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Sara Cristina Dias dos Santos
Aplicação de Tecnologias de Informação Geográfica à monitorização
das dunas primárias - Subsídios para a prevenção do risco de
galgamento na praia do Furadouro
Dissertação de mestrado em Tecnologias de Informação Geográfica. TIG
- Ambiente e Ordenamento do Território, orientada pelo Doutor José
Gomes e coorientada pelo Doutor Gil Gonçalves, apresentada ao
Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra.
2016
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Faculdade de Letras
Aplicação de Tecnologias de Informação Geográfica à
monitorização das dunas primárias - Subsídios para a
prevenção do risco de galgamento na praia do
Furadouro
Tipo de trabalho Dissertação de Mestrado
Título Aplicação de Tecnologias de Informação Geográfica
à monitorização das dunas primárias - Subsídios
para a prevenção do risco de galgamento na praia
do Furadouro
Autor/a Sara Santos
Orientador/a José Gomes
Coorientador/a Gil Gonçalves
Identificação do Curso Mestrado em Tecnologias de Informação
Geográfica
Área científica Tecnologias de Informação Geográfica
Especialidade/Ramo TIG - Ambiente e Ordenamento do Território
Data 2016
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Agradecimentos
Ao meu orientador José Gomes pelo acompanhamento, e sabedoria transmitida ao longo
da dissertação.
Ao meu coorientador Gil Gonçalves um muito obrigado pela partilha de conhecimento,
apoio e disponibilidade que sempre manifestou.
À empresa IQGeo-Serviços, pela disponibilização do Drone e respetiva saída de campo,
um grande agradecimento, sem vocês não teria conseguido alcançar todos os objetivos
traçados para a realização deste trabalho.
À Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, Agência Portuguesa do Ambiente, e
Direção-Geral do Território pela cedência de dados.
À Câmara Municipal de Ovar pela cedência de dados, mais concretamente ao Doutor
Paulo Silva pela forma recetiva com que me recebeu e ajudou.
A todos os meus familiares, amigos e colegas que colaboraram nos trabalhos de campo,
com um especial agradecimento ao António Santos, Fabiana Santos, Diogo Mateus,
Diogo Duarte, Prof. Doutor Rui Figueiredo, e mais uma vez ao meu coorientador Gil
Gonçalves e orientador José Gomes.
A todos os meus amigos que tive a honra de conhecer durante o meu percurso académico
e que sempre me apoiaram e ajudaram, destacando o Jorge Pereira, João Oliveira,
Sandrina Mortágua, e André Almeida.
Ao Diogo Mateus pela compreensão, e incentivo que sempre me deu para concretizar este
trabalho, seja nos bons ou maus momentos, um muito obrigado por tudo.
Aos meus amigos Sofia Cabral, Carina Pinho e André Correia pela amizade e apoio.
À minha família em geral, e em especial aos meus pais, António e Maria de Fátima, e à
minha irmã, Fabiana, que me permitiram concretizar este sonho, sempre estiveram
presentes durante o meu percurso, deram força e ajudaram em tudo o que precisei.
A todos muito obrigado!
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“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar.
Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”.
Madre Teresa de Calcutá
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Resumo
Ao longo dos anos o crescimento da população nas zonas costeiras aumentou cada
vez mais, concentrando aí os grandes centros de decisão económica, política e social. Este
crescimento foi bastante rápido e mal planeado originando uma pressão urbana e
industrial. Como consequência tivemos muitos ambientes litorais destruídos causando o
aumento da vulnerabilidade territorial face á erosão costeira. Este processo é originado
por vários fatores naturais que aliado às ações humanas tornam o risco ainda maior.
As dunas têm um elevado valor ecológico e a sua preservação é fundamental para
o bem-estar dos ambientes costeiros. Contudo estas são bastante vulneráveis e o seu
desenvolvimento depende das ações do vento, da areia e da vegetação. A vegetação tem
um papel fundamental na estabilização das dunas, onde a perda da cobertura vegetal tem
como consequência ficarem mais suscetíveis à erosão costeira.
O objetivo do presente trabalho foi estudar a praia do Furadouro, já que teve um
crescimento urbano bastante rápido, com graves problemas de ordenamento, e sendo esta
já identificada como uma área de risco devido aos problemas de erosão e recuo da linha
de costa.
Em termos metodológicos irei utilizar várias geotecnologias, de modo a estudar a
zona norte da praia do Furadouro. Utilizando Modelos Digitais de Superfície (MDS)
obtidos por LiDAR aéreo, como também, técnicas Drone fotogramétricas, sendo estes
complementados com dados obtidos através do posicionamento por GNSS em modo
NRTK, o que permitiu a delimitação da posição da linha de costa relativa ao ano de 2011
e 2015.
Nesta dissertação, a monitorização da linha de costa tem um papel fundamental
na medida em que é estudado o seu passado, como também o seu comportamento no
presente através da utilização da ferramenta Digital Shoreline Analysis System (DSAS),
incorporada na plataforma ArcGIS. Aqui, foram utilizadas várias posições históricas da
linha de costa, de modo a retirar várias conclusões, nomeadamente estatísticas com as
taxas de acreção/erosão de sedimentos.
A ferramenta DSAS, juntamente com os dados obtidos pelo Drone, permitiram
concluir que estas tecnologias podem ser utilizadas eficazmente na monitorização
topográfica das dunas, ou noutros processos associados aos riscos naturais.
Palavras-chave: Ambientes litorais; Erosão costeira Dunas; Geotecnologias; LiDAR;
Drone; DSAS.
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Abstract
Throughout the years population growth in coastal areas has been increasing,
concentrating there the great economic, political and social centres. This growth was very
swift and poorly planned, creating urban and industrial pressures. Consequently we’ve
had several coastal environments destroyed, which have caused the increase in territorial
vulnerability to coastal erosion. This procedure originated thanks to multiple natural
factors that, together with human actions, make the risk even greater.
The dunes have a high ecological value and their preservation is fundamental to
the well-being of coastal environments. However, they are very vulnerable and their
development depends on the action of the wind, sand and vegetation. The vegetation has
a fundamental part on the stabilization of the dunes, because without its covering the
dunes would become more susceptible to coastal erosion.
The goal of this project was to study Furadouro’s beach, due to its fast urban
growth with severe planning problems. This area is already known for its problems with
erosion and shoreline retreat.
In terms of methodology will use various geotechnology, in order to study the
northern region of Furadouro’s beach. Using Digital Surface Models (DSM) obtained
through aerial LiDAR, as well as, techniques Drone photogrammetric, which are
complemented with data obtained by the GNSS positioning mode NRTK, which allowed
the delimitation of the coast line position in the year of 2011 and 2015.
In this dissertation, the survey of the coast line has a fundamental part because it
studies not only its past, but its present behaviour through the use of the Digital Shoreline
Analysis System (DSAS) tool, incorporated in the ArcGIS platform. Here, were used
multiple historical coast line positions, in order to arrive to several conclusions, namely
statistics with sediments accretion/erosion rates.
The DSAS tool, together with the data obtained with the drone, allowed me to
conclude that these technologies can be effectively used in the topographic survey of
dunes or in other procedures associated with natural risks.
Key words: Coastal Environments; Coastal Erosion; Dunes; Geotechnology; LiDAR;
Drone; DSAS.
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Índice Geral
Agradecimentos ........................................................................................................................... 3
Resumo ......................................................................................................................................... 5
Abstract ........................................................................................................................................ 6
Índice Geral ................................................................................................................................. 7
Índice de Figuras ......................................................................................................................... 8
Índice de Tabelas ......................................................................................................................... 9
Índice de Gráficos ..................................................................................................................... 10
Lista de Acrónimos ................................................................................................................... 10
Capítulo I - Introdução ............................................................................................................. 13
I.1.1. Apresentação do tema e estrutura do documento ........................................................... 13
I.1.2. Localização da área em estudo ...................................................................................... 15
I.1.3. Motivações e objetivos .................................................................................................. 16
I.1.4. Método, técnicas e processos de investigação ............................................................... 17
Capítulo II – Enquadramento teórico do tema....................................................................... 20
II.2.1. Antecedentes bibliográficos ......................................................................................... 20
II.2.2. Elementos da moldura jurídica aplicada ao Ordenamento e Gestão do litoral ............. 22
Capítulo III – Dos Paleoambientes litorais recentes até à atualidade .................................. 33
III.3.1. Breve história da evolução quaternária do nível médio do mar .................................. 33
III.3.2. Morfodinâmica dos ambientes litorais, processos erosivos e atividade antrópica ...... 36
III.3.2.1. Ações Naturais ..................................................................................................... 40
III.3.2.1.1. Vento ................................................................................................................. 40
III.3.2.1.2. Marés ................................................................................................................. 41
III.3.2.1.3. Agitação Marítima ............................................................................................. 42
III.3.3. Fundamentos da importância da intervenção antrópica nas dinâmicas litorais ........... 43
III.3.3.1. Estruturas de defesa costeira ................................................................................ 43
III.3.3.1.1. Estruturas transversais ....................................................................................... 44
III.3.3.1.2. Estruturas longitudinais aderentes (muros, taludes) .......................................... 45
III.3.3.2. Alimentação artificial com areias ......................................................................... 46
III.3.3.3 Dragagens e extração de areias ............................................................................. 47
III.3.3.4. Destruição dos cordões dunares ........................................................................... 48
III.3.3.5. Barragens .............................................................................................................. 49
Capitulo IV – Breve caracterização do suporte físico da área em estudo ............................ 50
IV.4.1. Geologia (Litologia e Tectónica) e Geomorfologia .................................................... 50
IV.4.2. Transformações na Ocupação do solo......................................................................... 56
8
a. Carta do Uso e Ocupação do solo ............................................................................... 56
b. CORINE Land Cover .................................................................................................. 57
c. Comparação entre as transformações ocorridas na COS e CLC na área de estudo ..... 58
IV.4.3. Caracterização dos ambientes dunares no Furadouro ................................................. 61
IV.4.3.1. Biogeografia dunar ............................................................................................... 64
IV.4.4. Dinâmica litoral – Contributos do oceano vs. Contributos do clima (vento) .............. 68
IV.4.5. Dinâmicas associadas ao crescimento urbano do Furadouro – principais etapas. ...... 73
IV.4.5.1. Os primórdios da intervenção antrópica no Furadouro ........................................ 74
Capitulo V – Monitorização topográfica das dunas primárias ............................................. 79
V.5.1. Geotecnologias utilizadas ............................................................................................. 79
V.5.1.1. Posicionamento por GNSS em modo NRTK ........................................................ 79
V.5.1.2. LiDAR aéreo ......................................................................................................... 81
V.5.1.3. Drone ..................................................................................................................... 82
V.5.2. Metodologias utilizadas ................................................................................................ 83
V.5.2.1. Workflow fotogramétrico ...................................................................................... 84
V.5.2.2. Avaliação da exatidão vertical do MDS ................................................................ 85
V.5.2.3. Evolução da linha de costa com recurso à ferramenta Digital Shoreline Analysis
System (DSAS) em ambiente ArcMAP ............................................................................... 89
V.5.3. Resultados e discussão ................................................................................................. 90
V.5.3.1. MDS e ortofoto obtido por Drone ......................................................................... 90
V.5.3.2. Avaliação da qualidade do MDS obtido por Drone .............................................. 91
V.5.3.3. Evolução da linha de costa .................................................................................... 92
Conclusão ................................................................................................................................... 95
Bibliografia ................................................................................................................................ 97
Legislação ................................................................................................................................. 102
Índice de Figuras
Figura 1 - Enquadramento geográfico da Praia do Furadouro.. ..................................... 15
Figura 2 - Equipamentos (tecnologias) usado na saída de campo, nomeadamente GPS e
Drone. ............................................................................................................................. 18
Figura 3 - Localização geográfica dos concelhos abrangidos pelo POOC, no sector Ovar-
Marinha Grande.. ............................................................................................................ 28
Figura 4 - Praia do Furadouro em 2003 e 2013. ............................................................. 37
Figura 5 - Localização das praias abordadas no gráfico anterior. .................................. 39
9
Figura 6 - Maré em situação de Preia-Mar (1ª foto) e Maré em situação de Baixa-Mar (2ª
foto), na praia do Furadouro com orientação de Sul para Norte. ................................... 42
Figura 7 – Estrutura transversal na praia do Furadouro. ................................................ 45
Figura 8 – Estrutura Longitudinal (Muro) na praia do Furadouro, orientação de Norte para
Sul. .................................................................................................................................. 46
Figura 9 - Alimentação artificial na praia do Furadouro, 2010. ..................................... 46
Figura 10 - Pisoteio das dunas no Furadouro. ................................................................ 48
Figura 11 - Mapa Geotectónico da faixa metamórfica de Espinho - Albergaria-a-Velha,
no sector entre a cidade do Porto e Aveiro ..................................................................... 51
Figura 12 - Mapa Geológico - Praia do Furadouro ........................................................ 52
Figura 13 - Enquadramento regional - Esboço geomorfológico da faixa metamórfica de
Porto - Albergaria-a-Velha ............................................................................................. 54
Figura 14 - Enquadramento altimétrico da área em estudo (MDT) ............................... 56
Figura 15 -- COS 1990 (esquerda), e COS 2007 (direita) .............................................. 59
Figura 16 - CLC1990 (esquerda), e CLC2006 (direita) ................................................. 60
Figura 17 - Imagem com aspeto da duna frontal ou principais cristas dunares (Orientação
de Sul para Norte), 2015. ................................................................................................ 62
Figura 18 - Escarpas de erosão marinha na zona norte do Furadouro, 2015 .................. 63
Figura 19 - Principais cristas dunares em 2000, 2005 e 2010 ........................................ 63
Figura 20 - Delimitação da área para identificação de espécies dunares (Orientação de
Sudoeste para Norte). ..................................................................................................... 66
Figura 21 - Plantas do Furadouro, em 1900 e 2014. ...................................................... 74
Figura 22 - Praia do Furadouro, em 1996……………...……………………………….76
Figura 23 - Localização dos esporões e estruturas longitudinais aderentes em 2013. ... 76
Figura 24 - Pontos de Controlo Utilizados para posterior processamento de dados ...... 85
Figura 25 - Análise de perfis topográficos transversais ................................................. 86
Figura 26 - Ortofoto e MDS obtidos por Drone (a, b). MDS obtido por LiDAR (c) ..... 90
Figura 27 - Distribuição espacial – por lineamento, das taxas de recuo ........................ 93
Figura 28 - Comparação das taxas de recuo da linha de costa com os métodos EPR e LRR.
........................................................................................................................................ 94
Índice de Tabelas Tabela I - Abordagem de vários autores para a taxa de erosão/recuo da linha de costa 21
10
Tabela II - Instrumentos de Gestão do Território vigentes no município de Ovar ......... 32
Tabela III - Espécies vegetais presentes no Furadouro. ................................................. 67
Tabela IV – Médias mensais da frequência e velocidade do vento, 1961 - 1990. ......... 71
Tabela V - Cronologia de eventos causados pela ação energética do mar. .................... 77
Tabela VI - Características do sistema drone low-cost utilizado. .................................. 83
Tabela VII - Indicadores da exatidão posicional (cm) ................................................... 91
Índice de Gráficos
Gráfico 1 - Maré do Porto de Leixões, final de Fevereiro e Março, 2010. .................... 69
Gráfico 2 – Termo pluviométrico de Aveiro, Normais climatológicas 1971 – 2000. .... 70
Gráfico 3 - Rosa anemoscópica da média de frequência de ventos do total dos anos,
entre 1961 e 1990. .......................................................................................................... 72
Gráfico 4 - Perfil 1 .......................................................................................................... 87
Gráfico 5 - Perfil 2 .......................................................................................................... 88
Gráfico 6 - Perfil 3 .......................................................................................................... 88
Gráfico 7 - Avaliação da normalidade dos resíduos verticais (m) ................................. 91
Gráfico 8 - Distâncias relativas à linha de referência. .................................................... 92
Lista de Acrónimos
APA – Agência Portuguesa do Ambiente
ARH – Administração da Região Hidrográfica
CAOP – Carta Administrativa Oficial de Portugal
CEDRU – Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano
CIGEOE - Centro de Investigação Geoespacial do Exército
CGP – Carta Geológica de Portugal
CLC – CORINE Land Cover
COI – Comissão Oceanográfica Intergovernamental
COS – Carta do Uso e Ocupação do solo
DGT – Direção Geral do Territorial
DL – Decreto-Lei
DPH - Domínio Publico Hídrico
11
DPM – Domínio Publico Marítimo
DSAS – Digital Shoreline Analysis System
DTM – Modelos Digitais do Terreno
EEA – European Environmental Agency
ENDS – Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável
ENGIZC – Estratégia Nacional de Gestão Integrada da Zona Costeira
EPR – End Point Rate
FAP – Força Aérea Portuguesa
GCP – Ground Control Points
GIS – Sistema de Informação Geográfica
GIZCN - Gestão integrada da Zona Costeira Nacional
GLOSS – Sistema de Observação Global do Nível do Mar
GNSS - Global Navigation Satellite System
IGEOE – Instituto Geográfico do Exército
IGT – Instrumentos de Gestão Territorial
INAG – Instituto Nacional da Água
IPCC – Instituto Português de Cartografia e Cadastro
LASER – Light Amplification by Simulated Emission of Radiation
LiDAR – Light Detection and Ranging
LRR – Linear Regression Rate
MDS – Modelo Digital de Superfície
MMU - Minimum Map Unit
NMM – Nível Médio do Mar
NRTK - Network-based Real Time Kinematic
PDM – Plano Diretor Municipal
PEOC – Planos Especiais de Ordenamento do Território
PGNH - Plano de Gestão das Bacias Hidrográficas
PNA - Plano Nacional da Água
PNPOT – Programa Nacional de Política de Ordenamento de Território
POL – Proudman Oceanographic Laboratory
POOC – Planos de Ordenamento da Orla Costeira
PROF - Plano Regional de Ordenamento Florestal do Centro Litoral
PROT – Planos Regionais de Ordenamento do Território
PSMSL – Serviço Permanente para o Nível do Mar
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RADAR – Radio Detection and Ranging
RAP - Rede Andalusa de Posicionamento
REN – Reserva Ecológica Nacional
RENEP - Rede Nacional de Estações Permanentes
RTK – Real Time Kinematic
SFM - Structure from Motion
SIG – Sistemas de Informação Geográfica
SGT – Sistema de Gestão Territorial
SRS – Sistema de Referencia Espacial
TIG – Tecnologias de Informação Geográfica
UOPG – Unidades Operativas de Planeamento e Gestão
USAF – United States Air Force
VANT – Veículo Aéreo Não Tripulado
Z.T. – Zero Topográfico
13
Capítulo I - Introdução
I.1.1. Apresentação do tema e estrutura do documento
Em Portugal temos uma zona litoral bastante diversificada geomorfologicamente com
praias e arribas. Esta extensa zona costeira é constantemente influenciada pela agitação
marítima, sendo bastante importante economicamente como ambientalmente. Contudo,
ao longo dos anos as praias têm vindo a sofrer várias transformações, devido à forte
erosão costeira que tem surgido, como também à crescente pressão urbana e demográfica.
“O mapeamento sistemático da linha de costa e o acompanhamento de suas mudanças
representam ferramentas para a geração de informações de grande valor para o
planejamento e gerenciamento costeiro” (Mazzer et al. 2008, p.118). Assim, seria
importante fazer monitorizações topográficas no litoral de pormenor (produção de
cartografia de grande escala como, por exemplo, 1:500) para conseguirmos aumentar o
conhecimento cientifico, de modo a compreendermos melhor o presente e definirmos
tendências do que poderá vir a ocorrer se continuarmos a agir da mesma forma.
As técnicas de mapeamento têm apresentado uma grande evolução devido ao rápido
desenvolvimento tecnológico, como por exemplo, o surgimento dos Drones. Aliadas à
fotogrametria, estas ferramentas de Deteção Remota que alguns autores designam
também por VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado), constituem um recurso tecnológico
e metodológico barato e de enorme fiabilidade para a monitorização de uma área e
aquisição de dados geoespaciais, designadamente, quando complementados pelo valioso
contributo do GPS. Por se tratar duma tecnologia de baixo custo, onde rigor posicional e
detalhe podem ser muito elevados, estes podem ser usados para várias funcionalidades
como, por exemplo, para ambientes litorais, florestas, agricultura, entre outros.
