aplicaÇÃo da logÍstica reversa no destino final … · universidade federal fluminense centro...

25
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO – ESCOLA DE ENGENHARIA APLICAÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA NO DESTINO FINAL DE BATERIAS USADAS - CRIAÇÃO DE UMA CULTURA AMBIENTAL EM EMPRESAS DO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES ROBERTA DA SILVA FERREIRA – [email protected] VANESSA DE ALMEIDA BOTTICELLI DUPRAT – [email protected]

Upload: truongkhue

Post on 31-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO TECNOLÓGICO – ESCOLA DE ENGENHARIA

APLICAÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA NO DESTINO FINAL DE BATERIAS

USADAS - CRIAÇÃO DE UMA CULTURA AMBIENTAL EM EMPRESAS DO

SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES

ROBERTA DA SILVA FERREIRA – [email protected]

VANESSA DE ALMEIDA BOTTICELLI DUPRAT – [email protected]

Niterói

2004

Resumo

Este trabalho apresenta os resultados obtidos com base na utilização de conceitos e

metodologias de Logística Reversa na busca de um diferencial competitivo em empresas do

setor de telecomunicações no Brasil. Esse artigo baseia no Projeto Final de Graduação em

Engenharia de Produção (Universidade Federal Fluminense – RJ, 2004), A Logística Reversa

Como Equacionamento da Problemática Ambiental no Setor de Telefonia Celular do Brasil -

Estudo De Caso: Claro. Um dos objetivos iniciais do trabalho que originou esse artigo é

realizar um diagnóstico da atual situação dos passivos de baterias celulares gerados pelas

operações de empresas prestadoras de serviços de Telefonia Celular, propor o fortalecimento

de sua marca e a formação de uma cultura ambiental através do uso da logística reversa como

forma de eliminação desse passivo. A partir do estudo foi possível evidenciar o papel

fundamental do planejamento logístico reverso para a solução desta problemática, trazendo

com isso, para as empresas, valores de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal e de

imagem corporativa.

Palavras chave: Baterias de celular - diferencial competitivo - logística reversa.

Abstract

This work presents the results based on the use of concepts and methodologies of

Logistic Reverse to achieve a competitive differential in companies of the sector of

telecommunications in Brazil. This article is based on the Final Graduation Project of

Production Enginering (Universidade Federal Fluminense – RJ, 2004), Reverse Logistic as na

environmental solution for the Brazil Cellular Telephone sector. One of the initial objectives

of the work, that originated this article, was to carry through a diagnosis of the current

situation of the environmental liability of cellular batteries generated by the operations of

rendering companies of services of Cellular Telephony and to consider the improve of its

mark and the formation of an ambient culture through the use of logistic reverse as a

environmental liability elimination. Based on this study, was possible to evidence the basic

paper of the logistic planning, incorporating values of diverse natures: economic, ecological,

legal and of corporative image to the companies who implement it.

Key words: Cell Phone Batteries – Competitive Advantage –– Reverse Logistic

1. Introdução

Atualmente, as organizações estão enfrentando uma dura realidade, a “era” do

mercado globalmente competitivo onde a concorrência pode estar a pouquíssimos metros ou

do outro lado do mundo. Nesta era, para que uma empresa desenvolva seu potencial

competitivo e obtenha margens de lucro satisfatórias, é imprescindível que ela tenha a

capacidade de estabelecer estratégias de negócios de forma rápida e eficiente, e de difundir

uma cultura organizacional voltada para a adaptação às rápidas mudanças (ZENOME, 2003).

O cenário de hoje em dia, onde buscamos os meios e opções disponíveis que

satisfaçam os nossos desejos, definidos por Philip Kotler como produtos, tem exigido que as

organizações ofereçam certos benefícios aos seus clientes - os serviços agregados - que

passam a ser o diferencial mais perceptível na hora de decidir pela aquisição de um produto

ou serviço, uma vez que determinam o valor que atribuímos ao mesmo e que influenciam

diretamente na possibilidade do mesmo suprir e atender, em maior ou menor grau, às nossas

necessidades.

Além de fornecer serviços em conjunto com seus produtos, as companhias precisam

se preocupar com a identificação dos mesmos, que constitui um dos passos fundamentais para

se estabelecer a relação de procura espontânea. Esse passo requer uma atenção muito especial

a nomes, símbolos e desenhos e ao peso que a combinação desses elementos tem no mercado,

já que uma marca conhecida e bem aceita é uma garantia de influência positiva na tomada de

decisão de compra do consumidor.

Partindo deste princípio, algumas empresas têm procurado associar suas marcas a

uma postura ambientalmente responsável, no intuito de melhorar sua imagem perante a

sociedade e de atender às novas exigências da população (ZENONE, 2003).

Muitas empresas que já adquiriram essa consciência preservacionista mudaram

radicalmente sua postura, pois perceberam que qualquer ação desenvolvida hoje que preserve

os recursos escassos, trará no futuro, benefícios à natureza e à sociedade, além de vantagens à

própria organização, tais como a redução dos custos de produção através da utilização de

materiais reciclados e a redução dos custos incorridos em multas pelo não cumprimento de

algumas normas ambientais.

O processo de industrialização percorrido pelas nações ao longo dos últimos séculos

trouxe, de um lado, diversos benefícios econômicos e, de outro, sérias conseqüências

ambientais. Se é permitido à humanidade usufruir, nesta era virtual, do conforto

proporcionado por uma vasta gama de produtos e serviços, não se pode esquecer que muitos

destes benefícios tiveram um custo ambiental bastante elevado.

Nos últimos anos, os governos de diversos países, em parceria com a iniciativa

privada, tem se mobilizado em busca de soluções para o conflito desenvolvimento econômico

& preservação ambiental. O chamado Desenvolvimento Sustentável, ainda não foi, contudo,

efetivamente atingido pelos países e suas organizações, tendo em vista os crescentes

problemas ambientais decorrentes das atividades produtivas tais como: efeito estufa, chuva

ácida, lixo nuclear, poluição atmosférica e aquática, entre outros.

