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“Somos farol de esperança” XXII Capítulo Geral 1. Introdução Inspirada pelo XXII Capítulo Geral, a Semana Champagnat 2018 convida toda a Comunidade Educativa da Província Marista Brasil Centro-Norte a ser farol de esperança! Uma oportunidade de ser sinal, orientação e luzeiro que mantém acesa a chama incendida por Marcelino Champagnat ao alimentar em nós o desejo de “tornar Jesus Cristo conhecido e amado”. As questões emergentes do mundo contemporâneo, como as crises migratórias, o constante crescimento do número de refugiados, seja por guerras, perseguições políticas, religiosas, ou até mesmo por questões existenciais, tornam urgente a necessidade de sermos luz que aquece, ilumina e traz esperança. Ser farol é um modo de possuir a verdadeira luz irradiada da pessoa de Jesus de Nazaré, aquele que ilumina e dá sentido à nossa missão. Assim, desejamos que os recursos didáticos, audiovisuais e textuais propostos auxiliem a todos os pastoralistas e educadores na construção da Semana Champagnat. Que o tema “Somos farol de esperança” e o lema “Sou a luz do mundo” (Jo 9,5) sejam traduzidos de maneira criativa nas diferentes linguagens que fazem parte do processo educativo-evangelizador. Que Cristo, o grande farol que nunca deixa de nos iluminar e guiar, nos ajude, a exemplo de Champagnat, a sermos luzeiros de esperança. Maria, nossa boa mãe, a primeira a acolher e irradiar a luz, nos ensine a buscarmos, com fidelidade, o seu filho, Jesus.

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“Somos farol de esperança”

XXII Capítulo Geral

1. Introdução

Inspirada pelo XXII Capítulo Geral, a Semana

Champagnat 2018 convida toda a Comunidade

Educativa da Província Marista Brasil Centro-Norte a

ser farol de esperança! Uma oportunidade de ser

sinal, orientação e luzeiro que mantém acesa a chama

incendida por Marcelino Champagnat ao alimentar em

nós o desejo de “tornar Jesus Cristo conhecido e

amado”.

As questões emergentes do mundo contemporâneo, como as crises migratórias,

o constante crescimento do número de refugiados, seja por guerras, perseguições

políticas, religiosas, ou até mesmo por questões existenciais, tornam urgente a

necessidade de sermos luz que aquece, ilumina e traz esperança. Ser farol é um modo

de possuir a verdadeira luz irradiada da pessoa de Jesus de Nazaré, aquele que ilumina

e dá sentido à nossa missão.

Assim, desejamos que os recursos didáticos, audiovisuais e textuais propostos

auxiliem a todos os pastoralistas e educadores na construção da Semana Champagnat.

Que o tema “Somos farol de esperança” e o lema “Sou a luz do mundo” (Jo 9,5)

sejam traduzidos de maneira criativa nas diferentes linguagens que fazem parte do

processo educativo-evangelizador.

Que Cristo, o grande farol que nunca deixa de nos iluminar e guiar, nos ajude, a

exemplo de Champagnat, a sermos luzeiros de esperança. Maria, nossa boa mãe, a

primeira a acolher e irradiar a luz, nos ensine a buscarmos, com fidelidade, o seu filho,

Jesus.

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2. O farol que ilumina!

Com o desbravamento do mar, o ser humano precisou encontrar maneiras de

se localizar nesse novo

ambiente. Assim, os astros

passaram a ser um bom

referencial para quem se

aventurava nas águas, como

também as enormes

fogueiras instaladas nas

praias ou nos lugares mais

altos. Vive-se, com isso, a

experiência da luz que ilumina

e direciona a vida! (Farol Santa Luzia – Vila Velha/ES)

Mas o tempo foi passando e as pessoas foram percebendo que as fogueiras

precisavam de maior proteção e de estarem em locais de maior visibilidade. O

desenvolvimento da construção de torres, de prédios e de outras estruturas possibilitou

a proteção do fogo e uma visualização de maior alcance, o que favoreceu o surgimento

dos faróis, altas estruturas que iluminavam! É nesse contexto que eles aparecem:

sinalizar a proximidade de terras e as entradas dos portos, alertar os perigos do mar e

proteger a luz que ilumina e direciona os navegantes!

O mais antigo farol registrado pela humanidade é o Farol de Alexandria,

construído entre 280 e 247 a.C, na ilha de Faros (a partir de então, todas as construções

levaram o nome de farol). Com altura de 120 a 137 metros, este farol tinha um alcance

de 47 a 50 km! Isso mostra quão antigos são essas estruturas, tanto quanto a arte de

navegar. Mostra também como eles continuam tão atuais e necessários, apesar da

imensa evolução tecnológica. Atualmente a navegação se baseia em sistemas

eletrônicos, mas os faróis ainda são extremamente úteis, pois são referências para

embarcações desprovidas de alta tecnologia, e em caso de pane elétrica. Diante disso,

podemos pensar: o que é considerado essencial para a vida humana que, mesmo com

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o passar das gerações e com o avanço científico, continua fundamental? Quais

aspectos do carisma marista precisamos manter e cultivar?

Interessante perceber também que, no início, a luz que dava vida a esta alta

construção era o fogo. Mas o ser humano foi evoluindo e, com isso, foi descobrindo

novas formas de iluminação; sem, no entanto, perder o objetivo primordial do farol: ser

uma estrutura resistente às intempéries do tempo, capaz de levar ao navegante uma luz

de grande intensidade, guiando-o a um porto seguro! Que luz forte é essa que ilumina

a quilômetros e resiste a todas as situações da vida? Quais as pessoas que

personificam essa imagem da luz e da fortaleza?

Após as fogueiras (utilizavam grandes quantidades de madeira ou carvão), foi a

vez das velas e lampiões brilharem com óleos minerais, vegetais e de baleia, passando

pelos refletores parabólicos, pelo sistema dióptrico1 (de refração - baseado no uso de

lentes que circundam a fonte luminosa - na época, chama nua - atualmente, lâmpadas

elétricas e LEDs), pela energia elétrica, chegando às energias solar e eólica! Hoje,

muitos faróis são equipados com lanternas compactas de acrílico. Em seu interior,

eclipsores eletrônicos2 fazem a luz piscar e trocadores automáticos comportam até 5

lâmpadas. Em muitos, a fonte luminosa é uma bateria de LED, e sensores eletrônicos

acendem e apagam a luz. Quanta mudança! Quanta evolução! Quanto conhecimento

construído ao longo da história pela humanidade! Quanta luz brilhou na vida de tanta

gente, trazendo segurança, sentido e esperança!

