possibilidade de arquitetos e engenheiros deixarem de agir como donos da verdade para
atuarem como terapeutas40 do ambiente construído, compartilhando seu conhecimento e suas
técnicas com os cidadãos, confere um novo significado ao conjunto de pensamentos,
percepções e valores da “realidade”. O reconhecimento de que a essência da arquitetura são
as “cerimônias que ocupam um determinado espaço físico e um espaço psicológico, e que
desta cerimônia está feita a vida” (LIVINGSTON 1990), possibilita firmar um novo tipo de
39 Segundo MERLEAU-PONTI (1994), a percepção não é uma sensação pura, pois versa sobre relações e não sobre
termos absolutos: o homem incorre em um experience error ao acreditar que sabe o que é “ver”, “ouvir”, “sentir”
os objetos através da percepção.
40 Do grego ‘therapeutes’, especialista em prestar atenção e em ter consciência de uma
situação.
66
compromisso onde os projetistas abdiquem de sua pretensão de criadores, para tornar-se
intérpretes do desejo coletivo, a ser transformado em projetos, edifícios e lugares urbanos.
A análise da paisagem da Praia de Botafogo (Fig. 2), desfigurada pela desproporção e falta de
harmonia das torres de vidro, concreto e granito que bloqueiam a vista do perfil dos morros
que a emolduram, ilustra o argumento (ANEXO II). A comparação com a paisagem natural (Fig.
1) ou até mesmo com a paisagem do século XIX (Figs. 3 e 4) confirma que a metrópole,
“mediante o que se tornou pode-se recordar com saudades aquilo que foi.” (CALVINO 1993:
30)
É possível que esta opinião não seja compartilhada por um empresário instalado em um dos
modernos edifícios “fundeados” na praia de Botafogo – onde entra e sai em seu automóvel e
que, de seu escritório climatizado, desfruta o esplendor deste “cartão postal” pintado pelo
“supremo pintor e arquiteto do mundo” (Padre CARDIM). Sua relação com a cidade “real” é
similar àquela representada pelo “domo” que envolve a cidade de Seaside, no filme O Show de
Truman. Diversa deve ser a opinião de um morador da rua Muniz Barreto, cuja vista da
enseada foi bloqueada pelos novos edifícios. Retomando os princípios de SANTOS (1995a),
MORIN (1996) e PRIGOGINE & STENGERS (1992), a racionalidade da observação somente será
obtida pelo conjunto de visões e significados produzidos pelas diferentes “cidadanias
sistêmicas” que configuram o organismo social Praia de Botafogo – e que pode ser aferida
através de diferentes perfis de demanda com o MAH-COPPE.
A construção de um modelo de análise que possibilite comparar o desempenho
de um conjunto de edifícios – existente ou em projeto – de escritório sugere uma
nova metodologia baseada no paradigma social complexo (CAPRA, SANTOS,
MORIN) e na aplicação de conceitos subjetivos. Sua construção (CAPÍTULO 4),
está referenciada em dois instrumentos: o Modelo de Análise Hierárquica (MAH-
COPPE), por sua flexibilidade e possibilidade de modelagem de estruturas
complexas através de conjuntos nebulosos e variáveis lingüísticas, mais
adequados para mensurar sua subjetividade cuja compreensão normalmente
escapa ao olhar ‘técnico’ e ‘neutro’. A possibilidade de substituir a definição da
“objetividade científica” pela de “problema comum” (PRIGOGINE 1992)
subjacente ao princípio do olhar compartihado, amplia os horizontes da
avaliação de desempenho – ainda fortemente condicionados por métodos
que limitam-se a investigar os comportamentos através de mensurações
verificáveis, e que não atentam para a riqueza e complexidade de uma
67
organização social e de suas representações –, e confere um sentido
transformador à experiência perceptiva.
Uma vez explicitados os pressupostos teóricos que fundamentam a visão de
mundo adotada neste trabalho, no CAPÍTULO 2 procurarei aplicá-los numa
leitura de cenário das principais transformações decorrentes da globalização
da economia neste final do século XX, suas conseqüências para o processo de
trabalho, para os conceitos de espaço e de tempo e seus reflexos na produção
atual e futura dos edifícios de escritórios.
II. CONTEXTUALIZAÇÃO
“Hoje, a árvore do conhecimento corre o risco de cair sob o peso dos seus
frutos, esmagando Adão, Eva e a infeliz serpente.”
EDGAR MORIN (1996)
“Sob o impacto da extraordinária explosão econômica da Era do Ouro e
depois, com suas conseqüentes mudanças sociais e culturais – a mais
profunda revolução na sociedade desde a Idade da Pedra –, o galho
começou a estalar e partir-se. No fim deste século, pela primeira vez, tornou-
se possível ver como pode ser um mundo em que o passado, inclusive o
passado no presente, perdeu seu papel, em que os velhos mapas e cartas
que guiavam os seres humanos pela vida individual e coletiva não mais
representam a paisagem na qual nos movemos, o mar em que navegamos.
Em que não sabemos aonde nos leva, ou mesmo aonde deve levar-nos,
nossa viagem.”
Eric HOBSBAUWM (1995)
“O que se tem visto é a expansão geométrica da polarização entre países e entre classes
sociais, nos países industrializados como nos países periféricos. E, apesar de tudo, a idéia
da globalização reina inconteste no discurso das elites mundiais, seja como diagnóstico,
seja como ‘utopia possível’ do desenvolvimento capitalista”.
Maria da Conceição TAVARES e José Luiz FIORI (1997: 88)
No capítulo anterior, foi traçado um panorama sobre as grandes transformações do
pensamento atual e sobre as conseqüências do paradigma da racionalidade e seu modelo
mecanicista, que considera a Terra um “mundo morto”, fragmentado e manipulado para
atender aos propósitos e à curiosidade humana. A partir das perspectivas de uma nova ciência
fundada no pensamento sistêmico e complexo, que retoma a noção de universo orgânico, vivo
e espiritual e possibilita que se considere o ambiente construído um organismo sistêmico
complexo, foi proposta a ampliação do conceito de desempenho, entendido como um
68
processo de interação homem X ambiente que reconhece a incerteza e a subjetividade do
conhecimento humano.
Neste capítulo, procuro focalizar o contexto das transformações sociais, especialmente a
passagem da Sociedade Industrial para a Sociedade Pós-Industrial, e analisar seus reflexos
sobre o processo do trabalho e sobre a produção do ambiente construído para o trabalho de
escritório. A seguir, analiso os efeitos das tranformações sociais e tecnológicas no espaço e no
tempo, especialmente a nova hierarquia da rede globalizada das relações econômicas e
organizacionais e traça um panorama da evolução do conceito de escritório e seus reflexos na
produção dos edifícios de escritórios de alta tecnologia. Por último, relaciono os conteúdos dos
capítulos I e II e, fundamentado no conceito de adaptabilidade e sustentabilidade, proponho
algumas diretrizes para uma abordagem complexa da concepção e da produção dos edifícios
de escritório com sistemas de alta tecnologia.
69
2.1 Mundo em Transformação: Era Industrial X Era Pós-Industrial
Final da Era Industrial:
Com o sugestivo título A Era dos Extremos: o Breve Século XX, Eric HOBSBAUWM (1995),
resume com precisão o final da Revolução Industrial, que divide em três Eras:
(a) Era da Catástrofe – englobando as duas guerras mundiais e o período entre-guerras; em
meio à calamidade das duas grandes guerras, abalada por rebeliões, revoluções e pelo avanço
dos regimes autoritários de cunho fascista, a democracia se salvou devido a “uma aliança
temporária e bizzara entre capitalismo liberal e comunismo” (HOBSBAUWM 1995: 17) é o
ponto crítico da história do século XX.
(b) Era de Ouro – do final Segunda Guerra Mundial até o início da década de
70, configurando um curto período marcado por profundas mudanças sociais,
e fechando o ciclo da Revolução Industrial; durante a “Guerra Fria” do pós-
guerra, o risco real de uma alternativa global socialista incentiva o capitalismo
a buscar no planejamento econômico a sua mais ampla, rápida e fundamental
transformação econômica, social e cultural. As inovações tecnológicas e a
coincidência entre a Era de Ouro capitalista e as grandes realizações dos países
comunistas possibilitam altas taxas de produtividade [1950-70] e o surgimento
de “uma economia mundial única, cada vez mais integrada e universal,
operando em grande medida por sobre as fronteiras de Estado
(“transnacionalmente”)” (HOBSBAUWM 1995: 19). A década de 50 consolida os
Estados Unidos como grande potência do mundo capitalista e prenuncia os
primeiros conflitos entre gerações – que ainda compartilham a mesma visão de
mundo: a crença na tecnologia e no progresso (CAPRA 1991). A
compartimentação das ciências, do conhecimento e das atividades
produtivas (taylorismo e linha de montagem fordista, segundo DE MASI [1999a:
155], “a mais refinada aparelhagem industrial de envolvimento e de controle,
que conquistou as fábricas e oficinas, contagiou escritórios e cidades”) chegam
ao seu ponto máximo nesta década da especialização e do pesquisador
isolado (small science). Em contrapartida, os anos 60 são marcados pelo
conflito entre a opulência da sociedade de massa e os movimentos de contra-
cultura, prenunciando o esgotamento da Era de Ouro capitalista e o surgimento
de um novo modelo de sociedade. Diversas manifestações de contestação
social e cultural – explosão do rock’n’roll, talvez a primeira manifestação cultural
70
global, movimento hyppie, arte pop, arquitetura pós-modernista, etc –
explicitam a ruptura do sistema de crenças dominante. A dificuldade de
interpretar a complexidade dos problemas sociais e culturais incentiva a
formação de grupos interdisciplinares de pesquisa, configurando o modelo do
trabalho em equipe (big science) que viria a se consolidar nas décadas
seguintes.
(c) Era de Decomposição, Incerteza, Crise [e de Catástrofe para a África, a ex-
URSS e a Europa Socialista] – com o “divisor tecnológico dos anos 70” (CASTELLS
1999a) o mundo entra na “num futuro desconhecido e problemático, mas não
necessariamente apocalíptico” (HOBSBAUWM 1995: 16). A Era da Catástrofe é
originária do colapso da civilização ocidental do Século XIX: “uma civilização
capitalista na economia; liberal na estrutura legal e constitucional; burguesa na
imagem de sua classe hegemônica característica; exultante com o avanço da
ciência, do conhecimento e da educação e também com o progresso material
e moral.” (HOBSBAWM 1995: 16) Os movimentos feminista e ecológico
proporcionam o arcabouço teórico que consolida as visões alternativas de
mundo surgidas nos anos 60 (CAPRA 1991) e importantes trabalhos científicos
rompem a fragmentação das disciplinas acadêmicas, trazendo novos
elementos para o entendimento das relações homem-ambiente. Ao mesmo
tempo em que as barreiras ideológicas são transpostas, o mundo assiste à
afirmação da hegemonia dos Estados Unidos nos planos geoeconômico e
geopolitico, modificando a hierarquia das relações internacionais (FIORI 1997).
Os grandes investimentos tecnológicos na infra-estrutura de comunicações e
informação propiciam que a globalização financeira seja o carro chefe das
transformações capitalistas (FIORI 1997). A regulamentação dos mercados e a
globalização do capital aceleram o comércio mundial e a integração global
dos mercados financeiros (CASTELLS 1999a), especialmente de empresas de
alta tecnologia e da área econômica, com grande lucratividade do capital.
Para DE MASI (1999a), este processo desnuda as falhas dos sistemas comunista
– que “demonstrou saber distribuir a riqueza mas não saber produzi-la” – e
capitalista – que “demonstrou saber produzi-la mas não distribuí-la” – e contribui
para configurar uma crise econômica e política de longo prazo e de
abrangência planetária que culmina com o colapso da URSS: “desemprego em
massa, depressões cíclicas severas, contraposição cada vez mais espetacular
71
de mendigos sem teto a luxo abundante, em meio a rendas ilimitadas de Estado
e despesas ilimitadas de Estado.” (HOBSBAUWM 1995: 19) As conseqüências da
crise são: desestruturação e desestabilização do sistema de relações
internacionais, fragilização dos sistemas políticos que se apoiavam nesta
estabilidade, esfacelamento dos Estados-Nação marcados pelo conflito das
forças de uma “economia supranacional” (globalismo) com as forças de
regiões e grupos étnicos separatistas (localismo), e a consolidação da
hegemonia global norte-americana ou “dominação consentida” (TAVARES &
MELIN 1997). Em À espera dos escravos globais Robert KURZ explicita os efeitos
desta crise planetaria, à exceção dos EUA, cuja economia e poder têm sido
muito beneficiados.41
Juntamente com o “triunfo da sociedade industrial”, DE MASI (1999a) aponta
três novos fenômenos que contribuem para agravar a sensação de “crise”
decorrente da inadequação de uma visão de mundo condicionada por
categorias sociais e mentais de interpretação obsoletas para compreender a
passagem de um modelo de sociedade [industrial] para outro [pós-industrial]:
(a) tendência crescente dos países industrializados prescindirem do regime
político42; (b) crescimento das classes médias no nível social e na afirmação da
‘tecnoestrutura’ (GALBRAITH) no nível empresarial; (c) disseminação do
consumo e da sociedade de massa. Este sentimento é reforçado pela
diversidade de rótulos utilizados para caracterizar o período atual: pós-
41 Cf. KURZ (1999), “tal como as diversas sociedades foram inseridas com um "descompasso"
histórico no moderno sistema produtor de mercadorias, assim também o grau e a extensão da
crise apresentam-se com o respectivo descompasso, de modo que a periferia relativamente
subdesenvolvida, ao contrário da perspectiva de Marx para o século 19, prefigura o futuro dos
centros capitalistas desenvolvidos. Todo o Terceiro Mundo, mas também grande parte do sul da
Europa, é ameaçado por uma constante ruína do desenvolvimento econômico nacional, que já
ocorreu em diversos países: a moeda nacional entra em colapso e torna-se moeda de indigentes;
o estoque de capital converte-se irremediavelmente em "indústrias fantasmas" não rentáveis, que
atrasam ou não pagam salários; a infra-estrutura reduz-se a frangalhos, água e energia só fluem
esporadicamente, interrompe-se o serviço de coleta de lixo, os órgãos públicos de saúde fecham
as portas, seguindo o exemplo dos correios. O Estado retira-se de cena, e o que resta de sua
política econômica é gerido pelo FMI.”
42 Cf. SOMBART, a pouca diferença entre capitalismo estabilizado e regulado e socialismo
tecnicizado e racionalizado reduz a importância se a economia do futuro será capitalista ou
socialista: o que importa é que em ambos, o trabalho e a economia se baseiam no processo de
despersonalização. (in DE MASI 1999a)
72
capitalista, pós-modernidade, pós-industrial, fim da modernidade, fim da
história, revolução informacional, era da informação e sociedade da
informação-globalizada, entre outras. Por seu contraponto com o período
anterior (Industrial), utilizarei a designação Pós-Industrial uma vez que
“parece até legítimo levantar a hipótese de que a sociedade pós-industrial,
diferentemente das sociedades precedentes (que exploraram sucessivamente a
caça, a criação, a agricultura, o mercado, a indústria), não se apoiará mais
sobre um setor único, centralizado, mas sobre uma pequena rede de setores e
fatores no mesmo nível de importância (a informação, a ciência, os serviços, a
própria indústria etc.). Por conseqüência, não estamos nem em condições de
dar um nome preciso a essa mudança de época, de que, entretanto,
percebemos o imenso alcance. [...] É por isso que eu prefiro usar ainda o termo
“pós-industrial”: um nome que não ousa dizer o que seremos, mas se limita a
recordar o que já não somos.” (DE MASI 199a: 169)
Revolução Pós-Industrial:
Embora as origens da Revolução Pós-Industrial remontem à invenção do transistor, do circuito
integrado e dos semicondutores, é a “revolução” do microprocessador e dos
microcomputadores que, associada com o avanço dos sistemas de telecomunicações,
revoluciona a “revolução”.
A velocidade de difusão da informação coloca em questão “os modos de pensar, os esquemas
mentais, as tradições, a cultura ideal e social de milhões e milhões de leitores, ouvintes de
rádio, telespectadores e navegadores em rede.” (DE MASI 1999a: 168) As tecnologias da
informação estruturadas em redes viabilizam um novo paradigma sociotécnico, da tecnologia
da informação, ou a “transferência de uma tecnologia baseada principalmente em insumos
baratos de energia para uma outra que se baseia predominantemente em insumos baratos de
informação derivados do avanço da tecnologia em microeletrônica e telecomunicações.”
(Christopher FREEMAN in CASTELLS 1999a: 77)
CASTELLS (1999a) aponta os principais aspectos deste novo paradigma: (1) sua
matéria prima é a informação ou as tecnologias para agir sobre a informação;
(2) a penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias que moldam os
processos de nossa existência individual e coletiva; (3) a lógica de redes
presente em qualquer sistema ou conjunto de relações; (4) a flexibilidade ou
capacidade de reconfiguração de processos, organizações e instituições; (5) a
convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado
73
englobando a microeletrônica, as telecomunicações, a optoeletrônica e os
computadores, além da biologia, cuja lógica vem sendo progressivamente
introduzida nas máquinas.
DE MASI (1999a) caracteriza os efeitos do processo de “globalização” como:
(1) Grande dificuldade de situar os novos relacionamentos sociais no tempo e no espaço;
consome-se informações, objetos e imagens pensados e produzidos sabe-se lá por quem, onde
e quando e emergem duas classes sociais opostas [quem desfruta/produz e quem é
desfrutado/consome].
(2) Se, na sociedade industrial os problemas precediam as soluções, na sociedade pós-
industrial o computador possibilita infinitas respostas a infinitas perguntas, possibilitando a
passagem da descoberta à invenção, da busca de soluções à busca de questões. Segundo
Zsuzsa HEGEDUS (in DE MASI 1999a), a ciência passa a se valer da “mercadoria” informação e
se modela por um método que passa a formular problemas e objetivos de solução sem se
deixar enredar por seus vínculos.
(3) O futuro passa de produto natural a problema social43: se na sociedade industrial os
trabalhadores lutavam por aumentos salariais, hoje eles precisam apropriar-se do saber e
“intervir ... lá onde, por exemplo, se escolhe se e como produzir mais bactérias para fins
bélicos ou mais proteínas com fins alimentares.” (in DE MASI 1999a: 197).
A variedade de possibilidades e a complexidade dessa nova realidade social
que desestrutura e fragmenta “os lugares, os tempos da produção, do consumo
e do conflito” (DE MASI 1999a: 198), demanda um novo modelo de produção
industrial que se caracteriza pela precedência da invenção e da decisão
estratégica e pela nova geografia, que possibilita que a invenção, a decisão, a
produção e o consumo ocorram em diferentes lugares. O novo modelo de
produção industrial – que se aplica à produção das cidades e dos edifícios –
requer quatro etapas:
(1) Invenção – “grupos de saber” espalhados pelo mundo produzem e
desenvolvem idéias, descobertas e invenções; eles não decidem o que fazer
com as novidades, mas podem influenciar as decisões de quem decide.
43 Cf HEGEDUS (in DE MASI 1999a: 197), se quisermos prever se no futuro haverá alimento suficiente,
não é preciso saber o que está acontecendo nas plantações, mas o que preparam os laboratórios
de Stanford ou MIT.
74
(2) Decisão – “grupos de decisão” também espalhados pelo mundo, decidem
quais e como as novas idéias, descobertas e invenções devem ser
aproveitadas; eles detêm o poder, mas dependem do conhecimento de quem
detêm o saber.
(3) Produção – tomada a decisão, inicia-se a produção propriamente dita, que
pode acontecer locais diferentes dos das duas fases anteriores.
(4) Consumo – pronto o produto, inicia-se sua distribuição, venda e consumo.
Este modelo de produção viabiliza uma nova divisão internacional do trabalho:
“existem países que detêm a primazia da pesquisa, outros que não tem
propriedades de patente mas têm os meios de produção e outros ainda que
são forçados ao papel de consumidores dos produtos e das idéias alheias” (DE
MASI 1999a: 200).44 Na sociedade pós-industrial tudo é programado com
antecedência: “quando experimentamos as conseqüências das decisões
tomadas pelos fortes, já é muito tarde para impedi-las.” (DE MASI 1999a: 201)
As TABELAS 2 e 3 ilustram as diferenças entre as duas sociedades:
TABELA 2. Relação Entre Empresa e Mercado
Sociedade Industrial
[organizações product oriented]
Sociedade Pós-Industrial
[organizações market oriented]
marketing centrado na produção X
marketing centrado no mercado
indústria produz bens, serviços que são impostos à sociedade que, por isso, se chama “industrial”
X
mulheres, jovens, marginalizados,
artistas, cientistas e imigrantes também
produzem idéias negócio é o sistema mais dinâmico/moderno,
cientificamente mais sofisticado [pensar novos
produtos para depois impô-los ao mercado virgem do
consumismo, mas ávido de bens industriais]
X
negócio - apenas um dos muitos sistemas novos
[modelos de vida e valores] que operam na
sociedade, nem sempre o mais moderno ou
dinâmico
a oferta dos bens, embora crescente, é inadequada à
demanda X
relações empresa e sociedade são invertidas -
sociedade elabora suas necessidades, valores
emergentes e demandas latentes
baseada na execução, na imposição, na fiscalização, na repetitividade
X
baseada na
escuta/motivação/compromisso
[cientistas antes, e negócio depois,
devem saber escolher/decodificar
44 Cf. CASTELLS (1999a: 123), este sistema econômico global caracteriza-se por sua interdependência, assimetria,
regionalização, crescente diversificação dentro de cada região, inclusão seletiva, segmentação excludente e, em
conseqüência de todos esses fatores, por uma geometria extraordinariamente variável que tende a desintegrar a
geografia econômica e histórica.
75
oportunamente sinais, inspirando idéias,
bens e serviços a produzir] Fonte: DE MASI (1999a)
76
TABELA 3. Valores das sociedades industrial e pós-industrial
Valores da Sociedade Industrial Valores Emergentes na Sociedade
Pós-Industrial
Pensamento Cartesiano Reducionista X Pensamento Sistêmico Complexo
racionalidade - subjetividade, estética e
emoção são considerados desvalores X
criatividade - síntese das esferas racional e
emotiva; organização criativa reabilita
esfera emotiva substância e funcionalidade:
fundamentais, em detrimento do valor
estético
X valor estético - formas, cores, sons e boas
maneiras, tão importantes quanto
substância e funcionalidade
padronização da coletividade: exalta
afinidades, reduz diferenças; parecer,
falar, vestir, agir como os outros
X subjetividade - necessidade de afirmar a
subjetividade, individualidade,
particularidades, diferenças dos outros
estandartização de produtos, processos,
sistemas de distribuição, preços e gostos X customização de produtos, processos,
sistemas de distribuição, preços e gostos
especialização e parcelização das tarefas:
operadores “autômatos” nas linhas de
montagem nas fábricas e nos escritórios
X
intelectualização da atividade humana:
tudo se faz com o cérebro e requer
inteligência, criatividade, preparação
cultura quantidade, eficiência e produtividade X qualidade, confiabilidade e precisão
emprego X empregabilidade
vida - posicionamento de sacrifício,
fatalista, expiatório, calvinista X vida - qualidade de vida em contraponto
com o posi-cionamento de sacrifício
capacidade de execução X confiança e ética
privilegia a prática e o material X privilegia o conhecimento
concorrência, dominação X cooperação, parceria
organização monolítica: informação e poder
centralizados; hierarquia rígida (pirâmide) X organização fluida, horizontal, flexível,
adaptável
estruturação do trabalho e do lazer: sincronização
de tempos de trabalho; horários rígidos, trabalho
regular, férias coletivas X
desestruturação do trabalho e lazer - horários flexíveis,
trabalho temporário, férias personalizadas, trabalho
em parceria
realidade - associa relações com pessoas e objetos
com a presença física X virtualidade - dissocia cada vez mais relações com
pessoas e objetos da presença física
sincronia X assincronia
gigantismo da economia de escala: fábrica e
escritório, unidades fechadas de tempo/lugar;
amontoa trabalhadores em grandes oficinas X
progressivo esvaziamento dos locais de trabalho -
trabalhadores dispersos em unidades menores e
distantes
nacionalismo, racismo, elitismo X globalização - crescente familiaridade com o mundo
inteiro, assumido como nossa vizinhança
Fonte: DE MASI (1999a), CASTELLS (1999a), TOFLER (1995)
Globalização:
77
O discurso das elites mundiais sobre a globalização e suas diferentes dimensões, formas ou
mitos apresenta algumas limitações, a começar pela crença de que a globalização [econômica]
é um fenômeno recente: entendida como uma tendência humana de “explorar”, “colonizar” e
controlar o planeta, ela remonta aos primórdios da civilização.
Outro aspecto importante é apresentado por CASTELLS (1999a), que diferencia economia
mundial – avanço mundial da acumulação do capital – de economia global ou economia
informacional global 45 – que funciona como “uma unidade em tempo real, em escala
planetária”, favorecida pelas novas tecnologias que “permitem que o capital seja transportado
de um lado para o outro entre economias em curtíssimo prazo.” (CASTELLS 1999a: 111) O
autor aponta alguns limites a transpor para que a economia internacional possa ser
considerada global: (1) parte significativa da economia internacional ainda não é global; (2) a
tendência de ignorar “a persistência do Estado-nação e o importantíssimo papel do governo na
definição da estrutura e da dinâmica da nova economia” (CASTELLS 1999a: 110). Em função da
concorrência econômica, as fronteiras e separações entre as principais regiões econômicas
devem continuar a co-existir como uma rede global “hierárquica e assimetricamente
interdependente em torno do triângulo ‘riqueza, poder e tecnologia” (CASTELLS 1999a: 118),
onde países e regiões buscam atrair capital, profissionais especializados e tecnologia.
A globalização é um processo resultante de ações humanas com uma
pluralidade de abordagens cujos significados nem sempre são claramente
delimitados, ou são erroneamente generalizados apenas em suas dimensões
tecnológica e/ou financeira (REBOUÇAS 1998). A confusão e a falta de
coerência das três idéias mais presentes no conceito impreciso de globalização
produzem alguns mitos que precisam ser desmascarados (MICKLETHWAIT &
WOOLDRIDGE 1998): (1) os mesmos produtos podem ser vendidos em qualquer
lugar da mesma forma está completamente desacreditada; (2) o triunfo das
empresas globais, uma vez que existem poucas marcas realmente globais,
como Coca Cola, McDonald’s e Malboro; e (3) que a geografia não é
importante, uma vez que os produtos globais mudam de significado em Pequim
(“status”), Paris ou em New York.
45 Segundo CASTELLS (1999a: 160), “a mais nova divisão internacional do trabalho, que ocorre
entre agentes econômicos dispostos em torno de uma estrutura global de redes e fluxos está
disposta em quatro posições diferentes na economia informacional/global: (a) produtores de alto
valor com base no trabalho informacional; (b) produtores de grande volume baseado no trabalho
de mais baixo custo; (c) produtores de matérias-primas que se baseiam em recursos naturais; e
(d) produtores redundantes, reduzidos ao trabalho desvalorizado.
78
Uma vez desmascarados os três mitos, e considerando os princípios de
“redistribuição”, “heterarquia”, “complementaridade”, “interconexão” e
“indeterminação” (HENDERSON 1995: 264) é possível romper com a tendência
de disseminar uma arquitetura globalizada e aplicar novas estratégias “sociais”,
complexas” e “auto-sustentáveis” na produção do ambiente construído com
reflexos nas relações homem X homem e homem X ambiente.
Na seção seguinte, analisarei as conseqüências provocadas por estas transformações no
processo do trabalho.
79
2.2 Trabalho e Economia na Era Pós-Industrial:
“O aspecto mais aterrorizador sobre o “futuro do trabalho” pode ser
simplesmente o quanto familiar ele será”.
MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE (1998: 181)
“A reestruturação de empresas e organizações, possibilitada pela
tecnologia da informação e estimulada pela concorrência global, está
introduzindo uma transformação fundamental: a individualização do
trabalho no processo de trabalho. Estamos testemunhando o reverso da
tendência histórica da assalariação do trabalho e socialização da
produção que foi a característica predominante da era industrial. A nova
organização social e econômica baseada nas tecnologias da informação
visa a administração descentralizadora, trabalho individualizante e
mercados personalizados e com isso segmenta o trabalho e fragmenta as
sociedades.”
MANUEL CASTELLS (1999A: 285-286)
“À medida que essas máquinas [computador e robô] absorvem o trabalho
repetitivo de mera execução (seja ele físico ou intelectual), aos
trabalhadores resta o monopólio do trabalho criativo, que empenha o
cérebro mais do que os músculos e que, por sua natureza, não encontra
pausa no tempo e é perfeitamente conciliável com a desestruturação do
tempo e do espaço de trabalho.”
DOMENICO DE MASI (1999: 224)
As transformações que a tecnologia e a competição provocaram no mundo
do trabalho tornam cada dia mais real o argumento de Charles HANDY: “o
trabalho é algo que se faz, em vez de um lugar para onde se vai” (MICKLETHWAIT
& WOOLDRIDGE 1998: 163). Para adaptar-se às imprevisibilidade e rapidez das
transformações econômicas e tecnológicas que desarticulam o tempo –
segundo DE MASI (1999a: 168) hoje ainda convivem “modelos de vida rural,
industrial e pós-industrial” – e o lugar do trabalho, as grandes empresas
monolíticas, verticais e hierárquicas, mudam seu modelo de gestão, tornam-se
horizontais46, deixam de ser autônomas e auto-suficientes e articulam-se em
redes globais. As organizações e empresas tornam-se complexos
conglomerados de atividades aparentemente incongruentes. Segundo
46 CASTELLS (1999a) aponta sete tendências apresentadas pela empresa horizontal: (1)
organização em torno do processo, não da tarefa; (2) hierarquia horizontal; (3) gerenciamento
em equipe; (4) medida do desempenho pela satisfação do cliente; (5) recompensa com base no
desempenho da equipe; (6) maximização dos contatos com fornecedores e clientes; (7)
informação, treinamento e retreinamento de funcionários em todos os níveis.
80
CASTELLS (1999a), existem seis tendências dominantes na evolução
organizacional com influência no processo do trabalho:
(1) T
ransição da produção em massa para a produção flexível, ou do “fordismo” ao
“pós-fordismo”, viabilizada pelas novas tecnologias, que permitem transformar
as grandes linhas de montagem em unidades de produção de fácil
programação, para atender às variações do mercado (flexibilidade do
produto) e as transformações (flexibilidade de processos).
(2) Crise do modelo de integração vertical e de divisão técnica e social do
trabalho das empresas de grande porte e a flexibilidade das pequenas e
médias empresas como agentes de inovação e fontes de criação de empregos
e de ganhos de produtividade e eficiência, favorecendo a produção
personalizada.
(3) Valorização dos novos métodos de gerenciamento do processo de trabalho,
que substituem os trabalhadores profissionais especializados por especialistas
multifuncionais, que compartilham seus conhecimentos no chão de fábrica.
(4) Flexibilidade organizacional caracterizada por conexões entre empresas: o
modelo de redes multidirecionais posto em prática por empresas de pequeno
e médio porte.
(5) Modelo de licenciamento e subcontratação de produção sob controle de
uma grande empresa.
(6) Interligação de empresas de grande porte em alianças estratégicas que não
excluem a concorrência em áreas não cobertas pelos acordos, são
particularmente importantes nos setores de alta tecnologia, em função do
aumento dos custos de P&D e do acesso a informações privilegiadas.
As alianças estratégicas formadas pelas empresas de diferentes países
provocam a “destruição criativa” (CASTELS 1999) de diversos segmentos da
economia, afetando de forma desigual empresas, setores, regiões e países. Este
processo foi decisivo na nova configuração do processo do trabalho e dos
valores do sistema de produção. A rapidez na difusão das informações induzem
ao questionamento do pensamento, das idéias, das tradições e da cultura de
milhares de leitores, ouvintes de rádio, telespectadores e internautas. (DE MASI
1999a: 167) Com a desarticulação e diluição da grande empresa monolítica,
81
um número crescente de dependentes passam a trabalhar em sua “própria
casa ou em unidades organizativas intermediárias ... [determinando] uma
progressiva desestruturação do espaço produtivo” (DE MASI 1999a: 174). No
limite deste processo, estão as “empresas incorpóreas” de Tom PETERS, que
giram em torno do “poder cerebral inovadoramente reunido, e não do poder
muscular”. (PETERS 1995: 8)
A concorrência coletiva internacional obriga os Estados a direcionarem suas políticas
econômicas, tecnológicas e educacionais para aumentar a competitividade das empresas e a
qualidade dos fatores de produção em seus territórios. (CASTELLS 1999a) A privatização das
empresas estatais de setores estratégicos – energia, telecomunicações, finanças e transportes
– e a desregulamentação dos mercados tornam-se os pré-requisitos para o crescimento
econômico em uma economia globalizada. As novas fontes de competitividade são capacidade
tecnológica, acesso a um mercado afluente integrado, diferencial entre os custos de produção
local e os preços do mercado de destino, e dependência da capacidade política das instituições
nacionais e supranacionais para impulsionar a estratégia de crescimento de países ou regiões
sob sua jurisdição. (CASTELLS 1999a)
O tempo de trabalho se desestrutura e cada vez mais trabalhadores
conseguem “horários flexíveis, trabalho temporário ou interino, distribuição
personalizada das férias, possibilidade de delegar a um parceiro parte do seu
trabalho e assim por diante.” (DE MASI 1999a: 174) Substituem-se os antigos
conceitos de carreira e estabilidade pelo de empregabilidade: diante de uma
carreira instável, individualizada e desenvolvida em torno do esforço criativo, o
indivíduo assume sua auto-realização e auto-desenvolvimento47. Segundo
artigo publicado pela TIME (1993), estamos entrando na “era do funcionário
temporário ou eventual, do consultor ou subcontratado, da força de trabalho
just-in-time, fluida, flexível, descartável. William BRIDGES compara o processo de
trabalho em um mundo sem empregos”48 ao das naves espaciais onde,
47 Cf. MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE (1998: 158), “O futuro é esse: ‘Cada um por si.” Esta mudança
devolve o significado da palavra emprego na era pré-industrial – no século XVIII “emprego”
referia-se a um empreendimento específico, não a um cargo fixo. (BRIDGES in MICKLETHWAIT &
WOOLDRIDGE 1998: 158) 48 Esta visão é contestada por CASTELLS (1999a), DE MASI (1999a) ou MICKLETHWAIT &
WOOLDRIDGE (1998), que consideram que os empregos, em lugar de estarem chegando ao fim,
estão se transformando em um processo onde a defasagem cultural nos impede de perceber e
compreender. Estes autores afirmam que, desde a Revolução Industrial, as máquinas eliminaram
diversos empregos, mas criaram outros, e que o mesmo está ocorrendo com a automação e
informatização do trabalho.
82
“embora cada membro da tripulação tenha sua própria especialidade, as
habilidades mais importantes serão as de equipe. (MICKLETHWAIT &
WOOLDRIDGE 1998: 171) Os novos conceitos de empregabilidade e de política
corporativa, a quebra da estabilidade e a reengenharia mudam o foco da
“empresa-família”, valorizam o conhecimento de seus empregados, agora
prestadores de serviços, não mais conformando os verdadeiros “exércitos
corporativos.”49
A perspectiva de individualização do trabalho leva a algumas “teorias” e “receitas” como a de
PETERS (1995): esqueça a lealdade à corporação e experimente a lealdade à sua agenda ou
rede de relações; trabalhar é ser um currículo – todos devem se tornar ou ver-se como
contratantes independentes50. Outra análise curiosa é formulada por HANDY:
“O núcleo de uma empresa ... composto de um pequeno esquadrão de
empreendendores e burocratas, e governado pela regra de adaptação
empresarial do ‘1/2 por 2 ou 3’: metade das pessoas receberão duas vezes
mais para trabalhar três vezes mais. Dois tipos de pessoas tentarão vender
seus serviços a esse grupo. As primeiras serão os ‘alguéns’ gerais (como em
‘alguém pode fazer isso’). As segundas serão as ‘pessoas com portfólio’ –
trabalhadores do conhecimento que tenham montado um portfólio de
habilidades que possam ser vendidas e diversas empresas”. (in
MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998: 160)
A defasagem cultural que faz com que se continue a aplicar a lógica do modelo industrial à
sociedade pós-industrial, que se caracteriza pela “hibridização das várias lógicas organizativas”
(DE MASI 1999a: 183), produz dois efeitos: (1) aprofunda-se a polarização social e econômica
entre elites hegemônicas e massas subalternas, configurando uma sensação de “crise” de
abrangência planetária que submete a periferia relativamente subdesenvolvida a ameaças
constantes, tais como ruína do desenvolvimento econômico nacional, colapso da moeda
nacional e falta de competitividade do sistema produtivo; ou ainda desemprego em massa e
depressões cíclicas, fragilização ou esfacelamento de Nações marcadas pelo conflito entre
49 Os efeitos da política do “cada um por si” no Brasil são explicitados por BARBOSA e
KISCHINHEVSKY (1999), BARBOSA (1999a e 1999b) [ANEXO 02-A].
50 Cf. RIEWOLDT (1997: 10), Richard SENNET compara o ganho global em flexibilidade com a perda
de segurança existencial: "O trabalho já não proporciona ao trabalhador uma identidade estável.
Graças a estas mudanças econômicas, o espaço de trabalho perdeu sua importância e
identidade".
83
globalismo e localismo51, e o Estado sai de cena e sua política econômica passa a ser gerida
pelo FMI; ou então, contraposição entre profunda miséria e luxo abundante, e
desestruturação e desestabilização do sistema de relações internacionais.52
(2) Faz proliferar teorias gerenciais e processos de “reengenharia”, “qualidade total”,
“avaliação em 360 graus”, produzidas pelos “gurus empresariais” e sua “bilionária indústria de
seminários, livros vídeos e uma gama de subprodutos” (BLECHER in MICKLETHWAIT &
WOOLDRIDGE 1998: XII) que, além de enriquecer seus autores, têm acelerado o desemprego e
provocado a quebra de empresas pelo mundo afora.
O quadro de estagnação econômica a que estão submetidos diversos países,
entre os quais o Brasil, associado à mecanização e automação progressivas do
trabalho aumenta a polarização entre pobres e ricos em um processo cujo
resultado “mais temível é que – pelo menos por alguns decênios – o
desemprego cresça e, com ele, a violência e a ilegalidade, que fariam pensar
na decomposição da velha sociedade mais do que no nascimento de uma
nova (DE MASI 1999a: 224).
Na verdade, o mundo pós-industrial do trabalho não tem se demonstrado fiel às
suas otimistas teorias liberalizantes. Segundo MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE
(1998: 174), aumenta a probabilidade de os pobres e sem habilidades passarem
a vida pulando de um emprego temporário para outro ou de, até, serem
inteiramente excluídos do mundo do emprego formal; diminui o tempo médio
de férias; aumentam as doenças relacionadas ao trabalho – especialmente LER
(lesões por esforço repetitivo), depressão53, estresse – decorrente do sentimento
de que “não foram as probabilidades que desapareceram, mas sim as
possibilidades” (MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998: 177), especialmente a
possibilidade de ser incorporado ao exército de demitidos que não
51 Para Michael LÖWY (in Cláudio FIGUEIREDO, A idéia de nação na era global, JORNAL DO BRASIL, 23/09/1999 –
Internacional), as diversas manifestações de surtos nacionalistas em plena era de internacionalização, queda de
fronteiras e integração econômica são a resposta a uma situação em que os países se vêem submetidos à uma
mesma lógica econômica, política e social. "As nações procuram compensar este esvaziamento econômico pela
hipertrofia da suas identidades étnicas e culturais". LÖWY identifica duas vertentes nos nacionalismos do fim de
século: "Uma tem caráter emancipador e nela os povos lutam por sua liberdade. Outra tem uma natureza
regressiva: a afirmação se dá pela opressão de outros grupos e nações. E às vezes os dois aspectos estão
inextricavelmente combinados".
52 Os efeitos destas “ameaças” no Brasil são explicitados por BARBOSA e KISCHINHEVSKY (1999) e
(BRAFMAN 1999) [ANEXO 01]. 53 Segundo estudo elaborado pelo MIT, a depressão custa aos EUA U$ 47 bilhões/ano.
(MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998: 175)
84
conseguiram um novo emprego, ou então “de que a tecnologia substitua seu
emprego, em vez de facilitá-lo.” (MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998: 177)54.
Para CASTELLS, a nova estrutura ocupacional – que se caracteriza pelo
envolvimento das pessoas em diferentes atividades e a ocupação de novos
cargos na estrutura ocupacional – apresenta marcantes diferenças entre países
e evidencia a valorização dos cargos administrativos, técnicos e profissionais
especializados, a desvalorização dos “cargos de artífices e operadores e
aumento do número de funcionários administrativos e de vendas.” (CASTELLS
1999a: 238) O autor atribui a grande diversidade de empregos existentes no
paradigma da sociedade informacional às diferentes trajetórias de cada
sociedade e à interação entre essas várias trajetórias, e critica o simplismo com
que tem sido tratada a estrutura explicativa do processo de transição histórica
da agricultura para a indústria e depois para serviços, identificando três falhas
fundamentais com reflexos na produção dos edifícios de escritórios: (1) a
suposta homogeneidade entre a transição da agricultura à indústria e da
indústria a serviços, que desconsidera a ambigüidade e a diversidade interna
das atividades rotuladas como “serviços”; (2) não considera a natureza
verdadeiramente revolucionária das novas tecnologias da informação que, ao
permitirem uma conexão direta on-line entre as diferentes atividades de um
mesmo processo de produção, administração e distribuição, relacionam
estruturalmente esferas de trabalho e emprego tradicionalmente separadas; (3)
esquece a diversidade cultural, histórica e institucional das sociedades
avançadas e sua interdependência na economia global.
Em outra observação que se reflete na produção dos edifícios de escritórios,
CASTELLS identifica alguns aspectos básicos comuns característicos ao processo
de transformação do trabalho e do emprego nas sociedades informacionais:
54 Segundo José R. TOLEDO, em Indústria ‘exporta 1,2 mi de empregos (Folha de São Paulo, São
Paulo 08/mar/1999), a indústria brasileira “exportou” cerca de 1,240 milhão de empregos entre
1984 e 1998, “como conseqüência da política de abertura comercial e também da
sobrevalorização da moeda nacional.” Contrariando a tese do governo, de que os ganhos de
produtividade foram os responsáveis pelo número de empregos eliminados pela indústria, na
mesma matéria, o economista Mário POCHMANN, da Unicamp, questiona a tese do governo que
atribui aos ganhos de produtividade a responsabilidade pelo número de empregos eliminados
pela indústria. Segundo POCHMANN, enquanto o número de empregos na indústria brasileira caiu
43% (passou de 4,2 milhões para 2,4 milhões), a produção industrial cresceu somente 2,7%. Para o
economista, os grandes beneficiados foram os países industrializados, que aumentaram suas
vendas para o Brasil. Os artigos de BARBOSA e KISCHINHEVSKY (1999), BARBOSA (1999a, 1999b,
1999c) BRAFMAN (1999) e FRANCO (1999) [ANEXO 02-A], apresentam um quadro do real do
problema brasileiro
85
(1) eliminação gradual do emprego rural; (2) declínio estável do emprego
industrial tradicional e nos setores administrativos de baixa qualificação, que
devem ser eliminados pela automação dos escritórios; (3) aumento dos serviços
relacionados à produção e dos serviços sociais (especialmente de saúde); (4)
diversificação das atividades do setor de serviços; (5) rápida elevação do
emprego para administradores, profissionais especializados e técnicos; (6)
formação de proletariado “de escritório”, composto de funcionários
administrativos e de vendas; (7) relativa estabilidade do emprego no comércio
varejista; (8) crescimento simultâneo dos níveis superior e inferior da estrutura
ocupacional; (9) valorização relativa da estrutura ocupacional ao longo do
tempo, com crescente participação das profissões mais qualificadas,
especializadas e de nível de instrução avançado em proporção maior que o
aumento das categorias inferiores.
Entretanto, o processo de transformação do emprego não significa que as
“qualificações especializadas, a educação, as condições financeiras nem o
sistema de estratificação das sociedades em geral tenham melhorado”
(CASTELLS 1999a: 251); seu impacto sobre a estrutura social depende da
capacidade do mercado de incorporar a demanda de trabalho e de valorizar
os trabalhadores segundo seu nível de conhecimento.
Outra interessante observação de CASTELLS com reflexos na produção dos
edifícios de escritórios, é a tendência histórica para a interdependência da
força de trabalho em escala global, que baseia-se em três mecanismos:
emprego global nas empresas multinacionais e em suas redes internacionais
coligadas55, impactos do comércio internacional sobre o emprego e as
condições de trabalho, e influência da concorrência global e do novo método
de gerenciamento flexível sobre a força de trabalho de cada país56. A expansão
da interpenetração das redes de produção e administração através das
fronteiras nivela a força de trabalho em termos de tecnologia e qualificação,
apesar das diferentes condições salariais e de serviços sociais, possibilita amplas
55 Cf. CASTELLS (1999a: 257), “o número de empresas multinacionais aumentou de 7.000 em 1970
para 37.000 em 1993, com 150.000 coligadas em todo o mundo.” 56 Cf. RIEWOLDT (1997: 10), diversas companhias estão re-localizando suas unidades operacionais de alto-custo
para locais mais baratos: American Express, Lufthansa e outras grandes corporações mudaram seus centros de
contas computadorizados para a Índia. O trabalho emigra para os cantos mais distantes do planeta.
86
oportunidades para as empresas definirem suas opções estratégias em relação
aos seguintes aspectos (CASTELLS 1999a: 260-261), visíveis no mercado brasileiro:
(1) redução do quadro funcional, mantendo apenas os empregados mais
qualificados e indispensáveis no Norte e importando insumos das áreas de baixo
custo; ou (2) subcontração parcial do trabalho nos estabelecimentos
transnacionais e redes auxiliares cuja produção pode ser absorvida no sistema
da empresa em rede; ou (3) empregar mão-de-obra temporária, trabalhadores
de meio-expediente ou empresas informais como fornecedores no país-sede;
ou (4) automatizar ou relocar aquelas tarefas ou funções de alto custo no
mercado de trabalho em comparação com as fórmulas alternativas; ou ainda
(5) negociar com a força de trabalho condições mais rígidas de trabalho e
pagamento como garantia para a manutenção de seus empregos, revertendo
benefícios sociais até então estabelecidos nos contratos.
Para a organização desta “colcha confusa, tecida pela interação histórica
entre transformação tecnológica, política das relações industriais e ação social
conflituosa” (CASTELLS 1999a: 262) que caracteriza o trabalho na atualidade, o
autor propõe um modelo analítico. Deste modelo, extraí apenas os aspectos
relativos à transformação tecnológica e à divisão do trabalho relevantes para
a produção dos edifícios de escritórios:
(1) Transformação tecnológica – em meio aos acirrados debates sobre os
impactos da mecanização e da automação no trabalho (demissão,
“desespecialização” versus “reespecialização”, produtividade versus
alienação, controle versus autonomia), a principal transformação decorrente
da automação integral é a tendência ao desaparecimento da linha de
montagem taylorista – “que se tornou uma relíquia histórica (embora ainda uma
dura realidade para milhões de trabalhadores do mundo em fase de
industrialização)” (CASTELLS 1999a: 264) – com suas tarefas repetitivas e
programadas, que podem ser executadas por máquinas. Os efeitos das
tecnologias da informação são semelhantes nas fábricas, escritórios e
organizações de serviços: a automação aumenta a importância dos recursos
cognitivos no processo de trabalho e as tecnologias da informação possibilitam
maior liberdade aos trabalhadores que buscam atingir seu pleno potencial
produtivo.
(2) A nova divisão de trabalho – CASTELLS propõe a seguinte tipologia:
87
(a) Realização de valor – tarefas reais executadas em determinado processo
de trabalho, dentre as quais se distinguem:
• “tomada de decisão estratégica – pelos dirigentes;
• “inovação em produtos e processo – pelos pesquisadores;
• “adaptação, embalagem e definição dos objetivos da inovação –
pelos projetistas;
• “gerenciamento das relações entre a decisão, o projeto e a execução,
considerando os meios disponíveis para a organização alcançar seus
objetivos – pelos integradores;
• “execução das tarefas sob a própria iniciativa e entendimento – pelos
operadores;
• “execução de tarefas auxiliares, pré-programadas, que não foram ou
não podem ser automatizadas – pelos “dirigidos” ou “robôs humanos”.
(CASTELLS 1999a: 265-266)
(b) Capacidade relacional ou cultivo de relações – relação entre
organização e seu ambiente, permite que se identifiquem três cargos
fundamentais:
• “os trabalhadores ativos na rede – que estabelecem conexões por
iniciativa própria (Por exemplo, engenharia em conjunto com outros
departamentos das empresas) e navegam pelas rotas da empresa em
rede;
• “os trabalhadores passivos na rede – que estão on-line, mas não
decidem quando, como, por que ou com quem;
• “os trabalhadores desconectados – que estão presos a suas tarefas
específicas, definidas por instruções unilaterais não-interativas.
(CASTELLS 1999a: 266)
(c) Capacidade de atuar no processo decisório ou tomada de decisão –
relação entre administradores e empregados em determinada organização
ou rede:
• “os trabalhadores que dão a última palavra, que tomam a decisão em
última instância;
• “os trabalhadores participantes, que estão envolvidos no processo
decisório;
• “os trabalhadores executores, que apenas implantam as decisões.
(CASTELLS 1999a: 266)
Esta seção possibilita três considerações:
(1) Os efeitos da concorrência global no modelo de produção e administração
global equivalem “à integração simultânea do processo de trabalho e à
desintegração da força de trabalho” (CASTELLS 1999a: 261).
(2) Nunca a humanidade esteve tão próxima de libertar-se do jugo do trabalho
mecânico e repetitivo que dispensa o uso do cérebro para dedicar-se
exclusivamente ao trabalho criativo.
