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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA

DE [...]/MG

Inquérito Civil n.º 0418.05.000002-9 (Numeração anterior 027/2005)

Inquérito Civil n.º 0418.09.000016-1

Inquérito Civil n.º 0418.12.000012-4

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, por

intermédio do Promotor de Justiça signatário, no exercício de suas atribuições

constitucionais e legais, com fundamento nos artigos 1º, incisos II e III, 5º, caput e

inciso I, 37, caput, 129, inciso III da Constituição da República; artigos 1º, inciso IV, 5º,

inciso I, 11, caput, 12, caput, 19 e 20, da Lei n. 7.347/1985, vem, respeitosamente, à

presença de V. Ex.ª, pelo rito ordinário, propor:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

C/C PEDIDO LIMINAR DE MEDIDA CAUTELAR

Em face do MUNICÍPIO DE [...] - MG, pessoa jurídica de direito

público interno, CNPJ [...], com sede na Rua Sebastião Ferreira Júnior, n. 80-A, bairro

Becã, município de [...]/MG; em face de MARLIO GERALDO COSTA, brasileiro,

separado, Prefeito Municipal de [...], filho de Lauro Leite Costa e de Neide Pinheiro

Freire, residente e domiciliado na Rua Costa, n.º 737, Centro, Município de [...], pelos

fatos e fundamentos a seguir expostos:

I – DOS FATOS

A Promotoria de Justiça Única da Comarca de [...] celebrou com o

MUNICÍPIO DE [...] o Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC) n.º

09/2009, dando origem ao Inquérito Civil n.º 0418.09.000016-1 (em anexo). O objeto

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do TAC foi a regularização do vínculo dos agentes públicos empregados pelo citado

município.

Destarte, observando nos autos do Inquérito Civil n.º 0418.05.000002-9

(em anexo) que a esmagadora maioria dos servidores não ingressaram mediante

concurso público e que dependiam de contratos temporários firmados seguidamente

sem qualquer critério e em afronta aos ditames constitucionais, o Órgão de Execução

Ministerial então atuante nesta comarca convocou o Chefe do Poder Executivo

Municipal para subscrever o referido TAC e, assim, prover o cumprimento da Carta

Magna.

De acordo com a minuta do ajuste, o município ficou com a incumbência

de promover concurso público para diversos cargos e, em seguida, exonerar todos os

agentes contratados temporariamente em desacordo com o artigo 37, caput, inciso IX e

parágrafos, da Constituição da República.

Confira, abaixo, as principais cláusulas do pacto, que pode ser conferido

na íntegra às fls. 03/09 do Inquérito Civil n.º 0418.09.000016-1:

CLÁUSULA PRIMEIRA 1.1. O objeto do presente instrumento é adequar a conduta do Compromissário a fim de se regularizar o seu quadro de servidores públicos municipais, atendendo aos princípios da impessoalidade, moralidade e igualdade, em consonância com o que determina o art. 37, II, da Constituição da República;

CLÁUSULA SEGUNDA2.1. Para atender ao objetivo do presente acordo, obriga-se o compromissário a realizar concurso público de provas ou provas e títulos para provimento dos cargos já existentes, dos cargos correspondentes às funções exercidas, atualmente, por agentes públicos contratados irregularmente, e dos cargos que vierem a ser criados por lei.[...]

O réu, MUNICÍPIO DE [...], assinou a avença através de seu

representante legal, o réu Prefeito Municipal MÁRLIO GERALDO COSTA,

comprometendo-se a cumpri-lo no prazo de 12 (doze) meses.

Logo após, o MUNICÍPIO DE [...] deu início aos trâmites necessários

para a realização do certame: nomeou Comissão Organizadora, contratou mediante

processo licitatório empresa para execução do concurso, publicou edital contendo todas

as normas do procedimento, recebeu as inscrições dos candidatos, elaborou as questões

e aplicou as provas (cf. fls. 320/700 do Inquérito Civil n.º 0418.09.000016-1).

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O resultado foi publicado em seguida, conforme relatório geral juntado às

fls. 768/800 do Inquérito Civil n.º 0418.09.000016-1. Nos documentos, relaciona-se o

nome, número de inscrição, classificação e pontuação de todos os candidatos

participantes.

Todavia, assim que foi divulgada a lista de aprovados, a Promotoria de

Justiça de [...] recebeu notícias apócrifas de que parentes da Comissão Organizadora

teriam participado do certame.

A irregularidade informada ensejou a instauração do Inquérito Civil n.º

0418.12.000012-4 (em anexo), para a averiguação dos fatos narrados. No decorrer das

apurações, constatou-se a veracidade de alguns dos informes.

