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“DIRETRIZES PARA POLÍTICAS PÚBLICAS E PRÁTICAS EMPRESARIAIS PARA INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DE GRANDES EMPREENDIMENTOS NA AMAZÔNIA” DOCUMENTO FINAL do Grupo de Trabalho sobre Direitos Humanos, com foco em Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Quilombolas Isabelle Vidal Giannini Cássio Ingles de Sousa São Paulo e Brasília, outubro de 2016 A Iniciativa Grandes Obras na Amazônia – Aprendizados e Diretrizes - objetiva constituir diretrizes para aprimorar as políticas públicas e as práticas empresariais em territórios que recebem grandes empreendimentos em territórios da Amazônia. O projeto atende à parceria entre a International Finance Corporation (IFC) a Fundação Getúlio Vargas – Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces). As diretrizes apresentadas neste documento foram construídas no Grupo de Trabalho (GT) em Direitos Humanos, com foco em Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Quilombolas, conduzido pelos consultores Isabelle Vidal Giannini e Cássio Ingles de Sousa através da realização de atividades participativas, que contaram com o engajamento de representantes do governo, empresas, universidades, ONGs, movimentos sociais e de povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas e suas organizações representativas. Os princípios que orientaram a condução do Grupo de Trabalho foram a abordagem participativa, a promoção do diálogo e consideração às diversas perspectivas e percepções de distintos setores e a valorização do “processo de discussão” tanto quanto do produto final gerado. No âmbito do Grupo de Trabalho em Direitos Humanos, com foco em Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Quilombolas os diagnósticos, resultantes de entrevistas com atores-chave, de duas reuniões de Grupo de Trabalho ocorridas durante o primeiro semestre de 2016, indicaram a necessidade de se refletir sobre quatro grandes temas: planejamento e desenvolvimento territorial, licenciamento ambiental, governança e comunicação e consulta prévia. No decorrer do processo foram elaborados subsídios específicos, para discussões do tema consulta prévia e consentimento livre e informado, produzido por Luis Donizete Grupioni e do tema licenciamento ambiental, sob responsabilidade de Biviany Rojas e Juliana de Paula. Um seminário de três dias, em Brasília, com a presença de diversas lideranças dos movimentos sociais, órgãos federais, instituições financeiras e de pesquisa, consolidou a última reunião do Grupo de Trabalho em Direitos Humanos, com foco em Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Quilombolas em 2016. O encontro teve a missão de coletar um apanhado amplo de possíveis diretrizes para as relações entre esses grupos, empresas e governos. Os momentos de debate alternaram-se entre subgrupos e plenária, e a sistematização das recomendações consta deste documento base a ser incorporado pela Iniciativa Grandes Obras na Amazônia – Aprendizados e Diretrizes. O documento sintetiza este conjunto de resultados, destacando, em um primeiro momento, a importância do tema, equacionando a situação atual com destaque para o histórico da relação entre os povos e comunidades tradicionais e empreendimentos, os seus principais problemas e oportunidades e apresentando um conjunto de leis, normativas, políticas públicas, referências do setor privado e financeiro e diretrizes de melhores práticas já existentes.

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“DIRETRIZESPARAPOLÍTICASPÚBLICASEPRÁTICASEMPRESARIAISPARAINSTALAÇÃOEOPERAÇÃODEGRANDESEMPREENDIMENTOSNAAMAZÔNIA”

DOCUMENTOFINALdoGrupodeTrabalhosobreDireitosHumanos,comfocoemPovosIndígenas,ComunidadesTradicionaiseQuilombolas

IsabelleVidalGiannini

CássioInglesdeSousa

SãoPauloeBrasília,outubrode2016

A Iniciativa Grandes Obras na Amazônia – Aprendizados e Diretrizes - objetiva constituirdiretrizes para aprimorar as políticas públicas e as práticas empresariais em territórios querecebemgrandesempreendimentosemterritóriosdaAmazônia.OprojetoatendeàparceriaentreaInternationalFinanceCorporation(IFC)aFundaçãoGetúlioVargas–CentrodeEstudosemSustentabilidade(GVces).

AsdiretrizesapresentadasnestedocumentoforamconstruídasnoGrupodeTrabalho(GT)emDireitosHumanos,comfocoemPovosIndígenas,ComunidadesTradicionaiseQuilombolas,conduzido pelos consultores Isabelle Vidal Giannini e Cássio Ingles de Sousa através darealizaçãodeatividadesparticipativas,quecontaramcomoengajamentode representantesdo governo, empresas, universidades, ONGs, movimentos sociais e de povos indígenas,comunidadestradicionaisequilombolasesuasorganizaçõesrepresentativas.

Os princípios que orientaram a condução do Grupo de Trabalho foram a abordagemparticipativa,apromoçãododiálogoeconsideraçãoàsdiversasperspectivasepercepçõesdedistintos setores e a valorização do “processo de discussão” tanto quanto do produto finalgerado.NoâmbitodoGrupodeTrabalhoemDireitosHumanos,comfocoemPovosIndígenas,Comunidades Tradicionais e Quilombolas os diagnósticos, resultantes de entrevistas comatores-chave,deduasreuniõesdeGrupodeTrabalhoocorridasduranteoprimeirosemestrede2016, indicaramanecessidadedeserefletirsobrequatrograndestemas:planejamentoedesenvolvimento territorial, licenciamento ambiental, governança e comunicação e consultaprévia.

No decorrer do processo foram elaborados subsídios específicos, para discussões do temaconsultapréviaeconsentimentolivreeinformado,produzidoporLuisDonizeteGrupioniedotemalicenciamentoambiental,sobresponsabilidadedeBivianyRojaseJulianadePaula.

Umsemináriodetrêsdias,emBrasília,comapresençadediversasliderançasdosmovimentossociais,órgãosfederais,instituiçõesfinanceirasedepesquisa,consolidouaúltimareuniãodoGrupo de Trabalho em Direitos Humanos, com foco em Povos Indígenas, ComunidadesTradicionaiseQuilombolasem2016.Oencontroteveamissãodecoletarumapanhadoamplodepossíveisdiretrizesparaasrelaçõesentreessesgrupos,empresasegovernos.

Os momentos de debate alternaram-se entre subgrupos e plenária, e a sistematização dasrecomendaçõesconstadestedocumentobaseaserincorporadopelaIniciativaGrandesObrasnaAmazônia–AprendizadoseDiretrizes.Odocumentosintetizaesteconjuntoderesultados,destacando,emumprimeiromomento,aimportânciadotema,equacionandoasituaçãoatualcomdestaqueparaohistóricodarelaçãoentreospovosecomunidadestradicionaiseempreendimentos,osseusprincipaisproblemase oportunidades e apresentando um conjunto de leis, normativas, políticas públicas,referênciasdosetorprivadoefinanceiroediretrizesdemelhorespráticasjáexistentes.

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PosteriormenteodocumentoapresentaosdiagnósticosdecadaumdosquatrotemascentraistrabalhadosnoGrupodeTrabalho,seguidodasdiretrizesparaaadequadainserçãodepovosecomunidades nos processos de planejamento e desenvolvimento territorial e instalação degrandesobrasnosterritóriosdaAmazônia.

Nas considerações finais são indicadas recomendações gerais e transversais do Grupo deTrabalho em Direitos Humanos, com foco em Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais eQuilombolasparaaIniciativaesuacontinuidade.

PORQUEÉIMPORTANTE?NosterritóriosdaAmazônia,achegadadegrandesobras,dadaahistóricaausênciadoEstado,oumesmoodesastrosoresultadodesuapresença,porexemplo,nasdinâmicasdecolonizaçãono período militar, resultam em um expressivo passivo que afeta direitos e, de formairreversível,ocasionaepotencializadanossocioambientais.

Historicamente, a relação entre os povos e comunidades tradicionais e os eixos dedesenvolvimentoémarcadaporprocessosdeexpropriaçãoterritorial,restriçãodoacessoaosrecursosnaturais,violênciaecoerção,entreoutrosdesdobramentos.

Avulnerabilizaçãodestaspopulaçõescausadospelos impactosdosgrandesemprendimentossão notórios e a estes, dadas as especificidades, medidas eficientemente planejadas epactuadas com toda a sociedade são extremamente necessárias. Povos indígenas,comunidades tradicionais e quilombolas compõem esse universo, razão pela qual sãoprotegidosporlegislaçãoespecíficaedetentoresdedireitosdiferenciados.

Aabordagemespecíficaediferenciada,comfocoempovosindígenas,populaçõestradicionaise quilombolas, é importante na medida em que estão entre os principais afetados pelaimplementaçãoeoperaçãodegrandesobrasemterritóriosdaAmazônia.Deformageral,háum consenso quanto à relevância de se elaborar diretrizes voltadas aos povos indígenas,comunidades tradicionais e quilombolas. As principais motivações para o engajamento depovosecomunidadesnaIniciativaforamasseguintes:

ü Reforçarnormativas,diretrizeseorientaçõesdeboaspráticasjáexistentes,relativasapovosindígenasecomunidadestradicionaisequilombolas;

ü Ampliaravisibilidadedepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasnosprocessosdeplanejamentoeinstalaçãodeempreendimentos;

ü Fortalecer redes de discussão entre povos indígenas, comunidades tradicionais equilombolas,agentesdogoverno,dosetorprivadoedeuniversidades;

ü Estabelecerumcontatomaisefetivoentrepovosindígenas,comunidadestradicionaise quilombolas e o setor financeiro, importante agente de alavancagem dodesenvolvimento.

Porém,éprecisodestacarumcerto“ceticismo”diantedofatodequeinúmerasleis,normasediretrizesdeboaspráticasjáexistemequejádeveriamserrespeitadaseconsideradasnãosónos processos de instalação de grandes empreendimentos,mas em todo o relacionamentoentreEstado,sociedadecivilepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas.

Entreasreferênciasexistentessobreoassuntoequeinspirarameorientaramoprocessodeelaboração das diretrizes apresentadas neste documento, destacam-se os “Padrões deDesempenho” da IFC, em especial o OS 07, referente a povos indígenas, a “PolíticaSocioambiental” (Environmental and Social Framework) e as salvaguardas sociais eambientais do Banco Mundial e a “ Proposta de Diretrizes Brasileiras de boas práticascorporativascompovosindígenas”daIniciativadeDiálogoempresasepovosindígenas.