Algumas empresas, baseadas no conceito de marketing ambiental, já estão

conscientes de que associar suas marcas a uma postura ambientalmente responsável é

vantajoso. No entanto isto ainda é feito de forma periférica. Vários setores da economia já

vêm sendo fortemente pressionados para assumirem posicionamentos mais socialmente

responsáveis, principalmente àqueles que acarretam um impacto facilmente verificável pela

atividade de transformação desenvolvida e pelo tipo de bem produzido, numa atitude que

soma conscientização e obrigação, já que leis mais rigorosas impulsionam esse novo perfil de

gestão empresarial.

2. Situação Problema

2.1. A evolução do setor de Telecomunicações no Brasil

A história das telecomunicações no Brasil começou a mudar em 1995, três anos

antes do processo de privatizações, quando o Congresso Nacional aprovou a quebra do

monopólio estatal das telecomunicações, garantido pela Constituição de 1988. Naquele ano,

sob a coordenação do então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, se deu início a

transferência dos serviços de telefonia para a iniciativa privada. As portas para o futuro

começavam a se abrir.

As 26 operadoras estaduais que formavam o sistema Telebrás foram agrupadas em

três holdings para o leilão, sendo uma equivalente ao Estado de São Paulo, outra abrangendo

os demais Estados do Sudeste, Nordeste e parte do Norte do País e a última cobrindo o Sul e o

Centro-Oeste. A Embratel manteve sua área de cobertura, e foi arrematada pela empresa

americana MCI por R$ 2,65 bilhões. Os leilões renderam mais de R$ 30 bilhões aos cofres do

Governo Federal.

A grande transformação do setor acabou sendo a popularização dos aparelhos de

telefonia celular. Junto com as áreas para exploração de telefonia fixa, foram leiloadas regiões

para operação de telefonia móvel celular, serviço inaugurado no Brasil em 1990. Naquele ano,

a Telerj lançou o Sistema Móvel Celular (SMC), com capacidade para operar apenas 10 mil

linhas.

Os preços, no entanto, eram altos demais e os modelos não acompanhavam a

evolução do setor no resto do mundo, segundo o professor do Departamento de Engenharia de

Telecomunicações da Universidade Federal Fluminense (UFF) Carlos Alberto Malcher

Bastos. De acordo com ele, alguns dos aparelhos vendidos pela Telerj chegavam a custar o

equivalente a R$ 3 mil.

Para fiscalizar e regular o setor, foi criada em 1997, a Agência Nacional de

Telecomunicações (ANATEL). A primeira medida do órgão foi estabelecer metas de

qualidade e universalização dos serviços de telefonia, incluídas nos contratos de concessão,

para garantir o acesso da população e a melhoria no atendimento.

O resultado foi um salto no número de linhas instaladas no País. O número de

usuários de telefonia móvel teve crescimento mais expressivo, dobrando dos 7,4 milhões de

usuários, em 1998, para 15 milhões no ano seguinte.

Além da expansão da oferta de telefones, as metas garantiram melhorias na

qualidade do serviço e reduziram as dificuldades para se obter uma linha telefônica, como o

custo para a compra de uma linha e o tempo de espera.

Figura 01: Evolução dos Acessos a Telefonia Celular

Fonte: Dados fornecidos pela ANATEL (In: www.anatel.gov.br)

A preocupação inicial dos autores está voltada para o fato de que o setor de

telecomunicações no Brasil tem sido um dos setores mais promissores dos últimos anos. De

acordo com dados fornecidos pela ANATEL em 16 de janeiro de 2003, 45 milhões de

celulares foram habilitados em todo o país, o que implica na utilização de, no mínimo, 45

milhões de baterias. No mínimo, porque cerca de 70% dos usuários faz uso de uma segunda

bateria. Teremos assim, em curto prazo, uma utilização anual de 76,5 milhões de baterias de

celulares. Para onde estão indo essas baterias?

Para onde irá todo esse resíduo gerado pela humanidade? Os aterros

sanitários em sua grande maioria já estão esgotados, o que faz da

dificuldade de disposição do lixo urbano um dos maiores problemas

da atualidade (LEITE, 2003, p. 35).

A principal questão que motiva a realização do estudo é a inexistência de

procedimentos claros e executáveis para a realização de um descarte de baterias consciente e

ambientalmente correto, e que seja financeiramente viável. Essa questão torna-se ainda mais

grave ao se considerar a significativa evolução do setor de telecomunicações nos últimos

anos.

2.2. A Questão Ambiental no setor de Telecomunicações

Conforme exposto no item anterior, foi constatado que existe uma lacuna grande

entre a postura e estratégias adotadas pelas empresas de Telefonia Celular e as reais

necessidades do mercado e determinações da legislação local vigente. Para empresas como as

de petróleo, por exemplo, que pela natureza do negócio precisam ter claramente definidas

suas políticas e ações ambientais, essas necessidades e preocupações com o meio ambiente

ficam mais visíveis e se consegue observar de maneira mais palpável a influência direta de

ações para prevenção de acidentes ambientais no fortalecimento da marca da companhia.

No caso específico das empresas de Telefonia Celular, investir em projetos

relacionados ao meio ambiente parece, à primeira vista, totalmente utópico, o que não é

verdade. As novas leis e resoluções definidas pelos diversos órgãos reguladores, como o

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), provam que essa preocupação com o

meio ambiente deve e tem que ser interesse de todos.

A Resolução CONAMA número 257, de 30 de junho de 1999, que estabelece a

necessidade de disciplinar o descarte e o gerenciamento ambiental adequado de pilhas e

baterias usadas no que tange à coleta, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final,

representa um grande e definitivo marco da formação de uma legislação ambiental brasileira

engajada em compatibilizar o desenvolvimento tecnológico e a atividade industrial com uma

política responsável e ambientalmente sustentável (OLIVEIRA, 2001).

A lei determina que os fabricantes de alguns produtos deverão ser os responsáveis

pela sua correta destinação e determina também que empresas que comercializam estes

produtos devem apenas intermediar este processo logístico reverso, captando, estocando e

devolvendo-os à sua origem, ou seja, aos próprios fabricantes.