Com efeito, primeiramente, constatou-se a ausência de suplentes na

Comissão Organizadora. Depois, inquirindo os integrantes desta, eles revelaram que

alguns de seus parentes participaram e foram aprovados no certame.

A Administração Pública, no exercício de suas funções está adstrita a

uma série de princípios oriundos da Constituição da República e o desrespeito a tais

dogmas eiva de nulidade os atos praticados.

Como se verá, a inexistência de suplentes no órgão organizador,

conjugado com a participação e aprovação de candidatos que são familiares de membros

da Comissão Organizadora, infringiu frontalmente os princípios da legalidade,

igualdade, impessoalidade e moralidade, razão pela qual não pode prosperar no mundo

jurídico o aludido certame.

Portanto, a presente ação civil pública possui a finalidade de anular o

concurso público, para não persistam as ilegalidades apontadas, sem descuidar de

compelir o réu MUNICÍPIO DE [...] a organizar novo certame, em cumprimento ao

TAC adredemente assinado.

Eis, por conseguinte, os objetivos desta demanda.

II – DO DIREITO

Cuida-se de ação civil pública movida contra os réus acima qualificados

para, com supedâneo nas ilegalidades apuradas, abolir o concurso público do

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MUNICÍPIO DE [...] proveniente do Edital n.º 001/2011, agregado às fls. 324/373 do

Inquérito Civil n.º 0418.09.000016-1 (em anexo).

Consoante narrativa acima, parentes de componentes da Comissão

Organizadora participaram do certame e foram aprovados em diversos cargos. Ademais,

o comitê que realizava o concurso não poderia olvidar os indispensáveis suplentes, para

evitar absurdos desse jaez.

No decorrer das perscrutações, verificou-se cabalmente as nulidades

suscitadas. Primeiramente, notificou-se o réu MARLIO GERALDO COSTA, Prefeito

Municipal de [...]. Em suas declarações, narrou:

Que o declarante comparece nesta Promotoria devidamente notificado para declarar: que o declarante é prefeito do município de Jenipapo de Minas; que a Prefeitura celebrou um TAC com o Ministério Público para celebrar concurso para vários cargos; que o declarante nomeou a Comissão Organizadora do Concurso Público n° 001/2011; que quanto à Ação Popular proposta para anular o concurso o declarante acredita que não vai prosperar, pois as questões repetidas no concurso de Virgem da Lapa para técnico de enfermagem não comprometem a lisura do certame; que foram em torno de nove as questões repetidas; que das sete candidatas que participaram dos dois concursos apenas uma passou em Jenipapo; que segundo informações, mesmo com a anulação dessas questões o resultado não se alteraria; que o Sr. Arilson Nunes Jardim é integrante da Comissão Organizadora do Concurso; que a esposa do Sr. Arilson, a Sra. Diassanan Alves Esteves Ottoni, passou para a vaga de odontóloga e a Sra. Silvia Nunes Jardim, irmã de Arilson, foi aprovada para o cargo de assistente social; que o declarante esclarece que não houve má-fé na inclusão de Arilson na Comissão e que Diassanan e Silvia passaram por mérito; que foi um descuido do declarante e de sua equipe por ignorância, mas não visavam favorecer Diassanan e Silvia; que o declarante se compromete a assinar um TAC anulando o concurso referentes aos cargos de odontólogo e assistente social, realizando novo certame posteriormente; que o declarante indicou Arilson para a Comissão porque ele ocupa o cargo de secretário de controle interno da Prefeitura, possuindo os atributos necessários para ocupar vaga na Comissão; que o declarante se compromete a verificar a existência de parentes de membros da Comissão inscritos no concurso que será realizado; que o declarante também designará suplentes para a Comissão; que para o declarante não houve qualquer outra irregularidade no Concurso. – Marlio Geraldo Costa, cf. fls. 07/08, Inquérito Civil n.º 0418.12.000012-4.

Note que o Chefe do Executivo Municipal confirmou os dois elementos

que sustentam essa ação: carência de suplentes na Comissão do Concurso e parentes

destes que foram aprovados. Conquanto tenha assumido o compromisso de anular o

concurso, o alcaide municipal recusou-se a realizar essa providência.

No que toca à inexistência de suplentes, a Portaria n. 256-2011, que

designou os membros da Comissão Organizadora, omite-se quanto a tal circunstância.

