aparecida debona altoé tecnologia na base nacional …

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Programa de Pós-graduação em Educação Credenciado pela Capes Instituto de Ciências Humanas Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: o impacto do implemento das competências 4 e 5 nas ações didático-metodológicas Belo Horizonte 2021

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Page 1: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

Programa de Pós-graduação em Educação

Credenciado pela Capes

Instituto de Ciências Humanas

Aparecida Debona Altoé

TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: o impacto do

implemento das competências 4 e 5 nas ações didático-metodológicas

Belo Horizonte

2021

Page 2: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

Aparecida Debona Altoé

TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: o impacto do

implemento das competências 4 e 5 nas ações didático-metodológicas

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Educação da Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais com requisito parcial para a obtenção do

título de Mestre em Educação.

Orientador: José Wilson da Costa

Área de Concentração: Educação Ciência e Tecnologia

Belo Horizonte

2021

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Altoé, Aparecida Debona

A469t Tecnologia na Base Nacional Comum Curricular: o impacto do implemento

das competências 4 e 5 nas ações didático-metodológicas / Aparecida Debona

Altoé. Belo Horizonte, 2021.

169 f. : il.

Orientador: José Wilson da Costa

Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Educação

1. Brasil. Lei de diretrizes e bases da educação nacional (1996). 2. Base

Nacional Comum Curricular. 3. Tecnologia da informação. 4. Tecnologia

educacional. 5. Ensino auxiliado por computador. 6. Inovações tecnológicas -

Formação de professores. 7. Prática de ensino. 8. Ensino fundamental. I. Costa,

José Wilson da. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de

Pós-Graduação em Educação. III. Título.

CDU: 371.68

Ficha catalográfica elaborada por Fabiana Marques de Souza e Silva - CRB 6/2086

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Aparecida Debona Altoé

TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: o impacto do

implemento das competências 4 e 5 nas ações didático-metodológicas

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Educação da Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais com requisito parcial para a obtenção do

título de Mestre em Educação.

Orientador: José Wilson da Costa

Área de Concentração: Educação Ciência e Tecnologia

__________________________________________________

Prof. Dr. José Wilson da Costa PUC-Minas (Orientador)

__________________________________________________

(Prof. Dr. Teodoro Adriano Costa Zanardi PUC-Minas)

__________________________________________________

(Prof. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida)

Belo Horizonte, 17 de junho de 2021.

Page 5: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

A todos os professores e professoras deste país, que, em defesa do direito à educação das

crianças e dos jovens, enfrentaram o desafio da remodelagem curricular

em meio a uma pandemia.

Page 6: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço ao Deus da vida, que nos abençoa a cada dia.

Agradeço à minha família – marido, filhos, mãe –, pela compreensão durante as longas horas

de estudo e produção.

Aos professores e gestores que disponibilizaram seu tempo e conhecimento durante as

entrevistas.

Ao professor José Wilson da Costa, pela orientação cuidadosa.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente colaboraram para que essa

jornada alcançasse êxito.

Page 7: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

RESUMO

A presente dissertação tem como tema Tecnologia na Base Comum Curricular e o impacto das

competências quatro e cinco nas ações didático-metodológicas. Compreende-se que a presença

das TDICs nas escolas básicas é resultado de suas potencialidades na produção e na difusão do

conhecimento, apesar de utilizada como recurso associado ao ensino. Contudo, a homologação

da BNCC insere as TDICs no currículo a partir da abordagem por competências e habilidades.

A partir desse contexto, este trabalho buscou compreender quais seriam os impactos da inserção

das competências quatro e cinco da BNCC no trabalho dos professores, sobretudo no que tange

à abordagem didático-metodológica. Realizou-se uma pesquisa básica de caráter exploratório

descritivo, por meio de um estudo de caso estabelecido em escola da rede privada da região

metropolitana de Belo Horizonte/MG. A coleta dos dados se deu por meio da análise do portal

institucional da escola selecionada e da leitura do texto completo da BNCC, bem como da

aplicação de um questionário on-line e da realização de entrevistas semiestruturadas

direcionadas a 100% dos professores dos anos finais do Ensino Fundamental. Todo o material

auferido na busca foi processado com a ajuda do aplicativo MaxQdA2020 e analisado a partir

das categorias da análise de conteúdo. Verificou-se que o trabalho por competências apresenta

impactos significativos nas relações pedagógicas e na problematização dos objetos de

conhecimento, dependendo de novas formas de planejamento e organização dos tempos

pedagógicos. Constatou-se também que a BNCC é fator relevante na inserção curricular das

TDICs nas práticas pedagógicas ao atribuir-lhe o papel de conceito, conhecimento e prática

social. As principais modificações didático-metodológicas ocasionadas pela presença das

TDICs nas práticas pedagógicas estão no âmbito da gestão do tempo, dos agrupamentos e,

sobretudo, na abordagem dada ao conhecimento. Porém, identificou-se lacuna na formação dos

docentes, sobretudo, no que diz respeito à articulação entre conhecimento técnico e pedagógico.

Palavras-chave: Tecnologias. BNCC. Metodologias. Práticas Pedagógicas.

Page 8: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

RESUMEN

La presente tesis tiene como tema Tecnología en la Base Nacional Común Curricular y el

Impacto de las Competencias Cuatro y Cinco en las Acciones Didáctico-metodológicas. Se

entiende que la presencia de las TDIC en las escuelas de educación básica es resultado de sus

potencialidades en la producción y difusión del conocimiento, a pesar de ser utilizadas como

recurso asociado a la enseñanza, pero la homologación de la BNCC inserta las TDIC en el

currículo desde el abordaje por competencias y habilidades. A partir de ese contexto, este

trabajo buscó comprender los impactos de la inserción de las competencias Cuatro y Cinco en

el trabajo de los profesores, sobre todo en lo que se refiere al enfoque didáctico-metodológico.

Se realizó una investigación exploratoria-descriptiva a través del estudio de caso establecido en

una escuela de la red privada de la región metropolitana de Belo Horizonte. La recolección de

los datos se dio por medio del análisis del portal web institucional de la escuela seleccionada y

lectura del texto completo de la BNCC, así como, de la aplicación de un cuestionario online y

la realización de entrevistas semiestructuradas a los profesores de los años finales de la

Enseñanza Fundamental. El material obtenido en la búsqueda fue procesado valiéndose de la

aplicación MaxQdA2020 y analizado a partir de las categorías del análisis del contenido. Se

verificó que el trabajo por competencias presenta impactos significativos en las relaciones

pedagógicas y en la problematización de los objetos de conocimiento, dependiendo de nuevas

formas de planificación y organización de los tiempos pedagógicos. Se constató, además, que

la BNCC es factor relevante en la inserción curricular de la TDIC en las prácticas pedagógicas

al asignarle el papel de concepto, conocimiento y práctica social. Las principales

modificaciones didáctico-metodológicas ocasionadas por la presencia de las TDIC en las

prácticas pedagógicas fueron en el ámbito de la gestión del tiempo, de las agrupaciones y sobre

todo en el enfoque dado al conocimiento. Sin embargo, se ha identificado un vacío en la

formación de los docentes, sobre todo en lo que se refiere a la articulación entre conocimiento

técnico y pedagógico.

Palabras clave: Tecnologías. BNCC. Metodologías. Prácticas Pedagógicas.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Síntese dos macropassos de implantação da BNCC na rede pública ..........................

............................................................................................................................................. 72

Figura 2 – Processos de implantação da BNCC nas escolas particulares ................................ 74

Quadro 1 – Categorias elencadas para classificar as narrativas a partir dos conceitos

fundamentais ........................................................................................................................... 595

Tabela 1 – Elenco de tecnologias incluídas pelos respondentes nas práticas pedagógicas antes

e depois da BNCC .................................................................................................................... 87

Tabela 2 – Habilidades de Cultura Digital distribuídas entre os componentes curriculares na

BNCC ..................................................................................................................................... 999

Tabela 3 – Tecnologias digitais disponíveis na escola ........................................................... 108

Tabela 4 – Habilidades presentes na BNCC nos anos finais do Ensino Fundamental

diretamente relacionadas às TDICs ........................................................................................ 116

Tabela 5 – Classificação das habilidades relacionadas às TDICs nos anos finais do Ensino

Fundamental na BNCC ........................................................................................................... 116

Page 10: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ARPA – Advanced Research Projects Agency

ARPANET – Advanced Research Projects Agency Network

ATM – Modo de Transmissão Assíncrono

AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem

BDP – Biblioteca Digital da PUC-Minas

BNCC – Base Nacional Comum Curricular

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CD – Compact Disc

CEB – Câmara de Educação Básica

CERN – Centro Européen poour Recherche Nuclerare

CETIC – Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação

CH – Ciências Humanas

CI – Circuito Integrado

CNE – Conselho Nacional de Educação

COVID-19 – Corona Vírus Disease-2019

CPF – Computer Pratice Framework

DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais

ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

HTML – Hipertex Markup Language

IA – Inteligência Artificial

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INEP – Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

INTERNET – Rede Mundial de Comunicação

LC – Linguagens e Códigos

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação

MT – Matemática e suas Tecnologias

NTI – Novas Tecnologias de Informação

OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONU – Organização das Nações Unidas

PCN – Parâmetro Curricular Nacional

Page 11: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais

PROINFO – Programa Nacional de Tecnologia Informacional

SAMR – The Substitution Argumentation Modification Redefinition Model

TCP/IP – Protocolo de Controle de Transmissão/Protocolo de Interconexão

TDICs – Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação

TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

URL – Localizador Uniforme de Recursos

WEB – Rede em inglês

WWW – Word Wide Web

Page 12: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................ 21

2.1 Currículo, Projeto Pedagógico e Políticas Educacionais.......................................................... 21

2.2 Tecnologias e processos educacionais: conceitos, desenvolvimento histórico e interface com

a educação .......................................................................................................................................... 37

3 ABORDAGEM METODOLÓGICA ............................................................................... 50

4 RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA E DISCUSSÃO DOS DADOS ............ 61

4.1 A contextualização do campo de pesquisa ................................................................................. 61

4.2 Caracterização da amostra de respondentes ............................................................................. 63

4.3 Contextualizando a homologação da BNCC, os componentes curriculares e os processos de

implantação ........................................................................................................................................ 66

4.3.1 O planejamento a partir da BNCC. Com ou sem mudança? ............................................. 76

4.3.2 Práticas de ensino que integram tecnologia, antes e depois da BNCC ............................. 81

4.4 Processos formativos que influenciam a apropriação de tecnologia no ensino ...................... 90

4.4.1 Tecnologia, competência e formação: um breve histórico das iniciativas de formação de

professores para a integração das TDICs.................................................................................... 94

4.5 Tecnologia, mudanças metodológicas e materialidades ......................................................... 106

4.6 Tecnologia, competências e mudanças metodológicas ........................................................... 113

4.7 O entrelaçamento entre tecnologia, competências e mudanças metodológicas e didáticas ......

..................................................................................................................................................... 126

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 138

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 144

APÊNDICE A – PROTOCOLO DE PESQUISA .............................................................. 153

APÊNDICE B – APRESENTAÇÃO DO PROTOCOLO DE PESQUISA ..................... 156

APÊNDICE C – MENSAGEM DE TEXTO ENVIADA PARA DIRETORES DE

ESCOLA ................................................................................................................................ 157

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO ON-LINE ENVIADO AOS PROFESSORES ....... 158

Page 13: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

APÊNDICE E – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ENVIADA A PROFESSORES

QUE PREFERIRAM RESPONDER POR ESCRITO EM VEZ DE PARTICIPAR DE

ENTREVISTA ON-LINE .................................................................................................... 162

APÊNDICE F – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA UTILIZADA

COM PROFESSORES DURANTE AS ENTREVISTAS ON-LINE .............................. 165

ANEXO A – QUADRO DE COMPETÊNCIAS GERAIS DO PROFESSOR EM

AMBIENTES VIRTUAIS .................................................................................................... 167

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14

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho se situa no campo de Educação, Ciência e Tecnologia e explora os

vínculos entre as políticas e as práticas curriculares após a homologação da Base Nacional

Comum Curricular (BNCC) com a integração de Tecnologias Digitais de Informação e de

Comunicação nas práticas pedagógicas. Tem-se por objetivo identificar e compreender as

possíveis implicações didático-metodológicas da implantação das competências quatro e cinco

da BNCC para o trabalho do professor no processo de ensino-aprendizagem, considerando que

nelas há referência direta às Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs).

O objeto desta pesquisa funda-se em torno de um contexto no qual reconhece-se a

existência de um histórico de projetos institucionais e políticas públicas que visavam à

articulação entre educação e tecnologia, bem como a formação de professores para essa

finalidade, além de proposições curriculares, que dentro dos limites históricos, traziam

indicações no mesmo sentido. Tendo em vista que se articulam às práticas existentes, as novas

possibilidades constituídas pela BNCC, a qual apresenta a proposição de ensino por

competências, indicando um novo cenário para a atuação do professor no conjunto das dez

competências a de número quatro pode ser relacionada às linguagens midiáticas digitais ao

propor que o estudante possa

Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita),

corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística,

matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias

e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento

mútuo. (BRASIL, 2017, p. 14).

Enquanto a competência 5 está diretamente relacionada à cultura digital e à produção

de tecnologia a partir da produção do conhecimento. Nela há proposição de que ao longo do

ensino básico o estudante possa

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de

forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as

escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir

conhecimentos, resolver problemas e exercer o protagonismo e autoria na vida pessoal

e coletiva. (BRASIL, 2017, p. 14).

Ao relacionar currículo e tecnologia esta pesquisa se alicerça no fato de que as TDICs são

criações humanas complexas que articulam conhecimentos diversos que estão para a sociedade

contemporânea como elemento crucial de seu funcionamento e existência, como meio poderoso

de criação e compartilhamento de informações e, por conseguinte, de conhecimento. Tais

características, quando aplicadas ao contexto educacional, apontam para a possiblidade de

modificação nas relações pedagógicas, pois o acesso à informação torna-se mais difuso, não

Page 15: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

15

dependendo exclusivamente do professor. As bibliotecas não são mais os repositórios

prioritários da informação, e os estudantes, em sua maioria, têm em mãos objetos tecnológicos

que lhes possibilitam vivenciar e criar através da cultura digital. As potencialidades

identificadas nas TDICs aguçam a responsabilidade da escola como instituição que responde

socialmente pela sistematização, pela elaboração e pelo compartilhamento do conhecimento

produzido pela humanidade.

No decurso de 23 anos atuando na educação básica como professora, coordenadora e

supervisora, prioritariamente em escolas privadas, intrigava-me a não inclusão, ou a presença

pouco crítica nos currículos escolares, das questões políticas e éticas relacionadas ao

desenvolvimento tecnológico e sua influência na vida das pessoas e nas formas de trabalho.

Notava também, reações díspares entre meus colegas a respeito da presença das TDICs na

escola e da integração delas ao ensino. Parecia haver contradições que poderiam repercutir na

forma como tais elementos eram integrados ao cotidiano escolar. Notava que à medida que as

TDICs se tornavam mais presentes no cotidiano social, iniciava-se, de modo desigual nas

escolas, um movimento de substituição de recursos analógicos, associados ao ensino, por

recursos digitais na forma de objetos de aprendizagem, plataformas, aplicativos e dispositivos

que deslocam tempos e espaços de ensino e aprendizagem e formas de trabalho dos professores;

algo que poderia repercutir na modificação da cultura escolar.

Posteriormente, os debates estabelecidos pela homologação da BNCC tornaram tal

contexto mais vívido, pois, sendo um documento de abrangência nacional, apresenta forte

contorno quanto ao papel da escola em relação à tecnologia digital. E, insere no cotidiano dos

professores a necessidade de construção de conhecimentos que respondam a desafios

pertinentes à realidade contemporânea, tais como “usar linguagens de programação para

solucionar problemas ou compreender e escrever algoritmos para resolver questões de aplicação

concreta” (BRASIL, 2017). Mas que, pelas descontinuidades do cenário educacional brasileiro,

pela lamentável ingerência e pela falta de investimento nesse setor, causava estranheza a quem,

em sua formação inicial, pouco ou nada teve de instrução sistematizada em tecnologia aplicada

à educação. Destarte, a BNCC, como horizonte curricular, poderia representar um fator de

contradição entre a realidade das escolas no que tange às TDICs, à formação dos professores e

às reais necessidades formativas da sociedade motivando a investigação científica de como tais

elementos se entrelaçariam.

Inquietações como essas motivaram a pesquisa sistematizada como forma de compreensão,

aprofundamento e contribuição concreta para o cenário da educação, no sentido de buscar um

caminho razoável no qual a presença das TDICs fosse integrada às práticas pedagógicas a partir

Page 16: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

16

do currículo. O que se configurou em condição favorável para a investigação a respeito de quais

são as implicações didático-metodológicas da implantação das competências quatro e cinco da

BNCC no processo de ensino e aprendizagem para professores da educação básica.

Articulando-a ao eixo temático de Educação, Ciência e Tecnologia, ao refletir um contexto de

normatividade estabelecido pela BNCC que se impõe ao trabalho docente reconfigurando o

cenário no qual tecnologia e educação se articulam. Perfazendo condição para investigar os

impactos da formação sistemática ou assistemática, da iminência do trabalho por competência

associado às TDICs e sua repercussão na prática pedagógica.

Considerando a natureza do problema, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, de

natureza básica exploratória. A partir da leitura de Yin (2009), estabeleceu-se estudo de caso,

visando mapear, identificar e descrever os aspectos que emergem do fenômeno e analisá-lo com

base às construções científicas anteriores. Esta ação foi conjugada com pesquisa bibliográfica

de natureza seletiva, realizada em quatro repositórios de renome nacional e internacional, para

levantamento da produção científica relacionada a articulação entre currículo, tecnologia e

competência buscando mapear no campo como tal vínculo era tratado até então. Considerando-

se a experiência profissional da autora da pesquisa, o estudo de caso foi realizado em escola

privada da região metropolitana de Belo Horizonte e os dados foram coletados de acordo com

protocolo de pesquisa destacado na metodologia e nos apêndices.

A análise dos dados se deu a partir de um conjunto de autores identificados no

referencial teórico, no qual o conceito de tecnologia é estabelecido a partir da pesquisa de

Álvaro Vieira Pinto (2013). Enquanto as produções de Tomaz Tadeu da Silva (2009, 2011)

fornecem elementos para analisar o percurso das proposições curriculares no Brasil até a

homologação da BNCC. Durante a análise dos dados foi de especial validade a abordagem

cognitivista dada pelo conjunto de pesquisadores reunidos na obra de César Coll e Carles

Monereo (2010). Nela discute-se o ato de aprender e ensinar mediado por tecnologias da

informação e comunicação bem como as competências tecnológicas e comunicacionais a serem

desenvolvidas por professores e estudantes. Enquanto a abordagem por competências foi

tratada a partir de Macedo (1999), Banadusi (2011) e Soffner (2020), e também a partir do

relatório Delors (1998). O impacto das tecnologias nas metodologias foi abordado a partir de

Mizukami (1986) que recoloca o conceito de metodologia e didática a partir das abordagens

dadas ao processo de ensino. Enquanto Oliveira et, al (2001) e Moran (2012) trazem elementos

para a avaliação de propostas pedagógicas que integram tecnologia, enquanto Furletti e Costa

(2018) trazem a análise de práticas ativas.

Page 17: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

17

O relatório que segue constitui-se a partir da análise dos depoimentos dos professores

respondentes e do contexto que os envolve, a luz dos referenciais elencados, buscando

identificar, a partir deles, as possíveis mudanças e as permanências nas práticas pedagógicas a

partir da aproximação com a BNCC e da integração das TDICs. A análise se estabelece em

cinco capítulos, organizados sob o pressuposto de que as tecnologias são aplicação do

conhecimento humano e, portanto, devem fazer parte dos processos formativos na escola básica

como elemento que, conjugado à decisão e à ação profissional do professor, pode ocasionar

modificação no cenário educacional e na forma como os seres humanos pensam as ferramentas

que compõem seu cotidiano.

No primeiro capítulo está disposto o referencial teórico no qual os conceitos de

competências, currículo e tecnologia são estabelecidos e discutidos a partir dos autores

seelcionados. O segundo capítulo traz a abordagem metodológica dada a este estudo, justifica a

escolha dos métodos e procedimentos e os articula com o contexto da pesquisa.

O terceiro capítulo apresenta o resultado da pesquisa e está dividido em três seções, sendo

que, na primeira (4.1), é justificada a escolha de uma escola da rede privada de ensino como

campo prioritário para o desenvolvimento deste estudo considerando as aproximações desta rede

com o ideário que sustenta a BNCC. Busca-se estabelecer uma contextualização de tal forma

que as narrativas colhidas se apresentem dentro de um cenário compreensível. Enquanto que na

seção (4.2) é feita uma breve caracterização da amostra que prefigurou a coleta dos dados, na

intenção de tornar mais claros os elementos da análise de conteúdo feito posteriormente.

Ainda no terceiro capítulo, o estudo dos dados (4.3) se assenta na premissa estabelecida por

Silva (2009) para o qual a definição dos currículos escolares pode ser influenciada por interesses

alheios à escola e ao desenvolvimento humano de quem nela está, e que o corpo de

conhecimentos a ser trabalhado nas escolas traz consigo um projeto de sociedade e, portanto, o

estudo sistemático dos processos de remodelagem curricular torna-se relevante, pois pode

indicar se a função social da escola está sendo instrumentalizada para outras finalidades

ocultadas por um verniz de direito e cidadania. Por isso, constrói-se um breve histórico desde a

publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) até o contexto de homologação da

BNCC, discutindo a organização do último documento por competências e habilidades

articulados aos componentes curriculares. Também é feita uma síntese do processo de

implantação da BNCC proposto pelo Ministério da Educação (MEC) para a rede pública até

2020, bem como dos processos de implantação mais presentes nas redes particulares e

publicizadas em sites institucionais no mesmo período.

Page 18: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

18

Na subseção 4.3.1, intitulada “O planejamento a partir da BNCC. Com ou sem mudança”,

atendendo ao objetivo de elencar as práticas de ensino desenvolvidas pelos sujeitos da pesquisa

preexistentes à BNCC e que incorporem o uso de tecnologias; discute-se o nível de aproximação

e conhecimento dos professores em relação à organização interna da BNCC, considerando o

pressuposto do trabalho por competências e habilidades e as dificuldades trazidas pelas múltiplas

interpretações dadas a tais conceitos.

No início desta pesquisa parecia que a abordagem didática por competências estava em

oposição às práticas transmissivas, nas quais há pouca ação e autonomia do estudante. Permitiu-

se inferir que a estrutura e a concepção trazidas pela BNCC poderiam exigir do professor a

recolocação de seus conhecimentos filosóficos e metodológicos para adequar sua prática e a

abordagem por competências e que tal transição poderia se apresentar na forma como

descreviam seu planejamento didático, o que foi discutido na também na subseção 4.3.1.

Na seção 4.4, atendendo ao objetivo de identificar o processo formativo do professor

em relação à apropriação de tecnologia ao ensino, buscou-se, a partir da pesquisa de Coll e

Illera (2010), Mauri e Onrubia (2010), relacionar, quais são as competências necessárias para

que os professores integrem as TDICs aos processos de ensino como elemento inovador, bem

como identificar os processos formativos que mais colaboram para a construção de tais

competências profissionais.

Partindo da premissa de que, se a abordagem dada às TDICs na BNCC se colocava

como um desafio para as escolas e os docentes, seria necessário destacar as principais iniciativas

de formação de professores para a integração das TDICs ao ensino que a antecederam e como

elas alcançaram os professores da rede privada. Por isso, na subseção 4.4.1 é estabelecida uma

discussão relativa aos processos de formação formais e informais, identificados pelos

respondentes como influenciadores da integração de tecnologia nas práticas pedagógicas.

Ainda nesta subseção parte-se do princípio que, se estivéssemos mesmo num contexto

de “revolução tecnológica”, ela seria também uma revolução cultural e de linguagem, visto que

se vale da palavra escrita e da iconografia para criar um contexto de significantes, por isso, é

realizada uma discussão relativa ao que vem a ser cultura digital, visto que se constitui elemento

de destaque na BNCC bastante presente na área de linguagens e códigos.

Reconhece-se que cabe à escola estabelecer processos educacionais que ajudem o

estudante a transformar o emaranhado de informações disponíveis em conhecimento, instigar o

desenvolvimento humano e tecnológico com vistas à solução de problemas. Pode-se dizer que

um dos aspectos mais significativos da BNCC em relação às tecnologias está presente na

competência geral de número cinco, que propõe que a escola seja um ambiente de criação de

Page 19: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

19

tecnologias. Por isso, na seção 4.5 do terceiro capítulo, intitulada “Criação de tecnologia,

mudanças metodológicas e materialidades”, a partir dos estudos de Vieira Pinto (2013) discute-

se, a partir da narrativa dos professores, os caminhos para que a escola seja um ambiente de

criação de tecnologias. Além disso, articula-se o objetivo de identificar as possíveis mudanças

didático-metodológicas associadas à implantação das competências quatro e cinco da BNCC

ao ensino básico, aos elementos constituem a base para essa ação, ao mesmo tempo que se

verifica como ela se relaciona com as habilidades presentes no documento.

Considera-se, como fator influente para a integração das tecnologias às práticas

pedagógicas, nessa discussão, as condições de materialidade oferecidas pela escola, bem como

do acesso dos estudantes aos dispositivos que permitam seu contato com a cultura digital. Por

isso, fez-se necessário identificar quais tecnologias estavam mais presentes no cotidiano dos

professores, analisar e classificar o grau de integração delas em relação ao currículo e à prática

pedagógica a partir de elementos trazidos por Coll, Mauri e Onrubia (2010).

Partiu-se do pressuposto de que os procedimentos, os recursos, as metodologias, e rituais

vivenciados até então pela escola já não reverberam da mesma forma numa geração que,

supostamente, não depende mais do professor para acessar informações. Por outro lado,

continua cabendo à escola, na pessoa do professor, a tarefa de construir, refletir e ressignificar

o conhecimento, promover a curadoria das informações, tendo em vista a participação cidadã

de crianças e de jovens em sua cultura e no mundo do trabalho. Pois, para transformar

informação em conhecimento, é preciso ter método, mediação, pesquisa e aprofundamento.

Nesse sentido, as TDICs se apresentam como conteúdo por corresponderem à transposição do

conhecimento humano como ferramenta de produção de disseminação do conhecimento, como

meio e recurso que servem para a mesma finalidade, como cultura por estarem presentes em

todas as esferas da vida humana. Por isso, na seção 4.5 do terceiro capítulo, nomeada

“Tecnologia, competências e mudanças metodológicas”, atendendo ao objetivo de identificar

as possíveis mudanças didático-metodológicas associadas à apropriação de tecnologia no

processo de ensino, discute-se o entrelaçamento entre tecnologia e competências na BNCC,

conjugando-as com a hipótese de mudanças metodológicas e didáticas ocasionadas nas práticas

pedagógicas. O objetivo dessa parte do relatório de pesquisa é consolidar tal hipótese

articulando-a ao pensamento de Vieira Pinto (2013), que sustenta um conceito de tecnologia

ampliado e articulado à educação e a noção de progresso humano e social.

Na seção 4.7 do terceiro capítulo, ainda em resposta ao objetivo de identificar as

modificações didático-metodológicas ocasionadas pela tecnologia, os conceitos de metodologia

e didática são retomados a partir das construções de Mizukami (2009), à medida que são

Page 20: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

20

elencadas metodologias identificadas nas narrativas dos respondentes por sua articulação com

tecnologias e pelo princípio da atividade e protagonismo do estudante. Além disso, é construída

reflexão a respeito de certas práticas consideradas ativas, buscando estabelecer seu lastro

pedagógico a partir de Oliveira e colaboradores (2001) e Furletti e Costa (2018).

Nas considerações finais desta dissertação, faz-se uma síntese dos resultados

encontrados no decurso da pesquisa, e pormenorizados nos capítulos anteriores, contrastando-

os com os objetivos que sustentam a hipótese levantada e o problema estabelecido. Nela insere-

se algumas sugestões de estudos futuros.

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21

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Busca-se neste capítulo articular o objeto de estudo deste projeto aos conceitos

necessários à sua compreensão. Parte-se de um breve resgate histórico do que seja “currículo”,

haja vista serem apresentadas as principais teorias, compreensões, além dos autores que

influenciam esse campo. Desenvolve-se, também, uma articulação com as pedagogias que

decorrem de cada visão ou teoria curricular. Posteriormente, as noções de currículo são

vinculadas à homologação da BNCC-2017, e, ao considerarmos a natureza desse documento,

insere-se o conceito de competência, buscando identificar quais são os influenciadores desse

conceito naquele documento. Por fim, discute-se o conceito de “tecnologia” e sua intercessão

com o que hoje é chamada de cultura digital.

2.1 Currículo, Projeto Pedagógico e Políticas Educacionais

De acordo com Silva (2011), as teorias curriculares podem ser analisadas a partir de

três vertentes: concepções tradicionais, críticas e pós-críticas. Sendo que cada uma delas

destaca um modelo de relação pedagógica e uma concepção de ser humano, de escola e de

sociedade. A homologação da BNCC-2017 está inscrita na história curricular brasileira,

herdeira dessas vertentes.

No campo da educação, o conceito de currículo é considerado complexo e polissêmico,

sob influência de diferentes correntes pedagógicas, filosóficas e sociológicas que o

transformaram ao longo do tempo. Parte-se do princípio de que toda escola se organiza em

torno de um corpo de conhecimentos considerados importantes para determinado grupo social,

embora não houvesse, até o início do século XX, pesquisas que definissem esse corpo de

conhecimentos como currículo. De modo geral, a palavra “currículo” está associada aos

programas escolares, à forma como a educação é organizada, às influências políticas e sociais

sobre a produção do conhecimento escolar, assim como às experiências vivenciadas pelos

estudantes em seus processos de aprendizagem. Nesse sentido, considerando a evolução do

conceito implícito na palavra “currículo”, as teorias que em torno dela se construíram, o

Ministério da Educação e Cultura (MEC), em seu documento “Indagações sobre o Currículo”,

o apresenta como

[...] conjunto de experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento,

em meio a relações sociais, e que contribuem para a construção das identidades de

nossos/as estudantes. Currículo associa-se, assim, ao conjunto de esforços

pedagógicos desenvolvidos com intenções educativas. Por esse motivo, a palavra tem

sido usada para todo e qualquer espaço organizado para afetar e educar pessoas, o que

explica o uso de expressões como o currículo da mídia, o currículo da prisão etc. Nós,

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22

contudo, estamos empregando a palavra currículo apenas para nos referirmos às

atividades organizadas por instituições escolares. Ou seja, para nos referirmos à

escola. (BRASIL, 2007, p. 18).

Nota-se, nessa definição ampliada, que o conceito de “currículo” expressa refinamentos

que ajudam a perceber sua complexidade, visto que, como construção histórica, agrega

elementos de perspectivas diversas como a culturalista e instrucional, indicando o quanto esse

campo é complexo.

Bobbit (1918) pode ser considerado precursor da definição do que seja currículo escolar.

Ele materializou em seu livro, The Curriculum, de 1918, a preocupação relativa às finalidades

e à organização da educação das massas, buscando definir os “principais” conhecimentos

acadêmicos a serem ensinados dentro de um determinado contexto social, que, naquele caso,

correspondia à intensa industrialização, às novas perspectivas de urbanização que suscitava

demandas relativas à massificação da educação como instrumento para criar uma linguagem

“civilizatória”, além de uma identidade nacional.

Inspirado pela “administração científica” de Taylor, Bobbit (1918) defende que o

currículo escolar expressa “um processo de racionalização dos resultados educacionais

especificados e medidos por meio da definição de conteúdos, procedimentos e métodos”

(SILVA, 2011, p. 12). Para Silva (2011), Bobbit “cria uma noção de currículo” que é validada,

tornando-se uma realidade, e insere perguntas que repercutem em qualquer contexto no qual o

currículo escolar seja repensado: o que ensinar? Para que ensinar? Qual conhecimento ou saber

é válido ou essencial para merecer ser considerado parte do currículo? Em seu livro, o autor

defende que, da mesma forma que, na fábrica, o ambiente escolar deve ser produtivo, o ensino

deve ser padronizado com base em divisões específicas de tarefas ensinadas pelos professores

e repetidas pelos estudantes. Esse é um modelo de escola que tem suas origens na ideia de

“educação nacional” entendida como esteio da democracia industrial do século XIX e

fundamento para a economia globalizada dos séculos XX e XXI, por ser considerado fácil de

replicar e com resultados que poderiam ser aproximados.

É consenso entre os autores a afirmação de que o currículo representa um determinado

corpo de conhecimentos a ser transmitido pela escola, e essa concepção é tão antiga quanto a

própria instituição escolar. Embora, nem sempre, houvesse uma intenção científica de

compreensão e definição do que fosse o currículo escolar, até porque a escola como direito de

todos é uma noção relativamente recente na histórica humana, constata-se que o

compartilhamento de conhecimentos é a própria razão de ser da escola. No entanto,

compreender o currículo apenas como organização da instrução e transmissão formal do

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23

conhecimento é um reducionismo do papel social dessa instituição, visto que a definição de

determinada base de conhecimentos repercutirá nos sujeitos a quem se destina aquela formação,

pois pode influenciar as oportunidades que terão. Logo, a vivência de um currículo impacta

diretamente a vida dos sujeitos, bem como o projeto de sociedade de quem pode, ou não,

influenciar as gestões curriculares. Ou seja, as opções que se fazem nas construções curriculares

podem repercutir em inclusão ou exclusão das pessoas em relação ao seu contexto social.

Em uma concepção tradicional, o currículo representará a relação de conteúdos

concernentes a cada disciplina, delimitando seu corpo de conhecimentos organizados

cronológica e hierarquicamente, repercutindo em um plano de estudos considerado eficiente e

ordeiro, que estará a serviço do Estado, com a finalidade de se estabelecer uma unidade

nacional. Nesse sentido, a escola e o currículo estarão a serviço de uma determinada

intencionalidade política, e os objetivos de ensino cumprem uma finalidade de expressar os

objetivos de um projeto de educação. Contudo, cabe reflexão, pois não existe neutralidade em

qualquer que seja a proposição curricular nem conhecimento desvinculado da realidade

humana. Todavia, nota-se que, em uma pedagogia por objetivos, a centralidade está no

conhecimento conceitual que nem sempre parte da realidade ou dos interesses daqueles a quem

a educação se destina, o que decorre, também, de uma visão na qual o estudante é considerado

desprovido de conhecimentos relevantes e que precisa ser ensinado mais do que percebido

como sujeito.

A narrativa curricular tradicional ou instrucional passa por adaptações sem perder seu

aspecto de racionalismo acadêmico e se consolida como pedagogia por objetivos, que

posteriormente é agregada pela noção de competências. Interessa notar que a abordagem por

competências é exteriorizada na BNCC e corresponde a adaptações da narrativa tradicional de

currículos que se consolidou no século XX e talvez seja a perspectiva curricular mais conhecida

no mundo. Logo, pode ser responsabilizada tanto pelo sucesso quanto pelo fracasso do que a

instituição “escola” se tornou em vários espaços sociais. As adaptações e as mesclagens acabam

por representar a “reengenharia social” (PINAR, 2007) da qual a escola é elemento

fundamental. Em um currículo organizado por competências, a centralidade não está no

conhecimento conceitual hierarquizado, mas em processos ativos e a contextos práticos nos

quais habilidades e conteúdo são articulados para a solução de problemas reais, para a

intervenção ou a participação social.

Dewey e Kilpatrick são considerados progressistas dentro das concepções curriculares

tradicionais, porque deslocavam o foco do conteúdo para a forma como são organizadas as

atividades. Nesse sentido, o currículo evolui de plano de estudos para o conjunto das

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experiências vivenciadas pelo estudante, uma vez que o enfoque dado por eles restringe o

aspecto instrucional e ressalta a necessidade de que a educação seja também um exercício de

democracia, na qual o currículo deve centrar-se no desenvolvimento das capacidades de

raciocínio e no senso crítico do estudante à medida que todos colaboram para que a experiência

de aprendizagem seja enriquecida. Nesse modelo, caberá ao professor criar situações de

aprendizagem que evidenciem a ação do estudante sobre o objeto de conhecimento. Contudo,

a noção de currículo associado à democracia, embora seja bastante presente nos discursos

pedagógicos ou institucionais, tende a não se concretizar efetivamente por não interessar a

governos autoritários ou que desejem a passividade social.

De acordo com Silva (1996, p. 23), “o currículo é o ponto de intersecção entre saber e

poder, representação e domínio, porque corporifica as relações sociais e forma subjetividades”.

Esse autor preconiza que o currículo se constitui em uma narrativa, que se estabelece com base

em critérios que justifiquem a seleção dos conhecimentos, e tal ação é um ato de poder, porque

traz em si concepções de sociedade e de pessoa, e, por isso, as “teorias do currículo estão

ativamente envolvidas na atividade de garantir o consenso, de obter hegemonia. As teorias do

currículo estão situadas num campo epistemológico social” (SILVA, 2011, p. 16). Se

considerarmos a diversidade e a complexidade intrínseca de cada teoria curricular, sobretudo

em um momento em que o princípio estruturante da educação passa por ressignificações, torna-

se mais coerente referirmo-nos a elas como teorias de instrução e teorias críticas, tal qual

originalmente foi feito por Max Horkheimer, em 1937.

É o debate sobre o poder de selecionar, ordenar e descartar conteúdos que separa as

teorias tradicionais de currículo das teorias críticas e pós-críticas do currículo. Há uma

fundamental importância em refletir a respeito de quem pode, ou não, influenciar as decisões

curriculares, pois significará pensar, para além dos conteúdos, nos sujeitos que criam e

vivenciam o currículo, sobre as dinâmicas sociais que se desenrolam na escola e sobre os

projetos de vida e de sociedade que nem sempre são ouvidos. Nesse sentido, reconhece-se que

não existe neutralidade no ato de ensinar, bem como no ato de aprender e que todo

conhecimento humano produzido e compartilhado é ideológico, porque se traduz em signos de

linguagem que são culturais. Em uma perspectiva crítica e pós-crítica, assume-se a não

existência de neutralidade, o que exigirá dos atores sociais que influenciam e trabalham com

determinado currículo escolar uma maior vigilância e crítica sobre suas ações.

As concepções tradicionais de currículo se consolidam na organização da escola

moderna em torno da noção de homogeneidade funcional da aprendizagem, o que em certa

medida é interessante, quando compreendido como direito de acesso ao conhecimento que

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produz inclusão e condição de autoconhecimento, mas por outro lado podem ser

instrumentalizadas para a produção de sujeitos “domesticados” por uma prática curricular, na

qual “o que importa é a experiência de submissão de um sujeito às regras de uma disciplina

escolar, de forma a torná-lo o tipo de pessoa que se espera” (MOORE; YOUNG, 2001, p. 199).

Nota-se que tal perspectiva curricular é divergente da noção estabelecida por Dewey, para quem

o respeito aos interesses de aprendizagem dos sujeitos e a vivência de práticas escolares ativas

deveriam ser ensaio de democracia.

Percepções como as de Moore e Young (2001) apontam para a intencionalidade do

ensino, presentes em qualquer narrativa curricular independentemente da classificação que

venha a receber. Conhecimento é poder que interferirá na emancipação das pessoas na medida

em que represente a produção de consciências, o que resultará em resistência aos mecanismos

sociais de opressão, bem como às ideologias que os subsidiam. Por outro lado, pode também

repercutir na reprodução social, o que resultará na conformação a qualquer que seja o contexto.

Constata-se que, na perspectiva crítica, a prescrição de conteúdos não é abandonada,

visto que não existe escola sem que haja compartilhamento de saberes, contudo, a definição

desses conteúdos, o que representam e os conceitos que referenciam sua eleição como

prioritários em detrimento de outros serão analisados levando-se em conta a produção das

relações sociais. Nelas, será considerada a problematização da educação a partir da formação

da identidade pessoal dos sujeitos em interseção com os objetos de conhecimento. Nessa

perspectiva, o currículo precisa ser contextualizado, observar a trajetória dos sujeitos e o

questionamento constante da realidade.

As teorias críticas do currículo são vinculadas a um grupo de intelectuais da chamada

“Escola de Frankfurt”, notadamente Max Horkheimer e Theodor Adorno, que, entre os anos 1940

e 1970, desenvolveram atividade acadêmica e social de crítica ao positivismo e à racionalidade

capitalista. A pesquisa desse grupo abrange arte, cultura, economia, política e, por isso, alcança

também a escola. Seus escritos se popularizaram a partir da década de 1960, vindo a influenciar

autores da Sociologia da Educação, como Pierre Bourdieu e Louis Althusser.

Para esse conjunto de autores, a escola e a educação são instrumentalizadas pelas classes

dominantes, pois sua organização não se fundamenta nos interesses e nas necessidades dos

grupos subordinados, o que faz dela legitimadora das desigualdades sociais intrínsecas ao

capitalismo. Na perspectiva crítica e pós-crítica, as narrativas curriculares deveriam ser espaço

de defesa das lutas no campo social e cultural, devendo a coordenação de conteúdos e

componentes curriculares conter uma estrutura crítica que permitisse o desenvolvimento da

autonomia e o respeito às identidades pessoais.

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Nota-se, nas teorias críticas e pós-críticas do currículo, uma bifurcação de

intencionalidades, na medida em que discutem o conhecimento na produção e na reprodução

social, assim como na produção das subjetividades. Tal bifurcação evidenciou-se ao analisarem

a função da ideologia quando relacionada ao papel do sujeito na estrutura socioeconômica, bem

como na participação desse mesmo sujeito em coletivos que rejeitam os discursos deterministas

à medida que evidenciam a compreensão das subjetividades nas práticas sociais.

Nessa linha de teorização, os currículos atuam como práticas de subjetivação, de

significação e discurso produzidos nas relações de saber-poder, sendo os currículos

entendidos como formas de seleção e representação da cultura, compreendendo

demandas das questões de gênero, raça, etnia, sexualidade, multiculturalismo. Os

currículos produzem identidades heterogêneas e diversas, que num processo dialógico

e ético possibilitam a emancipação a partir da cidadania ativa. (EYNG, 2015, p. 6).

É notado que o conceito de currículo evolui e se alarga a partir de pesquisas diversas.

No entanto, a forma como efetivamente se materializa em cada espaço educativo dependerá da

apropriação feita pelos sujeitos e, por isso, na forma tradicional, crítica ou pós-crítica, haverá

uma diversidade de currículos tanto quanto é diversa a experiência educativa humana.

A definição de Eyng (2015) está articulada com pesquisas desenvolvidas por Michel

Apple e Michael Young. Para esses autores, o currículo está para além da prescrição de

conteúdo, pois abarca as práticas sociais, a cultura, os contextos históricos e, sobretudo, a forma

como os seres humanos produzem conhecimento em diferentes ambientes, para os quais a

escola é vista como um ambiente cultural que reflete as contradições e as construções da

sociedade (FORQUIN, 1992).

A prática curricular brasileira predominante, sobretudo até o fim da década de 1970,

esteve bastante ligada às concepções instrucionais e ao tecnicismo. Contudo, nas décadas de 1980

e de 1990, Tomaz Tadeu da Silva, amparado nos estudos de Mclaren e Sacristán, traz para o

cenário curricular brasileiro a ideia de multiculturalismo. Silva (1999) destaca a cultura escolar

como espaço de formação das identidades, estabelecendo relação entre currículo e

subjetividades.

Além dele, o pesquisador Dermeval Saviani propõe uma periodização das ideias

pedagógicas e, ao fazê-lo, relaciona as concepções de educação a cada época. Para ele, as ideias

educacionais perpassam a análise do fenômeno educativo para explicá-lo e também as

concepções de pessoa humana e de sociedade que subjazem a esse fenômeno, enquanto as ideias

pedagógicas se constituem na substância da prática educativa. Para Saviani (2007, p. 9), “a

distribuição das ideias pedagógicas se baseia na noção de predominância e hegemonia, [uma

vez que] cada período corresponde à predominância de determinadas ideias pedagógicas, sendo

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isso o que diferencia os períodos entre si”. Ideias pedagógicas e práticas educativas estão

articuladas entre si e se expressam também como práticas curriculares.

Nesse sentido, considera-se que, de 1549 a 1759, houve no Brasil um predomínio da

pedagogia tradicional religiosa. Enquanto que, de 1759 a 1932, predomina a coexistência da

vertente laica e religiosa. Em um terceiro período, que vai de 1932 a 1969, predomina a

chamada pedagogia nova, porém, dentro dela, identificam-se três fases: articulação entre

pedagogia tradicional e pedagogia nova, seguida de predomínio da pedagogia nova e depois da

articulação da pedagogia nova com a tecnicista. O quarto período vai de 1969 até 1996, no qual

mesclam-se a pedagogia tecnicista, a concepção crítico-reprodutivista e histórico-crítica.

Apesar da periodização feita por Saviani (1994) e Moreira e Silva (1994) salienta que

somente a partir das reformas incentivadas pelos pioneiros da Educação Nova, em 1920, torna-

se possível considerar o campo do currículo no Brasil. Elas representam uma ruptura no modelo

pedagógico por meio da modificação da relação professor-aluno ao proporem a democratização

da escola à valorização de métodos e estratégias de ensino e avaliação. Eles reeditam no Brasil

as concepções de Dewey e Kilpatrick. Nesse contexto, Anísio Teixeira (2005) apresenta o

currículo como coletânea de atividades, projetos, problemas, investigações, nas quais as

crianças se envolverão de modo natural. No entanto, apesar do vanguardismo de Teixeira,

Romanelli (1998) reitera que a educação brasileira entre 1930 e 1960 foi marcada por decretos

e reformas que retiram ou incluem disciplinas, modificam abordagens, mas pouco impactam

em ampliação de direitos. Por isso, a prática curricular predominante não se distancia

efetivamente dos modelos tradicionais, prevalecendo a prescrição de objetivos e de conteúdos

pouco contextualizados que não refletirão as necessidades da população.

Os movimentos de redemocratização vivenciados no Brasil na década de 1980

reverberaram na construção da LDB de 1996, considerada um marco por tornar obrigatória e

gratuita a Educação Básica, por regulamentar a Educação Infantil e por atribuir parâmetros para

a formação de professores. Nela estava prevista a construção de uma Base Nacional Comum

Curricular. Tal documento só se concretizou em 2017 e foi precedido pelas Diretrizes

Curriculares Nacionais (DCN), que estabeleceram os princípios básicos a serem respeitados na

construção dos currículos escolares.

As pesquisadoras Bonamino e Martinez (2002) salientam que, de acordo com as DCN,

as escolas deverão fundamentar sua ação pedagógica em princípios éticos, estéticos, respeitar a

diversidade e os direitos humanos, reconhecendo a identidade pessoal de alunos e professores.