E muito de tudo isso se deve às pessoas que dedicaram suas vidas para manter

a luz do farol sempre acesa! Os faroleiros eram aqueles/as que passavam dia e noite

alimentando o fogo ou atentos/as a qualquer imprevisto, pois o farol não podia se

apagar! Ele precisava estar sempre em condições de iluminar, sinalizar e proteger os

navegantes. Doar a própria vida para que outros tivessem vida, era a missão do

faroleiro, do mesmo jeito que fizeram Jesus Cristo e Champagnat. Ambos,

incansavelmente, deram testemunho de justiça e esperança para que outras pessoas

pudessem ter a sua dignidade garantida.

1Sistema ótico formado só por elementos refratores. 2 Dispositivo eletrônico programado para desligar os led´s em períodos programados.

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Além disso, muitos faroleiros e suas famílias viveram em lugares onde não havia

boas condições de habitação. Atualmente, com toda evolução da sociedade, e apesar

da quase extinção dessa profissão, muitas pessoas continuam morando em locais

impróprios, principalmente nos grandes centros!

O símbolo do farol nos mostra, ainda, que ele, por si só, não diz a localização do

navegante e a distância entre ele e a terra. O farol é apenas um ponto de referência,

uma estrutura que auxilia os navegantes a

calcularem e determinarem a sua posição no mar e

conduzir seus barcos com segurança ao porto. Mas,

então, quem dá a segurança da viagem? O farol só

cumpre totalmente o seu papel quando o navegante

sabe utilizar os cálculos náuticos e os instrumentos

próprios para a navegação. Isso é realizado,

coletando os dados com um equipamento chamado

sextante. Por meio dele, utiliza-se o sol ou outra fonte luminosa, como as estrelas que

são usadas para formar um triângulo retângulo. Com os dados em mãos é possível,

através de trigonometria básica, calcular as distâncias. O resultado desse cálculo é

preciso. É com estes valores que o navegante é capaz de se direcionar e aportar com

segurança!

Assim, da mesma forma que o farol é visível e o navegante precisa saber ler os

seus sinais e calcular as distâncias, seja da terra ou dos perigos do mar, Deus também

existe e enviou seu filho como a grande

luz a nos orientar! Basta a cada um de

nós, maristas, sabermos calcular as

distâncias até Ele, lermos os sinais dos

tempos e termos atitudes esperançosas

com relação aos nossos irmãos e irmãs,

utilizando sempre do maior instrumento de todos: a fé!

É a fé em Jesus de Nazaré, a luz do mundo, que nos dá a segurança da

localização exata de onde nos encontramos e nos ajuda a termos ações concretas de

esperança, nos tornando pequenos faróis a sempre iluminar!

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3. Somos Farol de Esperança - Sou a luz do mundo! (João 9, 5)

Antes mesmo do XXII Capítulo Geral (ocorrido em 2017), o mundo marista já se

encontrava em um estado de “vivência permanente na luz”, pois Jesus de Nazaré é o

sustentáculo e o eixo central da “rotação” do Instituto, como Farol de Luz. A luz que

emana desse farol aceso, mantida pelo Espírito Santo e oriundo de um sonho, converge

de um princípio para um fim comum, a ESPERANÇA.

Em Jesus, Deus se fez homem para ter a possibilidade de se colocar entre nós

e tentar mudar/quebrar determinados paradigmas presentes nos corações dos seres

humanos. Não diferente de hoje, somos também convidados/as a sermos, em um novo

tempo e começo, faróis de esperança nos espaços que habitamos, inibindo as sombras

existentes, primeiramente em nossos corações, para podermos emanar essa Luz de

esperança em meio às fortes tempestades sombrias que nos encaminham para portos

muitas vezes desabitados do amor.

Nesse sentido, principalmente após o encontro inquietante com Montagne,

Champagnat firmou em seu coração a esperança de poder proporcionar aos pequenos,

pobres e marginalizados a possibilidade do encontro com Cristo, Porto Seguro e esteio

concreto para a caminhada partilhada em várias dimensões da vida. Encontrar-se com

Jesus de Nazaré é uma experiência, a princípio,

desconhecida por muitos que não têm a oportunidade ou

os estímulos para viverem a Esperança. Mas, um

simples gesto de aproximação, na presença de Jesus,

garante a oportunidade de experimentar o Seu amor e

irradiá-lo como farol.

Champagnat, portanto, mostrou-nos os primeiros

raios de uma luz embasada nos valores do Evangelho,

apontando para as necessidades de uma população

carente de amor, presença, dignidade e esperança.

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Tomai grande cuidado pelas crianças pobres, dos analfabetos e daqueles que são mais limitados; testemunhai-lhes muita bondade, interrogai-as seguidamente, e não temeis mostrar-lhes em toda ocasião que os estimais e os amais precisamente porque são menos providos de vantagens e de bens da natureza. (LANDRY, 2016, p. 250)

Assim, encontrar caminhos iluminados pela esperança e tantos outros valores

pode ser uma tarefa árdua; no entanto, é possível também encontrar iluminações pelas

“frestas” que nos são apresentadas, para que o farol possa direcionar sua luz e encher

de vida/luz os espaços vazios. Muitos desses espaços acabam por ser ocupados por

sentimentos ou desejos próprios do ser humano, que busca se esconder diante dos

desafios que a vida lhe impõe. Ao invés de se apoiar em verdadeiros sentimentos,

munidos também da razão, o ser humano se apropria das dimensões falsas, e cria em

si um falso farol, que não ilumina de forma positiva, mas sim “desilumina”! Por isso, é

importantíssimo primeiramente tentar “iluminar” o próprio interior, que pode estar repleto

de inverdades, incoerências, dores e também de desamor. Mesmo diante das nossas

sombras, ainda sim somos convidados/as a ser luz!

