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RESUMO: O objetivo do presente artigo é apresentar as atividades desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa 26 da Funadesp, durante o projeto Letramento Acadêmico: da Leitura à Escrita Científica, com base em ideias centrais de Paula Carlino, em sua obra Escribir, leer y aprender en la universidad: una introducción a la alfabetización acadêmica (2009), bem como explicitar algumas etapas de sua metodologia adaptadas e aplicadas a dois alunos bolsistas. Para tanto, inicialmente abordamos os conceitos de letramento e letramento acadêmico e, na sequência, explicamos as estratégias aplicadas aos discentes, suas produções e os resultados de tal trabalho. ABSTRACT: The aim of this paper is to present the activities of the Research Group of 26 Funadesp during the project Academic Literacy: Reading the Scientific Writing, based on core ideas of Paula Carlino, in her work Escribir, leer y aprender en la universidad: una introducción a la alfabetización acadêmica (2009), as well as explain some steps of her methodology adapted and applied to two scholarship students. Therefore, initially we approach the concepts of literacy and academic literacy and, following, explained the strategies applied to students, their productions and the results of such work. LETRAMENTO ACADÊMICO Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instuto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE [email protected] v.6 • n.15 • 2012 • p. 155-172 Clinio Jorge de Souza – Faculdade Anhanguera de Sorocaba ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE Palavras-chave: letramento; leitura, interpretação e produção de textos acadêmicos. Keywords: literacy; reading, interpretation and production of academic texts. Informe Técnico Recebido em: 18/12/2012 Avaliado em: 06/02/2013 Publicado em: 19/05/2014 Da escrita à leitura cienfica

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RESUMO: O objetivo do presente artigo é apresentar as atividades desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa 26 da Funadesp, durante o projeto Letramento Acadêmico: da Leitura à Escrita Científica, com base em ideias centrais de Paula Carlino, em sua obra Escribir, leer y aprender en la universidad: una introducción a la alfabetización acadêmica (2009), bem como explicitar algumas etapas de sua metodologia adaptadas e aplicadas a dois alunos bolsistas. Para tanto, inicialmente abordamos os conceitos de letramento e letramento acadêmico e, na sequência, explicamos as estratégias aplicadas aos discentes, suas produções e os resultados de tal trabalho.

ABSTRACT: The aim of this paper is to present the activities of the Research Group of 26 Funadesp during the project Academic Literacy: Reading the Scientific Writing, based on core ideas of Paula Carlino, in her work Escribir, leer y aprender en la universidad: una introducción a la alfabetización acadêmica (2009), as well as explain some steps of her methodology adapted and applied to two scholarship students. Therefore, initially we approach the concepts of literacy and academic literacy and, following, explained the strategies applied to students, their productions and the results of such work.

LETRAMENTO ACADÊMICO

PublicaçãoAnhanguera Educacional Ltda.

CoordenaçãoInstituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE

CorrespondênciaSistema Anhanguera deRevistas Eletrônicas - [email protected]

v.6 • n.15 • 2012 • p. 155-172

Clinio Jorge de Souza – Faculdade Anhanguera de Sorocaba

AnUáRiO dA pROdUçãO ACAdêMiCA dOCEnTE

Palavras-chave: letramento; leitura, interpretação e produção de textos acadêmicos.

Keywords: literacy; reading, interpretation and production of academic texts.

Informe TécnicoRecebido em: 18/12/2012Avaliado em: 06/02/2013Publicado em: 19/05/2014

Da escrita à leitura científica

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Letramento acadêmico: da escrita à leitura científica

1. INTRODuçãO

A ideia de adotar o tema Letramento Acadêmico: da Leitura à Escrita de Textos Científicos como foco de pesquisa surgiu de uma inquietação comum a todos nós, componentes do Grupo 26. Em nossas atividades como docentes, seja lecionando disciplinas diversas em nossas áreas de atuação, seja orientando alunos da graduação ou da pós-graduação, vínhamos notando, com raras exceções, a falta de vontade de nossos alunos em sala de aula em participar de atividades ligadas à leitura e escrita acadêmicas.

Mesmo quando instados a fazê-lo por quaisquer estratégias metodológicas, acabavam por revelar uma absoluta falta de preparo para ler e interpretar textos científicos, bem como, em decorrência, produzir algo aceitável.

Essa inabilidade do aluno não é recente, há tempo vem gerando entraves ao trabalho do professor de qualquer disciplina em qualquer área do conhecimento, daí o motivo das já conhecidas queixas de que os alunos leem pouco ou nada, não compreendem nada ou, por vezes, mal e vagamente um texto acadêmico. E, o pior, quase sempre, não se interessam pela leitura, nem sequer a das obras constantes da bibliografia de sua área.

Temos ciência de que as dificuldades de nossos alunos no trabalho com textos – tanto de interpretação quanto de produção textual – advêm de problemas relacionados à falta de práticas de leitura e escrita e ao desconhecimento de estratégias que poderiam ajudá-los nessas tarefas, já que tais atividades muitas vezes ficam em segundo plano nas escolas de nível fundamental e médio e pouco são incentivadas em casa. Nossos alunos, como os demais que frequentam faculdades particulares populares, na grande maioria, provêm de escolas públicas e são “trabalhadores-estudantes”.

Não podemos esquecer, porém, que, ao ingressar no nível superior, o acadêmico é apresentado “compulsoriamente” a um novo universo de leituras, pois passa a trabalhar com modalidades textuais e concepções teóricas nunca antes estudadas, o que certamente lhe causa estranhamento e dificuldades de compreensão e produção textual. Os textos acadêmicos – assim como todos os demais gêneros textuais – têm suas regras próprias relacionadas aos modos de dizer e de organizar o discurso (como abordagem temática a estrutura composicional) que não pertencem às práticas de letramento dos alunos antes de estes ingressarem na universidade. Tendo isso em conta, como esperar de nossos alunos proficiência de leitura e escrita de gêneros textuais que nem sequer (re)conhecem? Mais do que simplesmente reclamar da inaptidão dos discentes no trato com textos do universo acadêmico, é preciso nos perguntar o que nós, como professores universitários de todas as áreas, temos feito para minimizar tais dificuldades.

É preciso lembrar também que, como defende Carlino, tornar o aluno competente na leitura, interpretação e escrita não é tarefa apenas de professores de linguagens ou de metodologia, mas um desafio que precisa ser assumido por todos os professores de todas as

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áreas, já que cada disciplina tem particularidades (linhas teóricas, especificidades de leitura e produção – como gráficos.

Tendo isso em conta, no ano de 2012, nosso grupo de pesquisa dedicou-se a investigar metodologias de trabalho com leitura e escrita que pudessem ser aplicadas por professores de todas as áreas do conhecimento no intuito de promover o letramento acadêmico, ou seja, de ajudar os alunos a desenvolver habilidades de trabalho com textos acadêmicos.

Nos estudos de Paula Carlino, em especial na obra Escribir, leer y aprender en la universidad: una introducción a la alfabetización acadêmica (2009), encontramos diferentes propostas de trabalho nessa perspectiva e aplicamos algumas delas a alunos bolsistas, no intuito de verificar quais seriam, na prática, os resultados de tais métodos.

O objetivo principal deste artigo, portanto, é apresentar as metodologias propostas pela autora e aplicadas a nossos acadêmicos, bem como os resultados deste trabalho. Para tanto, inicialmente abordamos os conceitos de letramento e letramento acadêmico, na sequência explicamos as metodologias de Carlino (2009) que aplicamos aos alunos bolsistas, as produções destes e os resultados de tal trabalho. Como explica Carlino, em sua obra (2009), por meio de atividades sistemáticas, leitura e escrita, dirigidas e acompanhadas pelo professor de cada área do conhecimento, os alunos podem conhecer melhor o conteúdo de cada assunto, interpretar, assimilar e incorporar problemas específicos de cada disciplina.

Carlino vem desenvolvendo experiências bem-sucedidas visando a integração da produção e análise de textos no ensino de todas as disciplinas na universidade. Para isso, tem aplicado várias estratégias, tais como o desenvolvimento de sínteses de aulas, tutorias de grupo de monografias, resposta escrita a perguntas sobre a literatura, utilização de guias de leitura, reescrita e revisão. Ela defende a ideia de que a tarefa de ensinar a ler e escrever é também dos docentes de ensino superior de todas as áreas, tendo em vista que cada área tem seus conceitos próprios, autores e teorias que embasam as leituras, discussões implícitas que, se não desveladas ao aluno, dificultam-lhe a compreensão. Também coloca que as universidades precisam oferecer as condições necessárias para um trabalho efetivo nesse sentido.