Nesse sentido, evidencia-se o vínculo com as concepções curriculares pós-críticas. Elas

alcançam a escola brasileira, mas, de forma comum aos contextos pós-modernos, sofrem uma

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série de adaptações e bricolagens. Silva (2011, p. 115) salienta que nesse contexto a teoria

crítica dos currículos foi levada aos seus limites, “desalojada de sua confortável posição de

vanguarda e colocada numa incômoda defensiva”, embora seja de extrema importância como

referencial para análise das práticas curriculares. Fenômeno semelhante foi identificado por

Moraes (2001) ao debater o tema da pesquisa e da produção do conhecimento e sua intercessão

com a teoria crítica. Para a autora, “o contexto de ceticismo epistemológico e de relativismo

ontológico que hoje nos cerca compromete acentuadamente a capacidade de as ciências

superarem suas próprias antinomias tanto no plano explanatório como no do enfrentamento

prático de seus problemas” (MORAES, 2001, p. 13).

As instabilidades acentuadas por Moraes (2001) não nascem, necessariamente, nas

ciências sociais, pois é complicado manter clareza epistemológica em um cenário no qual

mudanças globais de cunho cultural, econômico, político, tecnológico e climático se

aceleram. Há uma mescla de crítica e de esperança em relação à ciência e à forma como é

instrumentalizada, e o mesmo se estende à escola como instituição depositária das

responsabilidades pela formação de seres humanos que possam lidar com tal cenário e

modificá-lo, embora, no caso do Brasil, nem sempre haja adequada estruturação política

e material que possibilite sua realização. É nesse contexto que os currículos organizados

de acordo com a noção de competência emergem como releitura de aspectos tradicionais

da educação, mesclados a elementos contemporâneos, trazidos por agências internacionais

que financiam pesquisas e apresentam interesse no potencial da escola como mobilizadora

de mudanças. Porém, para além dos interesses específicos, escola e sociedade apresentam

permeabilidades e se mobilizam reciprocamente, nesse sentido destaca-se o protagonismo da

escola que, apesar de suas fragilidades, é um lócus de transformação social.

O Conselho Nacional de Educação, na Síntese das Diretrizes Nacionais da Educação

Básica, retoma o conceito de currículo desenvolvido por Moreira e Candau (2006), e ao assumi-

lo destacam sua amplitude como “conjunto de práticas que proporcionam a produção, a

circulação e o consumo de significados no espaço social e que contribuem, intensamente, para

a construção de identidades sociais e culturais” (BRASIL, 2010, p. 7).

O documento estabelece que o currículo escolar é uma produção que integra a Base

Nacional Comum Curricular, a parte diversificada definida por cada unidade escolar, a qual

traduz os sentidos dados ao conhecimento naquela comunidade específica e que repercutirá na

formação das identidades e subjetividades. Nesse sentido, retomamos Young (1971), para quem

educação e conhecimento são inseparáveis, e nas sociedades modernas o propósito do currículo

está para além da definição de quais conhecimentos acumulados permearão as práticas

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pedagógicas, pois, para que seja efetivo, precisa habilitar a próxima geração para construir sobre

esse conhecimento e criar novos conhecimentos. O autor defende que a educação escolar deve

garantir que todos os estudantes tenham acesso e direito ao conhecimento poderoso que lhe

permita interpretar e agir no mundo.

Em termos gerais, considero útil fazer uma distinção entre duas ideias: “conhecimento

dos poderosos” e “conhecimento poderoso”. O “conhecimento dos poderosos” é

definido por quem detém o conhecimento. Historicamente e mesmo hoje em dia,

quando pensamos na distribuição do acesso à universidade, aqueles com maior poder

na sociedade são os que têm acesso a certos tipos de conhecimento; é a esse que eu

chamo de “conhecimento dos poderosos”. [...] Assim, precisamos de outro conceito

que chamarei de “conhecimento poderoso”. Esse conceito não se refere a quem tem

mais acesso ao conhecimento ou quem o legitima, mas refere-se ao que o

conhecimento pode fazer, como, por exemplo, fornecer explicações confiáveis ou

novas formas de interpretar o mundo. (YOUNG, 2007, p. 1294).

Não se trata de um julgamento de valor sobre o conhecimento, mas de uma ponderação

sobre os conhecimentos que podem levar ao empoderamento das classes menos favorecidas, e,

nesse sentido, o conhecimento a respeito dos significados da tecnologia é relevante no mundo

contemporâneo. É importante salientar que o pensamento de Young aponta para sutilezas da

precarização dos currículos quando em sua elaboração é dada maior relevância aos processos

do “aprender a aprender” do que ao significado do que é apreendido.

Moore e Young (2001), em seu artigo, refletem os processos de mesclagem curricular

fazendo a distinção entre o “tradicionalismo neoconservador”, o “instrumentalismo técnico” e

o “pós-modernismo” e, ao fazê-lo, tecem reflexão a respeito do significado do conhecimento e

como este é apropriado pelo discurso político. E, baseados em Hartley e Moore, reafirmam que

a semelhança fundamental entre as diversas posições curriculares, sobretudo entre

“tradicionalismo neoconservador” e “instrumentalismo técnico” e a “crítica pós-moderna”, é

que, “cada um à sua maneira impede o debate sobre o conhecimento como categoria por si só”

(MOORE; YOUNG, 2001, p. 446). E, por isso, tendem a ocultar as condições de produção do

conhecimento e sua finalidade na superação das desigualdades sociais. Para esses autores, os

pressupostos dos diversos grupos podem ser falhos, porém, não são falsos. O que lhes falta é o

reconhecimento de que seja possível uma aproximação que leve em conta o fundamental: tal

conhecimento como algo produzido por pessoas em situação histórica determinada; e que o

mesmo tem validade em si mesmo, embora possa ser colocado a serviço de uma causa. E, por

isso, alertam que o conhecimento escolar será sempre contestado, porque a escola é o espaço

de debate e de distribuição desse conhecimento, mas este é desenvolvido dentro de

comunidades ou culturas epistêmicas particulares, uma vez que tem bases históricas e sociais

(MOORE; YOUNG, 2001).

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Para eles, o discurso curricular técnico-instrumentista e pós-modernista tornou-se

dominante nas últimas décadas ao submeter o currículo à competição econômica, a uma noção

de progresso, e, portanto, à formação de mão de obra, ao mesmo tempo que apregoa uma

“sociedade do conhecimento”, sem definir exatamente o que ele é; o que causa um

esvaziamento do conhecimento como valor em si (MOORE; YOUNG, 2001).

Existe uma disputa em torno da noção de conhecimento que antecede o relatório da

Unesco “Educação, um tesouro a descobrir”, publicado em 1996, transformado em livro em

1999 e, atualmente, considerado um dos influenciadores da noção de competência nos

currículos escolares contemporâneos. Ele sinaliza que vivemos “num contexto marcado pela

crescente interdependência entre os povos e pela globalização dos problemas, o dever de todas

as autoridades constituídas consiste em avaliar tais riscos e adotar os recursos para superá-los”

(UNESCO, 1996, p. 6). Nesse sentido, a educação passa a ser entendida como ferramenta de

empoderamento das pessoas para lidarem com as adversidades, na medida em que possa

oferecer “a cada um os meios de compreender o outro, na sua especificidade, e de compreender

o mundo na sua marcha caótica para certa unidade” (UNESCO, 1996, p. 16).

Tomando como referência os pactos assumidos ao fim da Segunda Guerra Mundial, o

documento contextualiza que, ao longo dos 30 anos posteriores a esse evento, houve

significativo avanço tecnológico científico, para os quais foi imprescindível a democratização

da escola como espaço de difusão do conhecimento. E, apesar disso, não houve avanço

significativo na superação das desigualdades sociais, no combate à violência, à fome endêmica

e a outras mazelas. O documento apresenta a escola como um espaço no qual se pode construir

as bases para a superação de tais mazelas, sem, contudo, desvelar adequadamente os motivos

que constroem e mantêm as desigualdades, e estes, por sua vez, extrapolam em muito os muros

escolares, pois estão enraizados na forma como os seres humanos exploram o trabalho uns dos

outros e na excessiva concentração de poder econômico e político nas mãos de poucos.

O relatório organizado por Delors (1998) resulta de uma pesquisa que visava definir

qual seria o papel da educação em um contexto de incertezas impulsionadas por fluxos

migratórios, avanços tecnológicos, mudanças no mundo do trabalho e de dificuldades humanas

em lidar com a diversidade. E fundamentou-se em pesquisas no campo econômico e também

educacional, nas quais o modelo reprodutivista de conhecimento já não se adaptava aos

contextos nos quais era preciso aprender o tempo todo.

Ele denuncia que, apesar de a educação escolar ser fundamental para a superação das

dificuldades identificadas e ser a base para o desenvolvimento científico, continuava a figurar

“no fim da lista de prioridades dos governos” (UNESCO, 1996, p. 7), o que se confirmava na

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lamentável cifra de “900 milhões de adultos analfabetos e 300 milhões de crianças sem acesso

à escolarização” (UNESCO, 1996, p. 22), apesar do heroico esforço assumido por professores

e comunidades. Considerando que o acesso à educação continua no foco de interesse de boa

parte da humanidade e que os governos deveriam estar a serviço dessas pessoas, instala-se uma

incongruência entre o que deseja o povo e o que fazem os governos, restando indagar: a quem

interessa tal incongruência. Portanto, seria anacronismo criticar os modelos de escola e de

educação praticados até então sem levar em conta que ela não é a principal responsável pelas

exclusões existentes, embora possam se constituir em alternativa a elas. Nesse sentido, ainda

que os esforços para a democratização da escola e a garantia de acesso à alfabetização fossem

relevantes, se tornavam insuficientes para garantir o desenvolvimento de competências que

viessem a impedir a exclusão das pessoas na sociedade da informação.

Partindo da perspectiva de que apenas o conhecimento teórico seria insuficiente diante

da realidade descrita anteriormente, o mesmo documento apresenta os pilares para a educação

para o século XXI, a começar pela noção de educação ao longo de toda a vida, como forma de

adaptação diante das sucessivas mudanças, tendo em vista que

[...] não basta, de fato que cada um acumule no começo da vida uma determinada

quantidade de conhecimentos de que possa abastecer-se indefinidamente. É, antes,

necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as

ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer estes primeiros conhecimentos, e de se

adaptar a um mundo de mudança. (UNESCO, 1996, p. 89).

E, para que isso aconteça, os governos precisariam liderar uma mudança nos sistemas

de ensino que qualificasse a educação básica, valorizasse os professores, atribuísse

materialidades e processos que permitissem flexibilizar os sistemas de ensino de tal forma que

se criasse a possibilidade para a formação de competências específicas que fossem consolidadas

a partir da educação básica e, como aprendizado, pudessem se estender ao longo da vida. Mas,

também, diminuir desigualdades sociais, tornando os processos sociais democráticos inclusivos

e educadores, evitando, dessa forma, que a formação ao longo da vida se tornasse uma

enfadonha sequência de treinamentos para o trabalho.

Nesse interim, caberia à escola formar os estudantes para que pudessem aprender a

conhecer, que se caracteriza “pelo domínio dos instrumentos do conhecimento”, aprender a

fazer, que não está, necessariamente, vinculado ao mundo do trabalho, mas na possibilidade de

aplicar o conhecimento na vida para além do ambiente escolar, aprender a conviver, que

consiste em reconhecer e conviver com a diversidade, habilitar-se para o diálogo e a escuta,

para a vivência em espaços democráticos. Além de aprender a ser que, em linhas gerais, tem

relação com o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal (UNESCO, 1996, p. 90).

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32

Apesar de a Unesco ser uma agência influenciadora das decisões educacionais no

mundo, a adesão dos governos às proposições do relatório Delors apresenta desigualdade

compatível com a realidade de cada país. Além disso, o documento foi alvo de severas críticas.

No Brasil, a ideia de ensino por competências ocupa os documentos oficiais desde a década de

1990, embora, na prática, não se verifique isso com muita frequência.

Posteriormente ao relatório Delors, uma pesquisa encomendada pelo governo norte-

americano, intitulada “Educação para a vida e para o trabalho: desenvolvimento de

conhecimentos e habilidades para o século XXI”, retoma pesquisas educacionais anteriores e,

partindo da taxonomia de Bloom (1972) e dos estudos de Wallon (2010), estabelece uma lista

de competências necessárias para a vida e para o trabalho no contexto norte-americano. Esse

documento, embora referenciado em um espaço geográfico específico, repercute em outros

países. Soffner afirma que o conceito de competências humanas apontado por Bloom em 1956

tornou-se uma inovação, pois, para ele, as competências são

Conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para a vida, dentro de uma

perspectiva de desempenho pessoal e profissional baseado em metas estabelecidas para

o bem viver. É o preparo e a qualificação para o desempenho das atividades de vida,

inclusive as profissionais. Tais competências são desenvolvidas pela educação escolar,

mas, também, pela educação não formal (a que ocorre fora da escola), por meio de

capacitações, treinamentos e experiências do dia a dia. (SOFFNER, 2020, p. 17).

Nesse sentido, torna-se relevante refletir a respeito dos processos cognitivos que

transcorrem a partir de nossos órgãos do sentido, na recepção e na interpretação da informação

representada por qualquer objeto do mundo concreto. Pois, na medida em que incorporamos e

operamos com informações de modo diverso, transforma informação em conhecimento.

“Conhecer é, portanto, associar, ligar e justapor saberes parciais e autônomos, a partir de

elementos informacionais aparentemente desconexos, de acordo com critérios de relevância”

(SOFFNER, 2020, p. 27).

Mas a competência é saber aplicar o conhecimento em ações diversas da vida cotidiana,

do trabalho, na resolução de problemas reais, e não somente acadêmicos. O que repercutirá em

vantagem competitiva.

Em 2015, a tendência de ensino por competência foi acentuada a partir da publicação,

pela ONU, da agenda 2030, intitulada “Transformando nosso mundo”, a partir da qual cada

governo deveria instituir ações para garantir a universalização das “oportunidades de

aprendizagem ao longo da vida que os ajudem a adquirir conhecimentos/competências e

habilidades necessários para explorar oportunidades e participar plenamente da sociedade”

(ONU, 2015, p. 9). Desses documentos depreende-se que “competências” seja o conjunto de

comportamentos estruturados a partir de conhecimentos verificáveis, articulados com vistas a

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33

um objetivo que se materializa em determinada situação em uma ação eficaz. O Partnership for

21st Century Skills Task Force (2007) define “competência” como

[...] conjunto de capacidades ou desempenhos que integram conhecimentos,

habilidades, atitudes que os estudantes aplicam em contextos específicos para um

propósito determinado. Nesse sentido, a pergunta fundamental do currículo não é o

que os estudantes sabem, e sim o que são capazes de fazer com o que sabem.

Nesse sentido, competência é aquilo que mobiliza e integra habilidades, saberes e

recursos. O exercício da competência dependerá de operações cognitivas complexas, da

mobilização de valores e de atitudes intrínsecas ao ser humano. Para Macedo (2005, n.p.), as

competências devem ser entendidas no contexto pedagógico a partir de três possibilidades:

“competência como condição prévia do sujeito, herdada ou adquirida; [...] competência como

condição do objeto, independente do sujeito que o utiliza; [...] competência relacional”.

No DCN publicado em 2001, competência é definida como “capacidade de mobilizar

múltiplos recursos numa mesma situação, entre os quais os conhecimentos adquiridos na reflexão

sobre as questões pedagógicas e aqueles construídos na vida profissional e pessoal, para responder

às diferentes demandas nas situações de trabalho” (BRASIL, 2001, p. 29). Nessa mesma linha, a

Resolução CNE/CEB n. 4/1999 institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

Profissional de Nível Técnico: Art. 6º, na qual “entende-se por competência profissional a

capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação valores, conhecimentos e habilidades

necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do

trabalho” (BRASIL, 1999). Tal enfoque preconiza a formação de habilidades de comunicação,

na participação, no desenvolvimento do senso crítico-analítico, na autonomia para a tomada de

decisões responsáveis, tal qual incentivadas pela UNESCO e utilizada nas avaliações

internacionais. Mas, por vezes, prevalecem as distâncias entre o discurso e o que realmente se

materializa nos processos de ensino.

No caso da BNCC, são feitas referências explícitas aos DCN, ao Plano Nacional de

Educação e aos compromissos estabelecidos na LDB. E, desde a introdução, está salientado que

sua organização corresponde ao princípio de “competências [...] que se consubstanciam, no

âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento” (BRASIL, 2017, p. 8). No

mesmo documento,

[...] competência é definida como a mobilização de conhecimentos, (conceitos e

procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais) atitudes e

valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da

cidadania e do mundo do trabalho. (BRASIL, 2017, p. 8).

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34

Embora sejam pré-requisitos bastante oportunos a qualquer contexto humano, pairam

desconfianças sobre a proposta de educação por competência no Brasil, pois o apelo a essa

abordagem está associado a agências internacionais de educação e de comércio, ficando ainda

mais sob suspeita por ser “aclamada” por políticos, economistas, representantes de grupos

multinacionais que estabelecem estratégias visando influenciar mudanças na educação, no

sentido de articulá-la ao perfil econômico do mundo contemporâneo, no qual a disputa por fatias

do mercado expõe a demanda por conhecimentos que ampliem as vantagens competitivas de

cada país. Resta saber se a ampliação de “vantagens competitivas” entre países está no centro

do interesse dos trabalhadores ou se a eles seria mais favorável conhecer os motivos que lhes

mantêm submetidos a oito horas de trabalho físico e cognitivo sem poder disfrutar com justiça

dos bens do seu trabalho.

Evidentemente, tal estado de coisas impactará a sociedade como um todo e colocará a

escola no foco das atenções, atribuindo a ela a condição de “espaço estratégico” na produção

de mudanças. E, portanto, o currículo passa a ser o território no qual as partes interessadas

pretendem deixar sua marca, uma vez que ele alcança os sujeitos e impacta a forma como

atuarão socialmente.

Nesse cenário marcado por mudanças, por crises econômicas e éticas, torna-se difícil

precisar se tais propostas estão a serviço da inclusão ou da exclusão, pois intensifica-se a

articulação entre educação e as exigências do mercado, que repercutem em demandas aos

sistemas educacionais para que se tornem mais eficientes na preparação das novas gerações. E,

tal qual outrora, a escola brasileira passa a ser responsabilizada ora pelos problemas, ora pela

“salvação” do país, à medida que se estabelecem críticas precipitadas aos referenciais

consolidados, amenizam-se problemas estruturais, culpabilizam os professores, desqualificam o

conhecimento científico e prolifera pseudoinovações no campo da educação. Moraes (2001)

apresenta uma visão muito particular desse fenômeno ao associar a crise epistemológica à

desconstrução dos discursos precedentes como resultado do êxito da direita no âmbito político e

de sua influência na produção científica e filosófica que, “sob a aparência de um novo realismo,

apropriou para si até mesmo o conceito de realidade e de realismo” (MORAES, 2001, p. 13).

É evidente que, para além dos discursos institucionais ou das emanações polifônicas da

contemporaneidade, qualquer educador de bom senso desejará formar estudantes que saibam

selecionar, produzir e mobilizar conhecimentos – ou seja, que precisem efetivamente saber –

para agirem responsavelmente, com autonomia e crítica na busca de soluções para os problemas

locais e globais. Sabem também que, para isso, será necessário superar o modelo de escola

precarizada por decisões políticas que não priorizam a educação, superar práticas

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reprodutivistas, nas quais o acesso e a produção do conhecimento não correspondem

efetivamente à necessidade da comunidade onde a escola está inserida. Nesse sentido, Moraes

(2001) considera que o problema não está necessariamente na abordagem curricular por

competências, mas nas desigualdades estruturais.

Para alguns, exige níveis sempre mais altos de aprendizagem, posto que certas

“competências” repousam no domínio teórico-metodológico, que a experiência

empírica, por si só, é incapaz de garantir. Para a maioria, porém, bastam as

“competências”, no sentido genérico que o termo adquiriu hoje em dia, que permite a

sobrevivência nas franjas do núcleo duro de um mercado de trabalho fragmentário,

com exigências cada vez mais sofisticadas e níveis de exclusão jamais vistos na

história. (MORAES, 2001, p. 11).

É evidente que existem controvérsias relativas ao que seja o conceito de competência e

a sua aplicabilidade no campo educacional. Para Banadusi (2011), há três áreas que

contribuíram predominantemente para o desenvolvimento de tal conceito, sendo a educação

uma delas, pois, durante os anos 1930 e 1970, a “pedagogia por objetivos”, proposta por Tyler,

tentou padronizar os processos de educação a fim de torná-los mais transparentes e possíveis

de serem avaliados criando uma “pedagogia das competências” (BANADUSI, 2011, p. 132).

Tal perspectiva tornou-se praticamente um “dogma” na construção curricular, sendo chamado,

posteriormente, de “currículo universal”, uma vez que apresentava características pragmáticas.

Do ponto de vista do ensino, é caracterizado por Mizukami como

[...] especificação dos objetivos em termos comportamentais, especificação dos meios

para se determinar se o desempenho está de acordo com os níveis indicados de

critérios, fornecimento de uma ou mais formas de ensino pertinentes aos objetivos,

conhecimento público dos objetivos, critérios e formas de atingi-lo e atividades

alternativas. (MIZUKAMI, 1986, p. 33).

Vinculado ao modelo behaviorista, o ensino destaca as estratégias que permitem que um

maior número possível de alunos atinja altos níveis de desempenho, enfatizando que a

“aprendizagem é um fenômeno individual favorecido pelo conhecimento preciso, por parte do

aluno, do que dele se espera, assim como dos resultados atingidos por ele” (MIZUKAMI, 1986,

p. 33). Considerando a aprendizagem como um fenômeno individual, o ensino deve ser

individualizado pela adaptação de procedimentos às necessidades de cada um com vistas a

potencializar seu desempenho. O que implicará variação metodológica, de ritmo, de materiais

e abordagens. Então, para se trabalhar por competência, partir-se-á do potencial de cada sujeito

adaptando a ele o currículo.

Na década de 1970, a abordagem por competências ganhou espaços na formação

profissional ligada à administração e à gestão de recursos humanos, da qual McClelland (1974)

tornou-se uma referência ao propor que a seleção de candidatos a uma vaga de emprego não

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deveria passar por testes de inteligência, mas por avaliações de competências no campo do

trabalho, sendo definida como o resultado da relação entre a característica intrínseca do sujeito

e o desafio apresentado em uma tarefa. É, portanto, algo que se concretiza na ação da pessoa

em determinado contexto (MCCLELLAND, 1974). Enquanto no contexto do trabalho as

competências são mais focadas naquilo que a pessoa deve fazer e na solução de problemas, no

campo da educação, tornam-se generalistas e abertas, tendo nas teorias cognitivas a principal

aproximação, pois

[...] assentam na ideia de que a competência traz um valor agregado em relação aos

seus componentes, que é fruto da capacidade de mobilizá-los e combiná-los para

responder de modo eficaz a demanda externa. É, portanto, um saber combinar e um

saber mobilizar. [...] encontramos nestas definições de competência, o eco de

conceitos piagetianos como o saber/compreender e o esquema ação. (BANADUSI,

2011, p. 133).

Nas definições de competências, encontramos elementos comuns que associam o saber,

o ser e o fazer. Romainville (1995) destaca que nesse modelo existe um deslocamento da

centralidade dos “conteúdos, as matérias” nos processos de ensinar e aprender, para o estudante,

e para aquilo que ele conseguirá fazer efetivamente com o que aprendeu, atribuindo ao ato de

aprender um caráter utilitarista.

Por conseguinte, Dias (2010) ressalta que uma abordagem didática por competências

reforça a capacidade de o estudante aprender por si por meio da interação. São valorizados os

conteúdos como possiblidade para o desenvolvimento de competências e enfatizado o método

pedagógico. Nesse sentido, Macedo (1999, p. 11) salienta que “competência é o modo como

fazemos convergir nossas necessidades e articulamos em favor de um objeto ou solução de um

problema”. Definição convergente é encontrada na BNCC, segundo a qual “competência é

apresentada como mobilização de conhecimentos [...] para a resolução de demandas cotidianas

e do pleno exercício da cidadania” (BRASIL, 2017, p. 8).

Nesse documento é feita uma clara relação entre as competências listadas como

horizonte de formação da educação básica e a necessidade de mudança na educação com vistas

a preparar as novas gerações para lidar com problemas complexos relacionados à crise

ambiental, aos extremismos políticos, ao autocuidado e à cultura digital. Resta saber se tão

ambiciosos objetivos são compartilhados pelos professores e pela sociedade e, para além disso,

se os que trabalham efetivamente na educação básica conhecem e compactuam com o ensino

por competências. Por outro lado, seria justo atribuir aos mais novos a solução dos problemas

que as gerações precedentes criaram?

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37

2.2 Tecnologias e processos educacionais: conceitos, desenvolvimento histórico e

interface com a educação

A breve contextualização das concepções curriculares que desembocaram na BNCC e a

explicitação do seu vínculo com a noção de competências acenam para os fatores culturais que

estão para além das salas de aula e que tornaram a tecnologia um foco de atenção pedagógica

dentro daquele documento. Silva (2011), ao discutir dados da implantação do PROINFO,

indaga se a presença das TDICs na escola reverberava a mudança das práticas pedagógicas e

conclui que, para além da materialidade, é a formação do professor que possibilita a articulação

da tecnologia ao projeto político-pedagógico da escola incluindo a necessidade de se repensar

o currículo em tempos de cybercultura, uma vez que as tecnologias influenciam o

comportamento da sociedade e mobilizam a transformação do mundo e “podem alargar as

distâncias existentes entre os incluídos e excluídos” (SILVA, 2011, p. 539). Enquanto Marinho

e colaboradores (2014, p. 355) salientam que tal convergência “permite que sejam rompidas as

barreiras espaço-tempo, [...] o currículo adquire múltipla mobilidade, juntamente com

multipolaridade”, constituindo um cenário no qual professor e aluno podem construir o

conhecimento em parceria.

Contudo, Schuchter, Almeida e Candian (2017), ao tratarem das dificuldades da

inserção da tecnologia na escola, indicam haver dois campos que se interligam: o campo da

pressão da cybercultura que leva para dentro da escola novas possibilidades de produção e o

campo do compartilhamento do conhecimento de uma cultura escolar “cristalizada” que

dificulta a adesão dos professores a novas formas de ensinar e aprender. Parte da dificuldade

está assentada na centralidade dada ao professor em vez das necessidades do aluno, o que

recairá novamente em modelos curriculares e de organização da escola que pouco repercutem

nas necessidades de cada comunidade. É preciso, no entanto, reconhecer que existem diferenças

entre o uso dentro e fora da escola, que é dado pela finalidade do aprender, pelo planejamento

e pela ação didática. Por outro lado, é inegável que a diferença entre os dois espaços tem se

acentuado à medida que as TDICs se tornaram recursos presentes no cotidiano das pessoas,

modificando comportamentos sociais, o consumo e a forma como os jovens se relacionam

com os conteúdos escolares; o que cria elementos culturais imprevistos, sobretudo pelo fato

de que existe um paradoxo no caso brasileiro, visto que o acesso a determinados produtos da

tecnologia vem se popularizando bem mais rápido do que a educação de qualidade.

Logo, recai sobre a escola a expectativa de que, mesmo precarizada, consiga transformar

o uso irrefletido em uso crítico ou em possibilidades de acesso ao trabalho e melhoria da renda.

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Tal façanha exigirá que se modifique nas escolas mais do que lousa, giz e carteiras enfileiradas:

será necessário modificar as relações sociais e a forma como professores e estudantes lidarão

com o conhecimento. Pois, é preciso considerar que também o professor precisa aprender a

operar com elementos culturais inusitados, modificar sua prática a partir de outros recursos,

considerar que seus estudantes pensam e agem de forma diferente das gerações anteriores.

Franco chama esse fenômeno de “cognição distribuída” que pode representar “uma noção

híbrida, pois implica atribuir uma dimensão cognitiva à tecnologia e, ao mesmo tempo, uma

dimensão técnica à cognição” (FRANCO, 2004, p. 5).

É sabido que a adolescência é a etapa mais significativa para o desenvolvimento das

capacidades de tomar decisões, consolidar valores e atitudes de respeito à diversidade, além da

competência para trabalhar em grupo, e a tecnologia é considerada recurso de potencialização

dessas aprendizagens. Mas será necessário recuar um passo, pois, se atualmente reflete-se sobre

uma “cultura digital” que influencia as definições curriculares, é preciso antes estabelecer o que

vem a ser a tecnologia que subsidia o estabelecimento dessa suposta cultura.

Por tratar-se de um fenômeno complexo, que articula elementos nem sempre percebidos ou

facilmente traduzíveis na linguagem científica, é importante salientar que não existe um conceito

absoluto do que seja cultura digital. Para o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, trata-se de um

fenômeno que articula “novas e velhas tradições, signos locais e globais, linguagens de todos os

cantos [...], a cultura deve ser pensada neste jogo, nessa dialética permanente entre tradição e

invenção, nos cruzamentos entre matrizes e muitas vezes milenares e tecnologias de ponta, nas três

dimensões básicas de sua existência: a dimensão simbólica, a dimensão da cidadania e inclusão, e

a dimensão econômica” (GIL, 2004, n.p.). São as formas como as pessoas modificam seus hábitos,

gostos, ações, ao integrarem a elas novos elementos relacionados à cultura digital. E, ao fazê-lo,

modificam também sua forma de pensar e conceber seu modo de vida.

No entanto, se existe uma cultura digital, ela decorre do desenvolvimento de tecnologias

digitais, conceito que posteriormente será estabelecido. Mas, neste momento, interessa discutir

o que vem a ser tecnologia em uma forma mais ampliada que não abarque apenas os artefatos

e considere também seu contexto de desenvolvimento? Para Bastos (1998, p. 22),

[...] num contexto mais específico, a tecnologia pode ser entendida como a capacidade

de perceber, compreender, criar, adaptar, organizar e produzir insumos, produtos e

serviços. Em outros termos, a tecnologia transcende à dimensão puramente da técnica,

ao desenvolvimento experimental ou à pesquisa em laboratório; ela envolve a

dimensão de engenharia de produção, qualidade, gerência, marketing, assistência

técnica, vendas, dentre outras, que a tornam um vetor fundamental de expressão da

cultura e sociedades.

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Nota-se que, para o autor, a tecnologia está relacionada a uma série de capacidades

humanas como perceber, criar, adaptar dentro de contextos específicos, o que supõe um

processo educativo. Já para Correia (1999, p. 250), a tecnologia é “um conjunto de

conhecimentos e informações organizados, provenientes de fontes diversas como descobertas

científicas e invenções, obtidos através de diferentes métodos e utilizados na produção de bens

e serviços”. No contexto em que se insere a pesquisa, referimo-nos às tecnologias digitais

porque essas permitiram

[...] unir no computador todas as outras mídias até então desenvolvidas em separado:

a escrita (impresso), a música e o som, o filme, a animação, os gráficos e o programa

de computador. Todos eles acrescidos de um novo componente que os transforma em

algo novo e com um potencial que começamos (timidamente) a explorar: a interação.

(GUIMARÃES; RIBEIRO, 2007, p. 4).

Sua complexidade resulta do aprimoramento humano e da aplicação técnica do

conhecimento que potencializa as faculdades humanas de criação, comunicação, linguagem e

desenvolvimento científico. Essa visão otimista não pode obscurecer o fato de que existe uma

relação de interdependência entre a forma apresentada pelas sociedades humanas

contemporâneas e suas construções tecnológicas. Para Lévy (1993, p. 56), tal relação se

expressa na forma como ficamos “apaixonados” por nossas criações tecnológicas, indicando

que “a informática não intervém somente na ecologia cognitiva, mas também nos processos de

subjetivação individuais e coletivos”. Logo, se existe uma cultura digital, ela nasce do

pensamento e de ações humanas, que são retroalimentadas pelo contato e pelas vivências com

cada artefato criado.

Nesse ponto, serve-nos como referência a obra de Álvaro Vieira Pinto, intelectual

brasileiro cuja trajetória abarca estudos de medicina, matemática, sociologia, filosofia, sendo

influenciado por correntes de pensamento que vão do existencialismo ao marxismo. Sua produção

intelectual leva em conta a realidade brasileira ao elucidar o papel da educação nos processos de

desenvolvimento, a partir da perspectiva materialista dialética. Em suas obras, o conceito de

tecnologia, em especial, é extensamente trabalhado em dois volumes com o mesmo tema,

compostos por uma coletânea de textos produzidos pelo intelectual e publicados após sua morte.

Vieira Pinto (1979) recorre ao existencialismo e utiliza o conceito de “amanualidade”

para explicar a relação do ser humano com seu entorno, levando em conta que o mundo visto e

vivido é produção do trabalho humano que resulta em cultura, que virá a modificar o próprio

homem pela forma como usa, manuseia, cria e trabalha com as coisas ou artefatos de modo

geral. Logo, para o autor, a cultura se expressa como bem de consumo e bem de produção já

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que o ser humano a produz por uma necessidade existencial, ou seja, manuseia e transforma a

natureza para melhorar sua vida. Para ele,

[...] cultura é, pois, o processo pelo qual o homem acumula as experiências que vai

sendo capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as de feito favorável e, como

resultado da ação exercida, converte em ideias as imagens e lembranças, a princípio

coladas às realidades sensíveis, e depois generalizadas, desse contato inventivo como

mundo natural. (PINTO, 1979, p. 123).

No entanto, Pinto (1979) também estabelece uma crítica à forma como o ser humano

internaliza a cultura, atribuindo uma crítica à forma como se estrutura a sociedade de seu tempo,

pois, para ele, “o que se passa em tempos como os atuais, porém, e em sociedades como a

nossa, é que, por motivo do rumo tomado pela estruturação social, o homem em vez de se

apropriar da cultura, de dominá-la, faz o inverso, aliena-se a ela transformando-a numa

realidade entificada, superior a ele” (PINTO, 1979, p. 126). À medida que passa a viver em um

mundo transformado pela ação humana, que já não compreende somente elementos naturais, o

ser humano consome o pensamento e a criação tecnológica de outros homens e torna-se,

também ele, um produto de sua cultura (PINTO, 1979, p. 126).

Apesar de Pinto (1979) desenvolver sua produção científica antes do advento das TDICs

e, sobretudo, da internet, suas considerações permanecem bastante atuais e podem aplicar-se

aos fenômenos que ora percebemos. Institui-se circunstância tal que a maioria das pessoas já

não concebem a própria vida sem vincular-se continuamente a uma rede social, sem utilizar a

internet para comprar, pesquisar, negociar, ao passo que, do ponto de vista da pesquisa

antropológica, ainda estamos longe de compreender a abrangência dessas circunstâncias em nós

mesmos, enquanto ainda mais se exige da escola que colabore na inserção das pessoas em tal

contexto. Constata-se a importância da educação como um processo sociocultural humano, que

tem como finalidade o desenvolvimento das pessoas pelo conhecimento, de tal forma que

possam viver em sociedade, mas também modificá-la.

De acordo com Pinto (1979), todo artefato pensado e produzido pelo ser humano para

sua existência e incorporado culturalmente é tecnologia. No entanto, para ele, o conceito de

tecnologia assume três sentidos, sendo o primeiro como teoria, reflexão ou epistemologia da

técnica, o segundo como conhecimento ou logos da tecnologia e o terceiro como instrumento

de ideologia e de dominação.

Na condição de logos, a tecnologia é compreendida como um fenômeno social total que

corresponderá à teoria, à ciência, ao estudo da técnica, abrangidas nesta última noção as artes,

as habilidades do fazer, as profissões e, generalizadamente, os modos de produzir alguma coisa”

(PINTO, 2013a, p. 219). Nessa concepção, técnica e tecnologia estão interligadas, e o conceito

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tornar-se-á mais restrito quando se referir “ao conjunto de todas as técnicas de que uma

determinada sociedade dispõe, em uma dada fase histórica de seu desenvolvimento” (PINTO,

2013a, p. 220). As inovações tecnológicas serão o resultado de processos históricos coletivos.

Por isso, a tecnologia não poderia ser usada para comparar povos entre si, pois não existe povo

ou nação atrasada ou moderna no que se refere à tecnologia, uma vez que há saberes

compartilhados por todos os povos e há também saberes, tecnologias e técnicas que são muito

particulares, relacionadas ao contexto de vida de cada povo. Nesse sentido, a tecnologia se

traduz na técnica, compreendida como

[...] propriedade inerente à ação humana sobre o mundo e exprime por essência a

qualidade do homem, como ser vivo, único em todos os processos único em todos, o

processo biológico que se apodera subjetivamente das conexões lógicas existentes

entre, os corpos e os fatos da realidade, as transfere, por invenção e construção, para

outros corpos, as máquinas, graças aos quais vai alterar a natureza, com uma

capacidade de ação imensamente superior à que caberia aos seus instrumentos inatos.

(PINTO, 2013a, p. 136).

Em princípio, pensar a tecnologia como ciência e estudo permite compreender a

importância do pensamento humano na produção do mundo e da história. Logo, a tecnologia é

também a forma como o ser humano pensa sua vida, quando, através de certo distanciamento,

reflete sobre os sentidos do que produz, construindo uma crítica sobre o funcionamento e o

propósito do pensamento que transpõe em uma técnica. Portanto, ao fazê-lo, não pensa mais

sobre uma coisa, mas sobre si mesmo (PINTO, 2013a, p. 224). Essa visão de tecnologia integra

elementos importantes: o pensamento humano, a história produzida pelas relações sociais e

tudo o que nela se insere. Logo, o ser humano que não vivencia a tecnologia como capacidade

e reflexão sobre a técnica estará alienado da compreensão de si mesmo e de seu contexto. Essa

visão integrativa de tecnologia permite compreendê-la como resultado de processos históricos,

do trabalho e dos interesses humanos e refletir sobre a obsolescência e o consumismo inerentes

ao contexto atual.

Considera-se que a definição aristotélica de ser humano estabelece como diferença

primordial entre estes e os demais seres vivos sua racionalidade. Logo, ações como o trabalho,

o ato de aprender, não são acidentais, são resultado do processo de hominização, atualmente

considerado atributo do ser humano. Para Altoé (2010), o trabalho tem lugar especial na

formação da racionalidade humana, pois

O que diferencia o ser humano de outros animais não é o instinto, nem a inteligência,

que são comuns aos animais na fabricação de objetos, mas a particularidade na

fabricação de objetos artificiais. Diferentemente dos outros animais que se adaptam

às transformações da natureza, os seres humanos procuram adaptar a natureza a si,

agindo sobre ela e transformando-a, para ajustá-la às suas necessidades, através da

atividade laboral. (ALTOÉ, 2010, p. 13).

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O autor nos permite refletir que a tecnologia como esforço de adaptação da natureza às

necessidades humanas é algo presente em toda a história da humanidade, logo, seria

ingenuidade percebê-la junto à técnica apenas como ciência moderna uniformizada como

verdade, quando, efetivamente, deriva do engendramento contínuo de esforços para que haja

sempre outro patamar de desenvolvimento alicerçado naquilo que já foi construído pelo

conhecimento humano. Nesse sentido, Corrêa e colaboradores (2019) defendem que o currículo

também é uma tecnologia educacional e, por conseguinte, “passa a ser permeado por questões

ideológicas e representativas das relações de poder presentes naquele momento histórico, e

mais, todos esses aparatos burocráticos/técnicos, tal qual o currículo, sofrem o duplo processo

de desnaturalização do conhecimento e naturalização da técnica” (CORRÊA et al., 2019, p.

277). Destarte, os movimentos de reconstrução curricular se estabelecem mediante uma técnica

de seleção de conteúdos e propostas consideradas pertinentes para determinado grupo social.

Para os mesmos autores, se os seres humanos aprendem de forma natural, a educação

sistematizada “representa uma técnica, não no sentido da criação, poiésis, mas no sentido da

transformação de algo natural na desnaturalização” (CORRÊA et al., 2019, p. 274).

Essa aposta arriscada tem seus fundamentos na essência humana e na forma como se

relaciona com a natureza na busca de soluções para sua sobrevivência, mas também é resultado

de certa obtusidade, visto que a própria instrumentalização da natureza pela técnica resultou em

desequilíbrios, tais que hoje ameaçam a sobrevivência do ser humano na Terra. O que nos faz

voltar ao pensamento de Heidegger quando exorta que tomar a técnica em seu caráter

instrumental significa permanecer preso a esse elemento, considerando-o um fim em si mesmo,

o que impedirá de desvelar o mundo e compreendê-lo como integralidade, sem perceber as

contradições criadas pela própria ação humana. O que torna o próprio homem instrumento do

aparato técnico que o circunda. É importante lembrar que Vieira Pinto (2013a) retoma os

conceitos de Heidegger, mas, ao longo de sua obra, os discute e os reconstrói levando em conta

que será impossível aos seres humanos negar a técnica e a tecnologia porque elas representam

um “incremento do saber”, capacidade humana que tende a se expandir em contato com

aparatos cada vez mais complexos (PINTO, 2013a, p. 185).

Ao apresentar a tecnologia como dominação e ideologia, Vieira Pinto parte do princípio

de que todas as sociedades possuem tecnologia. No entanto, se for tomada como instrumento

de dominação, tornar-se-á elemento de controle entre as pessoas, pois quem a possui interferirá

na distribuição e na produção tanto do conhecimento quanto de outras tecnologias, o que

repercutirá na produção do pensamento e do conhecimento alheio e, por meio dele, na produção

da própria vida. Portanto, para se compreender a tecnologia como ideologia, é preciso

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considerar como se estabelecem as relações de poder. Essa concepção é de especial validade

para compreendermos a relação das sociedades atuais com as TDICs.

Para tanto, a tecnologia é transformada em instrumento ideológico, pois passa a ser

associada apenas à ideia de inovação e de progresso, como se somente o mais recente artefato

criado representasse o moderno, o que se constitui numa forma discriminatória de conceber o

que é tecnologia e desenvolvimento, porque é usada para classificar os povos. Para ele, o

“‘conceito de era tecnológica’ encobre, ao lado de um sentido razoável e sério, outro

tipicamente ideológico graças ao qual os interessados procuram embriagar as consciências das

massas, fazendo-as crer que têm a felicidade de viver nos melhores tempos, jamais desfrutados

pela humanidade” (PINTO, 2013a, p. 41). Tal fenômeno impede o desenvolvimento de uma

crítica que considera os efeitos destrutivos daquela tecnologia ou técnica na teia da vida,

refletindo um distanciamento do ser humano de sua essencialidade como natureza, pois reduz

sua capacidade de valoração da qualidade de vida e da felicidade.

Na década de 1950, Vieira Pinto considera como ingênua a crença de que se vive um

momento de explosão tecnológica e indica que em todos os momentos da história humana

houve desenvolvimento de aparatos tecnológicos e feitos que foram considerados

extraordinários e, mesmo mantendo sua validade técnico-científica, foram naturalizados, como

se sempre tivessem existido e não necessitassem de investimento cognitivo de alguém para

existir. Ou seja, ao naturalizarmos as inovações tecnológicas, de certo modo, banalizamos o

pensamento alheio e a capacidade humana de criar. E, por isso, não haverá tecnologia mais ou

menos moderna, pois não existe técnica desvinculada de um contexto, uma vez que “toda

técnica, seja de um procedimento operatório, manual ou mental, seja consubstanciada em uma

máquina fabril, está vinculada às exigências sociais de produção, sentidas pela comunidade e

resolvidas pelo gênio individual” (PINTO, 2013a, p. 241). Para este autor, a relação da

humanidade com o seu entrono é epistêmica, o que repercute na produção tecnológica, que

apresenta tanto um caráter ideológico quanto dialético, portanto, refuta o determinismo

tecnológico sobre as sociedades humanas. Mas, por outro lado, o autor critica a importação ou

a transposição tecnológica como algo que embota a capacidade criativa de grupos periféricos.

A proposição de Vieira Pinto permanece válida na Sociedade da Informação (SI), na qual,

apesar do acesso à massiva carga de informação, permanecem as desigualdades sociais e

intensificam-se as exclusões, uma vez que a produção efetiva de tecnologias de ponta está

restrita a centros de pesquisa e poucas empresas.

Manuel Castells, ao discutir os elementos constituintes da sociedade da informação,

também refuta o caráter determinista atribuído às tecnologias nas sociedades contemporâneas. Para

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ele, “[...] muitos fatores, inclusive a criatividade e iniciativa empreendedora, intervêm no processo

de descoberta científica, inovação tecnológica e aplicações sociais, de forma que o resultado final

depende de um complexo padrão interativo” (CASTELLS, 1999, p. 43), pois é impossível entender

ou representar as sociedades humanas sem suas ferramentas tecnológicas.

Ao considerar o aspecto dialético da produção tecnológica, Vieira Pinto afirma que “a

tecnologia é uma ideologia, mas nada tem de contemplativa, não ao produto imaginário do

pensamento desligado da realidade, e sim enraíza sua verdade na prática da existência de quem

a concebe. Daí o caráter existencial que lhe é inerente e ao qual tem-se frequentemente aludido”

(PINTO, 2013a, p. 322). Logo, o objeto tecnológico representará uma transposição de realidade,

o que não deixa de ser uma violência, visto que, transformada em produto comercial, é vendida

como benesse, mas não considera o contexto e as reais necessidades de quem a receberá. É fato

que muitas tecnologias são construídas a partir da identificação de problemas reais, seja no

campo científico e militar, seja na vida prática das sociedades, passando por pesquisas de

mercado ou até mesmo pela identificação de possibilidades de melhorias a partir de seus limites.

Algo comum no desenvolvimento das TDICs nos últimos 50 anos e que pode ser exemplificado

pela uniformidade de produtos e serviços das telecomunicações.

Tal fenômeno expressa-se como crença irrefletida de que a criação tecnológica mais

recente é a solução para todos os problemas sendo que o conhecimento desse “ícone da

modernidade” concentrado em sua produção, nas mãos de poucos e apresentado como objeto

de “adoração” tornar-se-á também objeto de desejo. Destarte, haverá um grupo a controlar a

produção, dominar e vender e outro a produzir, desejar e comprar, agir, interagir e reconstruir.

Além disso, é necessário considerar a complexidade da existência em qualquer época, em

termos de interação social e com o cosmo ou com o ecossistema.

Para Pinto (2013a), é perceptível a concretização da ideologia na tecnologia porque,

uma vez convertida em ser, em coisa em si, a técnica passa a exercer por si mesma efeitos,

como realidade que supõe ser. De certo modo, isso explica a forma pela qual um grupo

dominante consegue enredar as consciências de outros grupos, pois o próprio “faz os periféricos

aceitarem a tecnologia como o único caminho, revestindo a técnica com um caráter ideológico

ostensivo, buscando manter vínculo de subordinação econômica e cultural” (PINTO, 2013a, p.

328). Na atualidade, isso se exprime na ambivalência que circunda a tecnologia, a qual se

constitui elemento de produção da qualidade de vida, do bem-estar, do desenvolvimento da

ciência e das capacidades humanas, ao mesmo tempo que representa a subjugação da natureza

e a opressão entre os seres humanos. Os dois aspectos atingem as pessoas de forma desigual,

proporcionalmente às condições econômicas de cada grupo. Para Castells,

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[...] a habilidade ou a inabilidade de as sociedades dominarem a tecnologia e, em

especial aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período

histórico, traça seu destino a ponto de podermos dizer que, embora não determine a

evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou sua falta) incorpora a

capacidade de transformação das sociedades. (CASTELLS, 1999, p. 44-45).