E o que significa ser luz? O que significa iluminar? Seria brilhar por meio da

inteligência, da riqueza, da cultura ou da popularidade? Não! Para nós, maristas, ser luz

é emanar outra luz, a luz proveniente de Jesus de Nazaré, de sua vida, das suas ações,

as quais todos/as são convidados/as a seguir e imitar. No capítulo 16 do Evangelho da

Comunidade de Mateus, Jesus chama a um “descentramento” de si mesmo, a uma

espécie de abandono do próprio ego para que possamos ser luz a iluminar a vida dos

nossos irmãos e irmãs. Para isso, se faz necessário algumas renúncias pessoais, uma

espécie de enfrentamento dos ventos contrários que nos impedem de chegar em um

porto seguro, iluminados pelo farol. Os preconceitos, a discriminação, a negação de

direitos, as incompreensões e a falta de fé podem deixar o nosso barco à deriva, em

alto mar, sem a capacidade de perceber a luz que guia e atrai para a segurança.

Em um barco à deriva, uma sentinela é escalada para estar atenta a qualquer

sinal de orientação: estrelas, luzes, sons, faróis... A sentinela tem que estar em estado

permanente de prontidão, a postos para ecoar um motivo para que a rota seja

restabelecida! É fundamental estarmos atentos/as aos sentimentos que habitam o

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nosso interior, como também sobre as pessoas que constituem as sentinelas nos dias

de hoje. Somos capazes de identificá-las?

As crianças, adolescentes e jovens são as sentinelas do mundo contemporâneo

para a educação e a evangelização marista. Eles/as são os sujeitos que nos apresentam

os sinais e nos alertam para o horizonte, gritando na proa do barco: “(...) vamos aos

jovens lá onde eles estão. Vamos com ousadia aos ambientes talvez inexplorados, onde

a espera de Cristo se revela na pobreza material e espiritual” (IRMÃOS MARISTAS,

1997, nº 83).

Os sonhos das crianças, adolescentes e jovens podem ser comparados com um

feixe de luz que se irradia em busca de um horizonte, pois, “(...) em cada uma das

realidades e situações concretas dos jovens, o Espírito se faz presente e lança

sementes de esperança e de transformação para que comprometam seu esforço na

construção da Civilização do Amor” (CELAM, 2000, p. 120).

4. As necessidades emergentes nos tocam?

As inspirações e chamadas do XXII Capítulo

Geral, gestadas no contexto das periferias do

mundo, nos desafiam e encorajam a “responder

com audácia às necessidades emergentes”.

Dessa forma, o Capítulo coloca diante de nós dois

movimentos: precisamos saber quais são essas

necessidades e quem são as pessoas envolvidas

nesses processos. Afinal de contas, ao lado de

cada “necessidade” caminham também os

inúmeros “necessitados/as”. Eles e elas devem

ser o foco de nossa missão. De forma mais profunda, para além de ter um olhar atento

aos oprimidos/as, é preciso compreender quais são os esquemas opressores que

produzem e sustentam essas necessidades. Em outras palavras, é preciso saber quem

são os donos do poder. E nós, maristas de Champagnat, onde estamos nisso tudo?

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Como essas necessidades nos tocam? Ou ainda, podemos nos perguntar: será que

elas nos tocam?

Se lançarmos um olhar atento e misericordioso sobre os contextos sociais

contemporâneos, seja em âmbito local, de país ou mundial, vamos nos deparar com

duras realidades, que questionam a nossa própria humanidade e o modo como vivemos

e (con)vivemos: aumento de guerras e conflitos armados; desigualdade social;

desemprego; misoginia, homofobia; xenofobia; racismo; intolerância religiosa;

extermínio da juventude negra e periférica; onda de crescimento do neoliberalismo e

conservadorismo; culto ao deus mercado; destruição da Casa Comum; fragmentação e

fluidez das relações; falta de sentido para a vida, etc. No entanto, uma dessas realidades

- e talvez a mais perversa em nossos dias - seja a chamada “crise migratória” mundial.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas3, atualmente há cerca de

22,5 milhões de refugiados no mundo. Desse total, mais da metade são menores de 18

anos. Entretanto, é preciso considerar que, embora na atualidade tenha assumido

escalas e proporções maiores, a migração em massa é um fenômeno antigo, ainda que

a mídia em geral e os discursos políticos tenham se unido mais recentemente - com a

hipocrisia que lhes são típicas - para dar maior ênfase ao fato.

Zigmunt Bauman, em seu livro “Extraños llamando a la puerta”, apresenta uma

reflexão séria e consciente desta conjuntura tão cruel. O autor aponta que os grandes

deslocamentos do século XXI podem ser pensados como uma atualização dos primeiros

grandes deslocamentos humanos que povoaram os atuais continentes. No entanto,

Bauman chama a atenção de que a representação da chamada “crise migratória” como

um fenômeno recente na história da humanidade constitui um discurso alarmista, bem

como as respostas sociais e políticas a ela. Para ele, a crise que atravessamos é

humana (ou humanitária), uma vez que só existe pela relação que define o mundo entre

“nós e os outros”. Em outras palavras, nós criamos os nossos próprios refugiados, eles

não surgiram do nada. Trata-se de uma questão humana transversal a todo e qualquer

desafio social, seja local ou global: o desafio do reconhecimento do outro como ser,

como irmão e irmã, e a dificuldade de conviver com o diferente. Estamos numa cultura

plural, mas, não toleramos o diferente.

3 Fonte: http://www.acnur.org

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Nesse ponto é importante entendermos, ainda que de forma panorâmica, a diferença

conceitual entre migrante e refugiado:

1. Um migrante é, em princípio, alguém que se muda para outro lugar – dentro do

próprio país ou além de suas fronteiras. Normalmente, é considerado migrante

quem saiu do país natal por iniciativa própria, não por ter corrido perigo de vida

por lá, mas por buscar uma vida melhor.4

2. Juridicamente, um refugiado – diferentemente de um migrante – é alguém que

se enquadra nas definições da Convenção de Genebra sobre refugiados: “são

pessoas que estão fora de seu país de

origem devido a fundados temores de

perseguição relacionados a questões de

raça, religião, nacionalidade,

pertencimento a um determinado grupo

social ou opinião política, como também

devido à grave e generalizada violação de

direitos humanos e conflitos armados”.5 De

outro modo, um refugiado/a é alguém que

teve de deixar seu país natal por causa de

sua etnia, religião, nacionalidade,

convicção política ou pertencimento a

certo grupo social.

Migrantes e refugiados são, em última

instância, pessoas que fogem da brutalidade das guerras, da fome e dos despotismos.

