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“Luiz Caramaschi” O CÓDIGO POSTAL E A RAPOSA SABIDA

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“Luiz Caramaschi”

O CÓDIGO POSTAL EA RAPOSA SABIDA

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PrefácioAinda no mês passado recebemos umacartinha da Raposa Sabida. Eis o que nos dizia:À IMERY PUBLICAÇÕES LTDA.Caixa Postal - 1.057 74.000 - Goiânia - Go.Caros Amigos.Antes de mais nada lhes enviamos, aquida mata, nosso sincero voto de que continuemcontando em estórias as boas mensagens daNatureza, o folclore, as lendas, e tudo quetemos de bom por este Brasil afora.Minha reclamação:- Quando vai sair o Código Postal em queeu trabalho? Quero meu cachê... A vida estámuito cara... O Luiz não me pagou nada e euestou há dias em jejum, pois hoje as galinhassão tratadas com venenos e além dissoguardadas atrás de gaiolas de arame, comguardas por todo lado. Uma pobre Raposa,como eu, velha e sem INPS, tem que defenderseus direitos, não acha?Eu trabalhei. Fui artista, como não?Entrei em toda aquela encrenca doCódigo Postal. E eu, logo eu, a Raposa Sabida(que o Luiz nomeou pelo meu apelido de

Nanham), vou ficar sem ganhar? Só porque V.Sa. não edita a estória?Pois eu não ia dizer-lhes, mas, vi seuslivros sendo vendidos - Saúde PelaAlimentação Frugívora (quem me dera que meuestômago aceitas-se só frutas!... as uvasgeralmente estão verdes, as laranjas azedas,os mamões amargos e as demais frutas cheiasde produtos químicos). Einstein - o CampoUnificado (sou muito burra para asmatemáticas), O Apocalipse Interpretado (lieste e estou em pânico! O mundo vai acabar?E eu não terei visto minha grande ação levadaao público?) Vi o Dr. Grilo e seus Inventos(inventos de menor valia que o meu... Sóporque ele "evolui" e se torna "gente"... Ah! quedesgraça, acho eu, ser "homem"! Essa é atragédia de todo o Universo! Por que nãovoltam os homens à natureza? Ao amor? Acompreensão? Ah! Como estou triste com oshomens, desde aquele dia em que um homemfez o Sermão da Montanha... e foi levado a ummonte e pregado em dois pedaços demadeira... Como gostei do enorme livro do Luiz

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contando tudo isso... mas, dos homens, quem-lê o Um Estudo do Nosso Tempo"?).

Enfim, já estou falando dos livros - quealegria poder viver com o Cavalinho Mágico,com o Traquinas... mas não gostei do EsquiloInvisível (onde se viu, maltratar a Raposa?... napróxima edição vê se muda essa fábula...). Jásoube que há um segredo atrás da "varinha demarmelo". Ah! se eu descubro!Aguardo com ansiedade a Volta doCavalo Mágico e quanto ao Pequeno Tratadoda Literatura Infantil, vejam se incluem aqui aArtista com 0 Código Postal e a RaposaSabida. Caso contrário não leio, viu?

Com o nosso melhor e carinhoso Saudar,a) Raposa Sabida

Que petulância da Dona Raposa!Vai direto à editora reclamar!Vem de mansinho elogiando... e vaimetendo o bedelho em nosso programa e aténa redação das estórias, para reclamar "seusdireitos". Mas quem tem direito, tem direito.E aqui estamos para atender a "A RaposaSabida" e todos aqueles que têm uniamensagem para transmitir.

Com vocês, "A Raposa Sabida",ensinando às crianças, como se comunicar como auxílio do C.E.P.

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Indice

1 - A Raposa Sabida2 - O Coelho-Foguete3 - Uma festa de batizado4 - A cobra perigosa5 - A festa da vitória6 - A caçada de içás7 - O mel do chão8 - Uma lição maravilhosa9 - Medalha de Honra ao Mérito10 - Sugestões de Atividades

A RAPOSA SABIDA

Lá pelos lados do Cágado, que é umavila próxima a Piraju, havia uma raposa muitosabida que morava no buraco de uma grandeárvore. Ela se chamava Nhanhã.Todos os bichos da redondeza, quandotinham algum problema, iam perguntar à raposadona Nhanhã, como resolvê-lo. A velha raposamuitas vezes fazia sua trouxa de roupas, e apunha às costas, e ia muito longe estudar asarmadilhas que os homens faziam para pegarpacas, cotias, capivaras e outros companheirosda floresta. E depois que descobria como aarmadilha funcionava, começava a ensinar osbichos como se livrarem delas. E assim donaNhanhã ia vivendo sua vidinha de raposasabida.Mas um dia apareceu-lhe um coelho-da-cidade, muito can-sado da viagem, e lhe disse:- Dona Nhanhã, será que a senhora mepoderia ajudar a resolver um problema?- Mas o que é meu filho? Como é seunome?

- Eu me chamo Cep, respondeu o coelho.E fui contratado pelo homem para o serviço delevar cartas de umas para outras pessoas. Mashá tantas cartas e são tantas as cidades, quenão consigo guardá-las todas na cabeça, querdizer, na memória. E o diabo, dona Nhanhã! Eainda, por cima, tem muitas cidades com omesmo nome, e muitas outras com nome

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parecido. Quando vou levar as cartas, semprefaço confusão entre Piraju e Pirajuí. A senhorasabe: uma perninha a mais, uma perninha amenos no fim do nome, e pronto: erro.Dona Nhanhã, a raposa sabida, ouviucom atenção, e depois de roncar um pouco... oronco de raposa chama-se regougo. Pois é:depois de uns regougos, e de ajeitar os óculosna ponta do nariz, a raposa sabida disse aocoelho Cep:- Olha, meu filho. Acho que o jeito é vocêarranjar um número para cada cidade. Vocêsabe os números simplificam as coisas; sem osnúmeros, como e que os homens searranjariam? Pense bem: quase todos osanimais têm cinco dedinhos em cada pata; ohomem tem cinco dedos em cada mão e emcada pé;duas mãos fazem dez dedos. Então é

dividir o Brasil em dez pedaços, e cada pedaçoem dez pedaços menores, e assim por diante.