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Estasreferênciassãoresultadodeprocessosdeanosdediscussão,construçãoeatualização,oquepermiteumaprofundamentomaiordesuasformulações,secomparadasàspresentesnasdiretrizesapresentadasnestedocumento,queestãonumestágioinicialdeconstrução.

Porém,asdiretrizes construídasna IniciativadaFGV/GVCese IFC /BancoMundialpuderamampliar a abrangência de sua aplicação para povos indígenas, comunidades tradicionais equilombolas,abordaramdeformamaisdiretaaspectosconceituaisdodesenvolvimentoedaspolíticaspúblicascomooplanejamentosetorialestratégicoeolicenciamentoambiental,alémdapresençapermanentedeUniversidadeseInstituiçõesdepesquisanoprocesso.

Destaforma,alémdosaspectosconceituaisaportadospelaIniciativaFGV/GVCeseIFC/BancoMundial,éprecisodestacarsuacontribuiçãodeordempolíticaedearticulaçãoinstitucional.

A importânciada Iniciativa,destacadaduranteoprocessode construçãodasdiretrizes, estácolocadanaseguintepergunta:“QualacontribuiçãodaFGV/GVCeseoIFC/BancoMundialpara que estas leis, normas e diretrizes, para aprimorar as políticas públicas e as práticasempresariais, já existentes ou constituídas no âmbito da Iniciativa, sejam efetivamentecumpridas?”

QUALASITUAÇÃOATUAL?Ø Equacionamentodaquestão

Emgeral,noquedizrespeitoaospovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas,ainstalação e operação de grandes empreendimentos em territórios da Amazôniamantevealógicaderestriçãodaparticipaçãonosprocessosdeplanejamentoedecisórios.Estasituaçãotem gerado conflitos e pressões territoriais, nos processos de instalação dosempreendimentoscompovosindígenasecomunidadestradicionaisequilombolas.

AfaltadapresençadoEstadonasregiõeseaprecariedadedosserviçospúblicosdesaúde,educação,segurançaeinfraestruturaintensificamaindamaisestesconflitosetensões.Muitasvezes,aresponsabilidadeporestesserviçosacabasendoprojetadaparaosempreendimentos,intensificandoaindamaisosconflitos.

Égeneralizadoosentimentodafaltadeparticipaçãonoplanejamentoterritorialporpartedepovos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas e da carência de avaliaçõessocioambientais e territoriais estratégicas, que possam embasar um planejamento edesenvolvimento territorialmais abrangente, considerandoos diversos interesses incidentessobreoterritório.

Paraosprojetoseempreendimentos,estasituaçãoimplicanapotencializaçãodoscustosdas“externalidades”,atravésdeinvasões,paralisações,processosjudiciais,riscosoperacionais,prejuízosfinanceiros,danosàimagemdasempresas,entreoutros.

Historicamente, a relação entre esses grupos e os eixos de desenvolvimento designados àAmazônia é marcada por processos de expropriação territorial, restrição do acesso aosrecursosnaturais,violênciaecoerção,entreoutrosdesdobramentos.

Os povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas contribuem de formainequívocaparaa riquezadadiversidadesocioculturaleambientaldoBrasil, combaseemtrajetórias históricas e sociais únicas, em riquíssimo conhecimento tradicional, detalhadas ecomplexasestratégiasdemanejosustentáveldomeioambiente,entreoutrosaspectosqueostornamsujeitosdesuaprópriahistória.

Porém, a forma como os “grandes empreendimentos” têm sido instalados e operados naAmazônia nas últimas décadas – e por que não dizer nos últimos séculos – com base em

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relaçõesdeformaedepoderextremamenteassimétricas,acabamimplicandonumasériedevulnerabilidadessobreestespovosecomunidades:

ü deordem territorial, quando a instalação dos grandes empreendimentos incide nosterritóriostradicionais,reduzindoerestringindoesteelementoessencialparaomodoeaqualidadedevidadeseushabitantes.

ü deordemambiental,observadosimpactossistemáticoscomopoluiçãoebarramentoderios,extinçãooureduçãocríticadeespéciesdefaunaeflora,desmatamento,alémde escassez e disputa em torno de recursos naturais necessários para a reproduçãofísicaeculturaldepovosindígenasecomunidadestradicionaisequilombolas.

ü de ordem social, dadas as relevantes transformações econômicas e demográficasregionais,trazidaspelainstalaçãoeoperaçãodosgrandesempreendimentos.Mesmoospotenciaisbenefíciosdessesprojetos,aoseremconcebidosapenassobumaóticaurbana e de cultura alheia à de povos indígenas e comunidades tradicionais equilombolas,acabamgerandoconflitosinternoseexternoseprocessosdedegradaçãodos laços comunitários. Entre os grupos mais atingidos por esses impactos, estãocrianças,mulhereseidosos.

Ø Históricodarelaçãoentregrandesobrasepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasnaAmazônia

A relação entre os povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas com grandesempreendimentos nos territórios da Amazônia é antiga e nos remete ao processo decolonização, com as inúmeras iniciativas de exploração de produtos florestais, minerais,agrícolas,entreoutros.Estarelaçãoéhistoricamentemarcadapelointeressenaexploraçãoderecursosnaturaisderegiõeshabitadas inicialmentepor indígenase,conformeaevoluçãodoprocessohistórico,tambémporpopulaçõestradicionaisecomunidadesquilombolas.

Dentre os principais focos de pressões e ameaças históricos e comdiferente envergadura –tantoespacialquantocomrespeitoaopotencialdeimpacto–estãoas:

ü causadas por grandes obras de infraestrutura logística e energética, como rodovias,ferrovias,hidrovias,gasodutos,usinashidrelétricaselinhasdetransmissão;

ü relacionadas às frentes de colonização e à expansão de atividades econômicas,envolvendo projetos de assentamento e a incorporação de extensas áreas peloagronegócio,apecuáriaeafrentemadeireira;

ü decorrentes de atividades que não visam a apropriação da terra, mas de recursosnaturaislocalizados,comomineração,pesca,bioprospeção,turismo;

ü causadas por problemas de coordenação interinstitucional e de relação com associedades indígenas, que podem gerar impactos. Neste contexto, aparecemdemandasderegulamentaçãorelacionadasàatuaçãodeoutrosórgãos(p.ex.nocasodas sobreposições UC/TI, do atendimento à saúde ou da relação entre índios emilitares);

ü causadaspelaprecariedadedosdireitosdospovosindígenasecomunidadeslocaisdaAmazônia

Os desafios ainda persistem, especialmente após o novo impulso da instalação de grandesempreendimentos na Amazônia, proporcionado pela implementação do PAC (Programa deAceleração do Crescimento), a partir na década de 2010. Neste período, ocorreu aintensificaçãoda construção,pavimentaçãoeampliaçãode rodoviase ferrovias (BR163,BR156, BR 230, Estrada de Ferro Carajás), construção e ampliaçãode portos (Porto de Itaqui),

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instalação de novos projetos minerários (projeto Serra Sul/Vale), avanço do agronegócio econstruçãodeusinashidrelétricas(UHE)epequenascentraishidrelétricas(PCH).

Ø Emergênciadedireitosepolíticaspúblicasdiferenciadas

ApartirdaConstituiçãoFederalde1988,foiobservadaumasériedeavançosemtermosdedireitos dos povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, especialmente noreconhecimento e valorização da diversidade cultural, garantia de direitos territoriais(demarcaçãode Terras indígenas e TerrasdeRemanescentesdeQuilombos), ampliaçãodoscanaisdediálogoentreEstadoepopulaçõestaiscomo:direitossociaisdiferenciados,cotasnasUniversidades,saúdeeeducaçãocomolharespecífico,apoioaoetnodesenvolvimento,entreoutros.

Tambémhouveumfortalecimentopolíticodospovosindígenas,quilombolasetradicionais,através de emergência de organizações representativas (COIAB, APOINME, CONAQ, GTA,CNS,entreoutras),deliderançascomunitáriasnoâmbitoregionalenacionaledaarticulaçãoderedesdeparceiros.

Por outro lado, a realização da Conferência dasNaçõesUnidas sobre oMeio Ambiente e oDesenvolvimento,conhecidacomo(Rio-92)cristalizouavalorizaçãodaquestãoambientaledatemáticadoschamados“povosdafloresta”,quecongregamjustamentepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas.

Articuladoaofortalecimentodosdireitosdestaspopulaçõeshouveumaampliaçãodefontesde financiamento de projetos e atividades e o desenvolvimento efetivo de iniciativascomunitáriasrealizadascomparticipaçãodeindígenas,quilombolasetradicionais.Alémdisso,internacionalmente e com reflexos no Brasil, também houve um aprimoramento daabordagemambientalederesponsabilidadesocialcorporativadosetorprivado,incluindoorelacionamento com povos e comunidades tradicionais. Vale ainda destacar o reforço nosprocedimentosdelicenciamentoambiental,incluindoumaabordagemespecíficaparapovosindígenasecomunidadesquilombolas.

Oavançonosdireitosdestesgruposfavoreceuofortalecimentodeliderançaseorganizaçõesrepresentativas dos mesmos, para discussões de assuntos estratégicos, elaboração eimplementação de políticas públicas e projetos de gestão territorial e desenvolvimentosustentável,participaçãonapolíticaregionalenacional,oquepodeseraplicadoàsdiscussõesreferentesagrandesempreendimentos.

Mesmoquedeformaainda incipiente,atualmenteexistemaioraberturaparaodiálogo,porpartede instituições governamentais, setor privados e sociedade civil, visandoequacionar aimplementação e operação de empreendimentos com direitos de povos indígenas,comunidadestradicionaisequilombolas.

Ø FaltaderespeitoaosdireitoseàaplicaçãodasorientaçõesemelhorespráticasJÁ

EXISTENTES

Em termos gerais, há o reconhecimento de que já existe um conjunto de leis e direitosassegurados aos povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, no âmbito dalegislação brasileira, em especial na Constituição Federal de 1988, na Convenção 169 daOrganização Internacional do Trabalho (OIT), Política Nacional de Povos e ComunidadesTradicionais,entreoutros.

Além disso, distintos setores (mineração, energia, petróleo e gás, finanças) já possuempadrões de desempenho e diretrizes para boas práticas, inclusive relacionados ao tema daconsultaprévia.