Considerados como estranhos, vêm bater à porta de outras pessoas. São

responsabilizados por situações e ambiguidades sobre as quais pesam inúmeras

causas históricas. Por isso, para além das distinções apresentadas, é importante ter em

mente os fatores subjacentes e a força dos sistemas e esquemas de exclusão e

4 Fonte: < https://www.cartacapital.com.br/internacional/entenda-a-diferenca-entre-migrante-

refugiado-e-requerente-de-asilo-2601.html> 5 Fonte: <http://www.acnur.org/t3/fileadmin/Documentos/portugues/BDL/Convencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugiados.pdf?view=1>

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opressão que estão por detrás do fenômeno da fuga de tantos refugiados pelo mundo.

A seguir apontaremos alguns deles:

Nosso modo de vida, sob o ponto de vista da pós-modernidade, exclui

cinicamente as pessoas consideradas inúteis ou não empregáveis em seus

locais de nascimento. Em outras palavras, a globalização do poder não se deu

acompanhada por uma globalização política e social;

A desestabilização política do Oriente Médio que, mesmo diante das pretensas

tentativas de paz, dá um tom ainda mais pesado à crise migratória;

Para algumas partes do planeta, entendidas como desenvolvidas, a chegada de

refugiados é vista com “alegria”, visto que para os grandes projetos econômicos

o fluxo migratório não passa de mão-de-obra barata, para os fins últimos de

crescimento de seu Produto Interno Bruto (PIB);

A construção histórica das grandes desigualdades econômicas e sociais,

através do colonialismo e do imperialismo, que culminaram com a construção

de países em que há pouca ou quase nenhuma perspectiva para grande parte

de suas populações;

A fragilidade existencial, somada às incertezas de nossos tempos, acabam por

legitimar discursos políticos que prometem, falsamente, solucionar problemas

graves e, neste momento histórico, praticamente incontornáveis;

As comoções - tão difundidas pela mídia – em relação à situação dos refugiados

não passam de revoltas pontuais, passageiras, oportunistas e que não levam a

pensar em soluções concretas. Ou seja, após alguns momentos de comoção as

pessoas retornam à sua vida cotidiana, de forma que as tragédias são logo

esquecidas ou substituídas por outras;

As instituições sociais, de maneira geral, se valem da insegurança para tirar

proveito a seu próprio favor. Em outras palavras, o contexto dos refugiados

(oriundos principalmente de países do Oriente Médio) favorece e reforça o

repúdio contra os “terroristas” e legitima determinadas iniciativas contra tais

grupos. Prova disso é a legitimação e legalização de governos (como o norte-

americano) que prometem o combate aos terroristas. Nesse sentido, os

refugiados passam a ser considerados também como terroristas em potencial,

aptos a serem exterminados por esses (des)governos;

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A construção de imagens arquetípicas (modelos mentais) - que têm ligado os

refugiados aos medos, inseguranças e ameaças - trabalha como um

impulsionador do sentimento nacionalista e fortalece os denominados estado-

nação; no entanto, tudo isso às custas da negação dos direitos humanos a todos

os seres humanos. De igual modo, o medo do transcendente, por muitas vezes

explorado pelas religiões (principalmente o cristianismo), passa a ser

ressignificado pela política, convertendo-se em “medo oficial, o medo a um

poder humano que não é de todo humano” (p. 51);

As pessoas comuns da sociedade, por sua vez, se isentam de ter que carregar

o fardo de compartilhar a responsabilidade com o destino dos pobres, os sem

casa. Trata-se, em última instância, de uma espécie de alívio individual. Para

Bauman, vivemos numa “sociedade de performance” que, ao mesmo tempo,

fabrica e extermina aqueles e aquelas considerados depressivos ou que não se

ajustam ao sistema;

Seja para os políticos com seus programas hipócritas, seja as sociedades em

geral, os refugiados representam uma verdadeira ameaça porque expõem

claramente as misérias humanas. Tais misérias causam pânico e, portanto,

todos evitam a qualquer custo enfrentá-las cara a cara;

Os refugiados são, para os países do primeiro mundo, “emissários das más

notícias”, personificando a derrubada de uma ordem e de uma pseudo-

estabilidade e uma paz escamoteada. De acordo com Baumam, eles/elas

transportam as más notícias de lugares longínquos até nossas portas, gritando

para serem ouvidos, para que tomemos consciência de algo que “com gosto

esqueceríamos ou, melhor ainda, desejaríamos que desaparecesse e que não

deixam de nos lembrar (BAUMAN, 2016, p. 21). Esses povos nômades (mesmo

que não por vontade própria) “nos lembram de modo irritante, exasperante e

horripilante a (incurável?) vulnerabilidade de nossa própria posição e da

fragilidade endêmica deste nosso bem-estar que tanto nos custou alcançar”

(Idem, p. 21);

Diante de cenários sociais tão complexos, como o dos refugiados/as, e de

estruturas de poder tão entranhadas em nosso modo de vida e produtoras de

desigualdades, como nós maristas nos posicionamos? Qual seria a postura de

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Marcelino se vivesse em nosso tempo? O que as crianças, adolescentes e jovens

esperam de nós, hoje?

O XXII Capítulo Geral nos encoraja nesta missão quando afirma que “Marcelino

Champagnat, interpelado pelas necessidades e oportunidades em que vivia, pôs-se à

escuta do Espírito, para descobrir o que Deus lhe pedia naquele momento histórico.”

Dessa maneira, o Capítulo nos propõe um movimento interior e institucional de escuta

do Espírito, de modo que possamos: despir-nos de nossa arrogância de educadores e

evangelizadores competentes; retomar o espírito de pobreza, simplicidade e modéstia

que fecundou a semente do Instituto; apostar em comunidades, escolas e outros

organismos inseridos entre e com os pobres, constantemente empurrados para as

margem da vida; ampliar nosso horizonte evangelizador para além das “ilhas pastorais”

que nos trazem segurança; nos posicionar de forma corajosa à favor da vida dos mais

fracos, mesmo que isso nos custe perdas financeiras. Caso contrário, será que no futuro

poderemos nos orgulhar de carregar o nome de “Pequenos Irmãos de Maria”, “Maristas

de Champagnat”? Como justificaremos à geração das crianças refugiadas que não

tivemos a coragem de lutar por elas quando foi necessário?

Os montagnes batem e gritam à nossa porta. Talvez seja a hora de levantar de

nossa cômoda mesa e nos arriscar a abri-la. Quem sabe escutaremos novamente o que

Champagnat ouviu do jovem Montagne: “Sentimos que talvez fosse a nossa vez de

morrer. Mas não queríamos morrer. Então decidimos partir”. (Sahar, 25 anos, refugiado

sírio no Líbano).