Cep, o coelho-da-cidade, estava com osolhinhos muito arregalados, e movia os beiçosde contente, deixando ver seus dois grandesdentes brancos. Então perguntou:- Será que assim eu não vou mais fazerconfusão?- Que nada, meu filho - tornou donaNhanhã. A coisa é simples. Vamos dar a cadapedaço um nome diferente, e tudo fica muitoclaro. Dividiremos o Brasil em dez pedaçosgrandes, e a esses pedaços chamaremosregiões. Cada região dividiremos em dezpedaços menores, e a esses pedaços menoreschamaremos sub-regiões. Agora: cada sub-região dividiremos em dez pedaços

menorzinhos que vão chamar-se setores, ecada setor dividiremos em dez sub-setores eestes em dez localidades. É fácil. Cada cidadeterá um número diferente, mas nele estarádeclarado tudo: a região, a sub-região, o setor,o sub-setor e a localidade. Os dois algarismos ànossa direita, servirão para designar ascidades. Veja: dá para contar pelos dedos damão: são cinco...Dizendo isto, dona Nhanhã pegou de umpausinho, e começou a riscar no chão:

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REGIÃO SUB-REGIÃO SETOR SUB - SETOR LOCALIDADE1 8 8 0 0

- Agora você vai brincar, descansar, dissedona Nhanhã, que amanhã eu explico como éessa divisão do mapa do Brasil em regiões, emsub-regiões, em setores, em sub-setores e emlocalidades ou cidades.Cep, muito satisfeito, saiu a ver se achavaalguma raiz e alguns capinzinhos frescos emacios para comer.

O COELHO FOGUETEMal o coelho Cep deixou a casa de donaNhanhã, a raposa sabida, para procurar algumaraiz, ou fruto, ou capim mole e verdinho,começou a escutar um barulho que fazia: pê...pê... pê... Dirigiu-se para o rumo do barulho, eviu o que era. Um outro coelho, um coelho-do-mato, tinha pressentido sua presença, ecomeçou a bater com os pés traseiros no chão:pê... pê... pê... Chegando se perto, Cepcumprimentou muito alegre, o coe-lho-do-mato:- Olá, amigo!O outro, que não era de muita prosa,perguntou-lhe, sem responder o cumprimento:- O que quer você aqui?

- Eu vim falar com dona Nhanhã, araposa sabida, a respeito de um serviço -respondeu Cep.- Que serviço você faz na cidade? -perguntou-lhe Pepê. Pepê, é o nome que Ceplhe deu, por causa do barulho que o coelho-do-mato fazia com as patas traseiras, batendo-asno chão, quando estava zangado.- Que faz na cidade? Perguntou-lhe, denovo, Pepê.Fazendo ar de importância, Ceprespondeu-lhe:- Sou artista de televisão. Lá na cidadetodos me conhecem. Apareço sempre natelevisão, pego as cartas e saio voando quenem um raio, zunindo, pelo espaço. Meu chefe,seu Lalau, amarra um foguete nas minhas

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costas, e eu, zum... saio por aí como um rojão...Vou levar cartas ao seu destino. Só que ascidades são tantas, de nomes iguais, ou denomes parecidos, que me atrapalho todo. Ficoaté tonto! Então, vim falar com dona Nhanhã, ever como resolver o problema.Pepê escutou toda essa conversa, ficouum pouco a pensar, depois falou admirado:

- Artista de televisão! Venha, então, quevou apresentar-lhe os meus companheiros quevão querer, como eu quero, um autógrafo seu.

Dito isto, Pepê levou Cep para o lado deum barranco, entrando os dois numa gruta oucaverna de pedra debaixo do capinzal. Foi umafesta... e Cep escrevia seu nome em cascas depau, que isso era seu autógrafo. Ali Cep passoua noite, muito contente e orgulhoso de serartista de televisão.No outro dia, Cep foi procurar donaNhanhã. A raposa sabida, lá de cima da árvore,regougava feliz, que este regougo era o seucanto. Vendo Cep que se aproximava, desceudo tronco, vindo-lhe ao encontro.- Bom dia, Cep!- Bom dia, dona Nhanhã! como vai asenhora?- Chi! Meu filho - tornou a raposa - andocom um pouco de reumatismo. Esta noite

ventou muito, fez frio, e apareceu-me umasdores nas pernas. Pudera eu ter suas pernas...e seu foguete, para correr e voar por aí... masjá sou um bocado velha...- Que nada! Dona Nhanhã! A senhoranão tem pernas boas, mas tem cabeça; sabepensar, sabe resolver problemas; e isso é que éimportante.- Por falar em problema, meu nego,respondeu dona Nhanhã, andei pensando noseu. Olhe aqui:E a raposa, pegando um carvão,começou a desenhar o mapa do Brasil numalage de pedra. Não ficou um desenho lá muitobom..., mas dava para entender. Depois donaNhanhã dividiu o ma-pa do Brasil em estados, edisse:- Aqui está, Cep, as regiões postais.