É preciso ainda ressaltar que, embora a autora use em sua obra (Escribir, leer y aprender en la universidad: una introducción a la alfabetización académica, 2009) o termo alfabetização, ela mesma admite que este costuma significar alfabetização nas séries iniciais restrita ao ler, contar e escrever, e recomenda o uso do termo inglês literacy, muito mais abrangente, pois diz respeito à vida toda da pessoa sempre em aprendizagem, compreendendo a aquisição de todo capital cultural do aprendente.

Felizmente, conforme Soares (2004, p. 16), em nosso idioma, literacy foi traduzido por letramento, havendo uma diferença significativa entre alfabetização, “entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema da escrita, alfabético e ortográfico” e letramento, pela

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Letramento acadêmico: da escrita à leitura científica

autora conceituado como exercício contínuo de leitura e de escrita, com o “consequente desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, e de atitudes positivas em relação a essas práticas.”A autora entende que um efetivo letramento teria de começar nas séries iniciais. Mas não é isso que acontece. Assim, em nosso texto, preferimos usar o termo letramento.

2. LETRAMENTO, uMA bREvE INTRODuçãO TEóRICA

Letramento é palavra e conceito até pouco tempo inéditos. Foram introduzidos no vocabulário da educação e dos estudos em linguagem há pouco mais de vinte anos (SOARES, 2004). O surgimento do vocábulo pode ser entendido como configuração necessária para nomear comportamentos sociais no ato de aprendizagem e da prática da leitura e da escrita que extrapolam os procedimentos de decodificação do sistema alfabético e ortográfico, em outras palavras, os procedimentos habituais do processo de alfabetização.

Com a especialização do trabalho, processo inerente ao sistema capitalista, as atividades profissionais foram tornando-se progressivamente dependentes da linguagem escrita. Alfabetizar no sentido tradicional foi tornando-se cada vez mais obsoleto. Já os comportamentos e práticas sociais de leitura e escrita foram tornando-se cada vez mais visíveis e, foi esta visibilidade que promoveu a necessidade de um novo significante no universo educativo e da linguagem. Numa perspectiva histórica, primeiramente surgiu o termo “alfabetização funcional” com o objetivo de diferenciar do termo “alfabetizar”: como algo que ia além do codificar e decodificar o sistema alfabético. Foi neste contexto histórico que o termo “letramento” surgiu - como uma consequência de uma necessidade e não como proposta pró-ativa. Portanto, o termo “letramento” tem sua origem explicada numa tentativa de ampliação do conceito de alfabetização; letramento e alfabetização são conceitos a priori entendidos como distintos, mas nem sempre em nível de processos foram compreendidos em plenitude: muito das vezes confundidos ou até mesmo tornados num único procedimento educativo da língua escrita.

Em termos de conceito geral poderiam até tornar-se semelhantes, no entanto em termos pedagógicos faz-se necessário pontuar suas zonas limítrofes: alfabetização é a aquisição do sistema convencional de escrita enquanto letramento é nomeação que se dá às práticas e comportamentos sociais no uso da leitura e da escrita de maneira eficiente. Segundo Soares (2004) alfabetização e letramento “distinguem-se tanto em relação aos objetos de conhecimento quanto em relação aos processos cognitivos e linguísticos de aprendizagem e, portanto, também de ensino desses diferentes objetos” (SOARES, 2004, p. 2). Para esta autora, alfabetização e letramento, apesar de distintos, são interdependentes e indissociáveis. Apenas faz sentido alfabetizar no contexto de práticas sociais de leitura e de escrita e por meio dessas práticas, as quais nomeamos contemporaneamente de letramento; entretanto, este somente pode

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desenvolver-se por meio do processo ensino-aprendizagem do sistema da escrita – que por sua vez se dá através da leitura, codificação e decodificação do sistema alfabético.

3. LETRAMENTO E LETRAMENTO ACADÊMICO

Antes de tudo, indaga-se: o que é letramento acadêmico? De forma direta podemos afirmar que é um dos tipos de letramento. De acordo com Fischer (2008) o letramento acadêmico é a “fluência em formas particulares de pensar, ser, fazer, ler e escrever, muitas das quais são peculiares a um contexto social” (FISCHER, 2008, p. 180). O letramento acadêmico é também, como no letramento nos níveis escolares de base, um processo de desenvolvimento de práticas e comportamentos sociais que interagem continuamente com a escrita, porém se dá para fins específicos daquele domínio social sem desconsiderar a história de vida do aluno universitário: mesmo quando oriundo de estratos sociais menos privilegiados o estudante não pode ser concebido na esfera universitária como um aluno iletrado. Na Universidade, mesmo nesta que reúne as massas populares, a relação comunitária – professores, alunos e funcionários – é tipificada por letrados. O que se deve saber é que tipo de letramento esse aluno formado nos bancos das escolas públicas brasileiras recebeu ao longo de seu percurso educativo.

Cada indivíduo ou grupo social possui algum tipo de conhecimento sobre a escrita bem como de seu uso em práticas sociais. Assim sendo, os alunos que ingressam na Universidade, acima de tudo são sujeitos e, além disto são sujeitos letrados que trazem consigo concepções de leitura e escrita construídas numa vida submetida a um contexto social. Porém, apesar de letrados não conseguem apresentar bom desempenho na Universidade, ou quando conseguem tal performance inesperada para muitos, esta é justificada pela máxima de que “o professor finge que ensina, o aluno finge que aprende, e todos são felizes”. Em outros dizeres, trabalha-se com conteúdos rasos e avaliações desonestas. Pergunta-se: ora, então qual o real problema desse aluno “letrado”?

A resposta talvez esteja nos modelos básicos de letramento apresentados por Street (1984). São eles o letramento autônomo e o letramento ideológico. No primeiro modelo pressupõe-se que a escrita se desenvolve de forma independente dos fatores sociais que circundam o sujeito, é a capacidade de ler e escrever tecnicamente, de forma fria e imparcial, um modelo endógeno de desenvolvimento, que se desenvolve em si, por si e para si sem vinculação com fatores exteriores. É a capacidade de ler e escrever em que ler significa ser capaz de decodificar as palavras e escrever ser capaz de codificar a língua em representação visual (GEE, 1996). Naturalmente nota-se que os alunos oriundos da escola pública brasileira, e que hoje sentam-se nos bancos das faculdades particulares de massas, receberam estes modelo de letramento, onde o ler resume-se no estou vendo e o escrever no estou copiando.

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No segundo modelo o letramento é concebido como uma prática social e não como uma habilidade neutra ou uma técnica desenvolvida por repetições esvaziadas de sentido social crítico. Neste modelo o letramento do aprendiz está vinculado ao seu contexto social e cultural – ou como quer Norbert Elias (1994), sócio-cultural. A relação ensino-aprendizagem se dá através de significados atribuídos ao contexto sócio-cultural que circuncida os atores sujeitos da relação. Para Terzi (2006), a opção pelo letramento ideológico exige “não apenas ensinar a tecnologia da escrita, ou seja, promover a alfabetização, mas, simultaneamente, oferecer-lhes a oportunidade de entender as situações sociais de interação que têm o texto escrito como parte constitutiva” (TERZI, 2006, p. 5). Em suma, a autora quer dizer que é necessário usar o ensino em situações cotidianas tornando o aluno um cidadão crítico - além desta conquista, a criticidade do sujeito promove os estímulos cognitivos; o educador atua como um facilitador da aprendizagem.

Porém, a realidade dos alunos oriundos das escolas públicas corresponde ao primeiro modelo: apesar de letrados (ou alfabetizados) – reconhecem práticas sociais cotidianas, como função de revistas, jornais, bilhetes, cheques, cartões bancários, e-mails, páginas de redes sociais, internet, jogos, etc. –, não receberam uma concepção de letramento compatível ou suficiente para as práticas letradas do domínio acadêmico. Para Machado, Louzada e Abreu-Tardelli (2004) esses alunos se percebem num novo contexto onde de repente são submetidos a obrigações de leitura e de produção de textos que não lhes foram ensinados nos anos escolares; o letramento que receberam ao longo da vida não considera a escrita como prática social, na verdade apenas foram alfabetizados e, muito das vezes, com falhas funcionais graves como erros ortográficos simples.