Note à fl. 04 do Inquérito Civil n.º 0418.12.000012-4:

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PORTARIA 256-2011RESOLVE1. NOMEAR os senhores HUMBERTO CARLOS FREIRE (fl. 22), JOSÉ SILVANO RODRIGUES DA CONCEIÇÃO, EDSON FERNANDES DE OLIVEIRA, MARIA CREUSELENE CHAVES e ARILSON NUNES JARDIM, para comporem, sob a presidência do primeiro, a Comissão Organizadora do Concurso Público N.º 001/2011, para provimento de cargos públicos.2. Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação.3. Revogam-se as disposições em contrário.Jenipapo de Minas – MG, 21 de julho de 2011.

Embasado nesses dados preliminares, inquirimos todos os integrantes da

Comissão, nos autos do Inquérito Civil n.º 0418.12.000012-4: ARILSON NUNES

JARDIM (cf. fl. 09), HUMBERTO CARLOS FREIRE (cf. fl. 22), JOSÉ SILVANO

RODRIGUES DA CONCEIÇÃO (cf. fl. 23), EDSON FERNANDES DE OLIVEIRA

(cf. fl. 24) e MARIA CREUSELENE CHAVES (cf. fl. 26). Vale afirir os principais

trechos dos depoimentos:

Que o declarante comparece nesta Promotoria devidamente notificado para declarar: que o declarante é Secretário de Controladoria Interna da Prefeitura de Jenipapo de Minas; que o declarante foi nomeado membro da Comissão Organizadora do Concurso Público n° 001/2011; que é casado com a Sra. Diassanan Alves Esteves Ottoni que foi aprovada para a vaga de odontóloga; que Silvia Nunes Jardim é irmã do declarante e foi aprovada para o cargo de assistente social; que não auxiliou sua esposa ou sua irmã; que não tinha conhecimento da irregularidade da situação; que, como membro da comissão, já tinha ciência de que sua esposa era funcionária contratada e sua irmã era funcionário efetiva, mas em outro cargo; que o declarante não sabe informar quantos candidatos se inscreveram para os cargos de odontólogo e de assistente social; que nenhum outro parente do declarante foi aprovado; que não foram detectadas outras irregularidades; que o declarante entende que houve total lisura no concurso não havendo favorecimentos. – Arilson Nunes Jardim

Que a declarante comparece nesta Promotoria devidamente notificada para declarar que participou da comissão do concurso público realizado em Jenipapo de Minas; que o declarante não teve nenhum parente que participou do concurso; que o declarante participou somente do levantamento das vagas necessárias em cada setor; que deseja declarar que não houve má fé por parte de nenhum membro da comissão organizadora; que tem conhecimento que todos são pessoas idôneas; que o declarante trabalha com os participantes há cerca de doze anos e nunca pode perceber nenhum ato de irregularidade por parte de qualquer um deles; que deseja declarar também que em nenhum momento o Sr. Prefeito solicitou ou deixou a perceber que gostaria que alguém fosse beneficiado, que tramitou tudo da forma mais clara possível. – Humberto Carlos Freire

Que a declarante comparece nesta Promotoria devidamente notificada para declarar que participou da comissão do concurso público realizado em

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Jenipapo de Minas; que o declarante teve uma sobrinha que participou do certame; que o declarante não sabia que tendo parentes escritos no concurso não poderia participar da comissão; que tem conhecimento que sua sobrinha não foi classificada no concurso; que o trabalho da comissão foi apenas definir o número de vagas necessárias á cada departamento; que não teve envolvimento no conteúdo do edital e muito menos nas provas; que o declarante alega que como essa equipe já vinha discutindo acerca da necessidade do concurso, desde a época da assinatura do TAC nesta Promotoria, que então sendo as pessoas de confiança do Prefeito, foram os escolhidos para a comissão; que deseja declarar que em nenhum momento houve ilicitude por parte de qualquer membro da comissão; que tudo fora organizado com honestidade e transparência; que o declarante tem muita preocupação com os boatos, porque caso o concurso venha a ser anulado, trará muitos prejuízos ao município, pois trata-se de um ano de trabalho – José Silvano Rodrigues da Conceição;