É por isso que o debate sobre o desenvolvimento acompanha o que é tecnologia.

Atualmente, percebe-se um enviesamento comercial e financeiro expresso no que Mo Sung

(1995) chamava de “desejo mimético”, que, pela impressão criada pela mídia, insere desejos

que se transformam em necessidades.

Na condição de epistemologia, a tecnologia representará o domínio teórico da técnica,

como resultado da pesquisa científica. “Há sem dúvida uma ciência da técnica, enquanto fato

concreto e, por isso, objeto de indagação epistemológica. Tal ciência admite ser chamada de

tecnologia” (PINTO, 2013a, p. 220) que, em um primeiro momento, corresponderá às formas

de aplicar o conhecimento tecnológico em um determinado fazer que ocasionará mudanças. No

entanto, para o autor, trata-se de uma ação intencional, decorrente da capacidade de perceber as

coisas e o ambiente e conjugá-lo com necessidades humanas por meio da reflexão. A

epistemologia da tecnologia pensa sobre o conhecimento científico e sua transposição e, ao

pensar como se dará ensino de uma determinada técnica, estabelece suas especificidades.

Fazendo um resgate dos processos científicos, o autor considera que inicialmente o

pensamento humano se dedicava ao desvelamento dos fenômenos naturais e, para tanto,

desenvolveu técnicas que se traduzem em artefatos. À medida que tais objetos e conhecimentos

tornam-se mais comuns, surgiu outro tipo de “encantamento”, agora direcionado aos fenômenos

e ao funcionamento daquilo que é criação cultural humana, como resultado do aprimoramento

científico (PINTO, 2013a, p. 225).

Tal relação é também comprometida pela dinamicidade e velocidade das mudanças no

campo tecnológico, o que sobrecarrega o processo cognitivo de apropriação. A abrangência de

presença e uso das tecnologias transformam as práticas e o comportamento humano, o que se

reflete em linguagem e culturas. É por isso que o conceito de tecnologia se desdobra a partir da

década de 1960. Castells, em seu livro Sociedade em rede, estabelece uma “linha do tempo”

reflexiva na qual articula os três pilares que sustentam a concepção de TDIC que temos hoje: o

desenvolvimento da microeletrônica, da internet e aplicativos associados, e das tecnologias de

comunicação. O mesmo autor, ao retomar Harvey Brooks e Daniel Bel, afirma que compreende

tecnologia como

[...] o uso de conhecimentos científicos para especificar as vias de se fazerem as coisas

de uma maneira reproduzível. Entre as tecnologias da informação, incluo, como todos,

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o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação (software e

hardware), telecomunicações/radiodifusão e optoeletrônica. Além disso,

diferentemente de alguns analistas, também incluo os domínios da tecnologia da

informação a engenharia genética e seu crescente conjunto de desenvolvimentos e

aplicações. (CASTELLS, 1999, p. 67).

Castells situa o desenvolvimento das TDICs a partir de uma linha histórica que vai da invenção

do telefone por Bell, em 1876, o rádio desenvolvido por Marconi, em 1898, e da válvula a vácuo

por De Forest, em 1906, ao Circuito Integrado (CI) atribuído ao engenheiro Kilby, em 1957,

passando pela década de 1960, com a melhoria no desenho dos chips levando ao desenvolvimento

do microprocessador em 1971. Assim, há uma interdependência no desenvolvimento de vários

insumos que repercutiram em dispositivos, protocolos, linguagens, aplicativos e processos que

utilizamos hoje em várias esferas da sociedade. A história do desenvolvimento dos computadores

é, em si, suficientemente complexa e não convém que seja detalhada aqui. Contudo, sua existência

é condição fundamental para o que vivenciamos hoje na produção, no processamento e no

compartilhamento de informações. Partindo de usos exclusivamente militares, sua popularização

deveu-se ao desenvolvimento, na década de 1970, de softwares que tornavam a interface com o

usuário mais amigável, enquanto que, na década de 1980, já podem atuar em rede e são portáteis

(CASTELLS, 1999).

Por sua originalidade, os computadores foram diretamente relacionados com o conceito

de tecnologia, porque representavam uma ruptura em relação a outros artefatos. Todavia, seu

desenvolvimento desencadeou outras construções como teclados, mouses, impressoras e

similares, o que levou à sigla NTI – Novas Tecnologias de Informação. Mas, foi a união entre

as funcionalidades do computador e outros recursos de informática e sua aplicação nas

telecomunicações que fomentaram o desenvolvimento do conceito de Tecnologias da

Informação e Comunicação (TIC).

Assim, os conhecimentos alcançados com as inovações da microeletrônica e das

telecomunicações se influenciam reciprocamente, dando passagem para que as “tecnologias de

nós” roteadores, computadores eletrônicos e novas tecnologias de transmissão viessem a

constituir a base e o processo de desenvolvimento da internet. Vale destacar que, “em meados

de 1970, os avanços da tecnologia de circuitos integrados possibilitaram a criação do

computador digital, aumentando velocidade, potência e flexibilidade com economia de espaço,

energia e trabalho, em comparação com os dispositivos analógicos” (CASTELLS, 1999, p. 81).

Ofereceu solução ao problema de transmissão de grandes volumes de informação ao aplicar os

conceitos da optoeletrônica (transmissão por fibra óptica e laser) e tecnologia de transmissão

por pacotes digitais que articula as arquiteturas de computação e roteamento, Modo de

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Transmissão Assíncrono (ATM) com Protocolo de Controle de Transmissão/Protocolo de

Interconexão (TCP/IP) instituindo os fundamentos da internet (CASTELLS, 1999). O mesmo

autor chama de “meio mais revolucionário da Era da Informação” (CASTELLS, 1999, p. 82)

porque, pela universalização da linguagem digital, do uso de protocolos unificados, o acesso a

dados na forma de som, imagem, textos e formatos diversos permite uma comunicação

horizontal global, que dispensa centro de controles por meio da articulação de “nós”.

Esse processo complexo tem origem em iniciativas militares da década de 1960,

redundando em 1969, nas primeiras experiências com a ARPANET, que, tendo nascido do

trabalho conjunto de cientistas e do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, foi usada

para finalidades militares e científicas. Pela relevância alcançada na década de 1980, é

renomeada como Arpa-Internet e passa a iniciativa privada como Internet em 1992. Contudo,

sua capacidade inicial de envio de mensagens era insuficiente para que se estabelecesse uma

teia mundial de comunicação. Além disso, era necessário que os computadores estivessem

capacitados a conversar uns com os outros (CASTELLS, 1999).

Os estudos iniciais relacionados aos protocolos de comunicação vinham sendo

desenvolvidos desde 1973 por cientistas da ARPA. Mas, em 1978, consolidou-se ao ser dividido

em duas partes que permitiam a comunicação servidor-a-servidor (TCP) e Inter-redes (IP) que

se tornou um padrão na década de 1980, pois “sua flexibilidade permitia a adoção de uma

estrutura de camadas múltiplas de links entre redes de computadores, o que demonstrou sua

capacidade de adaptar-se a vários sistemas de comunicação e a uma diversidade de códigos”

(CASTELLS, 1999, p. 84). Paralelamente, em 1983, a Bell Laboratories desenvolvia outro

protocolo, chamado UNIX, que se constitui num sistema operacional que permitia o acesso de

um computador ao outro a partir de uma invenção idealizada por Christensen e Suess, em 1978,

chamada Modem que permitia a transferência de arquivos e pacotes de dados entre

computadores, sem passar por um sistema principal (CASTELLS, 1999).

A distinção entre os sinais de transmissão analógico e digital torna a transmissão mais

qualitativa, rápida e menos dispersiva. Todas as tecnologias que dependem ou estão associadas

ao meio digital passam a ser chamadas de TDICs: Tecnologias Digitais de Informação e

Comunicação, que diferenciam da anterior porque, além de incluírem os elementos digitais,

consideram a pluralidade de formas existentes.

Mas o fato de existir uma rede mundial de comunicação não significava, a priori, que

seu uso fosse acessível aos não iniciados até a década de 1990, quando cientistas do CERN

(Centro Européen poour Recherche Nuclerare) criaram um aplicativo que organizava o

conteúdo dos sítios da internet por informação e não por localização, o que permitiu aos

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usuários da internet encontrar mais facilmente as informações que desejavam. Tal aplicativo

foi nomeado como Word Wide Web (WWW) e popularizou a internet como rede mundial de

comunicação e a transformou no motor da cultura digital (CASTELLS, 1999).

As duas últimas inovações impulsionadoras da internet têm sua origem, segundo

Castells, em elementos de contracultura, e visavam horizontalizar o poder sobre a produção e a

difusão da informação e do conhecimento. Por isso, outras tecnologias foram adaptadas ao

mundo da multimídia, e uma delas foi o desenvolvimento de uma linguagem audiovisual

chamada HTML (Hipertex markup language) que acrescentava uma formatação específica ao

protocolo TCP/IP para que os computadores adaptassem suas linguagens nos formatos

compartilhados. Além disso, os pesquisadores do CERN ainda estabeleceram formatos

padronizados de endereços de Localizador Uniforme de Recursos (URL). E, mais tarde, em

1994, o primeiro navegador confiável é lançado com o nome de Netscape Navigator

(CASTELLS, 1999).

A imbricada trajetória de desenvolvimentos de telemática, telecomunicações e

microeletrônica, associada ao uso dos mesmos protocolos de internet, à consolidação dos

servidores da WEB e ao desenvolvimento de novos aplicativos, levou à construção de uma

diversidade de processos, usos, insumos, de aparelhos fixos e portáteis que se comunicam entre

si e têm modificado nossa forma de viver e conceber o conhecimento (CASTELLS, 1999).

Nesta pesquisa, a Filosofia da Tecnologia foi o farol que permitiu a identificação dos

processos dialéticos que transformam o conhecimento humano em insumos tecnológicos,

vislumbrando como estes são permeados de ideologias e repercutem em poder ou em exclusão.

De forma específica, foi feito um recorte sobre as Tecnologias Digitais de Comunicação e

Informação, visto que são estas que recebem principal enfoque na BNCC. Por isso,

compreendemos ser necessária a rápida narrativa a respeito dos processos de desenvolvimento

que redundaram em tais tecnologias e na forma como seu conceito é transformado

gradativamente.

Nesse ponto, retomamos o debate específico deste projeto que se faz na interface entre

a homologação de um documento normativo que prevê o desenvolvimento de competências

relacionadas à tecnologia no ensino básico, após termos identificado que tais perspectivas estão

articuladas a organismos internacionais e a uma política econômica neoliberal. Vemos que, na

perspectiva de Vieira Pinto (2013a), educar e produzir conhecimento é tornar uma sociedade

tecnológica, pois a principal tecnologia de que dispõe a humanidade é sua capacidade de pensar,

e nela a forma como identifica as contradições em relação à natureza e tenta superá-las pelo

implemento de uma técnica. Por isso, a interação com aparatos cada vez mais complexos instiga

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a criatividade para a construção de soluções contextualizadas. Ações que exigem um nível de

esclarecimento que recoloca o ser humano na sua condição de protagonista da própria história.

Para alcançar essa condição, a educação como elemento civilizatório e socializador é

fundamental, sendo os currículos escolares a definição objetiva de quais elementos virão a

compor esse processo.

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3 ABORDAGEM METODOLÓGICA

O desenvolvimento de uma pesquisa científica tem como finalidade última a

contribuição para a melhoria das sociedades humanas e de sua interação no mundo. Nesse

sentido, o trabalho do pesquisador visa confirmar ou refutar uma hipótese que esteja inserida

em determinada realidade ou contexto. Nesta pesquisa, em especial, partiu-se da hipótese de

que a inclusão de tecnologias nas práticas pedagógicas ocasiona modificações nos arranjos

metodológicos e didáticos.

Por meio de estudos sistemáticos, organizados a partir de procedimentos metodológicos,

da definição de instrumentos e de recursos, buscou-se contribuir para o alargamento dos

horizontes da ciência tomando como referência os passos dos pesquisadores que os precederam.

No entanto, como a ciência é uma construção humana que não tem finalidade fora da cultura e

da existência da humanidade, são relevantes aspectos éticos que, em qualquer contexto de

produção científica, permitem refletir sobre a validade, a aplicabilidade e a finalidade da

pesquisa considerando o devido respeito pelos direitos humanos, pelas relações sociais

estabelecidas e por todos os seres vivos. Sem esses pressupostos, corre-se o risco de que o

conhecimento produzido se torne instrumento de opressão ou injustiça nas sociedades humanas

e na teia da vida como um todo. Nesse sentido, Lehfeld (2007), em sua obra Metodologia e

Conhecimento Científico, ao estabelecer uma comparação entre o pesquisador e o artista, afirma

que ambos

[...] sempre tomam como ponto de partida suas visões e concepções a respeito do

mundo, seu contexto pessoal, cultural, político. Esses processos de construção de

conhecimento científico da obra do artista ao mesmo tempo em que surgem num dado

contexto social e histórico, projetam e representam inovações e novos modelos de

compreensão e interpretação da realidade. (LEHFELD, 2007, p. 16).

Se a motivação para a pesquisa parte do conhecimento e de experiências pessoais, esta

deve ser aprofundada com a ajuda de instrumentos metodológicos, com o intuito de não replicar

o senso comum; ou reproduzir informações e conhecimentos que podem induzir ao erro. Por

isso, na investigação científica, “é fundamental que o pesquisador tenha uma base teórica e

metodológica que lhe possibilite concretizar o processo a ser desenvolvido, seja pela

demonstração lógica ou pela experiência ou, ainda, pela interpretação e pela síntese elaborada

com base nos dados obtidos” (LEHFELD, 2007, p. 15). Tal base teórica deve levar em conta a

história do conhecimento científico, bem como as concepções atuais que dela derivam. Por isso,

ao longo deste trabalho, foram recuperadas, por meio de pesquisa bibliográfica, construções

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conceituais relativas a currículo, tecnologia e competências; conceitos fundamentais para a

elucidação do objeto deste estudo.

Historicamente, o positivismo destacou-se por se tornar esteio a partir do qual

abordagens constituintes ou refutadoras se ancoravam. Tendo como referenciais a objetividade

da observação e a exclusão da subjetividade do pesquisador no propósito de alcançar verdades,

“o ideário positivista tinha como meta dissipar a complexidade dos fenômenos colocando-os

numa ordem simples de causa e efeito, de objetividade e estabilidade” (COUTINHO;

EZEQUIEL, 2004, p. 29). Essa perspectiva nem sempre se ajustava às necessidades das

Ciências Humanas.

Embora ainda presente em diversas áreas da pesquisa científica, constata-se que o

próprio desenvolvimento das ciências ocasionou o implemento de outras abordagens que

consideram a complexidade dos fenômenos em sua amplitude humana e social, destacando-se

nesse contexto a abordagem fenomenológica e a sócio-histórica. A primeira permite

compreender a experiência vivida das pessoas, revelando a compreensão sobre a experiência

real e o que ela significa para os indivíduos que a vivem. Enquanto a segunda procura explicitar

a relação das ações individuais em um contexto sócio-histórico concreto e material, no qual o

“conhecimento teórico é o conhecimento do objeto tal como ele é em si mesmo, na sua

existência real e efetiva, independentemente dos desejos, das aspirações e das representações

do pesquisador [...], enquanto que [...] pela teoria o sujeito reproduz, em seu pensamento, a

estrutura e a dinâmica do objeto que pesquisa” (NETTO, 2011, p. 5).

As dificuldades de adaptação da pesquisa a alguns procedimentos positivistas nas

Ciências Humanas e Sociais fizeram com que as abordagens da filosofia da ciência permitissem

a percepção dos fenômenos em sua abrangência, em vez de enfatizar sua decomposição, o que

ampliou as possibilidades da pesquisa científica, na medida em que estas reconheceram a

importância e também a transitoriedade das “verdades” na produção do conhecimento

científico, bem como admitiram as descontinuidades na evolução das teorias. Decorrente desse

movimento, a abordagem considerada construtivista adota “modelos explicativos” que podem

ser mudados, adequados ou corrigidos segundo a dinamicidade dos fenômenos sociais

(COUTINHO; EZEQUIEL, 2004).

Constatada a variedade de perspectivas metodológicas, estabelecemos um caminho,

selecionando a abordagem, os procedimentos e os instrumentos adequados ao contexto desta

pesquisa. Tal perspectiva foi fundamental para que se estabelecesse processos de interpretação

e síntese dos dados obtidos, reconhecendo a complexidade dos fenômenos, estabelecendo uma

coerência lógica entre eles, evitando, dentro do possível, as ambiguidades (LEHFELD, 2007).

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Por isso, os procedimentos foram sistematizados, ao mesmo tempo em que se manteve uma

atitude crítica e ética diante do conhecimento construído, pois cabe à pesquisa científica a criação

e a construção do conhecimento, bem como a reflexão sobre ele.

Na perspectiva deste projeto, partiu-se, inicialmente, da pesquisa bibliográfica de

natureza seletiva, com a finalidade de contextualizar o campo no qual se insere o recorte feito.

Para Martins Júnior (2008, p. 49), “esse é o tipo de pesquisa na qual o pesquisador busca em

fontes impressas ou eletrônicas (CD e/ou internet) ou na literatura cinza as informações de que

necessita para desenvolver uma determinada teoria”. Por isso, em um primeiro momento, foram

estabelecidas três palavras-chave relacionadas ao problema delimitado, sendo elas:

competência, currículo e tecnologia, que foram sucessivas vezes conjugadas durante o

levantamento em bases de dados diversas. Foram priorizados como espaço de busca: o

repositório da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), da

BDP (Biblioteca Digital da PUC-Minas), do Google Acadêmico, o site da Unesco (Organização

das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e da Biblioteca Digital da USP

(Universidade de São Paulo), bem como o site do Ministério da Educação. Neste último

ambiente, encontra-se a versão atualizada da BNCC, bem como os documentos precedentes

para a normatização curricular editados por esse ministério e os processos de implantação

recomendados às redes pública e particular.

Ao longo do levantamento, constatou-se um número expressivo de pesquisas relativas

à tecnologia e à educação, destacando-se em número aquelas relacionadas à necessidade de

formação de professores para esse contexto e outras às decorrências do implemento de

tecnologia em ambientes educacionais. Destacou-se, entre elas, a pesquisa de Manfré (2009),

que tematiza a formação de professores para o uso de tecnologias, a partir da teoria crítica.

Além dele, Gerardi (2010), Caiado (2011) e Tavares (2011) traduzem a história do implemento

de tecnologias na educação no Brasil e discutem as dificuldades e incongruências encontradas.

Em Barbosa (2013), foram encontradas também reflexões sobre a necessidade da inclusão da

filosofia da tecnologia na formação dos professores, enquanto Silva (2011) analisa as mudanças

culturais advindas da relação dos seres humanos com as TDICs.

Entendemos ser relevante para esta pesquisa o estabelecimento de um conceito de

tecnologia que levasse em conta a realidade brasileira. Nesse sentido, os escritos de Álvaro

Vieira Pinto (2013, 1979) foram de especial relevância, pois, por meio deles, constatou-se o

quanto o desenvolvimento de tecnologias e sua apropriação crítica implicam a transformação

das pessoas e das culturas. Os escritos de Vieira Pinto foram conjugados à luz dos escritos de

Lévy (1993, 1999) e Castells (1999). Contudo, foram os escritos de Coll e Monereo (2010) que

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trouxeram maior elucidação sobre ensino e aprendizagem a partir da tecnologia. Enquanto,

Kenski (2012), por sua vez, mantém a mesma linha, porém adaptada à realidade brasileira.

Moran (2012) traz reflexões sobre as possíveis mudanças na dinâmica escolar a partir da

inclusão de tecnologia. Pinto (2013) e Bastos (1998) também foram empregados na análise dos

dados.

No que tange às teorias curriculares, constatou-se que a diversidade de pesquisas

científicas nem sempre convergia, por isso, foram tomados como referências os escritos de

Moreira e Tomaz T. da Silva (1994), Moore e Young (2001), Saviani (2007, 1994), Silva (1995)

e Arroyo (2013). Consideramos também a definição oferecida pelo MEC em seu documento

“Reflexões sobre a prática curricular”, tendo em vista que este antecede a construção da BNCC,

documento normativo importante para esta investigação. Além dela, fez-se um breve apanhado

dos conceitos de currículo pertinentes às teorias curriculares que subsidiam a construção da

BNCC. Já o conceito de competência e sua aproximação com o campo educacional foi discutido

a partir de Macedo (2014), Banadusi (2011) e Soffner (2020). Além desses autores, tomou-se

como referência o documento da Unesco “Educação para a Cidadania Global” (2020). Embora

exista vasta pesquisa relativa às teorias curriculares e à forma como se materializam no dia a dia

da escola, bem como sobre dificuldades, efeitos e resultados do uso das TDICs na educação,

dado o pouco tempo de homologação da BNCC e os consequentes processos de apropriação do

documento por parte dos professores e demais profissionais da educação, constatou-se que ainda

não foram desenvolvidas pesquisas suficientes para explorar e elucidar os impactos da aplicação

das competências quatro e cinco da BNCC, relacionadas à cultura digital, na prática pedagógica

e no trabalho dos professores.

Além disso, foi necessário continuar o processo de leitura, que, posteriormente, coincidiu

com o início da Pandemia de Covid-19 e com a entrada em isolamento social; o que levou as

escolas a implementarem novas formas de trabalho mediadas por tecnologia, fazendo com que

emergissem escritos que refletiam esse contexto. Entre eles, destacamos o artigo de Borba e

colaboradores (2020) por apresentar um levantamento das práticas pedagógicas empreendidas

no ensino remoto por professores de Biologia; e o de Alves e Lemos e colaboradores (2020), por

apresentar exemplos de adequação curricular para o ensino remoto. Tais leituras ajudaram a

compreender o novo contexto de trabalho dos professores e as dificuldades que seriam impostas

à coleta dos dados nas entrevistas. Por outro lado, compreende-se que o “processo de construção

do conhecimento implicaria acumulações constantes, em que o conhecimento presente se

basearia no passado e criaria condições para o futuro” (COUTINHO; EZEQUIEL, 2004, p. 36).

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Desde o desenvolvimento inicial do projeto até a análise dos dados foram mantidos os

procedimentos de pesquisa bibliográfica documental, por isso, foram mantidas as visitas aos

repositórios citados, assim como a bibliografia impressa disponível por possibilitarem a

compreensão teórica dos dados, discutindo as relações entre práticas pedagógicas, cultura

digital e BNCC.

Considerando a natureza do problema, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, de

natureza básica exploratória, porque ela “serve então para a formulação de um problema para

investigações mais exatas ou para criação de hipóteses” (MARTINS JÚNIOR, 2008, p. 73). O

que nos permitiu, por meio dos procedimentos escolhidos, mapear, identificar, descrever e

analisar os aspectos que emergem do fenômeno. Por essa razão, foi necessário levantar e registrar

as características dos aspectos que cercam o problema em questão e como se materializam dentro

do campo, o que levou a pesquisa a assumir um caráter descritivo e, portanto, na perspectiva de

Martins Júnior, “descobrir e observar fenômenos existentes, situações presentes e eventos,

procurando descrevê-los, classificá-los, compará-los, interpretá-los e avaliá-los, com o objetivo

de aclarar situações para idealizar futuros planos e decisões” (MARTINS JÚNIOR, 2008, p. 83).

Partiu-se do princípio de que uma pesquisa qualitativa se constitui de um “processo de

reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para a compreensão

detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou segundo sua estruturação”

(OLIVEIRA, 2007, p. 37). Por isso, levou-se em conta o fato de não haver homogeneidade no

campo, visto que a BNCC foi homologada recentemente e os recursos destinados à formação

dos professores para sua implementação foram suspensos por dois anos pelo Governo Federal,

levando-nos a optar por desenvolver um estudo de caso, uma vez que pode ser útil para investigar

como são utilizados, na prática, os elementos de uma teoria, convergindo conceito e prática

(YIN, 2009).

De acordo com Coutinho e Ezequiel (2004), o estudo de caso é bastante usado nas Ciências

Humanas por se constituir em um estudo profundo e alargado de um ou poucos objetos que

permitem preservar o caráter unitário do objeto estudado, ao mesmo tempo que permite descrever

a situação na qual está circunscrita a investigação, propiciando ao pesquisador a formulação de

hipóteses e a explicação de variáveis causais, quando aplicado a situações complexas.

Yin (2009) preconiza que, para o desenvolvimento de um estudo de caso, é importante a

delimitação de categorias de análise com vistas a encontrar evidências e selecionar os dados

estabelecendo aqueles que se deve coletar e aqueles que se deve descartar e como analisá-los

permitindo delimitar, com maior segurança, campo de pesquisa prioritário (YIN, 2009). Por isso,

a partir do estudo dos conceitos Tecnologia, Currículo e Competência, bem como da análise de

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55

elementos contextuais, que permitiram encontrar validade interna e externa. Notou-se que, desde

2015, essas instituições de ensino e outros organismos a elas associados mostraram considerável

interesse na definição das estruturas da Base Nacional Comum Curricular, vindo a colaborar

com número significativo de proposições ao longo de sua construção, enquanto o discurso

institucional do MEC ressaltava a importância da base para a escola pública.

Para Macedo (2014, p. 4), os “agentes sociais privados apareciam no cenário da

educação, buscando interferir nas políticas públicas para a educação também com perspectivas

de maior controle sobre os currículos”. Enquanto institutos e empresas passaram a desenvolver

produtos de tecnologia, gestão de currículo e propostas de formação de professores bastante

direcionadas às escolas privadas que estabeleciam movimentos internos de apropriação e

tradução da BNCC em favor da validação de suas práticas pedagógicas.

De acordo com Adrião (2014), a educação privada no Brasil é destinatária de certos

favorecimentos estatais desde o Império. No século XX intensifica-se o debate em torno da

educação pública democrática. “Porém, o setor privado não queria perder sua participação no

mercado e na Lei de Diretrizes e Bases de 1961 (BRASIL, 1961). Esse setor ganha investimento

financeiro do governo, garantindo sua ampliação e sua manutenção” (ADRIÃO, 2014, p. 11).

Para a mesma autora, durante o Estado Militar, essas desigualdades e o fortalecimento

do setor privado se ampliaram. A Lei n. 5692/1971 foi aprovada fixando as diretrizes e bases

para o ensino de 1º e 2º grau (BRASIL, 1971). Os interesses privatistas foram novamente

contemplados, e os partidários da escola pública e da ampliação de verbas para a educação

estavam desarticulados devido à intensa repressão do regime (ADRIÃO, 2014, p. 11).

Germano (1993) considera que a democratização da educação neste período ocorre

somente no aumento no número de vagas, mas que não há significativo aporte de verbas,

portanto, há um recrudescimento da desigualdade. Para o mesmo autor, nesse período houve

uma significativa ampliação da escola privada.

Diante de tal histórico, seria então a BNCC mais uma dessas “oportunidades”,

considerando que o discurso dessas instituições se mostra convergente com o da BNCC? A partir

das leituras feitas e do contato, mesmo que mediado, com o ambiente de pesquisa, e após

considerar-se a estrutura daquele documento, assim como o destaque dado a questões

relacionadas à tecnologia e ao mundo do trabalho, notou-se que a materialidade das escolas

particulares está um passo à frente daquela encontrada nas escolas públicas. De modo especial,

na região metropolitana de Belo Horizonte, há um grupo de escolas particulares,

predominantemente católicas, que tem protagonizado uma disputa por clientela utilizando em

seus discursos a inovação por meio do implemento tecnológico, associando-o também à BNCC.

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56

O que exigiria dessas instituições o esforço de apropriação daquele documento, formação de seu

professorado e uma modificação significativa de suas práticas.

Considerando a BNCC um acontecimento que alcança os professores das redes pública

e privada de forma diferenciada, por meio das leituras realizadas, notou-se que os movimentos

institucionais na rede pública de ensino guardava, sob uma aparência de democracia, um novo

tipo de silenciamento dos professores, tal qual afirma Selles (2018, p. 235), “os experts silenciam

as vozes dos professores, num jogo no qual ocorre um estímulo à participação dos professores

com a finalidade de, ao fazê-los falar, legitimar o discurso dos experts e, sob uma aparente

participação, mantê-los em consulta, sem efetivo poder de decisão”. Contudo, não foram

encontradas referências aos professores privadas de educação, o que levou a crer que seria

válido ouvir os professores a respeito dessa questão.

Destarte, esta pesquisa foi direcionada para o ambiente das escolas particulares, e, neste

contexto, o foco do estudo de caso dirigiu-se à identificação das formas de adaptação dessas

escolas às competências quatro e cinco da BNCC e as implicações advindas desse processo.

Para tanto, definiu-se um protocolo de pesquisa registrado na íntegra como Apêndice A e

brevemente descrito a seguir.

A ida a campo coincidiu com o isolamento social imposto a todos pelo advento da

pandemia de Covid-19, que ocasionou o fechamento das escolas para práticas presenciais,

levando à instauração de práticas remotas de ensino; por isso, foi necessário redesenhar o

protocolo de pesquisa encontrando alternativas que viessem a substituir a observação in loco

por outras e lançar mão de técnicas e instrumentos para além do que estava previsto no projeto.

Na reorganização do protocolo de pesquisa, levou-se em conta que esse instrumento tem por

objetivo orientar o pesquisador nas atividades de coleta de dados, na medida em que se

estabelecem as regras gerais que devem ser seguidas em campo (YIN, 2009).

Nele, houve o levantamento informal, realizado por meio de contato telefônico no

segundo semestre de 2019, entre as escolas privadas de Ensino Fundamental da região central

de Belo Horizonte, no qual foram identificadas aquelas que já tinham iniciado o processo de

implantação da BNCC. A partir desse levantamento, foram identificados vários espaços

oportunos à pesquisa, o que permitiu o acesso a determinado conjunto de dados que, conjugados

com o levantamento bibliográfico, direcionaram a tomada de decisão relativa ao ambiente mais

propício para a realização da pesquisa, e o questionamento direto a indivíduos que detinham

informações relevantes.

Além disso, em 2019 foram visitadas algumas escolas da rede pública estadual e

realizado contato telefônico com duas inspetoras educacionais da região Noroeste e Central, o

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57

que reforçou a percepção de que as escolas particulares da região metropolitana de Belo

Horizonte faziam movimentos de apropriação da BNCC. Embora não fosse possível definir

precisamente o início desses movimentos. Além disso, a relativa autonomia das escolas

privadas permitiu que mantivessem seu cronograma de reconstrução curricular, apesar das

confusas decisões do Ministério da Educação vivenciadas a partir da eleição de 2018. A

criteriosa análise dos dados amealhados direcionou a chegada ao campo, apesar das

dificuldades contextuais já narradas.

A princípio, previu-se no protocolo de pesquisa a realização de um sorteio, caso, entre

as escolas identificadas, mais que uma apresentasse as condições necessárias à pesquisa,

contudo, embora houvesse mais que um espaço oportuno, a ida a campo coincidiu com o advento

da pandemia e apenas uma das escolas consultadas permitiu a aproximação, vindo a ser,

posteriormente, o campo de pesquisa.

Uma vez que as escolas que inicialmente apresentavam as condições ideais e mostravam

abertura à possibilidade da pesquisa se negaram a dar continuidade ao processo – ao iniciarem

o período de ensino remoto, passaram a temer uma sobrecarga de trabalho aos professores ou

revelar aspectos desfavoráveis daquele contexto, em um momento crítico para a educação –,

foi necessário incluir no protocolo outros contatos via e-mail e telefone, com todo o grupo de

escolas inicialmente contatado, buscando permissão de acesso aos dados necessários ao

desenvolvimento da pesquisa.

Quando finalmente a pesquisa e o acesso aos professores foi autorizado em uma escola,

enviou-se um formulário eletrônico para a coleta dos dados iniciais, e, junto dele, o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido, que continha o convite para a participação na pesquisa, os

dados da pesquisadora e as informações básicas para que os participantes pudessem tomar sua

decisão de participação adequadamente, em respeito aos princípios da ética na pesquisa. Por

meio do questionário, identificou-se dados gerais da escola e das práticas pedagógicas

estabelecidas em acordo com a BNCC, além de identificar um grupo de professores que

estavam disponíveis às entrevistas. Essa estratégia prevista no protocolo de pesquisa na forma

presencial foi realizada por videoconferência utilizando os aplicativos Google Meet ou

Microsoft Teams, por medida de segurança adequada ao isolamento social. As entrevistas

ocorreram após cada participante dar o seu aceite ao Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido.

Tais entrevistas on-line foram subsidiadas por questionário semiestruturado, presente

nos apêndices, e foram gravadas. Porém, diante das dificuldades narradas pelos professores

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58

durante o período de ensino remoto, parte das respostas foi complementada por meio da

gravação de áudios enviados por aplicativo eletrônico ou por escrito enviadas por e-mail.

Inicialmente, definiu-se que o estudo de caso deveria iniciar-se pela observação e pelo

conhecimento contextual do ambiente que o cerca, porque pessoas diferentes tendem a ver uma

mesma situação de forma diversa, dependendo de seus valores, história pessoal e cultural,

podendo compreender e interpretar determinada situação de forma divergente. Contudo, a

observação direta do ambiente de pesquisa, bem como o contato pessoal direto com os

entrevistados, passou a ser mediado pelo uso de tecnologias e foi complementado com visitas

no site e nos espaços de divulgação específicos da escola que nos acolheu. Segundo Yin (2009),

o estudo de caso deve se apoiar em múltiplas fontes de evidências secundárias e primárias que

permitem a análise e a combinação dos dados obtidos e evita-se distorções, favorecendo a

consolidação de resultados mais estáveis e confiáveis.

Destaca-se que, mesmo com a observação à distância, tal qual foi feito pela visita aos

sites e ambientes virtuais do ambiente de pesquisa, foi exigida bastante preparação psicológica

e intelectual a fim de que não houvesse obscurecimento do que representa a realidade. Fez-se

necessário o treinamento do olhar, pois, “para que se torne instrumento válido e fidedigno de

investigação científica, a observação precisa ser, antes de tudo, controlada e sistemática”

(LUDKE; ANDRÉ, 1996, p. 25), o que foi feito através da delimitação espaço-temporal, do foco

no objeto e de relativa discrição, com a finalidade de preservar o ambiente e o comportamento

das pessoas.

No contexto de pesquisa previsto no projeto, aliar observação a entrevistas

semiestruturadas possibilitou manter o foco no objeto, pois a escuta dirigida permitiu captar a

corrente de informações de natureza pessoal, complexa ou vivencial daquele que foi escutado

enquanto a observação indireta foi mais restritiva, contudo, permitiu, ainda, captar aspectos que

somente pela escuta não seriam identificados. Tal ação esteve para além da simples captação da

fala de determinado emissor, uma vez que ela está inserida num contexto complexo de

representações que revelam uma visão particular do fato objetivado pela pesquisa. Nesse sentido,

recomenda-se guardar o “respeito pela cultura e pelos valores do entrevistado e pressupõe a

capacidade de ouvir e estimular o fluxo natural de informações” (LUDKE; ANDRÉ, 1996, p.

35). O desafio no uso dessa estratégia consiste na dificuldade de se registrar, para além da fala,

as expressões corporais, as pausas e até as interrupções de terceiros na coleta de informações

durante as entrevistas. Sobretudo, quando mediados pela tecnologia, vemos apenas o rosto do

entrevistado ou ouvimos sua voz nos áudios, o que exige ainda mais cuidado para que não se

faça constatações precipitadas.

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59

Posteriormente, procedeu-se à análise dos dados dos questionários on-line,

transformando-os em gráficos e descrições que foram analisados a partir do referencial teórico.

A transcrição e a análise das narrativas ocorreram com o auxílio do aplicativo MaxQda2020,

aliado aos elementos de análise de conteúdo proposto por Bardin, para o qual a mesma é

composta por “um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Não se trata de um

instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento,

mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito

vasto: as comunicações” (BARDIN, 1977, p. 31).

Por isso, primeiramente, as transcrições foram lidas e os elementos do texto

classificados a partir de categorias que derivam dos conceitos que fundamentam esta pesquisa

e representadas por Tags, que permitiam a reorganização do texto em tabelas geradas

eletronicamente. Abaixo tem-se a lista de categorias usadas para a classificação das entrevistas

e a frequência em que estas aparecem no texto. Verificou-se a relação entre os elementos da

narrativa, bem como desenvolveu-se uma análise mais precisa.

Quadro 1 – Categorias elencadas para classificar as narrativas a partir dos conceitos

fundamentais

Cor Código Seg. codificados

● Didática relação com o alunado. 9

● Formação processos formais. 19

● Competência - Escola e criação de tecnologia. 21

● Tecnologia e competências - mudança na prática pedagógica. 41

● Formação processos informais. 13

● Adaptação da escola à BNCC. 18

● Práticas pedagógicas e tecnologia antes da BNCC. 14

● Prática pedagógica e tecnologia depois da BNCC. 18

● Adaptação à materialidade. 8

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Além disso, foram estabelecidas palavras-chave, e, com o auxílio do aplicativo

MaxQda2020, foi realizada a contagem automática da frequência dessas palavras nas

narrativas, bem como a relação que se estabelecia entre elas, possibilitando notar como os

conceitos “tecnologia, competência e currículo” eram compreendidos pelos respondentes.

Buscando concordância com o que diz Bardin (1977, p. 44), quando se lê que “a análise de

conteúdo procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça. A

linguística é um estudo da língua, a análise de conteúdo é uma busca de outras realidades através

das mensagens”. Os dados foram discutidos e se encontram pormenorizados nos capítulos que

seguem, iniciando com uma contextualização do objeto de estudo, visando abranger os vários

aspectos e as dimensões presentes nele, considerando o contexto de homologação e implantação

da BNCC, de sua perspectiva de ensino por competências, das mesclagens identificadas no

Page 60: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

60

documento homologado e das repercussões deste no trabalho dos professores e na vivência

curricular das escolas particulares. Buscou-se, também, identificar como isso se relaciona com

a apropriação de tecnologias nas práticas de ensino. A partir disso percebeu-se um todo

permeado de complexidades e de inter-relações. Em alguns casos, possibilitou a identificação

e a descrição de vários aspectos de uma mesma situação social, levando a crer que a abordagem

metodológica se tornou oportuna, mesmo havendo possibilidades de ampliações, pois a

pesquisa em ciências humanas é dinâmica e dependente de fatores sociais e também subjetivos,

nem sempre perceptíveis na definição das hipóteses.

Page 61: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

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4 RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA E DISCUSSÃO DOS DADOS

Partindo do protocolo de pesquisa estabelecido, na análise dos dados, manteve-se a

integração entre os três conceitos discutidos no referencial teórico, pois compreende-se que o

conceito de currículo é o pano de fundo da BNCC, documento organizado a partir da noção de

competência; sendo que duas das dez competências gerais daquele documento relacionam-se

diretamente às tecnologias. Por isso, a validação ou a refutação da hipótese mobilizadora desta

pesquisa é permeada por reflexões relacionadas a esses conceitos.

Para compor esse cenário, buscou-se, primeiramente, conceituar e contextualizar a Base

Nacional, partindo da enumeração de práticas de ensino preexistentes à BNCC em termos de

incorporação das tecnologias e levando em conta a compreensão dos professores a respeito dos

documentos normativos que tratavam dos currículos, para, em seguida, explicitar como foi

pensado o processo de implantação da BNCC tanto nas redes públicas quando nas redes

particulares de educação. Buscou-se, também, identificar a materialidade necessária para a

realização dessa empreitada.

Feito esse trabalho, foram identificados os processos formativos que influenciaram a

apropriação de tecnologia nas práticas pedagógicas fazendo um breve histórico das iniciativas de

formação, para finalmente identificar mudanças didático-metodológicas associadas à implantação

das competências quatro e cinco da BNCC e decorrentes da incorporação de tecnologia.

Nesta análise estão mesclados os dados coletados no questionário introdutório enviado

por e-mail, em formulário on-line, a 100% dos professores dos anos finais do Ensino

Fundamental da instituição que acolheu esta pesquisa, com a finalidade de selecionar dados

secundários e contextualizar a pesquisa. Cinquenta e oito por cento desse grupo respondeu,

somando 29 indivíduos participando da coleta inicial de dados, e, entre eles, 21% se

disponibilizaram a participar das entrevistas semiestruturadas, realizadas por videoconferência

no início do segundo semestre de 2020, somando 9 participantes das entrevistas

semiestruturadas.

As entrevistas foram transcritas e analisadas tendo como referência o instrumental

teórico da análise de conteúdo sistematizado por Bardin, conforme descrito nos procedimentos

metodológicos.

4.1 A contextualização do campo de pesquisa

Considerando que as razões pela escolha do campo da pesquisa estão descritas no

referencial metodológico e justificadas no referencial teórico, optou-se por aglutinar aqui

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62

informações que ainda podem ser relevantes para a compreensão da análise que segue,

resguardando a identidade institucional e dos professores que colaboraram neste estudo. Os

dados apresentados a seguir foram coletados nos ambientes virtuais públicos da instituição –

site e portal –, os dados dos professores foram fornecidos durante as entrevistas, e a publicação

de ambas foi autorizada.

A escola que generosamente acolheu esta pesquisa durante a pandemia faz parte de uma

rede de escolas particulares confessionais católicas presente em duas regiões brasileiras. Atua

na região metropolitana de Belo Horizonte há mais de 50 anos. A unidade educacional que os

acolheu tinha, em 2020, mais de 2400 alunos. Ela oferece em seus serviços Educação Infantil,

Ensino Fundamental anos iniciais e finais, e Ensino Médio. Conta com uma estrutura física

bastante ampla e uma equipe de profissionais com sólida formação inicial, entre eles, muitos

mestres e doutores.1

Sua proposta pedagógica para os anos finais do Ensino Fundamental defende uma

educação alinhada aos desafios contemporâneos e a constante revisão dos processos

pedagógicos. Suas finalidades educativas estão bastante alinhadas às competências gerais da

BNCC, e um dos objetivos institucionais presentes no site trata da aprendizagem de qualidade

citando diretamente os quatro pilares da educação propostos pela Unesco.

Em várias partes dos textos expostos no ambiente virtual da escola há referências ao

trabalho por habilidades e competências, entre os quais se destaca que, “durante esse período

de educação escolar, os alunos têm contato com os objetos de conhecimento para que

desenvolvam competências e habilidades cognitivas e relacionais e adquiram valores e atitudes

que norteiam as relações interpessoais”.2 A caracterização do projeto educativo dispõe que essa

instituição busca

[...] uma educação atenta à cultura da aprendizagem da sociedade atual, que se

caracteriza por ser uma sociedade da informação (em que a escola deixou de ser a

principal fonte de informação e de conhecimentos), do conhecimento múltiplo e

descentrado (as perspectivas são diversas, as teorias são relativas e as interpretações

múltiplas) e da aprendizagem contínua (os aprendizes devem ser flexíveis, eficazes,

autônomos e com capacidades transferíveis, já que não se pode prever o que os

cidadãos terão que saber dentro de 10 ou 15 anos).3

Contrastando tais informações com os planos de estudo disponibilizados no mesmo

ambiente, verificamos que, em tempos “normais”, há uma sintonia entre a proposta pedagógica

publicada e as notícias do cotidiano escolar, indicando existir um trabalho que perpassa a

1 Site institucional, 2020. 2 Site institucional, 2020. 3 Site institucional, 2020, grifo nosso.

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63

vivência em laboratórios diversos, inclusive de robótica, jogos digitais e a inclusão de

tecnologia nas práticas pedagógicas. Já no período de ensino remoto, instituído devido à

pandemia, evidenciou-se uma adaptação desses processos, pois foram disponibilizadas três

plataformas diferentes aos estudantes e o trabalho com robótica continuou a ser desenvolvido,

pois havia notícias referentes no site, embora não tenha sido informado diretamente nas entrevistas.

As questões relativas à tecnologia, no campo de pesquisa, foram debatidas ao longo do

texto, enquanto que na análise do site notou-se que a escola opta pela comprovação de suas

ações por meio de notícias em vez de uma teorização relativa à tecnologia, enfatizando o

aspecto da aplicação. Há um propósito relacionado a ela, e nota-se que está convergente às

habilidades presentes na BNCC, pois propõe o uso de recursos tecnológicos para selecionar

fontes de informação, solucionar situações-problema e favorecer a tomada de decisão.4

4.2 Caracterização da amostra de respondentes

Conforme exposto no início deste capítulo, 21% dos professores dos anos finais da

instituição se dispuseram a participar das entrevistas. Os dados que seguem visam

caracterizar esse grupo dentro do contorno desta pesquisa, sem, contudo, trazer sua real

identidade. Os nomes citados são fictícios e as demais informações foram fornecidas e

autorizadas pelos professores.

JONAH é professor da área de Ciências Humanas – História (CH) do 7º ano e atua como

docente há quase 10 anos. Sua primeira formação foi em Engenharia Civil, mas, trabalhando

em um projeto social, se apaixonou pela docência, por isso cursou História, dedicando-se,

posteriormente, à educação básica. Foram realizados três contatos telefônicos com esse

professor, até que se conseguisse o agendamento de uma videoconferência via Microsoft

Teams. O professor apresentou-se tranquilo, falou livremente a partir das questões da entrevista

e, em alguns momentos, fez digressões para narrar outras experiências educacionais. Em alguns

momentos, baixava os olhos, dando sinais de timidez, mas isso não impediu a interação com a

entrevistadora. Desde o início mostrou-se muito empolgado com as propostas da BNCC e

demonstrou pesquisar metodologias que integram tecnologia. Ele afirma que os melhores

processos formativos para que os professores se apropriem das TDICs em sua prática são o

compartilhamento de experiências entre pares e cursos contínuos de linguagem de

programação. Em dois momentos, o professor manifestou seu cansaço e frustração com o

ensino remoto.

4 Site institucional, 2020.

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64

DIEGO é professor da área de Linguagens e Códigos e suas Tecnologias (LC) no

componente curricular Produção de Texto e Língua Portuguesa no 8º ano há aproximadamente

16 anos. Sua primeira formação foi em Comunicação Social, onde estudou também Jornalismo

e Cinema. Fez mestrado nesta área e iniciou seu contato com a docência num projeto que

ensinava artes visuais para crianças carentes. Foi por meio dessa experiência que percebeu a

potência da cultura digital e dos gêneros multissemióticos na educação, por isso buscou o

doutorado. Então, formou-se também em Letras. Iniciou a docência em escolas regulares

atuando no Ensino Médio, mas diz ter sido a melhor experiência da sua vida lecionar para as

séries iniciais. Foram realizados dois contatos telefônicos com esse professor e, posteriormente,

foram agendadas duas videoconferências, para as quais o professor apresentou-se muito

disposto, demonstrando empatia e falando livremente. Fez perguntas, deu sugestões para o

desenvolvimento da pesquisa e demonstrou muito conhecimento relativo ao ensino remoto ao

uso de AVAS.

ALONSO é professor há aproximadamente 20 anos, leciona Espanhol para o 9º ano.