Por conter metais tóxicos e poluentes como níquel, lítio e, principalmente o cádmio,

que é carcionogênico, as baterias de celulares se enquadram como objetos-alvo desta

resolução. Nenhum dos tipos de baterias de telefones celulares existentes no mercado deixa de

ser nocivo, entretanto as de cádmio são as piores. De acordo com o professor da Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Wilson Komatsu, “jogadas no lixão, as

baterias são corroídas: o cádmio é arrastado para os lençóis freáticos e captado de volta para

consumo”(GITSIO, 1997). Assim, o perigo de lançar esses produtos na cesta de lixo é grande.

Chumbo, cádmio e mercúrio, metais presentes no interior de algumas

baterias, podem contaminar o solo, lagos e rios, chegando finalmente

ao homem. Se ingeridos em grande quantidade, os elementos tóxicos

podem causar males que vão da perda do olfato, da audição e da visão,

até o enfraquecimento ósseo. “Os materiais não são biodegradáveis e,

mesmo que tenham baixa quantidade de elementos tóxicos, podem

fazer mal ao meio ambiente”, adverte o físico Délcio Rodrigues,

diretor da entidade ambientalista Greenpeace (FRUET, 2002).

Nos dias atuais, as empresas estão cada vez mais sendo responsabilizadas pelo

completo ciclo de vida de seus produtos. Uma vez que se pode garantir que os fabricantes

estão comprometidos com a política de destinação dos produtos, assim como rege a

legislação, esta responsabilidade não recairá sobre a empresa, bem como o ônus decorrente

desta atividade.

O que chamou atenção dos autores desse projeto para esse setor industrial foi a

grande geração de passivo de aparelhos celulares e baterias. O mais alarmante é que esse

passivo gerado encontra-se sem destino concreto tanto em empresas, quanto nas casas dos

próprios compradores desses tipos de produto, que por não saberem ao certo qual é a forma

correta de descarte desses materiais, acabam acumulando baterias e telefones velhos em seus

lares.

Somado a isso, apesar do CONAMA atribuir aos fabricantes a responsabilidade da

correta destinação final de pilhas e baterias, através da Resolução 257/99, falhas de

comunicação, atrasos no cumprimento de solicitações e falta de comprometimento no

cumprimento de suas políticas de coleta são alguns dos obstáculos enfrentados pelas

operadoras para garantir um correto gerenciamento desses produtos por elas comercializados.

Sendo assim, com base no que foi exposto acima, definiu-se o objetivo principal do

presente trabalho é estudar as possibilidades de inserção dos conceitos e técnicas relacionados

à logística reversa na indústria de Telefonia Celular, a fim de buscar soluções viáveis para a

correta eliminação do passivo ambiental gerado pelas baterias e buscar novas formas de

planejamentos e estratégias que se enquadrem nos novos padrões de competitividade

empresarial atuais para esse tipo de mercado.

Qualquer tipo de antecipação de cenários futuros baseada num estudo do ambiente

industrial atual propicia uma enorme vantagem competitiva sobre as demais empresas que

concorrem entre si em um determinado setor, levando-se em conta que o rigor da legislação

ambiental vem crescendo a olhos vistos e que as multas referentes a qualquer desacato dessas

normas são cada vez maiores. Assim, em estratégias competitivas globais, torna-se

imprescindível estudar e analisar o papel da logística reversa, o que requer visão sistêmica

para planejar a utilização dos recursos logísticos de forma a contemplar todas as etapas do

ciclo de vida dos produtos.

Paralelo a toda essa evolução do setor de telecomunicações surgiu o crescente

interesse da sociedade, ou melhor, dos consumidores em entenderem mais a fundo os

produtos e serviços consumidos e adquiridos no que diz respeito aos seus processos de

fabricação e formas de descarte desse material.

Algo aconteceu no fim dos anos 80. Em muitos países as pessoas começaram a se sentir infelizes por como a raça humana estava tratando seu planeta. Passaram a reclamar mais contra a sujeira do ar e da água, a destruição da floresta úmida, o desaparecimento das espécies, o buraco na camada de ozônio e o efeito-estufa (LEITE, 2003).

Para avaliar o grau de conhecimento de consumidores sobre o correto descarte de

baterias, foi formulada, com o auxílio do site Conhecer para Conservar (In:

www.conhecerparaconservar.org), uma pesquisa de opinião para verificar o grau de

consciência ambiental e esclarecimento dos consumidores, com relação aos corretos

procedimentos de descarte de baterias usadas. Esta enquete foi veiculada durante os meses

janeiro e fevereiro de 2004 e, conforme apresentado na figura abaixo, a maioria (38%) revela

que não possui informações suficientes para realizar o correto descarte, porém sabe da

necessidade de cuidados especiais no manuseio desse tipo de material.

Figura 02: Pesquisa de opinião sobre nível de cultura ambiental

Fonte: Site Conhecer para Conservar (In: www.conhecerparaconservar.org)

Considerando o grau de obsolescência de artigos de telefonia celular e o fato das

baterias serem compostas por elementos tóxicos à saúde humana é fundamental que um

correto procedimento de descarte seja adotado por parte das empresas varejistas e prestadoras

de serviço que as comercializam.

3. Metodologia

A metodologia utilizada partiu de uma intensa pesquisa bibliográfica a fim de definir

com clareza todas as dúvidas dos autores e os problemas do mercado de telecomunicações

que estavam relacionados ao descarte de baterias de celular, como a evolução da legislação

ambiental, a evolução do setor de telecomunicações no Brasil, os planos de coleta de baterias

dos fabricantes de celular, os problemas causados pelo descarte incorreto, entre outros. Enfim,

um mapeamento do problema evidenciado.

Definido o cenário do estudo, partiu-se então para a delimitação do escopo e das

áreas de abrangência do estudo baseada nos principais autores envolvidos com essa

problemática, como foi o caso das literaturas do Paulo Roberto Leite acerca do tema Logística

Reversa, do Michael E. Porter sobre Vantagem Competitiva, do Ronald H. Ballou sobre

Gerenciamento da Cadeia Logística, Margarete Braz de Oliveira sobre A Problemática do

Descarte de Baterias Usadas no Lixo Urbano dentre outras fontes importantes como, o site da

ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), a Legislação Ambiental vigente no país,

o site da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e da FEEMA

(Fundação Estadual do Meio Ambiente) e os sites do principais fabricantes de baterias de

celular do país dentre outras inúmeras fontes consultadas.