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Porém,oqueseobservaéqueestesdireitosediretrizessãopoucoimplementadosemtermospráticos, inclusive nos diversos processos de planejamento e instalação de grandesempreendimentos em territórios da Amazônia. Como garantir que estes direitos sejamdefatoasseguradosnapráticaéaquestãoquesecolocanoâmbitodainiciativa.

Além disso, no âmbito político e institucional, existem diversas iniciativas de ameaça aosdireitosconquistados, taiscomoaPEC215(alteraçãodosprocedimentosdedemarcaçãodeTerras Indígenas), PEC 71/2011 (alteração nas definições de indenizações de ocupantes nãoindígenasdeTerras Indígenasdemarcadas),PLP227/2012 (definiçãode“relevante interessedaUnião”paraodesenvolvimento,ameaçandoousufrutoexclusivodosindígenassobresuasterras), PLS 1610/1996 (mineração em Terras Indígenas), ADI 3239 (questiona processodemarcatóriodeterritóriosquilombolas),entreoutros.

Ø Limitaçõeseassimetriasdomodelodedesenvolvimentoegrandesempreendimentos

As limitaçõeseassimetriasdomodelodedesenvolvimentoegrandesempreendimentosemterritóriosdaAmazônia,provêmdaincapacidadeemcontemplar,efetivamente,osinteressese beneficiar uma ampla gama de setores da sociedade, inclusive povos indígenas,comunidadestradicionaisequilombolas.

Emgeral,omodeloexistenteconcentraseusbenefícios,emespecialfinanceiros,parasetoresda sociedade que vivem em outras regiões do país (sul e sudeste). Por outro lado, osimpactos e prejuízos relacionados a estes empreendimentos concentram-se nas regiões epopulações amazônicas, com especial destaque para povos indígenas, comunidadestradicionaisequilombolas,quesãomaisvulneráveiseenfrentamalteraçõesmaisradicaisnoseumododevida.

Asmedidasmitigatórias implementadasnãotêmsidosuficienteseefetivasparaminimizarsignificativosdanosaomeioambiente (rios,florestas,qualidadedoar)e,aomesmotempo,temtidoresultadosfrustrantesnoqueserefereaalavancagemdedesenvolvimentoregional,distribuiçãoderendaemelhoriadaqualidadedevidadaspopulações.Aexperiênciahistóricade povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas com grandes obras éinequívoca quanto a estes resultados decepcionantes, intensificando sua resistência eoposiçãoaosgrandesempreendimentos.

Ajustificativaqueosgrandesempreendimentosestimulamadinamizaçãodaeconomialocal,atravésdopagamentodeimpostosparaosgovernosmunicipaiseestaduais,remuneraçãoderoyalties, entre outras medidas, também tem sido fortemente questionada pelos povosindígenas, comunidades tradicionais e quilombolas e instituições apoiadoras. Seja porineficiênciadegestão, falhasnosprojetosenaadequadaconsideraçãodecustos, inclusiveossociaisouporumarraigadosistemadecorrupção,quetemsidolargamentecomprovadonosúltimosanos,mesmoosmunicípioseestadosquerecebemaltosvaloresemimpostoseroyalties, não conseguemproporcionar umaqualidademínima nos serviços de assistênciaemsaúde,educação,infraestrutura,segurança,lazer,entreoutros.

Ø Impactossocioambientaissãocríticossobrepovosindígenas,comunidades

tradicionaisequilombolas

Odifícilacessoàinformaçãoeosucateamentodosórgãosambientaiseintervenientes,bemcomoasobrecargaaosservidorespúblicos,afaltadeautonomiaepressõespolíticassobreosprocessos sãoentravesàeficáciado licenciamentoambientalnoPaís. Para garantir suaefetividade,éimportanteoestabelecimentodeespaçosdeliberativosedeacompanhamento,que têm como exemplo a proposta dos comitês gestores indígenas no contexto de grandesobras,naprática,aindapoucoefetivos.

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Torna-se necessário, portanto, aperfeiçoar as abordagens e ferramentas de avaliação dosimpactos socioambientais dos empreendimentos e também de adotá-las comomecanismoparatomadadedecisãonoplanejamentoenãoapenasnamitigaçãoecompensação.Prepararo território para chegada de grandes empreendimentos na Amazônia sem o devidoquestionamento do modelo e planejamento discutido e pactuado previamente por umconjuntomaior de interessados trabalha somenteno âmbitoda “política dediminuiçãodosdanos”enãonaprevençãoàviolaçãodosDireitos.Quemficacomoônusequemficacomobônus?Éprecisomudaroparadigmadeplanejamentoeparticipação.

Odesrespeitoàs regrasdo licenciamentoambientaléopontodeorigemdepraticamentetodas as ações judiciais movidas nos últimos anos. Acordos, condicionantes e mesmo alegislação vigente são encarados como obstáculos administrativos, jurídicos e políticos. Háatropelamentodoprocessoeoscompromissosacordadosmuitasvezesnãosãoexecutados.Além disso, faltam avaliações técnicas sobre impactos sinérgicos e cumulativos deempreendimentosnumamesmaregião.

Étambémcrucialaarticulaçãocompolíticaspúblicaseespaçosdeparticipação–taiscomoconselhos. As responsabilidades sobre impactos, mitigação, compensação e efetivação dosdireitos constitucionais precisariam ser melhor delimitadas e distribuídas. Desta forma,aponta-sedeformaincisivaafragilidadeeprecariedadenomonitoramento,fiscalizaçãodeatendimento e efetividade das medidas de mitigação, compensação e condicionantessocioambientais estabelecidas nas licenças ambientais, bem como o controle social dasmesmas.

Ø Faltadegovernançaeparticipação

Um dosmaiores problemas relacionados à instalação e operação de empreendimentos emterritóriosdaAmazônia,naperspectivadeindígenas,comunidadestradicionaisequilombolaséasistemáticafaltadesuaparticipaçãonosprocessosdediscussão,planejamentoetomadadedecisãosobreasobrasqueafetemsuascomunidades.

Em geral, a instalação e operação de grandes empreendimentos manteve a lógica derestrição da participação nos processos de planejamento e decisórios gerando conflitos epressões territoriais,nosprocessosde instalaçãodosempreendimentos.Háoentendimentoqueosespaçosdeparticipação,quandoexistem,ocorrememetapasposteriores,quandoasdecisõesjáforamtomadasenoâmbitodo“fatoconsumado”.

Outroaspectoderelevânciaequeestáintrinsecamenterelacionadoàquestãodagovernançae participação, são os processos de informação e comunicação com povos indígenas,comunidadestradicionaisequilombolas.Sãoidentificadasinúmeraslacunas,taiscomofalhasnosmecanismosdecomunicação,quenemsempregarantemacompreensãodainformação,poissãodedifícilcompreensão.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Sistema Interamericano de DireitosHumanos propõem que a consulta livre, prévia e informada deve ser entendida como umdireitofundamentalque,aoserprotegido,temconexõescommúltiplosoutroscomoodireitoàparticipação,àigualdade,àintegridadecultural,aoterritórioeàsubsistência.

Nessesentido,aConvenção169daOITcontemplaodiálogocomoumprocesso,nãocomoumevento.Aplicáveladecisõeslegislativaseadministrativasquepossamafetardiretamentepovos indígenas e tribais,a consultapréviadeveestar ancoradanopressupostodaboa féentreaspartes,e impõepráticasdecomunicaçãoedenegociaçãoadequadasaocontextointercultural, com a finalidade de se chegar a acordos vinculantes. Esses devem sercontinuamentemonitoradoserepactuados,aolongodainstalaçãodoempreendimento.

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Trata-se de pressuposto contrário ao que hoje se observa na prática quanto a consultaspúblicas que, entre outras fragilidades, carecemdemecanismos de avaliação que garantamencaminhamentosconcretosàsdemandasdepovos indígenas, tradicionaisequilombolas.Oalijamentodosprocessosdetomadadedecisãotambémseestendeàsinstituiçõeseórgãosgovernamentais dedicados à proteção desses grupos, como a Fundação Nacional do índio(Funai)eaFundaçãoCulturalPalmares(FCP),oquedeveserproblematizado.

No que se refere ao “desenvolvimento” e à implantação de grandes obras na Amazônia,destaca-sequeomodeloatualdedecisãoéuma“caixapreta”,ouseja,estábaseadonumplanejamento fechado, sem abertura para uma participaçãomais ampla nas discussões edefiniçõesmaisgeraiseestratégicasreferentesaomodelodedesenvolvimento.

A participação efetiva deve ser entendida como uma oportunidade para harmonização deinteresses coletivos em conflito, a partir de uma reversão de olhar por meio da qual aConsultaPréviasetornaumcaminhoparaoestabelecimentodemelhoresrelaçõesentreoEstado,setorempresarialefinanceiro,eessaspopulações.Deumlado,ointeressecoletivopordeterminadosrumosparaodesenvolvimentonacionale,deoutro,ointeressecoletivodeproteção da integridade cultural de grupos portadores de direitos. É a partir dessaharmonização que se podepromover a valorização tangível da diversidade cultural, assimcomooreequilíbriodadistribuiçãodebenefíciosnocontextodegrandesempreendimentos,cujoônushojesefazsentirmarcadamentepelospovosecomunidadestradicionais.

Ø Normativasereferênciasexistentes

Em termos jurídicos e institucionais, há uma série de leis, normativas e orientaçõesreferentes a boas práticas relacionadas a povos indígenas, comunidades tradicionais equilombolas. Internacionalmente, os povos indígenas possuem um conjuntomais amplo dereferências.Emtermosnacionais,tambéméobservadadiferenciaçãodeabordagensentreostrêsgrupos.Aseguir,serãosumarizadasalgumasdestasprincipaisreferências.

ConstituiçãoFederaldoBrasil (1988):Diversos foramosavançosemrelaçãoaosdireitosdepovos indígenas e comunidades na Constituição Federal de 1988, que assegurou aos povosindígenas o respeito à sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, ereconheceuodireitoorigináriosobreasterrasquetradicionalmenteocupam.Poroutrolado,a Lei 6.001/1973 dispõe sobre o Estatuto do Índio e normatiza os direitos indígenas e asobrigações do Estado brasileiro em relação a esses povos, com ênfase na proteção de seusmodos de vida e de seus direitos sobre suas terras. Na Constituição também foramreconhecidos, pela primeira vez, os direitos de comunidades remanescentes de quilombos,que no artigo 68 das suas disposições transitórias introduziu o direito de regularizaçãofundiáriadascomunidadesquilombolas.Osartigos215e216daConstituiçãoFederal tratamdopatrimônioculturalbrasileiroeestabelecemanecessidadedeproteçãoàsmanifestaçõesafro-brasileiras e o tombamento de documentos e sítios detentores de reminiscênciashistóricasdosantigosquilombos.

Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais(PNPCT):Instituídaem2007,pormeiodoDecretonº6.040,aPNPCTrepresentaumaaçãodoGoverno Federal que busca promover o desenvolvimento sustentável dos povos ecomunidades, contemplando povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas. Apolíticaenfatizaoreconhecimento,fortalecimentoegarantiadosdireitosterritoriais,sociais,ambientais,econômicoseculturais,comrespeitoevalorizaçãoàsuaidentidade,suasformasdeorganizaçãoesuasinstituições.

PortariaInterministerialno.60/2015:Tendoemvistaainserçãodiferenciadadotema“povosepopulaçõestradicionais”no licenciamentoambiental, foieditadaaPortaria Interministerialno.60de24demarçode2015,peloministériodoMeioAmbiente(MMA),emconjuntocomo

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MinistériodaJustiça,oMinistériodaSaúdeeoMinistériodaCultura.Pormeiodestaportariafoi regulamentada a interveniência da Funai para povos indígenas e da Fundação CulturalPalmares (FCP) em processos relativos a comunidades quilombolas. No sentido de melhororientarosprocedimentosparaaoperacionalizaçãodaPortaria,aFunaipublicouaInstruçãoNormativanº02/2015eaFundaçãoCulturalPalmaresaInstruçãoNormativanº01/2015.

Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais:PromulgadapeloDecretonº6.177,emagostode2007,estaConvençãodestacaaimportânciados conhecimentos tradicionais e sua contribuição positiva para o desenvolvimentosustentável, devendo ser assegurada sua proteção e promoção. A Convenção compreende,entreseusobjetivos,apromoçãodadiversidadedasexpressõesculturais;o incentivoà livreinteração entre culturas; o encorajamento ao diálogo intercultural e o fomento àinterculturalidade(Art.1º),reafirmandooprincípiodaproteção,promoçãoemanutençãodadiversidade cultural como condição essencial para o desenvolvimento sustentável embenefíciodasgeraçõesatuaisefuturas.

Convenção da Diversidade Biológica: Dedicada prioritariamente à conservação e ao usosustentável da diversidade biológica, tem uma matriz de defesa de direitos dos povos ecomunidadestradicionaisnoqueconcerneaoacessoeaousodosconhecimentostradicionaisassociadosaosrecursosgenéticos.

Convenção169daOIT sobrePovos IndígenaseTribais:AConvenção169daOITéoúnicoinstrumento, relativoaodireitodospovos indígenase tribais,queé legalmentevinculanteanível internacional. No Brasil, foi ratificada pelo Congresso Nacional por meio do DecretoLegislativonº143,de20denovembrode2002epromulgadapelodecretonº5.051,de19deabril de 2004. Os principais direitos abordados na Convenção são o reconhecimento daautoidentificaçãocomocritériodeidentidade,valorizaçãodasformasprópriasdeorganizaçãosocial e política, cultura e modo de vida tradicionais a “não discriminação”, o direito àparticipaçãoeconsultaprévia,entreoutros.NoBrasil,alémdepovosindígenas,aConvenção169aplica-seàscomunidadesquilombolas,reconhecidoscomo“povostribais”.

DeclaraçãodaONUsobreDireitosdosPovosIndígenas(UNDRIP):ADeclaraçãofoiadotapelaAssembleia Geral da ONU em setembro de 2007, e representa um dos mais abrangentesdocumentos relativos aos direitos dos povos indígenas a nível global. O documento não élegalmente vinculante, mas o amplo apoio dos Estados nacionais assegura à Declaraçãolegitimidadeeautoridade.EntreosprincipaisdireitosreforçadospelaDeclaração,podemserdestacados:Autodeterminação,valorizaçãoe fortalecimentodas culturas indígenas,garantiadousopreservaçãodesuasterras,territórioserecursos,consultapréviaeaoconsentimentolivre,prévioeinformado,entreoutros.Disponívelem:

Valedestacartambémaexistênciadeguiasemanuais internacionaisparamelhorespráticasporpartedo setor financeiroe empresarial equepossuem seçõesqueabordamosdireitoshumanos e social, identificação de riscos para direitos humanos emedidas de prevenção emitigação,proteçãodomeioambienteerecursosnaturais;procedimentosjustoseequitativospara resolução de conflito; atenção especial amulheres, crianças, jovens e idosos; consultapréviaeconsentimentolivre,prévioeinformado;dentreoutrasseçõesimportantesaoqueserefereaospovosepopulaçõestradicionais.

Padrões de Desempenho da Corporação Financeira Internacional / International FinanceCorporation–IFC:AIFCpossuiumasériedePadrõesdeDesempenho(PerformanceStandards– PS, em inglês), que foram atualizados em 2012 e que fornecem orientações sobre comoidentificar,evitar,mitigaregerirriscoseimpactos,promovendoasustentabilidade.OPadrãodeDesempenho7 (PS7) é voltadoespecificamentepara a interaçãoentreprojetosdo setorprivado e povos indígenas. No PS7 é destacada a necessidade do engajamento com ascomunidades e a realização da consulta livre e informada, que deve ser compatível comos

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riscosdoprojetoespecífico.Emdeterminadascircunstâncias,esteprocessoconduziráàbuscapelaobtençãodoConsentimentoLivre,PrévioeInformado(CLPI).

RelatóriosdeSustentabilidadedaGlobalReportingInitiative–GRI:OGRIéumaorganizaçãonão governamental fundada em 1997 pelo Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente -UnitedNations Environment Programme (UNEP) e pelo Centro para Educação ePesquisadeEstratégiasAmbientais-CERES(CentreforEducationandResearchinEnvironmentStrategies), tendo o objetivo de estabelecer princípios e indicadores econômicos, sociais eambientaisparaasempresas,queformamrelatóriosdesustentabilidadequesãoorganizadospela GRI para padronizar a avaliação do desempenho das empresas nestes temas. Noindicador de direitos humanos 9 (HR9), são abordados especificamente do número total decasos de violações envolvendo os direitos dos povos indígenas e também podem incluircomunidadesquilombolas.

BancoMundial:OBancoMundialdesenvolveunormativassocioambientaisquecondicionamoapoio financeirodestaentidadeaosprojetosdegovernosqueafetampovos indígenas.Asnormas operacionais 4.10 (OP 4.10), lançadas em 2005, foram atualizadas em 2016 com aaprovaçãoda “PolíticaSocioambientaldoBancoMundial”,quepossuiabordagemespecíficaemrelaçãoapovosindígenas.

Valeaindadestacaralgumasoutrasreferênciasemdistintossetores:

-Setorfinanceiroebancário:Incluiabordagemapovosindígenasnos“PrincípiosdoEquador”que consolida princípios socioambientais e de sustentabilidade que orientam os bancossignatáriosnaidentificação,avaliaçãoegerenciamentoderiscosanívelinternacional(aúltimaediçãodatade2013).

-Mineração:DeclaraçãodePosiçãoemrelaçãoapovosindígenas(PositionStatement–2013)eGuiadeBoasPráticassobrePovosIndígenaseMineração,lançadoem2010eatualizadoem2015.

-Petróleoegás:Documento“PovosIndígenaseaIndústriadePetróleoeGás:contexto,temaseboaspráticasemergentes”daAssociaçãoGlobaldePatróleoeGásparaAssuntosAmbientaiseSociais(InternationalPetroleumIndustryEnvironmentalConservationAssociation-IPIECA)

- Energia: Protocolo de Avaliação de Sustentabilidade de Hidrelétricas da AssociaçãoInternacional de Hidreletricidade (International Hydropower Association - IHA), que incluicritérios demedição do respeito e cuidado da empresa com povos indígenas afetados pelainiciativanasváriasfasesdociclodeprojeto

- Certificação Florestal: “Princípios e Critérios para o Manejo Florestal”, que orientam oprocedimento de certificação de produção responsável de produtos florestais do ForestStewardship Council – FSC, que contempla no seu Princípio 3 especificamente os povosindígenas.

Noâmbitonacional foi lançada, recentemente, a “PropostadeDiretrizesBrasileirasdeBoasPráticas Corporativas com Povos Indígenas”, cujo processo foi conduzido pela organizaçãonão-governamental The Nature Conservancy (TNC) em parceria com a Iniciativa DiálogoEmpresasePovosIndígenas.

DIAGNÓSTICOA partir da avaliação mais geral sobre o histórico e contexto atual da relação entre povosindígenas, comunidades tradicionais e quilombolas e obras de infraestrutura eempreendimentos, os trabalhos doGT focaramnodetalhamentododiagnóstico dos quatrotemascentraisdasdiscussões,conformeseráapresentadoaseguir.