5. O refúgio interior

A crise migratória mundial, assim como a questão dos refugiados nos provocam

a pensar a temática na dimensão existencial, aquilo que toca nossa interioridade,

sentidos e pensamentos. Diante das realidades sociais, culturais e estruturais que nos

cercam, corremos o risco de nos refugiarmos dentro de nós mesmos, numa espécie de

fuga mundis, fuga do mundo exterior, pois nossa vida também é feita de travessias, de

fugas, transposição de fronteiras e busca por lugares seguros. Refugiar-se em si mesmo

ou afastar-se de situações, lugares e pessoas pode fazer bem, desde que vividos como

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itinerância e não como isolamento, num movimento que nos traz de volta para o convívio

social e para novas relações.

A solidão e o isolamento são temas ancestrais na espiritualidade. No

cristianismo, por volta do século II, já se tem indícios claros de homens e mulheres que

buscavam o isolamento em montanhas e desertos a fim de lá enfrentarem seus

demônios na busca de Deus. Esses homens e mulheres ficaram conhecidos como

“monachoi”, os monges do deserto.

Apesar de sermos uma espécie social e gregária, a ideia de que a solidão “cura” de algum modo é persistente ao longo dos milênios, associada ou não a conteúdos religiosos de fato. Hoje em dia, nas grandes cidades, milhares de pessoas optam por viver sozinhas, porque, simplesmente, a vida “em conjunto” exaure suas forças.

(PONDÉ, 2016)

As constantes pressões sociais, a influência midiática, a apelação às

exterioridades, o glamour e a falsa cultura dos primeiros lugares, baseada na

meritocracia, faz com nossas crianças, adolescentes e jovens se sintam como que

estrangeiras no mundo. Parece-nos que o mundo contemporâneo ainda é marcado por

uma lógica adultocêntrica, mercadológica e competitiva, em que o público infanto-juvenil

não se sente muito acolhido. O mesmo pode acontecer com os adultos imersos em um

contexto de nativos digitais.

Fugir da realidade não parece ser o ideal, mas se faz necessário em alguns

momentos da vida e pode se tornar uma oportunidade para o crescimento se a fuga se

constitui em um tempo de busca, de reflexão e de mudança do lugar de observação. A

experiência dos retiros espirituais segue essa a lógica de que é preciso tomar distância

do ritmo acelerado para se perceber a si mesmo na relação com Deus. Na filosofia

estoicista encontramos um pouco dessa concepação de fuga mundis. Uma pitada de

fuga da realidade poderia fazer bem, desde que seja um exercício de se afastar para

compreender o mundo e as suas relações.

O estoicismo é uma filosofia que floresceu na Grécia por volta do século 3 a.C. e chegou a Roma, tendo o imperador Marco Aurélio (121 d.C. - 180 d.C.) como um dos seus maiores luminares. A ética estoica buscava a consciência de que tudo na vida é efêmero e enganoso,

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quando nega-se essa mesma efemeridade. Permanente é apenas o logos, esse princípio divino, para muitos, materializado na natureza ou no cosmo. O estoico buscava fugir da cidade e viver próximo à natureza porque esta não engana, enquanto aquela abriga a mentira,

a vaidade, o culto ao vazio. (PONDÉ, 2016)

O isolamento dos adolescentes e jovens traduz um período de busca e de auto-

afirmação, uma fase da vida em que eles/as buscam o seu lugar no mundo. Para que

ninguém se sinta estranho ou estrangeiro é fundamental o exercício da empatia e da

acolhida. É na acolhida ao ser do outro que conseguimos construir uma relação comum,

um mundo comum, sem fronteiras existenciais para o amor, a solidariedade, o perdão

e a vida. Na relação interpessoal, o/a outro/a pode se constituir em um farol de

esperança, como aquele/a que sinaliza vida, que é ombro que acolhe, ouvido que

escuta, palavra que consola e razão que reflete e compreende.

O/a educador/a e pastoralista marista podem e devem ser faróis de esperança

para todas as pessoas, mas de maneira especial para as crianças, adolescentes e

jovens que vivem tempos de travessias e de migração no processo de crescimento,

desenvolvimento humano e constituição do caráter. Os adultos precisam estar atentos

para que os/as estudantes não se sintam perdidos e sem acolhida nas distintas etapas

da vida.

Será que sabemos identificar os lugares em que as crianças, adolescentes e

jovens se refugiam? Poderíamos afirmar que o instagran, o facebook e os jogos

Minecreaft são lugares de refúgios infanto-juvenis? Conhecemos a história, concepção

e proposta presentes no Minecreaft? Se não nos aproximarmos do mundo das crianças,

adolescentes e jovens correremos o risco de viver presencialmente juntos, mas em

mundos opostos, refugiados uns dos outros.

É fantástico imaginar a correlação que existe entre o tema proposto na Semana

Champagnat, concentrado na causa dos refugiados e na esperança, com a dimensão

existencial e cotidiana dos nossos estudantes. É perceptível o fato de que dentro das

nossas escolas temos crianças, adolescentes e jovens que se refugiam. Eles/as

insistem o tempo todo em construírem o mundo e o ambiente que os circunda de acordo

com sua vontade. Conhecer os encantamentos, por exemplo, que o jogo Minecreaft

gera nas crianças é um dos modos de habitar o contexto infanto-juvenil.

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Minecraft é classificado como sandbox ou open world2, em português, mundo aberto, que são jogos explorados pelo usuário de forma autônoma, sendo ele capaz de movimentar-se livremente e transformar aquele ambiente segundo sua vontade. Dessa forma, o cumprimento de objetivos fica a cargo do jogador, o que permite que o usuário tenha mais independência. Segundo Harris (2007), o que une esses tipos de jogos é a ausência de barreiras artificiais e de forças que restringem ou obrigam o usuário a ocupar determinado espaço. (MURTA; VALADARES; FILHO, 2015, p. 4)

Para que não sejamos estrangeiros no mundo que nos pertence e no qual

precisamos ser acolhidos/as, amados/as e compreendidos/as se faz necessário iluminar

e ser iluminados/as. Ser farol de esperança uns para os outros, sobretudo quando nos

sentirmos perdidos ou refugiados de nós mesmos, das relações sociais, eclesiais e

institucionais.