Nesta dissertação abordamos a evolução da praia do Furadouro, ao longo dos anos, já
que é importante haver uma investigação sobre o que se passou no passado para
percebermos o presente e tentarmos fazer a diferença no futuro. De modo a estudar a
evolução do litoral, é fundamental interpretar as dunas frontais, de modo a ser possível
perceber se está estável, em erosão ou em acreção.
Ao longo dos anos a praia do Furadouro tem vindo a sofrer várias modificações
devido à subida do nível do mar. Foram vários os problemas que originaram esta situação,
nomeadamente o grave problema de ordenamento (houve várias construções no sistema
dunar), tal como procedimentos jurídico-administrativos muito morosos. Também não
14
nos podemos esquecer de um outro problema, nomeadamente as estruturas executadas
mais a norte como, por exemplo, Espinho que se situa a 15 km a norte do Furadouro, e
nesta zona, desde 1988, estão implantados dois grandes esporões (com,
aproximadamente, 300 m de extensão), que dificultam o transporte longitudinal ao longo
da linha de costa, resultando num menor fluxo de sedimentos nas praias mais próximas a
sul desta, ou seja, em regra, a sotamar, o que implica o desenvolvimento de um processo
erosivo acelerado de ataque do mar ao sistema praia/duna.
No Furadouro foram construídas obras longitudinais com o objetivo de fixar a linha
de costa, o que funcionou durante uns anos mas neste momento revelam-se ineficazes. É
de salientar que quando já não há sedimentos os esporões deixam de funcionar. A praia
do Furadouro está identificada como área de risco, quer pela erosão e recuo da linha de
costa, quer pela degradação das componentes ambientais, seja pela sua utilização
indevida, ou pela intensidade do uso e consequente maior exposição ao risco.
Apresentado, em traços muito gerais, o tema desta dissertação, aproveitamos para
descrever a sua estrutura que, também numa breve síntese, se definir como um documento
que assenta numa matriz articulada em cinco capítulos. No primeiro capítulo elabora-se
uma pequena introdução ao tema em estudo, seguindo-se um capítulo com o
levantamento e na análise crítica de alguns dos trabalhos precedentes sobre esta área, aos
quais tivemos acesso, assunto que é complementado por uma breve descrição dos
instrumentos de base jurídico-legal que emolduram a gestão das zonas costeiras, e mais
concretamente para Ovar. Posteriormente, o capítulo III aborda-se a problemática da
erosão litoral, a sua evolução, as suas origens. O quarto capítulo consiste na
caracterização geográfica da área, em termos geológicos, da dinâmica litoral, biografia
dunar e por fim, nas dinâmicas associadas ao crescimento urbano. Para concluir, no quinto
capítulo, na sequência do trabalho de campo efetuado, ensaia-se um processo de aquisição
de dados com base na utilização de um Drone e do posicionamento por GNSS em modo
NRTK, cujos dados adquiridos foram posteriormente objeto de pós-processamento em
contexto de gabinete, e produção cartográfica em ambiente SIG, designadamente com
recurso à ferramenta DSAS. Este ensaio metodológico é ainda complementado com uma
comparação dos dados assim adquiridos com dados LiDAR para a mesma área, exercício
que vem permitir retirar algumas conclusões sobre a fiabilidade dos dados adquiridos
através da primeira das técnicas referidas. Esta constitui a parte, digamos, aplicada, do
trabalho, cujo objetivo é verter informação válida e útil para a tomada de decisão no
domínio do ordenamento do território.
15
I.1.2. Localização da área em estudo
A praia do Furadouro localiza-se na Região Centro de Portugal (Figura 1), em rigor
centro-norte. Em termos de limites administrativos, pertence à freguesia e ao concelho de
Ovar, que se enquadram no distrito de Aveiro. É limitada a oeste pelo Oceano Atlântico,
a leste pela freguesia de Oliveira de Azeméis, a Norte pela de Espinho e a Sul pela de
Murtosa e Estarreja.
Figura 1 - Enquadramento geográfico da Praia do Furadouro. Fonte: Elaboração própria
com base no Ortofoto de 2010 cedido pela Agência Portuguesa do Ambiente, e CAOP
2015.
Trata-se de uma área litoral, cuja dinâmica morfogenética na qual intervêm processos
de natureza marítima e eólica é perturbada pela ação antrópica. O crescimento da
povoação do Furadouro, que se deve ao apelo que a praia exerce ao turista tem vindo a
influenciar a dinâmica natural, mas são sobretudo as consequências da construção, cada
vez mais próxima das dunas primárias e da própria praia que preocupam, devido ao
incremento das vulnerabilidades territoriais que comportam. Sendo frequentes os
processos de galgamento nesta área, assunto que retomaremos em fase mais adiantada do
16
trabalho, urge disciplinar o crescimento urbano e definir limites ao pisoteio das dunas
primárias, a primeira defesa natural contra os processos acima mencionados.
I.1.3. Motivações e objetivos
A morfologia atual da praia do Furadouro está completamente diferente de há uns
anos atrás. Ano após ano tem vindo a evidenciar cicatrizes deixadas pelos processos
erosivos de origem marítima, principalmente, mas também eólicos, gerando na população
um sentimento de receio e medo do preocupante avanço do mar e da consequente
diminuição da extensão do lençol arenoso que compõe a praia. Desta forma, juntamente
com o facto de nutrirmos grande apreço pela temática de ambientes litorais, decidimos
elaborar esta dissertação sobre esta área por se tratar de uma área “em risco”. É de
salientar que esta pesquisa é bastante importante já que o Furadouro apresenta um
ecossistema frágil, tendo já acontecido modificações rápidas, tanto naturais como
antrópicas. Aqui encontramos uma área urbana significativamente artificializada e os
vários problemas decorrentes dos galgamentos que ocorrem todos os anos, sinalizam um
espaço público no qual o risco já se manifestou mais a sul como atestam os muros
artificiais, mas que deixam antecipar que, após a construção dos esporões, também a área
localizada um pouco mais a norte (menos artificializada) venha a ser perturbada na sua
morfodinâmica. Este facto concorre para justificar o estudo da evolução do cordão dunar
definido por dunas primárias de reduzida altura mas onde ainda é visível a existência de
vegetação herbácea a subarbustiva adaptada a ambientes litorais, a qual ajuda a estabilizar
as dunas.
Apresentada esta breve nota preambular de enquadramento temático, fazemos
salientar que o objetivo principal desta dissertação consiste na análise da evolução dos
campos dunares na zona norte da praia do Furadouro bem como as implicações da/na
evolução da própria mancha de praia, através da comparação (interpretando e analisando)
de vários tipos de dados, como por exemplo, dados LiDAR, e também, dados obtidos pela
via da conjugação de técnicas de fotogrametria utilizando um Drone, complementados
com dados obtidos através do posicionamento por GNSS em modo NRTK. A
fotointerpretação de imagens de satélite foi também utilizada para o efeito referido, bem
como a utilização da ferramenta Digital Shoreline Analysis System (DSAS) para calcular
a taxa de variação estatística de múltiplas posições históricas da linha costeira, em
17
contexto de gabinete, no qual foram efetuadas tarefas de pós-processamento e correção
de imagem.
Foram analisadas também várias imagens que nos retratam a morfologia da linha
de costa, nomeadamente de 1958, 1998, 2010 e 2011 que nos permitiram obter
informação sobre a sua evolução em tempos como unidade discreta de medida, mas cuja
informação foi posteriormente comparada com o resultado da delimitação a linha de costa
em Maio de 2015 (zona norte do Furadouro), e com os dados da Carta do Uso e Ocupação
do solo de 1990 e 2007, e do CORINE Land Cover de 1990 e 2006.
I.1.4. Método, técnicas e processos de investigação
Para concretizar os objetivos propostos, começamos por realizar uma revisão
bibliográfica sobre os temas abordados como, por exemplo, a subida do nível do mar e
outros fatores que influenciam as dinâmicas litorais como a mutabilidade da morfologia
dunar. Posteriormente, numa segunda etapa, foi necessário recolher dados, sendo alguns
gentilmente cedidos por algumas entidades, às quais aproveitamos desde já sublinhar o
nosso agradecimento; destacamos os preciosos contributos da Câmara Municipal de
Ovar, do Centro de Investigação Geoespacial do Exército (CIGEOE), da Direção Geral
do Território (DGT). A prossecução dos objetivos conduziu-nos ao desenvolvimento de
tarefas de campo, mais prática, as estiveram relacionadas com a aquisição de dados
ortofotogramétricos e topográficos, tendo sido utilizados para o efeito um Drone e um
GPS diferencial.
É de salientar que toda a informação recolhida foi integrada no mesmo sistema de
informação geográfica (SIG), nomeadamente no ArcGIS. Aqui todos os dados foram
colocados no Sistema de Referência Espacial (SRS – acrónimo do equivalente em língua
inglesa) ETRS89, em conformidade com a moldura jurídica da cartografia portuguesa e
com a Diretiva Inspire. Contudo, também foram utilizados outros programas para análise
e processamento dos dados, nomeadamente o QGIS, Agisoft Photoscan, e Oriana.
As linhas de costa referentes aos anos de 1958 e 1998 foram obtidas por Caetano
(2002). Estas linhas foram obtidas graças aos voos realizados pela United States Air Force
(USAF – 1958), pela Força Aérea Portuguesa (FAP- 1970) e Estereofoto (1998), sendo o
(ex) Instituto Geográfico do Exército (IGeoE – atualmente, CIGEOE) o fornecedor dos
dois primeiros voos e o Instituto Português de Cartografia e Cadastro (IPCC) o fornecedor
do terceiro. Quanto à linha de costa de 2010, ela foi delimitada por Silva (2012), com
18
base em fotografias aéreas numa escala 1:28000, cedidas pelo Instituto Nacional da Água
(INAG1). Por fim, com recurso aos dados que conseguimos obter com a utilização de um
Drone e por posicionamento por GNSS em modo NRTK, foi delimitada a linha de costa
de 2015.2
Quanto aos ortos, o de 2000 foi cedido pela Comunidade Intermunicipal da Região
de Aveiro, e o de 2010 pela Agência Portuguesa do Ambiente.
Relativamente aos dados LiDAR, estes foram obtidos através da Direção-Geral do
Território (DGT). Trata-se de um Modelo Digital do Terreno das zonas costeiras de
Portugal Continental, com resolução de 1 m, obtido a partir de um levantamento com
tecnologia LiDAR durante o ano de 2011.
A saída de campo mais produtiva e partilhada por professores e colegas do curso de
mestrado em Tecnologias de Informação Geográfica (TIG) realizou-se no dia 22 de Abril
de 2015, com a maré em situação de preia-mar. Foi utilizado um Drone para a obtenção
de um orto e recorremos ainda ao posicionamento por GNSS em modo NRTK (Fig. 2)
para fazer a recolha de pontos de controlo artificiais que posteriormente permitiram
efetuar uma triangulação aérea da qual resultaram os parâmetros de orientação das
imagens.
Figura 2 - Equipamentos (tecnologias) usado na saída de campo, nomeadamente GPS e
Drone.
1 Sendo agora a Agência Portuguesa do Ambiente. 2É de salientar que todas estas linhas têm em consideração o limite externo do cordão dunar.
19
Foram realizadas novas saídas de campo das quais destacamos a de 2 de Abril, de
2016, com o objetivo de fazer a identificação das espécies dunares presentes na praia do
Furadouro. No capítulo IV será explicado com pormenor o método utilizado.
20
Capítulo II – Enquadramento teórico do tema
II.2.1. Antecedentes bibliográficos
São vários os autores que se têm dedicado aos ambientes litorais, nomeadamente aos
riscos associados aos processos erosivos que influenciam a evolução da linha de costa.
Neste capítulo iremos abordar alguns conceitos como o de “litoral”, “zona costeira”, e
“linha de costa”, partindo dos estudos já efetuados para a área de estudo, e em relação aos
quais tivemos conhecimento atempado.
O litoral é “o domínio que inclui o perfil de praia, bem como uma porção mais interna,
para o lado do continente, materializada por dunas ou arribas” (Batista, 2006, p.16). De
salientar que existem várias definições de litoral dependendo, “do objeto e do nível da
análise pretendido”, como também “umas incidem mais na interface terra/mar, outras nas
influências marítimas e outras na jurisdição a que estão sujeitos”, (Ferreira, 1997, p. 57).
Não deixa de ser igualmente pertinente - sobretudo por equacionar a questão cultural e
funcional adstritas ao conceito de espaço litoral, a reflexão de Moares (2007, p. 21),
quando refere que “o litoral também se particulariza, modernamente, por uma apropriação
cultural que o identifica como um espaço de lazer, por excelência, e os espaços
preservados são, hoje, ainda mais valorizados nesse sentido”.
Relativamente ao conceito de zona costeira, existem vários autores que definiram
esta, não havendo um conceito único e universal. Por exemplo para Neves & Muehe
(2008, p. 221), “a zona costeira é influenciada por agentes oceânicos, atmosféricos e
continentais, motivo pelo qual ela é particularmente sensível a mudanças climáticas”. Já
Dias (2005, p. 1) refere que “as zonas costeiras constituem ecossistemas únicos e
irreconstituíveis à escala humana, resultantes de uma longa evolução, de muitos milhões
de anos”. De entre os vários exemplos possíveis de proposta de definição do conceito de
“zona costeira”, elegemos o sugerido por Granja (2002, p. 95), “a zona costeira é, por
excelência, uma zona de grande mobilidade, onde ocorrem transformações rápidas e, por
vezes, abruptas, onde o equilíbrio dinâmico é extremamente frágil e muito sensível a
impactes de variada natureza, quer naturais quer antrópicos”. 3
Um outro conceito que importa aqui clarificar, é o de linha de costa. Tal como os
conceitos anteriores, este também pode ser entendido de várias formas. Segundo Muehe
3 Devemos observar, porém, que a expressão “zona costeira” é um conceito inevitavelmente associável a ambientes litorais pelo que não deve ser confundido com o conceito de “costeira”, uma estrutura de relevo monoclinal utilizado em Geomorfologia!
21
(2014, p. 121) a linha de costa “é definida pela interseção entre o nível do mar e a terra
firme”. Contudo é importante não esquecer que “é um elemento geomorfológico que
apresenta alta dinâmica espacial decorrente de respostas a processos costeiros de
diferentes magnitudes e frequências” (Marino et al. 2013, p. 115). Ao longo desta
dissertação de mestrado a linha de costa é definida como a linha inferior do talude da
duna primária.
Em relação à variação da linha de costa na praia do Furadouro, também já existem
alguns estudos efetuados. Relativamente às taxas médias anuais de variação da posição
da linha de costa, de acordo com Pereira & Coelho (2011) - Tabela I, em 1954/80 a praia
do Furadouro teve um recuo de 2,8 metros, e em 1984/90 -8.0 metros. Já para Ferreira &
Reis calcularam as taxas médias de erosão por sectores, sendo o período de 1973/1999, o
que revela maiores taxas de erosão, mesmo com a construção dos esporões. O estudo
efetuado por Batista (2006) – Tabela I, demonstra, que o recuo médio da linha de costa
em 2000/2001, no sector praia de Maceda – praia do Furadouro, foi de -8.6 m, contudo
chegou a atingir valores máximos de -36.0 m. O sector praia do Furadouro – praia do
Torrão do Lameiro, teve um recuo de -10.5 m, tendo atingido máximos de -47.5 m em
alguns locais. Por fim, a análise do troço costeiro de 50 em 50 m proposta por Silva,
revela que o sector Maceda - Furadouro em 1958/2010 teve um recuo de -2.69 metros, e
em 2010-2012 de – 4.04 metros. No sector Furadouro – Torreira, em 1958/2010 teve um
recuo de -0.49 metros, e de 2010/2012 deve um acréscimo de +1.81 metros.
Tabela I - Abordagem de vários autores para a taxa de erosão/recuo da linha de costa
Taxas médias anuais de variação da posição da linha de costa (adaptado de Pereira
& Coelho, 2011)
1954/80 1984/90
Furadouro -2,8m -8,0m
Taxas médias de erosão (m/ano), adaptado de Silva (2012)
Ferreira (1993) Reis
(2000)
Sectores 1947 -
1958
1958 -
1970
1970 -
1980
1973 -
1999
Maceda - Furadouro -0,6m -2,1m -2,1m -4,8m
22
Furadouro – Torrão do Lameiro/
Furadouro - Torreira -0,6m -2,1m -2,1m -2,5m
Recuo médio da linha de costa (2000-2001), Batista (2006)
Praia de Maceda – Praia do
Furadouro -8,6m
Praia do Furadouro – Praia do
Lameiro -10,5m
Análise do troço costeiro de 50 em 50 m (taxas médias de erosão – valores negativos
e acreção – valores positivos [m/ano]), proposta por Silva (2012)
Sectores 1958 - 2010 2010-2012
Maceda - Furadouro -2.69m -4.04m
Furadouro - Torreira -0.49m +1.81m
II.2.2. Elementos da moldura jurídica aplicada ao Ordenamento e
Gestão do litoral
A gestão das zonas costeiras tem vindo a ter cada vez mais importância a nível
europeu e mundial, nomeadamente nos governos, nos organismos internacionais, e
também na comunidade técnica e científica. É de salientar que, com a adesão de Portugal
à União Europeia, em 1986, passou a haver um grande desenvolvimento das políticas
ambientais no país, devido a uma intensificação da legislação e das medidas a
implementar.
Com o passar dos anos, a importância das zonas costeiras tem vindo a aumentar
devido ao surgimento de cada vez mais problemas nestas áreas, nomeadamente com a
erosão costeira, perda de território, ameaças às edificações, e também à subida do nível
médio do mar - uma expressão dos riscos naturais e antrópicos associados aos ambientes
litorais em função do preocupante aumento das vulnerabilidades territoriais.
Segundo Dias (1993, p. 63), “a gestão da faixa costeira tem obrigatoriamente que
ter sempre em atenção que o litoral constitui a zona com mais potencialidades de toda a
23
região continental, mas que os seus recursos são insubstituíveis, finitos e não renováveis
à escala humana”.
Atualmente existe um número elevado de instrumentos de gestão das zonas
costeiras, o que provoca uma falta de coordenação entre os distintos intervenientes e
também uma sobreposição de competências
A culminar esta rubrica, nos tópicos seguintes abordamos alguns dos vários
projetos iniciados pela União Europeia, bem como alguns dos principais planos e
legislação em vigor em Portugal que definem a moldura jurídica da gestão do litoral.
II.2.2.1. Projetos europeus para a gestão do litoral
A importância das zonas costeiras tem vindo a refletir-se nas políticas e iniciativas
comunitárias ao longo dos anos. A Carta Europeia do Litoral foi aprovada na reunião
plenária da Conferência das Regiões Periféricas Marítimas da CEE, reunida em Creta, em
1981. Entre os vários objetivos figuram os de estabelecer fundamentos de uma gestão
integrada da faixa costeira, de modo a salvaguardar e a valorizar o litoral europeu. Em
Portugal, a Carta Europeia do Litoral foi aprovada com o Decreto-Lei n.º 302/90, de 26
de Setembro, e estabelece os princípios a que deve obedecer a ocupação, uso e
transformação da faixa costeira, cuja largura é limitada pela linha máxima preia-mar de
águas vivas equinociais e pela linha situada a 2 km para o interior. Alguns dos princípios
presentes na Carta Europeia do Litoral encontraram expressão aquando a criação dos
Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC).
Em 1987 surgiu o projeto Coastwatch, que consiste na caracterização sistemática
do litoral e promove a cidadania ativa. Desta forma, conta com a participação de milhares
de voluntários europeus, sendo um importante instrumento de educação para a cidadania
ambiental4.