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Tema1-PlanejamentoeDesenvolvimentoTerritorial

§ Aexperiênciahistóricadepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolascomprocessosdeinstalaçãoeoperaçãodegrandesobrasnaAmazôniaénegativaepermeadapelodescumprimentodeseusdireitosterritoriais,ambientaiseculturais;

§ Nãoháparticipaçãoefetivadepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasnos processos de planejamento e desenvolvimento territorial estratégico e de decisãosobregrandesempreendimentosqueosafetem;

§ Osórgãosgovernamentaisrelacionados(Funai,FundaçãoCulturalPalmares)tambémnãoparticipam do processo de planejamento e tomada de decisão referentes aodesenvolvimentoe,muitasvezes,sãopegosdesurpresaparaexecutardecisõessobreasquaisnãotêmpoderdeincidência;

§ Faltam avaliações ambientais, territoriais e estratégicas que possam embasar umplanejamentoeumapactuaçãomaisabrangentes,considerando-seosdiversosinteressesincidentessobreoterritório;

§ No processo de planejamento territorial estratégico, não tem sido dada a devidaimportância à regularização das Terras Indígenas e de territórios quilombolas e decomunidadestradicionais;

§ O planejamento dos grandes empreendimentos geralmente não dá a devida atenção àprevenção de violações de direitos, gerando a necessidade de criação de políticas de“reduçãodedanos”,quesãomaiscustosasemenosefetivas;

§ No momento do planejamento de desenvolvimento territorial, tem sido insuficiente aavaliação das transformações e de impactos sinérgicos e cumulativos de grandesempreendimentosnaAmazônia;

§ O planejamento territorial regional dos grandes empreendimentos não tem abrangidopovos indígenas,comunidadestradicionaisequilombolasqueestãomaisdistantes,masque podem sofrer interferências e impactos sociais e ambientais em decorrência doestímuloaodesenvolvimentoeconômicoregional;

§ Nos processos de planejamento territorial, geralmente o foco principal são os grandesempreendimentos,dando-sepoucaatençãoaosempreendimentosdepequenoemédioporte, que também podem ter impactos muito significativos para povos indígenas ecomunidadestradicionais;

§ Osmovimentossociaiseasorganizaçõesrepresentativasnãotêmativamenteatuadonacobrançapormaiorespaçoeparticipaçãonoplanejamentoterritorialestratégico;

§ Devidoàs inadequaçõesdosprocessosdeplanejamentodedesenvolvimento territorial,os empreendimentos têmenfrentadoumaumentodos custos de “externalidades”, pormeio de invasões, bloqueios, paralisações, processos judiciais, riscos operacionais,prejuízosfinanceiros,danosàimagemdasempresas,entreoutros.

Tema2-LicenciamentoAmbiental

§ O processo de licenciamento ambiental é muitas vezes encarado como obstáculoadministrativo, jurídicoepolíticoparaa implementaçãodegrandesobrasnaAmazônia,levando a pressões políticas sobre órgãos licenciadores e comunidades envolvidas paraquehajaaagilizaçãodoprocesso;

§ Nocasodegrandesobrasde infraestruturaestatais, frequentementeháumconflitodeinteressedopoderpúblico,quepodeseraomesmo tempoempreendedor, licenciador,fiscalizadorefinanciador;

§ Os órgãos ambientais e intervenientes (Ibama ICMbio, Funai, Fundação CulturalPalmares), enfrentam diversas fragilidades em termos de sucateamento de suas

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estruturas, sobrecarga dos servidores públicos e pressões políticas sobre o trabalhotécnico,quesãomencionadascomoentravesàeficáciadolicenciamentoambiental;

§ Povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas têmenfrentadodificuldadesnoacompanhamentoecompreensãodoprocessodelicenciamentoambientaldevidoàsuacomplexidadeefaltadeespaçosdeparticipaçãoclaramentedefinidos;

§ Os procedimentos adequados e osmomentos corretos para a aplicação do direito deconsulta livre, prévia e informada ainda estão indefinidos dentro dos processos delicenciamentoambiental;

§ Aefetividadedamitigaçãodosimpactossocioambientaistemsidolimitada,pois,muitasvezes, as medidas mitigatórias definidas são insuficientes, implementadas de formainadequadaecompoucamargemparaarealizaçãodeajustesnecessáriosdurantesuaimplementação;

§ Osórgãosambientaiseintervenientesepovosecomunidadesafetadastêmenfrentadogrande dificuldade de acompanhamento,monitoramento e fiscalização da efetividadedasmedidasmitigatóriasecompensatóriasestabelecidas;

§ A definição das áreas de influência direta e indireta dos estudos ambientais temdesconsideradoospossíveisimpactossobrepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasqueestãomaisdistantesdosempreendimentos;

§ Osprocessosde licenciamentoambientalnãotêmconsideradode formaadequadaosimpactosrelacionadosàsestruturasdeapoioparaa instalaçãoeasnecessáriasparaaoperação efetiva dos empreendimentos (transporte, fornecimento de energia, entreoutros);

§ Nos processos de avaliação de impactos, geralmente o foco principal são as grandesobraseempreendimentos,epoucaatençãoédadaàsobrasdepequenoemédioporte,quetambémpodemterimpactosmuitorelevantes;

§ O licenciamento ambiental não possui instrumentos adequados para a análise dosimpactossinérgicosecumulativosrelacionadosaoutrosempreendimentospresentesnaregiãosobreosbiomas,territórios,povosecomunidades;

§ Problemasde“demandasreprimidas”e“custosdoEstado”,relacionadasaprecariedadedos serviços públicos nas regiões, são muitas vezes projetados para dentro dosprocessos de licenciamento ambiental, como medidas previstas nos Planos BásicosAmbientais-PBA,àscustasdosempreendedores;

§ Nosprocessosdelicenciamentoambientalqueenvolvampovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas,não sedáadevidaatençãoaos impactos imateriais, sobreseusmodosdevidaeàpotencialviolaçãodedireitoshumanos;

§ Naavaliaçãodeimpactosdegrandesempreendimentos,nãohálegislaçãoounormativaque estabeleça um tratamento específico, com abordagem diferenciada, para ascomunidadestradicionais;

§ Diversas iniciativas de cunho legislativo, atualmente em curso, têm no seu escopo aredução da aplicação do licenciamento ambiental e da participação das comunidadesafetadasnoseuprocesso;

§ [Relaçãoentreocontextobrasileirodeflexibilizaçãodolicenciamentoambientalvis-a-visosoutrospaísesAmazônicos].

Tema3–Governançaecomunicação

§ A falta de participação no planejamento territorial e em processos de licenciamentoambiental é generalizada entre povos indígenas, comunidades tradicionais equilombolas;

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§ Asaudiênciaspúblicasdemonstraramnãoseromomentoe/ouoespaçoadequadoparaque povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas possam entender eintervirnasdiscussõesdosempreendimentos;

§ Osmecanismos de comunicação estipulados no âmbito do licenciamento ambiental edemais espaços de tomada de decisão sobre grandes empreendimentos geralmentefalham em possibilitar a devida compreensão, participação, acompanhamento eintervençãoporpartedepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas

§ Ainda há dificuldade para incorporar conhecimentos tradicionais e percepções daspopulações potencialmente impactadas nos estudos ambientais e processos deplanejamentoemrazãodesupostaausênciadecomprovação“técnica”e“cientifica”;

§ Osdocumentosrelacionadosaoplanejamentoterritorialequecompõemoprocessodelicenciamento ambiental apresentam linguagem técnica de difícil acesso para povos ecomunidades;

§ O tempo destinado para assimilação das informações e a participação qualificada noplanejamentoterritorialenolicenciamentoambientalemgeralnãoestádeacordocomosprocessosinternosdediscussãoetomadadedecisãodepovosecomunidades;

§ Os espaços de discussão e tomada de decisão compartilhada entre Estado,empreendedorese comunidadesafetadas, voltadosparaoplanejamento, instalaçãoeoperaçãodegrandesempreendimentosnaAmazônia,aindasãomuitolimitadosdiantedademandaexistente;

§ O diálogo e a “licença social” conferem segurança jurídica aos empreendedores, quepoderão assumir obras e empreendimentos com garantias mínimas de viabilidadelocacional, além de reduzidos riscos de conflitos com comunidades, judicialização eparalisaçãotemporáriaoudefinitivadasobras;

§ A questão dos passivos socioambientais históricos ainda não é discutida de formasuficientenosprocessosdelicenciamentoambientalenasrelaçõesestabelecidasentreos povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, órgãos ambientais eempreendedores.

Tema4–Consultaprévia

§ O direito a consulta e consentimento prévios representa instrumento de diálogo,baseado na boa fé entre povos, comunidades e o Estado, que visa garantir a efetivaparticipação de indígenas, quilombolas e comunidades no processo de tomada dedecisõeslegislativaseadministrativasqueosafetem;

§ Odireitoàconsultaéumdireitofundamentalque,aoserprotegido,temconexõescommúltiplos outros comoodireito à participação, à igualdade, à integridade cultural, aousufrutoexclusivodosterritórios,àsubsistência;

§ O direito à consulta e ao consentimento livre, prévio e informado ainda não éplenamente aplicado às políticas públicas e decisões que envolvem planejamento,instalação e operação de grandes empreendimentos na Amazônia capazes de afetardiretamentepovosindígenas,quilombolasecomunidadestradicionais;

§ Osdireitoseasorientaçõesemelhorespráticasqueassegurameorientamarealizaçãodaconsultapréviaapovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasaindanãosãorespeitadosecolocadosempráticadeformaefetiva;

§ Os diversos guias, diretrizes, compromissos e normativas existentes e relacionados amelhorespráticas internacionaissobrearelaçãoempresas–comunidades, incluindoatemática da consulta prévia, não são amplamente divulgados ou conhecidos e nemcolocadosemprática;

§ Ascomunidadesquilombolasforamreconhecidaspelogovernobrasileirocomosujeitosde direitos da Convenção 169 da OIT, mas o mesmo não ocorreu com os povos e

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comunidades tradicionais, sob os quais paira a incerteza se a Convenção se aplica ounão;

§ Não existem mecanismos claramente estabelecidos que orientem os processos deconsulta prévia e consentimento livre, prévio e informado junto a povos indígenas,comunidadestradicionaisequilombolasnoBrasil;

§ Os protocolos comunitários de consulta e planos de consulta são instrumentosimportantes para garantir o direito à consulta prévia, mas ainda não têm sidoamplamente disseminados nos processos de planejamento, instalação e operação degrandesempreendimentosnaAmazônia.

§ Em relação à consulta prévia, existe consenso de que devem ser gerados acordosvinculantes como resultados do processo, o que não ocorre em relação aoconsentimento livre prévio e informado, sobre o qual existem distintosposicionamentos, especialmente no que se refere ao direito a veto pelos povosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas.

DIRETRIZESMotivadospordiagnósticosresultantesdeentrevistascomatores-chaveededuasreuniõesdeGrupo de Trabalho (GT) e do Seminário Participativo - Direitos Humanos e GruposVulnerabilizados – Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Quilombolas, ocorridasduranteoprimeiroesegundosemestrede2016,respectivamente,foramdetalhadasdiretrizesgerais e transversais, assim como diretrizes específicas para cada um dos quatro temas:planejamento e desenvolvimento territorial, licenciamento ambiental, governança ecomunicaçãoeconsultaprévia.