Portanto, o que fazer com tal realidade? Trabalhar com o letramento acadêmico é nossa proposta. O letramento acadêmico enquanto uma das modalidades de letramento, encaixa-se no modelo ideológico apresentado por Street (1984), ou no modelo expresso de Soares (2004). No entanto, o contexto é distinto da realidade escolar; o domínio acadêmico é próprio de sua história, logo não é caminho salutar querer inverter a ordem institucional, ou alterar profundamente o ambiente acadêmico colocando-o à mercê dos estudantes em suas realidades vividas. O estudante está adentrando um contexto de domínio próprio, logo, é ele quem deve se adaptar, mas isto não significa que não deva haver facilitadores no processo de aprendizagem de um novo Discurso, o Discurso acadêmico. Quando a tenra criança deixa sua casa e ingressa nos anos iniciais do ensino infantil depara com um contexto de socialização profundamente distinto de sua realidade doméstica; fazer parte daquele novo ambiente é fundamental para o seu desenvolvimento. Carlino (2009) nos diz que estudantes e professores habitam mundos culturalmente distintos. Os códigos que os professores manejam são diferentes dos códigos dos alunos, bem como são os modos de proceder com o conhecimento, de ler e escrever. As palavras e os modos de ser são em si um

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produto de toda uma história de socialização do professor com sua disciplina (CARLINO, 2009, p. 161); isto não pode ser alterado. Mas, algo deve ser feito e nos parece que a solução é a interação e a articulação de várias metodologias de ensino.

4. METODOLOgIA

Buscamos, primeiro, familiarizar os pesquisadores com a nova metodologia de leitura, interpretação e produção de textos acadêmicos em sala de aula, para facilitar aos bolsistas a aquisição da competência de ler, compreender e redigir textos científicos com coesão e coerência. Nossa metodologia consistiu em pesquisa bibliográfica com estudo de caso e aplicação de fichas de leitura, prescritas por Carlino (2009) e adaptadas para um ou dois textos constantes da bibliografia de cada aluno bolsista (IC), respostas, resumo e artigo final.

 

 

Figura 1 – Ficha de perguntas elaborada por Carlino (2009, p. 103)

  FACULDADE  ANHANGUERA  DE  SÃO  JOSÉ  -­‐  SC    PROFESSORA  CRISTIANE  PIMENTEL  NEDER    

BOLSISTA:  Flávio  Francisco  da  Rosa    OBRA:   CALAZANS,   Flávio  Mário   de   Alcântara.   Propaganda   Subliminar  Multimídia  6  ed.  São  Paulo:  Summus,  1992.  1)  Qual  o  objeto  de  estudo  do  livro?  2)  Quais   foram  às  primeiras  experiências   subliminares  que  o  autor  nos  fala  no  livro?  3)  Em  quais  campos  de  pesquisa  se  insere  o  livro?  4)   Quais   as   técnicas   usadas   para   transmitir   informações   subliminares  relatadas  no  livro?  5)   Qual   foi   a   primeira   experiência   de   propaganda   subliminar   relatada  na  obra?  6)  O  que  você  destaca  como  produto  final  desta  análise?    

Figura 2 – Ficha de perguntas adaptada pela Professora Neder

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Letramento acadêmico: da escrita à leitura científica

Figura 2 – Ficha de perguntas adaptada pela Professora Neder

  ALUNO:  Flávio  Francisco  da  Rosa.    OBRA:   CALAZANS,   Flávio   Mário   de   Alcântara.   –   Propaganda   Subliminar   Multimídia   6ª   ed.   São  Paulo:  Summus,  1992.  1)  Qual  o  objeto  de  estudo  do  livro?  O  objeto  de  estudo  consiste  na  análise  de  mensagens  subliminares,  entendendo  subliminar  como  transmissão  de  mensagens  não  percebidas  de  modo  consciente.  Subliminares,  segundo  Calazans,  “são  mensagens  que  entram  na  nossa  mente  de  contrabando,como  um  vírus  de  computador  que  fica  inerte,  latente,  e  só  é  ativado  na  hora  certa”  (1992,  p.  25).  Isso  significa  que,  embora  não  possamos  identificar  a  absorção  da  informação,  nosso  subconsciente  capta-­‐a  e  ela  é  assimilada  sem  nenhuma  barreira  consciente.  2)  Quais  foram  às  primeiras  experiências  subliminares  que  o  autor  nos  fala  no  livro?  Segundo  Calazans  (1992),  as  primeiras  referências  à  percepção  subliminar  remontam  aos  escritos  de  Demócrito  (400  a.C.),  que  afirmava  que  muito  do  que  é  perceptível  não  é  claramente  percebido.  Platão,  no  Timeu,   teria  aprofundado  esse  conceito  e  Aristóteles  detalhado  o  mesmo  conceito  na  sua  teoria  dos  umbrais  da  consciência  na  obra  Persa  Naturalia,  há  cerca  de  dois  mil  anos.  Entre  incontáveis  exemplos,  Calazans  (1992)  cita  Montaigne  em  1580  e  Leibniz  em  1698,  que  afirmavam  existirem  inumeráveis  percepções  praticamente  inadvertidas,  mas  que  se  tornam  óbvias  por  meio  de  suas  consequências.  3)  Em  quais  campos  de  pesquisa  se  insere  o  livro?  Insere-­‐se  no  campo  da  comunicação  e,  em  especial,  o  da  propaganda  e  da  publicidade.    4)  Quais  as  técnicas  usadas  para  transmitir  informações  subliminares  relatadas  no  livro?  Segundo  estudiosos  do  assunto,  há  quatro  técnicas  audiovisuais  por  meio  das  quais  a  informação  subliminar  pode  ser  transmitida,  e  que  aparecem  frequentemente  na  mídia  e  publicidade.  As  categorias  básicas,  que  podem  sobrepor-­‐se  umas  às  outras,  são:  1.  Inversão  de  figura/fundo  (ilusões  sincréticas);  2.  Embutir  (imagens/textos);  4.  Exposição  taquiscoscópica;  5.  Luz  em  baixa  intensidade  e  som  em  baixo  volume.  5)  Qual  foi  a  primeira  experiência  de  propaganda  subliminar  relatada  na  obra?  Foi  chamada  de  Experimento  Vicarista.  Nos  Estados  Unidos,  em  1956,  Jim  Vicary  instalou  em  um  cinema  de  Nova  Jersey  um  segundo  projetor  especial,  chamado  taquicógrafo,  o  qual  projetava  intermitentemente  na  tela  frases  como  DRINK  COKE  (beba  Coca-­‐Cola)  e  EAT  POP  CORN  (Coma  Pipoca).  O  taquicógrafo  pode  ser  comparado  a  um  tipo  de  projetor  de  slides  que  projeta  um  único  slide  na  velocidade  de  1/3.000  de  segundo.  No  cinema  é  colocado  ao  lado  do  projetor  do  filme  -­‐  cuja  projeção  é  ao  ritmo  de  24  fotogramas  por  segundo  -­‐  e  fica  repetindo  a  imagem  (sobreposta  ao  filme).  Durante  o  filme  Picnic,  com  Kim  Novac,  no  Brasil,  Férias  de  Amor,  o  segundo  projetor  emitia  um  slide  com  a  frase  Drink  Coke  numa  velocidade  de  1/3.000  de  segundo.  O  slide  era  projetado  sobreposto  ao  filme,  rápido  demais  para  ser  percebido  conscientemente,  mas  a  repetição  do  sinal  subliminar  causava  efeitos  no  subconsciente  do  público,  aumentando  as  vendas  da  Coca-­‐Cola  em  57,7%.  6)  O  que  você  destaca  como  produto  final  desta  análise?  A  mensagem  subliminar  na  propaganda,  se  utilizada  de  forma  eficiente,  pode  aumentar  a  disposição  de  compra  ou  afeição  pelo  produto.  O  método  mais  adequado  para  persuadir  e  criar  intenções  de  compra  ou  afeição  pelo  produto  através  deste  tipo  de  condicionamento,  especificamente,  é  embutir  nos  anúncios,  subliminarmente,  estímulos  que  eliciem  respostas  emocionais  agradáveis  e  generalizadas.  Isto  funciona  como  um  emparelhamento  e  pode  fazer  com  que  o  produto  se  torne  um  estímulo  condicionado  de  ordem  superior  para  eliciar,  em  algum  grau,  respostas  emocionais  agradáveis,  mas  não  capaz  de  eliciar,  sozinha,  o  comportamento  de  compra  ou  mudança  de  opinião.  Desse  modo,  estamos  sujeitos  a  estímulos  que  não  podemos  descrever  e,  portanto,  não  podemos  contestar  ou  analisar  de  forma  racional.  Tudo  parece  apontar  para  a  conclusão  de  que  a  forma  pela  qual  se  dá  a  recepção  da  mensagem  e  a  intencionalidade  da  propaganda  subliminar  são  atitudes  antiéticas,  por  vincular  dissimuladamente,  por  meio  de  uma  confusão  simbólica,  atributos  emocionais  a  produtos  e  marcas.  Entretanto,  esta  seria  uma  afirmação  precipitada  e  ainda  carente  de  embasamento  empírico  e  teórico.  Faz-­‐se  necessário  ainda  um  estudo  sobre  as  formas  pelas  quais  a  propaganda  subliminar  afeta  outros  tipos  de  condicionamentos  e  aprendizados  humanos.  Só  depois  de  estabelecido  um  alicerce  científico  consistente  sobre  estas  questões  é  que  poderemos  discutir  se  o  uso  da  propaganda  subliminar  fere,  realmente,  o  consumidor.     Figura 3 – Respostas do aluno Flávio Francisco da Rosa

Na prática, cada professor pesquisador elaborou estratégias de leitura/interpretação e escrita adequadas à sua área de atuação e à do orientando, com base nas obras constantes da bibliografia.