Tendo esse material em mãos foi possível analisar com clareza o problema e

determinar um plano de ação coerente com as tendências do mercado atual, buscando integrar

setores industriais que ainda não estão integralmente engajados com as questões ambientais,

como é o caso do setor de telecomunicações no Brasil, com os conceitos e benefícios gerados

por uma gestão ambiental sustentável.

4. Critérios para Análise do Problema

Os resultados encontrados com base na pesquisa bibliográfica para mapeamento dos

problemas do setor de telecomunicações foram:

Figura 03: Análise SWOT do setor de telecomunicações.

Seguindo a metodologia de análise de problemas as principais questões evidenciadas

foram:

Política com Fabricantes: Os fornecedores não possuem uma política de

descarte de baterias eficiente e que realmente funcione. Não se adequam aos

novos padrões e normas vigentes, o que naturalmente tende a melhorar devido

às pressões governamentais. Outro ponto relevante que foi considerado na

matriz GUT foi o fato de que, atualmente, se nada for feito com relação à

logística reversa e ao controle de passivos ambientais, fica praticamente

inviável o ajuste dessa sugestão à cultura da empresa, visto que há uma gestão

de negócio extremamente direcionada para os resultados financeiros.

Sistema de Informação: Sistema de informação ineficiente com relação aos

dados referentes aos gastos com a logística reversa de baterias. É uma

problemática bastante razoável, uma vez que, sem conhecer a dimensão de seu

problema, não há maneira de controlá-lo.

Marketing Verde: Não existe atualmente um plano de comunicação nas lojas

próprias que proporcionem uma conscientização dos consumidores sobre o

correto descarte de baterias. A tendência do mercado é aumentar

progressivamente os acessos a telefones móveis, o que irá agravar o problema.

Estrutura Interna: Não existe uma estrutura interna voltada para a área de

logística reversa e poucas pessoas da empresa querem lidar com essa

problemática, por entenderem que isso não reflete nos lucros da empresa e

também por esses conceitos não serem difundidos.

Logística Reversa: Não existem procedimentos específicos para cada tipo de

bateria coletada e seu correto descarte. Não foi realizado, até o momento,

nenhum estudo de logística reversa e, como já foi mencionado anteriormente,

não se pode solucionar um problema que aparentemente não existe. Esse item é

considerado muito urgente por se tratar de um ponto crucial para a elucidação

de qualquer outro problema pois com ele a empresa conseguirá iniciar um

controle de dados logísticos reversos.

Figura 04: Matriz de Priorização GUT dos problemas evidenciados no setor de telecomunicações.

5. Geração de Propostas de Melhoria

Partindo dessa conclusão os autores iniciaram a descrição de 3 tipos de soluções

para o controle do passivo ambiental gerado pelo negócio.

5.1. Política de Negociação com fornecedores

As decisões estratégicas de uma empresa dependem de diversos fatores, como por

exemplo, do mercado que a mesma está inserida, do seu público-alvo, do produto ou serviço

oferecido etc. Seguindo os conceitos descritos pelo autor Michael E. Porter, em 1986,

referentes às estratégias competitivas das empresas, para a correta definição de uma estratégia

que seja coerente com os cenários competitivos atuais, uma empresa necessita entender

melhor as cinco forças que regem seus negócios: Entrantes Potenciais, Poder de Negociação

de Compradores e Fornecedores, Produtos Substitutos e Concorrentes na Indústria. Sendo os

fornecedores de crucial importância para o processo de logística reversa de baterias de

celular, torna-se evidente a necessidade de restringir os mesmos com objetivo de minimizar

custos ambientais das operadoras de celular. Uma forma eficiente para minimização desse

problema seria a implementação de uma política de restrição dos fornecedores, selecionando

aqueles com os programas de coleta de baterias mais bem estruturados e eficazes. A partir de

uma tomada de consciência diante da problemática ambiental, somada a experiência adquirida

ao longo dos anos de parceria com os principais fornecedores, a empresa, através da ação em

conjunto dos departamentos Jurídico, de Suprimentos e Logística, possuiria condições de

determinar as condições primordiais de fornecimento a fim de garantir o atendimento ao fluxo

reverso de produtos.

Para realizar a seleção dos fornecedores aptos a atingir as expectativas da empresa

em questão, seria necessário definir, internamente, o custo total de fornecimento e coleta da

matéria-prima. Uma vez conhecido esse valor, a operadora poderia propor seu repasse aos

fabricantes – responsáveis legais pela situação problema – de modo a diluí-lo no custo

unitário final do produto permitindo assim, que essa atividade continue se mantendo lucrativa.

Novamente, através uma pesquisa de opinião veiculada no site Conhecer para

Conservar (In.: http://www.conhecerparaconservar.org), entre os meses de novembro de 2003

a janeiro de 2004, foi possível identificar a opinião dos consumidores no que se refere a

custos ambientais agregados ao preço final de produtos e serviços. De acordo com a figura 05

observa-se que a maioria dos consumidores (41%) estaria disposta a pagar até 15% a mais por

um produto ou serviço ecologicamente correto, o que fundamenta a abordagem supracitada.

Figura 05: Tolerância dos consumidores aos custos ambientais agregados a produtos/serviços.

Fonte: www.conhecerparaconservar.org

5.2. Planejamento Logístico Reverso

As iniciativas relacionadas à logística reversa têm trazido consideráveis retornos

para as empresas. Economias com a utilização de embalagens retornáveis ou com o

reaproveitamento de materiais para produção têm trazido ganhos que estimulam cada vez

mais novas iniciativas. Além disso, os esforços em desenvolvimento e melhorias nos

processos de logística reversa podem produzir também retornos consideráveis, que justificam

os investimentos realizados.