88
(3) Como a evolução social é bem mais lenta do que a científica e tecnológica,
demora-se em colocar em ação os mecanismos de redistribuição das tarefas [e
da renda], de modo que todos possam trabalhar menos e em melhores
condições de igualdade e possibilidade.
“A prevalência dos interesses econômicos e a manutenção das
estratégias e políticas que garantem a hegemonia dos países do G-7 [FMI,
Banco Mundial], indicam que a redistribuição do trabalho e da renda está
mais próxima da utopia do que da realidade. O mundo deve continuar a
organizar-se como uma “rede hierárquica e assimetricamente
interdependente, conforme países e regiões diferentes competem para
atrair capital, profissionais especializados e tecnologia a suas praias” em
torno do triângulo riqueza, poder e tecnologia.” (CASTELLS 1999a: 118)
Na próxima seção, serão analisados os efeitos das transformações da
sociedade e do trabalho na era pós-industrial no espaço e no tempo.
89
2.3 Espaço e Tempo na Sociedade Pós-Industrial – do “real” ao virtual:
“Proponho a hipótese de que o espaço organiza o tempo na sociedade
em rede ... Tanto o espaço quanto o tempo estão sendo transformados
sob o efeito combinado do paradigma da tecnologia de informação e
das formas e processos sociais induzidos pelo processo atual de
transformação histórica.”
Manuel CASTELLS (1999a: 403)
“A combinação de dispersão espacial e integração global criou novo
papel estratégico para as principais cidades. Além de sua longa história
como centros de comércio e atividades bancárias internacionais, essas
cidades agora funcionam em quatro novas formas: primeira, como
pontos de comando altamente concentrados na organização da
economia mundial; segunda, como localizações-chave para empresas
financeiras e de serviços especializados ...; terceira, como locais de
produção, inclusive a produção de inovação nesses importantes setores;
e quarta, como mercados para os produtos e as inovações produzidas”.
Saskia SASSEN (1996: 211) 57
Nas duas seções anteriores analisei as transformações provocadas pela
passagem da Era Industrial para a Era Pós-Industrial e os efeitos produzidos por
estas transformações no mundo do trabalho e na economia. Nesta seção
analisarei as conseqüências das transformações de significado da noção de
espaço e tempo. Inicialmente apresento uma visão panorâmica do problema
para, a seguir, detalhar aqueles aspectos mais diretamente relacionados com
os objetivos deste trabalho: a desestruturação do espaço e do tempo que
possibilita a dispersão espacial e a integração social.
Milton SANTOS58 indica a necessidade de novos conceitos para tratar das novas realidades
geográficas da era pós-industrial, como a mudança de significado da palavra “espaço” – “que
passou a ser utilizada com maior ênfase para caracterizar o espaço sideral interplanetário”
(SANTOS 1997) ou como metáfora, em algumas disciplinas. O autor considera as noções de
meio técnico-científico-informacional, redes e cidade global mais adequados para representar
o atual significado do conceito clássico de “espaço” [geográfico]. A noção de meio, resultante
57 Tradução do autor. 58 in Geografia, caderno Mais!, Folha de São Paulo, São Paulo 13/abr/1997.
90
“de uma adaptação sucessiva da face da Terra às necessidades dos homens ... [inicialmente]
isoladas, ao sabor das civilizações emergentes, até chegar ao atual processo de
internacionalização” (SANTOS 1997), que tende a generalizar os mesmos objetos e paisagens
geográficos de modo a torná-los semelhantes nos mais diversos lugares do mundo. Conforme
SANTOS, a globalização
“leva à afirmação de um novo meio geográfico cuja produção é deliberada e que é tanto mais
produtivo quanto for maior o seu conteúdo em ciência, tecnologia e informação. Esse meio
técnico-científico-informacional dá-se em muitos lugares de forma extensa e contínua (Europa,
Estados Unidos, Japão, parte da América Latina), enquanto em outros (África, Ásia, parte da
América latina) apenas pode se manifestar como manchas ou pontos. Cria-se desse modo uma
oposição entre espaços adaptados às exigências das ações econômicas, políticas e culturais
características da globalização e outras áreas não dotadas dessas virtualidades, formando o que,
imaginativamente, podemos chamar de espaços luminosos e espaços opacos.” (SANTOS 1997)59
Estes diversos lugares se relacionam não mais segundo uma divisão territorial em regiões, mas
em um território de redes que, viabilizado pelas novas tecnologias de comunicação, se
superpõe à divisão territorial em regiões.60 Segundo SANTOS, as redes são “realidades
concretas, formadas de pontos interligados que, praticamente, se espalham por todo o
planeta, ainda que com densidade desigual”, e representam a “base da modernidade atual e
condição de realização da economia e da sociedade global ... veículo por onde fluem as
informações”, motor dos “dinamismos hegemônicos” e “quintessência do meio técnico-
científico-informacional”. Sua qualidade e quantidade definem a lógica espacial dominante da
nova hierarquia global dos lugares e regiões neste novo “espaço de fluxos” (CASTELLS 1999a) 61
59 O autor exemplifica este processo no Brasil através do “velho contraste entre o país costeiro e
o país interior e a mais recente oposição antre centro e periferia cedem lugar a uma nova
oposição entre, de um lado, esse meio-técnico-científico-informacional, espaço do artifício,
formado, sobretudo, pelo Sul e pelo Sudeste e, de outro lado, o resto do território nacional.”
(SANTOS 1997) 60 Cf. CASTELLS (1999a: 406), estudo de CAPPELINI sobre a formação de redes de serviços nas
cidades européias mostra a crescente interdependência e complementaridade entre os centros
urbanos de tamanho médio na União Européia: A importância relativa das relações entre cidades
e regiões parece diminuir quando comparada à importância das relações que interligam várias
cidades de regiões e países diferentes ... As novas atividades concentram-se em pólos específicos,
e isso implica um aumento das disparidades entre os pólos urbanos e as respectivas hinterlândias.
61 Cf. CASTELLS (1999a), fluxos são “seqüências intencionais, repetitivas e programáveis de
intercâmbio e interação entre posições fisicamente desarticuladas, mantidas por atores sociais
nas estruturas econômica, política e simbólica da sociedade"; são a expressão dos processos que
dominam nossa vida econômica, política e simbólica, a configuração espacial das práticas
sociais da sociedade em rede e a organização material das práticas sociais de tempo
compartilhado, que funcionam por meio de fluxos – de capital, de informação, de tecnologia, de
interação organizacional, de imagens, sons e símbolos.
91
– que, por não ser estrutural, é concebida, decidida e implementada por atores sociais que
exercem as funções direcionais em torno das quais esse espaço é articulado.
Esta hierarquia obedece a dois níveis de complexidade: lugares globais simples
e lugares globais complexos – as metrópoles que, além de combinarem um
grande número de variáveis típicas de nossa época, “guardam numerosos
aspectos herdados de épocas anteriores, em virtude da resistência da
paisagem metropolitana às mudanças gerais” (SANTOS 1997).62 Estes lugares
globais configuram os nós de uma intrincada rede que preside e vigia as
atividades características do mundo globalizado. (SANTOS 1997)
Em relação ao “poder gravitacional” (CASTELLS 1999a) – ou ao papel e posição conferidos na
hierarquia global dos lugares e regiões –, SANTOS (1997) classifica as metrópoles globais em
dois níveis: Metrópoles de Primeira Ordem, “capazes de exercer um papel de comando efetivo
e de regulação sobre o que se faz nas outras cidades e no resto do mundo” [Nova York, Los
Angeles, Tóquio, Londres e Paris], e Metrópoles de Segunda Ordem, cujo papel de comando e
regulação têm uma influência mais restrita e delimitada [São Paulo, Cidade do México,
Johannesburgo e Rio de Janeiro, por sua condição de polo turístico internacional, por sua
vocação para a economia de serviços e por abrigar importantes empresas de
telecomunicações e de petróleo].63
Ao considerar que as cidades globais
“são aquelas que dispõem dos instrumentos de comando da economia e sociedade em escala
mundial, seja na condição de pólo, seja na condição de relé da influência das grandes metrópoles
globais. Mas o exercício da ação hegemônica sobre a face da Terra não é um dado exclusivo das
metrópoles de primeira ordem: sem as outras cidades a economia global não se realizaria” (SANTOS 1997)
o autor evidencia a necessidade de relacionar as futuras demandas por
edifícios de escritórios com sistemas de alta tecnologia de cada cidade global
com o seu papel na hierarquia do novo “espaço de fluxos” – que pode ser
determinada através do MAH-COPPE – , que desestrutura as noções de espaço
e de tempo.
62 Cf. SANTOS (1997), “é um equívoco considerar as metrópoles como se fossem inteiramente modernizadas e globalizadas”. O cosmopolitismo desses lugares complexos é garantido pela manutenção de uma diversidade de origens, idades [e raças], que garantem o enriquecimento da variedade e da multiplicidade, o que inclui a possibilidade de abrigar os mais diversos tipos de capital, trabalho e cultura” ou, segundo DE MASI (1999a: 168), “modelos de vida rural, industrial e pós-industrial.” 63 A matéria Megaespeço, uma tendência nos novos centros empresariais do Rio, publicada no,
O GLOBO, Rio de Janeiro 06/02/2000, caderno Morar Bem, p. 2. reconhece o grande afluxo de
empresas nacionais e multinacionais dos setores de telefonia e petróleo que se instalam no Rio de
Janeiro atraídas pelas privativações.
92
A desestruturação do espaço e do tempo
As sociedades contemporâneas, de um modo geral, ainda estão presas ao
conceito do tempo cronológico, essência da modernidade – que “pode ser
concebida como o domínio do tempo cronológico sobre o espaço e a
sociedade” CASTELLS (1999a: 459) – do capitalismo industrial e do estatismo.
Com as novas tecnologias da informação, o capital da sociedade em rede
liberta-se gradualmente das limitações impostas pelo espaço geográfico e pelo
tempo e da cultura do relógio, viabilizando uma nova forma dominante do
tempo social do espaço de fluxos: o tempo intemporal, resultado da negação
do tempo [passado e futuro] nas redes do espaço de fluxos (CASTELLS 1999a).
A “compressão temporal e espacial” (David HARVEY in CASTELLS 1999a: 461)
produzida pela associação entre espaço de fluxos e tempo intemporal
possibilita uma nova forma de dominação social, por inclusão seletiva e
exclusão de funções e pessoas em diferentes estruturas temporais e espaciais.
Este processo de transformação do capitalismo desestrutura e fragmenta os
lugares da produção, do consumo e do conflito, e desarticulam o tempo.
93
Espaço de fluxos e espaço de lugares
Mas o espaço de fluxos da sociedade em rede não engloba toda a experiência
humana – segundo CASTELLS (1999a), a maioria das pessoas ainda vive em
lugares e percebe seu espaço com base no lugar, ambiente que se diferencia
por suas qualidades físicas e simbólicas –, mas modifica o significado e a
dinâmica dos lugares.
A tendência predominante é para um horizonte de espaço de fluxos a-histórico
em rede, visando impor sua lógica nos lugares segmentados e espalhados, cada
vez menos relacionados uns com os outros, cada vez menos capazes de
compartilhar códigos culturais. A menos que, deliberadamente, se construam
pontes culturais e físicas entre essas duas formas de espaço, poderemos estar
rumando para a vida em universos paralelos, cujos tempos não conseguem
encontrar-se porque são trabalhados em diferentes dimensões de um
hiperespeço social. (CASTELLS 1999a: 451-452)
Esta observação de CASTELLS fornece a chave para reconhecer que os problemas relacionados
com a produção, o consumo e a avaliação do ambiente construído decorrem de diferentes
visões de mundo ou paradigmas. A dificuldade de diálogo entre os diversos indivíduos ou
grupos sociais envolvidos com a questão, especialmente em relação aos edifícios de escritórios
– pode ser evidenciada pela leitura da carta de MUSA (ANEXO IV) 64. O texto ilustra a difícil
comunicação entre logos e techné que caracteriza o convívio entre a teoria e a prática da
arquitetura65. Ao tentar desqualificar o trabalho daqueles que, mesmo sendo colegas de
profissão, discordam de sua visão de mundo, de profissão e de mercado, a carta evidencia a
inexistência de “pontes de comunicação” entre os “universos paralelos” configurados a partir
de diferentes “visões de mundo” com base em diferentes “códigos culturais” e que são
“trabalhados em diferentes dimensões de um hiperespeço social.” A polêmica subjacente ao
objeto da discussão reforça a necessidade de se considerar a proposta de sistema “unitas
multiplex” de MORIN (1996).
Sociedade em rede
64 Publicada in Arquitetura IAB-RJn° 81. Rio de Janeiro, jun/1998, p. 31. 65 A frase “quem sabe faz, quem não sabe ensina”, ilustra o “campo de batalha” e as armas que
estão em jogo. A tentativa de caracterizar a dicotomia entre teoria e prática presente no discurso
de grande parte dos arquitetos, sejam eles “praticantes” ou “de mercado” – que produzem uma
arquitetura ora intuitiva, “realista” ou pragmática e ora “delirante”, mas em geral concebida a
partir de uma reflexão superficial ou ingênua de mundo – ou “teóricos” – que, de seu “Olimpo
distante”, contemplam com desprezo os simples mortais – somente tem contribuído para piorar a
qualidade da produção da arquitetura brasileira e de sua teoria.
94
A morfologia da rede reorganiza as relações de poder, e as conexões [nós ou
pontes] que ligam as redes representam os instrumentos privilegiados do poder.
Assim, os conectores são os detentores do poder: a nova economia está
organizada em torno de redes globais de capital, gerenciamento e informação
cujo acesso a know-how tecnológico é importantíssimo para a produtividade e
competitividade. (CASTELLS 1999a: 498-499)
A topologia definida por redes e nós
“determina que a distância (ou intensidade e freqüência de interação) entre dois
pontos (ou posições sociais) é menor (ou mais freqüente, ou mais intensa) , se
ambos os pontos forem nós de uma rede do que se não pertencerem à mesma
rede. Por sua vez, dentro de determinada rede os fluxos não têm nenhuma
distância, ou a mesma distância, entre os nós. Portanto, a distância (física, social,
econômica, política, cultural) para um determinado ponto ou posição varia entre
zero (para qualquer nó da mesma rede) e infinito (para qualquer ponto externo à
rede).”(CASTELLS 1999a: 498)
A crescente interdependência entre o capital financeiro, o capital industrial e a
alta tecnologia indica o surgimento de algo diferente:
“uma entidade capitalista coletiva sem rosto, formada de fluxos financeiros
operados por redes eletrônicas. Não é apenas a expressão da lógica abstrata do
mercado porque, na realidade, não segue a lei da oferta e da procura: responde
às turbulências e aos movimentos imprevisíveis, de expectativas não-calculáveis
induzidas pela psicologia e sociedade na mesma medida que pelos processos
econômicos. Essa rede das redes de capital ... dependem da lógica capitalista
não humana de um processo de informação aleatório operado eletronicamente.
(CASTELLS 1999a: 501-502)
No espaço de fluxos, as funções dominantes são organizadas em redes próprias
que as interligam em escala global, ao mesmo tempo em que fragmentam
funções e pessoas no espaço de lugares múltiplos em locais cada vez mais
segregados e desconectados entre si. Este processo faz com que muitas pessoas
percebam a sociedade em rede como uma desordem social transcendente,
ou como “uma seqüência automática e aleatória de eventos, derivada da
lógica incontrolável dos mercados, tecnologia, ordem geográfica ou
determinação biológica”. (CASTELLS 1999a: 505)
À luz da tradição sociológica – que entendia a ação social em seu nível mais fundamental como
o padrão em transformação das relações entre a Natureza e a Cultura – CASTELLS sugere que a
95
sociedade pós-industrial entrou numa nova era66 onde a “Cultura refere-se à Cultura, tendo
suplantado a Natureza a ponto de a Natureza ser renovada (‘preservada’) artificialmente como
uma forma cultural”. (CASTELLS 1999a: 505)
A nova ordem urbana: cidades globais67
Na sociedade em rede, as cidades globais são a um só tempo: os centros de
dinamismo econômico, tecnológico e social, os centros de inovação cultural e
política; e os nós de conexão aos diversos tipos de redes globais. As cidades
globais concentram o que há de melhor e o que há de pior e se caracterizam
por sua conexão física e social com o globo e por sua desconexão do local que
as torna uma nova forma urbana. Elas ocupam grandes extensões territoriais
marcadas pela descontinuidade de padrões de uso do solo que “alimentam da
população, da riqueza, do poder e dos inovadores de suas hinterlândias”
(CASTELLS 1999a: 435) e seu crescimento [em tamanho e em atratividade] está
diretamente relacionado com seu poder gravitacional em termos de
localização de funções de alto nível e de escolhas pessoais. Elas configuram um
espaço relativamente segregado no mundo ao longo dos nós do espaço de
fluxos: hotéis internacionais e edifícios de escritórios com ambientação
semelhante em todo o planeta, para garantir alguma
“familiaridade com o mundo interior e induzir à abstração do mundo ao redor;
salas VIP de aeroportos, destinados a manter a distância em relação à sociedade
nas vias do espaço de fluxos; acesso móvel, pessoal e on-line às redes de
telecomunicações, de modo que o viajante nunca se perca; e um sistema de
procedimentos de viagem, serviços secretariais e hospitalidade recíproca que
mantém um círculo fechado da elite empresarial por meio do culto de ritos
similares em todos os países. Além disso, há um estilo de vida cada vez mais
homogêneo na elite da informação, que transcende as fronteiras culturais de
todas as sociedades: o uso regular de spas (mesmo em viagens) e a prática de
jogging; a dieta obrigatória de salmão grelhado e salada verde com udon e
sashimi como equivalente funcional japonês; a cor “de camurça clara” da
66 CASTELLS (1999a) caracteriza as anteriores como (1) dominação da Natureza sobre a Cultura
[há milênios] e (2) dominação da Natureza pela Cultura [Revolução Industrial e triunfo da Razão]. 67 CASTELLS (1999a) adota a designação cidade informacional e DE MASI (1999a: 212) adota a
designação [de Javier ECHEVERRÍA] telépolis – “novíssima cidade-mundo em que os cidadãos
interagem virtualmente, a política transforma o privado em público, a economia transforma o
ócio em trabalho e o consumo em produção.” Neste trabalho, adoto a designação cidade
global de Milton SANTOS, por considerá-la mais adequada para tratar da cidade neste mundo
globalizado.
96
parede com o objetivo de criar a atmosfera aconchegante do espaço interno; o
ubíquo laptop; a combinação de ternos e roupas esportes; o estilo de vestir
unissex, e assim por diante. Tudo isso são símbolos de uma cultura internacional
cuja identidade não está ligada à nenhuma sociedade específica, mas aos
membros dos círculos empresariais da economia informacional em âmbito cultural
global. (CASTELLS 1999a: 441-442)
Estes monumentos de conexão simbólica são construídos
“nos lugares que constituem os nós de cada rede pelo mundo ... [a arquitetura
afasta-se] da história e cultura de cada sociedade e torna-se refém do novo e
admirável mundo imaginário das possibilidades ilimitadas que embasam a lógica
transmitida pela multimídia: a cultura do surfing eletrônico, como se pudéssemos
reinventar todas as formas em qualquer lugar, apenas sob a condição de
mergulhar na indefinição cultural dos fluxos do poder”. O encerramento da
arquitetura em uma abstração histórica é a fronteira formal do espaço de fluxos.
(CASTELLS 1999a: 442)
Assim como as cidades da era industrial foram afetadas pela fábrica, as cidades
globais da era pós-industrial são afetadas pela desindustrialização, pelo
crescimento quantitativo e por uma profunda transformação qualitativa que as
torna um misto de telépolis – “locais privilegiados da produção e do consumo
intelectuais” (Javier ECHEVERRÍA in DE MASI 1999a: 212) – e cidades
informacionais de CASTELLS – “não é uma forma, mas um processo, um processo
caracterizado pelo predomínio estrutural do espaço de fluxos.” (CASTELLS
1999a: 423). A cidade-global em rede “não tem limites ... não é localizável, não
se caracteriza pelo fato de estar. A sua essência é o fluxo, a circulação, a
velocidade cada vez maior, em mais bairros e na mente do maior número de
pessoas." (DE MASI 1999a: 214-215) Os “lugares” da cidade-global são metáforas
das velhas estruturas urbanas: a praça (telemática) e a auto-estrada
(informática). Ela também é multirracial, multicultural, multilingüística e se
sobrepõe, mas não substitui a vida precedente das metrópoles e a experiência
direta68, transformando “a essência do fenômeno, a sua epistemologia, a sua
semiologia, a sua antropologia, a sua ética e a sua estética”. (DE MASI 1999a:
68 Cf. DE MASI (1999a), a experiência virtual também se diferencia da experiência vivenciada
pessoalmente pelo lado emocional: viver uma guerra ou uma partida de futebol ao vivo é uma
experiência completamente diferente de vivê-las virtualmente através do vídeo e
confortavelmente instalado em uma poltrona. O “clima real” é apenas parcialmente captado
pelas câmeras e pela narrativa de quem as trasnmite.
97
215). Na cidade-global, é possível escolher entre o real e o virtual: quem gosta
de futebol, pode ir ao estádio ou ver a partida pela TV; quem gosta de cinema,
pode ver uma fita em seu videocassete ou ir a um cinema; quem gosta de
discutir pode ir até o bar ou acessar uma chat line. (DE MASI 1999a: 216)
A cidade-global representa uma completa ruptura com a nossa experiência de cidade:
“é uma nova prática virtual ... [uma] cidade sem território e sem fronteiras que dilata o âmbito
doméstico até fazer dele um recipiente do mundo; que amplia a cultura de cada um e do seu clã,
confrontando-a e misturando-a com toda a cultura do planeta; que faz de cada indivíduo de
hábitos caseiros um nômade, com a cabeça girando pelo mundo enquanto o corpo permanece
em casa; que substitui as circunscrições comunitárias pelas telecircunscrições das amostragens
estatísticas de propriedade; que prolonga a vida além da morte, permitindo ver e ouvir os
defuntos imortais nas fitas de vídeo ou até utilizar suas feições para fazê-los agir com efeitos
especiais em novas alternativas virtuais.” (DE MASI 1999a: 215-216)
Esta combinação de dispersão espacial com integração global configura um novo conceito de
cidade global que modifica a logística e a produção dos edifícios de escritórios e das indústrias
(especialmente as de alta tecnologia). O espaço passa a ser o suporte material de práticas
sociais de tempo compartilhado e a sociedade passa a ser constituída em torno de fluxos (de
capital, informação, tecnologia, integração organizacional, imagens, sons, símbolos), que são a
expressão dos processos que dominam nossa vida econômica, política e simbólica.
Diferentes reações ao processo de globalização
As considerações sobre as transformações por que vêm passando a sociedade na Era Pós-
Industrial – especialmente aquelas relativas ao ambiente social das cidades-globais e dos
ambientes internos, que se dispersam espacialmente, se integram globalmente e desarticulam
o tempo – tornam imprecisas as noções de um “meio geográfico” cuja complexidade é
diretamente proporcional ao seu conteúdo em ciência, tecnologia e informação: (1)
complexidade das defasagens culturais de diferentes tempos, valores culturais e modelos de
vida aparentemente incongruentes que compartilham ou se articulam em redes globais ou
locais; (2) dificuldade de lidar com níveis crescentes de complexidade cultural e as dúvidas e
ansiedades produz reações de “localismo” ou “desejo de permanecer em uma localidade
delimitada ou retornar a um sentimento de ‘lar’ tornam-se um tema importante”
(FEATHERSTONE 1997: 144) que se manifesta de diversas formas:69
• imersão em uma cultura local – resistência por permanência ou barreira de fluxos culturais;
69 Cf. RIEWOLDT (1997:11), em resposta à crescente exigência por experiências autênticas, o historiador Dieter
HOFFMANN-AXTHELM prevê o surgimento de uma nova urbanidade: "A insubstancialidade das redes eletrônicas
resulta numa ênfase crescente de materialidade, localidade, bordas e limites fixos”.
98
• tendência de participação de uma configuração global – lidar com os refugiados da
modernização;
• redescoberta da etnicidade e das culturas regionais – tendência à diversidade regional e
multiculturalismo, uso de máscara de afiliação local;
• viajantes levam sua cultura local consigo – aspectos reconfortantes de sua cultura local
limitam [atitude de reserva] perigos dos encontros interculturais;
• orientação cosmopolita, com afiliação local limitada e de grande mobilidade geográfica e
cultural – circulam entre diversas culturas locais e se comunicam com o mundo inteiro;
• pós-nostálgicos – intelectuais cosmopolitas e intermediários culturais que, em lugar de julgar
as culturas locais em termos de seu progresso em direção a algum ideal derivado da
modernidade, as interpretam para amplas platéias integradas à cultura de consumo.
Esta nova lógica de localização “formada em torno de fluxos da informação ...
que, ao mesmo tempo, reúnem e separam seus componentes territoriais”
(CASTELLS 1999a: 419) transforma as cidades em um “produto social” que pode
ser consolidado ou “inventado” através da decisão estratégica, em função de
sua capacidade de gerar sinergia com base em conhecimentos e informação”
(CASTELLS 1999a: 75). Na sociedade informacional, a hierarquia dos lugares
obedece ao modelo de produção industrial de DE MASI, apresentado na
SEÇÃO 2.1: (a) invenção – “grupos de saber” [marketing, arquitetos,
planejadores] formulam idéias, planos e projetos; (b) decisão – “grupos de
decisão” [investidores e/ou Estado] decidem quais idéias ou projetos podem ser
aproveitadas em que lugares; (c) produção – incorporadores produzem
[constróem]; e (d) consumo – venda ou exploração do negócio. Neste
processo, é possível observar a maioria senão a totalidade dos valores e
relações da sociedade pós-industrial (QUADROS 1 e 2).70
70 Estas questões levantadas por CASTELLS (1999a), DE MASI (1999a), SANTOS (1997) e
FEATHERSTONE (1997) sugerem uma releitura da obra de Kevin LYNCH, especialmente de A Theory
of Good City Form (1981) e What Time is this place? (1972), onde o autor analisa a relação entre
tempo e ambiente físico, e o modo como os símbolos externos se ajustam às imagens e noções
pessoais de tempo – sejam elas individuais ou de determinados grupos sociais.
99
2.4 TRANSFORMAÇÕES DO AMBIENTE DE TRABALHO
“O ambiente de trabalho sempre em modificação requer o reexame do seu
propósito, do espaço que ocupa, da tecnologia requerida e da forma de
disposição dos grupos de trabalho. Para o arquiteto, o desafio está em não
ser eclipsado por modelos bem consolidados, mas em estar preparado para
reconsiderar a natureza do trabalho e para repensar as conseqüências
físicas que esta mudança produz em seus princípios. Talvez a expressão física
do ambiente de trabalho seja bem diferente dos estereótipos normalmente
reconhecidos.”
JOHN WORTHINGTON (1997: 7) 71
“O trabalho é algo que se faz, e não um lugar para onde se
vai”
Charles HANDY 72
O início da era pós-industrial foi marcado pela busca desenfreada por inovação tecnológica e
automação, além da intensificação do uso do capital nas sociedades industrializadas cuja
compreensão demanda uma visão mais abrangente da evolução das transformações
produzidas no ambiente de escritório.
O Escritório da Era Industrial:
Em meados do século XIX,
“o ambiente de trabalho era aberto, frio, ruidoso, escuro e fedorento. As pessoas,
normalmente, se sentavam em cadeiras idênticas, utilizavam escrivaninhas
idênticas organizadas em filas idênticas, enquanto faziam trabalho quase
idêntico, indo e vindo. Os chefes tinham escritórios privativos para indicar o seu
“status” e, eventualmente, para ajudar a pensar mais facilmente. Todos no
interior das suas células estavam indubitavelmente agradecidos até mesmo à
atividade ao seu redor, que estimulava seu trabalho rotineiro e monótono. Para
a maioria das pessoas, individualmente, não haviam expectativas. Este tipo de
lugar de trabalho permaneceu assim durante mais de cem anos, e algumas
variações suas existem ainda hoje. (SMITH & KEARNY, 1994: 7)
No início do século XX, inspirados no modelo taylorista de eficiência e controle das fábricas e
na linha de produção fordista, a concepção destes edifícios-fábrica ajusta as dimensões dos
ambientes, de modo a adequá-los à ventilação e iluminação naturais, asseguradas pelas
janelas, todas reguláveis. Os pavimentos são altos e estreitos ou com o núcleo central vazado
e dotado de clarabóia (Fig. 8) Nos anos 20, a atividade de gerência começa a ser sistematizada
71 Tradução do autor. 72 In MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE (1998: 160)
100
ao mesmo tempo em que os especialistas em eficiência estudam os procedimentos e rotinas
de trabalho – estudos de tempo e movimento (KLEIN 1982)73. A arquitetura dos edifícios de
escritórios consolida os valores tayloristas da ordem, hierarquia, supervisão e
despersonalização.
Esta situação permanece estável até o fim da
Segunda Guerra, quando surgem os edifícios
corporativos, as primeiras firmas especializadas em
planejamento de escritórios e os componentes
padronizados.74 Os sistemas de calefação, ar
condicionado e de iluminação artificial de grandes
áreas tornam-se economicamente viáveis,
possibilitando a construção de edifícios maiores,
mais largos e com pavimentos mais baixos. Os
ambientes internos passam a receber maior
atenção, e a coordenação modular do projeto e da
construção procura integrar os diversos sistemas:
estrutura, envelope externo, transporte
vertical, divisões internas, mobiliário, iluminação artificial, telefonia e ar condicionado, com o
objetivo de garantir maior flexibilidade e eficiência.
A crença na tecnologia se reflete na arquitetura
International Style (Fig. 9) cuja concepção, dominada
pelo lado da oferta, prioriza os sistemas e equipamentos
prediais aos empregados, além de incorporar e
expressar a hierarquia piramidal das organizações em
seu layout interno: o tamanho dos escritórios, o nível do
pavimento – com a direção sempre no topo75 – e o
mobiliário evidenciam o status de seu ocupante na
73 A rotinização e repetição das atividades de trabalho da linha de produção fordista foi
imortalizada por CHAPLIN no filme Tempos Modernos. 74 Em 1947 a Herman Miller lança a primeira estação de trabalho: uma mesa com formato em “L”. 75 Com relação a esta questão, entre os profissionais da arquitetura, comenta-se uma curiosa
história que dá a dimensão da relação entre hierarquia e layout. O projeto de um edifício
construído no Rio de Janeiro para abrigar duas empresas multinacionais, cuja concepção previa
a divisão vertical do edifício, ficando uma empresa com a metade inferior e a outra com a
superior, permitindo um melhor aproveitamento da área de pavimento, teve de ser reformulado
e dividido na vertical, para atender aos caprichos da direção de uma das empresas, que não
aceitou a possibilidade de ocuparem andares inferiores aos da outra.
Figura 8 – Edifício Larkin (Buffalo,
1920)
Fonte: DUFFY (1997: 20)
Figura 9 – Edifício BNDES/RJ
(Rio de Janeiro, 1974)
101
escala hierárquica da organização. O aumento da
eficiência dos sistemas prediais e o desenvolvimento de
materiais acústicos, possibilita o surgimento de
ambientes internos
mais amplos cujos layouts incorporam salas e ambientes desprovidos de janelas para o
exterior, o que permite uma nova forma de exteriorização do status: os executivos ocupam a
periferia, enquanto os funcionários de apoio, os ambientes internos.
Na década de 60, a concepção do edifício-
fábrica taylorista começa a ser modificada com
o surgimento de duas propostas inovadoras.
Na Alemanha, surge o "escritório paisagem"
[Burolandschaft] (Fig. 10), cuja abordagem
para eficiência no desempenho revoluciona o
layout do escritório retilíneo. Os ambientes
passam a ser abertos e organizadas em grupos
ou blocos em função do fluxo de trabalho. Para
facilitar a comunicação baseada no grupo. O
mobiliário e os equipamentos são agrupados
em grandes conjuntos separados por
“caminhos curvilíneos e um sentimento de
paisagem interior” (SMITH & KEARNY, 1994: 7).
Nos Estados Unidos, surge o Action Office
[Herman Miller] (Fig. 11), um kit de
componentes que, respondendo a uma
variedade de tarefas de trabalho de escritório,
reconhecia os conflitos entre privacidade e
comunicação inerentes na organização dos
escritórios. O projeto orientado pelo uso
prioriza a máquina ao homem, reduzido a simples operador.
Outro fator importante na concepção dos escritórios do final da Era Industrial foi
o uso de mainframes para processamento de dados – centralizados em centros
de processamento de dados e operados por especialistas –, que automatiza as
Figura 10 – Burolandschaft (escritório-
paisagem)
Fonte: WORTHINGTON (1997: 28)
Figura 11 – Action Office (Herman Miller
1968)
Fonte: PILE (1984: 20-21)
102
tarefas de rotina do trabalho administrativo e “desespecializado”, formando um
sistema rígido e hierárquico de controle dos fluxos de informação.
“Assim, enquanto na base do processo há crescente rotinização (e,
portanto, automação), no nível médio há reintegração de várias tarefas
em uma operação decisória bem-informada, geralmente processada,
avaliada e executada por uma equipe composta de funcionários
administrativos com autonomia cada vez maior para tomadas de
decisão”. (CASTELLS 1999: 269)
O Escritório da Era Pós-Industrial:
Embora o lado da oferta continue a dominar a concepção dos edifícios de escritórios –
predomina a concepção em torre com núcleo central –, começam a surgir conceitos
inovadores que procuram reabilitar a subjetividade, a emoção e a criatividade76. Em
contraposição à idéia dominante de um edifício-abrigo estático, e em resposta às necessidades
emergentes de pequenos grupos de trabalho autônomos e dinâmicos, surge o conceito de
malha estrutural auto-regulada, flexível (Fig. 12). A arquitetura e o projeto
de interiores sofisticam-se e o mobiliário e equipamento
passam a ser utilizados para delimitar os ambientes
internos dos escritórios de planta aberta. Mas os avanços
da concepção do ambiente não se refletem na estrutura
das organizações, ainda fortemente hierarquizada e
departamentalizada, demandando exércitos de
trabalhadores para desempenhar variadas tarefas cada
vez mais especializadas, com a utilização de sofisticados
equipamentos. Com o trabalho mais especializado, as
células abertas do “escritório paisagem”, consideradas
prejudiciais para o desempenho, são substituídas por
cubículos organizados com um layout retilíneo; qualquer
centímetro quadrado
do espaço interno passa a ser aproveitado para assegurar a cada indivíduo um lugar de
trabalho mais definido. Embora os fabricantes de mobiliário e de sistemas em painel tenham
produzido sistemas criativos e flexíveis para satisfazer as mais variadas necessidades
individuais, cada vez mais valorizadas, a “generalidade das normas prevaleceu, e uma nova
76 Especialmente na Alemanha, Países Baixos, Escandinávia e Reino Unido.
Fifura 12 – Centraal Beheer
(Apeldoom, 1970-72)
Fonte: PILE (1984: 60)
103
célula de cubículos quase-idênticos surgiu, oferecendo às pessoas um sentido de território e
uma ilusão de privacidade”. (SMITH & KEARNY, 1994: 7)
Mas a descentralização da entrada de dados – informações são colhidas e
registradas o mais próximo possível da fonte – que começa a ser viabilizada à
medida que surgem os primeiros terminais operados fora dos centros de
processamendo de dados, permite eliminar grande parte do trabalho
administrativo mecânico e de rotina e, logo a seguir, “também desaparece a
supervisão de gerentes de nível médio, e os controles e procedimentos de
segurança são padronizados no computador.” (CASTELLS 1999: 269)
Ao longo dos anos 80, as organizações iniciam um processo de reestruturação que consome
bilhões de dólares em informatização, robotização e outras inovações77, com o objetivo de
cortar custos [e mão-de-obra]. Em sua fase inicial, esta “síndrome de automação insensata”
(HENDERSON 1995) que se abate sobre as organizações78 se caracteriza pela simples
superposição das novas tecnologias aos antigos padrões de trabalho. Os resultados
desanimadores e a descoberta de que o trabalho sustentado em tecnologia exige mais uma
“mudança de mentalidade do que de máquinas” (CASTELLS 1999a: 189), obrigam as empresas
a repensarem seus “objetivos e alternativas para maximizar a eficiência e agregar valor aos
empregados.” (WORTHINGTON 1997: 2) O efeito combinado das novas tecnologias79 em
telecomunicações e dos primeiros sistemas dedicados de gerenciamento predial –
inicialmente independentes, mas à medida que evoluem, tornam-se cada vez mais
multifuncionais e operativos – e do desenvolvimento dos
77 Cf. WORTHINGTON (1997), 90% dos recursos para modenização foram investidos na automação dos escritórios e
apenas 10% foram investidos nos trabalhadores produtivos. Cf. PROENÇA e CAULLIRAUX (COPPE/UFRJ 1996, in
Sonia JOIA, Os erros na modernização, JORNAL DO BRASIL, 18/05/1997, Economia), para enfrentar a concorrência
dos importados, a indústria brasileira optou pela compra de pacotes prontos de máquinas, equipamentos e
softwares, em lugar da criação de produtos e processos para ganhar mercados diferenciados. “As empresas
compraram o desempenho embutido nas máquinas, o que não é a rota mais inteligente possível ... A trajetória
brasileira é única no mundo e está inserida não só na abertura acelerada como na valorização do real frente ao
dólar, que barateou o preço dos equipamentos importados. O que se faz hoje é ordenhar as máquinas, ou seja, tirar
o que se pode delas tal e qual o fornecedor previu. O esforço de criação de produtos e processos é mínimo.”
(PROENÇA) Apenas 20% das 286 empresas pesquisadas realizaram esforços de inovação do processo de produção.
Os investimentos foram concentrados no controle da produção (mais de 93%) e da qualidade do produto (quase
70%), mas investiram muito pouco na educação da mão-de-obra no chão-de-fábrica (74% têm apenas o primeiro
grau).
78 Cf. CASTELLS, na década de 80, nos Estados Unidos, “uma tecnologia nova era, com certa
freqüência, considerada dispositivo para economizar mão-de-obra e oportunidade de controlar
os trabalhadores, e não um instrumento de transformação organizacional.” (CASTELLS 1999a: 189) 79 Cf. LAING (1997) e DUFFY (1997), em 1983 a empresa inglesa DEGW inicia o programa ORBIT –
ORganizations, Buildings and Information Technology – que estabelece novos parâmetros para o
projeto dos edifícios incorporando a Tecnologia da Informação e as mudanças na natureza das
organizações nos Estados Unidos e Europa.
104
microcomputadores80 induz à formação de redes de
estações de trabalho, e revoluciona o trabalho de
escritório. Os sistemas de escritórios passam a
ser integrados em redes interativas
capazes de processar a informação, a comunicar-
se e a tomar decisões em tempo real. Estes
sistemas interativos de informação formam a base
do escritório automatizado – e dos “escritórios
virtuais”, que permitem a execução à distância de
tarefas (CASTELLS 1999a), ou ainda o “escritório é
onde você está” (STONE & LUCHETTI, 1985) –
aumentando a importância do gerenciamento e
do trabalho profissional nos escritórios, bem como
o reconhecimento das suas variações. (Fig. 13)
“A conexão crucial torna-se, então, aquela entre os profissionais
especializados, que avaliam e decidem as questões mais importantes, e
os funcionários bem-informados, que decidem as operações do dia-a-dia
embasados nos arquivos dos computadores com suas possibilidades de
trabalho em rede. Dessa forma, a terceira fase da automação de
escritórios, em vez de simplesmente racionalizar a tarefa ..., racionaliza o
processo, porque a tecnologia permite a integração da informação
oriunda de muitas fontes diferentes e, uma vez processada, sua
redistribuição a diferentes unidades descentralizadas de execução.
Portanto, em vez de automatizar tarefas separadas (como digitação,
cálculos) o novo sistema racionaliza um procedimento inteiro ... [e] integra
os vários procedimentos pelas linhas de produtos ou mercados
segmentados. Assim, os funcionários são reintegrados funcionalmente em
vez de serem distribuídos organizadamente.” (CASTELLS 1999: 269-270)
A disseminação da tecnologia da informação
permite que o espaço e o tempo do escritório
sejam utilizados de diversas maneiras. Para
80 Cf. DUFFY (1997: 52), no início dos anos 80, com a invenção e a popularização do computador pessoal, os
computadores saíram de suas salas para o próprio escritório.
Figura 13 – O Escritório é onde você está
Fonte: WORTHINGTON (1997: 32)
Figura 14 – Scandinavian Airlines
(Estocolmo, 1988)
Fonte: DUFFY (1997: 39)
105
abarcar as necessidades do trabalho isolado ou
interativo, surgem variados padrões de trabalho
– espaço-colméia, espaço-célula, espaço-
recanto e espaço-clube (DUFFY 1997) 81 [TABELA
4 e ANEXO 02-C] –, e o conceito de espaço de
trabalho individual tende a ser substituído pelo
de espaço e equipamento compartilhados.
Mas as mudanças não se restringem ao
ambiente interno e aos padrões de trabalho:
o edifício “arranha-céu” localizado no centro
urbano, gradualmente cede lugar ao edifício
de subúrbio, baixo, espalhado e de alta
tecnologia “arranha-solo”, desenvolvido nos
subúrbios, “despovoado” em relação aos “escritórios fervilhantes de
empregados, funcionários e profissionais ... para se transformar em habitações
cujos inquilinos combinarão atividades de produção, reprodução, estudo e
lazer”. (DE MASI 1999: 216) (Fig. 14)
Os Anos 90 e o fim da tirania da oferta
Os edifícios com suas máquinas “auto-reguláveis” e seus sistemas cada vez mais convergentes
e interativos – que permitem o controle, por estação de trabalho, da temperatura, da
iluminação e do som ambiente – enquanto o computador on-line passa da
condição de ferramenta administrativa e se torna um “meio múltiplo de informação e
comunicação” (RIEWOLDT 1997:8): se na década anterior os computadores saíram de suas
salas para o próprio escritório, agora eles estão espalhando seus cabos por debaixo deles. A
aceleração contínua do ritmo de absorção da tecnologia da informação e a importância
estratégica das redes de informação torna-se cada vez mais evidente e a disseminação dos
telefones móveis, dos laptops e dos modens possibilitam concordar com STONE & LUCHETTI
(1985) e afirmar que “o escritório realmente é onde você está”. A possibilidade de “trabalhar
81 Cf. DUFFY (1997: 61), esquema simplificado teórico para diferenciar os principais aspectos dos
quatro principais padrões de projeto: (1) espaços-colméias, comparado a colônias ocupadas por
atarefadas abelhas trabalhadoras; (2) espaços-células ou celas, lembram as celas dos antigos
conventos e as células de escritório utilizadas pelos hóspedes da Corte em Londres; (3) espaços-
recantos, lugares ocupados e interativos onde é fácil trabalhar informalmente em equipes; (4)
espaços-clube inspirados no tradicional e aristocrático clube de cavalheiros. Segundo DUFFY, esta
separação dificilmente pode ser encontrada no mundo real, uma vez que toda organização, de
qualquer tamanho ou complexidade, pode ser caracterizada por uma mistura em permanente
transformação de todas as quatro.
106
com o terminal na própria casa ou em unidades organizativas intermediárias. Isso determina
uma progressiva desestruturação do espaço produtivo. (DE MASI 1999: 174)
TABELA 4: Padrões de Trabalho e de Espaço de Escritório
Espaço-colméia Espaço-célula Espaço-recanto Espaço-clube
Padrão de
trabalho
Trabalho dividido
em partes menores
e desenvolvido
pelo próprio staff
que tem instruções
precisas e pouca
discrição
Trabalho de alto
nível desenvolvido
com
independência
por talentos
individuais
(trabalho e
conhecimento
isolado)
Projeto ou outro
grupo de trabalho
em linha direta ao
tipo e necessidade
de mudança na
proporção de
diferentes
habilidades
interdependentes
Trabalho de alto
nível desenvolvido
com
independência
por indivíduos que
tanto precisam
trabalhar ao em
colaboração e
individual:
processo de
trabalho tende a
ser seguidamente
redesenhado
Ocupação
do espaço
com mais
tempo,
capacidad
e de
compartilh
ar espaço
por mais
tempo
Convencional 9h-
5d, mas tendendo
em direção a turno
de trabalho. Rotina
de horário, pouca
interação e
ocupação
permanente do
espaço oferece
pequena
possibilidade de
compartilhar
espaço usado
exceto em
trabalho em turnos
de 24 horas
Incrivelmente
esparso, dias de
trabalho mais
extensos,
dependendo de
acertos individuais.
Se a ocupação é
mais baixa, existem
oportunidades de
compartilhar
arranjos individuais
(fechados ou
abertos)
Convencional 9h-
5d, tende à maior
variedade de
atividades de
subgrupos.
Oportunidade
para compartilhar
espaço por mais
tempo aumenta
desde que o staff
interativo mais
gostar de ficar
afastado de mesas
ou do próprio
edifício
Complexo,
depende das
necessidades e de
acordos
individuais.
Demanda padrões
de uso de alta
densidade
ocupacional por
longos períodos de
tempo. Ocupação
intermitente de
suportes
compartilhados
utilizados no
arranjo das tarefas
Tipo de
layout do
espaço
Aberto, agrupado
(4 a 6 pessoas),
mínima divisão,
máxima área de
arquivo.
Imposição de
padrões espaciais
simples.
Células de
escritórios
fechadas ou uso
de estações de
trabalho individuais
com divisórias ou
separações altas.
Grupo de espaços
ou salas, área
média para
arquivos.
Ambientes
complexos e
contínuos
incorporam
Diverso, complexo
e manipulável
extensão de
arranjos baseados
em ampla
variedade de
tarefas.
107
espaços
p/encontros e
trabalho
Uso Simples terminais
mudos ou PCs em
rede.
Variedade de PCs
individuais e ampla
utilização de
notebooks.
PCs e alguns
grupos de
equipamentos
especializados
compartilhados
Variedade de PCs
individuais em rede
e amplo uso de
notebooks
Organiza-
ções
típicas
tele-vendas,
recepção e
processamento de
dados, rotinas
bancárias,
operações
financeiras e
administrativas e
serviços básicos de
informação
contadores,
advogados,
gerentes e
consultores de
pessoal, além de
cientistas em
computação
projeto, processos
de segurança,
algum trabalho
com mídia -
particularmente
rádio e televisão e
publicidade
firmas de criação
como empresas
de
publicidade/mídia,
companhias de
tecnologia da
informação e todo
tipo de consultoria
gerencial
Fonte: DUFFY 1997: 62-66.
Enquanto a teoria das organizações tem sido especialmente rica e inventiva –
especialmente nos Estados Unidos –, a inovação no planejamento dos escritórios
foi relegada a um segundo plano, aumentando o “abismo existente entre a
fertilidade das aspirações gerenciais sem limite e a fechada e estéril realidade
física dos escritórios convencionais”. (DUFFY 1997: 49)
Antigos símbolos de status – espaço individual, mais área de carpete, maior
privacidade, janela com vista para o exterior, etc. – perdem importância ou
significado nos edifícios que devem ser pensados de forma a aumentar o
controle dos usuários e possibilitar rápidas mudanças para atender às
demandas das equipes organizadas em função de projetos. A importância dos
novos horários e padrões de locação, cada vez mais flexíveis, aproxima as
fronteiras entre trabalho e casa. “A lógica do velho centro urbano de negócios
onde cada um obedientemente ocupa seu lugar de longa permanência em
breve não será mais aplicável” (DUFFY 1997: 51) – segundo Franklin BECKER82
“cerca de 70% das pessoas que trabalham em consultoria em administração,
82 Diretor do International Workplace Studies Programa na Cornell University e autor de Workplace:
Creating Environments on Organizations (1981)The Total Workplace (1990), Workplace by Design
(1994).
108
vendas e serviço ao cliente normalmente não ficam em suas mesas de
trabalho.” (in MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998: 169)
Para Gerald ROSS, fundador do Change Lab International, “a nova organização
molecular precisa ser construída muito mais em torno de mercados do que de
produtos ou funções.” (DUFFY 1997: 51) Os novos escritórios devem ser
concebidos de modo a acomodar as
“organizações em permanente mudança que, continuamente, precisam
responder ao incremento de um ambiente de negógios instável e imprevisível.
Caminhos estáveis, antiquados, hierárquicos de disposição dos escritórios não
podem lidar facilmente com mudança sem a ajuda de sua administração”.
(DUFFY 1997: 51)
Paradoxalmente, com o avanço do processo de globalização econômica, a
concepção dos edifícios e ambientes de escritórios sofre a influência das
diferenças culturais: nos Estados Unidos e no Reino Unido, superestima-se a
eficiência e a minimização de custos83; no Japão os proprietários procuram
reduzir os custos ocupacionais superlotando seus escritórios; nos países do norte
da Europa – Alemanha, Países Baixos e Escandinávia – a ênfase busca a
eficiência do ambiente interno, como forma de agregar valor ao desempenho
organizacional (DUFFY 1997: 47-48).
O modismo de escritórios abertos, conectados “em rede” tende a privar as
pessoas de um lugar onde possam pensar, levando algumas empresas a
adotarem o uso de bonés ou de
crachás coloridos como forma de sinalizar seu
estado de espírito ou desejo de privacidade. Estas
práticas aparentemente desorientadoras estão
diseminadas nas empresas de alta tecnologia: os
gerentes da Intel, da Microsoft (Fig. 15) e da
Hewlet-Packard (Fig. 16) são forçados a se
acostumarem com a idéia de que são membros
de uma força-tarefa temporária, sem local físico
ou cargo preciso, e não líderes de uma divisão
permanente. O ritmo de trabalho também muda:
83 Cf. MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE (1998: 169), a modificação da relação de pessoa por mesa
de 2:1 para 12:1 possibilitou ao braço inglês da Digital Equipment economizr 3,5 milhões de libras
por ano; ao reorganizar seus imóveis, forçando seus gerentes a compartilhar escritórios, a IBM
economizou U$ 14 bilhões.