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A Professora Cristiane Pimentel Neder orientou o aluno bolsista Flávio Francisco da Rosa, no projeto O Conceito de um Blog Publicitário e a Linguagem de Persuasão para Atingir o Público-Alvo. Depois de acompanhar a leitura do aluno, tirando dúvidas e debatendo a respeito da possível utilização dos conceitos dos autores, escolheu a obra de e Calazans (1992), constante da bibliografia. Em seguida, com base na ficha (guia de leitura) elaborada por Carlino (Figura 1), Neder adaptou-a (ficha de perguntas - Figura 2), respondidas pelo aluno (Figura 3). Na metodologia de Carlino (2009) a leitura acompanhada, guias de leitura, respostas do aluno, correções e resumo da obra fazem parte de uma etapa denominada Elaboração Rotativa de Sínteses de Classe, que consiste basicamente em retirar do texto os conceitos principais do autor, a partir da leitura conjunta do com o aluno, ou seja, o professor aplica estratégias didáticas para a leitura e compreensão do texto acadêmico escolhido. Esta etapa destina-se à elaboração de sínteses de aulas e obras. Nela o professor elabora um pequeno resumo do texto (Figura 4) e, após a leitura, o aluno seleciona os conceitos mais importantes, leva-os ao professor, é orientado com base nas respostas dadas e, depois das correções e sugestões, redige sua própria síntese (Figura 5).

 

 Figura 4 – Ficha de resumo elaborada por Carlino (2009, p. 98)

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Letramento acadêmico: da escrita à leitura científica

  ALUNO:  Flávio  Francisco  da  Rosa                                                                                                                                                                            PÁGINA  1    OBRA:  CALAZANS,  Flávio  Mário  de  Alcântara.  Propaganda  Subliminar  Multimídia.  6  ed.  São  Paulo:  Summus,  1992.  

1.1  Objetivo  Geral    

No  livro  Propaganda  Subliminar,  Calazans  (1992)  apresenta  as  noções  básicas  do  que  é  propaganda  subliminar  e  nos  fornece  um  histórico  das  primeiras  experiências  nesse  tipo  de  propaganda,  que  emprega  informações  dissimuladas  e  fala  diretamente  ao  inconsciente  do  público.  Seu  objetivo  é  o  de  analisar  os  principais  recursos  e  linguagens  empregados  na  época  e  as  diferentes  consequências,  para  o  indivíduo  e  a  sociedade,  a  curto  e  longo  prazo.  O  livro  traz  estudos  sobre  o  potencial  de  manipulação  que  a  propaganda  subliminar  causa  nas  massas  e  seu  possível  uso  político  para  dominação,  que  têm  relevância,  evitando  que,  historicamente,  não  sejam  repetidas  novas  experiências  de  propaganda  subliminar  na  mente  das  pessoas,  para  que  cada  um  possa  avaliar  qualquer  propaganda  e  tirar  suas  conclusões  sobre  seus  efeitos  subliminares  ou  não.    O  autor  nos  mostra  como  o  desenvolvimento  de  novas  tecnologias  possibilitou  uma  vasta  gama  de  novos  recursos  subliminares,  abrangendo  áreas  da  percepção  e  da  comunicação.    Nesse  sentido,  objetivou-­‐se  analisar  quanto  as  novas  tecnologias  da  comunicação  podem  ser  ‘’armas’’  de  dominação  e  quanto  imune  estamos  às  propagandas  subliminares  e  seus  efeitos,  com  base  na  teoria  de  Calazans  sobre  tal  tipo  de  propaganda,  que  persuade  inconscientemente  as  pessoas.  Trabalhando  no  subconsciente  do  receptor,  dá-­‐se  o  nome  de  mensagem  ou  propaganda  subliminar  a  toda  aquela  transmitida  em  baixo  nível  de  percepção,  tanto  auditiva  quanto  visual.  Embora  não  possamos  identificar  esta  absorção  da  informação,  nosso  subconsciente  a  capta  e  ela  é  assimilada  sem  nenhuma  barreira  consciente,  e  a  aceitamos  como  se  tivéssemos  sido  hipnotizados.  O  autor  mostra  como  estas  propagandas  interferem,  condicionam  e  influenciam  nas  nossas  decisões  de  consumo,  enfim  suas  reações.    

1.2  Objetivos  Secundários    

Demonstrar  que  a  propaganda  subliminar  pode  ser  usada  em  todos  os  meios  de  comunicação  e  atingir  qualquer  pessoa,  assim  como  provam  estudos  psicológicos  referidos  pelo  autor  dentro  do  livro.  Estes  estudos  mostram  que  a  mensagem  subliminar,  como  qualquer  estímulo  produzido  abaixo  do  limiar  da  consciência,  produz  efeitos  na  atividade  psíquica  ou  mental.  Calazans  nos  mostra  que  as  mensagens  ou  propagandas  subliminares  são  veiculadas  nos  mais  diversos  canais  comunicacionais  como  TV,  cinema,  rádio,  histórias  em  quadrinhos,  revistas,  jogos  RPG,  fliperamas,  videogames,  assim  como  em  músicas,  programas  de  informática,  teatro,  jornais,  outdoors,  embalagens,  bonecas,  vitrines  e  outros.  Um  dos  problemas  desta  propaganda  é  que  ela  fere  as  normas  de  livre  arbítrio  do  consumidor,  pois  não  dão  opção  de  escolha  no  caso  de  produto  ou  no  caso  político,  mais  grave  ainda,  pois  manipula  ideologicamente  a  população,  levando  ao  poder  um  político  ‘’maquiado’’  pelo  subliminar.  Entender  as  razões  do  uso  dessa  propaganda  e  suas  consequências  é  muito  importante.  

2  Hipótese    

Flávio  Calazans,  no  livro  Propaganda  Subliminar  Multimídia,  demonstra  que,  embora  estejamos  vivendo  um  novo  momento  da  comunicação,  cada  vez  mais  cibernética,  mesmo  sendo  um  momento  de  releitura  dos  meios,  globalizados  e  informatizados,  não  se  divorciaram  das  práticas  antigas  de  manipulação  e  dominação,  inovando  no  formato,  na  estrutura  e  na  abrangência  do  envio  da  sua  mensagem,  mas  preservando  suas  características  como  elemento  de  poder  psicológico  ou  político.  Esse  momento,  agora  bem  mais  atualizado,  implica  a  necessidade  de  conhecer  as  novas  mídias  e  suas  peculiaridades.  Sua  na  ideia  é  a  de  que  todos  veem,  mas  ainda  não  enxergam  a  real  intenção  da  comunicação  de  uma  forma  mais  aprofundada.  Assim,  o  autor  se  propõe  a  levar  informações,  indispensáveis  hoje,  para  entender  os  processos  comunicativos  em  todas  as  áreas.  Objetiva,  pois,  instrumentalizar  o  leitor  para  que  tenha  condições  de  entender  os  processos  comunicativos  se  assim  desejar.  Segundo  a  sua  hipótese,  toda  mensagem  subliminar  tem  um  determinado  grau  de  persuasão,  e  pode  vir  a  influenciar  tanto  as  vontades  de  uma  forma  imediata  (fazendo,  por  exemplo,  uma  pessoa  sentir  vontade  de  beber  ou  comer  algo),  como  até  mesmo  a  personalidade  ou  gostos  pessoais  de  um  receptor  a  longo  prazo  (mudando  o  seu  comportamento,  transformando  uma  pessoa  tímida  em  extrovertida).  Esse  grau  de  persuasão  deve  variar  de  acordo  com  o  tempo  de  exposição  à  mensagem  e  a  personalidade  do  receptor.      