Para quantificar essa oportunidade, foi realizada uma pesquisa de mercado a fim de

identificar as empresas que fariam reciclagem de lixo tecnológico. O que pode-se constatar é

que, no Brasil, existe apenas uma empresa localizada em São Paulo, a Suzaquim. A Suzaquim

é uma empresa brasileira recicladora de pilhas e baterias, que já atua há dez anos no mercado.

A atividade principal da empresa é a reciclagem de resíduos químicos industriais, contendo

metais, subprodutos de processo metal-mecânico e de tratamento de superfície metálica. Com

o surgimento da preocupação sobre os impactos ambientais da disposição inadequada de

pilhas e baterias, a Suzaquim começou a reciclar pilhas e baterias, utilizando a mesma planta

industrial e o mesmo pessoal operacional.

A Suzaquim passou a reciclar pilhas e baterias, por causa da demanda por esse

serviço, que foi criada a partir da Resolução Conama 257/99 e de legislações mais rigorosas

nos Estados da Região Sul, que exigem que as prefeituras também dêem destinação adequada

a esses resíduos. As empresas produtoras de aparelhos celulares foram obrigadas pela

Resolução Conama 257/99 a dar uma destinação adequada às baterias usadas, que as

empresas, também, foram obrigadas a recolher. A Suzaquim, então, recicla pilhas e baterias

recebidas de empresas e de municípios que fazem uma triagem nos seus sistemas de

gerenciamento de resíduos sólidos, como Joinville (WORKSHOP SOBRE CONSUMO

SUSTENTÁVEL NO BRASIL, 2002).

A empresa, certificada pelas normas ISO 9.000 e ISO 14.000, tem todas as licenças

necessárias, como a do Ibama, do Ministério da Agricultura, da Cetesb e do Ministério do

Exército (pois se utiliza ácido no processo).

A Suzaquim possui uma capacidade instalada de 1.100 toneladas/mês, mas está

operando com um terço desse valor.

Hoje, na Suzaquim, cobra-se R$ 981,00 por tonelada de pilhas e baterias recicladas. Para dar uma idéia do que é uma tonelada, a Embraer, quando ela tinha 1800 funcionários, fez um programa de coleta seletiva durante o período de um ano com a expectativa de coletar cinco toneladas, mas não conseguiu coletar uma tonelada durante o ano todo.

Fátima Santos, Gerente Comercial da Suzaquim. Fonte: WORKSHOP SOBRE CONSUMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL, 2002.

Dividindo-se o custo pelo peso das pilhas e das baterias, o custo da reciclagem não

passa de 1% do valor final do produto. Descontando do preço da tonelada reciclada, o custo

do tratamento no aterro, o custo real é de R$ 500,00 por tonelada reciclada.

O custo da incineração está em torno de R$ 1.500, 00 por tonelada, o que torna essa

alternativa totalmente inviável, sem falar na polêmica sobre o custo ambiental dessa

alternativa de tratamento.

Segundo a Suzaquim, a reciclagem de pilhas e baterias no Brasil, além de aumentar

a vida útil dos recursos não renováveis; emprega mão de obra nacional; é uma tecnologia

nacional; libera os aterros para outros resíduos e é economicamente viável, comparando com

as outras alternativas de tratamento.

Foram traçados dois tipos de ações acerca desse tema: uma, de curto prazo, que

eliminaria o passivo ambiental da empresa e a outra, de longo prazo, que traçaria um plano de

ação para que a operadora de celular juntamente com uma empresa recicladora de lixos

tecnológicos, para eliminação desse passivo de maneira ecologicamente correta, sem agredir o

meio ambiente.

Abaixo seguem algumas estimativas e cálculos realizados pelos autores a fim de

evidenciar a potencial redução de custo com a aplicação dessa proposta. Os valore utilizados

como base para a realização dos cálculos foram oriundos de um estudo de caso realizado

numa das operadoras de celular do Rio de Janeiro.

De acordo com a proposta formulada pela Suzaquim, a remessa e o transporte dos

resíduos até a unidade de reprocessamento é de inteira responsabilidade da remetente,

correndo por conta deste todas as despesas e encargos. Os resíduos deverão estar

acondicionados em tambores ou bombonas revestidos com sacos plásticos, sendo que todos

deverão ser enviados em pallets, em estrita observância às normas vigentes, principalmente as

relativas ao meio-ambiente. As embalagens e pallets não serão devolvidos a operadora de

celulra e deverão estar identificados com rótulos específicos que serão fornecidos pelo

departamento de acompanhamento de transportes da Suzaquim.

Com relação aos custos, existem, basicamente, três origens de despesas envolvidas

neste processo. São elas:

Custo de reprocessamento;

Custo de frete;

Custo de obtenção do certificado de liberação do material de seu Estado de origem.

Custo de reprocessamento

Tipo de Produto R$ por tonelada

Pilhas e baterias alcalinas R$ 990,00

Lixo tecnológico (acessórios p/celular) R$ 450,00

Nestes valores estão incluídos todos os custos do reprocessamento e também os

tributos, contribuições e encargos sociais e os previdenciários devidos.

O valor mínimo para faturamento é de R$ 450,00 (quatrocentos e cinqüenta reais) o

que equivale, somente para o caso das baterias – alvo do presente estudo – a

aproximadamente a 450 Kg do material, sendo proporcional a 4.286 unidades de baterias,

considerando-se um peso médio estimado por bateria de 105 gramas.

Observe a memória de cálculo considerando a utilização dessa sugestão como

solução imediata para eliminação do passivo atual:

Proposta: R$990,00 reais / tonelada (A)

Peso médio de uma bateria: 105 g (B)

Total de baterias estocadas: 12.000 unid. (C)

Dessa forma, (A) x (B) x (C) fica:

105 g X 12.000 unid X R$990,00 = 1,26 ton X R$990,00 = R$1.247,40

Pode-se concluir que, essa atividade acarretará num custo estimado para a empresa

de R$1.247,40 referente apenas ao reprocessamento dos resíduos atuais para eliminação desse

passivo.

Se este número for comparado às perdas financeiras estimadas e ao desgaste das

negociações mal sucedidas junto aos fornecedores, conclui-se que, esta é uma sugestão rápida,

barata e eficaz, capaz de acabar de imediato com o problema.