109
em vez de trabalhar em turnos diários de 8 horas,
“o projeto tende a se desenvolver em um
crescendo de pizza-à-meia-noite, não-dá-tempo-
de-ver-os-filhos, seguido de uma folga quando
termina.” (MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE 1998:
171)
Nos anos 80 Mitchel MOSS (in CASTELLS 1999a)
descobriu que as telecomunicações avançadas e
os grandes investimentos em imóveis de alto valor
imobiliário estavam entre os fatores responsáveis
pela morosidade do processo de relocação de
empresas para longe de Nova York – os grandes
investimentos empresariais em imóveis valiosos
explicam a relutância em mudar-se, porque tal
iniciativa desvaloriza seus ativos fixos. Esta tendência coloca
por terra duas crenças: (1) que as telecomunicações tornariam ubíqua a
localização dos escritórios, “permitindo que empresas transferissem suas sedes
de bairros comerciais centrais caros, congestionados e desagradáveis para
instalações personalizadas em bonitos lugares ao redor do mundo” (CASTELLS
1999: 403-404), e (2) que a comunicação eletrônica domiciliar reduziria a
densidade urbana e a interação tecnologia-sociedade-espaço. Na verdade o
espaço de fluxos aumenta a concentração da economia informacional em
torno das cidades-globais [nós] e o desenvolvimento do tele-trabalho, que não
é uma “conseqüência direta da tecnologia disponível.” (CASTELLS 1999: 404)
Tendências e perspectivas.
Existe muita especulação e controvérsia em relação à configuração dos edifícios e ambientes
de escritório do futuro próximo. E isto se deve, principalmente, à defasagem entre a
inventividade e fertilidade das teorias das organizações e a “esterilidade” do ambiente físico
dos escritórios convencionais, ainda inspirados no edifício-fábrica taylorista. Enquanto
MICKLETHWAIT & WOOLDRIDGE (1998: 181) sugerem que o aspecto mais aterrorizador sobre
o futuro do trabalho “pode ser simplesmente o quanto familiar ele será”, alguns estudiosos se
debruçam sobre o problema do futuro do ambiente de trabalho e formulam algumas idéias e
questionamentos bastante relevantes para este estudo.
Figura 15 – Microsoft
(Seattle, anos 90)
Fonte: DUFFY (1997: 47)
Figura 16 – Hewlet-Packard
(Palo Alto, anos 80)
Fonte: HMRC (1985: 80)
110
Francis DUFFY (1997) observa a estreita ligação entre o projeto físico do escritório com a
filosofia organizacional; mudanças de projeto e de orientação estão intimamente interligadas e
delas dependem o sucesso e a sobrevivência do negócio – “o planejamento do projeto de
escritório e o planejamento das estratégias de negócios podem ser integrados com benefício
mútuo” (DUFFY 1997: 67). O autor sugere uma abordagem “integrada e sistemática sobre
estrutura organizacional, processos de trabalho e conseqüências físicas”... [em um processo
que] ... “envolve mudanças no total da população do escritório e nos níveis de interação e de
autonomia dos trabalhadores”. (DUFFY 1997: 67) Ele também ressalta a importância de
analisar a tendência de mudança dos padrões de escritório – passagem do padrão de espaço-
colméia, para padrões que favoreçam o trabalho em grupo (espcáo-recanto), o trabalho
individual mais concentrado (espaço-célula), ou para uma combinação nos processos de
trabalho mais comunicativos e colaborativos e o ambiente (espaço-clube). A seguir, DUFFY
sistematiza um procedimento de planejamento para explorar as direções de mudança e
investigar as linhas de ação projetual com vistas a prever as futuras demandas de espaço de
escritório em diferentes lugares, culturas ou circunstâncias econômicas: (1) identificação das
proporções relativas dos padrões de trabalho e espaço encontrados; (2) avaliar as
conseqüências das mudanças na importância relativa de cada padrão de trabalho e espaço no
interior da organização; (3) identificar a proporção de cada um dos quatro diferentes padrões
de trabalho e espaço; (4) elaborar previsões de demandas para os padrões de trabalho e de
espaço no processo de “transição decorrente da mescla de diferentes tipos de espaço de
escritório”. (DUFFY 1997: 67)
John WORTHINGTON (1997) reporta a um estudo realizado pela DEGW London
Ltd. e Teknibank, que identifica três abordagens projetuais distintas em função
de diferentes percepções ou culturas sobre o valor dos edifícios – (1) a
abordagem alemã, que procura maximizar o valor de uso para a organização;
(2) a abordagem anglo-saxônica, que procura maximizar o valor de troca; (3) e
a abordagem que procura maximizar o valor estético ou tecnológico – para
sugerir que se busque novas soluções que, além de integrarem as três
abordagens, explorem o uso da tecnologia com o objetivo de assegurar
soluções que ampliem as opções dos usuários e que maximizem o seu valor
negocial.
Franklin BECKER e Fritz STEELE (1994) acreditam que uma organização é mais saudável quando
pensada como um sistema integrado total que inclui instalações físicas, informática, políticas
organizacionais, práticas organizacionais, e estilo de administração, e propõem que o
111
ambiente de trabalho seja entendido como ferramenta para atingir metas. Críticos do “lugar
de trabalho típico” – que reprime a efetividade organizacional –, introduzem os conceitos de
qualidade do lugar de trabalho e de ecologia organizacional – o ambiente de trabalho pensado
como um sistema que depende da integração de padrões físicos, processos de trabalho,
cultura organizacional e informática para suportar os novos processos negociais, ou seja,
“sobre as escolhas das lideranças das organizações sobre o modo de reunir seus empregados
no espaço e tempo em busca de uma margem competitiva de longo prazo.” (BECKER & STEELE
1994: 12).
Phyl SMITH e Lynn KEARNY (1994) questionam os quatro pressupostos gerais que
fundamentam o planejamento dos ambientes de trabalho: (1) Associam a lacuna no
entendimento da administração sobre as perdas de produtividade decorrentes de projetos que
não se baseiam no desempenho à crença na adaptabilidade infinita das pessoas, ensinadas
desde pequenas a ajustar-se, em lugar de “fazer ondas.” Os autores criticam a falta de atenção
de projetistas de interiores ou arquitetos em relação ao comportamento e desempenho
humanos no trabalho, e o ênfase nos aspectos materiais e operacionais: estrutura, estética,
materiais, produtos, métodos de instalação, de manutenção, e de orçamento. (2) O uso da
estética para demonstrar hierarquia e para motivar as pessoas, confunde imagem e privilégio,
direcionando o desempenho: a tendência de aplicar “diferentes padrões de espaço aos
diferentes níveis de trabalho (local, tamanho, quantidade e qualidade de mobiliário),
desconsiderando as reais necessidades de desempenho” (SMITH & KEARNY, 1994: 9) indica
desconhecimento sobre outras necessidades do trabalho humano. (3) A crença de que as
necessidades das pessoas custam mais do que o que elas valem84 que fundamenta a
concepção do ambiente de trabalho com foco na tarefa. Esta concepção dominante
desconsidera os valores humanos, sublinha a convicção em adaptabilidade humana que
ignora a possibilidade de mudar o trabalho, o equipamento, o mobiliário e os ambientes, que
pressupõe a mudança do corpo humano e de suas necessidades de desempenho (SMITH &
KEARNY, 1994: 9) e que produz lugares genéricos de trabalho “auto-ajustáveis-a-pessoas-de-
qualquer-tamanho.” Esta prática demanda menor quantidade de dados, e requer um
projetista com menos habilidade. Em contrapartida, ambientes de trabalho projetados com
84 Fundamentados em BRILL (1985), os autores afirmam que “em geral, os custos de pessoas são muito maiores do
que o valor do escritório: 13 a 1 para os escritórios construídos; 5 a 1 para escritórios arrendados.” (SMITH &
KEARNY, 1994: 9) Com base nestes valores, os autores questionam os motivos pelos quais os custos humanos têm
sido pouco considerados no planejando ambientes de trabalho. Cláudia ANDRADE (in CAPOZZI 1996: 9) e MOLESKI
(1986, in SMITH & KEARNY, 1994: 9) observam que em um período de dez-anos, do custo total necessário para
realizar a missão de uma organização, mais de 90% são gastos com pessoal, 7% são gastos com a operação do
edifício, e MOLESKI complementa que apenas 2% são gastos com construção/compra e equipamento do escritório.
112
base no homem – foco no desempenho – exigem a inversão do processo projetual. A
possibilidade de cada indivíduo modificar seu ambiente e equipamento para torná-lo mais
confortável e interativo com o desempenho de suas tarefas passa a ser determinante do
projeto, e requer um projetista com mais habilidades analíticas e prescritivas. A predominância
da concepção do espaço de trabalho baseado na tarefa em relação à concepção baseada no
desempenho humano também se deve ao fato da primeira desconsiderar a instabilidade dos
altos custos contínuos provocados pelo desconforto ou descontentamento das pessoas
(recrutamento, contratação, treinamento, pagamento e demissão dos empregados) e valorizar
os custos mais estáveis de manter um edifício. (SMITH & KEARNY, 1994: 9)
113
2.5 Repensando os Edifícios de Escritórios
“A maioria dos trabalhadores não precisa da pesquisa para lhes dizer aquilo
que eles bem sabem. Eles sabem como o seu ambiente de trabalho está
conseguindo atrapalhar seu caminho e interferir no seu desempenho, mas
lhes falta o poder e a corajem para mudar isto.”
Phyl SMITH & Lynn KEARNY (1994: 8) 85
Nesta seção, mesmo reconhecendo dificuldade de explicar um mundo incerto
e subjetivo a ser contemplado, experimentado e criado continuamente no
próprio processo de viver (MATURANA & VARELA), procurarei traçar um
panorama da produção dos edifícios de escritórios na era pós-industrial. Como
nenhuma forma de conhecimento é, em si mesma, racional, o panorama
procura contemplar um conjunto de diversas visões: a da “planície da batalha”
dos “arquitetos estabelecidos e ativos”, a “masoquista”, a “de louvação” da
crítica, ou até mesmo a de “um Olimpo
artificial... distante das realidades vivenciadas.”
A mudança das relações entre
empresa e mercado86 e a substituição
do foco na tarefa para o foco no
desempenho (SMITH & KEARNY)
também serão consideradas para a
determinação das diretrizes de oferta
orientadas para atender às futuras
demandas organizacionais – também
consideradas – e que,
esquematicamente, podem ser
representados e classificados segundo
três diferentes cenários:
(1) demanda tradicional, ou
“preservadora”, representada por
85 Tradução do autor. 86 Cf. TABELA 2 da SEÇÃO 2.1, a substituição do foco na produção – os bens são impostos à
sociedade, gerando uma demanda por excesso de oferta – para o foco no mercado – os
produtos passam a ser produzidos a partir das necessidades e valores emergentes da sociedade
e das demandas latentes – inverte as tradicionais relações entre empresa e sociedade do período
industrial.
Figura 17 – Escritório de Advocacia
(São Paulo, anos 90)
Fonte: Casa Vogue (nov/1996: 126)
Figura 18 – Sede da Globo em SP
Fonte: Projeto-Design 229
(mar/1999: 83)
114
advogados, psiquiatras, psicólogos,
médicos, artesãos, etc., cujas
demandas são menos dependentes da
inovação tecnológica nos setores de
informações e comunicações, e cujas
práticas, neste sentido, podem ser
consideradas conservadoras; (Fig. 17)
(2) demanda de equilíbrio ou
”revitalizadoras” representada por
organizações que procuram
incorporar múltiplos valores,
imagens e leituras da cultura
organizacional mesclando algumas
demandas tradicionais com outras
inovadoras; (Fig. 18) e
3) demanda inovadora ou
“renovadoras”, de desenvolvimento
mais radical, que tende a
desconsiderar valores e cultura
tradicionais, representadas pelo 4° setor da economia, (Fig. 19)
“intrinsecamente tecnologia-informação-conhecimento intensivos ... suporta e
fomenta os demais setores da economia, desenvolvendo, contudo, uma lógica
própria que não se liga, necessariamente, ao aumento de produtividade mas à
construção do conhecimento como um produto com um valor em si ... Em outras
palavras a transição da propriedade material para a propriedade intelectual”
(REBOUÇAS 1998: 14),
caracterizadas como conhecimento, informação, propriedade intelectual, experiência.
A produção dos edifícios e ambientes de escritórios na era pós-industrial
A transformação provocada pelas novas tecnologias da informação – que desarticula a noção
de espaço e de tempo e provoca o surgimento de uma nova divisão internacional do trabalho
em torno do tripé riqueza, poder e tecnologia – e a nova relação entre empresa e mercado se
refletem de uma forma bastante particular nas futuras demandas por ambiente construído
para o trabalho. Segundo Andrew LAING, as mudanças nas teorias e modelos organizacionais
surgidos a partir de meados dos anos 80 receberam um tratamento cosmético e superficial na
Figura 19 – TDWA Chiat/Day (New York
1996)
Fonte: RIEWOLDT (1997: 32-33)
115
concepção tradicional de escritório. Uma análise mais atenta das novas estações de trabalho e
de suas tecnologias, sistemas de iluminação, mobiliário e padrões de uso do espaço revela que
muito pouco mudou em relação aos “pressupostos do núcleo de ocupação do espaço em
tempo integral” (LAING 1997: 26).
Em geral o ambiente de trabalho convencional continua a ser projetado, construído, servido e
ocupado sem que sejam consideradas as características emergentes das novas formas e
padrões de trabalho (LAING 1997): (1) padrões de trabalho altamente móveis e nômades; (2)
uso compartilhado de múltiplos ambientes de trabalho de grupo; (3) ambientes baseados na
diversidade de tarefas; (4) períodos prolongados e irregulares de trabalho; (5) padrões
variados e/ou de alta densidade de uso do espaço; (6) uso mais compartilhado e temporário
do ambiente de escritório, combinado com as diversas modalidades de teletrabalho. Uma
leitura atenta do discurso corrente dos projetistas de edifícios e ambientes
de escritórios evidencia a prevalência dos pressupostos
tayloristas e do paradigma da racionalidade. Persiste a
crença de “que o conhecimento necessário já está sob
controle dos projetistas pela sua virtuosa intuição” (ZEISEL
1981: 4); que um homem ou grupo de homens, seja capaz
de “controlar por completo um edifício e a projetar o que
este vai ser, até o último detalhe, sobre um pedaço de
papel” (ALEXANDER 1979 b: 14). Deste processo resulta
uma visão que dissocia “o espaço físico cultural e natural
do social, como se estas não fossem dimensões
complementares e interdependentes de um ambiente.”
(DEL RIO 1991: 358) A dissociação entre a concepção do
edifício e a atividade interna de seus usuários se acentua
com a disseminação do ‘International Style’ que, além de
desconsiderar a relação entre os edifícios e as atividades
de seus ocupantes, provoca a separação entre projeto do
edifício e projeto de interiores (LAING 1997) (Figs. 20, 21)
Esta tendência de conceber os edifícios como espaços
vazios e flexíveis atinge seu ápice com os arranha-céus
pós-modernos norteamericanos do início dos anos 80 –
modelo “mimetizado” nos edifícios construídos no eixo
Rio-São Paulo –, quando arquitetos e construtores,
Figura 20 - Edifício RB1
(Rio Janeiro, 1986-90)
Figura 21 – Edifício
Metropolitan
(Rio de Janeiro, 1989/94)
116
seduzidos pelas possibilidades dos novos sistemas de alta
tecnologia, abdicam “da responsabilidade de decidir para
que vai servir o edifício, como vai ser utilizado e como
será mantido” LAING 1997: 24). Em lugar de rever seus
fundamentos e pressupostos à luz das novas demandas
organizacionais, a concepção dos novos edifícios-fábrica
de escritórios – agora “inteligentes” – passa a investir na
oferta de edifícios abarrotados de novos aparatos
tecnológicos de finalidade ou eficiência social
questionável. (Fig. 22)
117
O paradoxo entre oferta e demanda de
edifícios e ambientes de escritório
A predominância dos edifícios International
Style maquiados por fachadas pós-modernas
e recheados de novas tecnologias em meio a
um ambiente em efervescente mudança,
indica a situação paradoxal que caracteriza a
fase de transição representada pelo conflito
entre tradição e inovação. De um lado, a
visão tradicional, representada pelos
fabricantes de sistemas, construtores e
projetistas da corrente pragmática, alinhada
com os interesses do mercado imobiliário e
com as demandas das organizações
tayloristas. Seus adeptos acreditam na
aplicação da lógica das máquinas “às nossas
próprias concepções de sociedade, vida e
homem” (MORIN 1996: 109), e que o
problema do desempenho e da adaptação
dos ambientes de trabalho está na
dificuldade das pessoas adaptarem-se ao
ambiente-fábrica87 (Figs. 23, 24, 25). De outro
lado, a visão inovadora, representada pelas
organizações, alguns projetistas e
pesquisadores engajados em uma reflexão
mais profunda e abrangente do problema.
Seus adeptos reconhecem a possibilidade de
que um edifício ou ambiente
tecnologicamente eficiente possa vir a ser
87 Cf. SMITH & KEARNY (1994: 5-6), os sintomas de interferência do lugar de trabalho freqüentemente são
interpretados como falta de habilidade, falta de conhecimento ou como uma atitude indesejável, incitando os
gerentes a buscarem uma solução no treinamento. Segundo os autores, é pouco provável que um administrador
diga "algo está errado com nossos lugares de trabalho - ajude-nos a solucionar isto. " De um modo geral, as pessoas
estão acostumadas a se adaptarem às disfunções dos lugares de trabalho, que tendem a ser ignoradas enquanto
fontes de problemas de desempenho. Primeiro olha-se para as pessoas para, finalmente, na esperança de resolver
o problema através de treinamento, de recompensas, de ameaças ou até mesmo, da substituição das pessoas.
Figura 24 – Petrona Twin Towers
(Kuala Lumpur, 1991/97)
Fonte: AU73 (ago/set 97: 36)
Figura 23 – Biblioteca Nacional da Françs
(Paris, anos 80/90)
Fonte: Projeto Desingn 199 (ago/96: 35)
Figura 25 – Consórcio Vida
(Santiago do Chile, anos 90)
Fonte: Projeto Design 195 (abr/96: 33)
118
“socialmente ineficiente” (HENDERSON in
CAPRA 1991: 223) e acreditam que o
problema está no ambiente de trabalho, que
deve ser repensado para atender às novas
demandas de seus usuários e organizações. O
paradoxo da situação é que enquanto
aumenta a oferta de edifícios-fábrica cada
vez mais sofisticados e dispendiosos (Figs. 26
e 27), também aumenta a demanda de
empresas Inovadoras por ambientes de
trabalho que
possibilitam que seus funcionários administrem as quatro necessidades sugeridas por SMITH &
KEARNY (1994): (1) a possibilidade de influir na organização do seu ambiente de trabalho; (2) a
capacidade de controlar o mobiliário, o equipamento e as condições internas de conforto; (3) a
capacidade de controlar sua privacidade; e (4) a facilidade de interagir com seus colegas.
“A pressão de mudança das organizações e o desenvolvimento
continuado da informática ao longo dos anos noventa significou que estas
demandas complexas por parte dos usuários continuam requerendo uma
aproximação radical e holística por parte dos arquitetos e projetistas do
ambiente de escritório.” (LAING 1997: 26)
As pesquisas desenvolvidas por LAING para a DEGW International indicam que as organizações
que repensaram seus processos e modos de trabalhar e que buscaram traduzir estas inovações
em novos padrões de ambientes de trabalho e de uso do escritório,
Figura 26 – Sun Tower (Seul, anos 90)
Fonte: Projeto Design 225 (out/98: 64)
Figura 27 – Menara Mesiniaga
(Kuala Lumpur, anos 90)
Fonte: DUFFY (1997: 71)
Figura 28 – Avião-Escritório
Fonte: KLEIN (1982: 228)
119
encontraram resistência nos projetistas, que continuam a olhar o ambiente de trabalho com
muita rigidez. Esta resistência levou diversas empresas a buscarem soluções inovadoras para
seus escritórios em outros ambientes, tais como: (1) espaços íntimos e mobiliário descontraído
do ambiente doméstico; (2) ocupação espacial flexível e eficiente do hotel; (3) senso de
opulência, sociabilidade e prestígio do clube dos cavalheiros, do restaurante e do aeroporto;
(4) ultra-ergonômico projeto de salas de estar dos velozes aviões dos executivos (Fig. 28); (5)
flexibilidade, manuseabilidade e transitoriedade associadas com o cenário de um teatro,
cinema ou com a instalação de uma galeria de arte. (LAING 1997: 25-27)
Segundo SMITH & KEARNY (1994), pesquisas desenvolvidas nos Estados Unidos88 evidenciam
que: (1) o aumento do grau de satisfação com o ambiente de trabalho pode garantir um
rendimento adicional entre 5% a 15% do valor das despesas anuais com salários; (2) o uso de
estações de trabalho ambientalmente responsivas possibilita ganhos de produtividade em
torno de 2%; (3) o uso de cadeiras e estações de trabalho mais ergonômicas possibilitam
reduzir em até 50% os índices de absenteísmo dos funcionários.89 (Fig. 29)
O discurso do “marketing da inteligência” dos edifícios espertos
A partir da inauguração, em 1984, do edifício da AT&T [JOHNSON & BURGEES] – primeiro
edifício de uso não-industrial de alta tecnologia – o marketing começa a forjar a designação
“inteligente”, derivada da palavra inglesa intelligence (serviço de informações), e hoje
consagrada no mundo inteiro para caracterizar o mais novo e lucrativo ramo de negócio no
88 Buffalo Organization for Social and Technological Change, Rensselaer Polytechnic Institute e
Norwegian State Institute of Working Physiology. 89 Em outro exemplo ilustrativo, SMITH & KEARNY (1994: 5) propõem uma situação onde seis sócios de uma
empresa estimam que as inadequações de seu ambiente de trabalho estão fazendo cada deles desperdiçar cerca
de uma hora por dia. A perda semanal do grupo é de 30 horas e o salário básico, $25. por hora, acrescido de 30% de
leis sociais, chega aos $32.50 por hora. A perda de 30 horas semanais a $32.50 por hora chega a $975. por semana.
Multiplicada por 52 semanas, a perda anual soma $50,700. Esta perda, representa o custo da não satisfação das
necessidades das pessoas, que em geral é desconsiderado.
Figura 29 – Sistema Dynamics Schärf
Fonte: Projeto Design 204 (jan/97: 85)
Apesar de todas estas evidências, os
agentes responsáveis pela concepção e
produção de edifícios e ambientes de
escritórios relutam em modificar suas
práticas, com o que aumenta cada vez mais
a dissociação entre a oferta e a demanda.
120
mercado imobiliário: o dos edifícios de alta tecnologia. Seu significado impreciso varia
conforme os interesses envolvidos: dos fabricantes dos sistemas, das construtoras, das
consultorias em automação predial ou imobiliárias e os dos projetistas. Os fabricantes de
sistemas e construtores falam em “edifício que oferece um ambiente produtivo e econômico
através da otimização de quatro elementos básicos – Estrutura, Sistemas, Serviços e
Gerenciamento”90 ou de “edifícios que possuem um bom e atualizado projeto e uma
construção racional e econômica; ou aqueles que são bem projetados e construídos, levando-
se em conta as exigências de uso e evolução tecnológica”91.
Entre os que representam os interesses de arquitetos e consultores de sistemas, existem os
que restringem o problema à alta tecnologia (automação predial), os que acreditam que um
edifício inteligente surge a partir da definição de seus propósitos e de sua concepção e, em
uma posição intermediária entre ambos, os que acreditam que um edifício inteligente envolve
tanto a alta tecnologia quanto seus propósitos e concepção. Seus adeptos, em geral, falam em
instalação inteligente e preconizam que a incorporação de tecnologia aos edifícios é uma
exigência gerada pela complexidade das novas edificações ou, em outras palavras, uma forma
irreversível de agregar valor às edificações. Há, ainda, os que defendem que o edifício
inteligente tem um projeto inteligente, os que restringem a questão ao atendimento das
necessidades do cliente, os que falam em conjunto inteligente de soluções, materiais,
equipamentos e sistemas integrados a uma arquitetura esteticamente criativa e, finalmente,
os que acreditam que a inteligência de um edifício está vinculada à qualidade, à profundidade
e à seriedae de seu projeto arquitetônico.
90 IBI – Intelligent Buildings Institute. 91 ABCI – Associação Brasileira de Construção Industrializada.
121
Pesquisadores do Advanced Building Systems Integration Consortium da
Carnegie Mellon
“espaços inteligentes não seriam aqueles projetados para acomodação ou exibição otimizada
de tecnologias de multimídia, mas sim os que provêem as oportunidades de subsistência das
novas tecnologias para a humanização dos ambientes habitados”. (Fig. 30)
Particularmente, considero que um edifício inteligente deve espelhar a
sabedoria de seu tempo, em lugar de crenças e interesses setoriais,
contrariando a tentativa pouco lógica de considerar inteligente o uso de
fórmulas mágicas e universais para o desenho das cidades e dos edifícios.92 Esta
postura justifica-se apenas sob o enfoque do marketing imobiliário,
fundamentado na manipulação comercial das imagens através da
publicidade, da mídia, das exposições, desempenhos e espetáculos,
determinando uma constante reativação de desejos por meio de imagens
(RHEINGANTZ 1997).
Como, em geral, o interior destes edifícios é concebido como espaço vazio e flexível, a
pretensão de considerá-los inteligentes, especialmente à luz das novas relações entre empresa
92 Um bom exemplo são as torres de vidro construídas no trópico. Apesar do consenso entre os pesquisadores e
especialistas em conservação de energia que independentemente do tipo de vidro utilizado, as fachadas cortina
sempre terão um alto consumo de energia, alguns arquitetos, influenciados pelo grande esforço da indústria do
vidro e dos sistemas de automação predial, alardeiam que os vidros reflexivos reduzem o consumo de energia
elétrica, crença que desafia a física, a lógica e o bom senso. Enquanto um projeto cuidadoso pode reduzir até 50%
do consumo de energia, a intervenção em uma edificação existente pode reduzir em até 25%.
Figura 30 – Commerzbank
(Frankfurt, 1991/97)
Fonte: AU74 (out/nov 97: 36)
University questionam a definição tradicional de
“edifício de serviços inteligente”, caracterizada por
uma “extensa lista de novos produtos de
telecomunicações, de eletrônica, de segurança, de
automação e sistemas de controle predial que
demonstrou ser insuficiente para garantir
antecipadamente um ambiente de trabalho high-
tech a proprietários e usuários dos edifícios”
(HARTKOPF et al 1993: 5). Em contrapartida,
propõem nova definição: “aquele que incorpora as
tecnologias mais recentes em um cenário físico, a
comunicação e a produtividade global.” (HARTKOPF et
al 1993: 5) RIEWOLDT (1997: 55) sugere que
122
e mercado, torna-se um exercício de abstração, uma vez que é impossível avaliar a adequação,
a qualidade, a profundidade e a seriedade de um projeto que é concebido para alguém
inespecífico. É impossível falar em inteligência nas instalações e equipamentos, se também
eles são concebidos para um genérico ambiente vazio. Sem questionar a seriedade de seus
autores e de suas intenções, seu discurso evidencia a inexistência de base teórica indicada por
ZEISEL (1981) e por DEL RIO (1992)93. A persistência do paradigma cartesiano e do modelo
taylorista – que, em sua versão pós-moderna, concebe os novos edifícios com o objetivo de
transformar os homens em máquinas cada vez mais eficientes de trabalhar94 – bem como a
permanência do foco na oferta e em sua capacidade de gerar novas demandas, são evidentes.
Para não ficar apenas no plano teórico, e evitando assumir a postura de uma “crítica olímpica”,
a seguir apresento a opinião de projetistas de ambientes de escritório alinhados com a
tendência inovadora sobre a “inteligência” dos novos edifícios de alta tecnologia.
Em Além da tecnologia, CAPOZZI reconhece a mudança de perfil dos consumidores, que se
tornam cada vez mais bem informados e exigentes frente as regras do mercado:
“acostumados com as regras de marketing nem sempre muito sinceras
ou específicas, os consumidores estão implacáveis e literalmente
investigam até que ponto chega a propagada “inteligência” dos
prédios onde pretendem instalar suas empresas, escritórios ou
consultórios. ... corre à boca pequena entre esses profissionais ... que os
edifícios inteligentes o são até a porta dos escritórios, quando se tornam
... burros.” (CAPOZZI 1996: 6)
O texto faz referência a uma modalidade de trabalho com demanda crescente, a avaliação
técnica de edifícios, como a space audit95 realizada pela Saturno Planejamento, Arquitetura e
Consultoria – “cujo objetivo principal é avaliar as principais características arquitetônicas e de
infraestrutura dos edifícios em contraposição com as necessidades efetivas dos usuários que
poderão vir a ocupá-las” (ANDRADE 1996). Segundo CAPPOZZI, a Saturno identifica problemas
na relação entre área útil do pavimento-tipo e a área de carpete [área efetivamente ocupada]
que, em alguns prédios, chega a ser inferior a 80% quando o mínimo aceitável seria 92%;
93 Cf. DEL RIO (1992: 73), no Brasil “majoritariamente ainda se produz, ensina e avalia arquitetura
sem teoria”; o autor sugere que “grande parte do impasse atual da arquitetura brasileira tem
origem na falta de teorias de base, conceitos projetuais e avaliações sistemáticas das obras
construídas.” 94 Esta afirmação pode ser confirmada pela leitura do discurso dos projetistas de ambientes de
escritório que, em geral, enfatizam a produtividade, a lucratividade e a economia. 95 Procedimento que visa identificar as qualidades e deficiências na ocupação e uso do ambiente
corporativo, que serve de orientação no planejamento, projeto e gerenciamento do espaço.
123
outros problemas que dificultam a organização do layout interno, são: a concepção do núcleo
de serviços (elevadores, sanitários, áreas de apoio/técnicas) distribuído, a obstrução de pilares,
a forma irregular da planta do pavimento-tipo e sanitários fixos fora do núcleo de serviços.
Outros especialistas consultados por CAPOZZI identificam os seguintes problemas nos
“edifícios inteligentes”: (1) previsão genérica da malha de piso e do sistema de ar-
condicionado freqüentemente não coincide com o ponto exigido pelo usuário (Frederico
MORÁN); (2) número insuficiente de controles individuais do sistema de ar condicionado – em
torno um para cada aleatórios 30 m2 de área de piso, quando deveria ser por estação de
trabalho (Marcos de SOUZA e Marcio KOGAN); (3) falta de inteligência da concepção de uma
planta que desconhece as necessidades de um cliente genérico (Marcel MONACELLI); (4) falta
de coordenação dimensional entre as malhas de forro e piso e caixilharia (MONACELLI); (5)
falta de previsão de shafts sob o piso ou sobre o teto, rodapés com canaletas e divisórias com
espaço para passagem de cabeamento, que dificulta a versatilidade necessária a este tipo de
projeto (Israel REWIN); (6) uso indiscriminado do piso elevado – mais indicado para setores
como CPDs – o “pop-star” dos edifícios inteligentes (Vasco LOPES); (7) controle centralizado do
sistema de iluminação, que dificulta eventuais trabalhos noturnos imprevistos (KOGAN); (8)
supervalorização dos avanços tecnológicos de supervisão predial em detrimento do aspecto
humano (KOGAN); (9) frente à ineficiência dos transportes públicos, o número de vagas de
garagem deveria ser de 1 vaga para cada 25 m2 de piso, mas que em média, em São Paulo, é de
1 vaga para cada 40 m2 (SOUZA).
As APOs realizadas pela COPPE/PROARQ também indicam a presença de problemas similares
nos edifícios RB1 e BNDES, no Rio de Janeiro (COSENZA et al 1996, 1997; RHEINGANTZ 1995,
1997, 1998).
A persistência do modelo tradicional de concepção dos edifícios e ambientes de
escritórios
Segundo John ZEISEL (1981: 3), a relutância dos arquitetos em considerar a defasagem dos
pressupostos e processos projetuais tradicionais está relacionada com suas crenças no
determinismo arquitetônico – “o ambiente físico é o maior determinante do comportamento
social ... [e que a] arquitetura é uma disciplina ampla e não teórica” (ZEISEL 1981: 4) – e com a
atitude de considerar qualquer imposição projetual como “uma subcultura do gosto das
pessoas com diferentes expectativas de necessidades e aspirações”. (ZEISEL 1981: 7) Este
sistema de crenças produz um movimento circular de causa-e-efeito que se reflete: (1) na
formação dos arquitetos, através da ênfase excessiva no aprender pela experiência, que
praticamente exclui o aprender da experiência – o que explica a forma casual, asistemática e
124
tendenciosa de seu discurso; (2) na própria natureza da teoria da arquitetura, que tem
focalizado muito mais “o relacionamento do arquiteto com o artefato que ele produz e as
ideologias e testemunhos individuais dos projetistas, do que o relacionamento entre as
pessoas (individualmente ou em geral) e o ambiente construído” (ZEISEL 1981: 8), procurando
entender o modo como o ambiente é percebido, ou os significados – sejam eles reais ou
simbólicos – que assume para cada pessoa.
SMITH & KEARNY (1994: 8) sugerem que a persistência desta prática se deve à sua maior
facilidade de execução, pois requer menos dados e informações e não demanda maiores
habilidades do projetista. Os autores recorrem a WILLIAMS, ARMSTRONG & MALCOLM 96 para
afirmar que ambientes de trabalho projetados com base no homem e no seu desempenho,
demandam novos processos projetuais – que considerem a necessidade individual de cada
trabalhador para o desempenho de suas tarefas, sejam elas operacionais [visíveis] ou mentais
[invisíveis] como determinantes do projeto. Esta aproximação requer novas habilidades
analíticas e prescritivas por parte do projetista e sua aceitação poderá vir a ser dificultada pela
inexistência de uma teoria da arquitetura e/ou pela inadequação da formação profissional dos
arquitetos (DEL RIO 1992).
A necessidade de um novo paradigma do trabalho para a economia do
“conhecimento”
John WORTHINGTON (1997) defende a necessidade de buscar um novo paradigma do
trabalho e um reenfoque de expectativas para fazer frente à mudança de uma economia de
“serviços” para uma economia do “conhecimento”. Ao justificar sua proposta observa que
enquanto a economia de serviço preocupava-se com a organização de dados e produtos, a
economia do conhecimento trabalha com informações e idéias, aumentadas por uma ampla
rede de comunicações e informação mundial e dentro de uma estrutura organizacional de
comunidades de interesse. Segundo WORTHINGTON, a linha de produção global e o trabalho
de grupo em funcionamento simultâneo são novas realidades que se refletem diretamente na
produção dos edifícios e ambientes de escritórios, que se tornam cada vez mais dispersos,
reduzidos, e equipados.
Nesta mesma linha de raciocínio, LAING (1997) sugere que o projeto do escritório deva ser
continuamente repensado e transformado de modo a acompanhar as transformações das
estruturas e formas das organizações. Para tanto, é indispensável romper com a idéia do
ambiente de trabalho como uma escrivaninha individual ocupada diariamente em tempo
96 The Negotiable Environment. Ann Arbor, Mich.: Facility Management Institute, 1985.
125
integral em turnos de nove horas por dia, cinco dias por semana. Segundo LAING, somente
quando o estereótipo básico de projeto de escritório for questionado, será possível tornar
realidade um novo conjunto de padrões ambientais e de trabalho que sirvam de suporte para
a mudança organizacional.
SMITH & KEARNY observam a importância de identificar as necessidades individuais e de
avaliar o custo das interferências ambientais no trabalho e atribuem a persistência deste tipo
de problema à falta de clareza, por parte de projetistas e consultores sobre as conexões
existentes entre ambiente de trabalho, comportamento de trabalho e lucro – “que não sabem
o que fazer com esse tipo de problema.” (SMITH & KEARNY 1994: 2) Os autores ressaltam a
necessidade de se prestar maior atenção ao que acontece quando as pessoas estão pensando
e como o ambiente interfere positivamente ou negativamente nas atividades que exigem
concentração ou trabalho mental, ou seja, que se estude com mais cuidado como os diferentes
tipos de ambientes estimulam o pensamento e sua posterior transformação em ações. (SMITH
& KEARNY 1994: 11) Como as pessoas têm uma capacidade limitada e variável para prestarem
atenção a estímulos externos, uma configuração das zonas de conforto (seus limites de
capacidade de atenção) que permita eliminar ou reduzir as interferências no trabalho mental,
possibilita que seu desempenho seja melhorado.97 Assim, é necessário desenvolver técnicas
para avaliar e conceber ambientes de trabalho adequados para o trabalho mental, criar áreas
para grupos de trabalho, melhorar o foco, a comunicação e o fluxo do trabalho e prever
ambientes para o trabalho individual que sejam responsivos ao estilo e às necessidades
individuais e dos grupos. Estes ambientes devem equalizar os níveis de privacidade e de
estímulo à interação com os colegas: “as pessoas trabalham melhor e com mais naturalidade, a
seu modo.” (SMITH & KEARNY 1994: 2)98 As diferenças entre as atividades desenvolvidas em
um ambiente de trabalho precisam ser devidamente identificadas e mapeadas. Algumas
atividades que podem ser automatizadas mediante algum tipo de treinamento, requerem
menos atenção e possibilitam que se façam outras atividades ao mesmo tempo, demandando
um determinado tipo de ambiente. Já as atividades que demandam maior concentração, como
escrever e falar, podem requerer uma atenção maior e um outro tipo de ambiente. (SMITH &
KEARNY 1994: 13) Este tipo de problema raramente é levado em consideração pelos
97 Cf. GOPHER & DONCHIN (1986 in SMITH & KEARNY 1994: 11), o desempenho se torna mais fácil
quando a capacidade de atenção for adequada para as demandas de informação-processo
globais da tarefa. Quando as demandas forem maiores que sua capacidade de atenção, pode
ser criada uma carga de trabalho mental. 98 CF. SMITH & KEARNY (1994: 2), a maioria das pessoas trabalha em ambientes anônimos e
impessoais, sendo forçadas a investir na adaptação do ambiente às suas características pessoais;
estes ambientes dificultam e interferem em suas necessidades comportamentias de trabalho,
reduzindo sua produtividade organizacional.
126
projetistas de tendência tradicional, e as razões para tal são as mesmas anteriormente
apontadas: falta de base teórica, formação inadequada, maior complexidade.
Para Otto RIEWOLDT (1997: 9), o empreendimento global do futuro deve ser uma combinação
que troque o trabalho em rede por unidades autônomas onde os ambientes vivos serão
totalmente computadorizados: "coisas que pensam" vão prover integração e sistemas
“espertos" de controle de todas as funções. As esferas privadas e profissionais começarão,
finalmente, a se fundir neste paraíso digital. Em termos construtivos, os edifícios devem
evoluir em uma interface sensível entre o seu interior e o ambiente externo, a natureza da
camada externa do edifício está mudando. Está se tornando uma pele que desenvolve novas
qualidades técnicas e estéticas99.
Além dos aspectos até aqui levantados, a relutância em inovar a concepção
e a produção dos escritórios e ambientes de trabalho é uma questão que
transcende a competência dos arquitetos. Restringir o problema apenas aos
arquitetos é, no mínimo, uma atitude ingênua, que pode ser comprovada pelo
sucesso de vendas de alguns edifícios “extravagantes” e “carentes de
atenção” recentemente construídos no Rio de Janeiro, em São Paulo e até
mesmo em Brasília, e por algumas imposições cosméticas por parte dos
incorporadores100. Na verdade, todos os protagonistas envolvidos com a
produção do ambiente construído precisam rever e equalizar suas crenças e
mudar o foco da oferta para a demanda. Para tanto, além da revisão de
paradigma, é necessário que todos os agentes envolvidos com a produção do
ambiente construído abandonem sua postura de “saber messiânico”, para
compartilhar seu conhecimento e suas técnicas com os usuários. Esta nova
prática possibilitaria conferir um novo significado ao conjunto de pensamentos,
percepções e valores da “realidade” e uma maior responsabilidade e
participação ao “usuário-paciente”, que sabe perfeitamente o que está errado
com ele e com seu ambiente de trabalho em suas diferentes dimensões ou
contextos: estação de trabalho, ambiente, edifício, lugar, ...
99 RIOWOLDT (1997: 9) cita a nova sede do Commerzbank em Frankfurt, de Norman FOSTER como
um protótipo de como a inovação de ecocêntrica afetará em larga escala os projetos do futuro.
O projeto é uma impressionante torre que alia alta tecnologia com biosfera ego-regulável, pátios
internos ocupados por jardins suspensos internos e um alto nível de eficiência energética. 100 Em entrevistas concedidas ao autor, os arquitetos Márcio ROBERTO (Edifício Bolsa de Valores)
e Davino PONTUAL (Teleporto), justificam que as fachadas-cortina destes projetos foram uma
imposição dos incorporadores/proprietários. A concepção original dos edifícios previa elementos
externos de proteção da radiação do sol e redução da área envidraçada, suprimidos por
imposição dos proprietários.
127
SVIGETI & DAVIS (1997: 3) sugerem um caminho a ser perseguido pelos projetistas
de edifícios e ambientes de escritórios: “há muito o que aprender com a
experiência da indústria de software e de seu foco nas interfaces amigáveis
para os usuários.”
Uma digressão sobre o futuro dos edifícios de escritórios
A incerteza que permeia a reflexão sobre as futuras demandas por edifícios de escritórios não
impede que se façam algumas digressões a seu respeito. Inicialmente, a possibilidade de
explorar a disseminação de novas estruturas temáticas similares às atualmente concebidas
para os complexos de compras e de diversões. Utilizando edifícios com ambientes
predominantemente do tipo espaço-clube e uma variedade de serviços de apoio ou
complementares e concebidos para atender às novas demandas por parte das empresas do
quarto setor da economia, sua concepção, produção e operação poderia ser integrada sob um
novo tipo de organização que participaria ativamente de todas as etapas do processo
produtivo e de sua vida operacional. A administração e o gerenciamento destes complexos –
inclusive a organização dos ambientes internos, seu mobiliário e equipamentos além de todos
os serviços de apoio101 – ficaria inteiramente a cargo do mesmo grupo que o concebeu e
produziu e sua venda ou locação seria realizada através de cotas ou títulos de diferentes
modalidades.102 Os grupos de investidores entrariam com os recursos e venderiam ou locariam
cotas de diferentes modalidades que atenderiam às necessidades de cada organização ou
profissional. Estas cotas lhes dariam o direito de uso de um ambiente com determinados
equipamentos, recursos e serviços regulares ou eventuais.
Esta modalidade de ocupação do espaço por cotas de direito de uso pode ser reforçada pela
incerteza em relação ao futuro das relações de trabalho que, com sua tendência acelerada de
redução de quadros e de individualização e desregulamentação do emprego, transformam os
investimentos imobilizados em um risco potencial para a saúde futura da organização. A
indefinição com relação às necessidades de área, de instalações, equipamentos e pessoal
poderá favorecer o surgimento de edifícios mais orgânicos em termos da oferta de tipos de
101 A aquisição de direito de uso ou de locação pode se transformar em um atrativo para as
empresas do quarto setor, que dispendem grande quantidade de recursos na aquisição de
equipamentos que rapidamente se tornam obsoletos. A possibilidade de locação flexível poderia
garantir a estas empresas a modernização permanente de seus equipamentos e reduzir seu
capital imobilizado, que poderia ser direcionado para sua atividade produtiva. 102 Possibilitando reduzir os problemas decorrentes das obras internas nos ambientes, realizadas
pelos proprietários e sem o controle ou supervisão da administração condominial, em alguns
casos colocando em risco a própria segurança ou a integridade do edifício. Este tipo de problema
foi identificado por COSENZA et al (1996) na APO realizada no edifício RB1.
128
espaços de trabalho (ANEXO 02-C) e de seu compartilhamento, e a tendência à redução e à
dispersão do espaço fixo de trabalho.
Outra questão diz respeito à persistência de algumas atividades que demandam ambientes
“tradicionais” ou “convencionais”, tais como advogados, economistas, administradores de
empresas, dentistas, médicos clínicos, cartórios, alguns tipos de consultorias, etc. Estas
atividades podem ser atendidas pelo atual estoque imobiliário, à medida que for recuperado
através de retrofit103. Repete-se aqui a situação identificada por DE MASI (1999a: 169): no
mesmo indivíduo ou organização, convivem modelos de vida e de trabalho rural, industrial e
pós-industrial em um processo dinâmico e contínuo de substituição de modelos, valores,
práticas e paradigmas onde o “um elemento passa a ser central em vez de outro, que perde a
hegemonia mas não a presença e influência” (DE MASI 1999a: 169).
Além destas possibilidades, persiste o desejo de superação dos paradigmas cartesiano e
homocêntrico e dos princípios tayloristas, em benefício de um paradigma social que considere
o homem como um dos bilhões de cidadãos sistêmicos de um universo “vivo” “pulsante” e em
constante evolução, cujos artefatos que produz, especialmente seus edifícios, precisam ser
concebidos como elementos de interação com o meio social. Como conseqüência, que todos
os agentes envolvidos com a concepção e a produção do ambiente construído, abandonem
sua pretensão de produzir artefatos “ávidos de atenção” em conflito ou competição com a
esplendorosa beleza do sítio natural. Que estes agentes reconheçam que em sítios como o Rio
de Janeiro, diferentemente de Nova Iorque ou Paris, a arquitetura deve abdicar da condição de
protagonista para se tornar apenas o pano de fundo deste “cenário divino.” Para ilustrar a
visão dominante na concepção e produção do ambiente construído, foram selecionados alguns
textos de divulgação dos mais recentes empreendimentos imobiliários realizados em Botafogo
(ANEXO I).
Analisados os diferentes contextos onde se inserem os edifícios de escritórios, e
os reflexos das transformações das novas tecnologias no mundo do trabalho, no
CAPÍTULO 3 focalizarei a questão da avaliação dos edifícios, abrangendo a
avaliação imobiliária [de mercado], a APO, os principais instrumentos
desenvolvidos para avaliar o desempenho dos edifícios de escritório e um
panorama da experiência brasileira.
103 Cf. CASTRO NETO (1994: 151), designação derivada da palavra inglesa retrofit, que significa
readaptação ou reajustamento, é um tipo especial de intervenção na instalação que implica
uma modificação conceitual do sistema para melhorar seu desempenho, do ponto de vista
econômico e da produtividade.
129
III. AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS:
“O que observamos não é a natureza em si, mas a natureza exposta ao nosso
método de questionamento”
Werner HEISENBERG 104
“Os edifícios estão entre os maiores, mais complexos e duráveis “produtos”
criados pelos humanos. Seu propósito é garantir abrigo para as atividades
humanas; portanto, eles devem responder àquilo que, depois da comida, é uma
das necessidades primárias humanas.”
Gerald DAVIS & Françoise SZIGETI 105
À medida que a qualidade do ambiente construído começa a se tornar
independente das relações entre cultura e geografia, e que as condições de
conforto passam a ser garantidas pela tecnologia, inicialmente mecânica e,
atualmente, eletrônica e informacional, o desempenho dos edifícios se torna
uma atividade complexa. Enquanto os edifícios resistiam passivamente às
variações climáticas, o processo de avaliação do seu desempenho era
relativamente simples. Bastava conceber um envelope adequado, em geral
composto por espessas paredes de alvenaria e coberturas, dotado de
aberturas suficientes para prover seu interior de iluminação natural e, nas
estações quentes, permitir a aeração dos ambientes. Nos climas tropicais e
chuvosos, os edifícios eram concebidos como coberturas providas de grandes
beirais e varandas, e grandes aberturas para permitir a livre passagem do ar e
impedir a incidência direta dos raios solares. A arquitetura acompanhou a
evolução das sociedades, tornando-se cada vez mais eficiente e adaptada.
A partir da Revolução Industrial, e do desenvolvimento dos sistemas urbanos e
prediais de água, esgoto, energia elétrica e calefação, os edifícios começam
a se transformar em máquinas relativamente simples e eficientes,
especialmente nas regiões de clima frio. O surgimento das estruturas metálicas
e de contrato armado, aliado ao desenvolvimento dos sistemas mecânicos de
transporte vertical, possibilitou o nascimento da arquitetura moderna, com sua
estrutura independente das vedações externas e divisões internas. O
aperfeiçoamento dos sistemas mecânicos (anos 50), viabiliza a arquitetura
104 In SANTOS (1995a: 26). 105 In BAIRD et al (1996: 58) – tradução do autor.
130
International Style, cujos edifícios tornam-se cada vez mais esbeltos e dotados
de sistemas ativos de conforto. Quanto mais independente dos
condicionantes climáticos a arquitetura se torna, mais ela afasta-se de suas
raízes culturais, seu desempenho torna-se mais complexo e dependente das
“máquinas do conforto” (BEGUIN 19991). Ainda assim, o edifício-máquina era
um sistema de operação relativamente simples, o mercado imobiliário seguia
as regras e procedimentos dos demais setores do sistema produtivo e a
avaliação de seu desempenho, partia de pressupostos pré-determinados e
padrões estandartizados.
Com a chegada da Era Pós-industrial e a tendência crescente de re-
humanizar e customizar106 as relações do mercado e os valores da sociedade,
em meio às crises do petróleo e ao desenvolvimento das novas tecnologias de
informação, que marcaram o “divisor tecnológico dos anos 70” (CASTELLS
1999a), possibilitam o surgimento dos chamados “sistemas inteligentes” que
passam a ser incorporados aos edifícios. A partir de então, sua operação
torna-se cada vez mais complexa, especialmente à medida que o ênfase
passa a ser dado à customização, em lugar de à padronização. Enquanto
todo sistema produtivo reestrutura-se e reorganiza-se em função dos novos
valores da sociedade e das novas demandas do mercado, a produção dos
edifícios continua a se pautar nas antigas regras do mercado centrado na
produção (CAPÍTULO 2). A inovação passa a ser orientada para a tecnologia
dos edifícios, cada vez mais complexa, interativa e maleável.