Que a declarante comparece nesta Promotoria devidamente notificada para declarar que participou da comissão do concurso público realizado em Jenipapo de Minas; que o declarante teve parentes que concorreram ao certame; que CLEBERSON, primo de declarante concorreu para o cargo de motorista, porém não foi classificado; que tem outras três primas, todas de terceiro grau que concorreram também, sendo duas para enfermagem e uma para professora; que uma delas de nome MARIANE ficou em quarto lugar, dentro das vagas, sendo que outra, ANALICE, ficou classificada fora das vagas; que o declarante deseja declarar que em momento algum tinha conhecimento de que caso tivesse parentes concorrendo que ele não poderia participar da comissão; que sabe que o ARILSON recebeu uma ligação da empresa que realizou o concurso, solicitando que ele arrumasse quatro pessoas de inteira confiança e responsáveis para fazer parte da comissão; que também garante que o ARILSON não tinha conhecimento que para fazer parte da comissão não poderia ter parentes concorrendo; que sabe da idoneidade de todos que participaram da comissão, pois são funcionários efetivos de mais de dez anos de trabalho em cargo de confiança do Sr. Prefeito; que declara que a comissão simplesmente verificou a quantidade de vagas que seriam necessárias o seu preenchimento por concurso público; que em momento algum a comissão teve acesso ás provas; que o declarante gostaria de declarar que como o município é pequeno o risco de famílias participarem da comissão é muito grande, quase impossível; que gostaria de afirmar mais uma vez que o concurso foi íntegro e de forma honesta; que em relação à comissão não houve má fé; que sabe dos boatos ocorridos no município que houve benefício em relação a algumas pessoas; que o declarante deseja citar que na Prefeitura trabalham três funcionárias há cerca de três anos, que prestaram o concurso para Agente Administrativo,e, no entanto, todas foram reprovadas; que se tivesse algum benefício, com certeza elas seriam beneficiadas, pois são excelentes funcionárias, pessoas de inteira confiança – Edson Fernandes de Oliveira

Que a declarante comparece nesta Promotoria devidamente notificada para declarar que participou da comissão do concurso público realizado em Jenipapo de Minas; que tem duas sobrinhas sendo GLEICIELE JEANE FERREIRA GUEDES e RAFAELA GUEDES DE FARIA e um primo de segundo grau que se chama CLEBER que concorreram no certame; que GLEICIELE concorreu para o cargo de nutrição e RAFAELA, para farmácia e CLEBER, motorista; que sabe que as sobrinhas não foram classificadas e quanto ao CLEBER não tem conhecimento; que a declarante informa que não tem conhecimento de nenhuma ilicitude em relação ao concurso, que sabe só através de boatos; que a declarante informa que em momento algum teve conhecimento que não poderia participar da comissão por causa de parentes;

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que tudo o ocorreu foi na base da honestidade e seriedade; que sabe que ninguém pensou ou declarou em momento algum em beneficiar ou prejudicar quem quer que seja – Maria Creuselene Chaves

Ressai das declarações colhidas na promotoria que vários parentes dos

membros da Comissão Organizadora do Concurso participaram e foram aprovados no

certame. Em síntese, formou-se o seguinte quadro:

Uma irmã e a consorte de ARILSON foram aprovadas no certame,

quais sejam, SILVIA e DIASSANAN;

Sobrinhas de MARIA CREUSELENE participaram do concurso,

sendo elas GLEICIELLY JENANE FERREIRA GUEDES e

RAFAELA GUEDES DE FARIA, bem como o primo KLEBER

GUEDES. Folheando as fls. 778, 782/783 do Inquérito Civil n.º

0418.09.000016-1 é possível constatar a participação e classificação

no certame, para os cargos de nutricionista, farmacêutico e motorista;

Primos de EDSON FERNANDES, a saber, CLEBERSON DE

OLIVEIRA, ANALICE RODRIGUES VIEIRA e MARIANE,

participaram do concurso, tendo a última logrado aprovação para o

cargo de enfermeira. Registre-se o relatório geral de notas às fls. 782

e 805/806 do Inquérito Civil n.º 0418.09.000016-1, que comprova a

participação e classificação desses parentes.

Em seguida, tomamos declarações dos familiares aprovados, sobretudo

para certificar os dados coletados e vergastar dubiedades. Destaque para DIASSANAN

ALVES ESTEVES OTTONI e SILVIA NUNES JARDIM (cf. fls. 13/14 no Inquérito

Civil n.º 0418.12.000012-4):

Que a declarante comparece nesta Promotoria devidamente notificada para declarar que realizou o concurso público para o cargo de dentista, no Município de Jenipapo de Minas e foi a única classificada para o cargo; que o concurso era previsto para três vagas; que acha que concorreu com mais sete