DiretrizesGerais-Transversais

• Assegurarqueaelaboraçãodeestudos,políticas,programas,planos,procedimentos,assim como a implementação de ações e projetos por parte dos atores públicos eprivados na Amazônia incorporem os saberes, percepções e expectativas dos povosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasafetadosdiretae/ouindiretamenteporgrandesempreendimentos,comoatoresdedireito;

• Reconhecer formal e explicitamente a importância da diversidade sociocultural depovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas,eincorporá-laemtodososníveis de planejamento, estudos, discussões e tomadas de decisão relacionadas àinstalaçãoeoperaçãodeobrasdeinfraestruturaeempreendimentosnaAmazônia;

• Reconhecer a dimensão política dos processos de planejamento territorial,licenciamentoambiental,comunicaçãoegovernançaeconsultapréviarelacionadosàinstalaçãoeoperaçãodegrandesempreendimentos;

• Assegurar que a promoção de direitos humanos coletivos e sociais não seinterrompamembenefíciodopodereconômico,oudeinteressesparticulares;

• Assegurarqueosdireitosdepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolassejamefetivamentecumpridos,porpartedaUnião,deestadosemunicípios,dosetorempresarial e de instituições financeiras, em observância à legislação nacional eacordosinternacionaisdosquaisoBrasilésignatário;

• Considerar, articular, incorporar, reforçar, e avançar a partir dos princípios eorientações de boas práticas já existentes e relacionadas a povos indígenas,comunidadestradicionaisequilombolas;

• Assegurar que os cronogramas dos processos de planejamento territorial,licenciamento ambiental e consulta prévia relacionados à instalação e operação de

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obrasdeinfraestruturaedemaisempreendimentoscontemplemotemponecessárioparagarantiraadequadaparticipaçãodepovosecomunidades;

• Incorporarabordagens,formatos,linguagenseestratégiasdecomunicaçãoadequadasàsrealidadesdepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasemtodososprocessos de planejamento territorial, licenciamento ambiental e consulta préviarelacionadosàinstalaçãoeoperaçãodegrandesobrasnaAmazônia.

Tema1-PlanejamentoeDesenvolvimentoTerritorial

DiretrizGeral

Estabelecer/implementar, no processo de planejamento e desenvolvimento territoriais,políticas públicas emedidas de proteção para a promoção do bem-estar social dos povos epopulaçõestradicionais,marcadospelainvisibilidadehistórica,porameaçasaseusmodosdevidaeterritórios,pressõesfundiáriaseeconômicas,processosdiscriminatóriosedeexclusãosociopolítica.

DiretrizesporSubtemas

Subtema:Regularizaçãofundiáriacomocondiçãoparaoplanejamentoterritorialregional

• Estabelecercomocondiçãofundamentalenecessáriaaoplanejamentoterritorialeàdefinição de empreendimentos estratégicos a consolidação dos processos deregularização fundiária de Terras Indígenas, territórios quilombolas e de povos ecomunidadestradicionais;

• Dar a devida transparência aos processos de regularização fundiária de terrasindígenasedecomunidadestradicionaisequilombolasparaqueosempreendimentossejamplanejadosconsiderando-seadinâmicaterritorialexistente;

Subtema:Financiamentodosempreendimentosedasmedidasmitigatórias,compensatóriasparaosgruposafetados

• Criar e aprimorar ferramentas de financiamento que permitam fortalecimento dascapacidades institucionais de povos indígenas, comunidades tradicionais equilombolasimpactadosporgrandesobras,apartirdasnecessidadeseespecificidadesdecadaregião,equeperduremdurantetodaavidaútildoempreendimento;

• Estabelecer políticas e procedimentos específicos sobre regularização fundiária aserem incorporados na decisão de financiar ou não um projeto e em termos desalvaguardas do setor financeiro, diminuindo-se os riscos socioambientais aoinvestidor;

Subtema:Participaçãodepovos,comunidadeseórgãosgovernamentaisnoplanejamento

• Realizaroreconhecimentoexplícito,porpartedoEstado,deinstituiçõesfinanciadorase de empresas, de que os povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolassão sujeitos legítimos e devem ter participação nos processos de planejamentoterritorialestratégico,táticoeregional;

• Assegurar a efetiva participação de povos indígenas, comunidades tradicionais equilombolas, incluindo-seorganizaçõesintervenienteserepresentativase,emtodooprocesso de planejamento territorial e tomada de decisão sobre grandes obras eempreendimentosqueosafetem;

• Garantir efetiva participação e informação de órgãos governamentais intervenientes(FUNAI, Fundação Cultural Palmares e outros) nos processos de planejamentoterritorial, de desenvolvimento regional estratégico e de grandes obras, de forma aasseguraraconsultaantecipadaapovosecomunidades;

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• Elaborar e divulgar, junto aos povos, comunidades e órgãos intervenientes, uma“MatrizSetorial”quesistematizeosmomentosadequadosdeconsultaeparticipaçãonoplanejamentosetorial(mineração,logística,energia,petróleoegás);

• Articular e fortalecer espaços já existentes de participação relacionados aoplanejamentoterritorialededesenvolvimentonoâmbitogovernamentalnasesferasmunicipal,estaduale federal,garantindo-seaparticipaçãodepovosecomunidades,assim como o envolvimento dos entes públicos, movimentos sociais, institutos depesquisa,universidades,associaçõeseorganizaçõesdasociedadecivileempresas.

Subtema:Procedimentoseelementosdoplanejamento

• Realizar estudos e avaliações regionais integradas, com a participação de todos osatores sociais relevantes, visando não apenas a identificação de potencialidadeseconômicas e para empreendimentos, como também a consideração dos direitos,elementos tangíveis e intangíveis, dinâmicas territoriais, planos pré existentes,protocolos comunitários, bem como vocações regionais dos povos e comunidadestradicionais;

• Incorporar os resultados dos estudos e avaliações de impactos sinérgicos ecumulativoscomoelementosbásicosdasdiscussõesparaoprocessodeplanejamentoterritorialedeprojetosespecíficos

• Assegurarquetodooprocessodeplanejamentoterritorialedeempreendimentosdequalquerporte incorpore aprevençãode violaçãodedireitoshumanosdospovos ecomunidades,omapeamentode riscose impactos socioambientais, assimcomosuaprevenção, mitigação e, quando não seja possível, sua compensação, a partir dosresultadosdasconsultasprévias;

• Promover a realização de estudos de levantamento histórico dos empreendimentosrealizadosnopassado,tendo-seemvistaaidentificaçãodepassivossocioambientaiseviolações de direitos humanos por parte do Estado e das empresas e avaliar anecessidadedepolíticasdereparação.

• Incorporar nos processos de planejamento das grandes obras e no licenciamentoambiental,aspolíticaspúblicas,projetoseasaçõesjáexistentesnoterritório.

Subtema:Planejamentoedimensionamentodasmedidassocioambientais

• Garantir no cronograma geral do planejamento territorial e definição deempreendimentosestratégicosparaasregiõesoprazoeascondiçõesnecessáriasparaarealizaçãododiálogocontinuado,consultapréviaeprocedimentosdelicenciamentoambientaljuntoapovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas;

• Estabelecer, dentrodoplanejamento territorial, as condições necessárias e as açõesantecipatóriasjuntoapovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasparaaimplantaçãodegrandesobraseempreendimentosnumaregião;

• Acrescentar, no âmbito do planejamento territorial estratégico, a realização decampanhas locais de combate ao racismo e à discriminação dos povos indígenas,quilombolas e comunidades tradicionais ao conjunto de medidas antecipatórias decunhosocioculturais;

• Definir,noâmbitodoplanejamentoterritorial,planos,programas,projetosemedidasdelongoprazoquefortaleçamascondiçõesdevidadepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas;

• Definir com clareza as responsabilidades institucionais para a operacionalização detodas as políticas públicas das três instâncias governamentais, investimento socialprivado,açõesantecipatórias,planos,programas,projetosemedidasde longoprazorelacionadasaodesenvolvimentoterritorial;

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• Definir e divulgar a todos potencialmente afetados, Planos de Contingências e derespostaaemergências.

• Instituir mecanismos independentes de monitoramento da implantação das açõesantecipatóriasjuntoapovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas,assimcomoparaorecebimentodedenúnciasdeviolaçõesdedireitoshumanosnoâmbitodoplanejamentoterritorial.

Tema2-LicenciamentoAmbiental

DiretrizGeral

Articular esforços e investimentos para que seja assegurada a melhoria da eficácia e daefetividade do processo de licenciamento ambiental em geral, assim como a consideraçãoadequada dos componentes relativos a povos indígenas, comunidades tradicionais equilombolas.

DiretrizesporSubtemas

Subtema:Divulgaçãoesistemasdeinformação

• Assegurar que os processos de licenciamento ambiental estejam baseados nosprincípiosdetransparência,acessouniversaladocumentoseinformaçõesrelevanteseadequação de linguagem e dos processos de consulta (incluindo-se quantidade deinformação, forma de consulta, tempos para a consulta etc.) para povos indígenas,comunidadestradicionaisequilombolas;

• Garantir o reconhecimento, por todas as partes envolvidas (órgãos licenciadores eintervenientes, empresas e outros interessados) da dimensão social e cultural dolicenciamentoambientalrelacionadoapovosecomunidades;

• Garantir que documentos de planejamento territorial, como acordos comunitários eoutros, também sejamacessíveis às comunidades locais e outros interessados, alémdosdocumentosrelativosaolicenciamentoambiental;

• Investirnodesenvolvimentodeferramentasdedivulgaçãoadequadasparaoprocessode licenciamento ambiental, que permitam consultas dos públicos interessados, demodoaconferirtransparênciaaoprocesso;

• Garantirqueosdocumentos,relatórioseestudostenhamlinguagemacessívelouquesejam elaborados materiais complementares de comunicação para auxiliar oentendimentodoprocessoporpartedepovosecomunidades;

• Manter a sincronia de todos os componentes do licenciamento, incluindo oscomponentes sociais e ambientais, assim como componentes de povos ecomunidades,paragarantiraqualidadedosestudoseaefetividadedasmedidas;

• Criar em âmbito local um espaço (fórum, comitê, observatório, entre outros) quepermita a aproximação e o diálogo entre povos e comunidades afetados pelosempreendimentos,empreendedoresepoderpúblico;

• Manter rotinas de interlocução direta entre governo, empreendedores e povosindígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, através de seminários, oficinas,conselhosecomitês.