O texto é apenas um aperitivo que nos provoca a reflexão e o estudo.

Avancemos rumo ao farol de luz!

6. Propostas de Atividades Pastorais-Pedagógicas

1. Infâncias

1.1 Construção do Farol e Contação de História

O tema da Semana Champagnat, “Somos farol da esperança”, traz como forte

simbologia a imagem do farol e a importância de sermos pessoas que refletem a luz da

esperança com as nossas atitudes.

Nesse sentido, sugerimos que seja construído um farol com materiais reciclados,

como rolo de papel higiênico ou papel toalha, pedaços de madeira (para as Unidades

que possuem marcenarias), cano pvc, entre outros. Os/as educadores de Artes e SeAc

podem ser grandes facilitadores.

Em torno ao farol, encenações, contação de histórias e outras atividades podem

ser realizadas. O AMAR é um momento propício, como também outros grupos e

disciplinas.

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Finalizando a contação de história “Um farol só meu”, barquinhos de papel

podem ser construídos com as crianças e serem soltos na piscina ou colocados perto

do farol. Na história de Marcelino, é possível realizar desenhos retratando o acontecido,

proporcionando assim, uma exposição. Importante que as atividades das histórias

façam sempre a ligação do farol e dos refugiados.

Sugerimos as seguintes histórias a serem trabalhadas:

Episódio: Perdidos na Neve

Adaptação do Trecho da Biografia do Pe. Champagnat (Cap. VII, p. 311 – 312)

No mês de fevereiro, do ano de 1823, um Irmão marista que morava na cidade de Bourg-

Argental estava gravemente doente. Eu, Marcelino, não queria deixá-lo morrer sem vê-

lo mais uma vez e lhe dar uma bênção. O tempo estava muito ruim e o chão estava

coberto de neve, mas isso não me impediu de sair a pé quando soube que o Irmão

estava em perigo de vida. Chegando à casa do Irmão, o abençoei e o confortei, e logo

resolvei voltar para a minha casa em Lavalla. Os Irmãos tentaram me convencer a ficar,

pois, nevava muito e o vento soprava com muita força. Mas, achei que deveria ir, mesmo

assim, logo me arrependendo. O Ir. Estanislau me acompanhava, e preferimos passar

pelas montanhas de Pilá. Tínhamos andado apenas duas horas quando nos perdemos.

Não achamos nenhum sinal da estrada e fomos forçados a caminhar sem direção, ou

melhor, sob a direção de Deus. Um vento fortíssimo jogava a neve no nosso rosto, de

modo que não dava para saber se estávamos indo ou voltando. Andamos horas a fio, e

o Irmão Estanislau se sentiu exausto. Eu o tomei pelo braço para ajudá-lo a andar e não

deixá-lo cair. Mas, daí a pouco, até eu, vencido pelo frio intenso e sufocado pela neve,

senti-me cansado e tive de parar. Falei então ao Irmão: “Meu amigo, estamos perdidos,

se Maria não nos socorrer. Rezemos a ela e supliquemos-lhe que nos salve a vida em

perigo neste mato e no meio da neve”. Quando acabei de dizer isso, senti o Irmão

escorregar da minha mão e cair desmaiado. Cheio de confiança, eu me ajoelhei ao lado

do Irmão, que parecia sem vida, e rezei com muito fervor o “Lembrai-vos”, uma oração

à Maria. Terminando a oração, procurei erguer o Irmão e fazê-lo andar. Não tínhamos

andado dez passos quando vimos, na escuridão da noite, uma luz a certa distância.

Seguimos em direção a luz e encontramos com uma casa onde passamos a noite. Nós

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dois estávamos congelados pelo frio, sobretudo o Irmão, que demorou a recuperar

inteiramente os sentidos. Se o socorro não tivesse chegado naquele exato momento,

nós dois estaríamos perdidos. Com certeza, a Virgem Maria nos salvou da morte.

Um farol só meu

Se vieres a minha casa, da janela do meu quarto verás o mar, a praia e muitos

barcos de pesca. Um deles, o mais bonito, é o do meu papá. O meu papá é pescador.

Quando regressa, traz sempre muito peixe, e a minha mamã apressa-se a ir vendê-lo.

— As pessoas gostam de peixe fresquinho — diz ela.

Na sala, debaixo do quadro com os nós, está a minha fotografia preferida: o papá,

a mamã, e eu no meio.

Por vezes, o meu papá parte durante vários dias, quando o peixe está muito longe,

e eu sonho com o mar.

Às vezes são sonhos feios em que o mar está mau, e o meu papá está sozinho no

barco… Eu acordo com muito, muito medo.

Hoje foi uma dessas noites; fui a correr ter com a minha mamã e contei-lhe o meu

sonho mau. Ela falou-me dos faróis, como eles ajudam os pescadores, e deu-me um

livro para ver, com muitas imagens de faróis.

Eu acho que ela também tem medo. Passei muito tempo a ver todas aquelas

imagens: faróis grandes, faróis pequenos, faróis coloridos… Vocês sabiam que há

pessoas que vivem em faróis?

Eu gostava de viver num farol, para ajudar o meu papá a voltar para casa. Vou

construir eu mesma um farol! O maior e mais alto farol do mundo! Pedirei ajuda aos

meus brinquedos preferidos e vamos todos trazer de volta o meu papá.

Os brinquedos ficaram contentíssimos com a novidade, mesmo o Ronaldo, o meu

preguiçoso pato amarelo.

Incansáveis, durante horas arrastámos e sobrepusemos os cubos de madeira que

me foram dados pela tia Joaninha. Já estava tão alto que saía pela janela.

Subi… Subi… passei pelas nuvens, e continuei a subir até chegar perto da estrela

mais brilhante, aquela que a mamã disse que era só para mim… Pedi-lhe para se sentar

no meu colo e ajudar-me. Ela sentou-se, e ajudou-me.

Estava agora em cima do meu farol, com a minha estrela ao colo.

Por muito longe que estivesse o meu papá, por muito escuro que fosse… não poderia

deixar de ver a minha luz, o farol que eu tinha construído só para ele.

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Se hoje o meu papá chegar a casa, da janela do meu quarto verá o mar, a praia e

muitos barcos de pesca… E o meu farol de amor. Francisco Cunha Um farol só meu

1.2 Oficina

Sugerimos, junto aos/as professores/as de artes oficinas relacionadas ao tema.