Sua formação inicial foi em Comunicação Social e Línguas Modernas, por isso passou a

lecionar Espanhol. Ao longo de sua trajetória, fez cursos lato sensu de Educação e Tecnologia,

disse participar de grupos de estudo relacionados à temática. Posteriormente, fez mestrado na

área da Educação. Foram feitos contatos via aplicativo de comunicação com o professor e,

posteriormente, foi agendada uma videoconferência. O professor apresentou-se muito calmo e

disponível para a entrevista. Solicitou conhecer as questões com antecedência e respondeu

calmamente trazendo exemplos de sua prática. Mostrou-se preocupado com o período de ensino

remoto e disse temer o esgotamento dos alunos. O professor afirma que a inclusão de tecnologia

em seu trabalho lhe permitiu compreender melhor as formas de comunicação da juventude, mas

que deseja ampliar seu conhecimento com cursos de criação de conteúdos midiáticos e digitais.

PAULO é professor da Área de Ciências Humanas no componente curricular Ensino

Religioso e em 2020 lecionava para o 8º ano. Está na docência há aproximadamente 15 anos.

Sua formação inicial é em Filosofia e, posteriormente, fez Mestrado em Ciências da Religião.

Foram feitos vários contatos via aplicativo de comunicação com esse professor. Ele solicitou

que as perguntas fossem enviadas com antecedência e as respondeu na forma de áudios

gravados e enviados via aplicativo de comunicação. Justificou que estava muito atribulado e

que não conseguiria agendar uma conversa, mesmo assim, foi solícito tirando dúvidas relativas

às suas respostas e fazendo ampliações das temáticas nos áudios enviados.

SETH é professora da área de Linguagens e Códigos da Língua Portuguesa há mais de

22 anos e no momento da pesquisa lecionava para o 6º ano. Sua formação inicial é em Letras,

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65

mas posteriormente fez Pedagogia. Afirma ter feito cursos lato sensu em metodologia e se diz

estudiosa. Foram feitos vários contatos por e-mail com essa professora, até que se conseguisse

um agendamento para videoconferência. A professora mostrou-se muito disponível, um pouco

tímida no início, mas depois demonstrou muito engajamento e conhecimento em metodologias

ativas e integração de tecnologia. Mostrou também grande criticidade e preocupação com os

processos de ensino. Ela entende que a formação técnica do professor é muito importante, mas

se for articulada com o pedagógico, na prática. Para ela, a inclusão de tecnologia na prática

pedagógica não modifica totalmente os arranjos metodológicos ou didáticos, pois dependerá

muito do uso que dela se faz.

GLÍCIA é professora da área de Matemática (MT) há mais de 15 anos e no momento da

pesquisa lecionava para o 6º e o 7º ano. Sua formação inicial é em Matemática, mas fez cursos

lato sensu em Educação e Tecnologia e Gestão Escolar. Foram feitos dois contatos telefônicos

com essa professora, até que se conseguisse um agendamento para videoconferência. A

professora apresentou-se séria e concentrada. Respondeu às questões com exatidão e não quis

estender a conversa. Em sua fala demonstrou conhecimento da BNCC e bastante engajamento

para levá-la para a prática.

LUÍSA é professora da área de Matemática há mais de 20 anos, e em 2020 lecionava

para o 9º do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. Sua formação inicial é em Matemática,

fez mestrado em Educação Matemática e faz Doutorado em Educação. Foi feito apenas um

contato telefônico com essa professora, ela se mostrou disponível, mas alegou estar com pouco

tempo para participar de videoconferências, por isso solicitou as questões e respondeu por

escrito de forma bastante sucinta.

CRISTIANE também é professora de Matemática, com menos de 10 anos de profissão.

Sua formação inicial é em Matemática, mas fez curso técnico em Química. Não falou de sua

formação continuada. Atua como professora do componente curricular matemática há 12 anos.

Foram feitos três contatos por e-mail com essa professora, mas, na impossibilidade de agendar

uma videoconferência, ela preferiu receber as questões e responder na forma de áudios gravados

em aplicativo de comunicação. Suas falas foram diretas e objetivas.

DENISE é professora de Matemática há mais de 15 anos e descreveu lecionar para o 8º

ano do Ensino Fundamental. Sua formação inicial se deu em Matemática, disse ter feito cursos

lato sensu em Educação e Tecnologia e Metodologia do Ensino. Foram feitos dois contatos

telefônicos com essa professora, até que se conseguisse um agendamento para videoconferência.

A professora mostrou-se disponível, respondeu a todas as questões apresentadas e trouxe

exemplos de sua prática. Disse atuar na formação dos colegas no que tange ao uso de AVAs

Page 66: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

66

(Ambientes Virtuais de Aprendizagem) e que aprendeu muito com isso. É uma entusiasta da

Tecnologia na Educação.

4.3 Contextualizando a homologação da BNCC, os componentes curriculares e os

processos de implantação

A homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) se deu em 20 de

dezembro de 2017 e decorre de um processo de construção que envolveu a articulação de

experts, a tentativa de alinhamento a políticas e agências internacionais, consultas públicas,

redundando em um texto final criticado por excessos e contradições. Por vezes foi considerada

como imposição de narrativas padronizadas e modelos globais de organização de objetos de

conhecimento e, em outras vezes, criticada por silenciar os professores e por promover o

desmonte de seu papel na educação e nas construções curriculares (MACEDO; FRANGELLA,

2016). Outras vezes, era representada como tentativa de controle e homogeneização que ignora

a noção de currículo mais ampla, que integre a cultura local e os acontecimentos do cotidiano

(CARVALHO; LOURENÇO, 2018). Outrossim, é tida como uma possiblidade de melhoria na

qualidade da educação, pela definição das aprendizagens mínimas às quais todo estudante teria

direito. Apesar do aspecto da centralização curricular, o processo de implantação previsto pelo

governo federal sustenta que cada instância educacional faça a revisão de documentos internos

e de seus propósitos e que, na escola, seja constituída uma comissão que articule o processo de

reconstrução do projeto político-pedagógico em diálogo com a comunidade, para, a partir dele,

repensar o currículo e a formação dos docentes.

Na BNCC os componentes curriculares são agrupados em áreas de conhecimento, o que

denota certa articulação com os modelos instituídos pelo Exame Nacional do Ensino Médio

(ENEM), mas também o incentivo à interdisciplinaridade e à transdisciplinaridade na

abordagem dada ao conhecimento.

A natureza específica de cada componente curricular lhe confere identidade, algo que é

assumido pelos professores desde a formação e passa a ser um elemento identificador do

profissional no grupo de colegas. Assim, nesta pesquisa buscou-se identificar também a

distribuição dos respondentes pelos componentes curriculares, tendo em vista estabelecer uma

possível relação entre a diversidade de visões e abordagens dadas ao conhecimento da BNCC

pelo grupo a partir do componente lecionado (GRÁFICO 1).

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67

Gráfico 1 – Componente curricular

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

O Gráfico 1 apresenta a distribuição dos professores respondentes pelos componentes

curriculares presentes na Base e oferecidos pela escola. Nota-se que há professores que

lecionam mais que um componente curricular. Predomina, entre os respondentes, docentes de

Língua Portuguesa com sete, seguido de História com cinco, Educação Física e Produção de

Texto com quatro. Em menor proporção encontra-se Inglês, Ensino Religioso e Artes com dois

e, finalmente, Ciência e Geografia com um. Notou-se que a distribuição dos professores

respondentes pelas séries finais do Ensino Fundamental está bastante proporcional, havendo

representantes das quatro séries, sendo oito no nono e oitavo ano, sete no sétimo ano e seis no

sexto ano.

Importa destacar que temos entre os respondentes alguns que lecionam mais que um

componente curricular. Entre os 29 respondentes, expressivos 97% afirmam que tiveram

contato com a BNCC na forma de estudo sistemático, enquanto outros 3% indicavam não ter

iniciado nenhum estudo daquele documento ainda, o que foi confirmado pelas falas de Denise,

professora de matemática. “O colégio ofereceu formações e demonstra grande preocupação em

proporcionar oportunidades de discussão e conhecimento da BNCC” (DENISE, MAT). O que

se mostra contraditório ao fato de 3% dos entrevistados afirmar não ter estudado o documento,

indicando a possiblidade de fatores contrários a um contato uniforme com o documento na

instituição. Enquanto Diego, professor de Linguagens e Códigos, percebeu a realidade de outra

forma:

O que eu estou vendo é um “grande barata voa”, cada um está correndo do seu jeito.

Quando a gente viu que estava difícil de negociar com aquele documento, o jeito

foi construir um nosso e manter aquele como referência na área de linguagens.

(DIEGO – LC)

72

511

24

22

42

Língua PortuguesaMatemática

HistóriaGeografia

CiênciaArtes

Educação FísicaEnsino Religioso

InglêsProdução de Texto

Outro

Qual componente curricular você leciona.

Page 68: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

68

As percepções conflitantes entre os dois professores da mesma instituição são coerentes

com o contexto complexo que envolve a homologação da Base, o tratamento dado aos componentes

e ao processo de implantação nas escolas. De acordo com Antunes (2017), a linguagem utilizada

na Base, sua estrutura e o processo de sua construção estão vinculados ao contexto sociopolítico

brasileiro, compreendido entre 2003 e 2013, e aos compromissos assumidos com agências

internacionais, o que está visível nas referências à Organização de Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE) e à Unesco. Agências essas que, embora recebam críticas de diversos setores,

têm desenvolvido programas relevantes no campo educacional.

O desenho da implantação da Base feito pelo MEC foi direcionado às redes públicas, na

forma de plataforma associada ao documento homologado. Cada passo dela, desde as consultas

públicas estaduais e municipais até a gestão dos grupos de trabalho para a redação da proposta

curricular de cada rede, bem como do projeto pedagógico de cada escola, poderia ser subsidiado

pelas ferramentas presentes em ambiente on-line. Nesse caso, funcionaria como uma estratégia

de suporte e gerenciamento do processo de trabalho e um banco de dados das produções de

cada instância. Essa estrutura de gestão “inteligente”, a princípio, permite a interação entre

secretarias, municípios e pessoas que compartilham o mesmo ambiente e deixam ali suas

sugestões e os registros de suas construções.

É possível imaginar que se pretendia estabelecer um processo compartilhado e

supostamente democrático, pois há processos nos quais a decisão final é do professor, ou do

gestor, ou ainda das comissões de trabalho. Contudo, evidencia-se que os espaços de

participação estão previamente definidos e a autonomia regrada por parâmetros pré-existentes.

Ainda em 2017, Carvalho e Lourenço problematizam a forma como a Base vinha sendo

construída, pois entendem que, “de modo geral, as questões relativas à BNCC foram retiradas

do âmbito da problematização pública e confiada a especialistas” (CARVALHO; LOURENÇO,

2018, p. 234) que predefinem o que deve ser feito ou falado em relação ao documento. Contudo,

não serão os professores “especialistas” em seu próprio ofício e no conhecimento específico

das comunidades onde atuam? Numa base que se quer ampla não seria necessário também

incluir a palavra de cientistas, economistas e de setores diversos da sociedade? Porém, para as

autoras, isso inverte a noção de currículo como expressão da problematização constante entre

conhecimento e comunidade. Pois, “a liberdade de expressão dos professores é exercida dentro

dos limites de um fazer e dizer previamente codificados, já estabelecidos pelos problemas e

pelas soluções dos que governam” (CARVALHO; LOURENÇO, 2018, p. 242).

Tem-se a impressão, pelas publicações posteriores, de que a expectativa de um amplo

debate foi frustrada pela proposição de modelos. Estes, por sua vez, estavam ancorados em

Page 69: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

69

movimentos externos que pouco repercutiam nas escolas até então; tais como as agendas da

ONU, já integradas aos currículos da Europa e a países da Ásia desde a década de 1990, o que,

de certo modo, indica pouco vínculo das escolas básicas com essas questões. Young, ao discutir

a função do conhecimento e das escolas, acaba por esclarecer por que são tão díspares as

expectativas entre grupos quando se trata dos movimentos de redefinição curricular. Percebe-

se que predomina certa visão de um grupo sobre o outro quanto aos interesses e aos usos que a

ênfase no conhecimento pode ter no currículo. Para ele,

[...] a questão do conhecimento e o papel das escolas na sua aquisição têm sido

negligenciados tanto por aqueles que tomam decisões no campo político, quanto pelos

pesquisadores educacionais, especialmente os sociólogos da educação. Para os

primeiros, uma ênfase na aquisição do conhecimento diverge dos propósitos mais

instrumentais que têm cada vez mais apoio dos governos. Para muitos pesquisadores

educacionais, uma ênfase no conhecimento mascara o ponto até o qual os detentores

do poder definem o que conta como conhecimento. (YOUNG, 2017, p. 1289).

A divergência de posições entre grupos é natural e salutar quando proporciona regulação

de forças em torno de um propósito. Contudo, ela redunda em negligência se a função do

conhecimento e da escola em sua aquisição deixar de ser o propósito último que deve ser

preservado por todos para além dos interesses particulares ou de grupos específicos. Nesse

sentido, a disputa pelo direcionamento dos processos de construção da BNCC, as críticas a ela

dirigidas por grupos antagônicos refletem a disputa de poder, mais do que o foco no

conhecimento, que é o interesse último de qualquer processo educacional.

A despeito das críticas dirigidas ao modelo de implementação, que contém aspectos de

controle e centralização, é preciso considerar que ele representa um passo para a gestão do

currículo voltada para a integração das políticas educacionais, nas quais o alinhamento de

iniciativas entre municípios, Estados e União repercutiria na reformulação da política de

formação de professores, proposição de conteúdos educacionais, avaliações sistêmicas e,

inclusive, para a construção de políticas para redefinição de infraestrutura (BRASIL, 2017).

Algo que vinha sendo discutido desde 1996, quando se estabeleceu a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDBEN). Porém, não se pode esquecer da educação vinculada, e muitas

vezes submetida, aos fenômenos contextuais, sobretudo aqueles de natureza humana e política.

Destarte, o passo dado no sentido de tornar viável a implantação da BNCC por meio da

integração da ação de vários atores coincidiu com dois eventos catastróficos para a educação.

Um interno; o agravamento da instabilidade política e administrativa no Ministério da Educação

causada pela sucessão de ministros mais preocupados com patrulhamento ideológico do que

com o desenvolvimento científico nacional; o que se confirmou pelo lamentável corte no

orçamento para a formação dos professores e investimentos na educação básica. O outro global,

Page 70: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

70

pela Pandemia de Covid-19 em 2020, que paralisou ainda mais a consecução de políticas

educacionais relacionadas à implantação de um currículo comum.

Tais circunstâncias se somam à constatação de que no decurso de 20 anos mudanças

sociais, econômicas, etc. se avolumaram no mundo todo, trazendo para os sistemas de ensino o

peso de preparar pessoas para contextos ainda mais complexos e assegurar-lhes o acesso aos

conhecimentos e às habilidades necessárias à sobrevivência em um mundo de poucas certezas.

E por isso, os atrasos nos processos educacionais no Brasil acabam por deixar aberta uma lacuna

que passa a ser preenchida por instituições e organizações da iniciativa privada, cujo discurso

tende a enaltecer o conhecimento, enquanto o fundamento de suas ações pode ser vinculado a

interesses comerciais, que, paulatinamente, atingirão o trabalho dos professores, tal qual é

percebido por Alonso ao referir-se ao processo de construção da BNCC.

E o resultado... o documento nasce um pouco caduco, o que é uma tristeza enorme

porque tem grandes avanços, mas já nasce velho. Quem está pautando a discussão

sobre isso são as editoras dos livros didáticos que vão lá e dizem, que mudam alguma

coisa e dizem que isso adequa o trabalho a BNCC e as pessoas estão aceitando isso.

(ALONSO – LC)

Alonso demonstra perceber como a morosidade do Estado interfere, inclusive, na imagem

que os professores podem fazer do documento “que nasce velho”, ou seja, descontextualizado em

relação à natureza das demandas da educação nacional e ao alinhamento com propósitos

mundiais. Nesse sentido, compreende-se que a tentativa de concentrar em um único ambiente as

informações de microgrupos de trabalho, as hipóteses de currículo de cada município ou Estado.

Ou, previamente, estabelecer parâmetros e modelos de boas práticas apontando para

possibilidades de gestão do desempenho acadêmico a partir da instauração de avaliações

sistêmicas, embora incômodo a muitas pessoas, são ações que se mostram convergentes à noção

de mudança que se pretendia a partir da homologação da Base. Mas que, diante das calamidades

e de interesses conflitivos, foi cooptada por interesses privados que orbitam em torno da BNCC.

Alonso traz como exemplo a forma como as editoras de livros didáticos se apropriaram de

determinado discurso para manterem suas vendas, por outro lado, indica que há certa passividade

nas pessoas porque aceitam tal ação com pouco ou nenhum questionamento.

Para Carvalho e Lourenço (2017), o aspecto de centralização presente nos processos de

desenvolvimento dos currículos a partir da BNCC, mesclado a discursos democráticos, transforma

tal documento em um antiacontecimento, pois, embora fosse algo esperado e necessário à educação

brasileira, devido à excessiva centralização e planificação de conteúdo, à morosidade de sua

implantação e à desconexão da realidade das escolas, se torna algo estranho que passa a ser

repudiado por um grupo significativo de educadores (CARVALHO; LOURENÇO, 2017).

Page 71: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

71

A proposição de um guia de implementação que direciona as ações posteriores à

homologação da BNCC reforça a ideia de controle mais direcionado às redes públicas, pois,

embora a plataforma criada em torno da BNCC, e nela o guia de implementação da Base, esteja

aberta a qualquer pessoa para consulta e leitura, o acesso às ferramentas de gestão e produção

do currículo é restrito e depende de e-mail e senha específica não facultada às escolas

particulares. Essa suposta condição de colaboração nas redes públicas não se replica nas escolas

particulares, que, apesar de sua suposta “liberdade” face à homologação da BNCC, não está

isenta de estabelecer seu nível de adesão ao documento e desenvolver os processos de revisão

curricular que lhe sejam pertinentes. O que poderá levar a uma significativa diferença entre a

proposição curricular de cada escola.

De acordo com o site do MEC, o guia de implementação da BNCC consta de seis macro

passos, que podem ser replicados nos níveis da educação básica, inclusive na escola particular,

com exceção do uso das ferramentas de gestão curricular disponibilizadas exclusivamente para

a rede pública. Cada um deles desdobrado em 32 ações minuciosamente comentadas e

subsidiadas por modelos de construção e sugestões de leitura. O organograma abaixo condensa

as principais informações daquele documento e apresenta de forma sintética os desdobramentos

de cada macro passo.

Page 72: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

72

Figura 1 – Síntese dos macro passos de implantação da BNCC na rede pública

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

É interessante notar que as ações que se desdobram num caminho de implantação

disposto no site do MEC e resumido na figura não excluem a possibilidade de debates e trocas

entre professores, diretores, gestores e comunidade. Bem como a proposição de versões

preliminares ao currículo definitivo da escola para considerações e à consulta pública demonstra

possibilidades de diálogo, embora restrito a um modelo, enquanto a retomada do que já é

vivenciado pelas escolas em seu projeto político pedagógico constitui o vínculo com a

identidade da escola. Contudo, isso parece não repercutir como algo favorável em alguns

•Articular um regime de colaboração

•Articular um regime de colaboração

•Estabelecer uma governança

•Planejar o processo de implementação

•Compor equipes

•Planejar e iniciar mobilização e comunicação.

•Estabelecer uma governança

•Planejar o processo de implementação

•Compor equipes

•Planejar e iniciar mobilização e comunicação.

1 - Definição da estrutura de governança.

•Estudar conceitos, concepções e metodologias

•Levantar histórico curricular do estado e documentos atuais

•Definir diretrizes para a (re)elaboração curricular

•Sistematizar e apresentar os estudos e definições de diretrizes.

2 - Estudo das referências

curriculares.

•Compor grupos de trabalho

•Construir uma versão preliminar

•Realizar consultas públicas

•Sistematizar as contribuições para a proposta curricular

•Enviar a proposta curricular aos conselhos de educação.

3 - Reelaboração curricular.

•Definir premissas de qualidade para uma formação continuada alinhada aos novos currículos

•Definir governança

•Realizar diagnóstico

•Planejar a formação

•Executar a formação

•Monitorar a formação

•Avaliar e replanejar a formação.

4 - Formação continuada para

os novos currículos.

Page 73: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

73

setores. Como se não houvesse, mesmo nos espaços e movimentos mais impositivos,

possibilidades para a resistência, a inovação ou as transgressões. É o que se confirmou no relato

de Alonso, professor de linguagens, ao narrar o processo de estudo e apropriação da Base em

sua área.

Eu sou ... isso eu sou muito crítico ao documento da BNCC, sobretudo na minha área.

É um documento imenso, cheio de conteúdo... no ano passado a gente fez um trabalho

absurdo lendo cada habilidade. [...] Primeiro, o grande número de habilidades que

torna o trabalho de filtragem do professor inglório. Se isso é difícil numa escola

particular onde temos o suporte, imagina numa escola pública. (DIEGO – LC)

O aspecto da apropriação e da mesclagem também fica evidenciado no relato de Alonso,

professor de linguagens, ao narrar o processo de estudo e apropriação da Base em sua área.

Já desde que eu estava no 7º ano eu comecei a participar de algumas rodas de

discussão que o colégio promovia e a gente discutia a BNCC, e já no ano passado

(2019) foi uma discussão muito mais detida sobre a BNCC, a matriz da escola. O que

acontece é que minha disciplina é o Espanhol, e... e a minha disciplina está fora da

BNCC. O que que ali no colégio a gente teve que fazer, a gente fez uma matriz baseada

na matriz da BNCC, mas a gente teve que partir do zero. Então, a nossa construção

foi mais ou menos assim. Então, dentro das habilidades que a gente tinha que

contemplar a gente procurou também contemplar essa parte, então, a gente tem muito

o desenvolvimento do ensino dos gêneros digitais, a gente trabalha muito com isso,

em relação aos gêneros tradicionais. (ALONSO – LC)

Considerando que “a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de

caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais

que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica”

(BRASIL, 2019, p. 5), tantos a rede pública quanto as escolas privadas estariam vinculadas à

normatividade desse documento e às determinações do Conselho Estadual de Educação (CNE).

Contudo, as instituições particulares poderiam escolher entre o modelo de implantação proposto

pelo Ministério da Educação, quanto pelo CNE, ou instituir outros processos mais alinhados às

particularidades de sua identidade. Nota-se na fala dos dois professores que a adesão à Base

documento não é isenta, ao contrário, há uma crítica que nasce dos processos de estudo e

aproximação, que, por sua vez, repercutem na remodelagem curricular.

É interessante notar que, nas duas falas, há referências à natureza da instituição,

indicando que essa aproximação, seja pelo processo de filtragem das habilidades, seja pela

construção de uma matriz de habilidades para um componente curricular que perdeu sua

validade na BNCC, teve condução indicada. Ou seja, havia uma liderança por parte da gestão

da escola. Considera-se que a natureza e a função do currículo provocam um ambiente

competitivo, no qual o desempenho acadêmico do estudante e o ranqueamento das escolas a

partir do resultado no ENEM podem significar a atração de novos clientes, ou a perda de espaço

para os concorrentes. Notou-se que as instituições particulares desenvolveram processos de

Page 74: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

74

implantação da Base coerentes com sua identidade e, em alguns casos, margeavam a

metodologia proposta no site do MEC, incluindo ou suprimindo passos de acordo com os

propósitos de cada instituição, como explicitado nas falas de Diego e Alonso. A visita aos

espaços virtuais abertos dessas instituições, bem como dos institutos e das empresas que lhes

fornecem apoio, permitiu identificar as ações mais coincidentes, tal qual disposto no

organograma abaixo.

Figura 2 – Processos de implantação da BNCC nas escolas particulares

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

É interessante notar que há uma aproximação com a proposta de implantação feita pelo

MEC à rede pública, porém, quando tais informações são publicizadas em sites e documentos

institucionais, não contém detalhamento, tampouco apresenta a esfera de responsabilidade por

cada ação. É comum que a escolas particulares sejam mais restritivas quanto à publicização de

suas propostas curriculares, ou quanto às formas de gestão curricular, por compreenderem que

o currículo é “parte do segredo do seu sucesso comercial”, mesmo sabendo ser impossível

ocultar as ações decorrentes de uma redefinição curricular porque elas se desdobrarão em

práticas pedagógicas. Publicizá-las por inteiro significaria estar mais sujeito ao julgamento

direto, ao passo que poderia ser mais difícil para sua clientela, pela interpretação das práticas,

inferir completamente sua proposta curricular. É o que transparece na fala de Glícia, ao ser

questionada sobre o porquê de os processos de recomposição curricular não estarem

publicizados no site da escola.

1• Estudo das versões da BNCC por parte dos gestores

escolares.

2

• Definição dos critérios de reelaboração do programa curricular guardando a identidade institucional ou carisma religioso da escola.

3• Formação de comissões de trabalho compostas por

professores e coordenadores para estudo da BNCC.

Page 75: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

75

Tem uns cinco anos que a escola vem investindo muito em formação para o

entendimento da BNCC e para a inclusão da tecnologia, e isso fez o colégio avançar

muito. Vamos incluindo e avaliando as competências, porque a mudança precisa ser

processual, confirmando a validade para não “assustar” a comunidade. (GLÍCIA – MT)

O tempo largo de aproximação com a Base revela a existência de um propósito

institucional consistente que não gere instabilidades na comunidade. Visto que, para a escola

particular, a conquista e a manutenção de sua clientela redundam num dos principais desafios

de sustentabilidade. Por isso, não declarar publicamente os processos de reconstrução curricular

pode funcionar como medida de autoproteção face às críticas que podem suscitar, por isso,

compreende-se que tais processos transcorram internamente, sob o controle da gestão e com

menor abertura para consultas públicas, ou negociação de propostas com a comunidade

educativa. Em contrapartida, o fato de haver um manual de implantação público no site do MEC

não garante que as redes a ele associadas seguirão criteriosamente cada passo, apesar dos

mecanismos de controle possíveis em um sistema compartilhado de gestão curricular. Por isso,

é possível inferir que, entre o que é publicado e o que é vivido, seja na escola pública, seja na

escola privada, pode haver distâncias.

Ainda de acordo com o Gráfico 1, o alto índice de professores que iniciaram os estudos

da BNCC indica que, embora não declarado publicamente, há movimentos internos à escola

particular para apropriação daquele documento. Há que se considerar também o fato de que

muitos professores atuam paralelamente nas redes públicas e particulares, o que já causa,

naturalmente, um intercâmbio de conhecimentos, estratégias e informações que repercutirá na

aproximação de alguns processos como se confirma na fala de Jonah, professor de Ciências

Humanas – História.

Para adequar-se à BNCC, primeiro o colégio promoveu um percurso formativo com

o corpo docente, ainda antes de sair a versão final, a gente começou a estudar a base,

e aí aconteceram... a gente fez uma série de oficinas de formação. Aí, depois, cada

área de conhecimento ficou responsável por produzir sua matriz a partir da BNCC, o

trabalho foi feito de forma coletiva e orientada, primeiro com um percurso formativo

e depois os professores de cada área se reuniram e produziram a partir das orientações

dadas na BNCC. Houve um percurso formativo, com oficina. Cada professor foi

convidado a estudar o texto, mas o diretor pedagógico coordenou o processo e

apresentou a base a partir de oficinas. (JONAH – CH)

É possível notar, pelas narrativas presentes, que a escola estabeleceu processos de

aproximação, conhecimento e apropriação da BNCC que foram desde um estudo inicial

passando pela reconstrução das habilidades até chegar à testagem de competências, o que

demonstra um processo articulado, que não exclui a criticidade em relação àquele documento,

aos movimentos externos em torno dele, tampouco em relação à própria escola.

Page 76: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

76

Contudo, há uma ausência nos discursos quanto à possibilidade de os estudantes e as

famílias participarem do processo de reconstrução curricular. Permitindo inferir uma concepção

de reconstrução curricular na qual a comunidade composta pelos alunos e pelas famílias talvez

não tenha tido oportunidade para manifestar-se quanto aos elementos de seu interesse a compor

o currículo do Ensino Fundamental. Apesar de as consultas públicas e o diálogo com a

comunidade terem sido altamente indicados no programa de implantação do MEC para todas

as redes.

4.3.1 O planejamento a partir da BNCC. Com ou sem mudança?

Embora tenha sido constatado que a escola particular estabeleceu processos de

aproximação com a BNCC e de reconstrução curricular, não existe garantia de que o ensino por

competência seja algo plenamente conhecido e aceito pelos docentes. Sem contar que o

estabelecimento de competências gerais como horizonte de desenvolvimento exige uma

abordagem didático-metodológica que leve em conta a prática, a experimentação e a vivência

do estudante. E, portanto, seria necessário estabelecer outras formas de planejamento que

questionassem a geografia tradicional das salas de aula e as ações didáticas transmissivas

comuns a muitas escolas, bem como a autonomia e o protagonismo vivenciados por professores

e por estudantes, além do papel dos professores e dos estudantes nesse processo.

O Gráfico 2 demonstra que a quantidade de professores que utilizam tal documento na

composição de seus planejamentos e a frequência desta utilização são relevantes por indicar a

capilaridade desse documento na escola. É significativo que 24 respondentes utilizem o

documento com frequência e os demais, ou seja, cinco o utilizam parcialmente, o que significa

que a BNCC se faz presente de alguma forma no cotidiano de todos os professores respondentes

influenciando suas práticas pedagógicas. Para Badia e Monereo (2010), o planejamento didático

é relevante na identificação de mudanças nas práticas de ensino porque compreende o “conjunto

de operações, prévias à execução de uma atividade global ou projeto, em que se antecipam

detalhamento as tarefas a realizar”. E, embora saibamos a fragilidade dos planejamentos frente

à vivência real da sala de aula, ainda assim, é nele que instrumentos, metodologias e recursos

são estabelecidos dando indícios do repertório que pode se constituir na organização lógica de

determinada unidade didática. Portanto, se a BNCC faz alusão direta em duas competências às

TDICs, é esperado que um planejamento aproximado à natureza daquele documento também

considere as tecnologias.

Page 77: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

77

Gráfico 2 – BNCC nos planejamentos dos entrevistados

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

A utilização da BNCC no planejamento didático pode significar que a escola já tenha

alcançado ou ultrapassado o passo 6 da implantação, pois, nos dados posteriores, fica claro que

a escola promoveu momentos de estudo e processos de revisão curricular. E, portanto, a

integração da BNCC aos planejamentos pode significar uma mudança na abordagem dada ao

trabalho haja vista a organização interna dela, as 10 competências gerais formam um grande

“guarda-chuva” sob o qual se organizam as habilidades específicas de cada área do

conhecimento e de cada componente curricular, articulando os objetos do conhecimento de

modo transdisciplinar.

Embora na BNCC a noção de competências seja o eixo organizador do documento, não

há nele uma teorização ou definição extensa do que seja isso. Tampouco uma explicitação do

tipo de mudança didática que deveria se operar para que, efetivamente, se consolide como

expressão de competências “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos),

habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas

complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”

(BRASIL, 2019, p. 8). Tal ausência torna-se incômoda por indicar a suposição que este seja um

conhecimento alcançado pelos professores, ou que os processos de formação previstos viessem

a homogeneizar tal conhecimento. Algo que se tornará ainda mais difícil considerando o

cancelamento de recursos para a formação de professores empreendido pela gestão nacional

eleita em 2018.

Soma-se a essa dificuldade o fato de que o conceito de competência, por sua

complexidade, apresenta difícil transposição para o ambiente do ensino básico, porque sua

composição envolve a articulação de conhecimentos e capacidades diversas aplicados em

24

5

0

0

0 5 10 15 20 25 30

Utilizo com frequência.

Utilizo parcialmente.

Utilizo raramente.

Não utilizo.

Utiliza a BNCC em seus planejamentos?

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78

atividades significativas em contextos variados de práticas para a solução de problemas

(MAURI; ONRUBIA, 2010, p. 135).

Para entender o tipo de modificação estrutural que a abordagem por competência

causaria ao planejamento didático e, por fim, à prática pedagógica, é necessário compreender

competências como um conjunto de potencialidades, sob as quais se construirão os

desempenhos, pois são modalidades estruturais da inteligência que dependem de

contextualização, conhecimento específico e prática. Logo, parte-se do princípio de que são

inerentes ao estudante e que as situações de aprendizagem devem alcançá-las, mobilizá-las,

desenvolvê-las por meio da ação do próprio estudante sobre o objeto de conhecimento, o que

se contrapõe a práticas tradicionais transmissivas, algo que foi identificado na fala de Diego, ao

relacionar à aceleração nos processos de mudança da escola ocasionados pelo ensino remoto,

com o estudo da BNCC.

Eu acho que o que a gente faz dentro da educação é feito há 200 anos... Então a gente

tem aquela organização, todos sentados enfileirados olhando para o professor. Já

sabíamos que isso não funcionava antes mesmo do estudo da BNCC, mas durante a

pandemia ficou evidente que esse processo não funciona mais, a gente precisa rever,

e as escolas trabalharam para que a gente tivesse uma adequação, que a gente levaria

10 anos se o movimento fosse feito normalmente, e a gente teve que fazer isso em 5

meses. (DIEGO – LC)

Nota-se que o professor identifica a contradição entre práticas tradicionais e a

necessidade de mudança que se iniciou com o estudo da BNCC e, posteriormente, com o ensino

remoto, mas não trata diretamente das ações didáticas que poderiam gerar competências. O

silêncio do professor nessa direção pode indicar alguma dificuldade específica com esse

conceito, vindo a concordar com Mauri e Onrubia (2010).

De acordo com Dias (2010), para obter um planejamento didático organizado por

competência, o professor deve pensar como será problematizado cada objeto de aprendizagem,

como se integrará ao contexto do estudante e, sobretudo, quais habilidades cognitivas serão

mobilizadas e consolidadas a partir da interação com o objeto de conhecimento. Portanto, uma

aprendizagem por competência não pode assentar-se sobre uma concepção nem conteudista

nem tarefeira, mas na ação significativa e consciente sobre o objeto de conhecimento

contextualizado (DIAS, 2010). Algo identificado por Glícia ao falar do seu planejamento:

Para mim, pensar em planejamento e competências tem que saber tanto o lugar que as

tecnologias vão ocupar na aula quanto outros elementos que interferem diretamente no

processo de pensar e processar o conhecimento. Eu utilizo a BNCC em meus planejamentos

parcialmente. Nem tudo eu consigo usar, mas a vantagem de pensar habilidades em minha

área de conhecimento está nas aplicações práticas. Por isso, eu considero que este documento

representa um avanço em relação aos outros. (GLÍCIA – MT)

Page 79: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

79

Sabe-se que nem todo conhecimento produzido pela humanidade tem aplicação prática

direta, o que não retira dele sua validade, visto que são abstrações que sustentam a organização

lógica de outras ideias. Todavia, na fala da professora, a aplicação prática pode se relacionar ao

vínculo com o contexto da produção do conhecimento. Por meio do planejamento, pensar nos

elementos que interferem na construção de habilidades e competências significa transcender a

noção prescritiva conteudista, passando pela vivência de sequências didáticas formativas, ricas

em experiências, na qual a função do conhecimento estivesse articulada aos propósitos de cada

pessoa e se refletisse em novas práticas sociais. Dias (2010) desenvolve um artigo no qual faz

um levantamento bibliográfico que subsidia a compreensão do conceito de competência, desde

a etimologia até a aplicação nas áreas da Administração, Psicologia e Educação. Para ela, um

planejamento por competência deveria alicerçar a escola nos valores educativos do século XXI,

mobilizando o estudante a aprender em interação, a utilizar o conhecimento como meio

possibilitador para ações transformadoras no mundo (DIAS, 2010). Percebe-se nisso um

deslocamento no papel dos conteúdos escolares, mas não uma diminuição da sua importância.

Nesse sentido, o professor respondente Paulo, ao referir-se ao seu processo de planejamento,

destaca a observação contextual e a sintonia com o alunado e a integração com a tecnologia

como prática anterior à BNCC e também pano de fundo do seu planejamento.

No caso da BNCC não me afetou tanto no planejamento, exatamente porque eu já...

já vinha fazendo esse movimento de usar a tecnologia pensando o que o aluno está

fazendo, qual é o interesse dele, o que ele constrói quando está em algum ambiente.

(PAULO – CH)

Percebe-se, pela fala do professor, que o aspecto da contextualização concernente ao

ensino por competência é algo a ser destacado, mas que já fazia parte da prática de uma parcela

do professorado. Cabe, então, destacar o aspecto da flexibilidade necessária quando a

organização curricular parte do princípio da escuta ou da investigação do interesse do alunado

para vincular nele outros aspectos relevantes. Recorda-se, assim, que Shoffner (2018) amealha

proposições entre autores de vertente mais pragmática em relação ao planejamento por

competências. Ele destaca que a escola está a lidar com uma geração de jovens fechada em seus

quartos, marcada por valores urbanos, distanciada das brincadeiras coletivas, na rua, cada vez

mais vinculadas ao uso de tecnologias. Para esses estudantes, o movimento transmissivo já não

fará sentido, visto que estão acostumados a escolher e acessar o que lhes interessa aprender, e

que tal aprendizagem é, muitas vezes, alicerçada num senso de prazer imediato.

O que nos faz pensar que o planejamento por competências deve levar em conta a

fragmentação das fronteiras disciplinares e a queda das linearidades nos processos de ensino,

que permitam acolher o conhecimento prévio do grupo, integrar seus interesses, criar práticas

Page 80: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

80

que transcendam a organização de tempos e espaços de aprendizagem, além de elementos de

comunicação e motivação que possibilitem “capacitar o aprendente para o pensamento racional

e crítico, para a solução de problemas reais, e para a tomada de decisões importantes, com uma

sólida capacidade de avaliação crítica da informação disponível” (SHOFFNER, 2018, p. 12).

Conforme indicada no Gráfico 2, a utilização da BNCC nos planejamentos por parte dos

professores pode indicar uma adesão à abordagem por competência, por parte da escola, uma vez

que a organização por áreas de conhecimento e a proposição de habilidades a serem consolidadas

já norteiam a definição de processos de ensino, conforme será debatido posteriormente.

Considerada como ponto de convergência entre sociedades e culturas, uma das questões

mais significativas trazidas pela BNCC é a função da tecnologia nos processos educativos, uma

vez que elas estão intimamente relacionadas à produção e à aplicação do conhecimento. Para

Castells, atualmente, vive-se uma espécie de revolução, causada pelo desenvolvimento das

Tecnologias Digitais de Comunicação e de Informação (TDICs) que passaram a permear todas

as esferas da sociedade e a imprimir mudanças na forma como se constrói, se acessa e se

ressignifica o conhecimento, o trabalho e as relações humanas. Para o autor,

[...] o que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de

conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa

informação para a geração de novos conhecimentos de dispositivos de

processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação

cumulativo entre a inovação e seu uso. (CASTELLS, 1999, p. 69).

Tal revolução tem como marco o advento e a popularização de computadores pessoais,

de dispositivos móveis e da internet (CASTELLS, 1999, p. 21). Para esse estudioso, vive-se

numa sociedade da informação marcada pelo modo informacional de desenvolvimento, na qual

as TDICs são consideradas indispensáveis para a manipulação da informação e a construção do

conhecimento, tendo em vista que “geração, processamento e transmissão de informação torna-

se a principal fonte de produtividade e poder” (CASTELLS, 1999, p. 21).

Pode-se dizer que já não há nenhuma esfera da vida humana que não tenha sido “tocada”

por tais tecnologias e por elas tenham sido transformadas de alguma forma. Exemplo disso é o

dado presente no relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2018, o

qual indica que 74,9% dos domicílios da nação brasileira têm acesso à internet, e 93,2% dos

domicílios contam com pelo menos um aparelho de celular (IBGE, 2018). O número expressivo

induz pensar que mais pessoas passaram a ter acesso à informação e contato com elementos

modificadores de sua cultura. Já a pesquisa da CETIC 2019, cujos dados foram publicados no

início de 2020, indicava que 133,8 milhões de brasileiros são usuários da internet e que o celular

é o dispositivo mais usado pelos brasileiros. A pesquisa também indica que houve um

Page 81: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

81

crescimento no acesso às TDICs em áreas rurais, mas que a desigualdade social continua sendo

um dos dificultadores da inclusão digital do brasileiro.

Esses movimentos repercutiram na escola, contudo, não como movimento uniforme. Se

a tecnologia se transforma em ponto de convergência na sociedade e se cabe à escola incorporá-

la ao ensino para finalidades inclusivas, é necessário pensar na forma como a tecnologia integra

as propostas curriculares e quais competências estão associadas à sua apropriação.

Considerando o cenário no qual se articula a abrangência do uso das TDICs pela sociedade

contemporânea e o fato de elas possibilitarem uma nova “ecologia cognitiva” (LÉVY, 1993, p.

137) e o emblemático papel da escola na apropriação, reflexão de uma cultura que inclui um

novo modo de pensar sobre a informação e o conhecimento, durante esta pesquisa, buscou-se

compreender como os professores percebiam, na BNCC, o tratamento dado à tecnologia.

4.3.2 Práticas de ensino que integram tecnologia, antes e depois da BNCC

Tendo como foco do objeto de estudo desta pesquisa as competências quatro e cinco da

BNCC, nas quais há uma proposição direta de formação de competências e de habilidades

relacionadas às tecnologias, e dentro delas especificamente as TDICs, e partindo do princípio

de que uma mudança curricular repercutirá nas práticas pedagógicas, entende-se ser necessário

identificar as práticas relacionadas à tecnologia protagonizadas pelos professores antes e depois

da implantação da BNCC, por isso, parte-se de uma contextualização, buscando identificar as

percepções de mudança entre os professores. Pois, a percepção de mudança oferece indícios,

mas não pode ser generalizada, por estar vinculada às experiências anteriores e à subjetividade

dos respondentes.

Gráfico 3 – Integração da tecnologia na educação

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

10

14

5

0

Considero que houve um avanço significativo.

Considero que houve um avanço razoável.

Considero que o avanço foi pouco.

Considero que não houve avanço.

Você considera que a BNCC representa um avanço no que tange à integração da tecnologia à educação se comparada com outras

proposições curriculares?

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82

O Gráfico 3 apresenta a percepção dos professores respondentes quanto às

possibilidades de avanço ou não na integração de tecnologia à educação a partir da BNCC em

comparação com outras proposições curriculares. Sendo que há uma predominância de

respostas identificando avanço razoável – 14 de 29. Dez consideraram que há um avanço

significativo, enquanto que apenas cinco consideram que houve pouco avanço e nenhum

afirmou que não houve qualquer avanço. É curioso notar que, nesse mesmo conjunto de

professores, 93% dos respondentes afirmam que a integração da tecnologia ao trabalho

pedagógico é anterior à BNCC, contra apenas 7%. Ou seja, é possível que tal integração

corresponda a alguma repercussão dos PCNs nas proposições da escola ou, ainda, que seja o

movimento e a apropriação de ferramentas mais potentes para criação, armazenamento ou

difusão do conhecimento nas escolas privadas, o que se mostra coerente também com a maior

permeabilidade das TDICs na sociedade. Em princípio, cogitou-se a possibilidade de os

professores perceberem pouca diferença entre os dois documentos no que diz respeito à

tecnologia. E, talvez por isso, considerem como razoável ou pouco o avanço em relação às

proposições curriculares anteriores. Entretanto, o professor respondente Alonso trouxe à tona

outra questão:

A produção governamental dentro da área da educação ela sempre foi muito boa, se a

gente pegar os parâmetros, que são bem anteriores a gente vê que é uma produção

consistente. O problema não é ter quem pense sobre a educação, é colocar isso na

prática e a gente vê que tem coisa que está aí há muito tempo, como no caso dos

parâmetros e a gente vê que não foram colocados em prática integralmente nem na

escola pública nem na particular. (ALONSO – LC)

O professor Alonso deixa transparecer que, para notar a diferença entre os dois

documentos, para além do conhecimento teórico, é necessário que sejam transformados em

políticas públicas ou em ações de planejamento estratégico que se desdobram na prática. Há

que se considerar também a significativa mudança contextual ocorrida no Brasil em relação à

tecnologia no intervalo temporal entre os dois documentos. Algo que será mais amplamente

discutido a posteriori. Mesmo que a tecnologia permeie mais fortemente a sociedade agora do

que há duas décadas, não quer dizer que o mesmo fenômeno tenha acontecido com a mesma

intensidade nos processos didáticos e na escola como um todo. Por isso, compreende-se que as

respostas se tornam mais significativas ao contrastarmos a BNCC com os documentos

anteriores, no que tange à tecnologia. Para tanto, será necessário retomar brevemente o histórico

das proposições curriculares no Brasil.

Dando segmento ao tópico anterior, serão tratados dois aspectos relevantes para este

estudo: a evolução nos documentos normativos e como o vínculo com a tecnologia está presente

Page 83: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

83

neles. Toma-se como referência o ano de 1920 como marca para o início dos estudos

curriculares no Brasil, influenciado pelo Movimento Escola Nova, que se intensificam após a

queda do Estado Novo, em 1945, e se consubstanciam no primeiro Projeto de Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional, em 1948. Aprovada em 1961, a Lei n. 4.024 apresentava forte

defesa da escola pública, sendo considerada a primeira LDB brasileira. O documento vigorou

até a instauração do regime militar de 1964, que implantou a segunda LDB, quando foram

promulgadas as leis n. 5.540/1968 e n. 5.692/1971, que remodelaram a estrutura do ensino

fundamental e do ensino superior, vinculando a educação aos planejamentos econômicos

globais como forma de contribuir para o desenvolvimento econômico do Estado em

atendimento aos mercados de trabalho (BONAMINO; MARTINEZ, 2002, p. 371). O fim do

regime militar em 1985 e a implantação da Constituição de 1988 inauguram uma nova fase para

os debates curriculares no Brasil. Nela, o artigo 210 prevê que “serão fixados conteúdos

mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito

aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais” (BRASIL, 1988a). Paralelamente, no

campo acadêmico, são desenvolvidos estudos diversos que geraram acervo de conhecimentos

que virão a subsidiar a elaboração de pareceres e análises de propostas curriculares (SAVIANI,

1994; MOREIRA; SILVA, 1994), redundando, nos anos de 1990, na Lei n. 9.394/1996.

Conhecida como Lei Darcy Ribeiro, ela institui a nova LDB com uma grande novidade: os

Parâmetros Curriculares Nacionais, cujo primeiro volume é apresentado à sociedade somente

em 1988. Entre outros destaques, esse documento traz um capítulo inteiro dedicado às

Tecnologias da Comunicação e da Informação. Nele são discutidas as possibilidades e as

aplicações pedagógicas inerentes a cada recurso tecnológico disponível à escola básica naquele

momento, e são apresentados os riscos de exclusão associados às desigualdades de acesso a

eles, dentro e fora da educação.