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Agora, como é que você acha que devemosclassificar essas regiões? Será que é pelotamanho do Estado? Ou será pela quantidadede gente que mora nos estados, nas cidades?- Acho, dona Nhanhã, que a quantidadede gente é que vale; pois é essa gente querecebe cartas. É deste jeito que um estadão,como o Amazonas, tem pouca gente e muitaterra; e uma simples cidade, como a de São

Paulo, está fervendo de gente que nem umformigueiro.- Está bem, respondeu dona Nhanhã.Então o que vai valer, não é a quantidade deterra, e sim a quantidade de gente que moranessa terra. Só que vamos parar aqui, porquepreciso ir à festa de batizado do filho do seuGrugrutz que e um peru alemão. E você, Cep,vai comigo.

UMA FESTA DE BATIZADO

Cep e dona Nhanhã foram à festa debatizado do filho do seu Grugrutz. Ele eraalemão; mas fazia muitos anos que morava noBrasil. Indo, pelo caminho, foram alcançandoalguns bichos lerdos que também iam à festa,como a tartaruga e o jabuti. O bicho-preguiçafazia três dias que estava indo, e ainda nãotinha chegado. Outros animais mais ligeiros,como o rato, o veado e o serelepe, passavampor Cep e dona Nhanhã que nem um vento. Erasó o tempo de cumprimentar, e zaz... seguiamseu caminho.Chegados à casa do seu Grugrutz, queera na beira de um riozinho, perto de umasárvores, todos foram se cumprimentando muitoalegres, e fazendo as apresentações. Cep nãose cansava de contar que trabalhava noCorreio, que entregava cartas de fogueteamarrado às costas, e que aparecia todos osdias na televisão. E dava autógrafos, que eraescrever seu nome em folhas, cascas deárvores e conchas de mariscos.Seu Grugrutz estava muito orgulhoso dapresença de Cep, e puxou conversa sobre oBrasil. O peru alemão estava todo

empavonado, redondo, inchado de gosto, e

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batia com um pé no peito... tu-tu. Falava meioarrastado com sotaque alemão. Disse:- "Este Brrasil.., grrande terra; osbrrasileirros são maiorr povo do mundo. OAlemanha é grrande porque... porque fazmáquinas; mas brrasileirros são grrande povopelo coração, pelo sentimento frraterrno, peloamor. Eu ama muito este grrande Naçãobrrasileirra" .Mas seu Grugrutz não pode continuar,porque foi chamado para umas apresentações.Depois foi o batizado e a festa. Todos comerame beberam muito, até tarde.

De volta da festa, Cep foi dormir na casado seu amigo Pepê, o coelho-do-mato, quemorava na caverna do capinzal.No outro dia, bem cedinho, Cep foiprocurar dona Nhanhã que estava arrumando acasa e fazendo o almoço. Logo que viu Cep,

desceu da árvore, e foi para a laje de pedra emque tinha desenhado o mapa do Brasil divididoem regiões.- Onde é que paramos? - perguntou donaNhanhã.- Pois paramos no ponto da divisão doBrasil em regiões; e que estas regiões têm queser consideradas pela quantidade de gente quemora nos estados, nas cidades.- Pois é - disse a raposa sabida;vamoscomeçar, então, por zero. O zero é o ponto departida para tudo. Tudo começa no ponto ou naestaca zero. O metro começa por zero; otermômetro também, tanto para medir o calor,como para medir o frio. E qual é o lugar ondemora mais gente?Cep, depois de pensar um pouco, respondeu:- É a cidade de São Paulo. Depois delavem o Estado de São Paulo, onde fica essacidade que e sua capital.- Então, disse dona Nhanhã, a cidade deSão Paulo é a região zero. Quer dizer quequando um número começar por zero, porexemplo: 03641; já sabemos que se trata daregião que é a cidade de São Paulo. Estaregião "0" será chamada a Grande São Pauloque abrange todas as cidades vizinhas; é

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formada por trinta e nove (39) municípios,ocupando uma área de 5.674 Km2, com umadensa população de oito milhões e quinhentosmil habitantes. Certo?- Certo, respondeu Cep.- Depois da Grande São Paulo, continuoua raposa sabida, vem o próprio Estado de SãoPaulo, que é onde tem mais gente. Então,depois do zero vem o um (1). A região um (1) éo Estado de São Paulo. Quando um númerocomeçar por um (1), por exemplo: 17250; ficaentendido que esse número é o de uma cidadeda região do Estado de São Paulo. Estáentendendo?- Estou, respondeu Cep.- A região dois (2) qual será?- Tem que ser o Estado do Rio deJaneiro,tornou Cep, porque é, depois de São Paulo, oEstado que tem mais gente.- Muito bem! Exclamou dona Nhanhã.Então, sem apagar o mapa do Brasil da laje depedra, vamos fazer a classificação das regiões.E quando a raposa sabida ia pegar docarvãozinho para escrever, escutou que achamavam pelo nome:- Dona Nhanhã!... dona Nhanhã!.. .

Era o papagaio Louro que vinha voando,aflito, contar que tinha uma cobra lá na casa dePepê, querendo comer um dos coelhos dafamília.Dona Nhanhã suspendeu a aula, edepressa foi resolver o problema dos coelhosameaçados pela cobra.