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  ALUNO:  Flávio  Francisco  da  Rosa                                                                                                                                                                                  PÁGINA  2    3  Ideias-­‐Chave  do  Autor  

Ele  expõe  artigos  antigos,  ideias  de  que  a  publicidade  subliminar  já  acontecia  em  diversas  formas  e  plataformas.  Aproveita  o  embasamento  desses  casos  e  apresenta  possibilidades  de  criação  e  até  interpretação  por  parte  do  público  que  é  entendedor  das  novas  mídias  sociais  e  que  elas  podem  os  efeitos  sofrer  da  mágica  subliminar  da  propaganda.  Traça  um  panorama  das  tecnologias  audiovisuais  midiáticas  que  podem  ter  por  objetivo  a  transmissão  de  mensagens  contendo  estimulação  subliminar,  cuja  signagem,  devido  ao  tempo  de  exposição,  ritmo,  sobreposição  ou  distribuição  cromática  espacial  em  escala,  encontra-­‐se  dissimulada,  impossibilitando  uma  leitura  consciente  por  parte  do  receptor.  Relata  na  obra  pesquisas  das  universidades  para  afetar  a  nós,  cidadãos-­‐eleitores-­‐consumidores,  em  1959,  quando  o  publicitário  Jim  Vicary  coloca  um  taquicoscópio  (projetor  de  slides,  nome  cuja  origem  vem  de  táquios,  velozes,  como  o  estroboscópio  anteriormente  criado)  no  filme  Picnic,  estrelado  por  Kim  Novak,  projetando  frases  (como  ''drink  Coke'')  em  uma  velocidade  de  1/3000  de  segundo,  imperceptíveis  pela  consciência,  aumentando  assim  as  vendas  do  refrigerante.  Tal  experimento  foi  denominado  Experimento  Vicarista.  

4  Síntese  das  Partes  e  Capítulos    

O  livro  está  organizado  em  quatro  partes.  A  primeira  apresenta  a  proposta  nova  de  ler  a  comunicação,  mas  com  o  devido  entendimento  teórico.  O  autor  fornece  um  panorama  da  comunicação  mais  antiga  e  sua  funcionalidade  quanto  à  aplicação  da  propaganda  subliminar  para  a  determinada  época.  Na  segunda  parte,  é  aplicada  a  teoria  primária  da  comunicação  e  suas  artimanhas.  Diversos  trabalhos  e  “cases”  são  apresentados  a  fim  de  embasar  o  leitor  para  contextualizar.  Ainda  informar  que  já  se  pensava  em  comunicação  massiva  com  interesses  diversos,  mesmo  naquela  época.  Na  terceira  parte  é  aplicada  a  teoria  do  autor  através  dos  diversos  estudos  de  caso  que  ele  apresenta  durante  sua  jornada  no  livro.  A  quarta  parte  apresenta  as  considerações  finais  do  autor.  O  ponto  chave  do  livro  é  a  abordagem  das  tecnologias  de  manipulação  subliminar.  Calazans  ensina  a  identificar  essas  tecnologias  para  que  o  consumidor  e  o  cidadão  possam  ter  uma  autodefesa  eficiente  contra  elas.  

5  Conclusões)  do  Autor  Flávio  Calazans,  por  meio  da  apresentação  das  teorias  e  trabalhos  expostos  em  seu  livro,  nos  dá  o  panorama  de  poucos  estudos  quanto  ao  uso  do  subliminar  nos  trabalhos  de  comunicação.  Também  apresenta  outras  formas  de  verificar  o  subliminar  de  forma  psicológica  através  de  alguns  estudos  de  Freud  (psicologia  analítica),  ou  até  mesmo  dentro  de  uma  avalanche  de  informações,  que  segundo  Key,  quanto  maior  for  a  quantidade  de  informação  enviada  no  menor  intervalo  de  tempo  por  um  mecanismo  de  defesa  psíquico,  o  excedente  ficará  subliminar,  ou  o  fenômeno  chamado  “efeito  McLuhan”.  Apresenta  ainda  um  otimismo  em  relação  a  futuros  estudos  contemplando  a  subliminaridade  na  comunicação.  Deixa  claro  que  a  propaganda  subliminar,  transmitida  repetidas  vezes,  fala  diretamente  ao  inconsciente  do  público,  influenciando  as  escolhas,  atitudes  e  motiva  a  tomada  de  decisões,  assim  manipulando  comportamentos  e  ferindo  a  ética  e  a  cidadania.  

6  Impressão  Pessoal  do  Aluno    

O  livro  é  permeado  de  trabalhos  científicos,  estudos  psicológicos,  constatações  do  mercado  publicitário  antigo  e  possibilidades  de  interação  entre  fontes  de  estudo.  O  autor  vai  sempre  direto  ao  ponto,  discutindo  possibilidades,  apresentando  casos  e  expondo  suas  ideias.  Os  capítulos  são  autoexplicativos,  de  fácil  entendimento  quanto  aos  artigos  apresentados  no  começo  da  obra.  A  leitura  instiga  a  pensar  sobre  toda  a  forma  de  produzir  propaganda,  suas  intenções  e  artimanhas.  Também  deixa  claro  ser  preciso  continuar  a  pensar  no  estudo  do  subliminar,  uma  vez  que  as  teorias  são  ultrapassadas  e  pouco  discutidas  hoje  em  dia.  O  livro  começa  com  a  seguinte  citação:  “Para  aqueles  que  ignoram  a  existência  dos  subliminares  e  que  vivem  felizes  e  inocentes”.  É  difícil  falar  de  publicidade  subliminar,  porque,  de  início,  achamo-­‐la  algo  surreal,  ou  alienação  de  pessoas  fissuradas  em  ficção.  No  entanto,  ao  ler  Propaganda  subliminar  e  multimídia,  deparamos  com  pesquisas  científicas  comprovadas  que  provam  que  uma  propaganda  em  um  cinema  ou  até  mesmo  as  palavras  bem  centradas  de  um  político  pode  conter  bem  mais  do  que  os  nossos  olhos  podem  ver.  Refazendo  o  começo  o  meio  e  o  fim,  Flávio  Callazans  mostra  o  perigo  das  mensagens  subliminares  por  quadrinhos,  filmes  e  propagandas  e  propõe  como  entendê-­‐las  e  como  reagir  face  a  esse  domínio  inconsciente  que  acaba  decidindo  nossos  atos  mais  instintivos.  Propaganda  subliminar  na  multimídia  é  um  livro  muito  esclarecedor,  que  não  cai  no  erro  de  mostrar  só  uma  análise  da  propaganda  subliminar  para  quem  está  familiarizado  com  a  área  de  publicidade,  mas  de  maneira  em  geral,  explicando  o  quanto  estamos  à  mercê  do  nosso  inconsciente  e  da  fúria  do  excesso  de  informações  que  recebemos  todos  os  dias.  Assim,  este  livro  é  uma  ótima  referência  para  profissionais  e  estudantes  de  comunicação,  psicologia,  sociologia  e,  curiosos,  pois  sana  a  curiosidade  sobre  a  propaganda  subliminar  e  traz  novos  conhecimentos  sobre  a  questão.       Figura 5 –Resumo elaborado pelo aluno Flávio Francisco Rosa

O Professor Jaeder orientou o aluno Kelvin Roger Martello Rodrigues no projeto Estratégia e Vantagem Competitiva: Um Estudo de Michael Porter. Jaeder elaborou sua guia de leitura (Figura 7), solicitando respostas sobre duas obras da bibliografia do aluno (Figura 8), conforme o modelo de Carlino (Figura 6). Com base na leitura e respostas, o aluno elaborou o resumo (Figura 9).

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Letramento acadêmico: da escrita à leitura científica

 

 

Figura 6 – Guia de Leitura de duas obras elaborada por Carlino (2009, p. 103)

 FACULDADE  ANHANGUERA  DE  RIBEIRÃO  PRETO  –  SP  

PROFESSOR  JAEDER  FERNANDES  CUNHA    ALUNO:  Kelvin  Roger  Martello  Rodrigues  SÉRIE:  4º  Semestre  BIBLIOGRAFIA  PARA  ANÁLISE  Porter,  Michael  E.  Vantagem  Competitiva:  Criando  e  Sustentando  um  Desempenho  Superior.  11  ed.  Rio  de  Janeiro:  Campus,  1989.  Porter,  Michael  E.    A  Vantagem  Competitiva  das  Nações.  11  ed.  Rio  de  Janeiro:  Campus,  1993.  1  -­‐  Qual  o  objeto  de  estudo  de  cada  livro  do  nosso  autor  acima  elencado  (Michael  E.  Porter)?  2  -­‐  De  onde  o  autor  “fala”  (“país,  centro  ou  periferia?”;  “ideologia,  campo  de  pesquisa”  etc.)?  3  -­‐  Quais  os  campos  de  pesquisa  que  se  insere  cada  livro?  4  -­‐  Em  que  consiste  os  conceitos-­‐chaves  de  cada  livro?  5  -­‐  Quais  são  as  conclusões  do  autor  em  cada  livro?    