Observe a memória de cálculo considerando a utilização periódica dessa sugestão

como forma de definir uma plano de ação contínuo para o correto descarte de baterias:

Proposta: R$990,00 reais / tonelada

Peso médio de uma bateria: 105 g (A)

Taxa de recolhimento média por loja: 22/ mês . loja (B)

Total de lojas: 25 (C)

Dessa forma, (A) x (B) x (C) fica:

105 g X 22 unid / loja.mês X 25 lojas = 58 Kg / mês

O que significa que, num mês, a companhia tem a capacidade de recolher 58 Kg de

baterias. Como a coleta mínima é referente a um peso de 450 kg, podemos afirmar que a

empresa estará apta a solicitar uma nova coleta a cada 8 meses aproximadamente.

Pode-se concluir que, a cada 8 meses, a empresa estaria gerando um custo de

R$450,00, referente apenas ao reprocessamento dos resíduos.

Se este número for comparado às perdas financeiras estimadas, referente ao

manuseio e estocagem deste passivo ambiental, nota-se que o mesmo não é representativo

perante os gastos totais da empresa com esse processo.

Somado a isso há o fato de serem incomensuráveis para a empresa os ganhos

referentes à adoção de uma postura ambientalmente responsável, o que reflete no

fortalecimento de uma marca comprometida não só com a qualidade de seus produtos e

serviços mais sim com a qualidade de vida dessas e de futuras gerações.

Custo de frete

Foram feitas sondagens de preços com algumas transportadoras envolvidas na

logística de materiais perigosos, tais como resíduos tóxicos e inflamáveis, e chegou-se ao

valor médio de R$300,00 para o percurso Rio de Janeiro - São Paulo. Vale lembrar que a

variação do valor do frete será acertada diretamente com a transportadora, pois estes são

apenas valores referenciais.

Custo de obtenção do certificado de liberação do material de seu Estado de origem

De acordo com o Decreto 47.397 de 04/12/2002, deverá ser pago ao órgão ambiental

responsável, uma quantia para emissão de certificado que permite a movimentação externa

desse material.

Foi proposta pela Suzaquim a utilização da CETESB como órgão regulamentador,

no momento de protocolar a solicitação de CADRI - Certificado de Aprovação para

Destinação de Resíduos Industriais. Para tanto é necessário realizar um pagamento no valor

de 70 UFESPs (Unidade Fiscal do Estado de São Paulo), que dada a cotação atual da UFESP

em R$12,49, a geração dessa licença tem um custo de R$ 874,30 (Fonte: Site de finanças

Debit.com.br, In: www.calculos.com/consulta20.php?bd_tabela).

Para o caso específico do Rio de Janeiro deverá ser utilizado a FEEMA como órgão

regulamentador sendo seu certificado equivalente ao CADRI, chamado de Manifesto de

Resíduos. A taxa de emissão é da mesma ordem de grandeza.

Para a saída definitiva do material do depósito, deverá acompanhar o carregamento a

cópia do Certificado ou documento de liberação do Estado de Origem, a nota fiscal operação

"Outras Saídas", com observação de não incidência do ICMS, e outros documentos a serem

fornecidos pelo próprio departamento de acompanhamento de transportes da Suzaquim. Mais

uma vez, vale lembrar que não há tributação fiscal sobre este material, sendo apenas

recomendável atribuir um valor monetário simbólico "pro memorian".

Finalmente, o reprocesso dos resíduos dar-se-á em até sessenta dias após o envio dos

mesmos ao parque industrial da Suzaquim. Os materiais apurados no reprocesso passam a

pertencer a Suzaquim e, no prazo de até trinta dias após o término do reprocessamento, será

emitido para a Claro o Certificado de Reprocessamento e Destinação Final dos Resíduos

Industriais, em plena conformidade aos órgãos legais de gestão ambiental.

Custo Total para adoção imediata da medida:

Custo de Reprocessamento: R$ 1.247,40 (A)

Custo de Frete: R$ 300,00 / ton X 1,26 ton = R$ 378,00 (B)

Custo de Emissão de Certificado: R$ 874,30 (C)

Desta forma, (A) + (B) + (C) fica:

R$ 1.247,40 + R$ 378,00 + R$ 874,30 = R$2.500,00

Sabe-se que os investimentos em gestão ambiental são crescentes e que Sistemas de Gestão Ambiental são cada vez mais adotados por empresas nacionais e multinacionais. O número de empresas que já implantaram sistema de Gestão Ambiental no Brasil gira em torno de 140 empresas certificadas pela Norma ISO14000 até setembro de 1999. Existe então na realidade um macro investimento em gestão ambiental. Estes investimentos crescentes podem ser explicados por vários fatores, entre os quais podemos citar: maior conscientização da sociedade exigindo uma postura responsável do setor produtivo; legislação mais restritiva; competitividade; novas oportunidades com a abertura de “mercados verdes”. Na verdade o desenvolvimento da questão ambiental e da conscientização das pessoas a respeito da escassez de recursos naturais leva a uma maior preocupação com as questões ambientais (FARIA, 2001).

Sendo assim tal proposta se mostra não somente viável como também uma excelente

oportunidade de serem obtidos ganhos em relação ao mercado consumidor, à concorrência e à

sociedade como um todo.

5.3. Engajamento da Empresa numa campanha de conscientização com relação a coleta de

baterias

Considerando que a preocupação com questões ambientais tem sido cada vez mais

importante para sustentabilidade de uma organização em seu negócio, torna-se fundamental

que as empresas adotem um Programa de Marketing Ambiental, também chamado de

Marketing Verde ou Marketing Ecológico.

As razões para adotar um Programa de Marketing Ambiental são variadas. Em

primeiro lugar, para a satisfação dos acionistas e funcionários, é positivo estar associado a

uma empresa ambientalmente responsável, uma vez que pode levar até a um aumento de

produtividade da empresa. Uma outra razão é a redução de custos desnecessários identificados

com uma simples auditoria ambiental, visto que a maior parte da poluição resulta de processos

ineficientes que não aproveitam completamente os materiais utilizados.