Posteriormente, em 1992 foi aprovada a “Agenda 21” na Conferência das Nações
Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, instrumento que promove a
gestão integrada e o desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e marinhas. Surgiu
em Portugal através do programa Agenda 21 Local, sendo também um dos instrumentos
utilizados para a implementação da Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável
(ENDS).
4 De salientar que em Portugal este projeto já se desenvolveu também há 26 anos, e sempre com a
participação de vários voluntários.
24
O projeto Eurosion foi patrocinado pela Comissão Europeia. Este contempla o
estudo do fenómeno da erosão costeira, as suas causas e os seus impactos
socioeconómicos e ambientais. Em Maio de 2004 foram tornados públicos os resultados
deste estudo de dois anos. Quanto a Portugal, grande parte da região do centro litoral foi
classificada como uma área de exposição elevada à erosão, algo que parece ter vindo a
ser acelerado pela via da atividade antrópica, por um lado pelas construção ortogonais à
linha de costa que altera o balanço erosão/sedimentação associado às correntes oceânicas,
quer pela crescente ocupação de terrenos cada vez mais próximos do mar.
A Comissão Europeia publicou uma estratégia europeia referente às zonas
costeiras, onde incluía um conjunto de ações concretas, assentes num quadro legislativo
nacional adequado e coordenadas a nível local e regional. Teve a Recomendação do
Parlamento Europeu e do Conselho em 2002, no dia 30 de Maio, apontando os princípios
gerais e as opções para uma estratégia de gestão integrada de zonas costeiras na Europa.
Deste modo, são os Estados Membros que têm de estabelecer os fundamentos de tal
estratégia, a qual deverá garantir a proteção e requalificação do litoral, o seu
desenvolvimento económico e social, e também a coordenação de políticas com
incidência na orla costeira. Em Portugal, estas recomendações apareceram através da
Estratégia Nacional de Gestão Integrada da Zona Costeira (ENGIZC) em 2009.
Uma nota breve de conclusão deste tópico para mencionar que a Comissão, em
2008, adotou a Comunicação intitulada “Roteiro para o ordenamento do espaço marítimo:
definição de princípios comuns na UE”, e em 2010, a “Comunicação do Ordenamento do
espaço marítimo na EU – balanço e prospetivas”, de modo a realizar de uma forma eficaz
e harmoniosa ao ordenamento do espaço marítimo em todos os Estados-Membros.
III.3.2.2. Legislação e programas nacionais para o litoral
Em Portugal, até aos anos 70, não havia uma política integrada para o litoral,
existindo apenas legislação que delimitava os territórios costeiros. A partir dos anos 70,
a importância da proteção e gestão integrada das faixas costeiras fez com que começasse
a aparecer uma grande diversidade de políticas, instrumentos estratégicos, programas e
planos que, de forma direta ou indireta, contribuem para a gestão do litoral.
O conceito de Domínio Público Marítimo (DPM) surgiu pela primeira vez no
Decreto-Lei de 31 de Dezembro de 1864. Este chamava a atenção para a importância de
gerir os territórios costeiros, concedendo-lhes um carácter de bem público. Com o passar
25
dos anos surgiram novos documentos para a gestão do DPM, o que causou uma
sobreposição de competências e dificuldades de coordenação. Contudo, é de salientar que
a 29 de Setembro de 1992 seria publicado o Decreto-lei onde a jurisdição do DPM é
transferida para o então recém-criado Ministério do Ambiente, que veio a fortalecer o
valor ambiental da zona costeira.
Em 1971 surgiu o Decreto-Lei 468/71 de 5 de Novembro que atualizou e uniu o
regime jurídico dos terrenos do Domínio Público Hídrico (DPH). Contudo, este estava
direcionado para o sector portuário mas permitiu assegurar a constituição de uma faixa
de proteção ao longo do litoral. Desta forma, permitia a defesa das pessoas e bens contra
catástrofes provocados pelo recuo da linha de costa devido às tempestades, e também
protegia contra ocupações ou obras abusivas onde a entidade competente podia obrigar à
desocupação ou demolição das obras num prazo estipulado.
Nos anos 80 surgiu legislação importante para a gestão do litoral, começando pelo
Decreto-Lei n.º208/82, de 26 de Maio. Este definiu as linhas mestras do regime que
permitiu a plena utilização do plano diretor municipal (PDM) como instrumento do
ordenamento do território. Os PDM’s classificavam o uso e destino do território
municipal e garantiam uma boa utilização dos recursos naturais, do ambiente e do
património cultural.
A Reserva Ecológica Nacional (REN) foi formalmente definida surgiu através do
Decreto-Lei n.º 321/83 de 5 de julho, e teve bastante importância para o ordenamento e
para a proteção das potencialidades biofísicas do território nacional. Desta forma, a REN
segue três tipologias de áreas, nomeadamente, as áreas de proteção do litoral, as áreas
relevantes para a sustentabilidade do ciclo hidrológico e, por último, as áreas de
prevenção de riscos naturais. Posteriormente a REN sofreu várias alterações, sendo a
última referente ao Decreto-Lei n.º 239/2012 de 2 de novembro, devido à falta de
articulação com outros regimes jurídicos. As três tipologias que integravam a REN são,
com algumas alterações pontuais, aquelas que se mantêm.
Com o Decreto-lei nº. 11/87, a 7 de Abril surgiu a Lei de Bases do Ambiente, que
tinha como objetivo a melhoria da qualidade de vida, a existência de um ambiente
propício à saúde e bem-estar e ao desenvolvimento cultural e social das comunidades.
Aqui, na zona costeira é definida uma faixa de proteção, evidenciando o valor ambiental
dos recursos costeiros. Contudo foram surgindo novas alterações, correspondendo a
última ao Decreto-lei n.º 19/2014, de 14 de março que revoga a lei de 1987. Desta forma,
a política para o meio marinho, abrangendo a coluna de água, o solo e o subsolo marinho,
26
deve assegurar a sua gestão integrada, em estreita articulação com a gestão da zona
costeira, garantindo a proteção dos recursos e ecossistemas marinhos, o que implica o
condicionamento dos usos do mar suscetíveis de afetarem de forma nociva o equilíbrio
ecológico ou que impliquem risco ou dano grave para o ambiente, pessoas e bens (artigo
n.º10).
Na década de 1990, é publicado o Decreto-lei n.º 309/93 a 2 de Setembro, que
criou e regulamentou planos sectoriais denominados Planos de Ordenamento da Orla
Costeira (POOC). Estes têm como objetivo o ordenamento de diferentes usos e atividades
especificas da orla costeira, a classificação das praias e a regulamentação do uso balnear,
a valorização e qualificação das praias consideradas estratégicas por motivos ambientais
ou turísticos, a orientação de desenvolvimento de atividades especificas da orla costeira,
e por fim, a defesa e conservação da natureza. Vieram determinar também a incidência
territorial das ações de planeamento a uma faixa terrestre de proteção de 500 m para além
da linha que delimita a margem e a uma faixa marítima de proteção até à batimétrica –
30m.
Em 1995, com o Decreto-lei n.º151/95 de 24 de Junho, os POOC passam a ser
considerados Planos Especiais de Ordenamento do Território (PEOC), instrumentos
normativos da iniciativa da administração direta ou indireta do Estado, vinculativos para
todas as entidades públicas e privadas, devendo com eles ser compatibilizados os planos
municipais de ordenamento do território, programas ou projetos de carácter nacional,
regional ou local.
A Lei que estabelece as Bases da Política de Ordenamento do Território e de
Urbanismo foi publicada pelo Decreto-Lei n.º 48/98, de 11 de agosto. Aqui o
ordenamento do território e do urbanismo asseguravam a salvaguarda dos valores
naturais, como, por exemplo, os recursos hídricos, as zonas ribeirinhas, a orla costeira, as
florestas e outros locais com interesse particular para a conservação da natureza,
constituem objeto de proteção compatível com a normal fruição pelas populações das
suas potencialidades específicas (artigo 6.º). Este diploma pretende sistematizar e
relacionar entre si os diferentes Instrumentos de Gestão Territorial (IGT), de âmbito
nacional, regional e local, em que ela assenta e que constitui o Sistema de Gestão
Territorial (SGT). Posteriormente foram publicados novos diplomas baseados naquele
decreto mas sofrendo algumas alterações, sendo o mais recente a Lei n.º 31/2014, de 30
de Maio.
27
Posteriormente, a Resolução de Conselho de Ministros n.º 86/98, de 10 de Julho,
aprova uma Estratégia para a Orla Costeira. Esta salientava vários aspetos,
nomeadamente a importância de regras de ocupação da faixa litoral, a exploração
sustentável dos seus recursos, a elaboração de cartas de risco, a gestão integrada do litoral
face aos vários organismos e aos interesses em conflito, a proteção de áreas sensíveis, e
por fim, a recuperação de áreas degradadas como os sistemas dunares. Contudo, é de
salientar que não trouxe nada de novo em relação aos diplomas anteriormente já
publicados pelos vários governos que tentaram estabelecer sem sucesso.
Mais tarde, surgiu a Resolução do Conselho de Ministros n.º 152/2001, de 11 de
Outubro, que estabeleceu a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e
Biodiversidade, ajudando na valorização do litoral ao declarar a importância de uma
política para a gestão do ambiente litoral português.
Por fim, surgiu a Lei da Água em 2005, que transpôs para a ordem jurídica
nacional a Diretiva Quadro da Água. Esta lei estabelece o enquadramento para a gestão
das águas superficiais, nomeadamente as águas interiores, de transição e costeiras, e das
águas subterrâneas. Compete ao Estado promover a gestão sustentada das águas e
prosseguir as atividades necessárias à aplicação da lei. A instituição da Administração
Pública a quem cabe exercer as competências previstas na presente lei, é a Agência
Portuguesa do Ambiente (APA) ao nível nacional.
II.2.2.3. Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC)
Tal como referido anteriormente, o POOC surgiu em 1993, através do Decreto-
Lei nº309/93, tendo como objeto as águas marítimas costeiras e interiores e os respetivos
leitos e margens, assim como as faixas de proteção marítima e terrestre, definidas em
legislação específica, ou no âmbito de cada plano. Estas abrangem a totalidade da faixa
costeira entre Caminha e Vila Real de Sto. António, com exceção das áreas sob jurisdição
portuária.
O POOC correspondente à área de estudo, Ovar-Marinha Grande (Fig. 3), foi
aprovado pela Resolução do Concelho de Ministros nº 142/2000 de 20 de outubro
incidindo sobre 140 km da orla costeira, e tem como âmbito territorial os concelhos de
Ovar, Murtosa, Aveiro, Ílhavo, Vagos, Mira, Cantanhede, Figueira da Foz, Pombal, Leiria
e Marinha Grande.
28
Figura 3 - Localização geográfica dos concelhos abrangidos pelo POOC, no sector Ovar-
Marinha Grande. Fonte: Elaboração própria com base na CAOP 2015.
O POOC de Ovar – Marinha Grande permite conciliar os diversos valores em
presença na área sobre a qual incide, pois tem como principais objetivos:
I) Valorizar, diversificar e garantir os usos e as funções da orla costeira;
II) Proteger os ecossistemas naturais e assegurar a exploração sustentável dos
recursos;
III) Melhorar as condições de vida das populações;
IV) Reforçar e melhorar as infraestruturas e equipamentos;
V) Promover uma oferta turística de qualidade;
VI) Valorizar o atual tipo de povoamento (nucleado), em respeito das dinâmicas
costeiras, dos valores naturais e da minimização de riscos;
VII) Promover a articulação dos fatores económicos e sociais.
Este sector do litoral português revela uma elevada fragilidade das formas e da
estrutura geológica, constituída por formações dunares baixas e por outras formações
geológicas de origem sedimentar, face aos agentes e processos erosivos dominantes neste
tipo de ambientes morfossedimentais. Assim sendo tem sofrido um ataque erosivo de
grande intensidade do qual têm vindo a resultar elevadas taxas de recuo da orla costeira
que muitas vezes colocam em risco os aglomerados urbanos.
29
É de salientar que este troço da costa tem uma enorme riqueza em termos de
biodiversidade, nomeadamente nas dunas de São Jacinto e na ria de Aveiro. Contudo,
com o passar dos anos começaram a existir diversos desfasamentos em resultado da
alteração da situação de referência em que se fundamentou o modelo de ordenamento
proposto, designadamente no que se refere à previsão de evolução da linha de costa e dos
valores da erosão costeira.
Em 2006 foi elaborada uma avaliação dos planos de ordenamento da orla costeira
que detetou diversas situações que justificam uma revisão destes instrumentos
nomeadamente: a desatualização de propostas; a desigualdade de tratamento das faixas
terrestre e marítima; a ocorrência de deficiências cartográficas; a rigidez dos planos de
praia; a desadequação do dimensionamento das estruturas de apoio à atividade balnear; a
não execução das Unidades Operativas de Planeamento e Gestão (UOPG) previstas.
Assim, foi determinado pelo Despacho n.º 22400/2009, do Secretário de Estado
do Ordenamento do Território e das Cidades, que se deveria proceder à revisão do Plano
de Ordenamento da Orla Costeira de Ovar – Marinha Grande, tendo sido acometida ao
Instituto da Agua, I. P., a responsabilidade pela elaboração da proposta. Posteriormente
em Fevereiro de 2011 a elaboração da revisão foi atribuída ao consórcio Centro de
Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano (CEDRU), da Universidade de Aveiro.
Estamos, portanto, expectantes, perante a possibilidade de que a nova versão do
POOC Ovar – Marinha Grande constitua o primeiro plano de ordenamento da orla
costeira “dito” de 2.ª geração.
II.2.2.4. Os Planos Regionais de Ordenamento do Território
(PROT)
Os PROT são enquadrados pela Lei de Bases da Política de Ordenamento do
Território e de Urbanismo (Lei nº 48/1998, de 11 de agosto) e pelo Regime Jurídico dos
Instrumentos de Gestão Territorial (DL 380/1999, de 22 de setembro, na sua atual redação
dada pelo DL nº 46/2009, de 20 de fevereiro). Estes definem a estratégia regional de
desenvolvimento territorial, e em conjunto com o Programa Nacional de Política de
Ordenamento do Território (PNPOT) estabelece as diretrizes para o uso do território.
Constituem o quadro de referência para a elaboração dos planos municipais de
30
ordenamento do território, e definem regras de gestão territorial compatíveis com o
modelo da região.
O PROT tem como principais propósitos, definir diretrizes para o uso, ocupação
e transformação do território, num quadro de opções estratégicas estabelecidas a nível
nacional, promover a integração das políticas setoriais e ambientais no ordenamento e na
coordenação de intervenções e orientar a elaboração dos Planos Municipais de
Ordenamento do Território.
Relativamente ao PROT – Centro, este surgiu através da Resolução do Conselho
de Ministros n.º 31/2006, de 23 de Março, tendo 5 objetivos gerais, nomeadamente:
I. Definir diretrizes para o uso, ocupação e transformação do território, num
quadro de opções estratégicas estabelecidas a nível regional;
II. Desenvolver, no âmbito regional, as opções constantes do programa
nacional da política de ordenamento do território e dos planos sectoriais;
III. Traduzir, em termos espaciais, os grandes objetivos de desenvolvimento
económico e social sustentável, formulados no plano de desenvolvimento
regional;
IV. Equacionar as medidas tendentes à atenuação das assimetrias de
desenvolvimento intrarregionais;
V. Servir de base à formulação da estratégia nacional de ordenamento
territorial e de quadro de referência para a elaboração dos planos especiais,
intermunicipais e municipais de ordenamento do território.
Em suma, o PROT tem vários objetivos estratégicos, entre eles está a proteção,
valorização e gestão sustentável dos recursos hídricos e florestais, e o desenvolvimento
de uma política integrada para o litoral.
II.2.2.5. Gestão integrada da Zona Costeira Nacional (GIZCN)
“É vital o reconhecimento de que situações naturais altamente dinâmicas em zonas
vulneráveis às ações do mar, que no passado não suscitavam qualquer intervenção (nem
existiam meios técnicos para o fazer), são atualmente contrariadas pelo tipo de ocupação
do solo (construções em restingas, dunas, praias) e pelos usos (exploração portuária) que
atualmente se verificam nessas zonas“ (Gomes, 2007, p. 85).
Desta forma, no âmbito dos normativos com vista a uma intervenção qualificada
para a sustentabilidade dos usos e ocupações da zona costeira, assume particular relevo a
31
Estratégia Nacional para a Gestão Integrada das Zonas Costeiras, aprovada pela
Resolução do Conselho de Ministros n.º 82/2009, de 20 de Agosto de 2009. Esta procura
conciliar as várias estratégias, políticas e programas nacionais, tendo uma visão da zona
costeira sustentável e desenvolvida, valorizando os seus recursos e valores identitários.
São vários os objetivos fundamentais da Gestão Integrada da Zona Costeira, tendo
principal destaque os seguintes:
I. Conservação de recursos e do património natural e paisagístico;
II. Qualificação da zona costeira e o desenvolvimento sustentável de
atividades e usos específicos;
III. Minimização de situações de risco e de impactos ambientais, sociais e
económicos;
IV. A avaliação integrada de políticas e de instrumentos de gestão da zona
costeira.
II.2.2.6. Instrumentos de gestão costeira no município de Ovar
A nível municipal, o concelho de Ovar, tem presente vários instrumentos para
gerir o território. Na tabela II podemos visualizar alguns dos instrumentos de gestão
presentes neste concelho, nomeadamente:
a) Rede Natura 2000 - Contém áreas para conservar os habitats e as espécies
selvagens raras que estão ameaçadas ou vulneráveis;
b) PROF – São estabelecidas intervenções sobre a ocupação e a utilização dos
espaços florestais;
c) PNPOT – Trata-se de um programa para o desenvolvimento/gestão territorial
tendo ação em vários domínios temáticos e gerais;
d) Plano Nacional da Água (PNA) – É elaborada a gestão integrada da água.
e) Plano de Gestão das Bacias Hidrográficas (PGBH) – Proteção e gestão das
águas;
f) PDM – Instrumento de planeamento/ordenamento do território de natureza
regulamentar.
De salientar que já mencionei anteriormente o POOC referente a Ovar.
Daqui posso concluir que em termos de planos de pormenor para desenvolver e
acima de tudo proteger a zona costeira, não tem nenhum que englobe o Furadouro.
32
Tabela II - Instrumentos de Gestão do Território vigentes no município de Ovar
Instrumento Designação Dinâmica Publicação D.R. Data D.R.
RN Rede Natura 2000 1ª Publicação RCM 115 –
A/2008 21/07/2008
PROF
Plano Regional de
Ordenamento Florestal do
Centro Litoral
Suspensão da
iniciativa do
governo -
Prorrogação
PORT 141/2015 07/02/2015
POOC Ovar – Marinha Grande 1ºAlteração RCM 76/2005 21/03/2005
PNPOT
Programa nacional da
política de ordenamento
do território
2ª Retificação DECL RECT
103-A/2007 02/11/2007
PNA Plano Nacional da Água 1ªPublicação DL 112/2002 17/04/2002
PGBH
Plano de gestão das
bacias hidrográficas que
integram a região
hidrográfica 4 (rh4) -
PGBH do Vouga,
Mondego e Lis e das
Ribeiras do Oeste
1ª Publicação RCM 16-B/2013 22/03/2013
PDM Ovar Revisto AVISO
9622/2015 26/08/2015
Fonte: Direção-Geral do Território (http://www.dgterritorio.pt/AcessoSimples/#), Setembro de
2015
33
Capítulo III – Dos Paleoambientes litorais recentes até à atualidade
III.3.1. Breve história da evolução quaternária do nível médio do mar
O nível médio do mar (NMM) está ligado a uma escala temporal. Aqui faz-se a
comparação entre a altura da água do mar a um determinado ponto de referência da rede
geodésica, sendo este, calculado com base nas alterações das marés durante um longo
período de tempo. Quanto à subida do nível médio das águas do mar, pode ocorrer devido
ao degelo das calotes polares e glaciares, à expansão térmica dos oceanos, e às
perturbações induzidas pelas atividades humanas.