Ao considerar a diversidade do contexto educacional em um país continental, como o

Brasil, no qual seria preciso considerar escolas isoladas no interior, e o acentuado crescimento

das cidades, intuía-se que, embora de modo descontínuo, a tecnologia chegaria à escola, pois já

se constituía elemento cultural apropriado pela juventude, sobretudo urbana, caracterizada

naquele momento em sua “[...] pouca capacidade crítica e procedimental para lidar com a

variedade e quantidade de informações e recursos tecnológicos” (BRASIL, 1988b, p. 139).

Portanto, caberia à escola ajudá-los a compreender o novo contexto, bem como assumir uma

atitude mais crítica diante dos conteúdos midiáticos, pois, “conhecer e saber usar as novas

tecnologias implica a aprendizagem de procedimentos para utilizá-las e, principalmente, de

habilidades relacionadas ao tratamento da informação” (BRASIL, 1988b, p. 139).

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84

No Brasil, o documento PCN pode ser considerado pioneiro por trazer para o campo

pedagógico o debate relativo à articulação entre educação, desenvolvimento humano e tecnológico.

Nele fica expressa também a preocupação com as possíveis exclusões, pois constatar que os meios

estão disponíveis em praticamente todo o território nacional não quer dizer que repercuta em

democratização do acesso à informação “e muito menos que os cidadãos contemporâneos tenham

conhecimento crítico do mundo em que vivem” (BRASIL, 1998b, p. 136).

Há também, no documento PCN, uma constatação, indicando que, “embora a realidade

nacional esteja longe de corresponder a uma sociedade tecnológica, é inegável o fato de que se

vive um processo irreversível de acelerado desenvolvimento tecnológico, que traz consigo

mudanças consubstanciais para a vida em sociedade e nas formas do trabalho humano”

(BRASIL, 1998b, p. 137). Existe, nessa afirmação, uma concepção de tecnologia ancorada à

ideia de inovação, o que nem sempre se revela como verdade, visto que toda sociedade é

tecnológica e que o nível de desenvolvimento do seu processo tecnológico é relativo às

contradições que vivenciou em seu embate pela sobrevivência (PINTO, 2013a). O que torna

muito expressivo ao se considerar que a publicação dos PCNs se dá poucos anos após a abertura

política. Para o mesmo autor, “o conceito de ‘era tecnológica’ encobre, ao lado de um sentido

razoável e sério, outro, tipicamente ideológico graças ao qual os interessados procuram

embriagar a consciência das massas” (PINTO, 2013a, p. 41). Dando a impressão de que o

momento atual é sempre mais relevante que o anterior para o conhecimento e a tecnologia,

redundando numa abordagem novidadeira que não considera a dialética dos processos

históricos.

É curioso notar que tal fenômeno esteja expresso em um documento normativo de

organização curricular que também expressa a preocupação com um acelerado processo de

incorporação de tecnologia ao mundo do trabalho e das comunicações porque isso poderia

acentuar as desigualdades existentes caso não houvesse, por parte da escola, um trabalho

consistente. A esse respeito, seria assertivo, para além dos aspectos normativos, estabelecer

políticas públicas que repercutissem na formação dos professores para tal realidade e na

melhoria geral da materialidade das escolas.

Na época de sua publicação, o documento PCN sofreu críticas pela forma como fora

construído e por articular o aspecto tecnológico com o mundo do trabalho, em detrimento de

outras possibilidades vinculadas a esse aspecto. Mas, sobretudo, por não considerar as TDICs

como recurso associado ao ensino, mais do que como elemento cultural que vinha mudando a

forma como se produzia, distribuía informação e conhecimento, reconfigurando o mundo do

trabalho que poderia ser refletido e apropriado como objeto de conhecimento. A inclusão tímida

Page 85: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

85

das tecnologias naquele documento sendo descritas e apresentadas em suas funcionalidades

revela também o reconhecimento de que a maioria das escolas não estavam preparadas com a

materialidade necessária, nem os professores formados para uma ação mais integrativa da

tecnologia. O que, de certo modo, pode ser associado à não priorização da educação nas macro

políticas de desenvolvimento ao longo do regime militar e também após a abertura política. Por

isso, partia-se do princípio de que as TDICs eram “ferramentas” submetidas ao ensino que

viriam a potencializá-lo, mas sem que estivesse expresso seu valor cultural como objeto de

conhecimento relevante para a formação de novas competências e inteligências. O professor

respondente Paulo nota essa diferença dentro de sua prática ao narrar a transformação de sua

relação com o laboratório de informática.

Eu levava o aluno para o laboratório de informática, era só eu que falava,

independentemente da dificuldade que o grupo apresentava. E muitas vezes eu levava o

aluno para lá para digitar um texto, ou seja, neste caso eu só estou transferindo, mas eu

não tô fazendo uso refletido daquilo. Agora não; eu faço uma tentativa de atingir as

várias inteligências que estão dentro da sala de aula, a tecnologia me ajuda nisso... nem

todo mundo vai digitar... afinal alguns são mais sonoros, outros visuais. (PAULO – CH)

A percepção de mudança acentuada pelo professor Paulo não é colocada em relação ao

PCN e à BNCC, mas em relação à própria experiência, denotando que há uma evolução na

relação com o alunado que é proporcional à mudança no uso dado à tecnologia, pois a partir do

momento em que considera a diversidade de potencialidades presente em sua aula, criam-se

estratégias para individualizar as estratégias, ressaltando que é nessa ação que a tecnologia lhe

ajuda. É possível notar que o laboratório de informática foi usado nos dois momentos, contudo,

há uma mudança de abordagem de uma prática autocentrada para o desenvolvimento de

inteligências. Nos dois contextos, a tecnologia é meio, mas no segundo momento com uma

finalidade mais clara dirigida ao benefício do estudante. O professor respondente Alonso faz

identificação semelhante ao falar do uso da lousa digital:

Tanto que as lousas saíram, e elas foram substituídas efetivamente pelos projetores

multimídia, porque os professores não usavam todas as funcionalidades. Então, eles

só pensavam na transposição da ferramenta, né... antes usava uma lâmina de projetor

e depois passou a usar a multimídia. Mas a gente não tinha essa iniciativa de pensar,

eu vou usar a tecnologia e ela vai ter um propósito dentro da aula que eu tô fazendo.

Isso não acontecia. (ALONSO – LC)

Nota-se um paradoxo na fala do professor Alonso, visto que o professor demonstra uma

maior consciência em relação à forma como ele e seus colegas integram as TDICs nas aulas,

acontece a retirada das lousas digitais que poderiam ser de grande ajuda no trabalho com textos

multimodais. Ter um propósito significa construir uma intencionalidade relacionada ao que se

pretende construir junto ao estudante, o uso completo das funcionalidades de determinada

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86

tecnologia dependerá desse propósito que articula a ferramenta a uma nova forma de pensar e

construir as coisas.

A reflexão sobre a prática trazida por esse professor pode refletir os efeitos dos

processos formativos associados à reconstrução curricular. Pode-se considerar que a principal

inovação presente no quinto capítulo dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) tenha sido

o reconhecimento de que, sobretudo, o uso do computador na educação admitia a mudança na

forma como seria construído o conhecimento a partir de então. No entanto, para tal, caberia

modificar o modo como se ensinava. O que se constituía em um paradoxo, pois a maioria das

escolas e professores estavam despreparados técnica e materialmente para criar situações de

aprendizagem nas quais a simultaneidade, o acesso e o processamento da informação, a

possibilidade de autorregulação seriam modificados. Apesar disso, os PCNs se tornam um

marco de relevância nacional ao tratar explicitamente do uso das TDICs na educação, em seu

rastro, instalam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2000 e 2006, nas quais não há a

mesma ênfase às TDICs.

Durante a coleta das narrativas, percebeu-se que a integração de tecnologia às práticas

pedagógicas, nas escolas particulares, não estava diretamente relacionada a uma

obrigatoriedade trazida pelos PCNs, mas a uma adequação da escola ao contexto sociocultural.

Porém, os professores ressaltaram que houve um incremento da integração de tecnologias às

práticas pedagógicas após a homologação da BNCC. Como percebe-se nas declarações da

professora respondente Seth: “integramos as TDICs nas aulas muito antes da BNCC” (Seth –

CL). Enquanto a professora respondente Cristiane diz: “o colégio já utilizava tecnologias antes

da BNCC, mas houve uma grande evolução depois dela. Tem uma preocupação da escola ser

digital” (CRISTIANE – MT). Enquanto a professora respondente Glícia complementa: “O

colégio já utilizava as tecnologias em seu planejamento, mas existe uma grande evolução a cada

ano” (GLÍCIA – MT). Contudo, nota-se que as percepções não são uniformes. “Antes da BNCC

era pontual, superficial, somente alguns professores, era quase nulo” (DENISE – MT).

Compreende-se que os PCN e a BNCC apresentam aspectos comuns e distintos.

Enquanto os Parâmetros se colocavam como um referencial, a Base é um documento de caráter

normativo, e a concepção de integração de tecnologia presente nela reflete parte das mudanças

relativas à cultura digital, neste país, nos últimos 30 anos. Nesse sentido, a Base expressa a

preocupação de alinhar o ensino brasileiro a um contexto mais amplo, no qual a tecnologia é

conceito, objeto de conhecimento, recurso e meio na produção e na divulgação do conhecimento,

bem como na construção de culturas e modos de vida, comércio e política. Por isso, a tendência

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87

mediana é expressa no Gráfico 3 no que diz respeito à percepção da evolução entre os dois

documentos em relação à tecnologia.

As percepções conflitantes entre os professores podem decorrer, ainda, de uma

incompreensão relativa à mudança de abordagem dada à tecnologia na BNCC. Pois, é possível

que houvesse, mesmo antes dos PCNs, esforços em muitas escolas, no sentido de trazer a

tecnologia para a sala de aula, porém, no conjunto da educação nacional, não se pode dizer que

isso tenha se transformado numa unanimidade. Tampouco, que a presença da tecnologia nas

escolas transformasse imediatamente as práticas. Por outro lado, percebe-se que os professores

demonstram uma noção de progresso nesse aspecto ao considerarem o intervalo temporal entre

os PCNs e a BNCC. A partir do levantamento de palavras-chave dentro das entrevistas,

elencamos quais tecnologias se faziam presentes nas práticas pedagógicas dos respondentes

antes e depois da homologação da BNCC.

Tabela 1 – Elenco de tecnologias incluídas pelos respondentes nas práticas pedagógicas

antes e depois da BNCC

TECNOLOGIAS INCLUÍDAS PELOS RESPONDENTES NAS

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ANTES E DEPOIS DA BNCC

Antes da BNCC

Livro didático 4

Retroprojetor 2

Projetor multimídia 1

Computadores 3

Lousa eletrônica 2

Kit de robótica 3

Depois da BNCC

Livro didático 4

Computadores 4

Kit de robótica 1

Tablets 2

Projetor multimídia 2

Smartphones 5

Aplicativos de comunicação síncrona 4

Ambientes virtuais de aprendizagem 8 Livro digital 1

Recursos midiáticos 1

Fonte: Elaborada pela autora, 2020.

Interessa considerar que, no momento de publicação dos PCNs, o Brasil saía de longo

período de reserva de mercado, no qual empresas, escolas e sociedade estavam iniciando sua

aproximação das TDICs. Atualmente, verifica-se que o crescimento econômico mundial está

bastante vinculado ao uso e ao desenvolvimento de tecnologias digitais. O Brasil participa desse

processo, mais como consumidor do que como produtor, e apresenta discrepâncias quando

comparado a outros países, fazendo pairar sobre a escola expectativas que se traduzem,

prioritariamente, nas competências quatro e cinco da BNCC, mas que não podem ser

concretizadas unicamente pela boa vontade dos professores.

Page 88: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

88

Da mesma forma que no contexto de publicação dos PCNs, no contexto de homologação

da BNCC, também há o reconhecimento de que existem verdadeiros abismos entre a cultura

escolar, sua organização curricular e a cultura digital vivida na sociedade. Embora o último

documento estabeleça um discurso que apresenta significativas diferenças em relação ao anterior,

a reiterada constatação das discrepâncias evidencia a lentidão do Estado em investir e gerir

processos educacionais articulados às necessidades do povo e de seu contexto no que diz respeito

às TDICs.

Nota-se, na Tabela 1, que há uma diversidade maior de tecnologias identificadas após a

BNCC, contudo, esse fenômeno coincide também com uma maior acessibilidade às TDICs na

sociedade. Logo, isso pode refletir apenas a permeabilidade da escola a contextos que já estão

inseridos na sociedade. Por outro lado, tornar expressa em um documento normativo a integração

da cultura digital e das narrativas multissemióticas abre um novo leque de possibilidades de

práticas e abordagens para a leitura de fenômenos sociais protagonizados pela juventude.

Organizado na forma de competências e habilidades, ao se referir às TDICs, o

documento da BNCC apresenta distinções em relação às versões precedentes. Diferentemente

dos PCNs, não há uma contextualização relativa a recursos tecnológicos ou ao seu vínculo

direto com o mundo do trabalho. Outrossim, na BNCC os elementos que compõem a cultura

digital estão contemplados em duas das dez competências gerais que, naquele documento, são

apresentadas como horizontes de aprendizagem e perspectiva de ensino. Posteriormente, essas

competências são desdobradas em habilidades e objetivos de aprendizagem, sugerindo

mudanças nas práticas pedagógicas e na cultura escolar que visem superar a compreensão do

que é tecnologia e como ela se integra à prática pedagógica.

Em relação à ação do professor e às TDICs, o quinto capítulo dos PCNs estava centrado

na ambientação desse profissional ao novo contexto sociocultural, enquanto que na BNCC está

centrado nas aprendizagens do estudante, na adequação do ensino a um contexto no qual a

cultura digital é abrangente. Todavia, a presença e a ação do professor no processo de

recolocação da tecnologia na proposta curricular normativa não são nem sequer identificadas.

Portanto, ou supõe-se que o professor esteja plenamente consciente da mudança de paradigma

e em condição de traduzi-la didaticamente, ou que haverá, na escola, condições para isso. Mas,

reitera-se que mudanças nas perspectivas educacionais e na ação do professor dependem da

consolidação de políticas públicas. Sem elas, a identificação das diferenças se torna falaciosa.

É evidente que a compreensão relativa ao ensino por competências e, sobretudo,

mediada por tecnologias não esteja plenamente internalizada na comunidade de professores,

seja na rede pública, seja na rede privada, apesar de na última constatar-se mais convergências.

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89

Entende-se que competência seja conceito complexo e difícil de ser transposto em ações

didáticas, pois, para ser posto em prática, precisa ser mobilizado a partir da motivação e do

interesse do estudante, bem como do conhecimento das potencialidades de cada um, exigindo

constante ação diagnóstica e diálogo com o alunado. Um currículo organizado a partir desse

princípio precisa ser bastante adaptável, conforme explicita o professor Alonso.

E então... essas iniciativas que a gente teve, anteriormente, a BNCC, que foi o uso de

lousas digitais, a inclusão de robótica, né, dentro da grade curricular, ela não chega a

atender a essa realidade trazida pela base, porque elas ficam muito restritas, mas,

claro, quando a gente tem a questão da motivação pessoal que os meninos têm com

tecnologia, aí sim, então a gente tem. (ALONSO – LC)

O professor identifica que as TDICs estão no campo de interesse da juventude e se

aproveita disso como elemento de aproximação, enquanto faz uma crítica à forma como a

robótica foi incluída no currículo daquela escola, indicando que a transposição didática, quando

organizada pelo princípio das competências, deve levar em conta a organização do processo de

ensino por meio de habilidades, na atuação centrada no protagonismo da ação da criança e do

jovem, considerando “a construção intencional de processos educativos que promovam

aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos

estudantes, também com os desafios da sociedade contemporânea” (BRASIL, 2017, p. 14). Para

isso, é necessário superar a fragmentação disciplinar do conhecimento, por meio da integração

inter e transdisciplinar.

São as competências gerais quatro e cinco as mais relacionadas à cultura digital. A

primeira trata do aprendizado, da utilização e da produção do conhecimento por meio das

diversas linguagens, inclusive a digital, e a seguinte indica que ao fim do ensino básico o

estudante deve:

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de

forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as

escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir

conhecimentos, resolver problemas e exercer o protagonismo e autoria na vida pessoal

e coletiva. (BRASIL, 2017, p. 14).

A partir da competência geral número cinco, são propostas habilidades diversas que,

integradas aos componentes curriculares, tratam de utilização de ferramentas digitais,

multimídia, cultura e linguagem digital, domínio de algoritmos, visualização e análise de dados

e uso ético que são dispostos de modo recursivo pertinente a cada série, indicando o quê, para

quê e por que devem ser ensinados.

A análise das mudanças e permanências ocorridas na educação entre a promulgação da

LDB e da BNCC permite notar que a maioria dos professores que atualmente atuam no ensino

Page 90: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

90

básico não tiveram acesso, em sua formação inicial, à instrução que subsidie o ensino a partir

do que é proposto na BNCC. Tal contradição poderá se refletir nas apropriações relativas à

articulação entre tecnologia e educação e, consequentemente, em sua prática pedagógica. É bem

verdade que, ao longo das últimas duas décadas, foram implementadas propostas formativas

muito significativas tais como o PROINFO, direcionado às escolas públicas, e outros programas

sobre os quais discorreremos posteriormente. As escolas particulares fizeram também seus

esforços formativos, mas, aparentemente, descontínuos.

É evidente que, apesar da liberdade dada à escola particular no contexto brasileiro, ainda

assim, os movimentos externos a ela são incorporados. A longa transição entre os PCNs e a

BNCC foi vivida por muitos professores, inclusive entre os respondentes desta pesquisa, visto

que sua média de pertencimento à profissão é relativamente alta, algo que será debatido na

próxima seção. Por ora, destaca-se que, embora as ferramentas tecnológicas incluídas nas

práticas pedagógicas antes e depois da BNCC sejam relativamente semelhantes, acontece

significativa ampliação na frequência e na abordagem do uso. É possível notar que passam de

uma integração simples para algo complexo e intencional, relacionado ao desenvolvimento de

formas de pensamento.

4.4 Processos formativos que influenciam a apropriação de tecnologia no ensino

Entende-se que a docência é uma profissão complexa que depende de conhecimentos

específicos. Decorre disso que, neste item, busca-se identificar os processos formativos

relacionados à apropriação de tecnologia ao ensino. O ingresso na docência está submetido a

uma formação inicial que prepara o novo professor para o trabalho com um componente

curricular específico. Enquanto os espaços de formação inicial guardam aproximações a

particularidades na organização de seus cursos podendo, ou não, dar ênfase ao trabalho com

tecnologias na formação do professor. Além disso, considera-se que existem escolhas pessoais

posteriores à formação inicial que resulta em formação continuada lato ou stricto sensu. Estes

são processos considerados formais, contudo, existem outras experiências formativas que

podem compor a singularidade das trajetórias dos professores.

A partir dos escritos de Nóvoa (2007), entende-se que o tempo de permanência na

docência é um elemento que pode indicar o tipo de relação dos professores com a BNCC, bem

como com a tecnologia. O Gráfico 4 apresenta a distribuição dos professores respondentes por

faixa quantitativa de anos de docência.

Page 91: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

91

Gráfico 4 – Tempo de docência

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Percebe-se que o tempo de experiência do grupo que respondeu ao questionário é muito

significativo, pois sete possuem mais de 22 anos de profissão, cinco possuem entre 17 e 22 anos

de profissão e nove de 11 a 16 anos de profissão. Apenas oito possuem menos de 10 anos

atuando na área, mesmo assim, cinco possuem mais de seis anos e somente três possuem de três

a cinco anos de profissão. Esse recorte indica que essa é uma equipe de muita experiência,

contudo, é preciso identificar se houve investimento em formação permanente, visto que há um

distanciamento longitudinal da formação inicial, algo que será debatido posteriormente.

As respostas desse grupo de pesquisa são coincidentes com o censo realizado pelo INEP

em 2017, indicando que “a regularidade dos docentes foi classificada como média-alta ou alta

em 58,5% das escolas da rede privada. Já na rede pública esse percentual foi de 46,4%” (INEP,

2018). Contudo, a média de permanência na profissão entre aqueles que contribuíram com suas

narrativas é menor, o que nos faz pensar num recorte de professores que receberam, em sua

formação inicial, um aporte mais significativo em relação às TDICs. Os dados consolidam a

permanência dos professores nas instituições nos cinco anos anteriores à pesquisa. A

regularidade em uma mesma instituição de ensino pode levar ao sentimento de segurança e à

consolidação e à progressão de práticas pedagógicas.

Nóvoa (2007) divide a carreira docente em ciclos de vida, nos quais os cinco anos

iniciais são considerados tempo de busca, marcado pelos processos de adaptação e pela

necessidade de validação na prática dos conhecimentos construídos anteriormente. Enquanto

os 10 anos posteriores são considerados tempos de estabilidade, marcados pela segurança no

agir, pela compreensão dos processos de trabalho e consequente questionamento das situações

incongruentes, enquanto os cinco anos subsequentes representam o fim e a reclusão (NÓVOA,

2007). Contudo, Cardoso (2017) defende que a análise dos ciclos de vida dos professores deve

levar em conta a realidade na qual eles se inserem e deve ultrapassar a delimitação em etapas,

visto que há, assim como visível no gráfico, aqueles que mantêm uma trajetória longa e criativa,

3

5

9

5

7

De 3 a 5 anos

De 6 a 10 anos.

De 11 a 16 anos.

De 17 a 22 anos.

Mais que 22 anos de profissão.

Quantos anos de docência você tem?

Page 92: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

92

e, em vez de reclusos, tornam-se ativos socialmente por meio de publicações ou pelo

desenvolvimento de projetos alternativos. Além disso, é possível manter acessa ao longo de

toda a trajetória profissional a chama do questionamento e da busca por conhecimentos. Porém,

o mais significativo para ela é que

[...] existe um ciclo de carreira que acontece de forma individual e ao mesmo tempo

coletivo, ou seja, cada professor vivencia e sente as fases da carreira de forma singular,

a partir de seu contexto social e da sua singularidade, mas há nessa trajetória pontos

de intercessão pelos quais todos passarão, o que torna o ciclo algo coletivo.

(CARDOSO, 2017, p. 4296).

A publicação do PCN e a homologação da BNCC podem ser considerados pontos de

intercessão, pois alcançam, em medidas diferentes, todos os professores que lhes são

contemporâneos e interferem em seus processos formativos e na forma como organizarão seu

trabalho. É o que se nota no grupo envolvido nesta pesquisa, pois, mesmo que haja reticências

em relação a esses documentos, ainda assim, é necessário estabelecer uma posição e defendê-

la de modo prático. Contudo, na escola privada há o imperativo de defesa da identidade

institucional, portanto, havendo, internamente, uma política de inclusão de tecnologia ao

trabalho pedagógico ou uma modificação curricular, ela alcança o coletivo de professores como

obrigatoriedade dada ao trabalho.

Bueno e Dourado (2001, p. 8) levantam categorias que colaboram na definição do

que seja a identidade institucional da escola privada, destacando que tal identidade se desdobra

“nas concepções, papéis docente e discente, expansão e avaliação dentre outros”. Além disso,

os mesmos autores reiteram que compõem essa identidade os argumentos ideológicos e

valorativos utilizados pela escola para se relacionar e ser reconhecida pela sociedade. Por isso,

as escolas privadas ora são “alçadas a centros exemplares de excelência e modernidade, ora

reduzidas a espaços de consumo rápido, imediatista, mercadológico, sem crivo de qualidade

dos serviços” (BUENO; DOURADO, 2001, p. 8).

Os autores Amiel, Wives e Kubota (2016) destacam que a presença de TDICs nas

escolas particulares não decorre da influência governamental, mas da tentativa de manter

afinidade com sua clientela. Para eles, há nas instituições particulares “a demanda por uma

atualização constante do parque tecnológico e das propostas por conta das expectativas da

comunidade e, em certo sentido, da própria cultura escolar de ponta” (AMIEL; WIVES;

KUBOTA, 2016, p. 28). O que indica a existência de um planejamento estratégico nessa

direção, mantido pela liderança da escola que deve repercutir também no planejamento didático

oportunizando um uso mais orgânico.

Page 93: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

93

Para esse tipo de instituição, há uma necessidade de apresentar-se à sua clientela

mesclando aspectos de tradicionalismo e de inovação. Por isso, é notado o incremento

tecnológico que se traduz na implantação de laboratórios de informática, equipamentos de TI

nas salas de aula e, atualmente, nas aulas de robótica e programação. Posteriormente, com a

popularização da internet, outros elementos foram incorporados, como a criação de sites e

portais institucionais denotando a transição para sistemas de gerenciamento acadêmico ou de

dados dos estudantes e prestação de serviço à comunidade, repositórios de notícias até que a

tecnologia veio a se tornar parte do currículo. Esses movimentos envolveram, direta ou

indiretamente, os professores que, nesse interim, foram aprimorando seus conhecimentos e suas

práticas a esse respeito, o que lhes possibilitou trazer considerações relativas à sua vivência e

relacioná-la com a LDB e a BNCC.

Outra possibilidade, um pouco desconcertante, é que os professores talvez não tenham

atendado para as diferenças entre os dois documentos e, portanto, não percebam motivo para

posicionar-se de modo mais incisivo diante das novas perspectivas e das exigências do novo

contexto cultural. O que pode denotar certo distanciamento das normativas que regem a

educação nacional.

É preciso reconhecer que a escola não é o único ambiente de aprendizagem na sociedade

e que entre a escola “projetada” e a escola vivida há uma polifonia de propósitos contraditórios.

Atualmente, crianças e jovens, e também professores, aprendem mais sobre as TDICs fora da

escola, onde utilizam seus celulares, tablets, computadores e internet de forma intuitiva, do que

dentro dela. Nesse sentido, percebe-se que a definição do que se aprende como uso social em

tecnologia é filtrada pela indústria que produz o equipamento e o comercializa, o que torna

novos aprendizados e reflexões na escola ainda mais necessários. Nesse sentido, o que caberia

à escola refletir desse processo?

É importante considerar que, para Charlot (2000), a escola não é a detentora do monopólio

formativo das pessoas, afinal, o ser humano aprende o tempo todo, dentro e fora dela, por razões

afetivas relacionadas à construção da própria identidade. Mas ainda é pertinente a função social

da escola a refletir como se produzirá e se validará conhecimento sobre um ramo da ciência que

cria, inclusive, inteligência artificial? Embora estabeleça-se que nem tudo o que é produzido pela

indústria deve ser considerado “conteúdo escolar”, ressalta-se que, dada a natureza das TDICs na

emancipação das pessoas ao acesso à informação e na construção de novas formas de pensamento,

esta torna-se emblemática uma vez que é, ao mesmo tempo, conteúdo, objeto de ensino e meio

para a aprendizagem, além de significar elemento de inclusão social.

Page 94: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

94

Portanto, se a integração das TDICs aos currículos escolares não trouxer um

componente de criatividade e questionamento, tenderá a manter uma determinada ordem social

na qual o papel de consumidor é reforçado em detrimento da construção de habilidades de

criação, aplicação e adaptação. Para Durkheim (2008), a escolha metodológica, a linguagem e

até a organização da escola convergem para reforçar os padrões de comportamento social, por

isso, se a vivência do estudante e do professor com TDICs na escola é precarizado pela pouca

frequência, pela obsolescência do equipamento e, sobretudo, por uma abordagem didática

impositiva ou naturalizada do papel da tecnologia na sociedade, repercutirá num ciclo de

reprodutivismo que reforçará o papel de consumidores acríticos.

4.4.1 Tecnologia, competência e formação: um breve histórico das iniciativas de formação

de professores para a integração das TDICs

Nesta seção constrói-se uma breve contextualização das iniciativas governamentais de

formação dos professores para a integração de tecnologia na educação, ao mesmo tempo em que

se identifica quais foram os processos formativos que influenciaram as práticas pedagógicas

mediadas por tecnologia dentre o grupo de respondentes. Assim como exposto anteriormente, a

vivência profissional é uma experiência pessoal e ao mesmo tempo coletiva, porque é atravessada

por elementos que influenciam as ações da categoria, independentemente a qual setor sirva.

Embora trate-se, nesta pesquisa, do contexto da escola particular, é relevante retomar o

histórico da formação de professores para a integração das TDICs a partir dos PCNs, pois, desde

aquele contexto, reconheciam-se as potencialidades da integração da tecnologia à educação,

mas que “a comunidade nacional de educadores” apresentava pouco conhecimento e pouco

domínio para utilizar recursos tecnológicos de modo significativo, indicando a necessidade da

instalação de políticas públicas para o “desenvolvimento e [a] disseminação de propostas de

trabalho inovadoras utilizando meios eletrônicos de informação e comunicação” (BRASIL,

1988b, p. 142). É mencionada a necessidade de que os professores participem de “projetos de

capacitação [...] para que compreendam as transformações que estão ocorrendo no mundo”

(BRASIL, 1988b, p. 154). É importante ressaltar que a palavra “capacitação” não traz em seu

bojo a ideia de consciência, reflexão e autonomia, está mais próxima de treinamento para uso.

O Programa Nacional de Tecnologia Educacional (PROINFO), criado pela Portaria n.

522/MEC, de 9 de abril de 1999 (BRASIL, 1997), com a finalidade de promover o uso

pedagógico das TDICs nas redes públicas de ensino, parte do princípio de que currículo e

formação de professores se articulam. Ele demarca, desde 1997, os esforços empreendidos pelo

Page 95: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

95

Ministério da Educação para promover o uso da tecnologia como ferramenta de enriquecimento

pedagógico no ensino público fundamental e médio. Tendo sido reestruturado em dezembro de

2007, por meio do Projeto n. 6.300, ele passa a objetivar o uso pedagógico das tecnologias de

informação e de comunicação nas redes públicas de educação básica (BRASIL, 2019).

Embora esse programa tenha sido prioritariamente destinado às redes públicas, veio a

influenciar também as redes privadas, visto que havia, nesse programa, uma visão do que seria a

construção do conhecimento do professor para o uso das TDICs, entendendo-o como protagonista

de um processo de mudança na concepção de ensino e na forma de aprender. Na escola particular,

as iniciativas de formação nesse sentido estão alinhadas ao acompanhamento das mudanças

culturais em seu público e a investimentos para superar aspectos emergentes em sua concorrência.

Considera-se que uma política pública aplicada a um espaço geográfico amplo e diverso,

sua abrangência e sua eficácia tornar-se-á condicionada aos interesses dos sujeitos envolvidos,

a questões ideológicas e partidárias que redundarão em descontinuidades e em apropriações as

mais diversas possíveis, o que não retira do projeto sua relevância histórica (TAVARES, 2011,

p. 17). No Brasil, o PROINFO é considerado a iniciativa mais significativa nessa área. Outro

momento significativo aconteceu em 2017 quando foi promulgado o Projeto de Lei n.

9.165/2017, que não trata necessariamente da formação, mas da concretização da materialidade

necessária para que a educação básica seja permeada pelas TDICs. Por meio dele o Estado deve

Apoiar a universalização do acesso à internet em alta velocidade e fomentar o uso

pedagógico de tecnologias digitais na educação básica, [...] assegurar as condições

necessárias para a inserção da tecnologia como ferramenta pedagógica de uso

cotidiano nas escolas públicas de educação. (BRASIL, 2017).

O projeto de lei ainda prevê articulações entre os setores público e privado com o

objetivo de prover equipamentos para as escolas e treinamentos aos professores. Trata-se de

uma iniciativa relativamente recente, contudo, ainda apresenta atraso em relação ao conjunto

da sociedade. O também prevê o treinamento dos professores para o uso. O que inspira

cuidados, visto que a palavra “treinamentos” denota “tornar hábil, destro e capaz por meio de

instrução ou disciplina a executar regularmente uma atividade”5, o que coloca em contraposição

a noção de competência defendida por Perrenoud (2000), nas quais, para que o professor possa

integrar tecnologia e educação, é necessário formá-lo de tal modo que desenvolva “o

julgamento e o senso crítico, [...] as faculdades de observação e pesquisa, a representação de

redes de procedimentos e estratégias de comunicação” (PERRENOUD, 2000, p. 128),

extrapolando em muito a noção de treinamento.

5 TREINAMENTO. Dicio, online. Disponível em: https://www.dicio.com.br/treinamento/. Acesso em: 10 out. 2019.

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96

Interessa destacar que as políticas públicas para formação de professores também são

políticas curriculares, e a fragilidade relativa ao conhecimento tecnológico por parte dos

professores embota sua compreensão de que a presença das TDICs na educação articula

múltiplos sentidos, uma vez que são, ao mesmo tempo, objeto de conhecimento e ensino; e

meio que permite mudança radical na forma de produzir e compartilhar conhecimento. Logo,

vinculam conceito, competência e método e, por isso, constituem elemento emblemático para

a formação dos professores, que não pode ser reduzida a informações superficiais e aligeiradas.

Ela deve ser integrada do início ao fim dos cursos de formação inicial com a finalidade de

produzir outra inteligência pedagógica e uma abordagem do conhecimento que fuja à

formalidade narrativa predominante desde Comenius.

No questionário introdutório identificou-se quais processos formativos se tornaram mais

significativos para a apropriação de tecnologia na educação, relacionando-os com aspectos

relevantes dentro da BNCC. Por isso, as afirmativas foram construídas a partir de premissas

para que o professor realize o que é pedido na BNCC como conhecimento de linguagem digital,

conhecimento de plataformas, recursos e equipamentos, bem como foi feito o uso de

substantivos e verbos que remetem a modalidades formativas diferenciadas. Portanto, infere-se

que o que foi captado pelas respostas é tanto a necessidade de determinados conhecimentos

quanto a modalidade mais oportuna para consolidá-los entre os professores. Ao direcionar as

questões, não houve identificação de processos formais e informais, deixando que o professor

atribuísse sentido livremente, destacando relevâncias a partir de suas percepções. O Gráfico 5

apresenta a percepção dos professores respondentes quanto aos principais processos formativos

necessários para que haja apropriação das TDICs, e consequente integração às práticas

pedagógicas em acordo com a BNCC.

Gráfico 5 – Principais processos formativos para apropriação das TDICs

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

8

3

8

10

Compartilhamento de experiências einiciativas entre professores.

Oficinas que trabalhem com aspectosda linguagem digital.

Cursos que articulem aspectospedagógicos e técnicos.

Formação para o uso de plataformas,recursos, equipamentos.

Qual dos processos formativos citados é mais necessário para que o professor se aproprie das TDICs em sua prática

pedagógica tal qual é proposto na BNCC?

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97

Nota-se que apenas três respondentes identificam oficinas que trabalhem com a

linguagem e a cultura digital como a principal possibilidade formativa. Coll e Illera (2010)

define cultura digital como:

Expressão frequentemente utilizada para referir-se a um conjunto de práticas sociais

e culturais próprias da sociedade da informação que estão fortemente associadas às,

ou mediadas por tecnologias digitais. Estão incluídas nesse conceito os diferentes

tipos de saberes – conhecimentos, habilidades, atitudes, valores, etc. – que formam

essas práticas. (COLL; ILLERA, 2010, p. 310).

Esse é um conceito de especial validade para uma compreensão mais ampla de

alfabetização e para a área de linguagens, uma vez que trabalha com a escrita mista, composta

por palavras, dígitos, simbologias que integram ou facilitam o discurso presente nas redes

sociais, nos discursos midiáticos e nas plataformas digitais. Trata-se de algo fundamental para

se compreender a construção das linguagens juvenis e suas formas de comunicação. Além disso,

sintetizam a evolução dos meios de comunicação, integram uma nova forma de organização da

informação constituída pela fragmentação, pela falta de linearidade, pela interatividade.

HetKowski e Dias (2020) trabalham o mesmo conceito ao proporem que a própria

cultura digital, por suas características intrínsecas, já compõe um espaço educativo, e que,

portanto, é potencializada quando aplicada a processos formativos sistematizados como é o

caso da educação escolar. Para as autoras,

A Cultura Digital, caracterizada pela presença das mídias, pela mudança de

comportamentos, pela celeridade das informações e pela tele prontidão do tempo e

espaço. De modo, que a Cultura Digital está agregada aos processos ideológicos,

impregnada e enraizada aos preceitos da ciência, às inovações das técnicas, às

metanarrativas otimistas ou pessimistas e às práticas transformadoras das sociedades,

onde crianças e jovens vivem à atualização da cultura e das produções tecnológicas e

humanas. (HETKOSWKI; DIAS, 2019, p. 17)

É perceptível, pela proposição das autoras, o vínculo entre cultura digital e juventude,

para elas, os aspectos de transformação cultural são mais aceitos pelos jovens que, mais

facilmente, abrem mão de conceitos, instrumentos e técnicas quando encontram algo que

melhor lhes atenda na solução dos problemas de comunicação ou em outra esfera da vida

(HETKOWSKI; DIAS, 2019).

Illera (2010), ao tratar da organização de conteúdos em ambientes virtuais, destaca que

o discurso escolar é, predominantemente, narrativo e, durante muitos séculos, centrado na

reprodução e no livro, que reinou como meio de manutenção da informação e de comunicação.

Contudo, a evolução dos meios de comunicação, sobretudo o advento da televisão, causa uma

quebra da linearidade do discurso. Porém, são os meios de comunicação denominados “digitais”

que trazem a característica da multimodalidade que articulam ao mesmo tempo riqueza

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98

informativa e indeterminação predominante dos meios que integram várias mídias conjugando-

as em uma única tela. Essa sobreposição metamidiática unifica a experiência do usuário em sua

relação com o conhecimento à medida que

“apoiando-se numa tecnologia de geração de conteúdos, que permite unificá-los tanto

em sua codificação quanto em seu suporte, fragmentá-lo em subunidades, tanto

lógicas quanto em função do tamanho, e recompô-los ou representá-los como réplicas

idênticas aos originais ou como partes de unidades mais amplas, a verdade é que o

status dos conteúdos digitais mudou radicalmente. (ILLERA, 2010, p. 139).

Considerando que a linguagem digital representa uma forma emergente de organização

e remodelagem do conhecimento, é preocupante que poucos professores, no âmbito desta

pesquisa, a considerem relevante como aspecto formativo. Todavia, durante a análise das

entrevistas, notou-se que vários deles já tinham vivenciado experiências formativas nessa

direção e, por isso, compreendiam o conhecimento de linguagem digital como algo consolidado

em sua formação, sobretudo para aqueles que vêm de formações iniciais na área de Linguagens

e Códigos. Mas é inquietante perceber que, sendo um ponto superado em sua formação, que

lhes aproxima da tecnologia, sendo apontado como vantagem em suas falas, como se confirma

a seguir, tenha recebido tão pouco destaque como elemento formativo sistematizado na

formação inicial tanto quanto na formação continuada.

Mas eu tinha um conhecimento anterior sobre tecnologia e comunicação que vinha da

Comunicação Social e que neste ano de 2020 me foram essenciais, por exemplo, eu

trabalhava com vídeo então eu sabia gravar, editar, já trabalhava com Web 2.0. Então,

eu já trabalhava com fórum, com o Moodle. Na Letras eu fiz questão de pegar as

disciplinas todas que tratavam disso, que era muito insipiente ainda, nos anos 2000,

mas enfim... eu tive essa formação. (DIEGO – LC)

Então, minha experiência com tecnologia foi prévia, eu tive o privilégio de ter essa

formação [...] uma noção básica de comunicação e tecnologia, dada na universidade, na

formação inicial, que foi na Comunicação Social. Porque o professor de licenciatura sai

sem nada... ele é que tem que procurar por conta dele. (ALONSO – LC)

Os dois professores respondentes, Diego e Alonso, atribuem especial significado à sua

formação em Comunicação Social, trazendo exemplos de aprendizagens de plataformas e usos

vindos daquela formação que os aproximaram tanto da tecnologia quanto de suas aplicações

educacionais. Percebe-se que a interdisciplinaridade entre os cursos de Comunicação Social e

Letras permitiu a esses professores uma fluência maior nos conteúdos de cultura digital, o que

pode ser explicado também pela ênfase dada a ela nos componentes de Linguagens e Códigos

na BNCC, denotando que esses professores se apropriaram muito fortemente daquele

documento. Enquanto atribuem o adjetivo “insipiente” à formação inicial em Letras no que diz

respeito à integração com a tecnologia.

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99

No conjunto dos respondentes, Seth é a única professora que passou apenas pela

licenciatura em Letras e traz uma ponderação muito significativa que demonstra seu

conhecimento da função da linguagem digital como tecnologia de comunicação.

Para a minha área, a cultura digital é algo fundamental, porque é linguagem é uma

tecnologia de comunicação que constituirá formas de vivência e cognição. É um jeito

de entender o mundo. Tudo é mais intenso, cortado, objetivo direto. (SETH – LC)

Na BNCC a linguagem digital é abordada de vários componentes curriculares, somando

96 habilidades em todo o Ensino Fundamental, enquanto que nos anos finais tem-se 59 e, entre

elas, apenas 10 não fazem parte dos componentes de Linguagens e Códigos, na qual há o

reconhecimento explícito de que as TDICs promoveram transformações nas práticas de

linguagem conforme explicitado. “Dessa forma, a BNCC procura contemplar a cultura digital,

diferentes linguagens e diferentes letramentos, desde aqueles basicamente lineares, com baixo

nível de hipertextualidade, até aqueles que envolvem a hipermídia” (BRASIL, 2018, p. 70).

Salienta-se que, embora relevante para a compreensão dos fenômenos comunicacionais

contemporâneos, a cultura digital represente a fronteira desses fenômenos que dependem das

TDICs para existir, influenciando-se mutuamente, mas para além desta interpretação, é preciso

considerar que

O formato digital integra o cotidiano dos sujeitos escolares que se tornam

protagonistas de construções comunicacionais, audiovisuais, interativas em redes,

compartilhadas através de conteúdo, produzidas artística e culturalmente, que

emergem outras singularidades e outros significados, os quais podem ser complexos

ou efêmeros, mas são fundantes às reflexões e intervenções no ambiente escolar, entre

alunos e professores, para além do conteúdo disciplinar. (HETKOSWKI; DIAS, 2019,

p. 16).

As características apresentadas pelas autoras reforçam as possibilidades de modificação

dos papéis, pois a cultura digital está diretamente ligada à difusão da informação por meios,

formatos e gêneros diversos, porém, ao citarem a cultura digital como algo “para além do

conteúdo disciplinar”, indicam a necessidade de grande adaptação ao contexto de produção

cultural dos jovens, o que obriga a uma atualização curricular.

Tabela 2 – Habilidades de Cultura Digital distribuídas entre os componentes

curriculares na BNCC

Linguagem e cultura digital LP ARTES E.F. L.I. MT. CN. GEO. HT. ER.

35 5 2 7 10 0 0 0 0 59

Fonte: Elaborada pela autora, 2020.

O enfoque dado nessas habilidades aponta para a formação do leitor crítico dos gêneros

textuais decorrentes da multimodalidade e multissemióticos e também para a construção de

competências de desenvolvimento desses textos como elemento comunicacional e forma de

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100

participação social. Contudo, leva em conta que “ser familiarizado e usar não significa

necessariamente levar em conta as dimensões ética, estética e política desse uso, tampouco lidar

de forma crítica com os conteúdos que circulam na WEB” (BRASIL, 2018, p. 68). Portanto, a

inserção de práticas da cultura digital e dos multiletramentos no currículo deve ser

acompanhada de aspectos reflexivos que levem o estudante a identificar os discursos de ódio e

a posicionar-se criticamente conforme foi identificado pelo professor respondente Alonso.

Trabalhar a cultura digital numa abordagem multimodal no ensino de língua

portuguesa, por exemplo, pode ampliar a forma de os alunos enxergarem os textos e

se observarem como produtores ativos nas diversas situações comunicativas na

internet. (ALONSO – LC)

Coll e Illera (2010) destaca que a alfabetização do século XXI não se restringe a um

letramento com a inclusão das TIC, mas na construção de competências que levem a um

protagonismo no uso das linguagens visuais, auditiva, audiovisual, de utilização de mídia, de

capacidade de selecionar informações relevantes, de considerar a interdependência entre

pessoas e países e de analisar as consequências do uso dos meios de comunicação, além do

conhecimento dos novos meios e máquinas que viabilizam as novas comunicações (COLL;

ILLERA, 2010, p. 298). Tal fato reforça a relevância desses conhecimentos para a emancipação

das pessoas.

É importante ressaltar que os conhecimentos relativos à cultural digital não se restringem

ao conhecimento e à produção de textos multissemióticos, pois incluem a compreensão de novas

formas e ferramentas de comunicação. Portanto, esse é um conhecimento que não pode se

restringir a Linguagens e Códigos, denotando que os processos formativos precisam se estender

também aos professores dos demais componentes curriculares, por tratar-se de um aspecto muito

mais amplo, conforme identifica o professor respondente Jonah.

O menino de 7º ano que não sabe usar um editor de texto, ele está excluído de um

campo de comunicação social, por isso, na Base isso passa ser também conteúdo. Há

uma pulverização do conhecimento muito vinculada às mídias sociais, porque as

pessoas não estão sabendo pensar, refletir, nem usar as coisas. (JONAH – CH)

A formação dos professores para integração da linguagem digital em suas práticas

pedagógicas poderia redundar na diminuição das desigualdades, pois o Brasil conta com a

marca de 11,5 milhões de analfabetos e de outros tantos considerados analfabetos funcionais,

com extrema dificuldade de ler palavras e números (IBGE, 2017). No cenário apresentado, tais

indivíduos vivenciam um duplo processo de exclusão, caracterizado por um novo “iletrismo”,

definido não mais pela incapacidade de ler e escrever, mas pela impossibilidade de ascender às

novas formas de transmissão do escrito, uma vez que o uso significativo de tecnologias supõe

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101

uma cultura letrada (CHARTIER, 2002, p. 112) que está cada vez mais dinâmica na criação de

novos signos. O professor respondente Jonah traz em sua fala a preocupação com as formas de

exclusão digital ao referir-se ao uso dado pelos estudantes ao celular e ao computador. Daí a

necessidade de os professores mediarem tal relação ajudando-os a desenvolver uma nova forma

de pensar a tecnologia. Segundo ele,

Eles aprenderam a usar o celular, mas não conseguem usar um editor de texto, não

sabem preparar uma apresentação... a gente precisa ajudá-los a entender isso, que o

computador é um recurso para o trabalho, a falta disso é excluir a pessoa. Então, junto

com meu trabalho eu vou ajudando a apropriar disso, enquanto os mais velhos já

sabem até modificar uma programação, consertar um hardware e, principalmente,

pensar diferente... (JONAH – CH)

O professor identifica que o conhecimento cotidiano da linguagem digital pode ser

profundo, mas não é sistematizado, fazendo com que o mesmo sujeito seja altamente fluente

numa modalidade e ineficaz em outra ou que seja um bom divulgador com baixa fluência

interpretativa. Contudo, essa constatação acarreta a necessidade da manutenção de uma cultura

de diagnóstico para que o currículo alcance o equilíbrio dos conhecimentos para a superação

das exclusões. Logo, instaura-se um paradoxo no fato de que existe uma maioria da população

brasileira já usuária das TDICs e, nela, significativo número de iletrados. Respeitando as

liberdades individuais, cabe questionar qual grau de reflexão e de autonomia está presente em

tal uso e se ele representa realmente democratização do acesso à informação.