Por conta disso, os antigos processos e modelos de avaliação e análise
começam a se tornar inadequados para avaliar a complexidade de um
produto que continua a ser produzido em função da oferta [por imposição] de
bens, desconsiderando as demandas de seus clientes. Esta inadequação de
todo o processo produtivo levou ao desenvolvimento de novas abordagens e
metodologias para avaliar o desempenho dos edifícios, que focalizaram as
necessidades e expectativas do usuário, e que passaram a ser conhecidas
como Avaliação Pós-Ocupação (APO). Apesar de contemplar plenamente as
novas relações de um mercado “market oriented”, via de regra, a APO no
Brasil ainda está limitada ao meio acadêmico. Os agentes relacionados com o
106 Termo utilizado na área de marketing, derivado do inglês customize que significa feito sob
medida, sob encomenda, adaptado.
131
mercado imobiliário continuam insensíveis às novas demandas, e insistem em
aplicar suas velhas receitas.
Neste capítulo, procuro demonstrar a inadequação dos procedimentos e
instrumentos adotados para avaliar a organização social complexa edifício de
escritórios com sistemas de alta tecnologia. Inicialmente, apresento um
panorama da evolução da APO e analiso sua aplicação na avaliação dos
edifícios e ambientes de escritório e os principais instrumentos desenvolvidos
para sua análise. A seguir analiso a experiência brasileira de APO em edifícios
de escritório para, caracterizo o conceito de avaliação de desempenho
construído com base no estado da arte da pesquisa mundial e brasileira e na
experiência adquirida nos projetos desenvolvidos pela COPPE/PROARQ. Assim,
com base no paradigma social (CAPÍTULO 1), e na análise das transformações
da sociedade pós-industrial e de sua influência na produção do ambiente de
trabalho de escritório (CAPÍTULO 2), será possível construir um modelo de
análise para avaliar o desempenho de edifícios de escritório (CAPÍTULO 4).
3.1 Mercado Imobiliário e Avaliação dos Edifícios de Escritórios: foco no
produto, fragmentação e opacidade de procedimentos
Nesta seção, procurarei demonstrar que os instrumentos e critérios de
avaliação adotados pelo mercado imobiliário não são adequados para
avaliar os novos e complexos edifícios de alta tecnologia, nem as diferentes
demandas de usuários individuais ou corporativos. Enquanto as novas
demandas estão a exigir métodos de análise mais transparentes, qualitativos e
não lineares, os consultores e corretores imobiliários seguem trabalhando com
procedimentos “caixa preta”, intuitivos e lineares, que utilizam a lógica binária
– “tem- não-tem” – ou sua experiência pessoal, que é guardada a sete
chaves.
O mercado da concepção, construção e operação dos edifícios de alta
tecnologia demanda um profissional com o conhecimento necessário para
transitar com naturalidade por todas as áreas de arquitetura e engenharia
envolvidas no seu processo de produção.107 A literatura internacional e
107 O ANEXO 03-A analisa com detalhes a situação atual do mercado da automação predial no
Brasil.
132
nacional108, os contatos com as áreas técnicas de alguns dos fundos de
pensão das empresas estatais, a experiência pessoal adquirida nos trabalhos
desenvolvidos pela COPPE/PROARQ (RHEINGANTZ 1995, 1996; COSENZA et al
1996, 1997; RHEINGANTZ et al 1998) evidenciam que também o mercado
imobiliário está demandando um novo perfil de profissional dotado de
conhecimentos técnicos necessários que o capacitem a transitar com
desembaraço e o conhecimento por todas as áreas da arquitetura,
engenharia e sistemas prediais, capacitado para orientar a escolha do cliente.
A dificuldade em encontrar um profissional com este perfil pode vir a ser
solucionada através de um enfoque sistêmico do processo de produção dos
edifícios de escritórios e do mercado imobiliário que integre ao longo de todo
processo produtivo, profissionais de concepção, construção, venda, operação
ou manutenção dos edifícios.
A chegada das empresas multinacionais atraídas pelas privatizações, fez com
que a procura por salas comerciais em “edifícios inteligentes”109 no Rio de
Janeiro aumentasse o valor de locação em 142% no período de 1995-1998110.
Conforme Antônio NEVES, diretor da Plarcon, hoje há uma carência de um
milhão e meio de metros quadrados de escritórios inteligentes no Rio de
Janeiro111. Esta falta de estoque produz dois efeitos aparentemente
antagônicos: (1) mascara o descompasso entre a visão dos empreendedores
e a expectativa das empresas, e aumenta a busca por imóveis de segunda
108 No plano internacional ZEISEL (1981); PREISER et al (1988); HARTKOPF et al (1993); SMITH & KEARNY
(1994); BECKER & STEELE (1995); BAIRD et al (1996); ARONOFF & KAPLAN (1997); DUFFY (1997);
WORTHINGTON (1997), BECHTEL (1997); no plano nacional, ORNSTEIN et al (1992, 1993); ANDRADE
(1996); MONACELLI (1996); ORNSTEIN (1996a, 1997), DEL RIO (1990), DEL RIO e OLIVEIRA org. (1996),
DEL RIO org. (1998). 109 CF. FLÁVIA BARBOSA: INVESTIDORES REDESCOBREM IMÓVEIS - CRISE NOS MERCADOS MUNDIAIS
LEVOU AO AQUECIMENTO DO SETOR, LEMBRADO AGORA COMO O MAIS TRADICIONAL E SEGURO
A LONGO PRAZO, IN JORNAL DO BRASIL, RIO DE JANEIRO, 08/11/1998 – ECONOMIA;
MEGAESPAÇO, UMA TENDÊNCIA NOS NOVOS CENTROS EMPRESARIAIS DO RIO (IN O GLOBO RIO
DE JANEIRO, 06/02/2000, MORAR BEM, P.2)
110 Preço da locação varia com modernização e revitalização (in encarte ABADI, Jornal do Brasil,
1998, p. 6-7); 111 Cf. NEVES, “os números mostram que dos 5.250 milhões de metros quadrados de escritórios
existentes na cidade, 78% estão concentrados no Centro e na Zona Sul, apenas 1% na Barra. Do
total, apenas 8,5% estão vazios. Sendo que se avaliados só os prédios modernos, classe A, essa
taxa cai para 1,9%. Passamos cinco anos sem investimentos nesse setor; hoje não há mercadoria
suficiente para suprir a demanda das empresas” (in Megaespaço, uma tendência nos novos
centros empresariais do Rio, O GLOBO Rio de Janeiro, 06/02/2000, Morar Bem, p.2)
133
mão; o “sucesso” de vendas pode gerar a ilusão de que o produto ofertado
atende às demandas112; e (2) sinaliza para a necessidade de melhorar a
qualidade da produção dos “edifícios Inteligentes”, de modo a atender aos
padrões de qualidade e de ocupação e às necessidades das novas empresas
internacionais que chegam para se instalar no Rio de janeiro, que “já vêm
com um padrão de ocupação de escritório da matriz que exige prédios
inteligentes, com facilidades de telecomunicação, bom acabamento e
grandes espaços.” (NEVES in O GLOBO 06/02/2000) A pressão para a “desova”
de espaços tem sido tão intensa que levou a Shell do Brasil a negociar, no final
de 1999, o edifício que ocupava na Praia de Botafogo com a empresa de
telecomunicações Intelig, remanejando seu pessoal para suas instalações no
bairro de Ramos.
Como no Rio de Janeiro ainda existem poucos edifícios que se enquadram
nesta classificação em um mercado com demanda fortemente represada, os
empreendedores e empresas imobiliárias que implantarem processos
sistemáticos de pesquisa de demanda futura terão melhores condições de
sobreviver em um setor cada vez mais competitivo e exigente. Mas esta
correção de rota – que nada mais é do que a passagem do setor do modo de
produção industrial para o pós-industrial – pressupõe a mudança do sistema
de valores dominante – substituição do paradigma cartesiano-racionalista
para o social-complexo. Resolvido o problema inicial de falta de espaço, é
previsível que aquelas empresas que tiveram que se instalar em edifícios com
padrão de qualidade ambiental inferior ao inicialmente desejado – as
empresas multinacionais determinam rigorosos padrões de qualidade
ambiental para suas sedes – adotem uma atitude mais seletiva com relação
ao mercado de edifícios de escritórios e com relação à qualidade da análise
imobiliária (ANEXO VII). Isto implica em duas possibilidades com reflexos
diferentes no mercado: retrofitar os edifícios já ocupados, ou sair em busca de
edifícios de melhor padrão e com baixo custo operacional, dado fundamental
da nova sociedade competitiva.
112 Esta falta de estoque de espaço para escritório pode explicar o alto valor negocial atingido
pelo mais recente “edifício inteligente” concluído na Rio de Janeiro, o Centro Empresarial
Mourisco, chegou a ser negociado a R $ 4.000,00/m2 e o aluguel, livre de taxas e despesas de
condomínio, a R $ 43,00/m2.
134
A situação atual, em termos de oferta de escritórios de alto padrão, segundo
Luiz CONSTANTINO, consultor de imóveis da Richard Ellis, “é resultante da visão
que os empreendedores tinham há três ou quatro anos, o tempo necessário
para que um projeto desse tipo saia do papel e chegue de fato ao
mercado.”113 Confirma-se assim a defasagem cultural do mercado que, além
de não prever as futuras demandas, segue praticando sua tradicional política
de imposição da oferta114.
A análise das planilhas comparativas das empresas “A” e “B”115 (TABELAS 1 e 2
do ANEXO VII) permite algumas considerações interessantes para o
desdobramento deste trabalho. A comparação entre as planilhas das
empresas “A” e “B” evidencia a discrepância entre os padrões adotados pelas
duas empresas e sugere a inexistência de critérios confiáveis de análise: (1)
Enquanto a empresa “B “ adota seis padrões – AAA, AA, A, AB, B e C – a
empresa “A” adota apenas dois – AA e A. (2) Enquanto a empresa “B”
apresenta uma planilha anexa (QUADRO 3 do ANEXO VII), descrevendo de
forma resumida as especificações de cada padrão, a empresa “A” se resume
aos itens constantes da planilha-resumo (QUADRO 1 do ANEXO VII). (3) O
padrão de avaliação desconsidera diversos importantes serviços e recursos
prediais disponíveis em alguns dos edifícios avaliados – tais como se o edifício é
operacional 24 hs por dia [inclusive sábados, domingos e feriados],
possibilidade de utilização do ar condicionado 24hs por dia, relação
elevador/m2 de área, relação vaga de garagem/m2 de área, discriminação
dos serviços incluídos no valor da despesa com condomínio116, relação área
de carpete X área útil, etc. – ou seja, equipara “organismos” completamente
diferentes. (4) A imprecisão entre dados importantes dos edifícios, tais como
113 in Brasil ainda produz poucos escritórios novos de altíssimo padrão. Facility n° 5, mar-mai/1998,
p. 17. 114 A defasagem da visão dos empreendedores é confirmada por Sérgio GOLDBERG, presidente da Agenco, que está construindo na Barra o Centro Empresarial Mário Henrique Simonsen, com previsão de estar concluído em 2002: “se eu tivesse uma varinha de condão, concluiria este empreendimento da noite para o dia, para atender à grande demanda que existe hoje na cidade.” (O GLOBO 06/02/2000, Morar Bem, p.2) Se tivesse optado pelo caminho do pensamento estratégico com base em pesquisa sistemática de demanda, esta descoberta teria sido antecipada sem a necessidade de recorrer à desejada “varinha de condão.” 115 O nome verdadeiro das empresas foi omitido em função da dificuldade em obter autorização
das empresas. O material utilizado foi obtido junto a um dos fundos de pensão que colaborou
com a pesquisa. 116 O trabalho desenvolvido pela COPPE/PROARQ no edifício RB1 (COSENZA et al 1996)
evidenciou a discrepância entre os serviços condominiais oferecidos, que são desconsiderados
pelas planilhas das empresas de consultoria imobiliária.
135
área privativa por andar – no edifício Teleporto, a planilha da empresa “A”
indica área de 2.500 m2, enquanto a da empresa “B”, 2.803 m2 [uma diferença
de 305 m2 que, ao custo de R$ 2.400,00/m2, chega a um total de R$ 732.000,00,
em valores de janeiro de 1997]117; no edifício CAEMI, a planilha da empresa
“A” indica área de 1.700 m2, enquanto a empresa “B”, 1.650 m2 [erro 50 m2].
(5) As planilhas não incluem nenhum item relativo a facilidade de acesso,
proximidade de transportes de massa, de aeroportos, a vias expressas, ao
centro de negócios, localização, qualidade do entorno, qualidade da vista e
qualidade arquitetônica do edifício.
Diante de uma situação como esta, e considerando que o mercado
imobiliário não é regulamentado, é prudente que o comprador tome maiores
precauções – tais como (1) consultar outras empresas, ponderando todas as
avaliações, ou (2) contratar os serviços de empresas especializadas ou de
grupos de pesquisa vinculados a universidades e com experiência em
avaliação de desempenho. Caso estas medidas sejam adotadas, abrem-se
grandes perspectivas para a consolidação da APO e da construção de um
banco de dados disponível para os diversos segmentos envolvidos com o
setor.
Com relação à planilha da empresa “A” (QUADRO 1, ANEXO VII), chama a
atenção o fato de alguns edifícios “não inteligentes” – Lineu de Paula
Machado, Argentina, Citibank e Promon – receberem a mesma pontuação
dos “inteligentes”, assim como edifícios que não oferecem vagas de garagem
– Lineu de Paula Machado, Citibank e Paço do Ouvidor – receberem a mesma
pontuação de edifícios com uma relação próxima de 1 vaga por 35 m2 de
área. A planilha da empresa “A” se resume a alguns poucos dados relativos a
área privativa, valor de venda, valor de aluguel, despesas com condomínio e
IPTU, vagas por pavimento. Não há nenhuma referência aos sistemas e
equipamentos prediais instalados [especialmente SAP, controle de acessos,
segurança contra incêndio e segurança patrimonial], nem com relação aos
serviços condominiais ofertados [importantes para avaliar a relação custo-
117 Como a ficha técnica do Edifício Teleporto (suplemento da revista Projeto jan/fev 1996) indica
o terreno com área de 2.750 m2, o valor da área privativa indicado na planilha “B” é superior à
área total do terreno.
136
benefício], nem se o edifício é operacional 24 horas por dia. Também não há
nenhuma referência com relação ao sistema de operação da garagem.
Com relação à planilha da empresa “B” (QUADRO 2, ANEXO VII), embora mais
completa do que a da empresa “A” – é acompanhada de um quadro-resumo
(QUADRO 3, ANEXO VII) contendo alguns critérios para classificar os edifícios
como AAA, AA, A, AB, B ou C – chama a atenção a classificação AA atribuída
ao edifício RB1, embora ele atenda a 17 dos 20 itens correspondentes à
classificação AAA [além de atender a outros importantes quesitos não
previstos]. A avaliação do RB1 o equipara à Torre Rio-Sul, cujo ar-condicionado
não funciona 24 horas por dia e não tem SAP. Também chama a atenção o
alto valor de aluguel do Edifício Avenida Atlântica 1122, R$ 50,00, superior
inclusive ao do Centro Empresarial Mourisco, cujo teto chegou a R$ 43,00
[valores correspondentes ao mês de maio/1998]. Apesar do QUADRO 3
(ANEXO VII) significar um avanço significativo em relação aos critérios
adotados por outras empresas de consultoria imobiliária, sua utilidade restrita à
simples lógica binária – tem-não tem – é bastante questionável. Alguns
exemplos da inadequação do instrumento, são: (1) O uso indiscriminado do
índice de iluminamento de 500 lux para a atividade de escritório, desconsidera
a atual tendência de valorizar uma paisagem visual diferenciando a
iluminação de fundo da iluminação no plano de trabalho, além de significar
desperdício de energia. (2) O SAP, reduzido a um simples sim ou não, favorece
a manutenção da visão negocial118, e não considera a eficiência e a utilidade
do recurso – informações como sistema proprietário ou aberto, controle
centralizado ou distribuído, sistemas integrados ou não, controle de demanda,
etc., não são consideradas. (3) Com relação ao sistema de ar-condicionado
self-contained, preteridos para os sistemas centrais no padrão AAA, cabe
observar que em edifícios divididos em conjuntos ou salas, o self-contained
apresenta diversas vantagens para os usuários, tais como manutenção e
consumo individualizados. (4) Inexistência de item relativo ao controle de
demanda de energia, item importante em termos de redução de custos
operacionais. (5) Inexistência de item relativo às práticas de economia de
consumo de energia que, aliadas a um eficiente SAP, podem reduzir o
118 O ANEXO VI, evidencia a tendência de utilizar o SAP como estratégia de marketing,
descuidando de sua real utilidade e eficiência.
137
consumo médio de energia por m2 de US $ 1,40 para até US $ 0,40
(ROIZENBLATT, in SOUSA 1994: 17). (6) Inexistência de item relativo à oferta de
serviços complementares, tais como central de reprografia, serviço de
recepção, academia de ginástica, snack-bar, cafés, lojas de conveniências,
posto de correio, agência bancária aérea 24 horas, etc. (7) A
obrigatoriedade de 2 escadas de incêndio desconsidera as dimensões do
edifício; em edifícios com pavimentos com área inferior a 1000m2 uma
segunda escada, além de reduzir a relação área de carpete/área útil, pode
tornar-se desnecessária e antieconômica. (8) Os itens não excludentes,
embora constem do quadro, não foram considerados para a classificação,
embora alguns deles sejam indispensáveis em edifícios de alto padrão, tais
como videoconferência, transmissão de dados por fibra ótica e por antena
parabólica, telecomunicações residente e centro de convenções.
Já o texto Classificação depende de características arquitetônicas e também
da localização (ANEXO VII, p.4)119, embora reconheça alguns importantes
aspectos desconsiderados pelas empresas “A” e “B”, também comete alguns
equívocos, especialmente sob o aspecto do desempenho energético do
envelope dos edifícios. Ao recomendar o uso de “vidros termo-acústicos, que
garantam bom nível de sombreamento e consigam reduzir bastante o barulho
externo”, o texto peca pela imprecisão, uma vez que vidros termo-acústicos
não asseguram sobreamento, mas escurecimento e redução da radiação
solar. Conforme já foi observado no CAPÍTULO 1, em climas tropicais, o vidro
necessariamente deve estar protegido da incidência direta da radiação solar.
Todas estas questões assinaladas estão contempladas nas fichas de avaliação
de oferta e demanda dos atributos prediais, que serão analisados no
CAPÍTULO 4, de modo que é possível afirmar que o MAH-COPPE possibilita
superar a maior parte das limitações observadas nos procedimentos das
empresas “A” e “B”.
A impossibilidade de conhecer os procedimentos e critérios de avaliação
utilizados pelos consultores imobiliários e a discrepância entre os dados
comparativos dos edifícios, foram determinantes para a modificação do
119 In Facility n° 5, mar-mai/1998, p. 17.
138
projeto de pesquisa, que inicialmente pretendia comparar o desempenho de
dez edifícios de escritórios com sistemas de alta tecnologia.
A seção seguinte analisa as vantagens e as possibilidades da utilização da
interdisciplinaridade e sistematização da APO para superar as limitações, a
fragmentação e a opacidade do processo de avaliação praticado pelo
mercado imobiliário, que são incompatíveis com os valores da sociedade pós-
industrial.
139
3.2 Avaliação Pós-Ocupação: foco no usuário, interdisciplinaridade e
sistematização de procedimentos
Um edifício é, fundamentalmente, o que esperamos dele.
Edward ALLEN (1982: 35) 120
“Produzir ambientes com qualidade deve passar a ser prioridade em
relação ao simples projetar e construir corretamente.”
Sheila ORNSTEIN (1996a: 45)
A Avaliação Pós-Ocupação surgiu como um procedimento de avaliação
análogo ao adotado em relação aos produtos em geral:
“para impedir que falhem (o que em edifícios pode resultar em acidentes,
disfunções ou desajustes), para assegurar bom valor aos usuários do edifício,
responsabilizar os encarregados de sua implementação e prover reais
incrementos de progresso em termos de promoção do campo ou produto”
(RABINOWITZ 1984: 396)
Suas origens remontam a três vertentes distintas de pesquisa iniciadas nos
Estados Unidos e Canadá a partir do final dos anos 40: (1) O surgimento da
psicologia ambiental, que estuda as relações entre ambiente e
comportamento [1947], com a fundação, por Roger BARKER e Herbert WRIGHT
(BETCHEL et al 1987)121, da Midwest Psychological Field Station, em Oskaloosa,
associada à University of Kansas, e responsável pela formação de diversos
pesquisadores no campo das relações ambiente-comportamento
[environment behavior]122 (ORNSTEIN 1992). (2) O surgimento do conceito de
desempenho dos edifícios, através do U.S. National Institute of Standards and
Technology e da ASTM (American Society for Testing and Materials) [1946], que
resultou em diversas publicações sobre o desempenho para os edifícios de
escritórios do governo e para as escolas municipais da California (School
Systems Development Corporation), de Ontário e Quebec (DAVIS & SZIGETI
120 Tradução do autor. 121 Embora o surgimento da psicologia comportamental (behaviorista) seja atribuído a B. F.
SKINNER (Walden II 1948), foi mantida a indicação de BETCHEL et al (1987) que, além de anterior
ao lançamento do livro de SKINNER, é aceita pela maioria dos autores de publicações sobre
ambiente e comportamento (AC). 122 Método da psicologia experimental que estuda o homem e os animais a partir de seus
comportamentos (reações e determinadas por algum tipo de estímulo) “para extrair daí as leis
que os reúnem” (JAPIASSÚ & MARCONDES 1996: 27) muito criticado por desconsiderar a
consciência e a emoção.
140
1997). (3) A consolidação da Architectural Programming123 (Programação
Arquitetônica) – “elemento prescritivo usado pelos projetistas para desenvolver
soluções” (RABINOWITZ 1984: 396), ou então
“reconhecimento e compreensão das necessidades e
comportamentos das pessoas, e pré-requisito para estabelecer as
metas para o programa do edifício ... [onde] o arquiteto atua como
facilitador para tornar o ambiente flexível e adaptável para acomodar
os desejos das pessoas” (SANOFF 1977:1) –
que se consolida com a criação do primeiro grupo de profissionais de
programação dos edifícios, o TEAG (The Environmental Analisys Group),
fundado em 1956 por Gerald DAVIS.
Em lugar de uma abordagem que priorize e descreva o histórico e a evolução
da APO, procuro relacionar o processo de surgimento, consolidação e
sistematização da avaliação de desempenho com as principais transformações
ocorridas a partir de meados do século XX 124 –, especialmente ao processo de
globalização da economia que se desenvolve com a formação de
corporações multinacionais e transnacionais (CAPÍTULO II). Assim, é possível
associar a diluição das fronteiras nacionais – promovida pelo deslocamento de
investimentos e da produção das grandes corporações para ambientes mais
favoráveis, beneficiadas pelos avanços no setor de comunicações, transportes
e finanças (REBOUÇAS 1998) – com a disseminação da arquitetura International
Style, e com a integração das disciplinas acadêmicas e dos pesquisadores de
diversos países nas pesquisas sobre o ambiente construído.125
Em função da extensa bibliografia relativa à APO (Preiser et al 1988; ORNSTEIN &
ROMÉRO 1992; ANTAC/NUTAU 1994; ORNSTEIN 1996b; BECHTEL 1997), serão
123 Nos Estados Unidos, a programação tem sido considerada como uma atividade distinta da
prática projetual. Segundo David HAVILAND (1996: 57), as metas de programa e projeto são
interativas e recíprocas: se, de um lado, o programa parametriza os projetos, de outro, ele
também pode ser implementado por um projeto. 124 Para uma leitura mais detalhada da história da APO é indispensável a leitura de PREISER,
RABINOWITZ & WHITE (Post-Occupancy Evaluation 1988), de BETCHEL (Environment & Behavior, an
Introduction,1997), ORNSTEIN e ROMERO (Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente Construído,
1992) e de ORNSTEIN (Avaliação Pós-Ocupação [APO] no Brasil: Estado da Arte, Desenvolvimento
e Necessidades Futuras, 1996; Desempenho do Ambiente Construído, Interdisciplinaridade e
Arquitetura, 1996a). 125 Cf. REBOUÇAS (1998), além de definir um mercado global de bens e serviços, a dimensão
tecnológica da globalização também define um mercado global de conhecimento.
141
observados apenas os aspectos que contribuíram para a consolidação do
processo de avaliação que se refletem de algum modo sobre o objeto deste
estudo: os edifícios e ambientes de escritório dotados de sistemas de alta
tecnologia. Inicialmente, o texto toma a forma de uma análise descritiva mais
genérica e compartimentada – arquitetura, programação e avaliação de
desempenho dos edifícios são analisados em separado. À medida que se
diluem as fronteiras geográficas, culturais, científicas, tecnológicas e
acadêmicas e que aumenta sua interação – especialmente a partir de meados
dos anos 80 – o foco se direciona para a avaliação dos aspectos teóricos e
práticos relativos ao processo de concepção, produção e avaliação dos
edifícios.
Surgimento e consolidação das primeiras associações e grupos
interdisciplinares.126
Enquanto a “Cortina de Ferro” provoca o acirramento da “guerra fria” e
eclodem as guerras da Coréia e do Vietnã, os primeiros aviões a jato
intercontinentais reduzem as distâncias entre os continentes, as cidades são
tomadas pelos automóveis e pelos arranha-céus. As casas são invadidas pelos
eletrodomésticos, pelo rádio portátil, pela televisão, pelas roupas de nylon e
de tergal, e surgem as bases da revolução cultural dos anos 60.127
A década de 60 é marcada por conturbados momentos na política
internacional, por manifestações de contestação social128 e efervescência nas
126 Cf. SAARINEN & SELL (in BECHTEL 1997: 94), em 1967 a Anglo-América concentra 88,5% dos
trabalhos de APO, enquanto a Europa Ocidental responde pelos 11,5% restantes. 127 Simone de BEAUVOIR (O segundo Sexo 1949) lança as bases do movimento de emancipação
feminina; com Bill HALLEY and the Comets (Rock Around the Clock 1954), surge o Rock’n’roll que,
através de Elvis PRESLEY, embala as esperanças da “Geração James Dean”; Herbert MARCUSE
(Eros e a Civilização 1955) lança as bases da revolução comportamental nas universidades;
Allen GINSBERG (Howl 1955 e América 1956) e Jack KEROUAC (On the road 1957), lançam o
movimento Beat, que influencia os movimentos hippie, ecológico e gay. Noam CHOMSKY
(Estruturas Sintáticas 1957) se contrapõe ao behaviorismo, ao afirmar que a capacidade
humana para a gramática é inata; Roland BARTHES (Mitologias 1957), exalta a semiologia de
SUASSURE e afirma que todas as atitudes sociais expressas através da arte, da mídia e do senso
comum mascaram a realidade; Ingmar BERGMAN (O Sétimo Selo 1957) inaugura o cinema
autoral, que se consolida com a Nouvelle Vague francesa (1959), de François TRUFFAUT, Alain
RESNAIS, Jean-Luc GODARD.
128 Suas duas principais tendências a expansão da consciência na direção do transpessoal e na
direção do social (CAPRA 1991) – explicitam o esgotamento do sistema de crenças até então
dominante. Este período, conhecido como “contracultura” desferiu um ataque às coerções
emocionais e favoreceu o relaxamento dos padrões formais de vestuário, apresentação e
comportamento.” FEATHERSTONE (1995: 71)
142
artes, na cultura129 e na ciência130. Em meio a estas transformações e a um
ambiente social que supervaloriza a especialização nas diversas áreas das
ciências e nas atividades produtivas, o surgimento das primeiras experiências
em psicologia ambiental e em programação arquitetônica, com a
colaboração de sociólogos e antropólogos evidencia seu caráter inovador. Os
psicólogos ambientais consolidam suas teorias em pesquisas realizadas,
principalmente, em alojamentos de estudantes e hospitais. Os programadores,
atuando como “tradutores” entre proprietários, usuários e projetistas,
produzem os fundamentos metodológicos da avaliação de desempenho.
Alguns dos mais importantes pesquisadores e autores de APO e estudiosos dos
edifícios e ambientes de escritório iniciam sua atuação neste período.131
Na arquitetura, desponta o trabalho de Kevin LYNCH e Christopher
ALEXANDER132. Com A imagem da cidade (1960) LYNCH lança as bases do
desenho urbano e estabelece a primeira conexão da arquitetura com a
psicologia ambiental e com a antropologia. ALEXANDER busca um princípio
de organização capaz de gerar um entorno físico onde o homem urbano
possa novamente levar uma vida equilibrada, e lança as bases para um
modelo racional de decisão projetual – conjunto de regras que governam os
procedimentos do processo projetual133 (SALAMA 1995). Em Notes on the
Synthesis of Form (1964), ALEXANDER afirma que a insistência na intuição e na
individualidade do arquiteto na invenção de novas formas está esgotada
diante da atual complexidade do mundo e da vida do homem, que exigem
uma nova ordem física, e uma nova organização e forma para o processo
projetual ou “processo de invenção de coisas físicas”. Ao subjetivismo do
129 WAHROL inaugura a “arte pop” dos clichês, o rock inglês, liderado pela irreverência dos Beatles
e pelo anarquismo dos Rolling Stones, ganha o mundo, enquanto BAEZ e DYLAN inauguram a
música de protesto; dois grandes festivais, White e Woodstock, consolidam o rock como a 1a
manifestação cultural global. 130 A física é revolucionada pela invenção do raio laser e do quark; o homem pousa na Lua; os
cabos telefônicos de fibra ótica e os satélites revolucionam as comunicações, e prenunciam a
Revolução Informacional (anos 70).
131 Robert BECHTEL, Wolfgang PREISER, Henry SANOFF, Franklin BECKER, Volker HARTKOPF, David
KERNOUHAN, Vivian LOFTNESS, John WORTHINGTON, Francis DUFFY, Gerald DAVIS e outros. 132 Cf. BETCHEL (1997), junto com BARKER, HALL e SOMMER, os pioneiros da pesquisa do ambiente
construído e do comportamento humano. 133 Coexistem três diferentes modelos: (a) modelo intuitivo ou “abordagem caixa preta” (JONES
1970); (b) modelo racional ou “abordagem caixa de vidro” (JONES 1970); e (c) modelo
participativo ou “projeto comunitário”, ou “abordagem pesquisa-ação” (SANOFF 1978, 1988 e
1992).
143
modelo intuitivo, contrapõe uma representação matemática de um problema
de projeto expresso através da teoria dos conjuntos.134
Outros autores influentes, são Jane JACOBS, Robert VENTURI, Aldo ROSSI e Henry
LEFEBVRE. JACOBS (The Death and Life of Great American Cities 1961) produz
um manifesto contra o planejamento e as práticas de reordenamento urbano.
VENTURI (Complexity and Contradiction in Arquitecture 1966) questiona a
ambigüidade, pouca atratividade e falta de crítica presentes na doutrina e nos
dogmas dominantes da arquitetura, expressas em suas composições abstratas,
condicionadas pela tecnologia e pela legislação; em contrapartida, preconiza
a retomada da pluralidade funcional e da ambigüidade significativa como
valores mais relevantes e coerentes com as exigências simbólicas dos grupos
sociais. ROSSI (A Arquitetura da Cidade 1966), em contraposição à
fragmentação entre arquitetura e urbanismo, lança os fundamentos do
Contextualismo Cultural e sugere que a cidade seja entendida como
arquitetura. LEFEBVRE (Le droit a la ville 1968) questiona A Carta de Atenas, um
dos principais dogmas do urbanismo moderno, que reduz a vida humana a
quatro necessidades funcionais simplistas – habitar, trabalhar, circular e cultivar
o corpo e o espírito – e fragmenta os espaços onde elas se realizam. Ao afirmar
que “efetivamente é mais fácil construir cidades do que vida urbana”, denuncia
a prevalência dos interesses burocráticos [funcionalistas] que permeiam a
estratégia política que sustenta o urbanismo moderno.
Estas obras explicitam a crise de valores que dificulta a interpretação das
transformações produzidas no ambiente construído, pela visão especializada,
e reconhecem a incapacidade da arquitetura interpretar e propor soluções
adequadas. Mas o ambiente construído passa a ser uma preocupação de
arquitetos, sociólogos, antropólogos, psicólogos e geógrafos começam a
relacionar problemas comportamentais com ambiente construído.
Além de BARKER, Edward HALL, Robert SOMMER e Amos RAPOPORT publicam
importantes trabalhos. HALL (The Silent Language 1959; The Hidden Dimention
1966) evidencia a diversidade de abordagem do espaço nas diferentes
culturas e introduz o conceito de proxêmica e distância pessoal. SOMMER
134 ALEXANDER propõe correlações entre um conjunto de possibilidades de desajuste de forma e
contexto, e um conjunto de articulações associadas com as variáveis do conjunto anterior, em
um determinado domínio.
144
(Personal Space: The Behavioral Basis of Design 1969) critica os projetistas, que
dão forma aos edifícios e às pessoas, e sugere que “se deva fazer algum
esforço para ver até que ponto um edifício é satisfatório do ponto de vista do
público” (SOMMER 1973). RAPOPORT (House Form and Culture 1969) analisa e
sistematiza as relações biunívocas existentes entre o homem e o ambiente
construído, a partir de um viés da psicologia ambiental e da antropologia.
Nos anos 60, são publicados os resultados de diversas pesquisas sobre as
relações entre comportamento humano e projeto dos edifícios, em livros ou
em periódicos como Environment and Behavior, Architecture e Progressive
Architecture (PREISER et al 1988: 8-9). Importantes contribuições conceituais e
metodológicas para a análise ambiental são divulgadas por H. OSMOND
(1966)135, E. EHRENKRANTZ (1967), S. Van der RYM & M. SILVERSTEIN (1967) e por
W. PREISER (1969), que propõe perfis de desempenho e correlações entre
medidas subjetivas e objetivas de desempenho.
A dificuldade para compreender a complexidade das transformações sociais,
culturais e tecnológicas favorece o surgimento de associações e grupos
interdisciplinares de pesquisa. Em 1968, é criada a EDRA – Environment Design
Research Association)136, associação profissional interdisciplinar, com o
propósito de “avançar a pesquisa na arte e na ciência do desenho ambiental,
melhorar o entendimento dos relacionamentos entre as pessoas e os seus
ambientes construído e natural, ajudando a produzir ambientes responsivos
para as necessidades do homem.”137 Seu primeiro encontro (1969) é um marco
para o desenvolvimento da pesquisa do ambiente construído como campo
interdisciplinar.138 Neste mesmo ano, no Reino Unido, realiza-se a Dalanday
Conference, evento bianual que possibilita a futura criação da IAPS
(International Association for the Study of People and Their Physical
Surroundings).
135 Cf. BECHTEL (1997: 79) Mentor de SOMMER, que cunhou os termos sociofugal space para áreas
abertas e sociopetal space para ambientes de restaurante e salas de estar. 136 CF. BETCHEL (1997: 81), por influência das aulas de Christopher ALEXANDER em Berkeley. 137 Disponível na internet no endereço: http://www.telepath.com/edra/ 138 Publicado por H. SANOFF e S. COHN (1970).
145
Perspectiva compreensiva do projeto e pouca atenção com meio
ambiente.139
Marcada pela consolidação do arcabouço teórico das visões alternativas de
mundo surgidas na década de 60, pela crise do petróleo e pelo início da
“Revolução da Tecnologia da Informação”, a década de 70 produz diversos
trabalhos científicos interdisciplinares. Surgem importantes contribuições para o
entendimento das relações homem-ambiente140 e da percepção ambiental141,
especialmente sua relação com a cidade142. Em meio aos problemas
econômicos decorrentes da crise do petróleo, da crescente competição
global, dos novos conceitos corporativos e da complexidade dos novos
edifícios de escritórios com seus diversos sistemas “inteligentes”, a avaliação de
desempenho assume importante papel de apoio para a produção de
edifícios mais responsivos às necessidades e às expectativas de seus usuários. A
APO é uma de suas principais vertentes metodológicas.
Na arquitetura, ALEXANDER e seus colaboradores de Berkeley transformam em
realidade o sonho de “conseguir um processo projetual que proceda do
corpo dos homens que habitam os lugares projetados, e não da mente de uns
especialistas e técnicos ou estetas que excluem os usuários com seus próprios
problemas e interesses” (ALEXANDER 1987: contracapa). Em seqüência a Notes
on the Synthesis of Form, produz a trilogia: (1) The Timeless Way of Buildindg
(1979), que propõe uma nova teoria da arquitetura, da construção e do
planejamento fundada no processo secular através do qual as diferentes
sociedades e culturas extraem a ordem do mundo; (2) A Pattern Language:
Towns. Buildings. Construction (1977), formula um princípio geral de projeto
capaz de ser utilizado em qualquer escala de ambiente por qualquer pessoa,
que desafia as idéias dominantes sobre arquitetura e planejamento; (3) The
139 Cf. SAARINEN & SELL (in BECHTEL 1997: 94), em meados dos anos 70 a Anglo-América concentra
84,4% dos trabalhos de APO, enquanto a Europa Ocidental 12,2%, a Australasia 1,4 %, a América
Latina 1,3%, a Europa Oriental 1,0%, a África 0,2% e a Ásia 0,0 %. 140 BATESON (Steps to na Ecology of Mind 1972; Mind and Nature 1979), SCHUMACHER (Small is
Beautifull 1973), CHEW (Teoria Bootstrap), HENDERSON (Creating Alternative Futures 1979), DORST
(Antes que a natureza morra 1971). 141 Yi-fu TUAN (Topophilia: a study of environmental perception, attitudes, and values 1974).
142 Italo CALVINO (As cidades invisíveis 1971), Manuel CASTELLS (La question Urbaine (1972),
Christian NORBERG-SCHULZ (Existence, Space and Architecture 1975), Robert GOODMAN (After
the planners 1971).
146
Oregon Experiment (1975), traça o Plano Diretor da University of Oregon e
exemplifica como suas idéias inovadoras de arquitetura e urbanismo podem
ser aplicadas na prática de uma determinada comunidade. O conjunto dos
quatro livros de ALEXANDER representa a primeira aplicação dos princípios da
lógica fuzzy na resolução de um problema de arquitetura e A Pattern
Language: Towns. Buildings, desenvolve sentenças e variáveis lingüísticas
[padrões] que descrevem os diferentes relacionamentos no ambiente físico e
formulam empiricamente as condições necessárias para conseguir a saúde
individual e coletiva de uma comunidade ou grupo.
Na programação arquitetônica, Henry SANOFF (Methods of Architectural
Programming 1977; Designing With Community Participation 1978) lança as
bases do “projeto comunitário” ou “abordagem pesquisa-ação”, e defende o
envolvimento dos usuários no processo de decisão para garantir que suas
necessidades e valores sejam levadas em consideração. SANOFF considera
que o processo projetual deve procurar unir os métodos tradicionais, baseados
na intuição e na experiência, com um processo lógico e rigoroso de raciocínio,
de modo a absorver o melhor de cada um dos dois lados.
Na APO, os anos 70 caracterizam-se pela sistematização dos métodos
múltiplos (PREISER et al 1988: 11), segundo uma perspectiva compreensiva do
projeto, que se caracteriza (1) pela pouca atenção ao meio-ambiente físico e
à saúde, segurança e bem-estar de seus ocupantes, e (2) pela ênfase
excessiva no desempenho energético dos edifícios, decorrente da crise de
energia. R. GOODRICH (Post-Design Evaluation of Centre Square Project 1976)
conduz projeto inovador de Avaliação Pós-Projeto143 de escritório aberto com
600 empregados, e organismos oficiais desenvolvem e publicam importantes
trabalhos: J. M. DUNPHY e D. SADBOLT do PWC (Public Works Canada)
elaboram estudo que incluem recomendações para melhoria da
programação, para avaliação da construção e para responder às
necessidades dos usuários. A GENERAL SERVICES ADMINISTRATION produz a
primeira publicação oficial contendo padrões de desempenho dos sistemas
de escritórios (The PBS Building Systems Program and Performance
Specifications for Office Buildings: 1975).
143 Também denominada Avaliação Pré-Ocupação.
147
Em 1976, surge o primeiro programa de graduação em facility management
(1976) na School of Architecture at Carleton University de Otawa, cuja
implantação foi coordenada pelo TEAG (The Environmental Group to Ottawa).
[SZIGETI & DAVIS 1997: 8] Enquanto isso, na Europa, realizam-se três International
Conference on Architectural Psycology: em 1970 (Kingston, Reino Unido), 1973
(Lund, Suécia), e 1976 (Estrasburgo, França).
No Brasil, Ualfrido del CARLO e C. MOTTA (Níveis de satisfação em conjuntos
habitacionais da Grande São Paulo 1975) realizam a primeira APO.
Sistematização de procedimentos, terminologia e formação de redes de
pesquisadores.144
Os anos 80 se caracterizam por um processo de desaceleração produtiva e
de reestruturação sócio-econômica e organizacional – desregulamentação,
liberalização, privatizações, crescimento dos serviços e redes de
telecomunicações, integração global dos mercados financeiros e articulação
segmentada da produção e do comércio mundial – influenciado e moldado
por um novo paradigma sócio-técnico: o paradigma da tecnologia da
informação (CAPÍTULO 1), que globaliza a economia e o trabalho145 para um
pequeno segmento de profissionais especializados [e cientistas], que
demandam edifícios dotados de modernos recursos e instalações ambientais,
informacionais e telemáticas.
Na arquitetura, Kevin LYNCH (A Theory of Good City Form 1981) critica a
atenção excessiva da academia nos aspectos sócioeconômicos dos
assentamentos urbanos, na análise do funcionamento da forma física e na
história – “todos sabem como é uma boa cidade; o único problema é como
consegui-la. Devemos deixar que estes juízos de valor sigam sem serem
questionados?” (LYNCH 1985: 10)146 –, e explicita sua proposta de teoria
normativa sobre a forma urbana, aplicável a qualquer contexto humano.
144 Cf. SAARINEN & SELL (in BECHTEL 1997: 94), em meados dos anos 80 a Anglo-América concentra
48,5% dos trabalhos de APO, enquanto a Europa Ocidental 30,4%, a Ásia 9,5%, a Australasia 4,6%,
a Europa Oriental 2,5%, A África e a América Latina 2,2% cada. 145 CF. CASTELLS (1999a: 113), a mão-de-obra continua um recurso a ser buscado onde for mais
necessária, “em termos de especialização, custos ou controle social” e que pode fluir para onde
existam empregos. Sobre este assunto, é interessante retomar as quatro posições diferentes da
divisão internacional do trabalho na economia informacional/global indicadas por CASTELLS em
Globalização (SEÇÃO 2.1). 146 Tradução do autor.
148
Françoise CHOAY (La régle et le modèle 1980) denuncia a imposição de uma
“disciplina que, num período de construção febril, impunha sua autoridade
incondicional” (CHOAY 1985: 2) e, em um trabalho de “escavação” dos
extratos dos vocábulos e tempos – “arquelogia da teoria da edificação”
(CHOAY 1985: 13) –, desmistifica as intenções e as anomalias produzidos pelos
principais tratados e utopias da teoria do espaço urbano.
A APO e a programação arquitetônica desenvolvem-se como disciplina,
padroniza-se a terminologia, formam-se redes de pesquisadores profissionais, e
sua aplicação se estende a grandes conjuntos de edifícios. Estudam-se as
relações dos usuários, cruzam-se resultados das medições físicas das
atividades/relações internas com as atividades/relações externas, fatores
físicos específicos, grau de satisfação, desempenho e facilidades de
comunicação no ambiente de trabalho. Seguindo os passos da globalização
da economia e da cultura de consumo, as pesquisas tornam-se transnacionais
e cada vez mais interdisciplinares, possibilitando grandes avanços em termos
de metodologias, teorias e estratégias. Na Inglaterra, David CANTER publica o
Journal of Environmental Psychology (1981) e novas associações
interdisciplinares surgem na Europa (IAPS – International Association for the
Study of People and Their Physical Surroundings 1981). No Nordeste da Ásia e
Oceania (PAPER – People and the Physical Environment Research Association
1983) e no Japão (MERA – Man-Environment Research Association 1980)147.
PREISER, RABINOWITZ & WHITE (Post-Occupancy Evaluation 1988), sistematizam
os instrumentos e métodos, em seu manual de APO onde apresentam os
conceitos básicos, o processo de avaliação pós-ocupação, e modelos de
instrumentos de coleta de dados, relatórios e uma check-list de fatores
técnicos.
No Brasil, em 1984 o Programa de Pós-graduação da FAUUSP oferece a
disciplina APO em Edificações, ministrada por DEL CARLO com a colaboração
de PREISER (ORNSTEIN e ROMÉRO 1992: 37). Em 1988, a ANTAC (Associação
Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído) incorpora a área de APO e
Sheila ORNSTEIN conclui a primeira tese de doutorado na área de APO
147 Cf. ORNSTEIN e ROMÉRO (1992: 36), o primeiro encontro realiza-se em 1982.
149
(Avaliação da Habitação Autogerida no Terceiro Mundo). Em 1989, a FAUUSP
realiza o primeiro seminário brasileiro sobre APO.
Maturidade e reconhecimento da APO:
Além do colapso da URSS, e dos problemas na maioria dos países da África e
da Europa Socialista, e pela disseminação das redes de comunicação e
informação, os anos 90, se caracterizam pela(o): (1) desestruturação do sistema
de relações internacionais, (2) esfacelamento dos Estados-Nação e pela
consolidação de uma “economia supranacional”, (3) pelo conflito entre
localismo e globalismo, e (4) consolidação da hegemonia global norte-
americana. A precedência da invenção e da decisão estratégica e a nova
geografia possibilitam que a invenção, a decisão, a produção e o consumo
ocorram em diferentes lugares, e a ciência passa a ser programado com
antecedência, com base na “mercadoria” informação. Na nova divisão
internacional do trabalho e do conhecimento, alguns países detêm a primazia
da pesquisa, outros os meios de produção e outros são meros consumidores dos
produtos e das idéias alheias.
Na arquitetura, a sensação de crise aparente entre os profissionais de projeto
evidencia que a profissão está mudando sem muita clareza do rumo que vai
seguir (ROWE 1996). Saskia SASSEN (1996) identifica a permanência da
centralidade como chave do novo sistema econômico onde a tecnologia
neutraliza em escala global a distância e o lugar. A autora considera que este
fato provoca uma abertura teórica e prática da arquitetura em torno das
quatro novas formas de identidade da centralidade: (1) a permanência da
centralidade do centro de negócios que, nos centros internacionais, assume
uma nova reconfiguração com base na tecnologia; (2) o centro de uma área
metropolitana pode se expandir em uma malha com nós de intensa atividade
negocial cujos benefícios decorrentes da telemática podem ser beneficiados
pela infraestrutura convencional; (3) a formação de um “centro” transterritorial
constituído pela telemática e pela intensidade do fluxo de negócios; e (4) as
novas formas de centralidade são constituídas pelos espaços gerados pela
eletrônica, que é estrategicamente operada pela indústria financeira.148 Peter
148 A exemplo de CASTELLS (1999a) e Milton SANTOS (1997), SASSEN observa a capacidade
potencial de controle global de certas cidades geograficamente distantes, que são
transformadas pela eletrônica e pelas telecomunicações em “cidades globais” gerenciados à
150
ROWE (1996) reconhece a tendência à diminuição do mundo da arquitetura,
em função da facilidade e rapidez de transferência de tecnologia, estilos e
modelos intelectuais, que circulam de uma região para outra, gerando tensões
oscilantes entre os ‘fundamentalistas’ locais e os ‘universalistas’ globais.149 Outra
forma de tensão identificada por ROWE é representada, de um lado, pela
homogeneização das práticas profissionais que faz desaparecer as distinções
espaciais, tornando semelhantes os altos edifícios que surgem pelo mundo
afora; de outro lado, suas atividades na Harvard Graduate School of Design
revelam a tendência dos estudantes estrangeiros analisarem com mais
profundidade sua própria cultura, seus valores e crenças, que deveriam estar
incorporadas em seus trabalhos.
Otto RIEWOLDT (1997) reconhece a necessidade de uma resposta apropriada
de arquitetos e projetistas para as demandas da revolução da mídia, onde a
arquitetura têm papel especial de garantir o “aperitivo” das delícias virtuais do
prometido cenário interno do ambiente construído. A materialidade das
estruturas dos edifícios da fronteira do mundo tecnológico está em uma forma
paradoxal de conflito com a realidade virtual – que se baseia em
simultaneidade, sincronicidade, permanência, imaterialidade, imediatismo e
globalidade – que precisa cada vez menos da arquitetura, tornando-a
obsoleta, redundante. RIEWOLDT identifica três tendências gerais para a
grande diversidade de soluções arquitetônicas: (1) Em termos formais, a
exploração do potencial futurístico contido no interior dos edifícios, inspirados
na ficção científica e em uma série de idéias que se estendem da arquitetura
divertida e nas caricaturas aos projetos deconstrutivistas, dá continuidade às
preocupações pós-modernistas com uma moda eclética e descontraída. (2) A
arquitetura reducionista, incluindo os improvisados estilos high-tech e
workshop, é uma resposta paralela para o mesmo problema. (3) Reagindo à
desmaterialização do mundo digital, a arquitetura se torna cada vez mais
individualizada. Em termos de programa, RIEWOLDT aponta a tendência de
distância. Mas o controle centralizado e gerido além de uma disposição de geografia dispersa
de plantas industriais, escritórios, e serviços de distribuição não é uma coisa inevitável que requer
uma vasta gama de serviços especializados, de funções de alta gerência e de controle de uma
infraestrutura avançada. 149 O autor ilustra os dois extremos destas tensões: (1) tente convencer uma dona de casa da
Arábia Saudita a abandonar os confortos de sua casa dotada de todos os recursos tecnológicos
para voltar a habitar em uma tenda; (2) a ameaça aos valores tradicionais provocada pelos
modernos edifícios construídos no Centro-este Norte Americano.