Figura 7– Guia de Leitura de duas obras adaptada pelo Professor Jaeder

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  ALUNO:  Kelvin  Roger  Martello  Rodrigues                                                                                                                                                                          PÁGINA  1  SÉRIE:  4º  Semestre  BIBLIOGRAFIA  PARA  ANÁLISE  Porter,  Michael  E.  Vantagem  Competitiva:  Criando  e  Sustentando  um  Desempenho  Superior.  11ª  edição.  Rio  de  Janeiro:  Editora  Campus,  1989.  Porter,  Michael  E.    A  Vantagem  Competitiva  Das  Nações.  11ª  edição.  Rio  de  Janeiro:  Editora  Campus,  1993.  1  -­‐  Qual  o  objeto  de  estudo  de  cada  livro  do  nosso  autor  acima  elencados  (Michael  E.  Porter)?  Em  seu  primeiro  livro  a  “Vantagem  Competitiva  Criando  e  Sustentando  um  Desempenho  Superior”  seu  objeto  de  estudo  consiste  na  Cadeia  de  Valores,  essa  ajuda  a  analisar  as  atividades  particulares  através  das  quais  as  empresas  podem  criar  e  sustentar  a  vantagem  competitiva,  a  empresa  é  representada  como  uma  cadeia  de  atividades,  criadoras  de  valor.  O  modelo  resultante  é  conhecido  como  a  cadeia  de  valor  onde  Porter  identificou  atividades  primárias  e  de  apoio.    Além  disso,  Michael  E.  Porter  aborda  a  Estratégia  Competitiva  Genérica,  sendo  o  custo,  a  diferenciação  e  enfoque  que  podem  ser  usadas  individualmente  ou  em  conjunto  para  criar  uma  posição  sustentável  em  longo  prazo  e  por  fim  o  autor  aborda  o  modelo  de  Cinco  Forças  que  se  destina  à  análise  da  competição  entre  empresas.  Considera  cinco  "forças"  competitivas,  que  devem  ser  estudados  para  que  se  possa  desenvolver  uma  estratégia  empresarial  eficiente,  sendo  elas:  rivalidades  entre  concorrentes,  poder  de  negociação  dos  fornecedores,  poder  de  negociação  dos  compradores,  ameças  de  novos  entrantes,  ameaça  de  substitutos.  Em  seu  segundo  livro  “A  Vantagem  Competitiva  das  Nações”  seu  objeto  de  estudo  consiste  nos  determinantes  da  vantagem  competitiva  nacional,  onde  Porter  desenvolveu  o  modelo  de  Diamante  para  expandir  a  análise  estratégica  da  competitividade  de  países  ou  de  regiões.  O  Modelo  de  Diamante  de  Porter  enfatiza  os  determinantes  da  vantagem  competitiva  nacional.  Eles  são  agrupados  em  quatro  categorias  ou  atributos,  a  saber:  (1)  condições  de  fatores,  (2)  condições  de  demanda,  (3)  indústrias  correlatas  e  de  apoio,  (4)  estratégia,  estrutura  e  rivalidade  das  empresas.  Porter  também  descreve  o  papel  de  aspectos  complementares  aos  quatro  determinantes  da  vantagem  competitiva,  os  quais  são  categorizados  pelo  autor  em  dois  grupos.  O  primeiro  deles  é  o  papel  do  acaso,  muitas  das  oportunidades  de  ampliação  da  competitividade  de  empresas  em  países  ou  regiões  é  fruto  do  impulso  gerado  por  fenômeno  não  controláveis  pelos  gestores  das  empresas.  O  segundo  corresponde  ao  Governo  considerado  como  um  agente  de  geração  de  fenômenos  que  influenciam  os  quatro  determinantes  de  competitividade  do  Diamante.  De  fato,  o  papel  do  governo  envolve  diversas  decisões,  que  têm  objetivo  direto  em  impulsionas  os  negócios  de  setores  da  economia.  2  -­‐  De  onde  o  autor  “fala”  (“país,  centro  ou  periferia?”;  “ideologia,  campo  de  pesquisa”,  etc)?  Michael  E.  Porter  é  nascido  em  1947  em  Ann  Harbour  no  estado  de  Michigan  (Estados  Unidos),  considerado  um  dos  maiores  especialistas  mundiais  em  estratégia  competitiva.  Doutorou-­‐se  em  Economia,  em  Harvard,  após  uma  licenciatura  em  Engenharia  Aeronáutica,  em  Princeton.  Professor  da  Harvard  Business,  entre  as  suas  contribuições  para  a  gestão  salienta-­‐se  o  modelo  de  análise  estrutural  de  indústrias,  a  noção  de  cadeia  de  valor  e  a  teoria  da  vantagem  competitiva.  Sendo  um  país  Imperalista  e  de  uma  grande  força  economica  o  autor  “fala”  de  um  lugar  social,  onde  escreveu  suas  obras  em  um  eixo  capitalista  e  bipolarizado.  3  -­‐  Quais  os  campos  de  pesquisa  que  se  insere  cada  livro?  Em  seu  primeiro  livro  a  “Vantagem  Competitiva  Criando  e  Sustentando  um  Desempenho  Superior”  o  campo  de  pesquisa  se  insere  na  economia  empresarial,  um  campo  de  economia  aplicada  fazendo  uso  da  teoria  econômica  e  de  métodos  quantitativos  para  analisar  as  empresas  de  negócios  e  os  fatores  que  contribuem  para  a  diversidade  das  estruturas  organizacionais  e  as  relações  das  empresas  com  os  mercados  de  trabalho,  o  capital  e  os  mercados  de  produtos,  estando  ligada  a  assuntos  e  problemas  economicos  relacionados  com  a  organização  empresarial,  gestão  e  estratégias.  Em  seu  segundo  livro  “A  Vantagem  Competitiva  das  Nações”  o  campo  de  pesquisa  se  insere  na  economia  empresarial  dialogando  a  um  campo  administração  publica  e  ciência  politica  (é  o  estudo  da  política,  dos  sistemas  políticos,  das  organizações  e  dos  processos  políticos.  Envolve  o  estudo  da  estrutura  (e  das  mudanças  de  estrutura)  e  dos  processos  de  governo  —  ou  qualquer  sistema  equivalente  de  organização  humana  que  tente  assegurar  segurança,  justiça  e  direitos  civis),  esse  livro  são  para  gestores  públicos,  autoridades  econômicas,  para  governos.  

168 Anuário da Produção Acadêmica Docente

Letramento acadêmico: da escrita à leitura científica

  ALUNO:  Kelvin  Roger  Martello  Rodrigues                                                                                                                                                                                      PÁGINA  2    4  -­‐  Em  que  consiste  os  conceitos-­‐chave  de  cada  livro?  No  primeiro  livro  a  “Vantagem  Competitiva  Criando  e  Sustentando  um  Desempenho  Superior”  o  conceito  chave  esta  idealizado  no  escopo  das  atividades  implementando  a  cadeia  de  valores,  as  estratégias  genéricas  e  o  modelo  de  cinco  forças  para  se  criar  a  vantagem  competitiva  em  uma  indústria.  No  segundo  livro  “A  Vantagem  Competitiva  das  Nações”  o  conceito  chave  esta  idealizado  no  desenvolvimento  competitivo  nacional  através  do  modelo  de  diamante  introduzindo  os  determinantes  da  vantagem  competitiva  nacional,  o  papel  do  acaso  e  o  papel  do  governo  relacionando  suas  agendas  nacionais.  5  -­‐  Como  os  conceitos  do  primeiro  livro  são  aplicados  no  segundo?  Nos  últimos  anos  grande  parte  dos  trabalhos  de  Michael  E.  Porter  tinha  preocupação  central  em  natureza  da  competição  nas  indústrias  e  os  princípios  da  estratégia  competitiva,  em  seu  primeiro  livro  “Vantagem  Competitiva  Criando  e  Sustentando  um  Desempenho  Superior”  o  autor  aborda  a  estrutura  das  indústrias  e  a  escolha  de  posição  dentro  delas,  além  de  apresentar  uma  moldura  para  o  entendimento  das  fontes  da  vantagem  competitiva  de  uma  empresa  e  como  essa  vantagem  podia  ser  melhorada.  Sua  linha  de  pensamento  não  muda  completamente  em  seu  segundo  livro  “A  Vantagem  Competitiva  das  Nações”,  abordando  como  as  indústrias  prosperam  e  competem  em  um  mercado  internacional,  além  de  ressaltar  que  os  determinantes  da  vantagem  competitiva  nacional  junto  com  o  papel  do  acaso  e  o  papel  do  governo  são  fatores  de  suma  importancia  para  tal  vantagem.  Desse  modo,  o  autor  volta  a  entrar  em  sua  primeira  obra  identificando  que  independente  do  tipo,  perfil,  tamanho,  segmentação  da  empresa  ou  indústria  seja  nacional  ou  internacional,  sua  estrutura  de  competição  está  materializada  em  cinco  forças  competitivas  (rivalidades  entre  concorrentes,  poder  de  negociação  dos  fornecedores,  poder  de  negociação  dos  compradores,  ameças  de  novos  entrantes,  ameaça  de  substitutos)  e  no  centro  do  posicionamento  está  à  vantagem  competitiva  abordando  as  estrategias  competitivas  genéricas  (liderança  de  custo,  diferenciação,  enfoque)  e  seu  âmbito  competitivo.  Por  fim  o  autor  demostra  que  independente  das  indústrais  nacionais  ou  internacionais  todas  as  empresas  se  organizam  e  realizam  suas  atividades  de  forma  separadas,  criando  o  valor  para  seus  compradores  pelo  desempenho  dessas  atividades,  isso  foi  denominado  pelo  autor  como  cadeia  de  valores.  As  atividades  desempenhadas  na  competição  dentro  dessas  indústrias  podem  ser  agrupadas  em  categorias  de  atividades  primárias  e  atividades  de  apoio.  