Em contrapartida, há, no Gráfico 5, um destaque para a possibilidade de formação para

o uso de plataformas, recursos e equipamentos com dez respondentes, denotando a busca por

elementos que possam dar suporte às situações de aprendizagem. Sabemos que a inclusão de

tecnologia como recurso está vinculada à esfera metodológica e, portanto, indica, ainda,

necessidades muito básicas de formação. Mas, como as respostas foram colhidas durante o

período de isolamento social decorrente da pandemia, que forçou os professores ao ensino

remoto, é possível que muitos deles estivessem mais conscientes da necessidade de apropriação

de plataformas de ensino, objetos de aprendizagem e AVAs, meios para tornar possível seu

trabalho, o que, de certo modo, pode ter enviesado sua resposta naquele momento. Não

obstante, tais ambientes são potencializadores da ação didática em qualquer circunstância.

Durante a análise das entrevistas, notou-se que esse é um aspecto relevante para o grupo de

respondentes, tal qual identificado nas falas das professoras respondentes Denise e Glícia.

A formação inicial tem que ter também um aspecto técnico. Eu usava o Moodle na

universidade, mas ninguém me falou dele como AVA para o Ensino Fundamental. Ou

seja, faltou essa articulação com o pedagógico, na prática. (DENISE – MT)

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102

A formação dada na escola para lidar com tecnologia é meio da noite para o dia. Do

tipo, uma formação para trabalhar com... Por exemplo, nessa escola a gente sempre

teve o Teams, mas eu nunca tinha aberto ele. Então, esse ano eu estou trabalhando

com ele, com ou sem formação não teve jeito, eu tive que trabalhar com ele.

(GLÍCIA – MT)

A professora respondente Denise identifica uma lacuna na formação inicial, enquanto a

professora respondente Glícia, na formação continuada dada pela escola. Nos dois casos

evidencia-se que o conhecimento parcial, ou pouco reflexivo de aplicativos de plataformas de

ensino, acaba por embotar a criatividade de uso do professor e reforça a necessidade de que tais

aspectos sejam mais profundamente tratados na formação inicial e ampliados na formação

continuada. A expressão trazida pela professora Glícia “do tipo, uma formação para trabalhar

com...” faz-nos pensar em aspectos instrumentais pouco reflexivos. Infere-se que talvez falte

nos processos formativos a compreensão de que todo instrumento cultural é tecnologia e pode

ser colocado a serviço do ensino. Parece ser necessária uma mudança de concepção a respeito

do que é tecnologia na formação inicial, bem como a ampliação do conhecimento relativo à

diversidade de possibilidades existentes, pois, da mesma forma que como professores criamos

materiais didáticos, podemos criar também objetos de aprendizagem tecnológicos. Porém,

Almeida e Silva (2011) ressaltam que para tal ação o professor precisa “assumir uma posição

crítica, questionadora e reflexiva diante da tecnologia, que expresse o processo de criação do

ser humano, com todas as suas ambiguidades e contradições” (ALMEIDA; DIAS, 2011, p. 6).

Ainda em relação ao Gráfico 5, é possível notar que há também um equilíbrio com oito

respondentes na alternativa “cursos que articulem aspectos pedagógicos e técnicos” e também

oito respostas em “compartilhamento de experiências e iniciativas entre professores”, sendo a

primeira afirmativa algo que remete a uma experiência sistematizada de formação, enquanto a

última denota maior informalidade.

Existe um aprendizado significativo no compartilhamento de experiências entre

professores no que tange à tecnologia. Ele se dá, sobretudo, no ambiente de trabalho e, por não

ser sistematizado, responde às necessidades imediatas de conhecimento e aplicação. Foi algo

relevante durante o período inicial do ensino remoto e representa a homogeneização de

conhecimentos entre pares que vivenciam problemas semelhantes e apresentam conhecimentos

distintos. Parte-se da prerrogativa de que o uso social das tecnologias por parte de professores

é intenso, oscilando entre uso e apropriação, ao passo que o uso pedagógico, no ambiente de

ensino, apresenta descontinuidades e menor força. As experiências de compartilhamento são

significativas e impactam a prática, mas representam uma ajuda de caráter emergencial que não

pode substituir uma formação sistematizada. Ao evidenciarem a necessidade de articular

Page 103: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

103

aspectos pedagógicos e técnicos em suas respostas, os professores respondentes apontam para

uma ampliação e contextualização nas TDICs na cultura escolar, retirando-as do lugar de

“objetos associados”. A identificação de tal lacuna de formação é significativa, pois esta é uma

prerrogativa dada à integração das TDICs na educação na BNCC. Para as autoras Almeida e

Dias (2011), a formação do professor para a integração curricular das TDICs articula prática

pedagógica e domínio instrumental, para as autoras a formação se dá em quatro dimensões:

A dimensão tecnológica corresponde ao domínio das tecnologias e suas linguagens de

tal modo que o professor explore seus recursos e funcionalidades, se familiarize com

as possibilidades de interagir por meio deles e tenha autonomia para desenvolver

atividades pedagógicas que incorporem as TDIC. A dimensão pedagógica se refere ao

acompanhamento de processo de aprendizagem do aluno, a busca de compreender sua

história e universo de conhecimentos, valores, crenças e modo de ser, estar e interagir

com o mundo mediatizado pelos instrumentos culturais presentes em sua vida. A

dimensão didática se refere ao conhecimento do professor em sua área de atuação e

às competências relacionadas aos conhecimentos globalizantes, que são mobilizados

no ato pedagógico. (ALMEIDA; DIAS, 2011, p. 6)

Percebe-se pela proposição das autoras que a formação de professores para a integração

da cultura digital e das TDICs via currículo é algo que exigiria também uma prática

multidisciplinar na formação inicial e abordagens integradoras, de tal forma que ficassem

explícitas as interfaces entre conhecimento, cultura, didática, técnica e tecnologia.

Para Charlot (2000), a escola não é a detentora do monopólio formativo das pessoas,

afinal, o ser humano aprende o tempo todo, dentro e fora dela, por razões afetivas relacionadas

à construção da própria identidade. Na verdade, o principal problema não é onde o professor é

alcançado por esse conhecimento, mas o fato de a formação inicial não conseguir, de forma

eficaz, refletir esse processo. Por outro lado, é preciso considerar que existe uma dinamicidade

no mercado produtor de tecnologias, muitas delas não são criadas diretamente com finalidades

educacionais, mas passam por um processo de apropriação nesse ambiente.

Para Mauri e Onrubia (2010), os processos de formação para que os professores

integrem as TDICs em suas práticas deveriam levar em conta as consequências das mudanças

culturais para o ensino e para o professor, além de “como ocorre a aprendizagem das

competências que tais mudanças exigem” (MAURI; ONRUBIA, 2010, p. 119), o que poderia

repercutir numa nova cultura de aprendizagem por meio da reorganização do papel do professor

nos processos de ensino/aprendizagem. A relevância da proposta dos autores está em destacar

competências que podem ser desenvolvidas nos cursos de formação tanto quanto em outras

modalidades formativas, mas que, por sua natureza, exigem prática e aplicação.

Tais competências estão distribuídas em três grandes eixos, iniciando pela capacidade

de desenvolver um “Projeto de Interatividade Tecnológica” que tenha início num corpo de

Page 104: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

104

conhecimentos que conjugue a capacidade de conhecer ferramentas e analisar propostas de

integração das TDICs na educação. Um “Projeto de Interatividade Pedagógica” no qual o

desenvolvimento e a elaboração de propostas instrucionais e de avaliação considere a interação

do estudante em qualquer ambiente on-line, chegando ao “Desenvolvimento ou Uso Técnico-

Pedagógico” que compreende uma série de ações que levam em conta a sociabilidade no

aprendizado mediado pelas TDICs, o gerenciamento do tempo, a busca e a seleção de

informações, até o desenvolvimento de novas ferramentas e tecnologias. O quadro de

competências gerais do professor em ambientes virtuais, desenvolvido por Mauri e Onrubia, foi

reproduzido integralmente nesta dissertação (ANEXO A) por trazer elementos que podem se

constituir numa didática do ensino mediado por tecnologias.

Ao conjugar-se as competências gerais do professor em ambientes virtuais à análise das

respostas dos professores, evidencia-se que os processos formativos para que o professor

integre tecnologias à sua prática pedagógica devem ser mais aprofundados na formação inicial,

partindo de aspectos gerais respeitando a característica da disciplina que será lecionada, até

aspectos específicos relacionados à linguagem de programação, à produção de conteúdos on-line

e à gestão de conteúdos em plataformas diversas. Por outro lado, considerando os aspectos

dinâmicos relacionados à cultura e à tecnologia, é necessário que haja iniciativas formativas

constantes nas instituições de ensino. O que não exclui a necessidade de processos formais,

algo que ficou evidenciado no levantamento dos processos formativos entre os respondentes,

pois três deles declaram estarem em curso stricto sensu relacionada à tecnologia.

Ao indagar os professores sobre as possibilidades de processos formativos para a

apropriação das TDICs nas práticas pedagógicas, considerou-se que eles poderiam se referir

tanto ao que foi significativo no passado quanto às necessidades formativas que intuem para

seu futuro. Mas, na verificação das respostas, evidenciaram-se dois pontos de atenção. Por um

lado, a formação inicial para a docência e a fragmentação entre aspectos pedagógicos e

tecnológicos, vindo os professores a concluírem que ela representa pouco em sua capacidade

de integrar tecnologias ao processo de ensino. Por outro lado, a importância de outros cursos

de formação inicial não diretamente relacionados à docência, como Comunicação Social e

Engenharia, e como aportaram sua prática com conhecimentos relevantes. Além disso,

destacou-se que, após o contato com a BNCC, a remodelagem curricular ocasionou uma

mudança de perspectiva em relação às TDICs. Esses processos, embora pouco sistematizados,

repercutiram em níveis de apropriação. Conforme o dicionário etimológico, o termo

“apropriação” tem origem latina (appropriationem) e significa “[...] apoderação, apoderamento,

Page 105: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

105

posse de alguma cousa, tornar alguma cousa sua, de sua propriedade”6. É possível tomar como

sinônimo de apropriação conceitos como adaptação, assimilação, incorporação, interiorização

e transmissão, que se constituem numa relação objetiva e subjetiva complexa que redunda na

produção do mundo e do próprio sujeito, ou seja, da subjetividade, dos modos de vida e da

inteligência humana. É, portanto, um processo tanto material quanto imaterial que supõe uma

recriação. Enquanto uso, refere-se à posse e à relação objetiva de uma pessoa com certo objeto

para uso material. Nesse ponto interfere-se nos discursos de neutralidade da técnica, que

imputam ao usuário o bem ou mal que dela é feito. No entanto, considera-se que todo constructo

humano já é, de certo modo, um “uso” de algo que anteriormente foi pensado por outra pessoa

e, portanto, o uso do “usuário final”, ou seja, o sujeito que consideramos em determinado

instante não faz nada além de continuar uma cadeia de usos que pré-restringe o dele,

condiciona-o sem, contudo, determiná-lo completamente (LÉVY, 1993 p. 59).

Portanto, quando um ser humano se apropria de uma ferramenta, ou de um objeto criado

por outrem, a partir de um novo contexto, está, de certa forma, ressignificando o conhecimento

por ele criado. Existe nessa dinâmica uma parte de determinação e outra de criação, na qual é

indispensável a reflexão ética, a fim de que as restrições do conhecimento pré-existente não se

transformem em reprodução. Por isso, a apropriação das tecnologias pela e na escola é tão

importante, excedendo ao aspecto utilitarista e possibilitando, por meio da abordagem

metodológica, a modificação das formas de pensar, o que, talvez, implicaria a mudança da

relação com as TDICs na sociedade como um todo. Tal ação, talvez, viesse a repercutir fora da

escola, uma vez que a relação escola-sociedade é dinâmica e apresenta permeabilidades

recíprocas, ao mesmo tempo que são influenciadas por interesses econômicos e políticos

diversos e, por isso, as ferramentas de construção e compartilhamento do conhecimento são tão

importantes. Considerando as mútuas influências entre escola e sociedade, caberia refletir quais

são os padrões de funcionamento da sociedade que devem ser consolidados e mantidos, tendo

em vista uma ética de humanização que pondere a relação de interdependência das sociedades

humanas com os demais sistemas que compõem este planeta. Nesse sentido as construções

tecnológicas humanas, sobretudo as TDICs, são potencialmente uma oportunidade de mudança,

por isso não podem ser absolutizadas de tal forma que não se tornem instrumento de opressão,

pois nem sequer vislumbra-se todos os seus impactos na formação subjetividade humana e na

construção de sua cognição.

6 BUENO, F. S. Grande dicionário etimológico-prosódico da Língua Portuguesa. Santos: Brasília, 1974. v.

1. p. 301.

Page 106: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

106

4.5 Tecnologia, mudanças metodológicas e materialidades

Considerando os processos formativos que mobilizam a integração de tecnologias nas

práticas pedagógicas, buscou-se identificar a frequência e o modo dessa integração, aclarar as

possíveis mudanças didático-metodológicas associadas, bem como identificar a materialidade

necessária para a implementação das competências quatro e cinco nas escolas de ensino básico.

Parte-se do princípio de que a formação é um dos aspectos relevantes da prática docente

que deve ser conjugado com as condições oferecidas pela escola e até mesmo com a decisão

pessoal do professor em arriscar-se em novas práticas. Nesse sentido, buscou-se contribuir na

elucidação das relações entre tecnologia e mudanças didático-metodológicas porque,

dependendo de como se estabeleçam, podem ser geradoras de competências.

Gráfico 6 – Prática pedagógica dos respondentes

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

O Gráfico 6 demonstra que, entre os respondentes, há uma predominância na integração

das TDICs às práticas pedagógicas (27), embora haja certa distribuição entre uso constante (15)

e parcial (12). Apenas dois raramente integram as TDICs à prática pedagógica. Acredita-se que

tal prática não se constituiu de uma hora para outra, correspondendo aos movimentos de

apropriação mobilizados desde a LDB e fomentados pelo contexto competitivo vivenciado pela

escola particular. Por outro lado, considerando as particularidades dos componentes

curriculares, é possível inferir que haja práticas pedagógicas que possam ser desenvolvidas sem

a presença das TDICs. De certo modo, tal vivência cria um campo favorável à adesão às

proposições da BNCC em relação à tecnologia. O que se mede aqui, a princípio, é a frequência

da integração da tecnologia à prática pedagógica, pois ela indica o quão presente esse elemento

está no cotidiano da escola. Pode, também, denotar a intensidade dessa integração, pois, de

acordo com Prensky (2001), há formas “poderosas” de integração da tecnologia com a educação

15

12

2

0

As TDICs são constantemente integradas àminha prática pedagógica.

As TDICs são parcialmente integradas àminha prática pedagógica.

As TDICs são raramente integradas à minhaprática pedagógica..

As TDICs não são integradas à minha práticapedagógica.

Você costuma integrar as TDICs à sua prática pedagógica?

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107

que supõe fazer o que não podia ser feito até então, indicando uma nova forma de pensar e a

construção de outra cultura escolar.

De acordo com o método SAMR (The Substitution Augmentation Modification

Redefinition Model, tradução: “Modelo de Substituição, Aumento, Modificação e

Redefinição”), desenvolvido pelo Dr. Ruben Puentedura, a integração da tecnologia em

processos educacionais pode ser medida e classificada de acordo com indicadores, por meio

das atividades desenvolvidas e do engajamento existente nelas. O modelo permite uma visão

sobre a apropriação do conhecimento e sobre a formação dos protagonistas dos processos de

ensino e aprendizagem por meio de sua interação com a tecnologia. Nesse modelo, a letra “S”

representa a substituição. Ela indica que a tecnologia é usada apenas no nível superficial, como

uma ferramenta nova em um processo arcaico.

Enquanto a letra “A” representa “aumento” e corresponde à aplicação da tecnologia em

atividades melhorando o funcionamento de processos e ações. Nesse nível, há uma ampliação

dos modelos pré-existentes, porém, não uma ruptura entre eles.

A letra “M” representa “modificação”, indicando que nesse contexto as tarefas são

transformadas pela tecnologia e não poderiam ser feitas sem elas. Dessa forma, a tecnologia

passa a ser influenciadora de novos processos associados a outros já existentes, com um

incremento na forma de pensá-los e também nas possibilidades de ação dos sujeitos. Por fim, a

letra “R” representa “redefinição”. Nela a tecnologia está amplamente incorporada, permitindo

criação de tarefas, ações, processos que não poderiam existir sem o uso da tecnologia. Este é

considerado o nível mais elevado de integração, representa a maior ruptura cultural entre

práticas pedagógicas e formas de aprender.

Pelo conjunto de respostas presentes no Gráfico 6, conclui-se que o conjunto dos

respondentes vivencia uma prática de integração de tecnologia na escola e, posteriormente,

descreve-se a forma como isso acontece. Em seu trabalho, Coll e Onrubia (2010) destacam a

necessidade de identificar e classificar os usos e as finalidades da tecnologia na educação e que,

nessa tarefa, tornaram-se conhecidos sistemas de classificação, porém seus critérios

fundamentais não são unitários. Por isso, há sistemas que partem da análise da tecnologia

verificando se ela atende às funções educacionais que uma TDIC deveria cumprir. O outro parte

dos grandes postulados educacionais vinculando-os à tecnologia empregada no processo de

ensino, mas “entende-se que as tipologizações de usos baseados exclusivamente nas

características concretas das ferramentas tecnológicas e nas suas potencialidades genéricas para

a educação [...] são claramente insuficientes” (COLL; ONRUBIA, 2010, p. 79), por isso, os

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108

mesmos autores sugerem que o Computer Practice Framework (CPF), proposto por Twining

(2002), seja mais adequado porque

Contempla três dimensões de análise: a quantidade do tempo durante o qual o

professor e os estudantes utilizam as TIC (que se expressa em termos de proporção

em relação ao tempo total disponível), o foco, ou seja, os objetivos aos quais servem

as TIC; e o modo que se refere à posição do uso das TIC em relação ao currículo. No

que se refere ao foco, o CPF distingue três grandes subcategorias: ou os usos das TIC

têm como objetivo ajudar os estudantes a desenvolverem destrezas e habilidades

relacionadas ao domínio da tecnologia [...] ou são usadas para apoiar algum aspecto

ou conteúdo da aprendizagem diferente das próprias TIC; ou, ainda, são utilizadas

como outros objetivos não diretamente com a aprendizagem. (COLL; ONRUBIA,

2010, p. 79).

Considerando a proposição de Twining, no âmbito desta pesquisa, interessa identificar

a posição do uso das TIC em relação ao currículo, iniciando por traçar, nas narrativas dos

professores respondentes, quais são as materialidades necessárias para que a escola coloque em

prática o que é pedido pela BNCC no que tange à tecnologia. Contudo, ao perguntar aos

professores a esse respeito, nota-se que as respostas não são diretas, mas aparecem mescladas

a exemplos de práticas e de tecnologias analógicas consideradas pelos grupos como

fundamentais. É importante considerar que esta pesquisa está contextualizada na escola

particular, que normalmente tende a dispor de recursos tecnológicos digitais.

Tabela 3 – Tecnologias digitais identificadas pelos professores como disponíveis na

escola antes e depois da BNCC.

TECNOLOGIAS DIGITAIS DISPONÍVEIS NA ESCOLA NO CONTEXTO DA

PESQUISA

Antes da BNCC

Laboratório de informática fixo 1

Laboratórios de informática móveis 2

Laboratório de robótica 1

Computador e multimídia na sala de aula 1 por sala

Depois da BNCC

Internet disponível Para todos os professores e

para grupos de alunos quando solicitado

pelos professores

Ambiente de gestão acadêmica 1

Aplicativo de comunicação com famílias e alunos 1

Ambiente Virtual de Aprendizagem 2

Site com balcão de serviços e notícias 1

Plataforma para comunicação síncrona 2

Pacote Office e aplicativos associados para professores e alunos

E-mail institucional para professores e alunos

Fonte: Elaborada pela autora, 2020.

A diversidade das materialidades identificada na Tabela 3 reforça que este é um grupo

de professores com condição de trabalho privilegiada em relação à média nacional, ao mesmo

tempo que permite inferir que os investimentos devem abranger todos os aspectos da escola,

desde a gestão até a comunicação com as famílias, chegando principalmente à sala de aula. Ao

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109

longo da pesquisa não foi possível identificar a data precisa da inserção de cada tecnologia no

contexto da escola, porém, as entrevistas evidenciam que os professores estabelecem como

ponto de corte para a inserção de uma variedade maior de tecnologias no ambiente escolar os

estudos da BNCC e os processos de modificação curricular. Supõe-se que os recursos

estivessem presentes na escola antes mesmo dessa identificação, mas ganham significado no

novo discurso dos respondentes a partir de sua inserção curricular. Contudo, dos elementos

citados acima, alguns são destacados pelos professores respondentes como fundamentais, como

percebemos a seguir:

Para mim, o fundamental é ter disponíveis aplicativos, softwares, objetos de

aprendizagem, plataformas para a organização do plano de ensino e outras que

facilitassem a avaliação. (DENISE – MT)

Meu trabalho depende do laboratório de informática porque eu posso usar o fone, usar

áudios, explorar a internet, fazer isso que era algo que eu não conseguia fazer no

espaço tradicional da sala de aula. Eu sempre pensei nisso, que a tecnologia tem que

trazer algo para mim que na sala de aula eu não consiga fazer com outro recurso.

(ALONSO – LC)

Nota-se, nos depoimentos dos professores respondentes Denise e Alonso, que a

diversidade de tecnologias integradas em sua prática pedagógica está diretamente relacionada

a ações de apoio, a aspectos da aprendizagem e à organização do processo de ensino, denotando

haver integração das tecnologias com o currículo. Porém, há outros níveis que são também

destacados pelos professores respondentes Jonah e Diego.

Mas eu trabalho em parceria com o professor de robótica [...]. Não é fácil, é

trabalhoso, mas tem como fazer. Eu levo os alunos para a sala de informática e ajudo

a produzirem jogos ligados ao conteúdo, eles gostam disso. (JONAH – CH)

Eu gosto de fazer o livro eletrônico... a gente digitaliza os textos, produzimos

conteúdo... para isso eu dependo de internet, de pesquisa, de aplicativos e os alunos

gostam muito disso. Lógico, ainda é simples, mas já é alguma coisa. Tem como a

escola produzir tecnologia, desde um joguinho no kahoot até a produção de um

aplicativo, é possível sim... leva um tempo. (DIEGO – LC)

Nota-se na narrativa dos professores uma abordagem complexa, uma ênfase na internet

e em aplicativos e um destaque para a motivação dos alunos como elemento para o

desenvolvimento de competências, chegando ao nível mais abrangente, que é a criação de novos

elementos tecnológicos, algo almejado pela competência cinco da BNCC e que será mais

amplamente debatido a posteriori.

Considerando os processos formativos destacados pelos professores e a importância dada

por eles ao compartilhamento de experiências entre pares, percebe-se haver uma base de

conhecimentos estabelecida pela própria prática, como fruto da reflexão sobre ela. O Gráfico 7

a seguir apresenta a percepção dos professores respondentes quanto aos principais aprendizados

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110

trazidos pela integração das TDICs à sua prática pedagógica. As assertivas elaboradas para a

questão estão vinculadas a aspectos relevantes da BNCC e que passam a compor o arcabouço

das habilidades a serem construídas pelos estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental;

como novas formas de organizar o conhecimento, a capacidade de lidar com elementos de

hardware e software e a compreensão da cultura digital como elemento cultural vivenciado pela

juventude. Buscava-se, portanto, estabelecer uma relação entre a formação significativa do

professor, sua vivência e a reflexão sobre ambas como elemento de aprendizado.

Gráfico 7 – Integração das TDICs à prática pedagógica

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Nota-se que há um respondente que não identificou nenhuma aprendizagem, enquanto,

entre os demais respondentes, há um predomínio indicando uma melhor compreensão de como

a cultura digital permeia a vida dos adolescentes, com 13 respondentes. É curioso notar que a

formação para o trabalho com a linguagem digital foi a alternativa menos indicada no Gráfico

6, todavia. Há uma relação entre as duas afirmativas, pois a linguagem digital é um recorte da

cultura digital denotando que ou esse grupo de professores já se sente contemplado nos saberes

relativos a esse tópico ou talvez atribuam a ele outro valor semântico passível ainda de

investigação não contemplada no conjunto das questões desta pesquisa.

Percebe-se, portanto, que há aprendizagens quanto ao uso das tecnologias e das novas

linguagens, porém sem se apropriar do conhecimento técnico funcional do instrumento, ou seja,

aprende-se a utilizar as ferramentas sem compreender como elas realizam o processamento das

informações, sem o domínio da outra tecnologia embutida que é a linguagem da programação.

Da mesma forma, pode ter havido um aprendizado de incorporação das tecnologias nas práticas

pedagógicas, porém mantendo o velho estilo de lecionar, sem incorporar a nova dinâmica

educacional na qual o educando se torna protagonista. O que indica um desafio pedagógico

13

3

12

1

Compreendi melhor como a cultura digitalpermeia a vida dos adolescentes.

Aprendi a lidar com tecnologias diversas desoftware e hardware.

Desenvolvi outras formas de pensar eorganizar o conhecimento.

Não trouxe nenhuma aprendizagem.

Qual foi a principal aprendizagem que a integração das TDICs trouxe à sua prática pedagógica?

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111

também, que seria superar a relação professor-aluno em benefício da relação de aprendizagem

fundamentada na pesquisa conjunta.

Ao se associar cultura digital e sua permeabilidade na vida dos adolescentes, estabelece-se

um campo comunicacional que levará ao entendimento da cultura de um grupo por outro. Nesse

sentido, os professores são sempre desafiados a compreender seus educandos a partir da

reinterpretação que estes fazem do mundo. Esse é um aprendizado bastante significativo do ponto

de vista das relações sociais – interação entre professor e estudante. Ele poderá levar à compreensão

das necessidades dos estudantes por aprimoramento de sua produção comunicacional.

Há 12 respondentes que estabelecem o desenvolvimento de novas formas de pensar e

organizar o conhecimento como o aspecto mais significativo, denotando que, para esse grupo,

a relação do ser humano com a técnica e a tecnologia na educação pode enriquecer a reflexão

relativa à forma como os seres humanos constroem os meios de vida através do trabalho, se

apropriando do conhecimento tecnológico construído por outros. Para Lévy (1993, p. 58), “toda

criação equivale a utilizar de maneira original elementos pré-existentes. Todo uso criativo, ao

descobrir novas possibilidades, atinge o plano da criação. [...] criação e uso são, na verdade,

dimensões complementares da mesma operação elementar de conexão, com seus efeitos de

reinterpretação e construção de novos significados. Esse ciclo repercute no processo evolutivo

da humanidade e em sua produção cultural.

É importante salientar que a escola trabalha essencialmente organizando e

compartilhando conhecimento. As TDICs são potencializadores dessas ações, e quem as

desenvolve são os professores, portanto, quando eles conseguem identificar novas formas de

pensar e organizar o conhecimento a partir de suas experiências com as TDICs, algo na cultura

escolar mudará. A professora respondente Seth aponta essas questões ao relacionar as mudanças

no perfil de seu alunado com as transformações que ocorreram em sua prática, identificando-as

com as possibilidades trazidas pela internet.

Sendo a rede um ambiente essencialmente colaborativo, onde todos têm

oportunidade de criar, aprender, produzir e contribuir, a cultura digital estimula as

pessoas [...]. Estudar em tempos de internet tornou-se uma tarefa essencialmente

ativa, controlada pelo estudante, que deixa de ser um mero receptor passivo de

conteúdo para se tornar um agente na construção de seu próprio conhecimento e

repertório. Quando aplicada à sala de aula, a cultura digital promove uma expansão

cada vez maior dessa ação, promovendo a aprendizagem ativa, e isso muda meu

papel de professora. (SETH – LC)

A narrativa dessa professora respondente evidencia que seus processos formativos lhe

permitiram construir conhecimentos relativos à tecnologia que integram aspectos culturais,

metodológicos e didáticos. Ela reconhece como a permeabilidade da tecnologia na sociedade

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112

mudou o papel dos professores visto que o acesso e o poder sobre a informação estão

compartilhados, concordando com Lalueza e Camps (2010).

Eles discutem a importância das tecnologias nos processos evolutivos humanos e, ao

fazê-lo, destacam que nas relações pedagógicas também o professor aprende, na medida em

que evolui o seu trabalho. Para eles, a escola se manteve, por muito tempo, presa a uma forma

de transmissão na qual a informação era escalonada, apresentava linearidade e focada no texto

escrito. O que exigia dos professores e dos estudantes, competências relacionadas à atenção, a

foco ou a outro tipo de ordenamento visual e temporal. Contudo, a inclusão das TDICs nos

processos de ensino traz consigo outras formas de ordenamento da informação nas quais a

simultaneidade, a participação na construção no contexto da informação e a multimodalidade e

a acessibilidade a volumes cada vez maiores de informação são marcas constantes. Integrar tais

características ao trabalho pedagógico exige que o professor consolide as competências já

citadas no Anexo A. Em sua narrativa, o professor respondente Jonah identifica essa situação

ao criticar o uso dado ao livro didático físico e digital.

Eu vejo que meu aluno já não tem paciência para livro didático... eles não pensam

mais linearmente... e aí a editora resolve tornar o livro digital, tá bom! Dá para levar

para todo lugar, mas é a mesma lógica de construção, então o professor espelha o livro

na lousa digital; e que o aluno faz? Ler? Então não mudou nada. (JONAH – CH)

Ao comparar-se a narrativa do professor respondente Jonah, com o da professora

respondente Seth, nota-se que ambos demonstram percepção de mudança e preocupação com

práticas de ensino cristalizadas. Percebe-se que Jonah traz uma crítica ao uso das tecnologias,

sejam elas analógicas ou digitais, que repetem velhos modelos que já não funcionam

socialmente nem se integram a novas formas de organização do conhecimento. Se habilidades

de pesquisa, identificação de fontes seguras, criação de conteúdo dentro de sua função social

fossem valorizadas na situação de aprendizagem exemplificada pelo professor respondente

Jonah, possivelmente, o uso dado ao livro físico ou ao digital seria muito diferente.

Concordando que “mudanças nas ferramentas culturais supõe mudanças nas formas de

inteligência valorizadas pela sociedade e, portanto, na orientação do desenvolvimento cognitivo

e emocional dos indivíduos” (LALUEZA; CAMPS, 2010, p. 51). Portanto, se a escola não

souber identificar quais são as inteligências valorizadas pela sociedade, nem tampouco orientar

suas práticas na direção da construção delas, contrastá-las no que tange aos direitos humanos e

da Terra, possivelmente se acentuará a distância entre escola e sociedade e será enfraquecida

sua função social.

Os mesmos autores propõem um conceito de tecnogênese que se constitui como

“processo pelo qual os humanos constroem, manipulam e interagem com tecnologias da

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113

informação e comunicação, cujos efeitos consistem na aquisição de novas funções e estruturas

da mente humana e na constante transformação do meio sociocultural” (LALUEZA; CAMPS,

2010, p. 65). Evidencia-se a importância da presença da tecnologia na educação como

mobilizadora de novas formas de pensar, o que, nesse caso, coincide com as intenções expressas

na BNCC e também na narrativa da professora respondente Denise, ao destacar os elementos

fundamentais para as mudanças metodológicas e didáticas.

Um desafio é saber como evoluir na forma de apresentar os conteúdos aos alunos para

que eles desenvolvam as habilidades do século XXI. Não predominam mais as

competências manuais, mas as atividades cognitivas, o pensamento com criatividade

e com habilidades sociais. (DENISE – MT)

É interessante notar que no Gráfico 7 há um número bem inferior de respostas que se

referem aos aprendizados relacionados a software e hardware, com apenas três respondentes.

Denota-se, portanto, que os aprendizados de manipulação de plataformas, programação,

desenvolvimento de sistemas, de objetos de aprendizagem e criação de tecnologias específicas

ainda representam uma lacuna que pode vir a ser uma divergência em relação ao que é pedido

pela competência 5 da BNCC, pois nela preconiza-se o desenvolvimento de competências para

a criação de tecnologias. O que se torna convergente ao que foi respondido pelo mesmo grupo

no Gráfico 6, no qual dez respondentes afirmam que um dos aspectos formativos mais

relevantes ao professor é a utilização de software e hardware, na forma de plataformas, recursos

e equipamentos, inclusive possibilitando a programação. Constata-se coerência na resposta,

visto que o que é identificado com baixo índice de aprendizagem entre os professores é também

o que eles mais solicitam como formação. Esse é o aspecto que talvez mais tenha repercutido

no impasse que se verifica no próximo subitem.

4.6 Tecnologia, competências e mudanças metodológicas

Nas seções anteriores, verificou-se que a formação dos professores, a materialidade

presente nas escolas e as concepções curriculares influenciam a forma como a tecnologia é

integrada às práticas pedagógicas. O cenário composto por essa análise possibilitou verificar o

nível das modificações didático-metodológicas nas práticas mobilizadas pela tecnologia e como

elas se conjugavam com o desenvolvimento das competências quatro e cinco da BNCC.

Tendo anteriormente ressaltado as diferenças entre a BNCC e os PCN relativas à

abordagem dada à tecnologia, um aspecto relevante da BNCC foi exposto na competência cinco

na qual está expresso que ao fim de sua formação básica o estudante possa:

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114

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de

forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as

escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir

conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal

e coletiva. (BRASIL, 2018, p. 9, grifo nosso).

Naquele documento não há uma contextualização clara a respeito do que representaria

criar tecnologias no Ensino Fundamental, cabendo ao leitor/professor construir sua inferência

por meio da análise das competências específicas e das habilidades a elas relacionadas. Por isso,

julgou-se relevante identificar os significados dados pelos professores a essa possibilidade de

criar tecnologias digitais de informação e comunicação. E, eventualmente, como traduziam isso

em suas práticas pedagógicas.

Gráfico 8 – Percepções dos professores quanto à escola como ambiente de criação de

tecnologias digitais

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

O Gráfico 8 apresenta as percepções dos professores quanto à possibilidade de a escola

ser ou não um ambiente de criação de tecnologias digitais de informação e comunicação.

Percebe-se que há um predomínio em respostas afirmativas, no sentido de que a escola é sim

um ambiente no qual se criam tecnologias, porém, há um equilíbrio entre os que percebem que

essa criação é esporádica e aqueles que afirmam que a criação é constante, com 13 indicações

cada. A tendência positiva é confirmada pelo fato de nenhum respondente a considerar um

espaço de não criação de tecnologias, ao passo que apenas três respondentes veem esse

ambiente como um lugar no qual raramente se cria tecnologias.

A divisão de respostas relativas à frequência em que a escola consegue realizar essa

função expressa certa prudência dos respondentes, pois, embora este seja um aspecto previsto

na BNCC para o Ensino Fundamental, o contorno dado a ele está contido somente nas

habilidades relacionadas à Cultura Digital, ou seja, há uma delimitação do que é esperado como

13

13

3

0

0 2 4 6 8 10 12 14

Sim, a escola é um ambiente no qual,constantemente, se cria tecnologias.

A escola é um ambiente no qual,esporadicamente, tecnologias são criadas.

A escola é um ambiente no qual,raramente, se cria tecnologias.

A escola é um ambiente no qual não se criatecnologia.

Em sua percepção, a escola é um ambiente de criação de tecnologias digitais?

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115

criação tecnológica naquele documento. Entretanto, ainda prevalece a liberdade da escola do

professor na interpretação que fará das habilidades e das possibilidades expressas na

competência geral, de estabelecer um plano de trabalho incluso no currículo escolar.

Infere-se que a abordagem a ser dada para a consecução da competência cinco

dependerá fortemente da decisão de cada instituição, o que está de acordo com o Parecer 11 do

CNE, documento que influenciou fortemente o desenvolvimento da BNCC e no qual está a

defesa da autonomia e da iniciativa da escola.

O currículo do Ensino Fundamental tem uma base nacional comum, complementada

em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar por uma parte

diversificada. A base nacional comum e a parte diversificada do currículo do Ensino

Fundamental constituem um todo integrado e não podem ser consideradas como dois

blocos distintos. (BRASIL, 2010, p. 12).

Contudo, se a decisão final sobre o currículo escolar pertence a cada rede e instituição,

seria ingenuidade negar que “novos desafios se colocam, pois, para a escola, que também

cumpre um papel importante de inclusão digital dos alunos. Ela precisa valer-se desses recursos

e, na medida de suas possibilidades, submetê-los aos seus propósitos educativos” (BRASIL,

2017, p. 11). O documento se refere à escola como instituição, logo, a constatação relativa à

inclusão digital da população é algo que se estende a todas as escolas.

Durante os estudos que subsidiaram esta pesquisa, o documento final da BNCC foi

várias vezes retomado, e, a partir das leituras, considerou-se a possibilidade de identificar,

dentro do texto, as competências gerais e específicas, bem como as habilidades relacionadas à

tecnologia. Buscou-se com isso localizar as possíveis relações existentes entre o que é

estabelecido pelas competências gerais quatro e cinco e as habilidades distribuídas entre os

componentes curriculares, porque elas são o desdobramento prático e operacional do horizonte

almejado na competência.

Ao se realizar tal operação, foi constatado que há duas competências gerais relacionadas

às TDICs. Além disso, há, entre as competências específicas de cada área ou componente

curricular, outras 13 também relacionadas à tecnologia. E, ao longo da BNCC do Ensino

Fundamental, há 118 habilidades a elas conjugadas. Entre elas, 77 habilidades são direcionadas

aos anos finais desse segmento, conforme apresentado na Tabela 5.

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116

Tabela 4 – Habilidades presentes na BNCC nos anos finais do Ensino Fundamental

relacionadas às TDICs

HABILIDADES PRESENTES NA BNCC NOS ANOS FINAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL RELACIONADAS ÀS TDICs

LINGUAGENS E

CÓDIGOS

LÍNGUA PORTUGUESA 46

ARTE 5

E. FÍSICA 2

L. INGLESA 8

ÁREA DA

MATEMÁTICA MATEMÁTICA 11

CIÊNCIAS DA

NATUREZA CIÊNCIA 4

CIÊNCIAS HUMANAS GEOGRAFIA 0

HISTÓRIA 1

E. RELIGIOSO 0

77

Fonte: Elaborada pela autora, 2020.

Partindo do levantamento exposto, buscou-se classificar a natureza de cada habilidade

relacionada às TDICs e estabeleceu-se uma categorização que permitiu identificar que nelas as

tecnologias se alternam no papel de meio, recurso e objeto de conhecimento. Evidenciou-se

uma predominância de habilidades destinadas ao conhecimento, à apropriação da linguagem e

à cultura digital. Há também aquelas em que se busca a construção de capacidades relacionadas

ao uso e à apropriação de ferramentas para pesquisa e a seleção de informações, em benefício

da construção do conhecimento e em conformidade com uma nova cultura do estudo, que

exigiriam adaptações metodológicas para serem implementadas. E, em número bem menor,

aquelas diretamente relacionadas ao conhecimento específico das redes. Há habilidades e

competências que poderiam ser colocadas em mais que uma categoria, e a definição por uma

delas levou em conta a relação estabelecida com o restante do texto.

Ressalta-se que o levantamento e a categorização feitos encontraram, nesta pesquisa, a

finalidade de organização da informação e a construção de hipóteses que decorre de um

processo interpretativo unilateral, e, portanto, é possível que outro leitor daquele documento

que se dedique à mesma tarefa encontre outros significados.

Tabela 5 – Classificação das habilidades relacionadas às TDICs nos anos finais do

Ensino Fundamental na BNCC

Classificação das habilidades relacionadas às TDICs nos anos

finais do Ensino Fundamental na BNCC

Linguagem e cultura digital 59

Pesquisa e curadoria do conhecimento 15

Conhecimento específico de TDICs 3

Fonte: Elaborada pela autora, 2020.

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117

O predomínio em habilidades relacionadas à cultura digital é algo que se conjuga

facilmente à área de Linguagens e Códigos, trazendo em seu bojo o reconhecimento de que a

cultura digital permeia as sociedades contemporâneas e que “os jovens têm se engajado cada

vez mais como protagonistas da cultura digital, envolvendo-se diretamente em novas formas de

interação multimidiática e multimodal e de atuação social em rede, que se realizam de modo

cada vez mais ágil” (BRASIL, 2018, p. 58).

É inequívoco que adolescentes e jovens se engajam como protagonistas na cultura

digital, contudo, não é possível supor que haja entre eles uniformidade na base de

conhecimentos que trazem a esse respeito. Portanto, é esperado que a escola seja ambiente de

reflexão, análise, pesquisa e reconstrução cultural, na expectativa de que, por meio dessas ações,

outras tecnologias sejam criadas, conforme explicitado anteriormente.

Neste ponto insere-se um impasse, pois, enquanto a competência 5 é abrangente, as

habilidades são específicas. Nesta pesquisa, não se encontrou nenhuma delas que utilize o verbo

“criar” diretamente relacionado a tecnologias digitais de comunicação e informação. Portanto,

infere-se que a criação de tecnologias a que se refere a BNCC esteja vinculada ao domínio dos

conhecimentos que subsidiariam o desenvolvimento de TDICs: a capacidade humana de

transformar a si mesmo e o ambiente que o circunda em benefício próprio, conforme expresso

naquele documento, busca-se:

O estímulo ao pensamento criativo, lógico e crítico, por meio da construção e do

fortalecimento da capacidade de fazer perguntas e de avaliar respostas, de argumentar,

de interagir com diversas produções culturais, de fazer uso de tecnologias de

informação e comunicação, possibilita aos alunos ampliar sua compreensão de si

mesmos, do mundo natural e social, das relações dos seres humanos entre si e com a

natureza. (BRASIL, 2018, p. 58).

Por outro lado, conforme já debatido, é preciso considerar que uma competência geral,

em princípio, é pensada como um horizonte amplo, articulado entre o desenvolvimento de

competências pessoais que gradualmente são consolidadas, em articulação com necessidades

sociais. Isso significa que pessoas diferentes não as alcançarão da mesma forma.

Consequentemente, há necessidade de que a escola proporcione a vivência de práticas

pedagógicas mediadas por tecnologia, a reflexão sobre práticas e usos sociais, o conhecimento

da linguagem e cultura digital, com a finalidade de desenvolver as bases do pensamento

computacional, e da integração de linguagens e da aplicação do conhecimento na resolução de

problemas reais.

Convém reforçar que, mesmo havendo unanimidade no grupo de professores que

compõem este estudo quanto ao conhecimento da BNCC e das respostas favoráveis presentes no

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118

Gráfico 8, a ideia de que a escola deve desenvolver a competência de criar tecnologia é algo

pouco consolidado entre eles, e os motivos remetem a aspectos tratados anteriormente, como a

formação e as formas de organização do conhecimento. Segundo o professor respondente Alonso,

ao tratar das dificuldades para concretizar a competência cinco em suas práticas, “para que o

professor leve a BNCC para a sala de aula, ele tem que ter uma formação” (ALONSO – LC).

No conjunto de sua narrativa, esse professor respondente demonstra conhecimento do

documento e da necessidade de formação. Afinal, há uma mudança significativa entre o PCN

que trazia uma noção demonstrativa da tecnologia e a BNCC que traz uma abordagem bem

mais complexa, que, embora criticada por vários setores, é coerente com a realidade

contemporânea.

A falta de formação cria um hiato entre a proposição normativa, a reconstrução

curricular da escola e as expectativas e necessidades do professorado. Algo já identificado pelo

relatório E-learning Nordic 2006, que, ao contrastar a percepção de alunos e professores sobre

a presença das TDICs na educação, evidenciou existir um sentimento de autocompetência em

relação ao uso e às práticas com tecnologias, significativamente mais elevado entre estudantes

do que entre professores, embora haja entre os últimos uma considerável valorização delas nas

práticas pedagógicas (COLL; MONEREO, 2010). Ao analisar esse relatório, Coll e Monereo

(2010) destacam que a frequência e, sobretudo, se o uso das tecnologias é colaborativo, criativo

e autônomo, explorando as potencialidades da informação, da comunicação e da conectividade,

dependerá essencialmente “da formação técnica e, principalmente, pedagógica que receberam

neste campo além de suas ideias prévias sobre a utilidade educacional das tecnologias” (COLL;

MONEREO, 2010, p. 75). O relatório citado retrata uma realidade escolar mais favorecida que

o Brasil no que tange à educação e à tecnologia, mas as considerações de Coll e Monereo podem

se aplicar ao contexto nacional, afinal, falta de conhecimento técnico e pedagógico dificulta o

trabalho do professor em qualquer continente.

Ainda tratando dos possíveis motivos que podem sustentar a reticência dos professores

quanto à possiblidade de a escola fomentar a criação de tecnologia, verifica-se que o professor

respondente Jonah, além de atribuir importância à formação dos professores, faz referência às

desigualdades sociais e à mentalidade que, muitas vezes, subjaz aos projetos governamentais.

Segundo ele,

A dificuldade para a implantação da competência 5 está na desigualdade social. Então,

eu trabalho em outra escola em que meus alunos não têm os recursos para as aulas

remotas, enquanto, em escolas de classe média alta, existem os recursos e as

possibilidades. E o governo, às vezes, acha que colocar internet, computador significa

estar inserindo o aluno no ambiente tecnológico, vai muito além disso... mas falta

formação para o professor fazer o que é esperado, para usar, para acessar algum link,

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119

para fazer uma aula remota. As pessoas acham que o trabalho do professor é algo fácil,

mas não é... (JONAH – CH)

Infere-se que esse professor respondente trabalha na rede de educação pública e

particular e, ao relacionar a dificuldade para a efetivação da competência cinco às desigualdades

sociais, evidencia que não adianta ter o recurso tecnológico sem um propósito educacional

claro. Da mesma forma que não é possível desenvolver um bom projeto técnico científico sem

a materialidade e a formação necessária. Além disso, há o risco de se estabelecer uma

proposição curricular que, na tentativa de adaptar-se a cada contexto, naturalize ou perpetue as

desigualdades.

Para Vieira Pinto (2013), isso pode ser vencido por meio de uma compreensão dialética

da realidade, que considera a tecnologia como produto das relações de produção e de trabalho,

consequentemente, relações de poder. O pensamento de Vieira Pinto está inscrito na década de

1950, na qual repercutia a constatação de desenvolvimento tecnológico dependente vivenciado

pelo Brasil. Ele se vale da lógica dialética para desvelar a ideologia que permeia a relação que

pessoas e países estabelecem com a tecnologia, conforme pormenorizado no referencial teórico.

