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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2012.0000191700 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0211905- 34.2008.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante JOSÉ CARLOS SYNTHES sendo apelados MARCIA RUTH SANTOS CRUZ e MAY RUTH SANTOS CRUZ. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 28ª Câmara da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores MELLO PINTO (Presidente) e EDUARDO SÁ PINTO SANDEVILLE. São Paulo, 3 de maio de 2012. Cesar Lacerda relator Assinatura Eletrônica

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2012.0000191700

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0211905-34.2008.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante JOSÉ CARLOS SYNTHES sendo apelados MARCIA RUTH SANTOS CRUZ e MAY RUTH SANTOS CRUZ.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 28ª Câmara da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MELLO PINTO (Presidente) e EDUARDO SÁ PINTO SANDEVILLE.

São Paulo, 3 de maio de 2012.

Cesar Lacerdarelator

Assinatura Eletrônica

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Apelação nº 0211905-34.2008.8.26.0100 - 2

Voto nº: 17.173APELAÇÃO COM REVISÃO: 0211905-34.2008.8.26.0100COMARCA: SÃO PAULOAPTE.: JOSÉ CARLOS SYNTHESAPDO.: MARCIA RUTH SANTOS CRUZ; MAY RUTH SANTOS CRUZJUIZ PROLATOR DA SENTENÇA: JOSÉ DA PONTE NETO

Cerceamento de defesa. Inocorrência. Não obrigatoriedade da audiência de conciliação no caso de julgamento antecipado da lide. Preliminar rejeitada.Locação não residencial. Denúncia vazia. Procedência. Contrato de locação prorrogado por prazo indeterminado. Notificação premonitória comprovada. Locatário que não tem direito à renovação compulsória do contrato, ante o não preenchimento dos requisitos do art. 51 da Lei do Inquilinato. Pretensão indenizatória incabível, eis que o pedido foi formulado em sede de contestação, não em reconvenção. Sentença mantida. Recurso desprovido.

Trata-se de ação de despejo

por denúncia vazia movida por Marcia Ruth Santos Cruz e May

Ruth Santos Cruz em face de José Carlos Synthes.

A respeitável sentença de fls.

91/92, cujo relatório se adota, julgou procedente o pedido e

determinou o despejo, fixando o prazo de 15 dias para desocupação

voluntária do imóvel. Condenou o requerido no pagamento das

verbas de sucumbência e honorários advocatícios fixados em 10%

do valor da causa.

Opostos embargos de

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declaração pelo réu (fls. 95/96), estes foram rejeitados (fls. 97).

Irresignado, apela o réu (fls.

98/103). Preliminarmente, sustenta a ocorrência de cerceamento de

defesa, ante a não realização de audiência de conciliação.

No mérito, alega que o

contrato de locação foi celebrado há mais de vinte e cinco anos e

que mantém no imóvel locado a sua atividade comercial, sua única

fonte de renda, sendo certo, ainda, que sempre honrou com as suas

obrigações locatícias. Sustenta que, de acordo com a Lei do

Inquilinato, o locatário terá direito à renovação do contrato quando

se tratar de locação destinada ao comércio e forem atendidos os

requisitos do art. 51.

Requer a improcedência da

ação de despejo e, subsidiariamente, o pagamento de indenização

de R$ 40.000,00.

Recurso regularmente

processado, com resposta (fls. 114/116).

É o relatório.

De início, afasta-se a

preliminar de cerceamento de defesa.

No tocante ao julgamento

antecipado, há disposição legal expressa autorizando o juiz a

procedê-lo tão logo forme sua convicção e a matéria seja somente

de direito ou a controvérsia já esteja suficientemente esclarecida.

Oportuno registrar ainda que

o art. 331 do Código de Processo Civil não torna obrigatória a

realização de audiência de conciliação se a hipótese for de

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julgamento antecipado da lide, como ocorreu na espécie.

No mérito, o recurso não

prospera.

Trata-se de retomada de

imóvel pela denominada denúncia imotivada ou vazia, precedida de

notificação, em que o pedido é deferido exclusivamente pela

conveniência do locador. Tal modalidade de denúncia está prevista

no art. 57 da Lei n. 8.245/91 (“O contrato de locação por prazo

indeterminado pode ser denunciado por escrito, pelo locador,

concedidos ao locatário trinta dias para a desocupação”).

No caso dos autos, a locação

se iniciou em 27.7.84 pelo prazo de 24 meses e 4 dias (fls. 07),

findos os quais se prorrogou automaticamente por prazo

indeterminado. Ademais, as locadoras comprovaram o envio da

notificação premonitória (fls. 10/11).

Assim, satisfeitos os

requisitos legais, a procedência da ação se impunha como medida

de rigor.

No mais, inviável a pretensão

renovatória deduzida pelo apelante, porque não demonstrada a

observância dos requisitos legais para tanto.

Com efeito, o ponto

comercial só é protegido, com o direito à renovação compulsória,

quando cumpridos os requisitos do art. 51, quais sejam: o contrato a

renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado;

o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos

ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos; locatário

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esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo

mínimo e ininterrupto de três anos.

Na espécie dos autos, não se

encontram presentes todos estes requisitos, tendo em vista que o

contrato de locação, embora celebrado inicialmente por escrito e

por prazo determinado, se prorrogou por tempo indeterminado, sem

contrato escrito.

Nesse sentido:

“A atual lei, porém, de

modo expresso refere que o ajuste a renovar deve ser escrito e

por prazo determinado, afastando, assim, de plano, a

propositura de ação de renovação de contrato de locação

comercial ou industrial, ou, simplesmente, ação renovatória,

como tantas vezes vimos, baseada em locação verbal ou que,

sendo escrita de início, se prorrogara por tempo indeterminado,

mas sem contrato escrito” (Gildo dos Santos, Locação e despejo,

5ª edição, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 344).

Por fim, incabível a

indenização requerida pelo apelante, tendo em vista que tal pedido

não foi formulado em sede de reconvenção, mas em contestação,

que não é o instrumento processual apto a deduzir tal pretensão (art.

300 do CPC).

Diante do exposto, nega-se

provimento ao recurso.

CESAR LACERDA Relator