A COBRA PERIGOSAA toca ou casa de Pepê estava emalvoroço. É que aparecera, nas vizinhanças,uma cobra grande, de corpo cheio de escamas,amea-çando devorar algum coelhinho que lhepassasse por perto. Pepê batia os pés no chãopê... pê..., mas que nada: a cobra não seassustava, e cada vez mais se aproximava datoca. E se ela entrasse lá dentro da caverna, ecomece algum dos coelhinhos? O coraçãozinhode Pepê batia rápido tu-tu-tu-tu, porque eleestava aflito e com muito medo, sem saber oque fazer.Por sorte, o papagaio Louro tinha vindo

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comer umas frutinhas de uma árvore ali perto, eviu a tragédia que se armava para os coelhos.Mais que depressa voou à casa de donaNhanhã, e contou-lhe o que estavaacontecendo. Dona Nhanhã foi logo chamar o

serpentário que é um gavião comedor decobras ou serpentes. E chamou ainda o ouriço.Os pelos deste bicho são espinhos compequeninas farpas como as que se vêem nacasca do arroz. Por causa das farpas, osespinhos entram mas não saem. O serpentárioe o ouriço vieram saber o que havia, e logoforam combater a cobra.O ouriço arrepiou-se todo, e foichegando-se para perto da cobraque estava vai não vai para dar um bote. Edeu mesmo. Mas os espinhos do ouriçoespetaram-lhe toda a boca, e ficaram láestrepados. A malvada da cobra nem podiamais fechar a boca, por causa dos espinhos.Enquanto isso, o serpentário começou a bicá-la, e a unhá-la com as garras.A danada da cobra, com a boca todaestrepada, e com o corpo todo esfolado deunhadas, e de bicadas, quis fugir para umagrota; mas o serpentário agarrou-a com asunhas afiadas, e levou-a pelos ares. E todos,contentes, viram o gavião serpentário com acobra nas garras.Tudo ficou em paz na caverna doscoelhinhos, e Pepê resolveu dar uma festa em

honra dos heróis que eram o serpentário e oouriço.

O papagaio Louro veio contar tudo adona Nhanhã, convidando-a para a festa que iater naquela noite.O coelho-da-cidade, Cep, assistiu ocombate do serpentário e do ouriço contra acobra. Estava radiante de felicidade pela vitória.Mas assim mesmo voltou à casa de donaNhanhã para continuar a aula interrompida.Depois que Cep recontou o que assistira(o papagaio já havia contado tudo antes àraposa), ela, ajeitando os óculos no nariz,disse-lhe:

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- Muito bem. Vamos continuar com oestudo. Você tome nota no seu caderninho, istoque vou escrever na lage.E pegando do carvãozinho, principiou aescrever:A Região "0" a Grande São Paulo quecompreende a cidade e arredores,compreendendo 39 municípios.A região 1 é o Estado de São Paulo.A região 2 é o Estado do Rio de Janeiro e deEspírito Santo.A região 3 é o Estado de Minas Gerais.A região 4 é o Estado da Bahia.A região 5 é formada pelos Estados de:Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande doNorte e pelo Território de Fernando deNoronha.A região 6 é formada pelos Estados de: Ceará,Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas, Acre epelos Territórios de Roraima e Amapá.A região 7 é constituída pelo Distrito Federal epelos Estados de Goiás, Mato Grosso, MatoGrosso do Sul e Rondônia.A região 8 é formada pelos Estados de Paranáe Santa Catarina.A região 9 é o Estado do Rio Grande do Sul.

Terminado de escrever, dona Nhanhãjogou o carvãozinho em cima da laje, e dissepara Cep:- Pronto! Aí está o Brasil dividido emregiões postais, quer dizer, em regiões para aentrega de cartas.Cep, muito satisfeito, começou a copiar adivisão das regiões num caderninho, paradepois mostrar ao seu Lalau.- A senhora vai à festa desta noite?Perguntou Cep.- Ara, se vou! Então eu iria perdê-la?Dito isto, a raposa foi arranjar-se para afesta, enquanto Cep rumou para a casa dePepê, disposto a continuar os estudos no outrodia.

FESTA DA VITORIAAquela noite foi uma festa na caverna

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dos coelhos, por causa da vitória do serpentárioe do ouriço sobre a cobra malvada que queriacomer um dos coelhinhos. Todos dançaram atétarde da noite de alegria.Os vagalumes ou pirilampos vierampara iluminar a gruta. Os sapos formavam aorquestra que tocou a noite toda. As rãzinhaspererecas faziam ré-ré-ré; os sapos gameleiros,tã-tã-tã; as rãs pimentas, hum-hum-hum. Osgrilos chiavam ou trinavam agudos: frim-frim-frim. Até o bacurau que também se chamacuriango, e o urutau, e a coruja rasga-mortalhavieram para compor a orquestra.

A música começou a tocar, emcompasso quaternário, o "Hino dos Bichos", emque os sapos e os grilos faziam oacompanhamento; assim: frim-frim-ré-tã.Enquanto isto, o papagaio Louro e o caburé iamassobiando a melodia do Hino. Que beleza!Depois foi a "Marcha da Vitória", em compassobinário: ré-tã-ré-tã-re-tã...Tarde da noite, foram-se todos dormir, epor isso, no outro dia, Cep acordou com o solalto. Despertou-se, assustado, esfregou osolhinhos, e saiu correndo para a casa de donaNhanhã. Esta, que já o esperava, exclamou:- Puxa! Pensei que você nem viessemais hoje!,- É que fui dormir muito tarde da noiteontem, por causa da festa na casa do Pepé.Mas estou pronto para a lição de hoje.- Pois bem! Exclamou dona Nhanhã.E depois de regougar um pouco, e dearranjar os óculos, prosseguiu:- Ontem vimos as regiões postais quesão dez, a contar de zero a nove. Agora, aszonas também são dez, e também de zero anove. Contando-se do lado da mão esquerdapara a direita, o primeiro algarismo, neste

exemplo, é um (1), e representa a região doEstado de São Paulo. Exemplo: 18800- Pois o segundo algarismo, o oito (8),representa a zona. E do mesmo modo comodividimos o Brasil em dez regiões, agora