O NMM depende principalmente do volume total de água presente nas bacias
oceânicas, da batimetria dos fundos, e da temperatura da água a diferentes profundidades
(a qual influência a densidade e o volume). Também os movimentos tectónicos que
acompanham a deformação da margem dos continentes e a acumulação de sedimentos
nos fundos marinhos influenciam o NMM. Desta forma, alguma variação num destes
fatores induz variações que, regra geral, são lentas à escala humana e, sendo estas
também, denominadas variações seculares.
O nível das águas do mar também pode aumentar devido a fatores meteorológicos
ligados ao estado local de tempo e à propagação da agitação marítima. Como também a
fatores de pressão atmosférica e, astronómicos. De acordo com Mesquita (2003, citado
por Neto, 2009, p. 23), “quando as desigualdades de pressão são grandes entre pontos
adjacentes (elevados gradientes), como ocorre nos ciclones tropicais, o efeito de pressão
pode contribuir em cerca de 1,5 metros”.
A evolução do NMM ainda é pouco conhecida em termos de pormenor, contudo
cada vez mais existem estudos científicos de forma a tentarem perceber como ocorreu
essa evolução e quais foram as principais causas.
Segundo Andersen & Borns (1994, citado por Neto, 2009, p. 24), “no período do
Neogénico constatou-se uma tendência total para uma série de progressivas mudanças no
nível médio do mar. Essa tendência acentua-se durante o Quaternário, com fortes
variações climáticas, como glaciações e períodos interglaciares, que se revelam em
extraordinárias mudanças do nível do mar”.
É de salientar que o período Quaternário tem como característica a ocorrência de
alternâncias climáticas entre períodos frios (glaciações) e períodos quentes
(interglaciações). Assim, no período glaciário ocorre uma acumulação de gelo nas calotes
34
polares devido às baixas temperaturas, contexto que se desloca em ambos os hemisférios
em direção a latitudes mais próximas do Equador, normalmente, mais quentes., o mesmo
acontecendo em altitudes mais baixas. Quanto ao interglaciário (muito menos prolongado
no tempo do que as fases de glaciação) ocorrem temperaturas mais altas que promovem
a fusão do gelo acumulado nas latitudes médias e em altitudes mais baixas, bem como o
recuo das massas glaciares para latitudes e altitudes mais elevadas. Desta forma, na era
glaciária surge uma descida do nível médio das águas do mar, e no período interglaciário
uma subida do nível do mar.
De acordo com Dias (1997, citado por Neto, 2009, p. 25), “devido à retenção de
gelo na parte interna dos continentes, na última glaciação, o nível do mar teria diminuído
entre 120-140 m relativamente ao nível contemporâneo, o que se demonstrou numa
alteração relevante da linha de costa, principalmente em regiões na qual a plataforma
litoral é ampla e com pouco declive na parte próxima dos continentes, e em um recuo da
linha de costa de 30-40 km”.
Em Portugal, “até há cerca de 16 000 anos” o NMM teve uma subida moderada,
“atingindo profundidades atuais da ordem dos 100 metros, ou possivelmente menos, após
o que se verificou período de relativa estabilização, que se prolongou até há cerca de 13
000 anos” (Dias, p. 162, 2004). Porém, “há 11 000 anos existiu uma inversão climática
muito rápida e de ordem maior”, (Dias, p. 164, 2004).
Na América do Norte, existiam grandes barreiras de gelo e quando essa barreira
de gelo começou a derreter, abriu passagem a enormes volumes de água provenientes da
acumulação da fusão glaciária. Entretanto na Península Ibérica, “o nível do mar, que tinha
atingido cotas da ordem dos - 40 m ou menos, volta a descer para os 60 m abaixo do nível
atual” (Dias, 1987, citado por Dias, 2004, p. 164).
Posteriormente, surgem novas modificações climáticas, nomeadamente
interglaciárias com a subida do nível do mar de forma acelerada. Após alguns milénios a
subida do nível do mar começou a amortecer até atingir valores próximos do nível atual.
“É entre os anos 1000 e 600 que o comportamento anaclástico (construtivo –
devido à acreção sedimentar) do litoral se parece ter intensificado, forçado por abundante
pluviosidade (cerca de 35% superior à atual) e por ventos fortes” (Dias, 2004, p. 167).
Tanto as cheias como a frequência e intensidade dos temporais proporcionavam
transferências sedimentares e amplificavam a deriva litoral. Sendo assim, surgiram
grandes praias arenosas com extensas dunas.
35
De acordo com Paskoff (2001), citado por Neto, (2009, p. 25), “o período anterior
a 1825 corresponde à pequena idade do gelo onde ocorreu um certo decréscimo do nível
do mar. Já o período posterior a 1825 apresenta uma elevação do nível do mar de cerca
de 12 cm no período de 150 anos”.
Durante o século XX, o abastecimento sedimentar ao litoral reduziu-se
gradualmente, devido a ações antrópicas como, por exemplo a construção de barragens,
as dragagens portuárias, extração de inertes ou as obras de “proteção costeira”. Também
esta diminuição foi reforçada pelas alterações climáticas, em curso, como, por exemplo,
ao nível da atmosfera, nomeadamente nos teores de gases com efeito de estufa (CO2 e
CH4) que têm vindo a aumentar nas últimas décadas.
Em Portugal, o litoral está a sofrer graves problemas de erosão costeira; nalguns
pontos do país e em certos períodos, tem ultrapassado os 10m/ano. Assim, se houver uma
elevação do NMM as áreas que provavelmente serão mais afetadas são as lagunas
costeiras, com especial relevância para a Ria Formosa e a Ria de Aveiro, e as zonas
estuarinas, principalmente os estuários do Tejo e do Sado. Segundo Dias (2003, p. 12),
“nos litorais rochosos baixos, verificar-se-á, também, intensificação do recuo da linha de
costa e desaparecimento das pequenas praias aí existentes. Nos litorais de arribas rochosas
verificar-se-á intensificação da atividade destas, com consequente recuo da crista da
arriba”.
Desta forma poderemos ter uma submersão das infraestruturas e uma intrusão
salina, afetando a qualidade das águas subterrâneas, a agricultura e os ecossistemas
costeiros e estuarinos.
As variações do nível do mar ao longo do seculo XX são conhecidas devido ao
estudo das séries maregráficas, nomeadamente de Cascais, Lagos, Leixões, Lisboa e
Angra do Heroísmo. De acordo com Pereira (2010, p. 7), “a análise dos maregramas de
Cascais e de Lagos revela que a elevação média do nível relativo do mar nos últimos 100
anos foi de 1,3 mm/ano em Cascais e de 1,5 mm/ano em Lagos”. Apesar dos valores da
elevação serem pequenos, as consequências na faixa costeira podem atingir amplitudes
consideráveis.
Existem vários programas vocacionados para a monitorização do nível do mar,
como, por exemplo, o Serviço Permanente para o Nível do mar (PSMSL - acrónimo do
equivalente em língua inglesa), e o Sistema de Observação Global do Nível do Mar
(GLOSS – acrónimo do equivalente em língua inglesa).
36
O programa PSMSL está sediado no Proudman Oceanographic Laboratory (POL),
na Universidade de Liverpool Inglaterra, contendo os dados fornecidos pelos países que
possuem marégrafos. Quanto ao programa GLOSS, este é coordenado pela Comissão
Oceanográfica Intergovernamental (COI), tendo como objetivo o estabelecimento de
redes globais e regionais de estações de nível do mar, e fornecer informações
fundamentais aos programas internacionais de pesquisa oceanográfica, incluindo o estudo
das mudanças climáticas.
Concluindo, é muito importante continuarmos a efetuar a monitoração do nível do
mar, efetuar estudos, e acima de tudo termos em conta a subida do nível médio do mar na
construção de infraestruturas, para diminuirmos as vulnerabilidades dos sistemas
costeiros aos riscos naturais e/ou antrópicos, sobretudo em contexto de inundação e
galgamentos – ataques erosivos, ou, pelo menos, para tornar possível a definição e
implementação de planos e estratégias de mitigação dos riscos.
III.3.2. Morfodinâmica dos ambientes litorais, processos erosivos e
atividade antrópica
Os ambientes litorais, além de serem bastante dinâmicos e terem uma elevada
sensibilidade ambiental, são zonas que refletem os impactes da interação da atividade
humana com a dinâmica natural morfossedimentar.
Uma grande percentagem da população portuguesa vive nas zonas costeiras, e é
aqui que estão concentrados os centros de decisão política, económica, e industrial.
Contudo, o crescimento populacional nas zonas costeiras foi bastante rápido e mal
planeado, o que originou uma elevada pressão urbana e industrial. Como consequência
desta pressão urbana, surgiu a destruição de muitos ambientes litorais, designadamente,
dos cordões dunares primários – as primeiras proteções naturais contra o avanço do mar,
e um aumento da vulnerabilidade territorial face à erosão costeira e consequentes registos
do recuo da linha de costa.
A erosão costeira é um fenómeno independente de escala, vai do local ao global o
que obriga à pesquisa de explicações de diferentes índoles, mas que em termos globais
afeta grande parte das praias arenosas por todo o planeta. Entre as principais causas
37
destacam-se as naturais (interação mar – linha de costa) mas também as de origem
antrópica (barragens, dragagens, construção de esporões, entre outros).
Este processo ocorre quando o mar avança sobre a terra, devido à ação de vários
fatores que fazem com que a taxa de remoção de sedimentos seja maior do que a de
deposição. É medido ao longo de um determinado período de tempo, sem a interferência
das variações sazonais associadas ao clima, às tempestades e à dinâmica sedimentar local,
e por fim, está relacionada com a composição geológica, a composição morfológica e
com o perfil topográfico da costa.
Existem várias zonas litorais sujeitas à intensa erosão, onde se registam recuos
significativos da linha de costa, com situações de galgamentos e prejuízos avultados para
a região.
Nas imagens seguintes (Fig. 4) vemos a praia do Furadouro, em Agosto de 2003
e Maio de 2013. Apesar de as imagens não serem do mesmo mês (fator que não ajuda a
uma comparação mais rigorosa), é possível verificar que num intervalo de 10 anos, houve
grandes transformações na paisagem causadas pelo recuo da linha de costa, com registo
de vários galgamentos e danos para as populações aí residentes.
Figura 4 - Praia do Furadouro em 2003 e 2013. Fonte: Google Earth
Segundo o Projeto Eurosion (2004, citado por Guimarães, 2012, p. 20), “Portugal
é um dos países da Europa que mais sofre com a erosão costeira, segundo um estudo da
União Europeia”. Este estudo também refere que um quinto da costa portuguesa já foi
severamente afetado pela erosão. O troço com maior problema de erosão situa-se entre o
Douro e a Nazaré, que tem taxas de recuo superiores, em alguns casos, a vários metros.
38
Desta forma, as principais áreas afetadas são o Centro-Norte com mais de 60% da linha
de costa a ser atingidas por fenómenos erosivos e o Centro com 52%.
No gráfico seguinte, podemos analisar as taxas médias de recuo mais preocupantes
no país, estando em destaque o Furadouro, Costa Nova-Vagueira e Espinho-Cortegaça.
Estas tiveram uma taxa de recuo bastante preocupante e são áreas bastante artificializadas
por obras de proteção costeira. Com menor taxa média de recuo temos a praia de Porto
Dinheiro, situada no concelho da Lourinhã. Na figura 5, podemos ver a localização destas
praias e concluir que é na zona centro que encontramos maiores taxas médias de recuo,
devido a localizar-se aí a praia do Furadouro, Costa Nova-Vagueira e Espinho-Cortegaça.
Gráfico 1 - Taxa média de recuo (m/ano) em Portugal continental (Fonte: INAG, 2005)
9
8
3.2
2.1
1
1
0.9
0.7
0.7
0.3
0.2
0.1
0.02
0 2 4 6 8 10
Furadouro
Costa Nova-Vagueira
Espinho - Cortegaça
Ofir
Praia do Meco
Ilha de Faro
Baleal
Aguçadoura
Forte Novo
Olhos de Água
Póvoa do Varzim
Lagoa de Óbidos
Porto Dinheiro
39
Figura 5 - Localização das praias abordadas no gráfico anterior. Fonte: Elaboração
própria.
São vários os impactos causados pela erosão costeira como, por exemplo, a perda
de terreno com valor económico, social ou ambiental. A destruição de defesas costeiras
naturais (dunas), por ação das tempestades, das marés vivas e das atividades antrópicas,
que podem ter como consequência inundações costeiras e prejuízos à população. Por
último, temos a menor eficácia das defesas artificiais, que origina o aumento do risco de
inundação.
Para concluir, a erosão costeira deriva da combinação de fatores naturais e
antrópicos que atuam a diferentes escalas; contudo, tendo a erosão costeira vindo a
agravar-se devido às ações antrópicas é sobre este fator de instabilidade que podemos
atuar para mitigar as consequências dos riscos.
40
III.3.2.1. Ações Naturais
Neste subcapítulo iremos abordar as ações naturais que afetam e moldam a linha
de costa. São vários os fatores naturais responsáveis pela erosão costeira e consequente
recuo da linha de costa, nomeadamente: tempestades, marés, vento, agitação marítima,
subida relativa das águas do mar, e até as ervas-do-mar. Este último fator é bastante
importante, já que quando está presente pode funcionar como uma espécie de “recife-
barreira” ou como um “quebra-mar natural” reduzindo cerca de 40% a energia da
ondulação, resultando assim numa diminuição da erosão costeira. Contudo, os principais
agentes erosivos – modeladores da paisagem litoral são, sem dúvidas, o vento, as marés
e a agitação e correntes marítimas, os quais serão objeto da nossa atenção na fase mais
adiantada do trabalho.
III.3.2.1.1. Vento
O vento é bastante importante no processo de modelação da costa. Este é o
principal interveniente no processo de formação das dunas, já que transporta areias da
praia e das dunas. Veloso et al. (2006, citado por Rodrigues, 2010, p. 8) defendem que os
ventos “tornam-se também importantes uma vez que geram correntes e ondas superficiais
de intensidades e direções variáveis, conforme a velocidade, persistência e direção do
vento que as origina”.
Segundo Pereira (2008, p. 8), “as características do vento dependem: do gradiente
barométrico no varrido, que comanda a sua velocidade, da posição dos elementos
isobáricos que condicionam a direção do vento e da dinâmica deste fatores que condiciona
a variabilidade (velocidade e direção) do vento. A ação do vento é ainda condicionada,
nas áreas emersas, pela rugosidade da superfície topográfica e pela disponibilidade em
sedimentos”.
De acordo com Tomás (2008, p. 6), “o regime de vento mais característico da
costa ocidental portuguesa é Regime de Nortada. Atinge expressão máxima em particular
no Verão, no mês de Julho, sendo relativamente forte e persistente neste trecho litorâneo.
Este regime domina quando os ventos persistem de NW durante vários dias, aumentando
tipicamente de velocidade durante o dia, atingindo o máximo de intensidade no fim da
tarde, e o mínimo de madrugada”.
41
III.3.2.1.2. Marés
Segundo Coelho (2005, p. 53), “o fluxo e o refluxo das águas do mar junto à costa
e consequente variação do nível da água do mar são o resultado da variação da distância
relativa entre os astros (essencialmente Terra, Lua e Sol) e de ações meteorológicas”.
Desta forma, a força exercida pela Lua e Sol fazem com que a água dos oceanos seja
atraída, originando as marés5. Assim, o ciclo das marés reflete e rege-se pelas variações
das posições do Sol e da Lua.
O ciclo das marés é constituído pela preia-mar, baixa-mar, marés mortas, e marés
vivas. Quando a Lua passa pelo meridiano de um lugar o efeito da maré, a preia-mar
(Fig.6), só se faz sentir um pouco mais tarde devido ao atrito das massas (água e fundo)
e à necessidade de vencer a inércia. Relativamente à baixa-mar, esta acontece sempre que
a Lua nasce ou se põe num dado lugar. Quanto às marés mortas, estas aparecem no quarto
minguante e quarto crescente, atingindo a amplitude mínima. Por fim, as marés vivas
surgem quando a amplitude é a maior do ciclo lunar e correspondem ao momento de
concordância das atrações solares e lunares, na lua cheia e na lua nova.
Em Portugal as marés são semidiurnas (ocorrem duas marés-altas e duas marés-
baixas com valores quase iguais), possuindo cada ciclo de maré uma duração aproximada
de 12h e 25min. De acordo com Magalhães (2001, p. 24) “caracteriza as amplitudes de
maré como oscilando entre valores não muito superiores a 1 m, nas marés mortas, e 4 m
nas marés vivas”.
Na figura 6, podemos ver a diferença entre as marés em situação de preia-mar e
baixa-mar na praia do Furadouro. A maré em situação de baixa-mar encontrasse recuada
alguns metros, tal como é esperado, em relação à preia-mar. De salientar que esta área já
se encontra bastante artificializada influenciando a área abrangida pelo nível máximo das
águas do mar, uma vez que a maré já estava a ir ao encontro das rochas.
Para terminar, as marés fazem um importante controlo na ecologia e morfologia
das praias, ou seja, elas configuram os perfis de praia e as faixas emersas e imersas.
5 É de salientar a massa do sol é 27 milhões de vezes maior que a Lua, contudo o facto desta se encontrar
mais próxima da Terra faz com que a influência da Lua seja mais do dobro da do Sol.
42
Figura 6 - Maré em situação de Preia-Mar (1ª foto) e Maré em situação de Baixa-Mar (2ª
foto), na praia do Furadouro com orientação de Sul para Norte6.
III.3.2.1.3. Agitação Marítima
A costa oeste portuguesa é marcada por uma intensa agitação marítima que se
pode associar às ondas, vagas, seichas e tsunamis. Quanto à onda trata-se de uma elevação
e depressão da camada superficial do oceano, com oscilação causada pela passagem de
energia cinética da atmosfera para a massa de água marítima. As vagas surgem devido ao
efeito de ventos locais e criam um estado de agitação irregular, podendo coincidir com
ondas oriundas de outros temporais. Relativamente às seichas, estas são ondas de
oscilação de longo período.
As tempestades são fenômenos atmosféricos que criam ventos e chuvas fortes, e
também originam ondas de grandes dimensões e irregulares.
A refração das ondas começa à medida que elas se aproximam da costa, e as linhas
de ondas tornam-se gradualmente mais paralelas à linha de costa. Este fenómeno acontece
porque a “onda que está mais perto da costa encontra um fundo menos profundo e as
órbitas das partículas de água tornam-se mais elípticas”, enquanto as “outras zonas da
onda, a medida que atingem esse fundo menos profundo, se tornam igualmente mais
lentas devido a maior força de atrito exercida pelo fundo”, (Guimarães, 2012, p.5).
De acordo com Tomás (2008, p. 13), “as condições de agitação prevalecentes na
costa portuguesa traduz-se numa corrente longilitoral direcionada em termos gerais para
sul, sendo provavelmente mais forte a norte do paralelo 41º do que a sul desta fronteira,
devido à maior obliquidade apresentada pela linha de costa relativamente à direção de
aproximação da agitação em águas profundas”.
6 Fotos tiradas de acordo com a previsão das marés efetuada pelo Instituto Hidrográfico.
43
III.3.3. Fundamentos da importância da intervenção antrópica nas
dinâmicas litorais
Em Portugal a zona costeira tem sofrido várias consequências negativas devido à
presença humana, sendo neste momento difícil encontrar um troço em que se possa
atribuir apenas características naturais dominantes. Estas ações antrópicas podem alterar
as relações entre sistemas e dinâmicas naturais, onde algumas delas causam efeitos
prolongados.
São várias as ações antrópicas, nomeadamente: intervenções estruturais de defesa
costeira; destruição dos cordões dunares; dragagens e extração de areias; barragens;
edificação de frentes marítimas; introdução de desperdícios, derrames, lixos e outros
resíduos, nutrientes e pesticidas que têm efeitos destruidores em todos os ambientes
naturais; introdução de espécies exóticas, quer da flora quer da fauna, que se revelam
infestantes e dominadoras; entre outros. De salientar que as dragagens, extração de areias
e barragens influenciam indiretamente o litoral devido à redução de sedimentos.
