ao longo do período da idade média lll

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  Ars Inveniendi Ao longo do período da Idade Média, no trabalho respeitante à criação de direito, os  jurisprudentes adoptaram uma metodologia analítico-problemática, designada por  Ars Inveniendi (ou arte de inventar), que correspondia, em sentido lato, a uma disciplina jurídica. Contextualmente, esta metodologia era, por um lado, analítica, na medida em que, na época, o jurista procurava para cada caso, o preceito legal que lhe permitisse encontrar a solução, não se preocupando com a consideração sistemática, isto é, não estudava o ordenamento no seu conjunto, procurando, porém, em cada norma, a solução que mais lhe interessasse. Por outro lado, esta metodologia era também problemática, uma vez que o jurista obtinha uma solução para o caso, discutindo, ponderando as várias soluções possíveis, recolhendo os elementos pró e conta, optando por decidir a favor de uma delas: a que estivesse mais próxima da verdade. Assim, com base nesta metodologia, a primeira preocupação do prudente medieval era analisar o caso concreto e a segunda a de encontrar uma solução para o mesmo, ponderando todas as soluções possíveis, sendo certo que a aplicação da lei teria de ser controlada em função das respectivas funções das respectivas consequê ncias, face a critérios de justiça, de direito natural e de conveniência ou utilidade. Noutro prisma, a arte de inventar, isto é, a ars inveniendi dos jurisprudentes continha três elementos basilares (que correspondiam, em última instância, à divisão formal da técnica e da disciplina dos juristas), mormente:  Leges, Rationes e Auctoritates. A  Leges, particularmente, dizia respeito à ciência jurídica medieval enquanto ciência de textos, e ao abrigo da qual os preceitos jurídicos eram analisados, obedecendo a uma gramática especulativa. A Leges era ainda vista como uma técnica de interpretação. As  Rationes são definidas como arg ument os de equid ade/ justiç a, de direito natu ral, de oportunidade e lógica, correspondentes à arte de criar argumentos para dar resposta a um caso em concre to. Não obs tan te o fac to de serem ver dad eiros ins tru mentos int erpret ati vos da lei , o conhecimento alcançado era apenas visto como um conhecimento provável. De apoio à construção argumentativa, isto é, à interpretação dos textos e mesmo, para além desta, à criação de direito, os prudentes recorreram a quatro instrumentos ou ciências, a saber: dialéctica (arte da discussão), retórica (arte de persuadir e convencer), lógica (disciplina de pensar sem contradições) e tópica  jurídica (observar um problema de todos os seus ângulos e recolher o maior número possível de argumentos, em busca de uma solução). O  Auctoritates, por sua vez, é definido como o saber socialmente reconhecido: a aceitação de uma solução concreta passava muitas vezes pela autoridade de quem a defendia. De facto, sabendo-se que a verdade jurídica era sempre meramente provável, tornava-se particularmente importante o modo como ela se fundamentava e a sabedoria de quem a defendia. Nesse contexto, e tendo em conta as diversas opiniões e formulações suscitadas por alguns dos problemas, tornou-se claro a necessidade de distinguir as que, a priori, mereciam um maior credibilidade. A este propósito, surgiu o conceito de communis opinio doctorum (opinião comum dos doutores), defendido por um rol de juristas com auctoritas. Posteriormente, foram fixados três critérios de consideração: o quantitativo (a melhor opinião era a defendida pelo maior número de  juristas), o qualitativo (a melhor opinião era a defendida pelos juristas de maior prestígio) e o misto (conjugação dos dois critérios anteriores e, consequentemente, o mais exigente e preferido). Finalmente, e como forma de terminar, duas breves conclusões: uma primeira ligada à pessoa do jurista medieval que, enquanto dotado de autoridade, olhava para os textos de direito romano e, partindo desse ponto, construía argumentos. A segunda para frisar que, o uso desta metodologia acabaria por originar um ordenamento de criação prudencial, a que se chamou ius commune, ou seja, direito comum.  __________________________________________________________________________________________________________  Ariana Nunes Paraíso  Ano 1, Turma B Subturma 16

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5/14/2018 Ao longo do per odo da Idade M dia LLL - slidepdf.com

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 Ars Inveniendi

Ao longo do período da Idade Média, no trabalho respeitante à criação de direito, os

  jurisprudentes adoptaram uma metodologia analítico-problemática, designada por   Ars Inveniendi

(ou arte de inventar), que correspondia, em sentido lato, a uma disciplina jurídica.