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participantes; que os outros não conseguiram a média para classificarem; que em momento algum sabia que não poderia ter parente na banca do concurso; que realmente seu marido ARILSON foi integrante da comissão organizadora do concurso; que a declarante dedicou para fazer tal concurso; que garante que passou por mérito; que ficou de licença maternidade e tirou mais um mês de férias somente para estudar, que se passou foi porque teve competência para tanto; que a declarante informa que antes de fazer a prova a pessoas que as aplicou abriu o envelope contendo as provas na frente de todos; que para provar isso basta notificar algumas pessoas que prestaram o concurso junto com a declarante; que há cerca de dois anos a declarante presta serviços odontológicos para o município; que a declarante solicita que seja apurada a denúncia que afirma que as provas chegaram na sua casa, que tudo não passa de mentiras; que a declarante é pessoa séria; que a declarante informa que toda essa situação está sendo muito constrangedora, que a declarante não gostaria que anulasse o concurso, pois além de prejudicar a declarante irá prejudicar os outros que passaram também. – Diassanan Alves Esteves Ottoni

Que a declarante comparece nesta Promotoria devidamente notificada para declarar que realizou o concurso público para o cargo de Assistente Social, no Município de Jenipapo de Minas e foi classificada em segundo lugar; que a declarante é irmã do Sr. ARILSON, membro da comissão organizadora do concurso; que ninguém agiu de ma fé; que a declarante não tinha conhecimento que parentes não poderiam participar da organização; que a declarante informa que é efetiva da Prefeitura de Jenipapo há cerca de 14 (quatorze) anos, através de concurso público; que a declarante passou porque estudou muito e por mérito; que a declarante deseja informar que realizou concurso para a municipalidade de Minas Novas e foi classificada; que alega que está estudando sempre; que informa, também, que as pessoas que estão reclamando do concurso não conseguiram nota para classificarem; que tudo isso é uma perseguição política; que a declarante deixa cópia das classificações nesta Promotoria para conhecimento deste Promotor de Justiça; que no dia da realização do concurso foram chamadas duas pessoas na frente para constatar que os envelopes estavam lacrados; que a declarante não teve nenhum conhecimento de provas antes do concurso; que se passou foi porque estudou. – Silvia Nunes Jardim

Assimila-se, através das declarações de DIASSANAN, cônjuge de

ARILSON, e de SILVIA, irmã de ARILSON, que ambas ratificaram a participação no

concurso e a aprovação, bem como o vínculo com ARILSON, membro da Comissão

Organizadora do Concurso.

Outrossim, o relatório de notas emitido após a divulgação do resultado do

concurso demonstra que SILVIA foi realmente aprovada em segundo lugar para o cargo

de Assistente Social e que DIASSANAN foi aprovada para o cargo de Odontóloga (cf.

fls. 15 e 17, do Inquérito Civil n.º 0418.12.000012-4; fls. 768/800 do Inquérito Civil n.º

0418.09.000016-1).

Portanto, as anormalidades do concurso foram insofismavelmente

constatadas pela investigação ministerial.

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Decerto, tais irregularidades insanáveis, representam afronta direta aos

princípios da impessoalidade e moralidade administrativas, estipulados no artigo 37 da

Constituição da República, in verbis:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

Procede dos dogmas constitucionais a proibição de que relações

familiares venham a interferir na realização das atividades administrativas,

especialmente no processo de seleção dos agentes públicos.

Em outras palavras, ao Administrador Público é vedado praticar o

nepotismo, porque a Constituição da República exige, para o preenchimento das vagas

existentes nas instituições públicas, a aprovação em concurso público de provas ou de

provas e títulos, ressalvadas as exceções previstas na própria Carta Magna. A Súmula

Vinculante n.º 13 do Supremo Tribunal Federal solidificou o entendimento:

A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.

Cotejando a epítome da Suprema Corte, com a hipótese versada nesta

demanda, é visivelmente perceptível que a existência concomitante de membros de uma

comissão organizadora de concurso com parentes concorrendo aos cargos disponíveis

constitui uma maneira de burlar a vedação, maculando o certame que deveria primar

pela inexistência de vínculos de parentescos na avaliação do ingresso no serviço

público.

O princípio da impessoalidade, por si só, suprimiria essa situação, que

representa contrassenso ao concurso público, cujo objetivo primordial é justamente

selecionar os mais capacitados e desviar o nepotismo.

Sobre o princípio da impessoalidade, sublinha o jurista JOSÉ DOS

SANTOS CARVALHO FILHO:

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O princípio objetiva a igualdade de tratamento que a Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica. Nesse ponto, representa uma faceta do princípio da isonomia. Por outro lado, para que haja verdadeira impessoalidade, deve a Administração voltar-se exclusivamente para o interesse público, e não para o privado, vedando-se, em consequência, sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros e prejudicados alguns para favorecimento de outros. Aqui reflete a aplicação do conhecido princípio da finalidade, sempre estampado na obra de tratadistas da matéria, segundo o qual o alvo a ser alcançado pela Administração é somente o interesse público, e não se alcança o interesse público se for perseguido o interesse particular, porquanto haverá nesse caso sempre uma atuação discricionária.