III.3.3.1. Estruturas de defesa costeira
As estruturas de defesa costeira, sejam esporões, sejam paredões, o de outra matriz
arquitetónica/estrutural, são determinantes face aos problemas de erosão costeira que
estamos a vivenciar e colocam em risco a estabilidade da morfologia costeira. Ao longo
da costa a erosão tem sido combatida com estruturas de proteção, que originaram uma
acentuada artificialização da zona costeira. Contudo, não podemos esquecer que a
agitação marítima produz um conjunto de ações sobre as estruturas de defesa costeira que
provocam a erosão, sendo necessário que a estrutura exposta à ação das ondas seja
concebida de modo a resistir às forças induzidas pelas solicitações de maior intensidade.
As obras de defesa costeira têm consequências graves, além de não estabilizarem
as tendências de evolução da costa, já que, no caso dos molhes ou esporões, apenas
protegem local e pontualmente, transferindo os problemas de erosão para sul e retêm, a
norte, os sedimentos transportados longitudinalmente pela corrente de deriva litoral, isto
no que diz respeito à orientação meridiana da costa ocidental. Um outro aspeto é o facto
de serem muito dispendiosas e implicarem gastos avultados em ações de construção,
reposição e manutenção. Por fim, podem induzir a população numa falsa noção de
44
segurança, já que não são suficientes numa perspetiva de longo prazo especialmente numa
situação de subida do nível do mar, e não colocam em prática o princípio de precaução, e
as necessidades das gerações atuais e futuras.
Contudo, não nos podemos esquecer que “difícil será prever com fiabilidade qual
seria a situação atual desses núcleos populacionais e quais as evoluções dinâmicas em
toda a faixa costeira se não tivessem sido executadas essas estruturas de defesa”, (Gomes,
2007, p. 86).
III.3.3.1.1. Estruturas transversais
As estruturas transversais ou esporões (Fig. 7) são obras implantadas
transversalmente em relação à faixa costeira. Estas retêm uma percentagem maior ou
menor de transporte sólido longitudinal em função do seu comprimento, cotas de
coroamento e constituição estrutural promovendo a deposição de sedimentos a barlamar
da zona de implementação. As mesmas podem aparecer isoladamente, ou como um
campo de esporões alinhados em rosário.
A construção destas estruturas deve concretizar-se de sotamar para barlamar, de
modo a haver uma diminuição dos efeitos negativos a sotamar. “É importante também
que se estabeleçam com cotas baixas e com alguma “permeabilidade” ou com
“transparência” transversal ao transporte sólido” (Gomes, 1991, citado por Vidal, 2009,
p. 4).
Como consequências temos o impacto visual/paisagístico e a redução do
transporte sedimentar para sotamar, o que provoca o intensificar do ataque erosivo do mar
à praia.
45
Figura 7 – Estrutura transversal na praia do Furadouro.
III.3.3.1.2. Estruturas longitudinais aderentes (muros, taludes)
As estruturas longitudinais implantam-se paralelamente à linha de costa (Fig. 8),
e têm como principal função a resistência à ação direta da agitação marítima e aos
processos de marulhada. Quanto a soluções construtivas, estas podem considerar
paramentos verticais, inclinados, compostos, curvilíneos (deflectores) ou em degraus,
segundo a sua função principal e a conceção considerada.
Quando temos situações de temporal, pode acontecer em certos intervalos de
tempo não termos nenhuma frente emersa de praia, o que faz com que a estrutura
longitudinal fique exposta diretamente à agitação marítima. Como consequência temos
os galgamentos desta obra, o que origina danos materiais, como por exemplo destruição
dos muros e passeios.
Estas estruturas longitudinais têm como impactos o rebaixamento da praia
provocada pelo aumento de reflexões, o que ainda pode levar a processos de erosão da
zona arenosa, podendo mesmo erodir a fundação da estrutura.
De salientar que o problema de erosão costeira não é combatido com este tipo de
estruturas, estas permitem apenas a manutenção da linha de costa, na zona de implantação
da obra.
46
Figura 8 – Estrutura Longitudinal (Muro) na praia do Furadouro, orientação de Norte
para Sul.
III.3.3.2. Alimentação artificial com areias
A alimentação artificial com areias consiste em intervenções que removem
grandes quantidades de areias de um local e transportam para um lugar crítico, como por
exemplo uma praia, duna, ou zona submersa em frente a uma praia.
Estas têm um impacto direto na promoção/manutenção das atividades económicas
e recreativas da praia, contudo esta intervenção de defesa não é permanente.
Na figura 9, podemos ver a alimentação artificial na praia do Furadouro efetuada
em 2010.
Figura 9 - Alimentação artificial na praia do Furadouro, 2010.
Fonte – http://ondaseventania.blogspot.pt/2011/01/alimentacao-artificial-da-praia-
do.html. Acedido Setembro 15, 2015.
47
III.3.3.3 Dragagens e extração de areias
A extração de inertes promove a retirada de volume de areias de um rio (seja no
seu leito ou margens), com a intenção de comercializar essas areias (por exemplo para a
construção civil), enquanto as dragagens têm como objetivo permitir a navegabilidade de
um trecho do rio.
Segundo Coelho (2005, p. 105), “o valor económico da extração e exploração dos
sedimentos para serem utilizados como inertes é importante, mas o significado ambiental
enquanto parcela de um caudal sólido que flui nas linhas de água e determina o seu estado
de equilíbrio é igualmente importante”.
As barragens, localizadas a montante, inibiram o processo natural de depuração
do estuário e de alimentação do litoral. Assim, de modo a garantir a navegabilidade nos
canais, as obras de dragagem de manutenção, abertura e aprofundamento obtêm hoje em
dia maior amplitude, contudo agravam a erosão costeira através da diminuição do volume
de areias disponíveis. Este é um processo cíclico, já que as zonas dragadas são,
futuramente, mais acessíveis ao assoreamento, levando a contínuas operações de
dragagens com consequências negativas para as praias e dunas contíguas.
Segundo Rodrigues (2010, p. 13), “quando as dragagens são realizadas na parte
externa do estuário e o assoreamento ocorre com areias provenientes da deriva litoral,
está-se não só a diminuir ou a inibir a transferência dos sedimentos para a plataforma
continental, como também se está a retirar parte do trânsito sedimentar aí decorrente”.
Desde os anos 70 que em Portugal, o consumo de inertes principalmente na
indústria da construção civil tem sido um aspeto de pressão e enfraquecimento das fontes
aluvionares que alimentam as praias do litoral português. De acordo com Conceição
(2008, p. 14), “o Plano da Bacia Hidrográfica do Douro indica como valores de volume
médio extraído de 630.000 m3/ano. Este volume corresponde a 32% do volume que aflui
à foz anualmente, admitindo que de forma natural este debitaria 2.000.000 m3/ano”.
A extração de inertes tem decorrido com maior intensidade no interior dos
estuários do litoral norte-centro português, nas respetivas barras e a barlamar dos molhes.
Uma grande consequência negativa é o facto dos compostos que estão sob as
camadas de sedimentos que cobrem os fundos, através do processo das dragagens,
passarem a distribuir-se ao longo da coluna de água e por áreas maiores, causando grandes
48
impactos negativos nas águas como também na qualidade das comunidades biológicas
litorais.
III.3.3.4. Destruição dos cordões dunares
Os cordões dunares têm uma grande valia ecológica e paisagística, e são muito
importantes para diminuir os danos que possam ocorrer em situações de tempestades,
como também na redução de galgamentos e inundações. Contudo, estes têm sido
destruídos para permitir vistas para o mar, extrair areias para a construção civil, como
também para construir vias de comunicação, habitações, entre outros. As dunas também
são destruídas devido ao intenso pisoteio, e pelos trilhos rasgados para a circulação de
veículos todo o terreno.
Com isto, os cordões dunares apresentam hoje grandes fragilidades na proteção
natural. Segundo Coelho (2005, p.107), “a ação das ondas e das marés passou a ter
consequências mais graves e por vezes irreversíveis já que desapareceu muita da
capacidade de auto-recuperação dos perfis de praias e dunas após as tempestades”.
Na figura 10, podemos conferir o intenso pisoteio das dunas na praia do
Furadouro. Aqui, além de existirem passadiços, também é possível verificar vedações
com o objetivo de proteger as dunas. Contudo a população não respeita, e como podemos
ver na imagem da figura 10, uma parte da vedação já se encontra destruída.
Figura 10 - Pisoteio das dunas no Furadouro.
49
Para concluir, se a vegetação presente nas dunas for continuamente pisada a ponto
de desaparecer, a areia presente não irá oferecer resistência e o vento irá encontrar outros
caminhos, o que pode colocar em risco o sistema dunar.
III.3.3.5. Barragens
Através da construção de barragens podemos fazer um aproveitamento
hidroelétrico e hidroagrícola. Contudo também existem aspetos negativos,
nomeadamente com o impedimento natural do transporte dos caudais sólidos como
também dos caudais líquidos a jusante dos mesmos, agravando a erosão costeira.
Em termos geológicos, a subida do nível médio das águas do mar vai dificultar o
transporte para o mar dos sedimentos que atingem os estuários, originando progressivos
assoreamentos dos troços inferiores desses estuários. Devido às atividades de navegação
e portuárias se situarem nos estuários, existe uma maior necessidade de dragagens com a
retirada de volumes sedimentares dos mesmos.
Em Portugal o número de barragens construídas tem vindo a crescer,
nomeadamente nas áreas de relevo mais montanhoso, como por exemplo na bacia
hidrográfica do Douro. Contudo, mesmo quando ocorrem as descargas das barragens e
mesmo quando acontecem cheias, o transporte de areias não é significativo, ficando
grandes volumes de areias retidos nas barragens.
Mas também, os diques para regularização dos leitos fluviais e a multiplicidade
de albufeiras hidroagrícolas contribuem para uma maior dificuldade no transporte de
sedimentos para o litoral, o que agrava ainda mais o fenómeno de escassez de sedimentos
dos rios da atualidade.
50
Capitulo IV – Breve caracterização do suporte físico da área em estudo
Este capítulo foi elaborado com o intuito de percebermos melhor o passado e
também compreendermos a situação atual na praia do Furadouro. Além de darmos a
conhecer os contextos geológicos e geomorfologia regionais, também iremos abordar as
várias transformações do solo, sendo este ponto importante para as análises comparadas
da evolução da área urbana, florestas e praia através de diferentes ferramentas. Um outro
subcapítulo que irá ser abordado está relacionado com os ambientes dunares, já que estes
têm um papel fundamental nas áreas costeiras, sendo importante percebermos a sua
dinâmica, como também o seu estado atual. Para concluir, também serão abordado alguns
fatores que influenciam a dinâmica litoral como, por exemplo a agitação marítima e o
vento, e as várias etapas no crescimento urbano, referindo aqui vários eventos causados
pela agitação marítima no Furadouro.
IV.4.1. Geologia (Litologia e Tectónica) e Geomorfologia
Apesar de a área em estudo ser de compreensão pacífica no que à caracterização
litológica superficial diz respeito, entendemos por pertinente apresentar alguns dos
apontamentos que nos parecem úteis para a compreensão da dinâmica litoral que
caracteriza este tipo de regiões de costa baixa, em geral, e, em particular, o caso da praia
do Furadouro. Assim, conforme ilustra a figura 11, podemos constatar que, em termos
litológicos os materiais em presença são relativamente pouco diversificados, o que não é
de estranhar se atendermos à reduzida dimensão da área retratada, onde predominam
depósitos de cobertura do Moderno que fossilizam o substrato rochoso metassedimentar
identificado na literatura da especialidade (Afonso et al. 2004, p. 103) como “Faixa
Metamórfica Espinho – Albergaria-a-Velha”.
51
Figura 11 - Mapa Geotectónico da faixa metamórfica de Espinho - Albergaria-a-Velha,
no sector entre a cidade do Porto e Aveiro. Fonte: Adaptado de Chaminé, 2000; Chaminé
et al., 2003b; in Afonso et al. 2004.
Na área em estudo predominam, assim, formações sedimentares quaternárias,
modernas (Fig. 12), que integram a denominada “Bacia Sedimentar de Aveiro” (Rocha,
1993, citado em Afonso et al. 2004, p. 109), e que, de acordo com a folha 13-C, Ovar,
1:50000 da Carta Geológica de Portugal (CGP), apresentam a seguinte sequência
litostratigráfica:
- Aluviões atuais (a);
- Areias e cascalheiras de praia (A);
- Areias de duna (Ad).
52
Figura 12 - Mapa Geológico - Praia do Furadouro. Fonte: Elaboração própria com base
na folha 153 da Carta Geológica de Portugal, 1:25000.
O sector oriental da área caracteriza-se pela presença de aluviões actuais (a)
associados ao grande acidente lagunar da assim conhecida “Ria de Aveiro”, cujas
ramificações “pseudo-deltaicas” se estendem por vários quilómetros, para sul e para
norte. Neste caso, alcançam as latitudes da área em estudo (através do canal de S. Jacinto)
e os sedimentos aluvionares que lhe estão associados caracterizam-se pelo elevado grau
de maturidade que se traduz pelo carácter homométrico dos sedimentos, pelo elevado
índice de rolamento e pela forma clássica, arredondada, que os materiais arenosos mais
grosseiros evidenciam, mesmo quando submetidos ao exame macroscópico.
Em termos de elementos de granulometria fina, ainda que não tenhamos efetuado
análises sedimentológicas (espectrometria de Raio-X) a presença de argilas cauliníticas
constitui a hipótese mais plausível para a composição fina destes depósitos atendendo a
que nas proximidades, de acordo com os estudos efetuados por vários autores referidos
em Coelho et al. (2006, p. 1001), “na região de Ovar localizam-se vários corpos
granitoides caulinizados, com orientação NNW-SSE. Esses depósitos encontram- se, de
53
modo descontínuo, em Travanca, Souto, São Vicente de Pereira Jusã, São Martinho da
Gândara e Barrocas”.
Em infra posição sequencial estratigráfica, seguem-se materiais detríticos coevos
a mais antigos, constituídos por areias e cascalheiras de praia, tal como anteriormente se
referiu.
Na base desta sequência morfossedimentar do Moderno, ainda que revelando um
posicionamento superior em termos de altimetria, encontramos as areias de duna (Ad) de
origem, fundamentalmente marinha, que foram fortemente retocadas pela ação do vento,
e que passaram a dar corpo às principais formações sedimentares dunares que
caracterizam este sector do vasto cordão dunar que se prolonga para sul e para norte da
área em estudo.
No entanto, e para finalizar esta breve abordagem sobre a litologia da área em
estudo, conforme é referido na Notícia Explicativa da folha 13- (Ovar) da CGP, o estudo
de Almeida e Zbyzewsky (1947) anunciava a hipótese de estarmos perante um conjunto
de formações sedimentares (que fossilizam e dela poderão ser, pelo menos em parte,
derivadas morfossedimentares), antigas praias grimaldianas7 contemporâneas do último
interglaciário, que dão forma à planície litoral que se estende para oeste de Estarreja, e
que mergulhariam em direção ao oceano por baixo da duna recente.
Em termos de enquadramento morfo-tectónico (estrutural), salientamos o facto de
esta área pertencer ao sector ocidental da extensa zona de cizalhamento associada ao
acidente tectónico que individualiza a “Falha Porto-Tomar”, amplamente retratado na
literatura da especialidade, sendo assim parte integrante da designada “Orla Meso-
Cenozóica Ocidental”.
Apresentada uma breve síntese da informação de base geológica para o
enquadramento do tema e da área em estudo, entendemos por avisada a decisão de
apresentar em seguida as linhas gerais da caracterização geomorfológica. A observação
atenta da figura 13 permite-nos constatar, de imediato, que a área em estudo se localiza
no contexto morfossedimentar que estrutura a Orla. Diretamente influenciada pela falha
Porto-Tomar, esta área constitui um sector marginal desta importante Unidade
Morfostrutural, no qual os depósitos de cobertura se sobrepõem aos materiais da faixa
7 O termo Grimaldiano havia sido utilizado por Breuil & Zbyszewski (1945) em substituição do
Monastiriano, correspondendo ao “estado transgressivo do último interglaciar” (Riss-Würm, Zbyszewski,
1958, apud Soares, Cunha & Dinis, 2010).
54
metamórfica de Porto-Albergaria-a-Velha (adaptado de Velho & Romariz, 1998, citados
em Coelho et al. 2006).
Figura 13 - Enquadramento regional - Esboço geomorfológico da faixa metamórfica de
Porto - Albergaria-a-Velha (adaptado de Velho & Romariz, 1998, citados em Coelho et
al. 2006).
“A região emersa de Porto-Albergaria-a-Velha-Águeda caracteriza-se por um
relevo aplanado correspondente a uma plataforma litoral que termina num relevo
acentuado para o interior” (Brum Ferreira, 1978, 1980; Araújo, 1991; Araújo et al. 2003;
Gomes, 2008, citado por Coelho et al. 2009, p. 95). “Desse modo, esta área corresponde
na sua grande parte a uma rampa de fraco declive que não excede os 150 metros de
altitude que termina nalgumas estruturas de relevo mais elevadas a Leste, no geral,
compostas por rochas graníticas e que não ultrapassam os 260 metros. O topo da
plataforma está bem delineado por um contorno sinuoso, com direção NNW-SSE. A
55
Leste do rebordo interior da plataforma litoral, segundo um corredor meridiano entre S.
João da Madeira e Vale de Cambra, o relevo é dominado por colinas formadas por rochas
metassedimentares e quartzíticas, rigidamente alinhadas, com orientação NNW-SSE”
(Coelho, 2009, p. 95).
“A organização da rede de drenagem reflete o condicionamento tectónico da área,
especialmente, dos sistemas de fracturação regional (i.e., NW-SE a NNW-SSE, NE-SW
a NNE-SSW e W-E), impondo os traços morfoestruturais à região entre Porto e
Albergaria-a-Velha” (Brum Ferreira, 1978; Araújo, 1991; Chaminé, 2000; Gomes et al.
2007; Gomes, 2008, citado por Coelho, 2009, p. 96). “Assim, estas estruturas maiores
produzem uma compartimentação tectónica que, por sua vez, condiciona a distribuição
das linhas de água, e consoante a litologia e a estrutura observam-se redes hidrográficas,
em geral, do tipo retangular e/ou dendrítico” (citado por Coelho, 2009, p. 96).
Em jeito de complemento da informação anterior, devemos acrescentar que em
termos de paleoambientes existem indicadores geomorfológicos e sedimentológicos que
evidenciam processos de migração da linha de costa. Disso são exemplo os vários
depósitos de praias antigas que, desde tempos plio-plistocéncios se escalonam em
altitude; a Notícia Explicativa da folha 13-C, Ovar, da CGP, 1/50000 esclarece no
pormenor o que acabamos de sintetizar8.
Na atualidade, as variações altimétricas que se verificam no concelho revelam a
inexistência de sectores muito elevados, observando-se uma amplitude de valores de
altitude que se baliza pelos 0 e os 40 metros (Fig. 14). Suavemente inclinada em direção
ao ocidente, ao oceano, portanto, a plataforma litoral apresenta uma variação de declive
muito pouco acentuada, denunciada pela platitude das formas que a caracterizam,
localmente interrompida por pequenas elevações talhadas nas formações dunares melhor
preservadas em relação ao ataque dos agentes e dos respetivos processos erosivos.
8 A morfologia atual da região foi originada a partir do Cenozóico, estando relacionada fundamentalmente com as ações marinhas litorais e com a erosão provocada pelos pequenos cursos de água existentes. Os depósitos de praias antigas indicam as sucessivas posições ocupadas pela linha de costa no decurso dos tempos plio-plistocénicos. O encaixe dos cursos de água na região é claramente posterior à formação desses depósitos. Nos tempos mais recentes originou-se na zona litoral, em relação com o Vouga e outros pequenos rios, grande acumulação de sedimentos, formando-se um dispositivo do tipo delta, (ou, mais propriamente, haff-delta), impropriamente designado por Ria de Aveiro. Parte deste delta abrange a faixa litoral de Ovar (sic).