6  -­‐  Quais  são  as  conclusões  do  autor  em  cada  livro?  Em  seu  primeiro  livro  a  “Vantagem  Competitiva  Criando  e  Sustentando  um  Desempenho  Superior”  o  autor  consegue  diagnosticar  e  promover  a  vantagem  competitiva  através  da  cadeia  de  valores,  essa  permite  separar  as  atividades  subjacentes  executadas  por  uma  empresa  no  projeto,  na  produção,  marketing  e  na  distribuição  de  seu  serviço  e  produto,  além  de  detalhar  com  clareza  que  as  Estratégias  Competitivas  Genéricas  são  responsáveis  pela  posição  relativa  de  uma  empresa  dentro  da  sua  indústria,  tendo  em  vista  o  modelo  de  cinco  forças  servindo  para  fazer  uma  análise  da  atratividade  (valor)  de  uma  estrutura  de  indústria.  Em  seu  segundo  livro  “A  Vantagem  Competitiva  das  Nações”  o  autor  consegue  identificar  os  determinantes  fundamentais  da  vantagem  competitiva  nacional  interligando  como  um  sistema,  relatando  a  importante  questão  do  “agrupamento”  e  os  grupos  correlatos  de  empresas  e  indústrias  bem-­‐sucedidos  surgindo  em  um  país  para  ganhar  posições  de  liderança  no  mercado  mundial.  7  -­‐  O  que  você  apreende  como  produto  final  desta  análise  (entre  as  obras)?  Como  produto  final  foi  possível  de  compreender  como  uma  indústria  consegue  criar  e  sustentar  um  desempenho  superior,  seja  qual  for  à  indústria,  seja  ela  doméstica  ou  internacional,  produza  um  produto  ou  um  serviço,  as  regras  da  concorrência  estão  englobadas  em  cinco  forças  competitivas:  a  entrada  de  novos  concorrentes,  a  ameaça  de  substitutos,  o  poder  de  negociação  dos  compradores,  o  poder  de  negociação  dos  fornecedores  e  a  rivalidade  entre  os  concorrentes  existentes.  Só  é  possível  criar  uma  Vantagem  Competitiva,  utilizando-­‐se  das  estratégias  genéricas;  enfoque,  custo  e  diferenciação,  abordando  suas  cadeias  de  valores.  Porém  é  de  suma  importância  ressaltar  o  escopo  competitivo  e  suas  dimensões  (segmento,  vertical,  geográfico  e  indústria),  pois  traça  a  configuração  e  a  economia  de  valores,  além  de  ressaltar  a  relação  da  tecnologia  espalhando-­‐se  pela  cadeia  de  valores  e  desempenhando  um  papel  importante  na  determinação  da  vantagem  competitiva,  tanto  na  diferenciação  quanto  no  custo,  quanto  ressaltar  a  segmentação,  substituição  e  inter-­‐relações  empresariais  e  os  métodos  ofensivos  e  defensivos  de  como  agir-­‐se  contra  concorrentes.  Contudo  foi  possível  de  apreender  que  para  o  desenvolvimento  da  vantagem  nacional  e  expandir  a  análise  estratégica  da  competitividade  de  países  ou  de  regiões  o  elemento  mais  importante  é  o  Sistema  Nacional  de  Valor,  e  com  isto  lançou  outro  grande  conceito  -­‐  o  modelo  do  diamante  enfatizando  os  determinantes  da  vantagem  nacional  (condições  de  fatores,  condições  de  demanda,  indústrias  correlatas  e  de  apoio  e  estratégia,  estrutura  e  rivalidade  das  empresas)  junto  com  a  importância  do  papel  do  acaso  e  o  papel  do  governo  como  agente  na  criação  e  manutenção  da  vantagem  nacional  e  influenciadores  da  vantagem  competitiva  nacional,  com  o  objetivo  de  criar  um  ambiente  no  qual  as  empresas  possam  melhorar  as  vantagens  competitivas  nas  indústrias  existentes  e  apoiar  a  capacidade  de  as  empresas  do  país  entrarem  em  novas  indústrias.    

Figura 8 – Respostas do aluno Kelvin Roger Martello Rodrigues

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  ALUNO:  Kelvin  Martello  Rodrigues  OBRA:  PORTER,  M.  E.  A  Vantagem  Competitiva  das  Nações.  11.  ed.  Rio  de  Janeiro:  Campus,  1993  

1  Aspectos  Particulares  

1.1  Objetivo  Geral    

Identificar  as  etapas  do  desenvolvimento  competitivo  nacionais,  demonstrando  os  papéis  das  políticas  governamentais  na  criação  e  manutenção  da  vantagem  nacional,  através  dos  determinantes  da  vantagem  competitiva  nacional:  condições  de  fatores,  condições  de  demanda,  indústrias  correlatas  e  de  apoio,  estratégias,  estrutura  e  rivalidade  das  empresas,  o  papel  do  acaso  e  o  papel  do  governo,  isso  utilizado  de  sua  pesquisa  em  dez  destacados  países  (Grã  –  Bretanha,  Dinamarca,  Alemanha,  Itália,  Japão,  Coréia,  Cingapura,  Suécia,  Suíça  e  Estados  Unidos).  

1.2  Objetivos  Secundários    

São  examinados  sob  o  padrão  do  que  é  comumente  chamado  de  “competitividade”,  tendo  preocupação  central  a  natureza  da  competição  nas  indústrias  e  os  princípios  da  estratégia  competitiva.  

2  Hipótese  Geral  

Desenvolvendo  a  sua  hipótese  da  vantagem  nacional  em  indústria  e  grupos,  Porter  identifica  as  etapas  do  desenvolvimento  competitivo  através  das  quais  as  economias  nacionais  avançam  e  decaem.  Sua  hipótese  é  rica  de  implicações  tanto  para  empresas  como  para  governos,  descrevendo  como  uma  empresa  pode  explorar  e  ampliar  suas  vantagens  nacionais  na  competição  internacional.  Oferecendo  sugestões  de  política  governamental  para  fortalecer  a  vantagem  competitiva  nacional  também  delineia  as  agendas  dos  anos  futuros  para  os  países  estudados.  O  autor  idealiza  em  sua  hipótese  as  unidades  básicas  da  vantagem  competitiva,  sendo  a  primeira  a  estrutura  da  indústria  e  a  segunda  a  posição  dentro  da  indústria,  baseada  no  escopo  das  atividades  e  suas  cadeias  de  valores  introduzindo  suas  relações  com  a  liderança  de  custo,  diferenciação  e  enfoque  (estratégias  genéricas).  

3  Ideias-­‐Chave  do  Autor  

O  autor  idealiza  desenvolvimentos  competitivos  nacionais  colocando  ideias-­‐chaves  como  a  vantagem  competitiva  de  empresas  em  indústrias  globais,  o  papel  das  circunstâncias  nacionais  no  êxito  competitivo,  determinantes  da  vantagem  nacional  (condições  de  fatores,  condições  de  demanda,  indústrias  correlatas  de  apoio,  estratégias,  estrutura  e  rivalidade  das  empresas,  o  papel  do  acaso  e  o  papel  do  governo),  as  relações  entre  os  determinantes,  os  determinantes  como  um  sistema,  agrupamento  de  indústria  competitivas,  o  papel  da  concentração  geográfica,  vantagem  competitiva  nacional  em  serviços,  os  estudos  históricos  sobre  os  países  pesquisados,  as  oscilações  dos  países  pesquisados  pós-­‐guerra  ,  estratégias  empresariais,  localidade  da  base  nacional,  o  papel  da  liderança,  vantagens  seletivas,  políticas  governamentais  e  agendas  nacionais.  