151
edifícios de multi-função, construções híbridas que combinam sob um mesmo
teto, funções que até então eram consideradas separadas, e que vão da
urbanização de edifícios individuais ao desenvolvimento de novas mega-
estruturas urbanas. A clara preferência pelo vidro, pelo metal e pelas novas
combinações de materiais, que pode ser atribuído à grande flexibilidade
destes materiais, não indica, necessariamente, uma nova arquitetura
fundamentada na mídia. RIEWOLDT também observa: (1) O dualismo entre
transparência e encobrimento, abertura e retenção, anunciado como um
leitmotif dos dias modernos, fundamenta-se em princípios arquitetônicos muito
antigos; (2) A unidade entre conteúdo e forma, ou entre função e construção
começa a derrubar a crença de que a revolução digital deixa a arquitetura
aos seus próprios interesses: redes e estações de trabalho podem funcionar nos
mais diversos contextos. (3) A possibilidadede instalar sistemas prediais
computadorizados tanto em edifícios novos como em monumentos
protegidos, evidencia a possibilidade de transformação de edifícios históricos
em ultra-modernos centros bancários ou museus. Segundo o autor, na
realidade, a restauração, a criação de imagem e o estado-da-arte da
tecnologia de comunicações podem conviver muito bem entre si.
Com relação à APO, Robert BECHTEL (1997) publica amplo compêndio sobre as
diversas áreas conceituais da APO (e do PDR - Pre-Design Research) – valores,
crenças e atitudes, percepção ambiental e estética, cognição ambiental, e
estresse ambiental. Suas conclusões relativas às teorias de comportamento e
ambiente – que incluem as teorias GAIA, sociobiologia, biofilia, holismo orgânico
– confirmam o acerto e a atualidade da fundamentação teórica deste
trabalho. A exemplo de BECHTEL, SANOFF (1992) – que defende a necessidade
de se aprender a escutar e compreender “não somente aos clientes que
pagam pelos serviços dos arquitetos, mas as pessoas que usam e são afetadas
pelo ambiente” – procura interrelacionar os avanços do conhecimento de
programação, avaliação e participação, para maior compreensão dos efeitos
da intervenção humana no ambiente físico. SANOFF procura relacionar
avaliação e programação, analisar os processos e métodos da avaliação do
projeto e do projeto participativo, propõe e aplicar um processo integrado de
programação, avaliação e projeto participativo (Teoria Z).
152
PREISER (in EDRA’30 1999) avalia a evolução dos estudos de ambiente e
comportamento (EBS – Environment/Behavior Studies) e da APO nos últimos 30
anos e, em especial, nos anos 90. Além da maturidade do campo de pesquisa
e sua contribuição no sentido de melhorar a responsividade dos edifícios às
necessidades dos usuários, o autor reconhece que os projetistas começam,
finalmente, a tomar conhecimento da necessidade da APO para avaliar o
desempenho – mais para atender à exigência de alguns clientes instituicionais
e corporativos como suporte à programação, do que por vontade própria.
No Brasil, ao longo da década de 90, surgem as primeiras publicações relativas
à APO, com destaque para a produção de ORNSTEIN, que contribuiu
decisivamente para dosseminar a APO no Brasil: Avaliação Pós-Ocupação do
Ambiente Construído, ORNSTEIN e ROMÉRO [colaborador] 1992), Ambiente
Construído & Comportamento: Avaliação Pós-Ocupação e a Qualidade
Ambiental, ORNSTEIN et al 1995), Desempenho do Ambiente Construído,
Interdisciplinaridade e Arquitetura (ORNSTEIN 1996). Merecem destaque suas
análises sobre as tendências e perspectivas da APO, especialmente no Brasil,
sua preocupação com os procedimentos metodológicos, e sua preocupação
em relaconar desempenho, tecnologia e comportamento humano a partir de
uma abordagem sistêmica (ORNSTEIN 1996a). O trabalho de ORNSTEIN foi
importante na definição dos perfis de oferta e de demanda dos atributos
construtivos e de ambiência interna (ANEXO 05).
Ao longo dos anos 90 a ANTAC e o NUTAU150, promovem eventos internacionais
interdisciplinares regulares (bianuais) com painéis específicos de APO, onde
são divulgados os trabalhos de pesquisadores ligados a diversas universidades
brasileiras. Por seu caráter pioneiro, merece destaque o Workshop Avaliação
Pós-Ocupação (ANTAC/NUTAU 1994), realizado em São Paulo, com o objetivo
de discutir e revisar (1) a terminologia e os conceitos (MEDVEDOVSKI); (2) os
métodos e técnicas de levantamentos e de análise de dados (LAY & REIS;
MONTEIRO & LOUREIRO); (3) e os procedimentos e técnicas estatísticas
aplicadas à APO (ORNSTEIN, BRUNA & TASCHNER). Dos mais de 100 trabalhos
publicados em eventos científicos, 1995 predominam os artigos voltados para
150 Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo da FAUUSP, criado em
1992, por SERRA, ORNSTEIN, ROMÉRO, SIMÕES e DEL CARLO.
153
os aspectos teóricos e metodológicos e em edifícios educacionais, enquanto
a partir de 1995, a ênfase passa a ser a habitação social. (ORNSTEIN 1996b: 75)
No Rio de Janeiro, despontam os estudos de percepção ambiental
desenvolvidos por DEL RIO: Desenho Urbano e Revitalização na Área Portuária
do Rio de Janeiro (DEL RIO 1991), Percepção Ambiental (DEL RIO e OLIVEIRA,
org. 1996) e Perquisa & Projeto (DEL RIO et al 1998), importantes no
desenvolvimento dos instrumentos e técnicas de observação (RHEINGANTZ
1995), bem como na definição dos perfis de oferta e de demanda dos
atributos corporativos, de infraestrutura e de ambiência interna (CAPÍTULO V).
Sob a liderança de Sheila ORNSTEIN, o grupo de APO do NUTAU desenvolve
intensa atividade151 e inicia intercâmbio regular com instituições e
pesquisadores internacionais. Atualmente este grupo participa da equipe de
pesquisadores do IBPE – Internacional Building Performance Evaluation Project
– projeto de pesquisa coordenado por PREISER que conta com pesquisadores
americanos, alemães, brasileiros, holandeses, ingleses, japoneses e da Arabia
Saudita, cujo objetivo é desenvolver um conjunto de instrumentos
metodólogicos "padrão" para avaliação de desempenho de ambientes de
trabalho passíveis de serem aplicados em qualquer parte do mundo.
(ORNSTEIN, LEITE e ANDRADE 1999)
No Rio de Janeiro, a COPPE e o PROARQ têm desenvolvido trabalhos sistemáticos da
APO a partir de 1996152, através dos grupos de pesquisa Avaliação do Projeto e da
Gestão dos Edifícios de Serviço e Habitacionais (Sistema Diretório CNPq)153 e Hábitat.
Atualmente estão em andamento 5 teses de doutorado na COPPE e diversas de
mestrado no PROARQ. Em parceria com o NUTAU, a partir de 1998 o PROARQ tem
mantido permanente contato com pesquisadores de APO e em agosto de 2000 em
parceria com o EICOS-IP/UFRJ, promove o Seminário de Psicologia e Projeto do
Ambiente Construído.
151 Cf. BECHTEL (1997: 95), o fato de ORNSTEIN estar envolvida em nada menos do que 11 APOs
em diferentes estágios, faz com que em 1990, “São Paulo tenha se tornado a capital mundial da
APO.” 152 RHEINGANTZ (1995, 1998); COSENZA et al (1996, 1997); RHEINGANTZ et al (1997); DEL RIO et al.
(1998); ALVES & SANTOS (1998); BRASILEIRO et al. (1998); GONÇALVES & RIBEIRO (1998); LEITÃO &
ANDRADE (1998); SANTOS et al. (1998); DEL RIO & SANOFF (1999); 153 Coordenado por COSENZA e RHEINGANTZ, com a participação de Maria PORTO, Fernando
LIMA, Vicente del RIO, Rosina RIBEIRO, Adriano FONSECA, Ceça GUIMARAENS, Mauro SANTOS e
Giselle AZEVEDO.
154
A seguir, serão analisados a evolução de APO de edifícios e ambientes de
escritório, e apresentados os principais instrumentos e técnicas desenvolvidos
para este tipo de análise e que, a exemplo do MAH-COPPE, confrontam oferta
e procura: o BQA, o ST&M e o REN.
155
3.3 Avaliação de Desempenho de Edifícios de Escritórios: BQA, ST&M, REN
A avaliação de desempenho dos edifícios de escritórios surgiu a partir dos
trabalhos do U.S. National Institute of Standards and Technology154 e do
Committee E06 on Performance of Buildings of ASTM (American Society for
Testing and Materials) [1946], que abordavam o desempenho dos edifícios de
escritórios do governo e das escolas municipais da California, de Ontário e
Quebec.
Durante os anos anos 50 e 60, Gerald DAVIS cria o TEAG (The Environmetal
Analisys Group 1956) e P. MANNING, do Pilkington Research Unit, publica a
primeira avaliação realizada em edifícios de escritórios: Office Design: A Study
of Environment (1965). Durante os anos 70, enquanto a APO se dissemina, R.
GOODRICH (Post-Design Evaluation of Centre Square Project 1976) conduz
projeto de avaliação pós-projeto155 de escritório aberto com 600 empregados,
alguns organismos oficiais desenvolvem e publicam importantes trabalhos
relacionados a padrões de desempenho, recomendações para avaliação da
construção e para responder às necessidades dos usuários.156
Durante os anos 80, enquanto a APO se consolida e surgem importantes
trabalhos sobre a arquitetura de escritórios. Judy KLEIN (Office Book; ideas and
design for contemporary work spaces 1982) realiza estudo abrangente da
arquitetura dos ambientes de escritórios, onde: (1) ilustra a evolução do
escritório na história; (2) analisa os principais conceitos desenvolvidos a partir
do pós-guerra; (3) fornece recomendações para escritórios que atendam aos
diferentes tipos de uso, e (4) fornece um guia internacional sobre fontes de
informações. John PILE (Open Office Space 1984) estuda as origens, usos e
expectativas dos usuários do escritório aberto, com o objetivo de auxiliar e
orientar os projetistas. O autor analisa alguns projetos de escritório aberto
154 Atual National Bureau of Standards. 155 Antiga designação para o que hoje se denomina Avaliação Pré-Ocupação. 156 J. M. DUNPHY e D. SADBOLT do PWC (Public Works Canada), GENERAL SERVICES
ADMINISTRATION (The PBS Building Systems Program and Performance Specifications for Office
Buildings: 1975), a primeira publicação oficial contendo padrões de desempenho dos sistemas
de escritórios; DEPARTMENT OF THE ARMY (Design Guide DG 1 a 10-3-106 US Army Service Schools:
1976); SURVEY RESEARCH CENTER – INSTITUTE FOR SOCIAL RESEARCH (Interviewer's Manual: 1976);
PUBLIC WORKS CANADA (Project Delivery System, Stage 10: Level 1 Evaluation, Users Manual:
1979); SYNDICAT D’STUDES INTERINDUSTRIES–CONSTRUCTION e o CENTRE SCIENTIFIQUE ET
TECHNIQUE DE LA CONSTRUCTION de Bruxelas (Des Performances du Bâtiment: 1979).
156
realizados entre meados dos anos 70 e início dos 80. A Herman Miller Research
Corporation [HMRC] (Everybody’s Business: a fund of retrievable ideas form
humanizing life in the office 1985) defende a humanização da vida no
escritório, e valoriza os trabalhadores não usuários de escritórios, “os
trabalhadores do neo-escritório”, ou “trabalhadores de escritório sem
escritórios”157. A seguir, questiona aspectos e imagens estereotipados sobre
trabalhadores e ambiente de escritório, e afirma que a maioria dos edifícios de
escritórios abriga pequenos e medianos inquilinos com grande discrepância
de interesses, propósitos e recursos, onde trabalhadores anônimos cumprem
suas jornadas nas escrivaninhas de edifícios cercados de divisórias e paredes
de vidro. O estudo também defende uma visão negocial que reconheça a
diferença entre ganhos de curto prazo e valores de longo prazo, entre uma
fachada ostensiva e um marco duradouro, entre empilhar pessoas e cultivar o
potencial humano. Na conclusão do livro são apresentados quatro lugares
excepcionalmente bons para trabalhar158: Hewlett Packard Company (Palo
Alto), Odetics Inc. (Anaheim), Meredith’s Corporation (Des Moines), e
Northwestern Mutual Life (Milwaukee).
Sobre a avaliação de ambientes de escritório, R.. MARANS & K. SPRECKELMEYER
(Evaluation Built Environments: A Behavioral Approach 1981) produzem um
modelo para determinar a influência do espaço de trabalho na percepção e
no comportamento dos trabalhadores (PREISER et al 1988: 13). M. BRILL et al
(Using Office Design to Increase Productivity 1984), publica os resultados de 5
anos de APO envolvendo 70 escritórios e cerca de 500 usuários, combinando
questionário, medições físicas das condições ambientais, identificando as
relações existentes entre fatores físicos, grau de satisfação no trabalho,
desempenho e facilidade de comunicação (PREISER et al 1988). Em Cornell, G.
DAVIS, F. BECKER, B. SIMS e F. DUFFY, com a colaboração de J. FARBSTEIN e F.
157 Como, por exemplo: escritório-mala do vendedor ambulante, o cubículo de um chaveiro ou
de um sapateiro; empregadas diaristas, a barraca de um salva-vidas, gerentes de
supermercado, frentistas de postos de gasolina, caixas de ferramentas de mecânicos, eletricistas
e carpinteiros, etc; segundo o HMRC (1985-1), seus escritórios estão nas suas cabeças, nos seus
porta-luvas, nos seus armários de material de limpeza, nas suas tumultuadas salas e mesas de
cozinha.
158 Cf. HMRC (1985: 77) qualificados a partir de 5 perguntas: (1) baixa rotatividade (especialmente
da maioria das pessoas com talento)? (2) Liberdade para cada empregado arrumar seu próprio
ambiente? (3) Um lugar onde se pode progredir? (4) Um lugar onde nos sentimos aceitos e
respeitados? (5) Um lugar onde se pode enriquecer material e emocionalmente?
157
STEELE trabalham no estudo ORBIT-2, abordagem pioneira na sistematização e
na classificação dos recursos e instalações prediais dos edifícios de escritórios
por “níveis.” O desenvolvimento do projeto ORBIT-2 segue com SIMS e BECKER
em Cornell, DAVIS e SZIGETI em Ottawa e DEGW em Londres, fundamentando
diversos trabalhos, estudos e análises direcionadas para a reabilitação do Home
Office baseados em estações de trabalho genéricas e modulares (M. BELL -
Escritório’88 da Xerox; R. BARRY - estudos de tecnologia de escritório do Banco
Mundial), bem como a publicação do documento ORBIT-Information
Technology and Office Design (DEGW 1983). [DAVIS & SZIGETI 1997: 8-9]
A ASTM constitui o ASTM Committee E06 (posteriormente ASTM Subcommittee
E06.25), grupo de trabalho para analisar as normas gerais sobre funcionalidade
e qualidade dos edifícios e seus recursos e instalações, que reconhece a
necessidade de normas mais abrangentes e precisas sobre os conceitos e
processos para definir os itens técnicos e físicos. (DAVIS & SZIGETI 1997: 9). A EDRA
e alguns organismos oficiais norteamericanos e canadenses publicam trabalhos
sobre avaliação de desempenho de edifícios. A empresa DEGW International
Ltda, com sede em Londres desenvolve intensa atividade projetual e publica
importantes trabalhos de Francis DUFFY (ORBIT Summary Report159 1984; Building
appraisal and office design160 1989). Também desponta o trabalho de BECKER,
BECHTEL, WHITE, SANOFF e de DAISH, GRAY & KERNOHAN, do CBPR - Centre for
Building Performance Research da Victoria University of Wellington.
Durante os anos 90, enquanto a APO alcança maioridade e reconhecimento,
são publicados importantes trabalhos sobre a arquitetura de escritórios, que
procuram integrar e interrelacionar os diferentes aspectos da avaliação de
desempenho em termos atuais e de cenários futuros. Na DEGW, destacam-se
os trabalhos The New Office, de Francis DUFFY (1997)161, Reinventing the
Workplace, de John WORTHINGTON (1997) e Intelligent Buildings in Latin
America162. DUFFY (1997) identifica o legado e as lições das tradições de um
século de Office Design na Europa e na América do Norte. O trabalho
159 Em co-autoria com CHANDLER 160 Publicado in Architecture New Zeeland, set/out 1989, p. 106-107. 161 Outra importante obra de DUFFY é The Changing Workplace (1992). 162 In Proceedings of 3rd International Conference on High Technology Buildings, promovido pelo
Council on Tall Buildings and Urban Hábitat (atualmente coordenado pelo arquiteto brasileiro
Edison MUSA), realizado em São Paulo, em 20/21/10/1999.
158
também analisa as respostas do Office Design às demandas decorrentes das
novas tecnologias da informação e sinaliza sobre as perspectivas da inovação
na produção dos componentes e sistemas de escritório, no ambiente de
serviços, na administração e na locação do escritório. A partir de uma
proposta de tipologia de espaços de escritório – colméia, célula, recanto e
clube (SEÇÃO 2.4 e ANEXO V), DUFFY: (1) analisa vinte estudos de caso
internacionais; (2) reafirma a importância da avaliação de desempenho –
especialmente as técnicas que inter-relacionem meios, causas e efeitos – para
os novos tipos de negócios; e (3) sugere algumas técnicas, entre as quais a
APO.163 Na conclusão, o autor apresenta algumas sugestões para traduzir as
técnicas de avaliação à linguagem negocial, para tornar o espaço de
escritório mais eficiente e, a exemplo de KLEIN (1982), fornece diversas fontes
de ajuda – revistas, livros, organizações, exposições e eventos internacionais,
grupos e redes de estudos, e fabricantes de mobiliário. WORTHINGTON (1997)
publica os resultados de um workshop promovido pelo Institute of Advanced
Architectural Studies da University of York (1995), acrescido de alguns trabalhos
de um evento promovido e organizado pela DEGW e pelo Europeean
Intelligent Building Group164. Na introdução, WORTHINGTON aponta: (1) A
importância de definir uma estratégia do lugar de trabalho que utilize todos os
recursos possíveis – pessoas, tempo, dinheiro, lugar e tecnologia até o limite de
suas potencialidades. (2) A possibilidade da expressão física do ambiente de
trabalho na economia de ‘conhecimento’ ser muito diferente dos atuais
estereótipos. (3) A necessidade de planejadores, projetistas e facility
managers165 reconhecerem o novo paradigma de trabalho. (4) O
reconhecimento de que não basta sobrepor a nova tecnologia aos velhos
163 As demais técnicas sugeridas por DUFFY (1997), são: (1) avaliação predial – baseada nas
preferências dos usuários e expressas através de perfis de usuários; (2) classificação das
organizações e seleção por tipologia de layout e de edifício – que, por serem definidos a partir
das preferências dos usuários, permitem que as organizações ou suas unidades funcionais
escolham o tipo de layout que consideram mais adequado; (3) imaginando o ambiente de
trabalho – com auxílio de computação gráfica para estimular administradores e staff a
investigarem as melhores formas de trabalho e de estrutura organizacional; (4) estudos de tempo
de utilização – com auxílio de computação, ajudam a mensurar como o tempo e o espaço de
escritório são efetivamente utilizados; e (5) observação do desempenho do lugar de trabalho –
percepção do staff sobre a efetividade e a importância de suas acomodações, especialmente
a adequação para o desempenho de suas tarefas. 164 Intelligent Buildings and New Ways of Working. 165 Termo sem equivalente em português, utilizado para caracterizar os gerentes dos recursos
prediais dos “edifícios inteligentes”.
159
padrões de trabalho, implicando na necessidade de repensar o modo como
as novas organizações trabalham e aplicam tecnologia.166 (5) A diferença
entre os novos centros corporativos – que devem ser capazes de garantir um
senso de lugar, de reforçar a cultura e de reunir o pessoal – e os palácios
corporativos das décadas anteriores.167 LAING (1997) analisa as principais
mudanças ocorridas nos conceitos de escritório a partir de 1950 e as novas
propostas de layout (SEÇÃO 2.5); HARRIS (1997) caracteriza os anos 90 pelo
ajuste de um período de aparente estabilidade para um que se caracteriza
pela mudança – “a mudança é a única certeza com relação ao futuro do
ambiente de trabalho”; o autor observa a importância de se reconhecer a
complexidade da demanda por espaço para projetar, conceber e gerenciar
ambientes de trabalho mais responsivos à mudança, superando o
determinismo tecnológico; SOUTHWOOD (1997) analisa as relações entre o uso
tradicional e os novos usos da comunicação por voz, imagem e dados com os
sistemas prediais, e o impacto das novas tecnologias no gerenciamento e na
concepção dos novos edifícios; WITTE (1997), parte do pressuposto de que as
novas organizações são direcionadas em torno dos indivíduos, para observar
que a “mudança se refere às pessoas” e requer compromissos e atitudes dos
indivíduos de todos os níveis da organização.
HARTKOPF, LOFTNESS, DRAKE, DUBIN, MILL e ZIGA, do Center of Building
Performance and Diagnostic da Carnegie Mellon University (Designing the
Office of The Future; The Japanese Approach to Tomorrow’s Workplace 1993),
divulgam os resultados do ABSIC (Advanced Building Systems Integration
Consortium), parceria indústria-universidade que analisa as perspectivas
internacionais para os escritórios do futuro – América do Norte (estação de
166 CF. WORTHINGTON (1997: 2), as empresas de sucesso repensaram seus objetivos e formas de
trabalho suportados pela tecnologia para maximizar eficiência e agregar valor aos
empregados.
167 CF. WORTHINGTON (1997: 6), como as organizações enxutas reconhecem que a percepção
do status de possuir uma sede opulenta e inflexível assegura pouco valor negocial, em essência,
o novo centro corporativo deve ser/ter: (1) uma coleção de lugares – casa, carro, hotel, escritório
do cliente, ‘coração corporativo’ – trabalhando em rede; (2) um grupo de edifícios-chave que
refletem os valores incorporados, com espaços para agilizar a comunicação, o espírito de equipe
e a sensação de confiança; (3) condições e recursos adequados para atender o profissional
inovador; (4) tecnologia apropriada e integrada com a operação negocial.
160
trabalho), Alemanha (envolvente), Reino Unido (material, qualidade estética e
desempenho), Japão (núcleo de serviços/recursos). O trabalho enfatiza a
diferença entre ambiente avançado e escritório “equipado” e, depois de
analisar os principais problemas causados pelo impacto das novas tecnologias,
seus autores sugerem um processo projetual inovativo e transdisciplinar que
integre os sistemas prediais para o desempenho total do edifício.168 Com base
nos principais aspectos da abordagem japonesa e analisar quatro edifícios
avançados – TOSHIBA, NTT, ARK MORI e UMEDA – os autores ponderam as
possibilidades de implementar as inovações japonesas nos campos da robótica
e da eletrônica na construção, manutenção e operação dos edifícios. O livro
também apresenta uma detalhada checklist dos componentes dos sistemas e
inovações, utilizada na definição dos itens de avaliação da oferta e demanda
dos atributos de recursos prediais.
Os canadenses Stan ARONOFF e Haudrey KAPLAN (Total Workplace
Performance 1995) publicam abrangente trabalho sobre o desempenho dos
edifícios de escritórios. Os diversos aspectos dos edifícios – engenharia,
arquitetura, medicina, psicologia e sociologia – configuram um contexto – total
workplace – que analisa o desempenho do edifício e de seus ocupantes,
considerados uma unidade funcional integrada169. ARONOFF e KAPLAN
enfatizam os aspectos importantes do escritório atual: (1) análise dos recursos
do escritório, especialmente em relação às mudanças na forma de
acomodação do escritório, à automação do escritório ao desempenho
humano e em termos de saúde, política de acomodação; (2) análise da
influência dos ocupantes no desempenho dos sistemas; (3) análise dos aspectos
relativos à saúde dos ocupantes, a natureza dos riscos à saúde no cenário do
escritório em termos de conforto térmico, qualidade do ar e acústica; (4) análise
168 Cf. HARTKOPF et al (1993), qualidade espacial, térmica, do ar, acústica, visual e maior
integridade construtiva atendendo simultaneamente às necessidades psicológicas, fisiológicas,
sociológicas e econômicas 169 Seu conteúdo abrange: (1) o invólucro para a qualidade do escritório; (2) recursos do escritório;
(3) produtividade, conhecimento do trabalho e os recursos de escritório; (4) sistemas prediais; (5)
conforto térmico, qualidade do ar e acústica; (6) o computador no cenário do escritório; (7)
fatores psicológicos e controle individual do ambiente; (8) diagnóstico do lugar de trabalho; (9)
gerenciando os recursos para a organização.
161
da influência do computador no cenário do escritório, enfatizando traumas
cumulativos (LER), aspectos ergonômicos, visuais e eletromagnéticos.
Na Nova Zelândia, BAIRD, GRAY, ISAACS, KERNOUHAN e McINDOE (Building
Evaluation Techniques 1995) publicam completo manual contendo recursos e
técnicas para avaliação de desempenho dos edifícios de escritório, contendo
a contribuição de vários pesquisadores de renome internacional170, onde são
analisados: (1) processos de avaliação - regras básicas, motivações, métodos e
tomadas de posição; (2) práticas de avaliação – planejamento para
adaptabilidade, instrumentos que confrontam demanda e oferta171, a
participação de usuários e avaliações com foco direcionado e custos de
avaliação; (3) recursos de avaliação – apresentando a CBPR Checklist utilizada
como base na definição do conjunto de atributos do MAH-COPPE (ANEXO XI).
SZIGETI e DAVIS (Programming Evaluation: Relationship to the Design,
Management and Use of Facilities in EDRA’28: 1997), contribuem para o histórico
e o conceito de desempenho dos edifícios e suas ferramentas – BQA (Building
Quality Assessment), REN (Real Estate Norm) e ST&M (Serviceability Tools &
Methods).
PREISER (The International Building Performance Evaluation Project in EDRA’30 –
The Power of Imagination 1999) avalia a evolução dos estudos de ambiente e
comportamento (EBS – Environment/Behavior Studies) e reconhece a ênfase
crescente com a “humanização” do ambiente de trabalho, em detrimento da
preocupação com o downsizing corporativo e a redução de custos
(racionalização dos edifícios e espaços), que dominaram os projetos de
escritórios até o final dos anos 80.172
170 Entre seus colaboradores, estão Franklin BECKER, Gerald DAVIS, Hans de JONGE, Francis DUFFY,
Wolfgang PREISER, Henry SANOFF e William SIMS. 171 Sua análise do estado da arte dos instrumentos de avaliação que comparam oferta e
demanda – BQA (Building Quality Assesment), REN (Real Estate Norm), ORBIT-2 e ST&M
(Serviceability Tools & Methods) – fundamenta a SEÇÃO 3.3.
172 Cf PREISER (1999), maior preocupação com espaço pessoal, privacidade, re-utilização dos
edifícios e seu potencial de adaptação, sustentabilidade, “arquitetura verde”. PREISER (1999: 17)
associa o desinteresse dos arquitetos pela avaliação de desempenho a sete causas: (1) a aversão
em utilizar decisões projetuais baseadas no conhecimento; (2) falta de interesse em saber a
opinião dos clientes em relação ao desempenho dos seus projetos – os contatos posteriores com
os clientes se resumem a visitas de cortesia; (3) o medo de serem responsabilizados e acionados
162
A seguir, são descritos três instrumentos de avaliação de desempenho
direcionados para o ambiente de escritório associados ao programa ORBIT-2
Study173 e ao ASTM Subcommittee E06.25.174 que, a exemplo do MAH-COPPE,
confrontam oferta e demanda.
BQA (Building Quality Assessment) 175
No início dos anos 80, o Centre of Building Performance Research (CBPR) da
Victoria University of Wellington, Nova Zelândia, tendo à frente John DAISH,
John GRAY – que trabalhou com a TEAG em 1982 e e, 1988-89 (SZIGETI & DAVIS
1997:8) – e David KERNOHAN, com a consultoria de Gerald DAVIS (TEAG),
desenvolve trabalho teórico e prático que procura relacionar todos os
fundamentos do projeto de um edifício, de modo a incorporar as
necessidades e expectativas dos seus usuários. Como resultado, em 1988 o
CBPR prepara um sistema proprietário – utilizado mediante de licença
profissional – o The Building Quality Assessment (BQA)176, inspirado em uma
versão preliminar do ST&M (SZIGETI & DAVIS 1997: 8). No Reino Unido, o Building
Research Establishment (BRE) constitui um grupo formado pelos escritórios
pelos clientes descontentes; (4) a crença de que seus edifícios são obras de arte e imunes à
qualquer crítica; (5) a crença predominante de que não podem se dar ao luxo de gastar tempo
e dinheiro com avaliações dos seus edifícios – mesmo reconhecendo que podem produzir
conhecimento a ser aplicado em futuros trabalhos; (6) maior preocupação com a repercussão
do que possa vir a ser publicado nas tendenciosas revistas de arquitetura do que com a satisfação
de seus clientes; (7) pouca preocupação com a durabilidade, a manutenção, custos
operacionais e consumo de energia dos edifícios que projetam. Em contrapartida, atribui a
crescente tendência dos clientes em avaliar o desempenho dos edifícios e de seus recursos, a três
objetivos: (1) identificar e corrigir problemas nos edifícios; (2) ajustar os edifícios às mudanças de
uso; (3) aprender com o desempenho positivo e negativo dos edifícios e aplicação deste
conhecimento nos novos edifícios.
173 Equipe inicial G. DAVIS (Coordenador), F. BECKER, W. SIMS e F. DUFFY; posteriormente,
participaram F. DUBIN, F. SZIGETI, F. STEELE e J. FARBSTEIN.
174 Por serem sistemas proprietários e utilizados mediante licenciamento, a análise do BQA e
ST&M, ficou restrita à documentação publicada na literatura especializada (BAIRD et al 1995;
EDRA’28 1997). Como sua principal diferença em relação ao MAH-COPPE relaciona-se à lógica
do processo de avaliação, o material disponível é suficiente para os propósitos deste trabalho,
pois ilustra o confronto entre oferta e demanda.
175 Adaptado de SZIGETI & DAVIS (1997: 8), e BRUHNS & ISAACS (1995: 53-58).
176 BQA foi desenvolvida pela Quality Assessment International Ltd., uma companhia de
propriedade de Rider Hunt, Ltd. Atualmente é distribuída na Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido
e Estados Unidos.
163
DEGW (DUFFY, ELLEY, WORTHINGTON e MARMOTT) e BUS (ELLIS, WILSON e
LEAMAN), que desenvolve pesquisas que buscam integrar os conceitos da
Psicologia Ambiental à Arquitetura e à pesquisa dos edifícios, além de adaptar
o BQA para as condições do Reino Unido. (DAVIS & SZIGETI 1997: 8).
O BQA foi concebido como uma ferramenta para atender às necessidades de
investidores, incorporadores, construtores e proprietários, possibilita estimativas
precisas dos atributos dos edifícios e de seu valor de mercado, e fornece
informações comparativas entre edifícios para ajuda em decisões relativas aos
investimentos imobiliários.177 Antes de estimar a qualidade do edifício, é
necessário identificadar as necessidades e os interesses em jogo do(s) grupo(s)
de usuários do edifício – em geral divididos em dois grupos principais: os
produtores e os usuários. A abordagem do BQA possibilita separar as
necessidades comuns daquelas específicas de determinados grupos de
usuários, e assegura uma base comum que permite que sua aferição seja
utilizada por diferentes pessoas em diversos lugares. (BRUHNS & ISAACS 1997: 53)
A partir da pergunta:
O que o edifício oferece, e com que qualidade de desempenho?,
o BQA traduz a visão do especialista sobre as necessidades dos usuários,
focalizada nos atributos físicos e no desempenho – "aspectos de hardware" – de
um edifício traduzida em um valor único obtido pela soma dos valores parciais
de um conjunto de aspectos, organizados em nove categorias.
Categorias: O instrumento está estruturado em nove categorias de expectativas
ou necessidades humanas com relação aos edifícios, que associam suas
funções psicológicas e os conceitos utilizados para descrevê-las. As sete
primeiras, referem-se ao significado do edifício: (1) apresentação – imagem e
beleza; (2) espaço – adequação para usuários e atividades; (3) acesso e
circulação – facilidade e controle de entrada e saída das pessoas; (4) serviços
e recursos – serviços que auxiliam as tarefas dos usuários; (5) conforto pessoal –
177 Cf. BRUHNS & ISAACS (1997: 53), o BQA “é uma ferramenta para indicar o desempenho de um
edifício relacionando o desempenho atual com as necessidades de grupos de usuários deste tipo
de edifícios ... utilizada para treinar assessores como parte de um sistema compreensivo para
estimar a qualidade em bases compreensivas, classificando desempenho, e relatando as
descobertas.”
164
sanitários, chuveiros, academia de ginástica e outros confortos pessoais; (6)
ambiente de trabalho – adequação do ambiente (conforto térmico, visual,
auditivo, etc.); (7) – saúde e segurança – grau ou ausência de risco para a
saúde de usuários e visitantes. As duas restantes referem-se à qualidade do
edifício e dos serviços: (8) considerações estruturais – estabilidade e resistência
estrutural; (9) gerenciamento – serviços de manutenção, limpeza e atendimento
das necessidades do primeiro grupo (1 a 7). (BRUHNS & ISAACS 1997)
Estrutura – as categorias dividem-se em seções segundo as expectativas e a
percepção dos usuários em relação ao edifício (Fig. 8). As seções se dividem em
fatores, que são avaliados em seis níveis correspondentes a valores pares
intermediários entre 0 (nulo ou inexistente) e 10 (excelente). Quando necessário,
os níveis de avaliação dos fatores podem ser ampliados com a incorporação
dos valores ímpares existentes entre os limites 0 e 10.
Cálculo do BQA – o BQA é uma combinação ponderada da pontuação das
categorias e dos fatores. Cada fator é avaliado com uma nota (de 0 a 10), que
é multiplicada por um peso previamente determinado (de 0 a 100). Os valores
obtidos para os fatores são somados por categoria e ponderados por um peso
estabelecido para a categoria correspondente. O valor final do BQA é obtido
pelo cruzamento dos resultados das nove categorias. (Fig. 1 – ANEXO VIII)
Aplicações – BQA possui recursos para considerar as exigências de uma
determinada organização e pode ser utilizado para comparar edifícios em
bases comuns. O BQA é uma ferramenta adequada para avaliar as
possibilidades de melhoria da atratividade dos edifícios – possibilita identificar os
edifícios pontuados acima ou abaixo da média de mercado (perfil previamente
estabelecido). A análise das notas globais ou de cada categoria permite
comparar o desempenho global dos edifícios e identificar as vantagens e as
desvantagens de cada edifício. (Fig. 2 – ANEXO VIII)
FATORES
Atributos mensuráveis
Forma de avaliação: medição
CATEGORIA
Codificação das Necessidades dos Usuários
FATORES
165
ST&M (Serviceability Tools & Methods)178
Em meados dos anos 80, o ITC (International Centre for Facilities) de DAVIS e
SZIGETI assessora o PWC no trabalho de auxiliar seus arquitetos, engenheiros e
proprietários a “compreender e conhecer seus clientes”. O trabalho serviu de
base para as Normas de Utilização (Serviceability) da AST&M para a Total
Funcionalidade e Utilização do Edifício e para a construção da ST&M
(Serviceability Tools & Methods)179, instrumento de avaliação de desempenho
dos edifícios inspirado no projeto ORBIT-2, aprovado pela AST&M em 1987
(DAVIS & SZIGETI 1997: 9-10) e como parte da política de governo do Governo
Federal do Canadá, em 1993.
ST&M é um sistema proprietário orientado aos usuários, concebido para
facilitar a comunicação entre os usuários e os produtores dos edifícios e, se
necessário, pode ser totalmente operado por não especialistas, bastando um
curto programa de treinamento.
Baseado na pergunta:
178 Adaptado de SZIGETI & DAVIS, in AMIEL & VISCHER (Edit.) (1997: 5-16); SZIGETI & DAVIS, in BAIRD
et al, (1995: 58-68).
179 O ST&M foi financiado pelo PWC - Public Works of Canada, e desenvolvido por uma equipe
do ICF - International Centre for Facilities, conduzida por G. DAVIS e inclui L. BLAIR, J. GRAY, C.
MANUEL, D. SINCLAIR, F. SZIGETI, C. THATCHER, G. THATCHER, e vários outros consultores.
166
“Qual é a capacidade do edifício para atender às
necessidades atuais e futuras dos usuários"?
o ST&M é uma ferramenta que procura definir as necessidades e as
expectativas dos "clientes" e estabelecer os vínculos entre as necessidades dos
usuários (demanda) e as combinações específicas das características do
edifício (oferta). Sua versatilidade possibilita que se transforme em ajuda para
planejar, orçar, projetar, procurar, utilizar, manter, operar, e administrar
recursos. Sua utilidade também se estende para a seleção de imóveis para
alugar ou comprar, para preparar um plano de investimento, para investigar
reclamações de usuários, para revisar projetos de arquitetura e propostas de
reabilitação, ou para planejar a construção de novos edifícios.180
O ST&M possibilita que os usuários estabeleçam suas necessidades e os meios
para comparar os perfis de oferta e demanda, enfatizando a qualidade dos
ambientes de trabalho, do espaço, e das instalações por usuário, com base
nas suas exigências operacionais. Foi concebido de modo a permitir que os
usuários selecionem e comparem as instalações disponíveis com suas
necessidades e exigências por qualidade. Adota descritores para os vários
níveis de desempenho e uma abordagem sistêmica para mensurar diferentes
combinações de características – pressupõe que a interação entre atributos e
partes de um edifício pode produzir um resultado que é diferente da soma das
partes.
Diferentemente do BQA, o ST&M evita a abordagem de pontuação única, e
procura apresentar um perfil "gráfico" das várias qualidades – “personalidade”
– do edifício. Um perfil típico de utilização do ST&M contém um quadro com
um gráfico de 14 barras, cujo comprimento representa a pontuação de cada
aspecto do edifício ou ambiente analisado.
Como, de um modo geral, os “clientes” dos edifícios – “produtos” – não são
devidamente orientados e pouco têm a dizer sobre porquê ou que tipo de
instalações foram comprados, alugados, recuperados, selecionados, ou
180 Cf. SZIGETI & DAVIS (1997), o ST&M fornece um "roteiro" para: descrever o grupo de usuários ou
a organização, sua missão, estrutura, pessoal, fluxos de trabalho, etc.; condição ou estado das
necessidades funcionais atuais e futuras, e produz um "perfil de demanda”; estimar a área útil
“efetiva” necessária para o grupo ou grupos a serem instalados; avaliar as capacidades dos
edifícios e instalações e produzir um "perfil de utilidade das instalações”; confrontar “oferta” e
"demanda", realçando suas deficiências e seus excessos.
167
avaliados, o ST&M foi concebido com o propósito de fornecer um instrumento
com um formato consistente, compreensivo e flexível para avaliar o
desempenho dos edifícios e ambientes de escritórios a partir das necessidades
específicas de uma determinada organização. (SZIGETI & DAVIS 1997) 181
O núcleo do ST&M é composto por dois questionários de múltipla escolha: (1)
um conjunto de escalas para definir as exigências funcionais (demanda)
utilizando uma linguagem não técnica; (2) um conjunto de escalas para
avaliar a utilidade dos edifícios e dos recursos prediais (oferta) que se vale de
técnicas e condições de desempenho para descrever indicadores da
capacidade de combinar as características dos edifícios. Estas escalas
abrangem mais de 100 itens (Fig. 7 – ANEXO VIII) e avalia mais de 300
características dos edifícios. Cada conjunto de escalas pode ser usado
independentemente. O conjunto de ferramentas (documentos e software) é
composto de perfis textuais descritivos e gráficos das exigências funcionais,
planilhas de cálculos, tabelas de avaliação das perdas características dos
edifícios, guia de espaço e de layout.182
No lado de demanda, as ferramentas da ST&M foram desenvolvidas como um
conjunto compreensivo de questões independentes que podem ser usadas
pelos usuários para definir os principais componentes de um "programa
funcional básico ou sumário". O grau de participação dos usuários e
investidores é determinado em função da necessidade de cada situação.
No lado da oferta, a avaliação focaliza a capacidade das instalações e dos
edifícios e, quando descobertas deficiências, em lugar de prescrever soluções,
indica a necessidade de investigações adicionais, tais como relatórios ou
avaliações técnicas sobre as condições do edifício, análises walkthrough,
181 Cf. SZIGETI & DAVIS (1997: 59), “para que as avaliações de edifícios sejam significativas e
efetivas, elas devem estar diretamente relacionadas com uma descrição compreensiva sobre
as necessidades dos “clientes” e investidores em um formato e numa linguagem facilmente
compreendidos pelas pessoas comuns. Uma das principais metas no desenvolvimento da
abordagem ST&M (Serviceability Tools and Methods) foi criar tal estrutura compreensiva e um
processo para, sempre que possível, envolver todos os investidores”.
182 Cf. SZIGETI & DAVIS (1997: 59), até 1977, foram desenvolvidas três versões genéricas de perfis
funcionais com relação às necessidades típicas dos escritórios da América do Norte: (1) para as
funções básicas gerais dos ambientes de escritório; (2) para ambientes de trabalho com muito
contato público; e (3) para ambientes de trabalho com necessidade de maior proteção para a
informação sensível ou para documentos valiosos tais como cheques.
168
estudos satisfação dos usuários com a mudança ou ocupação, e outras
investigações “especialistas".
Calibragem – as escalas são calibradas de 9 a 1, onde o “9” representa mais
e o “1” representa menos, em vez de bom a ruim. O nível “5” da escala de
oferta deve ser calibrado para indicar o “padrão de mercado” em termos de
funcionalidade e de construção, enquanto o nível “5” da escala de demanda
deve atender às características de desempenho de um edifício com nível de
oferta “5”. 183
Perfis de desempenho em tópicos – diferente do BQA, o ST&M utiliza perfis de
utilização descritos em sentenças lingüísticas, que podem ser rapidamente
visualizados e permitem "administração por exceção" – edifícios e instalações
podem ter diferentes níveis de qualidade e capacidade que podem ser
apropriados para um grupo de usuários e inadequados para outro. A análise é
realizada com base nas necessidades funcionais dos usuários e de suas
necessidades de localização, de aluguel, de instalação, de custo para
adaptar das instalações selecionadas na oferta, e do valor do projeto ou
edifício.
Um edifício é mais do que a soma de suas partes – embora o conjunto de
características de um edifício contribua para a capacidade de resposta de
uma instalação a uma determinada necessidade declarada – o desempenho
do sistema de iluminação depende das cores e da textura dos revestimentos;
o do sistema de ar-condicionado, do projeto do envelope externo, etc. –,
ainda predomina a avaliação fragmentada dos elementos e dos sistemas
construtivos dos edifícios.
As escalas da ST&M foram concebidas para serem genéricas,
independentemente dos códigos ou regulamentos locais, uma vez que seus
idealizadores não pretendiam que fossem utilizadas para atendimento dos
códigos e normas reguladores, embora sinalize uma investigação adicional
183 Cf. SZIGETI & DAVIS (1997), o nível “5” da escala de oferta foi calibrado para indicar “o nível
normal de funcionalidade e construção, em uma cidade de 50,000 habitantes, a exemplo de
um edifício definido como de nível “B” pela Noth American Building Owners and Managers
Association (BOMA). O nível “5” da escala de demandas deve atender ao desempenho das
características de um edifício descrito em nível “5” pelas escalas de avaliação.
169
nos casos em que seu descumprimento seja evidenciado. As escalas dos perfis
genéricos do ST&M, embora tenham sido calibradas e testadas para os
padrões e necessidades da América do Norte e da Europa, podem ser
ajustadas para torná-las aplicáveis em escala mundial.
O ANEXO VIII (Fig. 3 a 6) ilustra a forma de utilização das escalas e de
apresentação dos resultados, para o tópico A.11.6 - Identidade Externa do
Edifício.
REN (Real Estate Norm)184
Na Holanda, no Rijksgebowendienst (RGD – Dutch Government Building
Agency), Hans de JONGE coordena estudo sobre os efeitos das inovações no
gerenciamento dos imóveis de propriedade do setor público. Com base numa
versão inicial do ST&M, elabora nova metodologia de classificação dos
edifícios, atualmente conhecida como REN, publicada pela primeira vez em
1991, que possibilita uma rápida avaliação dos edifícios.185 A segunda edição
da REN (1992) contou com a composição de 9 grupos de estudo: Localização,
Edificação, Ambiente Interno, Experiência e Projeto, Meio Ambiente,
Telemática, Exploração e Gerenciamento, Especificações de Desempenho, e
Consultoria Política ou Plano de Ação. O REN, é um sistema aberto [não
proprietário] que evita a pontuação única e procura apresentar um perfil
"gráfico" das várias qualidades – “personalidade” – do edifício, e baseia-se na
pergunta:
O que o edifício oferece, e com que qualidade de desempenho atual?
Foi concebido para ser operado por não especialistas, com o objetivo de
melhorar a comunicação entre os usuários e produtores, e orientado para os
usuários – permite que os usuários selecionem uma instalação ou um edifício
de escritório em função de suas necessidades específicas. Além de possibilitar
184 Norma de Bens Imóveis. Texto adaptado de: (1) de JONGE & GRAY. The Real Estate Norm (REN)
in BAIRD et al, (Edit.) Building Evaluation Techniques. Wellington: Victoria University of Wellington;
McGraw-Hill: New York, 1995, p. 69-76; e (2) REN NETHERLANDS FOUNDATION. Real Estate Norm.
Nieuwegein: REN Netherlands Foundation, 1992. 185 Cf. de JONGE & GRAY (1995), o REN foi introduzido no mercado holandês em novembro de
1991, quando cerca de 50 companhias e instituições foram então convidadas a participar de
workshops para testar, revisar, e refinar o método. A segunda edição do REN foi publicada em
novembro de 1992 de novembro pela Real Estate Norm Netherlands Foundation, criada para
administrar sua pesquisa adicional e seu desenvolvimento.
170
a comparação objetiva entre instalações e edifícios de escritório, o REN
focaliza os atributos físicos e o desempenho de partes do edifício, que são
caracterizadas e analisadas individualmente e em separado. Apesar do
instrumento refletir a visão de um especialista sobre as necessidades dos
usuários, por sua simplicidade de uso e linguagem “compreensiva”, sua
utilização é especialmente satisfatória para: (1) analisar os "aspectos de
hardware"186 de um edifício, a partir da construção de um quadro de suas
principais qualidades e defeitos; (2) um processo simples e rápido que permite
que os usuários decidam a qualidade das acomodações que necessitam, e
então, comunicar essas necessidades aos produtores profissionais de
escritórios; ou (3) que os próprios usuários selecionem um instalação ou edifício,
com base em suas necessidades específicas. Seu sistema de classificação
para avaliar a qualidade do escritório procura trabalhar com características
físicas observáveis que não sejam ambíguas e que sejam entendidas por todos
os interessados no uso desta ferramenta.187
Estrutura: as duas categorias principais do REN são a qualidade da
localização e a qualidade do edifício – entendidas como considerações
fundamentais dos usuários na avaliação ou seleção das acomodações para
escritórios – que são divididas em cinco características gerais (TABELA. 5).
TABELA 5. Estrutura básica do REN.
TÍTULO SUBTÍTULO
LOCALIZAÇÃO Arredores
Sítio
EDIFÍCIO
Geral
Área de Trabalho
Instalações
Fonte: de JONGE & GRAY 1995: 69)
186 Equipamentos, instalações e recursos prediais. 187 Cf. de JONGE & GRAY (1995: 69), “os recursos de escritório devem atender a certas exigências
básicas organizacionais e individuais, incluindo conforto e bem-estar, segurança, e
funcionalidade. Porém, apesar de palavras como conforto aparecerem nas discussões cotidianas
sobre acomodação de escritório, muitas destas condições são comumente empregadas de
modo impreciso como base de medida”.
171
Embora a estrutura do REM seja dividida em cinco aspectos, a maior parte
deles é subdividida em características mais detalhadas e específicas que
afetam a qualidade. Aspectos e características são os níveis para mensurar as
qualidades da localização e do edifício. Por exemplo, flexibilidade é um dos
sete aspectos listados sob a categoria principal edifício, subtítulo geral. A
flexibilidade é subdividida em cada uma das 11 características pontuadas no
processo de avaliação. Em conjunto, estas 11 características compõem as
qualidades observáveis de um edifício comercial que descrevem sua
flexibilidade de uso. O REN considera 135 aspectos e características para a
avaliação de um escritório. O ANEXO VIII (Fig. 8) ilustra parte da classificação
REN para o item edifício.
Medindo qualidade – a cada aspecto é atribuído um valor numa escala de 1
a 5, onde cada ponto indica um nível. JONGE & GRAY (1995) observam que,
embora o nível “5” seja atribuído para um nível “mais alto” de desempenho
do que o nível 4, ele pode não ser necessariamente melhor do que um nível
mais baixo, uma vez que um desempenho “bom” ou “ruim” depende das
necessidades e dos desejos específicos dos seus usuários.
Documentação – o REN é apresentado sob a forma de um pequeno livro que
contém a especificação ou a descrição de cada nível para cada aspecto,
concebido para ser entendido e utilizado tanto por especialistas quanto por
leigos para (1) no lado da oferta - avaliar uma instalação existente, e (2) no
lado da demanda - auxiliar um determinado grupo de usuários a estabelecer
suas necessidades.188 Por esta razão, utiliza o mínimo necessário de linguagem
técnica para assegurar a confiabilidade do processo de avaliação realizado
por qualquer pessoa dotada de conhecimento geral dos edifícios189. As
características de cada nível de desempenho, possuem diagramas ou
fotografias indicativas das características de cada nível de desempenho. (Fig.
9, ANEXO VIII)
O REN não especifica os níveis de importância para os diferentes aspectos –
que dependem das necessidades de cada organização ou grupo de usuários
188 O REN fornece uma ferramenta para avaliar o confronto entre demanda (o que o usuário
requer) e oferta (o que o recurso oferece) em uma determinada situação. 189 Cf. de JONGE & GRAY (1995), alguns aspectos mais complexos, como por exemplo, o
desempenho acústico, podem demandar a opinião de um especialista.