Não se pode deixar de fora a relação que a finalidade da conduta administrativa tem com a lei. “Uma atividade e um fim supõem uma norma que lhes estabeleça, entre ambos, o nexo necessário”, na feliz síntese de CIRNE LIMA. Como a lei em si mesma deve respeitar a isonomia, porque isso a Constituição obriga (art. 5º, caput e inc. I), a função administrativa nela baseada também deverá fazê-la, sob pena de cometer-se desvio de finalidade, que ocorre quando o administrador se afasta do escopo que lhe deve nortear o comportamento – o interesse público.

Assim, portanto, deve ser encarado o princípio da impessoalidade: a Administração há de ser impessoal, sem ter em mira este ou aquele indivíduo de forma especial.1

Conquanto designado por “desvio de finalidade”, o princípio da

impessoalidade é acolhido na legislação infraconstituional: art. 2º, alínea “e”, da Lei nº

4.717/75, que regula a ação popular, comina a sanção de invalidade o desvio de

finalidade.

A essa lição, pode-se acrescentar o rigor do princípio da moralidade. Nas

palavras do citado autor:

O princípio da moralidade impõe que o administrador público não dispense os preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta. Deve não só averiguar os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações, mas também distinguir o que é honesto do que é desonesto. Acrescentamos que tal forma de conduta deve existir não somente nas relações entre a Administração e os administrados em geral, mas também internamente, ou seja, na relação entre a Administração e os agentes públicos que a integram.2

Logo, é inegável que a presença de parentes próximos àqueles a quem se

incumbe o dever de organizar e fiscalizar o concurso contravém flagrantemente os

1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 23ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. Pág. 22.2 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 23ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. Pág. 23.

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postulados constitucionais da moralidade e da impessoalidade. Seria, por via transversa,

admitir que o administrador escolhesse quem exerceria as funções públicas, utilizando-

se da aparente legalidade de um certame público.

Seguramente, a inexistência de suplentes na Comissão contribuiu para

que essa conjuntura se concretizasse. Essa omissão, seja por desconhecimento, seja

proposital, possui o condão de nulificar o concurso, pois, no caso concreto, tornou

impossível impedir que relações familiares interviessem o processo de seleção.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça está repleta de julgados

considerando nulo o concurso público em que candidatos aprovados guardam relação de

parentesco com integrantes de comissões de concurso.

Veja alguns acórdãos:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR ESTADUAL. CONCURSO PÚBLICO. PESSOAL TEMPORÁRIO. ANULAÇÃO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. MORALIDADE. PARENTESCO. VEDAÇÃO PREVISTA NA LEGISLAÇÃO ESTADUAL.1. Cuida-se de recurso ordinário interposto contra acórdão que denegou a segurança ao writ que visa extirpar do mundo jurídico a Portaria SESAPI⁄GAB 176⁄2009, que anulou processo seletivo para pessoal temporário na Administração Pública Estadual. A motivação do ato administrativo atacado estava cingida à aplicação do princípio da moralidade administrativa e ao parágrafo único do art. 138, da Lei Complementar Estadual n. 13⁄94.2. Argumenta-se no recurso ordinário que deve ser anulada a Portaria, já que a relação de parentesco não seria suficiente para macular o certame em questão; considera-se que somente a comprovação de favorecimento poderia ensejar a nulidade do mesmo.3. Não existe omissão no acórdão recorrido, que deslindou suficientemente a querela jurídica, aplicando o direito vigente aos fatos analisados. A alegada infração ao art. 93, IX, da Constituição Federal, não deve ser acolhida.4. É correta a aplicação do art. 37, caput, da Constituição Federal para coibir - com base em fatos devidamente comprovados - que havia relação de parentesco entre candidato aprovado e membro da comissão examinadora; ademais, no caso concreto, a conduta do examinador em manter-se na banca é expressamente vedada pela legislação estadual, ao teor do parágrafo único do art. 138 da Lei Complementar Estadual n. 13⁄94.Recurso ordinário improvido.(STJ - Rel. Ministro Humberto Martins - Recurso em Mandado de Segurança nº 36.006 - PI - 2011⁄0224128-6 - Publicação 06/12/2011)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA. PARENTESCO COM CANDIDATO. VEDAÇÃO. ANULAÇÃO DO CONCURSO. PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA. SÚMULA Nº 473⁄STF. INCIDÊNCIA.I - O Decreto nº 21.688⁄2000, do Distrito Federal,  em seu art. 24, § 2º, veda a participação de cônjuge ou de parente de candidato, consangüíneo ou afim,