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poderemos dividir a região um (1) do - Estadode São Paulo, em dez zonas. Vou desenhar omapa.E pegou do carvão e foi traçando oscontornos do Estado de São Paulo. Terminadoo desenho, começou a dividir o Estado emzonas. Depois disse:- O primeiro algarismo um (1) àesquerda, você já sabe que é a região doEstado de São Paulo. Assim esse um (1) daregião com o um (1) da primeira sub-regiãoforma onze (11); depois o 12 é a região com asub-região 2, e assim por diante. Vou escrever:11 - Sub-região do litoral paulista12 - Sub-região de Taubaté13 - Sub-região de Campinas14 - Sub-região 'de Ribeirão Preto15 - Sub-região de São José do Rio Preto16 - Sub-região de Araçatuba17 - Sub-região de Bauru18 - Sub-região de Sorocaba19 - Sub-região de Presidente Prudente

- Piraju, disse a raposa, fica na sub-região de Sorocaba, é por isso que começacom 18.Cep pegou do seu caderninho e do lápis,e anotou tudo para mostrar a "seu" Lalau, seuChefe nos Correios. Terminado de copiar, Cepexclamou:- Pronto! E agora o que vamos fazer?- Pois agora - tornou dona Nhanhã - édescansar e brincar. Eu tenho que preparar umremedinho para o filho do compadre tatu, queestá com dor de barriga; se você quiser, podeme ajudar.- Quero sim! Oh! Se quero!- Então, continuou dona Nhanhã, vábuscar um punhado de folhas de marcelinhagalega ali atrás daquela pedra.E a raposa sabida, enquanto falava,apontou com o dedo onde estava a marcelinhaque é uma plantinha rasteira e amargosa.Cep correu lá, e apanhou um punhado defolhinhas, e o trouxe, aos pulos.Dona Nhanhã macetou as folhas comuma pedra, e depois colocou a maçaroca defolhas macetadas numa porunga, pôs água porcima, e disse:

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- Está feito o remédio. Vamos lá na casado compadre tatu Fura-Chão.Fura-Chão estava esperando pelacomadre raposa, e foi só ela chegar, foram-setodos ver o doente. O tatuzinho provou oremédio, fez uma careta, e disse:- Não bebo... não bebo!Daí, o tatu Fura-Chão prometeu levá-lo acaçar içás, se ele bebesse o remédio, parasarar da dor de barriga. Como o tatuzinhogostava muito dessas caçadas, mesmoachando ruim, bebeu o remédio.

A CAÇADA DE IÇASApós tomar o remédio preparado pordona Nhanhã, o tatuzinho filho do Fura-Chãosarou da dor de barriga, e foi brincar com Cepque passou ali aquela noite. Os dois estavamalvoroçados porque iam, no outro dia, caçariçás. Mas Fura-Chão disse que as içás nuncasaem pela manhã, e sim, à tarde. Por causadisto, no outro dia, de manhã, Cep resolveu ircontinuar os estudos com dona Nhanhã.A raposa sabida já o esperava, alegre,porque Cep se fazia estimar por todos. Não

havia quem não gostasse dele. Sua bondade,suas boas maneiras, sua educação atraiu logosobre si a estima da velha raposa, do tatu Fura-Chão, de Pepé, o coelho-do-mato, enfim, detodos. Por isso é que é bom ser bom. DonaNhanhã já o esperava, e foi logo dizendo:- Bom dia, meu filho. Como passou anoite lá na casa do compadre?- Bom dia, respondeu Cep; passei bem,e brinquei muito com o tatuzinho; e hoje, àtarde, fiquei de ir com seu Fura-Chão e o filhocaçar içás.- Içás! Exclamou dona Nhanhã,lambendo os beiços.- A senhora gosta?- Ui ! Se gosto!... e torradinhas ! Só depensar, já estou com água na boca!- Pois, então, tornou Cep, vou arranjaruma cabaça, e enchê-la de iças para asenhora.- Está bem, respondeu a velha. Masvamos ao assunto de hoje. Já vimos as regiõesque são dez; já vimos as zonas, também dez

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para cada região; agora falta os setores. Cadazona se divide em dez setores. Peguemos aoitava zona que é a de Sorocaba. Vamos

escrever aqui na lage o número dessa cidadede Sorocaba: 18100- O algarismo um (1), à esquerda, é o daregião do Estado de São Paulo; o oito (8) é asub-regiao de Sorocaba. O algarismo um (1),no meio do número, é a própria cidade deSorocaba, sede da sub-região. Os dois zerosfinais indicam as localidades maiores ousetores, em torno das quais estão os distritos.Vou escrever os setores da sub-região deSorocaba; olhe aqui:18100 - Sorocaba18200 - Itapetininga18300 - Capão Bonito18400 - Itapeva18500 - Laranjal Paulista18600 - Botucatu18700 - Avaré18800 - Piraju18900 - Santa Cruz do Rio Pardo- Pronto, exclamou dona Nhanhã,jogando o carvãozinho em cima da laje. Estãoaí os setores da sub-região de Sorocaba que éa nossa. Nosso setor é Piraju.Cep abriu seu caderninho e tomou notade tudo para mostrar ao seu Lalau.

Dona Nhanhã foi para seus trabalhos dacasa, e Cep voltou para junto do tatuzinho, filhodo seu Fura-Chão, à espera das içás.Fura-Chão que estava a examinar umasraízes de mandioca, virou-se para Cep e disse:- Acho que já está na hora. Conheço umformigueirão lá no pé da figueira grande.Vamos indo que é meio longe.Cep muniu-se de sua cabaça, e lá seforam todos, um pouco correndo, um poucoparando, para observar alguma coisainteressante, e até que chagaram.