172
que utiliza o REN. Os resultados de uma avaliação são registrados e
apresentados através de quadros (Fig. 10, ANEXO VIII) que incluem campos
para atribuir o seu nível de importância relativa ou "ponderação." No modelo
fornecido junto com a documentação, a estrutura de aspectos e
características é listada no lado esquerdo do formato, enquanto no lado
direito, são apresentadas colunas a serem preenchidas com os valores ou
níveis para: (1) importância relativa de cada aspecto para um grupo
especifico de usuários; (2) níveis de desempenho requeridos (no "lado de
demanda "); (3) notas para o desempenho de um determinado recurso (no
"lado da oferta"); e (4) discrepância entre "oferta” e “demanda" para cada
aspecto. (Fig. 10, ANEXO VIII)
Usos típicos – o REN possibilita uma sistemática de informações para vários
aspectos do negócio com bens imobiliários, entre os quais:
(1) Definição das necessidades dos usuários – um programa pode definir as
necessidades qualitativas de acomodação e pode servir como base para
profissionais que trabalham com a oferta de edifícios.
(2) Teste de acomodação – as necessidades dos usuários podem ser
periodicamente comparadas com suas premissas de desempenho, como
forma de verificar a adequação de uma instalação ou edifício para atender
às necessidades e para identificar o significado de suas preocupações.
(3) Busca por acomodação – as necessidades dos usuários podem facilmente
ser comparadas a partir de premissas opcionais para selecionar a
acomodação mais satisfatória ao melhor preço.
(4) Análise de Investimento – perfis de demanda para grupos típicos de
usuários podem ser comparados com os perfis de qualidade de um conjunto
de edifícios, fornecendo valiosas informações para seus proprietários ou
administradores.
(5) Negociação – pode explicitar eventuais divergências entre os padrões de
oferta e de demanda, fornecendo subsídios para a negociação do valor de
aluguel e outros aspectos relativos às negociações para locação.
(6) Auxílio na comunicação – uma linguagem comum pode servir como base
para melhorar o entendimento entre os profissionais de oferta e usuários.
173
COMPARAÇÃO DOS TRÊS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO – BQA, ST&M E REN 190
Em 1994, o Rijksgebouwendienst (RGD) comparou os métodos de avaliação
REN, BQA, e ST&M – aspectos teóricos e práticos – com o objetivo de avaliar o
seu potencial de mercado. (TABELA 6). A comparação considerou três
aspectos: (1) Orientação ao cliente – grupos de interesse atendidos;
facilidade de aplicação; possibilidade e adaptabilidade para uso
internacional; (2) Conteúdo e abrangência – abrangência, principais usos; (3)
Método de mensuração – objetividade, precisão e viabilidade do sistema de
medição; tipo de controle; reunião das medições; ponderação das
necessidades específicas dos usuários na avaliação de um recurso. Para o
estudo comparativo, foi selecionado um edifício de escritório situado em
Gouda, Holanda e foram selecionadas organizações com experiência na
aplicação de cada método: a REN Foundation, da Holanda, o International
Centre for Facilities, do Canadá (ST&M), e a DEGW com Bernard Williams
Associates (licenciados europeus da BQA). O edifício foi analisado
independentemente por cada organização.
TABELA 6. Comparação entre os métodos de avaliação BQA, ST&M e REN
BQA ST&M REN
Protocolo Sistema proprietário,
operado mediante
licenciamento
Sistema proprietário, operado
mediante licenciamento
Sistema aberto , não
proprietário.
Problema “o que o edifício oferece,
com que qualidade de
desempenho?”
“qual é a capacidade do
edifício para atender às
necessidades atuais e futuras
dos usuários"?
"o que o edifício oferece,
com que qualidade de
desempenho?"
Visão Visão do especialista sobre
necessidades dos usuários;
Enfatiza qualidade dos
ambientes, espaços e
instalações, c/base nas
exigências operacionais dos
usuários.
Visão do especialista sobre
necessidades dos usuários;
Operação Somente pode ser aplicado
por especialistas autorizados
para operar o método.
Pode ser aplicado por não
especialistas, necessita curto
programa de treinamento;
pode demandar assessoria de
experts.
Operado por não
especialistas.
Cliente Orientado para atender às
necessidades de
investidores, incorporadores,
construtores e proprietários.
Orientado para a
comunicação entre usuários e
profissionais, atende
Orientado para
comunicação entre usuários
e profissionais, atende
melhor às necessidades dos
usuários dos edifícios.
190 Texto adaptado de de JONGE & GRAY. The Real Estate Norm (REN) in BAIRD et al, (Edit.) Building
Evaluation Techniques. Wellington: Victoria University of Wellington; McGraw-Hill: New York, 1995,
p. 69-76.
174
parcialmente às necessidades
dos usuários.
Foco Focaliza atributos físicos e o
desempenho total/parcial
por categoria – hardware –
dos edifícios com um valor
único.
Focaliza as necessidades dos
“clientes” (usuários,
proprietários ou
administradores).
Focaliza atributos físicos e o
desempenho de partes do
edifício – hardware –,
caracterizadas e analisadas
individ. ou separado.
Estrutura (1) 9 categorias
(codificação das
expectativas usuários) em 2
grupos (edifício e estrutura/
serviços); (2) seções (efeitos
nos usuários); (3) fatores
(atributos mensuráveis).
2 questionários de múltipla
escolha abrangendo mais de
100 itens e de 300
características: (1) conjunto
de escalas de demanda; (2)
conjunto de escalas de oferta.
2 categorias principais e 5
características gerais:
qualidade (1) da
localização (entorno e sítio);
(2) e do edifício (geral, área
de trabalho e instalações);
135 aspectos das
características
Resultados Abordagem de pontuação
única (numérica) para o
desempenho do edifício,
possibilita: (a) combinação
ponderada da pontuação
das categorias e dos fatores;
(b) obter valor global final
pelo cruzamento dos
resultados das nove
categorias.
Evita abordagem de
pontuação única, apresenta
perfil "gráfico" das qualidades
do edifício com a pontuação
de cada aspecto analisado;
combina e associa avaliações
parciais dos atributos/
componentes do edifício. O
todo é mais do que a soma
de suas partes.
Evita abordagem de
pontuação única, apresenta
perfil "gráfico" das
qualidades dos
componentes ou atributos
do edifício com a
pontuação de cada
aspecto analisado.
Aplicações Possui recursos para
considerar exigências de
uma organização. Possibilita:
(a) avaliar e comparar
desempenho global dos
edifícios; (b) identificar
vantagens e desvantagens
de cada edifício; (c)
identificar valor de mercado
de cada edifício em bases
comuns; (d) análise de
investimento; e (e) avaliar as
possibilidades de melhoria
da atratividade dos edifícios.
Avaliar e comparar
desempenho de edifícios,
facilita escolha de edifício.
Possibilita: (a) relacionar
exigências do usuário e avalia
qualidade de utilização dos
edifícios; (b) comparar perfis
de oferta X demanda; e (c)
medir e combinar
características. Auxilia: a
planejar, orçar, projetar,
avaliar, procurar, utilizar,
manter, operar, e administrar
instalações/edifícios
Classificação e seleção dos
edifícios.
Possibilita: (a) construir
quadro comparativo de suas
qualidades e defeitos, (b)
avaliar e comparar
desempenho de instalações
de edifícios; (c) comparar
perfis de oferta X demanda;
(d) análise de investimento;
e (e) monitorar com rapidez
alcance das premissas
existentes.
Método de
medição
Precisão nas medições,
adota descritores para os
níveis de desempenho.
Precisão nas medições, adota
descritores para os vários
níveis de desempenho e uma
abordagem sistêmica para
mensurar diferentes
combinações de
características.
Menor precisão nas
medições.
Fonte: BRUHNS & ISAACS (1995: 53-58); de JONGE & GRAY (1995: 74-76); REAL ESTATE NORM
(1992).
Segundo de JONGE e GRAY (1995: 75), o relatório final do RGD indica que os
três instrumentos excluem as informações relativas a custos e não relacionam
as diferenças de qualidade das acomodações com as diferenças de custos
de capital ou operacionais – embora a ressalva de que
175
“a REN Foundation têm planos para pesquisar a relação entre qualidade dos
custos do ciclo-de-vida, mas neste momento, o custo não faz parte do sistema do
REN. Isto se deve ao fato do custo de uma coisa necessariamente não ser uma
medida de sua conveniência; até mesmo como indicador de qualidade, o custo
não é sempre uma medida segura das necessidades dos usuários. É verdade que
o custo de aluguel (quando aceito por um inquilino) é uma medida do valor de
mercado de um determinado edifício em sua determinada localização. O
problema é que o custo de aluguel não revela as várias qualidades que fazem
um recurso adequado para um grupo particular de usuários e outro recurso,
inadequado.” (de JONGE e GRAY (1995: 69)191
Apesar do material para análise dos três instrumentos não ser homogêneo – em
função da dificuldade de obtenção de informações mais detalhadas dos dois
sistemas proprietários (BQA e ST&M) – eles foram mantidos por atenderem aos
propósitos deste trabalho. Conforme será visto no CAPÍTULO IV, a principal
diferença entre o MAH-COPPE, o BQA, o ST&M e o REN está na lógica
operacional de sua modelagem, que pode ser incorporada como instrumento
de análise do BQA, do ST&M e do REN. Mediante acordos internacionais de
cooperação técnica, a lógica do MHA-COPPE poderá ser adaptada como
base para aplicar os instrumentos do BAQ – em comparações de desempenho
global entre edifícios com foco no investimento –, do ST&M – em avaliações mais
complexas, como as desenvolvidas pela COPPE/PROARQ (COSENZA et al 1996,
1997) – ou do REN – no desenvolvimento de instrumentos para serem operados
pelos próprios usuários, proprietários, ou pelo mercado imobiliário, em
substituição aos atuais instrumentos de avaliação (SEÇÃO 3.1).
Na seção seguinte, apresento um breve panorama da experiência brasileira de
APO de edifícios de escritórios, especialmente a da UFRJ, através da COPPE e
do PROARQ.
191 Tradução do autor.
176
3.4. Avaliação de Desempenho de Edifícios de Escritórios: a experiência
brasileira
A avaliação sistemática e interdisciplinar do desempenho dos edifícios de
escritórios é muito recente, no Brasil, e se concentra, basicamente, em torno de
dois grupos de pesquisa: COPPE/PROARQ192, no Rio de Janeiro, e NUTAU-
FAUUSP193, em São Paulo.
A primeira pesquisa de APO aplicada em edifícios de escritórios resultou na
dissertação de mestrado de Paulo RHEINGANTZ (1995), no PROARQ-FAU/UFRJ,
cujo desdobramento resultou em dois novos estudo de APO, através do
convênio de cooperação técnica assinado entre COPPETEC e Condomínio do
Edifício RB1 (COSENZA et al 1996) e entre COPPETEC e Condomínio do Edifício
de Serviços do BNDES [CEDSERJ] (COSENZA et al 1997). Estes trabalhos
resultaram na pesquisa desta tese de doutorado. Em 1998, foi realizada uma
Análise Walkthrough na Clínica São Vicente, como parte do curso Avaliação
Pós-Ocupação do Ambiente Construído, ministrado por Sheila ORNSTEIN para
os alunos do Curso de Mestrado em Arquitetura do PROARQ (DEL RIO et al
1998).
Em São Paulo, a primeira pesquisa de APO aplicada em edifícios de escritórios
foi desenvolvida por Cláudia ANDRADE, mestranda vinculada ao NUTAU-
FAUUSP, que analisa os espaços internos ocupados pelo antigo Banco
nacional em 10 edifícios do em SP e RJ (ANDRADE 1996a). Sheila ORNSTEIN
coordena, no período de 1996/97, pesquisa de APO em 4 edifícios de
escritórios de São Paulo, sendo 2 convencionais e 2 de alta tecnologia
(ORNSTEIN 1997). Brenda LEITE, mestranda vinculada ao NUTAU-FAUUSP, analisa
o desempenho de edifícios de escritórios automatizados, com ênfase nos
aspectos de conforto ambiental, segurança e economia energética e as
interfaces com a arquitetura, o usuário e a automação predial (LEITE 1998).
Marcelo ROMÉRO analisa os aspectos termo-energéticos e o potencial de
conservação de energia elétrica de alguns edifícios de escritórios construídos
em São Paulo (ROMÉRO 1998) – trabalho que resultou em sua tese de livre-
docência na FAUUSP (1999) e na linha de pesquisa Desempenho Energético
192 Carlos COSENZA, Fernando LIMA, Paulo RHEINGANTZ, Harvey COSENZA, Giselle AZEVEDO. 193 Sheila ORNSTEIN, Marcelo ROMÉRO, Claudia ANDRADE, Brenda LEITE, Nelson SOLANO.
177
dos Edifícios, que também conta com a participação dos arquitetos Lucia
PIRRO e Nelson S. VIANNA. A dissertação de mestrado de Cláudia ANDRADE
(Avaliação da Ocupação física em edifícios de escritórios utilizando métodos
quali-quantitativos: O caso da editora Abril em São Paulo)194, estuda a
aplicação da avaliação quantitativa de desempenho da ocupação física –
Space Audit ou análise do layout, distribuição dos espaços e dos tipos de
ocupação, mobiliário e ocupantes – durante todo o ciclo de mudança de
uma empresa. O trabalho se baseia na Avaliação Pré Projeto (APP), realizada
em 11 edifícios anteriormente ocupados pela Editora Abril, e a APO, após a
mudança para o edifício Birmann 21.
A partir de 1998, ORNSTEIN (coordenadora), LEITE e ANDRADE participam do
projeto de pesquisa IBPE - Internacional Building Performance Evaluation
Project195 –, coordenado por Wolfgang PREISER, com o objetivo de desenvolver
um conjunto de instrumentos metodólogicos "padrão" para avaliação de
desempenho de ambientes de trabalho aplicáveis, a princípio, em qualquer
parte do mundo (ORNSTEIN, LEITE & ANDRADE 1999). Também merece menção
a atividade pioneira no Brasil, da empresa Saturno Planejamento Arquitetura
Consultoria, que desde 1995 utiliza o Space Audit, a APP e a APO).196
A experiência da UFRJ
(COPPE/PROARQ) em APOs de
Edifícios de Escritórios
Desde 1994, o PROARQ da FAU/UFRJ vêm desenvolvendo pesquisas de APO
de edifícios de escritório. A partir de 1996, através dos projetos desenvolvidos
em cooperação com as administrações dos condomínios do Centro
Empresaria Internacional Rio (RB1) e do Edifício Sede do BNDES no Rio de
Janeiro, os trabalhos passam a ser realizados em parceria com o Programa de
Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ.
194 Dissertação defendida em 20/03/2.000. 195 Participam do IBPE, pesquisadores brasileiros, americanos, alemães, holandeses, ingleses,
japoneses e da Arabia Saudita.
196 Cf. ANDRADE, a Saturno já avaliou mais de 100 edifícios de escritórios (cerca de 480.000 m²
de área útil) em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e
Recife.
178
O primeiro trabalho, desenvolvido por RHEINGANTZ (Centro Empresarial
Internacional Rio: Análise Pós-Ocupação, por observação participante, das
condições internas de conforto 1995), relaciona percepção ambiental e
conforto e na avaliação do ambiente construído. Fundamentado na
Fenomenologia e na percepção ambiental, são analisadas as relações entre
homem, abrigo e ambiente externo – clima, clima local urbano – em um
estudo de caso – o Edifício RB1 e seu contexto urbano, a praça Mauá. Neste
estudo de observação participante, além dos instrumentos tradicionais de
uma APO: levantamentos, análise da documentação do edifício, entrevistas,
questionários, observação direta, medições das condições internas de
conforto – foram medidas com instrumentos, a iluminação, a temperatura e
umidade do ar –, foram analisadas as imagens do recinto urbano e do edifício
transmitidas através da literatura e da imprensa e da análise bioclimática,
através do estudo comparado do Centro Empresarial Internacional Rio com as
recomendações de alguns instrumentos de análise consagrados. O estudo
procura compreender e relacionar os diferentes significados e contradições do
edifício e demonstrar que o conforto ambiental não deve restringir-se apenas
às condições racionais (físicas) de conforto. Neste sentido, propõe a mudança
das designações tradicionalmente adotadas nos trabalhos de conforto
ambiental: (1) conforto térmico; (2) conforto auditivo, em lugar de acústico; (3)
conforto visual, em lugar de lumínico; o trabalho também inclui e analisa o
conforto olfativo/qualidade do ar e o conforto tátil.
Suas conclusões serviram de base para a assinatura de convênio de
cooperação técnica entre o Condomínio do RB1 e a COPPE/PROARQ,
trabalho desenvolvido por Carlos COSENZA (coordenador), Fernando LIMA,
Paulo RHEINGANTZ e Harvey COSENZA, do qual resultaram quatro relatórios
técnicos (Diagnóstico do Centro Empresarial Internacional Rio [RB1], COSENZA
et al 1996).
Este projeto, além dos instrumentos tradicionais da APO indicativa (PREISER et
al 1998) – questionários, entrevistas, reuniões técnicas, seminários, consulta nas
atas e documentos disponíveis no Condomínio e análise walkthrough –, se
utiliza de ferramentas da TQC, com o objetivo de identificar os conflitos de
percepções e expectativas, resultantes das diferenças entre os valores afetivos
e as atitudes do projetista, do incorporador, dos proprietários e dos usuários –
179
não só os proprietários e locatários, mas também a administração, os
funcionários e os freqüentadores do edifício do Complexo RB1. Tais atitudes e
valores formam uma representação do que se deseja como resultado. A
seguir, foram identificadas características e elementos ambientais, bem como
símbolos de consistência e duração das formas de percepção e de conduta
dos usuários, divididos em três grupos distintos: administração e funcionários do
condomínio, proprietários e administradores das empresas instaladas, e
funcionários das empresas instaladas. A metodologia da pesquisa se
desenvolveu em três níveis distintos e complementares: (1) reconstituição da
história do empreendimento e de sua concepção; (2) identificar a percepção
indireta – imagens veiculadas da praça Mauá e do RB1 na imprensa e na
literatura; (3) identificar a percepção direta – imagens dos funcionários, dos
usuários, das empresas instaladas, e dos proprietários.
Para o registro gráfico de dados e informações dos edifícios, foi desenvolvido
um sistema de maquete virtual197 em ambiente de computação com interface
gráfica tridimensional gerada em ambiente CAD, associada a sistema de
registro de informações textuais utilizando banco de dados relacional. A partir
das representações gráficas, é possível consultar, acrescentar e alterar
informações contidas no banco de dados, bem como identificar
graficamente os elementos do edifício que atendam a determinadas
condições de consulta ao banco de dados. Este instrumento possibilita o
registro detalhado de dados gráficos (plantas, cortes e esquemas), dados
quantitativos (dimensionamento e condições desejáveis de conforto) e dados
qualitativos (especificações e instruções operacionais/de manutenção) de
todas as instalações, equipamentos e serviços do edifício.198
A partir das descobertas – (a) oferta [fatores que levaram as empresas a se
instalar no RB1, qualidades e defeitos dos ambientes de trabalho, grau de
satisfação com os serviços prestados pelo condomínio] (b) demanda
197 A maquete permite a vizualização tridimensional de pisos do edifício, já com a projeção de
elementos referenciais: alvenarias, elevadores, rampas, escadas, etc. Os desenhos são
organizados em camadas, possibilitando uma visão seletiva destes referenciais 198 O projeto da maquete e dos links com o banco de dados relacional foi totalmente
desenvolvido, mas não foi implementado pela administração do Condimínio.
180
[necessidades percebidas dos clientes, em termos de melhoria de serviços e
instalações, sugestões de novos serviços] –, foi possível:
(1) compreender a importância absoluta e relativa dos fenômenos e valores
perceptivos identificados, bem como estabelecer sua representação, e
analisar a intensidade das imagens, valores e expectativas dos usuários no
processo de percepção;
(2) estabelecer diversas recomendações que serviram como diretrizes para a
administração avaliar as diretrizes e políticas em curso, definir novas metas e
estratégias e elaborar cronograma de desembolso com melhorias.
Em 1997, através do projeto de cooperação técnica entre o CEDSERJ e a
COPPE/ PROARQ, a equipe formada por Carlos COSENZA (coordenador),
Fernando LIMA, Paulo RHEINGANTZ, Harvey COSENZA e Giselle AZEVEDO,
realiza APO do edifício do BNDES, do qual resultaram três relatórios
(Diagnóstico do EDSERJ/BNDES, COSENZA et al 1997).
O trabalho teve como principal objetivo compreender as características de
desempenho do edifício e a avaliação dos usuários sobre a qualidade dos
serviços prestados pelo condomínio onde, pela primeira vez, foi utilizado o
MAH-COPPE em um diagnóstico de APO. Com relação aos procedimentos e
aos instrumentos utilizados na APO do RB1, foram aperfeiçoados os
instrumentos da TQC, e utilizadas técnicas de avaliação qualitativa –
brainstorming e matriz de prioridade – para a identificação descritiva e
qualitativa de falhas, problemas e aspectos positivos do edifício. Uma vez
identificados, os problemas foram analisados e hierarquizados em termos de
variáveis lingüísticas. A representação da importância absoluta e relativa dos
elementos e dos valores cognitivos – características/elementos ambientais,
intensidade de imagens, valores, expectativas e condutas dos usuários –
possibilitou identificar o peso relativo dos itens segurança e satisfação dos
usuários com o desempenho do edifício, bem como definir estratégias e
alternativas para melhorias do grau de satisfação dos usuários.
A partir do resultado destes dois trabalhos, a equipe da COPPE/PROARQ vêm
desenvolvendo técnicas de avaliação das questões ambientais tratadas pelos
conceitos de nebulosidade da lógica fuzzy e, para as pesquisas de opinião,
estão sendo desenvolvidas variáveis lingüísticas, que facilitam a compreensão
181
e a hierarquização dos resultados. Também estão sendo adaptadas algumas
técnicas de planejamento e análise estratégica – cenários, administração
estratégica. Estas técnicas e instrumentos estão, em sua maioria, incorporadas
no processo do MAH-COPPE para avaliação de desempenho dos edifícios de
escritório (CAPÍTULO IV).
Além destes trabalhos, a possibilidade de participar de duas outras experiências em
APO, mesmo que não diretamente ligadas ao assunto deste trabalho, possibilitaram
aprimorar algumas questões metodológicas bem como aproximar as pesquisas
desenvolvidas pela equipe da UFRJ com a da USP. A primeira delas, foi a participação
como co-coordenador e colaborador do curso Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente
Construído, ministrado para o Curso de Mestrado em Arquitetura do PROARQ por Sheila
ORNSTEIN199, e que resultou na realização de um estudo de APO onde foi aplicado o
método walkthrough em um hospital – Clínica São Vicente – e na publicação do relatório
de pesquisa (DEL RIO et al 1998). A preparação, a realização e o acompanhamento da
redação do relatório final serviram para uma aproximação com o NUTAU-FAUUSP e
redundaram em um artigo aprovado para ser apresentado no ENTAC-2000, a realizar-
se em abril de 2000 em Salvador (Avaliação pos-ocupação [APO] walkthrough da clínica
são vicente, rj: experiência didática, metodologia e resultados DEL RIO, ORNSTEIN &
RHEINGANTZ). A segunda, foi a possibilidade de participar, como colaborador, do
Curso/workshop Metodologias para Programação e Participação no Projeto de
Arquitetura, coordenado e ministrado pelo prof. Henry SANOFF200, tendo como objeto de
estudo o Colégio de Aplicação da UFRJ (Cap). Neste trabalho, foi possível aprimorar o
conhecimento e a aplicação das técnicas de participatory design201 desenvolvidas por
SANOFF, especialmente suas técnicas de inventário ambiental, levantamento e análise
“Wish Poem” (Poema dos Desejos)202, questionário de desempenho físico-espacial,
método de preferências visuais para o partido arquitetônico e workshop com a
participação de pais, professores e arquitetos, com o objetivo de concluir sobre as
199 Professora Titular da FAUUSP - curso inserido no Projeto Apoio à Pesquisa e ao Ensino em
Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente Construído, aprovado pelo CNPq (processo n°
450.388/98-0), realizado no Rio de Janeiro, no período de 29 de maio a 07 de junho de 1998. 200 Distinguished Professor of Architecture, School of Design, North Carolina State University – curso
inserido no projeto Apoio à Pesquisa e ao Ensino em Programação e Métodos Participativos para
o Projeto de Arquitetura, bolsa de auxílio a pesquisador visitante APV/FAPERJ, processo n° E-
26/171.195/98), realizado no Rio de Janeiro, no período de 15 a 18 de junho de 1999. 201 Expressão utilizada nos EUA e no Reino Unido para referir-se aos projetos desenvolvidos com a
participação dos usuários. 202 Metodologia desenvolvida por SANOFF para levantamento de desejos e expectativas dos
usuários, através de cartazes contendo textos e desenhos relativos ao edifício ou ambiente,
previamente à etapa de programação arquitetônica (DEL RIO & SANOFF 1999).
182
alternativas de programa e organização espacial mais adequados para atender às
necessidades do CAp.
Também merecem menção duas pesquisas visando teses de doutorado, em
desenvolvimento no Programa de Engenharia de Produção da COPPE. A
primeira, de Marcello SANTOS, do GENTE - Grupo de Ergonomia e Novas
Tecnologias (Gestão de Variabilidades Via Análise Pré-Ocupação: uma
metalepsia203 dos princípios da análise ergonômica do trabalho como auxiliar
no gerenciamento do ambiente construído da concepção à utilização), que
trabalha com o conceito de Análise Pré-Ocupação do Ambiente Construído
como ferramenta de análise ergonômica do trabalho, que busca apoio e
complementaridade entre a Ergonomia Contemporânea (que enfatiza os
aspectos relacionados ao desempenho do trabalho humano), a Engenharia e
a Arquitetura dos ambientes para o trabalho, com vistas a melhorar a
capacidade de intervenção ainda na fase de concepção do projeto e na
produção do edifício. O objeto de estudo de seu trabalho surgiu a partir de
uma aplicação da análise ergonômica do trabalho no projeto de reforma do
Bloco “I” do Prédio do Centro de Tecnologia da UFRJ (Projeto I-2000) e de sua
adequação como ferramenta para gestão e manutenção predial. A segunda,
de Cláudia C. CORDEIRO, da Linha de Pesquisa Ergonomia e Projeto (Entre o
Projeto e o Uso: a ergonomia na etapa de execução do ambiente do
trabalho), que se fundamenta na Ergonomia da Atividade – analisa a
atividade real, do ponto-de-vista do trabalhador, e focaliza as necessidades
do trabalho durante a atividade – considera seus diversos cenários e
variabilidades, e que a concepção do ambiente de trabalho (projeto)
continua durante as fases de execução e de uso.
Considerando que:
(1) a APO ainda é um campo de trabalho em processo de
amadurecimento e que, em breve, deve vir a ser incorporado ao processo
produtivo dos edifícios, da mesma forma que a atividade de programação tem
sido considerada um passo fundamental da etapa de pré-projeto;
203 Cf. Dicionário AURÉLIO Eletrônico Sëxulo XXI, “Ação de receber em troca”, ... Teoria das
substituições. Forma de pesquisa recorrente, ou seja, que retorna incessantemente ao ponto de
partida na busca de resgatar aspectos relevantes ao resultado.
183
(2) a crise econômica, a elevação dos preços da energia elétrica e dos
serviços de manutenção, e o aumento do nível de exigência dos usuários,
contribuem para o surgimento de uma nova mentalidade que valoriza a
qualidade e a eficiência;
(3) a determinação das necessidades dos clientes passa a ser uma das
principais variáveis do processo de produção de bens e serviços, baseando-se
nos conceitos de qualidade expressos pela trilogia Juran (Introdução);
as pesquisas realizadas na UFRJ representam importante contribuição para a
construção de instrumentos mais eficientes no desenvolvimento do produto
(edifício), do seu processo (projeto e construção) e de seu uso.
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ZEISEL, John. Inquiry by Design. Monterey: Brooks/Cole Publishing Co., 1981.
197
ANEXOS
EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIO DA PRAIA DE BOTAFOGO
Neste ANEXO estão reunidas algumas matérias de divulgação dos projetos ou do lançamento dos
edifícios de escritórios mais modernos construídos e em operação na Praia de Botafogo, com a intenção
de demonstrar a presença do taylorismo e da racionalidade científica na sua concepção.
A primeira matéria refere-se à propaganda de lançamento do Edifício Praia de Botafogo 440 (1980)
[projeto de Edison e Edmundo MUSA] publicada nos jornais locais, sob o sugestivo título “A SEDE DA
SUA EMPRESA ESTÁ A ALTURA DA IMAGEM QUE VOCÊ DESEJA PARA ELA?”. Seu conteúdo representa o
apelo imobiliário presente no lançando dos novos prédios de escritórios construídos em Botafogo: “o
‘status’ da localização, a instalação anterior de redes de ‘grandes empresas’ e a posição privilegiada em
relação em termos de acessibilidade: AGORA O CENTRO DA CIDADE É AQUI!” (Sergio SANTOS 1981:
anexo 06). O texto ressalta o nível internacional do edifício “num bairro que já acolheu empresas do
porte de IBM, Coca Cola, Furnas, Nuclebrás, Shell e Chase” e as varandas executivas com a “mais linda
vista para a Baía de Guanabara”, valoriza as 207 vagas, os recursos e instalações prediais, a facilidade de
“se adaptar a qualquer layout de escritório” e a parede cortina [curtain wall] “vazada por varandas,
esquadrias bronze e cristais belgas nas fachadas” e conclui: “tudo isso com a comodidade de ter à frente
o aterro que liga o prédio aos aeroportos e saídas da Cidade sem nenhum sinal de trânsito’” e a
inteligência de um projeto “inteligente que oferece o máximo de segurança, exclusividade, eficiência e
privacidade a seus negócios.” A única referência ao local reforça a beleza da vista a ser usufruída e a
facilidade de sair ou chegar na cidade: nenhuma alusão à vida, aos habitantes locais e ao “porto” que
acolheu outros importantes “transatlânticos”. O edifício rompe o gabarito dominante de 12 pavimentos.
A segunda matéria, publicada na revista Projeto n° 71 (jan/1985: 73-76), com o título Centro Empresarial
Rio, divulga o edifício Centro Empresarial Rio (Edifício Argentina) [projeto de Cláudio FORTES e Roberto
VICTOR]. O texto ressalta as “amplas facilidades para a instalação de empresas de alto e médio porte
sem esquecer a integração com a natureza e as condições espaciais do bairro, harmonizadas com a
funcionalidade e beleza dos ambientes” e a facilidade de transporte de massa e de acesso. Apesar de o
edifício, enquanto objeto isolado de seu contexto e sua implantação em esplanada – destacando “as 15
palmeiras imperiais existentes” (XAVIER et al 1991: 196), valorizadas por um excelente projeto
paisagístico e pela presença de algumas obras de arte – ser reconhecido como belo e funcional, sua
altura (18 pavimentos) rompe o gabarito local (12 pavimentos) e obstrui a vista do corcovado para os
198
moradores da praia de Botafogo no trecho situado entre o edifício e o Morro da Viúva. A matéria
também ressalta as facilidades de acesso do local e a beleza da sua paisagem, sem fazer referência à
vida, aos habitantes e ao bairro.
A terceira matéria, de divulgação do Edifício das empresas Caemi [projeto de Edison MUSA], foi
publicada na revista Projeto n° 110 (mai/88: 78-84), com o título Da Localização à obra, um projeto
completo, descreve com precisão o processo de concepção do edifício, evidenciando a ênfase na técnica
e na tecnologia: reconhece a vocação do lugar, “confirmada pela presença de várias grandes empresas,
como IBM, Shell, Chase, Coca-Cola, Fininvest, etc.”, a infraestrutura disponível, a proximidade do metrô
e a “maravilhosa situação paisagística” da área. Os dois relatórios de projeto – Inicial e Intermediário –
reúnem todas as informações técnicas disponíveis em relação ao terreno, ao clima local, a urbanística
local, projetos complementares, programa – restrito a “objetivos, prazos e destinação; forma geral,
conceitos preliminares de arquitetura, partido geral, resumo do edifício, materiais propostos;
cronograma de atividades” e o projeto – estudo preliminar e anteprojeto.
A quarta matéria, de divulgação do polêmico e “extravagante” (Jornal do Brasil 5/7/1998) edifício do
Centro Empresarial Mourisco [TAULOIS & TAULOIS Arquitetos Associados], foi publicada na revista
Finestra-Brasil n° 15 (out/dez/1998: 108-111), com o título Geometria Dinâmica, reconhece os “aspectos
paisagísticos excepcionais e surpreendentes em área urbana, pela proximidade da encosta verde” e o
pequeno risco de novas construções de porte no entorno, em função da área ser “protegida por
legislação de preservação ambiental.” A justificativa do projeto afirma a intenção de “valorizar a
integração do conjunto arquitetônico com os elementos da paisagem, concebendo-o com uma
geometria dinâmica, que acompanha o terreno e define grandes afastamentos ajardinados.” “Especial
atenção” foi dada à cobertura, considerada a “Quinta fachada”, em função da área ser um “cartão
postal do Rio de Janeiro, bem como “à integração de seus elementos técnicos, constituindo, dessa
forma, o que se pode chamar de a quinta fachada”. O átrio monumental, “protegido da insolação
excessiva e com boas condições de ventilação ... recebe tratamento marcante, alternando volumes
vazados, com predominância vertical ... local ideal para estar e convivência pela proximidade dos jardins
e pela visão, ao longe, do Pão de Açúcar.”
O edifício ainda apresenta os seguintes aspectos negativos: (a) bloqueia o eixo visual da enseada para os
transeuntes e moradores da rua Voluntários da Pátria, que ainda são “brindados” com a visão de uma
inexplicável caixa d’água de fibrocimento junto à saliência redonda de sua fachada; (b) a reconhecida
“extravagância” do edifício204, especialmente por sua forma rebuscada e pelo tratamento de sua
cobertura, que o aproximam da estética kitsch; (c) átrio envidraçado e aberto para uma pista de tráfego
intenso, configura um recinto sonoro inadequado para funcionar como “local ideal para encontros”.
VISÃO SERIAL DO AMBIENTE DA ENSEADA DE BOTAFOGO
Neste anexo, pretendo ilustrar com fotografias comentadas um “passeio” pela enseada de
botafogo, com um percurso iniciando em frente à antiga sede do Flamengo, no Morro da
Viúva, e terminando no Iate Clube, com diversas fotos dos edifícios e situações mais marcantes
do sítio, com o objetivo de melhor ilustrar as observações relativas à Enseada de Botafogo
constantes dos CAPÍTULOS I e II.
204 “Mas não é somente o luxo e a extravagância do prédio – que ocupa ampla área entre o mar
e o paredão de edifícios – que darão o que falar. Ele também tem alguns recordes de deixar o
cidadão de queixo caído. Cada um de seus sete andares tem 4 mil metros quadrados de área, o
que lhe garante a condição de dono dos maiores pavimentos da América latina. O centro
empresarial está na frente também no preço do aluguel mensal – o mais caro do Rio - , que será
de R $ 40 por metro quadrado ou R $ 160 mil por andar. Para venda, o metro está avaliado em R
$ 3,5 mil.”, in Um gigante de vidro surge em Botafogo, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 5/07/1998,
p. 32:
199
Figura 1 – Vista da Enseada de Botafogo (2000)
Figura 2 – Planta da Enseada de Botafogo
Fonte: Rio Listas 99, Planta 4
Figura 3 – Vista Panorâmica da Enseada a partir do Morro da Viúva
Esta figura evidencia a relação aleatória entre a massa edificada e o perfil natural dos
morros. Fragmentação da paisagem, fruto da prevalência da concepção do edifício como
obra isolada de arquitetura em detrimento de seu relacionamento com o contexto. O
conjunto de intervenções no sítio releva a presença de diversos objetos [principalmente
edifícios] ávidos por atenção. Arquitetura como protaginista do processo de degradação
da paisagem natural: monumentos da irracionalidade. Limites naturais e culturais são
substituídos pelos limites técnicos, econômicos e políticos, tornando os lugares
impessoais, despersonalizados, desumanos e frios.
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
0.25
0.20
200
Figura 4 – Vista do Paredão de edifícios junto ao Morro da Viúva.
Figura 5 – Vista do Morro da Viúva junto ao Instituto Fernandes Figueira.
Figura 6 – Vista do conjunto de edifícios da Praia de Botafogo.
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
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5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
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0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
0.25
0.20
0.15
0,1
0,05
10
8
201
Figura 7 – Vista do conjunto de edifícios da Praia de Botafogo.
Figura 8 – Banco obstruindo o passeio de pedestres.
Figura 9 – Vista dos edifícios “cegos” (sem janelas para a Praia de
Botafogo)
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
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0.15
0.05
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5
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5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
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5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%)
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
202
203
Figura 10 – Vista do edifício da Fundação Getúlio Vargas
Figura 11 – Vista do edifício Argentina.
Figura 12 – Vista da Torre da Igreja da Imaculada Conceição e do
edifício Caemi.
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
0.25
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0.2
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0
0
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5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
204
Figura 13 – Vista do edifício Caemi, com o Corcovado ao fundo.
Figura 14 – Vista de conjunto de edifícios próximos à Rua Visc. de Ouro Preto
.
Figura 15 – Vista dos edifícios Coca-Cola/Intelig e Botafogo Praia Shopping
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
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0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
0.25
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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço
Gorjeta
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0.25
0.2
10
0.15
0.05
205
Figura 16. Edifício Praia de Botafogo 440.
.
Figura 17. Centro Empresarial Mourisco.
Figura 18. Vista da Piscina do Botafogo Futebol e Regatas.
Gorjeta
0.1
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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
0.25
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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%)
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0.1
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0.2
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Comida
206
Figura 19. Vista do edifício do Corpo de Bombeiros.
Figura 20. Edifícios “gêmeos” da IBM.
.
Figura 21. Vista do conjunto de edifícios da Avenida Nestor Moreira.
Gorjeta
0.1
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0.2
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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
0.25
0.20
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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo
Gorjeta
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207
Figura 22. “Paredão” de edifícios
Figura 23. Vista do Morro do Pasmado.
Figura 24 – Vista dos edifícios Anexo da Fundação Getúlio Vargas e da Telemar.
Gorjeta
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5
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0
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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
0.25
0.20
0.15
0,1
0,05
10
8
Gorjeta
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0.25
0.2
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0.15
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5
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0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
208
Figura 25 – Vista do Edifício Argentina
O resultado deste conjunto de imagens que compõem um percurso de pedestre ao longo da
praia na enseada de Botafogo evidencia a presença das três degradações (MORIN 1996)
tratadas na SEÇÃO 1.4 – tecnicista, doutrinária e pop-degradação –, a prevalência da
concepção do edifício como obra isolada de arquitetura em detrimento de seu relacionamento
com o contexto (CULLEN 1983) e o casuísmo com que a cidade é tratada pelas autoridades
públicas. A estética destes edifícios e sua propaganda de venda evidenciam o “desejo
mimético” (Jurandir FREIRE COSTA) do lugar onde seus idealizadores e compradores imaginam
ou desejam viver. A metáfora dos “transatlânticos ancorados na calçada” ávidos por atenção
pode ser considerada sua mais pura expressão. O resultado desta lógica que despreza o clima
e a paisagem local é expresso através da produção de um ambiente construído que funciona
como tapume da esplendorosa paisagem natural delineada pelo contorno dos morros
circundantes.
O ambiente construído enseada de Botafogo pode ser considerado como um reflexo da
esquizofrenia [ou aleatoriedade] da arquitetura da razão técnica e seus “desafios” e evidencia
que, se a humanidade não superar as limitações do paradigma racionalista em prol de um
paradigma social complexo, estárá inexoravelmente condenada por si mesma a viver em um
hábitat despersonalizado, desconfortável e desumano.
A DÉCADA PERVERSA205
Anos 90 varreram do mapa brasileiro 2 milhões de
postos de trabalho destinados a jovens de 14 a 25 anos
FLÁVIA BARBOSA E MARCELO KISCHINHEVSKY
O Brasil foi implacável com os seus jovens nos anos 90. A pior crise de desemprego da
História provocou a destruição de dois milhões de vagas formais destinadas à parcela
da população entre 14 e 25 anos, o equivalente a dois terços do total de empregos
incinerados na fogueira da abertura comercial e da implantação de um novo modelo
205 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 03/out/1999 - Economia
Gorjeta
0.1
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Serviço
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Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
0.25
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0,1
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10
8
209
econômico caracterizado pela retirada do Estado da atividade econômica - com as
privatizações e o enxugamento da máquina pública - e que tomou como meta a
inserção do país no sistema financeiro internacional. Se, em termos de crescimento e
estruturação do mercado de trabalho, os anos 80 ficaram conhecidos como a
década perdida, esta poderá entrar para a história como a década perversa.
"É uma lástima, mas os efeitos foram devastadores: o grosso do ajuste do emprego
nesta década recaiu sobre os ombros da juventude", afirma o economista Marcio
Pochmann, do Centro de Estudos Sindicais e do Trabalho (Cesit) da Unicamp. "São os
desempregados da reestruturação empresarial dos anos 90. E o pior é que o Brasil não
tem, nem nunca teve, uma política de trabalho com capacidade para responder
efetivamente aos problemas ocupacionais dos jovens."
Desemprego socializado - Diante do enxugamento de vagas na década de 90, as
dificuldades encontradas no momento de ingresso no mercado de trabalho são
partilhadas por jovens de quaisquer classes sociais e níveis de educação.
Evidentemente são mais imperativas para aqueles que nem sequer freqüentaram os
bancos escolares e são alijados da competição por falta de credenciais.
"O modelo anterior era o filho do pobre ir para a construção e o comércio aos 14 anos;
o da classe média, para indústria e bancos, aos 18; e os ricos, grosso modo, só iam
para o mercado depois de 20 anos, com diploma, para os cargos gerenciais. Só que
as mudanças foram tão graves que atingiram todos da mesma maneira. O pobre
praticamente não tem mais chances e os mais qualificados estão se atracando pelas
vagas restantes. Estão todos no mesmo barco", explica Pochmann.
A ansiedade, o desespero e a frustração marcam os jovens que, muitas vezes à custa
de sacrifício financeiro, cumpriram à risca a cartilha da empregabilidade dos anos 90 -
que receita doses generosas de qualificação e um diploma universitário debaixo do
braço - e dão de cara com um mercado de portas fechadas. A situação pode já ter
estado ruim para todo mundo muitas vezes; para este grupo, é a primeira.
"O mercado está muito fechado, quase ninguém da nossa turma consegue estágio na
profissão. Quem consegue, depois, acaba não sendo contratado", reclamam em coro
Eliane Souza da Silva, 23 anos, e Roldineia Ferreira, 22, alunas do sexto período de
Engenharia Química da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Ambas fazem parte da turma de 99, que apostou no nível superior como forma de
manter um padrão ou ascender socialmente e agora transpõe os muros da faculdade
para se transformar na pseudo-elite de quase 280 mil universitários que o Brasil
despejará no mercado de trabalho na entrada do ano 2000. Um mercado arrasado,
que viu evaporarem 50% das vagas na indústria, além de 420 mil dos melhores
empregos, e assistiu à taxa média de desemprego aberto bater na marca inédita de
7,8%.
São jovens que, estarrecidos, ouvem falar de um certo desemprego intelectual: jovens
que não encontram vaga na sua área de atuação e se submetem a um emprego
que exige qualificação bem inferior à que levaram anos para adquirir. Jovens que
vêem até mesmo os postos na informalidade e o setor de serviços darem
demonstrações de esgotamento.
Com o objetivo de ampliar a discussão sobre o tema, o JORNAL DO BRASIL publica, a
partir de hoje, uma série de reportagens que enfoca o drama dos jovens na hora de
encarar o mercado de trabalho e aponta possíveis saídas para essa encruzilhada
nacional.
210
EM BUSCA DE TRABALHO
- 70 mil estudantes se inscreveram na Mostra PUC Rio III para disputar vagas para
estagiários e trainees
- Há promessa de 1,2 mil vagas no ano 2000
- A procura aumentou 40% em relação a 1998
- Relação chegou a 200 candidatos por vaga
- Trainee pode receber R$ 1,5 mil por mês
A IMPORTÂNCIA DO CRESCIMENTO
- O Brasil pecisa crescer pelo menos 4% ao ano na próxima década para absorver a
mão-de-obra que chega ao mercado de trabalho
- É preciso gerar 1,5 milhão de postos de trabalho por ano
- O PPA prevê a criação de 4 milhões de vagas em 4 anos
- O PIB deverá variar 0% em 1999
- O Planfor perdeu mais de R$ 300 milhões em verbas
- Foram cortadas 50% das vagas na indústria
- A taxa média de desemprego do Brasil é de 7,8%
- Há, hoje, 6,6 milhões de brasileiros desempregados
211
FEIRAS SÃO OPORTUNIDADES PARA POUCOS 206
FLÁVIA BARBOSA* Os olhos grandes e atentos vasculham os estandes em busca de uma fila de inscrição
em que ela ainda não tenha entrado. Em meio à multidão ávida por uma
oportunidade de trabalho, Ludmila Rosa Martins, 28 anos, não faz cerimônia: preenche
todas as fichas que lhe são oferecidas durante a III Mostra PUC-Rio, feira de estágio e
trainee promovida pela universidade no fim de agosto, com apoio da Prefeitura do
Rio.
Ludmila é uma entre os cerca de 70 mil universitários e recém-formados que disputam
ombro a ombro as 1,2 mil promessas de oportunidades nas 35 grandes empresas que
participaram do evento.
É uma odisséia comparável às provas do vestibular. A relação, quando é aberta a
temporada de caça aos novos talentos, é de 58,3 candidatos por cada vaga
ofertada, de acordo com dados do professor Cesar Monerar Tardin, coordenador da
mostra. As duas edições anteriores da feira tiveram aproximadamente 50 mil
participantes e nunca havia faltado fichas de inscrição para os interessados - no
encerramento deste evento, que durou quatro dias, a média de formulários
distribuídos por cada estande chegou a três mil, para estágio, e mil, para trainees. E as
feiras vêm se multiplicando: na semana passada, foi a vez da Fundação Mudes.
Mesmo que as feiras tenham em comum a limitada oferta de vagas, os jovens sabem
que chegar a trainee de uma empresa de grande porte pode ser a linha tênue entre
a atuação na profissão escolhida e a sina de se submeter a um emprego que, a rigor,
exige menos qualificação. Do outro lado, está a possibilidade de, enquanto é
avaliado, receber mensalmente R$ 1,5 mil (mais do que a renda per capita média dos
brasileiros que têm mais de 12 anos de estudo), tíquete-refeição, vale-transporte e
plano de saúde. À frente, provado o talento, o jovem vislumbra uma carreira bem-
sucedida.
Este é o canto de sereia de empresas como a Companhia Estadual de Gás (CEG),
que, não à toa, teve de ajeitar seu banco de dados para que coubessem 4 mil novos
currículos recebidos na mostra, conferindo à empresa a espantosa marca de 200
candidatos por vaga. São sete para trainee e 13 para estagiários. Quem entra para o
programa de treinamento, a exemplo dos sete do ano passado, hoje contratados, é
incorporado por uma equipe de desenvolvimento de projetos e, com sorte, passa três
meses na Espanha. "Queremos ter na empresa os melhores alunos, a quem daremos
treinamento profissional, pensando nas nossas necessidades futuras", decreta José
Alves, diretor de Recursos Humanos.
Muitos estudantes ou recém-formados, porém, acabam buscando nestas feiras uma
chance de se colocar no mercado, mesmo que em atividades muito distintas
daquelas em que pretendiam originalmente se inserir. Ludmila, por exemplo, bióloga
formada pela Faculdade Celso Lisboa, há dois anos procura em vão por um emprego
e já está aceitando até trabalho sem necessidade de qualificação. "Vou me inscrever
em tudo. Eu quero um emprego!", exclama.
"Está tudo mais complicado, há muitas dúvidas sobre como será depois da formatura.
Na minha turma, as pessoas até conseguem estágio, mas contrato com carteira
assinada é difícil", afirma o estudante André Pereira do Nascimento, 22, que cursa o
206 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 03/out/1999 - Economia
212
último ano de Arquitetura na UFRJ e, após a maratona de inscrições na feira da PUC,
já não sabia ao certo em que estandes havia se cadastrado.
Para piorar as perspectivas, muitas empresas utilizam as inscrições apenas para formar
um banco de dados, sem previsão de contratação a curto prazo. É o caso da
Telefônica, que acumula 4,3 mil currículos e, segundo Elena Lacambra, diretora de RH,
só irá recrutar os selecionados "à medida que tenhamos necessidade", diz.
*Colaboraram Marcelo Kischinhevsky e Luciana Brafman
213
MELHORES VAGAS SÃO DEVASTADAS 207
Setores que oferecem os postos de maior qualidade e
salário demitiram 420 mil trabalhadores nesta década
FLÁVIA BARBOSA
A reestruturação do mercado de trabalho foi responsável pela eliminação de 420 mil
dos melhores empregos que a economia brasileira oferecia nos anos 90, revela estudo
inédito da economista Lilian Maria Miller, que defende amanhã, no Instituto de
Economia da UFRJ, a tese de doutorado Emprego em serviços: análise do crescimento
recente e da qualidade dos postos de trabalho no Brasil. É o pior desempenho da
década entre as categorias de qualificação dos postos de trabalho nacionais.
"Na classificação que montei para aferir a qualidade dos postos de trabalho, descobri
que os melhores empregos estavam confinados num seleto grupo de quatro setores e
que haviam sido devastados. Eram empregos de salários elevados, alto grau de
formalização e demandavam maior qualificação, ou seja, eram destinados aos mais
bem preparados profissionais, em que se encaixam os jovens formandos", explica Lilian
Miller. "Infelizmente, as chances de esses setores voltarem a contratar são praticamente
nulas diante da reestruturação a que foram submetidos", afirma a economista.