Subtema:Fortalecimentoemelhoriadosprocedimentosdosórgãosgovernamentais

• Garantir queosórgãos governamentais ambientais e intervenientes (Ibama, ICMbio,Funai, Fundação Cultural Palmares) tenham as condições institucionais necessáriasparaaconduçãoadequadaeeficientedosprocessosdelicenciamentoambiental,emgeraletambémjuntoapovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas;

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• Assegurar que os órgãos intervenientes recebam os recursos necessários para asdespesas relacionadas ao licenciamento e processos de consulta junto a povos ecomunidades;

• Instituir processos que verifiquem periodicamente a conformidade da atuação dosórgãosambientaiscomospareceresdaFunaiedaFundaçãoCulturalPalmares;

• Normatizar procedimentos dentro da Administração Pública, para garantir aefetividadedosmarcoslegaisrelacionadosaolicenciamentoambiental;

• Garantir capacidadesadequadase fortaleceroquadro técnicoede funcionáriosdosórgãosambientaise intervenientesparaarealizaçãodosprocessosde licenciamentoambientalefiscalizaçãodemedidasmitigatóriasecompensatórias;

• Investirnacapacitaçãodeórgãosgovernamentaisambientaiseintervenientesnoqueserefereàsespecificidadesrelacionadasapovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasparaavaliaçãodeimpactosenosprocessosdelicenciamentoambientalemgeral;

• Estabelecerespaçospermanentesdecoordenaçãointerministerialparaacompanharefiscalizar o cumprimento das condicionantes ambientais dos processos delicenciamento,assimcomoocumprimentodasresponsabilidadesdopoderpúblico;

• Garantir que os órgãos ambientais coordenem os processos de avaliação ambientaldosimpactossinérgicosecumulativos,assimcomoadistribuiçãoderesponsabilidadesparagestãodeimpactosentreosdiversosempreendimentosnumamesmaregião;

• Garantirquearealizaçãodeprocessosdeconsultalivre,préviaeinformada(CLPI)sedê de fato no período prévio ao licenciamento ambiental, possibilitando aincorporaçãodeseusresultadosaoplanejamentodoempreendimento.

Subtema:Fortalecimentodascapacidadesinstitucionais

• Assegurarquepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasparticipemdeforma efetiva e qualificada nos processos de licenciamento ambiental de grandesobraseempreendimentosqueosafetem;

• Garantirparapovosecomunidadesacessoecompreensãodasinformações,visandoofortalecimento de sua participação e acompanhamento nos processos delicenciamento;

• Dimensionardeformaadequadaosprazosdolicenciamentoambientaljuntoapovosecomunidades,deformaagarantirquesejamrespeitadosseusprocessosinternosdecompreensãoediscussãodosempreendimentos,seusimpactosemedidas;

• Investiremlinhasdefinanciamentoenofortalecimentotécnicoeorganizacionaldospovos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas e suas organizaçõesrepresentativas para que possam participar de forma qualificada do licenciamentoambiental;

• Desenvolver processos formativos junto aos empreendedores para melhorentendimentodasrealidadeseespecificidadessocioculturaisdepovosecomunidadesenvolvidasemprocessosdelicenciamento;

• Planejar metodologia e atividades relacionadas a processos de licenciamentoambientalemconjuntocompovosecomunidadespotencialmenteafetados,inclusivedefiniçãoemonitoramentodasaçõesprevistasnosPlanosBásicosAmbientais-PBA;

• Estabelecer metodologia participativa, com o envolvimento direto de povos ecomunidades e outros atores na elaboração dos estudos e documentos dolicenciamento,paraagarantiadedireitosemelhoriadequalidade.

Subtema:Definiçãodemedidasmitigatórias,compensatórias,decontroleemonitoramentodaimplementaçãodegrandesprojetos

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• Asseguraraelaboraçãoadequadaeimplementaçãoefetivadasmedidasdemitigaçãoe compensação previstas nos processos de licenciamento ambiental relacionados apovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolas;

• Garantiraparticipaçãodiretadepovosecomunidadesnasdiscussõesquedefinemedetalham termos de referência, planos de trabalho, estudos ambientais e medidasmitigatórias e compensatórias dos licenciamentos de empreendimentos que osafetem;

• Assegurar que as instituições financeiras considerem os pareceres dos órgãosintervenientes (Funai, Fundação Cultural Palmares) na concessão de empréstimo,visandoorespeitoaosinteressesedireitosdascomunidadesafetadas;

• Orientar a elaboração de medidas de mitigação e compensação, no âmbito dosprocessosdelicenciamentoambiental,quecontribuamparaamelhoriadaqualidadedevidaeofortalecimentodepovosecomunidadesnolongoprazo;

• Garantir a participação direta de povos e comunidades no acompanhamento daimplementaçãodasmedidasmitigatóriasecompensatórias,pormeiodemecanismosdemonitoramentoparticipativo;

• Criarmecanismodefinanciamento,comrecursosdoempreendedor,paraquepovosecomunidades possam contar com o apoio de entidades e profissionais de suaconfiança para realizar acompanhamento, fiscalização e monitoramento durante asetapasdelicenciamentoambiental;

• Instituirmecanismoindependentedemonitoramentoerecebimentodedenúnciasdeviolaçõesdedireitoshumanos(governoeempresas)noâmbitodoempreendimento;

• Suspender a licença nos casos de comprovado descumprimento das medidasmitigatóriasecompensatóriaspelosempreendedores;

• Estabelecer medidas de controle ambiental para possíveis acidentes e desastresrelacionadosaosempreendimentosqueestãosendolicenciados,taiscomoplanosdecontingência,seguroambiental,entreoutros.

Tema3–Governançaecomunicação

DiretrizGeral

Investir no aprimoramento dos processos de comunicação e governança junto a povosindígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, utilizando canais, formatos, linguagemeinstânciasapropriadosparaassegurarofortalecimentodesuaparticipaçãonoplanejamentoeaolongodavidaútildosempreendimentos.

DiretrizesporSubtemas

Subtema:Pressupostosdosprocessosdecomunicação

• Garantirquepovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolastenhamacessofácil a informações claras e objetivas, em linguagem e formatos adequados e quesejam suficientesparao seuefetivoesclarecimento sobreplanejamento territorial einstalaçãoeoperaçãodegrandesempreendimentos;

• Garantirqueinformaçõessobreoplanejamentoterritorialeinstalaçãoeoperaçãodeempreendimentos sejam disponibilizadas previamente para povos e comunidades,respeitando-seprazosuficienteparacompreensãoediscussãointerna;

• Reconhecendo-se a dimensão política dos processos de comunicação e governança,garantir que a comunicação com povos e comunidades seja realizada também deforma independente e isenta, assegurando-se alternativas de acesso a informaçõesdiretamentepelasprópriascomunidades;

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• Garantirqueosmateriaisdecomunicaçãosejamtraduzidosparaaslínguasindígenas,noscontextosemqueissosejarelevanteedemandadopelascomunidades;

• Reconhecer e respeitar os conhecimentos tradicionais e a perspectiva dos povos ecomunidadescomopontodepartidadosprocessosdecomunicação;

• Considerar, nos estudos ambientais, os conhecimentos de povos e comunidades,inclusiveassociadosàbiodiversidade,respeitando-sealegislaçãovigenteegarantindo-seaparticipaçãodascomunidadeslocais;

• Osespecialistasenvolvidosnosestudosdecomponenteindígenaequilomboladevemter conhecimento prévio acerca dos territórios, povos e comunidades tradicionais aseremestudadosepreferencialmenteoavaldascomunidades;

• Garantir a criação de espaços consolidados para que povos e comunidades possamconhecerediscutirosempreendimentospreviamenteàtomadadedecisão;

Subtema:Instrumentosdecomunicação

• Investir no desenvolvimento de tecnologias, instrumentos de comunicação e dedisseminação de informações que sejam efetivos, culturalmente adequados e querespeitem a organização existente de povos e comunidades locais afetados, emtermosdelinguagem,formatoedinâmica;

• Promover campanhas locais de combate ao racismo e à discriminação dos povosindígenas,quilombolasecomunidadestradicionais;

• Elaborareimplementarplanodecomunicaçãoeengajamentoadequadoparapovosecomunidadesimpactadas,porpartedoempreendedor,combaseemdiscussõescomórgãosgovernamentaisintervenientes(Funai,FundaçãoCulturalPalmares);

• Garantir que as informações sobre o empreendimento sejam de fácil acesso parapovosecomunidadesafetadas;

• Garantir a realização de audiências públicas sobre o empreendimento que sejamespecíficas e antecipadasparapovos e comunidades, considerando-seos protocolosdecadacomunidadeesuasdiversidadeslinguísticaseculturais;

• Divulgar a realização das Audiências Públicas de forma ampla e com antecedêncianecessária para que povos e comunidades possam se preparar adequadamente,conformejáprevistoemlei;

• Realizar reuniãodevolutivapós-audiênciapública,naqualoórgão interveniente,emconjuntocomoempreendedor,apresenteosprincipaispontoslevantadospelospovosecomunidadesduranteaaudiênciaecomoserãotratados;

• Instituir mecanismo independente de monitoramento e recebimento de queixas edenúncias relacionadas a violações de direitos humanos no âmbito doempreendimento, que seja de fácil acesso aos povos indígenas, comunidadestradicionaisequilombolas.

Subtema:Instânciasemomentosdegovernança

• Garantiraparticipaçãoativadepovosecomunidadesemtodoociclodediscussãoetomadadedecisãodoprojetoouempreendimento,inclusivenoacompanhamentodocumprimentodascondicionantespormeiodecomitêsdegestão,conselhosououtrostiposdemecanismosdegovernança;

• Respeitarasformas,práticaseorganizaçõestradicionaisdedefiniçãodosespaçosdegovernança para discutir o planejamento, a instalação e operação deempreendimentos que afetem povos e comunidades, as quais não implicamnecessariamenteestruturasinstitucionalizadas;

• Garantir a participação dos povos e comunidades e suas organizações em todo oprocessodedefinição,elaboração, implementaçãoemonitoramentodasmedidasdemitigaçãorelacionadasaoempreendimento;

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• Assegurarpresençamajoritáriadasociedadecivil, incluindorepresentantesdepovosindígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, nos espaços de governançavoltadosparadiscussãoeacompanhamentodosempreendimentosnasregiões.