A figueira era uma árvore enorme, e pertodela estava o formigueiro de saúvas. As

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formigas, alvoroçadas, andavam por todos oslados, com seus ferrões afiados bem abertospara atacar algum inimigo que viesse atrapalhara saída das iças. Passarinhos, como os pinhés,gaviões, bem-te-vis, também estavamesperando.As içás foram saindo dos olheiros dosauval, subiam a pequenos arbustos, e aívoavam. No ar, os pássaros pegavam partedelas; andando pelo chão, eram pegas pelosbichos. Cep catava uma aqui, outra ali, e foipondo dentro da cabaça. Era uma festa! Ostatus se encheram de tanto comer içás. Fura-Chão enchou de içás o ôco de um bambu, paralevá-las à sua mulher que ficara em casa.

Quase noitinha, voltaram todos para acasa, e ainda viam caburés e curiangosfazendo suas caçadas. Essas aves noturnasviam as içás fazendo seus buracos, entrando, edaí a pouco, saindo com um pelotinho de terra,e ficavam ali perto esperando; era só a içá sairpara depositar seu pouquinho de terra de umlado, e lá vai o bacurau e záz... pegava-a com obico, e a devorava.Chegando Cep à casa de dona Nhanhã,com sua cabaça de iças, foi logo despejandotudo numa bacia, para depois arrancar asperninhas, cabeças e asas das içás. DonaNhánhã pôs um pouco de gordura e sal numapanela, botou dentro as içás, e levou a panelaao fogo. Cep ficou mexendo as içás com umacolher de pau, e daí a pouco começou arecender o cheiro de formigas torradas. Depoisfoi só comer; para os dois foi um banquete etanto.

O MEL DO CHAODepois do jantar de içás torradas, Cepfoi para a casa de seu amigo Pepê, o coelho-do-mato. Lá dormiu, e no outro dia retornou àcasa de dona Nhanhá, a raposa sabida. Elatinha ido dar umas voltinhas pela redondeza.Vendo Cep, veio-lhe ao encontro prazerosa.- Bom dia.- Bom dia dona Nhanhã, respondeualegre o coelho-da-cidade.- Que tal as içás de ontem? Tornou a

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raposa.- Ah! estavam uma delícia, respondeuCep. Nunca tinha comido petisqueira tãogostosa.- Vamos aos estudos? - perguntou donaNhanhã, e Cep exclamou:- Ora, se vamos!...- Bom. Já vimos, disse a raposa tudo arespeito do modo de tornar mais fácil aremessa de cartas pelo Correio. Os que vãoenviar suas cartas não precisam saber de corestas coisas que ensinei a você. Esta expli-cação serve só para que todos saibam que onúmero do Código Postal que eles vão por nascartas, não saiu do nada; saiu de um estudo

lógico, de uma divisão muito certa do Brasil emregiões, em zonas, em setores e em cidades.Para os que vão mandar cartas, vai ser precisofazer um livro que nem as listas de telefones.Nesse livro tem o nome da cidade com onúmero dela antes do nome. É esse númeroque se tem de colocar antes do nome dacidade, quando se vai endereçar a carta. Éassim:Dizendo isso, dona Nhanhã pegou docarvãozinho, desenhou um envelope, marcounele o lugar do selo, e escreveu um nomequalquer, só para servir de exemplo.

Sr.Antônio de OliveiraRua Laguna, 193 - Penha 03641- São Paulo -Cap.

E mantendo ainda o carvão entre osdedos, explicou a raposa a Cep:- Nas costas do envelope, quer dizer,no verso, aquele que manda a carta tem quepôr seu endereço de remetente; Assim.Remetente: Custódio da Silva Rua 13 de Maio,327 18800 - Piraju - Sp.

Acabado de fazer o exemplo, donaNhanhã exclamou:- É só, por hoje; amanhã iremos ver comofazer para aplicar nos Correios estamodificação que estudamos. Agora você podeir brincar, que vou cuidar do meu almoço.

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Cep foi para a casa do tatu Fura-Chãopara ver se ele tinha idéia de fazer algumacoisa naquele dia. E tinha mesmo. Logo queFura-Chão viu Cep, foi-lhe dizendo:- Hoje vou furar um mel-do-chão. Vocêvem comigo?- Vou, respondeu Cep; não sei o que éisso, mas vou para saber o que é.- Então é prá já, tornou Fura-Chão.E saíram os três pelo mato, porque otatuzinho foi também. Em certo lugar, Fura-Chão falou a Cep:

- Você está vendo este buraquinhorodeado de cera?

Nisso o tatuzinho já estava cheirando ofurinho, e Cep agachou-se para olhar; e viu queumas vespinhas pretas entravam e saiam.- Não mordem? - perguntou Cep - ao querespondeu Fura-Chão:- Não. Não mordem. Vocês vão ver já jácomo é a panela dó mel no fundo da terra.E dizendo isso, Fura-Chão meteu suasunhas na terra, começando a cavar. Nãodemorou nada, o tatu já estava com o corpoquase inteiro metido no buraco que cavava, eum pouco mais, sumiu-se. O buraco do tatu eracavado ao lado do furinho das abelhas.Passado mais algum tempo, Fura-Chãovoltou, de fasto, trazendo um punhadão de cera

cheia de compartimentos cheios de cheirosomel. Mais que depressa, Cep e o tatuzinho jáforam chupando o mel que era fino e claro.Fura-Chão foi e voltou muitas vezes, trazendomais cera .e mais mel.Quando o tatu deu o trabalho porterminado, para, também, chupar o seu mel,Cep e o tatuzinho já estavam satisfeitos, etinham ido buscar umas folhas de inhame, paralevar um pouco de favos para a companheirado Fura-Chão, para dona Nhanhã e para Pepê.- Gostou? - perguntou Fura-Chão. E Ceprespondeu arregalando os olhinhos:- Ah! se gostei. É uma gostosura!- Há também o mel-de-pau, tornou otatu; mas esse eu não sei tirar. Mas o Chanchã,

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também chamado pica-pau-do-campo ou pica-pau-malhado, sempre leva desse mel paradona Nhanhã. Foi ele com seu bando quefizeram o grande buraco na árvore para morarnele dona Nhanhã.Enquanto dizia isso, Fura-Chão foiembrulhando os favos que ia levar para acompanheira. Cep também fez dois embrulhos:um para dona Nhanhã, e outro para Pepê.Depois os três voltaram para a casa,proseando, animados, pelo caminho.