Escritório - De acordo com a análise de Lilian - que criou um Índice de Qualidade (IQ)
para os postos de trabalho nos diferentes setores econômicos, que varia de 0
(qualidade inferior) a 1 (qualidade superior) -, os melhores empregos do Brasil
compreendiam as ocupações de escritório (advogados, arquitetos, por exemplo); do
setor bancário e de seguro-saúde (instituições de crédito, seguro e capitalização e
previdência privada); do setor de previdência social pública; e, por fim, das entidades
científicas, tecnológicas e culturais, também ligadas ao Estado.
Esses empregos vêm reduzindo continuadamente sua participação no total da
ocupação, mas extrapolaram. Em 1989 representavam 3,1%; em 1996, já
representavam 2,8% do total, acirrando ainda mais a disputa por uma vaga nesse
oásis de boas chances em meio a um mercado de trabalho que, segundo a
economista, apresenta níveis muito baixos de qualificação (a média nacional está
abaixo de 0,5 IQ, o que significa elevado grau de informalização e baixos salários).
Como o desemprego global também aumentou, os jovens passaram a brigar não
apenas entre si mas também com os adultos. Na queda-de-braço, levam a pior: são
tradicionalmente associados à baixa produtividade, à irresponsabilidade e à
inexperiência.
Demissões - Os setores foram submetidos, no período entre 1989 e 1996, a uma
escalada de demissões. O campeão de dispensas foi o grupo de instituições de
créditos e seguros, fechando o ciclo com 359 mil empregos dizimados, tendência
puxada pelos bancos. O ajuste na administração pública sumiu com quase 100 mil
vagas: as entidades científicas foram encolhidas em cinco mil empregos e a
Previdência, em 90 mil.
O saldo positivo coube à previdência privada, que gerou 34 mil postos. "Mesmo assim, é
um setor que não apresenta chances de expansão significativa. A criação de empregos
foi uma necessidade dos grupos de previdência particular, pois eles surgiram no Brasil
justamente neste período", diz Lilian. Ela observa, ainda, que a indústria, que tem setores
entre os empregos de qualidade superior e intermediária, pôs na rua 373 mil pessoas.
207 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 04/out/1999 - Economia
214
Baixa qualidade impera
Em sua tese de doutoramento, orientada pelo professor Claudio Salm, ex-presidente
da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet), a economista Lilian Miller
constata o que os especialistas em mercado de trabalho vêm apontando desde o
início da crise do emprego: a economia brasileira, mesmo gerando postos de
trabalho, perdeu a capacidade nesta década de produzir empregos de qualidade.
Enquanto de um lado 420 mil ocupações de alto padrão evaporaram, o saldo é
positivo, entre 1989 e 1996, em cerca de 6,9 milhões de postos para as demais
categorias de qualificação, sendo mais expressivo para as ocupações de pior
qualificação do setor de serviços, como o emprego doméstico, de limpeza e de
vigilância.
Por exemplo, houve crescimento da ocupação industrial entre 1989 e 1997, mas as
vagas geradas foram em serviços onde as condições são mais precárias, os salários
são baixos e os sindicatos têm o trabalho de fiscalização e negociação dificultado
pela dispersão das fábricas: 20 mil na fabricação caseira e 388 mil na categoria outras
indústrias. Esta certamente não inclui as fábricas pesadas que têm maior quadro de
pessoal, que, juntas, apresentam saldo de 1,5 milhão de postos destruídos no período.
"Esse resultado já era esperado, pois o ajuste do emprego na década de 90 foi feito
em cima dos trabalhadores com carteira assinada", avalia Marcio Pochmann,
economista da Unicamp. "As estatísticas se ocupam apenas com a evolução da
ocupação, porém não mostram a qualidade desses postos de trabalho."
"E foi uma transformação importantíssima", define Claudio Dedecca, presidente da
Abet, também economista da Unicamp e especialista em informalidade. (F.B.)
215
FÉ NA VIDA ACADÊMICA 208
LUCIANA BRAFMAN
Especial para o JB
Os dados da tese da economista Lilian Miller são desoladores para os jovens que
escolheram profissões que, por gerações, foram acolhidas nas áreas acadêmicas. O
processo de enxugamento da máquina pública e de ajuste das contas do Estado
provocou, de um lado, dispensas nas entidades científicas, culturais e tecnológicas; de
outro, reduziu a freqüência dos concursos de admissão.
Por isso, o mercado de trabalho é ainda mais restrito quando se fala do curso de
História, acreditam as estudantes da UFRJ Joana Gaspar Pinto Braz, 18 anos, Débora
Paiva Monteiro, 19, e Julia Wagner Pereira, 19. Com a opção de seguir por dois
caminhos não muito valorizados no país, elas ainda sonham ingressar no universo da
pesquisa.
"Quem escolhe História tem a consciência de que não vai ficar rico", reconhece
Débora, que, quando optou pelo curso, ouviu de vários amigos que ia "morrer de
fome". "Se já está difícil para todo mundo, imagina para os estudantes de História",
compara Joana, que se imagina trabalhando na área de turismo. Ela admite que não
há muitas oportunidades de estágio em História, mas lembra as vagas oferecidas por
intermédio da universidade, que tem convênios com o Colégio de Aplicação e com o
Pedro II.
Conformadas com a difícil situação da educação e da pesquisa no país, e sem
grandes ambições financeiras, as futuras historiadoras vêem na especialização e no
exterior saídas para enfrentar o concorrido mercado de trabalho. Consideram o
aprendizado de línguas estrangeiras fundamental para a profissão e gostariam de
ingressar em cursos de extensão, de preferência na Europa, onde, segundo elas, a
pesquisa é valorizada.
Já o namorado de Débora, Rafael Gonçalves, 21, tem pretensões de ganhar muito
dinheiro e para isso escolheu a profissão da moda nos anos 90: economista. Ele está no
terceiro período do IBMEC e acredita que tirou a sorte grande ao atrelar o nome da
instituição ao seu currículo. "Cerca de 90% dos alunos do IBMEC já saem com estágio",
estima. Rafael, apesar de confiante, também se preocupa com a acirrada
concorrência do mercado, e gostaria de "passar um tempo lá fora".
Crescimento de serviços não é a saída
A afirmação de que o setor de serviços é o segmento da economia em que se
apresentarão as chances futuras de contratação, absorvendo boa parte das vagas
extintas na década de 90, é um sofisma, revelam os dados da economista Lilian Miller.
Apesar de terem saldo positivo na geração de postos de trabalho no período entre
1989 e 1996 - até mesmo durante a recessão de 1992, enquanto bancos e indústria
ceifavam o quadro de pessoal em 1,5 milhão de vagas -, o setor é a prova de que os
ajustes quantitativos do emprego foram acompanhados de severa piora nas
condições de trabalho.
"A criação de empregos (conceito econômico que define posto de trabalho
assalariado com carteira assinada) foi dificultada nesta década não apenas por
conta da introdução das novas tecnologias, mas também pela mudança setorial da
ocupação em favor dos serviços", afirma Lilian Miller. "Realmente, existe uma
208 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 04/out/1999 - Economia
216
transferência setorial para os serviços na ocupação, mas o efeito, em termos de
qualidade, não é igualmente transferido para toda os setores econômicos, com
exceção de serviços modernos, como telecomunicações", analisa o economista João
Sabóia, da UFRJ.
O modelo desenvolvimentista adotado pelo Brasil nas décadas de 70 e 80, mas
notadamente na primeira, produziu um deslocamento da mão-de-obra da agricultura
para a indústria e para os serviços. O crescimento econômico gerou vagas, e uma
característica marcante foi que a formalização proliferou. Entretanto, como o país
nunca completou a estruturação de seu mercado de trabalho, foram mantidas
atividades precárias. E, quando o país entrou no ciclo da abertura econômica, diz
Lilian Miller, estas atividades foram revigoradas.
Heterogêneo - Mas, diferentemente do período anterior, na década de 90 o setor de
serviços tornou-se heterogêneo. Aglutina, no Brasil, segmentos atrasados - como o
camelô e a empregada doméstica - e modernos - serviços públicos, de educação, de
saúde e da produção, de qualidade intermediária, que requerem maior escolaridade
e geraram 1,4 milhão de vagas. A ocupação, no entanto, predomina em atividades
não tipicamente capitalistas, no setor informal, no pequeno comércio, no comércio
ambulante, nos serviços domésticos e de alimentação.
De fato, o crescimento do setor de serviços foi puxado na década pelas atividades
domésticas (com 1.375.000 vagas); de comércio de mercadorias (1.884.000); pelas
vagas em lojas (1.487.000); de transporte (349 mil); de comércio ambulante (302 mil);
serviços de higiene pessoal (225 mil); de prestação de serviços técnico-profissionais
(375 mil); e de limpeza e vigilância (351 mil).
Segmentos de prestação de serviços que exigem mais qualificação também tiveram
aumento de vagas: serviços de produção (480 mil); serviços sociais públicos (760 mil); e
sociais privados (884 mil). Mas os postos qualificados desses subsetores tiveram
desempenho negativo e foram suplantados por serviços precários: os de distribuição
têm saldo de 2,29 milhões de vagas e os pessoais, de 2,52 milhões. (F.B.)
217
MERCADO INFORMAL NÃO ABSORVE JOVENS 209
Apenas um em cada nove trabalhadores que caíram
na informalidade, nos anos 90, tem entre 18 e 24 anos
FLÁVIA BARBOSA A década de 90 foi pródiga não apenas na destruição de vagas de alta qualidade.
Um dos fenômenos mais marcantes dos últimos anos é a assustadora informalização
do mercado de trabalho. Pesquisa do economista Claudio Dedecca, publicada pelo
JORNAL DO BRASIL em maio, revelou que 90% do aumento da ocupação entre 1990 e
1997 foi absorvido pelo mercado informal. A novidade desconcertante trazida à tona
agora pelo cruzamento dos dados, diz o professor da Unicamp, é que os jovens entre
18 e 24 anos - faixa etária que inclui boa parte da juventude que terminou o segundo
grau e o curso superior - representavam apenas pouco mais de 10% desse
contingente.
Trocando em miúdos, nove em cada 10 trabalhadores que entraram no mercado de
trabalho brasileiro nos oito primeiros anos da década foram absorvidos nos pequeno e
médio setores da economia voltados ao consumo próprio - o pessoal sem carteira
assinada, terceirizado precário e autônomo. Desses nove, porém, a juventude
compreendida entre 18 e 24 anos só tinha um único representante. "Ou seja, quando
há uma crise de emprego, mesmo na informalidade há dificuldades de inserção para
os jovens, até do fenômeno mais perverso da década a juventude ficou de fora",
afirma Claudio Dedecca.
Baixa renda - As faixas etárias que dominaram a informalidade foram entre 25 e 39
anos, com quatro trabalhadores entre os nove ocupados no setor, e entre 40 e 54
anos, com três. "Essa absorção está relacionada à renda baixa, esta é a faixa em que
predominam os chefes de família, eles pressionam mais o mercado de trabalho",
explica Claudio Dedecca.
Os trabalhadores informais representam hoje a metade do mercado brasileiro. São
25,2 milhões de pessoas, ou 48,4% do total. Estão distribuídos no mercado informal
tradicional (20,4 milhões) e no setor subcontratador - conceito desenvolvido por
Dedecca para abrigar empresas que se dedicam à terceirização, prestação de
serviços para o grande setor econômico (indústria, serviço público), que também têm
alarmantes índices de precariedade, afirma o economista. São 4,8 milhões de
trabalhadores nesta categoria.
Não há vagas - O pico de crescimento da informalidade aconteceu entre os anos de
1990 e 1995. "De lá para cá, o que aumentou foi o desemprego. Nem a economia
informal consegue absorver mais mão-de-obra", afirma Dedecca. "Não é à toa que o
desemprego tornou-se a principal preocupação dos brasileiros: se perder o emprego
com carteira assinada, também não há vagas na informalidade", explica.
Entre 1990 e 1997, período de análise do economista, com base nas pesquisas
nacionais por amostra de domicílios (PNADs) do IBGE, foram despejados no mercado
7,4 milhões de trabalhadores nas atividades sem qualquer proteção legal. Para se ter
uma idéia, é mais do que o saldo de geração de postos de trabalho do setor não-
agrícola da economia no período entre 1989 e 1996 (6,58 milhões de vagas), segundo
a economista Lilian Maria Miller, da UFRJ.
A análise dos dados permite ver que, na comparação entre 1990 e 1997, o número de
trabalhadores formais caiu de 27,7 milhões (60,2%) para 26,6 milhões (50%). Isso
209 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 06/out/1999 - Economia
218
demonstra, de acordo com Claudio Dedecca, que a absorção de mão-de-obra se
deu na informalidade, "apesar de o setor público ter contratado até 1995". O número
de empregados informais saltou de 14,9 milhões para 20,4 milhões entre 1990 e 1997 e
o de subcontratados, de três milhões para 4,8 milhões.
Desemprego - Nas contas do economista da Unicamp, foi isso que impediu que a taxa
de desemprego aberto explodisse no período. "Entretanto, a juventude não
apresentou a mesma tendência de absorção no período", afirma Claudio Dedecca.
O economista considera, porém, que o fenômeno tem suas vantagens. Ao se deparar
com as resistências do mercado, a tendência da juventude é passar mais tempo nos
bancos escolares. De fato, a taxa de participação na População Economicamente
Ativa (PEA) dos jovens entre 10 e 17 anos cai nesta década, mais acentuadamente
entre os que se aproximam dos 10 anos e que têm baixo grau de instrução. Enquanto
isso, a taxa de participação das pessoas que cursaram a universidade aumentou.
O problema, segundo Dedecca, é que o ritmo de aumento da escolaridade é muito
lento diante das necessidades desses jovens e a situação da economia do país faz
com que as famílias tendam a buscar ocupação para seus vários membros como
forma de abrandar as conseqüências do agravamento da crise do emprego e das
substanciais perdas de renda, pressionando a juventude de volta ao mercado.
Escolaridade ainda faz diferença
Apesar da baixa taxa de absorção da mão-de-obra jovem, a informalidade é
crescente na faixa etária entre 18 e 24 anos. Dos 9,5 milhões de ocupados deste grupo
em 1990, 28% eram informais. O percentual não parou de crescer até 1997, quando
atingiu 34%. Entre aqueles sem instrução ou com o 1° grau incompleto, a evolução na
década foi de 38% de informais para 48%.
"A tendência é aumentar a informalidade entre os jovens de nível educacional mais
baixo, mas não quer dizer que os que estudaram são favorecidos. Isso é o reflexo de
uma estrutura histórica, de um perfil educacional trágico", afirma Claudio Dedecca. "É
um desperdício educacional a informalidade estar absorvendo a juventude", atesta o
economista Claudio Salm, da UFRJ.
Dos 9,8 milhões de ocupados há dois anos, 4,4 milhões não tinham instrução ou o 1°
grau completo. A parcela que tinha nível superior completo era de 193 mil. "Mas como
ao longo da década houve dificuldade de absorção de quem chega ao mercado, a
diferença na capacidade de arrumar um emprego nos dois extremos educacionais
desta faixa etária é mínima", avalia Dedecca.
Tanto na formalidade quanto na informalidade, a tendência de absorção da mão-de-
obra jovem é considerada bastante baixa pelo economista. A População
Economicamente Ativa (PEA) da faixa entre 18 e 24 anos era formada no início da
década por 12,5 milhões de pessoas. Passou a 14 milhões em 1997, crescendo 9%.
Em contrapartida, a ocupação (que reflete a acomodação de quem entrou no
mercado em um posto de trabalho) cresceu apenas 3% no mesmo período. "Isso quer
dizer que 1,5 milhão de jovens entraram no mercado, mas o número de ocupados
subiu apenas 200 mil. Há 1,3 milhão de jovens sobrando", explica o presidente da
Associação Brasileira de Estudos do Trabalho. (F.B.)
Trabalho ‘mirim’ é mais precário
O desperdício educacional a que se refere o economista Claudio Salm é refletido nos
números do trabalho na faixa etária entre 10 e 17 anos. Para este grupo, o nível de
219
inserção na informalidade atingiu 58% dos jovens. Isso equivale a 2,03 milhões de
crianças e adolescentes.
Os esforços do Ministério da Educação quanto ao aumento do número de crianças no
ensino fundamental nos últimos anos, no entanto, têm sido razoavelmente bem-
sucedidos do ponto de vista do trabalho. A População Economicamente Ativa (PEA)
encolheu de quatro milhões para 3,5 milhões de jovens entre 1990 e 1997, embora
proporcionalmente o número de jovens trabalhadores informais tenha aumentado (de
50% para 58% do total). Em números absolutos, o número de informais mirins ficou
estacionado em dois milhões de trabalhadores.
Entre os jovens com 1° grau incompleto ou sem instrução, na faixa etária de 10 a 17
anos, aumenta a gravidade da situação. Em 1990, a informalidade era responsável
por 53% dos postos de trabalho que eles ocupavam. A taxa extrapolou em 1997,
segundo o economista Claudio Dedecca: bateu em 64%. (F.B.)
220
EM SITUAÇÃO DEGRADANTE 210
MANOEL FRANCO
Eles formam um exército de aproximadamente 60 mil pessoas que trabalham
na produção de carvão vegetal, utilizado na fabricação de aço. A atividade
é responsável pelo desmatamento do cerrado brasileiro e por condições de
trabalho degradante, com ocorrência de trabalho infantil e focos de semi-
escravidão, devido à baixa remuneração e à distância dos grandes centros.
Como nômades, muitos trabalham sem nenhum amparo legal no sul de Minas
Gerais, na Bahia e, principalmente em Mato Grosso e em Goiás. São os
carvoeiros, que ajudam o Brasil a ser o oitavo maior produtor de aço bruto de
todo o mundo, com 22 milhões de toneladas anuais - 30% desse total são
originários da siderurgia a carvão vegetal.
Em mais uma estatística absurda do setor, o Brasil é o único país do mundo a
utilizar o carvão vegetal em larga escala como insumo industrial. Os números
são grandiosos. Estima-se que o país produza anualmente cerca de 30 milhões
de metros cúbicos de carvão vegetal - metade oriunda de florestas nativas.
São cinco milhões de toneladas de ferro-gusa feito com essa matéria-prima
todos os anos, criando mais de 100 mil empregos indiretos, num mercado que
movimenta anualmente US$ 660 milhões (R$ 1,28 bilhão).
Denúncia - O lado desumano do setor está sendo posto a nu pelo produtor de
cinema José Padilha e pelo fotógrafo Marcos Prado, que uniram suas forças
para realizar o documentário Os Carvoeiros - para cinema e televisão - e um
livro de fotografia e ensaios sobre o cotidiano dessas famílias no trabalho de
carvoejamento. O livro terá lançamento no próximo dia 11 em sessão para
convidados do filme. A bilheteria do documentário será doada ao Unicef e o
lançamento será no dia 12 durante o programa Criança Esperança, da Rede
Globo. A estréia está prevista para o dia 15, em circuito nacional.
Embora o faturamento da venda de carvão vegetal esteja na faixa de R$ 1
bilhão, somente uma parte do segmento é legalizada, cumpre exigências da
legislação trabalhista. "A outra parte funciona no mercado real, com dinheiro
à vista, ou trocando carvão por gêneros essenciais no velho sistema de
barracão, recrutando pessoas por empreitada ou por tarefa, sem qualquer
cobertura social", lembram os produtores do projeto.
Os trabalhadores não têm como reagir a um círculo cruel que envolve
fazendeiros e seus capatazes, grileiros de terras, capangas, informantes,
mateiros, além de donos de caminhões, gerentes ou prepostos de empresas
compradoras de carvão, e ainda credores e bancos que receberam terras
como penhores.
O destino final desse imbroglio vai para endereços mais nobres, onde estão
fincadas tradicionais e poderosas corporações, como Acesita e Belgo-Mineira.
Mas há também dezenas de usinas de pequeno e médio porte que
210 Texto originalmente publicado no JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, 05/out/1999 - Economia
221
geralmente só produzem o ferro-gusa. O faturamento anual dessas empresas
está estimado em US$ 380 milhões (R$ 745 milhões).
CARTA DE EDISON MUSA À PRESIDENTE DO IAB-RJ 211
Cara Lilia Varela.
Agradeço-lhe o envio dos exemplares do n° 80 da Revista Arquitetura.
Parabéns a você e Joaquim e a todos que contribuíram para este magnífico
esforço. Só a gente que trabalha sabe como é difícil produzir resultado como
este que vocês acabam de colher.
Pena ainda, que apesar de toda essa vontade de abertura e modernização, o
tom da revista ainda encontre ecos de atitudes antigas e mesquinhas.
A produção de arquitetura no país é um ofício tão sofrido e difícil, que não
precisa, a título de uma crítica construtiva e positiva, de comentários, charges
e chamadas pouco sérias, a trabalhos que estão aí, realizados de peito aberto,
nas regras de um sistema que todos conhecemos.
Acho que já é tempo do IAB perder este aspecto masoquista de criticar a
produção de arquitetura, por arquitetos estabelecidos e ativos, com base num
ideal absoluto desejável, na maioria das vezes impossível de ser alcançado e
longe da realidade cotidiana.
Acho que o IAB prestaria um melhor serviço a toda a comunidade se realmente
procurasse divulgar o trabalho do arquiteto, com seus problemas, suas falhas e
seus acenos, vistos da mesma planície da batalha e não, de um Olimpo artificial,
que o coloca distante das realidades vivenciadas.
Aproveito para solicitar a identificação dos desenhos ilustrativos das páginas 18
e 28, ambes de autoria do escritório Edison MUSA: Edifício Ipiranga – Porto
Alegre, e Edifício Caemi – Rio de Janeiro.
Desejando sucesso e continuidade ao projeto, envio-lhe meu cordial abraço.
Edison MUSA
arquiteto
211 Publicada na revista Arquitetura IAB-RJ – Revista do Instituto de Arquitetos do Brasil n° 81. Rio de
Janeiro, jun/1998, p. 31.
222
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O discurso emana o racionalismo do seu pensamento da “palavra-resposta” ou
“palavra-solução” – que acredita ser possível construir uma visão fechada,
“coerente, totalizante do universo, a partir de dados parciais, de uma visão
parcial, ou de um princípio único.” (MORIN 1996: 157).
Uma leitura mais atenta evidencia a presença combinada dos três rostos da
degradação da teoria apontados por MORIN e descritos no CAPÍTULO 1: (1)
degradação doutrinária da teoria, ao contrapor: as “atitudes antigas e
mesquinhas” dos autores dos textos ao “ofício tão sofrido e difícil” dos arquitetos
de mercado e as “atitudes antigas e mesquinhas” dos autores dos textos ao
“ofício tão sofrido e difícil” dos arquitetos de mercado; ao desqualificar o
conteúdo dos “comentários, charges e chamadas pouco sérias a trabalhos que
estão aí, realizados de peito aberto nas regras de um sistema que todos
conhecemos”; (2) degradação tecnicista da teoria, ao reagir ao “aspecto
masoquista de criticar a produção de arquitetura por arquitetos estabelecidos
e ativos com base num ideal absoluto desejável, na maioria das vezes impossível
de ser alcançado e longe da realidade cotidiana”; (3) pop-degradação da
teoria, ao sugerir que o IAB “prestaria um melhor serviço a toda a comunidade
se realmente procurasse divulgar o trabalho do arquiteto, com seus problemas,
suas falhas e seus acenos, vistos da mesma planície da batalha e não, de um
Olimpo artificial, que o coloca distante das realidades vivenciadas.”
O texto denuncia a presunção ao saber messiânico por parte de seu autor –
dono da verdade a ser doada aos ignorantes e incapazes, “habitantes de um
gueto, de onde saem messiânicamente para salvar os ‘perdidos’, que estão
fora. Ao procederem assim, não estarão se comprometendo verdadeiramente
como profissionais nem como homens. Simplesmente estarão se alienando.”
(FREIRE: 1978) – que sonha com um IAB e com uma crítica de “louvação”
(RHEINGANTZ 1995). Ambos subservientes aos interesses comerciais de um grupo
de profissionais que, guiado pela “mão invisível” do mercado, se pensa como o
único capaz de exercer pragmaticamente sua techné – mesmo que desprovido
de logos – e no direito de continuar a conceber seus cada vez mais altos e
maiores “transatlânticos ancorados nas calçadas”, verdadeiros “monumentos
da irracionalidade” (HENDERSON 1995).
Por outro lado, também enquadra seu autor no grupo daqueles profissionais que
atua não no sentido de promover ou de preservar a vida [e a natureza], mas
de destruí-la, colocando em risco a própria sobrevivência das futuras gerações;
além de confirmar a crescente tendência para ser pensado e discutido por
seres humanos, para ser “determinado” [e manipulado] pela mão invisível do
“mercado”, em proveito dos princípios de ordem, de economia, de eficácia.”
(MORIN 1996: 162). A “operação de distinção, que está fundamentada em todo ato cognitivo, torna-se complexa e
resulta de uma transação entre o observador e o mundo observado
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(1) que as partes são ao mesmo tempo menos e mais do que as partes; (2) que
a riqueza do universo está nas pequenas unidades reflexivas desviadas e
periféricas que se constituíram na sua totalidade; (3) que o indivíduo é
ignorante-inconsciente da totalidade social, ao mesmo tempo em que a
totalidade é ignorante-inconsciente do indivíduo; (4) que o todo é insuficiente;
(5) que o todo é incerto – no universo vivo, cada aspecto pode ser concebido
ao mesmo tempo enquanto todo e parte; (6) que o todo é conflituoso –
comporta forças antagônicas à sua perpetuação.
PADRÕES DE ESPAÇO DE ESCRITÓRIO 212
“Nenhuma organização pode ser categorizada completamente como
Colméia, Cela, Recanto ou Clube. A maioria as combina. Similarmente à
soma dos escritórios em qualquer tempo consiste numa proporção dos
quatro tipos. O que muda com o tempo é a sua proporção. Por exemplo,
a grande maioria dos escritórios, hoje, é de Colméias, com algumas
Células e Recantos mas poucos Clubes, e, como era de se esperar, com
o passar dos anos, a proporção de Colméias vem diminuindo
significativamente em favor de uma proporção mais alta de Celas, e as
vezes Recantos e um desemdidocrescimento dos Clubes.”
Francis DUFFY
Cada padrão característico de cada um dos quatro tipos de organização
implica, ele próprio, em uma forma específica de uso do espaço e do mobiliário.
Para conseguir o máxima de qualquer organização, diferentes tipos de layout
de escritório devem ser projetados para suportar seus padrões. Layouts que
suportem melhor os diferentes padrões, provavelmente podem ser melhor
utilizados de diversos modos: padrões de trabalho mais interativos e com maior
autonomomia são indicados para o compartilhamento de espaço e de tempo
- geralmente chamado de “intensificação do uso do espaço” - uma vez que
sua ocupação é intermitente e irregular.
Espaço-colméia: Demanda estações de trabalho relativamente simples.
Inspirado na indústria, onde a rotina das freqüentes repetições de tarefas é
desempenhada sob supervisão, adequado para o trabalho individual de rotina
com baixo nível de interação e pouca autonomia. O cenário típico de trabalho
é uniforme e impessoal, com planta aberta, resguardada com biombos.
[organizações típicas - tele-vendas, recepção e processamento de dados,
212 Adaptado de DUFFY (1997: 62-65).
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rotinas bancárias, operações financeiras e administrativas e serviços básicos de
informação.
Espaço-célula [ou cela]: Demanda alguns ambientes relativamente mais ricos.
Ambiente que possibilita o total controle do ambiente físico e intelectual
inspirado nas celas dos antigos conventos, acomoda o trabalho concentrado
individual realizado com pequena interação, adequado para atividades
autônomas com padrões intermitentes e irregulares em suas jornadas extra de
trabalho. Ambiente fechado ou estação de trabalho altamente protegida em
um escritório de planta aberta para ocupação individual. Cada lugar de
trabalho individual precisa ser projetado para prover uma complexa variedade
de tarefas. O padrão de trabalho autônomo de ocupação esporádica e
irregular, significa que cada ambiente de trabalho deve possibilitar que seu uso
seja compartilhado. [organizações típicas: contadores, advogados, gerentes e
consultores de pessoal, além de cientistas em computação].
Espaço-recanto [ou cubículo]: Requer cenários relativamente mais simples.
Associado aos grupos de trabalho interativo, mas não necessariamente com
alta autonomia, que se utilizam de recursos e ambiente compartilhados,
geralmente assegura um amplo leque de ambientes simples e diferentes,
usualmente dispostos em escritórios de planta aberta ou em grupos de salas. Em
geral, os ambientes são projetados com base no pressuposto de que os
trabalhadores individuais ocupam suas “próprias” mesas, enquanto os grupos
de trabalhadores também precisam ter acesso a espaços complementares
para reuniões de trabalho, para desenvolvimento de projetos e para
compartilhar equipamento - impressoras, copiadoras e outros equipamentos
técnicos especiais. As tarefas são, em geral, de curto prazo e intensas, embora
às vezes também possam ser de mais longo prazo, sempre envolvendo muito
empenho por parte de cada equipe. [projeto, processos de segurança, algum
trabalho com mídia - particularmente rádio e televisão e publicidade]. Ideal
para tarefas colaborativas e baseadas nos grupos de trabalho. [equipe
preparando e apresentando programas contínuos de noticiário de televisão,
um exemplo típico de recanto contemporânea, por não ter descontinuidade
entre os apresentadores e o pessoal de suporte.
Espaço-clube: Requer ambientes muito mais variados e complexos. Adequado
para trabalho com conhecimento, isto é, para escritórios onde a atividade de
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trabalho transcende o manuseio de dados, demandando consideráveis doses
de julgamento e de inteligência. O trabalho neste tipo de organização é, ao
mesmo tempo, altamente autônomo e altamente interativo. O padrão de
ocupação tende a jornadas de trabalho mais intermitente do que prorrogado.
Permite as pessoas selecionarem o cenário de trabalho que eles querem,
quando eles querem. Uma grande variedade de tarefas baseadas em cenários
de compartilhamento de tempo [time-shared] serve tanto para o trabalho
individual concentrado como para o de grupos interativos. Indivíduos e equipes
ocupam o espaço segundo as suas próprias necessidades, movendo-se em
torno dele, tirando vantagem de uma ampla variedade de recursos e de
equipamentos. O coeficiente de compartilhamento depende da
especificidade do trabalho e da mescla de trabalho interno e externo no
escritório, possibilitando combinar tele-trabalho, trabalho doméstico, trabalho
no cliente e trabalho em outros locais. [firmas de criação como empresas de
publicidade/mídia, companhias de tecnologia da informação e todo tipo de
consultoria gerencial. Estas organizações têm em comum uma equipe
altamente intelectualizada, capaz de solucionar problemas em aberto e, acima
de tudo, constante acesso a um vasto manancial de conhecimento
compartilhado.
Estes quatro tipos de espaços de escritório podem ser aplicados para configurar
as diferentes estratégias de ambientes de trabalho.
Estratégias de ambientes de trabalho213:
Basicamente, existem dois conceitos de ambiente de trabalho que, por não serem
excludentes, possibilitam uma grande diversidade de alternativas para configuração do
ambiente de trabalho:
1. Escritório territorial – que considera uma estação de trabalho para cada funcionário
(ANDRADE 1996: 22) e que se subdivide em quatro diferentes tipologias:
1.1 Escritório aberto ou paisagem [landscape office] – ambientes abertos e grandes conjuntos
de mobiliário e equipamento são organizadas em função do fluxo de trabalho, separados por
“caminhos curvilíneos e um sentimento de paisagem interior” (SMITH & KEARNY, 1994: 7).
1.2 Escritório fechado – modelo tradicional de espaço de escritório, dividido em salas
estanques, que podem ser individuais ou para pequenos grupos de até 4 ou 6 pessoas.
1.3 Escritório combinado [combi office] – onde os funcionários ocupam “pequenas salas
fechadas, dispostas na periferia do ambiente, de tal forma que a área central destina-se às
213 Adaptado de Cláudia ANDRADE (1996: 22) e SIMS, BECKER & QUINN (1995: 31-36)
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atividades de uso comum, seja para reunir equipamentos, estações para trabalho em grupo,
ou áreas de estar e convívio social” (ANDRADE 1996: 22); e
1.4 Escritório para grupos de alto desempenho [high performance team) – onde
equipes de funcionários, compartilham processos de trabalho em um mesmo
ambiente, possibilitando “aumento de envolvimento e agilidade de decisões,
sinergia, aumento de suporte emocional, melhor desempenho” (ANDRADE
1996: 22).
2. Escritório não territorial – designação proposta por Thomas ALLEN (MIT) para caracterizar as
novas formas de trabalho de escritório contendo variadas zonas de atividades disponíveis para
uso de qualquer membro da equipe, combinando sistemas de maior liberdade de cenário com
os fluxos de pessoas, materiais ou informações; “os funcionários não têm sala, estação de
trabalho ou mesa fixa e o uso de espaço ou tecnologia se dá em função de suas necessidades e
tarefas” (SIMS, BECKER & QUINN 1995). Estas novas forma de escritório vêm sendo utilizados
por organizações que buscam maior efetividade e redução de custos escritório, com
significativos efeitos na demanda por espaço de escritório, na qualidade de vida no trabalho de
seus empregados e na competitividade organizacional. Existem diversas formas de escritório
sem território e diferentes modalidades de reserva de uso do espaço ou de tecnologia:
2.1 Group Address – designação utilizada pela IBM para definir o espaço interno sem previsão
de mesas individuais, com a intenção de ser utilizada por seus grupos de funcionários ou
departamentos.
2.2 Free Address – designação utilizada para descrever um programa de ocupação de espaço
sem previsão de mesa individual por funcionário; cada funcionário apanha seu equipamento
móvel (volante, telefone, computador, etc.) e ocupa a primeira estação de trabalho disponível,
contando com suporte de secretaria e recepção; podem existir estações de trabalho
individuais e para grupos, além de salas de reunião; a IBM usa o termo para definir o espaço
interno dotados de mesas individuais, que podem ser utilizadas por qualquer funcionário.
2.3 Hoteling – designação adotada pela Ernst and Young de Chicago para descrever seu
programa de escritórios não individualizados em uma base permanente; o uso dos ambientes
é realizado através de um sistema de reservas tipo de hotel, com o apoio de equipes de
suporte; este sistema também possibilita adaptações no espaço para atender às demandas
específicas de cada tipo de projeto/atividade.
2.4 Uso compartilhado – designação utilizada pelo International Workplace Studies Program da
Cornell University para descrever programa de alocação de espaço onde dois ou mais
funcionários compartilham a mesma mesa em horários diferentes.
2.5 Mesa quente [Hot desking] – inspirado na designação da Marinha norteamericana para
descrever beliches utilizados por muitos marinheiros em diferentes turnos/vigílias (o beliche é
aquecido pelo ocupante anterior); forma pejorativa de designar algumas formas de escritório
de uso compartilhado.
2.6 Mesa compartilhada [Desk sharing] – termo genérico para caracterizar a situação onde a
mesma mesa ou estação de trabalho é utilizada por diferentes empregados ao longo de um dia
ou semana.
228
2.7 Red carpet – termo utilizado pela Hewlet-Packard para descrever seu programa de
estações de trabalho compartilhadas pelos empregados, que “agrega, além dos conceitos de
Hoteling e Free-addres, áreas destinadas ao convívio social e ao lazer, e em geral é implantado
em escritórios satélites” (ANDRADE 1996: 22); diferentemente da Hot desking, sua intenção foi
criar uma imagem positiva.
2.8 Uso eventual [drop-in] – termo usado por diversas empresas para descrever escritórios
compartiljhados que são utilizados por curtos períodos de tempo (por exemplo, uma poucas
horas) por empregados que não precisam fazer reserva de espaço de escritório. Em geral é
usado para empregados de diferentes lugares que “usam eventualmente” o espaço de
trabalho e precisam de um lugar para trabalhar.
2.9 Escritório satélite [telework centers] – designação utilizada para caracterizar
pequenos centros de teletrabalho com ambientes totalmente equipados
localizados nas proximidades das moradias dos funcionários ou dos clientes;
estes locais também pode ser utilizados.
2.10 Escritório temporário [Just in time] – designação utilizada pela Anderson
Consulting em San Francisco para descrever seu programa de escritórios não
destinados como base permanente de um determinado indivíduo; os escritórios
podem ser designados como uma base temporária, variando desde meio dia
a diversos dias, mediante sistema de reserva.
Além destes dois conceitos de escritórios, existem outras alternativas de “espaço de trabalho”
que, embora não tenham reflexos no espaço de trabalho ocupado por uma determinada
organização, merecem menção:
(3) Terminal doméstico [Home-based telecommuting] – designação utilizada para caracterizar
os funcionários que trabalham meio turno em casa, utilizando a tecnologia necessária para
comunicar-se com seus colegas de trabalho ou com sua empresa.
(4) “Escritório virtual” – designação genérica utilizada para descrever a idéia de
espaço de escritório dissociado de um lugar e um tempo específicos.
(5) Escritório do cliente – modalidade de trabalho cada vez mais presente, à
medida que cresce a modalidade de prestação de serviços e a
desregulamentação dos contratos de trabalho, onde o funcionário trabalha,
durante um período de freqüência e duração variável, no próprio escritório do
cliente.
(6) Escritório móvel – que caracteriza veículos ou locais especialmente
equipados, tais como um avião, um barco, uma van, um ônibus ou até mesmo
um local adequado em um aeroporto ou em uma sala de hotel, de um centro
de convenções ou de um centro de treinamento. Neste grupo também se insere
o conceito do escritório incorpóreo – que, segundo STONE & LUCHETTI (1985) “
229
está onde você está” – numa analogia às empresas incorpóreas de Tom PETERS
(1995), que considera que o escritório é a própria mente.
O MERCADO DA AUTOMAÇÃO PREDIAL NO BRASIL 214
Como acontece com qualquer processo de inovação tecnológica, a concepção, produção e operação dos sistemas de automação predial (SAP), ainda se ressente de profissionais adequadamente formados e de regras e práticas claras nas relações projetista-cliente e fabricante-cliente. Na opinião de Fábio RIBEIRO, não há um comprador à altura que, por desconhecimento do produto, acaba comprando o marketing da novidade, nem engenheiros e arquitetos, “que conhecem muito menos ainda. Em geral, os sistemas vendidos na maior parte dos edifícios de escritórios, tem muito mais marketing do que eficiência e utilidade”.
Os profissionais que atuam em projeto e manutenção de sistemas, por inexistência de cursos de formação específica – que deveriam integrar conhecimentos de mecânica, instalações prediais, elétrica, eletrônica e instrumentação – para atender às novas demandas do mercado. Ou são egressos da área comercial das empresas fabricantes com foco nos aspectos comerciais, ou da área de automação industrial com foco nos aspectos técnicos do problema. Ainda existem muito poucos profissionais que conseguem aliar os dois aspectos e no Brasil ainda não existe nenhum programa de graduação em facility management [gerenciamento de recursos]215. Como os clientes e profissionais do setor imobiliário ainda não têm conhecimento ou experiência com projetos de automação, e como não existe uma preocupação com nas demandas do cliente, o mercado de projetos e consultoria tem sido predominantemente ocupado por profissionais do primeiro grupo, que trabalham em parceria com os fabricantes – em geral grandes empresas multinacionais que se valem da inexistência de regulamentação para disseminar sistemas fechados, do ponto de vista de operação, consolidando uma prática semelhante à utilizada pelos fabricantes de elevadores (RHEINGANTZ 1995, COSENZA et al 1996, 1997).216 Na maioria dos edifícios “inteligentes”, a manutenção dos sistemas de automação acaba sendo realizada pelo próprio fabricante, em um processo onde operadores e sistemas atua como uma espécie de “biombo” entre a operação do edifício e o cliente.
A forma de escolha dos consultores e projetistas de automação – em geral por indicação de terceiros – em um mercado sem regras favorece a criação de alguns mitos217 que são
214 Texto fundamentado em: (a) entrevistas com Fábio RIBEIRO - Supervisor de Automação RB1
(12/12/1994), Moisés GRINAPEL e Sérgio CARVALHO, da Proline Equipamentos Eletrônicos Ltda.
(10/12/1998) e com o arquiteto Davino PONTUAL (09/12/1998); (b) em artigo de Paulo Roberto
GOULART, diretor de Facility Automation Systems (1997), e (c) na experiência pessoal acumulada
nos trabalhos desenvolvidos pela COPPE/PROARQ no RB1 e no BNDES (COSENZA et al 1996, 1997).
Foram tentados, sem sucesso, contatos com outras empresas fabricantes de sistemas de
automação predial. 215 Cf. SZIGETI & DAVIS (1997), no Canadá, a School of Architecture at Carleton University de
Otawa, implantou um programa de graduação nesta área em 1976. 216 Dificilmente o sistema de automação predial (SAP) consegue monitorar os elevadores, cuja
concepção ainda se vale da lógica da “caixa preta”. Apesar de os mais novos modelos serem
dotados de uma certa inteligência própria, o fabricante em geral se esquiva de fornecer um
contato resumo de defeito (se está bom ou ruim). Este é um dos principais entraves aos sistemas
de monitoramento e controle de incêndio e de segurança patrimonial. RHEINGANTZ (1995) e
COSENZA et al (1996, 1997) relatam a relação entre condomínios e fabricantes de elevadores. 217 Cf. GRINAPEL e CARVALHO, “a automação predial tem mitos que viciam a todos no Brasil: o
empresário pergunta ‘quem é o melhor?’, ou então, ‘quem fez este projeto?’; a resposta invariável
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convenientemente explorados pelas estratégias de marketing dos grandes fabricantes, até o momento mais preocupados em vender seus produtos do que em consolidar um mercado com regras claras e com foco na satisfação do cliente, baseado na eficiência, confiabilidade e baixo custo operacional218. Na prática, a predominância dos profissionais com perfil de vendas e a visão centrada nos interesses dos fabricantes aliadas ao desconhecimento dos clientes e contratantes de projetos e sistemas favorece o surgimento de um processo viciado na origem. Repetindo uma prática comum em outros setores da construção civil, os projetistas repassam o projeto para um determinado fabricante, que contrata profissionais com pouca experiência para seu desenvolvimento. O fabricante também orienta o projetista na especificação dos componentes do sistemam. Como o cliente (ou seu consultor) não sabe o que questionar, acaba investindo em um processo viciado, cujos erros são por ele assumidos deforma involuntária – em geral não é o cliente final quem contrata o projeto e constrói o edifício.
Como o comprador não dispõe de profissionais qualificados e treinados para avaliar os projetos e sistemas de automação, contrata novos consultores, nem sempre devidamente qualificados para avaliar os componentes especificados no SAP e para orientar seu cliente para uma decisão adequada e compatível com suas necessidades. Na maioria das vezes, este processo atende os interesses de projetistas, consultores, fabricantes e incorporadores, mas nem tanto os cliente final (investidor ou locatário), que acaba gastando mais do que o necessário por um produto sem confiabilidade e com altos custos operacionais – em geral os erros de projeto ou de especificação são repassados ao cliente final sob a forma de “custos operacionais” (“biombo”). Acostumado a um mercado desregulamentado e de baixa qualidade – a qualidade da produção da construção civil é um problema mundial (CALAVERA 1993; HAMMARLUND & JOSEPHSON 1992) – onde a justiça têm demonstrado pouca eficiência para fazer valer seus direitos, o cliente acaba praticando a política do silêncio e arcando com os custos adicionais decorrentes do retrabalho necessário para correção dos problemas.219
Atualmente, o mercado da automação predial brasileiro pode ser caracterizado pelas seguintes tendências:
(1) A avidez pela novidade que dá sustentação à tendência de substituição e retirada periódica do mercado de componentes que se tornam obsoletos por sua falta de compatibilidade com os sistemas em uso – obsolescência programada – que induz a freqüentes e onerosas substituições de todo o sistema, que em geral é fechado (proprietário)220. Curiosamente, na automação industrial, observa-se a tendência oposta: os sistemas são abertos e projetados de modo a garantir a substituição parcial dos componentes, sem necessidade de substituição do sistema. Em uma fábrica, um módulo defeituoso é substituído sem que seja necessário parar linha de montagem e substituir todo o sistema, fiação, etc. Com isso, o fabricante se obriga a manter sobressalentes para garantir a continuidade do processo produtivo e garantir sua imagem.
é ‘foi fulano’, que vira um mito, muitas vezes caro para o cliente, pois em geral, trabalha em
parceria com algum fabricante de sistemas.” 218 O mercado imobiliário predial ainda tem muito a aprender com o setor industrial, onde estas
práticas foram há muito abandonadas. No setor industrial, projetos ou sistemas ineficientes, pouco
confiáveis e dispendiosos não têm vez. 219 RHEINGANTZ (1995) aponta os esforços e investimentos realizados pelo condomínio do edifício
RB1 para reformular seus sistemas de automação predial e de ar-condicionado. Vendido como
“inteligente”, o SAP inicialmente se restringia à supervisão de uns poucos itens dos seus sistemas
prediais. 220 Cf. GRINAPEL e CARVALHO, o comprador do equipamento é obrigado a fazer um contrato de
operação, pois os sistemas são tão fechados que o próprio operador não tem controle do sistema
que opera.
231
(2) A previsão de pontos desnecessários, que faz o cliente arcar com investimentos extra sem retorno, tais como: (a) a previsão de diferentes tipos de controle, incompatíveis entre si, para supervisionar um mesmo equipamento (fan-coil, bomba, etc) ou ponto; (b) a especificação de um sistema de detecção endereçável para o projeto de automação de uma sala de 30 m2, que pode ser controlada por um simples relance de olhar, ou então por um sistema digital de detecção de calor ou de fumaça. Esta prática, embora aparentemente absurda, pode ser explicada pelo fato do custo de um sistema ser estipulado em função do número de pontos e do seu custo unitário.
(3) A compra de equipamentos sofisticados e dispendiosos – como a detecção endereçável, “que pode se transformar no maior engodo aos clientes, uma vez que a maioria dos sistemas endereçáveis que estão vindo para o Brasil são protocolos fechados, ou seja, que somente se comunicam com aquela central produzida pelo fabricante221, de quem o cliente se torna refém. O fabricante dita as regras do jogo – sendo comum a prática de vender o equipamento por um preço baixo, que não se repete na reposição. Em alguns projetos, tais como shoppings e supermercados, segundo GRINAPEL e CARVALHO, ainda é perfeitamente aceitável e suficiente um sistema antigo de detecção – que usa o terceiro fio para a identificar222 –, que além de confiável, custa 1/5 do preço dos modernos sistemas endereçáveis, e que ao se comunicar em rede com outros dispositivos, se transforma em um sistema inteligente. Sem contar que os detectores para este tipo de sistema são facilmente encontráveis no mercado. Outro problema freqüente é a colocação de controladores de temperatura que indicam a temperatura ambiente em graus Celsius, 8 a 10 vezes mais caros do que os termostatos reguláveis que indicam apenas se a temperatura desejada está normal ou não. Também é comum a previsão de sistemas de automação mais sofisticados do que a capacidade de resposta dos próprios motores e equipamentos que deve monitorar.
(4) A resistência do cliente em aceitar sistemas de detecção fabricados no Brasil – embora existam empresas que fabricam equipamentos, integram e projetam, especialmente para automação industrial; com a abertura da economia, estão sendo importados equipamentos não tropicalizados, pouco robustos para as condições locais, e painéis prontos e montados sem a preocupação de formação adequada do pessoal de assistência técnica: segundo GRINAPEL e CARVALHO, “estamos desaprendendo e, o que é mais grave, utilizando equipamentos que ninguém sabe consertar”, acarretando extra-custos ao cliente.
(5) O processo de especificação funciona de modo semelhante à atividade de recortar e colar em um editor de textos: de posse de um catálogo de produtos, o projetista mistura equipamento analógico, endereçável ou antigo, muitas vezes produzindo incompatibilidades internas ao sistema.
(6) Deixar o projeto de automação para o final, quanto a concepção da arquitetura e da estrutura já estão definidas, sob o argumento de que o prédio vai funcionar com ou sem automação, que ainda é considerado apenas como um acessório ao projeto do edifício.
(7) Se despreocupar com a relação custo-benefício e com a solução da engenharia do problema. Diferentemente da automação industrial - onde: (a) qualquer investimento implica
221 Nos Estados Unidos os protocolos de comunicação são normalizados, de modo que cada tipo de detector seja fornecido por 3 ou 4 diferentes fabricantes; no Brasil é comum que um mesmo fabricante de detector forneça material para diferentes fabricantes de painéis que, por terem protocolos de comunicação proprietários, só se comunicam com aquela central.
222 Os sistemas de deteção, são configurados por circuitos com dois fios, sendo um positivo e um negativo. Nestes circuitos estão ligados até 20 detectores (limite normalizado). O terceiro fio possibilita identificar, dentro de um circuito com diversos detectores, qual foi efetivamente o que alarmou.
232
em retorno imediato ao operador da máquina ou ponto; (b) se automatiza apenas aquilo que é reconhecidamente prioritário; e (c) vale a regra “o que é perdido hoje, não é recuperável” (GRINAPEL e CARVALHO) – na automação predial vale o interesse do fabricante e a possibilidade de exploração da “novidade” pela estratégia de vendas. Diante do receio do cliente (ou do responsável) assumir o erro (“biombo” frente ao mercado), é comum a situação de prédios “inteligentes” com mais de 5 anos que já tiveram que trocar todo sistema de automação. A maior parte reproduz um processo que obedece aos mesmos princípios que nortearam o projeto anterior, gerando uma operação circular onde existe apenas um perdedor: o cliente final.
(8) Enquanto no Brasil persiste a concepção de misturar todos os sistemas em
um único computador, cujo excesso de informação dificulta o controle por
parte do operador – que muitas vezes não sabe o que fazer com tantas
informações –, na Europa e nos EUA já existe consenso sobre a necessidade de
distribuir as informações em sistemas de redes. (9) As despesas anuais com os custos mensais de manutenção impostos ao cliente, em alguns casos, tornam-se equivalentes ao custo de substituição total do sistema de automação a cada ano.