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até o terceiro grau, como membro da banca examinadora de concurso público.II - Nada obstante, os autos revelam, in casu, inobservância da proibição, haja vista a participação de parentes consangüíneos de segundo grau, um na condição de candidato e outro na condição de membro da banca examinadora do concurso.II - Uma vez caracterizada a ilegalidade, é poder-dever indeclinável da Administração Pública de anular, de ofício, o ato viciado, na forma prevista no enunciado da Súmula 473 do e. Supremo Tribunal Federal.Agravo regimental desprovido.(AgRg no RMS 24.122⁄DF, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 26.5.2009, DJe 3.8.2009.)

Convém destacar que a mera participação de parentes no concurso dá ensejo

à anulação de todo o certame, ainda que não exista comprovação de favorecimento aos

candidatos ou lesividade à Administração Pública. Trata-se, pois, de uma violação

objetiva aos princípios constitucionais.

O Superior Tribunal de Justiça já assentou essas premissas em elucidativos

acórdãos:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONCURSO PÚBLICO PARA CARGOS DE MÉDICOS DO MUNICÍPIO DE DIADEMA. IRREGULARIDADES APURADAS PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. PARTICIPAÇÃO DE CANDIDATOS QUE POSSUEM VÍNCULOS DE AMIZADE E PARENTESCO COM MEMBROS DA COMISSÃO EXAMINADORA. FAVORECIMENTO PARA APROVAÇÃO NO CERTAME. ACÓRDÃO DEVIDAMENTE FUNDAMENTADO EM PREMISSAS FÁTICAS E SEM OMISSÃO. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 535 DO CPC AFASTADA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7 DO STJ (...)3. As instâncias ordinárias, rebatendo todos os pontos suscitados pelas partes e individualizando a conduta de cada um dos réus, concluíram, do contexto fático-probatório dos autos, que o concurso instaurado para provimento de cargos de médico e afins em caráter efetivo desenvolveu-se com manifesta afronta ao princípio da moralidade pública, considerando que participaram do certame candidatos que possuem vínculos de amizade e parentesco com membros da comissão examinadora. (...)6. Agravo regimental não-provido.(AgRg no REsp 1.053.834⁄SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 5.3.2009, DJe 18.3.2009.)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. NULIDADE DO CONCURSO PÚBLICO PARA CIRURGIÃO DENTISTA DA SECRETARIA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL. EDITAL N.º 09⁄2006. LAÇO DE CONSANGÜINIDADE DE CANDIDATO COM MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 24, § 2o. DO DECRETO 21.688⁄00 DO

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DISTRITO FEDERAL. ANULAÇÃO. NECESSIDADE. OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.1. Segundo o entendimento firmado por esta Corte Superior de Justiça, o ato de anulação promovido pelo Secretário de Estado de Saúde do Distrito Federal, através do edital n.º 19 de 03 de agosto de 2006, publicado no DODF n.º 149 de 4 de agosto de 2006, está consentâneo com os princípios que regem a Administração Pública. Precedentes.2. Agravo regimental desprovido. (AgRg no RMS 24.980⁄DF, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 16.8.2011, DJe 24.8.2011.)

No mesmo sentido, decidiu o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,

analisando hipótese idêntica:

CONCURSO PÚBLICO - APROVAÇÃO DE PARENTES DOS MEMBROS DA COMISSÃO ORGANIZADORA - INDÍCIOS DE FALHAS NO IMPEDIMENTO DA INSCRIÇÃO DESTES - OFENSA AO PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE - CERTAME QUE DEVE SER ANULADO - RECURSO OFICIAL DESPROVIDO - DECISÃO MANTIDA.(1432688 PR 0143268-8, Relator: Ruy Fernando de Oliveira, Data de Julgamento: 25/11/2003, 3ª Câmara Cível, Data de Publicação: 6519, undefined)

De fato, somente a anulação total do concurso poderá tutelar o princípio

constitucional da impessoalidade e salvaguardar o interesse dos candidatos

prejudicados. Além disso, deve-se compelir o MUNICÍPIO DE [...] a executar novo

certame, visando garantir a observâncias às cláusulas do TAC.