56
Figura 14 - Enquadramento altimétrico da área em estudo (MDT). Fonte: Elaboração
própria a partir da folha 153 de altimetria e hidrologia da Carta Militar de Portugal,
1:25000, CIGeoE.
IV.4.2. Transformações na Ocupação do solo
A cartografia de ocupação e uso do solo é um instrumento bastante importante
para as variadas instituições, podendo ser aplicado para vários fins, nomeadamente para
a gestão, planeamento e ordenamento do território. Assim com esta cartografia podemos
fazer monitorizações do território e ver a evolução deste, e também planear o futuro.
A Comissão Europeia, em 1987, lançou o projeto CORINE Land Cover (CLC),
com o objetivo de desenvolver num único mapa os interesses de todos através da carta
temática de ocupação do solo. Esta já tem três edições, nomeadamente o CLC90,
CLC2000 E CLC2006.
O projeto CORINE Land Cover foi produzido para uma escala europeia, de modo
que não era a ideal para realizar investigações de maior escala, ou seja, áreas mais
pequenas e com mais pormenor. Deste modo, surgiu nos anos 90 a Carta de Ocupação do
Solo (COS’90) para Portugal Continental, tendo já uma nova edição, a COS2007.
Neste subcapítulo serão comparadas as várias fontes cartográficas para o uso e
ocupação do solo, disponíveis gratuitamente pela Direção-Geral do Território (DGT).
a. Carta do Uso e Ocupação do solo
A carta do uso e ocupação do solo (COS) foi elaborada pelo (ex)Instituto
Geográfico Português, possuindo duas coberturas, uma referente ao ano de 1990 e a mais
57
recente para 2007. Trata-se de um mapa temático em formato vetorial, e com informação
de elevada importância sobre a paisagem, tendo diversas classes de ocupação do solo.
A informação cartográfica foi obtida através de fotografia aérea e posterior
interpretação visual, com uma unidade mínima cartográfica de 1ha, à escala 1:25 000,
sendo a COS’90 constituída por 638 folhas, e a COS2007 por 193 folhas.
A Carta de Uso e Ocupação do Solo de 2007 atualizou a COS’90, e inseriu uma
série de alterações significativas, tanto ao nível das metodologias e regras de produção
cartográfica, como também no nível da nomenclatura utilizada. Uma das diferenças é que
na COS’90 a distância entre linhas era de 40 m e na COS2007 é de 20 m. Segundo
Caetano et al. (2010, p.7 e 8), na produção da COS2007, ao contrário do que aconteceu
com a COS’90, “utilizaram-se séries multi-temporais intra-anuais de imagens de satélite,
que permitem uma melhor caracterização da fenologia da vegetação, e consequentemente
uma identificação mais correta de algumas classes de ocupação/uso do solo”.
Na COS2007 a nomenclatura é constituída por um sistema hierárquico de classes,
de cinco níveis, e possui 193 classes no nível mais detalhado. Desta forma, para esta
análise foi selecionado o nível 2, já que tem um nível de detalhe moderado, facilitando
assim a interpretação visual das mudanças ocorridas neste período.
b. CORINE Land Cover
O Projeto CORINE Land Cover (CLC) arrancou na década de 80, sob a
competência a Comissão Europeia, tendo como objetivo a produção de uma cartografia
de ocupação do solo para os estados membros da União Europeia.
Esta foi produzida à escala 1:100 000 com uma unidade mínima cartográfica de
25 ha (minimum map unit - MMU), consistindo na interpretação visual de imagens do
satélite LANDSAT e com informação auxiliar. A legenda foi organizada em três níveis
de modo a abranger todas as paisagens existentes nos diferentes estados membros.
Mais tarde, a European Environmental Agency (EEA) em colaboração com o Joint
Research Centre (JRC) lançaram um novo projeto para atualizar a informação da primeira
CORINE Land Cover através de imagens de satélite do ano 2000, surgindo assim o
CLC2000.
Por fim, surgiu uma nova atualização, nomeadamente o CLC2006. Esta contém
as alterações entre 2000-2006, tendo por base a comparação visual de imagens, usando
dados de 2006 (+/- 1ano), intitulados IMAGE2006.
58
c. Comparação entre as transformações ocorridas na COS e CLC na área
de estudo
De um modo geral, vemos que no Furadouro existiu um crescimento da área
urbana significativo, sendo possível identificar tanto na COS como no CLC. Contudo, a
COS é mais rica em termos de pormenor, sendo muito mais fácil individualizar espaços
homogéneos na área que estamos a estudar.
Analisando a COS90 e a COS2007 (Fig. 15), existem algumas dificuldades em
comparar as duas devido à legenda ser um pouco diferente, sendo a COS2007 de muito
mais fácil compreensão e com a possibilidade de comparar com o CLC. Contudo, é
possível verificar a forte expansão urbana de oeste para este/sudeste. Na zona litoral
podemos ver algumas transformações, nomeadamente a fácil identificação dos esporões,
como também a diminuição das zonas de praia/zonas descobertas na COS2007.
Já um outro nível, o CLC tem algumas vantagens, pois além de podermos
comparar estes dados com outras áreas da Europa, a legenda dos diferentes mapas
temáticos para os anos três anos mantém-se igual. Desta forma, é possível fazermos uma
fácil comparação ao ver a evolução de uma determinada área.
Comparando o CLC90 com o CLC2006 (Fig. 16), destaca-se uma evolução clara
do crescimento urbano, mas também diferenças na morfologia costeira do Furadouro. A
classe “praias, areias e dunas” tem menos área representada em 2006 do que em 1990. Já
as áreas florestais são as mais representativas.
Para terminar é possível retirar várias conclusões dos dados obtidos pela COS e
pelo CLC, como por exemplo, termos áreas urbanas muito próximas da linha de costa
revelando um mau planeamento e artificialização dos solos. Uma outra conclusão é que
em termos de pormenor a COS é bastante valiosa devido ao elevado valor informativo.
Contudo seria importante haver uma harmonização nas legendas da COS com o CLC, de
forma a ser possível uma melhor comparação entre as duas cartografias de ocupação do
solo.
59
Figura 15 -- COS 1990 (esquerda), e COS 2007 (direita). Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Direção-Geral do Território (DGT).
60
Figura 16 - CLC1990 (esquerda), e CLC2006 (direita). Fonte: Elaboração própria com base nos dados da Direção-Geral do Território (DGT).
61
IV.4.3. Caracterização dos ambientes dunares no Furadouro
As dunas são estruturas geológicas, e a sua génese e evolução estão ligadas à
acumulação de sedimentos. Aqui, a vegetação dunar é bastante importante devido à
capacidade de retenção de areia, dando assim origem à formação de dunas. Deste modo,
para que ocorra a formação de uma duna é necessário que haja “a existência de uma fonte
/ disponibilidade sedimentar, intensidade de vento suficiente para movê-los, uma faixa
para a deposição e pontos de atrito que facilitem a deposição dos sedimentos em trânsito”
(Sherman & Hotta, citado por Cardoso, 2005, p. 50).
Assim, a evolução destas ocorre na zona mais recuada da praia, originado aí as
chamadas dunas frontais. “Por se encontrar fora do alcance da ação do mar, mesmo
durante as tempestades do Inverno, e como tal dos ciclos de erosão e acreção que
modificam os perfis de praia, esta faixa de areia permite a instalação de vegetação”
(Rebêlo & Brito, 2004, p. 1).
Segundo Ferraz (2007, citado por Gonçalves, 2013, p. 9), “as dunas desempenham
um papel central na estabilização da linha de costa através da sua capacidade de
armazenamento e de trocas de material sedimentar com a praia, do fornecimento dos
nutrientes necessários para o crescimento de vegetação pioneira e permitindo que ocorra
a estabilização da faixa costeira nesse local”.
Quando a duna estabiliza significa que o vento já não consegue transportar areia sobre
ela, podendo manter a sua forma durante décadas ou séculos. Contudo, caso a vegetação
seja destruída a areia irá voltar a movimentar-se sobre estas, dando origem a uma nova
duna.
Na figura 17, podemos ver o aspeto das dunas frontais na praia do Furadouro em 2015.
62
Figura 17 - Imagem com aspeto da duna frontal ou principais cristas dunares
(Orientação de Sul para Norte), 2015.
As dunas na zona norte da praia do Furadouro encontram-se num litoral que sofre
forte erosão, ou seja, aqui existe uma forte remoção de areia e pouca acumulação. Desta
forma, a areia das dunas vem principalmente das antigas dunas ou depósitos que estão a
ser destruídos pelo mar. “O mar, ao avançar sobre as antigas dunas cria escarpas de
erosão. Estas escarpas estão voltadas ao mar e sem vegetação, encontrando-se essa areia
numa posição muito instável. Por ação do vento, parte dessa areia é soprada para o
interior, sobre as dunas já existentes” (Rebêlo & Brito, 2004, p. 2).
Um outro aspeto que não ajuda a fixar a vegetação é o facto de existir trilhos
pedonais nas dunas, sendo alguns deles usados pelos pescadores. A vegetação que é aqui
destruída pode demorar vários anos a recuperar, deixando a areia nua e sem oferecer
resistência ao vento.
No Furadouro encontramos poucas dunas embrionárias, sendo estas a primeira
defesa contra a ação energética do mar, e posteriormente temos as dunas primárias. Esta
última também demonstra instabilidade e com zonas sem vegetação. Depois temos as
dunas secundárias, sendo que estas ocupam uma área maior e muito mais ricas em
vegetação, com corredores interdunares.
Na figura seguinte vemos com mais pormenor as dunas na praia do Furadouro.
Como podemos verificar, a transição com a praia nem sempre é suave, tendo escarpas de
erosão marinha. Nesta área, a duna frontal é frequentemente muito mais elevada do que
as dunas que estão para o interior.
63
Figura 18 - Escarpas de erosão marinha na zona norte do Furadouro, 2015. Fonte:
Obtenção através do Drone.
No mapa seguinte (Fig. 19), mostro a evolução das cristas dunares de uma parte
da zona norte do Furadouro. Aqui podemos verificar que num espaço de 10 anos, houve
uma grande diminuição de dunas, principalmente mais a norte (a presença do esporão já
não faz tanto efeito nesta zona). De 2000 para 2005, houve uma maior diminuição de
sistemas dunares devido à forte erosão costeira.
Figura 19 - Principais cristas dunares em 2000, 2005 e 2010. Fonte: Elaboração própria
com base nos Ortofotos de 2000, 2005 e 2010.
64
IV.4.3.1. Biogeografia dunar
A vegetação dunar, tal como já referi, é extremamente importante para a
estabilização das dunas. “A estabilidade dos ecossistemas de dunas depende da sua alta
diversidade natural de espécies de plantas nativas, que se ligam à areia e minimizam os
efeitos da erosão” (van der Putten and Peters 1995, citado por Marchante et al. 2003, p.
1). Já de acordo com Silva (2004, p. 3), “a vegetação nos sistemas dunares condiciona a
fixação das areias e a consolidação das dunas, definindo, desta forma a extensão do
próprio sistema dunar, que está diretamente relacionada com o seu estado de degradação
e vulnerabilidade”.
As condições a que a vegetação dunar está sujeita são complicadas devido aos
ventos fortes característicos destas áreas, como também, às amplitudes térmicas que vão
desde temperaturas altas no verão, a temperaturas baixas no inverno. Assim estas têm
várias características morfológicas, anatómicas e fisiológicas que permitam que consigam
sobreviver, nomeadamente: folhas de pequenas dimensões para diminuírem a
transpiração; raízes muito profundas de modo a conseguirem captar a água em
profundidade; folhas e caules suculentas.
A partir do momento que a vegetação começa a fixar-se nas dunas e a crescer,
ganha altura, e com o passar do tempo outras plantas também começam a colonizar estas
áreas, fazendo com que comece a existir uma estabilidade no cordão dunar. De salientar
que a cobertura vegetal distribui-se por zonas consoante for a sua especialização, ou seja,
existem espécies que se desenvolvem nas areias mais móveis, outras em zonas mais
estáveis, outras em áreas mais recuadas sem sofrerem tanto as ações dos ventos fortes, e
por fim em terrenos menos salgados.
A zona pré-dunar “corresponde a pequenas acumulações de sedimentos formados
no limite interior da praia alta, acima do nível do mar em preia-mar viva, onde a ondulação
e as marés depositam detritos orgânicos que fornecem abrigo e nutrientes necessários para
o crescimento de algumas plantas pioneiras herbáceas” (Paixão, 2013, p.48). Aqui
localizam-se as plantas mais frágeis devido a serem enterradas pelas areias, como também
à submersão pela água do mar. A vegetação está mais espaçada e o vento movimenta
facilmente as areias, temos como exemplo de cobertura vegetal o Elymus farctus (feno-
das-areias). Na praia do Furadouro foram identificadas poucas áreas pré-dunares,
principalmente devido à forte agitação marítima que ocorre nesta zona.
65
Posteriormente encontram-se uma faixa de cristas dunares, areias em
estabilização, designadamente a duna primária. Nesta zona surgem espécies com mais
probabilidade de subsistirem, uma maior cobertura vegetal em extensão, e por fim, uma
maior diversidade. Como vegetação característica desta área temos a Ammophila
arenaria (estorno), Euphorbia paralis L. (Morganheira-das-praias), Otanthus maritimus
(L.) Hoff. & Link (Cordeiros-da-praia), entre outras.
Seguidamente, temos uma zona deprimida e aplanada, denominada zona
interdunar. Nestas áreas existem boas condições para o crescimento e desenvolvimento
de diversas plantas, contendo desta forma, uma vegetação muito abundante e
diversificada de plantas herbáceas, arbustos ou subarbustiva, como por exemplo o
Medicago marina L. (Luzerna-das-praias), ou o Anagallis monelli (Morrião-das-areias).
Por fim, encontramos a zona secundária, tendo esta várias depressões e elevações,
e com os sedimentos estabilizados devido ao grande número de vegetação aqui presente.
Cá surgem arbustos de maior porte, como também pequenas árvores de porte alterado
pela exposição aos ventos marítimos. Como exemplo de vegetação podemos sugerir a
Corema album (camarinha) ou o Pinus pinaster (pinheiro-bravo).
Ao longo de todo o sistema dunar no Furadouro, é possível encontrar a espécie
Carpobrotus edulis (chorão-de-praia) na duna frontal e interdunar, como também a
Acacia longifólia na duna secundária. Estas duas espécies são consideradas plantas
3invasoras em Portugal, sendo estas “uma ameaça à biodiversidade dos sistemas dunares
litorais” (Paixão, 2013, p. 50). O Carpobrotus edulis forma um tapete contínuo que
impede o desenvolvimento de outras espécies. Segundo Marchante et al. (2014, p. 146),
“os fragmentos que se formam, por exemplo em ações de remoção, originam facilmente
uma nova planta”, como também, “promove a acidificação dos solos, facilitando o seu
próprio desenvolvimento”. Por fim, a Acacia longifólia “produz muitas sementes, que
permanecem viáveis no solo muitos anos”, “sua germinação é estimulada pelo fogo”, e a
“taxa de crescimento é elevada” (Marchante et al. 2014, p. 32).
No Furadouro a vegetação presente foi identificada em abril, nomeadamente na
zona interdunar. Aqui foi definida uma área de quatro metros por quatro metros (Fig. 20)
e foram identificadas todas as espécies aí presentes, recorrendo ao trabalho de Gomes
(2002).
66
Figura 20 - Delimitação da área para identificação de espécies dunares (Orientação
de Sudoeste para Norte).
Na tabela seguinte vemos as espécies presentes na zona norte do Furadouro, sendo
aqui identificadas 12 espécies. Dessas 12 espécies, uma delas é a Carpobrotus edulis
(chorão), e tal como já referi é uma espécie invasora e na praia do Furadouro já está
presente em grandes áreas, tanto na zona mais a norte como na zona a sul. A espécie
Morganheira-das-praias também ocupa grandes áreas, sendo esta uma planta vivaz9, de
20 a 70 cm de altura e que ramifica perto da base, produzindo vários caules, todos
sensivelmente da mesma espessura e altura, e com a base lenhosa.
Quanto às outras espécies, temos por exemplo o Estorno presente em grandes
áreas, sendo esta uma planta de porte herbáceo, vivaz, e com uma altura de 50 a 150 cm
de altura. Presente em menores áreas temos a Condrila-de-Dioscórides, sendo esta uma
planta herbácea, vivaz, glauca10, e com 7 a 55 cm de altura. Por fim, também com pouca
expressão temos a Erva-Gorda, que é anual, com caules folhosos, frequentemente de
toiça11 lenhosa, e atingindo os 40 cm.
9 Planta que vive mais de 2 anos. 10 De cor verde-azulada. 11 Base lenhosa e perene de algumas plantas vivazes, junto ao colo da raiz, pouco acima do solo, que
produz todos os anos os novos caules.
Tabela III - Espécies vegetais presentes no Furadouro.
Espécie
Silene Littorea (Alfinete-das-
areias)
Silene niceensis Euphorbia paralis L.
(Morganheira-das-praias)
Elymus farctus (Feno-das-
areias)
Ammophila arenaria (Estorno)
Linaria polygalifolia (Ansarina)
Família Caryophyllaceae Caryophyllaceae Euphorsiaceae
Gramineae/
Poaceae
Gramineae Scrophulariaceae
Espécie
Medicago marina L.
(Luzerna-das-praias)
Leontodon taraxacoides (Leituga-dos-
montes)
Aetheorhiza Bulbosa
(Condrila-de-Dioscórides)
Arctotheca calendula (Erva
gorda)
Cakile marítima Scop. (Eruca-
Marítima)
Carpobrotus edulis (chorão)
Família Leguminosae/
Fabaceae Compositae/ Asteraceaae
Compositae/ Asteraceaae
Compositae Cruciferae/Brassicaceae
Aizoaceae
+
Fonte: Elaboração própria
IV.4.4. Dinâmica litoral – Contributos do oceano vs. Contributos do
clima (vento)
No Furadouro existe uma grande vulnerabilidade da zona costeira às ações
energéticas do mar. Geralmente a forte agitação marítima é gerada por tempestades
extratropicais que têm origem no Atlântico Norte, desenvolvendo-se de Oeste para Este
com elevado fech12. De acordo com Antunes (2014, p. 3), “Os ventos persistentes e
concentrados no núcleo das tempestades formam largas áreas de atrito entre o mar e a
atmosfera, potenciando valores elevados de geração de ondas de swell13”.
Quanto à “altura de onda significativa e o respetivo período, para as ondas ao largo
da costa Oeste portuguesa, são em comum de 2 m a 2.5 m e de 9 s a 11 s, com proveniência
dos quadrantes WNW e NNW, e geradas por ventos de altas latitudes do Atlântico Norte”,
(Coelho, 2005, p. 70).
No gráfico seguinte vemos a maré no Porto de Leixões, referente ao final do mês
de Fevereiro e Março de 2010, sendo este o porto que tem uma maior proximidade á zona
de Ovar. Aqui apresento uma situação de tempestade, onde causou vários estragos no
Furadouro, alcançando valores máximos de 3,91 metros, e o mínimo de 0, 22 metros.
12 Áreas de geração de ondas. 13 Estas acontecem quando as ondas aproximam-se das margens oceânicas, e como a velocidade do vento
diminui nestas zonas, elas conseguem viajar mais depressa que o vento. Aqui o declive diminui e estas
transformam-se em ondas com longas cristas.
69
Gráfico 1 - Maré do Porto de Leixões, final de Fevereiro e Março, 2010.
Fonte: Elaboração própria com base no dados do Instituto Hidrográfico.
O concelho de Ovar é influenciado por um clima de características mediterrâneas,
onde a estação de chuvas, concentradas no Inverno, geralmente, coincide com a estação
fria tendo por base a análise de um período de 30 anos. No gráfico 2 - normais
climatológicas de 1971-200014, podemos verificar a variação média da precipitação e da
temperatura.
A variação da pluviosidade tem uma influência direta nos valores da temperatura,
como também do coberto vegetal e de todas as comunidades biológicas, desta forma, a
pluviosidade é um fator climático de grande importância. Aqui podemos comprovar que
a estação fria coincide com uma maior pluviosidade, e a estação quente coincide com uma
menor pluviosidade (julho e agosto são meses secos), factos que reforçam a tipologia
mediterrânea do clima.