A exemplo do trabalho desenvolvido na área de planejamento e layout interno de ambientes de escritórios (SEÇÃO 2.5), algumas empresas vêm desenvolvendo projetos de automação predial, utilizando um controlador lógico programável (CLP) para monitorar ambientes de escritório.223 Este processo permite transplantar para um edifício comercial a lógica e os equipamentos adotados na automação industrial e nas plataformas de petróleo da Petrobrás. Conforme GRINAPEL e CARVALHO, “na automação do CPD da Coca-Cola, foram empregados hardware e cartões utilizados em uma indústria, possibilitando um gasto zero em hardware em 5 anos – em virtude da alta confiabilidade de um equipamento projetado para operar em ambientes agressivos de áreas industriais ou marítimas e pela disponibilidade de equipamento sobressalente no mercado”. O custo dos sistemas e componentes industriais é incomparavelmente mais baixo do que o dos sistemas e componentes prediais. Outra vantagem dos equipamentos industriais é que eles são supervisórios consagrados, abertos e parametrizados para atender às necessidades do cliente, que passa a ser o dono de fato do sistema, dos seus pontos e supervisórios. Para a manutenção deste sistema, o mercado dispõe de diversos operadores treinados na indústria e empresas prestadoras de serviços, que podem ser contratados a custos bem inferiores aos atualmente praticados pelas empresas de automação predial.
Segundo GRINAPEL e CARVALHO, a adoção da lógica e dos procedimentos de
concepção, operação e manutenção da automação industrial pode conferir
à automação a função de uma verdadeira auditoria da obra para o cliente.
Executada por profissionais devidamente qualificados, uma análise criteriosa e
conscienciosa dos quadros de luz, do monitoramento da instalação elétrica e
hidráulica, possibilita a identificação da existência de quadros mal montados,
bombas engatilhadas, falta de exaustor ou de bomba, etc.
Com relação às perspectivas futuras, podem ser construídos dois cenários
possíveis e paradoxais, com “n” variantes intermediárias: (1) O primeiro, poderia ser considerado um cenário negativo, correspondente à manutenção das práticas atuais e seu risco de destruir um mercado com grande potencial. Apesar da crescente consciência por parte dos empresários com a satisfação dos seus clientes, o número de administradores de condomínio, e de clientes (investidores e locatários) que desconfia ter
223 Sistema utilizado nos CPDs da Coca-Cola, na Praia de Botafogo, e da FIAT Automóveis em
Betin, Minas Gerais.
233
comprado edifícios com sistemas inteligentes pouco operacionais e dispendiosos. A persistir a lógica atual, o SAP tende a se distanciar cada vez mais dos pequenos empreendimentos – um mercado de varejo com grande potencial se convenientemente explorado. Outra conseqüência desta prática é a quebra sistemática dos pequenos fabricantes, sem condições de competir com as práticas monopolizantes dos grandes empresas multinacionais. Mas esta situação não se deve apenas às práticas dos grandes fabricantes de SAP: ela também se deve ao imediatismo do empresário brasileiro da construção civil que, segundo PONTUAL, age assim por conceito e porque têm limitações de capital: “quando não tem dinheiro, ele tem que ser imediatista”. E, assim, acaba deixando de acreditar e investir em fabricantes nacionais para se render às facilidades oferecidas pelos grandes fabricantes, que vendem o produto a preços convidativos e repassam seus lucros da venda para a operação e manutenção dos sistemas.
(2) O segundo, que poderia ser considerado um cenário otimista, aposta no amadurecimento do mercado, especialmente, em relação ao custo-benefício dos sistemas inteligentes, que poderá forçar o mercado de projeto, de instalação e manutenção a corrigir sua rota. A possibilidade de surgir um novo tipo de profissional ou empresa que atenda à preocupação de PONTUAL – que “transite e conheça todas as áreas da engenharia ... e sistemas prediais” – e que saiba orientar seu cliente para uma decisão adequada e compatível com suas necessidades, possibilita sanear e ampliar o mercado no atacado e no varejo. A possibilidade deste cenário se consolidar também pode estar relacionada ao aumento da competitividade decorrente do processo de globalização da economia, que deverá demandar projetos e sistemas mais operacionais, confiáveis e abertos, que se espelhem no modelo de automação industrial e permitam aos clientes se libertarem do modelo atual que condiciona o comprador de um SAP a uma “parceria” nem sempre desejada com o fabricante, de quem se torna dependente.
CLASSIFICAÇÃO DOS EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS DO RIO DE JANEIRO
TABELA 1 - EMPRESA “A“
Áre
a P
riv
ativ
a p
or
an
da
r
(m2)
Va
lor
de
ve
nd
a
(R $
/m2)
Va
lor
de
alu
gu
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jan
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97
)
(R $
/m2)
Va
lor
do
co
nd
om
ínio
(R$
/m2)
Va
lor
do
IP
TU
(1/1
0 t
ota
l/a
no
) (
R$
/m2)
Alu
gu
el +
Co
nd
om
ínio
+
IPTU
(R
$/m
2)
Va
ga
s p
or
pa
vim
en
to
Pa
drã
o
CENTRO EMPRESARIAL
MOURISCO Praia de Botafogo, 501
EDIFÍCIO ARGENTINA PRAIA DE BOTAFOGO, 228
1.650 2.500 22,00
29,00 8,50 2,17
32,67
39,67 40 AA
Edifício CAEMI
Praia de Botafogo, 300 1.700 - 30,00 6,50 2,00 38,50 20 AA
Torre Rio-Sul
R. Lauro Muller, 116 1.550
2.000
2.500
23,00
30,00 10,00 1,70
34,70
41,70
24
30 AA
Edifício RB1
Av. Rio Branco, 1 1.635
2.100
2.500
20,00
28,00 12,70 2,00
34,70
42,70 40 AA
234
Edifício Teleporto
Av. Presidente Vargas, 3.131 2.500 2.400
25,008,50
8,50 0,90 34,40 09 AA
Edifício Manhattan Tower
Av. Rio Branco, 89
190
370
1.800
2.300
16,00
19,00 10,50 2,00
28,50
31,50
03
05 AA
Ed. Rio Metropolitan Center
Av. República do Chile, 500 964 - 20,00 8,50 1,40 29,90 17 AA
Ed. Candelária Corporate
R. da Candelária, 65
Ed. Acad. Brasileira de Letras
Av. Presidente Wilson, 231
Ed. Lineu de Paula Machado
Av. Almiirante Barroso, 52 1.050
1.200
1.400 16,00 6,50 1,72 24,22 00 AA
Edifício Paço do Ouvidor
R. do Ouvidor, 161
370
500
1.700
2.000 15,00 10,50 1,50 27,00 - AA
Edifício Citibank
R. Assembléia, 100 542 - 17,00 12,00 2,00 31,00 00 AA
Edifício Madison Avenue
Av. Graça Aranha, 182 410 1.800 17,00 8,5 1,80 27,30 06 AA
Edifício Promon
Praia do Flamengo, 154 840 -
22,00
24,00 8,00 1,80 27,30 06 AA
Ed. Avenida Atlântica, 1122
Ed. Pres. Castello Branco (BNH)
Av. República do Chile, 230 920 -
10,00
13,00 7,00 1,30
18,30
21,30 11 A
Ed. Praia de Botafogo, 440 426 1.500
1.800
16,00
18,00 8,50 2,00
26,50
28,50 08 A
Ed. Praia do Flamengo, 200 950 1.000
1.300 15,00 7,50 2,00 24,50 16 A
Edifício Le Bourget
Av. Marechal Câmara, 160 840 1.000
10,00
12,00 6,00 1,04
17,04
19,04 08 A
Rua São Bento, 8 650 1.800 13,00 6,00 2,00 21,00 10 A
Edifício Generali
Av. Rio Branco, 128 575 - 15,00 6,00 1,50 22,50 00 A
Edifício Cândido Mendes
R. da Assembléia, 10
TABELA 2 - Empresa B
235
Áre
a P
riv
ativ
a p
or
an
da
r
(m2)
Va
lor
de
ve
nd
a
(R $
/m2)
Va
lor
de
alu
gu
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ma
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8)
(R $
/m2)
Va
lor
do
co
nd
om
ínio
(R$
/m2)
Va
lor
do
IP
TU
(1/1
0 t
ota
l/a
no
) (
R$
/m2)
Alu
gu
el +
Co
nd
om
ínio
+
IPTU
(
R$
/m2)
Va
ga
s p
or
pa
vim
en
to
Pa
drã
o
CENTRO EMPRESARIAL
MOURISCO Praia de Botafogo, 501
3.854 2.900
4.000
38,00
43,00 5,00 1,50
44,50
49,50 73 AAA
EDIFÍCIO ARGENTINA PRAIA DE BOTAFOGO, 228
1.650 1.800
2.300
32,00
40,00 5,42 1,48
38,90
46,90 40 AA
Edifício CAEMI
Praia de Botafogo, 300 1.750 -
35,00
40,00 8,57 isento
43,57
48,57 20 AAA
Torre Rio-Sul
R. Lauro Muller, 116 1.550
1.800
2.500
27,00
32,00 10,50 1,31
38,81
43,81 30 AA
Edifício RB1
Av. Rio Branco, 1 1.635
1.800
2.100
28,00
32,00 14,25 0,89
43,14
47,14 36 AA
Edifício Teleporto
Av. Presidente Vargas, 3.131 2.805
1.800
3.200
22,00
25,00 7,20 1,00
30,20
33,20 09 AAA
Edifício Manhattan Tower
Av. Rio Branco, 89
190
370 17,50 10,43 1,10 29,03 03 A
Ed. Rio Metropolitan Center
Av. República do Chile, 500 930 -
25,00
29,00 5,80 1,00
31,80
35,80 18 AA
Ed. Candelária Corporate
R. da Candelária, 65 893
2.200
2.400
22,00
29,00 4,10 1,00
27,10
34,10 06 AA
Ed. Acad. Brasileira de Letras
Av. Presidente Wilson, 231 1.450
16,00
20,00 9,03 1,03
23,24
28,24 04 A
Ed. Lineu de Paula Machado
Av. Almiirante Barroso, 52 1.100
19,00
20,00 6,60 0,66
31,69
32,69 0 A
Edifício Paço do Ouvidor
R. do Ouvidor, 161
Edifício Citibank
R. Assembléia, 100
Edifício Madison Avenue
Av. Graça Aranha, 182 430 16,00 6,09 1,09 23,18 03 A
Edifício Promon
Praia do Flamengo, 154 826
18,00
20,00 4,87 1,04
23,91
25,91 15 A
236
Ed. Avenida Atlântica, 1122 550 50,00 5,00 1,50 56,50 06 AA
Ed. Pres. Castello Branco (BNH)
Av. República do Chile, 230 920
14,00
16,00 8,20 1,35
23,55
25,55 11 A
Ed. Praia de Botafogo, 440 400 20,00 7,25 1,50 28,75 09 A
Ed. Praia do Flamengo, 200 950 19,00 5,13 1,77 25,90 16 A
Edifício Le Bourget
Av. Marechal Câmara, 160 840 14,00 6,01 1,10 21,11 08 A
Rua São Bento, 8 750 10,00
13,50 4,72 0,89
15,61
19,11 10 A
Edifício Generali
Av. Rio Branco, 128 575
14,50
16,00 8,35 1,91
24,76
26,26 0 A
Edifício Cândido Mendes
R. da Assembléia, 10 vários
16,00
20,00 6,40 1,84
24,24
28,24 0 A
237
QUADRO 3 – EMPRESA “B” Padrões de acabamento dos edifícios de escritórios do Rio
de Janeiro
ESPECIFICAÇÕES PADRÕES
AAA AA A AB B C
Heliponto ou heliporto
Fibra ótica e Back bone
Ar condicionado c/ água gelada
Iluminação de conforto c/ 500 lux no plano de trabalho
Central telefônica CPA
Área de laje acima de 1.000 m2
2 Escadas pressurizadas c/ante-câmara e portas corta-fogo
Sistema de automação predial
Brigada de incêncio
Elevadores auto-programáveis de acordo com o fluxo
Acesso controlado
Auditório
Geradores de emergência p/atender sistema de combate a incêndio, iluminação para rota de fuga
Unidade imobiliária acima de 90 m2
Prédio com menos de 25 anos
Sistema de sprinklers e detetores de fumaça
Vagas no local, mínimo 1 vaga por cada 30,00 m2
Vagas no local, mínimo 1 vaga por cada 50,00 m2
Sistema de vigilância patrimonial
Rede reticular no piso para telefone, rede lógica e elétrica
Hall com acabamento luxuoso
Ar condicionado água gelada com central de chiller
Ar condicionado com água gelada e termo acumulação
Ar condicionado com unidades self-contained
1 Escada pressurizada c/ante-câmara e portas corta-fogo
Área de laje abaixo de 1.000 m2
1 Escada enclausur. sem ante-câmara e sem porta corta-fogo
Prédio com mais de 25 anos
Prédio com mais de 35 anos
Ar condicionado de parede
Escada não enclausurada e sem porta corta-fogo
238
Itens não excludentes
Sistema de transmissão de dados, voz e imagem (parabólica)
Sistema de transmissão de dados. voz e imagem (fibra ótica)
Sistema de telecomunicações residente
Local com videoconferência
Centro de convenções
Piso elevado
Restaurante
239
CLASSIFICAÇÃO DEPENDE DE CARACTERISTICAS
ARQUITETÔNICAS E TAMBÉM DA LOCALIZAÇÃO224
Classificação AA ou Triple A designa edifícios de altíssimo padrão, novos, que possuam uma
série de características arquitetônicas. Precisam ter sistema de ar-condicionado central ACC,
com termo-acumulação de gelo e controle de volume de ar variável (VAV), complementado
por vidros termo-acústicos, que garantam bom nível de sombreamento e consigam reduzir
bastante o barulho externo. É necessário que exibam também sistemas avançados de
prevenção e combate a incêndios - incluindo escadas de emergência, sprinklers e detectores
de calor e fumaça.
É necessário também que e ostentem shafts convenientemente dimensionados para a
altíssima demanda de cabos de eletricidade, telefonia e lógica. Devem oferecer aos ocupantes
um bem estruturado sistema de segurança patrimonial e garantia de supervisão e
gerenciamento predial. Além disso tudo, é requisito fundamental muita qualidade tanto no
que diz respeito aos acabamentos internos e externos, quanto às possibilidades abertas aos
space planners para a ocupação dos espaços operacionais, que devem ser amplos, sem as
indesejáveis colunas.
Segundo Luiz CONSTANTINO (consultor da Richard Ellis), nem sempre um edifício que
formalmente responda a todos esses requisitos pode ser automaticamente reconhecido com
um AA ou Triple A. Isso porque a localização também deve ser levada em conta. Se o edifício
estiver numa área da cidade de baixa procura pelas empresas, não adiantará nada, do ponto
de vista do mercado, que ele tenha todas as principais características arquitetônicas de um
edifício de altíssimo padrão.
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO BQA, REN E ST&M
224 Facility n° 05, São Paulo, mar-mai/1998, p.17.
240
Figura 1: BQA - Exemplo da pontuação da Categoria 3 Fonte: BRUHNS & ISAAC (1995: 56)
Figura 2: BQA - Comparação entre dois edifícios Fonte: BRUHNS & ISAAC (1995: 57)
241
Gorjeta
242
Gorjeta
0.1
243
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
244
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
245
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
246
FUNÇÃO DE PERTINÊNCIA DE VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS
A figura 1 representa 4 variáveis lingüísticas relativas a condições diferentes para
analisar a sensação de conforto térmico: (a = frio); (b = confortável); (c =
relativamente quente); (e = quente).
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
0.25
0.20
0.15
0,1
0,05
10
8
6
2
247
Na análise da pertinência da FIGURA 1, temos:
• para a condição “a” frio, ambiente com temperatura 15oC têm a maior pertinência
[=1], enquanto as temperaturas 20oC têm pertinência nula [=0]; os ambientes
com temperaturas intermediárias entre 15oC e 20oC, possuem pertinência variável
[01];
• para a condição “c” confortável, os ambientes com temperatura de 25oC têm a
maior pertinência [=1], enquanto os ambientes com temperatura 20oC ou 30oC
têm pertinência nula [=0]; os ambientes com temperaturas intermediárias entre
20oC e 25oC ou entre 25oC e 30oC têm pertinência variável [01];
para a condição “d” quente, os ambientes com temperatura 35oC têm a maior pertinência [=1],
enquanto os ambientes com temperatura 30oC têm pertinência nula [=0]; os ambientes com
temperatura maior do que 30oC e menor do que 35oC têm pertinência variável [01].
EXEMPLO DAS DIFERENÇAS ENTRE AS ABORDAGENS CRISP E FUZZY
JANG & GULLEY (1997), no manual do usuário do programa MATLAB – Fuzzy Logic
Toolbox, propõem um interessante problema em relação ao valor da gorjeta a
ser paga pelo serviço em um restaurante, para caracterizar as diferenças entre
uma abordagem crisp e uma abordagem fuzzy:
248
O problema básico: atribuindo um número entre 0 e 10 que represente a
qualidade do serviço de um restaurante (onde 10 é excelente), qual deveria
ser o valor da gorjeta?
Observação: o problema é baseado em uma prática culturalmente aceita e
praticada nos EUA. O valor médio da gorjeta por uma refeição é de 15%,
pensando que o valor atual pode variar dependendo da qualidade do serviço
ofertado.
1. Abordagem crisp:
A figura 1 representa a situação mais simples, corresponde a uma gorjeta
sempre igual a 15% do valor da conta.
Mas como esta situação não possibilita que se considere a qualidade do
serviço, é necessário adicionar um novo termo na equação. A figura 2
representa a situação onde o serviço é avaliado em uma escala de zero a dez,
e a gorjeta varia linearmente de 5% se o serviço é ruim até 25% se o serviço é
excelente.
Quanto mais, melhor: a fórmula atende ao nosso desejo, e aparenta
honestidade. Mas se quisermos adicionar a qualidade da comida, a extensão
do problema deve ser assim definida:
O problema básico extendido: dando valores entre 0 e 10 (onde 10 é excelente)
para representar a qualidade do serviço e a qualidade da comida,
respectivamente, qual deve ser a gorjeta?
Quanto a fórmula vai ser afetada quando adicionarmos outra variável? Neste
caso, deve ser observado que:
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Gorjet
a
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comid
a
5
10
0
0
Serviç
o
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
5
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
5
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
5
Figu
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
5
Figura 6.
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Go
rje
ta
0.1
0.2
5
0.2
10
0.1
5
0.0
5
Co
mi
da
Gorjet
a
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comid
a
5
10
0
0
Serviç
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
5
Gorj
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0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
5
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
249
A figura 4, por outro lado, representa uma situação onde consideramos que o
serviço tem mais importância do que a comida, atribuindo a ele 80% do total
da gorjeta, deixando os 20% restantes para a comida:
Mas a resposta ainda continua muito linear. E queremos nivelar as respostas
intermediárias; em outras palavras, queremos dar uma gorjeta de 15% em geral,
e sair deste patamar somente se o serviço for excepcionalmente bom ou ruim.
Isto significa que minha atual relação linear vai para o espaço. Mas ainda é
possível recuperar as coisas utilizando uma construção linear. Se voltarmos à
solução linear do problema (figura 2) que considerava apenas o serviço. É
possível incluir uma declaração condicional usando quebras como as
apresentadas na figura 5:
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
5
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
5
Figu
Gorjet
a
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comid
a
5
10
0
0
Serviç
o
5
Figura 6. mescl
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
Gorjeta
250
Extendendo esta saída bi-dimensional à solução do problema resolvido através
da figura 4, podemos novamente levar em conta a comida, chegamos à Figura
6:
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6.
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
5
Figura 6.
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
5
Figura 6. mes
Gorjet
a
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comid
a
5
10
0
0
Serviç
o
5
Figura 6. mesclando situaç
Gorj
eta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Com
ida
5
10
0
0
Serv
iço
5
Gorjeta
0.1
0.25
0.2
10
0.15
0.05
Comida
5
10
0
0
Serviço
5
Figura 6. mesclando situação da figuras 4 com situação da figura 5
Figura 5. gorjeta + serviço c/patamar médio fixo (15%) gorjeta
serviço
251
2. Abordagem fuzzy
Seria ótimo se fosse possível apenas apreender a essência deste problema,
deixando de lado todos os fatores que podem ser arbitrários. Se listramos o que
realmente importa no problema, podemos chegar ao seguinte:
a. se serviço é pobre entrão corjeta é baixa
b. se serviço é bom então gorjeta é média
c. se serviço é excelente então gorjeta é generosa
A ordem em cada regra são apresentadas como arbitrárias. Não importa qual
delas venha primeiro. Se quisermos incluir os efeitos da comida na gorjeta,
precisamos adicionar duas novas regras:
d. se comida é insossa então gorjeta é baixa
e. se comida é deliciosa então gorjeta é generosa
Na verdade, é possível combinar as duas diferentes listas de regras em uma lista
que se resume a tres regras:
a. se serviço é pobre ou a comida insípida então gorjeta é baixa
b. se serviço é bom então gorjeta é alta
c. se serviço é excelente ou a comida deliciosa então a gorjeta é
generosa
Estas três regras são a essência do problema. Coincidentemente, acabaamos
de defir as regras de um sistema de lógica fuzzy. Agora se dermos um
tratamento matemático às variáveis lingüísticas (o que é uma gorjeta “média”,
or exemplo?) poderemos ter uma inferência fuzzy completa. É claro que até
agora, muita coisa da metodologia da lógica fuzzy deixou de ser mencionada,
como por exemplo:
252
• como são combinadas as regras? ou
• como definir matematicamente o que é uma gorjeta “média”?
Mas os detalhes do método nrealmente não mudam muito de um problema
para outro. – a mecânixca da lógica fuzzy não é nada complexa. O que se
procurou demonstrar foi que a lógica fuzzy é adaptável, simples e facilmente
aplicada.
A figura 7 representa a solução fuzzy para o problema da gorjeta
Figura 7: Solução fuzzy para o problema da gorjeta
O gráfico da FIGURA 7 foi gerado através da Fuzzy logic Toolbox do programa
Matlab, a apartir da aplicação das três regras anteriormente definidas.
TENDÊNCIA NOS NOVOS CENTROS EMPRESARIAIS DO RIO 225
As privatizações, principalmente do setor de telefonia e petróleo, mexeram também no espaço interno dos centros empresariais do Rio. Para atender à demanda de grandes empresas nacionais e multinacionais que estão se instalando na cidade, os novos empreendimentos oferecem megaespaços: pavimentos abertos com 1.500 metros quadrados passaram a ser uma espécie de padrão do mercado, que antes trabalhava com salas de 30 metros quadrados a 50 metros quadrados. A Agenco é uma das construtoras que vem investindo nesse novo perfil. O Città América, na Barra da Tijuca, oferece espaços entre 1.500 metros quadrados e cinco mil metros quadrados para abrigar os grandes conglomerados. Os frutos começam a ser colhidos: o centro foi escolhido pela Michellin para abrigar a sede da empresa na América Latina, que ocupará uma área de cinco mil metros quadrados.
- Outras três multinacionais estão negociando a vinda para o Città - diz o presidente da Agenco, Sérgio Goldberg.
Outro projeto da construtora, o Centro Empresarial Mário Henrique Simonsen, também na Barra, que deve ser concluído em 2002, ocupará uma área de 70 mil metros quadrados. Dos seis prédios do centro empresarial, apenas dois foram construídos com salas para o varejo de
225 Matéria publicada sob o título Megaespaços, uma tendência dos centros empresariais do Rio, em O GLOBO – Rio de Janeiro, Domingo, 06 de fevereiro de 2000 – Morar Bem – p.2
253
50 metros quadrados. As demais unidades oferecem pavimentos com área de 1.500 metros quadrados.
- Se eu tivesse uma varinha de condão, concluiria este empreendimento da noite para o dia, para atender à grande demanda que existe hoje na cidade - diz Goldberg.
Antônio Henrique Neves, diretor da Plarcon, informa que hoje falta no mercado um milhão e meio de metros quadrados de escritórios inteligentes.
- Os números mostram que dos 5.250 milhões de metros quadrados de escritórios existentes na cidade, 78% estão concentrados no Centro e na Zona Sul, apenas 1% na Barra. Do total, apenas 8,5% estão vazios. Sendo que se avaliados só os prédios modernos, classe A, essa taxa cai para 1,9%. Passamos cinco anos sem investimentos nesse setor; hoje não há mercadoria suficiente para suprir a demanda das empresas - explica Neves.
Segundo ele, a procura de cerca de 20 empresas por espaços no Rio Office Park - que prevê a construção de 27 prédios de escritórios, além de hotel, centro de convenções, fitness center e shopping - confirma a sua teoria. A proposta da construtora é que cada empresa ocupe no mínimo um andar, sendo que as maiores ocupariam um edifício inteiro, com área de mil a dez mil metros quadrados.
- As multinacionais que chegam à cidade já vêm com um padrão de ocupação de escritório da matriz que exige prédios inteligentes, com facilidades de telecomunicação, bom acabamento e grandes espaços - avalia.
A tendência de megaespaços também influenciou o projeto do Rio Design Barra, que será inaugurado em julho, apresentando um novo conceito de shopping de decoração. Ele tem apenas uma loja com menos de cem metros quadrados. Das 30 lojas já vendidas, mais de dez ultrapassam os 600 metros quadrados e duas tem 1.250 metros quadrados.
- Só para se ter uma idéia, no Rio Design do Leblon temos 55 lojas numa área de 5.100 metros quadrados. Na Barra, já comercializamos 11 mil metros quadros para 30 lojas - diz Nilson Gomes, diretor do Rio Design Center.
TABELA 1
Cálculo da MATRIZ (C) – DE PRIORIDADES DE OCUPAÇÃO /ATRIBUTOS GERAIS Cik aij x bjk cotejo aij bjk result.
C11= 22 42 33 11 42 41 1 0,67 1 1 0,67 0 0
C12= 23 43 33 13 43 42 1,17 0,83 1 1,33 0,83 0,67 5,83
C13= 22 43 32 11 43 41 1 0,83 0,83 1 0,83 0 0
C14= 24 43 33 14 42 44 1,33 0,83 1 1,5 0,67 1 6,33
C15= 24 43 34 13 44 44 1,33 0,83 1,17 1,33 1 1 6,66
C16= 23 43 34 14 44 44 1,17 0,83 1,17 1,5 1 1 6,67
C21= 32 32 23 21 42 11 0,83 0,83 1,17 0,83 0,67 1 5,33
C22= 33 33 23 23 43 12 1 1 1,17 0,83 0,83 1,17 6,00
C23= 32 33 22 21 43 11 0,83 1 1 0,83 0,83 1 5,49
C24= 34 33 23 24 42 14 1,17 1 1,17 1,33 0,67 1,5 6,84
C25= 34 33 24 23 44 14 1,17 1 1,33 1,17 1 1,5 7,17
C26= 33 33 24 24 44 14 1 1 1,33 1,33 1 1,5 7,16
C31= 12 22 13 21 12 31 1,17 1 1,33 0,83 1,17 0,67 6,17
C32= 13 23 13 23 13 32 1,33 1,17 1,33 1,17 1,33 0,87 7,20
C33= 12 23 12 21 13 31 1,17 1,17 1,17 0,83 1,33 0,67 6,34
C34= 14 23 13 24 12 34 1,5 1,17 1,33 1,33 1,17 1,17 7,67
C35= 14 23 14 23 14 34 1,5 1,17 1,5 1,17 1,5 1,17 8,01
C36= 13 23 14 24 14 34 1,33 1,17 1,5 1,33 1,5 1,17 8,00
C41= 32 42 23 11 22 21 0,83 0,67 1,17 1 1 0,83 5,50
C42= 33 43 23 13 23 22 1 0,83 1,17 1,33 1,17 1 6,50
254
C43= 32 43 22 11 23 21 0,83 0,83 1 1 1,17 0,83 5,66
C44= 34 43 23 14 22 24 1,17 0,83 1,17 1,5 1 1,33 7,00
C45= 34 43 24 13 24 24 1,17 0,83 1,33 1,33 1,33 1,33 7,32
C46= 33 43 24 14 24 24 1 0,83 1,33 1,5 1,33 1,33 7,32
C51= 32 42 33 41 42 41 0,83 0,67 1 0 0,67 0 0
C52= 33 43 33 43 43 42 1 0,83 1 0,83 0,83 0,67 5,16
C53= 32 43 32 41 43 41 0,83 0,83 0,83 0 0,83 0 0
C54= 34 43 33 44 42 44 1,17 0,83 1 1 0,67 1 5,67
C55= 34 43 34 43 44 44 1,17 0,83 1,17 0,83 1 1 6,00
C56= 33 43 34 44 44 44 1 0,83 1,17 1 1 1 6,00
C61= 32 22 33 31 32 41 0,83 1 1 0,67 0,83 0 0
C62= 33 23 33 33 33 42 1 1,17 1 1 1 0,67 5,84
C63= 32 23 32 31 33 41 0,83 1,17 0,83 0,67 1 0 0
C64= 34 23 33 34 32 44 1,17 1,17 1 1,17 0,83 1 6,34
C65= 34 23 34 33 34 44 1,17 1,17 1,17 1 1,17 1 6,68
C66= 33 23 34 34 34 44 1 1,17 1,17 1,17 1,17 1 6,68
C71= 32 42 43 41 42 41 0,83 0,67 0,83 0 0,67 0 0
C72= 33 43 43 43 43 42 1 0,83 0,83 0,83 0,83 0,67 4,99
C73= 32 43 42 41 43 41 0,83 0,83 0,67 0 0,83 0 0
C74= 34 43 43 44 42 44 0,83 0,83 0,83 1 0,67 1 5,16
C75= 34 43 44 43 44 44 0,83 0,83 1 0,83 1 1 5,49
C76= 33 43 44 44 44 44 1 0,83 1 1 1 1 5,83
C81= 42 42 43 31 32 41 0,67 0,67 0,83 0,67 0,83 0 0
C82= 43 43 43 33 33 42 0,83 0,83 0,83 1 1 0,67 5,16
C83= 42 43 42 31 33 41 0,67 0,83 0,67 0,67 1 0 0
C84= 44 43 43 34 32 44 1 0,83 0,83 1,17 0,83 1 5,66
C85= 44 43 44 33 34 44 1 0,83 1 1 1,17 1 6,00
C86= 43 43 44 34 34 44 0,83 0,83 1 1,17 1,17 1 6,00
255
TABELA 2: Cálculo da MATRIZ (D) – ÍNDICE OCUPACIONAL / ATRIBUTOS GERAIS
dik [eil]h x h x [cik]h x m result.
d11= 0 x 0,17 5,83 x 0 0 x 0 6,33 x 0 6,66 x 0 6,67 x 0 0
d12= 0 x 0 5,83 x 0,17 0 x 0 6,33 x 0 6,66 x 0 6,67 x 0 0,99
d13= 0 x 0 5,83 x 0 0 x 0,17 6,33 x 0 6,66 x 0 6,67 x 0 0
d14= 0 x 0 5,83 x 0 0 x 0 6,33 x 0,17 6,66 x 0 6,67 x 0 1,08
d15= 0 x 0 5,83 x 0 0 x 0 6,33 x 0 6,66 x 0,17 6,67 x 0 1,13
d16= 0 x 0 5,83 x 0 0 x 0 6,33 x 0 6,66 x 0 6,67x 0,17 1,13
d21= 5,33 x 0,17 6,00 x 0 5,49 x 0 6,84 x 0 7,17 x 0 7,16 x 0 0,90
d22= 5,33 x 0 6,00 x 0,17 5,49 x 0 6,84 x 0 7,17 x 0 7,16 x 0 1,00
d23= 5,33 x 0 6,00 x 0 5,49 x 0,17 6,84 x 0 7,17 x 0 7,16 x 0 0,93
d24= 5,33 x 0 6,00 x 0 5,49 x 0 6,84 x 0,17 7,17 x 0 7,16 x 0 1,16
d25= 5,33 x 0 6,00 x 0 5,49 x 0 6,84 x 0 7,17 x 0,17 7,16 x 0 1,22
d26= 5,33 x 0 6,00 x 0 5,49 x 0 6,84 x 0 7,17 x 0 7,16 x 0,17 1,21
d31= 6,17 x 0,17 7,20 x 0 6,34 x 0 7,67 x 0 8,01 x 0 8,00 x 0 1,05
d32= 6,17 x 0 7,20 x 0,17 6,34 x 0 7,67 x 0 8,01 x 0 8,00 x 0 1,22
d33= 6,17 x 0 7,20 x 0 6,34 x 0,17 7,67 x 0 8,01 x 0 8,00 x 0 1,08
d34= 6,17 x 0 7,20 x 0 6,34 x 0 7,67x 0,17 8,01 x 0 8,00 x 0 1,30
d35= 6,17 x 0 7,20 x 0 6,34 x 0 7,67 x 0 8,01x 0,17 8,00 x 0 1,36
d36= 6,17 x 0 7,20 x 0 6,34 x 0 7,67 x 0 8,01 8,00 x 0,17 1,36
d41= 5,50 x 0,17 6,50 x 0 5,66 x 0 7,00 x 0 7,32 x 0 7,32 x 0 0,94
d42= 5,50 x 0 6,50 x 0,17 5,66 x 0 7,00 x 0 7,32 x 0 7,32 x 0 1,11
d43= 5,50 x 0 6,50 x 0 5,66 x 0,17 7,00 x 0 7,32 x 0 7,32 x 0 0,96
d44= 5,50 x 0 6,50 x 0 5,66 x 0 7,00 x 0,17 7,32 x 0 7,32 x 0 1,19
d45= 5,50 x 0 6,50 x 0 5,66 x 0 7,00 x 0 7,32 x 0,17 7,32 x 0 1,24
d46= 5,50 x 0 6,50 x 0 5,66 x 0 7,00 x 0 7,32 x 0 7,32 x 0,17 1,24
d51= 0 x 0,17 5,16 x 0 0 x 0 5,67 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0
d52= 0 x 0 5,16 x 0,17 0 x 0 5,67 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0,88
d53= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0,17 5,67 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0
d54= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,67 x 0,17 6,00 x 0 6,00 x 0 0,96
d55= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,67 x 0 6,00 x 0,17 6,00 x 0 1,00
d56= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,67 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0,17 1,00
d61= 0 x 0,17 5,84 x 0 0 x 0 6,34 x 0 6,68 x 0 6,68 x 0 0
d62= 0 x 0 5,84 x 0,17 0 x 0 6,34 x 0 6,68 x 0 6,68 x 0 0,99
d63= 0 x 0 5,84 x 0 0 x 0,17 6,34 x 0 6,68 x 0 6,68 x 0 0
d64= 0 x 0 5,84 x 0 0 x 0 6,34 x 0,17 6,68 x 0 6,68 x 0 1,08
d65= 0 x 0 5,84 x 0 0 x 0 6,34 x 0 6,68 x 0,17 6,68 x 0 1,14
d66= 0 x 0 5,84 x 0 0 x 0 6,34 x 0 6,68 x 0 6,68 x 0,17 1,14
256
d71= 0 x 0,17 4,99 x 0 0 x 0 5,16 x 0 5,49 x 0 5,83 x 0 0
d72= 0 x 0 4,99 x 0,17 0 x 0 5,16 x 0 5,49 x 0 5,83 x 0 0,85
d73= 0 x 0 4,99 x 0 0 x 0,17 5,16 x 0 5,49 x 0 5,83 x 0 0
d74= 0 x 0 4,99 x 0 0 x 0 5,16 x 0,17 5,49 x 0 5,83 x 0 0,88
d75= 0 x 0 4,99 x 0 0 x 0 5,16 x 0 5,49 x 0,17 5,83 x 0 0,93
d76= 0 x 0 4,99 x 0 0 x 0 5,16 x 0 5,49 x 0 5,83 x 0,17 0,99
d81= 0 x 0,17 5,16 x 0 0 x 0 5,66 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0
d82= 0 x 0 5,16 x 0,17 0 x 0 5,66 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0,88
d83= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0,17 5,66 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0 0
d84= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,66 x 0,17 6,00 x 0 6,00 x 0 0,96
d85= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,66 x 0 6,00 x 0,17 6,00 x 0 1,00
d86= 0 x 0 5,16 x 0 0 x 0 5,66 x 0 6,00 x 0 6,00 x 0,17 1,00
TABELA 3:
Cálculo MATRIZ (C) – PRIORIDADES DE OCUPAÇÃO/ATRIBUTOS CORPORATIVOS Cik aij x bjk cotejo aij bjk result.
C11= 22 22 23 24 42 34 1 1 1,17 1,33 0,67 1,17 6,36
C12= 23 24 24 22 43 33 1,17 1,33 1,33 1 0,83 1 6,66
C13= 22 21 22 24 42 34 1 0,83 1 1,33 0,67 1,17 1
C14= 24 24 24 22 44 31 1,33 1,33 1,33 1 1 0,67 6,66
C15= 24 23 24 22 44 32 1,33 1,17 1,33 1 1 0,83 6,66
C16= 23 23 23 22 44 31 1,17 1,17 1,17 1 1 0,67 6,18
C21= 32 32 13 34 32 24 0,83 0,83 1,33 1,17 0,83 1,33 6,30
C22= 33 34 14 32 33 23 1 1,17 1,5 0,83 1 1,17 6,66
C23= 32 31 12 34 32 24 0,83 0,67 1,17 1,17 0,83 1,33 1
C24= 34 34 14 32 34 21 1,17 1,17 1,5 0,83 1,17 0,83 6,66
C25= 34 33 14 32 34 22 1,17 1 1,5 0,83 1,17 1 6,66
C26= 33 33 13 32 34 21 1 1 1,33 0,83 1,17 0,83 6,18
C31= 12 12 13 14 42 14 1,17 1,17 1,33 1,5 0,83 1,5 7,50
C32= 13 14 14 12 43 13 1,33 1,5 1,5 1,17 0,83 1,33 7,68
C33= 12 11 12 14 42 14 1,17 1 1,17 1,5 0,67 1,5 7,02
C34= 14 14 14 12 44 11 1,5 1,5 1,5 1,17 1 1 7,68
C35= 14 13 14 12 44 12 1,5 1,33 1,5 1,17 1 1,17 7,68
C36= 13 13 13 12 44 11 1,33 1,33 1,33 1,17 1 1 7,14
C41= 32 32 33 34 22 34 0,83 0,83 1 1,17 1 1,17 1
C42= 33 34 34 32 23 33 1 1,17 1,17 0,83 1,17 1 6,36
C43= 32 31 32 34 22 34 0,83 0,67 0,83 1,17 1 1,17 5,70
C44= 34 34 34 32 24 31 1,17 1,17 1,17 0,83 1,33 0,67 6,36
C45= 34 33 34 32 24 32 1,17 1 1,17 0,83 0,67 0,83 5,70
C46= 33 33 33 32 24 31 1 1 1 1,17 0,67 1,33 6,18
C51= 32 42 33 14 42 14 0,83 0,67 1 1,5 0,67 1,5 6,18
C52= 33 44 34 12 43 13 1 1 1,17 1,17 0,83 1,33 6,48
C53= 32 41 32 14 42 14 0,83 0 0,83 1,5 0,67 1,5 0
C54= 34 44 34 12 44 11 1,17 1 1,17 1,17 1 1 6,54
C55= 34 43 34 12 44 12 1,17 0,83 1,17 1,17 1 1,17 6,54
C56= 33 43 33 12 44 11 1 0,83 1 1,17 1 1 1
C61= 42 32 33 14 42 14 0,67 0,83 1 1,5 0,67 1,5 6,18
C62= 43 34 34 12 43 13 0,83 1,17 1,17 1,17 0,83 1,33 6,48
257
C63= 42 31 32 14 42 14 0,67 0,67 0,83 1,5 0,67 1,5 5,82
C64= 44 34 34 12 44 11 1 1,17 1,17 1,17 1 1 6,54
C65= 44 33 34 12 44 12 1 1 1,17 1,17 1 1,17 6,54
C66= 43 33 33 12 44 11 0,83 1 1 1,17 1 1 1
C71= 32 32 33 14 42 14 0,83 0,83 1 1,5 0,67 1,5 6,36
C72= 33 34 34 12 43 13 1 1,17 1,17 1,17 0,83 1,33 6,66
C73= 32 31 32 14 42 14 0,83 0,67 0,83 1,5 0,67 1,5 1
C74= 34 34 34 12 44 11 1,17 1,17 1,17 1,17 1 1 6,66
C75= 34 33 34 12 44 12 1,17 1 1,17 1,17 1 1,17 6,66
C76= 33 33 33 12 44 11 1 1 1 1,17 1 1 6,18
C81= 42 42 43 14 32 14 0,67 0,67 0,83 1,5 0,83 1,5 1
C82= 43 44 44 12 33 13 0,83 1 1 1,17 1 1,33 1
C83= 42 41 42 14 32 14 0,67 0 0,67 1,5 0,83 1,5 0
C84= 44 44 44 12 34 11 1 1 1 1,17 1,17 1 6,36
C85= 44 43 44 12 34 12 1 0,83 1 1,17 1,17 1,17 6,36
C86= 43 43 43 12 34 11 0,83 0,83 0,83 1,17 1,17 1 5,82
258
TABELA 4:
Cálculo da MATRIZ (D) – ÍNDICE OCUPACIONAL DOS ATRIBUTOS CORPORATIVOS dik [eil]h x h x [cik]h x m result.
d11= 6,36 x 0,17 0 0 0 0 0 1,06
d12= 0 6,66 x 0,17 0 0 0 0 1,11
d13= 0 0 6,00 x 0,17 0 0 0 1
d14= 0 0 0 6,66 x 0,17 0 0 1,11
d15= 0 0 0 0 6,66 x 0,17 0 1,11
d16= 0 0 0 0 0 6,18 x 0,17 1,03
d21= 6,30 x 0,17 0 0 0 0 0 1,05
d22= 0 6,66 x 0,17 0 0 0 0 1,11
d23= 0 0 6,00 x 0,17 0 0 0 1
d24= 0 0 0 6,66 x 0,17 0 0 1,11
d25= 0 0 0 0 6,66 x 0,17 0 1,11
d26= 0 0 0 0 0 6,18 x 0,17 1,03
d31= 7,50 x 0,17 0 0 0 0 0 1,25
d32= 0 7,68 x 0,17 0 0 0 0 1,28
d33= 0 0 7,02 x 0,17 0 0 0 1,17
d34= 0 0 0 7,68 x 0,17 0 0 1,28
d35= 0 0 0 0 7,68 x 0,17 0 1,28
d36= 0 0 0 0 0 7,14 x 0,17 1,19
d41= 6,00 x 0,17 0 0 0 0 0 1
d42= 0 6,36 x 0,17 0 0 0 0 1,06
d43= 0 0 5,70 x 0,17 0 0 0 0,95
d44= 0 0 0 6,36 x 0,17 0 0 1,06
d45= 0 0 0 0 5,70 x 0,17 0 0,95
d46= 0 0 0 0 0 6,18 x 0,17 1,03
d51= 6,18 x 0,17 0 0 0 0 0 1,03
d52= 0 6,48 x 0,17 0 0 0 0 1,08
d53= 0 0 0 x 0,17 0 0 0 0
d54= 0 0 0 6,54 x 0,17 0 0 6,09
d55= 0 0 0 0 6,54 x 0,17 0 6,09
d56= 0 0 0 0 0 6,00 x 0,17 1
d61= 6,18 x 0,17 0 0 0 0 0 1,03
d62= 0 6,48 x 0,17 0 0 0 0 1,08
d63= 0 0 5,82 x 0,17 0 0 0 0,97
d64= 0 0 0 6,54 x 0,17 0 0 1,09
d65= 0 0 0 0 6,54 x 0,17 0 1,09
d66= 0 0 0 0 0 6,00 x 0,17 1
d71= 6,36 x 0,17 0 0 0 0 0 1,06
d72= 0 6,66 x 0,17 0 0 0 0 1,11
d73= 0 0 6,00 x 0,17 0 0 0 1
d74= 0 0 0 6,66 x 0,17 0 0 1,11
d75= 0 0 0 0 6,66 x 0,17 0 1,11
d76= 0 0 0 0 0 6,18 x 0,17 1,03
d81= 6,00 x 0,17 0 0 0 0 0 1
d82= 0 6,00 x 0,17 0 0 0 0 1
d83= 0 0 0 x 0,17 0 0 0 0
d84= 0 0 0 6,36 x 0,17 0 0 1,06
d85= 0 0 0 0 6,36 x 0,17 0 1,06
d86= 0 0 0 0 0 5,82 x 0,17 0,97
259
TABELA 5:
Cálculo MATRIZ (C) PRIORIDADES DE OCUPAÇÃO/ATRIBUTOS DE ESPAÇO Cik aij x bjk cotejo aij bjk result.
C11= 11 31 11 21 11 1 0,60 1 0,80 1 4,40
C12= 13 33 13 23 12 1,40 1 1,40 1,20 1,20 6,20
C13= 11 32 11 21 11 1 0,80 1 0,80 1 4,60
C14= 13 32 14 24 14 1,40 0,80 1,60 1,40 1,60 6,80
C15= 13 34 11 22 13 1,40 1,20 1 1 1,40 6,00
C16= 14 34 14 23 13 1,60 1,20 1,60 1,20 1,40 7,00
C21= 21 11 21 21 21 0,80 1 0,80 0,80 0,80 4,20
C22= 23 13 23 23 22 1,20 1,40 1,20 1,20 1 6,00
C23= 21 12 21 21 21 0,80 1,20 0,80 0,80 0,80 4,40
C24= 23 12 24 24 24 1,20 1,20 1,40 1,40 1,40 6,60
C25= 23 14 21 22 22 1,20 1,60 0,80 1 1 5,60
C26= 24 14 24 23 22 1,40 1,60 1,40 1,20 1 6,80
C31= 21 41 21 11 21 0,80 0 0,80 1 0,80 3,40
C32= 23 43 23 13 22 1,20 0,80 1,40 1,40 1 5,80
C33= 21 42 21 11 21 0,80 0,60 0,80 1 0,80 4,00
C34= 23 42 24 14 24 1,20 0,60 1,40 1,60 1,40 6,20
C35= 23 44 21 12 23 1,20 1 0,80 1,20 1,20 5,40
C36= 24 44 24 13 23 1,40 1 1,40 1,40 1,20 6,40
C41= 11 11 21 31 11 1 1 0,80 0,60 1 4,40
C42= 13 13 23 33 12 1,40 1,40 1,20 1 1,20 6,20
C43= 11 12 21 31 11 1 1,20 0,80 0,60 1 4,60
C44= 13 12 24 34 14 1,40 1,20 1,40 1,20 1,60 6,80
C45= 13 14 21 32 13 1,40 1,60 0,80 0,80 1,40 6,00
C46= 14 14 24 33 13 1,60 1,60 1,40 1 1,40 7,00
C51= 11 21 41 41 41 1 0,80 0 0 0 0
C52= 13 23 43 43 42 1,40 1,20 0,80 0,80 0,60 4,80
C53= 11 22 41 41 41 1 1 0 0 0 0
C54= 13 22 44 44 44 1,40 1 1 1 1 5,40
C55= 13 24 41 42 43 1,40 1,40 0 0,60 0,80 0
C56= 14 24 44 43 43 1,60 1,40 1 1,20 1,20 6,40
C61= 11 31 41 31 11 1 0,60 0 0,60 1 0
C62= 13 33 43 33 12 1,40 1 0,80 1 1,20 5,40
C63= 11 32 41 31 11 1 0,80 0 1,40 1 0
C64= 13 32 44 34 14 1,40 0,80 1 1,20 1,60 6,00
C65= 13 34 41 32 13 1,40 1,20 0 0,80 1,40 0
C66= 14 34 44 33 13 1,60 1,20 1 1 1,40 6,20
C71= 21 41 41 41 31 0,80 0 0 0 0,60 0
C72= 23 43 43 43 32 1,20 0,80 0,80 0,80 0,80 4,40
C73= 21 42 41 41 31 0,80 0,60 0 0 0,60 0
C74= 23 42 44 44 34 1,20 0,60 1 1 1,20 5,00
C75= 23 44 41 42 33 1,20 1 0 0,60 1 0
C76= 24 44 44 43 33 1,40 1 1 0,80 1 5,20
C81= 21 41 41 41 31 0,80 0 0 0 0,60 0
C82= 23 43 43 43 32 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 4,00
C83= 21 42 41 41 31 0,60 0,60 0 0 0,60 0
C84= 23 42 44 44 34 0,60 0,60 1 1 1,20 4,40
C85= 23 44 41 42 33 1 0 0,60 0,60 1 0
C86= 24 44 44 43 33 1 1 1 0,80 1 4,80
260
TABELA 6:
Cálculo da MATRIZ “D” – ÍNDICE OCUPACIONAL DOS ATRIBUTOS DE ESPAÇO dik [eil]h x h x [cik]h x m result.
d11= 4,4 x 0,20 0 0 0 0 0 0,88
d12= 0 6,2 x 0,20 0 0 0 0 1,24
d13= 0 0 4,6 x 0,20 0 0 0 0,92
d14= 0 0 0 6,8 x 0,20 0 0 1,36
d15= 0 0 0 0 6,0 x 0,20 0 1,20
d16= 0 0 0 0 0 7,2 x 0,20 1,44
d21= 4,2 x 0,20 0 0 0 0 0 0,84
d22= 0 6,0 x 0,20 0 0 0 0 1,20
d23= 0 0 4,40 x 0,20 0 0 0 0,88
d24= 0 0 0 6,6 x 0,20 0 0 1,32
d25= 0 0 0 0 5,8 x 0,20 0 1,16
d26= 0 0 0 0 0 6,8 x 0,20 1,36
d31= 0 x 0,20 0 0 0 0 0 0
d32= 0 5,8 x 0,20 0 0 0 0 1,16
d33= 0 0 4,0 x 0,20 0 0 0 0,80
d34= 0 0 0 6,2 x 0,20 0 0 1,24
d35= 0 0 0 0 5,4 x 0,20 0 1,08
d36= 0 0 0 0 0 6,4 x 0,20 1,28
d41= 4,4 x 0,20 0 0 0 0 0 0,88
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