O Marketing Verde não se limita à promoção de produtos que tenham alguns

atributos verdes, isto é, produtos recicláveis ou que não destruam a camada de ozônio. Isto

porque para uma empresa conseguir implantá-lo, ela deve, antes de mais nada, organizar-se

para ser uma empresa ambientalmente responsável em todas as suas atividades.

Adotar um Programa de Marketing Ambiental não é tão simples como parece,

devendo ser encarado com seriedade e não como uma declaração de “amor à natureza”. A

adoção de um programa destes, ao representar uma reação das empresas mais socialmente

responsáveis às expectativas da sociedade, por produtos e serviços que determinam menores

impactos ambientais, pode levá-las a uma melhor posição competitiva.

A primeira dúvida em relação à implantação deste programa diz respeito ao aspecto

econômico. A idéia que prevalece é de que qualquer providência que venha a ser tomada em

relação à variável ambiental traz consigo o aumento de despesas e acréscimo dos custos do

processo produtivo, o que não é verdade, já que muitas companhias têm demonstrado que,

com certa classe de criatividade e condições internas que possam transformar ameaças

ambientais em oportunidades de negócios, é possível ganhar dinheiro e proteger o meio

ambiente.

No nível interno das organizações, a questão ambiental está em evidência, pois

muitas empresas têm-se engajado nessa onda apenas no discurso e não através de ações

efetivas, uma vez que não conseguem nem mesmo sensibilizar seus próprios executivos de

que a preocupação com a proteção ao meio ambiente é realmente um objetivo empresarial

importante de ser alcançado.

No que se refere à capacitação de pessoal, estar comprometida com a preservação do

meio ambiente exige que a empresa enfrente eficientemente este desafio. A tecnologia

permite provocar mudanças nos processos e produtos, entretanto, é necessária também a

existência de um pessoal competente e bem treinado que seja capaz de transformar os planos

idealizados em ações efetivas e eficazes.

A adoção do Marketing Verde através da criação de um programa de coleta de

baterias usadas deve ser iniciada com uma campanha de informação ao público, enfatizando o

perigo da disposição sem controle de baterias usadas. Uma campanha bem sucedida deve

fornecer informações precisas e organizar programas de educação que encorajem os

consumidores (OLIVEIRA, 2001, p. 102).

Além disso, uma campanha informativa somente deve começar após a existência de

uma infra-estrutura adequada de disposição e reciclagem das baterias, isto é, já se devem

dispor dos recipientes de coleta, centros de coleta, locais para estocagem, aterro e recicladora,

senão se perdem a informação e a credibilidade (OLIVEIRA, 2001, p. 102).

Não obstante, outro fato a ser considerado no programa de coleta é que os

consumidores precisam ser alertados da existência de um sistema de identificação de baterias,

que diferencia as baterias que necessitam ser coletadas (tóxicas) daquelas que podem ser

dispostas juntamente com o lixo doméstico (baterias de zinco-carvão e alcalinas, isentas de

cádmio e mercúrio). Esse sistema de identificação aumenta a taxa de coleta e diminui o custo

do processo seletivo, visto que o consumidor se encarrega da segregação (Ibid., p. 103).

Como forma de contribuir para o aumento da taxa de coleta de baterias usadas sugere-

se duas medidas:

Taxa de Depósito: Trata-se de uma pequena quantia a ser paga pelo

consumidor ao varejista no ato da compra de uma bateria nova e este valor

deverá ser reembolsado quando a bateria for devolvida ao ponto de venda.

Este valor deve ser pequeno, de modo que, se o consumidor não se interessar

pela devolução do item, os catadores de lixo realizariam a coleta e todas as

baterias do lixão seriam recolhidas. Dessa maneira o consumidor estaria

“remunerando” os catadores, o que se revelaria uma contribuição social (Ibid.,

p. 109).

Desconto na compra de uma nova bateria: Refere-se a um pequeno percentual

de desconto a ser fornecido ao consumidor no ato da compra de uma nova

bateria, caso o mesmo se dirija ao ponto de venda tendo em mãos sua bateria

usada e energeticamente esgotada. O desconto não poderia ser cumulativo e

estaria limitado a uma bateria usada devolvida para cada bateria nova

adquirida.

A adoção dessas medidas aliada ao reprocessamento das baterias realizado pela

Suzaquim irá permitir à empresa iniciar a implantação de seu programa de marketing voltado

para as preocupações ambientais e para a conscientização ambiental do mercado consumidor.

Caso tenha boa receptividade pelo público-alvo, ele tornará possível o fortalecimento da

imagem corporativa da organização como uma empresa ambientalmente responsável,

estimulando (onde já exista) ou despertando (onde ainda não exista) o desejo por seus

produtos ou serviços, bem como a obtenção de recursos através dos bancos ou organizações

de desenvolvimento, que oferecem linhas de crédito específicas para projetos ligados ao meio

ambiente com melhores condições.

6. Conclusões e observações finais

A crescente exposição à concorrência, em função da abertura às importações ocorridas

desde os anos 90, tem exigido das empresas uma preocupação, cada vez maior, com a escolha

de suas estratégias, as quais deverão estar orientadas para obtenção de vantagens

competitivas.

Porter (1992, p. 23) apresenta como a empresa pode escolher e implementar uma

estratégia genérica, a fim de obter e sustentar uma vantagem competitiva. De acordo com ele,

"o instrumento básico para diagnosticar a vantagem competitiva e encontrar maneiras de

intensificá-la é a cadeia de valores". O autor esclarece que "o valor é medido pela receita

total, reflexo do preço que o produto de uma empresa impõe e as unidades que ela pode

vender". A empresa é rentável quando o valor que ela impõe ultrapassa os custos envolvidos

na criação do produto. A meta da estratégia genérica é criar valor para os compradores que

exceda o custo e o autor afirma que é o valor e não o custo que deve ser usado na análise da

posição competitiva. Na sua proposta, a cadeia de valores exibe o valor total que consiste em

margem e atividades de valor.