UMA LIÇÃO MARAVILHOSACep tinha dormido na casa de Pepê, ocoelho-do-mato, e no outro dia foi ver donaNhanhã que lhe veio ao encontro, muitocontente, e os dois se cumprimentaram. Apósos cumprimentos, Cep foi perguntando:- Gostou do mel?- Apreciei-o muito. É muito gostoso. OChanchã, você conhece, o pica-pau-malhado,sempre me traz mel-de-pau. Mas mel-do-chãoeu ainda não tinha saboreado. É tão bom comoo outro, o de pau.- O estudo já acabou? - perguntou Cep,ao que dona Nhanhã respondeu, após algunsregougos:- Ainda não. Falta o mais importante.E continuou, depois de pensar umpouco: - Você sabe o que é hierarquia?

- Sei, tornou Cep. Meu Chefe, o seuLalau, e meu superior hierárquico. E eletambém possui um Chefe a quem deveobedecer. O pai e a mãe das crianças sãosuperiores hierárquicos aos quais eles devemobediência. A senhora também é uma Chefe?Dona Nhanhã lidava para tirar umacerinha que se lhe apegara aos pelos. Depoisde tirá-las, respondeu:- Existe duas formas de chefia: a naturale a política ou administrativa. O Presidente daRepública é um Chefe político ou administrativoque manda nos Ministros de Estado. Estesmandam em outros Chefes de Departamentos,e assim a hierarquia se estabelece de cimapara baixo, até o último a obedecer. Ahierarquia é como um leque em que as varetasvão-se reunindo no cabo; ou como uma

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pirâmide em que as arestas se reúnem novértice. Você está entendendo isso?- Estou.- Pois é - continuou a raposa. Fora essetipo de chefia, há também a chefia natural. Sevários tatus forem furar um mel-do-chão, o maissabido manda nos outros. Então dá nisto: comotodos, quando têm algum problema, me vêmconsultar, por exemplo: não fui eu que resolvi o

problema da cobra perigosa que ameaçavacomer um dos coelhinhos da casa de Pepê?- Foi, respondeu Cep.- E eu não mandei lá o ouriço e oserpentário?- Mandou, tornou Cep.- Pois então, continuou a raposa, destemodo eu sou uma Chefe natural. Quem temmais capa-cidade, quem se avantaja em tudo,dita leis aos outros, nem que não haja o títulode Chefe. Repare que num bando de molequessempre há um líder, um Chefe. Aí está o que échefia natural: é a liderança.- É mesmo! respondeu Cep admirado. Asenhora sabe que eu ainda não tinha pensadonisso?- Onde não há quem mande, ou quemlidere, prosseguiu a raposa, onde não háChefe, cada um faz o que quer, e gera aanarquia; é por isso que é preciso existir quemmande; é por isso que há o Governo da Naçãoque é o Presidente da República. Entendeu?- Entendi.Após arranjar os óculos, prosseguiu donaNhanhã:- Seu Lalau é seu Chefe; o Diretor dosCorreios é Chefe do seu Lalau; o Presidente da

Empresa dos Correios é Chefe do Diretor quemanda no seu Lalau, não é assim?- É.- Pois então, continuou dona Nhanhã,você tem que levar estes nossos estudos parao seu LaIau; ele os manda ao senhor Diretor, eeste os encaminha ao senhor Presidente daEmpresa para serem reestudados, quer dizer,estudados de novo. Se ele achar boa a idéia,ele aprova e manda aplicar em todo o Brasil.Agora você compreendeu como funciona ahierarquia?

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- Oh! se entendi! E que beleza que éessa ordem, essa harmonia.- Pois sem ordem, replicou donaNhanhã, não há progresso. É por isso queessas duas palavras estão na faixa branca danossa Bandeira Nacional. Guarde bem nacabeça esta lição que é a mais linda e maisimportante dos nossos estudos. Onde háordem, há justiça, e onde há justiça, hátranquilidade, há segurança. Eu, por exemplo,enquanto viver, represento a tranquilidade detodos os bichos que me estimam, e eu osdefendo. Do mesmo modo, todas as criançasdevem amar o Presidente da República, porqueele garante a paz e a harmonia para todos que

podem trabalhar sossegados, sem medo denada. E desse trabalho nasce o progresso.Entendeu o que quer dizer "Ordem eProgresso" da nossa Bandeira?- Ui! se entendi! Nunca tinha vistoninguém falar tão bonito. Até me dá vontade dedar-lhe um abraço, tanto que gosto do que asenhora me está dizendo.- Pois esse gostar de mim, tornou donaNhanhã, se chama amor. A gente ama tudo oque e bom. Não viu o entusiasmo do seuGrugrutz, o peru alemão, quando falava doBrasil? Grugrutz, apesar de falar um portuguêsarrastado, declarou que o brasileiro é o maiorpovo do mundo, por causa do seu grandecoração. Não é à toa que Deus fez o Brasil comforma de enorme Coração!- Agora volte para a cidade, continuoudona Nhanhã. Leve para o seu Lalau osestudos. Depois volte aqui, mas volte defoguete hein! Para me contar se a idéia foiaprovada.