Para ele, as relações sociais e de produção são determinantes no desenvolvimento

tecnológico, chegando a afirmar que, numa concepção impressionista, a história humana é

determinada por seus produtos. Porém, na verdade, depende das condições de produção, que

não se reduzem apenas às correlações com os produtos de uma fase anterior, “mas são

determinadas pelas relações entre os homens que irão fabricar os objetos atuais, embora as

máquinas e as técnicas anteriormente conhecidas tenham papel de mediação necessárias. As

relações sociais têm sempre a primazia, e de fato constituem o fundamento de todas as

realizações do homem” (PINTO, 2013, p. 85). Ao desenvolver essa reflexão, o autor propõe

que as máquinas, bem como os processos criativos e intelectuais que as engendram, devem

superar a noção individualista de exploração e de dependência e ganhar um propósito de

libertação do próprio homem, o que tornar-se-ia coerente com as relações de interdependência

entre os seres humanos e outros seres e com nossa natureza gregária (PINTO, 2013). Se as

relações sociais e de produção são fundamentais nos processos criativos de desenvolvimento

tecnológico, é esperado que as relações pedagógicas tenham tanta ou mais influência do que as

máquinas ao mobilizá-las.

O Parecer 11 do CNE, documento relevante na definição da BNCC, considera que “para

muitos a educação é considerada a mola propulsora das transformações no país. No entanto, o

que se constata é que problemas econômicos e sociais repercutem na escola e dificultam o

alcance de seus objetivos” (BRASIL, 2017, p. 6). Para Grossi, Costa e Santos (2013, p. 81), “as

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120

consequências da exclusão social acentuam a desigualdade tecnológica e o acesso ao

conhecimento, aumentando o abismo entre pobres e ricos”. Por isso, a garantia de escola de

qualidade é o início do processo de inclusão, no entanto, as soluções para problemas complexos

deveriam ser integradas, levando em conta que a inclusão digital é também inclusão social

porque permite o acesso da pessoa a melhores empregos, formas de comunicação e de cultura.

Da mesma forma, a pobreza extrema causa inúmeras dificuldades a qualquer ser humano que

pretenda escolarizar-se.

Nesse sentido, a escola particular precisa estar muito atenta durante sua aproximação

com a BNCC e sua construção curricular, de tal forma que não ignore ou naturalize as

desigualdades. É relevante que mantenham o investimento em tecnologia e que seus educandos

possam, sim, criar tecnologia, porém colocando essa ação a serviço do desenvolvimento

humano e social de seu país, diminuindo a desigualdade. Transparece, portanto, na fala do

professor respondente Jonah, a sensibilidade com o fato de que a desigualdade “contamina” o

desenvolvimento de um projeto técnico pedagógico nos dois ambientes em que trabalha.

Todavia, se há, no âmbito desta pesquisa, professores que se mostram reticentes quanto

à possibilidade de a escola ser um ambiente que frequentemente cria tecnologias, há, em igual

número, aqueles que afirmam que essa criação é constante. E, considerando que passaram pelo

mesmo processo de formação em relação à BNCC, resta aqui a tarefa de identificar os motivos

para que se mostrem mais receptivos a tal proposição, buscando significados dados por eles a

essa ação. Conforme explicitado anteriormente, para Vieira Pinto, a criação de tecnologia

decorre do domínio da técnica, que, por sua vez, é resultado da apropriação dos conhecimentos

construídos pela humanidade. Para ele

[...] a máquina não sucede à ferramenta, nem uma máquina mais complexa a outra

relativamente mais simples, senão pela intervenção do conhecimento, o que em si

constitui um fato da biologia humana, só possível pelo contato, que justamente a

máquina possibilita em modalidades cada vez mais perfeitas. (PINTO, 2013a, p. 109).

Nota-se que a evolução tecnológica e a criação de novas tecnologias estão submetidas a

dois fatores relevantes: o contato com as máquinas, que são a síntese do conhecimento humano,

e o próprio ato de conhecer. O que está em acordo com a perspectiva vygostikiana de que as

ferramentas com as quais manejamos nosso entorno transformam as práticas, o contexto e a

mente daqueles que as utilizam. Refletindo em nosso modo de agir e de processar o pensamento

(MONEREO; POZO, 2010).

A consciência desse processo permite ver que em uma perspectiva dialética, ao mesmo

tempo em que o ser humano cria novas tecnologias, os artefatos adquirem objetividade e passam

a influenciar e criar o ser humano, numa dialética complexa e contínua. Por isso, para Pinto

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121

(2005a), a tecnologia, em suas acepções, deveria ser objeto do processo educativo, com

finalidades de desenvolvimento e de superação das desigualdades. No entanto, “quando o

progresso científico não se faz acompanhado pelo correspondente desenvolvimento na

compreensão teórica do homem e de seu papel no mundo, torna-se inevitável perder-se o fio

condutor que deveria manter a finalidade do pensamento à prática, ou seja, fica esquecida a

relação dialética que os une” (PINTO, 2013a, p. 294).

Ao longo das entrevistas, foi possível notar que os professores se mostravam favoráveis

ao que é proposto na competência cinco, mas, quando questionados a respeito dos processos

necessários para que a escola leve à criação de tecnologias, eles traziam exemplos de suas

práticas ou justificativas para uma suposta incompletude de suas ações, conforme identificado

na fala da professora respondente Denise. Em sua fala, ela não consegue dizer afirmativamente

como fazer para desenvolver competências para a criação de tecnologias na escola, mas indica

o que precisaria mudar para que isso acontecesse. Segundo ela,

A escola tem pouca coragem de problematizar o conhecimento, de perguntar aos alunos

quais são os problemas que o conhecimento pode resolver, quais são os problemas que

eles querem resolver. Quando se dá amplitude para eles (alunos) resolverem as coisas

da maneira deles, eles se colocam de maneira cidadã no mundo ao invés de serem

empurrados para ele com um monte de coisas na cabeça. (DENISE – MT)

A partir da fala dessa professora respondente, infere-se que a superação das práticas

pedagógicas transmissivas por outras que problematizem o conhecimento e gerem autonomia

de pensamento repercutiria em ações cidadãs. Embora em sua narrativa ela não explicite que

essa mudança de abordagem sustente a criação de tecnologias, infere-se, pelo contexto, que se

possa estabelecer uma relação. Pois, Bastos defende que, “na verdade, a essência da tecnologia

consiste no emprego do saber científico para a solução de problemas apresentados pela

aplicação das técnicas. Assim, a tecnologia é a simbiose entre o saber teórico da ciência com a

técnica, em busca de uma verdade útil” (BASTOS, 1998, p. 22). Compreende-se que em

qualquer época a escola está a trabalhar fundada num corpo de conhecimentos. Logo, se seu

trabalho não repercute efetivamente no desenvolvimento humano e social e tecnológico, há que

se perguntar quais são os aprimoramentos necessários e possíveis, incluindo os currículos.

A “falta de coragem das escolas para problematizar o conhecimento” explicitada pela

professora respondente Denise é explicada por Monereo e Pozo (2010) ao afirmarem que

atualmente existe uma espécie de “perplexidade” no sistema educacional, causada pela crise

entre a consciência daquilo que não funciona mais e a falta de certeza nos modelos alternativos

que vão se constituindo. E, por isso, defendem que já não se justifica fazer pequenos ajustes na

forma como a escola se apresenta, porque seria “necessária uma verdadeira reestruturação, uma

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122

mudança radical das estruturas e hábitos anteriores. Mas também sabemos que essa

reestruturação somente será possível quando tivermos construído uma teoria ou modelo

alternativo que integre o que havia antes” (MONEREO; POZO, 2010, p. 97).

Para esses autores, a reestruturação é indispensável, visto que existe um “abismo

sociocognitivo” entre aqueles que usam de forma competente as TDICs, sobretudo os jovens,

para os quais o ciberespaço está integrado ao cotidiano (PRESNKY, 2004), e aqueles que

“viram as costas para digitalização, e, portanto, em grande medida para seus alunos”

(MONEREO; POZO, 2010, p. 98). Justificando seu argumento, os autores apresentam um

levantamento das competências demonstradas pelos jovens no que se refere à pesquisa, ao

processamento e ao compartilhamento de informação, comunicação e representação do

conhecimento que diferem das práticas e dos rituais comumente vividos pela escola. E, por isso,

afirmam que a criação de tecnologias entre os estudantes se revelará nas formas como traduzirão

em práticas sociais o conhecimento que a escola e outros meios puderem refletir.

Nesse sentido, a narrativa do professor respondente Diego chamou atenção ao revelar

que seus alunos o procuraram para contar que tinham conseguido quebrar o código-fonte do

Ambiente Virtual de Aprendizagem da Escola, e criado nele uma funcionalidade para organizar

suas agendas ao enviar mensagens para seus números de telefone toda vez que uma nova tarefa

era inserida no ambiente. O professor narrou o fato com admiração pelos estudantes, pois seu

conhecimento tecnológico foi capaz de transformar a relação com a informação proposta pela

escola; por outro lado, demonstra preocupação em relação ao fato de escola não estar preparada

para isso. O professor salienta que esse foi um caso isolado, ou seja, o conhecimento

demonstrado por um pequeno grupo, que não é compartilhado pela coletividade de estudantes.

Esse fato demonstra o quanto a escola precisa aligeirar seus passos na direção da cultura digital

e integrar em suas práticas o conhecimento tecnológico já acumulado e pouco sistematizado de

seus alunos, ao mesmo tempo em que pode contribuir muito com a reflexão ética sobre o que é

lícito, possível e cabível de ser feito por cada um tendo ferramentas tão potentes nas mãos. Ao

refletir a respeito desse fato, Diego expôs:

Eu acho que muita coisa vai brotar naturalmente, vai ter alunos que vão criar algo que

está fora do nosso olhar. É claro que eu não falei para eles “criem uma tecnologia

colaborativa para organizar a agenda”. Mas eu acho que o discurso da escola vai nesse

sentido, mas não é explícito. Então... eles fizeram e foram me contar porque tinham

certa liberdade comigo, eles perceberam que tinha uma possibilidade. (DIEGO – LC)

A narrativa desse professor respondente vai de encontro ao que foi dito pela professora

respondente Seth, indicando a “falta de coragem da escola em refletir o conhecimento”. Há algo

impolítico que pode ser explicitado na reconstrução curricular, sistematizando e refletindo o

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123

conhecimento tecnológico e permitindo que novas sociabilidades possam ser construídas a

partir dele. Além disso, a narrativa do professor respondente Diego é indicativa de que existe

uma “brecha digital” entre o conhecimento dos estudantes e dos professores, pois os primeiros

construíram uma base de conhecimentos para desenvolver, ainda que de forma clandestina, uma

tecnologia digital, embora isso não estivesse explicitado no currículo ou nas práticas

pedagógicas conduzidas pelos professores. “A expressão ‘brecha digital’ vem do inglês digital

divide; e refere-se à fratura que existe entre pessoas ‘conectadas’ e ‘não conectadas’ com as

tecnologias e, mais especificamente, à internet. As causas podem ser múltiplas: econômicas,

políticas, culturais, etc.” (MONEREO; POZO, 2010, p. 116). O grau de distanciamento entre

pessoas conectadas e não conectadas se dá pela mobilização de funções cognitivas diversas

quando em contato com situações interativas que exigem a utilização de recursos e capacidades

de maneira simultânea e complementar (MONEREO; POZO, 2010).

Nota-se, no caso descrito pelo professor respondente Diego e na consideração sobre

“brecha digital”, que, em condições favoráveis, as iniciativas de criação de tecnologias estão

invadindo a escola de baixo para cima e de fora para dentro, pela iniciativa dos estudantes.

Embora ele identifique que há algo no “discurso” da escola que mobiliza os estudantes nessa

direção, não consegue nomeá-lo imediatamente. Mas, como se verá mais adiante, esse “algo”

está relacionado à democratização das práticas pedagógicas e a novas abordagens dadas ao

conhecimento, conforme atestado pelo mesmo professor respondente ao buscar os motivos e

fundamentos para as ações de seus alunos:

É outra relação com o conhecimento e com o poder. Quando ele (aluno) faz isso, ele

mostra que tem um conhecimento maior que o do professor e ele cria uma tecnologia

colaborativa demonstrando outro tipo de inteligência. Eu achei isso muito legal!

(DIEGO – LC)

Nas falas dos respondentes Diego e Denise fica evidenciada a acolhida às iniciativas dos

alunos, a preocupação com seu desenvolvimento e a abertura para o que propõe a competência

cinco. Porém, embora acreditem que a escola pode ser um ambiente de criação de tecnologias,

parece não haver clareza relativa à proposta didática que leve a isso, embora o destaque dado

para a relação conhecimento e poder e para as formas de trabalho caminhe nesse sentido.

Tendo em vista que o recorte temporal desta pesquisa está próximo à homologação da

BNCC e, embora os professores afirmem terem estudado aquele documento e também terem

contribuído para a reconstrução da proposta curricular de sua escola; a princípio, nota-se

existirem aspectos que não estão plenamente integrados à sua prática. O que os impede de

refletirem sobre seu papel e sobre as possibilidades de autonomia e de iniciativa que ele encerra

para além da necessidade de formação. Retomando Monereo e Pozo (2010), é oportuno que a

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124

reestruturação das práticas pedagógicas passe pela escuta e pela acolhida dos saberes e das

iniciativas dos estudantes, inclusive durante a definição curricular. Contudo, é preciso atenção

para não resvalar na direção do espontaneísmo e da falta de intencionalidade.

Para Pinto (2013a), a criação de tecnologias é um fato antropológico que não pode ser

entendido fora das sociedades humanas, pois interfere nas relações sociais passando por

modificações neurológicas e pela subjetividade. Para ele,

Toda ideia recém-inventada constitui a bem dizer nova função da biologia cerebral, pois

necessita, para se constituir e permanecer armazenada na memória, ter por base

processos bioquímicos até então jamais realizadas no psiquismo da espécie humana. Os

indivíduos que as criam na esfera da subjetividade têm de levá-las à prática, quer no

enunciado de concepções teóricas sobre a realidade, quer na fabricação de dispositivos,

montagens ou mecanismos completamente originais. (PINTO, 2013, p. 78).

A escola pode se colocar como um espaço para a criação de tecnologias, mas precisará

reconhecer que essa ação nasce muito antes que alunos e professores passem por seus portões,

pois está entranhada nas formas de pensamento precedentes. E, portanto, não poderá colocar-

se como detentora única do conhecimento e deverá, na medida do possível, problematizá-lo. O

que obrigará a relações sociais menos autoritárias, uma vez que será necessário, ao acolher os

saberes que vêm de fora, criar estratégias de reflexão, análise, transposição, validação. Ou seja,

a narrativa sobre o conhecimento passa a ser intercambiada entre estudante o professor. Por

outro lado, é inegável a importância da escola, pois, ao criar tecnologias, cria-se também novas

mentalidades e inteligências, provocando um grande impacto social.

As Tecnologias Digitais de Comunicação e Informação estão no cotidiano, produzindo

rupturas culturais e novas relações de aprendizagem, assim como qualquer outro insumo,

processo ou produto da aplicação da inteligência humana. Sua inclusão intencional,

qualitativamente mediada, nos processos de aprendizagem humanos leva à modificação das

estruturas de pensamento, contudo, quando isso se estende ao uso do ciberespaço das

tecnologias intelectuais, é possível amplificar, exteriorizar e modificar as funções cognitivas

humanas relativas à memória, à imaginação, à percepção e ao raciocínio; porque elas integram

a construção do conhecimento em forma colaborativa (LÉVY, 1999).

Estabelecendo um paralelo entre as considerações de Lévy (1999) e de Álvaro Vieira

Pinto (2013) a respeito do desenvolvimento das máquinas, vemos que há aproximações no que

tange à modificação das funções cognitivas. Para ele,

[...] a máquina, assim como a técnica, é coetânea do homem. [...] São ambas o resultado

da evolução que desenvolveu nesta espécie viva, o sistema nervoso, elevando-o ao nível

em que se tornou capaz de produzir, com caráter abstrato e universal, os sinais das

coisas, as ideias, permitindo ao indivíduo projetar o estabelecimento de relações entre

os corpos, não imediatamente dadas, mas pensadas. Na necessidade de projetar a

máquina está a verdadeira origem dela. (PINTO, 2013, p. 54)

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125

Percebe-se, portanto, que, se as TDICs representam potencial educativo, estas são, ainda,

apenas uma parte das tecnologias humanas, pois a principal tecnologia, aquela que gera todas as

outras, é a capacidade humana de aplicar sua inteligência na solução de problemas, resultando na

reconstrução de sua realidade e, consequentemente, de si mesmo. Por isso, um currículo que se

considere inovador terá como propósito articular ao uso das TDICs todos os aspectos da

inteligência humana, a começar por sua capacidade de questionar o próprio conhecimento. Este

é representado pela necessidade de substituir a interpretação literal e errônea do modelo cartesiano

de conhecimento, que subsidiou uma relação predatória da humanidade com a Terra, por um

modelo que admita a inteligência da Natureza, que integre modelos de Ecologia Integral e

reposicione o Ser Humano em sua condição de cuidador da Casa Comum na qual se vive uma

relação de interdependência com tudo e com todos os demais seres.

Isso significará repensar as formas de consumo de todos os elementos criados pela

humanidade, inclusive as TDICs. A partir dessa concepção, o principal elemento deixa de ser

o insumo tecnológico e passa a ser a intencionalidade de influenciar o desenvolvimento de

novas formas de pensamento sobre a realidade, sobre a criação de hábitos e comportamentos,

por meio de relações valorativas que alcancem as subjetividades.

De todos os professores que contribuíram com esta pesquisa e se mostraram favoráveis

à possibilidade de a escola criar tecnologias, apenas um narrou brevemente um processo

didático. Ele elenca duas ações nas quais percebe uma abordagem mais democrática, como a

escolha do tema e dos grupos de trabalho. Permitindo, supostamente, que o interesse dos alunos

por questões tecnológicas emergisse e se concretizasse. Contudo, não fica claro se havia uma

intencionalidade pedagógica na criação do aplicativo como produto final. É evidente que isso

não aconteceria sem um suporte de técnicas de pesquisa, de organização de informações e de

conceitos e também disponibilidade de tempo.

Uma vez fizemos uma olímpiada do conhecimento, e os alunos podiam escolher os

grupos, o tema, e ao longo disso eles produziram um aplicativo para

compartilhamento de informações e conhecimento. Ali eles entenderam que poderiam

ser produtores de tecnologia. (PAULO – CH)

A expressão “uma vez” leva a crer que se tratou de um projeto ocasional, mais do que

algo perenizado no currículo. Mais uma vez, o que transparece é a iniciativa do estudante, o

que é oportuno. Contudo, a ausência de outros aspectos pode indicar que, talvez, os professores

não tenham muita consciência de quais conhecimentos específicos sobre programação, desenho

de sistemas ou linguagem digital seriam necessários para a criação estabelecida pelos

estudantes. O que é coincidente com as necessidades formativas elencadas por eles,

anteriormente, nesta pesquisa. Outro aspecto a destacar está implícito na expressão “ali eles

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126

entenderam que poderiam ser produtores de tecnologia”, infere-se que foi pela ação autônoma,

pela prática, pelos revezes do desenvolvimento de um projeto é que se construiu a consciência

do conhecimento, mais do que pelo discurso ou pela narrativa do professor.

4.7 O entrelaçamento entre tecnologia, competências e mudanças metodológicas e

didáticas

Na análise anterior constata-se que a criação de tecnologia não depende unicamente do

contato com aparatos tecnológicos, ou do conhecimento prévio, ou da formação do professor,

mas está vinculada à abordagem dada ao ato de conhecer e às relações sociais. Neste item explica-

se como tecnologia, competências e mudança metodológica e didática se entrelaçam. Para isso,

inicialmente, delimita-se a concepção de didática e de metodologia adotada neste estudo.

Partindo do estudo etimológico, a palavra “didática” decorre do verbo no grego didaqué

que apresenta um valor adjetivo relacionado à ação do que se propõe ensinar e um valor

substantivo vinculado a um campo de estudos no qual “a didática poderia e deveria ser a ciência

que estudasse não o processo de ensino-aprendizagem, mas a aula, tal como ela realmente

ocorre e transcorre” (SOARES, 1983, p. 36-37 apud OLIVEIRA, 1992). Ou seja, o objeto da

didática são as práticas pedagógicas.

Em seu valor adjetivo, na antiguidade, a didática estava relacionada à oratória e à

capacidade narrativa de determinados saberes por parte daquele que ensinava. Ao passo que na

contemporaneidade a didática recebe contornos de gestão dos processos e das práticas de

ensino, articulando tanto capacidades comunicacionais quanto de gestão do conhecimento,

mobilização de saberes. Ela é, antes de tudo, uma competência daquele que ensina para

reconhecer que toda prática pedagógica está fundamentada em determinada concepção de ser

humano, de conhecimento e de ensino e, portanto, não é neutra. Ao contrário, ela apresenta a

capacidade para superar dualismos, estabelecer práticas pedagógicas contextualizadas que

visem à valorização e à construção de saberes articulando diferentes métodos, recursos,

estratégias (OLIVEIRA, 1992). Por sua vez, os arranjos metodológicos são a tradução prática

das concepções de ensino que sustentam determinada ação didática e estão vinculados a certa

concepção de homem, de educação e de conhecimento. Nele estão contidos os processos de

trabalho que determinam o grau de interação entre as pessoas e os objetos de conhecimento, a

autonomia e o protagonismo atribuídos ao professor e ao estudante nos processos de ensino

aprendizagem.

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127

É sabido que a dinâmica de uma aula muda quando qualquer elemento de um

planejamento didático é mudado, ou substituído. O que, antecipadamente, permite concluir que

a inclusão de tecnologia, seja como recurso, seja como objeto de conhecimento, traz alguma

modificação no processo. Contudo, buscou-se identificar quais são essas mudanças e como são

percebidas pelos professores; assim como se elas se constituem em vantagem ou dificuldade.

Por isso, ao longo das entrevistas, pergunta-se aos professores se a integração de TDICs nas

práticas pedagógicas modificava os arranjos didáticos metodológicos.

Gráfico 9 – Integração das TDICs e os arranjos metodológicos

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Neste gráfico evidencia-se a percepção dos professores quanto às possibilidades de

modificação dos arranjos metodológicos e didáticos por meio da integração das TDICs às

práticas pedagógicas. Há um número significativo, com 16 respondentes, que compreende

haver uma significativa modificação nos arranjos metodológicos e didáticos, e outros 13 que

identificam uma modificação moderada, ou parcial, nos arranjos metodológicos e didáticos por

meio da integração das TDICs. Verifica-se que há uma forte tendência de percepção das

modificações metodológicas e didáticas, visto que nenhum dos respondentes nega essa

afirmação ou a considera pouco percebida.

Salienta-se que o pano de fundo da ação didática e da escolha metodológica é a

abordagem dada ao processo de ensino-aprendizagem, que decorre de um conhecimento

filosófico e pedagógico. Mizukami (1986) discute de forma pormenorizada as abordagens

tradicionais, além da comportamentalista, humanista, cognitivista e sociocultural, indicando as

pertinências e os limites de cada uma, bem como sua transposição prática. No contexto desta

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128

pesquisa, os professores respondentes situam sua percepção de mudança com exemplos de

práticas pedagógicas ativas contrapondo-as com uma abordagem mais tradicional.

A tradução metodológica das concepções tradicionais de ensino tem suas origens no

empirismo e no behaviorismo, no qual o planejamento é centrado no conteúdo e não nas

necessidades do educando. Nelas, o erro é considerado indesejável e o foco do trabalho está no

treino de exercícios, cuja ênfase está no reforço da informação como condição de

aprendizagem. E, por isso, as motivações internas do educando, o conhecimento prévio e a

relação entre pares não são considerados relevantes. Em compensação, são valorizadas a

capacidade de planejar, a visão retrospectiva e antecipadora e a memória (OLIVEIRA et al.,

2001; MIZUKAMI, 1986).

As práticas pedagógicas tradicionais valorizam a narração e a transmissão de conceitos,

porém não há uma preocupação com a contextualização nem com a aplicação prática. A

abordagem dada ao conhecimento costuma ser unilateral, com ênfase no acerto e no

intelectualismo abstrato. Por isso, o professor é o centro do processo. Ele determina como o

ensino vai acontecer, desde a definição curricular até os processos avaliativos e as formas de

progressão, mas a responsabilidade pela aprendizagem é do aluno. Nesse modelo, o tempo da

aula é regulado, há pouca possibilidade de inter e transdisciplinaridade. É comum, nessa

abordagem, que a tecnologia ocupe o lugar de recurso, no qual seu papel de transformadora da

sociedade seja pouco problematizado (OLIVEIRA et al., 2002; MIZUKAMI, 1986).

É pouco provável que na contemporaneidade a escola consiga manter uma prática

exclusivamente tradicional sem vivenciar atritos e incomunicações com estudantes e com a

comunidade. Afinal, muita coisa mudou na sociedade e na escola, contudo, é comum que

aspectos de tradicionalismo sejam mantidos e mesclados com outras abordagens. Infere-se pela

natureza das falas dos respondentes que, no âmbito deste estudo, estes se refiram às práticas

tradicionais que foram mescladas. Para se alcançar a identificação das mudanças ou

permanências metodológicas e didáticas e seu significado, foi necessário encontrar dentro das

falas categorias que apresentavam certa frequência e, assim, proceder à análise a partir delas.

Percebe-se que elementos de uma prática mais tradicional se fazem presente na vivência desses

professores, tal qual identificado na fala do professor respondente Diego.

A primeira coisa que é um impacto da relação metodologia e tecnologia, que é para

mim um ponto de dobra: escolas e professores e equipes pedagógicas terão que fazer

escolhas, que são muito políticas, é... e uma delas e repensar o lugar da boa e velha

aula expositiva. (DIEGO – LC)

A aula expositiva é reconhecida como símbolo das práticas transmissivas, que apresenta

validade em alguns contextos. Nota-se, nesse fragmento, que a intenção não é abandoná-la, mas

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129

repensar o seu lugar. Por outro lado, se relacionarmos o que foi dito pela professora respondente

Seth sobre a “a falta de coragem para problematizar o conhecimento’ com a expressão de Diego

“fazer escolhas que são muito políticas”, pode-se inferir que, em sua redefinição curricular, as

escolas particulares precisarão posicionarem-se mais fortemente quanto à forma como

abordarão os conhecimentos científicos e sobre o tipo de relação que pretenderão estabelecer

com um alunado que, visivelmente, já domina mais a cultura digital que seus professores, mas,

como as gerações anteriores, carece fortemente de mediação para estabelecer sentidos éticos

para o uso do conhecimento e para sua participação social.

Sabe-se que nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, grandes

volumes de informação são transmitidos aos alunos na forma de aulas expositivas, o que

permite um aligeiramento do processo de ensino, mas, em contrapartida, nem sempre consolida

a aprendizagem, gera criticidade e menos ainda desenvolve competências. Pois, estas últimas

dependem de um elaborado trabalho anterior de planejamento que resulte em ações diversas

protagonizadas pelos estudantes. O que exige tempo, recursos e decisão política por parte da

escola, visto que, muitas vezes, tais ações não são reconhecidas pelos pais dos alunos com

validade educativa.

Voltando às modificações metodológicas identificadas pelos professores, destacamos o

que foi trazido pela professora respondente Cristiane.

A modificação mais importante para minha disciplina, com a inclusão de tecnologia,

foi a possibilidade de explorar diferentes formas de representar uma determinada

situação, explorando as múltiplas habilidades dos alunos em plataformas e objetos de

aprendizagem. (CRISTIANE-MT)

Para Moran (2012), a integração de tecnologias nas escolas é algo demorado, que no

princípio reforça os padrões existentes para depois alcançar inovações que dependem também

de domínio pedagógico. A fala da professora respondente Cristiane indica um passo à frente na

transição entre práticas tradicionais e novas formas de trabalho. Nota-se que a palavra

“conteúdo” não foi proferida, ao passo que as palavras “habilidades”, “situação”, “explorar”

compõem seu vocabulário pedagógico. A “exploração de formas de representação” significa

incluir modelos cognitivos diferentes, e, nesse sentido, percebe-se que há uma preocupação

também em variar recursos como plataformas e objetos de aprendizagem, indicando

significativas mudanças no processo didático.

A transposição didática é dos exercícios mais corriqueiros e ao mesmo tempo refinados

que um professor poderá fazer em sua profissão. Ela compreende a transformação do

conhecimento acadêmico científico de diferentes áreas em conhecimentos escolares por meio da

seleção, da segmentação, da transformação e da reordenação; de tal forma que se tornem possíveis

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130

de serem ensinados, respeitando as necessidades e as características de aprendizagem de cada

idade/série. Esse exercício é sucedido por outro que compreende a busca de elementos que

possam ilustrar, demonstrar, problematizar tais conhecimentos, para que se crie uma ordem lógica

de apresentação e apreensão. Que, por fim, repercutirá na imagem mental que o educando terá de

determinado conhecimento. Ou seja, quanto maior for o cuidado dedicado a essa ação, menor

será o risco de que as interferências, nas formas de raciocínio do estudante, sejam infrutíferas.

A professora respondente Cristiane demonstra ter internalizado esse processo sem abrir

mão da centralidade do conhecimento, mas representando-o de formas diversas que extrapolam

a narrativa simples, ou seja, ela integra um pensamento multimodal. Logo, é possível inferir

que ela se apropriou do significado de desenvolvimento de competências na qual a ação do

estudante é central, ao mesmo tempo em que integra as tecnologias como conhecimento e como

ferramentas potencializadoras da mente.

Coll e Onrubia (2010) retomam o conceito de mindtools, expressão forjada por David.

H. Jonassen, para se referirem aos usos educacionais de tecnologias, nos quais há flexibilização

das formas de pensar sobre determinado objeto de conhecimento. Definindo-os como

[...] programas de computador que, quando são utilizados pelos estudantes para

representar o que sabem, fazem com que necessariamente desenvolvam um

pensamento crítico sobre o conteúdo que estão estudando. As ferramentas da mente

servem como suporte para diferentes formas de raciocínio sobre o conteúdo.

(JONASSEN; CARR; YUEH, 1998, p. 24 apud COLL; ONRUBIA, 2010, p. 92).

Os mesmos autores defendem que a expectativa de mudança na educação relativa à

incorporação de tecnologias precisa estar articulada ao forte conhecimento do papel das TDICs

na Sociedade da Informação. Para eles, “neste cenário a educação adquire uma nova dimensão:

transforma-se no motor fundamental do desenvolvimento econômico e social” (COLL;

ONRUBIA, 2010, p. 68). Para isso, defendem que a integração de tecnologia como objeto de

ensino é potencialmente mais relevante do que como apoio à aprendizagem e, portanto, deveria

estar inclusa no currículo, não como uma disciplina a mais, mas na promoção da alfabetização

digital e no desenvolvimento de novas formas de pensar.

A segunda fase da transposição didática é, em certa medida, representada no

planejamento didático, e, por isso, esse elemento foi destacado nas seções anteriores. Tal qual

agora é reforçado pela professora respondente Seth ao falar das mudanças trazidas pela

tecnologia às ações didático-metodológicas.

Mudou a forma de pensar meu planejamento. Hoje ao fazer (o planejamento) eu

pergunto: quais aprendizagens espero que meus alunos alcancem? Quais habilidades

precisam desenvolver? Quais as melhores práticas e/ ou atividades a serem utilizadas?

E a tecnologia está aí... em todas as partes. (SETH – LC)

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131

As questões trazidas por esta professora respondente não são novas e podem ser

incluídas em qualquer modelo de planejamento, mas foram identificadas por ela como sinais de

mudança indicando uma abordagem curricular mais ampla e menos dogmática em relação ao

conhecimento, pois leva em conta o diagnóstico das dificuldades, habilidades e expectativas

dos educandos demonstrando que os propósitos da educação podem ser dialogados. Existe,

também na fala da professora respondente Seth, a sutileza de não atribuir à tecnologia apenas

um papel. Para Moran (2012), as tecnologias, com suas diferentes formas de representar a

realidade, abrem as portas da sala de aula para o mundo e “podem ajudar a desenvolver

habilidades, [...] mas o professor é fundamental para adequar cada habilidade a um determinado

momento histórico e a cada situação de aprendizagem” (MORAN, 2012, p. 52). Por isso, a

definição de qual habilidade pretende desenvolver em cada ação e qual é o recurso ou processo

associado para alcançá-la é fundamental. Essas são ações que não nascem, necessariamente, na

sala de aula, porque dependem de certa antecipação e de estudo, por isso, devem ser

representadas no planejamento.

Em princípio, o tempo figura como categoria didática por ser relacionado à estimativa

dos períodos de trabalho do estudante e do professor, à duração de uma unidade e ao

sequenciamento dos processos. É comum que não se dê muita importância a esse aspecto,

embora a escola seja uma das instituições na qual a regulação do tempo e dos espaços seja muito

rígida. Contam-se dias letivos, horas-aula, semestres, etapas, tempo de avaliação, estabelecem-

se agrupamentos fixos, cada um em sua sala, com determinados professores, o que se constitui

elemento de organização, mas também controle do processo de aprender e ensinar e socializar,

assim como reforça uma suposta autoridade e conhecimento dos adultos sobre outras gerações.

A naturalização desses rituais faz com que não sejam percebidos como elemento fragmentador.

É sabido que toda ação humana se inscreve num determinado tempo e espaço e num modelo

tradicional de escola, no qual essas categorias estão associadas uma à outra, visto que o trabalho

didático acontece predominantemente dentro da sala de aula, na presença do professor, com um

tempo determinado.

Porém, uma das características mais instigantes das TDICs é permitirem que a

comunicação e o acesso à informação aconteçam de forma ubíqua, ou seja, em qualquer tempo

ou lugar desde que haja conexão à internet. Outra característica relevante, mas que depende das

pessoas para se efetivar na educação, é a possiblidade de compartilhamento e mesclagem nos

processos de produção do conhecimento. Esta, quando associada à modificação de processos

de trabalho, tende a ser altamente transformadora das relações sociais. Quando essas

características se aplicam aos processos didáticos, há uma potencialização da escola e do que

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132

ela pode fazer como espaço de reflexão e de sistematização do conhecimento, conforme

destacado pelo professor respondente Diego.

Ao invés de passar três semanas dando aula da história da Língua Portuguesa, que é

algo que eu tenho que fazer [...], eu posso gravar alguns vídeos e eu vou expor o que

é essencial daquilo ali e depois eu posso usar as três semanas de aula para discutir,

criar, desenvolver outra coisa, ou fazer a análise de um documento... ou seja, eu não

me vejo mais entrando na sala de aula para dar aulas expositivas. Pra que eu vou fazer

isso se tem um recurso que pode fazer por mim. Nisso eu entendo que está a

capilaridade do uso da tecnologia. Ela subverte o tempo da escola, ela permite adaptar

a um outro espaço. (DIEGO – LC)

Neste exemplo o professor respondente faz uma distinção entre momentos de sua

prática, e nela destaca como a produção de vídeos contendo conceitos fundamentais lhe

permitiu modificar a dinâmica das aulas, aproveitando-as em modalidades de interação mais

complexas. Nota-se que a mudança está no modo como a informação é organizada, armazenada

e transmitida, havendo uma remodelagem na forma da exposição do objeto de aprendizagem.

O professor respondente amplia a abrangência de seu trabalho utilizando a linguagem midiática,

gravando e disponibilizando a informação, para que possa dedicar energia a outras iniciativas.

Ao fazê-lo, o aspecto de controle tempo-espacial se dilui, pois caberá ao estudante decidir

quando e como acessará a informação, pondo em prática sua autonomia e liberdade. Mas,

caberá ao professor criar situações de aprendizagem nas quais mobilize os estudantes para

transformarem a informação recebida em conhecimento possível de ser aplicado. Outra forma

de modificar a relação com o tempo passa pelo nível de engajamento do estudante.

É comum ouvir falar em gameficação como uma novidade que gera a motivação dos

estudantes. Todavia, ao abordar a gameficação como novidade, negligencia-se o fato de que

brincadeira é algo natural nos seres humanos, e o jogo, embora seja composto por regras,

desafios, pela competição ou cooperação, nasce das brincadeiras e se estruturam como

elementos culturais que são transmitidos de geração em geração. Apesar das inúmeras pesquisas

e propostas que defendem a brincadeira e o jogo como recurso didático, predomina certo

desconhecimento e, por vezes, preconceito em relação às suas potencialidades na educação.

Ensinar por meio da gameficação significaria incluir no ato de aprender a ação do

estudante, a competição, a cooperação, o planejamento, a possibilidade de autorregulação, o

feedback do progresso, assim como as dificuldades, a remodelagem e a ludicidade. Algo

presente em muitos jogos tradicionais infantis e nos eletrônicos também. Logo, a gameficação

pode representar mais do que uma moda passageira se estabelecer-se como a instituição de

novas relações didáticas entre professores e estudantes, nas quais desloca-se a função do

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133

professor de transmissor para organizador de ações gameficadas, que não detêm todo o saber,

mas que direciona seus estudantes na direção da pesquisa, da ampliação de seu conhecimento.

Felizmente, a brincadeira e o jogo ainda se fazem presentes na Educação Infantil e mais

fortemente no componente curricular Educação Física, mas, nos anos finais do Ensino

Fundamental, o elemento que aproximou o jogo das práticas pedagógicas foi a tecnologia, pois os

jogos eletrônicos já fazem parte da cultura infantojuvenil. Lentamente, a linguagem e os elementos

que sustentam os jogos analógicos e digitais vêm sendo incluídos nas práticas pedagógicas desse

segmento. Por vezes, isso ocorre pela apropriação de propostas que estão no mercado, outras pela

criação e pelo desenvolvimento de ações didáticas que incorporam elementos dos jogos, como a

alternância entre ações individuais e coletivas, a possibilidade de simular, criar e combater, de

alternar ações entre fases sem depender de uma sequencialidade rígida.

O jogo interfere na dinâmica das aulas de várias formas, pois exige um tempo maior de

planejamento e de preparação. Além do mais, exige clareza e conhecimento das regras e dos

recursos a serem utilizados, assim como das finalidades de uso. Modifica o papel do professor

e dos próprios estudantes, e no tempo de trabalho deste último, podendo ser muito breve, porém,

o mais comum é que estenda o tempo da aula, algo que o professor respondente Alonso traz ao

narrar uma prática na qual mobilizou os estudantes para uma competição de gramática usando

o AVA da escola durante a aula.

Aquele momento de 50 minutos eu levei para a semana inteira [...]. Eu continuava

incentivando, e, enquanto eles estavam jogando, eles estavam aprendendo. Então, eu

acho que tem essa possibilidade, a gente se aproxima mais dos alunos e amplia o

espaço da sala de aula. (ALONSO – LC)

Nota-se que o incremento tecnológico permite uma enorme variação de tempos e

espaços de aprendizagem, bem como relativiza o acesso à informação e ao conhecimento,

dinamiza processos de ensino e democratiza as relações de aprendizagem. O depoimento do

professor respondente Alonso demonstra que sua relação com os estudantes foi modificada,

havendo uma aproximação que não dependia de estarem no mesmo espaço geográfico para se

consolidar. Para Moran (2012), a capacidade de gerenciar e integrar vários espaços e tempos de

aprendizagem é fundamental ao professor. Para ele, “o primeiro espaço é o de uma nova sala

de aula, equipada com atividades diferentes, que se integra ainda ao laboratório para

desenvolver pesquisa e o domínio técnico-pedagógico” (MORAN, 2012, p. 94).

Nota-se que o autor não fala de uma sala equipada com recursos diferentes, mas com

atividades diferenciadas, ou seja, são as ações didáticas que enriquecem a aula. E a definição

delas está na alçada do professor, dentro das possibilidades oferecidas pela escola, e, para isso,

poderá fazer uso de todas as tecnologias que estiverem disponíveis e forem relevantes ao

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134

momento. O mesmo autor salienta que “essas atividades se ampliam e complementam a

distância, nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem, e se integram aos espaços e tempos de

experimentação, de conhecimento da realidade, de inserção em ambientes profissionais e

informais” (MORAN, 2012, p. 94). O que se destaca é a função e a necessidade de um

aprofundado conhecimento pedagógico para que as mesmas coisas sejam usadas de formas

diferentes, de preferência fora de modismos e com consistência.

O aspecto da relação menos verticalizada com os estudantes, destacada pelo professor

respondente Alonso, se fez presente na fala de outros professores como decorrência das

mudanças na forma de trabalho, assim como destacado pela professora respondente Denise. Ela

reitera que a inclusão de tecnologias permitiu trabalhar elementos de linguagem de

programação a partir da matemática e contextualizar melhor seu objeto de conhecimento. E, ao

refletir sobre o processo, assim conclui:

Com a inclusão de tecnologias, as aulas ficaram mais dinâmicas, permitiu uma

aproximação com os alunos, mesmo estando em espaços geográficos distintos. Eu

posso dinamizar as aulas, porque permite análises de forma dinâmica, interativa com

a possibilidade de maior engajamento dos alunos. (DENISE – MT)

Dessa vez, o engajamento dos estudantes é associado à dinamização das aulas,

decorrente da inclusão de tecnologia e da possibilidade de aproximação dos alunos apesar do

distanciamento geográfico. A análise, citada pela professora respondente e associada à

possibilidade de interação, representa o desenvolvimento de uma habilidade cognitiva

complexa.

As professoras respondentes Denise e Seth perceberam que a inclusão de tecnologias

mobiliza práticas de estudo autônomo, algo que nem sempre é previsto no currículo escolar ou

metodologicamente, mas que é desejável do ponto de vista da formação do estudante e que

compõe o repertório de competências e habilidades presentes na BNCC.

Com tecnologias, é possível que estudantes se tornam ativos, buscando maneiras

diversas de estudar por conta própria, mas também na tomada de decisões em relação

ao uso que fazem da internet. (SETH – LC)

Ao salientar a possibilidade de decisão do estudante sobre o uso da internet, a professora

aponta para aspectos da reeducação para o uso, visto que o contato com a rede, normalmente,

se dá primeiramente fora da escola. Há, na BNCC, 15 habilidades relacionadas à tecnologia que

tratam diretamente dos conhecimentos de busca e processamento da informação. Outras tantas

tratam do compartilhamento, fazendo, inclusive, referência à superação de contextos de pós-

verdade tão danosos à sociabilidade atualmente.

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135

É uma mudança significativa conduzir processos didáticos que atribuem

responsabilidade ao estudante por seu processo de aprendizagem, bem como formar habilidades

para a tomada de decisão ética diante da informação. Tornar os estudantes “ativos” significa

para o professor ocupar o lugar de mobilizador da aprendizagem.

O professor respondente Jonah destacou a possibilidade do diálogo e da diversidade de

estratégias. Nota-se que o professor mescla recursos midiáticos e estratégias metodológicas

demonstrando grande adaptabilidade.

Mesmo antes da BNCC eu já incluía tecnologia em minhas aulas. Eu nunca gostei de

ser um professor orador. Eu prefiro o diálogo que as tecnologias me permitem. Como

professor de história parece ser difícil, mas não é. Eu posso usar cinema, música, eu

gosto de usar muito metodologias que me facilitam isso com PBL, aula invertida... eu

percebo que uma turma, um grupo está entendendo mais que o outro, então eu sempre

aciono a tecnologia para me auxiliar, eu posso buscar coisas diferentes para cada um,

criar agrupamentos de trabalho. (JONAH – CH)

As mesclagens metodológicas, assim como muitas outras, são um fenômeno

contemporâneo, demarcadas pelas crises institucionais, pela cultura digital, pela

multimodalidade nas formas de produção e pela difusão do conhecimento. Na educação, de

modo especial, coincide com as tentativas de reestruturação das práticas pedagógicas em um

tempo de incertezas, conforme identificado por Monereo e Pozo (2010).

O professor respondente Jonah elenca as vantagens que percebe a partir da inclusão de

tecnologia em sua prática, como aumentar seu diálogo com os estudantes, reduzir sua função

de orador, permitir o acompanhamento de grupos diversos em situações de aprendizagem

diversas, dando sinais de substituição de práticas de controle por práticas de acompanhamento.

Ademais, ele traz dois exemplos de estratégias metodológicas que integram práticas

consideradas ativas. Elas são também o resultado da mesclagem de experiências

potencializadas pela tecnologia.

O principal fundamento do hibridismo metodológico está na constatação do princípio

da diversidade, no qual pessoas diferentes não aprendem da mesma forma. É também uma

maneira de acolher a diversidade tecnológica presente na sociedade. Contudo, a origem

filosófica dessa proposta está enraizada no Construtivismo desenvolvido a partir dos estudos de

Piaget (1896) e no Interacionismo de Vygotsky (1934). De acordo com o primeiro, o meio

refere-se a objetos, pessoas contextos, com os quais o ser humano interage. Essas interações

ocorrem pelas possíveis interpretações que se faz por meio da articulação entre linguagem e

pensamento que inclui, entre outros, os aspectos físicos, socioculturais e afetivos. Portanto, no

construtivismo, a aprendizagem é o saldo das trocas dialéticas que o indivíduo realiza com o

meio. Contudo, esse processo respeita uma lógica interna na qual o modelo cognitivo humano

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136

é organizado. Ou seja, a inteligência funciona sempre seriando, ordenando, classificando e

relacionando. Esse processo é inconsciente para o aprendente e observável para o educador,

que planeja as ações educativas buscando, intencionalmente, o saldo de aprendizagem. O

resultado desse processo é o conhecimento, que para os construtivistas é uma representação das

experiências que se vive em um determinado meio, pois, para os seres humanos, as coisas só

adquirem sentido quando inseridas em seu sistema de relações.

A epistemologia desenvolvida por Piaget foi estudada e, de certo modo, reestruturada

metodologicamente pelo movimento escolanovista – fim do século XIX, protagonizado por

John Dewey, nos EUA (1859-1952), e por Anísio Teixeira, no Brasil (1900-1971) – que faz de

alguns princípios, como individualidade, diferenças individuais, ritmos diferenciais,

potencialidades individuais e liberdade, os pilares que vão sustentar sua concepção

metodológica do ensino, chamadas de práticas ativas. Entendidas como um conjunto de

procedimentos e técnicas, por eles consideradas neutras, elas visam desenvolver as

potencialidades dos educandos, baseando-se nos princípios da atividade no sentido de aprender

fazendo, experimentando, observando. Da individualidade que considera os ritmos diferenciais

de um educando para outro e da liberdade, da responsabilidade e da integração entre os saberes,

posteriormente este foi chamado de transdisciplinaridade.

A tradução dessa proposta metodológica em práticas de ensino ativas considera que o

educando se torna o centro do processo educativo/formativo, agindo em contextos de

aprendizagem diversos, criados por um educador que manipula habilmente uma variedade de

estratégias e de recursos que sejam coerentes com os propósitos de ensino articulados às

necessidades do educando. Portanto, para atender aos requisitos das práticas ativas e do

hibridismo metodológico, o currículo escolar precisa se adaptar às dificuldades e às

potencialidades do educando. Nesse sentido, o projeto educativo passa a ser humanizante, em

vez de transmissivo.