Contextualmente, esta metodologia era, por um lado, analítica, na medida em que, na época,

o jurista procurava para cada caso, o preceito legal que lhe permitisse encontrar a solução, não sepreocupando com a consideração sistemática, isto é, não estudava o ordenamento no seu conjunto,

procurando, porém, em cada norma, a solução que mais lhe interessasse. Por outro lado, estametodologia era também problemática, uma vez que o jurista obtinha uma solução para o caso,

discutindo, ponderando as várias soluções possíveis, recolhendo os elementos pró e conta, optando

por decidir a favor de uma delas: a que estivesse mais próxima da verdade.Assim, com base nesta metodologia, a primeira preocupação do prudente medieval era

analisar o caso concreto e a segunda a de encontrar uma solução para o mesmo, ponderando todasas soluções possíveis, sendo certo que a aplicação da lei teria de ser controlada em função das

respectivas funções das respectivas consequências, face a critérios de justiça, de direito natural e de

conveniência ou utilidade.Noutro prisma, a arte de inventar, isto é, a ars inveniendi dos jurisprudentes continha três

elementos basilares (que correspondiam, em última instância, à divisão formal da técnica e da

disciplina dos juristas), mormente: Leges, Rationes e Auctoritates.A  Leges, particularmente, dizia respeito à ciência jurídica medieval enquanto ciência de

textos, e ao abrigo da qual os preceitos jurídicos eram analisados, obedecendo a uma gramáticaespeculativa. A Leges era ainda vista como uma técnica de interpretação.

As  Rationes são definidas como argumentos de equidade/justiça, de direito natural, deoportunidade e lógica, correspondentes à arte de criar argumentos para dar resposta a um caso em

concreto. Não obstante o facto de serem verdadeiros instrumentos interpretativos da lei, o

conhecimento alcançado era apenas visto como um conhecimento provável. De apoio à construçãoargumentativa, isto é, à interpretação dos textos e mesmo, para além desta, à criação de direito, os

prudentes recorreram a quatro instrumentos ou ciências, a saber: dialéctica (arte da discussão),retórica (arte de persuadir e convencer), lógica (disciplina de pensar sem contradições) e tópica

 jurídica (observar um problema de todos os seus ângulos e recolher o maior número possível de

argumentos, em busca de uma solução).O  Auctoritates, por sua vez, é definido como o saber socialmente reconhecido: a aceitação

de uma solução concreta passava muitas vezes pela autoridade de quem a defendia. De facto,sabendo-se que a verdade jurídica era sempre meramente provável, tornava-se particularmente

importante o modo como ela se fundamentava e a sabedoria de quem a defendia.

Nesse contexto, e tendo em conta as diversas opiniões e formulações suscitadas por algunsdos problemas, tornou-se claro a necessidade de distinguir as que, a priori, mereciam um maior

credibilidade. A este propósito, surgiu o conceito de communis opinio doctorum (opinião comumdos doutores), defendido por um rol de juristas com auctoritas. Posteriormente, foram fixados três

critérios de consideração: o quantitativo (a melhor opinião era a defendida pelo maior número de juristas), o qualitativo (a melhor opinião era a defendida pelos juristas de maior prestígio) e o misto(conjugação dos dois critérios anteriores e, consequentemente, o mais exigente e preferido).

Finalmente, e como forma de terminar, duas breves conclusões: uma primeira ligada àpessoa do jurista medieval que, enquanto dotado de autoridade, olhava para os textos de direito

romano e, partindo desse ponto, construía argumentos. A segunda para frisar que, o uso desta

metodologia acabaria por originar um ordenamento de criação prudencial, a que se chamou iuscommune, ou seja, direito comum.

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 Ariana Nunes Paraíso

  Ano 1, Turma B Subturma 16

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