14 Estes dados foram recolhidos da estação do parque meteorológico de Aveiro, tendo este, uma altitude
de 3 metros e inserindo-se num ambiente urbano.
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Alt
ura
(m
)
Dias
70
Gráfico 2 – Termo pluviométrico de Aveiro, Normais climatológicas 1971 – 2000.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da precipitação e temperatura do Instituto
Português do Mar e da Atmosfera.
A conclusão a retirar da leitura dos dados meteorológicos/climáticos para todo
território de Portugal continental, é que se tem registado uma tendência para o aumento
das temperaturas, e também, a várias manifestações extremas da atmosfera na sua
dinâmica interativa com o oceano, o que nos obriga a introduzir a questão dos riscos
naturais, designadamente, os riscos associados à dinâmica litoral.
Dos elementos do clima que importa caracterizar para o tema em desenvolvimento
neste estudo, o vento assume particular importância pelo significado que a sua ação
morfogenética tem no modelado da área, numa dialética permanente com o oceano, com
a vegetação dunar e com a atividade antrópica.
Por exemplo, para haver o surgimento de uma duna, é fundamental haver vento.
Contudo, é importante relembrar, que também é preciso haver um pequeno obstáculo,
areia seca e uma superfície de deposição. É através do pequeno obstáculo que começa a
juntar-se areia devido à circulação do vento (com alguma constância em termos de
velocidade e direção), que com a continuação deste processo, criará uma duna. Com isto,
as dunas formam-se de acordo com as condições de vento de um dado local, mas se a
região sofrer uma forte influência do vento, as dunas vão ter pouco desenvolvimento.
Os ventos dominantes no concelho de Ovar evidenciam direções “nor-ocidentais”,
nomeadamente de Norte e Noroeste, padrão este que começa em “Março e termina em
Outubro” (citado Pinto et al. 2012, p. 9). Quanto aos ventos vindos de Este são pouco
frequentes e atingem velocidades baixas nos meses de verão.
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Tem
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atu
ra (
ºC)
Pre
cip
itaç
ão (
mm
)
P (mm) T (ºC)
71
“Nos meses de Inverno, as tempestades, associadas a superfícies frontais,
produzidas por centros de baixas pressões originados no norte do Atlântico, perto da
Islândia, provocam alterações nos rumos dos ventos”, (Silva, 2012, p. 32). Estes passam
a ter a direção de SW.
Na tabela 4, podemos visualizar as médias mensais da frequência e velocidade do
vento de 1961 a 1990. Nesta série de observações, correspondente a 30 anos15, a
velocidade do vento atinge maiores valores por ano na direção SW com 21,5km/h, W
com 17,5km/h, e NW com 16,7km/h. Quanto à frequência temos os ventos da direção N
com 21,2%, SE com 16,8%, e E com 10,5%.
Tabela IV – Médias mensais da frequência e velocidade do vento, 1961 - 1990.
Legenda: f – frequência (%); v – velocidade do vento (km/h); C – situação em que não há
movimento apreciável do ar, a velocidade não ultrapassa 1 km/h.
Fonte: Normais climatológicas da Estação Meteorológica de S. Jacinto/Base Aérea – 1961-1990
(IPMA, 2013), adaptado do Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios de Ovar,
2014.
15 A Organização Meteorológica Mundial recomenda que se estudem séries de observações de 30 anos.
72
Para concluir este subcapítulo, apresentamos a rosa anemoscópica da frequência
de ventos do total dos anos 1961 a 1990 (gráfico 3), com base nos dados da anterior tabela.
Como podemos conferir, não existem frequências de vento muito elevadas, sendo a
direção N que revela uma maior representatividade com 21%, seguido de sudeste com
16,8%, e por fim sul com 10,5%. De salientar que não podemos esquecer que estas
frequências de vento têm uma influência direta na orientação das dunas da praia do
Furadouro, contudo aqui não se registam valores que permitam uma constância do sentido
do vento (tendo valores registados relativamente próximos de Norte e Sudeste na Estação
Meteorológica de S. Jacinto), sendo que, e de um modo geral as dunas são paralelas à
linha de costa.
Gráfico 3 - Rosa anemoscópica para S. Jacinto/Base Aérea (dados das Normais
climatológicas da Estação Meteorológica de S. Jacinto/Base Aérea – 1961-1990).
Fonte: Elaboração própria com base nos dados das normais climatológicas da Estação
Meteorológica de S. Jacinto/Base Aérea – 1961-1990 (IPMA, 2013).
73
IV.4.5. Dinâmicas associadas ao crescimento urbano do Furadouro –
principais etapas.
O Furadouro começou por ser frequentado por pescadores (séc. XVII), onde
inicialmente a sua estadia na praia era de carácter sazonal. Contudo, houve uma
necessidade de maior fixação de população devido à expansão da pesca, começando a
surgir palheiros de melhor qualidade. No século XVIII, começaram a aparecer banhistas
nos meses de verão. Estes instalavam-se nos palheiros dos pescadores, e posteriormente
construíram as suas próprias habitações. Com o com o passar dos anos o número de
turistas foi aumentando, como também o número de equipamentos para estes, e a
população começou a permanecer na praia o ano inteiro.
Já no século XX, apesar da diminuição da atividade piscatória, houve um
melhoramento da praia como estância balnear. Foi nos anos 50, que o avanço do mar
começou a ser mais sentido devido às marés vivas causando importantes estragos,
contudo estes acontecimentos não fizeram com que a população não se começasse a fixar
cada vez mais nesta zona. É de salientar que o Furadouro também passou por outros
problemas graves, nomeadamente incêndios, tendo um maior impacto os que ocorreram
em 1881 e em 1925.
É de salientar que o efetivo de população residente tem aumentado de ano para
ano, e durante a época balnear atinge máximos elevados. Segundo os Censos de 2011,
aqui residiam 2 513 habitantes, tendo uma taxa de variação da população entre 2001 e
2011 de 22,2%.
No Furadouro, o aglomerado urbano tem uma extensão de 727 metros de frente
urbana junto à linha de costa. Segundo o Plano de Praia definido para a praia do
Furadouro, referente ao POOC Ovar-Marinha Grande, percebe-se que a frente urbanizada
está fixada a cotas da ordem dos 7 a 8 m relativo ao Zero Topográfico (Z.T.), sendo as
ruas adjacentes de inclinação descendente no sentido oposto ao da costa litoral. Assim,
com alguma facilidade a zona urbanizada é inundada aquando da ocorrência de
galgamentos.
Na figura 21 podemos visualizar as plantas do Furadouro em 1900 e 2014. Como
podemos concluir, em 114 anos houve um grande crescimento urbano, principalmente na
zona norte do Furadouro. De salientar, que os pescadores foram sendo deslocados da zona
norte para a zona sul.
74
Figura 21 - Plantas do Furadouro, em 1900 e 2014. Adaptado de Reis (2015).
IV.4.5.1. Os primórdios da intervenção antrópica no Furadouro
No Furadouro em 1959 existia uma pequena defesa frontal que veio a ser
progressivamente prolongada, unindo hoje em dia os dois esporões, e prolongando-se um
pouco para sul. Em 1972-73 foram construídos três esporões, contudo o esporão mais a
norte ficou completamente soterrado na areia em 1998, e o esporão mais a sul foi
reconstruído em 1998 numa posição ainda mais a sul do que aquela que se encontrava.
Estes têm a função de proteção da zona edificada que se encontra altamente exposta à
ação das ondas.
Na figura 22, podemos ver como se encontrava a praia do Furadouro em 1996,
nomeadamente os esporões. Aqui o que se destaca é a existência na zona norte de bastante
areal, na zona sul, a localização do esporão e a sua dimensão.
Facilmente percebemos se compararmos com as imagens de 2013 (Fig. 22 e
Fig.23), que existem modificações significativas no esporão mais a sul e na estrutura
75
longitudinal aderente. Atualmente podemos encontrar no Furadouro duas estruturas
transversais ou esporões, e uma estrutura longitudinal aderente. Assim, é evidente que
desde a sua construção até aos dias de hoje, os esporões foram passando por processos de
reabilitação e manutenção.
76
Figura 22 - Praia do Furadouro, em 1996. Figura 23 - Localização dos esporões e estruturas longitudinais aderentes em 2013.
Fonte: Carta de Risco do Litoral – 1996. Fonte: Elaboração própria.
77
Ao longo dos anos, a praia do Furadouro sempre foi motivo de preocupação para
as várias entidades. Por exemplo, em 1939, a população ficou em alarme devido à
destruição da capela do Senhor da Piedade. Contudo foi a partir de 2010 que surgiram
muitas mais preocupações.
A tabela seguinte podemos verificar a cronologia de eventos causados pela ação
energética do mar, começando no ano de 1857 com a destruição de palheiros. Esta
cronologia vai até ao ano de 1984 com o mar a atingir a avenida marginal, de salientar
que nesta altura a praia do Furadouro já era influenciada pelos esporões aí construídos
(construídos em 1972/73).
Tabela V - Cronologia de eventos causados pela ação energética do mar.
Ano Dia e mês Local Registo
1857 13 de
Janeiro Furadouro
Primeiro registo de avanço do mar - destruição de
palheiros e deslocação de areias
1863 Dezembro Furadouro Destruição de 13 palheiros
1887 Março Furadouro Destruição de 18 palheiros
1889 Março Furadouro Destruição de 2 palheiros
1912 2 de
Fevereiro Furadouro
Avanço de cerca de 200 metros entre a capela velha
do Senhor da Piedade e o Sítio denominado de
Boldim Derrocada de 18 palheiros
1938 Dezembro Furadouro Destruição parcial da capela do Senhor da Piedade
1939 Fevereiro Furadouro Derrube completo da capela do Senhor da Piedade
1940 - Furadouro Destruição de casas na avenida central
1950 - Furadouro Grande surto de erosão na praia
1950 Novembro Furadouro Avanço do mar até cerca de 5 metros da capela nova
1957 11 de
Dezembro Furadouro O mar atingiu os alicerces da capela-mor
1958 Agosto Furadouro O mar destrói 150 metros de esplanada a partir da
avenida central
1965 Janeiro Furadouro Derrube de um palheiro e de um chalet
1969 Outubro e
Dezembro Furadouro Enormes prejuízos causados pelos avanços do mar
78
1971 27 e 28 de
Janeiro Furadouro Prejuízos e destruição causados pelos avanços do mar
1981 Dezembro Furadouro Mar atinge a avenida marginal
1984 Março Furadouro Mar atinge a avenida marginal
Fonte: Laranjeira, 1984 e Lamy, 2001, citados por Pereira, 2010.
O primeiro grande temporal de 2010 aconteceu em Março, havendo uma elevada
retirada de material sedimentar da praia norte do Furadouro, formando-se uma arriba
quase vertical com cerca de 4 a 6 m, próxima da marginal. Posteriormente em Outubro,
voltou a acontecer inundações, causando bastantes estragos, o que revela a ineficácia das
estruturas de defesa. Assim, neste ano houve várias formações dunares que ficaram
fragilizadas, e também houve um degaste e destruição dos esporões.
Segundo Ramos (2011, p. 69), “as estruturas de defesa estão implantadas para
receberem e serem funcionais numa direção de agitação aproximadamente vinda de NW.
Caso a direção seja excecional, as estruturas perderão a sua funcionalidade primária”.
A Administração da Região Hidrográfica do Centro (ARH), em 2010, devido aos
problemas verificados na praia, teve de fazer uma intervenção de emergência, para defesa
da marginal e recarga da praia, de modo a permitir o uso balnear no verão. Em 2010 e
2011, foi necessário elaborar uma requalificação ambiental da zona sul da praia do
Furadouro, onde esta obra teve por objetivo a requalificação do sistema dunar,
deslocalizando o parque de estacionamento e construindo passadiços de acesso usufruto
da zona marginal pedonalizada. Por fim, também entre 2010 e 2011, a ARH Centro
procedeu à construção do prolongamento da defesa longitudinal, de modo a haver uma
proteção da avenida marginal com a construção de uma defesa frontal em enrocamento
de grandes dimensões.
Nos anos seguintes foram vários os temporais que colocaram em risco a frente
urbana. Estes fenómenos erosivos, de galgamento e inundação surgiram em sistemas
praia-duna deficitários de sedimento e com tendência erosiva.
Mais recentemente, em 2014, realizam-se novamente obras para reabilitar as
defesas aderentes, havendo aqui um aumento da cota de coroamento na Meia Praia, e por
fim, houve uma defesa dunar a norte, na frente urbana e a sul do Furadouro.
Para concluir este ponto, segundo o Plano de Ação e Valorização do Litoral 2012
– 2015 também foi efetuada a reabilitação, desmonte e construção de passadiços em Ovar.
79
Capitulo V – Monitorização topográfica das dunas primárias
V.5.1. Geotecnologias utilizadas
Como vimos anteriormente a monitorização topográfica da erosão costeira é um
fenómeno muito estudado na literatura científica por diferentes autores a diversas escalas.
A uma escala local, entre as diferentes geotecnologias mais utilizadas nesta monitorização
destacamos: i) a utilização de dados altimétricos obtidos por técnicas de digitalização a
laser (Light Detection And Ranging – LiDAR) juntamente com dados de levantamentos
aerofotogramétricos e dados dos Sistemas Globais de Navegação por Satélite em tempo
real (Global Navigation Satellite System - Real Time Kinemactic, GNSS-RTK), na
quantificação da deflação e migração horizontal de um campo de dunas ativo na costa
leste dos Estados Unidos (Mitasova et al. 2005); ii) a utilização de tecnologias de
posicionamento baseadas em Network RTK (NRTK) suportadas por redes ativas
regionais (Rede Andalusa de Posicionamento - RAP) para monitorizar a uma escala local
as mudanças da morfologia duma duna devidas a fenómenos de erosão e acreção (Garrido
et al. 2013); iii) a utilização de Modelos Digitais de Superfície (MDS) produzidos por
métodos que combinam técnicas Drone fotogramétricas com técnicas da visão
computacional (Structure from Motion - SfM) na reconstrução da morfologia de um
sistema dunar. Estes dados altimétricos quando comparados com dados obtidos por
Sistemas Terrestres de Varrimento Laser permitiram concluir que a metodologia utilizada
tem uma exatidão vertical de 0.19m em termos de Raiz Quadrada do Erro Médio
Quadrático (REMQ) (Mancini et al. 2013); iv) a utilização de dados altimétricos
adquiridos por fotogrametria Drone no mapeamento de sistemas dunares e mostraram que
é possível obter MDS de áreas costeiras com 10cm de resolução e com uma exatidão
vertical (REMQ) próxima dos 5cm (Gonçalves e Henriques, 2015).
V.5.1.1. Posicionamento por GNSS em modo NRTK
O posicionamento baseado em Rede RTK utiliza as observações dos Sistemas
Globais de Navegação por Satélite (GNSS - Global Navigation Satellite Systems)
adquiridas a partir duma rede estações CORS (Continuously Operating Reference
Stations) para modelar no rover os erros das distâncias espacialmente correlados (os erros
80
orbitais e os atrasos ionosféricas e troposféricas do sinal GNSS) e que atuam dentro da
área coberta pela CORS. Combinando os recetores GNSS de multifrequência com as
correções NRTK disponíveis em redes locais (neste caso nacionais) ativas obtêm-se
precisões e exatidões superiores ao posicionamento RTK convencional, ou seja baseado
numa única estação. Alem disso a solução NRTK oferece ainda uma melhor cobertura e
fiabilidade, uma exatidão mais homogénea e tempos mais rápidos na fixação das
ambiguidades (Garrido et al. 2013).
A REde Nacional de Estações Permanentes (RENEP) é uma rede nacional NRTK
ativa composta atualmente por 47 estações CORS espalhadas pelo continente (42) e ilhas
(5). Esta rede foi calculada no sistema geodésico ETRS89, realizado pelo referencial
ETRF97 da época de referência 1995,4. As correções diferenciais, que são emitidas em
tempo real no formato RTCM 3.1 e obtidas via Internet por NTRIP (Networked Transport
of RTCM via Internet Protocol), podem ser escolhidas pelo utilizador entre: i) base única,
na qual este escolhe a estação a partir da qual pretende receber as correções; ii) estação
mais próxima, na qual o sistema gestão da rede escolhe qual a estação que irá enviar as
correções ao utilizador; iii) correções em rede, na qual o utilizador recebe as correções
duma rede, composta pelas estações envolventes à sua posição atual. Neste trabalho
utilizámos as correções em rede dado que vários autores mostraram que é possível obter
com este método precisões e exatidões posicionais de ordem centimétrica (Aponte et al.,
2009; Garrido et al 2013).
O equipamento utilizado para a recolha dos pontos de apoio fotogramétrico
(Ground control Points - GCP) e traçado dos perfis transversão constou de: i) dois
recetores GNSS, Geomax Zenith 10, equipados com antenas de tripla frequência
(GPS/GLONASS/Galileo); ii) duas controladoras de campo wireless (Geomax PS336);
iii) acessórios adicionais tais como tripés, bastões telescópicos, alvos em PVC e em têxtil.
As coordenadas planimétricas (x,y) dos dados geoespaciais recolhidos com esta
geotecnologia foram referidas ao sistema ETRS89 PT/TM-06 (EPSG:3763) e a
coordenada vertical (z) foram referidas ao geoide (altitude ortométrica ou cota) utilizando
o modelo numérico do geoide local, o GeodPT08.
81
V.5.1.2. LiDAR aéreo
A vulgarização da utilização da tecnologia LiDAR na aquisição de dados
topográficos a escalas grandes é, atualmente, uma realidade inquestionável na recolha de
informação geográfica cujas exatidões sejam da ordem da dezena de centímetros. Um
sistema LiDAR aerotransportado genérico é composto, basicamente, por um scanner
laser, um sistema de posicionamento (GPS em modo diferencial) e orientação (geralmente
uma unidade de medição inercial IMU) e uma unidade de controlo (computador e suporte
de armazenamento digital). Um conjunto típico de dados LiDAR consiste numa nuvem
irregular de pontos com coordenadas tridimensionais (x, y, z), onde a cada ponto é
geralmente atribuído: um ID único (marca temporal), a intensidade I do sinal recebido, o
número de retorno e a quantidade de retornos. A intensidade da luz refletida depende das
características da superfície, do comprimento de onda da luz laser e do ângulo de
incidência.
Uma das vantagens da tecnologia LiDAR é a facilidade de adquirir grandes
volumes de dados com uma grande resolução a uma maior velocidade, ou seja, o processo
de medição é rápido e simples. Uma outra vantagem deve-se ao facto do laser ser “um
sensor ativo que possui a capacidade de obter uma grande quantidade de dados do terreno,
não sofrendo interferência pela falta de iluminação nem de distorções como acontece nas
fotografias áreas” (Sanhueza, 2007, citado por Falcão, 2012, p. 6), ou Drones. Por fim,
com esta tecnologia é possível “fornecer coordenadas polares, isto é, direções e distâncias,
quando um pulso laser, emitido a partir de uma única posição, atinge o terreno” (Kraus e
Pfeifer, 1998, citado por Duarte, 2012, p. 8).
Contudo, também existem desvantagens, nomeadamente o alto custo encontrado
nos equipamentos e softwares; quantidade elevada de dados e volume de arquivos
exigindo equipamentos sofisticados; dependência de uma via para que o veículo possa
trafegar, isto no caso do escaneamento móvel.
Os dados LiDAR utilizados neste estudo, cedidos pela DGT, resultaram duma
parceria entre a DGT e a Agência Portuguesa do Ambiente, I.P. (APA, I.P.) e foram
financiados no quadro do Plano de Ação para o Litoral 2007-2013, pelo Programa
Operacional Temático Valorização do Território (POVT). Estes dados geoespaciais, já
em formato grelha (MDS) com a resolução espacial de 1m, foram adquiridos por um
sensor LiDAR Topográfico Leica ALS60 voando a uma altitude média de 1800 m entre
os dias 17 de Novembro e 7 de Dezembro de 2011 (Silva et al. 2012).