Tema4–Consultaprévia

DiretrizGeral

GarantiraefetividadedarealizaçãodaConsultaPréviajuntoapovosecomunidadesdeformaampla e abrangente, incluindo processos de planejamento de obras de infraestrutura eempreendimentos.

DiretrizesporSubtemas

Subtema:Diretrizesgeraisdosprocessosdeconsulta

• Reconhecer amplamente, por parte do Estado e das empresas, o direito à consultalivre, prévia e informada como direito fundamental dos povos e comunidadesatingidosporgrandesobraseempreendimentos;

• Realizar,porpartedeórgãospúblicosefinanciadores,ampladivulgaçãoeorientaçãojunto a povos e comunidades, em relação a guias e manuais de boas práticas,normativasnacionaiseinternacionaisqueabordemaquestãodaconsultaprévia;

• Investirnaorganizaçãopréviadepovosecomunidadesparaquepossamserdefinidasas seguintes questões relacionadas à consulta prévia: Onde? Em que língua? Quemfalaemnomedacomunidade?Emquantotempo?Quempaga?;

• Considerar as características e especificidades de cada povo e comunidade nadefinição de planejamento, formato, atividades, linguagem, debates e planos deconsultapréviarelacionadaaempreendimentos;

• Realizar a consulta prévia em formato específico para a realidade de cada povo ecomunidade, respeitando-se os tempos necessários para a efetiva compreensão eorganizaçãointernaparaaparticipaçãonatomadadedecisão;

• Reconhecer explicitamente, por parte do Estado, instituições financiadoras eempresas,aautonomiadospovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasdentrodeseusterritórios,combasenosseusmodosdevidatradicionais;

• Reconhecer que a realização da consulta prévia é dever do Estado, ao zelar pelorespeito aos direitos coletivos dos povos afetados pelos empreendimentos nadefiniçãodoprocessoedaformacomodeveserfeita;

• Detalharosprocedimentosdeconsultapréviaamplaeparticipativa,comapresençadoEstado,derepresentantesdepovosecomunidadesedeempresas;

• Estabelecerclaramentediretrizese responsabilidadesdosórgãosgovernamentaisnoprocedimentodeconsultapréviareferenteaempreendimentos;

• Garantirqueaconsultapréviarelativaà instalaçãoeoperaçãodeempreendimentosseja realizada pormeio de processo contínuo e renovado a cada novamedida e/oufase que possa impactar direta e/ou indiretamente os povos e as comunidadestradicionais;

• Criar mecanismos de sistematização e difusão de boas práticas sobre processos deconsulta prévia, assim como processos de capacitação na temática para povos ecomunidades,representantesdoEstado,empresaseinstituiçõesfinanceiras.

Subtema:Financiamentodaconsulta

• Instituirformasdefinanciamentodaconsultaprévia,disponibilizadaspeloEstadoeaseremressarcidaspelosempreendedores.

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• Criar fundos voltadospara amobilizaçãoe fortalecimentodepovos, comunidades esuasentidadesrepresentativasnosprocessosdeconsultaprévia,cujagestãodeveteraparticipaçãodiretaderepresentantesdospovosecomunidadesafetados;

• Exigir, por parte de bancos e instituições financeiras, a obrigatoriedade da efetivarealização de processos de consulta prévia pelo Estado como premissa para aconcessãodefinanciamento.

Subtema:Governançalocal

• Investir no fortalecimento da governança local de povos indígenas, comunidadestradicionaisequilombolas,assimcomodesuasorganizaçõesrepresentativas,tendoascomunidadesafetadas como referênciaprincipal, comocondiçãobásicaenecessáriaparaarealizaçãodeprocessosadequadosdeconsultaprévia;

• Investir na elaboração de Planos de Gestão Territorial de povos indígenas,comunidades tradicionais e quilombolas, utilizando-os como ferramenta e ponto departidadosprocessosdeconsultaprévia;

• Investirnaelaboraçãodeprotocolosdeconsultacomunitáriosparapovos indígenas,comunidadestradicionaisequilombolas,utilizando-oscomoorientação,emtermosdeprocessoeformato,àconsultaprévia;

• Estabelecer processos de diálogo aberto, transparente e planejado entre Estado,empresas, instituições financiadoras e povos e comunidades, como forma deminimizar conflitos internos e externos às comunidades afetadas porempreendimentos;

• Entender diferenças e evitar potenciais conflitos entre povos e comunidades jáimpactados e outros que ainda serão impactados e que muitas vezes possuemdistintas opiniões e posicionamentos em relação a obras de infraestrutura eempreendimentos.

Subtema:Aspectosinstitucionais

• AdaptarodecretodaPolíticaNacionaldePovoseComunidadesTradicionais(PNPCT)como fonte jurídica para a aplicação do direito de consulta prévia às comunidadestradicionais;

• ConsultaroConselhoNacionaldosPovoseComunidadesTradicionais(CNPCT)paraadeterminaçãodoórgãoresponsávelporacompanharoprocessodeconsultapréviadedeterminadascomunidadestradicionais.

CONSIDERAÇÕESERECOMENDAÇÕESGERAISA condução e os resultados do Grupo de Trabalho Direitos Humanos - Povos Indígenas,Comunidades Tradicionais e Quilombolas demonstrou a importância da abordagem destegrupo no âmbito do planejamento territorial, instalação e operação de grandesempreendimentosemterritóriosdaAmazônia.

Deformageral,osparticipantesdasatividadesdoGTconsideraramaIniciativaumimportantemarco na aproximação do diálogo entre governo, setor privado, universidades, instituiçõesfinanceiras,representantesdepovosecomunidadesesuasorganizaçõesrepresentativas.

Deacordocomestesparticipantes,osresultadosalcançadosnoGT,assimcomoda“Iniciativa”como um todo, deveriam ser vistos como um processo em andamento, que não se esgotanestemomentoequedevetercontinuidadeeaprofundamento.

Neste sentido, além das diretrizes específicas construídas pelo GT, também foramapresentadas sugestões e recomendações para a “Iniciativa” e instituições envolvidas, queserãosistematizadasaseguir.

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ü Estabelecerum“PlanodeConsulta”paraodocumento finaldesta faseda Iniciativa,contando comampla divulgação e distribuição, estabelecendoprazo e formatoparaapresentação de comentários, realizando atividades de discussão dos resultados daIniciativa, inclusive através de encontros regionais para aumentar a capilaridade daparticipação;

ü Ampliar as atividades e discussões da “Iniciativa” para as outras regiões do Brasil edialogar com a questão das obras de infraestrutura, empreendimentos, povos ecomunidadesdosoutrospaísesdaPanamazônia;

ü Elaborar e implementar um “Plano de Comunicação” para a “Iniciativa” como umtodo, com foco especial junto a povos indígenas, comunidades tradicionais equilombolas

o Considerar a elaboração de vídeo e uso de mídias sociais em linguagemacessívelparapovosecomunidades

o Apoiar as organizações representativas de povos e comunidades para quepossam levar discussões para suas bases, inclusive com apoio na busca derecursosmateriaisefinanceirosparaalavancarestaparticipação

ü Desenvolver, de forma participativa uma “Matriz Setorial”, detalhando esistematizando características, tendências e tipos de impactos para cada um dossetores econômicos, explicitando os momentos de planejamento de cada um delespara verificar formas e oportunidades de inserir a participação de povos indígenas,comunidadestradicionaisequilombolas;

ü Investir em procedimentos de capacitação e qualificação junto a povos indígenas,comunidades tradicionais e quilombolas, com a participação de suas organizaçõesrepresentativas para disseminar informações sobre a temática do desenvolvimento,planejamentoterritorialelicenciamentoambiental;

ü Investir em procedimentos de capacitação e qualificação junto a instituiçõesgovernamentais, setor privado e setor financeiro sobre questões relacionadas àdiversidadesociocultural,econômica,ambientaleterritorialaoetnodesenvolvimentoeaosmodeloseprioridadesparaodesenvolvimentodepovosecomunidades;

ü Realizardiagnósticosetnoterritoriaisestratégicos,emregiõesquesãofocodegrandesempreendimentos (ex: MAPITOBA), para identificar vulnerabilidades dos povos ecomunidades e ações antecipatórias e investimentos necessários para preparar aregião.Investirnaelaboraçãodeumestudoregionalestratégicopiloto.

o Realizar pesquisas em áreas e regiões críticas da Amazônia para odesenvolvimento e também voltadas para apoiar e orientar povos ecomunidadesparaseprepararemparaoprocesso

o Inserir foco na temática do ordenamento territorial como uma dascondicionantes e ações antecipatórias estratégicas para o planejamentoterritorialestratégico

ü Recomendar que o setor financeiro, em especial IFC e BancoMundial, invistam naampladisseminação,divulgaçãoecapacitaçãosobreseuspadrõesdedesempenhonaáreasocialjuntoapovosindígenas,comunidadestradicionaisequilombolasequesãocondicionantesparaempréstimos;

ü Recomendar que o IFC empreenda esforços para fortalecer a participação do BancoMundialna“Iniciativa”,assimcomodeoutrasinstituiçõesfinanceirascomooBNDES,com abordagem especial para povos indígenas, comunidades tradicionais e

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quilombolas;

ü RecomendarqueoIFCeBancoMundialinvistamnasistematizaçãoeampladivulgaçãode estudos de caso e orientações práticas de aplicação de seus padrões dedesempenhoemprojetosjáapoiadosemdiversospaíses

o IFCpoderiadivulgarmecanismoseprocedimentosderecebimentodequeixas,especialmente se houver “cases” para povos indígenas e comunidadestradicionais

ü Recomendar que a Fundação Getúlio Vargas e o GVCes, enquanto instituição degeração de conhecimento, estreite os canais de diálogo e parceria com povosindígenas, comunidades tradicionais e quilombolas e suas organizaçõesrepresentativase invistaempesquisassobrecontextosdedesenvolvimentoregional,combasenassuasexpectativasenecessidades;

ü Recomendar que o tema consulta prévia tenha continuidade de discussão com aparticipaçãodepovosecomunidadestradicionais,setorpúblicoeprivado;

ü Investir na discussão e detalhamento de mecanismos de financiamento para agovernança e participação de povos indígenas e comunidades tradicionais equilombolas, voltado para o acompanhamento, mobilização, formação efortalecimento institucional para ações referentes ao planejamento territorial,instalaçãoeoperaçãodegrandesobrasemterritóriosdaAmazônia.