MEDALHA DE "HONRA AO MÉRITO"Cep, após a última lição, "A LiçãoMaravilhosa", despediu-se de dona Nhanhã, docoelho Pé-pé, do tatu Fura-Chão, do peruGrugrutz, e de todos os demais bichos, eretornou à cidade.Lá chegando, contou a seu Lalau amaravilha da Codificação Postal. Seu Lalauestudou tudo, fez um relatório e o enviou aosenhor Diretor. Este examinou o relatório, e o

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encaminhou ao senhor Presidente da EmpresaBrasileira de Correios e Telégrafos. O senhorPresidente organizou uma Comissão, e junto

com ela estudou tudo bem estudadinho, edepois mandou escrever o seguinte:I - Acho a idéia muito boa.II - Estabeleço que seja impresso um livrocom o título: Código de Endereçamento Postal;e que todas as Agências de Correios eTelégrafos recebam muitos exemplares desseCódigo para distribuir a todos os que enviamcartas. E na capa do livro do Código, que sejaposto o retratinho de Cep com seu foguete àscostas.III - Determino que seja elogiado Cep, ocoelho-foguete, pelo seu alto espírito decolaboração. E ordeno ainda que Cep apareçaem todos os programas de televisão, paraensinar a todos como se endereça uma carta;como se deve por nela o número do Código,sempre antes do nome da cidade; como sedeve colocar o selo no cantinho direito de cimado envelope; e como anotar o endereço doremetente nas costas do envelope, com onúmero do Código da cidade de quem manda acarta.IV - Mando que seja condecorada donaNhanhã, a raposa sabida, com uma medalha naqual se deve escrever, de um lado: "Honra aoMérito "; e do outro: "A dona Nhanhã, com os

mais efusivos aplausos, e com osagradecimentos da Empresa Brasileira dosCorreios e Telégrafos".V - Ordeno que Cep leve a medalhacondecorativa a dona Nhanhã, e que se façauma grande festa para todos os bichos daredondeza de onde mora a raposa-sabida.VI - Anote-se e cumpra-se.E assinou o documento em público eraso. "Em público e raso" quer dizer: assinadopor ex-tenso, e na presença de testemunhas.Estas ordens vieram para o senhorDiretor que as encaminhou a seu Lalau.Seu Lalau, após receber as ordens deseus superiores hierárquicos, chamou Cep emostrou-lhe tudo. O coelho-foguete não paravade virar e de revirar o focinho de gosto. Isso éque é ser Presidente, pensava consigo...

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Foi feito tudo conforme se ordenava. SeuLalau convidou até a Banda de Música dosGuardas-Mirins de Piraju, para abrilhantar afesta da condecoração de dona Nhanhã. E nodia determinado, foram-se todos para os ladosdo Cágado.Cep foi na frente, de foguete, paraavisar a todos. Dona Nhanhã fez um vestido

novo, vermelho, de bolinhas brancas, econvidou todos os bichos da vizinhança.Foi uma festa e tanto. Na presença detoda a bicharada, Cep colocou a medalha de"Honra ao Mérito" no pescoço de dona Nhanhã,abraçou-a, com carinho, e deu-lhe um beijo - obeijo da gratidão. Dona Nhanhã chorava dealegria. A banda tocava um dobrado quedeixava os bichos músicos até fora de si deadmiração. Depois, enquanto a banda aindatocava, Cep saiu a fazer sua demonstração defoguete. Ele passava zunindo, assobiando,rente às cabecinhas dos bichos que até seagachavam de susto. Fazia grandes círculos noar, ia quase até às nuvens, e de lá seprecipitava que nem uma pedra em direção aosolo; mas quando estava pertinho do chão,levantava-se de novo, produzindo um assobioassim: fiau u u!Houve depois o banquete. Tinha de tudoo que cada um gostava: mel-de-pau, para oschanchãs; formigas-içás para os tatus; mel-de-chão para os coelhinhos-do-mato;alfafa e salpara as capivaras; milho e farelo de arroz paraos perus; bichinhos e gafanhotos para osouriços; até cobrinhas havia para o serpentário.Para os sapos, rãs, caburés, curiangos e

corujas-rasga-mortalhas havia insetos de todaespécie.Foi lindo o discurso do papagaio Louro.Ele falou da sabedoria extraordinária e docoração boníssimo de dona Nhanhã, pedindo atodos que lhe imitassem o belo exemplo.Quando ele tocou no assunto do nosso grandeBrasil, quase nem podia falar... tal o estrondosoaplauso que recebia. Com a voz embargadapela emoção, o papagaio terminou seu discursocom estas palavras: "eu me honro, eu me ufanodo meu país; a tal ponto me exalto de serbrasileiro, que até dou mil graças à Deus por

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Ele ter feito minhas penas das lindas, coresnacionais - verde amarelo! Viva o Brasil!..."A resposta foi um "VIVA!" tão alto e tãoestrondoso, que até agora, passado muitotempo, Cep ainda o continua escutando namemória.

FIM

SUGESTOES DE ATIVIDADESRELACIONADAS COM:

1 - COMUNICAÇÃO: "Os meios de comunicação - escrita, orale visual".

2 - EDUCAÇÃO MORAL, SOCIAL e CÍVICA:Ressaltar trechos do texto onde esses valores sãoapresentados.3 - EDUCAÇÃO ARTÍSTICA: Teatro de Fantoches eMarionetes. Confecção de bonecos e representação de um dosquadros da estória (à escolha dos alunos).4 - CIÊNCIAS: Os Animaisa) onde vivem e como são seus abrigos b) a linguagem dosanimaisc) a alimentação dos animaisd) classificação dos animais (de acordo com o nível da classe).5 - ESTUDOS SOCIAIS: Painela) A Família - A Escola - A Comunidade.b) A Cidade - O Município - O Estado - O País.- CORRESPONDÊNCIA: Organizar uma Agência Postal naEscola e realizar troca de correspondência entre classes damesma Escola ou de outras Unidades.

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