Como referência de transposição do hibridismo metodológico com tecnologia, tem-se

Bergman e Sams (2016) que descreveram o conceito de sala de aula invertida em 2007, quando

os próprios autores começaram a gravar vídeos e criar materiais no PowerPoint com voz e

animação e disponibilizar na internet para os alunos que faltavam à aula. A principal

característica desse modelo é a ação do professor para recriar sua aula em formatos que

permitam a disponibilização em rede para que os estudantes acessem em casa, no seu tempo e

de acordo com suas necessidades, o que é bastante útil para recuperação de aprendizagens. Para

Bergman e Sams (2016), se o estudante tem contato com o conteúdo antes da aula presencial,

poderá acompanhar as discussões e obter um melhor aproveitamento das informações quando

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137

estiver em sala. Contudo, a Sala de Aula Invertida não pode ser conceituada apenas na presença

(ou ausência) de computador ou tecnologias, pois constitui-se numa estratégia de ampliação das

relações pedagógicas e dos tempos de aprendizagem.

Para Furletti e Costa (2018), a validade do ensino híbrido como uma proposta

metodológica está na possibilidade de ações intencionais de mobilização da aprendizagem em

ambientes presenciais e virtuais, no contato entre grupos de estudantes que estejam em espaços

diversos, acesso à informação fora do âmbito da escola, inclusão de plataformas de

comunicação e interação construtiva. Portanto, qualquer iniciativa que se apresente como

ensino híbrido com inclusão de tecnologia precisa levar em conta o acesso irrestrito às TDICs

e a Web para todos os estudantes e professores na escola e em casa. Da mesma forma, ocorre

com a comunicação entre grupos que estejam em ambientes diferentes. Também nessa proposta

o professor necessita ampliar suas funções de comunicador e articulador entre grupos.

Ao servirem como mediadores para a experiência do estudante em seu meio, os

instrumentos potencializam a mente humana para a produção de imagens mentais, que passam

a ser aplicadas em outras situações, redundando na construção de funções psicológicas

superiores – como planejar, comparar, relacionar, aplicar –, que dependem da formação da

consciência. A realização dessa proposta depende de flexibilização do currículo, permitindo

que se desenvolva uma formação básica para todos e, ao mesmo tempo, se construa caminhos

personalizados que atenda às necessidades de cada estudante. A presença de tecnologias nas

práticas de ensino, portanto, ao viabilizarem a variação metodológica, aproxima a escola de seu

tempo e lhe atribui novo sentido.

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138

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões desenvolvidas a partir do conjunto de dados auferidos por meio de estudo

de caso, nesta pesquisa, e de seu contraste com os conceitos estabelecidos por autores que

fundamentam a análise permitiram construir um “desenho” de como se estabelecem as

modificações nas práticas pedagógicas a partir da integração curricular das TDICs na escola de

ensino básico. Elas têm a BNCC como pano de fundo que insere a noção de competência

associada ao desenvolvimento de habilidades relacionadas à cultura digital.

Ao contextualizar a homologação da Base Nacional Comum Curricular, verificou-se

que o documento intenta alinhar o cenário da educação básica brasileira a propósitos e

referenciais globais de educação, que, embora pertinentes, representam descompassos em

relação à expectativa dos professores e das muitas outras urgências na educação nacional. Algo

que se agravou a partir de 2016 com a desmobilização de parte das políticas públicas de

educação. Apesar da homologação da BNCC ter ocorrido após essa data, o desenrolar das

políticas públicas de educação até 2021 fazem retroceder as expectativas de investimento em

formação de professores, melhoria nas escolas e a implantação de uma política curricular

coerente com as reais necessidades da população. Tal desmobilização impactou as adaptações

das escolas ao período de isolamento social necessário para conter a pandemia de Covid-19,

tornando ainda mais complexa a atuação dos professores.

O Ministério da Educação estabelece passos norteadores para a implantação da BNCC

para todo o conjunto da educação brasileira e direciona prioritariamente à rede pública as

ferramentas de suporte para a reconstrução curricular. Sendo a escola privada o locus do estudo,

evidenciou-se, pela análise dos dados, que existe investimento de tempo e formação nestas

instituições para que a reconstrução curricular a partir da BNCC se consolide, sendo os

processos engendrados uma espécie de adaptação do que estava previsto para a escola pública

até 2018. Fica evidenciada no ambiente da pesquisa a aderência ao trabalho por competências,

apesar de sua difícil transposição para o contexto do ensino básico, e que existe conhecimento

significativo no grupo de professores a esse respeito, inclusive com bom lastro pedagógico.

Algo que é ressaltado nas modificações no planejamento, na abordagem didática e

metodológica por meio da problematização dos objetos de conhecimento, visando ao

desenvolvimento de habilidades complexas. Indica-se que a ausência de teorização do que seja

o trabalho por competências na BNCC não se constituía em impedimento para que os

professores integrassem essa abordagem em seu trabalho, visto que os aspectos da

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139

contextualização e da flexibilização das fronteiras disciplinares eram algo conhecido por meio

de outras fontes. Ela era praticada antes da homologação da BNCC, naquele contexto educativo.

Ao identificar os processos formativos que subsidiavam a integração das TDICs ao

ensino verificou-se que existe relevância tanto na formação inicial quanto na continuada,

embora fosse evidenciada a necessidade de mudanças na abordagem e nos componentes dessa

formação. No contexto desta pesquisa, evidenciou-se que as iniciativas de integração

tecnológica-pedagógica dependiam fortemente do conhecimento experimental intuitivo e da

vivência pessoal dos professores na cultura digital. Apesar de a formação inicial ser considerada

relevante, ela já não conseguia suprir as oportunidades abertas pela BNCC. Portanto, para

atender ao critério de integração curricular das TDICs, a formação inicial dos professores deve

considerar a articulação de conhecimentos técnico-pedagógicos no qual didática, metodologia

e tecnologia sejam vistas como elementos convergentes para o desenvolvimento de

competências técnico-pedagógicas no professor. Viabiliza-se, com isso, a consecução de um

projeto de interatividade tecnológica-pedagógica e o uso técnico-pedagógico que leve em conta

desde a gestão e a produção de conteúdo em plataformas on-line até o desenvolvimento de

objetos de conhecimento e a programação de ambientes, a criação de aplicativos e softwares.

Para isso, parece ser necessária uma mudança de concepção do que é tecnologia, na

formação inicial, visto que todo instrumento cultural é tecnologia e pode ser colocado a serviço

do ensino. Ademais, a dinamicidade da cultura digital exigirá das escolas privadas investimento

em formação continuada que considere os aspectos já listados e as características conceituais e

funcionais das TDICs, como simultaneidade, ubiquidade, multimodalidade, manipulação de

grandes conjuntos de dados, oportunidades e ferramentas para o desenvolvimento de novas

formas de pensamento e novos modelos didáticos. Um aspecto a considerar na formação é a

substituição da cultura analógica pela cultura digital nos rituais que organizam a vida da escola.

Embora no contexto da pesquisa houvesse relativa segurança entre os professores para

abordar a cultura digital e os multiletramentos, entende-se que esse aspecto não pode ser

generalizado por estar relacionado à formação inicial em Linguagens e Códigos predominante

em parte do grupo. E também por conhecimentos vindos de formações complementares muito

específicas. No entanto, se ele perpassa toda a BNCC, deve constituir-se em conhecimento

funcional a ser estendido aos professores de outras áreas do conhecimento.

O levantamento das práticas que incorporam as TDICs realizadas antes e depois da

homologação da BNCC evidenciou que existe um incremento gradual, que não depende

exclusivamente da homologação da BNCC, mas que passa pela abordagem dada ao

conhecimento e pela modificação das relações pedagógicas como tentativa de atualização da

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140

função da escola do estabelecimento de relações mais democráticas entre estudantes e

professores. Isso é evidenciado em aspectos de modificações no planejamento.

Notou-se também que a integração curricular das TDICs às práticas pedagógicas a partir

da BNCC é considerada mais significativa do que em face aos PCNs, embora fatores

contextuais como a permeabilidade da sociedade às TDICs, sua significância na cultura juvenil

e relevância na produção e difusão do conhecimento sejam apontados como mais significativos

ainda pelos professores. Por isso, a abordagem dada à cultura digital na BNCC é considerada

intensificadora da transformação digital no contexto das escolas privadas, ao recolocar as

TDICs como objeto de conhecimento que mobiliza novas formas de pensamento, e não apenas

como recurso associado ao ensino. Conclui-se, portanto, que as escolas privadas que desejem

construir propostas curriculares vinculadas a noção de competências necessitam direcionar seus

esforços em duas vertentes. A primeira seria a adequação a um contexto social capilarizado pela

tecnologia, implicando mudanças profundas não apenas no currículo e na abordagem didática,

mas também na estrutura organizacional da escola e na forma como dialogará com a sociedade.

A segunda vertente corresponde abordagem dada à natureza do conhecimento e ao ato de

aprender e ensinar. Algo que exigirá a reestruturação do conhecimento pedagógico dos

professores.

Do ponto de vista da materialidade, constatou-se que as ferramentas tecnológicas

presentes na escola são praticamente as mesmas antes e depois da BNCC (computadores,

multimídia, kits de robótica, lousa interativa), mas mudou o uso dado a essas ferramentas pelo

aporte de Ambientes Virtuais de Aprendizagens, com a utilização de aplicativos de

comunicação, a integração da comunidade de estudantes e professores por e-mails

institucionais, informatização de processos, criação de balcão de serviços on-line; indicando

que a internet tornou-se indispensável para a operacionalidade da escola. Evidenciou-se que,

apesar da relativa vantagem da escola privada em relação ao acesso à materialidade, para

atender ao que é pedido na BNCC, é fundamental que todos os professores e estudantes tenham

acesso às TDICs e à internet, sobretudo para atender às habilidades relativas à cultura digital.

O que indica que, em algum momento, a escola precisará acolher em seu planejamento os

equipamentos que os próprios estudantes já trazem e enriquecer sua prática em vivências

laboratoriais e com os conhecimentos do alunado.

Identificou-se por meio da. Por essa busca,

Ao buscar as possíveis mudanças didático-metodológicas associadas à implantação das

competências quatro e cinco da BNCC ao ensino básico realizou-se o contraste entre os indícios

encontrados nas narrativas dos professores, e a análise textual das competências e habilidades

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141

vinculadas às TDICs. Constatou-se que não há, na BNCC, uma contextualização clara a respeito

do que representaria criar tecnologias no Ensino Fundamental, o que permite abordagens

diversas que vão do domínio dos conhecimentos que subsidiariam o desenvolvimento de

tecnologias digitais à capacidade humana de transformar a si mesmo e o ambiente que o

circunda pela aplicação do conhecimento científico. Confirmou-se que a fragilidade no

conhecimento específico de software e hardware entre os professores, a dificuldade para

problematizar o conhecimento e o apego a práticas de ensino transmissivas são fatores

limitantes para que a escola seja um ambiente de criação de tecnologias.

A análise permite estabelecer que um caminho para que a escola privada cumpra a

expectativa de criar tecnologias, conforme previsto na competência cinco, é repensar a

abordagem dada ao ato de conhecer e às relações sociais dentro da escola. É preciso aproximar-

se de metodologias ativas, democratizar o ensino e proporcionar aos estudantes vivências

mediadas pelas TDICs que lhes permitam refletir a linguagem e a cultura digital, suas práticas

e usos sociais, com a finalidade de desenvolver o pensamento computacional e a integração de

conhecimentos na solução de problemas reais. Ao criar tecnologias, criam-se também novas

mentalidades e inteligências, provocando um grande impacto social. É necessário também não

ignorar ou naturalizar as desigualdades, visto que a escola privada brasileira está inserida num

contexto maior, marcado pela exclusão, e, portanto, a criação de tecnologias nestes ambientes

deve ser uma ação a serviço do desenvolvimento humano e social pela diminuição da

desigualdade social.

A análise dos dados, sobretudo das práticas estabelecidas pelos professores antes e

depois da homologação da BNCC, permite concluir que as TDICs favorecem mudanças

didático-metodológicas, pois permitem flexibilizar tempos, espaços e a forma de acesso à

informação, dinamizando a construção e a difusão do conhecimento, recolocando o papel do

professor e do estudante quando articulados pela pesquisa orientada, o desenvolvimento de

projetos compartilhados e a integração de metodologias ativas. Contudo, o desenvolvimento de

competências tecnológicas no estudante, conforme proposto pela BNCC, depende da formação

de competências técnico-pedagógicas também nos professores, algo entendido como uma

necessidade ainda não satisfeita.

Por fim, conclui-se que as mudanças nas práticas pedagógicas pela inserção de TDICs

com vistas à criação de tecnologias passa por uma redefinição curricular na qual esteja

ressaltada a capacidade humana de questionar o próprio conhecimento, pela problematização,

mais do que pela exposição narrativa de tópicos de ensino. Nesse sentido, a relevância das

TDICs no incremento dessas mudanças está, sobretudo, no modo como a informação é

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organizada, armazenada e transmitida, permitindo a remodelagem na forma como o objeto de

conhecimento é acessado ou apresentado ao estudante redundando na escolha de abordagens

didáticas e metodológicas.

Essa premissa pode ser conjugada à acolhida dos saberes e às iniciativas dos estudantes

de tal forma que a narrativa sobre o conhecimento seja intercambiada entre discentes e docentes

levando à vivência de relações pedagógicas mais horizontalizadas. Quando isso acontece, o

projeto educativo passa a ser humanizante, em vez de transmissivo, atendendo aos requisitos

das práticas ativas e do hibridismo metodológico. Contudo, verificou-se que tais mudanças

poderiam ser potencializadas por práticas de planejamento compartilhado e transversalizado.

Algo que exige da escola decisão política e investimento em tempos adequados de formação,

em ferramentas tecnológicas de planejamento que possibilitaria aos professores qualificarem

seu trabalho e, por conseguinte, o serviço prestado aos estudantes.

Confirmou-se também que o ensino permeado pelas TDICs é aderente às metodologias

ativas e ao desenvolvimento de competências desde que haja, nos professores, adequado

conhecimento da interface entre o que representa a escolha do instrumento tecnológico para

estratégia de ensino. Uma vez que ter em mãos um recurso que favorece o acompanhamento de

grupos que realizem atividades diversas em espaços geográficos diferentes, com tempos e

ritmos também diferentes significará problematizar o conhecimento, estabelecer projetos

incluindo os saberes dos estudantes e flexibilizar as fronteiras disciplinares. Todavia qualquer

iniciativa que se apresente híbrida deve levar em conta o acesso irrestrito às TDICs e a WEB

para todos os estudantes e professores na escola, algo que se configura em limite para algumas

escolas.

Em seu conjunto, esta pesquisa buscou a interseção entre Currículo, p e as mudanças

didático-metodológicas, terminando por situar a homologação da BNCC como um fator

relevante na recolocação da tecnologia como conceito, prática social e conhecimento na escola

básica. Embora perceba-se a sinergia com o contexto de permeabilidade que as TDICs

apresentam em nossa sociedade, contrasta com as desigualdades sociais nela presentes e com

as fragilidades na formação dos professores e aparelhagem das escolas. Indica haver propósitos

ousados em condições adversas que podem sobrecarregar ainda mais os professores.

Considerando a natureza dinâmica das relações pedagógicas e do desenvolvimento

tecnológico, compreende-se que esta pesquisa é parcial e pode ser aprofundada em muitos

aspectos. Embora não fosse o foco desta pesquisa, verificou-se que, no âmbito da escola

privada, existe consciência das práticas que já não funcionam mais e confirma-se certa urgência

em apresentar-se socialmente como moderna e transformada digitalmente. No centro dessa

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urgência está a remodelagem curricular que pode ser tomada como consecução de pequenos

ajustes ou como possibilidade de reestruturação completa que exigirá o desenvolvimento de

novos modelos de ação que venham a romper com o estereótipo de tempos, espaços e funções.

Nesse sentido, no âmbito das escolas privadas, caberia investigar qual a abertura e a

possibilidade para reestruturações significativas e os critérios que as determinariam.

Tendo em vista que 50% desta pesquisa foi realizada durante o período da Pandemia de

Covid-19, atentou-se para a relevância de pesquisar o impacto do isolamento social e do

fechamento das escolas para o trabalho presencial na remodelagem curricular prevista no

cronograma no MEC. Enquanto que, no âmbito das escolas privadas, entende-se ser relevante

pesquisar os impactos da vivência da implantação do ensino remoto na integração dos

conhecimentos técnico-pedagógicos dos professores buscando identificar as competências e

saberes que se construíram pela ação.

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Page 153: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

153

APÊNDICE A – PROTOCOLO DE PESQUISA

O presente protocolo de pesquisa foi estabelecido a partir do referencial teórico que

subsidia a metodologia desta pesquisa cujo objetivo é “identificar e compreender as possíveis

implicações didático-metodológicas da implantação das competências quatro e cinco da

BNCC para o trabalho do professor no processo de ensino e aprendizagem” em escolas

particulares da região metropolitana de Belo Horizonte que já tivessem entrado em contato com

a Base Nacional Comum Curricular e que tivessem em sua prática cotidiana a inclusão de

elementos da tecnologia.

As competências 4 e 5 da BNCC são dirigidas a todo o ensino básico, mas as habilidades

a elas relacionadas estão mais presentes anos finais do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano),

por isso, compreende-se que seja esse o recorte oportuno. Pretende-se realizar pesquisa

exclusivamente com professores de qualquer componente curricular dessas séries (6º ao 9º ano)

que estijam dispostos a responder a um questionário on-line e, eventualmente, participar de uma

entrevista on-line – adaptação imposta pelas medidas de isolamento social decretadas em 2020

em decorrência da pandemia de COVID-19.

Com a finalidade de elucidar o problema proposto, estabeleceu-se como metodologia

prioritária um levantamento bibliográfico conjugado com o uso do estudo de caso, que permite

um estudo, e alargado com uma amostra mais restrita, propiciando uma análise profunda dos

dados coletados.

Entendemos tratar-se de pesquisa de natureza básica, exploratória e descritiva, porque

permite a aproximação com um fenômeno ainda pouco estudado e a identificação dos fatores

que determinam ou contribuem para a ocorrência de tal fenômeno e, por fim, concorre para a

descrição de tal fenômeno. O desenho da pesquisa pretende considerar os aspectos de validade

externa, confiabilidade, validade do constructo e validade interna, por isso, partindo dos

processos listados na metodologia, contingenciou-se o protocolo a seguir.

1) Preparação para a coleta de dados – I fase do desenho da pesquisa

Categorias O que observar/fazer Fase da pesquisa

Validade interna - Estabelecer hipóteses e problematizá-las buscando

um direcionamento intencional que nasce do estudo de

conceitos básicos para a compreensão do fenômeno.

- Analisar se os processos e materiais construídos

apresentam capacidade para abranger corretamente o

fenômeno e contrastá-lo com os conceitos estudados.

- Definir mais que uma fonte de evidências.

- Estabelecer base de dados.

- Comparar e analisar os dados e revisar/desenvolver os

relatórios.

- Projeto

- Desenvolvimento

- Desenvolvimento

Page 154: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

154

- Construir um texto que permita ao leitor compreender

como a pesquisa foi desenvolvida desde a definição do

problema até o relatório final.

- Durante a construção do relatório, verificar se existe

adequação das inferências com os dados obtidos nas

questões que envolvam causa e efeito.

- Construção do

Relatório

- Construção do

Relatório

Validade externa - Verificar se os resultados representam um fenômeno

estruturado contrastando-os com os processos listados

no protocolo.

- Buscar padrões que permitam alguma generalização.

- Projeto

- Desenvolvimento

Confiabilidade - Verificar os procedimentos podem ser replicados

para se chegar a resultados semelhantes.

- Projeto

- Desenvolvimento

2) Preparação para a coleta de dados – II fase do desenho da pesquisa

Categorias O que observar/fazer Fase da pesquisa

Processo para a

definição da

amostra básica

- Contato telefônico informal com escolas particulares e

públicas da rede estadual da região metropolitana de Belo

Horizonte solicitando se já iniciaram os estudos e a

implantação da BNCC.

- Contato telefônico informal com inspetoras educacionais

da Região Noroeste de Belo Horizonte para contrastar

informações e definir o campo de pesquisa.

- Seleção do grupo de escolas que apresentavam condições

ideais para o desenvolvimento do estudo de caso.

- Projeto

Definição da

amostra básica.

- A amostra desejável para a realização da pesquisa será

composta por uma escola particular da região

metropolitana de Belo Horizonte que já teve contato com

a Base Nacional Comum Curricular e que explicite, em sua

prática, a inclusão da tecnologia. Além disso, ofereça os

anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e tenha

entre 15 e 30 professores atuando nesse segmento de

ensino.

- Projeto

Critério para a

escolha dos casos

- Verificar previamente se o caso representa o fenômeno

estudado e se adequa aos parâmetros estabelecidos na

metodologia.

- Projeto

Instrumentos de

pesquisa para

coleta de dados

secundários

- Leitura e observação do site e publicações da instituição

selecionada.

- Envio de e-mail ao diretor(a) ou representante da escola

apresentando informações gerais da pesquisa, um resumo

dos objetivos de pesquisa e o protocolo de pesquisa

resumido.

- Contato telefônico para explicação da hipótese da

pesquisa e dos protocolos metodológicos e indicação da

documentação necessária para a pesquisa.

- Novo contato por telefone e e-mails com todo o grupo de

escolas selecionado tendo em vista a entrada em

isolamento social e a dificuldade de contato direto e

observação.

- Envio de mensagem de texto ao diretor(a) ou

representante da escola que se disponibilizou como locus

da pesquisa e solicitação dos e-mails dos professores para

envio do formulário eletrônico para levantamento dos

dados iniciais.

- Desenvolvimento

Page 155: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

155

- Solicitação dos e-mails dos professores para envio do

formulário de pesquisa.

Instrumentos de

pesquisa para

coleta de dados

prioritários.

- Formulário on-line contendo questionário de questões

exploratórias iniciais destinadas a professores do

segmento de ensino prioritário.

- Questões em entrevista semiestruturada.

- Documentação fornecida pela instituição.

- Sites, publicações espaços on-line disponibilizados

francamente pela instituição.

- Desenvolvimento

Ações para a

coleta de dados

prioritários

- Desenvolvimento da análise dos dados coletados.

- Retorno aos envolvidos agradecendo pela colaboração.

- Envio dos questionários aos professores.

- Leitura dos formulários e consequente contato telefônico

com aqueles que se dispuserem a participar da entrevista

on-line ou gravação de áudios relativos à entrevista

semiestruturada.

- Agendamento das entrevistas on-line.

- Contatos telefônicos visando à ampliação de aspectos

não compreendidos nos dados coletados.

- Envio das questões da entrevista semiestruturada para

professores que preferiram responder por escrito.

- Realização das entrevistas on-line e gravações.

- Visita a ambientes públicos on-line da escola que acolheu

a pesquisa.

- Envio de questões da entrevista semiestruturada para

professores que optaram por gravar áudios com suas

respostas.

- Leitura dos formulários e consequente contato telefônico

com aqueles que se dispuserem a oferecer informações

complementares.

- Desenvolvimento

Ações prioritárias

para o

processamento e a

análise dos dados

- Indicar brevemente como serão tratados os dados

coletados.

- Leitura das respostas dadas ao questionário exploratório

e desenvolvimento dos gráficos, descrições necessárias a

posterior análise.

- Leitura das respostas escritas e categorização para

posterior análise.

- Transcrição das entrevistas e processamento por meio de

programa de análise de conteúdo.

- Desenvolvimento do relatório.

-Desenvolvimento

- Construção do

relatório.

Ações secundárias

ao processamento

de dados

- Retorno aos envolvidos agradecendo a colaboração.

- Ao finalizar a pesquisa, encaminhar cópia do relatório

produzido para o acervo da escola (biblioteca) que

participou da pesquisa.

- Construção do

relatório.

Page 156: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

156

APÊNDICE B – APRESENTAÇÃO DO PROTOCOLO DE PESQUISA

O objetivo desta pesquisa é “identificar e compreender as possíveis implicações

didático-metodológicas da implantação das competências quatro e cinco da BNCC para o

trabalho do professor no processo de ensino e aprendizagem” em escolas particulares da região

metropolitana de Belo Horizonte que já tivessem entrado em contato com a Base Nacional

Comum Curricular, e, que tivessem em sua prática cotidiana, a inclusão de elementos da

tecnologia.

Considerando que as competências 4 e 5 da BNCC são dirigidas fortemente aos anos

finais do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano), compreende-se que seja esse o recorte oportuno.

A pesquisa seria realizada exclusivamente com professores de qualquer componente curricular

dessas séries (6º ao 9º ano). Adaptação imposta pelas medidas de isolamento social.

Com a finalidade de elucidar o problema proposto, foi estabelecido como metodologia

prioritária um levantamento bibliográfico que precede o estudo de caso, que permite um estudo

e alargado com uma amostra mais restrita, propiciando uma análise profunda dos dados

coletados.

Os passos da pesquisa envolvem:

- Envio de mensagem de texto ao diretor(a) ou representante da escola.

- Contato telefônico para explicação da hipótese da pesquisa e dos protocolos metodológicos.

- Solicitação dos e-mails dos professores para envio do formulário de pesquisa e do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido.

- Leitura dos formulários e consequente contato telefônico com aqueles que se dispuserem a

oferecer informações complementares. (Site da instituição; documentos fornecidos pela

instituição, publicações internas e, se possível um planejamento que envolva tecnologia)

- Retorno aos envolvidos agradecendo a colaboração.

- Ao finalizar a pesquisa, será encaminhada cópia do relatório produzido para o acervo da escola

(biblioteca) que participar da pesquisa.

Contando com sua prestimosa colaboração, aguardo autorização para continuidade da pesquisa

que, no contexto de isolamento social, pode ser feito via e-mail ou pelo WhatsApp.

Atenciosamente,

Aparecida Debona Altoé

Page 157: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

157

APÊNDICE C – MENSAGEM DE TEXTO ENVIADA PARA DIRETORES DE

ESCOLA

Prezada Sra. Diretora,

Bom dia,

Meu nome é Aparecida Debona Altoé, sou supervisora pedagógica no Colégio Santo Agostinho

de Contagem. Sou mestranda do programa de Pós-graduação da PUC Minas e desenvolvo

pesquisa de mestrado em Educação Ciência e Tecnologia. Meu problema de pesquisa está

relacionado ao uso de tecnologia no Ensino Fundamental, de 6º ao 9º ano, nas escolas da rede

particular.

Considerando a relevância da escola dirigida pela senhor(a), seria muito relevante para o

desenvolvimento do meu trabalho poder entrevistar alguns professores desta instituição. Por

isso, solicito a gentileza de conversarmos alguns instantes por telefone para que eu possa lhe

apresentar os protocolos de pesquisa, para que, a partir dele, a senhora possa decidir se é do seu

interesse ou não a minha aproximação.

A pesquisa pretende identificar como a escola está absorvendo os indicadores de uso da

tecnologia da informação previstos na BNCC. Não se trata de informações que possam

comprometer a escola, mas, mesmo assim, será mantido sigilo da origem dos dados e identidade

dos participantes.

Atenciosamente,

Aparecida Debona Altoé

Page 158: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

158

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO ON-LINE ENVIADO AOS PROFESSORES

ENQUETE REFERENTE À PESQUISA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E

TECNOLOGIA

Estimado(a) Professor(a)

Você é convidado a participar como voluntário em pesquisa que visa identificar quais são as

implicações da implementação das competências 4 e 5 da BNCC nos processos pedagógicos

dos anos finais do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano). O procedimento é composto pela

resposta a este questionário eletrônico e um eventual contato telefônico com a pesquisadora.

Mesmo que você queira participar agora, você pode voltar atrás ou parar de participar a qualquer

momento. Seu nome ou o material que indique sua participação não será liberado sem a sua

permissão. Você não será identificado(a) em nenhuma publicação, e os resultados da pesquisa

estarão à sua disposição quando finalizada.

Os pesquisadores tratarão sua identidade com padrões profissionais de sigilo, atendendo à

legislação brasileira (Resolução n. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde), utilizando as

informações somente para os fins acadêmicos e científicos.

O termo de consentimento livre e esclarecido está no acesso abaixo. (O termo foi enviado na

forma de link se se apresenta por extenso neste apêndice)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Declaro por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado(a) e/ou participar na pesquisa

de campo referente ao projeto/pesquisa intitulado(a) Tecnologia na Base Nacional Comum

Curricular: O impacto do implemento das competências quatro e cinco da BNCC nas ações

didático-metodológicas, desenvolvida(o) por Aparecida Debona Altoé. Fui informado(a),

ainda, de que a pesquisa é [coordenada / orientada] pelo professor Doutor José Wilson da Costa,

a quem poderei contatar / consultar a qualquer momento que julgar necessário através do

telefone nº_______ ou e-mail _________. Afirmo que aceitei participar por minha própria

vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade

exclusiva de colaborar para o sucesso da pesquisa. Fui informado(a) dos objetivos estritamente

acadêmicos do estudo, que, em linhas gerais é identificar as formas de implantação das

competências quatro e cinco nas escolas privadas da região metropolitana de Belo Horizonte.

Fui também esclarecido(a) de que os usos das informações por mim oferecidas estão

Page 159: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

159

submetidos às normas éticas destinadas à pesquisa envolvendo seres humanos, da Comissão

Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da

Saúde. Minha colaboração se fará de forma anônima, por meio de entrevista semiestruturada

desenvolvida por vídeo conferência a ser gravada a partir da assinatura desta autorização. Fui

ainda informado(a) de que posso me retirar dessa pesquisa a qualquer momento, sem prejuízo

algum. Atesto recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, conforme recomendações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

Belo Horizonte, ____ de _________________ de _____

Assinatura on-line o(a) participante: _______________________________

Assinatura on-line do(a) pesquisador(a): ____________________________

Agradeço imensamente sua colaboração

1) Crie um nome fictício para você.

2) Qual componente curricular você leciona?

( ) Língua Portuguesa

( ) Produção de Texto

( ) Língua Inglesa

( ) Arte

( ) Educação Física

( ) Espanhol

( ) Matemática

( ) Geografia

( ) História

( ) Ensino Religioso

( ) Ciências

( ) Outra

3) Em qual série você leciona o maior número de aulas.

( ) 6º ano

( ) 7º ano

( ) 8º ano

( ) 9º ano

4) Aproximadamente quantos anos de docência você tem?

( ) De 3 a 5 anos.

Page 160: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

160

( ) De 6 a 10 anos.

( ) De 11 a 16 anos.

( ) De 17 a 22 anos.

( ) Mais que 22 anos de profissão.

5) Você já iniciou os estudos da Base Nacional Comum Curricular?

( ) Sim ( ) Não

6) Você utiliza a Base Nacional Comum Curricular em seus planejamentos?

( ) Utilizo com frequência.

( ) Utilizo parcialmente.

( ) Utilizo raramente.

( ) Não utilizo.

7) Você considera que a BNCC representa avanço no que tange à integração da

tecnologia à educação quando comparada a outras proposições curriculares?

( ) Considero que houve um avanço significativo.

( ) Considero que houve um avanço razoável.

( ) Considero que o avanço foi pouco.

( ) Considero que não houve avanço.

8) Em sua escola, a integração da tecnologia ao trabalho pedagógico antecede a

implementação da BNCC?

( ) Sim ( ) Não

9) Você costuma integrar as TDICs (Tecnologia Digitais de Informação e Comunicação)

à sua prática pedagógica?

( ) As TDICs são constantemente integradas à minha prática pedagógica.

( ) As TDICs são parcialmente integradas à minha prática pedagógica.

( ) As TDICs são raramente integradas à minha prática pedagógica..

( ) As TDICs não são integradas à minha prática pedagógica.

10) Quais aprendizagens a integração das TDICs à prática pedagógica trouxe para você?

( ) Compreendi melhor como a cultura digital permeia a vida dos adolescentes.

( ) Aprendi a lidar com tecnologias diversas de software e hardware.

( ) Desenvolvi outras formas de pensar e organizar o conhecimento.

( ) Não trouxe nenhuma aprendizagem.

11) Anote aqui caso tenha vivenciado outras aprendizagens.

12) Quais processos formativos são necessários para que o professor se aproprie das

TDICs em suas práticas pedagógicas tal qual é proposto na BNCC?

Page 161: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

161

( ) Compartilhamento de experiências e iniciativas entre professores.

( ) Oficinas que trabalhem com aspectos da linguagem digital.

( ) Cursos que articulem aspectos pedagógicos e técnicos.

( ) Formação para o uso de plataformas, recursos, equipamentos.

13) Existem outros processos formativos possíveis? Quais?

14) Em sua percepção, a escola é um ambiente de criação de tecnologias digitais de

informação e comunicação (TDICs)?

( ) Sim, a escola é um ambiente no qual, constantemente, se cria tecnologias.

( ) A escola é um ambiente no qual, esporadicamente, tecnologias são criadas.

( ) A escola é um ambiente no qual, raramente, se cria tecnologias.

( ) A escola é um ambiente no qual não se cria tecnologia.

15) A integração das TDICs nas práticas pedagógicas modifica os arranjos metodológicos

ou didáticos?

( ) Modifica significativamente os arranjos metodológicos ou didáticos.

( ) Modifica parcialmente os arranjos metodológicos e didáticos.

( ) Raramente modifica os arranjos metodológicos e didáticos.

( ) Não há modificação de arranjos metodológicos e didáticos.

16) Justifique sua resposta anterior: como as TDICs modificam ou não as práticas

pedagógicas.

17) Você teria interesse em participar de entrevista on-line com pesquisadora? (A

entrevista é on-line, dura 20 minutos e tem por finalidade acolher a experiência do

professor sem identificá-lo. Caso queira, é possível também receber o roteiro da

entrevista e você pode responder na forma de gravação de áudios para um número de

telefone que lhe será indicado.)

( ) Sim

( ) Não

18) Registre seu telefone para que a pesquisadora possa entrar em contato caso seja

necessário.

19) Acrescente o seu e-mail de contato.

Page 162: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

162

APÊNDICE E – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ENVIADA A PROFESSORES

QUE PREFERIRAM RESPONDER POR ESCRITO EM VEZ DE PARTICIPAR DE

ENTREVISTA ON-LINE

Estimado(a) Professor(a)

Você é convidado a participar como voluntário em pesquisa que visa identificar quais são as

implicações da implementação das competências 4 e 5 da BNCC nos processos pedagógicos

dos anos finais do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano). O procedimento é composto pela

resposta ao questionário on-line já respondido por você, no qual identificou seu desejo de

ampliar suas respostas por escrito, respondendo à entrevista semiestruturada na forma escrita.

Mesmo que você queira participar agora, você pode voltar atrás ou parar de participar a qualquer

momento. Seu nome ou o material que indique sua participação não será liberado sem a sua

permissão. Você não será identificado(a) em nenhuma publicação. Os resultados da pesquisa

estarão à sua disposição quando finalizada.

Os pesquisadores tratarão a sua identidade com padrões profissionais de sigilo, atendendo a

legislação brasileira (Resolução n. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde), utilizando as

informações somente para os fins acadêmicos e científicos.

Agradeço imensamente pela sua colaboração

1) Crie um nome fictício para você.

2) Qual componente curricular você leciona?

( ) Língua Portuguesa

( ) Produção de texto

( ) Língua Inglesa

( ) Arte

( ) Educação Física

( ) Espanhol

( ) Matemática

( ) Geografia

( ) História

( ) Ensino Religioso

( ) Ciências

( ) Outra

Page 163: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

163

3) Em qual série você leciona o maior número de aulas.

( ) 6º ano

( ) 7º ano

( ) 8º ano

( ) 9º ano

4) Aproximadamente quantos anos de docência você tem?

( ) De 3 a 5 anos.

( ) De 6 a 10 anos.

( ) De 11 a 16 anos.

( ) De 17 a 22 anos.

( ) Mais de 22 anos de profissão.

5) Você já iniciou os estudos da Base Nacional Comum Curricular?

( )Sim ( )Não

6) Que modificações metodológicas a didáticas a implantação da competência quatro e

cinco da BNCC pode trazer para o processo de ensino e aprendizagem na educação

básica? (Leia as competências abaixo, caso necessite)

COMPETÊNCIA 4 - Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como

Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens

artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias

e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

COMPETÊNCIA 5 - Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e

comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais

(incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir

conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

7) Se comparada com outras normativas, a BNCC é o documento que apresenta o maior

salto em relação a inserção da tecnologia no currículo escolar. Quais seriam as

implicações didático metodológicas que as competências quatro e cinco da BNCC

poderá trazer para o processo pedagógico?

8) Quais processos formativos são necessários para que o professor se aproprie das TDICs

em suas práticas pedagógicas tal qual é proposto na BNCC?

9) Que aprendizagens o contato com as TDICs por meio de seu trabalho, trouxe para você?

10) Sua escola está preparada didática e materialmente para corresponder ao que é

pretendido na BNCC, em especial nas competências quatro e cinco?

Page 164: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

164

11) Em sua percepção, qual é a inovação que a BNCC traz em relação a tecnologia na

escola?

12) Como era o trabalho com tecnologia nesta escola antes de iniciarem a aproximação com

a BNCC?

13) Quais mudanças a BNCC trouxe para sua prática? O que mudou? O que permaneceu?

14) A apropriação das tecnologias pela e na escola, por meio da abordagem metodológica,

interfere nas formas de pensar e de processar o conhecimento?

15) Como você percebe isso?

16) A escola é um espaço de criação de tecnologias?

17) Qual a principal transformação que elas promovem no ambiente escolar e na forma

como os estudantes pensam?

18) Acrescente alguma outra informação que você considere relevante.

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APÊNDICE F – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA UTILIZADA

COM PROFESSORES DURANTE AS ENTREVISTAS ON-LINE

Estimado(a) Professor(a),

Você é convidado a participar como voluntário em pesquisa que visa identificar quais são as

implicações da implementação das competências 4 e 5 da BNCC nos processos pedagógicos

dos anos finais do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano). O procedimento é composto pela

resposta ao questionário on-line já respondido por você, no qual identificou seu desejo de

ampliar suas respostas por meio de entrevista on-line ou gravação de áudios.

Mesmo que você queira participar agora, você pode voltar atrás ou parar de participar a qualquer

momento. Seu nome ou o material que indique sua participação não será liberado sem a sua

permissão. Você não será identificado(a) em nenhuma publicação. Os resultados da pesquisa

estarão à sua disposição quando finalizada.

Os pesquisadores tratarão a sua identidade com padrões profissionais de sigilo, atendendo a

legislação brasileira (Resolução n. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde), utilizando as

informações somente para os fins acadêmicos e científicos.

Agradeço imensamente pela sua colaboração.

1) Que modificações metodológicas a didáticas a implantação da competência quatro e

cinco da BNCC pode trazer para o processo de ensino e aprendizagem na educação

básica? (Leia as competências abaixo, caso necessite)

Competência 4 – Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras,

e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens

artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências,

ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento

mútuo.

Competência 5 – Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e

comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais

(incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir

conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e

coletiva.

2) Se comparada com outras normativas, a BNCC é o documento que apresenta o maior

salto em relação a inserção da tecnologia no currículo escolar. Quais seriam as

Page 166: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

166

implicações didático metodológicas que as competências quatro e cinco da BNCC

poderá trazer para o processo pedagógico?

3) Quais processos formativos são necessários para que o professor se aproprie das

TDICs em suas práticas pedagógicas tal qual é proposto na BNCC?

4) Que aprendizagens o contato com as TDICs por meio de seu trabalho, trouxe para

você?

5) Sua escola está preparada didática e materialmente para corresponder ao que é

pretendido na BNCC, em especial nas competências quatro e cinco?

6) Em sua percepção, qual é a inovação que a BNCC traz em relação a tecnologia na

escola?

7) Como era o trabalho com tecnologia nesta escola antes de iniciarem a aproximação

com a BNCC?

8) Quais mudanças a BNCC trouxe para sua prática? O que mudou? O que permaneceu?

9) A apropriação das tecnologias pela e na escola, por meio da abordagem metodológica,

interfere nas formas de pensar e de processar o conhecimento?

10) Como você percebe isso?

11) A escola é um espaço de criação de tecnologias?

12) Qual a principal transformação que elas promovem no ambiente escolar e na forma

como os estudantes pensam?

13) Acrescente alguma outra informação que você considere relevante.

Page 167: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

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ANEXO A – QUADRO DE COMPETÊNCIAS GERAIS DO PROFESSOR EM AMBIENTES VIRTUAIS

Competências gerais do professor em ambientes virtuais

Projeto de interatividade tecnológica Projeto de interatividade pedagógica Desenvolvimento ou uso técnico-pedagógico

Analisar e valorizar a integração das TIC na

educação para posicionar-se de maneira adequada a

esse respeito.

Valorizar o ensino do uso das TIC, contribuindo para

que os alunos encontrem sentido nesse aprendizado.

Conhecer o percurso incógnito das TIC, suas

implicações e consequências na vida cotidiana,

incluídos os possíveis efeitos da segregação e

marginalização social, e atuar com critérios éticos na

integração dessas tecnologias no currículo escolar.

Conhecer diferentes ferramentas disponíveis:

- de gestão acadêmica

- de apresentação e acesso a informação

- de elaboração de atividade de ensino e aprendizagem

- de elaboração de atividades de avaliação

- de comunicação

- de trabalho colaborativo

- de avaliação e acompanhamento para garantir

acessibilidade e participação dos alunos, individual e

em grupo, a fim de concretizar sua caracterização

educacional e para estabelecer uma proposta flexível e

adequada para alcançar os objetivos.

Saber informar-se e analisar as características

tecnológicas de propostas instrucionais, de materiais

didáticos e de conteúdos educacionais reutilizáveis

existentes no âmbito profissional; saber avaliar essas

propostas.

Elaborar proposta educacionais virtuais que

promovam a construção significativa e com sentido

do conhecimento por parte do grupo para:

- garantir o acesso e a continuidade do envolvimento

do aluno no processo de aprendizagem;

- oferecer apoio ao aluno para que tenha acesso, use e

compreenda textos típicos de propostas educacionais

virtuais como, por exemplo, os hipertextos;

- facilitar a exploração, por parte do aluno, das suas

representações iniciais sobre o conteúdo de

aprendizagem;

- facilitar para o aluno a antecipação do processo e o

planejamento das atividades individual e de grupo

(proporcionar um calendário com diferentes tipos de

sessões e tarefas, com as datas de avaliação ou de

entrega dos trabalhos do curso; proporcionar um

documento que indique ao aluno o que fazer nas aulas

virtuais, descrever normas, etc)

Elaborar propostas instrucionais que incluam

conteúdo e atividades de diversos tipos, para

responder às exigências de flexibilidade e da

aprendizagem.

Elaborar proposta de conteúdos cuja organização e

sequenciamento respondam os critérios de

significância e de atribuição de sentido ao

aprendizado.

Projetar atividades e tarefas de aprendizagem eficaz.

Projetar tarefas de avaliação de acordo com a

aprendizagem eficaz, que sejam úteis para avaliar o

nível de aprendizado prévio ao curso.

Projetar tarefas de avaliação visando a que o aluno

progrida no controle e na autogestão do

aprendizado.

Utilizar as TIC para:

Construir conjuntamente com o aluno uma

representação compartilhada inicial da situação

virtual.

Criar as condições para tornar visíveis as presenças

sociais individual e de grupo.

Ter acesso, selecionar e apresentar informação.

Procurar e consultar informação nova para

responder às necessidades dos alunos de

aprendizagem significativa e com sentido.

Gerenciar, armazenar e apresentar informação de

modo que responda às necessidades dos alunos de

aprendizagem significativa e com sentido.

Potencializar a exploração ativa, por apret do aluno,

das possibilidades de informação que oferecem as

TIC como meio de acesso a uma aprendizagem

eficaz.

Potencializar a seleção de informação pelo aluno,

discriminando entre o que é trivial e o que é

importante para uma aprendizagem eficaz.

Ajudar o aluno a compreender o que é essencial na

informação, inferindo consequências e conclusões.

Mediar a leitura de linguagens diversas (multimídia

e hipermídia) para informar-se e aprender.

Ajudar o aluno a gerenciar e apresentar informação

com diferentes finalidades e em diferentes

contextos de aprendizagem relevantes.

Contribuir para o conhecimento mútuo entre os

envolvidos, para estabelecer vínculos

comunicacionais adequados e para a iniciação como

membro do grupo.

Gerenciar, organizar e fazer funcionar o processo

de ensino e aprendizagem, de modo que se

Page 168: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

168

Projetar condições para facilitar a presença social

das envolvidos no processo instrucional: saber

tornar-se visível para os outros no marco da

interação; tomar consciência e desenvolver o

conhecimento dos outros na interação e apreciar a

relação interpessoal que se estabelece.

Criar oportunidades de orientação e

acompanhamento do aluno para que ele se aproprie

do conteúdo e para que reflita sobre o processo de

aprendizagem aumentando o controle e autogestão

deste.

Criar oportunidades de consulta ao professor nas

necessidades de apoio ao aluno

Criar oportunidades de comunicação entre professor

e aluno e entre os alunos, para favorecer a

aprendizagem individual e de grupo colaborativo.

promova a participação, que as contribuições dos

envolvidos sejam necessárias e que se facilite a

construção da interatividade entre eles.

Gerenciar o tempo e o ritmo de trabalho conjunto

com os alunos, combinando elementos de exigência

e flexibilidade para facilitar o processo de

aprendizagem.

Promover o incremento da atuação conjunta nas

atividades de ensino e aprendizagem ao longo do

processo por meio de: regulamentação das normas

de participação e troca; focalização da atuação

conjunta nos temas específicos; identificação de

áreas de acordo e de discordância entre

participantes; oferecimento de auxílios adequados

para estabelecer relações e alcançarem níveis de

relação entre conhecimentos com um maior grau de

significado compartilhado; resumo ou sintetização

caso seja oportuno, para retomar a atividade em

níveis de maior complexidade cognitiva e

autorregulação individual e em grupo, e contribuir

para ser considerado parte integrante do processo

de construção do conhecimento.

Esforçar-se para que o material seja utilizado de

modo que resulte relevante para o processo de

construção conjunta do conhecimento (por meio de

perguntas apropriadas, a fim de que os alunos

relacionem essas perguntas com a experiência

pessoal e em grupo), para responder às diversas

necessidades educacionais.

Fazer com que progrida a atuação conjunta em

atividades de avaliação, para confirmar que houve

aprendizado; analisar, revisar e valorizar o processo

e identificar e corrigir erros.

Estabelecer pautas de comunicação e que animem

os envolvidos a mostrarem-se e a fazer

contribuições características de uma comunidade

eficaz de aprendizes; facilitar a troca efetiva e

afetiva entre os aprendizes e com o professor,

respondendo rapidamente, se for oportuno, às suas

Page 169: Aparecida Debona Altoé TECNOLOGIA NA BASE NACIONAL …

169

contribuições ou considera-las; reforçar e

estabelecer formas de contribuição efetivas e

sociais capazes de fazer com que a discussão e a

troca progridam e , em suma que também progrida

o aprendizado.

Contribuir para a aprendizagem colaborativa e em

grupo, enfatizando o papel da interação entre alunos

e na construção do conhecimento.

Usar uma linguagem escrita e diferentes linguagens

(multimídia), sabendo acompanhar um debate, ou

conversação múltipla ou não linear; manejando o

tempo, o espaço, o ritmo e as possíveis rupturas,

inconvenientes e requisitos da participação.

Fonte: Mauri e Onrubia, 2010, p. 130-132.