A construção de luminárias, quebra-cabeças e outras peças, podem fazer parte da

atividade. Partindo da questão: Como ser instrumento de luz na vida das pessoas?

Existem diferentes modelos, designs de lâmpadas e luminárias que tem como objetivo

transmitir a luz, não importando a forma.

Quebra-cabeça em palitos do farol

https://br.pinterest.com/pin/490822059371370516/

1.3 Vídeo “Farol da Responsabilidade”

https://www.youtube.com/watch?v=2GsoaeFPnr0

1.4 Peregrinação de Marcelino Champagnat às famílias

• O roteiro e as orientações da celebração encontram-se na pasta

“roteiros”;

• Cada Unidade veja a organização junto às famílias;

1.5 Visita de Marcelino Champagnat às salas de aulas

• O roteiro e as orientações da oração encontram-se na pasta “roteiros”;

1.6 Visita ao Farol da cidade

A costa litorânea brasileira possui uma diversidade de faróis que, na sua maioria,

foram construídos no século XIX, principalmente depois da instalação da Família Real

Portuguesa no Brasil. O mais antigo de todos é datado de 1698, na baía de todos os

Santos, Bahia, o Farol da Barra.

Page 19: “Somos farol de esperança”exemplo de Champagnat, a sermos luzeiros de esperança. Maria, nossa boa mãe, a primeira a acolher e irradiar a luz, nos ensine a buscarmos, com fidelidade,

Como muitas das nossas Unidades estão localizadas na região litorânea ou

próximas a ela, sugerimos que, a medida do possível, sejam realizadas atividades nos

faróis com os estudantes. O link -

http://faroisbrasileiros.com.br/far%C3%B3is/far%C3%B3is%20index.html - relaciona

todos os faróis do nosso país, assim como a contextualização de cada um deles (basta

clicar em cima do nome). Vejam o mais próximo da Unidade e a possibilidade de

realizarem atividades interdisciplinares, percorrendo sobre a história, a origem, a atual

condição, como também sobre funcionamento e a evolução pela qual o farol passou,

trazendo sempre presente a ideia de sermos faróis de esperança!

Uma visita a comunidade em torno do farol, conhecendo sua realidade e

dinâmica, para, assim, realizar uma ação pastoral, pode ser uma grande vivência

humana e evangelizadora.

As Unidades que estão distantes dessa possibilidade podem adaptar a sugestão,

sem perder de vista a perspectiva de ser luz, de iluminar, conforme a temática da

semana.

2 Adolescentes e Jovens

2.1 Vídeo “Farol da Responsabilidade”

https://www.youtube.com/watch?v=2GsoaeFPnr0

2.2 Visita de Marcelino Champagnat às salas de aula do EFII e EM

• O roteiro e as orientações da oração encontram-se na pasta “roteiros”;

2.3 Roteiro de encontro para a PJM

• O roteiro e as orientações encontram-se na pasta “roteiros”;

2.4 Visita ao Farol da cidade

A costa litorânea brasileira possui uma diversidade de faróis que, na sua maioria,

foram construídos no século XIX, principalmente depois da instalação da Família Real

Page 20: “Somos farol de esperança”exemplo de Champagnat, a sermos luzeiros de esperança. Maria, nossa boa mãe, a primeira a acolher e irradiar a luz, nos ensine a buscarmos, com fidelidade,

Portuguesa no Brasil. O mais antigo de todos é datado de 1698, na baía de todos os

Santos, Bahia, o Farol da Barra.

Como muitas das nossas Unidades estão localizadas na região litorânea ou

próximas a ela, sugerimos que, a medida do possível, sejam realizadas atividades nos

faróis com os estudantes. O link -

http://faroisbrasileiros.com.br/far%C3%B3is/far%C3%B3is%20index.html - relaciona

todos os faróis do nosso país, assim como a contextualização de cada um deles (basta

clicar em cima do nome). Vejam o mais próximo da Unidade e a possibilidade de

realizarem atividades interdisciplinares, percorrendo sobre a história, a origem, a atual

condição, como também pelo funcionamento e a evolução pelo qual o farol passou,

trazendo sempre presente a ideia de sermos faróis de esperança!

Uma visita a comunidade em torno do farol, conhecendo sua realidade e dinâmica,

para, assim, realizar uma ação pastoral, pode ser uma grande vivência humana e

evangelizadora. O envolvimento do TAS e TAC, também é um bom caminho.

As Unidades que estão distantes dessa possibilidade, podem adaptar a sugestão,

sem perder de vista a perspectiva de ser luz, de iluminar, conforme a temática da

semana.

3 Áreas do conhecimento

O Projeto Educativo do Brasil Marista diz que “o currículo organiza, dinamiza e

potencializa os princípios e intencionalidades institucionais, estruturando e mobilizando

as grandes áreas de conhecimento e seus componentes em redes de conhecimento,

saberes, valores, aprendizagens e sujeitos da educação, da aula e da escola”

(UMBRASIL, 2010, p. 81).

Nessa perspectiva, o currículo parte da essência do carisma marista, tornando-se,

portanto, um currículo evangelizador! Com isso, pensando na simbologia do farol de

esperança e na realidade dos/as refugiados/as e dos/as migrantes, seguem algumas

possibilidades de trabalhos com as seguintes disciplinas:

• Física: fazer alusão à temática da SCM nas séries em que forem trabalhados os

princípios de ótica, utilizados no farol;

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• Matemática: fazer alusão à temática da SCM nas séries em que forem

trabalhados os conteúdos de trigonometria, utilizados no farol;

• Biologia: a partir da temática da SPM, relacionar com o conteúdo da vida

marinha que vive em torno do farol, refletindo também sobre a poluição do mar

e suas consequências;

• História: fazer alusão à temática da SCM nas séries em que forem trabalhados

os conteúdos da Antiguidade (Farol de Alexandria), as grandes navegações e

conquista da América, revolução industrial, as grandes invenções do século XIX;

• Geografia: fazer alusão à temática da SCM nas séries em que forem

trabalhadas as formas de representação e pensamento espacial

(representações cartográficas, o sentido de localização, etc.). Geopolítica – fazer

uma análise de conjuntura da situação dos refugiados na Síria e dos migrantes

da Venezuela.

• Sociologia: a partir da temática da SCM, aprofundar a reflexão sobre o farol

como símbolo de ocupação de espaço e dominação. Quais são os símbolos que

representam isso hoje? Que tipos de comunidades se formam em torno do farol?