III – DA LIMINAR (MEDIDA CAUTELAR)

A liminar consistente na suspensão do concurso é imprescindível, haja

vista a necessidade de impedir que uma ilegalidade demonstrada por provas pré-

constituídas persista até o julgamento final da lide, causando prejuízos irreparáveis ou

de difícil reparação aos candidatos prejudicados e à própria Administração Pública.

Essas circunstâncias configuram, precisamente, os pressupostos exigidos

nos artigos 273 e 461 do Código de Processo Civil, conjugados com o artigo 12 da Lei

n. 7.347, de 1985, in verbis:

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.[...]

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§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.

O deferimento de uma medida liminar necessita da demonstração de dois

inseparáveis requisitos: fumus boni iuris e periculum in mora.

Provas suficientes das alegações – fumus boni iuris – foram alistadas

acima, com os depoimentos e documentos colhidos no decurso do inquérito civil que

embasa essa ação (em anexo). Seguramente, não havia suplentes na comissão do

concurso e membros da comissão tiveram parentes que participaram e foram aprovados

no certame.

O periculum in mora, isto é, o dano irreparável ou de difícil reparação,

deriva da iminência de homologação do concurso e convocação dos candidatos

aprovados, ainda que ilicitamente.

A se admitir essa situação, vários concorrentes serão prejudicados e a

Administração Pública Municipal suportará perdas vultosas, com a convocação, posse e

pagamento de vencimentos irregulares, que posteriormente terá dificuldade para buscar

o ressarcimento. Frise-se que o dano ao patrimônio púbico é evidente e poderá se tornar

irreversível.

Vale destacar que o concurso ainda não foi homologado, permitindo-se a

anulação sem a necessidade de assegurar os princípios do contraditório e da ampla

defesa a todos os participantes interessados. Nesse sentido, o seguinte julgado do

Egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais assevera que tais postulados somente serão

aplicados após a posse dos servidores:

EMENTA: Constitucional e Administrativo. concurso público. anulação pelo prefeito municipal. decreto. servidores. exoneração. processo administrativo. garantias de ampla defesa e de contraditório. ausência. nulidade. segundo a orientação da jurisprudência do supremo tribunal federal, a anulação de concurso público e de atos de nomeação e posse dele decorrentes, com a exoneração dos servidores em exercício, somente é possível após a instauração de processo administrativo, que possibilite defesa efetiva e o contraditório. Recurso não provido. (Apelação Cível / Reexame Necessário N° 1.0003.01.002410-1/001 - Comarca De Abre-Campo - Remetente: Jd Comarca Abre Campo - Apelante(S): Município Abre Campo - Apelado(A)(S): Maria Das Graças De Almeida Barbosa E Outro(A)(S) - Relator: Exmo. Sr. Des. Almeida Melo)

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Logicamente, será necessário instaurar um processo para cada servidor

ilicitamente contratado, assegurando-lhe os direitos constitucionais e tornando todo o

processo mais demorado e intrincado, se não for acolhida a liminar.

Assim, a antecipação de cautelar pleiteada deve ser deferida, mediante

tutela inibitória, impedindo-se o MUNICÍPIO DE JENIPAPO DE MINAS de

homologar e dar posse aos candidatos aprovados, até o deslinde da causa.

IV– CONCLUSÃO

Pelas razões acima expostas, e pelo que consta dos autos dos

procedimentos administrativos anexos, o MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS

GERAIS requer:

1 - Liminarmente, após oitiva prévia do réu MUNICÍPIO DE [...], no

prazo improrrogável de 72h00min, na forma do artigo 2º da Lei n. 8.437, de 1992, seja

determinada a imediata suspensão do concurso público, impedindo-se a homologação e

posse dos candidatos aprovados;

2 - No mérito, seja julgada procedente a ação para anular o Concurso

Público de Jenipapo de Minas e compelir o réu MUNICÍPIO DE [...] a realizar novo

concurso no prazo máximo de 12 (doze) meses, observando-se os mesmos critérios

especificados no TAC;

3 - A citação dos réus para, querendo, contestar a ação no prazo legal;

4 - A juntada dos inquéritos civis, em anexo, aos autos.

5 - A isenção sobre custas, emolumentos, honorários periciais e

quaisquer outras despesas, nem condenação em honorários de advogado, custas e

despesas processuais, nos termos do artigo 18 da Lei n. 7.347, de 1985.

Protesta provar o alegado por todos os meios admitidos em direitos,

especialmente periciais, testemunhais e documentais.

Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para efeitos fiscais

e de alçada.

Nestes termos, pede deferimento.

Local e data.

............................................................Promotor de Justiça

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