82
V.5.1.3. Drone
A recente disponibilização e utilização de sistemas drones (ou UAS – Unmannned
Aerial System) de low-cost (baixo custo) aliada com o desenvolvimento e facilidade de
uso de Software Fotogramétrico baseado em algoritmos SfM (Structure from Motion) e
correlação densa, abre as portas para o uso intensivo desta geotecnologia na
monitorização topográfica das superfícies dos sistemas dunares.
Assim, as principais vantagens desta tecnologia, além do baixo custo já
mencionado anteriormente, existe a possibilidade de recobrimento fotogramétrico
autônomo, e uma ótima qualidade de dados recolhidos, nomeadamente ao nível de detalhe
e precisão. Contudo, também tem desvantagens, como por exemplo as falhas no
recobrimento entre as fotos, devido a possíveis instabilidades da plataforma durante o
voo. “A grande vantagem dos VANTs em relação aos levantamentos por laser
aerotransportado é a rapidez na aquisição dos dados e na resolução dos problemas que
motivaram o levantamento” (Pereira & Tamamaru, 2013, citado por Cândido et al. 2014,
p. 297) “além da redução dos custos operacionais e consistência de trajetória de voo e
aquisição de imagens” (Watts et al. 2010, citado por Cândido et al. 2014, p. 297). Assim
o Drone é uma tecnologia bastante valiosa, na medida em que, é possível capturar
imagens aéreas de alta resolução a custo muito reduzido.
Neste trabalho foi utilizado o sistema Drone especificado na tabela 6.
83
Tabela VI - Características do sistema drone low-cost utilizado.
Fonte: Gonçalves et al. (2015).
V.5.2. Metodologias utilizadas
A representação digital 2.5D da orla costeira com MDS de alta resolução tem sido
muito utilizada na literatura para a monitorização topográfica da erosão (Mitasova et al.,
2005). Estes MDS temporais permitem realizar simulações fiáveis da erosão costeira,
fenómenos de inundação e monitorizar o balanço de sedimentos costeiros (Mancini et al.,
2013). Nesta dissertação os MDS obtidos pelas geotecnologias LiDAR aéreo e Drone e
foram utilizados para a delineação manual da posição planimétrica da linha de costa para
os anos de 2011 e 2015, respetivamente. Recorrendo ao sombreado do relevo
(hillshading) dos MDS foi possível delinear manualmente a linha de quebra (praia vs.
início da duna) correspondente à posição frontal dunas primárias e que foi tomada como
proxy para a linha de costa.
84
V.5.2.1. Workflow fotogramétrico
O workflow fotogramétrico utilizado para produzir o ortofoto e o MDS a partir das
imagens captadas pela câmara de ação do Drone constou de três etapas: i) planeamento
do voo; ii) execução do voo; iii) processamento fotogramétrico das imagens com vista à
geração dos dois produtos geoespaciais, o ortofoto e o MDS. Na fase de planeamento do
voo foram definidos: i) a pegada do pixel no solo (GSD – Ground Sampling Distance);
ii) a correspondente altitude de voo para a câmara utilizada; iii) as sobreposições
longitudinais (aprox. 80%) e transversais (aprox. 60%) e as correspondentes velocidade
de disparo (para a velocidade de voo) e separação entre fiadas; iv) o planeamento dos
pontos de apoio fotogramétricos (GCP – Ground Control Points). Na fase de execução
foram colocados os alvos no solo nas posições planeadas (Fig. 22) e as suas coordenadas
medidas com GNSS-NRTK. Dado que este Drone apenas pode ser controlado
manualmente, foi introduzida a velocidade de disparo de 5s na câmara, colocou-se o
Drone a uma altitude de voo de 100 m (GSD de 6 cm) e realizaram-se 4 fiadas paralelas
à linha de costa. De salientar que o voo foi feito perto do meio-dia, de modo a tentar
diminuir o efeito das sombras, e estando o mar em situação de baixa-mar.
85
Figura 24 - Pontos de Controlo Utilizados para posterior processamento de dados. Fonte:
Elaboração própria.
A fase de processamento das imagens foi realizada com o Photoscan® e envolveu
as seguintes etapas: i) seleção das imagens (170); ii) “alinhamento” das imagens
envolvendo a extração dos pontos de interesse em todas as imagens a formação dos pares
estéreo, a auto-calibração da câmara e a orientação relativa destes pares utilizando um
ajustamento por feixe; iii) a orientação absoluta do feixe de imagens utilizando os GCPS;
iv) a reconstrução da superfície por correlação densa das imagens; v) e finalmente a
construção da mesh e a produção do DSM e do ortofoto.
V.5.2.2. Avaliação da exatidão vertical do MDS
Aqui foram utilizados dois tipos de perfis transversais: i) na avaliação da exatidão
vertical do MDS obtido por Drone, por comparação direta dos perfis observados
diretamente na praia com GNSS-NRTK com os interpolados no MDS-Drone; ii) no
contexto da Ferramenta DSAS para a avaliação da taxa de recuo de múltiplas posições da
86
linha de costa. No primeiro caso, utilizando para cada posição planimétrica dos pontos
que definem o perfil as diferenças entre as cotas do DSM e as cotas obtidas por GNSS-
NRTK (que designaremos por resíduos verticais), calculamos os indicadores estatísticos
habituais da exatidão vertical: a raiz quadrada do erro médio quadrático (remq), a média
(μ) e o desvio padrão (σ). No segundo caso, a ferramenta DSAS utiliza secções
transversais (designadas por perfis) para segmentar a posição da linha de costa de
referência.
Na Figura 25, podemos visualizar a localização dos três perfis efetuados na saída
de campo, com recurso a um GPS – RTK. Note-se ainda que a análise destes perfis
topográficos, além de permitir avaliar a exatidão vertical do MDS-Drone, contribuiu
também para o estudo da dinâmica da praia norte do Furadouro, ao serem comparados
com os perfis interpolados no MDS obtido por LiDAR (MDS_Lidar) de 2011.
Figura 25 - Análise de perfis topográficos transversais. Fonte: Elaboração própria
87
De modo a conseguirmos perceber as alterações que a praia do Furadouro tem
vindo a sofrer, foi feita uma comparação entre os perfis obtidos a partir do GPS e dos
dados LiDAR. Apesar da forma de obtenção dos dados não ser igual, serem de anos e
meses diferentes, é possível fazer uma comparação para tentar perceber se houve uma
acumulação ou redução de sedimentos na praia.
Quanto ao perfil 1 (gráfico 4), este localiza-se mais próximo de uma zona que já
sofreu alterações devido à implementação dos passadiços, como também, de uma
pequena estrutura longitudinal paralela à linha de costa. Sendo assim, este revela uma
diminuição de sedimentos de cerca de três metros em algumas zonas do perfil.
Gráfico 4 - Perfil 1
Fonte: Elaboração própria
No quinto gráfico vemos mudanças no declive e na forma da praia, que ocorreram
durante quatro anos. O perfil obtido através do GPS/DSM começa nos 4.1 metros e acaba
nos 10.9 metros, atingindo valores máximos de 12 m. Quanto ao perfil dos dados LiDAR,
começa com 3.7m e acaba nos 10.5 m, tendo valores máximos de 10.9 m.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Alt
itu
de
(m
)
Distância (m)
GPS DSM LIDAR
88
Gráfico 5 - Perfil 2
Fonte: Elaboração própria
No gráfico 6, podemos ver, mais uma vez, que houve uma variação do declive
entre 2011 e 2015. Em 2011 existia uma variação de declive entre os 2 metros e os 8,5
metros. Contudo em quatro anos houve várias mudanças, em 2015 a altitude passou a
variar entre 4,4 metros e os 8 metros. Ao visualizar o gráfico também é fácil de perceber
que a forma da praia também mudou bastante.
Gráfico 6 - Perfil 3
Fonte: Elaboração Própria
Para concluir, os três perfis revelam que a praia do Furadouro em quatro anos
sofreu várias alterações significativas na sua forma, por exemplo no perfil 2 existem
0
2
4
6
8
10
12
14
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42
Alt
itu
de
(m
)
Distância (m)
GPS DSM LIDAR
89
diferenças de cinco metros de altitude. No perfil 2 e 3, houve zonas em que se registou
uma grande diminuição de areias, como também revelou alguma acumulação de areias.
Contudo, aqui é importante referir, mais uma vez, que a interação entre a praia e as dunas
é altamente dinâmica, sendo que depende da disponibilidade de sedimentos aí presentes,
como também das características meteorológicas que vão sucedendo.
V.5.2.3. Evolução da linha de costa com recurso à ferramenta Digital
Shoreline Analysis System (DSAS) em ambiente ArcMAP
A ferramenta DSAS, disponível para ArcGIS, realiza a automação da análise
quantitativa da evolução das variações da linha de costa para uma série temporal de dados.
Utilizando secções transversais equidistantes entre si (perfis) segmenta-se a linha de costa
da época de referência e intersectam-se as outras linhas de costa de outras épocas com
estas secções, obtendo-se, para cada perfil várias posições da linha de costa. Com estas
posições e utilizando vários métodos estatísticos calculam-se, para o intervalo das épocas,
a taxa de avanço/recuo da linha de costa.
Neste trabalho foram utilizados dois métodos estatísticos: o end point rate (EPR),
e a regressão linear (LRR – Linear Regression Rate). O método EPR faz os cálculos de
variação dividindo a distância do movimento pelo tempo decorrido entre a linha mais
antiga e a mais atual (Thieller et al., 2009). Este método tem como principal vantagem a
facilidade de cálculo e exigência mínima de apenas duas linhas para a realização do
cálculo das taxas de variação. Contudo, tem como desvantagem o facto de ignorar a
informação adicional no caso de existiram mais de duas linhas.
Quanto ao método LRR, este calcula as taxas de recuo da linha de costa através
da regressão linear simples, tendo sempre em consideração as variações presentes ao
longo de cada linha de costa. Aqui todos os perfis são considerados para efeito de cálculo,
contudo este método “tente a subestimar a taxa de variação em relação a outras
estatísticas”, e é “suscetível a desvios extremos” (Thieler et al. 2009). Através deste
método é possível obter alguns indicadores estatísticos suplementares, tais como: o
coeficiente de correlação, o intervalo de confiança e o erro de ajustamento (R2).
90
V.5.3. Resultados e discussão
V.5.3.1. MDS e ortofoto obtido por Drone
As Figuras 26 -a) e b) mostram, respetivamente o ortofoto e MDS (resolução de
0.1 m) obtidos por drone e utilizados na delineação manual da linha de costa do ano 2015.
A Figura 23-c) mostra o MDS (resolução de 1 m) obtido por LiDAR aéreo e utilizado na
delimitação manual da linha de costa de 2011.
Figura 26 - Ortofoto e MDS obtidos por Drone (a, b). MDS obtido por LiDAR (c).
Fonte: Elaboração própria
Note-se que o facto de o ortofoto e o MDS serem obtidos a partir das mesmas
imagens, o primeiro representa uma mais-valia na delineação manual da linha de costa,
dado que facilita a interpretação manual do MDS.
91
V.5.3.2. Avaliação da qualidade do MDS obtido por Drone
Comparando os dois perfis transversais obtidos a partir do MDS-Drone e os
medidos diretamente com a tecnologia GNSS-NRTK podemos obter alguns indicadores
estatísticos da exatidão vertical posicional da MDS. A tabela 7 ilustra alguns dos
indicadores estatísticos da exatidão posicional (remq=10cm). Note-se o facto de a média
alternar para os 3 perfis entre valores positivos e negativos.
Tabela VII - Indicadores da exatidão posicional (cm)
Fonte: Gonçalves et al. (2015)
Para averiguarmos sobre a normalidade da distribuição dos 92 resíduos
calculámos o histograma e sobrepusemos a curva da distribuição normal (gráfico 7) e
traçamos um gráfico Q-Q (quantil-quantil). Dado que a curva do gráfico Q-Q se aproxima
muito da reta a vermelho podemos considerar que estamos perante uma distribuição
normal dos resíduos, caracterizada pelos parâmetros indicados na tabela 7 (Global).
Gráfico 7 - Avaliação da normalidade dos resíduos verticais (m)
Fonte: Gonçalves et al. (2015).
92
V.5.3.3. Evolução da linha de costa
Para proceder a esta análise, foram utilizadas as linhas de costa de 1958, 1998,
2010, 2012, as quais foram inseridas numa base de dados geográficos (geodatabase).
Também foi necessário construir uma linha de referência (baseline), criada através de um
buffer de 15 metros a partir da linha de costa de 2015. É de salientar que foi necessário
editar alguns vértices na linha de referência, e que esta foi construída sobre a faixa de
terra do continente (onshore). Posteriormente foram criados perfis perpendiculares, com
um espaçamento de 25 metros entre eles, e com um comprimento de 170 metros (Fig.
23). O cálculo das diferentes taxas de avanço/recuo da linha de costa foram efetuadas de
modo automático e teve como parâmetros adicionais um intervalo de confiança de 90%.
O gráfico 8 mostra os resultados obtidos para as distâncias das linhas de costa em
relação à linha de referência. De referir que neste gráfico foi retirada a linha de costa de
2015 já que a linha de referência foi construída com base nesta, e neste gráfico, esta não
teria expressão. Como se pode concluir a praia do Furadouro passou por situações de forte
erosão costeira, como também algumas situações de acumulação. Esta última deve-se ao
ano de 1998 para 2010 em alguns setores da área em estudo (do perfil 15 ao 37). Também
houve um forte recuo da linha de costa de 2010 para 2012, por exemplo no perfil 5 houve
um recuo de 44 metros. Por fim, no perfil 8, de 1958 a 2015 houve um recuo de 129
metros, sendo este o valor máximo registado nesta área.
Gráfico 8 - Distâncias relativas à linha de referência.
Fonte: Elaboração própria.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37
Dis
tân
cia
(m)
Perfil
1958 1998 2010 2011
93
De modo a conseguir visualizar espacialmente os resultados, foi elaborado uma
união entre a tabela gerada pela ferramenta DSAS e os vários perfis (entidades
geográficas). Na figura 27 podemos visualizar espacialmente os resultados das duas
estatísticas.
Figura 27 - Distribuição espacial – por lineamento, das taxas de recuo. Fonte: Elaboração
própria.
Quanto ao método EPR, revela ter uma taxa de recuo mais elevada, sendo a zona
mais a norte a que revela ter valores mais elevados. Em relação à estatística de regressão
linear, existe um maior número de perfis com taxas de recuo entre 0 e -1,49 m/ano, sendo
a zona mais a norte juntamente com alguns perfis imediatamente a seguir aos passadiços
que encontram-se os valores mais elevados de recuo da linha de costa.
A Figura 28 mostra as taxas de recuo da linha de costa para os dois indicadores
estatísticos (taxas de variação). Como se pode concluir a regressão linear (LRR) revela
ter valores mais baixos em quase todos os perfis, tendo apenas como exceção os perfis 35
a 38. De salientar que estes perfis localizam-se numa zona que já está um pouco
artificializada, nomeadamente com a construção de passadiços e com o surgimento de
uma pequena estrutura longitudinal. O valor mais alto do método LRR corresponde a -
94
1,9 m/ano, e o mais baixo a -0,9 m/ano. Quanto à estatística EPR tem sempre taxas de
erosão mais elevadas, tendo atingido o máximo de -2,3 m/ano, e o mínimo de -0,9 m/ano.
A taxa média de recuo da linha de costa para o intervalo de 57 anos (1958 a 2015), é de -
1,5 m/ano, sendo -1.4 m/ano para a estatística LRR, e -1.6 m/ano para a estatística EPR.
Desta forma, é possível concluir que esta área revela uma erosão generalizada.
Figura 28 - Comparação das taxas de recuo da linha de costa com os métodos EPR e LRR.
Comparando estes resultados com os obtidos por autores para a mesma zona,
observamos alguma discrepância. Por exemplo, Silva (2012), utilizando também a
ferramenta DSAS e o método EPR, obteve para o sector Maceda-Furadouro as seguintes
taxas de recuo: -2.7 m/ano para o período 1958 a 2010, e -4.0 m/ano para o período 2010
a 2012. Note-se, no entanto, que a área de estudo deste autor é mais extensa que a nossa,
os períodos e a escala de análise são também diferentes. Contudo, ambos os resultados
revelam o facto de a praia do Furadouro se encontrar fortemente vulnerável à aos
processos erosivos que caraterizam a dinâmica costeira, facto revelado por uma taxa de
erosão, superior a -1.5m/ano.
95
Conclusão
O litoral é uma região geográfica, por natureza, bastante dinâmica e ativa, em
função dos processos erosivos em confronto, sejam os processos de tempo curto ou os de
tempo longo. O défice sedimentar, resultado não apenas da dinâmica litoral como também
dos processos continentais (naturais e antrópicos que promoveram profundas alterações
no balanço erosão sedimentação/transporte fluviais) bem como a destruição dos
ambientes dunares, é outro fator que tem vindo a exercer uma influência apreciável na
alterabilidade dinâmica, logo também morfológica, das regiões litorais.
Nesta dissertação a área estudada foi o Furadouro e como vimos nesta zona já
ocorreram vários galgamentos e consequente destruição, colocando a população residente
em risco. Assim, facilmente concluímos que as estruturas de defesa costeira já não
conseguem proteger a população dos galgamentos costeiros comprovando que existe aqui
uma grande vulnerabilidade e risco associado. Em termos de ordenamento do território,
como facilmente podemos constatar, houve um planeamento deficiente, com fragilidades
bem visíveis, sendo que mesmo na mais recente revisão do PDM vemos áreas
classificadas como solo urbanizado ainda sem construções e que permitem novas
construções em áreas muito próximas das dunas e praias.
As dunas – as primeiras estruturas de proteção natural das regiões litorais, são
zonas bastante sensíveis. A sua importância revela-se ainda ao permitirem analisar a
evolução do litoral, ou seja, caso tenham pouca vegetação, mobilização eólica e escarpas
de areia, facilmente concluímos que a praia está em erosão, como é o caso da praia do
Furadouro. Na área de estudo encontramos vários passadiços de forma a proteger as
dunas, contudo nem sempre a população cumpre as regras e no verão frequentemente
existem pessoas nas dunas a proteger-se do vento. Desta forma, é importante zelar pelas
dunas, e fazer ações de recuperação, mas esta recuperação pode ser lenta e obrigar a uma
ação de gestão e manutenção constante.
O presente trabalho consistiu na utilização de diferentes geotecnologias para
estudar a linha de costa na zona norte do Furadouro. Desta forma, foi utilizado um Drone
que com a ajuda do GPS e posterior processamento dos dados, permitiu gerar um Ortofoto
de 10 cm de resolução e também um MDS com alta resolução espacial. A delimitação da
linha de costa de 2015 através do MDS permitiu, juntamente com outras linhas históricas
fazer o estudo da linha de costa nesta zona. O MDS obtido por LiDAR, também foi uma
mais-valia para este estudo, já que revelou ser ótimo para a monitorização topográfica da
96
erosão costeira e permitiu fazer uma comparação com os dados obtidos por Drone, por
exemplo com a criação de uma linha de costa. Para concluir, através da ferramenta DSAS,
foi possível estudar o recuo da linha de costa que tem vindo a manifestar-se ao longo dos
anos, tal como comprovam os resultados obtidos. Destacamos o facto de que, num
intervalo de 57 anos (1958 a 2015) houve um recuo de 1,5 m/ano. Concluindo, a utilização
de várias geotecnologias (LiDAR, Drone, GPS), permite fazer uma monitorização
costeira de elevada fiabilidade.
Para trabalhos futuros, julgamos ser útil realizar mais voos com o Drone, e
também mais perfis de modo a estudar várias séries temporais, como por exemplo perfis
de verão e inverno para compreender a dinâmica da praia. Também seria bastante
importante fazer mais trabalhos deste género ao longo da nossa costa, para irmos
estudando os seus comportamentos e tentarmos diminuir os riscos para a população, de
modo a não cometer os mesmos erros em certas zonas do país, como é o caso da zona
central e sul do Furadouro.
97
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