4  Síntese  Partes/Capítulos  

O  livro  está  organizado  em  quatro  partes.  A  primeira  apresenta  a  teoria  em  si,  fornecendo  uma  visão  geral  dos  princípios  da   estratégia   competitiva.   Na   segunda   parte   é   aplicada   a   teoria   para   explicar   as   histórias   de   quatro   indústrias  representativas  e  a  teoria  ao  setor  de  serviços,  onde  a  competição  nacional  tem  sido  pouco  estudada.  Na  terceira  parte  é  aplicada   a   teoria   ás   nações,   para   oito   as   dez   nações   investigadas   é   oferecido   um   perfil   detalhado   das   indústrias  internacionalmente  bem-­‐sucedidas  na  economia  e  como  o  padrão  vem  se  modificando,  usando  a   teoria  do  autor  para  explicar  os  êxitos  e  fracassos  como  a  evolução  da  economia  do  país  no  período  pós-­‐guerra.  A  quarta  parte  desenvolve  algumas  das  implicações  da  teoria  para  a  estratégia  empresarial  e  a  política  de  governo,  ilustrando  como  a  teoria  pode  ser  usada  para  identificar  algumas  das  questões  que  governarão  o  desenvolvimento  futuro  da  economia  de  cada  país.  

5  Conclusões)  do  Autor  

Michael  E.  Porter,  por  meio  de  pesquisas  em  dez  destacados  países  (Grã-­‐Bretanha,  Dinamarca,  Alemanha,  Itália,  Japão,  Coréia,  Cingapura,  Suécia,  Suíça  e  Estados  Unidos),  identifica  os  determinantes  fundamentais  da  vantagem  competitiva  nacional  numa  indústria  e  como  funcionam  juntos  em  um  sistema,  explicando  o  importante  fenômeno  do  “agrupamento”  no  qual  os  grupos  correlatos  de  empresas  e  indústrias  bem-­‐sucedidos  surgem  num  país  para  ganhar  posições  de  liderança  no  mercado  mundial.  

6  Impressão  Pessoal  do  Aluno  

O  livro  é  muito   longo,  resultado  da  constatação,  apresentação  e  verificação  da  teoria  do  autor.  É   impossível  evitar  sua  extensão,   visto   que   autor   quis   testar   sua   teoria   contra   dados   suficientes   e   desenvolver   suas   implicações   para   os  empresários  e  formuladores  de  políticas.  Os  leitores  podem,  porém,  seguir  atalhos  dentro  do  livro,  dependendo  de  seus  interesses   particulares,   cada   parte   do   livro   é   destinada   a   um   assunto   em   foco.   A   leitura   é   fascinante,   instrumento  grandioso   para   avaliar   os   méritos   e   deméritos   de   políticas   que   visam   a   estimular   a   produção,   o   crescimento   e   a  competitividade.    

Figura 9–Resumo elaborado pelo aluno Kelvin Roger Martello Rodrigues

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Letramento acadêmico: da escrita à leitura científica

Como vimos, até aqui, cada aluno com base em determinada(s) obra(s), específicas à sua área de atuação, redige fichas de leitura contendo respostas e um resumo contendo as ideias principais do autor.

Resumindo, nossa metodologia contemplou pesquisa bibliográfica com estudo de caso e aplicação de guias e fichas de leitura, preconizadas por Carlino (2009) e adaptadas para cada aluno bolsista (IC) para aplicação em um ou dois dos textos utilizados na bibliografia de seu projeto (artigo final).

O objetivo era verificar a evolução de cada aluno durante as várias etapas de elaboração do seu projeto, este aproveitado na redação do artigo final, ou seja, em termos de Letramento Acadêmico, buscamos aferir se a aplicação da metodologia foi capaz de otimizar a leitura, interpretação e produção de textos científicos.

Com a leitura acompanhada e a aplicação das fichas/guias de leitura, houve sensível melhora na interpretação de textos, gráficos, tabelas, diagramas e fluxogramas, e na produção textual dos bolsistas, podendo-se estender esta metodologia a quaisquer disciplinas e áreas do conhecimento.

5. CONsIDERAçõEs fINAIs

Apesar de a leitura e a escrita serem fundamentais no ensino superior, delas dependendo, em grande parte, o sucesso ou fracasso dos alunos, não fazem parte de programas acadêmicos sistemáticos nem são devidamente consideradas pelos professores. Já partilhamos das mesmas queixas dos professores sobre a inabilidade dos alunos em ler, interpretar e escrever textos acadêmicos. Já supusemos, como muitos ainda supõem (e daí a razão de uma certa perplexidade), que os ingressantes no ensino superior, depois de passar pelo ensino fundamental e médio, estivessem, ao menos minimamente, preparados para compreender textos mais simples, básicos, relativos à literatura especializada de seu curso e área do conhecimento, bem como redigir um relatório ou um resumo.

Talvez por isso, ao culpar os alunos e/ou o sistema educacional pela frustração de nossas expectivas, tenhamos esquecido que eles, alunos, também se sentiam perplexos e despreparados para adentrar este novo mundo, pleno de textos herméticos, difíceis, repletos de citações e termos estranhos, enigmáticos.

Carlino e os demais autores que consultamos nos surpreenderam: simplesmente nos disseram para ler com os alunos, acompanhá-los nos momentos difíceis, nas crises e dúvidas. Simples e óbvio.

Disseram-nos que eles precisam saber os códigos, as linhas, os conceitos relativos à sua área do saber, as especificidades de cada campo, pois o texto acadêmico é único, específico, por vezes de difícil decifração, exigindo “chaves”. Ms não fazíamos assim, não líamos com eles, não explicávamos as obras da bibliografia, nem recorríamos a fichas de leitura, nem

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dispensávamos um tempo para saber de cada um o que pensava dessa ou daquela obra, o que são argumentos, tese, problema, hipótese, ideias centrais, onde estão, como achá-los em um texto.

Os autores que lemos não têm receitas prontas. Explicam-nos como fazer o básico para obtermos sucesso: justamente aquilo que achávamos que todo universitário já vinha sabendo.

Aplicamos a “nova” metodologia, descobrindo, a cada passo, que ela não é assim tão nova, sempre existiu. Seus fazeres são justamente aqueles que deixamos de fazer. Foi só relembrá-los, colocá-los na prática, que, nesse pouco tempo em que experimentamos aplicar suas estratégias em dois alunos bolsistas, notamos como é bom não só transmitir dados e informações, mas aprender a aprender com o aluno, vê-lo avançar, progredir, vencer o medo e o desânimo, ler melhor obras e mundo.

Em plena época da escalada das novas tecnologias e velozes mudanças em todos os campos do conhecimento, voltamos ao escreve-reescreve, textos, livros, resumos, fichas, guias, conversas, que também são tecnologias, mas não tão novas assim. Muito dessa falta de interesse dos alunos universitários pelas atividades de leitura, interpretação e produção de textos acadêmicos é gerada pela nossa inércia, falta de iniciativa, criatividade, ação.

Não importa se houve problemas, metodologias equivocadas, preconceitos etc. nas séries anteriores. Se adiarmos a solução, a cada dia mais urgente, nossa omissão pode redundar, como já acontece, no fracasso de muitos talentos, com potencial em sua área de conhecimento, mas despreparados para a leitura, compreensão e produção de textos acadêmicos. Nossa ação conjunta e coesa deu excelentes resultados. A metodologia aplicada pelos componentes do Grupo 26, apesar do pouco tempo, melhorou a leitura, a compreensão e a produção textual dos nossos bolsistas. Não há dúvida sobre a importância do letramento – entendido como a participação em eventos variados de leitura e de escrita e o consequente desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita e de atitudes positivas em relação a essas práticas.

Nesse sentido, cremos que nosso projeto alcançou os objetivos desejados, provendo um acompanhamento sistemático nas várias etapas por que passaram os alunos bolsistas durante a preparação e redação do seu artigo, visando a que aprendessem a ler as obras constantes de sua bibliografia, sintetizando ideias, assinalando contradições, problemas implícitos, adquirindo, enfim, um maior domínio da competência de ler, compreender e redigir textos científicos, que lhes será útil por toda a vida como forma de educação permanente.

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Letramento acadêmico: da escrita à leitura científica

REfERÊNCIAs

CALAZANS, F. M. de A. Propaganda Subliminar Multimídia. 6 ed. São Paulo: Summus, 1992.

CARLINO, P. Escribir, Leer y Apreender en la Universidad: una introducción a la alfabetización académica. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2009.

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GEE, J. P. Social linguistics and literacies: ideology in Discourses. 2ed. London/ Philadelphia: The Farmer Press, 1996.

MACHADO, A.R.; LOUSADA, E.; ABREU-TARDELLI, L.S. Resenha. São Paulo: Parábola, 2004.

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ROJO, R. H. R. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de linguagens na escola. In: ROJO, R. H. R; MOURA, E. (Orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012. (p. 11-31)

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