Dentro deste contexto, a competição por preço, principal diferencial vigente, tem dado

lugar à qualidade e à excelência pelo valor agregado dos produtos, uma vez que as atuais

perspectivas de mercado apontam para aquelas organizações que conseguirem diferenciais

competitivos baseados não somente em custo, mas em qualidade, manufaturabilidade e

atratividade para o consumidor.

Os produtos oferecidos pelas empresas de sucesso devem apresentar características

que englobem interação com o usuário, fatores ergonômicos, facilidade de manufatura e

montagem, além da preocupação constante com o meio ambiente, o que torna necessário o

desenvolvimento de frentes de trabalho que possam utilizar ferramentas que possibilitem essa

nova visão tecnológica, social e, principalmente, ambiental.

Os argumentos apresentados a seguir por Henrique Rattner ilustram a crescente

interpenetração da questão ambiental em diversos campos profissionais e científicos:

Os economistas defendem a análise de custo-benefício, taxa de desconto, preços reais (referentes aos custos de recuperação por danos ambientais), auditoria ambiental, eventualmente, uma nova metodologia para as contas nacionais. Os sociólogos insistem na necessidade de se consultar e pesquisar as opções sociais, questionando-se sobre a disposição da sociedade em pagar pela proteção e conservação de determinados recursos naturais ou pela instalação de depósitos de lixo que representam riscos à saúde. Cientistas e tecnólogos reivindicam maiores verbas para a pesquisa e desenvolvimento de ciências básicas e de tecnologias de ponta, tentando seguir os padrões e copiar ou repetir os projetos de cientistas dos países desenvolvido. Constituem juntamente com os homens de negócio, um lobby forte para a transferência de tecnologias (equipamentos, investimentos, etc.) dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento. Um número crescente de companhias e executivos começa a ver as questões ambientais como um campo novo e interessante de investimentos, ao menos por razões de marketing e de imagem perante o público. Os banqueiros e os conglomerados financeiros percebem oportunidades para lucros imensos advindos das preocupações ambientais e das transações internacionais, através da transferência de dotações de conversão das dívidas externas de proteção ao meio ambiente. (RATTNER, 1994.).

Essa interpenetração da questão ambiental também vem ocorrendo, aos poucos, no

setor de telefonia celular, devido às mudanças na legislação ambiental, que passou a ser bem

mais rigorosa com os responsáveis por danos ao meio ambiente e aos impactos ocasionados

pelo passivo ambiental decorrente da falta de procedimentos claros e executáveis para o

descarte adequado das baterias.

Com base no exposto acima, pode-se concluir que a logística reversa é imprescindível

para resolução dos problemas supracitados, podendo vir a contribuir de forma bastante

significativa, não só para o incremento da reutilização dos materiais recicláveis que compõem

as baterias, como para a diminuição desse enorme passivo, visto que, através dela, são

definidos planos eficientes para a captação e descarte, ecologicamente corretos, desses

produtos que podem poluir o meio ambiente. Além disso, a logística reversa também se

constitui uma vantagem competitiva ao agregar, às empresas do setor, valores de diversas

naturezas: econômico, ecológico, legal e de imagem corporativa, o que, indubitavelmente,

influencia na fidelização dos clientes e na sensibilidade dos mesmos aos preços cobrados por

produtos ou serviços que não agridam o meio ambiente.

7. Bibliografia

ABREU, Estela dos Santos; TEIXEIRA, José Carlos Abreu. Apresentação de trabalhos monográficos de conclusão de curso. 5ª. ed. Niterói: EdUFF, 2001.

AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES - ANATEL. Evolução do Setor de Telecomunicações. Home Page. Disponível em: <http://www.anatel.gov.br>. Acessado entre dezembro de 2003 e fevereiro de 2004. CONHECER PARA CONSERVAR. Enquetes. Home Page. Disponível em: <http://www.conhecerparaconservar.org>. Acessado entre novembro de 2003 e fevereiro de 2004. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 257, 30 de junho de 1999. Dispões sobre o descarte final de pilhas e baterias. CORRÊA, Fernanda A. Silveira; FERREIRA, Roberta da Silva; BOTTICELLI-DUPRAT, Vanessa de Almeida. A Logística Reversa Como Equacionamento da Problemática Ambiental no Setor de Telefonia Celular do Brasil - Estudo De Caso: Claro. Projeto Final de Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal Fluminense – RJ, 2004. BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos: Planejamento Organização e Logística Empresarial. 4ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

FARIA, Maria Helena de Mendonça. Uma Discussão a Respeito dos Benefícios Econômicos da Gestão Ambiental. Dissertação de Mestrado - Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção. Escola Federal de Engenharia de Itajubá – MG, 2001. FRUET, Henrique. Lixo Eletrônico - Empresas serão obrigadas a recolher e reciclar dejeto tecnológico. In: <http://www.rumonorte.com/empresa_ambiental_lixo.htm>. 2002. Acessado em: novembro de 2003.

GITSIO, Fabiana. População ignora riscos de bateria de celular. In: O Estado de São Paulo On Line, <http://www.estado.estadao.com.br/edicao/pano/97/07/19/cid420.html>, 1997. Acessado em: novembro de 2003.

LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: Meio Ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2003.

OLIVEIRA, Margarete Braz de; A Problemática do Descarte de Baterias Usadas no Lixo Urbano. 1ª ed. Brasília: Fundacentro, 2001.

PORTER, Michael E.; Estratégia Competitiva – Técnicas para Análise da Indústria e da Concorrência. 7ª. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1986. ------. Vantagem Competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

RATTNER, Henrique. “Desenvolvimento Sustentátel- tendências e prerspectivas.” in:. A questão Ambiental . Magalhães , Luiz Edmundo de(Org).. São Paulo, Terragraph, 1994. WORKSHOP SOBRE CONSUMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL. Brasília, 02 e 03 de julho de 2002. In: <http://www.idec.org.br/files/workshop_cs.doc>. Acessado em: janeiro de 2004. ZENONE, Luiz Cláudio. O Diferencial do Marketing de Serviços. In: <http://www.allameda.com.br/www/artigos/zenone8.asp>, 2003. Acessado em: junho de 2003