Qual a relação da sociedade com o farol, nos dias atuais? Aprofundar o debate

sobre o acolhimento dos refugiados e dos migrantes por parte dos outros países.

Quais os impactos sociais que esses fenômenos desencadeiam? Como a

sociedade reage diante dessas pessoas?

• Filosofia: os primeiros faróis precisavam de uma pessoa que alimentava o fogo

ou cuidava do seu funcionamento. A partir da temática da SCM, aprofundar a

reflexão sobre a pessoa do faroleiro. Quem era essa pessoa e qual era o seu

papel? Quem é o faroleiro nos dias de hoje? Nietzsche dizia sobre a “consciência

como farol que ilumina”, relacionar esse conteúdo do EM com a SCM. No Mito

da Caverna, de Platão, via-se a realidade como sombreado, ao sair da caverna

era possível ver a luz (a razão).

• Ensino Religioso: a partir da temática da SCM, aprofundar a reflexão sobre a

pessoa de Jesus Cristo, como a grande luz e a de Champagnat que, na

experiência com a Luz, quis ser sinal de esperança para os demais. Quais

atitudes de Jesus e de Champagnat iluminaram a vida das pessoas? Como ser

luz hoje, para quem está ao meu redor? O farol, apesar dos avanços

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tecnológicos, continua sendo essencial para a navegação. O que é essencial da

vida de Jesus e de Champagnat que precisamos cultivar? O que é fundamental

para a vida humana nos dias atuais?

• Redação: trabalhar a temática da SCM por meio de produções textuais,

podendo aprofundar a influência dos meios de comunicação para a sociedade.

4 Músicas Populares

• Sé mi luz

https://www.youtube.com/watch?v=RlfligPUmw0

• Lanterna dos afogados – Paralamas do Sucesso

https://www.youtube.com/watch?v=n7OZBeVfgbs

• Era uma vez – Legião Urbana

https://www.youtube.com/watch?v=4wZUTpTupeo

• O Sol - Vitor Kley

https://www.youtube.com/watch?v=YVJijQIualA&list=RDYVJijQIualA&t=165

• Iluminar – Natiruts

https://www.youtube.com/watch?v=V8mq7vH1Unk

• Luz – Marina Peralta

https://www.youtube.com/watch?v=mWKyZg-qY5o

• Iluminar – Padre Fábio de Melo

https://www.youtube.com/watch?v=1pjIXpxE8nE

• Um Farol – Cassiano Kruger

https://www.youtube.com/watch?v=VY_vntS4niU

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• Divina Fonte

https://www.youtube.com/watch?v=_JQEpEtZYI4

• Luz e Sal

https://www.youtube.com/watch?v=zrejSCUBP3c

• Somos seres de Luz – Nando Cordel

https://www.youtube.com/watch?v=FtgmiL8k6hg

• Suave Luz – Nando Cordel

https://www.youtube.com/watch?v=asP1DlV3Kbk

• Luz na frente, paz na guia – Zé Vicente

https://www.vagalume.com.br/ze-vicente/luz-na-frente-paz-na-guia.html

• Dentro de Mim – Pe. Zezinho

https://www.youtube.com/watch?v=zlPBEHhZmPg

• A verdade é bem maior - Pe. Zezinho

https://www.youtube.com/watch?v=rLd97f97AiE

Agradecimentos

Edigar Barraqui – coordenador de Pastoral da Escola Marista Champagnat de Terra Vermelha / Vila Velha – ES Glauciene Dias de Araújo – agente de Pastoral do Colégio Marista Champagnat / Taguatinga – DF

Jeferson Vieira Soares – agente de Pastoral do Colégio Marista São José / Montes Claros – MG João Barbosa de Lima Neto – agente de Pastoral do Colégio Marista Pio XII / Surubim – PE

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Josiene Alves Rosa – agente de Pastoral do Colégio Marista Nossa Senhora da Penha / Vila Velha – ES Julyana Nunes – agente de Pastoral da Escola Marista Sagrado Coração / Fortaleza – CE Jadir Ramos de Almeida Júnior – coordenador de Pastoral do Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré / Belém - PA Fernanda Tolomei – agente de Pastoral do Colégio Marista São José / Rio de Janeiro – RJ Gabriel Brito Costa - pré-postulante marista - Comunidade Nossa Senhora da Penha/ Vila Velha – ES Marcos Vinícius Medrado dos Santos – pré-postulante marista - Comunidade Nossa Senhora da Penha/ Vila Velha – ES Juliana Jardim Oliveira Oliveira - analista da área das Ciências Humanas da gerência socioeducacional Marcus Vinícius Ribeiro Ferreira – analista da área das Ciências da Natureza da gerência socioeducacional

Referências Bibliográficas

BAUMAN, Zygmunt. Extraños llamando a la puerta. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Paidós, 2016. CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO – CELAM. Seção Juventude. Civilização do amor: tarefa e esperança: orientações para a pastoral da juventude Latino-Americana. São Paulo: Paulinas, 1997. INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Constituições e Estatutos. Roma: Instituto dos Irmãos Maristas, 1997. _______. Mensagem do XXII Capítulo Geral: caminhemos como família global. Rionegro, 8 de setembro a 20 de outubro de 2017, 2010. LANDRY, Fabien. São Marcelino Champagnat: 85 capítulos: 450 dos seus pensamentos. Brasília: UMBRASIL, 2016. MURTA, Cláudia Almeida Rodrigues; VALADARES, Marcus Guilherme Pinto de Faria; FILHO, Waldenor Barros Moraes. Possibilidades pedagógicas do Minecraft:

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incorporando jogos comerciais na educação. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/anais_linguagem_tecnologia/article/viewFile/8523/7478>. Acesso em: 17 de mar. 2018. PONDÉ, Luiz Felipe. O afastamento do mundo e a busca da solidão resvalam em valores positivos. Disponível em: <http://www.pavablog.com/2016/09/26/o-afastamento-do-

mundo-e-a-busca-da-solidao-resvalam-em-valores-positivos/>. Acesso em: 4 de mar. 2018. UMRASIL. Projeto Educativo do Brasil Marista: nosso jeito de conceber a Educação Básica. Brasília: UMBRASIL, 2010.

Grupo de trabalho das Semanas Temáticas

Coordenação de Evangelização